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ME AMA
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e mecânicos
sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de citações, resenhas e
alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais é
apenas espelho da realidade ou mera coincidência.
Acordei com a voz da Samantha alegre por ser feriado, só virei para o
lado ainda ouvindo as notícias do dia e do tempo, mas sem coragem de sair
da cama porque os meus pés ainda doíam da loucura frenética que foi o dia
anterior. Tudo começou a dar errado quando a loja que costumava comprar o
Chai Latte da minha chefe estava sem o produto naquele dia, fui obrigada a
andar milhares de quadras até a próxima, enfrentar uma fila enorme, chegar
na revista para descobrir que a Cait estava doente e não iria trabalhar.
Minha cabeça estava doendo antes da Roxanne pisar na revista. Para
melhorar o meu dia, Roxanne foi premiada pela revista pelo seu artigo sobre
empoderamento feminino que eu escrevi. Cada mísera letra ali era minha. Ela
sequer revisou ou trocou um parágrafo de lugar. Tudo aquilo foi minha ideia,
meu conceito, todo ensaio... Tudo. Ela tinha me enganado e feito que daquela
vez poderia assinar a publicação, o meu nome estava na revisão final da
edição de novembro e quando recebi a revista final, estava com o nome dela.
Liguei para gráfica e informaram que ela enviou um e-mail
solicitando a correção. Ou seja, pediu para tirar o meu nome depois que
enviei a edição autorizada por ela à gráfica. Ela estava sendo premiada. ELA!
E era capaz de muita gente seguir a mesma linha, inclusive os prêmios
nacionais de comunicação.
Roxanne não era feminista, para começo de conversa e muito menos
apoiava a independência da mulher, apesar de trabalhar fora e ter um
excelente salário. Fiquei com raiva e magoada, tanto que quando chegou,
fingi estar em uma ligação com um dos nossos correspondentes franceses só
para não ficar de pé, sorrindo e entregando a bosta do seu chá com um sorriso
que não queria dar.
Para piorar o meu humor, os meus mamilos estavam doloridos.
Durante a indução, senti muito tesão e estava muito agitada, querendo
fazer tudo, inclusive muito sexo. Mas não senti cólicas ou dores nos seios
como o Dr. Phillips disse que sentiria, durante a semana seguinte, os meus
peitos começaram a doer sutilmente e passaram a incomodar muito.
Dependendo do que fazia, sentia uma leve cólica, nada preocupante.
A única coisa boa era que não precisaria ver a Roxanne até a próxima
semana. Seus filhos amavam a tradição de Halloween e todo maldito ano eu
organizava uma enorme festa na sua casa para qual nunca fui convidada,
porque era só para “amigos e vizinhos”. Uma grande mentira porque fazia a
sua lista de convidados e ia um monte de gente. No dia seguinte ela não
costumava trabalhar e me liberava.
Esse ano não iria trabalhar mesmo se não me liberasse. Fazia meses
que a Roxanne não liberava as minhas horas extras, alegando que era mais
fácil lidarmos com banco de horas já que ela nem sempre precisava de mim.
Outra enorme mentira. Em todo caso, estava feliz por estar em casa. Minha
frustração estava ultrapassando o Everest e aproveitar o feriado com os meus
amigos iria aliviar muito o meu estresse.
Enrolei na cama por horas, dormindo e acordando, até que senti fome
e decidi comer o pote de salada que era para o jantar e dormi. Callum me
enviou uma mensagem querendo saber se estava bem. Ele me ligava todos os
dias, enviava mensagens e até que conversamos bastante desde o nosso final
de semana improvisado. Foi bem tranquilo e descobri que o Callum era
controlador, mandão, teimoso e muito observador.
Não deixava passar nada e a sua memória era bem interessante, ainda
assim, tive bons momentos e descansei muito. Na segunda-feira após o meu
repouso, a Roxanne chegou no trabalho me olhando do jeito que me olhava
quando comecei a trabalhar com ela. Como se eu fosse um ratinho de esgoto.
Descobri que estava em alguns sites de fofocas com o Callum. Nos
fotografaram saindo do carro, atravessando a rua de braços dados, no
restaurante conversando, comendo e as fotos eram granuladas, a distância e
algumas eram de dentro do estabelecimento.
Queriam saber se a assistente da Roxanne Miller estava namorando o
CEO da Lowell Holdings. Eles até mencionaram a La La Island. Se a história
que o Callum me contou sobre a Roxanne era verdade, bem, sabia o motivo
que estava me olhando torto.
Não que me importasse.
Separei a minha fantasia da festa mais tarde, fiz as minhas unhas,
sobrancelhas, me depilei sozinha com a cera e era uma experiência nada
agradável puxar os pelos pubianos daquela forma e a minha área recém-
desmatada ficou dolorida. A minha saia de tule amarela era muito
transparente e o body amarelo totalmente cavado, queria ter a certeza de que
não teria pentelhos amigos querendo dizer olá durante a festa.
Não que fosse fazer qualquer coisa, tinha que me abster de relações
sexuais até a confirmação da gestação e até o Dr. Phillips me liberar para o
sexo. Como se fosse transar grávida... A minha vida sexual vai ser
bruscamente reduzida aos meus dedos e ao vibrador por muito tempo. Li uma
matéria que mães e que eram solteiras não transavam.
Deveria ser verdade.
Convidei o Callum e o Charlie para festa de Halloween da Laila e do
Michael, esperava que eles aparecessem, embora não aparentassem ser
homens que vão a festa fantasiados.
Oito da noite cheguei ao pub do Paul com minha fantasia de Abelha
Sexy. Minha saia era amarela com faixas pretas, de tule, bem transparente,
um body cavado amarelo canário, meias amarelas clarinhas e botas brancas
plataformas estilo das Spice Girl que eu amava. A minha maquiagem
consistia em um delineado de gatinho duplo bem caprichado com preto e azul
e os lábios com batom vermelho matte. A pele estava quase como uma
boneca de porcelana com um fino contorno no nariz e bochechas.
O lugar já estava lotado, muito bem decorado e aquele ano a Laila
havia caprichado na decoração bem assustadora. Fiz todas as imagens,
comprei os tecidos, as teias falsas e as aranhas, só não apareci para arrumar
como todo ano, porque estava cansada e não podia fazer esforço enquanto
não tivesse a confirmação. Muito menos depois, gravidez não era uma
doença, mas exigia certos cuidados.
— Você chegou! — Laila apareceu correndo e me abraçou apertado.
— Colocar essa bunda para jogo é maldade com os reles mortais!
Ela estava usando uma fantasia de tenista com manchas de sangue e
me perguntei qual era a conexão. Michael estava de policial e eu tinha certeza
de que metade das mulheres ali queriam ser revistadas por ele.
— É o único dia que me permito exibir! — Brinquei dando uma
voltinha.
Meu body era cavado nas laterais, a minha única vantagem de ter
peitos pequenos era poder usar algo daquele tipo. Laila queria me dar bebidas
e precisei disfarçar, fingindo dar goles e quando ela se distraía, entornava na
planta perto de nós. Não parava de chegar pessoas, nos cumprimentando, fiz
várias fotos, postei no stories e dancei um pouco com Benji, o vampiro com
purpurina.
Senti a presença do Callum antes mesmo de vê-lo. Foi algo intenso.
Um arrepio que liberou uma onda de batidas cheias de adrenalinas no meu
coração. Estava com um copo de bebida na mão e o seu olhar foi feroz. Antes
que pudesse dizer ou sinalizar, um homem começou a se esfregar em mim,
dançando e o olhei perdida, aí ele soltou “posso provar seu mel?”. Ah, não,
idiota.
Callum atravessou a multidão, entrou na pista de dança e literalmente
entrou no espaço entre o homem idiota e eu, me pegando pela cintura e me
colocando sentada no balcão atrás de nós. Benji estava chocado, Laila não
conseguia fechar a boca e o Michael sorria, bebendo o seu uísque com coca.
— Hey, idiota! Estava dançando com ela! — O homem claramente
estava bêbado.
— Ela não está disponível. — Callum falou por cima do ombro. —
Sai, agora. — Virou-se novamente na minha direção. — É melhor que isso
não seja alcoólico.
— A planta está bebendo por mim. Quer? — Ofereci e ele bebeu
devagar, me encarando. Parecia diferente, seu olhar estava mais frio e havia
olheiras em seu rosto. Senti algo no meu coração que ele não estava bem e
quis dar-lhe conforto. — Estou feliz que veio. — Ergui a minha mão devagar
e toquei a sua barba, em seguida, acariciei o seu rosto.
— Charlie me obrigou. — Senti uma decepção por não ter vindo por
minha causa. — E uma certa abelhinha espevitada postando fotos bonitas no
Instagram me fez sair de casa imediatamente. — Sorri marota, orgulhosa que
a minha fantasia o provocou bastante. — Você está linda.
O Callum do final de semana foi gentil, calmo, muito doce e o Callum
de hoje estava mais agressivo, direto ao ponto, suas mãos estavam muito
perto das minhas coxas e em pé entre minhas pernas.
— O que você tem? — Busquei olhar em seus olhos.
— Nada. — Sorriu e foi um sorriso perigoso. — Doces ou
travessuras, Isla?
— Travessuras... E depois doce.
— Vem dançar comigo. — Agarrou a minha cintura.
Ele me pegou bruscamente e me levou para pista de dança em seu
colo, me colocou de pé com cuidado, cercando de modo que pudéssemos
dançar juntos e ninguém esbarrar em mim. Charlie se aproximou com uma
bebida nas mãos, me deu um abraço e cumprimentou os meus amigos. Mais
de uma vez peguei o olhar preocupado do Charlie para o seu primo, que
ignorava, conversando com o Benji e o Michael.
Callum não estava bebendo nada além de água. Será que ele usava
drogas? Senti um frio na boca do estômago, disfarcei, sinalizei para o Charlie
me seguir e avisei que ia ao banheiro. Dois minutos depois, Charlie parou ao
meu lado.
— O que está acontecendo com ele? — Fui direto ao ponto.
Charlie ficou quieto, cruzei os braços e ele suspirou.
— Callum sofre de insônia crônica e ele não dorme desde que você
foi embora. Na verdade, acho que não dormiu de sábado para domingo
também, deve ter cochilado. O remédio o deixa muito nocauteado e nauseado
no dia seguinte, então ele evita tomar, mas esses dias foram puxados... —
Charlie encostou-se na parede. — Ele é contra o uso de medicações e nunca
excede na bebida, tem uma história por trás disso que não é o meu direito
contar, mas só para você entender porque está desse jeito.
— O que posso fazer para ajudar?
— Fazer ele dormir. — Foi enfático.
— Tudo bem. Eu vou. — Concordei, entrei no banheiro rapidamente
e ao sair, atravessei a pista de dança com dificuldade, chegou um ponto que a
parede de pessoas não me deixava passar e foi preciso pular para que meus
amigos me vissem. Callum abriu passagem, empurrando um garoto com o
seu braço e aproveitei o seu contato e o abracei.
Sem demonstrar surpresa com o meu contato, me manteve em seus
braços e até nos balançamos de um lado ao outro, sorri e ganhei um
sorrisinho ousado de volta. Plantei um beijo no seu queixo, ficando na ponta
dos pés e puxei o seu cabelo, cochichando que estava cansada e queria ir
embora.
Devido a nossa aproximação, ninguém achou estranhou a nossa
decisão de ir embora. Laila me deu um sorriso e disse que me ligaria no dia
seguinte, porque precisávamos conversar. Benji fez um monte de insinuações
sexuais que me fizeram rir e o Charlie me deu um olhar de conhecimento.
Segurei a mão do Callum até o seu carro, pulando no lugar porque o meu
casaco não era o suficiente.
— Me leva para a sua casa. — Pedi e o Callum só me olhou, com
uma mão no volante, outra na marcha, me deu um sorriso e pisou fundo, mas
sem ultrapassar a velocidade permitida. Ele não andou tão rápido da última
vez. Chegamos ao seu prédio, ele estacionou na mesma vaga que a última vez
e ficou com a mão brevemente na base das minhas costas até o elevador.
Encontramos com dois homens fantasiados e trocamos amenidades.
Callum me manteve por perto, como uma barreira entre os homens e eu. Ele
não foi nada simpático.
Entramos no seu apartamento, tirei o meu casaco, as botas e a saia.
Callum ficou parado, me olhando, sem saber o que estava fazendo. Abriu e
fechou as mãos, como se quisesse me tocar. Segurei a sua mão e o puxei
escada acima, ciente que o seu olhar intenso estava todo na minha bunda e
entramos no seu quarto.
— Tira sua calça, você precisa ficar confortável. — Apontei para a
sua calça.
Sem pestanejar, tirou o sapato, as meias e a calça, mas também tirou a
camisa. Eu estava só de body e meias, me deitei na sua cama e o puxei para
cima de mim. Callum simplesmente sabia que não era sobre sexo - até porque
não podíamos -, não era esse movimento, apesar das poucas roupas e deitou a
cabeça bem em cima da minha barriga. Fiquei em silêncio, só acariciando os
seus cabelos e então, lembrei de uma antiga canção de ninar que a minha avó
cantava.
Cantarolei baixinho, senti-o tensionar, seus músculos ficaram rijos e
aos pouquinhos, com o meu afago e a canção foi relaxando ao ponto que
ficou incrivelmente pesado, roncando bem suave. Ele dormiu. Velei o seu
sono por horas, preocupada em dormir e ele se levantar, mas chegou um
ponto que não consegui mais segurar e apaguei.
Acordei meio assustada por não o sentir mais em cima de mim e virei
na cama bruscamente, dando de cara com a expressão divertida e sonolenta.
Com telefone na mão, me deu um bom dia baixinho, grunhi qualquer coisa
parecida, fechando os olhos por mais um momento para cochilar. Callum me
puxou para encostar a cabeça no seu peito, pensando que eu estava dormindo,
sussurrou um obrigado.
Mais tarde ele me acordou com um beijo longo e suave na bochecha e
outro no pescoço. Com nossos narizes se tocando, sorri e beijei o cantinho
dos seus lábios.
— Eu vou lá embaixo buscar minha saia e usar o banheiro. —
Levantei-me da cama.
— Desce a escada devagar com essas meias. — Falou da cama,
sonolento.
— Sim, papai. — Olhei-o por cima dos ombros e saí do quarto.
Encontrei a minha saia e as botas no canto, no mesmo lugar que
deixei ontem, resolvi que ela era tão transparente que não precisava colocar.
Ele já estava de olho na minha bunda mesmo. Usei o banheiro e liguei a
imensa televisão do Callum, colocando no canal de músicas e estava
passando uma seleção de clipes retrô. Começou a tocar Baby One More Time,
agarrei o controle e comecei a cantar junto, fazendo a coreografia que já sabia
de cabeça.
Estava tranquilamente dançando, cantando “oh baby, oh baby” e
fazendo uma voltinha quando dei de cara com um casal parado no limiar da
sala, me olhando com um misto de surpresa e diversão. Soltei um grito agudo
de tremer as paredes que o senhor chegou a cobrir os ouvidos. A mulher se
assustou com o meu gritinho.
Puxei a colcha do sofá, me cobrindo e morrendo de vergonha. Uma
coisa era estar em uma festa com o meu body indecente na escuridão, outra
era em plena luz do dia e dançando Britney, sabe se lá o estado da minha
maquiagem e cabelo. Fui ao banheiro e não reparei.
Por causa do meu grito, o Callum desceu a escada só de cueca como
um troglodita. Ele estava pronto para derrubar a ameaça e achei muito
engraçado. Teria rido se não estivesse tão mortificada.
— Puta que pariu, que susto. — Colocou a mão no coração,
significando que conhecia aquelas pessoas.
— Eu que tomei um susto.
A mulher se adiantou.
— Entramos sem fazer alarde, achamos que estava na sala até
ouvirmos a música. Sinto muito pela nossa indelicadeza, querido. —
Explicou indo até o Callum só de cueca. Nossas aparências diziam muito
sobre o que poderiam pensar que aconteceu. — Eu sou Gwen Lowell, tia do
Callum. — Ai que maravilha, era a tia dele. — Esse é o meu marido, Robert
Lowell. — Pior ainda, estava de maiô enfiado na bunda na frente do tio dele!
Ah que merda.
— Tio e Tia... Essa é a Isla Edwards. — Callum me apresentou e me
segurou em seus braços, enrolada em uma colcha toda amarrotada. — Minha
namorada.
A expressão deles era de puro choque.
— Oh, uau. Quer dizer, oi. Prazer. — Gwen estava confusa e
gaguejando. Eu a conhecia de algum lugar, mas não fazia ideia de onde.
— Oi, prazer. Ah desculpa pelo grito, não sabia que iam chegar e
desci assim... Nós fomos a uma festa ontem e...
— Foi errado da nossa parte, estamos tão acostumados ao Callum
sozinho que não imaginamos. — Robert falou pela primeira vez. —
Estávamos ligando e ele não atendia. Charlie comentou que poderia estar
ocupado e não acreditamos, achei que estivesse enrolando para ficarmos
longe. Além do mais, Ivan ligou, há um problema no aquecedor do Haras.
Callum só suspirou.
— E por que o Ivan não resolveu?
— Pensamos que quisesse ir ver os cavalos pessoalmente, você é
sempre cuidadoso com eles.
— Quer ir até Lowell comigo? — Callum me deu um olhar cheio de
expectativa.
— Preciso ir em casa.
Callum disse aos tios que iria encontrá-los na cidade e os dois foram
embora, combinando de chamar o Charlie para almoçarmos todos juntos.
Callum me emprestou uma calça de pijama e me levou até o meu
apartamento. Foi a primeira vez dele no meu pequeno espaço, ficou em
silêncio, olhando e depois começou a mexer em tudo. Enquanto me
arrumava, usando o meu banheiro como privacidade, ele estava pelo meu
lugar cutucando cada pedacinho.
— Sua casa é você. Colorida.
— Vou ficar com o elogio. — Rodopiei com meu macacão preto, com
uma blusinha de mangas por baixo, botas porque estava frio e era um haras,
então, peguei o meu trench coat azul escuro.
— Luvas e gorro. Lowell é muito mais frio que Boston. —
Aconselhou enfiando as mãos nos bolsos do seu casaco. Sua expressão estava
muito melhor, seu olhar mais leve e havia uma sugestão de sorriso nos seus
lábios. — Não quero você subindo e descendo a escada do estábulo, está
bem?
— Sim, senhor.
— Tenho vontade de dar um tapa na sua bunda cada vez que me
chama de senhor. — Inclinou a cabeça para o lado e ri.
— Tudo bem, senhor.
— Isla... Passa na frente. — Apontou para a porta. Fingi tédio, revirei
os olhos, peguei a minha bolsa e fui andando toda dona de mim mesma,
rebolando e ao passar por ele, Callum deu um senhor tapa na minha nádega
direita. Foi um tapa de mão cheia, agarrando e não doeu, foi surpreendente,
me fazendo gritar e rir. Abraçando-me por trás, seu peito tremia com a risada
e me cutucou nas costelas enquanto saímos do meu apartamento. — Vamos
embora, pestinha.
Imaginei esse homem estapeando minha bunda na hora H. Olhei-o no
elevador e o Callum soube o que estava pensando, fiquei vermelha e encarei
a parede de metal. Abaixando na minha altura, falou bem baixinho no meu
ouvido.
— Mente suja.
— Se você pensou o mesmo, não sou a única. — Dei de ombros.
— Dormimos de conchinha, Isla. Olhar para sua bunda com aquele
body safadinho foi algo que fiz a noite inteira. — Foi a vez dele de dar de
ombros.
Andei atrás dele até o carro com a mente fervilhando, sem uma
resposta à altura e felizmente o meu telefone tocou. Era Laila e ela queria
passar o dia comigo, Callum arqueou a sobrancelha esperando a minha
resposta, provavelmente ouviu minha amiga falar por estarmos no carro
fechado. Respondi que estava ocupada, que podíamos nos falar à noite,
combinar algo para o final de semana.
Laila estava morrendo de curiosidade, me enviou milhares de
mensagens que eu não respondi e me acomodei melhor no banco. Ele dirigiu
muito bem, seu carro era silencioso, potente e não demoramos uma hora para
passarmos pela placa de Bem-vindo a Lowell. Era um pequeno e pitoresco
lugar, a neblina cobria as ruas de prédios de tijolos vermelhos, largas
avenidas e o Callum seguiu por algumas ruas até pegar a estrada que ia para
área rural.
Vinte minutos mais tarde paramos em frente aos portões de ferro da
imensa propriedade da sua família. Os portões foram abertos e ele seguiu
uma estrada de pedras até um estacionamento. A casa ainda não era visível
daquele ponto, coloquei o meu casaco, as luvas e ele ajeitou o gorro na minha
cabeça.
— Puta que pariu, que frio. — Gemi assim que abri a porta do carro.
— Eu te avisei. — Sorriu e dei a volta dando pulinhos. Callum
esfregou os meus braços antes de me conduzir por um caminho de pedras
entre a grama molhada com a neblina. De longe vi os seus tios e o seu primo,
conversando dentro de uma casinha de tijolos vermelhos com grandes janelas
de vidro.
— Oi, tampinha. — Charlie sorriu. — Soube que conheceu os meus
pais. Pena que perdi o showzinho. — Callum e o Charlie riram do meu rubor.
Seria um longo dia evitando olhar os tios nos olhos.
— Deixe-a em paz. — Callum me abraçou.
— Oh baby, baby. — Charlie cantou e a sua mãe bateu nele, rindo.
CAPÍTULO 10
Callum.
Isla era tão pequena que o cavalo a cobria totalmente. Ela estava parada
em frente a um puro sangue que parecia ter gostado dela, logo que passou na
frente da sua baia, andando ao meu lado, ele enfiou a cabeça do lado de fora e
a cutucou com o focinho. Desde então, a Isla estava conversando com ele,
acariciando a sua cabeça e dando os petiscos que o treinador entregou a ela.
Olhando-a tão bonita e distraída, me senti feliz que estava comigo.
Perdi a minha cabeça na noite anterior.
Estava sem dormir desde o sábado e não queria ir à festa, não por ela ou
por seus amigos, sim porque minha cabeça doía e me sentia perdendo o
controle a cada maldito segundo. Tive um embate agressivo com o Charlie,
porque ele ficava me pressionando, falando sem parar, me cobrando tomar a
medicação, com medo que tivesse outra crise de pânico como presenciou da
última vez e tive que ser internado. Entendia o lado dele, de verdade, mas ele
deveria entender que me encher não era um bom caminho.
Charlie não se importava com as nossas brigas. Éramos como irmãos,
de coração e alma, ele era o meu melhor amigo e a pessoa que mais confiava
no mundo. Sempre esteve comigo. Dormiu no hospital todas as noites que
estive internado por causa do câncer, segurou a minha cabeça nos enjoos da
quimioterapia, sentava-se por horas do meu lado durante a medicação e
comprava picolés para ajudar no enjoo.
Mesmo assim, não significava que quando estava no auge da insônia,
queria ouvi-lo. Ficava com os nervos à flor da pele, me sentindo fora do
padrão e ao olhar os stories da Isla perdi totalmente o meu foco. Ela estava
muito gostosa com um maiô amarelo, todo cavado, nas laterais dava para ver
o formato pequeno e redondinhos dos seus seios, era bem cavado na frente e
provocante atrás. Sua bunda era simplesmente linda, durinha e as coxas
torneadas ficaram elegantes nos saltos brancos.
A porra da abelha mais sexy que já vi e ela poderia estar carregando
meu bebê.
Foda-se se ia deixá-la sozinha.
Troquei de roupa e o meu primo me seguiu, apenas no caso que
chegasse lá brigando com ela. Isla estava com um copo de bebida e por dois
segundos considerei falar merda, até que veio o pensamento que ela jamais
beberia ciente que estava no processo de fecundação do nosso embrião.
Peguei-a no colo, marcando o meu território e a minha boca formigou
morrendo de vontade de beijá-la.
Não podia beijá-la do jeito que estava me sentindo. Não era certo.
Ela me surpreendeu, me seduzindo com a sua conversinha que queria ir
para minha casa. Sabia que não podíamos transar, mas podíamos fazer
qualquer coisa divertida, até que ela me deu um olhar como se soubesse o que
estava sentindo. O seu olhar me dizia que ficaria tudo bem. Tirou a sua saia e
me levou para o quarto. Fiquei de cueca e me deitei em cima dela, arrepiado
com seu carinho e com as suas pernas me prendendo no lugar.
E aí ela cantou. Isla cantou a música que minha mãe me ninava. Fazia
mais de vinte anos que não ouvia aquela música e foi como mergulhar em
uma piscina de paz.
Ficou tudo bem.
Dormi do momento que começou a cantar até o dia amanhecer. Isso
não acontecia há tanto tempo que não sabia calcular. Foi uma das melhores
noites da minha vida.
— Ela é muito bonita. Você realmente foi atrás dela naquele dia do
restaurante ou já estava acontecendo? — Tia Gwen parou do meu lado e
observei a Isla correr de uma folha molhada que Charlie ameaçou jogar nela.
Se ela caísse, irei matá-lo.
— Talvez.
— Vai ser evasivo comigo?
— Talvez. — Sorri e ganhei um tapa no braço. — Seja gentil com ela.
Não é um pedido simples, é sério.
Tia Gwen era terrível com a Patrícia, as duas chegaram a um
entendimento e uma boa convivência, talvez pelas crianças que os meus tios
eram apaixonados e amavam ser chamados de vovó e vovô. Sabia que o Cage
frequentava a casa dos meus tios, nós nos encontramos em quase toda festa,
embora fingisse que eles não existissem e em muitas delas fui
propositalmente desagradável, só para estragar o clima.
Para falar a verdade, já fazia um tempo que não sentia vontade de
antagonizar a existência deles. Simplesmente não me incomodavam mais.
— Quero conhecê-la, apenas isso. — Tia Gwen insistiu.
— Com o tempo você vai conhecer bem.
Deixei a minha tia de lado e fui até o Ivan verificar os aquecedores.
Manter dez puros-sangues no clima frio e úmido do Lowell era uma invenção
e tanto, porém, nas estações mais secas e quentes eles adoravam correr pelos
hectares da propriedade. Cavalos não sentiam tanto frio quanto os humanos
ou outros animais, eram mais resistentes, seus pelos engrossam e gostavam
de dormir juntos. Meu estábulo possuía um sistema de aquecimento que
deixava o clima perfeito.
Montei no meu primeiro cavalo ainda bem pequeno, foi o meu tio
Robert que me ensinou e nós compartilhamos a paixão. Irei ensinar o bebê a
cavalgar, ele terá o seu potrinho para crescerem juntos.
Meu cavalo era um macho alfa que ficava mais afastados dos outros
por ser agressivo e só respondia aos meus comandos ou do treinador. Ele
cresceu comigo, sofreu um trauma, por isso era tão arisco. Ganhei na
adolescência e sempre que olhava em seus olhos, via um pouco de mim.
Meus tios queriam almoçar depois que resolvi o problema do
aquecedor e autorizei a compra de duas máquinas novas. Insistiram tanto, que
se negasse seria uma grosseria da minha parte, detestava quando me sentia
encurralado. Queriam conhecer a Isla e só por causa disso que aceitei.
Seguimos para a cidade vizinha para um restaurante no qual a especialidade
era frutos do mar.
— Como terminou a festa para você, Charlie? — Isla perguntou logo
que nos acomodamos.
— Aquela sua amiga passou mal e ajudei o noivo dela, levei os dois
em casa e depois fui embora. E vocês? Tiveram uma festinha particular? —
Balançou as sobrancelhas.
— Que nada, seu bobo. Nós dormimos a noite inteira. — Ela retrucou
olhando para o cardápio e peguei a dica no ar. Ou ela quis mandar uma
mensagem ao Charlie ou quis dizer aos meus tios que nós não fizemos nada.
Isla dizia muito nas suas entrelinhas, bastava prestar atenção que era
inteiramente capaz de revelar os seus sentimentos em poucas frases.
Foi assim que seu desejo de ser mãe ressaltou durante as suas
respostas no formulário. Ela tentou passar a imagem que era madura sobre o
assunto, que entendia bem os conceitos da maternidade, mas escorregou
bastante no carinho com que falou sobre ser mãe, na devoção e na entrega.
Deduzia que a sua mãe não foi muito presente. Isla parecia ser tão carente
afetivamente quanto eu.
— Vamos pedir diferente para compartilhar? — Me perguntou com
seu olhar esperançoso. O conceito de compartilhar qualquer coisa sempre me
assustou. E agora, me via olhando as opções no cardápio que pudessem
agradar a nós dois.
— Eu quero qualquer prato com camarão. — Ela se inclinou.
— Você pede o salmão que eu peço essa salada com camarões, o que
acha?
— Parece muito boa. — Mordeu o lábio.
