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diga que

ME AMA

2020 | © M.C Mari Cardoso.


Informações

Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e mecânicos
sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de citações, resenhas e
alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais é
apenas espelho da realidade ou mera coincidência.

Capa: Mariana Cardoso.


Imagem licenciada pela Adobe.
Título da obra: Diga Que Me Ama.

Copyright © 2020 por Mariana Cardoso


Este livro contém cenas de sexo.
Classificação indicativa
+ de 18 anos.
Dedicatória

Para todas as minhas leitoras que me


acompanham e apoiam minha intensa jornada de
escrita. Cada livro publicado é para vocês e por
vocês.
PRÓLOGO

Está escuro de novo. Ouço sons de água. É como uma goteira. É


constante.
Quero fazer xixi.Não posso urinar em mim mesmo... Ele vai me bater.
De novo. Vai me bater de novo.
Aguenta mais um pouco, você consegue... Aguenta mais um pouco.
Está muito escuro. Estou com medo. Estou sozinho.
Quero a minha mãe. Não. Não quero.
Preciso ser forte assim ele não vai me bater de novo.
Droga.
Fiz xixi em mim.
A porta abriu e meus olhos doeram com a claridade.
— Isso é urina, Callum? Um Lowell nunca demonstra medo desse jeito.
Você vai aprender a ser um homem. — Ouvi o som do seu cinto e engoli
seco, nervoso, esperando o pior. — Você vai ser um homem.
Doeu muito.
Agora queria mesmo a minha mãe. Por que ela se foi?
— Sua mãe se foi porque era egoísta e não nos amava. Aprenda,
Callum. Amor é para idiotas e fracos. Um Lowell nunca é um homem fraco.
Nunca confie em mulheres... Elas são traiçoeiras e gananciosas. Aprenda de
uma vez por todas. — Seu cinto não parava e minhas costas ardiam.
Doeria para sempre.
CAPÍTULO 1
Isla.
O ruído do meu rádio despertador ligando me acordou antes que a voz
estridente…
— Bom dia, Boston! É treze de agosto e temos um dia com ventos
gelados e um pouco de sol! Sou Samantha Barnes e estou aqui para te dar
bom dia! — Rolei para o lado e soltei um gemido sonolento.
O rádio ligava exatamente no começo do primeiro programa, horário
em que precisava me levantar, conferir como estaria a temperatura do dia e as
notícias mais importantes. Levantei-me sentindo dor de cabeça, meus olhos
ardiam pelas poucas horas de sono, me espreguicei com o corpo inteiro
estalando e os meus músculos doloridos. Desejava dormir um pouco mais,
precisava mesmo de longas horas enfurnada na cama, sem nenhum
compromisso com a vida e infelizmente não era possível.
Me arrastei até o banheiro, praticamente de olhos fechados.
Entrei no chuveiro quente para acordar, lavando meu curto cabelo loiro
e esfreguei o meu rosto, ciente que ficaria toda vermelha já que era tão branca
quanto a neve. Meu sonho era ter um pouco de melanina para ao menos ficar
bronzeada e não parecendo um tomate. Odiava ser branca, isso era um fato.
Não gostava da minha aparência de modo geral, parecia muito com a minha
mãe e isso me incomodava.
Enrolada na toalha, tirei o vapor do espelho e me encarei toda molhada.
Era uma mulher típica da Nova Inglaterra. Branca, loira, com olhos tão claros
quanto o céu. Tinha noção que parecia uma tremenda palhaçada da minha
parte reclamar da minha aparência, quando tinha muita gente pagando para
ter um nariz como o meu. A pele não garantia, porque era a rainha das
espinhas. Quem gostaria desse tanto de sardas que era obrigada a esconder
diariamente?
Muitos usavam lentes para ter algo parecido com os meus olhos e
faziam preenchimento para os lábios rosados que eu tinha naturalmente.
Sabia que era bonita. Fazia parte de um estereótipo padrão no quesito
beleza. Integrava um grupo privilegiado pelo tom da pele, eu não tinha as
minhas opções tomadas e estava na frente na corrida louca da vida. Não era
uma mulher que ignorava o meu privilégio branco em uma cidade no qual
negros se reduziam a uma parte dela. Meus problemas de autoestima vinham
da minha mãe.
Não sabia lidar... Com a nossa semelhança. Exceto o peso, minha mãe
nunca precisou contar as gramas do que comia e tinha que malhar toda
maldita noite para que as roupas super pequenas continuassem cabendo para
que a sua chefe não reparasse no tamanho da minha bunda – no meu
caso, rivaliza com a da J-LO, a diferença era que tinha uns bons centímetros a
menos.
Era muito baixinha, com a parte de cima pequena, parte de baixo
volumosa. Roxanne, a minha chefe, me chamava de mulher Pêra.
Minha mãe sempre foi louvada pela a sua beleza. Ela foi dançarina de
burlesque por muitos anos e costumava ter milhares de homens aos seus pés.
Amava tanto a atenção que o meu pai sofreu boa parte da vida com os casos
extraconjugais, até que ela arrumou um amante rico, saindo de casa e o meu
pai decidiu me levar para viver com ele e a minha avó em South Boston.
Essa beleza ovacionada estava em mim... Não gostava de ser lembrada por
isso. Minha chefe me contratou porque era bonita para ser fotografada ao
fundo. Me tornei uma assistente pessoal e não tinha uma vida própria, mas
ser bonita era muito importante! Insira um revirar de olhos aqui. Ninguém
entendia que a autoestima não era uma questão de ser bonita ou não e sim de
não enxergar a beleza que temos – dentro e fora.
Todas as mulheres do mundo são bonitas, extraordinárias a sua forma,
com diferenças incríveis que se completam e as tornam reais.
Gostaria de me enxergar assim, mas andava tão cansada, magoada e
irritada, que não conseguia me olhar no espelho e encontrar algo bom.
Tão branca quanto leite, devido ao meu efeito sanfona tinha estrias
rosadas na bunda e as minhas mãos eram do tipo pequenas, dedos gordinhos
e usava as unhas excessivamente grandes para disfarçar. A grama do vizinho
é sempre mais verde e ninguém sabe o que o vizinho está escondendo dentro
da sua casa. Era assim que me sentia. Um estereótipo que lutava para estar
dentro do biotipo ideal do lugar que trabalhava e que morria de vontade de
comer um cheeseburger.
Me sentia tão falsa dentro do feminismo. Infelizmente, ele não estava
pagando as minhas contas e a minha chefe sim.
Resignada, sequei o meu cabelo, escovei e fiz ondas fixando com o
spray bem potente e em seguida escondendo minhas olheiras das minhas
noites extremamente mal dormidas, minhas sardas, usando um pouco da
técnica de contorno e caprichando nos cílios que era a única coisa decente do
meu corpo. Me livrava de ter que colar cílios todos os dias como uma das
obrigações do escritório.
Meu apartamento era chamado de estilo estúdio. Um único cômodo
com apenas o banheiro separado, na verdade, vivia em um grande quarto com
uma cozinha. Era tudo muito apertadinho, com sofá, televisão, mesinha, um
balcão que dividia a cozinha, que só cabia uma única pessoa entre geladeira,
pia, fogão e o balcão divisor que também era a mesa de refeições. Logo em
frente estava a minha cama, questão de dois passos e o corredor para porta de
entrada/saída.
Me orgulhava do meu lugar, parecia algo de revista, porque foi
decorado com todas as sobras de cenários do meu trabalho, presentes que a
minha chefe não quis e móveis que consegui comprar fazendo garimpo nas
lojas. Era pequeno, porém, quando fechava a porta ninguém me enchia o
saco.
Vesti uma saia envelope até os joelhos de tom creme, uma blusa sem
mangas de gola alta e um par scarpin nudes. Separei o meu casaco trench
coat em um tom de creme mais escuro que a saia, mas não muito e com
botões marrons bem grandes, que eu mesma customizei para dar um ar de
elegância à peça que comprei em um bazar.
O momento da música me alertou que era hora de sair de casa. Com a
minha bolsa, pasta do computador e a prévia da próxima edição nos braços,
saí de casa no amanhecer. Andei o mais rápido possível até a estação do
metrô e literalmente me acotovelei na linha para pegar o próximo carro até
Downtown. Morar em Mission Hill era favorável pelo aluguel, vizinhança
mais jovem, mas não era tão perto do coração da cidade e onde ficava a sede
da revista.
Temos um escritório em Nova Iorque também, mas não somos tão
grandes, a xPoison nasceu em Boston e fazia parte de um grupo editorial
muito antigo da cidade. A revista não era nova, estava bombando na era
digital, porém ainda tínhamos uma publicação física mensal que era enviada
às bancas, lojas de jornal e aos assinantes. A edição semanal era apenas
online, com números de acessos bastante expressivos e ainda estamos na lista
de convidados das semanas de moda.
Minha chefe era conhecida como a Deusa da Moda. O Diabo Veste
Prada? Não era nada comparado a Roxanne Miller. Ela acreditava que era a
Anna Wintour de Boston, mas sentia que a minha chefe era ainda pior, no
sentido que era capaz de fazer qualquer coisa para levar a revista, que era
Editora Chefe, ao topo. Não desistia de uma competição e adorava foder com
a saúde mental dos seus funcionários.
Enquanto era a sua assistente, também possuía um blog e um
Instagram de lifestyle e moda. Cheguei à marca de um milhão de seguidores e
todo dinheiro de publicidade paga, do youtube e produtos que recebia para as
resenhas, me ajudavam muito no orçamento mensal que era extremamente
apertado.
Dentro do metrô, me sentei na ponta e havia um cara realmente bonito
do outro lado. Tirei uma foto e enviei para minha melhor amiga. Laila estava
comprometida, mas sempre trocamos fotos de caras aleatórios e gatos. Eu
tinha um namorado ou algo como isso. As coisas estavam muito estranhas
entre nós e já fazia um tempo que sentia que o Hank estava me procurado
apenas para sexo. Era como se ele estivesse perto e ao mesmo tempo a
milhares de quilômetros de distância.
Costumava ser uma pessoa bastante compreensiva, confiava que ele
estava lutando por uma promoção por um cargo de jornalista esportivo e
querendo muito sair da liga juvenil para a liga profissional. Como mal tinha
tempo, não era do tipo que fazia muitas cobranças, sempre dava um jeito de
ficarmos juntos, de surpreendê-lo com um jantar e passarmos uma noite
agradável, seja no meu apartamento ou na casa dele, que era no mesmo bairro
que o meu.
Pensando nele, meu telefone vibrou com uma mensagem de bom dia e
avisando que estaria de volta a cidade amanhã à noite, se podíamos jantar
juntos ou quem sabe ver um filme, porque ele precisava de uma distração
divertida. Era tudo que realmente queria, sinceramente, precisava de férias
em um lugar com praia e alguém me abanando, enquanto outra pessoa me
servia com frutas e margaritas.
Assim que desci na estação próxima ao trabalho, subi a escada entre
milhares de pessoas e me arrisquei atravessando a rua fora da faixa para
entrar no Starbucks, encomendar o Chai Latte horrível da minha chefe e a
única caloria que me permitia no dia, meu favorito Mocha Branco. E claro,
um brownie, porque chocolate era necessário para sobreviver.
Passei pela portaria do prédio da revista dando bom dia e antes de
entrar no elevador recebi a mensagem do motorista da Roxanne, Tom, meu
super parceiro, avisando o horário previsto que chegariam ao trabalho. Assim
que saí no andar da revista, a maioria dos funcionários já estavam em suas
mesas, arrumando seus cubículos e tomando café da manhã.
— Ela chega em quinze minutos, pessoal! — Passei avisando para
quem ainda precisava se arrumar. — Bom dia, Cait! — Sorri para minha
assistente. Bem, ela era a segunda assistente da Roxanne, o que significava
fazer o que eu não podia fazer por estar ocupada esfregando o chão que
minha chefe pisava.
— Você está divina hoje, Isla! — Cait era muito jovem e muito
sonhadora, parecia muito com a Isla que começou a trabalhar na revista
queridinha do momento como a mensageira. Cait era tão alta e bonita, tentou
ser modelo e não deu certo. Éramos completos opostos e isso nos divertia. —
Quer fazer as fotos do seu look enquanto ela ainda não chegou?
— Hoje foi no clássico espelho da sala mesmo, não estou muito no
clima e ela deve chegar em dez minutos. — Corri até a sala da Roxanne,
deixando a luz exatamente no tom que ela gostava, as cortinas entreabertas,
coloquei a prévia da próxima revista física na sua mesa, imprimi a próxima
edição online, alinhei as paletas de cores da próxima estação e sua agenda
atualizada, com os compromissos muito importantes destacados.
Voltei para o meu lugar, arrumando minha mesa e parei no lugar de
todo dia, com a bosta do sorriso animado mais falso do mundo no rosto,
segurando a bomba fedida do Chai Latte. Roxanne entrou, usando o seu
incrível casaco de couro sintético e pele falsa – ela fingia ser ativista dos
animais, então nada na revista poderia ter pele animal real e era um dos
motivos que me mantinha trabalhando ali. Realmente gostava de peças de
couro real, mas não curtia muito a ideia de usar um animal morto no corpo.
Não que eu pudesse pagar por algo do tipo.
— Bom dia, Roxanne. — Entreguei o seu Chai depois que ela jogou o
seu casaco e a bolsa no sofá da sala. Peguei-os, pendurei nos lugares certos e
ela ocupou o seu lugar, pegando os seus óculos de leitura, revisando a
agenda, marcando algumas coisas que dei uma espiada por cima dos seus
ombros, memorizando. Ela cancelou as duas reuniões do final da tarde e
acrescentou um ensaio fotográfico – maravilha, ia sair da revista de
madrugada.
— Preciso dos meus dois últimos e-mails impressos e avise ao Benji
que temos ensaio fotográfico essa tarde. Quero que separe as peças mais
chocantes da próxima estação para darmos uma prévia do que virá.
— É claro. — Sorri e saí da sua sala, fechando a porta e soltei a minha
respiração.
Sentei-me na minha cadeira, apoiando os cotovelos na minha mesa
apenas por alguns minutos, fazendo o que pediu e fofocando muito rápido
com o Benji, produtor de moda, um homem incrível, um dos meus melhores
amigos e um parceiro realmente brilhante no trabalho.
Foi um dia muito estressante no trabalho. Comi algumas folhas de
salada e pedaços de frango em pé na cozinha enquanto a Roxanne estava em
uma reunião por telefone. Me diverti horrores com o Benji na sessão de fotos
e depois precisei incorporar a mulher séria - que eu não era - ao ajudar na
montagem dos looks, que na verdade, era a minha parte favorita. Roxanne
gostava muito das minhas combinações, tanto que eu montava o seu armário
pessoal e fazia novas compras.
Hank me enviou uma mensagem, confirmando a sua chegada no dia
seguinte e lembrei que precisava colocar comida para o seu cachorro. A
vizinha saía com ele para passear todos os dias, ela me avisou que a ração
dele estava acabando. Saí do trabalho, andei até um mercado, comprei a
melhor comida que encontrei e desci as escadas do metrô com muita
preguiça. Estava muito tarde, senti um pouco de medo de estar ali e com
meus pés doendo, desci uma estação antes para passar na casa do Hank.
Estava com saudades dele. Sentia que o nosso relacionamento era
totalmente unilateral. Ele estava focado na carreira tanto quanto eu e ao
mesmo tempo, me queria ao seu lado porque precisava de alguém bonita,
com uma boa carreira e relativamente conceituada para apresentar aos
amigos, família e ter o sexo garantido. Não achava que ele me traía. Só
estávamos distantes...
Enfiei a chave na fechadura eletrônica, achando estranho que o seu
monstro peludo não estava praticamente derrubando a porta. O cachorro era
um filhote ainda e parecia uma besta enorme. Empurrei a porta aberta e a luz
da sala estava acesa. Será que a vizinha esqueceu? Andei calmamente até lá e
parei ao ouvir sons... gemidos.
Fiquei de pé em frente a sala, no meio do corredor, olhando o Hank
transar com uma mulher loira no seu sofá. Ela estava montando nele, com a
bunda balançando bastante e eu tive tempo para reparar na tatuagem de sereia
na sua nádega esquerda. Ao perceber que era a chefe dele, soltei um ofego e
assim o Hank me viu ali. Seu olhar de prazer transformou-se em um de
pânico.
Margery saiu de cima dele, gritando assustada e ficou bem
envergonhada. Um mês atrás estive em sua casa, conhecendo o seu filho e o
marido em um jantar informal. Foi uma noite bem divertida e ainda disse para
o Hank o quanto tinha sorte de ter uma chefe legal. Muito legal, pelo visto.
— Amor, por favor, me escuta. — Hank vestiu a calça, gesticulando,
falando muito rápido e só larguei o saco da ração no chão e saí da sua casa.
— Isla, por favor! — Correu atrás de mim na rua, me segurando
bruscamente. — Posso explicar, amor. Me escuta, por favor. Foi um erro... —
Sorri olhando em seus olhos e dei uma joelhada nas suas bolas.
Entrei no primeiro táxi que encontrei, dando o endereço de um Pub que
costumava frequentar com os meus amigos. Respirei fundo para não chorar
dentro do táxi. Era quase dez da noite e aquele horário costumava estar
jantando para dormir. Meu pai escolheu aquele momento para me ligar e
reuni coragem para fingir que estava tudo bem.
— Oi, doce Annie. — Cantarolou e sua voz rouca confortante, me fez
chorar.
— Oi papai.
— O que aconteceu?
— Apenas cansada, pai. Como foi o dia? Como a mamãe está?
— Cheguei do plantão às seis, jantamos juntos, a enfermeira me ajudou
com o banho e foi embora ainda agora. Sua mãe já dormiu, mas perguntou
por você. Vai vir almoçar conosco no domingo?
— É claro que sim. É o meu dia favorito da semana. — Funguei um
pouco e inventei a desculpa que estava ficando resfriada. — Estou chegando
em casa agora, vou comer e dormir. Amo você, papai. — Encerrei a chamada
bem rápido, pagando o táxi e entrei no bar. Não queria ir para casa, por isso
escolhi ficar ali um pouco e me sentei no canto, pedindo tequila. Deveria
beber vinho e ir dormir, mas...
Hank estava fodendo a sua chefe. Meu coração estava doendo tanto.
Sentia que tínhamos problemas, ambos em uma fase da vida que estavam
ocupados demais para o outro, mas era isso que nos unia e ele parecia
compreender. Sabia que havia uma distância... Só que nunca imaginei que a
nossa vida sexual fosse tão ruim ao ponto de transar com a sua chefe. Ela
deveria ter mais de quarenta, apesar de muito bonita, era mais velha e era a
sua chefe. Uma mulher casada e mãe.
Nós transamos todas as malditas vezes que dormimos juntos e para não
cair na rotina, sempre proporcionei uma surpresinha, uma lingerie, um óleo
de massagem ou um boquete surpresa antes do jantar. Trabalhando para uma
revista feminina que alimentava todo tipo de ideia para manter um
relacionamento picante, como se a responsabilidade fosse única e exclusiva
da mulher, era bem criativa. Pelo menos achava que era...
Chorando sozinha e bebendo tequila, pensei que aquele era meu
maldito destino. Minha vida estava horrível, meus sonhos cada dia mais
distantes de serem realizados e o meu namorado ainda me traiu para ser a
cereja em cima do meu bolo da desgraça.
A cadeira a minha frente foi ocupada e olhei para um dos meus
melhores amigos.
— Hank me traiu! — Solucei contando tudo de uma vez só para Benji.
— Paul me ligou assim que pediu a primeira tequila. — Benji trocou de
cadeira, sentando-se ao meu lado e me abraçou. — Sinto muito, querida. Ele
é um idiota.
— Como ele pôde jogar dois anos da nossa vida assim? Essa semana
mesmo estava dizendo que deveríamos dar o próximo passo, de morarmos
juntos, porque se mudou para um local maior querendo que fosse morar com
ele. — Bebi mais um copo de tequila. — Morar juntos! Ele estava transando
com a chefe no sofá que eu escolhi! Sabe quantas vezes fizemos sexo no
mesmo lugar? Muitas! Quero incendiar o sofá! E ele também!
— Vamos para casa, baby. Nada mais de tequila para você hoje.
Benji me levou para casa e aguentou as minhas crises de choro até que
desmaiei no sofá. Acordei na cama ouvindo a voz alegre da Samantha e gemi,
com minha cabeça explodindo, meus olhos ardendo, levantei com uma
ressaca enorme e fiz a minha rotina matinal com muita tristeza. A maquiagem
não disfarçou muito minha noite de choro e era o melhor que podia fazer,
ainda bem que era sexta-feira e poderia me afundar na tristeza no final de
semana.
Havia flores na minha porta, passei por elas com vontade de chorar e
saí de casa fazendo o mesmo trajeto de todos os dias. Meu estado amuado
chamou atenção dos meus colegas de trabalho, tanto que só avisei da chegada
da Roxanne pelo grupo que criamos. Fiquei bastante ocupada na limpeza do
closet da revista, pegando algumas peças para mim e ouvindo o Benji dizer
que em breve enxergaria o quanto me livrei de um embuste que se achava só
porque trabalhava no jornal mais importante da cidade.
Meu coração estava partido de verdade. Por que ele não terminou
comigo antes de dormir com ela? Ia ser chato, mas não doeria como uma
traição.
— Laila não respondeu minhas mensagens, sabe se aconteceu algo? —
Perguntei assim que fechamos a última mala de roupas que levaria.
A revista doava roupas entre os funcionários, algumas iam para o closet
vintage, outras que foram bem usadas em editoriais e estavam mais batidas na
moda popular eram separadas para doação. É claro que eu pegava um monte,
não podia pagar um armário para ser assistente da Roxanne.
— Acho que só estão ocupados. — Benji foi evasivo demais.
Minha melhor amiga estava ocupada para conversar comigo? Poxa!
— Fala a verdade, Benjamin! Michael é seu irmão, se está acontecendo
algo, tem que me contar!
— Michael pediu Laila em casamento ontem à noite, então não contei a
eles o que aconteceu e pedi que eles não te contassem, porque você não
estava muito bem.
— Ah, entendi. — Foi tudo que consegui dizer. — Vou voltar para
minha sala.
Saí do closet o mais rápido possível, mesmo com o chamado do Benji.
Laila conheceu o Michael na mesma semana que conheci o Hank.
Começamos a namorar no mesmo dia. Michael já era uma pessoa muito
querida por mim por ser irmão do Benji, criamos um grupo muito rápido
quando Laila voltou a morar na cidade. Os dois foram morar juntos depois de
alguns meses e agora, estavam comprometidos com casamento na mesma
noite que Hank me traiu.
Maravilhoso, não é?
— Isla? — Roxanne me chamou assim que entrei na área que pertencia
a chefia e fui até a sua sala. — Aquela tonta da Cait me entregou flores que
imagino que sejam para você. A não ser que meu marido tenha feito alguma
besteira que eu não saiba. — Me olhou entediada segurando o cartão e
esticou a mão para me entregar. — O que aquele idiota do Hank fez?
— Me traiu. — Fui honesta.
Roxanne arqueou a sobrancelha, sem acreditar.
— Ele teve a coragem? Uau. Homens são realmente burros.
— Não muito, considerando que a mulher era a sua chefe. — Amassei
o pedido de desculpas patéticos e joguei no lixo. Peguei as flores e segurei,
elas teriam o mesmo destino, mas no lixo do corredor. — Sinto muito, pedirei
a Cait para ter mais atenção. Terminei no closet, precisa de algo mais?
— Vá para casa, Isla. Chore hoje, um pouco mais amanhã e se
recomponha no domingo. Segunda-feira acorde ciente que um homem como
Hank jamais seria bom o suficiente para uma mulher como você.
Sorri, tocada com as suas palavras e muito feliz por sair do trabalho na
hora do almoço! Não ia negar mesmo!
— Obrigada, Roxanne.
Joguei as flores fora, agarrei as minhas coisas e as novas roupas, me
escondendo em casa pelo resto do dia. Bebi vinho e chorei o que me restava
de lágrimas.
CAPÍTULO 2
Callum.

— Bom dia, Boston! É Vinte de Agosto e teremos um dia com ventos


gelados e o céu nublado! Eu sou Samantha Barnes e estou aqui para te dar
bom dia! — Soltei o peso que segurava e sequei o suor do meu rosto e
pescoço. Vesti o casaco e decidi sair para correr antes de começar o meu dia
de trabalho.
Desci a escada em passos rápidos e a minha governanta estava na
cozinha, preparando o meu café da manhã e me deu um olhar azedo ao
perceber que ainda sairia para correr depois de estar malhando por horas.
— Um dia vai cair estafado, menino. Não dormiu a noite inteira! —
Gritou quando entrei no elevador e sorri. Essa era a intenção. Quanto mais
tentava me cansar, menos me sentia cansado.
Puxei o capuz sobre a minha cabeça, sem falar com os vizinhos que
encontrei no caminho e comecei a correr no fim da rua, atravessando a
avenida até o parque mais próximo, dando duas voltas na maior aérea e fiz o
caminho de volta para casa. Passei direto pela Charlotte, subindo correndo e
entrei no meu quarto. Tirei a minha roupa, arremessando no cesto de roupa
suja com prática, tomei banho, aparei um pouco a minha barba e me vesti
para o trabalho.
Comi uma omelete de seis ovos com queijo, presunto e bebi dois
copos de suco de laranja puro. Escovei os dentes no lavabo, ajeitei a minha
gravata torta, peguei a minha pasta de trabalho e chamei o elevador.
Destravei o alarme do meu carro, era folga do meu motorista e
guarda-costas, portanto estava a minha própria sorte. Normalmente não havia
muito trânsito por sair muito cedo de casa, a maioria das pessoas usavam o
sistema de metrô da cidade para se locomover, mas eu não pisava em um
desde a faculdade. Não estava ajudando o planeta daquela forma, mas quem
se importava? Certamente eu estava bem mais interessado no meu conforto.
Minha empresa ficava em um dos arranha-céus do centro de Boston.
O Lowell-Town era um edifício de vinte andares que funcionava
exclusivamente para os serviços da Lowell Holdings Inc. e as suas empresas
associadas. Meu avô fundou essa empresa muitas décadas atrás, meu pai
assumiu após a faculdade e agora eu também. Meu tio, Robert, deveria ser o
CEO já que era o segundo filho do meu avô, mas o meu pai era tão filho da
puta que comprou a parte do irmão, centralizando tudo nele mesmo.
E o meu irmão... Não ganhou muito na herança. De última hora, meu
pai decidiu que ele não precisava de uma participação na empresa, deixando
absolutamente tudo para o seu filho mais velho e o Cage torrou o que recebeu
em pouco tempo. Não fazia a mínima ideia como o meu irmão vivia com que
fazia, considerando que nasceu em um lar de extrema riqueza e não fazia a
mínima diferença desde o momento em que ele estava fodendo a minha
namorada pelas minhas costas.
Cage sempre foi muito mimado e protegido por mim. Tinha sete anos
quando nasceu e eu já sabia muito bem quem nosso pai era. Não queria que
sofresse o mesmo. Nunca quis que sentisse dor. Aceitava os castigos dele e
encobria as suas merdas. Foi assim a vida inteira... Até o dia que cheguei
mais cedo de uma viagem e o peguei na mesma cama que minha namorada,
os dois nus e dormindo. Não precisava ser um gênio para saber o que estava
acontecendo.
Cortei o meu irmão da minha vida, arrancando o mal pela raiz e parei
de sustentá-lo. Patrícia foi uma história diferente. Sabendo o quanto era
difícil confiar em alguém, ela pisou em tudo que concordamos sobre nosso
relacionamento, para depois jogar na minha cara que o meu irmão a amava,
que eu nunca disse que a amava, que era frio, quieto e indiferente. Porra... O
que ela fazia do meu lado por anos?
Ela tinha dezoito anos quando começamos a namorar, seu pai nos
apresentou e a Patrícia era muito jovem, não era algo que queria e nem
gostava de estar em um relacionamento. A maneira como os seus pais e os
irmãos faziam com que ela fosse vista como uma mercadoria bonita, me fazia
lembrar do meu pai e quis protegê-la. Ela era muito bonita, vivaz, conseguiu
mexer comigo sexualmente e eu dava a ela o mundo. Ficamos juntos por
quatro anos.
Estava até considerando pedi-la em casamento. O que iria mudar? Ela
estava com vinte e dois e eu com vinte e nove, meu pai havia acabado de
morrer e assumi seu lugar na empresa. Até estava bem perto de confessar a
ela algo muito importante na minha vida, que nunca contei porque não queria
que fosse embora. Não gostava quando pessoas me deixavam.
Patrícia escolheu fazer algo pior do que me deixar.
Preferia que me deixasse ao invés de me trair com o meu irmão.
Eles eram a minha família e dava tudo aos dois. Aprendi a minha
lição: Você não pode suprir amor com presentes. Foi a primeira vez que
percebi que, lentamente, estava me tornando como o meu pai. Um babaca que
presenteava coisas caras ao invés de dar um abraço, mas era tão difícil.
Pensei que ser bom e gentil fosse o suficiente. Não sabia o que era suficiente
e aos trinta e três anos de idade, estava sozinho.
Não me relacionei com mais ninguém e não dormi com mulheres que
não fossem pagas para isso. Vivia na minha estúpida cobertura cara, que
comprei por insistência da minha Tia Gwen. Ela dizia que não custava nada
ter uma casa de família, assim poderia atrair energias positivas sobre isso e
sei lá, o mundo era tão louco. Vai que era verdade? Não que existisse alguma
parte em mim que acredite nisso, mas queria acreditar.
O meu primo Charlie era o meu vizinho, morava no prédio da rua de
trás, conseguíamos nos ver das nossas varandas e era bom ter alguém por
perto. Sair da cidade Lowell foi uma boa decisão. Foi necessário sair da
sombria casa que apanhei a minha infância e adolescência, que fui torturado
pelo meu pai, onde vi a minha mãe se matar, na casa onde fiquei meses
enfurnado ao tratar um maldito câncer e o lugar onde meu irmão me traiu
com a minha namorada.
Era incompreensível o motivo pelo qual fiquei tanto tempo vivendo
na famosa residência luxuosa dos Lowell na cidade de Lowell. Minha família
tinha o sobrenome da cidade que eles fundaram mais de um século atrás.
Uma enorme mansão de dezoito quartos, milhares de hectares de terras, um
haras, piscinas, carros antigos a exposição e um museu com a história da
cidade na entrada.
A casa amaldiçoada.
Fazia muito mais sentido viver em Boston, bem próximo da empresa,
a alguns bairros de distância e começar uma nova vida na cidade. Estava
nessa cobertura há dois anos, adorava o bairro e gostava da minha casa. Foi
decorada por profissionais, minha tia escolheu tudo, ela ficou atrás de mim
com tecidos para cortinas e eu apontava para qualquer coisa que me
mostrasse.
Só fui exigente sobre o meu quarto porque queria uma cama muito
boa para tentar dormir, o sofá da sala tinha que ser muito confortável e
grande, a televisão precisava ser a maior do mercado e a minha academia
muito bem equipada.
O resto não me interessava.
— Bom dia, Megs. — Acenei para a minha assistente.
— Bom dia, Callum. — Ela veio andando atrás de mim e perguntou
se queria um café. — Ou chá?
— Café está bom, Meghan. Algo urgente?
— Tudo dentro da rotina esperada e a sua agenda está atualizada no
sistema. Ah, a Cassie pediu um horário!
— Pergunte se ela pode almoçar comigo aqui no escritório, se aceitar,
peça algo bem caprichado e cancele o almoço com o meu tio. Charlie já
chegou? — Coloquei a minha pasta no sofá e tirei o terno.
— Ele avisou que só viria a tarde, deixou um recado com a sua
assistente que iria com a mãe ao médico. — Meghan me deu um sorriso
profissional e saiu da minha sala.
Imediatamente liguei para minha tia para saber que consulta médica
era aquela e fiquei irritado que não me contaram que precisava de
acompanhante para fazer um exame com contraste. Era por isso que o meu tio
queria me enrolar com um almoço.
— É porque você é desesperado. — Charlie resmungou no telefone.
— Avisei que não era para te falar. Mamãe precisa fazer uma ressonância
de rotina.
— Ninguém faz exame de imagem de rotina, ainda mais com
contraste!
— Caralho! O médico precisava ver se está tudo bem, porra. Ai mãe,
é que ele é muito chato. — Meu primo perdeu a paciência e a minha tia deve
ter batido nele pela sua boca suja. — Se ele não fizer o exame, não tem como
saber que está tudo bem. O exame dela de sangue não está preocupante, não
tem nenhuma infecção ou inflamação. Aquieta sua bunda aí, desesperado.
— Foda-se. Vai me pagar por isso. Avisa a minha tia que se precisar
de algo é para me ligar. — Encerrei a chamada meio irritado e um pouco
menos preocupado.
Tia Gwen era tudo que me restava como família e eu me preocupava
bastante com a sua saúde.
Mergulhei no trabalho, deixando a minha vida pessoal de lado e
apesar da empresa sempre ter sido um dos motivos para odiar o meu pai,
gostava do que fazia e não queria destruir algo que meu avô criou e
sustentava a minha família inteira ‐ e a de milhares de pessoas - apenas
porque o meu pai foi a pior pessoa caminhando sobre essa terra.
Cassie chegou na hora do almoço, como sempre, correndo, me deu
um sorriso e disse que precisava ir ao banheiro. Ela era uma pessoa louca que
caiu na minha vida de paraquedas. Ela me acusou de ser negligente com os
meus funcionários da construção civil e não oferecer a eles a segurança
adequada, apontando uma grave falha na minha equipe de gestão e ela só
quase me agrediu porque observava os operários trabalhando da janela do seu
escritório e achou um absurdo.
Foi assim, após a sua surra verbal e a ameaça de milhares de
processos, que a convidei para uma bebida, sem má intenção, nós
conversamos e ela foi contratada para ser a minha advogada de interesses
pessoais e da empresa, já que pretendia romper com a antiga que mantinha
muitos vícios ruins autorizados pelo meu pai. Desde então, a Cassie era como
uma amiga, uma irmã, nós não nunca nos interessamos no outro e isso era
perfeito. Detestava trabalhar com mulheres que davam em cima de mim.
Não era idiota, nem falso modesto, sabia que era bonito, a porra da
imprensa não me deixava esquecer. Era rico, com o título de CEO que
parecia ser ímã para romances eróticos e criar fantasias na cabeça das
mulheres. A perseguição era grande e já havia acontecido algumas situações
desconfortáveis, que ter uma mulher que não queria ser a cura do CEO
sombrio era refrescante. A minha vida não era normal, o meu passado era tão
trágico que chegava ser ridículo, mas... Por algum motivo o cara lá em cima
me queria vivo.
Estava aqui. Sobrevivendo.
— Sabe quando digo que você é maluco e eu mais ainda por cair nas
suas ideias? — Cassie saiu do banheiro e tirou um envelope da sua pasta. —
O que você quer é possível, não é ilegal e nós podemos sim... Criar um
processo seletivo para definir a melhor genética compatível com a sua para
você ter bebês perfeitos. E sim, você pode pagar por isso sem ser preso.
Respirei fundo, aliviado, chocado e porra, ansioso.
— Posso procurar a mãe perfeita para meu filho?
— Sim! E eu fui além porque sou incrível e muito competente.
Conversei com vários geneticistas, especialistas em FIV e obstetras... Não só
é possível, como é comum. As pessoas hoje em dia estão pagando muito
dinheiro pelo embrião perfeito, crianças com probabilidades mínimas de
desenvolverem doenças e podem até ser bem inteligentes. Acredita nisso?
Fiquei tão fascinada! Sabia que uma mulher foi a pioneira nisso? A Dra.
Meghan Bryant simplesmente revolucionou o que o mundo conhecia sobre
embriões, inseminação artificial e fertilização in vitro. — Cassie estava
empolgada. — Ainda quero ter bebês no modo tradicional, mas é o que você
quer e é possível. Basta ler tudo que separei, fazer a sua própria pesquisa e
me dizer quando começar.
— Estou... Ansioso. Por onde começo?
— Eu comecei entendendo a diferença entre uma gestação normal,
fertilização in vitro e inseminação artificial. Imprimi tudo e destaquei
algumas partes enquanto lia.
Meghan entrou na minha sala com nosso almoço, dividi a mesa com a
Cassie, lendo e ouvindo seus relatos de pesquisa. Cada procedimento tinha
um processo, demandava um tempo e obviamente havia um valor. As
melhores clínicas estavam situadas em Nova Iorque, Chicago e Boston. Um
dos melhores médicos e especialistas atendia aqui na cidade e era perfeito
para os meus planos.
Era a primeira vez em anos que estava animado.
A ideia era louca. Mas o que eu podia fazer?
Queria muito ser pai, precisava provar para o mundo que um Lowell
poderia ser um bom pai. Queria quebrar a tradição ruim dos primogênitos da
minha família e realizar o meu sonho de não ser mais sozinho. A vida
solitária era triste. Estava cansado de ser sozinho, de viver remoendo o meu
passado, de não conseguir dormir, de ficar consumido com as minhas
paranoias e insônias. Queria uma nova vida e uma família.
Inicialmente pensei em apenas ter os bebês e criá-los sozinhos, mas
eu fui uma criança que cresceu sem uma mãe e com saudade da mulher que
conheci como mãe. Ela foi incrível, amorosa e com um tom de voz doce e era
por isso que tinha uma lista imensa de exigências, um teste psicológico, físico
e intelectual.
Não estava interessado em um relacionamento amoroso com a mãe do
meu bebê. Apenas queria compartilhar a guarda. A criança iria viver conosco,
dividir todas as tarefas, jantares e essa mulher também precisava se
comprometer a não entrar em um relacionamento que pudesse atrapalhar o
meu convívio com a criança.
Tudo seria feito com um contrato e em troca pagaria um milhão, além
de uma mesada mensal e assumir todos os custos dos cuidados do meu bebê.
Cassie foi embora após o nosso longo almoço, o meu primo, Charlie,
chegou e saiu também. Fiquei mergulhado nas pesquisas, buscando as
respostas para minhas dúvidas na internet e a Cassie até encontrou uma
empresa para fazer as provas e executá-las com as possíveis candidatas.
Como iria recrutá-las seria completamente sigiloso. Seria exigente, mas não
seria impossível encontrar a mãe perfeita para o meu bebê.
Virei a noite no escritório, como mantinha algumas roupas no armário
e tinha um banheiro equipado, fiz a minha higiene e me troquei. Pedi um café
da manhã reforçado. A minha assistente tomou um susto quando me viu e
pela minha aparência, mesmo banhado, estava nítido que não dormi a noite
inteira e não estava para muito assunto.
— Você foi em casa? Fiquei lá no seu apartamento te esperando para
assistir ao jogo. Ou foi foder alguém e esqueceu de mim? — Charlie invadiu
A minha sala.
— Esqueci completamente de você. — Dei de ombros. — Acontece.
— Estamos ranzinzas hoje?
— Sai da minha sala, Charlie. — Pedi sem tirar o olhar do contrato a
minha frente. Eu tinha muito trabalho a fazer.
— Callum... Há quantos dias você não dorme? — Charlie me puxou e
bati na sua mão um pouco mais bruscamente. — Vamos embora agora.
— Estou bem, Charlie. — Suspirei perdendo a minha paciência e a
minha cabeça estava doendo.
— Quantos dias, Callum? Cadê a sua medicação? — Charlie segurou
o meu rosto, ele era insistente, filho da puta chato pra caralho.
— Já disse que não vou tomar aquela merda!
— Aquela merda é para te fazer relaxar e dormir.
— Aquela merda me faz sonhar e ficar preso na porra de um
pesadelo! — Gritei saindo de perto dele. — Sai da minha sala e me deixa
trabalhar! Eu vou dormir quando sentir sono!
— Eu te amo, mas não vou sair. Vamos embora, Callum. — Charlie
veio para perto como se quisesse acalmar um animal selvagem, percebi que
estava suando e respirando pesado. — Só um comprimido e eu vou embora,
ele vai demorar para fazer efeito, quando sentir sono, me avisa que te levo em
casa.
— Se eu tomar você vai sair daqui?
— Sim.
Irritado, abri a primeira gaveta, peguei um e pensei em fingir tomar,
mas estava há uma semana sem dormir e aquilo me deixaria perigosamente
violento. Engoli o remédio com raiva, arrumei as minhas coisas e saí do
escritório com ódio. Charlie me seguiu de perto, não parou mesmo quando
entrei na minha casa, tirei minha roupa já muito zonzo e me joguei na cama
de qualquer jeito.
Acordei suado, respirando forte e pelo modo que minha cama estava
bagunçada tive um sonho intenso, só que daquela vez não lembrava. Não
havia nada na minha mente e me sentia estranhamente descansado. Era nove
da noite, estava com fome, desci com a calça de pijama que não lembrava de
ter colocado. Havia comida no fogão, Charlotte deixou salmão com legumes
e ainda estava meio aquecido.
Comi assistindo televisão, peguei o jornal do dia que não consegui ler
de manhã e fui para sessão de esportes, depois de olhar as áreas importantes.
— Esse cara é um babaca. — Murmurei sobre o jornalista. Hank
Martinez que cobria a liga juvenil. Ele era muito preconceituoso nas
entrelinhas, acabava julgando os jogadores que estavam correndo atrás de
uma bolsa, ao invés de falar sobre os seus talentos. Era muito sutil. Sua
editora deveria saber melhor sobre processos por racismo e se ele falasse de
algum jogador que estava na minha folha de pagamento, certamente ganharia
um processo.
O silêncio do meu apartamento estava me incomodando. Eu tinha
duas opções: Tomar mais uma medicação e dormir até amanhã. Ou sair.
Escolhi sair. Vesti uma calça jeans, uma camisa preta, jaqueta de
couro e saí do meu prédio em alta velocidade até um clube que estava
acostumado a frequentar. Uma garota que já peguei algumas vezes me deu
um sorriso, sinalizou que estava livre e subimos até um dos quartos privados.
Não foi a melhor noite de sexo da minha vida. Nunca realmente tive
sexo bom, era gostoso, era quente, muito foda, mas vazio. Totalmente sem
conexão. Gozava, fazia gozar, algumas palavras sujas, sexo anal e foda-se, o
dinheiro foi pago. Com a Patrícia, era tudo muito morno, ela tinha vergonha
de tudo e às vezes, era completamente desconexo.
Em casa, tomei um banho, olhei para o frasco dos remédios sentindo
uma ansiedade crescente dominar o meu peito. Tirei dois e tomei.
O que poderia ser pior que pesadelos?
CAPÍTULO 3
Isla.
As contas espalhadas na minha frente não eram nada animadoras.
Encolhi as minhas pernas no sofá e segurei a caneca de café quente, pensando
nas minhas alternativas. Precisava criar uma coleção para minha lojinha
online, tentar vender alguns dos equipamentos fotográficos poderia me virar
sem e levantar o dinheiro necessário para aumentar as sessões de fisioterapia
da minha mãe.
O médico pediu três vezes por semana, o seguro cobria apenas duas, a
clínica que ela fazia acompanhamento cobrava duzentos e cinquenta dólares a
hora. Não podia ter dois profissionais na mesma paciente de reabilitação e
procurar outra clínica que aceitasse o seguro do meu pai seria um processo
burocrático longo. Quinhentos dólares a mais por semana. Não tinha como
me mudar para um lugar mais barato porque gastaria mais com transporte.
Talvez devesse voltar a morar com meus pais...
Além de pagar as minhas dívidas comuns, a enfermeira da minha mãe,
tinha o empréstimo que tirei no banco para abrir minha empresa – legalizar o
meu blog e as redes sociais, para poder emitir notas fiscais aos parceiros que
pagavam por publicidade. Precisaria aumentar os vídeos por semana, mas não
tinha tempo. Chegava muito tarde e muito cansada. Precisaria usar os finais
de semana para criar mais conteúdo sem ficar maçante.
Mesmo assim, as contas pareciam não fechar e senti um grande
desespero batendo na minha porta. Guardei todas as contas na minha pasta,
terminei o meu café, lavei a caneca e parei na janela olhando o dia lá fora.
Era um raro sábado de folga. A Roxanne estava de folga, aproveitando o dia
com os filhos e esse evento estava agendado há meses. Ela escreveu “passar o
dia com meus filhos” na agenda, como se fosse uma reunião de produção. A
sua frieza não deveria me espantar mais.
Por conta dessa folga, os meus amigos agendaram um jantar de noivado
e claro que iria comparecer, mesmo que os dois estivessem me tratando como
uma alienígena. Laila ficou muito mal por ter noivado na mesma noite que
descobri que era corna, não era sua culpa, senti inveja e fiquei muito feliz
porque os dois se amavam muito e mereciam viver aquele momento sem o
peso da minha decepção.
Fiz uma pequena seleção das novas peças que venderia na lojinha
online, separei maquiagens lacradas para fazer um sorteio entre as minhas
seguidoras e coloquei duas lentes da minha câmera digital para vender. Se
desse, compraria novas no futuro, no momento, precisava de dinheiro com
urgência. Não queria que o meu pai tirasse outro empréstimo no banco, foi
realmente difícil quitar o último.
Os juros poderiam me matar.
Minha campainha tocou quebrando os meus pensamentos obsessivos
por dinheiro. Era o Benji com cervejas e um saco de tecidos que ganhou e
estava me dando para as minhas criações. Não conseguia tempo para costurar
há semanas e desde que o meu relacionamento acabou, me sentia sem ânimo.
Lidava muito bem com o fato que não amava o Hank, amava a ideia de ter
alguém, de viver um relacionamento e estava apaixonada. Não estava
sabendo lidar com a traição.
Ele ainda estava enchendo a minha caixa de e-mail, meu correio e o
meu corredor do prédio de presentes. Ficava batendo na minha porta pedindo
para entrar e me seguindo como um cachorrinho sem se aproximar, com
medo de ganhar outro soco. A joelhada não foi o suficiente.
Acabei caindo na dele e o beijei, no desespero de entender como ele
podia me trair. Todas as minhas inseguranças saíram da caixa e estavam
agredindo minha autoestima a pauladas. Hank até poderia merecer o meu
perdão, só que jamais poderia confiar nele novamente e não seria conivente
com sua chefe traidora.
Senti vontade de contar para o marido dela, mas deixei de lado. O
destino iria se encarregar de devolver a deslealdade dela.
Passei o dia com o meu amigo, ele fez o meu cabelo e me convenceu
a usar uma sexy roupa curta, que não usava fazia tempos. Benji tinha a fiel
ideia que estava escondendo algo e não podia abrir para os meus amigos o
meu desespero financeiro. Eles iriam querer me ajudar e não podia ficar
devendo nenhum dos deles.
— Você está maravilhosa! — Gritei para a Laila assim que entrei no
Pub do Paul e a abracei apertado.
— Criação de uma amiga minha! Um dia ela será uma estilista
conhecida! — Rodopiou com o vestido que criei alguns meses atrás e Laila se
apaixonou por ele. — Estou feliz que veio hoje. É muito importante para
mim! Sei que não deve ser fácil...
Ah não, de novo não!
— Michael! — Gritei o noivo e o abracei, desejando parabéns pelo
noivado e saí de perto, indo para o bar. Como não bebia cerveja por conta das
calorias, pedi uma Margarita caprichada, porque precisava relaxar, ou iria
gritar se alguém tentasse me consolar mais uma vez sobre o Hank.
A noite era sobre Laila e o Michael, eles mereciam a felicidade,
realmente estava feliz por eles e ao mesmo tempo decepcionada com o fim do
meu relacionamento. Só queria que parassem de me dar tapinhas e sentir
culpa por estarem felizes no meu breve momento de infelicidade.
A mãe de criação do Benji e Michael chegou e ela era uma das pessoas
mais divertidas que conhecia na vida, grudei nela, conversando e criando um
claro bloqueio entre Laila e eu. Minha amiga era uma pessoa maravilhosa, só
muito insistente e às vezes não entendia que não podia consertar o mundo ou
bater em quem machucava quem ela amava. Laila era feroz e muito protetora.
Só queria deixar as coisas como estavam e dar tempo para aceitar o meu
chifre.
Brinquei com ela que era uma sortuda, seguindo na ideia de desviar o
foco de mim. Michael era um homem negro, tão bonito quanto o Michael B.
Jordan. Era o sonho de consumo em forma de homem, sendo um preparador
físico, seu corpo era esculpido por deuses. Sempre agimos vimos como
irmãos. Conheci o Benji no trabalho, eles foram criados juntos a partir da
adolescência quando a mãe biológica do Benji o expulsou de casa por ele ter
traços afeminados e gostar de brincar de boneca.
Benji era muito lindo. Negro com os mais impressionantes olhos verdes
e sardas. Ele era simplesmente exótico e lindo. E muito gay. Combinamos
que se não conseguir ser mãe até os trinta e cinco, nós teríamos um bebê.
Alguém como Benji precisava ser reproduzido em massa.
Miranda acolheu o Benji em sua casa. Ela era mãe adotiva do Michael,
uma mulher que não podia ter filhos biologicamente e cuidou daqueles dois
meninos com muito amor e sacrifício. Ambos eram profissionalmente bem-
sucedidos e as melhores pessoas que conhecia na vida. Os irmãos que a vida
me deu. Inicialmente era apenas nós três, Michael teve duas namoradas até
que a Laila voltou para Boston depois de morar em Londres por alguns anos.
Foi amor à primeira vista e formamos um grupo muito unido.
Na minha quinta margarita, o bar estava muito cheio, muito quente e já
sentia o ambiente rodando. Nos sentamos para comer e conversar um pouco,
meu estado quase alcoólico me fez viajar na maionese por uns minutos,
olhando para o nada, nem sabia exatamente o que estava pensando. Queria
dormir. Pensei que apesar de amá-los, aquelas horas de sono me fariam bem.
Quando dei por mim, estavam todos me olhando e deveria ter perdido alguma
pergunta importante.
Laila fez aquela expressão de que poderia chorar por mim e revirei os
olhos, sem paciência. Avisei que ia ao banheiro, sozinha, para ninguém me
seguir e com o bar cheio eles não se darem conta que paguei a minha
comanda, peguei o meu casaco e bolsa, saindo para noite fria. Paul queria
chamar um táxi e insisti que não, tropeçando um pouquinho até o fim da rua.
— Isla?
Tomei um susto que meu coração quase saiu pela boca.
— Hank! Para de me seguir!
— Não te segui... Vi no facebook que vocês estavam aqui e eu... —
Parou de falar ao perceber que continuava andando e ignorando. — Sinto
muito por estragar tudo, por quebrar nosso grupo de amigos e por te magoar.
Parei rapidamente e ele chegou a tropeçar para não me derrubar. Virei
furiosa e o encarei.
— Por que, Hank? Você se apaixonou por ela? O que foi? Por que não
me disse que estava gostando de outra pessoa ao invés de fazer planos de
morarmos juntos?
Hank riu. Houve um tempo que ele era um dos homens mais bonitos
que havia conhecido, pouco mais alto que eu, cabelos escuros, pele morena,
olhos castanhos e um sorriso bem safadinho. Era a misturinha perfeita para
uma garota sem graça como eu.
— Apaixonar por ela? Claro que não, Isla. Eu te amo e quero ter uma
vida com você. Só que nós precisávamos ganhar mais e eu pensei que a
promoção era algo que queria muito para segurar as contas do mês, enquanto
você ajudaria os seus pais. Seria realmente incrível nós dois com bons
salários e conceituados empregos. Quero ser um correspondente da liga
profissional. Trabalhei muito para isso e a Margery só estava me fodendo, me
impedindo de ser promovido com suas cantadas... Aí eu pensei “é só sexo”.
Meus ouvidos iriam sangrar se continuasse falando.
— Você transou com a sua chefe para ser promovido na sua versão
distorcida de final feliz para nós dois?
— Eu não queria te machucar! Só iria fazer até ela me promover! —
Hank gritou ao ponto de fazer eco pela rua.
— Aconteceu mais de uma vez?
— Amor... Eu sinto muito. — Tentou encostar em mim e recuei.
— Está tudo bem, Hank.
— Sério? Baby, eu te amo...
— Claro que não está tudo bem, vai se foder e me deixa em paz! —
Gritei tão alto que fez eco pela rua.
Laila e o Benji estavam assistindo tudo a uma distância e fiz sinal para
não ser seguida. Entrei no táxi que estava parado no parque, dando o
endereço da minha casa e ao chegar, só tirei a minha roupa, me escondi na
cama e comecei a apagar todas as fotografias com o Hank das minhas redes
sociais. Retirei o status de relacionamento e postei um anúncio formal que
nós não estávamos mais juntos. Minhas seguidoras acompanharam o pouco
que compartilhei do meu relacionamento, mas todo mundo sabia e havia
muitas fotos.
Postei uma foto com o Michael e a Laila felicitando pelo noivado.
Estava entre os dois, nós três fazendo uma careta e outra fotografia que estava
agarrada ao Benji, era engraçada e a minha bunda parecia muito atraente
naquele ângulo. Estava tão magra que estava sem peitos, era simplesmente
ridículo o quanto a minha coxa era grossa, a bunda grande, a cintura fina e
reta como uma parede nos seios.
Minha mãe dizia que se engordasse um pouco teria peitos, mas isso
significava que iria ultrapassar o número do manequim permitido na revista.
Domingo era o único dia que não acordava com a voz da Samantha,
fiquei até as nove na cama, enrolando para sair e ignorei as muitas mensagens
nos meus aplicativos sobre o término, as mensagens do Hank, dos meus
amigos e me arrumei para passar o dia com os meus amados pais. Separei o
meu computador para trabalhar na “La La Island”, entregar algumas matérias
pagas e revisar o que já estava pronto para ser publicado.
Levei a minha câmera e uma mala de roupas para meu pai me
fotografar, ensinei como fazer e ele adorava. Era um dos muitos bons
momentos que temos juntos. No começo, o meu pai não entendia
absolutamente nada sobre trabalhar com a internet, ficava preocupado que
estava me dedicando a algo sem futuro e se tornou o meu maior apoiador.
Estava para nascer homem mais incrível que o meu pai.
— Papai? — Chamei da entrada de casa.
O seu cheirinho de canela me fez sorrir. Ele usava canela no café e
sempre ficava com um cheirinho flutuando pela casa.
Cresci naquela casa, fui morar ali quando completei dez anos e os
meus pais estavam separados. Eles voltaram há cinco anos, quando a minha
mãe foi diagnosticada com ELA bem precoce. Antes de voltar, ela estava
vivendo com um homem rico, que a deixou logo que as coisas ficaram ruins.
Ela voltou muito estranha, sentindo coisas que não sabia explicar, começando
a debilitar e então veio as fortes dores. Levei-a ao médico, ela fez milhares de
exames e o meu pai se prontificou a ajudar. Eles nunca se divorciaram e ela
teve direito ao seguro dele.
A verdade era que ele nunca deixou de amá-la, mesmo quando nos
deixou para viver com um homem rico.
— Isla? — Ouvi a minha mãe me chamar com sua dicção complicada.
Deixei a minha bolsa no sofá e a minha pasta do computador na mesa, indo
até a pequena área em que o meu pai orgulhosamente montou uma biblioteca
para que a minha mãe tivesse todos os seus livros favoritos à sua disposição.
— Olá, menina. — Agachei na sua frente, ajeitando o cobertor nas suas
pernas e a abracei bem apertado. — Como você está, meu pedacinho do céu?
Minha mãe era uma mulher muito linda, pele clara, olhos azuis
expressivos e cabelos loiros. Quando mais jovem, parava o trânsito, porque
tinha um ar de menina travessa, agia como mulher fatal e não tinha um que
resistisse.
— Estou bem, mãe. Como foi a sua semana?
— Foi boa. Seu pai te contou sobre o médico?
— Sim, mamãe. Nós daremos um jeito, não quero que a senhora se
preocupe com isso, está bem? E onde ele está?
— Foi até o Adam ver se tem algum extra, seu pai pensa que se
trabalhar na oficina nos finais do seu turno pode ter o dinheiro da sessão.
Meu pai já trabalhava turnos dobrados na delegacia, ele era um
detetive e fazia patrulhas com o seu parceiro para ter uma renda maior. Não
havia nenhuma maneira que teria tempo e a minha mãe não podia ficar
sozinha, precisaríamos de outra enfermeira porque a atual parte era pelo
seguro e eles não aumentavam as horas.
— E vai comprar ingredientes para a lasanha que a nossa menina
favorita ama. — Ela tentou passar o dedo no meu nariz e apenas segurei sua
mão e beijei. — Você está muito magra, Isla. Isso não pode ser saudável.
— Estou bem, mãe. Vem me fazer companhia na sala? Preciso
trabalhar um pouco.
Pegando o seu livro, colocou no colo, soltei as travas da sua cadeira de
rodas e a empurrei até o seu lugarzinho favorito na sala. Liguei o meu
computador, me concentrando nos textos, nas imagens que já estavam
prontas e editadas, organizando a ordem de postagens e na semana seguinte já
poderia lançar algumas matérias sobre o halloween. Laila e o Michael
organizavam uma festa a fantasia todo ano e não sabia o que vestir ainda,
felizmente, faltava algumas semanas
— Annie? Você chegou, princesa! — Papai me deu um abraço
apertado. Meu nome é Isla Annie Edwards. Meu pai me chamava de Annie e
minha mãe de Isla. Já estava acostumada.
Passar o dia com meus pais foi divertido, trabalhei bastante, conversei
com o meu amado pai e comi dois pedaços de lasanha. Ao chegar em casa,
fiz exercícios para queimar as calorias extras do dia. Lavei as minhas roupas,
passei a minha roupa escolhida o dia seguinte no vapor, comi apenas uma
cenoura já que havia comido muito no almoço e me deitei para dormir.
Minha rotina matinal na segunda-feira foi mais leve porque ao invés
de correr até a revista, estava agendado fazer serviços externos. Entrei na
clínica que a Roxanne fez o procedimento com a sua barriga de aluguel
alguns anos atrás para marcar uma consulta. Ela e o marido deveriam estar
planejando o próximo bebê.
— Oi, eu vim para... — A menina sorriu e me deu uma ficha. — Só
preencher os meus dados?
— Sim. Seus dados pessoais, quando eles te chamarem, você pode tirar
suas dúvidas e fazer o agendamento. — Explicou, dei de ombros e coloquei o
meu nome, e-mail, número de celular.
Não adiantava nada colocar os dados da Roxanne se era eu quem ia
buscar todos os exames, agendar as consultas e praticamente agir como
intermediária. Se ela pudesse me colocar para fazer os seus exames, ela
colocaria. Roxanne não se mexia nem para comer. Ela pedia que cortasse o
seu filé toda maldita vez.
Devolvi a prancheta com um sorriso, meu telefone tocou e era Roxanne
avisando que não precisava mais marcar a consulta essa semana e queria que
eu fosse ao banco buscar um documento urgente porque ela precisava pagar a
viagem dos filhos à Disney. Deixei a consulta de lado e saí da clínica, indo
até o banco e ao chegar lá, tirei uma senha para aguardar o gerente da minha
chefe dar a ordem de transferência.
Sentei-me em um sofázinho, aceitei o café chique oferecido e o meu
telefone vibrou com uma mensagem com todos os meus dados em caixa alta.
Era um número desconhecido e era para confirmar minha participação no
processo seletivo. Li com calma todo texto e quase caí da cadeira ao entender
o que era.
Um processo seletivo para ser mãe. Seria uma barriga de aluguel?
Voltei a ler com calma, o valor era simplesmente surreal. Um milhão
para a selecionada aprovada, haveria um teste físico, psicológico e
intelectual. Além de um teste genético para atestar a compatibilidade
esperada com o possível cliente. A proposta era compartilhar a criação de
uma criança feita em laboratório, os meus óvulos com o esperma do homem
que não estava identificado.
Um fodido milhão de dólares.
O gerente me chamou, entregando o documento, vi o valor da conta
bancária da minha chefe e soltei um imenso suspiro de frustração. Dez por
cento daquele dinheiro resolveria a minha vida inteira. Meu pai não precisaria
de um extra, minha mãe teria uma cama nova, uma cadeira de rodas mais
confortável e todo melhor tratamento que poderia encontrar. Sinceramente...
Por que a vida era tão injusta?
Cheguei no trabalho com a mente fervendo. Entreguei o documento a
minha chefe e ela pediu para esperar.
— Recebi esse aparelho como presente ao ser convidada para o evento
de lançamento. — Apontou para caixa do último Iphone que foi lançado. —
Pode ficar. Meu marido vai me dar de presente, ele adora essas tecnologias e
acha que fico tão animada quanto ele, para não quebrar o clima, finjo que
gosto e amo receber seus presentes. — Revirou os olhos e empurrou a caixa
na minha direção. — Todo seu. Ah, trouxe umas bolsas que não quero mais.
Coloquei no seu armário.
— Ainda não é natal, Roxanne.
— Eu faço o natal. — Piscou, peguei a caixa do aparelho com um
enorme agradecimento e saí da sua sala quase dançando.
Cait mostrou o aparelho que ela ganhou também e sorriu empolgada,
ficamos trabalhando e ao mesmo tempo agindo como duas crianças com
brinquedos novos. Enquanto transferia os meus arquivos e as minhas contas
para o novo aparelho, coloquei o antigo a venda. Seria uma graninha
provisória, não seria muito, mas já ajudaria.
Terminei a revisão da próxima edição online com uns minutos de sobra
e olhei para o meu telefone novo, relendo as mensagens.
A do processo seletivo me chamou atenção, mais uma vez considerei e
pensei que poderia nem ser aprovada. Não custava nada enviar o que eles
precisavam. Uma foto de rosto, duas de corpo e estava bem claro que não
podia ser sensual ou explícitas. Escolhi as três mais bonitas que tinha,
enviando junto com meu endereço de caixa postal e em seguida recebi um
formulário enorme com muitas perguntas, não dava para responder no
trabalho.
Me reuni com a Roxanne sobre a próxima edição online.
— Não gostei nenhum pouco dessa coleção da Dior. Não gosto dessa
atriz, ela é muito sem graça. — Comentou olhando as imagens. — Está tudo
certo. — Assinou a aprovação. — Estou ficando meio cansada desse estilo de
edição que a equipe de fotografia está usando. Pode conversar com eles sobre
uma inovação? Algo que quebre esse padrão, sempre pesquiso algo no
google, já sei quais são as imagens da revista mesmo sem lembrar as fotos.
Entende o que quero dizer?
— Sim. Eu entendo. Vou conversar com eles. — Anotei na minha
agenda.
— E ah... Aquela menina, não sei o nome, que senta ali. — Apontou
para os muitos cubículos. — Está usando um terrível sapato plataforma na
minha revista. Peça para tirar aquilo daqui.
Roxanne reparava absolutamente tudo. Nada escapava dos seus olhos
de aves de rapina. O que custava deixar uma pessoa com sapatos confortáveis
um único maldito dia? Códigos de vestimenta deveriam ser proibidos. Abri
um sorriso dizendo que iria resolver, conversei com a assistente morrendo de
ódio por ser a portadora de uma reprimenda nada a ver e quando minha chefe
foi embora, não fiquei nem mais um segundo dentro da revista.
Cait e eu dividimos um táxi, cansadas demais para enfrentar o metrô e
estava com bolsas enormes que a Roxanne me deu. Algumas que não eram
exclusivas iria vender, ela não iria saber mesmo, já as mais clássicas e
exclusivas ficariam comigo. Separei algumas para a Laila e a mãe dos
meninos. Não era doida de renunciar a algo como aquelas.
Deitada na cama depois de malhar, comendo pipoca, respondi as
perguntas do formulário. Não demorou dez minutos para receber outro.
Porra! Revirei os olhos e segui respondendo, conferi e enviei, felizmente não
recebi mais nada de volta.
Acordei atrasada, corri feito louca pelo meu pequeno lugar e ao abrir a
porta dei de cara com um garoto segurando um envelope. Era um entregador,
assinei o recebimento e corri desesperada para não perder o metrô. O
motorista avisou que Roxanne chegaria apenas dois minutos depois de mim e
fui enviando mensagens para todo mundo, cheguei na revista correndo com o
maldito Chai Latte, sequei meu suor e coloquei um sorriso no rosto.
Odiava a minha vida.
Abri o envelope, curiosa e era um acordo de confidencialidade.
Dei o endereço da minha caixa postal e não da minha casa. Senti certa
apreensão em não saber com quem estava lidando e mesmo assim, assinei a
bosta do documento e enviei de volta sentindo que dei um passo para algo
completamente desconhecido, ao invés de sentir medo, uma estranha
empolgação nasceu e fui dominada pela adrenalina. Sorri ao receber por e-
mail os próximos passos.
Isso significava que havia passado? Caramba. Por que estava tão
empolgada?
Era para ser mãe.
Mordi o meu lábio pensando que para dar conforto aos meus pais eu
faria o impossível. E não podia me enganar, realizaria o meu sonho de ser
mãe. Por que estava me precipitando? Podia não ser aprovada. Será apenas
uma tentativa. Se tudo desse errado, Benji e eu teremos um bebê. A diferença
era que ele não iria me pagar por isso.
Aquele dinheiro era muito necessário agora.
CAPÍTULO 4
Callum.

