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Copyright © 2024 por Victória Carvalho

Todos os direitos reservados.


Título: Amor Idealizado (Série Amores Nova-Iorquinos Livro 1)
Autora: Victória Carvalho
Leitoras Betas: Vivian Carvalho, Isabela Barbieri, Fernanda Martins
@vivilenacionais, @miquiverso, @leiturasdakey_, @oinavegante,
@yunnagoncalves, @bookstessa_
Capa: Luana Berle (@lbdesigneditorial)
Ilustração: Carlos Miguel (@carlosmiguelartes)
Diagramação: Victória Carvalho.
ISBN nº 978-65-00-95000-7
Essa é uma obra de ficção, portanto não tem nenhuma relação com pessoas e
situações reais. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com a realidade é mera
coincidência.

Qualquer distribuição sem autorização expressa da autora, incluindo reprodução


completa ou parcial em qualquer formato, configura crime. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na Lei Nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código
Penal.
2024

TEXTO REVISADO SEGUINDO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA


PORTUGUESA
Sumário

Sumário
Notas da autora
Prólogo – Benjamin McKnight
Capítulo 01 – Benjamin McKnight
Capítulo 02 – Emma Campbell
Capítulo 03 – Benjamin McKnight
Capítulo 04 – Emma Campbell
Capítulo 05 – Benjamin McKnight
Capítulo 06 – Emma Campbell
Capítulo 07 – Benjamin McKnight
Capítulo 08 – Emma Campbell
Capítulo 09 – Benjamin McKnight
Capítulo 10 – Benjamin McKnight
Capítulo 11 – Emma Campbell
Capítulo 12 — Emma Campbell
Capítulo 13 – Benjamin McKnight
Capítulo 14 – Emma Campbell
Capítulo 15 – Emma Campbell
Capítulo 16 – Benjamin McKnight
Capítulo 17 – Emma Campbell
Capítulo 18 – Emma Campbell
Capítulo 19 – Benjamin McKnight
Capítulo 20 — Benjamin McKnight
Capítulo 21 — Emma Campbell
Capítulo 22 – Emma Campbell
Capítulo 23 – Benjamin McKnight
Capítulo 24 – Emma Campbell
Capítulo 25 – Emma Campbell
Capítulo 26 – Emma Campbell
Capítulo 27 – Benjamin McKnight
Capítulo 28 – Emma Campbell
Capítulo 29 – Emma Campbell McKnight
Capítulo 30 – Emma Campbell McKnight
Capítulo 31 – Benjamin McKnight
Capítulo 32 – Emma Campbell McKnight
Capítulo 33 — Benjamin McKnight
Capítulo 34 — Emma Campbell McKnight
Capítulo 35 – Emma Campbell McKnight
Capítulo 36 — Emma Campbell McKnight
Capítulo 37 – Benjamin McKnight
Capítulo 38 – Emma Campbell McKnight
Capítulo 39 – Emma Campbell McKnight
Capítulo 40 – Benjamin McKnight
Capítulo 41 – Benjamin McKnight
Epílogo – Benjamin McKnight
Agradecimentos
Notas da autora

(Não pule, leia! É importante)


Olá, leitores!
Em primeiro lugar, obrigada por estarem aqui acompanhando o lançamento
do meu livro. Escrever sempre foi uma paixão, poder publicar algo exclusivamente
meu é extasiante e tudo que espero é que acompanhar a história de Ben e Emma —
e todos os outros que aparecerão— seja tão prazeroso para vocês quando foi para
mim enquanto escrevia. Entretanto, preciso deixar aqui um alerta para possíveis
gatilhos.
Não tenho qualquer intenção em trazer a vocês dessa vez uma história
pesada, porém, se você tem sensibilidade à assuntos como depressão, sugestões de
abuso (não há relato de estupro), peço que tenha consciência dos seus próprios
limites e os respeite. Não serão temas explícitos, eu garanto. É para o seu próprio
bem. Ah, temos cenas de sexo um tanto explícitas também. Caso isso te incomode,
já esteja ciente do que pode encontrar. No mais, aproveite a história de Ben e
Emma, na companhia dos seus amigos e, claro, do verdadeiro rei dessa história,
Sheik, o cachorro Akita de Ben.
Caso queira me seguir nas redes sociais, meu user é
@autora.victoriacarvalho. Espero vocês por lá.
E, agora sim, boa leitura!
Para todos aqueles que precisam se reinventar para ter a vida
que idealizaram... Ou para chegar o mais perto disso.
Sonhem, mas com os pés no chão e muita atenção nas red flags
por aí...
Prólogo – Benjamin McKnight

Ser um CEO bem-sucedido no panorama atual do mercado de trabalho sempre esteve nos
meus planos de carreira. Eu não conquistei meu cargo por herança ou por ter sido um cara
escroto e ter passado por cima de qualquer um que cruzasse meu caminho e me impedisse de
conquistar meus objetivos.
Na realidade, a verdade foi bem diferente disso. Eu cresci na empresa de maneira íntegra.
Me esforcei, vim dos cargos mais baixos até alcançar o topo, a cadeira da presidência da editora
Booksbank. Agora, eu não era apenas o CEO, mas também o sócio majoritário da empresa.
Existiam inúmeras vantagens em ser quem eu era e em ocupar o cargo que ocupava,
principalmente depois que a editora foi eleita a melhor e mais influente em Nova York.
Meu cargo me concedia coisas que a maioria dos homens da minha idade almejavam:
dinheiro e as mulheres que sempre quiseram. Ter uma aparência agradável aumentava ainda mais
essas previsões e, modéstia à parte, eu me achava um homem bonito e, aparentemente, o
empresário mais elegante e sexy, segundo os rankings que as revistas de fofocas divulgavam.
Tentava não deixar que esses rótulos subissem à cabeça. Nunca fiz o tipo cafajeste e
mulherengo. Claro, tinha meus casos, afinal, era um cara saudável de trinta e dois anos. Porém,
tudo aquilo de nada importava naquele momento. Porque a mulher que estava mexendo com a
minha cabeça era uma das únicas com quem eu não poderia tentar ter nada: minha secretária,
Emma Campbell.
Eu havia feito um pacto comigo mesmo de que não me envolveria com nenhuma
funcionária ou colega de trabalho. A política interna da empresa não impedia relacionamentos
entre funcionários, porém, eu havia colocado na cabeça, como uma espécie de princípio moral,
que manteria minha vida pessoal separada da profissional.
O problema era que a cada novo dia eu me encontrava mais e mais atraído pela minha
secretária. Emma trabalhava comigo diretamente há 5 anos e era, sem sombra de dúvidas, a
melhor secretária que eu poderia desejar. Ela já me salvou mais vezes do que eu poderia contar,
ela sempre ia além das suas funções e atribuições, sempre mantendo o seu profissionalismo.
Emma me dava ideias e sugestões, resolvia questões que até mesmo eu ou os demais diretores
não conseguíamos destravar.
Ela era incrível, e linda. Educada e encantadora. Atenciosa e criativa. Emma era tímida e
gentil, mas ao mesmo tempo enérgica. Tudo isso deveria ser demais para qualquer um ignorar e
minha situação só se tornava ainda pior quando eu não conseguia ignorar o corpo escultural tão
bem delineado pelos vestidos sociais ou conjuntos de saias e blusas, sempre delicadas, neutras e
comportadas, mas sexys como o inferno.
Inferno.
Era exatamente esse o local em que eu me encontrava.
Minha cabeça era constantemente uma dualidade de pensamentos: de um lado, a regra
que eu estabeleci e me impedia de envolver com alguém da minha equipe. E do outro, a atração
fodida que eu sentia por minha secretária.
Droga!
Aquela mulher com aquele sorriso angelical e encantador estava mexendo comigo. Com
a minha cabeça principalmente. As duas, se é que me entendem.
Capítulo 01 – Benjamin McKnight

Puta merda! Haviam dias em que os problemas que surgiam naquele lugar esgotavam
todas as minhas energias. Naquele dia em específico, meu ânimo — e humor — estavam em
níveis subterrâneos depois de tantos contratempos trazidos pelos meus diretores.
Às vezes, eu simplesmente queria sumir do mapa e não fazer mais nada, absolutamente
nada. Dinheiro para isso eu tinha, conquistado depois de muita luta. O que me faltava era
coragem para largar tudo para o alto. Tudo bem, eu reclamava, mas trabalhar e conduzir a
empresa era o que mais me trazia felicidade. Infelizmente, isso não impedia de que, em
momentos como aqueles, eu quisesse jogar tudo para trás.
— Benjamin, com licença. — Emma entrou na minha sala, andando diretamente na
minha direção, com uma pilha de pastas e papéis nas mãos. Não estranhava o tratamento
informal, faziam anos que pedi a ela para me chamar apenas pelo nome, ao menos quando
estávamos apenas nós dois — William me entregou os relatórios que pediu a ele, sobre os
lançamentos dos próximos meses.
— Obrigado, Emma. Me desculpe por estragar sua sexta-feira com trabalho depois do
expediente. — Era um pedido genuíno, mas desnecessário, a julgar pelo sorriso verdadeiramente
simpático em seu rosto.
— Não precisa se desculpar, eu entendo que imprevistos como esses acontecem, não há
muito o que fazer. O curioso é que todas as vezes em que precisamos ficar além do horário, em
todos esses anos que trabalho com você, foram exatamente por conta desses relatórios
trimestrais.
— Como se lembra disso? — Não escondi meu choque, eu mal me lembrava o que havia
comido na semana anterior. Emma apenas sorriu. — Bom, ainda preciso reafirmar que sinto
muito, pois só de passar os olhos nesses papéis já notei incoerências e como precisamos fechar
esse balanço ainda hoje, vou ter que ficar aqui e...
— E se você fica, eu fico. Não encontro um papel se não estiver aqui, Emma. — Ela
engrossou a voz em uma tentativa de imitar a minha — Eu conheço o discurso Benjamin, não se
preocupe.
— Estou ficando previsível.
Saiu como um resmungo, junto à careta estampada em meu rosto. Era um tanto estranho
— e reconfortante ao mesmo tempo —, a sensação de ter alguém que me conhecesse tanto
quanto ela, que basicamente previa meus passos antes mesmo de eu parar para pensar neles.
Observei quando ela saiu da minha sala em direção à sua antessala, rindo de mim
enquanto eu só pude apoiar a cabeça na mesa em meio a um suspiro de pura frustração. Não
estava sendo nada fácil me segurar e ignorar a atração que sentia por ela. Ser obrigado a ficar
sozinho com ela na empresa — e pior, na minha sala —, às vezes me deixava louco. O perfume
floral e ao mesmo tempo fresco que ela usava tomava conta do ambiente a cada vez que ela se
aproximava.
Como naquele momento. Ela saiu dali, mas seu cheiro permaneceu. O que apenas tornou
minha vida ainda mais difícil quando eu tinha que me concentrar em relatórios e acertar todos os
erros que encontrava entre os números impressos naqueles papéis. Lucros, gastos e o perfume
dela tomava cada um dos meus pensamentos.
Haviam se passado quase duas horas nessa brincadeira, era quase nove da noite, muitas
horas além do horário de encerramento do expediente. Estava cansado, irritado com aqueles erros
tolos e com fome.
Foi quando Emma pareceu adivinhar meus pensamentos.
— Benjamin, se incomoda se eu pedir algo para comermos?
— Longe disso, estava agora mesmo pensando em fazer isso. Meu estômago está furioso
comigo.
— O que quer comer? Salada mediterrânea e peixe? — Mencionou exatamente meu
pedido costumeiro.
— Ah, não mesmo. Não é dia e muito menos horário para isso. Já estamos presos nessa
tortura, em plena sexta-feira, podemos abusar da comida dessa vez.
— Hambúrguer e batata frita? — O sorriso que estampava seu rosto me dizia que era
exatamente aquilo que ela queria. E por que não pedir exatamente isso para agradá-la?
—Perfeito. Você pede?
— Sim, agora mesmo. — O celular em suas mãos foi utilizado para fazer o pedido no
aplicativo. Em cinco minutos tínhamos o pedido feito e a vinte minutos da entrega.
Precisava admitir que voltamos a trabalhar com bem menos concentração do que antes,
afinal, a fome aumentava a cada momento. Me levantei com a intenção de ir ao banheiro para
lavar meu rosto com água fria, tentando recuperar ao menos um pouco de disposição.
Assim que saí do cômodo, todas as luzes se apagaram. Falta de energia? Aquilo era
sério? Era só o que faltava. Fui até a janela tentar descobrir se era algo exclusivo dali ou se havia
sido uma queda geral de energia e encontrei foi uma Nova York completamente no escuro.
Não se tratava de uma simples queda de energia.
Era um blecaute completo.
Usando a lanterna do meu celular como guia, fui atrás de Emma em sua antessala, queria
me certificar de que estava tudo bem com ela. Não a encontrei ali. Talvez ela estivesse no
banheiro. Notei até mesmo que seu celular estava sobre sua mesa.
Depois de alguns minutos ali esperando por ela sem ter qualquer resposta, fui até a porta
do banheiro feminino no nosso andar. Bati à porta e de novo nenhuma resposta. Invadi todo e
qualquer limite quando entrei no banheiro atrás dela e só encontrei um cômodo vazio.
Onde ela estava?
Foi só então que me lembrei do nosso jantar. Será que ela desceu para buscar a
encomenda? Andei até a porta principal da ala da presidência e então ouvi um barulho constante
e alto. Colei meu rosto na porta gelada do elevador percebendo que era dali que vinha o ruído.
Aquilo que eu disse anteriormente, me esqueci por completo. O que faltava mesmo para
aquela noite era ter Emma presa no elevador, em meio a um blecaute sem nem mesmo um
celular por perto.
— Emma? — Espalmei o elevador, gritando seu nome pela fresta entre as portas, queria
ao menos que ela soubesse que eu a encontrei. Mesmo que estivesse presa ali.
— Benjamin? Essa droga de elevador estacionou. Será que quebrou? — Sua voz já
estava alterada e considerando o fato que eu jamais havia ouvido ela xingar, era de se imaginar o
quando ela estava nervosa e, possivelmente, com medo.
— Não quebrou, ao menos eu acho que não. É um blecaute, Emma, a cidade está
inteiramente apagada.
— Ah, que maravilha. E isso tem que acontecer algo quando eu estou presa nessa merda?
— Queria rir da voz cada vez mais aguda em meio à sua raiva, mas me controlei. Não era mesmo
o momento para aquilo.
— Pelo visto, você está alinhada aqui no andar. Se eu conseguir abrir a porta, é possível
que eu consiga te tirar daí logo, mesmo sem energia.
— Possível?
— Calma, Emma. Eu vou dar um jeito. Eu prometo. Já volto, não saía daí.
— Não é como se isso fosse possível, não é, Benjamin? — Sua afronta me fez segurar
uma risada.
— Desculpe, comentário desnecessário.
Me afastei da porta para procurar algo que poderia me ajudar a separar as portas para que
ela pudesse sair de lá. O que encontrei — e que achava que poderia funcionar — era aquele
machado que fica nas escadas de emergências em conjunto com os extintores de incêndio.
Quebrei o vidro que dava acesso a ele, tomei nas mãos e voltei até ela.
— Emma, vou tentar abrir, ok? Se afaste da porta, por favor, não quero que se
machuque.
Forcei o objeto na fresta e — com algum esforço —, consegui afastar um pouco as
portas, mas logo percebi que iria precisar de outra coisa, algo que mantivesse as portas abertas.
Busquei uma das cadeiras de metal na cozinha para usá-la como apoio. Aquilo tinha que
funcionar. Voltei a manipular o machado até que consegui afastar pouco mais de dez
centímetros.
A lanterna que posicionei no chão entre meus pés me permitiu enxergar Emma,
pressionada contra a parede dos fundos do elevador. Um sentimento de puro pavor e nervosismo
cobria seu rosto, aquelas suas esmeraldas reluzentes me encaravam aterrorizadas.
— Vou te tirar daí, ok? Fique calma.
— Antes, tome isso aqui. — Ela esticou as sacolas com nosso jantar na minha direção.
Eu apenas revirei os olhos.
— Emma, eu não estou mesmo me importando com isso agora. Só quero te tirar daí
antes que algo pior aconteça. Não sei se é possível, mas...
— Mas nada, Benjamin. Eu só estou presa nessa droga porque desci para pegar essa
porcaria de comida, faço questão que ela esteja a salvo só para eu ter algo para culpar e descontar
minha raiva. Toma isso logo. — Conheci um novo volume naquele momento, um grito
sussurrado. Isso que ela fez em meio a seu nervosismo.
Forcei meus braços e consegui abrir as portas um pouco mais, suas mãos ainda estavam
estendidas para mim, sacudindo os pacotes. Bufei quando enfim retirei as sacolas das suas mãos,
praticamente jogando-as para trás de mim. Consegui forçar ainda mais até que, finalmente, senti
que consegui espaço suficiente para tirá-la dali.
— Olha, vou colocar a cadeira aqui para as portas ficarem abertas, mas não sei quanto
tempo isso vai aguentar. Vou te puxar daí, ok? Temos que ser rápidos, mas não vou deixar que se
machuque.
Prometi a ela, mas na verdade, eu estava com um medo do caralho daquelas portas
fecharem no meio do caminho. Resolvi nem mesmo pensar nessa possibilidade, apenas
posicionei a cadeira e torci pelo melhor resultado. Quando achei que aquilo que estava nas
melhores condições possíveis, estiquei meus braços para dentro do elevador.
— Vem, rápido!
Quando Emma se aproximou, segurei sua mão levemente úmida pela tensão, e logo
percebi que daquele jeito não iríamos a lugar nenhum senão direto para um hospital com
membros amputados. Debrucei meu tronco para mais perto até conseguir alcançar sua cintura.
Quando minhas mãos a tocaram, com um movimento certeiro, puxei seu corpo na minha direção,
tirando-a dali de dentro. Com o impacto do corpo dela contra o meu, acabei perdendo meu
equilíbrio, caindo deitado no chão com ela sobre mim.
Ok, aquela posição em nada me ajudava na questão de me manter longe dela.
Ao menos saímos inteiros daquilo. Antes que pudéssemos fazer qualquer coisa sobre
aquela situação, um estrondo tomou conta do ambiente. Emma se assustou e, no reflexo, se
agarrou ainda mais a mim, seu corpo próximo de um jeito quase insuportável para mim naquele
momento em que lutava para me manter longe dela. Eu também não fiquei imune ao barulho, me
assustei e acabei retribuindo aquele abraço sem nem mesmo pensar sobre o que estava fazendo.
— Que merda foi essa?
— Acho que as portas fecharam, a cadeira que usou realmente não aguentou.
Emma ainda olhava para o elevador até que girou o rosto na minha direção, me
encarando por exatos dois segundos até arregalar aqueles grandes olhos verdes ao notar que
ainda estava em cima de mim. Emma praticamente se jogou ao meu lado, se desgrudando de
mim como se meu corpo fosse brasa. E eu não pude pensar o contrário, era exatamente assim que
me sentia. Pegando fogo.
—Me desculpe, não percebi que ainda estava sobre você. — Tentei soar despretensioso,
quando na verdade a sensação do corpo dela perfeitamente acomodado sobre o meu iria me
torturar por um longo tempo. — Esmagamos os hambúrgueres. — Internamente agradeci por ela
ter mudado de assunto — Você continua deitado sobre eles.
— Vou comer da mesma maneira. Ter aberto essa porta na mão com toda essa tensão só
me deu ainda mais fome. — E era verdade, eu jamais esperava ter tanto esforço àquela hora da
noite.
— Mas é claro! Jamais vou dispensar comida apenas por estar esmagada. O gosto
continua o mesmo.
— Ótimo. — Eu ri da sua empolgação — Então vamos comer, antes que além de
esmagada teremos uma comida fria.
Abrimos os pacotes ali mesmo, sentados no chão, no meio do corredor da presidência,
com apenas a luz de emergência iluminando de maneira amena o ambiente ao nosso redor.
Comíamos em um silêncio confortável, quando olhei para ela outra vez e reparei em um pequeno
detalhe.
— Por que está descalça? Cadê seus sapatos? — Questionei com o cenho franzido.
Emma olhou ao redor, apertando os olhos para enxergar melhor na meia escuridão.
— Se não estiver por aqui, é provável que tenham ficado dentro do elevador. Devem ter
caído dos meus pés no meio desse resgate. — Voltamos ao nosso silêncio preenchido apenas
com os barulhos das nossas mordidas, ao menos até que perceber que ela tentava segurar uma
risada.
— O que foi? Qual a graça?
— Ok, eu não queria falar disso porque estávamos no meio de um momento bem tenso,
em um resgate inesperado, mas... — Ela riu ainda mais, sem completar a frase.
— Mas o que? — Instiguei, ocupando minha boca com a comida para não acompanhar a
risada gostosa dela.
Meu deus, Benjamin, se controla, porra. Está parecendo um adolescente cheio de
hormônios.
— Mas, o seu rosto enquanto forçava a porta com aquele machado me remeteu ao Jack
Torrance.
— Quem?
— O cara do filme O Iluminado.
Foi ali que eu fechei minha expressão. Filmes de terror não eram meu forte. Nunca
entendi o apelo de assistir algo que me faria ficar com medo depois. Aquele coisa de adrenalina
não era para mim, e eu pouco me importava se isso me fazia parecer fraco ou fresco. Eu não
gostava mesmo daquilo. E ficou evidente que ela reparou na minha mudança de expressão.
— Me desculpe, não queria te ofender de alguma forma, foi apenas algo que passou pela
minha cabeça. — Emma continuou tentando justificar, eu apenas desviei o olhar, me
concentrando em mastigar uma porção de batatas fritas para não ter que admitir para a mulher
que eu estava atraído que tinha medo daquele tipo de coisa. Mas claro que ela tinha que ser a
porra de uma vidente, rapidamente compreendeu o exato motivo para minha careta permanente
— Ah, você não gosta de filmes de terror?
— Não. — Murmurei emburrado e ela sorriu — Não apenas não gosto, eu tenho
completo pavor desses filmes. — Concretizei minha imagem dentro de uma caixa etiquetada
com a palavra medroso e ela gargalhou, jogando os cabelos para trás, tamanho o seu empenho
em rir de mim.
—Me desculpe, não deveria rir. Você tem o direito de não gostar. — Ela segurava a
risada e eu revirava os olhos, arremessando duas batatinhas no seu rosto, o que serviu apenas
para fazê-la rir ainda mais de mim — Vamos trocar de assunto, não queremos ficar pensando em
assombrações, demônios ou...
—Emma. — Alertei, um arrepio subindo pela minha espinha, deixando em alerta todos
os poros no meu corpo. Eu realmente não queria pensar naquelas merdas estando ali no escuro.
— Tudo bem, prometo que parei. Acha que vamos ficar aqui por muito tempo ainda?
— Considerando que é um blecaute geral pela cidade, acho seguro dizer que não
sairemos daqui hoje. — Respondi, agradecido pela mudança de assunto. — Poderíamos descer as
escadas, mas nossos carros estão presos na garagem. Não conseguiríamos sair de qualquer
maneira.
— Tem um tempo que estou vindo de metrô, então para mim seria ainda mais
impossível. Se é mesmo um blecaute, eles não estarão e, mesmo se estivessem, eu não entraria
em um metrô escuro a essa hora.
— Não permitiria que fosse embora de metrô de qualquer forma essa noite. Eu te prendi
aqui depois do horário, não me sentiria bem deixando você à mercê de perigos assim, indo
embora sozinha a essa hora, com ou sem blecaute.
Emma pareceu se surpreender com a minha fala, mas não estendeu o assunto, eu muito
menos. Quando terminamos de comer, me levantei recolhendo o lixo e levando comigo até a
lixeira. Emma bocejava enquanto olhava para a vidraça, e tudo que podíamos enxergar era o
breu. Nova York era pura escuridão.
— Eu consegui terminar a maior parte do relatório antes de tudo acontecer, está salvo no
meu computador. Pretendia terminar isso hoje, mas está claro que não será possível e realmente
acho que não vamos sair daqui hoje, Emma.
— Acha que conseguimos improvisar um lugar para dormir? Estou realmente cansada.
— Os olhos verdes brilhantes eram tudo que eu conseguia enxergar e mesmo que a situação
fosse outra, eu nada mais veria, eles me hipnotizavam.
— Vem, vamos para a minha sala. Você dorme no sofá e eu me ajeito no chão. —
Ameacei puxá-la pela mão, mas me controlei no último segundo, apenas seguindo caminho com
ela atrás de mim.
Travesseiros improvisados com nossos casacos foram tudo que tivemos naquela noite. E
mesmo assim não poderia dizer que foi uma noite ruim.
—Posso usar o seu banheiro? Ou prefere que eu use o social?
— Emma, eu não sou um carrasco. Não vou fazê-la andar no escuro sendo que tem um
banheiro aqui ao lado. Fique à vontade.
Assim que ela retornou, eu fui ao banheiro. Usei a privada e a pequena necessaire que
mantenho ali para escovar os dentes, percebendo que ela usou dos meus produtos também.
Quando voltei à sala, desviei o olhar para não vê-la engatinhando sobre o móvel até se ajeitar
nele. Eu não precisava de mais uma imagem dessas cravada na minha memória.
— Vou abrir uma janela, ok? Para não morrermos de calor durante à noite.
— Tudo bem, prometo te proteger caso algo aparece para te atormentar. — Ela me olhou
com um ar de divertimento, mesmo no rosto abatido pelo cansaço.
— Engraçadinha, estou morrendo de rir.
— Vou parar de te perturbar com isso. Boa noite, Benjamin.
— Boa noite, Emma.
Me acomodei no chão, bem ao lado do sofá onde ela estava. Respirei fundo tentando
absorver o máximo de oxigênio possível, porém apenas consegui complicar minha situação,
absorvendo apenas o perfume dela em máxima potência graças à nossa proximidade.
Tudo que Emma não sabia era que a única coisa que me atormentaria naquela noite era
estar tão perto dela e ao mesmo tempo tão longe.
Me virei de bruços, afundando o rosto no meu casaco antes que eu falasse ou fizesse
alguma coisa que iria me arrepender depois.
Aquela noite seria longa.
Longa demais.
Capítulo 02 – Emma Campbell

Acordei no pulo depois de escutar um barulho alto, demorei até alguns instantes para me
dar conta do lugar onde estava. E lá eu estava. Deitada no sofá da sala da presidência da empresa
em que trabalhava, com o meu chefe esparramado no chão ao meu lado.
O que havia sido aquela noite?
Sem a menor dúvida, foi a noite mais esquisita que já passei em todos os meus vinte e
sete anos de vida. Era raro que Benjamin precisasse extrapolar o horário do expediente, mas às
vezes acontecia e aquele tinha sido um desses dias.
Depois de um dia cheio de trabalho e mais algumas horas extras, fiz o pedido do nosso
jantar. Assim que meu celular apitou com o aviso que o entregador estava na portaria, logo desci
sem nem mesmo avisar Benjamin e na pressa acabei esquecendo meu celular. Desci, paguei com
o cartão corporativo e voltei ao elevador apertando o botão que levava ao vigésimo andar, onde
ficava a presidência da Booksbank.
O elevador apitou avisando que havia chegado ao destino, porém, antes que as portas
abrissem, senti um tranco forte e nada mais aconteceu. Estava trancada ali. Me assustei e achei
bem estranho aquele comportamento. Tentei apertar todos os botões do painel de controle e nada
acontecia, nada funcionava. Quando minha ficha caiu e eu percebi que estava realmente presa ali,
me desesperei, batendo na porta para tentar fazer um barulho alto suficiente para que Benjamin
escutasse.
Alguns minutos depois — que para mim pareceram horas — ouvi quando ele gritou meu
nome. Entre uma fala e outra, eu tentava controlar minha língua, mas quando dei por mim estava
xingando ou sendo mais grossa que o normal.
Estava nervosa, poxa.
Se havia uma coisa que eu tinha era pavor de lugares fechados. Minha claustrofobia
atacava de um jeito absurdo. Só de me lembrar da sensação de estar presa, sentia o ar me faltar
nos pulmões.
Quando Benjamin finalmente conseguiu me arrancar lá de dentro, passamos por uma
pequena situação embaraçosa. Claro que eu tinha que ter caído bem em cima dele, com certeza
no maior proximidade em todos aqueles anos em que trabalhávamos juntos.
O fato era: nada daquele contato me fez bem. Poder ter sentido seus músculos me
apertando contra si, seu perfume marcante me atormentando mais do que já fazia todo dia, e ali
em sua essência máxima, já que meu rosto estava quase enfiado no seu pescoço. Aquilo só serviu
para fomentar ainda mais minhas fantasias.
Benjamin McKnight era meu chefe há cinco anos. E isso era tempo demais convivendo
com aquele homem que, além de ser lindo, cheiroso e sexy, como confirmado em várias revistas
— um fato que eu concordava plenamente —, ainda era extremamente educado e respeitoso,
fugia completamente daquele estereótipo de chefe babaca e prepotente.
O que não me ajudava em nada naquela paixonite que nutria por ele.
Nunca cruzei qualquer limite profissional, tampouco ele, mas isso não significava que eu
fosse uma tonta que não reparasse no Adônis que tinha na sala ao lado diariamente.
Benjamin nunca me desrespeitou ou foi grosseiro comigo, nunca sequer o vi levantando
a voz para qualquer pessoa. Ele era educado e o fato de ser o presidente da editora não lhe trouxe
soberba. Na maioria dos dias, ele almoçava no refeitório, junto de faxineiros, porteiros e
secretárias, sem fazer qualquer distinção entre eles.
Como não poderia me encantar por um homem como ele? Principalmente naqueles dias
em que as espécimes de homens iam de mal a pior.
Depois de perturbá-lo com seu medo de filmes de terror, nos acomodamos para dormir.
E não foi nada fácil conseguir fazer isso ali ao seu lado, sentindo o perfume amadeirado e com
notas de sândalo — sim, eu sabia exatamente qual a fragrância que ele usava — dominar o
ambiente. Felizmente eu estava realmente cansada e, depois de rolar de um lado para o outro,
consegui finalmente pegar no sono.
Havia acabado de acordar com o barulho que indicou que finalmente o ar-condicionado
havia voltado a funcionar. Tínhamos energia elétrica outra vez. Aproveitei que ele ainda dormia
para analisá-lo — como se nunca tivesse feito isso antes. Benjamin tinha o rosto bem desenhado,
cabelos castanhas escuros, sobrancelhas grossas e cheias. Os cílios eram de causar inveja em
qualquer mulher, longos e cheios, que serviam para acentuar ainda mais a cor dos seus olhos.
Azuis, como enormes safiras. O nariz reto e proporcional ao rosto. A boca delineada, lábios
grossos e cheios, rosados, destacados pela barba curta que ele mantinha.
Decidi parar de assediá-lo, ainda que ele não pudesse ter ideia do meu escrutínio e enfim
me levantei, tomando cuidado para não o acordar. Usei seu banheiro, roubei seu creme dental
outra vez, limpei meu rosto da melhor maneira que consegui — retirando de uma vez os
vestígios da maquiagem que sobraram, afinal, era melhor uma cara limpa do que parecer um
panda atropelado.
Sai do banheiro direto em direção à cozinha atrás de algo para comer, aquele hambúrguer
de horas atrás já havia sumido do meu sistema e meu estômago reclamava do vazio. Consegui
cafés reforçados para nós dois, alguns biscoitos no armário e algumas frutas na geladeira. Aquilo
ia servir.
Organizei tudo em uma bandeja e voltei para sua sala, percebendo que ele estava
acordado. Estava sentado no chão, ainda com os olhos perdidos e os cabelos desgrenhados, fios
indo para todas as direções possíveis. E droga, como conseguia estar ainda mais lindo que o
normal? Era melhor não olhar demais, não precisava me atormentar ainda mais com a bela visão
que ele era.
— Bom dia.
— Bom dia, Emma. — Um leve arrepio me percorreu diante da voz ainda mais rouca do
que de costume — Como conseguiu arrumar tudo isso?
— Nada demais, só juntei algumas coisas que achei pela cozinha. Fiz um café para nós
dois.
— Obrigado. Vou ao banheiro antes de tudo. — Ele se levantou, mexeu o tronco de um
lado para o outro, estalando todos os ossos.
— Ah, que agonia. Isso faz mal, Benjamin. Você vai machucar suas costas. — Precisei
comentar, não consegui segurar. Tinha uma tremenda gastura daquele barulho.
— Ótimo, descobri algo para te perturbar. Se voltar a falar de filmes de terror, já sei o
que fazer.
Ele ainda sustentava um sorriso vitorioso quando voltou do banheiro e se sentou ao meu
lado, mordendo uma das maçãs que havia na bandeja. Empurrei o café na sua direção e ele deu
um longo gole, seguido de um gemido baixinho.
— Por que eu perco tempo indo à cafeteria todos os dias sendo que posso tomar esse café
sem gastar alguns dólares?
— Comece a fazer se quiser, eu não me importo de preparar café. — Dei de ombros,
realmente não me importava.
— Não, estou brincando. Apesar de estar bom, eu prefiro os cafés coados aos de cápsula.
Acho que estávamos mesmo com fome, em poucos minutos acabamos com tudo na
bandeja. Olhei ao redor da sala, as luzes todas acesas, assim como o computador dele.
— A energia realmente voltou. Vou desligar tudo aqui e te dou uma carona, ok?
— Não precisa, Benjamin, posso ir de metrô tranquilamente. — Neguei sua oferta, não
precisava ficar trancada com ele em mais um ambiente.
— Emma, é o mínimo que posso fazer. Te fiz trabalhar além do horário, ficou presa no
elevador em meio a um blecaute, dormiu toda torta e desconfortável nesse sofá. Vou te levar em
casa e não aceito não como resposta.
— Tudo bem. — Respondi por fim. Voltei à minha mesa, ajeitei minhas coisas, desliguei
o computador e então o encontrei parado à minha frente outra vez.
— Pronta? Vamos descer de escada, vou mandar alguém vir arrumar esse elevador. —
Peguei minha bolsa, ele carregava sua pasta com o notebook e uma pilha de documentos,
provavelmente para finalizar e checar o relatório não concluído.
— O que foi agora? — Perguntei quando ele parou de andar para gargalhar.
— Está descalça, Emma. Não percebeu? — Olhei para os meus pés descalços sob o piso
frio do mármore, antes de rir com ele — Vamos. Agora querendo ou não terá que ir comigo, ou
arriscar uma infecção andando pelas ruas imundas.
Terminamos de descer os milhares de andares de escada e meu fôlego deve ter ficado
perdido em algum lugar entre o 18º e 15º andar. Estava morrendo. Andei atrás dele até a garagem
e, antes que ele pudesse pensar em abrir a porta do seu carro para mim, eu mesma fiz isso. Não
precisava lidar com mais uma versão dele, um cavalheiro.
Ele confirmou meu endereço e, assim que acionou o GPS, seguimos caminho. A estação
de rádio sintonizada nos deu a real situação do que aconteceu ontem à noite. O blecaute ocorreu
por uma explosão na rede de distribuição de energia, deixando Manhattan completamente no
escuro. Vinte minutos depois, ele encostava o carro na frente do meu prédio.
— Obrigada pela carona.
— Não foi nada, até segunda, Emma.
— Até.
Me despedi e corri em direção à portaria — tentando não encostar muito os pés no chão
sujo. OK, eu precisava de uma desintoxicação de Benjamin e de esfoliação nos pés. Aquele era o
dia perfeito para assistir filmes de terror, com muita morte e sangue, nada de romances como
mocinhos lindos e sensuais. Não mesmo. Iria subir, tomar um banho e focar minha energia em
qualquer outra coisa que desviasse meus pensamentos.
Assim que pisei na portaria, senti o baque de um corpo contra o meu. Demorei até alguns
segundos para reagir e compreender o que estava acontecendo, e quando dei por mim, retribui o
abraço que mais me fazia bem.
— Graças a Deus, você está bem, minha menina. Eu estava preocupado. — Sr. T me
olhava de cima a baixo para ter certeza de que estava inteira.
— Eu estou bem, nada me aconteceu.
— Bati à sua porta algumas vezes desde a hora que você costuma chegar. Ficou presa na
rua por conta do blecaute?
— Sim, estava fazendo hora extra na empresa e acabei presa por lá com meu chefe.
Tivemos que passar a noite lá mesmo.
— Pelo menos estava em um lugar seguro. — Ele suspirou antes de voltar a me abraçar
— Posso ficar calmo agora.
— Se acalme, ok? Está tudo bem comigo, só preciso de um banho e um cochilo
reforçado no meu colchão.
— Suba então, menina. Tome um banho e descanse. Eu vou para casa descansar. Dormi
mal por estar preocupado com você.
— Me desculpe, prometo que em uma próxima vez, eu dou um jeito de avisar.
— Vamos torcer para que não tenha uma próxima vez, é melhor.
Ele sorriu, bateu o dedo na ponta do meu nariz. Beijei seu rosto em despedida e segui
para o meu apartamento, pelas escadas. Talvez estivesse um pouco traumatizada com elevadores.
O Sr. T. era, para os demais moradores, apenas o síndico do prédio, mas, para mim, era
muito mais do que apenas isso. Ele esteve presente na minha vida nos momentos em que eu não
tinha mais ninguém e eu fiz o mesmo para ele. De uma maneira ou de outra, nós éramos um para
o outro o mais próximo de uma família.
Segui com meus planos assim que cheguei ao meu apartamento. Tomei um banho longo
e relaxante —ignorando a mancha nojenta de infiltração que tomava quase metade do teto do
meu banheiro —, me enfiei no meu pijama confortável e desfiz a cama para me acomodar bem
no meio do edredom fofo.
O melhor que podia fazer era dormir um pouco antes de acordar outra vez e concentrar
minha energia em filmes assustadores.
Tudo para tentar esquecer o cara dos olhos azuis que rondava minha mente
insistentemente já há alguns anos.
Capítulo 03 – Benjamin McKnight

Os dias corriam mais rápidos do que eu esperava. A empresa crescia e se desenvolvia


tão bem que mal percebi que já haviam se passado cerca de dois meses desde aquele bendito
blecaute. E eu só podia estar passando pelo meu inferno astral. Se eu já estava atraído por Emma
muito antes daquele dia, depois de ter dormido ao seu lado, mesmo que nada tenha acontecido,
ela não saía mesmo da minha cabeça.
Me lembro que depois de deixá-la em casa naquele sábado, fui para o meu apartamento e
me enfiei debaixo do chuveiro frio, precisava esfriar a cabeça — e o resto do corpo. Nunca me
senti tão atraído por alguém quanto por ela. Talvez fosse o proibido que me atraía tanto, talvez
fosse o fato de que, apesar de não ser um mulherengo, eu sempre tive a mulher que quisesse.
— Ou talvez você seja apenas um covarde que não admite que ela mexe com você,
Benjamin.
Liguei para meus melhores amigos e os intimei a sair comigo. Eu precisava beber e
relaxar de alguma maneira. Acabamos indo para um pub irlandês em um bairro próximo à
Manhattan. Entre um drink e outro, acabei encontrando uma ex-parceira de foda, Courtney
Bittencourt, uma modelo, aquela que todas as grifes procuram para trabalhos, que estava com a
carreira em plena ascensão.
E em um tentativa — absolutamente ridícula, eu sei — de tentar tirar Emma da minha
cabeça, acabei indo para a cama com Courtney, com muito álcool no corpo, tanto eu quanto ela.
O pior da história é que tudo que consegui foi uma bela ressaca no dia seguinte. Transei com ela,
mas minha mente perversa imaginou Emma em seu lugar. Eu só não me senti ainda mais ridículo
porque percebi que ela estava me usando tanto quanto eu a usei, e isso ficou claro quando ela
chamou o nome de outro homem enquanto ainda estava na cama comigo.
A questão era que imaginar Emma no lugar de Courtney apenas ferrou ainda mais com a
minha cabeça, porque só me fez imaginar ainda mais como seria se realmente fosse ela ali
comigo. E, tinha que admitir, minha mente fértil me deixava ainda mais louco apenas por cogitar
qualquer oportunidade como aquela.
Depois daquele dia, eu desisti de sair com outras mulheres, não queria usá-las apenas
para tirar Emma da minha cabeça. Cheguei à conclusão de que aquilo não iria acontecer, não
importava o que eu fizesse — ou tentasse fazer —, ainda mais que depois daquela noite o clima
entre nós dois aparentava estar ainda mais íntimo.
Nada aconteceu, nenhum de nós dois ultrapassou qualquer limite, apenas estávamos mais
amigáveis um com o outro. Eu a provocava estalando os dedos ou as costas e ela revidava me
contando algum fato sobre os filmes horripilantes que ela gostava.
Hoje em específico estava sendo um dia complicado para mim. Sonhei com Emma. Um
sonho quente, suado e ofegante. Acordei com um pulo e fui direto para o chuveiro frio. Tomei
uma ducha e me enfiei em roupas frescas, tomei um café reforçado e saí para correr com Sheik, o
meu cachorro Akita.
Cheguei na empresa e dei de cara com uma Emma especialmente linda e sexy, usando
uma blusa azul, em um tom muito parecido com o dos meus olhos, e uma saia preta e justa, até a
altura dos joelhos, delineando as pernas torneadas. Eu apenas a cumprimentei rapidamente e logo
me tranquei na minha sala e me pus a trabalhar.
E aqui continuo. Não saí nem mesmo para almoçar, apenas pedi para que um dos meus
funcionários do refeitório trouxesse um sanduíche natural e um suco para mim. Enquanto comia,
refleti e cheguei à conclusão que nada, além da regra estúpida que eu criei, me impedia de tentar
ter algo com ela.
Nunca quis ultrapassar a barreira profissional entre nós dois, mas não suportava mais
fugir da atração que sentia por ela. Eu não sabia que fim aquilo poderia ter, porém calei minhas
questões internas e decidi, de uma vez por todas, seguir minha atração, chamá-la para um café e
testar o interesse dela e, quem sabe assim, conseguir algo mais.
Tudo iria depender da Emma.
Modéstia à parte, não podia ser hipócrita e menosprezar a minha fisionomia, sabia que
no mínimo a minha aparência contava pontos a meu favor. Imaginava que ela ao menos me
achasse atraente e, quem sabe, nunca demonstrou nenhum tipo de interesse, por conta do seu
profissionalismo exacerbado.
Era isso.
De hoje não passaria.
Assim que o expediente se encerrasse e ela viesse até minha sala para se despedir como
faz todos os dias, eu a convidaria para um café ou para um happy hour. É sexta-feira afinal de
contas.
Com a decisão tomada, já me sentia mais tranquilo e empolgado, com uma ansiedade
gostosa correndo pelas minhas veias. Por hora, foquei minha cabeça no computador à minha
frente, com o arquivo do manuscrito de um dos livros que seriam lançados ainda naquele mês.
Algumas horas se passaram e depois de muito trabalho e de finalizar a aprovação do
manuscrito, devolvendo o arquivo para o revisor final, desviei o olhar para o relógio no canto da
mesa, me dando conta de que faltam apenas dez minutos para o fim do expediente.
Poderia estar empolgado além da conta e esperando coisas muito além do que a
realidade, mas não conseguia me conter agora que finalmente resolvi me mexer e fazer algo a
respeito da minha atração por ela. Fui ao banheiro, escovei meus dentes, reapliquei perfume e
desodorante, antes de checar o cabelo no reflexo do espelho.
— Você é muito emocionado, Benjamin. — Ri de mim mesmo.
De volta à minha sala, me encontrei em uma cena ridícula, testando poses, querendo ficar
de maneira casual, como se não estivesse tudo premeditado como realmente era o caso. Ainda
bem que não tinha ninguém ali para presenciar minha provável cara de pateta.
Quando ouvi uma batida à porta, não consegui segurar o sorriso. Uma pena que ele
morreu assim que não a vi, porque quem entra no seu lugar é James, um dos meus diretores e
acionistas.
— McKnight, posso falar com você?
— Claro, o que houve? — Apontei as poltronas no canto da sala, me direcionando até lá
junto dele.
— É sobre o baile de amanhã.
— Baile?
— Sim, o baile oferecido pelo New York Times para premiar os empresários mais bem-
sucedidos do último semestre. — Ele resumiu quando percebe que não me lembrava do que
estava falando — Não se lembrava, não é?
— Honestamente não. — Ri com ele — Agora que você falou, isso voltou à mente, mas
desde que te passei essa função, realmente me esqueci por completo.
— Pois é, mas, Benjamin, sei que havia me comprometido a te substituir na premiação
amanhã, mas surgiu um imprevisto com meu irmão em outro estado e vou precisar ir até lá para
resolver.
— Alguma coisa séria? Precisa da minha ajuda?
— Não, obrigado. Eu só preciso ir até lá e cuidar das coisas. Ele sofreu um acidente de
carro e precisará de ajuda com a casa e as crianças, vou até lá para contratar uma enfermeira ou
algo do tipo e dar um conforto para os meus sobrinhos.
— Claro, James, vá e fique o tempo que precisar, não se preocupe com o trabalho, muito
menos com o baile. Eu vou, como deveria ir desde o início.
— Mesmo? Me desculpe pela mudança de última hora.
— Não se preocupe, imprevistos acontecem. Se precisar de um tempo em home office,
basta me avisar. Emma consegue ajudar no que precisarmos de você por aqui.
— Obrigado, Benjamin.
Me despedi dele com votos de melhoras para seu irmão e voltei à estaca zero, esperando
uma nova batida à porta anunciando Emma. Porém, as coisas mudaram um pouco e pensei: por
que ao invés de convidá-la para um simples café, eu não a convidava para me acompanhar nesse
baile? Um baile é bem melhor do que um simples café, não é?
Eu só precisava me certificar de que ela compreendesse que não queria a companhia da
Emma secretária, e sim da Emma mulher.
Não demorou muito para ela bater à minha porta. Me dirigi ao frigobar que tenho
próximo ao sofá e pedi para que entrasse. Quando ela o fez, reparei que não deixou a porta aberta
como sempre fez, fechando-a atrás de si, o que me fez estranhar seu comportamento, mas não o
suficiente para ouvi-la antes de enfim fazer meu convite. Agora que estava aqui, nada iria me
deter.
— Emma, já estava indo te chamar.
— Precisa de alguma coisa, Benjamin? — Me perguntou solícita.
— Sim e não. — Quando seus olhos pararam em mim, fiz o convite que há muito me
impedi de fazer — James acabou de sair daqui com a notícia de que não poderá me substituir no
Baile da Times amanhã, eu terei que ir.
— Precisa que eu organize algo para você, já que foi tudo de última hora?
— Não. Na verdade, eu queria te fazer um convite.
— Convite? — Emma questionou, levando uma mecha do seu cabelo para atrás da
orelha.
— Sim. — Me aproximei dela, um tanto mais do que seu chefe normalmente faria,
porque aquele na frente dela era apenas o Benjamin, não o CEO da Booksbank — Eu queria
saber se você gostaria de ir comigo ao baile?
— Eu? — Ela arregalou um pouco os olhos e me fez sorrir.
— Sim, você.
— Desculpe a surpresa, é só que você já foi a esses bailes antes e nunca precisou de uma
secretária, não esperava que dessa vez...
— Dessa vez não é diferente. — Interrompi o rumo dos seus pensamentos — Nunca
precisei e ainda não preciso de uma. Eu estou te convidando para ir comigo, Emma. Você, não a
minha secretária.
— Eu? Não como uma secretária, mas como uma...
— Como uma mulher, fazendo companhia a um homem em uma festa com drinques e
canapés à disposição. Como um... você sabe, um encontro. — Disse com todas as letras, pelo
visto eu realmente teria que deixar claro que não era o caso de um evento profissional.
— Por que eu, Benjamin? —Ela perguntou, sua voz ainda mais suave do que o normal.
— Porque não você, Emma? —Me aproximei ainda mais, não extrapolando limites
físicos, mas apenas para fazê-la me perceber e realmente me sentir à sua frente — Porque você é
incrível, é engraçada. E eu iria gostar que me fizesse companhia. — Seu olhar não desviou de
mim, como se quisesse me ver e, mais do que isso, me enxergar, enxergar meus motivos para
aquele convite — Não precisa ser um encontro se é isso que está te deixando receosa, pode ser
apenas...
— Eu aceito.
— Aceita? — Meu sorriso não negou o quanto me senti aliviado, e contente, pelo seu
sim. E aumentou ainda mais quando ela o espelhou, sorrindo de volta para mim.
— Sim. Amanhã?
— Amanhã, eu passo para te pegar em casa às 20 horas, tudo bem?
— Tudo bem. — Ela sorriu outra vez e então me deu as costas, andando em direção à
porta, até mesmo se esqueceu de se despedir. Ou não. — Ah, eu vim aqui para falar duas coisas e
acabei me desconcentrando.
— Que coisas? — Não segurei meu sorriso ao ver seu desconserto, ao falar mais do que
devia.
— Ia dizer que tem uma pessoa aí fora querendo falar com você, disse ser importante,
mas como não estava agendado, eu não sabia que teria que ficar aqui por mais tempo hoje e
havia aproveitado para marcar uma consulta médica.
— Está tudo bem com você? — Podia estar ultrapassando limites ao fazer essa pergunta,
mas... a quem quero enganar? Se a chamei para sair, perguntar se ela está bem de saúde não seria
uma intromissão ainda maior.
— Tudo bem, apenas uma consulta de rotina no dentista. Obrigada pela preocupação.
— Que bom então. Pode ir para sua consulta tranquilamente, eu resolvo o que tiver que
fazer por aqui ainda, depois de conversar com essa pessoa que está aí. A propósito, quem é?
— Courtney Bittencourt. — Ela precisou conferir o nome no papel em sua mão.
— Courtney? — Minha voz soou duvidosa até para mim mesmo, o que ela poderia
querer comigo depois de tanto tempo? — Peça a ela para entrar quando você sair, ok?
— Tudo bem. Te vejo amanhã, então?
— Às 20:00 em ponto. — Confirmei — Boa noite, Emma.
— Boa noite.
Agora sim ela se despediu. Ainda ouvi sua conversa com Courtney e, com a porta
entreaberta, vi quando ela se direcionou ao elevador, ao menos até a outra mulher invadir a
minha sala sem qualquer delicadeza.
— Oi, Courtney, tudo bem?
— Não, Benjamin, não tem nada bem aqui. Absolutamente nada.
— O que está acontecendo? — Perguntei, vendo que ela estava completamente alterada.
— Vou te contar exatamente o que está acontecendo, Benjamin. — Ela pronunciou meu
nome com certa repulsa e eu franzi o cenho sem entender de onde vinha tamanha hostilidade —
Eu estou grávida, é isso que está acontecendo. — Ela se aproximou, fincando o dedo no meu
peito —Você, Benjamin, fez o favor estúpido de me engravidar.
A única reação humanamente possível para meu corpo foi de choque, arregalar os olhos,
de um jeito que me parecia que eles iriam pular para fora do meu rosto. O ar pareceu me faltar,
meus pulmões ardiam pela falta de oxigênio. Na verdade, tinha a sensação de que desaprendi a
respirar.
Grávida? Courtney estava grávida? Eu engravidei Courtney?
Minhas mãos corriam pelo rosto, bagunçavam os cabelos, eu respirava fundo mil vezes,
até que comecei a sentir meus pulmões inflarem novamente. Grávida? Nós iríamos ter um filho?
Um filho juntos?
— Como assim grávida, Courtney? — Questionei, muito mais enquanto tentava
racionalizar a ideia do que efetivamente esperando uma resposta, até mesmo porque ela apenas
gargalhou, cheia de escárnio.
— Você precisa mesmo de uma aula de educação sexual agora, Benjamin?
— Não, Courtney, apenas quero entender tudo isso, estou processando a informação.
Nós transamos há, o que, dois meses? E usamos camisinha, não?
— Não, não usamos. Estávamos bêbados, mas me lembro perfeitamente disso e, antes
que questione sua paternidade, já aviso que você foi o último cara com quem me envolvi, então
só pode ser seu. Se estiver duvidando...
— Nós vamos ter um filho, Courtney?
Cortei seu discurso, sem querer me ater àquele detalhe pelo momento, por mais que ele
fosse um bem importante. E então só me restou internalizar a informação que me trouxe. Um
filho. Isso sempre esteve nos meus planos, me tornar pai. Claro, eu esperava estar casado, ter
uma família estável e então pensar em filhos. Porém, a vida nos prega peças e estávamos ali.
Mesmo sendo de uma maneira bem diferente do que eu imaginava, esse filho estava ali, e eu
garanti desde aquele instante que seria o melhor pai que ele poderia sonhar em ter.
Meu filho teria tudo que eu não tive, a começar por muito amor e carinho.
— Não, Benjamin, nós não vamos ter um filho. — Courtney me trouxe de volta à
realidade com uma fala que não compreendi.
— Como assim não vamos ter um filho se você acabou de vir até aqui para me contar
que está grávida? — Eu estava tonto, completamente atordoado, sem entender mais nada.
— Benjamin, entenda e compreenda de uma vez por todas. Eu estou grávida, mas não
vou ter esse filho. Eu vou interromper a gestação.
— Você diz... fazer um...
— A palavra que você está procurando é um aborto.
Dei três passos para trás após ouvir sua afirmativa. Sabia que existiam mulheres que
recorrem a esse tipo de coisa quando enfrentam uma gestação não desejada ou inesperada, ou até
mesmo em outros casos. Eu não tinha exatamente uma opinião sobre o assunto e nem me
caberia, mas, nesse caso, era do meu filho que estávamos falando.
Era estranho pensar assim. Não tinha mais do que poucos minutos que descobri sobre
ele, mas saber que ele existia e que isso o tornava meu filho e me tornava seu pai, transformou
todas as coisas. Existia um pequeno ser, vindo de mim, crescendo na barriga à minha frente.
Tudo era muito surreal, enchia meu peito de sentimentos que eu jamais senti, sentimentos bons e
por isso não conseguia conceber a ideia de não tê-lo.
—Courtney, você... tem certeza disso? É meu filho, eu estou aqui e não vou te deixar
desamparada. Nem você, nem o bebê. Pense nisso, você pode...
— Não tem o que pensar, Benjamin. Eu não quero essa criança, eu não quero ser mãe.
Ela não queria ser mãe. E eu não poderia ser o pai. Não tive um exemplo disso dentro de
casa, mas eu sei que, independente de qualquer coisa, sempre soube que quando tivesse um filho,
eu iria fazer o melhor para exercer o meu papel como pai. E minha luta começaria ali. Eu não
podia deixar que ela seguisse com aquela ideia.
— Posso te perguntar o porquê?
— Simples. Eu não quero ser mãe, não tenho nem nunca tive a pretensão disso. Eu
detesto crianças, tenho verdadeiro horror a elas, acho que são remelentas, catarrentas e
pirracentas. Não quero nada disso para mim.
Sua facilidade em dizer aquelas palavras me espantou e eu juro que entendia que ela tem
direito a ter suas vontades e convicções, mas eu não conseguia. Não conseguia compreender que
algo meu vivia nela e ela planejava terminar com tudo, sem que eu pudesse fazer qualquer coisa.
A única coisa que poderia fazer era implorar e fazer promessas a ela, ainda que ela estivesse em
seu direito e eu não pudesse obrigá-la a fazer o que eu quero.
— Courtney... — Respirei fundo, esfregando as mãos na calça para tentar enxugar o suor
— Eu sei que é um direito seu prosseguir ou não com a gravidez, mas... mas, por favor, não faça
isso. Não mate o meu bebê. — Eu realmente implorei, era tudo que me restava fazer.
— Seu bebê? Benjamin, você sabe disso a poucos minutos e realmente pode me dizer
que criou um vínculo tão forte assim? É apenas um feto.
— Respeito se você pensa assim. — Tentava manter minha postura, eu não iria a lugar
nenhum com ela se tratasse as coisas aos gritos e grosserias, por mais que estivesse incomodado
com a maneira como falava— Mas, para mim não é apenas isso, é um bebê, é meu filho.
Andava de um lado para o outro tentando pensar em algo, algum argumento que surgisse
efeitos, mas nada me vinha à mente, absolutamente nada. A tensão estava nublando meus
pensamentos. Estava nervoso para caralho. Meu coração parecia que ia sair do meu peito
tamanha a violência com que palpitava. Aquela conversa escalonou de uma maneira
completamente inesperada e eu não era nada mais do que uma pilha de nervos e medo súbito de
perder o que eu nem mesmo sabia que existia até poucos minutos atrás.
Não sabia explicar direito de onde vinha tudo isso dentro de mim, mas sabia com uma
certeza que jamais tive antes, que não poderia deixá-la fazer isso. Eu precisava dar um jeito, eu
precisava pensar em algo que fosse suficiente para impedi-la.
— Eu nem queria ter vindo aqui te contar tudo isso, eu poderia apenas ter feito o que
queria sem que você soubesse, mas meu empresário me impediu. De qualquer maneira, agora
que fiz o que prometi fazer, estou indo embora. E, de coração, espero que essa seja a última vez
que a gente se encontre. Peguei trauma o suficiente depois de uma noite de sexo com você. Até
nunca mais, Benjamin.
Ela se despedia de uma maneira definitiva, mas eu ainda não estava naquele lugar, não
podia apenas aceitar que ela se fosse, não sem eu tentar ao menos mais uma vez.
— Courtney.
— Chega, Benjamin, não há nada que possa falar para me fazer mudar de ideia. — Ela
me interrompeu, antes que eu sequer tivesse a chance de dizer alguma coisa — A não ser que...
— Ela parou no lugar, a mão na maçaneta como em uma ameaça de que sairia a qualquer
momento. Não me importava, ao menos parecia ter uma chance.
— A não ser que o que, Courtney?
— A não ser que me faça uma oferta bem generosa para que eu mude de ideia. Sabe,
números sempre foram uma paixão, sempre me vejo um tanto maleável quando um belo número
se desenha à minha frente. Quem sabe nesse caso não funcione? Quem sabe um belo número não
me faça mudar de ideia?
— O que você está tentando me dizer?
— Números, Benjamin, de preferência em um transferência bancária ou escritos em uma
bela caligrafia em um talão de cheques.
Ela sorriu para mim, como se não tivesse acabado de dizer uma das coisas mais horríveis
que já presenciei. Ela queria isso mesmo que eu pensava? Ela estava me vendendo o nosso filho?
Ela queria que eu lhe pagasse para não abortar meu filho?
— Deixa eu ver se compreendi exatamente o que está dizendo. — Meu tom de voz
mudou de desespero para incredulidade — Você quer que eu lhe pague para não terminar a
gestação? Você quer que eu pague para você ser a mãe do nosso filho?
— É claro que não, Benjamin. Eu estou te oferecendo uma única chance de ter o que
você quer, sem me prejudicar.
— Fale de uma vez tudo que tem para me dizer, deixe seus joguinhos para outro idiota.
— Ela riu, sabia que me tinha nas mãos. Ela descobriu meu ponto fraco e iria explorá-lo até
conseguir o que quisesse — O que você está oferecendo, Courtney?
Ela me olhou, com um sorriso ridículo nos lábios enquanto abria a bolsa e retirava de lá
um papel dobrado. Courtney andou até mim, depositou o papel sobre a mesa e o deslizou até
deixá-lo à minha frente. Um simples papel em branco, com uma quantia exorbitante descrita ali.
— O que é isso?
— Isso é uma estimativa. Sabe, Benjamin, existem patamares entre as modelos mais
conceituadas atualmente. Existem aquelas que já chegaram ao topo e lá permanecem e existem
aquelas que fizeram seu nome e estão escalando ao topo da montanha. Eu sou uma dessas. Ainda
não estou lá no topo, mas estou no caminho para ser uma das maiores.
— Essa história tem um propósito?
— Tem mais do que um propósito, tem um valor. Este valor descrito aí. — Ela apontou
para o papel que queimava minha vista — Essa é uma estimativa do meu salário anual, agora que
meu nome alcançou um patamar de grande relevância. Isso, Benjamin, é meu preço. Esse é o
valor que te custará para me impedir de fazer algo que você não queira. Tenho certeza de que se
você quer tanto assim esse bebê, esse valor não será nada demais para você.
— Você quer que eu te dê 15 milhões de dólares para te impedir de abortar nosso filho?
— Seu filho, eu não quero nada com ele ou com você.
— Você é maluca, Courtney? —Meu tom de voz superava limites tamanha a minha
incredulidade diante de tudo que ela dizia.
— Não esperava que seu amor tivesse um preço limite, Benjamin. — Sua ironia me
atingiu e, mais do que isso, me revoltou, me tocou em um ponto profundo. Amor não deveria ter
limites e tudo que eu sempre quis foi que alguém que me amasse a ponto de jogar tudo e
qualquer coisa para o alto por mim, apenas por mim.
— Você é baixa, Courtney. — Ela nem mesmo se ofendeu com minhas palavras.
— As coisas são como são. Eu nem mesmo queria vir aqui, mas agora, até que acredito
que essa visita tenha sido bem proveitosa. E então, o que você me diz, Benjamin? — Ela se
dirigiu ao meu sofá, se jogando bem ao centro dele, cruzando as longas pernas enquanto jogava
suas palavras finais — Seu amor vale meu preço ou posso seguir direto daqui para uma clínica?
— Você é mau caráter, Courtney, mas se para ter o meu filho eu precisarei descer ao seu
nível, então eu o farei. Eu te darei esse dinheiro, desde que você mantenha a gestação, se cuide e
vá a consultas médicas até o momento do parto, e então me entregue meu filho e renuncie todo e
qualquer direito sobre ele.
— Fique tranquilo, Benjamin, e acredite em mim, não quero um segundo a mais do que o
necessário na presença dessa criança. — Ela se levantou, ajeitava o vestido enquanto andava até
mim para me dar um cartão — Você tem até segunda-feira para procurar meu empresário e
marcar um encontro para firmar esse contrato.
Ela nem mesmo esperou que eu reagisse, apenas me dá às costas e seguiu seu caminho
para longe do meu escritório, me deixando sozinho com meus pensamentos. Alcancei uma boa
dose de whisky no meu bar particular, virei de uma só vez sentindo o líquido âmbar descer
queimando pela minha garganta.
Como pode um dia mudar tanto e tão rapidamente? Eu comecei esse dia frustrado por ter
tido um sonho erótico com a mulher que vinha ocupando todos os meus pensamentos, passei por
uma quase crise existencial tomando coragem para quebrar minhas próprias regras e finalmente
chamá-la para sair, fui ao êxtase por ter ganho o meu sim vindo diretamente da dona daquele
olhar de esmeraldas hipnotizantes, para chegar até esse momento e descobrir que a única maneira
que teria de assegurar que meu filho virá para meus braços dentro de alguns meses seria pagar a
mulher que o carregava no ventre.
Mas que porra de dia maluco tinha sido esse? Eu não sabia exatamente a resposta, nem
mesmo compreendia a verdadeira maneira como me sentia diante do que havia prometido, mas
sabia o que queria e iria até o fim.
Capítulo 04 – Emma Campbell

O que deu em Benjamin para me chamar para um encontro? Ou melhor, o que deu em
mim para dizer sim a ele?
Ok, a quem eu queria enganar. Eu sempre me senti atraída por ele, e mais de uma vez me
peguei imaginando se, algum dia, ele poderia me olhar de uma maneira que não fosse apenas
profissional. E essa era a única coisa que me fazia não me avançar nenhum sinal, ou demonstrar
que eu sentia coisas que extrapolavam uma relação profissional.
Benjamin era lindo, de muitos jeitos, e ainda não sabia o que pensar sobre a ideia de que
ele — Ele! — queria ir a um encontro comigo. E não apenas um encontro, mas o encontro.
Benjamin McKnight, CEO de uma das maiores editoras do país queria me levar ao baile de um
dos maiores veículos de comunicação.
Em que realidade alternativa eu acordei essa manhã para me encontrar em um dia em que
um dos homens como ele, um dos mais lindos que já vi me chamaria para um encontro desse
nível?
Eu, Emma Campbell, uma simples secretária sem mal ter onde cair morta tinha um
encontro com Benjamin McKnight. Eu precisava que alguém me beliscasse ou me despertasse
daquele sonho antes que eu sonhasse alto demais e acabasse caindo da cama e quebrando minha
cara.
Antes que a autossabotagem se fizesse presente ou que eu começasse a pensar em um
milhão de motivos que me afastassem de Benjamin muito mais do que nos aproximasse, recorri
àquela que eu sabia que iria mandar a real na minha cara, sem medir palavras ou esforços para
que eu entendesse coisas que os meus receios e inseguranças não permitissem.
E por isso que assim que saí do dentista e sentei no metrô a caminho de casa, mandei
uma mensagem para Hannah, minha melhor amiga, minha única amiga e a mais perfeita que um
dia eu poderia desejar ter ao meu lado.

Enviei a mensagem e apenas aguardei por sua resposta. Minha perna balançava sem
parar, mal conseguia conter minha ansiedade. Todas as partes de mim se concentrando em duas
únicas questões: a primeira questionava se eu deveria ou não ter dito sim a ele, e a segunda me
colocava em alerta, o que eu deveria fazer agora que disse sim?
Era bom que Hannah tivesse respostas para essas e todas as outras perguntas que iriam
surgir — e eu tinha certeza que surgiriam—, e mais do que isso esperava que ela solucionasse
cada empecilho que minhas inseguranças fariam presentes, porque eu sabia que isso iria
acontecer.
Porém, pela primeira vez em muito tempo eu queria vencê-las.
Eu realmente queria isso.
Hannah tinha que dar um jeito em mim!

Da estação de metrô mais próxima até a portaria do meu prédio, eram menos de cinco
minutos de caminhada. Quando vi a fachada, enxerguei também a cabeleira loira de Hannah
esvoaçando enquanto conversava com o Sr. T, que gargalhava de qualquer bobeira que minha
melhor amiga dizia a ele.
— Cheguei! — Anunciei, recebendo um beijo do senhor enquanto a maluca pulou no
meu pescoço.
— Finalmente, estou em cólicas, morrendo por uma fofoquinha. Trouxe reforços, nossa
noite vai ser longa, meu amor. — Ela sacudia uma sacola com munições perfeitas.
— Boa fofoca, garotas.
— Valeu, Sr. T. Até a próxima. — Hannah cumprimentou o senhor, que se despediu de
nós duas com abraços — Vamos, senhorita Campbell, estou carente de fofocas e algo que me diz
que você tem uma espetacular para me contar.
— Você não faz ideia, Hannah Banana. — Cruzei meu braço no dela, suspirando de
maneira conspiratória.
— Que bom que a garrafa de tequila está quase cheia.
— Talvez a gente precise até de mais uma. — Hannah me olhava com a boca aberta em
choque ao me ouvir.
— Hoje a nossa noite vai mesmo ser ótima. Vamos subir, estou em cólicas de
curiosidade.
Subimos até meu andar quase correndo, feito duas adolescentes trocando confidências
dos primeiros amores. Entramos no meu apartamento e enquanto eu me trocava para uma roupa
mais confortável, Hannah se esforçava em preparar drinks para nós duas. Nos encontramos na
sala, esparramando pelo tapete, pronta para trocar conselhos. Ao menos era o que eu esperava.
— Desembucha, Emma, o que aconteceu?
— Quanto tempo você tem para mim hoje? — Bebi um gole do drink esperando pela
resposta que não veio, porque tudo que ela fez foi pegar seu celular e disparar uma mensagem
para Joey, seu noivo.
— A noite é toda nossa, bebê.
— Benjamin me chamou para ir com ele no Baile do New York Times, não como sua
secretária, mas em um encontro. Ele mesmo usou essas palavras. Pronto, falei.
Desabafei de uma só vez, sem qualquer preparo e sem dar tempo para ela questionar
cada pequeno detalhe que eu dizia, como ela costumava fazer todas as vezes que conversávamos.
E dessa vez consegui assistir seu choque ir surgindo pouco a pouco, os olhos, em uma mistura de
tons esverdeados e azulados, se arregalaram, o queixo caiu a ponto de eu cogitar que ele
chegasse a tocar o chão. E então...
— O BONITÃO TE CHAMOU PARA UM ENCONTRO NO BAILE DA TIMES? —
Ela ficou de pé, pulando no lugar enquanto gritava chocada.
—Hannah! — Ri e gritava junto dela — Para de gritar, sua louca, Nova York não precisa
ficar sabendo da minha vida amorosa.
— Emma! O bonitão, o seu chefe bonitão, aquele por quem você nutre uma paixonite e
finge que eu não sei disso, é dele mesmo que estamos falando?
— Não me faz parecer patética, Hannah.
— Patética? Claro que não. Patético é ele por ter esperado cinco anos para tomar uma
atitude.
— Que atitude, amiga? Eu sou só a secretária dele, nem mesmo sei o que deu nele para
isso.
— Você é incrível, linda, inteligente, cheirosa e gostosa. Se ele precisou de cinco anos
para se apaixonar por você, só há um ser patético em toda essa história, e não é você.
— Se apaixonar por mim? — A gargalhada que irrompeu meu corpo chegava a arder
minha garganta — Hannah, não exagera. Ele disse que será um encontro, mas tenho certeza de
que ele só me convidou porque foi algo de última hora, não daria tempo de ele arrumar
companhia melhor.
— Emma Marie Campbell, você precisa que eu segure sua cabeça e bata com ela na
parede? — Ela apoiou as mãos na cintura, me olhando com firmeza. Esse era um dos motivos
para que eu a amasse, ela sabia o momento de ser doce, ela sabia o momento de ser firme, ela
sabia o momento de amar e de odiar, ela sabia me ler e me fazer enxergar — O bonitão tem
muito a ganhar ao ter você ao lado dele.
— Hannah, se você visse as mulheres com quem ele se envolve, ia entender de onde vem
esse sentimento. Eu não faço o tipo dele.
— Qual o tipo dele?
— Altas, magras, ricas. Eu não tenho altura, tenho gordura em vários cantinhos do corpo
e não vou nem comentar sobre a falta de dinheiro. O tipo dele são as Courtney Bittencourt da
vida, não as Emmas Camp... Hannah! — Não consegui terminar de falar antes dela me acertar
uma almofada na cabeça.
— De onde veio essa, tem muitas mais. Cuidado com as bobeiras que saem da sua boca.
Emma, você precisa que eu te bata, que eu aumente sua autoestima ou que eu te mostre cada
motivo para que aquele bonitão queira você muito mais do que apenas pela facilidade de te ter
por perto a todo tempo?
— Um pouco de tudo?!
— A almofadada já foi, vou guardar uma segunda para uma próxima oportunidade.
Então vamos aos outros pontos. — Ela se ajeitou no chão, bebeu mais um gole do seu drink e me
obrigou a fazer o mesmo — Emma, eu juro que entendo inseguranças, sei o quanto elas nos
moldam, mas eu não vou nunca permitir que você se enxergue como menos do que você é. Você
é incrível e está praticamente sozinha há tempo demais para compreender o quanto sua
companhia é valiosa.
— Acho que perdi a capacidade de me admirar em algum lugar pelo caminho.
— Pois eu estou aqui para te lembrar de cada característica a ser admirada. O bonitão, ou
qualquer outro homem, teria muita sorte em ter você na vida dele. Se ele te convidou para esse
baile, independente de quando o convite surgiu, foi porque ele te quis, apenas por isso. Se ele
tem oportunidade de chamar qualquer outra mulher para um encontro e escolheu você, foi
porque ele quis.
— Acha mesmo isso? Ou está me dizendo apenas por eu ser sua amiga?
— Eu não acho, eu tenho certeza.
— Benjamin me convidou por querer a mim e não como uma última opção em um
momento de desespero?
— Eu realmente acredito nisso, estou dando um grande voto de confiança ao bonitão.
Mas se esse não for o caso, você vai ter se divertido em um baile incrível, com um vestido de
parar corações e esse bonitão patético vai ter perdido uma chance com a segunda mulher mais
linda desse universo.
— Segunda? — Perguntei, chocada com o rebaixamento.
— Claro, a primeira sou eu. — Ela me encarava com tanta seriedade ao dizer isso, que
tudo que me restava era rir. Ri tanto que não demorei a contagiá-la.
— E o que eu faço agora, Hannah Banana?
— Agora nós vamos terminar nossos drinks, assistir uns filmes românticos como
pesquisa de campo e amanhã eu vou te levar em uma loja incrível para acharmos o vestido
perfeito e, antes que você fale de dinheiro, é um presente meu.
— Hannah.
— Emma, calada. O vestido é meu presente.
Eu poderia questionar um pouco mais, mas em questões financeiras Hannah estava muito
mais próxima a Benjamin do que de mim, então apenas me calei e aceitei o presente.
— Obrigada, pelo vestido, pelas palavras, por estar comigo sempre.
— É minha irmã, eu te protejo e defendo. Estou com você nos momentos felizes e
principalmente quando as coisas acabam em merda. Não será esse o caso, tenho um bom
pressentimento de que esse baile definirá muitas coisas.

Quem diria que às vezes tudo que uma mulher precisava era de uma melhor amiga,
alguns drinks com tequila, comédias românticas de qualidade duvidosas, uma noite do pijama
improvisada e horas passeando por lojas luxuosas até encontrar um vestido perfeito para um
baile?!
Quem diria, não é mesmo?
E quem poderia cogitar que eu seria essa pessoa? Eu jamais pensaria. Mas o que a
minha persona da imaginação não esperava era que um momento como esse dividido com
Hannah seguido de um banho de loja em uma grife, jamais seria esquecido por mim.
Claro que não foi só o vestido para o baile, Hannah conseguiu o que sempre tentava
fazer e eu não permitia, me presenteou com várias peças de roupa. Eu não estava em uma
posição de reclamar, eu não gastava dinheiro com roupa —até porque eu mal tinha para gastar
com coisas realmente importantes, como comida, aluguel e rede elétrica —, mas sempre me via
na posição de precisar de roupas novas, ainda mais com o meu trabalho em que precisava sempre
estar bem-vestida e apresentável.
Metade das minhas roupas vieram de Hannah, ou como um presente em datas
comemorativas, como meu aniversário ou natal, ou como peças de segunda mão que ela iria se
desfazer em doação e eu pegava para mim. Muitas coisas de grife e marcas luxuosas, mas que
nunca nem viram a cor do meu próprio dinheiro.
E é claro que em uma situação em que Hannah conseguiu finalmente me arrastar
pessoalmente para uma loja, ela realizou seu sonho em praticamente me dar um guarda-roupas
novo. Ok, um exagero da minha parte, foram cinco peças — além do vestido principal —, mas
muito mais do que eu esperava. Meu pobre armário de duas portas mal iria entender a pequena
superlotação assim que eu tivesse tempo de guardar as peças novas.
Voltei para casa com muito mais do que eu esperava, e por mais que eu tivesse me
apaixonado por cada uma das minhas roupas novas, nada superava o quanto o vestido escolhido
— por mim, por Hannah e por todas as vendedoras da loja—me tirou o fôlego por completo.
Eu jamais me senti mais linda do que me olhando no reflexo daquele espelho. O
vestido era perfeito, me vestiu perfeitamente, como se tivesse feito especialmente para mim. Em
um tom de azul celeste, era praticamente feito de tule — daqueles de qualidade, que não ficam
pinicando ao encostar na pele—, tinha um corselete bem ajustado, tão bem ajustado que até me
fez parecer ter seios maiores. Ele descia pelo comprimento como uma única camada, mas sem
chegar até meus pés, deixando-o no comprimento midi. As alças, também de tule, formavam
laços delicados e estruturados, dando um toque feminino à peça.
Mas o que mais me conquistou, foi descobrir que por todo o tecido, existiam pequenas
partículas reluzentes, como pequenos diamantes, que sob a incidência das luzes, refletiam como
um verdadeiro céu cheio de estrelas.
Perfeito!
E para finalizar o visual, sandálias de salto alto, do tipo agulha, em um tom prateado
que complementava perfeitamente o efeito brilhante do tecido do vestido.
— Benjamin, respondeu sua mensagem? — Hannah me tirou dos meus pensamentos,
chamando minha atenção para a vida real onde estava sentada na poltrona da minha casa, com
um maquiador à minha disposição. Minha amiga quando se empolgava com algo, ia até o fim.
— Ainda não. — Olhei meu celular mais uma vez, e nada de uma resposta — Acha
que ele se arrependeu?
— Emma Marie, olha para esse vestido, olha no espelho o seu reflexo, a minha obra de
arte. Você acha que a mulher que preenche essa imagem tem inseguranças com isso? Eu já te
disse, aquele bonitão mal sabe o que vai lhe atingir.
— Você não me respondeu. — Insisti em uma resposta, estava com um pressentimento
de que Benjamin vai me dar um belíssimo bolo.
— Podem existir mil e um motivos para ele não ter respondido, não pense logo nesse.
Olha, ainda temos vinte minutos até o horário marcado, não se desespere antes da hora.
Era fácil para ela falar, era fácil concordar —ainda que fosse apenas para ela não
insistir que tudo não passava das minhas inseguranças —, mas não era mesmo fácil ignorar essa
sensação de que ele iria me dar um cano. Não sei, tudo foi muito rápido, muito imprevisível.
Jamais pensei que ele realmente tivesse qualquer tipo de interesse em mim, e talvez ele
realmente não tivesse e apenas me chamou pela urgência de ir ao baile e não ter uma
acompanhante. Quem sabe ele não me chamou e logo se arrependeu quando viu Courteney
Bittencourt — A Courtney! — entrando em sua sala logo após minha saída. Quem sabe ele não
mudou de ideia e iria levá-la com ele ao invés de mim, e apenas não sabia como me dispensar.
Olhava para meu celular uma última vez antes de Hannah insistir para que eu me
vestisse e nada de uma resposta dele. O tempo de me vestir, sem bagunçar cabelo e maquiagem,
foi o tempo exato para o horário em que ele marcou esse compromisso. Eram 20 horas, e além
dele não estar ali como prometeu, sequer tinha uma mísera resposta à minha mensagem.
— Hannah, obrigada por tudo, por ontem e hoje, mas... — Meu desabafo em forma de
agradecimento foi cortado pelo som de notificação no meu celular.
— É ele. — Ela me estendeu o aparelho e eu abri nossa conversa, já esperando o pior.
— Eu não sei se acredito nele. — Confessei à Hannah, que, claro, estava pendurada
sobre o meu pescoço lendo todas as mensagens.
— Homens! Idiotas, tapados e atrapalhados. Eu não duvido que esse bonitão cabeçudo
apenas tenha se atrapalhado com horários.
— Se ele está mesmo ansioso, não deveria...
— Emma! Espere para ver. Não responda a mensagem, quando ele chegar você vai
demorar uns dez minutos para descer, apenas para deixá-lo esperando e sem saber se você vai ou
não. Deixe que ele se sinta inseguro também. E quando ele se desculpar pelo atraso, porque é
isso que um homem descente faria, você vai decidir se acredita ou não nele. Não se sabote antes
da hora. Se achar que é mentira e que ele é um babaca, me avise e eu arranjo um lugar incrível
para nós duas sairmos e gastarmos esse lindo visual. — Ela me abraçou e estalou um selinho nos
meus lábios em sua empolgação, me arrancando uma risada. Maluca, nunca fez isso antes —
Minha obra de arte!
Esperar trinta minutos quando eu já estava pronta foi um tanto irritante. Hannah me
obrigou a ficar de pé — ao menos me deixou ficar descalça — para não amassar o vestido,
enquanto ela andava de um lado para o outro sem parar. Ela queria fingir que não, mas eu sabia
que estava tão ansiosa quanto eu. Somos assim, desde o início, ligadas a esse ponto.
Quando o interfone tocou — no que pareceu ser uma eternidade depois—, Hannah
atendeu e pediu para que o Sr. T fizesse o bonitão comer poeira enquanto me aguardava.
Palavras dela, não minhas.
Ela me olhava de cima a baixo algumas vezes e quando finalmente pareci ter sua
aprovação, me expulsou da minha própria casa. Descemos juntas no elevador, mas ela correu
para fora um andar antes do térreo, para que Benjamin não a visse.
Quando o elevador apitou pela última vez e as portas abriram, dei de cara com ele, em
toda sua glória e atraso, mais lindo do que nunca em um smoking sofisticado e sem qualquer
vinco, e em suas mãos, um lindo buquê de rosas brancas.
Benjamin me olhava, e por mais que eu quisesse permanecer no campo das minhas
inseguranças, nem mesmo eu podia ignorar que naquele olhar tinha mais do que apenas uma
surpresa em ver uma nova versão de mim. Tinha admiração, tinha fascínio e, por que não, um
tanto de desejo.
Foi naquele momento que parte de mim se esqueceu por completo do incômodo pelo
seu atraso e falta de mensagens, porque ele me olhava de um jeito que nenhum outro jamais
olhou.
— Emma! Uau! — Sua voz se perdeu enquanto seus olhos passeavam por mim,
tomando minha imagem com uma certa devoção. — Você está incrível. Linda!
— Obrigada, Benjamin. Você também... está muito bonito.
— E muito atrasado. — Ele admitiu, se aproximando de mim um pouco mais,
invadindo meu espaço pessoal com sua presença e seu maldito perfume perfeito — Me desculpe,
Emma, de verdade. Estava com a cabeça cheia com algumas questões e acabei perdendo a noção
do horário.
— Está tudo bem. — Respondi, mas não soou verdadeiro, nem mesmo para mim.
— Não está, mas espero te compensar durante nossa noite. Primeiro de tudo, isso é
para você. — Enfim, Benjamin me estendeu o buquê, e eu tive problemas para controlar a
maneira como uma simples gentileza como essa fez meu coração palpitar com tanta força no
peito. A mistura do aroma das rosas com o seu perfume me deixava tonta, imersa naquele
pequeno universo que só tinha eu e ele.
— Obrigada, são lindas. — Abaixei o rosto para sentir o cheiro ainda mais
concentrado.
— Não tanto quanto você. — Ele conquistou minha atenção, aquelas safiras radiantes
me encarando de um jeito que me desconcertava — Pronta para ir?
— Sim. — Sem que eu tivesse tempo para raciocinar o que estava acontecendo,
Benjamin tomou minha mão na sua, entrelaçando nossos dedos com vontade, como se mostrasse
que estava ali mesmo comigo — Sr. T, o senhor pode...
— Eu cuido delas para você. — Ele tomou o buquê das minhas mãos, entendendo o
pedido que não fiz por completo — Se divirta, boneca, você está linda.
— Obrigada.
Benjamin me conduziu até o carro e só quando alcançamos a porta do passageiro da
sua BMW 760i, que me soltou, apenas por tempo suficiente para abrir a porta para mim e me
ajudar a entrar, antes de dar a volta e ocupar o lugar do motorista.
Antes mesmo dele conseguir colocar o carro em movimento, meu celular apitou mais
uma vez. Retirei o aparelho da bolsa com a intenção de colocá-lo no modo silencioso e
aproveitar para ver do que se trata e precisei conter uma risada quando vi a mensagem de
Hannah.

— Já foi em alguma festa como essa antes? — A pergunta me trouxe de volta.


— Benjamin! Claro que não. — Ele riu da maneira como falei — Não sou muito de
sair, quanto mais para uma festa como essa.
— Está ansiosa? — Tinha planos de responder à pergunta, mas me distraí com suas
mãos no volante, segurando com firmeza. Como era possível algo tão estúpido mexer tanto com
o imaginário de uma mulher? E quando ele soltava uma das mãos e usava apenas uma para
dirigir? — Emma? Está nervosa?
— Não pela festa em si.
Ele me olhou por um momento, aproveitando o semáforo fechado. Sua atenção
completamente em mim, absorvendo as minhas palavras. Não era a festa que me deixava
inquieta, não era nem mesmo o fato de que teríamos que enfrentar fotógrafos e um tapete
vermelho ao chegarmos no local, não era nada disso. O que me deixava inquieta era sua
presença, o fato de eu estar ali com ele, em um encontro com ele.
Onde eu fui me enfiar?
Capítulo 05 – Benjamin McKnight

Estúpido, Benjamin.
Você é um estúpido. Causou inseguranças e incertezas na mulher mais incrível que já viu
por não se atentar a um mísero relógio.
Todo o tempo que se passou desde que Courtney deixou minha sala foi preenchido pelos
meus pensamentos, divididos entre a minha euforia pelo encontro com Emma e o nervosismo
com a novidade trazida por Courtney.
Um filho! Eu ainda não conseguia conceber a ideia de que eu teria um filho, um filho
que eu teria que pagar uma fortuna para ter. Uma fortuna que, no final das contas, não tinha valor
nenhum para mim, porque aquele bebê teria tudo de mim e eu sempre faria tudo por ele, ainda
que tudo em mim fosse medo e preocupações.
Passei parte da noite em claro, imerso em minhas próprias emoções, tentando não só
internalizar a mudança mais radical de toda minha vida, mas também tentando racionalizá-la.
Meus pensamentos foram desde a necessidade de alterar toda minha vida, minha casa, meus
horários e mais um monte de coisas para adequar uma nova pessoinha, até a necessidade de ir até
meu banco e estudar qual a melhor maneira para fazer uma movimentação de milhões de dólares
em tão pouco tempo.
Eu tentei — tentei muito—, pensar de uma maneira moralista em que aceitar a proposta
de Courtney seria dizer sim a comprar meu próprio filho, mas não consegui me demover dessa
ideia. Eu não poderia permitir que uma parte de mim se acabasse sem que eu lutasse de todas as
formas para protegê-la. Nenhuma quantia pagaria a minha tranquilidade em ter meu filho nos
meus braços, seguro como onde ele jamais estaria em outro lugar.
Dormi quando o dia já estava quase amanhecendo e apenas acordei porque Sheik me
despertou reivindicando seu passeio diário. Passei mais tempo do que o necessário correndo com
ele pelo Central Park, almocei um sanduíche qualquer pelo caminho e voltei para casa, mais
especificamente para o canto esquerdo do meu sofá, onde me instalei e me perdi nos
pensamentos outra vez.
Nem mesmo ouvi a primeira mensagem de Emma. Se tivesse visto, não teria me
atrasado. Apenas despertei minha mente de volta à realidade novamente porque meu cachorro
outra vez veio me pedir coisas, sua comida. E foi então que me toquei que já havia anoitecido e
mais do que isso, eu já estava atrasado.
Pretendia avisar Emma do meu atraso quando vi sua mensagem e sabia que assim que
respondesse ela iria perceber que eu me esqueci do nosso encontro por um momento, tão imerso
nas minhas reflexões. Saber que ela imaginou que eu me arrependi me deixou irritado comigo
mesmo, queria que tudo fosse perfeito, do início ao fim, não queria ter deixado essa impressão
nela.
Porém, acho que os elogios e as flores desfizeram ao menos um pouco disso. Me restava
toda nossa noite, e eu fazia questão de mostrar a ela que não existiam arrependimento, muito
menos uma outra ideia, senão eu e ela imersos um no outro naquela noite. E quem sabe ainda
mais do que isso.
Vê-la com aquele vestido me tirou de órbita. Eu sabia que Emma era linda, mas ela
estava um escândalo. Mais bonita do que eu poderia esperar, em uma peça de roupa que,
egoisticamente, me remeteu ao tom dos meus olhos.
Suas palavras junto do olhar admitindo nervosismo me transmitiam coisas que iam além
das explícitas. Eu a deixava ansiosa e desconcertada, nós dois juntos, em um encontro. E se ela
se sentia assim, mal poderia imaginar como eu me sentia há meses lidando com a atração fodida
que me acertou.
E, porra, ela me disse sim.
— Vão ter repórteres na porta do evento, não é?
— Ficaria surpreso se não tivesse. Isso te incomoda?
— O que vai dizer quando perguntarem quem é sua acompanhante?
— Que seu nome é Emma Campbell. — Respondi, sem entender muito bem onde ela
queria chegar.
— Emma Campbell sua secretária? — Ela insistiu, virando no banco para me olhar
melhor.
— Eu te disse, meu convite não foi para a minha secretária. Isso não é um evento de
trabalho. — Minha mão livre do volante coçava para tomar a dela outra vez, mas me impedi,
precisando de muito esforço para mantê-la no lugar.
— Eu sei disso, mas...
— Mas o que?
— Como sua secretária, eu recebi a lista de convidados desse evento, mesmo quando
seria James a vir e não você. Muitas das pessoas que estarão lá sabem quem eu sou, sabem que
eu trabalho para você.
— Isso é um problema para você? — Questionei, sem querer exatamente saber sua
opinião sobre isso, afinal, não havia muito o que eu poderia fazer. E parte das suas preocupações,
ainda que implícitas, eram os exatos motivos para eu nunca ter ultrapassado a barreira
profissional. A questão era que enquanto pensava nela, em mim e nela, não achava em mim
qualquer vestígio de arrependimento. Eu queria mais era que não existisse qualquer barreira entre
nós dois.
— Benjamin, não é comigo que estou preocupada, eu não tenho nada a perder. Metade
dessas pessoas já assumem naturalmente que eu e você temos um caso. É em você e na sua
reputação que estou pensando.
— Isso é sério? As pessoas pensam isso de nós dois? — Perguntei um tanto chocado,
nunca percebi qualquer comentário nesse sentido. Mas também, eu nunca dei ouvidos a qualquer
boato com meu nome. Sendo uma figura pública já há algum tempo, eu aprendi a fingir
ignorância para boa parte das notícias envolvendo meu nome.
—Você lê romances como parte do seu trabalho, Benjamin. — Ela riu, com um certo
rubor tomando suas feições —Você com certeza conhece o clichê CEO e Secretária.
— Eu conheço, mas... acho que nunca me atentei a isso porque nunca ouvi ninguém
falando nada, ao menos não diretamente. Alguém já falou algo com você?
— Nunca me importei. — Emma dá de ombros, seu olhar longe do meu — Eu sei a
minha verdade e nunca dei atenção para boatos ou coisas do tipo.
— Mas teme que hoje, com fotógrafos e tudo mais, isso vai tomar força. —Completei o
raciocínio — E não seria uma mentira, dessa vez.
— Você disse que isso era um encontro. Eu não me importo com boatos, já disse, não
tenho nada a perder, mas talvez você tenha, talvez você se incomode e... não sei, talvez não tenha
pensado em consequências por me fazer esse convite e...
— Emma. — Interrompi — Agradeço a preocupação, mas acredite quando eu digo que
tudo que faço há meses é pensar em consequências. — Meu riso soou misterioso — Se você não
se importa, eu também não me importo. Eu não devo nada a ninguém e se alguém quiser falar
sobre nós dois, que falem. Eu sei o que eu quero e isso é tudo que me interessa. — O carro se
aproximava da área do manobrista e assim que me preparei para sair dali e dar a volta para ajudá-
la, ouvi sua voz.
— E o que você quer, Benjamin?
Deixei Emma sem resposta por um segundo. Me soltei do cinto de segurança enquanto a
olhava, um sorriso pregado em meu rosto, um cheio de malícia, cheio de segundas — e terceiras
— intenções, um que admitia a ela muitas coisas, mas que também escondia minhas certezas. Saí
do carro, deixei a chave para o manobrista e me dirigi à sua porta, ouvindo os cliques das
inúmeras câmeras presentes no evento, assistindo os flashes disparados na minha direção.
E então abri a porta para ela, sua mão na minha enquanto ela saía do veículo. Minha mão
caçava seu caminho na sua cintura, escorregando pelo vestido até achar morada na sua lombar. O
vestido refletia os flashes das fotos que estariam estampadas por todos os lados em poucos
minutos, e eu não conseguia me importar. Eu queria mais era que todo mundo soubesse que era
eu quem tinha o privilégio de tê-la ao meu lado.
— Você. — Debrucei meu rosto em direção ao seu, aproximando meus lábios do seu
ouvido.
— O que? — Ela quase sussurrou.
— A resposta para sua pergunta.
O olhar que Emma disparou na minha direção me consumia e me preenchia ao mesmo
tempo. Porra, depois de meses, finalmente eu a tinha para mim, não como funcionária, mas como
mulher.
Minha mão não desgrudava do seu corpo enquanto andamos pelo tapete, ouvindo meu
nome sendo chamado aqui e ali pedindo atenção para as fotos. Como poderia dar atenção a
qualquer coisa senão à mulher ao meu lado? Quando alguém finalmente questionou o nome dela
e eu respondi, ganhei minha certeza de que eu, que sempre cuidei de manter minha vida privada
no lugar dela, estaria por todos os lados amanhã.
— Senhor McKnight, quem é sua acompanhante esta noite?
— Emma Campbell.
Graças ao meu atraso, percebi que fomos um dos últimos a chegar, o que é claro atraía
ainda mais atenção para nossa presença. Assim que entramos no Museu Metropolitano de Arte, o
local escolhido para o evento, conquistamos todas as atenções.
Porém, para o conforto de Emma, que tinha as bochechas vermelhas tomadas pelo
incômodo em ser o centro das atenções, logo fomos conduzidos à mesa designada. Sequer
tivemos tempo de nos sentarmos antes da premiação ser iniciada.
As pessoas discursavam, algumas foram chamadas ao palco para receber seus prêmios e
fazer um pequeno agradecimento, enquanto minha mente estava em outro lugar, mais
precisamente na mulher sentada ao meu lado, bebericando pequenos goles do champagne que
nos entregaram assim que chegamos.
— E o prêmio de Inovação Empresarial Cultural deste ano vai para... a Editora
Booksbank, representada por seu CEO e presidente Senhor Benjamin McKnight.
O susto que eu tomei ao ouvir meu nome se deu muito mais por estar distraído do que
pela surpresa em ser o vencedor da categoria em que concorria. Até mesmo demorei a reagir e
me dirigir ao palco, mas então o fiz, sendo aplaudido por todos no salão, inclusive por Emma.
Subi ao palco sob seu olhar, um pequeno sorriso em orgulhoso que me envaidecia.
Recebi o prêmio das mãos de um dos maiores empresários do ramo jornalístico, que me
direcionou ao microfone.
— É uma honra estar aqui e receber esse prêmio, em nome da empresa em que não só
trabalho, mas respiro e me dedico há anos. Hoje, ocupando o cargo mais alto, me sinto orgulhoso
do nosso trabalho, porque isso é muito mais do que meu, é de todos aqueles que se dedicam
diariamente para o sucesso da Booksbank. E por isso, agradeço a cada uma dessas pessoas e,
pessoalmente, agradeço àquela que torna meus dias mais fáceis, por adivinhar meus passos e
objetivos antes mesmo de eu traçá-los. Emma, obrigado. Tenham uma boa noite.
Desci do palco sob aplausos mais uma vez, com meu prêmio em mãos, andando
diretamente à minha mesa, Emma de pé à minha espera. O sorriso ainda maior quando me olhava
e, talvez pela euforia ou pelo contentamento de tê-la me aplaudindo orgulhosa ou pelo
agradecimento direcionado a ela, andei direto para ela que, talvez por reflexo dos meus atos, me
recebeu em um abraço.
Nesses cinco anos trabalhando juntos e convivendo diariamente, trocamos abraços vez
ou outra, em aniversários ou outras celebrações anuais, mas nunca um abraço como esse, com
tanta...vontade. Seu corpo se encaixava perfeitamente ao meu e era bem difícil não imaginar esse
contato em outras situações.
—Parabéns pelo prêmio e... obrigada pelo agradecimento.
— Foi sincero, sabe disso, não é? — Ela se afastou um pouco, mas eu mantive minhas
mãos na sua cintura, mantendo-a quase colada a mim.
— Eu sei, nunca deixou de reconhecer meu trabalho e isso me deixa orgulhosa de mim
mesma.
— Que bom. —Deixei um aperto em sua cintura, inicialmente sem intenção, mas não
fugi das sensações que isso me provocou, e que se refletiam nela e no olhar que ela me dava —
Vamos nos sentar?
Nos acomodamos outra vez, minha cadeira agora mais próxima à dela pelo restante da
premiação. Garçons passavam pela mesa, deixando bebidas e canapés para todos ali presentes,
dentre eles dois ou três empresários do ramo de marketing, pessoas daquelas que Emma falava
no carro, que frequentavam a empresa e sabiam exatamente quem ela era e que trabalhava
diretamente para mim.
Eu realmente nunca ouvi ninguém insinuando nada a respeito da nossa relação, porém,
com o alerta que fez no carro e estando em público com ela agora, passei a reparar em coisas
novas. Como o fato de que esses homens sentados do outro lado da mesa me encaravam com um
sorriso ridículo no rosto, levantavam suas taças e disparavam olhares de mim para ela, de
maneira óbvia me parabenizando por tê-la ao meu lado, não de uma maneira confortável, mas de
um jeito escroto que me irritava e me incomodava, e me fazia querer tirá-la dali.
Imaginava que as coisas não poderiam ficar piores, mas percebi que era um tanto
ingênuo no que diz respeito à capacidade humana em ser desnecessária em várias situações.
Bastou que a premiação se encerrasse, a música preenchesse o ambiente, as pessoas passassem a
circular pelo salão, para que um desses homens se aproximasse e dissesse algo, ao menos podia
agradecer por Emma estar distraída em uma conversa com uma jornalista que frequentemente
trabalhava conosco.
— Pegando a secretária, McKnight? Carne boa a gente não dispensa, não é mesmo?
A fala do imbecil veio acompanhada da risada alta do outro idiota que estremeceu cada
nervo do meu corpo, me incendiou de um jeito que há muito eu não sentia, me deixou com
vontade de arrancar essa expressão nojenta no seu rosto a base do soco.
Me remexi na minha cadeira, incomodado e pronto para armar uma confusão, quando
percebi que Emma não estava tão distraída como eu imaginava. Sua mão tocou minha coxa e
rapidamente conquistou minha atenção, seu toque era suave e gentil, mas marcava presença e me
prendia a ela.
— Deixa para lá. — Ela me disse. Soltei o guardanapo que segurava com força, sua mão
ainda pousada sobre a minha perna. — Não vale a pena.
A jornalista que conversava com Emma percebeu a comoção e tratou de afugentar os
dois idiotas com perguntas e colocações que apenas jornalistas sabiam exatamente como fazer e
não demorou muito para que eles saíssem dali, me deixando a sós com Emma.
— Me desculpe por isso.
— Não tem por que, Benjamin, o inconveniente não é você.
— Ainda assim. — Toquei sua mão com a minha, as duas juntas sobre a minha coxa.
Seus olhos dançavam entre meu rosto e nossas mãos, um sorriso descontraído em seus lábios —
Sabe, mesmo com alguns idiotas pelo caminho, espero que tenha desfeito a má impressão que
deixei com meu atraso.
— Que atraso? — Ela sorriu, me dando uma piscadela que me fez rir — Está desculpado
por isso. As rosas contaram muito a seu favor.
— Bom saber. — Meu olhar desviou do dela por alguns instantes, notando as pessoas
dançando bem ao centro do salão, uma música agitada e nada como o esperado para um convite
como o que faria, mas que fiz mesmo assim — Mas acho que uma dança pode me ajudar ainda
mais. O que acha? — Me levantei. Perdi sua mão na minha perna, mas não desfiz nosso contato
por completo — Dança comigo?
— Aqui? Agora?
— Sim, Emma. — Ri do seu espanto cheio de vergonha — Vamos?
Ela não me respondeu, mas se levantou da cadeira, implicitamente me dando permissão
para fazer o que pretendia. Nos conduzi até a pista de dança improvisada e só então soltei sua
mão, por tempo suficiente para tomá-la para mim pela cintura, colando seu corpo no meu.
Eu não sabia que era possível estar entre o céu e o inferno ao mesmo tempo, mas era
justamente ali que me encontrava, no paraíso em tê-la assim comigo, e no inferno por tê-la
apenas assim quando queria muito mais.
Dançamos juntos, uma, duas, três músicas mais dançantes, antes de uma mudança na
sonoplastia, uma balada mais romântica preenchendo o ambiente. Emma dançava próxima a
mim, mas agora, com esse tipo de música, eu me joguei no paraíso do seu cheiro e contato outra
vez, trazendo seu corpo para junto do meu.
Meu corpo instintivamente conduzia a dança, mas minha cabeça estava longe, ou nem
tanto, mas perdido nela por completo. No seu cheiro, na sensação do seu corpo pressionado no
meu, nos cabelos semipresos roçando nos meus braços, na beleza que era girá-la pela mão e
assistir o vestido armando e voltando ao lugar, com os pequenos brilhantes iluminando nosso
redor.
Em algum momento, seu rosto encostou no topo do meu peito, quase no meu pescoço e
eu me condenei por ter demorado tanto tempo para tomar uma atitude e poder tê-la dessa
maneira. Perdi a noção de quanto tempo ficamos ali, apenas me dei conta de que estávamos há
muito tempo dançando quando vi apenas poucas pessoas ao nosso redor, as luzes se acendendo e
implicitamente expulsando as pessoas restantes.
— Emma, olhe ao redor. — Ela se afastou do meu peito e fez o que pedi antes de voltar
seu olhar para mim, suas mãos no meu peito em meio ao seu choque.
— Benjamin!
— Somos os últimos por aqui. — Ri, um tanto incrédulo por realmente ter me distraído a
esse ponto. — Pronta para ir embora?
Se vaidade tivesse uma expressão, seria aquela estampada no meu rosto naquele
momento, quando seu rosto se contorceu em uma pequena careta ao concordar com o que disse.
Isso significava que ela não queria acabar com isso tanto quanto eu, não é?
Independente da resposta, voltamos à nossa mesa para recuperar sua bolsa e o meu
prêmio e então seguirmos em direção à frente do evento. Enquanto o manobrista trazia meu
carro, percebi que a diferença de temperatura entre o clima do salão e o vento do lado de fora
causavam arrepios em Emma. Retirei meu smoking e o deixei sobre seus ombros, sorrindo pela
forma como ela se aconchegou ao tecido quente, se protegendo da ventania.
— Obrigada.
Emma estava parada na minha frente, um degrau abaixo, o que a deixava ainda mais
baixa do que de costume na minha perspectiva. Meus pensamentos foram longe olhando no
fundo daquelas esmeraldas hipnotizantes, emoldurando um sorriso perfeito naquele rosto, na
mulher envolta no meu smoking. Tudo que eu queria era apenas abaixar meu rosto, debruçá-lo
até alcançar aqueles lábios cheios que vinham me provocando há tanto tempo. Mas quando dei
um passo em direção a ela, vi o manobrista saindo da minha BMW.
Que ótimo timing, cara.
— Vamos?
Conduzi Emma em direção ao carro, pigarreando enquanto engolia o meu desejo. Nos
acomodamos enquanto eu retirava o nó da minha gravata borboleta, deixando no lugar, presa
apenas pela lapela da camisa social. E saímos dali.
— Benjamin, posso te fazer uma pergunta?
— Claro.
— Você está com fome? Porque eu estou, não comi nada a noite toda. Aqueles canapés
estavam...
— Horríveis. — Completei o pensamento antes dela rir e me levar junto dela — Eu
também estou com fome. Vamos parar em algum lugar. — Afirmei, não quero que essa noite
termine — O que você quer comer?
— Conheço um lugar rápido e barato perfeito para um momento como esses.
— Não precisa ser...
— Precisa sim. — Ela me interrompeu — Quanto mais rápido melhor, eu estou com
muita fome.
— Tudo bem. — Ri dela — Que lugar é esse?
— Eu te guio até lá.
Segui os comandos dela por alguns minutos até que ela me pediu para estacionar em
uma rua um tanto deserta. Olhei ao redor e nada do que via me remetia a localização de um
restaurante ou qualquer coisa do tipo.
— Emma, que lugar é esse?
— Vem. — Ela indicou a rua com a cabeça, saindo do carro antes de mim. Quando a
encontrei, Emma tomou minha mão na sua, me conduzindo para uma rua paralela um tanto
escondida. — Confie em mim.
Ahhh Emma, sábias palavras.
Ela não largava minha mão enquanto andávamos pelas ruas com pouca iluminação. No
mínimo, essa situação era um tanto cômica. Nós dois, com roupas de gala — ainda que um tanto
desgrenhados, já que ela vestia meu smoking por cima do vestido, minha gravata estava apenas
jogada ao redor do meu pescoço, minha camisa com os botões no punho abertos e dobrados —,
andando sem rumo no início da madrugada.
— Não é ruim andar pelas ruas com essas sandálias tão altas? — Perguntei, depois de
quase dez minutos andando por entre ruelas que eu jamais andei antes.
— Estou tão acostumada que nem sinto mais dores ou incômodos. E, de qualquer
maneira, chegamos.
— Onde? — Ri, olhando literalmente para o nada, até que ela me apontou um beco
estreito e me instigou a andar por ele — Nem ferrando que você vai me fazer andar por esse beco
escuro a essa hora da noite sem nem me dizer para onde estamos indo.
— Benjamin. — Ela gargalhava abertamente, e se eu não estivesse realmente apavorado
diante de todos os cenários horripilantes que se desdobravam na minha imaginação fértil, eu
poderia dizer que ela me encantava um pouco mais — Eu te prometo que você não está em um
cenário de filme de terror.
— Você garante? — Ela acenava com a cabeça, sem parar de rir — Então vai na frente,
eu te sigo.
— Prefere ficar atrás? Sabe que quem fica por último é sempre o primeiro a...
— Não complete essa frase. — Coloquei meu dedo sobre seus lábios — Não vamos
manifestar para não acontecer. — Era tudo que basta para que ela risse ainda mais, vibrando meu
dedo nos lábios carnudos e eu precisava admitir que, pela primeira vez em muito tempo, eu me
odiei por ser tão medroso. Poderia estar concentrado nas sensações novas que esse toque me
provocava, mas tudo que conseguia era pensar nas possibilidades de morrer antes ou depois dela
por qualquer ser paranormal — O que é menos ruim? Ir na frente ou seguir atrás?
— Na teoria, o melhor lugar é o meio da fila, nem o primeiro e muito menos o último.
Mas como agora estamos apenas nós dois, você precisa decidir. O que vai ser, Benjamin?
— Nem um nem outro. — Declarei.
— Quer ir embora? — Ela fez um bico e eu neguei, sorrindo por exatos dois segundos
antes de pegá-la no colo e Emma gritar pelo susto do movimento inesperado — Benjamin, o
que...
— Se eu não posso ser o primeiro e nem o último, vamos os dois sermos as duas coisas.
E se eu morrer, você vai junto.
Emma ainda ria quando passou os braços pelo meu pescoço e eu — literalmente — corri
pelo beco escuro com ela no colo. O suspiro de alívio por ainda estar vivo que escapou de mim
quando chegamos no que imaginava ser nosso destino, arrancou mais gargalhadas dela.
— Aliviado? – Sua mão pousou na minha nuca e o arrepio que me percorreu agora nada
tinha a ver com medo, e sim com outras sensações, daquelas que apenas ela me provoca.
— Nem imagina o quanto. — Confessei para seu deleite.
— Chegamos. — Ela anunciou, e eu me dei o trabalho de deixar de olhar para ela e olhar
ao nosso redor, encontrando um Food Park, uma área com vários food trucks diferentes e que,
graças ao horário, não tão movimentados, o que eu agradeci, afinal, quanto menos pessoas por
aqui, menos humilhação eu passei. — O que você vai querer comer?
— O que você sugere? — Mesmo sem querer, coloquei Emma no chão, acabando com
alguns dos olhares curiosos sobre nós dois.
Ela me conduziu até um dos food trucks e fez o pedido para nós dois. Poucos minutos
depois, tínhamos uma boa quantidade de tacos e burritos à nossa disposição. Nos acomodamos
em uma das mesinhas por ali e juntos devoramos toda a comida.
— Como conheceu esse lugar? — Perguntei a ela enquanto jogava o lixo fora e
andávamos em direção ao carro outra vez, mas agora por outro caminho, um mais longo e sem
becos escuros e amaldiçoados, o que me fez não morrer de medo e ainda ganhar mais tempo com
ela antes de ter que deixá-la em casa.
— Logo que vim para Nova York, alguns anos atrás, eu não tinha muito dinheiro para
gastar e então me esforçava para achar lugares que cabiam no meu orçamento. Esse lugar foi um
deles. Os comerciantes mudam de tempos em tempos, mas sempre valem a visita.
Um silêncio confortável nos fez companhia até chegarmos no carro outra vez e, por mais
que eu não quisesse encerrar nossa noite, o bocejo que ela tentava esconder me deixava saber
que estava na hora do fim. E então dirigi direto para sua casa, acompanhando-a até a portaria
onde a encontrei algumas horas antes.
— Benjamin, eu... realmente gostei muito da nossa noite.
— É? Eu também.
Por mais que eu quisesse encerrar essa noite com um primeiro beijo, percebia que ainda
existia uma certa barreira entre nós dois e eu não queria forçar um limite. Por isso, eu me
aproximei o suficiente para testar suas reações, mas não exagerei, dando um meio abraço
agarrado à sua cintura e deixando um longo beijo na sua bochecha.
— Boa noite, Emma.
— Boa noite, Benjamin.
Esperei que ela seguisse seu caminho para dentro do prédio e apenas então voltei ao
carro para ir de encontro a Sheik. Minha casa, meu cachorro, meus pensamentos me invadindo
outra vez.
Capítulo 06 – Emma Campbell

Eu nunca poderia ter idealizado um encontro melhor do que aquele. Baile, inúmeras
danças, risadas, toques singelos, comida de verdade em um dos meus lugares favoritos nessa
cidade.
E ele. Benjamin.
Mesmo com minhas inseguranças iniciais, foi bem fácil deixá-las de lado e aproveitar
cada momento vivido com ele, desde a maneira como ele me olhou ainda no meu prédio quando
me viu pela primeira vez e me entregou o buquê — que eu recuperei do Sr. T assim que acordei
no dia seguinte e que ganhou um vaso e repousava no centro da minha mesa de jantar —, durante
toda a noite e até o momento em que me deixou em casa outra vez, se despedindo com um beijo
na bochecha.
Por mais que mais de uma vez eu tenha sonhado e desejado o sabor do seu beijo, eu
gostei da maneira como essa primeira despedida se deu, depois desse primeiro encontro.
Eu estava um pouco nervosa e ansiosa com a ideia de beijá-lo e depois ter que encará-lo
no trabalho sem saber muito bem como agir, sem saber se esse foi o primeiro de alguns outros
encontros ou se foi o caso de um único deles.
Ainda eram muitos sentimentos conflitantes e, por isso, acho que nosso encontro foi
perfeito do início ao fim. E dois dias depois, quando me arrumava para ir para o trabalho —
usando um dos looks novos oferecidos pela melhor amiga do mundo inteiro — eu conseguia
estar ansiosa para vê-lo, para entender como será nossa dinâmica a partir de agora. Eu conseguia
estar mais ansiosa do que receosa.
Segui meu caminho como fazia praticamente todas as manhãs pelos últimos cinco anos
e, em todo esse tempo, raras foram as vezes em que eu cheguei à empresa depois de Benjamin,
mas hoje, mal alcancei minha mesa para deixar minhas coisas quando ouvi sua voz vinda de
dentro da sua sala, aos gritos com alguém no telefone.
— A fera está solta. — Sussurrei para mim mesma.
Eu que não iria entrar naquela sala agora para ler sua agenda como fazia todas as
manhãs, o melhor que poderia fazer era aguardar a poeira baixar para seguir nossa rotina.
Eu ainda ouvi seus gritos por um bom tempo e mesmo com a proximidade entre a minha
antessala e sua sala, não consegui ouvir mais do que palavras perdidas, sem conseguir entender
absolutamente nada no contexto geral. Quando pretendia enfim ir até ele, o interfone que nos
conectava soou alto no ambiente.
— Emma, cancele toda minha agenda, por favor, e proíba qualquer um de vir até mim
hoje. Qualquer um, Emma.
Antes que eu tivesse tempo de respondê-lo, ele encerrou a conexão. Qualquer um,
Emma. Eu me encaixava nessa categoria, não é? E a vida era mesmo tão ridícula que bastou essa
sensação de que ele não queria nem mesmo me ver depois daquela noite para que todas as
minhas inseguranças surgissem outra vez.
Se antes eu estava mais ansiosa do que receosa, tudo em mim era angústia. Será que ele
se arrependeu? Será que ele refletiu melhor e decidiu que o que aconteceu foi errado e agora não
sabia mais como me olhar e me dispensar?
A manhã se arrastou pelo que pareceu ser toda uma eternidade e quando a hora do
almoço chegou, eu cogitei entrar na sua sala ou ao menos ligar para ele e perguntar o que ele
quer para o almoço, mas nada fiz. A barreira profissional que quebramos agora parecia realmente
existir e eu não sabia onde ir ou não.
Então decidi não fazer nada a respeito, ao menos por ora. Alterei meu status no nosso
sistema interno da empresa, que permitia que os outros funcionários ficassem sabendo se você
estava ou não trabalhando ou em algum intervalo e desci para o refeitório para almoçar.
Me arrependi quase instantaneamente da minha decisão. Me tornei o centro das atenções
apenas por entrar no recinto e eu não precisava ser uma gênia para compreender que, a essa
altura, todos sabiam do que aconteceu no último sábado.
Troquei minha refeição por um suco e um sanduíche apenas para voltar ao andar da
presidência, usando a copa privada para fazer minha refeição e enquanto comia resolvi me
atualizar das coisas que andavam sendo veiculadas sobre mim na imprensa.
E não foi difícil de encontrar várias e várias postagens com meu nome e meu rosto
estampados para todos os lados. Fotos do tapete vermelho, do abraço que ele me deu assim que
recebeu seu prêmio, fotos das nossas danças, dele colocando seu smoking nos meus ombros e,
para minha surpresa, até mesmo fotos da nossa pequena e hilária aventura nos becos escuros da
cidade.
Parte de mim não queria ler comentários e ver maldades sendo escritas a meu respeito,
mas a parte curiosa em mim ganhou e eu me dei por vencida quando li alguns deles e, para
minha surpresa, a maior parte deles era tida como elogios e não como maledicências.
As pessoas descobriram que sou sua secretária, e por mais que existissem alguns
comentários machistas exacerbando a ideia de que eu era uma mulher fácil dando mole para o
chefe, a maior parte deles nos defendia e diziam que essa ideia era ultrapassada, nos elogiavam
juntos, dizendo que formávamos um casal bonito e cheio de química.
Deixei o celular e o restante do meu sanduíche de lado, incomodada pela maneira como
esse dia estava correndo, totalmente diferente de como eu imaginava.
A tarde seguiu da mesma maneira, comigo pregada na minha cadeira, trabalhando com
coisas que não precisavam da aprovação ou interferência dele, enquanto ouvia sua voz alterada lá
de dentro da sala, telefonema após telefonema.
Quando pensava em dar meu dia por encerrado, o elevador anunciou a chegada de um
homem até então desconhecido por mim. Ele nem mesmo me disse seu nome, apenas se dirigiu
diretamente para a porta da sala de Benjamin e quando tentei impedi-lo de entrar, usando as
próprias palavras proferidas pelo meu chefe, ele apenas me respondeu:
— Eu não sou qualquer um, queridinha.
Isso aconteceu há quase quarenta minutos e desde então nem mesmo ouço a voz de
Benjamin. Já arrumei e desarrumei minha bolsa três vezes apenas para enrolar o suficiente para
tentar aguardar que um dos dois saia daquela sala, porém, quando não encontrava mais motivos
para continuar ali, resolvi ir embora e lamber minhas feridas em casa, longe de tudo e de todos.
Estava escrevendo um bilhete para meu chefe, deixando claro que vim ao trabalho ainda
que ele sequer tenha me visto — e eu, tão ingênua, até mesmo usei uma roupa nova apenas para
ele—, quando o homem desconhecido saiu da sala e foi embora pelo elevador e, então, Benjamin
se fez presente.
— Emma? — Ele me chamou enquanto sai da sua sala, apoiando a alça da sua pasta com
o notebook no ombro, e se dirigindo ao elevador.
— Pois não?
— Alguma coisa urgente que eu precise saber sobre o trabalho hoje?
É sério que esta seria a única pergunta que ele iria me fazer depois da nossa noite?
Depois de tudo, ele não tinha nada mais a dizer para mim?
— Não. — Essa foi minha única resposta e ele pareceu aceitar como suficiente.
Benjamin estava alterado, perceptivelmente, eu o conhecia há anos e entendia seus
trejeitos, sabia que estava nervoso e ansioso, mas ainda assim, isso não me impedia de ficar
magoada com a falta de interesse em mim depois do que ele disse ter sido um ótimo encontro. Eu
deveria manter minha língua dentro da boca, eu deveria me manter calada, mas não consegui. Foi
mais forte do que eu. E por isso, quando o elevador chegou e ele ameaçou entrar sem nem
mesmo se despedir com um boa noite como todos os outros dias, eu me fiz presente.
— Benjamin. — Chamei e ele me olhou de dentro do elevador, sua mão segurando a
porta para que ela não fechasse — Você se arrependeu? — Foi só quando ouviu minha pergunta
que ele me olhou, que ele realmente me enxergou e pareceu esquecer o que quer que fosse que o
deixava nervoso para olhar para mim — Se arrependeu do nosso encontro e não sabe como me
dizer?
— Emma, não.
Ele disse, sem desviar seus olhos de mim, e por mais que eu quisesse, simplesmente não
acreditei na sua resposta. Foi decepcionante quebrar as expectativas das coisas que eu esperava
para esse dia depois do nosso encontro. E achava que isso estava estampado no meu rosto,
porque ele deixou o elevador, largou a sua pasta pelo caminho e veio até mim, me prendendo em
um abraço que eu não retribui.
— Não, Emma, eu não me arrependi. Longe disso. — Ele se afastou um pouco, mas
ainda me mantinha em suas mãos, estas que deslizavam pelos meus braços até que se alojaram
na minha cintura, enquanto seus olhos imploravam para que eu mantivesse meu olhar ali— O
nosso encontro foi a melhor noite que tive em muito tempo.
— Então por que toda essa distância logo hoje? — Insisti, achava que eu merecia uma
explicação, ainda que eu não tivesse direito de cobrá-lo qualquer coisa.
— Eu... — Ele suspirou, respirou tão fundo que me surpreendeu. Benjamin jogou a
cabeça para trás, olhando para o teto por um minuto, como se isso pudesse reorganizar seus
pensamentos antes de responder minha pergunta — Tem uma coisa acontecendo, uma coisa bem
séria e importante e que... que eu preciso resolver ainda hoje. E isso, não ter as coisas resolvidas
e juramentadas me deixa inquieto e incomodado. — Ele subiu uma das mãos até meu rosto,
tomando-o para si, seus dedos nos meus cabelos, seu polegar na minha bochecha, me puxando
para ele — Emma, por mais que eu tenha tido a melhor noite da minha vida com você, eu preciso
ir, preciso resolver isso e enquanto não fizer, não consigo me concentrar em outra coisa. Eu
preciso... preciso...
— Precisa resolver essa questão. — Completei quando as palavras pareceram fugir dele.
— Sim.
— Tudo bem. Eu só... queria me certificar.
— Me desculpe. Eu tinha planos para hoje, achei que já tinha resolvido o que precisava
sobre essa questão, mas então, as circunstâncias mudaram e isso me tirou do eixo. Mas acredite
em mim, Emma, é algo bem importante, algo que... que eu preciso que dê certo. — Seu polegar
passeava pelo meu rosto enquanto sua outra mão me apertava outra vez, me trazendo para ainda
mais perto dele — Não queria te fazer se sentir assim quando tudo que eu queria era ter tido um
segundo encontro logo depois do fim do primeiro, mas isso realmente requer minha atenção.
— Tudo bem.
— Almoça comigo amanhã? — Ele convidou — E eu te explico tudo isso e quem sabe
conserto meu erro outra vez. Aceita?
— Tem mesmo um motivo, Benjamin? Se for arrependimento, eu vou... entender. — E
eu iria, mesmo que isso me machucasse.
— Te prometo que tem um motivo. Um motivo muito sério. Te explico amanhã, ok?
Agora eu realmente preciso ir.
— Tudo bem.
Explicações pela metade, sentimentos pela metade. Eu não podia simplesmente ignorar
como me sentia, mas ao menos podia entender que ele poderia ter outras coisas acontecendo e eu
esperaria até o dia seguinte para tirar minhas próprias conclusões.
Ele beijou meu rosto outra vez, daquele jeito que me derretia e me fazia suspirar, mesmo
que eu tentasse me controlar, ao menos nesse momento. Suas mãos me soltaram e ele acenou
uma última vez antes de ir embora. Tudo que me restava era esperar o almoço de amanhã para
compreender o que poderia estar acontecendo para deixá-lo tão atordoado dessa maneira.