Ignorei o olhar avaliador da minha tia, fazendo nossos pedidos e o
almoço foi basicamente uma entrevista da Tia Gwen para a Isla e uma disputa
do meu tio comigo e o meu primo sobre quem sabia mais dados dos super
bowl’s dos últimos anos. Meu tio era um grande apostador de esporte, algo
que minha tia odiava e achava muito engraçado essa briga. Não era como se
ele fosse um viciado ou algo assim, apenas alguém que gostava muito.
Após o almoço, experimentei a sensação de voltar para casa com
alguém. Patrícia e eu raramente andávamos juntos. O motorista a levava onde
eu estava e levava de volta para casa. Era muito raro estarmos no carro após
um almoço de família em plena sexta-feira pós-feriado.
Ao entrarmos na minha casa, Isla tirou suas botas e foi para sala de
televisão, ligando e se jogou no sofá pelo encosto, ficando com as pernas para
o alto e escorregou, caindo deitada. Ela fez um sofá de trinta mil dólares de
escorregador.
Rindo, tirei os meus sapatos, meu casaco, fui até o quarto de hóspedes
puxando o edredom, desci a escada e joguei em cima dela. Parei ao seu lado e
simplesmente tirei a calça. Não ia me fazer de rogado depois de acordar com
a bunda dela roçando no meu pau duro. Sorte que ela não se deu conta da
minha ereção e me afastei antes.
— Só para ficar confortável. — Expliquei e ela riu.
— Tenho direitos iguais? — Fez um pequeno beicinho.
— Sempre. Só não sei se vou me comportar. — Sorri de lado.
— Não tem muito que fazer, papai. Seu bebê está se acomodando no
meu útero e o Dr. Phillips disse para não bagunçar a casinha dele. Já pensou?
Ele está conhecendo a casa nova e vem um terremoto?
— Conhecendo a casa nova e um terremoto? Sua mente é muito fértil.
— Soltei uma risada. Ela era terrível.
Isla tirou o macacão que usava, ficando com uma calcinha que parecia
um shortinho e uma blusa de mangas. Deitei-me atrás dela, junto ao encosto,
mudando de forma que ficasse como um travesseiro, nos cobrindo e tomei o
controle porque não ia assistir nada sobre a garota do blog. Como não era um
filme do seu interesse, depois de postar mais fotos de ontem à noite e falar
sobre o seu almoço, dormiu.
Ela acordou duas horas mais tarde gemendo de dor, falando que os
seus peitos estavam doendo e por mais que o Dr. Phillips tivesse nos alertado
sobre os sintomas dos hormônios, acreditava ser os primeiros sinais do bebê.
Mas só em dez dias poderíamos fazer o teste para confirmação. Tirou o sutiã
e perguntei o que poderia fazer para aliviar.
— É só uma aflição, vai passar. — Choramingou.
— Não vai ficar melhor com um beijinho?
— Você não vai beijar meus peitos sem antes ter beijado a minha boca.
— Reclamou parecendo ultrajada.
— Se beijar sua boca vou poder beijar seus peitos? — A esperança era
evidente na minha voz.
— Vai me beijar só para beijar meus peitos? — Rebateu.
— Na verdade, eu não deveria te beijar, isso só poderia complicar nossa
situação e causar algum problema, mas eu quero. E como sempre... Faço o
que quero. Não é só sobre seus peitos, Isla. É sobre você inteira. — Beijei a
sua bochecha, dei uma mordidinha no lóbulo da sua orelha e ela suspirou,
aconchegando-se em mim e segurou o meu rosto, plantando um beijo suave
nos meus lábios antes de entreabrir os seus e me deixar beijá-la de verdade.
A boca da Isla era a primeira maravilha do mundo. Seu beijo era doce,
intenso, apaixonado e foi como o meu primeiro beijo, porque foi diferente.
Especial. Beijei muitas mulheres ao longo da minha vida.
Não paramos de nos beijar por horas, até que os meus lábios estavam
doloridos e Isla toda vermelha, suspirando e com o olhar brilhando. Mordeu a
pontinha da boca, puxando o tecido da sua camisetinha para baixo, revelando
o seu mamilo durinho. Era pequeno, como um botão de rosa. Seus seios bem
redondinhos, cabiam na minha mão e melhor ainda, na minha boca.
Beijei o seu pescoço, lambendo a sua pele, soltou um gemidinho baixo
e quando lambi o seu mamilo, seu gemido foi ainda mais gostoso, uma
mistura de prazer e alívio. E porra... Ela era tão gostosa. Saboreei os seus
seios devagar, para não a machucar e só parei quando apertou meu braço,
com sua excitação crescendo ao ponto que sentiu cólica. Freamos a nossa
pegação, ela se deitou de lado e puxei sua perna, erguendo sua coxa na minha
para que sentisse meu pau bem duro.
Muito duro.
— Sentindo o que faz comigo?
— Ah... Sim. — Suspirou e se esfregou em mim.
— Não sei se é sorte ou azar esse jejum. — Porque certamente a
comeria bem ali e foda-se as consequências.
— É para um bem maior.
— Um muito maior. — Beijei a sua boca mais uma vez.
Mal via a hora de receber o resultado. Isla queria fazer o de sangue
direto, para ter uma confirmação exata e não somente um de urina.
À noite, levei-a para casa porque sua amiga queria sair para jantar. Ao
retornar para a minha, fiquei na escuridão, trabalhando freneticamente no
computador, respondendo todos os e-mails pendentes e organizando as
pastas, as ordens dos processos e quando não havia absolutamente mais nada
que dependesse de mim para fazer, ainda era meia noite, estava sem sono,
malhei por duas horas, deitei na cama olhando para o teto, me masturbei e
nada da porra do sono aparecer.
Meus olhos começaram a arder, minha cabeça doía e meu corpo
implorava por descanso como a noite passada.
Desisti de lutar contra o sono, me vesti e saí de casa. Me vi parado em
frente ao prédio da Isla, estacionei o carro e o porteiro me deixou passar
apenas porque me viu ali mais cedo. Fiquei muito incomodado com a
segurança falha, subi até o seu andar, liguei para o seu telefone enquanto
tocava a campainha.
— Callum? O que foi? — Abriu a porta usando uma camisetinha e uma
calcinha. — Aconteceu alguma coisa?
— Posso dormir com você?
Isla estava sonolenta, abriu um sorriso lindo e me abraçou.
— Vamos para cama. — Fechei a porta atrás de mim, ela trancou e
me puxou para sua cama. Tirei a minha roupa, deitei-me ao seu lado e
fazendo um cafuné, apenas cantarolou a letra da música de ninar sem abrir a
boca, só produzindo o som com a garganta. Fui relaxando gradativamente, o
sono me dominando e beijei cada pedacinho de pele que encontrei, ela virou
o rosto na minha direção e beijou a minha boca, voltando a cantar e eu dormi.
Mais uma vez acordei com a bunda dela encostada em mim,
pressionei gradativamente, ela acordou e sorriu, segurando minha mão e
beijou a minha palma. Sua cama era pequena, muito pequena para alguém do
meu tamanho, mas estava bom ali. Muito gostoso. Ficamos horas na cama,
conversando, aos beijos e quando ela se levantou para ir ao banheiro, me
estiquei e abri a sua geladeira.
Isla não tinha nada além de água, cenoura, nabos e um saco de
brócolis congelados.
— O que você comeria no café da manhã? — Apoiei a minha mão na
porta da geladeira aberta e apontei para dentro. — Nada, pelo visto.
Isla não me respondeu, desviando o olhar e respondeu que sairia para
comer ou pediria algum delivery.
— Ou comeria uma cenoura, como se essa merda fosse o suficiente.
— Fechei a geladeira e suspirei, irritado.
— Ei, olha como fala. — Isla colocou as mãos na cintura, me olhando
bem brava.
— Será que você não percebe que isso não é saudável?
— Não posso vestir mais de 38 no trabalho e manter esse corpo não é
fácil. — Apontou para si mesma e sorri.
— Nos próximos meses você vai vestir muito mais de 38.
Isla sorriu brevemente e logo ficou séria.
— Vou lidar com uma coisa de cada vez. Não costumo fazer compras,
peço comida sempre, porque não gosto muito de cozinhar aqui. Fica
cheirando na cama...
— Não quero que faça dieta maluca durante a gravidez e muito menos
depois. Manda aquela maluca da Roxanne enfiar uma cenoura no...
— Callum... — Isla foi severa. Andei até ela, parando na sua frente e
me sentei na cama. Isla ficou em pé entre as minhas pernas.
— É regra da empresa ou só uma regra implícita?
— Uma regra implícita, ninguém pode colocar no código de ética da
empresa o peso que um funcionário tem que ter. — Revirou os olhos e a olhei
severamente.
— Isso é ridículo.
— Você contrata mulheres gordas?
— Contrato mulheres pelas suas competências e profissionalismo. A
aparência das minhas funcionárias não me interessa, tanto que nunca pedi
currículo com foto.
— A maioria das empresas se importam e minha chefe acredita que
um corpo perfeito adequa melhor as roupas. Meu número natural é 42 no
quadril e bumbum.
— A sua bunda deve ficar incrível. Mal vejo a hora. — Sorri e agarrei
sua bunda, fazendo-a rir e bater no meu ombro.
— Idiota.
— É sério, Isla. Isso não é saudável.
— Eu sou só uma assistente, Callum. Não faço as regras... A Roxanne
é exigente com beleza e corpo, ela me contratou porque sou bonita, exigiu
que emagrecesse, não porque sou boa.
— E ainda assim escreve as matérias para ela?
— É o meu trabalho. — Por que ela não enxergava?
— É plágio.
— A gente vai brigar por causa da Roxanne? Vamos sair para comer e
depois eu juro que deixo chupar meus peitos. — Sorriu travessa, respirei
fundo e abracei seu corpinho perfeito. Agarrei a sua bunda mais uma vez,
murmurando “por favor engorde”, ela me bateu de novo e foi se vestir.
— Me promete uma coisa? — Isla vestiu uma calça e me olhou. —
Abre o olho com a Roxanne. Ela sabe como bater e acariciar. Não quero que
se machuque.
Isla me olhou de um jeito que eu soube que já estava acontecendo
algo e ela não queria me falar. Seja o que fosse, iria descobrir. Me deu um
aceno, prometendo e foi pentear os cabelos.
CAPÍTULO 11
Isla.
Enfrentar a segunda-feira depois de um final de semana incrível com o
Callum foi difícil. Roxanne estava com o chicote nas mãos e pediu que
escrevesse a coluna da semana três vezes. Já não sabia mais de onde tirar
palavras para não parecer que não foi ela quem escreveu o texto. Na hora do
almoço, a minha cabeça doía assim como os meus pés por usar uma bota
nova que estava apertando os meus dedinhos.
Para melhorar a minha dor de cabeça, ao sair da revista às dez horas da
noite, Tray estava ali a pedido do Callum para me levar para casa. Estava
tarde e quando me ligou para saber como estava por não ter notícias minhas
durante o dia, ficou irritado que ainda estava fazendo o que era trabalho da
minha chefe.
Não era só o motorista do Callum que me aguardava. Hank segurava
um enorme buquê de flores mistas, com cara de cachorro que caiu da
mudança e aos seus pés uma cesta de chocolate. Sem paciência, passei direto
por ele, sendo mais rápido que minhas pernas curtas, caiu de joelhos na
minha frente fazendo uma cena lamentável na frente do meu trabalho.
Cait estava ao meu lado, tão sem graça quanto eu, me segurando pelo
braço, talvez preocupada que fosse avançar nele.
— Por favor, Island. Precisamos conversar. — Hank tentou me agarrar
e dei um passo atrás. — Me perdoa, Isla. Tudo que fiz foi por nós. Você me
bloqueou e não atende as minhas ligações, não responde os meus e-mails e as
mensagens. Estou desesperado... Amor, você não pode ignorar tantos anos
juntos. Estou muito arrependido, sei que errei...
Não via nenhuma das ligações ou mensagens do Hank há semanas,
bloqueei em tudo e nada aparecia para mim. Ele estava falado com as
paredes. Avisei na portaria do meu prédio que a entrada dele deveria ser
barrada.
Frustrada de um dia ruim, não queria lidar com ele.
— Se arrependeu porque foi pego, Hank. Aconteceu mais de uma vez e
não quero mais essa cena aqui no meu trabalho ou em qualquer lugar, por
favor, me deixa em paz. Estou cansada e quero ir embora. — Me afastei e o
Tray abriu a porta.
A expressão do Hank transformou-se de forma preocupante. Ele ficou
furioso quando reparou no Tray e no carro. Se ele estava acompanhando as
manchetes de fofoca, sabia sobre o Callum.
— Então agora é com o homem rico que você está fodendo?
— Isso não é da sua conta, apareça aqui novamente e chamarei a
polícia.
Cait entrou no carro primeiro e eu em seguida. Cansada, só encostei
minha cabeça no vidro, fechei os olhos e o Tray fez a enorme gentileza de
deixar a Cait na porta do prédio dela. Minha amiga se despediu preocupada
comigo, com a dor de cabeça que sentia e pediu que avisasse quando
chegasse em casa. O restante do trajeto foi silencioso, quase me fez dormir e
agradeci imensamente ao Tray, enviando uma mensagem de gratidão ao
Callum também.
Entrei no meu apartamento, tranquei a porta, tomei banho e me joguei
na cama de calcinha, sem nada na parte de cima. Agarrei um travesseiro e
fechei os olhos, apagando sem esforço. Meu sono foi agitado, era como se
estivesse correndo, melhor dizendo, fugindo. Ouvia os passos firmes atrás de
mim em uma escuridão com uma fumaça densa, era difícil de respirar, muito
frio e minhas pernas estavam molhadas com muito sangue.
Acordei assustada, soltando um grito com um barulho forte e sonolenta,
com o coração a mil, ouvi uma batida firme na porta. Meu telefone vibrava
com a foto do Callum na tela. Noventa e oito ligações perdidas. Uma
mensagem dizia que era ele que estava na porta, me levantei, cobri os meus
seios com o braço e fui até a porta.
Callum estava de calça de moletom e casaco, entrou e me abraçou. Não
sabia se foi o sonho ruim ou o susto que me fez chorar e o agarrei bem
apertado.
— O que houve? — Sua voz era baixa e muito preocupada.
— Desculpa. Tive um pesadelo.
— Está tudo bem, pode chorar. Sei como pesadelos são ruins. — Me
deu um beijo na testa. — Vamos para cama, bebê. — Ainda sonolenta, aceitei
o seu afago. Ele me fez deitar em cima dele, me ninando como um bebezinho
e voltei a dormir.
Fui acordada pelo meu estômago faminto que identificou o cheiro de
algo bom. Abri os olhos e o vi no balcão, abrindo embalagens e me sentei,
prendendo o meu cabelo. Meus peitos estavam doendo tanto que pareciam
formigar. Não ia colocar um sutiã nem que me pagassem.
Callum montou um prato com risoto de camarão e me entregou um
copo de suco de uva integral – o meu suco favorito. Aceitei a comida com
prazer, devorando em poucas bocadas e me joguei na cama, satisfeita e
acariciando os meus seios. Ele comeu e lavou a louça, tirou a sua roupa e
veio para cama só de cueca branca.
Seu olhar estava nos meus peitos e ainda não podia acreditar que
estava pegando aquele homem. Ele beijava tão bem e tinha mãos que sabiam
muito bem dar uma boa pegada! Já falei sobre a boca dele? Como beijava!
Ele era tão gostoso, todo malhado, bem distribuído e porra... O pau dele era
enorme. Não vi. Senti. E como senti. Ah... Queria tanto.
— Seus peitos ainda estão doloridos? — Passou o indicador de leve no
meu mamilo. Fiquei toda arrepiada e excitada.
— Sim. Tirar o sutiã foi o melhor do meu dia.
— Parece que teve um dia agitado, mal respondeu as mensagens e
sempre que ligava estava praticamente correndo.
— Segunda-feira é um dia muito agitado. — Suspirei e senti a potência
do seu olhar. — Mas eu comi direitinho o dia inteiro. — Acrescentei
rapidamente. Callum sorriu com carinho e virei na cama para ficar de frente a
ele. — Está tudo bem?
— Pensei que fosse direto para minha casa e quando cheguei não estava
lá. Comecei a te ligar quando Tray me falou que teve um homem te
entregando flores... Fazendo uma cena. — Acariciou o meu rosto e respirei
fundo. Callum mostrava que era muito controlador e ao mesmo tempo não.
Ele era tão confuso. — Estou me viciando em dormir com você.
— É porque te faço dormir, seu bobo. — Beijei o seu queixo, me
aconchegando em seus braços. — Foi meu ex-namorado, o homem das
flores, como já te contei, ele me traiu com sua a chefe e está bancando o
cachorro arrependido. Não vai acontecer.
— Espero que ele não seja um problema. — Murmurou contra os meus
cabelos.
— Também espero. Obrigada pelo jantar, estava uma delícia. — Beijei
o seu peito.
Callum acariciou minhas costas, escorregando para minha bunda e apertou de
forma suave, ergui o meu rosto e beijei a sua boca com vontade. Meus peitos
estavam muito doloridos sim, mas nada se comparava a dor de querer avançar
naquele homem com todo meu desejo. Callum retribuiu o meu beijo tão
faminto quanto e não demorei muito para sentir sua ereção crescer ao ponto
que parecia uma barra de ferro.
Nunca quis tanto sentar em um homem.
Me esfreguei nele desesperadamente, necessitada por fricção e
infelizmente uma pontada de cólica me fez gritar e me afastar. Cheguei a
levar minhas mãos ao ventre, assustada e Callum me segurou no lugar, me
acalmando. Deitei-me de lado, respirando fundo, realmente chocada e
pensativa. Será que havia algo errado?
— Está tudo bem, baby. Não vai acontecer nada, confia em mim. —
Me acalentou e beijou o meu ombro.
— Será que vai ser assim a gravidez inteira? Não sei se estou grávida,
apenas confusa com todos esses sintomas.
— Do jeito que seus seios doem, acredito que você está grávida.
Saberemos em poucos dias... E vai ficar tudo bem.
Callum ficou agarradinho em mim e me senti tão... Bem. Era um
carinho gostoso, comecei a nos balançar, cantarolando e logo ele estava
adormecendo com o nariz colado no meu pescoço. Levei a minha mão ao
ventre e pedi a Deus que se o bebê estivesse ali, se desenvolvendo, que a
minha putaria com o pai dele não me fizesse perdê-lo. Fechei os meus olhos e
me entreguei ao sono.
Me espreguicei na cama ao ouvir a voz da Samantha no jornal matinal,
rolei para o lado e a cama estava vazia. Me sentei com muito sono, olhei ao
redor e estava completamente sozinha. Callum saiu sem se despedir? Respirei
fundo, com sono e entrei no banheiro para começar o meu preparo matinal.
Estava terminando de escovar os meus cabelos quando ouvi o barulho da
fechadura da porta, o desaparecido entrou, segurando sacos de papel de uma
confeitaria.
— Bom dia, bela adormecida. — Cantarolou e sorri, feliz em vê-lo.
— Não conseguiu dormir muito? — Deixei o meu secador na pia.
— Dormi sim, acordei com uma ligação da Roxanne às quatro da
manhã querendo saber onde estava a clutch de prata dela.
— O quê? Você leu as minhas mensagens? Atendeu o meu telefone? —
Gritei saindo completamente do banheiro e meu coração já estava saltando no
peito.
— Suas mensagens aparecem na tela, antes que te acordasse, ela enviou
uma mensagem dizendo que encontrou. — Fiquei calma. Voltei a me arrumar
no banheiro e o Callum começou a desembalar o nosso café da manhã. — A
propósito... Tem o seu contrato de trabalho?
— Sim. Na primeira gaveta do meu armário, por quê?
— Quatro horas da manhã, Isla. Minha assistente possui um contrato de
vinte e quatro horas... Sabe quantas vezes liguei para ela de madrugada?
— Umas cem? — Voltei para o quarto vestida e maquiada.
— Nunca. Eu não durmo, passo a maior parte da noite trabalhando e
programo que todos os e-mails que escrevo a noite sejam enviados apenas
pela manhã. É desumano. — Me entregou um prato com ovos, torrada e
avocado. — Mandarei entregar a salada de frutas às nove horas. — Olhou
para o seu relógio. — Que horas sai do trabalho hoje?
— Às dezenove se tudo der certo.
— Eu vou te buscar. — Me deu um beijo doce e saiu do meu
apartamento com o telefone no ouvido.
Callum estava implicando com a Roxanne porque ela foi amante do seu
pai, não podia deixar que isso me fizesse perder o emprego. O dinheiro que
iria receber seria integralmente para a minha mãe, não para gastar comigo, o
meu trabalho seguirá me sustentando com muito mais folga. Só de não me
estressar com o pagamento da fisioterapia extra pelas próximas semanas era
simplesmente incrível.
Olhei a data e lembrei que havia um boleto a ser pago. Entrei no meu
aplicativo do banco enquanto comia e quase caí do meu banquinho. Havia
dez mil dólares a mais ali e não era dinheiro da Roxanne. Callum depositou a
quantia essa manhã e não fazia ideia do motivo. O que ele estava pensando?
Nos beijamos, dormimos juntos e me via seminua queria dizer que precisava
ser sustentada?
Enviei uma longa mensagem desaforada. Não queria que confundisse o
dinheiro do procedimento, o nosso acordo e os beijos que estavam rolando
como uma maneira de sustento. Irritada, bloqueei ele, porque não podia
desligar o meu telefone. Cheguei ao trabalho e Roxanne já estava lá, furiosa
que não atendi a sua ligação de madrugada e que teve que revirar o seu
armário em busca de uma bolsa que queria levar na sua viagem.
Mentalizei as minhas contas para manter a minha boca fechada e
engolir a vontade de mandar tudo aquilo para a puta que pariu.
— Cait irá a Paris comigo esse ano. — Roxanne me informou.
— O quê? — Ergui o olhar do meu planner para sua figura altiva.
— Está surda agora, Isla? — Roxanne me deu um olhar frio. — Cait irá
a Paris comigo. Sua dispersão não será bem-vinda em tantos eventos
importantes.
Fiquei parada no meio da sua sala, irritada, pensando no que responder
e o meu telefone vibrou com o Callum me ligando. Passei a mão no meu
cabelo, pensativa e simplesmente olhei para minha chefe.
— Pois bem, agradeço pelos dias de folga. — Sorri e girei para sair da
sua sala.
— Você trabalhará a distância. — Determinou.
— Apenas no meu horário de trabalho. Meu contrato me garante folgas
na sua ausência. — Falei por cima dos meus ombros.
Roxanne ficou muda e aproveitei o momento para sair da sua sala.
Conferi o horário e estava na hora do meu almoço, peguei a minha bolsa e saí
do trabalho. Andei por alguns quarteirões procurando algum lugar para comer
até que me vi em frente ao prédio do Callum. Entrei e dei o meu nome,
pensei que ganharia um crachá de visitante, mas um segurança abriu a
cancela e me conduziu a um elevador vazio, apertando o andar da sala.
Tray me deu um suave aceno de uma sala e sorri, as portas fecharam e
assim que a viagem de elevador acabou, as portas se abriram e o Callum
estava me aguardando bem ali.
— Me desculpa. — Me pediu todo humilde e imediatamente me joguei
em seus braços. — Pareço ter a tendência a te sufocar. Normalmente sou
muito desligado sobre essas coisas, mas com você tudo é diferente. Sei que
luta com o dinheiro, é começo do mês, imaginei que a sua mãe pudesse
precisar de algo. Está frio... Eu não sei, Isla. Só tenho essa vontade
enlouquecedora de cuidar de você. Não quero te comprar e juro que não estou
confundindo, apenas... Pensei que se esforça muito pela sua mãe.
Ele me matava agindo daquela maneira.
— Está tudo bem, desculpa a minha grosseria, mas você tem que me
prometer que esse dinheiro será um adiantamento.
Callum não parecia satisfeito quando concordou. Reparei que
estávamos em pleno saguão do seu andar e de mãos dadas, me levou até a sua
sala após me apresentar a sua assistente. Fiquei surpresa que ela era uma
senhora. Não era do tipo velhinha, mas definitivamente tinha mais de
cinquenta anos.
A sala dele era enorme, iluminada e muito bem decorada. Móveis bem
modernos, todos em cinza claro, branco e detalhes em preto.
Me sentei em seu sofá de couro, tirei o meu sapato e encolhi as minhas
pernas ouvindo-o listar o pedido do nosso almoço para a sua assistente. Meu
telefone estava cheio de mensagens da Roxanne reclamando e da Cait
surtando que simplesmente saí do trabalho sem falar nada. Fui bastante
inconsequente, mas estava muito chateada. Nos últimos anos acompanhava
todas as viagens da semana da moda, preparava o material de trabalho, o
briefing da revista, as pautas, a agenda e toda logística.
Estava há seis meses organizando a semana de moda de Paris. A data
estava pintada de vermelho no meu planejamento desde janeiro, para a
Roxanne simplesmente me informar que iria levar a minha assistente no meu
lugar, porque não atendi a sua ligação às quatro da manhã? Era muita falta de
respeito com o meu tempo e dedicação.
Não era desprezível como um lixo qualquer. Não que a Cait não
merecesse, mas era o meu trabalho. Meu. Meu esforço.
Não queria me abrir com o Callum, ele iria usar essa atitude como
combustível para sua reclamação e optei por ficar calada sobre isso com ele e
completamente muda no trabalho. Roxanne sentiu a minha frieza, trouxe
flores, me deu uma cesta de café da manhã e tentou comprar o meu afeto me
dando um iPad novíssimo. Aceitei para cobrir as horas extras que não me
pagava e deveria.
Passei os dias seguintes jantando com o Callum e nós dormimos juntos
apenas mais duas vezes. Apenas dormir. Sem beijos, sem qualquer
movimento que pudesse me fazer sentir cólicas. Ele precisou viajar para
Nova Iorque por dois dias e estava ansiosa com a sua chegada.
Com Tray a minha disposição, jantei com os meus pais nos dias que o
Callum estava fora e foi maravilhoso. Minha mãe estava bem resfriada, o que
me deixou muito preocupada. Chegamos a levá-la a emergência duas vezes
com dificuldade respiratória a noite. Meu pai era a nossa rocha, porque
enquanto ela ficava mal por estar doente, pedindo desculpa por dar mais
trabalho e eu me sentia histérica que uma gripe a colocasse na cama
novamente.
Era nítido que estava deteriorando, mas a minha ansiedade sobre o
resultado do teste me deixou sem dormir. Quando ele retornou, me ligou de
madrugada e finalmente era o nosso grande dia.
Tray me buscou cedinho, passei na clínica, fiz a retirada do sangue para
o meu BETA HCG e fui trabalhar. Roxanne estava em Paris e sem a Cait. Foi
com o Benji, estava me dando um enorme trabalho a distância, me enchendo
o saco com e-mails e solicitações, precisava me virar para não perder os
prazos com o fuso horário e ao mesmo tempo não sair do meu expediente,
afinal, meu ascendente era em áries e era bastante vingativa.
A parte boa da Roxanne não estar no trabalho, era que podia colocar os
meus pés para o alto e andar descalço dentro da minha sala. Fingia que não
via o pessoal fora do código de vestimenta pelo andar. Inclusive, usei botas
sem salto mais de uma vez. Era a frase “os gatos saem e os ratos fazem a
festa” e eu era a chefe dos ratos.
Mais de uma vez senti cheiro de pizza pelos cubículos.
“O resultado chegou. Tray está aí, venha logo!”.
A mensagem do Callum quase me fez cair da cadeira e enfiei todas as
minhas coisas na minha bolsa, saindo da minha sala às pressas e mal
expliquei para onde estava indo. Não que precisasse dar satisfações, só não
queria deixar os meus colegas preocupados, porque compartilhei com alguns
deles sobre as crises da minha mãe durante as pausas do café.
Fiquei presa em uma fila para sair do prédio, batendo meu pé no chão
bem impaciente e a menina na minha frente me olhou duas vezes, irritada
com a minha pressa. Assim que consegui sair, Tray estava parado bem em
frente a porta, me aguardando. Empolgada, andei diretamente a ele, que abriu
a porta do carona e me deu seu sorriso polido. Apenas a Cassie sabia do
nosso acordo, só não sabia que estava beijando o possível pai do meu bebê.
Tray entrou na garagem do prédio e sentindo minha ansiedade, parou o
carro na frente do elevador e me deixou sair antes de estacionar. Digitei o
código para o andar do CEO e contei os números com a ansiedade crescendo.
Ao chegar no andar, Callum estava parado me aguardando com um grande
sorriso. Ele já sabia.
— Sim?
— Sim. — Sorriu e pulei nele, na frente de todo mundo, cruzando as
minhas pernas na sua cintura e beijei a sua boca. Callum apenas riu da minha
alegria e me levou para a sua sala, sem me colocar no chão. Acenei para sua
assistente que não escondia a risada de ver seu poderoso chefe carregando a
maluca da nova namorada no colo.