Olhei fixamente para o contrato a minha frente, sem ter a mínima


ideia porque estava lendo a mesma linha pela décima vez. Não conseguia me
concentrar há dias, estava com sono e sem vontade de dormir. Minha
ansiedade crescia sem motivos no meu peito. Esfreguei o meu rosto, coçando
a minha barba e uma batida suave na porta me fez erguer o rosto. Cassie
enfiou a cabeça e abriu seu usual sorrisão.
— Bom dia, Callum! — Entrou na minha sala, jogou a sua bolsa no
sofá e prendeu o seu longo cabelo castanho claro. — Tenho duas más notícias
e uma muito boa.
— As más notícias. — Escolhi desanimado.
— A candidata de ontem foi desclassificada na compatibilidade
genética. — Me ofereceu um sorriso de desculpas. — E aconteceu um
pequeno probleminha de termos uma candidata não solicitada.
— O QUÊ?
— Calma! A recepcionista da clínica achou que ela era uma
candidata, deu o formulário, a garota simplesmente preencheu e as respostas
dela eram muito boas. Achei justo que continuasse no processo seletivo.
— E então?
— Aqui está tudo sobre ela. — Me entregou uma pasta. — Isla
Edwards. Ela está fora dos padrões no sentido que não é uma pessoa
anônima. Ela é muito famosa nas redes sociais por ser uma blogueira de
moda e beleza profissional e é assistente pessoal da Roxanne Miller da
xPoison. — Fiz uma careta sem entender porquê a Cassie estava tão animada.
Essa mulher estava fora só por ser conhecida. — Só que as respostas dela são
incríveis. Ela é criativa, divertida e muito direta ao ponto. Acho que ela usou
os formulários como um confessionário particular.
— Ela é o meu completo avesso. — Murmurei mal humorado.
— Exatamente por isso que é uma candidata ideal, Callum. Você quer
que seu filho seja uma espécie de criança rabugenta? — Colocou as mãos na
cintura e sorri. — Um sorriso raro, uau. — Cassie revirou os olhos. — Ela
assinou o acordo de confidencialidade apenas algumas horas depois que
enviei. Responde todas as questões com rapidez, tem uma excelência fluência
verbal e já fez os exames físicos. Recebi os resultados há alguns minutos e
essa é a sua notícia boa.
Arqueei minha sobrancelha, esperando-a terminar de falar.
— Ela é compatível com mais de setenta por cento e segundo a
clínica, é algo raro. Ela pode ser seu avesso no quesito humor, mas
geneticamente, é a mamãe perfeita.
— E o que sabemos sobre ela?
— Aparentemente a sua vida é perfeita, até cavar mais a fundo. Isla
não tem grandes dívidas, mas se mantém na base do milagre. Seus gastos
mensais são altíssimos, ela se equilibra entre as contas com maestria e não
está roubando ninguém, muito menos sonegando imposto. Alguns dos meus
clientes deveriam aprender com ela. — Cassie tomou a pasta de informações
dela que segurava. — Ela ganha um bom salário, mora em Mission Hill em
um apartamento Studio, seus pais moram em South Boston e trabalha aqui
em Downtown.
— Algum motivo em especial para participar disso?
— Nas suas redes sociais faz parte de diversos grupos de mamães e
bebês, não tem filhos, nunca engravidou e recentemente terminou um
relacionamento no qual listou não estar interessada ter filhos, não chegaram a
morar juntos ou ter qualquer coisa em conjunto. Deixou claro que tem o
sonho de ser mãe e combinou com o seu melhor amigo gay em ter filhos aos
trinta e cinco. Ah, ela tem vinte e oito. — Cassie passou algumas folhas. — O
motivo dos seus gastos é um só: Sua mãe possui ELA e nossa, só de olhar o
volume de dinheiro que a Isla gasta me faz sentir mal pela quantidade de
delivery que gasto no mês. O pai dela tem um seguro de saúde por ser um
policial, mas, muita coisa eles pagam por fora. Tenho tudo listado aqui e a
maior parte dos equipamentos é de segunda mão. Isla quer o dinheiro para
cuidar da mãe.
Cocei a minha barba mais uma vez e peguei a pasta da Cassie,
começando a ler com calma sobre a mulher de nome peculiar. Isla Annie
Edwards tinha vinte oito anos, um vasto currículo estudantil e uma ascensão
profissional segura. Possuía mais de um milhão de seguidores nas redes
sociais e trabalhava para a terrível mulher, Roxanne Miller. Virei a página e
me deparei com uma seleção de fotografias.
Isla era simplesmente linda.
Era muito pálida, loira, com olhos muito claros e parecia uma gata
exótica. Magra, porém, era possível ver que tem curvas realmente bonitas.
Fiquei fascinado. Fazia muitos anos que não me fascinava por uma mulher e
isso era realmente perigoso, porque já não conseguia desviar os olhos da
fotografia, o que aconteceria com a vida inteira compartilhando a criação de
um bebê?
— Não. Vamos procurar outra.
Cassie ficou chocada por uns segundos e depois franziu o olhar na
minha direção.
— Tarde demais. Já marquei a última etapa antes de me encontrar
com ela e agendar a reunião entre vocês dois. Então a resposta é sim.
— Ela é bonita e eu fiquei interessado. Não quero me interessar pela
mãe do bebê. É para ser uma relação amigável.
— Isso não deveria ser um problema e sim uma solução. Quem disse
que ela vai se interessar por você também? Ou que vocês vão ter algum tipo
de conexão? E se tiver? Para de se esconder, homem. Minha resposta é sim e
eu sou basicamente madrinha dessa criança, portanto...
— Cassie...
— Por favor, Callum! O Dr. Phillips disse que uma combinação
genética é basicamente impossível. A porcentagem ao seu favor foi surreal,
ainda mais na mesma cidade, alguns bairros de distância. Caramba, a última
que testamos era de Miami! Você quer isso ou não?
— Tudo bem... Siga em frente com o processo. — Suspirei e a Cassie
soltou um grito, animada e no mesmo instante o meu primo abriu a porta da
minha sala, me deu um olhar curioso depois de conferir a bunda da minha
advogada. — Charles essa é a nossa nova advogada, Cassidy Evans. —
Apontei e a Cassie o olhou de cima abaixo bem séria. — Charles Lowell,
meu primo e diretor financeiro da companhia.
— Muito prazer, Sr. Lowell.
— Sr. Lowell fica com o Callum. Apenas Charlie, por favor.
Exibindo um sorriso frio, Cassie apertou a mão dele.
— Srta. Evans. — Ou seja, não lhe deu permissão para primeiros
nomes.
Tudo que o Charlie gostava era de uma mulher difícil. Ela só atiçou o
que ele gostou de ver na bunda dela. Assistir os dois olhando para o outro era
como assistir um acidente de trem em câmera lenta.
Acabei cedendo ao convite do Charlie para almoçar e saí do escritório
no meio do dia, algo que não costumava fazer. Como havia tomado café da
manhã muito cedo, estava com fome e o meu primo sabia como me seduzir
com a ideia de comer um bom filé com fritas. Tive a agradável surpresa de
encontrar a minha Tia Gwen na porta do restaurante nos aguardando. Ela
estava na cidade fazendo compras e resolveu nos surpreender no almoço.
Tia Gwen era irmã caçula da minha mãe, que se casou com o irmão
caçula do meu pai. Isso nos fez uma única família. Éramos conhecidos
pelo nosso sobrenome, pela empresa, pela cidade que os meus antepassados
fundaram e as histórias de terror que a cidade contava sobre a mansão
Lowell.
Nós fomos acomodados em uma mesa próximo a varanda. Minha tia
pediu licença para ir ao banheiro logo que fizemos os nossos pedidos, me
distrai com o Charlie querendo saber sobre a Cassie, fui propositalmente
evasivo só para irritá-lo, até que reparei que a Tia Gwen parou para falar com
uma mulher que estava entrando no restaurante e era ninguém menos que
Roxanne Miller.
Atrás da Roxanne, usando um justo vestido marrom e botas vermelhas
de cano alto, estava a Isla. Seu cabelo loiro estava preso em um rabo de
cavalo bonito, o casaco pendurado em um braço e a bolsa no outro. Seu corpo
tinha curvas realmente boas apesar de aparentar estar muito magra para seu
quadril e coxas. Era ainda mais bonita pessoalmente... Parecia um anjo.
Fixei o meu olhar nela por todo tempo, brincou com uma garotinha
em uma mesa, deu um sorriso gentil para a minha tia e seguiu a sua chefe até
uma mesa com várias pessoas, parecia ser uma reunião de almoço. Isla
mexeu em seu telefone diversas vezes, falou com a Roxanne e conversou
com um homem negro animadamente. Curioso, abri o seu Instagram e vi que
fez um stories da sua comida e do rapaz ao lado, marcando-o. Cliquei no
perfil e descobri ser o produtor de moda da revista.
Acompanhei-a com o olhar quando foi ao banheiro e em seguida para
a porta do restaurante, recebendo uma mulher muito alta com um sorriso e as
duas carregaram caixas, distribuindo um saco vermelho entre os que estavam
sentados. Roxanne fez um brinde, eles comemoraram e bateram palmas.
— Parece que o Callum encontrou algo que gosta. — Charlie me
provocou ao se dar conta que não estava prestando atenção na conversa. Tia
Gwen se virou um pouco para olhar e sorriu. — Muito bonita.
— Ela é assistente da Roxanne Miller.
— Realmente... Muito bonita. — Foi tudo que ofereci.
Não demonstrei interesse em nenhuma mulher para minha família
desde a Patrícia e não foi por falta de tentativa. Eles me enfiaram em diversos
encontros às cegas e em encontros duplos ao longo dos anos, porém, nunca
deu certo. Sempre terminava com mulheres muito frustradas com péssimos
momentos ao meu lado. Algumas vezes fui propositalmente cruel e muito
rude para afastar o interesse.
Me despedi da minha tia após o almoço muito agradável e a Roxanne
me deu um aceno seco, ela me odiava e com razão. Era chefe do chefe dela e
algumas das suas gracinhas mais loucas foram diretamente cortadas por mim
e além do fato que dei um soco no seu marido em um bar alguns anos atrás,
quando ele fez uma piadinha sobre a minha família. Roxanne foi namorada
do meu pai antes de se casar com ele e eu a odiava. Namorada... Digo,
amante. Minha mãe ainda era viva e casada com o meu pai.
Foi transando com o chefe do chefe dela que subiu na vida bem
rápido. Tem a fama de bruxa e cruel só para disfarçar que não tinha um pingo
de competência de fazer absolutamente nada sem envolver sexo ou
chantagem emocional.
Isla entrou apressada no carro atrás da Roxanne, sem mal conseguir
olhar para o lado e assim elas foram embora. Isso seria muito interessante.
Ela não fazia a mínima ideia de quem eu era ainda. Em alguns dias a Cassie
irá nos colocar frente a frente, para acertamos os detalhes finais.
Foquei a minha atenção no trabalho nos dias seguintes, atento as
novidades sobre a Isla e a sua consulta com o Dr. Phillips foi muito boa. Ela
estava em perfeito estado para concepção e sustou o cheque que foi dado para
a participação nos primeiros testes, sendo imediatamente depositado na
clínica que a sua mãe fazia reabilitação fisioterápica. O que sobrou ela fez
compras de mercado e mandou entregar no endereço dos seus pais. Ela era o
tipo de filha que eu nunca seria com os meus pais, não depois de tudo que
fizeram comigo e o que li dos seus, a história também não era muito bonita.
Sua mãe foi uma mulher infiel, seu pai um detetive que dedicou a vida ao
trabalho e a criação da filha.
Sierra Edwards foi diagnosticada com ELA bem cedo, era muito
bonita pelas fotografias e o marido me parecia muito familiar, mas não
lembrava de onde podia conhecê-lo. O pai da Isla ainda era legalmente
casado com Sierra, assumiu os custos, os cuidados e se dedicava a mulher
que o fez de corno a vida inteira. A Isla parecia ter vivido no meio disso,
ficando anos sem encontrar a mãe e ainda assim, fazia sacrifícios para cuidar
dela.
Meghan me enviou uma mensagem avisando que a Cassie estava
subindo para falar comigo sem hora marcada e informei que podia entrar
direto.
— Olá! Acabei de sair de um almoço bastante produtivo com Isla.
Acho que a ficha dela caiu que chegou à reta final. — Cassie sentou-se na
minha frente. — Está uma pilha de nervos, mas não parece querer desistir.
Marquei o encontro entre vocês dois para sábado, ela tem um evento e depois
estará livre para almoçar conosco.
— O evento seria o Autumn Breakfast no Isabella Stewart?
— Esse mesmo, você vai?
— Sim e você vai comigo. Nós sairemos de lá com a Isla, diretamente
para o nosso almoço.
— Adoro que você é o homem que convida uma mulher para um
evento cocktail com poucos dias de antecedência e sem saber se estará
disponível ou não.
— Você não é uma mulher, você é minha amiga e advogada. —
Murmurei olhando para o meu telefone.
— Ok, amigo. Mas eu não tenho um pênis. — Riu arrumando as suas
coisas.
— E gosta deles, ao menos? — Provoquei enquanto digitava uma
mensagem no grupo de colegas da faculdade.
— Talvez. — Retrucou e foi embora me fazendo rir.
Os próximos dois dias não consegui dormir, malhando até sentir dor,
comendo e trabalhando como um louco. Na sexta-feira à noite meu primo e
eu ficamos no meu terraço, bebendo e conversando até tarde. Mesmo assim
não senti sono, tomei a medicação para não continuar com a aparência
miserável que me acompanhava. De manhã cedo, tomei café da manhã com a
Charlotte e me arrumei para o evento com tempo de sobra. Peguei o meu
telefone, correndo a lista até o nome da Isla e cliquei no botão de chamada.
Estava na hora de me apresentar.
— Alô?
— Isla Edwards?
— Hum, depende de quem pergunta. — Ela soou brincalhona e sorri.
Ela estava bem-humorada em sair para trabalhar em pleno sábado. Talvez
estivesse acostumada.
— Talvez eu seja o futuro pai do seu bebê.
Isla ficou em silêncio.
— Caramba! Sua voz é bonita! Não sei porque imaginei algo
diferente! — Riu sozinha. — Como vai, Callum Lowell?
Cassie deve ter-lhe dado o nosso contrato para ler e analisar.
— Estou bem. Imagino que o nosso compromisso esteja confirmado
hoje?
— Sim, é claro. Estou bem ansiosa.
— Nós iremos nos encontrar no Autumn Breakfast e irei até você.
— Estou ansiosa! Até daqui a pouco, Callum.
— Até daqui a pouco, Isla.
Encerrei a chamada tão ansioso que minhas mãos tremiam. Passei a
mão no meu cabelo que estava penteado para trás e penteei minha barba curta
com os dedos, nervoso. Aguardei dar a hora de sair, desci para a garagem
com o meu motorista e guarda-costas. Tray me conduziu até o apartamento
da Cassie, que usava um conjunto social azul marinho, ao invés de um
vestido como a maioria das mulheres que estariam no evento.
Chegamos ao museu, entreguei os meus convites, apresentei a minha
advogada para alguns conhecidos e aos anfitriões. Nós estávamos olhando as
artes em exposição quando a Roxanne Miller parou no improvisado tapete
verde no jardim para as fotografias. Ela usava um macacão vermelho
decotado até o umbigo e os cabelos soltos. Roxanne era uma mulher muito
conservada para a sua idade, considerando que os filhos foram de barriga de
aluguel e o rosto com lotado de muitos procedimentos estéticos.
No fim do tapete, estava Isla e ela... Parecia uma fada. Seu vestido
branco era justo até a cintura e a saia rodada, cheia de borboletas coloridas
impressionantes. Ia até os joelhos, usava um sapato de salto vermelho e os
seus cabelos estavam presos em um bonito penteado com tranças, com uma
tiara dourada de folhas gregas.
Nossos olhares se encontraram a distância e me senti tomado.
Isla ficou visivelmente corada, abriu um sorriso tímido e voltou a
olhar para a sua chefe que falava muito com quem encontrava, como se fosse
simpática. Roxanne era uma bruxa velha, quem não conhecia, precisava ter
cuidado.
Esperei uma hora de evento, estava muito chato, Cassie parecia se
divertir e as minhas conversas eram puramente sociais e vazias, sem entrar
em nenhum tema desconfortável. Olhei a hora e sinalizei para Cassie me
aguardar no carro, porque iria sair com a Isla do evento. Não aguentava mais
esperar.
Eu era um Lowell. Não precisava esperar.
Andei diretamente a ela e a sua chefe, que conversava com o chefe
dela e um grupo de casais igualmente ricos e chatos, me encarou.
— Callum Lowell. — Roxanne me deu um sorriso frio.
— Sr. Lowell. — Ryan Reynolds apertou minha mão.
— Sra. Miller. Sr. Reynolds. — E ignorei aos demais. — Imagino que
vocês possam liberar a Isla do evento.
Isla ofegou e me deu um olhar de pânico.
— Nós temos um almoço e gostaria muito de sair mais cedo com ela.
— Usei o meu melhor tom galanteador. Roxanne ficou vermelha, olhando
para a Isla sem entender nada e havia uma ameaça velada em seus olhos.
Reynolds parecia aleatório e como sempre, querendo puxar meu saco.
— É claro que não tem problema! — Riu um pouco mais alto que o
necessário.
Roxanne ficou muda, porque não iria contradizer o seu chefe na frente
de tantas pessoas e não iria desagradar o chefe do seu chefe. Estiquei a mão
para a Isla, que parecia congelada no lugar e com os olhos em mim, aceitou o
meu convite delicadamente. Ela se despediu com um aceno muito tímido para
os seus chefes.
Isla segurou o meu braço enquanto caminhávamos para a saída, a
ajudei a entrar no carro, entrando em seguida e ao se acomodar soltou uma
risada.
— Nunca vi a Roxanne ficar roxa daquele jeito! Simplesmente
incrível! — Continuou rindo.
— O que aconteceu? — Cassie começou a rir também.
Duas pessoas felizes dentro do carro era pedir para bater a cabeça no
vidro.
Isla contou o que aconteceu e depois que a risada morreu, me deu um
olhar brilhante e senti que aquele olhar podia iluminar a cidade inteira em um
dia nublado.
CAPÍTULO 5
Isla.
Sabe quando você olha ao redor e não sabe como a sua vida chegou
naquele ponto? Foi tudo muito irônico da minha parte seguir com a pesquisa,
conforme fui avançando no processo seletivo, a ficha foi caindo. Ia me tornar
mãe. Cada vez que pensava, imagens de bebês e mulheres grávidas surgiam
em cada anúncio e fotografia possível. Todos os fóruns de maternidade
pipocavam na minha timeline e a revista fez até uma edição especial para
gestantes.
E se alguém me perguntasse por que estava fazendo isso? Os motivos
eram muitos. Precisava do dinheiro, queria muito o dinheiro e a ideia de fazer
algo realmente louco e interessante na minha vida era simplesmente
fascinante! Ninguém sabia. Era algo só meu. Meus amigos não estavam
envolvidos, meus pais ou a minha chefe. O meu algo secreto, a minha
aventura particular e estava muito empolgada!
Era como se a minha vida finalmente estivesse sendo vivida. Não era
um reflexo de algo que estava acontecendo na vida de outra pessoa ligada a
mim. Era meu. A cada dia que acordava, estava ainda mais apaixonada na
ideia de ser mãe e ao mesmo tempo ajudar a minha mãe. Só o cheque de
participação pagou semanas de fisioterapia extra, vários medicamentos que
eram um sacrifício para comprar e compras estrondosas de mantimentos.
Meu pai ficou meio preocupado em como consegui o dinheiro e disse
que vendi algumas coisas, o que era verdade, mas não fazia nem cosquinhas
no orçamento final. Ele aceitou e agradeceu. Minha mãe ficou muito feliz
com as compras e até quis fazer torta, claro que tivemos que ajudar, mas a
fisioterapia extra ajudou muito no movimento das suas mãos.
Havia a parte que seria a mãe de um Lowell, que me assustava e me
fascinava.
Qualquer pessoa no país já ouviu falar sobre os Lowell, mas todas as
pessoas da Nova Inglaterra sabiam muito bem quem eles eram. A Família
Lowell fundou a cidade de Lowell, situada a alguns quilômetros de Boston e
não sabia quando ou se desde sempre eles eram donos da maior parte dos
empreendimentos do estado. Inclusive do meu time de futebol do coração.
Tinha certeza de que se não eram donos de tudo, eram sócios ou fundaram as
coisas.
A família era poderosa, centenária e existiam histórias realmente
macabras que achava que eram contos populares, ou seja, faziam parte da
cultura local. Todo mundo sabia das histórias de assassinatos que,
supostamente, aconteceram na propriedade dos Lowell. Lembrava de ter ido a
uma excursão até a propriedade, os meus colegas sussurravam que um
menino sofria tortura no porão da casa.
Nós não tivemos acesso à casa, somente ao haras, ao museu na
entrada e ao imenso parque aquático nos fundos. Era um lugar lindo, com um
jardim maravilhoso e parte dele era idêntico ao filme O Jardim Secreto.
Guardei fotografias lindas de lá.
A assinatura do contrato era de um C. Lowell.
Havia três.
O CEO da Lowell Holdings Inc. que quase ninguém via e era muito
sério, sombrio, mas era o homem mais gostoso que bati os olhos nos últimos
anos. Seu nome era Callum Lowell. O segundo possível C. Lowell seria seu
irmão, Cage, mas não havia muita informação dele na internet, nem redes
sociais e ele era casado. O terceiro possível C. Lowell era dois anos mais
novo que Callum, o primo, Charlie Lowell e era diretor financeiro da
companhia da família.
Para minha enorme surpresa, era o Callum Lowell que queria ter um
filho.
Será que ele topava fazer do modo tradicional? Eu topava!
Totalmente.
Ao me sentar na frente dele, diante da linda mesa de almoço no
restaurante mais exclusivo da cidade, minhas mãos estavam tremendo. Nós
assinamos o último contrato, combinamos a data da minha próxima consulta
para começarmos o processo da Fertilização In Vitro. Nós não faríamos uma
Inseminação Artificial e sim uma espécie de FIV com um tratamento
embrionário que combinava a nossa genética aumentando a eficácia do
procedimento e saúde do bebê.
Parecia muito complicado no começo, mas com a explicação gráfica
do Dr. Phillips consegui compreender e ao assinar minha participação, o
Callum informou que sabia sobre a minha mãe, que pesquisou sobre o
tratamento e ofereceu a sua ajuda no que precisasse. Se ele soubesse que o
dinheiro já era uma enorme ajuda...
Receberia a metade com a confirmação da gravidez e a outra metade
após o nascimento. Era mais que o suficiente. Cassie pediu licença para ir ao
banheiro antes da nossa comida chegar e com muita curiosidade, não resisti
ao saber os motivos pelos quais ele estava fazendo aquilo.
— Sempre desejei ser pai e pensei que não tenho motivos para
esperar. A escolha do procedimento é que, além de não ser muito viável a
concepção de forma natural devido a não termos um relacionamento, eu sou
estéril. — Callum apoiou as mãos na mesa. — Tive câncer nos testículos
quando jovem, aos vinte anos e apesar de descobrir bem no começo e tido
acesso a um excelente tratamento, minha única sequela foi ter me tornado
estéril. Sou perfeitamente saudável em todos os quesitos, só não posso ter
filhos naturalmente.
Mordi o meu lábio ao ouvir sua ênfase que era muito saudável em
todos os quesitos. Assenti, compreendendo e bebi minha água.
— Além da sua mãe...
— Quero ter minha própria vida, fazer algo por mim. Ter um bebê é
algo que só eu posso fazer por mim mesma. Não é a glória de outra pessoa, é
a minha glória.
Callum me deu um sorriso breve e muito bonito, segurou a minha
mão e apertou. Seus dedos eram quentes, macios e muito confortáveis.
— Será a nossa glória.
— Precisamos brindar a isso e vou aproveitar meus últimos goles de
vinho. O Dr. Phillips me pediu para não beber mais a partir de amanhã.
Segunda-feira vai ser a minha primeira indução e vamos esperar que tenha
bastante óvulos! — Ergui a minha taça e brindamos.
— Acho que deveríamos passar um tempo juntos, para nos conhecer e
eu vou te acompanhar nas consultas. Quero estar envolvido em tudo...
Cassie voltou para mesa e reclamou que brindamos sem ela.
Me dei conta que não pensei o que explicaria aos meus pais e amigos
sobre estar grávida. O Callum não parecia o tipo que dava satisfações.
— Apesar de o Callum achar que não precisa responder as perguntas
do mundo, tenho uma proposta a fazer a ambos e que vai resolver esse
problema. — Cassie era uma mulher fascinante. Estava apaixonada por ela.
Callum suspirou ciente que ouviria algo que não ia gostar e me preparei. —
Vocês precisam fingir que estão em um relacionamento, pelo menos até o
bebê completar uma idade legal para que vocês possam acertar questões de
moradia.
— Até porque não poderemos estar com outras pessoas...
— O contrato garante que não podemos ter relacionamentos com
outras pessoas até que o bebê tenha dois anos, então não vejo problema de
seguirmos com esse plano. Vai acalmar minha tia por um tempo. — Callum
falou com tranquilidade. — E sei que você tem seus pais, além de milhares
de seguidores, mas não sou uma pessoa que expõe muito a minha vida
pessoal. Teremos que agir com moderação nesse quesito.
— Tudo bem, acho que está perfeito. — Ergui a minha taça e
brindamos novamente.
A comida chegou e o cheiro me fez salivar. A comida estava
deliciosa. Já havia comido em lugares realmente requintados acompanhando
Roxanne, mas, aquele filé de peixe era o mais gostoso de toda a minha vida.
A sobremesa de sorvete de creme com pera caramelizada estava surreal. Foi
uma das melhores refeições da minha vida. Cassie e o Callum me deixaram
em casa, acenei e entrei no meu prédio com animação.
Sentia uma alegria borbulhando no meu peito. Nem mesmo as
mensagens irritadas da Roxanne sobre sair do evento mais cedo e a cena que
ela foi obrigada a passar na frente do chefe me abalaram. No próximo dia de
trabalho iria lidar com o seu mau humor e todas as represálias que iria jogar
em mim. Me dei o direito de estar ansiosa e ao mesmo tempo muito feliz.
O meu vestido chamou bastante atenção e foi uma criação romântica
que estava guardada para uma ocasião especial e achei que ir ao brunch em
um museu lindo e conhecer o pai do meu bebê era uma ocasião e tanto.
Inspirada, tomei um longo banho, fiz uma massagem nos meus cabelos,
limpeza de pele, esfoliação e hidratação, realmente cuidando de mim com
carinho. Sentei-me na minha cama com meu computador só de calcinha e
camiseta, empolgada com várias matérias interessantes que surgiram na
minha cabeça.
Laila me ligou a noite querendo saber se topava dividir um vinho e
alguns petiscos. Estava fugindo das nossas noites de meninas há semanas e
ela estava começando a ficar chateada. Aceitei e menos de uma hora depois,
ela chegou com uma bolsa para passar a noite, vinho e queijo.
— Adoro ser recebida por uma mulher de calcinha! — Laila me
abraçou apertado. — Estou com saudades de você!
— Sinto muito por me afastar. Eu precisei de um tempo para lidar
com o Hank.
— Nós ouvimos o que ele disse. Meu Deus, Isla! Michael teve que me
segurar para não bater nele quando o vi na rua esses dias. — Laila era íntima
da minha casa, sabia onde ficava tudo e foi logo abrindo o vinho.
— Não queria estragar seu momento e ao mesmo tempo queria lidar
com meu momento. — Aceitei a taça e brindamos. — A nossa nova vida!
— Já está melhor mesmo, amiga?
— Sim, juro que sim! Então, já podemos falar dos preparativos?
— Não. Não quero falar de casamento, quero uma noite com minha
amiga falando merda e me divertindo. Michael parece a própria noiva,
sinceramente, estou achando que ele que vai entrar com o vestido! — Se
jogou na minha cama e me sentei ao seu lado depois de servir o queijo
cortadinho com orégano em um prato.
Laila foi minha colega de quarto na faculdade, nós brigamos os
primeiros meses inteirinhos e quando um garoto me fez chorar, ela brigou
com ele para me defender. Nós nos tornamos melhores amigas e até moramos
juntas quando terminamos a faculdade e mergulhamos na pós-graduação.
Nossa vida era maravilhosa até Laila conhecer Prince Knight, filho de uma
das famílias ricas da cidade.
Não reconheci a minha melhor amiga no período em que esteve
namorando o Prince. Ele era autoritário, controlador e muito ciumento. Além
de um babaca extremamente violento sempre que brigavam. Mesmo assim
ela o perdoava e me dizia que não podia viver sem ele. Como dividimos o
apartamento, a vida sexual barulhenta deles me incomodava muito e acabava
dormindo na casa dos meus pais, ou tomando remédio para dormir, para não
ter que ouvir.
Prince era um idiota comigo e odiava a maneira que me olhava
quando achava que ninguém estava percebendo. Minha maior surpresa foi
quando Laila se casou com ele em Vegas e foi morar com ele, me largando na
verdadeira merda no apartamento que morávamos. Procurei um lugar menor
e me estabeleci, muito afastada dela, mal nos víamos. Nossa amizade esfriou
até que um dia, meu pai me acordou porque teve um chamado no
apartamento em que ela vivia com o Prince.
Os vizinhos chamaram a polícia e Laila foi encontrada desacordada,
muito machucada e ela não podia ter filhos devido a lesão. Cuidamos da
minha amiga por uns meses já que a sua família era meio desapegada. Laila
ficou tão mal, porque o Prince simplesmente se livrou da cadeia pagando
apenas cestas básicas e a sua família o internou em uma clínica de
reabilitação, que ela decidiu sair do país. O divórcio deles foi resolvido por
meio de advogados e ela foi embora, vivendo em Londres por uns anos.
Fui visitá-la várias vezes e fizemos outras viagens juntas.
Laila se tornou outra mulher, empoderada, dona de si mesma e uma
profissional muito competente. Ela era uma jornalista bem-conceituada na
cidade, tinha a sua própria coluna e estava sendo cotada para ir a televisão,
deixando o jornal impresso. Tinha muito orgulho de ser sua amiga e por isso
que a nossa noite foi incrível, ainda assim, não contei sobre os próximos
passos da minha vida.
Não só pelo contrato e sim porque ainda tinha a imensa necessidade
de viver aquele momento sozinha. Era o meu deleite pessoal.
Nós duas passamos o dia com os meus pais, ela me ajudou com as
fotografias da semana e encerramos o domingo jantando com o Michael e o
Benji em North End, um bairro que tinha os melhores restaurantes italianos
da cidade. Não era algo que me dava ao luxo, por causa da quantidade de
carboidratos nas massas, mas como resistir aos cannolis daquele lugar?
— Bom dia, Boston! É Quatorze de Outubro e temos um dia com
ventos e garoas! Levem o guarda-chuva! Eu sou Samantha Barnes e estou
aqui para te dar bom dia! — Me sentei na cama e me espreguicei, ouvindo o
falatório da Samantha sobre as notícias, fiz a minha rotina matinal e escolhi
botas até os joelhos, jeans, um blusão negro, meu sobretudo cinza favorito,
gorro vermelho e um cachecol preto porque estava fazendo uns doze graus e
eu sentia muito frio, ficando resfriada à toa.
Como estava frio, parecia tudo muito lento e a fila do Starbucks
estava enorme. Não me senti culpada em furar a fila usando meu
conhecimento e a queda do barista por mim. Com um Pumpkin Spice Latte
no clima do outono e o Chai Latte da minha chefe, corri para o trabalho e
para minha maior surpresa e infelicidade, Roxanne já estava lá com um mau
humor dos infernos.
Sua reação era por sábado e aguentei calada, mal eram dez da manhã
e já estava com dor de cabeça, querendo me esconder no banheiro e chorar.
Roxanne sabia ser muito cruel. Estava reclamando absolutamente de qualquer
coisa, até do que estava certo. Descartou todas as edições feitas para próxima
edição online e quis mudar quase todos os temas para a edição física de
novembro.
Levei o seu almoço na sua sala e informei que estava saindo.
— Preciso de você aqui. — Me deu um olhar desinteressado.
— Sinto muito, Roxanne. Marquei uma consulta médica no meu
horário de almoço, é aqui do lado, vou lá e vou voltar muito rápido.
Roxanne ergueu o olhar do seu telefone.
— Você nunca vai ao médico.
Pois deveria! Não consigo cuidar da minha saúde porque sou sua
escrava particular. Resolvi inventar uma mentira muito dramática só porque
ela estava sendo uma vaca insuportável.
— Hank estava me traindo... Não foi só uma vez. Estou com medo de
que, apesar de usarmos camisinha, possa ter acontecido algo, entende o que
quero dizer?
— Perfeitamente. — Roxanne cruzou os braços. — Ouvi dizer que ele
foi promovido.
— É o quê? — Soltei um grito e cobri a minha boca. — Me desculpa.
— Entendo sua revolta, Isla. Vai fazer o seu exame.
Filho da puta! Murmurei não tão baixo, porque ela ouviu e riu. Estava
com raiva que o Hank foi promovido só porque dormiu com a chefe dele.
Isso não era prova de competência, era jogar sujo. Dava vontade de enviar
uma carta anônima ao chefe do jornal. Saí da revista e dei de cara com o
Callum encostado em um carro escuro e o meu telefone tocou no mesmo
instante.
— Oi! Não sabia que ia vir hoje. — Sorri chegando perto dele.
— Eu te disse que iria acompanhar tudo. — Sorriu de volta, afastou-
se e abriu a porta do carona. Me acomodei e suspirei com o carro quentinho e
muito cheiroso. — Já almoçou?
— Ainda não. Prometi a minha chefe que ia voltar bem rápido, então
vou pegar algo no refeitório da revista. — Expliquei sentindo uma crescente
ansiedade me dominar.
— A partir de agora você tem que comer muito bem, bastante
nutrientes e o ácido fólico com as vitaminas. — Falou tranquilamente.
— Tomei a primeira dose de tudo de manhã. — Esfreguei minhas
mãos no seu aquecedor. — A Cassie marcou uma nutricionista, vou seguir a
alimentação dela certinho, costumo fazer todas as refeições... — Só não
entrei em detalhes que não comia como uma pessoa normal.
Callum era muito quieto e dirigiu com cuidado até a clínica, dei o
meu nome na recepção e fomos chamados apenas dez minutos depois. A
enfermeira me levou para uma sala e aplicou a primeira injeção. Foi só uma
picadinha bem rápida. De volta ao carro, ele perguntou se precisava de algo
ou poderia me ajudar com alguma coisa. Foi bastante gentil da sua parte
oferecer.
— Obrigada, mas está tudo bem. — Dei-lhe um beijo na bochecha e
ele apertou a minha mão. Desci do carro com um sorriso muito bobo que não
conseguia esconder.
Peguei um pote de salada caesar e um suco de laranja, rezando
mentalmente para aguentar o humor da Roxanne o restante do dia. Que Deus
me desse forças.
CAPÍTULO 6
Callum.
Era amanhã. Finalmente o embrião seria implantado.
A ovulação da Isla foi rápida, por não usar nenhum método
contraceptivo e ser regular, a precisão do Dr. Phillips foi certeira com a
indução. Ela conseguiu produzir bons óvulos e fiquei muito empolgado com
as excelentes notícias sobre o nosso procedimento.
No dia seguinte iria buscá-la bem cedo, levá-la ao consultório, voltar
para o meu trabalho porque não podia ficar com ela durante o procedimento.
Depois iria buscá-la e levá-la de volta para a sua casa onde precisará ficar de
repouso absoluto por quarenta e oito horas.
— Bom dia, chatice. — Charlie entrou na minha sala com uma caneca
de café. — Parece bem ultimamente. Tem dormido?
— Milagrosamente, sim. — Fui honesto. Não estava dormindo a noite
inteira, mas as três da manhã conseguia dormir e acordava quinze para as seis
com a voz da Samantha ou sozinho. — Estou mais calmo.
— Entendo. Algum motivo em particular?
— Não. Quer alguma coisa?
— Topa assistir ao jogo hoje em algum lugar? Estou morrendo de
vontade de alguma comida gordurosa e cerveja, mas não quero ficar em casa.
— Por mim tudo bem.
Seria muito bom distrair a minha mente e matar um pouco da minha
ansiedade. Voltei a trabalhar ignorando o Charlie, porque havia muito que
fazer para sair mais cedo no dia seguinte. A semana estava com uma
demanda bem intensa de trabalho. Precisei ir a filiais diversas vezes na
semana e acompanhei boa parte do processo da Isla por telefone. Alguns dias
ela parecia ligada no 200w, falante e a Cassie vivia rindo em seu celular
sobre as mensagens da Isla e a curiosidade me venceu, perguntei o que era.
Minha advogada me explicou que o período fértil de uma mulher era o
momento que ficam e muito disposta ao sexo.
Isla teve o seu período fértil com indução. Ela descreveu como um
momento que queria foder vinte quatro horas ao dia. Eu li aquela mensagem
no celular da minha advogada e tive pensamentos realmente muito
impróprios e impuros com a futura mãe do meu bebê. Queria ser o homem
que foderia aquela mulher até perder os sentidos e fiquei feliz de não a ter
encontrado ou faria uma merda sem controle.
Era um homem que ouviu que uma mulher estava muito excitada no
período que iria fertilizar o meu bebê. Fiquei doido. Eu não ficava facilmente
fora de mim por alguma mulher, mas a Isla tinha o dom de fazer tudo
transformar-se a primeira vez. Ela era muito tagarela, sempre puxava assunto
e estava um pouco incomodado com o seu ritmo de trabalho. Roxanne fazia
jus à fama. Seus funcionários eram escravos.
Quando a Isla estiver grávida, aquilo teria que mudar.
O dia passou tão rápido que mal tive tempo para comer, entrando e
saindo de reuniões, então, quando o Charlie me chamou para sairmos, vesti o
meu casaco e fui embora com pressa para comer alguma coisa o mais rápido
possível. Meu primo me levou a um Pub que encontrou durante o seu almoço
e nós entramos, pedi uma cerveja no balcão enquanto olhava o cardápio e
ouvi uma risada que já era familiar.
Isla.
Procurei pelo bar e a vi com uma mulher, rindo alto. Charlie seguiu o
meu olhar e arqueou a sobrancelha, quando ia me provocar, ela me viu, ficou
tímida e sorriu. Nós combinamos que iríamos fingir um relacionamento para
os nossos amigos e família, não seria um mísero sacrifício fingir ter algo com
uma mulher como ela. Ainda sorrindo, acenou, peguei a minha cerveja e fui
até a sua mesa.
Ficando de pé, xinguei mentalmente, ela usava um justo vestido
vermelho, longo e botas de cano médio que eram possíveis serem vistas
devido ao lascado na perna direita. Seu casaco estava pendurado na cadeira.
— Oi. — Parei na sua frente e a olhei de cima abaixo. — Você está
linda. — Elogiei realmente encantado.
— Você também. — Me deu um abraço e passei o meu braço pela sua
cinturinha fina, apertando-a de leve e ganhei um beijo longo na bochecha. —
Essa é a minha melhor amiga, Laila. — Afastou-se e apresentou a mulher
morena, de pele clara e grossas sobrancelhas, que estava muito bem
arrumada. — Esse é Callum... Um amigo.
— Amigo? — Laila arqueou a sobrancelha. — Amigo que segura a
cintura bem intimamente? Legal. Prazer em conhecê-lo, Callum. — Apertei a
sua mão.
— Esse é o meu primo, Charlie. — Apontei para o curioso que não
disfarçava o sorriso divertido.
— Nós estamos aqui para assistir ao jogo. Querem sentar conosco? —
Isla ofereceu, olhei para o meu primo que concordou e pegamos duas
cadeiras. Sentei-me ao lado da Isla e Laila avisou que seu noivo e um amigo
estavam chegando, então, pedimos mais duas cadeiras. Isla bebia suco e
comia um saquinho de cenoura, uma escolha bem peculiar em um Pub com
boas opções de comida.
Pedi costelinhas assadas com barbecue, batatas fritas e o Charlie pediu
hambúrguer bem caprichado com bacon e fritas.
Dois homens altos e negros chegaram, caminhando até a mesa com
uma expressão preocupada no rosto. Laila apresentou o seu noivo Michael e
o irmão de criação dele, chamado Benji. Ficamos em um grande grupo e por
isso Isla estava ainda mais perto, ao ponto de sentir o quanto seu perfume era
bom e o seu pescoço era lindo, delicado, perfeito para ficar vermelho com a
minha barba.
Porra.
Bebi mais um pouco da minha cerveja, quando a minha batata chegou,
ofereci a ela e negou primeiro.
— Isla não come carboidratos por causa da ditadora da beleza. — Laila
jogou acidamente e a sua amiga ficou com vergonha. Benji revirou os olhos.
— Como sim, só evito consumir ao máximo.
— Você só come legumes e verduras, sua chata. — Benji rebateu.
— Batata é um legume. — Peguei uma, esfreguei no molho e ofereci.
Grunhindo, deu uma mordida e em seguida enfiei todo pedaço na sua boca.
Enquanto assistia ao jogo, percebi duas coisas: Isla era uma Patriots
doente. Mais do que o Charlie e ela amava batata fritas. Cada vez que
oferecia, aceitava e depois pegou o meu garfo, comendo a minha comida e
me dando garfadas como se o prato fosse dela. Ela tinha sorte que iria
carregar o meu bebê ou poderíamos brigar por isso. Odiava que tocassem na
minha comida, Charlie sabia disso e não parava de rir.
Queria tirar o sorriso dele no soco.
No final do jogo, estava tarde e todo mundo tinha um dia de trabalho no
dia seguinte e nos despedimos na porta. Obviamente iria levar a Isla em casa,
ela se despediu dos seus amigos, todos os três tinham sorrisinhos maldosos,
como se soubessem que iríamos fazer algo incrivelmente pecaminoso.
Segurando o meu braço, caminhou ao meu lado até o estacionamento da
minha empresa junto com meu intrometido primo.
— Até amanhã. — Charlie me deu um aceno, indo para o seu carro.
Abri a porta para a Isla, logo dando a volta e ligando o carro com o
aquecedor.
— Estou tão ansiosa para amanhã, que não sei como vou conseguir
dormir.
— Tenho certeza de que não vou conseguir dormir. — Retruquei e ela
agarrou minha mão, apertando.
— Vai dar tudo certo. Foram dias bem loucos e estranhamente
aquecidos.
— Ouvi dizer algo sobre isso. — Soltei um pigarro. — Cassie viajou
comigo esses dias. — Comentei casualmente.
— Ah... Precisava desabafar com alguém. Foi sinistro. Acho que nunca
usei tanto o meu vibrador quanto esses dias, deve ser isso que ajudou bastante
em todo processo. — Continuou falando e apertei o volante, pensando nela,
nua, no meio da sua cama, usando um vibrador e gozando sozinha em seu
quarto.
Meu pau se mexeu em saudação. Ele queria muito assistir aquela cena.
Minha boca encheu de água e minha cabeça parecia que ia explodir se
aquelas imagens não desaparecessem.
Estacionei em frente ao seu prédio, respirei fundo e a Isla apenas me deu um
beijo atrevido na bochecha antes de sair, me desejando boa noite e que nos
veríamos pela manhã.
Ainda fiquei parado no mesmo lugar. Será que ela tinha noção do que
fazia comigo?
Suspirando, liguei o carro novamente e fui para a minha casa. Malhei
até duas horas da manhã, tomei banho e me joguei na cama mexendo no meu
telefone. Navegando pelas redes sociais, sem sono e fiquei olhando as fotos
do Instagram da Isla. Ela era muito talentosa, suas fotos eram atraentes e
obviamente mostravam bastante da sua personalidade vivaz.
Fiquei tanto tempo mexendo aleatoriamente no telefone, só absorvendo
a cultura inútil da internet que tomei um susto quando a Samantha ecoou no
despertador. Dei um pulo na cama, me arrumando para o dia com uma roupa
mais informal já que sairia mais cedo do escritório, tomei café da manhã com
a Charlotte e ela me repreendeu por estar ansioso. Se ela soubesse, talvez não
brigasse comigo.
Parei o meu carro na frente do prédio da Isla achando estranho a
movimentação dos seus vizinhos. Saí do carro observando que três bombeiros
hidráulicos entraram no prédio e a Isla saiu cinco minutos depois que mandei
a mensagem avisando que estava aguardando. Ela usava um vestido florido,
um casaco creme e tênis brancos. Era tão pequena sem salto e ainda mais
bonita sem tanta maquiagem.
— O que aconteceu?
— O idiota do meu vizinho tentou consertar o vazamento do
apartamento de madrugada. Explodiu água de um lado do prédio e apesar de
não ter atingido meu apartamento, vou ficar sem água o final de semana
inteiro. — Reclamou e peguei a sua bolsa.
— Pegue algumas roupas, Isla. Você precisa ficar de repouso absoluto
sem nenhum tipo de estresse, então, vai ficar comigo. É muito importante
para o procedimento dar certo... Vai buscar umas roupas. — Apontei para seu
prédio. — Temos alguns minutos, anda.
— Tem certeza?
— Não vou repetir.
— Hum. Que mandão. — Fez um beicinho e rodopiou de volta para o
seu prédio, saindo quinze minutos mais tarde com uma pequena mala. Deixei
no banco de trás e abri a porta para a espevitada.
Nós conseguimos chegar na clínica no horário, preenchemos sua ficha
de internação. Fomos encaminhados ao segundo andar, aguardando a
enfermeira nos chamar para o quarto. Isla trocou de roupa no banheiro,
saindo com uma camisola hospitalar e ficou sentada na cama, balançando as
pernas até virem buscá-la para o procedimento em outra sala.
— Estou nervosa. — As mãos dela tremiam e estavam muito geladas.
Aquela mulher estava, pelos seus motivos ou não, dando o seu corpo para
conceber o meu filho. Esfreguei as suas mãos entre as minhas, aquecendo e
ela suspirou.
— Estarei aqui quando sair, prometo. — Beijei os nós dos seus dedos.
— Está bem.
Junto com duas enfermeiras, acompanhei a Isla com o olhar até a sala
do procedimento e fiquei no quarto, sentado na poltrona, esperando terminar.
Andei de um lado ao outro, trabalhando a distância e ao mesmo tempo
preocupado. Quando ela finalmente voltou para o quarto, sua expressão não
era das melhores, mas me deu um enorme sorriso.
— Agora ela vai precisar apenas de observação e em seguida poderá vir
buscá-la. — Dr. Phillips apertou minha mão. — Está tudo bem e a
observação é apenas caso ela sinta muita dor ou tenha sangramento.
— Tudo bem... Volto daqui a pouco para buscá-la, obrigada Dr.
Phillips. — Voltei para o quarto e me inclinei sobre a Isla. Ela estava meio
pálida, talvez ansiosa. Tirei o seu cabelo da testa e sorri. — Parece que está
tudo bem e daqui a pouco eu volto. Não hesite dizer ao médico ou as
enfermeiras o que está sentindo, ok?
— Estou bem. É só um incômodo, muito invasivo e parece como uma
cólica. Fora isso estou realmente bem. — Soltou um bocejo. — Desculpe,
não dormi muito. Estava muito ansiosa.
— Aproveite para descansar. — Inclinei-me ainda mais e beijei a sua
testa.
Não consegui me concentrar no trabalho, ansioso e pensando nela na
clínica. Ela pediu folga, sem contar o que ia fazer, usou a sua mãe como
desculpa e não fazia ideia o que a sua chefe disse. Sem querer, o seu telefone
estava na bolsa no meu carro, então, levei para o meu escritório só para não
largar no banco de trás as coisas dela e a coisinha não parava de vibrar. Ao
olhar a tela havia milhares de mensagens de uma tal de Cait e outras milhares
da Roxanne.
Liguei para a Cassie para contar do procedimento e ela disse que
passaria na minha casa mais tarde para vê-la. Meghan percebeu o meu estado
ansioso, me deixou quieto e sem me empurrar milhares de recados e
atualizações, agradeci internamente que era sexta-feira. Não fiquei um
segundo a mais que o necessário para não deixar a Isla sozinha por mais
tempo e quando voltei, ela estava sentada, lendo uma revista.
— Oi! Acabei não conseguindo dormir e meu telefone foi com você.
Consegui uma revista para passar o tempo, estou lendo a concorrência de
Nova Iorque. — Fechou a revista e colocou na mesinha ao lado.
— Está sentindo dor?
— Somente aquele incômodo, mas já posso ir. Vou trocar de roupa.
Ajudei-a descer da cama só por precaução e ela entrou no banheiro,
trocando-se sozinha e saiu com a mesma roupa de mais cedo. O Dr. Phillips
veio nos ver, disse que era para ligar imediatamente se sentisse qualquer
coisa e para descansar por todo final de semana. Isla estava com sono por ter
ficado acordada a noite inteira e não falou muito no caminho para o meu
apartamento. Como não pretendia sair mais, entrei no prédio e estacionei na
minha vaga no terceiro pavimento do estacionamento.
Isla seguiu quieta no elevador e não falou nada quando digitei o código
de acesso da minha cobertura. Charlotte estava na cozinha, havia um bom
cheiro de comida no ar. O meu apartamento era amplo, iluminado, com
vários ambientes no primeiro andar, quartos no segundo, minha academia e
um estúdio vazio no terceiro. Tinha uma varanda gourmet no primeiro
pavimento, uma sacada no meu quarto e um terraço espaçoso no terceiro.
Eram cinco quartos, três salas sendo duas de estar, uma era de visitas,
outra de televisão e a terceira de jantar. Minha cozinha era espaçosa, com
uma ilha, balcão, mesa com seis cadeiras, armários do chão ao teto e janelas
grandes com uma bela visão do pequeno parque do outro lado da rua.
— Uau, Callum. Esse lugar é lindo. — Suspirou olhando ao redor. —
Parece que saiu de dentro de uma revista de decoração.
— Graças a minha Tia Gwen e uma decoradora. — Ajudei a tirar o seu
casaco e pendurei no armário da entrada. — Fique à vontade. — Segurei a
sua mão e a levei para a cozinha. — Char, essa é a minha amiga Isla
Edwards. Isla... Charlotte é a minha governanta, você pode pedir a ela o que
precisar.
— Seja bem-vinda, menina. — As duas trocaram um abraço. —
Preparei um almoço bem leve. Quer comer agora?
— Na verdade, não estou com fome ainda. — Ela parecia
desconfortável.
— Você prefere deitar-se agora?
— Acho que sim. — Seu olhar era tímido.
— Você tem que me falar se sentir algo. — Pedi e assentiu.
— Eu vou, prometo. — Sorriu, ainda meio tímida com a Charlotte.
Subi com a Isla, ela vestiu um pijama rosa de calça e uma blusa com
vários gatinhos brancos, desforrei a cama do meu quarto porque não queria
que a Charlotte ficasse muito curiosa. Ela não entrava no meu quarto sem
autorização, sabia que era bem intrometida, se não tivesse me criado não teria
tanta autoridade dentro da minha casa ou na minha vida. Quando todas as
pessoas foram embora, apavoradas com o meu pai, ela ficou e cuidou de mim
e do meu irmão.
Durante o meu tratamento contra o câncer, ela se dedicou a fazer tudo
melhor, mesmo quando a quimioterapia ficou agressiva demais e eu não
queria fazer nada além de vomitar. Charlotte era boa, só muito curiosa.
Deixei o quarto escuro, aquecido e o telefone dela ao lado, caso
precisasse me ligar. Dei privacidade para dormir e saí do quarto, descendo a
escada e a minha governanta não escondia o sorriso.
— Engoliu um canário, Charlotte?
— Uma amiga? Ela é bonita. — Inclinou-se sobre o balcão me olhando
com interesse.
— Já terminou? — Apontei para a comida.
— Sim. Não vai precisar mesmo de mais nada? Posso tirar o seu vinho
favorito da adega e preparar um salmão picante para o jantar. Que tal?
— Você pode pegar as suas coisas e ir para casa. Eu cuido do restante.
Charlotte foi até o quarto dos fundos, pegou A sua bolsa e o casaco.
Enfiei minhas mãos nos bolsos para acompanhá-la até a porta. Tray ficava no
apartamento dele, alguns andares abaixo e ela costumava avisá-lo sempre que
estava perto de ir embora, assim ele a levava até Lowell, onde Char vivia com
seu marido, o antigo mordomo da residência Lowell. Ou eles ficavam na casa
que mantinham aqui em Boston.
— Eu amo você, Callum. Está na hora de ser feliz. — Segurou o meu
rosto e plantou um beijo maternal na minha testa.
Acenei quando o elevador fechou com ela dentro e acionei o bloqueio
externo. Quem tivesse o código só poderia entrar com a minha autorização.
Me joguei no sofá e liguei a televisão, colocando em um filme idiota para
passar o tempo, enquanto Isla repousava no meu quarto. Meu estômago
embrulhava com a ansiedade de passar um final de semana inteiro com
aquela linda mulher no meu apartamento.
CAPÍTULO 7
Isla
Acordei sentindo um cheiro de perfume masculino maravilhoso, uma
mistura de frescor cítrico com uma presença amadeirada ao fundo,
provavelmente era francês e muito caro. Enfiei o rosto no travesseiro macio,
abraçando-o e lentamente me espreguicei, esticando meus músculos e com os
olhos ardendo. Pisquei algumas vezes e o quarto estava inteiramente escuro.
Rolei para o lado, peguei o meu telefone e estava no final do dia.
Meu telefone estava cheio de mensagens não lidas desde de manhã e
era algo que não costumava fazer, então o Benji estava frenético, ameaçando
chamar a polícia e envolveu a Laila e o Michael no seu surto. Respondi no
grupo que estava bem e passando um final de semana “com meu amigo
Callum”. Benji começou a digitar em letras garrafais e a Laila enviou trinta
figurinhas desmaiando.
Após o inusitado encontro no bar, eles começaram a enviar mensagens
sobre “como assim conhecia um Lowell e nunca falei absolutamente nada
para eles?” e a Laila estava consumida em curiosidade, inventei que nos
conhecemos em um evento do trabalho, ele me convidou para almoçar e
desde então estávamos saindo sempre que possível. Ainda disse que estava
tudo muito recente e era só uns encontros.
Laila me conhecia o suficiente para saber que jamais passaria um final
de semana com um homem que fosse apenas encontros. Tive alguns
namorados ao longo da vida, mas só dormi com eles após o título
“namorada” ser bem oficial. Expliquei que inventei que estava doente para A
Roxanne, ela iria viajar, então até que não reclamou muito sobre me dar o dia
se estivesse tudo certo com a sua viagem.
Recebi uma mensagem que ela pousou bem em Miami e ficaria com o
telefone de trabalho desligado até o domingo, para falar no seu número
pessoal se fosse urgente. Uma parte boa da Roxanne era que ela tirava finais
de semana para viajar com o seu marido com mais frequência do que antes.
Tudo previamente agendado, porque ambos possuíam agendas cheias e eu
não precisava trabalhar muito se ela estivesse de folga.
Calhou de o procedimento ser agendado no mesmo final de semana, foi
muita sorte. Todos os procedimentos foram agendados em dias tranquilos, o
dia que fiz a retirada dos óvulos foi em um sábado, fui sedada e ao acordar,
fiquei bem, só meio dolorida. No procedimento do dia, estava sentindo leves
cólicas que eram normais. O Dr. Phillips disse que tivemos bons embriões
excedentes e o Callum optou por congelar com o meu consentimento, afinal,
era o meu óvulo.
Me espreguiçando pela última vez, fui ao banheiro e abri a porta do
quarto, espiando o corredor silencioso. Para direita havia mais portas e para
esquerda uma pequena sacada que parecia ser a mesma do quarto em que
estava. Decidi seguir para a direita, encontrando uma escada espiral de
madeira brilhante e paredes brancas. Desci devagar, em silêncio e de primeira
o apartamento parecia vazio e percebi que havia o brilho da televisão em um
espelho.
Virei na direção e grandes portas duplas de correr estavam abertas para
uma sala com uma televisão enorme, parecia um cinema e do lado direito
havia janelas grandes, com as cortinas abertas e os vidros fechados. Um sofá
que era imenso, provavelmente de dez lugares, em forma de L, com encosto
que parecia ser muito macio e um assento extenso como uma cama de
solteiro.
Callum estava deitado no sofá e caramba, que homem gostoso. Com
uma mão atrás da cabeça, a outra na barriga, a camisa estava meio levantada,
exibindo sua barriga definida e a entrada para o caminho da perdição. Havia
um bom volume no seu jeans que me fez morder o lábio, a perna esquerda
esticada no sofá e a direita dobrada para o chão. Ainda estava vestido com a
mesma roupa de mais cedo, sem os sapatos.
Percebendo-me pelo reflexo da televisão quando escureceu, ergueu o
olhar sonolento, me dando um sorriso tranquilo e ficou de pé me convidando
para o sofá. Antes que me sentasse, dobrou o encosto de modo que ficasse
confortável meio deitada e meio sentada. Callum me deu uma colcha,
cobrindo as minhas pernas e achei meio fofo a sua dedicação em me deixar
confortável.
— Está com fome?
— Poderia comer sim. — Observei-o sair da sala, enviei uma
mensagem ao meu pai para avisar que estava bem. Callum voltou para a sala
com um prato e um copo de suco. Dei um golinho para descobrir que era de
laranja e aparentava estar fresco.
— Fiz uma jarra não tem meia hora. — Me entregou o prato com um
sanduíche de salada de frango e folhas verdes. Mordi um bom pedaço,
descobrindo estar com fome, soltei um gemido porque estava incrível. — Sua
governanta manda muito bem.
— Charlotte fez o jantar... Isso aí fui eu.
— Uau. O que usou de tempero para o frango? Está uma delícia. Amo
pão de centeio com mostarda, está muito gostoso.
— Segredo do chef! — Mesmo o seu breve sorriso era bonito. — Está
sentindo-se bem?
— Com um pouco de preguiça, a semana foi agitada e com leves
cólicas. Nada que precise tomar alguma medicação. — Terminei de comer e
ele me impediu de me levantar para levar o prato e o copo para cozinha,
voltei a me recostar no sofá e olhei para a imensa televisão.
— Quer trocar de canal? Procurar algum filme? — Me ofereceu o
controle.
— Não. Estou bem... Gosto do Matt Damon. Tem algum compromisso
hoje?
— Estou a sua disposição. — E a minha mente escorreu para a sarjeta.
— Será entediante porque estou com sono de novo, quase não tenho
folgas e sempre que estou em casa meu cérebro liga a opção "dormir muito"
como se pudesse armazenar sono para o futuro. — Murmurei e ele diminuiu
as luzes da sala, prestei atenção no filme por um momento, até que as minhas
pálpebras estavam fechando sem controle.
Acordei e estava passando o segundo filme da franquia Bourne e não
estava no começo. Dormi com o cabelo preso e ele estava solto, sem saber
que estava acordada, senti os dedos do Callum penteando meus fios em um
cafuné muito gostoso, para não perder o contato, voltei a fechar os olhos e
dormi de novo. Fui despertada com o som de uma campainha, me espreguicei
e olhei para onde Callum digitava um código no elevador, que liberou a
entrada da Cassie.
— Olá, papais! — Ela carregava duas caixas de pizza e um engradado
de cerveja. — É o primeiro sábado de folga em meses, não me julguem por
começar a beber na sexta-feira. — Sorriu e o Callum disse para ficar à
vontade, todo educado e ela veio até a sala, depositando as pizzas na
mesinha. — E aí, como está? Foi tudo bem? Desculpa não ter ido com você,
mas o meu pai me pediu um favor que me ocupou o dia inteiro.
— Não tem problema. Callum ficou comigo e no repouso era para ter
dormido, mas, não consegui. Em compensação dormi praticamente o dia
inteiro.
Cassie era uma mulher que ao vê-la a primeira vez fiquei meio
intimidada. Ela era do tipo mulher muito alta, magra, usando roupas que você
poderia adivinhar que era advogada feroz. Seus cabelos eram castanhos
claros, bem naturais, olhos castanhos claros muito expressivos e os cílios bem
espessos. Não usava maquiagem de forma excessiva como eu, apenas um
rímel e um batom porque não precisava de uma máscara para se adequar a
carreira. Era livre. E porra, como queria ser livre para ser dona do meu nariz
na minha carreira.
Nós falamos por cinco minutos antes de cair na risada no meio de um
restaurante e aí vi que a poderosa advogada tinha uma alma boba como a
minha. Já percebi que ela e o Callum eram bem amigos fora do âmbito
profissional, ela o tratava como eu tratava o Michael, um homem que você
até achava bonito, mas tinha zero atração. Era pura e simples amizade.
Callum era muito quieto para nós duas. Eles dividiram a cerveja e a
pizza, comi apenas um pedaço que ele literalmente esfregou nos meus lábios,
não resisti e dei uma mordida sentindo a culpa pesar tanto, que comi só um
pouquinho do delicioso espaguete integral com molho à bolonhesa preparado
para o jantar e estava divino. Charlotte cozinhava muito bem.
Senti pena do Callum aguentando a Cassie e eu falando por horas,
qualquer assunto era muito empolgante entre nós duas, com risadas
extravagantes e ele só ficou esticado, meio que atrás de mim no seu imenso
sofá e eu recostada na caminha que criou, coberta e a Cassie na curva do L do
sofá, de frente a nós dois, igualmente jogada, comendo pizza e bebendo
cerveja.
Em algum momento acabei dormindo, no meio de uma conversa,
assistindo o último filme lançado da franquia Bourne e acordei no meio da
noite, no sofá extra confortável e o Callum estava de pijama, no mesmo lugar
de antes, só que deitado, mexendo no seu telefone. Ele não dormia nunca?
— Adormeci no pior lugar. Se bem que seu sofá é simplesmente
incrível. — Me sentei e me espreguicei.
— Quer ir para a cama? Estava sem sono e fiquei por aqui mesmo.
— Acho melhor irmos. Não deve ser bom para seu pescoço ficar dessa
forma.
Callum praticamente me pegou no colo, incomodado de subir e descer a
escada, ele estava levando o repouso ao último nível, não discuti, porque o
Dr. Phillips disse repouso absoluto e no meu ponto de vista era evitar se
movimentar ao máximo e definitivamente não subir as escadas. Não reclamei
de ter as mãos de um homem como o Callum em mim. Ainda estava meio
dominada pelos hormônios da indução.
Ou são meus próprios hormônios, incapazes de resistir ao pai bonito do
meu futuro bebê. Deitei-me na mesma cama de mais cedo, desligando
o despertador do celular e até demorei um pouquinho para dormir, fuxicando
as redes sociais do Callum, mas era tudo sobre a empresa. Ele tinha um perfil
verificado e as suas postagens eram todas voltadas ao trabalho, não tinha
fotos dele além de profissionais e em eventos.
Não deveria ser ele a pessoa que controlava suas contas. Tão sem graça.
Acordei cedo no sábado, porque depois de dormir a sexta-feira
praticamente inteira, estava com energia de sobra. Não nasci para ficar de
repouso, porque queria sair, passear, fazer alguma coisa útil do meu tempo.
Levantei-me da cama incrível, abri a minha bolsa e tirei um short jeans e uma
camiseta vermelha longa.
O banheiro era imenso. Todo em tons de preto, branco e cinza, pouco
parecida com a decoração sofisticada, porém, sombria do quarto enorme que
estava hospedada. Era duas vezes o meu pequeno estúdio. O espelho era de
ponta a ponta, havia duas pias e os produtos eram todos masculinos. Abri a
tampa do xampu e era o cheiro do Callum.
Caramba! Esse era o quarto dele!
Não podia acreditar que me colocou para dormir em seu quarto, quando
claramente havia outros quartos no apartamento. A cobertura parecia enorme.
Me senti muito mal por me apossar da cama do homem, ele foi ridículo em
não falar nada. Curiosa, saí do quarto e empurrei a grande porta de correr,
encontrando em outro quarto do tamanho do meu apartamento só de roupas
masculinas.
Todas eram escuras, bem no estilo que ele usava e cheiravam muito a
ele. Não resisti e dei uma boa cheirada em uma camisa, um homem cheiroso
era tudo na vida.
Voltei para o banheiro, tomei um banho caprichado, lavei o meu cabelo
com os minis produtos que separei e deixei para secar naturalmente já que
não iria sair de casa. Vesti a minha roupa confortável, escovei os dentes,
guardei tudo e pendurei a toalha atrás da porta por não encontrar outro lugar
para colocá-la.
Abri a porta do quarto com meu telefone na mão e espiei o corredor,
havia um barulho de música que vinha da escada que dava para o terceiro
andar e me senti tentada a olhar, mas seria muita invasão de privacidade,
então, segui na direção oposta, descendo a escada com muito cuidado. O
primeiro andar estava silencioso, com fome, deliberei se espiava a geladeira e
preparava o café da manhã ou se seria muito abuso.
Ah... Eu não ia ficar com fome! O que era um café da manhã?
Abri a geladeira, peguei os ovos, uma embalagem do bacon que sempre
queria comprar no mercado por ser o mais fino e com menos gordura,
presunto, queijo e encontrei laranjas em um balcão. Callum fazia suco de
laranja mesmo... Como ele conseguia laranjas tão bonitas aquela época do
ano? Será que importava de algum lugar? Eram enormes. Hum, tinha uma
história sobre os Lowell que todas as cozinheiras praticavam bruxaria, será
que era verdade? Só assim explicaria as laranjas.
Utilizei a sua máquina potente para fazer o suco, joguei as cascas fora
no lixo eletrônico que incinerava tudo conforme apertava o botão. Cascas
eram orgânicas, certo? Não era de reciclar lixo. Quase não produzia lixo de
comida, porque quase não comia. Fritei os ovos, deixei na estufa aquecendo e
comecei com o bacon quando ouvi um barulho na escada.
— Acho que sou um péssimo anfitrião deixando a paciente de repouso
absoluto de pé na cozinha, preparando o café da manhã. — Callum apareceu
na cozinha e mordi minha língua ao mesmo tempo que queimei o meu dedo,
soltei um palavrão e enfiei o dedo na boca. Ele estava só com um calção de
basquete e tênis. Sem camisa. Todo suado. Bem na minha frente. — Ei,
cuidado. Machucou?
— Estou bem para as duas coisas. Posso preparar o café e só encostei.
— Desviei o olhar do seu peitoral malhado, molhado e engoli seco. — Será
que conseguiu dormir em algum momento?
Callum inclinou a cabeça para o lado como se tivesse perguntado se ele
tinha duas cabeças. Me analisou por um instante e sorriu torto antes de
responder.
— Um pouco.
— Fiz suco, não sei usar aquela sua coisa ali que faz café e já está
quase tudo pronto. Faltam umas torradas para acompanhar.
— Eu vou tomar um banho bem rápido, sente-se e deixa que termino.
— Saiu da cozinha, para a minha felicidade e ignorei a sua ordem, pegando
os pães e ligando a torradeira enquanto o bacon chiava na frigideira que
parecia uma chapa. Ele voltou quase dez minutos mais tarde, meio molhado,
mas dessa vez do seu banho e estava muito cheiroso. — Parece que alguém é
teimosa. Já disse que é para sentar.
— E parece que alguém é bem mandão. — Retruquei e ele agarrou os
pães da minha mão, virando as torradas que já estavam prontas em um prato,
me segurou pelos ombros e empurrou suavemente até uma cadeira. Sentei-me
antes que me colocasse sentada ali. Callum ficou do outro lado da ilha, usava
só uma calça de moletom cinza, uma camisa branca e os pés descalços. —
Aquele quarto que dormi é o seu?
— Sim. — Continuou de costas, enfiando pães na torradeira.
— Onde você dormiu?
— Um pouco no sofá.
— Você não precisava sair do seu quarto... Seu sofá é muito
confortável e tenho certeza de que tem um quarto extra nesse lugar enorme.
— Eu sei disso, mas a minha cama é confortável, mandei criar aquele
colchão. Ele tem a densidade perfeita para proporcionar um bom sono, foram
meses de estudo e imaginei que era o ideal para seu repouso. E durmo muito
pouco, não é um problema, não se preocupe. — Virou o bacon e desligou o
fogão. — Pensei que fosse dormir mais, costumo perder a noção do tempo na
academia.
— Já disse que não foi um problema começar o nosso café, deixa de ser
teimoso.
— Eu sou teimoso e mandão, isso é algo que você raramente vai
conseguir passar por cima. Não invente nada, Isla. Você vai ficar quieta e
descansada esse final de semana, não podemos arriscar que passe mal. Se o
médico mandou repousar...
— Tudo bem... Posso ao menos trabalhar sentada?
— Se for coisa da revista, não. — Olha só a audácia. — Se for do seu
blog, sim.
— Definitivamente muito mandão. Eu tenho problemas sérios com
homens mandando em mim. — Assumi, porque uma coisa eram situações
relacionadas ao nosso contrato, outra era o meu trabalho.
— Eu não tenho problemas em mandar, mas não é isso. Seu trabalho é
estressante e tenho certeza de que a Roxanne não te paga para ser escrava.
Aquela mulher é irritante e você precisa de descanso, então, nada de revista.
— Conhece a Roxanne?
— Infelizmente, sim.
— Sério? Dos eventos?
— Eu sou dono de mais da metade da editora que a revista pertence. —
Callum respondeu com naturalidade. Merda. Ele era o meu chefe! — E a
Roxanne foi amante do meu pai quando eu era criança. Ela frequentava muito
a minha casa quando minha mãe não estava.
Porra, que babado! A forma como Callum pronunciou foi como se
estivesse lendo uma notícia de economia no jornal. Super comum. Não havia
uma mísera alteração no seu tom de voz. Quando falava das infidelidades da
minha mãe, na verdade, quando era obrigada a falar, morria de vergonha
mesmo não sendo a parte traída da história.
— Acho que estou chocada.
— Roxanne foi a mulher mais jovem a alcançar um cargo de chefia. —
Me deu um olhar sugestivo.
— Ela é muito talentosa. — Entrei na defensiva sem nenhum motivo.
— Talvez seja, afinal, só ainda mantém o cargo porque todos os
acionistas acreditam no trabalho dela e construiu certa reputação, que é
favorável a revista. Não chegou lá por competência, isso é um fato. — Serviu
o meu prato com tudo que preparamos e colocou bem na minha frente. Abriu
a geladeira e tirou dois potes de salada de frutas. — Minha governanta cortou
tudo ontem, sei que você gosta de comer muitas frutas, está no seu
formulário. Li que não come mais porque não tem tempo. Charlotte vai fazer
saladas para você comer e a fruta que quiser comer, só me falar.
— Você contrabandeia frutas?
Ele soltou uma risada muito linda.
— Faço o que tiver de fazer para conseguir o que quero, é bem simples.
Deveria ser bom ser um Lowell e ter esse poder de alcance, mas esse
comportamento me alertou muito sobre quem era o Callum. Ele desconhecia
limites e isso era muito perigoso para um homem com tanto dinheiro e poder.
CAPÍTULO 8
Callum.

Isla era o pior tipo de pessoa inquieta.


Acostumada a sempre estar na agitação, servindo ao invés de ser
servida, acatando pedidos e não sendo paparicada, me deu trabalho nas
primeiras horas do sábado. Ela acordou antes que previsse, não me chamou e
começou a preparar o café da manhã. Muito teimosa, precisou ser colocada
na cadeira para ficar sentada e comeu apenas uma torrada com ovos, meio
pedaço de bacon – e gemeu saboreando cada mísera mordidinha.
O Dr. Philips me informou que a sua anamnese mostrou que a Isla
estava uns cinco quilos abaixo do seu peso ideal, o que inicialmente não seria
um problema, considerando que ela engordaria gradativamente nos próximos
meses e já estava agendado uma nutricionista, me programei para entrar em
contato com uma chef para preparação dos alimentos dela. Todos os dias
mandaria entregar a sua comida no trabalho, para me certificar que comeria
muito bem.
Estávamos muito confiantes que o procedimento deu certo e por isso
ela precisava obedecer ao repouso. Após o nosso café da manhã, se instalou
na sala de televisão e como já havia malhado bastante, liguei a televisão
oferecendo que procurasse algo para assistir, mas disse que iria trabalhar.
Aproveitei para pegar o meu computador para responder alguns e-mails,
analisar minha agenda da semana e revisar itens pendentes das minhas visitas
às filiais.
Charlie estava me cobrando uma série de autorizações e queria dar uma
adiantada em um projeto.
Isla ficou quieta cinco minutos. Primeiro foi o carregador que esqueceu
na bolsa, depois os fones de ouvido e na terceira vez o banheiro. Proibi de
levantar já que estava extrapolando e se ela subisse a escada mais uma vez
iria brigar com ela. Muito madura, fez um beicinho e passou mais dez
minutos digitando e em seguida abriu um programa de edição, que
apareceram várias fotografias com looks diferentes.
Pensei que aquilo a ocuparia por um tempo, mas não... Isla estava quase
se levantando para fazer qualquer coisa, quando limpei a minha garganta
ruidosamente. Resmungando, fez o inimaginável: Engatinhou no meu sofá.
Ficou com a sua bonita bunda arrebitada, de quatro, como uma gatinha e foi
até a sua bolsa, tirando o carregador do seu telefone. Minha boca ficou seca e
depois encheu de água, com milhares de pensamentos impuros por segundo e
como se não tivesse me dado uma ereção só por ter a bela visão a sua bunda
redonda de uma deliciosa forma, voltou para seu lugar com um sorriso
inocente.
Pela manhã ela ficou bem interessada ao me ver sem camisa, chegando
a queimar o dedo e soltar um palavrão. Mesmo o seu olhar cobiçoso era
saudável e divertido. Isla era uma bola de energia, mas, finalmente sossegou
e estava ao meu lado, meio deitada, chupando um pirulito que encontrou na
sua bolsa, assistindo uma série chamada Gossip Girl no qual a narrativa
estava me dando nos nervos. Coloquei fones para abafar o som e consegui
terminar boa parte do que me propus a fazer em quatro horas e meia. Enviei
as marcações do projeto para minha assistente e ignorei todas as ligações do
meu telefone, respondendo somente algumas mensagens.
O pirulito estava me atormentando.
Ela chupava devagar, sem desviar os olhos da tela, sem ter a mínima
noção do que a bola vermelha entrando e saindo da sua boca estava fazendo
com a minha cabeça. Resolvi me levantar e sair da sala para desafogar minha
mente daquilo, fiz pipoca e servi chá gelado em um grande copo, retornei
para sala com um balde e ela não estava lá.
— Só fui ao banheiro, senhor. — Passou por mim de volta ao sofá.
— Está se achando muito engraçadinha, não é? — Entreguei-lhe um
copo de chá. Seu sorriso inocente não me convenceu em nada.
— É de pêssego? — Provou um pouquinho. — Acho que sim, mas tem
algo mais...
— Limão.
Isla se compadeceu da minha impaciência com o seriado e devolveu o
controle remoto, selecionei um aplicativo de filmes e decidimos assistir a
franquia do John Wick. Sem ser um programa sobre fofoca na alta sociedade,
Isla parecia perder o interesse, mexendo no seu telefone, olhando algumas
cenas e ela era tão bonita de assistir que perdi várias partes do filme. Comeu
pipoca e aos pouquinhos foi ficando sonolenta, deitando a cabeça no encosto
bem próximo ao meu ombro e conforme dormia, foi caindo cada vez mais.
Peguei uma almofada, coloquei no meu colo e a acomodei de modo
confortável. Puxei a colcha sobre suas pernas e estiquei as minhas em cima
da mesinha. Soltei o seu cabelo e brinquei com os fios, eram macios, sedosos
e muito loiros. Sem maquiagem dava para ver o quanto seus fios da
sobrancelha eram claros, tinha muitas sardas e eram bonitas. Mas nada se
compara aos seus olhos expressivos.
Meu telefone vibrou e o meu primo me chamou para jantar. Segundo
ele, queria conhecer um novo restaurante italiano e estava com uma amiga, o
seu quinto encontro. Avisei a ele que não estava sozinho, então a amiga não
precisaria levar alguém e que iria ver se a minha acompanhante queria sair.
Enviei uma mensagem ao Dr. Phillips perguntando se Isla poderia sair à
noite, ele respondeu que se não subisse escadas ou pegasse peso, ficaria tudo
bem.
Charlie estava muito surpreso. Ele sabia que não trazia mulheres para a
minha casa e que só tinha relações sexuais com prostitutas de luxo. Deve ter
achado que todo lance com a Isla não passava de um flerte, porque nunca dei
um passo à frente. Não depois da Patrícia. Ele até implicou comigo por
mensagem, dizendo que estava parecendo um obcecado por ter saído com a
menina que vi no restaurante semanas atrás.
Isla acordou da sua breve soneca com um beicinho.
— Sempre acabo dormindo em cima de você.
— É porque sou atraente como um colchão aos seus olhos. —
Provoquei o seu rubor e ele apareceu lindamente.
— Deve ser. — Desviou o olhar, tímida.
— Meu primo nos convidou para jantarmos em um novo restaurante
italiano em North End.
— Ah... Você vai sair de casa comigo? — Arqueou a sobrancelha e
deixei passar a provocação. Ela precisaria encontrar um jeito de lidar com os
meus cuidados.
— Se tiver que te carregar até o carro, eu irei.
Isla revirou os olhos e disse que por ela tudo bem, que estava louca
para sair um pouco e subiu gritando a cada degrau que estava indo lentamente
e com calma. Sorri e confirmei com o Charlie. Esperei que se arrumasse para
poder entrar no meu quarto, quando voltou, estava com um vestido cinza,
meia calças pretas e botas de cano médio sem saltos, maquiada e seu cabelo
parecia diferente.
— O que fez no cabelo? — Não resisti a curiosidade.
— Escovei.
— Gosto dele com aquelas ondas na ponta. — Apontei para as pontas
que estavam lisas.
Isla sorriu marota.
— Anotado. — Piscou e fui me arrumar. O meu banheiro estava com o
cheiro dela e esse simples fato me deu uma ereção. Não resisti a punheta no
chuveiro como um tarado adolescente. Me vesti com jeans, uma camisa de
manga preta, peguei um casaco, relógio, conferi o dinheiro na carteira,
cartões e passei perfume, penteando meu cabelo e a barba com dedos.
Voltei para o primeiro andar e ela estava olhando o seu telefone,
sentada e comportada no sofá. Ofereci o meu braço a Isla, que carregava
apenas o celular nas mãos e disse que seus documentos e dinheiro colocava
em um compartimento na capinha quando não precisava estar com uma
bolsa. A sua era grande e estava cheia de coisas que não queria carregar e
muito menos deixar espalhado. Ela só precisava dos documentos e era melhor
não que se atrevesse tentar pagar a conta.
Tray estava de folga porque não planejava sair esse final de semana,
avisei que estava saindo por hábito e conduzi a Isla até minha Mercedes.
— Qual seu gênero musical favorito? — Isla estava mexendo no meu
rádio.
— Não costumo ouvir músicas no carro ou em qualquer momento,
apenas quando estou malhando e minhas bandas são das antigas. Gosto muito
do AC/DC, Metallica, Aerosmith... Não sou muito ligado nisso...
Minha mente trabalhou na possibilidade em que ela estava querendo me
conhecer e eu não estava fazendo perguntas de volta.
— Então a sua praia é televisão? — Continuou e me olhou com
expectativa. Desviei o olhar do trânsito para a sua coxa sacudindo,
demonstrando a sua ansiedade.
— Gosto de assistir filmes e assisto todos os jogos... Acompanho os
Patriots bem de perto. A liga de basquete, beisebol, apesar de não gostar
muito, tênis e vôlei.
— Gosta de ler?
— Apenas suspense, investigação policial e coisas relacionadas a
economia. Não leio muito por ler bastante durante o dia, acabo deixando de
lado. É algum interrogatório?
Isla riu. Eu estava amando a sua risada.
— Você sabe até o número da minha calcinha, Callum. Tenho direito
de saber de volta. — Espertinha.
— Eu sei os dados sobre você, o pouco que compartilhou, mas não sei
o número da sua calcinha, embora possa adivinhar se olhar bem. — Atirei-lhe
um olhar avaliador. Eu diria que ela usava calcinhas confortáveis e coloridas,
mas que deveria ter calcinhas sexys entre as suas coisas. Não costumava me
importar com roupas íntimas, porque eu gostava mesmo de tirá-las do meu
caminho.
— Seu senso de humor aparece de vez em quando, dá uma espiada e
depois se esconde novo. — Avaliou e dei de ombros.
— O meu senso de humor é muito tímido. — Sorri, sem desviar o olhar
do trânsito e ela soltou outra risadinha bonita. — Não sou um cara de piadas.
Sou bem quieto, embora meus amigos me conheçam bem e sabem meus
limites.
— Tem muitos amigos?
— Para falar a verdade, mantenho contato com colegas da faculdade,
saio de vez em quando com eles e às vezes acontece de ter afinidade com
alguém que conheci durante o trabalho, mas não sou de muitos amigos não.
Meu primo é a única pessoa que confio, também converso muito com o meu
chefe da segurança, o Tray. Ele até mora lá no prédio. E ah, a Cassie.
— Conheço muita gente, tenho muitos contatos, mas meus amigos de
verdade são aqueles que conheceu no pub. Eles são irmãos que a vida me
deu. Fora isso tenho muitos colegas, gente que combino de sair, só não abro
muito da minha vida. Sabem o que todo mundo sabe.
— Seus amigos são legais. — Foi tudo que ofereci, porque era o que
achava deles até aquele momento.
O restaurante não tinha estacionamento ou serviço de manobrista, era
sábado e as ruas estavam cheias. Demoramos um pouco para encontrar uma
vaga, estava marcando dez graus e parecia que iria esfriar ainda mais. Saí do
carro e dei a volta para abrir a porta dela enquanto se ajeitava, olhando-se no
espelho do quebra sol.
— Ui, que frio. — Suspirou segurando a minha mão e depois o meu
braço, porque o chão estava meio escorregadio. Andamos até o restaurante
que estava bem cheio, mas o Charlie fez uma reserva e já estava no bar com a
sua acompanhante. Seu nome era Érica, ela era modelo e a Isla a conhecia de
alguns ensaios fotográficos.
Erica era alta, bem magra, ruiva, com olhos castanhos claros e usava
uma roupa que dizia muito sobre o que realmente queria com o Charlie. Seu
vestido era vermelho, decotado, os seios siliconados estavam praticamente
pulando do decote de uma maneira vulgar. Isla parecia uma criança ao seu
lado, não só por ser muito menor, como seu estilo mais sutil.
Puxei-a para mais perto, a Isla me deu um olhar como se entendesse os
meus pensamentos e compartilhamos um sorriso.
— Se ela pisar em mim, esmaga. — Sussurrou e ri baixinho, porque a
mulher era do meu tamanho e a Isla batia abaixo do meu queixo.
— Não vou deixar que pise em você.
Fomos levados a nossa mesa e o salão do restaurante estava muito
cheio. Era a primeira semana de funcionamento, muita gente queria conhecer
e reconheci três jornalistas que não gostava muito. Já podia imaginar que
teríamos fotos nas revistas de fofocas, principalmente que a Erica estava
atraindo muita atenção.
— Podemos pedir coisas diferentes e compartilhar? — Isla estava
analisando o cardápio e me olhou com expectativa. Quem conseguia dizer
não a uma pessoa com aquele olhar?
— Só não peça nada ao molho branco, por favor.
— Hum, eu também não gosto muito. — Mordeu o lábio e deliberamos
os nossos pedidos com as nossas cabeças bem próximas.
— Você vai comer massas? Uau. Como consegue? Quer dizer, todo
mundo sabe que trabalhar com Roxanne Miller é comer como um passarinho.
Eu pedi salada mista, você deveria comer o mesmo. — Erica comentou e Isla
voltou a olhar o cardápio, insegura, lembrando da merda da sua chefe, depois
de um dia inteiro desligada do modo assistente.
Minhas mãos fecharam-se em punhos e o Charlie me olhou,
preocupado e ao mesmo tempo irritado com o comentário. Erica ficou
distraída com as unhas, meu primo se inclinou para a Isla, cochichou algo que
a fez rir e relaxar, confirmando o seu pedido junto com o meu.
— Não precisa de vinho para mim, por favor. — Cobriu a sua taça
quando o garçom foi servi-la com o pedido do Charlie. — Obrigada. — E ele
me serviu.
— Traga uma garrafa de suco de uva integral, por gentileza. — Pedi ao
homem e ele saiu com o pedido.
Erica era meio desagradável e esquisita. Charlie deveria estar com ela
pelo sexo, porque ele era o típico homem que ignorava muitas coisas para
transar toda noite e certamente ela deveria estar pressionando-o sobre nunca
sair com seus amigos ou ser apresentada a alguém da sua família. Não era a
primeira vez que ele fazia algo do tipo. A sorte da noite foi que Isla era muito
agradável e sempre contornava os foras involuntários que saíam da minha
boca sempre que a Erica resolvia falar algo absurdo ou grosseiro.
A comida estava deliciosa. Fui criado frequentando os melhores
restaurantes, cultivando um paladar refinado, embora preferisse as comidas
simples do dia a dia, aquele restaurante certamente merecia uma segunda
visita. Isla pediu gnocchi ao pesto com tomates cereja e muito queijo. Pedi
lasanha à bolonhesa com molho de tomate tradicional. Charlie pediu
Tagliatelle ao Molho de Funghi Secchi.
Provamos um pouco da comida do outro, na verdade, Isla pediu para
experimentar o dele e me deu uma garfada também. Ela nitidamente amava
comer e se retinha por conta do trabalho. Esperava que durante a gravidez
conseguisse ceder aos seus desejos.
Isla fotografou todos os pratos, fazendo stories, sem revelar suas
companhias, completamente alheia que fomos fotografados quase que o
tempo inteiro e não demoraria muito para ligarem a nossa aproximação.
Quando a Erica pediu licença para ir ao banheiro, já meio bêbada, olhei
para o Charlie.
— Ela deve ser muito boa de cama, porque é insuportável. — Sorri e bebi um
pouco do meu vinho.
— Ela é legal, às vezes. Só está querendo aparecer para Isla, quando
avisei que você não estava disponível, ficou decepcionada com a sua amiga
que estava louca para te conhecer.
— Não faço em grupo, já te disse isso. — Minha resposta foi um
imenso duplo sentido que fez Isla soltar uma risada e cobrir a boca. Charlie
riu de jogar a cabeça para trás e estava apenas dizendo que detestava esses
encontros que ele me enfiava, porque normalmente as amigas dos seus
encontros eram igualmente chatas e vazias.
Isla não conseguia parar de rir, chegando a ficar vermelha e abanei o
seu rosto, enquanto lágrimas escorriam dos olhos.
— Odeio a minha mente porque imaginei sexo em grupo. — Continuou
rindo. — É o sonho de toda mulher saudável imaginar os dois ao mesmo
tempo.
— Nem fodendo. — Charlie riu.
— Só estou falando a verdade. Sabia que os romances eróticos homo
estão crescendo muito no mercado? Escrevi uma matéria sobre isso.
Erica voltou para mesa nesse momento e ouviu parte.
— Ah, eu li! Espera... Não foi a Roxanne que escreveu?
Isla ficou pálida.
— Sim, claro. Eu trabalho com ela, sou a sua assistente e a ajudo com
os temas, pesquisas e ela gosta de ler seus textos em voz alta, acabo
ajudando... — Sua divagação só denunciou que na verdade, Isla escrevia as
matérias e a Roxanne assinava como dela.
Ficou bem óbvio, embora a tonta da Erica não tenha percebido, falando
que leu um dos livros indicados e gostou. Charlie trocou um olhar comigo,
entendendo a mesma coisa que eu. Roxanne continuava usurpando jovens
mentes talentosas para se manter no cargo, não era a primeira assistente que
fazia isso, uma delas tentou processar ao ser demitida e foi soterrada pelos
advogados da editora.
Isla teria o mesmo destino se não ficasse esperta.
CAPÍTULO 9
Isla.

Acordei com a voz da Samantha alegre por ser feriado, só virei para o
lado ainda ouvindo as notícias do dia e do tempo, mas sem coragem de sair
da cama porque os meus pés ainda doíam da loucura frenética que foi o dia
anterior. Tudo começou a dar errado quando a loja que costumava comprar o
Chai Latte da minha chefe estava sem o produto naquele dia, fui obrigada a
andar milhares de quadras até a próxima, enfrentar uma fila enorme, chegar
na revista para descobrir que a Cait estava doente e não iria trabalhar.
Minha cabeça estava doendo antes da Roxanne pisar na revista. Para
melhorar o meu dia, Roxanne foi premiada pela revista pelo seu artigo sobre
empoderamento feminino que eu escrevi. Cada mísera letra ali era minha. Ela
sequer revisou ou trocou um parágrafo de lugar. Tudo aquilo foi minha ideia,
meu conceito, todo ensaio... Tudo. Ela tinha me enganado e feito que daquela
vez poderia assinar a publicação, o meu nome estava na revisão final da
edição de novembro e quando recebi a revista final, estava com o nome dela.
Liguei para gráfica e informaram que ela enviou um e-mail
solicitando a correção. Ou seja, pediu para tirar o meu nome depois que
enviei a edição autorizada por ela à gráfica. Ela estava sendo premiada. ELA!
E era capaz de muita gente seguir a mesma linha, inclusive os prêmios
nacionais de comunicação.
Roxanne não era feminista, para começo de conversa e muito menos
apoiava a independência da mulher, apesar de trabalhar fora e ter um
excelente salário. Fiquei com raiva e magoada, tanto que quando chegou,
fingi estar em uma ligação com um dos nossos correspondentes franceses só
para não ficar de pé, sorrindo e entregando a bosta do seu chá com um sorriso
que não queria dar.
Para piorar o meu humor, os meus mamilos estavam doloridos.
Durante a indução, senti muito tesão e estava muito agitada, querendo
fazer tudo, inclusive muito sexo. Mas não senti cólicas ou dores nos seios
como o Dr. Phillips disse que sentiria, durante a semana seguinte, os meus
peitos começaram a doer sutilmente e passaram a incomodar muito.
Dependendo do que fazia, sentia uma leve cólica, nada preocupante.
A única coisa boa era que não precisaria ver a Roxanne até a próxima
semana. Seus filhos amavam a tradição de Halloween e todo maldito ano eu
organizava uma enorme festa na sua casa para qual nunca fui convidada,
porque era só para “amigos e vizinhos”. Uma grande mentira porque fazia a
sua lista de convidados e ia um monte de gente. No dia seguinte ela não
costumava trabalhar e me liberava.
Esse ano não iria trabalhar mesmo se não me liberasse. Fazia meses
que a Roxanne não liberava as minhas horas extras, alegando que era mais
fácil lidarmos com banco de horas já que ela nem sempre precisava de mim.
Outra enorme mentira. Em todo caso, estava feliz por estar em casa. Minha
frustração estava ultrapassando o Everest e aproveitar o feriado com os meus
amigos iria aliviar muito o meu estresse.
Enrolei na cama por horas, dormindo e acordando, até que senti fome
e decidi comer o pote de salada que era para o jantar e dormi. Callum me
enviou uma mensagem querendo saber se estava bem. Ele me ligava todos os
dias, enviava mensagens e até que conversamos bastante desde o nosso final
de semana improvisado. Foi bem tranquilo e descobri que o Callum era
controlador, mandão, teimoso e muito observador.
Não deixava passar nada e a sua memória era bem interessante, ainda
assim, tive bons momentos e descansei muito. Na segunda-feira após o meu
repouso, a Roxanne chegou no trabalho me olhando do jeito que me olhava
quando comecei a trabalhar com ela. Como se eu fosse um ratinho de esgoto.
Descobri que estava em alguns sites de fofocas com o Callum. Nos
fotografaram saindo do carro, atravessando a rua de braços dados, no
restaurante conversando, comendo e as fotos eram granuladas, a distância e
algumas eram de dentro do estabelecimento.
Queriam saber se a assistente da Roxanne Miller estava namorando o
CEO da Lowell Holdings. Eles até mencionaram a La La Island. Se a história
que o Callum me contou sobre a Roxanne era verdade, bem, sabia o motivo
que estava me olhando torto.
Não que me importasse.
Separei a minha fantasia da festa mais tarde, fiz as minhas unhas,
sobrancelhas, me depilei sozinha com a cera e era uma experiência nada
agradável puxar os pelos pubianos daquela forma e a minha área recém-
desmatada ficou dolorida. A minha saia de tule amarela era muito
transparente e o body amarelo totalmente cavado, queria ter a certeza de que
não teria pentelhos amigos querendo dizer olá durante a festa.
Não que fosse fazer qualquer coisa, tinha que me abster de relações
sexuais até a confirmação da gestação e até o Dr. Phillips me liberar para o
sexo. Como se fosse transar grávida... A minha vida sexual vai ser
bruscamente reduzida aos meus dedos e ao vibrador por muito tempo. Li uma
matéria que mães e que eram solteiras não transavam.
Deveria ser verdade.
Convidei o Callum e o Charlie para festa de Halloween da Laila e do
Michael, esperava que eles aparecessem, embora não aparentassem ser
homens que vão a festa fantasiados.
Oito da noite cheguei ao pub do Paul com minha fantasia de Abelha
Sexy. Minha saia era amarela com faixas pretas, de tule, bem transparente,
um body cavado amarelo canário, meias amarelas clarinhas e botas brancas
plataformas estilo das Spice Girl que eu amava. A minha maquiagem
consistia em um delineado de gatinho duplo bem caprichado com preto e azul
e os lábios com batom vermelho matte. A pele estava quase como uma
boneca de porcelana com um fino contorno no nariz e bochechas.
O lugar já estava lotado, muito bem decorado e aquele ano a Laila
havia caprichado na decoração bem assustadora. Fiz todas as imagens,
comprei os tecidos, as teias falsas e as aranhas, só não apareci para arrumar
como todo ano, porque estava cansada e não podia fazer esforço enquanto
não tivesse a confirmação. Muito menos depois, gravidez não era uma
doença, mas exigia certos cuidados.
— Você chegou! — Laila apareceu correndo e me abraçou apertado.
— Colocar essa bunda para jogo é maldade com os reles mortais!
Ela estava usando uma fantasia de tenista com manchas de sangue e
me perguntei qual era a conexão. Michael estava de policial e eu tinha certeza
de que metade das mulheres ali queriam ser revistadas por ele.
— É o único dia que me permito exibir! — Brinquei dando uma
voltinha.
Meu body era cavado nas laterais, a minha única vantagem de ter
peitos pequenos era poder usar algo daquele tipo. Laila queria me dar bebidas
e precisei disfarçar, fingindo dar goles e quando ela se distraía, entornava na
planta perto de nós. Não parava de chegar pessoas, nos cumprimentando, fiz
várias fotos, postei no stories e dancei um pouco com Benji, o vampiro com
purpurina.
Senti a presença do Callum antes mesmo de vê-lo. Foi algo intenso.
Um arrepio que liberou uma onda de batidas cheias de adrenalinas no meu
coração. Estava com um copo de bebida na mão e o seu olhar foi feroz. Antes
que pudesse dizer ou sinalizar, um homem começou a se esfregar em mim,
dançando e o olhei perdida, aí ele soltou “posso provar seu mel?”. Ah, não,
idiota.
Callum atravessou a multidão, entrou na pista de dança e literalmente
entrou no espaço entre o homem idiota e eu, me pegando pela cintura e me
colocando sentada no balcão atrás de nós. Benji estava chocado, Laila não
conseguia fechar a boca e o Michael sorria, bebendo o seu uísque com coca.
— Hey, idiota! Estava dançando com ela! — O homem claramente
estava bêbado.
— Ela não está disponível. — Callum falou por cima do ombro. —
Sai, agora. — Virou-se novamente na minha direção. — É melhor que isso
não seja alcoólico.
— A planta está bebendo por mim. Quer? — Ofereci e ele bebeu
devagar, me encarando. Parecia diferente, seu olhar estava mais frio e havia
olheiras em seu rosto. Senti algo no meu coração que ele não estava bem e
quis dar-lhe conforto. — Estou feliz que veio. — Ergui a minha mão devagar
e toquei a sua barba, em seguida, acariciei o seu rosto.
— Charlie me obrigou. — Senti uma decepção por não ter vindo por
minha causa. — E uma certa abelhinha espevitada postando fotos bonitas no
Instagram me fez sair de casa imediatamente. — Sorri marota, orgulhosa que
a minha fantasia o provocou bastante. — Você está linda.
O Callum do final de semana foi gentil, calmo, muito doce e o Callum
de hoje estava mais agressivo, direto ao ponto, suas mãos estavam muito
perto das minhas coxas e em pé entre minhas pernas.
— O que você tem? — Busquei olhar em seus olhos.
— Nada. — Sorriu e foi um sorriso perigoso. — Doces ou
travessuras, Isla?
— Travessuras... E depois doce.
— Vem dançar comigo. — Agarrou a minha cintura.
Ele me pegou bruscamente e me levou para pista de dança em seu
colo, me colocou de pé com cuidado, cercando de modo que pudéssemos
dançar juntos e ninguém esbarrar em mim. Charlie se aproximou com uma
bebida nas mãos, me deu um abraço e cumprimentou os meus amigos. Mais
de uma vez peguei o olhar preocupado do Charlie para o seu primo, que
ignorava, conversando com o Benji e o Michael.
Callum não estava bebendo nada além de água. Será que ele usava
drogas? Senti um frio na boca do estômago, disfarcei, sinalizei para o Charlie
me seguir e avisei que ia ao banheiro. Dois minutos depois, Charlie parou ao
meu lado.
— O que está acontecendo com ele? — Fui direto ao ponto.
Charlie ficou quieto, cruzei os braços e ele suspirou.
— Callum sofre de insônia crônica e ele não dorme desde que você
foi embora. Na verdade, acho que não dormiu de sábado para domingo
também, deve ter cochilado. O remédio o deixa muito nocauteado e nauseado
no dia seguinte, então ele evita tomar, mas esses dias foram puxados... —
Charlie encostou-se na parede. — Ele é contra o uso de medicações e nunca
excede na bebida, tem uma história por trás disso que não é o meu direito
contar, mas só para você entender porque está desse jeito.
— O que posso fazer para ajudar?
— Fazer ele dormir. — Foi enfático.
— Tudo bem. Eu vou. — Concordei, entrei no banheiro rapidamente
e ao sair, atravessei a pista de dança com dificuldade, chegou um ponto que a
parede de pessoas não me deixava passar e foi preciso pular para que meus
amigos me vissem. Callum abriu passagem, empurrando um garoto com o
seu braço e aproveitei o seu contato e o abracei.
Sem demonstrar surpresa com o meu contato, me manteve em seus
braços e até nos balançamos de um lado ao outro, sorri e ganhei um
sorrisinho ousado de volta. Plantei um beijo no seu queixo, ficando na ponta
dos pés e puxei o seu cabelo, cochichando que estava cansada e queria ir
embora.
Devido a nossa aproximação, ninguém achou estranhou a nossa
decisão de ir embora. Laila me deu um sorriso e disse que me ligaria no dia
seguinte, porque precisávamos conversar. Benji fez um monte de insinuações
sexuais que me fizeram rir e o Charlie me deu um olhar de conhecimento.
Segurei a mão do Callum até o seu carro, pulando no lugar porque o meu
casaco não era o suficiente.
— Me leva para a sua casa. — Pedi e o Callum só me olhou, com
uma mão no volante, outra na marcha, me deu um sorriso e pisou fundo, mas
sem ultrapassar a velocidade permitida. Ele não andou tão rápido da última
vez. Chegamos ao seu prédio, ele estacionou na mesma vaga que a última vez
e ficou com a mão brevemente na base das minhas costas até o elevador.
Encontramos com dois homens fantasiados e trocamos amenidades.
Callum me manteve por perto, como uma barreira entre os homens e eu. Ele
não foi nada simpático.
Entramos no seu apartamento, tirei o meu casaco, as botas e a saia.
Callum ficou parado, me olhando, sem saber o que estava fazendo. Abriu e
fechou as mãos, como se quisesse me tocar. Segurei a sua mão e o puxei
escada acima, ciente que o seu olhar intenso estava todo na minha bunda e
entramos no seu quarto.
— Tira sua calça, você precisa ficar confortável. — Apontei para a
sua calça.
Sem pestanejar, tirou o sapato, as meias e a calça, mas também tirou a
camisa. Eu estava só de body e meias, me deitei na sua cama e o puxei para
cima de mim. Callum simplesmente sabia que não era sobre sexo - até porque
não podíamos -, não era esse movimento, apesar das poucas roupas e deitou a
cabeça bem em cima da minha barriga. Fiquei em silêncio, só acariciando os
seus cabelos e então, lembrei de uma antiga canção de ninar que a minha avó
cantava.
Cantarolei baixinho, senti-o tensionar, seus músculos ficaram rijos e
aos pouquinhos, com o meu afago e a canção foi relaxando ao ponto que
ficou incrivelmente pesado, roncando bem suave. Ele dormiu. Velei o seu
sono por horas, preocupada em dormir e ele se levantar, mas chegou um
ponto que não consegui mais segurar e apaguei.
Acordei meio assustada por não o sentir mais em cima de mim e virei
na cama bruscamente, dando de cara com a expressão divertida e sonolenta.
Com telefone na mão, me deu um bom dia baixinho, grunhi qualquer coisa
parecida, fechando os olhos por mais um momento para cochilar. Callum me
puxou para encostar a cabeça no seu peito, pensando que eu estava dormindo,
sussurrou um obrigado.
Mais tarde ele me acordou com um beijo longo e suave na bochecha e
outro no pescoço. Com nossos narizes se tocando, sorri e beijei o cantinho
dos seus lábios.
— Eu vou lá embaixo buscar minha saia e usar o banheiro. —
Levantei-me da cama.
— Desce a escada devagar com essas meias. — Falou da cama,
sonolento.
— Sim, papai. — Olhei-o por cima dos ombros e saí do quarto.
Encontrei a minha saia e as botas no canto, no mesmo lugar que
deixei ontem, resolvi que ela era tão transparente que não precisava colocar.
Ele já estava de olho na minha bunda mesmo. Usei o banheiro e liguei a
imensa televisão do Callum, colocando no canal de músicas e estava
passando uma seleção de clipes retrô. Começou a tocar Baby One More Time,
agarrei o controle e comecei a cantar junto, fazendo a coreografia que já sabia
de cabeça.
Estava tranquilamente dançando, cantando “oh baby, oh baby” e
fazendo uma voltinha quando dei de cara com um casal parado no limiar da
sala, me olhando com um misto de surpresa e diversão. Soltei um grito agudo
de tremer as paredes que o senhor chegou a cobrir os ouvidos. A mulher se
assustou com o meu gritinho.
Puxei a colcha do sofá, me cobrindo e morrendo de vergonha. Uma
coisa era estar em uma festa com o meu body indecente na escuridão, outra
era em plena luz do dia e dançando Britney, sabe se lá o estado da minha
maquiagem e cabelo. Fui ao banheiro e não reparei.
Por causa do meu grito, o Callum desceu a escada só de cueca como
um troglodita. Ele estava pronto para derrubar a ameaça e achei muito
engraçado. Teria rido se não estivesse tão mortificada.
— Puta que pariu, que susto. — Colocou a mão no coração,
significando que conhecia aquelas pessoas.
— Eu que tomei um susto.
A mulher se adiantou.
— Entramos sem fazer alarde, achamos que estava na sala até
ouvirmos a música. Sinto muito pela nossa indelicadeza, querido. —
Explicou indo até o Callum só de cueca. Nossas aparências diziam muito
sobre o que poderiam pensar que aconteceu. — Eu sou Gwen Lowell, tia do
Callum. — Ai que maravilha, era a tia dele. — Esse é o meu marido, Robert
Lowell. — Pior ainda, estava de maiô enfiado na bunda na frente do tio dele!
Ah que merda.
— Tio e Tia... Essa é a Isla Edwards. — Callum me apresentou e me
segurou em seus braços, enrolada em uma colcha toda amarrotada. — Minha
namorada.
A expressão deles era de puro choque.
— Oh, uau. Quer dizer, oi. Prazer. — Gwen estava confusa e
gaguejando. Eu a conhecia de algum lugar, mas não fazia ideia de onde.
— Oi, prazer. Ah desculpa pelo grito, não sabia que iam chegar e
desci assim... Nós fomos a uma festa ontem e...
— Foi errado da nossa parte, estamos tão acostumados ao Callum
sozinho que não imaginamos. — Robert falou pela primeira vez. —
Estávamos ligando e ele não atendia. Charlie comentou que poderia estar
ocupado e não acreditamos, achei que estivesse enrolando para ficarmos
longe. Além do mais, Ivan ligou, há um problema no aquecedor do Haras.
Callum só suspirou.
— E por que o Ivan não resolveu?
— Pensamos que quisesse ir ver os cavalos pessoalmente, você é
sempre cuidadoso com eles.
— Quer ir até Lowell comigo? — Callum me deu um olhar cheio de
expectativa.
— Preciso ir em casa.
Callum disse aos tios que iria encontrá-los na cidade e os dois foram
embora, combinando de chamar o Charlie para almoçarmos todos juntos.
Callum me emprestou uma calça de pijama e me levou até o meu
apartamento. Foi a primeira vez dele no meu pequeno espaço, ficou em
silêncio, olhando e depois começou a mexer em tudo. Enquanto me
arrumava, usando o meu banheiro como privacidade, ele estava pelo meu
lugar cutucando cada pedacinho.
— Sua casa é você. Colorida.
— Vou ficar com o elogio. — Rodopiei com meu macacão preto, com
uma blusinha de mangas por baixo, botas porque estava frio e era um haras,
então, peguei o meu trench coat azul escuro.
— Luvas e gorro. Lowell é muito mais frio que Boston. —
Aconselhou enfiando as mãos nos bolsos do seu casaco. Sua expressão estava
muito melhor, seu olhar mais leve e havia uma sugestão de sorriso nos seus
lábios. — Não quero você subindo e descendo a escada do estábulo, está
bem?
— Sim, senhor.
— Tenho vontade de dar um tapa na sua bunda cada vez que me
chama de senhor. — Inclinou a cabeça para o lado e ri.
— Tudo bem, senhor.
— Isla... Passa na frente. — Apontou para a porta. Fingi tédio, revirei
os olhos, peguei a minha bolsa e fui andando toda dona de mim mesma,
rebolando e ao passar por ele, Callum deu um senhor tapa na minha nádega
direita. Foi um tapa de mão cheia, agarrando e não doeu, foi surpreendente,
me fazendo gritar e rir. Abraçando-me por trás, seu peito tremia com a risada
e me cutucou nas costelas enquanto saímos do meu apartamento. — Vamos
embora, pestinha.
Imaginei esse homem estapeando minha bunda na hora H. Olhei-o no
elevador e o Callum soube o que estava pensando, fiquei vermelha e encarei
a parede de metal. Abaixando na minha altura, falou bem baixinho no meu
ouvido.
— Mente suja.
— Se você pensou o mesmo, não sou a única. — Dei de ombros.
— Dormimos de conchinha, Isla. Olhar para sua bunda com aquele
body safadinho foi algo que fiz a noite inteira. — Foi a vez dele de dar de
ombros.
Andei atrás dele até o carro com a mente fervilhando, sem uma
resposta à altura e felizmente o meu telefone tocou. Era Laila e ela queria
passar o dia comigo, Callum arqueou a sobrancelha esperando a minha
resposta, provavelmente ouviu minha amiga falar por estarmos no carro
fechado. Respondi que estava ocupada, que podíamos nos falar à noite,
combinar algo para o final de semana.
Laila estava morrendo de curiosidade, me enviou milhares de
mensagens que eu não respondi e me acomodei melhor no banco. Ele dirigiu
muito bem, seu carro era silencioso, potente e não demoramos uma hora para
passarmos pela placa de Bem-vindo a Lowell. Era um pequeno e pitoresco
lugar, a neblina cobria as ruas de prédios de tijolos vermelhos, largas
avenidas e o Callum seguiu por algumas ruas até pegar a estrada que ia para
área rural.
Vinte minutos mais tarde paramos em frente aos portões de ferro da
imensa propriedade da sua família. Os portões foram abertos e ele seguiu
uma estrada de pedras até um estacionamento. A casa ainda não era visível
daquele ponto, coloquei o meu casaco, as luvas e ele ajeitou o gorro na minha
cabeça.
— Puta que pariu, que frio. — Gemi assim que abri a porta do carro.
— Eu te avisei. — Sorriu e dei a volta dando pulinhos. Callum
esfregou os meus braços antes de me conduzir por um caminho de pedras
entre a grama molhada com a neblina. De longe vi os seus tios e o seu primo,
conversando dentro de uma casinha de tijolos vermelhos com grandes janelas
de vidro.
— Oi, tampinha. — Charlie sorriu. — Soube que conheceu os meus
pais. Pena que perdi o showzinho. — Callum e o Charlie riram do meu rubor.
Seria um longo dia evitando olhar os tios nos olhos.
— Deixe-a em paz. — Callum me abraçou.
— Oh baby, baby. — Charlie cantou e a sua mãe bateu nele, rindo.
CAPÍTULO 10
Callum.

