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PROPÓSITO
Compreender que o conhecimento de facetas diversas do campo da Psicologia e de seus desenvolvimentos
ao longo do século XX e XXI instrumentaliza profissionais a multiplicar suas capacidades e abordagens.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer os movimentos históricos que contribuíram para a organização da Psicologia como ciência
MÓDULO 2
Identificar os movimentos da Psicologia do século XX
MÓDULO 3
MÓDULO 4
INTRODUÇÃO
Estudar a história de uma ciência, de uma área do conhecimento humano, permite-nos compreender o
propósito, a utilidade desse conhecimento em nossas vidas, em nossa prática profissional e em como
exercemos nossa profissão.
A Psicologia como uma profissão é restrita ao psicólogo e à psicóloga, devidamente inscritos em um conselho
regional de Psicologia. No entanto, a Psicologia como ciência embasa o trabalho de psicólogos, pedagogos,
professores, gestores e de qualquer outro profissional que necessite compreender o ser humano para manejar
comportamento e cognição dentro de sua prerrogativa profissional.
Algumas práticas da Psicologia são, portanto, restritas aos seus profissionais, mas o uso do conhecimento,
em interseção com outras profissões, após uma formação de nível superior, para atuar na pedagogia, na
docência, na gestão de pessoas, no desenvolvimento de soluções e produtos para as pessoas é possível e
desejável. Essa é nossa proposta para você. Vamos nessa?
MÓDULO 1
PERSPECTIVA E ZEITGEIST
TODO PONTO DE VISTA É A VISTA DE UM PONTO. LER
SIGNIFICA RELER E COMPREENDER, INTERPRETAR. CADA UM
LÊ COM OS OLHOS QUE TEM. E INTERPRETA A PARTIR DE
ONDE OS PÉS PISAM. TODO PONTO DE VISTA É UM PONTO.
PARA ENTENDER COMO ALGUÉM LÊ, É NECESSÁRIO SABER
COMO SÃO SEUS OLHOS E QUAL É SUA VISÃO DE MUNDO.
ISSO FAZ DA LEITURA SEMPRE UMA RELEITURA.
A CABEÇA PENSA A PARTIR DE ONDE OS PÉS PISAM.
PARA COMPREENDER, É ESSENCIAL CONHECER O LUGAR
SOCIAL DE QUEM OLHA. VALE DIZER: COMO ALGUÉM VIVE,
COM QUEM CONVIVE, QUE EXPERIÊNCIAS TEM, EM QUE
TRABALHA, QUE DESEJOS ALIMENTA, COMO ASSUME OS
DRAMAS DA VIDA E DA MORTE E QUE ESPERANÇAS O
ANIMAM. ISSO FAZ DA COMPREENSÃO SEMPRE UMA
INTERPRETAÇÃO.
(BOFF, 1999)
Sem a pretensão de analisar a complexidade revelada nessas poucas linhas do texto de Leonardo Boff, uma
palavra atende ao nosso propósito inicial: Perspectiva. Em perspectiva, estudamos Psicologia, em
perspectiva, usamos do conhecimento da Psicologia. Fundamentalmente, em perspectiva, buscamos
compreender a complexidade dos fenômenos humanos, as pessoas e, também, os eventos históricos da
Psicologia.
ATENÇÃO
Não conseguimos estudar Psicologia desconsiderando o Zeitgeist. Uma ciência não se desenvolve no vácuo,
ela usa a tecnologia disponível de sua época e tenta dar respostas às perguntas que são feitas. Essas
perguntas (as indagações dos filósofos e dos cientistas) consideram o acúmulo de conhecimento até aquele
ponto da história.
ZEITGEIST
O espírito de uma época. As necessidades de uma época. O clima intelectual e cultural de uma época.
A tecnologia está mais avançada no século XXI. Podemos dizer que, atualmente, os filósofos e os cientistas
podem fazer perguntas mais complexas, pois detêm mais conhecimentos do que os filósofos e cientistas de
meados do século XIX, quando surgiu a Psicologia Científica. Uma frase atribuída a Sir Isaac Newton (1643-
1727), cientista do século XVII e cavaleiro da Coroa Real Inglesa, traduz bem essa ideia:
Fonte: Nicku/Shutterstock
Não é recomendado julgar e/ou refutar um dado histórico se você estiver pensando com a cabeça do século
XXI, a partir de suas ideias preconcebidas e do que você acha certo ou errado, ou seja, do seu sistema de
crenças, de sua perspectiva, eventualmente, nutrida pelo senso comum, pelo conhecimento popular que não
tenha sido testado e analisado pelo método da Filosofia ou da ciência.
Em ciência, não achamos, não deduzimos, sem antes observar, experimentar, demonstrar evidências. Em
ciência, não existe o óbvio. Tudo precisa ser investigado e evidenciado.
Com essa postura, você absorverá melhor o conteúdo, compreenderá melhor a nossa história, e, assim,
perceberá o propósito e a utilidade daquele conhecimento para não cometer os mesmos erros dos nossos
antepassados, para prospectar o futuro, ou compreender como chegamos até o nosso momento histórico do
século XXI.
Em ciência, algumas vezes, para acertar é necessário errar. É a partir dos erros que alguns pesquisadores
ficam inquietos, buscam evidências válidas e fidedignas para refutar o erro e alcançar evidências de maior
qualidade. Os erros são tão relevantes quanto os acertos.
Pode parecer estranho, mas os primeiros indivíduos a tentar entender como funcionava a mente humana
partiram do método de dissecação de corpos e do exame do cérebro, buscando compreender sua estrutura e
a relação entre suas partes e as funções que desempenhava. Vamos conhecer um pouco mais sobre os
caminhos dos estudiosos da mente.
SAIBA MAIS
Nos dias atuais, afirmamos que a Frenologia é uma pseudociência, mas, em 1796, o alemão Franz Joseph
Gall (1758-1828) exerceu influência na Psicologia e na psiquiatria com essa teoria. Com a Frenologia, Gall
acreditava ser possível estudar as aptidões mentais analisando o tamanho e o formato do crânio. Por muitos
anos, o tamanho e o formato do crânio de Gall e de outros estudiosos da Frenologia foram considerados, por
eles mesmos, o padrão de excelência e um exemplo do melhor da espécie humana.
Atualmente, essa ideia é um absurdo. No entanto, não podemos achar que esse conhecimento seja inútil,
pois, em ciência, não chegamos a conclusões simplesmente por pensarmos que algo é obviamente verdadeiro
ou falso. Precisamos buscar evidências. Isso quer dizer que só foi possível descartar essa teoria, porque esta
foi posta à prova. Entretanto, as ideias de Gall de que algumas características são específicas de certas áreas
do cérebro se sustentaram em momentos posteriores. Em ciência, aproveitamos o que é útil, como uma
evidência consistente, e descartamos o resto, mas sem esquecer esse resto, pois, assim, evitamos cometer
os mesmos erros no futuro (ao menos isso é o desejável).
A Psicologia é recheada de exemplos de acertos e erros. Os erros nem sempre são oriundos de
pseudociências, mas podem ser também resultado do método científico levado a sério, ético e rigoroso (errar
faz parte – perceba, com humor, que “herrar é umano” –, mas permanecer nesse “herro” é obscurantismo).
Entendemos como pseudociência algo que se diz ciência, mas que não é. Até nos dias atuais, precisamos
ficar atentos e ser críticos. Podemos encontrar informações que se dizem embasadas no método científico,
mas são pseudociências. Devemos ter cuidado e não acreditar em tudo, só porque dizem que é ciência.
Nessa jornada fantástica, podemos perceber como algumas discussões são fundamentais e demonstrar que
teses e hipóteses foram testadas e não se sustentaram quando passaram pela prova, como ocorreu com a
Frenologia.
Assim, podemos afirmar, em pleno século XXI, com evidências científicas robustas, que somos seres únicos,
ninguém é melhor do que ninguém, existe um lugar no mundo para os extrovertidos e para os introvertidos.
Não existe raça superior, o melhor tratamento para o doente mental não é ser descartado em um hospício e a
orientação sexual de uma pessoa só importa a ela mesma. A Psicologia Científica é autônoma e não se
confunde com dogma religioso. Portanto, as discussões polêmicas que as civilizações se propuseram a
debater, como a questão da raça, foram submetidas a contestações científicas e amplos estudos e evidências
científicas demonstraram sua ineficácia de partida. Por exemplo: a Eugenia como uma hipótese não se
sustenta para os seres humanos, pois apresenta sérios conflitos éticos. A homossexualidade não é uma
doença para ser tratada. Na escola, não devemos separar as crianças por dificuldades de aprendizado e/ou
outras condições como surdez, autismo etc. Entre outras discussões delicadas, só com reflexões e críticas
amparadas pela ciência prosseguimos absorvendo as transformações pelas demandas sociais e atuando de
forma a promover bem-estar e qualidade de vida.
A seguir assista a um vídeo sobre o tema Caminhos e descaminhos da psicologia.
Dessas discussões e pesquisas ao longo da nossa história, surgem os argumentos para projetos
individualizados para educação, mas sem desconsiderarmos a inclusão, e promovendo uma educação para o
convívio com as diferenças. Por exemplo: os doentes mentais, em certas circunstâncias, ficarão internados,
mas as comunidades terapêuticas são uma solução viável, em vez de internações de longa permanência.
Várias estratégias vêm sendo desenvolvidas a partir de erros e acertos, para promovermos tolerância,
compaixão, autocompaixão, saúde, e bem-estar físico e emocional. Buscamos os acertos e as evidências
científicas, bem como caminhos mais éticos, humanizados, integradores.
Mas, para acharmos a ética, em algum momento da história, foi necessário perdê-la. Para achar nossa
humanidade, em algum momento da história, foi necessário nos depararmos com práticas desumanas. Para
chegarmos às estratégias e ao manejo que promovem inclusão, foi necessário que vivenciássemos as
consequências econômicas, sociais, éticas e políticas das práticas segregacionistas. Infelizmente, não
aprendemos com todos os erros e, em parte de nossa civilização e de nossa sociedade, ainda encontraremos
mazelas, mas estamos em tempos melhores como humanidade do que já estivemos em outras épocas.
A história da Psicologia como ciência demonstra como essa área tem sido importante:
Para o estabelecimento de tratamentos mais humanizados na saúde mental, bem como de práticas para a
promoção de saúde, negócios e neuromarketing.
Para psicoterapia, para avaliação psicológica, neuroPsicologia, entre outras possibilidades de atuação do
psicólogo e da psicóloga.
Os eventos históricos são fundamentais para evitar equívocos e não repetir algumas práticas que trouxeram
mais confusão do que solução. Analisar a história, compreender nosso passado, ajuda-nos a imaginar o futuro
e a direcionar melhor nossos esforços. Essa história é nossa. Ela é sua. É da nossa civilização, para o bem ou
para o mal.
