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Para citar esse documento:

GOLIN, Andrea; PICON, Andreja P. Aprendizagem motora e transferência de


aprendizagem na dança: desafios e reflexões Anais do VI Encontro Científico da
Associação Nacional de Pesquisadores em Dança - ANDA. Salvador: ANDA, 2019.
p. 54-64.

www.portalanda.org.br

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APRENDIZAGEM MOTORA E TRANSFERÊNCIA DE
APRENDIZAGEM NA DANÇA:
DESAFIOS E REFLEXÕES

Andrea Golin (FMUSP)i


Andreja P. Picon (FMUSP)ii

RESUMO: A proposta deste artigo é realizar uma discussão sobre a Ciência da


Aprendizagem Motora na esfera da Dança, evidenciando as estratégias de
demonstração e dicas verbais no processo de aquisição de habilidades motoras,
assim como o conceito de Transferência de Aprendizagem no contexto da
Aprendizagem Motora em Dança. Os resultados de pesquisas sugerem que no ato
da aprendizagem motora a demonstração e as dicas verbais são necessárias, no
entanto é preciso entender o quanto e como instruir. Evidências científicas mostram
que o processo de transferência de aprendizagem pode não estar ocorrendo como
bailarinos e professores esperam, sugerindo como exemplo que a transferência dos
exercícios e sequências da barra para o centro continua sendo um desafio. É
preciso ampliar o olhar sobre o processo ensino-aprendizagem em Dança,
considerando os pressupostos da Aprendizagem Motora, buscando novas
evidências científicas para que avanços ocorram na área, possibilitando assim uma
prática segura e saudável.

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem Motora. Transferência. Demonstração. Dicas


verbais. Dança.

MOTOR LEARNING AND TRANSFER:


THINKING AND CHALLENGES

ABSTRACT: The purpose of this study is to conduct a discussion about Motor


Learning Science in Dance, highlighting demonstration strategies and verbal cues in
the process of motor skills acquisition, as well as the concept Transfer of Learning in
the context of Motor Learning in Dance . The results of research suggest that in the
act of motor learning, demonstration and verbal cues are necessary, however one
must understand how much and how to instruct. Scientific evidence shows that the
process of transfer may not be occurring as dancers and teachers expect, suggesting
as an example that the transfer of exercises and sequences from the barre to
dynamic dancing remains a challenge. It is necessary to broaden the view on the
teaching-learning process in Dance, considering the assumptions of Motor Learning,
seeking new scientific evidence for advances to occur in the area, thus enabling a
safe and healthy practice.
54
KEYWORDS: Motor Learning. Transfer. Demonstration. Verbal Cues. Dance.
Aprendizagem Motora na Dança

O ensino da Dança e suas habilidades complexas apresenta muitos desafios.


Para tanto, o entendimento de corpo e do bailarino em suas múltiplas performances
pautado nos pressupostos e conceitos da ciência da Aprendizagem Motora, permite
um alcance e reflexão acerca de um movimento consciente. O propósito deste artigo
é discutir as questões relacionadas ao ensino e aprendizagem da Dança, buscando
entender a ciência do aprendizado motor a partir de uma perspectiva de saúde e
segurança para professores, coreógrafos, estudantes e bailarinos profissionais.

No ensino de habilidades motoras, a área que investiga os fatores que


auxiliam no processo de aprendizagem de determinadas habilidades é chamada de
aprendizagem motora (UGRINOWITSCH e BENDA, 2011). Magill (2011) define que
a aprendizagem motora é uma alteração na capacidade de desempenho de uma
habilidade, que revela-se pela melhoria permanente deste desempenho devido à
prática ou à experiência. O aprendizado motor trata do estudo da aquisição e
modificação do movimento. Envolve estratégias e determinados processos de
percepção, cognição e ação (SHUMWAY-COOK e WOOLLACOTT, 2010), sendo
uma mudança permanente. Percebe-se portanto, que aprendizagem motora
diferencia-se de desempenho – uma mudança temporária no comportamento motor
– relacionada ao momento de execução e/ou prática da habilidade.