Isla era tão pequena que o cavalo a cobria totalmente. Ela estava parada
em frente a um puro sangue que parecia ter gostado dela, logo que passou na
frente da sua baia, andando ao meu lado, ele enfiou a cabeça do lado de fora e
a cutucou com o focinho. Desde então, a Isla estava conversando com ele,
acariciando a sua cabeça e dando os petiscos que o treinador entregou a ela.
Olhando-a tão bonita e distraída, me senti feliz que estava comigo.
Perdi a minha cabeça na noite anterior.
Estava sem dormir desde o sábado e não queria ir à festa, não por ela ou
por seus amigos, sim porque minha cabeça doía e me sentia perdendo o
controle a cada maldito segundo. Tive um embate agressivo com o Charlie,
porque ele ficava me pressionando, falando sem parar, me cobrando tomar a
medicação, com medo que tivesse outra crise de pânico como presenciou da
última vez e tive que ser internado. Entendia o lado dele, de verdade, mas ele
deveria entender que me encher não era um bom caminho.
Charlie não se importava com as nossas brigas. Éramos como irmãos,
de coração e alma, ele era o meu melhor amigo e a pessoa que mais confiava
no mundo. Sempre esteve comigo. Dormiu no hospital todas as noites que
estive internado por causa do câncer, segurou a minha cabeça nos enjoos da
quimioterapia, sentava-se por horas do meu lado durante a medicação e
comprava picolés para ajudar no enjoo.
Mesmo assim, não significava que quando estava no auge da insônia,
queria ouvi-lo. Ficava com os nervos à flor da pele, me sentindo fora do
padrão e ao olhar os stories da Isla perdi totalmente o meu foco. Ela estava
muito gostosa com um maiô amarelo, todo cavado, nas laterais dava para ver
o formato pequeno e redondinhos dos seus seios, era bem cavado na frente e
provocante atrás. Sua bunda era simplesmente linda, durinha e as coxas
torneadas ficaram elegantes nos saltos brancos.
A porra da abelha mais sexy que já vi e ela poderia estar carregando
meu bebê.
Foda-se se ia deixá-la sozinha.
Troquei de roupa e o meu primo me seguiu, apenas no caso que
chegasse lá brigando com ela. Isla estava com um copo de bebida e por dois
segundos considerei falar merda, até que veio o pensamento que ela jamais
beberia ciente que estava no processo de fecundação do nosso embrião.
Peguei-a no colo, marcando o meu território e a minha boca formigou
morrendo de vontade de beijá-la.
Não podia beijá-la do jeito que estava me sentindo. Não era certo.
Ela me surpreendeu, me seduzindo com a sua conversinha que queria ir
para minha casa. Sabia que não podíamos transar, mas podíamos fazer
qualquer coisa divertida, até que ela me deu um olhar como se soubesse o que
estava sentindo. O seu olhar me dizia que ficaria tudo bem. Tirou a sua saia e
me levou para o quarto. Fiquei de cueca e me deitei em cima dela, arrepiado
com seu carinho e com as suas pernas me prendendo no lugar.
E aí ela cantou. Isla cantou a música que minha mãe me ninava. Fazia
mais de vinte anos que não ouvia aquela música e foi como mergulhar em
uma piscina de paz.
Ficou tudo bem.
Dormi do momento que começou a cantar até o dia amanhecer. Isso
não acontecia há tanto tempo que não sabia calcular. Foi uma das melhores
noites da minha vida.
— Ela é muito bonita. Você realmente foi atrás dela naquele dia do
restaurante ou já estava acontecendo? — Tia Gwen parou do meu lado e
observei a Isla correr de uma folha molhada que Charlie ameaçou jogar nela.
Se ela caísse, irei matá-lo.
— Talvez.
— Vai ser evasivo comigo?
— Talvez. — Sorri e ganhei um tapa no braço. — Seja gentil com ela.
Não é um pedido simples, é sério.
Tia Gwen era terrível com a Patrícia, as duas chegaram a um
entendimento e uma boa convivência, talvez pelas crianças que os meus tios
eram apaixonados e amavam ser chamados de vovó e vovô. Sabia que o Cage
frequentava a casa dos meus tios, nós nos encontramos em quase toda festa,
embora fingisse que eles não existissem e em muitas delas fui
propositalmente desagradável, só para estragar o clima.
Para falar a verdade, já fazia um tempo que não sentia vontade de
antagonizar a existência deles. Simplesmente não me incomodavam mais.
— Quero conhecê-la, apenas isso. — Tia Gwen insistiu.
— Com o tempo você vai conhecer bem.
Deixei a minha tia de lado e fui até o Ivan verificar os aquecedores.
Manter dez puros-sangues no clima frio e úmido do Lowell era uma invenção
e tanto, porém, nas estações mais secas e quentes eles adoravam correr pelos
hectares da propriedade. Cavalos não sentiam tanto frio quanto os humanos
ou outros animais, eram mais resistentes, seus pelos engrossam e gostavam
de dormir juntos. Meu estábulo possuía um sistema de aquecimento que
deixava o clima perfeito.
Montei no meu primeiro cavalo ainda bem pequeno, foi o meu tio
Robert que me ensinou e nós compartilhamos a paixão. Irei ensinar o bebê a
cavalgar, ele terá o seu potrinho para crescerem juntos.
Meu cavalo era um macho alfa que ficava mais afastados dos outros
por ser agressivo e só respondia aos meus comandos ou do treinador. Ele
cresceu comigo, sofreu um trauma, por isso era tão arisco. Ganhei na
adolescência e sempre que olhava em seus olhos, via um pouco de mim.
Meus tios queriam almoçar depois que resolvi o problema do
aquecedor e autorizei a compra de duas máquinas novas. Insistiram tanto, que
se negasse seria uma grosseria da minha parte, detestava quando me sentia
encurralado. Queriam conhecer a Isla e só por causa disso que aceitei.
Seguimos para a cidade vizinha para um restaurante no qual a especialidade
era frutos do mar.
— Como terminou a festa para você, Charlie? — Isla perguntou logo
que nos acomodamos.
— Aquela sua amiga passou mal e ajudei o noivo dela, levei os dois
em casa e depois fui embora. E vocês? Tiveram uma festinha particular? —
Balançou as sobrancelhas.
— Que nada, seu bobo. Nós dormimos a noite inteira. — Ela retrucou
olhando para o cardápio e peguei a dica no ar. Ou ela quis mandar uma
mensagem ao Charlie ou quis dizer aos meus tios que nós não fizemos nada.
Isla dizia muito nas suas entrelinhas, bastava prestar atenção que era
inteiramente capaz de revelar os seus sentimentos em poucas frases.
Foi assim que seu desejo de ser mãe ressaltou durante as suas
respostas no formulário. Ela tentou passar a imagem que era madura sobre o
assunto, que entendia bem os conceitos da maternidade, mas escorregou
bastante no carinho com que falou sobre ser mãe, na devoção e na entrega.
Deduzia que a sua mãe não foi muito presente. Isla parecia ser tão carente
afetivamente quanto eu.
— Vamos pedir diferente para compartilhar? — Me perguntou com
seu olhar esperançoso. O conceito de compartilhar qualquer coisa sempre me
assustou. E agora, me via olhando as opções no cardápio que pudessem
agradar a nós dois.
— Eu quero qualquer prato com camarão. — Ela se inclinou.
— Você pede o salmão que eu peço essa salada com camarões, o que
acha?
— Parece muito boa. — Mordeu o lábio.
Ignorei o olhar avaliador da minha tia, fazendo nossos pedidos e o
almoço foi basicamente uma entrevista da Tia Gwen para a Isla e uma disputa
do meu tio comigo e o meu primo sobre quem sabia mais dados dos super
bowl’s dos últimos anos. Meu tio era um grande apostador de esporte, algo
que minha tia odiava e achava muito engraçado essa briga. Não era como se
ele fosse um viciado ou algo assim, apenas alguém que gostava muito.
Após o almoço, experimentei a sensação de voltar para casa com
alguém. Patrícia e eu raramente andávamos juntos. O motorista a levava onde
eu estava e levava de volta para casa. Era muito raro estarmos no carro após
um almoço de família em plena sexta-feira pós-feriado.
Ao entrarmos na minha casa, Isla tirou suas botas e foi para sala de
televisão, ligando e se jogou no sofá pelo encosto, ficando com as pernas para
o alto e escorregou, caindo deitada. Ela fez um sofá de trinta mil dólares de
escorregador.
Rindo, tirei os meus sapatos, meu casaco, fui até o quarto de hóspedes
puxando o edredom, desci a escada e joguei em cima dela. Parei ao seu lado e
simplesmente tirei a calça. Não ia me fazer de rogado depois de acordar com
a bunda dela roçando no meu pau duro. Sorte que ela não se deu conta da
minha ereção e me afastei antes.
— Só para ficar confortável. — Expliquei e ela riu.
— Tenho direitos iguais? — Fez um pequeno beicinho.
— Sempre. Só não sei se vou me comportar. — Sorri de lado.
— Não tem muito que fazer, papai. Seu bebê está se acomodando no
meu útero e o Dr. Phillips disse para não bagunçar a casinha dele. Já pensou?
Ele está conhecendo a casa nova e vem um terremoto?
— Conhecendo a casa nova e um terremoto? Sua mente é muito fértil.
— Soltei uma risada. Ela era terrível.
Isla tirou o macacão que usava, ficando com uma calcinha que parecia
um shortinho e uma blusa de mangas. Deitei-me atrás dela, junto ao encosto,
mudando de forma que ficasse como um travesseiro, nos cobrindo e tomei o
controle porque não ia assistir nada sobre a garota do blog. Como não era um
filme do seu interesse, depois de postar mais fotos de ontem à noite e falar
sobre o seu almoço, dormiu.
Ela acordou duas horas mais tarde gemendo de dor, falando que os
seus peitos estavam doendo e por mais que o Dr. Phillips tivesse nos alertado
sobre os sintomas dos hormônios, acreditava ser os primeiros sinais do bebê.
Mas só em dez dias poderíamos fazer o teste para confirmação. Tirou o sutiã
e perguntei o que poderia fazer para aliviar.
— É só uma aflição, vai passar. — Choramingou.
— Não vai ficar melhor com um beijinho?
— Você não vai beijar meus peitos sem antes ter beijado a minha boca.
— Reclamou parecendo ultrajada.
— Se beijar sua boca vou poder beijar seus peitos? — A esperança era
evidente na minha voz.
— Vai me beijar só para beijar meus peitos? — Rebateu.
— Na verdade, eu não deveria te beijar, isso só poderia complicar nossa
situação e causar algum problema, mas eu quero. E como sempre... Faço o
que quero. Não é só sobre seus peitos, Isla. É sobre você inteira. — Beijei a
sua bochecha, dei uma mordidinha no lóbulo da sua orelha e ela suspirou,
aconchegando-se em mim e segurou o meu rosto, plantando um beijo suave
nos meus lábios antes de entreabrir os seus e me deixar beijá-la de verdade.
A boca da Isla era a primeira maravilha do mundo. Seu beijo era doce,
intenso, apaixonado e foi como o meu primeiro beijo, porque foi diferente.
Especial. Beijei muitas mulheres ao longo da minha vida.
Não paramos de nos beijar por horas, até que os meus lábios estavam
doloridos e Isla toda vermelha, suspirando e com o olhar brilhando. Mordeu a
pontinha da boca, puxando o tecido da sua camisetinha para baixo, revelando
o seu mamilo durinho. Era pequeno, como um botão de rosa. Seus seios bem
redondinhos, cabiam na minha mão e melhor ainda, na minha boca.
Beijei o seu pescoço, lambendo a sua pele, soltou um gemidinho baixo
e quando lambi o seu mamilo, seu gemido foi ainda mais gostoso, uma
mistura de prazer e alívio. E porra... Ela era tão gostosa. Saboreei os seus
seios devagar, para não a machucar e só parei quando apertou meu braço,
com sua excitação crescendo ao ponto que sentiu cólica. Freamos a nossa
pegação, ela se deitou de lado e puxei sua perna, erguendo sua coxa na minha
para que sentisse meu pau bem duro.
Muito duro.
— Sentindo o que faz comigo?
— Ah... Sim. — Suspirou e se esfregou em mim.
— Não sei se é sorte ou azar esse jejum. — Porque certamente a
comeria bem ali e foda-se as consequências.
— É para um bem maior.
— Um muito maior. — Beijei a sua boca mais uma vez.
Mal via a hora de receber o resultado. Isla queria fazer o de sangue
direto, para ter uma confirmação exata e não somente um de urina.
À noite, levei-a para casa porque sua amiga queria sair para jantar. Ao
retornar para a minha, fiquei na escuridão, trabalhando freneticamente no
computador, respondendo todos os e-mails pendentes e organizando as
pastas, as ordens dos processos e quando não havia absolutamente mais nada
que dependesse de mim para fazer, ainda era meia noite, estava sem sono,
malhei por duas horas, deitei na cama olhando para o teto, me masturbei e
nada da porra do sono aparecer.
Meus olhos começaram a arder, minha cabeça doía e meu corpo
implorava por descanso como a noite passada.
Desisti de lutar contra o sono, me vesti e saí de casa. Me vi parado em
frente ao prédio da Isla, estacionei o carro e o porteiro me deixou passar
apenas porque me viu ali mais cedo. Fiquei muito incomodado com a
segurança falha, subi até o seu andar, liguei para o seu telefone enquanto
tocava a campainha.
— Callum? O que foi? — Abriu a porta usando uma camisetinha e uma
calcinha. — Aconteceu alguma coisa?
— Posso dormir com você?
Isla estava sonolenta, abriu um sorriso lindo e me abraçou.
— Vamos para cama. — Fechei a porta atrás de mim, ela trancou e
me puxou para sua cama. Tirei a minha roupa, deitei-me ao seu lado e
fazendo um cafuné, apenas cantarolou a letra da música de ninar sem abrir a
boca, só produzindo o som com a garganta. Fui relaxando gradativamente, o
sono me dominando e beijei cada pedacinho de pele que encontrei, ela virou
o rosto na minha direção e beijou a minha boca, voltando a cantar e eu dormi.
Mais uma vez acordei com a bunda dela encostada em mim,
pressionei gradativamente, ela acordou e sorriu, segurando minha mão e
beijou a minha palma. Sua cama era pequena, muito pequena para alguém do
meu tamanho, mas estava bom ali. Muito gostoso. Ficamos horas na cama,
conversando, aos beijos e quando ela se levantou para ir ao banheiro, me
estiquei e abri a sua geladeira.
Isla não tinha nada além de água, cenoura, nabos e um saco de
brócolis congelados.
— O que você comeria no café da manhã? — Apoiei a minha mão na
porta da geladeira aberta e apontei para dentro. — Nada, pelo visto.
Isla não me respondeu, desviando o olhar e respondeu que sairia para
comer ou pediria algum delivery.
— Ou comeria uma cenoura, como se essa merda fosse o suficiente.
— Fechei a geladeira e suspirei, irritado.
— Ei, olha como fala. — Isla colocou as mãos na cintura, me olhando
bem brava.
— Será que você não percebe que isso não é saudável?
— Não posso vestir mais de 38 no trabalho e manter esse corpo não é
fácil. — Apontou para si mesma e sorri.
— Nos próximos meses você vai vestir muito mais de 38.
Isla sorriu brevemente e logo ficou séria.
— Vou lidar com uma coisa de cada vez. Não costumo fazer compras,
peço comida sempre, porque não gosto muito de cozinhar aqui. Fica
cheirando na cama...
— Não quero que faça dieta maluca durante a gravidez e muito menos
depois. Manda aquela maluca da Roxanne enfiar uma cenoura no...
— Callum... — Isla foi severa. Andei até ela, parando na sua frente e
me sentei na cama. Isla ficou em pé entre as minhas pernas.
— É regra da empresa ou só uma regra implícita?
— Uma regra implícita, ninguém pode colocar no código de ética da
empresa o peso que um funcionário tem que ter. — Revirou os olhos e a olhei
severamente.
— Isso é ridículo.
— Você contrata mulheres gordas?
— Contrato mulheres pelas suas competências e profissionalismo. A
aparência das minhas funcionárias não me interessa, tanto que nunca pedi
currículo com foto.
— A maioria das empresas se importam e minha chefe acredita que
um corpo perfeito adequa melhor as roupas. Meu número natural é 42 no
quadril e bumbum.
— A sua bunda deve ficar incrível. Mal vejo a hora. — Sorri e agarrei
sua bunda, fazendo-a rir e bater no meu ombro.
— Idiota.
— É sério, Isla. Isso não é saudável.
— Eu sou só uma assistente, Callum. Não faço as regras... A Roxanne
é exigente com beleza e corpo, ela me contratou porque sou bonita, exigiu
que emagrecesse, não porque sou boa.
— E ainda assim escreve as matérias para ela?
— É o meu trabalho. — Por que ela não enxergava?
— É plágio.
— A gente vai brigar por causa da Roxanne? Vamos sair para comer e
depois eu juro que deixo chupar meus peitos. — Sorriu travessa, respirei
fundo e abracei seu corpinho perfeito. Agarrei a sua bunda mais uma vez,
murmurando “por favor engorde”, ela me bateu de novo e foi se vestir.
— Me promete uma coisa? — Isla vestiu uma calça e me olhou. —
Abre o olho com a Roxanne. Ela sabe como bater e acariciar. Não quero que
se machuque.
Isla me olhou de um jeito que eu soube que já estava acontecendo
algo e ela não queria me falar. Seja o que fosse, iria descobrir. Me deu um
aceno, prometendo e foi pentear os cabelos.
CAPÍTULO 11
Isla.
Enfrentar a segunda-feira depois de um final de semana incrível com o
Callum foi difícil. Roxanne estava com o chicote nas mãos e pediu que
escrevesse a coluna da semana três vezes. Já não sabia mais de onde tirar
palavras para não parecer que não foi ela quem escreveu o texto. Na hora do
almoço, a minha cabeça doía assim como os meus pés por usar uma bota
nova que estava apertando os meus dedinhos.
Para melhorar a minha dor de cabeça, ao sair da revista às dez horas da
noite, Tray estava ali a pedido do Callum para me levar para casa. Estava
tarde e quando me ligou para saber como estava por não ter notícias minhas
durante o dia, ficou irritado que ainda estava fazendo o que era trabalho da
minha chefe.
Não era só o motorista do Callum que me aguardava. Hank segurava
um enorme buquê de flores mistas, com cara de cachorro que caiu da
mudança e aos seus pés uma cesta de chocolate. Sem paciência, passei direto
por ele, sendo mais rápido que minhas pernas curtas, caiu de joelhos na
minha frente fazendo uma cena lamentável na frente do meu trabalho.
Cait estava ao meu lado, tão sem graça quanto eu, me segurando pelo
braço, talvez preocupada que fosse avançar nele.
— Por favor, Island. Precisamos conversar. — Hank tentou me agarrar
e dei um passo atrás. — Me perdoa, Isla. Tudo que fiz foi por nós. Você me
bloqueou e não atende as minhas ligações, não responde os meus e-mails e as
mensagens. Estou desesperado... Amor, você não pode ignorar tantos anos
juntos. Estou muito arrependido, sei que errei...
Não via nenhuma das ligações ou mensagens do Hank há semanas,
bloqueei em tudo e nada aparecia para mim. Ele estava falado com as
paredes. Avisei na portaria do meu prédio que a entrada dele deveria ser
barrada.
Frustrada de um dia ruim, não queria lidar com ele.
— Se arrependeu porque foi pego, Hank. Aconteceu mais de uma vez e
não quero mais essa cena aqui no meu trabalho ou em qualquer lugar, por
favor, me deixa em paz. Estou cansada e quero ir embora. — Me afastei e o
Tray abriu a porta.
A expressão do Hank transformou-se de forma preocupante. Ele ficou
furioso quando reparou no Tray e no carro. Se ele estava acompanhando as
manchetes de fofoca, sabia sobre o Callum.
— Então agora é com o homem rico que você está fodendo?
— Isso não é da sua conta, apareça aqui novamente e chamarei a
polícia.
Cait entrou no carro primeiro e eu em seguida. Cansada, só encostei
minha cabeça no vidro, fechei os olhos e o Tray fez a enorme gentileza de
deixar a Cait na porta do prédio dela. Minha amiga se despediu preocupada
comigo, com a dor de cabeça que sentia e pediu que avisasse quando
chegasse em casa. O restante do trajeto foi silencioso, quase me fez dormir e
agradeci imensamente ao Tray, enviando uma mensagem de gratidão ao
Callum também.
Entrei no meu apartamento, tranquei a porta, tomei banho e me joguei
na cama de calcinha, sem nada na parte de cima. Agarrei um travesseiro e
fechei os olhos, apagando sem esforço. Meu sono foi agitado, era como se
estivesse correndo, melhor dizendo, fugindo. Ouvia os passos firmes atrás de
mim em uma escuridão com uma fumaça densa, era difícil de respirar, muito
frio e minhas pernas estavam molhadas com muito sangue.
Acordei assustada, soltando um grito com um barulho forte e sonolenta,
com o coração a mil, ouvi uma batida firme na porta. Meu telefone vibrava
com a foto do Callum na tela. Noventa e oito ligações perdidas. Uma
mensagem dizia que era ele que estava na porta, me levantei, cobri os meus
seios com o braço e fui até a porta.
Callum estava de calça de moletom e casaco, entrou e me abraçou. Não
sabia se foi o sonho ruim ou o susto que me fez chorar e o agarrei bem
apertado.
— O que houve? — Sua voz era baixa e muito preocupada.
— Desculpa. Tive um pesadelo.
— Está tudo bem, pode chorar. Sei como pesadelos são ruins. — Me
deu um beijo na testa. — Vamos para cama, bebê. — Ainda sonolenta, aceitei
o seu afago. Ele me fez deitar em cima dele, me ninando como um bebezinho
e voltei a dormir.
Fui acordada pelo meu estômago faminto que identificou o cheiro de
algo bom. Abri os olhos e o vi no balcão, abrindo embalagens e me sentei,
prendendo o meu cabelo. Meus peitos estavam doendo tanto que pareciam
formigar. Não ia colocar um sutiã nem que me pagassem.
Callum montou um prato com risoto de camarão e me entregou um
copo de suco de uva integral – o meu suco favorito. Aceitei a comida com
prazer, devorando em poucas bocadas e me joguei na cama, satisfeita e
acariciando os meus seios. Ele comeu e lavou a louça, tirou a sua roupa e
veio para cama só de cueca branca.
Seu olhar estava nos meus peitos e ainda não podia acreditar que
estava pegando aquele homem. Ele beijava tão bem e tinha mãos que sabiam
muito bem dar uma boa pegada! Já falei sobre a boca dele? Como beijava!
Ele era tão gostoso, todo malhado, bem distribuído e porra... O pau dele era
enorme. Não vi. Senti. E como senti. Ah... Queria tanto.
— Seus peitos ainda estão doloridos? — Passou o indicador de leve no
meu mamilo. Fiquei toda arrepiada e excitada.
— Sim. Tirar o sutiã foi o melhor do meu dia.
— Parece que teve um dia agitado, mal respondeu as mensagens e
sempre que ligava estava praticamente correndo.
— Segunda-feira é um dia muito agitado. — Suspirei e senti a potência
do seu olhar. — Mas eu comi direitinho o dia inteiro. — Acrescentei
rapidamente. Callum sorriu com carinho e virei na cama para ficar de frente a
ele. — Está tudo bem?
— Pensei que fosse direto para minha casa e quando cheguei não estava
lá. Comecei a te ligar quando Tray me falou que teve um homem te
entregando flores... Fazendo uma cena. — Acariciou o meu rosto e respirei
fundo. Callum mostrava que era muito controlador e ao mesmo tempo não.
Ele era tão confuso. — Estou me viciando em dormir com você.
— É porque te faço dormir, seu bobo. — Beijei o seu queixo, me
aconchegando em seus braços. — Foi meu ex-namorado, o homem das
flores, como já te contei, ele me traiu com sua a chefe e está bancando o
cachorro arrependido. Não vai acontecer.
— Espero que ele não seja um problema. — Murmurou contra os meus
cabelos.
— Também espero. Obrigada pelo jantar, estava uma delícia. — Beijei
o seu peito.
Callum acariciou minhas costas, escorregando para minha bunda e apertou de
forma suave, ergui o meu rosto e beijei a sua boca com vontade. Meus peitos
estavam muito doloridos sim, mas nada se comparava a dor de querer avançar
naquele homem com todo meu desejo. Callum retribuiu o meu beijo tão
faminto quanto e não demorei muito para sentir sua ereção crescer ao ponto
que parecia uma barra de ferro.
Nunca quis tanto sentar em um homem.
Me esfreguei nele desesperadamente, necessitada por fricção e
infelizmente uma pontada de cólica me fez gritar e me afastar. Cheguei a
levar minhas mãos ao ventre, assustada e Callum me segurou no lugar, me
acalmando. Deitei-me de lado, respirando fundo, realmente chocada e
pensativa. Será que havia algo errado?
— Está tudo bem, baby. Não vai acontecer nada, confia em mim. —
Me acalentou e beijou o meu ombro.
— Será que vai ser assim a gravidez inteira? Não sei se estou grávida,
apenas confusa com todos esses sintomas.
— Do jeito que seus seios doem, acredito que você está grávida.
Saberemos em poucos dias... E vai ficar tudo bem.
Callum ficou agarradinho em mim e me senti tão... Bem. Era um
carinho gostoso, comecei a nos balançar, cantarolando e logo ele estava
adormecendo com o nariz colado no meu pescoço. Levei a minha mão ao
ventre e pedi a Deus que se o bebê estivesse ali, se desenvolvendo, que a
minha putaria com o pai dele não me fizesse perdê-lo. Fechei os meus olhos e
me entreguei ao sono.
Me espreguicei na cama ao ouvir a voz da Samantha no jornal matinal,
rolei para o lado e a cama estava vazia. Me sentei com muito sono, olhei ao
redor e estava completamente sozinha. Callum saiu sem se despedir? Respirei
fundo, com sono e entrei no banheiro para começar o meu preparo matinal.
Estava terminando de escovar os meus cabelos quando ouvi o barulho da
fechadura da porta, o desaparecido entrou, segurando sacos de papel de uma
confeitaria.
— Bom dia, bela adormecida. — Cantarolou e sorri, feliz em vê-lo.
— Não conseguiu dormir muito? — Deixei o meu secador na pia.
— Dormi sim, acordei com uma ligação da Roxanne às quatro da
manhã querendo saber onde estava a clutch de prata dela.
— O quê? Você leu as minhas mensagens? Atendeu o meu telefone? —
Gritei saindo completamente do banheiro e meu coração já estava saltando no
peito.
— Suas mensagens aparecem na tela, antes que te acordasse, ela enviou
uma mensagem dizendo que encontrou. — Fiquei calma. Voltei a me arrumar
no banheiro e o Callum começou a desembalar o nosso café da manhã. — A
propósito... Tem o seu contrato de trabalho?
— Sim. Na primeira gaveta do meu armário, por quê?
— Quatro horas da manhã, Isla. Minha assistente possui um contrato de
vinte e quatro horas... Sabe quantas vezes liguei para ela de madrugada?
— Umas cem? — Voltei para o quarto vestida e maquiada.
— Nunca. Eu não durmo, passo a maior parte da noite trabalhando e
programo que todos os e-mails que escrevo a noite sejam enviados apenas
pela manhã. É desumano. — Me entregou um prato com ovos, torrada e
avocado. — Mandarei entregar a salada de frutas às nove horas. — Olhou
para o seu relógio. — Que horas sai do trabalho hoje?
— Às dezenove se tudo der certo.
— Eu vou te buscar. — Me deu um beijo doce e saiu do meu
apartamento com o telefone no ouvido.
Callum estava implicando com a Roxanne porque ela foi amante do seu
pai, não podia deixar que isso me fizesse perder o emprego. O dinheiro que
iria receber seria integralmente para a minha mãe, não para gastar comigo, o
meu trabalho seguirá me sustentando com muito mais folga. Só de não me
estressar com o pagamento da fisioterapia extra pelas próximas semanas era
simplesmente incrível.
Olhei a data e lembrei que havia um boleto a ser pago. Entrei no meu
aplicativo do banco enquanto comia e quase caí do meu banquinho. Havia
dez mil dólares a mais ali e não era dinheiro da Roxanne. Callum depositou a
quantia essa manhã e não fazia ideia do motivo. O que ele estava pensando?
Nos beijamos, dormimos juntos e me via seminua queria dizer que precisava
ser sustentada?
Enviei uma longa mensagem desaforada. Não queria que confundisse o
dinheiro do procedimento, o nosso acordo e os beijos que estavam rolando
como uma maneira de sustento. Irritada, bloqueei ele, porque não podia
desligar o meu telefone. Cheguei ao trabalho e Roxanne já estava lá, furiosa
que não atendi a sua ligação de madrugada e que teve que revirar o seu
armário em busca de uma bolsa que queria levar na sua viagem.
Mentalizei as minhas contas para manter a minha boca fechada e
engolir a vontade de mandar tudo aquilo para a puta que pariu.
— Cait irá a Paris comigo esse ano. — Roxanne me informou.
— O quê? — Ergui o olhar do meu planner para sua figura altiva.
— Está surda agora, Isla? — Roxanne me deu um olhar frio. — Cait irá
a Paris comigo. Sua dispersão não será bem-vinda em tantos eventos
importantes.
Fiquei parada no meio da sua sala, irritada, pensando no que responder
e o meu telefone vibrou com o Callum me ligando. Passei a mão no meu
cabelo, pensativa e simplesmente olhei para minha chefe.
— Pois bem, agradeço pelos dias de folga. — Sorri e girei para sair da
sua sala.
— Você trabalhará a distância. — Determinou.
— Apenas no meu horário de trabalho. Meu contrato me garante folgas
na sua ausência. — Falei por cima dos meus ombros.
Roxanne ficou muda e aproveitei o momento para sair da sua sala.
Conferi o horário e estava na hora do meu almoço, peguei a minha bolsa e saí
do trabalho. Andei por alguns quarteirões procurando algum lugar para comer
até que me vi em frente ao prédio do Callum. Entrei e dei o meu nome,
pensei que ganharia um crachá de visitante, mas um segurança abriu a
cancela e me conduziu a um elevador vazio, apertando o andar da sala.
Tray me deu um suave aceno de uma sala e sorri, as portas fecharam e
assim que a viagem de elevador acabou, as portas se abriram e o Callum
estava me aguardando bem ali.
— Me desculpa. — Me pediu todo humilde e imediatamente me joguei
em seus braços. — Pareço ter a tendência a te sufocar. Normalmente sou
muito desligado sobre essas coisas, mas com você tudo é diferente. Sei que
luta com o dinheiro, é começo do mês, imaginei que a sua mãe pudesse
precisar de algo. Está frio... Eu não sei, Isla. Só tenho essa vontade
enlouquecedora de cuidar de você. Não quero te comprar e juro que não estou
confundindo, apenas... Pensei que se esforça muito pela sua mãe.
Ele me matava agindo daquela maneira.
— Está tudo bem, desculpa a minha grosseria, mas você tem que me
prometer que esse dinheiro será um adiantamento.
Callum não parecia satisfeito quando concordou. Reparei que
estávamos em pleno saguão do seu andar e de mãos dadas, me levou até a sua
sala após me apresentar a sua assistente. Fiquei surpresa que ela era uma
senhora. Não era do tipo velhinha, mas definitivamente tinha mais de
cinquenta anos.
A sala dele era enorme, iluminada e muito bem decorada. Móveis bem
modernos, todos em cinza claro, branco e detalhes em preto.
Me sentei em seu sofá de couro, tirei o meu sapato e encolhi as minhas
pernas ouvindo-o listar o pedido do nosso almoço para a sua assistente. Meu
telefone estava cheio de mensagens da Roxanne reclamando e da Cait
surtando que simplesmente saí do trabalho sem falar nada. Fui bastante
inconsequente, mas estava muito chateada. Nos últimos anos acompanhava
todas as viagens da semana da moda, preparava o material de trabalho, o
briefing da revista, as pautas, a agenda e toda logística.
Estava há seis meses organizando a semana de moda de Paris. A data
estava pintada de vermelho no meu planejamento desde janeiro, para a
Roxanne simplesmente me informar que iria levar a minha assistente no meu
lugar, porque não atendi a sua ligação às quatro da manhã? Era muita falta de
respeito com o meu tempo e dedicação.
Não era desprezível como um lixo qualquer. Não que a Cait não
merecesse, mas era o meu trabalho. Meu. Meu esforço.
Não queria me abrir com o Callum, ele iria usar essa atitude como
combustível para sua reclamação e optei por ficar calada sobre isso com ele e
completamente muda no trabalho. Roxanne sentiu a minha frieza, trouxe
flores, me deu uma cesta de café da manhã e tentou comprar o meu afeto me
dando um iPad novíssimo. Aceitei para cobrir as horas extras que não me
pagava e deveria.
Passei os dias seguintes jantando com o Callum e nós dormimos juntos
apenas mais duas vezes. Apenas dormir. Sem beijos, sem qualquer
movimento que pudesse me fazer sentir cólicas. Ele precisou viajar para
Nova Iorque por dois dias e estava ansiosa com a sua chegada.
Com Tray a minha disposição, jantei com os meus pais nos dias que o
Callum estava fora e foi maravilhoso. Minha mãe estava bem resfriada, o que
me deixou muito preocupada. Chegamos a levá-la a emergência duas vezes
com dificuldade respiratória a noite. Meu pai era a nossa rocha, porque
enquanto ela ficava mal por estar doente, pedindo desculpa por dar mais
trabalho e eu me sentia histérica que uma gripe a colocasse na cama
novamente.
Era nítido que estava deteriorando, mas a minha ansiedade sobre o
resultado do teste me deixou sem dormir. Quando ele retornou, me ligou de
madrugada e finalmente era o nosso grande dia.
Tray me buscou cedinho, passei na clínica, fiz a retirada do sangue para
o meu BETA HCG e fui trabalhar. Roxanne estava em Paris e sem a Cait. Foi
com o Benji, estava me dando um enorme trabalho a distância, me enchendo
o saco com e-mails e solicitações, precisava me virar para não perder os
prazos com o fuso horário e ao mesmo tempo não sair do meu expediente,
afinal, meu ascendente era em áries e era bastante vingativa.
A parte boa da Roxanne não estar no trabalho, era que podia colocar os
meus pés para o alto e andar descalço dentro da minha sala. Fingia que não
via o pessoal fora do código de vestimenta pelo andar. Inclusive, usei botas
sem salto mais de uma vez. Era a frase “os gatos saem e os ratos fazem a
festa” e eu era a chefe dos ratos.
Mais de uma vez senti cheiro de pizza pelos cubículos.
“O resultado chegou. Tray está aí, venha logo!”.
A mensagem do Callum quase me fez cair da cadeira e enfiei todas as
minhas coisas na minha bolsa, saindo da minha sala às pressas e mal
expliquei para onde estava indo. Não que precisasse dar satisfações, só não
queria deixar os meus colegas preocupados, porque compartilhei com alguns
deles sobre as crises da minha mãe durante as pausas do café.
Fiquei presa em uma fila para sair do prédio, batendo meu pé no chão
bem impaciente e a menina na minha frente me olhou duas vezes, irritada
com a minha pressa. Assim que consegui sair, Tray estava parado bem em
frente a porta, me aguardando. Empolgada, andei diretamente a ele, que abriu
a porta do carona e me deu seu sorriso polido. Apenas a Cassie sabia do
nosso acordo, só não sabia que estava beijando o possível pai do meu bebê.
Tray entrou na garagem do prédio e sentindo minha ansiedade, parou o
carro na frente do elevador e me deixou sair antes de estacionar. Digitei o
código para o andar do CEO e contei os números com a ansiedade crescendo.
Ao chegar no andar, Callum estava parado me aguardando com um grande
sorriso. Ele já sabia.
— Sim?
— Sim. — Sorriu e pulei nele, na frente de todo mundo, cruzando as
minhas pernas na sua cintura e beijei a sua boca. Callum apenas riu da minha
alegria e me levou para a sua sala, sem me colocar no chão. Acenei para sua
assistente que não escondia a risada de ver seu poderoso chefe carregando a
maluca da nova namorada no colo.
Assim que a porta foi fechada em um chute, Callum me beijou. Não foi
um beijinho. Foi um beijo de nublar os meus pensamentos e sentir na minha
alma. Me depositou na sua mesa e deitou-se por cima, agarrando meus peitos
e abriu os botões da minha blusa.
— Nunca imaginei que ter a confirmação da gravidez me deixaria com
tanto tesão. Meu Deus, Isla. Você está carregando meu bebê!
— Será que se sentiria assim quando nosso acordo era apenas um
acordo?
— Talvez. Fiquei atraído assim que vi a sua foto, imaginei que seria um
grande problema resistir a você, esse seu corpo, seus olhos... Sua boca
perfeita. — Beijou o meu rosto em diversos lugares, demorando um pouco
mais nos lábios e em seguida beijou cada seio por cima do sutiã. Foi
descendo beijos até o meu ventre. — Deu certo, Isla. Meu bebê está aqui...
Vou ser pai, porra. — Encostou a testa no meu ventre e sorri, acariciando os
seus cabelos.
Imaginava que Callum queria muito ser pai, primeiro por não poder
ter naturalmente, pela sua posição em uma empresa e por ter esse alcance.
Aquela emoção era diferente. Provava que não era um capricho, sim um
desejo muito real, algo tão importante ao ponto dos seus olhos transbordarem
em lágrimas.
— Eu te amo, bebê. Tudo será diferente para você. — Falou tão
baixinho que tive certeza de que não era para eu ouvir. Era a primeira
conversa dele com o seu bebê. — Obrigada, Isla. — Callum me olhou
emocionado, bem dentro dos meus olhos e comecei a chorar. Nos abraçamos
apertado por tanto tempo que a assistente dele bateu na porta informando que
estava indo embora. — Vem para casa comigo essa noite?
— É claro que sim.
Senti no meu coração que onde Callum e o bebê estivessem seria a
minha casa.
CAPÍTULO 12
Callum.

Parado em frente a janela, estava olhando o tempo cinza do dia vinte e


três de novembro, com minhas mãos enfiadas nos bolsos para esconder o
tremor causado pela ansiedade. Ouvi o barulho da porta e virei,
contemplando a Isla com meias nos pés e uma camisola hospitalar aberta na
frente, segurando timidamente para não revelar a sua nudez. Aquela coisa era
transparente e ainda bem que o Dr. Phillips era extremamente profissional ou
ele ganharia um belo soco no rosto.
Ajudei-a a subir na maca, fechando a sua roupa e não resisti ao impulso
de beijar os seus lábios. Isla estava tão nervosa quanto eu. Essa era a nossa
primeira consulta com ultrassonografia. Informamos ao Dr. Phillips o
resultado e em seguida agendamos a consulta. Isla foi pesada, aferida e
chegou o momento de ver o nosso bebê.
A única coisa que mudou nos últimos dias foi a chegada do enjoo
matinal. Progressivamente ao longo da semana, cada dia ela acordava um
pouquinho mais nauseada, ainda não a impedia de comer e passar o dia bem.
Ela só não podia sentir o cheiro de café ou do Chai Latte da sua chefe. A dor
nos seus seios aumentou por uns dias e diminuiu em outros.
Estava muito ansioso para perguntar tudo ao médico, lemos que a
gestação induzida era mais intensa e demandava muito mais cuidados nos
primeiros meses. Isla precisou repetir mais exames de sangue para dar a
certeza da evolução da gestação e ela deveria estar na sétima ou oitava
semana devido a tabela explicativa que aparecia nos exames.
O Dr. Phillips entrou na sala, colocou as luvas e brincou conosco sobre a
nossa ansiedade. Com muito cuidado, cobriu a Isla com um tecido, pediu que
ajudasse a colocar uma espécie de travesseiro embaixo do seu bumbum e
nervosa, só mordeu o lábio, agarrando a minha mão. Tudo que ele via na tela
era reproduzido na minha frente e no teto, para que ela pudesse ver.
Inicialmente não entendi muito, mas conforme ele foi marcando e anotando o
que era o que, pude entender.
Isla filmou parte da ultrassonografia, ansiosa pelo momento em que
ouviríamos os batimentos do coração do bebê.
— Aqui está o bebezinho de vocês. — E aumentou o som. — E o
coraçãozinho dele. — Em seguida foi apontando o que era o quê, quantas
semanas e eu só estava extasiado, olhando para a tela e senti o meu rosto
molhado. Sequei as minhas lágrimas, olhei para a Isla que não piscava,
olhando para o teto e as lágrimas escorriam pelos cantos sem esforço. — Está
tudo perfeito e dentro do esperado. Vou dar privacidade para se trocar.
Vamos conversar no consultório sobre seus últimos exames e os próximos
passos.
Isla me abraçou apertado, ainda em pleno estado de euforia e me sentia
até letárgico. Deveria ter gravado. Ajudei-a com seu vestido, enquanto ela
digitava freneticamente acalmando a sua chefe, porque pediu uma hora a
mais para ir ao médico. Roxanne era uma dor na bunda. Encontrei diversas
brechas no contrato de trabalho da Isla e estava seguindo o conselho da
Cassie em dar espaço para a Isla viver a sua vida.
Ainda não rotulamos o nosso relacionamento e o bebê nos unia, mas
sentia o algo mais. Não era bom em relacionamentos. A Patrícia vivia a
minha disposição, ela era uma bonequinha perfeita para andar ao meu lado.
Esse tipo de pessoa não era quem a Isla era e nem desejava ter alguém assim,
só não sabia como agir.
Quando depositei o dinheiro na conta da Isla foi pensando nos seus
pais. Era começo de mês e o pouco que pesquisei sobre a ELA vi que
demandava muitos gastos e cuidados. Queria que não se preocupasse e por
esse motivo comprometesse a fecundação do embrião. Não queria controlar,
queria ajudar e dar a ela a chance de correr menos. Não era normal a pressão
psicológica que sua chefe lhe fazia e a Isla não conseguia enxergar, dizia que
no mundo da moda era assim, que o mercado era competitivo e a Roxanne
era apenas exigente.
Eu era um chefe muito exigente.
Roxanne era um demônio de salto.
— Não vamos brigar por causa disso. — Isla reclamou quando guardou
o telefone na bolsa. O médico já deveria estar nos aguardando por uns dez
minutos.
— Infelizmente...
O Dr. Phillips respondeu todas as nossas dúvidas sobre o primeiro trimestre,
não autorizou exercícios físicos de muito impacto, apenas hidroginástica e
caminhadas leves. Afirmou que o sexo estava liberado, com bastante carinho
e se a mamãe estivesse disposta. Isla sorriu emocionada ao ser chamada de
mamãe e eu emocionado que o sexo estava liberado. Estava louco para
brincar de papai e mamãe com a mamãe.
— É uma fase que ainda precisa de muito cuidado e mimo, portanto
papai, capriche em deixar a mamãe satisfeita. Façam sexo sempre que
sentirem vontade, aproveitem enquanto o tesão da mamãe está elevado e
basta não encarnar cenas de BDSM que vai ficar tudo bem. As cólicas
iniciais eram porque o bebê estava se acomodando no seu útero, agora ele
está muito bem acomodado e com seu coraçãozinho batendo forte!
Saímos da consulta sorridentes e combinei de buscá-la no trabalho a
noite. Ela sairia mais tarde para acompanhar o Benji e a Roxanne em uma
sessão de fotos, o que era um absurdo e como sabia que não teria muito
tempo, planejei entregar o seu lanche. Não queria saber se sua chefe iria
gostar ou não. Parei o carro em frente ao estúdio que estavam instaladas, Isla
arrumou a sua bolsa de mão e deixou uma pequena mala no banco de trás.
Passaremos o dia de ação de graças com meus tios e a noite iremos
jantar com os seus pais, para que eles pudessem me conhecer oficialmente
como o seu namorado. Já não sabia mais se era uma apresentação fictícia,
para justificar a gestação que anunciaremos em algumas semanas, ou se era
realmente verdadeiro. Isla tomou tudo de mim tão rápido e o fato de carregar
o meu bebê me deixava doido.
— Promete que vai se cuidar? — Segurei o seu rosto e beijei a sua boca.
— Eu prometo. Quero mais beijos! O Dr. Proveta disse que você tem
que deixar a mamãe satisfeita e feliz. A mamãe aqui quer muito o papai.
Beijei o seu pescoço.
— Vou deixar a mamãe feliz mais tarde, vá trabalhar para que possa
voltar para casa mais cedo. — Dei mais um beijo na sua boca rosadinha e a
Isla saiu do carro.
Roxanne estava na porta do estúdio e deu uma olhada mortal para o
meu carro, falando com a Isla, que imediatamente perdeu o sorriso e o brilho
no olhar. Fiquei dentro do carro, estacionado, observando as duas e quando
entraram, dei a partida de volta para a empresa. Me concentrei no trabalho,
enviei uma mensagem para a Cassie sobre o bebê e ela comemorou comigo.
Era bom não ter que esconder a minha alegria.
Queria contar ao Charlie assim que A Isla se sentir confortável para
aguentar as perguntas e a ansiedade em cima da gestação. Ela ainda não
contou aos seus amigos porque decidimos esperar o primeiro trimestre.
Meu telefone apitou com o horário da Isla comer, fiz o pedido de um
lanche saudável em um aplicativo e mandei entregar lá. Trinta minutos depois
recebi uma foto dela comendo, sentada em um banquinho, com milhares de
roupas aos seus pés e um fone de ouvido rosa pendurado no pescoço. Mesmo
toda bagunçada era a garota mais bonita do mundo.
Troquei de sala, espalhando as plantas de um novo projeto na grande
mesa da sala de reuniões do meu andar. Fiquei tão imerso nas minhas
alterações, na proposta que seria enviada a construtora e em como poderia
gerir as vendas que não percebi a hora passar. Quando dei por mim, Isla
estava me ligando e a sua vozinha murcha me deixou em alerta.
Dirigi no limite da velocidade até o estúdio, preocupado e ansioso.
Benji estava com a Isla do lado de fora, ambos bem enrolados em casacos e
saí do carro para o vento gelado em direção a eles.
— Oi, Benji. — Apertei a sua mão.
— Obrigada por esperar comigo. — Isla o abraçou apertado.
— Sinto muito por perder a hora...
— Não perdeu. Realmente acabamos quando te liguei... — Isla segurou
a minha mão.
— Não tem ninguém aqui. — Apontei para o estúdio todo escuro.
— Precisei ficar até depois para recolher as roupas e acessórios
usados... Roxanne não gostou das fotos e iremos refazer na segunda-feira. —
Aquele era o motivo do cansaço da Isla. Ficou para arrumar o que ela não era
paga para fazer. Mordi a minha bochecha, sentindo gosto de sangue na boca e
meu olhar deve ter sido um alerta para ela. — Por favor, Callum. É o meu
trabalho...
— Não é não. — Benji soprou as unhas.
— Parece que alguém concorda comigo.
— Está frio, vamos embora? — Isla saiu de perto e foi andando até o
carro.
Perguntei ao Benji se precisava de carona para algum lugar e ele disse
que estava de carro, logo destravando e as luzes piscaram. Acenei e corri para
o aquecimento do meu carro, nos levando para o mais longe possível do
estresse. Isla estava visivelmente cansada. Li que no primeiro trimestre, as
mamães ficavam mais indispostas, com muitas oscilações de humor e
sensíveis.
Como já havia comido, subiu direto para o meu quarto para tomar
banho e verifiquei o que a Charlotte deixou pronto. Esquentei os filés de
frango, me servi com quinoa e salada. Comi devagar, respondendo as
mensagens pessoais no meu telefone e dando tempo para Isla ter privacidade.
Ela gostava de chegar do trabalho, tomar um longo banho, se acalmar e
desconectar do modo trabalho.
Lavei a minha louça, escureci o primeiro andar e subi a escada de dois
em dois. Abri a porta do quarto com cuidado, sentindo o cheiro do seu
sabonete líquido me atingir em cheio e ela estava com uma camiseta larga e
calcinha, tirando as almofadas da minha cama. Avisei que tomaria um banho
e voltaria para me deitar com ela, mal humorada, deu de ombros e se jogou
na cama.
Ao voltar, já estava dormindo e sorri. Seu corpo estava em plena
transformação, eram muitos hormônios lutando por um espaço e isso refletia
no seu humor. Deitei-me ao seu lado só de cueca, demorei um tempo para
pegar no sono, mas só o cheiro dela me relaxava ao ponto de tirar longos
cochilos. Acordava cada vez que se mexia ou falava dormindo.
No meio da noite, tirou a blusa e ficou colada em mim. Choramingou
por um tempo, como se tivesse em um sonho ruim e me chamou duas vezes,
mas estava dormindo profundamente. Senti os seus mamilos roçando nas
minhas costas e a sua respiração suave no meu ombro até o amanhecer. Não
estava acostumado a ficar tanto tempo deitado na cama, nem a dormir tantas
vezes durante a madrugada, muito menos a ter alguém comigo. De manhã
cedo, a voz da Samantha nos saudou e sorri.
Isla era viciada nela... Programou o despertador para ouvir a chata logo
cedo. Costumava ouvir na academia, não no meu quarto. Pelo gemido que
soltou na cama, sabia que estava nauseada. Ainda de olhos fechados, com o
cabelo todo em pé, ficou passando as mãos nos seios como se estivessem
coçando e em seguida colocou a mão na testa. Olhei bem para os seus peitos,
já era possível ver a mudança nas suas auréolas.
Virei na cama para ficar na sua frente, mesmo com o cabelo embolado,
com metade do rosto vermelho, era linda.
— Está enjoada?
— Só um pouco. — Resmungou e bocejou. — Hoje é feriado, por que
a Samantha está falando?
— Porque você a programou para falar. — Estiquei o meu braço e
desliguei, estávamos amontoados em um lado só da cama. Havia espaço de
sobra para o outro lado. Isla voltou a deitar. Seus joelhos estavam afastados,
com cada pezinho delicado apoiado nas minhas coxas. Segurei os seus
tornozelos, apoiando na cama, dei um beijo em cada joelho e me inclinei para
dar bom dia ao meu bebê.
Ela sorriu, colocando as mãos nos meus cabelos, puxando suavemente e
arranhando o meu couro cabeludo. Beijei o seu ventre várias vezes. Quando
pensei em me tornar pai, imaginei que conseguiria manter a distância como
pais que contratam uma barriga de aluguel. A diferença seria que
compartilharia a criação com a mãe do bebê. Se desse errado, o meu filho
ficaria comigo e dependendo da sua relação com sua mãe, ela poderia visitá-
lo.
Não tinha certeza se me sentiria assim se fosse outra mãe ou porque a
Isla me fazia sentir tão... Dela. Ver o seu corpo mudando por causa do meu
bebê, seus sorrisos apaixonados quando beijava a sua barriga, o olhar feliz
quando conversava com o bebê e a oportunidade de tocar seu corpo, de ter
livre acesso ao meu bebezinho protegido ali dentro me deixava louco. Era
muito intenso.
A maneira que ficava excitado era prova que a sua gravidez estava mexendo
com os meus hormônios também. Conversei com o bebê, porque lemos que
fazia bem ao desenvolvimento dele e criava um elo afetivo desde o começo,
mas eu queria ter outra conversa com a mãe do bebê, que estava me olhando
com muito desejo. Beijei um pouco mais abaixo do seu ventre apenas para
confirmar que ela me queria.
Isla estava sorrindo, com os olhos marejados e mordeu o lábio,
assentindo quando encaixei os meus dedos nas tiras da sua calcinha. Puxei
para baixo, deslizando pelas pernas e tirei, jogando longe. Acariciei suas
coxas, olhando para sua buceta nua, com uma pequena trilha de pelos ralos na
parte de cima.
— Você está bem?
— Mais do que bem, vem aqui. — Me puxou e tomei a sua boca. Sabia
que ela estava muito sensível nos seios e precisava ir devagar, mas, ela não
parecia se importar.
Chupei os seus mamilos com muita calma, acariciando a sua pele com
adoração até chegar entre as suas pernas, tocando seu botãozinho sensível,
estimulando um suspiro gostoso e um aperto das suas unhas nos meus
braços.
Mordi o seu queixo, ela gemeu agarrando os meus cabelos e lambi o
biquinho arrepiado, durinho, levando a minha mão para a sua buceta
maravilhosa, acariciando seu clitóris. Isla gemeu baixo, continuei
estimulando-a e empurrei um dedo entre as suas dobras, ela estava tão
apertada, quente e o seu gemido ecoou pelo quarto. Dei a mesma atenção
delicada ao outro bico, chupando seu outro seio. Estava louco para isso há
semanas.
— Que gostoso, Callum. Faz de novo...
Agarrei o seu peito, mamando com um pouco mais de pressão,
fodendo-a com meu dedo, sentindo a sua umidade crescendo para me receber
em breve. Meu pau se agitou, necessitado, dias e dias de tortura com ela
dormindo de calcinha com os peitos de fora, muitos amassos inacabados e
punhetas no chuveiro.
Desci os meus beijos até entre as suas pernas, chupando-a, seu gosto
delicioso me invadiu, sua pele delicada e suas unhas arranhando meu couro
cabeludo. Chupei-a até senti-la estremecer, desejando mais e queria que
gozasse com meu pau. Ela estava muito sensível para não chegar lá e eu
estava fantasiando com esse momento.
Tirei a minha cueca, me acariciando e olhando a sua buceta brilhar por
mim.
— Quero tanto você. — Ela gemeu.
Segurei a base do meu pau, posicionando corretamente na sua entrada e
empurrei lentamente. Quase perdi as forças nos braços de tão bom que era
estar dentro dela. Ainda devagar, entrei tudo e a Isla gemeu, contraindo o
abdômen e me apertando. Coloquei um travesseiro alto embaixo da sua
bunda e agarrei os seus quadris, perdido, com tanto tesão que poderia
explodir a qualquer momento.
Isla dobrou as pernas, encontrando-se comigo a cada estocada,
tornando a coisa toda ainda mais gostosa com os seus peitos balançando a
cada estocada. Assisti com êxtase ela gozar e foi a primeira vez que uma
mulher gozando comigo me fez perder totalmente as estribeiras. Gozei em
seguida, mesmo com muita vontade de continuar fodendo até a morte. Meu
coração batia forte no peito. Foi como perder a minha virgindade mais uma
vez.
— Valeu a pena toda espera. — Suspirou sonhadora e sorri, tirando os
fios do seu cabelo colados na testa suada.
Ainda queria mais e por isso voltei a beijá-la, calmamente no começo,
porque sabia que não era preciso muito para toda coisa explodir. Transamos
mais duas vezes, sem noção do tempo lá fora e então, ela reclamou que
estava com muita fome. Ainda estava com a mente mergulhada em quão
gostosa ela ficava ao rebolar no meu colo, com meu pau todo dentro e porra,
sexo nunca foi tão gostoso.
Ela era minha e mãe do meu bebê. Era como viver eternamente dentro
de um sonho que sempre julguei impossível. Tomei um banho muito rápido
para descer e preparar o seu café da manhã, deixando o banheiro livre para
ela começar a se arrumar, porque iríamos almoçar com os meus tios.
Esse ano eles decidiram fazer um almoço de ação de graças e não um
jantar, ano passado muita gente bebeu e como moravam fora da área urbana,
acabou ficando uma coisa perigosa. Foi boa essa decisão, porque a noite iria
conhecer os pais da Isla. Seu pai estava meio preocupado, porque a melhor
amiga da Isla deu com a língua nos dentes, enciumada que toda vez que
ligava, Isla estava comigo ou dormindo aqui em casa. A Laila era um pé no
saco.
Não fiz café para não a deixar enjoada. Preparei chá, biscoitos, ovos,
queijo e presunto. As torradas estavam sem manteigas, porque o cheiro da
manteiga derretendo também embrulhava o estômago.
— Não vai malhar antes de sairmos? — Isla desceu a escada
praticamente correndo e senti que ia enfartar. Precisava colocar os adesivos
antiderrapantes na escada. — O que foi?
— Não corre na escada! E não... Já fiz bastante exercício matinal. —
Empurrei seu prato pelo balcão, subindo no banco, abriu os braços e se jogou
em mim. — Estou falando sério, Isla. Não corre. — Dei dois tapas nas suas
nádegas e apertei firme, ouvindo a sua risada. Beijei a sua boca e mesmo
depois de uma manhã inteira, o desejo ainda era forte. Ela me deu um
olharzinho maroto, cheio de promessas safadas e mordi o seu lábio. — Coma
ou vou te comer de novo, agora só vou poder fazer isso a noite.
— Poxa... Quanto tempo. — Ela murmurou pensativa e me fez rir.
— Maníaca sexual.
— Eu? Você me atacou três vezes lá em cima.
— E você reclamou?
— Não. Gozei cinco vezes. — Me deu um sorrisão e soltei uma
gargalhada. Ela contou! — Hoje nada vai tirar o sorriso do meu rosto,
querido. Uma mulher que goza cinco vezes de manhã não quer guerra com
ninguém. — Encheu a sua torrada de ovos, dando uma boa mordida. — Pelo
menos é uma novidade para mim gozar mais de uma vez. — Falou mais
baixo e sorri sem esconder meu orgulho. — Isso significa que vou saber
quando o senhorzinho ficar preguiçoso.
— Nunca vai acontecer. — Beijei a sua boca macia. — Eu vou me
arrumar, meus tios moram longe e vamos demorar a chegar lá.
— Não estou pronta!
— Tudo bem... Vou assistir um filme enquanto se arruma. Não se
apresse a comer.
— Ei, você não comeu! — Gritou da cozinha e gritei de volta que comi
enquanto preparava.
Meu quarto estava cheirando a ela mais uma vez, com um toque de
sexo, os lençóis da cama estavam uma zona e tinha travesseiro para todo
lado. Minha cabeceira de veludo estava com as marcas das unhas dela,
procurando um lugar para se apoiar enquanto a fodia de lado. Foi a perfeita
manhã de ação de graças.
Demorei no banheiro porque precisava aparar a minha barba na frente e
refazer na lateral, fiquei sem tempo de ir ao salão para cuidar com o rapaz
que cortava o meu cabelo. Saí do banheiro com a toalha enrolada na cintura e
a Isla estava na cama, sem roupa, com o telefone na mão e sua mala parecia
que havia explodido porque tinha peças para todo lado.
— Não acho as meias que preciso usar com o vestido que separei para o
almoço. Pedi para o Benji trazer um par para mim, pode receber?
— Sei que o Benji é gay, mas ele não te verá nua. É claro que vou
receber.
— Benji me viu pelada milhares de vezes. — Soltou uma risadinha.
Foda-se isso.
— Não verá mais. — Olhei-a severamente só para ganhar gargalhadas
de volta. — Bagunceira. — Chutei um par de sapatos para o canto. — Vai
tomar banho, se me atrasar, vou brigar com você. — Falei todo severo e a
peguei revirando os olhos.
Sorri e entrei no meu closet já planejando o meu falatório, porque ela iria nos
atrasar.
CAPÍTULO 13
Isla

Callum estava discursando sobre o quão deselegante era chegar


atrasado em um evento, mesmo que fosse da família e perdi a conta de
quantas vezes revirei os olhos. Só quando cruzei os braços e fiz um beicinho
que peguei o olhar dele divertido e entendi que o engraçadinho estava
bancando o espertinho comigo. Ficar brigando comigo sobre estar atrasada
não mudava nada. Do que adiantava reclamar se já estávamos atrasados?
Relaxei no banco, com minha mão na sua coxa e ele pegou, dando um
beijo e dirigiu a maior parte do tempo com a mão em cima da minha.
Acariciei a sua coxa firme, lembrando o movimento dos seus músculos
durante nossos exercícios matinais. Caramba... Foi tão bom que não
acreditava que foi real. Foi melhor que qualquer fantasia, masturbação ou
desejo acordado.
Primeiro de tudo... Ninguém nunca me chupou daquele jeito. Já tive
namorados que eram bons no sexo oral. Hank que... Sei lá. Acho que não
gostava muito. Era meio desleixado e rápido, me acostumei com pouco
sabendo que podia ter muito mais. O Callum era o muito mais. Sua boca fazia
milagres. Seus dedos... Sempre odiei ser penetrada com dedos. Era irritante,
incômodo e enquanto ele me beijava, percebi que queria tudo dele. Suas
mãos, boca e pau.
Seu pênis era bonito, meio irônico depois de um câncer e várias
quimioterapias. Callum não chegou a fazer cirurgia, então as suas bolas
estava lá, intactas, não eram grandes, um conjunto perfeito com o seu pau
incrível que gostaria de ter a minha disposição vinte quatro horas ao dia sem
arrependimentos. Era grande, grosso, meio torto para a esquerda, mas quem
se importava? Gozei feito louca nele.
Não costumava gozar com penetração, já aconteceu antes, mas o
Callum me levou lá diversas vezes, porque não me ignorava durante o sexo.
Ele me tocava, me beijava, me envolvia e não só metia até esquecer que era
uma pessoa e não uma boneca. Foi uma dança de duas pessoas. Nós não
falamos muito, não sabia se ele era do tipo que falava putaria – que eu
adorava –, estávamos muito ansiosos para o sexo depois de semanas só de
amassos inacabados.
Mesmo com meus peitos doloridos a cada sacudida, não neguei nada.
Aliás, meu fogo era grande o suficiente para incendiar uma floresta.
Cheguei tão cansada no dia anterior, rabugenta mesmo, com vontade
de chorar e quebrar um vaso na cabeça da Roxanne. Ela estava muito cruel ou
eu estava muito sensível. Talvez as duas coisas. Cancelar uma sessão de fotos
inteira por que não gostou das minhas combinações? Roxanne sempre amou
as minhas combinações. Por que ela estava no modo bruxa comigo?
Benji ficou comigo até o final, dobrando as roupas, guardando tudo que
foi usado e limpando as maquiagens. Até que terminamos mais cedo do que
terminaríamos se estivéssemos fazendo as fotos, mas, não mudava em nada a
minha frustração e o cansaço. Roxanne ainda deu a entender que viu uma das
combinações no meu blog. Sutilmente soltou umas alfinetadas sobre as
minhas mudanças de cenários... Ela chegou a rir e dizer que estava
enriquecendo as minhas fotografias, ou seja, querendo me tornar uma
blogueira de luxo sem realmente ser.
Callum orgulhosamente tirava muitas fotos minhas, ele adorava e até
dava dicas. Era muito bonitinho o quanto se importava com o meu trabalho –
fora da revista. Ele se transformava em outra pessoa quando se tratava da
Roxanne. Conversava comigo sobre meus textos, falava das cores, fuxica
minhas redes sociais e até já comentou em algumas fotos, deixando minhas
leitoras alvoroçadas. Não neguei e muito menos confirmei as perguntas de
relacionamento, embora sejamos fotografados juntos com frequência.
Roxanne não me perguntou diretamente sobre o Callum, mas estava
demonstrando que sabia e estava desconfortável. Talvez com medo que
soubesse a verdade? Cada vez que me tratava mal, a história do Callum
passava a ser bem plausível. Afinal, o que ela realmente fazia o dia inteiro na
revista?
Mesmo assim, ela era a minha chefe e um ícone da moda. Quem eu era
ao seu lado? Ninguém. Não significava que gostasse de ser tratada pior que
os seus cachorros. Estava me irritando muito. Com isso, na noite anterior nem
dei atenção ao Callum e mais uma vez amanheci sem roupa. Meus peitos
estavam coçando e os meus mamilos sensíveis. O Dr. Phillips disse que era
normal, considerando que os meus seios eram bem pequenos e eles iriam
crescer nos próximos meses.
— Estamos quase chegando. — Callum informou e voltei a prestar
atenção no mundo exterior, saindo do meu mundinho colorido dentro da
minha mente.
A propriedade dos tios do Callum ficava em Lowell, próxima a
residência oficial Lowell e pelo que podia enxergar à distância, era tão bonita
e tão antiga quanto. Callum me contou que a casa também pertencia a família
por muitos anos e era a herança do seu tio. Sua mãe e sua tia eram britânicas.
O casamento dos pais do Callum foi um acordo de negócios, já dos seus tios
foi por amor, eles se conheceram no noivado dos seus respectivos irmãos.
Callum falava muito pouco sobre a sua família, tudo que sabia foi
jogado sutilmente em meio a muitas conversas e fui juntando as informações.
Ainda pensava na história do menino torturado no porão. Se era o Callum, o
seu irmão ou o seu pai. Ele tinha algumas marcas bem clarinhas nas costas,
como cicatrizes infantis que foram sumindo com o tempo. Marcas que
pareciam... Arranhões ou cintos. Queria perguntar o que elas eram, mas
decidi esperar mais.
O estacionamento parecia cheio, devido ao frio, o evento era dentro da
casa e não podíamos ver quantas pessoas tinha lá dentro. Escolhi um vestido
cinza de linho, decote singelo, manga três quartos, a saia tinha corte e
caimento midi e meias pretas, com sapato scarpin preto. Escolhi duas
pulseiras douradas com pedrinhas coloridas, um colar com a letra I brilhando
no meu decote e brincos pequenos.
Meus cabelos estavam soltos, escovados, caindo de um lado só e estava
bem maquiada, no efeito pele de porcelana, rímel e batom rosinha com blush
rosadinho para dar um ar natural, saudável. Meu casaco era um trench coat
inspirado na Duquesa de Cambridge, verde musgo bem fechado, com botões
pretos e uma pequena bolsa de veludo verde também.
Callum estava socialmente vestido, todo de preto, parecia um filhote do
Batman. Sombrio, muito bonito e rico. Me ajudou a sair do carro como se
fosse de porcelana. Andamos de mãos dadas pelo caminho de pedras, estava
muito frio, definitivamente muito mais frio que na cidade.
— Estou congelando. — Reclamei baixinho, ele riu e esfregou os meus
braços.
— Eu sei, avisei que aqui é muito frio.
Ele abriu a porta sem aviso, fechou e abriu a porta de um armário de
casacos, tirando o meu primeiro, minhas luvas e ainda ganhei um beijinho na
ponta do nariz. Ri da sua bobeira, observando-o tirar seu casaco pesado junto
com as luvas e pendurou no mesmo cabide. Ajeitei a gola da sua camisa,
alinhando e verifiquei os botões, Callum me segurou pela cintura e nos
beijamos.
— Pegação no armário de casacos? — Charlie parou na soleira da porta
com um copo de uísque sem gelo.
— A pegação é em qualquer lugar. — Provoquei de volta.
— Você tem alguma irmã? — Charlie entrou na brincadeira e o Callum
apenas grunhiu insatisfeito. Ciumento.
Saímos do armário cumprimentando algumas pessoas. Callum me
apresentou a todos como sua namorada e quando avistamos a sua tia, ela
estava com um casal no qual o homem era muito parecido com o Callum. Ao
chegarmos perto, Gwen me deu um abraço agradecendo por vir e disse para
ficar à vontade. Charlie ficou longe, não se aproximou e o Callum assumiu a
máscara de pessoa fria e indiferente que ele não era.
Passei muitas noites no sofá com ele, ele podia dar bonitas risadas,
olhares simpáticos e ser implicante. Indiferente era a última coisa que ele
realmente era.
— Isla, conheça Cage Lowell, ele é o irmão caçula do Callum. —
Gwen apresentou o homem e trocamos um aperto de mão. Cage era tão
bonito quanto o Callum, apesar de mais jovem e bem menos sofisticado. Suas
roupas eram de lojas de departamento, ao trabalhar com moda e costura,
reconhecia um fast fashion de longe. — Essa é sua esposa, Patrícia. —
Apresentou a mulher ao lado que me deu um sorriso inseguro, porém,
simpático. Callum não esboçou nenhuma reação. — Essa é a adorável Isla
Edwards, namorada do Callum.
— É um prazer conhecê-los. — Sorri e apertei os dedos do Callum. Ele
não ia falar com seu irmão?
— Callum. — Cage deu um aceno, Patrícia desviou o olhar e o Callum
exibiu um sorriso frio. Senti um arrepio na espinha e não foi um arrepio bom.
Por que o Callum estava daquele jeito? Patrícia não conseguia erguer o rosto
e o irmão passou o braço no ombro da esposa, criando uma barreira protetora
e olhei para a Gwen que parecia muito triste.
— Baby... Estou morrendo de fome. — Segurei a manga da sua
camisa.
Callum imediatamente mudou, me dando sua integral atenção e olhei
em seus olhos. Sem pestanejar, pediu licença e me levou para mesa para
escolher o que comer, enchendo o meu prato com mais comida que poderia
aguentar e pedi que comesse comigo. Charlie sentou conosco em uma mesa
mais afastada dos demais convidados. O Tio Robert passou por nós, me
cumprimentando com um beijo nos cabelos e foi dar atenção a um casal de
convidados.
— Quero sobremesa, Charlie. — Fiz um beicinho, pedindo que
buscasse para mim. Estava com vergonha de explorar a mesa.
— Alguém já te disse que é muito mimada? — Charlie reclamou.
— Posso ser mimada, não posso? — Virei para o Callum, que pediu
que o primo pegasse um pedaço de torta para mim, assim que o Charlie saiu,
me aproximei do Callum, segurando o seu rosto e beijei a sua boca
lentamente. Callum deslizou a mão para debaixo da saia do meu vestido, me
fazendo rir e dar um tapa no seu braço, ao mesmo tempo querendo me sentar
no seu colo, mas não seria socialmente aceitável.
Charlie voltou com um pedaço de torta de pêssego, bateu o prato com
força na mesa e soltei os lábios do Callum com uma risada.
— Sorte que gosto de você. — Resmungou voltando a beber.
— Todo mundo gosta de mim. — Peguei um garfo de sobremesa,
espetando a torta, provando o creme e caramba, estava muito bom. Callum
estava só bebendo água, porque voltaria para Boston comigo para jantar com
os meus pais, Laila, Michael, Benji e a mãe deles. — Quer jantar na casa dos
meus pais hoje? Meus pais e amigos estarão lá... E a Cassie confirmou hoje
cedo que dará uma passadinha.
— Cassie estará lá? — Charlie ficou imediatamente animado. — Conte
comigo, vou parar de beber e me passa o endereço. Qual o vinho que sua mãe
gosta?
— Minha mãe não pode beber, mas o meu pai ama Jack Daniels
Honey.
— Combinado.
— Minha tia vai te matar por nos sequestrar no dia de ação de graças.
— Callum beijou o meu pescoço.
— Sua Tia Gwen vai precisar aprender a te dividir. — Beijei a sua boca
doida para voltar para casa e ficar sozinha com ele.
— Meus dois bebês estão satisfeitos?
Esquecemos completamente que Charlie estava na mesa porque ele
tossiu, engasgado com seu uísque, ficou vermelho ao ponto de precisar que o
Callum lhe desse tapas e abanei o seu rosto. Dei-lhe água para diminuir a
ardência e ao se recuperar, nos olhou como se tivéssemos duas cabeças cada.
— Por favor, diga que eu ouvi errado.
Callum estava com um sorriso enorme, impossível de negar.
— Tem um bebê aí dentro? — Charlie perguntou e assenti, sorrindo
como uma boba. — Sério mesmo? — Ele estava incrédulo e abriu um sorriso
lindo. — Porra! Callum! — Ele abraçou o primo e vi a felicidade genuína no
rosto de ambos. Eles se amavam muito e estavam felizes, era nítido.
— Nós queremos contar apenas quando completar doze semanas. —
Callum disse ao primo.
— Será nosso segredo. É por isso que está mimando essa garota como
um bibelô?
— Ei, sou uma mamãe. — Dei a língua e Charlie suspirou, feliz.
— Meu irmão, estou tão feliz por você! Mas como isso aconteceu? O
médico disse que seria difícil recuperar seus nadadores!
— Ele também disse que não seria impossível. — Callum não queria
contar sobre o procedimento para sua família e eu também não. No final das
contas, o que importava mesmo era o bebê e não como ele foi feito.
— Precisamos brindar a isso. Você merece ser feliz, cara. Estava mais
que na hora, sei que sempre sonhou em ter seu bebê e agora vai acontecer.
Parabéns por isso. Que vocês três sejam muito felizes juntos! — Charlie
ergueu o seu copo e brindamos. Ele com uísque e nós dois com água.
Assim como o Callum, Charlie não me deixou respirar sem perguntar
se queria algo. Percebi que a Patrícia me olhou diversas vezes, curiosa e o
rosto dela era extremamente familiar, só não sabia de onde a conhecia. Gwen
mais de uma vez veio a mesa, perguntar se estávamos bem, dar a sua atenção
de anfitriã e saía de novo. No meio da tarde nos despedimos. Ignorei as
reclamações da Gwen e as alfinetadas, sério, que mulher ciumenta.
— Pensei que passariam a noite aqui. — Choramingou com o Callum.
— Isla também tem família. — Callum explicou com doçura.
— Eles poderiam ter vindo! — Ela arregalou os olhos, ainda fazendo
drama.
— Tia... Nos encontramos em breve, amo você. — Callum abraçou e
beijou sua tia.
— Você roubou os meus dois meninos. — Gwen murmurou quando me
abraçou.
— Foi um prazer, obrigada pelo convite. — Desconversei e ela me deu
um olhar irritado. Tia Gwen fazia o tipo mamãe urso. Rainha dos meninos,
mãe de um, tia de dois e parecia ser bem grudenta. Me despedi do Tio Robert
divertido com toda cena e o Callum me levou para o carro com cuidado,
porque as pedras estavam escorregando.
Dormi a viagem de volta todinha, acordei com ele saindo do carro para
buscar as tortas que encomendei para levar para a casa dos meus pais. O GPS
estava ligado, minha bolsa aberta, ele mexeu nas minhas coisas para buscar o
ticket e colocou o endereço dos meus pais. Bocejei, realmente apaguei, olhei
as minhas mensagens e havia apenas felicitações de um bom dia de ação de
graças.
Felizmente não havia absolutamente nada da Roxanne. Ela deveria
estar muito ocupada com sua família, pela graça de Deus. Callum retornou,
colocou as tortas no banco de trás e voltou para o assento do motorista.
— Acordou a minha bela adormecida. — Me deu um beijinho nos
lábios.
— Acho que você me cansou. — Ele me abraçou, me senti meio
manhosa e sendo mimada, mas não neguei o carinho dengoso.
— Você deveria dormir um pouco mais quando chegarmos nos seus
pais. — Aconselhou e se afastou, voltando para o seu lugar e fiz um pequeno
beicinho. Queria mais beijos.
— Já estou bem. Conferiu as tortas? — Bocejei e me olhei no espelho,
ajeitando a minha aparência.
— Estão perfeitas. A de abóbora parece incrível.
— É a melhor da cidade... Depois da minha.
Callum sorriu, deu start no GPS e seguiu o caminho sem me consultar
bem ao lado e podendo informar em como chegar na casa dos meus pais. Ele
era extremamente independente, não exatamente machista, estava observando
esse lado, só gostava de fazer tudo sozinho. Era uma pessoa acostumada a
não ter pessoas do seu lado, dividindo, ajudando ou compartilhando e sim
apenas servindo.
Callum nasceu em uma família rica e poderosa, ao mesmo tempo, em
uma família com o histórico sombrio e muito difícil.
Não demoramos muito para chegarmos à simples casa de dois andares
dos meus pais. Nada ali poderia ser comparado a mansões luxuosas que
pareciam ter saído direto da Inglaterra antiga. A casa dos meus pais precisava
de uma nova pintura, cuidar do gramado, o jardim já não existia mais e o meu
pai estava reformando, muito lentamente, toda marcenaria, sem muito tempo
para tal função. Assim que conseguisse a metade do dinheiro, iria me dedicar
em cuidar da casa deles e trocar o carro do meu pai, ele precisava de um mais
confortável e espaçoso para transportar a minha mãe.
Instruí o Callum para estacionar na garagem, quando a Laila chegasse,
ela podia colocar o carro atrás do dele. Assim ninguém iria ocupar a calçada e
atrapalhar a rua.
— Vou te levar primeiro e depois venho buscar as tortas. — Callum
abriu a porta do seu lado e bufei.
— Consigo andar sozinha até lá. — Revirei os olhos e a primeira coisa
que aconteceu quando saí do carro foi escorregar. Me apoiei na porta, quase
caindo de bunda no chão e molhei minha perna na grama. — Ops!
Callum deu a volta rápido.
— A criaturinha teimosa nem deixou falar que estava começando a
nevar enquanto dormia. — Abaixou e me ergueu no colo no estilo noiva. —
Meus sapatos não são um salto fino e sim preparados para andar na neve!
— Vai brigar comigo de novo? Primeiro foi por que me atrasei e agora
por que saí do carro? — Abracei o seu pescoço.
— Só não vou brigar com você porque os seus peitos estão bem no meu
rosto e não tem como ficar bravo muito tempo. — Balançou as sobrancelhas
e ri, estava toda tapada com o casaco e não tinha como ver nada. Callum me
colocou de pé no instante que meu pai abriu a porta, sorrindo.
— Ia ser uma bela queda, Annie. — Papai me deu um abraço.
— Pai, quero que conheça meu namorado, Callum Lowell. Baby, esse é
o meu papai! O melhor e mais bonito de todos! — Sorri empolgada e vi que o
olhar do Callum ficou melancólico por uns segundos e então sorriu para meu
pai com simpatia.
— É um prazer conhecê-lo, Sr. Edwards. Isla só consegue dizer que
tem um pai incrível. — Esticou a mão e o meu pai apertou firme, dando o
famoso olhar de pai policial muito bravo. Callum estava tentando não rir.
Fiquei feliz que não tirou sarro do meu pai.
— Ouvi boas coisas sobre você também, por favor, me chame de Jay.
Vamos entrar, está muito frio.
— Vou buscar as tortas, já volto.
Entrei com o meu pai, logo tirando o casaco e os sapatos, prendendo o
meu cabelo no alto, ficando mais à vontade em casa. Meu pai estava de
braços cruzados, me encarando. Fiz uma expressão inocente. Normalmente,
ele não se metia na minha vida, apenas deixava claro quando não gostava de
um namorado. Meu pai costumava dar chances para conhecer a pessoa – e eu
sabia que mandava verificar a ficha policial do possível candidato.
— Callum Lowell?
— Qual o problema?
— Você disse: “papai, irei apresentar meu novo namorado, ele é
incrível e muito gentil comigo, faz todas as minhas vontades e um monte de
blá blá blá”, mas não disse que era um namorado bilionário, praticamente
dono do estado. — Apontou para porta e sorri. — Ele é dono do Patriots.
— Eu sei.
— E da cidade inteira.
— Também sei.
— E do resto do estado!
— Pai você está surtando, tudo bem. Callum é uma pessoa muito boa e
maravilhosa. Não fica preocupado. Nós nos conhecemos e nos apaixonamos.
Papai me deu um olhar profundo.
— Não quero que se machuque, Annie. Você é única... Um homem
com dinheiro e a posição do Callum... A família dele.
— O que você sabe sobre a família dele, pai? — Arqueei a
sobrancelha.
Meu pai suspirou e ficou quieto.
— Nada, baby. Seja feliz, apenas isso. — Me deu um beijo na testa e
um abraço apertado.
Callum bateu na porta, segurando as tortas e a minha bolsa grande onde
carregava tudo que poderia precisar. Saí dos braços do meu pai para os dele,
assim que colocou tudo na mesa da sala. Minha mãe estava dormindo,
aproveitei o momento para criar um elo entre meu pai e o Callum. Não sabia
do futuro, mas sabia que o papai seria um avô e o Callum um pai. Uma
criança os uniria para sempre.
Meu pai já tinha o jantar quase todo adiantado, o peru estava assando e
era enorme. O cheiro fez o meu estômago roncar. Preparei a salada que já
estava cortada e separada, observando os dois conversarem na sala. Callum
ficou fascinado com a coleção premiada do Patriots, ficaram falando de
futebol e ligaram a televisão para o jogo. Do meu lugar, sorri para os dois
batendo o maior papo e me perguntei que diabos meu pai sabia sobre os
Lowell que não podia me contar.
Laila chegou fazendo barulho como sempre, agarrando o meu pai e até
foi simpática com o Callum. Precisava perguntar o que ela tinha contra ele,
não entendia a sua animosidade. Michael gostava muito do Callum, Benji
também, embora quisesse o meu homem para ele. Cassie chegou mais tímida,
trocamos um longo e apertado abraço, com o significado que era a primeira
vez que ela nos encontrava depois da confirmação da gestação.
— Um novo namorado e uma nova melhor amiga. — Laila me
empurrou com os ombros. Sorri e revirei os olhos.
— Deixa de ser ciumenta, Laila. A Cassie é muito legal, deveria ser
amiga dela também. — Aconselhei, porque não tinha muita paciência para os
seus ataques de ciúme, principalmente depois que ela largou tudo para ir
embora para Londres. Aprendi sobre prioridades e como lidar com o
sentimento de abandono. Eu a amava, mas era livre para fazer novas
amizades.
— Vou pensar sobre isso. — Fez um beicinho adorável e me serviu
mais vinho. Ela não desistia. Me senti mal de virar toda a minha taça na pia,
mas eles iriam querer saber o motivo de não estar bebendo e era um saco ter
que ficar dando explicações. Aquele vinho era caro, doeu no bolso.
— Por que está tratando o Callum tão friamente? — Questionei curiosa.
Laila me deu um olhar incerto.
— Não sei, Isla. Talvez seja por todas as histórias da família Lowell,
por você estar diferente... Nunca te vi entregando-se tão rápido a um homem
assim... Me preocupa que ele seja como...
Arquejei e a interrompi imediatamente.
— Nunca nessa vida, ok? O Callum não tem absolutamente nada a ver
com o Prince. Sim, ele é rico, está acostumado a controlar tudo e ter todos
aos seus pés, ainda precisamos de uns ajustes, mas ele...
Laila suspirou como se estivesse certa.
— Viu só? Está defendendo-o com a veemência que eu defendia o
embuste.
Olhei para ela bem séria. Não podia acreditar que depois do desastre
que foi o Hank, ela podia achar que me envolveria com uma pessoa que fosse
minimamente parecida com o psicopata do seu ex-marido.
— Não fica chateada comigo, Isla. Só estou querendo te proteger. —
Acariciou o meu braço e foi atender a porta. Minha expressão emburrada
chamou atenção do Callum, que me olhou preocupado e apenas sorri,
alegando estar bem e fui receber o Charlie, apresentando ao meu pai. Cassie
revirou os olhos quando o primo do seu chefe se sentou bem do seu lado e ri.
A noite seria muito divertida com esses dois brigando como gato e rato.
Decidi ignorar Laila, ela estava sendo absurda. Callum não era nada
violento e abusivo como o Prince. Ele tinha muitos problemas e segredos,
mas não era um agressor de mulheres.
CAPÍTULO 14
Callum.

O silêncio do meu apartamento era angustiante. Isla ficou para dormir


com os seus pais e vim direto para casa, com o meu peito apertado. Estar no
seio da família Edwards me trouxe uma amargura imensa, toda dor e
sofrimento que subjugava diariamente transbordaram em uma única noite.
Eles eram pobres, viviam uma vida simples, sofreram muito, souberam se
perdoar e eram felizes. Se amavam.
Isla não tratava a sua mãe mal, apesar de toda a mágoa. Seu pai era
simpático, divertido e muito inteligente. Um homem que carregava no rosto
as marcas de uma vida difícil e o seu olhar derretia de amor pela filha. Isla
era a luz na vida dos pais, os dois a amavam e idolatravam. Ela fazia tudo por
eles, mesmo com todos os problemas.
O que me deixou amargo foi reconhecer o pai da Isla. Ele me conheceu
muitos anos atrás. Não lembrava, seu nome não me trouxe associação até que
o vi. Demorei a noite inteira para trazer a conexão, ele foi extremamente
cuidadoso em não falar do passado, até que a irritante da Laila disse que o pai
da Isla foi um policial novato em Lowell. A intenção dela era saber se os
rumores sobre a minha família eram verdadeiros.
Isla ficou vermelha de vergonha, me pedindo desculpas e queria brigar
com a sua amiga. Não deixei. Laila não podia estragar a noite.
Charlie encarou a Laila com raiva. Cassie segurou o braço dele,
impedindo-o de falar algo. Michael ficou muito sem graça pela sua noiva,
Benji e a mãe deles ficaram em silêncio. A mãe da Isla com muita dificuldade
esticou a mão e tocou a minha, acariciando como uma mãe faz com um filho
que fica sem graça diante de uma classe de pessoas encarando-o. Jay limpou
a garganta e disse que todas as histórias eram contos, mentiras, que ele nunca
foi chamado para a residência Lowell, a não ser para comer os famosos
biscoitos da Charlotte.
Sorri ao falar da minha governanta e a Isla começou a tecer elogios a
Charlotte, logo a Cassie jogou um assunto sobre culinária. Olhei bem dentro
dos olhos da Laila, demonstrando minha insatisfação. O que ela tinha contra
mim? Tinha certeza de que não a conhecia e ela não era uma ex-namorada do
Charlie para ter tanta raiva dos Lowell. Era melhor que a Laila não ficasse no
meu caminho ou aí sim ela iria saber o que era me irritar. Não ia aceitar que
jogasse a Isla em uma disputa, não durante a gestação, um momento que ela
só precisava ser feliz e mimada.
O problema era que o pai da Isla mentiu.
Ele foi chamado mais de uma vez para a residência Lowell.
A primeira vez foi quando a minha mãe morreu. Lembrava de ele
abaixar na minha frente e dizer o seu nome, estender a mão e me passar
segurança o suficiente para ir com ele. Trocou a minha bermuda suja de xixi,
me colocou sentado e me ouviu contar como a minha mãe morreu bem diante
dos meus olhos.
Ele me entregou um cartão com seu nome e número de telefone.
A segunda vez foi quando atirei no meu pai por bater no meu irmão até
desmaiar.
Pela primeira vez na minha vida, estava com muita vergonha.
Assim que cheguei em casa, precisava ter certeza de que o pai da Isla
era o mesmo homem que acreditava ser um herói quando criança. Revirei
todo o meu escritório, procurando uma maldita caixa que guardava algumas
lembranças e joguei tudo no chão, livros, papéis, telefone, armários e achei a
maldita caixa de ferro velho dentro de um dos armários cheios de coisas.
Virei tudo em cima da mesa.
Junto com os dinossauros que meu avô me deu, o colar de pérola que
minha mãe usava todo dia, o anel de casamento da minha avó, Lady Abigail
de Kingston, que a minha mãe deixou para dar a mulher que um dia iria me
casar e outras coisas antigas estava o velho e amassado cartão. Jay Edwards.
O papel estava sujo de sangue com as marcas dos meus dedos.
O pai da Isla me salvou de ser preso aos doze anos de idade.
O pai da Isla tentou prender meu pai por me deixar preso no porão com
minha mãe morta por mais de doze horas.
Jay Edwards era avô do meu bebê.
Como não vi essa merda acontecendo antes? Onde estava com a
cabeça?
— Callum? O que aconteceu aqui? — Ergui o rosto, surpreso e a Isla
estava parada na porta do escritório. — Oi baby.
— O que? — Meu rosto estava molhado e segurava as pérolas da
minha mãe. Ver a Isla no meio da minha dor foi como um sopro de ar puro.
Respirei fundo, tentando me acalmar, mas só chorei de novo.
— Não consegui ficar lá... Te achei estranho ao vir embora. Estava
certa. — Tirou o casaco e passou com cuidado pelas coisas viradas e
quebradas. Afastei-me da mesa e Isla imediatamente sentou-se no meu colo,
seu olhar demonstrava preocupação e medo. — Conversa comigo, o que está
acontecendo? — Colocou a mão esquerda no meu coração. Olhei para a mesa
e ela me acompanhou, pegando o velho cartão do seu pai. — Então, você já
conheceu o meu velho homem?
— Ele é um homem bom. — Falei baixinho.
— A pergunta da Laila te tirou do eixo, não foi? — Tirou o meu cabelo
do rosto, beijando a minha bochecha e ficamos abraçados.
— Não lembrei do seu pai de primeira, não liguei o nome à história.
Apenas vivo a minha vida sem lembrar do passado. Quando o vi hoje, tive a
sensação de que o conhecia, só que conheço muita gente, não maldei.
Isla secou o meu rosto com o polegar.
— Continue falando, por favor. Quero entender e te ajudar.
— Ninguém pode ajudar, nunca puderam, isso é coisa do passado e já
acabou.
— Callum...
— Isla... Por favor, não. Seu pai foi alguém muito importante.
— Um abraço ajuda agora? — Ela desistiu e suspirei, abraçando-a
apertado.
— Veio sozinha?
— Não. Meu pai me trouxe rapidinho, minha mãe estava dormindo e
ele não queria que pegasse um táxi tão tarde.
Isla me atraiu para o quarto e depois para o banheiro, entramos no
chuveiro quente e ela só me abraçou, sem falar nada e quando fomos para
cama, nus, aos beijos, fizemos sexo lentamente até nosso clímax em
conjunto. Fiquei deitado com a minha cabeça próximo a sua barriga, beijando
abaixo do seu umbigo repetidamente.
— Meu pai costumava me deixar trancado no porão por longas horas...
— Sussurrei e senti as suas mãos em meus cabelos. — Ele me batia, dizia
para não chorar e aprender a lidar com a minha dor. Conheci o seu pai em
uma dessas vezes. Ele me trancou lá para assistir o quanto minha mãe era
fraca, segundo as suas palavras. Me deixou no canto escuro, frio e eu tinha
dez anos. Minha mãe estava em um quadro profundo de depressão e depois
de horas trancada, olhando para mim, ela bebeu vodca e todos os remédios
para dormir, como ele queria.
— Nenhuma pessoa depressiva quer se matar, apenas acabar com a
dor que não sabem explicar.
— A dor dela era ser casada com o meu pai. — Voltei a encarar o seu
ventre. — Tia Gwen achou estranho que a mamãe não ligou. Elas se falavam
todos os dias no mesmo horário, meu pai viajou depois de nos trancar lá e
então ela chamou a polícia. Eles procuraram por toda a propriedade, até nos
encontrar no porão. Eu estava sentado no canto, mijado, com fome e minha
mãe do outro lado, morta. Seu pai estava lá... E ele foi incrível.
— Sinto muito por isso, Callum.
— A vida é tão louca, que o homem que acreditou em mim, será avô do
meu bebê. Todos aceitaram a desculpa do meu pai, que minha mãe estava
depressiva, me trancou no porão com ela e se matou. Fiquei tão traumatizado
que não consegui sair. Ele me fez confirmar essa história depois que já tinha
contado a verdade para seu pai...
— Olha para mim, Callum. — Isla me puxou bruscamente pelos
cabelos. — Desculpa a brutalidade... Não foi sua culpa. Você era uma
criança.
— Vai ser diferente, Isla. Quero provar para o mundo que um bebê
Lowell será amado, bem cuidado e muito bem-criado. — Segurei o seu
quadril e beijei a sua barriga. — Eu te amo, bebê.
Isla sorriu emocionada.
— Claro que vai ser, Callum. Você não é o seu pai e está aproveitando
para reescrever a história da sua família. E vou te ajudar... Quanto ao destino
te unir ao meu pai em família, só prova que estamos no caminho certo. Agora
vem aqui e me dá um beijo, a mamãe também merece beijos, não só o bebê.
Sorrindo para a sua bobeira, distribui beijos por todo seu corpo, dando
uma atenção exclusiva aos seus peitos incríveis e por fim a sua boca.
Dormimos juntos e acordei com a cama vazia. Era muito cedo para Isla
estar fora da cama. Saí do quarto depois de vestir uma cueca, procurei no
segundo andar e desci a escada, vendo-a praticamente dentro da geladeira e
encostei no balcão, olhando a sua bunda. Adorei que ela não sentiu
necessidade de se cobrir. Isla adorava ficar sem roupa, era uma benção.
— Te peguei, espertinha.
Isla virou, com uma colher cheia de creme de avelã na boca e arregalou
os olhos.
— Isla Edwards! Olha o doce! — Puxei a colher da sua boca.
— Só um pouquinho! Acordei com fome! — Coloquei-a sentada no
balcão. — Acho que também acordei com outra fome. — Pegou a colher da
minha mão e enfiou no pote, passando no meu peitoral. Fiquei todo arrepiado
com a sua língua limpando o doce. Enfiei um dedo dentro do pote e ofereci,
olhando bem dentro dos meus olhos, lambeu a ponta do meu dedo antes de
chupar, fazendo um estalo alto ao soltar. — Já ganhou um boquete na
cozinha?
— Você é a única mulher a ficar nesse apartamento, Isla.
— Sério? Você mora aqui há anos!
— Sou tímido e reservado.
— O mesmo homem que queria chupar meus peitos antes de me dar o
primeiro beijo na boca? — Me deu um olhar engraçado.
— Era o meu pau falando. — Retruquei ganhando a sua risada bonita.
— Seu pau vai ser chupado agora.
— Por favor. — Praticamente implorei.
Isla e eu passamos o dia no clima de brincadeiras, sexo e ela dormiu
quando nos deitamos para assistir um filme. Estava muito frio e não queria
que saísse de casa, então, pedi o nosso jantar e arrumei a mesa enquanto ela
tomava um banho.
— Uau, que mesa linda. — Apareceu na cozinha usando um vestidinho
floral que ficou aqui das muitas vezes que dormiu comigo.
— Sou bom em muitas coisas, inclusive em arrumar a mesa. Tia Gwen
me ensinou, ela gostava muito e eu quis aprender para agradá-la. — Sorri e
puxei a cadeira. — Por favor, madame.
— Você precisa arrumar o escritório. — Isla falou em um tom maternal
muito bonitinho. — Colocar tudo no lugar e limpar.
— É mesmo? — Desafiei.
— Acha que é assim? Jogou, quebrou, chorou, fez sexo e passou a
pirraça? Você é um homem adulto, Callum. Sei que tem feridas, todos nós
temos, as suas são meio pesadas... mas é um adulto. Se jogar qualquer coisa
no chão, vai catar. Eu não vou permitir que o nosso bebê ache bonito esse
comportamento porque vê o pai fazendo. — Arqueou a sobrancelha e senti
meu rosto esquentar. Recado recebido, mamãe!
— Tudo bem, vou limpar tudo.
— Obrigada, baby. — Sorriu e ergueu a tampa da travessa. — Ai que
delícia! Quero a coxa! É recheada?
Fiquei parado, chocado e ao mesmo tempo feliz. Aquela mulher era
única. E porra, tinha tudo para ser minha. Como poderia deixá-la solta?
— Quer namorar comigo?
Isla largou a colher dentro da travessa bruscamente.
— Você é o único homem que ganha um esporro de uma mulher e em
seguida a pede em namoro. Imagino que esteja falando da coisa real, certo?
— Sim. Namorada real, não só a história por causa do bebê.
Isla moveu-se na cadeira e segurei a sua mão, convidando-a para sentar
no meu colo. Ela veio de bom grado.
— E como vai ficar o nosso acordo? — Senti sua mão no meu cabelo
da nuca, onde ela sempre enrolava uma mecha nos dedos.
— Do mesmo jeito. Nós não precisamos contar a ninguém sobre o
procedimento...
— Se começarmos a namorar, não vou aceitar o dinheiro. Antes era um
acordo, agora é real. Eu... estou muito encantada. Muito perto de estar
completamente apaixonada por você e não vou me sentir bem com o dinheiro
dessa forma, parece até orgulho bobo, mas... — Mordeu o lábio. Seu olhar
inseguro me deixou quebrado.
— Não tem nada a ver.
— Tem tudo a ver.
— Isla... nós ficamos íntimos e passamos a gostar do outro. O que isso
altera no nosso acordo?
— A cláusula de que não teríamos um relacionamento amoroso e que
não podíamos estar em um relacionamento com outras pessoas por quase três
anos.
— Falou certo... Outras pessoas. Nós estamos começando um
relacionamento. Não quer o dinheiro? Tudo bem, mas só se você aceitar
minha ajuda quando achar necessário, não a quero correndo feito louca para
ter dinheiro extra, quando posso te ajudar.
— Tudo bem. — Me deu um beijo suave. — Aceito ser a sua
namorada. E o meu primeiro questionamento como namorada vai ser...
Alguma vez fez terapia?
— Desde que fui morar sozinho, minha tia marcou a primeira consulta.
Ele me deu alta alguns meses atrás... Ainda faço algumas consultas quando
acho necessário.
— Acha que o meu pai pode ser um gatilho?
— Sinto muito por te assustar, não sou violento, não sou o cara que
quebra os móveis para depois quebrar a mulher. Cresci em um ambiente
violento, Isla. Jamais seria assim com uma mulher, via o quanto minha mãe
sofria e aquilo doía em mim. Ser um homem como o meu pai não está em
cogitação... É que às vezes fico nervoso, sem controle, odeio sentir essa dor
no meu peito e eu queria achar o cartão, ter certeza de que era o seu pai. — A
minha desculpa parecia de um idiota violento e me senti ainda pior. Eu não
queria assustá-la e não queria ser um homem realmente ruim aos seus olhos.
Ela era... Tão doce e angelical.
— Foi um gatilho.
— Não sei. Acho que vou ter que marcar uma consulta, porque eu
realmente lembrei da noite que minha mãe morreu e é algo que... Ainda dói.
— É claro que dói, baby. Ela era a sua mãe e sei que você a amava
muito. Se precisar de companhia para consulta, irei com você. — Me deu um
beijo suave na bochecha. Limpei a minha garganta, pensando em como
abordar um assunto realmente delicado.
— Sei da história da Laila. Fiz uma pesquisa sobre ela depois que nos
encontramos no seu apartamento e foi meio arisca comigo. Não sou um
homem violento, só tive uma namorada e eu a peguei na cama com outro
homem. Tudo que fiz foi antagonizar a sua existência, mas não a machuquei
fisicamente, nem encostei nela.
— Sua ex-namorada te traiu? Poxa, sinto muito. O meu também e com
a chefe dele! Agora ele me persegue com flores e chocolate, como se tivesse
obrigação de perdoá-lo. Sinceramente, acho que ele poderia apenas ter
terminado comigo, seria menos humilhante. — Reclamou e pegou um
pedacinho do frango.
— É melhor que esse merdinha fique bem longe de você. Não sou
violento com mulheres, mas não digo o mesmo sobre ex-namorados babacas
e o Charlie. A gente briga... e às vezes rola uns empurrões. — Isla sorriu,
coloquei seu cabelo atrás da orelha. — Minha ex-namorada me traiu com
meu irmão. — Isla me encarou de boca aberta. — A Patrícia, que conheceu
hoje. Ela e meu irmão estavam juntos antes que terminássemos. Não sei se
ela terminaria comigo se não tivesse encontrado os dois juntos.
— Estou chocada. — Isla enfiou um pedaço de frango na boca. — Vai
falando enquanto como, porque estou com fome, mas não quero que o
assunto acabe.
Sorri para a sua boca cheia e servi um pouco de suco na sua taça.
— Não tem muito que falar, baby. É isso. Estávamos juntos por quatro
anos, meu irmão morava conosco, quer dizer, todos nós morávamos na
residência Lowell. Viajava muito a trabalho e não vou dizer que era um bom
namorado, porque não era. Tratava a Patrícia com muita indiferença e frieza,
errei muito com ela, então a traição dela não é inexplicável. Já o meu irmão...
— Nós nunca vamos entender o motivo do outro de tomar tal atitude,
acontece. Eu perdoei o Hank, de verdade, ele teve os seus motivos distorcidos
e um pensamento bem arcaico, o perdoei porque eu precisava deixar a nossa
história para trás. Não quer dizer que vou voltar com ele por isso. Você
deveria perdoar seu irmão e a Patrícia... Ele sempre vai ser o seu único irmão.
— Prefiro manter as coisas como estão.
Era melhor que Isla não me pressionasse com aquele assunto, porque
era uma causa perdida. Não voltaria a conviver com o Cage, como se
fossemos uma família feliz. Isla me deu um olharzinho e esperta como era,
captou o meu tom e eu tinha certeza de que não seria a última vez que
falaríamos sobre perdão e o meu irmão na mesma frase.
— Esse frango é muito bom. — Mudou de assunto. Muito espertinha.
Ela tinha sorte por estar com a bunda bem aninhada com meu pau e sem sutiã
por baixo do vestidinho leve.
— Coq Au Vin*. — Corrigi apenas para provocá-la.
— Cocó com vinho. — Sorriu. Implicante.
Revirei os olhos e ela continuou comendo sem fazer um prato, apenas
beliscando, mergulhando as batatas no molho, recolhendo todas as azeitonas
da salada e as vagens. Comi conforme ela dava espaço. A outra sorte dela era
que está grávida do meu bebê, caso contrário, teríamos uma briga pelo jantar.
Como esperado, passou mal por ter comido demais e por estar enjoando com
facilidade.
Senti que segurá-la gemendo com dor no estômago seria minha nova
rotina.
CAPÍTULO 15
Isla.