O que será que o dia pode me reservar quando ele já começou uma merda?
Mal havia acordado, depois de uma noite péssima rolando de um lado para o outro por
boa parte da noite, quando a campainha soou e lá estava um dos meus vizinhos me trazendo a
pior correspondência que eu poderia sonhar nesse momento: um aviso de dívida ativa no banco,
e mais do que isso, um alerta de que eu tinha dias apenas para quitar um valor exorbitante do
meu financiamento, antes que medidas judiciais fossem tomadas.
E era claro que seriam tomadas, porque eu não tinha a mínima condição de arcar com
aquele valor. Herdei poucas coisas dos meus pais, e dívidas foram as maiores delas e me
perseguiam até hoje e por mais que eu trabalhasse, por mais que eu economizasse, por mais que
eu deixasse de fazer coisas importantes e muitas vezes necessárias para não gastar tanto dinheiro,
parecia que esse valor apenas aumentava, cada vez mais.
Já havia perdido as contas de quantas vezes precisei ir até o banco para renegociar o
valor e parcelá-lo em mais um milhão de parcelas. Da última vez, o gerente me alertou que nada
mais poderia ser feito e me instruiu a nunca mais deixá-las em atraso ou acumulá-las.
Fácil para ele dizer isso, morando em um casa confortável, dirigindo seu carro de último
modelo, viajando todos os anos, enquanto eu morava em uma pequena caixa de fósforo que mal
me cabia e que precisava de reparos inesperados e praticamente mensais, ou enquanto eu nada
mais fazia da minha vida senão sair para trabalhar e voltar para casa dia após dia, sem qualquer
lazer ou qualquer pequeno luxo. Toda e qualquer economia que chegava até mim nos últimos
anos ia única e exclusivamente para o banco, na esperança de um dia quitar essa maldita dívida.
Ter recebido aquela correspondência acabou com meu dia antes mesmo de sair de casa e
enfrentar o assunto que me deixou sem descansar desde ontem, aquele incômodo não foi embora
e tudo que eu mais queria era que o almoço chegasse de uma vez para eu entender o que deixou
Benjamin daquela maneira. Porém, agora, eu nem sabia mais se queria saber, tudo que não
precisava era de mais um motivo para me colocar no fundo do poço.
Pena que não tenho para onde fugir. Cheguei na empresa quase atrasada, minha cabeça
latejando com uma maldita enxaqueca, minha paciência se esvaindo, o que tornava um tanto
irritante algo que eu normalmente apenas iria ignorar, os cochichos sobre o baile do último
sábado e a minha relação com Benjamin.
O que quer que estivesse o infernizando ontem parece ter sido resolvido. O Benjamin
que encontrei na sua sala ao entrar para cumprimentá-lo era o mesmo dos últimos cinco anos, e
não aquele de ontem. Felizmente para mim que não precisava de contato humano mais do que o
necessário nesse dia horrível, hoje a agenda dele pela manhã estava tomada de reuniões, daquelas
que ele não precisava que eu acompanhasse.
Ele percebeu uma alteração no meu humor quando o cumprimentei e talvez ele atribuísse
apenas como uma retaliação à maneira como as coisas se deram ontem. E ainda que isso não seja
o motivo completo, era melhor que ele pensasse assim. Eu não precisava me humilhar para uma
pessoa que não sabia o que eram problemas financeiros e que não tinha medo do amanhã porque
a vida estava estável, enquanto eu tinha vários medos, várias lembranças de épocas do passado
que ainda me marcavam e me atormentavam.
Sabia que não era culpa dele ter dinheiro, sabia que Benjamin trabalhava bastante para
chegar aonde chegou e conquistar tudo que tinha, mas isso não me fazia ficar com menos raiva
de não ser uma dessas pessoas.
—Emma? — Sua voz inesperada me assustou, eu estava com meus pensamentos longe e
mal vi que sua última reunião havia se encerrado— Desculpe, não queria te assustar.
— Está tudo bem. — Voltei ao presente, lhe dando um sorriso. Se não iria contar a ele
quais eram meus problemas, melhor que eu os guardasse apenas para mim e não o tratasse mal
por conta deles, afinal, ele não tinha culpa sobre isso — Encerrou a reunião?
— Há alguns minutos. — Ele se aproximou um pouco mais — Está pronta para irmos
almoçar? — Benjamin encostou a lateral do quadril no tampo da minha mesa, cruzando os pés na
altura dos tornozelos, o que chamou minha atenção para os músculos das pernas.
Inconscientemente meu olhar passeou por seu corpo, absorvendo cada pedacinho delicioso dele
em um daqueles ternos que faziam valer o dinheiro que ele pagava por eles, analisando desde
seus pés até o sorriso um tanto malicioso estampado em seu rosto — Pronta?
— Sim. — Me levantei sob seus olhares. Ajeitei meu vestido, um modelo preto um tanto
justo que combina perfeitamente com os scarpins de salto agulha que já faziam quase parte do
meu uniforme de trabalho. Só quando vesti o casaco pesado que Benjamin se desencostou da
mesa e veio até mim, tirando meus cabelos de dentro do casaco e acertando-os da maneira
correta.
— Linda. — Ele elogiou e me deixou sem jeito e um tanto encabulada, a ponto de sentir
meu rosto esquentando.
— Já sabe para onde vamos?
— Pensei naquele italiano que costumamos pedir delivery vez ou outra, pode ser?
— Eu amo a comida de lá. — Confessei e ele que abriu um grande sorriso.
— Eu sei.
Descemos juntos em direção à garagem e a cada passo que dávamos pela empresa,
conquistávamos mais e mais olhares, principalmente porque lá estava a mão dele nas minhas
costas outra vez, me deixando próxima a ele e arrepiada com o contato.
O cavalheirismo que eu evitei no dia do blecaute se fez presente quando ele abriu a porta
do seu carro para mim. O caminho para o restaurante não era longo e foi inteiramente preenchido
por um silêncio confortável, sem qualquer conversa. Imaginava que ele não quisesse dar
oportunidade para conversarmos agora quando estávamos indo para esse almoço para que ele me
contasse qual era essa tal situação que estava enfrentando.
Quando chegamos, nos acomodamos em uma mesa um tanto isolada, com privacidade
para o almoço e principalmente para aquela conversa. O maitre nos deixou assim que o garçom
se aproximava e tantas foram as vezes que comemos o delivery dali que conhecia o cardápio de
cor.
— Um risoto caprese, por favor.
— Eu quero um pollo alla cacciatora. — Benjamin entregou o cardápio para o garçom —
E duas limonadas sicilianas, por favor.
— Você gosta da limonada? Todas as vezes que peço para mim você dispensa.
— Não é minha bebida favorita, mas na falta de uma boa taça de vinho... — Ele
comentou sorrindo.
A conversa não se estendeu muito bem e a mesmo tempo que estávamos confortáveis,
havia uma certa tensão em torno da tal conversa e eu honestamente não sabia muito bem o que
esperar. Ao menos sabia que não iria demorar a descobrir, afinal, assim que o garçom se afastou
depois de deixar nossas bebidas, Benjamin começou a falar.
— Sobre ontem, Emma. — Deixei meu copo de lado para me concentrar nele e no que
queria me dizer — Me desculpe mais uma vez por ter deixado uma impressão errada, parece que
estou virando mestre em te decepcionar.
— Não foi bem decepção, Benjamin, mas admito que esperava outra reação depois de
sábado.
— E era exatamente o que eu pretendia, o que eu também esperava, mas, pouco antes de
você chegar à empresa, eu recebia uma ligação do meu gerente no banco que quase estragou uma
obrigação que eu tinha que firmar até ontem, sem qualquer atraso.
Banco? É sério que até ali eu teria que pensar que eu também estava com problemas com
um banco?
— O que aconteceu?
— Vou explicar desde o começo. Na sexta, você se lembra de que depois de eu te
convidar para o baile, você deixou uma mulher entrar na minha sala? Uma que apareceu de
surpresa, sem qualquer horário marcado.
Claro, além de pensar em bancos também teria que lembrar de Courtney. Aquele não era
mesmo um bom dia para mim.
— Sim, eu me lembro.
— Ela apareceu na empresa, de certa maneira obrigada por seu empresário, aquele
homem idiota que foi até a empresa ontem. — Ah, então o homem que me chamou de
queridinha era empresário da modelo. — Ela foi até lá para me dar duas notícias.
— Quais?
— A primeira delas é de que está grávida de um filho meu, a segunda era que ela iria
abortar meu filho.
O choque estampado em meu rosto deve ter ficado claro para ele, porque a próxima coisa
que senti foi sua mão tocando a minha por sobre a mesa, me trazendo de volta à realidade, uma
que eu sequer percebi que havia fugido.
Honestamente, eu não sabia exatamente o que pensar, ou o que deveria pensar ou achar
de tudo isso. Eu não tinha qualquer direito sobre Benjamin, nem mesmo tínhamos uma relação,
mas precisava admitir que era um tanto estranho pensar que o homem com quem eu tive o
melhor encontro de toda minha vida iria ter um filho com uma outra mulher. Ou não iria, não sei.
— Sei que eu e você estamos em um momento... diferente do costume, não somos
exatamente amigos, não somos apenas colegas de trabalho, também não posso dizer que temos
necessariamente uma relação pessoal, mas, eu quero ser honesto com você e, seja lá para onde
formos daqui em diante, eu quero que saiba disso sobre mim. E por mim.
— O que... o que ela disse?
— Courtney me disse que está grávida e então me manipulou, de maneira a me deixar de
um jeito que mexeria com as minhas emoções e me colocaria em um estado tão fora de mim que
aceitaria fazer qualquer coisa para impedi-la de seguir com seus planos.
— Benjamin, eu... não estou entendendo.
— Tem uma coisa que precisa saber sobre mim. — Ele apertou minha mão, como se me
pedisse para prestar atenção no que iria me dizer — Tive péssimos pais, um pai abusivo que
violentava minha mãe de todas as maneiras possíveis, desde psicologicamente, financeiramente e
até fisicamente. Ele a maltratava, xingava, batia nela, fazia dela sua submissa em todos os
aspectos. Eu cansei de presenciar cenas horríveis de brigas, socos e tapas entre dos dois.
— Benjamin. — Seu relato me tocava, porque conseguia sentir a dor de um garotinho
crescendo nesse ambiente — Eu sinto muito. Nenhuma mulher deveria passar por isso, além
disso, nenhuma criança deveria crescer assistindo tais episódios. Como ele era com você? —
Apertei e acariciei sua mão e apesar de desviar seu olhar do meu, ele me respondeu.
— Ele nunca encostou em mim, nem para me bater e muito menos para me dar carinho.
Eu era... totalmente indiferente para ele, era como se eu não existisse.
— E sua mãe? — Alcancei sua outra mão, deixando um carinho nela.
— Hoje eu consigo entender que ela vivia um relacionamento abusivo e que
provavelmente toda essa situação influenciou na maneira como ela agia comigo, mas... — Ele
não continuou a falar, seus olhos fugindo de mim outra vez — Eu não falo disso, sobre ela quero
dizer. A questão é que eu não tive nada disso, não tive pai ou mãe, não da maneira como uma
criança merece.
— Sinto muito por isso.
— É claro que isso influenciou e ainda influencia no meu jeito, nos meus medos e
inseguranças, mas tem algo que eu blindei e que eu protejo com unhas e dentes.
— O que?
— A ideia de que um dia eu iria ter um filho e que eu seria para ele tudo aquilo que meus
pais nunca foram para mim. Eu deveria ter ficado traumatizado, e talvez até seja, mas eu quero
isso, Emma, eu sempre quis. Sempre quis viver a paternidade e, de uma maneira ou de outra,
queria me curar através disso.
— Eu posso te compreender.
— Claro, eu imaginava que vivenciaria isso em um outro contexto, mas, quando ela me
disse que eu teria um filho, naqueles poucos segundos, tudo isso passou pela minha cabeça. Nada
nessa situação se deu como eu idealizava, mas é meu filho, parte de mim e eu não poderia nunca
rejeitá-lo do mesmo jeito que meu pai me rejeitou.
Seu relato era forte e me comoveu, porque ele, sem nem mesmo perceber, já era muito
mais pai do que o imprestável que o criou.
— Courtney viu isso em mim, ela viu que me tocou em algo profundo mesmo sem saber
da minha história, ela me viu vulnerável e brincou com isso de uma maneira inescrupulosa, para
dizer o mínimo.
— O que ela fez?
— Ela deixou que todas essas emoções se aflorassem em mim, para então me dizer que
ela não iria seguir com a gestação. Sei que ela tem direito a isso, e que eu não posso contestar ou
dizer qualquer coisa sobre isso, mas a verdade é que ela só estava jogando comigo e minhas
emoções.
— Como assim?
— Quando ela me contou seus planos, admito que tentei convencê-la do contrário e ela
apenas negava. E eu me vi desesperado, Emma, porque, eu... eu não podia, eu não poderia
simplesmente seguir minha vida com tranquilidade sabendo que isso aconteceu a um filho meu.
A rejeição, a dor... uma dor que eu senti de certa forma, eu não poderia... suportar.
Sua comoção ficava clara no embargo da sua voz e isso foi o suficiente para que eu
saísse do meu lugar para se sentar ao seu lado, nossas mãos agora entrelaçadas e apoiadas na sua
perna outra vez.
Deixei que ele tomasse um tempo para se recompor. Benjamin respirava fundo, tomava
uns goles da sua limonada, acariciava minha mão, brincando com um dos meus anéis e quando
se sentiu confortável, voltou a falar.
— Eu perguntei a ela algumas vezes se havia algo que eu poderia fazer para impedi-la de
seguir com a ideia dela. Ela negou, negou, negou. E a cada vez que ela negava, meu desespero
crescia. E então ela me fez uma proposta.
— Que proposta?
— Ela estava quase saindo da minha sala e então se voltou para mim dizendo que não
havia nada que eu pudesse fazer para impedi-la, a não ser que eu pagasse uma quantia a ela.
— Uma quantia? — Seu tom misterioso realmente escondia muito por trás.
— 15 milhões de dólares. Courtney me pediu essa quantia para garantir que ela não
interrompesse a gestação e suportasse, nas palavras dela, os meses restantes até o parto, para
então me entregar meu filho, renunciando todos seus direitos como mãe.
— Espera. — Dessa vez era eu quem precisava de uma bebida, pena que essa não era
uma alcoólica — Ela te ofereceu a oportunidade de comprar seu próprio filho?
— Sim. E, Emma. — Seu olhar implorava pelo meu — Eu aceitei.
Capítulo 07 – Benjamin McKnight

— Eu aceitei.
Contar a ela tirava um certo peso dos meus ombros. Toda essa história aconteceu rápido
demais e em um momento completamente inesperado. Quando eu finalmente tomei coragem
para fazer algo a respeito da minha atração por ela, e a chamo para um encontro, tudo isso
acontece ao meu redor.
Eu e Emma tínhamos um único tipo de relação: profissional. Uma relação que tinha
vários limites, limites estes que desde meu convite, seu sim e nosso encontro foram
ultrapassados, de um modo que eu não sabia exatamente que tipo de relação tínhamos no
momento. Eu tinha vontades, tinha pensamentos sobre o que desejava de nós dois, mas ainda
estávamos em um limbo.
Nunca imaginei que teria que contar para a mulher que estou afim que acabei
engravidando outra e que paguei uma grana absurda no que realmente parecia ser a compra do
meu próprio filho.
Mas a vida é como é, e ali eu estava abrindo meu coração, expondo meus motivos como
se quisesse mais do que justificar para ela a minha atitude, queria que ela compreendesse, mas
também esperava que, ao contar para ela, eu me sentisse melhor pelo meu feito.
— Consegue entender meus motivos? — Perguntei a ela, quebrando o silêncio que se
instaurou depois das minhas palavras.
— Acha que estou te julgando?
— Acho que eu estou me julgando. — Uma risada um tanto irônica me escapou. Sua
mão mantinha um carinho na minha, seu olhar era compreensivo, sua presença me reconfortava,
e talvez a junção de tudo isso me deixasse confiante para continuar me abrindo, ao menos um
pouco — Eu penso que tenho meus motivos, minhas justificativas e medos para agir do jeito que
agi, mas ainda assim, me parece um tanto... excêntrico, ou talvez bizarro faça mais sentido. Não
acha um tanto questionável ou imoral?
— Querer a chance de amar um filho não pode nunca ser considerado imoral, Benjamin.
— Seu indicador correu pela minha coxa.
— Acha? Eu quero acreditar nisso, mas a todo momento desde que assinei aquele
contrato com ela ontem à noite quando sai da empresa, eu não consigo espantar essa sensação de
que comprei o meu filho. Não é pelo valor, eu gastaria todo meu dinheiro se fosse necessário,
mas pela sensação em si. Eu...
— O que? — Ela insistiu quando parei no meio do caminho.
— Eu queria que, lá na frente, meu filho olhasse para mim, para nossa relação, e tivesse
orgulho do que vamos construir juntos. Não queria que ele olhasse para nossa história e tivesse
algum tipo de frustração ou aversão por tudo que passamos desde já.
— Benjamin. — Emma sorriu, um sorriso tão genuíno e brilhante que me comoveu ainda
que eu não entendesse exatamente o que a emocionava — Você ama seu filho, e isso é tudo que
ele precisará saber sobre a história de vocês para se orgulhar de você e da relação que
construírem. Acredite em mim. Eu e meus pais sempre fomos muito próximos e vivemos muitas
coisas juntos, situações não muito boas e tivemos que fazer muito uns pelos outros para
chegarmos aonde chegamos e, no final das contas, nada fez diferença para mim, eu sempre os
amei e tive orgulho da nossa história, por mais difícil que tudo tenha sido por muito tempo.
Suas palavras pareceram colocar todos meus pensamentos e medos nos seus devidos
lugares, ela me tranquilizava com seu relato e me fez aliviado e contente, e um tanto ansioso para
viver essa nova fase.
Eu não encontrava uma maneira melhor para agradecê-la, ao menos não naquele
momento. Queria beijá-la, queria fazer ela ser minha, mas não quero confundi-la depois de tudo
que despejei nela. Então me contentei com um abraço. Soltei sua mão para abraçá-la pela cintura,
trazendo-a para mim. Sua mão permaneceu sobre minha perna por alguns instantes, até que ela
retribuiu meu abraço, encaixando seu rosto na curva do meu pescoço. E eu poderia morar ali, no
aconchego que ela me oferecia.
— Obrigado, Emma. De verdade.
— Não há de que. — Senti seu sorriso quando a apertei um pouco mais, moldando meu
corpo ao seu. E então ela beijou meu pescoço, bem naquela curva com o meu rosto.
— Com licença.
A terceira voz nos fez sobressaltar e nos afastar, abrindo espaço para que o atendente
servisse nossos pedidos. Nos ajeitamos para começar a comer e eu sorri para a expressão de
deleite de Emma para a comida.
Sempre soube que aquele era um de seus restaurantes favoritos, e justamente por isso
aumentei a quantidade de vezes que pedia delivery para nossos almoços ou jantares quando
acabamos fazendo hora extra.
— O que aconteceu ontem para você estar nervoso, já que esperava que tivesse tudo
certo?
— Tinha entrado em contato com meu gerente no sábado pela manhã e ele me certificou
de que eu tinha dinheiro fora de movimentações para conseguir transferir para Courtney, mas
então logo que cheguei na empresa ontem, ele me ligou e disse que movimentar essa quantia não
seria possível em tão pouco tempo. Então, eu passei o dia inteiro conversando com os gerentes
de todos meus bancos, movimentando investimentos aqui e ali.
— Conseguiu?
— Não, ao menos não até o prazo que Courtney me deu. Por isso fui atrás do imbecil do
empresário dela. Ele foi até lá e consegui conversar com ele e acertar que pagaria o valor em
duas vezes, metade ontem e metade a ser finalizada assim que o bebê estiver comigo, daqui
pouco mais de sete meses.
— Você assinou um contrato? Desculpe, Benjamin, parece que estou te interrogando. —
Ela ficou um tanto sem graça e eu só pude rir.
— Está tudo bem. E sim, eu assinei. Deixei a empresa ontem e fui me encontrar com ela,
o empresário e o seu advogado para assinar.
— Você não levou um advogado?
— Nate, um dos meus melhores amigos de toda a vida, vai querer me matar por ter feito
isso sem ele saber. Ele é um dos melhores advogados de todo o país, mas tudo aconteceu tão
rápido que não consegui conversar com ele ainda. Então, não, eu fui sem advogado. Mas ele me
ensinou muitas coisas nesses anos que convivemos e pude assinar tendo certeza de onde estou
me metendo.
— Como vai ser isso, Benjamin? Criar um filho com ela. — Emma usava o garfo para
empurrar a comida para o lado do prato, sem nem mesmo me olhar quando questionava.
— Isso é algo que ainda estou processando, o fato de que meu filho não terá uma mãe.
— Encarei seus olhos para que ela entendesse muito bem o que iria dizer, e todas as implicações
e constatações implícitas que sua pergunta trazia — Não existe Courtney nessa história, Emma, o
contrato é claro e explícito. A quantia que ela me exigiu me garante que ela irá se cuidar no
decorrer da gestação e que assim que meu filho nascer ela irá entregá-lo a mim, e junto dele
renunciará todo e quaisquer direitos sobre ele.
— Você se assegurou de que ela vai cumprir com isso?
— Com toda a certeza, fiz questão de que houvesse uma cláusula estabelecendo uma
multa caso qualquer um de nós dois descumpra com o que foi compactuado, sob pena de trâmites
judiciais.
— Fico feliz que tenha se assegurado de que as coisas não vão sair do seu controle.
— Insisti nessa cláusula com tanta veemência quanto ela quando me pediu que inserisse
uma de confidencialidade. Ela não tem a mínima vontade de que a imprensa descubra que ela me
vendeu meu filho e, honestamente, eu também não pretendo que ninguém saiba desse detalhe da
minha história.
— Que bom que tudo deu certo no final das contas.
Emma sorriu e, por mais que eu soubesse que ela realmente estava contente por mim, por
tudo dar certo, nas melhores condições possíveis, eu imaginava que não devia ser fácil para ela
estar nessa posição, começando a se envolver com um cara que logo despejou tanta bagagem
sobre ela.
Tudo que eu poderia esperar era que eu não tivesse demorado demais para agir e
finalmente dar início a algo entre nós dois. Porque agora que eu comecei, eu quero ir até o fim.
Eu queria Emma na minha vida.

Depois de um almoço de certa forma revelador, eu senti que Emma havia me perdoado
pela atitude merda de ontem e que, ao mesmo tempo, voltamos ao clima que estávamos quando a
deixei em sua casa sábado à noite.
Ao menos isso era o que imaginava até que ela recebeu uma ligação enquanto eu
estacionava o carro na garagem da empresa. Ela pediu licença para atender e, ainda que eu não
tenha ouvido qualquer coisa do outro lado da linha, percebi o quanto o que quer que a pessoa
disse, a deixou transtornada, de uma maneira que eu jamais vi.
Poderia passar por intrometido, mas resolvi perguntar se estava tudo bem e ela me deu
apenas um aceno meia boca acompanhado de um sorriso falso. Não insisti para que me contasse,
por mais que eu quisesse, apenas porque não queria invadir sua privacidade.
E agora estava me remoendo por ter feito isso, porque aquilo realmente mexeu com ela.
O expediente estava se encerrando e essa parte da tarde foi completamente perdida. Emma não
conseguiu se concentrar em nada, até mesmo a flagrei perdida em pensamentos na reunião que
participamos, a ponto de eu ter que pedir para ela anotar certos detalhes, coisa esta que eu jamais
fiz em todo esse tempo que trabalhamos juntos.
Ela se despediu de mim há poucos minutos e tudo que eu queria fazer era encurralá-la
para que me dissesse o que diabos aconteceu, mas apenas me despedi dela, torcendo para que
amanhã as coisas estejam resolvidas para ela, e minha Emma esteja de volta.
Pretendia ia diretamente para casa, mas mal havia entrado no carro quando Nick me
ligou, exigindo uma reunião do nosso pequeno grupo no apartamento de Nate, e foi para lá que
me dirigi.
— Finalmente, McKnight. — Nate me recebeu. Nathaniel Velásquez, a pessoa que
estava há mais tempo na minha vida, mais de trinta anos de amizade. O impiedoso advogado
criminal que é meu irmão de alma e vida.
— Saudades, amor? — Brinquei com ele, que empurrou meu rosto para longe quando
fingi debruçar para lhe dar um beijo.
— Me deixe ver sua mão, Benjamin. — Nicholas Brown, o empresário que tem uns
oito mil parafusos a menos, surgiu feito uma aparição demoníaca na minha frente, puxando meu
braço para si, investigando os meus dedos.
— Qual seu problema, Nick?
— Pensei que estivesse noivo e não nos disse nada, afinal, namorando sua secretária
você já está.
— Do que está falando, ruivo idiota? — Perguntei a ele, enquanto cumprimentava a
última peça do nosso quebra-cabeças, Carl Phillips, o engenheiro civil com o melhor coração
existente, mas que o mascarava por trás de todas suas camadas de proteção.
— Estou falando sobre a morena dos olhos verdes que enfeitiçou o CEO Benjamin
McKnight e o deixou feito um cachorrinho babão e virgem olhando para a mulher que roubou
seu coração.
— Eu quero entender o que foi esse discurso? — Perguntei aos outros dois, arrancando
o blazer do meu paletó e aceitando a cerveja que Nate me oferecia.
— Não leu as milhares de notícias que saiu na imprensa sobre você e Emma?
— Carl, eu sabia que elas sairiam, mas honestamente, tem tanta coisa acontecendo
ultimamente que nem mesmo dei importância a olhar qualquer uma dessas notícias.
— Que coisas estão acontecendo? — Nick se sentou na mesinha de centro, bem à
minha frente, porque claro que não bastava ser a pessoa mais maluca da face da terra, ele
também tinha que ser a mais fofoqueira e curiosa — Alimente a velha, Ben.
Era impossível não rir quando ele insistia com essa história de velha. Isso surgiu anos
atrás quando ele nos disse que dentro dele morava uma velha fofoqueira que surgia a cada mísera
indicação de fofoca. E ele realmente acreditava nisso e a alimentava.
— Quanto tempo vocês têm para me ouvir? — Ao perceber o tom da minha voz, Nate
deixou a cozinha e se juntou a nós na sala. Ele me conhecia bem, a esse ponto.
— Algo sério, Ben? O que aconteceu?
A pergunta de Nate abriu a minha boca e eu despejei absolutamente tudo que vinha
acontecendo, desde a atração por Emma há meses e o blecaute — o que eles já sabiam e eu
apenas precisei relembrar—, o convite para o baile e o nosso encontro e, claro, o fato de que em
poucos meses eu seria pai, de um bebê que tive por meio de um contrato.
As feições de choque dos meus melhores amigos eram claras e evidentes, e eu jamais
seria capaz de dizer qual dos três parecia mais espantado com cada coisa que eu narrava.
— Cara, você sabe que sempre iremos te apoiar em tudo, principalmente nesse caso,
mas, porra, Ben, eu sou seu melhor amigo...
— Um deles. — Nick interferiu, mas Nate ignorou em meio a sua bronca.
— Sou advogado e você não pensou em me ligar e pedir ajuda com o contrato?
Estamos juntos há trinta anos. Trinta, Benjamin. Você sabe que se me ligasse eu largaria tudo e
iria até você, é meu irmão, porra.
— Me desculpe, Nate. Eu sei de tudo isso, sei que poderia contar com você, mas... não
sei, estive tão atordoado com essa história que tudo que queria era acabar com tudo de uma vez e
garantir que aquela usurpadora não fizesse o que estava prometendo.
— Me dá o contrato, agora! — Ele exigiu, estendendo a mão para mim e eu apenas o
obedeci, dando meu celular na sua mão com uma cópia do documento.
— Sexy! Adoro assistir Nate em sua versão Anjo de Aço.
— Cala a boca, Nick. — Carl riu e fomos todos juntos, nem mesmo Nate se aguentou
quando o ruivo mencionou o apelido que a mídia deu para nosso advogado. Ele voltou para sua
poltrona, e nós esperamos que ele checasse cada mísera palavra do documento para então
continuarmos a conversar.
— Enviei uma cópia para mim, eu sou seu advogado e estou na sua cola, Benjamin,
não faça mais nada sobre isso sem que eu saiba e o autorize. — Nate exigiu e eu concordei, sem
questionar suas exigências quando sei que proteger sua família é o bem mais precioso de Nate, e
isso é o que somos, nós quatro, a família um do outro.
— Você está bem com tudo isso, Ben? — Carl me perguntou — Com a paternidade, eu
quero dizer.
— Agora que tenho esse contrato assinado e a certeza de que ela não pode fazer nada
ao meu filho, sim, estou bem mais tranquilo. O que apenas é uma mentira para dizer que eu estou
apavorado com tudo isso.
— Medo de que, McKnight?
— Tenho medo de tudo, Nick. Medo de falhar, medo de não ser o suficiente, medo de
como ele irá reagir no futuro ao saber que eu basicamente o comprei, medo de estar sozinho
nisso, medo de ser um péssimo pai, medo de agir minimamente como um ser detestável, afinal,
exemplos disso não me faltaram. — Desabafei e os três apenas me encararam, pois sabendo da
minha história como eles sabiam, era mais do que justificável todo o medo que sentia — Fico
pensando que se eu falhar, ele não terá uma mãe para recorrer, será apenas eu. Fico preocupado
ao pensar nisso, na ausência materna na vida dele.
— Ben, existem milhares de mães e pais solos por aí. Figuras que exercem ambos os
papéis, o de pai e o de mãe. Você pode suprir muito bem a ausência de uma figura feminina para
ele. — Nate tentou me animar, mas este era um ponto realmente sensível para mim, era algo que
realmente me incomodava ao pensar.
— Eu sei disso, Nate, sei que posso ser tudo para ele, que posso ser seu pai e sua mãe,
mas, eu não sei. — Virei a cerveja de uma vez na garganta — Eu não consigo explicar
exatamente o que me incomoda nisso. — Um suspiro de pura frustração me escapou.
— Ben, fique tranquilo. Você ainda tem meses pela frente até o nascimento. Tudo
ainda está muito recente, sua cabeça está fervilhando. Você vai ver que dará conta de exercer
ambos os papéis.
O argumento de Nick reforçava o apresentado por Nate. Meu olhar então se direcionou
para Carl e algo na forma como ele se mantinha em silêncio e apenas me encarava me dizia que
ele tinha mais a dizer.
— O que acha, Carl? — Questionei e ele respirou fundo, se ajeitando no seu lugar
antes de me responder.
— Eu não duvido que você possa, sim, ser as duas coisas, mas eu tenho uma visão
diferente de tudo isso. Ao contrário de Nick e Nate que tiveram isso, eu nunca tive uma mãe, já
que ela me abandonou ainda bebê. Eu cresci sem uma figura materna. E eu não sei te dizer, Ben,
se meu pai, apesar de ser presente, não soube administrar as duas funções ou se isso era
realmente uma coisa da personalidade dele, por ser mais frio e racional, mas eu senti, sim, falta
de uma mãe. Senti falta das coisas que uma mãe normalmente faz. O acalento, o colo, as
emoções.
— Carl. — Nate ralhou com ele em sinal de desaprovação.
— Somos amigos, Nate, mas temos visões e vivências diferentes. Estou apenas sendo
honesto. — Ele disse ao nosso amigo, e então me olhou outra vez — Ben, eu não quero de
maneira alguma te fazer se sentir mal com o que eu relatei, eu apenas te disse tudo isso para que
você se empenhe na sua relação com ele. Se você estiver disposto a isso, eu tenho plena
confiança de que você será para seu filho tudo aquilo que ele precisa, tudo aquilo que você nunca
teve.
De uma maneira diferente, o que Carl disse ia ao encontro com algo que Emma me
disse em meio ao nosso almoço: o fato de que eu reconheço que isso possa vir a ser uma
dificuldade, deve servir como estímulo, para que eu busque, em todos os momentos, ser o melhor
pai e mãe para meu filho.
— Você vai tirar isso de letra, Ben. — Carl completou — E estamos com você, sabe
disso.
— Agora, Benjamin, tenho uma pergunta muito importante. — Nick conquistou nossa
atenção — Desembucha, McKnight, o que está acontecendo entre você e Emma?
O sorriso surgiu tão fácil no meu rosto que os três idiotas gargalharam da minha cara,
implicando e me provocando. Passei mais algumas horas com meus amigos, rindo das
palhaçadas de Nick, ouvindo casos e histórias de Nate e Carl. Porém, apesar de estar me
divertindo com eles, tinha algo que ficava constantemente atormentando meu peito.
E essa sensação estranha não me deixava. Minha cabeça ia e voltava nessa história da
maternidade. Eu não achava que uma mãe substituía um pai, assim como também não achava o
contrário, pais não substituem mães.
Por achar isso, não deixava de acreditar que uma mãe daria ao meu filho tudo aquilo
que eu deixaria faltar ou não saberia fazer. Seríamos complementares um ao outro, de forma que
nos ajudaríamos e nada —nada! —, faltaria à criança.
Capítulo 08 – Emma Campbell

Receber um telefonema do banco que não só me alertava da minha dívida ativa como
também insistia para que eu não atrasasse outra vez — porque, nesse caso, além dos juros
astronômicos, também teria que arcar com custas judiciais —, não estava mesmo nos meus
planos.
O banco precisava mesmo esfregar na minha cara que eu não tinha onde cair morta.
E como se o dia já não estivesse sendo bizarro para dizer o mínimo, com cartas e
ligações indesejadas, com meu chefe — que também era o cara com quem eu estava no meio de
um rolo — me contando que iria ser pai, eu precisava chegar em casa e dar de cara com a porta
do meu apartamento aberta, com o Sr. T supervisionando o que parecia ser um exército de
encanadores na minha cozinha.
— Emma.
— Sr. T, o que está acontecendo? — Entrei na minha casa, largando minhas coisas sobre
o sofá de qualquer maneira.
— Algum tipo de vazamento vindo da sua cozinha, o gesso do apartamento abaixo do
seu cedeu, de tanta água que está escoando. Chamei os encanadores e usei a sua chave extra para
agilizar o conserto. Tentei te ligar, mas...
— Meu celular está sem bateria. — Apenas mais uma peça pregada pela vida. — Sr. T,
essa é a terceira vez em dois meses que preciso lidar com consertos nesse apartamento, e agora o
senhor está me dizendo que foi tão sério que o teto cedeu? O vizinho vai me matar.
— Ele não chegaria a esse extremo, mas está realmente revoltado.
E eu nem mesmo posso culpá-lo. Na primeira vez, ele me alertou sobre o problema e eu
chamei o conserto, que me garantiu que não haveria mais problemas. E então duas semanas
depois, lá estava o vizinho batendo na minha porta outra vez. Dessa vez ele nem mesmo precisou
disso, minha casa quase foi parar na dele.
Três consertos em tão pouco tempo, levando embora junto da água vazada todas as
minhas economias — que já não eram muitas —, e me afastando ainda mais do pagamento da
dívida no banco, o que só me trazia mais perto de um processo judicial.
— Como... como eu vou pagar por tudo isso, Sr. T?
A sobrecarga de emoções me trouxe à beira do precipício e tudo se transformou em
lágrimas, escorrendo pelo meu rosto sem que eu me esforçasse para pará-las. Estava cansada,
cansada de viver para trabalhar, para ganhar um dinheiro que eu mal tinha tempo de ver, porque
logo escorria pelas minhas mãos. Quando não era pelo banco, eram pelos inúmeros consertos e
problemas que essa casa me trazia.
Eu não aguentava mais.
O carro velho do meu pai — uma das últimas coisas que me restou dele —, eu precisei
vender há alguns meses. As alianças da minha mãe foram embora quando precisei refazer o
banheiro graças a — adivinhem — outro problema com infiltração.
E agora? O que mais eu poderia fazer? Não me restava mais nada de valor, nada que eu
poderia usar para consertar esse estrago. E de que adiantaria se ainda assim eu teria o banco na
minha cola por conta de uma dívida absurda?
Só me restava mesmo chorar. Chorar por tudo isso, chorar por saber que minha única
solução seria me endividar ainda mais para pagar esse conserto e então fazer algo que eu venho
evitando há tanto tempo: procurar um outro lugar para morar.
Dois eram os motivos para eu ainda permanecer nessa caixinha de fósforo: o fato de que
o aluguel era consideravelmente baixo para um prédio com porteiros — o que agora me parece
justificável, já que o que eu não gasto no aluguel, gasto nos consertos praticamente mensais —, e
a presença do Sr. T, um velho senhor que chegou na minha vida no momento em que eu mais
precisava de alguém.
Racionalmente, eu sabia que para onde eu fosse, eu sempre o teria, mas gostava daqui,
gostava da ideia de ele morar perto e me dar certa segurança pela sua presença. E por mais que
eu reclamasse, eu gostava da minha caixinha de fósforos que eu chamava de lar.
Nem mesmo percebi quando tempo se passou desde que comecei a chorar, só sabia que
as lágrimas seguiam descendo enquanto assistia os encanadores trabalhando e o Sr. T me
fazendo um cafuné. Ouvir a equipe dizendo que a minha água precisaria ficar cortada pelos
próximos dias para assegurar que o reparo funcionasse, apenas me faz chorar ainda mais.
— Emma. — A voz de Hannah surgiu como uma surpresa — O que está acontecendo?
Apenas apontei ao redor, sem forças para responder. Sr. T conversava com ela, enquanto
eu parecia paralisada nas minhas emoções. Vi quando Hannah falou alguma coisa com os outros
homens, quando voltou do meu quarto com uma pequena mala em mãos, mas apenas reagi
quando ela praticamente me arrancou do sofá.
— Vamos, Emma.
— Para onde?
— Você vai ficar comigo por uns dias. Paguei o serviço e o conserto do apartamento do
vizinho. Em dois dias você poderá voltar para casa.
— Hannah, eu não posso aceitar, sou adulta e deveria conseguir arcar com as minhas
responsabilidades.
— É adulta? Então não seja teimosa feito um bebê chorão e vamos embora. — Ela me
abraçou quando tudo que fiz foi voltar a chorar, feito o bebê que ela me acusou ser — Está tudo
bem, de verdade, isso é só dinheiro para mim e não vale te ver desesperada quando eu posso
resolver. Agora vamos, ok? Vai dormir no meu quarto de hóspedes que não tem mofo, tomar um
banho de banheira com os meus sais de banho que você tanto ama, vai se deitar em uma cama
quentinha e quando acordar amanhã o dia será muito melhor.
Segui caminho com ela, mesmo sabendo que ela estava errada, porque quando eu
acordasse, ainda teria um banco me perseguindo com um boleto gigantesco.
— Hannah, Joey não vai se incomodar comigo por lá? — Perguntei a ela quando
estávamos quase chegando ao seu prédio, um desses na área nobre da cidade.
— A casa também é minha, e ele não tem nada a dizer sobre isso. Você é minha família e
se ele pode receber a família dele, eu posso receber a minha.
Amava Hannah, mas detestava Joey com todas as minhas forças. Odiava como ele
tentava controlar a vida dela, como ele tentava afastá-la de mim constantemente, como tentava
fazer dela apenas uma moça do lar, quando ela era uma pediatra incrível em um dos melhores
hospitais da cidade.
Ficar de favor na casa dela tendo que aturar esse babaca era só o que me faltava para
finalizar essa noite. Felizmente ele estava de plantão no hospital e não estaria em casa até que eu
já tivesse saído para o trabalho pela manhã.
O que me restava para essa noite era afogar minhas mágoas em uma comida bem
gordurosa, um banho no banheiro incrível do seu apartamento e uma noite em um quarto com
cheiro de limpo. E então, amanhã, a vida real voltaria a bater na minha cara.

Hannah me despertou com uma bandeja de café da manhã que me emocionou. Estava
tão acostumada a comer apenas alguma fruta e tomar café puro, e esperar pelo almoço oferecido
pela empresa ou por Benjamin, que ter encontrado tantas opções disponíveis assim que abri meus
olhos, me incentivou a querer um dia melhor e decidir lutar por mim mesma.
Comi tudo que ela deixou ali para mim enquanto me arrumava, tentando tomar
coragem para pedir ajuda a ela. Mais de uma vez, Hannah se ofereceu a adiantar ao menos
algumas das parcelas do meu financiamento — na verdade, ela ofereceu quitar a minha dívida,
mas eu jamais poderia aceitar que fizesse isso, então ela mudou o discurso —, e eu sempre
recusei. Porém, agora, ela era minha única salvação.
Não conseguia não achar que estava me humilhando a alguém por dinheiro, mas no
fundo, eu sabia que se não quisesse ter que lidar com consequências ainda piores, eu precisava
deixar meu orgulho de lado e pedir ajuda a alguém que pudesse fazer isso por mim sem qualquer
prejuízo.
— É isso, Emma. — Olhei meu reflexo no grande espelho do quarto antes de conversar
com ela — Ela vai entender e te ajudar, e você vai para sempre ser grata a ela.
Saí do quarto com meu orgulho bem guardado dentro de mim. Com minha bolsa
pendurada no ombro e a bandeja quase vazia em mãos, fui em direção à cozinha, sabendo muito
bem que ela devia estar por lá, perdida na sua verdadeira paixão, cozinhar.
— De novo isso, Hannah? — Parei no lugar quando ouvi a voz alterada de Joey. Merda,
não tinha conseguido sair antes desse estúpido chegar — Você não consegue enxergar que só
existe um motivo para Emma te manter por perto? Ela é uma interesseira, e você não é tão
inteligente quanto parece se não percebe algo tão óbvio.
— Dobre a língua para falar da minha irmã, Joseph.
— Irmã? — Ele ria alto — Hannah, deixe de ser idiota. Semana passada ela te ligou e
você não só me deu um bolo, mas gastou milhares de dólares em roupas para ela.
— Porque eu quis presenteá-la, ela jamais me pediu. E você não tem nada com isso, o
dinheiro é meu e eu gasto como eu bem entender. — Ela retrucava e eu me encolhia cada vez
mais ao vê-la discutindo com o noivo por mim.
— E agora você a traz para dentro da nossa casa e ainda paga uma reforma no
apartamento dela?
— Não é uma reforma, Joey, foi uma emergência.
— E ela não pode lidar com seus próprios problemas? Ah, já sei. Por que fazer isso
quando se tem uma amiga rica que se oferece para bancá-la?
Isso foi o máximo que eu pude suportar. Eu não gostava desse idiota, nunca gostei, mas e
se em algum grau Hannah concordasse com ele? Será que ela também se sentia incomodada
pelas coisas que fazia por mim, ainda que eu nunca tivesse pedido por elas?
Não importava. A questão é que depois de tudo que ouvi, eu não iria pedir ajuda a ela,
não queria ter que ouvir alguém me chamando de interesseira, e não queria arriscar ouvi-la dizer
sim ao meu pedido e começar a acreditar no que Joey dizia.
Deixei a bandeja no canto da sua sala, peguei os sapatos na mão e saí do seu apartamento
sem fazer qualquer barulho para não chamar atenção de nenhum dos dois, depois eu mandaria
uma mensagem qualquer para ela justificando minha saída silenciosa.
Sem a ajuda de Hannah, só me restava a outra opção: a humilhação. Precisava ir ao
banco e rastejar —ou implorar de joelhos, se fosse necessário —, para que o gerente fizesse um
novo parcelamento para mim, de um jeito que eu pudesse conseguir pagar mensalmente.
O dia chuvoso me recebeu assim que coloquei os pés na rua. Um belíssimo dia para me
humilhar por aí.

A humilhação não acabou quando o gerente não só me disse não, mas chamou a atenção
de todos ao meu redor, falando alto e basicamente gritando para todos que pudessem ouvir o
quanto eu estava devendo àquela instituição.
Saí de lá arrasada, humilhada, ridicularizada... e molhada, porque quando a vida resolvia
me zombar, ela ia fundo nessa ideia. A chuva tinha aumentado consideravelmente e a porcaria de
um carro jogou o que pareceu ser uma tonelada de água em mim, me deixando ensopada.
Agora além de atrasada para o trabalho, eu estava encharcada e tremendo de frio, com a
maquiagem escorrendo pelo rosto e, para completar a desgraça, a sola do meu sapato precisava
querer se juntar ao vexame e descolou. Além de tudo, ainda precisava mancar.
Eu deveria ligar para Benjamin e pedir um dia de folga, inventar uma dor de barriga ou
qualquer outra desculpa, mas aparentemente a chuva levou junto todo o meu amor próprio e
dignidade, porque quando dei por mim estava com um sorriso amarelo pregado no rosto, olhando
para todos os meus colegas de trabalho na empresa, até me refugiar na segurança do elevador
privativo da presidência e, enfim, chegar ao vigésimo andar.
— Emma! O que diabos aconteceu com você?
Benjamin, que aparentemente andava pelo nosso andar de um lado para o outro com o
celular no ouvido, me notou assim que saí do elevador, no que devia ser uma imagem saída
diretamente de um dos filmes de terror que ele abominava e que eu parecia estar vivendo.
— Você nunca se atrasou ou deixou de me avisar que iria se atrasar, ao menos. Estou te
ligando há pelo menos duas horas, preocupado com você. — Ele andou até mim, o seu celular
agora apoiado na minha mesa — O que aconteceu? — E parecia que além de todas as coisas, eu
também estava carente, porque bastou que ele suavizasse seu tom de voz e me olhasse com
carinho para que as porteiras se abrissem novamente deixando as lágrimas escorrerem— Ei, o
que foi? — Ele tocou meu queixo, levantando meu rosto para que eu olhasse para ele.
— Tudo. — Dei de ombros, sem responder, sem andar, sem nem me mexer, ao menos
não conscientemente, mas ainda sentia meu corpo tremendo pelo frio. Benjamin se aproximou e
quando percebi que ele pretende me abraçar, dei dois passos para trás — Estou suja e molhada,
vou te sujar.
— Você está tremendo.
— Frio.
E vergonha, e raiva, e vontade de voltar para um colchão quente e não sair de lá até que
todos meus problemas estivessem resolvidos.
— Vem comigo. — Ele me puxou em direção à sua sala, andando devagar quando
percebeu que, além de tudo, ainda estava mancando graças ao sapato idiota quebrado — Use o
meu banheiro, tem um chuveiro, produtos de higiene e toalhas limpas. — Ele me contou, como
se não fosse eu quem sempre conferisse cada um desses detalhes.
— Eu não vou tomar um banho, Benjamin.
— Emma, você está ensopada e tremendo de frio, é claro que vai. — Ele insistiu,
enquanto me ajudava a desgrudar o casaco molhado da minha pele, e que agora parecia pesar
uma tonelada sobre meus ombros. Assim que ele conseguiu da peça de roupa e a jogar no chão,
correu suas mãos quentes pelos braços nus e o seu calor começou a fazer com que eu me sentisse
melhor.
— Não posso tomar um banho aqui, não tenho outra roupa e...
— Eu providencio. — Bastou ele dizer isso para que as palavras de Joey voltassem à
minha mente. Eu nunca pedi nada a Hannah, mas ela sempre fez tudo para mim quando eu
resmungava e dramatizava mesmo sem ter essa intenção. Será mesmo que sou uma interesseira?
E aparentemente fiz o mesmo com Benjamin. Enredei ele no meu drama e ele acabou se
comovendo e me oferecendo algo em troca.
— Benjamin, eu não sou uma interesseira. — Ainda que não fizesse muito sentido para
ele, eu precisava deixar claro para mim mesma.
— Emma, esse dia está muito estranho, acordamos do lado errado hoje? Por que eu estou
aqui com a minha linda secretária que nunca chegou até mim nessas condições e como se não
bastasse ela me diz coisas sem sentido e chora por elas? Bateu a cabeça antes de vir até aqui? —
Ele me fez rir, por mais que tudo que eu quisesse era chorar — Agora vai, entre no banheiro,
tome seu tempo.
— Benjamin, eu...
— Eu sei que não é uma interesseira, Emma, mas precisa de algo agora que eu posso te
oferecer. Tome um banho, eu vou providenciar roupas limpas e quentes e, então, você vai se
sentar ali e me contar exatamente o que está acontecendo. Desde ontem eu percebi que algo
estava errado e se eu deixei que fosse embora sem conversar comigo, hoje eu não cometerei o
mesmo erro.
De maneira gentil, mas não sutil, ele me empurrava para dentro do seu banheiro e
estando ali, eu só podia fazer o que ele pediu — ou melhor, ordenou — e rezar para que eu
tivesse o que vestir quando saísse dali.
Com uma batida na porta algum tempo depois, ouvi quando ele me disse que tinha
roupas para mim, e que ele iria me esperar na minha antessala, me dando certa privacidade, e eu
só poderia agradecê-lo por isso.
Terminei meu banho, sentindo meu corpo voltar à sua temperatura normal. Abri a porta o
mínimo possível para puxar para dentro a sacola que ele deixou ali para mim. Loja cara — mais
precisamente uma das lojas mais caras, que ficavam ao redor do prédio da empresa e eu ignorava
as vitrines por saber que jamais teria condições de comprar algo ali —, mais uma coisa para eu
me sentir em dívida com as pessoas ao meu redor.
Me vesti e incrivelmente todas as roupas me serviram perfeitamente, até mesmo o par de
sapatos que também encontrei na sacola. Usei todos os seus produtos de higiene, até mesmo sua
escova de cabelos e quando achei que estivesse minimamente apresentável, mesmo de cara
limpa, saí dali e abri a porta sua sala, demonstrando que ele poderia entrar agora.
— Está linda. — Ele elogiou.
— E você é um mentiroso, mas muito gentil. Obrigada. — Sorri para ele agradecendo o
copo de chocolate quente que ele esticou para mim — Agradeça a quem pediu para descer e
comprar essas roupas para mim, a pessoa tem um bom olho, couberam perfeitamente.
— Bom, obrigado. Eu fui pessoalmente comprar.
— Benjamin...
— Não precisa me agradecer, Emma, não foi nada demais.
— Talvez não para você, mas para mim, significa muito. Obrigada. — Agradeci, de
coração, ainda que minha mente insistisse em reviver as falas daquele imbecil.
— Vem, se sente aqui e me conte o que está acontecendo. Percebi que ficou estranha
desde que recebeu aquela ligação ontem à tarde, quero entender o que está acontecendo. — Ele
me chamou para perto, se sentando no canto do sofá.
— É uma longa história. — Soou como uma desculpa, e realmente era, porém, ao mesmo
tempo, não me esforcei o suficiente para esconder qualquer coisa dele.
— Minha agenda está livre. — Ele afirmou e eu neguei, era sua secretária afinal e
decorar sua agenda de trás para frente era uma das minhas obrigações — Emma, eu sou o chefe,
eu faço minha agenda. No momento, não tenho qualquer compromisso a não ser ficar sentado
aqui até que você me conte o que está acontecendo. Você pode arrumar quantas desculpas quiser,
vamos continuar aqui até que você termine.
Como que para provar seu ponto, ele se ajeitou no sofá da maneira mais confortável
possível, bebericando seu café abaunilhado que ele tanto adorava. Benjamin apenas me olhava,
sem exigir, sem pressionar, mas me dando espaço para que eu fizesse o que ele queria e,
honestamente, estava cansada de esconder para mim mesma tudo que vinha guardando há tantos
anos.
— Há muito tempo atrás, meus pais queriam muito ter um filho, mas tiveram muitos
problemas para conceber, minha mãe tinha alguma condição de saúde que eu nunca entendi
muito bem, mas que sei que dificultava. — Me sentei ao seu lado, investida na ideia de falar
sobre mim para ele —Por conta disso, eles investiram muito nisso, inseminação e fertilização são
procedimentos caros e, como ter um bebê era um sonho deles, foram fundo nisso, e conseguiram
engravidar de mim quando minha mãe tinha 42 anos.
— Uma gravidez de risco, não é? — Minha surpresa ficou evidente no meu rosto, porque
logo ele se explicou — Ando lendo bastante sobre isso.
— Sim, e por conta disso, minha mãe precisou de repouso quase absoluto, o que fez com
que ela parasse de trabalhar. No meio da gestação, meu pai foi demitido e então as duas rendas
da família viraram menos da metade de uma delas.
— Foram tempos difíceis para os Campbell. — Foram tempos mais do que difíceis.
— A reserva que tinham se foi com toda a insistência na fertilização e então com essa
redução na renda e com os custos adicionais dos exames além dos costumeiros que minha mãe
precisava fazer, eles acabaram se enfiando em inúmeras dívidas e, depois que eu nasci, com mais
uma pessoa na casa, as dívidas só aumentavam cada vez mais. Apesar de tudo isso, eu vivi uma
vida tranquila ao lado deles, com muito apoio e, mesmo que se afundassem em dívidas, eles
nunca deixaram nada me faltar.
Sorrio ao meu lembrar dos meus pais, do quanto eu fui amada por eles, do quanto eu
sinto saudades deles.
— Minha mãe voltou a trabalhar e eu cresci. Já adolescente, eu comecei a ter mais noção
de tudo e eu percebia que as dívidas nunca diminuíam, na verdade, pareciam sempre maiores.
Então, com quinze anos, eu comecei a trabalhar, como babá de algumas crianças da vizinhança.
Eu não recebia muito, mas tudo que eu ganhava era de grande ajuda na casa.
— Não deve ter sido fácil para você também.
— E realmente não foi. — Me sentia envergonhada por falar nisso, mas disse mesmo
assim — Às vezes, eu queria pegar um pouco do meu dinheiro, gastar com alguma bobeira,
comprar uma roupa nova ou para sair e me divertir como os meus amigos faziam, só para ter o
prazer de gastar, mesmo que fosse com uma coisa supérflua, sabe? Mas eu nunca fiz isso, nunca.
— Sinto muito.
— Não precisa. — Sorri, por mais que gostasse dele me entender — Eles sempre fizeram
de tudo por mim, isso era só um pouco do que eu podia fazer de volta. Eu levava meu salário e
entregava nas mãos deles, porque eu sabia que, por menor que fosse a quantia, faria diferença no
final das contas. E eu preferia o alívio de vê-los conseguindo pagar uma conta do que a alegria
momentânea que gastar comigo mesma me faria sentir.
— As coisas pioraram, não é? — Ele questionou, quando meus pensamentos foram para
longe.
— Eu me dividia entre as aulas na escola e meu trabalho como babá, porém... — Senti
meus olhos arderem ao me recordar do que aconteceu — Meu pai, aos seus 63 anos, sofreu um
infarto fulminante e não resistiu. Eu tinha 17 anos. O cardiologista que o acompanhava nos
relatou que meu pai estava sob constante estresse e que seu coração estava sobrecarregado e,
então, uma hora ele simplesmente desligou.
— Sinto muito, Emma. — Benjamin se esticou, encontrando minha mão repousando no
espaço entre nós dois e me puxou um pouco para mais perto — Sinto muito de verdade.
— Com a morte de papai, mamãe precisou dobrar o turno no trabalho para que a gente
conseguisse cobrir todas as despesas e eu também consegui outro emprego, em uma sorveteria
do bairro. Então eu tinha que me dividir entre a escola, a sorveteria e minha agenda como babá,
enquanto minha mãe trabalhava dobrado. Foi um período horrível, pois, ao mesmo tempo em
que tínhamos que lidar com todos os sentimentos atordoados em virtude da morte do meu pai,
ainda tínhamos que seguir com a nossa vida e arcar com nossos problemas e dívidas. Não foi
nada fácil.
— Eu imagino.
— E eu tinha uma preocupação a mais. Minha mãe, que nessa época já tinha seus
sessenta anos e já não tinha mais tanto fôlego para uma dupla jornada de trabalho. Junto a isso,
ela tinha constantes crises depressivas por não saber lidar com a morte do seu parceiro de vida.
Eles viveram tempos ruins, mas também dividiram as melhores alegrias.
— Realizaram o sonho deles, tiveram você. — As lágrimas que eu prendia finalmente
deslizaram pelo meu rosto assenti. Eu sabia que sim, eu era o sonho deles.
— Quando eu completei dezoito anos, um ano depois da partida do meu pai, eu decidi
que não teria como ir para a faculdade no ano seguinte, nem mesmo se eu ganhasse uma bolsa
integral, porque ainda precisaria de dinheiro para me manter onde quer que fosse. O que eu
precisava era de um emprego com um salário melhor para cobrir o turno extra da mamãe e tentar
dar a ela algum descanso. Eu morria de medo de acontecer com ela o que aconteceu com papai.
— Um medo muito justificável.
— Minha mãe discordava e passamos a brigar muito por isso. Ela insistia que eu deveria
ir e eu afirmava que não iria. Ela dizia que em hipótese alguma eu ficaria sem uma faculdade e
eu retrucava dizendo que estava apenas adiando nosso sonho, ainda que eu mesma não
acreditasse que um dia isso seria possível. Eu dizia que não admitiria ser a responsável por
sobrecarregá-la ainda mais e ela me falava que era sua obrigação como minha mãe me dar tudo o
que eu merecia. Eu compreendo e sempre reconheci o lado dela, mas o mais importante para
mim sempre foi o bem-estar dela.
— Nunca conheci sua mãe, mas consigo sentir o amor de vocês duas uma pela outra.
Vocês queriam o melhor para a outra, sem se importar com si mesmas. — Ele acariciava minha
mão e senti-lo comigo me fez forte para continuar meu relato.
— Eu sempre tentei ajudá-la, Benjamin. Eu conversava, era uma filha presente, passava
o mínimo de tempo possível fora de casa, só saía para trabalhar e voltava para fazer companhia
para ela. Mas as coisas pioraram. A depressão tomou conta dela e ela não conseguia mais
trabalhar ou cuidar de si mesma. Ela era minha mãe e eu passei a fazer por ela tudo que ela não
conseguia mais fazer. Fazia comida, oferecia para ela na boca, dava banho... eu fazia de tudo. E
eu acreditava que era uma fase, que eu tinha que cuidar dela até ela se curar e poder voltar a fazer
as coisas por ela mesma.
— Emma. — Benjamin entrelaçou seus dedos aos meus.
Suas feições escorregaram enquanto me olhava. Sabia que ele compreendia o caminho
que a história estava tomando, sabia que ele entendia o que agora eu também sabia, o que a
Emma de anos atrás não tinha conhecimento, que depressão é uma doença bem séria e que
precisa de muitas coisas para ser superada, principalmente de tratamento.
— Eu algum momento eu percebi que ela precisava de mais do que eu conseguia fazer,
que ela precisava de ajuda médica. Mas... eu percebi isso tarde demais. E então minha mãe
também se foi, e eu fiquei sozinha nesse mundo apavorante.
Benjamin me puxou para ele, me prendendo em um abraço tão forte, e tão bom, que senti
a Emma adolescente sendo abraçada e confortada pela morte de ambos os pais em um intervalo
tão pequeno. Ele não me soltava por nada e eu queria morar ali, presa na segurança dos seus
braços. Retribui, apertando-o para mim, deixando minhas mãos espalmadas nas suas costas.
— Queria que tivesse sido diferente. — Ele me disse quando nos afastamos, seus
polegares recolhendo as lágrimas pelo meu rosto.
— Eu também.
— Tinha dezenove anos, não é? — Eu confirmei — Se hoje tem vinte e sete, falta boa
parte dessa história. — Novamente, eu confirmei — O que mais aconteceu com você?
— Eu queria me livrar de todas as dívidas possíveis, então fui a um banco para entender
o que podia ser feito e, dentre as opções que eles me apresentaram, a que fazia mais sentido era
vender a nossa casa e alugar um apartamento menor, já que agora era apenas eu.
— Vendeu sua casa de infância?
— Precisava ser feito. — Minimizei a dor que senti ao vender minha casa — Vendi a
casa com tudo dentro, móveis e alguns outros pertences, e com o valor que consegui em tudo
isso, consegui quitar cerca de 60% da dívida. No restante do ano, eu continuei trabalhando e
economizando o máximo que podia, estudando no tempo livre para tentar alguma bolsa em
qualquer faculdade, em qualquer lugar.
— Então foi assim que veio parar em Nova York. — Ele constatou.
— No final das contas, eu consegui uma bolsa parcial em uma faculdade comunitária
para o curso de literatura e, assim que cheguei na cidade, fui atrás de trabalho para garantir que
conseguiria pagar o financiamento estudantil. Consegui alguns estágios iniciais até que acabei
em um estágio aqui na Booksbank.
— Começou como estagiária de um dos redatores, não é?
— Sim. Quando percebi que já estava quase no fim da faculdade, me matriculei em um
segundo curso, dessa vez de administração e assim consegui terminar os dois quase ao mesmo
tempo. Com dois diplomas em mãos, meu currículo chegou até você e aqui estou.
— Eu me lembro de analisar seu currículo e que apesar do pouco tempo de formada, o
fato de ter dois diplomas foi decisivo para que eu te contratasse.
— Como assistente do CEO, eu tenho um excelente salário. Por favor, Benjamin, não
pense que sou interesseira, ou que estou reclamando do que me oferece, mas se quer saber o que
aconteceu, eu preciso falar isso.
Benjamin apenas me olhava e eu ganhei a certeza de que era justamente isso que ele
estava concluindo sobre mim.
Que eu não passava de uma dramática interesseira.
Capítulo 09 – Benjamin McKnight

Uma preocupação sem tamanho me tomou quando percebi o atraso de Emma, de tão
inusitado que essa situação é. Ela jamais se atrasou, ao menos não sem me enviar uma mensagem
avisando e, ainda nesses casos, nunca por mais de vinte ou trinta minutos.
Hoje, no entanto, se passaram horas, e eu me vi realmente desesperado por notícias,
principalmente quando ela não atendeu as minhas ligações. E talvez ela, ao ver o tanto de vezes
que eu liguei, iria pensar que era Benjamin, seu chefe, querendo saber onde ela estava, quando na
verdade era eu, como homem, preocupado com ela.
Dentre todas as coisas que passaram pela minha cabeça, a última delas era que ela
chegaria até mim naquelas condições. Ensopada, tremendo de frio, com um sapato quebrado e os
olhos marejados. Colocá-la para se livrar daquelas roupas sujas e molhadas era o mínimo que eu
poderia fazer, comprar um vestido, um casaco e um sapato não foi um problema também.
Não esperava que a história que eu insisti para me contar fosse uma tão pesada e
tenebrosa como essa que vinha me contando. Não só pelas dificuldades financeiras, mas por tudo
que aconteceu com sua família e a maneira como uma garota ficou perdida diante da morte de
ambos os pais.
Sempre achei que Emma era uma mulher de fibra, com valores fortes, perspicaz e
madura, mas saber desses detalhes da sua vida e personalidade só me fizeram ficar ainda mais
encantado por esse lado dela.
Ouvir seu relato me trouxe uma miscelânia de emoções. Mesmo narrando fatos horríveis
da sua história, eu via o amor refletido em seus olhos, eu consegui sentir o amor que ela sentia —
e continuava sentindo — por seus pais e o quanto eles a amaram até o último momento de suas
vidas.
Constatar tudo isso fez com que o monstro que me atormentava com a ideia de que meu
próprio filho não sentiria esse amor materno voltasse a me cutucar. Eu tentei ignorá-lo, mas ele
se fez presente a cada segundo.
— Por que essa fixação em achar que é interesseira, Emma? — Questionei, voltando ao
presente e ela negou com a cabeça, sem querer falar sobre isso — Não quer falar, tudo bem,
saiba que eu sei que recebe um ótimo salário, sou eu quem assina seu contracheques. — Brinquei
e ao menos consegui fazê-la sorrir.
— Apesar do meu salário ser alto, ainda é insuficiente para suprir todas as despesas do
dia a dia, aluguel, mercado, luz, água... e ainda conseguir lidar com as parcelas do meu
financiamento. — Agora que parecíamos estar chegando ao cerne da questão, não consegui
deixar de notar o constrangimento que a atingia.
— Está tudo bem, Emma, pode falar.
— O meu apartamento é ótimo, mas é péssimo ao mesmo tempo. Constantemente, eu
preciso fazer reparos ou sou obrigada a reformar algo por prejudicar vizinhos ou... enfim. Ele me
dá muito trabalho. Tudo isso aconteceu em uma frequência absurda nos últimos meses, o que me
fez atrasar algumas parcelas do meu financiamento.
— Quantas? — Perguntei, ignorando o tom escarlate do seu rosto e o quanto ele parecia
queimar, a julgar pela insistência dela em tocá-lo com a mão livre.
— Com a atual, seis parcelas. — Ela confessou e eu me surpreendi, minha mente logo se
direcionando às consequências que isso poderia provocar — Assim que acordei ontem, vi uma
correspondência do banco me avisando sobre o atraso e me intimando ao pagamento com
urgência, para que eles não resolvam isso judicialmente e então eles me ligaram quando saímos
do restaurante, novamente me ameaçando. Ao menos foi assim que me senti, ameaçada, e por
isso me desesperei. E como se isso já não fosse o suficiente, eu cheguei em casa e encontrei meu
apartamento invadido pelo síndico e um exército de encanadores, mais uma vez lidando com um
vazamento absurdo que não só estragou minha cozinha, mas também destruiu o teto do meu
vizinho de baixo.
— Como... — Minha pergunta ficou presa na boca quando ela nem mesmo me deu
tempo para formulá-la em meio a seu desabafo.
— Minha melhor amiga precisou interferir e pagar o conserto, e me levou para sua casa
enquanto a água permanecerá cortada. A questão é que... eu estou ferrada, Benjamin,
completamente ferrada. Se a situação já estava feia para o meu lado antes de tudo isso, agora
ainda tenho que lidar com mais um reparo no meu apartamento. Hannah nunca irá me cobrar o
que gastou, mas...
— Você não permitiria que ela arcasse com um problema que é seu.
— Sim. Pensei em engolir meu orgulho e pedir ajuda a ela, mas... desisti no meio do
caminho. Então fui ao banco rastejar atrás do gerente para que ele ficasse com pena de mim e
aceitasse fazer um novo parcelamento, mas me negaram, porque não só tenho as minhas dívidas
pessoais do financiamento estudantil, mas ainda tenho tudo que meus pais deixaram para trás. A
desgraça apenas se completou quando me disseram não, a chuva me pegou pelo caminho, meu
salto quebrou e então até você ficou com pena de mim e...
— Não era bem pena, Emma, estava preocupado e não queria que ficasse doente, então
apenas... cuidei de você.
Minhas palavras pareceram atingir algo nela que eu não consegui alcançar, mas que a
comoveram de alguma maneira. Emma disfarçou, perceptivelmente guardando esse sentimento
de volta em um lugar profundo.
— De qualquer maneira, essa é minha linda história. Aqueles filmes de terror não
parecem tão assustadores assim, não é mesmo?
Ela tentava brincar, me deu até um sorriso, mas sabia o quanto tudo aquilo devia ser
difícil para ela. Tantos anos sozinha e lidando com tantos problemas, se sobrecarregando de um
jeito que ninguém deveria fazer, do mesmo jeito que ela tentou proibir a mãe de fazer e agora
fazia sem se dar conta.
—Emma, eu posso...
— Não faz isso. — Ela me interrompeu, seu dedo sobre meus lábios — Não me oferece
seu dinheiro, eu não posso aceitar, principalmente hoje. —Ela encarava o fundo dos meus olhos,
me hipnotizando com aqueles olhos perfeitos — Eu não sou interesseira. Gosto de você, gosto do
lugar onde estamos agora, dos limites que ultrapassamos, mas... eu não posso aceitar essa ajuda.
— Por que não, linda? — Levei uma mecha do seu cabelo para detrás da sua orelha,
deixando minha mão ali, onde podia afagar seu rosto.
— Porque tem algo muito recente martelando na minha cabeça e aceitar seu dinheiro vai
comprovar um ponto que eu não quero que seja verdade.
— Eu não acho que você é interesseira.
— Mesmo assim. Eu não posso.
Ela negou outra vez e eu vi seus olhos marejando pela milésima vez desde que nos
trancamos na minha sala e tudo que eu desejava nesse momento era quebrar a cara de quem quer
que tenha colocado essa paranoia na cabeça dela.
— Posso te ajudar de outra maneira, então?
— Como?
— Meu nome tem peso, você sabe disso. — Ela confirmou, seu rosto quase deitado na
minha mão e eu precisava de uma força descomunal para me manter concentrado na conversa e
não em tomar seu rosto para mim e finalmente provar o gosto do seu beijo — Posso ir ao banco,
ou menos conversar com o seu gerente, e tentar, quem sabe, renegociar sua dívida.
— Benjamin...
— Eu poderia passar por cima da sua palavra e resolver tudo isso em um piscar de olhos,
você sabe disso, mas não vou desrespeitá-la. Então, ao menos aceite minha oferta, me deixe
tentar te ajudar.
— Se me prometer que não fará mais do que isso, eu aceito.
— E eu te prometo.
— Obrigada, Benjamin.
Ela voltou para meus braços, dessa vez ela quem me abraçou. Sentia que ela estava ao
menos um pouco aliviada por ter colocado para fora todo o peso que carregava sozinha, ainda
que de fato não tenhamos resolvido nada. Eu sabia que ela ficaria brava por um momento, mas
então me agradeceria caso eu simplesmente fosse ao seu banco e quitasse tudo o que deve, seria
ridiculamente fácil para mim fazer isso, mas queria conquistá-la, não a afastar e por isso — e
apenas por isso — iria cumprir com minha promessa.

Nem mesmo um nome de peso resolveu as coisas no banco.


Como prometi à Emma, deixei a empresa antes do previsto para ir ao banco em horário
comercial e tentar resolver os problemas dela. Tive uma real noção de quanto estávamos falando,
do valor de sua dívida e as coisas realmente se colocaram em perspectiva na minha cabeça. Eu
acabei de fazer uma movimentação bancária de literalmente milhões de dólares e por mais que o
valor assuste, pouco dano — para não dizer quase nenhum — foi feito à minha condição
financeira. E enquanto isso, Emma estava há dias — ou melhor, há anos — lidando com o peso
de um dívida que não chegava nem mesmo a 0,5% do valor que Courtney me pediu e eu aceitei
pagar.
A vida realmente era muito injusta.
Antes de ocupar o cargo que agora eu ocupava, eu não era o homem que hoje sou, não
mesmo, mas também nunca passei perto do que Emma viveu com seus pais ou como vive até
hoje.
De uma maneira ou de outra, eu tentei conversar com o responsável por gerir as dívidas
dela. E nem mesmo colocando meu nome, meu cargo e reputação a cada mísera frase durante
todo o tempo que conversei com aquele homem, nada consegui. Faltou muito pouco para eu
desistir da minha promessa e acabar com aquilo de vez, mas me segurei, me impedi de ser um
homem das cavernas macho alfa provedor e fui embora dali sem ter mudado nada na situação
dela.
E agora, no outro dia pela manhã, teria que ir à empresa e olhar nos seus olhos cheios de
expectativas e contar que eu não consegui absolutamente nada para ajudá-la, não da maneira
como ela esperava.
Estava prestes a entrar no carro quando meu telefone tocou e o sorriso involuntário nos
meus lábios foi embora assim que vi o nome que piscava na tela: Courtney.
— Oi, Courtney.
— Como prometido, marquei uma consulta na obstetra.
— Quando?
— Para daqui quarenta minutos. Te encontro lá.
Ela nem mesmo esperou pela minha resposta, apenas encerrou a ligação sem me dar
tempo de sequer raciocinar. Mulher irritante. Ao menos estava cumprindo com o nosso acordo e
iria se consultar com Natalie Potter, uma das ginecologistas e obstetras com melhor reputação,
segundo as pesquisas que eu havia feito.
Disparei uma mensagem para Emma avisando para adaptar minha agenda graças a esse
imprevisto e segui direto para o consultório, deixando a ansiedade de, finalmente, poder
descobrir todos os detalhes iniciais sobre meu filho.
Cheguei ao consultório pouco mais de vinte minutos depois, me deparando com
Courtney e sua cara de completo tédio sentada um tanto isolada de outras pessoas, disfarçada em
roupas simples, boné e óculos de sol, como uma criminosa aprendiz fugindo da polícia.
Me sentei ao seu lado e ouvi suas reclamações sobre estar perdendo trabalhos, sobre
querer beber e aproveitar e não poder, sobre ter que se vestir dessa maneira e não como costuma
ser vista pelo público. E eu precisei de muita determinação para não ficar jogando na sua cara o
quanto ela estava recebendo por tudo aquilo, por uma situação que ela mesma me ofereceu.
A cada vez que ela abria a boca, mais enojado eu ficava. Como nunca percebi todas essas
coisas nela? Seus comentários ácidos me causavam asco. Felizmente, a Doutora Natalie não
demorou a nos chamar para seu consultório e não se passou um só segundo antes de Courtney
reclamar e dizer que estava ali forçadamente.
Eu tentava me apegar ao fato de que, independente de qualquer coisa, ela era a pessoa
que estava gestando meu filho e que, de uma maneira ou de outra, querendo ou não, ela estava
sob efeitos de uma concentração altíssima de hormônios. E era nisso que quero focar.
Expliquei todo nosso arranjo para a médica, sem esconder detalhes cruciais, como meu
receio de que a gestante em questão pudesse fazer algo que prejudicasse meu bebê. Natalie me
tranquilizou e assegurou que iria manter os olhos bem atentos a cada mínimo detalhe nos exames
a serem feitos e que eu seria informado de qualquer coisa que pudesse estar minimamente fora
dos padrões. E isso me tranquilizava.
Natalie deu início à consulta auferindo o peso de Courtney, a metragem da curvatura de
sua barriga, além de pedir exames de sangue e urina, que logo foram coletados. Depois,
seguimos para o ultrassom, que nos confirmou o tempo gestacional de doze semanas. Três meses
completos, pelo que entendi dessa contagem maluca.
Qual o problema em contar meses pelo que realmente são? Meses! Nada de semanas.
Fui informado de que a única coisa fora do padrão era que o bebê estava um pouco
abaixo do peso estimado e que, para corrigir isto, Courtney deveria se alimentar melhor e tomar
vitaminas diárias que seriam receitadas ao final da consulta. A grávida torceu o nariz para isso,
mas sob o meu olhar incisivo assentiu que assim faria.
Natalie remexeu o aparelho contra a barriga e o posiciona até que pudemos ouvir o
coração do bebê e assim que aquele som invadiu o consultório, eu me senti vivo, senti meu corpo
inflar de uma maneira que jamais senti. Minhas mãos e minhas pernas formigavam, os pelos dos
meus braços se arrepiaram todos.
O amor que sentia por aquele pequenino ali no monitor era infinito.
Não impedi que lágrimas se formassem em meus olhos. Certamente, depois de ouvir
aquele som, eu me transformei em um novo homem, aquele foi o meu turning point, um ponto
crítico e decisivo.
Internalizei que eu era mais meu, eu era dele, por completo. Só seria um homem feliz, se
ele fosse feliz. Nada, absolutamente nada, se equipararia a este momento. Meus lábios jamais se
curvaram em um sorriso tão grande como o que sustentava agora em meu rosto, sentia como se
todos os meus dentes estivessem em exposição.
Desviei meu olhar para Courtney, não conseguindo apenas ignorá-la, precisava ver sua
expressão, mas ela parecia não se importar com nada daquilo, apenas se mantinha deitada com a
barriga exposta, olhando para as próprias unhas, checando a esmaltação e as cutículas.
Gostaria de sentir ódio dela, mas tudo que sinto era pena, e alívio. Pena por ela ser
incapaz de ser uma pessoa com compaixão e amor, incapaz de amar o ser que gerava. E alívio
em saber que meu filho não teria que conviver com uma pessoa que não gostava dele. Diferente
de mim que tudo que tive na vida foi rejeição, ele nunca sentiria o mesmo, eu iria me assegurar
disso.
Questionei Natalie a respeito do sexo e ela disse que ainda era cedo para afirmar e que
por isso preferia não opinar. Voltamos ao consultório e depois de afirmar que nos encaminharia
os resultados dos exames, ela receitou as vitaminas e reforçou a importância de Courtney tomar
regularmente as vitaminas. E ao sairmos da clínica, não deixei de enfatizar tudo que Natalie nos
disse.
— Vou me tornar sua sombra, Courtney. Entrarei em contato todos os dias para me
certificar de que você está tomando as vitaminas e, também, todos os cuidados necessários. —
Ela apenas assentiu, revirando os olhos.
A primeira coisa que fiz ao chegar no carro foi tirar do bolso as imagens do ultrassom e
ficar ali como um bobão admirando minha cria, analisando cada pequeno detalhe: o nariz
empinado, a boca que parecia ser pequena e delicada, as perninhas estavam cruzadas e as
mãozinhas no rosto.
Bom, ou pelo menos isso era o que dizia para mim mesmo. Impossível saber se estava
enxergando mesmo tudo isso corretamente.
Nunca estive mais encantado e pleno do que estava naquele momento. Enviei as fotos da
ultrassom no grupo de chat que tenho com Nick, Nate e Carl e, quase que instantaneamente, eles
me ligaram em uma chamada de vídeo.
— O que é esse borrão?
— Era pra eu enxergar alguma coisa?
— Por que mandou foto da sua televisão estragada? Não é mais fácil comprar outra?
Não sei quem disse o que ou de quem era a cara mais confusa, só conseguia rir da
estupidez dos três. Eram realmente três patetas.
— Não é uma televisão estragada e muito menos um borrão, é um ultrassom do bebê. —
Não escondi o orgulho e muito menos a felicidade.
— É um menino! — Nick gritou e todos nós o encaramos — Dá pra ver ali no canto
esquerdo. É um menino. — Olhei para a foto nas minhas mãos.
— Isso não é um pau, Nick, são dedos. — Corrigi rindo, e talvez eu também estivesse
errado. Tanta evolução tecnológica nesse mundo e ainda termos que decifrar ultrassons parece
um retrocesso.
— Como foi lidar com Courtney, Ben? — Carl questionou e meu sorriso morreu ao
explicar tudo para eles. Meus amigos me ouviam atentamente e incentivavam a ficar em cima
dela para garantir que nada acontecesse.
— E como você está com toda aquela insegurança em relação à falta de uma mãe? —
Nate me perguntou, com certa delicadeza, e eu expulsei todo o ar dos meus pulmões antes de
respondê-lo.
— Isso ainda está me atormentando, inclusive… — Parei antes de falar, pensando se
realmente deveria me abrir, mas resolvi colocar pra fora. Eram meus melhores amigos, e com
eles eu poderia me deixar vulnerável — Vocês vão rir de mim, mas foda-se. Nas últimas noites
eu venho sonhando com uma criança e sei, dentro de mim, que era o meu filho e, a todo tempo,
ele me cobrava e questionava o porquê de ele não ter uma mãe, ele perguntava se ele era uma
pessoa ruim para que só eu gostasse dele.
— Nossa, cara. Não sabia que estava nesse nível.
— Pois é, Nate. Eu acordei suado, nervoso e desde que tive esse sonho pela primeira vez
não consigo dormir tranquilamente. Fico remoendo isso a todo tempo.
— McKnight, aproveita os romances que você é obrigado a ler pela editora e tira de lá
alguma ideia clichê, não sei, arruma uma mãe de conveniência. — Nick falava rindo e os outros
dois o acompanharam.
Nick era um cara, conhecido entre nós, pela forma como ele sempre tentava deixar as
coisas leves e menos pesarosas. Sei que ele quis brincar e tornar o clima leve, porém, por mais
que eu não quisesse admitir, não achava isso uma ideia completamente ruim.
— Benjamin, foi uma piada. — Percebi todos me encarando mas me mantive em silêncio
— Não leve o que eu disse a sério, Ben.
— Eu sei que foi, mas confesso que realmente cogitei. Não me entendam mal, eu estou
mais feliz do que jamais estive, mas esse pensamento está realmente me atormentando.
— McKnight, vai tratar isso na terapia, porra. — Carl inferiu e os outros dois se
acabaram em risadas.
Quando enfim encerramos a ligação, segui meu caminho até a empresa.
Inconscientemente, me peguei olhando pelo retrovisor interno o banco traseiro do meu carro,
deixando minha mente viajar até um futuro não tão distante. Imaginando uma cadeirinha de bebê
instalada ali.
Era impossível não refletir sobre como tudo iria mudar. Absolutamente tudo. Não havia
maneira de alguém inserir uma criança em sua vida e não ter que adaptar cada aspecto dela. Tudo
iria mudar e, agora, eu só poderia imaginar todos os momentos que irei viver a partir desse
momento.
Por mais que eu tentasse tirar da minha cabeça, acabei pensando novamente no que Nick
disse. Será que existia uma possibilidade? Aquilo poderia dar certo? Alguém aceitaria uma coisa
dessas? E, se caso a resposta para todas essas perguntas fosse positiva, quem seria essa pessoa?
Não sei dizer se era porque estava fodidamente atraído e encantado por Emma ou se era
porque estávamos cada vez mais próximos e explorando um outro tipo de relação, permitindo
nos conhecermos de outras maneiras, mas a única que passava na minha cabeça para ser essa
pessoa era ela.
Cheguei à empresa ainda eufórico por ter visto e ouvido meu filho, a ponto de caminhar
pelos corredores e elevadores distribuindo sorrisos para todos e rindo internamente das caras
espantadas dos meus funcionários. Sempre fui receptivo e tranquilo com todos, mas achei graça
das expressões de espanto nos rostos que cruzaram meu caminho.
Apesar de estar atrasado e ter consciência de que precisava seguir direto para minha sala
e me organizar para a reunião que pedi para Emma adiar, terminei meu trajeto até a presidência
querendo encontrá-la e compartilhar com ela as fotos do ultrassom. Havia algo que me instigava
a dividir minha felicidade com ela.
Emma não estava na sua mesa, mas ouvia seus passos vindos da minha sala e qual minha
surpresa ao entrar no recinto e encontrá-la deixando algo sobre minha mesa. Encostei na porta e
ali fiquei, feito um observador, admirando a mulher à minha frente.
Emma era mais do que linda, ela era estonteante. O corpo curvilíneo, uma cintura fina,
seios médios e um belo traseiro redondo e levemente empinado que, por sinal, ficava ainda mais
em evidência naquele vestido social branco, justo e na altura dos joelhos, que ela vestia, junto ao
par de sapatos que eu a presenteei ontem.
Hoje, diferente do costume, ela tinha os cabelos soltos, longos e castanhos, alcançando a
altura de sua cintura. Minha mão chegava a coçar de vontade de percorrê-los de novo, dessa vez
tomando meu tempo para sentir a textura, o peso dos fios, o aroma do shampoo.
Ainda sem me fazer presente, analisei seu perfil. Seu rosto delicado, o nariz pequeno e
arrebitado, com um leve arredondado na ponta. A boca de lábios grossos e rosados. Os olhos
verdes, grandes e expressivos, sempre hipnotizantes, emoldurados pela leve maquiagem que ela
costumava usar.
Enquanto a observava, minha mente traiçoeira desviava meus pensamentos libidinosos
para imaginá-la como a protagonista da insinuação feita por Nick, imaginá-la como a mãe de
meu bebê. Parecia que até conseguia visualizá-la com o bebê no colo, ninando-o, colocando para
dormir… Sorri com a ideia.
Porém, naquele momento, mais do que querer como mãe do meu filho, eu a queria como
mulher.
Queria seguir em frente e ter coragem o suficiente para fazer transformar a piada de Nick
em proposta, apenas para poder tê-la por inteiro.
Queria andar até ela e demonstrar o quão feliz eu estava por ter em mãos as primeiras
fotos do meu filho.
Antes de qualquer coisa, precisava deixar de observá-la feito um maluco.
Capítulo 10 – Benjamin McKnight

— Que susto, Benjamin. — Emma me notou, antes que eu me fizesse presente — Não te
vi chegando. — Sua mão subiu ao peito com o espanto.
— Desculpe, não queria te assustar. — Sorri para ela, tentando enxergar através de seu
corpo, curioso com o que ela aprontava sobre minha mesa.
— Tudo bem, é sua sala afinal de contas.
Ela brincou, afinal, essa não era nem de longe a primeira vez que a encontrei na minha
sala antes mesmo de eu chegar ao trabalho. Emma sempre chegou antes de mim e se preocupava
em organizar tudo que fosse necessário para o nosso dia de trabalho, desde uma organização
básica da sua mesa e da minha — por vontade dela que era muito mais organizada e preocupada
com isso do que eu jamais poderia ser — até deixar os documentos e manuscritos que precisam
de atenção.
Hoje, no entanto, eu conseguia ver que além do que fazia normalmente, uma pequena
caixa enfeitava minha mesa. E quando me aproximei, finalmente deixando meu lugar à porta, um
cheiro delicioso de açúcar me atingiu.
— Trouxe uma coisa para você, um... presente. — Ouvi sua voz ainda mais perto de
mim, o cheiro que desprendia da caixa se misturando ao perfume dela em uma combinação
perfeita.
— Para mim?
— Sim, sei que não chega perto do valor que gastou com as roupas de ontem, mas... —
Ela continuou, me impedindo de dizer que não me importava com nada daquilo — Eu queria
fazer algo para te agradecer. — Ela andava até mais perto, quase invadindo meu espaço pessoal,
não que eu fosse me importar. Tudo que queria era que ela fizesse isso de uma vez por todas —
Não só pelas roupas, mas pela conversa, por ter se oferecido a me ajudar, por ter... cuidado de
mim. — Novamente aquela mesma emoção que enxerguei ontem ficou evidente em seu olhar,
ainda que eu não compreendesse por completo — É só um agradecimento bobo, mas espero que
entenda o quanto sou grata.
— Ainda não sabe se o banco aceitou ou não. — Estiquei minha mão sem conseguir me
conter, tocando seu rosto levemente ao levar aquela mecha específica do cabelo até sua orelha.
— Não me importa, ainda posso ser grata a você por ao menos tentar. Isso vale muito
para mim, Benjamin. — Ela repousou sua mão no meu antebraço estendido — Muito mesmo.
Então espero que goste.
Ela cessou o toque quando debrucei sobre a mesa para alcançar a caixa com o doce, o
tampo transparente já me deixando ver o açúcar polvilhado por cima de alguma massa. Não sabia
o nome, ou do que se tratava ao certo, mas sabia que o cheiro estava mexendo com meu
estômago, ainda que eu tivesse tomado um café reforçado antes de sair de casa.
—Isso são Beignets, um clássico de Nova Orleans, onde eu cresci. É uma massa frita
doce e leve. Bom, tão leve quanto pode ser considerando ser um doce frito e cheio de açúcar de
confeiteiro por cima.
— Você quem fez isso para mim? — Ergui meu olhar para ela, encontrando as
bochechas rosadas.
— Eu ajudei a não atrapalhar o processo e lavei as louças. Isso conta? — Ela me
perguntou sorrindo e eu só pude gargalhar.
— Claro, são as partes mais importantes.
— Foi Hannah, a minha melhor amiga, quem fez. Eu pretendia fazer sozinha, com as
instruções dela, mas digamos que ela tem um certo problema em ver as pessoas fazendo doces,
uma coisa que ela venera, da maneira errada ou ao menos como ela considera correta. Então, eu
basicamente apenas consegui separar todos os ingredientes antes dela me expulsar da cozinha e
fazer ela mesma.
— Uma pessoa nada controladora. — Brinquei, já com um dos doces em mão — Tenho
um amigo assim também, invasivo, um tanto maluco, mas...
— Perfeito do jeito dele. — Concordei, era exatamente isso — Agora prove, quero saber
o que acha.
Ela não precisava pedir duas vezes e, nossa, há muito tempo que não provava algo tão
gostoso e não tinha dúvidas de que ia além do sabor dos tais Beignets, tinha a ver com o olhar
dela cheio de expectativas, com o sorriso por me ver desfrutando de algo que ela providenciou
para mim. Era por todo o conjunto. Um conjunto perfeito.
— Isso é muito bom. — Elogiei, cobrindo a boca com a mão, antes de dar outra mordida,
acabando com o primeiro dentre os vários naquela caixa.
— Mesmo? — Reafirmei e se ações demonstravam mais do que palavras, ela realmente
iria compreender quando me assistisse comendo mais um deles — Acho que gostou realmente.
Emma riu de mim que, com menos de duas bocadas, devorei o segundo doce. Sem
compreender muito bem o que estava acontecendo, assisti quando ela deu um, dois, três passos
até parar bem na minha frente. Havia algo novo estampado em seus olhos, algo como o desejo
que sentia me acender há meses, principalmente quando ela ergueu a mão e trouxe ao meu rosto,
seu polegar correndo pelo canto da minha boca.
— Tem um pouco de açúcar aqui.
Aquela era a hora de jogar todas as ressalvas e prudências para o alto. Eu queria entrar
nesse jogo, e vencê-lo.
— É mesmo? Só aí ou em mais algum outro lugar?
— Aqui também. — Emma arrastou o dedo pelos meus lábios até chegar ao outro lado
da minha boca, me deixando sentir a pequena poeira de açúcar que ela espalhou pelo caminho.
— Toda essa sujeira e nenhum guardanapo para me limpar. — A rouquidão na minha
voz espantava até a mim mesmo, o desejo de beijá-la surgiu com mais força do que nunca,
correndo por mim feito fogo líquido.
— Na próxima eu me esforço para me lembrar disso, mas, por ora... — Sua mão
permaneceu no meu rosto enquanto a outra achou seu caminho, subindo pelo meu braço, as
unhas correndo desde o punho, até encontrarem meu pescoço.
— Por ora... — Minhas mãos não aguentaram mais ficar de fora dessa. Deixei a caixa
com os doces para mais tarde, agarrando sua cintura assim que me vi com as mãos livres,
trazendo seu corpo para mim — Você precisa achar uma maneira de acabar com a sujeira que
você criou.
— Quanta irresponsabilidade da minha parte.
— Muita irresponsabilidade, Senhorita Campbell.
E como se fosse em câmera lenta, assisti seus olhos se fechando no momento em que seu
lábio resvalou no meu. Finalmente. Depois de meses suportando uma atração fodida por ela, eu a
tinha assim, nos meus braços, sob meu domínio, prestes a provar seu beijo.
Ou ao menos era o que esperava.
— Benjamin, você... — William, meu funcionário de anos que iria ser demitido assim
que eu recuperasse minha sanidade, nos interrompeu, fazendo com que Emma se afastasse de
mim em um só pulo— Ops, me desculpem, a porta estava aberta e...
— Com licença. — Emma passou por nós dois, saindo da minha sala e fechando a porta
atrás de si quando me deixava sozinha com o maior empata de toda a existência.
Nota mental: nunca mais esquecer de fechar uma porta!
— Benjamin, me desculpe por isso. — William pediu e eu respirei fundo, muito fundo
mesmo, reorganizando meus sentimentos e canalizando minha energia para o meu lado
profissional, deixando o quase beijo para ser analisado em outro momento.
— Está tudo bem, William. — Eu mesmo limpei o açúcar que restou nos meus lábios
enquanto seguia para me sentar na cadeira presidencial, querendo que o homem dissesse logo a
que veio.
— Então é mesmo verdade? — Ele questionou e eu estava ainda atordoado para entender
o que ele queria dizer — Você e Emma estão mesmo juntos. Achei que fosse apenas especulação
da imprensa e conversa de corredor pela empresa, mas então quer dizer que...
— William. — Interrompi. Eu sabia bem o quanto a empresa andava fofocando sobre
nós dois e, mais ainda, o quanto a imprensa ainda estava veiculando notícias sobre nós dois,
principalmente desde que nos viram naquele almoço, sentados lado a lado, de mãos dadas ou em
um abraço. As fanfics estavam mais e mais detalhadas e às vezes até mesmo eu era pego de
surpresa com o quanto as pessoas conseguiam enxergar diante de uma única cena. — Você não
veio até aqui para questionar a minha relação com Emma, não é?
Não neguei tampouco afirmei o que me perguntou, tudo ainda estava muito incerto entre
mim e ela, e por mais que fosse apenas uma pergunta de um funcionário com quem tinha mais
intimidade, eu não queria dar uma palavra final, ainda tinha muitas coisas a pensar sobre tudo o
que está acontecendo.
— Não, eu só... me distrai. Eu vim falar sobre o James.
Com poucos minutos de conversa, William me contou sobre a necessidade de James
em estender sua viagem para tomar conta do irmão. Depois de ter assegurado ambos — já que
fizemos uma chamada de vídeo com a outra parte desse assunto—, William se foi e eu me vi
sozinho na minha sala, com uma pilha de documentos para analisar, dois manuscritos para dar o
meu visto e autorização para produção e com uma caixa de doces me lembrando do que deveria
ter acontecido e foi interrompido.
Porra, como eu queria aquele beijo.
Àquela altura, faziam horas que ela tinha saído da minha sala, mas ainda a sentia ali,
ainda a via ali. Desde o início, soube que acertei na sua contratação quando Emma se mostrou
quase uma extensão de mim, trabalhávamos bem juntos, éramos sincronizados. O que facilitava
demais o nosso dia a dia. Mas que agora me deixava um tanto perdido nas minhas sensações.
Tudo me lembrava Emma. Conseguia sentir seu cheiro mesmo quando não estava por
perto, conseguia visualizar seu sorriso ou a maneira como ela afastava os cabelos do rosto todas
as vezes que debruçava para me entregar algo que pedi a ela. Conseguia ouvir seus passos pela
minha sala, ou vê-la organizando coisas aqui e ali, ou quando ela se sentava na poltrona à minha
frente e extrapolava suas funções como secretária, me dando ideias incríveis para implantar na
empresa.
Emma estava impregnada em mim.
Tudo o que via era ela.
Ela era tudo que eu queria.
E isso estava me deixando cada vez mais confuso. Eu queria tudo com ela, tudo ao
mesmo tempo. Porra, eu queria mesclá-la à minha vida.
E foi pensando assim que a fala de Nick voltou à cabeça. Uma mãe de conveniência.
Por mais que eu veja essa história — ou mais especificamente esse clichê — sendo reproduzido
em diversas histórias publicadas, tanto na minha editora quanto outras, tamanho o sucesso desse
tema, eu não acredito nessa coisa de contrato por conveniência, não na vida real.
Eu não queria propor uma conveniência a ninguém, muito menos a ela.
Não queria uma mãe para o meu filho de uma forma que nós dois precisássemos dividir
a criança e a guarda dela. Não queria ser um pai de final de semana, não queria que isso também
fosse a realidade da suposta mãe. Não gostava da ideia de figuras inconstantes.
Eu queria o pacote completo: pai, mãe e bebê. Esse sempre foi o modo como idealizei
essa fase da minha vida. Queria poder compartilhar todas as alegrias, dividir as dificuldades,
compartilhar as angústias. Queria ter uma parceira, alguém que fosse mais do que uma mãe para
meu filho ou uma esposa para mim. Queria uma parceira, minha companheira, em todos os
aspectos.
Ao contrário dos meus amigos, eu nunca fui avesso à relacionamentos, até tive algumas
namoradas no passado, mas nos últimos anos minha vida amorosa se resumia a fodas ocasionais.
Meu trabalho me consumia tempo demais e, para ser bem honesto, ninguém me interessava o
suficiente para que eu cogitasse das uma chance de algo mais.
Bom, isso até agora. Emma dominava meus pensamentos e meu corpo de uma maneira
como nenhuma outra mulher já fez. Uma inquietude me atingiu e comecei a andar pela sala, de
um lado para o outro enquanto esse comichão me tomava.
Estava mesmo cogitando a ideia de seguir com essa proposta?
Eu realmente queria Emma para mim, de todas as formas. Como minha mulher, como
esposa, como mãe do meu bebê. Mas não poderia simplesmente chegar até ela e pedi-la em
casamento. Isso não fazia qualquer sentido nem mesmo para mim e com certeza eu apenas a
afastaria de mim. Claro que ela iria correr para o outro lado, bem longe desse louco.
Mas e se... e se eu... e se eu juntasse um pouco do que foi insinuado por Nick com
todas as outras possibilidades para torná-la minha?
Achava que sinceridade era sempre o melhor caminho, então, poderia, quem sabe,
pedi-la em casamento, deixando claro para ela todas as minhas intenções e o porquê da minha
proposta, assim como os meus medos e receios. Teria que expor que não desejava uma coisa de
aparências ou apenas contratual.
Queria o casamento, com tudo que pertencesse a esse universo. Queria o amor de
marido e esposa. Queria a cumplicidade de dois parceiros de vida. Queria assistir o lado maternal
dela agindo junto do meu paternal. Queria ela na minha vida.
Sobre o amor, achava que ele pudesse ser construído aos poucos e, analisando a nossa
relação, sentia que temos química, sentíamos atração um pelo outro, o que vinha acontecendo
entre nós deixava isso claro. Tínhamos sintonia no trabalho e, cada dia mais, nos conhecíamos
melhor. Tudo isso poderia ajudar muito na questão de desenvolver e conquistar um amor entre
nós dois.
Mas como? Como poderia chegar e propor isso a ela? Precisava lhe oferecer algo em
troca, mas nunca lhe ofereceria dinheiro, assim, pura e simplesmente, ainda mais agora que
conheço a sua história.
Ao mesmo tempo, também sabia que sua situação financeira é complicada.
Talvez pudesse propor que, caso ela aceitasse minha proposta e se tornasse a Senhora
McKnight, nós nos tornaríamos parceiros completos, com tudo que aquilo abrangesse. O que
significava que, tudo que era meu se tornaria também dela, inclusive meu patrimônio, e então ela
poderia quitar suas dívidas, poderia ter, enfim, a vida que seus pais sempre quiseram oferecer a
ela.
Estava mesmo cogitando a ideia de seguir com essa proposta?
Não, eu não poderia fazer isso. Eu não precisava fazer isso, nós poderíamos continuar o
que estávamos construindo aos poucos e quem sabe tudo isso que desejava viesse naturalmente.
Encontros, beijos, sentimentos, paixão, cumplicidade e quem sabe isso também não se estenderia
dela para meu filho.
Mas era o meu filho, eu não podia arriscar. Eu queria a certeza de que ele teria tudo o
que eu não tive. Eu não conseguiria levar as coisas nesse limbo, apenas esperando que ela
assumisse essa vontade e responsabilidade naturalmente, caso nosso envolvimento se
desenrolasse ainda mais.
Eu não poderia arriscar. Eu precisava de uma certeza. Eu precisava confiar que ela não
se afastaria, eu precisava saber desde já que ela ofereceria a ele o amor de uma mãe, do modo
que eu jamais tive.
E a única maneira que via para ter o que desejava desde já era fazendo essa proposta a
ela, para ser minha, para ser do bebê, para ser nossa.
O plano estava todo traçado na minha cabeça e eu sempre fui assim impulsivo, quando
colocava algo na cabeça, não tirava até que conseguia o que queria, eu esgotava todas as minhas
possibilidades, desistir não era opção.
Iria propor isso a ela, elucidando todos os pontos inerentes, não queria entrar nessa
situação omitindo qualquer coisa da minha — possível— esposa. Contaria tudo a ela, cada
pedacinho, cada por quê.
Também queria deixar uma coisa clara a ela, caso ela recusasse. Considerando que ela
não iria achar que eu bati a cabeça e estava lidando com uma concussão grave, queria ajudá-la de
uma maneira ou de outra. E, por isso, aceitando ou não a minha proposta, ao menos iria
compensá-la por me ouvir, e faria isso acabando com suas dívidas. Afinal, se ela me achasse
maluco e ficasse com raiva ou indignada com o que iria oferecer, que achasse isso por completo
e ficasse com ainda mais raiva por eu ter quebrado a promessa que havia feito a ela.
Era isso. Eu iria fazer acontecer. Só precisava ter um tempo com ela, para conseguir
expor tudo o que se passava pela minha cabeça. Eram muitas coisas a dizer e eu não queria — e
não iria permitir — esquecer de qualquer ponto importante, eu queria que ela entendesse tudo,
todos os aspectos possíveis.
E quando vi Marcus, um dos membros do conselho da Booksbank, entrando na minha
sala com um sorriso que exalava “trabalho cumprido” pregado no rosto, eu sabia que além de
tudo, ainda teria mais uma novidade para dar a ela: sua promoção.
Há muito tempo — desde muito antes de qualquer coisa acontecer entre nós dois ou
dela me contar sua história—, eu vinha estudando a ideia de promovê-la à assistente executiva, o
que, na prática, apenas é um nome mais pomposo para tudo o que ela já fazia por fora das suas
obrigações como minha secretária. Emma merecia ser reconhecida por seu trabalho, por todas as
ideias, sugestões e inovações que ela sempre trouxe à empresa. E isso, é claro, consequentemente
também aumentaria o seu salário.
Era isso. Com tudo resolvido na minha cabeça, poderia, enfim, tentar me concentrar no
meu trabalho para então lidar com a parte mais complicada do meu plano: explicar tudo a ela.

As horas seguintes pareceram se arrastar e a cada vez que Emma vinha até minha sala
ou eu ia até ela com alguma questão para resolver, — além dos sorrisos cúmplices trocados ao
nos lembrarmos do quase ocorrido—, eu sentia meu corpo sendo tomado por arrepios diante da
ansiedade e do nervosismo e, não iria mentir, um tanto excitado com a ideia de que se ela me
dissesse sim, estaria mais próximo do que nunca de tê-la para mim.
Tínhamos apenas mais um último compromisso juntos antes de encerrar o expediente,
uma reunião com alguns dos diretores. Emma me acompanhou, se sentando na cadeira próxima à
minha, sempre atenta a tudo que era discutido, enquanto fazia suas anotações. E eu sabia que,
para cada problema que eles apresentaram, ela sairia direto para a minha sala e me daria sua
opinião, ajudando a solucionar o que quer que fosse. Era sempre assim que acontecia.
Dessa vez, os problemas eram vários vindos diretamente de reclamações dos nossos
consumidores nas redes sociais da editora e no SAC. Os diretores apresentaram que dentre as
reclamações, existem três que mais se repetem: cobranças para adiantamento de certos
lançamentos; reclamações sobre o servidor do site não suportar um grande acesso simultâneo,
principalmente em dias de pré-venda; e, pedidos para que a empresa desse uma chance a autores
amadores e não somente àqueles já consolidados no mercado.
Depois do que pareceram horas em reunião, assegurei que iria pensar em algo para
solucionarmos tudo isso, garantindo que usaria os próximos dias para pensar nas melhores
opções de ataque, afinal, era do interesse de todos por ali que a Booksbank permanecesse no topo
e se tinha algo que aprendi era a não ignorar as opiniões dos consumidores, até porque sem eles
não éramos ninguém.
Caminhava de volta para minha sala com Emma ao meu lado, me olhando de relance
enquanto mordia o canto do polegar e eu apenas disfarçava a minha risada, a conhecendo o
suficiente para saber que ela estava se corroendo de vontade em querer me oferecer suas ideias.
— Quer me dizer algo, Emma? — Perguntei a ela, falhando na minha missão de
esconder o ar de riso.
— Você sabe que sim. — Ela retrucou — Benjamin, eu sei que deveria participar
dessas reuniões apenas para anotar coisas para você, mas não consigo me controlar ou me
impedir de pensar em soluções, me desculpe se isso às vezes soa invasivo.
— Emma. — Me surpreendi, nunca neguei ouvir seu ponto de vista, pelo contrário, eu
sempre pedi sua opinião desde que cor deveria mandar pintar as paredes da copa até uma
discussão mais séria sobre a diagramação de um dos lançamentos mais importantes — Nunca me
neguei a ouvir suas opiniões e não será agora que começarei a fazer isso. — Ela sorriu, um rubor
acentuando suas bochechas, um sorrisinho nos lábios — Vem, vamos conversar sobre isso e
encerrar esse dia.
Ao menos profissionalmente, tive vontade de completar.
Enquanto eu me dirigi diretamente para uma das minhas poltronas, ela seguiu para a
minha cafeteira, preparando dois cappuccinos para nós dois. Quando enfim se sentou ao meu
lado, sua ansiedade ficou evidente ao logo começar a expor suas ideias.
— Em primeiro lugar, acerca dos lançamentos. Sei que a editora mantém uma
constância de lançamentos, tentando manter o padrão de nunca mais do que quinze livros por
mês, de todas as frentes e categorias, para que não haja um descaso ou diferença de tratamento
entre eles, correto?
— Sim, exatamente isso.
— Porém, também sei que todos os meses têm aquele lançamento específico que gera
uma maior ansiedade nos consumidores expectantes e que, normalmente, pela política interna,
por mais que já tenhamos definido a data bem antes de divulgá-la ao público, só fazemos essa
divulgação em um prazo de dois a três meses de antecedência. Minha sugestão é: que a editora
divulgue com uma antecedência maior pelo menos o mês em que pretende lançar tal livro, de
certa forma, enganando os consumidores.
— Não entendi. — Minha confusão ficou evidente.
— Vou exemplificar. Considere que estamos no mês de maio e que o livro X está
definido para ser lançado em setembro, ok? Então, nós ludibriamos os consumidores e
divulgamos para eles que o lançamento será um mês depois, em outubro, mas oferecemos a eles
uma possibilidade de adiantamento desse lançamento em um mês, caso cumpram uma certa meta
antes de um prazo pré-determinado. — Achava que começava a compreender onde ela queria
chegar — Usando esse exemplo que lhe dei, essa meta deve ser cumprida até o final de julho e,
se assim for, o lançamento será, entre aspas, adiantado para setembro, o que já era o nosso
cronograma inicial.
Eu digo que ela era incrível! Como podia ter pensado nisso em tão pouco tempo? Era
por essa — e tantas outras — que me orgulhava de tê-la como parceira no trabalho.
— Ou seja, nós continuamos com a nossa agenda exatamente do jeito que
programamos, porém, damos aos consumidores uma sensação de que eles adiantaram o prazo
por terem sido participativos e nossos cúmplices no lançamento mais aguardado por eles. — Ela
concluiu o seu pensamento.
— Você é incrível, Emma. — Elogiei e ela sorriu orgulhosa de si mesma — Adorei a
ideia, mas o que poderiam ser essas metas a serem cumpridas?
— Ah, podemos estabelecer a venda de uma cota de exemplares de um outro livro, no
mesmo gênero do livro aguardado. Caso a venda desse outro livro aumente em tantos por cento,
o lançamento será adiantado. — Meu sorriso aumentou, eu estava verdadeiramente admirado.
— Realmente acho que pode funcionar e só nos traria benefícios, porque além da
vantagem clara em envolver os consumidores, isso serviria como uma divulgação indireta de
outros autores, o que é bom tanto para essa outra pessoa quanto para a empresa, já que aumento
de vendas significa lucro.
— Isso.
— Vou estudar com William e, principalmente, com James sobre a possibilidade de
implementação da sua ideia. — O sorriso de orgulho que recebi era imenso — É para sentir
orgulho mesmo, Emma, suas contribuições são sempre muito significativas para a empresa. — O
que só concretizava para mim que deveria valorizar ainda mais a profissional que era ali dentro.
— Obrigada, Benjamin. Sobre as outras reclamações, a respeito do servidor não há
muito a ser feito a não ser aprimorá-lo junto ao setor de informática. Posso marcar uma reunião
com o chefe do setor, se quiser.
— Por favor. — Ela anotou em um papel para não esquecer de assim fazer.
— Agora, sobre os autores independentes, preciso dizer que, além dos livros que
consumo em razão do trabalho, tenho o costume de ler por satisfação pessoal e acabo
conhecendo vários livros fora do circuito de publicações das editoras. Hoje em dia, existem
inúmeros aplicativos no mercado em que os autores, por conta própria, postam seus livros, fazem
suas próprias divulgações, tendo acesso às curtidas, comentários dos leitores e, também, ao
número de visualizações. Acho que seria válido que a Booksbank estude a possibilidade de
lançar um aplicativo como esse.
— Mas qual seria a vantagem em lançar mais um aplicativo, semelhante aos que já
existem no mercado? Não acha que iria apenas saturá-lo ainda mais?
— A questão é essa, Benjamin. Não seria apenas mais um, pois o nosso teria um
diferencial. — Me contou com empolgação.
— E qual seria? — Sorri sem me conter, eu amava essa empolgação que ela
demonstrava. Trabalhar com alguém que gostava do que fazia era muito mais prazeroso do que o
contrário.
— Bom, nesses aplicativos, os autores não têm perspectiva nenhuma de lançamento em
alguma editora ou algo do tipo, e, caso assim queiram, eles acabam funcionando como seus
próprios agentes ou empresários, indo até as editoras e apresentando seus manuscritos. O nosso
aplicativo estaria diretamente vinculado à editora.
— De que forma?
— Poderíamos estabelecer uma espécie de concurso entre as obras postadas no
aplicativo e, assim, o livro com mais visualizações, em cada categoria, seja romance, drama,
terror, fantasia, ou qualquer outra, seria premiado com um lançamento oficial na editora, em
livro físico. Sei que isso acrescentaria livros no calendário de lançamento, o que significa mais
trabalho, mas também significa mais lucro, no final das contas.
— Emma…
— Isso também irá gerar uma maior aproximação com os consumidores e com os
autores, uma vez que, sempre que estes divulgarem seus livros postados no nosso aplicativo,
automaticamente, também estariam divulgando a editora, ou seja, publicidade grátis. — Ela
vibrava com empolgação e, àquela altura, eu estava tão animado quanto ela.
— Emma, você é simplesmente fantástica. Isso é genial! ‒ Exclamei, deixando que
ela notasse minha euforia. E meu orgulho. E ela notou, até mesmo brincou dando três tapinhas
no seu ombro, o que me arrancou uma bela gargalhada — Vou marcar uma reunião para que
você apresente suas ideias.
— Eu? — Ela parou de rir imediatamente, arregalando os olhos.
— Sim, você vai levar crédito por tudo isso, Emma.
— Benjamin, você está falando sério? Eu vou ser reconhecida por isso? — O tom
esperançoso e orgulhoso em sua voz me atingiu direto no peito e me faz acreditar que, mais do
que nunca, eu estava certo em oferecer a ela essa promoção.
— Sabe, já faz um tempo que venho estudando a ideia de te promover, mas não se
anime demais, ainda vai trabalhar diretamente comigo, não abro mão de você. — As bochechas
dela voltaram a assumir aquele tom corado, me deixando babar por ela— Na prática nada irá
alterar no seu trabalho. Essa promoção é muito mais como oficialização dessas coisas que você
costuma fazer, mas que não é reconhecido, como o que acabou de fazer. Isso significa, então,
que você será remunerada por essas suas ideias geniais.
— Não serei mais sua secretária?
— Seu novo cargo é assistente executiva e você receberá um salário adequado para sua
nova função.
— Benjamin, você... não está fazendo isso por eu ter contado sobre...
— Nem pense nisso. — Interrompi seu questionamento, não queria que isso fique mal-
entendido — Uma coisa não tem nada com a outra. Você ter me contado sobre a sua realidade
financeira foi apenas uma coincidência com o surgimento dessa oportunidade para sua
promoção. Marcus está há semanas conversando sobre isso com o conselho, recursos humanos e
financeiros.
— Eu... nem sei o que dizer. — Ela resmungou, seus olhos emocionados pelo
reconhecimento ainda que tardio do seu esforço profissional. Agora, eu conseguia entender ainda
mais essa emoção. Se dedicar ao trabalho era tudo que ela vinha fazendo há muito tempo e
finalmente ela estava sendo reconhecida por isso. — Obrigada, de verdade.
Quando ela se levantou, na intenção de me abraçar em agradecimento, eu a imitei.
Abraçado a ela, senti todo aquele turbilhão de sentimentos me tomar outra vez. Eu sabia que não
conseguiria esperar muito mais para enfim conversar com ela sobre a minha proposta pessoal.
Mas também não queria que ela pense que essa promoção estava atrelada ao que queria
perguntá-la.
E queria fazer isso agora.
Apenas precisava que ela enxergasse que não seria mais Benjamin em sua versão chefe
conversando com ela. Seria eu, o homem que se via cada vez mais encantado por ela.
Capítulo 11 – Emma Campbell

Precisei realmente fazer um esforço para não chorar na frente de Benjamin depois dele
ter me dado uma das melhores notícias. Finalmente tinha sido reconhecida pelo meu esforço
profissional. Era gratificante ver que ele me enxergava, que via que ia além daquilo para o qual
ele me contratou.
Benjamin nunca deixou de me valorizar ou elogiar a cada vez que eu oferecia a ele, ou a
Booksbank como um todo, alguma ideia. Nas reuniões para implementar coisas que eu sugeria,
ele sempre foi verdadeiro e honesto, comigo e com todos os presentes, ao esclarecer que tal ideia
era minha. Ele jamais levou créditos sobre algo que me cabia.
Ver os efeitos desse reconhecimento seria muito bom para mim, pois sabia que me
abriria portas dentro da empresa e poderia crescer ainda mais. Não que eu tivesse pretensões de
abandonar esse emprego, porém não podia deixar de pensar que, caso algo acontecesse, eu teria
isso regulamentado no currículo, o que me traria melhores oportunidades fora.
— Está tudo dando certo, mamãe.
Joguei meus sussurros ao vento. Minha mãe mais do que nunca lutou para que eu tivesse
um futuro, principalmente quando éramos apenas nós duas após a morte de papai.
Melhor do que aquela notícia para fechar meu dia, bastaria apenas que Benjamin ou o
banco me dessem boas notícias sobre minhas dívidas ou o parcelamento delas.
Enquanto eu colocava a caixa com os Beignets sobre a mesa de Benjamin, tudo o que
pensava era em que mal podia vê-lo para descobrir o que enfim aconteceu quando ele foi ao
banco para conversar com o gerente por mim. Quis desejar que um personagem de filme de
terror o assustasse quando li sua mensagem me dizendo que iria se atrasar. Logo hoje. Mas
então, engoli minha ansiedade ao saber seus motivos, ele finalmente estava indo à primeira
consulta para ver seu bebê.
Pensar nisso me trouxe um revirar estranho no estômago. Enquanto eu estava ali, dando
a ele horas do meu trabalho — ou da Hannah — na forma daqueles doces, ele estava com uma
mulher em uma consulta para ver o bebê deles.
Dele! Me consertei. Courtney não merecia o título de ser mãe do bebezinho, não depois
de uma manipulação emocional e o bolso cheio com uma quantia que eu jamais sequer vi em
toda minha vida.
Meus pensamentos foram interrompidos quando me assustei com sua presença, sem
saber a quanto tempo ele estava ali me observando. Vê-lo comer com toda empolgação algo que
eu providenciei me causou uma vaidade boba, sentimento este que logo foi substituída por
excitação com aquele beijo, ou um quase beijo.
A vergonha que senti por termos sidos pegos no flagra me impediu de falar com ele
sobre o banco ou até mesmo de perguntar como foram as coisas na consulta, estava curiosa para
saber sobre o bebê. A quem queria enganar, apesar de também querer saber sobre ele, eu queria
mesmo era que ele me dissesse que não havia nada entre ele e Courtney.
Não sabia se tinha razão para ter ciúmes da relação dos dois, nem mesmo sabia se o que
sentia era ciúmes, mas não conseguia não sentir. Ao mesmo tempo, mesmo acreditando que
Courtney não merecia nada em relação ao bebê, ou a Benjamin, não podia negar que existia uma
parte de mim que torcia para que eles se entendessem, pelo bem do bebezinho, que merecia ter
um pai e uma mãe, devotos a ele.
Eu sabia o quanto ter ambos meus pais foi importante para meu crescimento, eles se
complementavam da melhor maneira possível e, mesmo nas dificuldades que enfrentamos, eles
sempre me deram tudo que eu precisava, nunca me deixaram faltar nada emocionalmente e isso
me transformou em quem eu era.
Aquele bebezinho merecia o mesmo. E se houvesse alguma parte de Benjamin que
quisesse se juntar a Courtney para oferecer essa vida ao seu bebê, eu iria estimulá-lo a seguir em
frente, mesmo que magoasse a maior parte de mim, aquela que queria repetir aquele encontro,
que queria os beijos dele, que queria ainda mais do que isso.
— Benjamin, encerramos o expediente? — Voltei até sua sala, com minha bolsa já nos
ombros. Pensei em perguntar sobre a questão do banco, mas não queria pressioná-lo quando ele
já fez muito por mim me oferecendo ajuda, então ao menos que ele puxasse assunto, eu não
falaria nada. Ao menos até que o banco voltasse a correr atrás de mim e eu tivesse que dar um
jeito na minha vida.
— Sim. — Ele respondeu enquanto ajeitava suas coisas, mas então me olhou, e tinha
algo instigante no seu olhar, algo desafiador, algo que me exigia. Uma sensação estranha me
tomou, como se algo me avisasse que aquele momento seria definitivo em algum sentido, eu só
não compreendi o que isso queria dizer.
— O que foi? — Questionei, inquieta demais para me manter calada.
— Considerando que o expediente se encerrou, isso significa que, nesse momento, não
somos chefe e secretária, certo?
— Assistente executiva, por favor. — Brinquei e apesar dele me mostrar aquele lindo
sorriso, sua expressão insistia por uma resposta. — Sim, somos apenas a Emma e o Ben nesse
momento, por quê? — Ao invés de me responder, ele pegou a pasta do notebook, desligou tudo
que era necessário e só quando veio em minha direção que quebrou o silêncio.
— Eu quero te fazer um convite e eu preciso que entenda que sou eu, Benjamin, te
convidando e não seu chefe. — Aquela sua mão atrevida que fazia meu coração palpitar subiu
outra vez até meu rosto, acariciando minha bochecha — Aquele Benjamin e sua recém
promovida assistente executiva ficarão por aqui, na empresa, até quando voltarmos ao trabalho.
Mas esse Benjamin de agora, esse na sua frente, quer algo com essa Emma, essa que minha mão
toca, aquela mesma Emma do baile, ou do restaurante. Entende?
Sei que ele esperava palavras, mas tudo que lhe dei, que pude oferecer diante do pequeno
discurso, do homem que me levou a um baile, que me deu rosas brancas, que quase me beijou,
foi um leve menear de cabeça, confirmando o que me perguntava.
— Aceita jantar comigo?
— Agora? Sem nem mesmo ir em casa trocar de roupa e me arrumar para...
— Não precisa disso, você é linda, está linda. — Seu polegar correu pelo meu rosto outra
vez e eu agradeci já estar vestida com o casaco, ao menos assim ele não tinha noção do quando
apenas isso provocava arrepios por todo meu corpo.
— Eu aceito.
É claro que aceitava, como se até mesmo a minha desculpa ridícula fosse me impedir do
que eu realmente queria, outro momento daqueles com ele. Principalmente quando ganhei de
volta o seu rosto iluminado por aquele sorrido lindo, exclusivamente a mim.
Descemos em direção à garagem e se em cinco anos eu raramente estive em um carro
com ele, agora parecia algo frequente, e eu não poderia reclamar disso. Além disso, bastavam
dez minutos ao lado dele para saber para onde ele iria, outro dos meus restaurantes favoritos,
outro que ele me apresentou graças ao delivery.
Pegamos um pouco de engarrafamento em um ponto específico da cidade, afinal, era
Nova York e morar aqui significava ter que lidar com esse trânsito caótico todos os dias.
— Posso perguntar como foi a consulta hoje pela manhã? — Puxei assunto em
determinado momento, quebrando o silêncio que até então era apenas preenchido por sua
playlist, e se eu soubesse que isso me daria mais um de seus sorrisos, teria perguntado muito
antes.
— Foi incrível. Eu nunca me senti tão completo quanto olhando aquele visor um tanto
embaçado, mas que mostrava meu filho crescendo e se desenvolvendo. — Ele parece mesmo
extasiado ao narrar — Consegui assisti-lo, ouvi seu coração batendo, até mesmo trouxe fotos.
Benjamin soltou uma das mãos do volante, alcançando uma foto no bolso interno do seu
paletó, me entregou. Olhando aquele pequeno retrato quase consegui entender como ele se
sentiu, devia ser magnífico presenciar algo tão mágico quanto um filho sendo gerado. Um dia
queria ser eu vivendo aquilo. Foi impossível não sorrir ao ver aquela pequena confusão de
células se transformando em um lindo bebezinho.
— Estou encantada. É mesmo muito bonitinho, ainda uma coisinha tão pequenininha e
confusa, mas olha que fofo, com as mãozinhas erguidas desse jeito.
Benjamin me olhou outra vez, como naquele instante no seu escritório e eu queria
entender de uma vez o que era esse mistério em seus olhos, o que ele carregava que me dava essa
sensação de pertencimento.
Uma sensação que eu gostava muito mais do que deveria admitir.
Pedimos apenas uma pequena entrada e drinks assim que nos acomodamos em um mesa
no canto do restaurante. Benjamin se sentou ao meu lado ao invés de se sentar à minha frente do
outro lado da mesa e precisava admitir que gostava dessa proximidade que estávamos aos poucos
construindo.
Quando os drinks chegaram, brindamos à minha promoção e novamente me senti
orgulhosa de mim mesma, pelo caminho que estava trilhando, mesmo tendo que vencer muitas
dificuldades — e ainda tendo muitas outras para superar.
— Não vou beber demais, prometo. Não costumo beber quando estou dirigindo, mas
acho que precisava de um pouco de coragem líquida em forma de whisky.
— Coragem para estar aqui comigo? — Ri da ideia de que eu, eu Emma, deixava alguém
como Benjamin McKnight nervoso.
— Não para estar aqui com você, mas para conversar com você sobre uma coisa
específica.
— Que coisa? — Questionei, notando que ele realmente estava nervoso, seus cabelos
bagunçados pela quantidade de vezes que ele passava a mão por eles não negava.
— Vou te contar e explicar exatamente o porquê de estar falando tudo isso, mas, a única
coisa que te peço é: deixa eu falar tudo antes de me questionar qualquer coisa? É que… não sei
se vou conseguir manter uma linha de raciocínio correta.
— Pode falar, Ben, não vou te interromper. — Assegurei. O seu sorriso dessa vez não
fez tanto sentido para mim, ao menos até que eu me desse conta da maneira como me referi a ele.
Há anos que Benjamin eliminou o tratamento formal entre nós dois, mas eu jamais o chamei
dessa maneira, apenas escapou. E ele pareceu gostar do que ouviu.
— Você se lembra quando eu mencionei como era o relacionamento dos meus pais? —
Confirmei, como poderia esquecer? — Quando eu era mais novo, eu obviamente não conhecia o
termo relacionamento abusivo, mas hoje eu sei o que isso significa e sei o quanto a relação deles
era extremamente tóxica. Minha mãe era de uma família relativamente rica e se apaixonou pelo
jardineiro da casa, mas, como era de se esperar, meu avô era extremamente preconceituoso e
rapidamente tratou de arrumar um pretende que fosse à altura da mãe, ao menos na concepção
dele.
Torci o nariz, detestava gente que pensava assim, assim como já sabia que não iria gostar
nem um pouco dessa história.
— Meu pai era o irmão mais novo de um cara que fazia negócios com o meu avô e, com
dinheiro envolvido, eles arranjaram um casamento entre os dois. Menos de dois meses depois,
eles já estavam casados e morando em outro estado. Não sei exatamente quando as surras
começaram, mas sei que elas nunca terminaram.
— Sinto muito, Ben.
— Depois de um tempo, eu descobri que era muito mais do que apenas surras, ela foi
vítima de várias violências, de todos os tipos. Ele a humilhava de todas as formas possíveis,
criticava suas roupas, o corte de cabelo, era ciumento, descontava seu ódio nela. Menti para você
quando disse que ele nunca me bateu, eu apanhei várias vezes, até os meus seis anos.
Alcancei sua mão como agora parecia tão fácil, apenas como um modo de confortá-lo ao
relembrar de algo que nunca se esqueceu.
— Não me lembro de ter recebido um abraço sequer do meu pai, ou um elogio. Todo
amor, ou pelo menos o que eu achava ser amor, eu recebi da minha mãe. Eu não podia sequer
chamá-lo de pai, senão ele me batia. — Apertei sua mão outra vez, mal posso pensar em algo
como isso — Hoje eu sei que minha mãe não me amava como eu achava que fazia, porém, ao
menos foi ela quem me educou e quem, do seu jeito, cuidou de mim.
— Não precisa falar se não quiser. — Ofereci quando ele cortou o assunto sem querer se
estender e podia compreender, não devia ser fácil. Benjamin apenas ergueu nossas mãos,
beijando o dorso da minha.
— Eu nunca conheci o amor de um pai, Emma. De uma maneira ou de outra, eu recebi
algo da minha mãe. Não era amor, mas era um cuidado, eu acho. Então eu tinha uma figura
materna, mas eu sentia falta de uma figura paterna, eu desejava ter um pai. — Ele suspirou,
olhou ao nosso redor por um tempo— Não sei se estou conseguindo me explicar.
— Eu entendo o que quer dizer. Apesar de eu ter tido ambos os pais e saber de seu amor
por mim, depois da morte de papai, minha mãe acabou assumindo os dois papéis, mas era
diferente. Essencial, na mesma medida, mas diferente, pois eu sentia falta do meu pai, dos seus
conselhos, do colo.
— Exatamente isso. Eu não tiro a importância do que minha mãe fazia por mim, pelo
mínimo que fosse, mas, mal ou bem, eu a tinha e sentia falta de um pai.
— Eu posso imaginar, Ben. — Ele parecia aliviado ao perceber que o compreendia —
Está me contando isso por conta daquilo que me confidenciou? De ter medo de não conseguir
cumprir seu papel como pai?
— Por isso também. Tenho esse medo, mas não é apenas por isso. Eu… — Ele suspirou
mais uma vez — Isso é complicado de explicar, mas vou tentar. Eu sempre ouvi as pessoas
dizerem que o amor de um pai e de uma mãe por um filho é incondicional, nada no mundo se
sobrepõe àquilo. Ouvia dizer que sempre querem ser os melhores para seus bebês, isso, claro, se
não for um sociopata como meu pai era. — Ele parou por um segundo, precisando se recompor
antes de continuar — Desde que descobri que vou ser pai, eu entendo isso plenamente. Eu quero
que meu filho, ou minha filha, tenha tudo de melhor que eu possa oferecer, não quero que lhe
falte nada, principalmente amor, carinho e apoio.
— É bonito te ouvir falar assim.
—Quando você me contou sua história, eu consegui sentir o amor entre você e seus pais.
Eu consegui sentir o quanto você foi amada até o último segundo da vida dos dois. Eu te acho
sortuda. Mesmo com todas as dificuldades que vocês enfrentaram, consigo perceber o quanto
você foi uma criança feliz, com a segurança de ter seus dois pais com você, dispostos a mover
mundos, a fazer o possível e o impossível, só para você. Por você.
Ele me emocionava com suas palavras, me deixando muda diante dele. Eu sabia o quanto
tinha sido sortuda. Fui amada, livre, fui feliz, independente de tudo o que vivemos.
— E é isso que eu desejo ao meu bebê. Ele ainda nem nasceu e eu sinto esse tipo de
amor por ele, do tipo que me faz fazer qualquer coisa para ele e por ele. Eu quero ser para ele o
melhor pai que eu puder ser, o pai que eu desejei para mim e ainda mais do que isso. E eu queria
dar a ele uma mãe, alguém para amá-lo como eu já o amo.
— E você quer minha ajuda para convencer Courtney a ser essa mãe? — Por mais que
fosse me machucar ajudar o homem com quem estou me envolvendo a fazer isso, como eu
poderia negar ajuda quando seu discurso de puro amor por esse bebê tocava cada parte de mim?
—Courtney não tem uma mísera gota de amor por esse bebê dentro dela. — Ele afirmou
com tanta veemência que me chocou. Achava seguro dizer que a ida ao consultório trouxe muito
mais do que apenas um ultrassom — Eu senti asco, senti nojo de mim mesmo por ter me
relacionado com ela. Eu apenas não diria que me arrependo porque daquilo resultou aquela
coisinha perfeita que a ultrassom mostrou. — Sorrio, era mesmo uma coisinha bem perfeitinha
— Está vendo? Você viu apenas uma única foto dele, apenas um exame e bastou que eu o
mencionasse para você abrir um sorriso luminoso, carinhoso. Enquanto a mulher que o carrega
no ventre apenas revirou seus olhos e admirou as próprias unhas enquanto ouvíamos as batidas
do coração dele.
— Ela... o que? — Meu espanto foi realmente gigante com essa confissão.
— Então não me entenda mal, Emma, eu quero uma mãe para meu filho e não alguém
como ela. Não tem nenhuma parte de mim que se arrependa de ter estipulado no contrato a
renúncia dos seus direitos sobre o bebê. Eu quero que seu contato com ele seja inexistente, eu
jamais quero colocar meu filho diante de alguém que irá rejeitá-lo. Enquanto eu puder protegê-lo
de todos os males do mundo, assim eu farei.
— Ben, você diz temer não saber ser pai, você diz que tem medo. Eu não tiro sua razão,
acho que todos os pais e mães se sentem assim, mas você, Benjamin, não precisa se preocupar
com isso além do normal. Você nunca seria o seu pai. Seus olhos brilham enquanto você fala do
seu filho a ponto de me emocionar presenciar isso. Você o ama. Seu filho vai ser a criança mais
feliz do mundo por ter um pai que o ama dessa forma.
Achava que finalmente tinha feito com que enxergasse isso. Ele iria ser perfeito, um pai
perfeito.
— Eu não quero que ele tenha apenas o amor de um pai, quero o amor de uma mãe
também. Eu quero que ele tenha o que eu jamais tive. Eu quero para ele o que você teve. E para
que ele tenha isso, eu quero te perguntar uma coisa. Emma, você aceita ser a mãe do meu bebê?
Sua voz era forte ao mesmo tempo que fraquejava. Seus olhos me diziam que ele falava a
verdade, que ele esperava que eu respondesse a essa pergunta, como se não fosse a brincadeira
mais sem graça que alguém já me pregou.
— Isso não tem graça, Benjamin. — Soltei minha mão da sua — Esse tipo de brincadeira
não se faz.
— Emma, não é uma brincadeira. Eu realmente quero que você seja a mãe do meu filho.
O garçom escolheu justamente esse momento para voltar à mesa e perguntar se
queríamos algo mais. Meus olhos enxergavam Benjamin respondendo, mas eu só conseguia
focar em seu rosto, incrédula com seu pedido.
— Como... como você chegou nisso? Como você acha que isso iria funcionar? — Meus
olhos faiscavam, eu não sabia se era raiva, ou ódio, se era mágoa ou apenas surpresa, mas
esperava que ele me explicasse essa história muito bem.
— Desde que descobri que serei pai, duas coisas rondam minha mente constantemente.
A primeira é que prometi que a partir do primeiro momento eu protegeria meu filho de tudo, e
por isso aceitei fazer o que fiz para tê-lo. A segunda coisa, que me aflige até hoje e me deixa
inquieto e insone, é que eu não quero que lhe falte nada, como eu me sentia em relação ao meu
pai. Eu te disse, Emma, quero que ele tenha as duas coisas, uma mãe e um pai.
— Eu realmente entendi isso, mas o que quero mesmo saber é como você chegou nessa...
nessa brilhante ideia. — Minha ironia deve ter ficado evidente, mas não pude evitar.
— Antes de virmos até aqui, eu prometi a mim mesmo que seria totalmente honesto com
você a respeito disso, não quero qualquer falha de comunicação nessa conversa. — Minha
posição não mudou, nem mudaria enquanto ele não se explicasse — Conversando com meus
melhores amigos a respeito dessa minha angústia, um deles fez uma piada, mas que para mim
soou como um conselho. Ele disse para eu fazer como nos livros de romance que publicamos e
arrumar uma espécie de mãe de conveniência, alguém para assumir esse papel na vida do meu
filho.
— Ah, claro, e aí você realmente achou que isso era boa ideia? Realmente achou que
arrumar alguém para assinar um contrato e receber o título de mãe resolveria todos os seus
problemas e iria te livrar dessa angústia?
— Ele fez essa piada e admito que cogitei a ideia, mas, rapidamente, cheguei à mesma
conclusão que você, não quero alguém que assuma isso apenas no papel. Quando digo que quero
uma mãe para ele, eu quero dizer em todos os sentidos da palavra, quero para ele alguém como
sua mãe foi para você. Por isso, logo descartei a ideia, mas outra surgiu em minha mente.
— Que seria?
— Descobrir a gravidez despertou em mim algo que eu não esperava por agora, a
vontade de ter uma família. Eu quero tudo, Emma. Quero ser pai, quero a mãe, quero o filho,
mas além disso, eu quero a esposa, o companheirismo e a parceria de uma vida juntos. Não quero
que apenas receba o título de mãe. Eu quero sim que você seja a mãe dele, que você dê a ele todo
o amor que você tem aí dentro, que seja para ele tudo o que sua mãe foi para você. Quero que
seja a mãe dele, ao meu lado como pai. Quero que você seja minha esposa, quero dividir a vida
com você, ser seu marido, companheiro de vida. Quero que sejamos um casal, desejo a
cumplicidade de uma vida a dois. Quero construir minha família com você, com tudo que isso
envolve, as coisas boas e as dificuldades.
Ouvia seu discurso calada, em uma mistura de confusão com lisonjeio. Como ele
esperava que eu me sentisse ao despejar tudo isso em mim sem qualquer preparo? E mais do que
isso, havia uma pergunta que não poderia deixar de fazer.
— Por que, Ben?
— Emma, eu já disse. Porque...
— Não, eu entendi. — Interrompi suas justificativas — O que eu quero saber é: Por que
eu, Ben?
—Mesmo que, ainda, não tenha aceitado o que eu propus, honestidade é essencial para
mim e, se quero uma relação verdadeira com você, não vou mentir nem omitir nada.
— O que isso quer dizer? — Insisti, queria minha resposta.
— Quer saber por que você? Por que não você, Emma? Primeiro, porque eu te admiro.
Está na minha vida há cinco anos, eu confio plenamente em você, tenho um apreço enorme pela
profissional que é. É uma mulher íntegra, educada, divertida, que me compreende provavelmente
melhor do que qualquer outra pessoa. Eu poderia dizer que temos uma sintonia incrível, que nos
complementamos na empresa, mas sejamos sinceros, eu só funciono naquela empresa porque
tenho você ao meu lado, não só organizando minha vida, mas também sendo parte essencial do
funcionamento da empresa. Entende isso?
— Sim, mas...
— Estamos cada vez mais próximos, extrapolando limites. Eu vejo o quanto essa nossa
sintonia vai além do campo profissional. Conheci mais de você como pessoa, assim como fez
comigo. E você me encantou, além do que já fazia sendo a minha secretária eficiente.
— Ben...
— Sei que o fato de nos darmos bem, nos entendermos e termos afinidade e harmonia
não é o suficiente para um casamento de sucesso, mas eu realmente acredito que seja um bom
caminho. Eu… Não aguento mais estar engasgado com isso. Eu sou fodidamente atraído por
você, te acho linda e sempre achei, mas não digo isso apenas por sua beleza física. Você é sim
uma mulher estonteante, mas eu digo que sou atraído por você com um todo, como mulher, pela
sua personalidade e inteligência. Por tudo que vejo em você. Não deixei isso claro nos últimos
dias? Quando dançamos juntos ou quando corremos por aquele beco amaldiçoado ou quando eu
quis te beijar em todos esses momentos ou mais precisamente hoje antes de sermos
interrompidos? Quando eu ainda sinto seu corpo junto do meu, seu dedo percorrendo a minha
boca, o maldito açúcar entre nós dois antes naquele quase beijo.
E foi assim que ele me deixou de vez sem palavras. Meus olhos estavam fixos nos seus e
na maneira como eles me faziam acreditar em tudo aquilo. E pior, como se mostrassem ele ainda
tivesse mais coisas a dizer.
— Sei que se seguirmos com esse plano, eu vou conhecer novos lados seus que ainda são
desconhecidos por mim, assim como você também vai me conhecer melhor. Eu realmente acho
que tudo que pontuei aqui é um ótimo início, mas vou ser bem direto aqui e te dizer que não
acredito nessa história de amor à primeira vista. Eu acho que o amor se conquista com o tempo,
com a convivência. Acho que dividindo a responsabilidade de sermos pais desse bebê a caminho,
podemos desenvolver esse sentimento um pelo outro. Podemos fazer ainda mais. E eu quero
entrar de cabeça nisso, Emma. Quero te conhecer, te namorar, ter a chance de me apaixonar e me
encantar ainda mais por você, assim como quero que você passe pelo mesmo processo, que me
dê uma chance de poder te mostrar os meus lados, de me conhecer por completo. Quero que você
se dê uma chance de viver isso e assim, quem sabe, se apaixonar por mim também.
Continuava quieta, estática, encarando esse homem poderoso e corajoso se abrindo para
mim. Sentia minhas armaduras fraquejando, as emoções vindo à superfície, aquelas faíscas
confusas e raivosas se transformando em carinho. Mas o que diabos eu iria dizer a ele? E era
exatamente isso que ele quer saber.
— O que você me diz, Emma?
Capítulo 12 — Emma Campbell

Como poderia responder?


