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Direito Processual Civil - Teóricas

Semana 11 – 29.04 a 03.05


Proteção do requerido
Como sabemos, na ação declarativa, é princípio fundamental do processo civil o princípio do contraditório
(art. 3º nº1 2ª parte CPC). Na verdade, podemos dizer que é regra, sem exceção, que nenhuma decisão
consolidada antes que seja dada a possibilidade de contraditório, o que não que dize que uma decisão não
possa se proferida, a título provisório, antes desta possibilidade de contraditório ser dada.
Na ação declarativa comum tal não era possível, mas é possível nas providências cautelares. Embora, no
modelo regra da providência cautelar, ela só seja decretada depois do contraditório requerido, nalguns casos é
possível pedir-se ao tribunal ou então tal decorre diretamente da lei que a providência cautelar seja decretada
depois do contraditório requerido, nalguns casos é possível pedir-se ao tribunal ou então tal decorre
diretamente da lei que a providência cautelar seja decretada antes da audição do requerido.
Assim, o princípio do contraditório que vale para as providências cautelares nos termos art. 366º nº1 CPC tem
aqui esta declinação particular, tem sempre ser respeitado, embora nem sempre antes do decretamento da
providência, isto é, pode haver providências decretadas sem a audição da parte contrário, embora ainda não
estejam estabilizadas.
Qual será a razão de ser desta possibilidade? O contraditório pode ser diferido para o futuro quando a citação
do requerido, no momento tempestivo previsto na lei, pudesse colocar em causa o fim da providência, há um
receio de que o requerido, advertido, tomando conhecimento do pedido de uma providência cautelar venha a
praticar atos que obstem ao seu efeito prático (art. 366º nº1 CPC).
Quando seja decretada uma providência cautelar, sem audição prévia, o requerido só será notificado da
decisão após a realização da medida cautelar (art. 366º nº6 CPC).
No caso de algumas providências cautelares especificadas é a própria lei que prevê que não haja audição
prévia do requerido. É o caso da restituição provisória da posse (art. 377º CPC e art. 1279º CC), providência
que pressupõe que tenha havido esbulho em que, portanto, a restituição é ordenada sem audição prévia do
esbulhador (art. 378º CPC) e do arresto em que também os bens do requerido são apreendidos para se evitar
que sejam sonegados ou ocultados (art. 393º nº1 CPC).
Nestas hipóteses, seja porque o requerente o pediu, seja por a própria lei determinar que não haja audiência
prévia, pode a providência cautelar ser decretada antes da audiência do requerido.
Contudo, como o contraditório é princípio fundamental do Direito Civil terá a possibilidade de reagir após o
decretamento da providência cautelar.
Quais são os meios de reação? Se pretender produzir novos meios de prova com vista a modificar a convicção
do tribunal, pode deduzir oposição ao requerimento inicialmente apresentado pelo requerente (art. 372º nº1 b)
CPC), neste caso, o juiz decidirá da manutenção, modificação ou revogação da providência inicialmente
decretada (art. 372º nº3 CPC)
Se não pretender produzir novos meios de prova, poderá limitar-se a recorrer para o tribunal superior da
decisão que a tenha decretado (art. 372º nº1 a) e art. 644º nº1 a) CPC).
Há outros aspetos do regime da lei destinados à proteção do requerido. A lei tem, naturalmente, em especial
conta, a proteção do requerido, uma vez que, a título de regra, não é razoável que alguém tenha de arcar com
os efeitos de uma decisão proferida no contexto de uma tramitação processual, na qual não pode exercer a
plenitude dos seus direitos processuais. Por essa razão, para compensar a posição de debilidade do requerido,
a lei prevê algumas disposições protegidas.
Diferentes causas de caducidade das medidas cautelares