Me abracei com o meu casaco, parada em frente ao prédio da revista,


esperando o motorista da Roxanne trazer uma mala de roupas que a minha
chefe esqueceu em casa e queria que eu fosse buscar, por sorte, o motorista
concordou em ir buscar e a governanta dela em entregar nas mãos dele,
porque era de confiança. Para que a Roxanne não reclamasse, desci para subir
com a bendita mala e ao ver o tamanho quase caí de bunda na calçada.
Consegui que um segurança me ajudasse e ao subir, minha chefe
parecia louca. O diretor da editora estava na sua sala. Deixei a mala no canto
e não entendi as olhadas furiosas que recebia. Não demorei muito, por que ela
estava tão irritada?
— Olá, Srta. Edwards! Como vai?
O Sr. Reynolds me cumprimentava educadamente, mas nunca foi tão
efusivamente simpático. Fiquei muito sem graça, porque ele estava me
tratando diferente porque o Callum confirmou o nosso relacionamento para
os veículos de mídia, postando uma única foto nossa em suas redes sociais.
Em seguida, mudou o seu status de relacionamento no facebook.
— Estou bem, Sr. Reynolds. Obrigada por perguntar.
— Me procure se precisar de algo. — Sorriu alegremente e saiu da
minha sala, cumprimentando algumas pessoas no caminho.
— Isso foi constrangedor. — Cait sussurrou e concordei. — Ela está
furiosa. — Apontou para a Roxanne. — Abra o seu e-mail.
Rapidamente ocupei a minha cadeira, rodando até ao meu computador,
movendo o mouse e abri o meu e-mail. Havia um e-mail não lido da
assistente do diretor da editora e era um informativo aprovado pelo conselho
de acionistas com as novas regras de vestimentas, novos cardápios no
refeitório da empresa e novas regras de comportamento entre chefe e
funcionários.
Tudo que podia dizer era “puta que pariu, Callum!”. Bati minha mão
na testa, chegando a sentir náusea, de tanto que um simples e-mail iria me
deixar na merda. Era basicamente uma lista de regras contra a forma que
Roxanne me tratava. Só faltava dizer “Roxanne Miller está proibida de fazer
da Isla a sua escrava particular”. Fechei os meus olhos, rezando e eu sabia
que o Callum era dono de mais da metade da editora, só que fazer aquilo
significava dar combustível para a Roxanne me foder.
— Isla?
Falando na esposa do diabo...
— Boa sorte. — Cait gesticulou com os lábios.
Empurrei as portas abertas e parei na sua frente. Roxanne só queria as
roupas da mala, pediu por favor com muita ironia e um sorriso frio. Entreguei
a mala de roupas e saí, e aí, ela chamou algumas meninas da fotografia, a Cait
e as outras assistentes para dar as roupas de luxo que trouxe de Paris. Revirei
os olhos para o seu comportamento e segui trabalhando, afinal, a coluna da
semana precisava ser publicada.
No final do dia, Roxanne saiu da sua sala e parou em frente à minha
mesa.
— Não sobrou muita coisa da viagem, apenas algumas peças PP e pelo
modo que está engordando, não vai dar. Não é como se precisasse agora que
está prestes a ser uma Lowell. — Bateu com as unhas na minha mesa, seu
olhar era enervante. — Sabe, Isla. Sinto que você é como uma filha do
coração e por isso tenho a obrigação de te dar um alerta. Os homens da
família Lowell são como vampiros, querida. Eles te sugam ao ponto de não
deixar nada. Tenho certeza de que Callum é parecido com o pai...
Comparar Callum ao pai foi meu ápice ruim do dia. Depois de
acompanhá-lo a uma sessão de terapia e ver o quanto ele sofria com tudo que
seu pai lhe fez passar, passei a me sentir muito protetora com os seus
sentimentos.
Callum era o menino do porão, saber que ele era a criança torturada ali
me doeu de tantas maneiras. Imaginei, como uma mulher grávida e ansiosa
para viver a maternidade, como me sentiria. Como a mãe dele podia suportar
viver com um homem tão abusivo quanto o seu marido era e ainda
descontava o ódio que tinha da vida nos filhos. Para proteger o irmão, o meu
Callum de sorriso doce se entregava no lugar.
A história verdadeira era ainda mais cruel que o conto popular.
Fiquei de pé e me apoiei na mesa.
— Tenho mãe, Roxanne. Obrigada pelo aviso, mas eu dispenso. —
Peguei a minha bolsa, guardando meu telefone e a olhei. — Boa noite.
— Não diga que não te avisei, querida. — Saiu andando com sua bolsa
Prada exclusiva que não merecia.
Irritada, esperei que entrasse em um elevador e entrei em outro só para
não correr o risco de ela voltar e ter que encontrá-la novamente. Infelizmente
a Roxanne estava falando com um homem que não conhecia e senti o seu
olhar potente em mim até o momento em que entrei no carro. Tray me
conduziu para o Pub, onde iria encontrar com os meus amigos para
comermos uma besteira juntos.
Estava muito frio e entrei correndo para me aquecer. Laila já estava
bebendo com o Michael em uma mesa grande e o Benji estava no bar
conversando com um homem bonito. Enviei uma mensagem para o Callum,
avisando que já estava no bar, faminta e me sentando com a Laila. Ele viria
me buscar, não estava em um bom dia para aturar a Laila e eu queria estar
sozinha com minha amiga, para dar um freio no seu comportamento.
Assim que me sentei, pedi um hamburguer enorme. A criança
crescendo no meu ventre iria me devorar, porque ela me fazia sentir uma
fome intensa.
— Você vai comer carboidratos? — Laila mexeu o seu canudinho de
alguma bebida cheia de limão. O cheiro era forte e me deixou enjoada.
— Não comi o dia inteiro. — Menti e olhei a mensagem do Callum. Ele
digitou um longo texto, contando sobre o seu almoço com a Cassie e o caso
que estavam trabalhando juntos.
Adorava as nossas conversas e o quanto ele era capaz de compartilhar
sobre o seu dia. Ser um CEO era muito trabalhoso. Sempre me admirei por
lidar com muitas coisas ao mesmo tempo, mas o Callum mantinha vários
projetos, empresas, funcionários e negócios espalhados pelo país em pleno
controle e sem esquecer o nome de uma pessoa. Ele sabia nome, telefone e
muitas das vezes até o aniversário, porque assinava pessoalmente todos os
cartões-presente dos seus funcionários. Meghan separava por mês e eu o
ajudei a assinar em torno de 400 cartões semana passada. Foi estranho,
cansativo e admirável.
— Terra para Isla. — Laila estalou os dedos no meu rosto. — Já sei!
Está falando com o Sr. Controlador?
— Não. Ele está falando com a Sra. Controladora. — Retruquei e
coloquei o meu telefone na mesa. — Amiga. Por favor, eu pedi uma vez,
duas e essa é a terceira e última. Para de antagonizar o Callum como se ele
fosse o Prince. — Soltei na frente do Michael mesmo. Laila me olhou
desesperada. Prince era um assunto delicado entre eles e naquele momento
não estava me importando. — Poxa vida, é um começo de um
relacionamento. É claro que quero ficar com ele. É tudo diferente de todos os
namorados que já tive, o sexo é incrível, maravilhoso e nós queremos fazer o
tempo inteiro. — Fui bem honesta. — Também conversamos muito, nos
divertimos e eu realmente amo ficar deitada do lado dele fazendo nada.
Callum já escolhe filmes do seu gosto, porque sabe que vou dormir em
quinze minutos e eu sei que ele odeia Gossip Girl, só assiste porque quer ficar
deitado comigo e transar depois que o episódio acabar. Você deveria estar
feliz que um homem está fazendo um puta esforço para me mimar, não
mandar flores porque fez merda, mas me enviar uma salada de frutas no meio
do dia porque sabe que não tive tempo para comer e ir me buscar do outro
lado da cidade bem tarde para que não pegue um táxi sozinha. Estou feliz,
por que você não pode ficar feliz por mim?
Laila abriu a boca chocada com meu vômito verbal e o Michael até
soltou um pigarro, surpreso, porém mantendo a discrição.
— Sinto muito por ser implicante, não sei, é mais forte que eu. É que o
vejo abrindo a porta, pegando as coisas para você, sei lá... Só acho sufocante,
porque essa não é você.
— Essa sou eu, sim. Só que nunca tive um namorado que achava que
era importante o suficiente para pegar um copo de água para mim. Callum é
assim, Laila. Se você permitir, ele vai te mimar também. Cassie é uma das
suas melhores amigas e só porque ela teve um dia ruim, ele mandou entregar
pizza e cerveja na casa dela, porque é o que ela gosta quando está estressada.
Entende o que quero dizer?
— Desculpa, amiga. — Laila segurou a minha mão apertado. — É que
fico preocupada. Você chorou tanto com Hank...
— Eu sei, mas passou e estou feliz.
— Então vamos beber e comemorar isso. Prometo que vou ser mais
gentil com o Callum e me dedicar a conhecê-lo melhor.
— E por favor, você vai ser presa se continuar dando um jeito de
machucar o Hank nos eventos que o encontra. Deixa o idiota para lá. — Pedi
sem conter minha vontade de rir. — Você é louca. Ele foi no meu trabalho
dizer que bateu com uma pasta acidentalmente nas bolas dele.
— Ninguém mandou dormir com a chefe, enquanto estava
comprometido com você. — Cruzou os braços, Michael e eu rimos. — Vou
parar. Não quero ser presa. — Sorriu timidamente e o Michael sussurrou algo
em seu ouvido. — Você pode me prender com as algemas.
— Ecaaaaa! — Resmunguei e eles riram.
— Quer beber o quê? — Michael ofereceu porque iria ao bar buscar
mais bebidas.
— Apenas água. — Ele saiu, meio confuso com meu pedido.
— Ah não! Tive um dia ruim, quero beber um pouquinho e relaxar.
Meu chefe vai se casar e estou atolada, porque vai sair de lua-de-mel.
— Não posso beber, Laila.
— Você está tão chata! O que tem? — Choramingou e ri, ainda
paciente.
— Não posso beber nos próximos oito meses... E talvez depois com a
amamentação. — Falei casualmente, aguardando a sua reação. Callum e eu
concordamos que esconder a gravidez da minha melhor amiga por muito
tempo era maldade. Não vamos contar a mais ninguém. Quando Laila
entendeu o que quis dizer, pulverizou a sua bebida toda em mim, soltando um
grito agudo que atraiu atenção do pub inteiro.
— Isla Annie Edwards! Entendi certo? — Falou alto e depois inclinou-
se para frente, me encarando com os olhos arregalados. — Você está
grávida? — Sussurrou e sorri. — Estou passando mal. Eu surto ou fico feliz?
— Fica feliz, porque estou e muito!
Laila pulou na mesa, me agarrando e quase caímos no chão.
— Você está realizando seu sonho! — E começou a chorar.
Essa era a Laila. Intrometida, bagunceira, muito protetora e chorona.
Agarradas, choramos juntas e o Michael estava sem entender nada. Benji
puxou uma cadeira, esperando nosso momento acabar, para entender o que
estava acontecendo.
— Como aconteceu? — Arqueei a sobrancelha. — Ok. Quando?
Quantas semanas?
— Aconteceu no nosso primeiro encontro. — Dei de ombros.
— Você nunca faz sexo no primeiro encontro. — Me olhou
desconfiada e surpresa. — Caramba! Isla! Que loucura! E ele está bem com
isso? Feliz? É por isso que você não move uma agulha perto dele, faz todo
sentido essa superproteção e eu sendo uma idiota! Ai amiga, por que não me
falou antes?
— Foi tudo muito rápido e eu queria a minha mente livre para entender
o momento. Callum e eu precisávamos decidir muita coisa juntos e agora
estamos contando apenas para nossos amigos. Ninguém mais pode saber...
— Você queria tanto ter um bebezinho! Estou emocionada.
Benji tossiu nesse momento.
— Eu ouvi bebezinho?
— Isla está grávida! — Laila sussurrou meio gritando. — Seremos tios!
— Puta que pariu, garota! — Benji me abraçou apertado. — Se você
não está surtando, estamos bem.
— Quero que saiba que não importa que Callum seja dono da porra
toda, nós somos os seus amigos, somos uma família e estaremos sempre com
você. — Laila segurou as minhas mãos. — Se der certo entre vocês, amém.
Se não der, estamos juntas. Para sempre.
Michael me deu um abraço apertado, desejando felicidades e os meus
amigos decidiram comemorar. Primeiro comi meu hambúrguer. Benji até
filmou, postando no stories e sabia que a Roxanne iria comentar algo no dia
seguinte. Não engordei nada expressivo ainda, mas estava visivelmente com
o rosto mais inchado e com mais seios. Eles coçavam e doíam todo maldito
dia.
Callum apostou comigo que irão crescer dois números.
Não falamos muito sobre o bebê no Pub para que nenhuma mesa
escutasse a nossa conversa. Quando o Callum chegou para me buscar, os
meus amigos fizeram questão de chamá-lo para uma bebida e festejar. Laila
estava exultante por mim, ela sempre me disse que seria uma mãe incrível e
que poderia realizar o meu sonho a qualquer momento.
Callum ficou surpreso com a felicidade dos meus amigos e então
relaxou, exibindo o seu sorriso bonito que só eu conhecia. Laila chegou
piscar. Callum era lindo bancando o menino mal, muito frio e distante, mas
quando sorria? Era surreal. Minha melhor amiga me deu um olhar e ri,
entendia bem o sentimento de ficar deslumbrada. Ele me deslumbrava muito
quando acordava pela manhã e sorria daquele jeito.
A conversa estava boa, mas eu estava ficando com muito sono.
— Agora tenho que levar a mamãe para casa. — Callum me ajudou
com o casaco e sorrimos para o outro. Casa. Era sempre onde ele estava.
— Precisamos sair para fazermos compras. — Laila já queria comprar
roupas para o bebê. Meu apartamento já estava cheio de roupinhas. Comprei
um monte pela internet e parei quando não tinha mais opções unissex.
— Combinado.
Saímos do Pub agarradinhos e ao entrar no carro, me preparei para
brigar com Callum sobre a nova regra da editora, mas me deparei com caixas
de presentes no banco de trás.
— O que é isso tudo? Já fez suas compras de Natal?
— Não. São presentes para você. — Sorriu torto.
— Já chegamos no natal?
— Não. É dia de dar presentes para mamãe do meu bebê. — Seu
sorriso torto me matava de vontade de pular em cima dele.
— Depois da gracinha que conseguiu no meu trabalho hoje, é melhor
que sejam muito bons. Eu adoro ganhar presentes!
— Que gracinha? Só quis dar uma olhada nos meus negócios, mudar
uma coisinha ou outra. — Piscou e bati na sua coxa. — Roxanne escreveu a
coluna da semana que vem?
— Callum...
— Leio o seu blog, sei como escreve, você muda muito para fazer
parecer que é ela, mas ainda consigo identificar a suas palavras.
— Observador filho da mãe.
— Não posso simplesmente parar de escrever, Callum. Me incomoda,
juro. O que vou fazer? Deixei a Roxanne ficar muito confortável montada em
mim. Você não é o único a falar sobre isso, meus pais, meus amigos e até
minhas colegas de trabalho. — Bati a minha cabeça no encosto do banco. —
Quero trabalhar para mim mesma, mas os meus pais precisam de mim e o que
ganho de publicidade é muito incerto. Tem mês que entra bastante, outros
não e não posso contar com isso.
— Isla... Quando vai entender que você não precisa mais se preocupar
com isso?
— Você vai ser responsável financeiro pelo nosso bebê...
— E você está carregando o nosso bebê, se o seu trabalho interferir na
sua saúde ou do nosso filho, nós teremos um problema. Realmente acredito
que poderia aproveitar e tirar um tempo para investir em si mesma. Sei que
parece idiota falar isso quando meu trabalho foi deixado pela minha família,
mas se não investir em si mesma, como a La La Island vai crescer e poder se
sustentar?
Callum tinha razão, só não conseguia não pensar nas contas no final do
mês e todo tratamento da minha mãe.
— Vou pensar sobre isso. — Murmurei cruzando os braços.
— Sabe quando vai tirar sua licença maternidade? — Me deu um olhar
engraçado.
— Não cheguei ao primeiro trimestre, podemos lidar com uma coisa de
cada vez?
— Só estou querendo dizer que se você quiser tirar uma licença longa,
só para cuidar do bebê e de si mesma, eu te apoio. Vou te dar suporte.
— Você joga muito sujo.
— Jogo com as armas que tenho em mãos. — Segurou a minha mão e
beijou.
— Obrigada por isso, baby. Vou pensar na sua proposta.
CAPÍTULO 16
Callum.
Deslizei os meus dedos pelas teclas brancas e pretas do meu novo piano
e ouvi o barulho do elevador, as chaves sendo jogadas no aparador, sons de
sapatos jogados longe, a bolsa na poltrona e os seus pés pequenos andando
com suavidade pelo piso de madeira. Isla estava em casa.
— Cheguei em casa! — Meu novo som favorito. Isla empurrou a porta
da sala e me olhou surpresa, abriu um sorriso e se jogou em mim. Era assim
todas as vezes que ela chegava no meu apartamento. — Te deixo sozinho por
um único dia e tem um piano na sala? Sabe tocar?
— Não. Gastei isso tudo e paguei uma empresa para colocá-lo aqui em
cima depois de remover a janela apenas para decorar a sala. — Ganhei um
soco forte no peito. — Hum... Não gosta de respostas irônicas?
— Não. Apenas gosto de dar respostas espertinhas. — Cruzou os
braços. Isla era a rainha do sarcasmo, não conseguia manter os emojis
revirando os olhos ou a ironia fora das respostas, mesmo em perguntas
simples. Tudo era óbvio para a rainha da objetividade.
— Faz muito tempo que não toco, mas gosto e quero tocar para o bebê.
— Fora da minha barriga? Eu detesto música clássica. — Sorriu ainda
no modo petulante e suspirei, olhando para o alto e pedindo a Deus paciência.
— O piano é bem sexy, não é? — Passou sua mãozinha pela tampa. — Só
você para mandar colocar um piano na sala de estar em pleno inverno. Os
vizinhos devem ter adorado.
— Foi um espetáculo. — Segurei a sua cintura, ela apoiou as mãos nos
meus ombros e montou no meu colo. — Isso é ser vizinho de um Lowell.
Isla estava ocupada testando se seus pés batiam no chão apoiada no
meu colo. Sorrindo do seu jeitinho maldoso, descobriu que podia movimentar
o quadril muito bem naquela posição. Entendi o que estava querendo me
dizer e sorri. O sexo era incrível. Isla era dedicada, criativa, gostosa e
estamos aproveitando muito a fase em que estava disposta para o sexo. De
manhã nem tanto, seus enjoos estavam piorando um pouco e a noite sentia
azia, porém, quando vamos dormir era outra história muito divertida.
— Como foi seu dia, Srta. Edwards?
— Meu namorado é o chefe do chefe da minha chefe e aí, ele ordenou
que algumas coisas fossem mudadas... Agora temos cheeseburguer da minha
lanchonete favorita no refeitório, como estou grávida, não resisto e mesmo
não comendo o pão, estou comendo o recheio e minha chefe está falando do
tamanho da minha bunda.
— Sua bunda é maravilhosa, que a sua chefe vá para a puta...
— Callum. — Isla cobriu a minha boca. — Roxanne ainda está
furiosa com as mudanças, pegando no meu pé, mas vou sobreviver. E o seu?
Além de tirar um dia de folga na semana?
— Fiz umas coisinhas aqui e ali. Ah, comprei uma árvore de natal e
preciso de algumas decorações.
Isla arqueou a sobrancelha.
— Está muito doméstico, namorado.
— Minha namorada me empolgou com histórias de natal outra noite,
antes de dormir e aí pensei que poderia decorar o apartamento esse ano. —
Beijei a pontinha do seu nariz.
— E o que mais? — Desde que Isla foi ao psiquiatra comigo, está
seguindo os passos e conselhos que ele nos deu sobre a nossa comunicação.
Dissemos a ele que conversar me fazia bem, porque ela me ouvia, mesmo
sendo algo que não entendia ou estivesse interessada. Isla me ouvia. Ela se
importava e isso me fazia feliz.
Era por isso que fazia tudo para que fosse feliz ao meu lado também.
— Enviei o seu artigo “Moda Para Todos” para um amigo que
trabalha no Times e ele ficou muito interessado em repostar. Perguntei a
Cassie sobre os direitos autorais disso, ela disse que é só você assinar
cedendo os direitos de publicação e prender o texto e as fotos como sua
propriedade intelectual. Já tem tudo pronto, basta assinar e será publicado na
capa do jornal de entretenimento de domingo.
Isla ficou congelada no lugar.
— Um jornal quer me publicar? — Seus olhos pequenos estavam
arregalados.
— Sim.
— Eu não sei se posso... Uma vez a Vogue quis postar minhas fotos
nas redes sociais deles e a Roxanne disse que seria antiético da minha parte.
— Isla... Por favor, quando vai abrir seus olhos? Detesto que a gente
brigue todos os dias por causa da Roxanne. Não tem nada que te impeça no
seu contrato, é uma grande oportunidade! Não deixa passar...
Respirando fundo, disse que ia assinar e fomos até o meu escritório,
imprimindo as folhas, assinando e enviando de volta escaneadas para Cassie
resolver o restante. Não perdi tempo ou ela contaria a Roxanne, que tentaria
impedir de alguma forma.
— Estarei no jornal de domingo? — Me vi no reflexo dos seus olhos
marejados, brilhando de empolgação.
— Sim, baby.
— Isso é tão incrível. — Sorriu, pulou no lugar e me abraçou. —
Obrigada!
— Não me agradeça, o talento é seu. Espero que consiga voar sozinha
em breve. — E só por elogiar, ganhei um beijo que fez o meu pau endurecer
e a minha garota gemer. Olhando em meus olhos, sem precisar dizer nada,
sabia que me queria. E porra, vivia para desejá-la.
Fiquei atraído no instante que a vi e agora era impossível frear. Pedir
a Isla em namoro foi a segunda melhor decisão da minha vida, a primeira foi
aceitá-la como mãe do meu filho. Era só um acordo comercial, agora
tínhamos o mais importante acordo do mundo... o emocional.
Meu psiquiatra estava conversando muito sobre isso, me fazendo abrir
meus pensamentos e diferente do tratamento quando a Patrícia me traiu, falar
sobre a Isla era fácil. Desejar ter uma vida com ela era natural. Querê-la o
tempo todo era tão importante quanto respirar. Isla chegou na minha vida
como um sopro de ar puro.
Estava me afogando em solidão e ganhei vida novamente.
— Tira a minha roupa, Callum. — Nunca gostei que mandassem em
mim, mas aquela ordem era a melhor de todas. Saboreando cada pedacinho
de pele disponível, comecei pela sua blusa, depois a calça, as meias... Tirei o
sutiã, chupando seu biquinho rosado com cuidado e senti os seus dedos
apressados abrindo o botão do meu jeans, puxando o zíper para descobrir que
estava sem cueca.
Isla agarrou o meu pau, apertando deliciosamente e me tocou,
subindo, descendo e puxei a sua calcinha. Molhada e prontinha para me
receber, a coloquei sentada na minha mesa para diminuir nossa diferença de
tamanho.
— Quero você o tempo inteiro. — Resmunguei metendo
devagarzinho. — Caralho! Você é tão gostosa! — Isla gemeu alto e não
parou mais, conforme os seus gemidos aumentavam, mais metia, sentindo
suas coxas me apertar na cintura e o seu corpo demonstrar sinais que seu
orgasmo estava crescendo. Gozando tão gostoso no meu pau, sorri olhando
em seus olhos e ela fez um sinal para o sofá.
Andei atrás dela com o meu pau muito duro e em pé, sedento por
mais. De joelhos no sofá, ficou na posição que me deixava tonto, empinando
sua bundinha redonda para mim. Dei um tapa de mão cheia, sua pele
branquinha logo ficou bem vermelha, com as marcas dos meus dedos e
posicionei meu pau para meter de novo, rebolando devagar foi me engolindo
sem ajuda.
— Porra, Isla. — Suspirei agarrando sua cintura. — Faz de novo,
baby.
Olhando por cima dos ombros, descabelada e suada, me deu um
sorriso sexy. Beijei o seu ombro antes de morder.
— Diga que me quer. — Isla agarrou os meus cabelos e olhou dentro
dos meus olhos, transmitindo toda intensidade da sua necessidade por mim.
— Te quero para sempre. — Beijei a sua boca com todo meu desejo.
Metendo até perder os meus sentidos, tirei o meu pau e gozei na sua
bunda só porque queria ver o meu esperma bem marcado ali, juntinho com a
palma da minha mão.
— Agora vai ter que me dar um banho. — Isla caiu contra mim e a
segurei em meus braços, beijando o seu pescoço. Subimos para o meu quarto
e entramos no chuveiro juntos, enquanto a ensaboava, acariciava a sua
barriga que não despontava em nada uma gravidez, mas eu sabia que meu
bebê estava ali e era o suficiente.
Ao sairmos, se enrolou no roupão e ficou na cama comentando que
suas fotos de looks estavam fazendo muito sucesso e foram postadas por
milhares de contas. Eu estava aprendendo a fotografar e editar as suas fotos,
não me interessava muito, mas fazia porque as vezes ela ficava enjoada e não
conseguia entregar a foto na hora certa que combinou com o patrocinador.
Achava o seu trabalho nas redes sociais muito interessante. Não era
apenas uma exibição, Isla criava conteúdos atrativos até para mim, que não
entendia muito de moda. Ela falava sobre a beleza feminina real, sobre os
tecidos de fácil acesso e moda para todos os tipos de gostos e bolsos. Uma
vez a acompanhei em uma gravação de vídeo em um brechó, sua amiga Laila
filmou e eu ajudei no que me pediram, foi muito diferente vê-la dar dicas de
montar um look bem bonito e fashionista em até dez dólares.
Isla ganhou bastante seguidores desde que assumimos o nosso
relacionamento publicamente. De conviver com ela, estava até postando uma
coisa ou outra nos stories, mas não muito. Uma vez postei um vídeo dela
comendo cenoura e assistindo Gossip Girl, jogada no meu sofá, como estava
coberta eles não sabiam que na verdade estava só de calcinha e coçando os
seios que já aumentaram um número.
Recebi uma enxurrada de mensagens e reações no direct que nem
abri. Ela que leu algumas coisas e riu, outras ficou tão brava que decidi não
ler para não me chatear. Sempre fui muito bom em ignorar notificações, ela
era quem fica nervosa com os ícones piscando.
— O que vamos jantar? O bebê e eu estamos famintos... O que o
papai cozinhou para nós?
— O papai não cozinhou nada, mas Charlotte deixou algo pronto. —
Sorri e me levantei da cama para me vestir.
Seu telefone vibrou e era uma ligação do seu pai. Não encontrei o Jay
depois que jantei em sua casa, embora Isla fosse vê-los todo domingo. Não
queria ser invasivo com a sua família, mantinha a distância porque não sabia
se o seu pai se sentia desconfortável comigo, embora tivesse me tratado
muito bem quando nos vimos. Na verdade, sentia vergonha, não queria que
ele me dissesse que não era bom para a sua filhinha.
— Estarei aí em meia hora, papai. — Isla suspirou ao encerrar a
chamada. — Sinto muito, vou furar nosso jantar, minha mãe não está muito
bem e meu pai precisa de ajuda. — Enfiou o telefone no bolso do roupão.
— Vou com você. Quem sabe não pedimos comida? Seu pai deve
querer comer algo.
— Claro, vai ser uma boa ajuda. — Me deu um beijo e se levantou.
Nos vestimos juntos e desci com dinheiro, telefone e peguei a chave
do maior carro que tinha, caso precisasse levar a mãe dela até o hospital. Isla
estava com fome e peguei um snack de cenouras para comer no caminho.
Mal-humorada, viu algo em seu telefone e ficou sacudindo a perna, não
entendi com o que estava irritada e ao chegarmos nos seus pais, entramos
sem avisar e subimos a escada.
— Olá, crianças. — Jay nos encontrou no corredor. — Acabei de
colocá-la na nebulização. Está muito cansada...
— Muita tosse, papai?
— Ao ponto de não conseguir respirar direito. Assim que acabar,
pode me ajudar no banho? Ela dormiu o dia inteiro, a enfermeira não
conseguiu dar um banho nela como programado. — Jay explicou e apertou
minha mão. — Como vai, Callum?
— Estou bem e o senhor?
— Senhor está no céu, apenas Jay como te disse e eu fiz espaguete
com almôndegas para o jantar. Podemos comer enquanto isso, está bem?
Voltamos para o primeiro andar, Isla arrumou a mesa para nós três e
enfiei minhas mãos nos bolsos, sem entender direito como agir ao redor do
pai dela. Jay deve ter percebido, porque puxou um assunto tranquilo que foi
fácil de conduzir. Isla seguia silenciosa e assim que terminou de comer, subiu
para ajudar sua mãe com o banho.
— Isla me contou que disse a ela... — Jay começou recostando-se na
cadeira. — Não precisa ter vergonha sobre isso, Callum. Nada do que
aconteceu estava no seu controle. Seja bom para minha filha que serei bom
para você, é a matemática simples da minha vida.
— Minha meta da vida é ser bom para sua filha. Ela merece o melhor
e sei que não sou, mas vou me esforçar para ser.
— Ela e o bebê vão apreciar isso.
Fiquei surpreso, porque não sabia que Isla tinha contado aos seus pais
sobre o bebê. Nem consegui disfarçar a minha expressão, imaginei que
contaríamos juntos, ela estava customizando presentes para dar aos pais e aos
meus tios, informando o novo membro da família.
— Aquela menina conta as calorias que come desde que começou a
trabalhar com aquela mulher horrível. É a terceira vez que minha Annie come
carboidratos... E repete. Ou ela desistiu da dieta ou está grávida. Conheço a
minha filha... E devido a sua reação, só posso supor que colocou o bolo no
forno antes do anel no dedo.
Limpei minha garganta, me preparando para falar e ouvimos Isla
chamar no segundo andar. Jay apenas piscou divertido, me chamando para
subir com ele. O quarto em que a mãe da Isla ficava era equipado com uma
maca hospitalar que aparentava estar nos seus últimos dias, uma cadeira de
rodas antiga no canto e alguns aparelhos que não sabia para que serviam.
— Olá, Sra. Edwards.
Sierra me deu um sorriso e Isla soltou um resmungo, pedindo ajuda
para colocá-la na posição correta na cama. Nós ajudamos e a cobrimos com
um edredom rosa claro. Isla prendeu o cabelo da mãe, deu um beijo e desejou
boa noite.
— Quero ir embora. — Isla disse assim que saímos do quarto.
— Annie... — Seu pai suspirou, preocupado.
— Só quero ir para casa e dormir, amanhã será um longo dia de
trabalho.
Isla saiu do corredor, dobrando a esquina para descer a escada e
algum tempo depois ouvi o barulho da porta batendo.
— Sinto muito por isso. Toda família tem problema, acontece. — Jay
apertou meu ombro. — Obrigado por vir e ajudar.
Sem entender, me despedi e agradeci o jantar. Segui até a Isla parada
do lado do carro, com frio e logo destravei o alarme para entrar.
— Tudo bem, emburrada. O que aconteceu?
— Ela é inacreditável. — Isla suspirou e cruzou os braços. —
Acredita que não quer mais que meu pai a ajude com o banho? Que não a
veja nua? Como se... Ele largou a vida dele para cuidar dela, mesmo depois
de ter ido embora com outro homem. — Puxou os cabelos, tomada de
frustração. — Meu pai pegou o histórico do telefone... Ela ou a enfermeira
tem feito ligações para Nova Iorque.
— E o que tem Nova Iorque?
— Para a residência do homem que minha mãe foi amante. Ele é
muito rico e casado, tem filhos e a abandonou nos primeiros sinais da doença.
— Isla me deu um olhar triste. — Meu pai não merece viver isso... Saber que
a mulher que amou a vida inteira, que cuida com todo amor e dedicação ainda
procura o amante. É humilhante. Desleal. — Segurei a sua mão e beijei. Não
sabia o que dizer, era uma situação muito fodida. — Fico com raiva e não sei
guardar isso dentro de mim, não sei suportar a ingratidão dela.
— Sinto muito. Seu pai parece lidar bem com isso...
— Ele fica quieto, apenas aceita e sei que vai cuidar dela até o fim.
Vai deixar sua vida de lado como sempre... Queria que meu pai encontrasse
alguém que correspondesse o seu amor. — Fez um ligeiro beicinho. —
Obrigada por vir, mesmo com meu mal humor. — Me deu um beijo na
bochecha.
— Não precisa me agradecer por isso.
Assim que chegamos no meu apartamento, foi tomar banho porque
estava sentindo enjoo com o cheiro do sabonete da sua mãe e a segui para o
quarto, entrei no meu closet percebendo que minhas roupas estavam cada vez
mais para o lado, para caber as roupinhas que lentamente fui pegando dela,
alegando que era importante que não precisasse carregar aquela pequena mala
por todo lado. Isla era muito organizada, estava tudo dobrado e em ordem
para que achasse rápido.
Dei a ela uma gaveta cheia de calcinhas da Agent Provocateur como a
primeira gaveta dela no meu apartamento.
Isla adorava ficar de calcinha confortável e sem sutiã. Eu amava ser o
sortudo que podia vê-la assim quando estava em casa. Ela comentou algo
sobre estar sem calcinha na minha casa e quando saiu para trabalhar, liguei
para uma loja, informei seu tamanho e pedi que entregassem as mais sexys
calcinhas, as confortáveis, camisolas e algumas outras coisinhas. Ela usou um
body transparente outro dia, cheguei em casa e a encontrei cozinhando só
com aquilo e foi incrível.
— Não durmo no meu apartamento tem duas semanas. — Comentou
assim que saiu do banheiro.
— Estava esperando que não percebesse...
— Isso é um passo muito importante, Callum. — Me deu um olhar
curioso, avaliando a minha reação.
— Qual o problema? Seremos pais e estamos em um relacionamento, é
natural dar esse passo. Quero acompanhar a sua gravidez, estar perto de tudo
e de manhã você mal consegue abrir os olhos seja de sono ou náusea, por isso
sou tão importante do seu lado. Além do mais, a minha cama é maior, mais
confortável e nela tem eu, normalmente nu e te dando bons motivos para
permanecer nela.
Isla me deu um sorriso adorável
— Seus argumentos sobre morarmos sob o mesmo teto são tão válidos.
— Suspirou e mordi a língua para não mencionar que no nosso acordo, a essa
altura ela já estaria em outra moradia, adequada para ela e para o bebê.
Estaríamos na mesma casa, o que para mim era excelente para poder
acompanhar todos os segundos da sua gestação e ter o excelente bônus de
ficar com ela.
— Basta trazer suas coisas... Até porque, está pagando o aluguel à toa.
— Irei contribuir aqui também. — Franziu o cenho.
— Meu bebê. — Apontei para sua barriga. — Minha mulher. —
Apontei para sua testa. — Minha responsabilidade. E não adianta vir de
teimosia, Isla. Nós tínhamos um acordo no qual iria cuidar cem por cento das
suas despesas e do bebê. Não me interessa que agora temos um
relacionamento...
Isla cruzou os braços, interrompi seu discurso antes de começar. Até
cobri a sua boca. Ela era teimosa e precisava usar todos os meus argumentos.
— Use o dinheiro do seu aluguel para ajudar os seus pais, ficar mais
aliviada nas contas que sei que você ainda está escondendo de mim. Seu pai
poderia financiar um novo carro, o que acha? Ele adoraria. — Comentei e
meio desconfiada, concordou. — Vou agendar sua mudança. — Deitei-me de
costas na cama, me sentindo muito satisfeito.
— Calma. Se sair antes de janeiro, pago multa.
Olhei-a incrédulo que o seu problema era uma mísera multa.
— Sinto muito, esqueço que o bebezão aqui é rico. — Revirou os
olhou e foi até a gaveta de calcinha, pegando uma rosinha clara que era de um
tecido fino e sem costuras. — Temos que nos organizar com as finanças.
Estou com algumas contas que estava contando com aquele dinheiro, se você
vai mesmo me ajudar em relação as contas, vou me dedicar a pagar isso.
— O que seria isso? Empréstimos estudantis?
Não lembrava de nenhum empréstimo na sua lista financeira.
— Não. Minha avó deixou um fundo universitário... Peguei alguns
empréstimos com o banco para comprar aqueles equipamentos hospitalares e
me foderam com juros. Queria saber ir lá negociar, mas eles me olham como
se fosse uma criança, só porque sou pequena. — Fez um beicinho engraçado.
Deitando-se em cima de mim, beijei a sua boca, apertando a sua bunda e ela
escorregou para o lado, apenas com uma perna em cima da minha coxa e sua
mãozinha no meu coração.
— Eu vou resolver isso, qual é o banco?
Isla não me respondeu, porque já estava dormindo. O bebê sugava as
suas energias e sorri para isso, acomodando-a melhor e puxando a coberta
sobre ela.
CAPÍTULO 17
Isla
Era a primeira vez na minha vida que estava completa e
irrevogavelmente apaixonada. Não era uma simples paixonite. Era tão forte,
intenso, que me deixava sonhadora e sorridente o dia inteiro. E mais, não
estava apaixonada por uma pessoa e sim por três. Enquanto ouvia o som do
coração das minhas primeiras paixões, olhava para a minha terceira, que
sorria feito um bobo, olhando para a minha barriga e dessa vez o som da
batida era diferente. Dupla batida.
Dois bebês.
O Dr. Phillips não identificou dois sacos gestacionais, porque tinha
apenas um. Eram dois embriões dentro do mesmo saco e agora dava para ver
claramente que eram dois bebês. Gêmeos idênticos. Ainda não sabia o que
sentir, se ia surtar ou desmaiar, apenas sabia que não conseguia parar de
sentir felicidade e amor. A gravidez estava me transformado em outra pessoa,
às vésperas do Natal, recebi meu maior presente: ser mãe de dois.
Callum parecia que ia explodir, ele não parava de rir e chorar,
emocionado pela dose dupla e já tinha me beijado umas quinhentas vezes.
Durante a consulta, senti a tensão nos meus ombros ao ouvir que a gestação
de gêmeos era naturalmente de risco e demandava muito mais cuidados. O
Dr. Phillips expressou a sua preocupação com meu peso – emagreci ao invés
de engordar, embora meus seios tenham aumentado, perdi massa magra
devido aos enjoos que inibiam o meu apetite.
Sabia que todo aquele discurso sobre cuidados extras seria um imenso
combustível para o Callum reclamar no meu ouvido sobre o meu trabalho.
Mesmo assumindo que estava completamente apaixonada por ele, nós
estávamos brigados. Estava dormindo no meu apartamento por toda semana,
porque não conseguimos nos entender sobre a última gracinha dele. Quando
combinamos de morar juntos, disse que pegaria o dinheiro do meu aluguel e
iria negociar minhas parcelas com o banco, ele ofereceu para me ajudar.
Pensei que iria me ajudar a falar com o gerente, porque foda-se o
acordo, essa dívida era minha e seria liquidada com o meu dinheiro, ele não
tinha a obrigação de pagar as minhas contas antigas. Não me importava com
todo restante, ele basicamente me alimentava e me transportava para todo
lado, além dos custos médicos que não eram baratos. Estava sendo auxiliada
pelos melhores médicos, na melhor clínica e terei meus bebês na ala privada
do hospital mais caro da cidade. Não andava de ônibus e nem a pé, nunca
mais pisei em um metrô. Se isso não era usufruir de um namorado rico, não
sabia mais o que era.
Callum passava dos limites.
Ele pagou minha dívida todinha... E eu tinha até o Natal para deixar o
meu apartamento, porque pagou a multa, rescindindo o meu contrato. Fiquei
louca. Simplesmente fervi. Meu sangue estava tão quente que pensei que
fosse virar uma pira flamejante e avançar nele pelo comportamento
controlador. Aquilo era algo que eu iria resolver sozinha, era uma mudança e
não uma transação comercial entre dois países.
Nós brigamos muito e ele tinha coragem de fazer carinha de inocente
quando me via. Odiava que estivesse com olheiras novamente, porque não
estava dormindo direito. Me sentia mal, porque não queria causar nenhum
transtorno a ele e ao mesmo tempo ficava irritada, porque tinha o direito de
não gostar das suas atitudes. Me sentia infantil dormindo longe, estava
aproveitando para arrumar a minha mudança devagar, embora ele quisesse
pagar alguém para isso, mas eu não queria pessoas estranhas mexendo nas
minhas coisas íntimas.
Callum tinha muita sorte que não estava de jejum sexual, porque era
uma otária que não resistia ao beicinho dele, as covinhas que surgiam quando
sorria e dizia que estava “morrendo de saudade de mim”. Esse homem me
fazia derreter.
No caminho de volta ao meu trabalho, ele segurou a minha mão
enquanto dirigia e desisti de ficar brava, me inclinei sobre o banco e beijei a
sua bochecha e depois o seu pescoço. Ele esperou o sinal fechar para me dar
um beijo bem gostoso.
— Serão dois.
— Eu sei. Caralho Isla! Estou muito feliz. — Sorriu abertamente.
Estava relaxada com a sua reação. Callum amava tanto essa gravidez
que era impossível duvidar dos seus sentimentos. Ele não me deixava quieta,
toda hora acariciando a minha barriga, beijando, conversando com ela e era
obrigada a deitar no sofá para que tocasse músicas que me faziam dormir.
Não estava brincando quando disse que detestava música clássica, a sorte
dele que era muito legal fazer sexo no piano. Me dava um tesão fora do
normal vê-lo tocar.
Estacionamos na frente da empresa e olhei para a portaria pensando que
passar por aquelas portas anos atrás era tudo que mais amava e aos poucos foi
se tornando um pesadelo. Era muito ruim. Desde que comecei a namorar o
Callum, Roxanne estava mostrando o seu lado cruel. Não existia presentes
nesse mundo capazes de apagar o seu comportamento ruim.
Estava tão cansada do seu abuso e perseguição, só estava com vergonha
de largar tudo e me escorar no Callum assim tão de repente. Ia enlouquecer se
ficasse em casa... Além do mais, meus pais ainda precisavam da minha ajuda.
Não pagando aluguel e sem o empréstimo do banco, ia poder fazer muito
mais. Inclusive comprar uma nova cadeira de rodas e depois uma nova cama
hospitalar para minha mãe.
Queria que o meu pai tivesse um bom carro, ele estava sempre
trabalhando para manter a casa, as contas e não se divertia, não comprava
nada para si mesmo. Sequer saía para beber com os colegas de trabalho
depois do expediente, porque tinha que render a enfermeira. Se conseguisse
um bom financiamento com o banco, daria o atual carro de entrada e as
parcelas podiam até ser mais suaves. Eram tantos planos, que me impediam
de sair da revista como tinha vontade a cada vez que Roxanne me fazia sentir
um lixo humano.
Não contei ao Callum e muito menos para a Laila, fiz o Benji prometer
que ficaria quieto. Roxanne mandou fazer um vestido exatamente igual a um
croqui que mostrei a ela meses atrás e disse que era muito comum, que não
me apoiaria no lançamento, que era pouco para uma estreante... Ela fez um
modelo com um tecido que jamais poderia costurar por ser caro e raro,
desfilou com ele pela revista e eu só chorei no banheiro.
Tinha como provar que o vestido era meu, não era idiota, o croqui
estava registrado, mas... Não queria sair do meu emprego assim. Roxanne
podia me queimar de tantas formas... Se o Callum soubesse, seria um inferno.
Ainda mais que a Laila estava atravessada com a minha chefe, ia apoiar e
seria impossível segurar os dois falando na minha cabeça. Só queria sossego
enquanto carregava os meus bebezinhos. Eles mereciam uma mamãe calma e
feliz.
— Vou para casa quando sair do trabalho.
— Qual casa? — Callum fez a expressão de cachorrinho abandonado.
— Meu apartamento. Laila vai levar o jantar e me ajudar com as
últimas caixas de roupas... Assim estarei de mudança para a minha nova casa.
— Você está me matando, Isla. — Suspirou batendo com a cabeça no
encosto.
— Falta pouco, prometo. — Segurei o seu rosto e beijei seus lábios. —
Diga que me quer.
— Eu te quero muito, tanto que te quero em casa, comigo e sem mais
essa história de dormir separados. Volta para mim, Isla.
— Hum...
Sorrindo feito boba, saí do carro, engoli minha vontade de sair correndo
na direção oposta e fui trabalhar. Roxanne ficou quieta pela misericórdia
divina, pude fazer o meu trabalho e fofocar baixinho com a Cait. Adorava a
sua companhia, ela era ótima em me cobrir e mesmo com muito medo da
Roxanne, seguia de cabeça erguida. Cait queria ser modelo, a carreira não
deslanchou e estudou produção de moda. Ela era linda, adorava fotografá-la
com as minhas combinações, mas não gostava muito das redes sociais, se
empolgava mesmo nos bastidores.
Se gostasse, já estaria bombando e ganhando muito dinheiro.
Apaguei a luz da minha sala duas horas depois que a Roxanne foi
embora sem falar nada. Seu silêncio me deixou meio preocupada, mas deixei
de lado, indo embora com a Cait. Tray deu carona a ela até o seu prédio e em
seguida me levou para o meu. Laila já estava lá, dobrando as minhas roupas e
bebendo vinho. Comprou suco de uva integral especialmente para mim e
pãozinho de alho para comer com o espaguete.
Jantamos enquanto arrumamos o meu pequeno espaço, recolhendo os
meus itens de decoração, objetos pessoais e roupas.
— Alguma dica sobre morar com o namorado? — Me sentei na cama.
Laila fechou uma caixa e me deu um sorriso debochado.
— Você deu para o cara no primeiro encontro e agora está preocupada
em morar juntos? Serão pais, vocês podem tentar ser uma família, se não der
certo, tudo bem. Sempre serão pais. — Dobrou um grande casaco e parou. —
Se bem que, o único conselho que posso te dar é que tem pequenas coisas no
dia a dia que irritam muito, se você deixar, elas vão ganhar uma proporção
que não devem. Saiba deixar algumas coisas de lado, lembre-se sempre que
ele é um ser humano diferente, que teve uma criação e educação diferente da
sua e tem sentimentos... E que não prestam atenção se estiver passando um
jogo.
— Eu amo futebol.
— Que bom... Ele vai ter companhia. — Laila piscou e rimos juntas. —
Acho que é isso. Documentos naquelas caixas, fotos embaixo e nas caixas
azuis estão suas roupas. Tecidos e coisas de costura nas malas... Seus livros e
filmes couberam em uma caixa só. O que vai fazer com seus móveis?
— Vou doar. Assim como por misericórdia e carinho de muitas pessoas
consegui mobiliar esse apartamento, farei o mesmo por outro jovem
desesperado e ganhando pouco. — Cruzei as minhas pernas. — Vou ligar
para o Callum vir me buscar. Obrigada por me ajudar.
— Sua boboca. Quero que seja sempre feliz, ok? — Laila me abraçou.
Enviei uma mensagem ao Callum que ficou online no mesmo instante,
estava tarde, mas sabia que ainda estava acordado. Laila esperou o Michael
vir buscá-la, ela desceu e fiquei no apartamento, no escurinho, contemplando
meus últimos minutos ali dentro. Decidi pedir para o Callum mandar alguém
carregar o peso das coisas, porque não faria tal coisa.
A campainha tocou e soube que não era o Callum porque ele nunca
tocava, sempre batia na porta e me ligava ao mesmo tempo. Silenciosamente,
no escuro, andei até a porta e espiei o olho mágico. Era o Hank. Mas que
porra? Por que ele ainda estava atrás de mim? Voltei para o quarto depois de
conferir que a porta estava trancada, liguei para a portaria e sussurrei que não
autorizei a entrada dele e era melhor alguém ir tirá-lo antes que chamasse a
polícia.
Ouvi o porteiro dizer que não o viu entrar, que não estava autorizado e
que deveria sair. Hank empurrou o dedo na campainha mais duas vezes antes
de ser conduzido para fora com um pouco de esforço. Meu coração estava
acelerado com a sensação ruim que me dominou. O que ele estava fazendo na
porta do meu apartamento tão tarde?
Fiquei escondida na cama sem lençol, sem nada e ouvi a batida que
Callum dava ao mesmo tempo que meu telefone vibrou do lado. Sai da cama
rapidamente e abri a porta, sorrindo. Era tão bom vê-lo.
— Me leva para casa?
— Claro que sim, baby.
— Minha mudança está pronta. — Sorri e me joguei nele. Callum me
ergueu no colo e cruzei as minhas pernas na sua cintura, beijando-o com todo
meu desejo. — Só pegar a minha bolsa e a pequena malinha de sempre, no
mais, pode mandar alguém vir buscar tudo.
Segurando as minhas bolsas e me mantendo no colo, ficamos nos
beijando no elevador, cheios de safadeza e só me colocou no chão quando
chegamos ao térreo. Fiquei aliviada ao ver Tray nos aguardando com o carro
ligado, tive a sensação terrível de estar sendo observada, olhei ao redor e não
encontrei ninguém além de nós e muitos carros estacionados na rua.
Decidi não contar ao Callum que Hank foi lá, ele já tinha mostrado que
tinha ciúmes e não gostava do meu ex-namorado, não queria mais brigas. Já
tínhamos o suficiente com a Roxanne e o meu trabalho.
Assim que chegamos, subimos porque já era tarde e nós dois
tínhamos que trabalhar. Pelas muitas folhas espalhadas na mesa do jantar e o
notebook ligado, estava trabalhando. Quando não estava ocupado com o
trabalho, ficava enfurnado na academia por horas. Não reclamava porque o
efeito no seu corpo era para meu bel prazer.
Ele me observou tirar a roupa, acompanhando meus movimentos com o
olhar e sorri, me olhando de lado no espelho. Parecia que comi muito no
almoço e só. Pensei que logo ficaria barrigudinha devido a minha tendência a
engordar com facilidade, mas estava demorando. O mesmo não podia ser dito
sobre os meus seios. Definitivamente não parecia mais uma criança,
infelizmente estrias nasceram na parte debaixo, só não estava muito chateada
porque não dava para ver muito.
— Estou com vontade de comer aquele creme de chocolate que a
Charlotte fez outro dia. Pode pegar um pouco? — Pedi ao Callum e ele foi
todo inocente, sem ter ideia que comeria diretamente da sua barriga. Tomei
banho enquanto ele não voltava, me sequei e fiquei de roupão sem nada por
baixo.
Callum voltou com um potinho e uma colher, me entregou e agradeci
com um beijinho. Segurando o meu doce com a colher enfiada na boca, soltei
um gemido apreciativo. Aquilo era muito bom e só estava comendo porque
era saudável.
— Pode tirar sua roupa toda e se deitar na cama? — Mostrei o meu
sorrisinho insolente. Ele riu, arqueou a sobrancelha e tirou toda a roupa na
minha frente, deitou e me observou colocar o pote bem ao seu lado, tirar meu
roupão e assobiou para a minha nudez. Desejando enlouquecer o homem até
perder seu controle, sentei-me em cima do seu pau a meio mastro ainda,
dando uma reboladinha provocativa.
— Você não estava com desejo de comer o doce?
— Estou e vou comer... — Peguei a colher cheia e virei na sua barriga.
— Em você.
— Porra... — Falou baixinho.
Mais tarde, foi bem mais alto e a nossa movimentação intensa na cama
fez o quadro cair, bateu na cabeça dele e fez um cortezinho, Callum não quis
parar, apenas me puxando para longe e me beijando. Apenas quando
terminamos que me deixou limpar e colocar um band-aid. Tomamos um
rápido banho para tirar o chocolate e todo suor das nossas atividades.
— Ainda bem que não temos vizinhos. — Cochichei, olhando-o com
paixão.
— Não que esteja reclamando, mas que ataque foi esse?
— É a nossa primeira noite como pais de dois e morando juntos,
então... Culpo os meus hormônios.
— Fique à vontade. — Abriu os braços e me acomodei entre eles. —
Sou todo seu para satisfazer os seus desejos.
— Agora estou com soninho... — Suspirei e fechei meus olhos,
apagando.
Acordei com o meu estômago embrulhado e uma náusea forte. Rolei de
lado, tentando encontrar uma posição que a minha cabeça não girasse tanto.
Sentei-me na ponta da cama e respirei fundo algumas vezes. Callum não
estava no quarto, o que era uma ocorrência comum, normalmente ele
acordava mais cedo que eu.
Tentei levantar duas vezes quando o despertador tocou, mal conseguia
erguer minha cabeça de tanto enjoo. Tinha dias que acordava assim, em
outros acordava melhor, sempre me forçava a ir trabalhar, mas ao me deitar
na cama novamente me perguntei por quê. Precisava do meu trabalho, mas
como iria daquele jeito? Não ia conseguir lidar com a náusea, o cheiro do
Chai Latte da Roxanne e o seu mal humor.
Só de pensar na bebida favorita da minha chefe, me levantei correndo
para o banheiro, sofrendo espasmos de náusea de frente ao sanitário. Voltei
para cama após escovar os dentes, desligando a voz da Samantha e a aflição
de faltar ao trabalho, cochilei mais um pouco até o Callum entrar no quarto
todo suado, arrancando a camisa molhada e tirando o calção de basquete
favorito de malhar.
— Muito ruim? — Me deu um olhar preocupado.
— Vá tomar banho. — Reclamei, porque o cheiro do seu perfume com
suor me fez salivar... De um jeito muito ruim. Callum percebeu a minha
expressão e correu para o chuveiro, voltei a dormir e ele deve ter sido bem
silencioso, porque não me acordou por longas horas.
Com fome, saí do quarto depois de vestir um pijama e desci a escada
devagar, não confiando no meu estado sonolento. Pensei que o Callum não
estivesse em casa, fiquei surpresa ao vê-lo na sala de jantar, debruçado em
folhas grandes e fazendo o design de um novo prédio. Ele era um arquiteto
habilidoso, embora quase não fizesse parte dos projetos da Lowell. Formado
em arquitetura, engenharia civil e economia, meu namorado era um cérebro
em forma de um CEO.
— Bom dia, menina. Soube que as crianças te deram trabalho hoje
cedo. — Charlotte saiu da cozinha com um sorriso amoroso. — Me diga, o
que quer comer?
— Umas torradas e um chazinho, nada muito elaborado, estou com
fome, mas sem apetite. — Devagarzinho entrei na sala de jantar e o Callum
ergueu o rosto, me dando o seu sorriso bonito. — Bom dia, senhorzinho. Não
foi trabalhar?
— Não quis te deixar sozinha, estava muito pálida e se precisasse de
mim iria demorar a chegar. Estou adiantando algumas coisas de casa... Está
melhor?
— Vou comer um pouquinho.
— Avisei a Cait que não estava sentindo-se bem e ela disse para
descansar.
— Estou sem coragem de ligar o meu telefone. — Encarei as folhas e
mordi meu lábio. Me sentindo melhor da náusea, a culpa de faltar ao trabalho
pesou na consciência.
— Eu ligo e leio, apago o que for te estressar e traduzo em uma boa
linguagem, o que acha? — Ofereceu de bom coração.
Sabia que não era uma boa ideia, como estava no modo covarde,
entreguei o meu telefone para o Callum. Ele leu as mensagens do meu pai,
disse que a minha mãe estava bem e que ele seria homenageado no evento
anual da polícia de Boston com o superintendente da polícia e o governador.
Fiquei tão feliz! Mais uma medalha de honra pela honestidade e integridade
do meu pai no trabalho, era tão sortuda por ser sua filha. Reparei que o
Callum ficou emocionado, mas disfarçou.
Meu pai foi a única pessoa que quis ajudar o Callum na criação abusiva
com o seu pai e foi jogado de lado, transferido de cidade e de cargo para não
se meter na vida do todo poderoso Harry Lowell. Rolando pelas as minhas
mensagens, soube exatamente o momento que o Callum leu as da Roxanne.
Sua expressão mudou completamente e achei que quebraria o meu telefone
de tanta força que usou para segurar.
— Roxanne disse que deseja melhoras e se puder trabalhar de casa, ela
agradece.
— Só isso?
— Claro. — O sorriso frio foi o indicativo que não. Quando peguei o
meu telefone, as mensagens foram apagadas e bem, não podia reclamar, pedi
por aquilo. Fiz companhia a ele enquanto comia meu café da manhã e depois
peguei o meu computador, nós dois trabalhando em silêncio. O humor do
Callum mudou completamente, não me tratou mal, muito menos foi
indiferente, mas não estava tudo bem. O que a Roxanne me enviou foi
pesado. Eu a conhecia muito bem.
Me senti mal, porque ela dizia coisas ruins sobre a família Lowell. Fui
estúpida em não considerar isso. Tentei a todo custo descobrir como
recuperar mensagens apagadas e não consegui, fiquei me sentindo terrível a
maior parte do dia, com sono e enjoada, desisti de trabalhar, me enrolei em
uma manta, me deitando no sofá e chorei até dormir.
CAPÍTULO 18
Callum.
Isla estava chorando e pedindo desculpas como se fosse sua culpa que
a chefe dela estava praticando abuso com ela. Não me importei com o que li
sobre mim, o que a Roxanne dizia não me afetava... Até que isso machucasse
a Isla. Era assim que ela a tratava? Como Isla podia achar que era aceitável
conviver com uma pessoa incapaz de respeitá-la como ser humano? Roxanne
era muito abusiva.
Tirei print da tela, porque aquilo era apenas uma prova do processo
que faria com que Isla movesse contra aquela mulher ordinária.
Precisei lidar com a minha mulher muito sensível, chorando, porque
achava que a sua chefe me magoou. Me sentei com a Isla no meu colo, sem
conseguir parar de chorar como uma gatinha manhosa e quando finalmente
dormiu de novo, decidi agir. Liguei para o Ryan Reynolds, o diretor da
editora e fiz uma pressão nada agradável sobre o comportamento da
Roxanne. Era melhor que lidasse com aquilo direito daquela vez.
Foda-se se estava favorecendo minha namorada, mas ela estava
carregando os meus filhos e iria protegê-la.
— Essa mulher tem algum problema patológico com a sua família. —
Cassie estava falando pensativamente.
— E eu devo pedir desculpas? — Rebati sem paciência. — Quero que
ela se foda.
— Eu sei, mas talvez seja a hora de investigar isso.
— Ela foi amante do meu pai e eu que tenho que investigar isso?
Olha, esse não é o foco. Quero demitir essa mulher. Quero levá-la para bem
longe da Isla e dos meus negócios.
Mais uma vez ficamos analisando o contrato de trabalho. Ryan fez
uma merda para conseguir manter a Roxanne, literalmente abriu as pernas em
seu contrato e agora não podia tirar a mulher da minha editora sem pagar
milhões. Nunca fui apegado a editora, meu pai comprou para ajudar um
amigo, um babaca que deixou a editora para o seu filho, que não era igual ao
pai. Felizmente ele não suportava a Roxanne, e se suportasse... A editora era
muito mais minha do que dele.
— Por mais irritante que seja, a única que pode tomar uma atitude é
a Isla. Você pode acabar arrumando um problema sério com ela... E com a
Roxanne. Ela pode te acusar de perseguição e fazer a vida da Isla um
inferno. — Cassie disse ao telefone e olhei para o teto.
— Cassidy Evans... Eu não sou outra pessoa... Sou um Lowell. Se
Roxanne ousar infernizar ainda mais a Isla, ela vai descobrir o que é um
inferno.
— E é exatamente isso que a Isla não quer. Pensa bem, Callum.
Apenas me deixe conversar com a Isla, entendo o lado dela, está insegura e
com medo de deixar a peteca cair. Isla não foi criada com os mesmos
privilégios e tranquilidades que nós... Tenha paciência.
Encerrei a chamada com a Cassie, pensativo e voltei para a sala onde a
Isla ainda dormia. Me deitei ao seu lado, acariciando a sua barriga, fechei os
meus olhos e sorri ao pensar nos meus dois filhos. Um era bom, dois era
incrível. Nós sabíamos da possibilidade, quando foi descartado na primeira
ultrassonografia, tudo bem. Por algum motivo, não foi possível ver o segundo
embrião e agora teremos dois bebês.
Foi uma das melhores notícias da minha vida. Chorei na frente do
médico mesmo, sem nenhuma vergonha e ri de pura alegria. O meu coração
parecia que ia explodir no peito. Isla recebeu a notícia com susto e depois
com paixão, seu olhar era de puro e intenso amor. Seu olhar era de mãe.
— Callum... acorda. — Isla me sacodiu e saltei meio assustado, estava
sonhando com os meus filhos e não me dei conta que dormi pesado. —
Calma, baby. Seu primo ligou umas trinta mil vezes, não consegui me mover
para pegar o telefone e agora o interfone está tocando. Char já foi embora e
estou presa entre você e o encosto.
Apontou para a colcha do sofá, totalmente amarrada nela e presa
debaixo de mim. Rolei para o lado, libertando-a e me espreguiçando, saindo
do casulo, esticou as pernas e bocejou.
— Tudo bem, lindinha. — Beijei a sua boca e fui ver quem era no
interfone.
Tray estava chamando para avisar que foi até o apartamento da Isla,
conforme pedi mais cedo e ao chegar lá a porta estava arrombada. O porteiro
ligou para o telefone dela, assim como o síndico, mas estávamos dormindo e
não ouvimos. Isla ficou nervosa pensando que suas coisas foram roubadas,
mas todas as caixas estavam fechadas e pela fotografia que o Tray enviou,
parecia tudo do mesmo jeito que deixou.
Levei-a até o apartamento, ela conferiu suas coisas e não estava
faltando nada. Fizemos o boletim de ocorrência pela invasão, solicitamos as
imagens das câmeras do prédio e os rapazes contratados levaram as caixas
dela para o meu apartamento.
— Sei que normalmente não estou em casa esse horário, mas é
assustador que alguém tenha invadido meu apartamento. — Andou entre as
caixas que estavam espalhadas em um dos quartos de hóspedes. — E se
entrou em um horário que deveria estar dormindo? — E então ficou tão
pálida que pensei que fosse desmaiar. — Ai meu Deus, Callum.
— O que foi?
— Quando foi me buscar... pouco depois que a Laila foi embora, a
campainha tocou e era o Hank. Ele entrou sem minha autorização no prédio,
liguei para a portaria e pedi que ele saísse. — Isla mordeu o lábio, temerosa
com a minha reação e estava sentindo a minha cabeça doer. — Não foi a
primeira vez que foi atrás de mim, apareceu no meu trabalho e depois surgiu
algumas vezes na rua aleatoriamente. — Murmurou brincando com os dedos.
— Antes que brigue comigo… não maldei. Apenas achei inconveniente.
Agora estou achando que deveria ter falado...
Olhei-a bem intensamente para ter a certeza de que aquilo era real.
— Seu ex-namorado está te seguindo e não maldou?
— Sim?
Não falei nada, só puxei os meus cabelos e a deixei sozinha no quarto,
para ligar para o Tray. Apenas disse para verificar o Hank e os seus últimos
passos, em seguida, fiz o que achei certo. Liguei para o pai da Isla, contei
sobre a invasão antes que descobrisse pelos seus colegas, da possibilidade de
ser seu ex-namorado e que agora estávamos morando juntos. Jay me
agradeceu, porque sabia que a Isla não contaria nada e o convidei para vir
jantar conosco.
Ele estaria de plantão, tinha uma hora para comer e a Sierra ficaria com
a enfermeira como todo plantão do Jay.
Enquanto a Isla estava arrumando suas coisas, fiz uma pesquisa sobre
os melhores aparelhos hospitalares, encontrei muita coisa legal e li dois
artigos... E com meu cartão de crédito perto, acabei comprando e mandando
entregar na casa dos pais da Isla, quando acabei que me dei conta de que
talvez a Isla não fosse gostar tanto da minha atitude. Ela era tão
independente.
Com calma, subi a escada novamente, percebendo que ela guardou
todos os seus casacos no armário do quarto de hóspedes e já tinha colocado
boa parte das suas roupas no meu closet. Nosso closet. Sentei-me no chão
para desembalar as outras caixas, levando os seus documentos importantes
para o meu escritório, alguns dos seus livros para a estante do nosso quarto.
Fizemos um trabalho rápido e ao terminar, ela estava cansada.
— Vá descansar um pouco. — Apontei para a nossa cama e ela
bocejou, tirou o seu casaco e caí de joelhos na sua frente, esfregando o meu
nariz na sua barriga e em seguida beijei o seu ventre várias vezes.
— Não. Você convidou meu pai para jantar, vou fazer algo. —
Bagunçou o meu cabelo, acariciando o meu couro cabeludo e puxou alguns
fios. Aquele cafuné era muito gostoso.
— Está duvidando das minhas habilidades na cozinha? — Enfiei as
minhas mãos na sua calça de moletom e apertei sua bunda. — Está?
Isla me olhou brincalhona e levei a mão no coração, fingindo estar
magoado.
— E todos os sanduíches que fiz para você em dois meses juntos? — Fiz um
beicinho só para ganhar um beijinho e um elogio.
— Seu tempero é incrível, baby. O que irá fazer para o meu pai?
— Pensei em preparar três enormes bifes com batatas assadas, alguns
legumes no vapor para acompanhar e uma salada com folhas verdes e
azeitonas.
Isla me olhou faminta e sabia que não ia descansar mais. Enquanto foi
tomar banho, respondi algumas mensagens no meu telefone e acalmei o
Charlie que estava tudo bem com a Isla. Quando o Tray não conseguiu falar
comigo, sua obrigação era falar com o Charlie, então, seguiu o protocolo e o
meu primo ficou muito preocupado. Ele adorava a Isla, cada vez a chamava
de um apelido diferente, normalmente referindo-se ao seu tamanho.
Descemos a escada e ela ficou andando atrás de mim na cozinha, com
uma camisa minha que ia até os joelhos, meias nos pés e os cabelos soltos,
sem estar escovados, apenas bagunçados e seu rosto sem maquiagem.
Colocou a minha lista de reprodução favorita para tocar, querendo conhecer o
meu gosto musical e tirei uma foto dela, parada no meio da sala de estar, com
a luz das janelas altas bem sobre seus cabelos loiros e parecia brilhar.
Estava com o dedo indicador próximo a boca, olhando para a televisão
na outra sala e depois me olhou. Perfeita.
Acenei com uma cenoura e começou a tocar uma música da banda
The Dead South que ela gostava de ouvir no carro comigo e veio me ajudar
com o jantar. Isla subiu no banquinho para cortar os legumes e se inclinou,
me dando um selinho, me abraçando pelo pescoço e sua boca me convidou
para um beijo mais gostoso.
— Ainda estou bravo pela história do Hank, mas não quero brigar.
Você precisa parar com essa mania de omitir informações porque podemos
nos estressar. Isso é grave, Isla.
— Eu sei... sinto muito. É que a gente se desgasta tanto pela minha
chefe que evito falar algumas coisas... — Dei um beijinho no seu queixo. —
Você não fazia tratamento quando namorava a Patrícia?
— Não do jeito certo, apenas ia, mas não respeitava o que falavam
comigo, faltava muito e me desligava totalmente durante as sessões. Até que
tudo aquilo me consumiu ao ponto de pensar em fazer besteiras... Aí
conversei com o Charlie e ele me ajudou a voltar para a terapia.
— Quando foi a sua última crise de ansiedade? — Acariciou o meu
rosto.
— Seis meses atrás, por quê?
— Nada. Quero saber... Você é muito intenso e preocupado. Acumula
muita coisa dentro do coração, sei que passou por muito também, mas o jeito
que absorve tudo é preocupante. Quero que fique bem, apenas isso. — Com
ambas as mãos nas minhas bochechas, ficou de joelhos sobre o balcão e
esfregou o nariz no meu. — Obrigada por cuidar de mim e das nossas
sementinhas. Quando recebi aquela sms do anúncio, com a proposta, tudo
que pensei foi no dinheiro. Depois... sempre quis ser mãe. A minha vida
estava tão de cabeça para baixo, nada dando certo, meu namorado havia me
traído e a minha chefe só me afundava. Queria fazer uma loucura por mim,
algo que fosse só meu e ninguém poderia tirar de mim. Foi por isso que segui
respondendo os formulários, fazendo aquele monte de exame em pouco
tempo e agora... Não me arrependo de nada, Callum.
— Se foi pelo dinheiro, por que abriu mão dele? — Olhei dentro dos
seus lindos olhos.
— Porque me apaixonei por você.
A sinceridade das suas palavras me deixou sem ar. Agarrei-a tão apertado que
riu, abraçou-me com suas pernas e beijei sua boca repetidas vezes.
— Não poderia aceitar o dinheiro do acordo apaixonada por você, em
um relacionamento real, não era mais um contrato. Passamos para algo real
tão rápido, foi como um raio e por isso não me sentiria bem aceitando o
dinheiro como se os meus sentimentos fossem uma transação comercial. Ao
mesmo tempo percebi que não estava pronta para desistir do meu trabalho...
Aceito que me ajude em algumas coisas, principalmente nos gastos com os
nossos filhos, mas ainda tenho os meus pais...
Não queria discutir com a Isla sobre o cuidado dos seus pais, porque
certamente os ajudaria com todo prazer. Era algo que ela queria fazer como
filha e a respeitava muito por isso, mas iria certificar que todo restante fosse
sem estresse.
— Não sou bom em falar sobre meus sentimentos, Isla. — Coloquei-a
sentada no balcão. — Sei que pode parecer bem idiota da minha parte querer
ouvir sobre o que sente por mim e não dizer de volta... — Respirei fundo e
ela apenas colocou a mão no meu coração. — Eu não fui criado... As
palavras...
— Certas coisas não precisam de palavras, apenas de atitudes... Um dia
irei querer ouvi-las, mas por hora, estou sentindo o que você sente e é o
suficiente. Vamos trabalhar nisso juntos. — Escorregou para o chão, ficando
de pé na minha frente, pegou a minha mão e levou até o seu ventre. — Você
diz que ama os bebês o tempo todo. Não tem problemas com as palavras,
Callum. Seu pai te criou para não acreditar no amor entre um homem e uma
mulher, que não seria capaz de ter um relacionamento saudável, você lutou
muito para entender e encarar a paternidade como algo positivo e é por isso
que sei que vai ver nosso relacionamento como algo bom.
— Eu vejo. Só tenho medo de dizer as palavras e você desaparecer
como fumaça na minha frente.
— Estou bem aqui e não irei a lugar nenhum. Vou te provar isso todos
os dias, está bem? Não sou uma mulher de fugir do que quero, e quero você.
— Sou um homem sortudo por isso. — Beijei a pontinha do seu nariz.
Isla sorriu marota, toda convencida e percebemos que estávamos
muito atrasados com o jantar. Ela foi se preparar, arrumar o cabelo e colocar
uma roupa decente, me deixando sozinho, cozinhando os legumes no vapor,
enfiei a carne marinada no tempero desde ontem à noite no forno e deixei as
batatas para assar com ervas finas por último.
Esperando os legumes cozinharem no tempo certo, fiquei mexendo no
meu telefone e o Tray finalmente apareceu com notícias preocupantes. Hank
passava todos os dias em frente ao prédio da Isla, algumas vezes bebia algo
em um pequeno cantil de prata encostado no seu carro em frente ao prédio e
tentou entrar várias vezes. Como a Isla raramente estava em casa nas últimas
semanas, não deveria ter sido notificada pelos porteiros.
As imagens do prédio mostravam que foi ele quem arrombou, entrou e saiu
com as mãos vazias, parecia meio transtornado. Bêbado. Tray também
descobriu que o Hank foi demitido do jornal, sofreu uma acusação de assédio
sexual da sua chefe e foi demitido, levando um belo processo de outras
mulheres do trabalho.
Tray e a Cassie cuidaram para que o Hank ficasse bem longe da Isla
legalmente e pedi ao meu segurança para procurar alguém para ficar com a
Isla no trabalho e onde mais fosse necessário. Se o homem teve a audácia de
arrombar o apartamento dela, significava que estava disposto a fazer muito
mais.
Preocupado, terminei com os legumes e subi para tomar banho e trocar
de roupa. Isla estava sentada em um banquinho no banheiro, mexendo em
alguns produtos e me olhou curiosa, porque entrei mudo e segui calado até
voltar para a cozinha. Inquieto, pedi ao Tray para fazer um levantamento
completo do Hank. Queria saber de onde surgiu, o que comia, bebia e com
quem falava. Queria entender como um homem, saber mais sobre o
relacionamento com a Isla e se ele tinha alguma sujeira debaixo do tapete.
O porteiro interfonou avisando que o pai da Isla estava subindo.
Esperei próximo ao elevador e reparei que ele estava infinitamente sem graça,
querendo tirar os sapatos e tudo. Peguei o seu casaco, pedi que ficasse à
vontade e ofereci uma bebida. Chamei a Isla ou ela ficaria eternamente
passando hidratante na perna, fazendo stories e conversando com suas
seguidoras ou com os seus amigos.
— Aceito água, estou de serviço até meia noite, não posso beber, por
mais que desejasse um bom uísque agora.
— E o senhor tem algum tipo favorito?
— Dos adocicados, embora sejam criticados. Não sou um grande
bebedor, nunca fui. Trabalhando como policial e com uma filha em casa,
sempre evitei beber. Você gosta?
— Na verdade, não. — Sorri sem graça. — Nunca fui muito além da
cerveja e do vinho. Bebo socialmente... Não sei se a Isla comentou, tive
câncer bem na fase da bebedeira, depois não vi graça e sigo bebendo apenas
quando meu primo vem aqui ou quando saio com os meus amigos. Como a
Isla está grávida, beberei ainda menos. — Levei-o para a sala de estar e
ofereci algumas torradas com pastinhas para a entrada.
— Você está feliz com a gravidez, Callum? Annie não me falou em
detalhes, na verdade, ela sequer me contou sobre a gravidez. Estou
perguntando isso como pai, de homem para homem. Quero que saiba que a
minha filha é uma menina muito batalhadora, tenaz e talentosa, nós não
somos ricos, mas sempre cuidei dela e sempre vou cuidar. Se você estiver
fazendo qualquer coisa por obrigação...
Sorri, sem estar ofendido com as suas palavras.
— Não estou fazendo nada por obrigação, estou muito feliz com a
gravidez, com os bebês e a sua filha é uma mulher incrível. Me sinto honrado
por estar com ela.
Jay tirou os óculos e me encarou bem sério.
— Acabou de dizer bebês... no plural?
— Sim. Tem dois e serão gêmeos idênticos. — Sorri com muito
orgulho.
Jay estava surpreso demais para expressar qualquer reação e ouvi os
passos cuidadosos da Isla na escada. Ela estava toda de preto, com uma calça
de ginástica e uma blusinha justinha que dava para ver claramente a pequena
formação oval no seu ventre. Ficava escondida em todas as roupas, exceto as
justas e quando está nua.
Seu pai ficou olhando-a e pude ver a sua expressão ficar bem
emocionada. Isla riu e o abraçou. Jay levou a mão até o ventre da filha,
trocamos sorrisos brilhantes.
— Serei um vovô! — Comentou olhando para a sua menina.
— Callum te contou que será em dose dupla? — Seu olhar estava
brilhante.
— Como está se sentindo com essa notícia? — Jay perguntou para Isla
com carinho paternal. Ele estava muito feliz com a gravidez dela.
— Feliz em dose extra, papai.
Receber o pai da Isla para jantar foi divertido e senti que teríamos
muitos encontros assim. Raramente recebia visitas, além do Charlie e os
meus tios, não dava festas ou jantares. Percebi que a Isla gostava de estar
sempre com os seus amigos, reunindo-se para comer e se o dia de Ação de
Graças foi uma prévia, sabia que ela vai querer estar com eles nas festas de
fim de ano.
Tivemos um momento tenso falando sobre o Hank e ao contrário dela,
não escondi tudo que descobri sobre ele. Seu pai e eu estávamos muito
preocupados. Jay disse que buscaria mais sobre ele no sistema
— Espero que venha nos visitar mais vezes, papai. — Isla abraçou o
pai e montei uma marmita para que ele pudesse levar para o seu parceiro que
o cobriu para ficar mais de uma hora conosco.
— Estarei por perto mais vezes. Quero ver essa barriguinha crescendo...
— Jay beijou a filha na testa e se virou para mim. — Te espero domingo lá
em casa para nosso almoço em família. — Apertou meu ombro e entrou no
elevador.
Fui convidado para o almoço da família e fiquei muito feliz. Passava o
domingo ansioso esperando a Isla voltar, verificando o celular para ver se
enviou uma mensagem pedindo para buscá-la. Nunca quis invadir a
privacidade deles, a rotina da família aos domingos. Fui convidado e me
sentia muito bem. Significava que o pai dela estava nos vendo como uma
família em formação.
Acenamos em despedida uma última vez e a Isla me agarrou, quase
subindo em mim para alcançar minha boca e me dar um longo beijo de
agradecimento por receber seu pai tão bem. Ela era tão fofa. Limpamos a
cozinha, guardamos o que sobrou, ela reclamou que estava ficando enjoada e
foi para o quarto. Terminei sozinho, acionando os alarmes e subi,
encontrando-a de camisola, o que era raro e os cabelos presos.
— Estou assustada com essa atitude do Hank. — Comentou assim que
me sentei ao seu lado.
— Amanhã irei entrevistar um novo guarda-costas para ficar com você.
— Gosto do Tray, acho que está rolando um clima entre ele e a Cait.
— Então ele vai ficar com você. — Beijei a sua bochecha.
— Tomei uma decisão importante... — Isla segurou a minha mão. —
Enquanto você estava fazendo o jantar, li algumas matérias sobre gravidez de
gêmeos e outros relatos, decidi trabalhar até o quarto ou quinto mês... Depois
vou ficar em casa, quero criar uma coleção de roupas para mães, dar
seguimento a outros projetos e trabalhar com a La La Island. Você me apoia?
— O que mudou tão rápido?
— Disse a você... Queria tomar a decisão por mim, não pela sua
opinião ou dos meus amigos. Estou cansada de ser empurrada para todo lado
e ainda terei alguns meses lá na revista e vou poder me preparar para isso. —
Segurou a minha mão e seu olhar foi rapidamente para o telefone e depois
para mim. — Estou com muito medo.
— Não vai ficar desamparada, Isla. Sempre estarei com você... sempre.
— Obrigada, baby.
Deitando-se, sua camisola subiu um pouco e acariciei as suas coxas.
Isla dormiu sem nenhum esforço como sempre e sorri, filmando um pouco
para provar a ela, que nunca acreditava que dormia bem no meio das nossas
conversas, sem dar boa noite ou algo do tipo. Ajeitei-a melhor na cama, ainda
sem sono por ter dormido muito de tarde, trabalhei no meu computador,
distraído com planilhas e o meu telefone vibrou.
Era uma mensagem do Cage.
Meu irmão nunca me mandava mensagens. A última foi no meu
aniversário no começo de novembro que não respondi, Isla que enviou uma
de volta.
Cage enviou uma foto de uma notificação.
Com calma, li o que estava escrito e quase ri. A família da Patrícia
estava pedindo dinheiro a ela. Sanguessugas infelizes. Eles cortaram relações
com ela na traição, como estava puto sequer me importei, mas sabia que o
seu pai perdeu absolutamente todos os bens em apostas e o banco tomou o
que sobrou. Eles queriam que a Patrícia lhes desse uma pensão, alegando
invalidez que todos sabiam que não existia.
Liguei de volta.
— Quando isso começou?
— Tem alguns meses. Eles querem parte da minha loja…
Com a ajuda dos meus tios, Cage se formou em engenharia civil, e
abriu uma loja de materiais de construção e tem uma equipe de empreitada.
Vi alguns dos projetos que trabalhou e eram muito bons. Nunca lhe disse,
porque não existia mais nada entre nós.
— Aquela advogada da Lowell me ligou, por causa do sobrenome, viu
no sistema dela, algo assim. Disse que iria te contar, não quero que pense
que estou fazendo algo errado... Estou resolvendo, contratei um advogado
já...
— O seu sogro é amigo de muita gente influente que lhe deve favores,
está aproveitando de uma situação que não lhe diz respeito para te chantagear
e pressionar. Isso é comigo, Cage. Vou resolver, até mais.
Encerrei a chamada, saí do quarto para não acordar a Isla e entrei no
escritório. Rolei a minha lista de chamadas e liguei para o Roman Adams.
Meu ex-sogro. O homem que praticamente vendeu a filha em troca de um
negócio que faliu em pouco tempo.
— Quanto você quer para deixar a família do meu irmão em paz?
— Olá, Callum. — Roman respondeu bem baixo. — Isso não é com
você... Seu irmão se casou com minha filha e ela me deve. Vocês estão
rompidos.
— Cage é um Lowell. Ele é o meu irmão. Sempre será... e eu cuido dos
meus. Você precisa ser lembrado o que significa provocar a minha família?
— Não imaginei que o Cage te procuraria, vou retirar as solicitações...
— Fique bem longe da Patrícia e dos meus sobrinhos. Deixe-os em paz.
Tudo ao seu redor me pertence, Roman. Inclusive o ar que respira. Eu
costumo tomar o que é meu quando não estou satisfeito, fui bem claro?
— Sim.
— Receberá uma visita amanhã. Se esse comportamento persistir, irei
pessoalmente.
Às vezes meu pai tinha razão.
O fruto nunca caía longe do seu pé.
O DNA Lowell sempre falava mais alto quando mexiam com a minha
família, gostando deles ou não.
CAPÍTULO 19
Isla.
Quando tomei a decisão de sair do meu trabalho, não foi porque
desisti de ajudar os meus pais, foi porque Roxanne me enviou uma
mensagem com uma lista de exigências para o dia seguinte. Sentada no
banheiro, meu pai chegaria em questão de minutos e o meu ex-namorado
havia invadido o meu apartamento. Foi como se tivesse minhas mãos cheias
demais, minha cabeça ao ponto de explodir e havia algo no meu coração que
me deu nojo. Por que estava me submetendo a tanta humilhação?
Se não estivesse grávida, me sentiria uma covarde por simplesmente
não sair. Por que idolatrava tanto uma mulher que estava me machucando dia
após dia? E eu sequer sabia o real motivo.
Conversei com a Laila antes de descer e a minha melhor amiga me deu
uma injeção de ânimo. Somando com a conversa muito incentivadora do
Callum, fiz umas contas, um plano de jogo e conversaria com o meu pai
sobre as contas. Talvez devesse mesmo aceitar a ajuda que estava sendo
oferecida... Era humilhante e o meu orgulho gritava, mas eu não podia
suportar o abuso da Roxanne nem mais um segundo. Estava me deixando
triste. A maneira que passou a me tratar depois que comecei a namorar o
Callum estava me machucando muito mais que todos os anos de trabalho.
Por que ela odiava tanto o Callum se ela que foi amante do pai dele?
Precisava entender melhor essa história. Trabalhar até o meu quinto
mês me daria alguns meses para me preparar. Foi como tirar um peso dos
meus ombros, estava sendo teimosa, inconstante, tendo mil planos ao mesmo
tempo e deixando todo mundo ao meu redor maluco. Callum me apoiou, só
não entendeu nada, horas antes estava firme na minha decisão e depois mudei
de ideia.
Bem... Não ia mostrar o e-mail para ele.
Conversei com a Cassie, contei sobre os últimos anos, mostrei para ela
o e-mail e foi outra a me convencer a sair. Nada de esperar, mas eu não podia
sair de repente, não iria me queimar assim. Roxanne não sabia da minha
gravidez, apenas a Cait, então estaria segura até a barriga começar a aparecer,
porque não pretendia contar a minha chefe. Não ia suportar ouvir algo ruim
sobre os meus bebês.
Estava me sentindo muito insegura, com medo de não conseguir me
sustentar, de não poder mais ajudar os meus pais e apavorada em tudo dar
errado. Fiquei sem dormir por uns dias, preocupada, me levantando de
madrugada para abrir a minha planilha de contas e gastos. Olhei a minha
poupança, o dinheiro que Callum me deu como adiantamento nunca foi
devolvido, também não gastei. Conversei com ele sobre usá-lo e nós
brigamos, porque ele achava que era fácil pegar e gastar algo que não mereci
receber.
Qualquer outra pessoa gastaria, mas eu cresci vendo o meu pai lutar
com o dinheiro e ainda assim, ser um policial honesto.
Deixei de lado a minha preocupação com o dinheiro e foquei na minha
questão iminente. Convidamos os tios do Callum para um jantar a fim de
contar sobre a gravidez, estava oficialmente no fim do primeiro trimestre e
era hora de mais pessoas terem acesso a essa informação tão importante.
Preparei uns presentinhos fofos para dar a notícia e filmar a reação da família.
Era para ter sido assim com o meu pai, mas o Callum caiu na pegadinha dele
e acabou confessando a gravidez.
— Essa roupa está boa? — Parei na frente do Callum, que tentava
assistir a um filme. Ele desviou o olhar da televisão, parou nos meus pés e
subiu o seu olharzinho safado pelo meu corpo até o meu rosto.
— Sexy.
Droga. Não queria parecer sexy durante o jantar. Voltei a subir a escada
frustrada ouvindo a risada da Charlotte. Ela não era de muita ajuda também,
tudo estava bom e perfeito, pelo amor de Deus. Laila estava muito ocupada
fazendo extra no trabalho e o Benji deveria estar fodendo alguém, porque não
me respondia. Irritada, parei dentro do closet, tentando me lembrar de todas
as minhas roupas. Faltava menos de meia hora e o meu cabelo ainda estava
molhado.
Nada estava bom. Meus peitos não estavam cabendo em algumas
roupas, ficando com o decote bem provocante, o que não era muito meu
estilo. Fuçando minhas coisas, achei um vestido que era do nível das
Kardashian. Se todas as minhas roupas estavam apertadas, aquele vestido
ficaria justíssimo e com justificativa. Seu tom era magenta, deslizando pelo
corpo, acomodou bem meus novos seios redondinhos e cheios, colei adesivos
nos mamilos porque não ficaria bom com um sutiã.
Me olhei de lado e se a Tia dele reparou bem em mim, ela saberia que
estava grávida. Roxanne ainda não percebeu, porque estava usando
camisetões quase todo dia.
Callum entrou no nosso quarto e logo parou na porta do closet, me
observando colocar minhas joias do dia a dia, meu colarzinho com a letra I,
pulseiras e anéis. Andou casualmente até o espelho, parando atrás de mim e
deslizou as mãos pelos meus quadris e enfiou o rosto no meu pescoço,
beijando, cheirando e sussurrou que a minha bunda estava incrível naquele
vestido. Tirei uma foto, porque o meu sorriso era o indicativo que ele havia
falado algo bem safadinho.
— Posso tirar sua roupa mais tarde? — Mordeu o meu ombro e fiquei
toda arrepiada. Callum imediatamente olhou para meus seios pelo espelho,
fez um beicinho por não ver meus mamilos arrepiados e abaixei meu decote
revelando os adesivos. — Puta merda... Isso é realmente sexy. — Puxou o
adesivo e me deu um sorriso que conhecia bem.
O homem era incansável e eu podia dizer que me tornei aquelas
mulheres com a vida sexual ativa. Dividir o mesmo teto estava ajudando
muito e a ideia de aproveitarmos enquanto podíamos, mais ainda.
— Seus tios devem estar chegando...
— Eles podem esperar! — Callum me pressionou deliciosamente,
mostrando que a minha roupa causou um efeito perverso nele. Tirando o meu
vestindo, jogou em cima do futton e assobiou para minha calcinha pequena.
— Nós iremos nos atrasar... — Falei apenas por falar. Ele ficou de
joelhos atrás de mim, puxando minha calcinha para baixo, tirando totalmente,
me inclinei para frente, apoiando ambas as minhas mãos na parede espelhada
e gemi com a carícia muito suave no meu clitóris.
— Você é tão perfeita. Que bunda maravilhosa... — Agarrou ambas as
nádegas de um jeito bem firme. — Gostosa. — Afastou minhas bochechas,
me empurrando para frente e logo senti sua língua deliciosamente nas minhas
dobras. Ele ergueu o meu joelho para a minha penteadeira, me chupando com
vontade, me fazendo gozar intensamente e fiquei desorientada. Ficou de pé,
tirou a bermuda e meteu em mim sem aviso, sem preparo, me fodendo como
um homem sedento. Agarrou meu cabelo, colando a boca no meu ouvido. —
Diga que me quer.
— Oh, Deus! — solucei tomada por prazer. — Eu te quero todo
maldito tempo! — Gritei gozando mais uma vez, tombando no espelho,
sendo amparada por ele que estocava sem pausa até gozar. Seu gemido
gostoso me fez sorrir. Aquele homem gozando era uma delícia, a minha
delícia. — Estou toda bagunçada. — Sussurrei ao mesmo tempo que ouvi a
campainha do elevador tocar. Estava vermelha, suada e os meus cabelos
escovados enrugados. — Vou te matar!
Callum parecia satisfeito demais para levar minha ameaça a sério.
— Charlotte irá recebê-los, vem tomar banho comigo...
Tomei um banho rápido, correndo para secar meu cabelo e modelar.
Callum aparou a barba, escovou os dentes e penteou o cabelo sem nenhuma
pressa, passeando nu pelo quarto, banheiro e closet. Me maquiei só para
esconder minhas novas espinhas e passei um pouco de rímel, finalizando com
gloss clarinho nos lábios.
Encontrei o meu vestido, passei no vapor, colei novos adesivos nos
seios, uma nova calcinha pequena e me vesti sob o olhar atento do meu
namorado. Ele ficou pronto pouco antes de terminar de passar creme
hidratante nas minhas pernas. Pelo barulho no andar de baixo, nossos
convidados já estavam nos aguardando e agarrei a mão dele bem apertado,
morrendo de vergonha.
— Se a sua tia falar algo eu vou te matar. — Avisei baixinho e abri
um sorrisão para o Charlie. Ele me abraçou apertado, me chamando de
pequena e em seguida abraçou o primo cheios de tapas.
Tia Gwen e o Tio Robert já estavam bebendo vinho e a Charlotte
serviu as entradas, meu rosto não tinha mais espaço para ficar vermelho.
— Peço milhões de desculpas pelo nosso atraso, foi culpa totalmente
minha. — Callum abraçou os tios bem apertado. — Isla está com vergonha e
brigando comigo.
— Ah querida, relaxe. — Tio Robert me abraçou apertado. — Está
muito bonita, querida.
— Eu agradeço demais o seu convite. — Gwen me abraçou,
empolgada por estar reunida com a família. Ela me passava a sensação que
lutava demais para manter todos unidos e deveria ser um trabalho exaustivo
com três homens adultos com personalidades fortes. — Acho que Callum
nunca ofereceu um jantar e planejei essa sala incrível à toa.
— Realmente é uma decoração espetacular. — Concordei porque o
apartamento era espetacular.
— Adorei os quadros que colocou... Deixei sem nada, porque é algo
bem particular. Aquela parede grande ali no fundo sempre imaginei uma foto
de família do Callum. — Gwen apontou e concordei, ficaria lindo.
— E isso não vai demorar a acontecer, Titia. — Callum pegou a caixa
de presentes. Charlie estava com o telefone na mão, pronto para filmar a
reação dos pais dele com a notícia dos bebês.
Tia Gwen pegou a caixa ansiosa e desconfiada, Robert parou ao seu
lado e senti um frio na barriga esperando as suas reações. Ela tirou a tampa e
pegou os dois chocalhos dourados e a foto da ultrassonografia que foi
revelado a dose dupla de bebês aqui dentro. Sua tia entendeu primeiro que o
marido, olhando para nós dois de boca aberta, esperando uma confirmação.
Callum sorriu e confirmou, ela gritou, sacudindo o chocalho, nos abraçando
ao mesmo tempo.
— Eu não acredito, meu filho! Serei tia-vovó?
— Será avó, Tia Gwen. A senhora foi a minha mãe a maior parte da
vida. Espero que aprecie comigo a bênção de ser pai de dois. — Callum
respondeu meio emocionado e os dois ficaram agarrados por um longo
tempo. Assisti a cena com muito amor. Tio Robert me abraçou, felicitando e
em seguida Tia Gwen me abraçou de novo, agradecendo efusivamente por
fazer seu menino feliz.
O clima amistoso transformou-se em pura alegria. Eles passaram
poucas e boas com o Callum, estavam presentes em todas as fases da vida e
não paravam de falar o quanto a aparência dele mudou.
— Estou dormindo todos os dias, Tia Gwen. Sem a ajuda da
medicação...
— Sabia que era falta de sexo. — Charlie tossiu, quase cuspi o meu
suco e limpei minha boca discretamente.
— Ignore o Charlie. Desde que Callum teve câncer, ele cismou de fazer
essas brincadeiras. — Tia Gwen apaziguou o comentário engraçadinho do
filho.
— Nada disso, sexo está diretamente ligado ao bom funcionamento dos
nossos órgãos reprodutores e a uma noite de sono. Papai é médico, não vai
negar a teoria. — Charlie estava rindo e olhando diretamente para o Callum.
— Deve ser por isso que a sua cama nunca fica vazia... Tem problemas
para dormir, priminho? — Callum sorriu. — Sendo assim, acho melhor
avisar a Cassie para ficar longe.
— Não sabe brincar, fica quieto. — Charlie resmungou, perdendo o
olhar brincalhão. Aqueles dois...
— Callum é maravilhoso. — Soltei aleatória e eles me olharam. —
Pensei alto. — Murmurei desviando o meu olhar. Callum me abraçou, sem
conter a risada.
— O médico explicou que esses comentários aleatórios da Isla se trata
dos hormônios. Ela tem confundido coisas simples, literalidade, quer falar
uma coisa e acaba falando outra... — Callum me deu um beijo na testa. —
Solta umas coisas aleatórias do nada.
— Com quantas semanas está, querida? — Robert me perguntou.
— Estou quase no segundo trimestre... Ainda não estou com muita
barriguinha, embora tenha aumentado seios e os quadris. Nós teremos uma
ultrassonografia na próxima semana para vê-los melhor e esperamos
descobrir o sexo. — Expliquei.
— Seria incrível fazer um chá revelação apenas para os mais íntimos e
noticiar para a imprensa no mesmo dia, assim não dará chance para rumores.
— Tia Gwen comentou e apenas olhei para o Callum. Queria muito fazer
uma reuniãozinha para descobrir o sexo, ao mesmo tempo não queria fazer
alarde em cima de mim sobre a gravidez.
— Nós vamos pensar em algo sobre isso. — Callum respondeu em tom
apaziguador e a Charlotte apareceu no limiar da sala para informar que o
jantar estava pronto.
Nos acomodamos na grande mesa, com uma conversa bem leve sobre a
gravidez. Tio Robert me fez perguntas médicas e fiquei tão grata que a
família do Callum estava feliz por ele. Definitivamente todos os Lowell
sofreram demais e estavam desesperados por novos rumos felizes.
Tia Gwen foi a sobrevivente que manteve a família unida mesmo com
todos os acontecimentos. Sabia que o Callum não falava com o seu irmão e
cunhada, que era a sua ex, mas ele andou trocando mensagens com o seu
irmão esses dias, apenas vi as notificações, mas não li.
Alguma coisa aconteceu porque o Callum ficou muito estranho, alguns
homens realmente assustadores vieram aqui na portaria da cobertura. Tray foi
quem subiu com eles, Callum foi até o lobby e assisti pela câmera entregar
uma mala de couro e eles saíram, voltando depois e falando coisas que
fizeram Callum responder ao irmão que estava resolvido. Talvez o Cage
estivesse com problemas.
— Isla? — Tia Gwen me tirou do mundo dos pensamentos, sorri sem
graça. — Sei que sua mãe está em uma condição delicada e não pode te
acompanhar nessa fase tão importante na vida de uma menina. Se precisar de
companhia para ir ao médico, fazer compras e tirar dúvidas, pode me ligar.
— Obrigada, Tia Gwen. Sei que irei precisar.
Quando os tios dele foram embora, me encolhi no sofá enquanto
Charlie e o Callum conversavam, riam e ainda bebiam. Comi mais uma vez e
acabei adormecendo, como sempre acontecia quando a televisão estava
ligada. Senti alguém me cobrindo e ao tentar abrir os olhos, peguei o
vislumbre do Callum puxando a colcha sobre mim e ajeitando minha cabeça
em uma almofada.
— Está realmente feliz? — Ouvi o Charlie falar com o Callum.
— Minha vida parece até de outra pessoa... — Callum respondeu bem
baixo. — A forma como a Isla entrou na minha vida não foi comum, mas
olha só para essa mulher, parece um anjo e em tão pouco tempo trouxe tantas
mudanças boas, trouxe paz e ao mesmo tempo está me dando o maior
presente dessa vida: dois filhos de uma só vez. Seria impossível não estar
feliz, Charlie.
— Gosto dela. Tagarela e meio maluca, mas é muito legal. Fico feliz
demais por vocês dois! O bolo já está no forno, e o anel no dedo?
— Quem sabe em breve? Uma coisa é certa, não planejo viver sem essa
mulher do meu lado.
— Parece que o cupido te flechou mesmo...
— Finalmente ele me encontrou. — Foi a última coisa que ouvi, antes
de mergulhar em um sono realmente profundo, tanto que não me senti sendo
carregada para cama e certamente não acordei para ir andando.
Como todas as manhãs, a minha companheira náusea me acordou antes
mesmo da voz animada da Samantha Barnes. Rolei para o lado, ainda com
sono e ao mesmo tempo sentindo a bile brincar comigo. Sem abrir os olhos,
sabia que o Callum não estava na cama. Fiz a minha rotina matinal, vesti uma
camisa dele e uma calça de pijama, saindo do quarto e indo diretamente para
a escada da academia.
Observá-lo malhar era o meu tipo favorito de começar a manhã. Suado,
só de calção de basquete, pendurado na barra, subindo e descendo. Mordi a
pontinha da unha do meu dedo indicador para me impedir de babar. Ao
descer, virou, me viu e sorriu, caindo no chão para fazer abdominais. Quando
ele estava acompanhado do seu personal, evitava ficar perto para não ser uma
distração, mas sozinho era outra história.
Meu enjoo até passou... Pensando nisso, tirei a minha blusa, a calça e a
calcinha.
Callum parou seus exercícios, me encarando, cabelos molhados de suor
e não dava para entender a mente de uma grávida cheia de tesão, porque o
ataquei ali mesmo.
Meu dia parecia maravilhoso. Começando do jeito que começou e
devorando as melhores panquecas com mirtilo do mundo, tendo tempo para
cuidar do meu cabelo e do corpo. Tive o bônus de trabalhar para o meu blog
com a ajuda do Callum. Ele sentou-se atrás da câmera, fazendo takes,
brincando com foco, ajeitando o meu novo conjunto de luzes que ganhei da
Laila — um amigo jornalista se desfez de algumas coisas e minha amiga
comprou sabendo que estava louca por uma ring light e duas soft box.
Meu sábado estava produtivo ao ponto que consegui entregar vários
conteúdos, agendar postagens e no final do dia fiquei jogada no sofá fazendo
o design de imagens bonitinhas para ir postando durante a semana. Callum
foi para o seu escritório resolver um problema depois que recebeu uma
ligação misteriosa.
Até que meu telefone tocou.
Vi que era Roxanne e me deu um desejo imenso de não atender e seguir
com meu sábado em paz, mas o meu senso de responsabilidade falou mais
alto e atendi.
— A próxima edição vazou inteirinha, Isla. Há um traidor entre nós,
toda a matéria sobre amamentação já está circulando na internet e já tem
várias revistas reproduzindo nosso conteúdo sem a exclusividade. —
Roxanne disse sem dizer alô, nem nada. — Ryan quer uma reunião de última
hora conosco. Apenas eu, você e Cait temos a arte final da revista, que foi
vazada. Faça a menina confessar e ficará tudo bem.
— O quê? A Cait não fez isso!
— Então foi você?
— É claro que não, Roxanne! Estou dizendo que não foi ela e muito
menos eu.
— Está dizendo que fui eu?
Respirei fundo e massageei as minhas têmporas, explicando que
alguém poderia ter invadido os nossos e-mails, o sistema da revista, qualquer
coisa. A Cait jamais entregaria as matérias da revista para os nossos
concorrentes e eu muito menos. A ideia era até absurda de considerar, mas
Roxanne estava certa de que foi a Cait e a sua certeza me fez desconfiar das
suas ações.
Por um mísero segundo me senti mal. Antes do Callum, jamais
desconfiaria da Roxanne, até ficaria em dúvida, mas depois de tudo que ela
me fez passar, amadureci muito a imagem de Deusa Perfeita Intocável que
mantinha dela. Idolatrava o chão que Roxanne pisava, eu era o chão que ela
pisava, agora, sentia que contava os dias até o meu quinto mês para deixar a
revista. Cada dia que passava, Laila, Callum e a Cassie me mandavam
notícias de influenciadoras digitais que estavam vivendo apenas com o
trabalho da internet.
Estava quase virando meu foco para o próximo ano... quase.
Antes de sair de casa, liguei para o Benji e pedi que falasse com o seu
amigo colorido do T.I da editora. Contei o que aconteceu e que ele precisava
fazer uma varredura com urgência. Chamei o Callum e falei que estava
usando meu cartão de namorada do dono para pedir algo contra as regras da
editora. Precisava chegar a essa reunião com provas que não foi a Cait e
muito menos eu a pessoa que vazou as informações da revista.
A Roxanne não esperaria uma atitude dessas da minha parte, até
porque, a palavra dela sempre foi lei. Senti que era o certo a fazer, mesmo
com as consequências.
— Se a Roxanne descobrir, vai querer demitir o garoto e preciso que
assegure o emprego dele, por favor. — Uni as minhas mãos, implorando. Ele
me deu um olhar severo.
— Isso é contra o regimento interno, Isla. O T.I só faz rastreio com
ordens da direção. — Callum cruzou os braços e meu sangue ferveu.
Coloquei minhas mãos na cintura.
— Então você pode interferir no meu horário de trabalho, no que como,
bebo ou ando, mas não pode interferir nisso? Para que que é dono dessa
merda?
Ele soltou uma gargalhada e percebi que estava curtindo com a minha
irritação. Bati nele e me sentei no seu colo, esperando a resposta e quando
recebi, senti o meu coração pesar. Não foi a Cait e muito menos a Roxanne.
O arquivo digital partiu da minha conta de e-mail, logada às duas horas da
manhã e enviada a uma conta que não conhecia.
— Eu não fiz isso, Callum. Não sei quem é essa pessoa...
Ele me abraçou imediatamente.
— Sei disso, baby. Não precisa dizer...
— O Sr. Reynolds e a Roxanne vão pensar que está me protegendo,
mas eu jamais faria algo do tipo, durante anos fiquei com as versões finais da
revista e nunca aconteceu nada.
Callum ficou em silêncio, me olhando bem sério e suspirou.
— Isso foi armado, Isla. E se a Roxanne fez isso para te prejudicar e ter
mais um motivo para te antagonizar?
— Por que ela simplesmente não me demitiria? Por que acusaria a
Cait?
— Para disfarçar?
Esfreguei meu rosto sentindo minha cabeça doer.
— O que vou fazer, meu Deus? — Perguntei a mim mesma, em pânico.
— Não quero ser demitida assim, nunca mais terei credibilidade profissional
no mercado... Vai ser um caos. Não posso aceitar algo que não fiz.
— Que tal se acalmar?
Tentei sair do colo dele, porque pedir para me acalmar era um absurdo,
mas, Callum me segurou firme no lugar e disse que era melhor ver a
localização do login do e-mail. Precisei beber água, porque a minha boca
ficou seca, esperar tornou-se uma tortura e por sorte, o Sr. Reynolds adiou a
reunião por algumas horas porque estava em Nova Iorque e ia demorar mais
um pouco para chegar.
Contei a Cait o que fiz e descobri, ela imediatamente se arrumou e
chamou um táxi, chegando na minha casa meia hora depois. Nós debatemos
todas as possibilidades, se deixei o meu e-mail aberto em algum lugar ou no
meu próprio computador na editora. Roxanne não parava de ligar, querendo
saber se descobri alguma coisa e achei por bem confessar que pedi ao T.I
para investigar e que eles descobriram que o arquivo partiu do meu e-mail.
— Impossível, Isla. Por que você entregaria o arquivo para os nossos
concorrentes?
— Você acredita que não fui eu?
— Você é praticamente uma Lowell agora, querida. Sei que jamais
jogaria contra o time de quem está ganhando. — Cantarolou e me senti
ofendida que ela acreditava na minha inocência porque estava namorando o
Callum e não prejudicaria um negócio dele. Trabalhei com honestidade
durante anos ao lado dela para ouvir isso. Doeu. — Quando descobrir algo
mais, me avisa.
Encerrei a chamada e olhei para a Cait com vontade de chorar.
— Recebi o endereço. — Callum disse inexpressivo e entramos no
escritório dele. — Oi, Cait. Como vai?
— Ansiosa. Quem enviou? — Cait respondeu, tão afobada quanto eu
estava.
— O e-mail da Isla foi acessado às duas da manhã nesse endereço aqui.
Conhecem? — Virou a tela do computador e li. De primeira não identifiquei
quem poderia morar ali, até que lembrei que foi um lugar muito frequentado
por mim. — Ele chegou a um nível totalmente diferente agora, Isla. E irei
resolver do meu jeito.
Não havia questionamentos.
Hank foi longe demais.
Callum não me deixaria lidar com ele e eu não queria.
CAPÍTULO 20
Callum.
Isla entrou no nosso apartamento com as pálpebras inchadas, olheiras,
seu rosto muito mais pálido que o normal e os cabelos bagunçados. Ela
sequer estava arrumada como amava estar, usava tênis, calça de ginástica e
uma camisa cinza enorme. Atravessou a distância que nos separava em
passos rápidos, subindo no meu colo e me abraçando.
— Foi tudo bem? — Acariciei as suas costas.
— Apesar de acreditarem em mim e nas provas, vou sofrer processo
administrativo para não ser acusada de favoritismo. Felizmente aceitaram
minha solução para o problema e foram liberadas as imagens do circuito
interno da revista, para provar que não tive acesso ao e-mail no horário
dentro da empresa. Você e o Tray serão chamados a depor, porque ele foi me
buscar e você é a pessoa com quem disse que estava no horário e dormindo.
Terei que levar imagens daqui do prédio... — Murmurou com o rosto
escondido no meu pescoço e mais uma vez senti o tremor do seu choro. —
Foi tão ruim estar sob tantos olhares. Sem contar os outros funcionários da
revista me olhando torto... Tantos anos dedicando-se a um lugar, a uma ética
de trabalho e uma postura, para na primeira chance ganhar tanta
desconfiança. Roxanne disse que acreditava em mim por sua causa, que eu
não tinha motivos para te prejudicar...
— Isla... Acalme-se. Pouco importa a opinião e olhares de terceiros.
O importante é que é inocente e tem provas. Tenho certeza de que tem muito,
muito mais pessoas acreditando em você do que o contrário. Todos sabem o
quão responsável e profissional você é. — Beijei a sua testa, me sentindo
terrivelmente mal em ver a sua tristeza e eu fiquei tentado a fazer uma merda
sem precedentes, como demitir a Roxanne em meio a um escândalo de
quebra de sigilo com a Isla no meio.
— Benji contou à Laila... Eles estão vindo aqui me ver, não te avisei
antes, desculpa. Fugiu totalmente da minha cabeça...
— Essa é a nossa casa.
Isla me deu um sorriso, mas o seu olhar ainda era o espelho da
tristeza. Seu abatimento estava começando a me deixar preocupado. Apesar
de ter implorado para não fazer algo errado, minha vontade era torcer o
pescoço do Hank pessoalmente. Isla ligou para o pai, contando o que
aconteceu e em seguida para a Cassidy, que me atropelou com a sua energia
termonuclear, dizendo que me conhecia o suficiente para saber que poderia
fazer uma loucura. Era o meu desejo.
Tudo que fiz foi mandar algumas pessoas que me prestavam serviço
de vez em quando fazer uma visita ao Hank e avisá-lo da forma mais clara
que conseguissem que era para deixar a Isla em paz. Se eles usassem os
punhos, não seria um problema meu. Legalmente, seguiremos movendo um
processo contra o Hank, ilegalmente era melhor que prestasse atenção quem
estava provocando agora.
— Que tal pedirmos pizzas e outras besteiras para recebermos seus
amigos?
— Quero hambúrguer e batatas fritas! — Isla choramingou, fazendo o
seu dengo porque sabia que vivia para fazer as suas vontades.
— Meus bebês estão bem? — Coloquei a minha mão no seu ventre
durinho.
— Os dois estão bem e eu vou ficar melhor, prometo. Sorte a minha
que minhas férias chegaram junto com esse processo administrativo, quando
voltar, deve estar tudo resolvido.
— Férias? Sério? — Me fingi surpreso.
Isla me deu um olhar impaciente.
— Já te contei que namoro o chefe do chefe da minha chefe que
mandou o meu contrato de trabalho para uma advogada, que é uma amiga
minha, e o RH teve que me dar duas semanas de férias ou teriam que pagar
um dinheiro alto pelas minhas horas extras? — Me deu um olhar muito
engraçado.
— Caramba! — Entrei no seu joguinho e ela me bateu.
— Roxanne segurava as minhas horas extras para fazer no sistema de
folga, aparentemente, isso não está no meu contrato de trabalho e o RH ficou
desesperado com a quantia alta que a Cassie ameaçou tirar deles. Entrarei de
férias terça-feira. — Isla apertou meu nariz. — Não sei se brigo com você ou
te beijo.
— Me beija.
— Tem a sorte de ser gostoso. — Isla me agarrou e plantou um beijo
firme na minha boca, não a deixei sair tão facilmente e logo estávamos em
um amasso gostoso no sofá. — Não me faça querer sexo antes de recebermos
visitas.
— Parece que vai ser uma tradição nossa. — Esfreguei meu pau duro
entre suas pernas e ela gemeu bem gostoso contra meus lábios. Quando enfiei
a mão embaixo da sua blusa para tirar sua calça, o interfone tocou e suspirei,
me afastando. Isla soltou várias risadinhas, deitada no sofá e me levantei
ajeitando o meu pau na cueca, autorizei a entrada dos amigos dela e
desapareci.
Eles não precisavam me ver naquele estado. Só retornei para a sala
depois que o meu pau entendeu que não ia sair para brincar e cumprimentei
os seus amigos. Michael e o Benji estavam sentados em um lado do sofá,
Laila e a Isla em outro, abraçadas. Ofereci bebidas, todos aceitaram vinho e
dei a Isla uma taça com seu suco de uva integral favorito. Pedi pizza,
hambúrguer, batatas fritas e outras besteiras para comermos juntos.
Nunca fui um homem de ter a casa com tantas pessoas em pouco
tempo, mas a Isla era o meu oposto perfeito nesse quesito.
— E como faremos no Natal esse ano? — Laila perguntou e a Isla me
deu um olhar. — Não vai ficar com seu pai?
— Na verdade, o meu pai nos contou que irá trabalhar, ficamos de nos
organizar sobre o que iremos fazer. E vocês? Não vão para a mãe dos
meninos esse ano?
— Michael vai trabalhar no dia vinte e cinco por algumas horas, ele
não conseguiu trocar e aí não vai dar para viajar. Ela deve vir ficar conosco e
os meus pais, aquela história de todo ano... — Laila revirou os olhos e a Isla
me olhou mais uma vez e entendi totalmente o que ela queria. Fazer o natal
aqui em casa.
Olhei para a árvore de natal com as luzes piscando, enfeites e
palhaçadas que comprei para montar com ela, porque queríamos uma foto
dela grávida na árvore e ano que vem iremos reproduzir com ela segurando as
crianças. Voltei a olhá-la e apenas sorri.
— Vamos fazer aqui? Tem espaço para todo mundo e podemos até
buscar minha mãe... — Isla ofereceu e as meninas entraram em um assunto
louco de organização e comida que fiquei perdido.
A parte boa era que a Isla parou de chorar e eu a teria em casa por
duas semanas, pronto para convencê-la a ficar em casa de vez, sem retornar
ao trabalho. Até botei pilha para o Benji ajudá-la em umas produções de
roupas de inverno e assim percebesse que o salário da revista rapidamente
poderia ser substituído com um salário da sua própria empresa.
Quando os seus amigos foram embora no meio da madrugada, ela
estava caindo de sono e não demorou dois segundos para adormecer
profundamente.
Os primeiros dias da Isla em casa foram magníficos, ela dormia a
maior parte do dia e a noite me aguardava para jantarmos juntos ou me fazia
alguma surpresa divertida. Como estava mais descansada, não sentia mais
tanta dor de cabeça e nem tanto enjoo. Era nítido a mudança na sua
expressão.
Foi uma nova experiência descobrir que tem muito mais energia que
podia acompanhar e o quanto conseguiu produzir novos trabalhos.
Na véspera de natal, entrei em casa mais cedo, trabalhei até a hora do
almoço e encontrei a casa cheirando deliciosamente a comidas natalinas. Meu
estômago até roncou e nem estava com fome. Isla estava na cozinha,
amassando algo com as mãos e me deu um enorme sorriso. Era sempre
assim... Seus sorrisos de boas-vindas me deixavam tonto de felicidade.
Ninguém nunca sorriu com tanta alegria ao me ver.
Tirei o meu casaco e imediatamente fui ao seu encontro, abraçando-a
bem apertado e a sua boca com gostinho de doce de abóbora encontrou a
minha.
— Pumpkin?
— Sim, sem gengibre. Tray comprou para mim. — Sorriu brilhante.
Ela era viciada em bebidas de abóbora. Roubei umas gotinhas de chocolate,
querendo saber o que estava fazendo. — Preparando os cookies! Preciso da
sua ajuda com as aves, elas são enormes e muito pesadas. Hum... Fiz todos os
purês, as folhas das saladas estão de molho e não consegui abrir a sua adega.
— Disparou a falar e fui obedecer às suas ordens.
Combinamos com os seus amigos a ceia de natal na véspera e no dia
seguinte iremos para a casa dos meus tios almoçar. Chegaremos a tempo da
adorada tradição da minha tia de abrir os presentes pela manhã. Nos últimos
anos não estive presente, porque não precisava ver meu irmão e a sua família
feliz... Agora parecia que não era importante. Tinha a minha própria família a
caminho e muitos motivos para comemorar o natal.
— Vou me vestir para buscarmos a minha mãe, temos que render a
enfermeira em uma hora. — Isla gritou da escada e revirei os olhos, ela
estava tão ansiosa que não parava de falar nem um mísero minuto.
Ouvi o barulho do elevador e o meu primo entrou assobiando,
anunciando sua presença, embora tenha me avisado que estava vindo e disse
que estávamos decentes. Desde que a Isla se mudou, ele parou de aparecer
sem avisar. Só apareceu umas duas vezes enquanto não estive, até fez
companhia a ela e, como a Isla não podia ver um homem desocupado por
perto que pedia para subir em uma escada ou mudar algo de lugar, ele a
ajudou bastante também. O Tray literalmente fugia dela quando estava com o
modo decoradora ativado.
— E aí, papai. — Charlie abriu a minha geladeira, pegou uma garrafa
de vinho, abriu, cheirou, fechou e pegou outra. Fez isso umas três vezes até
achar a que queria. — Esse é gostoso.
— Compre os seus próprios vinhos.
— Não recebo o seu salário. — Retrucou com um sorrisinho.
— Vai se foder, mão de vaca.
— Quero um aumento. — Ele tinha o salário mais alto abaixo do
meu, o idiota.
— Não. — Sorri.
— Qual é, Callum. É natal. Podia me dar um aumento de presente. —
Ele abriu um sorriso provocante.
— Você tem um salário e participação de lucros da empresa, está
ótimo.
— Agora quem é o mesquinho? — Colocou a mão na cintura como
uma mulherzinha.
— Não e vá se foder. — Repeti rindo e ele me deu o dedo médio.
— Oi crianças! — Isla ironizou enrolando-se em um cachecol. —
Não deixa a comida queimar! — Apertou a orelha do Charlie e peguei a sua
mão, a chave do carro, meu casaco e a carteira. — E não coma os biscoitos!
— Sim, mamãe! — Charlie revirou os olhos sorrindo e bebeu o vinho
diretamente da boca da garrafa.
Isla precisou de ajuda para subir no carro mais alto, era o que tinha
mais espaço para trazer a mãe dela e todas as coisas necessárias para passar a
noite. Iremos levá-la de volta pela manhã, depois que o pai dela sair do
plantão. Estava meio ansioso para receber a mãe da Isla, a sua saúde era
muito debilitada e apesar dos esforços da Isla em dar o melhor para a sua
mãe, o relacionamento das duas era nitidamente frio.
Durante o trajeto, tive a sensação de estar sendo observado e não
parecia que um carro específico estava nos seguindo ou algo do tipo. Meus
homens encontraram o Hank e lhe deram um aviso, desde então ele
desapareceu. Seu cachorro seguia com a vizinha e não apareceu mais em
casa, na minha experiência, isso não era um indicativo que desistiu e sim que
poderia estar planejando algo tão ruim ao ponto de não querer ser encontrado.
Chegando à casa dos pais dela, estacionei na garagem, o mais
próximo da porta que consegui encaixar o carro e ajudei a Isla a descer. Sua
mãe estava na sala, pronta, com uma pequena bagagem ao lado. Pelo sorriso
que deu a filha, parecia ansiosa e comentou que queria muito conhecer a nova
casa da filha. Pelo olhar da minha namorada, não era necessariamente algo
bom e me senti perdido.
Carreguei o carro com as bolsas, achei melhor levar a cadeira de rodas
primeiro e levei a mãe dela no colo, prendendo no cinto e em seguida ajudei a
minha linda garota a sentar no banco do carona, ganhei um beijo de
agradecimento e dei a volta. Antes de entrar, reparei em um carro utilitário
vermelho que parecia muito familiar com um que vi na saída do meu prédio.
Tirei uma foto e assim que peguei a placa, o carro saiu em alta
velocidade. Enviei a foto para o Tray, respirei fundo e decidi que era melhor
nos manter em movimento do que parados. Seja quem fosse, já tinha a placa
do carro e poderíamos descobrir quem era pelas câmeras de trânsito. Meu
guarda-costas nos encontrou no meio do caminho, piscou os faróis, deu a
volta e me seguiu de perto.
Isla e a sua mãe estavam totalmente alheias. Sierra estava quieta,
admirando a rua, não saía muito de casa. A minha namorada ficou quieta e
segurei a sua mão, beijando e em seguida apoiei na minha coxa. Chegamos
em casa e com a ajuda do Charlie, levei a minha sogra e todas as suas coisas
para o apartamento.
— É um belo lugar, Isla. O luxo que uma menina como você
merece... — Sierra disse com um pouco de falta de ar e o seu comentário foi
recebido com uma careta da filha.
— Gostaria do seu chá agora, mamãe? — Isla mudou de assunto e foi
para cozinha. Ela estava emburrada e queria saber o motivo.
— Não liga para esses comentários da minha mãe, está bem? — Isla
colocou a chaleira no fogo. — Ela sempre foi muito ligada em dinheiro e
luxo. É por isso que o meu pai fica preocupado e muito sem graça quando
você está por perto. Ele morre de medo que você ache que tudo é sobre
dinheiro ou algo assim. — Nervosa, separou os chás para infusão e não me
encarou.
Interrompi a sua agitação, parando no meio da cozinha e a puxei para
os meus braços, sussurrando que não precisava se preocupar comigo em
relação aos comentários da sua mãe. Isla escondeu o rosto no meu peito por
um tempo e me perguntei o que estava sentindo. Sem o seu pai para ser o
equilíbrio entre as duas, não fazia a mínima ideia de como agir.
Felizmente, o idiota do Charlie era muito bom em fazer a social,
distraindo Sierra na sala e ajudei a Isla na cozinha. Quando a Laila chegou
com o Benji, Sierra ficou mais à vontade e a Isla menos preocupada com a
sua mãe porque a Laila sabia ser a balança para que mãe e filha não
brigassem. Fiquei menos tenso em tentar agradar as duas, o que rapidamente
aprendi que era impossível. Assim que a Isla se distraiu o suficiente, fugi da
sala e me reuni no escritório para ouvir a ligação do Tray sobre o motorista
do carro vermelho. Não deu para ver o rosto, mas era homem e tinha uma
tatuagem no braço.
Descartamos ser o Hank, porque a não ser que tenha feito uma, ele
não possuía uma tatuagem no braço. Quem poderia ser? Algum amigo dele?
Por que me seguiria? Em todo caso, enviei as imagens para um amigo na
polícia e o Tray enviou as imagens dos novos seguranças que selecionou.
Definitivamente seria preciso ter alguém com a Isla enquanto estamos
navegando em águas escuras.
CAPÍTULO 21
Isla.
Sentada no colo do Callum, observei os meus amigos se divertirem ao
meu redor e com a comida farta rolando pela sala, sabia que seria uma das
noites mais inesquecíveis da minha vida. Meu primeiro natal com o Callum,
com os meus bebês, o meu pai estava muito feliz e a minha mãe finalmente
fora de casa, se distraindo com as conversas e com a decoração de natal.
Callum me deu liberdade para decorar o apartamento para o Natal e
como ele não estava se metendo, escolhi fazer uma decoração bastante
sofisticada como sempre sonhei. Nós adoramos montar a nossa primeira
árvore, tiramos muitas fotografias e até revelei algumas, colocando na lareira.
Infelizmente toda a ostentação da decoração e do apartamento em si chamou
atenção da minha mãe, que volta e meia soltava comentários que me faziam
morrer de vergonha.
O dia foi divertido, fiquei cansada por cozinhar e ficar muito tempo de
pé, os meus pés estavam inchados e antes da ceia estava caindo de sono.
Callum me ofereceu o seu colo e prontamente aceitei. Ficar perto dele era
tudo o que mais queria. Comi ao ponto de me sentir estufada. Me aninhei
nele, cheirando o seu pescoço e ele me beijou deliciosamente. Seu olhar era
brincalhão, brilhante e parecia estar se divertindo muito com o Michael e o
Charlie. Benji estava conversando animadamente com Laila e a Cassie.
Meu pai entrava em todas as conversas e ajudava a minha mãe no que
fosse necessário. Laila fez o cabelo da minha mãe e uma maquiagem, tiramos
fotos juntas, era raro minha mãe aceitar e aproveitei. Em algum momento
entre o falatório, dormi e acordei assustada com um barulho de uma louça
batendo. Me sentei no sofá, a sala estava vazia, meu pai e o Callum lavavam
a louça, conversando baixo e bocejei.
Eles não me ouviram acordar e silenciosamente caminhei até mais
próximo, tentando ouvir o que falavam tão sério.
— Sei que não posso te impedir de fazer o que deseja, mas lembre-se,
você tem duas crianças a caminho. Deixe-me cuidar desse Hank através da
polícia, nunca gostei dele e claro que estou preocupado. — Ouvi o meu pai
falar severamente. O que aconteceu que não sabia? — Quanto ao guarda-
costas com ela em tempo integral, acho que é necessário sim. Deixe-me
analisar bem o homem que colocar com ela. Vai me ouvir ou será um homem
teimoso?
— Espero que esse homem desapareça.
Ficou bem claro que Callum não disse que ficaria fora do caminho da
polícia em relação ao Hank. Apareci na cozinha ainda cheia de sono e
rapidamente peguei um pedaço de torta que estava cortado, comendo e sorri
sem mostrar os dentes para os dois.
— Todo mundo foi embora? — Conferi de boca cheia.
— Você não acordou nem com a gritaria da troca de presentes. —
Callum deu a volta no balcão e me colocou entre seus braços. — Sua mãe já
foi dormir. Cassie e o Charlie estão lá em cima no terraço, desci para buscar
mais vinho e encontrei o seu pai lavando a louça que pedi para deixar para
amanhã.
— Ele sempre foi teimoso. — Olhei carinhosamente para o meu pai e
sorrimos.
— Vou deixar vocês, crianças. Amanhã vou direto para casa, certo?
— Irei levar a mamãe próximo a sua hora de chegada. Ela pode passar
o dia conosco, se quiser tirar o dia para descansar.
— Sabe que não precisa, querida. Te espero amanhã. — Beijou a minha
testa e deu um abraço paternal no Callum.
Acompanhamos o meu pai até o elevador e o Callum digitou o código
do alarme, só por estar tarde. Pegou a garrafa de vinho, segurou o meu prato
com a torta e subimos a escada para uma parte do terraço que era fechada,
bem quentinha e muito agradável de ficar a noite. Charlie e a Cassie estavam
conversando civilizadamente o que era um milagre, ambos agradeceram os
meus presentes e nem vi os que ganhei.
Ainda bem que todo mundo me perdoava, afinal, estava grávida e ficar
cansada parecia rotina.
— Seus pés estão tão inchados. — Cassie comentou baixinho e olhei,
pareciam duas bolinhas. — Não deve ficar tanto tempo em pé, li em algum
lugar que inchaço na gravidez não é bom.
— Acho que extrapolei hoje.
Charlie voltou para perto e olhou os meus pés, fazendo uma careta que
imediatamente alertou o Callum. Pensei que fosse brigar, mas, só suspirou e
pegou os meus pés, massageando enquanto conversávamos até o meio da
madrugada. Charlie foi embora para o seu apartamento, Cassie foi dormir
porque passaria as festividades conosco já que a sua família morava em outro
estado.
Verifiquei a minha mãe mais uma vez, parecia bem e descansada, sem
tossir e sem precisar do oxigênio. Cobri-a novamente, deixando a porta
entreaberta para poder ouvir caso me chamasse. Deixei a porta do quarto que
dividia com Callum aberta, essa noite dormiríamos de pijamas, algo que
normalmente não fazemos.
Tomei um banho quentinho para não ter que tomar outro quando
acordasse amanhã, porque já estava adiantando a minha preguiça matinal. Ao
retornar para o quarto, Callum me deu um olhar estranho, não perguntei nada,
me deitando para dormir e o senti inquieto na cama. Virei para o lado,
encarando-o e o seu suspiro pesado me deixou em alerta.
— Acho que fiz uma besteira. — Callum começou a falar e até me
sentei na cama. — Minha curiosidade me levou a descobrir algo que pode
foder com tudo e não quero esconder isso de você. É muito sério e muito
importante.
— Agora estou bem preocupada.
— Quando me falou que a sua mãe vivia ligando para Nova Iorque,
para o lugar que viveu com aquele homem, fiquei curioso sobre quem era.
Deixei de lado, mas passando o dia com ela e os seus comentários, a
curiosidade voltou... Pedi que o Tray fizesse uma varredura, afinal, algumas
informações a Cassie levantou quando entrou no processo seletivo. Por favor,
não briga comigo.
— Continue, Callum Harrison. — Praticamente rosnei.
— Não gosto de mentiras e por isso estou meio nervoso com o que
posso ter tropeçado... — Callum pegou o seu telefone. — Como disse, pedi
ao Tray para dar uma pesquisada e ele encontrou algo. Não é para o antigo
amante que sua mãe liga todos os dias e sim para o apartamento em que viveu
em Nova Iorque. Atualmente uma mulher chamada Ângela reside lá com um
menino chamado Raymond.
— Ângela? Minha mãe tinha uma amiga com esse nome. Tem a foto?
Assentindo, ligou o seu telefone e abriu a conversa com o Tray,
mostrando a foto da mulher que via muito quando criança. Estava um pouco
mais velha, ainda muito bonita e era estranho saber que ela continuou
vivendo no lugar que era bancado pelo amante da minha mãe.
— Ela é amante dele agora?
— Parece que não... — Callum mordeu o lábio. — Ela vive com uma
criança lá, um menino... Acho que é seu irmão. — Soltou e agarrei o seu
telefone, lendo toda conversa com o Tray. Callum pediu para seu segurança
dar uma olhada nos arquivos e pesquisar algo mais por volta de meia noite,
pouco antes de acordar e o Tray começou a responder uma hora depois,
parando alguns minutos atrás.
Ele encontrou o endereço, algumas fotos, números de telefones e o
registro das ligações da minha mãe para o mesmo número em alguns horários
diferentes. Era um aparelho pré-pago que se conectava as torres telefônicas
ao redor em horários fixos. Contou o que encontrou sobre a Ângela e sobre
um menino de sete anos de idade, seu nome era Raymond Edwards. Soltei o
ar pela boca bruscamente ao abrir a foto do menino com a Ângela.
Raymond era muito loiro, muito pálido e com os olhos muito azuis
igualmente puxados como os meus e da minha mãe. Abri a boca em puro
estado de choque.
— Sinto muito, Isla. Eu não deveria ter feito isso sem seu
consentimento, mas não queria esconder de você quando descobri. Só estava
sendo curioso...
— Não estou brava. Da próxima vez, fale comigo antes, porque a sua
curiosidade pode ser a mesma que a minha ou posso sanar suas dúvidas.
Mediante a essa foto, não posso estar brava. — Entreguei o seu telefone e
voltei a recostar na cama. — Não sei o que pensar sobre isso... Essa criança.
Minha mãe teria coragem de abandonar um filho? Ela não falaria nada?
Callum ergueu a sobrancelha e suspirei, sim, ela teria. Fiquei mais de
dez anos sem ver a minha mãe, recebendo cartões postais e cartas aleatórias.
Às vezes ligava, mas nunca me visitou em aniversários e nem me convidava
para vê-la em Nova Iorque. Viajei até a cidade milhares de vezes, até
mandava mensagens quando estava por lá e ela nunca respondia enquanto
estava por perto.
— Irei perguntar a ela, mas pode pedir ao Tray para investigar mais a
fundo? Se ela não me contar a verdade, quero saber mesmo assim, é uma
criança... Meu irmão vivendo com outra pessoa. — Era extremamente
inacreditável.
— Vou pedir... — Callum murmurou e me olhou com pesar. — Sinto
muito.
— Não precisa pedir desculpas. — Deitei a minha cabeça no seu peito e
suspirei. — Se não fosse a sua curiosidade, quando iria descobrir sobre isso?
Se esse menino não é meu irmão, ele é meu parente. Não é possível sermos
tão parecidos...
Não consegui dormir, as poucas horas que faltavam para o dia
amanhecer foram preenchidas com teorias. Callum e eu debatemos milhares
de possibilidades. O Tray precisava de um tempo para cavar mais a fundo e
mesmo quando arrumava a minha mãe para levá-la de volta para casa e me
preparava para passar o dia com a família do Callum, não senti que era o
momento para um confronto. Precisava de mais informações e de uma dose
de coragem.
Cassie ficou tagarelando no banco de trás, alheia ao meu conflito
interno e a minha mãe respondia animada, dentro da sua limitação de fala.
Callum sabia o que estava sentindo, segurou a minha mão transmitindo o
máximo de conforto que podia sem palavras. Não estava chateada com ele,
embora não fosse natural o que fez, não conseguia estar irritada. Ele poderia
ter descoberto algo que iria mudar a vida de toda a minha família.
Sem coragem de encarar o meu pai, inventei que estava enjoada para
não ter muito assunto. Assim que entregamos a minha mãe, saí rapidamente,
voltando para o carro com a Cassie. Não sabia o que Callum disse ao meu
pai, porque a expressão dele ficou meio curiosa, também não perguntei
apenas para não encarar que em algum momento serei obrigada a contar o
que estava acontecendo.
Se a minha mãe teve um filho com o seu amante, isso iria acabar com o
meu pai. Não tinha ideia de como ele iria reagir por ela ter abandonado o
filho, mas sabia que iria doer porque sempre quis mais filhos e ela não,
porque a minha gestação “acabou com seu corpo”.
A viagem até Lowell foi bem silenciosa, cochilei boa parte do caminho
e acordei quando o Callum desligou o carro. O almoço de natal seria apenas
para a família e a Cassie era amiga, portanto, ao entrarmos, Tia Gwen fez seu
famoso arrulho com o Callum, me deu um abraço apertado e fez a Cassie
sentir-se em casa. Tio Robert veio me cumprimentar e o cheiro do seu
charuto me fez correr para o banheiro mais próximo.
— Ai que mico. — Gemi e o Callum apenas segurou meu cabelo.
— Está tudo bem, não precisa ficar com vergonha, meu tio é um
médico e todos sabem que é natural grávidas ficarem enjoadas com certos
cheiros.
— Não fale a palavra cheiro. — Resmunguei e ele me ajudou a ficar de
pé, lavei a boca e prendi o meu cabelo, ainda me sentindo mal.
Na sala de estar, Tia Gwen avisou que o Tio Robert foi tomar banho e
mesmo com o tempo frio, as janelas estavam abertas para ventilar. Fiquei sem
graça, porque parecia muito mimado da minha parte, mas do jeito que me
olhavam, deveria estar verde. Cage ficou de pé para nos cumprimentar. Ele e
o Callum trocaram apenas um aperto de mão. Patrícia sequer olhou na
direção do Callum, me deu um sorriso tímido e uma felicitação verdadeira
pelos bebês.
— Picolés me ajudaram muito no enjoo da minha última gestação. —
Patrícia comentou e sorri, mas o meu estômago ainda estava muito
embrulhado.
— Talvez você devesse se sentar. — Callum me levou para o sofá.
— Parabéns. — Foi tudo que o Cage disse a nós dois e aceitei com
alegria.
Callum me deu um sorriso carinhoso e criou um ninho. Como fiquei
muito inchada no dia anterior, ele queria que maneirasse, avisando a tia o que
aconteceu.
— Tão inchada tão cedo? — Tia Gwen levou a mão na cintura. — Está
bebendo bastante água, mocinha?
— Acho que sim? — Não tinha certeza.
— Tem que beber bastante líquido. — Tia Gwen suspirou e olhou para
o seu sobrinho. — Certifique-se que ela não faça esforço demais e beba
bastante líquido. É importante. Gravidez não é uma doença, mas demanda
cuidados, ainda mais uma duplinha crescendo ali.
Callum fez um meio beicinho por ser chamado atenção e me olhou com
determinação. Cassie riu ao meu lado. Ela sabe que ele era insuportável. A
chatice dele me fará beber um galão de seis litros de água por dia. Soprei um
beijinho para amenizar, ganhando um sorriso tão lindo que o meu coração
falhou uma batida de pura paixão.
Mesmo com um clima estranho entre Callum e o Cage, o almoço de
natal foi incrível e divertido. Sem o Callum saber, comprei presentes para os
seus três sobrinhos, porque as crianças não têm a ver com o problema dos
adultos. Assinei todos os cartões como Callum, Isla, Bebê 1 e Bebê 2 porque
ainda não sabemos os sexos e nem escolhemos possíveis nomes.
Os três filhos do Cage eram a cópia dele. Três lindos menininhos com
sorrisos de covinha do pai, cabelos espetados e o caçula era o tipo de bebê
gordinho cheio de dobrinhas adoráveis.
— Quer segurá-lo um pouco? — Patrícia ofereceu ao me flagrar
babando seu filho pela milésima vez. Assenti timidamente e ela me entregou
o Archie. — Ele é muito dado. Os dois mais velhos eram tímidos, já esse aí
nasceu sorrindo.
Apertei as bochechinhas dele, fazendo um monte de palhaçadas que
arrancou as risadas mais altas e mais gostosas. Todo mundo parou para
assistir e o Callum me deu um olhar tão apaixonado e esperançoso... Em
breve serão os nossos bebês. Esperava que eles fossem felizes, sorridentes e
muito simpáticos.
Callum estava sentado perto e o bebê simplesmente se jogou nele, para
a surpresa de todos. Meio sem jeito e sem prática, não negou a criança.
Archie apertou o nariz do tio, enfiou o dedo nos ouvidos e nos olhos. Callum
muito timidamente brincou e conversou, ganhando sorrisos e gorgolejos
curiosos de volta.
Os dois mais velhos, percebendo o avanço do caçula, subiram em mim
e no Callum. Senti que o meu namorado ficou tenso, olhou para o Cage como
se pedisse permissão para brincar com os sobrinhos. Tudo que seu irmão fez
foi sorrir abertamente e então, eu vi que o Callum seria um pai incrível,
porque ele chegou a rolar no chão e fazer barulho de motor com a boca.
— Precisa de um babador? — Cassie passou a mão no meu queixo.
— Preciso arrastar esse homem para o quarto, porque se não tivesse
grávida, ia engravidar agora. — Resmunguei de volta e pelas risadas, falei
um pouco mais alto do que deveria. Callum me deu uma piscadinha e sorri
descarada.
— Vocês terão que me deixar em casa primeiro, não sou obrigada a
ouvir a festa do amor. Estou solteira e na seca.
Olhei para a Cassie sorrindo.
— Conheço um cara... Ele é alto, meio loiro, do tipo bonitão... Seu
nome é Charlie.
— Esse mesmo, eu que fiz, garanto que é lindo! — Tia Gwen entrou na
brincadeira meio alegrinha de tanto vinho.
— Ouvi Charlie e lindo ao mesmo tempo? — Charlie passeou para
sala. — Desculpe o atraso, dormi mais que a cama.
— Cassie está na seca. — Apontei e Charlie abriu um sorrisão.
— Sou a solução dos seus problemas, amor. — Ele abriu os braços e a
minha amiga apenas bufou, fazendo pouco caso. — Adoro mulher difícil. —
Sentou-se ao lado dela.
Era bom estar rindo e me divertindo, distraía um pouco a minha mente
do fato que toda a minha vida estava prestes a mudar com a chegada
inesperada de uma criança. Não estava falando dos meus tão amados bebês.
Dessa vez, sentia que não podia perdoar a minha mãe, mesmo sem saber de
toda a verdade.
CAPÍTULO 22
Callum.
Isla estava quieta ao meu lado, roendo a unha e olhando para a janela
com uma expressão aflita no rosto. O rádio tocava uma seleção de músicas
lentas e uma das letras me fez pensar nela, no nosso relacionamento e mesmo
dirigindo, mantive minha mão na sua coxa lisa, acariciando, batucando
conforme o ritmo da música e apertando porque amava o seu corpo, sentir a
sua pele e tocá-la era um vício.
Ela me deu um olharzinho culpado, formou um beicinho e suspirou.
Sabia que estava remoendo a briga que supostamente teve comigo meia hora
atrás. Para falar a verdade, ela brigou sozinha, porque perguntava e
respondia, cruzava os braços e apontava o dedo. Fiquei quieto, nem tentei me
defender... Já estava entendendo que as oscilações de humor eram causadas
pelos queridos hormônios tanto quanto suas trocas de palavras, a confusão
com literalidade e soltar um pensamento aleatório do nada.
O motivo do desentendimento unilateral era que ela não queria que a
acompanhasse até a casa dos seus pais, porque iria confrontar a sua mãe
sobre o Raymond. Pela manhã recebemos uma cópia da certidão de
nascimento e o menino estava registrado como filho da Sierra, mas não havia
registro do pai. Deduzimos pelo período que era do tal amante, um homem
que conhecia há muitos anos, embora não gostasse dele nenhum pouco.
Estava me sentindo culpado por ter tropeçado nessa história e arrastar a
devastação para a família da Isla. Concordava que ela e o Jay mereciam saber
a verdade e ao mesmo tempo, sabendo quem era o amante da Sierra,
totalmente compreensível que ela mantivesse o Raymond a distância. Só ela
poderia esclarecer os fatos. Isla não me queria por perto na sua boba
vergonha e porque estava preparada para atacar sua mãe. O relacionamento
delas era muito complicado.
Ignorei a sua estupidez com maestria. Na verdade, não me ofendeu.
Tivemos dois dias maravilhosos em casa, totalmente sozinhos, aproveitando a
companhia do outro e namorando bastante. Depois que saímos da casa dos
meus tios, não saímos mais e nem falamos com ninguém. Ela manteve o
telefone desligado e eu me dei umas merecidas folgas, porque precisaria
viajar nos próximos dias até o ano novo.
Isla iria me acompanhar e estava empolgado que faremos uma viagem
juntos, mesmo que fosse a trabalho da minha parte, mas ela poderia passear e
bancar a turista.
Assim que entrei no bairro que os seus pais moravam, ela agarrou a
minha mão e apertou. Beijei os nós dos seus dedos e bem devagar nos
conduzi até a casa que ela cresceu. Isla achava que era mentira quando dizia
que adorava a casa dos pais dela. Precisava de uma boa reforma, de uma
grama bem cuidada e uma pintura, mas era uma casa aconchegante, familiar e
que aparentava ter boas histórias com um pneu pendurado em uma árvore,
uma garagem cheia de ferramentas, uma velha bicicleta dela e uma moto que
o pai dela estava reformando.
A diferença entre a casa dela e a minha, era que na dela havia amor e
boas histórias. Mesmo que a mãe dela representasse um momento ruim no
seu crescimento, o pai dela a amava muito, se esforçou em dar a ela
estabilidade e carinho. Isla contava histórias muito engraçadas e ela era a
garotinha do papai. Esperava que se um dos bebês ou os dois fossem
meninas, elas também me olhassem com tanto amor e admiração.
Estacionei o carro na garagem e desliguei o motor com um toque
suave no botão. Olhei-a mordendo o lábio bem apertado e puxei, para não se
machucar e beijei.
— Tem certeza de que quer fazer isso agora?
— É melhor fazer sem meu pai estar em casa. — Ela respirou fundo.
— Não vou interferir, mas quero que saiba que estou aqui com você.
— Precisava dar-lhe apoio de alguma maneira e ela estava tão nervosa que
me preocupava em sentir-se mal.
Isla segurou o meu rosto com ambas as mãos e me deu um beijo bem
apaixonado. Ela era incrível.
— Obrigada, meu amor. — Sorri e retribui o beijo.
Saí do carro e dei a volta rapidamente, esperando que ela terminasse
de colocar o casaco e as luvas. Ela usava um vestido longo e sem meias
calças, por isso estava atacando suas pernas feito um tarado. Deixei o carro
bem aquecido só para subir o vestido... Ajudei-a a sair e ri das suas botas
amarelas. Toda de preto com botas amarelo canário. Minha mulher era muito
excêntrica.
Andamos de mãos dadas pela neve do quintal e como estava com o
caminho limpo, imaginei que o pai dela deve ter limpado antes de sair para
trabalhar. Isla abriu a porta com a sua chave, retiramos as nossas roupas de
frio e penduramos no armário. A casa estava silenciosa. A enfermeira tomou
um susto quando nos viu, estava lendo em uma pequena sala, distraída e disse
que Sierra estava terminando a fisioterapia no segundo andar.
Subimos a escada e paramos na porta do quarto onde o fisioterapeuta
terminava e ajudava a Sierra a voltar para a cama.
— Obrigada por hoje. — Sierra se despediu do rapaz e a Isla deu
apenas um aceno. Ele saiu sozinho e observei a Isla ir até a sua mãe. — Oi
menina linda. Não sabia que viria hoje. — Falou pausadamente, ainda
respirando pesado do seu treinamento. — Olá, Callum. — Me deu um sorriso
e retribui com um aceno.
— É uma visita surpresa, mãe. — Isla comentou casualmente.
— Estou feliz que está aqui. — Sierra puxou um pouco de ar e eu
ficava muito nervoso quando ela fazia aquilo, parecia que ia sufocar.
Isla sentou-se na pontinha da cama, olhou para a mãe e tirou o telefone
do bolso.
— Quem é Raymond Edwards, mãe? — Isla perguntou bem séria, sem
nenhum aviso ou preparação. Porra. — Por favor, não minta.
Sierra ficou ainda mais pálida.
— Como sabe sobre ele?
— Não importa. Eu sei das ligações para Nova Iorque todos os dias
quando o papai não está e sei que esse menino está com sua amiga, a Ângela,
e apesar de saber a verdade, quero ouvir da sua boca e o porquê. — Isla
encarou a mãe, ficou de pé e enfiou as mãos nos bolsos do vestido.
Sierra fez uma expressão derrotada.
— Raymond é seu irmão, Isla. Ele tem dez anos agora e é um menino
lindo. — Sierra falou baixo e devagar.
— Não entendo! Como nunca me contou? — Isla explodiu. — Você
voltou há seis anos! Como teve coragem de deixar o seu filho de quatro anos
para trás? Estou grávida de três meses e nem posso imaginar viver sem os
meus filhos! Morreria por eles! Você me deixou por quase quinze anos, mãe.
E teve coragem de deixar outro filho?
Sierra começou a chorar, sem responder as perguntas da Isla.
— Responde, mãe!
Sinalizei para a Isla ir com calma, a mãe dela poderia passar mal.
— Eu nunca quis abandoná-lo... Lorenzo não deixou trazê-lo, para me
punir. Eu o traí e assim nasceu o Raymond. Desde então, ele vinha me
castigando e a doença foi a única coisa que me livrou dele, mas não livrou o
meu filho. — Sierra soltou entre soluços e a Isla ficou congelada.
— Uau. Você traiu o seu amante. — Suspirou e andou até a janela. —
Nunca pensou em contar ao meu pai? Ou para mim? Nós não merecíamos
saber?
— Não é tão simples...
— Parece simples. Eu realmente não entendo como você consegue
pisar nos sentimentos do meu pai de tal forma. Ele faz tudo por você e
literalmente colocou a vida dele de lado para cuidar da mulher que o
abandonou com a filha para viver com outro homem! — Isla gritou e ela
estava vermelha.
— Isla, por favor. — Sierra pediu, chorando.
— Você me deixou e nunca quis me ver por anos. — A mágoa era
muito evidente.
Sierra chorou mais forte.
— Meu maior erro foi ter deixado seu pai. — Sierra confessou e a
minha namorada ficou quieta. Estava congelado no lugar, não conseguia sair
do meio da briga. — Eu me iludi com joias e dinheiro... Achei que o Lorenzo
me amava, mas não era bem assim. Eu nunca quis que você ficasse por perto
porque ele te usava como ameaça. Dizia que se eu fosse embora, iria te
machucar...
Imediatamente fiquei em alerta. Filho da puta!
— Não queria que ele te visse... — Sierra murmurou. — Eu morreria se
ele te machucasse.
— O quê? — Isla estava confusa e aquilo estava indo longe demais.
— Lorenzo não é um homem bom, Isla. Ele é terrível e cruel.
Isla ficou em silêncio.
— Espera aí, se você traiu o Lorenzo e nasceu o Raymond... Quem é o
pai dele?
Sierra encarou as próprias mãos.
— Quem é o pai do Raymond, mãe? — Insistiu.
— Seu pai foi até Nova Iorque atrás de mim, ele estava chateado que
não fui em sua formatura do ensino médio e não respondia suas cartas... —
Sierra começou a falar e Isla levou a mão a cabeça, como se sentisse dor. —
Nós tivemos uma recaída e não nos protegemos. Eu não usava nenhum
método contraceptivo na época, porque Lorenzo já tinha feito a vasectomia.
Uau.
Isla me olhou incrédula, com os olhos apertados e então virou para a
mãe.
— Você está me dizendo que Raymond é filho do meu pai?
— Sim.
Em um piscar de olhos, Isla revirou os olhos e caiu no chão. Corri e
consegui segurá-la a tempo de bater com a cabeça em uma mesa. Sierra
gritou assustada e a enfermeira subiu correndo, fiquei ocupado tentando
acordá-la em meus braços e a ergui do chão, levando para o sofá. Ela estava
suada e respirando forte, porém, demorou muito mais do que gostaria a abrir
os olhos novamente.
— Acho que vou vomitar.
Foi o tempo de me afastar e virar o seu rosto para fora do sofá. Ela
vomitou todo o seu café da manhã no carpete do quarto da sua mãe. Segurei o
seu cabelo e acariciei as suas costas, a enfermeira rapidamente trouxe toalhas,
um copo de água e pediu que elevasse a cabeça e as pernas delas. Isla estava
mole, estranha e só aumentou meu desespero.
— Baby, fala comigo, o que está sentindo? — Pedi desesperado.
A enfermeira, que nem lembrava o nome, pediu licença e colocou um
aparelho eletrônico no pulso esquerdo da Isla. Apertou alguns botões e
esperou o resultado enquanto Sierra só chorava na cama.
— Ela está com a pressão arterial muito elevada. Você deve levá-la
para o hospital imediatamente. Por ela estar grávida não podemos dar-lhe
nenhuma medicação sem prescrição médica.
Não esperei que a enfermeira terminasse de falar, erguendo a Isla em
meus braços e pedi que trouxesse a sua bolsa por causa dos documentos.
Apressado, desci a escada e a enfermeira me ajudou abrindo as portas da casa
e do carro. Acomodei-a toda mole no banco da frente, ela se inclinou para
fora do carro e vomitou mais uma vez.
— Não sei o que está acontecendo, estou com medo. — Isla chorou,
nervosa.
— Vai ficar tudo bem, eu te prometo. Não tenha medo. — Acariciei o
seu rosto, prendi o seu cinto, fechei a porta e dei a volta no carro correndo.
Com as mãos tremendo, liguei para o Dr. Phillips, desesperado e ele
apenas disse que estava em um hospital não muito longe, mas não tão perto
quanto gostaria. Felizmente era uma maternidade e acelerei pelas ruas,
ganhando velocidade e um carro da polícia me seguiu, pedindo que parasse,
mas não ia parar com a Isla gemendo ao meu lado. Assim que ele percebeu
que estava indo para o hospital, desligou as sirenes, me ultrapassando e
abrindo caminho no cruzamento.
Estacionei de qualquer jeito na porta, atraindo atenção de algumas
pessoas na calçada, saí correndo e abri a porta dela. Peguei-a no colo e saí
com ela às pressas.
— Você correu, homem. — O policial veio rápido atrás de mim. — Ei!
É a menina Isla, do Jay.
Entrei no hospital sem pausas.
— Por favor, alguém me ajuda! Ela desmaiou, a pressão está alta e está
grávida de três meses de gêmeos. — Gaguejei para enfermeira que veio com
uma maca e um médico vestido de azul. — O médico dela está aqui... É o Dr.
Phillips, por favor, me ajudem.
— Fique calmo, senhor. Nós iremos levá-la agora, você precisa esperar.
— Não! Me deixa ir junto... — Tentei seguir a maca que eles
empurravam com pressa. Vê-la partindo sem poder acompanhar me deixou
nervoso.
— Espere aqui, vai ser melhor. — Um enfermeiro alto me impediu de
seguir e senti a mão do policial no meu ombro.
— Eles vão cuidar dela, fica aqui. — Ele falou mais baixo. — É a filha
do Jay Edwards?
— É sim, ela é minha... — E eu comecei a chorar.
— Sua mulher, tudo bem. É normal ficar assustado. — Me segurou
pelo braço. — Sente-se ali comigo e eu irei chamar o Jay para vir. Gostaria
que ligasse para mais alguém?
Balancei a cabeça negativamente e incapaz de me sentar, fiquei em pé
olhando fixamente para o corredor que ela desapareceu, sentindo as lágrimas
que caíam dos meus olhos pingando na minha camisa. O policial parou do
meu lado, disse que estacionou o meu carro e pegou a bolsa dela, colocando
na cadeira a minha frente. Sequer tive cabeça para responder.
— Callum? Callum! — Jay me sacudiu. — O que aconteceu com a
minha filha?
Olhei para o seu rosto e ele estava refletindo o meu pavor.
— Ela e a Sierra tiveram uma briga... A Isla desmaiou, a pressão dela
estava alta e eu só a trouxe para cá, não me disseram nada. Ninguém me diz
nada.
— Uma briga? Deus. — Jay levou a mão ao peito. — Deus. — Repetiu
nervoso e olhou para o mesmo lugar que eu.
— Sr. Callum Lowell? — Ouvi o meu nome e virei o rosto, procurando
quem estava me chamando. — Dr. Phillips pediu para vir te buscar. — Era
uma enfermeira vestida de rosa.
Agarrei a bolsa da Isla, pedindo que o Jay me seguisse e a mulher nos
levou por uns corredores até o elevador, apertando o terceiro andar e saímos
em uma área que era claramente a obstetrícia do local.
— Callum! — Dr. Phillips fechou um prontuário. — Ela está bem, mas
posso dizer que a Isla nos deu um grande susto. — Parou na minha frente. —
Ela está medicada e sedada agora... Os três estão bem.
Fiquei tão aliviado que pensei que fosse cair.
— O que aconteceu? A Isla tem a pressão arterial perfeita... Em todas
as nossas consultas sempre estava normalizada. Não é incomum mulheres
desenvolverem hipertensão, mas não dessa forma. Ela apresentou algum
sintoma que não tenha me falado?
— Isla ficou inchada no dia do natal, bastante e antes de entrar de
férias, reclamava de dores de cabeça quando estava enjoada. Nós atribuímos
ao seu enjoo matinal...
Dr. Phillips deu um aceno, abriu o prontuário de novo e anotou.
— Algum estresse emocional forte?
— Acabou de ter uma briga com sua mãe.
Dr. Phillips respirou fundo e me olhou.
— Não estou satisfeito com o quadro clínico dela, irei deixá-la
internada até que entenda o que está acontecendo. Ela precisa ficar calma,
então esse assunto... Está proibido aqui dentro. Visitas apenas de pessoas que
não irão estressá-la... — Guardou a caneta no bolso do jaleco. — Avisei a
vocês dois que a gravidez gemelar demanda muitos cuidados e eu vou ser
muito chato em relação a isso.
— Eu entendo e agradeço, tudo isso foi uma surpresa nada agradável.
Ela vomitou bastante... — Puxei o meu cabelo, tão preocupado que não sabia
o que pensar.
— O vômito foi uma benção. — Pegou o prontuário dela. — Fiz alguns
exames, estou aguardando o resultado e vi os bebês. Eles estão ótimos e já
cresceram desde a última ultrassom. Daqui a pouco eu volto para vê-la, se
precisar, peça para uma enfermeira me chamar ou me liga. O quarto dela é o
último do corredor.
— Obrigada, Dr. Phillips. — Apertei a sua mão e olhei para o Jay.
Nós andamos com calma até o último quarto, empurrei a porta aberta e
ela estava na cama, com um soro e outra bolsa de medicação presa em seu
braço, coberta por um grosso cobertor azul e usava uma camisola hospitalar
rosa. Puxei a cadeira, segurei a sua mão e beijei repetidas vezes enquanto o
seu pai beijava a sua cabeça. Fechei os meus olhos ainda sentindo o gosto
amargo do desespero na boca.
Não podia dimensionar a dor no meu peito e o medo que me deixava
sem forças. Por vários instantes pensamentos ruins encheram a minha cabeça.
Diversos cenários que acabariam em tragédia preencheram meu coração de
pavor e só me deu a certeza de que o meu pai estava profundamente
enganado quando disse que o meu coração era tão seco quanto o dele.
— Eu te amo tanto. Eu não posso te perder, mulher. Por favor, fique
boa logo. — Falei contra a sua mão observando o seu rosto sereno. — Fica
comigo para sempre.
CAPÍTULO 23
Isla.
Abri os meus olhos, bocejei e olhei ao redor do quarto escurinho.
Devagar, me sentei e o Callum estava dormindo no sofá. Ele estava todo
torto, com as pernas do lado de fora, só com o seu casaco cobrindo o peito.
Uma enfermeira entrou no quarto e fiz sinal de silêncio, porque ele nunca
conseguia dormir, para estar apagado, significava que estava esgotado. Ela
chegou perto, me deu um sorriso e fez algumas anotações na sua prancheta.
Li o seu nome e retribui o sorriso. Callum acordou mesmo assim e
sentou-se no sofá, ficando em alerta e ao me ver acordada, logo ficou de pé e
chegou perto, segurando a minha mão.
— Está tudo bem? — Olhou para a enfermeira com aflição.
— Está tudo bem com ela e com eles. — Ele chegou mais perto e
acariciou meu cabelo. — Você teve um quadro grave de hipertensão.
Consegue lembrar-se de ontem? — A enfermeira Louisa me olhou com
expectativa.
— Até a parte que o Dr. Phillips veio me atender, acho que dormi
depois. — Bocejei mais uma vez ainda meio com sono e pela primeira vez,
sem dor de cabeça.
— Ficou sedada, fez alguns exames e de madrugada eles fizeram uma
ultrassonografia. Os nossos bebês estão bem, cresceram do seu último exame
para esse e os corações estão batendo bem forte. — Callum beijou a minha
testa. — Fiquei muito preocupado, me deu um susto enorme, baby.
— Não sei como... Estava com uma dorzinha de cabeça. Na verdade...
— Parei para pensar, lembrando de sentir uma dor leve pelos últimos dias. —
Agora não sinto nada. Acho que já estava com essa dor há dias, porque
passou e minha cabeça está perfeita. Na hora que estava falando com minha
mãe foi aumentando tão rápido que quando dei por mim, estava insuportável
de aguentar.
— Por que não me falou que estava sentindo dor de cabeça há dias? —
Callum brigou comigo e fiz um pequeno beicinho.
— Não era uma dor de cabeça forte, como aquelas que reclamava, eu só
sei que estava sentindo porque agora não estou mais. — Acariciei o seu rosto
e beijei o seu queixo. Callum apertou os lábios nos meus e senti que ele
estava muito preocupado.
Me movimentei na cama, levantei o lençol e vi que estava com o
monitor fetal.
— É apenas para monitorar a frequência cardíaca dos bebês. — A
Enfermeira Louisa explicou bem calma. — E pelo que vejo, está tudo bem.
— Nos deu um sorriso. — Como está se sentindo essa manhã?
O quarto estava escuro e sequer percebi que já era dia.
— Estou me sentindo perfeita. — Fui bem sincera, até me sentia mais
leve. — Esse monitor me permite ouvir os meus bebês?
— Quer ouvir um pouco? — Ofereceu e quase gritei.
— Se eu pudesse, ouviria o tempo todo...
A enfermeira mexeu no aparelho e logo ouvimos o som deles. Já
conseguia diferenciar as batidas, era emocionante ouvir e vê-los. Agarrei a
mão do Callum, sorrindo de felicidade e ficamos em silêncio, apreciando
aquela benção. Callum se inclinou sobre mim e me deu um beijo tão doce,
calmo e o seu olhar era um misto de medo e carinho. Parecia muito
preocupado. Gentilmente, a enfermeira diminuiu o som e disse que voltaria
com o Dr. Phillips para minha consulta, que primeiro precisava comer o meu
café da manhã.
Assim que a enfermeira saiu, ouvimos uma batida na porta e o meu pai
enfiou a cabeça olhando e logo abriu um sorriso quando me viu acordada.
— Oi, meu amor. Que susto, menina.
— Sinto muito, papai. Estou bem agora. — Sorri e estiquei a minha
mão para se aproximar. — Pena que não chegou cinco minutinhos antes,
acabamos de ouvir o coração dos bebês e é o som mais lindo do mundo.
— A noite foi longa, acabei perdendo a hora. — Se aproximou e
sentou-se na cadeira do outro lado da cama, próximo aos monitores. — Sua
mãe está se sentindo muito mal por tudo o que aconteceu, chorou a noite
inteira e ficou brigando comigo por não a trazer aqui. Ela quer te ver, mas
estou com medo de retirá-la da cama e fazer esforço... Está com muita falta
de ar.
— Ela passou mal? — Fiquei preocupada. Fui tão imprudente e egoísta,
deveria ter ido com mais calma, mas eu não consegui não avançar com toda a
minha indignação.
Papai me deu um olhar calmo.
— Um pouco. Consegui acalmá-la depois que me contou o motivo pelo
qual vocês brigaram. — Falou com suavidade e mordi o meu lábio sem saber
como disfarçar minha irritação com os motivos da minha mãe. Ainda parecia
completamente fora de contexto embora não impossível. — Eu entendo sua
mágoa e dor, também estou sentindo um misto de coisas que não sei
identificar... O importante agora é a sua saúde.
A calma do meu pai me dava nos nervos.
— Não podemos deixar esse assunto de lado como se fosse um cobertor
velho. É uma criança, pai. Meu irmão... Seu filho que está com um homem
que não é o pai dele, sendo usado como vingança! — Me alterei e o monitor
sutilmente começou a apitar. — Droga! Dedo duro!
— Isla... Acalme-se. — Jay usou seu tom paternal que imediatamente
fiquei quieta e o Callum sorriu, satisfeito. — Eu não disse que vou deixar de
lado, jamais faria algo do tipo, apenas quero que cuide da sua saúde que eu
vou até Nova Iorque buscar o menino.
Callum limpou a garganta e arqueou a sobrancelha para o meu pai.
— Enquanto acho admirável sua atitude... Lorenzo Rafaelli não é um
homem que se conversa assim... — Callum raramente perdia as palavras e
isso me deixou em alerta. Por que ele estava protelando?
— Sei muito bem quem ele é e os rumores. — Papai rebateu e me senti
perdida.
Além de muito rico, o que esse homem era?
— Então deveria saber que você é um contra um exército. Um homem
como ele não se subjuga a justiça ou a polícia, ele tem muita gente na sua
folha de pagamento. E pelo que conheço dele, a história da sua mãe faz todo
sentido, ele poderia muito bem manter a Isla como ameaça. — Meu pai e eu
encaramos o Callum. — Eu tenho um meio de resolver isso, mas vocês vão
ter que confiar em mim e não fazer perguntas.
Por que sentia que não deveria ser uma boa ideia?
— Eu não gosto disso. — Papai cruzou os braços dando o seu olhar de
pai-policial para o Callum. — Não quero você fazendo besteira, Callum.
— Não é nenhuma besteira. — Callum garantiu. Ele só não queria nos
envolver.
— Pai... Nem eu e muito menos a mamãe queremos que você se
machuque. E o Callum tem meios mais eficazes do que simplesmente ir lá e
pegar a criança. Se fosse assim, a mamãe teria feito isso. Não é? — Olhei
para o Callum preocupada com sua ideia e ao mesmo tempo não queria meu
pai se expondo. — Vocês dois vão me prometer que ficarão seguros. E você,
Callum Lowell vai me contar a sua ideia e eu vou dizer se vou confiar ou não.
Pelo visto, não posso me estressar. Então não quero que me escondam as
coisas e façam besteira. Fui clara?
— Sim, senhora. — Callum bateu continência, acabei perdendo a
minha seriedade, ri e o meu café da manhã entrou no quarto. Mingau,
gelatina sem gosto e banana. Olhei para o pai dos meus bebês com um
beicinho, porque não queria comer aquilo.
Callum ligou para casa e pediu que a Charlotte preparasse uma mala de
roupas, porque não iria embora. Pelo som no aparelho, ela estava gritando e a
expressão do Callum me fez rir. Em seguida pediu que o Tray trouxesse a
bolsa o mais rápido que conseguisse. Pedi que ele enviasse mensagens para
os meus amigos e não queria que a Roxanne soubesse que estava
hospitalizada. Callum executou todos meus pedidos, comi a banana e a
gelatina, ignorando o mingau e o meu pai me ajudou a ficar em uma posição
melhor na cama.
O Dr. Phillips entrou com a enfermeira de mais cedo, minha
nutricionista e o meu obstetra. Meu pai ficou totalmente confuso sobre
precisar de tantos médicos, mas ele não sabia do procedimento e assim
deixamos. As duas crianças na minha barriga valiam ouro – não só porque os
amava com toda minha vida, mas porque foram os mais caros. Com toda
assistência, cuidado, o luxo do hospital, da clínica e dos consultórios, não era
nada barato.
— Por favor, me dê boas notícias. — Pedi juntando as minhas mãos
em súplica. Callum parou ao meu lado e meu pai do outro.
— Seus exames mostraram que está desenvolvendo hipertensão
gestacional muito precoce. Você absolutamente não tem histórico de pressão
arterial e por isso, a partir de agora, nosso cuidado será outro. — Dr. Phillips
começou com calma e abriu uma pasta. — Nós optamos por mudar a sua
alimentação, será um pouco mais balanceada, cortamos totalmente o sódio,
processados e a Dra. Nadine criou um cardápio bastante diversificado.
Callum pegou a folha que a nutricionista entregou, olhando e eu
sequer queria saber. Quando pensei que poderia comer sem medo de perder o
meu emprego, acontecia outra coisa épica. Fiquei quieta ouvindo a Dra.
Nadine falar dos pratos, dos nutrientes, o meu obstetra mudou as minhas
vitaminas e o Dr. Phillips queria me ver toda semana para monitorar a minha
pressão.
Toda maldita semana.
Quando eles começaram a explicar sobre o que era a hipertensão
gestacional, porque o meu pai perguntou, senti o meu sangue gelar ao ouvir
as probabilidades de aborto ou um parto prematuro. Olhei para o Callum
desesperada e ele foi rápido em me acalmar, lembrando que mesmo com o
susto do dia anterior, os bebês estavam bem.
— Você não vai gostar disso, mas estou te colocando de licença
médica. — Dr. Phillips me entregou umas folhas. — Está tudo preenchido, só
entregar no RH da sua empresa e eu ainda não vou te colocar de repouso,
porque você está bem, mas é uma gravidez muito especial por todos os
motivos que vocês dois tanto sabem. — Troquei um olhar com o Callum e
sorrimos. — Vamos manter assim, bem feliz e especial.
— E quando vou poder sair daqui?
— Quero te monitorar por vinte e quatro horas, então, quem sabe a
noite? Mantenha-se calma, menina. Volto para te ver a tarde.
Assim que a equipe saiu, relaxei contra o Callum e perguntei a
enfermeira que ficou se podia tomar um banho. Ela tirou o monitor fetal para
adiantar enquanto aguardava as minhas roupas.
— Uau! Você tem uma boa equipe médica. — Meu pai comentou
olhando a enfermeira trabalhar em mim. — Sua barriguinha está começando
a aparecer.
— Daqui a pouco vai pular para fora. — A enfermeira brincou e saiu
do quarto.
— Espero que pule mesmo. — Acariciei o meu pequeno montinho.
Callum estava olhando fixamente e me deu um sorriso emocionado.
Uma batida na porta anunciou a chegada do Tray. Ele me deu um
sorriso, deixou a mala no canto e perguntou se estava melhor. Atrás dele
entrou a Charlotte, toda agitada e preocupada. Ela expulsou os homens do
quarto, me ajudando a sair da cama, fui ao banheiro, tomei um banho
quentinho e vesti o meu pijama de pelúcia favorito, retornando para o quarto.
Callum estava me esperando, me sentei na cama e ele parou entre as
minhas pernas. Olhei para o seu rosto com sinais de que não havia dormido e
me lembrei do quanto estava desesperado, correndo comigo no colo e
dirigindo tão rápido quanto um piloto. Estava vagamente ciente que um carro
da polícia nos seguiu, mas não quis falar para não o atormentar ainda mais,
porque eu estava melhor.
Tray e a Charlotte foram embora, porque o Dr. Phillips não queria
tumulto no meu quarto e ambos desejaram que estivesse em casa para o
jantar. Charlotte levou a nova dieta e dicas de cardápios para casa, para
comprar o que não tinha e mudar alguns temperos.
Callum e eu ficamos juntinhos, abraçados e me senti tão amada em
seus braços que não queria sair daquele conforto. Meu pai disse que ia para o
seu plantão e voltaria na hora do seu jantar ou se estivesse fazendo alguma
ronda por perto. Abracei-o e beijei, dizendo que o amava muito. Assim que o
meu pai saiu, aproveitei e pedi que o Callum descansasse um pouco. Ele
escureceu o quarto, me fazendo dormir. Fiquei meio sonolenta, ouvi o
barulho do seu banho, a troca de roupa e silenciosamente sentar-se ao meu
lado, sem parar de mexer no telefone.
Estava curiosa, mas era dia de semana, ele tinha uma viagem
agendada e precisava trabalhar. Meu cochilo transformou-se em uma boa
dormida. Acordei com o Dr. Phillips entrando no meu quarto, olhando os
meus gráficos e felizmente me liberando para repousar na minha casa. Ele
deixou claro que eu podia fazer coisas normais contanto que não me
estressasse. Se o meu trabalho era uma fonte de estresse, então, eu estava de
licença sem previsão de retorno.
Antes estava liberada para exercícios leves, mas ele mudou e me
indicou uma equipe de profissionais que eram especializados em exercícios
para gestantes. Como eu detestava exercício físico, não era algo que estava
interessada, mas eu me preocupava em começar um preparativo para o parto.
— Eu prometo que vou me comportar. — Prometi, ansiosa para sair
dali logo.
— Descanse bastante, beba água e não ande muito. — Orientou com
um sorriso.
Saímos do hospital, avisando ao meu pai e aos meus amigos. Como
estávamos bem longe de casa, Callum dirigiu devagar, porque as ruas
estavam com neve e não era prudente andar em alta velocidade no gelo.
Chegamos no prédio e o carro da Cassie estava na vaga de visitantes, assim
como do Michael e do Benji.
— Avisei que você precisava descansar. — Callum resmungou me
ajudando a sair do carro e em seguida pegando as bolsas.
— Estou me sentindo bem, dormi o dia inteiro e eles só querem me
ver. Seja gentil. — Falei com suavidade.
— Se sentir qualquer coisa, não fica quieta achando que é normal. —
Chamou o elevador ainda emburrado. Callum detestava que as pessoas não
fizessem o que ele queria. Uma característica de quem mandava, de quem
sempre teve o poder de ter outros a sua disponibilidade, mas acima de tudo,
ele não era um idiota com esse sentimento e tinha certeza que jamais seria
rude com os nossos amigos.
— Vou falar, aprendi minha lição, eu juro. — Beijei o seu braço e ele
abaixou o rosto para beijar a minha boca.
— Não me assuste mais daquele jeito. Odiei a sensação de pensar em
perder você.
A maneira como falou me deixou muito emocionada.
— Ah, meu amor.
Callum largou as bolsas no chão do elevador e me segurou firme entre
os seus braços. Beijei a sua boca com toda a minha paixão. Nós ficamos aos
beijos intensos e não percebemos que o elevador parou e apitou, pedindo o
código de acesso e alguém no apartamento liberou a nossa entrada.
— Ela saiu do hospital agora, cara. Dá um tempo na pegação. —
Charlie estava no hall logo que as portas abriram. — Eu vi a pegação pelo
vídeo. Cassie, baby. Eu quero! Parece excitante.
Cassie o empurrou, revirando os olhos e me abraçou apertado.
— Estou tão feliz que você e as coisinhas estão bem! — Ela queria
deslocar minhas costelas. Soltei uma risada sem fôlego.
Charlie me pegou em um abraço apertado também, sussurrando que
estava grato pela minha vida e pensei que ele gostava de bancar o espertinho
piadista na frente de todo mundo e escondia as suas emoções. Laila se
levantou do sofá, vindo na minha direção devagar e chorou. Sabia que ia
chorar. Quando quebrei o braço, ela chorou como se eu tivesse sofrido um
acidente de carro. Como boa amiga que era, comecei a rir da sua cara horrível
de choro.
Entre risos e choros, nos abraçamos. Michael entrou no bolo,
deixando o Benji por último. Me acomodei no sofá e logo estavam ao meu
redor, querendo saber o que havia acontecido, mas eu só ri porque não
lembrava direito e ainda não queria falar sobre o Raymond. Contei que tive
uma discussão com a minha mãe, acabei passando mal e que o Callum era a
única testemunha com detalhes.
— Porra, não me lembrem. — Ele estava visivelmente cansado e
aceitou a cerveja que o primo dele lhe entregou. — Ela já é branca como a
neve e conseguiu ficar ainda mais. Muito pior do que quando ela passa base e
esquece de usar as outras coisas. — Apontou para o meu rosto e ri. —
Simplesmente caiu no chão. Foi em um piscar de olhos. Nunca fiquei tão
assustado na minha vida. Não conseguia dizer o que estava sentindo e
vomitando, foi horrível. Sinceramente, não sei como não tive um ataque
cardíaco.
— Pobre bebê. — Beijei a sua bochecha.
A conversa girou em torno do diagnóstico e rapidamente os meus
amigos souberam como transformar algo trágico em piada. Nós jantamos
com muitas risadas e quando eles foram embora, os meus olhos estavam
brilhando, bochechas coradas e me sentia muito feliz. Principalmente por
dormir na minha cama e com o Callum.
— Comporte-se. — Foi tudo que ele disse quando tirei a roupa na sua
frente. Ignorando seu apelo, tirei minhas roupas íntimas e me sentei em seu
colo. — Isla...
— Ele não proibiu o sexo, sabemos que me fará muito bem. Vem
tomar banho comigo naquela sua banheira maravilhosa...
— Nossa banheira. Esse é o nosso quarto... Essa é a nossa casa. —
Me corrigiu e sorriu. — O lugar que vamos criar os nossos bebezinhos.
Abracei-o apertado e beijei o seu pescoço. Callum se levantou do sofá
do closet comigo em seu colo, amava a sua força porque ele podia me
carregar por todo lado sem reclamar, até porque, pegava muito mais pesado
malhando. Entramos no banheiro e me apoiando na pia, abriu as torneiras
quentes da banheira e apenas uma gelada, para não deixar tão quente.
Entreguei a ele um vidrinho de sais de banho e encostada no espelho, assisti-
o com muito prazer tirar peça por peça da sua roupa.
Me sentia uma mulher extremamente sortuda por ser a privilegiada em
vê-lo em toda a sua glória nu. Que homem, senhoras e senhores.
CAPÍTULO 24
Callum.