Como eu deveria responder?
Benjamin me deixou completamente atordoada. Ele despejou tudo isso sobre mim e eu...
eu simplesmente não sabia o que pensar, muito menos o que sentir e quanto mais o que
responder.
Não podia negar o quanto sentia meu corpo quente, vivo, excitado e agitado. Sabe aquela
sensação de quando se está em uma montanha russa, aquela adrenalina e frio na barriga? Era
exatamente assim que me sentia.
Me permiti voltar a olhar para ele e eu o conhecia o suficiente para compreender que ele
estava sendo totalmente honesto e que também não existia qualquer vestígio de dúvida no que
ele estava me propondo. Não era mesmo uma brincadeira.
Eu o conheci e, mais do que isso, eu confiava nele.
— Eu... eu... — Respirei fundo, organizando meus pensamentos — Eu não sei o que
pensar e muito menos o que te dizer. Eu realmente entendi tudo o que me disse, tudo o que
espera disso, mas são muitas informações ao mesmo tempo, Ben. Você despejou tudo isso sobre
mim e eu não estava, nem de perto, esperando por isso. Eu até imaginei por um momento que
você queria minha ajuda para ir atrás de Courtney e eu faria isso, mesmo que esteja de certa
maneira me envolvendo com você. Me propor isso não era nem a última coisa que passou pela
minha cabeça quando me chamou aqui. Eu preciso... de um tempo para pensar.
Por todo seu discurso, entendia que isso não era o que ele esperava ouvir, mas achava
que pedir um tempo é melhor do que dizer não logo de cara, certo?
Vi ele suspirar fundo e juntar nossas mãos outra vez, entrelaçando seus dedos aos meus.
Me sentia conectada a ele, um choque me percorrendo diante do seu toque e pela sua expressão
sabia que sentia o mesmo. Era inegável que éramos compatíveis, que tínhamos uma ligação.
Aquele gesto, seu toque em mim, parecia certo.
Sem nos soltar, Benjamin aproximou sua cadeira da minha, a ponto de estarmos quase
quebrando um princípio físico. Dois corpos podem sim ocupar o mesmo lugar no espaço e
tempo, Isaac Newton.
— Eu não esperava que fosse me dar uma resposta definitiva agora e eu não quero que
faça isso no impulso ou sem refletir sobre tudo o que peço. Eu não estou te propondo a
conveniência que meu amigo sugeriu, eu quero uma relação verdadeira e honesta e, para isso,
preciso que você realmente pense a respeito, ok?
— Ok.
Percebia que agora que tirou isso do seus ombros, Benjamin estava aliviado. Não tinha
reparado, mas agora sabia que havia muito mais do que apenas nervosismo correndo por suas
veias. O whisky deveria ter sido minha maior pista. Trabalhando para ele há tanto tempo, sei que
ele só bebia isso quando estava nervoso ou com raiva.
— Só preciso complementar tudo o que isso abrange.
— Ainda tem mais? — Ele bem tentou, mas não conseguiu não rir de mim.
— Quero apenas deixar umas coisas esclarecidas. Primeiro de tudo, a sua promoção. Não
foi feita hoje para que de alguma forma você se sentisse coagida a dizer sim para mim. Isso
aconteceu por você, por ser uma excelente profissional. Uma coisa não tem nada com a outra e
mesmo se me disser não, as coisas não mudaram na empresa.
Eu não sabia muito bem se acreditava que não mudariam, ao menos um pouco, mas por
ora, apenas concordei com ele.
— Vamos ao segundo ponto.
— A cada vez que você abre a boca, tenho um pouco de medo do que pode sair daí. —
Precisei cobrir sua boca quando ele gargalhou, atraindo olhares ao redor do restaurante.
— Sobre o banco e o que aconteceu hoje. — A maneira como sua voz suavizou e seu
olhar se abrandou eu já entendi o que iria dizer.
— Eles negaram.
— Eu tentei, de várias formas, mas não consegui fazer o que me ofereci. Não consegui
com que redividissem seu débito, porém eu vou pagá-lo, Emma. — Neguei, mas ele insistiu —
Eu vou fazer isso, Emma. Eu não posso jamais seguir minha vida sem ajudá-la se eu posso fazer
isso, não posso permitir que se mate de trabalhar, que queira se mudar para um lugar menos
seguro ou deixar de se divertir para viver em função de pagar dívidas. Eu não vou permitir que se
sobrecarregue, assim como você não queria que sua mãe fizesse. Eu quero cuidar de você.
Por que ele tinha sempre que falar isso? Cuidar de mim. Se ele soubesse quantas vezes
chorei querendo que alguém fizesse isso por mim. Ele precisava seriamente parar de dizer isso
ou me apaixonar por ele seria mais fácil do que ele pudesse esperar.
— Eu vou pagar sua dívida, ainda que me diga não. E se este for o caso e você se sentir
melhor por não querer ficar me devendo, ainda que eu não faça a mínima questão disso, você
pagará a mim, da maneira que melhor funcionar para você, sem juros ou prazos.
Por que, Deus? Por que colocou esse homem perfeito na terra?
— Benjamin, é muito dinheiro, não posso permitir que faça isso.
— Paguei quinze milhões para ter meu filho para mim e longe de alguém que o rejeitaria.
Para quem fez isso, o que é oferecer a alguém que pode amá-lo com devoção, a segurança de
uma vida tranquila e sem maiores dificuldades? Ainda mais quando essa pessoa é você.
Mais uma vez... por que, Deus? Por que colocou esse homem perfeito na terra? E como
ele poderia querer algo comigo dessa maneira?
— Mas se me disser sim... Ah, Emma, você finalmente poderá viver e é isso que quero te
oferecer. Uma vida. Não sob minhas condições, mas uma vida de liberdade atrelada à minha.
Quero que viva e que trabalhe com o que ame, e não que viva para trabalhar e não aproveite
nada. Se me disser sim, o que é meu, será seu.
— Eu não consigo... não consigo absorver tudo isso.
— E tem mais. Uma última coisa, eu prometo.
— Homem, você quer me matar? —Questionei em um suspiro e ele riu.
— Se você quiser, como segurança e para se sentir respaldada em tudo que estou te
oferecendo, podemos fazer um contrato de casamento ou um acordo pré-nupcial com tudo isso
estipulado. A única coisa que te peço é que esses termos e o nosso acordo permaneça apenas
entre nós, claro, pode conversar com sua amiga, Hannah, não é? Apenas peço que essa proposta
não se torne algo público, não quero que a mídia se envolva no nosso relacionamento.
— Não vou falar nada com outra pessoa senão ela. — Até porque eu só tinha Hannah e o
Sr. T e o pobre senhor iria ter um colapso ao me ouvir falando sobre essa proposta.
—No contrato que firmei com Courtney tem uma cláusula de confidencialidade, sei que
não o fará, mas preciso que não comente sobre ele com ninguém. É claro que se você aceitar eu
te colocarei a par de tudo e você será tão responsável pelo bebê quanto eu. E isso é algo que eu te
prometo aqui e agora, que nunca farei qualquer distinção acerca do fato de eu ser um parente
biológico dele e você não, nunca usarei isso contra você em um argumento, nem mesmo caso
venhamos a nos divorciar num futuro.
— Eu ainda sequer aceitei sua proposta e já está considerando se divorciar de mim? Essa
deve ser a relação mais rápida de toda a história, nem mesmo começamos e você já está pulando
para o final.
Me senti leve para brincar com ele — o que era bem estranho considerando as
circunstâncias —. Seu sorriso irradiava, junto a um carinho quando ele pegou aquela única
mecha do meu cabelo, tocando os fios com certa veneração.
— Eu estou colocando todas as minhas cartas na mesa. Essa é a proposta mais séria que
já fiz a alguém em toda minha vida e eu preciso que acredite nisso, que entenda que se me
aceitar, eu farei tudo que estiver ao meu alcance para fazer nosso casamento dar certo.
A intensidade com que ele disse isso foi capaz de arrepiar todos os poros do meu corpo,
me deixando completamente sem resposta. Ben sustentou o meu olhar por um tempo aos poucos
deixando-o escorregar bem na direção da minha boca.
Não posso negar que fiz o mesmo, sempre pensei em fazer isso, e depois de tudo, eu
queria ainda mais. Eu nada fiz e nem ele, porém, sem quebrar o contato visual, ele levantou
nossas mãos entrelaçadas, deixando um beijo no dorso da minha.
— Aceitam mais um drink? Ou querem fazer o pedido? — O garçom retornou,
interrompendo nosso momento.
— Na verdade, pode trazer a conta, por favor? — Ben pediu e agradeceu enquanto ele se
afastava para atender o pedido — Vou te levar para casa e deixar que relaxe e aproveite a noite
como achar melhor, senhorita assistente executiva.
Não demorou para voltarmos para seu carro seguindo rumo à minha casa — que
finalmente estava habitável outra vez, eu só precisava me lembrar de voltar até a casa de Hannah
e pegar minhas coisas depois dos dias que passei por lá. Aquele mesmo silêncio confortável
voltou a nos fazer companhia e minha sanidade agradeceu por esse momento, sem qualquer
conversa, principalmente referente à casamento ou bebê. Ben então estacionou em frente à
portaria do meu prédio e me olhou.
— Está entregue, ia dizer sã e salva, mas acho que afetei um pouquinho sua sanidade
mental com tanta informação num curto espaço de tempo. — Concordei, um riso anasalado me
escapando — Me desculpe se eu fui um pouco afobado e despejei tudo em cima de você. Eu só
queria que realmente me entendesse.
— Está realmente tudo bem, Ben. Eu te prometo que vou pensar com carinho em tudo
que conversamos. — Soltei o meu próprio cinto, mas antes de sair do carro, notei as fotos do
ultrassom perto da marcha do carro e não sei o que me deu, mas não pude sair dali sem fazer um
pedido — Posso? Levar uma delas comigo?
A reação dele me pegou de surpresa, os olhos azuis me encararam com intensidade, com
lágrimas se formando em seus cantos. Ele não me respondeu, apenas forçou a garganta como se
estivesse tentando tirar um incômodo dali e destacou uma das fotos para me entregar.
— Obrigada.
Antes que pudesse pensar em sair do carro, seu corpo estava pressionado ao meu em um
abraço desconjuntado devido às nossas posições. Me assustei por um único instante antes de me
entregar a ele, o abraçando de volta. Ben me apertava com vontade e me obrigava a fazer o
mesmo com ele. Pela posição em que me encontrava, meu rosto estava posicionado bem na
curva de seu pescoço, me deixando sentir, em toda potência, seu perfume. Cheiro de Ben.
Senti ele respirar contra os meus cabelos e sua mão seguir o caminho e passar pelos fios.
Ainda não me largava, mas decidiu que tinha mais a dizer.
— Obrigado por ter ouvido o que eu tinha a dizer, sem julgar os meus porquês, e ter ao
menos aceitado pensar sobre tudo. Sei que você pode me dizer não, e quero que diga se
realmente não for da sua vontade, mas fico feliz que ao menos vai pensar sobre isso. Torço por
um sim, mas vou entender se for um não.
Quando desfez o abraço, me fez desejar estar de volta ao aconchego dos seus braços.
Queria aquilo, ainda mais quando seus lábios tocaram minha bochecha, em um beijo doce mas,
ao mesmo tempo, forte.
— Boa noite, Emma.
Benjamin me tirava de órbita, atordoada para qualquer outra coisa senão apenas
murmurar um ‘boa noite’ de volta para ele e então entrar no prédio, precisando da segurança do
meu lar para colocar minha cabeça em ordem.
Segui direto para meu banheiro, colocando a banheira para encher, precisando de um
banho relaxante antes de me permitir pensar em qualquer coisa. Acendi algumas velas pelo
banheiro para uma luz indireta, coloquei uma música relaxante e antes mesmo de esperar um
volume descente de água, me acomodei contra a louça.
Não era como a banheira de Hannah, ou seus produtos perfeitos, mas era o que tínhamos
para aquela noite. E por falar na minha amiga, precisava dela. Urgentemente. E não perdi tempo
antes de enviar uma intimação para ela.
Com sua resposta, eu me permiti fazer o que prometi a Ben. É, pelo visto, no meio de
tudo aquilo, ele deixou de ser Benjamin. Honestamente, acho que chamá-lo por um apelido era a
menor das nossas questões no momento.
Era difícil não começar essa reflexão senão pela constatação de que o amor dele pelo
filho mexia comigo. Ele amava tanto essa criança que queria, acima de qualquer outra coisa,
garantir que não lhe faltasse nada. Pensava no quanto ele, como criança, deve ter sofrido por não
ter um pai e de como, até hoje, ele parecia sentir falta disso.
E eu compreendia isso, não consigo imaginar ter crescido sem o amor do meu pai, sem
seus conselhos e brincadeiras me guiando pelo caminho. Tendo ambos os pais, eu sabia como foi
importante ter os dois presentes na minha vida, realmente fui sortuda por ter pais tão incríveis.
Toda criança deveria ter essa segurança e conforto.
Também não consigo deixar de pensar no impacto que um relacionamento com
Benjamin causaria à minha carreira e à minha imagem diante dos demais funcionários. Será que
pensariam que eu estou com ele por interesse? Será que mais pessoas pensariam como aquele
idiota do Joey e me veriam como uma interesseira? Ou que apenas por conta da nossa relação eu
fui promovida?
De modo geral, meu relacionamento profissional com ele nunca foi problema dentro da
empresa, pois, desde sempre, as pessoas já imaginavam que algo acontecia entre nós dois, talvez
por existirem tantas histórias de secretária e CEO, as pessoas logo imaginavam que esse também
fosse nosso caso.
E mesmo acreditando nesse rumor, ninguém nunca me julgou por isso, nunca fui
tratada diferente, pelo contrário, as pessoas me respeitavam e conheciam minha competência.
Mais de uma vez Benjamin deixou claro que tal coisa foi ideia ou sugestão minha, inclusive, me
recordava que já houveram outras vezes que alguns diretores insinuaram a Benjamin que eu
merecia uma promoção.
Imaginava, então, que assumir um relacionamento com ele, provavelmente, não me
afetaria nesse sentido, pelo menos com a grande maioria das pessoas, talvez um ou outro
questionasse algo, mas sempre, em qualquer assunto, existiriam essas pessoas.
Pensando exclusivamente no bebê, estiquei minha mão para fora da banheira até pegar
a foto do ultrassom. Sabia o quanto era importante o amor de uma mãe, sabia o quanto ter sido
amada e bem cuidada me fez a pessoa que sou. Odiei perceber que tinha coisas na história de
Ben, em relação a sua mãe, que ainda o machucam. Odiei ouvir da boca dele a indiferença que
Courtney teve na consulta e as coisas horríveis que ela disse.
Fiquei admirando aquele pequeno pedaço de gente e pensava em como poderiam
existir pessoas imunes a essas coisinhas? Meu coração batia mais rápido e mais intensamente só
de olhar para a foto. Não queria admitir na frente de Benjamin, mas fiquei com vontade de chorar
com a possibilidade de poder ser mãe desse serzinho.
O fator mais importante para mim em toda essa história era que eu, desde a morte dos
meus pais, não tinha mais família, não tinha qualquer parente distante. Conhecer Hannah me
devolveu um pouco dessa sensação de família e, há alguns anos, o Sr. T também, e eles dois
eram o mais perto que eu tinha de uma família.
Se fosse sincera, me sentia sozinha na maior parte do tempo, sentia falta de ser cuidada
por alguém, de chegar em casa e ter alguém para conversar, para afagar meus cabelos, para me
dar colo e dividir a rotina do dia a dia. Sentia falta de companhia, falta de uma família. Caso
decidisse aceitar a proposta de Ben, mais do que dar uma família ao bebê, eu daria uma a mim
mesma.
E além de tudo isso, ainda havia ele. Benjamin. Desde a época que era apenas uma
estagiária na empresa, nutria uma paixonite por ele. Sempre o achei lindo, com aqueles olhos
claros, os cabelos castanhos sempre arrumados em um topete despretensioso meio para trás e
para o lado — sempre o lado direito —, o nariz reto, grande e levemente arrebitado na ponta, os
lábios grossos e rosados.
O sorriso que dominava seu rosto era sempre grande e repleto de dentes alinhados e
brancos que faziam pequenas rugas aparecerem nos cantinhos dos olhos, complementando o
maxilar quadrado e definido, emoldurado por uma barba cheia e sempre bem-feita.
Ben era um cara alto, talvez com mais de 1,85 de altura — contrastando bem com os
meus míseros 1,60 —, com as costas largas, o peitoral forte e musculoso, mas sem exageros,
apenas o suficiente para ser perceptível nas roupas sociais que usava diariamente.
Se alguém invadisse minha cabeça, saberia que sempre o quis para mim, pois, além da
beleza óbvia, eu conhecia o seu caráter e isso era mais atraente do que qualquer fisionomia e,
depois de tê-lo conhecido melhor nos últimos tempos, sabia o quanto ele era um cara tranquilo,
engraçado e sensível, mas que também tinha seus traumas. Além da situação óbvia com o pai,
era perceptível que havia algo a mais na história com a mãe, mas não quis forçá-lo a falar quando
claramente não estava confortável para isso.
Pensando em nós dois como um casal, não acho mesmo que nos apaixonarmos ou
virmos a nos amar fosse algo difícil de acontecer. Também era fodidamente atraída por ele,
sempre palpitei por ele, talvez até já fosse um tanto apaixonada por ele e vir a amá-lo não seria
nada trabalhoso ou muito menos incômodo.
Agora sobre o inverso, ele vir a me amar? Eu não sabia. Concordava com ele no que
disse sobre amor à primeira vista, eu também não acreditava nisso, principalmente sabendo a
história de meus pais que foram colegas de trabalho por anos e primeiro viraram amigos antes de
se envolverem um com o outro. Nada foi rápido com eles, nem mesmo o amor. Tudo foi
lentamente construído.
Assim como ele, também acredito que termos uma sintonia e compatibilidade era de
grande importância, mas o que se mostrava mais relevante para mim foi ele ter deixado claro que
queria isso, que queria fazer funcionar, queria dar uma chance de viver isso.
Depois de muito parar e pensar, consegui compreender que o que me irritou
inicialmente ao ouvir a proposta dele. Pensar que tudo isso seria apenas por pura conveniência.
Nunca aceitaria isso, não aceitaria ser uma mãe e uma esposa apenas no papel, mas sendo da
forma como ele deixou claro que seria, eu conseguia me imaginar ali, como esposa dele, mãe do
seu filho e seu braço na empresa.
Conseguia facilmente me enxergar nessa vida.
Decidi esperar a opinião de Hannah para então bater o martelo, se ela achava isso um
absurdo ou não, mas na minha cabeça, e no meu coração, não havia mais o que pensar: eles
seriam meus e eu deles.

Apenas acordei com as batidas na porta que me indicam que Hannah estava quase
quebrando a porta para entrar. Quando peguei o relógio, percebi que dormi por quase treze horas
seguidas, já passava da hora do almoço.
Não demorou muito para Hannah estar com a bunda instalada no meu sofá com todo
um arsenal pronto para esse dia: chocolate, sorvete, máscaras faciais e esmaltes, tudo que sempre
fizemos desde a época do dormitório na faculdade. Era sempre assim que discutíamos coisas
importantes: com máscara de argila no rosto.
— Para de suspense e me fala logo tudo que está acontecendo, com todos os detalhes,
por favor. — Pediu, enrugando o nariz com a aflição que sentia com a argila no rosto.
— A primeira coisa que tenho pra te falar é que não sou mais secretária administrativa,
eu…
— O QUÊ? Aquele bastardo te demitiu? Eu vou até lá só para matá-lo. Ele sabe que
você o carrega nas costas lá dentro e ainda recebe pouco para isso? Quem esse Benjamin pensa
que é? Benjamin. Que nome tosco, não acha? Ele pensa que só porque tem aquela cara bonitinha
ele pode fazer o que bem quer? — Ela continuava falando sem parar até que precisei gritar o
nome dela em meio às minhas risadas.
— Hannah, fica quieta e me deixa falar. Ben não me demit…
— BEN? BEN? Como assim ‘Ben’? Está chamando pelo apelido agora? Desde
quando? E por que não me conta nada? — Ela parecia uma metralhadora, disparando uma
pergunta atrás da outra.
— Talvez por que você não me deixa falar?! — Ri da careta dela. — Ben não me
demitiu, pelo contrário, me promoveu. Agora eu sou assistente executiva da Booksbank, o que
basicamente é um nome mais pomposo para tudo que eu já faço lá dentro, mas que agora
passarei a receber por tudo isso.
— Ahhh, finalmente o bonitão te promoveu.
— Ele voltou a ser bonitão? Não era um bastardo dois segundos atrás?
— As coisas mudam rápido, meu bem, achei que ele tivesse sido um babaca, mas já
que resolveu honrar o par de bolas que carrega no meio das pernas, não precisarei matá-lo.
— Como você é doida. — Gargalhamos as duas, da maneira que foi possível
considerando o rosto meio paralisado com a máscara.
— Por que acho que isso não é tudo? Aconteceu mais alguma coisa? — Questionou
com seriedade e só pude contar tudo, todos os detalhes dessa história e, enquanto fazia isso,
assistia os olhos dela ficarem cada vez maiores.
Terminei de contar e esperava ansiosamente por sua reação, mas Hannah estava
paralisada e espantada. Ria dela enquanto andava pelo apartamento atrás da ultrassom para
entregá-la em mãos. Ela olhava da foto para meu rosto, fez isso algumas vezes antes de
conseguir colocar a cabeça em ordem.
— Emma. Eu poderia pensar em mil coisas diferentes se me dissesse que ele te fez uma
proposta, mas essa seria a última delas, eu nem sabia que isso existia na vida real, não sei nem o
que pensar. — Tudo que fiz enquanto ela ainda parecia perdida em um transe, foi rir — Está
rindo por quê?
— Porque eu reagi da mesma forma depois de ouvi-lo falar.
— E você já decidiu? Ou me chamou aqui esperando que eu te aconselhasse? Ou pior,
esperando que eu te dissesse o que fazer? — Ela arregalou os olhos.
— Não, boba. Te chamei porque queria te contar tudo e queria ouvir sua opinião, mas
eu acho que já tenho uma decisão tomada.
— Eu vejo que já tem, você já tinha antes mesmo de me falar qualquer coisa. Você só
quer ter certeza de que eu não vou te chamar de doida por aceitar o que ele propôs. — Hannah
afirmou com ar vitorioso e não adiantava mentir, ela me conhecia muito bem.
— E você acha isso? Acha que sou louca por concordar com isso? — Questionei,
deixando uma leve insegurança me dominar. Eu queria que ela concordasse, que me apoiasse.
Porque eu diria sim a ele.
— Sinceramente? Não, eu não acho. Eu te conheço mais do que qualquer outra pessoa
e sei exatamente o que você pensa sobre todos os pontos dessa história. E vou te provar isso. —
Ela me mostrava a mão, quando ia enumerando nos dedos — Você já se afeiçoou a esse bebê;
Você quer uma família; Sei que sempre foi apaixonadinha por ele e, convenhamos, conviver
intimamente com ele não vai ser difícil, assim como realmente vir a se apaixonar, e a beleza dele
ajuda nisso tudo. — Ela riu por um momento antes de continuar — Ele deixou claro que está
aberto a tentar e fazer funcionar; Ele te assegurou que sua vida profissional é separada da de
vocês como casal, ele vai ter a Emma funcionária e a Emma esposa; E, além de tudo isso, tem o
bônus de você finalmente conseguir quitar essa droga de financiamento e poder viver, e não
pensar em cada coisa que tem que economizar. E já que não me deixa fazer isso por você, deixe
que ele faça.
Eu disse. Ela me conhecia mais do que qualquer outra pessoa. Acertou em cheio tudo,
sobre todos os pontos.
— Tudo bem que o bonitão é um tanto maluco, ele poderia te convidar para novos
encontros, poderia te cortejar feito um relacionamento do século XVIII, poderia te namorar,
poderia fazer as coisas de um jeito um pouco mais… tradicional. Porém, eu só vejo vantagens,
amiga. Uma família, um bebê, um relacionamento com perspectiva de amor, estabilidade
financeira. Olha, se você está com receio de aceitar por medo de dar errado, eu vou te dizer uma
coisa: não deixe o medo te paralisar e te impedir de tentar algo.
Esse era realmente o meu problema nesse momento, o medo. Depois de tudo que passei
na vida, comecei a temer o inesperado, o incerto, tinha receio de tudo que não soubesse como iria
acontecer ou pior, como iria acabar.
— Pelo que me disse, vocês ainda têm cerca de seis meses antes do bebê nascer. Sei
que ele mencionou um casamento logo de cara, mas, por que você não propõe irem com calma?
Estipulem, não sei, uns três meses de namoro para vocês realmente se conhecerem melhor, criar
uma intimidade maior um com o outro e depois vocês podem morar juntos e realmente pensar no
casamento, antes do meu afilhado nascer.
Ela terminou sorrindo com a própria ideia e eu a imitei, pensando nela como madrinha
do meu bebê.
Meu bebê.
Isso consolidava tudo. Pensar nele como meu era o que faltava para eu bater o martelo
e realizar isso me emocionou. E claro que Hannah percebeu, se jogando em cima de mim em um
abraço apertado.
— Pensou nele como seu, não foi? — Apenas balancei a cabeça concordando.
— Vou falar com Ben sobre essa possibilidade de irmos com mais calma.
— Quando vão conversar? Se já se decidiu, por que não conversam logo? Em um lugar
onde podem conversar com mais calma, um lugar neutro, e sem envolver a empresa no meio.
— Ótima ideia, vou fazer isso, mandar uma mensagem para ele e combinar tudo.
Passamos o dia juntas, rindo e conversando, até que no início da noite Joey começa a
cobrar a presença dela em casa, então nos despedimos. Eu não precisava que esse idiota dissesse
ou sequer pensasse qualquer coisa mais sobre mim, ou que tentasse afastar minha amiga de mim
mais do que já fazia.
— Antes de eu ir, quero que saiba que estou feliz por você e expectante, algo me diz
que isso é o início de uma linda história e eu vou estar aqui por você e para você. E se ele te
magoar, terei o prazer de chutar as bolas dele com tanta força que ele nunca mais vai chegar
perto de outra mulher.
— O pior é que sei que realmente faria isso. Obrigada pelo apoio. — Abracei minha
amiga bem apertado antes dela me.
— Me mande notícias, te amo! — Ela gritou do elevador.
Voltei para meu apartamento com um foco em mente, andando direto para onde havia
meu celular. Notei que já passavam das dez da noite e, com um nervosismo e uma ansiedade
gostosa no meu corpo, enviei uma mensagem para Ben.

Enquanto ele não me respondia, ajeitei toda a bagunça pela minha casa e voltei para a
cama, decidida a preencher meu tempo — e esse vazio incômodo — com um filme antes de
dormir, querendo acordar de uma vez e dizer sim àquilo que transformaria minha vida para
sempre.
Capítulo 13 – Benjamin McKnight

Esperei ter certeza de que Emma estava segura em seu prédio antes de dirigir em direção
à minha casa. Bastou que me acomodar no sofá para em quinze segundos Sheik correr até mim,
se arremessando na minha direção, como se ele não fosse um pequeno brutamontes de quinze
quilos. Ele sempre fez isso, corria até mim assim que me encontrava, deitava a cabeça e me
olhava cheio de expectativa pelo seu carinho favorito, bem atrás das orelhas.
Ele se desmontava toda vez, amava isso e eu só podia ficar feliz que finalmente ele se
abriu para mim e confiava na minha proximidade e no meu toque. Foi um longo processo desde
seu resgate até me aceitar como seu pai. Ele me amava, mas ainda tinha muitos problemas com
outras pessoas. Carl, Nate e Nick, por mais próximos que fossem de mim e por mais que
estivessem sempre por perto, ainda precisavam ter um certo cuidado com meu filho de quatro
patas.
Brinquei com ele um pouco, arremessando um dos seus brinquedos favoritos pela casa
algumas vezes, até que ele se deitou ao meu lado no sofá e, na falta de companhia humana, eu
conversava com ele.
Mal sabiam todos ao meu redor quanto tempo eu passava conversando com meu
cachorro. Um monólogo, é claro! Jamais esperava que ele me respondesse, nem mesmo desejava
isso. Nada de coisas sobrenaturais. Tô fora.
— É garoto, agora já foi. — Afaguei seus pelos, seu focinho remexendo se um lado para
o outro — Papai conversou com Emma e talvez, daqui uns dias, eu te apresente ela. Se tudo
correr como eu espero.
Será que é possível estar aliviado e apreensivo ao mesmo tempo? Porque era assim que
me sentia. A droga disso tudo era ter que esperar um tempo para saber a resposta dela. Era
compreensível, eu sei, não podia esperar que ela me gritasse sim, sem mais nem menos, sem
sequer pensar um pouco sobre tudo.
— Se ela disser sim, você também vai ganhar uma mamãe, cara. Sei que você tem seus
medos, mas você tem que se comportar, filho. Papai te ajuda, te dou tempo para se acostumar.
Mas nada de morder a canela dela como você faz com os três paspalhos, pode morder a deles, eu
deixo. — Ficava espantado como ele realmente parecia me ouvir, como parecia me entender —
É, amigão, vai ganhar uma mamãe e um irmãozinho em pouco tempo. Nossa casa vai ficar
movimentada.
O engraçado era que realmente conseguia imaginar toda a cena na minha cabeça,
visualizar o chão da sala tomada por brinquedos barulhentos, ouvir os gritinhos e choros de um
bebê naquela mistura com o som da televisão em dia de jogo, o cheiro de comida invadindo a
casa.
Andava pela casa enxergando Emma vivendo comigo, compartilhando o espaço,
misturando suas coisas às minhas. Cheguei ao banheiro da minha suíte e imaginava a bancada
cheia de produtos femininos, perfumes e maquiagens, escovas e secador de cabelo.
Quando passei pelo closet depois de tomar um banho, pensei que teria que ajustar melhor
todas as minhas coisas para que as dela também coubessem no espaço. Não deixei de perceber
que a todo tempo esse assunto estava na minha mente, a todo tempo pensava nisso com um
sorriso torto e ridículo no rosto.
Porém, ao mesmo tempo, tinha aquela ponta de apreensão me incomodando, um medo
dela dizer não e eu perder não só tudo isso que criei na minha mente, mas também a própria
Emma de certa maneira.
Segui para a cozinha e preparei um sanduíche com tudo que encontrei na geladeira, antes
de me acomodar no sofá para assistir um filme, tentando afastar Sheik da minha comida — e
Emma da minha cabeça.
Ignorei os anúncios de filmes de terror. Como podem as pessoas gostarem de assistir
essas merdas de filmes? E pior, à noite? Iria conversar seriamente com Emma, eu deveria na
verdade ter colocado isso como cláusula principal a ser discutida por nós dois. Se ela aceitasse se
casar comigo, nada de filmes de demônios, fantasmas ou espíritos ou qualquer outra coisa
paranormal dentro do quarto.
Não mesmo. Proibição total.
Desde que descobri a gravidez, aquela tinha sido a primeira vez sem aquele sonho do
meu filho me pedindo uma mãe, dessa vez eu sonhei com a família que eu espero ter. Ao mesmo
tempo que isso me deixava feliz, me preocupava. Odiava não ter controle e certeza das coisas,
isso me incomodava mais do que muitas outras coisas que me tiravam do sério.
Depois de checar com Courtney sobre ter ingerido as vitaminas, como vinha fazendo
todas as manhãs, e me certificando de que estava bem e não precisava de nada, tomei meu café,
alimentei Sheik, com certo incômodo me tomando. No final das contas, ter esse outro sonho não
foi muito melhor do que o anterior, os dois apenas me deixavam saber que existiam coisas
incertas na minha vida.
Queria ficar feliz, mas ainda tinha medo de estar caindo em uma ilusão da minha própria
cabeça. Não queria nem pensar no que iria acontecer caso Emma recusasse tudo.
Não iria aguentar passar o dia em casa sem fazer nada e estava inquieto demais para
adiantar algum trabalho. Resolvi ir ao parque, assim gastava a minha energia acumulada e Sheik
podia correr e socializar com outros cachorros, dentro dos limites dele, claro, afinal ele era um
cão um tanto antipático.
Depois de uma corrida de quase uma hora, soltei a coleira dele em uma área adequada
para cães e assisti ele se esforçar para ir até os outros animais, ainda um tanto arisco. Virei uma
garrafa de água na garganta quando me acomodei sob a sombra de uma árvore para recuperar
meu fôlego e me distrair dos meus pensamentos.
Ao menos até alguém se jogar ao meu lado na grama.
— Qual deles é o seu? — Olhei para a dona da voz, encontrando uma ruiva de olhos
verdes com um sorriso sugestivo nos lábios.
— Desculpe, o que?
— Perguntei qual deles é o seu. — Ela apontava para os cachorros correndo e latindo
livremente, seu olhar percorrendo todo meu corpo descaradamente. Eu nunca fui muito fã de
abordar alguém assim, ou de ser abordado, e agora percebia que gostava menos ainda. Apesar de
bonita, seu olhar não fazia nada por mim além de me deixar desconfortável.
— O Akita.
— Lindo, igual o dono. — Ela elogiou e eu apenas sorri, um tanto sem graça.
Se ela esperava um elogio ou uma cantada, iria se cansar de esperar. Ao menos já
estava sentada. Minhas abordagens às mulheres sempre foram sutis e em lugares um pouco
menos expostos como agora. Sempre me senti desconfortável em abordar alguém na rua assim,
ainda mais considerando que sempre tem um fofoqueiro em algum lugar, pronto para jogar
alguma notícia, ainda que falsa, nos olhos públicos.
— Vem sempre aqui? Poderíamos marcar um dia e trago meu chihuahua para brincar
com o seu cachorro. — Além de querer rir só por imaginar essa cena ridícula de um cachorro
grande e antipático como Sheik brincando com um bicho pequeno desses, resolvi cortar o
assunto.
— Minha noiva não iria gostar nada disso. E nem eu, para ser sincero. Muito menos
Sheik. — Não consegui segurar a risada, foi mais forte que eu.
— Noivo, é? E cadê essa tal noiva que não está aqui com vocês? — Ela apoiou a mão
no meu braço e eu logo me afastei, me erguendo do chão.
— Olha, moça, procure alguém interessado, porque eu não estou. Passar bem. —
Assobiei para Sheik que logo correu na minha direção, a língua pendurada para fora com sede.
Despejei a água na minha mão em concha para ele, ainda sob os olhares da mulher.
— Que cachorrinho lindo. — Ela se esticou para acarinhá-lo, e ganhou um rosnado
como presente, Sheik odiava toques inesperados. A moça, coitada, apenas saiu correndo —
Grosso, igual o dono.
Não contive a risada, sorrindo para meu amigo. Tinha o melhor cachorro do mundo,
um que espantava inconveniências. Fiz um carinho nele e deixei que ele me indicasse que estava
pronto para irmos embora. Alguém iria ganhar petiscos extras.

O universo conspirava em conjunto com meu plano de não ficar sozinho e com a
cabeça desocupada. Pouco depois de chegar em casa, fui intimado a ir encontrar meus amigos
em um bar. Uns drinks com eles era tudo que eu precisava para colocá-los a par de todas as
mudanças, já que muitas coisas aconteceram desde que conversamos pela última vez.
Sei que poderiam dizer que agi rápido demais e de cabeça quente — e principalmente
sem falar qualquer coisa com eles —, mas não me arrependia de ter feito o que fiz.
Cheguei atrasado, encontrando os três já acomodados e com bebidas em mãos.
Cumprimentei a todos e providenciei um drink para mim também. Hoje eu podia, deixei o carro
em casa e não teria problemas com direção.
— Como vai, papai do ano? — Nick brincou.
— Ótimo e vocês? Tenho novidades.
— Da última vez que você falou isso, anunciou que está grávido. Agora vai dizer o
que? Que se casou?
— Bom, ainda não, Nate, mas se tudo der certo, isso não está longe de acontecer. A
noiva eu já tenho. — Quer dizer, ainda precisava que ela me aceitasse, mas por ora resolvi esse
pequeno detalhe gigantesco.
— O QUÊ?
— Cara, do que você está falando? Como que arrumou uma noiva literalmente de um
dia para o outro? — Carl perguntou, depois de ter sido o primeiro a se recuperar do grito
espantando em conjunto dos três.
— É, Benjamin, explica isso direito. Tão vendendo noiva por aí? Aonde? Me fala, para
eu passar bem longe.
— Cala a boca, Nick. — Nate bateu em seu ombro, rindo do idiota — Anda,
McKnight, desembucha.
Levei alguns bons minutos para explicar tudo para eles, desde a piada que Nick fez,
toda minha crise existencial, minha decisão por fazer a proposta à Emma e como a fiz — e
principalmente como ela reagiu. Os três me olhavam, chocados, curiosos, em expectativa.
— Sabia que eu não podia ser um cara engraçado. Estão vendo o que acontece? Eu
faço uma piada e o cara vai lá e arruma uma esposa. — Nick soltou e foi impossível não rir.
— Pronto, estou esperando. — Me acomodei na cadeira, pronto para defender meu
ponto de vista a cada argumento que levantassem me chamando de louco ou apressado. E eu
sabia que todos eles teriam algo a dizer. E, claro, o primeiro tinha que ser Nate. Sempre ele.
— Você tem certeza disso, Ben? Não acha que foi um pouco precipitado? Você pensou
nisso ontem e ali mesmo já fez a proposta para ela.
— Posso até ter sido apressado, mas não me arrependo. — Olhei fixamente para ele,
para que ele me entendesse. Nate era a pessoa que eu mais confiava em todo mundo, e ele me
defendia e apoiava com unhas e dentes, mas precisava ter certeza de como eu me sentia e de que
estava sendo honesto com ele — Nate, eu realmente quero isso e acredito verdadeiramente que
Emma é a pessoa certa para viver isso comigo.
— Sabemos que ela é simpática, educada. Já a cumprimentei algumas vezes quando fui
te visitar na empresa, sem falar que é uma gata, com aqueles olhos verdes e um corpo que... —
Antes que Carl completasse o pensamento, eu o interrompi, me contorcendo no lugar.
— Não fale do corpo da minha mulher, porra. — Ele riu da minha cara. Sabia que
estava apenas me provocando e eu caí feito um patinho.
— Nossa, calma, foi só uma piadinha, você não gosta tanto de piadas? Não precisa
sentir ciúmes.
— E como assim sua mulher? Por acaso ela já te respondeu? Se não, ainda é uma
mulher livre, eu até posso ir atrás dela e quem sabe...
— Nicholas, se você terminar essa frase eu juro que te dou um soco como fiz naquela
festa durante a faculdade e dessa vez você não está bêbado para não perceber a dor. — Ele abriu
um sorriso gigante. Malditos, adoravam me perturbar.
— Só tenho pena do seu filho que quando crescer vai ter que ficar ouvindo piadinhas
sobre o quanto a mãe dele é uma...
— Nathaniel! — Reclamei, me levantando da cadeira — Se continuarem com essa
palhaçada, eu vou embora e não falo mais nada da minha vida para vocês.
Era isso que eles precisavam para cair na gargalhada.
Idiotas.
— Relaxa, Ben, estamos apenas brincando. Nunca faríamos nada para desrespeitá-la,
ou o possível relacionamento de vocês. — Nate apertou meu ombro, me forçando a sentar outra
vez.
— É tudo uma brincadeirinha, mas que ela é gata, isso é mesmo.
— Cala a boca, Nick. — Carl brigou, mas ria dele.
— Totalmente sério agora, tem mesmo certeza? — Nick assumiu sua faceta concisa.
— Tenho, realmente quero isso e desde que me decidi que faria, mesmo antes de falar
com ela, eu já estava imaginando e visualizando tudo isso. Me chamem de emocionado, mas não
sei explicar, apenas sei que estou fazendo a coisa certa.
— Se você está seguro disso, nós vamos te apoiar, como apoiaríamos da mesma
maneira se fosse apenas você e o moleque, ou princesinha. — Carl sorriu.
— Sei que eu brinco na maior parte do tempo, mas te garanto que vamos mesmo te
apoiar. Se Emma aceitar tudo isso, você ganha uma esposa, seu filho ganha uma mãe e nós
ganhamos uma irmã. Estamos felizes por você, Ben. E se tudo acabar em merda, estaremos aqui
da mesma forma. — Nick concluiu.
— Somos uma família, você sabe disso. — Nate me olhava e vindo dele
especificamente, era a mais pura verdade. Éramos uma família. Eu e ele antes dos outros, mas
quando estes chegaram, nos tornamos inseparáveis. — Se der tudo certo, ótimo, e se não der, nós
fazemos ficar.
— Obrigado. O apoio de vocês significa muito, e eu amo vocês, mesmo que a gente
não fique falando isso o tempo todo.
— Que lindo, eu também te amo. — Nick tinha sempre um tom a mais, e isso ficou
claro quando veio quase até em cima de mim, ignorando seu tamanho exagerado, para me apertar
em um abraço até que eu pedisse trégua.
— O que acha que ela vai dizer? — Carl questionou enquanto pedíamos uma nova
rodada de drinks — Acha que ela está mais tendenciosa para um sim ou um não?
— Acho que para um sim, mas honestamente eu não sei. Talvez seja apenas minha
mente criando fantasias. Eu realmente espero que ela diga sim, eu sei que só ela vai amar meu
bebê como eu já amo. — Sorri ao me lembrar dela com a ultrassom e a maneira como vê-la
admirando aquela foto mexeu comigo — Se vocês vissem a emoção dela ao ver o ultrassom, eu
fiquei... não sei, encantado.
— Benjamin McKnight, você já arreou os pneus! — Nick gargalhava — Todos os
quatro, no chão.
— Talvez. — Admiti, dane-se o que iriam pensar, danem-se as provocações — Não
tenho certeza de nada mais. O que eu sei é que não me oponho a isso, eu realmente espero que a
gente se apaixone, que a gente chegue a se amar. É exatamente isso que estou propondo a ela. —
Meus amigos se olhavam, compartilhando sorrisos ridículos — Podem rir, babacas, ainda vou
ver cada um de vocês se apaixonando, não estarão imunes a isso. Um a um vocês vão passar por
isso e eu vou assistir de camarote.
Fui obrigado a rir quando, quase sincronizados, os três fizeram o sinal da cruz e me
responderam em uníssono com um Cala a boca, Ben.
Bebemos mais algumas cervejas e precisamos tomar ar em certo momento,
recuperando a consciência depois de ouvir Nick contando sobre seu caso com uma mulher.
Estava para nascer alguém tão maluco quanto esse cara. A noite seguiu seus caminhos, nossos
assuntos de sempre até que tudo retornou para Emma.
— Você mandou alguma mensagem para ela, Ben?
— Não, Carl, eu até pensei nisso, mas não queria que parecesse que eu estou
pressionando por uma resposta.
— E ela? Falou alguma coisa ou você acha que vão acabar se falando apenas na
segunda feira quando voltarem ao trabalho?
— Não, ela também não falou nada. — Respondi enquanto procurava meu celular para
checar, e então ver que estava errado. Havia sim uma mensagem dela me dizendo que já se
decidiu e que queria conversar amanhã mesmo, fora da empresa — Espera, cara, na verdade, ela
falou sim. Recebi uma mensagem dela há quase duas horas e não tinha visto. — Aproveitei para
respondê-la de uma vez.

—Pelo amor de Deus, cara, mata a fofoqueira que vive em mim e me conta logo o que
ela falou. — Nick implorou, em todo seu drama que apenas nos fazia rir.
— Sossega essa bunda, Nick, eu estava respondendo ela primeiro. Ela disse que já se
decidiu e perguntou se podemos conversar amanhã.
— Você respondeu que sim, não é? Agora que eu sei dessa história, não vou aguentar
ficar sem saber qual é a resposta dela. Você trate de ser um amigo bem bonzinho e ligar para
mim assim que souber se é um sim ou um não.
— Sim, Nick. — Ri do seu desespero — Eu vou me encontrar com ela
— E me contar assim que possível.
— Nicholas, controle sua velha fofoqueira. — Nate deu um tapinha na barriga dele —
Ah, Ben, estava pensando, você preparou Emma para conhecer o seu demônio de quatro patas
que você insiste em chamar de cachorro? Ela já sabe que se te aceitar como marido, vai morar
com o próprio anticristo? — Eu tentei responder, ao menos enquanto os outros dois babacas
gargalhavam.
— Não, imbecil, ela apenas sabe que tenho um cachorro e Sheik não é nada disso,
vocês todos que tem medinho dele.
— Ah, claro, ele é um amor. — A ironia escorria pela boca de Carl.
— Minhas canelas que o digam. Não posso ir até sua casa usando bermuda, porque
senão ele arranca todos os pelos da minha perna.
Nick completava quando meu celular indicou uma notificação de nova mensagem, me
arrancando um sorriso antes mesmo de ler.

— Meu Deus, Emma é uma bruxa, ela fez Benjamin mandar uma mensagem com um
emoji. — Nick, o idiota que estava pendurado no meu pescoço para ler as mensagens,
gargalhava, fazendo os outros dois acompanharem.
— Vai se ferrar, palhaço.
Ainda permanecemos no bar por pouco mais de duas horas, entre piadinhas, conversas
e provocações, antes de cada um seguir seu caminho.
Quando cheguei em casa encontrei um Sheik eufórico, exigindo atenção, o que era
ótimo porque eu mesmo estava um tanto eufórico, ansioso com o dia de amanhã. Nem mesmo
dormi, mas já queria acordar de uma vez, fosse para ter uma notícia boa ou ruim.
Capítulo 14 – Emma Campbell

Estava parada em frente ao espelho, analisando meu reflexo depois de ter trocado de
roupa mais vezes do que poderia contar — ou tirar uma noção baseada no tamanho da pilha de
roupas sobre a minha cama.
Estava nervosa, ansiosa e ainda por cima não tinha certeza se estava bem-vestida. Fora o
baile, aquela seria a primeira vez em todos esses anos que encontraria com Ben fora da empresa,
em roupas informais, mas em um momento crucial para nós dois.
E para o bebê.
Olhava pela janela, tentando compreender o clima e decidir se trocava de roupa mais
uma vez ou se finalmente tinha decidido a vencedora. Ventava um pouco, e por isso, mesmo com
o dia ensolarado, notava pessoas com suéteres.
O que diabos eu deveria vestir?
Esse era um problema que eu tinha que resolver — na minha cabeça antes de qualquer
coisa —, precisava compreender que iria precisar de mais roupas. Eu quase não saía de casa, a
não ser para ir ao trabalho. Mas as coisas seriam diferentes e eu iria ter que me adaptar a tudo
isso, afinal, não achava mesmo que alguém como Benjamin McKnight gostaria de ser visto por
aí com alguém que vestia sempre uma das mesmas dez roupas.
Cansei de ficar voltando ao mesmo problema, vestindo aquilo que me sinto melhor — e,
também, porque era minha melhor roupa casual, uma que foi presente de Hannah há algum
tempo. Um vestidinho de suéter — que enganava bastante e esquentava o suficiente para um dia
como esse —, uma meia calça e uma botinha de cano curto.
— Acho que está bom.
Olhei no espelho uma última vez, uma careta enfeitando meu rosto quando peguei uma
jaqueta para finalizar, odiava ficar com frio. Não deixei minhas inseguranças me atingirem
novamente e, mesmo achando que estava um tanto simples demais, me sentia confortável e
casual.
E isso era o melhor que eu poderia oferecer.
Encontrei Sr. T enquanto esperava meu Uber e, a pedido dele, dei uma voltinha para que
ele pudesse me olhar arrumada, não é mesmo fácil me ver assim se não fosse para ir trabalhar.
Para sair? Poucas foram as vezes que isso aconteceu.
— Uau, está linda, minha florzinha.
— Muito obrigada. Não estou muito simples? — Perguntei, por mais que tentasse não
conseguia tirar de mim essa impressão. A ideia de ir encontrar um CEO, por mais que eu já o
conhecesse tão bem, estava me deixando um tanto perturbada com a visão que ele iria fazer de
mim, da minha imagem, principalmente aos olhos públicos.
— Meu amor, simples é um estado de espírito, você está linda e aquele rapaz vai achar o
mesmo. — Olhei para ele um tanto chocada com sua percepção certeira — Emma, eu sou velho
mas não sou burro, muito menos cego. Eu vi os olhares que trocaram quando ele veio te buscar
para o baile, e Hannah me contou que vocês estão se conhecendo melhor.
Hannah era mesmo uma fofoqueira.
— Na verdade, Sr. T... — Aproveitei para atualizá-lo, dentro do que podia, sobre o que
iria acontecer, afinal, ele fazia parte de mim também — Eu e Benjamin nos conhecemos há mais
de cinco anos, trabalhamos juntos na empresa. Éramos apenas colegas. — Não precisava dizer
que ele era meu chefe, não é mesmo? — Tínhamos uma relação apenas profissional, mas então...
— Se apaixonaram. — Ele completou e eu não tive forças para desmentir. — Isso é bom,
florzinha, você merece alguém e se ele consegue te tirar de casa e fazer viver novas experiências,
ele já ganha meu respeito. Você é muito novinha para viver uma vida como a minha. — Sr. T
tocou meu nariz carinhosamente quando uma buzina soou — Agora vai, se divirta, meu amor.
— Até mais, Sr. T, amo o senhor.
Beijei seu rosto indo em direção ao carro correndo, ainda podendo ver o sorriso dele ao
acenar para mim. E ali eu estava, atrasada para meu encontro com Benjamin. Estava ansiosa,
querendo pular essa fase de contar a ele minha decisão. Por mais que eu tivesse certeza da minha
decisão, ainda era um tanto estranho ter algo como isso sendo tratado de maneira tão formal.
Ben marcou nosso encontro em uma cafeteria, um tanto afastada do meu lado da cidade e
próxima à casa dele. Um lugar que eu queria conhecer já há algum tempo e vinha enrolando. Ele
foi à inauguração algum tempo atrás, já que o lugar direcionou para leitores assíduos, criando
uma espécie de cafeteria com biblioteca, onde as pessoas podem ir ler seus próprios livros,
comprar outros, enquanto leem e conversam.
Parece incrível.
Ben havia sido convidado para a inauguração de um pequeno empreendimento e sendo o
CEO, o topo da empresa, foi um tanto surpreendente receber um convite para uma nova e
pequena empresa. Ele não sabia se poderia ir — e realmente quase não conseguiu estar presente
—, mas conseguiu de última hora. Ele amou o lugar e todo seu conceito e, claro, eles amaram a
presença dele, que foi veiculada por todo lado na imprensa e levou muita gente a conhecer a
cafeteria.
Ele me contou tudo isso e eu amei a ideia do lugar. Havia comentado isto com ele e pelo
visto ele se recordou disso. Ele fez questão que nosso encontro fosse ali. E eu não negava que a
cada vez que ele demonstrava se lembrar de algo que eu lhe disse, ele mexia comigo, com aquela
parte de mim que sentia falta de alguém prestando atenção em mim, realmente prestando atenção
em mim.
Assim que desci do carro, eu o vi. Como um mocinho de um filme — ou de um livro,
como no nosso cotidiano —, Ben estava encostado na vitrine do estabelecimento, seus pés
cruzados na altura dos tornozelos, uma mão no bolso, a outra no celular. Os cabelos revoltados
denotavam sua ansiedade, desarrumados de um jeito que o deixava ainda mais lindo.
Me preocupei tanto com minha roupa, e via que talvez tenha sido um tanto de desespero
da minha parte, ele estava tão casual quanto eu, talvez ainda mais, com apenas uma calça jeans
preta, um suéter branco, uma jaqueta em tom de verde escuro com um tênis esportivo e seu
smartwatch.
Benjamin era um cara de tirar o fôlego. E pensar que ele iria ser meu, me fazia sorrir
feito uma boba, daquele tipo com bochechas coradas e borboletas no estômago. E é claro que foi
assim que ele notou minha presença, deixando o celular de lado imediatamente para vir em
minha direção, seus olhos fixos em mim.
Com um sorriso enorme naqueles lábios perfeitos, ele me alcançou, uma mão na minha
cintura, me trazendo para ele imediatamente, quando me deu um beijo no cantinho da boca,
daquele jeito que me fazia estremecer e desejar ainda mais aquele beijo interrompido.
— Oi, linda.
— Oi, Ben. — Sei que ele reparou em como mexeu comigo e não fazia questão de
disfarçar quando me olhou de uma maneira completamente nova e muito, muito maliciosa. —
Gostei que marcou nosso encontro aqui.
— Sabia que ainda não tinha vindo, mesmo que quisesse, então... — Ele deu de ombros,
como se a ideia de fazer algo porque lembrou de mim não fosse algo tão fofo — Pronta para
conhecer?
— Estou ansiosa.
Sei que ele alcançou a verdade nas minhas palavras, a de que minha ansiedade ia muito
além do que apenas conhecer o lugar, mas sim por todo o resto, pelo motivo exato que nos levou
até ali.
Os donos o cumprimentam assim que chegamos e se antes a presença dele era um motivo
para piscar em agradecimento pelo retorno que isso traria, eu conseguia ver que agora era pela
cumplicidade de terem conquistado um cliente fiel, não necessariamente o presidente de uma
empresa como a Booksbank.
E o lugar era mesmo incrível, uma combinação perfeita entre um lugar calmo e
confortável para quem desejava apenas ler seus livros, e aconchegante com tantas poltronas e
sofás em outras áreas para aqueles que quisessem conversar. O ambiente era todo em tons
neutros, com pequenos toques de cores em tantas almofadas e pequenos cobertores sobre os
sofás.
— Estou encantada com esse lugar, Benjamin.
— Legal, não é? Eu amei quando vim da primeira vez, tanto é que nunca mais deixei de
vir. — Procuramos um local para sentar e apenas encontramos uma poltrona larga, menor que
um sofá, e se nos sentássemos ali, estaríamos quase um no colo do outro, ou comigo sobre ele na
verdade — Podemos esperar outro lugar desocupar.
Ele ofereceu, sem parecer querer criar um problema quanto a isso e, bom, eu estava ali
para dizer que aceitava a sua proposta, que desejava ele para mim, que queria a família que ele
me oferecia. E se assim as coisas eram, o que poderia ser me sentar tão próximo assim dele?
— Aqui está bom para mim, Ben.
Suas feições mudaram e parte de mim compreendia o que ele poderia estar pensando. Eu
não me sentaria assim com ele se fosse lhe dizer um não, certo? Ele sorriu, de um jeito feliz e
aliviado que me comoveu. Eu poderia ter minhas dúvidas sobre muitas coisas, mas não sobre a
vontade dele em fazer nossa relação funcionar.
— Você guarda nosso lugar? Vou pegar algo para comermos.
Ele beijou meu rosto outra vez e foi até o balcão fazer um pedido, e a mim só me restou
sentar ali e aguardar que ele voltasse para mim. Quando assim o fez, trazendo algo em um copo
térmico e dois muffins, eu me levantei para que ele se acomodasse primeiro.
Benjamin não fez muita questão de se espremer no cantinho para que eu tivesse um
pouco mais de espaço, ele apenas virou um pouquinho de lado, me deixando um pedacinho da
poltrona e suas coxas à minha disposição. E bom, eu era tímida, mas não boba. Tinha um homem
lindo, prestes a se tornar meu noivo, se oferecendo para mim, e quero saber quem em sã
consciência se privaria disso.
Me sentei ali, naquele restinho de poltrona — que realmente só cabia meu quadril —, e
cruzei as pernas, deixando a que restou por cima praticamente inteira sobre suas coxas. Benjamin
nem mesmo fingiu costume ou disfarçou. Sua empolgação ficou clara no modo como ele me
olhava enquanto me entregava um dos muffins.
Blueberry, o meu sabor favorito.
Dei uma mordida e, pelos deuses, como poderia algo tão simples ser tão bom? Eu amava
o contraste da doçura da massa com o azedinho da fruta. Era bom demais. Enquanto comia, ele
apenas bebericava o que agora eu sabia, pelo cheiro que emanava do copo, que era um
cappuccino.
— Desculpa, Emma, eu queria conseguir esperar e seguir tudo isso com naturalidade,
esperar que ao menos conseguisse comer antes de conversarmos, mas eu realmente estou ansioso
para saber o que decidiu. — Queria rir da sua pressa e da careta que faz, mas resolvi acabar com
isso de uma vez. Era a melhor opção.
— Eu prefiro conversar de uma vez também, já que não tem por que enrolar quando eu
já tenho uma decisão tomada. — Dei mais uma mordida antes de deixar o que sobrou do bolinho
sobre meu colo — Inclusive, foi por isso que pedi para nos encontrarmos hoje de uma vez.
— E o que você decidiu?
Era agora! Um suspiro cheio de expectativas me tomou e se espelhou nele. Um clima de
suspense nos rodeando até que eu finalmente tomasse coragem para compartilhar com ele tudo o
que pensei. E, claro, minha decisão final.
— Eu realmente fiz o que me pediu e pensei bastante sobre o que você me propôs.
Também conversei com Hannah, como sei que se confidenciou com seus amigos. E, depois de
muito pensar e ouvir o que ela tinha a dizer, eu me dei conta de que não há motivo para eu negar.
Eu aceito, Ben. Aceito fazer parte disso e entrar de cabeça em tudo que me ofereceu. Quero... —
Olhei para ele, seu rosto sendo tomado por expressão um tanto aliviada — Eu quero fazer
funcionar tudo isso, a maternidade, o relacionamento. Nossa família.
Uma leveza me preencheu diante do alívio de realmente dizer a ele o que decidi, ao
contrário dele que me pareceu paralisado, assimilando o que deveria ser a incredulidade de que
eu realmente havia aceitado sua proposta maluca.
A questão era que por mais que tivesse sido maluca, foi perfeita para mim.
Depois de segundos que pareceram uma eternidade, Ben finalmente reagiu, sua mão livre
escorregou pela perna que descansa sobre a dele, em um toque que começava perto do meu
joelho até alcançar minha coxa, onde ele deixou um aperto que me fez desmanchar um pouco
mais, escorregando ainda mais para cima dele.
— Sabe que isso não tem volta, não é? — Ben aproximou o rosto do meu — Você será
minha. Única e exclusivamente minha. — A veemência em sua voz me fez estremecer.
— Não vou voltar atrás na minha decisão. Eu quero isso, Ben, eu quero fazer funcionar.
Por mim, por você, pelo bebê. Pela nossa família.
Em cinco anos de relação, ainda que antes fosse apenas profissional, eu jamais presenciei
algo como agora. Nunca vi sorriso maior do que esse que ele me ofereceu, nem mesmo sabia que
a boca dele poderia se esticar tanto assim.
Senti a mão dele subir, vagarosamente, pelo meu braço até que se encaixou no meu
pescoço, seus dedos resvalando na minha nuca enquanto o polegar, ah, esse deslizava pela minha
bochecha, imitando o carinho que ele costumava fazer no dorso da minha mão. Ben puxou meu
rosto para frente aproximando ainda mais do seu e, então, senti seus lábios roçarem nos meus,
porém, antes que conseguisse se aprofundar de uma maneira ainda melhor, como já tinha
imaginado tantas outras vezes, alguém derrubou uma pilha de livros e fez um barulho tão alto
que nos assustou.
E lá se foi nosso momento mais uma vez.
Me afetei com esse momento interrompido tanto quanto ele, mas não consegui não rir da
cara que ele fez, de puro ódio, revirando os olhos para a interrupção — pela segunda vez! —
daquilo que seria nosso primeiro beijo, transformando aquele contato em um simples, mas doce,
selinho e agora ele me encarava com uma expressão que imaginava ser o reflexo da minha, de
completos bobos.

Porra, ela aceitou!


Emma aceitou.
Estava completamente eufórico, extasiado, feliz e todos os outros sinônimos existentes.
Era como se tivessem me incendiado de dentro para fora, suas palavras me acenderam, me deram
vida, como se eu estivesse adormecido por todo esse tempo e ela viesse me acordar.
Ok, isso pareceu um plot invertido da Bela Adormecida, mas que se dane. Ela me disse
sim, isso poderia parecer o que fosse, não me importava. Ela me aceitou. E mais do que aceitar a
mim, ela aceitou meu filho, aceitou ser minha família e isso... isso significava mais para mim do
que ela pudesse imaginar.
Não, na verdade, ela poderia sim entender exatamente o que sentia.
Sabia que não estava enganado, sabia que minha intuição não me enganaria, Emma era
— e iria lutar para que sempre fosse — a única pessoa para mim, a única capaz de despender
amor a um bebê que nunca viu antes, um do qual ela só tinha uma foto sem muita nitidez. Ela me
deixou, e continuava deixando, completamente encantado e com uma permanente cara de idiota.
Nick estava certo quando me chamou de cachorrinho babão, era assim que me sentia.
Meu estômago girou 180 graus quando ela reiterou que queria o mesmo que eu, fazer
toda aquela loucura funcionar. E o que era a vida sem doses de loucura?
Se tinha algo que eu prezava era uma família e sabia que isso era tão importante para ela
quanto era para mim e agora seríamos isso um para o outro e dava a minha palavra de que iria
fazer valer ser merecedor de tamanha abnegação.
Felicidade e êxtase deveriam nublar meu olhar nesse instante, porém, eu desejava mesmo
que o mundo parasse por alguns minutos e nada pudesse interromper nosso beijo outra vez. Duas
vezes! Duas vezes algo aconteceu para atrapalhar o momento pelo qual eu vinha ansiando há
meses.
Eu vi nos olhos dela o desejo de compartilhar esse beijo, ao menos deixei outro selinho
naquelas lábios perfeitos. E agora que tinha as certezas que eu precisava, queria prová-los por
completo, sem que mais alguém nos impedisse disso.
E agora estava ali, com um sorriso idiota no rosto enquanto minha garota passava a
língua por seus lábios em um movimento que me afetava ainda mais, principalmente
considerando como ela ainda estava praticamente sentada em meu colo. Era preciso muito
autocontrole da minha parte em não agarrá-la ali mesmo, dando um pequeno espetáculo para
todos os presentes. Porém, por ora, me contentei em ter o que podia, sua coxa sob meu toque,
deslizando por sua perna graças ao tecido da meia calça e o comprimento do seu vestido.
Provavelmente em razão de eu ter feito exatamente isso das outras vezes que vim até
aqui, o dono do estabelecimento se aproximou, trazendo em mãos uma das melhores panquecas
com maple syrup que já provei antes.
— Cortesia da casa.
— Obrigado, Dean. — Agradeci, mas Emma foi quem pegou o prato, o restante do
muffin agora completamente esquecido. Ela usava as duas mãos para segurar o prato, seus olhos
brilhando em direção aos morangos cobertos com a calda doce sobre um pilha das mais perfeitas
panquecas. — Sabe que está encarando o prato com olhos arregalados?
— Ben, isso deve estar divino.
— Elas são realmente incríveis, pena que não estou com fome. — Até mesmo por isso
apenas comprei um café para mim e os bolinhos para ela que, como muito percebi ao longo
desses anos, estava sempre faminta, nunca a vi recusando qualquer oportunidade para comer
qualquer coisa — Vai ter que dar conta de comer tudo isso sozinha.
— Sem problemas para mim.
— Tem pelo menos umas oito panquecas nessa pilha. — Me espantei.
— Eu sei. — Ela riu abertamente — Ben, precisa saber uma coisa sobre mim. Eu não
tenho esses estômagos de top model. Comer é uma das melhores coisas da vida e eu não me
privo disso mais do que o necessário. — Eu deveria questionar o que isso significava
exatamente, mas mal tive tempo diante do seu discurso — Tenho um apetite de leão. Você não
vai me ver comendo uma saladinha e me ouvir dizendo que estou satisfeita, isso não rola comigo.
Eu sou do tipo que entre uma salada e um hambúrguer, eu peço logo os dois para garantir que
vou comer bem.
Ri do seu discurso feito com tanta seriedade, ainda confiante de que eram apenas
palavras, mas ela me fez morder a língua quando realmente devorou o prato em um piscar de
olhos. Meu choque estampado no meu rosto.
— Você disse que não estava com fome, mas eu nem mesmo te ofereci, desculpa. — Ela
pediu, quando tudo que resta no prato foram dois morangos e meia panqueca — Quer uma
mordidinha? — Minha língua coçava para dizer que sim, mas não do tipo que sei que ela estava
oferecendo.
— Pode comer, linda, estou bem.
— Come um pouquinho. — Ela usou o garfo para cortar um pedaço da massa, espetando
um dos morangos encharcados com a calda e então trouxe até minha boca. Eu realmente não
estava com fome alguma, mas era incapaz de negar quando ela me oferecia dessa maneira. Abri a
boca quando ela aproximou o garfo, me alimentando de uma maneira que não era para ser
sensual, mas que se tornou, porque tudo em mim clamava por ela e não seria diferente
justamente naquela situação — Bom, não é?
— Delicioso.
Pensando na minha sanidade e no fato de que atentado ao pudor era um crime, o melhor
que poderia era levar meus pensamentos para outro lado. Mesmo sabendo que tínhamos coisas
mais importantes para conversar e acertar, desviei o assunto para coisas triviais, queria apenas
preencher nosso tempo, aproveitando a companhia da minha garota, ou a maneira como ela se
empolgava ao falar sobre seus gostos e desejos, como seu sorriso dominava seu rosto, como seus
olhos eram cativantes.
Descobri que Emma amava frutas, mas detestava geleias, enquanto eu compartilhei que
amava qualquer coisa que tivesse açúcar, mas que em questão de chocolate, o meu preferido era
o meio amargo. Ela me alertou que era alérgica a frutos do mar e eu a kiwi, como o Ross de
Friends e diante dessa referência — que ela amou, por sinal—, começamos a falar sobre filmes e
séries. Quando ela começou a rir sem motivo aparente, eu sabia exatamente o que se passava
dentro daquela cabeça.
— Não tem graça, Emma. — Resmunguei e ela gargalhou.
— Desculpa, Ben, eu só nunca imaginei que um cara como você teria medo de filme de
terror.
— Não é medo, é pavor. — Ela só não rolou de tanto que ri de mim, porque a segurei no
lugar, ajeitando seu corpo, agora com ambas as pernas jogadas sobre as minhas. Deus me
ajudasse, porque não estava fácil para mim.
— Desculpa, vou parar de rir.
— Não, você não vai. Na verdade, vou te contar uma coisa que vai te fazer rir ainda
mais.
— O que?
— Uma vez eu cochilei no sofá enquanto assistia jornal, só acordei de madrugada, com
dor no corpo pronto para ir para o quarto, mas por algum motivo, acabei desviando o olhar para a
televisão ainda ligada e assim que fiz isso quase tive um infarto com a imagem daquela garota
endemoniada do exorcista. Me levantei na mesma hora, acendi todas as luzes do meu
apartamento e obriguei meu cachorro a me acordar e me acompanhar até o quarto. — A risada
que havia diminuído, ressurgiu com força total, mesmo que tentasse, inutilmente, cobrir a boca
com as mãos.
— Quando... quando foi isso? — Ela perguntou, limpando uma lágrima de riso do canto
dos seus olhos. E porque humilhação pouca era bobagem, aproximei meu rosto do dela, meus
lábios roçando no seu ouvido.
— Dois dias atrás. — Pronto, provoquei uma crise de riso implacável nela — Emma,
você vai passar mal de tanto rir.
Ela conseguiu se controlar em algum momento nos minutos seguintes, a conversa
voltando aos nossos gostos por filmes e séries. Descobrimos que nós dois tínhamos uma
predileção por filmes dramáticos, principalmente se fosse ambientado em guerra, que ambos
tínhamos um amor declarado por The Big Bang Theory e Game of Thrones, apesar de termos
odiado o final desta.
— Com a exceção dessa coisa esquisita de gostar de filmes de terror, temos gostos bem
parecidos.
— Prometo te apresentar um filmes de terror mais leves, você vai adorar.
— Claro, eu assisto com você, desde que seu petisco durante o filme seja um belo pote
de geleia.
— Golpe baixo, Ben.
Seu rosto se contorceu em um biquinho que novamente voltou a me perturbar, com
vontade de tê-la para mim. Era melhor sairmos dali e, quem sabe, finalmente conseguir mais do
que apenas um leve tocar de lábios.
—Sei que ainda temos coisas para conversar, então... — Ajeitei seus cabelos atrás de sua
orelha — O que acha de darmos uma volta no Central Park? Ou você tem algum outro
compromisso?
Questionei, torcendo para que ela não negasse meu convite. Eu realmente queria mais
tempo com ela, para continuar nossa conversa e conhecer outros lados dela, queria acertar todos
os pontos necessários, mas principalmente, eu ansiava pela chance de dar aquele beijo.
— Meu compromisso é com você.
Porra, ela iria me matar.
— Vamos? — Convidei, me levantando e trazendo ela comigo.
— Vamos.
Nos conduzi, minha mão em sua lombar até alcançarmos a saída da cafeteria, mas então,
tomei sua mão na minha, entrelaçando nossos dedos, em uma metáfora do que queria para nossa
vida, do que esperava dali para frente, entrelaçarmos nossa vida.
Capítulo 15 – Emma Campbell

Continuamos caminhando em direção ao parque, até que percebo Ben nos conduzindo
para uma entrada específica, o que só podia significar que estamos indo para o Pond.
— O lago com a ponte de pedra?
—É um dos meus lugares favoritos por aqui. Apesar de ser caminho para outras áreas do
parque, normalmente é apenas isso para a maioria das pessoas, um caminho. Eu gosto de vir aqui
às vezes, saio para correr com Sheik e venho para cá. É escondido o suficiente para conseguir me
sentar com meus próprios pensamentos sem ninguém para me perturbar ou noticiar o CEO
Benjamin McKnight tendo uma crise existencial.
— É realmente muito bonito, mas confesso que conheço pouco do parque. Na verdade,
conheço pouco de Nova York como um todo. Desde que vim para cá para estudar, eu logo
comecei a trabalhar e... tinha outras prioridades. — Apesar de ele saber um pouco sobre minha
situação, não abri mais do que isso.
— As coisas vão ser diferentes a partir de agora. — É claro que ele entendeu ao menos o
caminho que meus pensamentos tomaram — Dinheiro não será mais um problema, Emma, e não
digo isso como uma forma de soar arrogante, é apenas uma constatação. — Afirmei, não sabia
ainda como seria lidar com essa questão financeira, tudo isso era demais para se pensar em tão
pouco tempo — Posso perguntar como foi a conversa com a Hannah?
— Bom. — Ri baixinho, pensando na minha maluquinha preferida — Hannah é
praticamente minha irmã gêmea e me entende como ninguém mais faz, sabe? São anos de
amizade e ela sabe me ler perfeitamente. Então quando contei a ela tudo o que estava
acontecendo e ela basicamente teve a mesma reação que eu tive quando você conversou comigo.
— Ficou incrédula.
— Sim, porém, logo em seguida, ela resumiu perfeitamente toda a minha linha de
raciocínio e chegou a mesma conclusão que eu. — Ben me olhou, esperando que eu completasse
o pensamento — Que eu só tinha a ganhar aceitando vocês.
— Fui aprovado pela melhor amiga, então? — Ele perguntou ao deixar um beijo no
dorso na minha mão.
—À princípio, sim. Mas, ela já me cobrou um encontro formal entre vocês. Como ela é o
mais próximo que tenho de uma família, ela faz questão de fazer as ameaças de praxe.
— Claro. — Ele riu — Vamos marcar algo, faço questão de conhecê-la, não precisamos
de ameaças. — Ele que pensasse dessa maneira, eu não iria falar nada, apenas assistir quando
esse encontro acontecesse e Hannah o deixasse atordoado com seu jeito perfeito de cuidar de
mim.
— E com seus amigos, como foi?
— Aqueles três paspalhos são os irmãos que nunca tive, os conheço há anos e somos um
tanto inseparáveis, um deles eu conheço desde bebê. — Me surpreendi com a informação, trinta
anos de amizade era muita coisa — Quando contei sobre a gravidez, sequer titubearam em me
apoiar e, quando eu contei sobre a proposta, eles se espantaram inicialmente, mas me entenderam
e apoiaram, e já me cobraram uma apresentação formal, mesmo que eles já tenham te conhecido
durante esses anos na empresa.
Acenei em concordância, seus amigos não eram mesmo figuras fáceis de se esquecer, um
mais lindo que o outro, simpáticos com a secretária do amigo.
— Que foi? — Perguntei quando ele riu sozinho.
— Estava me lembrando de Nick ontem à noite. Estava com eles quando respondi sua
mensagem, então eles sabem que estamos juntos para conversar. Nick é a pessoa mais curiosa
que vai conhecer na vida e estava tão ansioso que me acordou hoje cedo para saber se eu já tinha
sua resposta. E eu aposto minha mão esquerda que devo ter recebido milhões de mensagens dele
nesse tempo em que estamos juntos.
Ben tirou o celular do bolso, desbloqueando à minha vista, deixando à mostra não só sua
senha, mas também as mais de quarenta e cinco notificações de mensagens vindas do seu amigo,
com as mais variadas perguntas e ofertas, até mesmo de um ombro para Ben chorar se eu tivesse
lhe dado um pé na bunda — ou no saco, como estava especificado na mensagem.
Continuamos andando e alcançamos a entrada do parque, o cheiro das árvores e a brisa
fresca proveniente da copa delas nos atingia de uma maneira quase relaxante.
— E o Sheik? Como foi parar em sua vida? — Seu polegar passeava pelo dorso da
minha mão.
— Precisa saber que ele é tipo um filho para mim, muito mais que apenas um bicho de
estimação. Há alguns anos, um conhecido descobriu um canil que explorava diversas fêmeas
para vender os filhotes a preços exorbitantes, considerando que eles são de raça pura.
— Que horror.
— Nós denunciamos o lugar e acompanhamos a polícia no resgate das cadelas e seus
filhotes e todos nós que estávamos envolvidos acabamos com um filhote cada. Aquele pequeno
filhotinho de Akita branco me encantou e Sheik foi comigo para casa. É meu parceiro desde
então.
— Foi uma linda atitude. — Como poderia fingir que ele não me encantava quando se
envolvia em resgates de animaizinhos maltratados? — Sempre quis ter um cachorro. Desde
pequena eu queria pedir um de presente para o Papai Noel, mas meus pais me convenciam a
mudar meu pedido.
Finalmente chegamos até o lago. Ben apontou um lugar para nos sentarmos e quando
pensei em dizer que ficaria em pé — por não querer me sentar no chão com a saia curta —, ele
retirou sua jaqueta e me estendeu.
— Obrigada. — Agradeci, usando a peça para cobrir as pernas enquanto ele se jogava na
grama ao meu lado e piscava para mim.
Droga de homem charmoso.
— Emma, quando eu te fiz aquela proposta, eu te disse que tudo que é meu se tornará
seu. Eu falei sério, e isso inclui tudo, desde as menores coisas às maiores, das mais baratas às
caras, das insignificantes Às substanciais, até mesmo te dou acesso aos meus traumas e
problemas. — Ele brincou, por mais que falasse com seriedade — Você me aceitou, não é?
— Sim.
— Então é isso, não há mais meu, é nosso. E Sheik está incluso nesse pacote. — Ele
sorriu — Parabéns, acabou de se tornar mãe de um monstrinho de quase três anos que tem mania
de morder canelas e esconder meus sapatos, mas que é o melhor companheiro que vai ter. Depois
de mim, é claro.
Não sabia exatamente como reagir a esse discurso. Queria sorrir e acreditar nas suas
palavras, queria calar minhas inquietações. O discurso era lindo, mas não sabia como seria na
prática essa questão de juntarmos nossas coisas, eu não tinha absolutamente nada a acrescentar à
fortuna dele.
— Eu... — Titubeei, mas precisava me abrir com ele sobre isso — Eu não tenho muito,
Ben, certamente nada para te oferecer. Moro de aluguel em uma apartamento minúsculo e
mofado, vendi meu carro alguns meses atrás para tentar aliviar as dívidas.
— Eu não preciso de coisas materiais ou de dinheiro. Com muito trabalho, eu conquistei
tudo isso. Você tem muito a me acrescentar, as coisas realmente importantes.
— Eu ainda não sei como vai ser lidar com algumas coisas, principalmente com a
questão financeira, mas eu...
— Linda, relaxa. — Sua mão voltou à minha coxa, como na cafeteria — Tudo que você
precisa compreender é que terá uma vida mais confortável, sem precisar fazer contas a todo
tempo, sem se privar de fazer ou comprar alguma coisa. Você irá continuar tendo seu salário
normalmente, terá acesso às nossas contas e... aos poucos a gente se ajeita e aprende a lidar com
todo o resto.
Confirmei, um meio sorriso brincando em meus lábios. Mesmo com todas minhas
inseguranças e medo do futuro, eu podia entender que as coisas iriam se ajeitar com o tempo e
isso nós teríamos de sobra. Meu sorriso não era sobre isso.
— Que foi? Por que esse sorrisinho?
— Gosto quando me chama de linda.
Ben girou o corpo de frente para o meu, sorriu enquanto trazia a mão ao meu rosto, me
fazendo derreter no seu toque. Amava quando ele fazia esse carinho dessa maneira.
— Linda... — Ele plantou um beijo na minha testa — Engraçada... — Agora um na
bochecha — Especial... — A ponta do meu nariz foi seu próximo alvo e eu me via amolecendo
cada vez mais, principalmente quando ele se aproximou do meu ouvido — Sexy... — Ele beijou
aquele lugarzinho entre o pescoço e minha orelha antes de voltar seu olhar ao meu — E o mais
importante. Minha.
Finalmente Benjamin tomou a minha boca na dele em um beijo que começou lento,
como em um reconhecimento um do outro. Seus lábios grossos se encaixavam nos meus com
perfeição e era como encontrar o paraíso, ainda que fosse em movimentos suaves. E foi melhor
ainda quando não demorou muito para que intensificasse, reverberando nos nossos corpos.
Ben fez uma pressão maior ali, me tomando para ele de uma vez por todas. Em uma
mistura de carinho e desejo, sentia o toque da sua língua na minha, seu gosto penetrante e
viciante, que me tornaria refém dos seus beijos por um longo tempo.
E ainda assim, eu precisava de mais.
Minhas mãos ganharam vida quando tocaram seu peito em um carinho suave, até que o
puxei pelo suéter em minha direção. Ben entendeu a deixa, aprofundando ainda mais aquele
contato, sua mão apertando minha perna.
A razão me voltou à mente quando me lembrei de onde estávamos e, aos poucos, fui nos
afastando. Meu peito queimava com o desejo por mais, por mais dele — e talvez por um pouco
de falta de ar. Ben se soltou de mim, mas senti quando permaneceu me admirando, mesmo que
eu não o notasse com os olhos ainda fechados, curtindo o estado de enlevação em que esse beijo
me colocou.
Abri os olhos para encontrar os dele bem ali pertinho, olhando para minha boca quando
queria retribuir o gesto. Seus lábios inchados, sorrindo para mim enquanto meu rosto pinicava
pela sensação da barba roçando ali.
— Era isso que eu queria fazer antes de sermos interrompido. Nas duas vezes. — A voz
grossa me impressionou e me fez ficar corada e ser recompensada com um novo selinho —
Linda. Sendo bem sincero, tem um bom tempo que quero isso. Não vou negar que sempre te
achei linda e carismática, apesar de tímida, mas totalmente inacessível para mim. Eu tinha um
limite bem estabelecido de não me envolver com nenhuma funcionária, mas, de uns tempos para
cá, a minha atração por você cresce cada vez mais.
— Hm, entendi. — Sorri, travessa — E agora esse limite patrão e funcionária não existe
mais?
— Continua existindo normalmente, a diferença é que não vou beijar uma funcionária, e
sim a minha esposa, a mãe do meu filho, a outra dona da Booksbank.
Depois dessa fala, fui eu a tomar a iniciativa e repetir o que ele fez comigo, puxando seu
rosto para um beijo forte e intenso, até que senti o celular dele vibrar contra minha perna,
fazendo nós dois nos separarmos e olharmos para a tela apenas para vermos o nome ‘Nick’
aparecendo, me fazendo rir da insistência dele.
— Atende, enquanto não der nenhuma notícia ele vai continuar te perturbando.
Ele atendeu, mas Ben não teve tempo de dizer qualquer coisa diante do grito no outro da
linha.
— Benjamin McKnight, isso não é coisa que se faça. Para de enrolar e me diz logo o que
aconteceu. Ganhei uma cunhada ou meu sobrinho ainda vai ter que se contentar com sua cara
feia?
Achei graça da situação e Ben, ao invés de acabar com a curiosidade dele, apenas
provocou ainda mais, olhando para mim e fazendo um sinal de que iria brincar com ele.
— Mas eu não sei, cara. Emma ainda não me deu uma resposta, está me enrolando,
acredita?
Abri a boca desacreditada, dando um tapinha leve no braço. Ele sorriu pra mim e beijou
a ponta do meu nariz antes de me puxar pelo ombro para me aproximar ainda mais dele.
‒ Pelo amor de Deus, me diz onde ela mora que eu vou até lá descobrir a resposta, não
se faz isso com uma pessoa ansiosa. Quando encontrá-la diga que ela vai ser a culpada por eu
ter cabelos brancos antes dos 33 anos ‒ Nick continuou indignado.
Eu ria enquanto Ben se despedia prometendo avisar assim que tiver novidades. Um
mentiroso, e ganhou de resposta do amigo apenas um resmungo.
— Preparada para aguentar isso pelo resto da vida?
— Era pra você ter falado que está tudo bem, ele vai continuar te perturbando e… eu
meio que estou com pena dele, sou uma pessoa naturalmente curiosa e, no lugar dele, também
estaria te enchendo o saco.
— Bom saber que a senhorita é assim, me lembre de nunca te deixar curiosa, tenho medo
da retaliação. — Fiz uma careta de desdém para ele que riu — Que tal uma foto? Posso mandar
para ele e para outros dois e você manda pra Hannah dizendo que já conversamos, assim
matamos a curiosidade de todos.
— Ainda temos coisas para conversar, uma em específico, mas podemos sim fazer a foto
e mandar para eles. Quero uma recordação desse dia também.
Ele sorriu antes de se ajeitar, dessa vez se sentando atrás de mim, encaixando meu corpo
entre as longas pernas, apoiando minha cabeça e minhas costas no seu peito. Não podia mesmo
reclamar daquilo. Ele encaixou o rosto na altura do meu pescoço e esticou os braços compridos
para frente, centralizando o celular de forma a enquadrar nós dois na câmera.
Percebi que ele gostava de tirar fotos, tirou várias, de nós dois sorrindo, dele dando um
beijo na minha bochecha enquanto eu sorria, e vice-versa, mas antes de abaixar o braço, ele virou
meu rosto para ele e prendendo o olhar no meu antes de me dar um selinho e se afastar.
— Essa última é apenas nossa.
Ben me enviou as fotos e encaminhamos aos nossos amigos que não perderam tempo
em responder, em variações de felicitações e alívio por finalmente terem uma noção do que
estava acontecendo do lado de cá. As mensagens de Nick e Hannah nos arrancaram risadas, entre
ameaças e boas-vindas para mim e Ben. Carl e Nate foram mais discretos, mas não menos
empolgados. Era como se mesmo por mensagem desse para compreender a personalidade deles.
Fiquei feliz com o apoio deles, seria muito mais complicado conseguir fazer isso
funcionar se não tivéssemos apoio das pessoas que consideramos importantes em nossa vida.
— Bonitão? — Ben me despertou, voltando à palavra que leu na mensagem de Hannah
que, claro, tinha que incluir aquele apelido infame.
— Hannah te chama assim desde que viu uma foto sua na Forbes. — Expliquei, um tanto
encabulada, e ele riu.
— Disse que queria conversar comigo, o que é?
Respirei fundo, ganhando tempo antes de falar. Não sabia ao certo se ele iria me
entender. Girei entre suas pernas para ficar de frente para ele, tomando cuidado com a saia curta
ao ajeitar a sua jaqueta sobre minhas pernas.
— Tenho uma pequena contraproposta para te fazer. — Ben apenas reagiu, apoiando as
mãos no chão atrás do seu corpo, sustentando-o. — Eu realmente compreendi seus motivos para
propor um casamento logo de cara, porém, queria te pediu uma coisa. Posso?
— É claro, minha linda, é assim que vamos funcionar. Conversando e adaptando as
coisas. Qual contraproposta?
— Você me disse que Courtney completou três meses, correto?
— Sim, doze semanas.
— Isso nos dá seis meses antes do bebê nascer. Então, eu acho que a gente consegue ir
com mais calma nesse início. Minha proposta é que a gente use uns três desses meses em um
namoro, apenas para nos conhecermos melhor, criar uma intimidade maior, entender a
personalidade e descobrir as peculiaridades um do outro e, então, seguimos com o casamento.
Ainda teríamos três meses de casados antes do bebê nascer. O que você acha? — Terminei, sem
esconder meu tom de insegurança ao esperar por sua resposta.
— E isso seria uma espécie de teste? Testar se nós damos certo como um casal antes de
nos enfiarmos de vez em um casamento? — O tom da sua voz e sua expressão me deixaram
claro que não questionava isso com ignorância e grosseria, e muito mais como curiosidade.
— Não, não é nada disso. Quis dizer que acho que seria bom termos esse ponto de
equilíbrio antes de passarmos de uma relação estritamente profissional para um casamento, eu
apenas queria um meio termo inicialmente.
— Isso…
— E não, antes que me pergunte ou insinue, isso não é para que eu possa ter tempo de
recusar e seja mais fácil para eu me tirar dessa situação caso eu mude de ideia. Outra coisa que
precisa saber sobre mim, Bem. Eu sou determinada e não volto atrás nas minhas decisões. Se eu
aceitei sua proposta, pode confiar que, assim como você já afirmou, eu também vou dar meu
máximo para fazer com que isso funcione. Eu jamais brincaria com os seus sentimentos ou com
os meus, principalmente em uma situação que envolva uma criança.
Ele ainda manteve o olhar no meu, passava as mãos pelos cabelos, mas parecia estar
maquinando algo em sua cabeça, antes de voltar à realidade.
— Posso ter uma tréplica?
— E qual seria?
— Compreendi o que quis dizer com o meio termo, porém o que me diz de ao invés de
ser um namoro, chamarmos de noivado? Seria basicamente a mesma coisa, apenas com um nome
diferente e mais forte. Quero poder deixar claro que você é minha, que vamos nos casar e ter um
filho. — Ele acariciava minha bochecha — Já que ainda não posso te chamar de minha esposa,
me deixa ter o gostinho de te chamar de minha noiva?
— Fico feliz que nos entendemos, Senhor McKnight, um noivado está ótimo para mim.
— Sorri encantada e ele fez o mesmo antes de voltar com os braços para minha cintura, querendo
nos aproximar ainda mais.
— Assim sempre será, futura Senhora McKnight, vamos discordar em algumas coisas na
vida, mas podemos sempre achar um meio termo, não é?
Ele falava isso enquanto sorria com o rosto colado ao meu, deslizando seu nariz pelo
meu. Como esperava que eu formulasse alguma resposta? Apenas balancei a cabeça e ele sorriu
vitorioso, satisfeito com o efeito que causava em mim, antes de me puxar para um novo beijo,
com ares de noivado.
— Agora que temos tudo acertado, eu quero te dar uma coisa. Eu não tinha certeza da
sua resposta, mas esperava que me dissesse sim, então eu passei em uma joalheria e comprei
isso. Uma noiva precisa de um anel de noivado.
Olhei para a caixinha que ele tirou do bolso interno da jaqueta e abriu na minha frente.
Dentro dela repousava um lindo solitário, em ouro branco, com uma linda pedra verde em
formato de gota, com seu entorno cravejado por mini diamantes.
Era perfeito.
— Gostou? A vendedora me disse que era muito simples para a noiva de um CEO, mas
eu pouco me importo com essas coisas. Quero que você goste e que combine com você, e esse
realmente acho que se encaixa nesses critérios.
— É lindo. — E eu era uma tonta que não formulava algo melhor para dizer.
— Acho que combina com você, simples e delicado mas forte e imponente e, além do
mais, a cor me lembra seus olhos. Não conseguia imaginar você usando esses anéis enormes e
espalhafatosos que algumas pessoas estão comprando, me parecendo que só querem mostrar que
tem dinheiro para aquilo. Eu não me importo com isso, desde que saiba que você realmente
gostou.
— Não poderia ter feito escolha melhor, eu amei.
E realmente amei, era lindo e muito mais do que jamais sonhei em ter como anel de
noivado. A pedra verde, que desconfiava ser uma esmeralda, era maior que os diamantes que a
cercavam, mas ainda era pequena, imponente muito mais por sua cor do que por seu tamanho.
Era simplesmente perfeito.
— Já que estamos aqui, temos um anel e um ao outro, quero oficializar isso. Aceita se
casar comigo, Emma? Saiba que tem que ser daqui a alguns meses, porque minha noiva é
pequenininha mas é exigente.
— E brava também, bobo. Eu aceito me casar com você.
Sorri, admirando aquele sorriso que agora era só meu, os olhos azuis e brilhantes que
agora eu podia contemplar sem me resguardar, enquanto ele retirava o anel da caixinha e
colocava no meu dedo, seguido de um beijo por cima.
— Vamos fazer funcionar. — Ele roçava o nariz no meu.
— Vamos fazer funcionar.
Capítulo 16 – Benjamin McKnight

Estávamos já há um bom tempo andando pelo Central Park, nos dividindo entre
conversas, beijos e risadas. Podia afirmar que o processo de nos conhecermos melhor e darmos
uma chance a essa nova versão de nós dois, estava sendo bem fácil. E muito prazeroso.
Precisava confessar que, em um primeiro momento, não gostei muito da ideia de adiar o
casamento, não sem entender os motivos que apresentou, mas quando ela me explicou melhor e
cortou pela raiz todos os meus pensamentos sabotadores, compreendi o que Emma queria e,
honestamente, não queria negar a ela a única coisa que me pediu, não quando ela estava fazendo
muito por mim. Por nós.
Quando resolvemos nos levantar e caminhar pelo parque, percebi que ela estava
querendo me perguntar algo e, sob meu incentivo, me questionou sobre Courtney e
principalmente sobre o bebê. Aproveitei a deixa para explicar que nunca tive nada sério com ela,
que ficamos algumas vezes e que da última vez, um encontro totalmente ao acaso, resultou em
uma noite irresponsável sem proteção.
Limpei minha barra desde já, assegurando que jamais havia feito isso antes e realmente
nunca o fiz e que, assim que fiquei sabendo da gravidez e consequentemente da falta de
preservativo, fui à uma clínica e fiz todos os exames necessários para garantir que estava limpo.
E estava.
Retirei o celular do bolso e mostrei a ela o contrato que assinei com ela, esclareci todas
as cláusulas e afirmei que Courtney estava amarrada ao acordo e, caso o descumpra
minimamente que seja, teria que pagar uma multa exorbitante. Contei a ela, com detalhes, como
foi a última consulta, tudo que a médica disse, o alerta sobre o peso do bebê, a necessidade de ela
tomar as vitaminas prescritas e, a melhor parte de todas, o quão incrível e surreal foi ouvir o som
do coração. Emma me deixava encantado com a sua concentração genuína durante a conversa e,
principalmente, com os sorrisos enormes que me dava toda vez que eu mencionava o bebê.
Decidimos, também que, já que levaremos as coisas com um pouco mais de calma, ela só
viria morar comigo depois do casamento e que usaríamos os meses de noivado para organizar a
festa.
Trocamos ideias sobre as possíveis expectativas dela de uma grande cerimônia, já que
normalmente isso era um sonho para a maior parte das mulheres. Eu disse que concordaria com o
que ela quisesse, mas ela desconsiderou isso e confessou que sempre quis algo simples e, agora
sem os pais, preferia fora de uma igreja.
No que dizia respeito à nossa relação profissional, combinamos que manteríamos da
forma que sempre fomos, mas, para que ninguém minimamente assumisse qualquer coisa
negativa sobre Emma em razão do relacionamento, seguiríamos um conselho de Nate, que era
advogado, e emitiríamos um relatório interno informando os demais funcionários sobre nosso
noivado e o casamento próximo, inventando que já estávamos nos relacionando há um tempo e
que apenas iríamos torná-lo público, em razão do noivado, evitando assim qualquer tipo de
fofoca.
No dia em que propus tudo isso a ela, eu mencionei que se ela quisesse, firmaríamos um
contrato estabelecendo todas essas coisas que estávamos conversando, porém, quando a
questionei sobre a vontade dela em fazer isso, ela negou, disse que não havia necessidade disse,
que confiava em mim e sabia que eu lutaria para fazer a gente dar certo.
Como uma pessoa deve reagir diante de tamanha abnegação? Eu não sabia exatamente,
mas eu fiz o que queria, beijei minha noiva mais uma vez, com toda vontade que havia em mim.
— Eu amei nosso dia. Acordei ansioso, mas esperançoso e, agora com tudo resolvido
entre nós dois, me sinto mais calmo. Apesar de não querer terminar o dia por aqui, eu preciso ir
para casa e alimentar o Sheik antes que ele coma o apartamento por inteiro. Quero te convidar
para ir até lá comigo, mas não quero que pareça que estou forçando a barra, me pediu para irmos
com calma e assim faremos. — Emma apenas arqueou uma sobrancelha, me encarando com um
sorriso desafiador.
— Você está me convidando para ir com você ou está me dispensando? —Puxei sua
cintura, colando seu corpo no meu.
— Eu estou te convidando, engraçadinha. Quero que vá comigo, sem pressão. Quero te
apresentar Sheik e te mostrar o apartamento, mas se ainda não se sentir confortável para isso, te
levo em casa e deixamos isso para um outro dia. A escolha é e será sempre sua.
— Eu vou com você, então. Quero conhecer o Sheik.
Andamos de volta até o carro estacionado perto do café e, enquanto dirigia para casa, não
evitei o pensamento de que logo mais isso seria uma rotina, seguirmos para casa juntos depois de
um dia de trabalho ou um encontro ou ainda depois de levar nosso filho, ou filha, para a escola.
Um arrepio bom me percorria só de pensar nisso tudo, uma ansiedade anormal corria por
minhas veias e não consegui impedir o sorriso que brotou junto a tudo isso e, ao desviar o olhar
para ela, notei que sustentava o mesmo sorriso no rosto. Sabia, independente de palavras, que
pensava no mesmo que eu. Não disse nada, mas gostava de sentir que estávamos em sintonia, e
isso me deixava feliz para caralho.
Chegamos no meu prédio e apresentei minha noiva aos porteiros, avisando que ela tinha
autorização liberada no meu apartamento. Depois de cadastrar todas as informações dela,
seguimos em direção ao elevador, explicando como funcionava o código de acesso ao
apartamento.
— Linda, preciso te dizer. — Acabei chamando pelo apelido que saiu sem querer da
primeira vez, mas que era apenas certo ‒ Sheik é um pouco temperamental. Talvez pelo
histórico dele de ter sido maltratado no canil, ele não costuma confiar muito nas pessoas, ou pelo
menos demora a fazer isso. Os caras costumam vir aqui com frequência e ele insiste em tentar
morder as canelas deles. Eu acho graça quando é com eles, mas não vou deixar que faça com
você, vou segurá-lo caso ele ameace pular.
— Coitadinho, o trauma ainda o persegue, mas, não se preocupe, ele vai aprender a
conviver comigo e eu com ele. Vou fazê-lo se apaixonar por mim, encher ele de carinho e ele vai
esquecer o esses desalmados que o fizeram mal.
— Vão mesmo ter que aprender a conviver e a se amar, afinal, não vou abrir mão de
nenhum dos dois. — O brilho que vi no seu olhar quase me cegava.
O prédio em que morava possuía um sistema de segurança específico em que, para subir
aos apartamentos, depois de digitar o código de acesso no elevador, os halls são privativo e já
desembocavam dentro dos apartamentos.
— Preparada?
— Anda, Ben, aposto que está exagerando.
— Bom, seja bem-vinda, fique à vontade, a casa é sua, literalmente. — Ri da minha
própria piadinha sem graça e logo assobiei para Sheik, ficando a postos para segurá-lo caso fosse
necessário.
Sheik vinha da varanda do apartamento, mostrando toda sua pompa. As orelhas estavam
em pé, a pelagem inteira branca destoando dos olhos negros que estavam focados em Emma, o
que deveria me deixar em alerta, ao menos até ver que mantinha o rabo balançando. Estava
achando graça da sua atitude, sua caminhada em uma calma intimidante como se realmente
quisesse mostrar a ela que ele era o rei do apartamento, e da minha vida.
— Ei, garotão, vem cá para eu te apresentar e, por favor, finja que é um rapaz
comportado.
Ele me ignorou completamente, andando direto até Emma para cheirar seus pés e suas
pernas, levantando o rosto para ela. Emma esticou a mão, levando-a ao focinho dele, para que ele
a conhecesse.
— Oi, Sheik, como você é lindo. Imaginei que fosse um pouquinho menor, mas, não,
você é grande e imponente. — Ela disse, com uma voz tão calma de um modo que eu ainda não
tinha visto.
Sheik cheirou a mão dela mais um pouco até que abaixou o focinho, visivelmente
deixando que ela o acariciasse. Emma não perdeu tempo em fazer um carinho ali e por todo o
rosto dele, até mesmo onde ele mais gostava, bem atrás das orelhas. O safado chegou a inclinar a
cabeça para apoiar em sua mão. Ela intensificou o carinho, agora com ambas as mãos e ele
parecia derreter sob seu toque.
Emma colocou sua bolsa no chão e se sentou sobre os próprios pés para que ele se
aconchegasse a ela, e foi o que fez, se deitou ao lado dos seus joelhos, deixando que ela
continuasse mexendo com ele. E foi então que ele me surpreendeu completamente quando se
virou, deitando-se de barriga para cima, fazendo Emma rir alto.
‒ Ah, você quer carinho nessa barriguinha, seu safadinho?
Sheik amou a ideia dela, chegava a balançar uma das patas numa espécie de espasmo por
conta do carinho dela. Sem querer, me surpreendi com um gemido de choque que escapou dos
meus próprios lábios. Estava incrédulo com o que tinha acabado de presenciar. Devia ter piscado
umas mil vezes por segundo tentando fazer meu cérebro compreender que aquilo realmente
estava acontecendo.
— O que foi isso que aconteceu aqui?
— Te disse que estava exagerando, ele é um fofo. Não é, lindinho? — Ela falava com ele
novamente, até mesmo conseguiu beijá-lo.
— Estou pasmo com o que estou vendo, ele nunca fez isso para ninguém, nem para mim,
pelo menos não tão cedo. Demorei meses para fazê-lo confiar em mim, e estamos juntos há mais
de dois anos. Como fez isso em poucos minutos?
— Vai ver ele já me ama mais do que a você. — O sorriso dela era de vitória e eu não
duvido mesmo daquilo.
Emma se levantou e Sheik nos seguiu — praticamente colado nas pernas dela —para
todos os lados quando ofereci um pequeno tour pelo apartamento com ela. Por morar na
cobertura, meu apartamento era relativamente grande, amplo e confortável, padronizado em um
conceito aberto e decorado em tons de preto, branco e cinza.
Da sala, consegui mostrar a ela a ampla cozinha de armários pretos, eletrodomésticos
cromados e uma grande ilha com um tampo em granito branco. A sala possuía poucos móveis,
apenas um sofá enorme e notoriamente confortável, uma pequena mesa de centro e o destaque:
um painel com uma televisão imensa acoplada a um sistema de som extremamente potente.
— Por que será que consigo visualizar você e os outros três esparramados por aqui
enquanto gritam loucamente assistindo o Super Bowl?
— Acertou em cheio. Temos uma espécie de tradição e todos os anos desde a faculdade,
nos reunimos na minha casa para assistir à final do campeonato e, claro, torcer pelos Giants! Mas
não se preocupe, vamos levar essa tradição para outro lugar na próxima temporada. — Mal
terminei de falar e ela parou de sorrir imediatamente.
— E por que isso?
— Porque até lá você já morará aqui e não quero que se incomode ou seja perturbada por
certas coisas. — Expliquei, mas ela se manteve séria.
— Ben, primeiro de tudo, se realmente quisermos fazer a gente funcionar, isso não pode
acontecer. Eu não quero que você mude sua vida, deixe de fazer as coisas que gosta, deixe de
receber seus amigos, apenas por minha causa. Não quero ser a responsável por tornar você
infeliz ou por te afastar das pessoas. Seus gostos, suas tradições, suas amizades, tudo isso faz
parte de você. Eu quero agregar na sua vida e não esperar que você retire algo dela apenas para
que eu faça parte.
Sua voz assumiu aquele tom de seriedade que usávamos no escritório, tão diferente dos
últimos momentos que compartilhamos, e tudo que me restava era ouvi-la.
—Não vou me incomodar em receber seus amigos aqui, assim como Hannah também
virá aqui, às vezes. Eu quero somar e não diminuir. — Antes que eu pudesse falar alguma coisa,
ela continuou — E, além do mais, eu estou mesmo é sonhando em me infiltrar com vocês e
sentar aqui nesse sofá, com essa televisão enorme, me permitindo tomar uma cerveja, comendo
as melhores Hot Wings, enquanto assisto os Giants jogar e, se possível, ganhar o campeonato.
— Gosta mesmo de assistir? Acompanha as temporadas? Torce pelos Giants? —
Disparei uma pergunta atrás da outra e ela gargalhava da minha surpresa disfarçada de
empolgação.
— Feche a boca, Benjamin. Sim, eu sempre acompanhei desde pequena com meu pai, e
aprendi a gostar e sempre me interessei pelos jogos, estratégias, os jogadores… — Ela sorriu de
lado levantando uma sobrancelha e riu da minha careta— Que bobo! — Andei até ela
aproximando seu rosto do meu, seu corpo do meu como um todo.
— Quer dizer que eu arrumei a noiva perfeita? Torcedora do Giants, hipnotizadora de
cães, uma profissional genial?
— Você está me deixando sem graça e eu estou longe de ser perfeita, Ben.
— É, vou ter que concordar, não é mesmo perfeita, tem um péssimo gosto para filmes.
Como é que pode gostar de assistir filmes de freiras demoníacas? — Agora que finalmente podia
tomá-la para mim, não conseguia ficar longe. Meu corpo queria a todo tempo estar perto do dela
e, já que iríamos levar as coisas com calma e os beijos eram permitidos, eu iria abusar deles com
muita vontade.
Quando nos separamos, mostrei o restante do apartamento: um quarto de hóspede, o
quarto que se transformaria no berçário, banheiros, escritório e então a suíte principal, com o
banheiro e o closet.
Enquanto ela analisava o quarto, eu agradecia por ter feito a cama depois que levantei
essa manhã, assim não passava uma péssima impressão de ser um cara desorganizado. Ela ficou
admirada com o tamanho do closet e do quarto e se chocou com a banheira, elogiando a
decoração do apartamento como um todo e a organização, dizendo imaginar que um homem
solteiro teria um pequeno caos para chamar de casa. Não podia levar todos os créditos, tinha uma
governanta que me ajudava com as refeições e alimentava Sheik enquanto estava na empresa,
além de uma equipe de limpeza que vinha à casa a cada duas semanas para uma limpeza mais
pesada e que a governanta mantinha durante a semana.
— E eu, pelo menos, tento manter tudo o menos bagunçado possível, até ligo o aspirador
nos finais de semana e coloco as louças na máquina. É a minha contribuição. — Ela riu,
deslizando a mão pelo granito da ilha na cozinha.
— Essa cozinha é maravilhosa. Era o sonho da minha mãe ter uma cozinha como esta.
— Sorriu com saudosismo — Lá em casa era muito engraçado, ficávamos os três amontoados
um no outro enquanto cozinhávamos, um mexia a panela, o outro picava alguma coisa e o outro
se espremia para alcançar algo na geladeira. Para sair dali era uma missão complicada, quem
estivesse na beira do fogão, tinha que sair para o outro passar. — Seu sorriso desmontava um
pouco quando fiz um carinho em sua bochecha.
— Eu quero isso, Emma, que a gente construa memórias assim. Eu nunca tive isso, tenho
pouquíssimas memórias boas de infância, lá era tudo muito complicado, e infelizmente, tenho
mais memórias ruins do que boas em relação à família.
— Nós faremos isso, Ben, construiremos algo bonito.
Tomei minha noiva pelos ombros enquanto finalizamos o tour pela área de serviço, onde
finalmente, coloquei comida e água fresquinha para Sheik. E só então ele se afastou de Emma.
Claro, nada vencia um belíssimo pote de ração com seu patê favorito.
— Se não tiver gostado da casa, ou se quiser mudar alguma coisa, reformar… faremos
isso também, não quero que sinta que é um espaço meu e não nosso.
— Eu realmente gostei bastante do apartamento, confesso que a cozinha e a banheira
roubaram meu coração. Não vejo necessidade nenhuma de reformar nada, apenas o quarto do
bebê, mas, no restante, a gente só mescla nossas coisas. — Concordei, puxando-a em direção ao
sofá.
— Quer assistir alguma coisa?
— Quem sabe O Exorcista? — Ela me provocou.
— Claro, deixa eu só eu voltar para a cozinha e pegar um pote de geleia para você
devorar. — Devolvi e ela parou de sorrir.
— Você é muito sem graça. — Murmurou me fazendo gargalhar da careta dela — Põe aí
qualquer coisa.
Liguei a televisão, com ela acomodada contra mim, ao menos até Sheik surgir correndo,
pulando entre nós dois no sofá para se deitar com a cabeça nas suas coxas, esperando receber um
cafuné.
Nem mesmo ganhei minha garota por completo e já a perdi para aquele que me traiu na
minha cara e nem fazia questão de disfarçar.

Passamos o dia juntos, assistimos um filme, passeamos com Sheik um pouco para
gastar sua energia e, quando percebi que estava tarde e ela estava um tanto cansada, me ofereci
para levá-la para casa. Casa. Esperava que ela não continuasse por muito tempo olhando para o
seu apartamento dessa maneira, queria que ela se enxergasse morando comigo nesse lugar. Ou
em qualquer outro se ela preferisse. Eu moraria com ela na sua pequena caixa de fósforos, como
ela chamava, mas o mofo seria um grande dificultador para Sheik. Então, ou ficaríamos por aqui
mesmo, ou procuraríamos um outro lugar do zero, caso ela se sentisse desconfortável com essa
mudança brusca.
A questão era que eu queria poder fazer de tudo para tornar todas as mudanças o mais
tranquilas possíveis para nós dois, mas principalmente para ela.
— Tudo bem? — Questionei, já a muito mais da metade do caminho entre nossos
apartamentos, quando seus pensamentos pareceram um tanto distantes.
— Estava pensando em como vai ser com a imprensa, terem uma confirmação das
especulações dos últimos dias.
— Se isso for algo que te incomoda, me deixe saber. Não vou permitir que invadam
nossa vida, mais do que o aceitável por eu ser uma figura um tanto pública.
— Não é exatamente incômodo, é só... não sei, um tanto intimidante saber que possam
ter olhares por ali sobre mim, sem que eu saiba ou sem controle sobre o que eles pensam de mim.
— Ninguém vai falar nada de você, linda, eu não vou permitir. — Repousei minha mão
sobre sua perna e ela logo trouxe a sua também, deixando-a sobre a minha — Te garanto isso.
— Confio em você.
Ela disse com tanta facilidade, em meio a um sorriso, e isso dizia muito para mim. Eu
tinha um enorme problema em confiar nas pessoas, talvez por toda a situação com meus pais, eu
tinha um certo problema com incertezas e medo do desconhecido.
Confiar em alguém era um processo longo para mim, que envolvia muitas coisas,
coisas que já me trouxeram problemas no passado, ao sufocar demais parceiras ou até mesmo
amigos, querendo saber absolutamente tudo de suas vidas ou rotinas e desejos. Eu tinha
problema em não controlar o que estava acontecendo, tinha medo das coisas que não sabia ou
que achava que estavam escondendo de mim.
Nate já teve um grande trabalho uma vez comigo, quando achei que ele estava se
afastando de mim e me escondendo coisas sobre sua vida, até que um dia ele me colocou contra
a parede e me disse tudo isso. Se hoje eu conseguia ao menos vocalizar minhas inseguranças,
devia isso ao meu melhor amigo. Reconhecendo meus defeitos e não querendo macular minha
relação com Emma, eu tinha que me atentar a isso. Cuidar dela, me envolver em sua vida, mas
não a sufocar ou achar que ela me devesse satisfação de cada passo que daria.
As pessoas podem se amar e compartilhar suas vidas, mas ainda assim existe
privacidade, Benjamin. Nate me disse uma vez.
Não queria jamais invadir a vida de Emma dessa maneira a fazê-la acreditar que eu
desconfiasse dela ou da sua fidelidade. Era claro que falar e muito mais fácil do que realmente
praticar, mas prometi a mim mesmo que devia me esforçar.
Capítulo 17 – Emma Campbell

Tinha acabado de me arrumar para o trabalho quando Ben me ligou avisando que viria
me buscar para irmos juntos para a empresa, evitando que eu precisasse pegar o metrô. Confesso
que, apesar de saber que isso seria inevitável, estava nervosa em aparecer junto dele na
Booksbank, receosa com a forma que iriam me olhar e me tratar.
Busquei minha bolsa e celular no quarto e, no canto que uso como escritório, alguns
manuscritos que precisei trazer comigo durante a última semana. Resolvi esperá-lo na portaria,
queria ver se encontrava o Sr. T antes de Ben chegar, e pelo visto tinha algo me avisando para
fazer isso, pois assim que cheguei no térreo o encontrei sentado no chão cortando as folhas secas
de uma planta.
— Que bonito, em? O senhor, por um acaso, poderia estar aí nessa posição? Vai
machucar as costas e ficar com dor.
— Minha filha, eu estou velho, mas não inválido. Sentir dor faz parte da velhice, tudo
vai parar de doer quando morrer. — Brincou sabendo que iria brigar com ele.
— Não começa com essas conversas, o senhor ainda é muito novo para pensar nisso,
eu não quero pensar nisso. — Ficava angustiada só de pensar nessas coisas.
— Minha florzinha, vou parar de falar nisso porque sei que não gosta, mas, agora, vem
aqui e ajude esse velho a levantar. Não acabei com as folhas secas, mas…
— Mas já está com dor, eu sei. — Larguei meus pertences na poltrona que ficava por
ali para conseguir ajudá-lo a se levantar — Me dá aqui essa tesoura que eu termino isso.
— Você vai se atrasar, meu bem, seu trem sai daqui a cinco minutos.
— Não se preocupe com isso, vou de carona hoje. — Ele sorriu, mas logo parou e
suspirou — O que houve? Por que essa cara?
— Seis anos hoje, Emma. Seis anos sem minha Amelia e ainda sinto saudades dela. —
Larguei tudo para ir até ele, esmagá-lo no meu abraço — Pelo menos, com essa tristeza toda, eu
ganhei você. — Ele tentava sorrir e afagar meu cabelo.
— Sabe que eu amo o senhor, não sabe?
— Eu sei, é minha florzinha que eu amo também. — Ouvimos uma buzina do lado de
fora do prédio — Deve ser sua carona, pode ir, eu vou ficar bem, não se preocupe.
— Pode me ligar se precisar de mim, ok? — Ele balançou a cabeça concordando e me
expulsando de lá enquanto me entregava minhas coisas. Ben estava estacionado bem em frente
ao prédio, entrei no carro sendo recepcionada com um lindo sorriso e meu rosto sendo puxado
para um beijo — Bom dia, Ben.
— Bom dia, linda. — Ele realmente parecia ter gostado de me chamar dessa forma e
não seria eu a reclamar — Preciso te falar uma coisa. Pedi ajuda de Nate para escrever a nota
sobre nosso noivado para divulgarem na empresa e, com ela pronta, enviei para James, já que ele
que cuida do marketing, contei para ele e pedi que repassasse a nota para o restante das pessoas.
— Eu sabia que isso ia acontecer, mas estremeci mesmo assim. Isso tudo estava mesmo
acontecendo. — Que foi? Fiz mal? Desculpa ter feito isso sem te avisar.
— Está tudo bem, de verdade, que bom que pensou nisso antes de chegarmos lá,
juntos. Não foi por isso que fiquei assim.
— Nós conversamos sobre isso, não era esse o nosso combinado?
— Sim, eu sei, eu só… só fiquei um pouco nervosa, não sei como as pessoas vão
reagir, só não quero ser taxada de…
— Ninguém vai falar nada de você ou sobre a gente, e se alguém ousar supor ou
espalhar qualquer boato sem fundamento que afete você, sua imagem ou reputação, seja como
pessoa ou como funcionária, eu tomarei providências. — O tom dele era claro e firme, não
deixava espaço para questionamentos, ele realmente faria como prometido.
Me mantive quieta pelo restante do caminho, sem conseguir apenas deixar de lado o
nervosismo por aparecer na empresa assumindo um relacionamento com o chefe. Depois de
entrar na garagem e parar o carro, ele pôde me dar sua exclusiva atenção, tomando minha mão na
dele.
— Ei, relaxa. Eu estou contigo, ok? Não se preocupe, eu te defendo de qualquer
falácia.
Me falar isso enquanto esfregava o nariz pelo meu rosto e beijava minha boca foi uma
ótima tática, quase me esqueci dos meus receios. Saímos do carro e ele imediatamente entrelaçou
nossos dedos, me puxando para entrarmos juntos na empresa, desejando bom dia para todos que
encontramos pelo caminho. Notava os olhares espantados das pessoas olhando para nossas mãos
dadas, mas ninguém comentou nada.
— Tudo bem? — Me perguntou assim que chegamos à presidência.
— Tudo, só estou um pouco ansiosa.
— Isso vai passar rápido, basta deixar de ser novidade, as pessoas vão se acostumar a
nos ver juntos. Daqui a pouco arrumam outra coisa para fofocar e prestar atenção.
Ouvimos o elevador e James surgiu ao nosso lado, nos parabenizando pelo noivado e
contando que já havia enviado a nota para todos e ainda afirmou ter sido a melhor manobra a ser
feita, pois assim deixamos claro que era um relacionamento sério e não um simples caso.
Logo mais ele nos despedimos. James se foi, Ben foi para sua sala — não sem antes me
dar um beijo, um que ele esperava me acalmar, mas que só me deixou ainda mais atordoada —
para dar início aos compromissos do dia, inclusive, tinha duas reuniões pela parte da manhã e eu
não o acompanharia, mas assim que todos os envolvidos chegaram me parabenizaram e, aos
meus olhos, pareceram sinceros.
Estava concentrada nos meus afazeres quando Ben surgiu ao meu lado e, fugindo da
rotina cotidiana, me chamou para almoçar fora da empresa e aproveitarmos para ir ao banco
resolver o meu problema e era aqui que estávamos. Juntos. Encarando o gerente que negou
minha contraproposta, assistindo Ben assinar o cheque para quitar não só as parcelas em atraso,
mas todas as parcelas restantes do meu financiamento. Havia um nó na minha garganta se
formando enquanto observava tudo ser acertado e meu financiamento deixando de existir.
Eu podia finalmente me sentir livre.
Esse capítulo da minha vida se encerrou.
Assim que chegamos de volta ao carro, prendi meu noivo em um abraço com toda
força que havia em mim, enterrando meu rosto em seu pescoço. Percebi seu sobressalto e a
demora para reagir, mas quando colocou os braços ao meu redor, todas as lágrimas que estava
segurando se soltaram.
Meu peito chacoalhava e sabia que estava molhando toda sua camisa, mas não
conseguia segurar. Nada me preparou para o alívio que tomaria conta de mim quando estivesse
livre de vez daquelas parcelas que atormentavam há tanto tempo.
— Ei, o que houve? — Ben me perguntou enquanto passava as mãos pelas minhas
costas em um carinho reconfortante, ainda me prendendo em seus braços — Está tudo bem?
— Eu só estou aliviada. Nunca me permitiria admitir isso, Ben, mas nunca foi fácil
para mim. Eu trabalho há anos, praticamente e exclusivamente para pagar dívida, fossem as dos
meus pais que ficaram para trás ou a minha dívida com a faculdade ou aluguel. Eu não faço nada
da minha vida, nunca fiz, não aproveitei minha adolescência ou até mesmo os anos de faculdade
como qualquer outra pessoa. Eu tinha que escolher entre não me enfiar em mais dívidas ou curtir
a vida. Eu…
Parei por um momento para respirar fundo e agora que tinha começado a falar, não
consegui fechar a boca, falando tudo que eu escondi para mim por tanto tempo. Tudo estaria às
claras para ele, coisas que eu escondi até mesmo da minha melhor amiga.
— Eu não gosto de me vitimizar, mas eu já cheguei a diminuir a quantidade de comida
que comprava para casa, já deixei de comer alguns dias, para sobrar dinheiro para pagar alguma
despesa extra que surgia.
— Emma…
— Chorei de felicidade no banheiro da empresa quando você aprovou que as refeições
dos funcionários no refeitório fossem de responsabilidade da editora, muitas vezes aquele
almoço era tudo que comia no dia e... — Balancei a cabeça afastando as lembranças — Eu não
vivia, Ben, eu apenas sobrevivia, e tem uma grande diferença entre as duas coisas. Desculpe o
choro, eu só estou aliviada. Obrigada por de uma forma ou de outra me ajudar com isso, não sabe
o peso que tirou das minhas costas assinando aquele cheque.
Sei que ficou comovido com o meu desabafo súbito, senti seus braços me apertarem
mais forte enquanto permanecia com o carinho nas minhas costas e no meu cabelo. Ele ainda
ficou ali por mais um tempinho, mas cedo demais na minha concepção ele desfez o abraço,
usando os polegares para limpar as minhas lágrimas.
— Olhe para mim, minha linda. — Ele segurava meu rosto com carinho — Isso tudo
acabou. Eu te prometo, com tudo que há em mim, que você nunca mais vai passar por isso,
precisar deixar de comer para fazer qualquer outra coisa, nunca mais, está me ouvindo? Eu
queria ter liberado o seu acesso às contas, queria liberar antes de resolver isso, para que pudesse
ser você mesma a quitar essa dívida. Imagino o quanto deve ter esperado por esse momento, mas
por burocracias do banco, íamos estourar o prazo, então eu…
— Eu não me importo com isso, de verdade. Se fossem em outras circunstâncias, eu já
estaria pensando em um jeito de te devolver a quantia, mas no nosso acordo atual, eu só… —
Senti meus olhos marejarem novamente — Eu só estou me sentindo livre, sabe? Livre de uma
maneira que nunca me senti antes, pelo menos não depois que deixei de ser criança.
— Eu te entendo, mas olhe bem para mim e escute muito bem o que vou te dizer.
Nunca mais vai ser assim. Pense nisso como um recomeço, as coisas serão diferentes daqui para
frente. Você disse que não vivia, pois de agora em diante você vai viver, vai fazer o que tiver
vontade, comprar o que quiser, comer, viajar, não sei, fazer o que você quiser fazer. Eu faço
questão de que seja assim. Nada mais dessa agonia em relação à dinheiro, ok? Pronta para curtir
esse gostinho de liberdade? — Ele brincou amenizando o clima.
Eu só podia concordar em meio a um sorriso. Isso era tudo que mais queria, viver sem
precisar pensar cinco passos a diante. Algumas últimas lágrimas escorriam pelo meu rosto e ele
continuava na sua função de limpá-las com os polegares.
— Agora pare de chorar, por favor, que eu fico agoniado.
Acabei rindo da cara de desespero dele. Apoiei minha mão em seu rosto como ele
sempre fazia comigo, com o polegar na bochecha e a minha palma roçando na sua barba. Fiz um
carinho leve ali, antes de me esticar e puxar seu rosto para mim e beijá-lo com vontade.
Agarrei o rosto dele puxando-o para mais perto, resvalando meus lábios nos dele e,
assim que ele entreabriu a boca, tomei o controle da situação passando minha língua pela dele
antes de morder devagar e suavemente o seu lábio inferior antes de beijá-lo novamente.
Estranhei quando ele permitiu que eu me afastasse sem lutar por mais, mas compreendi
suas intenções assim que olhei para ele me encarando com um sorriso safado, de canto de boca.
Era a vez dele. Benjamin enfiou a mão pela lateral do meu rosto, agarrando parte do meu cabelo,
me puxando de volta para si em um beijo ainda mais intenso, porém curto.
Mantive minha mão em sua barba, distribuindo um beijinho no canto de sua boca,
depois um outro na bochecha e então um terceiro beijo perto da orelha dele, bem naquele ponto
de encontro entre o maxilar, a orelha e o início do pescoço.
— Emma, se você ainda pretende levar isso aqui com calma, é melhor parar com isso,
antes que eu não aguente.
— Tudo bem, parei. — Me afastei, sentindo minhas bochechas queimarem. De
vergonha, de tesão, de uma mistura das duas coisas.
A incerteza no meu tom de voz assustou até a mim mesma e sabia que ele também
havia notado. Já nem sabia mais se queria ir tão devagar assim e, pela expressão que ele fazia,
sabia que pensava o mesmo, e a julgar pelas tentativas falhas de acertar a calça, sem que eu
percebesse, disfarçando o volume que se formou, sabia que estava reclamando mentalmente
dessa minha ideia ridícula de levar as coisas com calma. E eu precisava admitir que não estava
longe disso também. Me sentar direito naquele banco estando excitada não era lá tão confortável.