Haibach et al. (2011), definem que a aprendizagem motora trata dos


processos envolvidos na aquisição de determinada habilidade e as variáveis que
aprimoram ou inibem a capacidade de performance motora. Interessante que os
autores diferenciam aprendizagem de performance. Como já dito anteriormente, a
aprendizagem refere-se à uma mudança permanente na capacidade de executar
determinada habilidade motora em função de sua prática ou experiência. Já a
performance relaciona-se ao ato de executar o movimento, sendo uma mudança
temporária e não permanente. Desempenho, por sua vez, é o comportamento
observável, se refere à execução de uma habilidade em uma determinada situação.
Já a aprendizagem não pode ser observada diretamente, mas poderá ser inferida a 55
partir de características do desempenho da pessoa. Isso posto, a Aprendizagem não
é diretamente observável, mas o resultado e seus produtos são (MAGILL, 2011;
SCHMIDT e LEE, 2014).

Aprendizagem é um processo interno que produz alterações no


comportamento relacionadas ao estado de desenvolvimento do indivíduo. A
aprendizagem motora concentra-se na compreensão da aquisição e/ou modificação
do movimento. É um processo associado à prática ou à experiência, que leva a
mudanças relativamente permanentes na capacidade de produzir uma ação motora
(SCHMIDT e LEE, 2014; SHUMWAY-COOK e WOOLLACOTT, 2010)

No âmbito da aprendizagem motora, algumas estratégias são comuns e


tradicionalmente utilizadas por professores no intuito de otimizar o aprendizado da
habilidade. Dentre estas estratégias, estão a forma como o professor fornece
informações prévias com relação ao movimento a ser realizado pelo aluno, que são
a instrução verbal e a demonstração. A primeira trata de descrições verbais sobre
aspectos fundamentais da habilidade motora a ser executada, fornecendo
informações sobre o QUE fazer. Já a demonstração, fornece ao aluno informações
sobre COMO fazer a habilidade, ou seja, exige uma informação visual por meio da
aprendizagem observacional (SPESSATO e VALENTINI, 2013). Neste momento, o
aluno observa, tem uma ideia do que é o movimento e procura imitar e aprender
(MAGILL, 2011; UGRINOWITSCH e BENDA, 2011).

No contexto educacional da Dança e especificamente no ballet clássico - cuja


técnica é codificada e complexa - o processo de aprendizagem motora costuma ser
longo e caracterizado pelo predomínio da estratégia de demonstração e repetição
dos movimentos. Em uma rotina de aula tradicional de ballet, o professor demonstra
a sequência de movimentos a ser realizada, dá instruções verbais. Em seguida o
aluno executa e ao final o professor faz as alterações e correções necessárias. A
aula tradicional consiste portanto, na descrição e demonstração de movimento,
seguidas de prática, correção e em seguida mais prática (SPESSATO e VALENTINI,
2013). As repetições aliadas à demonstração e dicas verbais são estratégias
comuns e importantes na aprendizagem da dança. No entanto é preciso chamar a
atenção para os aspectos relacionados ao "como" e "quanto" instruir, demonstrar e
repetir. 56
No intuito de entender o processo de aprendizagem de uma habilidade
motora complexa no ballet (pirouette), Rodrigues et al. (2010) utilizaram a técnica de
demonstração da habilidade por modelos de vídeo e pela técnica do ponto de luz 1.
Os participantes foram distribuídos entre esses dois grupos e a hipótese era de que
a informação proveniente dos modelos de ponto de luz seria suficiente e mais
relevante para a aprendizagem e a reprodução do movimento do que a
demonstração por modelos de vídeo. Nesse estudo, foram analisadas medidas de
oscilação cabeça/tronco, tempo de movimento e score de performance. Os
pesquisadores não observaram diferenças significativas entre os dois grupos,
apenas os índices de performance foram ligeiramente superiores para o grupo que
assistiu aos modelos de vídeo, no entanto os resultados não sugerem a
superioridade desta técnica de demonstração.

É importante esclarecer que nessa pesquisa os participantes eram estudantes


jovens que não tinham conhecimento da habilidade e tampouco experiência no ballet
clássico. Porém, os resultados chamam a atenção para a importância da
demonstração no ensino de habilidades motoras, sejam simples ou complexas,
inferindo-se que há informação suficiente para a aprendizagem da tarefa
independente do tipo de demonstração realizada.