Assim que a porta foi fechada em um chute, Callum me beijou. Não foi
um beijinho. Foi um beijo de nublar os meus pensamentos e sentir na minha
alma. Me depositou na sua mesa e deitou-se por cima, agarrando meus peitos
e abriu os botões da minha blusa.
— Nunca imaginei que ter a confirmação da gravidez me deixaria com
tanto tesão. Meu Deus, Isla. Você está carregando meu bebê!
— Será que se sentiria assim quando nosso acordo era apenas um
acordo?
— Talvez. Fiquei atraído assim que vi a sua foto, imaginei que seria um
grande problema resistir a você, esse seu corpo, seus olhos... Sua boca
perfeita. — Beijou o meu rosto em diversos lugares, demorando um pouco
mais nos lábios e em seguida beijou cada seio por cima do sutiã. Foi
descendo beijos até o meu ventre. — Deu certo, Isla. Meu bebê está aqui...
Vou ser pai, porra. — Encostou a testa no meu ventre e sorri, acariciando os
seus cabelos.
Imaginava que Callum queria muito ser pai, primeiro por não poder
ter naturalmente, pela sua posição em uma empresa e por ter esse alcance.
Aquela emoção era diferente. Provava que não era um capricho, sim um
desejo muito real, algo tão importante ao ponto dos seus olhos transbordarem
em lágrimas.
— Eu te amo, bebê. Tudo será diferente para você. — Falou tão
baixinho que tive certeza de que não era para eu ouvir. Era a primeira
conversa dele com o seu bebê. — Obrigada, Isla. — Callum me olhou
emocionado, bem dentro dos meus olhos e comecei a chorar. Nos abraçamos
apertado por tanto tempo que a assistente dele bateu na porta informando que
estava indo embora. — Vem para casa comigo essa noite?
— É claro que sim.
Senti no meu coração que onde Callum e o bebê estivessem seria a
minha casa.
CAPÍTULO 12
Callum.
Isla estava linda com o seu longo vestido vermelho, com os cabelos
loiros presos em um coque bonito e alto, que deixava o seu pescoço cheiroso
livre para a minha boca. Pensando nisso, abaixei um pouco e plantei um beijo
suave. Ela riu e segurou a minha cabeça, pressionando-se em mim. Ela virou
de frente e me deu um beijo nos lábios. Esfreguei a sua barriguinha, ansioso
para sentir os meus bebezinhos.
Nós estávamos em Paris em um baile oferecido pelo embaixador dos
Estados Unidos na embaixada e éramos um dos casais convidados de honra.
Isla estava amando toda a atenção. Era o seu primeiro baile de gala e junto
com a Cassie, estava se divertindo. Elas só saíram da pista de dança para o
jantar.
A comida era tipicamente francesa, o que não agradou o paladar da Isla,
mas ela estava apaixonada pelos bolinhos com creme de avelã.
— Que noite incrível, baby. — Isla acariciou o meu rosto. — Gosto
quando não faz a barba. — Arranhou um pouco meu rosto. — Eu fico toda
vermelha, mas é sexy.
— Eu vou te mostrar o que é sexy quando voltarmos para o hotel. —
Beijei os seus lábios que estavam doces com o açúcar refinado do bolinho.
Nós decidimos ficar de pé para socializar no baile, até porque queria ir
embora, mas não era socialmente educado sair ainda. Charlie e eu ficamos
conversando no canto enquanto a Cassie tirava fotos da Isla na varanda. Elas
estavam voltando animadas quando a Roxanne Miller parou no caminho
delas.
— Ora, quem está aqui... A minha assistente que deveria estar de
repouso pela sua licença médica... — Ela jogou o cabelo sobre os ombros.
— Estou de licença médica para trabalhar, mas recebi autorização do
médico para essa viagem. — Isla estava se explicando.
— Ou talvez esteja usufruindo do seu novo possível status... — Ela
esticou a mão para tocar na barriga da Isla, que imediatamente recuou. —
Ouvi dizer que são gêmeos... Sorte a sua ser mãe dos herdeiros dele.
— Olá, Roxanne. — Ela virou para me encarar e me deu um
sorrisinho.
— Olá, Sr. Lowell. Não te vi aí, mas é claro que estaria, afinal a Isla
não estaria em um evento como esse...
Isla estava ficando da cor do seu vestido.
— Cala a sua boca! — Isla explodiu. — Eu não aguento mais você e os
seus comentários ridículos, a sua amargura, sua boca negativa e os seus
olhares críticos! Estou farta, Roxanne! Você é podre, mesquinha, pobre de
espírito e a minha maior decepção. Cresci achando que você era uma mulher
incrível, mas na verdade, você é um monstro. Estou cheia e me demito!
Roxanne fez uma expressão de espanto por uns segundos e depois
bancou a entediada. Sabia que a Isla estava guardando a mágoa por muito
tempo e explodiria quando menos esperasse.
— É claro que se demite... Não precisa mais. Abocanhou um peixe
maior, amor...
Isla respirou fundo, a Cassie ia falar, mas a minha mulher abriu um
sorriso debochado.
— O peixe que você nunca conseguiu, porque nós duas sabemos que
você tentou e muito. Não teve capacidade, tudo bem. É que os homens
Lowell gostam de mulheres honestas... Nunca foi o seu caso. — Isla cruzou
os braços.
— Você acha mesmo que esse homem vai ficar com você? — Roxanne
riu de um jeito maldoso. — Ele é igual ao pai. Vai sugar todas as suas
energias e em seguida, vai te jogar fora como se você fosse um lixo. Eu vou
assistir a sua queda com prazer.
— Isso não vai acontecer. Callum sente algo por mim que o pai dele
nunca sentiu por você. E eu sinto algo por mim mesma que você desconhece:
amor-próprio. E por me amar... que eu preciso me livrar de você. Tentei,
todos me disseram para me afastar e eu ainda fiquei por toda a idolatria e
consideração que tinha por você. — Isla saiu de perto da Roxanne e abri os
meus braços, orgulhoso que ela finalmente reagiu e parecia bem. Parecia
aliviada.
Roxanne nos olhou com desprezo e saiu de perto. Assim que a Isla
recebesse tudo que lhe deviam, iria começar o processo para tirar a Roxanne
de vez das nossas vidas. Mesmo que pagasse a sua rescisão do meu bolso,
aquela mulher sairia da minha editora. Era o fim da Roxanne nas nossas
vidas. Infelizmente, o confronto com a Roxanne deixou a Isla pálida e
preocupado, decidi que poderíamos ir embora.
— Posso me deitar no seu colo? — Isla perguntou no carro.
Preferia que ela ficasse segura em seu lugar, mas ela parecia precisar de
conforto. Isla soltou o cinto de segurança e se arrastou até mim. Fechei os
meus braços ao seu redor, beijando a sua testa.
— Por que você está triste? Aquela mulher te fazia mal. — Beijei a sua
testa.
— Você não entende. — Isla suspirou e a sua voz saiu trêmula. —
Nasceu com um sobrenome, com dinheiro e sabendo que independente do
que acontecesse, tinha um lugar no mundo. Comigo não foi bem assim. Sou
filha de um policial, de uma mãe louca e relapsa, tive que batalhar muito para
chegar a algum lugar. E a Roxanne era meu alvo, minha chance e foi tudo tão
frustrante... Eu sei que estou melhor agora, que ter meus filhos é mais
importante que tudo, mas ter uma carreira também é importante para mim. E
ela tentou soterrar isso... — Ergueu o olhar e segurei o seu rosto, beijando os
seus lábios.
— Lamento que foi uma decepção, mas você pode ir a lugares muito
maiores que a Roxanne permitia. Você é inteligente, talentosa e vai conseguir
ter uma carreira incrível. — Acariciei os seus braços. — Eu te prometo,
amor. Vai ser um sucesso.
Isla me deu um olhar grato e beijou o meu queixo, em seguida, beijou
os meus lábios. Tray parou o carro na frente do nosso hotel, nós saímos e
andamos com calma para o elevador. Perguntei se ela queria comer alguma
coisa e com a maior cara de pau do mundo, pediu sorvete.
— Isla... Você não pode. — Suspirei e o seu beicinho me deixou doido.
Beijei a sua boca e a pressionei contra a parede. De repente, ela gritou e me
empurrou.
— Agora foi um chute certo! Tenho certeza de que vai sentir.
Coloquei as minhas duas mãos na sua barriga e então, senti uma onda e
uma vibração. Ajoelhei na sua frente, no meio do elevador e beijei a sua
barriga repetidas vezes, falando com os meus filhos.
— Nós precisamos abrir aquele exame e descobrir o sexo.
— Só a Cassie sabe. — Isla sorriu. — Quando voltarmos, teremos o
nosso chá revelação e será lindo. Estou escolhendo apenas a decoração, a cor
do bolo e dos balões será com a Cassie.
— A Laila sabe disso? — Arqueei a sobrancelha.
— Hum... Sabe. Ela disse que ficou com medo de não conseguir
guardar o segredo de mim. Já tentei subornar a Cassie várias vezes e ela
segue firme com o segredo. — Sorriu e saímos no nosso andar.
Passei o cartão chave na porta, entramos e ela foi para o banheiro,
tirando os sapatos, soltando os grampos do cabelo e deixando seu cabelo cair
livre. Puxei o zíper do seu vestido, reparando que a costura deixou marcas na
sua pele e a ajudei a ficar sem roupa. Ela se arrumou com a Cassie, então, não
a vi decorar sua linda bunda com aquela calcinha pequena.
Apertei suas nádegas por puro costume e ela começou a tirar a
maquiagem, lavando o rosto e pelo seu olhar, sabia que estava cansada. Isla
era oito ou oito milhões. Quando estava ligada nos 220w, era insuportável,
mas eu amava e ela superava cada dia em que estava mal, irritado, sombrio e
sendo um idiota com a mesma alegria de todos os dias.
— Seus pés e mãos estão inchados. — Apontei cuidadosamente.
— Eu sei, acho que preciso me deitar. — Bocejou e abracei-a, levando
para a cama.
Ela deitou-se com calma, sem sutiã, só de calcinha e fui tirar a minha
roupa, bebendo água e me deitei ao seu lado, beijando o seu ventre. Não
demorou cinco segundos para que dormisse. Fiquei acordado, como quase
toda noite e apenas senti sono no meio da madrugada. Acordei antes dela, saí
da cama com cuidado para não a acordar, peguei o menu e pedi nosso café da
manhã.
Isla já conhecia Paris, mas não comigo. Estava animado em passar os
próximos dois dias passeando com ela. Ela queria fazer compras, me pediu
timidamente para fazer uma extravagância e a Isla não entendia que ela não
gastava quase nada. Comparada a minha experiência com a Patrícia, a Isla era
bastante econômica.
Ainda mais que ela queria comprar roupas de gestante agradáveis,
roupinhas para nossos bebês e perfumes.
— Callum? — Isla chamou do quarto e estava sentada na cama, com os
cabelos todo em pé e o rosto inchado. — Estou faminta. — Se espreguiçou e
olhei para os seus mamilos atiçados, porque estava toda arrepiada. Sentei-me
na cama, beijei sua boca e nos abraçamos por um tempo. Ela grunhiu, mal
humorada. — É sério... Pediu comida?
— Já deve estar chegando...
Tinha dias que a Isla acordava manhosa, atipicamente grudenta e dias
que ela ficava bem. Quando ela ficava manhosa, nem ela se aguentava.
Conversamos com o médico e descobrimos que era perfeitamente normal,
porque eram os seus hormônios que causavam essa dependência. Era a
mesma coisa quando ela acordava com uma raiva inexplicável de mim - ou
de qualquer pessoa ao redor.
Quando o café da manhã chegou, foi atacando a comida sem se
importar de colocar a roupa. Verifiquei o meu telefone e algumas mensagens
me chamaram atenção. Tray conseguiu localizar o Hank depois de todo esse
tempo e ele estava no Alasca, na casa de uns parentes, deixando a barba
crescer e vivendo minimamente sem usar suas redes sociais. Parecia que os
meus homens fizeram o recado fazer efeito. Mas se ele estava no Alasca,
quem me seguiu na semana do Natal?
— Algum problema? — Isla estava cortando um pedaço de queijo
branco. — Ei, crianças! — Falou com sua barriga. — Agora eles resolveram
empurrar um ao outro, só pode. — Ela os sentia mexer muito antes de mim e
sempre apontava o que eles poderiam estar fazendo.
— É porque você está comendo. — Sorri para sua boca cheia.
— Então, algum problema?
— Hank está no Alasca.
— E quem nos seguiu?
— Eu ainda não sei, mas eu vou descobrir. — Me inclinei e beijei sua a
boca. Ela sujou meus lábios de torrada, sorriu e comecei a comer os meus
ovos, bebendo a minha vitamina.
Isla e eu éramos o típico casal extremamente afetuosos com o outro.
Talvez não ficássemos tão grudentos após a gravidez, porque não fazia parte
da nossa personalidade. Ela era brincalhona e eu mais quieto. Com a
gestação, a ligação era intensa. Eu a amava e queria fazê-la feliz todo tempo
possível.
Após o café-da-manhã, nós nos arrumamos e saímos do hotel com a
Cassie e o Charlie. Nós fomos aos pontos turísticos mais conhecidos e
tiramos algumas fotografias, almoçamos em frente a Torre Eiffel e o Tray nos
levou para o centro comercial da moda. Isla enlouqueceu com as roupas,
falando sobre os tecidos, as costuras e comprou três vestidos que poderia usar
com a barriga ainda maior, casacos e duas botas.
Enquanto ela e a Cassie compravam roupas íntimas, meu primo e eu
escolhemos uma bolsa cara para dar de presente a Tia Gwen, que queria
muito ter vindo participar das comprinhas do bebê e ela merecia ser mimada.
— E aí, você vai fechar a revista? — Charlie parou para olhar uns
relógios.
— Não. Ela ainda é lucrativa, mas eu vou tirar a Roxanne.
— Ela é uma cobra.
— Pelo menos a Isla se livrou dela de vez. — Comentei escolhendo um
relógio novo para mim e outro para a mãe dos meus filhos, que merecia ser
mimada com todos os presentes do mundo. — O que você acha?
Charlie me deu um sorriso, escolhendo um colar com um pingente com
a letra C cravejada em diamantes. Ele pediu para embrulhar porque ia dar de
presente para a Cassie. Existia a chance que ela fosse gostar bastante, mas
também tinha a chance que poderia jogar na cara dele. Comprei um colar para
Isla com duas pedrinhas dentro de um coração, para representar nossos dois
bebês e então, vi um homem escolhendo anéis.
— É sério, cara? — Charlie parou do meu lado. — Esse é bonito.
— Não sei o número dela.
— Pergunte a Cassie, ela pode descobrir. Você está pronto para isso ou
está fazendo por que ela está grávida? Não vai usar o anel da vovó?
— Estou apenas olhando... Não sei se a Isla está pronta para dizer sim.
E nada contra a vovó, talvez dê a Isla em alguns anos, mas é uma nova
história e eu queria muito que fossem novas joias. — Analisei um anel que
era bonito e ela amaria. — Pergunte a Cassie qual o número do dedo da Isla.
— Vou arrumar o meu terno de padrinho. — Charlie riu de mim e
mandou uma mensagem para a Cassie.
Quando ela respondeu, falei com a atendente e ela ficou maravilhada
com a minha escolha. Precisamos esperar o pagamento ser processado e com
as joias bem embaladas, saímos da loja. Isla nunca poderia saber o quanto
custou a sua aliança, porque ela surtaria e se recusaria a usar, mas quando
fosse a hora certa sabia que seria perfeito. E ela diria sim.
Encontramos as meninas na loja e elas estavam cheias de sacolas.
Cassie me deu um sorriso, mas a Isla parecia alegremente alheia. Ao
voltarmos para o hotel, olhei todas as lindas roupinhas para os bebês e as suas
novas roupas. Feliz com as suas compras, ela cantarolou que ia preparar um
banho com sais e algumas flores aromáticas que comprou na rua. Aproveitei
sua distração no banheiro, guardando o anel na minha pasta onde ela não
mexia e deixei o relógio em cima da mesinha para que visse assim que
saíssemos do banheiro.
Tirei a minha roupa no quarto, entrando no banheiro e ela estava em
frente ao espelho, se olhando de lado. A cada dia parecia que sua barriga
estava maior. Demorou bastante ou talvez fosse a nossa ansiedade, aos cinco
meses, ela estava como se tivesse com seis. Foi bem rápido, de uma semana
para a outra parecia que sua bunda tinha parado de crescer e agora a barriga
estava pulando para fora.
— Não é perfeito? — Me olhou emocionada.
— É maravilhoso. O meu verdadeiro milagre. — Coloquei ambas as
mãos na sua barriga. — Meus bebês. Será que são duas meninas?
— Eu acho que são dois meninos. Algo me diz que estou carregando
duas criaturinhas temperamentais iguais ao pai.
— Temperamental? — Fingi estar chocado e magoado. — Não sou
temperamental.
— Você não dormiu a noite inteira e sei que está pensando em demitir a
Roxanne, isso se não acabar com a revista. Você não sossega até fazer o que
quer, pior de tudo, é sonso. Sabe por quê? Mantém essa carinha bonita com
um sorrisinho, mas por dentro, sua mente é terrível. Eu te amo mesmo assim.
— Sorriu e fiz um beicinho.
— Pelo menos tenho um rosto bonito. — Ela me bateu.
— Cretino.
— Eu também te amo.
Isla desviou o olhar da sua barriga para mim e os seus olhos encheram-
se de lágrimas. Por um momento, fiquei parado sem entender o que a fez
chorar, já em pânico de estar sentindo-se mal quando ela se jogou em mim
sem se importar se ia cair ou não. Segurando o meu rosto e puxando para
baixo com brusquidão, me deu um beijo e me apertou com toda sua força.
— O que foi, amor?
— Você disse... eu te amo.
— Já te disse milhares de vezes. Eu digo todos os dias quando vai
dormir e antes de acordar, quando estava no hospital e desde então, eu decidi
não passar um dia sem dizer que te amo. — Beijei a sua boca. — Só que saiu
agora...
— Eu disse a você que chegaria o momento que precisaria ouvir e foi
perfeito agora. — Sorriu ainda muito emocionada.
Isla ficou extremamente excitada com essas palavrinhas, porque ela me
deixou jogado na cama olhando para o teto sem acreditar que todo aquele
sexo incrível realmente tinha acontecido. Ela me fazia gozar de um jeito que
parecia um sonho. Deitada ao meu lado, nua, com a sua barriga acomodada
bem ao meu lado na curva da minha cintura e então, senti um chute.
— Qual dos dois? — Olhei para sua barriga e como eram dois, era fácil
sentir os movimentos.
— O do lado esquerdo. — Suspirou e então, o do lado direito chutou de
volta. — Estou com a ligeira sensação de que eles estão se chutando.
Não consegui segurar o sorriso porque quando eles começaram a
mexer, tudo se tornou real. Em breve, eles estariam se mexendo em meus
braços.
CAPÍTULO 29
Isla.
As crianças estavam se mexendo e parei de comer, olhando para baixo,
mastigando o que estava na minha boca. Meu prato cheio de comida estava
ansioso para ser devorado por mim, mas eles se empurrando realmente não
dava certo. Callum cortou o seu bife e me encarou com diversão. Seis meses
e essas crianças mostravam como seriam fora da minha barriga, sendo
pequena como eu era, parecia que não havia espaço suficiente para os dois.
Ou as duas.
A tortura finalmente acabaria. No meio da tarde, Callum e eu iremos
para o nosso chá revelação, organizado no quintal da casa da Tia Gwen. Ela e
a Cassie se empenharam e embora tivesse mais gente na lista de convidados
do que eu gostaria, era necessário fazer um pouco de social com a família e
amigos. Tudo que estava realmente ansiosa era sobre o sexo, pensei que eu
não me importaria, na verdade, eu não me importava, só queria saber.
Era uma mulher naturalmente curiosa.
— Você deveria descansar antes de sairmos. — Callum terminou o seu
prato e comi a minha última batata. Ele recolheu a louça e imediatamente
começou a lavar. Não queria ficar na cama, então, me recolhi no sofá,
lembrando da primeira vez que estive ali, meses atrás e o quanto a nossa vida
mudou. — Precisa de mais alguma coisa?
— Apenas de você.
Ele sorriu, lisonjeado e eu pensei no quanto era um santo. Conforme a
minha barriga crescia, menos sexo fazíamos. Ainda fazíamos, o que o Dr.
Phillips garantia que poucos casais conseguem manter com uma gravidez de
gêmeos e o quão grande estava. Algumas posições eram realmente
desconfortáveis, não conseguia ficar por cima porque a barriga pesava, minha
coluna doía, não havia nenhuma chance de papai e mamãe, então as opções
eram: ele de pé, fora da cama, mas me deixava sem ar. Ainda estava dando
certo de lado e de quatro, mas não era tão frequente quanto antes.
Mesmo assim, ele jamais agiu de maneira mal humorada ou implicante
comigo, continuava amoroso e carinhoso mesmo nos dias que não estava
muito bem. Com a terapia, ele oscilava menos, até porque conversávamos
muito sobre os seus sentimentos e paramos de deixar algumas questões para
depois. Aprendemos a aproveitar cada segundo do nosso tempo juntos, como
aquele no sofá, no qual eu dormi em menos de cinco minutos de filme e
acordei com os seus beijos no meu pescoço.
— Hora de se arrumar, mamãe. — Falou baixinho.
— Estava no melhor do sono. — As crianças finalmente descansaram.
— Eu sei, mas iremos nos atrasar se você dormir mais um pouco.
Com preguiça e muito letárgica, meus pés estavam inchados e troquei a
minha sandália por um sapato mais confortável. Tomei banho, fiz o meu
cabelo e a maquiagem, colocando um vestido branco longo, bordado com
rendas. Ele me ajudou a fechar os milhares de pequenos botões que
ajustavam o modelo bem na minha barriga. Comprei em Paris e ainda estava
perfeito. Me olhei no espelho, admirada e o Callum parou ao meu lado, já
arrumado.
— Parecemos pais.
— É verdade. — Ele sorriu e tirei uma foto de nós dois antes de
sairmos. — Você está magnífica. — Me deu um beijo doce.
Com cuidado, desci a escada, erguendo o meu vestido e com o Callum
me apoiando. Reunimos nossas coisas e fomos para a garagem. Tray estava
montado em sua moto e o Boyle já tinha saído para buscar os meus pais com
o meu irmão, para levar até Lowell. Queria que o meu pai ficasse à vontade
para beber e brindar, afinal, era o chá revelação misturado com chá de bebê
dos seus netos ou netas.
No caminho, fiquei disparando mensagens para a Cassie e a Laila, que
já estavam no evento e ambas me garantiram que estava tudo pronto e
perfeito. Não calei a boca, de tamanha ansiedade, o que fazia o Callum rir e
tentar me acalmar, mesmo sabendo que seria inútil.
— Meu Deus! — Soltei assim que vi as primeiras decorações no
jardim.
— E é só a entrada. — Callum sorriu e estacionou o carro o mais
próximo possível, sem atrapalhar a linda entrada que tinha milhares de flores
coloridas, abelhas bem amarelinhas e um arco imenso com uma placa de
ferro pintada de branco BEM-VINDO AO MUNDO LA LA ISLAND.
— Callum! Olha isso! — Gritei ao ver o primeiro quadro pintado em
aquarela do primeiro mês da minha gestação. Havia muito mais, milhares de
fotos do começo até os meus seis meses de gestação que foram transformados
em lindos quadros pendurados entre as flores do jardim.
No final desse corredor, podia ver os garçons terminando de arrumar
as mesas. Todas eram redondas, com seis lugares e as toalhas eram coloridas.
Havia velas e flores, assim como os cartões de menus. De um lado havia o
bar, na frente estava a mesa principal, que estava perfeitamente decorada com
pirulitos coloridos, abelhas, flores, ursinhos e um grande bolo assim como
balões. Era a festa da cor.
— Por que você está chorando? — Tia Gwen saiu da parte coberta da
festa e sorriu. — São os hormônios, querida?
— Está perfeito.
— Confesso que inicialmente não entendi muito o que a Cassie queria,
mas ela reuniu todos os elementos que contam a história de vocês e
elementos infantis, claro, em dose dupla. — Explicou e assenti. Callum me
deu um lenço e sequei o meu rosto cuidadosamente. — Ela e a Laila
acabaram de subir para se arrumar. Robert está arrumando as bebidas com o
Charlie, porque ele e a Cassie começaram a brigar e ela quase bateu nele com
um dos meus champanhes mais caros.
Aqueles dois se amavam, só não queriam assumir e brigar era como
preliminares.
Michael e Benji foram os primeiros a chegar, em seguida a equipe de
fotógrafos e filmagem. Aproveitamos que ainda não havia convidados para
fazermos mais um ensaio da gravidez, com a decoração do chá e com a
minha barriga infinitamente maior. Levamos quase meia hora para
terminarmos a sessão de fotos e o Callum apontou para o meu irmão
segurando uma caixa imensa e atrás dele estava o meu pai com a Ângela.
Me aproximei deles, querendo saber onde estava a minha mãe e o meu
pai imediatamente me abraçou apertado.
— Você está linda, Annie. — Sorriu e beijou a minha testa.
— Obrigada, papai. Cadê a mamãe?
— Ela não quis vir. — Explicou com pesar. — Algumas pessoas
presentes poderiam reconhecê-la do tempo em que era uma dançarina e talvez
dos anos que viveu com aquele homem em Nova Iorque. Ela não queria te
envergonhar em um dia importante e pediu para fazer uma chamada de vídeo
durante os melhores momentos.
— Não posso acreditar que ela não veio no meu chá de bebê. —
Reclamei e os meus olhos traidores se encheram de lágrimas.
— Eu sinto muito, querida. — Papai me abraçou e voltei a tentar não
estragar toda a minha maquiagem.
— O que tem aí, rapazinho? — Apontei para a caixa que o meu irmão
segurava.
— Papai e eu escolhemos milhares de presentes para o bebê, porque
ficamos indecisos e a Tia Ângela achou essa grande caixa, colocamos tudo
aqui e decoramos. — Raymond sorriu. — Estou ansioso para conhecer os
meus sobrinhos. — Ele se inclinou e beijou a minha barriga como sempre
fazia.
— Estou ansiosa para vê-los também, obrigada. — Beijei a sua testa e
virei para a Ângela. — Obrigada por vir.
— Agradeço o convite para esse momento tão especial. — Ela sorriu e
me deu um rápido abraço.
Precisei engolir a minha chateação, colocando um sorriso no rosto para
receber os convidados que estavam demorando para chegar na área da festa,
porque estavam vidrados com a entrada. Cassie desceu primeiro e antes que
saísse, eu a vi trocar um beijo com o Charlie, no cantinho da cozinha, mas
eles se afastaram como se ninguém soubesse que estavam juntos. Viajei com
os dois mais de uma vez e sabia muito bem que eles estavam em uma
pegação desenfreada.
Laila gritou quando me viu e sorri, ela amava festas e depois que o
Callum deu a ela o aval para gastar o quanto achasse necessário para essa
festa, eu sabia que ela estava surtada. Benji e o Michael me puxaram para
uma fotografia e toda parte de cumprimentar os convidados, posar para fotos
e fazer uma conversa era bem exaustiva. Antes de descobrir o sexo e fazer
algumas brincadeiras bobas típicas de um chá de bebê, me sentei com o
Callum para jantarmos.
— Sinta isso... — Peguei a mão dele e coloquei na minha barriga, que
ondulava com as crianças se movendo porque comi alguns pedaços de
chocolate.
— Ei, crianças. — Se inclinou sobre a minha barriga. — Acalmem-se.
— Falou baixinho. Eu amava as suas conversas com os bebês. Ele ergueu o
rosto e parou a centímetro dos meus lábios. — Já disse que você está linda
hoje?
— Não nos últimos trinta minutos. — Sorri e ele me beijou.
— Você está linda.
Eu me sentia enorme, mas não neguei o seu elogio. Imaginava que
ficaria grande em algum momento, mas eu estava começando a desafiar
algumas leis da física sendo tão pequena e com uma barriga tão grande. Acho
que a minha bunda cresceu tanto para ajudar a equilibrar o peso. Fiz uma
piada sobre isso e todo mundo riu, exceto a Patrícia e a Tia Gwen, que foram
rápidas ao perceber a leve depressão por trás do meu tamanho.
Estava feliz que o Callum não implicou com a presença do seu irmão e
da sua ex-namorada na nossa mesa. Eu não me importava, éramos uma
família e os nossos três sobrinhos nos amavam. Cage e a Patrícia nos deram
um Moises lindo, de madeira, especificamente para recém-nascidos e eu
pensei que eles não poderiam ter sido mais atenciosos ao mandar fazer em
dose dupla.
