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AULA 17 – URBANISMO I – A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E OS

EFEITOS SOBRE A OCUPAÇAO TERRITORIAL NO XIX

Século XIX
Introdução:
A palavra “urbanismo”só aparece a partir do século XIX, sendo acunhada por I. Cerdá
em 1867: “Hé aquí las razones…á adoptar la palabra urbanizacion, no solo para indicar
cualquier acto que tienda á agrupar la edificación y a regularizar su funcionamiento en
el grupo ya formado, sino también el conjunto
deprincipios, doctrinas y reglas que deben aplicarse” Ildefonso Cerdà y el nacimiento
de la urbanística
O surgimento do urbanismo foi a partir dos grandes problemas que apareceram a partir
da concentração espacial do capital, agilizado com os efeitos da revolução industrial. Os
postos de trabalho, ao lado das crescentes indústrias e fábricas, trazem consigo uma
rápida ocupação do território, perto dos núcleos das cidades. A ocupação foi feita, na
primeira metade do século XIX particularmente na Europa, de forma improvisada e
desordenada, fazendo surgir zonas ocupadas com superlotação: a imagem de uma “noite
apavorante”, em palavras de Peter Hall.

Dentro destas condições de falta de higiene e superlotação, epidemias de espalhavam


rapidamente.

Ao mesmo tempo condições econômicas e crescimento rápido da população, vão


propiciar diferentes efeitos sobre as cidades, segundo L Benevolo:

1. Crescente oferta de mão de obra;

2. Baixa de juros;

3. Presença de enormes capitais nas cidades, distribuição desigual de lucros;

4. Estado não impõe restrições dirigidas à atividade econômica (seguindo a teoria

econômica de Adam Smith);

5. As estruturas sociais tradicionais são obstáculo da nova ordem, os privilégios

políticos de ordem feudal e a ordenação corporativa da economia geram a luta

entre nobres e burgueses;

6. Avanços na técnica facilitam a produção em série (principalmente máquinas a

vapor) que junto com condições econômicas geram uma revolução industrial,

facilitando a concentração do capital em poucas mãos e em certos pontos

espacialmente.
7. Nasce o mercado imobiliário, no qual o “edifício estável”, segundo o

entendimento tradicional, é mudado por uma visão do valor do lote,

dinamizando o mercado.
Na segunda metade do século XIX aparecem diferentes movimentos e operações em
diferentes cidades, representando as primeiras tentativas de planejar o território –
seguindo a recente noção da nova disciplina do Urbanismo- para evitar o grande
desastre dos primeiros efeitos da Revolução Industrial.

Alguns exemplos são as intervenções de Haussmann em Paris, ou a proposta para a


expansão (“eixample”, em catalão) de I. Cerdá para Barcelona.

As intervenções de Haussmann em Paris

o Em Paris do século XIX, epidemias tinham elevado a mortalidade até

50% dos habitantes, e o normal seria 25%, reforçando assim ideias

higienistas em pro de ter mais luz e ar.

o Ciente dos poderes germicidas da exposição solar, e o favorecimento para

evitar contágios de doenças com uma boa reação, surge a noção do “traço

higiênico” urbanístico, no qual procuram-se criar ruas e avenidas mais

amplas, que facilitam a circulação de ventos e entrada do sol.

o Londres já tinha experimentado com este tipo de urbanismo, e Napoleão

III visita Londres na metade do século XIX, ficando impressionado com o

novo e moderno traço “Higienista” dos quarteirões.

o Um atentado de assassinato contra Napoleão III, no momento que se

deslocava até a sede da ópera, vai por outro lado, demonstrar como as

estreitas ruas de Paris não facilitavam o deslocamento rápido do exercito.

o Sendo assim e sob este duplo objetivo (militar e de habilidade), colocando

ao barão Haussamann como prefeito de Paris, Georges-Eugène


Haussmann, quem vai iniciar uma sequência de “operações cirúrgicas”

sobre o traçado existente da cidade.

o As obras seguiam um processo, primeiro de desapropriação de grande

número de imóveis, para posteriormente demoli-los, e construí-los sob a

noção do traçado higienista.