Estudos científicos indicam os efeitos da demonstração e das instruções


verbais na aquisição de habilidades motoras, no entanto pouco tem sido pesquisado
na esfera da Dança. De acordo com Tani et al. (2011) no campo da Educação
Física, os estudos sobre os efeitos da demonstração na aprendizagem motora levam
em consideração as seguintes características:

• modelo (no caso o professor);


• demonstração (execução / prática);
• observador (o aluno);
• habilidade motora.

1
Consiste em colocar luzes ou pontos brilhantes nas articulações de um modelo, que é filmado 57
durante a execução de um movimento. Preserva os padrões cinemáticos do movimento, sendo que o
observador enxerga apenas os pontos iluminados e não o movimento por “completo" (Magill, 2011).
Neste sentido, considerando a realidade do processo ensino-aprendizagem
em Dança, cabe refletir sobre o papel do professor, seu nível de experiência e
habilidade em demonstrar e/ou executar o movimento. Deve-se levar em
consideração também, as características inerentes ao processo de demonstração,
ou seja, quantas vezes o professor demonstra ou repete a sequência de movimento
a ser executada e as dicas e instruções verbais utilizadas. Outro aspecto importante
trata das características do aluno, ou seja, é fundamental propor estratégias de
ensino cuja complexidade da habilidade motora esteja de acordo com o nível de
aprendizagem e de desenvolvimento motor do aprendiz.

No artigo que trata da revisão de literatura sobre a papel da demonstração no


processo de aquisição de habilidades motoras, Tani et al. (2011) citam o estudo de
Starkes et al. (1987) que investigaram a influência da demonstração na
aprendizagem de uma sequência de dança em grupos de alunos novatos e
experientes. Os autores identificaram que os bailarinos mais experientes foram mais
influenciados e susceptíveis aos efeitos da demonstração do que os novatos em
relação ao controle de uma habilidade já dominada e também à aprendizagem de
novas habilidades.

Em um estudo sobre os efeitos da freqüência de demonstração no processo


de aprendizagem do movimento passé relevé, Fagundes et al. (2013) observaram
quatro grupos de estudantes universitários que foram distribuídos conforme a
quantidade e a possibilidade de autocontrole da observação da habilidade (passé
relevé). Os autores analisaram variáveis cognitivas, a performance na reprodução do
movimento e o tempo de equilíbrio no passé. Os resultados indicam por exemplo
que maior frequência de observação e demonstração da habilidade motora resultam
em melhor precisão da representação cognitiva do movimento. Ou seja, quanto mais
vezes o aluno observa a demonstração do movimento, há um melhor entendimento
cognitivo do mesmo. Porém, em contrapartida, os participantes não apresentaram
diferenças significativas no tempo de equilíbrio. Isso sugere por exemplo, que o
tempo de prática é necessário para produzir mudanças na habilidade motora, no
entanto, a aprendizagem observacional continua sendo um elemento importante
para o desenvolvimento do comportamento motor.
58
Em relação ao uso de dicas e instruções verbais na aprendizagem da Dança,
Spessato e Valentini (2013) ressaltam a importância da música, o uso de diferentes
batidas e ritmos como estratégia para favorecer e auxiliar a compreensão da
dinâmica do movimento, bem como facilitar a memorização de sequências
complexas de movimentos.

Sendo assim, é importante repensar a prática educativa no contexto da


Dança, reconhecendo a necessidade de identificar padrões e parâmetros no
cotidiano educacional. Pensamos que o conhecimento científico acerca do
movimento humano sob a ótica da Aprendizagem Motora possibilitará estratégias
alternativas para a aquisição de competências técnicas e motoras mais seguras aos
bailarinos.