A voz da Samantha ecoou baixinho no quarto anunciando ser vinte e


oito de dezembro, rapidamente desliguei o despertador, percebendo que a Isla
sequer se mexeu em seu sono profundo. Tirei a minha roupa suada da
academia, tomei uma chuveirada revigorando os músculos que castiguei
malhando e vesti apenas uma cueca. Peguei o meu telefone para verificar o
horário, nosso voo estava programado para algumas horas mais tarde e decidi
deixá-la descansar mais um pouco.
Foram dias intensos e o descanso era essencial na fase que estamos
monitorando a sua pressão arterial. Estive muito perto de cancelar a viagem,
ciente que nos próximos meses a minha prioridade era a gravidez da Isla.
Mesmo sem o nosso relacionamento, quando me programei de fazer a seleção
e conhecer a mãe do meu filho, sabia que a minha prioridade seria a gestação
e tendo um relacionamento sério com a mãe dos meus filhos, ela era a minha
prioridade.
Isla era boa em dormir, o repouso não seria um sacrifício. Por saber que
se ficasse cansada, iria descansar, decidi não cancelar a viagem. Conosco iria
uma equipe completa para passarmos uma semana em Londres. Tinha
compromissos pela Lowell, uma festa de um primo para comparecer, já que
não fui ao seu casamento e aceitei fazer o primeiro ensaio fotográfico da
gestação na casa de campo desse meu primo, a convite de sua esposa que
também estava grávida.
Meghan, minha assistente, me ligou informando que estava pronta e a
equipe já estava no aeroporto. Era hora de acordar a Isla para sairmos. Com
cuidado, me enfiei debaixo das cobertas e comecei a acariciar o seu corpo,
começando pelo quadril, apertando a carne macia das suas coxas, acariciei a
sua barriga e beijei o seu pescoço. Isla soltou um gemidinho de sono, se
espreguiçando e movimentando a bunda contra o meu pau. Ergueu o braço,
virou o rosto e agarrou o meu cabelo, tomando a minha boca no beijo que eu
sabia que nós não iríamos sair da cama agora.
E o meu pau já meio duro, concordava totalmente.
— Bom dia, baby. Estamos muito apertados no cronograma? —
Esfregou-se em mim como uma gatinha manhosa e puxei a sua calcinha para
baixo, ela terminou de tirar sozinha. Levei a minha mão para entre as suas
pernas e acariciei o seu clitóris bem devagarzinho.
— Nós sempre temos tempo para sexo matinal. — Sorri contra a sua
pele macia e dei uma mordida suave.
Era raro conseguirmos namorar pela manhã, Isla não acordava disposta,
portanto, aproveitei ao máximo e seguimos aos beijos no chuveiro. Esperei
que se arrumasse sem pressa, comesse o seu café da manhã e com um bom
humor de assobiar pela casa, arrancando risinhos dela e desci as malas
fechadas para o carro junto com o Tray que nos acompanharia na viagem.
Isla parecia que estava se mudando para Londres e mesmo com as
minhas piadas sobre o exagero das suas roupas, ela não diminuiu a bagagem
e cada hora aparecia com uma do mesmo modelo, mas em tamanhos
diferentes.
Usando um conjunto de moletom, percebi que era a primeira roupa que
evidenciava a sua barriguinha. A calça era justa como uma legging, o casaco
curto como um top e a blusa branca que usava por baixo era bem justinha.
Seu tênis era cinza escuro, cabelos presos e a mochila com documentos, seu
inseparável planner e o notebook.
Nos despedimos da Charlotte e saímos de casa com tempo para o voo e
atrasados para o ponto de encontro. No carro, Isla ficou em seu telefone e
disse que a Cait estava enlouquecendo sozinha com a Roxanne. Contra a
minha vontade, ainda não enviou a sua licença médica ao RH da empresa.
Esperava que não tentasse voltar a trabalhar mesmo assim...
Não queria brigar pelo mesmo motivo mais uma vez.
Mordendo o cantinho da unha, me deu um olharzinho que já conhecia
como inseguro.
— Não quero ser chata, mas conseguiu ver algo em relação ao
Raymond?
— Sim. Estou aguardando o retorno do meu contato, não deve demorar
muito.
— Não é nada perigoso, certo?
— Não.
Basicamente as pessoas que estavam no círculo eram perigosas, mas o
que iria fazer não seria perigoso ao todo. Nada como uma conversa saudável
com alguns parceiros de negócios.
— Tem certeza?
Evitei revirar os olhos.
— Não sou a pessoa que escolhe esconder as coisas entre nós. —
Acusei meio irritado.
— Quer falar sobre isso agora? — Isla virou de lado, pronta para
brigar. — Eu fiz isso algumas vezes, já me arrependi e pedi desculpas.
Arqueei a sobrancelha.
— E quanto a Roxanne usar seu vestido sem seu consentimento? E
você não fez nada?
Isla ficou pálida.
— Como sabe disso?
— Benji deixou escapar durante uma conversa com a Cassie!
— Eu não falo sobre essas situações irritantes com a Roxanne, porque
nós sempre brigamos e é desgastante.
— Concordo que é muito chato brigarmos sobre a mesma coisa sempre,
mas poderíamos brigar menos se me contasse...
Isla se debruçou sobre o carro e calou minha boca com um beijo.
— Não quero brigar sobre a Roxanne. Não antes de viajarmos juntos
pela primeira vez. — Sua boca veio de encontro a minha e me deu mais um
beijo gostoso. Era louco pela sua boca e definitivamente apaixonado pelos
seus beijos. — E você tem razão, preciso parar de ter tanto medo e é algo que
tem que entender que não vai mudar da noite para o dia. Depois que sair do
meu emprego sem brigas, fofocas e uma carta de recomendação, irei tomar as
medidas cabíveis contra esse abuso da Roxanne.
— Tudo bem... Por favor, para de me esconder...
— Não teve mais nada depois disso, é sério.
Segurei a sua mão e beijei, me sentindo mal por ter provocado uma
pequena discussão, ciente que ela não poderia se estressar de forma alguma.
Pedi desculpa, que foi ignorada e passamos o restante do caminho em paz.
Ao chegarmos no aeroporto, passamos para a área de embarque privada,
despachamos as malas e com ela ao meu lado, cumprimentamos a Meghan,
minha assistente, Joanne, a secretária executiva e o Charlie agarraram a Isla
bem apertado.
— Cassie foi comprar um café e já volta. Quer alguma coisa, Isla? —
Charlie ofereceu.
— Eu não posso beber café, nem qualquer mísera coisa com cafeína,
muito menos chocolate quente, porque tem muita gordura e açúcar. — Isla
estava fazendo um drama porque o seu café da manhã foi algumas torradas
integrais, ovos, queijo e suco de laranja puro e ainda comeu iogurte com
granola.
— Você pode tomar o de chocolate branco light com leite desnatado.
— Cortei a sua gracinha e com um beicinho, enviou uma mensagem para
Cassie trazer a bebida quentinha.
Meus funcionários ainda não sabiam que Isla estava grávida. Meghan
ficou muito feliz e nos deu parabéns. Joanne estava surpresa. Ela trabalhava
na empresa desde que era um estagiário e o meu pai o CEO. Acompanhou
muitas viagens e sabia como era o meu relacionamento tenso com meu pai e
viu de perto o que se seguiu após a traição do Cage e da Patrícia. Seu abraço
foi emocionado e disfarçou rápido, porque não tínhamos um relacionamento
mais íntimo.
Era estranho saber que meus funcionários sabiam das confusões da
minha vida. Imaginava que comentassem entre eles, mas não que sentissem
algo.
Cassie retornou com as bebidas. Ela e a Isla começaram a ficar
entediadas, o que significava que após terminarem as suas bebidas,
resolveram andar pelo aeroporto comprando revistas, maquiagens e tirando
fotos. Isla estava com tanta energia, falando e até fazendo dancinhas
engraçadas que sabia que iria dormir assim que decolássemos.
— Sossega. — Segurei-a pelos ombros. Ela e a Cassie esqueciam que
eram mulheres adultas quando estavam juntas, era engraçado observar e a
Laila morria de ciúmes.
A van finalmente ficou disponível para nos levar até a aeronave da
Lowell, embarcamos todos e atravessamos até a pista de pouso.
— Olha só o brinquedinho do papai, crianças. — Isla me provocou
sabendo que gostava muito de aeronaves, quando criança queria ser piloto e o
meu pai nunca considerou a possibilidade, porque tinha que assumir a
empresa. Também gostava de colecionar carros, outra coisa que a fazia me
chamar de pobre menino rico.
— Entra e senta, espertinha. — Comandei, apontando para a poltrona.
Rindo, se acomodou em uma das poltronas do meio e cruzou as pernas.
Joanne, Meghan e o Tray foram para os fundos. Charlie e Cassie sentaram-se
a nossa frente. A comissária de bordo passou servindo água, outras bebidas,
entregando o cardápio do almoço e não demorou muito para a outra anunciar
que estávamos prontos para decolar. O piloto deu sua mensagem positiva de
voo e os procedimentos foram iniciados.
Isla agarrou a minha mão, nervosa com a decolagem e nós trocamos um
olhar ao perceber que a Cassie segurou o braço do Charlie, mas logo soltou,
fazendo uma careta. Assistir o desenrolar do relacionamento dos dois era
engraçado. Conhecendo-os como os conhecia, sabia que já tinha acontecido
algo, apesar do Charlie ser do tipo que arrotava quando comia alguém e a
Cassie uma mulher difícil, eles estavam tentando fingir que nada aconteceu.
Cobri a Isla no segundo bocejo ao meu lado, a aeronave estava
estabilizada e podíamos circular por ela. Tirei o meu notebook da pasta,
começando a trabalhar nos documentos. Charlie e Cassie fizeram o mesmo,
enquanto Isla dormia profundamente, agarrada com o seu travesseiro de
viagem e com os pés encolhidos na poltrona.
Fiquei distraído com o plano de negócios por horas, na metade do voo
ela acordou, se espreguiçou, me deu um sorrisinho e ficou quieta. Sabia que
estava com fome, sinalizei para a comissária que podia trazer nossa comida.
— Estou faminta! — Isla aceitou seu prato com filé e alguns legumes.
— Comendo por três, é normal. Até acho que come bem pouco. —
Cassie a olhou devorar o prato de comida.
— É porque estou o tempo inteiro comendo. A minha dieta já era
maluca por trabalhar na revista, com a gravidez ficou mais moderada, ao
descobrir ser de gêmeos ficou mais rígida e agora com essa palhaçada da
hipertensão estou com poucas opções. — Fez um pequeno beicinho e roubou
uma batatinha temperada do meu prato. — Só umazinha, amor. —
Choramingou e enfiou na boca, comendo como se fosse o melhor pedaço de
batata da sua vida. — Nem bacon posso comer! Sabe o quão injusto é?
— Callum tem que te acompanhar na dieta. — Cassie riu e a Isla
arregalou os olhos.
— Você nunca o viu comendo? Ele só come proteína, banana, muito
ovo... Não ingere muito carboidrato, só o suficiente para o metabolismo
funcionar e é muito estranho. Ele faz uma mistura de ovo com banana e bebe!
— Seu gritinho de nojo chamou atenção das comissárias. — Não é dessa
comida não, é do Callum mesmo. — Isla explicou e depois se deu conta do
que falou. — Não do Callum! Não é nojo dele, jamais, é do que ele coloca na
boca...
— Isla... Está piorando. — Charlie urrava de rir.
— Não consigo formar um pensamento. — Isla choramingou entre as
nossas risadas e se jogou em mim, beijando o meu pescoço. — Não tenho
nojo de você, baby.
— Eu sei disso. — Mesmo assim, não conseguia parar de rir.
Com um beicinho, terminou de comer e passou o restante do voo
entediada, mexendo no seu telefone, editando fotografias e aproveitando o
Wi-fi do avião para responder comentários na sua conta do Instagram e até
postou uma foto nossa – algo que raramente fazia, porém, por produzir
conteúdo da viagem, resolveu anunciar que estávamos juntos em um destino
bem legal.
Quando o piloto informou que iríamos pousar sem problemas, fiquei
calmo, porque manter a Isla mais de cinco horas dentro de um espaço sem
saídas, era um problema. Me desconcentrou do trabalho umas quinhentas
vezes e atrapalhou a Cassie na leitura dos contratos. Isla tinha a sorte que era
muito amada por todos, porque também era muito chata.
O processo de pousar, descarregar as bagagens, esperar a van para sair
do aeroporto durou cerca de uma hora. Seguimos direto para o hotel onde
todos nós ficaríamos hospedados. Ao entrarmos no quarto, minha namorada
pilhada saiu mexendo em tudo, abrindo as janelas, espiando a varanda e abriu
o menu do serviço de quarto, já pedindo chá. Desligando a chamada, me deu
um sorriso empolgado e foi para o quarto que tinha uma bonita cama com
dossel e cortinas de renda branca.
Todo o quarto era decorado em magenta, dourado, creme e com móveis
imperiais, reproduzindo quartos de palácios reais.
— Uau! Olha só, crianças! Que cama maravilhosa que a mamãe vai
pular, portanto, não fiquem enjoados! — Saiu correndo para a cama, pulando
e fazendo o meu coração quase sair pela boca. Larguei as nossas mochilas em
um sofá e a peguei pelas pernas, tombando na cama e ela apenas ria. —
Crianças... A mamãe e o papai vão ter uma conversa de adultos agora. —
Falou ofegante pelas puladas e me deu um sorrisinho maroto. — Tira a minha
roupa, vai. Quero tomar um banho quentinho, estou meio com frio e quero
ficar agarradinha com você.
Sorrindo para sua bobeira, desfiz o laço da sua calça e puxei pelas suas
pernas, tirando junto com a meia. Descobri que a blusinha por baixo na
verdade era um body e soltei entre suas pernas, ela riu e me ajudou no
processo em ficar nua. Seus seios estavam infinitamente maiores, sempre
foram atraentes para mim, mas eles estavam crescendo tanto que podia
segurá-los na palma da minha mão. Agarrei-os e chupei ambos os mamilos,
atiçando o seu fogo e não demorou muito para estar pedindo que tirasse sua
calcinha.
Isla era a única mulher que fazia meu pau ficar duro como uma barra de
ferro em questão de segundos. Me deixava em estado de alerta e excitação a
maior parte do tempo e o sexo era realmente incrível. Tudo com ela era como
a primeira vez, emocionante e intenso, mexia nas profundezas da minha
alma.
O banho quentinho ficou para depois, minha intenção era levá-la para a
banheira, mas quando engatinhou na cama, querendo tirar a minha roupa e
chupou o meu pau com seus belos olhos nos meus, me encarando cheia de
tesão, esqueci totalmente os meus planos de manter o sexo não muito
apaixonado para não cansá-la muito. Isla não queria sexo lento, pelo
contrário, estava excitada e empolgada rebolando no meu pau e gozei tão
forte que o meu cérebro ficou em pane por algum tempo.
— Acho que precisamos nos arrumar para sair. — Resmungou
sonolenta. Ergui a minha cabeça e olhei para o relógio.
— Você pode dormir por uma horinha. — Beijei a sua testa e acariciei
as suas costas, fazendo-a dormir e sorri para o seu rosto completamente
adormecido. — Eu te amo. — Falei baixinho contra sua testa e o meu
telefone vibrou em algum lugar no chão. Escorreguei fora da cama com
cuidado e peguei no bolso da minha calça jeans, saí do quarto e atendi a
chamada. — Enzo.
— Peço desculpas pela demora, mas, a informação que me passou me
pegou desprevenido. — Enzo Rafaelli soou rouco do outro lado da linha. —
Espero que entenda, que por vias das dúvidas, preciso fazer um teste de
DNA.
— Eu entendo... Também espero não ter levado problemas a sua
família.
— Isso ficou entre mim e alguns homens, foi um bom esclarecimento
saber que meu pai ainda mantinha poder sobre algumas pessoas. Apenas
quero ter a certeza de que o menino não é meu irmão, saindo o resultado,
pode confiar que irei levá-lo em completa segurança e com todos os pedidos
de desculpas a essa mãe que ficou sem o filho. — Ele parou um pouco e
parecia estar fumando. — Não vou dizer que quando descobri sobre a Sierra
foi um bom momento, mas eu não sabia sobre a criança e o meu pai foi
rápido em escondê-lo. — E xingou aos montes em italiano.
— Entendo, mas, a criança precisa estar com a mãe.
— Sim... Eu sei. — Soltou mais fumaça. — Jack me falou sobre sua
benfeitoria, estou grato. Por sempre ser um parceiro silencioso e gentil,
saiba que tem a minha palavra que sua mulher terá o irmão em casa em
alguns dias.
— Obrigado, Enzo. Felicitações pelo noivado.
— Puta que pariu, não me lembra. — Rosnou e encerrou a chamada,
sorri para o aparelho e só contaria a Isla que o Raymond estava perto de estar
em casa quando acordasse.
Enzo Rafaelli era o filho mais velho de Lorenzo Rafaelli. Ambos não
valiam nada, eram muito perigosos e sem escrúpulos, mas o Enzo tinha mais
responsabilidade moral que o seu pai, embora, não fosse o tipo de pessoa que
aconselharia ter amizade. Quando ele entrou na faculdade, eu já era um
veterano e fui o responsável por sua aceitação na fraternidade de jovens filhos
de homens ricos, poderosos e que não eram boas pessoas.
Meu pai fez negócios com o Rafaelli há muitos anos. Quando tentei
cortar os laços após a sua morte, fui procurado por um homem chamado
Jackson Bernard e pelo Enzo. Eles explicaram a nova forma que
funcionavam e eu pensei muito bem se deveria continuar ou não, no fim, ter
conexões com pessoas como eles era muito vantajoso, em troca, eles
possuíam informações. No meio em que vivemos, informação valia muito
mais que dinheiro.
Há alguns anos eles precisaram de ajuda. Tiveram um grave problema
em D.C que quase expôs tudo que faziam para o mundo e os ajudei, porque
assim como ter conexão com eles era vantajoso... Tê-los me devendo favores
era muito melhor. Era do tipo que não me metia muito, não os encontrava,
apenas fazia a parte que me cabia. O dinheiro vai e vem, nomes vem e vão,
meus negócios seguiam intactos e isso era o que importava no final do dia.
Satisfeito, enviei uma mensagem ao Jay, explicando que Raymond
estaria com eles em alguns dias e que chegamos bem. Aproveitei o tempo
para me arrumar, tomei banho e quando comecei a fazer a barba ainda nu no
box, Isla entrou no banheiro reclamando que comecei a me arrumar sem
acordá-la, toda descabelada e com sono, entrou no box comigo colocando o
chuveiro tão quente que pensei que minha pele iria cair cozida no chão.
Me fez sair molhado do box para buscar a sua necessaire, pegar os seus
xampus e ainda ajudar a lavar o cabelo, porque estava com os braços doendo.
Meu rosto estava barbeado pela metade e até ela sossegar, secando o cabelo
do outro lado do banheiro, não consegui terminar. Com a barba feita, ela
disse que ia aparar os cabelos da minha sobrancelha e ficou cutucando meu
rosto, procurando cravos.
— Alguém já te disse que você é muito chata? — Tentei desviar o meu
rosto das suas mãos e fiz cosquinhas na sua barriga, ela imediatamente me
deu um chute por reação.
— Desde pequena. — Beijou o meu queixo.
Liberado para me vestir, fiz rapidamente e pronto, sentei-me na sala,
atualizando as mensagens do meu telefone. Charlie estava pronto e nos
aguardando, Cassie ainda estava se maquiando. Meghan e Joanne não nos
acompanhariam no jantar por escolha, era uma reunião social e não
totalmente de trabalho.
— Como estou, amor? — Isla rodopiou com calça jeans, botas marrons
e uma blusa de mangas creme, com seu casaco pendurado no braço e aí parou
de lado, colocando a mão na base da barriga. — Parece que comi demais
quando estou de lado. Comi um melãozinho.
— Comeu tanto que gerou dois. — Provoquei e me inclinei, beijei sua
barriguinha. — Você está linda. Onde estão suas luvas e gorro?
Revirando os olhos, foi buscar os últimos itens, sua bolsa e me pediu
para fazer umas fotografias na parte mais clara do saguão do hotel. Tray
estava nos aguardando, esperamos Charlie descer com a Cassie, como
sempre, ela estava irritada que ele ficou batendo na porta do quarto
apressando-a ao ponto de receber uma ligação da recepção por reclamações
dos quartos vizinhos.
— Acho que eles se casam antes de nós. — Isla comentou no meio da
briga deles a nossa frente.
— Não mesmo. — Murmurei divertido e o olhar dela ficou em mim por
um tempo e depois voltou para a Cassie, concordando que o Charlie era
muito chato.
O motorista contratado na cidade nos deu um tour breve até o Scorick.
O restaurante da esposa do meu primo estava bem cheio e havia uma discreta
fila de espera. Assim que saímos do carro, William saiu do restaurante e eu
fingi que não ouvi a Isla suspirar ao meu lado. Meu primo sorriu e seus olhos
azuis que chamavam muita atenção, brilhavam e nos abraçamos.
— Fico tão feliz em te ver tão bem, homem!
A última vez que nos vimos foi no hospital durante o meu tratamento
contra o câncer no qual uma parte foi em Londres. William abraçou o Charlie
e apresentei a Isla, que estava muda e a Cassie que estava corada. Meu primo
era um Duque e as meninas estavam empolgadas, ao perceber que era bonito,
ficaram mudas.
— Vamos entrar! Beatrice ainda está na cozinha, mas virá ficar
conosco. Minha irmã está atrasada, como sempre, logo estará aqui. E como
está a Tia Gwen?
— Minha mãe está bem, ela estava louca para vir e sente saudades da
titia. — Charlie respondeu e foi andando com o nosso primo e a Cassie.
— Ele é tipo um príncipe? — Isla me segurou um pouco e andamos
mais devagar.
— Quase isso.
— Por que você não é um?
— Porque a minha mãe é filha da filha, ela não ganha títulos e minha
avó faleceu há muitos anos. Ela era irmã do avô do William, apenas a avó
dele está viva e irá conhecê-la em alguns dias.
— Então é verdade mesmo que você é parente da rainha?
— Bem distante, Isla. Eu nunca vi a mulher. Ela deve ser prima de
segundo ou terceiro grau do meu avô e um pouco mais próxima da minha
avó, não sei.
— Uau. Meus filhos possuem um sangue real. — Brincou e me deu seu
sorriso deslumbrante. — A beleza é algo de família. Sinceramente... O que
tem no DNA de vocês?
— Passa na frente, Isla. — Apontei para a porta e ela foi rindo,
deleitada por me deixar brevemente irritado de ciúme.
Espertinha.
CAPÍTULO 25
Isla.