A Psicologia como ciência e profissão, no Brasil do século XXI, tem sido posicionada de modo a evitar os
erros da história, buscando o caminho do bem, promovendo os direitos universais humanos, a inclusão, a
tolerância, a ciência, mas sabendo que: todo ponto de vista é a vista de um ponto (BOFF, 1999).
A Psicologia, como ciência, foi influenciada por inúmeros pensadores, cientistas, movimentos e áreas.
Citamos alguns:
INFLUÊNCIAS DA FILOSOFIA
Até certo ponto, a história da tradição filosófica é a história da Psicologia. Isso inclui o período da Grécia
Antiga com os mitos gregos, a exigência racional com Tales de Mileto, Pitágoras, Heráclito e Parmênides,
Sócrates, os Sofistas, Platão, Aristóteles.
A Filosofia aborda o objeto que deseja conhecer por intermédio da razão, da argumentação (indutiva e
dedutiva), da lógica, da retórica. Esses métodos são necessários para questionar o que é o conhecimento, os
tipos de conhecimento, o que é verdadeiro nesse conhecimento. A Filosofia também se ocupa das falácias do
conhecimento, ou seja, dos erros da argumentação filosófica, mas que convencem e enganam. Uma falácia
do conhecimento sempre vem disfarçada de boas intenções e, eventualmente, confirma ideias do senso
comum, confirma os desejos e as opiniões de algumas pessoas, e por isso convence os mais ingênuos.
O papel da Filosofia, de apontar as falácias do conhecimento, é fundamental para nossa civilização, para os
psicólogos, para os educadores (ensinantes), para os gestores, para o cidadão. As falácias do conhecimento
estão em nosso passado, mas também no presente. O pensamento filosófico é uma vacina poderosa contra o
obscurantismo e contra tais falácias, pois desenvolve o pensamento crítico.
INFLUÊNCIA DE MOVIMENTOS E ESTUDOS
Mecanicismo, a doutrina filosófica do século XVII, pela qual todos os fenômenos se explicam pela
causalidade; pela discussão dos Racionalistas (tese) e dos Empiristas (antítese) e pela síntese do filósofo
Immanuel Kant, no século XVIII.
René Descartes (1596-1650). A publicação relevante para nossa discussão é de 1637: Discurso sobre o
método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência.
EMPIRISMO
Há vários representantes no movimento conhecido como Empirismo inglês. Destaque para a “mente
como uma tabula rasa”, na publicação Ensaio Sobre o Entendimento Humano, do filósofo John Locke
(1632-1704).
Desde o início da Idade Moderna até a época do Iluminismo, os filósofos especularam sobre o funcionamento
da mente humana, com o intuito de determinar por meio de quais processos o conhecimento é produzido. A
ideia de que a faculdade da razão era o que possibilitava o saber não era exatamente nova: já na Grécia
Antiga e durante a Idade Média atribuía-se à razão essa função. No entanto, a compreensão de seu
funcionamento ainda representava um desafio. John Locke concebeu a mente como uma espécie de folha em
branco, ou tabula rasa, onde a experiência sensorial deixava suas impressões, assumindo, assim, que não
havia pressupostos preestabelecidos, tanto para o pensar quanto para o agir.
Outros pensadores, como René Descartes e Gottfried Leibniz (1646-1716), posicionavam-se de maneira
diferente em relação à questão, pois, para eles, havia funções da consciência humana que não poderiam ser
resultado da mera experiência sensorial, como as categorias do pensamento, o mecanismo das inferências
lógicas, a noção de causalidade e o sentido do propósito.
INFLUÊNCIA DA PSICOFÍSICA
A Psicofísica demarca uma mudança de abordagem. Eventualmente, você pode ler que a Psicologia, em sua
fundação, rompe com a Filosofia, mas essa afirmação está equivocada.
PSICOFÍSICA
Psicofísica é a relação entre um estímulo em seu aspecto físico e a resposta consciente do sujeito.
Toda ciência precisa de uma base filosófica consistente para operar: a isso chamamos de bases
epistemológicas.
EPISTEMOLOGIA
A inovação dos psicofísicos é empregar o método experimental para estudar uma Psicologia Sensorial, uma
Fisiologia experimental, não romper com o pensamento filosófico, buscando evidências empíricas por meio do
método experimental e de resultados reprodutíveis. É fundamental conseguir dados constantes, não apenas
as especulações, induções e deduções filosóficas.
SENSAÇÕES
Tecnicamente, na Psicologia Científica, as sensações são os nossos sentidos: visão, audição, olfação,
paladar, tato, propriocepção. Isso se difere da percepção. Enquanto as sensações são descritas
puramente em termos fisiológicos e por uma linguagem neural (sinapses), as percepções são descritas
como uma função psicológica.
SAIBA MAIS
Para compreender o plano de fundo e o Zeitgeist do século XIX, é preciso considerar que os métodos das
ciências naturais estavam em alta, e a Psicologia precisava seguir esse caminho. A Fisiologia foi uma
resposta possível. O espírito metódico e rigoroso dos pensadores alemães construiu o ambiente propício para
o desenvolvimento de uma Fisiologia experimental. Aparelhos tecnológicos estavam sendo desenvolvidos.
Além disso, a influência do Empirismo inglês, que preconizava a necessidade de se estudar os sentidos e
como estes podem levar ao erro, foi fundamental em um contexto social em que havia urgência de se fazer
ciência, devido à predominância do espírito positivista, que defendia o método experimental. Nesse contexto,
o conhecimento científico era considerado a via mais segura para se construir um conhecimento verdadeiro.
ORIGENS E CIENTISTAS
No século XX, a medida em Psicologia, ou seja, a mensuração de construtos psicológicos, era, basicamente,
de natureza cognitiva, por intermédio de testes psicológicos das diferenças individuais.
Isso quer dizer compreender as particularidades de uma pessoa, por exemplo, mensurando o nível de
inteligência ou investigando os traços de sua personalidade e correlacionando a dificuldades escolares ou ao
desempenho em determinada área no mercado de trabalho.
Na Psicologia, considerando a segunda metade do século XIX, as primeiras medidas não eram de natureza
psicológica, mas Psicofísicas – uma Psicologia Sensorial. Essa influência da Fisiologia, por meio das primeiras
medidas Psicofísicas, buscava as regularidades e os padrões da nossa Fisiologia, ou seja, o geral, não o
particular ou as singularidades.
SINGULARIDADES
O que não é padrão, o que se tem de resultado ímpar em uma movimentação que tende a ser
recorrente.
Ficou registrado na história como o responsável pelo marco fundante da Psicologia Científica. Foi esse
pesquisador que, em 1879, delimitou em seu laboratório, fundado na Universidade de Leipzig, na Alemanha, o
Psychologische Institut (Instituto Psicológico).
https://commons.wikimedia.org/
Wilhelm M. Wundt
Outros psicofísicos precederam o primeiro laboratório de Psicologia e trabalharam juntos (ou separados) a
Wundt. Lembre-se de que uma ciência não se desenvolve no vácuo, mas em um continuum de acúmulo
de conhecimento e tecnologia. Os psicofísicos estavam abrindo as portas para uma Psicologia Científica, e
Wundt era um deles. Eles concordavam entre si e/ou se criticavam. Acertaram e erraram. Mas sempre
persistiram.
Desenvolveu estudos para discriminar a distância tátil perceptível entre dois pontos (limiar de dois pontos), ou
seja, a relação de uma estimulação física (sensação) e uma percepção (mental).
https://commons.wikimedia.org/
Wilhelm M. Wundt
Fechner disputa com Wundt o título de pioneiro da Psicologia Experimental e da própria Psicologia, embora
suas primeiras contribuições para as ciências tenham se desenvolvido nos campos da matemática e da física.
Posteriormente, devido a uma crise pessoal e influenciado pelo filósofo alemão Friedrich Schelling (1775-
1854), passou a interessar-se por questões psicológicas e religiosas.
https://commons.wikimedia.org/
Gustav Theodor Fechner
De acordo com sua concepção de Paralelismo Psicofísico, as realidades física e psíquica não estariam em
oposição, mas constituiriam aspectos de uma mesma realidade essencial. Fechner demonstrou que o mundo
mental e o mundo material estão relacionados quantitativamente; e que se pode medi-los.
Foi pioneiro em medir a velocidade do impulso nervoso, de uma estimulação sensorial tátil até a resposta, ou
seja, o movimento motor resultante. Para a Psicologia, isso foi importante na ideia de que o pensamento e o
movimento se seguem um ao outro, e o intervalo entre um pensamento e um movimento resultante poderia
ser medido.
https://commons.wikimedia.org/
Hermann von Helmholtz
Esses estudos, inovadores na época, foram gradualmente encorajando Wundt a conseguir os recursos e o
espaço necessários para fundar um Instituto de Psicologia na Universidade de Leipzig. Antes desses estudos,
a mente humana era abordada apenas pelos argumentos filosóficos, fundamentais, mas incapazes de
demonstrar como a mente funciona e/ou se estrutura em aspectos fisiológicos.
https://en.wikipedia.org/
Wilhelm Wundt (sentado) com colegas em seu laboratório psicológico, o primeiro desse tipo.
Alguns pesquisadores seguiram Wundt, mas outros o contestaram, desenvolvendo uma Psicologia não
wundtiana:
Franz Brentano (1838-1917) fez uma distinção entre o conteúdo mental e a atividade mental.
Muitos cientistas somaram esforços para delimitar esse campo de estudo no século XIX e essa nova
Psicologia resultou em duas escolas: o Estruturalismo e o Funcionalismo.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) Usar o método filosófico para evitar as falácias do conhecimento e o método científico para coletar
evidências.
C) Usar o método filosófico para, por meio da razão, desenvolvermos o conhecimento científico.
D) Todo ponto de vista é a vista de um ponto. O método científico nem sempre trará um resultado para a
Psicologia, como uma ciência e uma profissão, por causa dos erros e das pseudociências.
A) Afirmativa correta. A Psicologia deixa de ser estudada pela Filosofia e passa a ser investigada pelo método
científico.
C) Afirmativa errada. A Psicologia Científica, como a conhecemos, foi fundada no século XX por Titchener nos
Estados Unidos da América.
D) Afirmativa errada. A Psicologia Científica amplia a abordagem dos fenômenos psicológicos pelo método
experimental, mas não rompe com a Filosofia.