Transferência de Aprendizagem na Dança

Outra questão que deve ser discutida trata de um componente muito


importante no contexto da aprendizagem motora: a Transferência. O conceito de
transferência de aprendizagem refere-se à capacidade adquirida através da
experiência de desempenhar uma nova habilidade em uma nova situação (MAGILL,
2011). Para o autor, uma das metas de praticar determinada habilidade ou
movimento, "é a capacidade de transferir o desempenho da habilidade, do ambiente
da prática, para um outro ambiente em que o indivíduo precise desempenhar a
habilidade, para poder atingir a mesma meta da ação” (p.166). A transferência de
aprendizagem é definida pela influência que determinada habilidade ou
conhecimento adquirido em uma dada circunstância tem na aquisição da habilidade
sob um novo contexto ou ambiente (KRASNOW e WILMERDING, 2015).

No contexto da Dança, bailarinos e professores frequentemente fazem a


suposição de que a transferência de aprendizagem ocorre durante todo o processo
de ensino-aprendizagem e de treinamento. Em uma aula tradicional de Ballet
Clássico, os primeiros movimentos são executados e aprendidos com o apoio da
barra e progressivamente são transferidos para o centro da sala. É nesse momento
que os bailarinos sentem-se desafiados, pois a barra já não os sustenta e 59
necessitam estratégias de equilíbrio, força e controle motor para executar os
movimentos com segurança e técnica adequadas. Neste sentido, os exercícios de
pliés e relevés realizados na barra deveriam supostamente se refletir no aprendizado
e performance dos saltos, da mesma forma que a execução e os desafios de
balance são importantes para melhorar movimentos no centro e nas coreografias.

A pesquisa em transferência de aprendizagem busca entender as influências


de experiências anteriores no desempenho de uma habilidade num novo contexto,
na aprendizagem de uma nova habilidade ou ambos (MAGILL, 2011; SCHMIDT e
LEE, 2014; SHUMWAY-COOK e WOOLLACOTT, 2010). O princípio da transferência
ajuda a entender os processos envolvidos na aprendizagem e no controle de
habilidades motoras.

A literatura intitula que existem três tipos de transferência: positiva, negativa e


neutra. Quando a experiência em uma determinada habilidade ajuda ou facilita o
desempenho em um novo contexto ou em outra habilidade, considera-se a
transferência positiva. Quando a experiência impede ou interfere o desempenho da
nova habilidade, há transferência negativa. Por exemplo, muitas companhias de
Ballet Clássico tradicionais, não permitiam que seus bailarinos praticassem outras
modalidades de Dança, temendo que pudessem interferir ou dificultar a performance
de algumas habilidades (KRASNOW e WILMERDING, 2015). E finalmente quando a
experiência não afeta o desempenho ou a aprendizagem, ou seja, quando não há
influência ou efeitos na aprendizagem de duas habilidades, considera-se que a
transferência é zero ou nula (MAGILL, 2011).

Entender o processo de transferência de aprendizagem em habilidades


motoras, é importante para fundamentar o desenvolvimento de programas de ensino
e treinamento. Magill (2011) explica que a transferência de aprendizagem se dá a
partir da influência da prática e de experiências anteriores na aquisição de
habilidades motoras, seja em um novo contexto, seja na aprendizagem de uma nova
habilidade motora. Trata-se de um sequenciamento de habilidades a serem
aprendidas, partindo-se do movimento simples para o complexo. Este fenômeno
pode ser observado nas aulas de ballet clássico, quando os alunos passam a
executar os movimentos aprendidos na barra, no centro da sala, e precisam portanto
ajustar-se aos desafios deste novo contexto. No entanto, questiona-se: quais as 60
diferentes habilidades ou estratégias são necessárias e ajustadas para o desafio de
um novo contexto de aprendizagem? As mudanças no processo de ensino-
aprendizagem ou de treinamento são capazes de influenciar na transferência de
aprendizagem e consequentemente no desempenho do movimento?

A partir destes princípios teóricos, podemos ter clareza que o processo de


transferência no Ballet Clássico é bastante desafiador, uma vez que os bailarinos
executam longas sequências na barra que teoricamente deveriam prepará-los para o
desempenho de outras sequências ou movimentos no centro da sala e
posteriormente no palco durante as apresentações. No entanto, esse processo pode
não estar ocorrendo como professores de dança e bailarinos esperam. Wilmerding
et al (2001) indicam que há diferenças nos padrões de ativação muscular do
movimento developpé devant quando executados na barra e no centro. A perna de
base, apresentou menor ativação muscular na execução do movimento na barra,
quando comparado à execução no centro, sem apoio. Esses resultados, sugerem
que as respostas posturais para equilíbrio e o treinamento na barra podem não estar
"cumprindo a tarefa” adequadamente, uma vez que os bailarinos passam quase
metade do tempo de aula em exercícios de barra. A diferença de trabalho técnico
para um mesmo movimento executado em ambiente diferente, pode influenciar na
performance do movimento e além disso, na própria saúde dos bailarinos.