Apenas o Archie estava mastigando a comida no colo do seu pai. Ethan,
o mais velho, corria com outras crianças, embora ele fosse o menor. Andie, o
do meio e mais temperamental, estava comendo no colo do Tio Robert. Meu
pai, Ângela e o Raymond estavam conosco, assim como a Cassie e o Charlie.
Para a minha surpresa, Charlie e Cage estavam rindo de alguma besteira que
o Callum falou. Ele andava tão engraçadinho...
Cassie olhou para o seu relógio e para o céu. O rapaz da equipe da
filmagem sinalizou que estava tudo pronto, terminei de comer, limpei a
minha boca e retoquei o meu batom, indo até a mesa do bolo, mas nós
iríamos estourar os balões para descobrir o sexo. A cor do bolo era da cor
definida ao sexo, que nós fugimos do clássico rosa ou azul. Amarelo
significava meninas e verde significava meninos.
— Antes de descobrirmos o sexo dos nossos bebês, eu gostaria de falar
algumas coisas. — Callum pegou o pequeno microfone para a filmagem e o
som foi reproduzido em maior escala. — Isla e eu estamos imensamente
gratos com a presença de todos vocês nesse dia tão especial. É apenas mais
um dia especial de todos desde que nos conhecemos e desde que descobrimos
que fomos abençoados com dois bebês. — Ele virou-se para mim e segurou a
minha mão. — Tudo mudou desde que você chegou. Eu te amo e sou grato
pela honra de ter você como minha mulher e mãe dos meus filhos.
Fiquei na ponta dos pés e o abracei apertado.
— Eu te amo.
Nós nos beijamos sob os gritos e aplausos dos convidados. Laila me
entregou a agulha grande para furar o balão e o Callum fixou no lugar, para
poder espetar. Nós trocamos um olhar decidido antes de furarmos o balão.
Papéis da cor verde neon caiu e uma fumaça verde saiu de trás da mesa.
— Dois meninos? — Gritei, olhando para a Cassie e ela assentiu,
emocionada.
— Dois meninos! — Callum gritou e me abraçou. — Não posso
acreditar que teremos dois meninos! Eu jurava que eram meninas! — Sorriu e
com as mãos na minha barriga, me beijou apaixonadamente e eu tentei parar
de chorar, mas não conseguia. — Te amo, amor.
— Te amo muito, obrigada por esses presentes. — Esfregamos nossos
narizes no outro.
Meu pai e os tios dele se aproximaram, emocionados e abraçamos a
nossa família, explodindo de felicidade. Eu sabia que estaríamos gritando
com tanto amor se fossem meninas também. Nossas amigas prepararam umas
brincadeiras de disputa. Tia Gwen seria a juíza e aconselhadora, mas havia
uma enfermeira para ensinar os cuidados com os bebês corretamente.
Escolhi o meu time: Laila, Cassie e a Patrícia, porque ela tinha três
filhos e deveria saber um monte de coisas. Callum seguiu na mesma linha,
levando o Michael, Benji e o seu irmão, já que o Charlie se recusou a trocar
fraldas. O olhar que a Cassie deu a ele foi o suficiente para calar a boca. Ela o
tinha na palma das mãos.
A primeira disputa era sobre como dar banho corretamente e eu ia me
certificar de deixar o Callum e o Michael longe dos meus filhos porque eles
quase afogaram o boneco. Se não fosse o Cage, eles tinham matado o bebê
falso. Já a Patrícia foi extremamente calma e firme nas explicações sobre o
banho, troca de fralda e a enfermeira não a corrigiu em momento nenhum. Eu
só podia supor que era uma excelente mãe.
— Eles se mexem, o que dá a sensação de escorregar ainda mais... O
primeiro bebê, eu dei banho na pia até ficar segura, mas os outros eu tinha um
suporte, assim eles não afundavam. — Explicou e sorri, grata.
Nós vencemos o banho e as fraldas, mas eles venceram a vestimenta
graças aos truques muito úteis do Benji. Eu gritei que ele precisava lembrar
que era meu amigo.
— Agora ele é nosso, baby. — Callum me deu um beijo. — Relaxa,
competitiva. É só um jogo. — Sorriu e me beijou.
Nós brincamos sobre quem iria acertar o tamanho da minha barriga e de
todas as tentativas, só o Cage e o Callum acertaram, ambos que tinham
experiências com grávidas. Eu adorei cada brincadeira, me diverti bastante,
foi muito melhor que o esperado. Callum estava muito feliz e exibindo o seu
lindo sorriso para todos, a sua tia não parava de dizer que era muito bom ver
toda a família sorridente e reunida novamente. Eu sabia que ele ainda tinha
uma resistência com o seu irmão e com a Patrícia, mas ele fazia pelo bem de
todos.
Um visitante inesperado tirou o sorriso do rosto do meu namorado.
Callum olhou fixamente para o homem que segurava uma caixa branca com
um laço vermelho. Apesar da breve escuridão na entrada, eu sabia quem era.
Enzo.
— O que ele está fazendo aqui? — Questionei ao Callum.
— Eu não sei. — Murmurou e quase tentou me impedir de ir
cumprimentá-lo, mas isso faria uma cena, então, ele andou colado em mim.
— Olá. — Me aproximei.
— Olá, Isla. — Enzo retrucou. A sua voz era um retumbar firme, rouco,
como alguém que fumava, era bonita e harmônica. — Oi, Callum.
— O que você está fazendo aqui? — Callum grunhiu.
— Eu vim ver a minha irmã. — Enzo respondeu e arquejei.
— Temos a confirmação? — Olhei para o Callum, que franziu o cenho.
— Não recebi nada do laboratório. — Callum respondeu e segurei a sua
mão, nervosa.
— Eu recebi e isso é o que importa. — Enzo sorriu torto e esticou a
caixa. — Para os meus sobrinhos. Sei que o seu marido não me quer por
perto, mas eu sou um homem de família e saiba que não importa o que
aconteça, você estará segura e cuidada.
— Nossa... — Peguei a caixa e estava um pouco pesada.
— Espero que um dia possamos nos encontrar e nos conhecer melhor.
— Ele disse e pegou um cigarro. Callum coçou a garganta e olhou para a
minha barriga. — Ah, sim. Desculpa. Nunca estive perto de uma mulher
grávida a não ser a minha mãe. — Enfiou o cigarro no bolso.
— Fique na festa, ainda não partimos o bolo. — Pedi, estranhamente
apegada ao fato que tinha um irmão mais velho.
— Em outra oportunidade, menina Isla. — Sorriu torto, se inclinou em
direção a saída.
— Você vai contar a alguém sobre isso? — Questionei antes que fosse
embora.
— Alguém, você quer dizer, o nosso doador de esperma em comum?
— Arqueou a sobrancelha. — Não se preocupe com isso ou com ele, é uma
promessa, você está segura.
Como se fosse um homem comum, não tão perigoso e poderoso como
realmente era, caminhou pelo meu jardim aceso e colorido. Enzo Rafaelli era
o meu irmão mais velho e ainda não sabia o que pensar sobre tudo aquilo.
CAPÍTULO 30
Callum.
Enzo Rafaelli era o homem que eu não queria perto da minha mulher,
mas descobrir que a Isla era irmã dele me deixou preocupado que a
informação vazasse. Assim que ele saiu, enviei uma mensagem, nós
precisaríamos conversar urgente sobre como lidar com a situação, porque a
segurança da Isla era mais importante que tudo. Eu não acreditava que o Enzo
colocaria a Isla em risco, mas outras pessoas, ao saber que ela era irmã dele,
uma filha bastarda, seria um trunfo na manga.
Não confiava que quando fosse conveniente, Jackson Bernard não
usaria essa informação ao seu favor. Ele agia para proteger os seus e eu não
acreditava que tinha qualquer fidelidade correndo em suas veias. O que ele
fez para salvar a sua filha no passado me dizia muito sobre o que ele poderia
fazer para salvar os seus interesses. Isla não poderia ser uma moeda de troca.
Ela não fazia parte desse mundo. Era uma mulher boa, honesta e comum.
— Não deixe que isso estrague a nossa noite. — Isla me pediu e
agarrou o presente que ganhou do Enzo. — Temos muito que aproveitar e
depois resolvemos essa questão.
Logo ela estava incrivelmente sorridente sobre os presentes, passeando
entre os convidados e partimos o bolo verde com o recheio em chocolate. Ela
pediu para colocar os pés para o alto, seu inchaço sempre me deixava
extremamente preocupado, principalmente que não havia muito o que fazer
de imediato. A festa estava quase no fim, os convidados começaram a se
despedir e no final, Isla estava muito cansada. Ela queria ajudar a arrumar
todas as coisas e até pegar os presentes, mas Patrícia a distraiu com os
meninos na sala e eu pude recolher tudo rapidamente, levar a caixa do bolo e
foi preciso a mala de dois carros para levar todos os presentes.
— Você está exausta, não é? — Levei a Isla para o carro, após quase
meia hora de despedida com a minha família.
— Só quero tomar um banho e ficar com os pés para o alto. — Me deu
um olhar feliz. — Foi tudo tão perfeito. — Suspirou e acariciou a barriga. —
Dois meninos... Eu sabia que estava carregando coisinhas temperamentais
como o pai. — Me provocou e soltei uma risada.
— Sei que serão lindos como a mãe.
Eu estava puxando o saco da Isla, em sua última consulta médica ela
fez muitas piadas depreciando a si mesma. As estrias e as celulites estavam
deixando-a maluca. Ela não tinha estrias na barriga, mas ganhou novas na
bunda e nas laterais, nos quadris. As coxas estavam maiores, o que trouxe
novas celulites, mas na minha opinião, estava perfeita.
Desde pequeno, achava a gravidez algo mágico: uma criança se
desenvolvia no ventre de uma mulher. Existia algo incrivelmente mais
perfeito que isso? Ela era a minha mulher, gerando nossos dois filhos, eu não
conseguia não a enxergar como a mulher mais incrível do mundo inteiro.
Ciente que não estava totalmente confortável com o seu próprio corpo, estava
sendo insuportável com os meus elogios. Charlie estava me zoando
terrivelmente, até que expliquei o motivo e ele também se rendeu aos
elogios.
Isla trouxe a sorte de um amor tranquilo e uma vida feliz. Eu
imaginava que a minha vida mudaria depois dos meus filhos, mas ela me
transformou em alguém infinitamente melhor.
Eu podia fazer o esforço em transformar a visão dela de si mesma
durante a gestação em algo realmente belo. E era. Isla carregava o meu
milagre. Filhos que nós jamais poderíamos ter naturalmente.
Dirigi até a nossa casa, estacionando o carro na garagem, primeiro subi
com ela e ajudei com a sua roupa. Enquanto ela tomava banho, voltei para
buscar os muitos presentes dos bebês, colocando no quartinho deles que era
bem próximo ao nosso. Estava apenas pintado e sem móveis. Isla levou uma
eternidade para decidir o mobiliário e estava previsto para chegar na próxima
semana, finalmente teríamos o quarto montado.
O closet deles estava abarrotado de roupas e utensílios que não
sabíamos se usaríamos tudo, mas nos demos a chance de sermos pais de
primeira viagem sem nenhuma noção.
Voltei para o nosso quarto, tirando a roupa e ela saiu do banheiro,
vestindo uma camisa minha, bem longa e os cabelos molhados.
— Quer comer alguma coisa? — Ofereci antes de entrar no banheiro.
— Não, estou bem. — Sorriu e foi para a cama.
Entrei rapidamente no banheiro, não querendo que ficasse sozinha por
muito tempo. Ouvi o som da televisão enquanto tomava banho, uma música
suave estava tocando e eu conhecia o ritmo. Isla estava assistindo o filme
Enrolados pela milésima vez. Ela tinha uma fixação pelo Flynn Rider.
Vesti uma cueca e apareci no quarto. Ela estava passando um creme
hidratante na sua barriga e imediatamente peguei o frasco, ansioso por aquela
tarefa. Ela sorriu, relaxando contra os travesseiros e observando as minhas
mãos na sua pele clara. Com a pressão do meu toque, os meninos se
mexeram.
— Temos que pensar nos nomes, não temos mais desculpas para
protelar. — Comentou, olhando para o meu rosto.
— Ainda não recebi a confirmação do laboratório, mas é bem possível
que o Enzo tenha invadido o sistema. Você está bem com isso?
— Lorenzo foi apenas o homem que engravidou a inconsequente e
irresponsável da minha mãe. Jay Edwards é o meu pai, aquele homem que foi
capaz de passar por tudo o que passou por amor a mim. — Encolheu os
ombros. — Pelo menos, eu tenho um irmão mais velho.
Suspirei.
— Isla... Enzo é um mafioso, ele vende drogas, tem casas de
prostituição e mata pessoas como diversão para o jantar. Eu não quero vocês
dois juntos.
— Eis uma breve questão, Callum Lowell. — Ela arqueou a
sobrancelha. — Eu sou uma mulher adulta e independente, posso falar e me
relacionar com quem quiser. Inclusive, com a sua hipocrisia, porque você é
quem repassa as drogas para Nova Iorque. — Revirei os meus olhos. — E
além do mais, gostei do Enzo. Ele tem uma energia ruim sobre ele, como uma
aura vermelha, mas tem algo brincalhão e meio carente. Ele não precisaria vir
me ver, querer me conhecer e ainda trazer presentes atenciosos para os nossos
filhos.
— Ele é um assassino.
— Ele não tem culpa de ter nascido no pecado.
— Poderia ter mudado a sua própria história... — Sugeri, pensando que
não era porque o meu pai era um bastardo sádico que eu seria um. Eu
precisava mudar a história da minha família, para que a minha geração futura
não fosse manchada com atos tão cruéis, então, a desculpa que ele nasceu no
pecado não justificava as suas ações. Ele gostava de estar naquele meio.
— Não podemos julgar...
— Eu sei que você é adulta e dona de si mesma, mas o Enzo está fora
de questão, Isla. Eu não o quero nas nossas vidas e muito menos que as
pessoas saibam que você é irmã dele... Estou disposto a brigar por isso. —
Falei bem sério e ela fez um beicinho.
— Tudo bem. — Resmungou e eu estava ciente que desistiu fácil
demais. — Eu não vou fazer nada, juro. — Sorriu e pegou o frasco do
hidratante das minhas mãos. — Agora... vem aqui, vamos falar dos nomes
dos nossos meninos.
— Sempre gostei do nome Gabriel. — Comentei, me deitando ao seu
lado.
— É um bom nome. Gabriel Lowell? Algum nome do meio? —
Questionou pensativa. — Alguma homenagem às pessoas que amamos? —
Me olhou e beijei a sua mão. Na televisão, Rapunzel cantava sobre os seus
sonhos e isso fez a Isla sorrir. — Gosto do nome Daniel. Nós facilmente
iremos chamá-los de Gabe e Danny.
— E se o Gabriel ganhar o nome do meu tio? Gabriel Robert Lowell.
— Falei e ela sorriu, animada. — E o Daniel ganhar o nome do seu pai?
Daniel Jay Lowell.
— Ah, baby. Simplesmente perfeitos. — Tentou se inclinar para me
beijar e não conseguiu. Projetou o beicinho para fora e sorrimos. Ergui o meu
rosto e capturei os seus lábios, pensei que fosse apenas um beijo doce, mas
ela tinha outras ideias, provocando a minha boca com um beijo que me
deixou em chamas rapidamente.
Escorregando na cama, continuamos nos beijando apaixonadamente.
Tirei a sua camisa, estimulando os seus mamilos e não levou muito tempo
para fazermos amor. Levei o ritmo devagar, não queria que ficasse sem ar ou
cansada, de lado, ela sentia muito mais prazer. Sexo estava espaçado, mas
sempre gostoso. Sabíamos que ela não ficaria confortável para sempre.
Ficamos deitados na cama, com preguiça, no meio da madrugada ela
quis mais um pedaço de bolo e docinhos, dei a ela apenas porque era uma
data especial.
Cada semana a mais na gestação ficava ainda mais impressionado com
a força da Isla. A barriga continuava crescendo e ela ficou de repouso
absoluto aos sete meses, por estar muito cansada, enjoada e com dores de
cabeça. Após mais uma briga com a sua mãe, nós determinamos que as duas
ficariam afastadas. Não fazia nenhum bem para a Isla ficar tão irritada com a
Sierra, que estava com a saúde deteriorando com muita rapidez.
O estopim foi quando a Isla chegou a trinta e quatro semanas. A
Sierra teve uma consulta médica, ela estava sem conseguir respirar e usava
aparelhos todas as noites. Em sua consulta, ela assinou a ONR. Em poucas
palavras, Sierra não queria ser reanimada se tivesse uma parada cardíaca ou
respiratória. Ou ambas.
— Como ela pode fazer isso comigo? — Isla chorava
descontroladamente.
— Filha... — Jay suspirou e me encarou. — Ela está cansada.
— Eu não quero que a minha mãe morra, nós nunca vamos ficar em
paz? Nunca teremos um bom relacionamento? Ela sequer vai ver os meus
filhos crescerem? — E ela continuava chorando sem parar.
— Eu sinto muito, baby. Você precisa se acalmar, por que não nos
deitamos um pouco? — Ofereci as minhas mãos e ela aceitou. Levei-a para o
nosso quarto, ela se deitou de lado, com o travesseiro apoiando a coluna e
ficou fungando até adormecer.
Jay ainda estava no andar de baixo e nós conversamos sobre o estado
de saúde da minha sogra. Sierra não estava conseguindo fazer a fisioterapia e
muito menos falar por muito tempo. Ela ficava cansada e desanimada, isso
lhe causava uma irritação que nem o amor e a alegria do Raymond ajudava.
Não era difícil entender porquê ela estava tão cansada da vida, não era fácil
ser portadora de uma doença tão limitante e devoradora como a ELA. Como
filha, a Isla estava com raiva e sofrendo.
— Não seja orgulhoso, Jay. O que eu puder fazer para a Sierra, por
favor, me avise. Nós somos uma família.
— Eu sei, obrigado. — Jay tocou o meu ombro. — Você o conhece?
— Apontou para a televisão e aumentei o volume. O Senador Vaughn estava
discursando. — Ele criou um programa de pagamentos para policiais e
fuzileiros, consegui me inscrever, vou finalizar o pagamento da minha casa
em alguns meses. — Comentou, orgulhoso de si mesmo. Considerei quitar as
dívidas de hipoteca deles, mas a Isla me garantiu que o seu pai queria fazer
isso sozinho e então, ele aceitou ajuda com o tratamento da Sierra e a
educação do Raymond.
— Estudei com o Vince, fizemos Arquitetura juntos e depois nos
reencontramos na pós em Engenharia, trabalhamos no setor imobiliário, mas
em gestões diferentes. — Comentei olhando para a televisão. — Nós
fazíamos parte da mesma fraternidade...
Fazíamos parte da mesma rede de negócios, mas o Jay não precisava
saber de todos os detalhes. Meu sogro voltou para o seu trabalho após jantar
conosco. A Isla ainda estava mal humorada e chorosa, não querendo assistir
televisão ou ouvir músicas. Ela nem se animou quando disse que assistiria
aos jogos amistosos da noite. Era difícil vê-la tão abatida, principalmente
quando sua personalidade era extremamente exuberante e feliz.
Pelas semanas seguintes, ela ficou quieta em casa, costurando
algumas mantas e bordando o nome dos meninos nas toalhas de decoração. O
quarto estava pronto, faltavam os detalhes finais e decoração que ela estava
adicionando lentamente. O tema era de dinossauros, algo que eu amava muito
quando criança e pude colocar os que eu tinha desde menino no quarto dos
meus meninos.
— O que acha de colocarmos esse quadrinho aqui? — Isla tentou
subir em um banco para mostrar exatamente onde ficaria na parede e eu a
impedi no mesmo segundo. — Dois passos do chão.
— O quê?
— Sei lá. — Reclamou e apontou para parede. — Quero o quadro ali.
— Bufou, peguei a fita, coloquei na parte de trás e segui as instruções muito
cuidadosas dela para colocar no lugar. — Acho que está tudo pronto. —
Suspirou olhando ao redor.
— Está perfeito.
— É uma pena que é meramente decorativo, eles vão dormir no quarto
conosco nas primeiras semanas. — Sorriu torto e foi o primeiro sorriso
brincalhão em dias. — Ai, ai, o que está havendo aí? — Ela gritou com a sua
própria barriga. — Preciso fazer xixi. — E foi andando desengonçada até o
banheiro do quarto deles.
Ajeitei algumas almofadas, olhando o grande berço porque inicialmente
eles dormiriam juntos, depois iríamos separar e levantar as grades até que
ficassem grandinhos para dormirem em uma cama. Não fazia ideia se eles
teriam o mesmo quarto para sempre, era muito provável que quisessem ter
privacidade e tivessem personalidades totalmente diferentes.
— Estou pronta para comer o meu lanche.
— Eu vou buscar, vá para a cama, está há muito tempo de pé. —
Apontei para o nosso quarto. Dei-lhe um beijo e ela foi embora.
Desci rapidamente e o meu telefone vibrou no bolso da bermuda.
— Oi, Jay. — Atendi meio animado, mas o silêncio e o suspiro dele me
fez parar imediatamente. — O que aconteceu?
— Foi muito rápido, Callum. — Ele falou com a voz embargada. —
Sierra teve uma parada cardíaca logo que conseguimos chegar no hospital e
mesmo que pudéssemos fazer uma reanimação...
— Eu sinto muito, Jay.
— Eu sei, eu sei. — Ele grunhiu e parecia chorar. — Não sabia como
contar a Isla, fiquei preocupado em assustá-la. Acabei de conversar com o
Raymond, mas ele está com a Ângela.
— Tudo bem, eu irei conversar com ela e em seguida nós nos falamos.
— Não adianta vir para o hospital, então... eu vou mandando
mensagens.
— Sim... Eu vou enviar alguém para lhe ajudar com toda a parte
burocrática, sei que não está com cabeça para isso.
Encerrei a chamada, preocupado em como contar a Isla que a sua mãe
havia falecido. Voltei para a escada, subindo devagar e ela estava na cama,
com a camisa erguida, passando uma pomada em uma pequena manchinha
que surgiu e ela cismou que era uma estria.
— Esqueceu do meu lanche, engraçadinho? — Me deu um olhar
esperto. — O que aconteceu, Callum? Está sentindo alguma coisa? — Ficou
alarmada. Desde que o boca grande do Charlie contou que tive um ataque de
ansiedade há alguns anos, ela sempre pensava que estava passando mal.
— Estou bem, baby. — Me aproximei da cama e me sentei bem na sua
frente. — Seu pai acabou de me ligar. — Expliquei e segurei a sua mão, ela
ficou bem séria. — A sua mãe passou mal. Ela teve uma parada cardíaca
quando chegou ao hospital e infelizmente, independente da ONR, ela não
resistiu. Eu sinto muito, amor.
— Minha mãe morreu? — Seus olhos azuis ficaram cheios de lágrimas.
— Sim, baby.
— Meu Deus! — Ela chorou e deitou a cabeça no meu ombro.
Abracei-a bem apertado, ciente que não havia palavras de conforto que
pudesse acalentar a dor de perder a sua mãe, mesmo com todo o
relacionamento problemático que elas tinham. Na minha opinião, a Sierra era
irresponsável e muito egoísta, ela abandonou e negligenciou a Isla a maior
parte da sua vida, quando tentou ser uma boa mãe, ela estava doente demais
para que os seus erros fossem reparados.
Tudo que podia fazer pela Isla era permitir ter o seu luto e dar todo o
meu apoio.
CAPÍTULO 31
Isla
A recepção fúnebre da minha mãe estava acontecendo na casa dos
meus pais, para que nossos vizinhos e familiares distantes pudessem prestar
as suas condolências. Raymond estava sentado ao meu lado, com a sua mão
na minha e a cabecinha encostada no meu ombro. Ele estava apenas
fungando, depois de uma crise de choro que foi acalmada pelo Callum, que
sabia bem como meu irmãozinho estava se sentindo, afinal, ele perdeu a mãe
com a mesma idade.
Callum estava servindo chá para a sua tia e eu continuei sentada, meus
pés estavam inchados e a minha cabeça estava doendo. Queria ir embora.
Desejava me deitar na minha cama e ficar encolhidinha na minha. Eu sabia
que a minha mãe nunca seria curada, mas eu jamais imaginaria que ela fosse
partir tão inesperadamente. Era como se ela sentisse o fim dos seus dias,
porque pediu a ONR e eu quase surtei, ainda lutando pela esperança de que
todo tratamento faria um efeito positivo.
A morte dela me ensinou que eu fiz o que estava no meu alcance,
porque eu a amava muito, mas não existia tratamento sofisticado no mundo
que pudesse vencer a ELA. Estava doendo, mesmo sendo “esperado”. O
Raymond, apesar de ter dez anos e ser capaz de compreender algumas coisas,
estava devastado. Ele ficou afastado da sua mãe por muitos anos e eu jamais
perdoaria o Lorenzo por roubar tantos anos de convivência deles. Beijei os
cabelos loiros do meu irmão e ele ergueu os olhos parecidos com os meus.
A minha cabeça estava doendo muito e eu não conseguia disfarçar
mais.
Cassie me encarou e meio que perguntou com o olhar se eu estava bem,
neguei, ela largou o seu copo e imediatamente veio para o meu lado. Charlie
chamou pelo pai, reclamei da dor e eles me levantaram do sofá, andando
comigo até a pequena biblioteca que o meu pai criou para a minha mãe.
— O que está havendo? — Callum entrou no pequeno lugar no
momento que o seu tio estava aferindo a minha pressão.
— Estou me sentindo mal, quero ir embora. — Choraminguei.
— Sua pressão arterial está muito alta, Isla. — Tio Robert disse. — O
que o seu médico aconselhou nesses casos?
— Ir para o hospital imediatamente. — Callum respondeu. — Vamos,
baby.
Cassie foi na frente, para buscar a minha bolsa e eu andei devagar com
o Callum. Meu pai estava nervoso, mas eu garanti que era só precaução do
meu médico. No carro, a minha cabeça estava girando e eu sentia que iria
desmaiar a qualquer momento, mas me mantive firme e de cabeça erguida
para não deixar o Callum ainda mais nervoso.
Laila e o Michael chegaram na frente, já tinham falado com a
recepcionista e um enfermeiro me esperava com uma cadeira de rodas na
portaria do hospital. Nossos amigos não podiam entrar conosco, então, eles
ficaram na recepção enquanto segui com o Callum tentando não ficar
histérico ao meu lado. No elevador, senti uma pressão nada agradável no meu
ventre e apertei a mão dele, ficando com a minha roupa molhada
gradativamente.
— Acho que a minha bolsa rompeu. — Falei baixo e o enfermeiro
agachou ao meu lado, conferindo a poça que se reunia abaixo de mim.
— Deve ter rompido, você está com quantas semanas?
— Trinta e cinco, é cedo demais.
— Fique calma, Isla. Vai ficar tudo bem. — Callum falou com a voz
trêmula e beijou a minha cabeça.
Nós chegamos à estação da maternidade e fomos levados para o quarto.
Uma médica muito simpática disse que a minha membrana da bolsa havia
rachado, por isso que havia um pouco de sangue junto com o líquido
amniótico. A bolsa em si, não havia rompido. Fiquei aliviada por uns dois
segundos até que ela disse que o risco de infecção era muito alto e que
deveríamos esperar o Dr. Phillips chegar.
O meu obstetra chegou não muito depois, troquei de roupa e fiz uma
ultra rápida, para verificar os meninos. Logo o Dr. Phillips estava no quarto e
eles começaram a debater os meus rápidos exames, enquanto outros seriam
feitos. Callum saiu do quarto para assinar a minha internação e eu tentei me
fazer de corajosa e não chorar enquanto ele estava longe de mim. Ao voltar,
os meus médicos estavam prontos para falar.
— Terei um parto prematuro? Não é cedo demais? — Olhei para o
Callum, sentindo tanto desespero que o meu coração estava explodindo no
peito.
— Você ainda não está em trabalho de parto, mas eu acredito que você
ficará aqui até que seja seguro fazer o parto das crianças. — Dr. Phillips me
deu um tapinha no joelho. — Não estou confiante em te mandar para casa,
seu estresse emocional foi forte o suficiente para causar esse impacto e
embora entenda que está passando por um momento difícil, você precisa
pensar na sua saúde e na dos seus filhos.
— Você tem razão... Eu prefiro ficar internada se isso vai fazê-los
nascer com saúde. — Falei tranquila, porque ele estava certo.
Por quase uma hora, fui aferida, cutucada, furada e eu pude ouvir os
meus meninos se mexendo, depois o monitor foi ligado e eu os vi. Apenas o
Danny estava encaixado para o parto... Gabriel estava com os pés para baixo,
eles estavam embolados de uma maneira bem fofa. A dor passou depois da
medicação e eu percebi que estava enjoada, então, bebi um pouco de água
gelada para acalmar a minha ânsia.