GABARITO
1. Estudamos eventos históricos que estão no alicerce da Psicologia como uma ciência e uma
profissão. Quais cuidados devemos ter, para estudar determinado conteúdo da nossa história, para
torná-lo útil e significativo no tempo presente:
Ao ler sobre esses eventos e essas ideias, é natural interpretá-los a partir de determinado ponto de vista e,
eventualmente, compará-los ao tempo presente e ao meu sistema de crenças que vai julgar o certo e o
errado, tipicamente, pelas ideias do senso comum. Mas, em ciência, usamos o método filosófico para delimitar
as bases epistemológicas e o método científico para colher as evidências.
2. A Psicologia Científica é do século XIX e rompe com a Filosofia para delimitar-se como uma ciência.
Evento que é um marco de 1879 com Wundt fundando o primeiro laboratório de Psicologia
Experimental. Analise essa afirmação e responda:
MÓDULO 2
ESTRUTURALISMO
Na transição do século XIX para o início do século XX, a Psicologia alcançou visibilidade nas universidades
dos Estados Unidos e da Europa, notadamente na Alemanha, e o ritmo de seu desenvolvimento foi marcado
pelos movimentos do Estruturalismo e do Funcionalismo.
Fonte: https://pt.wikipedia.org
Edward B. Titchener
Em 1896, nos Estados Unidos, o britânico Edward B. Titchener (1867-1927), discípulo de Wundt, divulgou
um projeto diferente do de seu professor, em termos epistemológicos.
Titchener e seus colaboradores identificaram mais de 40 mil qualidades e sensações, e afirmavam que cada
elemento era consciente e poderia ser combinado para formar percepções e ideias. Esses elementos eram
determinados pela qualidade, intensidade, duração e nitidez.
Todos os processos conscientes e perceptuais poderiam ser reduzidos a esses elementos que, em última
análise, são os átomos do pensamento.
O reducionismo de chegar ao átomo do pensamento era uma exigência do Zeitgeist – aproximar a Psicologia
das ciências naturais e do espírito positivista.
Titchener treinou vários observadores a descrever o seu estado consciente em vez de descrever o estímulo,
por intermédio de uma introspecção experimental sistemática.
O pesquisador criticava que, até então, os instrumentos de medida da Fisiologia experimental aplicados à
Psicologia, como taquistoscópio e o cronoscópio, eram mais importantes do que o próprio observador. Por
isso, havia a urgência em treiná-los para empregar a introspecção.
Fonte: www.grahamfoundation.org
Edward B. Titchener, Um fantasma do curso das fibras no cérebro humano, 1895, Photographic Album on
Psychological Instruments, EUA.
Fonte: Nikita/Shutterstock
EXERCÍCIO
O que você vê? Uma maçã? Resposta errada. Um objeto vermelho? Resposta errada. Analise suas
sensações e descreva essa percepção, detalhando sua experiência consciente. A diferença entre luz e
sombra, de tons, intensidade, duração e nitidez dessa experiência consciente. Pois é, não é fácil compreender
a introspecção experimental sistemática.
FUNCIONALISMO
O norte-americano William James (1842-1910) publicou, em 1890, o texto Princípios da Psicologia, que se
transformou nas bases do Funcionalismo nos Estados Unidos no século XX. Ele foi um representante da
escola do pragmatismo e do Funcionalismo. James não estava interessado nos átomos do pensamento,
mas na experiência imediata que um objeto impunha à consciência, ou seja, um fenômeno. Suas principais
teorias são os estudos sobre a emoção, sua origem e função, com grande impacto para a Psicologia no século
XX.
Fonte: Autor/Shutterstock
Forte em Saint Tropez ao por do sol
James acreditava que uma alteração fisiológica no organismo levaria a uma emoção, ideia que foi corroborada
em um estudo independente pelo fisiologista Carl G. Lange (1834-1900), psicólogo dinamarquês.
Na perspectiva desses autores, não experimentamos uma emoção se não houver uma alteração fisiológica
no organismo. Assim, o corpo reagiria de modo diverso aos eventos ambientais causadores de emoções, e as
experiências emocionais nada mais seriam do que uma tentativa de dar sentido à alteração no organismo.
EXEMPLO
Se você escuta um barulho muito alto, como uma explosão, esse evento ambiental vai aumentar seu
batimento cardíaco, causar sudorese, respiração mais rápida e curta, e o resultante disso é sua percepção de
medo. Essa é a teoria James-Lange para explicar uma emoção.
Os funcionalistas sofreram influência da teoria da evolução das espécies e estavam mais interessados no
papel adaptativo da consciência, dos hábitos, da emoção, ou seja, em suas respectivas funções. Para os
funcionalistas, isso era mais válido e pragmático do que investigar o conteúdo da consciência em termos
estruturais.
PRAGMATISMO
A HISTÓRIA EM PERSPECTIVA
Fonte: https://pt.wahooart.com
A Marcha da Humanidade, por David Alfaro Siqueiros.
Nesse pequeno espaço, é difícil contar tudo o que acontecia na Europa e nos Estados Unidos, pois existiam
intercâmbios e influência mútua, mas é uma escolha didática destacar aquilo que era mais evidente nessas
localidades.
Igualmente difícil é narrar todas as influências, perspectivas e os acontecimentos que tiveram impacto na
formação da Psicologia como ciência entre 1879 e o fim do século XX, pois a proposta deste tema é dar uma
visão panorâmica.
(BOFF, 1999)
Antes de prosseguirmos, vamos analisar o que se desenvolveu ao longo do século XX, por influência da
Psicologia do século XIX.
UMA HISTÓRIA À PARTE
A Psicanálise é uma história à parte da Psicologia, mas que exerce grande influência nos psicólogos,
pedagogos, médicos psiquiatras, neurocientistas, entre outros interessados no estudo das funções
psicológicas humanas.
Erros de tradução colocam Sigmund S. Freud (1856-1939), em certos livros, como um teórico do instinto, mas
isso está equivocado. A palavra instinto não se aplica a Freud, pois ele não usou o termo Instinkt (instinto, em
alemão). Para os seres humanos, ele usou Trieb, traduzido como impulso ou pulsão.
Fonte: https://commons.wikimedia.orgk
Sigmund S. Freud
Freud também apresenta sua teoria sobre o desenvolvimento psicossexual (fase oral, anal, fálica, período de
latência, genital). Lembra-se de quando abordamos o tópico perspectiva e Zeitgeist? Nesse aspecto, do
desenvolvimento psicossexual, a Psicanálise é mal compreendida por leigos e pelo senso comum.
ATENÇÃO
De maneira geral, uma teoria do impulso, como compreensão do funcionamento humano, concentra-se em
explicar como o nosso comportamento mantém o organismo em equilíbrio. A experiência psicológica de um
desequilíbrio interno seria um impulso, ou seja, o “energizador” do comportamento.
As teorias do impulso explicam comportamentos e são focadas nas causas, em nosso funcionamento
interno, na Fisiologia e/ou na estrutura da nossa mente. Não é incomum compararmos a proposta libidinal
(Energia mental) de Freud com um sistema hidráulico. Imagine uma caixa de água sendo abastecida: se a
boia da caixa falhar, a água escorrerá por um mecanismo de escape para fora da casa, um meio simples de
segurança para sua casa não ser inundada pela água.
Vamos descrever com essa analogia o funcionamento da mente humana na perspectiva desse autor: à
medida que os impulsos corporais acumulam energia (por analogia, a água de nosso sistema hidráulico), a
experiência psicológica resultante é um aumento da ansiedade, um desconforto psíquico. Então, é preciso
proteger, por meio de um mecanismo de escape (como aquele presente na caixa-d’água), nossa saúde física
e mental (para evitar a inundação de nossa residência).
Freud descreverá minuciosamente esses mecanismos de defesa. Ele elenca três estruturas do aparato
psicológico humano que vivem em uma interação dinâmica e, digamos, medindo forças:
https://www.wikiart.org
https://www.wikiart.org
O Id, como uma estrutura psíquica inata, é regido pelo princípio do prazer e pela busca da satisfação imediata;
representa, por analogia, a pressão da água que chega à nossa caixa. Essa pressão é constante e buscamos
objetos que sejam capazes de satisfazer o desconforto psíquico. Como não podemos atender às pressões
mais primitivas em busca do prazer, devido à ação do Superego e dos mecanismos de defesa, eventualmente,
adoecemos, pois não podemos buscar os objetos que, de fato, desejamos. Esse adoecimento, muitas vezes,
não apresenta os motivos para consciência (para o ego).
A produção intelectual da Psicanálise, inicialmente, foi direcionada para a saúde mental e para o tratamento
clínico de enfermidades mentais. Uma inovação para a época. Durante o século XX, a Psicanálise foi
empregada de maneira mais ampla para compreender diversas manifestações humanas, uma vez que se
constitui como uma teoria da personalidade e do desenvolvimento humano. Pode ser aplicada na
Psicopedagogia, na Psicoterapia, na Educação, na Saúde e para práticas institucionais e comunitárias.
A Psicanálise sofreu algumas variações, ao longo do século XX, nas mãos de outros autores que discordaram
de certos aspectos da abordagem de Freud e/ou ampliaram algo que anteriormente não tinha sido abordado
ou aprofundado.
Para encerrar esse tópico, falaremos sobre Carl Gustav Jung, cuja teoria dos tipos psicológicos é amplamente
utilizada como orientação profissional, no levantamento do estilo de aprendizagem de uma pessoa e seus
interesses; isso pode ser utilizado no planejamento de projetos educacionais, bem como na seleção de
pessoas em recursos humanos.
https://de.wikipedia.org
Carl Gustav Jung
Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um discípulo de Freud, mas romperam relações por divergências teóricas.
O seu sistema é conhecido como Psicologia Analítica que é aplicada na psicoterapia, em saúde mental e na
avaliação da personalidade. A tipologia de Myers-Briggs (classificação tipológica de Myers-Briggs) é um
instrumento padrão-ouro para avaliação da personalidade (MBTI). Outro teste que é amplamente utilizado no
Brasil é o Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI). Ambos os recursos são de uso restrito do
psicólogo e da psicóloga.
Fonte: https://pt.wikipedia.org
Sigmund Freud, Stanley Hall, Carl Gustav Jung, Abraham Arden Brill, Ernest Jones e Sándor Ferenczi em
fotografia de 1909.
No Brasil, o uso e a comercialização de testes psicológicos são restritos aos profissionais da Psicologia com
inscrição ativa em um conselho regional de Psicologia. Existem questões técnicas e psicométricas delicadas
para garantir a correta utilização e fazer inferências corretas sobre a população brasileira.
PSICOMÉTRICAS
BEHAVIORISMO (COMPORTAMENTALISMO)
O Behaviorismo, também conhecido como Comportamentalismo, tem como objeto de estudo a análise
científica dos comportamentos humano e animal.
Busca descrever as circunstâncias relevantes para que um comportamento seja instalado no repertório
comportamental de uma pessoa e o que é preciso para modificar esse comportamento, quando necessário.