Estar em um relacionamento com uma pessoa emocionalmente


complicada era muito difícil em uma base diária, mas o Callum sempre me
dava motivos para seguir em frente. Ele me surpreendia tão positivamente,
que me fazia questionar como alguém com um coração tão bom poderia ter
sofrido tanto com a vida.
A primeira surpresa foi a nossa viagem. Parecia bobo, mas foi,
literalmente, a nossa primeira vez longe de casa, pouco tempo de
relacionamento, ainda se acostumando a morar juntos em uma viagem na
qual ele precisaria trabalhar e eu aproveitei a carona para acompanhá-lo nos
eventos necessários, bancar a turista, criar conteúdo para o meu blog e fazer
compras para os bebês.
Nós tivemos algumas brigas, a minha energia versus o seu humor
sombrio fez bater o desentendimento muitas vezes, mas, ainda assim, ele era
o homem que tentava realizar os meus sonhos mais bobos.
Ele reservou um hotel muito lindo porque queria me agradar,
conhecendo o seu gosto, qualquer quarto de hotel no estilo minimalista seria
suficiente. Teve todo o cuidado com a minha alimentação, os meus trajetos
eram sempre acompanhados e um carro sempre estava disponível para que
não me cansasse. Me apresentou a sua família – seu primo da realeza era
muito gato e a sua esposa além de linda, era muito simpática e estava perfeita
com um barrigão de seis meses.
Participamos de uma luxuosa festa de ano novo com membros da
realeza, fomos a uma premiação e viajamos até o palácio de campo do primo
dele, no qual contratamos uma fotógrafa indicada pela Beatrice, a Duquesa de
Kingston, que foi maravilhosa e realizou o ensaio dos meus sonhos em um
cenário antigo e romântico. Foi com uma dessas fotografias que o Callum
anunciou para o mundo inteiro que seria pai de gêmeos em alguns meses.
Nós não tivemos muito tempo para passearmos juntos, mas ele
precisaria voltar em algumas semanas para a assinatura do acordo de
negócios que fez com o seu primo e decidimos esticar por algumas semanas
viajando pela Europa a dois. Bem, com o Tray, mas ele era muito legal e não
me incomodava. Cassie ainda não sabia se iria, mas seria muito legal viajar
com ela e o Charlie. Eles eram divertidos e não se estressavam com nada.
Laila ficou mordida quando disse que viajar com ela era cansativo, mas era
verdade. Só porque ela era minha melhor amiga não significava que fingiria
que fazer qualquer passeio não era um desgaste.
Foi muito gostoso passar esse tempo fora e ao voltar, eu tive mais
surpresas.
Callum comprou um novo quarto hospitalar para a minha mãe com
equipamentos caros, tecnológicos e alguns ela sequer usou porque nunca
tivemos condições. Preparou um dos quartos para que ela pudesse fazer
fisioterapia e uma turbinada cadeira de rodas.
Meu pai estava muito desconfortável e surpreso, porque o Callum não
falou nada. Inicialmente fiquei em choque, depois meio chateada totalmente
tomada pelo orgulho e por fim, grata. Fiquei emocionada que ele se
importava o suficiente para fazer aquilo por conta própria e não porque eu
pedi. Chorei tanto que fiquei com o rosto ardendo e ele me consolando que
não era nada demais.
Para a minha família, era uma benção.
A bondade no coração dele não tinha limites e ao mesmo tempo...
comecei a perceber que nem tudo sobre o Callum era bom. As reuniões tarde
da noite, uns telefonemas misteriosos e uns seguranças realmente
assustadores que prestavam serviço. Algumas pessoas realmente tinham
medo do sobrenome Lowell.
E uma dessas atitudes misteriosas, me chamou bastante atenção.
Pela câmera, observei-o conversar com um bonito homem e ele era
meio familiar. Callum sorriu, riu, apertaram as mãos, falaram mais sério e
então outro carro se aproximou e as câmeras simplesmente desligaram. Todas
elas. Não consegui ver o que estava acontecendo na entrada privada da
cobertura e o elevador estava travado no primeiro andar. Senti algo no meu
coração que me deixou desconfortável.
Insistindo na câmera, apertei o botão e ao ler o nome abaixo da tela
imediatamente lembrei quem era aquele homem. Procurei no google para ter
certeza e a minha conexão não funcionou, embora todos os sinais da internet
mostrassem conectado. Me afastei da tela e me sentei no sofá. Aquele homem
bonito era Jackson Bernard, fundador da B-Tech, uma das maiores empresas
de tecnologia do mundo.
Nossas câmeras e telas não eram da marca, foi uma conexão.
Callum conhecê-lo não era o problema, a sensação que tive sim.
Quem estava no carro que as câmeras simplesmente pararam de funcionar?
Por que o Callum não subia? Peguei o interfone para chamar o Tray, ficando
nervosa e ele não atendeu. Ao ouvir o barulho do elevador chegando ao andar
da cobertura, o suave sinal sonoro anunciava que ele iria abrir as portas em
alguns segundos e me preparei para encher o Callum de perguntas.
Ele não estava sozinho.
Dentro do elevador com o Callum estava a Ângela, a amiga da minha
mãe e fiquei sem ar ao olhar para o menino que imediatamente se escondeu
atrás dela. Callum apressou os seus passos para ficar ao meu lado e me
abraçou pelo ombro, sussurrando que estava tudo bem e que o Raymond
estava ali para ficar.
Ângela me deu um sorriso hesitante, ela ainda era uma mulher muito
bonita, embora não tivesse mais o corpo extremamente malhado como
lembrava.
— Raymond... conheça sua irmã, Isla. — Ângela tocou o seu braço e
ele apenas me espiou. — Você lembra de todas as vezes que sua mãe contou
sobre ela?
Raymond me olhou mais uma vez e abriu um enorme sorriso.
— Oi, Isla! — E se escondeu de novo.
Não conseguia definir o que estava sentindo.
— Oi, Raymond! — Dei um passo à frente.
— Já conheci o seu marido lá embaixo, o nome dele é legal. — Me
espiou de novo e olhei para o Callum. — Ele disse que podemos jogar juntos
antes de ver a mamãe. Quero ver a mamãe logo. A Tia Ângela disse que
agora ela fica numa cadeira de rodas... sinto saudades da mamãe.
O seu olhar encontrou o meu e chorei, emocionada pelo quanto era
parecido comigo, mas com o sorrisão do meu pai. Inegável que o Raymond
era filho do meu pai. Mesmo muito parecido com a minha mãe, o jeito de
olhar de lado e sorrir era todo no estilo Jay Edwards.
— Eu vou te levar na mamãe. Posso te dar um abraço? — Minha
garganta estava embargada.
Raymond soltou a mão da Ângela e veio ao meu encontro
timidamente, abrindo os braços e ajoelhei, apertando-o. Era inacreditável.
Toda história parecia cruel e surreal, como um sonho, mas ele estava bem ali,
real, em carne e osso na minha frente. Meus pais tiveram mais um filho, era
uma criança linda que passou dez anos da sua vida sem conhecer o pai e a
irmã e seis anos longe da sua mãe.
Ele deitou a cabecinha no meu ombro, ficando preso nos meus braços
sem reclamar e me afastei, secando o meu rosto. Raymond Edwards era real.
Não tinha certeza se foi a maneira que descobri sobre ele, o jeito que briguei
com a minha mãe e conectar a minha mente que de fato Raymond existia,
fazia tudo parecer de outro mundo.
Ele tem dez anos, minha mãe sofria de ELA e o meu pai trabalhava
em longos turnos. O que iria acontecer com aquela criança se estava
construindo a minha vida com o Callum e esperando gêmeos?
Eu tinha milhares de perguntas para fazer ao Callum sobre como o
Raymond saiu de Nova Iorque, de uma situação que a minha mãe sequer
podia vê-lo e muito menos revelar a sua existência, para vir morar conosco
em questão de dias. Vesti um longo casaco do Callum e um par de tênis,
pegando a minha bolsa. Callum segurou a minha mão, sussurrou no elevador
que me explicaria mais tarde e concordei.
Enviei uma mensagem para o meu pai, avisando sobre tudo que
estava acontecendo, ele ficou nervoso, digitando em caixa alta e o acalmei.
Raymond estava ansioso para ver a mamãe, ainda não sabia que tinha um pai
esperando-o em casa também. Callum fez o caminho mais longo, dirigindo
com tranquilidade, principalmente para dar tempo ao meu pai de se arrumar,
se acalmar e ajudar a minha mãe que estava histérica.
Olhei para o banco de trás, abri um sorrisinho para o meu irmão e ele
sorriu de volta, com vergonha e olhou para a janela. Callum estacionou na
garagem, deu a volta e me ajudou a sair. Minha barriga estava um pouco
maior, seguramente escondida no casaco e o agarrei de volta. Meu pai abriu a
porta, ansioso e parou congelado no lugar, olhando para o Raymond.
— Ray... Esse é Jay Edwards... Hum, ele é o marido da mamãe. —
Expliquei sem saber como dizer que era o seu pai.
Raymond olhou para a Ângela.
— É ele? — Raymond perguntou tão baixo que mal deu para ouvir.
— Sim, é ele.
— Ele sabe? — Não consegui esconder a minha surpresa.
Ângela me olhou sem graça.
— Não sabia o que fazer, o que explicar e então, me sentei com ele e
contei exatamente tudo. — Encolheu os ombros, parecendo nervosa.
— Eu tenho dez anos, não sou uma criança. — Raymond revirou os
olhos e o encarei bem surpresa. Ele deu uns bons passos à frente, todo
decidido. — Oi, Jay. Sou o Raymond, a mamãe e a Tia Ângela me chamam
de Ray. O Enzo disse que Ray é um apelido muito legal.
Hum... Enzo. Então, foi o próprio filho do Lorenzo que trouxe o meu irmão?
— Raymond é um lindo nome e Ray é um apelido muito legal, mas o
meu nome é apenas Jay. — Meu pai segurou a mão dele. — Posso te abraçar,
Ray?
— Vocês gostam de abraçar? — Raymond abraçou o meu pai nas
pernas e rimos. Ele estava tímido, mas dava para ver que era uma criança
bem espoleta.
Minha mãe estava na sala nos aguardando, assim que o Raymond
apareceu, ela abriu os braços, chorando. Ray saiu correndo, se jogou nela e eu
comecei a chorar e não parei mais. Callum me consolou, mas observar o
quanto minha mãe ria e chorava me deixou destruída. Do fundo da sala,
olhei-a agradecendo sua amiga, abraçando-a, ambas choraram muito e o meu
pai estava sem conseguir desviar o olhar do Raymond.
Mais tarde, com os ânimos acalmados, meus pais estavam no sofá com
o meu irmão. Eles estavam conversando animadamente e eu me sentei na
cozinha, compartilhando um chá com a Ângela enquanto o Callum fazia
ligações no quintal dos fundos. Aproveitei o momento sozinha com a mulher
que, misteriosamente criou meu irmão, para fazer as minhas perguntas.
— Não deve ter sido fácil renunciar à sua vida para cuidar de uma
criança que não era sua. — Comentei suavemente apenas para observar sua
reação.
Ângela sorriu. Ela era alta, morena, de cabelos crespos e um sorrisão
chamativo.
— Não foi fácil, mas não era como se pudesse levantar e ir embora.
Não se envolve com pessoas como o Lorenzo com uma passagem de volta...
É apenas ida. — Ela brincou com a sua caneca. — Desde o começo avisei a
sua mãe que aquele homem era perigoso. Quando ela foi diagnosticada com
ELA, fui imediatamente vê-la. Ele disse que ia devolvê-la como se fosse uma
mercadoria e desaparecer com o Ray... Sierra entrou em desespero e eu
também, nós não podíamos perdê-lo, me ofereci para ficar, na simples e
ingênua esperança que um dia ele me deixaria ir embora... — Ângela
suspirou e me deu um sorriso triste. — Foram anos realmente complicados...
— Minha mãe me falou por alto... Ela não consegue falar muito bem,
como percebeu.
— Sierra tentava ligar todos os dias para falar com o Ray. Lorenzo
descobriu e tirou todos os telefones, demorei para conseguir um telefone pré-
pago, ficava escondido dentro da privada em um saco ou em outros lugares,
toda a minha vida era controlada, porque Lorenzo não queria liberar o Ray.
Ele sentia muita raiva da traição e sua mãe tinha muito medo de que fizesse
algo para machucar o Jay ou a você. — Deu um gole no seu chá. — Foram
anos difíceis, queria ter minha vida de volta e estava presa lá. Jamais deixaria
o Ray com aquele monstro.
— Ele chegou a machucar o Raymond de alguma forma?
— Felizmente não chegava perto, mas ameaçava. No fundo, eu sentia
que jamais faria, era apenas para se vingar. Um homem como ele teve o ego
ferido ao ter a sua idolatrada amante traindo-o com o ex-marido policial. Foi
como uma facada no coração... Quando isso tudo começou, eu disse a ela que
seria um grande problema mais cedo ou mais tarde. Ele era perigoso demais...
— Ângela parecia disposta a desabafar e eu entendia. — Quando ela
engravidou de você e não sabia quem era o pai, ficou meses na dúvida se era
dele ou do Jay, eu disse que estava brincando com fogo. Ela estava se
dividindo entre um criminoso e um homem da lei. Sinceramente, estou tão
feliz que isso acabou e vou finalmente viver minha vida. Amo o Ray, ele é
um amor, um menino incrível e merecia estar com os pais. Toda criança tem
que ficar com os pais...
Ângela percebeu meu silêncio e ficou vermelha.
— Perdão, estou falando demais. Não quero que ache que estou com
raiva da sua mãe, não é isso. Ela sempre será minha melhor amiga, irmã que a
vida me deu quando eu tinha dois anos e ela três...
Eu estava congelada no fato que a minha mãe tinha dúvidas sobre quem
era o meu pai. Afinal de contas, ela sabia agora? Senti um pavor subir pelas
minhas pernas ao considerar que não poderia ser filha biológica do Jay e ser
filha daquele monstro. Pedi licença a Ângela, saí correndo pela porta dos
fundos e me inclinei sobre o parapeito da varanda, vomitando na grama.
Callum largou o telefone de qualquer jeito, atravessando o quintal às
pressas e me amparou.
— Está sentindo-se mal? Sente dor de cabeça?
— Apenas vomitei, desculpa te assustar.
— O que aconteceu? — Acariciou as minhas costas.
— Talvez o Ray seja filho do meu pai e talvez eu não seja...
Callum me olhou bem sério, entendendo a gravidade e contei a ele o
que ouvi da Ângela. Nós olhamos para os três na sala, conversando e eu
pensei que era uma mudança muito fodida na minha vida, mas eu tinha o
direito de saber e queria saber.
— Eu posso descobrir... — Ele suspirou. — Sinto muito, baby.
— Como tudo isso foi acontecer? Como Raymond chegou aqui... Me
explica, por favor. — Estava começando a sentir desespero.
— Conheço Jackson Bernard. Meu pai tinha negócios com ele e depois
que morreu, não era algo que podia simplesmente sair. Eu não me envolvo
muito, algumas coisas que o meu pai fazia ainda é difícil não fazer para
manter a Lowell e a minha posição. Durante muito tempo eu tive que provar
o meu lugar e nem sempre ser um CEO é fazer coisas bonitinhas que
enfeitam livros de ficção. É algo mais sério. — Callum olhou bem dentro dos
meus olhos. — Eu sou um Lowell e herdei isso. O Jackson foi meu contato
com o Enzo Rafaelli, filho mais velho do Lorenzo, que apesar de saber que o
pai teve uma amante por muitos anos, não sabia da criança.
— Esse tal de Jack sabia?
— Sim, mas ele pensava que a criança era filho do Lorenzo. Enzo quis
fazer um exame de DNA para ter a certeza, ao comprovar que o Raymond
não era seu irmão, ele foi até lá, mandou arrumar tudo e o trouxe
pessoalmente com um sincero pedido de desculpas. Ele queria te ver, mas eu
não deixei. Optei por te deixar de fora dessa parte... — Callum me abraçou.
— Pelo que entendi, o Enzo assumiu o lugar do pai e o Lorenzo não tem mais
tanto poder e influência.
— Então esse Enzo aí não vai ficar ameaçando minha mãe?
— Eu sinto muito, Isla. É minha culpa...
— Não, amor. Está tudo bem, não é sua culpa e sim da minha mãe. —
Beijei seu peito e ele me aninhou ali, ficamos abraçados. — Meu pai sempre
será meu pai, não importa o que um DNA possa dizer. Eu quero saber, mas
não quero que ele saiba. Vai ser muito sofrimento...
— Eu entendo, baby. Mentir não é uma boa opção.
— Não vou mentir. Só não vou contar...
Nós olhamos novamente para a sala e decidi ir embora, minha cabeça
estava doendo e eu não queria passar mal de novo. Meu pai entendeu,
querendo que eu descansasse imediatamente. Me despedi do Raymond e não
tive coração para me despedir da minha mãe. Simplesmente precisava colocar
minha mente no lugar para poder falar com ela.
No caminho para casa, Callum me explicou quem era o Enzo Rafaelli
em um pouco mais de detalhes e disse que não queria falar sobre os negócios
em comum, deixando claro que ele não tinha a opção de sair, porque era algo
que o seu pai começou. Alguns negócios ruins ele acabou logo que o pai
morreu, mas outros, a opção não era tão simples e entendi o recado. Confiava
nele e na sua índole, sabia que não estava metido em algo que não pudesse
pular fora por escolha.
Ao mesmo tempo, sabia que Callum não era inocente e nem o “bom
moço”. Ele era um homem rico, criado para passar por cima de quem
estivesse na sua frente para ter o que desejava. O pai dele espancava,
torturava e o abusava fisicamente e emocionalmente, porque era um monstro.
Callum era um homem muito machucado, que navegava entre ser muito bom
e muito obscuro, porque era a sua natureza.
Era isso que ele queria mudar nos seus filhos.
Ser um bom pai, um bom homem e um bom marido.
Eu não podia fantasiar que ser um homem tão rico e com tanta
responsabilidade sobre vários negócios seria apenas uma pessoa cem por
cento honesta. Nem eu era tão honesta ao ponto de ir para o céu... Me deixava
muito desconfortável pensar que o Callum estava indiretamente envolvido
com alguém como o Rafaelli, no momento, calhou de ser uma benção e eu
esperava que nunca se transformasse em maldição.
Ao chegarmos em casa, ele se deitou comigo, preocupado com os meus
sentimentos e me mimou o restante do tempo, fazendo até massagem nos pés
e pediu comida no meu restaurante italiano favorito.
Nós arrumamos a mesa, espalhamos as caixas de comida e eu estava
alegremente satisfeita tentando morder uma almôndega enorme porque eu
estava faminta.
— Você quer realmente saber se é filha do Lorenzo Rafaelli?
Callum me encarou do outro lado da mesa.
— Não vou aguentar viver com a dúvida. Não é para ter um
relacionamento com ele, na verdade, não quero vê-lo. Só preciso saber.
— Eu posso ir atrás disso...
— Por favor, eu preciso saber. — Insisti de coração.
— Tudo bem. — Beijou a minha mão e voltamos a comer.
Meu telefone vibrou em cima da mesa e era Roxanne, já enviando uma
lista de tarefas para o dia seguinte, que eu supostamente voltaria da minha
licença. Eu tinha que ir a revista dizer que estava de licença médica até
segunda ordem do médico, que pela pressão do Callum acabaria apenas
quando as crianças completarem quinze anos. Ela já deveria saber que estava
grávida e de gêmeos, porque a mídia já sabia, mas não falou absolutamente
nada por mensagem.
Com tantas coisas ao meu redor, eu senti vontade de subir na cadeira e
gritar para a vida que era pequena demais para resolver aquilo tudo. Era uma
café-com-leite. Alguém tinha que me dar uma folga. Tudo que realmente
desejava era aproveitar a minha gestação e me preparar para ter meus filhos...
Enviei uma mensagem de volta informando a minha licença e desliguei o
meu telefone.
Precisava de paz.
CAPÍTULO 26
Callum.

Isla estava passando creme hidratante no corpo e eu estava hipnotizado


com os seus movimentos. Nua, com a barriguinha despontando a frente,
estava concentrada na tarefa que eu faria com o maior prazer, mas ela disse
que não queria as minhas mãos nela ou nós nunca iríamos sair de casa.
Apesar de ela ter razão, estava louco para atrasar. Nós iremos para Atlanta
para participar do Super Bowl.
Era a primeira vez que a Isla participaria de um evento esportivo como
o Super Bowl, mas, ao invés de ser uma viagem apenas nossa, pediu que os
seus amigos fossem conosco. Uma viagem de casal se transformou em uma
viagem de amigos. Além dos três melhores amigos da Isla, meu primo e a
Cassie também estavam no bolo.
Charlie e eu fechamos uma casa para todos, assim não haveria a
necessidade de hotéis separados. Tray e o Boyle (o novo guarda costas da
Isla) estavam com a logística dos carros e a contratação de funcionários para
auxiliar na estadia. Tudo para a Isla ter um repouso total na viagem, que foi
liberada pelo médico com milhares de recomendações e o Dr. Phillips só
liberou porque a Isla chorou.
Roxanne recebeu a confirmação, por meio da Cassie, que a Isla estava
de licença médica e eu tinha certeza de que a minha namorada não quis ir
pessoalmente entregar os papéis no RH. Isla estava se escondendo e
protelando, por medo da Roxanne e porque no fundo, ainda se importava com
o que ela poderia falar.
Eu estava contando os dias para a Isla sair de vez da revista, via a sua
felicidade e orgulho quando o seu trabalho na La La Island era reconhecido.
Durante o seu período em casa, desenhou novas roupas, ainda não havia
costurado, mas eram desenhos realmente bonitos e só pelo fato de estar
empolgada, me sentia feliz. O segundo trimestre tem sido uma benção, os
enjoos foram embora, os seus seios continuavam crescendo e a Isla estava
radiante.
Me tornei o tipo de homem extremamente apaixonado pelo seu corpo
tomando forma e só de pensar nisso, beijei a sua barriga. Sorrindo
apaixonada, acariciou o seu montinho e continuei repetindo beijos, ansioso
para o momento que sentiria os bebês se mexendo. Ainda não sabíamos o
sexo e optamos por fazer um chá revelação quando retornarmos de Londres,
no começo de março. Será a última viagem internacional da Isla, mas se ela
não estiver sentindo-se bem, a minha viagem será cancelada.
Fiquei jogado na cama esperando-a se arrumar, assobiando cada vez
que se inclinava para frente para vestir alguma peça de roupa. Meu telefone
vibrou e ela me olhou com expectativa.
— Quanto tempo mais? — Choramingou ansiosa.
— No máximo até amanhã.
Queria dizer para acalmar a sua ansiedade, mas ela estava no direito
em estar uma pilha de nervos para saber se era filha biológica do seu pai ou
não. Seu irmão, Raymond, nós já tínhamos a certeza. Usamos a desculpa que
era necessário o Jay fazer uma coleta para confirmar e aproveitamos para
pedir outro sem que ele soubesse.
Não comentei com o Enzo que a Isla poderia ser sua irmã e nem
comentaria, mas, ela queria saber e estava respeitando a sua decisão. Também
gostaria de saber e daria absolutamente tudo para não ser filho do meu pai, só
assim teria a absoluta certeza de que não existia um resquício de DNA ruim
no meu corpo. Infelizmente, era tão parecido com ele fisicamente que era
difícil não sentir nojo da minha imagem.
Isla ficou pronta, desci com as nossas malas e o Tray estava na sala,
assistindo televisão e nos esperando. Junto com o Boyle, decidiram levar as
malas para o carro para adiantar. Ajudei-a na escada e nos últimos degraus,
ela pulou em mim, rindo do meu desespero que escorregasse na escada. Até
proibi a Charlotte que as faxineiras passassem cera nas madeiras da escada.
As faxineiras adoravam a Isla de paixão e quando as duas estavam no
apartamento, eram quatro mulheres falando muito, mudando móveis de lugar
e eu proibi que ela fizesse esforço, então, ela só ajudava nas louças e nas
roupas de cama.
— Você é tão desesperado. — Mordeu o meu pescoço e apertei a sua
bunda antes de colocá-la no chão.
Ela foi dançando na frente, a música estava na sua cabeça e ela mexia
os ombros, os braços e fazia um som engraçado, se olhando no espelho do
elevador e filmei a sua palhaçada. Como se lembrasse de algo, começou a
cantar uma música que dizia “Can’t Stop The Feeling”.
— I got that sunshine in my pocket. Got that good soul in my feet... I
feel that hot blood in my body when it drops...
— Sossega...
— Estou saindo para ver o Patriots acabar com aquele time de merda!
Eu não posso sossegar! — Isla era simplesmente louca, tanto que por baixo
do seu casaco, já estava usando a sua camisa que considerava da sorte. Estava
curta e apertada, porque era dela desde a adolescência. Dei a ela uma blusa
nova e afirmou que usaria no dia do jogo, porque era a única que cobria sua
barriga – e porque era autografada pelos jogadores.
Durante o caminho para o aeroporto privado, ela revezou entre trocar
as músicas para as mais animadas da sua lista de reprodução e perguntar se
havia alguma resposta do laboratório. Ao chegarmos, mal consegui sair do
carro, ela já estava do lado de fora pulando e gritando com os seus amigos.
Laila a segurou pelos ombros e repetiu o significado de repouso. Isla me deu
um sorrisinho sem graça e ficou parada, mas não quieta. Seria uma longa
viagem...
— O que você deu para ela? — Charlie parou ao meu lado, rindo da
Isla cantando todas as músicas dos Patriots como uma maluca.
— Só se meu esperma for radioativo, porque eu não sei.
Embarcamos na aeronave, prendi-a no cinto e ela ficou falando com a
Cassie sobre a sua barriga, levantando a roupa para mostrar e todo mundo
arrulhou porque ela estava a cada segundo mais adorável de tão linda. Beijei
a sua bochecha e a cobri, dessa vez era eu quem iria fazê-la dormir ou
ninguém iria aguentar. Isla dormiu em dez minutos e o silêncio reinou.
— De vez em quando ela fica impossível de lidar. — Laila riu da sua
amiga apagada. — Ela era pior na faculdade, acordava feliz e ia para a aula
quase saltitando. Acho que a gente brigava no começo porque a Isla era
excessivamente feliz e energética. — Então Laila ficou quieta e a encarei,
querendo entender sua expressão triste. — Aquela mulher sugou toda a
energia da Isla. Uns dias em casa e ela é outra pessoa, não está o tempo
inteiro com a calculadora na mão e nem correndo, nervosa, dando ataques
histéricos, porque a Roxanne queria que ela pintasse a lua.
— Não vejo a hora de me livrar daquele lugar... — Benji comentou de
braços cruzados. — Isla faz muito bem em sair. Sinceramente... Eu me
perguntava quanto mais ela poderia aguentar.
Todos demonstravam uma preocupação enorme sobre o
relacionamento da Isla com a Roxanne, que era abusivo e tóxico. Estava feliz
que ela não precisaria voltar a trabalhar até o fim da sua licença maternidade,
como já havia decidido sair, esperava que fizesse logo. Receberia os encargos
financeiros do fim do seu contrato, todos os atrasados que a revista lhe devia
e nunca mais precisaria olhar na cara da Roxanne.
Com muito custo e argumento, ela aceitou que pagasse pela babá para
tomar conta do Raymond. Ele foi matriculado na escola e precisei convencer
o Jay que a Cassie poderia lidar com toda a papelada para registrar o
Raymond como seu filho. Nós estávamos jantando com os pais dela quase
todos os dias e o Ray era um menino muito inteligente. Isla estava
apaixonada pelo irmão.
Ângela ainda estava morando com eles, se preparando para viver a
sua vida sem ser uma prisioneira e ao mesmo tempo percebia que ainda tinha
medo de algo acontecer. Ela ainda era um enigma no meu ponto de vista, mas
eu podia ver que ela e a Sierra eram tão próximos quanto irmãs. As duas me
mostraram fotografias antigas dos tempos que dançavam e de muito antes,
compartilhando a adolescência e a infância.
Convencer os Edwards que eu poderia ajudar financeiramente foi um
custo. Jay ainda não se sentia pronto para aposentar, nem deveria, ele iria
enlouquecer cuidando de uma criança e de uma mulher doente. Propus a Isla
usar o dinheiro para reformar a casa e pagar funcionários para ajudar o seu
pai. Sem ordens médicas para trabalhar fora, ela teve que engolir seu orgulho
besta.
A La La Island tinha tudo para dar certo. Estava quase convencendo-a
a aceitar uma consultoria com equipes especializadas em negócios online. Em
breve ela poderia ter a sua própria coleção de roupas, lançar outros produtos
que desenhava e até mesmo se lançar como personalidade na mídia, afinal,
ela se tornará uma grande influenciadora.
Isla tinha o mundo nas mãos, ela só não enxergava ainda.
Felizmente, dormiu o voo inteiro, foi acordada com o solavanco do
pouso e se espreguiçou, reclamando que estava com muita fome. A diferença
da temperatura de Boston para Atlanta foi brusca, apesar de estar com um
vento gelado, não precisamos usar um casaco extra que era muito necessário
em Boston. Nos dividimos em três carros, Isla comeu uma banana da sua
lancheira e em seguida um pote de salada de frutas, depois pegou um
biscoito.
— Realmente faminta. — Comentei olhando o seu apetite que andava
voraz.
— Cala a boca. — Me deu um empurrão. — Esses bebês estão
querendo acabar comigo, nunca senti tanta fome na minha vida e ficar
satisfeita parece um sonho impossível. — Seu olhar ampliou e ela gritou. —
Vamos assistir esse filme hoje!
— Que filme? — Ela mudava de assunto muito rápido.
— Duh. A Sandra Bullock ganhou um Oscar e sofreu a maldição,
pediu o divórcio. Acredita que o marido dela estava traindo-a? Cara... Trair a
Sandra Bullock. O que será de nós, reles mortais... Enfim, aí o filme é
emocionante e eu amo. Acho que vai ser bom assistir como um excelente
presságio para nossa vitória dia 03. Estou ansiosa para o show do Justin
Timberlake. Será que a Jessica Biel vai estar lá?
— Isla, amor. Acalme-se. — Beijei os seus lábios com muito carinho.
— Toda essa agitação vai te fazer mal e eu não quero ouvir uma bronca do
Dr. Phillips. Seu obstetra não queria autorizar a viagem, mas o Dr. Phillips
cedeu e você prometeu se acalmar. — Alertei.
— Não é fácil. — Suspirou e fez um pequeno beicinho.
— Eu não vou te trair como o idiota do marido da Sandra Bullock.
Traição é uma falha de caráter e não porque a mulher é bonita ou feia.
— Você é tão gostoso! — Isla soltou no meio da minha declaração e
ri. — Desculpa, pensei em você nu e saiu. — Ela ficou adoravelmente
vermelha. — Ai que vergonha.
Boyle e o Tray estavam fingindo que não nos ouviram. Não consegui
parar de rir e ela ficou puta. Foi difícil acalmar o seu humor até o restaurante
que reservamos para o nosso almoço em grupo. Fomos os últimos a chegar.
Nos dividimos em três carros, com isso, Michael e Charlie acharam divertido
fazer uma aposta sobre quem chegaria primeiro. Cassie estava puta com o
Charlie e não quis ficar ao seu lado.
— O que você vai comer? — Isla se debruçou em mim com um
olharzinho suplicante. Ela queria a minha comida. — Só um pouquinho.
— Vou pedir para nós dois, mas você já comeu a sua refeição.
— Só um pouquinho.
— A sua nutricionista é um pé no saco. — Reclamei escolhendo
salada caesar, filé ao ponto e um pouco de batatas assadas temperadas.
— Só demitir e aí como o que quiser. — Seu olhar era realmente
esperançoso.
— Não inventa. — Bufei.
Laila estava, como sempre, muito atenta a minha conversa com a Isla.
Ela desviou o olhar quando a flagrei, apesar de não ser uma conversa muito
íntima, não era algo aberto. Isla acariciou o meu braço, ela sabia que a Laila
me deixava incomodado, mas eu respeitava porque as duas eram amigas e
não queria brigas. Até porque, quem realmente começou foi a Laila.
Cassie e a Isla eram pessoas incontroláveis e faziam bagunça sem
nenhuma vergonha. Quando as duas começaram uma disputa engraçada de
quem iria beber mais chá, o que provavelmente acabaria em um desastre,
decidi que era hora de irmos para a casa que alugamos. Foi de comum acordo
descansarmos na parte da tarde e à noite sairemos para explorar a cidade.
Benji fez reservas em um restaurante muito bem recomendado e o Charlie
reservou um camarote em uma boate.
Fiz uma lista de compras e mandei comprar, mesmo que fizéssemos
as refeições fora, Isla precisava ter algumas coisas e nós poderíamos manter
algumas bebidas em casa. Michael e Laila decidiram que podiam ir ao
mercado com a minha lista e comprar mais algumas besteiras. Quando eles
saíram, Benji explorou a casa com a Isla. Ela escolheu o nosso quarto, porque
tinha uma banheira e com um sorrisinho maroto, me convidou para desfrutá-
la.
Meu primo riu e se meteu.
— Nesse ritmo vocês terão dez filhos, está explicado porque foram
dois de uma vez só... — Cassie bateu no Charlie.
— Sexo com sua mulher grávida é a primeira maravilha do mundo. —
Retruquei e a Isla lhe deu a língua.
Charlie olhou para a Cassie.
— Quer ser a mãe do meu bebê?
Cassie sorriu bem doce, o que não era o feitio dela.
— Eu sou lésbica.
— Não tem problema, pode chamar mais uma. — Charlie não perdia
a oportunidade quando deveria calar a boca.
Deixamos os dois brigando na cozinha e subi a escada com duas
malas, uma de mão e outra grande. Fazer a Isla dividir o espaço da sua
bagagem com as suas roupas foi quase uma audiência. Ela queria trazer a
casa inteira para ficarmos três dias fora.
— Essa banheira é incrível. — Isla estava deitada, de olhos fechados
e acariciando a barriga. A água não estava quente, porque ela não podia mais,
porém, a temperatura estava agradável. — Se bem que a nossa também é. Eu
amo aquele encosto para pescoço, não fico muito nele porque tenho medo de
dormir e me afogar.
— É bom que não durma mesmo.
Meu telefone vibrou na bancada atrás de mim e ela abriu os olhos,
cheia de expectativas. Sequei a minha mão e peguei, abrindo a mensagem e
lendo com calma, em seguida, abrindo o exame e lendo absolutamente tudo
que estava ali.
— E então?
Eu não sabia como dizer aquilo, mas era preciso.
— Deu incompatibilidade, Isla. Você não é filha biológica do Jay.
Isla suspirou e se amontoou no meu colo, me segurando apertado.
— No fundo, eu sabia. Apenas senti no meu coração quando a
possibilidade veio à tona... Meu pai sempre será o meu pai muito amado,
nada vai mudar isso. Estou triste, porque a minha mãe teve uma vida
inconsequente e saiu machucando várias pessoas... Meu pai nunca pode saber
sobre isso, Callum. Me promete? Será o nosso segredo. Ele vai sofrer
demais...
— Nada mudaria para ele também, amor.
— Não é isso, sei que meu pai vai me amar para sempre. Sou filha
dele. Aquele homem deu a vida para me criar com tudo do bom e do melhor,
nunca poderia ter um pai melhor. A nossa conexão e amizade é única, eu
nasci para ser filha dele e não importa esse resultado. Eu queria saber sim, a
minha cabeça e o meu coração ainda precisavam entender até que ponto a
minha mãe brincou com ele...
Beijei a sua testa e a abracei bem apertado.
— Eu me pergunto... Será que sou filha do tal Rafaelli mesmo?
— Por quê?
— E se for filha de outro homem? Quero saber.
— Baby, deixa essa história. É passado...
— Eu sei, mas eu tenho direito de saber quem é o meu pai biológico.
Pode pedir para esse tal de Enzo fazer um teste de DNA comigo?
Não queria Enzo e a Isla na mesma frase nem nos meus piores
pesadelos, mas ela tinha razão, tinha o direito de saber quem era o seu pai
biológico. Respirei fundo, pensando em alternativas, mas todas elas eu
precisaria do DNA de algum Rafaelli. Entre o bastardo sádico do Lorenzo,
preferia a besta do Enzo.
— Tudo bem, eu vou falar com ele.
Isla me deu um sorriso grato e beijou o meu peito, voltando a fechar
os olhos, mas mesmo que dissesse que nada mudou em relação ao seu pai, as
lágrimas escorreram do seu rosto, porque mais uma vez decepcionou-se com
a sua mãe. E eu entendia aquele sentimento muito bem.
CAPÍTULO 27
Isla.
Era a primeira vez que o Callum estava dormindo e eu não. Eu o fiz
dormir e segui acordada, com o coração despedaçado ao descobrir que eu
podia ser filha de um monstro... Um assassino. Ou de qualquer homem que a
minha mãe teve relações sexuais desprotegida quase trinta anos atrás. Ela era
tão inconsequente que não sabia quem era o pai da sua filha, significava que
era íntima com mais de dois homens praticamente ao mesmo tempo e me
perguntava como conseguia.
Não iria contar ao meu pai, ele não precisava de mais essa decepção.
Não era medo de perder seu amor, ele me amaria para sempre, nossa relação
ninguém podia abalar, mas eu tinha o dever de proteger o coração dele. Para
ser bem sincera, não estava sofrendo, era um baque sim, mas me sentia
decepcionada e não necessariamente desolada.
Acariciei a minha barriga e senti uma leve vibração, sorri porque estava
começando a sentir alguns movimentos. Era bem fraquinho. Callum ficava
frustrado por ainda não conseguir sentir, mas eu ainda estava entrando no
quinto mês de gestação, ele teria muito tempo para sentir os bebês mexendo.
Callum acordou com meu movimento na cama, ele tinha o sono
extremamente leve e acordava com qualquer suspiro meu. Morria de pena
sempre que o acordava sem querer, porque me fazia pensar nas noites ruins
que teve durante o seu crescimento e por isso ele tinha o sono tão leve.
Charlie me contou sobre as crises de ansiedade, que algumas datas e pessoas
eram gatilhos emocionais profundos para o Callum e sempre demonstrava
preocupação, porque da última vez, ele foi internado com suas enzimas
cardíacas alteradas.
— Por que os meus babies estão acordados? — Callum virou de lado,
passou o braço na minha cintura e beijou minha barriga diversas vezes.
Estava para nascer um homem mais apaixonado por uma barriga do que ele.
Sua mão grande ainda cobria quase toda, esfregou minha coxa e se deitou no
meu colo.
— Estou milagrosamente sem sono.
— Não te cansei o suficiente? — Ergueu o rosto com um olharzinho
brincalhão.
Hum... O sexo foi maravilhoso antes de dormir, mas não me deu sono,
pelo contrário, me deu energia e com a mente cheia, o sono correu para
longe. Callum estava nu, com o edredom cobrindo sua bunda maravilhosa e
eu de calcinha e sutiã de algodão. Escovei o seu cabelo com os meus dedos e
ele me deu diversos beijos pela minha barriga, subindo lentamente, me
provocando e me atiçando com facilidade.
Seus lábios tocaram os meus com carinho, senti o seu beijo no coração
e parcialmente em cima de mim, me entreguei a ele com todo meu corpo e
alma como toda vez que ficamos juntos. Callum sabia como me fazer
esquecer dos meus problemas, os meus medos e até o meu nome.
Ele me fazia gozar de curvar os dedos dos meus pés e perder a noção
do tempo e espaço de tanto prazer. Por que não nos encontramos antes?
Definitivamente fiquei cansada, adormecendo nua entre os seus
braços e fui suavemente acordada para sairmos para o jantar. A questão era
que o meu humor estava ruim, rabugenta, com fome, dei uns dois foras nele
sem pensar e isso me fez ter uma crise de choro na cama quando ele saiu do
quarto meio puto comigo.
— O que foi, Isla? — Callum voltou para o quarto com uma garrafa de
água. — Toma aqui, bebe um pouco.
— Desculpa.
— Está tudo bem, lindinha. — Ele me deu um longo beijo.
Ele realmente não estava chateado comigo, entendia minhas oscilações
de humor e era muito paciente. Nós saímos para jantar em grupo e foi a
primeira vez que eu me senti meio estranha, querendo ficar grudada nele, me
sentindo insegura e emocional. Laila percebeu que estava meio emotiva,
ficou querendo saber e eu me estressei no restaurante. Fui ao banheiro com a
Cassie e ela veio atrás.
— Não é nada. Callum não me fez nada além de um excelente sexo oral
a tarde, mas eu acordei irritada, rabugenta e com fome. — Retoquei o meu
batom. — Para de achar que tudo é culpa dele, estou apenas...
— Com os hormônios por todo lado. — Laila riu. — Nunca ia imaginar
que você ia ficar tão rabugenta, Isla.
— Estou com fome e se eu tiver um problema com Callum, eu aviso.
Não o faça de vilão, que saco. — Grunhi com raiva da risada delas. Cassie
fingiu proteger Laila do meu ataque e deixei as duas para trás.
Quando voltei, a minha comida estava me aguardando e o meu
estômago ficou muito feliz com o delicioso linguine com frutos do mar. Eu
podia consumir uma taxa de iodo, então, aproveitava com muito prazer.
Ainda belisquei a lagosta do Callum e ganhei um pedaço do bife do Michael.
Laila comeu a mesma coisa que eu. Cassie e o Charlie estavam comendo o
mesmo prato e me deram suas batatas com cheddar e bacon.
— Isla definitivamente comeu um pouco de tudo. E a sobremesa?
Nossa... São muitas opções. — Laila arregalou os olhos e virou o cardápio
para mim.
— Eu só posso comer um pedacinho mesmo... — Dei de ombros.
Callum pediu torta de maçã com uma coisinha caramelizada em cima.
Ele me deu colheradas generosas, mesmo sem poder. Enquanto todos ainda
comiam, deitei a minha cabeça no seu ombro, ele me chamou discretamente e
ao olhar em seus olhos, me perdi na paixão que sentia por ele. Inclinou-se e
me beijou com gostinho de maçã.
Ficamos tão perdidos no outro, que esquecemos que estávamos no
restaurante e acompanhados, nos separamos apenas quando o Charlie
comentou que os paparazzi nos encontraram – Callum chamava atenção por
ser dono de um dos times que estavam na final. Nós decidimos sair e foi uma
comoção. Os repórteres queriam saber o que o Callum esperava do
desempenho do time, ficaram enchendo o saco do Charlie para responder as
perguntas e no empurra-empurra fiquei com medo de cair.
Tray e o Boyle estavam ao meu redor, fazendo um cordão humano e o
Callum na frente, muito irritado, fiquei preocupada que ele fizesse algo com a
cabeça quente. Toquei as suas costas e acabei escorregando, um repórter
entrou no meio, fotografando o meu rosto e pensei que a queda seria
inevitável. Até fechei os olhos. Boyle me agarrou, me equilibrando e
agradeci, aliviada. Consegui entrar no carro primeiro, Callum entrou em
seguida e os seguranças na frente.
— Porra, que merda. Você está machucada?
— Claro que não, Callum. Foi só um tumulto. — Me inclinei sobre ele
e beijei a sua bochecha, acalmando-o. — Ninguém me machucou.
— Quer ir para casa?
— Não. Quero dançar com você. Me esfregar em você o máximo que
conseguir... — Cochichei no seu ouvido e mordi o lóbulo molinho da sua
orelha. — Vai dançar comigo?
— Depois dessa promessa de esfregar em mim onde puder? É claro que
sim. — Beijou a minha boca apaixonadamente e quase desisti de ir a boate,
querendo voltar para casa com ele.
A boate era bonita, requintada, estava lotada e nós ficamos em um
camarote na parte de cima. Fui dançar com a Cassie e a Laila, com Benji
rodopiando ao redor como uma gazela louca. Meu vestido era justo e
mostrava que estava grávida, mesmo assim, alguns homens chegaram em
mim. Callum resolveu que tinha que ficar comigo, parado atrás de mim sem
dançar, apenas de braços cruzados e me joguei nele.
Eu não podia me aventurar muito, afinal, estava de repouso. Fiquei
cansada de estar com a minha sandália e para evitar que os meus pés ficassem
inchados, o Callum me levou para casa enquanto nossos amigos continuaram
na boate. Fiz um pequeno beicinho por ser a mamãe do grupo.
— Você está realmente bem? Sentindo alguma coisa?
Callum me deu um olhar avaliativo.
— Estou maravilhosa. — Estiquei minhas pernas na cama. Ele parou
atrás de mim, massageando meus ombros e o observei pelo espelho, sem
camisa, só de cueca e seu famoso volume quando ficava sem sutiã na sua
frente. Meus peitos eram o seu talismã. Ele segurou meu cabelo, puxando
para cima, expondo meu pescoço para seu ataque faminto.
Fechei os meus olhos, meus mamilos ficaram imediatamente arrepiados
e duros, sua boca estava fazendo maravilhas no meu pescoço e com a mão
livre provocou meu mamilo.
— Você estava maravilhosa dançando, amor. Rebolando essa bunda...
— Você parecia tão irritado. — Cantarolei.
— Não era o único apreciando e parece que você grávida está atraindo
muito mais atenção que antes. Sou o único sortudo que tem você. — E levou
a mão para entre as minhas coxas, começando a me masturbar lentamente.
Nós ficamos entre os beijos e amassos, o que a boca dele fazia no meu
pescoço, naquele beijo voraz e excitante deveria ser pecado. — E você vai
gozar para mim de novo...
— Quero você. — Choraminguei.
Ele se deu a mim por completo. Apesar de nem tão agitado, o sexo foi
muito apaixonado. Callum mostrou que era do tipo muito ciumento,
provando para si mesmo e para mim que era o meu homem. Definitivamente
era. Ele me fez dormir cheia de carinho, não havia absolutamente nada que
ele não fizesse por mim...
Na manhã seguinte, acordei cedo e estava sozinha no quarto. Tomei
uma chuveirada gostosa, me vesti para o dia e saí do quarto encontrando com
a Cassie sonolenta no corredor. Descemos de braços dados até a cozinha e
a Laila estava lá arrumando uma mesa de café da manhã enorme.
— Seu namorido nos preparou um excelente café da manhã. — Laila
me serviu um suco de laranja. — Seus ovos, torradas e salada de frutas. —
Colocou tudo na minha frente. Fiz uma careta, porque queria muito ovos com
gema mole e estava na esperança de fazer sem que o Callum visse, mas ele
era muito mais esperto do que eu, preparando ovos mexidos e deixando a
Laila como cão de guarda. — Como está essa manhã?
— Estou bem. E cadê o meu namorido?
— Eles estão malhando. — Laila apontou para a academia.
Terminei de comer bem rápido. Cassie saiu praticamente correndo
comigo e a tonta da Laila não entendeu nada, vindo atrás de boca cheia e
quase cuspiu as torradas ao ver Callum, Charlie, Michael e o Benji sem
camisa, suados, com os seus corpos lindos e torneados pegando peso em
equipe na academia da casa que alugamos. Uma maravilha, certo?
Me joguei na espreguiçadeira com a boca seca.
— Meu pai... simplesmente incrível. — Cassie inclinou-se para frente.
— O que está rolando entre você e o Charlie? — Empurrei-a com meu
ombro.
— Hum... Eu não sei. — Cassie recostou e cobriu os olhos com a mão.
— O sexo é incrível. Rolou a primeira vez no dia de ação de graças... Pensei
que seria aquilo e tchau, como sempre faço, mas Charlie está sempre por
perto. Ele aparece com a minha comida favorita e me faz gozar nos lugares
mais inusitados. Chato, irritante, tagarela e poxa, eu até penso em dar uma
chance, mas ele foi tão galinha...
— Isso não quer dizer nada, Cassie. Michael trocava de namorada a
cada semana, a que durou mais tempo foi dois meses... — Laila sentou-se no
chão e cruzou as pernas. Ela estava de pijama com o cabelo todo bagunçado.
— Eu tive medo sim, a Isla é a maior testemunha disso, mas ele me provou a
cada dia que queria estar comigo. Se você não der uma chance, nunca vai
saber.
Cassie aceitou o conselho e voltou a olhar os meninos trabalhando.
— Viu, só? De vez em quando a Laila diz algo bom. — Soltei e a
minha melhor amiga me deu uma careta irritada.
— Eu sei que sou chata, que acabei implicando tanto com o Callum que
ele não gosta de mim, mas estou tentando relaxar em torno dele. — Laila fez
um beicinho e puxei o cabelo dela de brincadeira.
Cansei de assistir os meninos malhando e fui me preparar
psicologicamente para o jogo. Queria que o meu pai estivesse comigo, ele iria
amar, esperava que no próximo ano pudesse vir. Pensando nele, liguei para
casa e conversei um pouco, deitada na cama por quase uma hora. Não falei
com a minha mãe, mas dei uma atenção especial ao Raymond que parecia
amar conversar comigo e eu queria ter um relacionamento com o meu irmão.
— Oi, baby. — Callum entrou no quarto completamente suado. Ele
tirou o calção e a cueca, indo para o chuveiro. Encerrei a minha chamada,
indo atrás dele e me sentei no sanitário, olhando-o tomar banho. — Michael é
muito bom! Vai preparar um treino totalmente novo para mim. Assim que
voltarmos, vamos trabalhar no meu preparo físico.
— Mais ainda?
— Identificou que tenho vícios de postura errados que podem ser
prejudiciais ao longo do tempo. E eu quero engordar um pouco, estou com
pouca massa magra e tenho que subir meu peso em sete quilos. — Ele lavou
o cabelo, me deu um olhar intenso e abriu a porta. — Vem aqui.
E eu fui com todo prazer.
Fiz o Callum ficar no quarto comigo até a hora de sairmos. Nós
almoçamos sozinhos e eu sabia que estava sendo uma namorada muito
grudenta, não estava me reconhecendo, mas era muito difícil lidar com todas
as mudanças no meu corpo e mente. Queria chorar na cama e a presença dele
me dava uma sensação de segurança. Callum era meu porto seguro.
Laila bateu na porta querendo saber se eu precisava de ajuda para fazer
o meu cabelo e aceitei. Callum ficou jogado na cama, de calça jeans e sua
camisa do time, mexendo no telefone e a minha amiga fez os cachos perfeitos
que só ela conseguia no meu cabelo fino. Cobri o meu nariz para ela jogar o
spray fixador e foi se vestir, dando um sorrisinho simpático para o Callum e
ele devolveu, sem muita vontade, mas devolveu porque era um homem
educado.
Assim que fiquei pronta, rodopiei no quarto. Estava com a sombra da
cor do time, um boné, a blusa do time extremamente longa que se ajustava na
minha barriga, leggings e o tênis oficial feminino que eu raramente usava.
— Como estou?
Callum me deu um sorriso amável.
— Uma Patriots de coração extremamente linda. Vamos?
Ao descermos, encontramos os nossos amigos prontos e eu estava
muito ansiosa. A van que nos levaria para o estádio estava nos aguardando e,
para a diversão de todos, fui cantando o hino do time e fazendo excelentes
vibrações, gravando stories, excitada demais para ficar quieta. Callum
reservou um camarote enorme, bem no alto, com uma excelente visão para o
campo.
Assim que entramos, ele pediu que me sentasse em uma poltrona e eu
não queria extrapolar, aceitei uma garrafa de água e me acomodei. Havia
televisões ligadas para ver bem de perto, então, a mídia estava cobrindo que o
Callum Lowell estava no camarote com o Charlie, alguns dos outros
acionistas entraram e foram falar com o meu homem muito importante.
Fiquei admirada e paquerando o Callum sorrir e apertar as mãos, posar
para as fotografias e com os pés para o alto, fui paparicada pelo serviço de
garçom do camarote. Enquanto estava comendo pipoca sem sal, recebi
diversas marcações no Instagram de pessoas que estavam me fotografando da
arquibancada. Acenei para uns, sorridente e voltei a analisar o Callum com a
camisa do time, calças jeans e tênis.
Olhei os famosos sendo filmados e fotografados, me preparando para
começar o maior evento esportivo do ano. Era surreal acreditar que estava ali
pessoalmente. O hino foi cantado, foi emocionante e chorei. Callum riu
dizendo que estava me tornando uma manteiga derretida e era verdade.
Estava proibida de andar, pular, mas eu gritei, xinguei e me estressei
profundamente mesmo que o jogo estivesse ao nosso favor. Callum estava
focado no jogo, conversando com os demais, fazendo a social e toda hora
éramos filmados. Michael estava de pé, com o rosto colado no vidro,
xingando feito um marinheiro e eu queria estar como ele.
— Agora é hora do show do intervalo. — Laila gritou empolgada.
O garçom trouxe um hambúrguer preparado especialmente para a
minha dieta. Pão sem glúten, a carne foi grelhada e com bastante salada.
Aceitei o suco de laranja, comendo com a fome de três pessoas e o show foi
meio morno, apesar de divertido. Amava o Justin e dancei agarradinha com o
Callum aproveitando o show.
No final, os Patriots ganharam e eu estava emocionada demais por
presenciar a vitória. Abracei o Callum bem apertado, agradecendo e
apaixonada pelo homem que me inspirava todos os dias e realizava os meus
sonhos mais bobos.
— Obrigada, amor. Eu te amo, foi uma viagem maravilhosa e estou tão
feliz.
— Tudo pela sua felicidade, meu amor.
CAPÍTULO 28
Callum.

Isla estava linda com o seu longo vestido vermelho, com os cabelos
loiros presos em um coque bonito e alto, que deixava o seu pescoço cheiroso
livre para a minha boca. Pensando nisso, abaixei um pouco e plantei um beijo
suave. Ela riu e segurou a minha cabeça, pressionando-se em mim. Ela virou
de frente e me deu um beijo nos lábios. Esfreguei a sua barriguinha, ansioso
para sentir os meus bebezinhos.
Nós estávamos em Paris em um baile oferecido pelo embaixador dos
Estados Unidos na embaixada e éramos um dos casais convidados de honra.
Isla estava amando toda a atenção. Era o seu primeiro baile de gala e junto
com a Cassie, estava se divertindo. Elas só saíram da pista de dança para o
jantar.
A comida era tipicamente francesa, o que não agradou o paladar da Isla,
mas ela estava apaixonada pelos bolinhos com creme de avelã.
— Que noite incrível, baby. — Isla acariciou o meu rosto. — Gosto
quando não faz a barba. — Arranhou um pouco meu rosto. — Eu fico toda
vermelha, mas é sexy.
— Eu vou te mostrar o que é sexy quando voltarmos para o hotel. —
Beijei os seus lábios que estavam doces com o açúcar refinado do bolinho.
Nós decidimos ficar de pé para socializar no baile, até porque queria ir
embora, mas não era socialmente educado sair ainda. Charlie e eu ficamos
conversando no canto enquanto a Cassie tirava fotos da Isla na varanda. Elas
estavam voltando animadas quando a Roxanne Miller parou no caminho
delas.
— Ora, quem está aqui... A minha assistente que deveria estar de
repouso pela sua licença médica... — Ela jogou o cabelo sobre os ombros.
— Estou de licença médica para trabalhar, mas recebi autorização do
médico para essa viagem. — Isla estava se explicando.
— Ou talvez esteja usufruindo do seu novo possível status... — Ela
esticou a mão para tocar na barriga da Isla, que imediatamente recuou. —
Ouvi dizer que são gêmeos... Sorte a sua ser mãe dos herdeiros dele.
— Olá, Roxanne. — Ela virou para me encarar e me deu um
sorrisinho.
— Olá, Sr. Lowell. Não te vi aí, mas é claro que estaria, afinal a Isla
não estaria em um evento como esse...
Isla estava ficando da cor do seu vestido.
— Cala a sua boca! — Isla explodiu. — Eu não aguento mais você e os
seus comentários ridículos, a sua amargura, sua boca negativa e os seus
olhares críticos! Estou farta, Roxanne! Você é podre, mesquinha, pobre de
espírito e a minha maior decepção. Cresci achando que você era uma mulher
incrível, mas na verdade, você é um monstro. Estou cheia e me demito!
Roxanne fez uma expressão de espanto por uns segundos e depois
bancou a entediada. Sabia que a Isla estava guardando a mágoa por muito
tempo e explodiria quando menos esperasse.
— É claro que se demite... Não precisa mais. Abocanhou um peixe
maior, amor...
Isla respirou fundo, a Cassie ia falar, mas a minha mulher abriu um
sorriso debochado.
— O peixe que você nunca conseguiu, porque nós duas sabemos que
você tentou e muito. Não teve capacidade, tudo bem. É que os homens
Lowell gostam de mulheres honestas... Nunca foi o seu caso. — Isla cruzou
os braços.
— Você acha mesmo que esse homem vai ficar com você? — Roxanne
riu de um jeito maldoso. — Ele é igual ao pai. Vai sugar todas as suas
energias e em seguida, vai te jogar fora como se você fosse um lixo. Eu vou
assistir a sua queda com prazer.
— Isso não vai acontecer. Callum sente algo por mim que o pai dele
nunca sentiu por você. E eu sinto algo por mim mesma que você desconhece:
amor-próprio. E por me amar... que eu preciso me livrar de você. Tentei,
todos me disseram para me afastar e eu ainda fiquei por toda a idolatria e
consideração que tinha por você. — Isla saiu de perto da Roxanne e abri os
meus braços, orgulhoso que ela finalmente reagiu e parecia bem. Parecia
aliviada.
Roxanne nos olhou com desprezo e saiu de perto. Assim que a Isla
recebesse tudo que lhe deviam, iria começar o processo para tirar a Roxanne
de vez das nossas vidas. Mesmo que pagasse a sua rescisão do meu bolso,
aquela mulher sairia da minha editora. Era o fim da Roxanne nas nossas
vidas. Infelizmente, o confronto com a Roxanne deixou a Isla pálida e
preocupado, decidi que poderíamos ir embora.
— Posso me deitar no seu colo? — Isla perguntou no carro.
Preferia que ela ficasse segura em seu lugar, mas ela parecia precisar de
conforto. Isla soltou o cinto de segurança e se arrastou até mim. Fechei os
meus braços ao seu redor, beijando a sua testa.
— Por que você está triste? Aquela mulher te fazia mal. — Beijei a sua
testa.
— Você não entende. — Isla suspirou e a sua voz saiu trêmula. —
Nasceu com um sobrenome, com dinheiro e sabendo que independente do
que acontecesse, tinha um lugar no mundo. Comigo não foi bem assim. Sou
filha de um policial, de uma mãe louca e relapsa, tive que batalhar muito para
chegar a algum lugar. E a Roxanne era meu alvo, minha chance e foi tudo tão
frustrante... Eu sei que estou melhor agora, que ter meus filhos é mais
importante que tudo, mas ter uma carreira também é importante para mim. E
ela tentou soterrar isso... — Ergueu o olhar e segurei o seu rosto, beijando os
seus lábios.
— Lamento que foi uma decepção, mas você pode ir a lugares muito
maiores que a Roxanne permitia. Você é inteligente, talentosa e vai conseguir
ter uma carreira incrível. — Acariciei os seus braços. — Eu te prometo,
amor. Vai ser um sucesso.
Isla me deu um olhar grato e beijou o meu queixo, em seguida, beijou
os meus lábios. Tray parou o carro na frente do nosso hotel, nós saímos e
andamos com calma para o elevador. Perguntei se ela queria comer alguma
coisa e com a maior cara de pau do mundo, pediu sorvete.
— Isla... Você não pode. — Suspirei e o seu beicinho me deixou doido.
Beijei a sua boca e a pressionei contra a parede. De repente, ela gritou e me
empurrou.
— Agora foi um chute certo! Tenho certeza de que vai sentir.
Coloquei as minhas duas mãos na sua barriga e então, senti uma onda e
uma vibração. Ajoelhei na sua frente, no meio do elevador e beijei a sua
barriga repetidas vezes, falando com os meus filhos.
— Nós precisamos abrir aquele exame e descobrir o sexo.
— Só a Cassie sabe. — Isla sorriu. — Quando voltarmos, teremos o
nosso chá revelação e será lindo. Estou escolhendo apenas a decoração, a cor
do bolo e dos balões será com a Cassie.
— A Laila sabe disso? — Arqueei a sobrancelha.
— Hum... Sabe. Ela disse que ficou com medo de não conseguir
guardar o segredo de mim. Já tentei subornar a Cassie várias vezes e ela
segue firme com o segredo. — Sorriu e saímos no nosso andar.
Passei o cartão chave na porta, entramos e ela foi para o banheiro,
tirando os sapatos, soltando os grampos do cabelo e deixando seu cabelo cair
livre. Puxei o zíper do seu vestido, reparando que a costura deixou marcas na
sua pele e a ajudei a ficar sem roupa. Ela se arrumou com a Cassie, então, não
a vi decorar sua linda bunda com aquela calcinha pequena.
Apertei suas nádegas por puro costume e ela começou a tirar a
maquiagem, lavando o rosto e pelo seu olhar, sabia que estava cansada. Isla
era oito ou oito milhões. Quando estava ligada nos 220w, era insuportável,
mas eu amava e ela superava cada dia em que estava mal, irritado, sombrio e
sendo um idiota com a mesma alegria de todos os dias.
— Seus pés e mãos estão inchados. — Apontei cuidadosamente.
— Eu sei, acho que preciso me deitar. — Bocejou e abracei-a, levando
para a cama.
Ela deitou-se com calma, sem sutiã, só de calcinha e fui tirar a minha
roupa, bebendo água e me deitei ao seu lado, beijando o seu ventre. Não
demorou cinco segundos para que dormisse. Fiquei acordado, como quase
toda noite e apenas senti sono no meio da madrugada. Acordei antes dela, saí
da cama com cuidado para não a acordar, peguei o menu e pedi nosso café da
manhã.
Isla já conhecia Paris, mas não comigo. Estava animado em passar os
próximos dois dias passeando com ela. Ela queria fazer compras, me pediu
timidamente para fazer uma extravagância e a Isla não entendia que ela não
gastava quase nada. Comparada a minha experiência com a Patrícia, a Isla era
bastante econômica.
Ainda mais que ela queria comprar roupas de gestante agradáveis,
roupinhas para nossos bebês e perfumes.
— Callum? — Isla chamou do quarto e estava sentada na cama, com os
cabelos todo em pé e o rosto inchado. — Estou faminta. — Se espreguiçou e
olhei para os seus mamilos atiçados, porque estava toda arrepiada. Sentei-me
na cama, beijei sua boca e nos abraçamos por um tempo. Ela grunhiu, mal
humorada. — É sério... Pediu comida?
— Já deve estar chegando...
Tinha dias que a Isla acordava manhosa, atipicamente grudenta e dias
que ela ficava bem. Quando ela ficava manhosa, nem ela se aguentava.
Conversamos com o médico e descobrimos que era perfeitamente normal,
porque eram os seus hormônios que causavam essa dependência. Era a
mesma coisa quando ela acordava com uma raiva inexplicável de mim - ou
de qualquer pessoa ao redor.
Quando o café da manhã chegou, foi atacando a comida sem se
importar de colocar a roupa. Verifiquei o meu telefone e algumas mensagens
me chamaram atenção. Tray conseguiu localizar o Hank depois de todo esse
tempo e ele estava no Alasca, na casa de uns parentes, deixando a barba
crescer e vivendo minimamente sem usar suas redes sociais. Parecia que os
meus homens fizeram o recado fazer efeito. Mas se ele estava no Alasca,
quem me seguiu na semana do Natal?
— Algum problema? — Isla estava cortando um pedaço de queijo
branco. — Ei, crianças! — Falou com sua barriga. — Agora eles resolveram
empurrar um ao outro, só pode. — Ela os sentia mexer muito antes de mim e
sempre apontava o que eles poderiam estar fazendo.
— É porque você está comendo. — Sorri para sua boca cheia.
— Então, algum problema?
— Hank está no Alasca.
— E quem nos seguiu?
— Eu ainda não sei, mas eu vou descobrir. — Me inclinei e beijei sua a
boca. Ela sujou meus lábios de torrada, sorriu e comecei a comer os meus
ovos, bebendo a minha vitamina.
Isla e eu éramos o típico casal extremamente afetuosos com o outro.
Talvez não ficássemos tão grudentos após a gravidez, porque não fazia parte
da nossa personalidade. Ela era brincalhona e eu mais quieto. Com a
gestação, a ligação era intensa. Eu a amava e queria fazê-la feliz todo tempo
possível.
Após o café-da-manhã, nós nos arrumamos e saímos do hotel com a
Cassie e o Charlie. Nós fomos aos pontos turísticos mais conhecidos e
tiramos algumas fotografias, almoçamos em frente a Torre Eiffel e o Tray nos
levou para o centro comercial da moda. Isla enlouqueceu com as roupas,
falando sobre os tecidos, as costuras e comprou três vestidos que poderia usar
com a barriga ainda maior, casacos e duas botas.
Enquanto ela e a Cassie compravam roupas íntimas, meu primo e eu
escolhemos uma bolsa cara para dar de presente a Tia Gwen, que queria
muito ter vindo participar das comprinhas do bebê e ela merecia ser mimada.
— E aí, você vai fechar a revista? — Charlie parou para olhar uns
relógios.
— Não. Ela ainda é lucrativa, mas eu vou tirar a Roxanne.
— Ela é uma cobra.
— Pelo menos a Isla se livrou dela de vez. — Comentei escolhendo um
relógio novo para mim e outro para a mãe dos meus filhos, que merecia ser
mimada com todos os presentes do mundo. — O que você acha?
Charlie me deu um sorriso, escolhendo um colar com um pingente com
a letra C cravejada em diamantes. Ele pediu para embrulhar porque ia dar de
presente para a Cassie. Existia a chance que ela fosse gostar bastante, mas
também tinha a chance que poderia jogar na cara dele. Comprei um colar para
Isla com duas pedrinhas dentro de um coração, para representar nossos dois
bebês e então, vi um homem escolhendo anéis.
— É sério, cara? — Charlie parou do meu lado. — Esse é bonito.
— Não sei o número dela.
— Pergunte a Cassie, ela pode descobrir. Você está pronto para isso ou
está fazendo por que ela está grávida? Não vai usar o anel da vovó?
— Estou apenas olhando... Não sei se a Isla está pronta para dizer sim.
E nada contra a vovó, talvez dê a Isla em alguns anos, mas é uma nova
história e eu queria muito que fossem novas joias. — Analisei um anel que
era bonito e ela amaria. — Pergunte a Cassie qual o número do dedo da Isla.
— Vou arrumar o meu terno de padrinho. — Charlie riu de mim e
mandou uma mensagem para a Cassie.
Quando ela respondeu, falei com a atendente e ela ficou maravilhada
com a minha escolha. Precisamos esperar o pagamento ser processado e com
as joias bem embaladas, saímos da loja. Isla nunca poderia saber o quanto
custou a sua aliança, porque ela surtaria e se recusaria a usar, mas quando
fosse a hora certa sabia que seria perfeito. E ela diria sim.
Encontramos as meninas na loja e elas estavam cheias de sacolas.
Cassie me deu um sorriso, mas a Isla parecia alegremente alheia. Ao
voltarmos para o hotel, olhei todas as lindas roupinhas para os bebês e as suas
novas roupas. Feliz com as suas compras, ela cantarolou que ia preparar um
banho com sais e algumas flores aromáticas que comprou na rua. Aproveitei
sua distração no banheiro, guardando o anel na minha pasta onde ela não
mexia e deixei o relógio em cima da mesinha para que visse assim que
saíssemos do banheiro.
Tirei a minha roupa no quarto, entrando no banheiro e ela estava em
frente ao espelho, se olhando de lado. A cada dia parecia que sua barriga
estava maior. Demorou bastante ou talvez fosse a nossa ansiedade, aos cinco
meses, ela estava como se tivesse com seis. Foi bem rápido, de uma semana
para a outra parecia que sua bunda tinha parado de crescer e agora a barriga
estava pulando para fora.
— Não é perfeito? — Me olhou emocionada.
— É maravilhoso. O meu verdadeiro milagre. — Coloquei ambas as
mãos na sua barriga. — Meus bebês. Será que são duas meninas?
— Eu acho que são dois meninos. Algo me diz que estou carregando
duas criaturinhas temperamentais iguais ao pai.
— Temperamental? — Fingi estar chocado e magoado. — Não sou
temperamental.
— Você não dormiu a noite inteira e sei que está pensando em demitir a
Roxanne, isso se não acabar com a revista. Você não sossega até fazer o que
quer, pior de tudo, é sonso. Sabe por quê? Mantém essa carinha bonita com
um sorrisinho, mas por dentro, sua mente é terrível. Eu te amo mesmo assim.
— Sorriu e fiz um beicinho.
— Pelo menos tenho um rosto bonito. — Ela me bateu.
— Cretino.
— Eu também te amo.
Isla desviou o olhar da sua barriga para mim e os seus olhos encheram-
se de lágrimas. Por um momento, fiquei parado sem entender o que a fez
chorar, já em pânico de estar sentindo-se mal quando ela se jogou em mim
sem se importar se ia cair ou não. Segurando o meu rosto e puxando para
baixo com brusquidão, me deu um beijo e me apertou com toda sua força.
— O que foi, amor?
— Você disse... eu te amo.
— Já te disse milhares de vezes. Eu digo todos os dias quando vai
dormir e antes de acordar, quando estava no hospital e desde então, eu decidi
não passar um dia sem dizer que te amo. — Beijei a sua boca. — Só que saiu
agora...
— Eu disse a você que chegaria o momento que precisaria ouvir e foi
perfeito agora. — Sorriu ainda muito emocionada.
Isla ficou extremamente excitada com essas palavrinhas, porque ela me
deixou jogado na cama olhando para o teto sem acreditar que todo aquele
sexo incrível realmente tinha acontecido. Ela me fazia gozar de um jeito que
parecia um sonho. Deitada ao meu lado, nua, com a sua barriga acomodada
bem ao meu lado na curva da minha cintura e então, senti um chute.
— Qual dos dois? — Olhei para sua barriga e como eram dois, era fácil
sentir os movimentos.
— O do lado esquerdo. — Suspirou e então, o do lado direito chutou de
volta. — Estou com a ligeira sensação de que eles estão se chutando.
Não consegui segurar o sorriso porque quando eles começaram a
mexer, tudo se tornou real. Em breve, eles estariam se mexendo em meus
braços.
CAPÍTULO 29
Isla.
As crianças estavam se mexendo e parei de comer, olhando para baixo,
mastigando o que estava na minha boca. Meu prato cheio de comida estava
ansioso para ser devorado por mim, mas eles se empurrando realmente não
dava certo. Callum cortou o seu bife e me encarou com diversão. Seis meses
e essas crianças mostravam como seriam fora da minha barriga, sendo
pequena como eu era, parecia que não havia espaço suficiente para os dois.
Ou as duas.
A tortura finalmente acabaria. No meio da tarde, Callum e eu iremos
para o nosso chá revelação, organizado no quintal da casa da Tia Gwen. Ela e
a Cassie se empenharam e embora tivesse mais gente na lista de convidados
do que eu gostaria, era necessário fazer um pouco de social com a família e
amigos. Tudo que estava realmente ansiosa era sobre o sexo, pensei que eu
não me importaria, na verdade, eu não me importava, só queria saber.
Era uma mulher naturalmente curiosa.
— Você deveria descansar antes de sairmos. — Callum terminou o seu
prato e comi a minha última batata. Ele recolheu a louça e imediatamente
começou a lavar. Não queria ficar na cama, então, me recolhi no sofá,
lembrando da primeira vez que estive ali, meses atrás e o quanto a nossa vida
mudou. — Precisa de mais alguma coisa?
— Apenas de você.
Ele sorriu, lisonjeado e eu pensei no quanto era um santo. Conforme a
minha barriga crescia, menos sexo fazíamos. Ainda fazíamos, o que o Dr.
Phillips garantia que poucos casais conseguem manter com uma gravidez de
gêmeos e o quão grande estava. Algumas posições eram realmente
desconfortáveis, não conseguia ficar por cima porque a barriga pesava, minha
coluna doía, não havia nenhuma chance de papai e mamãe, então as opções
eram: ele de pé, fora da cama, mas me deixava sem ar. Ainda estava dando
certo de lado e de quatro, mas não era tão frequente quanto antes.
Mesmo assim, ele jamais agiu de maneira mal humorada ou implicante
comigo, continuava amoroso e carinhoso mesmo nos dias que não estava
muito bem. Com a terapia, ele oscilava menos, até porque conversávamos
muito sobre os seus sentimentos e paramos de deixar algumas questões para
depois. Aprendemos a aproveitar cada segundo do nosso tempo juntos, como
aquele no sofá, no qual eu dormi em menos de cinco minutos de filme e
acordei com os seus beijos no meu pescoço.
— Hora de se arrumar, mamãe. — Falou baixinho.
— Estava no melhor do sono. — As crianças finalmente descansaram.
— Eu sei, mas iremos nos atrasar se você dormir mais um pouco.
Com preguiça e muito letárgica, meus pés estavam inchados e troquei a
minha sandália por um sapato mais confortável. Tomei banho, fiz o meu
cabelo e a maquiagem, colocando um vestido branco longo, bordado com
rendas. Ele me ajudou a fechar os milhares de pequenos botões que
ajustavam o modelo bem na minha barriga. Comprei em Paris e ainda estava
perfeito. Me olhei no espelho, admirada e o Callum parou ao meu lado, já
arrumado.
— Parecemos pais.
— É verdade. — Ele sorriu e tirei uma foto de nós dois antes de
sairmos. — Você está magnífica. — Me deu um beijo doce.
Com cuidado, desci a escada, erguendo o meu vestido e com o Callum
me apoiando. Reunimos nossas coisas e fomos para a garagem. Tray estava
montado em sua moto e o Boyle já tinha saído para buscar os meus pais com
o meu irmão, para levar até Lowell. Queria que o meu pai ficasse à vontade
para beber e brindar, afinal, era o chá revelação misturado com chá de bebê
dos seus netos ou netas.
No caminho, fiquei disparando mensagens para a Cassie e a Laila, que
já estavam no evento e ambas me garantiram que estava tudo pronto e
perfeito. Não calei a boca, de tamanha ansiedade, o que fazia o Callum rir e
tentar me acalmar, mesmo sabendo que seria inútil.
— Meu Deus! — Soltei assim que vi as primeiras decorações no
jardim.
— E é só a entrada. — Callum sorriu e estacionou o carro o mais
próximo possível, sem atrapalhar a linda entrada que tinha milhares de flores
coloridas, abelhas bem amarelinhas e um arco imenso com uma placa de
ferro pintada de branco BEM-VINDO AO MUNDO LA LA ISLAND.
— Callum! Olha isso! — Gritei ao ver o primeiro quadro pintado em
aquarela do primeiro mês da minha gestação. Havia muito mais, milhares de
fotos do começo até os meus seis meses de gestação que foram transformados
em lindos quadros pendurados entre as flores do jardim.
No final desse corredor, podia ver os garçons terminando de arrumar
as mesas. Todas eram redondas, com seis lugares e as toalhas eram coloridas.
Havia velas e flores, assim como os cartões de menus. De um lado havia o
bar, na frente estava a mesa principal, que estava perfeitamente decorada com
pirulitos coloridos, abelhas, flores, ursinhos e um grande bolo assim como
balões. Era a festa da cor.
— Por que você está chorando? — Tia Gwen saiu da parte coberta da
festa e sorriu. — São os hormônios, querida?
— Está perfeito.
— Confesso que inicialmente não entendi muito o que a Cassie queria,
mas ela reuniu todos os elementos que contam a história de vocês e
elementos infantis, claro, em dose dupla. — Explicou e assenti. Callum me
deu um lenço e sequei o meu rosto cuidadosamente. — Ela e a Laila
acabaram de subir para se arrumar. Robert está arrumando as bebidas com o
Charlie, porque ele e a Cassie começaram a brigar e ela quase bateu nele com
um dos meus champanhes mais caros.
Aqueles dois se amavam, só não queriam assumir e brigar era como
preliminares.
Michael e Benji foram os primeiros a chegar, em seguida a equipe de
fotógrafos e filmagem. Aproveitamos que ainda não havia convidados para
fazermos mais um ensaio da gravidez, com a decoração do chá e com a
minha barriga infinitamente maior. Levamos quase meia hora para
terminarmos a sessão de fotos e o Callum apontou para o meu irmão
segurando uma caixa imensa e atrás dele estava o meu pai com a Ângela.
Me aproximei deles, querendo saber onde estava a minha mãe e o meu
pai imediatamente me abraçou apertado.
— Você está linda, Annie. — Sorriu e beijou a minha testa.
— Obrigada, papai. Cadê a mamãe?
— Ela não quis vir. — Explicou com pesar. — Algumas pessoas
presentes poderiam reconhecê-la do tempo em que era uma dançarina e talvez
dos anos que viveu com aquele homem em Nova Iorque. Ela não queria te
envergonhar em um dia importante e pediu para fazer uma chamada de vídeo
durante os melhores momentos.
— Não posso acreditar que ela não veio no meu chá de bebê. —
Reclamei e os meus olhos traidores se encheram de lágrimas.
— Eu sinto muito, querida. — Papai me abraçou e voltei a tentar não
estragar toda a minha maquiagem.
— O que tem aí, rapazinho? — Apontei para a caixa que o meu irmão
segurava.
— Papai e eu escolhemos milhares de presentes para o bebê, porque
ficamos indecisos e a Tia Ângela achou essa grande caixa, colocamos tudo
aqui e decoramos. — Raymond sorriu. — Estou ansioso para conhecer os
meus sobrinhos. — Ele se inclinou e beijou a minha barriga como sempre
fazia.
— Estou ansiosa para vê-los também, obrigada. — Beijei a sua testa e
virei para a Ângela. — Obrigada por vir.
— Agradeço o convite para esse momento tão especial. — Ela sorriu e
me deu um rápido abraço.
Precisei engolir a minha chateação, colocando um sorriso no rosto para
receber os convidados que estavam demorando para chegar na área da festa,
porque estavam vidrados com a entrada. Cassie desceu primeiro e antes que
saísse, eu a vi trocar um beijo com o Charlie, no cantinho da cozinha, mas
eles se afastaram como se ninguém soubesse que estavam juntos. Viajei com
os dois mais de uma vez e sabia muito bem que eles estavam em uma
pegação desenfreada.
Laila gritou quando me viu e sorri, ela amava festas e depois que o
Callum deu a ela o aval para gastar o quanto achasse necessário para essa
festa, eu sabia que ela estava surtada. Benji e o Michael me puxaram para
uma fotografia e toda parte de cumprimentar os convidados, posar para fotos
e fazer uma conversa era bem exaustiva. Antes de descobrir o sexo e fazer
algumas brincadeiras bobas típicas de um chá de bebê, me sentei com o
Callum para jantarmos.
— Sinta isso... — Peguei a mão dele e coloquei na minha barriga, que
ondulava com as crianças se movendo porque comi alguns pedaços de
chocolate.
— Ei, crianças. — Se inclinou sobre a minha barriga. — Acalmem-se.
— Falou baixinho. Eu amava as suas conversas com os bebês. Ele ergueu o
rosto e parou a centímetro dos meus lábios. — Já disse que você está linda
hoje?
— Não nos últimos trinta minutos. — Sorri e ele me beijou.
— Você está linda.
Eu me sentia enorme, mas não neguei o seu elogio. Imaginava que
ficaria grande em algum momento, mas eu estava começando a desafiar
algumas leis da física sendo tão pequena e com uma barriga tão grande. Acho
que a minha bunda cresceu tanto para ajudar a equilibrar o peso. Fiz uma
piada sobre isso e todo mundo riu, exceto a Patrícia e a Tia Gwen, que foram
rápidas ao perceber a leve depressão por trás do meu tamanho.
Estava feliz que o Callum não implicou com a presença do seu irmão e
da sua ex-namorada na nossa mesa. Eu não me importava, éramos uma
família e os nossos três sobrinhos nos amavam. Cage e a Patrícia nos deram
um Moises lindo, de madeira, especificamente para recém-nascidos e eu
pensei que eles não poderiam ter sido mais atenciosos ao mandar fazer em
dose dupla.
Apenas o Archie estava mastigando a comida no colo do seu pai. Ethan,
o mais velho, corria com outras crianças, embora ele fosse o menor. Andie, o
do meio e mais temperamental, estava comendo no colo do Tio Robert. Meu
pai, Ângela e o Raymond estavam conosco, assim como a Cassie e o Charlie.
Para a minha surpresa, Charlie e Cage estavam rindo de alguma besteira que
o Callum falou. Ele andava tão engraçadinho...
Cassie olhou para o seu relógio e para o céu. O rapaz da equipe da
filmagem sinalizou que estava tudo pronto, terminei de comer, limpei a
minha boca e retoquei o meu batom, indo até a mesa do bolo, mas nós
iríamos estourar os balões para descobrir o sexo. A cor do bolo era da cor
definida ao sexo, que nós fugimos do clássico rosa ou azul. Amarelo
significava meninas e verde significava meninos.
— Antes de descobrirmos o sexo dos nossos bebês, eu gostaria de falar
algumas coisas. — Callum pegou o pequeno microfone para a filmagem e o
som foi reproduzido em maior escala. — Isla e eu estamos imensamente
gratos com a presença de todos vocês nesse dia tão especial. É apenas mais
um dia especial de todos desde que nos conhecemos e desde que descobrimos
que fomos abençoados com dois bebês. — Ele virou-se para mim e segurou a
minha mão. — Tudo mudou desde que você chegou. Eu te amo e sou grato
pela honra de ter você como minha mulher e mãe dos meus filhos.
Fiquei na ponta dos pés e o abracei apertado.
— Eu te amo.
Nós nos beijamos sob os gritos e aplausos dos convidados. Laila me
entregou a agulha grande para furar o balão e o Callum fixou no lugar, para
poder espetar. Nós trocamos um olhar decidido antes de furarmos o balão.
Papéis da cor verde neon caiu e uma fumaça verde saiu de trás da mesa.
— Dois meninos? — Gritei, olhando para a Cassie e ela assentiu,
emocionada.
— Dois meninos! — Callum gritou e me abraçou. — Não posso
acreditar que teremos dois meninos! Eu jurava que eram meninas! — Sorriu e
com as mãos na minha barriga, me beijou apaixonadamente e eu tentei parar
de chorar, mas não conseguia. — Te amo, amor.
— Te amo muito, obrigada por esses presentes. — Esfregamos nossos
narizes no outro.
Meu pai e os tios dele se aproximaram, emocionados e abraçamos a
nossa família, explodindo de felicidade. Eu sabia que estaríamos gritando
com tanto amor se fossem meninas também. Nossas amigas prepararam umas
brincadeiras de disputa. Tia Gwen seria a juíza e aconselhadora, mas havia
uma enfermeira para ensinar os cuidados com os bebês corretamente.
Escolhi o meu time: Laila, Cassie e a Patrícia, porque ela tinha três
filhos e deveria saber um monte de coisas. Callum seguiu na mesma linha,
levando o Michael, Benji e o seu irmão, já que o Charlie se recusou a trocar
fraldas. O olhar que a Cassie deu a ele foi o suficiente para calar a boca. Ela o
tinha na palma das mãos.
A primeira disputa era sobre como dar banho corretamente e eu ia me
certificar de deixar o Callum e o Michael longe dos meus filhos porque eles
quase afogaram o boneco. Se não fosse o Cage, eles tinham matado o bebê
falso. Já a Patrícia foi extremamente calma e firme nas explicações sobre o
banho, troca de fralda e a enfermeira não a corrigiu em momento nenhum. Eu
só podia supor que era uma excelente mãe.
— Eles se mexem, o que dá a sensação de escorregar ainda mais... O
primeiro bebê, eu dei banho na pia até ficar segura, mas os outros eu tinha um
suporte, assim eles não afundavam. — Explicou e sorri, grata.
Nós vencemos o banho e as fraldas, mas eles venceram a vestimenta
graças aos truques muito úteis do Benji. Eu gritei que ele precisava lembrar
que era meu amigo.
— Agora ele é nosso, baby. — Callum me deu um beijo. — Relaxa,
competitiva. É só um jogo. — Sorriu e me beijou.
Nós brincamos sobre quem iria acertar o tamanho da minha barriga e de
todas as tentativas, só o Cage e o Callum acertaram, ambos que tinham
experiências com grávidas. Eu adorei cada brincadeira, me diverti bastante,
foi muito melhor que o esperado. Callum estava muito feliz e exibindo o seu
lindo sorriso para todos, a sua tia não parava de dizer que era muito bom ver
toda a família sorridente e reunida novamente. Eu sabia que ele ainda tinha
uma resistência com o seu irmão e com a Patrícia, mas ele fazia pelo bem de
todos.
Um visitante inesperado tirou o sorriso do rosto do meu namorado.
Callum olhou fixamente para o homem que segurava uma caixa branca com
um laço vermelho. Apesar da breve escuridão na entrada, eu sabia quem era.
Enzo.
— O que ele está fazendo aqui? — Questionei ao Callum.
— Eu não sei. — Murmurou e quase tentou me impedir de ir
cumprimentá-lo, mas isso faria uma cena, então, ele andou colado em mim.
— Olá. — Me aproximei.
— Olá, Isla. — Enzo retrucou. A sua voz era um retumbar firme, rouco,
como alguém que fumava, era bonita e harmônica. — Oi, Callum.
— O que você está fazendo aqui? — Callum grunhiu.
— Eu vim ver a minha irmã. — Enzo respondeu e arquejei.
— Temos a confirmação? — Olhei para o Callum, que franziu o cenho.
— Não recebi nada do laboratório. — Callum respondeu e segurei a sua
mão, nervosa.
— Eu recebi e isso é o que importa. — Enzo sorriu torto e esticou a
caixa. — Para os meus sobrinhos. Sei que o seu marido não me quer por
perto, mas eu sou um homem de família e saiba que não importa o que
aconteça, você estará segura e cuidada.
— Nossa... — Peguei a caixa e estava um pouco pesada.
— Espero que um dia possamos nos encontrar e nos conhecer melhor.
— Ele disse e pegou um cigarro. Callum coçou a garganta e olhou para a
minha barriga. — Ah, sim. Desculpa. Nunca estive perto de uma mulher
grávida a não ser a minha mãe. — Enfiou o cigarro no bolso.
— Fique na festa, ainda não partimos o bolo. — Pedi, estranhamente
apegada ao fato que tinha um irmão mais velho.
— Em outra oportunidade, menina Isla. — Sorriu torto, se inclinou em
direção a saída.
— Você vai contar a alguém sobre isso? — Questionei antes que fosse
embora.
— Alguém, você quer dizer, o nosso doador de esperma em comum?
— Arqueou a sobrancelha. — Não se preocupe com isso ou com ele, é uma
promessa, você está segura.
Como se fosse um homem comum, não tão perigoso e poderoso como
realmente era, caminhou pelo meu jardim aceso e colorido. Enzo Rafaelli era
o meu irmão mais velho e ainda não sabia o que pensar sobre tudo aquilo.
CAPÍTULO 30
Callum.