Em outro estudo, Krasnow et al (2011) sugerem que há diferenças nas


estratégias motoras utilizado por bailarinos na execução de movimento na barra e no
centro, porém pouco se sabe quantitativamente a respeito das diferenças e/ou
semelhanças entre os aspectos musculares e biomecânicos do movimento e se há
de fato transferência positiva entre esses dois contextos de aprendizagem e
treinamento. Os autores chamam a atenção para o fato de que os bailarinos podem
estar passando muito tempo treinando na barra e que isso pode interferir
negativamente em alguns aspectos das habilidades e capacidades de dançar.

Krasnow (2012) realizou um extenso trabalho a respeito dos padrões


cinemáticos e musculares na execução do movimento battment devant na barra, no
centro e em situações de movimento coreográfico. Os resultados corroboram com as
pesquisas anteriores e indicam que há diferenças consideráveis sobre esses
padrões, porém mais importante do que isso, é o fato de que os exercícios 61
realizados na barra podem não preparar o bailarino adequadamente para as
demandas no centro e no palco. Além disso, muita ênfase tem sido dada à perna de
movimento em função do caráter estético, performático (perna mais alta com
máxima rotação externa) em detrimento da perna de base.

Assim sendo, reconhece-se a importância de compreender o processo de


transferência de aprendizagem na Dança devido à multiplicidade e complexidade
das habilidades motoras envolvidas. Qual o papel e a importância do uso da barra
na aula tradicional? O tempo dedicado aos exercícios da barra são efetivamente
adequados e necessários às demandas do centro ou do palco e às coreografias? É
preciso repensar e cuidar com a dependência da barra durante as aulas.

Considerações Finais

Diante do exposto, fica clara a necessidade de repensar as estratégias de


ensino utilizadas no processo de aprendizagem da Dança, especificamente no
tocante à ciência da Aprendizagem Motora. As evidências científicas aqui
apresentadas mostram que as estratégias de dicas verbais e demonstração de
movimentos são necessárias e tradicionalmente utilizadas no ensino de habilidades
motoras, no entanto poucos estudos são realizados no campo da Dança, o que
deixa dúvidas e questionamentos sobre esta questão. O quanto o professor deve
demonstrar? A frequência de demonstração e repetição do movimento pelo
professor é suficiente para a compreensão do aluno? As explicações e as dicas
verbais do professor atendem às necessidades do aprendiz bailarino no que se
refere ao entendimento e reprodução do movimento?

Neste sentido, o processo de transferência de aprendizagem parece não


atender às necessidades de performance do movimento, ou seja, o desafio barra x
centro continua sendo um obstáculo tanto para alunos como professores. Por que
será que muitos alunos tem tanta dificuldade em realizar os mesmos exercícios no
centro e na barra?

Enfim, é de suma importância repensar o planejamento e a organização da


prática da Dança com um olhar no campo da Aprendizagem Motora e seus 62
pressupostos, reconhecendo o estágio de aprendizado do aluno, a importância das
dicas verbais e a frequência de demonstração de movimentos, possibilitando assim
a busca por um processo de aprendizagem mais seguro e saudável.

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i
Andrea Golin – Licenciada em Educação Física (Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC) e
Pedagogia (Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC). Mestre em Ergonomia (UFSC),
pesquisadora em Biomecânica e Medicina da Dança (FMUSP). andreagolin23@gmail.com
ii
Andreja P. Picon – Professora de Ballet Clássico registrada da Royal Academy of Dance. Mestre em
Biodinâmica do Movimento Humano (Escola de Educação Física da USP) e Doutora em Ciências
(Faculdade de Medicina da USP). Pesquisadora em Biomecânica e Medicina da Dança.
andbio@usp.br

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