Desse modo, é possível evidenciar por que determinada pessoa se comporta dessa ou daquela maneira, os
motivos de alguma decisão, e prever e alterar os possíveis comportamentos futuros.
Nenhum sistema teórico, ou perspectiva psicológica, como vimos, surge em um vácuo, mas pelo acúmulo
de conhecimento e pelo avanço da tecnologia. O Behaviorismo foi um protesto contra a Psicologia Wundtiana,
a consciência como objeto de estudo e a introspeção como um método.
BEHAVIORISMO
Behaviorismo é um neologismo, criação de uma nova palavra a partir de outra já existente. Behavior
(inglês) = comportamento.
ORIGEM DO BEHAVIORISMO
Em 1913, John Broadus Watson publicou o artigo A Psicologia como um behaviorista a vê, no qual expõe os
principais posicionamentos científicos da Psicologia Comportamental. Watson propõe defini-la como uma
ciência do comportamento, já que esta é fisicamente observável: é possível ver as pessoas andarem,
comerem, conversarem, mas é difícil observar seus pensamentos e sentimentos. Vamos ver um exemplo.
Podemos dizer que comemos porque sentimos fome. Você já parou para pensar nos eventos que fazem parte
dessa contingência, ou seja, da probabilidade de um evento ser causado por outro evento?
John Broadus Watson (1878-1958) foi um cientista que fez conferências em que rejeitava as abordagens
estruturalistas e funcionalistas e afirmava o abandono de métodos introspectivos. Inseriu a Psicologia
como uma ciência que deveria ter um objeto natural e aplicações práticas para melhorar a qualidade de
vida das pessoas. Estudou os reflexos aprendidos e as reações emocionais básicas (incondicionadas –
medo, raiva, amor) e complexas (condicionadas).
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MOMENTO 1
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MOMENTO 2
Durante essa privação, os processos associados à homeostase causam a sensação de fome materializada
na consciência através de pensamentos sobre comida e/ou estratégias para saciar a fome (ir a uma
lanchonete ou fritar um ovo na cozinha).
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MOMENTO 3
Com a sensação, você se dirige à cozinha, para fritar um ovo ou outro alimento de sua preferência, ou vai até
uma lanchonete, e come.
HOMEOSTASE
Processo fisiológico que faz a manutenção da vida e busca o equilíbrio interno no organismo; por
exemplo, a experiência na consciência de sede e fome é resultado de processo homeostático.
Essa é uma crítica feita pelos funcionalistas para os estruturalistas, embora os funcionalistas tenham
continuado com a introspecção até o manifesto behaviorista de 1913.
Os introspectistas, pela Psicologia Wundtiana, tratariam o momento 2, a sensação de fome, como a causa do
momento 3, o comportamento de comer. Essa é a base do pensamento mentalista ingênuo, crítica feita pelos
behavioristas: “como, porque sinto fome”. Se a fome é resultado da privação de comida, pode-se
desconsiderar a causa mental, os pensamentos, a sensação, porque não é possível estudar os eventos só
acessíveis pela introspecção.
Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) recebeu influência de Watson e Thorndike e estabeleceu a distinção
entre o Behaviorismo radical e o metodológico, além de descrever a aprendizagem por contingência
(probabilidade de um evento ser causado por outro; relação entre eventos ambientais).
Fonte: https://commons.wikimedia.org
Burrhus Frederic Skinner
Skinner buscava descrever contingências, como elas ocorrem e são mantidas. O Behaviorismo apresenta
protocolos interessantes para o manejo do comportamento na escola, nas organizações etc. Na perspectiva
desse autor, o cérebro é um depositário de contingências, ou seja, armazena nossas experiências e os
padrões do nosso repertório comportamental.
As ideias essenciais de Skinner são reveladas em algumas frases:
(SKINNER, 1966)
PSICOLOGIA DA GESTALT
A Psicologia da Gestalt é uma importante perspectiva da Psicologia. Foi crítica à Psicologia Wundtiana; à
Lei do Efeito, de Thorndike (1874-1949), nos Estados Unidos; e à Psicologia do Reflexo, de Pavlov (1849-
1936), na Rússia.
PSICOLOGIA DA GESTALT
As principais personalidades desse movimento foram: Max Wertheimer (1880-1943); Kurt Koffka (1886-1941);
Wolfgang Köhler (1887-1967).
De certo modo, a Psicologia da Gestalt foi um movimento funcionalista, mas ao estilo alemão; foi influenciada
pela Filosofia de Immanuel Kant (1724-1804), e de Franz Brentano e pelo movimento fenomenológico alemão.
Max Wertheimer foi o precursor da Psicologia da Gestalt, sendo o principal fundador desse movimento. Em
1912, descreveu o movimento Phi, um fenômeno que demonstrou as propriedades da percepção humana e
serviu de base para a tese inicial da Gestalt se opor a outros sistemas teóricos.
Fonte: https://pt.wikipedia.org
MOVIMENTO PHI
No fenômeno Phi, uma sequência de imagens foi apresentada, na época, por um taquistoscópio, com
um intervalo de tempo de 60 milissegundos, dando a ilusão que era a mesma imagem se movimentando.
Ao demonstrar uma ilusão, ou seja, um movimento aparente, os gestaltistas constataram que a consciência, a
percepção do movimento, não poderia ser analisada a partir dos seus elementos sensoriais, premissa da
Psicologia de Wundt.
Como o movimento aparente não é real, não possui os dados sensoriais concretos de um movimento.
A Psicologia da Gestalt também criticou a ideia de que a percepção seria a soma de elementos básicos, tese
atomista defendida por Wundt. Os cientistas defendiam que uma percepção não dependia de processos
mentais superiores ou de aprendizagem, mas os dados da percepção estavam presentes no próprio estímulo
apreendido pela percepção, em um todo, não no somatório de partes elementares.
Todas as perspectivas analisadas até aqui têm por base uma doutrina filosófica – o Determinismo, ambiental
no caso do Behaviorismo, psíquico no caso da Psicanálise; os movimentos anteriores recebiam uma influência
muito grande da Fisiologia e do Determinismo biológico.
DETERMINISMO
Segundo essa perspectiva, eventos ordenados podem ser explicados por leis simples. Da mesma
maneira, eventos psicológicos e/ou comportamentais são regidos por essas leis (propriedades).
O Humanismo evidencia outra doutrina filosófica: o livre-arbítrio, que preconiza que as pessoas dirigem seus
atos de modo consciente, independentemente de determinações psíquicas, cognitivas ou ambientais. O objeto
de estudo do Humanismo não é a consciência ou o comportamento, tampouco a percepção, mas os
interesses e valores humanos. Os humanistas se opunham ao mecanicismo e ao materialismo da cultura
ocidental da época.
As escolas com as quais os humanistas rivalizavam eram o Behaviorismo e a Psicanálise; criticavam que os
dois sistemas ofereciam uma visão da natureza humana limitada e depreciativa.
Entre muitas influências, destacamos Gordon Allport (1897-1967), com o livro A natureza do preconceito, de
1954. Allport utilizou a expressão Humanismo de forma pioneira, em 1930.
Fonte: https://www.psychologicalscience.org
Gordon Allport
Além de Allport, as principais referências da terceira força da Psicologia são: Kenneth B. Clark (1914-2005),
militante dos direitos civis e representante do Zeitgeist da época – mesmo que não associado diretamente ao
movimento do Humanismo; Abraham Maslow (1908-1970); Carl Rogers (1902-1987).
Abraham Harold Maslow foi um precursor do movimento da Psicologia Humanista. Defendia a capacidade de
autorrealização de cada pessoa e criou a famosa pirâmide de necessidades. Embora seja uma teoria muito
criticada dentro da Psicologia e careça de evidências para generalizar diversas populações, é amplamente
utilizada, principalmente, em treinamentos para o desenvolvimento de pessoas.
Fonte: https://en.wikipedia.org
Abraham Harold Maslow
Na perspectiva desse autor, todos temos tendência a buscar uma realização pessoal, que só é alcançada
quando atingimos as prioridades dos degraus da pirâmide, da base para o topo. A ideia da hierarquia é
criticada, sem dúvida temos necessidades que são fisiológicas, psicológicas e sociais.
pirâmide de Maslow
Pesquisas que buscaram evidências da hierarquia em cinco níveis, em amostras mais amplas de pessoas,
sugerem que é coerente pensar em apenas dois níveis que são necessidades por deficiência e necessidade
por crescimento.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Evidências de um experimento que demonstrou que um movimento aparente não era real e que não podia
ser compreendido por teses atomistas, pois o fenômeno simplesmente acontecia e não podia ser explicado,
mas era apreendido pela consciência.
GABARITO
1. Estudamos inúmeros sistemas teóricos da Psicologia, que surgiram por divergências do objeto de
estudo e do método empregado para estudá-lo. Das alternativas abaixo, identifique aquela que
caracteriza o Behaviorismo.
O Behaviorismo refuta o estudo da mente humana, rompe com o modelo da Psicologia Wundtiana e elege o
comportamento observável como objeto de estudo.
2. A frase “O todo é mais importante que o somatório das partes” expressa uma reflexão que nos é
dada pela Psicologia da Gestalt, no estudo da consciência e da percepção. Analise as sentenças
abaixo e identifique aquela que melhor expressa os argumentos que defendem essa ideia.
O experimento do movimento aparente (fenômeno Phi) apresentou uma ilusão, que demonstrou que uma
percepção consciente não poderia ser descrita por um dado sensorial, uma vez que o movimento não era real,
mas ilusório.
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
A Psicologia Cognitiva traduz, em essência, o que é a ciência psicológica. Percorrer a história da Psicologia
é uma viagem fantástica. Sabe o porquê? Tudo é cognição.
Cérebro e as funções cognitivas
Sabemos que essa afirmação, por hora, talvez não faça muito sentido. No entanto, a partir de agora é
importante você se lembrar da diferença entre a Psicologia do senso comum e a Psicologia científica.
Vamos analisar alguns exemplos? Pense nos seguintes eventos da vida, que são psicológicos:
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A DOR
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A TENSÃO PRÉ-MENSTRUAL
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A DEPRESSÃO PÓS-PARTO
O senso comum, quando utiliza a expressão “é psicológico”, tipicamente está fazendo menção a algo que é
inventado e/ou uma frescura e/ou que podemos mudar se tivermos força de vontade. Força de vontade não é
um construto que explica um comportamento motivado – essa é uma visão equivocada do senso comum.
Vamos aprender que tudo é psicológico do ponto de vista da Psicologia Cognitiva (científica). Você já parou
para analisar algo a seu respeito, por exemplo, sobre seu estilo cognitivo? Pare agora por alguns minutos e
pense sobre você.