O restante do dia passa como um borrão, como em todos os dias em que a agenda do
CEO estava cheia. Não precisei acompanhar Ben nas reuniões do dia e, por ter permanecido em
minha mesa, a cada vez que ia ao banheiro ou até a copa, acabava encontrando alguém.
Estremeci todas as vezes, mas as pessoas apenas me parabenizavam, desejavam coisas boas e
elogiavam o anel de noivado.
Ao contrário do que imaginei, percebi que as pessoas, apesar de surpresas, foram
educadas e pareciam tranquilas quanto a isso. Isso sem contar que algumas delas, para não dizer
a grande maioria, ainda fizeram questão de me dizer que demoramos muito a nos assumirmos.
Disseram que era mais do que apenas suspeita de todos, éramos uma certeza para todos, apenas
extremamente discretos.
Quando no fim do expediente, Ben me chamou para irmos embora dizendo que iria me
levar em casa. Aproveitei o caminho para contar para ele sobre meu alívio em ter percebido a
boa reação das pessoas diante nosso noivado.
— Entre uma felicitação e outra, acredita que algumas pessoas me disseram que
demoramos a nos assumir? Porque achavam que estávamos juntos muito antes. Não suspeitavam
que tínhamos um caso, pensavam mais como um casamento às escondidas.
Ele riu do meu espanto enquanto continuava narrando que precisei me controlar para
me defender e dizer que as coisas não eram muito bem assim, mas para o bem da mentirinha que
estávamos contando, era perfeito que todos encarassem com o máximo de naturalidade possível.
Envolvida nas minhas histórias, nem mesmo percebi que já estávamos parados em
frente ao prédio pelo que parecia alguns bons minutos. E eu não queria me despedir dele, não
agora. Mal pudemos conversar fora de assuntos profissionais, queria mais dele.
— Quer subir e jantar comigo? Vou pedir comida, não se anime, estou com preguiça de
cozinhar hoje.
— Eu adoraria. — Esperei que estacionasse o carro e então subimos discutindo sobre o
que seria o delivery da vez. Uma pizza rápida foi nosso consenso, metade de calabresa, a favorita
dele, e meia marguerita, a minha favorita. — Pedido feito, em mais ou menos vinte minutos
estará aqui.
— Bom, diferente do seu, aqui você entra com um pé e sai com o outro. — Dizia a ele
quando abri a porta do meu apartamento — Sei que é pequenininho, mas me serviu por todo esse
tempo.
Morava em um apartamento de um quarto só, minúsculo se comparado ao dele, mas
suficiente para mim, e o principal, o mais dentro do meu orçamento possível. A cozinha era
consideravelmente menor que a dele, a sala também, mas ao menos tinha orgulho da
impecabilidade e organização. Não era porque era simples que precisava ser bagunçado.
Ben ria das minhas almofadas milimetricamente alinhadas no sofá e tomou tempo
olhando a decoração clean, em tons claros com toques sutis de azul. Notei que ele parou na
frente da minha estante e observava os porta-retratos que mantenho ali.
— Você é a cara da sua mãe. — Comentou sorrindo segurando uma das fotos nas mãos
— Olha, uma Emma banguela, que lindinha. — Riu mais alto analisando uma foto em que eu
devia ter entre cinco ou seis anos e meu pai me segurava pelos tornozelos, de cabeça para baixo,
e eu gargalhava deixando aparecer minha gengiva recém desdentada.
Ele percebeu que a minha mente foi longe e não perdeu em me abraçar, deixando um
beijo em minha têmpora. Conduzi ele pelo apartamento, mostrando meu quarto, o único banheiro
e, também, a parte da sala em que transformei em uma espécie de escritório.
— Sabe, apesar de eu ser apenas uma simples secretária, tenho um chefe exigente um
tanto workaholic que vive me enchendo de trabalho nos finais de semana e então sou obrigada a
ter um escritório em casa e um espaço para guardar os livros revisados que ele me pede opinião
como uma cliente. — Suspirei em um cansaço fingido, colocando o braço sobre os olhos em um
gesto dramático — É bem cansativo. — Ele levantou as sobrancelhas, rindo da minha atuação
ridícula.
— Coitadinha, que vida triste dessa trabalhadora incompreendida. Se quiser, posso ter
uma conversinha com esse babaca para exigir que ele trate minha noiva melhor. — Ele entrou
no meu joguinho idiota, acabou me fazendo corar e ria disso, todas as vezes que isso acontecia.
— Sabe o que é, talvez isso não seja necessário. — Passei meus braços pelo seu
pescoço — Ele andou abrindo os olhos e me promoveu há alguns dias. Amanhã, inclusive, eu
tenho que ir ao setor de recursos humanos da empresa para acertar meu aumento. — Abri um
sorriso para ele, enquanto ele apenas balançava a cabeça rindo da minha bobeira.
Não demorou muito para aqueles sorrisos se transformarem em beijos outra vez. Minha
boca estava na dele, suas mãos me puxando pela cintura de forma que praticamente fundiu meu
corpo ao seu enquanto sua língua me explorava longamente e eu retribuía, puxando seu corpo
pela gola da camisa para ainda mais perto.
Qualquer espaço entre nós dois não existia mais.
Uma das mãos dele desceu para minha lombar, por alguns segundos apenas antes de
escorregar um pouco mais, apenas o suficiente para agarrar minha bunda pela primeira vez. Um
som gutural, rouco e profundo, eclodiu pelo ambiente arrancando um gemido meu em resposta.
Nossos quadris se chocavam e, minha nossa, como era bom estar nas mãos dele dessa
maneira, principalmente quando aquela pequena esfregação um tanto inocente me permitiu sentir
o quanto ele estava excitado.
Abençoado fosse aquele que deu o empurrão necessário para que ele se tornasse meu.
Quando desci as mãos do seu pescoço para sua cintura, Ben girou nossos corpos, dando
uns passos até me prensar na parede e descer sua mão um pouco mais, alcançando a minha coxa.
Tive vontade de rir quando ele pareceu esperar para ver se iria retrair com seu toque. Claro que
não, eu queria mesmo que avançasse ainda mais, e deixei claro ao morder o seu lábio,
demonstrando que queria tanto quanto ele.
Experimentei a mão dele na minha pele quando começou a subir o tecido do meu
vestido. Era curioso sentir seu toque pela primeira vez, suas mãos se revezando entre tocar meu
rosto e explorar a perna, enquanto sua boca se ocupava em beijar meu pescoço, mordiscar o
lóbulo da minha orelha, arrancando mais um gemido.
Quando seu rosto escorregou para meu pescoço numa mistura perfeita entre beijá-lo e
aspirar meu perfume, eu revidei. Era minha vez de senti-lo. Apoiei minhas mãos no pé da sua
barriga, sentindo os relevos dos músculos escondidos pela camisa social. Apertei bem fazendo-o
estremecer como fazia comigo.
Sua mão alcançou a parte de trás da minha coxa esquerda, subindo até estar a dois
dedos da minha bunda. A boca mordia mais intensamente meu pescoço alcançando o limite
perfeito entre prazer e dor, aliviando a sensação com uma lambida e um beijo onde sabia que
marcou minha pele.
Quando ameaçou continuar subindo sua mão um pouco mais, ouvimos o interfone
tocar. Que inferno. Ben soltou suas mãos ao lado do corpo, apoiando a testa no meu ombro
enquanto rosnava, realmente rosnava, frustrado por termos sido interrompidos. Recuperei meu
fôlego, na medida do possível, e me afastei um pouco dele ao ouvir o interfone tocar novamente.
— Eu… eu vou lá… lá receber a… a pizza, enquanto você... se recompõe. —
Gaguejei, fazendo um gesto apontando para a mais do que evidente ereção e ele ria da minha
falta de jeito e vergonha.
Era até ridículo eu ficar com vergonha, como se não estivéssemos nos atracando um
minuto atrás. Andei em direção a porta para receber o entregador, ainda escutando Ben
resmungar “maldita pizza”, enquanto se dirigia ao banheiro.
Quando ele finalmente saiu do banheiro, me encontrou arrumando a pizza e as bebidas
na mesinha de centro. Posicionei algumas almofadas no chão para nos sentarmos e liguei a
televisão no episódio da série que estamos revendo.
— Pensei em comermos por aqui mesmo enquanto assistimos a série, pode ser? Ou
prefere se sentar à mesa?
— Está ótimo aí mesmo. — Excelente. Bati na almofada ao lado da minha.
— Então vem, o cheiro está maravilhoso. — Corroborando com minha afirmação meu
estômago decidiu marcar presença com um ronco alto. Assistia ele retirar o paletó, a gravata e
sapatos antes de se sentar ao meu lado no chão.
— Mais confortável agora? — Sorri perguntando já com uma fatia nas mãos e dando
uma mordida.
— Sim.
— Que foi? Você costuma comer no prato ou com talher? Posso pegar pra você, se
quiser. — Ele negou sorrindo.
— Não, só não imaginei que você fosse dessas pessoas que comem assim.
— Esse é o jeito certo de se comer pizza e, além de tudo, sem louça para lavar.
— Não imaginei que fosse assim, sem frescuras.
— Ben, se tem uma coisa que não sou, é fresca. Sou bem simples com meus gostos e
preferências, não ligo para marcas, coisas caras, joias e essas coisas. — Apontei ao nosso redor
— Isso aqui, coisas simples como comer com a mão, sentada no chão, dividindo uma lata de
refrigerante, está ótimo para mim. Não significa que eu não aprecie outras coisas mais refinadas,
mas não é algo que eu faça questão, entende?
— Completamente. Eu gosto disso em você, dessa autenticidade, não faz algo de caso
pensado para agradar os outros. Eu sou assim também, não ligo muito para a opinião dos outros
sobre mim, faço o que quero e que tenho vontade, sem agir pensando em agradar e sei que, às
vezes, isso soa como arrogância, soberba ou egoísmo, não sei.
— Não acho que seja egoísta agir e pensar em você em primeiro lugar. Egoísta seria se
você pensasse apenas em você e existe uma diferença entre as duas coisas. Eu convivo com você
há anos e posso te afirmar que você não é egoísta ou soberbo, muito menos arrogante, nunca o vi
levantar a voz para alguém.
— É bom saber que pensa assim.
— Por trabalhar diretamente com você, eu acabo convivendo com diversos outros
empresários e executivos e é completamente visível a diferença entre você e a maioria deles.
Eles, sim, em sua maioria, são arrogantes, grossos e egocêntricos.
— Alguém em específico já fez ou falou algo com você? E não questiono isso como
noivo, e sim como chefe, se aconteceu algo, se qualquer pessoa te desrespeitou, você deveria…
— Se acalme, homem. — Cutuquei sua bochecha — Nunca aconteceu nada comigo,
mas não é necessário que algo acontecesse para eu perceber a personalidade, altivez e presunção
deles.
Continuamos conversando enquanto comemos e, quando satisfeitos, ele me ajudou a
retirar as coisas da mesa e levar para a cozinha, organizar as coisas e então retornar à sala. Ben se
sentou no sofá me puxando para me sentar ao seu lado, na verdade, mais do que isso. Ele me
acomodou em si, me abraçando na altura da cintura, acomodando a lateral do meu corpo ao dele.
Encaixe perfeito.
Me deu um beijinho rápido quando deitei minha cabeça no seu peito. Sorri
disfarçadamente quando senti sua mão subir para meus cabelos e manterem um carinho
constante e relaxante ali. Devo ter cochilado, pois não me recordava do episódio, apenas senti
um beijo na minha testa, me fazendo resmungar e esfregar o nariz em sua camisa, coçar os olhos
com o punho, como uma criança com sono.
— Isso é fofo, sabia?
— Acabei cochilando, não foi? Me desculpa.
— Não tem problema, começamos desse episódio outro dia. — Me prometeu e
enquanto eu bocejava e tentava, em uma tentativa falha, cobrir com a mão.
— Me desculpa.
— Não se preocupe, já está na minha hora. Também estou cansado e amanhã temos um
dia longo na empresa. — Ele fez uma careta, voltando a calçar os sapatos.
— Na verdade, a semana toda está caótica.
— Nossa, que notícia animadora. — Ele sorriu ironicamente.
— Te pego aqui amanhã no mesmo horário, ok?
— Não precisa, Ben, eu posso ir de metrô, fica fora de mão você vir até aqui.
— Por que eu deixaria você ir de metrô, tendo que acordar mais cedo e ir espremida
por um monte de gente, se eu posso sair dez minutos antes do meu horário para te buscar? Além
do mais, gosto desses minutos a mais só nós dois.
— Ok, então.
— Só isso? Simples assim te convencer? — Ele me fez da sua expressão desacreditada.
— Eu sou educada, mas não sou burra. Se você insiste na mordomia, não serei eu a
recusar. — Ele gargalhou alto, jogando a cabeça para trás antes de se acalmar e me dar um
beijo.
— Boa noite, minha linda. Até amanhã.
— Boa noite, vai devagar, ok?
Acenei até as portas do elevador se fecharem, sorrindo quando me jogou um beijo.
É Benjamin, não iria mesmo ser nada difícil de me apaixonar por você.
Capítulo 18 – Emma Campbell

O mês passou em um piscar de olhos e era seguro dizer que minha relação com
Benjamin evoluiu muito bem, dia após dia, apesar de ainda não termos avançado na parte física
da coisa.
Sei que ele dobrou a quantidade de vezes que saía para correr com Sheik, assim como eu
mantive uma rotina fiel de exercícios, mesmo que fosse algo improvisado dentro de casa, apenas
para gastar a energia acumulada.
Isso porque aquelas mesmas carícias se repetiram algumas vezes nesse período, mas não
passamos daquilo. Não ainda. Nosso mês foi marcado por muitas caronas, por muitos beijos,
conversas e mais alguns jantares, variando entre a minha casa e a dele, o que acabava nos
tornando cada vez mais próximos e íntimos um do outro.
Todos os dias ele passava para me buscar para irmos juntos à empresa e era um dos meus
momentos prediletos. Ouvi-lo cantar, bem mal diga-se de passagem, enquanto eu ria da cara
dele, conversar sobre o bebê e sobre nosso dia, era uma rotina que gostei de estabelecer com ele.
Ele passou a questionar Courtney sobre as vitaminas sempre comigo por perto para que
eu soubesse as respostas dela, por mais que ele pudesse apenas me contar e eu acreditaria nele. A
consulta mensal precisou ser adiada para a próxima semana, pois a doutora Natalie precisou
viajar de última hora para resolver um imprevisto pessoal e então as agendas se desencontraram.
Estava mais do que ansiosa para essa consulta, queria ver o meu bebê com meus próprios
olhos, me sentir mais próxima dele, ouvir seu coração bater, mas ainda não sabia como iria ser
lidar com Courtney. Ben me disse para eu não me importar com isso, pois ela não tinha nada a
ver com nossa vida, mas como? Era ela quem carregava no ventre o bebê que eu chamava de
meu. Eu não podia simplesmente ignorá-la.
Eu amava a rotina que estabelecemos, e naquele dia em específico, sabia que iria amá-la
ainda mais, precisava de Ben mais do que ele pudesse compreender. Essa sensação incômoda
que estava me perturbando desde a noite anterior estava me deixando angustiada. Não sabia do
que se tratava, não sabia de onde ela tinha surgido, mas tinha algo me cutucando e me deixando
inquieta, uma ansiedade forte que se transformava em angústia e me apertava o peito.
Precisava dele, da sua presença para calar todo o resto. Ouvir a buzina costumeira me
acalmou um pouco, ele estava logo ali, com seus carinhos e com seu beijo perfeito assim que me
sentei ao seu lado.
— Bom dia, linda.
— Bom dia, Ben. Já falou com Courtney hoje? Como está o bebê?
— Posso dizer que eu adoro isso? Que seu primeiro pensamento seja no bebê? Mexe
comigo de uma forma que não sei te explicar. — Acabei paralisando no lugar, não estava
preparada para essa declaração, e justo hoje quando mais precisava senti-lo.
— Ver você se emocionar com qualquer notícia sobre o bebê, também mexe comigo.
Vocês são a primeira coisa que penso quando acordo e a última quando vou dormir, estão me
dominando por completo.
E era verdade, não negava nada do que disse. Ben e o bebê eram meu primeiro
pensamento ao abrir os olhos e a imagem que levava comigo quando encostava a cabeça no
travesseiro ao final de cada dia.
Ele me olhou comovido por um momento. Aparentemente o peguei de surpresa também
com a minha declaração, a intensidade que ele sustentava no olhar eu ainda não tinha sentido,
mas ela agitava tudo em mim.
Sua mão veio ao pescoço ao me puxar sem qualquer delicadeza para um beijo
curiosamente mais carinhoso do que os últimos. Quando me afastei, quase sem fôlego, ainda me
deu alguns beijos pelo rosto, me fazendo esquecer aquela sensação horrorosa por um tempinho.
— Temos mais uma reunião sobre o aplicativo hoje, não é? — Ele resolveu confirmar
em meio a um bocejo, assim que colocou o carro em movimento. Com nossa nova rotina, muitas
vezes acabamos aproveitando os minutos no carro para acertar sua agenda e conversar sobre os
compromissos do dia.
— Sim, William disse que vão começar a realmente implantar a ideia e, também, ir atrás
de programadores.
Não escondi minha euforia com isso. Na semana seguinte ao anúncio do nosso noivado,
Ben convocou uma reunião para eu pudesse apresentar as minhas ideias para solucionar os
problemas levantados em reunião anterior e, tanto William como James, que insistiram para que
eu parasse de chamá-los pelo sobrenome, se animaram com o que eu apresentei, além de
elogiarem minha competência e minha astúcia, me deixando extremamente realizada e fazendo
Ben sorrir orgulhoso de mim.
Logo em seguida, começamos a colocar as ideias em prática e isso gerou muito trabalho
para todos mas principalmente para Benjamin, que estava sob pressão constante para cumprir
determinados prazos.
— Não dormiu direito outra vez? — Perguntei ao vê-lo bocejando pela milésima vez.
— Fui dormir tarde tentando terminar um prazo, mas não descansei direito. Esse excesso
de trabalho está acabando comigo, felizmente as coisas estão se ajeitando e logo voltaremos ao
ritmo normal.
Me estiquei um pouquinho para deixar um beijo no seu rosto, em um gesto que esperava
ser reconfortante, apenas um carinho para ele enquanto dirigia. Sabia que estava se esforçando à
beira da exaustão nos últimos dias e se eu podia ser um ponto de alívio para ele, era isso que
queria ser.
Só eu sabia como eu sentia falta de ter alguém assim para mim e se podia ser isso para
ele, faria com o maior prazer, porque o que disse a ele era mesmo verdade. Pensar nele e no
bebê, conviver com ele, conhecê-lo mais profundamente, nosso envolvimento… tudo isso me fez
perceber o quanto vê-lo bem me fazia bem também.
E se queria ser refúgio para ele, queria que ele fosse para mim também. Ben poderia não
saber disso ainda, ou ao menos não ter noção disso, mas era exatamente isso que ele vinha sendo
para mim. Especialmente hoje, precisava um pouquinho dessa sensação vinda dele.
Olhei para fora da janela por um momento quando senti a angústia me tomar outra vez,
exatamente o motivo pelo qual precisava dele. Respirei fundo tentando controlar minha
respiração para que ele não percebesse minha alteração. Não queria explicar que desde a noite
anterior, quando me despedi dele na empresa para que ele pudesse ir de uma vez para casa
descansar e não precisar me trazer até a minha, esse aperto estranho cresceu no meu peito, não
sabia dizer o que era e muito menos o porquê.
Era uma sensação esquisita, como um mal pressentimento. Tentei meditar, tomar um
banho de banheira relaxante, ler um livro por puro prazer e ver um filme já conhecido para ver se
isso passava, e nada. Hoje, acordei em um só pulo, assustada com algo que sonhei mas que não
consigo me recordar.
Essa angústia ia e vinha, do nada e sem motivos.
— Está tudo bem? — Merda, ele percebeu.
— Sim. — Sorri para disfarçar, não muito bem.
— Mentirosa, sei que está falando isso só pra eu não perguntar novamente. O que houve?
— Não é nada demais, eu acho. — Ele levantou uma sobrancelha esperando que me
explicasse — Só estou com um mal pressentimento esquisito desde ontem e não sei o porquê. —
Ele soltou uma das mãos do volante para agarrar a minha.
— Aconteceu algo estranho para você se sentir assim?
— Não, nada estranho. É só uma sensação esquisita, daqui a pouco passa.
Tentei me animar, ainda que inutilmente e aquela sensação de conforto que eu queria
vinda dele, veio, tão delicadamente que me fez sorrir, com a maneira como ele seguiu caminho
segurando minha mão, apoiada em sua coxa.
— Vai passar, linda, não se preocupe. — Ele sorriu para mim e mesmo que eu não
acreditasse, sorri de volta para ele. Ao menos eu tinha Ben.

Que dia interminável! Nunca resolvi tantos problemas em tão pouco espaço de tempo.
Assim que chegamos na empresa, tivemos uma reunião sobre o aplicativo. Depois, me retirei da
sala para voltar aos meus compromissos enquanto Ben ficou por lá resolvendo outras questões.
Desde que saiu dessa outra reunião, antes do seu horário de almoço, ele não saiu de sua
sala, inclusive, acho que não comeu nada o dia todo. Estava com pena dele que estava
visivelmente exausto, lidando com tanta pressão. Eu estava me desdobrando para ajudá-lo,
tentando compensar sua presença em coisas onde fosse dispensável, porém existiam coisas que
apenas ele como presidente da empresa podia resolver.
Estava atarefada até o pescoço, com mil coisas para resolver. Parece que foi apenas
surgir a notícia da minha promoção para que o volume de trabalho triplicasse, tanto que almocei
enquanto trabalhava para tentar adiantar o que eu podia e então tentar ajudar meu noivo.
E foi o que eu fiz. Com as minhas coisas finalizadas, fui atrás dos compromissos de
Ben e, por mais incrível que pudesse parecer, consegui finalizar muitas coisas, até que me
deparei com algo que Ben não deve ter visto, porque se tivesse, ele já teria resolvido, tamanho
era o problema que precisou que eu me deslocasse até a gráfica para consertar um erro na
impressão dos exemplares de um dos lançamentos do mês, o mais esperado deles.
Se não tivesse me dado conta disso, o prejuízo seria gigantesco. E resolver isso me
tomou mais tempo do que eu pensava. Voltei para empresa agora com boa parte dos
compromissos urgentes finalizados, o que me permitia dedicar um tempo para checar no meu
noivo e ao menos levar algo para que ele pudesse comer.
Busquei dois cafés grandes e dois sanduíches naturais reforçados na lanchonete e segui
meu caminho. Pretendia comer com ele, mas a depender da sua fome, poderia deixar ambos para
ele, eu só não podia deixá-lo morrer de estafa ou de fome. Sabia que ele não tinha mais nenhuma
reunião, então estava sozinho em sua sala desde que se trancou lá dentro, portanto, como nunca
fiz antes, entrei ali sem bater.
E ainda bem que fiz isso. Nada me preparou para a cena que encontrei. Um Benjamin
completamente desmaiado em sua mesa. Sentado em sua cadeira, com o rosto deitado nos braços
cruzados sobre a mesa. Quando me aproximei, vi que ele de fato dormia, estava até com a boca
entreaberta e roncando baixinho.
Deixei o lanche em uma das mesinhas laterais e me agachei ao seu lado, tocando sua
bochecha com carinho, bem de leve. Acariciei sua têmpora, resvalando meus dedos em seu
cabelo, fazendo um cafuné para começar a despertá-lo.
— Ben?
Me levantei rapidinho para deixar um beijo em sua bochecha, ouvindo um resmungo
baixo e incompreensível quando ele começava a despertar. Com o carinho nos seus cabelos, ele
abriu os olhos um pouquinho.
— Acorda, lindo. Você precisa comer alguma coisa, está há muito tempo de estômago
vazio. Trouxe sanduíches para você. Vem comer, vem. — Ele abriu os olhos de vez, esfregando
o rosto no braço antes de recostar na cadeira da maneira correta e coçar os olhos.
— Que horas são?
— Quase final de expediente. Estava cheia de coisas para fazer hoje e só consegui
parar agora. Sei que você não almoçou, então busquei um sanduíche e um café para você.
Quando entrei aqui, te encontrei dormindo, estava até roncando um pouco.
— Que mentira, eu não ronco. Tudo não passou de uma impressão sua. — Era uma
graça quando ficava indignado dessa forma.
— Se você diz…
Ele sorriu e, ao se levantar, se espreguiçou fazendo seu corpo inteiro estalar e
provocando arrepios em mim por conta disso. Idiota, sabia bem que isso me dava agonia. Sabia
tão bem disso que ria da minha careta antes de ir ao banheiro lavar o rosto.
— Come, Ben. — Estendi o sanduíche e o café para ele — Vai acabar passando mal
ficando de jejum esse tempo todo.
— Quer um pedaço?
— Não, obrigada.
— Você almoçou?
— Sim, comi já há algum tempo.
‒ Então, vem cá, come um desses comigo, já deu a hora de comer novamente. — Ben
devorou a comida, ao menos quando estava bocejando, coisa que ele fez mais vezes do que eu
pudesse contar.
— Ben, você está caindo de sono. Não é melhor dar o dia por encerrado e ir para casa
dormir? Você não vai produzir nada de qualquer forma estando tão cansado assim.
— Vou fazer isso mesmo, estou exausto. — Realmente estava com vontade de ir
embora, mal acolheu o meu conselho e logo começou a recolher os seus pertences — Vamos?
— Não, lindo, você vai. Eu ainda tenho coisas a fazer e um horário para cumprir e,
não… — Levantei um dedo quando percebi que iria falar algo — Não adianta falar que você é o
chefe e está me liberando. Tenho prazos a cumprir e algumas coisas para organizar. Vai para
casa e descansa, quando der meu horário eu vou também e nos vemos amanhã.
— Tem certeza?
Diante da minha concordância, ele não insistiu, sabia que não iria adiantar nada, apenas
me deu um beijo rápido enquanto me arrastava com ele até o elevador, tateando todos os bolsos
atrás de alguma coisa, até tirar a chave do carro do bolso e me entregar.
— Fica com o carro, eu vou de táxi para casa. Estou realmente cansado e não quero
arriscar dormir no volante. — Foi só o que bastou para o arrepio voltar a me percorrer e dominar
minhas feições.
— Não brinca com isso, Ben.
— Merda, não devia ter falado nada disso, você vai ficar associando com aquele mal
pressentimento.
— Me dá aqui essa chave. — Tomei da mão dele de uma vez — Amanhã eu que te
darei uma carona, gatinho, passo para te pegar em casa naquele mesmo horário. — Sorri
levemente maliciosa e ele retribuiu o olhar captando meus pensamentos.
— Agora eu não sei mais se quero ir para casa.
— Vai embora logo— Subi na ponta dos pés para lhe dar um último beijo — Me avise
quando chegar em casa só para eu me tranquilizar em saber que chegou bem?
— Quer que eu fique aqui? Não quero que se sinta agoniada por algo que não vai
acontecer. — Apesar de querer isso, eu sabia que ele precisava descansar direito.
— Não, vai para casa, só não esquece de me avisar, por favor. — Implorei.
— Não vou esquecer, não se preocupe. Qualquer coisa me liga, ok? — Concordei com
a cabeça antes dele me dar outro beijo e ir embora.
Odiava, com todas as minhas forças, esses pressentimentos. Todas as vezes em que
senti isso, coisas ruins aconteceram. Uma batida de carro com meu pai dormindo ao volante, um
desmaio no ensino médio por cansaço mental e no dia de ambas as mortes dos meus pais. Não
queria, de maneira alguma, ficar associando essa sensação horrível a Ben, não podia deixar que
nada acontecesse a ele.
Constatar o quanto me doía só de pensar em algo assim, me fez notar que estava muito
mais envolvida em nossa relação do que imaginava estar em tão pouco tempo juntos. Não
conseguia mais conceber meus dias e minha rotina sem ele por perto, ele e o bebê realmente
dominam meus pensamentos o dia inteiro, a cada coisa que penso ou faço. Por hora, iria voltar
aos meus afazeres enquanto esperava ele me avisar que chegou em casa.
Enquanto esperava, retornei para minha mesa e organizei a agenda do dia seguinte,
finalizei prazos para entrega, esquematizei a pauta da reunião semanal de Ben com as chefias de
cada setor da editora, e de minutos em minutos olhava de relance para o celular, esperando uma
ligação ou uma mensagem dele. E nada. Começava a realmente me preocupar com a demora dele
em avisar que chegou bem, afinal de contas o apartamento dele não estava nem a dez minutos
daqui.
Quando pensei em ligar para ele, o elevador anunciou a chegada de alguém e ali estava
Courtney, resmungando algo que parecia ser uma sucessão interminável de xingamentos.
— Boa tarde, no que posso ajudar? — Questionei com educação e ela riu com desdém.
— Você não pode me ajudar em nada, querida, apenas quero saber do seu chefe.
Preciso falar urgentemente com aquele idiota e ele não atende a porcaria do telefone, depois
acontece algo e ele vai jogar a culpa em mim. — Senti meu sangue gelar quando diante da última
frase. Será que aconteceu algo com o bebê?
— O Ben… O senhor McKnight encerrou o expediente mais cedo hoje, posso anotar
algum recado? — Tentei me corrigir, mas sei que ela notou meu ato falho.
— Ben? O seu chefe deixa uma mísera empregadinha chamá-lo assim? Ou isso daqui
se trata daqueles clássicos casos em que a funcionária é perdidamente apaixonada pelo chefe,
porém mantém isso em segredo para não ser descoberta ou, pior, fantasiando que será
correspondida? — Ela gargalhava com vontade, me deixando incomodada com suas palavras.

Pedi licença para ir até à sala dele, quem sabe ele não havia deixado o celular por ali. E
realmente o encontrei, jogado embaixo de alguns papéis. Juntei os documentos rapidamente e
resgatei o celular.
— Quem em pleno século XXI esquece a porcaria do celular? Assim que conseguir
entrar em contato com seu crush, mande que ele me ligue. Se lembre de que é apenas uma mísera
secretária e faça seu trabalho direito. — Ela desdenhou novamente quando expliquei a atual
situação. — É assunto do interesse dele, mais dele do que meu inclusive.
Minha preocupação àquela altura alcançava níveis absurdos, preocupada com a
insinuação nos seus comentários e, mesmo sabendo que iria ultrapassar barreiras que não devia,
ao menos não agora e principalmente sem Ben ao meu lado, eu precisava perguntar.
— Me desculpe pela pergunta, mas é algo sobre o bebê?
— Isso não é da sua conta, secretária. Isso é um assunto particular.
Antes que alguma de nós duas pudesse dizer mais alguma coisa, o celular dela tocou.
Courtney apenas reforçou a ordem para que eu mandasse Ben ligar para ela e se foi.
Me joguei sobre minha cadeira com uma mistura de sentimentos, dentre elas estava
incomodada com a forma como ela me tratou e desdenhou de mim por conta da minha profissão,
só conseguia pensar o que diria quando soubesse que era noiva do pai do bebê que ela carregava?
Mas, nesse momento, estava principalmente preocupada com Ben e com o bebê.
Andei de um lado para o outro, inquieta até que resolvi jogar tudo pro alto e ir até Ben.
Não iria conseguir sossegar enquanto não confirmasse que ele estava bem e pedir para que
ligasse para Courtney para termos certeza de que o bebê também estava bem. Ajeitei tudo que
precisava, recolhi minhas coisas e o celular de Ben, peguei a chave do carro dele e segui meu
caminho até lá, sentindo meu peito apertar cada vez mais.
Acenei para o porteiro que me reconheceu — ou percebeu que estava com o carro de
Ben—, e logo me direcionei ao elevador agradecendo mentalmente por me lembrar do código de
acesso que, por sinal, descobri ser a data de aniversário do resgate de Sheik, ou melhor, o dia em
que Ben comemorava o seu aniversário.
Quando desemboquei na sala, só podia agradecer por ter vindo aqui antes e ter me dado
bem com Sheik e, falando nele, não demorou muito para que se levantasse do sofá onde estava
deitado e viesse até mim, cheirar minhas pernas, lamber minha canela e esperar por meu
carinho.
— Ei, garotão, tudo bem com você? E cadê o papai? Ele chegou bem? Sei que não
avisei que iria vir aqui, mas preciso falar com o papai. Será que ele vai me achar intrometida se
eu for procurar por ele pela casa? Vem comigo, vamos atrás do papai.
Deixei minha bolsa no aparador, retirei meus saltos e notei que ele não estava na sala e
nem na cozinha, apesar das luzes estarem acesas. Andando em direção ao corredor, com Sheik
no meu encalço, reparei que também não estava no escritório, nem em cômodo nenhum por ali,
só faltava olhar o quarto e ali ele estava.
Ben estava jogado na cama, atravessado e de bruços, usando a mesma calça social e as
meias, mas o restante das roupas estava jogado na poltrona no canto do quarto. Meu coração se
aliviou em 50% ao saber que ele estava bem e seguro, apenas adormecido, em casa e em
segurança.
Olhei para sua mão esticada para longe do corpo e encontrei o telefone sem fio que
mantinha no quarto, provavelmente dormiu antes de completar a ligação que acredito que faria
para mim, mas isso não importava mais. Saber que ele estava bem já me acalmava.
Ele realmente estava cansado, mal teve disposição para arrancar toda a roupa ou até
mesmo para completar uma simples ligação. Era impossível não aproveitar para admirá-lo de um
jeito como nunca fiz. As corridas diárias com Sheik e a academia que frequentava às vezes,
realmente surtiam efeito em seu corpo já que era possível reparar as pernas grossas, músculos
definidos, mesmo por debaixo da roupa. A bunda era redonda e firme, modelada pela calça que
se esticava naquela área pela posição dele, uma vez que uma das suas pernas estava flexionada.
Subi o olhar e o vi sem camisa pela primeira vez, as costas largas e a cintura demarcada
e levemente fina, os músculos precisos, o trapézio proeminente, tudo isso coroado e em
harmonia com uma enorme tatuagem que ocupa todas as suas costas.
Desde quando ele tinha uma tatuagem desse tamanho e eu nunca soube?
Cheguei mais perto e vi que se tratava de uma fênix majestosa, em tinta preta com um
sombreado. A cabeça centralizada, bem na direção de sua coluna, as asas abertas subiam em
direção aos ombros e a cauda descia pela lateral esquerda de seu corpo.
Deixei suas costas de lado e passei meu olhar para seu rosto e sorri ao reparar que
novamente a boca estava entreaberta e ele roncava. Dei a volta na cama pensando na melhor
maneira de acordá-lo sem que ele se sobressaltasse com minha presença inesperada ali, pois do
jeito que ele era apavorado com coisas de filme de terror, poderia muito bem se assustar comigo.
Resolvi fazer como fiz no escritório e novamente funcionou, logo ele despertou, abriu
os olhos e sorriu levemente, porém voltou a fechar. Chamei novamente e, dessa vez, ele
realmente me encarou e demorou alguns segundos até perceber que eu realmente estava ali e,
então se levantou em um pulo, se sentando na cama de frente para mim.
Provavelmente não deveria, mas desviei meu olhar do seu para admirar o peito
desnudo, reparando o peitoral marcado e com poucos pelos, a barriga musculosa e definida, com
um leve tanquinho, mas com os oblíquos bem evidentes.
— Emma?
Capítulo 19 – Benjamin McKnight

— Emma, o que aconteceu? Achei que só nos veríamos amanhã. — Perguntei,


incomodado com a sua postura. Tinha algo de errado ali, a expressão dela me dizia isso.
— É, eu… — Ela tentava se concentrar mas ainda me parecia estranha e levemente
desconcertada ‒ Eu esperei você ligar e…
— Merda, e eu não te liguei. Me desculpe, minha linda, não queria te deixar preocupada,
acho que peguei no sono enquanto discava os números.
— Me desculpe aparecer aqui assim, mas…
— Está tudo bem, já disse que a casa é sua, só me espantei porque não esperava que
viesse até aqui só para checar se eu cheguei bem. Acho que perdi meu celular no táxi enquanto
cochilei de lá até aqui.
— Não perdeu, esqueceu na empresa, eu trouxe comigo. — O rosto dela ainda
aparentava estar atordoado.
— Não veio aqui apenas para trazer meu celular e checar se eu estava bem, não é? Por
que essa cara de preocupação? O que houve?
— Eu… eu realmente estava preocupada que não me avisou que havia chegado, mas não
foi só por isso que vim até aqui. A… a… — Ela gaguejava.
— Emma, respira. — Puxei a mão dela para que se sentasse na beira da cama — O que
aconteceu para ficar assim?
— A Courtney foi…
— O que essa mulher fez?
— Ela apareceu lá na empresa quando eu estava terminando de arrumar minhas coisas e
disse que estava tentando falar com você mas não atendia o celular.
— Ela falou o que queria comigo?
— Não, apenas disse que precisava falar com você, que era um assunto do seu interesse e
reclamou que você não estava atendendo. Eu fiquei preocupada, achei que pudesse ser algo sobre
o bebê, parecia ser sobre isso, até perguntei se era isso, nem sei se deveria, mas precisei
perguntar e ela… não me respondeu.
— Ela só não te respondeu ou te ofendeu? Emma? — Insisti, diante da clara tentativa
dela em mudar de assunto.
— Ela falou sim algumas merdas, mas isso pouco importa agora. Estou angustiada, com
medo de ser algo com o bebê, por isso vim até aqui. Pode ligar para ela e descobrir o que ela
quer? — Ela me pediu, em um estado de aflição que me deixava angustiado.
— Vou fazer isso agora mesmo, mas não pense que vou deixar isso passar. Quero saber
exatamente o que aquela descompensada te disse.
Ela apenas concordou sem disfarçar a sua tormenta enquanto eu arrancava as meias por
ali mesmo, deixando junto das outras peças que tive energia suficiente para retirar quando
cheguei. Assim que me entregou meu celular, fiz a ligação para Courtney, queria saber
exatamente o que estava acontecendo para precisar ir atrás de mim assim.
— Que bom que te trouxe aqui antes. — Comentei, enquanto esperava que atendesse —
Sheik nunca deixaria ninguém entrar dessa forma no apartamento se fosse alguém desconhecido,
na verdade, nem se fossem os caras ele ficaria tão tranquilo. Sequer ouvi ele latindo.
— Ele não latiu mesmo, veio até mim, me lambeu e eu entrei. Desculpe a invasão.
— Pare de pedir desculpa por ter vindo até aqui, venha a hora que quiser, já disse.
Puxei ela para mim, prendendo-a no meu abraço, sentindo seu corpo tenso se
acomodando ao meu, sua cabeça repousando contra meu peito nu. Mal tive tempo de deixar um
beijo no alto de sua cabeça quando Courtney finalmente atendeu o celular.
—Finalmente, Benjamin.
— O que aconteceu, Courtney? O que precisava falar comigo com tanta urgência? —
Perguntei, sem qualquer paciência para as alfinetadas dela.
Mantive Emma em meus braços, pois sabia que assim ela conseguiria ouvir tudo que
Courtney dizia do outro lado da linha. Não sabia se ela havia feito alguma gracinha, mas era
melhor eu me precaver.
— Pelo menos aquela sua secretariazinha é eficiente, não é? Entrou em contato
rapidinho. — Quando pensei em responder, Emma negou, um pedido mudo para que eu não
falasse nada.
— O que você quer comigo, Courtney? Algo sobre meu filho?
— Lógico que é sobre isso, que outro assunto teria com você? Estou ligando para que
você dê um jeito de marcar uma consulta pra mim com aquela médica. Aquelas porcarias de
vitaminas estão me dando algum tipo de alergia pelo corpo e afetando meu apetite. Se você
espera que eu continue tomando isso, preciso conversar com essa médica o mais rápido possível
ou vou parar de tomar. — Ameaçou.
— Escute bem, vou ligar agora mesmo para ela e tentar um encaixe para amanhã, e, se
eu conseguir, independente do horário, você vai e eu vou estar lá também. Quero estar presente
nas decisões que afetam o meu filho, e se eu não conseguir a consulta vou perguntar se deve
insistir nas vitaminas até voltarmos lá ou suspendê-las e você fará o que ela mandar.
— Que seja, apenas ligue logo para ela. Pague a mais se for necessário. Tenho que
desligar.
Retirei o celular da orelha contando até dez para não explodir de raiva, respirando fundo
algumas vezes tentando me lembrar das respirações daquelas aulas de meditação que participei
um tempo atrás. Emma ainda estava imersa em suas próprias angústias e sentimentos, e isso sim
estava fazendo eu me manter centrado. Precisava resolver tudo e conversar com ela de uma vez.
— Vou ligar para a médica, ok? E depois que resolver isso, nós dois vamos nos sentar e
conversar. — Disse de uma vez, deixando bem claro que queria saber exatamente como foi a
interação entre as duas.
Emma parecia achar que era algo sério, e mais do que nunca se manteve quieta enquanto
Natalie explicava que isso era mais comum do que parecia que não precisávamos de alarde antes
de maiores exames. Courtney poderia deixar de tomar a vitamina e iríamos a uma consulta de
encaixe para o dia seguinte.
— Avisa a Courtney.
Assim eu fiz e com a confirmação dela, larguei o celular em um canto qualquer e olhei
para Emma com o rosto enterrado no meu peito. Tinha algo de muito estranho. O que Courtney
disse a ela? Ou isso era sobre outra coisa? Reparava a feição estranha que sustentava no rosto
quando a afastei um pouco de mim para olhar em seus olhos, enquanto a puxava pela mão até
nos sentarmos no sofá.
Bom, a ideia era sermos apenas nós dois, mas Sheik não admitiu isso, pulando no sofá no
mesmo instante, deitando a cabeça nas coxas dela.
— Ei? O que foi que ela falou pra você que te deixou assim?
— Não foi…
— Nada dessa desculpa esfarrapada, alguma coisa aconteceu, conheço o jeito dela e,
mais do que isso, conheço você e sei que tem algo te incomodando. Conversa comigo, Emma.
Absorvi seu suspiro antes dele enfim me falar que Courtney menosprezou a profissão
dela, implicou com o fato de Emma ter deixado escapar meu apelido e por isso tentou insinuar
algo sobre nossa relação de chefe e secretária, realmente enfatizando a posição de Emma ali e
que, quando questionou sobre o bebê, Courtney desdenhou dela.
— Linda, olhe pra mim. Desconsidere tudo que essa maluca falou. Você sabe muito bem
que nunca aconteceu nada entre a gente antes, nunca extrapolou qualquer barreira profissional.
— Mais um suspiro, uma ajeitada nas orelhas tortas de Sheik, umas passadas de mãos pelo rosto
até me olhar com os ombros caídos.
— Eu sei de tudo isso, mas é uma situação chata, Ben, porque sei que é possível que
mais pessoas pensem assim.
— E vamos ignorar todas elas. — Fiz um carinho na sua bochecha — Ninguém tem
absolutamente nada a ver com nossa vida, não tem que se meter naquilo que não lhe dizem
respeito.
— Estou preocupada em como ela irá reagir ao fato de nós dois não sermos uma
suposição e, sim, um fato. Não quero que de forma alguma gere problemas ou que afete o bebê.
— Emma, eu nunca tive nada sério com ela, então ela não tem direito nenhum em
questionar a minha vida ou nosso relacionamento. Você é a minha noiva, você vai ser a mãe do
bebê, e isso não vai mudar. Ela não tem que aceitar ou reclamar de nada. A partir do momento
em que assinou aquele contrato, ele é totalmente de minha responsabilidade.
— Ok. — Ela disse, um tempo depois — Me desculpe vir aqui com esse drama todo.
Você deveria estar dormindo, está cansado e eu aqui perturbando você. — Toda bonitinha, cheia
de timidez.
— Você é mais importante que a minha exaustão.
— Desde cedo estou com um pressentimento estranho, uma angústia, como um aperto no
peito. E todas as vezes que senti isso algo ruim aconteceu. — Ela cruzou os braços na frente do
peito em um gesto protetor, como se estivesse abraçando a si mesma, me encarando com os
olhos marejados.
— Vem cá, linda.
Recostei no sofá, um meio termo entre sentado e deitado, puxando seu corpo para mim
de forma que ela se deite com a cabeça no meu peito e conseguisse me abraçar de volta. Emma
estava visivelmente atordoada, e se já teve essa sensação antes, imaginava que seu medo de algo
se repetir fosse ainda maior.
— Não aconteceu nada mesmo para te deixar assim?
Emma não tirou o rosto do meu peito, mas negou e eu apenas me concentrei em abraçá-
la um pouco mais. Não gostava de vê-la assim, me fazia mal. A sensação de ver alguém que eu
gostava tanto se sentindo mal e sem que eu pudesse fazer algo para tudo acabar era simplesmente
horrível. Queria a minha Emma de volta e se não podia tirar isso dela, ao menos tentaria
amenizar essa sensação para que se sentisse um pouco melhor e naquele momento, nada melhor
que um abraço apertado e um carinho no rosto.
Aquela mulher que se encolhia ainda mais a mim, havia entrado na minha vida pessoal
oficialmente há tão pouco tempo, mas já me fez perceber que nada mais fazia sentido sem ela
comigo, sem nossos momentos juntos fora da empresa, sem nossos jantares improvisados aqui
ou na casa dela. Ela coloria meus dias e não gostava de vê-la apagada dessa forma, sofrendo com
o que quer que fosse.
Alcancei o controle da televisão, sintonizando um programa qualquer apenas para
distraí-la de alguma forma e assim ficamos, por um bom tempo, pelo menos até Sheik reclamar
atenção e, pelo horário, sabia que estava na hora do seu jantar.
— Dormiu? — Perguntei baixinho sem querer acordá-la.
— Não, ele está incomodado, o que será que ele quer?
— Comida, está no horário do jantar dele.
— Garoto esperto.
Me desvencilhei dela depois de deixar um beijo no topo da sua cabeça para alimentar o
esfomeado de uma vez e trocar sua água. Talvez eu devesse ter aproveitado para ir até o quarto
trocar a calça de trabalho por uma roupa mais confortável, mas não queria dar uma impressão
errada à Emma, não queria dar uma ideia de estar pressionando algo justo no dia em que não
estava bem, apesar de estar circulando com o peito desnudo.
— Tudo certo? — Perguntei, quando voltei para a sala e a encontrei com o celular na
mão.
— Ah, sim. Hannah está me cobrando aquele encontro de vocês dois.
— O que acha de fazermos algo amanhã? Nós dois, ela e o noivo, posso chamar Nick,
Nate e Carl. Um jeito bom para todos se conhecerem de uma vez.
— Acho uma boa ideia, mas o que podemos fazer? — Me esquecia que coisas banais
como encontrar amigos em algum lugar eram novidades para ela.
— Podemos vir todos para cá e pedimos umas pizzas e cervejas. Ficamos por aqui
conversando e nos conhecendo.
— Por mim, está ótimo. Vou avisá-la então, ok?
— Sim, vou avisar os três também antes que marquem algum compromisso.
Mais uma vez, Hannah respondeu à mensagem dela com uma de suas ameaças, ainda
que tenha aceitado o convite. Fiz o mesmo com os caras e pelo visto conseguimos nossa noite em
amigos. Presenças confirmadas.
Apesar do sorriso que se fazia presente no rosto bonito, ainda conseguia enxergar
aquela névoa atordoada sobre seus olhos, normalmente tão sorridentes, hoje atormentados.
— O que acha de pedirmos alguma coisa para jantar? Estou com fome.
— Posso cozinhar, ao invés disso? Acho que vai ser bom, cozinhar me acalma.
— Vem, vamos cozinhar então. Ou melhor, você cozinha e eu fico lá dando apoio
moral e te fazendo companhia.
Gostava de olhar para ela se infiltrando na minha cozinha dessa forma. Na minha vida,
melhor dizendo. Aquela sensação boa que queimava dentro de mim se atiçava mais uma vez ao
enxergar a naturalidade com que a nossa relação ia crescendo e se fortalecendo.
Servi duas taças de vinho apenas para relaxarmos e, enquanto ela cozinhava,
conversamos frivolidades, trocamos informações básicas sobre nossos amigos. Quando percebi
que estava prestes a terminar aquele banquete improvisado, arrumei uma mesa e tão logo
começamos a comer também terminamos, comigo devorando o meu prato e parte do que restou
do dela — o que era mais um indício de que as coisas não estavam no seu estado normal, jamais
a vi recusando comida —, antes de recolher as louças.
— Ben? — Assim que disse meu nome, notando o tom inseguro da sua voz, a olhei —
Sei que não combinamos nada e que eu vim para cá sem avisar, mas, será que eu posso ficar aqui
com você hoje? Eu não quero ir para casa e ficar sozinha lá. Nunca me senti angustiada nesse
nível e estou realmente com medo e… — Sequer deixei que continuasse com seu pequeno
discurso de convencimento.
— E mais nada. — Sem qualquer cuidado, larguei as louças que estava lavando para
abraçá-la — Você é bem-vinda aqui a hora que quiser, minha linda, e eu não estava mesmo
querendo te levar embora. Não sei o que está te deixando assim, mas não vou te deixar sozinha,
ok? Vai ficar aqui comigo, sem pressão. Te empresto uma roupa minha, você toma um banho e
tenta relaxar um pouco. Isso é só uma sensação, nada de ruim vai acontecer. — Percebi quando
os olhos marejaram mais uma vez e tratei logo de calar a minha boca.
— Ok.
— Amanhã saímos um pouco mais cedo e passamos na sua casa para trocar de roupa
antes de irmos trabalhar. Vem, vamos lá no quarto. Você toma um banho enquanto eu termino
com essas louças, depois eu tomo um também e a gente deita juntinho para assistir alguma coisa
bem boba para te distrair até isso passar.
Ela sorriu agradecida e me seguiu até o quarto, onde peguei uma boxer, uma camiseta e
uma calça de moletom para ela. Iriam ficar enormes, mas, certamente mais confortáveis do que
essa saia justa que ela estava usando.
— No armário debaixo da pia tem toalhas extras, na gaveta tem escova de dentes. Ali
naquele pote perto da banheira, tem uns sais de banho. Entra aí e tenta relaxar, ok? Usa o
pozinho azul, é o mais cheiroso. — Eu não perdi a oportunidade de segurar seu rosto nas minhas
mãos enquanto passava meu nariz pelo dela — É só uma sensação ruim, ok? Prometo que vai
passar.
Recebi de muito bom grado o beijo que me deu antes que eu a deixasse no banheiro,
queria que tivesse privacidade para tomar seu banho. Por mais que eu quisesse me enfiar naquela
banheira junto dela, apenas saí dali de uma vez. Encostei na porta fechada, conseguindo perceber
quando ela colocou a banheira para encher e começou a largar as roupas pelo no chão.
Ok, era a minha deixa para sair do quarto. Também não precisava ficar me torturando
imaginando ela nua e molhada na minha banheira, não mais do que essa imagem já me fazia
companhia em todos os outros dias.
Enrolei o máximo possível para lavar dois pratos, talheres e taças, esperando dar tempo
suficiente a ela para terminar seu banho. Quando não tinha mais o que fazer, acionei o alarme do
apartamento e chamei Sheik para irmos para o quarto e lá veio ele, correndo pelo corredor até
chegar na sua cama, bem aos pés da minha.
Enquanto esperava, aproveitei para arrumar a bagunça de roupas espalhadas pelo
quarto, para zapear pelos canais na televisão. Escutei a trinca da porta do banheiro se desfazer e
de lá sair ela, vestindo minhas roupas. A camiseta serviria como um vestido de tão comprida que
ficou e a calça estava com a barra dobrada, já que era bons vinte centímetros mais alto que minha
baixinha.
Aquela poderia não ser a visão mais sexy dela, mas era linda de qualquer maneira.
— Couberam perfeitamente em você, não é? Quase não dá para perceber que não são
suas. — Brinquei quando veio me abraçar e deixar um beijo no meu peito, a parte de mim onde
alcançava quando estava sem aquelas agulhas no pé que chamava de salto alto — Se sente um
pouco melhor?
— Sim, sua dica funcionou, o banho me ajudou a relaxar um pouco.
— Que bom, agora é minha vez. — Beijo sua testa, adorando a sensação dela tão
confortável e acomodada em mim — Hm, não sei se foi uma boa ideia te deixar tão relaxada
assim nas minhas roupas. Talvez essa seja minha versão favorita de Emma até agora.
Dei um único beijo na ponta do nariz dela antes de passar pelo closet e buscar roupas
para mim. No caminho para o banheiro, percebi Emma olhando para cama e se sentando aos
poucos, provavelmente pensando se estava extrapolando limites. Mal sabia ela que tudo que mais
queria era que ela ficasse de uma vez por todas na minha cama.
Essa e todas as próximas noites.
Saí do banheiro usando apenas uma calça de moletom, sem camisa já que não tinha
costume de dormir com uma, vendo que ela resolveu seu dilema e se deitou. No meu lado da
cama.
Ah, linda, sinto muito, esse lado é meu.
— Sabe, essa daí é uma ótima versão de Benjamin também.
Essa malvada apontou para mim e eu apenas sorri em resposta. Não iria estender o
assunto ou não responderia por mim se ela continuasse me provocando, mesmo sem perceber
que estava fazendo isso. Dei a volta no quarto e me deitei no meu lado, onde ela estava e,
delicadamente, fui empurrando seu corpo para o outro lado.
— Era só pedir para eu sair, bobo. — Ela riu, se aconchegando no outro travesseiro.
— Não, assim é melhor. Com delicadeza e discrição.
— Claro, foi realmente bem discreto um cara do seu tamanho vir se deitar nesse
espacinho que estava sobrando e começar a me empurrar para o outro lado.
— Eu tentei, pelo menos. — Ela apenas negava com a cabeça ainda rindo de mim.
Retirei a colcha da cama, apaguei as lâmpadas, acendi o abajur, fechei a porta do quarto, dei boa
noite ao meu filho já adormecido e enfim me joguei ao seu lado.
— Não sabia que tinha uma tatuagem. — Ela comentou, enquanto me torturava ao
passar a mão nas minhas costas sobre o desenho, com tamanha delicadeza que arrepiava cada
nervo do meu corpo no processo.
— Às vezes, até eu me esqueço dela. Foi um ato de rebeldia, fiz pouco após a morte do
meu pai e quando sai de casa, para marcar um recomeço na minha vida.
— Uma fênix, não é? — Me deitei de frente para ela, encarando os olhos verdes menos
nebulosos.
— Sim, uma ave mítica que ao mesmo tempo que simboliza a morte, também significa
renascimento, é um símbolo de força e superação.
— É bem bonita e tem um significado poderoso. — Me ajeitei melhor, encostando as
costas na cabeceira por um momento, um plano claro em minha mente.
— Vem cá. — Abri os braços, chamando-a para mais perto.
Emma se acomodou em mim, enfiando o rosto no meu peito e respirando fundo.
Percebi que estava um pouco tímida e tensa e, ao mesmo tempo em queria avançar na nossa
relação, esse não era mesmo o melhor momento para isso.
— Emma, relaxa, sem pressão, lembra? — Disse rindo e ela se escondeu ainda mais o
rosto no meu corpo,
— Desculpa.
— Olhe para mim, por favor. — Pedi, e ela fez, apoiando o queixo no meu peito — Eu
te quero, Emma, nem sei te dizer há quanto tempo eu quero isso, mas não agora, não enquanto
você está incomodada e angustiada com alguma coisa. Uma hora vai acontecer e, quando
acontecer, quero você inteiramente comigo. Corpo, mente e alma. Hoje não é dia para isso.
Vamos só ficar aqui, vou te dar carinho para que essa sensação ruim passe de uma vez e você
volte a sorrir normalmente. Quero minha Emma sorridente de volta.
E ali estava, de volta em seus olhos. Aquela emoção que já presenciei outras vezes no
decorrer do último mês. Emma abaixou o rosto novamente, sem me dizer nada, mas me deu a
chance de ver seus olhos cheios de lágrimas. Disse alguma coisa errada? Ficou chateada por eu
não insistir em algo mais hoje?
Sentia as lágrimas que segurava se soltarem e ela chorando com o rosto abafado contra
meu peito. Eu apenas a abracei e deixei que colocasse para fora o que quer que estivesse
sentindo.
— Me desculpe. — Pediu depois de levantar o olhar para mim — Deve estar me
achando ridícula, mas é só que… isso que falou, tudo o que fez por mim hoje, mexeu comigo,
Ben. Eu me desacostumei e não estou sabendo lidar.
— Desacostumou com o que, linda?
— A ter alguém cuidando de mim, me dando carinho, me preparando um banho, me
abraçando e mexendo no meu cabelo. Faz anos que não sei o que é isso, não sei o que é poder
desabafar com alguém dessa maneira. Desde que minha mãe morreu, sou eu por mim mesma,
tive que aprender a cuidar de mim sozinha, a lidar com a solidão e com a falta de carinho. Eu
tinha que engolir tudo que estava sentindo para poder seguir em frente e não me deixar sucumbir.
Só não me deixava levar pelas coisas ruins por conta da Hannah que tentava, e ainda tenta, suprir
tudo isso para mim. Desculpa pelo choro, só fiquei abalada, em um bom sentido, mas abalada.
— Se lembra que te disse que isso entre a gente seria um recomeço? Vai ser, minha
linda. Eu quero que saiba que, antes de qualquer coisa, eu quero ser seu amigo também, que
estarei aqui quando você quiser desabafar, quando quiser um abraço ou precisar de colo. Você
não precisa mais se sentir sozinha. Nunca mais, Emma.
Me perdi no seu beijo calmo, carinhoso e suave. Intenso, mas não sensual, não era o
momento para isso. Saboreei os lábios dela lentamente, mas me afastei aos poucos, escorregando
na cama até que estivesse deitado corretamente e ela pudesse se aconchegar. Liguei a televisão e
coloquei no episódio da série que paramos da última vez que assistimos, acionando o timer para
que o aparelho desligasse automaticamente dali duas horas.
Cobri nós dois com a coberta e lhe dei um beijo na testa depois de desejar boa noite.
Abracei seu corpo um pouco mais forte, prometendo a mim mesmo que iria suprir isso nela, sem
deixar que ela nunca mais se sentisse dessa forma. Ela não estava mais sozinha. Eu estava ali,
por ela e para ela.
Capítulo 20 — Benjamin McKnight

Um barulho insistente e até desconhecido por mim me despertou no que parecia ser
início da madrugada, e não conseguia estar desperto o suficiente para identificar o que era e
muito menos para descobrir de onde estava vindo. Tudo que consegui notar foi que em algum
momento ele cessou, e que Emma permanecia aconchegada a mim, dormindo com as pernas
entrelaçadas às minhas.
O barulho recomeçou e, dessa vez, até Sheik se incomodou, e ao perceber ser o
telefone de Emma, tateei a cama atrás do aparelho, enquanto o cachorro, demonstrando sua
frustração em ser acordado, se retirou do quarto, usando o focinho para abrir a porta que eu havia
apenas encostado antes de dormir.
— Emma, seu celular está tocando. — Tento despertá-la, não deixando de perceber o
cansaço e a rouquidão da minha voz.
— Alcança para mim? Está aí do seu lado na mesa de cabeceira. — Ah, por isso
despertei tão rápido, com esse aparelho quase no meu ouvido. Virei o braço para trás e entreguei
a ela o aparelho que já havia parado de tocar novamente.
— Que horas são? — Perguntei enquanto ela coçava os olhos, tentando adaptar as
vistas à claridade do aparelho.
— Quase 3 da manhã. — Ainda estávamos deitados e semi-despertos e, antes que ela
pudesse ver quem ligava incessantemente, o aparelho voltou a tocar. Emma arregalou os olhos,
se sentando na cama no mesmo instante. — Sr. T?
— Quem é esse?
— Ahm… o síndico do meu prédio. — Ela não parecia saber exatamente como me
responder e não se prendeu a me dar satisfação, apenas atendeu de uma vez a ligação — Alô? Sr.
T? Calma. Calma. Não estou entendendo nada. Que gritaria é essa? Não, não estou em casa, por
quê? O que houve?
Só conseguia ouvir parte da conversa, mas o que quer que estivesse acontecendo do
outro lado da linha, era um completo caos. Despertei completamente e tentava decifrar as coisas
pelas expressões faciais e pelas poucas coisas que Emma falava, até que ela se levantou em um
só pulo para fora da cama e me fez fazer o mesmo por reflexo, procurando acender a luminária e
enxergá-la melhor.
— Polícia? Invasão? Sr. T, meu apartamento… — Ela praticamente gritava ao telefone
enquanto lágrimas escorriam por seu rosto — Mortes? — Murmurou e paralisou ao mesmo
tempo em que a pessoa do outro lado da linha continuava falando sem parar, histericamente. E
ali acabou para mim. Tomei o telefone de sua mão para tentar entender que merda estava
acontecendo para fazer ela tremer e chorar desse jeito.
— Alô?
— Cadê minha Emma? — Pela voz noto, consegui perceber se tratar de um senhor de
mais idade.
— Senhor Thompson, não é? Aqui quem fala é Benjamin, sou noivo de Emma. O
senhor pode me dizer o que aconteceu? Emma está paralisada aqui e estou preocupado. — Tentei
manter minha calma enquanto falava com ele, era notório que também estava alterado.
— Me desculpe ligar a essa hora, Benjamin, mas você precisa trazer Emma até aqui.
Aconteceu uma coisa no prédio e polícia quer conversar com os moradores, saber quais foram
afetados e… e, me desculpa não conseguir falar direito, estou nervoso e com medo, tremendo,
sou só um senhor de idade e me preocupo tanto com Emma, por isso liguei desesperado. — Ele
disparou a falar e tive dificuldade para acompanhar o raciocínio — Traz ela para cá, Benjamin,
ela precisa tirar as coisas dela daqui, isso não é mais lugar para ela, ou para mim, eu não fico
aqui mais nenhum segundo....
Ele continuou falando, perdido no mais absoluto nervosismo e, por isso, falava várias e
várias coisas, sem fazer muito sentido, pelas palavras que consegui pescar. Precisava finalizar
essa conversa, acalmar Emma e levá-la para o seu apartamento e descobrir exatamente o que
aconteceu.
— Senhor Thompson, eu e Emma estamos indo para aí nesse momento. Fique calmo o
senhor também, ok? Não entendi muito bem o que aconteceu, mas quando chegarmos vamos até
o senhor, tudo bem? Procure um lugar seguro, nós já estamos chegando.
— Tudo bem, meu filho, só traz minha menina para cá. — Desliguei o telefone e puxei
Emma para mim.
— Ei, nós precisamos ir até lá e entender o que foi que aconteceu. Estou com você,
lembra? Vamos? — Ela concordou, finalmente saindo daquele transe e limpando as lágrimas. Ela
estava pronta, para o que quer que fosse.
Puxei dois casacos no closet e fomos em direção à porta, onde ela calçou um par de
sandálias que havia deixado em casa alguns dias atrás.
— Você disse que esse senhor é seu síndico? Ele parece ser bem próximo de você, até
te chamou de minha menina.
— Ele é o síndico desde que me mudei e foi ele quem me recebeu no prédio, fez todo o
contato entre mim e o dono do apartamento que alugo e, desde lá, nós somos bem próximos. A
esposa dele faleceu logo que me mudei e, bom, eu entendo um pouco dessa dor, então,
costumava bater na casa dele e perguntar se estava precisando de alguma coisa. — Me ofereceu
um sorriso agora saudoso — Às vezes eu levava uma comida que ele gostava de comer ou
chamava ele para jantar comigo, já fiquei com ele na portaria conversando por horas apenas para
fazer companhia, ele já me levou pro hospital quando precisei e eu já fiquei como acompanhante
quando ele precisou. Ele basicamente me adotou como uma filha, inclusive, passamos os natais
juntos desde o primeiro feriado em que ele se viu sozinho.
— E Hannah? Achei que passasse essas datas comemorativas com ela.
— Às vezes sim, mas não me sinto confortável com a família do noivo dela, então
preferia fazer companhia a ele ou então levava ele comigo para ficarmos todos juntos.
Minha noiva era mesmo uma coisinha encantadora, não é?
— Você é maravilhosa, linda, de verdade..
Uma curiosidade sobre Emma: ela não sabia receber elogios, ficava encabulada toda
vez que eu fazia algo assim. Como naquele momento, as bochechas estavam coradas quando se
esticou e me deu um beijo rápido, mantendo a mão em um carinho constante na minha coxa.
— Vamos lá e tentar entender o que aconteceu. Não consegui entender nada pelo
telefone, já que ele estava tão nervoso quanto você, senão mais.
Permanecemos em silêncio o restante do caminho e dirigi o mais rápido que pude e, ao
chegar no prédio dela, notamos o prédio cercado por policiais, a portaria isolada com aquelas
fitas amarelas que vemos em filmes policiais que registram homicídios, além das viaturas
policiais e quatro ambulâncias. Mesmo de dentro do carro, era possível ouvir as pessoas agitadas,
conversando alto e algumas chorando.
— Ben, que merda será que aconteceu aqui?
— Não faço a mínima ideia, linda, vamos atrás do Senhor Thompson.
Assim que saímos do carro, agarrei sua mão. Não sabia que porra estava acontecendo,
mas ela iria ficar perto de mim onde pudesse protegê-la. Emma olhava ao redor tentando
encontrar o síndico por alguns minutos, até que quando o encontrou se desvencilhou de mim e
correu até o senhor, sentado na parte de trás de uma das ambulâncias, que a abraçava com uma
força desmedida enquanto chorava.
— O que aconteceu? O senhor está bem? Se machucou? — Ela corria os olhos por ele
tentando achar algum machucado.
— Minha filha, graças a Deus você não estava aqui. Foi Deus que te tirou daqui. Eu
não ia aguentar perder você também, não ia, Emma. Você sabe que te considero uma filha, não
é? Que bom que estava longe daqui. — Ele dizia enquanto ainda a apertava nos braços e
chorava, me deixando ver alívio em seus olhos. Foi então que o reconheci, esse foi o senhor que
ficou com as rosas que trouxe para ela.
— O senhor precisa se acalmar e usar a máscara de oxigênio, ok? Pode conversar com
ela, mas com calma. — O socorrista repreendeu, voltando a prender a máscara no rosto dele.
— Olá, Sr. Thompson. Eu sou Benjamin, o noivo da Emma, prazer em conhecer o
senhor, que pena que nessas circunstâncias. — Cumprimentei.
— Rupert, já está bom. É um prazer também, meu filho, que bom que minha menina
estava com você longe daqui, mas tem que me prometer levá-la de vez daqui. — Ele falava
olhando para mim, mas logo desviou o olhar para Emma — Minha filha, depois de hoje não dá
mais para ficarmos aqui. Eu não fico aqui mais nenhum dia.
— O senhor consegue nos explicar o que aconteceu? — Pedi a ele.
— Sabe, o bairro aqui não é tão perigoso quanto alguns outros. Eu sempre morei aqui e
nunca me aconteceu nada. — Emma se sentou ao lado dele, apertando sua mão com carinho
enquanto deixamos que ele tomasse seu tempo para nos contar — Claro que já aconteceram
algumas coisas por aqui, mas aqui no prédio em especial só tivemos problema uma vez quando
um ex-namorado maluco de uma antiga moradora entrou aqui bêbado, quebrou o vidro da
portaria e tentou invadir o apartamento, mas foi impedido.
Notava as mãos dele tremendo enquanto falava, visivelmente alterado e em choque,
fazendo que ele divagasse, tomasse seu tempo, respirasse na máscara antes de continuar, olhava
para Emma, fazia carinho nela.
— Tinha tempo que não acontecia nada. Já houveram alguns assaltos aqui no bairro e,
desde que conheço Emma sempre a alerto sobre isso e ela sempre me escutou, nunca ficou na rua
até muito tarde e muito menos sozinha.
Conseguia sorrir para ele. Emma era uma mulher de 27 anos, porém, parecia uma
adolescente aos olhos do senhor que a olhava e cuidava com perceptível amor e carinho.
— Mas hoje… Eu estava na portaria cobrindo o Miller enquanto ele lanchava e a
moradora do 501, a Carrie, chegou acompanhada de um grupo de cinco meninas e três homens,
me cumprimentou e subiu. Eu achei aquelas pessoas estranhas, mas não podia simplesmente
impedi-los de entrar se estavam acompanhados de uma moradora. Então, quando Miller voltou
para seu posto eu comentei sobre isso com ele e disse que ficaria de olho.
— E depois disso, Sr. T?
— Eu estava dormindo quando ouvi uma gritaria absurda e barulhos intermináveis de
tiros. Corri para me certificar de que minha porta estava trancada, apaguei todas as lâmpadas e
me escondi, com medo. Isso foi logo após uma da manhã e só saí de lá um bom tempo quando a
polícia bateu na porta e disse que tinha tudo sob controle.
— Descobriram exatamente o que houve?
— Me mandaram vir aqui para fora porque iriam fazer uma varredura no prédio e dar
início à perícia antes de liberar o prédio para os moradores. E foi aí que eu vi. Do meu andar até
aqui, contei quinze pessoas baleadas, moradores e desconhecidos estranhos como os primeiros
que chegaram com Carrie. Eu não sei como estão os feridos, mas sei que alguns morreram. —
Ele recomeçou a chorar, abraçando Emma para se acalmar.
— A polícia já sabe o que aconteceu?
— Ainda vão investigar melhor, mas por terem reconhecido três dos mortos, já
conseguem ter uma ideia, pois eles são membros de gangues. Parece que Carrie se envolveu com
um rapaz de uma das gangues, terminou com ele e depois namorou com outro rapaz que,
coincidentemente ou não, era da gangue rival. As duas gangues provavelmente acharam que ela
estava levando informação de uma para a outra. Eles invadiram o prédio e fizeram tudo isso, a
polícia conseguiu prender alguns e um deles confirmou essa história e ainda gritou para quem
quisesse ouvir que voltarão aqui para terminar o que começaram.
— Que situação horrorosa, que bom que o senhor está bem.
— Eu só estou nervoso, mas estou mesmo aliviado que você não estava aqui, Emma. A
polícia revirou o prédio e alguns dos envolvidos, tentando fugir, invadiram apartamentos,
tentaram fazer pessoas de refém. Minha filha, invadiram seu apartamento, quebraram móveis. Eu
passei por lá quando estava descendo e fui atrás de você e… e… tinha uma moça caída bem
próxima à sua porta e muito sangue no chão. Ela parecia você, por isso me desesperei, achei que
eu tivesse te perdido também.
Emma arregalou os olhos de uma maneira absurda, amedrontada e o abraçou. Meu
corpo estava gelado e inteiro arrepiado só de pensar em algo acontecendo à minha Emma.
E, porra. O pressentimento dela. Toda aquela angústia e aperto no peito que sentiu
durante todo o dia e que a fez ficar comigo essa noite. Assim que ela se solta de Rupert, eu o
aperto contra mim, percebendo as minhas próprias mãos tremendo.
— Emma, seu pressentimento, seu medo de vir embora hoje. — Ela veio para meus
braços assim que se soltou de Rupert, procurando em mim alguma força. — Ainda bem que
ficou em casa comigo.
Não podia nem imaginar perdê-la.
— Ainda bem que fiquei lá com você. — Ela me beijou, permanecendo nos meus
braços até que eu conseguisse colocar na minha cabeça que ela estava bem e protegida. Esse
pensamento foi o suficiente por pouco tempo, como poderia ficar tranquilo diante da mínima
hipótese de ela ainda querer ficar nesse prédio depois disso tudo.
— Linda, sei que combinamos de levar as coisas com calma e de só morarmos juntos
depois do casamento, mas assim não dá Emma, eu não vou ter paz se você insistir em ficar aqui.
Pode, por favor, reconsiderar isso?
— Ben, não tem quem me faça ficar aqui mais. Sei que fui eu pedi isso, mas depois de
hoje quem não quer ficar sozinha sou eu. Não vou ser orgulhosa e negar me mudar de uma vez.
Não quero mais pisar nesse lugar, Ben. Eu vou com você.
Meu sorriso só não era maior do que alívio que percorria meu corpo só de saber que ela
estaria em um lugar seguro e, principalmente, comigo definitivamente. Beijei minha noiva e, ao
desviar meu olhar, notei Rupert perdido em pensamentos.
— Rupert, o senhor disse que não quer mais ficar aqui e, sendo o senhor alguém
importante para minha noiva, também é para mim. Posso lhe oferecer alguma ajuda?
— Não, meu filho, eu vou dar um jeito na minha vida e… — Emma o interrompeu.
Brava.
— E o que, Sr. T? Vai aceitar nossa ajuda, sim senhor, ou nunca mais lhe dirijo a
palavra ou, pior, vou recusar a me mudar e o senhor vai ter que conviver com a ideia de que eu
estou em perigo por sua teimosia. — Arregalei meus olhos, um tanto espantado com essa versão
dela, mas Rupert ria.
— Minha florzinha arisca. — Ele passou a mão no rosto dela — Tudo bem, eu aceito a
ajuda. Tenho um primo, meio distante, que mora na cidade vizinha e, desde que ficou viúvo, vem
me chamando para morar com ele, mas eu negava, pois não queria deixar minha menina
sozinha.
— Estava considerando ficar aqui apenas por minha causa?
— Bobinha, claro que sim. Foi você quem esteve comigo na pior fase da minha vida, é
lógico que não iria te abandonar. Mas agora, mais do que namorando como eu achava e já estava
feliz, você tem seu noivo e eu posso ir sem me preocupar, pois sei que estará bem cuidada com a
maluca da Hannah e agora Benjamin. Eu farei isso, minha filha, vivi momentos lindos aqui, mas
não dá mais. Vou morar com meu primo, só preciso de um lugar para passar a noite.
— Ficará conosco, temos quartos de hóspedes.
— Obrigado pela ajuda, agora só preciso tomar coragem e entrar lá para pegar minhas
coisas. Só quero sair daqui de uma vez. — Emma abriu a boca para falar alguma coisa, mas não
conseguiu fazer isso, não quando tinha alguém gritando seu nome sem parar, até que uma loira
alta surgiu e se jogou nos braços da minha garota.
— Hannah? Como ficou sabendo?
— Joey estava de plantão no hospital e ficou sabendo que as vítimas estavam vindo
daqui. Ele me ligou avisando e vim correndo. Está bem? Te machucaram? O que aconteceu? O
que o bonitão tá fazendo aqui? Por que vocês estão de pijama? — Hannah disparava uma
pergunta atrás da outra.
— Hannah, calma, uma pergunta de cada vez. — Emma respondeu rindo.
— Minha Hannah maluquinha.
— Sr. T, que bom que está bem. — Ela se lançou aos braços dele dessa vez.
Hannah ficava cada vez mais chocada com a narração de Emma sobre tudo que
aconteceu, inclusive, seguiu dizendo que devido às circunstâncias iria se mudar de vez para
morar comigo, me deixando aliviado e feliz para caralho.
Um policial se aproximou em determinado momento e avisou a Emma e Rupert que
eles já poderiam entrar no prédio. Só de pensar nessa possibilidade, os dois estremeceram.
— Que tal se eu entrar e pegar? Se o senhor permitir posso colocar suas roupas em
malas e pegar os pertences importantes. Depois faço o mesmo para você, linda. — Poderia ter
ignorado, mas vi Hannah sorrir pela maneira carinho como me referia à Emma.
— Se não for incômodo para você, meu filho, eu aceito. Eu só preciso das roupas, da
caixa que tem debaixo da minha cama com as memórias da minha esposa e os porta-retratos da
sala, já que o restante das coisas são todos do dono do apartamento.
— Não é incômodo nenhum e eu prefiro fazer isso de uma vez e tirar vocês daqui. Não
quero arriscar que esses malucos de gangue apareçam enquanto ainda estivermos aqui. — Ele
concordou, me dizendo o número de seu apartamento e me entregando as chaves — Eu vou
entrar, buscar as coisas dele e volto para te perguntar o que precisa, ok?
— Ben, vai demorar se fizer isso sozinho, eu… eu posso tentar ir junto.
— Emma, você não conseguiu nem falar isso sem gaguejar. — Hannah apontou —
Fica aqui com o Sr. T e eu ajudo o bonitão. É bom que uso essa oportunidade para iniciar meu
interrogatório e fazer minhas ameaças. — Ela sorria, um tanto maquiavélica, movendo as
sobrancelhas para cima e para baixo, fazendo nós três rirmos dela.
— Hannah.... — Emma até tentou alertar, mas Hannah a ignorou por completo.
— Vamos, bonitão. Resgatar roupas e fotos no meio de sangue e vidro quebrado. —
Ela disse antes de sair andando e me deixar para trás.
— Ela é meio doida, não? — Olhei para Emma ainda rindo.
— Meio? Não, completamente.
— Fica aqui, ok? Não saiam daqui, vocês dois. Eu vou e volto o mais rápido possível
para irmos embora de uma vez. — Lhe dei um beijo rápido e corri atrás da maluca da Hannah
que agora gritava o meu nome. Ela era mesmo doida e cumpria promessas. Foi necessário apenas
entrarmos no prédio para começar a me interrogar.
— Você deveria se apresentar para mim, não acha? Regra número um, bonitão:
conquiste o coração da melhor amiga e já estará bem encaminhado.
— Prazer, Hannah, Benjamin McKnight, noivo da melhor amiga cujo coração quero
conquistar.
— Hm, bom começo… — Subimos as escadas, tentando ignorar as coisas que vemos
pelo caminho — Então, por que Emma estava em seu apartamento hoje? Ela me disse que te
pediu para ir com calma, não a obrigou a ficar lá, não né?
— Regra número um, melhor amiga: Eu não mando na Emma e muito menos a obrigo
a fazer qualquer coisa, por menor que seja. — Ela sorriu, claramente satisfeita com minha
resposta. Domei meu ego, explicando o que aconteceu para Emma resolver ter ido à minha casa
em primeiro lugar, inclusive o que Courtney falou para Emma.
— E meu afilhado está bem?
— Está tudo bem. — Sorri, gostava de como aquilo soava — Só precisamos voltar para
uma consulta amanhã, ou melhor, hoje mais tarde.
— Não deixe que essa lambisgoia fale mais merda para Emma ou vou eu mesma me
resolver com ela. — Eu só poderia sorrir, agradecido por ela estar na vida de Emma.
Chegamos ao apartamento do síndico e constatamos que ele realmente possuía poucos
pertences. Pegamos duas malas guardadas no armário e juntamos tudo que ele nos pediu,
enquanto Hannah continuava na sua função, me interrogando para se certificar de que estava
sendo honesto e não ludibriando Emma de qualquer forma.
Em pouco mais de vinte minutos conseguimos arrumar tudo e descemos carregando as
duas malas e a caixa de memórias com as lembranças de sua falecida esposa. Deixamos tudo na
mala do meu carro e encontramos Emma e Rupert conversando por ali.
— Tudo bem?
— Tudo, só estou exausta emocionalmente.
— Vou subir com Hannah e buscar suas coisas agora. Quer alguma coisa em especial?
— Não sou apegada a nada ali dentro. Só traz as minhas roupas e os porta-retratos e,
também, tem umas pastas naquela minha estante com documentos e fotos. Não quero nada
material, a maioria é do locatário e o que é meu deixo para trás, posso doar, não sei. Sua casa tem
coisas essenciais, podemos comprar decorações e coisas desse tipo em outro momento.
— Nossa. — Corrigi — Nossa casa. Eu quero isso de verdade, Emma, essa rotina a
dois, dividir o mesmo espaço. Então, é bom você se acostumar a se incluir nas coisas. Nossa
casa.
— Nossa casa. — Ela me abraçou pela cintura sorrindo quando beijei o topo da sua
cabeça — Como estão as coisas com Hannah?
— Não se preocupe com isso, ela só está fazendo seu papel como amiga e tendo
certeza de que você está bem e feliz. Acho que estou passando no teste, vou ser aprovado pela
melhor amiga.
Não demorou muito para eu e Hannah chegarmos ao apartamento de Emma e
começarmos a recolher todas as roupas no armário e o restante das coisas que me pediu.
Eu não consegui ignorar muitas coisas que percebi. Já tinha notado o tamanho do
minúsculo apartamento em que viveu todo esse tempo, mas agora pude ver as más condições
também. Havia mofo para todo lado, a ponto de deixar cheiro na casa por mais que esta fosse
limpa. Manchas de infiltração pelas paredes, tinta descascando em outras. E, claro, a pouca
quantidade de roupas em seu armário. O que eu tinha apenas de camisetas simples para usar em
casa era mais do que ela possuía como um todo.
Ao invés de deixar a angústia por me lembrar de todas as dificuldades que já passou na
vida, escolhi repetir mentalmente que a partir de agora ela teria novas oportunidades e poderia se
dar ao luxo de gastar com coisas que antes considerava fútil por ter outras prioridades, sem
precisar se preocupar se iria ou não faltar comida ou algo do tipo.
— Bonitão, posso fazer uma pergunta mais séria dessa vez? — Percebi que o tom de
voz realmente estava diferente das perguntas anteriores que vinha fazendo, bem mais sério — A
essa altura você já sabe tudo que Emma já passou, não sabe?
— Sim, ela me contou tudo.
— Então você sabe o quanto ela é carente de família, carente dessa sensação de ter para
quem correr, com quem dividir problemas do cotidiano. Mesmo com a loucura que é minha vida,
eu tento ao máximo me fazer presente para ela, mas eu sei que não consigo suprir a necessidade
dela.
— Sei disso, Hannah. Ela me contou sobre a relação de vocês duas.
— Se você sabe de tudo isso, o que eu preciso te perguntar é: você sabe que o que
ofereceu à Emma é muito mais do que podia imaginar? Ela não vai conseguir não se apegar a
vocês e, se eu for bem sincera, é perceptível que ela já se apegou, aos dois, e se você se
arrepender disso ou pular fora e levar o bebê com você, ela não vai suportar e se acontecer
qualquer coisa a ela eu acabo com você. Te destruo até não sobrar mais do que pó de Benjamin.
Já passou da hora dela ser feliz, ela não merece mais sofrer na vida. ‒ Parei o que estava
fazendo para encarar o fundo dos olhos marejados, cheios de amor pela amiga.
— Eu vou ser completamente honesto com você, Hannah. Quando eu pensei nessa
proposta, eu tinha em mente que queria sim um casamento de verdade, uma esposa de verdade e
uma mãe para o bebê. Eu imaginava que, eventualmente por conta da convivência, eu iria me
apegar a essa mulher, me apaixonar e quem sabe chegar a amá-la, mas eu posso te dizer com
toda a certeza que há em mim, isso não vai ser possível.
— COMO É QUE É? — Ela me interrompeu aos gritos, com os olhos faiscando na
minha direção, levantei o dedo para que ela me deixasse terminar de falar.
— Não vai ser possível, porque eu não preciso de mais tempo para perceber o quanto
Emma se tornou essencial para mim, ela também está me oferecendo algo que nunca tive,
Hannah, uma família. Ela perdeu a dela, mas eu nunca tive uma. Tudo isso é novo para mim e só
com o pouco que tive acesso nessas últimas semanas, eu posso te afirmar que eu também não
suportaria perdê-la e perder o que conquistei nesse tempo. — Confessei a ela com todas as letras.
— O que quer dizer com isso?
— Que eu quero ainda mais, que a quero por inteiro. Sei que nem tudo serão flores, sei
que vamos brigar e discordar um do outro, sei que vão haver dias em que ela vai querer me matar
e que eu vou sair de casa para espairecer depois de uma briga. Eu sei de tudo disso e ainda assim
eu quero tudo isso para mim. Nunca tive um relacionamento sério a ponto de querer viver todas
essas partes, mas eu quero isso com Emma, as partes boas e as dificuldades. — A raiva parecia
ter cedido na sua expressão facial— Eu posso te assegurar e te tranquilizar de que eu não vou
pular fora e sim que vou fazer o que estiver ao meu alcance para que nós dois, nós três na
verdade ou quantos viermos a ser, sejamos felizes.
Sei que minhas palavras mexeram com ela, mas mais do que isso, fizeram ela entender
o meu ponto de vista, as minhas expectativas e as minhas vontades. Eu estava mergulhado de
cabeça nessa história e não menti em nenhuma pequena palavra do que disse a ela.
— Só não machuque a minha irmã. Ela é muito importante para mim também e ela
pode se fazer de forte para lidar com a vida, mas ela é frágil e sensível. Eu acredito em você e no
que me disse, mas isso não vai me impedir de te castrar caso faça qualquer mal a ela.
— Tudo bem, é seu direito como melhor amiga.
— Ainda bem que sabe.
O clima suavizou e assim que terminamos de organizar as coisas, descemos com duas
malas e mais uma sacola com sapatos e bolsas. Dividimos as coisas de Emma e Rupert entre meu
carro e o de Hannah e seguimos nosso caminho.
— Pronta?
— Pronta, vamos para casa. — Respondeu, depois de bocejar pela milésima vez.
Suas palavras foram capazes de irradiar um calor descomedido pelo meu corpo.
— Vamos para casa!
Repeti, mas antes de colocar o carro em movimento, segurei as laterais de seu rosto e
lhe dei um beijo, longo, molhado, cheio de significados.
Agora sim, vamos para casa.
Capítulo 21 — Emma Campbell

Já passava das cinco de manhã quando chegamos em casa, miseravelmente cansados.


Ben mais do que todos. Hannah apenas descarregou as malas que trouxe em seu carro e logo foi
para sua casa. Acomodamos o Sr. T em um dos quartos de hóspedes, nos despedimos e logo eu e
Ben seguimos para o nosso quarto.
Nosso!
Era estranho e bom — muito bom mesmo — pensar assim, em tudo como nosso. Não
entendam mal, eu estava aos poucos me acostumando a ver tudo sob uma nova perspectiva, mas
ainda era tudo recente. Eu havia insistido na questão de irmos com calma, porém, depois do meu
pressentimento, do que aconteceu no meu prédio e de ter Ben cuidando de mim como há muito
tempo ninguém fazia, não fazia o menor sentido insistir em algo que seria inevitável.
E eu precisava admitir que estava ansiosa para essa nova fase.
— Estou exausta. — Resmunguei quando Ben ameaçou se jogar na cama ao meu lado,
mas se impediu no último segundo— Eu não sei como acordar daqui a menos de três horas para
irmos trabalhar.
— Ah, não, sem chance disso, minha linda. — Ele gemeu — Eu estou podre, cansado ao
extremo. Já estava desde antes de tudo isso acontecer, tanto é que saí mais cedo do escritório. Eu
vou desmarcar toda nossa agenda de hoje e semana que vem a gente compensa.
— Eu poderia ser uma funcionária eficiente e tentar te contradizer, mas eu vou acatar
essa decisão bem quietinha que é para você não mudar de ideia.
— Você é muito boba. — Ele ria — Vou tomar um banho rápido e antes de deitar mando
uma mensagem para Mary e aviso que aconteceu um imprevisto e peço a ela para cancelar tudo.
Mary era basicamente uma faz tudo na empresa, fazia o que precisava ser feito e para
quem precisasse, mas, de modo geral, ela era a assistente extra de Ben e dos diretores.
Ben voltou do banheiro, se estalando inteiro antes de se jogar ao meu lado de bruços no
colchão. Sabia que ele estava cansado ao extremo e agora provavelmente com dor no corpo
depois de subir e descer vários andares de escada com as minhas malas e as do Sr. T. Antes que
ele acabasse dormindo, encontrando uma coragem que não sabia de onde vinha, fui ao banheiro
pegar um óleo corporal e voltei para a cama.
— Onde foi? — Perguntou, sem sequer afastar o rosto do travesseiro.
— Fui buscar uma coisa para você, só fica quietinho e aproveita.
Montei em seu corpo, me sentando na sua bunda. Despejei um pouco do óleo nas suas
costas, massageando os músculos tesos, e a cada lugar novo que passava as mãos, ouvia seus
gemidos, pouco a pouco mais altos. Não me estendi por muito mais tempo, mas ao menos
consegui ajudá-lo um pouco. Desci de cima dele, voltando ao lugar que descobri ser um dos
meus preferidos, o conforto dos seus braços.
— Obrigado por isso. — Ben me deu um beijinho rápido — Agora vamos dormir, mais
tarde temos que ajudar Rupert a se organizar e temos a consulta do bebê.
— Acha que eu devo ir? Eu não quero criar confusão ou gerar ainda mais atrito com
Courtney e tenho medo dela, não sei, se irritar com a minha presença ou com meu papel nisso
tudo e fazer algo para prejudicar o bebê. — Confessei a ele, sem esconder minha aflição.
— Emma, você é a mãe dele, é você quem vai cuidar e estar presente na vida dele, é
você quem vai amá-lo. Nada mais justo do que você estar presente em tudo que diz respeito a
ele. Eu não quero ser intermediador, sou pai tanto quanto você é a mãe. Você vai na consulta… a
não ser que você não queira e aí… — O modo duvidoso como ele questionava isso me irritou,
me afastando do peito dele abruptamente.
— Não é nada disso. — Apontei um dedo para ele — Não duvide de mim, Benjamin,
principalmente em relação a isso. Tudo que eu mais quero desde que concordei com isso, desde
que me mostrou aquele ultrassom e me contou sobre o coraçãozinho, é estar presente e ver tudo
isso com meus próprios olhos, sentir tudo que você já teve a oportunidade de sentir. Eu só não
quero complicar ainda mais as coisas e se for para garantir que ela não fará nada para prejudicar
o bebê, eu me abstenho de vivenciar isso. Eu só quero meu filho bem. Nunca mais duvide disso.
— Ei, calma, me desculpe. Não queria que parecesse que estava duvidando ou
questionando seus sentimentos, Emma. Só quis dizer que se você quer estar lá, então você estará
e ela não tem que questionar nada a respeito disso. Além do mais, ela está amarrada até o
pescoço com as cláusulas contratuais, o advogado fez um excelente trabalho em garantir isso. —
Olhei em seus olhos, resolvendo respirar fundo para mandar essa irritação embora.
— Tudo bem então, se você acha que ela não irá causar maiores problemas com tudo
isso, eu faço questão de estar presente, não só nessa mas em todas as outras consultas.
— E assim será. Já me desculpou por ter falado merda?
— Não duvide da minha palavra nunca mais. — Ele afirmou — Então estamos bem.
— Volte aqui. — Ele me puxou de volta para seu peito — E o que foi isso Benjamin?
Você começou com isso de Ben ou lindo, agora se atenha a isso.
— Vou deixar Benjamin para quando for brigar com você.
— Isso, ótimo, assim sei identificar quando estou encrencado. — Agora ele me fazia rir.
— Chega, lindo, vamos dormir.
Dei um beijo em seu peito e ele retribuiu deixando um no topo da minha cabeça, me
apertando e deslizando as mãos pelas minhas costas por alguns minutos antes de nós dois
cairmos no sono.

Uma coisa molhada passava no meu rosto.


Uma vez. Duas vezes. Três.
Na quarta vez, afastei o rosto do travesseiro apenas o suficiente para entender o que
estava acontecendo. E dei de cara com o focinho de Sheik apoiado no colchão enquanto a língua
— a responsável por me acordar — se preparava para uma nova lambida.
— Você é um despertador canino, é, lindinho? — Fiz um carinho nele, que se apoiou na
minha mão, adorando o carinho que fazia nas suas orelhas.
O relógio na cabeceira me mostrava que consegui dormir boas horas. Poderia dormir um
pouco mais, sem muitos problemas, mas consegui dormir o suficiente. Pelo horário que via
registrado ali, imaginava que Sheik estivesse querendo comida e por isso veio me acordar.
— Já trocou o papai por mim, é? Vou fazer questão de esfregar na cara dele que você me
ama mais. — Recebi uma nova lambida quando me estiquei para beijá-lo ‒ Menino lindo,
mamãe vai ao banheiro rapidinho e já vou te dar comida, ok?
Sheik parecia ter me entendido, se sentou na beira da porta me esperando enquanto corri
ao banheiro rapidamente seguindo minha rotina matinal, usando algumas coisas de Ben, já que as
minhas ainda estavam espalhadas pelas malas.
Saí do quarto trazendo ele comigo, deixando um Ben esparramado de bruços no colchão,
abraçado ao travesseiro que eu usava há poucos minutos e roncando mais uma vez,
completamente exausto. Encostei a porta atrás de mim, deixando o quarto escuro e silencioso
para que dormisse por quanto tempo quisesse, ainda mais considerando que não iríamos para a
empresa hoje.
Coloquei ração e água fresca para Sheik e comecei a preparar um café da manhã
reforçado para todos nós. Quando estava quase terminando de fazer algumas panquecas e tirando
um bolo no forno, Sr. T apareceu ao meu lado, me cumprimentando e me fazendo companhia até
que tudo estivesse pronto.
Enquanto esperávamos, aproveitei para atualizá-lo sobre minha vida e explicar que
estava noiva. Sr. T já tinha nos visto juntos algumas vezes e eu me aproveitei disso para contar a
ele que estávamos mais envolvidos do que deixei transparecer, a ponto de estarmos não só
noivos mas também esperando um bebê, ainda que por barriga de aluguel.
— Podia ter me contado, florzinha. — Ele disse, me abraçando em sua euforia por mim.
— Fico tão feliz por você, que terá sua família agora, fico mais tranquilo de ir embora e deixá-la
com sua nova família.
— Ainda será minha família, Sr. T. Não vou te abandonar e não vou te deixar sumir.
— Mas é claro que não! Vou te ligar sempre, quero vir para o casamento e conhecer seu
bebê, não importa que não esteja crescendo na sua barriga. — Ele poderia até querer fazer
perguntas, mas não as fez. Não questionou nenhuma parte da história, apenas me felicitou pelo
casamento e pelo bebê.
Um Benjamin descabelado e amassado de tanto dormir apareceu na cozinha algum
tempo depois, nos cumprimentando e, antes mesmo de conseguir me dar um beijo, Sr. T
estendeu as felicitações a ele, que abriu um enorme sorriso de agradecimento.
Agora sim, ele veio até mim para um beijo, enquanto a mão acariciava a cabeça de Sheik
exigindo sua atenção.
— Acordou inspirada? Temos até bolo fresco?
— O nome disso é alívio, Benjamin. — Sr. T disse a ele — Ela acordou em um lugar
seguro, acordou feliz. Até se empolgou no café da manhã.
— No nosso café e no seu, não é, Sheik? — Ben disse ao cachorro — Ouvi a mamãe
dizer que ia te dar comida. — Ele me olhou contendo um sorriso provocador, deixando claro que
ouviu meus sussurros e a maneira como me denominei.
— Achei que Sheik pudesse ser agressivo, não convivo com muitos cachorros, mas devo
me acostumar, não é? Pelo que sei, na casa do meu primo também tem vários cachorros.
— O senhor tem certeza de que quer ir embora para a casa dele? Eu posso conseguir um
trabalho para o senhor, tenho um apartamento aqui perto onde o senhor pode morar sem nenhum
problema.
— Não, meu filho, eu vou para lá ficar com ele. Emma era a única coisa que me prendia
aqui e agora sabendo que ela está bem, eu consigo ir mais tranquilo. Não vou abrir mão da minha
menina, ainda mais agora que sei que tem um casamento e um bebê por vir. Eu só preciso de um
banho e de uma carona até a rodoviária.
— Se é assim que prefere, fique à vontade, assim que estiver pronto, eu levo o senhor.
Sorri contente pela boa interação entre eles. O Sr. T me adotou como uma filha e por
muito tempo ele e Hannah foram as pessoas mais próximas de mim. Ele era muito importante
para mim, como um pai postiço, e sabia que ele seria como um avô para meu filho.
Dentre as muitas coisas que eu pensei ter perdido após a morte dos meus pais, estava
justamente isso aqui que acontecia na minha frente nesse momento. Meu noivo e meus pais
interagindo, conversando, se aceitando em uma família. Me doía não ter minha mãe aqui para me
ajudar com os preparativos do meu casamento ou para me dar conselhos maternos diante do bebê
que logo mais eu teria nos braços. Me doía não ter meu pai para ameaçar meu noivo ou assistir
com ele um jogo de futebol aos domingos ou, também, para andar comigo até o altar.
Tudo isso machucava, mas preferia encarar pelo outro lado.
Tinha o Sr. T aqui, e ele, de uma maneira ou de outra, se tornou uma figura paterna para
mim. Relembrei o que eu e Ben já conversamos a respeito da cerimônia de casamento, que seria
algo simples e intimista, mas teria um certo tradicionalismo.
— O senhor me disse que virá para o casamento, não terá desculpas para recusar e… —
Uma emoção me tomou por um momento, alertando os dois homens a minha frente no mesmo
instante, a mão de Ben largou a xícara quente para alisar minhas costas — O senhor sabe que não
tenho mais meus pais aqui, mas, se o senhor me considera como a filha que não teve, isso
significa que eu ganhei um novo pai e então será que… que o senhor aceita me acompanhar até
Ben no altar?
— Você está falando sério, minha florzinha? — Eu não tinha voz para responder pelo nó
que havia se formado na garganta, mas concordei — Será um prazer. Nada me fará mais
orgulhoso do que poder fazer isso.
Lhe dei um abraço apertado, controlando a minha emoção. Ou ao menos tentando fazer
isso. Permanecemos os três com sorrisos emocionados pregados nos rostos e atacando toda a
mesa do café, até que o Sr. T se retirou para se arrumar para ir embora. Ben me abraçou por trás,
passando os braços pela minha cintura e apoiando o rosto no meu ombro.
— Fiquei tocado com o que aconteceu aqui, ele ficou realmente emocionado com seu
convite.
— Significará muito para mim também, Ben.
— Gostei mais ainda de te ver fazendo planos sobre a cerimônia, temos mesmo que
começar a pensar em tudo isso, mas antes… — Senti um beijo no meu pescoço — Temos que
desarrumar suas malas e colocar tudo no lugar.
— O que acha de levá-lo até a rodoviária enquanto eu organizo isso e me arrumo para
irmos para a consulta?
— Ótimo plano. — Com um movimento preciso, girou meu corpo pela cintura, me
deixando de frente para ele — Vai me achar ridículo se eu disser que estou ansioso para ver suas
coisas misturadas às minhas?
— Vou achar bem fofo.
— Acho que prefiro o ridículo. — Ri junto dele — À medida em que formos nos
organizando, podemos sair para comprar coisas novas para cá. Quero que mexa na decoração e
tudo mais, dando um toque de Emma.
— Que tal aproveitarmos o dia de folga dado pelo chefe e fazer isso depois da consulta?
Podemos começar a olhar algumas coisas de bebê também, só não podemos esquecer que
teremos visitas mais tarde.
Terminei com as louças — ou melhor, ajeitei todas elas na lava louças — e enquanto
Ben levava as minhas coisas para o quarto e ia tomar um banho se arrumar para sair, comecei a
desfazer as malas no closet.
Ben saiu do banheiro apenas com uma maldita toalha enrolada na cintura, passou por
mim indo em direção ao seu lado no armário, abriu a gaveta, sem a menor pressa, e tomou tempo
escolhendo uma entre uma infinidade de boxers preta que tinha por ali.
Todas iguais, ele poderia fazer isso em apenas meio segundo.
Mas não, ele demora propositalmente.
Sabia que estava me provocando, e o pior era que estava conseguindo. Eu já tinha
desistido de pendurar os vestidos e o olhava descaradamente, que saiu da frente da gaveta e
pegou uma calça jeans e uma camisa, enquanto me olhava de relance e me flagrava observando.
— Te distraí, linda?
Vi a malícia escorrendo por seus poros à medida que se aproximava de mim, me
deixando tonta com seu cheiro fresco e sua presença imponente. A nossa diferença de altura era
intimidante e com os músculos à plena disposição, bem na minha cara, ele me puxou pela cintura
grudando nossos corpos, com apenas a toalha entre nós dois.
— Não me provoca, Ben. — Esse maldito abaixou a cabeça, resvalou a barba pelo meu
rosto e seguiu com os lábios para minha orelha deixando uma mordida leve bem na ponta.
— Por quê? Está surtindo efeito?
— Talvez. — Murmurei, gemendo baixinho quando ele passou a barba novamente por
minha bochecha, deixando um beijo no meu pescoço.
— Está funcionando?
Ele me instiga, me excitava ainda mais com a bendita rouquidão da sua voz e o hálito
fresco soprado no meu rosto. Não respondi, apenas passei a mão pelo pescoço até alcançar seu
rosto e puxá-lo para um beijo, sem deixar que ele pensasse muito, tomei o controle de toda a
situação devorando a boca dele com a minha. Pressionava meus lábios aos seus no mesmo
minuto em que descia minhas mãos para sua barriga, sentindo os músculos tensionarem
levemente em resposta ao meu toque.
Sorri contente com o meu feito e ele aproveitou que baixei a guarda para intensificar o
beijo, invadindo minha boca com sua língua, se deliciando com chupões e mordidas em meus
lábios, enquanto uma de suas mãos descia para minha bunda.
Quando cogitei fazer algum movimento mais provocador, Sheik latiu ao longe e nos
afastamos lentamente enquanto escutamos o Sr. T avisar que já estava pronto para ir. Ben se
afastou de mim, me deixando completamente desnorteada com o beijo e, pelo que imaginava,
com o rosto e o pescoço vermelhos por suas provocações.
— Vou terminar de me arrumar para sair. Na verdade, acho que terei que tomar outra
ducha antes disso, fria dessa vez.
Desejo escorria pela voz ainda mais rouca do que antes, entregando o porquê. Acabei
olhando de relance para a toalha que não escondia o volume que a sua ereção ostenta, grande e
evidente. Retornei meu olhar para o rosto dele e vi o sorriso satisfeito dele por ter percebido o
que eu fiz. Não neguei que me afetou, tampouco deixei sua provocação passar ilesa, revirei os
olhos sorrindo e dei um leve tapinha em sua bunda, empurrando ele de volta para o banheiro
enquanto esse palhaço apenas gargalhava.
Minutos depois ele saiu devidamente composto e vestido, ainda sustentando o sorriso
provocante. Seguimos para a sala para que eu me despedisse do Sr. T, prometendo manter
contato e reafirmando que enviarei o convite do casamento para ele. Ben colocou as malas no
elevador e voltou até mim me dando um beijo, menos sensual mas igualmente intenso.
— Vou apenas levá-lo e volto para te buscar para irmos para a consulta e… — Se
abaixou para sussurrar no pé do meu ouvido — Mais tarde a gente termina o que começamos no
closet.
Sorrio sensualmente para ele antes que ele se fosse.
Mal podia esperar por mais tarde.

Não tinha tantas coisas assim para arrumar, mas esvaziei as minhas malas e guardei as
fotos e documentos no escritório, no armário com espaço para isso.
Não consegui ignorar a diferença entre a quantidade de roupas minhas e as de Ben, e
agora com tudo no closet, tinha uma noção mais exata de que estávamos —mesmo— em
patamares opostos. Eu precisava dar um jeito nisso em algum momento. Agora que a situação
havia mudado e não tinha mais o financiamento para me deixar de cabelos em pé, finalmente
tinha a chance de gastar o meu salário da forma que eu sempre quis, comigo mesma.
Depois de tudo pronto e de um banho rápido, fiquei brincando com Sheik até Ben
retornar. Coçava a barriga dele, jogava brinquedos para ele buscar por longos minutos até ele
cansar e se deitar ao meu lado buscando mais carinho.
— Neném dengoso. — Beijei a cabeça dele.
— A mamãe está te apertando, filho? — A voz inesperada de Ben me fez dar um pulo no
lugar, quase tendo um infarto. O fôlego quase foi embora junto com o meu coração, encarando
meu noivo encostado de lado no batente da porta, com os pés e braços cruzados, me encarando
com as sobrancelhas erguidas. Mal podia mesmo esperar por mais tarde — Vamos? Estamos em
cima da hora, deixe os apertos no seu bebê para depois.
— Nem tinha te visto chegar, mas vamos. — Me levantei do chão — Tchau, meu amor,
depois eu brinco com você. — Andei até Ben no elevador, revirando os olhos para o sorriso
provocador que ele me oferecia — Até quando vai ficar querendo implicar comigo por essa
história de ser mãe dele?
— Estou achando muito bonitinho, isso sim. Eu contei para ele que havia te pedido para
ser minha, ele passou aquele final de semana tão ansioso quanto eu. Ganhei você como noiva, ele
te ganhou como mãe.
— Ele me conquistou mais rápido do que você. — Provoquei apenas para rir da sua
expressão mudar de provocante para espantada.
— Daqui a pouco Eleanor aparece para receber o pessoal do pet shop que vem buscar
Sheik para tomar banho. — Ele comentou — Ela me pediu a manhã de folga hoje para
acompanhar o marido em uma consulta médica. — No decorrer dessas semanas que estamos
juntos, conheci a governanta de Ben e era uma senhora adorável que não deixava meu noivo
morrer de fome e ainda cuidava do meu bebê canino.
O caminho até a clínica foi rápido, mas o suficiente para me deixar nervosa, não porque
estava prestes a ter o primeiro contato com aquele serzinho que me conquistou com apenas uma
única foto, mas também por saber que teria que encarar Courtney de frente. Pelo visto não
escondi muito bem minhas emoções, já que bastou estacionar o carro para Ben me olhar.
— Emma, eu sei que não vai ser fácil ou agradável lidar com Courtney, mas, por favor,
tente relevar e não absorver os insultos e afrontas dela. Você sabe da sua importância, e se ela
provocar, eu mesmo faço questão de colocá-la em seu lugar.
— Vou tentar, Ben, mas não prometo isso. Eu não sei lidar com provocações, me sinto
acuada.
— Pois então eu te defenderei, não se preocupe. — Ele me prometeu, mas esperava que
não fosse necessário. Realmente esperava.

Do momento em que entramos no consultório, sentia a palma da mão de Emma suando


contra a minha e sua tensão emanando por seus poros. Poderia dizer para ela ficar calma, mas
esperar que essa consulta fosse um sucesso era uma expectativa alta demais.
Courtney ainda não havia chegado, então, nos sentamos e conversamos trivialidades
enquanto esperávamos. Fizemos uma lista parcial das coisas que queríamos comprar no shopping
mais tarde, tanto para a casa quanto para o nosso bebê.
Estávamos há mais de quinze minutos esperando e nada de Courtney chegar,
atrapalhando todo o agendamento de Natalie, já que ela estava abrindo mão de seu horário de
almoço apenas para nos atender. Tentei mais de uma vez ligar para ela e não conseguia contato,
me deixando cada vez mais irritado, a ponto de não conseguir ficar sentado, precisava andar de
um lado para o outro.
— Ben, vem cá, sente aqui, não vai adiantar nada você ficar andando de um lado para o
outro e já está me deixando tonta. — Me permiti respirar fundo antes de me sentar ao seu lado,
tomando sua mão na minha, entrelaçando nossos dedos — Fica calmo. — Emma deixou um
beijo no meu ombro.
— Estou irritado com...
— Atrapalho, Benjamin? — Courtney surgiu ao nosso lado.
— Você está atrasada, estamos esperando você há quase trinta minutos.
— Eu estava em um outro compromisso marcado anteriormente, essa consulta não estava
nos meus planos. — Respondeu, mas franze as sobrancelhas e faz aspas com as mãos antes de
voltar a falar — “Estamos”? Quem exatamente está me esperando? — Emma apertou minha mão
com força antes de eu responder.
— Courtney, essa é Emma, minha noiva. Linda, essa é Courtney. — Apresentei
formalmente as duas.
— Prazer. — Emma falou em tom baixo enquanto Courtney arregalava os olhos e
soltava uma gargalhada de incredulidade.
— Noiva? Desde quando você é noivo, Benjamin? — Ela analisou Emma de cima a
baixo, que apertava minha mão com mais força sabendo exatamente onde isso iria dar e eu
tentava acalmá-la fazendo um carinho no dorso da sua mão com meu polegar — A secretária?
Sério, Benjamin? Com tanta mulher no seu nível, você vai atrás de uma secretariazinha sem…
— Acho melhor você pensar duas vezes antes de desrespeitar a minha noiva. Emma
trabalha como minha assistente não tem nada para se envergonhar nisso. É uma mulher de
respeito, trabalhadora, de índole impecável. Mas isso não importa, não estamos aqui para discutir
minha vida pessoal. Estamos aqui única e exclusivamente para o bem do bebê então se atenha a
isso. — Não deixei espaço para que falasse mais nada.
Ao menos ela ficou quieta pelos minutos seguintes, até entrarmos no consultório.
Courtney bufando e reclamando sem parar, Emma nervosa e eu respirando fundo.
— Entra, linda. — Acompanhei Emma.
— Ela tem mesmo que ficar aqui na consulta, Ben?
— É Benjamin para você, e sim, ela é a mãe do bebê e vai ficar.
— Espere, acho que ouvi dizendo mãe do bebê? Que decadência. A criança vai sair de
mim para ser chamada de filho por essa daí? — Ela apontava o corpo dela e depois o de Emma
— Se eu fosse a criança, ia preferir ter apenas pai a isso como mãe — Era tudo que precisava
para explodir.
— Chega, Courtney, já deu. O que essa criança ainda não sabe é o livramento que ela
teve antes mesmo de nascer, por você não ter o querido. Ele tem uma mãe de verdade, que
independente de não o gerar já o ama incondicionalmente. Ele ainda não sabe a sorte grande que
tirou. Então não venha desmoralizá-la ou ofendê-la. Ele é meu filho, meu! Meu e da Emma.
Apenas. Você sabe o seu lugar nessa história, eu não preciso e não vou te lembrar disso. —
Percebi quando ela engoliu o seu desconcerto goela abaixo diante da minha postura.
— Vamos todos nos acalmar, estamos aqui pelo bebê, vamos nos concentrar nisso. —
Natalie interveio.
— Eu estou aqui por mim, apenas para você substituir essas porcarias de vitaminas que
me obrigou a tomar. — Courtney insistia em destilar veneno.
— Courtney…
— Ben, pelo bem do bebê, ela não pode se exaltar. — Emma me alertou — Vamos ouvir
a médica.
— Escute sua noivinha, Benjamin.
Natalie interrompeu a provocação chamando atenção para si e dando início a consulta,
perguntava quais eram as reclamações e os efeitos colaterais que Courtney estava sentindo e
seguiram conversando, até que a médica, depois de substituir as vitaminas, resolveu refazer os
exames de sangue e o ultrassom.
Aproveitei para apresentar Emma à Natalie, que perguntava à minha noiva coisas sobre o
bebê, deixando-a mais tranquila e ao mesmo tempo ansiosa para assistir à ultrassonografia.
Enquanto Courtney se dirigia ao banheiro para colocar a bata hospitalar, Natalie aproveitou para
chamar minha atenção.
— Benjamin, vou falar com você agora como amiga. Te conheço há anos, você é um
ótimo amigo do meu marido e me contou toda a história envolvendo você, a Courtney e o
contrato. É visível para qualquer um que fique perto por cinco minutos, o quanto ela está
seguindo com essa história porque sabe a recompensa que virá no final. Te aconselho a não
provocar e muito menos a cair nas provocações dela. Você e Emma precisam fazer a parte de
vocês, eu farei a minha, estamos os três aqui empenhados no melhor para o filho de vocês.
Podemos seguir assim?
— A doutora está certa, você não pode se exaltar mais assim. Te agradeço por me
defender, mas temos que aprender a ignorar, vai ser melhor.
— Tudo bem, pelo bem do nosso filho eu vou me controlar.
Abracei Emma pelos ombros deixando um beijo na lateral de sua cabeça quando
notamos Courtney se acomodando na mesa do exame, expondo a barriga pela bata, que agora
com dezessete semanas, já demonstrava claramente a gravidez.
— Prepare-se, linda. — Sussurrei no ouvido de Emma enquanto Natalie começava o
exame.
— Pela idade gestacional, talvez a gente consiga descobrir o sexo hoje, se o bebê
colaborar e deixar as perninhas abertas dessa vez.
Natalie ainda disse que iria aproveitar a oportunidade para realizar o ultrassom
morfológico, um dos principais exames para identificar possíveis síndromes ou malformações,
checar a placenta e mais uma quantidade absurda de informações. A médica ia explicando cada
etapa, pontuando que o bebê havia crescido e ganhado peso, eliminando qualquer questão fora
dos padrões esperados, dando um ok, dizendo que o bebê estava ótimo.
— Tudo certo com nosso bebê, Emma. — Ela não conseguia me responder, estava
totalmente imersa na televisão que mostrava o exame sendo realizado, com um sorriso encantado
e emocionado no rosto.
— Olhe, Ben, está chupando o dedinho. — Ela me disse, sua voz embargada com suas
emoções.
— Olhem só, acho que a mamãe deu sorte. Temos um bebê com as perninhas abertas por
aqui. Querem saber o sexo? — Um aceno com a cabeça foi tudo que teve como nossa resposta
— Parabéns, papais, temos um lindo garotinho por aqui.
— Um menininho!
Minha mulher não escondeu sua emoção, deixando que transbordasse em forma de
lágrimas escorrendo pelo rosto. Enquanto eu... eu estava completamente imerso nas minhas
emoções.
Não faria a mínima diferença para mim. Se fosse uma menina eu me emocionaria da
mesma forma. Sentia meus olhos arderem pelas lágrimas que não demoraram a cair e, ao olhar
para baixo e encontrar o olhar de Emma, percebi que precisava memorizar essa expressão dela
com a devoção, ternura e afeição.
Era amor, simplesmente, em máxima potência. Enxergava o amor dela por aquele
serzinho, mas ia além disso, enxergava em mim mesmo o mesmo amor, amava aquela pequena
coisinha, ainda nem nascida, acima de tudo.
E olhando para ela via que o que disse à Hannah na noite anterior era a mais pura
verdade. Realmente não precisava de tanto tempo quanto inicialmente pensei que fosse ser
necessário para me apaixonar. Isso já havia acontecido.
Estava irremediavelmente apaixonado por Emma, por tudo que ela era, por tudo que ela
representava, por todo o conjunto. E o fato dela amar o meu bebê tanto quanto eu amava era a
cereja do bolo, fechava a conta com chave de ouro. Não havia mais volta. Emma estava infiltrada
em meus poros. Tudo em mim ardia por ela. Apaixonado.
Abaixei meu rosto de encontro ao dela, minhas mãos às suas bochechas para segurá-lo
no lugar. Usava os polegares para limpar algumas das lágrimas e ela fazia o mesmo comigo e,
com nossos rostos secos mas ainda emocionados, colei meu nariz no dela.
— Um menino, linda! — Um beijo rápido foi trocado, porém o mais carregado de
sentimentos até agora. Transmitia ali, naquele breve resvalar de lábios, minha mais recente
descoberta.
Ela sorria para mim antes de voltar a encarar a televisão para assistir ao restante do
exame. Por um segundo, desviei o olhar para Courtney e ela novamente estava a própria
representação da impaciência e antipatia. Não me estressei com isso dessa vez, gastei meu tempo
me concentrando no meu filho e na minha noiva, com quem eu realmente me importava.
Natalie entregou as fotos do exame para Emma e seguimos todos para o consultório onde
a médica fez as observações finais, reiterando à Courtney para continuar tomando as vitaminas e
pontuando a necessidade de ela fazer uso de óleos e hidratantes corporais, principalmente pelos
seios, barriga e quadril, para evitar o aparecimento de estrias.
— É só o que me faltava ter risco de ter estria por conta dessa gravidez. Você me paga,
Benjamin. — Ela apenas foi embora resmungando, nos deixando para trás.
— Não vou deixá-la estragar meu dia. — Emma balançou a foto do ultrassom— Isso
aqui fez do meu dia o melhor de todos.
— O meu também. Um menininho, eu nem acredito. — Ela sorria abertamente, com a
mesma expressão abobalhada e apaixonada que imaginava estar estampada no meu rosto —
Vamos para o shopping? Estou animado, ansioso e até com fome.
Ela ria de mim e eu amava isso, como enxergava a felicidade exalando por todo seu
corpo. Puxei ela pela cintura, minha mão na lateral de seu rosto, tocando aquela mecha dos seus
cabelos.
— Vamos comprar roupas para você, e não adianta resmungar porque eu sei que você
está com isso na cabeça desde que viu a quantidade de roupas que eu tenho. — Ela não negou e
isso só me fez confirmar minhas suposições — Vamos comprar também as coisas para casa,
almoçar e aproveitar para comprar alguma coisa para nosso garoto. — Eu dava um beijo a cada
coisa que enumerava.
— Tenho apenas duas alterações para fazer sobre essa sua lista: almoçar primeiro,
porque eu posso não estar grávida, mas meu corpo está achando que sim, pois estou com uma
fome de duas pessoas. E, também, podemos comprar também alguma coisa para dar para nossos
amigos para contar sobre o sexo do bebê, quando forem para nossa casa à noite. — Ela terminou,
enfatizando as palavras.
Celebrava internamente o fato dele estar se referindo ao apartamento e às outras coisas
como nossas. Nossa casa, nossos amigos. Me dar conta de que essas pequenas coisas mexiam
realmente comigo, deixavam ainda mais evidente para mim que estava completamente
apaixonado por ela.
Capítulo 22 – Emma Campbell

Depois de almoçarmos um risoto de dar inveja em qualquer um, Ben e eu passamos o


restante do dia no shopping, pulando de loja em loja de utensílios e móveis para a casa, muito
mais por vontade do Ben do que minha. Eu achava que o apartamento estava incrível do que jeito
que era, mas ele insistiu para que eu escolhesse coisas. E no fundo, eu o agradeci, porque sabia
que essa era a maneira dele de me fazer sentir em casa, transformar o espaço com toques meus.
Com isso feito, depois de comprarmos uma cabeceira nova para a cama, alguns jogos de
lençóis e cobertas. Até que encontramos a área de móveis infantis, berços e pequenas cômodas
encantadoras.
Ben estava distraído observando alguns deles quando fugi para o banheiro rapidamente.
Quando voltava até ele, aproveitei para checar meu celular e me arrependi amargamente quando
vi notícias com meu nome sendo veiculado junto de fotos minhas e Ben fazendo compras.
Dentro dos comentários, estava aquilo que eu mais temia, pessoas dizendo que eu não me pareço
com a noiva de um CEO, que me vestia mal, que já fui vista várias vezes com as mesmas roupas
nesse mês que estamos juntos oficialmente aos olhos públicos.
— Ei, o que foi? — Ben me perguntou, nem mesmo raparei que já estava na loja.
— Só... notícias sobre nós dois. — Balancei o celular e joguei de volta na bolsa, não
queria estender o assunto. Eu estava pensando em um meio de fugir de comprar coisas para mim,
não queria fazer isso com Ben e gastar uma fortuna com roupas de marca, não quando não me
importava com isso. Sabia que precisava de novas peças, mas não precisava gastar o preço de um
carro popular apenas para me vestir.
— Te ofenderam? — Neguei com a cabeça, eu me magoei com a ideia de não aparentar
ser boa o bastante para ele, mas não foi uma ofensa propriamente dita. Ben respirou fundo,
buscando o próprio celular no bolso — Se você não me contar, eu vou procurar. Disseram
alguma coisa sobre você, está chateada.
— Só... falaram das minhas roupas. — Disse de uma vez, não ia adiantar fingir que não
era nada.
— Vamos comprar mais, linda, eu sei que isso está te incomodando.
—Isso ainda é estranho para mim. Você vai gastar uma grande quantia com isso e eu...
eu não quero gastar seu dinheiro dessa forma, mesmo que eu saiba que eu precise, porque sua
imagem está vinculada a minha e...
— Emma. — Ele me interrompeu, me puxando pela mão para um canto mais isolado da
loja — O fato de eu querer comprar novas roupas para você, não tem nada relacionado à minha
imagem pública, nada com isso. Quero te proporcionar isso porque você não podia fazer isso
antes, não gastava seu dinheiro com você por ter outras prioridades. Eu quero que você tenha
coisas, que se mime um pouco, que se cuide e aproveite coisas que nunca pôde. Eu não poderia
ligar menos se usasse a mesma roupa para sempre, não estou pensando em mim, minha linda.
— Isso tudo ainda é novo para mim, eu não... ainda não me sinto confortável com isso. A
ideia de gastar mais com roupas e acessórios do que eu gastava em dois ou três meses de
sobrevivência, ainda não me desce bem. Isso me incomoda, Ben.
— Eu posso entender isso. — Ele me abraçou — Se não quiser fazer isso hoje, não
precisamos. Se preferir que comprar em outras lojas que não essas de grife, eu também não me
importo. Se quiser pagar alguma costureira para isso ou trocar minha companhia pela Hannah, eu
também não me incomodo, linda. Eu só quero que você se permita ter as coisas que deseja, que
você compreenda que as coisas mudaram.
—Eu prefiro assim, se realmente não for um incômodo para você. Hannah me obrigava a
fazer isso ao longo desses anos, ela me arrastava para lojas mais em conta, mas de boa qualidade,
essa é a praia dela e... ela tem um jeito de me deixar confortável com isso, com a ideia de gastar
comigo.
— Tudo bem por mim, Emma, de verdade. Marque um dia com ela e tenham um dia de
garotas, fazendo tudo que nunca se permitiu antes. Mas quero que prometa uma coisa.
— O que?
— Que vai comprar o que gostar, o que quiser, sem se preocupar com preço. Eu entendo
que as coisas eram diferentes antes, mas agora, você não tem mais dívidas para se preocupar.
Você pode fazer isso. Por você.
— Eu prometo tentar. — Era o máximo que podia oferecer. Ben riu, mas concordou.
— Está bom. Vou conversar com Hannah e contá-la dos meus planos, ela vai se
encarregar de te obrigá-la a cumprir essa promessa.
— Benjamin! — Ele me calou com um beijo.
— Vem, linda, vamos atrás de coisas para o nosso garotinho.
Ele realmente mudou de assunto e contou aquilo como resolvido e sabia que Hannah iria
fazer exatamente o que ele disse, ela iria conseguir me obrigar a comprar tudo que eu sempre
disse que gostei ou as coisas que eu nunca permiti que ela me presenteasse.
A fada madrinha Hannah finalmente tinha recebido seu aval de liberdade.
Deixamos as lojas de móveis para um momento mais próximo à chegada do bebê, nos
concentrando nas lojas de roupas infantis. Aquilo era um universo à parte, eram tantos nomes,
tantas coisas, todas lindas e pequenininhas. Um item mais fofo que o outro.
Escolhemos algumas roupinhas e pares de sapatinhos, apenas pela euforia de termos
descoberto o sexo. Um menininho, mal podia acreditar.
Em determinado momento, observei Ben completamente imerso naquele novo universo.
Ele olhava as pequenas peças de roupa, colocava o sapatinho da palma da mão e sorria pelo
tamanho e comentava ‘olha, linda, que pequenininho’. A cada coisa que via ficava espantado,
admirado e vinha me mostrar com empolgação.
Meu coração enchia a cada vez que ele soltava esses comentários e sorria separando
algumas peças para levarmos ao caixa. Em certo momento, ele andou até uma das araras de
roupas e pegou uma camisetinha nas mãos, simples e branca, sem maiores detalhes, a não ser
uma escrita bem na parte central da peça que dizia I’m the cutest, mommy is the best, daddy is the
luckiest.[1]
Ele segurava aquela pequena peça de roupa e parecia admirá-la com veneração, enquanto
passava o indicador pela frase estampada. Eu vi a emoção dominar o seu olhar e aquilo bastou
para consolidar em meu peito o que eu vinha fingindo não sentir por achar muito cedo.
Estava inegavelmente apaixonada por Benjamin.
Desde que começamos a nos relacionar como casal, ele se tornou essencial para mim e a
cada momento que passava com ele, ele se firmava mais e mais em meu coração. Ter ele
cuidando de mim quando eu estava mal, me fazendo carinho, me defendendo com tanto
empenho, aumentou o espaço que ele ocupa no meu peito. Mas o que fortificou e sedimentou de
vez meu sentimento por ele foi ver o amor estampado em seus olhos e na sua expressão, no jeito
com que ele assistia ao exame, as lágrimas que derramou, a admiração com que ele olha aquela
peça de roupa pensando em tudo que ela representa.
Isso sim o consolidou em mim.
Eu estou completamente apaixonada por ele.
Agora, estava ali admirando-o de longe, sem que ele percebesse enquanto internalizava
minha recém-descoberta. Não fiquei longe por muito tempo, andei até ele para abraçá-lo. Percebi
que se assustou rapidamente pela ação inesperada, mas logo retribuiu o gesto, ainda segurando a
roupinha em uma das mãos.
— Tudo bem?
— Sim. Só… Obrigada.
— Pelo que, linda?
— Por tudo isso. Por ter me oferecido a chance de viver essa vida, de ter uma família.
Não imagina o quanto tudo isso está significando para mim, então, obrigada. — Os braços me
prenderam um pouco mais antes de me afastar com um beijo na testa.
— Está vendo isso daqui? — Ele me mostrou a roupinha — É a mais pura verdade,
Emma, eu sou o verdadeiro sortudo nessa história. Esse sentimento de família, de afeto e
cuidado, de convívio e respeito, eu nunca tive. Pode ter certeza que você foi a melhor coisa que
me aconteceu, à exceção do bebê. Me trouxe um novo respiro, uma chance de ter a coisa que eu
sempre quis. E eu vou sempre valorizar isso, a família e o sentimento que estamos construindo,
então, obrigado você também.
Com os olhos marejados, encarei ele por um momento antes de me render ao seu abraço
novamente. Um abraço ainda era muito pouco e era por isso que assim que me afasto, ele me
puxou para um beijo doce e calmo, sentimental e intenso, mas casto, afinal, estamos no meio de
uma loja infantil.
Compramos a camiseta e o restante das coisas que separamos e só então voltamos ao
carro, prontos para ir embora, carregados de bolsas, das mais variadas possíveis.
— Nós esquecemos de comprar alguma coisa para o pessoal descobrir o sexo, mas… —
Encarei meu noivo enquanto ele dirigia — Eu tive uma ideia, talvez meio ridícula e não sei se
eles vão se tocar.
— Qual ideia?
— Você disse que os caras têm medo de Sheik, Hannah provavelmente também terá.
Pensei em usá-lo como parte do nosso plano. Podemos colocar uma gravata azul nele. Todos vão
ignorá-lo e a resposta vai estar lá, na cara deles, o tempo todo.
— Vai ser ótimo. — Ele gargalhava — Nick vai querer nos matar. Olha meu celular
aqui, por favor, vê se Eleanor mandou uma mensagem avisando se o pet shop já o deixou em
casa, ela sempre me avisa e se ele ainda estiver lá, passamos para buscá-lo e comprar a gravata.
A senha é o ano da última vez em que os Giants foram campeões. — Ele brincou.
Benjamin bobinho.
— Ok. — Digitei 2011 sorrindo, desbloqueando o aparelho.
— Você sabia? — Me perguntou com os olhos arregalados me fazendo rir de seu
espanto.
— Me respeite, Ben. Te disse que eu sou uma torcedora assídua.
Ele permaneceu chocado e eu ria da sua cara enquanto checava suas mensagens e, pelo
que vi, Sheik ainda estava no pet shop. Resolvi, com a concordância de Ben, ligar para lá e pedir
para que, quando forem deixá-lo em casa, o façam adicionando uma gravata azul em seu
pescoço.
Pronto, esquema armado.
Quase chegando em casa, foi a vez do meu celular vibrar com uma mensagem de
Hannah pedindo para conversarmos antes dela ir para minha casa, precisando desabafar comigo.
Estranhei a mensagem, pois isso não era de seu feitio, mas concordei em encontrá-la.
— Ben, se importa de ir para casa sozinho e me deixar naquela cafeteria perto da
empresa? Hannah pediu pra conversar comigo, acho que precisa desabafar.
— Lógico que não me importo. Vai conversar com sua amiga e aproveitar esse final de
dia de folga, pois saiba que seu chefe vai abusar de você nos próximos meses, já que logo mais
sairá de licença maternidade.
Sorri para ele e logo mais ele desviou o caminho para o café e me deixou por lá seguindo
para casa, dizendo que iria aproveitar para saber o que aconteceu na empresa sem nós dois por lá.
Sinceramente, conseguia resumir esse dia por lá em apenas uma palavra: caos.
Era engraçado o quanto um chefe participativo realmente fazia diferença em uma
corporação. Ben participava ativamente de todos os setores da empresa, ou pelo menos tentava
participar, e isso demonstrava aos funcionários uma relação de confiança e admiração. Mas
também acabava deixando-o sobrecarregado, afinal ao menor sinal de problemas Ben era
procurado para ajudar a resolver e como, às vezes, ele não podia ajudar naquele exato momento,
eu entrava em cena e agia como ele agiria.
Essa sintonia foi conquistada aos poucos durante todos esses anos que trabalhamos
juntos. Eu sabia da minha importância dentro da empresa, sabia que era ‒ e reconhecida por
todos ‒ como o braço direito dele. Achava que muito provavelmente por conta da nossa relação
profissional ser tão transparente para os demais funcionários, o nosso noivado foi tão bem aceito,
sem qualquer estranhamento.
Pedi um café e um croissant salgado enquanto esperava Hannah aparecer e, assim que
recebi meu pedido, ela surgiu, atacando minha comida como sempre fazia. Briguei com ela e ela
ria, era assim desde que nos conhecemos na faculdade.
Escutei ela reclamar e desabafar, por quase duas horas, dos problemas que vinha
enfrentando com sua família e, principalmente, com Joey. A cada vez que ela vinha até mim para
desabafar sobre isso, ficava mais e mais claro para mim que Hannah não estava satisfeita ou
minimamente contente com esse noivado.
Ela e Joey eram completamente diferentes um do outro e brigavam mais do que qualquer
outra coisa. O problema era que os dois estavam acomodados nessa relação, já que namoravam
desde o início da faculdade e assim permaneciam até os dias atuais, anos depois, e sempre
brigando pelos mesmos problemas.
Conversei com ela e tentei aconselhá-la enquanto ela chorava no meu ombro, mesmo que
ela soubesse que eu não gostava dele ou do modo como agia com ela. Tomamos um café e
passamos um tempo juntas, apenas nós duas, dividimos um pedaço de red velvet, seu bolo
preferido, para tentar animá-la de alguma forma. Mas então me lembrei de algo que iria fazer
isso por mim.
— Quero te fazer um convite, eu e você, um dia de garotas, comprando roupas e...
— Com o cartão ilimitado do bonitão? — Eu fui obrigada a rir quando os olhos dela
pareceram brilhar. Cozinhar seus doces e fazer compras estavam no topo da sua lista de coisas
favoritas.
— Sim, mas...
— Mas nada, eu e o bonitão conversaremos sobre valores, você só vai experimentar
roupas.
— Eu não sou uma boneca, Hannah.
— Claro que não, é meu manequim.
Essa palhaça gargalhava e eu acompanhei, por que como não fazer isso quando essa
maluca age desse jeito? Hannah maluquinha. O jeito que o Sr. T a chamava era realmente muito
propício.
Quando já passava do horário combinado para a reunião em casa, a chamei para ir para
casa comigo, avisando que Ben me enviou uma mensagem afirmando que seus amigos já
chegaram, mas ela decidiu ir em casa primeiro tentar resolver essa briga recente com Joey, mas
que depois nos encontraria. Ainda tentei convencê-la a vir comigo de uma vez e conversar com
ele depois, quando ambos estivessem de cabeça fria, mas Hannah era teimosa demais. Segui para
casa sozinha, levemente nervosa e ansiosa.
Essa seria minha primeira experiência em conhecer amigos ou família de um namorado,
quanto mais de um noivo. E talvez isso me fizesse um tanto boba, mas queria impressioná-los,
queria que gostem de mim. Nick, Nate e Carl eram extremamente importantes para Ben e queria
que me enxergassem como uma boa parceira para ele.