Enzo Rafaelli era o homem que eu não queria perto da minha mulher,
mas descobrir que a Isla era irmã dele me deixou preocupado que a
informação vazasse. Assim que ele saiu, enviei uma mensagem, nós
precisaríamos conversar urgente sobre como lidar com a situação, porque a
segurança da Isla era mais importante que tudo. Eu não acreditava que o Enzo
colocaria a Isla em risco, mas outras pessoas, ao saber que ela era irmã dele,
uma filha bastarda, seria um trunfo na manga.
Não confiava que quando fosse conveniente, Jackson Bernard não
usaria essa informação ao seu favor. Ele agia para proteger os seus e eu não
acreditava que tinha qualquer fidelidade correndo em suas veias. O que ele
fez para salvar a sua filha no passado me dizia muito sobre o que ele poderia
fazer para salvar os seus interesses. Isla não poderia ser uma moeda de troca.
Ela não fazia parte desse mundo. Era uma mulher boa, honesta e comum.
— Não deixe que isso estrague a nossa noite. — Isla me pediu e
agarrou o presente que ganhou do Enzo. — Temos muito que aproveitar e
depois resolvemos essa questão.
Logo ela estava incrivelmente sorridente sobre os presentes, passeando
entre os convidados e partimos o bolo verde com o recheio em chocolate. Ela
pediu para colocar os pés para o alto, seu inchaço sempre me deixava
extremamente preocupado, principalmente que não havia muito o que fazer
de imediato. A festa estava quase no fim, os convidados começaram a se
despedir e no final, Isla estava muito cansada. Ela queria ajudar a arrumar
todas as coisas e até pegar os presentes, mas Patrícia a distraiu com os
meninos na sala e eu pude recolher tudo rapidamente, levar a caixa do bolo e
foi preciso a mala de dois carros para levar todos os presentes.
— Você está exausta, não é? — Levei a Isla para o carro, após quase
meia hora de despedida com a minha família.
— Só quero tomar um banho e ficar com os pés para o alto. — Me deu
um olhar feliz. — Foi tudo tão perfeito. — Suspirou e acariciou a barriga. —
Dois meninos... Eu sabia que estava carregando coisinhas temperamentais
como o pai. — Me provocou e soltei uma risada.
— Sei que serão lindos como a mãe.
Eu estava puxando o saco da Isla, em sua última consulta médica ela
fez muitas piadas depreciando a si mesma. As estrias e as celulites estavam
deixando-a maluca. Ela não tinha estrias na barriga, mas ganhou novas na
bunda e nas laterais, nos quadris. As coxas estavam maiores, o que trouxe
novas celulites, mas na minha opinião, estava perfeita.
Desde pequeno, achava a gravidez algo mágico: uma criança se
desenvolvia no ventre de uma mulher. Existia algo incrivelmente mais
perfeito que isso? Ela era a minha mulher, gerando nossos dois filhos, eu não
conseguia não a enxergar como a mulher mais incrível do mundo inteiro.
Ciente que não estava totalmente confortável com o seu próprio corpo, estava
sendo insuportável com os meus elogios. Charlie estava me zoando
terrivelmente, até que expliquei o motivo e ele também se rendeu aos
elogios.
Isla trouxe a sorte de um amor tranquilo e uma vida feliz. Eu
imaginava que a minha vida mudaria depois dos meus filhos, mas ela me
transformou em alguém infinitamente melhor.
Eu podia fazer o esforço em transformar a visão dela de si mesma
durante a gestação em algo realmente belo. E era. Isla carregava o meu
milagre. Filhos que nós jamais poderíamos ter naturalmente.
Dirigi até a nossa casa, estacionando o carro na garagem, primeiro subi
com ela e ajudei com a sua roupa. Enquanto ela tomava banho, voltei para
buscar os muitos presentes dos bebês, colocando no quartinho deles que era
bem próximo ao nosso. Estava apenas pintado e sem móveis. Isla levou uma
eternidade para decidir o mobiliário e estava previsto para chegar na próxima
semana, finalmente teríamos o quarto montado.
O closet deles estava abarrotado de roupas e utensílios que não
sabíamos se usaríamos tudo, mas nos demos a chance de sermos pais de
primeira viagem sem nenhuma noção.
Voltei para o nosso quarto, tirando a roupa e ela saiu do banheiro,
vestindo uma camisa minha, bem longa e os cabelos molhados.
— Quer comer alguma coisa? — Ofereci antes de entrar no banheiro.
— Não, estou bem. — Sorriu e foi para a cama.
Entrei rapidamente no banheiro, não querendo que ficasse sozinha por
muito tempo. Ouvi o som da televisão enquanto tomava banho, uma música
suave estava tocando e eu conhecia o ritmo. Isla estava assistindo o filme
Enrolados pela milésima vez. Ela tinha uma fixação pelo Flynn Rider.
Vesti uma cueca e apareci no quarto. Ela estava passando um creme
hidratante na sua barriga e imediatamente peguei o frasco, ansioso por aquela
tarefa. Ela sorriu, relaxando contra os travesseiros e observando as minhas
mãos na sua pele clara. Com a pressão do meu toque, os meninos se
mexeram.
— Temos que pensar nos nomes, não temos mais desculpas para
protelar. — Comentou, olhando para o meu rosto.
— Ainda não recebi a confirmação do laboratório, mas é bem possível
que o Enzo tenha invadido o sistema. Você está bem com isso?
— Lorenzo foi apenas o homem que engravidou a inconsequente e
irresponsável da minha mãe. Jay Edwards é o meu pai, aquele homem que foi
capaz de passar por tudo o que passou por amor a mim. — Encolheu os
ombros. — Pelo menos, eu tenho um irmão mais velho.
Suspirei.
— Isla... Enzo é um mafioso, ele vende drogas, tem casas de
prostituição e mata pessoas como diversão para o jantar. Eu não quero vocês
dois juntos.
— Eis uma breve questão, Callum Lowell. — Ela arqueou a
sobrancelha. — Eu sou uma mulher adulta e independente, posso falar e me
relacionar com quem quiser. Inclusive, com a sua hipocrisia, porque você é
quem repassa as drogas para Nova Iorque. — Revirei os meus olhos. — E
além do mais, gostei do Enzo. Ele tem uma energia ruim sobre ele, como uma
aura vermelha, mas tem algo brincalhão e meio carente. Ele não precisaria vir
me ver, querer me conhecer e ainda trazer presentes atenciosos para os nossos
filhos.
— Ele é um assassino.
— Ele não tem culpa de ter nascido no pecado.
— Poderia ter mudado a sua própria história... — Sugeri, pensando que
não era porque o meu pai era um bastardo sádico que eu seria um. Eu
precisava mudar a história da minha família, para que a minha geração futura
não fosse manchada com atos tão cruéis, então, a desculpa que ele nasceu no
pecado não justificava as suas ações. Ele gostava de estar naquele meio.
— Não podemos julgar...
— Eu sei que você é adulta e dona de si mesma, mas o Enzo está fora
de questão, Isla. Eu não o quero nas nossas vidas e muito menos que as
pessoas saibam que você é irmã dele... Estou disposto a brigar por isso. —
Falei bem sério e ela fez um beicinho.
— Tudo bem. — Resmungou e eu estava ciente que desistiu fácil
demais. — Eu não vou fazer nada, juro. — Sorriu e pegou o frasco do
hidratante das minhas mãos. — Agora... vem aqui, vamos falar dos nomes
dos nossos meninos.
— Sempre gostei do nome Gabriel. — Comentei, me deitando ao seu
lado.
— É um bom nome. Gabriel Lowell? Algum nome do meio? —
Questionou pensativa. — Alguma homenagem às pessoas que amamos? —
Me olhou e beijei a sua mão. Na televisão, Rapunzel cantava sobre os seus
sonhos e isso fez a Isla sorrir. — Gosto do nome Daniel. Nós facilmente
iremos chamá-los de Gabe e Danny.
— E se o Gabriel ganhar o nome do meu tio? Gabriel Robert Lowell.
— Falei e ela sorriu, animada. — E o Daniel ganhar o nome do seu pai?
Daniel Jay Lowell.
— Ah, baby. Simplesmente perfeitos. — Tentou se inclinar para me
beijar e não conseguiu. Projetou o beicinho para fora e sorrimos. Ergui o meu
rosto e capturei os seus lábios, pensei que fosse apenas um beijo doce, mas
ela tinha outras ideias, provocando a minha boca com um beijo que me
deixou em chamas rapidamente.
Escorregando na cama, continuamos nos beijando apaixonadamente.
Tirei a sua camisa, estimulando os seus mamilos e não levou muito tempo
para fazermos amor. Levei o ritmo devagar, não queria que ficasse sem ar ou
cansada, de lado, ela sentia muito mais prazer. Sexo estava espaçado, mas
sempre gostoso. Sabíamos que ela não ficaria confortável para sempre.
Ficamos deitados na cama, com preguiça, no meio da madrugada ela
quis mais um pedaço de bolo e docinhos, dei a ela apenas porque era uma
data especial.
Cada semana a mais na gestação ficava ainda mais impressionado com
a força da Isla. A barriga continuava crescendo e ela ficou de repouso
absoluto aos sete meses, por estar muito cansada, enjoada e com dores de
cabeça. Após mais uma briga com a sua mãe, nós determinamos que as duas
ficariam afastadas. Não fazia nenhum bem para a Isla ficar tão irritada com a
Sierra, que estava com a saúde deteriorando com muita rapidez.
O estopim foi quando a Isla chegou a trinta e quatro semanas. A
Sierra teve uma consulta médica, ela estava sem conseguir respirar e usava
aparelhos todas as noites. Em sua consulta, ela assinou a ONR. Em poucas
palavras, Sierra não queria ser reanimada se tivesse uma parada cardíaca ou
respiratória. Ou ambas.
— Como ela pode fazer isso comigo? — Isla chorava
descontroladamente.
— Filha... — Jay suspirou e me encarou. — Ela está cansada.
— Eu não quero que a minha mãe morra, nós nunca vamos ficar em
paz? Nunca teremos um bom relacionamento? Ela sequer vai ver os meus
filhos crescerem? — E ela continuava chorando sem parar.
— Eu sinto muito, baby. Você precisa se acalmar, por que não nos
deitamos um pouco? — Ofereci as minhas mãos e ela aceitou. Levei-a para o
nosso quarto, ela se deitou de lado, com o travesseiro apoiando a coluna e
ficou fungando até adormecer.
Jay ainda estava no andar de baixo e nós conversamos sobre o estado
de saúde da minha sogra. Sierra não estava conseguindo fazer a fisioterapia e
muito menos falar por muito tempo. Ela ficava cansada e desanimada, isso
lhe causava uma irritação que nem o amor e a alegria do Raymond ajudava.
Não era difícil entender porquê ela estava tão cansada da vida, não era fácil
ser portadora de uma doença tão limitante e devoradora como a ELA. Como
filha, a Isla estava com raiva e sofrendo.
— Não seja orgulhoso, Jay. O que eu puder fazer para a Sierra, por
favor, me avise. Nós somos uma família.
— Eu sei, obrigado. — Jay tocou o meu ombro. — Você o conhece?
— Apontou para a televisão e aumentei o volume. O Senador Vaughn estava
discursando. — Ele criou um programa de pagamentos para policiais e
fuzileiros, consegui me inscrever, vou finalizar o pagamento da minha casa
em alguns meses. — Comentou, orgulhoso de si mesmo. Considerei quitar as
dívidas de hipoteca deles, mas a Isla me garantiu que o seu pai queria fazer
isso sozinho e então, ele aceitou ajuda com o tratamento da Sierra e a
educação do Raymond.
— Estudei com o Vince, fizemos Arquitetura juntos e depois nos
reencontramos na pós em Engenharia, trabalhamos no setor imobiliário, mas
em gestões diferentes. — Comentei olhando para a televisão. — Nós
fazíamos parte da mesma fraternidade...
Fazíamos parte da mesma rede de negócios, mas o Jay não precisava
saber de todos os detalhes. Meu sogro voltou para o seu trabalho após jantar
conosco. A Isla ainda estava mal humorada e chorosa, não querendo assistir
televisão ou ouvir músicas. Ela nem se animou quando disse que assistiria
aos jogos amistosos da noite. Era difícil vê-la tão abatida, principalmente
quando sua personalidade era extremamente exuberante e feliz.
Pelas semanas seguintes, ela ficou quieta em casa, costurando
algumas mantas e bordando o nome dos meninos nas toalhas de decoração. O
quarto estava pronto, faltavam os detalhes finais e decoração que ela estava
adicionando lentamente. O tema era de dinossauros, algo que eu amava muito
quando criança e pude colocar os que eu tinha desde menino no quarto dos
meus meninos.
— O que acha de colocarmos esse quadrinho aqui? — Isla tentou
subir em um banco para mostrar exatamente onde ficaria na parede e eu a
impedi no mesmo segundo. — Dois passos do chão.
— O quê?
— Sei lá. — Reclamou e apontou para parede. — Quero o quadro ali.
— Bufou, peguei a fita, coloquei na parte de trás e segui as instruções muito
cuidadosas dela para colocar no lugar. — Acho que está tudo pronto. —
Suspirou olhando ao redor.
— Está perfeito.
— É uma pena que é meramente decorativo, eles vão dormir no quarto
conosco nas primeiras semanas. — Sorriu torto e foi o primeiro sorriso
brincalhão em dias. — Ai, ai, o que está havendo aí? — Ela gritou com a sua
própria barriga. — Preciso fazer xixi. — E foi andando desengonçada até o
banheiro do quarto deles.
Ajeitei algumas almofadas, olhando o grande berço porque inicialmente
eles dormiriam juntos, depois iríamos separar e levantar as grades até que
ficassem grandinhos para dormirem em uma cama. Não fazia ideia se eles
teriam o mesmo quarto para sempre, era muito provável que quisessem ter
privacidade e tivessem personalidades totalmente diferentes.
— Estou pronta para comer o meu lanche.
— Eu vou buscar, vá para a cama, está há muito tempo de pé. —
Apontei para o nosso quarto. Dei-lhe um beijo e ela foi embora.
Desci rapidamente e o meu telefone vibrou no bolso da bermuda.
— Oi, Jay. — Atendi meio animado, mas o silêncio e o suspiro dele me
fez parar imediatamente. — O que aconteceu?
— Foi muito rápido, Callum. — Ele falou com a voz embargada. —
Sierra teve uma parada cardíaca logo que conseguimos chegar no hospital e
mesmo que pudéssemos fazer uma reanimação...
— Eu sinto muito, Jay.
— Eu sei, eu sei. — Ele grunhiu e parecia chorar. — Não sabia como
contar a Isla, fiquei preocupado em assustá-la. Acabei de conversar com o
Raymond, mas ele está com a Ângela.
— Tudo bem, eu irei conversar com ela e em seguida nós nos falamos.
— Não adianta vir para o hospital, então... eu vou mandando
mensagens.
— Sim... Eu vou enviar alguém para lhe ajudar com toda a parte
burocrática, sei que não está com cabeça para isso.
Encerrei a chamada, preocupado em como contar a Isla que a sua mãe
havia falecido. Voltei para a escada, subindo devagar e ela estava na cama,
com a camisa erguida, passando uma pomada em uma pequena manchinha
que surgiu e ela cismou que era uma estria.
— Esqueceu do meu lanche, engraçadinho? — Me deu um olhar
esperto. — O que aconteceu, Callum? Está sentindo alguma coisa? — Ficou
alarmada. Desde que o boca grande do Charlie contou que tive um ataque de
ansiedade há alguns anos, ela sempre pensava que estava passando mal.
— Estou bem, baby. — Me aproximei da cama e me sentei bem na sua
frente. — Seu pai acabou de me ligar. — Expliquei e segurei a sua mão, ela
ficou bem séria. — A sua mãe passou mal. Ela teve uma parada cardíaca
quando chegou ao hospital e infelizmente, independente da ONR, ela não
resistiu. Eu sinto muito, amor.
— Minha mãe morreu? — Seus olhos azuis ficaram cheios de lágrimas.
— Sim, baby.
— Meu Deus! — Ela chorou e deitou a cabeça no meu ombro.
Abracei-a bem apertado, ciente que não havia palavras de conforto que
pudesse acalentar a dor de perder a sua mãe, mesmo com todo o
relacionamento problemático que elas tinham. Na minha opinião, a Sierra era
irresponsável e muito egoísta, ela abandonou e negligenciou a Isla a maior
parte da sua vida, quando tentou ser uma boa mãe, ela estava doente demais
para que os seus erros fossem reparados.
Tudo que podia fazer pela Isla era permitir ter o seu luto e dar todo o
meu apoio.
CAPÍTULO 31
Isla
A recepção fúnebre da minha mãe estava acontecendo na casa dos
meus pais, para que nossos vizinhos e familiares distantes pudessem prestar
as suas condolências. Raymond estava sentado ao meu lado, com a sua mão
na minha e a cabecinha encostada no meu ombro. Ele estava apenas
fungando, depois de uma crise de choro que foi acalmada pelo Callum, que
sabia bem como meu irmãozinho estava se sentindo, afinal, ele perdeu a mãe
com a mesma idade.
Callum estava servindo chá para a sua tia e eu continuei sentada, meus
pés estavam inchados e a minha cabeça estava doendo. Queria ir embora.
Desejava me deitar na minha cama e ficar encolhidinha na minha. Eu sabia
que a minha mãe nunca seria curada, mas eu jamais imaginaria que ela fosse
partir tão inesperadamente. Era como se ela sentisse o fim dos seus dias,
porque pediu a ONR e eu quase surtei, ainda lutando pela esperança de que
todo tratamento faria um efeito positivo.
A morte dela me ensinou que eu fiz o que estava no meu alcance,
porque eu a amava muito, mas não existia tratamento sofisticado no mundo
que pudesse vencer a ELA. Estava doendo, mesmo sendo “esperado”. O
Raymond, apesar de ter dez anos e ser capaz de compreender algumas coisas,
estava devastado. Ele ficou afastado da sua mãe por muitos anos e eu jamais
perdoaria o Lorenzo por roubar tantos anos de convivência deles. Beijei os
cabelos loiros do meu irmão e ele ergueu os olhos parecidos com os meus.
A minha cabeça estava doendo muito e eu não conseguia disfarçar
mais.
Cassie me encarou e meio que perguntou com o olhar se eu estava bem,
neguei, ela largou o seu copo e imediatamente veio para o meu lado. Charlie
chamou pelo pai, reclamei da dor e eles me levantaram do sofá, andando
comigo até a pequena biblioteca que o meu pai criou para a minha mãe.
— O que está havendo? — Callum entrou no pequeno lugar no
momento que o seu tio estava aferindo a minha pressão.
— Estou me sentindo mal, quero ir embora. — Choraminguei.
— Sua pressão arterial está muito alta, Isla. — Tio Robert disse. — O
que o seu médico aconselhou nesses casos?
— Ir para o hospital imediatamente. — Callum respondeu. — Vamos,
baby.
Cassie foi na frente, para buscar a minha bolsa e eu andei devagar com
o Callum. Meu pai estava nervoso, mas eu garanti que era só precaução do
meu médico. No carro, a minha cabeça estava girando e eu sentia que iria
desmaiar a qualquer momento, mas me mantive firme e de cabeça erguida
para não deixar o Callum ainda mais nervoso.
Laila e o Michael chegaram na frente, já tinham falado com a
recepcionista e um enfermeiro me esperava com uma cadeira de rodas na
portaria do hospital. Nossos amigos não podiam entrar conosco, então, eles
ficaram na recepção enquanto segui com o Callum tentando não ficar
histérico ao meu lado. No elevador, senti uma pressão nada agradável no meu
ventre e apertei a mão dele, ficando com a minha roupa molhada
gradativamente.
— Acho que a minha bolsa rompeu. — Falei baixo e o enfermeiro
agachou ao meu lado, conferindo a poça que se reunia abaixo de mim.
— Deve ter rompido, você está com quantas semanas?
— Trinta e cinco, é cedo demais.
— Fique calma, Isla. Vai ficar tudo bem. — Callum falou com a voz
trêmula e beijou a minha cabeça.
Nós chegamos à estação da maternidade e fomos levados para o quarto.
Uma médica muito simpática disse que a minha membrana da bolsa havia
rachado, por isso que havia um pouco de sangue junto com o líquido
amniótico. A bolsa em si, não havia rompido. Fiquei aliviada por uns dois
segundos até que ela disse que o risco de infecção era muito alto e que
deveríamos esperar o Dr. Phillips chegar.
O meu obstetra chegou não muito depois, troquei de roupa e fiz uma
ultra rápida, para verificar os meninos. Logo o Dr. Phillips estava no quarto e
eles começaram a debater os meus rápidos exames, enquanto outros seriam
feitos. Callum saiu do quarto para assinar a minha internação e eu tentei me
fazer de corajosa e não chorar enquanto ele estava longe de mim. Ao voltar,
os meus médicos estavam prontos para falar.
— Terei um parto prematuro? Não é cedo demais? — Olhei para o
Callum, sentindo tanto desespero que o meu coração estava explodindo no
peito.
— Você ainda não está em trabalho de parto, mas eu acredito que você
ficará aqui até que seja seguro fazer o parto das crianças. — Dr. Phillips me
deu um tapinha no joelho. — Não estou confiante em te mandar para casa,
seu estresse emocional foi forte o suficiente para causar esse impacto e
embora entenda que está passando por um momento difícil, você precisa
pensar na sua saúde e na dos seus filhos.
— Você tem razão... Eu prefiro ficar internada se isso vai fazê-los
nascer com saúde. — Falei tranquila, porque ele estava certo.
Por quase uma hora, fui aferida, cutucada, furada e eu pude ouvir os
meus meninos se mexendo, depois o monitor foi ligado e eu os vi. Apenas o
Danny estava encaixado para o parto... Gabriel estava com os pés para baixo,
eles estavam embolados de uma maneira bem fofa. A dor passou depois da
medicação e eu percebi que estava enjoada, então, bebi um pouco de água
gelada para acalmar a minha ânsia.
Callum saiu e voltou umas trinta vezes. Quando a Tia Gwen foi
autorizada a ficar comigo, me senti mais tranquila, porque não queria ficar
sozinha. Ela arrumou o meu cabelo, tirou a minha maquiagem e me ajudou
no banho rápido que fui autorizada a tomar com a supervisão de uma
enfermeira.
— Outch. — Gabriel estava me empurrando. — Meu filho, você vai
jogar futebol. — Murmurei voltando para cama.
— Charlie me chutava o tempo inteiro, era tão irritante, no começo era
bonitinho, mas depois eu queria bater nele. — Tia Gwen me ajudou com as
cobertas. — Eu sabia que era um presságio que ele seria uma criatura
irritante.
— Ele é irritante sim e é uma das melhores pessoas que conheci em
toda a minha vida. Você criou três grandes homens, Tia Gwen.
— Charlie teve uma vida doce comparada ao Callum e ao Cage, mas eu
sou grata que tudo aquilo passou. — Sentou-se na poltrona. — Não fiquei
nada triste quando o Harry morreu. Ele foi tarde. — Bufou e a olhei com
calma. — Minha irmã sofreu muito, não sei quantas vezes implorei que ela
pedisse o divórcio, mas ela mergulhou muito rápido em depressão. Foi difícil
porque o papai a obrigou ao casamento, ela amava outro homem e sofreu por
isso.
— É realmente lamentável. Encontrei algumas fotos dela no escritório
do Callum e era uma mulher linda.
— Era sim. Bela e cabecinha de vento, mas era boa pessoa. — Sorriu
com melancolia. — Vamos deixar esse assunto para depois. Como está se
sentindo agora?
— Pensando em aguentar três semanas dentro do hospital. O Dr.
Phillips espera que eu tenha o parto o mais próximo possível das trinta e oito
semanas, mas, meu pressentimento me diz que será antes. Só espero que não
seja imediatamente, afinal, eles ainda não estão prontos e não quero que
fiquem internados.
— Eles não vão, vai ficar tudo bem. — Tia Gwen me garantiu, cheia de
fé.
Ela me fez uma doce companhia até o momento que o Callum voltou
com uma mala de roupas, meus exames, a mala dos meninos e nós ficamos
conversando por horas até que senti sono. Ela foi embora, para me deixar
descansar e eu queria mesmo dormir agarradinha com o meu namorado, mas
a cama me impedia de agarrá-lo.
— Vai ficar tudo bem, baby. — Ele agarrou a minha mão e beijou os
nós dos meus dedos. — Eles vão nascer no tempo certo e será perfeito.
— Sei disso, estou ansiosa. — Confessei e ele colocou a mão na minha
barriga, acariciando. — Nós nos preparamos tanto para o nascimento deles,
desde o momento em que fizemos o procedimento, mas ainda parece algo tão
abstrato segurá-los.
— Estou ansioso para ver os rostinhos deles.
— Acho que serão parecidos com você. Vocês, Lowell, são todos
parecidos. Cage teve três filhos que parecem pequenas xerox...
— Em compensação, você e o seu irmão são praticamente idênticos à
sua mãe. — Ele franziu o cenho. — Sinto muito.
— Está tudo bem, não vamos fingir que a minha mãe não existiu. Ela se
foi, em algum momento isso será aceitável, doeu, mas agora... É agridoce. —
Coloquei ambas as minhas mãos na minha barriga. — Estou triste por ela,
mas agora, tudo que consigo pensar é nos meus filhos. É um misto de
ansiedade e confusão. Eles são tudo que importa para mim.
— Para nós dois.
— Sei que como casal, não estamos sendo íntimos...
— Isso não é importante, sinto que o nosso relacionamento chegou a
um nível que eu jamais pensei ser possível. — Callum me deu um olhar
apaixonado. — Sexo sempre foi gostoso e sempre será importante, mas
agora? O que é mais importante que os nossos filhos? Temos a vida inteira...
— Para transar muito. — Completei e ele riu. — Eu amo você. Nunca
vou cansar de repetir que responder aquele formulário foi a melhor decisão da
minha vida.
— E a melhor e mais louca decisão da minha vida foi perguntar a
Cassie se era ilegal ter um contrato com a mãe do meu bebê. — Ele se apoiou
na cama. — Você estaria fora de cogitação apenas por ser famosa no
Instagram e trabalhar para aquela mulher desprezível, mas eu não podia
desviar os olhos da sua fotografia assim como ainda não consigo desviar o
olhar de você.
Aquela conversa me fez lembrar de algo inusitado. Quando era menina,
viajei com a escola para a mansão Lowell em Lowell. Era a antiga casa do
Callum e na época, eu jamais podia imaginar que um dia iria conhecê-lo.
Meus colegas de classe falavam muito sobre o menino no porão e como
visitamos o jardim que parecia muito com o jardim secreto do filme que eu
amava.
Por uns instantes, enquanto me balançava no grande balanço com
flores adornadas, imaginei que me apaixonaria por um homem que me faria
sentir a mulher mais importante do mundo.
Callum era esse homem, também era o menino do porão e dono do
jardim que me fez sonhar com um conto de fadas. Estávamos destinados a
ficar juntos, mesmo quando não fazíamos ideia da existência do outro. Ele
era a minha sorte de um amor tranquilo com o doce adicional de uma vida
cheia de paixão nas coisas mais simples.
Nós não tínhamos um problema, brigamos por alguns assuntos bobos,
como o fato de ele ser insuportável com algumas manias e eu com a minha
energia de sobra. Às vezes dávamos choques de convivência com o seu
humor irritadiço e o meu extremamente feliz. Ele era muito controlador, até
nas coisas mais simples e eu gostava do meu espaço, principalmente resolver
os meus problemas sem a sua intromissão.
Com o passar dos meses, aprendi que o Callum era uma pessoa fácil de
conversar, se eu pedisse para ele não se meter, ele não se metia, mesmo
bufando e louco para tomar as rédeas da situação. Eu aprendi a respeitar que
ele não era obrigado a me aguentar explodindo alegria pelas orelhas e assistir
os meus filmes favoritos trezentas vezes. Conviver com outra pessoa
diariamente era muito difícil, mas no final do dia, eu o escolhia. Eu o
escolheria mil vezes.
Passei uma semana no hospital, fui liberada para casa quando o risco da
infecção diminuiu e eu ficava a maior parte do tempo na cama no segundo
andar. Laila, Cassie, Tia Gwen, meu pai e o meu irmão eram as minhas
companhias, me divertiam, conversavam, acompanhavam nos filmes e se
negavam contrabandear doces e as minhas comidinhas favoritas.
Em uma tarde, dois dias depois de completar trinta e oito semanas, a
Laila estava de babá do dia. Ela me entregou um suco de laranja fresco e um
prato de biscoitos caseiros deliciosos que a Charlotte havia preparado pela
manhã.
— Como você está? — Olhei para a minha amiga.
— Estou bem. — Eu podia dizer que ela estava mentindo.
— Me fala a verdade.
— Estou bem, acredite em mim. Ansiosa com os meninos, com o
casamento, com essa promoção do Michael e... — Os seus olhos encheram-se
de lágrimas. — Eu vi nos jornais. — Abanou o rosto. — Prince fez
novamente. — Engoliu seco. — Isso mexeu tanto comigo, Isla. Michael disse
para deixar para lá, que dessa vez, mesmo sendo de uma família importante e
com as suas conexões, ele não vai conseguir se safar.
— Sério? O que aconteceu?
— Ele tentou abusar sexualmente da Olívia King.
— King? Ela é tipo... Irmã do jogador de futebol?
— Sim, ela mesma. A família deles eram próximas, mas os King são
pessoas ricas e muito influentes, nem os Knight poderiam fazer algo. — Ela
secou o rosto. — Ele é um monstro, Isla. Como um homem pode ser tão
ruim?
— Me fiz essa pergunta por muitos anos, mas depois, eu simplesmente
aprendi a ser grata por você ter sobrevivido. Sei que toda coisa de não poder
conceber naturalmente deve ser muito difícil, mas eu posso ser a sua barriga
de aluguel. — Agarrei a sua mão.
— Obrigada, amiga. — Ela me abraçou apertado. — Eu ia contar
depois, quando tudo isso passasse, porque não queria te preocupar. Michael e
eu procuramos uma agência e um advogado. Vamos entrar na fila para adotar
um bebê. — Seus olhos estavam marejados. — Eu não consigo dormir de
ansiedade.
— Nossos bebês serão melhores amigos! — Gritei e quase derrubei
todos os biscoitos no chão. — Ano que vem, essa casa estará cheia de
crianças. Em falar nisso, vocês vão se mudar?
— Talvez sim, ainda é muito difícil encontrar bons apartamentos com
uma boa localização. Com os gastos do casamento, estamos preocupados,
mas vamos nos sair bem.
Eu ia responder algo sobre o Callum poder ajudá-los a procurar um
bom apartamento, porque ele tinha vários, mas uma dor dilacerante me
deixou sem ar. Soltei o meu copo na mesinha e coloquei a mão na barriga.
— Contração? — Laila ficou de pé no mesmo instante.
— Sim... E nossa, se eu achei que estava me sentindo mal semanas
atrás, não vou aguentar muito tempo disso não. — Reclamei colocando a mão
na minha barriga, que estava dura.
— Oi, Callum.
— Por que você está ligando para ele? — Gritei no meio da segunda.
— Você teve duas contrações bem próximas, por que eu não ligaria? —
Laila gritou de volta e então, me encarou. — Isla Edwards, você está sentindo
dor desde cedo!
— Não tão forte assim e eu pensei que era só... Treinamento? —
Murmurei me recostando na poltrona.
Laila me deu um olhar azedo, que me fez rir. O desespero deles com o
meu parto era muito engraçado. Comecei a praticar todas as técnicas de
respiração e meditação que aprendi nas aulas do parto, me acalmando e
preparando para o que viria a seguir. Devido a minha hipertensão, não faria
um parto normal, mas os médicos queriam que fosse o mais “natural”,
respeitando o tempo das crianças e o mais saudável possível. Principalmente
dentro do tempo certo.
Callum chegou em casa extremamente desesperado e soltei uma risada
pelo suor no seu rosto. Laila deixou a nossa família apavorada. Tia Gwen já
estava saindo de casa para estar em Boston a tempo do parto e o Cage
fechando a sua loja mais cedo, para se reunir com a nossa família na espera.
Duas horas depois, a minha bolsa rompeu e eu fui levada para o
hospital sentindo uma dor filha da puta que eu jurei que nunca mais teria
filhos. Callum tinha a sorte de não poder me engravidar naturalmente, porque
eu considerei arrancar o pau dele fora. Mal registrei o que estava acontecendo
ao meu redor de tão apavorada com a agulha da anestesia e rezando que não
errassem o lugar e me deixassem de cama para sempre. Me perguntei se com
tanta tecnologia no mundo, ainda não tinham inventado uma agulha menor
para dar aquela anestesia?
— Você consegue ver tudo? — Questionei ao Callum.
— Sim. Quer que eu vá narrando? — Me deu um olhar ansioso.
— Quero que se certifique que vá ficar tudo bem. — Falei baixinho,
nervosa.
— Isla? Está tudo bem? — Ouvi a voz do Dr. Phillips.
— Estou ansiosa para ver os meus filhos. — Respondi, ele pediu que
ficasse calma, assim logo veria os bebês.
Fiquei encarando o rosto do Callum e eu soube exatamente o momento
que eles nasceram, não foi pelo choro deles, mas sim pelos olhos do Callum
brilhando e as lágrimas escorrendo pelo seu bonito rosto. Alguns segundos
depois ouvi um choro.
— Nasceu o Daniel! — Dr. Phillips falou. Meu obstetra, Dr. Carise,
falou que o Gabriel estava saindo em seguida. Daniel estava chorando tão
alto que mal conseguia ouvir. E então, um choro mais alto e mais irritado
começou. — Uau, bem-vindo, Gabriel!
— Eles nasceram! — Callum estava com o rosto amassado de choro.
— Vá vê-los, baby. — Implorei, morrendo de ansiedade. Eu me sentia
cada vez mais distante.
— Há uma hemorragia, preciso que todos saíam da sala.
— Isla? — Callum me chamou. — ISLA! — Eu não conseguia abrir os
meus olhos, sendo puxada para uma espiral confusa e logo a escuridão me
engoliu, me levando para um lugar de paz.
Eu não queria aquele tipo de paz. Queria estar com os meus filhos. Eles
e o Callum eram tudo que eu precisava para viver.
CAPÍTULO 32
Callum
Já fazia uma hora que eu estava andando de um lado ao outro no
corredor da maternidade, sem nenhuma ideia do que estava acontecendo com
a Isla dentro da sala de cirurgia. Um minuto mágico, no qual eu estava perto
dos nossos filhos quando todos os aparelhos começaram a apitar e eles me
tiraram de perto. Eu estava nervoso e começando a ficar irritado, porque a
ideia assustadora do médico sair e dizer que viveria sem a Isla me causava
pânico.
— Callum?
Olhei ao redor e me deparei com o Cage. Ele segurava dois copos de
café em uma bandeja de papel.
— O que aconteceu?
Eu comecei a chorar.
— Ei, ei. — Ele me puxou para um abraço. Fazia muitos anos que eu
não abraçava o meu irmão e eu só voltei a conviver amigavelmente com ele
porque a Isla era uma criatura boa e insistente – e eu amava os meus
sobrinhos.
— Já faz uma hora e eles não me dizem nada. Disseram que foi uma
hemorragia... Os meninos nasceram e estão bem... — Solucei e ele me levou
para um banco. — Não me dizem nada. Ninguém sabe me dizer o que está
acontecendo lá dentro e estou…
— A Isla é uma mulher forte, tudo vai ficar bem. — Ele colocou a
mão no meu ombro.
Cage ficou do meu lado. Ele era a última pessoa que eu pensei que
ficaria ao meu lado depois de tudo. Sequei o meu rosto e fiquei olhando
fixamente para as portas duplas e quando ouvi uma movimentação, fiquei de
pé imediatamente e o Dr. Phillips apareceu, tirando a sua touca cirúrgica.
— Isla está bem, está sendo levada ao quarto agora e ela deve
descansar nas próximas horas. A hemorragia foi contida e sem sequelas.
Fiquei tão aliviado que pensei que fosse cair.
— Irei monitorá-la nas próximas horas, não se preocupe se ela não
acordar imediatamente. Não vou permitir visitas para ela hoje e estou indo lá
conhecer os seus meninos, vai ficar tudo bem. — Me deu um tapinha no
ombro e sorri.
— Eu posso chamar a minha família para ver os meninos?
— Sim, é claro. É só levá-los para o berçário.
— Eu sei onde eles estão. — Cage estava animado. — Eu disse que
ela ficaria bem. — Sorriu e lembrei de quando éramos pequenos e ele sorria
daquele jeito. Cage sempre conseguia sorrir, mesmo quando levava horas de
surra do nosso pai.
— Obrigado, irmão. — Abracei-o apertado.
Nós andamos até uma sala de visitas no andar da maternidade e toda a
nossa família e amigos estavam ali dentro. Tia Gwen estava chorosa e o Jay
parecia exausto, me senti mal de não ter vindo falar com eles, mas eu sequer
pensei nisso.
— Cage! Você sumiu! — Patrícia ficou de pé e me viu entrando atrás
dele, com o rosto inchado e os olhos vermelhos. — O que aconteceu? — Ela
ficou pálida.
Todo mundo ficou de pé, me olhando com expectativa.
— Os meninos nasceram tem mais de uma hora... A Isla sofreu uma
complicação na cesariana e levou mais de uma hora até que eles me dessem
uma notícia. Ela está bem e no quarto, ainda dormindo e o médico só vai
autorizar visitas amanhã, quando ela acordar e estiver mais disposta. — Olhei
ao redor nervosamente. — Fiquei um pouco nervoso, mas agora, podemos ir
até o berçário para ver os meninos. Daniel nasceu bem calmo, ele chorou,
mas nada se compara ao grito irritado do Gabriel, era o que mais chutava a
Isla.
— Ai meu Deus! — Tia Gwen chorou e me abraçou.
Nós andamos até o berçário e eu fui higienizado antes de entrar na
pequena área. Só os meus meninos estavam lá dentro. Daniel estava
dormindo e eu fiquei chocado com o quanto o Gabriel era parecido com a
Isla. Os dois pareciam ter o mesmo formato dos olhos que os dela, uma
penugem muito loira na cabecinha e ambos estavam vermelhos do
nascimento.
Gabriel parecia mal humorado, com o cenho franzido e o peguei no
colo, levando até o vidro para que a nossa família pudesse vê-lo. Ele soltou
um resmungo, estava extasiado de tamanha a sua perfeição. Com jeitinho, a
enfermeira colocou o Daniel no meu outro braço, ajustando os dois para que
pudesse mostrá-los ao mesmo tempo. Danny continuou dormindo. Ele
parecia extremamente pleno, mesmo com o barraco que o seu irmão
protagonizava no braço ao lado.
Todos estavam fotografando, chorando, apaixonados e admirados
com as duas criaturas perfeitas nos meus braços. A pediatra me encontrou e
disse que eles estavam perfeitos, ficariam em observação, mas não
precisariam ficar na incubadora com cuidados especiais. Eram leves e
pequenos nos meus braços, porém, estavam dentro do peso esperado para
gêmeos.
Após devolvê-los para a enfermaria, fui liberado para ficar com a Isla
no quarto. Ela estava pacífica, adormecida, com o rostinho virado de lado e
beijei a sua testa antes de me acomodar no sofá para passar a noite. Por
precaução, não enviei fotografias para ninguém fora da nossa família, para
que as fotos dos gêmeos não fossem parar nos jornais antes que a Isla
pudesse conhecê-los.
A noite foi longa, sem conseguir dormir, fiquei andando entre o
berçário e o quarto, sentindo uma ansiedade crescendo por não poder estar
com os três ao mesmo tempo. A decoradora chegou bem cedo, arrumando a
pequena sala com balões e todas as lembrancinhas e os itens de decoração
para o nascimento dos gêmeos. Ela saiu depois que aprovei a decoração que a
Isla tanto queria.
Eu estava no banheiro quando ouvi a Isla me chamar. Lavei as mãos e
abri a porta, ela estava acordada e me deu um sorriso lindo.
— Oi, baby. Cadê eles? — Seu olhar estava ansioso.
— Estão no berçário até que acordasse. — Me aproximei, agarrei a
sua mão e beijei a sua palma.
— O que aconteceu na cirurgia?
— Você teve uma hemorragia, mas segundo o Dr. Phillips, foi
controlada a tempo e não teve sequelas. — Ela sorriu, aliviada. — Isla... Eu
fiquei muito assustado. Cage ficou comigo até que tive notícias, depois, eu
pude mostrar os meninos para a nossa família e amor... Eles são perfeitos.
— Eu posso imaginar... São nossos filhos. — Ela riu, emocionada. —
Será que eu poderia vê-los? Acho que estou meio molhada. Pode chamar uma
enfermeira? Acho que o meu leite desceu e talvez precise de um absorvente.
— Claro, eu já volto. — Dei-lhe um beijo rápido e saí correndo do
quarto.
Duas enfermeiras e a médica de plantão passaram a visita e ajudaram a
Isla nas suas dúvidas. Enquanto fui buscar os meninos, ela ficou recebendo
cuidados. A enfermeira do berçário me deu um sorriso empolgado quando
passei pelas portas, explodindo de felicidade e podendo levar os meus dois
pacotinhos para conhecer a mamãe. Empurrei os dois bercinhos até o quarto e
a Isla estava sendo auxiliada na troca da camisola.
Foi passar pelas portas que os dois começaram a chorar.
— O seu leite desceu com tudo, é raro descer tanto assim após uma
cirurgia. — A Enfermeira Murphy comemorou. — Eles devem estar ansiosos
para amamentar.
— Caramba, como vou amamentar os dois de uma vez? — Isla ficou
apavorada, e então, o seu olhar caiu sobre eles quando me aproximei
totalmente. — Meu Deus do céu. Eles são perfeitos. — Começou a chorar e
esticou a mão. — Oi, amores. Eu sou a mamãe. — Peguei o Gabriel primeiro
e coloquei em seus braços. — Você é o espertinho que chutava a mamãe? —
Ela acariciou o rostinho dele. Segurei o Daniel e me sentei ao seu lado. — Oi,
amor. Você é o calminho?
— Ele é. — Sorri e nós trocamos um olhar. — Obrigado, amor. Eu te
amo muito por simplesmente me dar essa família linda.
— Tudo começou por sua causa, então, talvez eu que tenha que
agradecer. — Me inclinei sobre ela e beijei os seus lábios.
A enfermeira ensinou a Isla sobre a amamentação. Gabriel pegou firme,
pela expressão dela, foi dolorido. Nós debatemos sobre a amamentação e
decidimos que ela faria uso da bomba para que pudéssemos amamentar os
dois ao mesmo tempo e tentaremos usar o leite materno até que outros
alimentos pudessem ser introduzidos. Se a pediatra decidisse por uma
fórmula, obviamente, iriamos acatar.
— Dói? — Olhei para a expressão confusa da Isla.
— Sim e ao mesmo tempo é a melhor sensação do mundo. Ele está
sendo alimentado por mim, finalmente estou segurando o que me chutava
tanto. É tão mágico. — Sorriu e olhou para o Daniel, que estava dormindo.
— Acho que esse aí, se a gente não acordar, não vai comer.
— Inacreditável.
Nós ficamos horas babando as nossas crias. Isla estava exultante.
Daniel foi o primeiro a sujar a fralda e nós dois não tínhamos experiências
para troca, a enfermeira estava o tempo todo conosco, nós trocamos as roupas
de ambos e eu tirei uma foto dela, amamentando os dois de uma vez só,
porque queria saber a experiência. Escolhi aquela foto para anunciar que os
gêmeos haviam nascido.
Os nossos meninos eram perfeitos.
Não paravam de chegar flores e presentes. Alguns dos nossos amigos
enviaram cartões e um buquê imenso de rosas vermelhas foi entregue. Olhei
o cartão, suspirei primeiro e depois ri. Ele estava me provocando.
— De quem é esse? — Isla desviou o olhar dos meninos para mim.
— Do seu irmão. — Revirei os olhos. Ela riu. Pedi ao Enzo para se
afastar, ele disse que ia pensar e decidir se eu era bom o suficiente para a sua
irmã. Ele a conheceu ontem e achava que podia ter alguma opinião sobre a
vida dela? Homem idiota.
— Ele está adorando te provocar.
— Ele sempre teve um senso de humor insuportável. — Reclamei e
peguei o cartão seguinte, amassando e rasgando em milhares de pedaços.
— E esse?
— Roxanne Miller.
— Queima. — Isla murmurou.
— Eles estarão aqui em uma hora. — Olhei as minhas mensagens. —
Acho que a Tia Gwen não dormiu, só pensando nos meninos e a Charlotte
estava me enviando mensagens.
Isla queria se arrumar para receber a nossa família. Ela fez uma trança
no seu cabelo, passando um pouco de maquiagem e como a sua barriga ainda
estava inchada como se ela estivesse grávida de quatro meses, colocou o seu
pijama mais largo da maternidade.
— Estou impressionado com o quanto os olhos deles parecem com os
seus. — Parei próximo ao bercinho duplo.
— De modo geral, acho que ainda parecem um joelho, mas o nariz é
seu e os olhos são meus. — Sorriu e fez uma careta. — Será que vamos saber
diferenciar sem as pulseiras? Eles tinham que nascer tão iguais? Em placentas
diferentes seriam diferentes...
— Gabriel é sempre o bebê zangado e o Daniel é o bebê dormindo. —
Cruzei os meus braços. — Agora... Se eles trocarem de personalidades ou
ficarem igualmente irritados, será um problema. Seremos pais ruins se
mantivermos as pulseiras?
— Se ninguém souber, ninguém vai nos julgar.
Nós rimos da nossa besteira e uma batida suave na porta anunciou a
chegada dos membros da nossa família. O quarto da Isla era quase um
apartamento, havia uma pequena sala, que era para visitas, mas eu sabia que
todos eles ficariam amontados ao redor da Isla e dos meninos. Abri a porta
para os meus tios, que seguravam flores e presentes desnecessários, porque o
quarto parecia uma floricultura.
Dois minutos depois, a Cassie entrou, sem bater e o Charlie estava atrás
dela, segurando dois ursos enormes, cada um com o nome dos meninos.
Laila, Michael e o Benji chegaram juntos e eu mal fechei a porta, quando o
Jay chegou com o Raymond.
O quarto estava cheio, porém, nós pedimos que a nossa família pudesse
entrar no mesmo horário. Jay e os meus tios estavam emocionados,
segurando os meninos. Charlie estava fotografando conforme a Isla pediu e
todos concordavam que de primeira, eles pareciam com ela, mas o formato
do nariz de ambos era parecido com o meu. Dois meninos perfeitos, era tudo
que eu podia dizer sobre os meus tão amados e sonhados filhos.
Cage e a Patrícia foram os últimos a chegar, eles bateram na porta
timidamente e ela, como sempre, me deu um sorriso hesitante. Isla tinha
razão, não havia nenhum motivo para continuar com uma briga. Eu nunca
amei a Patrícia e eu seguia amando o meu irmão. O meu ego ficou ferido e a
minha confiança foi quebrada e mais uma vez, eu tinha que dar o braço a
torcer quando a Isla dizia que a traição foi ruim, mas eles não me traíram por
capricho.
Nunca dei uma opção de vida a eles. Controlava os dois. Eles se
apaixonaram, seguiram juntos e formaram uma família muito bonita.
Encontrei a Isla, literalmente em um anúncio, e a minha vida ficou perfeita.
— Definitivamente, eles têm os seus olhos. — Patrícia arrulhou
segurando o Gabriel, que estava como nasceu, soltando resmungos. — Esse
aqui parece o Andrew, sempre com o cenho franzido.
— Reparei isso. — Tia Gwen sorriu. — O que será com esses
meninos Lowell?
— Eu disse que um deles era temperamental como o Callum e ele
nunca acreditou em mim. — Isla me deu a língua. — E o outro dormiu e
ficou calmo o tempo inteiro. Baby, você pode pegar os presentes? — Ela
apontou para o armário e sabia que estava falando dos presentes mais
íntimos. — Nós queremos presentear vocês por serem uma família
maravilhosa.
— Aos vovôs... Vocês foram os meus pais quando mais precisei e
estou muito feliz em poder criar os meus filhos com vocês. — Entreguei a
eles os presentes. — Gabriel ganhou o seu nome, tio. Ele vai ser registrado
como Gabriel Robert Lowell.
Meu tio ficou emocionado e me deu um abraço apertado.
— Você merece o prêmio por ser o melhor pai do mundo. — Isla
começou a falar e a chorar. — Tudo que aconteceu nas nossas vidas... Você
nunca desistiu de me dar a melhor vida possível. Meus filhos são muito
sortudos por ter você como avô. Daniel vai ganhar o seu nome... Daniel Jay
Lowell. Espero que esses meninos sejam grandes homens como os seus avôs
são. — Ela secou o rosto, seu pai lhe deu um beijo e me deu um abraço
desajeitado com o Daniel em seus braços. Isla pegou os presentes dos
padrinhos. Ela olhou para a Cassie. — Todo mundo sabe que vocês estão se
pegando, espero que tomem vergonha na cara e assumam logo esse
relacionamento, porque vocês precisam dar exemplo para o Gabriel. —
Esticou a caixa. — Espero que aceitem ser padrinhos dele.
— Ai meu Deus! — Cassie gritou e agarrou a caixa. — É claro que
sim, mas o Charlie é totalmente desnecessário. — Continuou e nós rimos.
— Amor... — Charlie grunhiu.
— Tudo bem, eu divido com você. — E pela primeira vez, eles se
beijaram na nossa frente. Finalmente! Rindo, pegaram o Gabriel e aceitaram
apadrinhar o nosso bebê mais velho por alguns minutos.
— Laila e Michael, vocês estão prontos para começar uma família e
espero que possam começar treinando com um afilhado, que por sinal, parece
ser bem calminho. — Entregou a caixa. Eles aceitaram na hora. — Sei que os
nossos filhos estarão bem cuidados e amados com vocês, o batismo ainda
será em alguns meses, mas espero que entendam que em caso de algum
infortúnio, nós escolhemos que eles vivam juntos com um dos avós. E
vocês... — Virou-se para Benji, Cage e Patrícia. — Vocês foram eleitos a tios
favoritos, que serão chamados para serem babás nos finais de semana. Espero
que os nossos filhos possam crescer juntos, começando uma nova história da
nossa família.
Apenas a Isla tinha o dom de transformar a destruída e disfuncional
família Lowell em uma massa unida. Ela era única.
CAPÍTULO 33
Isla.
Todo mundo dizia que recém-nascidos não dormiam, no meu caso, eu
tinha um recém-nascido que odiava dormir. Gabriel era atento, ficava sempre
com seus grandes olhos abertos, olhando tudo ao seu redor. Daniel, por outro
lado, amava dormir e odiava que o seu irmão chorasse toda maldita vez que
ele estava no melhor do sono. Isso me resultava em dois pequenos berrando
que só se acalmavam com o seio.
Meus seios estavam feridos e doloridos, essa parte da maternidade não
era bonita. Eu não gostava de amamentar e não tinha vergonha de assumir,
embora todo mundo me olhasse como se eu fosse um monstro. Amava os
meus filhos, mas preferia tirar o leite com a bomba e dar a mamadeira do que
ficar com os meus seios feridos nas boquinhas minúsculas e ansiosas. Eles
eram perfeitos. Muito perfeitos. As crianças mais lindas do universo.
— Gabe, meu filho. — Suspirei com a sua gritaria. Tirei o meu sutiã,
quanto mais ele gritava, mais o meu peito vazava leite. Daniel começou a
resmungar e usei a minha perna para balançar o carrinho. Eu ia enlouquecer.
Callum saiu para ir ao mercado e não fazia vinte minutos, eu já queria chorar.
— Não, Danny. Não chore. — Pedi quase implorando.
Gabe estava mamando tão avidamente que parecia que ele não era
alimentado há meses. O garotinho tinha seis semanas de vida e tinha um
gênio como se já tivesse vivido trinta anos. Era igualzinho o pai. Sem todo
inchaço, eles herdaram os meus olhos, no mais, pareciam com o pai. Talvez
ficassem muito loirinhos como eu, já que o Callum nasceu carequinha e eles
tinham uma penugem loira toda para o alto.
Eram idênticos, se não fosse a personalidade, seria difícil saber quem
era quem.
Meu outro seio estava vazando, me estiquei, peguei a bomba e fui
tirando leite. Danny voltou a dormir já que o seu irmão estava quieto.
Estávamos oficialmente sem a Charlotte desde que ela caiu e quebrou o
braço, ela estava em casa, de repouso, isso nos deixou sem ajuda. Eu não
fazia ideia de como ter uma babá, o Callum estava se dividindo entre ser o
pai, o provedor, meu parceiro em tudo e ele passava noites em claro, porque
não conseguimos dormir em momento nenhum.
Se eu estava surtando, com os meus hormônios me deixando triste, mal
humorada e em alguns momentos, beirando o desespero, não podia imaginar
como a cabeça dele estava. Nós sabíamos que não seria fácil. A realidade era
ainda mais difícil. Os gêmeos demandam muitos cuidados.
Quando o Gabe finalmente dormiu, coloquei-o no berço ao lado do
irmão e me joguei na cama, exausta, mas sem coragem de dormir sem o
Callum estar em casa. Meu telefone vibrou e era uma chamada não
reconhecida. O número era de Nova Iorque.
— Isla Edwards falando. — Atendi alegre, mesmo exausta.
— Aquele cazzo do Lowell ainda não fez a minha irmã uma mulher
honesta?
— Enzo! — Sentei-me na cama. — Como conseguiu o meu número?
— Sempre tive o seu número, só estava respeitando o chato do seu
namorado, mas como ele não colocou uma aliança no seu dedo, resolvi
ignorar. — Revirei os olhos. Machista. — Enfim, como estão os meus
sobrinhos?
— Estão me deixando exausta.
— Eles são bonitos. — Comentou e eu sorri. Uma mãe sempre ficava
incrivelmente satisfeita em ouvir elogios aos seus filhos.
— Eu sei, puxaram a mim. — Brinquei, porque na verdade, eles
pareciam com o pai, que era muito bonito. Meus meninos seriam modelos,
sabia disso.
— Com certeza. Não sei o que viu no Lowell. — Soltei uma risada.
— Para de implicar com o meu namorado, Enzo.
— Esse é o meu número, Isla. Me ligue se precisar de mim em
qualquer momento, em qualquer horário. Estou em Nova Iorque, mas tenho
pessoas na cidade.
— Isso é atencioso, mas está acontecendo alguma coisa que eu não
sei?
— Nada está acontecendo, Isla. Eu quero apenas me certificar que
está tudo bem. Estarei na Itália nas próximas semanas, mas irei voltar.
— Para o seu noivado?
— Sim, mas não fique animada. É um casamento arranjado…
— Isso ainda existe? — Soltei uma risada.
— Mais do que imagina. Nos falamos depois, sim? Se cuida.
— Venha conhecer os seus sobrinhos, por favor.
— Apenas se o seu namorado convidar. — Disse e encerrou a
chamada.
Merda. Callum nunca iria permitir o Enzo perto dos nossos filhos e eu
não podia passar por cima disso. Enzo não parecia tão ruim, não era estúpida,
eu sabia que o Enzo não vendia sorvete para viver, mas, comigo, ele era
atencioso e divertido. Era tudo que me importava e eu era hipócrita o
suficiente para viver com essa verdade. Eu me relacionava com um homem
que fazia parte do esquema, não podia fingir que ele era outro dono de
sorveteria.
Queria tomar um banho, mas estava com medo de que eles acordassem.
Gabriel acordava com qualquer vibração no solo. Isso era tão verdade que o
Callum entrou no nosso quarto de fininho, tirando os sapatos e as roupas, se
higienizando e voltando para cama na ponta dos pés. Ele sorriu para os
meninos dormindo e se jogou ao meu lado.
— Comprei comida o suficiente para os próximos dias. — Bocejou.
Era a primeira vez que o via bocejar.
— Acho que devemos aceitar o convite da sua tia de ficarmos lá por
alguns dias. Estamos exaustos, precisamos de ajuda ou precisamos contratar
uma babá. — Me encolhi ao seu lado na cama.
— Não quero que fique histérica. — Callum me deu um beijo suave.
— Fui seguido de novo e não foi pelos homens do seu irmão. — Olhou em
meus olhos. — Tray está trabalhando nisso. Estou preocupado, Isla.
— Meu irmão me ligou. Ele disse algo sobre ligar para ele em
qualquer horário do dia. Será que os homens dele viram alguma coisa?
— Filho da puta. — Callum saiu da cama, pisando duro pelo quarto e
pegou o seu telefone. Ele colocou no ouvido por um tempo. — O que eu te
falei sobre envolver a Isla nos seus joguinhos, cacete? — E foi embora.
Tentei levantar rápido o suficiente para acompanhar, os pontos da cirurgia
não doíam mais e a minha barriga não estava mais inchada, mas eu me sentia
tão cansada que era impossível andar rápido.
Estava emagrecendo rápido demais, tão rápido que até a minha
nutricionista estava preocupada, mas com dois bezerros para amamentar, eu
sabia que os nutrientes mal assentavam no meu corpo antes dos meus filhos
sugarem a vida fora de mim. A parte boa que dos dezoito quilos da gestação,
faltavam apenas seis, acumulados nos meus braços, barriga e culote. E claro,
os peitos.
— Foda-se que ela é sua irmã. Ela é minha mulher, mãe dos meus
filhos e apenas metade irmã. Metade! — Callum gritou. — Eu não quero!
— Callum, acalme-se. — Pedi e ele só me olhou. Seu olhar foi um
cala-boca enorme. — Isso é totalmente desnecessário.
— O quê? Não estou brincando! — Ele voltou a me ignorar. — Não é
um joguinho? Prove! Se souberem que a Isla é sua irmã, ela vai estar com um
alvo na testa!
Não fazia ideia o que o Enzo falou, mas o meu namorado ficou mudo e
puxando os cabelos, nervoso. Ele me deu um olhar preocupado.
— Foda-se, Enzo. É melhor que isso não seja um jogo. — Callum
jogou o telefone na mesa. — Seu irmão sabe quem nos seguiu no passado e
quem está nos seguindo. — Ele me deu um olhar exasperado. — Ele seguiu
os rastros junto com o babaca do Jackson e chegaram a umas informações
meio confusas.
— Que informações? O que foi, baby?
— Tem um homem que está reunindo muitas informações sobre nós
dois. — Apoiou ambas as mãos na mesa. — Ele não está nos bancos de dados
e vive a margem.
— Quem ele é? — Me aproximei da mesa.
— O idiota do Enzo vai me enviar o que tem. Acredita que ele disse
que eu podia ter pedido por favor? — Callum estava puto e soltei uma risada.
— É claro que o senso de humor é parecido. — Resmungou e dei a volta na
mesa, abraçando-o. — Pelo menos, ele está fazendo algo útil.
— O Enzo descobriu que te irritar é um passatempo maravilhoso e
você está caindo como um patinho. — Dei um beijo no seu pescoço. — O
que nós vamos fazer? Devemos falar com o meu pai?
— Seu pai está com o prato cheio demais cuidando do Raymond e
sendo um viúvo. Eu posso lidar com isso, Isla. Só não queria o seu irmão
brincando com isso. — Segurou o meu rosto e me beijou. — Acho que será
mais seguro para todos ficarmos em Lowell.
— Na casa dos seus tios?
— Podemos ficar na casa principal. Charlotte estará por perto, a
minha tia, a Patrícia e talvez a Cassie possa ficar conosco já que nós dois
temos muito que trabalhar em alguns processos. Será como um acampamento
em família por tempo indeterminado.
Eu não me importava de ficar fora de casa, contabilizei quantas pessoas
para me ajudar com os gêmeos e já me sentia aliviada. Ligamos para a nossa
família, combinamos o necessário e a Cassie estava preparada para uma
imersão de trabalho com o Callum. O Charlie não se importava de ir e vir
contanto que ficasse com todo mundo. Patrícia e o Cage viviam muito mais
perto de Lowell do que de Boston, então, eles estariam nos visitando.
Tia Gwen saiu de casa para preparar a residência para a nossa chegada.
Ela prometeu que ficaria com os gêmeos à noite para que pudéssemos dormir.
Tentei ficar no apartamento sem ajuda, com dois, descobri que a história de
ser uma mulher maravilha era um pesadelo.
— Será que não é um jornal nos seguindo? — Me sentei na sua mesa.
— Ou a receita federal? A polícia? Alguém que possa ter percebido a
conexão dos trens com Nova Iorque?
— Enzo teria rastreado. Eles possuem um controle firme, realmente
firme, com a polícia local, federal e rodoviária. É muita gente na folha de
pagamentos, eles não passariam assim... — Colocou ambas as mãos na minha
cintura. Seu telefone fez um barulho de recebimento de mensagens. —
Chegou... — Callum franziu o cenho. — Não faço ideia quem é.
Virou o telefone para mim e olhei para o homem.
— Ele é estranhamente familiar. — Murmurei chegando mais perto.
— Conhece esse homem?
— Não tenho certeza. — Mordi o meu lábio e ampliei a foto. — Os
olhos dele... São familiares. — Passei para a foto ao lado. — Enzo não sabe
quem é?
— Não e muito menos o Tray, é a milésima verificação que ele faz e
não dá em nada, nem a tatuagem no braço. — Continuei olhando para as
fotos. Era difícil enxergar com as imagens tão granuladas, era difícil ter uma
ideia. — Seja quem for, ele tem recebido bastante dinheiro. Não está
totalmente rastreável. Tray está invadindo alguns bancos para saber o
caminho inverso da grana, devemos ter alguma resposta em breve.
— Enquanto isso, vamos ficar seguros e ter toda ajuda do mundo.
— Você precisa dormir, não é?
— Com essa, eu não sei se vou conseguir, mas acho que ficaria
infinitamente mais tranquila se os meninos ficarem em segurança. — Olhei
em seus olhos. — E você também, meu homem precioso. — Beijei o seu
queixo e o telefone vibrou. Era o Enzo. Atendi a chamada. — Oi, irmão. —
Cantarolei só para irritar o Callum.
— Oi tampinha. — Fiz uma careta. Todo mundo arrumava um
apelido sobre o meu tamanho. — Dei uma olhada aqui e achei algumas
imagens dele ao redor do prédio que a Isla trabalhava.
— Ele vem nos seguindo há tempos? — Callum conferiu, com a veia
da testa tão alta que pensei que fosse explodir.
— Parece que sim, o que é bem estranho, as imagens são antes do
relacionamento de vocês, mas as informações sobre a Isla começaram a ser
armazenadas após uma data específica e segundo o banco de dados, vocês
foram jantar em um restaurante italiano. — Ele pareceu soprar uma fumaça.
— Da minha família, por sinal.
Callum revirou os olhos. Ele sabia disso na época? Esse jantar foi
durante o nosso primeiro final de semana juntos e ainda sequer estávamos
juntos como um casal.
— Algo mais útil?
— Vou enviar tudo que achei, talvez vocês achem uma conexão.
Viajarei nas próximas horas…
— Eu me viro daqui.
— De nada. — Enzo ironizou e desligou. Eu ri.
— Como ele era na faculdade? — Cruzei as minhas pernas, curiosa.
Callum suspirou, ele estava tão cansado que estava irritado. Eu sabia
que o seu humor ficava extremamente delicado quando não dormia muito,
mas os bebês não eram o motivo da sua irritação, pelo contrário. Era o
motivo da sua felicidade. Esse homem maluco que estava nos seguindo pela
cidade que era o problema. Ele não ia descansar até que descobrisse, já estava
obcecado, mas não falava muito comigo porque eu não podia me estressar na
gestação e agora, que a minha pressão estava controlada e os meninos com
muita saúde, falávamos mais sobre isso.
— Exatamente assim. Achando que tinha um rei na barriga, mal
aparecia nas aulas e ele pagou pelo diploma, porque não estudou nada. — Ele
me deu um olhar. — Não vou permitir que aconteça qualquer coisa com
vocês.
— Seja quem for, vamos descobrir. Ele está relaxando, começando a
aparecer em câmeras de trânsito, coisa que não deu para pegar nas outras
vezes que percebemos que fomos seguidos.
Nós voltamos para o quarto e eu sorri ao ver o Daniel acordado,
quietinho no berço, ele era um anjinho. Gabriel continuava dormindo, ou o
quarto não estaria tão silencioso. Aproveitei que o Callum estava em casa
para tomar banho. Era impressionante o quanto ficava cheirando a leite com
facilidade. Banhada e relaxada, com muito sono, tirei mais leite para dormir
um pouco.
Callum ficou trabalhando ao meu lado, digitando rápido, de fones de
ouvido para ouvir os áudios que recebia e antigamente, o som dos seus dedos
na tecla me faria gritar, mas o sono era tanto que não estava ouvindo. Dormi
pesado, acordei duas horas depois, renovada, me sentindo outra mulher e
virei na cama para ver o Gabriel com uma chupeta que ainda parecia grande
demais no seu rosto e os olhos atentos no pai, que trocava a fralda do Daniel.
— Tudo bem? — Sentei-me e peguei o Gabe. Ele cuspiu a chupeta
logo que sentiu cheiro do leite. — Oi, amorzinho. Você tirou uma soneca
gostosa?
— Gabriel não acordou chorando e eu descobri um macete. —
Callum me deu um olhar perverso. — Molhei a chupeta com o leite e enfiei
na boca dele logo que começou a resmungar.
Soltei uma risada alta e os meninos se agitaram, se mexendo, esticando
as pernas e os braços, querendo entender o que havia acontecido.
— Papai te deu uma volta? — Beijei a testinha dele. — Chorão.
— Ele chora muito, sinto muito. — Callum não estava arrependido.
— Vou ficar aqui na cama enquanto você arruma as coisas ou eu arrumo as
coisas e você fica com eles. O que prefere?
— Eu vou arrumar tudo, você sempre esquece as coisas mais
importantes. — Devolvi o Gabe para cama, deitando-o do lado do irmão e fui
até o closet, pegando uma mala para começar a minha aventura de reunir
todas as nossas coisas para uma temporada em Lowell.
Me sentia animada e ao mesmo tempo preocupada sobre como o
Callum poderia reagir em estar na residência que ele sofreu muitas coisas.
Estava receosa que tivesse gatilhos e que o seu humor ficasse sombrio, ao
mesmo tempo, eu sabia que ele não era mais aquele homem instável. Nós
avançamos muito com a terapia e o nosso relacionamento transformou as
nossas vidas.
Esperava que Lowell não nos derrubasse.
Esperava que esse homem misterioso não nos machucasse.
CAPÍTULO 34
Callum.
— É estranho estar aqui. — Cage falou, olhando para frente e o seu
filho caçula estava correndo, ele andava de um jeitinho desengonçado,
parecia um patinho. Os gêmeos dormiam no carrinho, aproveitando o sol
matinal.
— Eu queria que esse lugar deixasse de ser tão fodido, porque é muito
bonito. — Enfiei as minhas mãos nos bolsos. — As crianças merecem
aproveitar. São muitos hectares que elas podem construir uma nova história.
— É verdade. — Cage gritou para o seu mais velho não empurrar o do
meio. — Se prepara. Eles adoram brincar juntos, mas brigam muito
facilmente. Nunca te pedi perdão por ter traído a sua confiança. Tudo que
aconteceu...
— Não precisa pedir perdão, eu não tinha direito...
— Deixe-me falar. Por favor. — Cage insistiu e fiquei quieto. — A
Patrícia e eu erramos profundamente em não assumir os nossos sentimentos.
Levou muito tempo para que tudo acontecesse e eu confesso que era
irresponsabilidade da minha parte e medo da parte dela. Patrícia não queria
ser devolvida para a sua família e ela estava apavorada, mesmo assim, nem
sei explicar como tudo aconteceu. — Ele estava olhando para frente. —
Quando você descobriu, eu me senti mal por ter te magoado e muito aliviado,
porque estávamos livres. Eu a amava, amava muito. Ainda amo, obviamente.
Ela trouxe luz, sentido, equilíbrio e eu sei que você, a Tia Gwen, a Charlotte
e todo restante me amavam, mas não era...
— O amor.
— Você entende, não é?
— Não entendia até conhecer a Isla.
—Tudo que nós passamos nos fortaleceu, me fez crescer como homem
e como pessoa. Eu não me arrependo, porque eu tenho a família mais incrível
do mundo, mas eu lamento muito ter machucado você. Eu voltaria no tempo
para fazer tudo diferente, apenas para não te magoar. — Ele virou de lado. —
Eu sinto muito.
— Não amava a Patrícia. Eu fiquei ferido por você, mas a Patrícia
significou, por um tempo, que o nosso pai estava certo. Hoje eu sei que era
apenas porque não nos amávamos. — Dei de ombros. — A Isla me fez ver
isso, ela tem esse olhar bom e bastante honesto sobre isso. Você e a Patrícia
formaram uma família feliz e eu tenho a minha família, só depois de tudo isso
que eu entendi. Peço perdão por ter dificultado a vida de vocês.
— Eu entendo, faria o mesmo ou pior. — Sorriu torto e então, ele
gritou para o Ethan não se pendurar na grade. — Esse garoto tem muita
energia, eu já volto. — Desceu as escadas da frente e os três meninos se
dispersaram, correndo em direções opostas só para dificultar. Soltei uma
risada pela maneira que o Cage tentava recolher as crianças.
Patrícia saiu pela porta principal com a Isla, enfiou dois dedos na boca
e soltou o assobio mais agudo que até os cães pararam de correr. Se os
estábulos fossem perto, os cavalos sairiam correndo. Seus três meninos
começaram a correr na direção delas. Cage riu, porque ficou óbvio que a
figura disciplinadora era a mãe e não o pai. Eu jamais poderia imaginar a tão
quieta e submissa Patrícia sendo tão mandona, mas a maternidade e o
casamento mudavam a vida de uma pessoa.
— Adorei a técnica, vou aderir. — Isla riu. — Vamos entrando,
coisinhas. Tia Isla tem picolés para vocês! — Os meninos gritaram de alegria
e foram correndo para dentro de casa. Eu podia ouvir a Tia Gwen pedindo
que se acalmassem, mas era o mesmo que nada.
Charlie saiu de casa com três cervejas na mão e me deu uma.
— Eles desligam em algum momento? — Olhou para o Cage.
— Não vem com botão de desligar, homem. Use camisinha, até porque,
depois que eles nascem, você não dorme mesmo. — Cage retrucou e a
Patrícia deu um soco nele, indo embora. — O que eu fiz?
Isla revirou os olhos e foi empurrando o carrinho dos gêmeos para
dentro de casa. Eu não podia discordar. Ainda bem que não sentia muito
sono, porque mesmo assim, os gêmeos eram terroristas da madrugada. Isla
estava sofrendo, ela chegava a chorar, mas desde que chegamos a Lowell,
com a Cassie e a Tia Gwen prontas para ajudar, nós conseguimos dormir um
pouco mais.
Daniel costumava ficar muito irritado quando o seu irmão o acordava, o
que acontecia sempre. Se eu pensava que eles cresceriam dividindo o mesmo
quarto, esse pensamento desapareceu, porque os dois não podiam ser mais
diferentes e só tinham sete semanas de vida.
Meu telefone vibrou e era uma mensagem do Tray.
— Alguma novidade? — Charlie quase se pendurou no meu ombro.
— Porra, não. Estou ficando maluco. — Grunhi, enfiando o meu
telefone no bolso. — Ele não foi mais visto desde que viemos para Lowell,
mesmo assim, eu preciso apenas de um rastro para ir atrás. Recebi a
informação que ele teve um depósito alto, veio de contas em paraísos fiscais
e isso se resume a quase toda pessoa rica que não quer ter o seu dinheiro
encontrado.
Cage deu um longo gole da sua cerveja e me olhou desconfiado.
— Será que tem a ver com o papai? Pode ser alguém querendo se
vingar. O velho fodeu a vida de muita gente...
— Eu pensei nisso e tentei levantar todos os inimigos públicos dele,
mas a lista é longa demais. Pode ser qualquer um.
— Isso é verdade. Enquanto o Tio Harry estava vivo, ter o nosso
sobrenome era ter um alvo na testa. Verificou a Roxanne? O marido dela tem
muito dinheiro... — Charlie apoiou a cerveja no parapeito. — Ela tinha uma
obsessão doentia pela Isla e odeia a sua existência, porque você é filho do seu
pai.
— Estou vigiando-a de perto. O fato do homem andar ao redor do
trabalho da Isla antes de nos conhecermos só me faz pensar que talvez, ele
tenha um envolvimento com a Roxanne. — Me apoiei no parapeito. —
Talvez ele estivesse por perto para se conectar a Roxanne e não para vigiar a
Isla. Só depois que ficamos juntos que ele passou a nos observar.
Ouvi um gritinho muito parecido com o do Gabriel, terminei a minha
cerveja e entrei em casa. Isla estava amamentando o Daniel e a Cassie tentava
controlar o seu afilhado o suficiente para colocar a mamadeira na boca dele.
Gabe lutava contra o sono, contra amamentar e assim que ele tivesse forças,
ele lutaria contra a troca de fraldas e das roupas também. Eu sabia que
quando ele crescesse, seria um teimoso nato.
Seria exatamente como o Cage era.
— Dizem que seu filho puxa o que você mais odeia no seu irmão. —
Isla comentou ao ver o Cage embalar o Gabriel.
— Faz sentido. O Ethan nos dá olhares impassíveis realmente irritantes
quando estamos brigando com ele. — Cage olhou para o filho, que por
coincidência, nos deu um olhar muito desinteressado, como se ele fosse bom
demais para estar ao nosso redor. Exatamente como todos reclamavam de
mim.
— Meu Deus. — Isla riu, ninando o Danny. Nós tínhamos planos de
acostumar as crianças em dormir com o barulho e a ficar com outras pessoas,
porque não queríamos que eles fossem crianças enjoadas.
— Então se prepara, porque o Cage é muito irritante. — Patrícia
murmurou da pia, lavando a louça. Tia Gwen soltou uma risada alta,
mexendo um molho à bolonhesa em uma grande panela. Cassie sentou-se no
colo do Charlie, rindo.
— Ignore-os. Tio Cage é uma pessoa muito legal. — Meu irmão
murmurou para o meu filho, que parecia interessado no tio, com a mamadeira
na boca.
Isla estava com os olhos brilhando de felicidade. Ela era assim. Feliz
por pequenas coisas, esfuziante e literalmente transformava a vida de quem
tocasse. Ela me fez enxergar o quão bom era conviver em família, mesmo
depois de tudo que passou com a sua mãe, ainda vivendo a dor do luto,
passando por um pós-parto em que ela estava com muitas oscilações de
humor. Ela era luz.
Ela me olhou com um dos nossos bebês no colo e eu a amei mais um
pouco. Eu precisava fazê-la minha esposa e eu tinha o pressentimento que ela
estava pronta para dizer sim. O anel ainda estava bem guardado, dessa vez no
cofre da residência, porque eu fiquei preocupado em sentir que aconteceria o
momento certo e estar sem o anel ao alcance das minhas mãos.
Aquele era o momento certo.
Jay e o Raymond viriam para jantar e passar o final de semana. Assim
que ele saísse do plantão, pegaria o Ray na escola e chegariam aqui perto do
jantar. Isla estava ansiosa em apresentar a propriedade para o seu irmão e
amanhã, todos nós iríamos aproveitar um pouco do parque aquático, fazendo
um churrasco de família pela primeira vez em muitos anos.
— Você pode olhar os meninos para que possa passear com a Isla no
final da tarde? — Parei ao lado da minha Tia Gwen.
— Claro que sim, será um prazer. Imagino que vocês dois precisem de
um tempinho sozinhos. — Como sempre, a minha tia me deu um sorriso doce
e um olhar feliz. — Seu tio deve chegar em algumas horas e nós vamos amar
ficar com os meninos.
— Obrigada. — Dei-lhe um beijo na bochecha.
Nós almoçamos um delicioso espaguete com almôndegas feito pelas
nossas mulheres. Cassie fazia as maiores almôndegas do mundo, porque ao
invés de bolas que pudéssemos comer com uma garfada, era preciso cortar ao
meio. Nós brincamos que pareciam grandes cabeças boiando no molho, mas
toda a comida estava maravilhosa.
Tia Gwen cochichou que prepararia uma cesta de piquenique e deixaria
pronta na cozinha.
Cage e Patrícia subiram para fazer os meninos dormirem. Cassie e o
Charlie desapareceram, eles estavam isolados na ala sul, porque todos nós
concordamos que era impossível ficar perto deles. Meus tios estavam na ala
oeste, eu estava com a minha família na ala principal, que ficava na parte
central da casa e o meu irmão, na ala leste. A casa era imensa, com dezoito
quartos, podíamos muito bem dividir em milhares de casas.
— Isso aqui deveria virar um hotel histórico. — Isla comentou no
nosso quarto. — É um elefante branco muito caro de sustentar. — Tirou a
roupa, olhando-se no espelho.
— A casa se sustenta. — Falei distraído com a sua bunda. — Ela tem
fundo próprio. Os cavalos, o museu e o jardim sustentam toda a propriedade.
A ideia de transformar em um hotel não é ruim, ainda mais que é uma
residência histórica. Vou conversar com o Cage, se eu fizer isso, irei dividir
com o meu irmão.
— Eu simplesmente amo vê-los juntos novamente. — Se inclinou e me
deu um beijo nos lábios. — Para de me olhar assim.
— Assim como?
— Desse jeito aí, safado.
— Você está tão gostosa, baby. Como poderia não te olhar cheio de
tesão?
Sorrindo, sentou-se na pontinha da cama e a puxei bruscamente para o
meu colo. Olhamos para o berço e os meninos estavam quietos. Gabriel
dormindo e o Danny chupando a chupeta, na dele. Eu não ia falar putaria com
os meus filhos no quarto, mas eu deixaria a mãe deles muito ciente que ela
me enlouquecia e eu a queria a todo instante. Beijei-a do jeito que não beijava
desde a última vez que fizemos sexo, meses atrás. Eu respeitei o seu tempo, o
seu corpo, ela não estava mais de resguardo e ainda assim, eu sabia que não
estava pronta.
Para ser bem sincero, toda logística a de ter dois bebês dependendo de
nós dois ao mesmo tempo não me fez pensar em sexo. Só não queria que ela
achasse, nem por um segundo, que não a desejava. Seu olhar após o beijo foi
nublado de desejo e senti que despertei o seu interesse. Foi impossível não
ficar animado. Continuamos nos beijando até que senti o meu peitoral
molhado.
— Seios vazando, que maravilha. — Resmungou e parecia meio
envergonhada. Ignorei e voltei a beijá-la. — Callum!
— Isla! Tivemos filhos, você está amamentando, o que você acha que
vai acontecer? Eu não tenho nojo do seu leite.
— Não se importa que tudo fique uma bagunça molhada?
— Estou doido para te deixar molhadinha. — Provoquei a sua risada.
— Eu vou ficar molhada, mas no chuveiro e você, vai olhar os
pequenos. — Saiu do meu colo e foi serelepe para o banheiro.
Escolhemos um dos maiores quartos da ala, não era o quarto que um
dia dividi com a Patrícia e muito menos o quarto que foi dos meus pais.
Ambos não existiam mais. Na última reforma, achei por bem desfazer e criar
outros cômodos. Alguns quartos foram feitos próximos demais, o que tirava
toda a privacidade e eu decidi por fazer pequenas salas de convivência. Se
esse lugar se transformasse em um hotel, essas salas fariam dos quartos
ambientes de luxo.
A ideia não era ruim. Foi cogitada no passado, mas eu não estava
pronto. Cage muito menos. Tudo que vivemos naquela casa era forte demais
para ignorar, mas depois da Isla e de finalmente lidar com os meus traumas
infantis na terapia, eu podia respirar dentro dessas paredes sem me sentir o
garoto levando uma surra no porão... Que não existia mais. Acabou. Tudo
aquilo teve um fim.
— Eu amo a banheira desse quarto. — Isla saiu enrolada em uma
toalha. — Danny dormiu.
— Ele não precisa ser ninado, já reparou?
— Acho que ele tem dó dos pais que lutam com o irmão. Será que ele
sente dor? O menino sabe chorar.
— Ele não chora, ele grita. São coisas totalmente diferentes.
Nós rimos e eu não me sentia mal por zoar o meu próprio filho. Ele
merecia por me fazer andar pelo corredor dando umas sessenta voltas antes
que durma. E por me fazer pensar que está pegando no sono, quando na
verdade, está pronto para gritar ao ser colocado no berço.
— Minha tia vai ficar com eles, vamos dar uma volta?
— Sério? Estou louca para fazer uma caminhada. Podemos ir até o
jardim?
— Claro que sim. — Seria ainda mais incrível.
Esperei que se vestisse, ela escolheu um longo vestido amarelo, com
flores rosas e sandálias baixas, deixando os cabelos presos em um rabo de
cavalo. Chamei a minha tia, ela entrou no nosso quarto para olhar os meninos
enquanto estivessem dormindo e se eles acordassem, ela os levaria para a
sala.
Isla agarrou a minha mão, descemos a escada, peguei a cesta na
cozinha, que tinha algumas frutas, queijos e um champanhe. Atravessamos o
corredor para sairmos no pátio dos fundos, caminhando sem pressa pelo
gramado, olhando as flores e menos de dez minutos depois empurrei os
portões de ferro que davam para o jardim. Minha mãe amava aquele lugar e
cuidava muito melhor dele do que dos filhos, mas eu tinha as melhores
lembranças com ela ali dentro. No jardim, ela estava sempre feliz. Cage deu
os seus primeiros passos ali dentro e lembrava de fazermos piqueniques na
grama com o Cage ainda bebê em um carrinho.
— Esse lugar é perfeito em qualquer época do ano. — Isla suspirou e
bati em um mosquito no meu braço. — Deveríamos ter passado repelente. —
Sorriu e foi até o balanço, pulando e tentando sentar-se. — Trouxe o seu
telefone? Tira uma foto minha?
— Claro. — Enfiei a minha mão no bolso, mas ao invés de pegar o meu
telefone, tirei a aliança. Ela parou de se balançar e me encarou, com os olhos
azuis tão abertos que chegou a ser cômico. — Tenho algo que considero um
pouco melhor que um telefone para eternizar esse momento.
— Callum... — Ela sussurrou.
— Desde que você chegou, a minha vida ganhou cor e eu aprendi o que
é amar de verdade. Você me ensinou muitas coisas, não só como a
importância de me tornar um homem melhor para os nossos filhos, mas sim a
dar valor em todas as pequenas coisas, porque elas são as mais importantes
no dia a dia. Você me fez enxergar os meus erros, perdoar o meu passado e
me libertar para viver um futuro ao seu lado com os nossos filhos. — Me
aproximei e ajoelhei na sua frente. — Espero que aceite passar todos os dias
da sua vida ao meu lado, até que a morte nos separe, porque eu não posso
pensar em viver sem você. Eu te amo, aceita se casar comigo?
Louca do jeito que era, ao invés de me responder, se jogou do balanço
em mim. Me abraçando apertado, gritou um sim agudo que me fez soltar uma
gargalhada. Sua loucura sempre me surpreendia e era uma das muitas coisas
que me deixava fascinado. Caí sentado na grama, sem conseguir equilibrá-la,
ficou montada no meu colo e deslizei a aliança em seu dedo.
— Uau, ficou perfeita. Sabia o meu número?
— Comprei em Paris. A Cassie me contou o seu número.
Isla estava admirada.
— É perfeita, baby. Obrigada. Eu te amo muito e mal vejo a hora de me
tornar a sua Sra. Lowell. — Me deu um beijo apaixonado. — Deveríamos
estender aquela toalha, estourar o champanhe e começar uma comemoração
adequada, do tipo bem intensa e apaixonada enquanto temos uma babá
atenciosa com os nossos meninos. — Seu olhar era intenso, mordendo a
pontinha do lábio, sorriu torto.
— Comemoração intensa e apaixonada é o meu novo sobrenome, Sra.
Lowell. — Beijei a sua boca, pronto para batizar aquele jardim e eternizar o
nosso noivado entre aquelas belas flores.
Aquela linda mulher seria a minha mulher e eu não podia estar me
sentindo mais feliz e o homem mais honrado do mundo inteiro.
CAPÍTULO 35
Isla.
Ergui a minha mão, olhando a aliança que decorava o meu dedo e eu
não podia acreditar que o Callum me pediu em casamento no jardim que eu
sonhava viver o meu conto de fadas. Nós tivemos um piquenique picante, nos
reconectando como homem e mulher, voltamos para casa quando o meu pai
estava chegando com o Raymond e fizemos um jantar de comemoração com
a nossa família.
Contei a Laila, que apesar de surtada com o seu casamento, encontrou
espaço para dizer que poderia me ajudar com o meu. Callum e eu nunca
quisemos um grande casamento, mesmo quando falávamos sobre isso
hipoteticamente. Cassie e eu ficamos horas olhando tendências na internet.
— Como foi o seu casamento? — Cassie olhou para a Patrícia.
— Foi bem íntimo. Nós não queríamos chamar muita atenção e ao
mesmo tempo, a Tia Gwen fez com que fosse um momento lindo no seu
jardim. — Patrícia sorriu timidamente. — Não tinha muita gente, porque foi
em um momento delicado. Mas foi perfeito mesmo assim. — Nos deu um
sorriso.
— Não sei se quero me casar em uma grande festa. — Cassie
comentou pensativamente. — Na verdade, não me vejo vestida de noiva.
Acredita que o Charlie já conversou comigo sobre casamento? — Revirou os
olhos.
— Que bonitinho. — Apertei a sua bochecha.
— Vocês não acham que eles estão demorando? — Patrícia olhou em
seu relógio. Estava tarde e nenhum dos três havia voltado do trabalho.
— Eu acho. — Concordei. — Vou olhar os meninos, quer que eu olhe
os seus?
— Vou subir com você.
— Vou abrir um vinho e esperar as senhoras mamães. — Cassie
estava jogada em um sofá e pegou o telefone, franzindo o cenho. — Callum e
o Charlie deixaram de visualizar no mesmo horário.
— Tem um trecho da estrada que fica sem sinal, talvez estejam por
perto. — Patrícia comentou e subimos a escada juntas. Colocamos os
meninos dormindo juntos no quarto mais próximo a escada, para que
pudéssemos ouvir. Me aproximei do berço dos meninos e eles estavam
dormindo, acordariam em breve, para mamar um pouco mais e ficariam
acordados por mais algumas horas.
— Você sente saudade de quando eles eram pequenos assim?
— Às vezes... Apesar das noites mal dormidas, era mais fácil de
controlar. Educar uma criança é muito difícil, eu não fui muito educada, vivia
com babás e sem atenção dos pais, se não fosse a Tia Gwen me ajudando nos
meus conflitos internos, eu não sei como educaria esses meninos. — Ela
olhou para os filhos. — Não os trocaria por nada no mundo. Dou a minha
vida por eles.
— O final da gestação foi muito desconfortável, o Callum acha
engraçado, mas eu juro que nem lembro mais quando olho para essas
coisinhas. Nunca imaginei que seria capaz de fazer filhos tão bonitos. —
Sorri, muito orgulhosa das minhas crias.
— Eu digo que eles são lindos por nossa causa. — Ela piscou. Apesar
de ainda ficar muda ao redor do Callum, ela se mostrava uma mulher muito
brincalhona comigo. — Você não se incomoda com toda a história?
— Não é da minha conta e eu não sinto ciúmes, vejo o quanto você e
o Cage se amam. Além do mais, eu já deixei o meu posicionamento para o
Callum e se você não se importar, eu te falo.
— Estou curiosa, diga.
—Callum disse que os seus pais praticamente te venderam para ele e
ele te mantinha como uma boneca, ele estava errado. Primeiro em aceitar te
“comprar” e segundo, em te manter como um bibelô na estante, se ele queria
te ajudar, deveria ter proporcionado a liberdade que merecia. Reduziram você
a uma mulher bonita e eu não te culpo por encontrar o amor. Espero que você
e o Callum possam se perdoar mutuamente, porque sempre seremos uma
família.
— Obrigada, Isla. — Patrícia me abraçou apertado.
Nós voltamos para o primeiro andar. Cassie estava servindo vinho nas
taças e eu fui direto para a janela. A casa principal ficava bem longe da
portaria. Os estábulos ficavam de um lado, o jardim para o outro e o parque
aquático nos fundos, ainda assim, havia milhares de hectares de terra. Olhei o
caminho iluminado e mandei uma mensagem ao Tray, que estava na casa de
segurança.
— Suco de uva para a lactante. — Cassie me deu um copo e fiz um
beicinho. — Está preocupada?
— Está muito tarde e com aquele homem…
— Eu sei, estou nervosa também.
Nós ficamos jogando conversa fora quando ouvimos um ruído na babá
eletrônica. Olhei e liguei a câmera, soltei um grito agudo ao ver uma pessoa
em pé ao lado do berço e imediatamente corri até as escadas. Estávamos
sozinhas. Empurrei a porta do quarto e os gêmeos estavam chorando, Archie
acordado com os olhos arregalados e o Andie congelado. O homem
encapuzado segurava o Ethan e ele tinha…
— Solta o menino, por favor. — Pedi erguendo as minhas mãos. —
Nós temos joias e dinheiro, eu transfiro o valor que você quiser, apenas solte-
o.
— Solta o meu filho! — A Patrícia gritou, me empurrando e a Cassie
a segurou quando o homem apertou a arma na cabeça do menino, que estava
congelado de medo. — Nós te damos o que você quiser.
— As instruções de resgate chegarão em breve. — Foi tudo que ele
disse, se afastando para a janela. Agarrei o abajur do quarto e arremessei na
cabeça dele. Ethan correu para os braços da mãe, o homem tentou agarrar o
Gabriel no berço e avancei nele, mordendo o seu braço e pisando no seu pé.
Cassie e eu lutamos contra ele, mas ele era forte demais e me jogou no
chão. Ele apontou a arma para Cassie, eu gritei, ela avançou nele, agarrando
seu braço, mas fez um disparo. As crianças gritaram e choraram. Ethan
correu, assustado, nisso, o homem pegou o menino e saiu pela varanda.
— Mamãe! — Ethan gritou.
— Patrícia! — Cassie ajoelhou ao seu lado. — Ela foi atingida! —
Cassie estava histérica. Levantei do meu lugar no chão, senti uma dor aguda
nas pernas, algo molhado escorrendo, mas eu saí correndo pela varanda,
tropeçando pela escada.
Gritei por ajuda, gritei socorro, na escuridão do jardim, só seguia os
sons dos passos pesados dele. Ninguém aparecia. Os cavalos se agitaram.
— TRAY! BOYLE! — Gritei, desesperada, com as pernas molhadas
de sangue e havia um caco do abajur enfiado na minha coxa. — SOCORRO!
Os funcionários que viviam nas casas próximas acenderam as luzes. O
alarme da propriedade começou a soar, todas as luzes se acenderam e eu pude
ver a van. Tray saiu cambaleando, com uma arma na mão, ele estava caído na
grama e eu vi o Boyle próximo ao rio... Ele parecia morto.
Tray gritou que eu abaixasse quando disparos foram feitos na nossa
direção. Escorreguei na grama e acabei rolando até perto do rio, parando
centímetros de dar com a cabeça nas madeiras do deck. Levantei e vi o Tray
atirar contra a van, eu gritei que o Ethan estava ali dentro, mas a van saiu da
estrada principal da propriedade e bateu direto na parede de uma das casinhas
do meio do caminho.
— Ethan está lá! — Me sentia quase sem fôlego.
— Atrás de mim, Isla. — Ele gritou e eu agarrei a sua camisa. Dois
seguranças da propriedade estavam com as armas apontadas. Um deles abriu
a porta do motorista e jogou o homem desacordado no chão.
— Eu vou abrir a porta de trás, você vai pegar o Ethan e correr para a
propriedade. — Tray falou comigo e assenti.
No três, ele abriu a porta. Ethan saiu correndo, eu o agarrei e não olhei
para trás, mesmo quando ouvi sons de luta e disparos. Escondi o rostinho dele
no meu pescoço, ele era pesado e a minha coxa estava doendo muito.
Empurrei a porta da frente, subindo as escadas. A Cassie estava acalmando
um dos gêmeos e a Patrícia estava fechando um curativo, aos prantos, com os
filhos ao seu redor.
— Ethan!
— Mamãe! — Ele gritou e eu o coloquei no seu colo. — Mamãe! —
O menino não deve ter entendido nada.
— Isla, você está sangrando muito. — Cassie me deu um olhar aflito.
— Que porra acabou de acontecer? Você... Simplesmente correu atrás dele.
Quase me matou do coração. O que diabos está acontecendo? — Ela chorou.
Estava sem ar demais para conseguir responder, me ajoelhei ao lado do
berço e olhei para o Daniel, com a chupeta no rosto. Meus braços estavam
sujos, mas eu precisava segurar o Gabriel. Ele se acalmou ao sentir o meu
cheiro, o silêncio reinou, as crianças fungavam e eu ouvi o barulho das
sirenes ficando cada vez mais próximo.
— ISLA? — Callum gritou.
— CASSIDY!
Cage foi o primeiro a surgir, quase derrubando a porta e eu vi que ele
estava machucado, mas apenas se jogou no chão abraçando a sua família. A
histeria da Patrícia era muito parecida com a minha, eu estava tentando puxar
o ar, com o coração batendo tão forte que doía. Callum estava com o
supercílio cortado, afundou ao meu lado e me puxou delicadamente para os
seus braços. Eu mal registrei o Charlie abraçando a Cassie, porque fechei os
meus olhos e me senti em segurança.
A polícia entrou no quarto, eles foram milagrosamente suaves e calmos.
Paramédicos entraram para nos ver, minha perna foi limpa e costurada. As
crianças foram verificadas e a Patrícia foi levada para o hospital. Manquei
para a sala, me apoiando pelas paredes, querendo ouvir o que a polícia dizia.
Meu pai me deu um abraço e chorei contra o seu peito.
— O que aconteceu? — Me afastei. — O que foi isso tudo?
— Oi, baby. — Callum me abraçou. Ele estava com um curativo.
— Você precisará ir à delegacia amanhã, dar o seu depoimento e
vocês três foram imprudentes, a sorte que o trecho tinha câmeras de
segurança e de trânsito. Estão inocentados por causa disso. — Jay falou
severamente com o Callum.
— O que aconteceu?
— Nos cercaram na estrada. Inicialmente, pensamos que fosse um
assalto, mas parar os dois carros? Eles sabiam que estávamos vindo juntos.
— Callum me deu um olhar. — Era uma emboscada, provavelmente para
atrasar a nossa chegada e conseguirem agir com o sequestro. Cage atropelou
um deles e nós acabamos de saber que o homem não resistiu. Eu acertei um...
Ele está em coma.
— Caramba.
— Você foi louca em correr atrás dele. — Meu pai brigou comigo.
— Depois que ele acertou a Patrícia, eu não sabia mais o que fazer,
mas eles não podiam levar o Ethan. Foi impulsividade... estava apavorada. —
Voltei a chorar. — O que foi isso?
— Ainda não chegamos a um mandante, como vocês entregaram tudo
sobre um possível suspeito, a polícia vai chegar a isso logo. — Meu pai
garantiu. — Vocês terão proteção policial até que possa reunir uma equipe de
segurança.
— O Boyle vai ficar bem?
— Sim, vai ser preciso ficar internado em observação por mais alguns
dias, mas ele vai ficar bem. — Callum me abraçou. — Estamos bem, feridos,
mas bem.
— Tia Gwen vai ficar com a Patrícia?
— Sim. Eu prometi ao Cage que nós cuidaremos das crianças. —
Esfregou os meus braços. — E o corte?
— O remédio para dor não é próprio para lactantes. Eu tenho que
ligar para a pediatra, porque está doendo e eu tenho leite apenas para as
próximas horas. — Sequei o meu rosto. — Acho que preciso de um calmante,
ainda estou muito nervosa.
— Calma, baby. Estamos bem. — Callum me apertou em seus
braços.
Precisei dar o meu depoimento mais uma vez, eu não vi o rosto de
quem estava no quarto, eu jamais imaginaria que alguém invadiria a casa.
Eles conseguiram desativar o sistema de segurança da propriedade, atacaram
os seguranças e agiram tão silenciosamente que quase tiveram êxito. Foi um
plano bem arquitetado.
Não queria ficar longe das crianças. Archie e o Andie estavam
dormindo. Charlie estava dando uma mamadeira para o Gabriel e a Cassie
para o Daniel. Entrei de fininho no quarto e rastejei para a cama ao lado do
Ethan. Ele estava acordado ainda, com os olhos arregalados e dei um beijo na
sua testa. Abracei-o apertado, ninando-o, fazendo uma oração porque eu não
podia imaginar o quão confuso e assustado ele estava. Tirei uma foto quando
os três dormiram e enviei para o Cage, para que não se preocupasse.
Não dormi a noite inteira, vigiando as crianças, sentindo uma dor
miserável no corte na minha coxa. Os gêmeos acordaram nas nos seus
horários costumeiros, minha cabeça estava explodindo e pela manhã, Patrícia,
Cage, Tia Gwen e o Tio Robert chegaram. Cassie e o Charlie estavam
preparando o café da manhã e as crianças gritaram de prazer para os pais.
Ethan começou a chorar nos braços da mãe e eu não aguentei, me rendendo
ao choro também.
— Estou bem, foi só um susto. Nós vamos ficar bem... Foi como uma
noite que você tem pesadelos quando vê os filmes violentos que o papai
gosta. — Patrícia acalmou o Ethan. — Eu te amo, meu filho. Você foi um
menino muito corajoso.
— Eu sei, mamãe. Fiquei com medo. — Ethan fungou.
— É normal sentir medo, mas nós somos uma família e vamos
superar isso. — Cage abraçou o filho. — A mamãe está bem. Foi um
ferimento leve.
Me sentei em uma cadeira, ninando o Gabriel e dei uma olhada no
Daniel no colo do Callum.
— Aqui, a fórmula. — Cage me entregou o saco da farmácia.
— Graças a Deus. — Agarrei a fórmula, preocupada que eles fossem
rejeitar, mas seria apenas por alguns dias. — Estou morrendo de dor. Minha
perna ainda está latejando. — Peguei o frasco do remédio e empurrei um na
boca, louca para tomar mais um. — Só tenho leite materno para mais duas
mamadas e a noite iremos testar a fórmula.
— Melhor revezar, se eles rejeitarem, teremos outro leite. — Callum
murmurou e colocou o Daniel para arrotar.
— Panquecas especiais da Tia Cassie estão prontas! — Cassie gritou
e os meninos correram para a mesa, subindo nas cadeiras com agilidade. Tia
Gwen bateu em suas mãos antes que eles agarrassem as panquecas. —
Ajudem o espirro. — Cassie comandou e o Ethan ajudou o Archie a subir na
cadeira alta. — Ótimo.
— Tio Charlie chegando com os melhores ovos com presuntos, quem
quer?
— Eu telo! — Archie gritou, nos fazendo rir. Ele trocava a maioria
das palavras.
Nós sentamos ao redor da mesa, espalhando comida e enchendo os
nossos pratos, o que era uma verdadeira benção. Depois do pesadelo que
passamos, no qual poderíamos ter perdido a Patrícia, ou sentados esperando
uma ordem de resgate com um dos homens Lowell preso por reagir a uma
emboscada. Era um completo milagre estarmos reunidos na manhã seguinte e
eu não podia deixar de estar infinitamente grata.
Me inclinei na minha cadeira e beijei a bochecha do Callum, deitando a
minha cabeça no seu ombro. Nossos filhos estavam em nossos braços. Juntos,
não importava o que acontecesse, seríamos sempre fortes.
CAPÍTULO 36
Callum.
Isla estava andando de um lado para o outro na sala, balançando o
Gabriel. Danny estava deitado no Moises portátil, me encarando com seus
olhos grandes e azuis como da sua mãe. Eles eram puxados e atraentes.
Ajeitei o seu gorrinho e acariciei a sua barriguinha, beijando seu pé coberto
com uma meia. Um sorriso nervoso surgiu em seus lábios.
Desviei o meu olhar e vi a mãe dos meus filhos pegando o telefone do
bolso.
— O que foi? — Questionei e ela me deu um olhar aflito.
— Não briga comigo, mas eu liguei para o meu... Para o Enzo.
Fechei os meus olhos, respirando fundo.
— Por quê?
— Já passou três semanas! A Patrícia levou um tiro, o Ethan e o
Gabriel quase foram sequestrados, o Boyle quase entrou em coma e o seu
irmão matou um homem, porque alguém quer nos ferir! Então eu liguei para
o meu irmão! — Isla praticamente gritou. — Ele vai nos ajudar no que puder,
inclusive, ele acabou de me dizer que tem a informação sobre o dinheiro pago
aos homens.
— E?
— Saiu do mesmo banco que envia pagamentos para o homem
misterioso. Ele conseguiu um sinal em uma torre aqui perto e está enviando
as mensagens para o seu computador. — Peguei o meu notebook e ergui a
tampa, ligando para ver o que ele estava me enviando. Continuou lendo e ela
quase deixou cair o telefone no chão. — Não posso acreditar.
— O que foi? — Fiquei de pé.
— Enzo acha que foi a Roxanne. Ele não tem como provar, está
fazendo as conexões.
— Que conexões?
Peguei o aparelho dela e liguei para o Enzo.
— Eu não sou bom nessa merda, para investigar mais, precisarei
envolver o Jackson e você não quer.
— Não. Não quero dever nenhum favor a ele.
— Não irá dever favor nenhum se eu pedir. Estou fazendo isso porque
a Isla é minha irmã e o Jackson sabe que não pode se meter a besta comigo.
— Enzo estava fumando. — Não gosto dessa mulher. O seu chefe da
segurança não vai conseguir ir tão longe quanto eu, apenas o Jack tem
acesso.
— Merda. Fale com ele, mas eu vou precisar de provas concretas para
ir com tudo para cima dela.
— Esqueceu com quem está falando, Lowell?
— Não. Estou falando com o pivete italiano que foi mandado para
minha fraternidade e que por castigo do universo, precisarei te aturar como
cunhado.
Enzo riu.
— Jackson respondeu que me dará algumas respostas em breve, mas
do pouco que viu, foram espertos o suficiente para agir em sua maior parte
sem estar online, o que impede a maior parte do rastreio. — Ouvi uma voz
feminina e ele respondeu em italiano. — Tenho que ir, eu vou ligar depois.
— Encerrou a chamada.
— E agora? A Roxanne está envolvida? — Isla colocou o Gabriel
adormecido na cadeirinha ao lado do seu irmão.
— Todos nós desconfiamos dela, mas sem provas, o que podemos
fazer? — Abracei-a. — Essa mulher entrou na vida da minha família como
uma sanguessuga, eu não tenho culpa que o meu pai era um monstro.
Ninguém tem.
Meus filhos não podiam pagar pelos erros estúpidos que o meu pai
cometeu. A Patrícia não estava reclamando, mas eu sabia que ela estava
sentindo dor do ferimento. A Isla estava se entupindo de medicação para dor,
seu corte foi profundo, ela perdeu um pouco de sangue e estava com metade
do ferimento com pontos. Quando o sequestrador a jogou no chão, ele deve
tê-la ferido, na confusão da luta corpo-a-corpo.
— Eu sei de tudo isso, amor. — Isla me encarou. — Roxanne é muito
rancorosa e mal amada. Ela odeia qualquer um, sem motivo profundo.
— Meu pai deve ter feito com ela coisas terríveis, mas ela aceitou tudo
que ele lhe deu, a carreira, os carros, casas... Não retiro que deve ter sido
abusada física e emocionalmente de muitas maneiras, ele só sabia se
relacionar assim, mas se ela está por trás de tudo isso, eu não posso vê-la
como vítima. — Beijei a pontinha do nariz dela. — Eu já disse que te amo
imensamente hoje?
— Imensamente? Não.
— Eu te amo imensamente, Isla Annie Lowell.
— Os papéis não ficaram prontos ainda.
— Eu sei, faltam só seis dias e meio. — Esfregou o nariz no meu. — E
aí, pela lei dos homens, você será a minha esposa.
— E pela lei de Deus? Vamos agendar uma data logo que isso tudo
passar?
— Sim. Estou ansioso para te ver de noiva, mas antes, precisamos nos
vestir de padrinhos. Eu tenho que encontrar o Michael para a minha prova. —
Dei um beijo nos seus lábios. — Charlotte está na cozinha, ela vai te ajudar
no que precisar e a nova funcionária vai começar amanhã.
— Não deixe que ele pense que precisam cancelar o casamento. — Ela
agarrou a minha camisa e ficou nas pontas dos pés.
— Eu sei, vai ter um esquema de segurança e eles terão o dia mais feliz
das suas vidas. Eu prometo.
— Tio Callum! — Ethan entrou na sala correndo. — Eu preciso fazer
xixi.
— Eita! Vamos lá! — Corri com ele para o banheiro. Os sanitários
eram muito altos, ele sempre precisava de ajuda e ele pedia para qualquer
homem para levá-lo ao banheiro. Charlie morria de rir. Meu primo nunca foi
próximo de crianças e agora, ele tinha cinco ao seu redor.
Cinco crianças barulhentas.
Nós estávamos decididos a tirar esse tempo em família, porque bem ou
mal, dávamos força ao outro. Ainda mais com a Patrícia e a Isla com
ferimentos. Charlotte estava com uma tala mais leve e com menos dor, depois
do que aconteceu, ela estava conosco para ajudar no que pudesse, assim
como outros funcionários da casa da minha Tia Gwen. Me ausentei do
trabalho, tirando férias, porque a minha família precisava de mim. A Isla
estava dormindo muito pouco, tendo pesadelos, as crianças pareciam sentir a
sua agitação e não paravam de chorar por longas horas de madrugada.
Liberei o Ethan após lavar as mãos e ele correu de volta para a cozinha.
Tia Gwen estava assando biscoitos e ele estava em cima dela, ansioso.
— Tio Callum. — Isla me provocou. — Imagina quando eles
começarem a falar?
— Acho que vão falar papai primeiro.
Ela colocou ambas as mãos na cintura.
— De jeito nenhum! Eu fiquei quase do tamanho dessa casa para que
os dois falem papai? Nada disso! Um para cada ou nenhum, eu sou bem
capaz de ensinar qualquer palavra aleatória só para não perder esse jogo. —
Reclamou e abaixou para pegar os meninos.
— Tudo é uma competição para você? — Me aproximei e agarrei a sua
cintura, acariciando a sua bunda.
— Mamãe! Tio Callum está apalpando a Tia Isla! — Andie gritou e
saiu correndo. Ouvimos a risada da Patrícia levando-o para cozinha e soltei
uma gargalhada. Isla estava vermelha, rindo, me deu uma cotovelada e
ergueu ambas as cadeirinhas, andando em direção a escada. Fui atrás, porque
queria ficar com eles mais um pouco antes de me reunir com a minha
advogada dorminhoca.
Cassie estava tirando um cochilo, porque passou a noite nos ajudando
com os gêmeos. Isla aproveitou que os meninos estavam dormindo, deixou
no quartinho deles, um anexo próximo ao nosso com a babá eletrônica ligada.
Me deitei na cama e ela ficou em cima de mim, me abraçando apertado.
— Por que você não confia no Jackson Bernard? — Isla perguntou
baixinho.
— Porque ele não me deu motivos para confiar. O Jackson é um
homem que manipula as pessoas ao seu redor para conseguir o que quer,
coloca as informações no bolso para usar ao seu favor quando é necessário.
— Olhei em seus olhos. — Então... Não quero que ele te use como moeda de
troca para qualquer coisa. Um exemplo, se alguém da família dele for
sequestrado e ele precisar te entregar no lugar, vai fazer sem hesitação. Ou
simplesmente se a pessoa tiver algo que lhe interessa. Ele não tem
escrúpulos.
— Acha que ele nos colocaria em risco?
— Não confio nele, nunca vou confiar, mas, por causa do seu irmão e
por todas as coisas que eu sei, ele não seria tão louco.
— Falei com o Enzo porque, não quero que o meu pai me ouça, mas a
polícia não tem recursos e essa morosidade estava me matando.
— Entendo, mas eu gostaria que conversasse comigo e por favor, não
seja inocente quanto às atividades do seu irmão. — Olhei em seus olhos.
— Não serei, prometo. — Me deu um beijo gostoso e montou no meu
colo. Seus peitos estavam maiores no meu rosto e eu não podia resistir. Dei
um beijo em cada almofada, puxando para baixo, mas ela me bateu. — Nada
disso, você tem que sair em pouco tempo e eu não quero uma rapidinha.
Fiz um pequeno beicinho, movimentando-me sugestivamente e então,
ouvimos um pequeno reclamar. Era o Daniel. Ele dormia menos que o irmão,
mas nunca chorava quando acordava. O menino era um anjinho. Isla pulou do
meu colo e foi até o anexo, voltando com ele nos braços. Seus olhos estavam
arregalados e o cabelo loiro como da sua mãe todo em pé. Sentei-me e
estiquei os meus braços, dando uma boa cheirada no seu pescoço. O cheiro
dos meus filhos podia ser engarrafado e vendido, não existia nada melhor.
— Você é tão lindo, garoto.
— Você vai se atrasar, Callum. Quanto mais rápido sair, mais rápido
vai voltar e o seu irmão quer fazer pizzas a noite. Estou ansiosa por isso,
portanto, não se atrase. — Ela se inclinou e me deu um beijo nos lábios,
agarrou o menino e foi para o closet.
Peguei os meus sapatos e calcei, precisava ir a Boston encontrar o
Michael e o Benji para prova dos ternos dos padrinhos. Não estava muito a
fim de sair de casa, mas não ia fazer a desfeita com o Michael que estava
sendo muito solidário e presente com a Laila em um momento que a Isla mais
precisava da energia positiva dos seus amigos.
Depois da emboscada, estava muito mais atento ao trânsito e a qualquer
carro que poderia estar nos seguindo. Eu estava beirando a paranoia, mas,
aquela noite foi um pesadelo que levaria tempo a ser superado. Agradecia a
Isla ter sido corajosa, ao mesmo tempo, sentia pavor do que poderia ter
acontecido. Se tivessem levado o Ethan, como a minha família iria se
recuperar? Pensei que depois do meu pai, nenhum mal iria nos abater, mas de
um modo, isso era culpa dele.
Foi ele quem trouxe a Roxanne Miller para as nossas vidas.
— E aí, noivinho. — Michael já estava dentro da loja, com a sua roupa
do casamento. — Então, o que acha?
— Parece muito bom, eu quero um igual. — Provoquei e o Benji saiu
dos provadores.
— Senhores, não me cantem. — Ele virou de costas. — A minha bunda
ficou perfeita aqui. — Fez uma dancinha muito afeminada e muito engraçada.
O nosso atendente ficou sem graça, o que nos fez rir ainda mais. Benji me
assustava no começo, ele era esfuziante e muito falador, eu sempre fui quieto
com os meus amigos.
A minha vida deu um giro de 360º depois da Isla e até o meu
relacionamento com os meus amigos mudou. Durante a sua gestação, tivemos
encontros e jantares, até fizemos chamadas de vídeo com colegas próximos
dos tempos da faculdade. Ter o Michael e o Benji na minha vida apenas
completou o círculo de loucura que ela trouxe. Eu nunca imaginaria que a Isla
fosse tão... Isla, olhando a sua foto da inscrição. Ela parecia doce, quieta e
uma menina centrada. Não havia comparações ou definições para descrever a
sua energia.
— O que acham? Tirem uma foto e enviem para a Isla. — Saí do
provador.
— Não. A Laila não me deixou ter uma mísera noção do seu vestido,
nem os vestidos das madrinhas, então, ela não vai ver nada dos padrinhos. A
Isla vai contar a ela. É segredo. Somos adultos e capazes de nos vestir bem.
— Michael reclamou e ri. Ele e a Laila estavam em uma disputa boba sobre o
casamento.
Após fazer alguns ajustes no terno e na calça, escolhi os sapatos e ficou
acertado que buscaria a roupa um dia antes do casamento. Fiz o pagamento,
eles queriam muito sair para beber, mas eu não podia me ausentar muito. Isla
ainda não havia decidido sobre uma babá, então, eu tinha que estar em casa
todo tempo possível até que conseguíssemos entender como iremos
administrar nossos trabalhos e as crianças.
Dirigi em alta velocidade para casa, apesar de estar sozinho na estrada,
eu só parei no supermercado no meio do caminho para buscar o Cage. A loja
dele era colada ao mercado, ele estava cheio de compras para a noite da pizza
e eu saí, para carregar a caixa de madeira com várias garrafas de vinho. As
meninas estavam empolgadíssimas com a noite italiana, porque a Isla tinha
leite o suficiente estocado para poder beber essa noite.
Voltamos para a estrada e ignorei as reclamações do Cage que estava
correndo demais. Estacione o carro na garagem, satisfeito com o desempenho
do meu Audi.
— Você parecia um piloto de fuga, idiota. Eu tenho três filhos para
criar. — Saiu reclamando e ri da sua expressão emburrada.
— Ou mais filhos. — Provoquei.
Patrícia e a Isla estavam na cozinha.
— Nada de mais filhos, seu irmão fez vasectomia. — Patrícia sorriu.
Cage soltou as compras. — Que expressão é essa?
— Eu fiz?
— Você saiu de casa semanas atrás depois de termos conversado sobre
a vasectomia e voltou com o papel da clínica. É um procedimento simples.
— Eu fui lá ver como era, eu não fiz. — Cage franziu o cenho. Pensei
que a Patrícia fosse explodir, porque ela estava tão vermelha quanto o seu
cabelo.
— Então por que nós não fizemos nada nos dias seguintes? — Cruzou
os braços.
— Porque as pestinhas que a gente cria estavam dormindo entre nós e
você parecia um gremlin de tão mal humorada. Esperei o seu humor acalmar.
Como agora. — Ele ergueu as mãos.
— Cage, eu vou te matar. — Patrícia respirou fundo. — Você deu a
entender que fez a merda do negócio, como era algo que não queria, eu
pensei que não queria falar sobre isso! — Gritou e a Isla olhou para mim.
Apontei para a porta. — Eu parei de tomar as pílulas. Se eu estiver grávida,
eu vou te matar!
— Amor...
— Eu tenho um teste. — Isla se meteu e quase cobri a sua boca, mas
depois a encarei. Por que diabos ela tinha um teste? — Ah, eu não estava
desconfiada, na verdade, eu não tenho um teste. A Cassie tem dois.
— Isla! — Cassie estava entrando na cozinha com o Charlie.
— Por que nesse mundo você tem testes? — Charlie olhou apavorado
para a Cassie, que deu um olhar mortal a Isla, que pediu desculpas por falar
demais.
— Estou atrasada e sem coragem de fazer um teste. — Cassie reclamou
e eu ri.
— Eu não falei para te dedurar, só fiquei nervosa. — Isla estava
apavorada.
— Tudo bem. — Cassie olhou para a Patrícia. — Acho que precisamos
fazer um teste. — Deu as costas, a Isla empurrou o monitor do bebê na minha
mão e foi atrás.
— Acho melhor você rezar. — Patrícia olhou ameaçadoramente para o
Cage.
Nós três ficamos na cozinha, em estado de choque e o Charlie me deu
um olhar, começando a rir. Ele parecia surpreendentemente feliz pela suposta
gravidez da Cassie.
— Agora ela vai casar comigo. — Soltou uma risada alta e revirei os
olhos.
— Você é maluco, a mulher abriga a fúria de um tigre. — Cage
balançou a cabeça e abriu um vinho. — Se a Patrícia estiver grávida de novo,
eu vou ter que vender o meu rim para pagar a faculdade dessas crianças.
— O tio é rico. — Charlie me provocou e revirei os olhos.
— Foda-se. A Patrícia vai me matar mesmo assim. — Bebeu
diretamente da garrafa.
A minha sorte era que a Isla e eu tínhamos certeza de que isso nunca
aconteceria conosco. Qualquer gravidez seria muito planejada. Peguei uma
taça e servi o vinho para mim, curioso sobre os resultados. Achamos melhor
começar a preparar a comida, adiantar ao máximo enquanto elas pareciam ter
decidido levar uma eternidade no segundo andar.
Meu telefone vibrou repetidamente. Enzo estava me enchendo de
informações. Soltei a minha taça, não tão surpreso, mas desapontado. Jackson
conseguiu cavar o suficiente para descobrir quem era o homem que estava
nos seguindo e que provavelmente, arquitetou o sequestro. Ele era filho da
Roxanne Miller. Entre os documentos, havia a certidão de nascimento, os
papéis da adoção, relatórios de assistentes sociais e fotografias dele ao longo
da vida.
— O que foi? — Charlie me perguntou, preocupado com a minha
expressão e só entreguei o meu telefone. — Caralho! O filho da puta é filho
da Roxanne. E agora? Ele está sendo pago por ela? Está se vingando por ela?
— Só teremos certeza quando rastrearmos o pagamento, mas para mim,
isso é prova o suficiente de que ela está totalmente envolvida nisso. —
Suspirei e as mulheres entraram na cozinha.
Isla parecia que tinha engolido um canário, rapidamente correu para o
meu lado e segurou a minha mão. Cassie e a Patrícia estavam lado a lado,
uma parecia irritada e a outra parecia resignada. Elas ergueram os testes... De
onde estava, não podia ver o resultado.
— O que isso quer dizer? — Charlie arrematou o teste da mão da
Cassie. — Amor, o que isso significa? Duas listras, o que significa? — Ele
estava surtando.
— Significa que você vai ser pai, gênio. — Cassie gritou com ele e
quase a derrubou no chão. Ele a pegou no colo, rodopiando e eu ri, porque
era uma surpresa imensa. — Ai meu Deus, Charlie! Me coloca no chão.
— E vocês aí? Estou curioso! — Virei para o Cage. Patrícia estava
chorando com o rosto escondido no peito dele.
— Vou vender o meu rim. Bebê número quatro vem aí! — Ele gritou,
sem esconder a felicidade, mesmo com a sua esposa lhe batendo e chorando.
Eu não tinha certeza se não eram lágrimas de felicidade.
— Acho que tem alguma coisa nessa casa. — Isla pegou o vinho. — De
repente, eu me tornei a única mulher autorizada a beber hoje, que ironia! —
Comemorou e comecei a rir.
Era irônico que havia uma pessoa querendo nos destruir e a nossa
família estava simplesmente se multiplicando. Era impossível nos deter. Os
Lowell eram fortes demais para serem destruídos.
CAPÍTULO 37
Isla.
Caminhei no tapete vermelho, concentrada no Callum no altar e apertei
o meu buquê, seguindo o ritmo e mantendo a cabeça erguida diante de tantas
pessoas. A igreja estava lotada. Sorri para o noivo e parei no meu lugar,
esperando uma prima da Laila terminar de entrar e parar atrás de mim, um
degrau abaixo e então, a música mudou e as portas de madeira se abriram
para a entrada da Laila.
Callum me deu um olhar, porque o Gabriel estava chorando
copiosamente. Três meses e ele seguia sendo o rei do escândalo. Sorri e
mordi o lábio, olhando para a Cassie andando na lateral da igreja, tentando
acalmá-lo e o Charlie segurava o Daniel, pleno, com a sua chupeta e
segurando o dedo do seu tio. Ainda era completamente inacreditável que o
Charlie e a Cassie seriam pais.
Quando ela me abordou perguntando alguns sintomas, disse que era
melhor fazer o teste, não haveria dúvidas após um xixi. Normalmente, os
testes de farmácia eram bastante eficazes. Pedimos ao Tray para comprar e
ele trouxe dois, porque o dono da farmácia indicou. A segunda surpresa foi a
tonta da Patrícia achar que o Cage havia feito vasectomia, ela parou de tomar
as pílulas e eu não consegui não questionar porque eles não conversaram
sobre isso.
Ela disse que andava tão irritada com ele que não queria conversar, só
transar, então, descobrimos que ela estava grávida há mais tempo que
pensava. Patrícia sempre teve dificuldades em tomar a pílula regularmente, a
prova estava bem aí... Quatro filhos. Dessa vez, o Cage foi fazer uma
vasectomia. Me perguntei se a Patrícia sendo tão relapsa com o seu método
contraceptivo, nunca desconfiou não ter engravidado do Callum. Todos
sabiam sobre o câncer, mas ninguém sabia que ele era estéril.
Quase estéril. Para a nossa surpresa, sua contagem de espermas bons
subiu uns dois por cento. Ainda não era o suficiente para nos preocupar, em
seis meses, ele faria outro teste. Não estávamos exatamente preocupados, se
acontecesse, seria um milagre e totalmente bem-vindo.
Olhei para a Laila deslumbrante em seu vestido de noiva e nem parecia
que foi uma noiva completamente histérica porque o véu não estava ficando
preso no seu penteado. Ela estava no modo bridezilla há algumas semanas,
mas nos últimos dias foi uma pessoa que eu não queria conviver. Sendo a sua
principal dama de honra e madrinha, precisei aguentar e a minha revanche
seria no meu casamento. Duvidava muito que enlouquecesse como ela, na
verdade, meu casamento teria metade dos convidados que o da Laila.
A cerimônia foi linda, precisei usar o meu lencinho escondido no buquê
e felizmente o Gabriel colaborou com a madrinha do seu irmão, ficou quieto,
de chupeta, no colo da sua madrinha, a Cassie, de vez em quando ele soltava
uns gritinhos, mas eram gritos de felicidade das gracinhas que o Charlie
provocava nos dois. Quando a cerimônia terminou, os noivos saíram felizes,
de braços dados e segurei o braço do Callum, ganhando um beijo gostoso.
— Você está linda, baby.
— Esse tom de verde combinou comigo, não é? — Apontei para o meu
decote. Ele riu e deu uma boa conferida.
— Muito bons. — Mordeu o lábio. — Sra. Lowell, eu quero te arrastar
para o banheiro e fazer toda a tradição do padrinho pegando a madrinha.
— Eu topo.
Antes de ficarmos com os nossos filhos, ainda tínhamos o nosso dever
de madrinha e padrinho. Ficamos quase uma hora presos entre fotografias,
dança, cumprimentos e quando fomos liberados para dançar, eu agarrei os
meus filhos com os meus peitos praticamente vazando. Callum me levou para
uma sala privada no hotel em que estava acontecendo a festa e eu amamentei
um, tirando leite do outro seio, quase nua e meio que coberta com um lençol.
— Gabe! Devagar! — Falei baixo, ele me chutou, mamando agitado.
Daniel estava soltando gorgolejos com o pai. Eu não podia resistir ao Callum
sendo infinitamente bobo com os nossos meninos.
Gabriel soltou o meu seio, parecia meio bêbado de prazer, limpei a sua
boquinha e a gota que estava ameaçando cair do meu bico. Tirei a bomba,
pegando o Daniel para mamar enquanto o Callum fazia o Gabe arrotar e
guardava as nossas coisas. Ele estava ficando muito bom em fazer mais de
uma coisa com um dos meninos no colo. Estávamos muito experientes nas
trocas de fralda, no começo, fizemos um monte de besteiras.
Minhas habilidades com as crianças melhoraram gradativamente ao
longo dos meses. Todas as aulas que fizemos antes do parto não eram páreo
para a realidade dura de ter recém-nascidos em casa. No nosso caso,
realmente tínhamos condições de ter ajuda de um profissional, mas não havia
sentido contratar mais uma pessoa para correr riscos enquanto a nossa vida
estava em perigo.
Para falar a verdade, sequer lembrava o meu nome, depois que os
gêmeos nasceram, tudo ficou confuso. Deveria ter pensando em contratar
uma babá enquanto ainda estava grávida. Callum estava exausto, mas ele não
reclamava. Eu estava mais recuperada, desde que fomos para Lowell, tivemos
mais ajuda. Cassie era uma madrinha que se entregava ao seu papel e não
tinha nojo de nada.
Charlie demorou um pouco mais, eventualmente ele se rendeu as
mamadas e trocas de fraldas.
— Podemos entrar? — Charlie bateu na porta da sala. — Cassie está
enjoada.
Me cobri melhor e o Callum abriu a porta, minha amiga passou
correndo para o banheiro e o Charlie foi atrás.
— Essa parte é a pior de todas. — Comentei e olhei para o Danny
mamando. Felizmente eles nasciam e passava.
— Ugh. — Cassie gemeu. — Por que você e o seu super esperma me
engravidaram? — Ela bateu levemente no Charlie.
— Fizemos amor.
— Seus padrinhos vão acabar brigando. — Callum comentou para o
Gabe.
Terminada a minha função de mãe, finalmente voltamos para a festa.
Com os meninos, eu sabia que não podia ficar muito tempo. Eles estavam
adoravelmente vestidos com pequenos smokings e sapatinhos que imitavam
sociais, mas eram de tecido. Até tentei controlar o cabelinho espetado, ambos
estavam começando a ficar meio carecas atrás, em cima continuava uma
confusão que ficava de pé logo que secavam após o banho.
Nós nos revezamos na mesa por causa das crianças, mas eu pude
aproveitar bastante, dançando, comendo, fazendo parte das homenagens para
os noivos. Eles estavam tão felizes e mereciam aquele pedacinho de
felicidade. Ambos estavam loucos para receber uma boa notícia por parte da
assistência social, que estava cuidando do caso deles em relação a adoção. Eu
não me importava de usar a influência do Callum para que ambos pudessem
realizar o sonho de serem pais.
— Foi uma das festas de casamento mais divertidas da minha vida. —
Charlie comentou no banco do motorista da minivan. Os gêmeos estavam na
cadeirinha, dormindo, como sempre que estavam em um carro em
movimento. — Benji parecia muito louco na pista de dança.
— E quando começou a tocar Queen? Eu pensei que o hotel fosse
abaixo com a pista de dança tão cheia. — Cassie olhou para trás, rindo, mas
eu observei o olhar do Charlie mudar para o retrovisor mais de uma vez.
Estávamos sendo seguidos por dois carros com seguranças, mesmo assim,
não conseguia relaxar.
— Está tudo bem, Charlie? — Não me contive.
— O farol que está nos seguindo é o da segurança, só estava vigiando o
carro atrás dele. Precaução nunca é demais. — Me deu um sorriso. — Relaxa,
mamãe urso. Estaremos em Lowell em dez minutos.
— Precaução nunca é demais.
Desde que descobrimos que o homem que nos seguia era filho da
Roxanne, cada dia que passava, minha ansiedade em encontrar qualquer
mísera prova que os ligasse me deixou a mil. Eu sabia que seria difícil. A
polícia estava trabalhando. Jackson encontrou o caminho do banco para o
homem, com pagamentos, mas não havia como ligar a Roxanne e muito
menos ligar os ataques diretamente a nós.
Tive uma ideia, mas eu precisava envolver pessoas nisso, como o
técnico de T.I da editora, a Cait e causar um embate com a Roxanne para
extrair absolutamente tudo do seu computador. Eu pedi ao Enzo para fazer
uma varredura no computador dela, ele disse que havia acessos bancários lá,
mas ele tinha que estar conectado na mesma rede para conseguir dar a ele a
chance de acesso e ter provas.
Callum não me queria perto da Roxanne e não concordava. Então, ele
iria pessoalmente a editora tentar executar esse plano maluco que tinha que
dar certo. Estava preocupada que a Roxanne desconfiasse da presença dele e
apagasse os seus rastros. A minha presença não seria tão questionada se eu
fosse visitar a Cait ou o Benji. Tudo que precisava era estar conectada na rede
da editora e colocar um pendrive específico no computador dela. Tray já
tinha esse pendrive.
Chegamos em casa com tranquilidade e coloquei os meninos em seus
respectivos berços. Sentia falta do apartamento, do sofá gostoso da sala de
televisão, mas havia um charme em estar na tranquilidade da residência em
Lowell. Era tudo silencioso e depois que os gêmeos nasceram, eu não ouvia a
Samantha porque ela começava exatamente no horário que eles estavam no
melhor do sono – e eu também.
Ter esse tempo vivendo com a família nos deu força. Era uma condição
temporária. Precisávamos manter as crianças em segurança, principalmente
depois do quase sequestro, eu não queria ficar isolada na cobertura no qual
para chegar à saída de emergência precisávamos passar por milhares de
lances de escada. Em Lowell, tive mais inspiração para escrever, produzir,
manter a minha vida profissional ao máximo. A única coisa que eu sofria
críticas a todo custo era por não ter mostrado o rosto dos meninos, mas eu
não tinha coragem de expor duas crianças que quase foram levadas de mim.
— Está preparado para o nosso casamento? — Parei na frente do
espelho, começando a tirar o meu vestido. Callum parou atrás de mim,
ajudando desnecessariamente e o tecido do meu vestido caiu aos meus pés.
— Não sei se quero uma festa assim tão grande e você?
— Acho que perde o sentido, sem querer ofender, mas não nos vejo
assim... Com algo tão grande.
— Talvez uma cerimônia no jardim... Com nossos amigos e familiares
mais próximos? — Encontrei o seu olhar através do espelho. — Seria
perfeito.
— Vai ser como nos seus sonhos, baby.
— Os seus também, é claro.
— Eu nunca sonhei em me casar, a única coisa que quero é te ver de
branco andando na minha direção e dizer sim perante um representante da lei
divina. — Beijou o meu pescoço. — Não me importo se vai ter cem ou um
milhão de convidados. — Subiu as mãos pelos meus quadris, passando para a
minha cintura. Eu já tinha perdido todo peso da gravidez e até engordado um
pouco mais, mesmo assim, o meu corpo não era o mesmo. Minha barriga
estava com a pele meio flácida e ganhei tantas estrias que seria preciso um
tratamento.
Nada disso parecia importar para o Callum.
Virei-me de frente a ele, ficando na ponta dos pés enquanto ele
agarrava a minha bunda, me beijando com ferocidade. Aquele beijo me
deixava arrepiada da cabeça a planta dos pés. Empurrei-o de volta para o
quarto, caímos na cama e fizemos amor tão apaixonadamente quanto
possível, a cama estava batendo contra parede e os meninos iriam acordar em
pouco tempo.
Cada vez que fazíamos sexo era ainda mais perfeito. Eu o amava um
pouco mais a cada dia, me sentindo uma mulher completa e realizada em
muitas maneiras. Sem sono, pensei no tempo em que correr para todo lado
era tudo que podia fazer para me manter. Me sujeitei a muitas humilhações
para realizar o sonho de ter uma carreira reconhecida, cuidar adequadamente
da minha mãe e falhei em muitas coisas. Olhando para trás, sentia orgulho de
mim mesma, cada decisão que tomei, boa ou ruim, me levou diretamente ao
Callum.
Como poderia me arrepender quando ele e os meninos eram o que dava
sentido a minha vida?
— Você está muito quieta. — Callum esfregou as minhas costas.
Normalmente, não calava a boca, mesmo depois do sexo.
— Não sei se vai ser uma boa ideia você estar na empresa. — Apoiei o
meu queixo no seu peito. Puxei alguns fios, ele estava costumava diminuir os
pelos do seu peito, deixando o suficiente para que desse para puxar.
Ele fez uma pequena careta, belisquei o seu mamilo, ele detestava e ri,
ganhando um tapa bem estalado na bunda.
— Eu só preciso estar na rede da editora. Não preciso estar na sala ou
perto dela... Vou visitar o Ryan e fazer um monte de exigências sem sentido.
Pelo que o Tray me explicou, o pendrive pode ser conectado em qualquer
computador da rede, o do Ryan vai servir. Se não der certo, eu aceito a sua
ida até lá. — Apoiei a minha mão e me rastejei um pouco mais para cima. —
Está preocupada comigo, esposa?
— Claro que sim, o que te faz pensar que você não me preocuparia?
— Estou apenas querendo um pouco de dengo.
— Acabei de montar em você, homem. Você quer mais do que isso? —
Soltei uma risada da sua cara de pau. Segurei o seu rosto, beijando-o
novamente. — Quer um pouco em que posição agora?
— Quero um pouco da sua boca no meu pau...
Estava pronta para levar o pau dele a boca, quando um grito estridente
de um choro muito conhecido rasgou através do monitor do bebê e da porta
do quarto entreaberta. Me afastei, olhando para a câmera e era o Gabriel, pela
maneira que ele se sacudia, estava com a fralda suja.
— Meu filho tem um timing perfeito. — Callum gemeu. Ele rolou para
fora da cama, vestindo a calça do pijama com seu pênis ereto quase criando
uma barraca. — Oi, garoto. — Ouvi sua voz baixa. — Caramba, parece uma
bomba. Droga... Isla, vazou tudo. Tem cocô até o pescoço! — Falou e pulei
da cama, me enrolando em um roupão e atravessei o quarto, parando ao lado
dele.
— Minha nossa... Quanto cocô.
— Acho que isso tudo só sai com um banho... Tirando o excesso e um
banho? — Callum estava chocado.
Enquanto ele lidava com as roupas e a fralda podre, liguei a água
quente na banheira e um pouco da fria, para temperar. Estava quase na altura
certa quando ouvi o Daniel chorar. Voltei para pegá-lo, troquei a sua fralda e
troquei a roupa de cama do berço. Danny costumava ficar quieto no colo ou
com uma chupeta, mas ele sempre chorava quando o Gabriel chorava. O
Gabe sempre chorava no banho, isso significou que os dois estavam em uma
sinfonia no banheiro.
Quarenta minutos mais tarde, eles dormiram novamente e os meus
ouvidos agradeceram. Colocamos os dois no berço e suspiramos, parecia que
tinha acabado de correr uma maratona.
— São bonitinhos, não é? Nem parecem que estão quase me
enlouquecendo. Mesmo assim, sonhei tanto com eles.
— Eles são muito melhores que qualquer sonho.
Olhamos para a janela e estava quase amanhecendo, Callum precisava
sair em algumas horas e nós caímos na cama. Não levei dois segundos para
dormir e continuei na cama mesmo quando saiu. Estava exausta e fui em um
casamento, antigamente, aguentava sair de uma festa e ir para o trabalho.
Cassie se jogou ao meu lado logo que acordou. Os gêmeos ficavam
muito mais tempo acordados, começando a brincar, descobrir o mundo ao
redor, nos encarar com curiosidade e a reagir com alegria, principalmente
com gritos. Eu podia passar o dia inteiro brincando com eles, sem me
importar com o mundo externo.
— Será que ele já conseguiu? — Me sentei na cama, aflita e curiosa.
— Espero que sim. Estou muito enjoada, isso nunca vai passar? —
Cassie gemeu. Meu enjoo passou por um período na gestação e voltou com
força no final. — Não me diga quando nascer.
— O que a sua mãe disse sobre como foi quando ela engravidou de
você?
— Não contei a minha mãe que estou grávida. Contei ao meu pai, ele
ficou feliz e isso é o suficiente.
— Sinto muito por isso, Cassie.
— Serei uma mãe melhor que ela. — Deu de ombros e ouvimos uma
batida na porta. Patrícia enfiou a cabeça para dentro e ela estava sorridente.
— Acabei de pegar o meu exame no laboratório e eu não vou aguentar
esperar o Cage chegar para contar isso. — Sacudiu o envelope. — É uma
menina!
Cassie e eu ofegamos, surpresas e felizes. Estávamos certas de que a
Patrícia estava esperando mais um menino. Os gêmeos ficaram assustados
com os nossos gritinhos, porque depois de cinco meninos, a família
finalmente ganharia uma menininha. Cassie e o Charlie não fizeram o exame
para descobrir o sexo, optando por esperar mais algumas semanas.
Nós ficamos com os gêmeos e os três meninos no quintal, pegando um
pouco de sol na varanda e vigiando as pestinhas correndo na grama enquanto
os gêmeos ficaram no cobertor ao meu lado. Não conseguia soltar o meu
telefone, minha ansiedade crescendo muito a cada minuto.
“Consegui”.
Foi tudo que o Callum me enviou por mensagem e eu pensei que podia
acertá-lo com um tijolo. Só isso? Eu queria detalhes. Liguei para ele umas
trinta vezes antes de ele finalmente mandar uma mensagem menos sucinta.
“Pegamos a informação que precisávamos, conversamos em casa”.
— Será que esse pesadelo está terminando? — Mostrei a mensagem às
meninas. — Tudo que eu mais quero é que as nossas vidas voltem ao normal
e que os nossos filhos possam viver sem que uma psicopata esteja querendo
se vingar dos atos do avô.
— Se isso não der certo, não sei mais o que pode dar. Roxanne se
mostrou ser uma cobra muito astuta. Eu ainda acho que deveríamos
sequestrá-la e fazê-la confessar. — Cassie murmurou, cruzando os braços
muito irritada.
Esperava que o Callum chegasse com boas notícias, porque eu estava
pronta para cometer uma loucura.
CAPÍTULO 38
Callum.