Callum saiu e voltou umas trinta vezes. Quando a Tia Gwen foi
autorizada a ficar comigo, me senti mais tranquila, porque não queria ficar
sozinha. Ela arrumou o meu cabelo, tirou a minha maquiagem e me ajudou
no banho rápido que fui autorizada a tomar com a supervisão de uma
enfermeira.
— Outch. — Gabriel estava me empurrando. — Meu filho, você vai
jogar futebol. — Murmurei voltando para cama.
— Charlie me chutava o tempo inteiro, era tão irritante, no começo era
bonitinho, mas depois eu queria bater nele. — Tia Gwen me ajudou com as
cobertas. — Eu sabia que era um presságio que ele seria uma criatura
irritante.
— Ele é irritante sim e é uma das melhores pessoas que conheci em
toda a minha vida. Você criou três grandes homens, Tia Gwen.
— Charlie teve uma vida doce comparada ao Callum e ao Cage, mas eu
sou grata que tudo aquilo passou. — Sentou-se na poltrona. — Não fiquei
nada triste quando o Harry morreu. Ele foi tarde. — Bufou e a olhei com
calma. — Minha irmã sofreu muito, não sei quantas vezes implorei que ela
pedisse o divórcio, mas ela mergulhou muito rápido em depressão. Foi difícil
porque o papai a obrigou ao casamento, ela amava outro homem e sofreu por
isso.
— É realmente lamentável. Encontrei algumas fotos dela no escritório
do Callum e era uma mulher linda.
— Era sim. Bela e cabecinha de vento, mas era boa pessoa. — Sorriu
com melancolia. — Vamos deixar esse assunto para depois. Como está se
sentindo agora?
— Pensando em aguentar três semanas dentro do hospital. O Dr.
Phillips espera que eu tenha o parto o mais próximo possível das trinta e oito
semanas, mas, meu pressentimento me diz que será antes. Só espero que não
seja imediatamente, afinal, eles ainda não estão prontos e não quero que
fiquem internados.
— Eles não vão, vai ficar tudo bem. — Tia Gwen me garantiu, cheia de
fé.
Ela me fez uma doce companhia até o momento que o Callum voltou
com uma mala de roupas, meus exames, a mala dos meninos e nós ficamos
conversando por horas até que senti sono. Ela foi embora, para me deixar
descansar e eu queria mesmo dormir agarradinha com o meu namorado, mas
a cama me impedia de agarrá-lo.
— Vai ficar tudo bem, baby. — Ele agarrou a minha mão e beijou os
nós dos meus dedos. — Eles vão nascer no tempo certo e será perfeito.
— Sei disso, estou ansiosa. — Confessei e ele colocou a mão na minha
barriga, acariciando. — Nós nos preparamos tanto para o nascimento deles,
desde o momento em que fizemos o procedimento, mas ainda parece algo tão
abstrato segurá-los.
— Estou ansioso para ver os rostinhos deles.
— Acho que serão parecidos com você. Vocês, Lowell, são todos
parecidos. Cage teve três filhos que parecem pequenas xerox...
— Em compensação, você e o seu irmão são praticamente idênticos à
sua mãe. — Ele franziu o cenho. — Sinto muito.
— Está tudo bem, não vamos fingir que a minha mãe não existiu. Ela se
foi, em algum momento isso será aceitável, doeu, mas agora... É agridoce. —
Coloquei ambas as minhas mãos na minha barriga. — Estou triste por ela,
mas agora, tudo que consigo pensar é nos meus filhos. É um misto de
ansiedade e confusão. Eles são tudo que importa para mim.
— Para nós dois.
— Sei que como casal, não estamos sendo íntimos...
— Isso não é importante, sinto que o nosso relacionamento chegou a
um nível que eu jamais pensei ser possível. — Callum me deu um olhar
apaixonado. — Sexo sempre foi gostoso e sempre será importante, mas
agora? O que é mais importante que os nossos filhos? Temos a vida inteira...
— Para transar muito. — Completei e ele riu. — Eu amo você. Nunca
vou cansar de repetir que responder aquele formulário foi a melhor decisão da
minha vida.
— E a melhor e mais louca decisão da minha vida foi perguntar a
Cassie se era ilegal ter um contrato com a mãe do meu bebê. — Ele se apoiou
na cama. — Você estaria fora de cogitação apenas por ser famosa no
Instagram e trabalhar para aquela mulher desprezível, mas eu não podia
desviar os olhos da sua fotografia assim como ainda não consigo desviar o
olhar de você.
Aquela conversa me fez lembrar de algo inusitado. Quando era menina,
viajei com a escola para a mansão Lowell em Lowell. Era a antiga casa do
Callum e na época, eu jamais podia imaginar que um dia iria conhecê-lo.
Meus colegas de classe falavam muito sobre o menino no porão e como
visitamos o jardim que parecia muito com o jardim secreto do filme que eu
amava.
Por uns instantes, enquanto me balançava no grande balanço com
flores adornadas, imaginei que me apaixonaria por um homem que me faria
sentir a mulher mais importante do mundo.
Callum era esse homem, também era o menino do porão e dono do
jardim que me fez sonhar com um conto de fadas. Estávamos destinados a
ficar juntos, mesmo quando não fazíamos ideia da existência do outro. Ele
era a minha sorte de um amor tranquilo com o doce adicional de uma vida
cheia de paixão nas coisas mais simples.
Nós não tínhamos um problema, brigamos por alguns assuntos bobos,
como o fato de ele ser insuportável com algumas manias e eu com a minha
energia de sobra. Às vezes dávamos choques de convivência com o seu
humor irritadiço e o meu extremamente feliz. Ele era muito controlador, até
nas coisas mais simples e eu gostava do meu espaço, principalmente resolver
os meus problemas sem a sua intromissão.
Com o passar dos meses, aprendi que o Callum era uma pessoa fácil de
conversar, se eu pedisse para ele não se meter, ele não se metia, mesmo
bufando e louco para tomar as rédeas da situação. Eu aprendi a respeitar que
ele não era obrigado a me aguentar explodindo alegria pelas orelhas e assistir
os meus filmes favoritos trezentas vezes. Conviver com outra pessoa
diariamente era muito difícil, mas no final do dia, eu o escolhia. Eu o
escolheria mil vezes.
Passei uma semana no hospital, fui liberada para casa quando o risco da
infecção diminuiu e eu ficava a maior parte do tempo na cama no segundo
andar. Laila, Cassie, Tia Gwen, meu pai e o meu irmão eram as minhas
companhias, me divertiam, conversavam, acompanhavam nos filmes e se
negavam contrabandear doces e as minhas comidinhas favoritas.
Em uma tarde, dois dias depois de completar trinta e oito semanas, a
Laila estava de babá do dia. Ela me entregou um suco de laranja fresco e um
prato de biscoitos caseiros deliciosos que a Charlotte havia preparado pela
manhã.
— Como você está? — Olhei para a minha amiga.
— Estou bem. — Eu podia dizer que ela estava mentindo.
— Me fala a verdade.
— Estou bem, acredite em mim. Ansiosa com os meninos, com o
casamento, com essa promoção do Michael e... — Os seus olhos encheram-se
de lágrimas. — Eu vi nos jornais. — Abanou o rosto. — Prince fez
novamente. — Engoliu seco. — Isso mexeu tanto comigo, Isla. Michael disse
para deixar para lá, que dessa vez, mesmo sendo de uma família importante e
com as suas conexões, ele não vai conseguir se safar.
— Sério? O que aconteceu?
— Ele tentou abusar sexualmente da Olívia King.
— King? Ela é tipo... Irmã do jogador de futebol?
— Sim, ela mesma. A família deles eram próximas, mas os King são
pessoas ricas e muito influentes, nem os Knight poderiam fazer algo. — Ela
secou o rosto. — Ele é um monstro, Isla. Como um homem pode ser tão
ruim?
— Me fiz essa pergunta por muitos anos, mas depois, eu simplesmente
aprendi a ser grata por você ter sobrevivido. Sei que toda coisa de não poder
conceber naturalmente deve ser muito difícil, mas eu posso ser a sua barriga
de aluguel. — Agarrei a sua mão.
— Obrigada, amiga. — Ela me abraçou apertado. — Eu ia contar
depois, quando tudo isso passasse, porque não queria te preocupar. Michael e
eu procuramos uma agência e um advogado. Vamos entrar na fila para adotar
um bebê. — Seus olhos estavam marejados. — Eu não consigo dormir de
ansiedade.
— Nossos bebês serão melhores amigos! — Gritei e quase derrubei
todos os biscoitos no chão. — Ano que vem, essa casa estará cheia de
crianças. Em falar nisso, vocês vão se mudar?
— Talvez sim, ainda é muito difícil encontrar bons apartamentos com
uma boa localização. Com os gastos do casamento, estamos preocupados,
mas vamos nos sair bem.
Eu ia responder algo sobre o Callum poder ajudá-los a procurar um
bom apartamento, porque ele tinha vários, mas uma dor dilacerante me
deixou sem ar. Soltei o meu copo na mesinha e coloquei a mão na barriga.
— Contração? — Laila ficou de pé no mesmo instante.
— Sim... E nossa, se eu achei que estava me sentindo mal semanas
atrás, não vou aguentar muito tempo disso não. — Reclamei colocando a mão
na minha barriga, que estava dura.
— Oi, Callum.
— Por que você está ligando para ele? — Gritei no meio da segunda.
— Você teve duas contrações bem próximas, por que eu não ligaria? —
Laila gritou de volta e então, me encarou. — Isla Edwards, você está sentindo
dor desde cedo!
— Não tão forte assim e eu pensei que era só... Treinamento? —
Murmurei me recostando na poltrona.
Laila me deu um olhar azedo, que me fez rir. O desespero deles com o
meu parto era muito engraçado. Comecei a praticar todas as técnicas de
respiração e meditação que aprendi nas aulas do parto, me acalmando e
preparando para o que viria a seguir. Devido a minha hipertensão, não faria
um parto normal, mas os médicos queriam que fosse o mais “natural”,
respeitando o tempo das crianças e o mais saudável possível. Principalmente
dentro do tempo certo.
Callum chegou em casa extremamente desesperado e soltei uma risada
pelo suor no seu rosto. Laila deixou a nossa família apavorada. Tia Gwen já
estava saindo de casa para estar em Boston a tempo do parto e o Cage
fechando a sua loja mais cedo, para se reunir com a nossa família na espera.
Duas horas depois, a minha bolsa rompeu e eu fui levada para o
hospital sentindo uma dor filha da puta que eu jurei que nunca mais teria
filhos. Callum tinha a sorte de não poder me engravidar naturalmente, porque
eu considerei arrancar o pau dele fora. Mal registrei o que estava acontecendo
ao meu redor de tão apavorada com a agulha da anestesia e rezando que não
errassem o lugar e me deixassem de cama para sempre. Me perguntei se com
tanta tecnologia no mundo, ainda não tinham inventado uma agulha menor
para dar aquela anestesia?
— Você consegue ver tudo? — Questionei ao Callum.
— Sim. Quer que eu vá narrando? — Me deu um olhar ansioso.
— Quero que se certifique que vá ficar tudo bem. — Falei baixinho,
nervosa.
— Isla? Está tudo bem? — Ouvi a voz do Dr. Phillips.
— Estou ansiosa para ver os meus filhos. — Respondi, ele pediu que
ficasse calma, assim logo veria os bebês.
Fiquei encarando o rosto do Callum e eu soube exatamente o momento
que eles nasceram, não foi pelo choro deles, mas sim pelos olhos do Callum
brilhando e as lágrimas escorrendo pelo seu bonito rosto. Alguns segundos
depois ouvi um choro.
— Nasceu o Daniel! — Dr. Phillips falou. Meu obstetra, Dr. Carise,
falou que o Gabriel estava saindo em seguida. Daniel estava chorando tão
alto que mal conseguia ouvir. E então, um choro mais alto e mais irritado
começou. — Uau, bem-vindo, Gabriel!
— Eles nasceram! — Callum estava com o rosto amassado de choro.
— Vá vê-los, baby. — Implorei, morrendo de ansiedade. Eu me sentia
cada vez mais distante.
— Há uma hemorragia, preciso que todos saíam da sala.
— Isla? — Callum me chamou. — ISLA! — Eu não conseguia abrir os
meus olhos, sendo puxada para uma espiral confusa e logo a escuridão me
engoliu, me levando para um lugar de paz.
Eu não queria aquele tipo de paz. Queria estar com os meus filhos. Eles
e o Callum eram tudo que eu precisava para viver.
CAPÍTULO 32
Callum
Já fazia uma hora que eu estava andando de um lado ao outro no
corredor da maternidade, sem nenhuma ideia do que estava acontecendo com
a Isla dentro da sala de cirurgia. Um minuto mágico, no qual eu estava perto
dos nossos filhos quando todos os aparelhos começaram a apitar e eles me
tiraram de perto. Eu estava nervoso e começando a ficar irritado, porque a
ideia assustadora do médico sair e dizer que viveria sem a Isla me causava
pânico.
— Callum?
Olhei ao redor e me deparei com o Cage. Ele segurava dois copos de
café em uma bandeja de papel.
— O que aconteceu?
Eu comecei a chorar.
— Ei, ei. — Ele me puxou para um abraço. Fazia muitos anos que eu
não abraçava o meu irmão e eu só voltei a conviver amigavelmente com ele
porque a Isla era uma criatura boa e insistente – e eu amava os meus
sobrinhos.
— Já faz uma hora e eles não me dizem nada. Disseram que foi uma
hemorragia... Os meninos nasceram e estão bem... — Solucei e ele me levou
para um banco. — Não me dizem nada. Ninguém sabe me dizer o que está
acontecendo lá dentro e estou…
— A Isla é uma mulher forte, tudo vai ficar bem. — Ele colocou a
mão no meu ombro.
Cage ficou do meu lado. Ele era a última pessoa que eu pensei que
ficaria ao meu lado depois de tudo. Sequei o meu rosto e fiquei olhando
fixamente para as portas duplas e quando ouvi uma movimentação, fiquei de
pé imediatamente e o Dr. Phillips apareceu, tirando a sua touca cirúrgica.
— Isla está bem, está sendo levada ao quarto agora e ela deve
descansar nas próximas horas. A hemorragia foi contida e sem sequelas.
Fiquei tão aliviado que pensei que fosse cair.
— Irei monitorá-la nas próximas horas, não se preocupe se ela não
acordar imediatamente. Não vou permitir visitas para ela hoje e estou indo lá
conhecer os seus meninos, vai ficar tudo bem. — Me deu um tapinha no
ombro e sorri.
— Eu posso chamar a minha família para ver os meninos?
— Sim, é claro. É só levá-los para o berçário.
— Eu sei onde eles estão. — Cage estava animado. — Eu disse que
ela ficaria bem. — Sorriu e lembrei de quando éramos pequenos e ele sorria
daquele jeito. Cage sempre conseguia sorrir, mesmo quando levava horas de
surra do nosso pai.
— Obrigado, irmão. — Abracei-o apertado.
Nós andamos até uma sala de visitas no andar da maternidade e toda a
nossa família e amigos estavam ali dentro. Tia Gwen estava chorosa e o Jay
parecia exausto, me senti mal de não ter vindo falar com eles, mas eu sequer
pensei nisso.
— Cage! Você sumiu! — Patrícia ficou de pé e me viu entrando atrás
dele, com o rosto inchado e os olhos vermelhos. — O que aconteceu? — Ela
ficou pálida.
Todo mundo ficou de pé, me olhando com expectativa.
— Os meninos nasceram tem mais de uma hora... A Isla sofreu uma
complicação na cesariana e levou mais de uma hora até que eles me dessem
uma notícia. Ela está bem e no quarto, ainda dormindo e o médico só vai
autorizar visitas amanhã, quando ela acordar e estiver mais disposta. — Olhei
ao redor nervosamente. — Fiquei um pouco nervoso, mas agora, podemos ir
até o berçário para ver os meninos. Daniel nasceu bem calmo, ele chorou,
mas nada se compara ao grito irritado do Gabriel, era o que mais chutava a
Isla.
— Ai meu Deus! — Tia Gwen chorou e me abraçou.
Nós andamos até o berçário e eu fui higienizado antes de entrar na
pequena área. Só os meus meninos estavam lá dentro. Daniel estava
dormindo e eu fiquei chocado com o quanto o Gabriel era parecido com a
Isla. Os dois pareciam ter o mesmo formato dos olhos que os dela, uma
penugem muito loira na cabecinha e ambos estavam vermelhos do
nascimento.
Gabriel parecia mal humorado, com o cenho franzido e o peguei no
colo, levando até o vidro para que a nossa família pudesse vê-lo. Ele soltou
um resmungo, estava extasiado de tamanha a sua perfeição. Com jeitinho, a
enfermeira colocou o Daniel no meu outro braço, ajustando os dois para que
pudesse mostrá-los ao mesmo tempo. Danny continuou dormindo. Ele
parecia extremamente pleno, mesmo com o barraco que o seu irmão
protagonizava no braço ao lado.
Todos estavam fotografando, chorando, apaixonados e admirados
com as duas criaturas perfeitas nos meus braços. A pediatra me encontrou e
disse que eles estavam perfeitos, ficariam em observação, mas não
precisariam ficar na incubadora com cuidados especiais. Eram leves e
pequenos nos meus braços, porém, estavam dentro do peso esperado para
gêmeos.
Após devolvê-los para a enfermaria, fui liberado para ficar com a Isla
no quarto. Ela estava pacífica, adormecida, com o rostinho virado de lado e
beijei a sua testa antes de me acomodar no sofá para passar a noite. Por
precaução, não enviei fotografias para ninguém fora da nossa família, para
que as fotos dos gêmeos não fossem parar nos jornais antes que a Isla
pudesse conhecê-los.
A noite foi longa, sem conseguir dormir, fiquei andando entre o
berçário e o quarto, sentindo uma ansiedade crescendo por não poder estar
com os três ao mesmo tempo. A decoradora chegou bem cedo, arrumando a
pequena sala com balões e todas as lembrancinhas e os itens de decoração
para o nascimento dos gêmeos. Ela saiu depois que aprovei a decoração que a
Isla tanto queria.
Eu estava no banheiro quando ouvi a Isla me chamar. Lavei as mãos e
abri a porta, ela estava acordada e me deu um sorriso lindo.
— Oi, baby. Cadê eles? — Seu olhar estava ansioso.
— Estão no berçário até que acordasse. — Me aproximei, agarrei a
sua mão e beijei a sua palma.
— O que aconteceu na cirurgia?
— Você teve uma hemorragia, mas segundo o Dr. Phillips, foi
controlada a tempo e não teve sequelas. — Ela sorriu, aliviada. — Isla... Eu
fiquei muito assustado. Cage ficou comigo até que tive notícias, depois, eu
pude mostrar os meninos para a nossa família e amor... Eles são perfeitos.
— Eu posso imaginar... São nossos filhos. — Ela riu, emocionada. —
Será que eu poderia vê-los? Acho que estou meio molhada. Pode chamar uma
enfermeira? Acho que o meu leite desceu e talvez precise de um absorvente.
— Claro, eu já volto. — Dei-lhe um beijo rápido e saí correndo do
quarto.
Duas enfermeiras e a médica de plantão passaram a visita e ajudaram a
Isla nas suas dúvidas. Enquanto fui buscar os meninos, ela ficou recebendo
cuidados. A enfermeira do berçário me deu um sorriso empolgado quando
passei pelas portas, explodindo de felicidade e podendo levar os meus dois
pacotinhos para conhecer a mamãe. Empurrei os dois bercinhos até o quarto e
a Isla estava sendo auxiliada na troca da camisola.
Foi passar pelas portas que os dois começaram a chorar.
— O seu leite desceu com tudo, é raro descer tanto assim após uma
cirurgia. — A Enfermeira Murphy comemorou. — Eles devem estar ansiosos
para amamentar.
— Caramba, como vou amamentar os dois de uma vez? — Isla ficou
apavorada, e então, o seu olhar caiu sobre eles quando me aproximei
totalmente. — Meu Deus do céu. Eles são perfeitos. — Começou a chorar e
esticou a mão. — Oi, amores. Eu sou a mamãe. — Peguei o Gabriel primeiro
e coloquei em seus braços. — Você é o espertinho que chutava a mamãe? —
Ela acariciou o rostinho dele. Segurei o Daniel e me sentei ao seu lado. — Oi,
amor. Você é o calminho?
— Ele é. — Sorri e nós trocamos um olhar. — Obrigado, amor. Eu te
amo muito por simplesmente me dar essa família linda.
— Tudo começou por sua causa, então, talvez eu que tenha que
agradecer. — Me inclinei sobre ela e beijei os seus lábios.
A enfermeira ensinou a Isla sobre a amamentação. Gabriel pegou firme,
pela expressão dela, foi dolorido. Nós debatemos sobre a amamentação e
decidimos que ela faria uso da bomba para que pudéssemos amamentar os
dois ao mesmo tempo e tentaremos usar o leite materno até que outros
alimentos pudessem ser introduzidos. Se a pediatra decidisse por uma
fórmula, obviamente, iriamos acatar.
— Dói? — Olhei para a expressão confusa da Isla.
— Sim e ao mesmo tempo é a melhor sensação do mundo. Ele está
sendo alimentado por mim, finalmente estou segurando o que me chutava
tanto. É tão mágico. — Sorriu e olhou para o Daniel, que estava dormindo.
— Acho que esse aí, se a gente não acordar, não vai comer.
— Inacreditável.
Nós ficamos horas babando as nossas crias. Isla estava exultante.
Daniel foi o primeiro a sujar a fralda e nós dois não tínhamos experiências
para troca, a enfermeira estava o tempo todo conosco, nós trocamos as roupas
de ambos e eu tirei uma foto dela, amamentando os dois de uma vez só,
porque queria saber a experiência. Escolhi aquela foto para anunciar que os
gêmeos haviam nascido.
Os nossos meninos eram perfeitos.
Não paravam de chegar flores e presentes. Alguns dos nossos amigos
enviaram cartões e um buquê imenso de rosas vermelhas foi entregue. Olhei
o cartão, suspirei primeiro e depois ri. Ele estava me provocando.
— De quem é esse? — Isla desviou o olhar dos meninos para mim.
— Do seu irmão. — Revirei os olhos. Ela riu. Pedi ao Enzo para se
afastar, ele disse que ia pensar e decidir se eu era bom o suficiente para a sua
irmã. Ele a conheceu ontem e achava que podia ter alguma opinião sobre a
vida dela? Homem idiota.
— Ele está adorando te provocar.
— Ele sempre teve um senso de humor insuportável. — Reclamei e
peguei o cartão seguinte, amassando e rasgando em milhares de pedaços.
— E esse?
— Roxanne Miller.
— Queima. — Isla murmurou.
— Eles estarão aqui em uma hora. — Olhei as minhas mensagens. —
Acho que a Tia Gwen não dormiu, só pensando nos meninos e a Charlotte
estava me enviando mensagens.
Isla queria se arrumar para receber a nossa família. Ela fez uma trança
no seu cabelo, passando um pouco de maquiagem e como a sua barriga ainda
estava inchada como se ela estivesse grávida de quatro meses, colocou o seu
pijama mais largo da maternidade.
— Estou impressionado com o quanto os olhos deles parecem com os
seus. — Parei próximo ao bercinho duplo.
— De modo geral, acho que ainda parecem um joelho, mas o nariz é
seu e os olhos são meus. — Sorriu e fez uma careta. — Será que vamos saber
diferenciar sem as pulseiras? Eles tinham que nascer tão iguais? Em placentas
diferentes seriam diferentes...
— Gabriel é sempre o bebê zangado e o Daniel é o bebê dormindo. —
Cruzei os meus braços. — Agora... Se eles trocarem de personalidades ou
ficarem igualmente irritados, será um problema. Seremos pais ruins se
mantivermos as pulseiras?
— Se ninguém souber, ninguém vai nos julgar.
Nós rimos da nossa besteira e uma batida suave na porta anunciou a
chegada dos membros da nossa família. O quarto da Isla era quase um
apartamento, havia uma pequena sala, que era para visitas, mas eu sabia que
todos eles ficariam amontados ao redor da Isla e dos meninos. Abri a porta
para os meus tios, que seguravam flores e presentes desnecessários, porque o
quarto parecia uma floricultura.
Dois minutos depois, a Cassie entrou, sem bater e o Charlie estava atrás
dela, segurando dois ursos enormes, cada um com o nome dos meninos.
Laila, Michael e o Benji chegaram juntos e eu mal fechei a porta, quando o
Jay chegou com o Raymond.
O quarto estava cheio, porém, nós pedimos que a nossa família pudesse
entrar no mesmo horário. Jay e os meus tios estavam emocionados,
segurando os meninos. Charlie estava fotografando conforme a Isla pediu e
todos concordavam que de primeira, eles pareciam com ela, mas o formato
do nariz de ambos era parecido com o meu. Dois meninos perfeitos, era tudo
que eu podia dizer sobre os meus tão amados e sonhados filhos.
Cage e a Patrícia foram os últimos a chegar, eles bateram na porta
timidamente e ela, como sempre, me deu um sorriso hesitante. Isla tinha
razão, não havia nenhum motivo para continuar com uma briga. Eu nunca
amei a Patrícia e eu seguia amando o meu irmão. O meu ego ficou ferido e a
minha confiança foi quebrada e mais uma vez, eu tinha que dar o braço a
torcer quando a Isla dizia que a traição foi ruim, mas eles não me traíram por
capricho.
Nunca dei uma opção de vida a eles. Controlava os dois. Eles se
apaixonaram, seguiram juntos e formaram uma família muito bonita.
Encontrei a Isla, literalmente em um anúncio, e a minha vida ficou perfeita.
— Definitivamente, eles têm os seus olhos. — Patrícia arrulhou
segurando o Gabriel, que estava como nasceu, soltando resmungos. — Esse
aqui parece o Andrew, sempre com o cenho franzido.
— Reparei isso. — Tia Gwen sorriu. — O que será com esses
meninos Lowell?
— Eu disse que um deles era temperamental como o Callum e ele
nunca acreditou em mim. — Isla me deu a língua. — E o outro dormiu e
ficou calmo o tempo inteiro. Baby, você pode pegar os presentes? — Ela
apontou para o armário e sabia que estava falando dos presentes mais
íntimos. — Nós queremos presentear vocês por serem uma família
maravilhosa.
— Aos vovôs... Vocês foram os meus pais quando mais precisei e
estou muito feliz em poder criar os meus filhos com vocês. — Entreguei a
eles os presentes. — Gabriel ganhou o seu nome, tio. Ele vai ser registrado
como Gabriel Robert Lowell.
Meu tio ficou emocionado e me deu um abraço apertado.
— Você merece o prêmio por ser o melhor pai do mundo. — Isla
começou a falar e a chorar. — Tudo que aconteceu nas nossas vidas... Você
nunca desistiu de me dar a melhor vida possível. Meus filhos são muito
sortudos por ter você como avô. Daniel vai ganhar o seu nome... Daniel Jay
Lowell. Espero que esses meninos sejam grandes homens como os seus avôs
são. — Ela secou o rosto, seu pai lhe deu um beijo e me deu um abraço
desajeitado com o Daniel em seus braços. Isla pegou os presentes dos
padrinhos. Ela olhou para a Cassie. — Todo mundo sabe que vocês estão se
pegando, espero que tomem vergonha na cara e assumam logo esse
relacionamento, porque vocês precisam dar exemplo para o Gabriel. —
Esticou a caixa. — Espero que aceitem ser padrinhos dele.
— Ai meu Deus! — Cassie gritou e agarrou a caixa. — É claro que
sim, mas o Charlie é totalmente desnecessário. — Continuou e nós rimos.
— Amor... — Charlie grunhiu.
— Tudo bem, eu divido com você. — E pela primeira vez, eles se
beijaram na nossa frente. Finalmente! Rindo, pegaram o Gabriel e aceitaram
apadrinhar o nosso bebê mais velho por alguns minutos.
— Laila e Michael, vocês estão prontos para começar uma família e
espero que possam começar treinando com um afilhado, que por sinal, parece
ser bem calminho. — Entregou a caixa. Eles aceitaram na hora. — Sei que os
nossos filhos estarão bem cuidados e amados com vocês, o batismo ainda
será em alguns meses, mas espero que entendam que em caso de algum
infortúnio, nós escolhemos que eles vivam juntos com um dos avós. E
vocês... — Virou-se para Benji, Cage e Patrícia. — Vocês foram eleitos a tios
favoritos, que serão chamados para serem babás nos finais de semana. Espero
que os nossos filhos possam crescer juntos, começando uma nova história da
nossa família.
Apenas a Isla tinha o dom de transformar a destruída e disfuncional
família Lowell em uma massa unida. Ela era única.
CAPÍTULO 33
Isla.