— Já em casa, senhor? — Eleanor surgiu vindo da cozinha assim que entrei em casa —
Foi às compras?
— Eu e Emma, na verdade. Alguns imprevistos aconteceram e ela precisou adiantar a
mudança para cá, estamos oficialmente morando juntos. Fomos comprar algumas coisas novas
para casa.
— E onde ela está?
— Foi dar colo para uma amiga que estava precisando.
— Fiquei feliz em conhecê-la, achei que ela seria como essas madames fúteis com quem
já trabalhei. — Ela me fez rir.
— Não se preocupe. Emma não é mesmo como essas madames, inclusive, ela já cansou
de me implorar para convencer que a senhora pare de chamá-la de senhorita, assim como eu peço
há anos para que me chame de Benjamin.
— É costume, senhor.
— Vou deixar essas bolsas no escritório e quando Emma chegar nós organizamos. A
senhora pode ir se quiser, entrar no final de semana mais cedo e ficar com seu marido. Eu vou
ficar em casa e recebo o pet shop quando trouxerem Sheik de volta.
— Ah, eu vou mesmo, então. Obrigada, senhor.
— De nada, senhora. Até segunda.
Estava já há algumas horas trancado no escritório quando a portaria anunciou que o pet
shop estava lá embaixo. Busquei Sheik, encontrando-o de banho tomado, tosado e com a gravata
azul no pescoço.
Isso iria ser épico.
Mal tive tempo de voltar ao apartamento e colocar água fresca para ele antes dos meus
amigos chegarem.
— E então, cadê a cunhada? — Nick me cumprimentou já olhando ao redor, procurando
por Emma. Sheik rosnava para ele e andava atrás do ruivo, cercando-o antes de repetir o
processo com Nate e Carl.
— Prende o anticristo, McKnight. — Nate reclamou.
— Cara, como sua mulher não desistiu de você depois de conhecer essa bola de pelos
maquiavélica? — Carl completou.
— Parem de frescura e entrem de uma vez, o máximo que ele vai fazer é morder a canela
de vocês. — Ri da cara assustada deles, Sheik sempre fazia isso com eles antes de sossegar e se
deitar aos meus pés — E sobre Emma, ela é apaixonada por ele, e ele por ela.
— Sua mulher é apaixonada por essa coisa? — Nick apontava para Sheik — Ela tem
sérios problemas, como alguém normal pode se apaixonar por esse cão?
— Eu o amo.
— Justamente, você não é normal e pelo visto Emma também não. — Nate e Carl riam
do idiota, que levou um belo tapa na cabeça.
— Mas, cadê Emma? Queremos conhecê-la oficialmente. — Carl cobrou.
— Deve estar chegando com a amiga dela, já avisei que vocês chegaram.
— Já virou cadelinho dela, Benjamin? — Nick provocou.
— Claramente, Emma já o tem no bolso. — Nate continuou.
— Admite, Ben, que você a queria mesmo antes de toda essa história. — Carl exigiu, me
encarando junto aos outros, todos ainda de pé esperando Sheik sossegar para poderem andar até
o sofá.
— Eu não vou negar nenhuma dessas coisas. Se é isso que esperam, podem descansar.
— Meu Deus, aquele dia eu brinquei sobre ela ser uma bruxa por ter te feito mandar uma
mensagem com emoji, mas estou começando a achar que ela é mesmo uma feiticeira.
— Cala a boca, Nicholas. — Nate repreendeu e ele franziu o nariz por ouvir seu nome
completo.
— É sério isso, cara? Se apaixonou por ela? — Carl me questionou, sem o tom de
zoação.
— É verdade, sim. Sempre fui atraído por ela e isso não é segredo para vocês. Nos
últimos tempos, isso estava maior em mim e com o surgimento do bebê e da proposta que fiz a
ela, nós passamos a conviver mais intimamente, tivemos conversas que não tenho nem mesmo
com vocês, ela se abriu comigo sobre a perda da família dela e as dificuldades que enfrentou. Eu
falei sobre meu pai, mas, não, ainda não falei sobre minha mãe, antes que perguntem. Além de
tudo isso, tem o bebê. O encanto e o amor que ela sente por ele me tocam profundamente. Tudo
isso só aumentou e alicerçou esse sentimento em mim, mas bico fechado sobre isso, ainda não
disse a ela, não com essas palavras pelo menos, e certamente não com a frase estou apaixonado
por você, ainda acho que é cedo para externalizar isso para ela.
— Nossa, que discurso completamente enfeitiçado. — Nick brincou e eu revirei os olhos
para o idiota que fazia corações com as mãos na minha direção.
— Ela se mudou de vez para cá, ontem à noite.
— Não foi ela mesma quem pediu para irem com calma? — Aproveitei a pergunta de
Nate para explicar tudo que aconteceu para que ela mudasse de ideia.
— Que horror, que bom que ela não dificultou a ideia de vir para cá, ao menos aqui
vocês têm mais segurança contra esse tipo de coisa. Esse lugar é uma fortaleza. — Carl afirmou.
— Realmente, se algo chegar a acontecer aqui é porque realmente é algo sério, uma
invasão do pior tipo. — Nate confirmou.
Sheik, que finalmente havia deitado aos meus pés, escolheu esse momento para levantar
no pulo e emitir um latido curto, ficando de pé em posição de ataque, com as orelhas em pé e o
rabo parado, encarando o elevador.
Eu sabia muito bem o porquê de ele fazer isso, mas preferi ficar quieto e deixar os três
idiotas assustados.
— Porra, Sheik, eu estava brincando. Não precisa anunciar o apocalipse, deite de volta e
para de show. — Nate foi o primeiro a se manifestar.
— Ben, mande seu cachorro deitar e parar de palhaçada. — Nick veio em seguida.
— McKnight, faz alguma coisa. — Carl exigiu.
Os três me encaravam sérios e amedrontados e eu queria gargalhar da cara estúpida de
todos eles. Mal sabiam eles que todo esse ritual de Sheik acontecia sempre que Emma estava
para chegar em casa. Foi assim desde aquele primeiro dia.
Capítulo 23 – Benjamin McKnight

— Larguem de ser idiotas. — Ri da cara deles — Isso tudo é porque Emma está
chegando, já reparei que ele faz isso sempre que ela está para chegar. Parece que ele sente
quando é ela.
— Ele vai atacar sua mulher, Ben, segure ele. — Nick se desesperou.
— Você vai ver quem vai atacar quem.
O elevador chegou ao meu andar e por ser privativo o acesso era direto dentro do
apartamento, não havia porta de entrada. Assim que a porta do elevador abriu, Emma saiu de lá,
andando na minha direção.
Sorri quase sem perceber quando a vi. Sempre foi linda, desde o primeiro dia em que a
vi. Nunca fui alheio à sua beleza durante todos esses anos, não era à toa que ela vinha fodendo
com a minha cabeça antes mesmo de termos qualquer outra coisa. Aquela minha regra de não me
envolver com pessoas da empresa sempre existiu, mas isso não impediu minha atração por ela de
surgir.
Aqueles vestidos justos, as saias apertadas e comportadas combinadas com aquelas
malditas camisas de seda sempre me enlouqueceram, mas a versão dela que eu descobri mais
amar era quando ela está fora da sua versão executiva. Vê-la com suas roupas comuns, seus
vestidos rodados e sandálias baixas a torna ainda mais bonita. Exatamente como agora.
Emma não conseguiu dar mais do que cinco passos antes de Sheik, que saiu correndo
assim que a viu, a alcançasse e pulasse em suas pernas, fazendo-a rir abertamente para ele e
então acariciar as suas orelhas para que ele se sentasse.
— Oi, meu amor, como foi no pet shop? Te deram banho e cortaram seus pelos, foi? Está
tão cheiroso! — Ela continuava mexendo e conversando com ele, que fez o mesmo toda vez que
a via, deitou de barriga para cima para ela esfregá-lo ali — Você gosta, não é, de um carinho
nessa barriguinha branca, coisinha fofa da mamãe.
A cena era linda, mas melhor do que essa, apenas a outra que sabia que acontecia bem
atrás de mim. E eu não perdi tempo em desviar meu olhar para ver os três idiotas paralisados e
chocados com a cena, com os olhos arregalados e as bocas abertas em completo choque.
Não segurei a gargalhada, rindo tanto que precisei me apoiar nos joelhos, só voltando a
ficar de pé corretamente quando Emma veio até mim depois de deixar um beijo na cabeça de
Sheik.
— Lindo, seu rosto está vermelho, você vai explodir, respira. Qual a graça? — Domei a
gargalhada, mas não o riso.
— Olha a cara deles. — Apontei — Exatamente a mesma cara que eu fiz quando vi você
fazendo isso com Sheik pela primeira vez.
Passamos bons minutos rindo do espanto contínuo deles, em um jogo do sério reverso,
onde nós riamos e eles apenas nos encaravam.
— Cadê a Hannah?
— Vai vir mais tarde, precisou ir em casa primeiro.
— Feiticeira. — Nick murmurou assim que ele e os outros começaram a despertar do
transe em que ainda estavam — Não disse que ela é uma feiticeira? Não olhem nos olhos dela.
Ela é a medusa, vai hipnotizar vocês. — Era o que basta para eu voltar a gargalhar.
— Medusa? — Perguntei.
— É, cara. A mulher da mitologia grega que hipnotiza os outros.
— Ela não hipnotiza ninguém, Nick, ela transforma as pessoas em pedra.
— E eu não faço nenhuma das duas coisas. — Emma ria.
— Se você não é a medusa, pelo menos feiticeira você é. Eu brinquei com isso antes,
mas não é possível que não seja, não é? — Ele ainda insistia, esperando a opinião dos outros
dois.
— Olha… — Carl começou — Eu vou ter que concordar. Isso que você fez, não é capaz
de ser feito por alguém sem poderes sobrenaturais.
— Você domou o anticristo. — Nate concordou, balançando a cabeça sem parar.
— Depois de ter domado o McKnight. — O idiota do Nick comentou, caindo na
gargalhada com os dois, fazendo Emma me olhar confusa.
— Eu avisei que eles não são normais. Eles estão chocados com o que você faz com
Sheik. Ele é outro perto de você, totalmente encantado.
— Ele até pareceu um cachorro e não um… um… — Nick não parecia saber que palavra
usar.
— Filhote do anticristo.
— Pare de chamar ele assim, Nathaniel.
— Mas é verdade.
— Eu não achava que isso era possível, nunca vi esse cachorro tão calmo. — Carl
apontava para Sheik sentado ao lado dos pés de Emma.
— Isso é da personalidade da raça dele. — Emma explicou — Os Akitas são
naturalmente protetores e territorialistas, ligados aos donos, e, normalmente, não costumam
gostar de estranhos, mas, bem, ele me tratou super bem desde o primeiro momento.
— A mamãe medusa já está defendendo o filho canino. — Nick provocou e riu
acompanhado dos outros dois.
— Você o encantou, linda. Eu disse que ele nunca fez isso para mais ninguém além de
mim, e mesmo comigo ele demorou.
— Medusa. — Os três disseram.
— Ben, você podia me apresentá-los formalmente, para eu saber quem é quem. — Ela
pediu a mim, mas é claro que não me deixaram falar, me interromperam antes mesmo de eu ter
tempo de abrir a boca.
— Oi, medusa, eu sou o Nick, não vou olhar muito nos seus olhos porque não quero ser
enfeitiçado também.
— Prazer, Nate.
— E eu, Carl.
— Muito prazer, eu sou…
— A medusa.
— Hipnotizadora de anticristos.
— E de Benjamins.
— Atendo por Emma mesmo.
Deixei os quatro rindo e socializando para ir até a cozinha para buscar cervejas para
todos, nos acomodando pelo sofá. Emma me deu um beijo rápido e pediu licença para colocar
uma roupa mais confortável. Me sentei com os caras enquanto bebemos e rimos das besteiras
deles, até que ela voltou minutos depois, se jogando ao meu lado e bebendo da minha cerveja.
— Nick, você disse que me chamou de feiticeira antes. Posso saber o porquê?
— Vai descobrir que isso é raro, mas eu errei. — Quase sincronizadamente eu, Nate e
Carl reviramos os olhos, além de idiota era muito egocêntrico — Eu me confundi, medusa,
estava atordoado com a cena bizarra que vi. Na verdade, te chamei de bruxa uma vez.
— E eu posso saber o porquê?
— Não quer tentar usar seus poderes para descobrir?
— Emma, não leve Nick a sério, ele não sabe não brincar o tempo inteiro.
— Isso é verdade, mas foi por isso daí que te chamei de bruxa. — Ele apontou para mim
— Você o enfeitiçou, até fez ele mandar uma mensagem com emoji. Eu nem sabia que ele
conhecia isso.
— É verdade. — Admiti e me aproximo do ouvido dela para murmurar apenas para ela e
assisti-la corar — Feiticeira.
Será que aquele mais tarde ainda iria demorar muito para chegar?
Pelo bem da minha sanidade, e da reação rápida do meu corpo apenas diante do olhar
quente que ela me deu, eu esperava que não.
Felizmente, Carl mudou de assunto perguntando sobre o bebê e engatamos em conversa
agradável sobre isso, com Emma conhecendo os caras e respondendo as curiosidades dele sobre
a vida dela e com todos nós rindo das palhaçadas de Nick, até que, algum tempo depois,
anunciou a chegada de Hannah.
Emma até se levantou para recebê-la, mas quem fez as honras foi Sheik, o primeiro a
chegar até ela, fazendo o mesmo que faz com os caras, cheirando e rosnando. Eles até
costumavam fingir compostura, Hannah gritava.
— Oh, bonitão, vem aqui tirar esse bicho daqui. Se ele me morder, eu te processo só para
arrancar uma grana de você. — Ri do desespero dela.
— Vem cá, meu amor. — Emma o chamou — Sai de perto dessa gente chata que não
enxerga o quanto você é fofo.
— FOFO? — Nick, Nate, Carl e, agora, Hannah, gritaram juntos.
— Amiga, você bateu a cabeça? Isso daí não é um cachorro, é um… um…
— Filhote do anticristo. — Nate completou para Hannah.
— Isso mesmo, boa cara.
— Hannah, esses são Nicholas, Nathaniel e Carlton.
— Medusa, se você quer entrar para nossa gangue, ficar nos chamando pelo nome
completo não vai te ajudar.
— Medusa? — Hannah questionou confusa e eu intervi.
— Entra, Hannah, vai entender. — Estende uma cerveja a ela, deixando-a a vontade para
se jogar entre nós.
— Eu ouvi bem quando você chegou? Chamou McKnight de bonitão? — Carl perguntou
a ela.
— Ah, ouviu sim. Dei esse apelido para ele desde quando ele era apenas o chefe de
Emma. Nós vivíamos conversando sobre ele e era assim que eu me referia. — Reparei Emma
arregalando os olhos e os patetas sorrindo de lado.
Coitada, está ferrada na mão deles.
— Ah, medusa. Quer dizer que você já estava encantada por ele antes dessa história
toda? — Nick implicava com ela, que praticamente se entregou com a violência com que suas
bochechas coram. Eu deveria defendê-la, mas insisti no assunto.
— Emma?
— Eu não… não era bem assim… eu só… — Ela gaguejou por um momento — Bom,
você sabe que é lindo e eu não sou cega, nunca fui, então… — Sorri diante do seu embaraço.
— Está tudo bem, linda. Somos noivos, vamos nos casar e ter um filho juntos. Pode ser
um pouco encantada por mim, eu não vou achar nada ruim. — Roubei um beijo dos seus lábios.
— Aproveite essa oportunidade para admitir que você também sempre teve uma
quedinha por ela, McKnight.
— Bocudo. — Resmunguei sob o som da risada dos outros.
— Ben? — Claro que Emma faria como fiz com ela.
— Apesar de Nicholas precisar aprender a segurar a língua, eu não vou negar isso,
Emma, sempre achei você linda, mas não me permitia pensar muito no assunto por conta da
nossa relação profissional, mas então, as coisas começaram a mudar, e… — Hannah me
interrompeu rindo.
— Eu estou amando esse encontro. Você é dos meus, cara. — Ela apontava para Nick,
mas Emma fez questão de voltar no assunto.
— Está tudo bem, lindo. Somos noivos, vamos nos casar e ter um filho juntos. Pode ser
um pouco encantado por mim, não vou achar nada ruim.
— Engraçadinha.
Nate interrompeu as provocações dizendo que estava com fome e, então, aproveitamos
para pedir umas pizzas. Entre conversas, assuntos aleatórios e provocações, nós interagimos,
rimos e implicamos uns com os outros. Algumas caixas de pizzas e cervejas depois nos
espalhamos pelo sofá e pelo chão.
Ok, a quem queremos enganar? Eu estava sentado no chão com as pernas esticadas para
frente, fazendo um carinho nos cabelos de Emma que se deitou com a cabeça apoiada em uma
das minhas coxas, enquanto ela servia de travesseiro para um Sheik folgado.
— Linda. — Chamei baixinho para que ninguém nos ouvisse — Vamos falar sobre o
sexo do bebê? — Ela sorriu.
— VOCÊS JÁ SABEM O SEXO? — Nick deixou todo mundo surdo com seu grito.
— Emma Marie Campbell, você já sabe o sexo do meu afilhado e não me disse nada? Eu
não acredito nisso. — Hannah brigou.
— Afilhado? Benjamin McKnight, vocês já decidiram os padrinhos? Como assim? Por
que eu não estou sabendo de nada?
— Se Hannah é a madrinha, quem é o padrinho? — Nate perguntou.
— Eu, claro. — Carl e Nick responderam juntos.
Encarei Emma e depois, juntos, encaramos o restante do grupo e, quase como
combinado, voltamos a nos encarar.
— Parem de se encarar e falem alguma coisa logo, que chatice. Anda, bonitão, põe pra
fora.
— E vocês deixam a gente falar alguma coisa? Nem nos deram tempo. — Emma
levantou uma sobrancelha brigando com eles.
— Desembucha, medusa.
— Primeiro de tudo. — Emma começou — Nós não conversamos sobre nomes,
padrinhos ou qualquer uma dessas coisas, porém, é óbvio que Hannah será a madrinha. — Ela
desviou o olhar para mim em um questionamento mudo pela minha opinião e eu concordei, isso
era uma certeza — Afinal, ela é tudo que eu tive por um bom tempo, nada mais justo que ela
ocupar esse posto.
— Eu iria até aí te abraçar, se o seu cão de guarda não fosse me atacar, portanto, sinta-se
abraçada. Te amo e vou amar e mimar muito meu afilhado.
— Bom, como Emma disse, nós ainda não conversamos sobre essas questões, mas eu sei
quem eu quero chamar para ser o padrinho do bebê. — Olhei para Emma que sorria para mim,
mas também me encarava com curiosidade, assim como os três paspalhos que pareciam estar se
corroendo de ansiedade.
— McKnight, você não é filme para ficar de suspense, fala de uma vez, porra. — Carl
reclamou e eu me senti satisfeito com a tensão que criei.
— Vocês três me apoiaram desde o início quando ficaram sabendo sobre o bebê e sobre
a proposta que fiz à Emma, por mais que pudessem achar que era uma maluquice minha, ainda
assim me apoiaram. Porém, um de vocês teve um papel ainda mais determinante nessa história e,
se eu estou aqui noivo e com uma mãe para meu bebê, foi só apenas por sua piada, Nick. —
Olhei diretamente para ele — Portanto, ficaria honrado se você aceitasse ser o padrinho. O que
me diz?
Claro que sendo Nick, eu não poderia esperar uma reação normal ao meu convite e
realmente não a tive. Ao invés de dizer algo a mim, ou à Emma, ele correu até a varanda do
apartamento.
— Ahh, eu sou o padrinho, porra! — Ele gritou e voltou para dentro indo direto em Nate
e Carl, que já sabiam o que iria acontecer e já riam — Ha ha ha, eu sou o padrinho e vocês não.
Loira, nós somos os melhores, fomos os escolhidos. — Ela riu quando ele a levantou pela cintura
e pulou com ela no colo, fazendo todos nós rir, até que vi Sheik levantando.
— Nicholas, se você não quiser morrer antes de conhecer seu afilhado, sugiro que pare
de pular, Sheik está em posição de ataque. — Ele parou na mesma hora de pular, mas puxou
Hannah para um abraço torto comigo e Emma.
— Obrigado por isso, vou ser o melhor padrinho que essa criança já viu.
— Mas ela vai gostar mais de mim, óbvio. — Hannah disse e ele se afastou em uma
gargalhada histérica e irônica.
— Loira, você não me conhece direito, não conhece meus métodos de persuasão. Essa
criança vai me idolatrar. — Hannah soltou uma risada tão maquiavélica como a dele e se
aproximou, quase colando seu nariz ao dele.
— Veremos. Que vença o melhor.
— Ok. Emma, acho que cometemos nosso primeiro erro como pais, nomeamos dois
malucos como padrinhos.
— Vou ter que concordar.
— Não podem mais voltar atrás. — Disseram juntos e voltaram a se encarar.
— Bom, passado a história dos padrinhos, eu estou mesmo interessado em saber sobre o
sexo. Vocês já sabem? Descobriram e não nos contaram? — Carl perguntou.
— Estamos aqui há horas e nada de falarem sobre isso. — Nate concordou e Emma
sorria para a curiosidade deles.
— A resposta para a pergunta de vocês estava na frente dos seus olhos a noite toda.
— Desde o momento em que chegaram aqui. Se fossem perceptivos, notariam que tem
algo de diferente por aqui, algo que nunca viram antes e lá contém a resposta que tanto
procuram. — Instiguei.
— Vocês são enigmáticos demais. — Nate revirou os olhos.
— Eu já disse que uma velha curiosa habita em mim, não podem fazer isso comigo, meu
coração não aguenta. — Nick veio com seu drama habitual.
— Porra, que insistência nesse suspense. — Carl também reclamou.
— Emma Marie, eu nunca estive aqui. Como diabos vou saber o que tem de diferente
nesse lugar? — Foi a vez de Hannah se queixar, mas nós apenas sorrimos.
— Inferno, eles não vão falar nada. — Carl disse com raiva.
— Vamos procurar. — Nate propôs.
— Se eu infartar... — Nick apontou para nós dois — Não vão nomear um dos dois como
padrinho. Falem para o filho de vocês que o padrinho querido dele faleceu porque vocês não têm
coração.
— Vamos revirar esse lugar, palermas. — Hannah determinou.
E assim eles fizeram. A essa altura já estavam há mais de quinze minutos andando pela
casa, abrindo armários e gavetas, revirando tudo que encontram pela frente.
Eu, Emma e Sheik permanecemos no sofá rindo da cara deles, dos xingamentos e dos
gritos de frustrações. Nate, Carl e Hannah cansaram de procurar e se jogaram no sofá
resmungando, mas Nick ainda insistia em continuar desbravando tudo. Em algum momento,
Sheik se levantou e esticou as pernas para frente, se espreguiçando enquanto bocejava antes de
seguir para a cozinha.
— Desde quando o anticristo usa gravata? Nunca vi isso. — Nate questionou com o
cenho franzido e Hannah rapidamente se levantou.
— Nunca viu? Isso é novidade? Cadê ele? — Ela saiu correndo atrás de Sheik e os três
ficam se entreolhando sem entender— É uma gravata azul. Era essa a pista? É um menino?
— É um menino! — Emma confirmou.
— Ha ha ha, ruivo de farmácia. — Hannah se dirigiu a Nick — Se ferrou! Eu já sou a
melhor. Fui eu quem descobriu a pista sobre o meu afilhado. Chupa trouxa. — Carl e Nate
gargalhavam da cara de indignado de Nick.
— Um ponto para você, loira diabólica.
— Meu afilhado tem sorte de me ter na vida dele. — Hannah disse abraçando Emma.
A noite ainda se estendeu por mais algum tempo, entre mais comida e cervejas e, claro,
provocações de Nick e Hannah. Levei as coisas para a cozinha depois que todos vão embora, e
quando retornei à sala encontrei Emma olhando para o nada, um sorriso diferente em seu rosto.
Acionei o alarme do apartamento antes de abraçá-la por trás, passando meus braços por
sua cintura e beijando seu pescoço. Sabia exatamente o que estava pensando para estar com esse
sorriso nos lábios. Sabia que o que aconteceu hoje, essa noite entre amigos, foi uma espécie de
realização para ela, sabia o quanto significou viver isso.
E ver a felicidade dela por algo tão simples, me fez ainda mais encantado pela mulher
que tinha ao meu lado.
Como poderia não me apaixonar por ela?
Capítulo 24 – Benjamin McKnight

— Feliz, minha linda? — Girei seu corpo para que ficasse de frente para mim, seus
braços cruzados na minha nuca.
— Muito! Sempre quis algo assim, uma noite dessa forma, em casa de bobeira com
amigos. Acha que seus amigos gostaram de mim? Estava nervosa, queria impressioná-los.
— É impossível não gostar de você. — Beijei sua bochecha — Faremos isso outras
vezes, ok? Podemos aproveitar também, enquanto o bebê ainda não nasceu, para sair, ir a um
pub, em shows, podemos combinar com eles e… — Um outro beijo — Podemos aproveitar nós
dois. Quero te levar em encontros, para esses programas clichês desses que a gente lê nos livros.
— Mais um — Organizar nosso casamento, começar a pensar se vamos morar aqui mesmo ou se
vamos mudar para uma casa… fazer planos de um modo geral.
— Eu gosto daqui e vai nos atender muito bem mesmo com um bebê. Podemos pensar
em mudança ou coisas assim mais para frente.
— Gosto disso. Mais para frente. Projeção para o futuro.
— Entramos nessa a longo prazo, não é? — Ela aproximou um pouco mais.
— Se depender de mim, prazo ilimitado.
Suas mãos tocaram meu rosto, um gesto bobo que descobri amar. Senti o beijo que
deixou no peito, outro em meu queixo e então na minha boca. Amava quando me beijava e
mantinha a mão no meu cabelo, suas unhas provocando minha nuca.
Permaneci de olhos fechados aproveitando a trilha de beijos pelo rosto, deixando um
último selinho longo em meus lábios antes de se afastar levemente. Ela corria as mãos pelo meu
cabelo, cada vez mais, resvalando seus lábios sobre os meus, mal deixando que se encostassem,
em uma provocação que eu revidaria logo mais.
Abri os olhos para encontrar o sorriso provocador de quem sabe que estava mexendo
com fogo. E dei o que pedia, tomei o controle da situação, puxando seu rosto para o meu.
— Feiticeira provocadora.
Tomei seus lábios como minha tábua de salvação, do jeito mais profundo logo de cara,
saboreando e provando dela, reivindicando minha boca para ele. Sentia a maciez da sua boca
quando se entregava completamente a mim, eu sabia o que ela queria e eu desejava ainda mais,
queria tudo. Ansiava por ela. E ela correspondia, me prendendo em um beijo sensual e excitante.
Mordia seu lábio, chupava sua língua em resposta, ela repetia a ação, até que mordi com
um pouco mais de força, não queria machucá-la apenas excitá-la ainda mais. Soltei sua boca e
desci beijando seu rosto, bochechas, queixo, e ali dei uma mordidinha leve, continuando meu
caminho descendo para seu pescoço.
Mordia. Beijava. Lambia.
Me sentia um predador, avançando na minha presa com uma vontade acumulada há tanto
tempo.
E eu desconfiava que ela queria o mesmo e não iríamos parar ou sermos interrompidos.
Tomava meu tempo devorando seu pescoço quando senti sua mão escorregando para
minha barriga, por debaixo da camiseta. As unhas que eu amava no meu couro cabeludo agora
arranhavam os músculos do abdômen. Emma me apertava, conhecia meu corpo, deslizava para
as costas me deixando louco com seu toque na minha pele. E eu precisava de mais, de muito
mais.
Os chupões que deixariam marcas no seu pescoço ainda era muito pouco para o que eu
desejava. Arrastei minhas mãos pelas suas costas por um único segundo até agarrar sua bunda
com gosto, com uma vontade que eu alimentei nesse último mês. Minhas unhas cravaram na sua
carne, minha boca voltou à sua.
E ainda era pouco.
Apertei as duas bandas com vontade, puxando-a para frente e colando meu quadril ao
seu, permitindo que sentisse exatamente o tamanho do meu desejo por ela. Emma gemeu contra
minha boca, mordendo meu lábio, ao mesmo tempo em que desceu as mãos para o cós da minha
calça.
— Emma, essa é a hora de me parar se ainda não quiser continuar com isso. —Obriguei
meu cérebro a um último momento de racionalidade, eu precisava ter certeza — Se ainda quiser
ir com calma, é melhor pararmos por aqui. Eu não vou aguentar ir um pouco mais além e não te
ter totalmente.
A voz baixa e rouca de desejo surpreendeu até a mim mesmo e falar isso foi tudo que
consegui oferecer para que se decidisse, mas não me afastei, queria que soubesse o que
provocava em mim.
Emma não me respondeu, apenas mirou aquelas esmeraldas radiantes — quase
inteiramente tomadas pelas pupilas dilatadas — em mim. Via o desejo estampado e fiz questão
de deixar o meu transparecer. E então ela sorriu, de um modo diferente, cheia de malícia e tesão.
Aquele não era o olhar de quem iria recuar.
Ela se colou em mim outra vez, olhava para minha boca, sentia sua respiração se
misturando à minha, olhava a sua boca entreaberta e com lábios inchados pela intensidade dos
beijos. Precisei tocá-los. Meu polegar prendeu seu lábio inferior, esticando-o para baixo,
desejando-o, provocando-a até que se desvencilhou de mim para me beijar outra vez, dessa vez
ainda mais intensa. Como se já não estivesse no meu limite.
Trouxe uma das mãos para a lateral dos seios, mantendo um carinho por ali até que, entre
um movimento e outro, o tomei por completo, apertando o volume que se encaixava
perfeitamente na minha palma. A proeminência do mamilo túrgido era tanta que me permitia
senti-lo mesmo sob a camada de roupa. Girei a palma da mão excitando-a ainda mais, arrancando
um gemido e me fazendo grunhir em resposta contra sua boca, então, desci a mão apenas para
subir novamente, dessa vez, por baixo da sua blusa.
Senti minha boca encher de vontade de provar a carne nua quando senti que estava sem
sutiã. Apertei o bico, fazendo-o turgescer ainda mais, uma provocação que refletia em mim
também. Sentia o peso do pau na cueca, a excitação escorrendo dele e que se intensificou ainda
mais quando sua mão pressionou minha ereção.
Porra, como sonhei com suas mãos alisando o lugar em que meu corpo ardia pelo seu. E
finalmente tê-la me tocando liberou os gemidos que tentava segurar à medida em que me
apertava, que gerava atrito entre o tecido da calça e meu corpo. Ela estava me enlouquecendo.
Queria que se entregasse a mim, queria que me entregasse a ela.
— Ben, eu preciso de mais. — Ela gemeu e se esfregou em mim quando belisquei seu
seio e engoli seu murmúrio com um beijo.
— Eu também, linda. Eu também.
Retirei a mão do seu seio e para puxar a parte traseira das suas coxas, pegando-a no colo.
Emma cruzou as pernas na minha cintura, puxava meu cabelo, beijava meu pescoço, mordia e
chupava minha orelha. Tudo enquanto eu andava em direção ao nosso quarto, com a impressão
de que quanto mais andava, mais longe ficava.
— Provocadora. — Rosnei, desferindo um tapa na sua bunda.
Encostei a porta do quarto para manter Sheik fora dali e então deitei seu corpo bem no
centro da nossa cama. Uma imagem perfeita da minha garota, ofegante, desejando por mim tanto
quanto eu a queria. Se eu já não estivesse apaixonado por ela, ficaria agora, ouvindo-a gemer
meu nome em desespero. O olhar que me dava me excitava à máxima potência.
Essa mulher iria me matar!
Me debrucei sobre seu corpo largado na cama, engatinhando até alcançar sua boca em
um beijo que transformava tudo dentro de mim. Com um pouco mais de calma do que antes,
beijei seu pescoço e segui descendo por seu corpo, beijando cada pedaço que encontrava. Beijei
o colo dela, bem no início do vão entre os seus seios.
Abaixei um pouco mais para beijar cada um de seus mamilos, ainda sobre a roupa.
Levantei meu olhar, notando que ela mordia o próprio lábio gemendo baixinho e de olhos
fechados. Sorri e continuei fazendo o que mais desejava. Ergui minimamente sua blusa, beijei
sua barriga, instigo-a ainda mais com uma lambida ao redor de seu umbigo. Desci um pouco
mais e, por sobre a calça, aspirei o cheiro de sua excitação, o que elevou a minha libido à níveis
estratosféricos, de um jeito como nunca senti.
Porra de mulher gostosa.
Me ajoelhei na cama e encarei seu rosto. Normalmente, gostava do joguinho de sedução
e provocação, mas tudo que mais queira era me enterrar nela e saciar esse desejo absurdo que me
consumia. Queria apenas amá-la. Retirei seus sapatos e depois os meus enquanto desabotoava
minha camisa, lento o suficiente para ser sensual, mas com a rapidez exata para me livrar logo
daquela peça de roupa.
A calça foi a única coisa que sobrou quando encarei os olhos me pedindo
silenciosamente para que me adiantasse. Arranquei a calça de suas pernas, deixando-as livres
para meu toque antes de repetir o feito com a camisa que vestia. Emma se remexia impaciente,
gemendo e resmungando.
Vislumbrei sua nudez pela primeira vez, os seios de tamanho médio espremidos no sutiã,
pequenas pintas espalhadas pelo colo. Os mamilos amarronzados com os biquinhos inchados me
faziam salivar. Passei as mãos pelos seus cabelos em uma carícia suave, escorreguei por seu
pescoço e debrucei ainda mais meu corpo para voltar a beijar sua boca.
Era incrível como não conseguia ficar longe por muito tempo. Seu beijo me acendia, me
enchia de vida.
Minhas mãos conheceram os seios, apertando-os, sentindo a consistência, o peso e o
calor, como se eu conseguisse sentir seu sangue fervendo por debaixo da sua pele. Emma gemia
e me fazia grunhir em seus lábios, mordendo-os no processo. Torcia e beliscava levemente seus
mamilos, fazendo-a contorcer debaixo de mim, até se soltar da minha boca.
Devorei seu pescoço, aproveitando que inclinou a cabeça para trás, sugando a pele fina
que encontro no meu caminho até seus seios. Substitui meus dedos pelos lábios, lambendo o
entorno do mamilo direito enquanto ainda mantive a mão no esquerdo. Mordi o bico testando a
força exata para levá-la ao limite entre o prazer e a dor, rodeei minha língua suavizando a
sensação dolorida.
— Benjamin… — Ela gemeu meu nome quando depois de assoprar o bico molhado,
coloquei por inteiro na boca, mamando-o com vontade.
Emma se contorcia e gemia cada vez mais alto, arrastando suas mãos pelas minhas
costas, me arranhando com suas unhas longas. Inverti as posições entre minha mão e minha
boca, repetindo o mesmo processo com seu outro seio. Lambi, mordi e assoprei antes de tomar a
protuberância como um todo em minha boca.
Tirei a boca dali, mas mantive as mãos apertando os pomos. Plantei um beijo no vale
entre seus seios e, com uma lambida contínua, desci pela sua barriga até alcançar a barra de sua
calcinha, aspirando seu cheiro de excitação mais uma vez. Olhei para cima e encontrei o olhar
suplicante.
— Lindo, por favor. — Me pediu em um resmungo, e eu amava a maneira como
clamava por mim.
Esfreguei meu rosto na parte baixa de sua barriga enquanto me sentava sobre meus
próprios tornozelos entre as pernas esticadas dela. Enganchei os dedos nas laterais da última peça
de roupa, aquilo que escondia o meu principal objeto de desejo. Deslizei o tecido para baixo,
liberando seus quadris, seu púbis à minha disposição.
As mãos dela em meus ombros sutilmente me empurravam para baixo, em um estímulo
para que eu prosseguisse. Sabendo que ela estava no limite de brigar comigo, esfreguei meu
nariz sobre a pele recém desnuda, desci um pouco mais pairando sobre a renda molhada de sua
calcinha, aspirando o seu cheiro. Pressionei a ponta do nariz no ponto exato onde seu corpo
clamava pelo meu, fazendo-a se contorcer do aperto das minhas mãos firmes em seus quadris.
— Ben, por favor, para de me torturar.
Deixei um beijo na renda molhada da calcinha e a retirei de uma vez. Agarrei um de seus
pés subindo beijos por sua perna até alcançar sua virilha, repetindo o gesto com a outra perna e,
quando cheguei novamente bem ali no centro, beijei o ponto túrgido antes de chupá-lo com
vontade, fazendo Emma serpentear na cama, ou ao menos tentar já que a mantinha fixa
segurando em seus quadris. Chupava, explorava com a língua e lábios, seu sumo escorrendo
diretamente para minha boca, me fazendo delirar com seu gosto.
Perfeita.
Tirei uma de minhas mãos do seu quadril direcionando-a para sua entrada molhada,
sentindo a minha própria excitação me consumir cada vez mais. Meus dedos trabalhavam junto à
língua e Emma gemia alto, cada vez mais perto do ápice do seu prazer. Penetrei dois dedos e ela
se contorceu, apertando os olhos e mordendo os lábios com o ritmo forte e constante que
imprimia. A ponta da minha língua corria no entorno de sua sumidade, minha boca chupava seus
lábios íntimos, ao mesmo tempo que meus dedos trabalhavam freneticamente.
Quando as paredes internas dela contraíram, soube que ela estava muito perto de
explodir, então dei meu golpe final, inclinando os dedos para cima na angulação perfeita para
tocar o seu ponto interno mais sensível junto a uma mordida suave no cume de seu corpo. A
força de suas pernas se esvaiu, seu corpo tremia por completo, quando explodiu no orgasmo mais
violento que já proporcionei a alguém.
—Ben…
Parei de estimulá-la aos poucos, desatando beijos por todo seu corpo até alcançar sua
boca, tomando-a em um beijo lento porém intenso, o suficiente para que ela recuperasse suas
forças, mas sem deixar de mantê-la excitada.
—Deliciosa.
Emma reagiu, suas mãos voltando a subir pelas minhas costas, as unhas me arranhando
levemente, até que ela se virou na cama montando sobre mim, se sentando exatamente em cima
da minha ereção e se movimentando ali me fazendo rosnar no mesmo instante, principalmente
quanto ela se debruçou para murmurar no meu ouvido.
— Agora é minha vez, Benjamin.
Ela havia me dito que iria guardar o Benjamin para os momentos de briga, mas, porra,
por mim ela poderia usá-lo na cama dessa maneira também. Havia algo afrodisíaco em ouvir a
sua voz gemendo meu nome em um momento como esse.
Essa provocadora mordeu o lóbulo da minha orelha, engoliu minha boca com a sua, sem
mesmo me dar tempo de reagir ou de tomar o controle da situação. Emma estava no comando,
me explorando de todas as formas possíveis.
Absurdamente linda e entregue a nós dois.
Ela rebolou sobre a minha perseverante ereção em um gesto perverso. Agarrei seu corpo
mais uma vez, encontrando um dos seus mamilos e torcendo-o, voltando a atiçá-la, enquanto
com a outra mão tentava frear seu movimento antes que eu me envergonhasse e gozasse antes
mesmo de tê-la por completo.
Fazia muito tempo que a queria para mim dessa maneira.
— Emma, se você continuar rebolando em cima de mim desse jeito, eu não vou aguentar
muito mais.
Minha noiva debruçou sobre mim sorrindo, beijou meu peitoral deslizando as mãos pelas
minhas costelas, depois desceu a boca para minha barriga e repetiu o que eu havia feito. Uma
única lambida, me fazendo estremecer e perceber que ver o quanto me afetar a deixava contente.
Ela saiu de cima de mim, desceu o meu zíper lentamente, sem nunca quebrar o contato
visual, Eu sempre fui um cara de gostar disso, do olho no olho, porém, isso que tinha com Emma
transcendia tudo que eu achava que sabia, tudo que eu pensava já ter sentido com alguém.
Não sei se amplificava por estar com a mulher que preenchia minhas fantasias, não sei se
era por ela ser a minha noiva ou se era por eu estar apaixonado por ela. Independente do motivo,
o que sentia nesse momento enquanto ela escorregava a língua de um lado ao outro do meu
corpo era uma conexão nova e singular.
Transcendental.
Gostei de ler os olhos dela enquanto eu a provocava, mas era sublime ver o que o olhar
dela transmitia quando ela era responsável por me excitar. Via sua entrega, a paixão, o desejo e o
tesão, mas ia além disso percebendo que ela também sentia essa conexão, essa energia que fluía
entre nós dois e, se ela não quebrava o contato visual, não serei eu a fazê-lo.
Ela prosseguiu descendo minha calça, libertando minhas pernas, correndo suas mãos por
elas, desde meus pés, canelas e coxas, onde fez uma pressão maior, apertando meus
músculos. Subiu ainda mais a mão enganchando os dedos na minha boxer e alisando a parte
baixa da minha barriga com as pontas dos dedos.
Reparei que descia olhar para onde me tocava, resvalando os dedos nos poucos pelos
pubianos que tinha por ali. Emma posicionou os dedos na barra da boxer mais uma vez,
ameaçando puxá-la para baixo, me fazendo contorcer com seus toques e com a expectativa do
que vem depois.
— Você é mesmo uma provocadora, Emma. Abaixa logo essa porra.
— Torturar é bom, mas ser torturado é uma droga, não é, lindo?
Quando finalmente puxou minha cueca para fora de uma vez, liberou meu pau, única e
exclusivamente para ela. Forte, grande e imponente. Emma me olhava, admirava aquela parte
específica do meu corpo, a prova real e inegável da minha masculinidade.
Minha garota levou uma das mãos para meu pau, segurando-o com uma leve pressão, me
fazendo gemer com o contato. Ela passava o polegar pela glande, já molhada com minha
lubrificação, mexia o dedo de um lado para o outro, me provocando e coletando o líquido antes
de começar a se mover, subindo e descendo, lentamente para depois acelerar, enquanto sua outra
mão se concentrava nas minhas bolas.
Ela me fazia gemer, contorcer e impulsionar o quadril, aumentando o contato. Sem parar
de movimentar, ela apoiou a mão na minha coxa para conseguir debruçar e levar a boca para
onde sua mão explorava. Senti um beijo na ponta do meu pau e em seguida uma lambida ali,
lenta e molhada, antes de ela colocar toda a glande na boca, chupando uma, duas, três vezes.
Agarrei seus cabelos com uma das mãos, mantendo-a no lugar enquanto eu arqueava a coluna,
totalmente perdido nas sensações que me provocava. Não forçava sua cabeça para baixo já que
sua sucção quase me tirava a sanidade de uma vez por todas.
— Por mais que eu queira te deixar levar isso até o fim, se continuar assim eu vou gozar
e quero muito fazer isso dentro de você.
Puxei seu corpo para cima, deitando-a e ficando por cima, nossas bocas perdidas em um
beijo que me obrigava a sentir meu próprio gosto em sua boca. Me posicionei entre suas pernas,
esfregando minha ereção contra sua boceta, percebendo que ela estava novamente excitada e
pronta para mim. Aprofundei o beijo por mais um momento antes de me afastar e me esticar para
alcançar um preservativo na gaveta da mesa de cabeceira ao lado da cama.
Achei o que procurava, rasguei o pacote com os dentes e me vesti, voltando a provocá-la
com os dedos, preparando-a para mim. Me encaixei em sua abertura, mas antes de, enfim,
penetrá-la, ela chamou minha atenção.
— Vai devagar, Ben, tem muito tempo que não faço isso e você é grande, então…
— Não se preocupe, meu bem. — Beijei seus lábios de maneira lenta, propositalmente
usando esse gesto para acalmar minha afobação, não queria machucá-la mesmo sem querer —
Não quero e não vou te machucar, vou devagar. Qualquer coisa me fala que eu paro na mesma
hora, ok?
Voltei a estimulá-la com os dedos, enquanto me esfregava e penetrava lentamente,
sentindo a maciez de sua carne, a quentura que seu corpo emana e o quanto era apertada. Quando
estava totalmente dentro dela, ouvi seu gemido alto, me deixando completamente extasiado com
a sensação de tê-la pra mim por inteiro.
Comecei com um movimento inicialmente lento, mas que ganhava velocidade a cada vez
em que ela demonstrava um conforto maior com a minha invasão. Angulei uma de suas pernas
puxando-a para cima pela sua coxa, sentindo que essa posição permitia que eu entrasse ainda
mais nela, fazendo-a contorcer embaixo de mim.
— Puta que pariu, Emma.
— Continua, Ben...
Eu obedeci, continuando com meus movimentos e desci a cabeça para encontrar a dela
em um beijo totalmente erótico, sensual e caloroso, que apenas larguei para tomar o seu pescoço
com leves mordidas e beijos, querendo instigá-la ainda mais. Os meus movimentos continuavam
impetuosos, fortes e precisos, fazendo ela arquear seu quadril e se esfregar em mim, gememos os
dois, até que senti as contrações internas da musculatura dela me apertando ainda mais.
— Ben, não para. Eu vou… vou…
— Eu também, linda.
Explodimos juntos, de um jeito que nos tirou de órbita por alguns segundos. Senti o
corpo dela estremecer embaixo de mim, ao mesmo tempo em que percebia meus próprios
espasmos me derramando no preservativo.
Quando a euforia passou, trocamos um beijo mais calmo e amoroso, recuperando nossas
respirações que até então estavam dessincronizadas e entrecortadas. Permanecemos ali por um
tempo antes de eu me levantar para descartar o preservativo, sem perder tempo em levá-la
comigo no colo para um banho gostoso, onde pretendia recomeçar tudo em uma nova rodada de
prazer.
Capítulo 25 – Emma Campbell

À medida em que os dias e semanas iam passando, cada vez mais me sentia conectada a
Ben, à representação que ele e o bebê traziam de família para mim. Sabia que com ele acontecia
o mesmo, e não só no nível sexual — porque, sim, esse campo também foi muito explorado —,
mas também em um nível sentimental.
Era incrível, e um tanto surpreendente para mim, o quanto nos entendíamos, nos
complementávamos e que aquela sincronia e sintonia que ao longo dos anos mantivemos apenas
em uma relação profissional, realmente foi um bom fator facilitador para a nossa relação pessoal
que crescia com uma intimidade maior um com o outro.
Saímos algumas vezes nas últimas semanas, em grupo, sozinhos em encontros, fomos ao
teatro, a shows, a diferentes restaurantes, voltamos algumas vezes ao Central Park em corridas
com Sheik, marcamos noite de jogos com nossos amigos, onde, finalmente, Joey apareceu e
conheceu todo mundo, apesar de ter ficado com cara de bunda a maior parte do tempo. Isso antes
de uma confusão acontecer.
Quando digo que estávamos mais íntimos não era brincadeira. Ben e eu alcançamos um
nível na nossa relação em que conversávamos por olhares, além de sabermos ler o corpo e a
expressão um do outro. E foi isso que ele fez, me leu perfeitamente assim que Joey entrou na
nossa casa naquela noite. Ele olhava ao redor, o luxo ainda que discreto da casa onde eu agora
morava. Ouvi uma risada irônica escapar dele quando elogiou a minha nova moradia. E bastou
esse pequeno comentário para que eu voltasse àquele lugar de me questionar, de provar para mim
mesma e principalmente para Ben que eu não era uma interesseira.
Ben reparou na minha mudança corporal e, assim que tivemos um momento a sós, me
questionou sobre e então eu contei tudo a ele, todas as coisas que odiava no noivo da minha
melhor amiga, a maneira como ele agia com Hannah, os comentários ácidos que fazia para ela e
para mim e principalmente a conversa que ouvi me chamando de interesseira. Meu noivo não
gostou nada de ouvir aquilo e passou boa parte da noite escrutinando Joey, mantendo a vista
grossa sobre ele, não só em relação à maneira como agia comigo, mas também com Hannah.
Na verdade, todos nossos amigos fizeram isso, defendiam Hannah de qualquer mínima
coisa que aquele estúpido dissesse e nós não concordássemos. Até que ela se retirou para atender
uma ligação de emergência do hospital e todos os outros estavam espalhados pela casa. Assim
que Joey se viu sozinho comigo, sua atitude mudou, seu olhar sobre mim acentuava cada
pensamento que queria fazer e não fazia. Ou foi isso que pensei.
— Tenho que te dar os parabéns, Emma. — Ele se direcionava a mim, mas não arriscou
chegar perto em qualquer momento durante a noite, afinal Sheik não saiu do meu lado por um
segundo sequer — Você conseguiu! Achou um trouxa ainda mais rico que Hannah para se
aproveitar.
Eu pretendia responder, mas não tive tempo quando Ben e os outros três reapareceram na
sala. Ben agarrou Joey pela gola da camisa tão rapidamente que mal consegui entender o que
estava acontecendo, desafiando aquele idiota a repetir a ofensa que proferiu.
Claro, nas mãos de um homem e com outros três maiores que ele ao redor, o saco
murcho não teve capacidade de repetir. Ben o alertou sobre nunca mais me ofender, Nick queria
socá-lo, mas Nate impediu, mesmo que Carl tenha tentado convencê-lo a deixar.
E essa cena apenas se desarmou quando Hannah reapareceu e questionou o que estava
acontecendo. Ben soltou Joey, e antes que eu tivesse tempo de impedi-lo de dizer qualquer coisa
—afinal, eu não havia contado à Hannah sobre ter escutado sua conversa —, ele explicou tudo.
Eu vi Hannah se transformar, cheia de vergonha ao olhar para mim e negar tudo que seu noivo
disse ou pensava, ela não acreditava nele e me assegurou que me defendeu — o que eu não
duvidava, até mesmo ouvi dizendo isso ao próprio noivo —, pediu desculpas em nome dele por
mais que ele ainda pensasse daquela maneira. Ela ainda prometeu que ele não me ofenderia mais
e isso me irritou, não queria que ela precisasse fazer promessas em nome dele, queria que ela
enxergasse quem era e que merecia alguém muito melhor que ele.
Mas as vezes não temos o que desejamos. Eu teria que continuar vendo minha amiga
com ele. Por Hannah, Ben teria que engolir sua raiva diante dele todas as vezes que nos
encontrássemos. Nick terminou a noite sem dar o soco na cara de Joey como desejou desde o
primeiro momento em que colocou os olhos nele.
E assim seguimos.
Um outro fator importantíssimo era quanto ao bebê, e apesar de termos que lidar com
surtos e as asneiras vindas de Courtney toda vez que, através de Ben, entrávamos em contato
com ela, ele vinha se desenvolvendo bem e dentro dos padrões esperados, ganhando peso e
crescendo. Acompanhamos Courtney em mais uma consulta e em mais um ultrassom, agora que
ela estava para entrar no sétimo mês de gestação, víamos nosso sentimento por aquele bebê
crescer mais e mais.
O que eu sentia por ele era amor, do tipo incondicional e sublime.
Além de tudo isso, aproveitamos para efetivamente organizar o casamento e, como nem
eu nem Ben queríamos algo grande e para muitas pessoas, decidimos por um casamento
realmente intimista, apenas amigos e familiares mais próximos, marcado para daqui a duas
semanas, no pôr do sol, no Central Park, no mesmo lago com a ponte onde demos nosso primeiro
beijo.
Como meus convidados, convidei apenas Hannah e seus pais, Joey — apenas por ser
noivo da minha amiga e não porque fizesse qualquer questão da presença dele — e Sr. T, que me
acompanharia até o altar. Já pelo lado de Ben, os convidados eram Nick, Nate, Carl e alguns
diretores da empresa e suas esposas, junto a William e James.
Quando estávamos conversando sobre a lista de convidados, questionei Ben a respeito de
sua mãe, e novamente ele desconversou, disse que não queria falar sobre aquilo e me pedia
desculpas.
Sabia que tinha algo a mais nessa história, mas não sabia como questioná-lo sobre, pois
era visível que se tratava de algo que o magoava profundamente. Queria saber, queria ajudá-lo de
alguma forma, queria que confiasse em mim o suficiente para me contar, mas ainda não sabia
como fazê-lo desabafar. De qualquer maneira, Margareth não seria convidada.
Apesar do assunto “sogra”, nossa relação se consolidava cada dia mais, o que não
significa que tudo vinha sendo flores. Tivemos, sim, discussões, mas nada relevante ou muito
pertinente, foram mais por questões de convivência já que éramos duas pessoas que moraram
sozinhas por anos e que agora tinham que aprender a dividir o espaço e a vida um com o outro.
Reclamei da toalha molhada sobre a cama, ele reclamou de encontrar fios de cabelo
caídos pela casa. Coisas bobas como essas. Nada substancial o suficiente para acabarmos em
gritos. O máximo que aconteceu foi discutirmos, eu fugindo para o quarto enquanto ele arrastava
Sheik para uma corrida a fim de espairecer. Quando nos encontrávamos novamente, acabávamos
na cama, até cairmos na risada pedindo desculpas um para o outro, reafirmando que tudo era
novidade para nós.
Estabelecer uma rotina e convivência saudável não era tão fácil, mas ao menos não nos
faltava força de vontade para fazer funcionar. E isso era bem necessário quando levamos em
consideração que misturávamos o campo pessoal na nossa rotina profissional.
O fato de trabalharmos juntos, às vezes, era uma benção e uma maldição.
Apesar dos funcionários da empresa terem reagido bem à notícia do relacionamento,
ainda existiam outras pessoas que constantemente frequentavam a empresa para negociar e
fechar contratos com a Booksbank e, para isso, precisavam de reuniões com o CEO, Benjamin. E
eu, enquanto secretária, participava da maioria das reuniões, auxiliando no que fosse necessário.
Porém, conciliar o noivado recente e todos os sentimentos e intimidades recém-
descobertos, com a polidez e profissionalismo que impusemos enquanto estávamos no trabalho,
não era tão fácil quanto as histórias que lemos nos livros faziam parecer ser.
Com a ótima receptividade dos gerentes e da diretoria, a empresa estava em peso
trabalhando para a implementação do aplicativo que eu idealizei, que seria chamado de ‘Books-
a-go’, e dessa forma, várias reuniões foram exigidas para que nada saísse do controle e para
assegurar que o lançamento fosse um sucesso.
A criação, idealização, montagem e programação de um aplicativo estava aquém da
competência dos funcionários da empresa e, por esse motivo, a Booksbank firmou contrato com
uma empresa especializada, a Innovation Apps e, como a ideia partiu de mim, Ben me concedeu
os devidos créditos e tanto ele quanto os demais diretores e envolvidos faziam questão da minha
presença para que pudesse esmiuçar tudo que pensei.
No dia da primeira reunião, acordei ansiosa, com o estômago revirando de nervosismo,
já que essa seria a minha primeira grande atuação na empresa. Apesar de ter ajudado Ben em
outras coisas nesses cinco anos que trabalho para ele. Ben, em meio a beijos salpicados por todo
meu rosto, me disse antes de sairmos de casa o quanto estava orgulhoso de mim e feliz por essa
realização profissional.
Chegamos na empresa e fomos direto para a reunião, Mary seria a responsável por
receber os representantes da Innovation e, assim, que os três representantes adentraram a sala,
Ben fez as devidas apresentações. Reparei que um dos recém-chegados, Bruce Newman, o
diretor geral da Innovation, me engoliu com os olhos, indiscretamente, me deixando
constrangida a ponto dos meus colegas de trabalho e Ben notarem meu desconforto.
Ben cerrou os punhos e tratou de começar logo a reunião, mas a todo momento fuzilava
Bruce com os olhos. William conduzia a reunião com maestria e me incluía na conversa sempre
que necessário e eu me impunha, opinava, descartava ou aceitava sugestões dadas. Apesar do
desconforto com a presença de Bruce e seu insistente olhar malicioso, eu me sentia bem e feliz
com a oportunidade e notava também o olhar admirado e orgulhoso de Ben a cada vez que eu me
manifestava.
Percebia também que ele analisava cada mínimo movimento de Bruce em minha direção
e, assim que a reunião chegou ao fim, os representantes da Innovation se retiraram, não sem
antes Bruce elogiar a minha eficiência e capacidade, sem esconder o duplo sentido.
Ben deixou claro o seu desagrado com a conduta de Bruce, disse que ele era um otário e
que ele iria manter o olho ainda mais aberto nas próximas reuniões e que se ele fizesse algo do
tipo novamente ou falasse coisas que me deixassem constrangida, ele iria interferir e romper o
contrato.
Nas duas reuniões seguintes, Bruce não falou mais nada comigo diretamente, mas eu
ainda percebia os olhares nojentos que me dava. Ben queria romper o contrato, mas William,
apesar de dizer que também notava e reprovava a atitude de Bruce, alertou Ben que o
rompimento contratual atrasaria todo o projeto de lançamento e seria prejudicial à empresa.
Embora estivesse me incomodando e me constrangendo, eu não podia deixar que o
contrato fosse rompido. Isso era muito maior do que meu desconforto. O empenho e o tempo de
inúmeras pessoas seriam afetados por isso, além de atrasar todo o cronograma da empresa, então
eu disse para Ben não tomar providências, afinal, faltava apenas a reunião final onde o
lançamento seria feito.
Ben não gostou nada dessa ideia, mas acabou concordando.
E, agora, no dia do lançamento, não estava cabendo em mim de felicidade e de emoção.
Tudo que eu e meus pais sempre quisemos era que eu me realizasse profissionalmente e, naquele
momento, sentia eles comigo, sabia que eles estavam tão felizes quanto eu, mas ainda assim
externalizo esses sentimentos a Ben.
— Isso é só o começo. Vamos comemorar muitas outras vezes o seu sucesso.
Seguimos para a empresa, comigo ansiosa no banco do carona e um Benjamin, palhaço,
rindo da minha cara nervosa e tentando me acalmar ao mesmo tempo.
Quando me dei conta, depois de um longo dia de expectativa para esse momento, a
reunião acontecia com Bruce especialmente dedicado a me fazer sentir desconfortável. Ele me
encarava, corria os olhos pelo meu corpo o tempo todo, fazendo com que eu me encolhesse na
cadeira enquanto Ben estava pronto para arrancar sua jugular com as próprias mãos. William
percebeu a tensão presente na sala e agilizou as formalidades até que finalmente lançamos o
aplicativo e brindamos à expectativa do sucesso.
William, vendo que Ben não faria isso, agradeceu a parceria e logo se retirou da sala para
que os representantes da Innovation o acompanhassem. Enquanto juntava todas as coisas
espalhadas pela mesa de reunião, não conseguia não sentir orgulho de mim mesma e de me
emocionar com essa conquista.
Olhei para a porta e vi Ben conversando com William logo na saída da sala de reuniões e
me encaminhei até eles com um enorme sorriso no rosto, porém, fui interpelada por Bruce, que
eu já achava estar fora da sala.
— Então… — Ele se aproximou demais, colocando a mão na minha cintura sem minha
permissão, invadindo meu espaço pessoal por completo — Acho que devo agradecer ao
McKnight por ter te colocado nesse projeto, assim pude conhecer você e, agora que não temos
mais relações profissionais, posso te levar para sair, gata. — Tentava me livrar do aperto dele,
mas ele me apertava ainda mais.
— Independente de termos ou não laços profissionais, eu não sairia com você, então me
solte. — Falei com veemência, tentando esconder minha repulsa e meu medo.
— Hm, gatinha arisca, exatamente o meu tipo. Não precisa bancar a difícil, delícia, eu
sei que você me quer. — Ele sorria marotamente, me causando asco e fazendo com que eu
tentasse com ainda mais dedicação a me livrar de suas mãos.
— Já disse para me soltar, eu não quero nada com você e não lhe dei liberdade para falar
assim comigo e muito menos para me tocar, então me solta, senão eu grito.
— Gritos me excitam, gostosa. — Sussurrou próximo ao meu ouvido e jamais algo me
causou tamanha repugnância.
— ME SOLTE. — Sentindo as lágrimas começarem a escorrer, eu gritei tentando
chamar atenção de Ben ou de William. Percebi que eles ouviram, pois entraram na sala no
instante seguinte.
— Solte-a, AGORA! — Ben gritava enquanto me puxava, ainda chorando, para atrás de
si e William afastava Bruce.
— Você deveria contratar funcionárias mais adequadas, McKnight. — Bruce tentou
disfarçar a situação — E não as contratar apenas por beleza, pois é isso que esse tipinho faz, dá
em cima de seus clientes ou parceiros e podem acabar ferrando com a reputação da sua empresa.
— Para começo de conversa. — Ben começou, furioso como jamais vi — Você não é
meu cliente e muito menos meu parceiro. Nosso contrato se encerrou no momento do
lançamento e essa foi a primeira e a última vez que me relacionei com a sua empresa. Eu não me
relaciono com quem desrespeita ou assedia meus funcionários. Ponha-se daqui para fora e nunca
mais ponha os pés aqui ou dirija esse olhar podre à Emma.
— Eu sou muito mais útil para você e sua empresa do que ela, vai realmente perder uma
grande parceria por conta de uma mísera funcionária? Ela pensa que me engana, com esse corpo
e se intrometendo em reuniões com os cachorros grandes? Você sabe muito bem como ela
chegou até aqui, e não foi usando o cérebro.
Eu não tive tempo sequer para me revoltar e ficar indignada com a insinuação dele, pois
Ben acertou dois socos certeiros em seu rosto, fazendo o sangue escorrer pelas narinas.
— SAIA DAQUI, AGORA. Aprenda a respeitar uma mulher, seu verme. Na minha
frente, você não desrespeitará nenhuma funcionária minha e muito menos a minha noiva. Saia
daqui antes que eu chame os seguranças. — Ben bradou e Bruce gargalhou com escárnio.
— Noiva? Ela aplicou o golpe direitinho em, McKnight?
Ben ameaçou dar outro soco nele, mas William o impediu. Os outros dois representantes
da Innovation retiraram Bruce da sala e finalmente se foram, assim como William iria atrás de
pegar gelo para a mão de Ben.
Enquanto eu me mantive em meu abraço protetor, ainda atordoada com toda a cena e
com as maledicências que ouvi, escutava Ben bufar, ainda sem virar para mim. Vi suas mãos
cerradas, tremendo, então, eu mesma dei a volta em seu corpo para abraçá-lo.
— Obrigada por tirar ele de cima de mim. Obrigada por me defender. — Ben não se
moveu ou disse qualquer coisa, então me afastei — Ben? — Ele olhou para mim, mas não
respondeu, apenas continuou bufando.
— Eu sabia que esse imbecil traria problemas, eu disse que deveríamos ter rompido o
contrato. Nada disso teria acontecido se vocês… — Ele apontou para mim e William que havia
acabado de voltar à sala com o saco de gelo — … não tivessem insistido.
Dei três passos para trás completamente surpresa com sua fala.
— Você realmente vai jogar a culpa dessa merda de situação em cima de mim? Eu fui a
vítima aqui. Eu fui assediada. Eu disse para não romper o contrato porque era o melhor para a
sua empresa, Benjamin, para não te trazer prejuízos com o atraso do lançamento. Eu não vou
admitir que você insinue que isso tudo só aconteceu pela minha decisão. Ele é realmente um
verme, podre e assediador, mas você está sendo um babaca por sequer ter dado a entender que eu
me coloquei nessa situação.
Minha raiva transparecia junto a decepção quando saí dali correndo em direção ao
banheiro para que ninguém visse as lágrimas sorrateiras que escorriam pelo meu rosto.

Assistia Emma correr para longe... longe de mim. E sentia raiva. Raiva de mim, ódio
desse desgraçado que colocou as mãos imundas nela. Mas principalmente raiva de mim que não
pude controlar minhas emoções afloradas para cuidar dela. A vítima.
Droga.
Respirei uma, duas, três, oitenta vezes tentando conter tudo o que sentia, toda a raiva
que me consumia e percorria minhas veias. Não sabia descrever o tamanho do desespero que
tomou conta de mim ao ouvir o grito da minha mulher e a repulsa quando notei que ela se
debatia para se livrar daquele canalha assediador.
O repúdio e a abominação à cena que presenciei, junto à raiva, me fizeram falar o que
falei. Não queria ter dito nada daquilo, não queria magoá-la de forma alguma, ainda mais depois
de ter passado pelo que passou.
Desalinhava meus cabelos com a força que passava às mãos pelos fios, frustrado
comigo mesmo por ter deixado a fúria levar o melhor de mim. Tomei a bolsa de gelo da mão de
William e saí da sala atrás de Emma. Ela não estava em sua mesa, ou na copa e imaginava que
nunca estaria na minha sala depois do que eu disse.
Andei pelo corredor dos banheiros e encontrei a porta encostada. Olhei de um lado para
o outro no corredor e resolvi entrar para me certificar se ela estava ali. E percebi que sim. Uma
das cabines estava com a porta fechada e um fungado preenchia o ambiente.
— Emma? — Chamei e escutei o fungado parar no mesmo instante — Emma?
— Me deixe sozinha, Benjamin. Eu preciso de um tempo e você nem deveria estar
aqui, é o banheiro feminino.
— Eu não me importo com nada disso no momento. Tudo que quero é me desculpar
por ter sido um idiota insensível. Pode sair daí, por favor, para que eu faça isso olhando nos seus
olhos?
Escutei ela respirar fundo e pouco depois a porta da cabine abre e ela sair, fazendo meu
coração se quebrar em milhões de pedaços com a imagem que tive dela, desolada e abraçada a si
mesma, em um gesto que já reparei que inconscientemente ela fazia quando se sentia acuada.
Ela estava magoada comigo, por algo que eu disse, e isso me doía de uma forma
inimaginável.
Tentei me aproximar e esticar uma das mãos almejando desfazer o abraço protetor dela
e segurar uma de suas mãos, mas ela não deixou, me fazendo soltar os braços ao lado do corpo,
cada vez mais frustrado.
— Me desculpa, Emma. Eu não quis insinuar que o que aconteceu foi sua culpa. Eu sei
que você foi vítima daquele imbecil, não falei na intenção de dar a entender que você provocou
aquilo. — Os olhos dela marejaram novamente me fazendo sentir ainda mais culpado.
— Você me magoou, Benjamin. Tem noção do quanto me senti invalidada? Ele que fez
a merda comigo. Eu engoli meu constrangimento por todas essas reuniões porque eu sabia o
quanto romper com o contrato ia lesar a empresa e afetar o trabalho de várias pessoas. — Ela
parou por um segundo e ressonou alto — Você acha que eu gostei de ver e sentir aquele olhar
nojento que ele me dava? Acha que eu também não queria voar no pescoço dele? Você acha que
eu não queria socar a cara dele por ter esfregado na minha cara todas as insinuações das quais
tenho medo de ouvir desde que estamos juntos? Eu me coloquei em segundo plano para não
prejudicar ninguém.
Ela me falava com lágrimas escorrendo por seu rosto e se virou em direção à porta do
banheiro querendo sair dali, mas me adiantei e segurei sua mão para que ficasse de frente para
mim.
— Emma, espera, não vai embora assim. Eu não suporto olhar para seu rosto magoado
e saber que eu fui o responsável por isso, me desculpa. Eu sei que não justifica, mas eu ainda
estava com ódio daquele filho da puta, com repulsa pela cena que vi. Eu não podia vê-lo fazendo
aquilo com a mulher que eu amo sem que cada pedaço de mim fosse consumido pela fúria. Me
desculpe, eu me excedi e falei o que não devia, não queria te invalidar ou te ferir de qualquer
forma. Me perdoa, meu amor, eu não quero nunca mais ver essa expressão de mágoa no seu rosto
e saber que eu fui o responsável por ela.
Percebi o olhar surpreso e confuso que ela sustentava. Estudei suas feições tentando
entender o porquê de sua expressão ter mudado drasticamente e demorei a entender, mas, então,
compreendi o que falei. Não pretendia dizer, apenas escapuliu.
— Isso é verdade? Você pretendia dizer isso que disse? Ou disse sem querer no calor
do momento? Você… — Interrompi, puxando-a de vez para meus braços, quebrando a distância
que estava cortando meu coração e sentindo o ar retornar aos meus pulmões.
— Alguém já disse que você dispara a falar e a fazer perguntas sempre que fica
nervosa?
— Estou falando sério, Benjamin. — Murmurou e eu odiava o som do meu nome
completo em sua boca, me acostumei com o jeito carinhoso que me chama de Ben ou de lindo.
— É verdade, meu amor. Não pretendia dizer isso agora e muito menos dentro de um
banheiro depois de uma briga, mas é verdade. Eu sei disso há um bom tempo, linda, sei
exatamente o momento em que me descobri apaixonado por você, em que percebi que você tinha
se tornado mais essencial do que eu imaginava. Eu amo você, Emma Marie Campbell, e estou
me corroendo em agonia por ter te magoado, mesmo sem ter tido intenção.
Reparei que ela ainda tem lágrimas escoando pelos olhos, mas agora não sabia se eram
de alegria, emoção ou ainda de mágoa. Nunca estive tão confuso em toda minha vida, mas
esperei que dissesse alguma coisa.
— Eu sei que você não teve a intenção em dizer o que disse, sei que foi no momento da
raiva.
— Não irá se repetir, te prometo isso.
— Não significa que não doeu, mas eu te perdoo. — Ok, estava oficialmente confuso e
desorientado. Ao mesmo tempo em que estava aliviado por ter seu perdão, o que queria mesmo
agora era ouvir outra coisa sair de seus lábios — Por essa única vez, Benjamin. Não há amor no
mundo que me faria permanecer em um relacionamento minimamente abusivo. Se me invalidar
como mulher mais uma vez que seja, eu dou as costas a você, por mais difícil que isso possa ser
para mim.
Sei que errei e prometi a ela que não irei mais repetir, e realmente não iria. Jamais
queria ser o responsável por fazê-la se sentir invalidada, não quando sabia que ela precisa se
provar forte e competente para o mundo o tempo inteiro, principalmente agora em que ela lutava
para que ninguém a visse na posição que ocupava na empresa por conta de qualquer outra coisa
senão o seu empenho profissional. Eu falhei dessa vez, mas jamais repetirei meu erro. Não seria
o cara que a invalida e menospreza, seria aquele que a valoriza e põe para cima. Ela não merecia
menos do que isso de mim.
— Nunca mais, meu amor, te prometo isso.
— Tudo bem.
— Me perdoa mesmo? Estamos bem? Estou desculpado? — Ela concordou com a
cabeça, me abraçando pela cintura.
— Alguém já te disse que você dispara a falar e a fazer perguntas toda vez que está
ansioso para saber se alguém também te ama? — Ela brincou e eu a empurrei de leve com meu
peito. Só podia me sentir feliz se continuasse vendo esse sorriso no seu rosto.
— Engraçadinha.
— No dia do shopping.
— O que? — Perguntei, confuso.
— Foi no dia do shopping, depois de termos descoberto o sexo do bebê, quando te vi
olhando para aquela roupinha com tamanha devoção. Foi ali que eu descobri que eu também te
amo.
Não esperei mais nenhum segundo para pegar seu rosto com as duas mãos e colar
minha boca na dela, inicialmente de uma maneira suave, apenas como uma leve carícia, mas
então desci uma das mãos para sua cintura, trazendo seu corpo para ainda mais perto do meu e,
com meus lábios, forcei passagem para que nossas línguas se encontrassem.
Nossos beijos sempre foram intensos, desde o primeiro, mas, agora, com os
sentimentos às claras, com o amor em evidência, me sentia especialmente energizado. Emma
relaxou em meus braços agarrando-me pelo pescoço, tão faminta pelo beijo quanto eu, um beijo
doce e suave e, ao mesmo tempo, vigoroso e pecaminoso, despertando meu corpo completo, que
apenas acabou quando soltei sua boca e direcionei meu ataque para seu pescoço, deixando beijos
ali.
Meu pau ereto era evidente entre nós dois e sabia que ela conseguia sentir a ereção
empurrando o tecido da calça slim do meu terno, deixando um enorme volume ali presente. Eu
não via, mas sentia a sua excitação. Eu a conhecia e reconhecia os sinais, o rosto corado, a boca
entreaberta com a respiração falha, os mamilos túrgidos e evidentes mesmo com o tecido da
camisa raspando no meu peito.
Usei a força do meu corpo para andar empurrando-a contra a porta do banheiro para
trancá-la. Emma sorriu cheia de malícia sabendo o que vinha a seguir, e eu retribuí o sorriso
descendo minhas mãos para a barra da saia lápis dela afastando o tecido para cima até que sua
calcinha estivesse toda à mostra.
Uma das mãos ultrapassava a renda encontrando a sua parte mais íntima, onde eu
acariciava, apertava e coletava a lubrificação antes de inserir dois dedos nela e deixava meu
polegar pressionando e se movimentando em cima do seu feixe de nervos, com a outra mão eu
abri botão por botão da sua camisa. Minha vontade mesmo era de arrancá-la de seu corpo,
estourando os botões sem qualquer delicadeza, mas não podia fazer isso considerando que ainda
tínhamos algumas horas de trabalho antes de podermos ir para casa.
Com os botões abertos, puxei a renda do sutiã para o lado, liberando o mamilo túrgido,
tomando-o em minha boca, com vontade, mordendo, sugando e lambendo. Ela gemia baixo,
provavelmente com medo de ser ouvida por alguém, e desceu uma de suas mãos, apertando meu
pau, me fazendo grunhir contra o seu seio antes de levar minha boca até o outro.
Ela gemeu novamente e conseguiu desatar meu cinto, abrir minha calça e descer meu
zíper e, assim que fez isso, puxou também a minha boxer para baixo, liberando toda minha
masculinidade. Agarrou a base da minha ereção antes de soltar novamente e resvalar as pontas
dos dedos por todo meu comprimento, apenas me provocando, até que seu polegar encontrou o
pré-semen que começava a escorrer pela glande e espalhava o líquido começando a me
masturbar lentamente.
Gemi com o contato dela, adorava quando me masturbava assim. Soltei seus seios
voltando à sua boca, mordendo e sugando o lábio dela antes de tomá-lo novamente e
simultaneamente intensifiquei o movimento com os dedos dentro dela, mas quando senti que ela
estava perto de gozar, retirei-os e parei o movimento de sua mão em mim.
— Outra hora eu te dou mais de um orgasmo, com calma e com o cuidado que merece,
mas agora eu preciso me enterrar com força e rapidamente em você, não aguento mais.
— Vem rápido, meu amor.
Meu amor. Meu amor. Meu amor.
O novo modo de me chamar reverberava pelo meu corpo quando a pego no colo e
apoiei suas costas contra a parede. Rapidamente, encaminhei minha ereção até sua boceta,
penetrando-a em um movimento preciso e ela gemia mais alto pelo impacto. Mantive a
movimentação constante dos meus quadris contra os dela e, depois de algumas estocadas
profundas, senti as contrações de sua musculatura anunciando o orgasmo iminente.
Angulei ainda mais suas pernas, intensificando o contato e a pressão, e, logo em
seguida, senti as forças dela se esvaírem enquanto ela desmanchava, tamanha impetuosidade do
orgasmo que a atingiu. Engoli o gemido que ela soltou com um beijo e, com mais duas
estocadas, foi a minha vez de esvaziar dentro dela.
Colei minha testa na dela enquanto recuperávamos o fôlego perdido. Meus braços
reclamavam pela força que já não tinha devido ao êxtase recente me obrigando a descer as pernas
dela para o chão, mas ainda mantendo as mãos em torno de sua cintura para firmá-la em pé.
E foi ali que percebi.
— A camisinha. Puta merda, me desculpe. No calor da coisa eu acabei esquecendo.
— Ben, eu tomo anticoncepcional e, também, não é como se já não fôssemos ter um
filho de qualquer forma. — Ela sorriu me fazendo rir também.
Lhe dei um beijo rápido e fui em direção à pia, me recompor e ajudá-la a fazer o
mesmo. Quando estávamos prontos para sair do banheiro, destranquei a porta, mas Emma
pareceu empacar no lugar.
— E se alguém nos ouviu?
— Meu amor, ninguém além de nós dois fica nesse andar se não tiver reunião e
William me viu vindo atrás de você, então, já deve ter descido.
— Que vergonha de sair daqui. — Ri alto do seu embaraço. Desviei o olhar para o
relógio no meu pulso verificando que faltavam menos de duas horas para o fim do nosso
expediente.
— Quer saber? Vamos embora. Não temos nada urgente para resolver
impreterivelmente hoje, pelo contrário, é um dia feliz, apesar dos pesares. E, sabe, a minha noiva
que eu amo teve uma ideia incrível e acabou de lançar um aplicativo que vai ser um sucesso.
Temos que comemorar, meu amor. Vamos para casa, a gente se arruma e vou te levar em um
encontro digno de você. — Achava ter dito a coisa certa, aquele sorriso enorme me garantia
isso.
— Eu amo você, mesmo… — Se esticou na ponta dos pés, já que mesmo de salto alto,
ainda era consideravelmente mais alto que ela — Mas vamos sair daqui logo que estou com
vergonha.
Emma me puxou pela mão me fazendo gargalhar novamente e sair rindo atrás dela que
saiu quase correndo para o elevador.
Capítulo 26 – Emma Campbell

Ben improvisou alguma comemoração de última hora e não me contou nada sobre.
Vim dirigindo para casa enquanto ele ficou no celular resolvendo seja lá o que sua mente criativa
propiciou.
Enquanto ele tomava banho, garanti os bons minutos de diversão com Sheik, dando
atenção e carinho, arremessando todos os seus brinquedinhos pela casa do jeito que ele gostava.
Quando Ben apareceu algum tempo depois, foi ali que me encontrou, jogada no chão da sala,
agarrada ao cachorro em um ataque de lambidas que ele adorava e sempre me causava ataque de
risos.
— Nossa, que lindo! — Corri meu olhar pelo meu noivo, admirando o visual all black,
e isso pareceu encher seu ego. — Vou me esforçar para fazer jus a isso tudo.
Deixei um beijo em seus lábios rapidamente e corri para o banheiro, deixando meus
dois garotos por ali. Demorei cerca de meia hora para me arrumar — depois de uma
videochamada com Hannah para aprovar a escolha do meu look dentre as milhões de opções que
agora preenchiam meu closet depois do nosso dia de compras —, e voltei para a sala. Ben deve
ter escutado o ecoar dos meus saltos no piso frio, pois ouvi a televisão sendo desligada.
Usava um vestido novo, de comprimento médio, que alcançava quase meus joelhos,
verde escuro, no tom exato da cor dos meus olhos, justo nos lugares corretos, com um corselete
que valorizava meus seios, delineava minha cintura e a curva do meu quadril e, nos pés, uma
sandália de salto alto, nude com transparência e uma bolsa de mesmo tom. Deixei os cabelos
soltos e, dessa vez, modelei os longos fios castanhos de forma que ficassem levemente
ondulados. No rosto, uma maquiagem leve, acentuada apenas pelo delineado preto nos olhos e o
batom vermelho nos lábios.
Cheguei à sala e Ben estava parado, ali no meio, me encarando, parecendo extasiado
com a visão, mas nada dizia, me fazendo franzir as sobrancelhas e girar no meu eixo em torno de
mim mesma.
— Que foi? É demais?
— Estou dividido nesse momento. Quero guardar essa visão apenas para mim e não
deixar que ninguém mais tenha o vislumbre de você nesse vestido com esse batom nos lábios e,
ao mesmo tempo, quero sair por aí e te exibir, mostrar para todos a mulher linda que tenho ao
meu lado. — Sorri para ele.
— Está bom mesmo?
— Você está absolutamente deslumbrante, meu amor. Sou um cara muito sortudo por
ter o privilégio de te chamar de minha. — Me deu um selinho rápido — Vamos?
— Vamos. — Enquanto ele chamava o elevador, eu falava com Sheik — Bebê, mamãe
deixou a porta do quarto aberta para você poder ir para sua cama. Você já deve ter comido o
jantar que papai colocou para você, então pode ir dormir, beijo garoto.
Encontrei Ben de boca aberta olhando para nós dois, antes de sorrir, vendo Sheik fazer
exatamente o que eu disse, andando calmamente em direção ao quarto.
— Eu deveria ter gravado isso para mostrar para Nate.
— Não ia adiantar nada, ele iria continuar chamando-o de anticristo.
Ele me abraçou pela cintura e beijou meu pescoço e, enquanto descemos até a portaria,
me disse que para aproveitar a noite e poder tomar um drink comigo, acertou um motorista para
nós dois.
Após poucos minutos no carro, o motorista nos deixou na frente do DANIEL'S, um
restaurante francês renomado com duas estrelas Michelin, localizado no coração de Nova York,
perto do Central Park. Eu disse a Ben uma vez que não me importava com luxo, restaurantes
caros ou joias, que preferia as coisas mais simples, mas hoje era um dia especial, o lançamento
do aplicativo que finalmente saiu de vez do papel, depois de meses de empenho, e, além do mais,
queria celebrar também a conquista do nosso amor.
No dia que Ben me fez a proposta, ele disse que acreditava que o amor se construía e se
conquistava aos poucos e, hoje, depois de alguns meses juntos, vi que esse pensamento era real.
Nós dois éramos, embora não admitíssemos, atraídos um pelo outro, mas era apenas isso,
atração, talvez conciliada a um certo encantamento, uma vez que tínhamos um bom
relacionamento.
Porém, à medida que fomos nos envolvendo e nos tornando mais íntimos, encarando
uma nova rotina em casal, construindo memórias juntos e lidando com as expectativas em torno
da chegada do bebê, tudo isso em conjunto consolidou o sentimento um pelo outro e, realmente,
conquistamos um amor.
— Como podemos jantar aqui sem ter feito reserva?
— Eu conheço o maitre. Liguei enquanto você se arrumava e perguntei se havia
alguma possibilidade de ele encaixar uma reserva para nós dois, disse que queria comemorar
algumas coisas com minha noiva.
Sorri para ele que me conduzia pela mão até a entrada do restaurante, onde o maitre
nos recebeu e nos parabenizou pelo noivado, nos encaminhando para uma mesa no salão
principal do restaurante.
— Nossa, aqui é lindo.
— A ambientação toda realmente nos leva para a França. Vamos juntos para lá um dia
e vai entender o que estou dizendo.
Mantivemos uma conversa simples até que o garçom chegou com os menus e deixei
que Ben escolhesse algo para mim, afinal ele saberia harmonizar com o vinho que acabou de
pedir.
Entre conversas e carícias, os pratos iam sendo servidos. Comemos e apreciamos o
vinho que ele escolheu e, assim que o garçom trouxe a sobremesa que dividiremos, Ben usou
isso como desculpa para arrastar sua cadeira para mais perto de mim. Conversamos sobre o bebê
e chamei sua atenção para a necessidade de começarmos a ver o enxoval e montar o quartinho.
— Já passou da hora de fazer isso, lindo, temos menos de dois meses para organizar
tudo que for necessário.
— Nos casamos em duas semanas e, então, focamos nisso, pode ser? — Concordei,
aproveitando para questionar algo que acabou se tornando certo obstáculo.
— Por falar no casamento, não vai mesmo chamar sua mãe? — Ele suspirou mas antes
que falasse algo ou desviasse do assunto mais uma vez, peguei sua mão e apertei, acariciando o
dorso — Meu amor, eu já percebi que tem algo a mais nessa história, você sempre troca de
assunto quando chegamos em algo relacionado à sua mãe. Eu só… só acho que se quiser ela no
casamento, precisa convidá-la.
— Sei que já passou da hora de eu abrir essa história por completo com você. Não
pense que eu queria esconder de você essa parte de mim, quero esconder de mim mesmo. Vou te
contar e partimos daí, ok?
— Tudo bem.
— Mas, podemos conversar sobre isso amanhã? Quero aproveitar essa noite com você,
sem pensar em problemas ou qualquer coisa do tipo. Podemos só curtir nós dois? — Beijava meu
pescoço — O fato de estarmos aqui, juntos e felizes. — Outro beijo e um sussurro no meu
ouvido — Nos amando, literalmente agora. Podemos?
— Não vai me distrair com beijos, Ben. — Ri ignorando os arrepios que ele me
provocou — Mas, tudo bem, conversamos amanhã, sem falta.
— Sem falta. — Repetiu, mas não escondeu o ar vitorioso por ter me ludibriado por
mais uma noite.
Terminamos de comer o doce, pagamos a conta e nos dirigimos para a porta do
restaurante, com ele me conduzindo com a mão na minha cintura.
— Pronta para a segunda parte da noite?
— Tem mais?
— Claro, meu amor, vamos? — Andamos juntos até o carro.
— Posso saber para onde vamos?
— Brindar.
Foi tudo que ele disse antes de inesperadamente atacar minha boca, entregando tudo
que havia nele ali naquele beijo apaixonado, mas completamente indecente e sensual, me
apertando contra ele no banco de trás do carro enquanto o motorista seguia caminho.
— Eu estava salivando de vontade de te beijar assim desde que apareceu na sala de
casa com essa boca pecaminosa pintada com esse batom vermelho. Queria ter feito isso no
restaurante, mas não queria que fossemos expulsos por atentado ao pudor. — Consegui sorrir
ainda sob a enlevação provocada pelo beijo.
— E agora nós precisamos de um papel porque você está com a boca toda manchada e
eu também devo estar.
Ele esticou a mão até o teto alcançando a luz interna do carro e, assim que acendeu, me
encarou apenas para gargalharmos ao mesmo tempo.
— Você está todo vermelho, até sua barba está pintada.
— Você não está longe disso não. Estamos como dois palhaços com os narizes
vermelhos. — Continuamos rindo da cena patética, mas abri minha bolsa e tirei de dentro alguns
lencinhos demaquilantes que sempre carregava comigo.
— Vem cá, me deixa limpar seu rosto. — Esfreguei o lenço nele retirando a lambança
do batom.
— Você carrega isso sempre?
— Quando uso batom vermelho, sim. — Respondi e ele franziu o cenho em uma
careta.
— Me arrependi de fazer essa pergunta, não queria imaginar você passando por isso
antes com outro cara.
— Não estava pensando nisso, nunca nessa situação. — Ri do ciúmes inesperado —
Apenas quis dizer que esse batom faz muita sujeira para comer e beber. Às vezes um simples
movimento mancha o rosto, por isso carrego.
— Melhor. — Revirei os olhos rindo dele, enquanto de limpá-lo e ele fazia o mesmo
comigo, no timing perfeito para o motorista avisar que chegamos.
Saímos do carro e notei que me trouxe ao Beekman Tower Hotel, onde sabia que ali,
nos terraços do 26º andar, existiam bares especializados em drinks diferenciados.
— Ophelia? Já ouvi falar desse lugar.
— Você vai amar. Os drinks são incríveis e a vista da cidade e do East River é
maravilhosa.
E realmente era. Assim que chegamos no andar corretamente referido, andamos até o
beiral para apreciar a vista de Manhattan completamente iluminada.
— Uau, é realmente de tirar o fôlego.
— Realmente é. — Desviei o olhar para ele e notei que ele olhava para mim, e não para
a paisagem, me deixando subitamente envergonhada. Sei que ele notou meu rosto corado,
mesmo à meia luz, pois sorriu mais abertamente, me enlaçando pela cintura.
— Bobo.
— Quando você me disse que queria um meio termo antes de irmos direto para o
casamento, eu confesso que achava uma furada, totalmente desnecessário. Pensei que seria uma
perda de tempo, mas você queria isso, e um relacionamento funciona assim: a gente diverge,
debate e encontra um ponto comum que, no nosso caso, foi o noivado. Eu achava que seria perda
de tempo, mas não foi, não mesmo. A intimidade que pudemos construir sem a pressão da
instituição casamento foi muito importante para chegarmos até aqui. Seria incrível me casar com
você de qualquer forma, por tudo que a nossa relação representa desde o início, mas poder me
casar com você, daqui a poucos dias, tendo a plena certeza de que você é a mulher da minha
vida, vai ser extraordinário.
— Ben… — Suas palavras mexiam comigo.
— Ter feito essa proposta a você foi a melhor escolha que já fiz. Eu amo você, futura
senhora McKnight, e mal posso esperar pelo nosso futuro, nossos filhos e nossos planos.
Eu me emocionei com as palavras dele, lágrimas furtivas se formaram em meus olhos
enquanto eu ainda encarava os seus, antes de passar meus braços por sua cintura.
— Quando você me fez aquela proposta e eu aceitei, você pode ter achado que eu
estava te salvando de alguma forma, salvando o seu bebê de uma vida que você não queria para
ele, mas, na verdade, foram vocês que me salvaram. Eu não sei quanto tempo mais eu suportaria
se… se tudo continuasse da mesma forma. Você me trouxe um propósito, me trouxe esperança.
Você me devolveu a vida me dando um motivo para querer lutar e seguir em frente. Isso tudo
entre a gente, tudo que construímos, é mais importante para mim do que você imagina. E eu mal
posso esperar para conquistar ainda mais, ir além, prometendo lutar pela nossa família com
unhas e dentes. Você, lindo, é a luz da manhã que entrou na minha vida e me salvou da
escuridão, mesmo que não soubesse disso. Eu amo você, senhor McKnight.
Sua boca encontrou a minha em um beijo que evidenciava todo seu amor. Nos
mantemos ali em um momento apenas nosso, até que senti uma presença do nosso lado e, quando
nos afastamos, demos de cara com Nick, que abriu um enorme sorriso.
— Que beijão, em? Gostei, nota dez. — Nate, Carl e Hannah, que estavam mais atrás
riam da indiscrição de Nick, fazendo com que eu e Ben desviemos o olhar para eles sorrindo.
— Que bom que chegaram. — Ben cumprimentou.
— Chegamos antes do beijo. Se tivessem deixado para se pegar depois, teriam notado.
— Nick troçava.
— Que bom que não vimos então. — Retruquei com ar superior.
— Olha só, a medusa é audaciosa. — Nick implicou.
— Ofende ela mesmo, babaca. Provoca, depois ela te transforma em pedra e eu quero
ver. — Nate o provocava.
— A medusa é linda, luz da minha vida, me concedendo um afilhado que já amo
demais. Jamais falei mal dela. — O palhaço nos fazia rir.
— Nick, você é 100% fora da caixinha. — Hannah ria.
— Loira, fora da caixinha é aquele seu noivinho de araque. Cadê ele? Te deixou
sozinha de novo? — A expressão de Hannah mudou drasticamente.
— Eu poderia mandar você ir se ferrar por estar se metendo onde não foi chamado,
mas...mas não tenho mais argumentos para tentar defendê-lo.
A minha expressão também escorregou. Nas últimas semanas Hannah desabafou
comigo a respeito de Joey. Ele nunca foi a pessoa mais carinhosa do mundo, mas ao menos dava
atenção e carinho a ela, porém de uns tempos para cá, o trabalho dele parece ter se tornado toda
sua prioridade, deixando Hannah se sentir jogada de lado, menos importante.
O problema era que Hannah parecia ser realmente apaixonada por ele, desde sempre, e
não estava sabendo lidar com esses novos sentimentos de rejeição. Eu já a aconselhei, mas ela
ainda não se sentia pronta para terminar, dar um ponto final na relação de anos, ainda achava que
era apenas uma crise. Ou pelo menos era nisso que ela se forçava a acreditar.
Eu discordava, mas compreendia seu receio.
Nick viu que o que falou a desestabilizou, foi uma brincadeira longe demais, então
tentou amenizar o clima indo até ela e a abraçando pelos ombros.
— Nada de tristeza, loira diabólica. Vamos brindar ao lançamento do aplicativo da
medusa, vamos encher a cara, conversar e rir, sem espaço para qualquer assunto que faça
qualquer um mal.
— Isso mesmo e se precisar que a gente dê uma lição no babaca, é só chamar. Faremos
isso por você. — Carl disse a ela.
— Com o maior prazer. — Nate completou.
Hannah sorriu em agradecimento e eram nesses momentos que notava que, apesar dos
caras se implicarem e brincarem o tempo todo, eles sabiam a hora de serem sérios, sendo ótimos
companheiros e amigos.
— Vamos, loira, abrir o caminho desse povo para o bar. — Nick saiu rebocando
Hannah e nós seguimos atrás.
— Quis chamar nossos amigos para brindar com a gente, tudo bem— Ben sussurrou
enquanto Nick pedia drinks para todos — Sei que era para ser um encontro só nosso, mas queria
te dividir com todos eles hoje para comemorar o seu lançamento.
— Sem problemas, meu bem, tivemos nosso momento no jantar mais cedo e agorinha
ali no terraço, sentindo a brisa de Nova York, à meia luz. Não tenho nenhum problema com o
fato de tê-los convidado, até porque… — Me aproximei do seu ouvido para murmurar — Ainda
teremos outro momento a dois, em casa, mais tarde. — Terminei em tom de promessa e me
afastei depois de deixar um beijo em seu ouvido, encarando seus olhos desejosos e o sorriso
malicioso.
— Ei, vocês dois aí. — Carl chamou nossa atenção — Chamaram a gente para ficar
assistindo a putaria de vocês?
— Carlton, indiscrição é característica minha, não sua. — Nick gargalhava.
— Vamos brindar logo, eu quero beber. — Nate se meteu e Hannah sorri cheia de
ironia.
— Três florezinhas amorosas. Que lindos amigos você tem, bonitão.
— Somos lindos mesmo, loira diabólica, e você também não fica para trás, é bem gata.
— Nick disse e ela se desconcertou com o comentário, mas Carl não deixou isso seguir adiante.
— Ali no terraço tem mesa sobrando, vamos voltar para lá. — Assim que nos
acomodamos ao redor da mesa, ainda de pé, Ben levantou o copo.
— Chamei vocês aqui pra gente poder comemorar o lançamento do aplicativo da
Emma. — Ele me olhou por um momento, fazendo suspense mais uma vez — Recebi uns
números ainda agora e superamos todas as projeções que tínhamos feito para as primeiras horas.
Meu amor, sua ideia foi um completo sucesso, o aplicativo está na lista dos mais baixados no
setor de leitura. Orgulho e admiração ainda são sentimentos pequenos para o que estou sentindo
nesse momento. Você merece e faz por onde receber tamanho reconhecimento. À você, minha
linda.
— A você, minha linda. — Os outros quatro repetiram em uníssono, nos fazendo
gargalhar.
Senti meus olhos marejados novamente de emoção, pelo sucesso e por estar aqui com
todos eles, e não consegui deixar de pensar em meus pais e em como eles estariam extasiados
com a notícia. Desviei meu olhar para Hannah que sabia para onde minha mente foi e, então,
veio me abraçar.
— Eu sei o que você pensou e pode ter certeza que de onde quer que eles estejam,
estão orgulhosos de você, amiga. Você merece isso e muito mais, isso foi apenas o início do seu
sucesso profissional, mais reconhecimento virá, tenho certeza disso.
As lágrimas que segurei acabaram caindo com as palavras proferidas, eram nesses
momentos que a saudade dos meus pais apertava. Hannah se afastou do abraço e eu notei todos
com sorrisos carinhosos no rosto.
— Como o ruivo ali disse, nada de tristeza hoje, ok? Sem lágrimas. — Ela limpou meu
rosto e eu lhe dei um beijo na bochecha em agradecimento antes de me virar a todos.
— Eu não vou falar demais senão vou chorar de novo, mas quero agradecer por ter
vocês aqui celebrando essa conquista comigo, com a gente. — Abracei Ben pela cintura me
referindo a ele — É um sucesso para a Booksbank também, no final das contas.
— Mérito seu, meu amor. — Ben beijou o topo da minha cabeça.
— Meu amor, é? — Nick sorria malicioso mexendo as sobrancelhas para cima e para
baixo.
— Chegamos nesse nível? — Nate repetiu o gesto.
— No caso, eles chegaram. — Carl provocou e os dois param de rir.
— Difícil seria se você, em seu celibato de mil anos, tivesse encontrado alguém, não é,
Carl?
— Celibato? — Hannah perguntou.
— Você ainda vai aprender a desconsiderar metade, senão a maior parte, das coisas que
Nick diz. — Foi a resposta de Carl, e não sei se foi impressão minha a ouvir esse comentário
inesperado, mas notei um certo sobressalto no mais recluso dos amigos, como se Nick realmente
tivesse acertado em cheio.
— Não pode negar, Carl. Somos amigos há tanto tempo e jamais te vi com alguém.
— Nick, fique quieto e me esqueça um pouco. Olhe ali, a medusa e Ben estão se
declarando um para o outro. — Carl cortou assunto e Hannah ria da expressão de Nick e Ben
mantinha um sorriso carinhoso para mim me fazendo ter que me esticar para dar um beijo rápido
nele.
— Pois é. Amor. Essa baixinha me enfeitiçou direitinho.
— EU DISSE! — Nick gritou — É a medusa. Você ficou cinco anos sob os encantos
dela e deu nisso, McKnight. Quando você ainda nem esperava, ela já estava usando os poderes
dela pra cima de você e PÁ. — Ele estalou os dedos — Agora estamos aqui a duas semanas de
um casamento e com um bebê a caminho. — Nós rimos enquanto Carl revirou os olhos
gargalhando.
— Tenho que mandar investigar se ele bateu a cabeça quando nasceu, vai ver que é
doido assim por conta disso.
— Por falar em bebê. — Nate mudou de assunto. — Quando vamos parar de chamá-lo
de bebê? Ele vai nascer sem nome?
— Eu já sugeri vários nomes, seu amigo que não gosta de nenhum e veta todos que eu
sugiro.
— Meu amor, aqueles nomes... não tem como. São muito comuns e sem graça, não tem
nada a ver com a gente.
— Coitada da criança, vai se chamar Mr. Darcy. — Carl disse e Hannah se engasgou
com o drink de tanto que ria, quase cuspindo todo o líquido na cara de Nick.
— Desculpa, Nick.
— Cala a boca, Carl. — Ben também ria — Não é porque somos donos de uma editora
que o nome dele vai ser algo assim.
— Quem diabos é Mr. Darcy? — Nate questionou e todos nós paralisamos com os
olhos arregalados.
— Nathaniel? — Hannah foi a primeira a se recuperar — Quem diabos é Mr. Darcy?
— Ela fez aspas com as mãos, repetindo a sua pergunta.
— Isso foi uma pergunta séria, cara? — Carl ainda estava espantado.
— Você não sabe quem é Mr. Darcy e Elizabeth Bennet? Você vive debaixo da pedra?
— Nick praticamente berrava.
— Nate, já sei o que te dar de presente de Natal. Ninguém roube minha ideia. —
Alertei.
— Nossa, eu sinto que cometi um crime, mas, sim, não sei quem são essas pessoas. São
amigos de vocês? — Ele perguntou confuso e Nick e Hannah só faltavam rolar no chão de tanto
que riam, chegavam a ter lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto a loira se apoiava no ombro
de Nick para se sustentar.
— Nate, cale essa boca, você só se complica mais. — Carl disse, rindo da cara dele.
— Dá pra alguém me explicar quem caralhos é esse tal de Mr. Darcy? — Ben ria tanto
como os outros, então eu o respondi.
— Nate, Mr. Darcy é, talvez, o personagem mais conhecido dos livros de romance e
mesmo quem não curte esse gênero o conhece. Elizabeth e Darcy são certamente o casal mais
conhecido da literatura, personagens de Jane Austen, do livro Orgulho e Preconceito.
— Hm, não sabia disso.
‒ No Natal você descobre, vou te dar de presente um exemplar.
— Aproveita e lê outros também para não passar mais essa vergonha. — Nick ainda
ria, mas Carl retomou o assunto.
— Sobre o nome do bebê, qual o problema para decidir?
— Não é nada fácil decidir o nome de uma criança. Só consigo pensar que vou
escolher um nome feio e ele vai me odiar pro resto da vida.
— Que dramalhão, Emma. — Hannah ria.
— Quais as exigências? — Carl perguntou.
— A minha única é que seja um nome com um apelido, eu sempre quis ter um.
— Tadinha da medusa. Ben beija ela. — Nick implicava rindo de mim.
— Cala a boca, Nicholas.
— E você, McKnight? Exigências? — Carl insistiu e Ben me pareceu meio sem jeito,
envergonhado.
— Bom, quero algo com um significado, que remetesse a nós dois, à nossa história,
não sei, não quero um nome apenas por achar bonito ou coisa assim. — Sorri encantada para ele,
junto com Hannah, mas os três paspalhos gargalhavam.
— Medusa, você é incrível. Olha no que você transformou o McKnight.
— Uma linda flor sentimental.
— De CEO renomado para pai e marido babão. O que você virou, Ben? — Foi a vez de
Nate perturbá-lo, mas Ben apenas ria revirando os olhos.
— Um cara melhor, seus babacas, que vai ter o prazer de falar o mesmo quando for a
vez de vocês.
Os quatro passaram bons minutos despejando todo e qualquer nome de menino que
passava pela cabeça deles. Alguns eu e Ben anotamos mentalmente para pensar depois, outros
foram automaticamente descartados.
E dessa forma seguimos pelo restante da noite, entre drinks e conversas desde bebês e
casamento, Hannah comentando sobre os seus bebês no hospital, Nick e suas peripécias atrás de
mulher, Nate comentando de alguns de seus últimos casos no tribunal, Carl curiosamente
animado com uma oportunidade de talvez comandar o projeto de execução do que, se realmente
sair do papel, se transformaria no prédio mais alto e moderno do skyline de Nova York.
Quando demos a noite por encerrada, nos despedimos. Eu e Bem estávamos ambos
consideravelmente alegres, com o nível de álcool no sangue bem alto, o que me fazia rir de
absolutamente tudo que Ben fazia e falava, e o divertia com a minha cara bêbada.
Ben estava mais sóbrio que eu e quando efetivamente chegamos em casa, senti ele
apoiar meu corpo ao dele para não me deixar cair, me oferecer água e duas aspirinas,
provavelmente prevendo a dor de cabeça que teria na manhã seguinte. Ele me ajudou a arrancar o
vestido desconfortável e as sandálias para conseguir dormir melhor antes de me acomodar na
cama para então se livrar das próprias roupas e despencar ao meu lado murmurando um ‘boa
noite, meu amor’ antes de apagar, sem mesmo ouvir minha resposta.
Não era exatamente essa a maneira que pretendia encerrar nossa noite, porém,
expectativas podiam ser ajustadas e dormir ao lado dele me bastava.
Capítulo 27 – Benjamin McKnight

Acordei no que presumia ser horas depois, Emma ainda dormia ao meu lado. Me permiti
passar alguns minutos ali, apenas olhando para ela, aproveitando para fazer uma oração de
agradecimento por ela, pelo bebê, por mim.
Me aproximei rapidamente dela e para um beijo rápido e sutil, ajeitei o lençol cobrindo
os seios que só me faziam querer desejá-la aqui e agora, e me levantei aproveitando para tomar
um banho já que não o fiz quando chegamos ontem. Vesti apenas uma calça de moletom e sai do
quarto com Sheik, insistindo que ele viesse comigo e não cobrisse Emma de lambidas para
acordá-la como vinha fazendo desde que começamos a morar juntos.
Fiz nosso café da manhã e alimentei Sheik e, quando ouvi o barulho do chuveiro
indicando que ela já havia levantado, suspirei fundo. De hoje não iria passar a conversa a
respeito da minha mãe. Não era como se eu quisesse manter isso em segredo, isso era apenas
uma história que me machucava e que não gostava de ficar relembrando. Porém, sabia que
precisava abrir o jogo com ela e deixar que entendesse o porquê de eu sempre fugir desse assunto
e que compreendesse, ainda mais, a razão para a proposta que a fiz ter ainda maior importância.
Poucos minutos depois, ela chegou na cozinha, com o cabelo úmido escorrendo pelas
costas e vestindo apenas uma das minhas camisetas e com um cheiro delicioso de banho tomado.
Como estava sentado em um banco alto no balcão da cozinha, ela me abraçou por trás, apoiando
as mãos no meu peito.
— Bom dia, meu amor. Dor de cabeça? — Questionei, beijando uma de suas mãos.
— Não. —Senti o beijo que deixou nas minhas costas — A aspirina que me deu ontem
realmente fez efeito.
— Se lembra disso? Achei que estivesse praticamente dormindo.
— Talvez eu estivesse apenas exagerando pra você fazer as coisas por mim, mas só
talvez. — Ela riu quando a trouxe para frente, encaixando-a de pé entre minhas pernas.
— Que folgada.
— Você chama de folgada, eu chamo de esperta.
— Vem, vamos tocar um café para limpar qualquer vestígio de uma ressaca.
Tomamos um reforçado café enquanto ela me relembrou que iria se encontrar com
Hannah depois do almoço para a última prova do seu vestido de noiva. Estava ansioso por esse
momento, imaginá-la caminhando para mim era um dos meus passatempos preferidos. Porém,
antes de me concentrar no casamento, tínhamos um assunto pendente, e já que eu teria que lidar
com isso, melhor acabar com essa história de uma vez.
— Vamos conversar ali na sala?
Fiz o convite e apesar de franzir as sobrancelhas por um momento tentando compreender
a minha súbita mudança de assunto, ela concordou quando a lembrança a atingiu. Me acomodei
no canto do sofá trazendo-a para perto de mim, apenas querendo sentir o amor dela, enquanto
abria meu coração sobre o assunto que mais me machucava.
Emma parecia sentir a tensão do que estava por vir. Senti sua mão na minha nuca,
invadindo a parte baixa do meu couro cabeludo em um carinho reconfortante, apenas esperando
que eu tomasse meu tempo.
— Você se lembra quando eu te falei sobre o meu pai? Sobre ele ter casado com a minha
mãe em menos de dois meses por que meu avô queria impedi-la de se envolver com o jardineiro
pelo qual ela estava apaixonada?
— Sim.
— Enquanto crescia, eu não tinha noção das coisas que aconteciam dentro de casa ou de
tudo que aconteceu antes mesmo de eu nascer. Eu apenas via um cara arrogante, violento e
desumano que não suportava a minha presença, o “filho” dele. — Fiz as aspas com as mãos —
Como eu não tinha o mínimo de amor, compaixão ou respeito vindos dele, eu achava que o que
minha mãe fazia por mim era isso. Hoje eu sei que o que ela tinha por mim era um completo
cuidado, e não no sentido amplo da palavra cuidar, querer ver bem e tudo isso. Era apenas um
cuidado de não deixar que eu não me alimentasse ou que me machucasse. Não era amor ou até
mesmo respeito. Hoje eu vejo que tudo aquilo, e ela me confirmou isso depois, era apenas para
que ela não se corroesse de remorso por deixar uma criança ao léu.
— Ben… — Senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto — Meu amor, sei que fui eu
quem pediu para você me explicar isso, mas se não estiver se sentindo confortável não precisa
falar, não quero te ver assim.
— Eu não queria, inicialmente, mas eu preciso te contar, não quero ter segredos com
você e agora que eu comecei, quero ir até o fim.
— Estou aqui. — Ela beijou meu ombro.
— Eu tinha uns 15 anos quando comecei a perceber que as coisas que eu via nos filmes,
que eu ouvia dos meus amigos na escola sobre amor e carinho de pais, não era aquilo que eu
tinha em casa. Óbvio, eu tinha plena consciência de que meu pai tinha zero afeição por mim, mas
eu achava que minha mãe tinha, do jeito torto dela, mas eu realmente acreditava que era amor. —
Limpei minhas lágrimas com ódio — Eu era só um menino, entende? Tudo o que eu queria era
minha mãe me dando um beijo de boa noite na testa, meu pai assistindo a um jogo de futebol
comigo, passeios de final de semana. Eu só queria me sentir amado.
Chorava sem conseguir reprimir, sem conseguir respirar direito, até que ela se sentou no
meu colo. Deixei que ela me confortasse com seu amor e carinho. Sentia o seu carinho em
minhas costas e as lágrimas de compaixão dela escorrendo por meu ombro.
— Meu pai faleceu quando eu tinha dezessete anos e, eu queria poder te dizer que eu
sofri a morte dele como sei que você sofreu com a do seu pai, mas isso seria uma tremenda
mentira. A dor que eu sentia era de culpa, por sentir alívio, e eu me achava um monstro por sentir
isso diante da morte do meu próprio pai. Eu achava que sem ele por perto, as coisas seriam
diferentes. Achava que, finalmente, eu poderia respirar tranquilo, que teria aquilo que sempre
quis. Eu achava que a minha mãe agia da maneira que agia por conta dele e que, então, sem ele
ali, ela seria diferente.
“Eu estava no meu último ano de escola e no ano seguinte iria para a faculdade e ela
continuava agindo da mesma forma, com uma certa indiferença a mim. Sei que ela nunca me
machucou, me dava comida, conferia se eu tinha tomado banho, e essas coisas, mas era o
mínimo, sabe? Então eu simplesmente me cansei. Cansei de esperar receber algo diferente disso.
Eu segui minha vida, planejei meu futuro. Eu iria para a faculdade, estudaria, me formaria, iria
arrumar um trabalho, curtiria a vida e, em algum momento, eu teria a minha própria família.
— Você conseguiu tudo isso, Ben.
— Na semana em que eu sairia de casa, ela me chamou para conversar. Eu estranhei,
mas nunca, nunca a desobedeci ou a contrariei, ainda era minha mãe, afinal de contas. Nos
sentamos e ela me contou sua história. Me disse que ela era apaixonada pelo jardineiro, que até
hoje não sei o nome, mas que ele era casado àquela época e, então, eles mantinham um caso às
escondidas. Ela, movida por essa paixão não correspondida, arquitetou um plano para engravidar
dele, achando que se isso acontecesse, ele largaria a esposa para ficar com ela e o filho.
“Acontece que não se planeja a vida assim, as coisas nem sempre são como esperamos
que elas sejam. Ela realmente acabou engravidando e a reação dele foi rir da sua cara, disse que
nunca largaria a vida dele e a esposa por ela e por um bastardo, que ela era apenas um
passatempo para ele. Ele disse a ela que preferia ser um pobre fodido na vida do que ter qualquer
vínculo com ela.
Emma me encarava incrédula com os olhos arregalados. Eu tomava tempo para encontrar
forças para continuar, odiava remexer nessa história e lembrar dessa mulher.
— Quando meu avô descobriu essa história, dias depois, arranjou o casamento para ela.
Meu pai sabia da gravidez e isso, para mim, deixou bem claro o porquê dele me tratar daquele
jeito, eu não era nada para ele. E ele nunca a amou, tudo era apenas um acordo entre os pais dele
e meus avós, por dinheiro. Não justifica a forma como ele sempre nos tratou, mas explica muita
coisa. Ela continuou me dizendo que apenas não abortou por peso na consciência, por saber que
não conseguiria viver consigo mesma sabendo que tinha feito algo assim e, basicamente, foi por
esse mesmo motivo que cuidava de mim, apenas para não ter remorso por ter me abandonado.
“Depois daquele dia em que me contou isso com uma espantosa facilidade, eu saí de casa
antes do previsto e fiquei um tempo com Nate, que já era um dos meus melhores amigos, e
depois fomos juntos para a faculdade. Durante todos aqueles anos eu simplesmente ignorava a
existência dela, me considerava órfão de mãe e pai.
— Nunca mais voltou a falar com ela depois disso?
— Nate me convenceu a isso. A gente conversava muito e ele me sugeriu procurá-la
numa espécie de catarse, que poderia ser um ponto final ou um recomeço. Demorei a seguir com
a ideia, mas logo que me estabeleci com o CEO da Booksbank, que tinha conquistado meu lugar
no mundo independente da vida de merda que eu tive, eu fui atrás dela. Ela está casada, cuidando
e amando os três enteados como se seus filhos fossem. Fiquei observando eles à distância por um
tempo e, quando me aproximei, ela fechou a cara e perguntou o que eu fazia ali, disse que não
tínhamos nada um com o outro e que era para eu ir embora rápido e sem falar nada, pois o
marido dela não sabia da minha existência. Então eu simplesmente virei as costas e vim embora e
depois disso nunca mais entrei em contato, apenas a exclui permanentemente da minha vida.
— Você sabe que nunca mais vai passar por nada parecido com isso, não é? Sabe que
seus amigos te amam, que eu amo você, que o bebê vai te amar incondicionalmente, que
estaremos sempre contigo, não sabe? — Emma se abraçou a mim por uns minutos
— Por muito tempo, eu lidei com esse sentimento de rejeição e, se eu for ser bem
sincero, é possível que isso me acompanhe pelo resto da vida. Foi por isso, linda, por entender a
dor da rejeição que eu te fiz a proposta. Eu não poderia forçar Courtney a não abortar, não cabia
a mim dizer qualquer coisa. Mas fiz o que fiz e praticamente comprei meu filho e não me
arrependo. Dinheiro nunca viria antes de uma vida para mim e com o contrato assinado, eu não
queria, Emma, não conseguiria lidar com a ideia de que meu filho se sentisse minimamente
rejeitado. Não queria que um dia ele me perguntasse ‘por que eu não tenho uma mamãe?’. Esse
senso de família sempre foi importante para mim, pois sempre o quis, mas nunca tive. E, então,
nossa história começou.
— Eu posso te prometer, meu amor, que eu valorizo muito a concepção de família, tive a
minha e sei o quanto é importante. Quero isso para o nosso filho. Você pode não ter tido algo
assim, mas agora tem. Nós dois já somos uma família e nossos filhos, seja lá quantos forem,
virão para agregar e nos realizar ainda mais. Te prometo que nunca se sentirão rejeitados, isso
não vai existir debaixo do nosso teto, ok? Acolhimento, amor, respeito e confiança serão a nossa
base.
— Eu te amo, Emma McKnight. — O sorriso imenso que surgiu em seu rosto quase me
cegou.
— Treze dias. Faltam apenas treze dias para eu ser legalmente uma McKnight, mas vou
te confessar. — Ela se aproximou do meu ouvido — Me casar com você só vai tornar oficial
algo que meu coração já reconhece a um tempo.
Sorri para ela antes de beijá-la com todo o amor que cabe em mim, transmitindo tudo que
sentia por ela e por nós dois, até que Sheik pulou entre a gente.
— Coisinha linda da mamãe. — Ela deu um beijo no focinho dele. Eu brincava com a
ideia de que Sheik iria ganhar uma mãe, mas era impagável ver que Emma se comporta
exatamente dessa forma — Vamos ter que tratar um possível ciúme dele com o bebê. Vamos
começar a ver as coisas do bebê depois do casamento e vamos incluir Sheik em tudo, deixar que
cheire as roupas, entre no quarto do bebê.
Permanecemos ali por um tempo juntinhos, Emma fez um almoço rápido e comemos
assistindo ao jogo da semana passada, já que a temporada já começou e logo mais tem o Super
Bowl. Emma saiu logo em seguida para encontrar Hannah e eu permaneci jogado no sofá com
Sheik me sentindo mais leve por ter finalmente me aberto com Emma sobre minha história e
meus medos.
Fiquei repassando mentalmente como minha vida mudou desde que aquela mulher, que
sempre esteve ali, se tornou completamente essencial para mim, para a minha sanidade e bem-
estar. Relembrei nossos momentos e cheguei a uma conclusão.
Eu pensei que levaria tempo até que eu me apaixonasse por ela. Que tolice. Pode até ter
sido rápido, mas me permitir amá-la foi a melhor coisa que já fiz.