Paris antes dos trabalhos de Haussamann.

Mapa de Paris. Indicadas em preto, as diferentes intervenções de Haussamann.

Mapa do projeto do traçado urbano de Paris


Opera Garnier.

Plano de intervenção para o traçado da Avenida de Opera. A rua devia de estar


desprovida de árvores para não atrapalhar o visual sobre a famosa fachada de Opera
Garnier, no final da Avenida.

o Também, e sob influência dos preceitos da École de Beaux-Arts , utiliza diversos

recursos como:
a) O “culto ao eixo”. Os traços das avenidas estão dirigidos para criar arremates visuais
com diferentes edifícios ou monumentos da cidade.

b) Altura e estilo dos edifícios estavam regulamentados para criar uma imagem
harmoniosa.

c) Abertura de perspectivas profundas, diferente da imagem da cidade tradicional


medieval.

Ao longo do tempo, as operações de intervenção viraram um grande sucesso


imobiliário, multiplicando-se rapidamente. Normalmente, estas faziam aumentar os
preços dos imóveis em 60% nas áreas de intervenção, renovando também infra-
estruturas com novas linhas de saneamento.
Plaçe de l’Étoile, derivada das intervenções do Haussmann, os eixos das avenidas convergem no Arc
de Triomphe.

A expansão de Barcelona, de I. Cerdá(1859)

o O Eixample de Barcelona encontra-se incluído dentro dos projetos de

transformação da cidade medieval como Paris, Viena, Madri, adaptando-se às

exigências industriais. Desde metade do século XIX, Barcelona vira um

importante pólo de indústria têxtil, crescendo rapidamente. Segundo L.

Benevolo, Barcelona chega a ter a maior densidade urbana da Europa, com 864

hab/ hectare, crescendo rapidamente:


– 1772 – 13% dos edifícios são de 4 pavimentos

– 1790 – 73% dos edifícios são de 4 pavimentos

o Problemas de superlotação e espalhamento rápido de doenças criam consciência

do problema urbanístico: a muralha medieval devia ser demolida para poder

expandir a cidade.

o No concurso convocado na metade do século XIX vai apresentar-se a proposta

de Idelfons Cerdá.

o Em 1959, são derrubadas as muralhas medievais.

o A proposta do Plan Cerdá consistiu de uma quadrícula de amplas avenidas e

ruas, a partir de 20 m de largura, formando quarteirões de 133 x 133 metros,

sendo chanfrados para “facilitar o raio de giro do transporte rodado”.


o Dentro da proposta, as funções a diferentes atividades da cidade estavam

coordenadas, sendo traçadas algumas avenidas em diagonal, fora da retícula, para

facilitar os deslocamentos para pontos chaves do mapa, como podia ser um

marcado ou um hospital (exemplo, o Mercat de Sant Antoni e o Hospital de Sant

Pau).

Plan Cerdá. A parte em preto do mapa indica a antiga cidade medieval. A parte em laranja
corresponde com a expansão proposta por Cerdá, uma retícula de ruas entrecruzadas por avenidas
em diagonal.

o Os quarteirões estavam previstos para serem ocupados, originalmente, apenas

por dois ou três dos seus lados, deixando livre uma grande e interessante área

interna semi-publica. A ocupação podia ser feita de forma diferente, criando uma

geometria.

O plano de Barcelona em 1864.


o Malha quadriculada – rompe com o sistema tradicional da construção contínua

na periferia das quadras, é no interior destas, de modo ordenado pelas vias, se

vão dispor os edifícios.

Evolução dos quarteirões posterior ao Plan Cerda, desvirtuando a proposta original.

o Na evolução posterior, os quarteirões começaram a ser ocupados de formas mais

intensa, desvirtuando a previsão original de Cerdá.

Foto aérea atual do Eixample.

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