CONSTRUTO
Por que algumas pessoas, diante de alguns eventos, alteram seu humor – por exemplo, na tensão pré-
menstrual – e outras não?
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Por que alguns eventos resultam em depressão em algumas pessoas e em outras não? Já tentou refletir
sobre a depressão pós-parto? Todas as mulheres ficam deprimidas depois de darem à luz?
Você já parou para pensar por que algumas pessoas relatam serem felizes e gozar de bem-estar e outras
pessoas não, mesmo quando as circunstâncias (o meio) estão favoráveis? O que é felicidade? O que é bem-
estar e qualidade de vida? Lembra-se da proposta de viajar pela história da Psicologia para entender que tudo
é psicológico, tudo é cognição? Vamos lá!
CONCEITO E PRINCÍPIOS DA PSICOLOGIA
COGNITIVA
A Psicologia Cognitiva pode ser definida como uma área de conhecimento que analisa os processos internos
implicados na forma como as pessoas extraem sentido do ambiente – interno (fisiológico) e externo (cultura) –
e decidem quais ações são apropriadas. Estuda a atividade e a estrutura do cérebro para compreender a
cognição e o comportamento humano.
ATENÇÃO
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PERCEPÇÃO
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APRENDIZAGEM
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MEMÓRIA
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MOTIVAÇÃO
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LINGUAGEM
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RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
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RACIOCÍNIO
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PENSAMENTO
ATENÇÃO
Existe diferença entre a Psicologia Cognitiva aplicada à clínica, seus métodos e objetos de estudo, e a
Psicologia Cognitiva enquanto um sistema teórico da Psicologia. A perspectiva teórica vai explicar o
psicológico como um todo, definir e descrever os processos cognitivos, por exemplo. Gradualmente, ao longo
desta leitura, você compreenderá melhor essa distinção.
Existem processos psicoterapêuticos que podem atuar no manejo da dor, da irritabilidade, da angústia, da
ansiedade etc. Mudar determinado padrão de comportamento, determinado padrão cognitivo (um perfil
cognitivo) – obviamente quando necessário e desejado –, porém, exige investimento e engajamento da
pessoa no processo de mudança, que pode ser conduzido, por exemplo, em uma terapia cognitivo-
comportamental.
Tudo é psicológico, e chamamos esse tipo de trabalho de reestruturação cognitiva, ou seja, ensinar uma
pessoa a reinterpretar eventos e utilizar essas informações para motivar comportamentos mais adaptados e
funcionais em suas vidas, ou seja, buscar qualidade de vida e bem-estar.
TUDO É PSICOLÓGICO
Para Sternberg (2016), a Psicologia Cognitiva é o estudo de como as pessoas percebem, aprendem,
lembram-se de algo e pensam sobre informações. Podemos descrever as áreas do cérebro ativas na
percepção, no aprendizado, na lembrança e no pensamento. A Psicologia Cognitiva vai estabelecer
como tais informações são CODIFICADAS, INTERPRETADAS E UTILIZADAS.
Fonte: Unsplash
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Esses três fatores compõem a tríade cognitiva, na expressão teórica do autor da Psicologia clínica Aaron Beck
(2013).
RESUMINDO
A Psicologia estuda como o indivíduo dá significado ao ambiente, a partir dos seus processos internos,
permitindo a sua ressignificação.
Você deve estar dizendo “certo, entendi tudo”, mas, afinal, o que é interpretar e decidir? A forma como
decidimos as ações que são apropriadas e/ou simplesmente como agimos, nos comportamos e/ou
interpretamos os eventos depende de nossa evolução ontogenética.
EVOLUÇÃO ONTOGENÉTICA
Trata-se do ciclo da vida, do ciclo de desenvolvimento do organismo (pessoa) ao longo da vida, desde o
desenvolvimento embrionário
1
Imagine que uma criança não tem as suas necessidades psicológicas básicas atendidas.
A psicologia trata o tema com base em teorias diferentes, mas podemos entender as necessidades
psicológicas em um âmbito geral como:
Sociais: afiliação e intimidade, realização e poder. Esses são alguns poucos exemplos.
Na adolescência, essa ausência pode resultar em esquemas cognitivos disfuncionais em graus de impacto
variados.
2
Um esquema cognitivo pode ser positivo ou negativo, adaptado ou desadaptado. Se seu padrão de
respostas está desadaptado ao meio e/ou com respostas (comportamentos) muito exacerbados, a Psicologia
clínica pode ajudar. Sabe o porquê? Tudo é psicológico, e podemos mudar algumas coisas – outras não, e há
aquelas de difícil mudança. A visão é monista, ou seja, não dualista (mente-corpo). Trata-se de uma visão
integrada e holística. Falar da mente, do psicológico, ou do cérebro é falar da mesma coisa com vieses
diferentes. Vejamos alguns exemplos:
Tomar uma medicação para depressão resulta em mexer na bioquímica do cérebro regulando algo que estava
em desequilíbrio.
Fazer psicoterapia (Psicologia clínica) também mexe com essa bioquímica do cérebro regulando algo que
estava em desequilíbrio. A psicoterapia resulta em plasticidade neural.
PLASTICIDADE NEURAL
Tanto manejo medicamentoso quanto psicoterapia agem sobre o cérebro, sobre o psicológico, apenas operam
com mecanismos distintos.
Nessa perspectiva, não existe um corpo adoecendo uma mente, ou uma mente adoecendo um corpo. O que
vai existir é uma pessoa saudável, relativamente saudável, ou não saudável, em uma abordagem simplista e
didática a respeito dos estados de saúde e de qualidade de vida de uma pessoa. O que importa, neste
momento, é compreendermos essa visão da Psicologia Cognitiva contemporânea. Não se trata de um
reducionismo materializante, mas de uma visão integrativa entre Psicologia, Ciências da Saúde, Ciências
Sociais e Neurociências. Com essa ideia de base, os determinantes do comportamento podem ser analisados:
Fonte: Freepik
Fonte: Freepik
ATENÇÃO
Isso não significa dividir uma pessoa em três coisas diferentes, pois, como demonstrado, essa divisão é
meramente didática. Uma pessoa é inteira e indivisível. Falar do psicológico, da mente, ou do cérebro é falar
da mesma coisa, em perspectivas didáticas diferentes, que permitam trabalhos diferentes. Nada mais, nada
menos.
É simples. Existe uma grande quantidade de variáveis que exercem influência em como os neurônios
codificam as informações, e isso gradualmente vai determinar nossa estrutura de personalidade e nosso
repertório comportamental. Quer alguns exemplos dessas variáveis?
1
Uma mulher que durante a gestação sofra descargas hormonais, bem-estar e estresse.
Em países com menos sol, estatisticamente, há mais prevalência de depressão e ideação suicida na
população do que países com mais sol.
2
Tudo isso influencia em quem somos, em nosso estilo de agir e de tomar decisões, em nossa forma de
interpretar os eventos, sejam os externos, sejam os internos (mudanças do próprio corpo).
RESUMINDO
Ainda devemos compreender que existem duas modalidades de Psicologia Cognitiva, uma básica e outra
aplicada. Veja a definição de cada modalidade:
CIÊNCIA BÁSICA
Busca delimitar uma área de conhecimento, definir construtos, construir e testar hipóteses, elaborar teorias
que possam descrever os fenômenos.
CIÊNCIA APLICADA
Utiliza as diversas formas de conhecimento e a ciência básica para encontrar soluções para a vida das
pessoas. As teorias de uma ciência aplicada são construídas com um viés de prática, ou seja, em nosso caso,
no fazer do(a) psicólogo(a).
Esses são modelos de ciência interdependentes, e essa divisão, muitas vezes, é meramente didática. O que é
relevante é o uso que se faz da ciência, sendo básica ou aplicada. Na Psicologia Cognitiva aplicada, vamos
encontrar, por exemplo, as teorias das práticas clínicas. Na Psicologia Cognitiva básica, vamos encontrar
algumas teorias sobre como nosso aparato cognitivo funciona, ou seja, esse modelo vai responder a três
perguntas fundamentais:
2
3
Quais as variáveis intervenientes que podemos identificar e descrever?
VARIÁVEIS INTERVENIENTES
Por exemplo, estados internos que motivam um comportamento, como o comportamento criativo, entre
outros.
RESUMINDO
A Psicologia Cognitiva usa a ciência básica e a ciência aplicada para estudar as diversas variáveis que
influenciam o comportamento do indivíduo.
MARCOS HISTÓRICOS
O ano é 1956...
Esse foi um ano de grande relevância para coroar o movimento da Psicologia Cognitiva. O cientista cognitivo
Noam Chomsky fez uma exposição sobre uma teoria para a linguagem (um processo cognitivo) para o
famoso e internacionalmente conhecido Massachusetts Institute of Techonology (MIT).
Nessa mesma ocasião, George Miller (1920-2012) apresentou o que ficou conhecido por o mágico número 7
na memória de curto prazo (outro processo cognitivo) e Newell (1927-1992) e Simon (1916-2001) expuseram
seu modelo de solução de problemas (General Problem Solver), precursor do desenvolvimento de programas
de inteligência artificial. Solução de problemas e tomada de decisões são duas grandes áreas de interesse de
cientistas cognitivos.
Fonte: Wikipedia
Noam Chomsky. Fonte: Wikipedia.
RECOMENDAÇÃO
Pesquise sobre essas personalidades e suas produções teóricas. Isso poderá enriquecer muito sua
compreensão da Psicologia Cognitiva.
Você deve ter percebido que o ano de 1956 é especial, mas a Psicologia Cognitiva está sendo construída em
um continuum histórico, e não brotou nesse marco. Há outros trabalhos da década de 1950 que são referência
do movimento que chamamos de revolução cognitivista. Destacamos alguns marcos desse continuum
histórico.
Fonte: Baseado no conteudista
Marcos históricos da Psicologia Cognitiva no final dos anos 1950 e na década de 1960.
Vamos conhecer um pouco mais sobre esses marcos. No fim dos anos 1950 e na década de 1960, os
sistemas clínicos (ciência aplicada) começam a ganhar forma, e surgem as terapias cognitivas. A tradição
filosófica tratou do tema do funcionamento da mente, da consciência, com base em seus métodos, que
fundamentalmente englobam o manejo da palavra, a elaboração de ideias, a lógica, a dialética, mas não a
experimentação.
Como você viu na cronologia sobre os Marcos históricos, Wilhelm Wundt demarcou o primeiro laboratório de
Psicologia. Curiosamente, os objetos de estudo são os processos elementares da percepção e a velocidade
de processos mentais. Isso não quer dizer que Wundt rompeu com a Filosofia, mas buscou demarcar a
Psicologia como uma ciência experimental. Seu método de estudo era a introspecção.