Senti um afago no meu rosto e nos meus cabelos, percebendo que cochilei e agora Emma
já retornou para casa. Puxei minha noiva para meus braços, mas ouvi um pigarro e ao desviar vi
toda a gangue do mal ali junto à Hannah.
— Achei que estivéssemos sozinhos.
— Já queria seduzir a medusa, McKnight? Não deu nem tempo de a coitada chegar em
casa direito. — Nick provocou.
— Liguei para esses três indivíduos virem te fazer companhia enquanto eu estava com
Hannah, mas demoraram tanto que acabamos chegando aqui juntos.
— Mas agora que estamos aqui, sinto muito, Emma, mas não vamos embora. Vamos nos
acomodar no seu sofá, pedir nossas cervejas e frango frito e esperar porque hoje tem Giants,
porra. — Ele gritou animado, espantando Emma, o que era bem compreensível já que Carl
raramente se exaltava de qualquer forma. Seus gritos foram acompanhados por Nate e Nick que
já tinham os celulares nas mãos para fazer os pedidos.
— Posso saber por que esse ‘sinto muito, Emma’, Carl?
— Corre, Carlton. — Hanna implicou.
— Eu… eu… bom, só quis dizer que vamos monopolizar sua casa, a televisão e o sofá e,
principalmente, invadir seu espaço para fazer algo que você não gosta. — Ele explicou, e eu
segurei minha risada. Ele não sabia mesmo o que estava dizendo.
— Alguma vez algum de vocês me perguntou se eu gosto de futebol?
— Não, mas assumimos isso porque… — Nick começou, mas Hannah interrompeu.
— Porque ela é mulher. Machistas. — Notei que Nate soube a hora de ficar quieto e não
se manifestou em nenhum momento. Cara esperto.
— Pois saibam que eu sei mais de futebol do que qualquer um de vocês aqui,
principalmente no que diz respeito aos Giants. — Emma afirmou com convicção e os três
gargalham. Ok, Nate não era tão esperto assim se estava rindo junto aos outros dois.
— Medusa, seus poderes não incluem saber tudo sobre futebol.
— Estão mexendo com fogo. — Sussurrei para Hannah.
— E eu quero ver todos eles se queimarem. — Ela sorriu daquele jeito maquiavélico —
Acho que eles estão duvidando de você, amiga. Eu não deixaria barato.
— Querem me testar? Façam perguntas, eu respondo.
— Tudo bem, vamos… — Nick começou, mas Emma interrompeu.
— Espere, pequeno gafanhoto, eu não terminei. Nada é de graça assim. Quero apostar.
Topam?
— Você não quer fazer isso, Emma. — Carl disse e ela se limitou a gargalhar, sua
competitividade nesse assunto era intimidante.
— Eu tenho confiança em mim mesma, queridinhos, vocês topam ou vão se acovardar?
— Cartas na mesa, medusa, qual a aposta? — Nick perguntou e ela sorriu, sabendo que
tinha todos eles nas mãos.
— Confia em mim? — Ela me perguntou e eu sorrio assentindo — Vocês terão direito a
cinco perguntas, valendo tudo sobre o Giants. Se vocês ganharem, eu deixo vocês três, em
consenso, escolherem o nome do bebê. — Eles arregalaram os olhos — E, se eu ganhar, vocês
vão ter que, sem discussão, usarem vestidos de madrinha no nosso casamento.
— Por favor, aceitem isso. Eu concordo com os termos, se Emma perder, vocês
escolhem o nome do nosso filho.
— Você concorda com isso, loira diabólica? Eu posso ganhar o coração do nosso
afilhado para sempre sendo o responsável pelo nome dele.
— Para isso, você tem que ganhar a aposta, ruivo de farmácia, e eu duvido de você. —
Hannah devolveu a provocação de Nick e ele gritou sua resposta.
— Eu topo! — Carl e Nate toparam também.
— Já vai pensando no que dizer pro seu filho, McKnight, quando ele questionar o porquê
do nome dele ser o que é. — Carl me provocou.
— Ganhe a aposta primeiro, depois a gente conversa.
— Estão muito certos de que Emma vai ganhar, não é? Iludidos. — Nate ainda estava
descrente.
— Vocês têm alguns minutos para pensar nas perguntas. — Emma determinou, fazendo
com eles se juntem em uma rodinha, rindo alto de alguma coisa até Sheik latir para eles.
— Benjamin, segura o anticristo. — Nate reclamou.
— Ele está apoiando a mãe, Nathaniel.
— Uma medusa mãe de um anticristo é a melhor coisa que já ouvi. — Nick gargalhava.
— Deixem meu bebê quieto e pensem logo. Vem com a mamãe, Sheik. — Ele encarou
os três e seguiu Emma para o sofá até que, minutos depois, eles apareceram com as cinco
perguntas prontas.
— Esperem a cerveja chegar, eu quero apreciar o show. — Hannah mal tinha exigido
quando o interfone tocou. Minutos depois estávamos todos prontos para assistir o jogo na
televisão e essa disputa épica na sala de casa.
— Preparada, medusa?
— Nasci pronta, Nicholas.
— Primeira pergunta: Em quais anos o Giants conquistou o título de campeão do Super
Bowl? — Emma gargalhou.
— Bobinhos, estão comendo na minha mão. 1986, 1990, 2007 e 2011 são os anos, porém
eles detêm mais quatro títulos da era pré-superbowl, mais precisamente em 1927, 1934, 1938 e
1956, sendo assim, oito títulos no total.
Os três arregalaram os olhos e as bocas, encarando Emma no mais absoluto choque. Um
que provocou uma crise de riso em mim e Hannah.
Melhor dia da minha vida.
— Medusa? Como você sabe disso? — Nick perguntou chocado.
— A gente se ferrou. — Carl reclamou.
— Cacete, vamos ter que usar vestidos no casamento. A mídia vai estar lá, merda, olhem
a minha reputação como advogado criminal descendo pelo ralo. — Foi a vez de Nate reclamar e
Emma gargalhar.
— Vocês aceitaram meus termos e ainda tem mais quatro perguntas. Querem entregar os
pontos?
— Nada disso. — Carl inferiu — Eu morro ferido, mas não me entrego. Próxima
pergunta. Quantos jogadores o time já colocou no Hall da Fama da NFL?
— Pelo amor de Deus, Carlton, faça uma pergunta mais difícil. Quinze jogadores, quer o
nome deles?
— Não precisa, bruxa. — Ele resmungou, me fazendo rir ainda mais.
— Próxima pergunta, feiticeira do mal. — Nate interveio — Em que ano o time foi
fundado? E quais foram as outras equipes que aderiram ao campeonato naquele ano? — Emma
fingiu pensar, o que fez os três sorrirem orgulhosos, mas então...
— Foi fundado em 1925 e as outras quatro equipes eram: Arizona Cardinals, Chicago
Bears, Detroit Lions e Green Bay Packers.
— Esse é o melhor dia da minha vida. — Hannah gargalhava alto, usando o celular para
filmar essa batalha. Tinha a impressão de que passaríamos os próximos anos revivendo esse
momento.
— Vocês ainda têm mais duas perguntas, meus queridos. Querem continuar?
— Já disse que eu só desisto morto. Próxima pergunta, Campbell: quais são os jogadores
que estão no hall da fama e que, também, foram considerados MVP[2]? — Carl perguntou
enquanto Emma abria uma cerveja tranquilamente.
— Mel Hein, Frank Glifford, Charlie Conerly, YA Tittle e Lawrence Taylor.
— Porra, medusa, engoliu a biografia do time? — Eu e Hannah nos engasgamos de tanto
rir da raiva deles.
— Última pergunta, amadores. Já posso comprar os vestidos? — A Emma provocadora
apareceu e Nate revirou os olhos.
— Ainda temos uma pergunta, Campbell, e, se errar, seu filho estará nas nossas mãos.
— Tentem a sorte, mas pensem bem, é a última chance de vocês aparecerem usando
vestidos em um casamento ao ar livre, cheio de fotógrafos e imprensa. — Ela sorria, piscando os
olhos repetidamente em um charme fajuto.
— Vamos lá, medusa. — Nick foi o responsável pela última pergunta — Quais são os
números aposentados das camisas dos jogadores?
— Puta merda, vou procurar vestidos que caibam em vocês. — Hannah gargalhava e
pulava no sofá.
— Calma lá, loira. — Carl tentou — Ela ainda tem que responder e acertar todos os
números.
— 1, 4, 7, 11, 14, 16, 32, 40, 42, 50 e 56. Querem os nomes dos jogadores
correspondentes ou querem escolher a cor dos vestidos? — Emma riu deles.
— Puta merda, você é incrível. Eu vou amar te ver de vestido de noiva, mas me perdoa,
meu amor, essa vai ser a cena mais memorável do dia.
— Eu quero uma foto deles assim aqui em casa, exposta para eu rir todos os dias da
minha vida.
Os três ficaram reclamando e Hannah permaneceu rindo da cara deles, mandando que
aprendessem a não subestimar mais nenhuma mulher pelas convicções machistas deles.
Enquanto estavam distraídos com isso, puxei Emma para a cozinha.
— Sabe, antes de você chegar, eu estava pensando em como ontem foi um dia especial,
uma noite perfeita e... pensei em relacionar o nome do bebê a tudo isso. O que acha?
— Eu acho uma linda ideia, mas, em que nome pensou?
— Daniel Campbell McKnight. — Ela apenas sorria para mim— Linda, para de
suspense, o que tem a me dizer?
— O que eu tenho a dizer? — Ela passou os braços por meus ombros, cruzando-os atrás
do meu pescoço — Que temos que agradecer que é um menino, senão seria chamado de Ophelia.
— Ela sorria da própria piada, fazendo referência ao bar, já que eu fiz ao restaurante.
— Gostou mesmo?
— Eu amei, de verdade. Danny.
— Nosso Danny.
— Oh casal, o jogo vai começar. — Nate gritou da sala.
— Não sei para que que a medusa vai assistir, ela já deve saber o resultado. — Nick
ainda resmungava.
Assistimos ao jogo comendo, bebendo e gritando animados até que o quarterback do
Giants marcou um touchdown. A comemoração era alta e escandalosa, ao menos até Sheik pular
em Nate que estava correndo pela sala.
— Sai, anticristo. Porra, me assustei com esse bicho na minha perna. — Ele disse, com a
mão no peito pelo susto enquanto Carl e Nick riem dele. Emma ria junto, mas então ouvimos o
narrador do jogo dizendo…
— Daniel Jones é o nome dele, acaba de marcar mais seis pontos para o New York
Giants’. — Emma parou de rir na mesma hora.
— Bem, acabou coincidindo com os Giants também.
— Do que vocês estão falando? — Hannah perguntou.
— Decidimos o nome do bebê. — Conquistamos a atenção dos quatro, o jogo esquecido
na TV — Daniel Campbell McKnight.
— Eu amei. — Hannah levantou a cerveja — Ao Danny.
Brindamos a escolha do nome e terminamos de assistir ao jogo, que consagrava mais
uma vitória do Giants, aproximando-os ainda mais da final do campeonato.
Capítulo 28 – Emma Campbell

O tempo pareceu correr e quando me dei conta já era véspera da cerimônia. Eu estava
emotiva ao extremo, de uma forma como nunca estive, ansiosa com tudo. Agora mesmo, queria
chorar mais uma vez enquanto ajudava Ben a organizar uma mala para passar a noite na casa de
Nate, já que eu e Hannah iríamos nos arrumar aqui em casa.
— Pegou toda a roupa? Perfume? Meia e sapato?
— Tudo na mala.
— Estou nervosa.
— Está tudo certo, meu amor. — Ele deixou beijos por meu rosto —Não vai mesmo me
dar nenhuma dica do seu vestido? — Pediu pela milésima vez e eu continuei negando — Você é
cruel.
— E você está atrasado. Daqui a pouco os três paspalhos aparecem aqui para te arrastar
para sua despedida de solteiro. — Havia uma careta no meu rosto.
— Sabe que não vamos fazer nada, não é? Vamos beber e conversar jogados pelo
apartamento de Nate.
— Eu e Hannah também, bom, pelo menos a parte de ficar por aqui, mas só vamos
brindar, eu não quero correr o risco de passar mal ou ficar de ressaca amanhã.
— Eu também não vou beber muito, quero estar completamente sóbrio para você
amanhã. — O celular vibrou — É o Nate me procurando. Vou indo, meu amor, durma bem e
descanse. Vejo você e Sheik lá amanhã, ok? Mais tarde te ligo para te dar boa noite, senão quem
não dorme sou eu. — Fui obrigada a rir da confissão enquanto ele tentava me dar alguns beijos
antes de ir.
Não cheguei a ficar sozinha com meus pensamentos por mais do que alguns segundos.
Mal me despedi de Ben e quando recebi uma ligação do Sr. T, me dizendo que estava ansioso
para passar por essa experiência comigo e que já estava acomodado no hotel que Ben reservou
para ele.
Tomei um banho relaxante, com vários sais de banho, velas e música relaxante até
Hannah chegar pouco depois, trazendo meu vestido e o dela. Uma noite de spa, com direito à
máscara no rosto, hidratação no cabelo e unhas, comendo chocolates e pipoca enquanto
assistimos a um filme e tomamos uma taça de vinho.
— O que foi? — Hannah me perguntou logo após eu colocar o celular de lado, depois da
tal ligação de Ben — Wedding jitters[3]?
— Estou fazendo a coisa certa, não é? — Me virei de frente para ela no colchão, quase
dividindo o mesmo travesseiro.
— Amiga… está com dúvidas? — Sussurrava, como se fosse um segredo.
— Estou nervosa.
— Isso é normal, Emma. Eu sei que você ama o Ben, assim como sei que o bonitão
também te ama.
— Amar é o suficiente, não é?
— Qual o problema, amiga?
— Eu não sei… — Choraminguei — Eu amo Ben, sei que ele me ama também, mas
estou com medo de tudo dar errado, estou com medo de não dar conta do que vem pela frente,
estou com medo de acabar perdendo tudo que conquistei nesses últimos meses.
— Quer saber o que eu acho? Acho que é bom ter esse tipo de medo. Se você tem medo
de se ver sem Ben, sem o bebê, sem todo o resto, é porque isso tudo é importante para você.
— Mais do que importante, Hannah. — Encarei seus olhos, ou o que conseguia ver
através das minhas lágrimas — Sei que tudo aconteceu muito rápido e de uma maneira não
convencional, mas essa é a vida que eu quero para mim, Ben é quem eu quero ao meu lado pelo
resto dos meus dias.
— E justamente por isso você tem medo de algo dar errado. — Ela limpou a lágrima que
escorreu — Você está acostumada com as coisas dando errado, está acostumada com as rasteiras
que a vida te deu todos esses anos. Não vai ser assim agora, eu realmente acredito nisso. Acredite
que a vida também pode ser boa, amiga, não pense que tem algo de errado vindo por aí. Não viva
seus dias esperando pela rasteira que pode vir adiante, se permita viver intensamente cada
momento bom para que se algo der errado, você tenha força para enfrentar o que for.
— Você está certa.
— É normal sentir nervosismo ou ansiedade, só não deixe que a dúvida te impeça de
seguir seus sonhos. Confie que dará certo. — Hannah beijou minha bochecha — Chegou sua
hora de viver o outro lado, o lado bom, o lado em que você vai ser feliz. Você vai casar amanhã,
vai receber seu bebê logo mais, vai ser feliz com seu marido bonitão e o bonitinho que vai
nascer.
— Vai estar comigo, não é? — Peguei sua mão na minha.
— A todo tempo. Eu não te largo, Emma Marie Campbell.
— Campbell McKnight. — Consertei.
— Que nome de madame.
— Eu vou me casar amanhã, vou me tornar mãe daqui a pouco, vou aproveitar cada
momento bom sem esperar pelos ruins que possam vir.
— Assim que se fala, medusa. Ficar nervosa e ansiosa é normal, mas você vai ver como
irá acordar melhor amanhã, como vai se sentir uma princesa vivendo seu próprio conto de fadas,
casando com um bonitão daqueles que te ama como você merece.
— Só mais algumas horas.
— Pense que amanhã também é dia de ver aqueles três idiotas passando vergonha. — A
risada surgiu sem precedentes — Aquele ruivo idiota vai estar hilário.
— Que implicância com Nick.
— Foi ele que começou. — Não achava que essa era a verdade, mas eu que não iria me
meter— Vamos dormir antes que as olheiras nos façam companhia amanhã.
— Te amo, Hannah Banana, obrigada por estar comigo sempre.
— Também te amo, madame, agora durma. — Essa maluca me deu um tapa na bunda e
simplesmente virou para o outro lado, se acomodando no meu colchão, dormindo em poucos
instantes.
Hannah estava certa em tudo que me disse. Vivi minha vida desde sempre esperando o
próximo problema. Nunca me permiti aproveitar algo de bom que acontecesse, por mínimo que
fosse, por saber que logo mais um problema mais ainda me encontraria.
Não queria pensar assim nesse momento. Eu não estava mais sozinha nas minhas lutas,
encontrei um companheiro que queria fazer dar certo tanto quanto eu.
E amanhã iria torná-lo meu marido.

O dia amanheceu com Hannah eufórica pulando como uma louca pela casa e me fazendo
rir antes de acompanhá-la na euforia, assistindo Sheik nos olhar como se estivesse nos julgando.
Saímos da sala para ir até a cozinha tomar um café quase no mesmo momento em que o porteiro
interfonou dizendo estar subindo com uma encomenda para mim. Uma cesta de café da manhã e
um buquê de flores com um bilhete, escrito com a letra que eu conhecia tão bem.
”Emma, eu mal posso esperar para te ter oficialmente toda para mim. Ter você como
minha esposa e parceira de vida é um tremendo privilégio. Estou ansioso para passar o resto
da minha vida ao seu lado, por favor, não se atrase muito. Poupe meu coração dessa
ansiedade. Eu amo você, linda. Do seu, Benjamin.”
Me emocionei com o bilhete e sorri pensando em ligar para ele, mas então me lembrei
que também preparei uma surpresa e que, se ele ainda não me ligou, era porque ainda não havia
acordado. Me concentrei em atacar aquela cesta com Hannah, até que fosse ele a me ligar, coisa
que não demorou a acontecer.
— Eu amei as flores, amei a cesta, também estou ansiosa e eu amo você.
— Percebi que não sou apenas eu que estou nervoso. Eu amei a surpresa também, já vou
usar o meu presente, mas eu amei ainda mais a carta. Eu amo você, linda, e quero muito te
encontrar logo para te agradecer como eu quero.
— Medusa, você fez McKnight chorar. — Nick gritou sobre a voz de Ben.
— Cale essa boca, idiota. — Ben repreendeu — Promete não se atrasar de propósito
como aquelas noivas dos vídeos que vimos?
— Ben, eu estou tão ansiosa quanto você, não farei isso.
— Ótimo, escolhi a mulher certa para amar.
Sorri para o aparelho pensando no presente que dei a ele. Ben tinha um apreço por
relógios de pulso, então, comprei para ele um modelo clássico porém moderno, com a pulseira
em couro preto, os ponteiros e números cromados sobre um fundo preto. E, junto à caixa, que
deixei com Nate para que ele o entregasse hoje, escrevi uma carta, apenas queria lembrá-lo de
seu valor, para que não houvesse qualquer resquício do menino inseguro e rejeitado que ele já
fora.
Não demorou muito para que o apartamento fosse invadido por cabeleireiro, maquiador e
manicure, para mim e Hannah. Sheik descansava no quarto para evitar problemas com os
estranhos que circulavam pela casa e para se preparar para a cerimônia, afinal ele também faria
parte.
As horas foram passando e eu já estava pronta. Cabelo, maquiagem e unhas. Depois de
trocar de roupa, volto à sala encontrando Hannah com o Sr. T, me esperando sozinhos, me
deixando saber que todo o resto já havia ido embora.
— Uau, minha filha, você está linda.
— Você está maravilhosa, amiga. O bonitão vai morrer do coração.
Me olhei no espelho por um momento. A maquiagem muito bem-feita porém leve e
natural, deixando os olhos verdes marcados e bem delineados, com os cílios curvados e pretos
destacando ainda mais a cor deles. Os lábios desenhados e contornados com um batom cor de
boca levemente rosado e os cabelos estavam a maior parte soltos, porém levemente ondulados,
com um penteado na parte de cima dos fios, um meio preso, com uma presilha adornando tudo.
No colo, contornando o pescoço, mantive o cordão que sempre usava, com o pingente de
trevo que foi da mamãe. Nos pés, uma sandália delicada branca de duas tiras, com um salto alto
mais grosso do que o que costumo usar normalmente, afinal de contas, a cerimônia seria ao ar
livre e na grama.
Quanto ao vestido, ah, ele era apaixonante. Romântico e delicado, com alças finas e um
decote em V, acinturado, com uma renda translúcida na divisão entre a cintura e o restante do
vestido. O caimento da saia era solto, dando um ar ainda mais romântico ao vestido. Ele era de
um comprimento midi, um pouco abaixo dos joelhos, terminando em um detalhe rendado, com a
mesma renda que detalha as outras partes do vestido.
Era simples e delicado, porém ao mesmo tempo marcante e refinado.
— Estou ansiosa, mas tão feliz.
— Emma, eu... eu queria te dar uma coisa. — Sr. T me chamou — Sabe, quando eu e
Amelia casamos, não tínhamos mais nossas famílias, mas a avó dela deixou um bracelete para
ela como herança. Você sabe que nós não tivemos filhos, mas você, minha querida, entrou na
minha vida de maneira suave e ganhou seu espaço no meu coração. Eu sei que você tem os seus
pais, por mais que eles infelizmente não estejam mais entre nós, mas eu realmente te vejo como
uma filha, a filha que eu nunca tive.
— O senhor vai me fazer chorar. — Sorri emocionada.
— Você cuidou de mim quando eu não tinha mais ninguém, nada paga tudo o que você
me fez, a companhia, a empatia, a compaixão e o amor que você me deu e ainda me dá, do seu
jeitinho. Então, eu queria te dar isso como presente. — Ele me mostrou um bracelete com
pedrinhas azuis e delicadas — Quero que você fique com isso, que passe para suas futuras filhas
e netas, que o torne uma herança de família. Você me concedeu o privilégio de estar como um
pai para você hoje, te entregando no altar, e é com muito respeito aos seus pais que faço isso,
mas é por mim também, meu coração se enche de orgulho de ver você feliz. Aceita meu
presente?
Em que mundo eu poderia negar tal presente? Como eu poderia reagir de qualquer outra
forma que não fosse lhe dando um abraço apertado?
— Ninguém substituirá o que meus pais significam para mim, mas, assim como o
senhor, eu também precisava dessa companhia, da empatia, da compaixão. O senhor ocupou um
lugar no meu coração da mesma forma e, se eu sou como uma filha pro senhor, saiba que eu o
vejo e o respeito como a um pai também. Muito obrigada por ter me dado a honra de te ter como
meu acompanhante e muito obrigada pelo presente, meus filhos terão sorte em ter o senhor como
avô.
Olhei para ele que tinha os olhos completamente inundados e com algumas lágrimas
escapando. Ele sorriu para mim, deixando um beijo na minha testa, com todo o respeito de um
pai a uma filha.
‒ Meu coração só tem amor por você.
‒ Eu amo o senhor também.
— Meu Deus, gente, vocês querem me matar de chorar? — Hannah interrompeu nosso
momento — Que bom que a maquiagem é à prova d’água. Agora vamos? Senão seu marido
morre do coração.

Andava de um lado para o outro ansioso pela chegada de Emma. Todos os convidados já
estavam presentes, esperando apenas a noiva, Hannah e Rupert.
Os convidados comentavam sobre a simplicidade da cerimônia, mas a beleza única que
se apresentava. As árvores ao redor do altar improvisado estavam tomadas por tons amarelados e
alaranjados, devido ao outono, apesar do clima estar surpreendentemente ameno para a época. A
decoração que eu e Emma escolhemos seguia a mesma paleta de cores, tons terrosos e
avermelhados.
O vestido de Hannah — e dos paspalhos — também não fugia dessa proposta.
Os caras de vestido. Não era possível saber qual deles estava mais ridículo, de vestido
longo, em um tom marsala, e de sapatos sociais. O celebrante ficou perplexo quando chegou e
deu de cara com os três. Os convidados não perderam tempo em rir deles, haja vista que eles
sustentam belas carrancas para o fotógrafo que parecia querer fazer um álbum apenas deles.
— McKnight, você está me deixando tonto. — Carl reclamou, cruzando os braços na
frente do peito, em uma tentativa ridícula e sem sucesso de se cobrir.
— Emma não vai fugir. — Nate continuou, imitando Carl nos gestos.
— A loira acabou de me avisar que elas chegaram. — Diferente dos outros dois e na
falta de bolsos, Nick guardava o celular no decote — Pode se posicionar, Ben. — E com essas
palavras, ele me deixou ainda mais nervoso. Eu era apenas ansiedade, principalmente quando vi
Hannah andando até perto de onde estou.
— Bonitão, prepare o seu coração, vai se apaixonar novamente. — Ela me disse
sorrindo, mas à medida que se afastava para ir se sentar, ela gargalhou ao ver nossos amigos—
Ruivo, esse vestido, nessa cor, te valorizou de uma forma… — Ela implicou com Nick, que
revirou os olhos.
— Eu sou maravilhoso de qualquer forma, loira diabólica, agora vai se sentar. — Ela se
sentou sozinha na primeira fileira, onde deveriam estar os convidados de Emma. Os pais da loira
não vieram, apesar de terem sido convidados, e aquele imbecil que ele chama de noivo disse ter
um compromisso de trabalho e não compareceria à cerimônia.
Sentia um frio na barriga me consumir, ajeitei mais uma vez o terno de tom cinza claro
que usava, em conjunto com uma camisa branca e colete. Os detalhes ficam por conta da gravata
borboleta, no mesmo tom marsala das flores outonais que Emma traria em seu buquê.
Quando ouvi a música que Emma escolheu especialmente para esse momento, olhei para
a direção oposta ao altar, onde ela estava posicionada de braços dados a Rupert e, só de encontrar
meu olhar ao dela, meu nervosismo instantaneamente passou. Minha vida estava aqui, olhando
de volta para mim, transparecendo uma infinidade de sentimentos por aqueles enormes olhos
verdes.
Sentia meu lábio trêmulo e os olhos marejados, minha feição escorregando na minha
emoção. Por mais que ostentasse um de seus enormes sorrisos, percebi as lágrimas furtivas lhe
escapando os olhos.
Memorizei cada detalhe desse momento, da visão angelical à minha frente, a maquiagem
suave, os olhos avermelhados pela tentativa frustrada de choro contido, o enorme sorriso e o
vestido do jeito que imaginei, romântico e levemente curto, simples, porém estonteante.
Inesquecível.
Minha mão parecia formigar tamanha minha vontade de tocá-la e tomá-la
permanentemente para mim. Assisti Emma dar seus últimos passos em minha direção e prometi
a mim mesmo que seria minha missão de vida nos fazer feliz, nossa família seria prioridade
máxima.
— Cuida bem da minha menina, Benjamin. — Rupert me entregou sua mão, assim que
chegaram ao altar, e meu sorriso pareceu aumentar.
— Com todo amor, ela é a minha vida.
Antes de nos virarmos para o celebrante, tomei meu tempo olhando-a, admirando sua
imagem, recolhendo uma lágrima dela antes que escorresse pelo rosto.
— Você está deslumbrante, meu amor. Jamais me esquecerei desse momento.
— Está absurdamente lindo. — Ela sorria para mim, porém algo atrás de mim lhe
chamou atenção e não precisei olhar para saber o que era, pois a gargalhada alta, olhando o
resultado da aposta, fez a mim e a todos os convidados a acompanharem, o que só aumentou a
carranca deles — Eu realmente jamais me esquecerei desse dia, espero que o fotógrafo esteja
registrando muito bem isso.
— Talvez eu tenha lhe oferecido um adicional para que exagerasse nas fotos dele.
— E é por isso que eu te amo.
— Também te amo, agora vamos nos casar logo, pois te quero só pra mim.
O celebrante iniciou a cerimônia cumprimentando os presentes e os noivos, fez um
discurso sobre amor, companheirismo, amizade e respeito, sobre a importância de valorizar os
momentos bons e felizes para que quando as dificuldades ou tristezas surjam, essas não fossem
maiores do que as coisas que realmente importavam e nos faziam felizes.
Quando chegou a hora da troca de alianças, Emma e eu olhamos juntos para a entrada do
local, onde Sheik esperava com o adestrador contratado especialmente para esse momento.
Assobiei e ele veio andando calmamente até o altar carregando em sua gravata as nossas
alianças. Me abaixei com Emma para acarinhá-lo e desatei o nó que amarrava os anéis antes de
me levantar e ajudar minha mulher a fazer o mesmo.
O adestrador chamou Sheik de volta, que simplesmente o ignorou e permanecendo
sentado entre mim e Emma. Ele tentou novamente e foi solenemente ignorado pelo cachorro.
— Anticristo. — Escutei Nate resmungar ao mesmo tempo em que Emma o fuzilava
com o olhar.
— Boa, Nathaniel, invocou a fúria da medusa falando mal do filho dela. — Nick riu dele
— Seu cachorrinho é lindo, medusa.
Sheik permaneceu entre nós dois enquanto trocamos as alianças e, como havíamos
combinado, mantivemos nossos votos apenas entre nós dois, mas repeti para ela algumas
palavras da carta que me deu. Acolhimento, amor, confiança e respeito. Emma devolve-as para
mim, deixando um singelo beijo em cada uma das nossas alianças, assim como eu fiz com ela.
— Eu vos declaro casados, podem se beijar e firmar o compromisso que aqui
alicerçaram.
— Oficialmente minha. — Sussurrei para ela antes de beijá-la com todo meu amor e
devoção.
Nos afastamos um do outro minimamente e recebemos os aplausos dos presentes,
celebrando esse momento importante para nós dois. O sol quase se pondo por completo, os tons
amarelados do final de tarde de outono refletiam no lago à nossa beira, de onde ouvimos
aplausos e um grito de ‘felicidades aos noivos’ vindos de um grupo que passava pela ponte de
pedra. Os convidados começaram a se retirar do local para seguir em direção ao local que
reservamos para uma comemoração.
— Bonitão, fiz aquilo que me pediu. — Hannah gritou para mim, antes de correr atrás
dos caras, gritando por uma carona. E é claro que ganhei a atenção de uma Emma desconfiada e
sabia que não conseguiria fazer suspense.
— Marido, o que foi isso? Já vai começar nosso casamento me deixando curiosa?
— Eu ia fazer surpresa, esposa, mas diante de palavras tão bonitas não farei isso.
Contei a ela que, apesar de termos combinado de não viajar por enquanto para ficarmos
perto de Courtney e garantir que Danny estivesse bem, eu organizei um final de semana na nossa
casa de praia, nos Hamptons, para a gente e Sheik, e que Hannah me ajudou arrumando uma
mala para ela enquanto ela estava distraída se arrumando.
— Agora vamos? Brindar com nossos amigos, pois logo mais… — Me aproximei de seu
ouvido — Você será exclusivamente minha.
Senti seu arrepio, deixando para mais tarde a vontade de percorrer cada canto do seu
corpo. Seguimos para o carro, acompanhados de Sheik, onde aproveitei para encher minha
esposa de beijos e carinho.
— Você é a melhor coisa que já me aconteceu. —Sussurrei.
Assim que entramos na nossa recepção, recebemos os cumprimentos de todos e, então,
os três se aproximam e nós dois rimos já sabendo o que vinha pela frente.
— Medusa linda do meu coração, o que você quer para me deixar tirar essa roupa? Quer
dinheiro? Eu te dou. — Nick começou e os outros dois estenderam os pedidos, quase
implorando.
— Ah, mas vocês estão tão lindos assim.
— Não fode, Emma. — Carl retrucou, até receber um cutucão de Nate nas costelas —
Quero dizer, estamos com frio nos braços, já que não estamos acostumados a usar vestidos assim
lindos como o seu.
— É, Emma, já disse o quanto está encantadora?
— Tira os olhos compridos da minha esposa, Nathaniel. Linda, vai cair nesse papo
desses bajuladores? — Provoquei, recebendo olhares furiosos na minha direção.
— Por favor, medusa, quero ter uma foto bonita do dia do seu casamento para mostrar
para o meu afilhado no futuro. — Nick implorava com olhos pidões, me fazendo revirar os
olhos.
— Ok, a aposta foi finalizada. Podem trocar de roupa.
— ISSO! — Um por um, eles deram um beijo em sua bochecha.
— Medusa linda. — Nick saiu rebocando os outros dois para longe e murmura mais
baixo— Tão vendo? Aprendam comigo. Danny é o caminho para o coração da medusa.
— Que padrinho você é, usando seu afilhado que ainda nem nasceu. — Carl ria.
— Deus está vendo isso, Nicholas. — Nate comentou e rimos dos três, que sumiram por
alguns minutos até voltarem em ternos impecáveis requisitando uma foto da maneira correta
agora.
Tiramos as fotos com eles e com todos os presentes, ouvi ameaças de Rupert, na sua
versão pai de Emma, para que eu cuidasse bem da sua menina, e de Hannah, que fez questão de
repetir cada uma das ameaças às minhas bolas feitas nesse período em que nos conhecemos. Já
tinha perdido as contas de quantas vezes isso tinha acontecido.
A noite se estendeu até que puxei Emma discretamente para a saída, com Sheik nos
seguindo, para entrarmos no carro de volta e seguirmos em direção aos Hamptons para uma mini
lua de mel, onde pretendia usar cada segundo para amar minha esposa de todas as formas, a
começar por arrancar esse vestido decotado que estava me deixando maluco desde a hora que o
vi.
Capítulo 29 – Emma Campbell McKnight

Amanhã, completa-se um mês desde o casamento e, enquanto Ben estava preso em uma
reunião com prospectos novos autores, organizei minha mesa e a agenda da semana seguinte
para que assim que ele sair de lá, a gente possa ir para o shopping e continuar as compras para o
quarto do bebê e do enxoval.
Me peguei pensando que esse último mês passou em um piscar de olhos. O final de
semana nos Hamptons foi maravilhoso, apenas nós dois, com intervenção de Sheik em alguns
momentos específicos com intenção de nos fazer brincar com ele e, também, atrás de carinho.
Um sorriso malicioso me tomou o rosto quando me recordei de todas as nossas peripécias
sexuais e do completo ritual de batismo que fizemos por toda a casa, acho que nenhum cômodo
passou ileso.
Assim que voltamos para casa, nossa rotina continuou na mesma, com a diferença apenas
de que começamos a resolver tudo que precisávamos em relação ao bebê. Na segunda-feira
mesmo, já comecei a ir atrás das coisas e me sentei com Ben para começar a pesquisar ideias de
temas, móveis e tudo mais para o berçário.
Durante todos esses meses, desde que aceitei a proposta de Ben, vinha consumindo toda
a literatura de maternidade que encontrava na minha frente, livros, blogs e estudos, tudo em
busca de ser a melhor mãe possível — ao menos uma com muito embasamento teórico—. Agora,
nesse último mês, o quarto estava praticamente montado, já com cômoda, berço e poltrona, para
um melhor conforto quando formos alimentar o bebê. Optamos por não definir um tema, apenas
escolhemos móveis neutros e seguimos uma decoração lúdica, deixando um quarto infantil mas,
ao mesmo tempo atemporal e que o acompanhará por um bom tempo, sem deixar cansativo.
Agora que realmente estávamos voltados às coisas de bebê, meu sentimento por Daniel
parecia aumentar cada dia mais. Pensar nele, comprar qualquer coisa para ele, sentir o cheirinho
das roupinhas e dos produtos de higiene infantis, mexiam comigo mais do que eu achava ser
possível. A plenitude do amor e, também, os medos que vinham junto com a maternidade
estavam me atingindo por completo. Me emocionava com frequência, com as menores coisas em
relação à Danny.
Quando Courtney completou 29 semanas, na semana do casamento, ela ligou para Ben
apenas para dizer que ele deveria considerar aumentar o valor que pagaria a ela, pois estava
insuportável sentir aquela criança chutando suas costelas o tempo inteiro. Ben desconversou, mas
percebi que ele ficou desconcertado com a ideia de estar perdendo a chance de viver isso. Eu, por
outro lado, estava totalmente emocionada.
Assim que Ben desligou, eu disse a ele que queria senti-lo, que queria passar por aquela
experiência, então começamos a discutir a ideia de, em um futuro não tão longe assim, darmos
um irmão ou irmã a Daniel. Só o fato de pensar no quanto minha vida mudou em tão pouco
tempo, me fazia querer chorar novamente e pensar que podia, daqui a pouco tempo, estar com
Danny no colo e outro bebê na barriga, me causava arrepios, no sentido bom da palavra, meu
coração expandia só de pensar.
Eu sei que as pessoas poderiam achar que éramos apressados ou emocionados demais,
mas só eu e Ben sabíamos nossos motivos por trás de todas as decisões que envolviam nossa
família. Eu me vi sozinha por tanto tempo e tudo que quero agora era aproveitar essa chance que
me foi dada, com a família que eu podia construir. Ben nunca teve nada disso, sempre quis ter
sua família, mas nunca pôde. Agora que ele tinha essa chance, por que enrolar? No fim, era uma
decisão nossa e era isso que queríamos. Ter nossa família.
Não demorou muito mais para que Ben saísse da reunião com os autores, cabendo a mim
o próximo passo, marcando próximas reuniões e conduzindo todos eles para o elevador, os
assegurando de que manteremos em contato.
— Pronta para ir, meu amor? — Ben me abraçou por trás, beijando meu pescoço.
— Tudo pronto, agenda organizada e arrumei sua sala. Estou meio inquieta hoje.
— Eu que não reclamarei disso, ganhei uma organização de graça.
— Vamos então? Estou com a lista no celular de tudo que falta comprar.
— Vamos.
Em poucos minutos estávamos no shopping saindo do estacionamento de mãos dadas e
andando em direção a uma das lojas que visitamos antes e que tinha se tornado uma de nossas
favoritas.
— O que acha de comprarmos o que precisamos e depois pegarmos um cineminha? Dar
uma relaxada depois de um dia intenso de trabalho. — Ele me passou os braços ao meu redor.
— Acho uma boa ideia, precisamos descansar a cabeça um pouco.
Andamos pela loja, olhando a lista que preparei e escolhendo tudo que precisávamos. Em
determinado momento, Ben foi ao outro lado da loja olhar algo que chamou sua atenção e eu vi
uma mulher grávida passar por mim dando a mão a um menininho que pulava incessantemente
pedindo um brinquedo. Sorri para a cena e não consegui não me emocionar.
— Com a cabeça longe, meu amor? — Ben me girou nos seus braços para me encarar e
então percebeu os olhos marejados e meu nariz vermelho — Ei, o que houve? — Ele passava as
costas da mão pelo meu rosto limpando as lágrimas furtivas.
— Nada demais, é só que esse ar de bebê, comprar as coisas, ver crianças em todos os
lugares, estar cada vez mais imersa nesse universo infantil e da maternidade está mexendo
comigo. Fico com vontade de chorar a cada mínima coisa que vejo.
— Você está mesmo especialmente chorona no último mês. Isso tudo é ansiedade
também, mas, daqui a pouco, nosso pequeno estará em nossos braços.
— Estou ansiosa para a consulta amanhã também. Dispensaria ter que lidar com o mau
humor de Courtney, mas compensa tudo ver aquele mini ser se mexendo e chupando os
dedinhos.
— Quero ver o que é que ela tem para conversar com a Natalie e conosco, algo me diz
que não vou gostar do que quer que seja. — Não queria, mas tive que concordar com ele. Ela
ligou para Ben dizendo que precisava tratar de um assunto conosco e com a médica, sem falta, na
próxima consulta, mas não adiantou o assunto.
Quando enfim terminamos as compras, guardamos tudo no carro nos dirigimos ao
cinema e, enquanto Ben comprava os ingressos e as pipocas, fui rapidamente ao banheiro. Voltei
me deparando com uma ruiva pendurada em Ben. Vi a mulher se jogando em cima dele e ele
desviando e saindo de perto, cortando o contato, mas ela insistia, jogando charme para ele. Por
mais que vi Ben não dando confiança, o monstro do ciúme estava crescendo em mim, e por isso
cheguei perto, parei ao lado de Ben, que tentava se livrar dos braços da mulher.
— Está tudo bem aqui? — Perguntei diretamente para Ben.
— Dá licença, queridinha. Eu e Benzinho estamos conversando e você está sendo
inconveniente se intrometendo onde não foi chamada.
— Na verdade, querida, a inconveniente aqui é você que está achando que meu marido é
poleiro para ficar em cima dele assim. — Sorri em plena falsidade e ela gargalhou, o que só me
irritou ainda mais.
— Marido? Benzinho e eu temos um caso que perpassa anos, certamente eu saberia se
ele fosse casado e, com toda certeza, ele não se casaria com você.
— Chega, Amanda. — Ben se manifestou — Desde a hora que você me encontrou vem
tentando forçar algo que não vai se repetir e que, por sinal, aconteceu apenas uma vez, não foi
um caso como você insinuou, mas isso pouco importa, não vou deixar que ofenda minha esposa
assim.
— Você se casou mesmo, Benzinho? Mas, com certeza, mantém seus casos por fora,
então, se ainda me quiser, eu também te quero, ainda que precise te dividir.
— Minha filha, se dê o respeito e para de se humilhar para homem. Ele já disse que é
casado, isso no dedo dele não é enfeite. Vá procurar um cara solteiro para você. — Ela ainda
pensou em responder, mas Ben me trouxe para perto dele.
— Vai embora, Amanda, eu já disse que não tenho interesse. Sou único, exclusivo e fiel
à essa mulher. — Ele deu um beijo na minha cabeça quando a mulher saiu pisando forte. Me
soltei de Ben no instante seguinte, pegando o copo de refrigerante de sua mão — Linda? Você
viu que não dei confiança para ela, não é? Sabe que só tenho olhos pra você.
— Eu sei e vi você se esquivando, mas isso não me impede de ficar com ciúmes, com
raiva da situação e de querer voar no pescoço dela.
— Ciúmes, é? — Ele sorria de lado.
— Quer que eu encha seu ego, Benzinho? Imagina se fosse o contrário. Ia gostar de
chegar e ver um marmanjo qualquer tentando me agarrar, mesmo que eu esquivasse? — Ele
parou de rir na mesma hora.
— Óbvio que não, ia socar a cara do imbecil. Essas alianças no seu dedo estão aí para
isso, mostrar para esses trouxas que você não está disponível. — Ergui uma sobrancelha
provando meu ponto e ele fez uma careta — Não me chama mais de Benzinho, que apelido
ridículo. Agora tire esse bico do rosto porque ninguém me interessa além de você e eu respeito
muito nossa relação.
— Vamos entrar? Já está na hora?
Entramos na sala de cinema, nos acomodamos e colocamos as bebidas no porta copos e
Ben coloca a pipoca na mesa acoplada à sua poltrona. As luzes se apagaram, o filme já havia
começado, e nós deveríamos assisti-lo. Mas não foi isso que aconteceu, não quando Ben virou
meu rosto para si.
— Vem aqui. Me deixe te mostrar o quanto eu amo você, o quanto eu quero apenas você,
o quanto eu desejo você. Apenas você, esposa.
Meio segundo foi o tempo que levou para eu ter minha boca assaltada com tamanha
euforia, seus lábios pressionando os meus, com força, me permitindo sentir a maciez e a
temperatura quente de seus lábios. Sua língua explorava minha boca sem qualquer delicadeza,
me deixando sentir o gosto do refrigerante e um leve frescor mentolado do chiclete que mascava
há poucos minutos.
Ben desceu uma das suas mãos para meu pescoço, me mantendo no lugar, antes da boca
dele me dominar por completo. Tomei um pouco do controle para mim, mordendo seu lábio
inferior, fazendo um gemido baixo lhe escapar, antes de prender a língua dele com a minha e
chupá-la levemente. A mão que estava no meu rosto escorregou para meus cabelos, puxando-os
levemente da maneira como aprendi a gostar, enquanto a outra desceu para minha cintura,
aproximando nossos corpos da maneira que era possível considerando o local onde estávamos.
Ele aproveitou o escuro do cinema e o fato de a sessão estar consideravelmente vazia
para subir a mão da minha cintura para meus seios. Ele roçava a mão por cima da minha blusa,
sentindo a excitação que está me provocando, graças aos meus mamilos túrgidos mesmo por
baixo do tecido. Ben não parou por aí. Abriu dois botões da minha blusa e esfregando a barba no
meu colo agora exposto, antes de depositar um beijo ali.
Com apenas a claridade vinda da tela, percebi que ele se tornou mais ousado quando
tocar meu seio direito por dentro do sutiã, me fazendo gemer baixinho ao menos até voltar a me
beijar para que eu me calasse e não chamasse atenção para nós dois. Os dedos encontraram meus
mamilos e ele os apertou, de leve, me fazendo sobressaltar na cadeira. Ben manteve o dedo ali
me acariciando em movimentos circulares e, cheio de atrevimento, puxou meu sutiã para baixo
liberando meu mamilo e levou a boca até lá, olhando em meus olhos e sorrindo malicioso antes
de capturar o pequeno bico em minha boca sugando com força.
Eu pretendia dar a ele um gostinho do próprio veneno, querendo mostrar como era ser
provocado e não poder fazer muito a respeito. Mas não consegui. O conjunto da situação, o local,
seus toques, o gostinho do proibido, me afetaram de um jeito que jamais aconteceu. E eu cheguei
lá, ao ápice do prazer apenas com seus toques no meu seio. Enterrei minha boca no seu pescoço,
chupando a pele para evitar de gemer ou gritar quando um orgasmo me preencheu e o
surpreendeu.
Isso jamais tinha acontecido. Nunca me bastou toques nos seios para me fazer sentir algo
dessa potência. Eu queria proporcionar algo assim a ele, mas aquilo me arrebatou e me fez perder
as forças, até a hora em que saímos dali em direção ao carro. Comigo ainda relaxada além do
normal e um Benjamin de boca aberta com o que provocou, mesmo que tenha ficado sem nada
até chegarmos em casa e repetirmos tudo.

Acordei antes mesmo do despertador tocar, assistindo Sheik se empoleirando na cama


para dar dando um cheiro na nuca de Emma, acordando-a.
— Oi, lindinho, você que veio me acordar hoje, foi? — Ela falou com voz de sono,
desviando de Sheik lambendo seu nariz. — Bom dia, meu amor. — Ela se espreguiçou, enfiando
o rosto no meu pescoço — Hm, eu bem que dormiria mais umas boas horinhas.
— Eu também, mas vamos levantar, preguiçosa, temos a consulta para ir. — Estiquei o
braço e plantei um tapa na sua bunda à mostra pela camisola que subiu.
— Vamos ver nosso bebê.
No mesmo instante ela despertou por completo. Poderia revirar os olhos para a animação
que não era direcionada a mim, mas como fazer isso sendo que era para nosso bebê?
— Podemos tomar café fora? Estamos quase atrasados. — Ela sugeriu quando saímos do
banho.
— Sim e, quando voltarmos ou talvez mais tarde, podíamos correr com Sheik, o que
acha?
— Eu topo.
Passamos em drive-thru de uma lanchonete e compramos cafés e muffins e para comer
no carro, com Emma me alimentando enquanto eu dirigia. Assim que chegamos à clínica,
notamos Courtney atrás da gente, resmungando enquanto tocava a barriga.
— Criança, saia daí, tira esse pé da minha costela. Que saco! — Ela reclamava olhando
para a barriga. Eu não gostava da maneira como falava, mas entendia que não tenho direito de
reclamar disso, não era eu a sentir toda aquela movimentação. — Sério, vocês dois deveriam
triplicar a quantia que irão me dar, não é fácil suportar isso o dia todo.
Percebi Emma inquieta ao meu lado, mexendo e apertando as mãos uma na outra
enquanto mantinha os olhos fixos na barriga avantajada de Courtney e, talvez por reflexo, acabei
direcionando meu olhar para lá também e o que encontrei fez meu coração acelerar: era visível a
movimentação, mesmo através do vestido grosso.
Emma abria e fechava a boca sem parar, como se quisesse falar alguma coisa, mas
relutava contra isso, ao mesmo tempo em que Courtney seguia cutucando a própria barriga
tentando fazer o bebê mudar de posição.
— Courtney, eu posso? ‒ Emma pediu, insegura, apontando para a barriga. —Posso
falar com ele? Tocar sua barriga? Posso sentir o meu filho? — O simples pedido fez seus olhos
marejarem. Courtney apenas deu de ombros.
— Se conseguir fazer ele parar de mexer desse jeito ou pelo menos que ele tire o pé da
minha costela… — Ela se aproximou de Emma, deixando sua barriga à frente dela.
Assisti a mão trêmula de Emma se estender lentamente até tocar a barriga na altura do
umbigo proeminente. Ela alisou por um momento e, dessa vez, não me atrevi a desviar meu olhar
para Courtney, não queria perder essa cena.
— Daniel? Danny, meu amor, é a mamãe. — Suas lágrimas escorriam livremente — É a
mamãe aqui. Vamos fazer o seguinte. — Ela mexeu a mão, acarinhando suavemente — A tia
Courtney está te carregando enquanto você não chega para conhecer a mamãe e o papai.
Colabora com ela, filho, mexe o pezinho para ajudar a tia.
O bebê ainda mexia da mesma forma, até que pareceu se esticar em um só lado da
barriga. O sorriso de Emma era visível, mas mais evidente do que isso foi o suspiro de alívio
vindo de Courtney.
— Finalmente! Ele tirou o pé. — Pela primeira vez a vi sorrindo por algo que tivesse
qualquer mínima relação ao bebê.
— Obrigada, meu amor. — Emma voltou a falar — Falta tão pouco, Danny, tão pouco
pra mamãe te ter nos braços. Mal posso esperar pra te pegar no colo, te embalar, te colocar para
dormir. Só mais algumas semanas.
Ela olhou para mim com os olhos brilhando e não resisti ao instinto de esticar a mão e
limpar a lágrima, em um gesto totalmente em vão, já que outras várias ainda correm.
— O papai também está aqui, filho, e ele está tão ansioso quanto a mamãe para te
conhecer, te segurar no colo enquanto te explica todas as regras do futebol, te levar pra passear
no parque junto com Sheik. Aguenta só mais um pouquinho, Danny.
Minha mão estava coçando de vontade de tocar meu filho, ainda que indiretamente.
Apertava minha perna em uma tentativa frustrada de tentar me conter, mas fui descoberto.
— Ande logo, Benjamin. — Courtney disse — Estou vendo que está se contendo para
colocar a mão ali também, aproveite que estou generosa.
Resolvi não retrucar a mínima provocação e Emma em sua empolgação agarrou a minha
mão colocando-a ao lado da sua onde Daniel ainda mexia, um pouco mais calmo agora que a
mãe já conversou com ele. Era emocionante sentir na palma da mão meu filho crescendo e se
desenvolvendo.
— Oi, Danny, é o papai. Filho, eu… — Tinha tanto a dizer, tantas coisas que sentia, mas
a língua travou, o nó na garganta aumentava, meus olhos ardiam — Eu amo você, mal posso
esperar para te ter para mim. — Sentimos um último movimento mais forte antes dele sossegar
de vez fazendo com que eu e Emma tirássemos as mãos da barriga. Emma não se conteve em sua
euforia e sem pensar muito abraçou Courtney.
— Obrigada por isso, independente de qualquer coisa, não sabe o quanto isso significou
para mim.
— Tudo bem. — Courtney enrugou o nariz, quebrando o contato entre elas — Mas não
vai se repetir, essa coisa emocional não é para mim e é bem desconfortável ter pessoas alisando
minha barriga.
Natalie se fez presente, nos convidando para o consultório dizendo que preferia começar
com o ultrassom e depois com a consulta propriamente dita, já que Courtney queria conversar
conosco, assim, a grávida se retirou para trocar de roupa.
— Eu estava presente ali na recepção e assisti a cena. Estou com as consultas atrasadas
hoje, mas não poderia interromper aquele momento, é por poder assistir cenas assim que faço o
que faço com tanto afinco.
Natalie nos disse que estava tudo perfeitamente dentro dos padrões e que Danny parecia
ser um bebê grande. Logo após imprimir as novas imagens e entregá-las à Emma, nos
acomodamos no consultório para enfim conversarmos.
— Então, Courtney, você disse que queria conversar sobre algo. Temos algo para nos
preocupar? — Natalie questionou.
— Bom, se é preocupação ou não, isso é com vocês. O que eu preciso falar é: cada dia
estou mais próxima da data do parto e, sinceramente, engravidar nunca foi uma vontade minha,
todos aqui sabem por que estou aqui até hoje e que não vejo nada mágico nesse momento, eu só
sinto dor e desconforto. Aquilo que aconteceu ali fora fez vocês chorarem, eu só me senti
aliviada. Vocês podem pensar que eu sou um monstro, eu não me importo, essa sou eu.
— Onde você quer chegar com isso, Courtney? — Perguntei.
— Eu já passei por experiências suficientes em relação à gravidez, eu não pretendo
passar pelo trabalho de parto também.
— E no que você está pensando? Daniel precisa sair daí de alguma maneira.
— Sério, doutora? Não imaginava. — Courtney riu ironicamente ao comentário de
Natalie, porém Emma interrompeu o sarcasmo.
— Pode nos dizer o que você pensou?
— Eu quero agendar uma cesárea. Eu já me consultei com um cirurgião plástico, Dr.
Matthew, e ele vai fazer a minha reconstrução. Não é segredo para ninguém que usarei parte do
dinheiro para isso, meu corpo é meu trabalho e eu pretendo voltar a trabalhar o mais rápido
possível, antes da nova temporada de desfiles eu tenho que estar pronta.
— E isso quer dizer que...? — Incentivei ela a continuar.
— Eu não quero conhecer a criança, ele é de vocês. Eu só estou servindo de moradia,
vocês vão retirá-lo de mim e seguir com a vida de vocês, eu só espero o comprovante do
pagamento, Benjamin. Eu conversei com o médico e ele disse que poderia me submeter à
cirurgia, sob anestesia geral, e então você, Dra. Natalie, faria a cesárea e entregaria a criança aos
pais e assim que essa parte acabar e você se retirar da sala, o Dr. Matthew entra e faz a parte
dele.
— Você quer que eu faça uma cesariana sob anestesia geral?
— Isso já foi feito antes? — Emma complementou.
— E o mais importante, existe qualquer mínimo risco para Daniel? — Essa veio de
mim.
— Se já fiz cesarianas nessas condições? Sim, porém, em emergências, não eletivamente
como essa seria.
— Isso faz alguma diferença? Para mim ou para a criança?
— Eu teria que conversar com o seu médico, Courtney, e acertar todos os pontos que
dizem respeito à minha parte nesse processo, mas, não, no fundo não faria diferença se é você,
conscientemente e tendo 100% de controle sobre suas faculdades mentais, que está escolhendo se
submeter a isso.
— Mas como seria isso? Quando? Porque ainda está muito cedo, você ainda só está de
32 semanas. — Emma interveio.
— Eu agendei para o dia 20 de dezembro, eu estarei de 39 semanas. Nove meses, é mais
do que o suficiente. — Courtney afirmou.
— Natalie? — Questionei a médica sobre a veracidade dessa informação.
—É um bom tempo gestacional para um parto.
— Então, viram? Eu realmente queria fazer isso antes do Natal, por isso dia 20. Vou
aproveitar as férias de fim de ano para me recuperar e poder começar a temporada com meu
corpo novo.
Discutimos mais um pouco a respeito do assunto, Natalie ligou para o tal cirurgião e eles
esquematizaram tudo. Emma, eu e Courtney entramos em um acordo e determinamos a data para
o nascimento para o dia 20 de dezembro.
— Tudo bem, meu amor? ‒ Percebi Emma com os pensamentos distantes quando já
estávamos indo embora.
— Tudo, eu só estou… nervosa, ansiosa, talvez. E, na verdade, ainda não estou tão
segura a respeito de termos agendado uma cesárea. Sei que Natalie nos disse que não temos
riscos, mas eu bem que queria esperar um sinal de Danny, para vir na hora que ele quiser, mas
não queria entrar em mais uma discussão com Courtney.
— Eu também preferia assim, mas sinceramente, eu quero me livrar dessa dependência à
Courtney de uma vez, quero Daniel conosco. Em pouco mais de um mês teremos nosso bebê, só
para a gente. Sentir aquele movimento me deixou extasiado.
— Mexeu profundamente comigo... posso confessar algo que talvez não deveria? — Ela
fez uma careta bonitinha e não resisti a puxá-la para um beijo. — Eu sei que não deveria sentir
isso porque Danny é nosso, meu e seu e de mais ninguém, mas ouvir Courtney dizer que não
quer nem o conhecer, que sentir ele mexer não a sensibiliza de nenhuma forma, foi um pouco
chocante. No fim, o que importa é que teremos ele logo, passaremos o nosso primeiro natal como
uma família completa. — Ela sorriu — Sinto falta disso.
— Vamos ter um final de ano perfeito, família completa.
Um mês.
Só mais um mês.
Capítulo 30 – Emma Campbell McKnight

Nas últimas três semanas vinha me sentindo mal constantemente, andava enjoada, com
dores nos seios e com uma cólica chata bem no pé da barriga. Não comentei nada com ninguém,
por achar que era algo relacionado ao meu ciclo menstrual, que nunca foi muito regular ou até
mesmo constante, já que um mês tinha cólica, em outro não, sentia dores no seios ou não, todo
mês era diferente.
Durante os quatorze anos em que lidava com isso mensalmente, desenvolvi técnicas para
lidar com cada sintoma específico. Para a cólica e dores nos seios, minha mãe me ensinou a
colocar uma bolsinha de água quente com ervas no pé da barriga, mas o que funcionava mesmo
para meus seios era massageá-los, suavemente, em movimentos circulares.
Notei quando Ben acordou mais cedo que o despertador, animado — bem animado—,
percebi sua excitação roçando contra minha bunda, a boca vindo à minha nuca me despertando
com calma, ao mesmo tempo em que levava uma das mãos para a lateral da minha coxa, subindo
com ela por baixo do tecido da camisola que usava. Ela não parou por ali, continuou subindo até
alcançar um dos meus seios que ele apertou como sempre fazia, mas senti dor e acabei gemendo,
um gemido de dor e não de prazer. E ele percebeu.
— Te machuquei, minha linda? Me desculpe.
— Doeu sim, mas não foi culpa sua, acho que minha menstruação está vindo e, às vezes,
isso deixa meus seios mais sensíveis e doloridos.
— Vou tomar cuidado então, ou você não quer mais? Eu paro, meu amor, se não estiver
disposta, não quero você sentindo dor. — Me virei de frente para ele.
— Está tudo bem, só deixa meus seios de lado por enquanto.
— Vou fazer esse sacrifício por você. — Ele abaixou a cabeça para dar dois beijinhos,
um em cada seio, por cima da camisola antes de saciar os nossos desejos.
Os dias seguiam e as dores persistiram. A massagem que sempre fazia no banho virou
minha fiel escudeira, mas nem isso estava amenizando minhas dores. Agora por exemplo, eu
estava acompanhando Ben em uma reunião, mas cheguei a me sentir fraca tamanha a dor que
estava sentindo, tanto que fui ao banheiro e retirei o sutiã para aliviar a pressão, ao menos isso
amenizou parte da dor.
Isso estava muito estranho, não era normal. Por estar estranhando o nível de dor nesse
mês em específico, marquei uma consulta com Natalie. Para o bem da minha sanidade em não
estar mais aguentando isso, consegui um encaixe para amanhã. Eu só precisava conversar com
Ben para que ele me liberasse do trabalho.
Estava tentando ignorar a dor, me distraindo com alguns telefonemas atrasados,
marcando reuniões e desenvolvendo meu projeto secreto, que ainda mantinha escondido de Ben,
quando ouvi a voz de Courtney. Achei que estava ficando louca, mas bastou levantar o olhar para
vê-la parada na minha frente, fazendo eu me assustar com a presença inesperada.
— Courtney? Está tudo bem?
— Não, nada bem, seu filho insiste em ficar chutando minhas costelas. Converse com ele
novamente e mande ele parar, funcionou da outra vez.
Não admiti para ela, mas eu bem que gostava de saber que apenas eu conseguia fazer
Danny se mexer da maneira correta.
Cedi minha cadeira para que ela se sentasse, visto que sua barriga de 34 semanas estava
realmente grande, e me ajoelhei no chão para fazer o mesmo que fiz no consultório há quase
duas semanas. Conversei com Danny enquanto passava a mão pela barriga dela, sentindo os
movimentos ficarem mais intensos por um momento, arrancando um gemido de frustração de
Courtney, mas logo após um movimento mais brusco, Danny parou de se mexer e ela suspirou
aliviada.
— Que alívio! Não aguento mais.
— Mais algumas semanas e estará livre de todos nós. — Disse, ainda com a mão em sua
barriga, mantendo o carinho.
— Aproveite que eu estou te dando um filho, Emma, assim você não precisa engravidar
e passar por todas essas coisas desconfortáveis. Não ter posição para dormir, ficar constipada,
sentir dor nas costas, nos seios, no pé da barriga, ter que me besuntar de óleo e...
Ela continuou listando as mazelas de uma gravidez, mas eu petrifiquei no lugar com a
cabeça rodando. Arregalei os olhos, sentindo meu estômago revirar e o coração acelerar. Será
que as dores que estava sentindo eram de uma gravidez e não do meu ciclo menstrual como eu
estava desconfiando? Meu corpo tremia com a expectativa dessa realização, mas Courtney, por
algum motivo, interpretou minha tremedeira da maneira errada, levantando de supetão.
— Você não vai desistir agora, Emma, não quero saber. Você e Benjamin estão me
fazendo passar por isso, não vai desistir. Ele é de vocês e eu quero meu dinheiro, me devem isso.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa ou sequer me levantar do chão, a reunião de
Ben acabou e ele e os acionistas e diretores — com suas secretárias) —, assistiam à essa cena.
Que grande merda.
— Emma, o que está acontecendo aqui? Por que está ajoelhada no chão? O que Courtney
está fazendo aqui? Tem algo errado? — Ben veio até mim disparando uma pergunta atrás da
outra.
— Alguma coisa errada com sua esposa, só se for, ela não quer mais…
— Courtney, você interpretou tudo errado. — Interrompi antes que ela fale algo íntimo
demais na frente de tantas pessoas.
Ao menos consegui com que ficasse quieta.
Ben ainda mantinha as sobrancelhas franzidas, sem entender o que estava acontecendo,
mas sabia que não iria descobrir enquanto todas essas pessoas estivessem aqui, então, os
dispensou, ignorando as feições confusas.
— O que aconteceu ali fora, linda? — Ele perguntou assim que nós três entramos em sua
sala.
— Comecei a falar das dores e desconfortos da gravidez e sua mulher começou a tremer.
— Courtney respondeu no meu lugar — O que queria que eu pensasse? Eu tenho o contrato
assinado, Benjamin, você fica com a criança e eu com o dinheiro, não vão desistir.
— Courtney, já disse que não é nada disso. Era apenas emoção, já que você me deixou
conversar com ele outra vez, eu só me emocionei por sentir o movimento, pensando que falta
pouco tempo para ele estar de vez comigo. Foi apenas isso, eu não desisti coisa nenhuma. Daniel
é meu!
Menti sobre a tremedeira, mas não queria levantar qualquer suspeita de uma possível
gravidez para Ben, porque, se eu realmente estivesse grávida, queria surpreendê-lo com a notícia,
sabendo que isso era algo que ele vinha desejando cada vez mais.
— Acho bom mesmo, eu não quero saber de vocês desistindo dessa criança.
— Courtney, pare de falar disso, ninguém está desistindo de nada. Emma já explicou que
apenas se emocionou, não precisa desse alarde. — Ben explodiu. E eu mantive quieta notando
que ele realmente acreditou na mentira que contei e respirei aliviada. Felizmente, não demorou
muito para Courtney ir embora.
— Meu amor, foi só aquilo mesmo? Não aconteceu nada mais?— Sorri escondendo o
meu nervosismo.
— Não, foi só aquilo mesmo, ela apenas me interpretou errado.
Voltamos a trabalhar, mas minha cabeça estava longe. Fiz tudo em modo automático,
sem conseguir tirar a ideia da gravidez da cabeça. Poderia ser coisa da minha cabeça, poderia ser
psicológico, mas agora que tinha essa desconfiança, parecia sentir ainda mais todos os sintomas.
Cogitei a ideia de comprar um teste de gravidez e descobrir de uma vez, mas, já tinha a
consulta agendada com Natalie, então preferi esperar e conversar com ela e por lá mesmo fazer
um exame de sangue que sabia ser mais preciso que um desses testes.
Tudo que tinha que fazer era segurar minha ansiedade até amanhã e disfarçar meu
nervosismo para que Ben não percebesse nada.
Nosso expediente acabou um pouco mais cedo e, assim que chegamos em casa, Ben me
chamou para correr com Sheik, que estava bem agitado e precisando gastar um pouco de
energia.
— Fica chateado se eu não for? Estou com preguiça de correr hoje, queria só ficar
quietinha em casa.
— Não fico chateado. Eu vou com Sheik porque agora que ele ouviu a palavra mágica
ele não vai sossegar.
Ben sustentava um ar desconfiado, mesmo que não tenha dito nada, eu também não
disse. Depois de trocar de roupa e me dar um beijo rápido, os dois saíram e assim que me vi
sozinha em casa me permiti surtar por alguns momentos, andando de um lado para o outro com a
cabeça fervilhando, pensando que tinha um bebê chegando em menos de um mês e que podia
estar esperando outro.
Resolvi tomar um banho relaxante para acalmar meus nervos. Isso, um banho sempre
funcionava para acalmar. Não era aquele banho que Ben preparou para mim, mas já era alguma
coisa. Enchi a banheira, derramei vários sais de banho e ali permaneci, pensando em maneiras de
contar para Ben que tínhamos mais um pequenino a caminho.
— Está aí desde que saí? — Ben perguntou rindo. Nem ouvi ele chegar, estava no
mundo da lua, ainda submersa na banheira.
— Pouco depois que saiu eu vim para cá. Vem cá comigo.
— Vou dar uma chuveirada rápida só para tirar o suor e entro aí com você. — E assim
fez, sem demorar muito para se acomodar atrás de mim e apoiar a cabeça no meu pescoço
deixando um beijo ali enquanto me abraçava pela cintura — Hm, que cheirosa.
Ficamos ali, um acarinhando o outro lentamente e, sabia que provavelmente não deveria
fazer isso, mas não consegui evitar de notar as mãos grandes afagando minha barriga, não
conseguia não pensar que ele poderia estar acariciando o ventre onde seu segundo filho crescia
mesmo sem saber.
— Ei, está tudo bem? Estou te achando estranha, com a cabeça distante. — Me apertei
em seus braços, intensificando o abraço.
— Está tudo bem, só estou pensativa, ansiosa com a chegada do bebê, pensando na
gente, no casamento… é só muita mudança em tão pouco tempo.
— Algum arrependimento nessas mudanças? — Percebi sua insegurança diante do
retesar dos seus braços ao meu entorno. Não, Ben, nada de ir por esse caminho.
— Não, bobo. — Girei em seus braços — Nenhum arrependimento, por menor que seja,
foram todas mudanças boas. — Salpiquei beijos por seu rosto, pois por mais que eu amasse
conversar com ele, hoje queria mesmo ficar calada, antes que deixasse escapar algo.
Saímos da banheira, colocamos roupas confortáveis e fomos para a cozinha onde
preparei um jantar rápido para nós dois e logo o arrastei para a cama.
— Vamos assistir algo na cama hoje? Quem sabe terminar nossa série? Já chegamos na
9ª temporada.
— Pode ser, mas sabe que dormirá, não sabe?
— Eu sei. — Balancei a cabeça sorrindo.
Precisava explicar a ele minha desculpa para que ele me liberasse do trabalho amanhã,
apenas na parte da tarde, também não queria estender demais tudo isso. Eu poderia dizer que
tinha uma consulta marcada, sem sequer mencionar algo relacionado a uma possível gravidez,
mas eu sabia que Ben era preocupado ao extremo e iria querer fazer um milhão de perguntas para
descobrir o porquê dessa consulta inesperada.
É por isso que, pela primeira vez, eu menti para ele.
— Ben, queria te perguntar uma coisa. Será que amanhã à tarde você consegue se virar
sem a minha presença na empresa?
— Você torna tudo mais fácil, mas apenas pelo período da tarde não vejo problemas,
mas por quê? Algum compromisso? — Me perguntou desconfiado.
— Hannah está precisando de um colo amigo, desabafar sobre o noivado furado e tudo
mais. Como ela está de plantão à noite, combinei com ela que nos encontraríamos a tarde, se não
fosse problema para você eu faltar o serviço.
— Não é problema, linda. Vai ficar com sua amiga, sei como vocês são ligadas, e se ela
precisa de você, não a deixe na mão.
Sorri, mas preferi não falar mais nada. Tinha um remorso enorme me consumindo pelas
mentiras contadas, ainda que tivesse um motivo bom por trás de tudo isso. Logo que nos
acomodamos, Ben ligou a televisão e não demorou muito para que eu me permitisse dormir,
sendo tomada pela ansiedade para que dia seguinte chegue logo.
Dormi mal, apenas tirei breves cochilos, até que uma hora acordei assustada e não
consegui mais dormir quando notei que ainda não eram cinco da manhã. Não sabia se era
ansiedade ou se era por estar mentindo para Ben. Odiava isso, não suportava mentiras e nunca
menti para ele desde o início do nosso relacionamento. Não contar sobre minha suspeita e,
principalmente, não contar sobre a consulta e que minha falta no trabalho não teria nada a ver
com Hannah estava me corroendo.
Me remexi na cama até ficar de frente para ele e permaneci ali admirando o perfil dele
pela pouca claridade que entrava no quarto pelas frestas das cortinas. Era tão lindo, mesmo
roncando baixinho. Uma de suas mãos estava embaixo do seu rosto, como um travesseiro, a
outra descansava em frente à sua barriga apoiada na cama.
É engraçado como amar uma pessoa te faz enxergá-la de todas as formas, não é?
Conhecia todos os lados de Ben, até mesmo aqueles que ele escondia dos outros. E cada coisa
nova que descobria, amava ainda mais. E ser um homem lindo desses é um belíssimo bônus.
Toquei seu rosto levemente e ele se mexeu infimamente, uma sombra de sorriso nos seus
lábios quando ele mexeu a cabeça parecendo se aconchegar à minha mão. Pedia desculpas
mentalmente pela mentira e torcia para que quando ele chegasse em casa à noite eu tivesse boas
notícias para lhe dar. Se não fosse o caso, iria me explicar e contar da minha suspeita e das
mentiras contadas.
Não consegui dormir mais e sentia o estômago estranho. Um enjoo absurdo subitamente
me acometeu e corri pro banheiro e, mesmo depois de vomitar, a ânsia permanecia. Longos
minutos depois, voltei para a cama e permanecendo imóvel para tentar evitar o mal súbito
novamente.
— Acordou mais cedo hoje? — Ele me pergunta depois que lhe dei um beijo.
— Precisei ir ao banheiro agorinha e então já fiquei acordada de uma vez.
— Hm, bom dia, meu amor. — Me aproximei dele e o abracei por uns minutos. —
Preciso de um ótimo bom dia já que vou ter que ficar a tarde como um maluco sem minha
assistente preferida e esposa?
— Te compenso à noite, pode ser? Um jantar bem gostoso, um vinho, só nós dois. —
Ben concordou com a cabeça e me apertou em um abraço forte que me fez resmungar pela dor
nos seios.
— Ainda com essa dor? Isso é normal? Em todos esses meses não vi você reclamando
assim.
— Cada mês é diferente, às vezes tenho essa dor, às vezes só cólica ou dor nas costas, às
vezes as três coisas, às vezes nenhuma delas. — Desconversei.
— Que bom que nasci homem, não tenho tolerância nenhuma para dor. Se fosse mulher,
iria viver sob efeito de remédio toda vez que fosse menstruar. — Ele me fez rir.
— Você não tem tolerância à dor e tem uma tatuagem enorme nas costas?
— Pergunta para o Nick como foi a experiência de me acompanhar no estúdio. Ele
queria me dopar para que eu calasse a boca e parasse de reclamar a cada vez que o tatuador
encostava em mim. Você acha que só tenho essa por quê? — Ele questionou me fazendo rir.
Depois de nos arrumarmos, tomamos um café reforçado, na medida em que meu enjoo
me permitiu, brincamos com Sheik e, então, nos arrumamos para ir para a empresa.
— Amor, o que acha de eu ir com o outro carro hoje? Só pra facilitar quando eu sair
mais cedo e para você não precisar voltar de táxi mais tarde. ‒ Sugeri.
— Ah não, vamos comigo. Gosto das nossas manhãs no carro juntos, das nossas
conversas, de ir te perturbando cantando alto enquanto você só ri da minha cara. Carros
separados, não. Eu venho de táxi sem problema algum. — Ele franziu o cenho por um momento
— A não ser que você não queira ir comigo por algum motivo.
— Para com isso, não tem nada a ver com isso. Eu amo nossas manhãs também. — Me
estiquei pra um beijo — Eu só não queria pegar táxi para ir encontrar Hannah e não queria que
você tivesse que pegar um para vir pra casa, mas se você não se importa, vamos juntos.
— Tem certeza que é só isso? — Ele ainda parecia desconfiado, e eu engoli seco
querendo contar de uma vez tudo que estava acontecendo para que não ficasse pensando
besteiras. Mas não o fiz. Queria surpreendê-lo com a notícia da gravidez como tantas vezes
sonhei em fazer.
— O que mais poderia ser?
— Não sei, Emma, já te disse que desde ontem você está estranha. — Ele suspirou fundo
— Parece estar escondendo algo de mim, cortando conversas pela metade, querendo ficar longe
de mim. Te fiz alguma coisa? Diálogo, Emma.
— Ben, você não me fez nada de errado, pare de pensar besteira, é só impressão sua. —
Ele deu de ombros e se virou bufando.
— Se você diz… — Ele chegou ao elevador e eu continuei parada no mesmo lugar —
Vamos?
Andei até o elevador que ele estava segurando, me sentindo cada vez pior. Tudo que
queria era fazer uma surpresa para ele, tornar aquela descoberta um momento ainda mais
especial, mas parecia que o universo conspirava contra.
Chegamos até o carro e seguimos caminho e, diferente de tudo que Ben narrou gostar de
fazer todos os dias, o clima entre nós dois estava péssimo. Percorremos o caminho todo em um
silêncio desconfortável e a culpa pesava meus ombros, de uma maneira tão forte que senti meus
olhos marejarem.
Até que ponto valia a pena esconder algo antes de uma surpresa boa?
Olhei para a janela para que ele não percebesse minha feição e, assim que estacionamos
na garagem, ele retirou o cinto e olhou para mim, mas não retribui, por não querer que ele
notasse meu rosto que sabia estar vermelho e inchado.
Ben saiu do carro com raiva, batendo a porta. Saio também e fui atrás dele em direção ao
elevador, porém antes de entrar no mesmo, William o chamou dizendo precisar falar com ele
com certa urgência e, sem olhar para mim, ele apenas fez sinal para que eu seguisse meu
caminho.
Sem a presença dele, me senti enjoada pela situação em que coloquei nós dois e precisei
segurar o choro até alcançar nosso andar, largar a bolsa de qualquer jeito pela minha mesa e
correr para o banheiro para esvaziar o estômago, me sentindo completamente fraca, com o choro
que ainda não me largou.
Permaneci no banheiro por mais alguns minutos, tentando me recompor da melhor
maneira possível. Segui para minha mesa para cumprir meu meio expediente e, assim que me
sentei, vi Ben passar para a sala dele, sem dizer nada. Eu sei que ele reparou no meu rosto e
ainda assim não parou para falar nada. Sequer poderia culpá-lo, era perceptível a raiva dele
comigo. Só esperava que tudo isso valesse a pena hoje à noite quando poderíamos conversar
direito.
Não nos falamos a manhã inteira e quando deu minha hora me organizei para sair. Passei
na sala dele, que sequer levantou a cabeça para olhar para mim.
— Ben? ‒ Chamei e ele ignorou — Estou indo, como combinamos, quer que eu peça
seu almoço? — Ele ainda se concentrava em algo no papel à sua frente.
— Não precisa, eu me viro, pode ir encontrar sua amiga, quem sabe com ela você
consiga confiar e ser 100% honesta para dizer o que está acontecendo com você.
— Ben… — Senti meu olhos voltarem a marejar.
— Pode ir, Emma, já deu o seu horário combinado, a chave do carro está aqui. — Ele
apenas apontou para o objeto em cima da mesa. Suspirei enquanto ia até lá pegá-la, segurando
nas mãos com toda força. Encarei meu marido ainda de cabeça baixa, conseguindo ver os
músculos tensionados por baixo do paletó.
Que droga.
Dei a volta na mesa, deixando um beijo na sua cabeça antes de dizer algo, mesmo
sabendo que minha voz sairia embargada pelo choro contido.
— Eu amo você, Benjamin. Por mais que você esteja duvidando disso agora ou até me
odiando. Tudo que eu faço é por você, por nós, pela nossa família. Apenas se lembre disso.
Me afastei a tempo de vê-lo me encarando com os olhos atordoados. Ele fez menção de
dizer algo, mas agora quem não queria ouvir era eu. Apenas saí em disparada em direção ao
elevador. Escutei ele vindo atrás de mim, chamando meu nome, mas só sigo em frente e, no
carro, eu desabei, sentindo a dor por ter nos colocado nessa situação, ainda que por bons
motivos.
Era claro que vindo de mim não poderia ser algo simples, um momento bonito na vida de
um casal. Tinha que ter o drama, tinha que ter a briga. Não sei por que ainda me surpreendia com
a maneira como as coisas aconteciam para mim.
Capítulo 31 – Benjamin McKnight

Depois de tentar alcançar Emma na sua corrida até o elevador, voltei para minha sala
extremamente frustrado. Odiava, odiava com todas as minhas forças estar nesse clima com
Emma. Eu sabia que nem tudo seriam flores no nosso casamento, mas não esperava ter essa
reação diante da nossa primeira briga de verdade.
Ouvir sua voz embargada dizendo que me amava ainda que naquele momento eu
estivesse a odiando me quebrou. Não era verdade, nem mesmo passava perto disso. Como
poderia odiar? Eu a amava tanto que me sentia frustrado por estarmos nessa situação. Eu sabia
que tinha algo acontecendo com ela, algo que ela não queria me contar, e não sabia lidar com
isso.
Minha vida inteira me senti deslocado e rejeitado e, com exceção dos meus amigos,
Emma foi a primeira pessoa a me fazer lidar melhor com meus sentimentos. Sentir que ela estava
me deixando de fora me machucava. Podia ser uma coisa mínima ou algo sem importância, mas
pensar que ela não queria dividir comigo o que quer que fosse, doeu. Era uma porra de um
gatilho para mim.
Amar uma pessoa e ser correspondido era incrivelmente bom, porém sentir que algo, por
menor que fosse, abalasse, machucasse ou quebrasse a confiança existente, doía. Doía para
cacete.
Me joguei em minha cadeira, as mãos bagunçando aos cabelos em um gesto de extrema
insatisfação. Queria entender o que estava acontecendo com ela. Não adiantava mentir, podíamos
estar juntos há pouco tempo em comparação a outros casais, mas nunca conheci ninguém melhor
do que a conhecia.
Via a verdade constantemente em seus olhos e de ontem para hoje não era isso que
encontrava ali. Sabia que tinha algo por trás, que ela estava omitindo algo de mim, talvez até
mentindo para mim, e só de pensar nisso um amargor subia pela minha garganta. Não queria me
decepcionar com ela, não iria aguentar.
A história com Courtney ontem, a decisão dela em não correr comigo e Sheik, o banho
em silêncio, querer ir para a cama cedo com a desculpa de assistir televisão para não
conversarmos... tudo poderiam ser atitudes comuns, mas em conjunto se transformava em algo
muito maior.
A gota d’água foi a história de querer vir trabalhar em carros separados. Não comprei
essa história de não querer que eu fosse de táxi para casa, afinal de contas já fizemos esse arranjo
algumas vezes nesses meses quando ela foi embora mais cedo e eu precisei ficar por algum
motivo.
Entrei no carro e dirigi até a empresa com raiva, frustrado, odiando aquele clima de
enterro no carro, tão diferente de como nós somos normalmente. Eu vi que ela desviou o olhar
para a janela e não precisou de muito para eu entender que ela estava chorando ou pelo menos
segurando o choro. Quando estacionei na garagem, pretendia me desculpar pelo que quer que
fosse, não queria ficar naquele clima com minha esposa, porém ela não retribuiu meu olhar e isso
só me enfureceu ainda mais.
Saí do carro batendo a porta com força, e vi quando ela saiu também e veio andando
atrás de mim. Quando William me chamou, apenas fiz sinal para que ela seguisse em frente
sozinha, não quis nem ao menos desviar o olhar para ela. Notei que William percebeu que o
clima entre nós não estava dos melhores, e apenas disse o que tinha para me dizer, me atualizar
de um problema que os usuários do aplicativo vinham relatando, e eu apenas dei a ordem para
que eles acertassem tudo da melhor maneira possível e segui meu caminho.
Quando cheguei ao andar da presidência, onde apenas eu e Emma trabalhamos, eu sabia
que teria que passar por ela para chegar à minha própria sala. Notei os olhos inchados, o nariz
vermelho e a boca dilatada, pois Emma tem mania de morder os lábios quando ficava nervosa ou
emocionada demais. Eu queria jogar tudo para o alto e ir até ela e abraçá-la, esquecer dessa briga
idiota, mas, ao mesmo tempo, ainda estava estressado e decepcionado com a falta de confiança
dela em não querer confessar para mim o que estava guardando em segredo, então segui reto
para minha sala.
Seria um hipócrita se dissesse que trabalhei durante toda a manhã, quando na verdade fiz
tudo pela metade e no piloto automático, muito provavelmente tudo estava errado ou incompleto,
e eu teria que refazer tudo depois. Passei a manhã toda me coçando de vontade de ir até ela, mas
não fui, talvez, meu orgulho fosse maior naquele momento.
Até que ela bateu na minha porta, entrou na minha sala e eu mantive a cabeça abaixada.
A tratei com frieza, mesmo querendo apenas enchê-la de amor, e ignorei sua oferta para pedir
meu almoço, praticamente a expulsando de minha sala e ainda alfinetei a falta de confiança dela.
Apontei a chave do carro e vi pelo canto dos olhos ela se aproximar para pegar depois de
ter respirado fundo. Achei que ela fosse pegar e simplesmente sair, mas não, a vi parada ao lado
da minha mesa, bem perto da onde eu estava sentado. Eu conseguia sentir o seu perfume
intoxicando o ar que eu respirava, até que ela beijou a minha cabeça, deixando que eu sentisse as
lágrimas dela que pingaram em minha nuca, e disse que me amava, mesmo que eu estivesse
duvidando disso naquele momento, que tudo que ela fazia era por mim, pela nossa família.
Aquela foi a gota d’água, não conseguiria mais ficar naquela situação. Levantei a cabeça
e olhei para ela. Seus olhos estavam totalmente perturbados. As esmeraldas que eu tanto amava
estavam brilhantes, mas em razão das lágrimas. Quando pretendia dizer algo, ela correu para
longe de mim e aquilo ali doeu mais que qualquer outra coisa. Vê-la fugindo de mim me
machucou profundamente. Tentei ir atrás dela enquanto chamava seu nome, mas foi uma
tentativa frustrada. Ela desceu no elevador sem olhar para trás.
E agora eu estava aqui, jogado em minha cadeira, atordoado, com raiva, confuso,
magoado, mas, principalmente triste. Me permitir amar Emma foi a melhor coisa que já fiz,
suportar a dor de estar brigado com ela era infernal.
Respirei fundo um milhão de vezes, fui até o banheiro lavar o rosto para tentar me
acalmar e, então, voltei para minha mesa. Queria poder dispensar o almoço, mas eu era do tipo
de pessoa que comia para desestressar, descontava tudo na comida e depois eu, literalmente,
corria atrás do prejuízo com minhas corridas quase diárias com Sheik. Liguei para a lanchonete e
pedi um enorme sanduíche acompanhado de um copo também enorme de refrigerante.
Queria mesmo era me enfiar no whisky, mas ainda tinha muito trabalho pela frente e não
podia dar esse mal exemplo para meus funcionários e, também, apesar de minha esposa ser
também minha assistente, não podia trazer nossos problemas pessoais para a empresa. Eu tinha
que separar as duas versões de Emma, por mais que, nesse momento, eu não tivesse comigo nem
uma nem outra.
Um dos atendentes da lanchonete subiu com minha comida e eu engoli tudo rapidamente
e para me enfiar no trabalho, fazendo o máximo possível para me concentrar nas planilhas e
manuscritos à minha frente. Recebi William e James novamente com atualizações sobre o
problema do aplicativo e acabamos tendo uma pequena reunião por aqui mesmo.
Já fazem horas que Emma havia saído e eu ainda estava ali sozinho, olhando para o
telefone de tempos em tempos cogitando mandar uma mensagem para ela e, também, para checar
se ela fez isso. Mas, não, nem eu nem ela fizemos. Escutei uma batida na minha porta e pedi para
que entrasse, vendo ser Louis, um dos acionistas que estava presente na reunião de ontem.
— Podemos conversar, Benjamin?
— Claro, algum problema?
— Eu vou direto ao ponto. Ontem presenciamos aquela cena estranha entre sua esposa e
aquela outra mulher, Courtney, não é? Ela é famosa e pelo que entendemos está grávida de um
filho seu. Quando você anunciou o seu relacionamento, nós, acionistas, nos preocupamos em
como isso impactaria a empresa, acabou que não houve nenhum grande impacto, nem
internamente nem com a mídia. Porém, você sabe mais do que ninguém o estrago que um
escândalo pode fazer à reputação de uma empresa.
— Onde você quer chegar com isso, Louis?
— Estou com receio de como essa bomba vai respingar na empresa assim que a mídia
ficar sabendo disso.
— Disso o que? Seja específico, por favor.
— Um CEO, renomado e recém-casado com a própria secretária, trai a esposa e
engravida uma modelo que vem até a empresa cobrar o pai da criança sobre os direitos dela e que
esse negou com ajuda da nova esposa. Como você acha que isso vai repercutir, Benjamin? — Eu
me enfureci, levantando da minha cadeira em dois tempos, espalmando as mãos enquanto o
encaro.
— Para começo de conversa, você detém menos de 5% das ações da empresa, ela é
majoritariamente minha. Se alguém tiver que se preocupar com as ações da empresa, essa pessoa
sou eu. Se está te incomodando a ocorrência de certas coisas, venda suas ações de volta para
mim. Não vou tolerar que venha à minha sala esfregar algo na minha cara que ache que é de seu
direito. — Louis apenas cerrou os dentes, mas não dei confiança para ele — Outra coisa, não que
isso seja da sua conta ou da conta de qualquer pessoa aqui dentro, e muito menos da mídia: o que
acontece na minha vida pessoal, é exatamente isso, pessoal. Eu nunca traí minha esposa, nunca.
O bebê que Courtney carrega é meu, sim, meu e de Emma. E ninguém tem nada com isso. O
meu casamento não é público, não abro espaço para quem não se deve. Isso é questão minha e da
Emma, apenas. — Ele permanecia calado — Algo mais?
— Não, era só isso. — Respondeu com impaciência.
— Por favor, se retire então. Cuide do seu trabalho e esqueça o meu casamento. — Louis
se levantou, mas antes que saísse resolvi lhe dar um aviso — Espero que esse assunto morra
aqui, pois eu sei exatamente quem presenciou aquilo ontem e, se por acaso essa história se
espalhar, eu sei atrás de quem devo ir.
Me sentei outra vez assim que ele saiu. Era inacreditável como tudo resolvia dar errado
em um mesmo dia. Que porra! Mal tive tempo de respirar quando ouvi uma nova batida à minha
porta.
— Puta que pariu, o que é agora? — Murmurei baixo antes de gritar — Entra!
— McKnight, fala para esses dois imbecis que o Natal esse ano vai ser na sua casa, que
se Danny já tiver nascido, ele será muito novinho para ficar circulando por aí. — Nate nem
entrou direito e já disparou a falar.
— Cara, eu não neguei isso, só falei que devíamos arrumar outra coisa para fazer depois,
alguma festa não sei, queria já arrumar uma companhia certa para o ano novo.
— Nick, ainda temos quase um mês até o ano novo. Sossega esse pau, porra. — Carl
reclamou e Nate mudou de assunto. Eles falavam sem parar, como se eu tivesse cabeça para
acompanhar.
— McKnight, atendi no escritório hoje um cara processando um outro cara por conta da
mordida de cachorro que levou, isso me fez pensar: você e Emma andam preparando o anticristo
pra chegada do bebê?
— É cara, não quero que meu afilhado seja aperitivo daquele projeto de cachorro. —
Não disse nada, apenas me mantive na posição, até que Nate mesmo percebeu.
— O que houve, Ben? Por que essa cara de quem comeu e não gostou?
— Cadê a medusa que não estava na sala dela quando chegamos? Foi transformar
alguém em pedra—Nick perguntou, mas segui em silêncio.
— Cadê a Emma, Ben? — Nate insistiu, Carl suspirou, indo até o bar que mantinha no
canto de sua sala, servindo uma dose de whisky em um copo que me entregou.
‒ Brigaram?
— Sim... não... quer dizer, mais ou menos. — Nem eu sabia ao certo.
— Qual das três opções, McKnight? As três ao mesmo tempo não dá.
— Sim, brigamos, não gritamos um com o outro, mas também não estamos bem.
— Quer conversar? O que houve? — Nate me ofereceu.
— Abra seu coração peludo pra gente, cara. O que aconteceu? — Nick insistiu e eu virei
o copo bebendo a dose por completo.
— Chega, Ben, desembucha. — Carl pegou o copo de volta.
— Não sei dizer o que aconteceu. Estávamos bem até ontem, tudo perfeito e então as
coisas mudaram.
— Mudaram como? Alguma coisa aconteceu nesse meio tempo, o que houve? — Nate
perguntou.
— Eu estava em uma reunião, ontem à tarde, e quando sai, com todos os acionistas à tira
colo, encontrei Courtney com Emma ali na sala dela. Courtney reclamava de alguma coisa e
Emma tentava explicar.
— O que essa mulher detestável disse pra medusa? — Nick fez careta.
— Ela veio pedir para Emma conversar com Daniel, para que ele parasse de chutar suas
costelas novamente. Emma o fez e se emocionou, tremendo as mãos, enquanto Courtney
reclamava sobre todas as mazelas da gravidez e então interpretou a tremedeira de Emma como
uma desistência dela do contrato.
— Por que ela faria essa associação? — Carl questionou, sem entender.
— Porque ela é doida. Emma é completamente apaixonada por Daniel e deixa isso bem
claro para todo mundo, mas ainda assim ela fez essa associação. Quando saí da sala ela estava
praticamente berrando que eu não podia desistir do acordo, que o filho era meu, que ela queria o
dinheiro.
— Os acionistas ouviram isso? — A pergunta veio de Nate.
— Sim, inclusive um deles acaba de sair daqui insinuando que a empresa pode se ferrar
quando descobrirem que eu, recém-casado, engravidei uma modelo famosa e estou me negando a
cuidar e assegurar os direitos da criança já que Courtney veio até aqui, aos olhos deles, para me
pedir dinheiro e eu neguei, com influência da Emma.
— Puta que pariu, sabe que se esse boato vazar pode afetar a empresa e vocês
pessoalmente, não é? Principalmente à Emma, que vai, aos olhos de quem entender desse jeito
que está sendo narrado, parecer uma vadia desalmada que não se importa nem com o bem-estar
de uma criança.
— A medusa pode ser mesmo uma bruxa, Carl, mas ela não é nada disso daí. Vadia
desalmada aqui só a Courtney. — Nick defendeu Emma.
— Mas se você acabou de saber disso e Emma não está aqui, ela não sabe dessa parte.
Então por que brigaram? — Nate questionou outra vez.
— Porque desde essa aparição de Courtney ela está estranha comigo, cortando
conversas, trocando de assunto, está visivelmente escondendo algo de mim. Eu a questionei hoje
de manhã sobre isso, quando ela sugeriu vir em carros separados já que ela sairia mais cedo para
encontrar Hannah, disse que ela estava estranha, que ela estava me escondendo algo, ela
desconversou e eu me estressei. Ignorei ela no caminho até aqui e quando ela saiu e veio se
despedir de mim eu fui grosso com ela novamente.
— O que você acha que ela pode estar escondendo?
— Sinceramente, não sei, Carl, mas sei que está.
— Ben, você pode estar com essa impressão. Ela pode estar com um problema ainda não
querer comentar sobre, talvez seja coisa da Hannah e ela não quer invadir a intimidade da amiga
e te contar. — Nate sugeriu.
— Podem ser várias coisas, cara. — Nick concordou e, mesmo contrariado, eu acenei —
Eu não sei nem o que te dizer, a não ser para conversar com ela, de igual para igual, sem
grosseria.
— Tudo isso se conserta com o bom e velho diálogo. — Carl concordou.
— Liga pra ela, apenas diz que a ama e quer conversar, esclarecer as coisas e entender o
porquê dessa tensão toda. — Nate era mais prático e me dizia o que fazer.
— Vou fazer exatamente isso. Obrigado.
— Disponha, agora ligue logo para a medusa.
Peguei o telefone e disquei para ela e a chamada não completava, me fazendo estranhar
ainda mais. Tentei novamente e a mesma coisa, direto para a caixa postal.
— Caixa postal. Ela não quer me atender.
— Ou o telefone pode apenas estar desligado ou sem bateria. Para de assumir o pior,
McKnight. — Carl me repreendeu.
— Você não disse que a medusa ia encontrar com a loira? Liga pra ela. — Nick inferiu e
fiz o que sugeriu, não demorando mais do que alguns segundos para Hannah atender.
— Oi bonitão, o que manda?
— Posso falar com Emma? Estou tentando ligar pra ela, mas ela não está atendendo.
— Emma? Bonitão, eu não falei com Emma esses dias, estou atolada de trabalho até as
minhas orelhas, mal tive tempo de encostar no telefone. — Eu me espantei, começando a andar
de um lado para o outro.
— Você não marcou de se encontrar com ela hoje? De almoçarem juntas? De
conversarem a tarde toda?
— Do que você está falando, Benjamin? Eu não marquei nada com Emma hoje. O que
está acontecendo? — Respirei fundo, agora furioso e extremamente preocupado.
— Nada Hannah, nada está acontecendo, depois a gente se fala.
— Depois nada. Bonitão? Benja.. — Cortei a ligação no meio.
— Ouviram, não é? Aparentemente Emma além de omitir as coisas de mim agora
também mente para mim. Ela pode… — Carl me interrompeu antes que eu sequer pudesse
cogitar qualquer coisa.
— Cale a boca, Benjamin, agora, antes que você fale algo que se arrependa
profundamente.
— Mesmo quando era apenas sua secretária, ela nunca te deu nenhum motivo para você
duvidar do caráter dela, McKnight, você pode estar furioso com tudo isso, mas não vá ofendê-la
quando ela não te deu motivo para isso. — Nate me repreendeu, com razão.
— É ridículo você sequer cogitar essa hipótese que deve rondando sua mente. É visível,
perceptível a milhas de distância o quanto aquela mulher te ama. Você e Daniel são tudo para ela
e ela não iria jogar tudo isso no lixo de forma alguma, muito menos dessa forma escrota que
você deve ter pensado. — Nick foi incisivo e seu tom me obrigava a me acalmar.
— Desculpem, não deveria nem mesmo ter pensado em nada. Eu só estou com raiva,
frustrado, magoado, nem sei mais que adjetivo usar para explicar o que estou sentindo.
— Ela vai aparecer e vocês vão conversar, Ben. — Carl me confortou.
— O que quer que seja que ela está escondendo, ela vai te explicar, tenho certeza. —
Nick também.
— Ben, se sente. — Nate comandou. O olhar que ele me dava era o mesmo que dávamos
um ao outro desde que éramos pirralhos, aquele que o outro precisava obedecer antes de ouvir
poucas e boas, e por isso fiz o que ele mandou — Vocês estão começando o relacionamento de
vocês agora, Bem, e por mais que vocês se amem, por mais que as coisas tenham sido perfeitas
até agora, você não pode desconfiar de Emma a cada coisa que ela faça diferente do que você
espera.
— Não quero me decepcionar, Nate. Algo ruim, vindo dela, vai me quebrar de um jeito
que todas as outras merdas que já aconteceram não conseguiram fazer.
— Você precisa confiar nela, Ben, no amor dela por você. Da mesma forma que você
afirma para ela com todas as letras que ela pode confiar em você, você deve confiar nela na
mesma medida. Ela nunca te deu motivos para pensar o contrário. Na verdade, toda a história de
vocês até aqui devia te mostrar o quanto ela é confiável.
— Vocês estão em um relacionamento, Ben, mas ainda são indivíduos, ainda tem suas
questões pessoais, ainda tem vontades próprias. — Carl adicionou — Nada de bom pode vir de
um relacionamento onde um tenta controlar o outro o tempo inteiro. Vocês são os McKnights,
mas ainda são o Ben e a Emma.
— Não seja o cara tóxico que quer controlar a esposa, Ben. — Nick continuou — Se for
assim, Emma vai te dar as costas em algum momento. Ninguém consegue ser saudável em uma
relação pautada em controle.
— Você tem medo de se magoar mais uma vez, e quer controlá-la, Ben. — Nate chamou
minha atenção novamente — Controle é diferente de desconfiança, e um não justifica o outro.
— Vocês tem razão. — Concedi— Eu a amo e sei que posso confiar nela. A minha
mente apenas é fodida demais em achar que a qualquer momento algo vai surgir e me fazer
questionar o que sinto por ela.
— Pensar assim vai te fazer agir com autossabotagem. Se assim fizer, se seguir
esperando o momento em que ela vai te decepcionar, você vai se sabotar, Ben, e no final das
contas, será você o responsável por decepcioná-la. — Carl afirmou.
— Pense em tudo isso, Ben. Não deixe que seu passado defina o futuro da sua relação
com sua esposa. Trabalhe suas questões, entenda que Emma não é como aqueles que te
machucaram, entenda que ela tem direito de ter seu próprio tempo para resolver as coisas
internamente e que isso não tem nada a ver com falta de confiança em você. — Nate finalizou.
Tudo o que me disseram era a mais pura verdade. Meu futuro com Emma só poderia ser
como nós dois desejávamos se houvesse confiança e respeito entre nós dois. Ela nunca me deu
motivos para questionar nada a seu respeito e eu não podia deixar meu medo de me magoar mais
uma vez acabar magoando e maculando nossa relação.
— Você está sem carro, não é? Vamos embora, eu te dou uma carona. Você não vai
conseguir trabalhar em merda nenhuma mais hoje com essa cabeça fervendo desse jeito. — Nate
tomou a frente da situação.
Eu apenas obedeci pegando minha carteira, celular e o paletó, pois realmente não tinha
cabeça para mais nada. Achava que eu só estava brigado com minha esposa, mas agora, não
sabia nem onde ela estava, se estava bem, se aconteceu alguma coisa. Pensar na possibilidade de
algo ter acontecido a ela, me deixava com uma angústia do caralho no peito, não podia nem
mesmo considerar isso sem sentir meu peito ser destroçado. Sai da sala com eles, mas Nick
chamou nossa atenção ao olhar para a mesa de Emma.
— Olhem ali, o celular da medusa em cima da mesa. ‒ Ele foi até lá e pegou o aparelho
— Está descarregado. — Ele me entregou em silêncio.
— Vamos Ben, estamos com você. Vamos embora. — Carl chamou.
Entramos no elevador e eu sentia minha cabeça pulsar tamanha tensão instalada em meu
corpo. Meu coração estava apertado, com medo de algo ter acontecido a ela e com receio do que
ela estava escondendo. Ainda tinha a consciência de que estava omitindo algo, e ia esperar que
ela estivesse pronta para me contar. Não iria pressioná-la, mas nesse momento, tudo que queria
era tê-la em meus braços para que eu tivesse certeza de que ela estava bem
— Qualquer coisa nos liga, Ben, e nós aparecemos na sua casa em instantes.
Foi o pedido de Nick enquanto eu entrava no carro de Nate, mas não tive capacidade
nem de responder, apenas entrei e Nate deu partida no carro, seguindo caminho em completo
silêncio. Sentia o nó se formar na minha garganta, o coração apertando com angústia, a
preocupação com a falta de notícias dela.
— Cadê você, meu amor? Que merda está acontecendo?
— Calma Ben, tenho certeza que vai ficar tudo bem. Ela vai aparecer e dar notícias.
Tenta não surtar. — Nate tentou me acalmar.
Depois de Emma, ele era a pessoa que mais me entendia, por ter passado muitas das
minhas merdas ao meu lado, ele viu tudo de perto. Queria rebater a afirmação dele, como poderia
não surtar se minha esposa estava sumida, com um segredo nas costas e com um marido estúpido
e grosseiro, mas resolvi ficar quieto.
— Quer que eu suba com você e fique até ela aparecer? — Ele ofereceu assim que
chegamos ao meu prédio e eu concordei. Se ficasse sozinho iria surtar de vez.
Estacionamos o carro uma quadra depois e então saímos. O que sentia era um punhal
sendo enfiado no meu peito a cada passo que eu dava. Queria minha mulher de volta nos meus
braços, onde sabia que estaria segura e protegida de qualquer merda no mundo. Não me
importava com o que estava me escondendo, nesse momento, apenas queria vê-la e aplacar essa
angústia.
— Senhor McKnight. — O porteiro me chamou assim que entro no prédio — Não sei se
devo me meter, mas sua esposa chegou em casa, há mais ou menos uma hora, completamente no
mundo da lua. Falei com ela, porém nem sei se me ouviu. Eu estava tentando achar o seu
telefone para ligá-lo, mas ainda bem que chegou. — Ouvi Nate respirar, pelo menos em partes,
aliviado por pelo menos sabermos onde ela estava.
— Sobe, Ben, vai atrás dela e entender essa história.
Não esperei nem mais um segundo para correr para o elevador e apertar os botões com
força como se fosse fazê-lo ir mais rápido.
Nesses meses que estávamos juntos eu já me deparei com diversas versões de Emma ao
chegar em casa quando não estávamos juntos. Ela e Sheik brincando no chão da sala. Ela,
segurando as patas dianteiras dele, de pé a sua frente, enquanto os dois dançavam de um lado
para outro. Ela, nua esperando por mim. Ela, organizando um jantar romântico para nós dois.
Ela, mergulhada em infinitas sacolas de lojas infantis. Ela, me esperando para montarmos os
móveis do quarto de Danny.
Foram muitas versões, mas aquela que via na minha frente nesse momento ficaria
marcada para sempre.
Capítulo 32 – Emma Campbell McKnight

Dirigia enquanto tentava acalmar tudo dentro de mim, principalmente com a dualidade
entre lidar com a ansiedade que me preenchia pela expectativa de uma possível gravidez e a
angústia por toda essa situação com Ben, que, por sua vez, afetava meu estômago como nunca, e,
juntando aos enjoos que eu já vinha sentindo, sentia meu corpo fraco, nauseado, incapaz de
comer qualquer coisa agora, mesmo sendo horário de almoço.
Cheguei à clínica e, apesar de estar sempre por aqui, dessa vez precisei fazer cadastro
como paciente e, assim que terminei ouvi Natalie chamar meu nome e me cumprimentar.
— E então? O que te trouxe aqui? É alguma coisa sobre Daniel?
— Não, é sobre mim. — Soltei meu peso na cadeira, respirando profundamente.
— Aconteceu alguma coisa, Emma?
— Pelas últimas semanas, eu ando sentindo dores constantes nos seios, mais fortes do
que sinto normalmente por conta do meu ciclo menstrual. Senti também algumas dores no pé da
barriga e, de ontem para hoje principalmente, estou enjoada a todo tempo. E como já havia
marcado a consulta com você, não quis fazer um teste de farmácia, mas suspeito que esteja
grávida.
— Vou pedir um exame de sangue completo e enquanto isso a gente conversa, tudo
bem? — Assenti e logo uma enfermeira apareceu para colher meu sangue e levar ao laboratório
próprio da clínica para um teste rápido. — Emma, talvez eu possa ser um pouco invasiva aqui,
mas, acompanhando você e Benjamin em toda essa situação com Courtney, vendo o amor de
vocês por Daniel, eu preciso perguntar. Se o resultado voltar como positivo, isso seria uma
notícia ruim? — Balancei a cabeça negando, uma lágrima voltando a escorrer.
— Não, é a notícia que eu espero ouvir.
— Então por que esse abatimento? Aconteceu alguma outra coisa?
— Mais ou menos. Ando com essas suspeitas, mas não queria falar isso para Ben,
porque se for um positivo, eu quero poder dar a notícia para ele de uma forma especial, afinal
essa situação com Courtney é totalmente incomum. Queria dizer que vamos poder viver a
experiência da gravidez de uma maneira normal, mas eu odeio mentir e não sei guardar segredos,
e…
— E vocês discutiram ou brigaram porque ele percebeu que você está distante ou
fugindo dos assuntos. Você não é a primeira a passar por isso, Emma, não se martirize, tudo se
acerta com uma conversa.
— Eu espero.
— Você almoçou? — Neguei — O que acha de irmos comer na lanchonete algo e
então voltamos para a consulta, pois aí possivelmente já teremos o resultado do exame e então
procederemos à consulta?
Aceitei seu convite e assim fomos à lanchonete, comendo enquanto conversamos
trivialidades. Durante todos esses meses em que Natalie vinha cuidando da gravidez de
Courtney, eu e ela nos aproximamos bastante, conversamos, trocamos dicas e experiências visto
que Natalie já era mãe de duas meninas, e, portanto, não estranhei o convite dela.
A conversa com a médica me ajudou a me sentir um pouco melhor. Natalie falava
sobre o seu casamento, sobre como essas discussões acontecem, que esses desencontros de
pensamentos são normais, que tudo se resolvia com muito amor e principalmente com diálogo.
Por ali ficamos até que ela recebeu uma notificação acerca do meu exame, assim retornamos ao
consultório.
— Emma, apesar de poder sim ser uma gravidez, você sabe que também existe a
possibilidade de ser um resultado negativo, não é?
— Sim, eu sei, por mais que eu queira um positivo, sei que pode não ser essa a
resposta.
— Bom, se for positivo, vamos comemorar e aí você decide se quer fazer o ultrassom
hoje ainda e então contar para Benjamin ou se prefere contar para ele antes e depois os dois
voltarem para o exame.
— Segunda opção, sem dúvidas, não vou fazer mais qualquer coisa em relação a isso
sem que ele saiba.
— Ótimo. Se for um resultado negativo, vou te examinar e vamos averiguar a origem
dessas dores, fazer uma consulta e exames de rotina e, se for da vontade de vocês engravidar,
depois de conversarem, vocês se empenham nisso.
— Tudo bem.
— Vamos lá então, vou abrir o resultado, ok? — Natalie retirou o laudo de dentro do
envelope e então… — Negativo, Emma. — Respirei fundo algumas vezes e, apesar de saber que
era possível, não consegui não ficar triste — Sinto muito, Emma.
— Está tudo bem, Natalie, eu sabia que era possível. É só que desde que suspeitei eu
deixei a esperança de um positivo me preencher, mas…
— Eu realmente entendo, Emma. Quer uma água, antes da gente seguir para a consulta
ou podemos…
— Não, estou bem, vamos para a consulta.
Natalie me conduziu para o banheiro para que eu trocasse de roupa e colocasse o
avental hospitalar e, assim que estava devidamente vestida, me sentei na mesa ginecológica.
— Me dê um breve histórico ginecológico seu, Emma. Desde quando menstrua? Como
são seus ciclos? Suas dores… essas coisas.
— Eu menstruei pela primeira vez aos treze anos, então há quase quinze anos atrás.
Meus ciclos nunca foram muito regulados, cólica e dor nos seios e nas costas eram comuns, nada
absurdo, mas sentia dores. Em um mês específico, minha mãe me levou na ginecologista, ela fez
uma consulta padrão e me deu algumas dicas de como lidar com as dores. Logo depois de perder
meus pais, eu perdi também a minha virgindade, como não tinha mais minha mãe para me
aconselhar ou qualquer coisa desse tipo, eu voltei em uma ginecologista logo que cheguei em
NY, ela fez uma consulta ginecológica e então me receitou um anticoncepcional. Confesso que
faz tempo que não venho a uma ginecologista.
— Primeiro, consulta de rotina pelo menos uma vez por ano, ok? Então, você toma
anticoncepcional? E nessa consulta que você foi essa ginecologista não fez nenhum exame mais
aprofundado, ultrassom, exame de sangue? Ela apenas fez um exame clínico?
— Isso mesmo.
— Ok, vamos lá então, deite-se e coloque os pés nos estribos. Já que faz tempo que não
vai à uma consulta, farei o protocolo completo para que eu tenha o seu quadro como um todo:
ultrassom, Papanicolau, exame especular, exame clínico das mamas e pedirei para colherem mais
sangue para que possamos fazer exames hormonais e, assim, checar se tudo está certo, ok?
— Tudo bem, e esses exames hormonais já servem como um indicativo de como meu
corpo está, preparado ou não, para uma gravidez próxima?
— Sim, tudo isso nos dará uma visão completa do seu sistema reprodutor e nos
permitirá identificar qualquer necessidade ou dificuldade, ou qualquer coisa nesse sentido, do seu
corpo. — Ela iniciou pelo exame clínico e o especular e seguiu com o Papanicolau. As
maravilhas de ser uma mulher e ter que passar por isso. — Por aqui, tudo certo, nada de anormal,
tudo em perfeito estado. Vou mandar as amostras colhidas, junto com o sangue que vamos
colher, para o laboratório e, assim que tiver o resultado de tudo, eu te encaminho ou te chamo
aqui caso identifique alguma anormalidade. Vou colher seu sangue logo e então faço o exame
das mamas e o ultrassom.
A enfermeira retornou ao consultório e retirou mais alguns tubos do meu sangue, pegou
o encaminhamento de todos os exames que Natalie precisava e, assim, seguimos com a consulta.
— Primeiro o exame das mamas, abaixe o avental, por favor. — Fiz o que me pediu,
deixando que ela me examinassee, apertando os meus seios e me fazendo segurar gemidos diante
das dores — Você notou algo visivelmente diferente?
— Estão maiores, inchados e extremamente sensíveis. Nunca estiveram assim antes,
mesmo nos meses em que eu estava com dor, nunca foi assim.
— Você costuma fazer autoexame e massagem?
— Faço desde sempre, no banho, nunca notei nada. E, desde sempre, minha mãe me
ensinou uma massagem para aliviar as dores menstruais, eu venho fazendo nessas últimas
semanas.
— Sempre no banho? — Fiquei desconfiada com sua insistência.
— Sim, por quê? Algo está errado nisso?
— Não, inicialmente não. Eu só estou com uma suspeita, algo que eu nunca presenciei,
mas já li sobre.
— Você está me assustando.
— Calma, Emma, se eu confirmar minhas suspeitas, não é uma coisa ruim, nem mesmo
de longe. — Ela sorriu.
Ainda a encarava com olhos desconfiados, mas ela começou a realmente me examinar.
Apalpava a polpa dos seios, averiguando o peso, reparava a aparência das aréolas e dos mamilos
e eu gemia com a sensação devido à extrema sensibilidade.
— Reparou se você teve uma pigmentação da aréola? — Olhei para baixo e analisando
bem, ela estava correta.
— Agora que pontuou isso, sim, parecem mais escuras. — Ela sorriu ainda mais.
— Sei que está dolorido e sensível, mas vou precisar realmente apalpar e massagear,
ok? — Concordei, mas quando ela efetivamente fez, eu precisei fechar os olhos tentando
controlar a dor que estava sentindo. Sentia Natalie apalpar e apertar, duas, três, sete vezes, até
que… — Sabia! Minhas suspeitas estavam corretas. — Ela exclamou com empolgação e eu abri
os olhos.
— O que foi? Algum problema?
— Como fazia massagem sempre debaixo d’água você não reparou nisso. Sua dor nos
seios é por conta disso, Emma, você está lactando.
— Lactando? Isso é possível?
— Sim, existem estudos que comprovam a possibilidade de mães não gestantes, como
você, de amamentarem.
— Como isso é possível?
— A amamentação está ligada ao hormônio ocitocina, que é conhecido como o
hormônio do amor. Ele é essencial para a liberação de leite pelas glândulas mamárias, promovem
a contração delas e a ejeção do leite, além de causar profunda sensação de prazer materno. —
Natalie ainda estimulava o seio para notar a ejeção de leite — O interessante é que a liberação do
hormônio não está ligada apenas à estimulação da boca do bebê ao seio da mãe, mas também
pelo olfato, pela visão. Sentir o cheiro do bebê ou de algo relacionado a ele, visualizar um
pertence do bebê, tudo isso leva informações ao cérebro que acabam por estimular a produção e
a liberação do hormônio.
— Mas… desculpa, é muito para assimilar.
— Eu sei que é, mas olhe aqui. — Chamou minha atenção para meu seio — Eu estou
estimulando o seu seio e você tem leite gotejando.
— Isso significa que eu poderei amamentar Daniel?
— Para uma mulher, como você, que não passou por toda a revolução hormonal que
uma gravidez provoca ao corpo, a amamentação é possível, sim, de maneira induzida. O estímulo
repetido do bebê ao sugar o seio, ajuda a mandar uma mensagem para a hipófise no cérebro,
mostrando a ele a necessidade de começar a produzir o leite, assim o corpo da mulher começa a
produzir hormônios. No seu caso, você já está tendo a produção do leite, eu te aconselho a
manipular seu seio, estimular através da ordenha, com as mãos ou com uma bombinha de tirar
leite. Quanto mais você estimular, mais você produzirá, sendo possível que até Daniel nascer
você tenha uma produção suficiente para amamentá-lo, talvez até mesmo sem complementação.
— E como eu faria isso? Com que frequência?
— Um bebê mama, em média, de três em três horas, então, compre uma bombinha de
leite e estimule os seus seios com ela por cerca de vinte a trinta minutos, nesse intervalo de
tempo. Seu corpo vai compreender que precisa aumentar esse suprimento que você já tem então
sua produção aumentará, pois na teoria você tem um bebê ali se alimentando.
Minha ficha pareceu começar a cair. Meus olhos estavam cada vez mais nublados,
enquanto Natalie voltava com o avental para o lugar, tapando meus seios novamente.
— Eu vou poder amamentar meu filho? Mesmo não tendo sido eu a gerá-lo?
— Sim, Emma, mesmo sem estímulo algum, apenas com a consciência de que você é
mãe, internalizar esse fato, cuidar do quarto, comprar roupas, sentir aquele cheirinho delas,
passar a mão na barriga da Courtney, conversar com Daniel, tudo isso já possibilitou que você,
pelo menos, iniciasse o processo de lactação. Se você estimular, tenho plena confiança de que
você conseguirá amamentar. Se isso será exclusivo ou se dependerá de complementação, vai
depender do seu suprimento de leite.
— Eu… eu estou chocada, emocionada, acho que ainda não consegui assimilar essa
informação.
— Vamos com calma, comece com a estimulação do jeito que te expliquei. Nós duas
vamos conversar sobre isso no decorrer das próximas semanas, enquanto você vai internalizando
essa informação.
Conversei mais um pouco com ela a respeito disso, até que me pediu para que eu me
fosse para a sala ao lado, com o aparelho de ultrassom.
— Prometo que essa é a última coisa do dia e então te libero.
Me deitei na maca e ela passou o gel condutor na minha barriga, posicionando o
aparelho. Ela movimentava de um lado para o outro, averiguava os ovários, as trompas, me
dizendo que estava tudo normal. Quando passou para o meu útero, reparei que franziu as
sobrancelhas, formando um grande vinco entre elas, pressionando o aparelho parecendo querer
uma imagem mais precisa.
— Tudo certo? ‒ Questionei.
— Eu não queria, Emma, mas vou trocar o tipo de ultrassom para a ultrassom
transvaginal, quero me certificar de algo.
Apenas suspiro enquanto ela preparava o novo aparelho, encapando-o com uma
camisinha. Ela voltou a analisar as imagens na tela, porém o vinco na sua testa não cedeu,
inclusive parecia ainda mais marcado.
— Natalie, você está me assustando, tem algo de errado? —Não sabia o que iria sair da
sua boca, mas, pela maneira piedosa que a médica me olhava, sabia que não era coisa boa. —
Anda Natalie, o que foi que você viu? Tem algo errado no meu útero?
— Vamos precisar de um exame mais claro e mais específico, com imagens mais
precisas para que eu efetivamente confirme o que vi aqui.
— E o que você viu? Para de me enrolar, por favor, diga de uma vez.
— Você tem uma malformação uterina, Emma.
— E isso significa o que? Que eu não posso engravidar? É isso?
— Vamos por partes, ok? Aqui na clínica temos um aparelho de ultrassonografia 3D, a
imagem desse exame é infinitamente mais nítida do que esses aparelhos que usei em você até
então. Nós faremos novamente essa checagem, com esse novo aparelho dessa vez, e então te
darei uma resposta, ok?
Fizemos todo o trâmite de mudança de consultórios até chegarmos à nova sala de
exames. Natalie fez todo o procedimento novamente e o maldito vinco não saía de sua testa,
junto à expressão compadecida estampada em seu rosto.
— Confirmou, não é? Eu tenho mesmo essa malformação e não posso engravidar, não
é isso? Fala, Natalie. — Me desesperei.
— É isso mesmo, Emma, infelizmente. Podemos proceder a uma ressonância
magnética para confirmar, mas a ultra 3D já é bem precisa no diagnóstico.
Eu desabei por completo, levando as duas mãos aos olhos, me debulhando em
lágrimas. Natalie largou o aparelho, e talvez extrapolasse a distância médica/paciente, mas me
abraçou em uma tentativa de me confortar.
— Sinto muito, Emma, de verdade.
— Eu não poderei engravidar nunca, então? É isso? ‒ Parei de chorar tão
efusivamente.
— Ter uma malformação uterina significa que há uma considerável diminuição nas
chances de uma gravidez evoluir até o final, sendo extremamente possível que ocorram abortos
de repetição, partos prematuros, restrição de crescimento fetal, apresentações anômalas, pré-
eclâmpsia. Seria uma gravidez de completo alto risco, tanto para você quanto para o feto.
— Por que isso? Existe alguma explicação? — Natalie se sentou na cadeira ao meu
lado.
— Essas malformações podem ter diversas causas, desde fatores genéticos a fatores
externos. Elas estão presentes em 20 a 30% das mulheres, em uma porcentagem estimada, visto
que muitas mulheres assim como você, são assintomáticas. Você apenas descobriu sua condição
agora por nós termos feitos esses exames ginecológicos específicos. Poderia descobrir apenas
quando tentasse realmente engravidar e notássemos alguma consequência, tanto para você ou
para o seu possível bebê.
— Fatores genéticos? Minha mãe... — Me lembro do passado — Minha mãe tinha algo
no útero, ela teve problemas para engravidar. Pode ter sido isso também? — A médica
concordou — Não existe uma ínfima chance de eu engravidar? — Sentia meu rosto molhado por
minhas lágrimas.
— Como eu disse, as consequências e dificuldades variam de mulher para mulher, a
depender do grau da má formação. Não sei qual era a situação da sua mãe, mas no seu caso, eu
realmente não recomendo que você engravide, uma possível gravidez traria dificuldades tanto
para você quanto para o feto. A depender dos desdobramentos de tudo, posso dizer que existe
uma possibilidade de um intenso sofrimento fetal e um alto risco de vida para você, isso caso
consiga segurar a gravidez até um estágio mais avançado, o que seria um caso extremo.
— Eu não sei o que pensar. — Confessei, ainda entre lágrimas.
— Vou imprimir todas as imagens dos exames, te entregar e guardar cópias comigo no
seu histórico médico. É muita coisa para assimilar, Emma. Com o tempo eu te explico tudo com
uma calma maior. Vamos voltar para o consultório, você troca de roupa e nós conversamos mais
um pouco. — Tomei um tempo para conseguir raciocinar direito, mas logo fiz o que pediu —
Emma, sei que é muito para absorver, a consulta foi intensa, te trouxe uma avalanche de
informações e notícias. Sei que nem tudo que te disse era necessariamente bom, nem ao menos o
que esperava ouvir, mas posso te dar um conselho, talvez extrapolando o limite médica/paciente,
mas de mulher para mulher?
— Sim, por favor.
— Sei o quanto a maioria das mulheres deseja passar pela experiência da gravidez, sei
que não é fácil ouvir que isso não é uma possibilidade. É uma informação pesada para absorver.
Te aconselho a conversar sobre isso com Benjamin, seja honesta com ele sobre isso, além de ser
algo que gera impacto na vida de vocês como casal, desabafar alivia as dores.
— Eu nem sei como contar algo assim para ele, Natalie. Eu vim até aqui achando que
voltaria com a notícia de que estava grávida e vou voltar para casa com o extremo oposto. Nunca
poderei engravidar.
— Não dá para esconder algo assim dele. E ele é seu marido, Emma, seu companheiro,
parceiro de vida. Ele precisa saber e você precisa se abrir e desabafar com ele. Ele é seu amigo
antes de tudo.
— Eu sei disso, vou conversar com ele, por mais que isso vá me destruir.
— Nem tudo hoje foi informação ruim, descobrimos também a sua lactação. Daniel
vem aí, Emma, seu bebê independente de qualquer coisa. Se você decidir por tentar amamentá-
lo, siga as instruções que te passei e, depois, em conjunto com o pediatra dele, averiguaremos a
necessidade ou não de haver uma complementação na alimentação dele.
— Isso seria de extrema importância para ele, não é?
— A lista dos benefícios do aleitamento materno é enorme. Então, sim, poder
amamentar o seu bebê adotivo é incrível, um verdadeiro milagre. Amamentar não é somente
colocar o bebê no seio e deixá-lo se alimentar, isso uma mamadeira faz sem maiores questões,
amamentar vai além disso, é proteger, é abraçar, é acolher. É amor.
Eu acenei em concordância, mas não tinha condições de fazer muito mais do que isso.
Tentei me concentrar apenas em não esquecer de respirar em meio a tanto ao choro que tinha
acabado mas ameaçava retornar.
— Você veio dirigindo para cá? A consulta demorou mais do que eu esperava e minha
agenda estava livre durante essa tarde. Eu te levo embora, pode ser? Amanhã, você ou
Benjamim, voltam aqui e buscam o carro de vocês.
Aceitei sua oferta e, então, saímos do consultório, passei meu endereço e Natalie
seguiu o caminho todo sem dizer nenhuma palavra, deixando com que eu tentasse lidar com
meus próprios pensamentos. Apenas falou comigo quando estacionou na minha porta.
— Emma... sei que vai doer, sei que está doendo, na verdade, mas conversa com
Benjamin. Ele está ali para você, ele vai dividir o peso disso com você. Ter seu parceiro te
apoiando e te sustentando quando necessário faz parte do relacionamento. Qualquer coisa me
liga, ok? Vocês tem meu celular, eu os considero como amigos, estou aqui se precisarem de
mim.
— Obrigada Natalie, por tudo.
Me despedi dela e segui para a portaria. Achava que tivesse ouvido o porteiro falar algo
sobre minha governanta já ter ido embora, mas nada fiz ou falei, nem mesmo aceno para o
senhor, apenas segui para o elevador.
Queria minha casa, queria o abraço protetor do meu marido, queria ouvi-lo dizer que
tudo iria ficar bem, queria explicar tudo para ele e pedir desculpas, pela mentira, mas por,
principalmente, não ser a mulher que ele esperava, que lhe daria um filho para que ele pudesse
acompanhar e curtir a gravidez como eu sei que sonhava.
Agora que estava sozinha, as lágrimas vieram com maior força, desciam impiedosas
por minhas bochechas quando me joguei no sofá, com as mãos no rosto e esvaziava o peito, aos
prantos. Minha cabeça estava fervilhando com tudo que aconteceu: a briga com Ben, a consulta
caótica, a possibilidade de amamentar Daniel, a impossibilidade de uma gravidez. Tudo isso em
um curto espaço de tempo, sem ninguém ao meu lado, pois, esperando uma notícia boa, eu não
quis companhia e quis fazer uma surpresa.
Mas e agora? O que seria do meu casamento? Como Ben iria reagir a todas essas
informações? Ele já expressou diversas vezes para mim o quanto ele queria me ver grávida para
poder curtir cada fase da gravidez, sentir o bebê mexer a qualquer hora, poder conversar com ele.
Tinha receio da reação dele, por mais que esse medo pudesse parecer infundado.
— Oi, meu amor. — Sheik notou minha presença e correu até mim, se jogando sobre
minhas pernas.
Ali, abraçada a ele, jogada no chão na beira do sofá, eu ficaria até que Ben chegasse em
casa e eu pudesse contar tudo, e lidar com a reação dele, independente de qual fosse.
Eu deveria saber que a vida me daria mais uma rasteira.
Capítulo 33 — Benjamin McKnight

Emma estava deitada no chão da sala, abraçada a Sheik como se sua vida dependesse
dele, e chorava copiosamente. Larguei as coisas que segurava em minhas mãos de qualquer
forma e corri até ela.
— Emma?
Ela levantou a cabeça e me estendeu os braços enquanto intensificava ainda mais o
choro. Não pensei duas vezes antes de puxá-la para cima e agarrá-la em um abraço apertado,
ouvindo o choro dela ficar cada vez mais alto, cada vez mais dolorido. Segurava ela contra mim
tentando analisar seu corpo em busca de qualquer machucado ou qualquer vestígio de qualquer
coisa.
Apertei seu corpo contra o meu, enquanto ela ainda chorava com toda força que parecia
ter dentro daquele pequeno corpo, me fazendo sentir o seu peito chacoalhando em contato com o
meu. Passei a mão por suas costas tentando fazer com que se acalmasse, ao mesmo tempo em
que sentia meu próprio corpo ser tomado por um tremendo desespero, como jamais senti, por ver
minha mulher tão frágil dessa maneira.
Enrosquei suas pernas na minha cintura e apertando-a ainda mais contra mim. Meu corpo
reagiu, simpatizando com a dor dela mesmo sem saber o que estava acontecendo. Estava doendo
em mim vê-la desse jeito, ruindo em tamanha vulnerabilidade.
— Linda, pelo amor de Deus, me fala o que aconteceu. — Ela negou, chorando ainda
mais — Por favor, meu amor, me diz o que está acontecendo.
— Me perdoa, me perdoa. Não posso ser a mulher que você sonhou, não vou poder te
dar o que você mais quer. — Ela soluçava tanta que tive dificuldade para entender.
— Do que você está falando? Você é o meu amor, a minha linda esposa, a mãe dos meus
bebês. — Mal terminei de falar e Emma gritou no meu ouvido chorando cada vez mais forte
enquanto negava com a cabeça.
— Eu não… não posso ser essa pessoa. Eu não posso. Eu sou uma pedra infrutífera.
— Meu amor, se acalme, eu não estou entendendo nada. — Ela permaneceu agarrada a
mim, mas aos poucos o choro foi cessando e, assim que ela aparentou estar mais calma, afastei
seu rosto do meu pescoço, ainda a mantendo sentada no meu colo, para que conseguisse olhar em
seus olhos — Acalmou um pouco? Me explica que história é essa de você não poder ser o meu
amor? — Pedi, notando os lábios dela tremendo anunciando um princípio de choro outra vez,
mas ela respirou fundo e tentou se acalmar antes de falar.
— Me perdoa, Benjamin, eu não sou quem você pensou que eu era, na verdade, não sou
quem eu pensei que era. Eu não posso te dar o que você mais me deseja. Está me doendo, está
me cortando por dentro dizer isso em voz alta, mas eu não posso, não posso. — Ela falava com
rapidez, com sofrimento, demonstrando tantas coisas na maneira como estava atordoada.
— O que você não pode me dar, meu amor? Eu já tenho tudo que eu mais quero nessa
vida. Você e Daniel.
— Não, você quer mais. Você já me disse querer mais e não posso te dar, agora ou
depois, não posso, não presto nem para isso.
— Linda, se acalme, o que você não pode me dar?
— Um bebê, Ben. — Me respondeu parecendo sentir dor ao pronunciar essas palavras —
Não posso te dar, nunca vou poder. Sendo casado comigo, você nunca vai ver sua esposa
grávida, não vai realizar seu sonho de acompanhar uma gravidez como queria. Eu não posso, eu
não vou poder te dar isso. — Ela chorava amarguradamente e apoiava a cabeça no meu ombro,
me apertando em um abraço, que eu retribuí, ainda que não raciocinasse direito — Eu devia
saber que alguma coisa ainda ia acontecer, eu devia saber que eu não posso ser plenamente feliz,
eu devia te deixar para que encontre alguém melhor do que eu. Mas eu te amo tanto que não
consigo fazer isso. Não quero te decepcionar por não ser quem você merece.
Do que diabos ela estava falando? Devia me deixar para que eu encontrasse alguém
melhor do que ela? Que história era essa? Que porra estava acontecendo? Não podíamos ser dois
desesperados tentando conversar. Eu não iria conseguir compreendê-la se deixasse que as coisas
que gritasse em meio a esse surto me atingissem. Precisava me manter calmo e tentar entender.
— Me explica isso direito.
— Vou explicar, te devo isso.
— Você não me deve nada, Emma.
— Eu comentei com você que eu estava sentindo dores nos seios, se lembra? Além disso,
eu estava sentindo dor no pé da barriga e vomitei algumas vezes. Quando Courtney apareceu na
empresa ontem e começou a falar sobre as dores que ela sentia desde o início da gravidez, eu me
identifiquei e foi por isso que eu paralisei e ela percebeu. Eu comecei a suspeitar que as minhas
dores fossem sintomas de uma gravidez.
— E não são? Emma, se você não estiver grávida agora, nós podemos… — Ela me
interrompeu colocando o dedo nos meus lábios, me impedindo de continuar.
— Não complete essa frase, por favor. Eu não posso.
— Não pode o que?
— Engravidar. — Abri e fechei a boca, sem palavras a dizer — Eu tinha marcado uma
consulta com a Natalie quando ainda achava que eram apenas dores menstruais e, quando
suspeitei de uma gravidez, deixei para descobrir no consultório. Eu menti para você, me
desculpe, eu não fui encontrar Hannah, fui à clínica me consultar com Natalie.
— Por que não me contou? — Não queria brigar, apenas queria entender por que ela não
conversou sobre isso comigo.
— Eu guardei minhas suspeitas para mim, por isso estava estranha com você desde
ontem, não queria deixar escapar nenhuma dica. Eu queria... — Ela voltou a chorar — Tudo que
eu mais queria desde que começamos a pensar em outros filhos, era organizar um jeito lindo de
te contar que você seria pai novamente. Eu já sabia exatamente como faria. Mas isso nunca vai
poder acontecer. Eu queria te surpreender, por isso menti, mas eu estraguei tudo e, agora, além
de não ter surpresa nenhuma, nunca terá. — Mantive minhas mãos acariciando suas costas
enquanto desabafava.
— O que aconteceu na consulta? — O choro se intensificou por um momento, mas ela se
recuperou.
— Eu falei da minha suspeita e fiz um exame de gravidez e deu negativo. Com o
negativo em mãos, ela aproveitou que eu já estava lá para me consultar por completo e investigar
minhas dores.
— E descobriu o porquê?
— Sim, a dor nos seios é porque eu estou lactando. Meu corpo parece entender que
temos um bebê chegando e está estimulando meu cérebro a liberar o hormônio responsável pela
produção de leite. Eu… eu, provavelmente, vou conseguir amamentar Daniel.
Desde que cheguei em casa e me deparei com tudo isso acontecendo, essa foi primeira
vez que percebi um brilho no olhar dela que, até agora, estavam apagados, opacos, sem vida.
— Isso é incrível, meu amor. — Disse, realmente extasiado por ela — Você é incrível.
— Eu não sou, Ben. Natalie continuou com os exames ginecológicos de praxe e quando
fez um ultrassom, ela… ela confirmou algo.
— Confirmou o que, minha linda?
— Eu tenho uma malformação uterina, Ben. — Sua voz estava absurdamente
embargada, seu corpo tenso sobre meu colo.
— E o que isso significa? — Em meio às lágrimas, ela me respondeu.
— Isso significa que eu não posso engravidar, nunca vou poder. Significa que caso eu
engravide, eu posso colocar a vida do bebê em risco e a minha própria também, isso se em um
caso extremo eu conseguir segurar a gravidez. — Ela suspirou deixando que as lágrimas corram
mais rapidamente — Isso significa que você tem uma esposa incapaz de realizar o seu sonho de
ser pai, de acompanhar uma gravidez.
— Amor…
— Eu te amo tanto, Benjamin, você foi a melhor coisa que já me aconteceu, mas eu vou
entender se quiser me deixar para encontrar alguém que possa realizar seu sonho. Vai doer feito
o inferno, mas eu vou entender que eu não te mereço.
Ela me abraçou novamente em uma nova crise choro e eu apenas a apertei contra mim,
deixando que ela colocasse tudo isso para fora e apenas quando senti que se acalmou, afastei o
rosto dela e segurando-o com ambas as mãos.
— Escute bem o que eu vou te falar. — Fiz com que ela encarasse meus olhos — Nunca
haverá ninguém mais para mim, porque você é o amor da minha vida, é você quem eu amo, é
você quem eu escolhi para ser minha parceira, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, nas
felicidades e nas dores. Eu nunca vou me afastar de você por qualquer motivo que seja,
principalmente por algo como isso.
— Eu não vou poder te fazer pai, Ben. — Ela ainda tentava se penalizar de alguma
maneira, mas não iria deixar que fizesse isso, não ia deixar que assumisse culpa por algo que não
tinha controle.
— Eu já sou pai, meu amor, você já é mãe, independente de uma gravidez.
— Mas...mas…
— Mas o que? Mas e a minha vontade de te ver grávida?
— Seu sonho.
— Não é meu sonho, era uma vontade. As vontades são superestimadas, elas surgem e
passam com efemeridade, os sonhos não. Meu sonho eu já realizei, meu amor, você e Daniel.
Vocês são o meu sonho realizado, a minha família. Tudo que vier a mais disso, vem para
acrescentar e não para modificar o que eu já conquistei. Vocês são a minha vida, Emma. — Ela
me abraçou mais uma vez, apertando meu pescoço e murmurando no meu ouvido.
— É culpa minha, malformação do meu corpo, não vou servir para ser mãe. Como vou
poder ser mãe do Danny se a coisa que me faria capaz, que a natureza projetou, que é gerar um
novo ser, eu não posso fazer? — Afastei o rosto dela para olhar em seus olhos novamente.
— Meu amor, você normalmente é a pessoa mais sensata e correta que conheço, mas está
tão errada dessa vez. Não é preciso gerar para ser mãe. E as mães adotivas? E as mães de
consideração? E as mães biológicas que não podem engravidar e recorrem à barriga de aluguel?
E as madrastas? E as tias e avós que cuidam e amam como mães? São todas mães, independentes
de laços biológicos ou não, independente da idade, independente da forma como se deu a
maternidade. São todas mães.
Ela tinha um arremedo de sorriso nos lábios e eu começava a me sentir melhor por vê-la
mais calma, mesmo diante das circunstâncias e recentes descobertas, então, continuei a falar.
— Danny é um menino tão especial que ele encontrou a melhor mãe possível para ele.
Uma mãe que, apesar de não ter o gerado, desafiou a natureza, desafiou as porcentagens
médicas. Ele encontrou uma mãe tão incrível que a não existência de laços biológicos não alterou
em nada o amor dela por ele. Ele encontrou uma mãe tão, mas tão foda, que ela vai amamentá-lo
mesmo sem o seu corpo ter passado por toda a confusão de hormônios de uma gestação. —
Beijei seus lábios rapidamente — Nunca duvide da sua maternidade. Você é a mãe dele e será
mãe de todos os outros filhos que resolvermos ter, independente da forma que eles vão chegar
até a gente. — Ela me beijou dessa vez.
— Eu amo você, mais do que tudo. Me desculpe pelo que disse, eu não quero que se
separe de mim e eu sou sim a mãe dele. Não quis desmerecer a nossa relação, a minha
maternidade ou a de ninguém, eu só estou… atordoada e triste com tudo que ouvi de Natalie.
— Eu entendo, é muita informação para assimilar, eu mesmo ainda estou um pouco
confuso com tudo que me disse.
— Mas me sinto mais leve por ter dividido com você. Ainda dói, dói muito, e não sei se
um dia vai parar de doer, mas dividir com você tornou tudo mais suportável.
— Eu amo você, Emma, toda você, com sua força e com suas vulnerabilidades e estou
aqui para você. Me desculpe por ter sido grosseiro hoje, não queria te fazer chorar ou te magoar,
apenas estava com raiva pois notei que estava me escondendo algo. Meu passado fodido me
cobra meios de me proteger de uma possível decepção e acabo falando merda.
— Me desculpe também, eu só escondi a minha suspeita e menti pois queria te
surpreender, apenas por isso. Eu amo você, Ben, e mentir para você, ainda que eu tivesse boas
intenções, me fez mal, não quero ter segredos com você.
— Está tudo bem, agora passou, você está segura em meus braços e eu posso me acalmar
por saber tudo que está acontecendo e saber que está bem.
— Sei que nós somos duas pessoas quebradas e com questões internas que nos fazem
agir de um jeito ou de outro. Eu sei que tem os seus traumas, sei que tem seus medos, eu também
tenho os meus. Só não podemos deixar que eles ultrapassem o que sentimos um pelo outro.
— Não deixaremos, amor, eu prometo isso a você. Mas, agora, quero ficar aqui com
você e te amar só para mim um pouco enquanto você me conta os detalhes dessa questão da
amamentação. — Ela me olhou emocionada.
— Obrigada por fazer as coisas difíceis se tornarem mais leves para mim.
— Sou seu parceiro, seu companheiro. Lembra dos nossos votos de casamento? Eu os
levo a sério.
Emma me beijou antes de se acomodar contra meu corpo, praticamente se fundindo a
mim, aproveitando meu carinho nas suas costas e nos seus cabelos, em um movimento contínuo,
enquanto acalmava o meu próprio coração, tentando assimilar tudo que me disse, ouvindo-a me
contar os detalhes do processo de amamentação, ordenha, estímulo e tudo mais.
Por mais importante que isso seria para Danny, seria ainda mais para ela, seria mágico.
Já que ela não poderia engravidar e passar por isso novamente, faria o que fosse possível para
que essa fase fosse fascinante para ela.
Permaneci ali agarrado a ela no sofá, massageando seus cabelos, sentindo algumas
lágrimas restantes escaparem pelos cantos dos seus olhos. Isso fez com que eu me emocionasse
pensando em tudo que ela me disse. Senti meus olhos arderem, mas me controlei, secando as
minhas lágrimas para que ela não percebesse, não queria que, ainda por cima, se sentisse mal por
ter me feito chorar.
Sei que apesar da notícia ruim, a amamentação trouxe um acalento para ela e,
consequentemente, para mim também, inclusive, já fiz uma nota mental de sairmos amanhã
mesmo para comprar a tal bombinha que ela me falou e auxiliá-la na ordenha.