Todo mundo dizia que recém-nascidos não dormiam, no meu caso, eu
tinha um recém-nascido que odiava dormir. Gabriel era atento, ficava sempre
com seus grandes olhos abertos, olhando tudo ao seu redor. Daniel, por outro
lado, amava dormir e odiava que o seu irmão chorasse toda maldita vez que
ele estava no melhor do sono. Isso me resultava em dois pequenos berrando
que só se acalmavam com o seio.
Meus seios estavam feridos e doloridos, essa parte da maternidade não
era bonita. Eu não gostava de amamentar e não tinha vergonha de assumir,
embora todo mundo me olhasse como se eu fosse um monstro. Amava os
meus filhos, mas preferia tirar o leite com a bomba e dar a mamadeira do que
ficar com os meus seios feridos nas boquinhas minúsculas e ansiosas. Eles
eram perfeitos. Muito perfeitos. As crianças mais lindas do universo.
— Gabe, meu filho. — Suspirei com a sua gritaria. Tirei o meu sutiã,
quanto mais ele gritava, mais o meu peito vazava leite. Daniel começou a
resmungar e usei a minha perna para balançar o carrinho. Eu ia enlouquecer.
Callum saiu para ir ao mercado e não fazia vinte minutos, eu já queria chorar.
— Não, Danny. Não chore. — Pedi quase implorando.
Gabe estava mamando tão avidamente que parecia que ele não era
alimentado há meses. O garotinho tinha seis semanas de vida e tinha um
gênio como se já tivesse vivido trinta anos. Era igualzinho o pai. Sem todo
inchaço, eles herdaram os meus olhos, no mais, pareciam com o pai. Talvez
ficassem muito loirinhos como eu, já que o Callum nasceu carequinha e eles
tinham uma penugem loira toda para o alto.
Eram idênticos, se não fosse a personalidade, seria difícil saber quem
era quem.
Meu outro seio estava vazando, me estiquei, peguei a bomba e fui
tirando leite. Danny voltou a dormir já que o seu irmão estava quieto.
Estávamos oficialmente sem a Charlotte desde que ela caiu e quebrou o
braço, ela estava em casa, de repouso, isso nos deixou sem ajuda. Eu não
fazia ideia de como ter uma babá, o Callum estava se dividindo entre ser o
pai, o provedor, meu parceiro em tudo e ele passava noites em claro, porque
não conseguimos dormir em momento nenhum.
Se eu estava surtando, com os meus hormônios me deixando triste, mal
humorada e em alguns momentos, beirando o desespero, não podia imaginar
como a cabeça dele estava. Nós sabíamos que não seria fácil. A realidade era
ainda mais difícil. Os gêmeos demandam muitos cuidados.
Quando o Gabe finalmente dormiu, coloquei-o no berço ao lado do
irmão e me joguei na cama, exausta, mas sem coragem de dormir sem o
Callum estar em casa. Meu telefone vibrou e era uma chamada não
reconhecida. O número era de Nova Iorque.
— Isla Edwards falando. — Atendi alegre, mesmo exausta.
— Aquele cazzo do Lowell ainda não fez a minha irmã uma mulher
honesta?
— Enzo! — Sentei-me na cama. — Como conseguiu o meu número?
— Sempre tive o seu número, só estava respeitando o chato do seu
namorado, mas como ele não colocou uma aliança no seu dedo, resolvi
ignorar. — Revirei os olhos. Machista. — Enfim, como estão os meus
sobrinhos?
— Estão me deixando exausta.
— Eles são bonitos. — Comentou e eu sorri. Uma mãe sempre ficava
incrivelmente satisfeita em ouvir elogios aos seus filhos.
— Eu sei, puxaram a mim. — Brinquei, porque na verdade, eles
pareciam com o pai, que era muito bonito. Meus meninos seriam modelos,
sabia disso.
— Com certeza. Não sei o que viu no Lowell. — Soltei uma risada.
— Para de implicar com o meu namorado, Enzo.
— Esse é o meu número, Isla. Me ligue se precisar de mim em
qualquer momento, em qualquer horário. Estou em Nova Iorque, mas tenho
pessoas na cidade.
— Isso é atencioso, mas está acontecendo alguma coisa que eu não
sei?
— Nada está acontecendo, Isla. Eu quero apenas me certificar que
está tudo bem. Estarei na Itália nas próximas semanas, mas irei voltar.
— Para o seu noivado?
— Sim, mas não fique animada. É um casamento arranjado…
— Isso ainda existe? — Soltei uma risada.
— Mais do que imagina. Nos falamos depois, sim? Se cuida.
— Venha conhecer os seus sobrinhos, por favor.
— Apenas se o seu namorado convidar. — Disse e encerrou a
chamada.
Merda. Callum nunca iria permitir o Enzo perto dos nossos filhos e eu
não podia passar por cima disso. Enzo não parecia tão ruim, não era estúpida,
eu sabia que o Enzo não vendia sorvete para viver, mas, comigo, ele era
atencioso e divertido. Era tudo que me importava e eu era hipócrita o
suficiente para viver com essa verdade. Eu me relacionava com um homem
que fazia parte do esquema, não podia fingir que ele era outro dono de
sorveteria.
Queria tomar um banho, mas estava com medo de que eles acordassem.
Gabriel acordava com qualquer vibração no solo. Isso era tão verdade que o
Callum entrou no nosso quarto de fininho, tirando os sapatos e as roupas, se
higienizando e voltando para cama na ponta dos pés. Ele sorriu para os
meninos dormindo e se jogou ao meu lado.
— Comprei comida o suficiente para os próximos dias. — Bocejou.
Era a primeira vez que o via bocejar.
— Acho que devemos aceitar o convite da sua tia de ficarmos lá por
alguns dias. Estamos exaustos, precisamos de ajuda ou precisamos contratar
uma babá. — Me encolhi ao seu lado na cama.
— Não quero que fique histérica. — Callum me deu um beijo suave.
— Fui seguido de novo e não foi pelos homens do seu irmão. — Olhou em
meus olhos. — Tray está trabalhando nisso. Estou preocupado, Isla.
— Meu irmão me ligou. Ele disse algo sobre ligar para ele em
qualquer horário do dia. Será que os homens dele viram alguma coisa?
— Filho da puta. — Callum saiu da cama, pisando duro pelo quarto e
pegou o seu telefone. Ele colocou no ouvido por um tempo. — O que eu te
falei sobre envolver a Isla nos seus joguinhos, cacete? — E foi embora.
Tentei levantar rápido o suficiente para acompanhar, os pontos da cirurgia
não doíam mais e a minha barriga não estava mais inchada, mas eu me sentia
tão cansada que era impossível andar rápido.
Estava emagrecendo rápido demais, tão rápido que até a minha
nutricionista estava preocupada, mas com dois bezerros para amamentar, eu
sabia que os nutrientes mal assentavam no meu corpo antes dos meus filhos
sugarem a vida fora de mim. A parte boa que dos dezoito quilos da gestação,
faltavam apenas seis, acumulados nos meus braços, barriga e culote. E claro,
os peitos.
— Foda-se que ela é sua irmã. Ela é minha mulher, mãe dos meus
filhos e apenas metade irmã. Metade! — Callum gritou. — Eu não quero!
— Callum, acalme-se. — Pedi e ele só me olhou. Seu olhar foi um
cala-boca enorme. — Isso é totalmente desnecessário.
— O quê? Não estou brincando! — Ele voltou a me ignorar. — Não é
um joguinho? Prove! Se souberem que a Isla é sua irmã, ela vai estar com um
alvo na testa!
Não fazia ideia o que o Enzo falou, mas o meu namorado ficou mudo e
puxando os cabelos, nervoso. Ele me deu um olhar preocupado.
— Foda-se, Enzo. É melhor que isso não seja um jogo. — Callum
jogou o telefone na mesa. — Seu irmão sabe quem nos seguiu no passado e
quem está nos seguindo. — Ele me deu um olhar exasperado. — Ele seguiu
os rastros junto com o babaca do Jackson e chegaram a umas informações
meio confusas.
— Que informações? O que foi, baby?
— Tem um homem que está reunindo muitas informações sobre nós
dois. — Apoiou ambas as mãos na mesa. — Ele não está nos bancos de dados
e vive a margem.
— Quem ele é? — Me aproximei da mesa.
— O idiota do Enzo vai me enviar o que tem. Acredita que ele disse
que eu podia ter pedido por favor? — Callum estava puto e soltei uma risada.
— É claro que o senso de humor é parecido. — Resmungou e dei a volta na
mesa, abraçando-o. — Pelo menos, ele está fazendo algo útil.
— O Enzo descobriu que te irritar é um passatempo maravilhoso e
você está caindo como um patinho. — Dei um beijo no seu pescoço. — O
que nós vamos fazer? Devemos falar com o meu pai?
— Seu pai está com o prato cheio demais cuidando do Raymond e
sendo um viúvo. Eu posso lidar com isso, Isla. Só não queria o seu irmão
brincando com isso. — Segurou o meu rosto e me beijou. — Acho que será
mais seguro para todos ficarmos em Lowell.
— Na casa dos seus tios?
— Podemos ficar na casa principal. Charlotte estará por perto, a
minha tia, a Patrícia e talvez a Cassie possa ficar conosco já que nós dois
temos muito que trabalhar em alguns processos. Será como um acampamento
em família por tempo indeterminado.
Eu não me importava de ficar fora de casa, contabilizei quantas pessoas
para me ajudar com os gêmeos e já me sentia aliviada. Ligamos para a nossa
família, combinamos o necessário e a Cassie estava preparada para uma
imersão de trabalho com o Callum. O Charlie não se importava de ir e vir
contanto que ficasse com todo mundo. Patrícia e o Cage viviam muito mais
perto de Lowell do que de Boston, então, eles estariam nos visitando.
Tia Gwen saiu de casa para preparar a residência para a nossa chegada.
Ela prometeu que ficaria com os gêmeos à noite para que pudéssemos dormir.
Tentei ficar no apartamento sem ajuda, com dois, descobri que a história de
ser uma mulher maravilha era um pesadelo.
— Será que não é um jornal nos seguindo? — Me sentei na sua mesa.
— Ou a receita federal? A polícia? Alguém que possa ter percebido a
conexão dos trens com Nova Iorque?
— Enzo teria rastreado. Eles possuem um controle firme, realmente
firme, com a polícia local, federal e rodoviária. É muita gente na folha de
pagamentos, eles não passariam assim... — Colocou ambas as mãos na minha
cintura. Seu telefone fez um barulho de recebimento de mensagens. —
Chegou... — Callum franziu o cenho. — Não faço ideia quem é.
Virou o telefone para mim e olhei para o homem.
— Ele é estranhamente familiar. — Murmurei chegando mais perto.
— Conhece esse homem?
— Não tenho certeza. — Mordi o meu lábio e ampliei a foto. — Os
olhos dele... São familiares. — Passei para a foto ao lado. — Enzo não sabe
quem é?
— Não e muito menos o Tray, é a milésima verificação que ele faz e
não dá em nada, nem a tatuagem no braço. — Continuei olhando para as
fotos. Era difícil enxergar com as imagens tão granuladas, era difícil ter uma
ideia. — Seja quem for, ele tem recebido bastante dinheiro. Não está
totalmente rastreável. Tray está invadindo alguns bancos para saber o
caminho inverso da grana, devemos ter alguma resposta em breve.
— Enquanto isso, vamos ficar seguros e ter toda ajuda do mundo.
— Você precisa dormir, não é?
— Com essa, eu não sei se vou conseguir, mas acho que ficaria
infinitamente mais tranquila se os meninos ficarem em segurança. — Olhei
em seus olhos. — E você também, meu homem precioso. — Beijei o seu
queixo e o telefone vibrou. Era o Enzo. Atendi a chamada. — Oi, irmão. —
Cantarolei só para irritar o Callum.
— Oi tampinha. — Fiz uma careta. Todo mundo arrumava um
apelido sobre o meu tamanho. — Dei uma olhada aqui e achei algumas
imagens dele ao redor do prédio que a Isla trabalhava.
— Ele vem nos seguindo há tempos? — Callum conferiu, com a veia
da testa tão alta que pensei que fosse explodir.
— Parece que sim, o que é bem estranho, as imagens são antes do
relacionamento de vocês, mas as informações sobre a Isla começaram a ser
armazenadas após uma data específica e segundo o banco de dados, vocês
foram jantar em um restaurante italiano. — Ele pareceu soprar uma fumaça.
— Da minha família, por sinal.
Callum revirou os olhos. Ele sabia disso na época? Esse jantar foi
durante o nosso primeiro final de semana juntos e ainda sequer estávamos
juntos como um casal.
— Algo mais útil?
— Vou enviar tudo que achei, talvez vocês achem uma conexão.
Viajarei nas próximas horas…
— Eu me viro daqui.
— De nada. — Enzo ironizou e desligou. Eu ri.
— Como ele era na faculdade? — Cruzei as minhas pernas, curiosa.
Callum suspirou, ele estava tão cansado que estava irritado. Eu sabia
que o seu humor ficava extremamente delicado quando não dormia muito,
mas os bebês não eram o motivo da sua irritação, pelo contrário. Era o
motivo da sua felicidade. Esse homem maluco que estava nos seguindo pela
cidade que era o problema. Ele não ia descansar até que descobrisse, já estava
obcecado, mas não falava muito comigo porque eu não podia me estressar na
gestação e agora, que a minha pressão estava controlada e os meninos com
muita saúde, falávamos mais sobre isso.
— Exatamente assim. Achando que tinha um rei na barriga, mal
aparecia nas aulas e ele pagou pelo diploma, porque não estudou nada. — Ele
me deu um olhar. — Não vou permitir que aconteça qualquer coisa com
vocês.
— Seja quem for, vamos descobrir. Ele está relaxando, começando a
aparecer em câmeras de trânsito, coisa que não deu para pegar nas outras
vezes que percebemos que fomos seguidos.
Nós voltamos para o quarto e eu sorri ao ver o Daniel acordado,
quietinho no berço, ele era um anjinho. Gabriel continuava dormindo, ou o
quarto não estaria tão silencioso. Aproveitei que o Callum estava em casa
para tomar banho. Era impressionante o quanto ficava cheirando a leite com
facilidade. Banhada e relaxada, com muito sono, tirei mais leite para dormir
um pouco.
Callum ficou trabalhando ao meu lado, digitando rápido, de fones de
ouvido para ouvir os áudios que recebia e antigamente, o som dos seus dedos
na tecla me faria gritar, mas o sono era tanto que não estava ouvindo. Dormi
pesado, acordei duas horas depois, renovada, me sentindo outra mulher e
virei na cama para ver o Gabriel com uma chupeta que ainda parecia grande
demais no seu rosto e os olhos atentos no pai, que trocava a fralda do Daniel.
— Tudo bem? — Sentei-me e peguei o Gabe. Ele cuspiu a chupeta
logo que sentiu cheiro do leite. — Oi, amorzinho. Você tirou uma soneca
gostosa?
— Gabriel não acordou chorando e eu descobri um macete. —
Callum me deu um olhar perverso. — Molhei a chupeta com o leite e enfiei
na boca dele logo que começou a resmungar.
Soltei uma risada alta e os meninos se agitaram, se mexendo, esticando
as pernas e os braços, querendo entender o que havia acontecido.
— Papai te deu uma volta? — Beijei a testinha dele. — Chorão.
— Ele chora muito, sinto muito. — Callum não estava arrependido.
— Vou ficar aqui na cama enquanto você arruma as coisas ou eu arrumo as
coisas e você fica com eles. O que prefere?
— Eu vou arrumar tudo, você sempre esquece as coisas mais
importantes. — Devolvi o Gabe para cama, deitando-o do lado do irmão e fui
até o closet, pegando uma mala para começar a minha aventura de reunir
todas as nossas coisas para uma temporada em Lowell.
Me sentia animada e ao mesmo tempo preocupada sobre como o
Callum poderia reagir em estar na residência que ele sofreu muitas coisas.
Estava receosa que tivesse gatilhos e que o seu humor ficasse sombrio, ao
mesmo tempo, eu sabia que ele não era mais aquele homem instável. Nós
avançamos muito com a terapia e o nosso relacionamento transformou as
nossas vidas.
Esperava que Lowell não nos derrubasse.
Esperava que esse homem misterioso não nos machucasse.
CAPÍTULO 34
Callum.
— É estranho estar aqui. — Cage falou, olhando para frente e o seu
filho caçula estava correndo, ele andava de um jeitinho desengonçado,
parecia um patinho. Os gêmeos dormiam no carrinho, aproveitando o sol
matinal.
— Eu queria que esse lugar deixasse de ser tão fodido, porque é muito
bonito. — Enfiei as minhas mãos nos bolsos. — As crianças merecem
aproveitar. São muitos hectares que elas podem construir uma nova história.
— É verdade. — Cage gritou para o seu mais velho não empurrar o do
meio. — Se prepara. Eles adoram brincar juntos, mas brigam muito
facilmente. Nunca te pedi perdão por ter traído a sua confiança. Tudo que
aconteceu...
— Não precisa pedir perdão, eu não tinha direito...
— Deixe-me falar. Por favor. — Cage insistiu e fiquei quieto. — A
Patrícia e eu erramos profundamente em não assumir os nossos sentimentos.
Levou muito tempo para que tudo acontecesse e eu confesso que era
irresponsabilidade da minha parte e medo da parte dela. Patrícia não queria
ser devolvida para a sua família e ela estava apavorada, mesmo assim, nem
sei explicar como tudo aconteceu. — Ele estava olhando para frente. —
Quando você descobriu, eu me senti mal por ter te magoado e muito aliviado,
porque estávamos livres. Eu a amava, amava muito. Ainda amo, obviamente.
Ela trouxe luz, sentido, equilíbrio e eu sei que você, a Tia Gwen, a Charlotte
e todo restante me amavam, mas não era...
— O amor.
— Você entende, não é?
— Não entendia até conhecer a Isla.
—Tudo que nós passamos nos fortaleceu, me fez crescer como homem
e como pessoa. Eu não me arrependo, porque eu tenho a família mais incrível
do mundo, mas eu lamento muito ter machucado você. Eu voltaria no tempo
para fazer tudo diferente, apenas para não te magoar. — Ele virou de lado. —
Eu sinto muito.
— Não amava a Patrícia. Eu fiquei ferido por você, mas a Patrícia
significou, por um tempo, que o nosso pai estava certo. Hoje eu sei que era
apenas porque não nos amávamos. — Dei de ombros. — A Isla me fez ver
isso, ela tem esse olhar bom e bastante honesto sobre isso. Você e a Patrícia
formaram uma família feliz e eu tenho a minha família, só depois de tudo isso
que eu entendi. Peço perdão por ter dificultado a vida de vocês.
— Eu entendo, faria o mesmo ou pior. — Sorriu torto e então, ele
gritou para o Ethan não se pendurar na grade. — Esse garoto tem muita
energia, eu já volto. — Desceu as escadas da frente e os três meninos se
dispersaram, correndo em direções opostas só para dificultar. Soltei uma
risada pela maneira que o Cage tentava recolher as crianças.
Patrícia saiu pela porta principal com a Isla, enfiou dois dedos na boca
e soltou o assobio mais agudo que até os cães pararam de correr. Se os
estábulos fossem perto, os cavalos sairiam correndo. Seus três meninos
começaram a correr na direção delas. Cage riu, porque ficou óbvio que a
figura disciplinadora era a mãe e não o pai. Eu jamais poderia imaginar a tão
quieta e submissa Patrícia sendo tão mandona, mas a maternidade e o
casamento mudavam a vida de uma pessoa.
— Adorei a técnica, vou aderir. — Isla riu. — Vamos entrando,
coisinhas. Tia Isla tem picolés para vocês! — Os meninos gritaram de alegria
e foram correndo para dentro de casa. Eu podia ouvir a Tia Gwen pedindo
que se acalmassem, mas era o mesmo que nada.
Charlie saiu de casa com três cervejas na mão e me deu uma.
— Eles desligam em algum momento? — Olhou para o Cage.
— Não vem com botão de desligar, homem. Use camisinha, até porque,
depois que eles nascem, você não dorme mesmo. — Cage retrucou e a
Patrícia deu um soco nele, indo embora. — O que eu fiz?
Isla revirou os olhos e foi empurrando o carrinho dos gêmeos para
dentro de casa. Eu não podia discordar. Ainda bem que não sentia muito
sono, porque mesmo assim, os gêmeos eram terroristas da madrugada. Isla
estava sofrendo, ela chegava a chorar, mas desde que chegamos a Lowell,
com a Cassie e a Tia Gwen prontas para ajudar, nós conseguimos dormir um
pouco mais.
Daniel costumava ficar muito irritado quando o seu irmão o acordava, o
que acontecia sempre. Se eu pensava que eles cresceriam dividindo o mesmo
quarto, esse pensamento desapareceu, porque os dois não podiam ser mais
diferentes e só tinham sete semanas de vida.
Meu telefone vibrou e era uma mensagem do Tray.
— Alguma novidade? — Charlie quase se pendurou no meu ombro.
— Porra, não. Estou ficando maluco. — Grunhi, enfiando o meu
telefone no bolso. — Ele não foi mais visto desde que viemos para Lowell,
mesmo assim, eu preciso apenas de um rastro para ir atrás. Recebi a
informação que ele teve um depósito alto, veio de contas em paraísos fiscais
e isso se resume a quase toda pessoa rica que não quer ter o seu dinheiro
encontrado.
Cage deu um longo gole da sua cerveja e me olhou desconfiado.
— Será que tem a ver com o papai? Pode ser alguém querendo se
vingar. O velho fodeu a vida de muita gente...
— Eu pensei nisso e tentei levantar todos os inimigos públicos dele,
mas a lista é longa demais. Pode ser qualquer um.
— Isso é verdade. Enquanto o Tio Harry estava vivo, ter o nosso
sobrenome era ter um alvo na testa. Verificou a Roxanne? O marido dela tem
muito dinheiro... — Charlie apoiou a cerveja no parapeito. — Ela tinha uma
obsessão doentia pela Isla e odeia a sua existência, porque você é filho do seu
pai.
— Estou vigiando-a de perto. O fato do homem andar ao redor do
trabalho da Isla antes de nos conhecermos só me faz pensar que talvez, ele
tenha um envolvimento com a Roxanne. — Me apoiei no parapeito. —
Talvez ele estivesse por perto para se conectar a Roxanne e não para vigiar a
Isla. Só depois que ficamos juntos que ele passou a nos observar.
Ouvi um gritinho muito parecido com o do Gabriel, terminei a minha
cerveja e entrei em casa. Isla estava amamentando o Daniel e a Cassie tentava
controlar o seu afilhado o suficiente para colocar a mamadeira na boca dele.
Gabe lutava contra o sono, contra amamentar e assim que ele tivesse forças,
ele lutaria contra a troca de fraldas e das roupas também. Eu sabia que
quando ele crescesse, seria um teimoso nato.
Seria exatamente como o Cage era.
— Dizem que seu filho puxa o que você mais odeia no seu irmão. —
Isla comentou ao ver o Cage embalar o Gabriel.
— Faz sentido. O Ethan nos dá olhares impassíveis realmente irritantes
quando estamos brigando com ele. — Cage olhou para o filho, que por
coincidência, nos deu um olhar muito desinteressado, como se ele fosse bom
demais para estar ao nosso redor. Exatamente como todos reclamavam de
mim.
— Meu Deus. — Isla riu, ninando o Danny. Nós tínhamos planos de
acostumar as crianças em dormir com o barulho e a ficar com outras pessoas,
porque não queríamos que eles fossem crianças enjoadas.
— Então se prepara, porque o Cage é muito irritante. — Patrícia
murmurou da pia, lavando a louça. Tia Gwen soltou uma risada alta,
mexendo um molho à bolonhesa em uma grande panela. Cassie sentou-se no
colo do Charlie, rindo.
— Ignore-os. Tio Cage é uma pessoa muito legal. — Meu irmão
murmurou para o meu filho, que parecia interessado no tio, com a mamadeira
na boca.
Isla estava com os olhos brilhando de felicidade. Ela era assim. Feliz
por pequenas coisas, esfuziante e literalmente transformava a vida de quem
tocasse. Ela me fez enxergar o quão bom era conviver em família, mesmo
depois de tudo que passou com a sua mãe, ainda vivendo a dor do luto,
passando por um pós-parto em que ela estava com muitas oscilações de
humor. Ela era luz.
Ela me olhou com um dos nossos bebês no colo e eu a amei mais um
pouco. Eu precisava fazê-la minha esposa e eu tinha o pressentimento que ela
estava pronta para dizer sim. O anel ainda estava bem guardado, dessa vez no
cofre da residência, porque eu fiquei preocupado em sentir que aconteceria o
momento certo e estar sem o anel ao alcance das minhas mãos.
Aquele era o momento certo.
Jay e o Raymond viriam para jantar e passar o final de semana. Assim
que ele saísse do plantão, pegaria o Ray na escola e chegariam aqui perto do
jantar. Isla estava ansiosa em apresentar a propriedade para o seu irmão e
amanhã, todos nós iríamos aproveitar um pouco do parque aquático, fazendo
um churrasco de família pela primeira vez em muitos anos.
— Você pode olhar os meninos para que possa passear com a Isla no
final da tarde? — Parei ao lado da minha Tia Gwen.
— Claro que sim, será um prazer. Imagino que vocês dois precisem de
um tempinho sozinhos. — Como sempre, a minha tia me deu um sorriso doce
e um olhar feliz. — Seu tio deve chegar em algumas horas e nós vamos amar
ficar com os meninos.
— Obrigada. — Dei-lhe um beijo na bochecha.
Nós almoçamos um delicioso espaguete com almôndegas feito pelas
nossas mulheres. Cassie fazia as maiores almôndegas do mundo, porque ao
invés de bolas que pudéssemos comer com uma garfada, era preciso cortar ao
meio. Nós brincamos que pareciam grandes cabeças boiando no molho, mas
toda a comida estava maravilhosa.
Tia Gwen cochichou que prepararia uma cesta de piquenique e deixaria
pronta na cozinha.
Cage e Patrícia subiram para fazer os meninos dormirem. Cassie e o
Charlie desapareceram, eles estavam isolados na ala sul, porque todos nós
concordamos que era impossível ficar perto deles. Meus tios estavam na ala
oeste, eu estava com a minha família na ala principal, que ficava na parte
central da casa e o meu irmão, na ala leste. A casa era imensa, com dezoito
quartos, podíamos muito bem dividir em milhares de casas.
— Isso aqui deveria virar um hotel histórico. — Isla comentou no
nosso quarto. — É um elefante branco muito caro de sustentar. — Tirou a
roupa, olhando-se no espelho.
— A casa se sustenta. — Falei distraído com a sua bunda. — Ela tem
fundo próprio. Os cavalos, o museu e o jardim sustentam toda a propriedade.
A ideia de transformar em um hotel não é ruim, ainda mais que é uma
residência histórica. Vou conversar com o Cage, se eu fizer isso, irei dividir
com o meu irmão.
— Eu simplesmente amo vê-los juntos novamente. — Se inclinou e me
deu um beijo nos lábios. — Para de me olhar assim.
— Assim como?
— Desse jeito aí, safado.
— Você está tão gostosa, baby. Como poderia não te olhar cheio de
tesão?
Sorrindo, sentou-se na pontinha da cama e a puxei bruscamente para o
meu colo. Olhamos para o berço e os meninos estavam quietos. Gabriel
dormindo e o Danny chupando a chupeta, na dele. Eu não ia falar putaria com
os meus filhos no quarto, mas eu deixaria a mãe deles muito ciente que ela
me enlouquecia e eu a queria a todo instante. Beijei-a do jeito que não beijava
desde a última vez que fizemos sexo, meses atrás. Eu respeitei o seu tempo, o
seu corpo, ela não estava mais de resguardo e ainda assim, eu sabia que não
estava pronta.
Para ser bem sincero, toda logística a de ter dois bebês dependendo de
nós dois ao mesmo tempo não me fez pensar em sexo. Só não queria que ela
achasse, nem por um segundo, que não a desejava. Seu olhar após o beijo foi
nublado de desejo e senti que despertei o seu interesse. Foi impossível não
ficar animado. Continuamos nos beijando até que senti o meu peitoral
molhado.
— Seios vazando, que maravilha. — Resmungou e parecia meio
envergonhada. Ignorei e voltei a beijá-la. — Callum!
— Isla! Tivemos filhos, você está amamentando, o que você acha que
vai acontecer? Eu não tenho nojo do seu leite.
— Não se importa que tudo fique uma bagunça molhada?
— Estou doido para te deixar molhadinha. — Provoquei a sua risada.
— Eu vou ficar molhada, mas no chuveiro e você, vai olhar os
pequenos. — Saiu do meu colo e foi serelepe para o banheiro.
Escolhemos um dos maiores quartos da ala, não era o quarto que um
dia dividi com a Patrícia e muito menos o quarto que foi dos meus pais.