Percepção e velocidade de processamento da informação são objetos de estudo da Psicologia Cognitiva. Por
seu objeto de interesse ser estudado desde o período da Filosofia antiga, fica difícil demarcar onde e quando
a Psicologia Cognitiva se constituiu. A ilustração a seguir demonstra o desenvolvimento da Psicologia
Cognitiva:
O movimento que ficou conhecido como revolução cognitivista é mais bem identificado, por seus métodos,
pela analogia ao processamento computacional, pelo uso de tecnologia para demonstrar suas teorias, e tem
como marco a conferência no MIT de proeminentes cientistas cognitivos em 1956. A formação da Psicologia
Cognitiva, contudo, é demarcada formalmente, pelos historiadores da Psicologia, nas décadas de 1950 até
1970. A Psicologia Cognitiva resgata a história do estudo da mente que foi negligenciada pela força do
Behaviorismo como um sistema teórico dentro da Psicologia. Para entender o Cognitivismo, é necessário
compreender a história da Psicologia.
Edward Chace Tolman (1886-1959), um behaviorista, declarou que o Behaviorismo de Watson foi um alívio,
pois trazia cientificidade para a Psicologia, mas não foi um “watsoniano”.
Fonte: Wikipedia
Edward Chace Tolman. Fonte: Wikipedia.
Tolman tentou superar o monismo materialista de Watson (pensamento com hábito). De certa forma, esse
autor estabelece os alicerces para o Cognitivismo, pois afirma que aprendizagem não é mudança no
comportamento, mas aquisição de novos conhecimentos/cognições. Apresenta as definições de um
comportamento intencional – tal intencionalidade, embora existente, é um evento particular ao organismo, uma
variável interveniente, e não estaria ao alcance dos instrumentos objetivos da ciência.
EXEMPLO
Tolman diria, por exemplo, que a fome é a intencionalidade para o comportamento de comer. Isso significaria
ver a mente no comportamento, ou seja, falar da mente sem recorrer a teses mentalistas e a métodos não
científicos.
O ponto-chave para entender a revolução cognitivista (uma revolução lenta que demorou décadas para se
consolidar) é perceber os esquemas dos modelos behavioristas. As contingências behavioristas baseadas na
obra do Watson eram respondentes, em outras palavras, um estímulo que gera uma resposta, podendo ser
representada da seguinte maneira:
RESPOSTA
Ocorrência do comportamento operante. Uma resposta que ocorre sem um estímulo eliciador é emitida.
Aplica-se tanto ao responder a um estímulo discriminativo como ao responder de maneira
indiscriminada.
As contingências operantes baseadas na obra do Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) eram de três termos,
um estímulo discriminativo (Sd), um comportamento (R) e uma consequência (S). A visão didática pode ser
compreendida nos esquemas a seguir.
Observe que, nas contingências behavioristas (respondentes e operantes), a relação entre um estímulo e uma
resposta é direta, não mediada. Nesse modelo teórico, o sistema nervoso era visto como um depositário de
contingências, passivo, que apenas codificava em uma linguagem neural (eletroquímica) e armazenava as
experiências. Uma vez diante de um estímulo eliciador ou discriminante, gerava uma resposta – de fato, “uma
tábula rasa”.
A inovação do Cognitivismo foi buscar compreender as operações internas do organismo, ou seja, estudar o
efeito dos processos cognitivos e como esses medeiam comportamentos. O esquema a seguir ilustra essas
operações:
INOVAÇÃO DO COGNITIVISMO
RESUMINDO
Ainda existem profissionais que são behavioristas radicais, pois o Cognitivismo não veio para substituir esse
modelo comportamentalista, mas para ampliá-lo. Na década de 1970, os temas do momento era o
Cognitivismo e a Computação. Eram temas discutidos com a mesma intensidade que a civilização debate hoje
inteligência artificial, automação e as Neurociências.
B) Cognitivismo
GABARITO
1. Imagine que um individuo tenha motivação para a arte, a corrente que busca compreender as
causas dessa motivação é chamada de:
OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES DA
PSICOLOGIA COGNITIVA E SUAS
CONTRIBUIÇÕES
A Neurociência Cognitiva, a Psicofisiologia e a Computação, na era informacional, constituem um Zeitgeist.
Não se trata de estabelecer um monismo materialista e reduzir os eventos comportamentais e os processos
cognitivos em termos físico-químicos – até porque os modelos computacionais e das Neurociências não
conseguem explicar tudo –, mas sim de superar uma influência do dualismo e do realismo como uma base
epistemológica presente na história da Psicologia e desenvolver um olhar mais integrativo.
Para chegarmos até aqui, no que chamamos de Psicologia Cognitiva, muitos pesquisadores somaram
esforços em um movimento histórico e epistemológico. Não necessariamente eram psicólogos ou estavam
envolvidos em uma revolução cognitiva, apenas estavam fazendo ciência que fosse útil para o Zeitgeist que
vivenciavam em suas épocas.
ZEITGEIST
Neuropsicologia
Neurociências
As Neurociências buscam evidências de como a interação de áreas no cérebro resultam em cognição, uma
vez que apenas apontar uma localização (blobology) está caindo em desuso, e até os modelos
computacionais estão buscando correlações com o cérebro. Nas Neurociências, vamos encontrar as
evidências científicas que são levantadas pelo uso da tecnologia, especialmente o uso de técnicas de
neuroimagem, que são capazes de demonstrar atividades em regiões e circuitos do sistema nervoso central,
durante um processamento sensorial, motor ou cognitivo.
A organização de nosso sistema nervoso, basicamente, traduz-se por atividades excitatórias (ativação) e
inibitórias (inibição), algo como sim e não.
As estruturas como hipotálamo, feixe prosencefálico medial, área septal, córtex cerebral e córtex pré-frontal
esquerdo estão relacionadas à aproximação.
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Representação do cérebro humano. Fonte: Freepik.
Devo comer?
(Sistema de ativação comportamental)
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Muitas evidências das Neurociências Cognitivas vão apoiar a ideia de que as pessoas apresentam
características que evidenciam um sistema de inibição comportamental (por exemplo, neuroticismo) ou um
sistema de ativação comportamental (por exemplo, extroversão).
Veja a seguir como o sistema dorsal, o sistema ventral e a amígdala influenciam as respostas
comportamentais:
SISTEMA DORSAL
Um sistema dorsal é composto por hipocampo, regiões dorsais do cíngulo anterior e córtex pré-frontal. Esse
sistema está relacionado à regulação dos estados afetivos, eliciando respostas comportamentais
contextualmente apropriadas, e também está relacionado à cognição (memória e atenção).
SISTEMA VENTRAL
O sistema ventral é composto por circuitos envolvendo amígdala, ínsula, corpo estriado ventral, regiões
ventrais do cíngulo anterior e córtex órbito-frontal. É um sistema que está relacionado às etapas de
identificação do significado emocional de estímulos e de produção dos estados afetivos. Esse sistema também
recebe aferências de áreas sensoriais primárias e de associação.
AMÍGDALA
A amígdala estimula respostas automáticas diante de um evento ameaçador, por exemplo: ativação do
sistema nervoso simpático estimulando o núcleo hipotalâmico lateral; estimulação do núcleo paraventricular do
hipotálamo para liberação de hormônios de estresse; e estimulação do nervo facial trigêmeo para expressão
facial de medo.
Richard J. Davidson, em seu livro O estilo emocional do cérebro, mostra os resultados de uma pesquisa que
indicam que o temperamento típico observado em crianças, quanto a características típicas de uma inibição
ou ativação comportamental em situações de desempenho, não é permanente em um indivíduo. Isso contraria
alguns trabalhos que apontam a personalidade como características constantes e formadas precocemente.
Mesmo com as divergências, a discussão de tais sistemas (ativação e inibição) envolve aspectos muito
interessantes das bases neurobiológicas da personalidade e dos sistemas cognitivos, no que se refere ao
processamento e às interpretações dos eventos que nos circundam. Se tais características são permanentes
ou podem variar no desenvolvimento da pessoa é outra análise. Existem pesquisas muito relevantes
evidenciando a relação de nossa cognição, de como interpretamos eventos, com a Neurobiologia e a de nosso
comportamento típico com as diversas situações ambientais aversivas ou favoráveis.
RESUMINDO
O sistema nervoso humano exerce atividades de ativação e inibição, ou seja, influencia em decisões, como:
Posso? Não posso?
Diversos são os métodos que podemos identificar, com e sem o uso de tecnologia. Optamos por apresentar
uma metodologia de baixo custo e que é responsável por grandes paradigmas da Psicologia Cognitiva quanto
às etapas de processamento da informação e do planejamento de uma resposta (comportamento). Trata-se da
cronometria mental.
A cronometria mental é utilizada para construir modelos do processo cognitivo. Podemos discutir por meio de
tarefas se a informação tem um processamento serial, ou seja, uma etapa cognitiva é concluída antes de outra
começar, ou um processamento em paralelo, ou seja, dois ou mais processos cognitivos ocorrem ao mesmo
tempo. Tarefas de compatibilidade estímulo-resposta, como efeito Simon e efeito Stroop, são clássicos da
Psicologia Cognitiva.
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Na tarefa de Stroop, o voluntário nomeia a cor na qual o nome das cores é apresentado – por exemplo,
VERMELHO ou VERMELHO. O voluntário é mais rápido em processar e executar a resposta quando o nome
da palavra é congruente com a cor que deve nomear.
Primeira lista:
VERDE
VERMELHO
AZUL
AMARELO
AZUL
AMARELO
ROXO
Segunda lista:
VERDE
VERMELHO
AZUL
AMARELO
AZUL
AMARELO
ROXO
As pesquisas básicas em Psicologia Cognitiva vão estabelecer como processamos os estímulos (a entrada da
informação); como nosso sistema atentivo gerencia (alocação de recursos cognitivos); e como construímos
nossa percepção, processamos os pensamentos e tomamos uma decisão. Veja a seguir um modelo de
processamento da informação:
RESUMINDO
O modelo clínico cognitivo propõe que pensamentos disfuncionais influenciam o humor, o comportamento.
Pensamentos automáticos são ideias que invadem sua mente e são um produto de seu sistema de crenças.
Seu sistema de crenças pode ser adaptado e funcional ou produzir distorções cognitivas.
Distorções cognitivas e pensamentos automáticos disfuncionais estão na base de desordens psíquicas e são
comuns a todos os tipos de transtornos psicológicos.