— Comeu alguma coisa? — Perguntei depois de um tempo.


— Natalie me fez comer um sanduíche assim que eu cheguei.
— Demorou muito lá?
— Sim, ela fez vários exames e ainda fiz outros que o resultado demora mais para sair,
mas esses só são de rotina mesmo. Você comeu?
— Comi um sanduíche também, mas estou com fome de novo, você também?
— Não muito.
— Não pode ficar sem comer, linda. O que acha de descontarmos tudo na comida hoje?
Aquelas comidas gostosas e gordurosas. Você escolhe.
— Hambúrguer, batata frita e refrigerante? Com direito à sobremesa? — Beijei o nariz
dela.
— Fechado, mas antes de fazer o pedido, precisamos de um banho, nós dois, relaxar um
pouquinho mais na banheira quente. — Me levantei com ela no meu colo sorrindo indo em
direção ao quarto.
— Eu posso andar, sabia?
— Nesse momento, isso não me interessa, gosto de você pertinho assim.
Quando cheguei com ela no banheiro da suíte, coloquei a banheira para encher. Peguei
seu rosto em minhas mãos, me aproximando e depositando beijos carinhosos por todo ele. Na
testa, nas têmporas, na ponta do nariz, no queixo e, vendo a emoção em seus olhos, um em cada
uma de suas pálpebras.
— Eu amo você, Emma McKnight, independente de qualquer coisa. — Beijei sua boca,
em um beijo que demonstrava apenas amor e carinho, não queria que parecesse nada sexual no
momento.
Comecei a despi-la, novamente em gestos carinhosos e não sexuais. Retirei sua saia e a
blusa, deixando-a apenas de lingerie, repeti o gesto com as minhas próprias roupas e sapatos,
permanecendo apenas com a boxer e, então puxei minha esposa para beirada da banheira,
retirando o sutiã e libertando os seios.
— Estão doendo ainda?
— Sim, Natalie disse que esse início iria ser mais complicado, mas que com o estímulo
constante e a ordenha, eles vão ficar mais calejados e que quando o leite realmente descer, eu
posso até ter febre e sentir os seios duros e quentes. Ela disse que vai depender desse processo
todo a possibilidade de eu amamentar ele exclusivamente no seio ou se vamos precisar
complementar, vamos ter que conversar com o pediatra dele quando ele nascer.
— Entendi, eles estão visivelmente maiores, é incrível isso. — Sorri encantado para ela.
— Quando Natalie foi fazer o exame clínico ela me perguntou se eu fazia algo para
aliviar as dores, e eu contei sobre uma massagem que minha mãe me ensinou a fazer para reduzir
as dores menstruais e que eu sempre faço no banho. Ela suspeitou que pudesse ser lactação, mas
que eu provavelmente não percebia isso, o leite começando a gotejar…
— Por conta do banho.
— Sim, ela ficou conversando comigo sobre essa suspeita dela enquanto me apertava
sem parar. Eu achei que ela estivesse me examinando, mas ela estava estimulando, quando olhei
para baixo eu vi o leite escorrer.
— Como se sentiu? ‒ Não deixei de sorrir quando a vi fazendo o mesmo.
— Me senti plena, realizada, emocionada, não sei te explicar.
—Amanhã vamos comprar a tal bombinha.
— Ela me explicou tudo, tem um jeito e um intervalo corretos para isso.
— Posso te ajudar, se precisar, é só me ensinar, e eu vou atrás de livros e artigos sobre
amamentação. Eu não pesquisei nada sobre isso, pois, na minha cabeça, não se encaixaria no
nosso caso, mas, Danny tem uma mãe incrível que fará isso por ele.
Retirei o restante das nossas roupas, despejei os sais de banho na água e nos
acomodamos dentro, comigo encostado em uma das paredes da banheira e trazendo ela para os
meus braços depois de acionar o mecanismo de hidromassagem.
Beijei seu pescoço, mantendo seu corpo junto ao meu, alisando seus braços enquanto ela
descansava a cabeça no meu peito e eu recostava a minha na dela. Percebi a mente dela indo para
longe e as pálpebras fechadas parecerem trêmulas indicando um choro próximo, então tentei
distrai-la, alcançando o seu óleo de corpo e sua esponja, passando pelo seu corpo. Passei pelos
braços, desci para as coxas e até onde alcançava sem precisar me desencostar, voltei para sua
barriga, pulei os seios e vim para as laterais de seu pescoço.
Continuei a descer a esponja para o vão entre os seios e reparei nos mamilos dela
espreitando pela borda da água, percebendo que eles realmente estavam maiores e mais inchados
que o normal, mais salientes. Deixei a esponja de lado para passar as minhas mãos por seu corpo,
lambuzadas do mesmo óleo, direcionando-as aos seus seios.
— Posso, meu amor? — Ela concordou sem nem mesmo desencostar a cabeça do meu
peito.
Puxei Emma um pouco para cima, deixando o nível da água na sua barriga, com os seios
para fora. Posicionei uma mão em cada um deles, massageando levemente, pois sei que ainda
estão doloridos e extremamente sensíveis, mantendo um movimento constante, de moção
circular por toda a polpa do seio, mas quando intensifiquei um pouco mais a pressão do aperto,
ela gemeu.
— Te machuquei?
— Não, ainda está mais fraco do que o que Natalie fez comigo.
Continuei minha massagem e, com seu aval, pressionei ainda mais forte, mudando o meu
movimento para um de cima para baixo, saindo do colo, no topo alvo dos seios, seguindo em
direção aos mamilos. Com o nível baixo da água, conseguia perceber o líquido esbranquiçado
espreitando no bico do seio dela, me fazendo sorrir largamente e me estimulando a continuar
com o que fazia, sem desgrudar os olhos do que, para mim, parecia um perfeito fenômeno. Notei
que a cada vez que subia e descia a mão pressionando era quando a quantidade expelida
aumentava, até que juntei uma boa quantidade, quase cobrindo as auréolas e começando a
escorrer.
— Amor, tem leite escorrendo mesmo. — Emma olhou para o próprio seio, levando uma
das mãos para recolher o líquido, que logo pingou na água.
— Por que está chorando? — Ela virou o rosto para me encarar.
— Estou? — Passei a mão pelo rosto e constatei que realmente tinha lágrimas
escorrendo — Eu só estou tocado, é magnífico assistir isso. Já seria uma experiência incrível
assistir se tivesse passado pela gravidez, mas o fato de não ter e ainda assim isso acontecer é
simplesmente espetacular.
O sorriso que ela me deu em resposta acalmou todos os meus nervos que ainda estavam
tensos. Era um sorriso largo, contente e orgulhoso ao mesmo tempo, mesmo que ainda tivesse
certa melancolia por trás.
— Sei que tudo que aconteceu hoje e toda a conversa com Natalie, mexeu com sua
cabeça, e não tiro nem um pouco da razão, mas, olhe para isso, meu amor. — Apontei para seus
seios — Se isso não é o poder de um amor de mãe, eu não sei o que é. Existem mães biológicas
que não se dispõem a tamanho altruísmo para um bebê, seja lá o motivo que for, a minha mãe
mesmo, por exemplo, é biológica e nada do que ela tenha feito enquanto presente na minha vida
me demonstrou mais amor do que essa cena. Isso aqui é amor, do tipo mais puro. O amor de mãe
que eu nunca tive, mas sempre quis, e que meu filho terá em abundância. — Ela se emocionou,
até que fomos obrigados a trocar a emoção pelo riso quando seu estômago roncou,
interrompendo meu discurso —Vem, vamos terminar esse banho e sair daqui pra alimentar esse
monstro faminto que habita em você.
Terminamos o banho e logo estávamos vestidos outra vez. Eu com apenas uma calça
confortável de moletom e ela com uma das minhas camisetas e uma das minhas boxers. Quando
me olhou, me encontrou sorrindo com a sobrancelha levantada.
— Ah, não me olha assim, é bem mais confortável.
— Já disse que amo ver você vestindo minhas roupas?
— Já, mas agora eu vou correr lá na sala e buscar seu telefone para pedirmos as comidas,
estou com fome. — Me beijou rapidamente e saiu em direção à sala, afagando Sheik, que estava
deitado em sua cama, e pedindo desculpas a ele pelo susto que lhe deu quando chegou chorando
em casa. Pretendia voltar ao banheiro para pendurar as toalhas e esvaziar a banheira quando
escutei Emma gritar.
Saí correndo em disparada atrás dela pensando no que diabos aconteceu dessa vez.
Cheguei rapidamente até a sala e a encontrei pálida e com a mão no peito.
— Emma, o que aconteceu?
— A medusa tomou um susto. — A voz inesperada me fez pular no lugar.
— AH, CARALHO. — Logo fechei a cara e eles riam, sim, porque claro que estavam
todos aqui.
— Assustado, McKnight? — Carl riu.
— O que vocês estão fazendo aqui, porra? Que susto dos infernos, bando de
assombrações.
— Chegamos aqui há alguns minutos, mas os dois bonitos estavam namorando no
banheiro. — Hannah provocou e Emma arregalou os olhos.
— Vocês foram até lá? — Ela perguntou, se recuperando do susto inicial de se deparar
com quatro malucos no escuro.
— Hannah tentou, mas o anticristo não deixou. — Nate respondeu.
— Ótimo, Sheik vai ganhar petiscos extras, pelo menos ele é sensato. O que vocês estão
fazendo aqui? E sentados no escuro, ainda por cima. — Andei até o interruptor, mas Hannah me
impediu.
— Oh bonitão, sua mulher está vestindo apenas uma camiseta branca, se eu fosse você
não acenderia as luzes. — Emma correu para o quarto depois de dar um gritinho e aí sim eu
acendi as luzes e logo ela voltou usando um vestidinho simples e trazendo uma camiseta para
mim.
— Ben, acho melhor você trocar essa calça aí, está tudo bem… evidente. — Nick disse
com o cenho franzido em desconforto e os outros riam e então foi minha vez de revirar os olhos
e ir trocar de roupa.
— E então? O que estão fazendo aqui? — Questionei assim que retorno à sala.
— Bom, eu encontrei o ruivo e os outros dois na portaria quando estava chegando. Eu
vim atrás de você, bonitão. Quero saber qual a porra do seu problema para me ligar, não falar
nada com nada e desligar na minha cara. — Hannah me olhava com raiva.
— E nós viemos ver como você estava e se Emma tinha aparecido.
— Estávamos preocupados. — Nate completou a explicação de Carl.
— Eu estava curioso mesmo. — Nick disse e tomou um tapa de Nate — Ai! É
brincadeira, estava preocupado também.
— Então, o que aconteceu, bonitão? Porque me ligou perguntando se Emma estava
comigo e quando eu disse que não você surtou?
— Eu não surtei, Hannah. — Os três idiotas levantaram as sobrancelhas — Não tanto, eu
só fiquei preocupado por ela não estar onde disse que estaria. De qualquer forma, nós já
conversamos e está tudo certo. Desculpa ter te ligado daquela forma Hannah.
— Como que eles estão sabendo disso?
— Eles apareceram lá na empresa e viram o clima estranho e comentei com eles a minha
versão da história.
— Só isso? — Nate questionou.
— Todo um drama maluco por nada? — Carl continuou e eu respirei fundo olhando para
Emma que abaixou o rosto, claramente ela não querendo se explicar sobre o que aconteceu, e não
a culpava. Apesar de todos sermos muito amigos, a questão descoberta na consulta de Emma era
íntima e extremamente delicada para ela.
— Ah não. — Claro, faltou o rei do drama — Vocês não vão me deixar curiosos. Já disse
que tem uma velha fofoqueira que mora em mim, precisam alimentá-la. — Emma se retraiu e eu
precisei intervir.
— Nick, esquece, nós já conversamos e…
— Deixa, Ben, eu explico, eles só sabem que eu menti para você e sumi sem atender o
telefone, não quero essa fama.
— Você não tem que explicar nada, meu amor.
— Uma hora ou outra vamos acabar voltando em parte desse assunto e é melhor
esclarecer tudo de uma vez, assim eu não preciso ficar revivendo isso.
Acenei concordando, pois sabia que era verdade, já que todos ali sabiam que queríamos
mais filhos, que já tínhamos planos de uma gravidez próxima, e, quando percebessem que isso
não iria acontecer, poderiam ficar tocando nesse assunto e acabar machucando Emma ainda
mais.
— Eu... — Ela respirou fundo e me sentei ao lado dela segurando sua mão — Eu
suspeitei que estava grávida, por uma série de motivos, e marquei uma consulta com uma
ginecologista hoje, mas não queria falar para Ben pois queria surpreendê-lo com o positivo, por
isso disse que passaria a tarde com Hannah.
— Por isso te liguei, Hannah, achei que ela estivesse com você.
— Eu estava escondendo de Ben a possibilidade de estar grávida, e por conta disso nós
meio que discutimos, porque ele sabia que eu estava omitindo algo dele.
— Já conversamos sobre isso, linda, está tudo certo.
— Você está grávida, então? Sumiu para montar a surpresa pro McKnight? — Nick
questionou animado.
— É agora que o meu afilhado vem? — Nate continuou e Carl se impôs.
— Seu nada, Nathaniel, meu. — Percebi os olhos de Emma se encherem de lágrimas
novamente, via a dor neles, mas antes que pudesse brigar com os três, Hannah o fez, percebendo
o desconforto da amiga.
— Calem a porcaria da boca vocês três. Continue, amiga.
— Respondendo vocês, não, eu não estou grávida e... e... e nunca poderei estar. — Ela
tentou falar mas já se acometeu às lágrimas novamente.
— Linda…
Hannah nem esperou minha reação e não precisava saber o resto da história agora, ela só
queria confortar a amiga de alguma forma, então correu até ela, se juntando em um abraço
apertado enquanto as lágrimas escorrem do rosto dela, visivelmente compadecida pela dor da
amiga.
— Nunca? Como assim? — Nick questionou, ainda em dúvida.
— Nick, sente a vibe do ambiente, cala a porra da boca. — Carl repreendeu.
— Nunca, Nick. — Emma conseguiu dizer e me olhou fazendo um sinal para que eu
terminasse de explicar tudo.
— Ela descobriu que tem uma malformação uterina e, por conta disso não pode
engravidar, as chances são extremamente baixas de uma gravidez de sucesso e, além disso,
perigosas tanto para ela quanto para o possível bebê.
Hannah a apertava ainda mais, sussurrando palavras de conforto para ela enquanto os
três permanecem calados até que Nick se levantou e foi até Emma se ajoelhando perto dela.
— Eu sinto muito, medusa, de verdade, sei que vocês queriam isso, mas meus próximos
afilhados, sim, meus, porque vocês não vão dar para os outros dois, virão de outras maneiras. Eu
até deixo você usar seus poderes para fazer eu carregar o bebê de vocês, acho que eu ficaria
fabuloso grávido, você não acha? — Emma ria.
— Ficaria maravilhoso, valorizaria ainda mais os seus looks. — Ele piscou para ela.
— Sou gato de qualquer forma, bebê. — Ele ria com ela antes de voltar a se sentar, mas
olhou para mim e me deu um pequeno aceno. Notei o que ele fez, o que Nick fazia de melhor:
brincou, desviando os pensamentos de Emma.
— Enfim, depois disso eu vim para casa para esperar Ben chegar, acho que foi aí que ele
encontrou meu celular na minha mesa.
— Foi aí que ele surtou, na verdade. ‒ Nate disse e eu dei de ombros.
— Surtei mesmo, palhaço.
Já que já estavam aqui mesmo, fiz um pedido maior na hamburgueria. Conversamos
mais um pouco e enquanto aguardávamos a comida, deixei um beijo em Emma e fui com Nick
buscar umas cervejas para todos, distribuindo assim que voltamos, mas Emma recusou.
— Não posso. — Me lembrei da amamentação e que Natalie a alertou para cortar álcool
desde já, para que se acostumasse.
— Tinha esquecido, desculpe, vou guardar de volta.
— Não pode por quê? — Hannah perguntou — Espera, agora que parei para pensar,
nessas últimas semanas você reclamou de dor algumas vezes, resolveu?
— Isso tem a ver com o motivo de eu não poder beber. Um dos exames de rotina que
Natalie fez em mim era exame de mamas e por conta de certos… detalhes, ela notou que eu estou
lactando. Meu cérebro está associando que eu, de uma forma ou de outra, vou ter um filho logo e
está produzindo leite..
— Ah sério? — Hannah gritou empolgada — Você vai conseguir amamentar Danny?
Que incrível!
— É magnífico, não é?
— Isso é possível? — Nate franziu o cenho — Desculpe a curiosidade, Emma, eu só não
sabia que era possível amamentar sem ter estado grávida. Que interessante.
— Eu nunca ouvi falar disso também. — Carl concordou e Hannah, como médica,
explicava a eles como tudo isso era possível.
— Não digo que a medusa tem poderes? Olhem isso. Feiticeira. Bruxa.
— Obrigada pelos elogios, Nicholas. — Emma ria.
Deixei as garotas conversando baixinho sobre essa questão e quando o interfone tocou
alertando da chegada dos hambúrgueres, desci para buscar e os três vieram atrás de mim.
— Foi tudo certo com Emma, Ben? Foram notícias pesadas para ela. — Nate perguntou.
— Demais, assim que me deixou em casa, eu encontrei ela aos prantos agarrada a Sheik.
Achei que tivesse acontecido algo a ela, meu coração parou umas três vezes até que ela
conseguisse parar de chorar para me explicar tudo isso.
— E como você está se sentindo com essa história da impossibilidade de engravidar?
Sabemos que isso também era algo grande para você.
— Carl, eu estou bem, um pouco atordoado ainda, mas a questão maior é com Emma, ela
está muito abalada com a notícia. É complicado. Imagina você ir ao médico esperando descobrir
que está grávida, confirmando suas suspeitas, mas, na verdade, descobre que não só não está mas
também não poderá ficar. A cabeça dela está fervendo.
Eles compreendiam. Nem chegaram a sair do elevador, apenas eu fui até o lado de fora
buscar as sacolas e voltei para elevador com eles, quando Carl fez uma observação importante.
— Não sei se vocês tiveram tempo de pensar nisso ainda, mas, Ben, se ela corre risco
caso engravide, vocês tem que se cuidar em dobro para não deixar isso acontecer, pois mesmo
sabendo dos riscos, caso ela efetivamente chegue a engravidar, você sabe que ela não vai abrir
mão de tentar ter esse bebê, mesmo que isso signifique que ela talvez não sobreviva. — Senti um
arrepio percorrer meu corpo.
— Você tem completa razão, ela seguiria em frente com a gravidez, assumiria todos os
riscos. Vou conversar com ela sobre prevenção, quais opções temos, talvez eu faça uma
vasectomia, se for o caso, para que ela não tenha que ficar tomando anticoncepcional e nem eu
ser obrigado a usar camisinha toda vez que transarmos.
— Conversa com ela antes, não faça as coisas cegamente, deixe que ela participe das
decisões. — Nate alertou.
— Ela já deve saber, cara. — Nick resmungou — Ela e aquela loira maldita, que insiste
em dizer que é a melhor madrinha, já devem estar usando os poderes da medusa para bolar
planos. — Como não rir desse idiota?
Hannah e Nick continuavam nessa disputa pelo posto de padrinho preferido, competindo
pelos melhores presentes, melhores apelidos, melhores passeios, quem faria ele rir primeiro e por
aí mais, isso porque Danny ainda nem nasceu.
Comemos hambúrgueres enquanto assistimos um filme e, assim que tudo acabou e todos
foram embora, carreguei uma Emma sonolenta para cama, me deitando com ela e então
conversamos sobre o que os caras comentaram e a possibilidade de que eu me submetesse a uma
vasectomia. Ela me pediu para irmos com calma nesse assunto e quem sabe pedir opinião para
Natalie acerca do fato de Emma se manter ou não sob o uso de anticoncepcionais. Concordei
com essa conversa com a especialista, eu também precisava de algumas explicações mais
técnicas e sabia que a melhor pessoa para isso era justamente a médica.
Deixei de lado qualquer coisa, liguei a TV e coloquei na mesma série de sempre, para
relaxá-la e deixar que dormisse com tranquilidade a noite toda. O dia foi pesado e ela merecia
isso.
— Descanse, meu amor, o dia foi puxado e você está emocionalmente exausta. Dorme
bem, ok? Qualquer coisa estou aqui.
— Amo você!
— Também te amo, agora, boa noite.
Lhe dei um beijo e a acomodei no meu peito, mantendo um carinho suave em suas costas
até que ela adormeceu. Me preparei para dormir também, prometendo a mim mesmo que
cuidaria ainda mais dela agora.
Ela era minha vida, e vê-la sofrer, pelo motivo que fosse, acabava comigo também. Ela
não merecia nada além de felicidade, carinho e amor e era isso que sempre a daria.
Sempre.
Capítulo 34 — Emma Campbell McKnight

As semanas seguintes foram marcadas por altos e baixos, principalmente para mim.
Havia momentos em que, sem motivo algum, me pegava pensando na minha impossibilidade de
engravidar e isso era como cravar um punhal no meu peito, o nó na garganta era instantâneo.
Percebi que Ben fazia o possível para que eu não deixasse que qualquer mínimo
sentimento de culpa se alastrasse pelo meu corpo. Ele disfarçava quando alguém comentava de
uma gravidez, trocava de canal quando algo que estivéssemos assistindo alguma coisa e
aparecesse algum gatilho que pudesse me desencadear uma nova crise emocional.
Ben estava sendo mais do que perfeito.
Logo nos dias seguintes à nossa conversa, voltamos ao consultório de Natalie que
explicou, com calma, todos os aspectos da minha condição, salientando novamente o risco alto
de uma possível gravidez, deixando claro o seu não aconselhamento a isso. Ben questionou qual
seria o melhor meio para nós nos prevenirmos, pois ele não queria que eu ficasse refém de
hormônios ou, nós dois, de camisinha. Natalie comentou sobre a impossibilidade de eu usar um
DIU, diante da malformação, e, também, sobre a vasectomia e aconselhou Ben a procurar um
urologista e conversar com ele sobre tudo para, então, nós dois decidirmos o que melhor
funcionaria para nós dois como casal.
Nesse mesmo dia, tínhamos comprado a bombinha de tirar leite e levamos para a
consulta. Natalie, então, chamou uma de suas enfermeiras que também era uma consultora de
amamentação para nos ensinar tudo sobre. Explicou como usar a bombinha, como limpar, como
armazenar o leite, me deu dicas do que fazer e do que não fazer, como cuidar dos meus mamilos,
e várias outras coisas.
Depois, ela partiu para a parte prática e demonstrou como efetivamente se fazia uma
ordenha. Com Ben ao meu lado, atento à todas as informações e com olhos encantados, retirei a
blusa e Maggie, a enfermeira, acoplou o aparelho ao meu seio e o ligou, fazendo com que a
sucção começasse e que eu me sobressaltasse minimamente.
— Dói? — Ben me perguntou.
— Um pouco, é mais incômodo do que dolorido.
— Nas primeiras vezes é assim mesmo, logo você estará acostumada à sensação e fará
tudo isso de olhos fechados. O seu corpo vai se ajustando aos poucos. Nesse início, você pode
perceber fissuras nos seios, então é importante cuidar bem deles e prepará-los para o estímulo
contínuo que ele vai ter a partir de agora, tanto com a bombinha e depois com o bebê. — Maggie
explicou.
— Está saindo, linda, tem leite escorrendo, e parece bem mais do que nesses dias que
você estava só massageando. — Ben sorriu animado.
— Isso acontecerá, você está dando início a esse estímulo, Emma, cada vez mais sairá
mais e mais leite, até que, quando Daniel nascer seu corpo estará com um suprimento suficiente
para alimentá-lo.
Olhei para meus próprios seios sendo ordenhados e, também, para os copinhos acoplados
reservando o líquido esbranquiçado que gotejava lentamente e senti meus olhos marejarem.
— Vai me achar boba se eu disser que estou com vontade de chorar? — Ben veio até
mim e me deu um beijo rápido.
— Eu não vou achar nada bobo, minha linda, até porque eu mesmo estou emocionado
com isso também. — Maggie sorriu para nós dois.
— O universo da amamentação é incrível, tem seus desafios, claro, como qualquer outra
coisa, mas a recompensa é ainda mais maravilhosa. Entendo toda a questão de vocês, o fato de a
amamentação não ter sido algo que vocês esperassem, então, assistir isso aqui já parece um
milagre aos olhos de vocês.
— É exatamente assim que me sinto, presenciando uma dádiva.
— Se vocês já se sentem assim apenas com a ordenha, imaginem quando no lugar de
tudo isso aqui estiver o bebê de vocês.
— Meu coração vai explodir. — Soltei as lágrimas que segurava.
— Não, ele vai ampliar. Ampliar tão lindamente em assistir aquele pequeno ser que se
tornará a sua razão de existir. — Ben sorriu concordando.
— Estou ansiosa.
— Eu também não vejo a hora, felizmente faltam menos de duas semanas.
A consultora continuou nos ajudando e, no final dos trinta minutos, vimos que
conseguimos extrair uma boa quantidade de leite para uma primeira vez. A enfermeira, reforçada
por Natalie, falou sobre a importância de repetir esse processo naquele intervalo para que meu
cérebro assimile as mudanças corporais e continue a produção de leite.

Os últimos dias antes do nascimento de Danny passaram vagarosamente. Ben estava


agitado, mal conseguia dormir com a expectativa e eu mantinha rigorosamente a rotina da
ordenha e a cada vez que realizava, notava que meu suprimento tinha aumentado. Courtney
recorreu a mim mais algumas vezes para que eu falasse novamente com Daniel, e me disse que
aqueles eram os únicos momentos em que ela tinha paz.
Percebi o quanto meus seios pareciam latejar ainda mais quando eu conversava com
Danny. O corpo humano era mesmo incrível. Mesmo naquela situação completamente inusitada,
meu corpo reconhecia Danny e ele parecia me reconhecer também, já que apenas sossegava seus
movimentos quando eu conversava com ele.
Era uma disputa entre nós três para ver quem estava mais ansioso para o nascimento: eu,
Ben ou Courtney, que não via a hora desse pesadelo passar, nas palavras dela.
Nós decidimos não contar para ninguém a data exata do nascimento, queríamos
surpreender os três patetas, Hannah e o Sr. T. Queríamos ter o nosso momento apenas com
Daniel antes de ter que dividi-lo com os outros, por mais importantes que fossem.
Agora, na véspera do dia marcado, Ben me chamou até sua sala para conversar comigo
sobre um assunto que ficou perdido no meio da intensidade das últimas semanas. Ele me contou
sobre o que Louis, o acionista, disse em sua sala e eu me joguei na cadeira, me sentindo
derrotada.
— O que a gente pode fazer para evitar que essa história se espalhe por aí?
— William e James vão subir daqui a pouco para uma reunião justamente sobre isso.
Vamos pensar em conjunto. James é diretor de marketing da empresa, ele vai saber a melhor
maneira da gente comunicar os funcionários sobre Daniel, sendo verdadeiros, mas sem falar
abertamente sobre tudo. William vai me substituir nas próximas duas semanas depois do recesso
de fim de ano, então, ele também precisa estar a par de tudo, caso alguma bomba estoure
enquanto a gente estiver fora.
Amanhã a empresa sairia em recesso, portanto, essa estratégia tinha de ser traçada logo
para que James pudesse soltar uma nota interna avisando sobre nossa licença após o recesso em
virtude do nascimento do nosso filho e era exatamente isso que discutimos assim que William e
James chegaram, destrinchando cada possibilidade existente.
— Bom… — James começou — Nós conhecemos vocês, Benjamin, tenho certeza que
os funcionários, ou pelo menos a grande maioria deles, não acreditaria nesse boato ridículo caso
ele vazasse. Você sempre tem uma ótima índole como chefe. Apesar de ser o presidente da
empresa sempre se envolve profissionalmente com seus subordinados, sempre os tratou bem,
ajudou muitos deles com situações pessoais. Tudo isso comprova que caso alguém, quem quer
que fosse, estivesse mesmo grávida de um filho seu, você nunca abandonaria ou deixaria a
criança desamparada, independente da opinião de qualquer pessoa.
— Concordo, nós conhecemos vocês, Ben. Emma também. — William me apontou —
Ela trabalha aqui há anos, começou como estagiária, cresceu independente da ajuda de qualquer
pessoa, sempre foi muito respeitada como a profissional eficiente que é, desde quando era
subordinada a todos e mais ainda quando começou a trabalhar diretamente com você e se provou
cada vez mais capaz, hábil. Com o lançamento do aplicativo, isso só aumentou, já que todos
sabem que foi idealizado por ela. — Sorri agradecida pelos elogios.
— Inicialmente, a insinuação de Louis não passa disso. Não vi ninguém comentando
disso aqui dentro, nem acionista, nem diretor, nem ninguém. Então, o que podemos fazer é lançar
a nota avisando do nascimento de Daniel, via barriga de aluguel. Não precisamos dar mais
detalhes além disso, e que, por conta desse fato, Emma entrará de licença pelos próximos meses
e você, Ben, ficará fora por duas semanas após o recesso. — James explicou.
Todos nós concordamos que essa era a melhor estratégia. Não queríamos, e nem
poderíamos omitir o nascimento de nosso filho, mas também não precisávamos falar abertamente
sobre tudo.
— Se caso alguém solte esse boato, nós lidaremos com essa pessoa e com as situações
que talvez possam repercutir, mas não vamos nos esquentar com essa questão agora, não adianta
sofrer por antecedência. Eu e William ficaremos de olhos e ouvidos abertos e qualquer mínima
coisa nós entraremos em contato com vocês para conversarmos.
— É, deve ser melhor assim mesmo, e já que hoje é o último dia antes do recesso, pode
soltar a nota, James. Daniel nasce nos próximos dias.
— Durante as duas semanas em que você estiver fora, Ben, eu treinarei Mary para
substituir Emma e depois, quando você voltar, ela fica com você até que Emma retorne ao
trabalho. — William nos informou.
— Perfeito, nós vamos conversando então, vocês têm meu telefone pessoal. Peço que
não hesitem em ligar caso haja necessidade.
— Sem problemas, Ben. Assim faremos. Bom recesso pra vocês, que Daniel chegue com
bastante saúde. — James felicitou.
William repetiu os votos de felicitações e assim os dois se foram. Agora tendo
privacidade, não perdi tempo em ir até meu marido e me sentar em seu colo, abraçando-o pelo
pescoço. Ele sorriu e beijo meu colo que era onde seus lábios alcançavam nesse momento.
— Você acha que Louis pode mesmo soltar esse boato?
— Meu amor, posso estar sendo muito ingênuo, mas acho que não. Não faria sentido ele
soltar uma história que talvez possa impactar negativamente na empresa, sendo que, se assim
fosse, ele também seria prejudicado.
— É, isso faz sentido. E se apenas ele veio te questionar sobre isso, pode ser que apenas
ele tenha cogitado ou mal interpretado aquele dia com Courtney, porque, assim como James, eu
também não ouvi absolutamente nada sobre isso pela empresa.
— Vamos fazer o seguinte? Esperar. Se algo acontecer, a gente lida com o que for, mas
não quero ficar perdendo minha sanidade mental cogitando mil e um cenários diferentes.
— Você está certo.
— Eu tenho mesmo esse costume. — Ele recebeu uma mordidinha na orelha pela
brincadeira.
— Que marido abusado eu tenho. — Provoquei, assistindo de perto a malícia brotar em
seu sorriso.
— Ah, é? Abusado? Você não viu nada ainda, meu amor.
— Não vi? — Questionei enquanto sentia sua mão, antes apoiada em minha coxa,
começar a subir, enquanto ele distribuía beijos e mordidas pelo meu pescoço.
— Não, você ainda não viu muitas coisas, mas sabe de uma coisa que eu estou louco pra
fazer desde que estamos juntos? — A essa altura, a mão dele já se infiltrava por debaixo da
minha blusa, alcançando os meus seios — Sabe? Estou maluco para ter você aqui, bem em cima
da minha mesa. A cada hora que você entra aqui por algum motivo de trabalho, tudo que minha
mente pervertida pensa é em te debruçar aqui, levantar essas saias ou vestidos que você usa e me
perder em você. — Gemi quando ele passou a língua pelo meu pescoço indo em direção à orelha.
—Eu também já pensei nisso, várias vezes, não é uma fantasia apenas sua. — Admiti e
ele sorriu mais ainda, descendo a mão para a barra da minha saia, puxando o tecido para cima até
que alcançasse a calcinha, me manipulando por cima do tecido.
— O que acha de fecharmos esse ano com chave de ouro?
Ele perguntou, mas não consegui responder, perdida nas sensações que seus dedos me
provocavam. Eu sabia que ele sentia o quanto estava excitada mesmo por cima do tecido. Ben
afastou a renda molhada e me penetrou com um dedo, me fazendo gemer antes de alcançar
minha boca me dando um beijo de tirar o fôlego, enquanto mantinha o ritmo de sua mão.
Largou minha boca e desceu beijos pela orelha, pescoço, colo, evitando os seios, pelo
menos na empresa onde não podíamos deixar vestígios do que estamos fazendo. A mão
intensificava os movimentos, e eu rebolava em cima dele, provocando-o também, sentindo o
volume de sua ereção cada vez maior.
Bastou um pouco mais de intensidade e pressão, junto ao segundo dedo me penetrando
para que eu me desfizesse em sua mão, gemendo largamente. Ele retirou a mão de dentro de mim
e voltou a me beijar. Revidei, mordendo os lábios dele, fazendo nossas línguas duelarem entre as
bocas.
Afastei a minha boca da dele, mordendo-lhe o queixo, beijando o maxilar dele para então
encará-lo nos olhos, antes de me levantar do colo, ficando de pé na sua frente e debruçando
minimamente até que minha boca alcançasse sua orelha, murmurando com a voz baixa e rouca.
— Na sua fantasia, eu também fazia isso? — Deixei uma mordida ali e me afastei
rapidamente, abaixando na frente dele, deslizando as mãos pelo peitoral, até que me encontrei
ajoelhada bem no meio das suas pernas.
Olhei em seus olhos, me deparando com uma mistura de incredulidade, descrença mas
também excitação e desejo. Estiquei as mãos e as levei ao seu cinto, desatando a fivela. Tirei a
calça e a boxer do meu caminho, liberando a ereção, notando o quanto a sua glande estava
inchada e molhada pelo pré-gozo. Me aproximei e levei a boca até o membro dele, lambendo de
cima a baixo, de um lado e depois do outro, circundo a glande com a língua, escutando os seus
gemidos, para, então, o colocar como um todo na boca.
Ou pelo menos o que eu conseguia.
— Puta que pariu, linda. Não acredito que isso está acontecendo. Estou mesmo
recebendo um boquete da mulher que eu amo, em pleno expediente, na minha sala onde sou
presidente da empresa? Puta merda, virei um protagonista de filme pornô. — Não aguentei não
rir com o comentário.
— Benjamin, se você quer que eu continue, pare de me fazer querer rir.
— Não inventa de parar. Eu calo a minha boca, pode continuar.
Ri novamente antes de voltar a boca para a excitação dele, lambia, chupava, passava os
dentes levemente apenas para intensificar o prazer, sem lhe causar dor, e ele gemia mais alto,
agarrando meus cabelos em um aperto forte, mas, pouco depois, senti ele me puxando para cima,
me afastando.
— Amor, se você continuar eu vou gozar e quero fazer isso dentro de você, antes que
alguém nos interrompa.
Ele me colocou de pé, beijou minha boca e então me virou de costas, descendo o zíper da
minha saia, fazendo ela cair aos meus pés. Abaixou a própria calça e a boxer por completo,
alcançou um preservativo na carteira, o vestiu e logo em seguida me debruçou sobre sua mesa,
afastando minha calcinha para o lado.
— Gostosa. — Ele desferiu um tapa na minha bunda.
Em um movimento rápido e preciso, me penetrou por inteiro, me fazendo senti-lo por
completo dentro de mim. Ben se movimentava, entrando e saindo. Rebolei um pouco,
aumentando nosso contato para que ele pudesse angular a minha perna e se curvar sobre mim,
encostando seu peito nas minhas costas, se movendo demasiadamente, fazendo com que não
demorasse muito para que nós dois estivéssemos a ponto de explodir. Quando assim eu o fiz,
gozei uma segunda vez, seguida por Ben, se desmanchando no preservativo e gemendo no meu
ouvido.
Assim que recuperamos nosso fôlego, ele saiu de dentro de mim, se jogando na cadeira e
me puxando para seu colo. Recuperamos nossas respirações antes de irmos para o banheiro para
que a gente se pudesse se recompor.
— Não vejo a hora de parar com a camisinha.
— Ben, você vai mesmo fazer a cirurgia? — Meu tom era um pouco pesaroso. Eu não
queria que nada disso precisasse acontecer.
— Meu amor. — Ele segurou meu rosto — Nós já conversamos sobre isso. Eu fui ao
médico, fiz todos os exames necessários, já marcamos a cirurgia para assim que o ano virar. Vai
ser rápido, vou embora no mesmo dia e só preciso ficar de repouso. Nas duas semanas que
estarei sem trabalhar é o momento perfeito para fazer.
— Eu posso tomar remédio, Ben.
— Por que eu concordaria em você ficar enchendo seu corpo de hormônio se eu posso
muito bem fazer isso? Sem drama, meu amor. É o melhor a ser feito.
— Desculpe te fazer passar por isso. — A voz embargava todas as vezes que falava com
ele sobre isso.
— Não há culpa aqui, minha linda. É um infortúnio, que dói pra caralho, eu sei, mas não
é sua culpa. Não pense assim, ok? A cirurgia é algo simples para que a gente não corra riscos de
viver algo que nos machucará ainda mais. Repete comigo que não é sua culpa.
— Ben… — Tentei fugir, mas ele não deixou, insistiu para que eu falasse — Não é
minha culpa. Dói demais, mas não é minha culpa.
— Não é sua culpa. — Ele disse mais uma vez, puxando meu rosto para um beijo antes
de voltarmos para a sala dele. Logo ouvimos um alarme, que significava… — Hora do leite! —
Ri da empolgação com que dizia isso, todas as vezes — Faltam minutos para o fim do
expediente, vamos embora logo, e aí você faz isso em casa com mais confortável.
Recolhemos tudo que precisávamos e fomos embora, cumprimentando todos que
encontramos pelo caminho, desejando um ótimo recesso. Eu me estendi nos cumprimentos já
que, inicialmente, ficaria meses sem trabalhar. James enviaria ao e-mail de todos os funcionários,
a nota acerca do nascimento de Daniel quando o expediente encerrasse.
Assim que chegamos em casa, fui direto para o banheiro higienizar as mãos, enquanto
Ben organizava a bombinha para que eu fizesse a ordenha com calma e logo me acomodei no
sofá, acoplando o aparelho aos seios.
— Cadê o Sheik? — Ben assobiou e ele veio andando lentamente saindo do quarto de
Daniel — Você estava no quarto do irmão, meu amor? — Ele veio até mim, apoiando a cabeça
nos meus joelhos e esfregando o focinho ali — Oh, mamãe tá com as mãos ocupadas, mas já te
dou carinho, chama o papai pra brincar com você.
Ele levantou a cabeça e latiu olhando em direção à cozinha de onde Ben saiu trazendo
uma tigela com morangos e se sentou ao meu lado, me dando um na boca.
— Acho incrível como ele a obedece sem nem pestanejar, às vezes até acho que você
realmente o enfeitiçou.
— Ele é meu bebê, não é? — Perguntei para Sheik e ele latiu novamente parecendo
assentir, me fazendo rir mais alto com o choque de Ben.
— Sheik, eu ainda sou seu preferido? — O cachorro não fez nada — Você ama mais a
mamãe ou o papai? — Ele simplesmente andou e se sentou ao meu lado, retornando a cabeça às
minhas pernas, me fazendo gargalhar — Eu que te resgatei, seu ingrato, ficamos dois anos só eu
e você e eu que te amei nesse tempo. — Sheik andou até Ben, sobe no sofá entre nós dois e
encostou a cabeça no colo dele — Acho bom, assim mesmo, você é do papai. — Ben beijou a
cabeça dele antes de levar as mãos às orelhas dele no carinho preferido.
Continuamos conversando e quando acabei com a ordenha, Ben lavou as mãos para
armazenar o leite. Era visível a diferença na quantidade de leite desde o início do processo até
hoje, véspera do nascimento. Organizamos o que era necessário pela casa e deixei meus dois
meninos para tomar um banho. Quando voltei, encontrei uma mesa de jantar arrumada, com
velas e flores.
— Nossa, o que é tudo isso? — Ben surgiu por trás me abraçando apertado.
— Nosso último jantar antes de nos tornarmos uma família de três. — Sheik latiu para o
pai e eu segurei o riso— Ok, de quatro.
Sorri com os meus meninos antes de me sentar, jantar e conversar com Ben sobre nossa
vida. Entre beijos e declarações, finalizamos nossa última noite antes que tudo mudasse para
melhor. Sem dúvidas para melhor.

Depois de uma noite mal dormida devido à ansiedade, nós acordamos quase duas horas
antes do horário que programamos para estar no hospital. Hoje era sábado, dia 20 de dezembro, o
dia que Courtney escolheu. Ainda tinha um certo receio quanto à questão de escolher um dia,
pois eu queria que ele viesse no tempo dele, mas não poderia forçar Courtney a
isso. Principalmente quando dali a poucas horas teria meu filho nos braços.
Fizemos toda nossa rotina pela amanhã, tentando driblar toda a ansiedade que nos
cercava. Até que finalmente era hora de sairmos de casa. Ben e eu combinamos de tomar um café
da manhã na cafeteria onde disse sim a ele, e era isso que faríamos antes de ir para o hospital
receber nosso filho.
Ben pegou a bolsa que arrumei e a bolsa de maternidade de Danny e foi até o elevador
depois de dar tchau para Sheik. Eu me abaixei para dar um beijo e conversar com ele um pouco.
— Tchau, meu amor, mamãe e papai vão sair e voltar com seu irmão. Lembra que
mamãe te falou do Daniel? Cadê a roupinha que eu te dei? — Sheik levantou as orelhas enquanto
eu falava e então correu até a caminha dele que agora ficava no quarto do bebê e voltou com a
roupinha na boca — Isso mesmo, a roupinha do bebê. A gente já volta, tá bom?
Ele me deu uma lambida no meu nariz, antes que eu me levantasse e andasse até Ben no
elevador, que mantinha um ar de descrença, como todas as vezes que fazia algo como isso. O
sorriso não abandonou meus lábios hoje e, assim que chegamos na garagem, Ben acomodou as
bolsas no porta-malas, e ainda antes de entrar no carro, ele checou a cadeirinha própria para bebê
que instalou nos carros.
— Bolsa, bebê conforto, tudo certo.
— Vamos, amor. Mal vejo a hora do meu bebê estar nos meus braços.
Nem mesmo saímos da garagem quando o celular de Ben tocou acusando uma ligação de
Courtney, e eu soube naquele instante que não iríamos a qualquer outro lugar senão direto para o
hospital.
—Alô? — Eu conseguia ouvir apenas gritos e xingamentos do outro lado da linha,
ouvindo Courtney gritar alguma coisa. Assisti Ben arregalar os olhos e, enquanto ele tentava
acalmar Courtney pelo telefone, mudamos nosso destino — Estamos indo te encontrar,
Courtney, fique calma. — Ele desligou, jogando o telefone para mim.
— É o que estou pensando?
— A bolsa estourou.
Danny estava vindo.
Na hora dele.
Capítulo 35 – Emma Campbell McKnight

Sorri sentindo meu estômago revirando de emoção. Não acreditava que esse dia
finalmente tinha chegado!
Em menos de vinte minutos — o que foi bem rápido em se tratando de Nova York —,
estacionamos em frente ao prédio de Courtney, subimos ao apartamento e praticamente
invadimos seu apartamento para encontrá-la gritando em razão de uma contração.
— Ah, ainda bem que chegaram. Vamos logo para essa droga de hospital. Eu marquei
uma cesárea justamente para não passar por essas dores.
Ben apoiou o corpo dela com os ombros e a conduziu ao elevador, enquanto eu recolhi
suas bolsas e a mala que estava posicionada na sala. Seguimos os três para o elevador. Eu mal
conseguia conter a ansiedade, tinha vontade de pular de tão feliz que estava.
Já na portaria, Courtney teve outra contração e enquanto Ben parou de andar com ela, eu
fui na frente para abrir o carro e guardar as bolsas dela no porta-malas. Ben carregou Courtney
no colo e a colocou no banco do carona, mas assim que fechou a porta, me olhou querendo se
explicar pela ação.
— Só vamos logo, lindo, isso não me incomodou. Courtney, você conseguiu falar com
seu médico? Quer que eu ligue para ele?
— É o mínimo que você pode fazer.
Ignorei a alfinetada e peguei seu telefone para ligar para o Dr. Matthew e, em seguida,
para Natalie, avisando ambos da situação. Os dois me avisaram que já estavam no hospital, afinal
de contas, todos nós já sabíamos que o parto seria hoje de qualquer maneira.
A viagem seguiu com Courtney gritando e reclamando a cada contração e xingando a
mim e a Ben nos intervalos, ressaltando constantemente que aguardava o pagamento dela na sua
conta assim que acordasse da cirurgia. Ben avisou que iria providenciar e que era para ela se
preocupar com o que importava no momento e a resposta dela foi dizer que era exatamente isso
que estava fazendo.
Assim que chegamos na emergência do hospital, Natalie nos encontrou na recepção. Ben
retirou todas as bolsas do carro e entramos carregando tudo e andando atrás de Natalie que
empurrava Courtney na cadeira de rodas, dizendo que o Dr. Matthews estava a aguardando.
Andamos todos juntos pelo hospital até que Natalie nos indicou a sala de espera em que
eu e Ben precisávamos ficar, e, antes de se afastar, nos disse que assim que o procedimento
começasse, ela retornaria para conversar com nós dois. Só nos restava aguardar ela voltar para,
então, começarem a cesárea.
— Eu tinha te dito que estava um pouco desconfortável com a questão de termos uma
data marcada, mas o fato de a bolsa ter estourado me deixou mais tranquila a esse respeito, ele
está vindo no tempo dele.
— Mal vejo a hora de tê-lo nos meus braços. — Ben sorriu abertamente, me puxando
pelos ombros para ficar apoiada nele.
— Prontos, papais, vamos? — Natalie voltou depois de alguns minutos — Bom, se fosse
uma situação de parto normal e Courtney concordasse, eu poderia permitir a presença de vocês
na sala de parto, porém, em se tratando de uma cesárea e nas condições programadas, eu não vou
poder fazer isso. Vocês vão ficar aqui, na entrada do berçário. Assim que Daniel nascer e o
pediatra fizer os exames iniciais, trarão ele para vocês, todas as pessoas necessárias sabem do
arranjo e que vocês são os pais de Daniel.
Natalie nos instruiu dizendo que uma enfermeira o traria e então conduziria nós três para
a sala anexa ao berçário para que pudéssemos conhecê-lo e ter aqueles momentos iniciais tão
importantes, e que, assim que ela sair da cirurgia ela também viria até a gente. Concordamos com
as suas explicações e nos despedimos com ela dizendo que em cerca de trinta minutos ele estaria
aqui.
Uma enfermeira mal-encarada nos cumprimentou e afirmou que seria ela a acompanhar
Daniel e trazê-lo para nossos braços, que daria todo o suporte na sala do berçário para que
possamos nos conectar com o bebê e alimentá-lo, depois ela nos ensinaria tudo a respeito do
banho e todas as outras coisas necessárias para esse primeiro momento.
Trinta minutos. Ok. Nós conseguiríamos esperar esse tempo sem morrer de ansiedade.

Ben não conseguia se sentar, de tanta ansiedade correndo por suas veias. Eu estava tão
nervosa quanto ele, mas permanecia sentada, balançando as pernas e apertando as mãos uma à
outra ou mordiscando os cantos das unhas. A cada bebê que surgia no berçário Ben exclamava “é
ele” e eu balançava a cabeça negando e rindo da cara dele. Ele repetiu esse processo cerca de
quatro vezes, até que resolveu parar e apenas esperar.
— Sente aqui comigo. ‒ Chamei e ele veio, entrelaçando seus dedos aos meus e
apoiando as mãos sobre sua coxa, a palma da sua mão estava suada e levemente trêmula. —
Nervoso? — Beijei seu braço e apoiei a cabeça em seu ombro.
— Ansioso.
Mais alguns minutos depois, senti uma aceleração no peito e sabia, apenas sabia, que
agora era ele, que dentre alguns instantes iria ter em meus braços o grande amor da minha vida,
aquele para quem minha vida giraria a partir de agora. Meu coração palpitava, as mãos suavam,
os olhos marejavam, e eu apertava a mão de Ben com toda força, fazendo ele se virar para mim.
— É… é ele, eu sei, agora é ele.
— Pode ser um alarme falso de novo, linda. — Neguei com a cabeça.
— Não é falso, é ele, eu sei que é, meu coração sabe. — Ben pareceu confuso e
emocionado ao mesmo tempo, quando me levantei ao escutar um choro alto e forte que pareceu
incendiar tudo dentro de mim. Era como se uma avalanche de amor me invadisse, os pelos do
meu corpo se arrepiaram, fui inundada por uma infinidade de sentimentos que sequer saberia
descrever — É ele, Ben, esse choro é dele, meu corpo sabe que é.
A essa hora ele parecia tão convencido quanto eu. O choro se intensificou, parecendo
estar cada vez mais perto. Vi Ben se aproximando de mim e agarrando minha mão e,
automaticamente, nos dirigimos à porta do berçário por onde a enfermeira iria passar. Nos
posicionamos no vidro que dava visão dos berços, direcionando o olhar para a porta no exato
momento em que a porta se abriu deixando que a enfermeira que conversou conosco
anteriormente passasse por ela, empurrando o berço móvel, que continha a nossa vida ali,
embrulhada em um pequeno pacote azul com uma touquinha branca.
A boquinha aberta, o lábio inferior ondulando pelo esforço do choro.
Lindo, delicado e escandaloso.
— É ele, eu disse.
— Uma mãe reconhece seu bebê. — Ben afirmou com a voz tão embargada quanto a
minha.
Uma outra enfermeira nos olhou e pediu para que a gente se dirigisse à porta, e nos
instruiu com a higienização correta para que podermos pegar o bebê e assim o fizemos, da
maneira mais correta e rápida possível. A enfermeira que mantinha o olho em Danny o pegou no
colo, onde ele permaneceu lacrimejando.
— Temos um nome, papai? — Não tinha nem condições de responder, apenas confirmei
com a cabeça quando Ben respondeu.
— Sim, Daniel Campbell McKnight. Nosso Danny. — A mulher sorriu para ele.
— Pronto para conhecer o seu pai, Daniel? Ele está ansioso esperando por você todo esse
tempo. — Ela andou até onde eu estava de pé, ao lado de Ben. Notei a insistência dela em apenas
se referir a Ben, mas resolvi não encrencar com isso, não quando tinha algo muito mais
importante para mim nesse momento — Aqui está o papai, Daniel.
— Pode entregá-lo para a mãe primeiro.
Reparei que a mulher parou de sorrir, mas entregou o bebê nos meus braços. O acomodei
corretamente com a cabeça apoiada na dobra do meu braço enquanto sustentava o corpinho com
o antebraço e com a outra mão fazia um carinho no rostinho dele. Meu coração se expandiu
milhões de vezes ao mesmo tempo em que uma imensidão de vida pareceu me preencher.
Meu bebê está aqui.
Aproximei o rosto do dele, memorizei cada detalhe, senti o seu cheirinho e retirei a touca
que cobria seus cabelos.
— Oi Danny, é a mamãe. — Foi tudo que pude falar, enquanto uma infinidade de
lágrimas de felicidade escorriam pelo meu rosto — Como você é lindo, meu amor, você tem
tanto cabelo.
Sorria e chorava ao mesmo tempo, vendo Ben se aproximar ainda mais e observar o
pacotinho nos meus braços, fazendo como eu fiz e passando a mão no rostinho dele,
delicadamente com as costas dos dedos.
— É tão pequeno, delicado, a pele tão macia e fina, os pelinhos… — Ele ia listando as
coisas que notava. Danny voltou a resmungar e eu o balancei um pouco.
— Não chora, pequeno, mamãe e papai estão aqui. — Sorri largamente quando ele se
acalmou e olhei para Ben, que nos admirava. O que li em seus olhos me deixavam ainda mais
emocionada.
— Vocês dois são a minha vida. — Ele disse, sem esconder a emoção em sua voz.
— Quer segurá-lo? — Ele sorriu, mas notei que está tenso.
— É tudo que mais quero, mas estou com medo, nunca fiz isso antes.
— Se sente ali naquela cadeira, sentado te dá mais segurança. — Ele fez o que eu pedi e
então ajeitei seus braços e lhe estendi o bebê, acomodando-o como eu o tinha antes — Pronto, só
precisa ter cuidado com o pescoço e a cabeça.
Ben parecia fora de si, esse olhar que ele dava a Danny era único e exclusivamente
dirigido a mim, porém me sentia privilegiada em dividi-lo com ele, principalmente quando a
reação do meu marido era a coisa mais linda que já vi. Um sorriso luminoso, lágrimas nada
discretas e grossas descendo pelo canto dos seus olhos.
— Por todos esses anos, tudo que eu mais queria era ter minha família. Nós já éramos
uma, nós dois, mas agora, eu tenho meu sonho nos braços. — Voltei a me emocionar, me
sentando no braço da cadeira e ali ficamos ali, babando nossa cria, até que Danny resmungou e a
enfermeira reapareceu.
— Vamos aproveitar que ele despertou e terminar os exames de pesagem e medição,
papai? Assim podemos vesti-lo e alimentá-lo, afinal não demora muito para a fome chegar. —
Ela pediu o bebê a ele.
— Pode vir pegar, ainda não me sinto confiante para sair dessa posição.
Eu ri e a enfermeira também, mas, novamente, notei os olhares estranhos que ela me
lançava. Isso era coisa da minha cabeça paranoica, não é? Ela pegou o bebê dos braços de Ben,
fez tudo que precisava com ele, enquanto Ben alcançava a primeira troca de roupa dele na mala
que arrumamos.
Quando a enfermeira entregou Daniel para ele, Ben o passou para que eu o vestisse, e
assim o faço, sorrindo sem parar, com lentidão mas com precisão, sendo observada de perto por
um Ben muito interessado em entender tudo ao meu lado.

Estava transbordando de todas as maneiras, mal conseguia me conter. A todo tempo,


olhava para Emma e encontrava o brilho em seu olhar reluzente. Eu sabia que ela já havia
trabalhado como babá por muitos anos durante sua adolescência, mas fiquei impressionado em
vê-la em ação, colocando a fralda e a roupa de Danny com tanta agilidade. Elogiava minha
esposa, principalmente porque queria que tivesse paciência comigo, para me explicar como fazer
exatamente como ela fazia.
Poderia justificar e dizer que era pai de primeira viagem, mas, na verdade, apesar de isso
ser um fato, a verdade maior era que aquele era o primeiro recém-nascido que tinha por perto. E,
mais do que isso, ele era meu.
— Minha vontade é de que ele nunca mais saia dos meus braços. — Emma me disse,
pegando o bebê no colo assim que terminou de vesti-lo.
— Nem pra vir nos meus?
— Com você eu divido, mas só um pouquinho. — Sorrimos, por dois exatos segundos,
até que Daniel resmungou alto.
— Eu não disse? Tem alguém com fome por aqui, vou preparar a fórmula dele. — A
enfermeira fala, mas eu intervi.
— Obrigado, mas não precisa, ela vai alimentá-lo.
— Ela trouxe fórmula própria? Eu não fui avisada sobre isso, não posso autorizar.
— Me desculpe, minha senhora, mas o filho é nosso, você não tem que autorizar nada. A
mãe dele está com ele nos braços e vai amamentá-lo.
— Amamentá-lo? Ninguém vai oferecer nada a esse bebê que eu não autorize. Vocês
estão sob minha responsabilidade aqui dentro, posso expulsá-los daqui e manter o bebê e então
fazer o que preciso. — Ela me surpreendeu com a ameaça. Emma se enfiou entre nós dois com
Danny ainda no colo, mas percebi que ela intensificou o aperto na forma como o segurava.
— Como é que é? Você está mesmo nos ameaçando?
— Eu estou falando com o pai da criança. Você sequer deveria estar aqui, apenas pais
podem entrar no berçário. — O olhar de desdém que ela ofereceu a Emma me irritou em
segundos. O que ela estava pensando?
— Eu sou a mãe dele. — Emma rugiu para a mulher, na sua nova versão de mamãe leoa,
protegendo seu bebê.
— Não foi da sua barriga que ele saiu. — A desgraçada continuou — A mãe dele acabou
de dar à luz e está sendo operada, portanto, não pode amamentá-lo, então vou preparar a fórmula.
— Emma se assustou com a fala da mulher, o que só fez com que ela se sentisse ainda mais
vitoriosa.
— Eu já lhe disse que você não fará isso. A mãe dele está com ele nos braços e irá
amamentá-lo. — Afirmei mais uma vez quando vi a mulher atrás de uma mamadeira.
— Senhor, é muito errado se referir a sua namorada como mãe da criança quando sua
esposa recém parida e verdadeira mãe está sendo operada.
— Já chega. — Emma se enfureceu por completo — Quem lhe deu autorização para
falar assim com as pessoas e especular as coisas? Eu sou a esposa dele, eu sou a mãe de Daniel,
ele é meu filho e irei, sim, dar de mamar a ele.
— Calma, linda, você não pode se estressar, lembra? Pode afetar o seu suprimento de
leite.
— Vocês estimularam a lactação de uma estranha sendo que a mãe… — A enfermeira
arregalou os olhos, porém não deixei que continuasse falando.
— Acabou! Mais uma palavra e eu faço você ser demitida. Vou agora mesmo conversar
com o diretor do hospital e exigir que ele me explique essa atitude de seus funcionários. Isso é
um completo absurdo, você não tem que supor nada sobre nossas vidas pessoais, seu trabalho
com o nosso filho acaba aqui, você não encosta um dedo a mais nele, nem que eu tenha que
fisicamente te impedir disso.
— Não será necessário Benjamin, eu ouvi tudo o que aconteceu aqui. — Natalie
apareceu na porta do berçário e a enfermeira sorriu vitoriosa talvez pensando que fosse conseguir
o que queria.
— Ótimo, Dra. Potter, se a senhora ouviu os absurdos que eles estão proferindo, eu vou
pegar o bebê e alimentá-lo. — Ela andou até Emma, que se afastou quando eu a puxei para atrás
de mim.
— Você não encostará no meu filho. — Emma bradou.
Eu via que ela estava ficando cada vez mais nervosa com a situação e, depois de tantos
alertas feitos por Natalie e em toda literatura que consumi sobre o assunto, sabia que isso poderia
afetar todas essas semanas de esforço para que seu suprimento aumentasse.
Precisava acabar com isso logo.
— Pode ficar tranquila, meu amor, ninguém tira Daniel de seus braços.
— Emma, olhe para mim. — Natalie chamou sua atenção — Ninguém vai encostar em
Daniel, e o diretor do hospital, Sra. Gonzalez, vai ficar sabendo agora mesmo sobre seu
comportamento. Nós não ameaçamos os pacientes ou os pais deles, e não especulamos nada
sobre a vida particular deles.
— Mas, doutora, ela não é a mãe, ela não pode e não vai amamentar, não enquanto eu
estiver aqui, onde já se viu isso? Eu trabalho aqui há mais de 25 anos, já cuidei de inúmeros
bebês. Eu sei o que é melhor para eles, eu sou inclusive mais velha que a senhora, doutora, e,
aqui no berçário, eu sou a enfermeira chefe, eu que mando. — A mulher insistia e eu ficava cada
vez mais chocado com sua audácia.
— Eu detesto fazer isso, mas dentro do hospital existe uma hierarquia, e se você não vai
respeitá-la em relação a mim, terá que fazê-la com o diretor. — Ela pegou o celular e cumpriu
com o que prometeu. Em cinco minutos ele estaria aqui.
Mantive Emma atrás de mim com Daniel em seus braços, que parou de chorar mas ainda
resmungava, e Natalie praticamente fuzilava a mulher com o olhar. Felizmente, não demorou
muito para que o diretor chegasse ao lado de fora do berçário onde aguardávamos.
— Bom dia, sou o diretor Davis, alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?
Doutora Potter?
Natalie explicou o que viu assim que saiu da cirurgia e veio até o berçário. O diretor
insistiu em saber o meu ponto de vista, e o expliquei. Emma ainda complementou dizendo que
desde que entramos no berçário a enfermeira só se referia a mim, a excluindo de todos os
procedimentos.
— O que tem a dizer, senhora Gonzalez? — O diretor suspirou fundo.
— Diretor Davis, a mãe da criança está na sala de cirurgia, essa daí é apenas a esposa do
pai, eu não vou me referir a ela como mãe se ela não o é, não posso autorizar essa suposta
amamentação, vou seguir o protocolo e alimentar o bebê da forma como ele deve ser feito dado
às circunstâncias. — Ela ameaçou se aproximar de Emma.
— Já disse que você não encosta no meu filho.
— Ele não é seu, ele é da Senhorita Bittencourt. — Ela insistiu e eu praticamente rosnei
para a mulher.
— Já chega, senhora Gonzalez, essa não é a primeira vez que o seu conservadorismo a
coloca nessas situações. Existem diversos tipos de família, e o Sr. e a Sra. McKnight são os pais
do bebê, a senhora não tem que opinar sobre a vida ou escolhas deles sobre o filho.
— Mas…
— Mas nada. Chega! Seus anos de experiência e de trabalho não vão justificar suas
ações e falas novamente. Vamos conversar no meu escritório, imediatamente. — Bradou —
Doutora Potter, auxilie-os com a questão da amamentação, do jeito que você e o pediatra, junto
com os pais, orquestraram. Outra enfermeira lhes dará o suporte e assim que o pediatra passar
por aqui, vocês conversarão sobre os próximos passos. Caso o bebê não tenha alta hoje, libere
um quarto para que os pais fiquem com ele, fora do berçário. — Natalia concordou e ele outra
vez chamou a enfermeira para que o acompanhasse.
— Não importa o que vocês achem e falem, aos olhos de Deus essa criança será sempre
filho da senhorita Bittencourt. Se quer tanto um filho, faça isso você mesma e não roube de outra
mulher.
Notei que a alfinetada surtiu efeito em Emma, pois a vi se retesar um pouco e perder um
pouco o brilho no seu olhar. Todas as coisas voltando à sua mente, relembrando que aquilo
jamais aconteceria. Assim que sobramos apenas os três e Danny, pretendia acalmar minha
mulher depois disso tudo, mas Natalie se aproximou de Emma.
— Emma, nada de ouvir o que essa louca falou. De mãe para mãe, você que acompanhou
cada passo dessa gravidez, você que esteve presente em todos os exames, era você quem
conversava com a barriga, foi você quem preparou o quarto, foi você que desafiou as leis da
natureza e vai amamentá-lo. Nada nem ninguém poderá dizer o contrário: você é a mãe de
Daniel. Apenas você.
— Natalie está certa, meu amor, não deixe que o que essa mulher disse estrague a nossa
felicidade pelo dia de hoje. Nós esperamos todos esses meses para ter nosso bebê nos braços, e
ele finalmente está aqui. Lindo, perfeito, saudável. O fator biológico é indiferente e
desnecessário. Você é a mãe dele, não deixe que nada nem ninguém cogite diferente. — Daniel
resmungou e mexeu a boquinha.
— Olhe aí, seu filho está concordando e pedindo o peito da mamãe. Vamos? — Natalie
chamou Emma, que ressonou com o choro que a acometeu.
— Linda. — Segurei seu rosto pelo queixo para que me olhasse nos olhos ‒ Você
precisa estar calma, para aproveitar tudo que irá viver com ele agora. Já passou. Esquece
qualquer coisa que não seja isso aqui agora.
Ela fechou os olhos e respirou fundo, olhava para Daniel em seus braços, requisitando o
leite. O leite dela. Ela passou a mão pelos cabelos dele, pela bochecha e escorrega o dedo pelo
nariz dele, e então sorriu.
— Ele é meu, apenas meu. E seu, claro.
— Obrigado por me incluir. ‒ Brinquei.
— Vamos? Esse lindinho precisa mamar. Daqui a pouco o pediatra vem avaliá-lo. —
Natalie nos conduziu para outra sala.
— Acha que existe alguma chance de ele ser liberado hoje?
— Bom, tudo vai depender da avaliação do pediatra, mas é possível, sim. Ele vai
examiná-lo, Benjamin terá que ir até o cartório no quinto andar para registrá-lo, com os
documentos que o hospital proverá e com a certidão que Courtney já providenciou com o
advogado abrindo mão da maternidade dele. Então, com o registro pronto, apenas com o nome
do pai inicialmente, o advogado de vocês poderá dar seguimento a ação para você poder registrá-
lo também.
— Foi ótimo falar isso, Natalie, vou ligar agora mesmo para o advogado e perguntar
quais são os passos para que isso se resolva o quanto antes.
Entramos na sala indicada por Natalie e Emma se acomodou em uma poltrona se
preparando para o momento que vinha aguardando nas últimas semanas.
— Segure aqui papai, enquanto ajudo a mamãe. — Natalie me entregou Danny nos
braços. Aproximei o corpinho do meu rosto, beijei e cheirei os cabelinhos escuros como os meus.
Ele era a coisinha mais perfeita que já vi em toda minha vida.
— Emma, toda vez que for amamentá-lo, assim como na ordenha, higienize os seios.
Com toda a preparação que fizemos, seus seios já estão menos sensíveis, correto? O segredo para
evitar as lacerações é a pega correta, a forma como ele acomodará a boca ao mamilo. Vou te
auxiliar nessa primeira vez e logo uma enfermeira especializada, como aquela do meu
consultório, virá aqui e irá te auxiliar na próxima mamada e verificar a posição correta.
Emma abriu os botões da blusa, já pensada especialmente para esse momento, afastou o
sutiã de amamentação, liberando o seio. Entreguei Danny a ela, que posicionou o bebê no colo
com Natalie auxiliando e acertando a boquinha de Daniel para que fizesse a pega corretamente.
Assim que Emma lhe deu o seio esquerdo, ele sugou com vontade. Observava a
boquinha em formato de peixe sugando o seio da mãe como se aquilo fosse a coisa mais certa da
vida. Era instintivo, para os dois. Danny subiu a mãozinha livre e ainda a apoiou no seio,
estendendo o contato entre eles, enquanto mamava avidamente. Natalie se afastou, deu mais
algumas instruções e nos deixou sozinhos. E eu não perdi tempo em me sentar ao lado de Emma,
reparando a emoção nos olhos da garota que mudou toda minha vida.
— Não sei te descrever a sensação que poder fazer isso me traz. Obrigada por ter me
feito aquela proposta, obrigada por ter me escolhido para isso, nada irá se comparar a esse
momento.
— Eu fui apenas o intermediário, era ele de alguma forma te escolhendo, você nasceu
para ser mãe dele. Isso que está acontecendo aqui só comprova isso.
Me inclinei para beijá-la por um momento, marcando eternamente esse momento em
mim. A primeira vez que éramos nós três. A família que tantas vezes sonhei em ter e que
finalmente conquistei.
Ficamos ali observando cada detalhezinho do nosso bebê, a testa enrugada, os cabelos
escuros e cheios, o nariz empinado, a boquinha bem delineada e forte. Até mesmo conseguimos
ter um vislumbre de seus olhos.
— Ele é todo você, inacreditável. Fisicamente ele não tem nada de Courtney, até os
olhos são azuis como os seus.
Sabia que isso poderia ser uma bobeira, porém, no fundo, gostava muito disso, não só
por ter uma cópia fiel, apesar de gostar muito disso, mas para que Emma não fosse lembrada a
toda hora da questão Courtney, mesmo sabendo que isso não iria fazer alguma diferença na
relação dela com o filho. Me tornei um cara babão, olhando os dois, completamente encantados e
apaixonados.
Eu achava que já tinha visitado lugares emocionantes, visto cenas de tirar o fôlego, mas,
isso aqui, assistir a minha esposa amamentar o nosso bebê era, sem a menor dúvida, a coisa mais
linda que já pude presenciar.
Sublime!
— Você se lembra quando eu te disse que a minha versão favorita de você, era você
confortável usando minhas roupas? — Murmurei, para não o atrapalhar de qualquer forma —
Não mais, isso daqui, ver você amamentando nosso bebê é a coisa mais linda que já vi, nada
superará isso. Eu amo você, Emma.
— Eu amo você. — Ela encostou a testa na minha quando finalmente Daniel parece ter
enchido, soltando o peito e ressonando, fazendo um barulhinho de satisfação.
— Alguém está saciado.
— E com a fralda cheia. Temos que colocá-lo para arrotar e então trocar a fralda.
— Me ensina?
Emma me entregou o bebê, ajeitou a própria roupa e me ensinou a colocá-lo para arrotar
e então a trocar a fralda. Ela ria do meu mau jeito com tudo isso, mas tinha paciência em me
ensinar e me estimular a seguir em frente, com calma, dizendo que com a prática tudo se
ajeitava.
Pouco depois o quarto ficou movimentado. Natalie voltou com o pediatra, que examinou
Daniel e o levou para fazer os testes e exames necessários, com o acompanhamento de Natalie,
enquanto eu e Emma conversamos com o advogado sobre os próximos trâmites.
Por algum tempo, deixei Emma esperando por Daniel e segui com o advogado para o
cartório para registrar o nascimento e, com a certidão em mãos, o advogado se foi para dar início
ao processo de regularização da adoção de Emma.
Queria ambos nossos nomes naquele documento.
Quando retorno à sala, não encontrei Emma, mas vi Natalie e o pediatra retornando com
Daniel e afirmando que hoje à noite ele terá alta, já que os exames dele estavam excelentes.
— Tudo certo, minha linda? Não estava aqui quando voltei. — Perguntei para Emma
quando ela apareceu alguns minutos depois.
— Fui falar com Courtney. Apenas fui saber como ela estava após as cirurgias. Ela disse
que está bem dolorida, mas que está feliz por finalmente não estar mais grávida. Agradeci
novamente por ter feito o que fez e disse que o dinheiro já estava na conta dela, já que você já fez
a transferência.
— Para não termos qualquer problema, mandei o comprovante da transação bancária
para ela e para o advogado dela.
— Ótimo.
— Vamos ter alta hoje mesmo, amor. — Informei, recebendo um lindo sorriso de volta.
— Ben, quando vamos avisar todo mundo?
— Bom, o pessoal da empresa já está sabendo, não é muito difícil que os três patetas
descubram e, se eles descobrirem por outras pessoas, contarão à Hannah e nós dois vamos deixar
nosso filho órfão, porque certamente eles vão nos matar.
— Achava que queria uns dias para absorver tudo, mas fico feliz em dividir tudo isso
com eles, são nossa família também.
— Assim que chegarmos em casa nós avisamos então, pode ser?
— Sim, Hannah, Nick, Nate, Carl e meu pai. — Ela disse, sem parecer notar como se
referiu à Rupert.
— Percebeu que o chamou de pai? — Ela arregalou os olhos.
— Não, saiu sem pensar. — Ela murmurou, parecendo encabulada, a ponto de esconder
o rosto no meu braço.
— Meu amor, eu sei que não anula nada do que viveu com seu pai biológico, e nem seu
amor por ele, mas, você sabe agora por experiência própria que pode amar alguém como um pai,
ele não deixa de ser isso para você. Se você se sente confortável em chamá-lo assim, sei que de
onde seus pais estiverem, estarão felizes por você ter alguém assim aqui pra você. — Ela apoiou
a cabeça no meu ombro, enquanto me observava com Danny no colo.
— Você fica bem sexy assim, nessa versão paizão.
— Emma, aqui não é hora nem lugar pra você me falar algo assim. — Repreendi e ela
riu, ao menos até eu aproximar a boca de seu ouvido — Repete isso mais tarde que eu mostro o
que é sexy.
— Promessas, promessas. — Me provocou.
— Está duvidando de mim, Sra. McKnight?
— Hora e lugar errado para me chamar assim.
— Vamos parar com essa brincadeira perigosa, temos um inocente entre nós.
Ali permanecemos o restante do dia, entre novas mamadas, novas trocas de fraldas e até
um banho, dado por uma versão apavorada de mim, acompanhado de Emma e outra enfermeira.
E, então, era hora de irmos para casa.
Capítulo 36 — Emma Campbell McKnight

Depois de ter que aguentar Ben dirigindo tão devagar quanto uma tartaruga velha,
finalmente chegamos em casa. Estava ansiosa para vê-lo em casa, no quartinho que preparamos
com tanto carinho, ansiosa para apresentá-lo a Sheik.
— Pronto para conhecer seu irmão peludo?
— Como vamos fazer isso?
— Acho melhor entrarmos sozinhos primeiro, deixar Sheik nos cheirar e então buscar
Danny para Sheik fazer o mesmo com ele.
— Você segura Danny. Caso seja necessário, eu tenho mais força que você para
segurar Sheik. — Não chegaríamos a isso, mas concordei com ele.
Assim que chegamos na cobertura, fazemos como combinamos. Deixamos Danny no
bebê conforto na entrada de casa e entramos chamando a atenção de Sheik, que veio até a gente
em sua recepção costumeira. Não o apressamos, deixamos que ele fizesse o que quisesse com
nós dois, recebendo nossa exclusiva atenção, até que começou a se cansar.
— Garotão, você lembra que a mamãe falou do Daniel?
Ao mesmo tempo em que achava graça, meu marido ficava impressionado em como
Sheik parecia sempre me entender, como agora que ele correu até onde estava deitado
anteriormente e buscou a roupinha que ficava com ele e trouxe para perto, depositando aos meus
pés.
— Isso mesmo, meu amor, Daniel. O bebê. Vamos conhecê-lo? Tem que se comportar,
ok? É seu irmão.
Busquei Daniel, segurando-o no colo, e me aproximei de Sheik que ficou de pé,
levantando as orelhas, interessado em mim. Ben se posicionou atrás dele, pronto para qualquer
intercorrência. Me aproximei para deixar que Sheik sentisse o cheiro da manta. Ele esticou o
focinho por todo o lado, intrigado, mas não fez nenhum movimento suspeito.
Então, me ajoelhei no chão e ele se sentou na minha frente. Abri a manta e Daniel se
mexeu, fazendo Sheik se assustar minimamente e então se aproximar, cheirar os pés, as mãos,
até a cabeça. Ele ficou ali observando, até que deitou a cabeça no meu colo, apoiando em Daniel
também, se acomodando ali, me fazendo sorrir e fazer carinho nele.
— Sabia que você seria assim, um lindão! — Me estiquei para lhe dar um beijo e
Daniel resmungou, estava na hora da mamada. — Vou tomar um banho rápido, ok? — Deixei
Danny com Ben.
— Vai tranquila, ele ainda só está resmungando — Corri para o banheiro e
rapidamente estava de volta, colocando o bebê para mamar, coisa que ele fazia avidamente —
Esse menino é um esfomeado, olha a força com que ele suga.
— Mais forte que a bombinha na ordenha.
— Duas coisas, meu amor. Primeiro, eu estou morrendo de fome e você também deve
estar já que tem um bezerrinho agarrado a você. Pedi comida para um batalhão, ok?
— Qual era a segunda coisa?
— Ah, temos que avisar o pessoal sobre o nascimento.
— Manda uma mensagem para todos eles e peça para virem para cá, não dê maiores
detalhes, eles virão correndo. — Ele riu da minha sugestão.
— Sórdida. Eles vão mesmo fazer isso, por isso já pedi comida extra para todos.
Continuei dando de mamar pra Daniel, Sheik permaneceu deitado ao nosso lado
enquanto Ben mandava as mensagens e logo começou a rir alto.
— Vou cronometrar, linda, eles vão vir correndo. Nick e Hannah estão achando que
vamos revogar o apadrinhamento deles por estarem sumidos e Carl e Nate entraram na onda e
estão vindo assim também para tentar ganhar o título.
Assim que Danny terminou de mamar, Ben fez o processo que tanto quis fazer, colocá-
lo para arrotar e então seguirmos juntos para o berçário — seguidos de Sheik, claro — para a
primeira troca de fralda em casa. Ben me pediu para auxiliá-lo com todos os passos, já que esse
era o primeiro contato dele com um bebê.
Não tinha qualquer problema em ensiná-lo, sabia que ele iria ser um aluno aplicado,
afinal, não havia nada que Ben queira mais do que ser um pai perfeito para Danny. Como agora.
Ele trocava a fralda do bebê sozinho, ainda que eu estivesse parada ao seu lado, pronta para
interferir se necessário. O que não aconteceu, eu apenas fiquei observando os meus amores,
sorrindo feito uma boba apaixonada e encantada por eles.
— Você é muito lindo, sabia? Todo perfeitinho, mesmo que esteja caprichando nas
fraldas com menos de um dia de vida.
A atmosfera do ambiente era diferente agora, era perfeita, cheia de amor em todos os
cantos, em cada pequeno gesto feito. Ben fez tudo ostentando um lindo sorriso no rosto, os olhos
brilhavam admirando o filho. Até que terminou e sentou na poltrona de balanço, acomodando o
bebê confortavelmente nos braços e ficou fazendo carinho no rostinho dele com a ponta dos
dedos. Chegava a ser engraçado um homem tão grande lidando com um serzinho tão pequeno e
delicado.
Encostei o quadril na cômoda escrutinando a cena à minha frente, sem deixar de pensar
que apesar de que eu e Ben já fossemos uma família antes do nascimento de Danny, agora nós
éramos completos.
Meu coração transbordava, me sentia plena e repleta de sentimentos bons por nos
vermos juntos assim. Silenciosamente, pedi proteção para minha família, que nada acontecesse
ou nos abalasse. Eles eram tudo de mais importante que eu poderia querer preservar e amar. Meu
marido, meu filho e meu filho canino, deitado aos pés do pai com o irmão no colo. Era
impossível não deixar a emoção tomar conta de mim, torcendo comigo mesma para que eles
estivessem sempre embebidos de amor, carinho e respeito.
— Ei, meu amor, o que houve? Por que está chorando? —Ao mesmo tempo em que
nunca me senti tão contente e extasiada, sentia um aperto no peito apenas de pensar em algo ruim
acontecendo a qualquer um deles, estragando ou maculando tudo que estão construindo. Ben
pareceu ler meus pensamentos através de meus olhos, e esticou a mão livre me chamando. —
Vem cá, senta aqui com a gente. — Assim eu fiz, com pressa, sentando na coxa dele do lado
oposto ao que ele segurava o bebê, abraçando meu marido pelo pescoço— Quer me falar o que
aconteceu?
— Faz muito tempo que eu não me sinto assim tão bem. Meu sentimento é de
plenitude, esse aqui é o meu nirvana. Ver vocês aqui, ver a gente junto é tudo que eu mais queria,
eu conquistei minha família. Vocês três são os meus bens mais preciosos. Mas, ao mesmo tempo
em que nada nunca me fez tão feliz, eu estou com medo. Medo de que algo aconteça e nos abale.
Eu não vou suportar se algo ruim acontecer, não vou aguentar perder minha família novamente.
— Olha pra mim. Por que pensar nisso agora?
— Porque isso nunca aconteceu, esse sentimento de felicidade plena. Sempre tive
algum problema para lidar, isso aqui está tudo muito perfeito e minha vida nunca foi assim. Por
mais que eu esteja agradecendo por isso, tenho medo da rasteira que a vida pode me dar. — A
angústia crescia no peito — Recebi uma notícia horrível há poucas semanas, quando eu achava
que nada poderia abalar minha felicidade após nosso casamento. Agora que me vejo feliz mais
uma vez, tenho medo de algo estragar tudo novamente.
— No que depender de mim, nada vai nos acontecer, nada! Eu te disse isso hoje, vocês
são a minha vida e eu vou proteger vocês de tudo que estiver ao meu alcance. Isso aqui, nossa
família, é o meu sonho realizado, e agora que eu o realizei eu não vou abrir mão dele, vou vivê-
lo com toda a intensidade que me for possível. Eu amo vocês, meu amor, com tudo que há em
mim.
— Obrigada por isso, eu amo vocês.
— Vou colocá-lo no berço para ele dormir melhor até os loucos chegarem e enquanto
isso vou tomar um banho, ok?
Peguei a babá eletrônica e fui para a sala, esperando que Sheik me seguisse, mas não,
ele permaneceu deitado no quarto de Daniel, na sua caminha ao pé do berço. Fiquei ali na porta
olhando os dois, e logo Ben se juntou a mim, me abraçando pela cintura, cheiroso, com os
cabelos molhados e uma roupa confortável para usar em casa com visitas.
— Admirando suas crias?
— Estou chocada que Sheik me abandonou e ficou aqui. — Mal terminei de falar e ele
gargalhou até se lembrar do bebê e cobrir a boca, me puxando para sala e deixando os outros
dois dormindo no quarto, apenas para tirar sarro da minha cara — Foi trocada? Agora sabe como
eu me senti quando ele fez o mesmo comigo quando te conheceu.
— Não tem graça, palhaço.
— Tem sim.
Ben ainda ria quando escutamos o elevador anunciando a chegada de todos, já que
tínhamos avisado na portaria que iriam chegar visitas e a subida estava liberada. Os quatro
chegaram juntos e disputavam a saída do elevador, se apertando ao tentar passar todos ao mesmo
tempo.
— Qual de vocês está com a mão na minha bunda? Eu sou a única mulher, tenho
preferência, me deixem sair primeiro.
— Nada disso, igualdade de gênero, querida. Não podemos subestimar mulheres, se
lembra? — Nick implicou.
— Puta que pariu, alguém sai de uma vez senão vamos morrer esmagados por essa
porta. — Carl resmungou.
— Eu sou o mais velho, tenho preferência. — A voz de Nate saiu abafada pelo rosto
amassado no ombro de Nick nos fazendo rir até que Hannah se espremeu entre os três grandões e
conseguiu sair, sendo seguida pelos outros, que entraram e logo se acomodaram no sofá
respirando fundo pelo esforço.
— Oi pra vocês, pessoal. Tudo bem? Entrem, fiquem à vontade. — Ben, ainda
abraçado a mim, esconde uma risada no meu cabelo.
— Desculpa, medusa. Esses três não tem educação.
— E você tem, por acaso, Nicholas?
— Claro, sou perfeito. — Hannah e Carl reviraram os olhos.
— O que fez vocês nos chamarem aqui com tamanha urgência?
— Finalmente se tocaram que Nick não é uma boa opção para padrinho de Danny e
vão me dá-lo no lugar? — Carl deu continuidade à curiosidade de Hannah.
— Carlton, você é um péssimo amigo.
— Nick, você só serviria para ser padrinho do anticristo. E... — Nate olhou ao redor —
Falando nele, cadê aquele projeto de cachorro?
— Para responder isso precisamos dar outra notícia antes.
— Vocês tem um problema em dar notícias, toda vez esse mesmo suspense. O que
houve dessa vez? — Hannah reclamou.
— Alguém morreu? Sheik?
— Nem fala uma coisa dessas, Carl.
— A medusa é mesmo apaixonada pelo anticristo.
— Nicholas, se você não quer deixar seu papel de padrinho de lado, te aconselho a não
provocar. — Ele arregalou os olhos, prensando os lábios um no outro.
— Querem ou não saber o porquê vieram até nossa casa?
— Fale de uma vez, McKnight.
— Nasceu de sete meses, Nathaniel? — Nate revirou os olhos.
— Vou buscar. — Sumi pelo corredor, deixando os quatro para trás tentando arrancar
alguma informação de Ben. Daniel ainda dormia e Sheik permanecia ao lado do berço —
Desculpa te tirar do seu conforto, meu amor, mamãe promete te colocar de volta logo para você
dormir bem. — Saí do quarto com ele no colo e, agora sim, Sheik me seguiu.
— Olha o anticristo vindo ali. — Nate disse, mas Nick se levanta do sofá em um pulo e
de olhos arregalados.
— Medusa, isso que você tem nos braços é o que eu estou pensando que é?
— Daniel? Danny? O bebê? Nasceu? Onde? Como? Quando? Por que a gente não foi
avisado? Desde quando estão em casa?
— Hannah banana, respira. Uma pergunta de cada vez.
— Eu achava que ainda tinha alguns dias pela frente, ele nasceu prematuro? Por que
ele está em casa se é prematuro? — Carl perguntou com os olhos arregalados e Nate se afastou.
— O anticristo está nos encarando mais sério do que o normal.
— Gente, um de cada vez. — Ben se meteu na confusão — Hannah, Nick, seu
afilhado. Carl, Nate, seu sobrinho. Daniel, meu filho, bem-vindo à loucura que é viver com essa
família.
Os quatro riram e se aproximaram de mim. Hannah pediu para segurá-lo, e eu o
entreguei, a tempo vê-la se afastar e se sentar no sofá com Nick debruçado sobre ela encarando o
bebê.
— Nosso afilhado, loira. — Ele sorria para ela.
— Nosso, ruivo.
Ela olhou para ele com um sorriso estranhamente afetuoso. Eles viviam nessa
implicância desde sempre, mas parecia ter algo diferente naquele gesto em particular. E
aparentemente não fui apenas eu que percebi. Ben me olhou com o cenho franzido e um olhar
questionador e logo percebi Nate e Carl também me olhando com a mesma expressão e eu só dei
de ombros para os três, deixando claro que também não entendi o que foi aquilo.
Carl e Nate se juntaram aos outros dois e ficam babando e admirando o bebê. Danny
passou por um rodízio entre eles e só voltou ao berço quando a comida chegou e os curiosos
puderam finalmente se atualizar das novidades e descobrir toda a história por trás do nascimento
inesperado.
— Então, como ele nasceu antes do Natal, vamos ficar aqui na casa de vocês? — Em
determinado momento, Nate questionou.
— Desculpa, Emma, mas é meio que uma tradição nossa passar o Natal e ano novo
juntos.
— Desculpa porque, Carl? Vocês são a minha família também, nem passou pela minha
cabeça que vocês não estariam aqui conosco. — Os três sorriram e Nick se arrastou até mim, me
sufocando em um abraço e beijos na bochecha.
— Medusa é mesmo muito especial, não é?
— Desinfeta de cima da minha mulher, Nicholas. — Retribui o abraço de Nick antes
dele se afastar.
Ben nunca entrou em muitos detalhes sobre a vida dos outros três, mas sabia que, assim
como era ele, a questão familiar era complicada em suas vidas, portanto, desde que se
conheceram passaram todos esses feriados juntos, os quatro, e agora, todos nós juntos.
— Loira diabólica, você vai ficar com a gente ou vai ficar com seu noivinho de araque?
— Nick questionou Hannah.
— Com vocês, se não tiver problema. — Hannah não se estendeu no assunto e
ninguém a questionou dos motivos disso.
— Que problema teria, Hannah Banana? Você é tão da família quanto qualquer um
aqui. — Abracei minha amiga.
Pouco depois, vou atrás para amamentá-lo e Hannah me fez companhia e usou de seus
conhecimentos médicos para me dar dicas. Eles quiseram nos dar certa privacidade então não
demorou muito para todos irem embora, combinando que eles ficariam responsáveis por tudo
necessário para a ceia de Natal dali a poucos dias.
Antes de irmos dormir, liguei para o Sr. T, combinando a vinda dele para NY, e ele
afirmou que estava ansioso para o nascimento do neto. Escolhi fazer surpresa para ele e deixar
para apresentar o bebê apenas quando ele chegasse.
Demos um banho em Danny e depois de mais uma mamada o colocamos para dormir, e
depois seguimos para o quarto onde Ben me arrastou para uma chuveirada rápida.
— O dia foi cheio hoje, estou cansada. Muito feliz, mas cansada. —Compartilhei,
assistindo meu marido se aproximar de mim na cama, me puxando para um beijo.
— Senhora McKnight, antes que nossa vida vire um caos de madrugadas em claro, vou
pagar minha promessa. Você me disse o que mesmo? Ah é, que minha versão paizão é o que
mesmo? Sexy?

Já era manhã de Natal, cinco dias depois do nascimento de Daniel e a nossa vida nunca
esteve melhor ou mais feliz do que agora. Estávamos podres e cansados, mas extremamente
felizes.
Tateei toda a cama mas não encontro Emma, e só podia imaginar que Danny chorou e
ela foi até ele. Me despertei por completo, fiz o que precisava rapidamente notando que estava
quase na hora de buscar Rupert na rodoviária. Ofereci, mais de uma vez inclusive, passagens
aéreas, para evitar tanto o cansaço com a viagem, mas ele recusou.
Como imaginei, encontrei Emma no quarto de Daniel, amamentando o bebê que
sugava sofregamente, enquanto ela cantava algo baixinho. Danny olhava de volta para ela
enquanto segurava seu dedo e mantinha a boquinha ocupada. Demorei um pouco para identificar
a música que ela cantarolava para ele, até perceber que era Forever Now, do Michael Bublé.
Talvez a cena tenha entrado para a lista das coisas mais lindas que já vi, era
simplesmente encantador assistir o apego que eles tinham um com o outro. Daniel a olhava como
se ela fosse seu alicerce. Era lindo de ver.
— Acordou, meu amor. Vai ficar aí na porta? — Fui até ela, deixando um beijo na
cabeça de Daniel antes de beijar minha esposa com todo meu amor — Nossa, isso que chamo de
bom dia. Acordou inspirado, foi?
— Apaixonado. Estava contemplando a cena, amei a música.
— Depois que você o trocou de madrugada, não demorou muito para ele me acordar
resmungando, vim ver o que estava acontecendo, mas não descobri. Tentei dar de mamar, tentei
ver se era a fralda novamente. Acho que era cólica, fiz uma massagem na barriguinha e essa
música veio à mente, cantarolei para ele e ele parou.
— Amei assistir isso, queria ficar por aqui com vocês mais um pouco, mas preciso
correr na rodoviária. Volto com nosso café da manhã, ok?
— Tudo bem, vou terminar aqui e tomar um banho, tirar esse cheiro de leite de mim.
— É linda e cheirosa, não se preocupe com isso. — Dei um cheiro em seu pescoço,
beijei seus lábios novamente antes de ir.
Não demorou muito para que eu e Rupert estivéssemos voltando para casa, com sacolas
de comida para nosso café da manhã. Não comentei nada sobre Daniel, mas passei todo o tempo
sorrindo com a empolgação do senhor em passar o Natal com a nova família e Emma, mal sabe
ele que teria o neto nos braços. Ele, inclusive, comentou que, apesar de ter saído de NY há pouco
tempo, já pensava em voltar, para poder ficar perto da filha e do neto.
Antes mesmo de Emma o chamar de pai sem querer, era assim que eu já o via, como
um sogro. O discurso dele para mim no casamento apenas reafirmou isso, ele era a figura paterna
que ela tinha atualmente, independente da forma como um chegou à vida do outro.
— Vou chamar Emma. Por que o senhor não arruma a mesa para o café? Pode ficar à
vontade para mexer no que quiser.
— Ótimo, estou com saudade da minha menina.
Deixei meu sogro organizando as coisas pela cozinha e fui até Emma no nosso quarto e
a encontrei terminando de se vestir, anunciando minha chegada e notando o sorriso trêmulo.
— O que foi?
— Vai rir de mim se eu falar que estou nervosa? — Escondeu o rosto nas mãos.
— Para apresentar o neném ao seu pai?
— É isso, não é? Aquele dia eu disse ‘pai’ sem perceber, mas cada vez mais eu o vejo
assim. Ele me liga ou me manda mensagens todos os dias, conversa comigo sobre as coisas mais
banais, me conta das suas consultas médicas, pergunta da minha vida, do nosso casamento, te faz
ameaças caso descubra que você não está cuidando bem de mim, coisas de pai mesmo. Confesso
que esses dias no final de uma dessas ligações eu quase disse ‘tchau, pai’.
— Meu amor, se você sente isso, se te faz bem, fala, eu tenho certeza absoluta que ele
vai amar ouvir você o chamar assim, não tem nada de errado nisso. — Fomos juntos para o
quarto de Daniel, ela o pegou nos braços e nós três, seguidos de Sheik, seguimos para a cozinha.
— Ah, Ben, só faltou… — Rupert não completou a frase ao ver Emma e Daniel. — É
quem eu estou pensando que é? — Emma sorriu, com os olhos marejados e os lábios trêmulos.
— Daniel, esse é o vovô. — Ela estendeu o bebê para o senhor que sorria emocionado
pegando o neto no colo, balançava-o nos braços de um lado para o outro. Passava a mão
enrugada pela cabeça cabeluda do neto, antes de se acomodar no sofá. Percebi a emoção nos
olhos dele, sabia que Emma era uma única filha para ele e podia compreender o que se passava
pela sua cabeça.
— Oi, Daniel, não liga pra esse velho bobo chorão. Vem cá, minha filha, senta aqui,
estou com saudade de você também. — Emma sorriu, fazendo o que ele pediu, recebendo um
abraço no mesmo instante — Obrigado por esse presente, eu vou ser o avô mais feliz do mundo,
vou estragar essa criança com tanto mimo de avô.
— Olhe só. Rupert, ele mal nasceu e o senhor já tem planos sórdidos?
— Mas é claro, Ben, vamos aprontar juntos. A hidroginástica e caminhada que eu faço
vão me servir muito bem pra me ajudar no ânimo para fazer tudo isso com ele. — Ele olhou para
Emma com carinho — Eu vou mesmo me mudar de volta para cá, não vou conseguir ficar longe
de vocês. Obrigada por isso, minha filha, este vai ser o Natal mais especial de todos. Feliz natal,
Daniel.
Ele deixou um beijo na testa dele, fez um carinho no bracinho e no queixo, então olhou
para Emma e sorriu antes de lhe dar um beijo na testa também.
— Feliz natal, minha filha.
— Feliz natal, pai. — Quando ele se deu conto do que ouviu, me aproximei e peguei o
bebê de seu colo. Estava com medo de derrubá-lo em meio à sua emoção.
— Pai? Me chamou mesmo de pai? — Ele chorava junto dela.
— É o que o senhor é para mim, um pai. — Rupert a abraçava com força.
— Você é luz na minha vida, Emma, você surgiu no pior momento da minha vida e o
tornou suportável, me arrancava gargalhadas quando tudo que eu queria fazer era me deixar
afogar em minhas mágoas, você me deu carinho quando eu mais precisava, e agora, me deu o
que eu nunca tive, a paternidade. Eu amo você, minha menina, honrarei o amor de seus pais
biológicos por você, farei jus à memória deles.
— Eu também amo o senhor, meu pai.
— Meu Deus, se eu não morri do coração hoje, eu não morro mais. Ouvi-la me
chamando de pai, ganhar oficialmente uma filha e um neto no mesmo dia não é pouco para um
coração velho como o meu. — Emma ria e apertava o abraço novamente antes de se afastar,
limpar as lágrimas do rosto dele e dar um beijo respeitoso na testa.
— Vamos tomar café, antes que nos afoguemos em lágrimas?
— Temos muito a comemorar hoje, quando aqueles malucos do vestido e a minha
Hannah maluquinha vão aparecer?
— Não vai demorar muito, vão vir para o almoço e ficarão até a noite por aqui.
— Teremos casa cheia hoje, pai. — Emma brincou — Daniel que lute com a barulheira
e o tanto de colo que vai ganhar.
E realmente foi o que acontece.
Todos eles chegaram já se espalhando pela casa, trocando presentes independente de
estar ou não no momento adequado para isso. Inclusive Emma não se esqueceu e realmente deu
um exemplar de Orgulho e Preconceito para Nate para que ele nunca mais cogitasse questionar
quem era Mr. Darcy. Na verdade, Nate apenas ganhou livros de romance, dos mais variados
possíveis e de todos nós, o que só tornou as coisas ainda mais engraçadas.
Daniel passou pelo colo de todo mundo, revezando de um para o outro sem encostar a
bunda no seu próprio berço. Os tios, tia e avô até se sujeitaram a trocar fraldas para não perder a
vez na fila para colo que eles formaram. Isso só não acontecia quando era a hora de mamar.
Aquele era um momento apenas dele e da mamãe.
Puxei Emma para um abraço e um bom beijo assim que ela passou por mim, mantendo-
a colada a mim por um tempo, apenas aproveitando o carinho que ela fica fazendo em mim.
— Sempre quis isso, casa cheia nas festas e feriados, nossos amigos, seu pai, nosso
filho e nosso cachorro. Nossa família, meu amor.
— Feliz natal, minha vida, o primeiro de muitos.
— Feliz natal, meu amor. — Recebi seus lábios mais uma vez, até Daniel resmungar e
Carl nos entregar o bebê, me dando a chance de ter todo meu mundo naquele abraço.
— Feliz natal, filho. — Emma sussurrou no ouvido dele.
Não havia nada mais que eu precisasse na vida a não ser a felicidade de minha família,
todos eles aqui presentes, mas em especial as duas razões de minha existência.
Capítulo 37 – Benjamin McKnight

Essa semana Daniel completaria um mês de vida e as coisas por aqui começaram a ficar
cada vez mais caóticas. Me preparava para voltar a trabalhar hoje, já que minhas duas semanas
de férias após o recesso de final de ano acabaram hoje e precisava voltar e assumir meu posto na
presidência novamente.
Apesar de estar cansado com toda essa nova rotina com um recém-nascido em casa,
nunca estive mais feliz. Emma seguia firme na amamentação e recebeu elogios tanto de Natalie
quanto do pediatra de Danny pelo ganho de peso dele.
Sheik era fiel escudeiro do bebê, onde um estava o outro também estava, e o único
momento que parece tê-lo afetado foi o fato de eu ter diminuído a frequência das nossas corridas
no parque, fazendo ele ficar inquieto em alguns dias. Emma comentou que poderia ser isso e,
apesar de cansado pelas noites mal dormidas, voltei a correr com ele toda manhã, e acabei sendo
beneficiado também, pois sentia um gás no meu ânimo ao fazer isso.
Tive apenas que segurar o esforço por alguns dias por ter feito a vasectomia, logo após a
virada de ano, acompanhado de Nate, pois Emma ficou em casa por conta do bebê. A cirurgia foi
ambulatorial, por ser considerada de pequeno porte, realizada apenas com uma anestesia local,
durou em média 20 minutos e foi tranquila.
Fui liberado menos de duas horas depois e o pós-operatório consistiu em basicamente
evitar esforço físico, aplicar gelo na região, tomar alguns remédios e, claro, me abster de sexo
por pelo menos dez dias. O médico ainda me alertou sobre a necessidade de ainda fazer uso da
camisinha por algumas vezes até que fizéssemos o espermograma e então constatássemos que a
cirurgia foi bem-sucedida.
Não podia negar que estava ansioso para ser liberado a voltar a ter relações com minha
esposa, estava complicado vê-la tão linda pela casa e não poder fazer nada. Inclusive agora,
acabei de acordar pronto para me arrumar para ir ao trabalho e Emma estava jogada na cama,
cansada pela noite mal dormida já que Danny tem tido uns episódios de cólicas e exigindo mais
de nós dois, mas principalmente dela. A camisola que ela usava, específica para esse momento
de amamentação, soltou o gancho que prendia a renda dos seios, e eles estavam perfeitamente
expostos, me atiçando.
Resmunguei por mais um dia que passei sem usufruir do corpo de minha esposa, mas de
hoje não passava, hoje mataria minha vontade de Emma. Lhe dei um beijo suave para que ela
não acordasse e fui para o banho.
Ouvi Danny resmungar assim que saí do quarto, indo direto para o dele antes que
acordasse Emma. Sheik já estava de pé, com o focinho enfiado na grade do berço olhando para o
bebê. Sorri para ele e faço um carinho em suas orelhas, antes de me debruçar no móvel e pegar
meu filho resmungando no colo.
— Oi pequeno, já acordou? — Beijei a cabecinha dele enquanto o embalava nos braços
— Hm, estou sentindo a fralda pesada, é isso que está te incomodando? Papai dá um jeito nisso.
Levei ele até o trocador e o deposito ali com cuidado. Troco fraldas desde o primeiro dia
de vida dele, mas agora conseguia fazer isso sem me tremer inteiro achando que iria machucá-lo
de alguma forma.
— Nossa, filho, o leitinho da mamãe é poderoso mesmo, não é? Coitado de você, só um
banho vai resolver essa situação. Que horror, Danny, sujou até a roupa. — Daniel sorriu para
mim. O pediatra comentou que ainda eram sorrisos reflexos e não algo intencional do bebê como
resposta a alguma coisa ou a algum estímulo, mas não deixava de ser lindo e comovente — Você
ri? Papai que vai ter que limpar essa lambança enquanto você só aproveita.
Ri sozinho pensando que há um mês nunca tinha sequer segurado um bebê nos braços,
quanto mais um recém-nascido, e agora, fazia isso de olhos fechados enquanto usava a outra mão
para fazer outra coisa, como agora que preparava um banho para livrar meu filho da podridão
naquela fralda, tão horrível que até Sheik espirrou.
— Está difícil, Sheik. Seu irmão caprichou dessa vez.
Testei a temperatura da água como Emma me ensinou e quando percebi estar morninha,
acomodei o bebê que sorria abertamente. Depois de mamar, a coisa preferida dele era tomar
banho, a parte de sair da água que às vezes se tornava um problema, motivo para choro.
— Pequeno, hoje o papai vai voltar a trabalhar. Eu vou sentir muita saudade de você,
desses seus risinhos, de pegar você no colo e fazer você arrotar depois de mamar. Não fala para
mamãe porque senão ela vai se aproveitar disso, mas vou sentir falta até dessas bombas que você
solta para o papai resolver. Você vai ficar sozinho com a mamãe e o Sheik, seja bonzinho com
ela, ok? Dorme direitinho para ela poder descansar também, que hoje à noite ela é do papai e
você precisa se comportar perfeitamente para que isso aconteça. Estamos combinados? — Ele
fez um sonzinho tentando chupar os dedos enquanto me escuta e me olha com os imensos olhos
azuis imensos — Vou considerar isso um sim, ok?
Não demorou e tinha um lindo, limpo e perfumado bebê arrumado em meu colo. E
faminto, percebi quando ele resmungou. Ainda não queria acordar Emma, então resolvi dar uma
mamadeira para ele. Vou até a cozinha e peguei do congelador um dos saquinhos com leite
materno que Emma ordenhou. Fazíamos esse esquema, às vezes, para que eu conseguisse
amamentá-lo e Emma descansasse um pouco.
Me sentei na poltrona do quarto e, como o belo esfomeado que era, mamava com
vontade. Danny estendeu o bracinho livre e procurou pelo meu dedo me fazendo sorrir
emocionado. Todas as vezes em que era eu a dar de mamar ele fazia isso.
Ele terminou a mamadeira e deu o mesmo suspiro de satisfação que soltava todas as
vezes. Cobri meu ombro com uma toalhinha, evitando que precisasse trocar de roupa novamente
antes de sair e aguardo pelo arroto.
Fiquei com ele ali, no colo, encarando os olhinhos relutantes contra o sono, lhe dei um
beijo na testa e sorri, orgulhoso de mim mesmo. Era para meu filho tudo aquilo que eu queria
que meu pai fosse para mim. Eu e Emma somos os pais que idealizei, não quer dizer que éramos
perfeitos, mas dávamos nosso melhor.
— Essa é a minha versão favorita de você. — Escutei Emma dizer, da porta, assim que
Daniel dormiu.
— Está aí há muito tempo? —Praticamente sussurro enquanto levantei para acomodá-lo
no berço novamente, antes de sair do quarto arrastando Emma comigo. — Bom dia, meu amor.
— Ela se pendurou em mim, beijando-me.
— Bom dia. Temos tempo para um café da manhã juntos antes de você ir?
— Eu sou o chefe, não tem ninguém para reclamar do meu provável atraso e tomar café
com você é prioridade. — Ela me beijou novamente, mas senti ela inspirando minha roupa —
Estou cheirando a leite? Ou a cocô?
— Não, bobo, cheiro de Ben.
— Bom? — Beijei seu pescoço.
— O mais cheiroso.
Apesar de brincar com a questão de ser chefe, detestava atrasos, então comi o mais
rápido que pude e segui em direção à porta de casa, depois de ter dado um último beijo em
Danny, claro.
— Ainda bem que todo mundo me conhece na empresa e sabe que você está muito bem-
casado, quero nem pensar nesses meses que vou ficar afastada sem ficar de olho em qualquer
sirigaita que olhe demais pro que é meu.
— Seu? — Provoquei e ela desceu a mão que estava em minhas costas para a minha
bunda.
— Exclusivamente meu.
— Não se preocupe, esposa ciumenta, só tenho olhos pra você.
— Acho bom. — Se esticou na ponta dos pés— Me liga se precisar de alguma coisa por
lá, mesmo longe eu consigo ajudar em alguma coisa rápida se precisar.
— Pode deixar, você também, ok? Se estiver difícil por aqui, me liga.
— Vai tranquilo, tenho certeza que ele vai se comportar muito bem e… — Se esticou
para alcançar minha orelha — Hoje à noite é nossa, da mamãe e do papai.
— Ouviu minha conversa com Danny, não é, intrometida?
— Não sei do que está falando. — Ela se faz de desentendida.
— De qualquer jeito, é isso mesmo, hoje você é minha, toda minha.
— Vai, meu amor, antes que eu te impeça de ir e você resolva ficar.
Estava com um pouco de saudade da minha rotina de trabalho, mas o que queria mesmo
era que o dia passe voando, e de preferência sem tantos problemas, para que eu voltasse para
casa e pudesse me embriagar de Emma.
Eu só não esperava ser bombardeado com mil coisas diferentes para resolver. Primeiro
dia de volta e já queria férias novamente.
Tudo estava estranho nesse lugar.
Assim que cheguei e saí da garagem em direção ao elevador, me deparei com olhares
atravessados de alguns dos meus funcionários, poucos deles, mas notei. Cheguei à minha sala, já
desocupada por William, ainda estranhando e com uma sensação estranha de que havia algo
errado. Felizmente, era com William que tenho a minha primeira reunião e poderia tentar
descobrir o que diabos estava acontecendo.
— Bem-vindo de volta, Ben. — Ele me cumprimentou assim que entra na sala.
— Obrigado, mas por que será que acho que está prestes a soltar uma bomba nas minhas
mãos? — William se soltou na cadeira à minha frente e abaixou os ombros.
— Eu realmente não queria fazer isso, Ben, tentei abafar esse assunto na sexta feira
quando surgiu e realmente achei que tivesse conseguido, mas ontem, recebi uns e-mails e
comprovei que não resolvi nada e que a situação se agravou. — Ele esfregou as mãos pelo rosto
— E antes que você me pergunte, eu não te falei nada antes por ter achado que tinha resolvido e
não te liguei entre ontem e hoje porque você já viria hoje de qualquer forma e preferia conversar
sobre isso pessoalmente.
— Puta que pariu, é aquela história de Courtney?
— Também, mas tem mais coisa envolvida no meio.
— Vamos William, desembuche, me conte tudo.
— Bom, vou te contar como esse assunto surgiu. Essas duas semanas foram, de modo
geral, bem tranquilas, os mesmos pequenos problemas de sempre, mas nada que não
estivéssemos preparados para lidar. Sei que não me pediu isso, mas fiz relatórios diários dos
acontecimentos e das minhas decisões para que você pudesse se inteirar de tudo. — Ele me
estendeu uma pasta com uma quantidade razoável de papéis dentro, com grifos em pontos
específicos.
— Obrigado, vou ler depois com calma e qualquer coisa conversamos sobre. Mas, então?
O que houve?
— Na sexta-feira, eu desci para almoçar no refeitório e então comecei a ouvir uns
burburinhos, não estava exatamente entendendo o assunto por completo, apenas pesquei
pequenas informações aqui e ali e ouvi mencionarem o seu nome e o de Emma, além do de
Courtney. Ouvi comentarem sobre a nota que James soltou anunciando o nascimento do bebê de
vocês, mas não consegui, até aquele momento, identificar exatamente qual era o problema.
— E descobriu depois?
— Sim, assim que subi chamei Mary aqui na sala, já que ela tem o costume de almoçar
sempre no refeitório, imaginava que ela saberia melhor do que eu sobre o que estava
acontecendo. Se importa se ela entrar e te contar o mesmo que me contou? E então te conto o que
fiz e o que aconteceu depois.
— Que novela, vou chamá-la. — Interfonei para a estação de Emma onde Mary estava
trabalhando e minutos depois ela entrou na sala.
— Olá, Benjamin, bem-vindo de volta, meus parabéns pelo bebê, minhas felicitações a
você e Emma. — Cumprimentei, sem estranhar o tratamento informal em relação a mim e minha
esposa já que trabalhamos juntos há muito tempo.
— Obrigado, Mary, mas sem mais enrolações, pode me dizer, por favor, qual foi o
burburinho que rolou na semana passada? — Ela pareceu constrangida.
— Como eu disse à William, a confusão começou quando a secretária do Sr. Louis
começou a espalhar aqui e ali que a nota que anunciava o nascimento do seu filho era muito
estranha, dado que ela presenciou uma situação entre a Srta. Bittencourt e Emma, em que ela
reclamava algo sobre vocês não estarem a assistindo financeiramente.
— Que inferno.
— Pelo que eu soube, ela e o Sr. Louis conversaram sobre isso e ele, aparentemente,
pontuou que também estranhou toda a situação e que, apesar de ter conversado com você a
respeito, continuava achando tudo muito estranho e que tinha coisas escondidas por trás disso
tudo e que a empresa poderia sair prejudicada disso tudo.
— Vocês acham que ela e Louis estão agindo em conluio, por algum motivo? — Os dois
concordaram — Eu só não entendo o porquê disso, se a confusão só começou, em primeiro
lugar, porque eles levantaram essas desconfianças todas em um assunto que nem os diz respeito.
Se isso afetar a empresa de alguma forma, é por pura displicência deles mesmos.
— Aí está o cerne da questão, Ben. — William interferiu — Pensa comigo, esquece que
eles espalharam esse assunto. Se você, como CEO, prejudica a empresa de alguma forma com
sua vida pessoal supostamente desregrada, como a diretoria e funcionários procederiam?
— Poderiam abrir uma reclamação sobre mim para o conselho e, dentre inúmeras
sanções, poderiam pedir a minha destituição do cargo, ainda que eu continuasse sendo o sócio
majoritário.
— Exatamente, e, agora, pensando neles, ainda que inicialmente eles tenham sido os
responsáveis por espalhar as suas atitudes condenáveis e, caso o conselho mordesse a isca e fosse
pra cima de você, eles…
— Eles seriam vistos como os ilustres e bondosos que salvaram a empresa de um CEO
imoral. — Completei, minhas mãos já nos cabelos, bagunçando para todos os lados — Mas que
porra, William.
— Mary? — Ele a instigou a continuar.
— Benjamin, com isso em mente, eu conversei com William e então fui até a senhorita
Morris para descobrir mais sobre. Me desculpe, mas entrei na onda dela em desconfiar de você
para que pudesse ir mais à fundo na história. Ela basicamente repetiu toda a história e então disse
que, apesar de você e Emma aparentarem ser pessoas do bem, claramente não eram quando
estavam deixando ao léu uma mulher grávida do seu próprio filho. Então, eu dei corda dizendo
que concordava com ela, que achava isso mesmo de vocês.
— E o que descobriu?
— Bom, ela se empolgou e foi mordendo todas as iscas que joguei. Em algum momento
eu disse que não concordava com o relacionamento entre o senhor e sua esposa, apenas para ver
o que ela iria falar e, para minha surpresa, foi quando ela discordou. — Ri ironicamente.
— Me deixe tentar adivinhar: ela disse que achava lindo um relacionamento entre chefe
e funcionária porque Louis vem mantendo um caso com ela, apesar de ser casado e, muito
provavelmente, ele prometeu algo grande para ela caso toda essa história se desenrolasse como
eles pretendiam, ou ainda pretendem. Acertei?
— Sim, e eu sei o que ele prometeu. Prometeu o cargo de Emma como assistente
executiva, pois, se conseguissem tirar o senhor da presidência, tirá-la desse cargo seria
infinitamente mais fácil. — Tomei meu tempo para respirar fundo.
— Sinceramente, que coisa mais irritante lidar com gente que quer lucrar em cima dos
outros, desvirtuando assuntos, inventando e aumentando histórias apenas para serem
privilegiados.
— Sinto muito, Benjamin.
— Obrigado Mary, pode voltar à sua mesa e, por favor, se lembre do que lhe disse, sem
comentários sobre esse assunto por aí. — William interferiu.
— Claro, se precisarem de mim é só chamar, com licença. — Ela se retirou.
— Desculpa tomar a frente, Ben, mas queria te dizer o que fiz a partir daí, depois que
Joanna me falou tudo isso.
— Você ainda conseguiu pensar em algo? Porque eu estou completamente atordoado.
— Eu não estou no olho do furacão como vocês estão, Ben, é mais fácil ver uma solução
quando se está de fora.
— E o que conseguiu fazer?
— Como presidente interino, eu convoquei uma reunião de emergência no conselho,
deixando Louis propositalmente de fora, desavisado. Fui até eles e abri o jogo, contei tudo o que
aconteceu, que Louis interpretou uma situação de sua vida pessoal de maneira errônea e agora,
em conluio com a senhorita Morris, vem tentando macular seu nome e sua imagem na empresa,
claro, você e Emma.
— Eles compraram a ideia?
— Sim, completamente, inclusive alguns disseram que viram o relacionamento de vocês
como algo respeitoso e fora da empresa, que apesar de trabalharem juntos há anos nada nunca
aconteceu que maculasse a editora, nem mesmo com o anúncio do noivado de vocês e com o
nascimento de Daniel, até tudo isso explodir. Alguns dos acionistas, com mais ações que Louis,
ainda abriram o jogo e disseram que já há algum tempo ele vem de certa forma os cercando e
persistindo na ideia de tentar, de alguma forma, comprar ações deles.
— Desgraçado. Ele quer crescer na empresa e, então, concorrer comigo que possuo mais
da metade das ações.
— Sim, na teoria, sendo um acionista influente e com maior poder de decisão, ele
acredita que escolhê-lo como o novo CEO seria a decisão mais acertada e sensata.
— Então, a que conclusão chegaram?
— Ninguém ali estava de acordo com as atitudes dele e, ademais, afirmaram confiar na
sua índole e no seu caráter, visto que nunca dera motivos para que suas ações fossem
questionadas. Então, verificamos o estatuto da empresa atrás de soluções, até que encontramos a
cláusula que expunha algo que encaixa nesse caso.
— Que é?
— O estatuto prevê que em caso de discordância de todos os acionistas em relação a um
acionista pontual, todos podem em conjunto exigir a exclusão deste acionista, mediante a venda
de suas ações, dando preferência, nesse caso, a algum acionista já instituído.
— Sim, e eles concordaram com isso?
— Todos, sem exclusão e sem maiores discussões, você é muito benquisto perante eles,
Benjamin. Todos eles ficaram de me enviar um parecer, com seu voto e fazendo juízo da
exclusão de Louis da empresa.
— Eu sinto que a merda maior ainda está para feder.
— Alguns deles me enviaram durante o final de semana, mas devido ao que aconteceu
ontem já revogaram o que me foi enviado, invalidando todo o processo.
— Que diabos aconteceu ontem?
— De alguma forma, Louis ficou sabendo da reunião e surtou e, então, vendo que estava
completamente cercado, procurou novas formas de conseguir o que almejava. E ele conseguiu,
Benjamim. E agora, até eu estou perdido nas possibilidades.
— O que esse desgraçado fez?
— Como ele fez o que fez eu não sei te dizer, mas ele conseguiu o contato de uma
senhora, enfermeira que, aparentemente, foi demitida no dia do nascimento de Daniel, por ter te
contrariado quando você insistia em afirmar que Emma é a mãe do bebê enquanto Courtney
estava lá, recém parida, aparentemente sofrendo por ter perdido o bebê para vocês desmiolados.
— O QUÊ? — Gritei, ficando de pé com tanta violência que a cadeira presidencial foi
basicamente arremessada contra a vidraça da minha sala.
— Pois é, essa mulher disse que vocês praticamente saíram fugidos do hospital com o
bebê no colo e que, além de fazê-la ser demitida, vocês impediram a verdadeira mãe de conhecer
o bebê.
— Puta que pariu, que inferno, é um mais desgraçado que o outro.
— Eu realmente sinto muito, Ben.
— Enquanto tudo não for esclarecido, essa história só vai aumentar e, se isso cair na
mídia, aí sim estaremos ferrados.
— Não vai demorar para acontecer, Ben. Pelo visto, enquanto Louis não estiver aí no seu
lugar, ele não vai sossegar e despejar isso na mídia é o próximo passo. Vai impactar a empresa
de forma notável, as ações podem cair consideravelmente e, dessa forma, é bem capaz de, além
de destituírem você, conseguirem usar aquela bendita cláusula contra você e afastá-lo daqui de
uma vez.
Respirei fundo algumas vezes, trancado em minha sala com William tentando pensar em
soluções. Ele se foi perto da hora do almoço, mas resolvi ficar por aqui e evitar contato
desnecessário com os funcionários tentando conter a merda. Tudo que quero era desabafar e
contar com a perspicácia de Emma, porém, sabia que despejar isso em cima dela agora, ainda
mais sem qualquer solução à vista, iria estressá-la e consequentemente poderia afetar diretamente
a questão da amamentação diminuindo o suprimento de leite dela. E isso era tudo que não queria.
Andei de um lado para o outro e, já que não queria levar isso até ela, recorri aos meus
amigos. Eles foram meu refúgio por muito tempo e sabia que podiam tentar me ajudar de alguma
forma, ou pelo menos me ouvir reclamar de tudo. Não pensei duas vezes antes de enviar uma
mensagem para todos eles.