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1. Caso a providência venha a ser considerada injustificada ou a caducar por facto imputável ao
requerente, responde perante o requerido (art. 374º nº1 CPC);
2. Pode o juiz determinar a prestação de caução pelo requerente (art. 374º nº2 CPC);
3. Pode o requerido, por seu lado, pedir a substituição de providência por caução (art. 368º nº3 CPC);
4. Recusada a providência cautelar ou tendo ela caducado, não pode o requerente repetir o pedido de
providência cautelar com base no mesmo fundamento (art. 362º nº4 CPC), no fundo, é uma norma
paralela ao efeito negativo do caso julgado;
Nota: Em que consiste uma caução? A caução está regulada, em geral, no código civil, nomeadamente, nos
Em que consiste uma caução? A caução está regulada, em geral, no Código Civil, nomeadamente nos art.
623º CC a art. 626º CC. A caução é uma qualquer garantia que possa acautelar uma eventual responsabilidade
de quem a preste. É um termo genérico para qualquer tipo de garantia que consiga caucionar uma
responsabilidade, depois terá de ser vista se a garantia é ou não idónea.
Efeitos do decretamento das providências cautelares
As providências cautelares podem ter força executiva (art. 703º nº1 a) CPC e art. 705º nº1 CPC). Nalguns
casos, elas próprias são executivas, é o caso do arresto (art. 392º CC e art. 619º CPC). Ter força executiva
significa que, se não for respeitado pelo requerido, o requerente pode pedir a execução forçada, mas pede num
segundo momento. Ter força executiva, significa que a providência cautelar consiste ela própria na adoção de
medidas coercivas, não é necessário nenhum ato complementar.
A providência cautelar goza, ainda, de dois elementos complementares que permitem o reforço da sua tutela:

 Incorrem em crime de desobediência aquele que desobedece a uma providência cautelar (art. 375º CPC e
348º CP – este crime não se aplica para o desrespeito à sentença);
 Para reforçar a probabilidade de cumprimento de providência cautelar, pode decretar-se uma sanção
pecuniária compulsória (art. 829º-A CC e art. 365º nº2 CPC);
Cabe apenas recurso para o Tribunal da Relação (art. 370º CPC), sendo que, apenas é admitido recurso para o
STJ nos casos do art. 629º CPC.
Inversão do Contencioso
No princípio desta matéria, nós vimos que as providências cautelares são dependentes, mas autónomas da
ação principal. Portanto, em princípio, o que se decide na providência cautelar não se repercute na ação
principal. Contudo, a lei permite que, em determinadas circunstâncias, sem se colocar em causa esses
princípios base que começamos por estudar, a decisão da providência cautelar possa valer como decisão
definitiva da causa, sem necessidade de uma ação principal. A esta possibilidade designamos por inversão do
contencioso (art. 369º CPC).
Em que consiste a inversão do contencioso? Consiste em o requerente pedir ao tribunal que o dispense de
propor uma ação principal e, aí, sendo determinada a inversão, quem passa a ter o ónus de propor a ação
principal é o requerido.
Se ele propuser a ação principal, ela será tramitada nos termos comuns, se ele não propuser a providência
cautelar passa a valer como composição definitiva do litígio.
Assim, no regime regra, quem tem o ónus de propor a ação principal é o requerente já que a providência
cautelar caduca se ele não propuser a ação principal. Já na inversão do contencioso, inverte-se este ónus.
Quais são os pressupostos da inversão do contencioso?
1. Deve ser requerida (art. 369º nº1 CPC) – o requerimento pode ser feito até ao fim da audiência final
(art. 369º nº2 CPC);

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2. Para ser decretada, o juiz deve ter formado a convicção segura da existência do direito exercido pelo
requerendo (art. 369º nº1 CPC).
Nos casos de procedimento, sem contraditório prévio, o requerido pode opor-se à inversão do
contencioso em conjunto com a oposição à providência cautelar decretada (art. 369º nº2 CPC), logo, a
inversão do contencioso tem um pressuposto de decretamento diferente da providência cautelar, para a
inversão não basta o fumus boni uno (a aparência), tem de haver mesmo a convicção.
3. Tem de ser uma providência tal, apta a realizar a composição definitiva do litígio (art. 369º nº1 CPC);

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