Uma pessoa que sofre de fobia social pode interpretar uma ida a um restaurante com os colegas de
trabalho da seguinte maneira:
Emoção: Ansiedade;
Por meio de nosso sistema de crenças, interpretamos: a nós mesmos (crenças sobre nossas próprias
capacidades; o outro (o quanto somos otimistas sobre as pessoas); o meio em que vivemos (o quanto
acreditamos que estamos seguros, o meio nos oferece as condições para vivermos e nos desenvolvermos); e
o futuro (o quanto somos otimistas a respeito do futuro). O terapeuta promove o que chamamos de
reestruturação cognitiva, ou seja, perceber os eventos e interpretar as ideias de uma maneira mais funcional.
O objetivo é desenvolver qualidade de vida e, para isso, também se utiliza de técnicas comportamentais, por
exemplo, treinamento em habilidades sociais.
RESUMINDO
A NEUROPSICOLOGIA
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No início dos anos 1970, o Zeitgeist da Psicologia definitivamente era cognitivo, e tais construtos foram
amplamente estudados. A vontade não é um constructo psicológico capaz de explicar a complexidade e a
variabilidade do comportamento motivado humano, até porque nosso comportamento e nosso perfil cognitivo
são predeterminados em decorrência de nossa evolução ontogenética e de muitas outras variáveis que
exercem influência sobre nós.
CONSTRUCTO PSICOLÓGICO
São conceitos ideativos e intencionais que foram criados ou são utilizados com uma finalidade científica
com base em uma definição operacional e constitutiva. É o primeiro passo para a construção de uma
teoria.
Pense em um adicto (dependente químico). O trabalho psicológico de reabilitação estará pautado na força de
vontade da pessoa? A resposta é, absolutamente, não. O trabalho será investigar a tríade cognitiva, como o
pensam Força de vontade, como um motivador de comportamentos, é uma ideia associada à Psicologia do
senso comum, e não à Psicologia Cognitiva científica.
Fonte: Freepik.
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A vontade, como um construto para explicar um comportamento motivado, foi utilizada no século XVII, com
René Descartes (1596-1650). Depois, foi substituída pelo instinto, com Charles Darwin (1809-1882), e, por
fim, pelas teorias de impulso, com Sigmund Freud (1856-1939), um psicanalista, e Clark L. Hull (1884-1952),
um neobehaviorista. O próximo movimento que construiu teorias para explicar o comportamento motivado, e
que permanece até hoje, foi o Cognitivismo da década de 1950. Os psicólogos passaram a investigar as
bases cognitivas da motivação não como vontade ou instinto. Os motivos por déficits (impulsos) explicam
parte do comportamento motivado, mas não sua totalidade.
A Psicologia Cognitiva passa a elaborar modelos teóricos para explicar aquilo que as Neurociências ainda não
conseguem demonstrar, por exemplo, o motivo pelo qual tais características variam de pessoa para pessoa. A
Neurociência Cognitiva pode demonstrar áreas ativas em um processo criativo, mas não consegue explicar,
por exemplo, como a criatividade acontece, onde ela está no cérebro.
ATENÇÃO
Ainda não é possível fazer ligações, uma a uma, entre as áreas do cérebro e os processos cognitivos. A forma
como o cérebro implementa vários processos cognitivos, como nosso sistema de crenças, permanece um
mistério.
A Psicologia Cognitiva interpretou que uma emoção não ocorre sem a avaliação do indivíduo e que é esta
avaliação que causa a emoção, não o evento. Essa contribuição teve bastante impacto na Psicologia.
Vejamos um exemplo:
Pense em duas pessoas trabalhando no mesmo ambiente de trabalho. A gerência do setor é agressiva e
autoritária
Um dos indivíduos fica extremamente estressado. Diariamente, sente raiva, tristeza, angústia e medo, em
vários momentos do dia.
O outro indivíduo é resiliente à situação e, embora fique preocupado com seu colega, a rotina de trabalho não
o afeta tanto
A produtividade do primeiro indivíduo deixa a desejar levando em conta sua potencialidade, pois a
interpretação cognitiva dos eventos não é favorável, e seu humor se mantém deprimido.
O segundo indivíduo vivencia um estado de humor normal, mantém uma produtividade constante, uma
conduta proativa, pois entende que é a única forma de conseguir uma promoção e/ou conquistar um ambiente
de trabalho melhor.
No ambiente de trabalho, suas emoções são tristeza, medo, raiva e repulsa, experimentando afetos negativos
ao longo do dia. Ele acaba com uma autoestima prejudicada, não conseguindo construir crenças positivas a
seu respeito.
Consegue vivenciar, ao longo do dia, emoções como a alegria, mesmo que, em alguns momentos, sinta raiva
ou fique triste, diante de condutas aversivas de seu gerente.
Seu comportamento reflete sua insatisfação, o que dificulta perspectivas melhores de trabalho. É um forte
candidato ao desamparo aprendido.
Seu estado de afeto é positivo e, ao longo do dia, experimenta menos afetos negativos.
Em resumo, você pode mudar as avaliações cognitivas dos eventos e, com isso, mudar sua emoção e seu
comportamento. Não se engane: a tarefa de uma reestruturação cognitiva nem sempre é fácil, mas é possível
e demonstrada empiricamente pela clínica cognitiva.
RESUMINDO
A Psicologia Cognitiva busca identificar o motivo pelo qual as características variam de pessoa para pessoa.
A Psicologia estuda como o indivíduo dá significado ao ambiente, a partir dos seus processos
internos, permitindo a sua ressignificação.
A Psicologia Cognitiva usa a ciência básica e a ciência aplicada para estudar as diversas variáveis
que influenciam o comportamento do indivíduo.
A Psicologia Cognitiva busca identificar o motivo pelo qual as características variam de pessoa
para pessoa.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. GODOFREDO ERA UM JOVEM DE 19 ANOS QUE ACABARA DE INGRESSAR NA
FACULDADE. COMO ERA DO INTERIOR, SAIU DA CASA DOS PAIS E FOI MORAR NA
CAPITAL COM OUTRO RAPAZ, DA MESMA CIDADE, QUE TAMBÉM ENTROU NA
FACULDADE. DEPOIS DE POUCOS MESES, GODOFREDO NÃO FEZ NENHUM NOVO
AMIGO. “AS PESSOAS NÃO SÃO CONFIÁVEIS NA CIDADE GRANDE”, PENSAVA. NO
INÍCIO, CONSEGUIA IR ÀS AULAS, MAS ESSA AÇÃO COMEÇOU A FICAR MUITO
DIFÍCIL PARA ELE, E SUA FREQUÊNCIA FOI GRADUALMENTE CAINDO NAS AULAS.
ELE TINHA MEDO DE ESTAR COM AS PESSOAS. QUANDO NÃO AGUENTAVA MAIS,
VOLTOU PARA CASA COM UM PENSAMENTO FIXO NA CABEÇA: “EU NÃO SOU
CAPAZ, E TUDO EM MINHA VIDA DÁ ERRADO.” QUAL A FONTE DESSE
PENSAMENTO?
A) Pensamento automático;
B) Sistema de crenças;
C) Um neurônio;
D) Uma emoção.
A) Psicologia Cognitiva;
B) Conexionismo;
C) Funcionalismo;
D) Behaviorismo.
GABARITO
1. Godofredo era um jovem de 19 anos que acabara de ingressar na faculdade. Como era do interior,
saiu da casa dos pais e foi morar na capital com outro rapaz, da mesma cidade, que também entrou na
faculdade. Depois de poucos meses, Godofredo não fez nenhum novo amigo. “As pessoas não são
confiáveis na cidade grande”, pensava. No início, conseguia ir às aulas, mas essa ação começou a
ficar muito difícil para ele, e sua frequência foi gradualmente caindo nas aulas. Ele tinha medo de estar
com as pessoas. Quando não aguentava mais, voltou para casa com um pensamento fixo na cabeça:
“Eu não sou capaz, e tudo em minha vida dá errado.” Qual a fonte desse pensamento?
2. O cérebro é um órgão ativo que faz mediação de comportamento, e não apenas um depositário de
contingências por mera codificação neuronal. Identifique o sistema teórico que faz oposição a essa
ideia:
No Comportamentalismo, o sistema nervoso era visto como um depositário de contingências, passivo, que
apenas codificava em uma linguagem neural(eletroquímica) e armazenava as experiências.Diante de um
estímulo eliciador ou discriminante, o sistema nervoso geraria uma resposta– de fato, “uma tábula rasa”.
A inovação do Cognitivismo foi buscar compreender as operações internas do organismo, ou seja, estudar o
efeito dos processos cognitivos e como esses medeiam comportamentos.O cérebro, no Cognitivismo, é ativo,
coordena e faz a mediação de comportamentos.
Para o Behaviorismo, o importante não é saber o que causa os comportamentos, mas explicar e descrever em
que circunstâncias eles acontecem.O Cognitivismo quer compreender o que causa um comportamento, quais
as fontes de um comportamento motivado, por exemplo, como a criatividade, a arte etc.Na atualidade, são
sistemas teóricos que se complementam, e ainda existem profissionais que são behavioristas radicais.O
Cognitivismo não veio para substituir esse modelo comportamentalista, mas para ampliá - lo.
MÓDULO 4
Para chegarmos até o século XXI, gradualmente evoluímos o nosso jeito de pensar. Por esse motivo,
desenvolvemos tecnologias de acordo com a necessidade do ambiente e sempre em um continuum histórico
de acúmulo de conhecimento.
Por exemplo: 800 mil anos atrás dominamos o fogo; 8 mil anos atrás, a agricultura; atualmente temos
smartphones; amanhã, robôs.
No século XIX, vimos a Psicologia demarcar a sua área de conhecimento, não apenas utilizando os métodos
da Filosofia, mas empregando o método científico. Em 1879, o objeto de estudo da Psicologia era a
consciência, e o método foi a introspecção. Em 1913, abandonamos o estudo da consciência e passamos a
focar no comportamento, por meio da observação.
Na década de 1950, voltamos a estudar a consciência e também o comportamento, mas, então, a Psicologia
era cognitiva. Os processos cognitivos e como estes modulam o comportamento eram o interesse dos
psicólogos. O impacto da tecnologia, o modelo computacional e as Neurociências são importantes
impulsionadores dessa parte da história, até os dias atuais.
Os humanistas, diferentemente de sistemas teóricos anteriores, acreditavam que a personalidade era moldada
pelo presente, como o percebemos de modo consciente, ao contrário das experiências da infância, da
Psicanálise, e do modelo do Determinismo ambiental, do Behaviorismo.
Entretanto, quando surge uma nova escola de Psicologia, uma nova perspectiva teórica, a outra não é
abandonada por completo, pois as diversas escolas coexistem ou se transformam. A Psicologia também viu o
movimento da Gestalt, a era das testagens psicológicas (que é forte no século XXI), entre outros movimentos
que duram até os dias atuais.
A Psicologia Humanista também enfatizou aspectos positivos do desenvolvimento das pessoas e buscou
compreender as razões dos comportamentos motivados, mas seu status científico, por diversas razões, não
causou grande impacto na Psicologia dentro de uma perspectiva metodológica (metodologia científica).