Ambos não existiam mais. Na última reforma, achei por bem desfazer e criar
outros cômodos. Alguns quartos foram feitos próximos demais, o que tirava
toda a privacidade e eu decidi por fazer pequenas salas de convivência. Se
esse lugar se transformasse em um hotel, essas salas fariam dos quartos
ambientes de luxo.
A ideia não era ruim. Foi cogitada no passado, mas eu não estava
pronto. Cage muito menos. Tudo que vivemos naquela casa era forte demais
para ignorar, mas depois da Isla e de finalmente lidar com os meus traumas
infantis na terapia, eu podia respirar dentro dessas paredes sem me sentir o
garoto levando uma surra no porão... Que não existia mais. Acabou. Tudo
aquilo teve um fim.
— Eu amo a banheira desse quarto. — Isla saiu enrolada em uma
toalha. — Danny dormiu.
— Ele não precisa ser ninado, já reparou?
— Acho que ele tem dó dos pais que lutam com o irmão. Será que ele
sente dor? O menino sabe chorar.
— Ele não chora, ele grita. São coisas totalmente diferentes.
Nós rimos e eu não me sentia mal por zoar o meu próprio filho. Ele
merecia por me fazer andar pelo corredor dando umas sessenta voltas antes
que durma. E por me fazer pensar que está pegando no sono, quando na
verdade, está pronto para gritar ao ser colocado no berço.
— Minha tia vai ficar com eles, vamos dar uma volta?
— Sério? Estou louca para fazer uma caminhada. Podemos ir até o
jardim?
— Claro que sim. — Seria ainda mais incrível.
Esperei que se vestisse, ela escolheu um longo vestido amarelo, com
flores rosas e sandálias baixas, deixando os cabelos presos em um rabo de
cavalo. Chamei a minha tia, ela entrou no nosso quarto para olhar os meninos
enquanto estivessem dormindo e se eles acordassem, ela os levaria para a
sala.
Isla agarrou a minha mão, descemos a escada, peguei a cesta na
cozinha, que tinha algumas frutas, queijos e um champanhe. Atravessamos o
corredor para sairmos no pátio dos fundos, caminhando sem pressa pelo
gramado, olhando as flores e menos de dez minutos depois empurrei os
portões de ferro que davam para o jardim. Minha mãe amava aquele lugar e
cuidava muito melhor dele do que dos filhos, mas eu tinha as melhores
lembranças com ela ali dentro. No jardim, ela estava sempre feliz. Cage deu
os seus primeiros passos ali dentro e lembrava de fazermos piqueniques na
grama com o Cage ainda bebê em um carrinho.
— Esse lugar é perfeito em qualquer época do ano. — Isla suspirou e
bati em um mosquito no meu braço. — Deveríamos ter passado repelente. —
Sorriu e foi até o balanço, pulando e tentando sentar-se. — Trouxe o seu
telefone? Tira uma foto minha?
— Claro. — Enfiei a minha mão no bolso, mas ao invés de pegar o meu
telefone, tirei a aliança. Ela parou de se balançar e me encarou, com os olhos
azuis tão abertos que chegou a ser cômico. — Tenho algo que considero um
pouco melhor que um telefone para eternizar esse momento.
— Callum... — Ela sussurrou.
— Desde que você chegou, a minha vida ganhou cor e eu aprendi o que
é amar de verdade. Você me ensinou muitas coisas, não só como a
importância de me tornar um homem melhor para os nossos filhos, mas sim a
dar valor em todas as pequenas coisas, porque elas são as mais importantes
no dia a dia. Você me fez enxergar os meus erros, perdoar o meu passado e
me libertar para viver um futuro ao seu lado com os nossos filhos. — Me
aproximei e ajoelhei na sua frente. — Espero que aceite passar todos os dias
da sua vida ao meu lado, até que a morte nos separe, porque eu não posso
pensar em viver sem você. Eu te amo, aceita se casar comigo?
Louca do jeito que era, ao invés de me responder, se jogou do balanço
em mim. Me abraçando apertado, gritou um sim agudo que me fez soltar uma
gargalhada. Sua loucura sempre me surpreendia e era uma das muitas coisas
que me deixava fascinado. Caí sentado na grama, sem conseguir equilibrá-la,
ficou montada no meu colo e deslizei a aliança em seu dedo.
— Uau, ficou perfeita. Sabia o meu número?
— Comprei em Paris. A Cassie me contou o seu número.
Isla estava admirada.
— É perfeita, baby. Obrigada. Eu te amo muito e mal vejo a hora de me
tornar a sua Sra. Lowell. — Me deu um beijo apaixonado. — Deveríamos
estender aquela toalha, estourar o champanhe e começar uma comemoração
adequada, do tipo bem intensa e apaixonada enquanto temos uma babá
atenciosa com os nossos meninos. — Seu olhar era intenso, mordendo a
pontinha do lábio, sorriu torto.
— Comemoração intensa e apaixonada é o meu novo sobrenome, Sra.
Lowell. — Beijei a sua boca, pronto para batizar aquele jardim e eternizar o
nosso noivado entre aquelas belas flores.
Aquela linda mulher seria a minha mulher e eu não podia estar me
sentindo mais feliz e o homem mais honrado do mundo inteiro.
CAPÍTULO 35
Isla.
Ergui a minha mão, olhando a aliança que decorava o meu dedo e eu
não podia acreditar que o Callum me pediu em casamento no jardim que eu
sonhava viver o meu conto de fadas. Nós tivemos um piquenique picante, nos
reconectando como homem e mulher, voltamos para casa quando o meu pai
estava chegando com o Raymond e fizemos um jantar de comemoração com
a nossa família.
Contei a Laila, que apesar de surtada com o seu casamento, encontrou
espaço para dizer que poderia me ajudar com o meu. Callum e eu nunca
quisemos um grande casamento, mesmo quando falávamos sobre isso
hipoteticamente. Cassie e eu ficamos horas olhando tendências na internet.
— Como foi o seu casamento? — Cassie olhou para a Patrícia.
— Foi bem íntimo. Nós não queríamos chamar muita atenção e ao
mesmo tempo, a Tia Gwen fez com que fosse um momento lindo no seu
jardim. — Patrícia sorriu timidamente. — Não tinha muita gente, porque foi
em um momento delicado. Mas foi perfeito mesmo assim. — Nos deu um
sorriso.
— Não sei se quero me casar em uma grande festa. — Cassie
comentou pensativamente. — Na verdade, não me vejo vestida de noiva.
Acredita que o Charlie já conversou comigo sobre casamento? — Revirou os
olhos.
— Que bonitinho. — Apertei a sua bochecha.
— Vocês não acham que eles estão demorando? — Patrícia olhou em
seu relógio. Estava tarde e nenhum dos três havia voltado do trabalho.
— Eu acho. — Concordei. — Vou olhar os meninos, quer que eu olhe
os seus?
— Vou subir com você.
— Vou abrir um vinho e esperar as senhoras mamães. — Cassie
estava jogada em um sofá e pegou o telefone, franzindo o cenho. — Callum e
o Charlie deixaram de visualizar no mesmo horário.
— Tem um trecho da estrada que fica sem sinal, talvez estejam por
perto. — Patrícia comentou e subimos a escada juntas. Colocamos os
meninos dormindo juntos no quarto mais próximo a escada, para que
pudéssemos ouvir. Me aproximei do berço dos meninos e eles estavam
dormindo, acordariam em breve, para mamar um pouco mais e ficariam
acordados por mais algumas horas.
— Você sente saudade de quando eles eram pequenos assim?
— Às vezes... Apesar das noites mal dormidas, era mais fácil de
controlar. Educar uma criança é muito difícil, eu não fui muito educada, vivia
com babás e sem atenção dos pais, se não fosse a Tia Gwen me ajudando nos
meus conflitos internos, eu não sei como educaria esses meninos. — Ela
olhou para os filhos. — Não os trocaria por nada no mundo. Dou a minha
vida por eles.
— O final da gestação foi muito desconfortável, o Callum acha
engraçado, mas eu juro que nem lembro mais quando olho para essas
coisinhas. Nunca imaginei que seria capaz de fazer filhos tão bonitos. —
Sorri, muito orgulhosa das minhas crias.
— Eu digo que eles são lindos por nossa causa. — Ela piscou. Apesar
de ainda ficar muda ao redor do Callum, ela se mostrava uma mulher muito
brincalhona comigo. — Você não se incomoda com toda a história?
— Não é da minha conta e eu não sinto ciúmes, vejo o quanto você e
o Cage se amam. Além do mais, eu já deixei o meu posicionamento para o
Callum e se você não se importar, eu te falo.
— Estou curiosa, diga.
—Callum disse que os seus pais praticamente te venderam para ele e
ele te mantinha como uma boneca, ele estava errado. Primeiro em aceitar te
“comprar” e segundo, em te manter como um bibelô na estante, se ele queria
te ajudar, deveria ter proporcionado a liberdade que merecia. Reduziram você
a uma mulher bonita e eu não te culpo por encontrar o amor. Espero que você
e o Callum possam se perdoar mutuamente, porque sempre seremos uma
família.
— Obrigada, Isla. — Patrícia me abraçou apertado.
Nós voltamos para o primeiro andar. Cassie estava servindo vinho nas
taças e eu fui direto para a janela. A casa principal ficava bem longe da
portaria. Os estábulos ficavam de um lado, o jardim para o outro e o parque
aquático nos fundos, ainda assim, havia milhares de hectares de terra. Olhei o
caminho iluminado e mandei uma mensagem ao Tray, que estava na casa de
segurança.
— Suco de uva para a lactante. — Cassie me deu um copo e fiz um
beicinho. — Está preocupada?
— Está muito tarde e com aquele homem…
— Eu sei, estou nervosa também.
Nós ficamos jogando conversa fora quando ouvimos um ruído na babá
eletrônica. Olhei e liguei a câmera, soltei um grito agudo ao ver uma pessoa
em pé ao lado do berço e imediatamente corri até as escadas. Estávamos
sozinhas. Empurrei a porta do quarto e os gêmeos estavam chorando, Archie
acordado com os olhos arregalados e o Andie congelado. O homem
encapuzado segurava o Ethan e ele tinha…
— Solta o menino, por favor. — Pedi erguendo as minhas mãos. —
Nós temos joias e dinheiro, eu transfiro o valor que você quiser, apenas solte-
o.
— Solta o meu filho! — A Patrícia gritou, me empurrando e a Cassie
a segurou quando o homem apertou a arma na cabeça do menino, que estava
congelado de medo. — Nós te damos o que você quiser.
— As instruções de resgate chegarão em breve. — Foi tudo que ele
disse, se afastando para a janela. Agarrei o abajur do quarto e arremessei na
cabeça dele. Ethan correu para os braços da mãe, o homem tentou agarrar o
Gabriel no berço e avancei nele, mordendo o seu braço e pisando no seu pé.
Cassie e eu lutamos contra ele, mas ele era forte demais e me jogou no
chão. Ele apontou a arma para Cassie, eu gritei, ela avançou nele, agarrando
seu braço, mas fez um disparo. As crianças gritaram e choraram. Ethan
correu, assustado, nisso, o homem pegou o menino e saiu pela varanda.
— Mamãe! — Ethan gritou.
— Patrícia! — Cassie ajoelhou ao seu lado. — Ela foi atingida! —
Cassie estava histérica. Levantei do meu lugar no chão, senti uma dor aguda
nas pernas, algo molhado escorrendo, mas eu saí correndo pela varanda,
tropeçando pela escada.
Gritei por ajuda, gritei socorro, na escuridão do jardim, só seguia os
sons dos passos pesados dele. Ninguém aparecia. Os cavalos se agitaram.
— TRAY! BOYLE! — Gritei, desesperada, com as pernas molhadas
de sangue e havia um caco do abajur enfiado na minha coxa. — SOCORRO!
Os funcionários que viviam nas casas próximas acenderam as luzes. O
alarme da propriedade começou a soar, todas as luzes se acenderam e eu pude
ver a van. Tray saiu cambaleando, com uma arma na mão, ele estava caído na
grama e eu vi o Boyle próximo ao rio... Ele parecia morto.
Tray gritou que eu abaixasse quando disparos foram feitos na nossa
direção. Escorreguei na grama e acabei rolando até perto do rio, parando
centímetros de dar com a cabeça nas madeiras do deck. Levantei e vi o Tray
atirar contra a van, eu gritei que o Ethan estava ali dentro, mas a van saiu da
estrada principal da propriedade e bateu direto na parede de uma das casinhas
do meio do caminho.
— Ethan está lá! — Me sentia quase sem fôlego.
— Atrás de mim, Isla. — Ele gritou e eu agarrei a sua camisa. Dois
seguranças da propriedade estavam com as armas apontadas. Um deles abriu
a porta do motorista e jogou o homem desacordado no chão.
— Eu vou abrir a porta de trás, você vai pegar o Ethan e correr para a
propriedade. — Tray falou comigo e assenti.
No três, ele abriu a porta. Ethan saiu correndo, eu o agarrei e não olhei
para trás, mesmo quando ouvi sons de luta e disparos. Escondi o rostinho dele
no meu pescoço, ele era pesado e a minha coxa estava doendo muito.
Empurrei a porta da frente, subindo as escadas. A Cassie estava acalmando
um dos gêmeos e a Patrícia estava fechando um curativo, aos prantos, com os
filhos ao seu redor.
— Ethan!
— Mamãe! — Ele gritou e eu o coloquei no seu colo. — Mamãe! —
O menino não deve ter entendido nada.
— Isla, você está sangrando muito. — Cassie me deu um olhar aflito.
— Que porra acabou de acontecer? Você... Simplesmente correu atrás dele.
Quase me matou do coração. O que diabos está acontecendo? — Ela chorou.
Estava sem ar demais para conseguir responder, me ajoelhei ao lado do
berço e olhei para o Daniel, com a chupeta no rosto. Meus braços estavam
sujos, mas eu precisava segurar o Gabriel. Ele se acalmou ao sentir o meu
cheiro, o silêncio reinou, as crianças fungavam e eu ouvi o barulho das
sirenes ficando cada vez mais próximo.
— ISLA? — Callum gritou.
— CASSIDY!
Cage foi o primeiro a surgir, quase derrubando a porta e eu vi que ele
estava machucado, mas apenas se jogou no chão abraçando a sua família. A
histeria da Patrícia era muito parecida com a minha, eu estava tentando puxar
o ar, com o coração batendo tão forte que doía. Callum estava com o
supercílio cortado, afundou ao meu lado e me puxou delicadamente para os
seus braços. Eu mal registrei o Charlie abraçando a Cassie, porque fechei os
meus olhos e me senti em segurança.
A polícia entrou no quarto, eles foram milagrosamente suaves e calmos.
Paramédicos entraram para nos ver, minha perna foi limpa e costurada. As
crianças foram verificadas e a Patrícia foi levada para o hospital. Manquei
para a sala, me apoiando pelas paredes, querendo ouvir o que a polícia dizia.
Meu pai me deu um abraço e chorei contra o seu peito.
— O que aconteceu? — Me afastei. — O que foi isso tudo?
— Oi, baby. — Callum me abraçou. Ele estava com um curativo.
— Você precisará ir à delegacia amanhã, dar o seu depoimento e
vocês três foram imprudentes, a sorte que o trecho tinha câmeras de
segurança e de trânsito. Estão inocentados por causa disso. — Jay falou
severamente com o Callum.
— O que aconteceu?
— Nos cercaram na estrada. Inicialmente, pensamos que fosse um
assalto, mas parar os dois carros? Eles sabiam que estávamos vindo juntos.
— Callum me deu um olhar. — Era uma emboscada, provavelmente para
atrasar a nossa chegada e conseguirem agir com o sequestro. Cage atropelou
um deles e nós acabamos de saber que o homem não resistiu. Eu acertei um...
Ele está em coma.
— Caramba.
— Você foi louca em correr atrás dele. — Meu pai brigou comigo.
— Depois que ele acertou a Patrícia, eu não sabia mais o que fazer,
mas eles não podiam levar o Ethan. Foi impulsividade... estava apavorada. —
Voltei a chorar. — O que foi isso?
— Ainda não chegamos a um mandante, como vocês entregaram tudo
sobre um possível suspeito, a polícia vai chegar a isso logo. — Meu pai
garantiu. — Vocês terão proteção policial até que possa reunir uma equipe de
segurança.
— O Boyle vai ficar bem?
— Sim, vai ser preciso ficar internado em observação por mais alguns
dias, mas ele vai ficar bem. — Callum me abraçou. — Estamos bem, feridos,
mas bem.
— Tia Gwen vai ficar com a Patrícia?
— Sim. Eu prometi ao Cage que nós cuidaremos das crianças. —
Esfregou os meus braços. — E o corte?
— O remédio para dor não é próprio para lactantes. Eu tenho que
ligar para a pediatra, porque está doendo e eu tenho leite apenas para as
próximas horas. — Sequei o meu rosto. — Acho que preciso de um calmante,
ainda estou muito nervosa.
— Calma, baby. Estamos bem. — Callum me apertou em seus
braços.
Precisei dar o meu depoimento mais uma vez, eu não vi o rosto de
quem estava no quarto, eu jamais imaginaria que alguém invadiria a casa.
Eles conseguiram desativar o sistema de segurança da propriedade, atacaram
os seguranças e agiram tão silenciosamente que quase tiveram êxito. Foi um
plano bem arquitetado.
Não queria ficar longe das crianças. Archie e o Andie estavam
dormindo. Charlie estava dando uma mamadeira para o Gabriel e a Cassie
para o Daniel. Entrei de fininho no quarto e rastejei para a cama ao lado do
Ethan. Ele estava acordado ainda, com os olhos arregalados e dei um beijo na
sua testa. Abracei-o apertado, ninando-o, fazendo uma oração porque eu não
podia imaginar o quão confuso e assustado ele estava. Tirei uma foto quando
os três dormiram e enviei para o Cage, para que não se preocupasse.
Não dormi a noite inteira, vigiando as crianças, sentindo uma dor
miserável no corte na minha coxa. Os gêmeos acordaram nas nos seus
horários costumeiros, minha cabeça estava explodindo e pela manhã, Patrícia,
Cage, Tia Gwen e o Tio Robert chegaram. Cassie e o Charlie estavam
preparando o café da manhã e as crianças gritaram de prazer para os pais.
Ethan começou a chorar nos braços da mãe e eu não aguentei, me rendendo
ao choro também.
— Estou bem, foi só um susto. Nós vamos ficar bem... Foi como uma
noite que você tem pesadelos quando vê os filmes violentos que o papai
gosta. — Patrícia acalmou o Ethan. — Eu te amo, meu filho. Você foi um
menino muito corajoso.
— Eu sei, mamãe. Fiquei com medo. — Ethan fungou.
— É normal sentir medo, mas nós somos uma família e vamos
superar isso. — Cage abraçou o filho. — A mamãe está bem. Foi um
ferimento leve.
Me sentei em uma cadeira, ninando o Gabriel e dei uma olhada no
Daniel no colo do Callum.
— Aqui, a fórmula. — Cage me entregou o saco da farmácia.
— Graças a Deus. — Agarrei a fórmula, preocupada que eles fossem
rejeitar, mas seria apenas por alguns dias. — Estou morrendo de dor. Minha
perna ainda está latejando. — Peguei o frasco do remédio e empurrei um na
boca, louca para tomar mais um. — Só tenho leite materno para mais duas
mamadas e a noite iremos testar a fórmula.
— Melhor revezar, se eles rejeitarem, teremos outro leite. — Callum
murmurou e colocou o Daniel para arrotar.
— Panquecas especiais da Tia Cassie estão prontas! — Cassie gritou
e os meninos correram para a mesa, subindo nas cadeiras com agilidade. Tia
Gwen bateu em suas mãos antes que eles agarrassem as panquecas. —
Ajudem o espirro. — Cassie comandou e o Ethan ajudou o Archie a subir na
cadeira alta. — Ótimo.
— Tio Charlie chegando com os melhores ovos com presuntos, quem
quer?
— Eu telo! — Archie gritou, nos fazendo rir. Ele trocava a maioria
das palavras.
Nós sentamos ao redor da mesa, espalhando comida e enchendo os
nossos pratos, o que era uma verdadeira benção. Depois do pesadelo que
passamos, no qual poderíamos ter perdido a Patrícia, ou sentados esperando
uma ordem de resgate com um dos homens Lowell preso por reagir a uma
emboscada. Era um completo milagre estarmos reunidos na manhã seguinte e
eu não podia deixar de estar infinitamente grata.
Me inclinei na minha cadeira e beijei a bochecha do Callum, deitando a
minha cabeça no seu ombro. Nossos filhos estavam em nossos braços. Juntos,
não importava o que acontecesse, seríamos sempre fortes.
CAPÍTULO 36
Callum.
Isla estava andando de um lado para o outro na sala, balançando o
Gabriel. Danny estava deitado no Moises portátil, me encarando com seus
olhos grandes e azuis como da sua mãe. Eles eram puxados e atraentes.
Ajeitei o seu gorrinho e acariciei a sua barriguinha, beijando seu pé coberto
com uma meia. Um sorriso nervoso surgiu em seus lábios.
Desviei o meu olhar e vi a mãe dos meus filhos pegando o telefone do
bolso.
— O que foi? — Questionei e ela me deu um olhar aflito.
— Não briga comigo, mas eu liguei para o meu... Para o Enzo.
Fechei os meus olhos, respirando fundo.
— Por quê?
— Já passou três semanas! A Patrícia levou um tiro, o Ethan e o
Gabriel quase foram sequestrados, o Boyle quase entrou em coma e o seu
irmão matou um homem, porque alguém quer nos ferir! Então eu liguei para
o meu irmão! — Isla praticamente gritou. — Ele vai nos ajudar no que puder,
inclusive, ele acabou de me dizer que tem a informação sobre o dinheiro pago
aos homens.
— E?
— Saiu do mesmo banco que envia pagamentos para o homem
misterioso. Ele conseguiu um sinal em uma torre aqui perto e está enviando
as mensagens para o seu computador. — Peguei o meu notebook e ergui a
tampa, ligando para ver o que ele estava me enviando. Continuou lendo e ela
quase deixou cair o telefone no chão. — Não posso acreditar.
— O que foi? — Fiquei de pé.
— Enzo acha que foi a Roxanne. Ele não tem como provar, está
fazendo as conexões.
— Que conexões?
Peguei o aparelho dela e liguei para o Enzo.
— Eu não sou bom nessa merda, para investigar mais, precisarei
envolver o Jackson e você não quer.
— Não. Não quero dever nenhum favor a ele.
— Não irá dever favor nenhum se eu pedir. Estou fazendo isso porque
a Isla é minha irmã e o Jackson sabe que não pode se meter a besta comigo.
— Enzo estava fumando. — Não gosto dessa mulher. O seu chefe da
segurança não vai conseguir ir tão longe quanto eu, apenas o Jack tem
acesso.
— Merda. Fale com ele, mas eu vou precisar de provas concretas para
ir com tudo para cima dela.
— Esqueceu com quem está falando, Lowell?
— Não. Estou falando com o pivete italiano que foi mandado para
minha fraternidade e que por castigo do universo, precisarei te aturar como
cunhado.
Enzo riu.
— Jackson respondeu que me dará algumas respostas em breve, mas
do pouco que viu, foram espertos o suficiente para agir em sua maior parte
sem estar online, o que impede a maior parte do rastreio. — Ouvi uma voz
feminina e ele respondeu em italiano. — Tenho que ir, eu vou ligar depois.
— Encerrou a chamada.
— E agora? A Roxanne está envolvida? — Isla colocou o Gabriel
adormecido na cadeirinha ao lado do seu irmão.
— Todos nós desconfiamos dela, mas sem provas, o que podemos
fazer? — Abracei-a. — Essa mulher entrou na vida da minha família como
uma sanguessuga, eu não tenho culpa que o meu pai era um monstro.
Ninguém tem.
Meus filhos não podiam pagar pelos erros estúpidos que o meu pai
cometeu. A Patrícia não estava reclamando, mas eu sabia que ela estava
sentindo dor do ferimento. A Isla estava se entupindo de medicação para dor,
seu corte foi profundo, ela perdeu um pouco de sangue e estava com metade
do ferimento com pontos. Quando o sequestrador a jogou no chão, ele deve
tê-la ferido, na confusão da luta corpo-a-corpo.
— Eu sei de tudo isso, amor. — Isla me encarou. — Roxanne é muito
rancorosa e mal amada. Ela odeia qualquer um, sem motivo profundo.
— Meu pai deve ter feito com ela coisas terríveis, mas ela aceitou tudo
que ele lhe deu, a carreira, os carros, casas... Não retiro que deve ter sido
abusada física e emocionalmente de muitas maneiras, ele só sabia se
relacionar assim, mas se ela está por trás de tudo isso, eu não posso vê-la
como vítima. — Beijei a pontinha do nariz dela. — Eu já disse que te amo
imensamente hoje?
— Imensamente? Não.
— Eu te amo imensamente, Isla Annie Lowell.
— Os papéis não ficaram prontos ainda.
— Eu sei, faltam só seis dias e meio. — Esfregou o nariz no meu. — E
aí, pela lei dos homens, você será a minha esposa.
— E pela lei de Deus? Vamos agendar uma data logo que isso tudo
passar?
— Sim. Estou ansioso para te ver de noiva, mas antes, precisamos nos
vestir de padrinhos. Eu tenho que encontrar o Michael para a minha prova. —
Dei um beijo nos seus lábios. — Charlotte está na cozinha, ela vai te ajudar
no que precisar e a nova funcionária vai começar amanhã.
— Não deixe que ele pense que precisam cancelar o casamento. — Ela
agarrou a minha camisa e ficou nas pontas dos pés.
— Eu sei, vai ter um esquema de segurança e eles terão o dia mais feliz
das suas vidas. Eu prometo.
— Tio Callum! — Ethan entrou na sala correndo. — Eu preciso fazer
xixi.
— Eita! Vamos lá! — Corri com ele para o banheiro. Os sanitários
eram muito altos, ele sempre precisava de ajuda e ele pedia para qualquer
homem para levá-lo ao banheiro. Charlie morria de rir. Meu primo nunca foi
próximo de crianças e agora, ele tinha cinco ao seu redor.
Cinco crianças barulhentas.
Nós estávamos decididos a tirar esse tempo em família, porque bem ou
mal, dávamos força ao outro. Ainda mais com a Patrícia e a Isla com
ferimentos. Charlotte estava com uma tala mais leve e com menos dor, depois
do que aconteceu, ela estava conosco para ajudar no que pudesse, assim
como outros funcionários da casa da minha Tia Gwen. Me ausentei do
trabalho, tirando férias, porque a minha família precisava de mim. A Isla
estava dormindo muito pouco, tendo pesadelos, as crianças pareciam sentir a
sua agitação e não paravam de chorar por longas horas de madrugada.
Liberei o Ethan após lavar as mãos e ele correu de volta para a cozinha.
Tia Gwen estava assando biscoitos e ele estava em cima dela, ansioso.
— Tio Callum. — Isla me provocou. — Imagina quando eles
começarem a falar?
— Acho que vão falar papai primeiro.
Ela colocou ambas as mãos na cintura.
— De jeito nenhum! Eu fiquei quase do tamanho dessa casa para que
os dois falem papai? Nada disso! Um para cada ou nenhum, eu sou bem
capaz de ensinar qualquer palavra aleatória só para não perder esse jogo. —
Reclamou e abaixou para pegar os meninos.
— Tudo é uma competição para você? — Me aproximei e agarrei a sua
cintura, acariciando a sua bunda.
— Mamãe! Tio Callum está apalpando a Tia Isla! — Andie gritou e
saiu correndo. Ouvimos a risada da Patrícia levando-o para cozinha e soltei
uma gargalhada. Isla estava vermelha, rindo, me deu uma cotovelada e
ergueu ambas as cadeirinhas, andando em direção a escada. Fui atrás, porque
queria ficar com eles mais um pouco antes de me reunir com a minha
advogada dorminhoca.
Cassie estava tirando um cochilo, porque passou a noite nos ajudando
com os gêmeos. Isla aproveitou que os meninos estavam dormindo, deixou
no quartinho deles, um anexo próximo ao nosso com a babá eletrônica ligada.
Me deitei na cama e ela ficou em cima de mim, me abraçando apertado.
— Por que você não confia no Jackson Bernard? — Isla perguntou
baixinho.
— Porque ele não me deu motivos para confiar. O Jackson é um
homem que manipula as pessoas ao seu redor para conseguir o que quer,
coloca as informações no bolso para usar ao seu favor quando é necessário.
— Olhei em seus olhos. — Então... Não quero que ele te use como moeda de
troca para qualquer coisa. Um exemplo, se alguém da família dele for
sequestrado e ele precisar te entregar no lugar, vai fazer sem hesitação. Ou
simplesmente se a pessoa tiver algo que lhe interessa. Ele não tem
escrúpulos.
— Acha que ele nos colocaria em risco?
— Não confio nele, nunca vou confiar, mas, por causa do seu irmão e
por todas as coisas que eu sei, ele não seria tão louco.