Não demorou muito para que eles me respondessem, com versões diferentes de palavrões
e resmungos. Menos de trinta minutos depois vi minha sala ser invadida pelos três. Tive até
vontade de rir da cara de desesperados deles, mas a minha devia estar igual, então só pedi para
que eles se sentassem.
— O que houve, Ben? — Carl quebrou o silêncio.
— Alguma coisa com medusa e Danny? — Nick se preocupou.
— Não, estamos bem, sem brigas, estamos no nosso melhor momento, como casal e
como família.
— Tem um ‘mas’ vindo aí, não tem? — Nate foi direto ao ponto.
— Mas não sei até quando isso vai ser tão perfeito assim, com toda essa merda que me
cerca. Lembra do que disse a vocês, naquele dia que Emma sumiu, sobre os acionistas terem
visto Courtney reclamando e falando de dinheiro?
— Isso tem mais de dois meses, McKnight, por que lembrar disso agora?
— Porque essa merda ressurgiu das profundezas do inferno, Nick.
— Ben, põe pra fora, explica o que está acontecendo. — O tom de Carl era exigente.
Passei os próximos minutos narrando cada coisa que William me contou, sem omitir
nenhum ponto que fosse, esperando que meus amigos, estando de fora, conseguissem achar
alguma solução para isso tudo. Termino de narrar e estiquei a mão para alcançar um hambúrguer
que eles trouxeram, devorando em uma só mordida.
— Caralho, eu não sei nem o que pensar disso tudo.
— Ninguém consegue, Carl, mas que inferno, Ben. — Nick continuou.
— Hm, nem me diga, estou a ponto de explodir. Meu primeiro dia de volta ao trabalho e
já me lançam essa bomba. Eu não sei o que fazer.
— Primeiro de tudo, já contou para Emma?
— Não, Nate, e não sei como contar isso a ela sem levá-la ao limite do estresse. Coisa
essa que ela deve evitar ao máximo por conta da amamentação.
— Não dá pra esconder isso dela, Ben. — Ele falou com calma — Por mais que você
queira, de uma forma ou de outra ela vai descobrir, principalmente se isso chegar à mídia. É
melhor que ela ouça por você. — Esfreguei as mãos pelo rosto sabendo que ele tinha razão.
— Alguém tem alguma ideia de como livrar o nosso nome dessa lambança?
— Eu ainda não consegui pensar em nada, mas… — Nick inferiu — Cara, como
empresário, te aconselho a tentar ser o mais honesto possível com o conselho. Se conseguir com
que eles te escutem e entendam o que você tem a dizer e, assim, conheçam toda a verdade, eles
vão manter o posicionamento contra o tal do Louis.
— Não tem como eu fazer isso sem expor o contrato com Courtney e ele é de extrema
confidencialidade.
— E se… — Carl começou a falar mas foi interrompido pelo toque do meu celular.
— É a Emma, preciso atender. Oi, meu amor, tudo bem com você e Danny.
— Tudo bem, meu amor, e você? Tudo certo no primeiro dia de volta ao trabalho?
— Tudo indo, alguns probleminhas para resolver, mas vou dar um jeito em tudo.
— Precisa da minha ajuda em alguma coisa?
— Não, linda, eu me viro por aqui, você está de licença. — Nate me incentivava a abrir o
jogo com ela, mas fiz que não com a cabeça.
— Bom, liguei pra te pedir uma coisa. Dentro da última gaveta da minha mesa tem uma
pasta preta escrita confidencial. Pode trazê-la para mim quando vier para casa?
— Confidencial? O que tem lá?
— Não é nada de errado, não se preocupe, é só algo em que eu trabalho a algum tempo,
desde quando ainda era apenas sua secretária, e estava pensando nisso agora e pesquisando
umas coisas aproveitando que Danny está dormindo e solucionei o que faltava para fechar tudo
e ter um projeto finalizado para te apresentar.
— Me apresentar um projeto?
— Lindo, eu te explico tudo quando chegar em casa, ok? Só traz para mim a pasta, por
favor? Sem fuxicar, Ben, te conheço, segura sua curiosidade que te conto tudo aqui. É coisa boa,
meu amor, não se preocupe.
— Tudo bem, vou pegá-la logo e colocar na minha pasta para não esquecer.
— Ok, obrigada. Ben, está tudo bem? Te conheço, sua voz está nervosa, está
acontecendo alguma coisa aí, não é? — Respirei fundo, não iria mentir para ela.
— Está, mas vou resolver tudo, em casa te explico, ok? Não quero falar disso pelo
telefone.
— Hm, ok então. Te espero. Qualquer coisa me liga, tenta não arrancar todos os seus
cabelos passando as mãos sem parar por eles por estar nervoso. Cuido de você quando chegar
em casa.
— Ok, obrigado, meu amor, te vejo mais tarde.
Larguei o celular sobre a mesa antes de sair da sala rapidamente e pegar a pasta que ela
mencionou. Estava curioso para saber o que tinha ali dentro, mas iria esperar ela me explicar que
projeto era esse.
— Pasta confidencial? — Nick mexeu as sobrancelhas para cima e para baixo — Não
sabia que era permitido trocar nudes com sua funcionária assim, McKnight. — Carl e Nate riam.
— Cara, nem fala isso, do jeito que as coisas estão, alguém pode escutar essa brincadeira
e achar que é sério e jogar mais isso sobre mim.
— Nossa, é verdade, vou ficar quieto, apesar de querer saber o que Emma tem de
confidencial.
— Não é putaria, Nick. Bom, pelo menos acho que não.
— Será que a medusa é audaciosa assim? — Acabei rindo com eles, dissipando o clima
tenso ao menos um pouco para conseguirmos comer sem ter uma indigestão.
— Vai contar tudo para ela então? — Nate perguntou.
— Vou, não quero esconder nada dela, vou tentar contar da maneira mais suave possível
para não impactar tanto, mas vou contar.
— É o melhor a ser feito, cara. — Carl concordou.
— Emma é sagaz, é bem capaz dela enxergar uma solução simples para isso tudo em
pouco tempo.
— Não duvido nada disso, o que esperar de diferente de uma feiticeira? — Nick
resmungou ‒ Quando eu tiver problemas vou direto nela, pedir pra ela ver meu futuro.
— Se decide Nicholas. A Emma é bruxa, feiticeira, medusa ou vidente? ‒ Carl
provocou.
— Opção E, todas as opções acima, claro. — Nate ria dele. Pretendíamos voltar a comer,
mas ouvimos uma gritaria do lado de fora da sala.
— Que porra está acontecendo aí fora? — Carl se assustou e eu apenas fechei os olhos
por um momento.
— Acho que vazou a história, agora estou fodido de vez.
— Ben, olha pra mim. — Nate me chamou, transfigurado, não era mais meu amigo Nate
aqui comigo, e sim o implacável e temido advogado. Era como um botão, ele mudava de
personalidade em instantes diante das circunstâncias, deixava de ser leve e risonho para assumir
sua faceta de seriedade — Primeiro de tudo, ligue para Emma agora e fale para ela não atender
ligação de ninguém que não seja do nosso círculo. Mande ela desconectar o telefone fixo de
vocês. Se for mesmo a imprensa, eles vão em cima dela que nem abutres. Faz o que estou te
falando.
Eu nem discuti o porquê disso, apenas fiz exatamente o que ele pediu e liguei para ela
imediatamente.
— Amor?
— Oi, o que está acontecendo Ben? O telefone aqui de casa não para de tocar, o
interfone também.
— Inferno. Linda, me escuta, desconecta o cabo do telefone fixo e não atende nenhuma
ligação que não seja minha, dos caras ou de Hannah e seu pai. De ninguém além dessas pessoas,
Emma.
— Você está me assustando, Benjamin. —Eu andava de um lado para o outro, perdido no
meu nervosismo.
— Faz o que estou te pedindo, meu amor, por favor, não saia de casa para nada, assim
que eu conseguir eu vou até vocês, ok?
— Ben, o que está acontecendo?
— Faz parte do que problema que eu estou tentando resolver, só faz o que pedi, ok? Fica
bem e em casa com nosso bebê. Me promete que não vai abrir a porta pra ninguém nem atender
outras ligações?
— Tudo bem, eu prometo, já desconectei o telefone, mas o interfone continua tocando.
— Vou resolver isso.
— Você vai ficar bem? Eu tô assustada sem saber o que está acontecendo. — Pela voz
sabia que ela estava chorando.
— Me escuta, meu amor, não chora, fica calma, lembra que se estressar afeta seu leite,
fica tranquila que eu vou resolver tudo.
— Você vai ficar bem?
— Se vocês estiverem bem e seguros, eu também ficarei, fica tranquila, ok? — Me
despedi dela e olhei para Nate — O interfone de casa não para de tocar.
— Que inferno, eu odeio a imprensa, exatamente por conta disso. Eles não se importam
com as pessoas envolvidas, apenas querem ser os pioneiros em uma notícia, esquecem até que
tem um bebê no meio dessa história.
— Eu estou preocupado com ela sozinha em casa, e se esses infelizes conseguirem subir
de alguma forma? — Não escondi minha aflição, mas Nick se intrometeu.
— Ben, olha pra mim, respira. Eu vou para sua casa, passo pela portaria e aviso com
veemência para que não liberem absolutamente ninguém. Eu fico com Emma e Daniel até você
chegar. Pode ser? Te prometo, meu amigo, nada vai acontecer à sua família. Você vai conseguir
resolver tudo isso.
— Não deixe ninguém subir, Nick, não deixa ninguém se aproximar ou sequer falar com
eles. Protege eles pra mim enquanto eu tento resolver tudo isso? — Pedi aflito e não fiz a mínima
questão de não me mostrar vulnerável, tanto que senti escorrer uma lágrima de angústia.
— Vou cuidar deles, são minha família também. — Assim que abriu a porta, pude ver a
confusão de gente ali fora. Nick ignorou tudo aquilo, passando diretamente por todos eles e
correndo pelas escadas.
— Ben, agora com Nick estando com Emma, mantenha sua cabeça aqui, vamos pensar
juntos e tentar resolver isso, ok?
— Estamos com você, cara. Chama o William e o tal de James aqui, juntos nós cinco
vamos conseguir pensar em alguma coisa. — Carl pediu, eu os chamei no mesmo instante.
— Que porra está acontecendo? Quem vazou essa merda pra mídia? — James
questionava com raiva assim que chegou até minha sala.
— Mary está vindo aí, Ben, ela tem novas informações. — William me disse.
Andei de um lado para o outro, me sentindo um leão enjaulado e tudo que passava pela
minha cabeça no momento era querer estar com minha família bem protegida em meus braços e
meu nome limpo de toda essa sujeira.
Mary entrou na sala correndo com os olhos arregalados e apenas por isso eu sabia que o
que quer que tenha descoberto não era boa coisa.
Capítulo 38 – Emma Campbell McKnight

Me despedi de Ben e, aproveitando que Danny ainda estava dormindo, peguei a babá
eletrônica e fui para o escritório de casa. Queria aproveitar que estava sozinha para tentar
finalizar o meu projeto secreto, aquele em que trabalhava desde antes de toda minha história com
Ben.
Enquanto ainda era apenas secretária dele, sempre procurei ser ativa e eficiente em todas
minhas funções, procurava demonstrar entendimento e conhecimento em todas as reuniões que
participava com Ben, tentava dar sugestões e solucionar os problemas que apareciam.
De uma forma ou de outra, sempre fui astuta e prática e, tentando ser ainda mais, na
época em que comecei com esse projeto, pretendia apresentá-lo a Ben e, assim, ser ainda mais
reconhecida por meus feitos na empresa, queria ir além do estereótipo da secretária.
Foi pensando nisso que comecei a desenvolver esse projeto, estudando todas as
logísticas, estáticas e probabilidades de conseguir que efetivamente esse projeto saísse do papel.
Assim como o aplicativo, essa ideia tinha, de algum modo, relação com mídias sociais, mas
dessa vez, ao invés da mídia escrita, era no campo audiovisual.
Andava estudando a possibilidade de a empresa investir em um serviço de streaming, de
forma a levar as histórias publicadas pela editora às telas do cinema ou televisões. Óbvio que
isso não era novidade, muitos livros hoje em dia eram adaptados para as telonas, porém, minha
ideia era formar um contrato com uma empresa, uma parceria, para que sempre tivesse novos
lançamentos de filmes baseados nos livros financiados pela Booksbank.
Além de colocar a editora ainda mais na mídia, aumentando ainda mais o valor das
ações, se isso fosse implantado e desse certo, atrairíamos novos contratos com novos autores e,
quem sabe, autores renomados não trocassem seus contratos firmados com suas editoras por um
contrato com a Booksbank.
Ao longo de todos esses meses fiz um estudo minucioso de todas as possibilidades de
implantação desse projeto. Faltava apenas uma pequena coisa que era exatamente o que vou
tentaria resolver agora na frente do computador e, graças à dose extra de amor que o papai deu ao
bebê antes de sair, consegui passar quase uma hora ali trabalhando, até que escutei Daniel
começar a chorar.
— Ei, meu amor, por que você está chorando? Acordou assustado, foi? Mamãe tá aqui,
pequeno.
Nesse mês que se passou, me descobri muito na maternidade. Além de ter me conhecido
melhor, me orgulho em dizer que era a melhor mãe que poderia ser para Danny, conhecia esse
bebê minuciosamente, sabia de todas as suas pequenas particularidades.
Ainda me doía pensar que uma gravidez era inviável para mim, todos os dias em que me
lembrava disso tinha vontade de me jogar na cama e por lá ficar, mas então, olhava para esse
pequeno ser que agora repousava em meus braços e pensava em tudo que tinha a agradecer.
Tinha um filho saudável, um marido incrível, uma casa, o cachorro que sempre quis,
estabilidade financeira, minha carreira profissional. Tinha muito mais a agradecer do que ficar
me lamentando por uma infelicidade. Doía, não podia negar, mas tentava não deixar que essa dor
me dominasse.
Daniel resmungou novamente e agora era com fome, então, me acomodei na poltrona de
amamentação no quarto dele e lhe dei o seio. Era, sem sombra de dúvidas, o meu momento
favorito. A conexão que sentia com ele, o fato dele depender de mim para isso consolidava a
maternidade em meu coração. Me sentia necessária para ele. Amava os olhares que trocávamos,
a mãozinha dele sempre apoiada em meu colo fazendo um carinho displicente.
Depois de duas mamadas, algumas trocas de fralda e mais uma soneca, resolvi almoçar
enquanto ele dormia e, para otimizar tempo, já que Eleanor estava de folga hoje, voltei ao
escritório para finalizar tudo que preciso, pedindo a Ben que trouxesse minha pasta para casa.
Cuidava das louças do almoço quando o meu celular, o telefone fixo e o interfone
parecem começaram a tocar todos de uma única vez. Não sabia o que fazia ou qual atendia
primeiro, mas, claro que, com toda a barulheira, Daniel acordou, portanto, ignorei tudo e fui até
ele, ele era prioridade.
Apenas o ninei novamente e ele voltou a dormir. Encostei a porta para evitar que ele
acordasse novamente e retorne à sala onde tudo ainda parecia caótico com tantos barulhos ao
mesmo tempo.
Quando pensei em atender o interfone, meu celular tocou com o toque especial que
configurei para quando Ben me ligasse. Ele era minha próxima prioridade, então o atendi
primeiro, mas, assim que terminei de falar com ele me sentia atordoada e apavorada. Que diabos
estava acontecendo? Fiz o que pediu, desconectei os aparelhos e ignorei todas as ligações e
mensagens no celular que não fossem de Ben ou do restante de nossos amigos.
Andava pela casa quando ouvi Sheik raspar a pata no lado interno da porta do quarto de
Daniel. Libertei meu filhote canino, percebendo logo de cara que ele estava diferente, parecia
tenso. Achava fascinante o quanto a raça dele era instintiva e protetora, ele parecia saber tudo
que estava de errado e queria proteger todos ao seu redor. Ele chega à sala e pareceu ficar a
postos, olhando fixamente para a entrada da casa.
Quando o elevador anunciou a chegada de alguém, eu me assustei, tentando imaginar
quem poderia ser já que Ben disse não poder vir para casa agora. A porta se abriu e vi Nick
vindo até mim e, por mais surreal que parecesse, dessa vez Sheik não implicou com ele,
deixando ele passar tranquilamente até que chegasse até onde estou e me abraçasse.
— O que está acontecendo, Nick?
— Fica calma, medusa, vai ficar tudo bem, cadê meu afilhado?
— Está dormindo. — Me afastei dele — Vai me falar o que está acontecendo?
— Eu até poderia, mas vou deixar Ben te contar. Ele que sabe de todos os detalhes, eu
sei de parte da história.
— Está melhor que eu que não sei de merda nenhuma.
Nick abriu a boca para me responder, mas escutamos um barulho alto e nos assustamos,
assim como Sheik que levantou e começou a rosnar alto, de uma forma que até então eu não
tinha visto, enquanto olhava para a porta. Quando menos esperávamos um fotógrafo apareceu
pela escada de incêndio com uma câmera apontada no nosso rosto, os flashes enlouquecidos na
nossa direção.
Nick se afastou de mim e foi para cima do cara, mas Sheik fez isso antes. Avançou no
cara com toda a força que tinha no corpo, pulou em cima dele e o derrubou e então mordeu a
perna do infeliz. Nick o alcançou e deu um soco certeiro na cara do homem assim que ele tentou
se levantar e então puxou a câmera das mãos do cara e arremessou no chão, espatifando em mil
pedaços.
— Qual o seu problema cara? Estou trabalhando, você quebrou minha câmera. — O
fotógrafo reclamou e Nick berrou.
— Qual o meu problema? O MEU problema? Você invade uma propriedade privada,
invade um apartamento, tira fotos sem consentimento e quer jogar para cima de mim esse
argumento de que está trabalhando? Vai para o inferno, filho da puta. Tem sorte que eu quebrei
apenas a câmera e não sua cara.
— Isso não vai ficar assim, esse cachorro maldito me mordeu e você me causou prejuízo.
— O cara berrava de volta enquanto tentava soltar a canela da boca de Sheik, mas Nick gritou
ainda mais alto.
— Vá até a polícia, vamos ver quem vai se foder mais, imbecil. Mete o pé daqui, abutre.
— Ele levantou o cara pelo colarinho sem fazer qualquer esforço e o jogou dentro do elevador
mandando para baixo, Sheik latiu até o cara desaparecer e depois voltou pra perto de mim, ainda
completamente assustada e paralisada. Nick se acalmou por uns minutos e depois fez o mesmo.
— Nick, o que eu faria se estivesse sozinha? Meu Deus, eles invadiram minha casa e eu
nem sei o porquê. — Chorava, de puro nervosismo e ele segurou meu rosto.
— Olha pra mim, medusa, vai agora para o quarto de Daniel, arruma uma pequena mala
pra ele com algumas roupas, fraldas e coisas que um bebê precisa, depois faz o mesmo para
você. Eu vou arrumar a ração do Sheik e vou tirar vocês daqui. Prometi para o meu irmão que
cuidaria da família dele e é isso que vou fazer. Está me entendendo? Nada vai acontecer. Faz o
que pedi.
Nem pensei em questionar, segui seus comandos. Joguei algumas roupas para Daniel em
uma mala, separei alguns itens de higiene e coloquei tudo junto. Corri até meu quarto e fiz o
mesmo com algumas roupas para mim e para Ben. Então deixei tudo na sala antes de ir até o
berçário e pegar Danny.
— Vou com o carro de vocês, Emma. — Ele me disse, terminando de acertar a coleira
em Sheik que, surpreendentemente, o deixou fazer — O meu está na rua e o prédio
aparentemente está cercado por repórteres. Além do carro de vocês estar na garagem, vocês tem
cadeirinha para Danny.
Ele pegou todas as coisas e foi até o elevador assim que eu o entreguei a chave do carro.
Seguimos para a garagem, ele acomodou Sheik no banco dianteiro enquanto eu entrei no traseiro
prendendo Danny na cadeirinha. Assim que saímos do prédio, notei a surreal quantidade de
pessoas plantadas na frente do prédio, câmeras, carros de jornalistas.
— Nicholas Brown, se você não me contar agora o que está acontecendo eu juro que
faço picadinho de você quando sairmos desse carro.
— Medusa, suas ameaças não vão funcionar comigo.
— Tudo bem, vou usar o celular para descobrir o porquê diabos invadiram minha casa.
— Emma, não. Você só vai encontrar histórias distorcidas.
— Então me conta, Nick, eu odeio ficar no escuro, sem saber das coisas, e aparentemente
tem algo muito sério acontecendo e do mesmo jeito que Ben quer nos proteger eu o quero bem e
seguro também.
Nick respirava fundo e enquanto dirigia me contou, sem omitir qualquer detalhe, tudo
que Ben contou para eles nesse almoço rápido e improvisado na empresa.
— E foi isso, assim que imaginamos que era a imprensa, Nate deu as instruções para Ben
te impedir de atender telefone, mas ele ainda estava muito nervoso e angustiado, com medo que
acontecesse exatamente o que aconteceu. Como ele não poderia vir para casa pra tentar resolver,
eu vim até você, e ainda bem que estava lá. No futuro, vou contar para o meu afilhado que fui
herói da vida dele. — Neguei com a cabeça — Muito cedo para brincar com isso? Tudo bem,
vou guardar essa pra usar depois.
— Para onde estamos indo?
— Para minha casa. Apesar de já querer sair de lá, me mudei pouco antes de todo o rolo
entre você e Ben, para um condomínio fechado, lá terá privacidade e calma.
Parei por um segundo, pensando que adorava aquele apartamento, mas depois de hoje,
não queria mais ficar lá, já que aparentemente aquele lugar, que era pra ser uma fortaleza, era
facilmente invadido quando se tinha dinheiro para subornar porteiros.
— Vou conversar com Ben sobre a possibilidade de nos mudarmos para um lugar assim
também, com mais segurança.
Nick apenas me olhou pensativo, mas não falou nada e, pouco depois, estacionamos na
sua casa. Descemos do carro e nos acomodamos. Sentei no sofá e peguei o bebê no colo, usando-
o como um amuleto para tentar me acalmar, pensando a todo momento em Ben e no que estava
acontecendo.

Assim que Mary entrou na sala, percebi que essa merda toda com o nome de Ben e
Emma iria aumentar. Se isso não soar estranho, precisava dizer que meu sangue de advogado
pressentia que estávamos longe de acabar e eu sabia que teria que ser eu a manter a sanidade
aqui.
Carl era sisudo e calado na maior parte do tempo, mas completamente destemperado
quando se dizia em manter a calma em situação que nos envolvessem. Nick não estava aqui e de
qualquer maneira, apesar de saber ser sério quando necessário, ele não seria de muita ajuda por
aqui, era melhor que estivesse com Emma e a tranquilizasse do jeito dele que, por mais louco
que pudesse parecer, sempre funcionava. Ben era incapaz de pensar corretamente nesse
momento, então sobrou para mim.
Eu era treinado para isso, configurado para manter minha calma e quando assumia minha
faceta profissional, nada era capaz de me desestabilizar. Minha fama me precedia e minha
personalidade endurecia quando era preciso, e mexer com a minha família era um desses
momentos.
O que mais me estressava nessa porra era o envolvimento da mídia em tudo isso. As
coisas seriam muito mais fáceis de resolver se eles não tivessem metidos nessa história. Cansei
de lidar com alguns abutres jornalísticos, principalmente em razão dos casos em que eu advogo,
mas, também, por conta do meu próprio nome.
Muitas vezes a imprensa ajudava, mas eram maiores as vezes em que atrapalhavam e
dificultavam com suas intromissões e inverdades, trazendo holofotes para aqueles que não
deveriam e que acabavam sofrendo com isso. Transformavam vítimas em culpados e nem
mesmo se importavam.
Foco, Nate, foco. Não estávamos falando da minha história, não ainda.
Dentre nós quatro amigos, eu era aquele que constantemente tinha que lidar com isso e
era a coisa que eu mais odiava, pois, na maioria das vezes, tudo não passava de uma corrida para
ver quem seria o primeiro a noticiar tal coisa, quem tinha mais informação ou a melhor fonte e,
por conta disso, muitas vezes, passavam por cima de quem precisasse para, no final, conseguir
uma reportagem.
— Que merda mais aconteceu, Mary? — Ben perguntou a ela.
— Benjamin, eu ouvi a Senhorita Morris no corredor do refeitório com o Sr. Louis, ele
estava instruindo para que ela fizesse a ligação para os veículos de imprensa e contando toda
aquela história.
— William ou James, um de vocês precisar ir agora mesmo na sala de controle e
conseguir essas filmagens, não deixem isso sumir. — James saiu apressado da sala ao meu
comando — Chame Garrett, Ben, ele tem que se inteirar de tudo isso o mais rápido possível e eu
darei todo o suporte criminal que for preciso.
Novamente, ele fez o que eu instruí sem nem questionar e ligou para o seu advogado
pessoal, um dos meus sócios no escritório, informando a urgência da situação e, então, assim que
desliga, Ben nos disse que ele viria até a empresa o mais rápido possível. Mary continuava ali e
parecia ter mais para falar.
— Algo mais, Mary? — Ben questionou.
— Sim, Benjamin. Enquanto vinha para cá consegui ouvir de alguns funcionários que os
veículos de imprensa estão em polvorosa porque parece que uma mulher vai dar uma entrevista
coletiva logo mais. Disse ter muito a dizer sobre você.
— Puta que pariu, quem é a infeliz dessa vez? Você sabe o nome?
— Sei o nome, mas não o sobrenome. Margareth.
Assisti o mundo ruindo aos pés de Ben e o choque estampar meu rosto. Inacreditável,
essa praga conseguiu me surpreender e não era fácil para que isso acontecesse. Margareth? A
mãe dele? O que essa mulher poderia querer agora? Qual a intenção dela em aparecer? Sabia que
não era o único a estranhar isso, apenas pela feição pálida de Ben.
— Tem certeza que é esse nome mesmo? — Mary confirmou para ele.
— Ben, essa história está tomando proporções exageradas, temos que dar um jeito de
resolver isso. — Carl alertou e eu praticamente consegui ver as pernas de Ben tremerem pelo
nervoso quando andou até o sofá para se sentar.
— Vou esperar Garrett aparecer e então ouvir sua opinião, eu não sei que caralho fazer.
Conhecia Ben desde que éramos dois pirralhos, literalmente desde que tínhamos dois
anos de idade. Conhecia cada particularidade dele, cada passo que ele pretendia dar, assim como
sabia que o inverso também era verdade. Se essa porra de alma gêmea existia, Ben era de alguma
forma a minha. Platonicamente, claro, não tinha interesse sexual nele ou ele em mim. Mas era
assim que nós dois funcionamos. E era por isso que sabia que nesse momento ele estava se
sentindo um completo imbecil, impotente, por não saber o que fazer e estar com a cabeça toda
fora do lugar.
O rosto dele se contorcia e vi o peito dele subir um tanto mais rápido, provavelmente
sentindo aquele aperto pela ansiedade em não saber o que fazer. Carl também percebeu e logo foi
até ele.
— Ei, respira cara, respira, não vai ter uma crise de pânico agora. — Me juntei a eles.
— Nós vamos resolver isso, Ben, e vamos resolver da maneira correta e foder com todo
mundo que estiver envolvido nessa merda.
Mary entregou um copo de água a ele, que bebeu com toda a calma. Garrett entrou na
sala um tempo depois, se surpreendeu com a minha presença, mesmo sabendo que eu e Ben
éramos amigos próximos. Sua surpresa vinha do fato que ele me conhecia e entendia minha
posição aqui, não como amigo de Ben, mas como o profissional que conhecia, e isso o assustou,
porque o deixava saber que as coisas estavam mais sérias do que ele esperava. James chegou
praticamente à sua cola, este com um pen drive na mão, que rapidamente entregou nas minhas
mãos.
— O vídeo está aí, inclusive com o áudio, dá pra ouvir perfeitamente eles ligando para a
imprensa.
— Ótimo, ouviu Ben? Estamos no caminho, respire.
Garrett me interrompeu perguntando o que estava acontecendo, mas sabia que ele não
tinha qualquer estrutura emocional, e muito menos mental, para repetir a mesma história, então
Carl explicou tudo com detalhes. Todos procuramos alguma maneira de contornar essa situação,
quando Mary recebeu um alerta no celular.
— Benjamin, a entrevista vai começar.
Liguei a televisão e conectei na internet no site correto para que pudéssemos acompanhar
tudo. Logo vi aquela desgraçada que deu à luz a ele aparecer em frente às câmeras, um pouco
mais velha do que a última vez que a vi, junto a Ben, e malvestida, de uma maneira que parecia
proposital.
Ben já me confidenciou que depois de ver a relação de Emma com Daniel, não conseguia
nem ao menos pensar nessa mulher como “mãe”. Mãe era o que Emma era para Daniel, não o
que essa praga foi para ele.
O repórter começou perguntando qual a relação dela com ele e ela diz que apesar dele
não a reconhecer como tal, ela era a mãe, me levantei na mesma hora, junto a Ben,
completamente indignados.
— Isso é um absurdo. — Ele bradou, com ódio.
O repórter continuou e pediu que ela contasse sobre a relação deles e ela disse que
sempre foi muito apaixonada por seu falecido marido, mas que ele não a amava da mesma forma
e que, quando ela engravidou, achava que o bebê faria com que ele a amasse, mas, na verdade, o
marido envenenou a criança contra ela e por isso Ben cresceu odiando a mãe, tanto é que até hoje
a ignorava, não lhe dava nenhum suporte, emocional ou financeiro, não ligava para ela e que não
a reconhecia como mãe.
— Olha o que essa desgraçada está falando. Ela que não me reconhece como filho, ela,
não eu. Tudo que eu mais queria era uma mãe, e olha só onde chegamos, essa infeliz está
fazendo minha caveira em rede nacional. — Ele surtou completamente, mas eu fui até ele e o
segurei pelos ombros.
— Não surta, caralho, eu tenho uma ideia.
Nesse momento, se ainda existia vestígios do meu lado pessoal presente, deixei de ser o
Nate, agora me transformava no Dr. Nathaniel Velásquez, o advogado criminalista conhecido
pela mídia como Anjo de Aço, o advogado implacável e sem coração.
Não sabia o que o destino me reservava ou quando iria ter minha mulher, meus filhos,
assim como aconteceu com Ben, para agregá-los à minha família. Mas se tinha uma certeza na
vida era a de que ninguém mexe com a minha família e fica impune.
Absolutamente ninguém.

—Que ideia, Nate? — Questionei enquanto a mulher continuava falando impropérios


na televisão.
— Pense comigo. Ela te renega desde sempre, ela te expulsou de perto dela da última
vez que você foi até ela e não queria que o marido descobrisse sobre você. Alguma coisa tem aí,
Ben, ela quer alguma coisa pra aparecer assim do nada.
— Com toda a certeza, querer meu bem é que não é, basta assistir essa merda.
— No site está dizendo que a entrevista está acontecendo no Hotel Plaza, nós vamos
para lá agora, eu vou com você. Ela me conhece também e sabe que essa história furada não vai
colar comigo. Você vai conversar com ela e descobrir que merda ela quer com você. — Ele para
um momento antes de chamar minha atenção — Olha para mim, Ben, precisa fazer ela contar
toda a verdade sobre vocês, que ela que te renega e não o contrário, eu vou estar com você e vou
gravar tudo.
— Como pretende fazer isso? — Carl perguntou e Nate sorriu de lado.
— Eu sou a porra de um advogado criminal, lido com gente muito pior que ela o tempo
todo, eu tenho meus meios. — Carl sorriu, com uma ponta de orgulho.
— Vão! Ben, eu vou ficar aqui com William e James e vamos tentar conter essa merda
aqui dentro. Seu advogado vai começar a montar todo o caso e deixar pronto para anexar as
provas para acabar com a vida dessa ordinária e com o desgraçado do Louis e da sua secretária.
Concordei com o arranjo e eles escutaram novamente o alerta no celular de Mary e eu
já estava querendo pegar esse aparelho e jogar longe, pois, a cada vez que ele apitava, essa
história parecia triplicar de tamanho. Ela desbloqueou o aparelho e arregalou os olhos
imensamente.
— Mas que caralhos aconteceram agora? — Nate perguntou.
Mary não respondeu, apenas trocou de canal na televisão e então assistimos um
fotógrafo de meia tigela narrando aos prantos o absurdo que sofreu, dizendo que Emma liberou
sua entrada no prédio e que, quando ele chegou ao apartamento, o cachorro dela o atacou —
ainda mostrou a canela ensanguentada — e um homem louco e, segundo ele, amante da minha
mulher, o atacou e quebrou sua câmera.
— Puta que pariu, invadiram o seu apartamento? — Carl questionou com os olhos
arregalados.
— Com certeza, Emma não deixaria ninguém subir e certamente o amante a quem ele
se referia era Nick. — Nate afirmou.
Não perdi nem mais um segundo com qualquer comentário que nesse momento era
inútil, apenas liguei para Emma e coloquei a ligação no viva a voz para que todos ouvissem a
versão verdadeira da história e vi Nate colocando para gravar a mesma, por precaução, e ela não
demorou a atender.
— Ben, por favor, me diz que você está bem.
— Emma, te machucaram? Invadiram o apartamento, não é? Fizeram alguma coisa
com você ou com Daniel?
— Não, invadiram o apartamento logo que Nick chegou. Sheik avançou no cara e o
mordeu e, depois, Nick acertou um soco nele, quebrou a câmera e o expulsou de lá, então juntei
algumas coisas nossas e Nick nos tirou de casa. Eu não sei o que faria se estivesse sozinha, mas
estamos todos bem e seguros, na casa dele.
— Graças a Deus, meu amor. Tem muita coisa acontecendo, mas preciso que você se
mantenha segura enquanto eu lido com tudo, ok?
— Ben, eu.. eu… Desculpa estou nervosa. Eu acho que esse cara subornou o porteiro,
estou vendo ele falando merda na televisão. Lindo, o prédio tem câmeras para todo lado e ele
subiu pela escada tentando me pegar de surpresa, com certeza tem filmagens disso. — Vi Nate
sorrir e comemorar a informação.
— Você é incrível, meu amor, vou atrás disso agora mesmo. Fica bem, ok? Te ligo
logo mais. Te amo!
— Eu também te amo, se cuida.
— Caralho. — Carl se meteu assim que desliguei o telefone — Emma é foda, estava
pensando em um jeito de desmascarar esse mau caráter e ela entrega de bandeja. — Eu consegui
rir dele.
— Ela é mesmo maravilhosa. Vou ligar pro síndico agora mesmo e pedir as filmagens
e encaminhar pra você, doutor. — Avisei ao advogado.
Fiz a ligação e, mais uma vez, Nate gravou tudo. O síndico disse que estava
acompanhando a situação e que iria me enviar as filmagens assim que possível, me assegurando
que iria demitir o porteiro em questão. Menos de quinze minutos depois tinha a filmagem em
mãos, demonstrando claramente o porteiro sendo subornado e o fotógrafo subindo com o
consentimento dele.
Com essa parte resolvida, eu e Nate deixamos os outros para trás e fomos até o Hotel
Plaza para lidar com a outra erva daninha dessa história, minha progenitora.
Poucos minutos depois, Nate conseguiu acesso ao hotel pela garagem e, sendo ele um
advogado de grande renome pela cidade, conseguiu autorização do gerente para se dirigir até a
sala da imprensa onde Margareth estava, até agora, dando entrevista, me difamando cada vez
mais.
— Se lembra do que te falei? — Nate virou para mim assim que a entrevista acaba —
Ela tem que falar toda a verdade, toda!
Acenei concordando e Nate colocou o próprio celular e o meu para gravar, como uma
dupla garantia de que vamos desmascarar essa desgraçada. Quando os repórteres e as câmeras
saíram da sala pela porta lateral, nós nos fazemos presentes.
— Margareth? — Eu chamei, assistindo aquela mulher que deveria me amar, me olhar
com um sorriso de escárnio.
— Benjamin, meu filho? Decidiu parar de rejeitar a mamãe?
— Para de show que não tem mais ninguém aqui para você enganar, lembra do Nate?
Ele te conhece desde a vida toda, sabe muito bem quem você é e tudo que fez comigo na
infância. Não adianta querer passar por uma mãezinha abandonada, não vai colar com ele.
— Olá senhora, é um completo desprazer te encontrar novamente.
— Continua o mesmo fedelho, não é, Nathaniel? Cresceu mas continua desaforado.
— Com muito orgulho. Agora pode nos dizer qual o seu interesse em reaparecer na
vida de Ben?
— Sempre estive presente, apanhei a minha vida toda por conta dele.
— Por minha conta? Faz-me rir. A senhora era amante do jardineiro, engravidou dele,
foi esnobada por ele, e para encobrir a história se casou com um cara por dinheiro, e eu que sou o
culpado? — Repassei a história para que a gravação captasse e ela se estendesse no assunto.
— Claro que é. Se eu não tivesse engravidado de você, nada disso teria acontecido na
minha vida, não teria me casado com o energúmeno machista que era seu pai de criação.
— Pai de criação? Eu não tive pai, não tive mãe.
— Eu fui uma mãe bem boazinha para você, Benjamin, está vivo, não está? Não deixei
você morrer de fome. Deveria me agradecer por isso.
— Realmente, não me deixou morrer de fome, se certificava de que eu tomava banho,
pronto. Isso era tudo que você fazia por mim. Mas, e amor? Carinho? Colo de mãe? — Ela
gargalhou alto.
— Faça-me o favor, Benjamin. Você tem o que? Mais de trinta anos na cara e está me
cobrando amor? Amor é superestimado, eu não te deixei morrer. Fiz mais do que deveria para
uma criança com a qual eu não me importava.
— Se não se importava comigo naquela época e nunca veio a se importar depois, por
que agora? Porque não depois de praticamente ter me expulsado de casa aos dezoito anos quando
eu fui morar com Nate por um tempo? Porque não quando eu te procurei alguns anos atrás e
você, novamente, me expulsou da sua vida para que seu atual marido não soubesse da minha
existência? Por que agora? Por que agora resolveu vir aqui e fazer esse papel ridículo de
mãezinha sofrida e abandonada? — Me indignei.
— Meu marido descobriu sobre você, descobriu quem você é e com que você trabalha.
— Deixe-me adivinhar, veio atrás do meu dinheiro?
— Do que mais seria? Ele me aconselhou a voltar para sua vida e aos poucos ir
arrancando coisas de você, de algum modo ele sabia que você era essa coisinha carente de amor.
— Ela gargalhava — Então seria fácil conseguirmos algo de você.
— Não sente remorso ou tem vergonha de falar isso?
— Vergonha? Vergonha eu tenho de ser pobre, de ter nascido rica e agora precisar
fazer contas no final do mês. Você nasceu de mim, eu não deixei você morrer, hoje você é rico,
se teve essa oportunidade foi porque chegou com vida até aqui, o mínimo que pode fazer é me
pagar de alguma forma.
— Se prestou a esse papel ridículo na televisão apenas para conseguir me extorquir?
— Para de drama, Benjamin, agora que você está aqui pode simplesmente me dar uma
quantia alta o suficiente para que eu conceda uma nova entrevista dizendo que nós vamos
conversar e tentar ser a família que seu pai impediu que fôssemos. — Ela falou com uma
espantosa naturalidade, mas eu respondo com asco.
— Nem se isso fosse a última coisa responsável por salvar a terra, de mim você não
arranca nada.
— Tem certeza? Olha que eu sei chorar. Quer que eu chame os repórteres aqui
novamente e faça mais um showzinho para eles? — Ela riu me ameaçando quando Nate colocou
a mão no meu ombro, fazendo um gesto com a cabeça para sairmos daqui.
— Faz o que você quiser sem se importar comigo, não foi isso que fez a vida toda? —
Disse, me retirando de lá enquanto ela chamava pelo meu nome.
Voltamos ao carro, nos certificando que as gravações funcionaram. Me sentia esgotado,
minha cabeça estava explodindo. Esse dia parecia ser interminável. Apesar de não nutrir
qualquer esperança em um relacionamento minimamente respeitoso com essa mulher
desprezível, ainda era difícil ouvi-la falar tanta coisa horrorosa.
Não percebi em que momento comecei a chorar, mas chorava, tentava aliviar um pouco
de tudo que estava sentindo. Quando me dei conta, Nate já estava quase chegando na empresa
novamente e assim que estacionou se virou para mim.
— Acalmou um pouco? Isso vai acabar, Ben, já temos provas contra todos eles, o
fotógrafo invasor, o acionista mau caráter e sua secretária e a ordinária da sua progenitora.
— Falta achar um jeito de comprovar a parte que envolve Courtney nisso tudo. Essa
parte ainda está mal contada e não sei como explicar. E não posso dar seguimento com as outras
coisas se não descobrir um jeito de fazer isso sem violar o contrato que assinei com ela.
— Vamos pensar em algo, ok? — Ele me assegurou.
Saímos do carro e logo estávamos de volta com os outros na minha sala. Nate entregou
todas as gravações ao meu advogado que ia juntando todas as evidências. Permanecemos por
mais um tempo ali, mas me cansei, não aguentava mais bater a cabeça em ponta de faca.
— Eu não consigo mais pensar. Preciso da minha mulher e do meu filho, não aguento
mais um minuto dessa história. Vou para casa e de lá tento pensar em alguma coisa. — Disse me
levantando.
Eles não me impediram. Carl e Nate vieram comigo, sob a promessa dos outros de
mantermos contato, e assim fomos embora em direção à casa de Nick, para encontrar Emma e
Daniel. Até que trinta minutos depois, estacionamos na frente da casa e, inconscientemente,
soltei o ar que nem percebi que prendia, pois conseguia, daqui do carro, ver Emma pela janela da
casa com Daniel no colo.
Nada mais importava por enquanto desde que minha família estivesse bem.
Capítulo 39 – Emma Campbell McKnight

As horas passavam rápido ao mesmo tempo em que o dia parecia se arrastar. Depois de
falar para Ben sobre a possibilidade de as câmeras do nosso prédio terem filmado o possível
suborno do fotógrafo ao porteiro, desliguei o telefone com a sensação de que, pelo menos, fiz
alguma coisa para nos ajudar.
Essa sensação de impotência me deixava paralisada. Era uma pessoa ativa e, modéstia
à parte, perspicácia era uma de minhas melhores qualidades e, por isso, estar aqui sem fazer nada
enquanto Ben estava por aí tentando resolver tudo estaba me deixando angustiada. Sabia que ele
não estava sozinho, Nate e Carl estão com ele, além do advogado e de William e James. Mas
queria ser eu ao lado dele.
Porém, tinha Daniel para cuidar e ele era prioridade máxima, tanto para mim quanto
para Ben. Sheik estava deitado no chão aos meus pés enquanto amamentava Daniel e parecia
estar pronto para nos defender novamente, já Nick estava tão angustiado quanto eu e andava de
um lado para o outro.
— Nick, você quer ir junto com eles não é? Se você não se incomodar em me deixar na
sua casa, pode ir, Nick, não quero te prender.
— Medusa, quietinha. Eu não seria um herói completo se deixasse vocês aqui
desprotegidos. Não acho que nada mais vai acontecer, mas meu lema da vida é: não dou sorte
para o azar.
— Senta aqui, Nick, vamos tentar solucionar essa merda. — Ele fez uma cara sem
graça.
— Medusa, não quero invadir seu espaço e Benjamin vai me esganar se souber que eu
estava rondando você enquanto está aí nessa função mãe amamentando meu afilhado.
— Deixa de ser bobo, não tem nada aparecendo.
— Brainstorm? — Ele perguntou assim que se sentou mais próximo de mim.
— Sim, de algum modo vamos pensar em algo. — Permanecemos ali cuspindo ideias
um pro outro até que o celular de Nick apitou.
— Estou até com medo de ver, toda hora que olho temos uma merda nova pra resolver.
— Suspirei e, assim que leu a mensagem, arregalou os olhos e deu um pulo do sofá — Puta que
pariu, agora fodeu de vez.
— O que houve, Nick? — Ele não respondeu imediatamente, saiu correndo pela sala
desarrumando almofadas procurando pelo controle da televisão e, assim que achou, ligou.
— Isso que houve. Essa filha da puta, é sua sogra. Ela convocou uma entrevista para
ferrar ainda mais com a imagem de Benjamin.
— O que essa mulher quer? Já não fez ele sofrer o bastante? — Ele bufou resignado e
se sentou ao meu lado e dessa vez meu telefone tocou — Oi Hannah, está no viva voz, ok? Estou
amamentando.
— Emma, que merda é essa que está acontecendo? Desde quando vocês são
inescrupulosos assim como a mídia está pintando? Que história é essa de Courtney chorar
porque vocês a impediram de conhecer Danny? Essa mulher na tv é mesmo mãe do bonitão? Seu
apartamento foi mesmo invadido?
— Loira, menos perguntas por segundo.
— Não sabia que estava aí, ruivo de farmácia. Onde vocês estão?
— Na minha casa, fui um completo herói e resgatei sua amiga e meu afilhado. Agora já
era, ele vai me amar muito mais agora que eu salvei a vida dele, perdeu loira. — Ela rosnou para
ele.
— Ruivo de farmácia.
— Sonha, loira diabólica.
— Enfim, estamos na casa de Nick, Hannah. — Interrompi as picuinhas deles.
— Me manda o endereço, estou indo pra aí, quero entender essa história e garantir
que meu afilhado esteja bem longe desse padrinho lunático e deslumbrado. — Nick ria alto.
— Até você chegar, só vai ter espaço para mim no coraçãozinho dele, nada de loiras.
— Emmaaaaa, ele vai envenenar meu afilhado contra mim, não deixa — Ela gemeu do
outro lado da linha e me fez rir.
— Só vem logo, Hannah, vou te mandar o endereço por mensagem. — Desliguei o
telefone e Daniel largou o peito, então o entreguei para Nick — Toma padrinho perfeito, faça-o
arrotar.
Deixo o bebê com ele e andei até o banheiro. Tive uma ideia, não sei se Ben vai gostar
do que pensei ou até mesmo se a outra pessoa vai concordar em ajudar, mas foi a única coisa que
consegui pensar. Assim que encontrasse com Ben iria conversar com ele e tentar convencê-lo a
isso.
Não devia estar sendo nada fácil para ele ter que ouvir essa mulher maluca que
ressurgiu das cinzas apenas para infernizá-lo. Sabia que, de uma maneira ou de outra, ela era mãe
dele e assistir toda essa falsidade devia estar corroendo ele por dentro. Sabia, também, que nada
do que Margareth disse era verdade e que ela queria algo com tudo isso.
Esse ressurgimento dela só iria servir para ativar os gatilhos de rejeição de Ben. Em
meus votos de casamento, prometi que cuidaria dele e de seu menino interior e era isso que faria.
Nada nem ninguém faria ele se sentir rejeitado novamente.
Não demora para Hannah chegar, logo roubando Daniel para ela e recomeçando a
mesma disputa de sempre e, claro que Hannah ganha, pois Nick desiste no mesmo instante em
que sente a fralda de Danny encher. Ele cordialmente cedeu espaço para Hannah. Espertinho.
Sheik começou a andar inquieto pela casa e depois encarou a porta principal e Nick
reparou os movimentos agitados dele e os sons que ele fazia.
— Ele ficou fazendo a mesma coisa na casa de vocês naquele dia que nós te
conhecemos, medusa. Ficou exatamente assim até que você apareceu pelo elevador.
— Cães são muito sensitivos, acho fascinante. Será que Ben está chegando e ele de
alguma forma ele sabe? — Perguntei mais para mim mesma do que para Hannah ou Nick.
O telefone de Nick tocou e ele saiu da sala para atender. Logo voltou e nos informa que
era Carl avisando que Ben e Nate desmascararam a desgraçada da mãe dele, mas ainda não
resolveram todo o problema.
— Eles estão chegando. Carl disse que Ben está transtornado e inquieto por não
conseguir resolver tudo.
— Ele não sabe o que fazer, mas eu sei.
— O que? — Nick e Hannah questionam ao mesmo tempo.
— Vou falar com Ben primeiro, quero ver se ele vai concordar com minha ideia. —
Daniel chorou no colo de Hannah e o peguei no colo, me sentando próxima à janela — Não
chora, lindinho, papai está chegando. Vamos cuidar dele, ok?
Poucos minutos depois, ouvimos os barulhos de carros estacionando na frente da casa e
não levou mais do que um minuto para Ben aparecer seguido por Nate e Carl. Ele andou
diretamente para mim, que levantei assim que a porta abriu. Chegou praticamente correndo perto
de mim e me apertou em um abraço meio desengonçado por conta do bebê entre nós dois, mas
forte como eu sabia que seria.
Era como se apenas isso fosse o suficiente para calar todas as suas dores. Me segurava
da forma como conseguia, afastou o rosto rapidamente e me deu um beijo firme, apertando seus
lábios contra os meus, então, se afastou e pegou o bebê de meus braços antes de me abraçar
novamente.
— Vocês estão bem. — Ele afirmou a si mesmo — Meu Deus, agora eu consigo
respirar. Sem vocês me falta ar. A mínima possibilidade de ter acontecido algo com vocês me
desestabiliza, acaba comigo. — Me afastei para olhar em seus olhos, vendo lágrimas de tensão
escorrendo por seu rosto, ao passo que estiquei a mão e as enxugo limpando seu rosto.
— Estamos bem, meu amor, se acalme, nada nos aconteceu. Olhe seu bebê tranquilo
nos seus braços, estamos bem. — Afirmei a ele que puxou o bebê para mais perto de seu rosto,
voltando a chorar.
— Me desculpa, filho, não me perdoaria se alguma coisa tivesse acontecido a vocês.
— Estamos bem, amor.
— Ben, está tudo bem, eles estão bem, se acalme, por favor, não vai ter um infarto na
minha sala. — Nick interrompe falando mais alto. Ben olhou para ele, indo até o amigo e o
abraçando com toda força que possuía.
— Obrigado, Nick, obrigado por ter cuidado e protegido as minhas vidas enquanto eu
não pude. Obrigado por estar lá por eles. Nunca vou me esquecer disso.
— Dê meu nome ao seu próximo filho e está tudo certo. — Nick tentou brincar para
descontrair enquanto ainda o abraçava. Ao menos conseguiu fazer com Ben risse um pouco.
— Vou pensar no assunto. — Ele sorri para Nick e então se acomodou na poltrona e
me puxando para seu colo, aos poucos se acalmando.
— Conseguiram resolver tudo? Ou ainda temos algumas bundas para chutar? —
Hannah perguntou.
Carl colocou todo mundo a par de tudo. Nate complementa falando tudo que aconteceu
quando Ben e ele foram atrás de Margareth e, com isso, aproveitei para falar com Ben sobre isso,
para que apenas ele escutasse.
— Sei o que você deve estar sentindo, meu amor, e não, não se sinta assim, expulsa
esse sentimento de rejeição que voltou a habitar em seu peito. Olha aqui ao redor, você tem a
mim e a seu filho no seu colo, nossos amigos aqui dispostos a enfrentar o inferno apenas para
nos ajudar. Não se sinta rejeitado por quem não te merece. Se sinta livre. Livre dessa gente ruim.
Olhe para todas essas pessoas que te amam e estão aqui por você.
Parece que compactuando com o que eu acabei de dizer, Daniel se mexeu no colo dele,
agarrando o dedo de Ben como sempre fazia quando estava em seu colo, e isso fez Ben soltar um
suspiro profundo e deixar uma lágrima solitária cair.
— Obrigado por me entender melhor do que eu mesmo.
— Eu te amo, amo sua força e suas vulnerabilidades. — Repito o que ele me disse
quando contei sobre minha condição médica.
— Medusa, você disse ter uma ideia, qual era? E não adianta não falar mais. Ben já
está aqui, alimente a velha curiosa que habita em meu corpo, por favor.
— Essa sua velha é curiosa ou fofoqueira? Você muda sempre que pode. — Nate diz
rindo.
— Ela é as duas coisas, é uma velha. — Todos nós acabamos rindo dele. Nick tinha
essa capacidade incrível de fazer isso o tempo todo. Ele deixava o clima mais leve sempre que
estava por perto. Era quase impossível visualizar o dia em que ele não estaria assim.
— Você pensou em algo, meu amor? — Ben retomou o assunto. Me coloquei de pé,
encarando a todos, tinha essa mania de pensar alto enquanto andava de um lado para o outro.
— Bom a meu ver, por conta dessa história toda, temos alguns problemas e algumas
soluções. — Nate fez sinal de que iria falar algo, mas Ben levanta a mão pedindo
silenciosamente que ele me deixasse falar— Precisamos desmentir a história que envolve
Courtney, desmascarar o acionista mau caráter, ferrar com a vida do fotógrafo que invadiu minha
casa e ainda chamou Nick de meu amante. — Nick riu baixinho e podia jurar ter ouvido algo
como “só se eu fosse louco pra ter um caso com uma medusa” — E desmoralizar a desgraçada
da minha sogrinha.
— Mas…
— Quietos, vão interromper a linha de raciocínio da mente brilhante. — Ignorei o
elogio nesse momento, mas iria voltar nele mais tarde.
— Com as duas filmagens que já conseguiram, já nos livramos de dois problemas, o
fotógrafo e o acionista, certo? — Ben e os outros três balançaram a cabeça concordando — Com
a gravação, Margareth não sai ilesa, não é, Nate?
— Definitivamente não, ela tentou queimar a imagem de Benjamin, colaborando com
tudo mais que já vinha sendo dito, porém, com as coisas que nós gravamos ela dizer,
comprovamos que ela é só uma interesseira desalmada e que vai responder por calúnia e
difamação.
— Ótimo, então só nos resta resolver a parte que envolve Courtney e eu sei como fazer
isso. — Todos ainda me encaravam, sem entender — O contrato que vocês firmaram possui
cláusula de confidencialidade, o que significa que nenhum de vocês pode, unilateralmente,
afrontá-lo, certo?
— Sim, se algum deles violar a cláusula existente seria um novo inferno para ser
resolvido. — Nate que me respondeu, mas agora, sorrindo, eu continuei.
— E o que acontece se os dois compactuantes, em comum acordo, desconsideram a
cláusula? — Nate pensou por um momento antes de me responder.
— Bom, se, em comum acordo, as duas partes contratantes desconsideram alguma
cláusula contratual é como se ela basicamente não existisse, ela se invalida.
— É isso que temos que fazer então. — Sorri.
— Medusa, seja mais clara, por favor. Nós somos reles mortais, sem poderes
sobrenaturais como você, não estamos acompanhando o seu raciocínio. — Nick estalou os dedos,
fazendo Carl rir.
— Se esclarecermos, tudo isso cai por terra. Quero conversar com Courtney. Me
chamem de ingênua, mas não vejo por que ela esteja gostando de todo esse circo armado com o
nome dela no meio. Se chegarmos a um acordo, podemos, em conjunto, dar uma declaração
sobre o assunto e encerrar essa história de uma vez.
— Acha que ela concordaria com isso? — Carl perguntou.
— Eu não sei, mas espero que sim. O que você acha, Ben? — Perguntei com um tom
de insegurança e ele suspirou fundo, passando uma das mãos pelo rosto.
— Eu não sei, linda. Você foi além do que todos nós fomos, ninguém ao menos pensou
nisso, mas não sei se ela concordaria em ajudar.
— Justamente, ninguém pensou em nada mais, essa foi a única ideia, temos que tentar,
Ben.
— Emma, você sabe que ainda que ela concorde em ajudar vocês, você pode ter sua
intimidade invadida, não é? Vão desconfiar do relacionamento de vocês, do casamento de vocês,
das suas intenções em se relacionar com o bonitão, vão questionar uma suposta traição. Qualquer
coisa pode virar pauta na mídia.
— Sei que está pensando no meu bem, Hannah, mas eu não me importo com isso,
quero livrar minha família disso tudo, limpar nosso nome e nossa imagem, livrar a empresa
dessas maledicências toda. Não me importo com as falácias que podem falar de mim, minha
família é minha prioridade.
— Quer mesmo fazer isso? Arriscar ser alvo desses engodos mesmo… — Interrompi
meu marido.
— Não me importo com nada disso, meu amor. Quero dar essa história por encerrada,
não importa como.
— Vou ligar para ela então, ok?
— Ela está nos Hamptons, bonitão. — Ben franziu a testa.
— Como sabe disso, Hannah? — Ela ria.
— Sabe qual é o passatempo preferido dos acompanhantes de pacientes internados no
hospital? Assistir programas de fofoca. Sei tudo sobre pessoas públicas. Courtney,
aparentemente, está em um retiro espiritual nos Hamptons, antes de voltar à Nova York para a
próxima temporada de desfiles.
— Courtney em um retiro espiritual? — Carl gargalhou — Ótima desculpa para não ter
que falar que está recém recauchutada. Se bem imagino, ela se remendou de cima a baixo para
eliminar vestígios de uma gravidez.
— Bom, o que ela está fazendo ou o que já fez, não é mais da nossa conta, mas
sabendo que ela está por lá, podemos montar um plano de ataque e ir atrás dela. — Ben afirmou.
— Só liga para ela e vê se ela está disposta a conversar conosco. Ela escolhe o lugar e
hora, isso é o que menos importa, nós vamos até ela onde for necessário. — Daniel resmungou e
Carl, que estava ao lado de Ben, tampou o nariz.
— Danny pelo visto resolveu piorar a situação e soltou uma nova bomba para vocês
resolverem. — Peguei o bebê dos braços de Ben.
— Quer resolver isso, tio Carl?
— Não, obrigado, estou bem sem entrar em contato com a radiação presente nessa
fralda.
— Eu cuido disso e você liga para ela, ok? — Me dirigi a Ben antes de ir para o quarto
de hóspedes que Nick disponibilizou para mim e Hannah vem atrás.
Algo me diz que minha ideia era o movimento correto a ser feito. Restava saber se
minha intuição estava certa.
Capítulo 40 – Benjamin McKnight

Tinha que concordar que, se Courtney concordasse, a ideia de Emma era brilhante, e iria
acabar com o rumor inicial e, consequentemente, tudo que veio junto também se extinguiria, já
que tínhamos provas contra tudo.
— Ben, sei que essa foi a única solução que encontraram, mas, se Courtney realmente
aceitar conversar com vocês, seja esperto com o que vai oferecer em troca. — Carl alertou.
— Se quiserem, eu posso ir com vocês, como advogado, apenas para certificar de que
tudo correrá da melhor maneira. — Nate ofereceu.
— Vou ligar para ela primeiro e então vemos os próximos passos, ok?
Fiz a ligação e Nate, pensando rápido, resolveu gravar a ligação, que deixei no viva voz.
Demorou um pouco, mas depois de alguns toques, ela atendeu.
— Imaginei que fosse me ligar, Benjamin, só quero dizer que não tenho nada a ver com
as coisas que estão se espalhando sobre vocês. Nosso acordo acabou quando o bebê nasceu, eu
não tenho por que ficar remoendo uma história que não é minha, não tenho relação nenhuma
com vocês.
— Não duvido disso, Courtney, apesar das faíscas que trocamos durante esses meses,
não vejo você como esse tipo de pessoa.
— Obrigada, eu acho. Porém, gostaria que tirassem meu nome do meio dessa confusão
toda. Estou prestes a retornar para o circuito de modelos para essa nova temporada e não
preciso dessa publicidade duvidosa em cima da minha imagem.
— É sobre isso que te liguei, será que podemos nos encontrar em algum lugar, privado,
para conversar? Queremos te explicar o que aconteceu para gerar toda essa confusão e encontrar
um meio de cessar tudo isso.
— Olha, eu realmente não queria que isso fosse necessário, mas, meu empresário já está
enlouquecendo com o tanto de gente, repórter, diferentes mídias atrás de mim sobre esse assunto
de eu ser a modelo abandonada pelo CEO traíra que se casou com a secretária. Não quero meu
nome atrelado a isso. Então, sim, podemos nos encontrar.
— Onde você prefere? E o mais importante, quando?
— Quero resolver isso o quanto antes para limpar minha imagem para que eu tenha um
tempo até o primeiro desfile. Estou voltando para NY amanhã cedo. Podemos nos encontrar na
sua casa, se preferir. Eu não me importo com isso.
— Não posso voltar para casa, meu prédio está cercado, inclusive invadiram meu
apartamento. Estou na casa de um amigo, se eu te der o endereço, me encontra aqui assim que
chegar? — Olhei para Nick me certificando de que para ele estava tudo bem e ele acenou.
— Tudo bem, me envie o endereço e encontrarei vocês logo cedo. — Me despedi com
um agradecimento.
— Uau. — Nick se surpreendeu — Confesso que fiquei surpreso, estava esperando um
show de imaturidade e arrogância.
— Eu também, minha mente de advogado me mantém com um pé atrás, mas pelo menos
ela concordou com isso. Eu estarei aqui com vocês, Ben, apenas como uma garantia.
— Estaremos todos. — Carl assegurou — Ninguém vai embora. Vamos beber, comer
porcarias e enfiar essa merda de dia no lixo.
— Amém, irmãos. Que dia ingrato, e ainda nem pude usar minha nova reputação de
herói. Vocês tinham que me ver atacando aquele fotógrafo, acabei com ele sozinho. — No
timing perfeito, Sheik levantou a cabeça e latiu olhando para ele.
— O anticristo discorda, Nick. — Nate ria e Sheik permanecia encarando Nick.
— Ok, Sheik, você começou e mordeu a perna dele, eu o finalizei, certo agora? — Sheik
latiu novamente e abaixou a cabeça, voltando a deitar na minha perna.
— Às vezes, eu tenho medo desse cachorro. — Carl comentou.
— E é para ter medo mesmo, não é um cachorro, é o anticristo.
Nick resolveu encenar o que aconteceu com o fotógrafo, e apesar de me arrepiar só de
pensar no que Emma teria feito se estivesse sozinha com esse infeliz, consegui rir da encenação
de Nick.
— O que está acontecendo aqui? — Emma chegou rindo.
— Está com formiga na cueca, ruivo de farmácia?
Hannah gargalhava e Nick revirou os olhos, eles permanecem nas provocações de
sempre arrancando risadas de Carl e Nate. Emma se aconchegou na poltrona comigo. Passei o
meu braço pelo ombro dela, trazendo ela para mais perto de mim e inspirando o perfume de seus
cabelos apertei num abraço.
— Tudo bem?
— Não 100%, mas tendo vocês nos meus braços, nada mais me importa. E você?
— Sinceramente? Cansada. O dia foi intenso, cheio de tensões e preocupações, estou até
com dor no corpo.
— Eu também, revezamento de massagem hoje? — Beijei o pescoço dela.
— Eu tinha planos para essa noite, principalmente depois de ouvir sua conversa com
Danny.
— Ah, confessou que me ouviu, não é? Planos são adaptáveis, linda, não precisa jogar
todas as ideias fora. A propósito, vamos ficar por aqui, ok? Talvez por algum tempo, até as
coisas se acalmarem.
— Ben, sei que quando começamos a fazer nossos planos, decidimos continuar no
apartamento, mas não dá, não me sinto mais segura lá.
— Ainda bem, pensei que ia ter que te convencer a mudar de lá. Não vou conseguir
entrar lá tranquilamente sabendo que aquele lugar foi invadido e eu não estava lá por vocês. O
que acha de nos mudarmos para uma casa assim? Em um condomínio fechado, com mais
segurança.
— Oh casal, desculpa interromper a conversa. — Nick apareceu — Mas ouvi o que
estavam conversando e tenho uma proposta a fazer. Ainda não tinha comentado nada disso com
vocês, pois ainda era incerto, mas tive o aval dos meus advogados e contadores, e enfim, para dar
prosseguimento com meus planos.
— Seja claro, Nick. — Emma pediu.
— A ideia agora é investir em imóveis, o mercado imobiliário vem se expandindo
grandemente, então, iremos comprar um ou dois prédios residenciais e melhorá-los. Desculpe
usar a história de vocês como pretexto, mas, com o olho da mídia no prédio em que vocês
moram, o valor vai cair, melhor para mim que comprarei com um preço mais baixo e conseguirei
alavancá-lo posteriormente.
— Vai comprar o prédio? — Perguntei.
— Sim, enquanto estávamos envolvidos no seu drama, o meu time estava à procura de
imóveis e, aparentemente, o prédio de vocês já era uma das nossas opções, com tudo isso
acontecendo vai se tornar a melhor das opções.
— E sua proposta é? — Emma insistiu.
— Que a gente troque de casa. Simples. Essa casa é enorme para mim, um cara solteiro.
Comprei no meio de um surto que tive um tempo atrás e acabei me mudando para cá, mas a
cobertura de vocês me atende muito melhor, pela localização e pelo espaço também.
— O que acha, linda?
— Eu acho uma ótima ideia, eu estava mesmo namorando as casas por aqui desde que
cheguei. Aqui Daniel terá espaço, Sheik tem o quintal para correr e desgastar a energia dele, a
segurança é bem melhor…
— Bom, por mim, estamos fechados então.
— Isso, me livrei da casa. Não me entendam mal, a casa está em ótimas condições, ela é
nova, me mudei tem menos de um ano, nunca trouxe ninguém aqui a não ser vocês. Só
comemorei porque realmente não queria apenas me desfazer dela vendendo para qualquer um,
mas também não queria mais ficar aqui. É meio deprimente morar num lugar enorme assim,
sozinho. Minha única exigência é: continuaremos vendo os jogos na sua casa, na sua televisão e
com seu sistema de som, ou seja, aqui. — Nick exigiu.
— Tudo certo, menos de um mês para o SuperBowl inclusive. — Emma comentou.
Pronto era o comentário necessário para que entrássemos em um assunto leve, distraindo
as mentes dos problemas infernais. Mais tarde pedimos pizzas e assistimos o jogo da noite
anterior, rindo, conversando e bebendo, enquanto Daniel dormia no quarto acompanhado de
Sheik.
Já no quarto, contei para Emma que William me ligou e sugeriu que eu voltasse a ficar
de férias pelo menos mais essa semana até conseguirmos esfriar essa história. Essa era mesmo a
melhor opção para o momento.
Nos acomodamos para dormir, Emma amamentou Danny e o acomodou ao seu lado
enquanto eu me aconcheguei atrás dela, abraçando minha esposa em uma conchinha confortável,
sorrindo fazendo o mesmo contra o meu corpo.
— Sei que tínhamos planos para hoje, mas…
— Mas nada, linda. Eu também não estou no clima para isso, teremos nosso momento
assim que tudo isso passar. Por hora, só de estar aqui com você, assim, agarrado, já é o
suficiente.
— Obrigada por tudo que fez hoje por todos nós.
— Vocês são minha família, linda, prometi que protegeria vocês de tudo que estivesse ao
meu alcance, estou cumprindo minha promessa. Agora vamos dormir antes que esse bonitinho aí
acorde esfomeado e amanhã cedo temos a conversa com Courtney.
—Espero que tudo corra bem. — Ela suspirou.
—Eu também, linda. Eu também.

Acordei cedo depois de uma noite mal dormida. Além de toda a tensão, eu estava com
certo receio por estar dormindo com Daniel na mesma cama, então acordei a noite toda para
amamentá-lo e para me certificar de que ele estava seguro. Me troquei e levei Daniel em direção
ao jardim dos fundos da casa.
Sheik adorou esse espaço, estava nesse momento rolando pela grama, deixando seus
pelos brancos com uma tonalidade esverdeada desde já. Ri dele enquanto, mais uma vez, tinha
um bebê acoplado aos meus seios e não demorou muito para que percebesse alguém acordado.
Olhei para trás de mim e dei de cara com um Carl sonolento. Eu era apaixonada por Ben
e o achava lindo, mas Carl certamente era o mais bonito dentre os outros três. Estava neste
momento apenas com uma calça emprestada de Nick — que distribuiu roupas para quem
precisasse, já que todos dormimos aqui, com exceção de Hannah que voltou para casa para ficar
com o noivo —, com o peitoral de fora, deixando evidente várias tatuagens um tanto aleatórias
pelo peito.
— Essa noite tive a comprovação de que não sirvo para ser pai de um recém-nascido. —
Ele se sentou ao meu lado.
— Ouviram os choros? — Perguntei em tom de desculpa.
— A noite toda.
— Tadinho do meu bebê, está desacostumado com o lugar, fora do próprio berço
também.
— Acho que além disso, essa aura de nervosismo que você e Ben estão, afeta também.
Toda essa tensão ao redor. Ele passou um mês em completa paz e de repente, bum, tudo resolve
acontecer ao mesmo tempo.
— É, isso deve mesmo afetá-lo. — Acabei bocejando. O cansaço está me dominando
hoje.
— Me dá ele aqui, fico com ele para vocês tomarem um café tranquilamente, os outros
também já acordaram. — Agradeci ele com um beijo na bochecha.
Quando cheguei na cozinha encontro Ben, de banho tomado, e comendo
desesperadamente umas fatias de bacon que Nate estava fritando. Cumprimentei meu marido
esfomeado, ficando de pé atrás dele, massageando seus ombros.
— Caralho, McKnight, deixa comida para gente também. — Nate reclama.
— Ele está nervoso. Algumas pessoas não conseguem comer quando estão assim, Ben é
o contrário, come em dobro. — Defendi meu marido.
— É estranho isso? — Nate questionou — Amar alguém assim a ponto de conhecer cada
particularidade da pessoa?
— Não é estranho, Nate, é bem normal, inclusive. Você divide uma vida com alguém, a
convivência, a rotina, os gostos, o caráter, tudo isso influencia na imagem que você forma dessa
pessoa. Você ama o conjunto, qualidades e defeitos.
— Cadê meu sobrinho chorão? — Ele desconversou e eu fiz bico.
— Está com o outro tio dele que também reclamou dos choros dele. — Carl entrou na
cozinha com um Danny adormecido nos braços e me desmentiu.
— Não reclamei dele, apenas comentei que eu não sirvo para ser pai de um bebê tão
pequeno assim. — Nick chegou à cozinha também.
— Estou vendo. — O ruivo apontou para o bebê adormecido.
— Isso aqui é obra dos peitos da Emma. Esse menino se esbaldou tanto neles que
apagou, os puns que ele está soltando me comprovam isso.
Acabei rindo com eles e tomamos café conversando amenidades até que Nick recebeu
um alerta da portaria do condomínio avisando da chegada de Courtney.
— Eu e Carl ficaremos no quarto com Danny, enquanto vocês conversam, ok? Nate fica
como advogado. — Nick seguiu com Carl, ainda com Danny no colo, para o quarto.
— Vou me manter quieto, ok? Só interferirei caso ache necessário.
Assim que ouvimos a campainha, Ben abre a porta para Courtney que entra
acompanhada do empresário e do advogado. Ben os cumprimentou e os apresentou para mim.
— E então? O que querem comigo? — Courtney perguntou.
— Bom, antes de tudo, precisamos te explicar o porquê disso tudo e do porquê do seu
nome estar envolvido. —Ben narrou tudo, desde o início. Contou que a confusão começou
naquele dia que ela mal compreendeu a minha reação e deu uma leve surtada.
— Por conta daqueles míseros três minutos de confusão esse acionista criou esse circo
todo?
— Sim, e então, como sempre acontece, com uma coisa específica acontecendo, outras
mil surgem intensificando o foco principal.
— Eu vou reforçar mais uma vez, não tenho nada com isso, eu não dei declaração
nenhuma para ninguém, não chorei no hospital por não ter conhecido o bebê.
— Nós não estamos duvidando de você, Courtney, queremos apenas sua ajuda para
esclarecer os fatos. — Ben afirma.
— Com uma declaração sua, conseguimos apagar o fogo inicial e, para resolver os
desdobramentos, já temos soluções, mas com o seu parecer ao nosso lado tudo será minimizado.
— Mas o que vocês esperam que eu fale? Eu não vou abrir a verdade por completo. Não
me entendam mal, eu não me arrependi da minha decisão, mas não vou contar para mídia que eu
praticamente vendi o bebê para o pai dele e aposto que vocês também não querem que as pessoas
comecem a questionar que o relacionamento de vocês, aparentemente, só começou por conta
disso. Vocês sabem que independente de vocês se amarem agora, isso vai repercutir. Não sei o
que vocês esperam que eu fale.
— Bom, eu acho que tenho o acordo perfeito para que ninguém se exponha, ainda mais
e, ainda, Courtney, incitar algo que repercuta positivamente na sua imagem. — Nate interveio.
— E o que seria esse acordo?
— Como você mesma pontuou, precisamente, a íntegra da verdade não diz respeito à
ninguém além de vocês três, porém, podemos chegar a um meio termo que seria: Benjamin e
Emma já se relacionavam, discretamente, em razão do vínculo profissional entre eles, porém
com a intenção de casar e formar uma família, por razões pessoais, procuraram uma barriga de
aluguel para que pudessem ter o seu sonhado bebê. Eles então, por já conhecerem Courtney e ela
ter conhecimento do relacionamento deles, ficou tocada com a intenção deles e se ofereceu como
barriga de aluguel. No final das contas, foi por isso que você ficou afastada da mídia nesse
último ano, foi por isso que você foi até a empresa conversar sobre o bebê com Emma e Ben, é
por isso que o bebê está com eles. Você se voluntariou para realizar o sonho deles. No final das
contas, Courtney, com essa versão da história, você ainda sai como a parte altruísta, que se
voluntariou para realizar o sonho de um casal apaixonado. — Nate explicou.
— Isso realmente seria uma boa desculpa para justificar sua ausência na última
temporada, além de limpar seu nome nessa confusão toda e te passar essa imagem abnegada. —
O empresário dela concordou.
— Não precisamos entrar em detalhes na história, como eu disse anteriormente isso não
é da conta de ninguém. Deixaremos claro que vocês só chegarão ao ponto de precisar dar uma
declaração por uma pessoa específica, o acionista, ter mal interpretado uma situação que dizia
respeito a apenas vocês. Não precisam detalhar as coisas, manteremos tudo o mais simples
possível, não precisamos nem comentar da sua maternidade no sentido biológico da palavra. Para
todos os efeitos você apenas emprestou seu útero, Daniel é completamente de Ben e Emma. —
Nate concluiu.
Courtney pareceu pensar por um momento e conversava baixo com seu advogado, mas,
ao mesmo tempo, ouvi Danny chorando e pouco depois Nick apareceu com ele no colo.
— Me desculpe por incomodar, mas não sei mais o que fazer, Emma, já troquei a fralda
e ele continua chorando, não sei se é fome.
— Não é, esse choro não é de fome, é de dor, está com cólica. — Peguei meu filho do
colo do padrinho, segurando-o com a barriga para baixo apoiada no meu antebraço, nessa
posição a barriguinha dele se mantinha pressionada e quentinha, o que auxiliava nas dores.
Reparei que Courtney olhava para Daniel pela primeira vez, e eu aproveitei para olhar nos olhos
dela, não encontrando qualquer sinal de arrependimento ou qualquer malícia ou negatividade.
— Tudo bem, eu concordo com isso. Darei a minha declaração para a mídia e falarei
exatamente o que você descreveu, Nathaniel, por isso daí. — Ela apontou para mim com o bebê
no colo — Porque eu sei que, no fundo, eu fiz o certo.
— Está falando sério? — Ben enrugou as sobrancelhas.
— Vocês podem pensar que eu sou um monstro por ter, em verdade, vendido o bebê para
vocês, mas olhando para vocês sei que tomei a decisão correta. Isso daí não é para mim. Fico, de
coração, feliz que vocês se encontraram nesse papel de pais, mas definitivamente não é para
mim. Não nasci para ser mãe, e se Benjamin não tivesse aceitado meus termos, eu teria, sim,
abortado. Darei a minha declaração e encerrarei meu ciclo nessa história. Daniel é de vocês, eu
apenas emprestei meu corpo para que ele pudesse vir ao mundo. Ponto final.
Alívio me percorreu por completo. Não conseguia não me sentir aliviada e, inclusive,
deixei umas lágrimas caírem, e ela percebeu.
— Pode ficar tranquila, Emma, não vou surgir daqui um tempo alegando ser mãe dele e
requerendo meus direitos como tal. Eu concluirei minha passagem na vida de vocês no momento
em que der por encerrada essa entrevista. Não tenho nenhum interesse oculto nisso tudo. — Sorri
agradecida e aliviada.
— Obrigada Courtney, independe de como as coisas aconteceram, eu só tenho a minha
família por sua conta, te agradeço por isso.
Finalizamos e articulamos os detalhes das declarações de todos nós e então Courtney foi
embora, prometendo dar a entrevista, contando os detalhes por acordados, até o final do dia, para
que, dessa forma, nós pudéssemos resolver todas as outras questões, e, assim que ela saiu da
porta, Carl e Nick surgiram na sala correndo e Nate se jogou no sofá.
— Cacete, eu já estava preparado para entrar em uma briga de cachorro grande e forçá-la
a colaborar, que bom que foi tudo mais fácil do que esperávamos. Sua intuição estava certa,
Emma.
— Claro que estava certa, ela é a medusa, esperava o que dela? — Nick ria e Ben veio
até mim.
— É realmente maravilhosa, resolveu o problema. A única que deu uma ideia, é incrível
mesmo, e minha. Porra, que orgulho. — Ele falava enquanto deixava beijos por todo, meu rosto
me fazendo rir e os meninos gargalharem.
— McKnight, se controla, daqui a pouco anima outras partes do corpo aí com esse tesão
maluco pela sua mulher.
— Não me dê ideias, Carlton. — Ben olha no fundo dos meus olhos.
— Tem um bebê no recinto, abaixem esse fogo, porra. ‒ Nate reclamou e Nick gargalha
alto.
— Ben está faiscando, coitado, está na seca e dormindo todos os dias com a esposa do
lado.
— Por que diabos você sabe da vida sexual dos dois, Nicholas? — Carl questionou.
— Simples, porque Ben cortou o caninho dele recentemente e precisou deixar tudo bem
frio nos países baixos desde então.
Tentei me segurar para não rir da conversa, mas não consegui, gargalhando a ponto de
precisar entregar Daniel para Ben para colocar as mãos nos joelhos rindo.
— A medusa vai morrer, gente. — Nick falou me abanando com uma almofada.
— Qual a graça, meu amor?
— Países baixos? Caninho? — Repeti, rindo novamente.
— Quebrei a medusa.
— Acho que isso é alívio, estava tão tensa desde ontem que agora soltou os ânimos. —
Nate diz rindo de mim.
Com Courtney tendo aceitado as nossas condições e fazendo a declaração, Ben pode
tomar as próximas providências, ligando para o advogado para que eles pudessem sentar e
arquitetar os próximos passos.
Nate sintonizou a televisão no canal correto e nós aguardamos a entrevista de Courtney.
Conforme o combinado, ela falou exatamente o que nós conversamos, não acrescentou e nem
retirou nenhuma informação importante, ela, inclusive, puxou o foco da entrevista para ela e sua
carreira profissional que retomaria em breve.
Pouco tempo depois, James, com autorização de Ben e do advogado, enviou uma nota
aos jornais e mídias impressas com a nossa declaração, condizente com a versão narrada por
Courtney. Ben logo veio até mim, assim que eu retornei para quarto, depois de dar banho,
amamentar e fazer Danny dormir.
— Pronto, meu amor. Tudo certo. Fim desse caos. James já lançou nossa declaração, a
mídia está repercutindo a verdade dessa vez. Monroe, o advogado, assim que amanhecer vai
entrar com todos os processos necessários contra Louis, Srta. Morris, a enfermeira que nos
caluniou e a Courtney, e à minha progenitora. Todos vão pagar pelo dia infernal que tivemos.
— E na empresa? Como ficaram as coisas?
— William foi avisado de todos os nossos passos, ele convocou uma nova reunião com o
conselho e apresentou tanto a nossa declaração quanto a de Courtney e, também, mostrou o
vídeo que comprova claramente que Louis estava agindo de má-fé em tentar queimar minha
imagem para tentar me destituir do meu cargo. Então, o conselho realmente entendeu que eles
estavam certos em seu primeiro julgamento e votaram para retirar Louis da lista de acionistas. Eu
comprarei as ações dele.
— Então além de ser processado, ele não só perdeu as ações que tinha, mas também te
fez ser ainda mais dono da Booksbank?
— Sim, comprando as ações dele, nós temos 65% da empresa. — Ben riu.
— Bem-feito, mau caráter merece se ferrar na vida. — Ele arregalou os olhos rindo.
— Nossa, que mulher brava essa minha.
— Brinca com fogo, Benjamin, vai se queimar. — Ben sorriu, dessa vez malicioso e
sussurrou no pé do meu ouvido.
— Eu quero mesmo isso, incendiar tudo, eu e você. — Mordeu o lóbulo da minha orelha,
me arrepiando inteira, mas sorri e passando os braços pelo pescoço dele.
— Sabe, Nick está bem ansioso para se mudar, aparentemente ele não vê a hora de sair
daqui, quem sabe nós não tenhamos a casa só para nós logo, logo? Mal posso esperar. — Sorri
com ele.
E era verdade, mal podia esperar por essa nova fase.
Capítulo 41 – Benjamin McKnight

Me joguei no sofá, exausto, completamente esgotado. Revirei os olhos só de pensar que


ainda tinha mais algumas caixas para desencaixotar e organizar. Há duas semanas eu e Emma
nos mudamos para a casa que era de Nick e, aos poucos, estávamos colocando tudo no lugar.
Porém, não era fácil lidar com várias coisas ao mesmo tempo.
Depois das declarações divulgadas para a imprensa, tanto a nossa quanto a de Courtney,
e com os processos em andamento, a situação com a mídia resfriou completamente, pelo menos
em relação a nós dois, pois o nome de Courtney estava todos os dias estampado nos jornais agora
que ela retomou seus trabalhos. Ficava feliz por ela, a última conversa que tivemos tranquilizou
várias coisas dentro de mim.
Louis realmente foi destituído como acionista e a Srta. Morris foi demitida e ambos,
assim como a enfermeira que corroborou com eles, estavam sendo processados. Minha
progenitora também, além de ter sido obrigada a fazer uma retratação pública retirando tudo que
foi dito sobre mim. O fotógrafo que invadiu o apartamento também estava sendo processado por
invasão de propriedade privada e a sua tentativa de nos processar pela mordida de Sheik e
processar Nick pela câmera quebrada foram completamente defasadas por seu advogado, afinal
de contas ele se sujeitou àquilo. O porteiro foi demitido também.
Nick estava mesmo empolgado com a ideia de mudar para a cobertura e, logo na mesma
semana, mesmo sem alterarmos as papeladas, nós nos mudamos. Eu e minha família nos
mudamos para a casa, junto com um empolgado Sheik que adorou a ideia de rolar livremente na
grama, e Nick se foi com toda sua animação para o nosso antigo prédio.
Agora, estávamos loucos organizando a casa, desfazendo caixas e malas, remontando
móveis. Nesse momento, eu estava organizando os eletrônicos na sala de televisão, enquanto
Emma lidava com um pequeno emburrado que estava sofrendo com cólicas constantes e,
segundo o pediatra, estava passando por um salto de desenvolvimento, o que significava que as
semanas não foram turbulentas apenas na empresa ou na mídia, dentro de casa as coisas estavam
tão caóticas quanto.
Me encontrava jogado no sofá, usando apenas uma calça de moletom, com os braços
cruzados sobre o rosto, enquanto recuperava minhas forças e meu ânimo para terminar minha
arrumação. Até que senti um peso sobre mim e, logo depois, o perfume de Emma inebriando
todo o ambiente. Tirei os braços do rosto e abracei sua cintura, colando seu corpo ao meu,
deixando um beijo na sua cabeça.
— Está chateado comigo? — Ouvi ela questionar baixinho, com um tom incerto e, de
certa forma, inseguro.
— Claro que não, porque eu estaria, meu amor? — Ela se ajeitou em cima de mim,
apoiando o queixo no meu peito para olhar para meu rosto.
— Por ontem à noite.
Ontem à noite.
Sofria internamente só de pensar nessa parte específica das últimas semanas. Desde a
vasectomia, ou seja, há três semanas, quase quatro, nós não tínhamos uma noite de amor. Isso
mesmo. Sem sexo há quase um mês. Tentando olhar pelo lado positivo, pelo menos quando
finalmente algo acontecer, a camisinha não será realmente necessária, já que eu já fiz o
espermograma que comprovou a eficácia da cirurgia.
Todas as noites, desde que resolvemos toda aquela situação, nós tentamos, mas sempre
acontecia alguma coisa. Eu já dormi, Emma dormiu, Sheik passou mal por ter comido demais e,
claro, um bebê de menos de dois meses arrumou todas as desculpas possíveis para impedir nosso
momento de intimidade. Choros, diarreias, cólicas, sono desregulado, fome de madrugada.
Aconteceu de tudo. E, assim, vinha sendo impossível termos um momento nosso.
Ontem à noite, eu bem que tentei. Encomendei um jantar, comprei flores, organizei uma
linda e romântica mesa de jantar no jardim, à luz de velas. O jantar foi perfeito, coincidindo
perfeitamente com a rotina de Danny. Eu dei um banho relaxante e troquei a roupa, sentei na
poltrona e li uma história para ele, depois Emma assumiu e deu de mamar enquanto cantava a
música que se tornou ritual. Assim que ele dormiu, ela o colocou no berço e nós descemos para
jantar.
Tivemos um jantar perfeito, comida gostosa, um clima sensual e romântico. Assim que
subimos para o quarto e eu arranquei minhas roupas e as dela, Danny chorou. Emma tentou
acalmá-lo e não conseguiu, eu assumi a responsabilidade e fiquei ninando meu pequeno no braço
até que ele, finalmente, sucumbisse ao sono. Porém, esse processo todo demorou mais de uma
hora e, quando voltei ao quarto, encontrei Emma apagada no meio da cama. Porém, se eu for
honesto, eu também estava exausto, então apenas me acomodei ao seu lado e apaguei.
— Não estou chateado, minha linda. Frustrado e com tesão são definições mais corretas.
— Beijei sua boca, antes de uma careta que eu fazia e ela imitava.
— Bom, somos dois então. Estou com saudade de você só para mim, todo para mim. —
Olhei para os olhos dela, desejo e o tesão estavam estampados ali me fazendo sorrir malicioso e
descer uma das minhas mãos para a bunda dela, colando o quadril dela ainda mais ao meu.
— Eu também.
— Estou sentindo a sua saudade. Já está assim?
— Quatro semanas, Emma. Tempo demais. — Lhe dei um selinho rápido e falo — Bom,
estamos aqui, sozinhos, Danny dormindo, podíamos muito bem matar essa vontade agora ou
então…
— Menos palavras e mais ação, Ben. — Ela me interrompe.
Tentei sorrir para a audácia dela, mas logo senti minha boca ser esmagada e devorada
pela dela. Ela mordia meu lábio inferior antes de introduzir a sua língua na minha boca, sentindo
meu gosto. Eu amava Emma como um todo, mas puta merda, essa Emma ousada, que não
esperava por mim e ia atrás ela mesma do que queria, me enlouquecia.
Tomei o controle, conduzindo o beijo e me deliciando com o sabor doce de seus lábios.
Acariciava a língua dela com a minha, recuando um pouco para morder os lábios dela com
delicadeza, mas com pressão, excitando-a ainda mais. Escutei o gemido dela ao mesmo tempo
que sentia suas mãos começarem a correr pelo meu peito desnudo. Por onde ela passava, eu
sentia o meu corpo queimar, o desejo ardente.
As minhas mãos se tornaram tão destemidas como as delas quando as enfiei pelo cós da
calça legging que vestia, apertando sua bunda com vontade, brincando com as pontas dos dedos
na borda da calcinha. Minha boca largou a dela para explorar outras partes, escorregando pela
lateral, até alcançar a orelha, onde mordi o lóbulo forte o suficiente para que ela soltasse aquele
gemido que fazia meu tesão por ela triplicar.
Desci a boca com uma lambida até alcançar seu pescoço, chupando a pele com vontade,
sem machucá-la. Suas mãos dela chegaram no cós da minha calça, os polegares dela brincando
com os meus pelos baixos. Assim que ela abaixou o cós, liberando minha ereção, forte,
imponente e, principalmente, necessitada, também comecei a tirar a calça dela.
No momento em que a mão dela tocou onde eu mais necessitava, onde meu corpo
clamava pelo dela, escutamos a babá eletrônica apitar e, assim que olhamos para o lado,
encontramos Daniel acordando e abrindo o berreiro. Soltei um resmungo alto e retirei as mãos de
Emma quando percebi que Danny não parou de chorar. Emma deixou a cabeça cair no meu peito
por um momento, suspirando um tanto frustrada.
— Eu o amo incondicionalmente, mas ele podia colaborar um pouquinho, não é? — Ela
riu desacreditada e cansada.
— Compartilho desse sentimento. — Ela saiu de cima de mim, deixando um último
selinho e se sentou na beirada do sofá, respirando fundo. Vi que ela estava esgotada. Daniel
estava, literalmente, sugando toda a energia dela ultimamente.
— Eu vou, linda, descansa um pouco. Se for fome, eu dou o leite que temos congelado.
Subi minha calça e corri até o quarto do bebê. Passei um álcool na mão antes de pegá-lo
no colo e logo descobri o porquê do incômodo dele: fralda cheia. Ajeitei tudo para trocá-lo e
aproveitei para conversar com ele. De novo, outra conversa daquelas, de pai para filho.
— Pequeno, você podia colaborar com o papai, o que acha? A mamãe é tão linda e o
papai a ama tanto, que quer ela um pouquinho para ele também. Primeira lição para você levar
para vida: aprender a dividir, filho. — Ele, claro, não respondeu, mas fez um barulhinho com a
boca enquanto mantém os olhos atentos a mim. — Você resmunga, né? O papai vai se lembrar
disso daqui uns anos e atrapalhar seus namoros, seu espertinho. O papai é mais esperto, já tenho
um plano, vou recrutar seus padrinhos malucos e seus tios para cuidarem de você hoje enquanto
eu levo a mamãe comigo, só nós dois. — Ele me olhava profundamente — Não me olha assim,
meu amor, é só por algumas horas, prometo voltar logo, logo e dividir a mamãe com você
novamente.
Terminei de trocar a fralda e desci as escadas com ele no colo indo em direção à sala
primeiramente para resgatar o meu celular, e então para a cozinha preparar a mamadeira. Volto à
sala e me sentei para amamentá-lo, Emma sorrindo para nós dois enquanto ela permanecia
deitada no sofá.
Segurava a mamadeira com a mão do mesmo braço que segurava Daniel, dessa forma
conseguia digitar uma mensagem para todos que preciso. Digitei e enviei a mesma mensagem
para nossa rede de apoio.
Depois de enviar, analisei o rosto de Emma vendo o cansaço no semblante dela. Por mais
que eu me esforçasse para ser um pai presente e fazer o meu papel como tal, era inevitável que
ela acabasse mais atarefada do que eu em relação à Daniel. Ela ainda estava de licença e eu
estava trabalhando fora, mas, diferente de um trabalho, um bebê tinha necessidades a todo
tempo, independe de horários, não era como se houvesse uma jornada de trabalho.
Estava na hora de fazer mais por ela, me dedicar ainda mais à minha família. Vou fazer
mais por Emma. Apesar de saber que a atitude de Daniel nas últimas semanas era uma fase, sabia
que o cansaço sempre iria existir, então, prometi a mim mesmo aliviá-la sempre que possível.
E para hoje, consegui o que quero, afinal não demora para eu receber respostas de apoio
e concordância. E provocações, é claro. Eles sabiam qual era minha real intenção com tudo isso.
Mesmo que quisesse dar à minha esposa um momento especial, eu tinha motivos bem egoísticos.
O que queria mesmo era matar minha vontade de Emma e estrangular o tesão que andava me
matando.
Com essa parte no esquema, e feito uma reserva em um dos melhores hotéis da cidade,
só precisava fazer Emma ordenhar leite o suficiente para encher o estoque no freezer para que
não houvesse imprevistos enquanto estivéssemos fora.
— Linda, agora lembrei de comentar, o leite no freezer está acabando, o que acha de tirar
um pouco para encher o estoque?
— Ah, lindo, hoje não, estou com preguiça e ainda tem leite suficiente para as
mamadeiras que você dá para ele.
Ok, não funcionou. Sinceramente, eu não estava com saco para ficar inventando
desculpas quaisquer, resolvi ser sincero com ela. Deitei um Danny sonolento na cadeira de
descanso, acionando o mecanismo de balanço e me joguei ao lado de Emma, puxando-a para que
se sentasse no meu colo de frente para mim.
— Pedi reforços, meu amor, padrinhos e titios vão entrar pra jogo e cuidar de Danny
hoje à noite para que nós dois tenhamos um tempinho só nosso. Precisamos disso, linda, não
digo só pelo sexo, por isso também, claro, porque eu já estou subindo pelas paredes — Emma
gargalhou — Mas precisamos espairecer um pouco, sermos Emma e Ben, e não mamãe e papai.
— Eu amo você, é o melhor marido do mundo, vou disponibilizar meus peitos para a
ordenha feliz da vida. ‒ Foi a minha vez de rir do comentário.
— Também te amo e sinto saudades disso, de nós dois assim.
— Estamos aprendendo ainda, porém vamos adaptando nossa rotina, ok? Criar tempo
para nós dois como casal, para cuidarmos do nosso casamento.
Beijei sua boca apenas como uma pequena amostra do que viria mais tarde e então ela
pulou do meu colo para organizar a bombinha e se ajeitar em todo aquele aparato para a ordenha.
— No meio de toda a confusão, mudança, salto de desenvolvimento, acabei esquecendo
de te perguntar: o que tem naquela pasta confidencial que te entreguei? — Aproveitei para tirar
uma dúvida com ela.
— Nossa, até eu me esqueci disso. Bom, como eu já tinha te falado, é um projeto que
venho organizando, esquematizando e estudando a viabilidade de aplicação, desde antes de nós
dois sermos alguma coisa.
— O que é? Um novo aplicativo?
Ela me explicou toda sua ideia, a parceria com um serviço de streaming para o
desenvolvimento de filmes e documentários baseados nos livros assessorados pela Booksbank.
Corri no escritório para pegar a tal pasta confidencial dela e, ainda agarrada aos aparelhos que
bombeavam leite, me explicou cada passo que pensou, cada vantagem, as consequências e os
lucros. Explicou também as dificuldades que identificou e quais empecilhos podem ser
encontrados. Almoçamos enquanto ainda conversávamos sobre, na verdade, passamos a tarde
toda debatendo sobre o projeto.
— Você é mesmo excepcional. A Booksbank tem sorte de ter você. Assim que você
voltar da sua licença daremos início à implementação desse projeto. — Lá está a minha esposa
que ficava tímida diante de elogios.
— Não precisa me esperar voltar, pode dar início.
— Faço questão de te esperar, a ideia é sua, merece estar envolvida em cada passo dado
à realização de mais um projeto que tenho certeza que será um sucesso, assim como o Books-a-
go continua sendo.
— Sabe, eu realmente aprecio que você valorize minha carreira profissional. Tinha medo
de aceitar sua proposta e me decepcionar por você querer o tipo de esposa que apenas fica em
casa, cuidando da casa e dos filhos e saindo todos os dias para fazer compras. Eu realmente amo
meu trabalho e é importante para mim que você valorize isso. — Acariciei seu rosto, me
aconchegando nela por alguns instantes..
— Eu me encantei por você desde muito antes de fazer aquela proposta. Me encantei
pela minha secretária eficiente, que ia além de suas atribuições e me impressionava com suas
sagacidades em lidar com todo tipo de situação que cruzava seu caminho. Me encantei pela
mulher esforçada e competente que é. Nunca tiraria isso de você.
Pouco depois começamos a nos arrumar para o jantar e Emma comentou que seu pai
logo mais virá para NY, pois queria assistir o SuperBowl conosco, queria estar perto do neto na
primeira final de campeonato ainda que ele fosse apenas um bebê, mas o que importa isso? Os
Giants estavam na final!
Terminei de me arrumar primeiro e fiquei com Danny enquanto Emma ainda se
preparava. Assim que o reforço chegou, dei todas as instruções, mostrei como esquentar o leite, a
quantidade que Danny tomava e tudo mais.
Então vi Emma descer as escadas, me deixando boquiaberto. Ela vestia sandálias com
saltos altos e finos, combinando com o vestido vermelho, justo, até os joelhos. Os seios ainda
mais volumosos do que o usual, por conta do leite, preenchiam o decote. Os cabelos soltos
emoldurando seu rosto seguiam ondulados até a sua cintura, uma maquiagem leve porém
marcante finalizada com o batom vermelho que me enlouqueceu da última vez que ela usou.
— A medusa está usando seus poderes no Ben, ele virou pedra. — Nick brincou fazendo
todos gargalharem e me tirando do transe para ir até ela.
— Está linda, maravilhosa, sexy e é totalmente minha, graças a Deus.
— Vão embora logo antes que se comam aí nessa escada e a gente seja obrigado a
assistir. — Nate resmungou.
— Temos um pequeno no recinto, não é lugar para putaria, saiam daqui. — Carl
complementou.
— Estraga prazeres, isso estava quase virando um pornô ao vivo.
— Cala a boca, ruivo. — Hannah ria — Adeus a vocês dois. Dá tchau, Danny — Ela
balançou a mão do bebê.
Puxei Emma pela mão em direção ao carro, mas antes de entrar, precisava fazer uma
coisa. Prendi ela contra a porta e lhe dei um beijo de tirar o fôlego, enquanto apertava suas coxas
e sua bunda, pressionando a minha já existente e, pelo visto, constante ereção contra ela.
— Gostosa. Vamos logo antes que eu acabe com nosso fogo aqui mesmo e realmente dê
um show ao vivo para eles.
Abri a porta do carro para ela e então dei a volta. Percorri o caminho até o hotel o mais
rápido que conseguia, buscando todos os atalhos que o GPS me apontava. Assim que chegamos,
não demoramos mais do que cinco minutos para fazer o check-in e logo mais já estávamos no
quarto.
Pedi rosas e um champanhe sem álcool para nós dois, mas que se dane isso agora. Assim
que entramos, prendi ela contra a porta novamente e repetindo o beijo que lhe dei antes. Um
beijo completamente erótico, sensual, demonstrando a cada movimento que fazia, com a boca na
dela, como eu a desejava. Grudei meu corpo ao dela, pressionando a ereção contra sua barriga.
Sem soltar a minha boca da dela, peguei ela no colo, a segurando pelas coxas, suas
pernas se prendendo à minha cintura. Sustentava o corpo dela com a ajuda da parede e com as
mãos livres percorri todo o corpo dela, seios, barriga, bunda e coxas.
Desci as alças do vestido liberando os seios. Percorri o pescoço dela e o colo com beijos
e chupões até que alcançasse os seios, ouvindo ela gemer cada vez mais alto. Normalmente,
assisti-la amamentando não me remetia a nada erótico, mas nesse momento, não havia a pureza
daquele ato. Aqui e agora era pura perdição. Apertava, mordia e sugava os seios dela. Era
inevitável que escorresse um pouco de leite para minha boca, mas eu não me importava com
isso, e aparentemente ela também não.
Enquanto alternava de um seio para o outro, usando a boca em um e a mão no outro, com
a mão livre busquei o zíper do vestido nas suas costas. Assim que o encontrei o desci, ao mesmo
tempo em que ela esticou as mãos e desfez os botões de minha camisa. Me afastei e a coloquei
de pé, arrancando a minha própria camisa e seu vestido, tendo a deliciosa surpresa de encontrá-la
nua por baixo do vestido.
— Sem calcinha? — Sorri feito um predador esfomeado.
— Quis agilizar o processo, não viemos aqui para jantar, não é mesmo?
— Perfeita. Minha intenção é jantar você, matar minha fome de Emma.
Voltei a beijá-la, percorrendo seu corpo com as mãos, não conseguindo mantê-las
afastadas nem por um segundo. Carreguei minha esposa até a cama, depositando seu corpo bem
no meio das pétalas que ali repousavam.
Sorri para ela antes de voltar com minha boca para atiçar cada ponto que sabia que a
excita. Boca, orelha, pescoço, seios, desci para a barriga dela com a língua, deixando um rastro
molhado por onde passava, até encontrar o meu próprio paraíso. Era ali que queria me afogar e
me perder.
Logo abri suas as pernas sem muita delicadeza, engolindo toda sua boceta com minha
boca. A língua mantinha trabalho constante no ponto túrgido e sensível, escutando os gemidos
dela intensificarem cada vez mais me levando à loucura.
Sugava, chupava, mordiscava, penetrava com dois dedos. Não demorou muito para ela
gritar meu nome enquanto se desfazia em minha boca, deixando que seu sumo escorresse pelo
meu queixo. Parei de estimulá-la para voltar à sua boca e lhe dar um novo beijo ardente.
— Estava com saudade do seu gosto—Murmurei em seu ouvido.
Emma abriu os olhos e me encarou. Sabia bem que o que ela encontrava ali eram meus
olhos completamente tomados pelo desejo e excitação. Ela saiu de baixo de mim fazendo com
que eu agora fique deitado, vendo ela se ajoelhar na cama e arrancar o restante da minha roupa.
Assim que eu estava perfeitamente nu e à disposição dela, ela me montou. Observei ela
se sentando sobre minhas coxas e com um sorriso malicioso nos lábios antes de se debruçar e
tomar a minha ereção para si. Espalhava o pré-gozo com o polegar por todo o comprimento,
fazendo com que um gemido gutural me escapasse e ela sorrisse, sabendo o efeito que causa em
mim.
— Não sabe o quanto eu imaginei a cena, desde a primeira vez que a vi usando esse
batom vermelho nessa boca pecaminosa.
— Sonhos se realizam, meu amor.
Emma me engoliu como um todo e, assim como eu fiz com ela, chupou toda minha
extensão, lambendo, passa os dentes de raspão apenas para me excitar ainda mais como sabia
que eu gosto. Mantinha um movimento constante na glande, intumescida e arroxeada pela
pressão do sangue, enquanto masturbava o restante de mim e apertava as bolas. Gemi alto
quando ela desceu um pouco mais a mão e pressionou o meu períneo. Porra, essa novidade era
boa e foi meu estopim.
— Eu vou gozar, linda.
Ela não se afastou, manteve todos os seus estímulos e quando novamente pressionou
aquele ponto específico em mim, me desfiz em sua boca. Quente, forte, sem dúvidas no orgasmo
mais violento que já tive.
— Eu também estava com saudade do seu gosto. ‒ Ela sentou sobre mim novamente
antes de deitar por completo por cima do meu corpo.
Puxei sua boca para um beijo, altamente erótico, sabia que ela sentia o gosto dela em
mim, quando o inverso também era possível. Tornei a inverter nossas posições na cama enquanto
me posicionei entre as pernas dela, já que minha ereção ainda se mantinha mesmo após o
orgasmo e, assim, logo a penetrei.
— Já?
— Quatro semanas, linda, um orgasmo apenas não vai nos satisfazer.
E realmente não fez. A noite foi intensa. Depois de algumas rodadas de sexo, na cama,
na varanda e, também, na banheira, nos arrumamos para ir embora, mas, antes de sair do quarto,
eu tomo seu rosto nas mãos.
— Prometo não deixar nosso casamento cair na rotina. Sei que somos pais recentes e
ainda estamos nos acostumando com todas as novidades. Nosso filho é prioridade, assim como
nossa família, nossos momentos a três. Mas nosso casamento também é. Não digo apenas pelo
sexo, este também é incrível, mas por todos os nossos momentos a dois, nossas conversas e
risadas, nossos jantares e encontros. Prometo que faremos isso mais vezes, sair só nós dois e
curtir como um casal. — Ela sorriu.
— Amo você, Senhor McKnight e te faço a mesma promessa, nosso casamento também
é prioridade para mim.
— Amo você, Sra. McKnight. Desculpa pela falta do jantar, mas nada que um drive-thru
não resolva enquanto dirigimos para casa até nosso bebê.
— Essa é a coisa mais romântica que poderia me dizer nesse momento.

Domingo de SuperBowl!
O dia começou agitado, até Daniel parecia estar mais animado e disposto que o comum.
Estava terminando de preparar o café da manhã enquanto Sheik rondava minhas pernas atrás de
algum petisco e ouvia meu pai conversando com Daniel, explicando as funções dos jogadores, as
técnicas e estratégias do jogo.
Sorri com a empolgação dele em segurar o bebê de recém completados dois meses e
narrar tudo sobre o jogo. Eu quase tinha pena de Danny, afinal, desde que os Giants se
classificaram para a final do campeonato, isso era tudo que Ben conversava com ele sobre, até as
historinhas que ele costumava ler para o bebê estavam temáticas.
Ben desceu as escadas já vestido com sua camiseta do time e gritando “Go Giants”,
fazendo meu pai responder na mesma empolgação. Ele me agarrou me dando um beijo de bom
dia, sem se importar com a presença do sogro nesse momento, que estava há uma semana
presenciando esses beijos roubados.
Ben foi até o sogro lhe cumprimentar e pegar o bebê de seus braços, segurando Danny
por debaixo das axilas e o levantando para o alto antes de gritar novamente “Go Giants” na
mesma empolgação. Diferente das outras vezes, Danny respondeu com uma risada, quase uma
gargalhada curta.
— Viu isso? — Ben abaixou ele e olhou para mim chocado.
— Faz de novo.
Ele faz e Danny pareceu rir ainda mais alto. Sabia que isso muito provavelmente era um
ato reflexo, afinal, ele tinha apenas dois meses. Mas que se dane, era lindo da mesma forma.
— Esperem aí, nós já voltamos. — Ben saiu correndo da cozinha com ele no colo.
— Minha filha, seu marido é louco.
— Vou ter que concordar, pai. — A risada que mantinha pela atitude de Ben, transmutou
no mesmo sorriso que sempre tem nos lábios quando eu o chamava de pai.
Ben não demorou a voltar, descendo as escadas e vindo até a cozinha com rapidez, mas
ficando de costas para mim e Rupert, fazendo aquele típico suspense que ele adorava e que,
normalmente, todo mundo reclamava.
— Preparados para a coisa mais linda que vocês já viram?
— Sim. — Respondemos em uníssono.
Ben girou e nos mostra Danny, vestido em um uniforme completo, idêntico aos dos
jogadores, calça, camisa e boné, até as meias que ele usa são imitações das chuteiras usadas.
Então girou o bebê e mostra que a camisa tem o sobrenome dele bordado, McKnight.
— Ai meu Deus, é a coisinha mais perfeita da mamãe. Quero um milhão de fotos desse
momento. — Como toda mãe babona, realmente tirei inúmeras fotos, já não tinha mais controle
sobre a memória do meu celular — Amor, faz aquilo de novo, vou filmar.
— Esse meu neto é mesmo perfeito.
Apesar do jogo ser só às 16 horas, antes do almoço todos chegaram. Ben sumiu com
Danny novamente e todos se espalharam pela cozinha, organizando bandejas e bebidas. Logo ele
apareceu na escada e repetiu o show e, assim que todos responderam que estavam preparados,
ele mostrou Danny em seu uniforme e então foi confusão de elogios, risadas, comentários sobre
a ele.
— Nada do noivo de Hannah, de novo? — Respirei fundo diante da pergunta de Bem
depois de um tempo.
— Eu já não sei mais o que dizer a ela. Eu sei que ela não está feliz com ele, toda vez
que menciona o nome dele é perceptível a sua melancolia.
— Por que ela ainda insiste nesse noivado sem futuro?
— A minha opinião é de que ela está acomodada, já que eles namoram desde antes da
faculdade, é difícil desistir de um relacionamento de tanto tempo assim.
— Acho que consigo compreender isso.
As horas se arrastaram e quando menos esperamos Nate e Carl saíram para buscar as
famosas asinhas de frango que eles encomendaram em um restaurante local e assim que
retornaram todos nos acomodamos na sala de televisão, rindo, comendo e bebendo enquanto o
jogo não começava.
Ben ostentava o maior sorriso já visto por mim enquanto acomodava Danny no colo,
vestido em todo aquele uniforme, com olhinhos curiosos na direção do pai, ouvindo sua voz
narrar tudo que acontecia na televisão.
O jogo começou e por mais que eu amasse o esporte e o time, tinha uma visão ainda mais
perfeita para me concentrar. Meu marido, com meu filho nos braços, enquanto explicava para o
bebê cada movimento que os jogadores faziam em campo.
Quando Ben me contou sobre sua relação com seus pais, ele lamentou que quando
criança queria assistir jogos de futebol com o pai, ter esses programas de pai e filho. Ele não teve
essa oportunidade, mas agora fazia pelo seu próprio bebê. Daniel nunca lamentaria a falta dessas
coisas como Ben já o fez um dia, ele tinha o melhor pai de todo o mundo.
Me emocionei ao pensar em tudo isso e, discretamente, apontei o celular para eles e
registro esse momento: o primeiro jogo de pai e filho. Uma memória que eu certamente levaria
para toda a vida.
Depois de um show do intervalo sensacional, o jogo seguiu emocionante e, faltando
menos de cinco minutos para o término do campeonato, os Giants estavam perdendo por seis
pontos, ou seja, eles precisavam de um touchdown para vencer.
Daniel Jones, o quarterback, entrou em campo para a jogada final. Eles avançaram
algumas jardas diminuindo a distância até a endzone. Faltando um minuto para o fim do jogo,
Jones arremessou a bola e, se algum jogador na endzone segurasse, os Giants venceriam.
A sala de casa permanece silenciosa pelo que pareceu ser uma eternidade, enquanto a
bola girava no ar, até que… até que… TOUCHDOWN!
Gritamos e vibramos. Os Giants são campeões. Venceram o campeonato. Gritamos
animados e eufóricos, assistindo o técnico receber o clássico banho dos jogadores e assistentes
técnicos.
Ben levantou Danny e o balançou fazendo o bebê gargalhar com a animação do pai,
então veio até mim e me abraçou ainda vibrando, antes de se posicionar atrás de mim.
— Tira uma foto nossa, nós três. — Ele pediu.
Sheik aparece latindo, Ben riu e se abaixou, me puxando consigo, então, nos agachamos
no chão, Sheik ao meu lado, Ben atrás de nós dois segurando Danny no colo. Ele fez o bebê rir e
eu tirei algumas fotos.
— Quero um registro desse momento. Eu sei o porquê você ficou emocionada, quando
tirou aquela foto furtivamente. Você prometeu cuidar do meu menino interior e hoje ele está
saltando de alegria dentro de mim. Criamos a memória que eu tanto queria, mas da melhor
maneira possível, com a nossa família. Obrigada por isso, por ter me dado isso.
— Eu amo você. Vocês são a minha vida.
— Vocês são o meu sonho realizado. A minha família. Eu também amo você.
Ben me puxou para um beijo, repleto de amor e de emoção, com um sabor característico:
plenitude.
Epílogo – Benjamin McKnight

Dez meses depois...


Manhã de Natal! Pensar em feriados sempre foi algo mexia comigo de uma forma
melancólica, principalmente nesse dia. Depois da morte de meu pai e de me afastar
completamente de minha progenitora, eu passava todos os feriados com meus irmãos da vida,
Nick, Carl e Nate.
Apesar dos amigos serem uma família para mim, sempre senti falta daqueles momentos
que via nos filmes. Engraçado, sentia falta de algo que nunca tive mas sempre quis.
Claro que, depois de adulto, eu estava velho para algumas tradições natalinas, mas nunca
tive a oportunidade de fazer certas coisas, como decorar a árvore de Natal, enviar a cartinha para
o papai Noel, deixar o prato com biscoitos frescos e leite para o bom velhinho e, claro, cenouras
para suas renas, acordar empolgado na manhã de Natal e correr pelas escadas atrás de seus
presentes, passar o dia de pijama enquanto assistiam os filmes temáticos.
Mas não queria remoer esse sentimento dentro de mim, não precisava mais disso. Agora
tinha Emma e Daniel para viver tudo isso comigo e criar memórias.
O menininho estava especialmente empolgado. Nós fizemos todas essas tradições com
ele e agora, aguardávamos ansiosamente que ele acordasse para podermos descer e ver a reação
dele abrindo os presentes, cuidadosamente comprados pelos pais, avô, tios e padrinhos, mas que
Papai Noel levaria a fama de bom velhinho.
— Fiquei feliz que conseguimos adiar a festa de aniversário dele para que Nick pudesse
estar aqui. — Emma disse, deitada ao meu lado enquanto fazia um carinho em seu rosto.
— Eu fiquei com pena quando ele me ligou quase chorando falando que Daniel iria odiá-
lo eternamente caso ele faltasse à festa por estar viajando a trabalho. — Ela riu, provavelmente
lembrando do show que o ruivo fez.
— Dramático, mas não faz mal nenhum termos adiado, Danny ainda não tem noção de
datas, vamos comemorar da mesma forma, apenas alguns dias depois. Assim como meu pai que
só conseguirá chegar hoje mais tarde para nosso jantar de Natal. Que ideia fazer um cruzeiro da
terceira idade nessa época, não é? — Concordei rindo.
— Estou ansioso.
— Para ele acordar? - A mão dela subiu até meu pescoço.
— Também, mas não é disso que estou falando. Nas últimas noites, venho sonhando
sempre com ele me chamando de papai e apesar de ele já ter completado um ano, nada dele falar.
Ainda. Quero tanto ouvir isso, seria o melhor presente que eu poderia ganhar.
— Também estou ansiosa para isso. Cansei de sonhar com esse momento, eu passo
metade do meu tempo com ele ensinando ele a falar mamãe e papai, mas tudo que ele fala é
‘Eik’. — Ela fez bico e eu ri dela.
— Eu perdi meu cachorro para você, e você o perdeu para Danny. Eles são fiéis
companheiros um pro outro.
— Não é à toa que Sheik estava do lado dele quando ele deu os primeiros passinhos.
— Consegue imaginar que há menos de dois anos não tínhamos nada disso? Às vezes eu
acho que já estamos juntos há uma eternidade, mas, na verdade, ainda temos só um ano de
casados.
— Sinto isso também, minha vida antes de vocês parece ter sido a uma década atrás.
Abri a boca para continuar a conversa, mas escutamos Danny balbuciando palavras e,
entre os sons, só era possível identificar ‘Eik’. Nos levantamos e fomos para o quarto de Danny,
encontrando o menininho sentado no berço, com os braços na grade passando a mão em Sheik,
que assim como eu desconfiava realmente só dormia ao lado de Danny.
Agarramos, beijamos e apertamos o menino. Troquei a fralda dele e ajeitei o quarto
enquanto Emma o amamentava. Um ano de amamentação exclusiva, sem complementos, apesar
de que agora ele já comia frutas, verduras e mais alguns alimentos comuns, mas seguiríamos
com a amamentação até quando Emma quisesse, e Daniel claro, e ela se sentir preparada para
cortar esse vínculo específico, pois sabíamos que isso iria gerar questões emocionais para ela.
Assim que ele terminou de mamar, ficou em pé nas pernas da mãe e lhe dando um beijo
molhado, em um hábito recém adquirido.
— Vamos ver os presentes, Danny? As luzinhas piscando na árvore? — Convidei.
— “atal”. — Ele balbuciou e Emma me olhou instantaneamente.
— Isso, meu amor, árvore de Natal. Vamos descer?
— “decê”.
O que deu nesse menino hoje pra repetir tudo? Pequeno papagaio. Falar mamãe e papai
que era bom, nada. Peguei meu filho no colo e o levantei, fazendo-o rir, mas logo o abaixei
quando Emma, gentilmente, me lembrou dos riscos de um vômito na cara. Não, obrigado. Assim
que chegamos no andar de baixo, Danny gritou empolgado, arregalando os olhos azuis imensos e
brilhantes iguais aos meus.
— Vamos ver os seus presentes? — Emma o chamou.
— “ente”.
— Isso, presente.
Coloquei Danny no chão e ele se foi, dando seus passinhos trôpegos, acompanhados de
Sheik, até alcançar as caixas bem embaladas e coloridas. Nos sentamos perto dele no chão e
abrimos um por um. Livros, caixinha de música, pelúcias e seus favoritos do momento, blocos de
madeira.
Enquanto ele estava empolgado brincando com algumas coisas, puxei Emma e lhe
entreguei um embrulho. Ela abriu sorrindo para mim e encontrou um relicário, delicado,
adornado com pequenas safiras e esmeraldas, azuis e verdes. Quando ela abriu, encontrou uma
miniatura da foto que tiramos no SuperBowl no início do ano.
— Eu amei, obrigada, meu amor, põe em mim? — Ela se virou de costas para mim,
afastando os cabelos para que eu fechasse o cordão em torno de seu pescoço — Também tenho
um presente para você, espero que goste.
Ela me entregou uma caixa. Desfiz o laço e encontrei um livro de capa preta e, ao retirá-
lo de dentro da caixa, notei que em baixo relevo estava gravado nosso sobrenome. Assim que
abri, descobri ser uma espécie de álbum de fotos, com espaço para escrever ao lado das imagens.
Na primeira página, ela escreveu ‘Livro de memórias de Benjamin McKnight’. Já
haviam algumas fotos coladas, minhas, sozinho quando adolescente, depois outras com meus
amigos, uma quando me tornei CEO da Booksbank.
Então vi uma foto de Emma sozinha, o primeiro ultrassom de Daniel, aquele que eu
mostrei quando fiz a proposta a ela, então a primeira foto nossa como um casal, logo após o
nosso primeiro beijo. Algumas fotos seguiam. Nossas em shows e encontros durante o noivado,
fotos do nosso casamento, as ultrassons de Daniel, a foto que tiramos logo no nascimento dele,
algumas fotos nossas pela casa, a foto do dia em que fiz Danny gargalhar pela primeira vez, a
foto minha e de Danny assistindo ao jogo, a foto de nós quatro juntos depois do SuperBowl e
outras dos momentos que vivemos nesses últimos meses.
— Um lugar para você registrar suas memórias e momentos importantes.
— Obrigado, eu amei. O melhor presente que poderia me dar, vou usar e cuidar com
muito carinho. — Lhe dei um abraço e um beijo, até que escutamos…
— “papa, ivo”. — Eu paralisei e Emma sorriu.
— Aparentemente alguém quis roubar o meu posto de melhor presente, não me deixou
nem ter um gostinho.
Permaneci paralisado e Danny repetiu sacudindo um dos livros que ganhou “papa, ivo”.
Me sentei no chão e ele logo se acomodou nas minhas pernas, repetindo seu pedido.
— Ele me chamou de papai, três vezes. Três vezes. — Emma concordou, emocionada
em ver a minha felicidade.
— E vai chamar uma quarta se você não ler esse livro para ele — Corroborando com o
que ela disse, Danny pediu novamente.
— “ivo, papa, ivo”.
Sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mas não me importava, acomodei meu
filho no colo, lendo a história sobre dragões corajosos. Danny ria das minhas imitações e vozes
que fazia toda vez que lia algo para ele.
Precisei repetir a leitura pelo menos três vezes para que Danny se satisfizesse. Então ele
correu do meu colo e pegou uma das caixinhas de música antes de ir até a mãe pedindo colo e se
acomodando deitado, claramente pedindo peito novamente.
— Quer mamar mais, seu bezerrinho?
Ele ria pelas cócegas que ela fazia nele e se acomodou no peito da mãe e sugando,
saciando sua fome remanescente e coçando os olhinhos, demonstrando ainda estar cansado. Ele
olhava para a mãe e mantinha aquela conexão que eles tinham desde a primeira mamada, até que
soltou o peito.
— “mama, usica”
Emma entrou em choque assim como eu estive há poucos minutos e agora eu tive a
oportunidade de ver de fora esse momento emocionante que era assistir um filho te chamar pela
primeira vez e, como Emma não respondeu, ele pediu novamente.
— “mama, usica”.
— Ele quer que você cante a música de vocês, meu amor.
— “mama, usica”
Emma respirou fundo algumas vezes e não se incomodou com as lágrimas escorrendo,
apenas agarrou a mãozinha livre dele e deu um beijinho, começando a cantar a música que
cantava todos os dias para ele quando o fazia dormir. Logo ele voltou a mamar e escutando a
música com atenção, até voltar a dormir. Sabia que seria apenas uma soneca rápida, então nem
me incomodei em levá-lo para a cama, apenas o deixei dormindo no peito da mãe.
— Esse é o melhor natal da minha vida.
— Vou registrar e dar continuidade ao meu livro de memórias.
Puxei o celular para tirar uma foto e Sheik pulou no sofá entre nós dois, parecendo saber
o que iria acontecer e então registrei nós quatro ali. Danny dormindo no peito, Sheik deitado
entre a gente e eu e Emma com a mesma expressão de fascínio nos sorrisos emocionados que
estampam nossos rostos. Segurei o rosto de minha esposa trazendo-a para perto e roçando meu
nariz no dela antes de lhe dar um beijo, sem dizer nada. Não precisávamos de palavras,
enxergava tudo pelos olhos brilhantes dela.
Eu achava que realizar meu sonho de ter a minha família demoraria ou que seria
impossível, mas, mal sabia eu que, por uma gravidez acidental e uma proposta maluca à minha
secretária, tudo que sempre idealizei, aconteceria e de um modo muito melhor do que eu sequer
poderia imaginar.

Fim!
Agradecimentos

A você que chegou até aqui, muito obrigada! Espero que tenha gostado da história e que
fique por perto para ler as próximas. Um grupo de amigos como esse precisa de uma história
exclusiva para cada um deles, não acham?
Bom, é isso que teremos! Nate é nosso próximo protagonista.
De qualquer maneira, antes de seguirmos para a próxima, preciso agradecer a quem
muito me ajudou na construção dessa história. Minha irmã, que me ajudou a lapidar ideias e a me
cobrar quando eu começava a me sabotar. Minha amiga Isabela, que me incentivou do seu jeito
único e que muito funcionou. Minhas amigas Bruna e Ndara que, mesmo a uma certa distância
graças a vida, ainda permanecem por perto e torcem por mim.
As minhas betas que entraram há pouco tempo, mas que fizeram diferença nas
pontuações que fizeram acerca da história. Obrigada!
Preciso ainda agradecer a todos que me apoiaram a chegar até aqui, mesmo que muitas
dessas pessoas só descobriram sobre a escrita do livro quando ele já estava pronto há alguns
meses, para não dizer alguns anos.
Escrever sempre foi uma paixão, sempre fui o tipo de garota que não saía de casa sem
um bloquinho e uma caneta. Era do tipo que mantinha diários, era daquelas que relatava as
viagens que fazia com minha família, daquelas que adorava as aulas de produção de texto na
escola, daquelas que mandava (e ainda mando) cartinhas e bilhetinhos para amigas.
Essa sempre foi eu, mas isso nunca passou de mais do que um hobby. Ler era mais um
deles. Meu pai é um leitor assíduo e eu e meus irmãos crescemos observando a leitura como
parte do nosso dia a dia, gostar de ler era uma consequência um tanto óbvia. A Victória criança e
adolescente sempre andava para lá e para cá com um livro e um caderno debaixo do braço.
Quando terminei a faculdade de Direito em 2019, aos 23 anos, quis tirar um tempo para
mim mesma antes de me colocar no mercado de trabalho, mas então, a pandemia chegou e
dificultou tudo. Ficar isolada em casa foi um grande fator para me estimular a tirar minhas
histórias da cabeça e passá-las para o papel.
Eu, uma leitora assídua, nunca havia lido tanto quanto li em 2020. Minha cabeça
fervilhava com as minhas próprias ideias para histórias e um dia pensei: Por que não escrever?
Ou ao menos tentar fazer isso. E então… eu fiz!
Um grupo de amigos, em Nova York, tem conceitos um tanto clichês, mas com toques
diferentes de tudo que vemos por aí e já amamos. Nasceu a minha primeira série de livros.
E eu mal posso esperar para compartilhar toda ela (e muito mais!) com todos vocês!
Se gostou do que leu, não se esqueça de avaliar! É muito importante.
Vejo vocês no próximo livro.
Felizmente, isso acontecerá muito em breve.

[1]
Eu sou o mais fofo, mamãe é a melhor e o papai é o mais sortudo.
[2]
MVP significa “Most Valuable Player”, o que em tradução para o português significa “Jogador Mais Valioso”.
[3]
Uma expressão em inglês que resume a ansiedade e nervosismo pré-casamento.

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