Sentado no escritório luxuoso que a Roxanne Miller mantinha, repassei


todas as vezes que a minha mãe chorou de humilhação porque a Roxanne
estava hospedada na nossa casa como se fosse uma convidada, usufruindo do
bom e do melhor que era direito da minha mãe. Se o meu pai a fez sofrer, eu
não me importava. Ela gostava de fazer a minha mãe sofrer. Ela esperava ser
a Sra. Lowell um dia.
Tray conseguiu fazer o rastreio das contas bancárias para o homem, que
na verdade, era mais jovem que eu. Tinha vinte e seis anos. Ele foi dado para
adoção quando nasceu. Eu estava muito tentado a fazer um teste de DNA
para saber se ele não era meu irmão de sangue, porque não era difícil
imaginar que o meu pai a obrigou a isso. Ele jamais teria um filho bastardo.
Meu pai nunca se casou novamente e muito menos assumiu
relacionamentos, para não perder a imagem de viúvo que foi deixado com
dois filhos para criar. Ninguém sabia que ele era o demônio que destruiu as
nossas vidas. Durante muitos anos, mesmo após a sua morte, deixei que a sua
monstruosidade me consumisse. Aquilo precisava de um fim. Era o momento
do ponto final.
Após conseguir entrar na rede de internet da editora, que foi
criptografada depois que o e-mail da Isla vazou a edição da revista – na
verdade, o Hank acessou normalmente, usando o e-mail e a senha que ele
deve ter observado a Isla digitar milhares de vezes –, foi tomado como
medida de proteção. Jack ou o Tray não poderiam invadir se não estivessem
conectados.
Roxanne não usava o computador da empresa para fazer as transações e
sim o seu notebook pessoal, que tinha um monte de informações sobre a
minha família, milhares de fotos, vídeos e declarações. Bastou poucos
cliques. Apesar de ter entregado todas as informações para que a polícia
montasse um caso, eu ia lidar com a Roxanne do meu jeito. Se ela queria
lidar com um Lowell, ela teria um.
— O que está acontecendo aqui? — Roxanne gritou de maneira
arrogante. Só havia algumas pessoas trabalhando do lado de fora, o escritório
que a Isla dividia com a Cait estava escuro. As suas duas assistentes estavam
fora, por ordem minha. — Cadê a tonta da Catrina? — Jogou a bolsa em
qualquer lugar e entrou no seu escritório, acendendo a luz. Ela gritou,
levando a mão ao coração. — O que você está fazendo na minha sala?
— Essa sala é minha, eu permito que você use. — Apontei para
cadeira. — Sente-se, Roxanne. — Ela empinou o nariz para falar um pouco
mais. — Sente-se agora.
Seu olhar ficou em alerta, mas ela não sentou.
Acendi a tela do meu telefone.
— Digam oi para a mamãe, crianças. — Falei e os filhos dela falaram
imediatamente. Roxanne arregalou os olhos e caiu sentada. Encerrei a
chamada e sorri. — Obrigada por sentar.
— O que você está fazendo com os meus filhos? O que é isso tudo?
Apoiei os meus cotovelos na mesa.
— Você pediu por isso. Basicamente implorou. Por que a surpresa? —
Olhei em seus olhos. — Eu sabiamente ignorei a sua existência, mesmo
quando você tratava a minha mulher como lixo. Ignorei a sua presença
infestando a minha revista. Mas você pensou que eu ia deixar passar a sua
tentativa de machucar a minha família?
— Não sei do que você está falando. A Isla não trabalha para mim há
meses. Ela não precisava trabalhar mais desde que abocanhou um peixe
maior e sinceramente, eu não a julgo. — Sorriu torto, mas eu podia ver as
linhas tensas na sua testa.
— Sei sobre o Leonardo. Já sei que você usou... — Abri a sua gaveta e
joguei o notebook na mesa. — Para fazer pagamentos para o seu filho. Você
fazia retiradas mensais das suas contas na Suíça. Foi esperta, devo admitir.
Deu um filho para adoção quando ainda era Roxanne Jones, assumiu o
Miller, mudou de identidade e mesmo assim, se manteve próxima do seu
filhinho. Eu sei que ele nos seguia pela cidade, que ele possuía as mesmas
informações que você colocou em uma pasta com senha bem aqui. — Bati no
notebook fechado. — Já entreguei tudo a polícia, mas, você pediu para
receber um tratamento especial. Seus filhos são bonitos... Crianças adoráveis.
— Meus filhos não têm nada a ver com isso!
— E eu tenho? Os meus filhos tinham algo a ver com tudo isso? Foi o
meu pai que começou isso, mas ele morreu! MORREU! — Soquei a mesa e
ela pulou sentada.
— Sangue Lowell é podre! — Gritou de volta. — Seu pai abusou de
mim de muitas formas e me fez dar o meu bebê! Ele me torturou
psicologicamente tantas e tantas vezes, para simplesmente morrer e deixar
TUDO PARA VOCÊ! — Apontou e eu ri.
— Então você me culpa por ser o filho mais velho? Por ter herdado
tudo? Foda-se, Roxanne. Você sabia com quem estava se metendo! Acha que
não lembro todas as vezes que riu da cara da minha mãe? Um homem
incapaz de respeitar a própria esposa iria respeitar a amante que fazia tudo
que ele queria? — Continuei rindo. — Você podia ter se vingado de mim, ia
ser estranho, mas ia entender. Você mexeu com os meus filhos, tentou
sequestrar o meu sobrinho e agora você vai sentir a mesma dor.
Roxanne fechou os olhos.
— A diferença que eu não quero um resgate. Só quero te causar dor.
Liguei novamente e ela podia ouvir os seus filhos.
— Eles não estão com a babá. Quer verificar? — Virei a tela e mostrei
a babá amarrada em um canto. — Legal, né? Me perguntava o que meu pai
sentia quando fazia esse tipo de negócio quando as pessoas não queriam
negociar legalmente com ele. O gostinho da vingança é interessante... Ah, o
seu marido. Ele estava muito bem arrumado indo trabalhar, mas eu acho que
aquele terno Armani dele está meio sujinho... De sangue.
Roxanne estava lívida.
— O que você quer?
— O Leonardo.
— Eu não queria que o Leonardo pegasse as crianças. Eu ordenei que
ele sequestrasse a Isla... ele fez o seu próprio plano. Por favor, eu vou dizer
onde ele está e você solta a minha família. — Roxanne me olhou, procurando
por misericórdia.
— Você vai me levar até ele e depois nós vamos conversar sobre a sua
família. Lembre-se, você achou que eu não tinha nada do meu pai e vou te
provar que estava enganada. — Espalmei as minhas mãos na mesa. — Você e
eu estamos apenas começando o nosso acerto de contas. Levante-se e me leve
até o seu filho.
Ela ia pegar a sua bolsa e eu neguei, mexi nas suas coisas e peguei os
seus dois telefones. Tray e Boyle foram na frente. Dei créditos a ela ao sair da
editora de cabeça erguida e entrar em um carro com três homens. Roxanne
deu o endereço de um apartamento que ele costumava ficar, antes de chegar
lá, pedi uma verificação. Nós rodamos pela cidade até que me confirmassem
que o Leonardo estava lá dentro.
Acionei a polícia, porque ela veria o seu filho sendo preso. Eu tinha a
sua confissão gravada no escritório. Tray parou o carro em frente ao prédio,
Roxanne assistiu a polícia invadir, uma troca de tiros e quando o Jay
sinalizou que estavam saindo, abri a porta do carro e a obriguei a sair.
Leonardo era parecido comigo pessoalmente. Havia traços muito sutis que
lembravam o Cage.
— Oi, Leonardo. — Apontei para a sua mãe. — Ela te entregou, porque
sempre gostou mais dos seus filhos legítimos. Aqueles que ela teve em um
casamento e teve orgulho em apresentar a sociedade. — Ele ergueu o olhar.
— Já contou tudo? A mamãe estava disposta a te dar dinheiro, mas não o
restante.
Sem falar nada, foi conduzido para o carro da polícia. Jay me deu um
olhar desconfortável, mas eu ainda queria mais algumas horas torturando a
Roxanne. Tray a levou para o carro e o meu sogro me impediu de entrar em
seguida.
— Você não é ele. Já temos provas, confirmação e confissão. — Jay me
olhou nos olhos. — Lembra que você tem dois filhos em casa. Você sempre
quis ser um homem melhor que o seu pai... Seja melhor que ele.
— Vou fazer mais uma coisa e a levarei para a delegacia. — Prometi,
ele assentiu e entrei no carro.
— O que mais você quer? — Roxanne estava com um misto de pavor e
raiva.
— Vamos passear. — Fui sucinto.
Fiquei propositalmente quieto, olhando-a com intensidade até que o
carro parou em uma antiga escola primária. Ela era usada para recreação
infantil.
— Você tem cinco minutos para se despedir dos seus filhos. Seu
marido já teve um tempinho com eles e não se preocupe, ao contrário de
você, não machuco crianças. Sua irmã aceitou cuidar deles em troca de uma
pensão, escola e faculdade estão garantidos, já que eu confisquei o dinheiro
das contas na Suíça e as suas contas bancárias legais não iriam sustentá-los
por muito tempo. — Olhei para o meu relógio. — Os seus minutos começam
agora. Aproveite.
Roxanne saiu do carro e os filhos correram na sua direção, sorrindo,
suados de tanto brincar. A babá aceitou encenar por uma quantia, eu não a
machuquei e muito menos machuquei as crianças. Apenas levei-os para um
centro de recreação infantil para passar o dia com outras crianças. Meu sogro
parou o carro atrás do meu. Ele e o seu parceiro esperaram que a Roxanne
terminasse de se despedir dos filhos e não a algemaram na frente deles.
Aquelas crianças inocentes não faziam ideia que os seus pais pagaram
para machucar a minha família.
Acenei para Roxanne uma última vez e sinalizei para o Tray seguir
adiante. Arranquei as escutas que estavam no meu corpo, encerrando as
gravações e guardei tudo em uma caixa, que seria entregue a polícia para
corroborar o caso. A caminho de Lowell, meu telefone vibrou e era o Enzo.
— O que você quer?
— Não seja tão rude, cunhado. — Enzo parecia rir.
— O que você quer?
— Tudo resolvido?
— Ela acabou de ser presa.
— Pensei que fosse resolver isso de outro jeito.
— Não irei.
— Só avisando que não vou permitir que essa mulher faça mal a minha
irmã ou aos meus adoráveis sobrinhos, então, se ela não se comportar...
— Não esperava menos de você.
— Isso significa que estou autorizado a conhecer a minha irmã?
— Não preciso te autorizar a conhecer a minha mulher, ela é adulta,
mas você sabe que não quero que isso se torne público.
— Não irá. Eu disse que a Isla ficará sempre segura e ela ficará.
— Ótimo. — Encerrei a chamada.
Recostei no banco e olhei para os muros da propriedade, logo
estávamos no portão da frente. Me despedi do Tray e do Boyle, que
felizmente, estava melhor e de volta ao trabalho. Eles foram para a casa de
segurança. Se aquele lugar não fosse tão absurdamente grande, eu não me
importaria de criar os meus filhos ali, com livre acesso a tanto verde, animais,
com um excelente espaço para boas memórias.
Meus sobrinhos estavam correndo no quintal dos fundos, molhados e o
Cage estava sem camisa, de bermuda, colocando a mão na coluna, soltei uma
risada.
— Porra, ainda vem mais um. — Reclamou e de repente, o Ethan
arremessou um balão na minha direção e estourou na minha roupa, me
deixando molhado.
— Agora você vai ter que brincar com a gente. — Ethan riu. Maldoso.
— Eu vou tirar essa roupa e já volto. — Sorri e olhei para a Patrícia e a
Isla empurrando os gêmeos em carrinhos separados, próximo ao jardim. Isla
acenou e eu sinalizei que voltaria logo.
Subi a escada correndo, tirei a minha roupa molhada, coloquei uma
sunga e uma bermuda de banho, sem camisa. Voltei para o pátio. Charlotte
estava dando picolés para os meninos, sorriu e eu não lembrava se um dia,
quando Cage e eu éramos crianças naquele lugar, teve tantas risadas.
— Sentem-se ali e cuidado para não deixar cair. — Cage orientou e eles
estavam ocupados demais ficando sujos.
— Querem um, meninos? — Charlotte nos ofereceu. Troquei um olhar
com o meu irmão e rimos, avançando na vasilha de picolés. Quando nós dois
éramos crianças, ela nos dava doces escondidos.
— Eu quero! — Isla se aproximou. Daniel estava acordado, chupando a
chupeta e o Gabriel dormindo, com o bracinho no rosto. — Lactantes e
grávidas têm prioridades. — Ela arrematou o sabor de morango da minha
mão. — Obrigada, baby.
Patrícia pegou um de leite condensado, abrindo. Cassie e o Charlie
passaram pela porta dos fundos.
— Ah, eu vou colocar o biquíni e brincar com os meus meninos
favoritos. — Cassie cantarolou e os meninos gritaram.
— Como foi o exame? — Isla estava interessada.
— Está tudo perfeito e graças a Deus, é um só. Ouvimos o coração. —
Cassie sorriu e o Charlie colocou o áudio para tocar. — Não deu para saber o
sexo, mas decidimos fazer a sexagem porque eu não consigo dormir de
curiosidade.
— Minha mãe vai surtar se não fizer uma revelação com festa, ela
ainda está puta que a Patrícia contou para todo mundo que o bolo no forno
número quatro é uma menina. — Charlie riu e a Patrícia lhe deu a língua.
Cage e o Charlie me deram um olhar ansioso.
— Vou aproveitar a reunião em família para fazer um anúncio. —
Passei o meu braço nos ombros da Isla e a mantive perto. Ela era tão pequena
que era possível apoiar o meu queixo na sua cabeça. — Não contamos nada a
vocês porque não queria causar estresse, principalmente que vocês estão em
uma fase delicada. Espero que não fiquem chateados com os seus
companheiros, queríamos apenas preservar um pouco de paz e normalidade
nessas últimas semanas.
— O que aconteceu? — Isla estava pálida. Ela andava tão nervosa que
não sentia culpa de ter escondido os meus planos finais.
— Roxanne confessou. Foi levada a confessar, na verdade, mas ela, seu
marido e o filho foram presos nesta manhã. — Anunciei e as três estavam me
olhando, chocadas. — Leonardo foi preso com muitas acusações, assim como
a sua mãe e padrasto. Entreguei tudo que tinha a polícia e o Jay garantiu que
eles serão condenados. Ainda precisaremos processar e dar nossos
depoimentos, mas isso é uma história para outro momento. O que importa
agora é que acabou.
Isla se jogou em mim, me dando um abraço apertado e dei a minha total
atenção à sua beleza. Só de pensar que a Roxanne queria machucá-la para me
ferir, o meu coração ficava dolorido. Segurei o seu rosto e lhe dei um beijo,
que representava toda a minha felicidade e amor, além do alívio que aquela
fase assustadora terminou.
— É algo tão esmagador saber que uma mulher para quem eu trabalhei,
admirava, eu tinha matérias dela coladas na minha parede... Eu a idolatrava,
achava que fazia um bom trabalho e ela queria me ferir de muitas maneiras,
porque se ela machucasse os meus filhos ou os nossos sobrinhos, iria me
matar. — Isla secou o rosto. — Por quê? Ela disse? — Seu olhar magoado
encontrou o meu. Todos estavam curiosos.
— Ela achou um absurdo que depois de tudo que ela passou com o meu
pai, ele simplesmente morresse e não deixasse nada para ela. Existe uma
grande possibilidade que o Leonardo seja filho do meu pai e ele a obrigou a
entregá-lo para adoção. — Passei os meus polegares no seu rosto molhado.
— Não chore mais por ela. Acabou.
— Finalmente. — Isla ficou na ponta dos pés e me deu um beijo suave
nos lábios.
Nós nos reunimos na área da piscina, aproveitando o bom sol de verão.
Patrícia e a Isla brincavam com os gêmeos na sombra, Charlie estava
fingindo ser um tubarão enquanto a Cassie fugia com os meninos pela piscina
infantil. Cage estava jogado na espreguiçadeira ao meu lado, bebendo uma
cerveja gelada e reparei nas cicatrizes que ele adquiriu trabalhando na
construção civil.
— Precisamos decidir o que vamos fazer com a casa. — Comentei e ele
me olhou, encolhendo os ombros. — Quer abrir um hotel?
— Isso vai dar um trabalho infernal.
— Vai sim. Quer vender?
— Não. E você?
— Não... Acho que os nossos filhos poderiam aproveitar isso muito
melhor do que nós dois fomos autorizados.
Cage me entregou uma cerveja.
— Um brinde aos nossos filhos e a um novo tempo para a nossa
família. — Batemos as nossas garrafas.
Isla ergueu o Gabriel no colo, que estava dando um sorriso desdentado
maravilhoso. Meus filhos eram tão felizes que era impossível não ser
apaixonado. Eu tinha muita sorte. Fui abençoado. Agraciado com uma
família linda. Tudo que sonhei, que um dia achei impossível, estava se
realizando.
Você não venceu, pai.
Eu venci.
CAPÍTULO 39
Isla

Gorgolejos felizes me acordaram e abri os meus olhos sorrindo. Virei-


me na cama e me deparei com o Callum fazendo os meninos rirem e
interagirem com o outro, não que eles precisassem de estímulo, quanto mais
deixávamos os dois juntos, mais eles procuravam a companhia do outro.
Ambos estavam só de fralda, com seus cabelos arrepiados e sorrisos
desdentados cheios de baba. Quatro meses e meio e ainda era completamente
surreal que dei à luz a aquelas duas pessoinhas.
— Olha só quem acordou... — Callum comemorou e me inclinei sobre
os meninos, dando um beijo em cada um. — Conseguiu descansar?
— Sim... Estava exausta. — Beijei os seus lábios. — Eles acordaram há
muito tempo?
— Uma hora, ou quase isso. Estávamos no nosso momento de meninos,
agora a mamãe está convidada a participar. — Ele sorriu e eu pensei que era
impossível não querer pular nele quando me dava aquele sorriso. — Nosso
compromisso misterioso é em algumas horas, vai começar a se arrumar?
— Sim. Charlotte já foi?
— Sim, senhora.
— Ótimo.
Saí da cama com calma, conferi as malas para o nosso final de semana
em Lowell e entrei no meu closet. Estava feliz por estar de volta ao nosso
apartamento e mais feliz ainda por termos a liberdade de ir a Lowell sempre
que quiséssemos. Callum até voltou a montar no seu cavalo, nossa família se
reunia ao redor da fogueira no fim da noite ou fazíamos muita comida,
espalhando na grande mesa e as paredes ouviam risadas misturadas com
conversas boas.
Me arrumei com tranquilidade, ansiosa para a surpresa que planejei
para o Callum e desejando que tudo desse certo. Estava muito chocada que
ele não parecia ter descoberto nada, porque de tão controlador e observador,
eu tinha que admitir que ele parecia infinitamente mais calmo. Talvez,
finalmente, tomou ciência que é desgastante e desnecessário controlar o
mundo ao seu redor. Algumas coisas precisam fluir o seu curso natural.
— O papai vai se arrumar, porque a mamãe tem uma surpresa. —
Callum explicou para os nossos filhos e sorri, peguei a roupinha deles e vesti
um de cada vez, aproveitando enquanto eles ainda ficavam quietos na hora da
troca. Eles ficaram lindos com calças jeans, pequenos tênis Adidas e camisas
gola polo cinza escuro. Eu era o tipo de mãe que os vestia igual e faria até
quando pudesse.
Enquanto o Callum se arrumava, prendi ambos na cadeirinha que iria
para o carro, conferi a bolsa, as malas e andei pela casa feito louca, para ter
certeza de que não ia esquecer nada em casa. Só voltaríamos em alguns dias,
porque esperava ter um tempo a sós com o meu marido e filhos, aproveitando
a paz de estar no campo.
— Isla? — Callum me procurou pela casa. — Estou pronto. Você podia
ter me esperado para carregar isso tudo, baby.
— Está tudo bem, não tinha nada muito pesado. — Garanti, sem
conseguir mascarar a minha ansiedade. — Vamos?
Ele me deu um olhar engraçado.
— Seja lá o que for, calma. — Pediu e assenti.
Tray iria nos seguir e eu iria dirigindo, porque não queria dar o
endereço da nossa parada para o Callum. Enquanto ele arrumava as bolsas e o
carrinho dos meninos no porta-malas, eu os arrumei no banco, prendendo
ambas as cadeirinhas bem firmes e como eles nunca reclamaram no carro,
nós dois conseguimos sentar na frente sem problemas.
Soltei uma risada ao ver o Callum no banco do carona, depois que os
meninos nasceram ganhei um pouco mais de prática na direção, meu marido
me deu um carro e eu conseguia fazer coisas sozinha, sem depender de
alguém me levar e eu preferia mil vezes que o Boyle me seguisse do que me
conduzisse. Me dava uma sensação de normalidade.
Ainda não tinha voltado a trabalhar oficialmente, estava cheia de
projetos, vários desenhos, mas não era tão simples começar uma produção de
roupas e toda parte burocrática levava muito mais tempo que a minha
inocência me permitiu imaginar. A parte boa era que a Cait aceitou ser a
minha gerente e o Benji o meu sócio. Nós estávamos refinando o projeto da
nossa empresa de acordo com os nossos gostos, criando uma linguagem,
identidade visual, o nome seria o mesmo: La La Island.
Benji não quis mudar, mesmo com a sua participação, ele disse que me
amava e fazia parte do meu mundinho excentricamente colorido. Callum
estava mais animado que nós dois juntos, ele estava empenhado em realizar o
meu sonho. Era tão fofo. Eu tinha tanta sorte de ser casada com um homem
como ele, embora, ele me irritasse diariamente e eu tinha vontade de dar uns
gritos e não gritava porque poderia acordar as crianças. Felizmente ele era
bom de cama, compensava muito as suas merdas.
Dirigi todo caminho sem dar atenção ao seu olhar curioso e estacionei
em frente a uma das igrejas evangélicas mais antigas da cidade. Callum e eu
não tínhamos uma religião definida, discutimos muito sobre o que
ensinaremos aos nossos filhos. Ele não questionava nada sobre Deus ou sobre
ter fé, mas não foi criado dando valor a religião. A minha avó me levava na
igreja todo domingo pela manhã e ela fazia parte ativamente do coral. Como
eu tinha essa lembrança e ligação, optamos por um casamento religioso
dentro dos padrões que eu fui criada.
O assunto meio que morreu, porque o casamento só aconteceria quando
os meninos estivessem andando, queríamos que eles fizessem parte e pela lei,
já estávamos casados. Não estava desprezando a festa que faríamos para a
nossa família e amigos, mas nós dois merecíamos algo mais especial
mediante a tudo que passamos.
— O que estamos fazendo aqui?
— Vamos casar. — Encolhi os ombros e saí do carro.
— Isla... — Ele me parou antes que abrisse a porta para tirar as
crianças.
— O nosso relacionamento começou com algo bem íntimo, só nós dois
sabíamos o que estávamos fazendo e o amor chegou nas noites dormindo
juntos esperando que esses meninos crescerem dentro de mim. — Olhei em
seus olhos, me odiando por já estar com vontade de chorar. — Então, eu
pensei que seria maravilhoso se tivéssemos uma cerimônia religiosa apenas
nossa. Nós quatro... Como tudo começou.
Callum segurou o meu rosto.
— Eu te amo, baby. Vamos casar. — Sorriu e nos beijamos docemente.
Ele tirou o carrinho, arrumando as crianças e toquei a campainha. A
esposa do pastor apareceu sorridente, nos recebendo e a igreja estava vazia,
porque estava fechada. Orientei que o Callum acompanhasse o pastor, eles
foram conversando e eu entrei em uma sala onde o meu vestido estava me
aguardando. Mandei entregar ali e a esposa do pastor recebeu com prazer,
adorando a minha surpresa para o meu marido.
Ela foi gentil o suficiente de ficar empurrando os meninos para frente e
para trás conforme me trocava e passava um batom um pouco mais escuro.
Amarrei no carrinho algumas latas e fitas de cetim coloridas, com uma faixa
“recém-casados”. Pronta, passamos por um corredor e eu parei com o meu
pequeno buquê de rosas brancas e os meus filhos quietos no carrinho.
— Eu vou para o piano, conte até cinco após começar a música e você
pode entrar. — Ela me explicou e me deixou sozinha. Dei uma espiada e o
Callum estava no altar, olhando fixamente para onde eu deveria aparecer.
Meu vestido era simples, apenas longo e branco. Não havia necessidade
de uma grande produção se a intenção era ser muito mais emocional. Assim
que a música começou, Gabriel ameaçou chorar, estranhando o barulho e eu
balancei o carrinho, contando até cinco e entrei na parte principal da igreja,
parando no tapete vermelho e andando calmamente até o homem da minha
vida.
Callum começou a chorar e eu a rir, meio chorando, com um misto de
ansiedade e nervosismo, parando próximo, ele segurou a minha mão e
colocamos os meninos de frente, podendo nos ver enquanto o pastor começou
a cerimônia com uma oração. Quando o abordei, pedindo para que fizesse o
nosso casamento, ele aceitou e pediu que contasse a nossa história. Eu contei
a história real, ocultando a parte do procedimento, apenas enfeitei que nos
conhecemos, engravidamos e depois nos apaixonamos perdidamente e todos
as coisas que seguiram, das mais doces às mais bizarras.
Os meninos cansaram de ficar no carrinho e no meio da cerimônia,
ficamos com eles no colo, recebendo a benção e na hora dos votos, eu tinha
memorizado o que iria dizer e mesmo assim, estava nervosa.
— O dia que eu te conheci, você me mostrou que existia mais por trás
do mundinho que eu vivia. Com o passar do tempo, você deixou de ser um
enigma para ser o meu melhor amigo, a pessoa que eu mais podia contar na
vida, que me incentivava a sonhar e lutar por mim mesma. O homem que
segurou a minha mão e nunca julgou as minhas atitudes, que sabia dar a sua
opinião sem me oprimir e me ensinou o quão importante era ter liberdade. —
Funguei um pouco e tirei a mão do Daniel do meu brinco. — Você vive
dizendo que eu te ensinei o que era amar e eu acho que nós ensinamos um ao
outro, aprendemos a nos escolher e colocar a nossa família como prioridade.
Eu prometo te amar na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza
e na pobreza, nos dias difíceis, nos momentos confusos e em todas as vezes
que eu quero arremessar algo na sua direção. — Completei, ele riu e secou o
rosto. — Receba essa aliança como prova do meu amor incondicional por
você.
Foi meio complicado deslizar a aliança no seu dedo com uma criança
no colo, mas consegui. Callum beijou a testinha do Gabriel e me deu um
sorriso emocionado.
— Só você para me surpreender com um casamento. — Ele parou um
pouco, como se reunisse os seus pensamentos. — Quando eu era pequeno e
estava preso no porão, ouvindo as gotas da pia pingando incessantemente, eu
fechava os meus olhos e sonhava que um dia, tudo que eu estava vivendo
seria uma mera lembrança ruim. Um dia eu seria feliz, teria a minha família e
viveria um amor que os meus pais desconheciam. Por muito tempo, mesmo
depois de adulto, parecia impossível. Até você. Eu tinha tanto medo de te
perder que não queria dizer que te amava. Você trouxe cor e amor, me fez
sentir a felicidade que sonhava quando menino. Prometo te amar na saúde, na
doença, na alegria, tristeza, riqueza, pobreza, quando está de tpm, quando me
olha como se eu fosse uma pessoa muito difícil de lidar ou quando usa a
ironia para responder minhas perguntas. Prometo dizer que te amo até o meu
último suspiro. Receba essa aliança como a minha promessa de vida.
Gabriel quase se jogou do colo dele, derrubando a aliança no chão. Nós
rimos, ele abaixou para pegar e finalmente deslizou a aliança que eu mesma
escolhi para mim.
— Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro marido e mulher.
Sr. Callum Harrison Lowell, você pode beijar a Sra. Isla Annie Lowell.
Callum se inclinou para baixo e trocamos um beijo doce com os
meninos batendo em nossos rostos. Daniel chorou, ele deu um gritinho de
que não estava nada satisfeito com o papai beijando a mamãe. Nós
agradecemos muito pela cerimônia, ainda emocionados, dirigimos para casa
com um clima de romance pairando no ar. Eu amava estar em Lowell e como
a Charlotte sabia da minha surpresa, preparou um jantar romântico e levou os
meninos para o segundo andar, ficando no quartinho deles, nos dando a
oportunidade de ter um momento a sós.
— Nunca vou conseguir superar essa surpresa. — Callum segurou a
minha mão. — Sei que casamos já faz alguns meses, mas foi uma assinatura
em um papel, agora é tão mais real.
— É o peso do rito. E eu queria algo muito especial e íntimo, tanto que
só vou revelar as fotografias que a esposa do pastor tirou e vou guardar.
Ainda quero uma cerimônia com os nossos amigos e família, porém, prefiro
que os meninos estejam maiores. — Me inclinei e beijei a sua boca com
gostinho de vinho. — Eu te amo e nunca vou me cansar de casar com você.
Podemos ter vinte cerimônias e eu direi sim em todas elas.
— Você é perfeita.
— Não quero que fique chateado comigo, mas eu tenho percebido uma
coisa e sei que talvez não esteja pronto para falar sobre. — Olhei em seus
olhos. — Você quer voltar a morar aqui?
— É uma casa grande demais para nós dois.
— Não seremos quatro para sempre, combinamos que tentaremos o
procedimento mais duas vezes a não ser que o próximo seja dose dupla
novamente. Você pode dividir a casa com o seu irmão.
— Cage comprou o terreno do outro lado do rio... Ele e a Patrícia
estavam juntando dinheiro para construir a casa dos sonhos deles. Ele quer
que eu projete a casa. Estava pensando em comprar a parte dele da casa... Isso
o ajudaria a construir a casa dele e ainda ter um bom fundo universitário para
as crianças. — Ele estava tímido.
— Não tenha vergonha de considerar a sua família e eu sei que você
tem um fundo privado para os seus sobrinhos, mesmo antes de voltar a falar
com o seu irmão. — Ele me encarou, surpreso. — Eu li naquele monte de
papel que tive que assinar para me tornar sua esposa.
— Pensei que tivesse passado despercebido.
— Não tem problema nenhum amar os filhos do seu irmão, eles são a
sua família.
— Você moraria aqui?
— Contanto que não espere que eu limpe, eu posso morar onde você
quiser. — Brinquei e o beijei. — Eu sei que vocês dois amam esse lugar,
independente de tudo que aconteceu. O porão não existe mais e você não é
mais o menino que estava preso lá. Você se tornou um homem honrado, um
marido e um pai apaixonado. Eu vou morar onde você e os meninos
estiverem, porque vocês são a minha verdadeira morada.
— Quando eu descobrir o que eu fiz para te merecer, eu vou repetir
milhares de vezes. — Me deu um beijo gostoso e o abracei.
— Nós nos merecemos e isso que importa.
A nossa vida não era perfeita, nós dois tínhamos defeitos e
compensamos em qualidade. Estava tudo bem não ser perfeito. Eu tinha
energia demais e falava muito, ele gostava de ficar quieto. Enquanto ele sabia
equilibrar um jogo, eu era extremamente competitiva e odiava perder. Só o
futuro poderia responder que tipo de pessoas educaremos, mas eu tinha
certeza de que os nossos filhos seriam homens honrados, que dariam valor ao
amor e colocariam como prioridade a família.
Nenhuma riqueza, status ou poder iriam dominar a essência dos seus
corações, porque iria me dedicar em ensiná-los a serem pessoas decentes.
Quando o Callum me conheceu, eu estava tão desesperada e agora, a
minha mãe não estava entre nós, o meu pai não era meu pai biológico, eu
tinha dois meio irmãos, um por parte de mãe e outro por parte de pai, que
eram tão diferentes fisicamente quanto em suas personalidades. Apesar da
minha mãe ter me feito muito mais mal do que bem, eu a amei
incondicionalmente e fiz o meu papel de filha com muito prazer. Faria tudo
novamente.
Callum e eu estávamos apenas começando as nossas vidas.
Era o começo do nosso para sempre.
EPÍLOGO
Isla
Era mais um dia comum, vivendo em Lowell, dias comuns eram belos,
com sons de pássaros e um sol bonito fazendo a grama brilhar. Olhei para o
Callum serrando um pedaço de madeira com o seu irmão no quintal. Patrícia
estava cortando os tomates da salada ao meu lado. Ethan estava sentado à
mesa, esperando a comida, Archie estava brincando no chão com o Gabe e o
Daniel. Andie estava tentando me ajudar com os milhos, mas estava me
atrapalhando muito mais.
— Gabriel! Não! — Falei severamente. Ele olhou para mim, riu e saiu
correndo. Pestinha. — Ray! Larga esse telefone e vem comer! — Gritei
enquanto corria atrás do pestinha número um e agarrei o pestinha número
dois, antes que se jogasse da sua cadeira alta. Peguei o Gabriel se
contorcendo em um braço e prendi o cinto da cadeirinha no outro. —
Raymond Edwards!
— Você vai acordar a minha irmã, Tia Isla. — Ethan me chamou
atenção. Ele era tão certinho quanto o Callum, chegava a ser irritante.
— Eu sinto muito, Ethan. — Murmurei, tentando não rir.
— Estou aqui, Isla. — Ray entrou na cozinha e me entregou o seu
telefone, ou ele comeria com o nariz enfiado na tela.
— Que bom.
Raymond estava insuportável, em uma fase que não largava o telefone
por nada no mundo. Ele estava passando uns dias comigo, porque o meu pai
estava viajando em lua-de-mel com a sua adorável nova esposa. Ele e a Nora
se conheceram quando ela foi fazer uma denúncia na delegacia, a paixão foi
quase inevitável e eu estava em um caso de amor pela minha madrasta,
exultante que o meu pai finalmente teve o seu amor correspondido.
— Como está a sua tia Ângela? — Questionei dando uma olhada nas
suas chamadas recebidas. Desde que clonaram o número de telefone dele por
causa de um jogo, passamos a dar uma olhada nas suas atividades. Raymond
tinha uma mesada que o Callum e eu dávamos a ele, felizmente, ele era um
bom menino e muito responsável. Ray era muito calmo como o meu pai, o
que era uma benção.
— Ela disse que está bem. Acho que está namorando. — Raymond deu
de ombros. Ângela e eu não éramos próximas, inevitavelmente nutria
algumas mágoas, mas eu não impedia o Ray de se comunicar com ela.
Abri a porta dos fundos e chamei os irmãos Lowell para comer, eles
gritaram por mais cinco minutos e revirei os olhos. A casa do Cage e da
Patrícia ainda não estava pronta, havia uma equipe de construção, da empresa
do Cage, trabalhando na casa durante a semana, mas os irmãos intrometidos
estavam fazendo algumas coisas juntos. Eles brigavam o tempo inteiro e o
Callum como arquiteto queria se meter em tudo.
Patrícia e eu desistimos de apaziguar, deixamos os dois de lado e
fingimos que não ouvimos as suas reclamações. Eles eram insuportáveis e
apesar disso, a nossa família se mantinha unida. Charlie e a Cassie
compraram uma residência não muito longe de nós, porém, muito mais perto
da Tia Gwen. Eles tiveram um menino, meu afilhado adorável, que tinha os
cabelos de cachinhos, olhos castanhos e as covinhas de uma maneira
extremamente fofa nas bochechas gordinhas.
Seu nome era Alexander e todos nós o chamamos de Alex.
Tio Robert finalmente se aposentou, para o delírio da Tia Gwen e eles
assumiram com prazer a profissão avós. Eles eram os melhores e ficavam
com as crianças mesmo quando elas pareciam que podiam derrubar um bairro
inteiro. Todas elas unidas era demais para qualquer super nanny.
Meu pai ainda não queria se aposentar, embora ele tivesse mais de vinte
anos na polícia. Ele estava muito feliz para renunciar à sua carreira e em
anos, não estava estressado. Raymond era um bom filho, tinha os seus amigos
e excelentes notas. Ainda sentia muita falta da mamãe, mas não se ressentiu
quando conheceu a Nora e ele ajudou nos preparativos para que o meu pai
pedisse a sua namorada em casamento.
Coloquei a mão na minha testa, sentindo uma náusea filha da mãe. Essa
parte, eu não sentia nenhuma falta.
— Ainda ruim? — Patrícia se solidarizou.
— Na gravidez deles eu fiquei enjoada por muito tempo e estou
percebendo que dessa vez não será diferente. — Reclamei. O enjoo estava me
deixando muito irritada.
Callum e eu optamos por fazer o procedimento depois que os meninos
completassem dois anos, como na primeira gestação, nós fomos abençoados.
Dessa vez era um só e com muita certeza, só não sabíamos o sexo. Estávamos
muito felizes e ansiosos para o nosso terceiro bebê. Queríamos uma família
grande e barulhenta que não tivemos e pelo visto, estávamos no caminho
certo.
— Mamãe! Suco! — Daniel ergueu o seu copo. O que ele tinha de anjo
quando nasceu, ele tinha de pimenta conforme crescia. Ainda era mais calmo
que o seu irmão, mas não era um santo.
Meu telefone vibrou no balcão e era a Juliana, esposa do Enzo. Ela
raramente me ligava, senti um aperto no coração. Enzo não respondia as
minhas chamadas e mensagens há alguns dias e estava preocupada. Callum
tentou contato com o Jack e não conseguiu, isso me deixou ainda mais tensa.
— Oi, vocês sumiram.
— Isla... — Juliana estava chorando. — O Enzo se foi.
— O quê?
— Ele desapareceu... Encontraram o carro dele carbonizado. Acabei
de receber a confirmação que ele estava no carro... — A voz dela estava tão
baixa. — Nós não faremos um velório, não ainda, primeiro eu vou vingar a
morte do meu marido.
— Juliana...
— Eu sei, não fala nada. Não diga nada, por favor, não diga "sinto
muito". — Ela implorou, mantendo a firmeza na voz, mesmo que baixa. —
Sei que o seu irmão se importava muito com você e por isso diga ao seu
marido para reforçar a segurança. A família de Boston estará por perto,
caso precise deles. Se não conseguir falar comigo, ligue para o Emerson e
apenas diga o seu nome.
— Juliana...
— Não posso ter uma conversa sentimental, Isla.
Engoli seco, sem saber o que pensar ou dizer.
— Tchau, cunhada.
Ela encerrou a chamada e me apoiei no balcão, me sentindo tonta.
— Isla? — De repente, Callum estava na minha frente. — Você está
sentindo alguma coisa? O que aconteceu?
Ergui o meu rosto, me sentindo em completo estado de choque.
— Enzo morreu.
Agradecimentos

Um agradecimento mais que especial para todas as minhas leitoras e amigas


que incentivam o meu trabalho, para a minha incrível mãe pelo eterno suporte
e para as minhas betas que me acompanham no processo criativo, surtando
pelas madrugadas com as conexões que essas histórias possuem.

Sem vocês, esse trabalho não seria possível.


Com amor,
Mari.
Sobre a autora
Mari Cardoso, 28 anos, formada em fotografia e em design gráfico, trabalha
especialmente com a escrita desde 2017 e possui uma loja de papelaria
personalizada. Apaixonada por literatura, está imersa nesse mundo desde
2008, escrevendo fanfics e mantendo diversos blogs literários. Mora no Rio
de Janeiro com sua mãe, um gata preguiçosa e um cachorro espoleta. Passa os
seus dias imersa na escrita e cultivando a criatividade em forma de papelaria.

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