— Falei com o Enzo porque, não quero que o meu pai me ouça, mas a
polícia não tem recursos e essa morosidade estava me matando.
— Entendo, mas eu gostaria que conversasse comigo e por favor, não
seja inocente quanto às atividades do seu irmão. — Olhei em seus olhos.
— Não serei, prometo. — Me deu um beijo gostoso e montou no meu
colo. Seus peitos estavam maiores no meu rosto e eu não podia resistir. Dei
um beijo em cada almofada, puxando para baixo, mas ela me bateu. — Nada
disso, você tem que sair em pouco tempo e eu não quero uma rapidinha.
Fiz um pequeno beicinho, movimentando-me sugestivamente e então,
ouvimos um pequeno reclamar. Era o Daniel. Ele dormia menos que o irmão,
mas nunca chorava quando acordava. O menino era um anjinho. Isla pulou do
meu colo e foi até o anexo, voltando com ele nos braços. Seus olhos estavam
arregalados e o cabelo loiro como da sua mãe todo em pé. Sentei-me e
estiquei os meus braços, dando uma boa cheirada no seu pescoço. O cheiro
dos meus filhos podia ser engarrafado e vendido, não existia nada melhor.
— Você é tão lindo, garoto.
— Você vai se atrasar, Callum. Quanto mais rápido sair, mais rápido
vai voltar e o seu irmão quer fazer pizzas a noite. Estou ansiosa por isso,
portanto, não se atrase. — Ela se inclinou e me deu um beijo nos lábios,
agarrou o menino e foi para o closet.
Peguei os meus sapatos e calcei, precisava ir a Boston encontrar o
Michael e o Benji para prova dos ternos dos padrinhos. Não estava muito a
fim de sair de casa, mas não ia fazer a desfeita com o Michael que estava
sendo muito solidário e presente com a Laila em um momento que a Isla mais
precisava da energia positiva dos seus amigos.
Depois da emboscada, estava muito mais atento ao trânsito e a qualquer
carro que poderia estar nos seguindo. Eu estava beirando a paranoia, mas,
aquela noite foi um pesadelo que levaria tempo a ser superado. Agradecia a
Isla ter sido corajosa, ao mesmo tempo, sentia pavor do que poderia ter
acontecido. Se tivessem levado o Ethan, como a minha família iria se
recuperar? Pensei que depois do meu pai, nenhum mal iria nos abater, mas de
um modo, isso era culpa dele.
Foi ele quem trouxe a Roxanne Miller para as nossas vidas.
— E aí, noivinho. — Michael já estava dentro da loja, com a sua roupa
do casamento. — Então, o que acha?
— Parece muito bom, eu quero um igual. — Provoquei e o Benji saiu
dos provadores.
— Senhores, não me cantem. — Ele virou de costas. — A minha bunda
ficou perfeita aqui. — Fez uma dancinha muito afeminada e muito engraçada.
O nosso atendente ficou sem graça, o que nos fez rir ainda mais. Benji me
assustava no começo, ele era esfuziante e muito falador, eu sempre fui quieto
com os meus amigos.
A minha vida deu um giro de 360º depois da Isla e até o meu
relacionamento com os meus amigos mudou. Durante a sua gestação, tivemos
encontros e jantares, até fizemos chamadas de vídeo com colegas próximos
dos tempos da faculdade. Ter o Michael e o Benji na minha vida apenas
completou o círculo de loucura que ela trouxe. Eu nunca imaginaria que a Isla
fosse tão... Isla, olhando a sua foto da inscrição. Ela parecia doce, quieta e
uma menina centrada. Não havia comparações ou definições para descrever a
sua energia.
— O que acham? Tirem uma foto e enviem para a Isla. — Saí do
provador.
— Não. A Laila não me deixou ter uma mísera noção do seu vestido,
nem os vestidos das madrinhas, então, ela não vai ver nada dos padrinhos. A
Isla vai contar a ela. É segredo. Somos adultos e capazes de nos vestir bem.
— Michael reclamou e ri. Ele e a Laila estavam em uma disputa boba sobre o
casamento.
Após fazer alguns ajustes no terno e na calça, escolhi os sapatos e ficou
acertado que buscaria a roupa um dia antes do casamento. Fiz o pagamento,
eles queriam muito sair para beber, mas eu não podia me ausentar muito. Isla
ainda não havia decidido sobre uma babá, então, eu tinha que estar em casa
todo tempo possível até que conseguíssemos entender como iremos
administrar nossos trabalhos e as crianças.
Dirigi em alta velocidade para casa, apesar de estar sozinho na estrada,
eu só parei no supermercado no meio do caminho para buscar o Cage. A loja
dele era colada ao mercado, ele estava cheio de compras para a noite da pizza
e eu saí, para carregar a caixa de madeira com várias garrafas de vinho. As
meninas estavam empolgadíssimas com a noite italiana, porque a Isla tinha
leite o suficiente estocado para poder beber essa noite.
Voltamos para a estrada e ignorei as reclamações do Cage que estava
correndo demais. Estacione o carro na garagem, satisfeito com o desempenho
do meu Audi.
— Você parecia um piloto de fuga, idiota. Eu tenho três filhos para
criar. — Saiu reclamando e ri da sua expressão emburrada.
— Ou mais filhos. — Provoquei.
Patrícia e a Isla estavam na cozinha.
— Nada de mais filhos, seu irmão fez vasectomia. — Patrícia sorriu.
Cage soltou as compras. — Que expressão é essa?
— Eu fiz?
— Você saiu de casa semanas atrás depois de termos conversado sobre
a vasectomia e voltou com o papel da clínica. É um procedimento simples.
— Eu fui lá ver como era, eu não fiz. — Cage franziu o cenho. Pensei
que a Patrícia fosse explodir, porque ela estava tão vermelha quanto o seu
cabelo.
— Então por que nós não fizemos nada nos dias seguintes? — Cruzou
os braços.
— Porque as pestinhas que a gente cria estavam dormindo entre nós e
você parecia um gremlin de tão mal humorada. Esperei o seu humor acalmar.
Como agora. — Ele ergueu as mãos.
— Cage, eu vou te matar. — Patrícia respirou fundo. — Você deu a
entender que fez a merda do negócio, como era algo que não queria, eu
pensei que não queria falar sobre isso! — Gritou e a Isla olhou para mim.
Apontei para a porta. — Eu parei de tomar as pílulas. Se eu estiver grávida,
eu vou te matar!
— Amor...
— Eu tenho um teste. — Isla se meteu e quase cobri a sua boca, mas
depois a encarei. Por que diabos ela tinha um teste? — Ah, eu não estava
desconfiada, na verdade, eu não tenho um teste. A Cassie tem dois.
— Isla! — Cassie estava entrando na cozinha com o Charlie.
— Por que nesse mundo você tem testes? — Charlie olhou apavorado
para a Cassie, que deu um olhar mortal a Isla, que pediu desculpas por falar
demais.
— Estou atrasada e sem coragem de fazer um teste. — Cassie reclamou
e eu ri.
— Eu não falei para te dedurar, só fiquei nervosa. — Isla estava
apavorada.
— Tudo bem. — Cassie olhou para a Patrícia. — Acho que precisamos
fazer um teste. — Deu as costas, a Isla empurrou o monitor do bebê na minha
mão e foi atrás.
— Acho melhor você rezar. — Patrícia olhou ameaçadoramente para o
Cage.
Nós três ficamos na cozinha, em estado de choque e o Charlie me deu
um olhar, começando a rir. Ele parecia surpreendentemente feliz pela suposta
gravidez da Cassie.
— Agora ela vai casar comigo. — Soltou uma risada alta e revirei os
olhos.
— Você é maluco, a mulher abriga a fúria de um tigre. — Cage
balançou a cabeça e abriu um vinho. — Se a Patrícia estiver grávida de novo,
eu vou ter que vender o meu rim para pagar a faculdade dessas crianças.
— O tio é rico. — Charlie me provocou e revirei os olhos.
— Foda-se. A Patrícia vai me matar mesmo assim. — Bebeu
diretamente da garrafa.
A minha sorte era que a Isla e eu tínhamos certeza de que isso nunca
aconteceria conosco. Qualquer gravidez seria muito planejada. Peguei uma
taça e servi o vinho para mim, curioso sobre os resultados. Achamos melhor
começar a preparar a comida, adiantar ao máximo enquanto elas pareciam ter
decidido levar uma eternidade no segundo andar.
Meu telefone vibrou repetidamente. Enzo estava me enchendo de
informações. Soltei a minha taça, não tão surpreso, mas desapontado. Jackson
conseguiu cavar o suficiente para descobrir quem era o homem que estava
nos seguindo e que provavelmente, arquitetou o sequestro. Ele era filho da
Roxanne Miller. Entre os documentos, havia a certidão de nascimento, os
papéis da adoção, relatórios de assistentes sociais e fotografias dele ao longo
da vida.
— O que foi? — Charlie me perguntou, preocupado com a minha
expressão e só entreguei o meu telefone. — Caralho! O filho da puta é filho
da Roxanne. E agora? Ele está sendo pago por ela? Está se vingando por ela?
— Só teremos certeza quando rastrearmos o pagamento, mas para mim,
isso é prova o suficiente de que ela está totalmente envolvida nisso. —
Suspirei e as mulheres entraram na cozinha.
Isla parecia que tinha engolido um canário, rapidamente correu para o
meu lado e segurou a minha mão. Cassie e a Patrícia estavam lado a lado,
uma parecia irritada e a outra parecia resignada. Elas ergueram os testes... De
onde estava, não podia ver o resultado.
— O que isso quer dizer? — Charlie arrematou o teste da mão da
Cassie. — Amor, o que isso significa? Duas listras, o que significa? — Ele
estava surtando.
— Significa que você vai ser pai, gênio. — Cassie gritou com ele e
quase a derrubou no chão. Ele a pegou no colo, rodopiando e eu ri, porque
era uma surpresa imensa. — Ai meu Deus, Charlie! Me coloca no chão.
— E vocês aí? Estou curioso! — Virei para o Cage. Patrícia estava
chorando com o rosto escondido no peito dele.
— Vou vender o meu rim. Bebê número quatro vem aí! — Ele gritou,
sem esconder a felicidade, mesmo com a sua esposa lhe batendo e chorando.
Eu não tinha certeza se não eram lágrimas de felicidade.
— Acho que tem alguma coisa nessa casa. — Isla pegou o vinho. — De
repente, eu me tornei a única mulher autorizada a beber hoje, que ironia! —
Comemorou e comecei a rir.
Era irônico que havia uma pessoa querendo nos destruir e a nossa
família estava simplesmente se multiplicando. Era impossível nos deter. Os
Lowell eram fortes demais para serem destruídos.
CAPÍTULO 37
Isla.
Caminhei no tapete vermelho, concentrada no Callum no altar e apertei
o meu buquê, seguindo o ritmo e mantendo a cabeça erguida diante de tantas
pessoas. A igreja estava lotada. Sorri para o noivo e parei no meu lugar,
esperando uma prima da Laila terminar de entrar e parar atrás de mim, um
degrau abaixo e então, a música mudou e as portas de madeira se abriram
para a entrada da Laila.
Callum me deu um olhar, porque o Gabriel estava chorando
copiosamente. Três meses e ele seguia sendo o rei do escândalo. Sorri e
mordi o lábio, olhando para a Cassie andando na lateral da igreja, tentando
acalmá-lo e o Charlie segurava o Daniel, pleno, com a sua chupeta e
segurando o dedo do seu tio. Ainda era completamente inacreditável que o
Charlie e a Cassie seriam pais.
Quando ela me abordou perguntando alguns sintomas, disse que era
melhor fazer o teste, não haveria dúvidas após um xixi. Normalmente, os
testes de farmácia eram bastante eficazes. Pedimos ao Tray para comprar e
ele trouxe dois, porque o dono da farmácia indicou. A segunda surpresa foi a
tonta da Patrícia achar que o Cage havia feito vasectomia, ela parou de tomar
as pílulas e eu não consegui não questionar porque eles não conversaram
sobre isso.
Ela disse que andava tão irritada com ele que não queria conversar, só
transar, então, descobrimos que ela estava grávida há mais tempo que
pensava. Patrícia sempre teve dificuldades em tomar a pílula regularmente, a
prova estava bem aí... Quatro filhos. Dessa vez, o Cage foi fazer uma
vasectomia. Me perguntei se a Patrícia sendo tão relapsa com o seu método
contraceptivo, nunca desconfiou não ter engravidado do Callum. Todos
sabiam sobre o câncer, mas ninguém sabia que ele era estéril.
Quase estéril. Para a nossa surpresa, sua contagem de espermas bons
subiu uns dois por cento. Ainda não era o suficiente para nos preocupar, em
seis meses, ele faria outro teste. Não estávamos exatamente preocupados, se
acontecesse, seria um milagre e totalmente bem-vindo.
Olhei para a Laila deslumbrante em seu vestido de noiva e nem parecia
que foi uma noiva completamente histérica porque o véu não estava ficando
preso no seu penteado. Ela estava no modo bridezilla há algumas semanas,
mas nos últimos dias foi uma pessoa que eu não queria conviver. Sendo a sua
principal dama de honra e madrinha, precisei aguentar e a minha revanche
seria no meu casamento. Duvidava muito que enlouquecesse como ela, na
verdade, meu casamento teria metade dos convidados que o da Laila.
A cerimônia foi linda, precisei usar o meu lencinho escondido no buquê
e felizmente o Gabriel colaborou com a madrinha do seu irmão, ficou quieto,
de chupeta, no colo da sua madrinha, a Cassie, de vez em quando ele soltava
uns gritinhos, mas eram gritos de felicidade das gracinhas que o Charlie
provocava nos dois. Quando a cerimônia terminou, os noivos saíram felizes,
de braços dados e segurei o braço do Callum, ganhando um beijo gostoso.
— Você está linda, baby.
— Esse tom de verde combinou comigo, não é? — Apontei para o meu
decote. Ele riu e deu uma boa conferida.
— Muito bons. — Mordeu o lábio. — Sra. Lowell, eu quero te arrastar
para o banheiro e fazer toda a tradição do padrinho pegando a madrinha.
— Eu topo.
Antes de ficarmos com os nossos filhos, ainda tínhamos o nosso dever
de madrinha e padrinho. Ficamos quase uma hora presos entre fotografias,
dança, cumprimentos e quando fomos liberados para dançar, eu agarrei os
meus filhos com os meus peitos praticamente vazando. Callum me levou para
uma sala privada no hotel em que estava acontecendo a festa e eu amamentei
um, tirando leite do outro seio, quase nua e meio que coberta com um lençol.
— Gabe! Devagar! — Falei baixo, ele me chutou, mamando agitado.
Daniel estava soltando gorgolejos com o pai. Eu não podia resistir ao Callum
sendo infinitamente bobo com os nossos meninos.
Gabriel soltou o meu seio, parecia meio bêbado de prazer, limpei a sua
boquinha e a gota que estava ameaçando cair do meu bico. Tirei a bomba,
pegando o Daniel para mamar enquanto o Callum fazia o Gabe arrotar e
guardava as nossas coisas. Ele estava ficando muito bom em fazer mais de
uma coisa com um dos meninos no colo. Estávamos muito experientes nas
trocas de fralda, no começo, fizemos um monte de besteiras.
Minhas habilidades com as crianças melhoraram gradativamente ao
longo dos meses. Todas as aulas que fizemos antes do parto não eram páreo
para a realidade dura de ter recém-nascidos em casa. No nosso caso,
realmente tínhamos condições de ter ajuda de um profissional, mas não havia
sentido contratar mais uma pessoa para correr riscos enquanto a nossa vida
estava em perigo.
Para falar a verdade, sequer lembrava o meu nome, depois que os
gêmeos nasceram, tudo ficou confuso. Deveria ter pensando em contratar
uma babá enquanto ainda estava grávida. Callum estava exausto, mas ele não
reclamava. Eu estava mais recuperada, desde que fomos para Lowell, tivemos
mais ajuda. Cassie era uma madrinha que se entregava ao seu papel e não
tinha nojo de nada.
Charlie demorou um pouco mais, eventualmente ele se rendeu as
mamadas e trocas de fraldas.
— Podemos entrar? — Charlie bateu na porta da sala. — Cassie está
enjoada.
Me cobri melhor e o Callum abriu a porta, minha amiga passou
correndo para o banheiro e o Charlie foi atrás.
— Essa parte é a pior de todas. — Comentei e olhei para o Danny
mamando. Felizmente eles nasciam e passava.
— Ugh. — Cassie gemeu. — Por que você e o seu super esperma me
engravidaram? — Ela bateu levemente no Charlie.
— Fizemos amor.
— Seus padrinhos vão acabar brigando. — Callum comentou para o
Gabe.
Terminada a minha função de mãe, finalmente voltamos para a festa.
Com os meninos, eu sabia que não podia ficar muito tempo. Eles estavam
adoravelmente vestidos com pequenos smokings e sapatinhos que imitavam
sociais, mas eram de tecido. Até tentei controlar o cabelinho espetado, ambos
estavam começando a ficar meio carecas atrás, em cima continuava uma
confusão que ficava de pé logo que secavam após o banho.
Nós nos revezamos na mesa por causa das crianças, mas eu pude
aproveitar bastante, dançando, comendo, fazendo parte das homenagens para
os noivos. Eles estavam tão felizes e mereciam aquele pedacinho de
felicidade. Ambos estavam loucos para receber uma boa notícia por parte da
assistência social, que estava cuidando do caso deles em relação a adoção. Eu
não me importava de usar a influência do Callum para que ambos pudessem
realizar o sonho de serem pais.
— Foi uma das festas de casamento mais divertidas da minha vida. —
Charlie comentou no banco do motorista da minivan. Os gêmeos estavam na
cadeirinha, dormindo, como sempre que estavam em um carro em
movimento. — Benji parecia muito louco na pista de dança.
— E quando começou a tocar Queen? Eu pensei que o hotel fosse
abaixo com a pista de dança tão cheia. — Cassie olhou para trás, rindo, mas
eu observei o olhar do Charlie mudar para o retrovisor mais de uma vez.
Estávamos sendo seguidos por dois carros com seguranças, mesmo assim,
não conseguia relaxar.
— Está tudo bem, Charlie? — Não me contive.
— O farol que está nos seguindo é o da segurança, só estava vigiando o
carro atrás dele. Precaução nunca é demais. — Me deu um sorriso. — Relaxa,
mamãe urso. Estaremos em Lowell em dez minutos.
— Precaução nunca é demais.
Desde que descobrimos que o homem que nos seguia era filho da
Roxanne, cada dia que passava, minha ansiedade em encontrar qualquer
mísera prova que os ligasse me deixou a mil. Eu sabia que seria difícil. A
polícia estava trabalhando. Jackson encontrou o caminho do banco para o
homem, com pagamentos, mas não havia como ligar a Roxanne e muito
menos ligar os ataques diretamente a nós.
Tive uma ideia, mas eu precisava envolver pessoas nisso, como o
técnico de T.I da editora, a Cait e causar um embate com a Roxanne para
extrair absolutamente tudo do seu computador. Eu pedi ao Enzo para fazer
uma varredura no computador dela, ele disse que havia acessos bancários lá,
mas ele tinha que estar conectado na mesma rede para conseguir dar a ele a
chance de acesso e ter provas.
Callum não me queria perto da Roxanne e não concordava. Então, ele
iria pessoalmente a editora tentar executar esse plano maluco que tinha que
dar certo. Estava preocupada que a Roxanne desconfiasse da presença dele e
apagasse os seus rastros. A minha presença não seria tão questionada se eu
fosse visitar a Cait ou o Benji. Tudo que precisava era estar conectada na rede
da editora e colocar um pendrive específico no computador dela. Tray já
tinha esse pendrive.
Chegamos em casa com tranquilidade e coloquei os meninos em seus
respectivos berços. Sentia falta do apartamento, do sofá gostoso da sala de
televisão, mas havia um charme em estar na tranquilidade da residência em
Lowell. Era tudo silencioso e depois que os gêmeos nasceram, eu não ouvia a
Samantha porque ela começava exatamente no horário que eles estavam no
melhor do sono – e eu também.
Ter esse tempo vivendo com a família nos deu força. Era uma condição
temporária. Precisávamos manter as crianças em segurança, principalmente
depois do quase sequestro, eu não queria ficar isolada na cobertura no qual
para chegar à saída de emergência precisávamos passar por milhares de
lances de escada. Em Lowell, tive mais inspiração para escrever, produzir,
manter a minha vida profissional ao máximo. A única coisa que eu sofria
críticas a todo custo era por não ter mostrado o rosto dos meninos, mas eu
não tinha coragem de expor duas crianças que quase foram levadas de mim.
— Está preparado para o nosso casamento? — Parei na frente do
espelho, começando a tirar o meu vestido. Callum parou atrás de mim,
ajudando desnecessariamente e o tecido do meu vestido caiu aos meus pés.
— Não sei se quero uma festa assim tão grande e você?
— Acho que perde o sentido, sem querer ofender, mas não nos vejo
assim... Com algo tão grande.
— Talvez uma cerimônia no jardim... Com nossos amigos e familiares
mais próximos? — Encontrei o seu olhar através do espelho. — Seria
perfeito.
— Vai ser como nos seus sonhos, baby.
— Os seus também, é claro.
— Eu nunca sonhei em me casar, a única coisa que quero é te ver de
branco andando na minha direção e dizer sim perante um representante da lei
divina. — Beijou o meu pescoço. — Não me importo se vai ter cem ou um
milhão de convidados. — Subiu as mãos pelos meus quadris, passando para a
minha cintura. Eu já tinha perdido todo peso da gravidez e até engordado um
pouco mais, mesmo assim, o meu corpo não era o mesmo. Minha barriga
estava com a pele meio flácida e ganhei tantas estrias que seria preciso um
tratamento.
Nada disso parecia importar para o Callum.
Virei-me de frente a ele, ficando na ponta dos pés enquanto ele
agarrava a minha bunda, me beijando com ferocidade. Aquele beijo me
deixava arrepiada da cabeça a planta dos pés. Empurrei-o de volta para o
quarto, caímos na cama e fizemos amor tão apaixonadamente quanto
possível, a cama estava batendo contra parede e os meninos iriam acordar em
pouco tempo.
Cada vez que fazíamos sexo era ainda mais perfeito. Eu o amava um
pouco mais a cada dia, me sentindo uma mulher completa e realizada em
muitas maneiras. Sem sono, pensei no tempo em que correr para todo lado
era tudo que podia fazer para me manter. Me sujeitei a muitas humilhações
para realizar o sonho de ter uma carreira reconhecida, cuidar adequadamente
da minha mãe e falhei em muitas coisas. Olhando para trás, sentia orgulho de
mim mesma, cada decisão que tomei, boa ou ruim, me levou diretamente ao
Callum.
Como poderia me arrepender quando ele e os meninos eram o que dava
sentido a minha vida?
— Você está muito quieta. — Callum esfregou as minhas costas.
Normalmente, não calava a boca, mesmo depois do sexo.
— Não sei se vai ser uma boa ideia você estar na empresa. — Apoiei o
meu queixo no seu peito. Puxei alguns fios, ele estava costumava diminuir os
pelos do seu peito, deixando o suficiente para que desse para puxar.
Ele fez uma pequena careta, belisquei o seu mamilo, ele detestava e ri,
ganhando um tapa bem estalado na bunda.
— Eu só preciso estar na rede da editora. Não preciso estar na sala ou
perto dela... Vou visitar o Ryan e fazer um monte de exigências sem sentido.
Pelo que o Tray me explicou, o pendrive pode ser conectado em qualquer
computador da rede, o do Ryan vai servir. Se não der certo, eu aceito a sua
ida até lá. — Apoiei a minha mão e me rastejei um pouco mais para cima. —
Está preocupada comigo, esposa?
— Claro que sim, o que te faz pensar que você não me preocuparia?
— Estou apenas querendo um pouco de dengo.
— Acabei de montar em você, homem. Você quer mais do que isso? —
Soltei uma risada da sua cara de pau. Segurei o seu rosto, beijando-o
novamente. — Quer um pouco em que posição agora?
— Quero um pouco da sua boca no meu pau...
Estava pronta para levar o pau dele a boca, quando um grito estridente
de um choro muito conhecido rasgou através do monitor do bebê e da porta
do quarto entreaberta. Me afastei, olhando para a câmera e era o Gabriel, pela
maneira que ele se sacudia, estava com a fralda suja.
— Meu filho tem um timing perfeito. — Callum gemeu. Ele rolou para
fora da cama, vestindo a calça do pijama com seu pênis ereto quase criando
uma barraca. — Oi, garoto. — Ouvi sua voz baixa. — Caramba, parece uma
bomba. Droga... Isla, vazou tudo. Tem cocô até o pescoço! — Falou e pulei
da cama, me enrolando em um roupão e atravessei o quarto, parando ao lado
dele.
— Minha nossa... Quanto cocô.
— Acho que isso tudo só sai com um banho... Tirando o excesso e um
banho? — Callum estava chocado.
Enquanto ele lidava com as roupas e a fralda podre, liguei a água
quente na banheira e um pouco da fria, para temperar. Estava quase na altura
certa quando ouvi o Daniel chorar. Voltei para pegá-lo, troquei a sua fralda e
troquei a roupa de cama do berço. Danny costumava ficar quieto no colo ou
com uma chupeta, mas ele sempre chorava quando o Gabriel chorava. O
Gabe sempre chorava no banho, isso significou que os dois estavam em uma
sinfonia no banheiro.
Quarenta minutos mais tarde, eles dormiram novamente e os meus
ouvidos agradeceram. Colocamos os dois no berço e suspiramos, parecia que
tinha acabado de correr uma maratona.
— São bonitinhos, não é? Nem parecem que estão quase me
enlouquecendo. Mesmo assim, sonhei tanto com eles.
— Eles são muito melhores que qualquer sonho.
Olhamos para a janela e estava quase amanhecendo, Callum precisava
sair em algumas horas e nós caímos na cama. Não levei dois segundos para
dormir e continuei na cama mesmo quando saiu. Estava exausta e fui em um
casamento, antigamente, aguentava sair de uma festa e ir para o trabalho.
Cassie se jogou ao meu lado logo que acordou. Os gêmeos ficavam
muito mais tempo acordados, começando a brincar, descobrir o mundo ao
redor, nos encarar com curiosidade e a reagir com alegria, principalmente
com gritos. Eu podia passar o dia inteiro brincando com eles, sem me
importar com o mundo externo.
— Será que ele já conseguiu? — Me sentei na cama, aflita e curiosa.
— Espero que sim. Estou muito enjoada, isso nunca vai passar? —
Cassie gemeu. Meu enjoo passou por um período na gestação e voltou com
força no final. — Não me diga quando nascer.
— O que a sua mãe disse sobre como foi quando ela engravidou de
você?
— Não contei a minha mãe que estou grávida. Contei ao meu pai, ele
ficou feliz e isso é o suficiente.
— Sinto muito por isso, Cassie.
— Serei uma mãe melhor que ela. — Deu de ombros e ouvimos uma
batida na porta. Patrícia enfiou a cabeça para dentro e ela estava sorridente.
— Acabei de pegar o meu exame no laboratório e eu não vou aguentar
esperar o Cage chegar para contar isso. — Sacudiu o envelope. — É uma
menina!
Cassie e eu ofegamos, surpresas e felizes. Estávamos certas de que a
Patrícia estava esperando mais um menino. Os gêmeos ficaram assustados
com os nossos gritinhos, porque depois de cinco meninos, a família
finalmente ganharia uma menininha. Cassie e o Charlie não fizeram o exame
para descobrir o sexo, optando por esperar mais algumas semanas.
Nós ficamos com os gêmeos e os três meninos no quintal, pegando um
pouco de sol na varanda e vigiando as pestinhas correndo na grama enquanto
os gêmeos ficaram no cobertor ao meu lado. Não conseguia soltar o meu
telefone, minha ansiedade crescendo muito a cada minuto.
“Consegui”.
Foi tudo que o Callum me enviou por mensagem e eu pensei que podia
acertá-lo com um tijolo. Só isso? Eu queria detalhes. Liguei para ele umas
trinta vezes antes de ele finalmente mandar uma mensagem menos sucinta.
“Pegamos a informação que precisávamos, conversamos em casa”.
— Será que esse pesadelo está terminando? — Mostrei a mensagem às
meninas. — Tudo que eu mais quero é que as nossas vidas voltem ao normal
e que os nossos filhos possam viver sem que uma psicopata esteja querendo
se vingar dos atos do avô.
— Se isso não der certo, não sei mais o que pode dar. Roxanne se
mostrou ser uma cobra muito astuta. Eu ainda acho que deveríamos
sequestrá-la e fazê-la confessar. — Cassie murmurou, cruzando os braços
muito irritada.
Esperava que o Callum chegasse com boas notícias, porque eu estava
pronta para cometer uma loucura.
CAPÍTULO 38
Callum.