Maslow reconheceu a limitação de sua teoria dentro de uma perspectiva científica, mas também, que não
existiria outra maneira para estudar os aspectos da autorrealização e, talvez, pudesse ter a esperança de que
um dia seus estudos alcançariam confirmações. Mesmo sem estudos atuais que tragam evidências
contundentes acerca da hierarquia de necessidades, em cinco pontos, empiricamente, a abordagem de
Maslow é amplamente utilizada em certos contextos. Como vimos, a hierarquia em apenas dois eixos possui
evidências que podemos generalizar para diversas populações.
Vamos falar um pouco sobre Martin Seligman, psicólogo norte-americano, nascido em 1942, que ficou
conhecido por sua teoria do desamparo aprendido, tanto pela qualidade dos achados, mas também pelas
críticas ao desenho experimental que resultava em sofrimento para as cobaias. Foi presidente da Associação
Americana de Psicologia (APA) no ano de 1997 e, em conjunto com Christopher Peterson (1950-2012),
publicou Character, Strengths and Virtues (Caráter, Forças e Virtudes).
Fonte: https://commons.wikimedia.org
Martin Seligman
Nesse livro, os autores estabelecem um contraponto para o DSM (Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais norte-americano).
A Psicologia Positiva, além de pensar os indivíduos, também pensa em instituições positivas que fomentem
espaço para o desenvolvimento das virtudes. Além disso, pessoas positivas geram ambientes positivos.
De acordo com Bear, Connors e Paradiso (2017), o sistema límbico é descrito como o principal circuito
mediador de nossas emoções. É um conjunto de estruturas situadas em regiões inferiores ao córtex. Ele
integra uma série de áreas e se comunica com todo o sistema nervoso, demonstrando a interação entre essas
áreas e estruturas com a finalidade de produzir, gerenciar uma função.
A especialização de determinadas áreas do cérebro não é questionada, por exemplo, as áreas de linguagem e
de memória. Mas pensar que é a interação de diversas estruturas que gerencia aspectos do nosso
funcionamento e comportamento é muito atrativo e atual. A Psicologia Positiva não refuta as Neurociências,
pois compreende a importância das redes neurais e como as informações são processadas.
Isso não significa abandonar os estudos das funções cognitivas e como elas modulam o comportamento,
tampouco abandonar a Psicologia clínica em suas diversas modalidades. Continuamos em interseção com as
Neurociências, com a discussão sobre a tecnologia, como incorporá-la à Psicologia, e o impacto dela em
nossas vidas.
Como um projeto para o século XXI, a Psicologia Positiva propõe rompermos com os discursos tradicionais e
buscar novas práticas em como avaliar e desenvolver as forças de caráter e virtude nas pessoas, nas
organizações e nas instituições.
ATENÇÃO
Um alerta que já tratamos é contra as falácias do conhecimento: muitas pessoas pegam carona na
Psicologia para propor soluções e serviços para população. Algumas palavras da moda como coaching e
Psicologia Positiva podem estar associadas a práticas meramente comerciais que não resultam no real
desenvolvimento de pessoas, mas apenas fazem uma persuasão verbal, convencem, não são
transformadoras da realidade. Por esse motivo, buscar um psicólogo para discutir sobre o seu
desenvolvimento pessoal pode ser um exercício que trará melhores frutos para você, para o seu tempo e o
seu investimento financeiro.
O psicólogo terá toda a bagagem histórica, poderá avaliar a sua personalidade com cientificidade e
tecnicidade. Poderá avaliar o seu perfil cognitivo, as maneiras que você usa para tomar uma decisão, suas
forças de caráter e virtudes, utilizando as práticas psicológicas refinadas ao longo de mais de um século.
Para a Psicologia Positiva, os pontos fortes de uma pessoa são tão importantes quanto as vulnerabilidades.
Práticas no mercado que atuam com a Psicologia Positiva focadas nos pontos fortes cometem um erro
técnico. Uma avaliação global é necessária. O profissional de Psicologia possui conhecimento técnico e a
prerrogativa profissional para avaliar sua saúde mental, seu perfil de personalidade, perfil cognitivo e
correlacionar com os seus pontos fortes, suas forças de caráter e virtudes. Esses dois aspectos compõem um
projeto mais sustentável para o seu desenvolvimento pessoal.
Existem muitas variáveis que impactam o nosso comportamento e, para um projeto sustentável no médio e
longo prazo, para que você mude a sua vida, busque o desenvolvimento das suas forças de caráter e virtude,
o profissional qualificado no mercado é da Psicologia com uma inscrição ativa em um conselho profissional
(Conselho Regional de Psicologia).
A Psicologia como ciência e a Psicologia Positiva funcionam muito bem em interseção com outras áreas de
atuação, dentro das prerrogativas profissionais próprias das áreas de: pedagogia, licenciaturas, gestão,
desenvolvimento de soluções e produtos para pessoas, entre outros. Agir com ética, cientificidade e
tecnicidade, em acordo com sua formação, é seguro para o cidadão, para nossos filhos, pais, irmãos,
familiares e amigos.
Orientação profissional, no século XXI, é uma expressão que substitui a conhecida orientação vocacional.
Podemos usar outras expressões, por exemplo, orientação de carreira, eleição de carreira ou gestão da
carreira. O trabalho do orientador profissional implica qualquer etapa da vida que esteja associada ao mercado
de trabalho.
Fonte: https://pt.wikipedia.org
A Primeira Revolução Industrial foi, no final do século XVIII, marcada pela tecnologia da máquina a vapor e
a produção em larga escala.
Fonte: https://www.teslasociety.com
Na Segunda Revolução Industrial, no final do século XIX, as tecnologias que vimos foram a eletricidade e,
na Filosofia, a discussão da sociedade industrial com os filósofos Marx e Engels.
Fonte: https://pt.wikipedia.org
Na Terceira Revolução Industrial, nas primeiras décadas do século XX, vivenciamos as tecnologias da
automação e o conceito de taylorismo, menor jornada de trabalho com aumento da produção e Henry Ford e
as linhas de produção.
Atualmente, vivenciamos a Quarta Revolução Industrial, também chamada de indústria 4.0. O termo
sociedade da informação, em vez de sociedade pós-industrial, demarca essa revolução. Tecnologia,
inteligência artificial, robôs, profissões do futuro são discussões do nosso momento histórico, do nosso
Zeitgeist.
Fonte: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao
Perfil demográfico da população, comparando o ano de 2010 e a projeção para o ano de 2060.
O perfil populacional está mudando e, com isso, as características do mercado de trabalho também mudam.
As necessidades das pessoas ao longo da história, principalmente com o advento da tecnologia, mudam.
Compreender essas mudanças e o impacto da tecnologia na vida das pessoas e desenvolver as forças de
caráter e virtude para o futuro é o projeto da Psicologia como uma profissão do futuro.
Cada geração apresenta um estilo próprio na maneira de aprender e se desenvolver. Cada geração possui
forças de caráter e virtude desenvolvidas, de acordo com a necessidade de seu tempo, com a influência do
momento cultural em que viveu, dos acontecimentos políticos e econômicos que vivenciou.
Desenvolver uma pessoa é investigar as fragilidades, descartar patologias ou encaminhar para um cuidado de
saúde, quando necessário. Esses cuidados, associados ao levantamento das virtudes e das forças de caráter,
resultam em um projeto para um desenvolvimento individual, personalizado, para o florescimento das soft
skills de uma pessoa, com ética, cientificidade e tecnicidade, necessárias para a segurança e o respeito à
população.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Pela busca da objetividade do método científico, abandonando a introspecção, para compreender como os
conteúdos mentais influenciam comportamentos.
C) Pelo uso da observação sistemática e do método experimental para descrever as circunstâncias que um
comportamento ocorre e modificá-lo, se necessário.
D) Pelo estudo da percepção humana, suas propriedades e análise do comportamento pela reestruturação do
campo perceptual.
A) Psicologia Cognitiva.
B) Conexionismo.
C) Funcionalismo.
D) Positivismo.
GABARITO
1. Sistematizamos alguns dos principais eventos históricos que estão no alicerce da Psicologia como
uma ciência e uma profissão. Essa diversidade de sistemas teóricos da Psicologia se dá por
divergências do objeto de estudo e do método empregado para estudá-lo. A Psicologia Positiva se
caracteriza:
2. Sistema analítico da Psicologia no século XXI que compreende o cérebro como um órgão ativo,
fenomenológico consciente. A Psicologia tenta compreender alguns adjetivos que são muito
admirados quando os encontramos. De qual sistema estamos falando?
A Psicologia Positiva visa construir processos singulares, menos científicos e mais sociais e relacionados a
dinâmicas sociais. No limite, percebemos que esse movimento tenta superar as limitações pouco científicas do
Humanismo.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção de paradigmas tem sido a identidade da Psicologia. Conta a história que nascemos formalmente
introspectivos com Wundt, nos anos de 1873 e 1879, respectivamente, com a publicação dos Princípios de
Psicologia fisiológica, e a abertura do primeiro laboratório de Psicologia Experimental, na Alemanha. Até os
dias atuais, ainda não encontramos uma grande teoria compatibilizadora, única metodologia ou definição para
os seus construtos e as mesmas definições operacionais. Somos uma ciência ainda pré-paradigmática.
A Psicologia é plural como profissão e como ciência, fazendo interseção com diversas outras áreas de
conhecimento. Muitas profissões se beneficiam da Psicologia como ciência: pedagogos, professores,
gestores, marketing, entre outros.
Em todas as formas de atuação do psicólogo, em todas as áreas, tenha convicção de que a Psicologia
apresenta paradigmas capazes de compreender com profundidade a complexidade do comportamento
humano.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ALLPORT, G. W. The nature of prejudice. 3. ed. Wokingham: Addison-Wesley, 1954.
BEAR, M. F.; CONNORS B. W.; PARADISO M. A. Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso. 3. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2017.
BECK, J. S. Terapia Cognitivo-Comportamental Teoria e Prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
DAVIDSON, R. J.; BEGLEY, S. O estilo Emocional do Cérebro. 1. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning,
2019.
EXPLORE+
Assista ao filme Nise: O coração da Loucura, dirigido por Roberto Berliner. Nise da Silveira foi pioneira na
Psicologia Analítica (Psicologia Junguiana) no Brasil.
Para saber sobre a Lei do efeito, pesquise sobre o experimento clássico da caixa de problemas do Thorndike.
Para saber mais sobre o Reflexo Condicionado, pesquise sobre o experimento clássico do cão de Pavlov.
CONTEUDISTA
Roberto Sena Fraga Filho
CURRÍCULO LATTES