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Catolicismo - Direitos Sociais e Direitos Humanos (1960-1970)
Catolicismo - Direitos Sociais e Direitos Humanos (1960-1970)
Considerar, analisar e pesquisar os sujeitos históricos que moldaram a crise dos anos 1960
pois foram anos de efervescência e mobilização popular. Mas, paradoxalmente, como
apontam os autores, foi também um tempo de autoritarismo e desrespeito aos direitos
humanos.
Período complexo, caracterizado pelo cultivo de diferentes utopias, como também pela
frustração de projetos que animaram inúmeros segmentos da sociedade civil.
A década de 1960 pode ser dividida em duas fases: a primeira antes do regime autoritário e
corresponde aos quatro primeiros anos e a segunda teve sua marca inicial em 1964 e
corresponde à implantação desse regime.
O binômio direitos sociais e direitos humanos determina, nesse texto, um mesmo ponto de
partida - o conceito, a perspectiva histórica e um projeto a ser encarnado. O objetivo dos
autores é evidenciar a atuação dos militantes católicos progressistas.
Os autores buscar interpretar o novo lugar que o catolicismo foi ocupando na sociedade
brasileira, neste período, modificou seu perfil tanto interno quanto externamente. Segundo
eles, foi ocorrendo, uma metamorfose na compreensão de si mesmo. O seu perfil institucional
foi sendo alterado. Com isso, a imagem tradicional da Igreja, sua linguagem e sua projeção na
sociedade apresentavam uma nova direção. A instituição eclesiástica começava a abrir novos
horizontes em sua práxis.
Possível limite cronológico: pode-se estabelecer o final de 1950 e de 1960. Um marco que
sinaliza um novo rumo histórico na trajetória do catolicismo.
As relações entre catolicismo e sociedade possibilitam diálogo, maior união e diversos pontos
de convergência.
De acordo com a autora, nesse período, percebe-se um movimento no quadro religioso, no
sentido de maior aproximação das camadas populares e dos grupos que se empenhavam
por transformações sociais. O envolvimento e a militância de alguns membros do
catolicismo em diversas áreas da sociedade contribuíram grandemente para essa mudança em
nível institucional e da realidade social.
“As propostas e as novas formas proclamadas não se situam em nível de toda a Igreja.
São próprias de alguns setores mais avançados de grupos de leigos, padres e bispos que
procuravam outros passos, favorecendo um diálogo maior com a história, buscando
uma maior participação de seus membros, em vista da construção do que entendiam ser
uma comunidade livre, justa, solidária e fraterna. A Igreja Católica não é um bloco
homogêneo. Nela estão presentes práticas diferentes e mesmo contraditórias.
Existem diferentes comportamentos religiosos e políticos, influenciados pela forma
como seus membros se ligam às várias classes sociais.” (p. 98)
Com isso, a Igreja distancia-se do povo e do catolicismo popular. Essa neocristandade tem
um caráter conservador e desenvolvimentista. Ela se mantém ancorada em torno das
oligarquias conservadoras e dos proprietários rurais. (p. 98)
O projeto de dom Leme distanciou o catolicismo das expressões religiosas populares. Sua
Carta Pastoral de 1916 traçará, em linhas gerais, seu plano de ação para os anos
subsequentes.. O grande ternário desse documento é a ignorância religiosa do povo brasileiro.
Sua preocupação será o ensino da doutrina e dos princípios católicos. Enquanto a Igreja
enfatizava a necessidade de diminuir a ignorância religiosa - "causa de todos os males
sociais", o Estado afirmava que a causa da crise social do país estava no analfabetismo da
maioria da população brasileira. Os dois discursos se encontram na mesma forma de
argumentação. Os desequilíbrios da sociedade passam a ser citados com bastante veemência,
no entanto, sem considerar a formação histórica, cultural, política e religiosa do povo. (p.
100)
O padre Júlio Maria articulava um projeto mais ousado, nos primeiros anos do regime
republicano, seu pensamento era mais fecundo, sua originalidade está na capacidade de
compreender a realidade brasileira e poder dialogar mais abertamente com a cultura, os
desafios sociais, sua posição foi um ponto fora da curva tanto no aspecto histórico quanto no
aspecto religioso.
Com sua reflexão sobre consciência histórica dos tempos modernos e cristianismo. De outra
parte, essas novas formulações do catolicismo resultaram do seu contato e entrosamento com
um contexto histórico efervescente.
1960, polarização política, duas vozes dissonantes de projetos para o futuro do país
“De um lado reuniam-se, em uma ampla frente que lutava por transformações, os
movimentos populares, os sindicatos; os estudantes articulados pela União Nacional dos
Estudantes (UNE), as ligas camponesas, os militares nacionalistas, as frentes parlamentares
reformistas, os socialistas, os comunistas, o clero e os leigos dos movimentos católicos
progressistas. As posições desses grupos, de modo geral, coincidiam com a idéia de se
proceder a uma ampla reforma econômica e social no Brasil. Reforma de cunho socialista
popular, cujo objetivo era, sobretudo, alcançar um desenvolvimento pleno, através da
superação das condições de subdesenvolvimento (Delgado, 2001). Momento de desafio em
face dos problemas de ordem política, econômica, educacional, religiosa. Nesse período,
alguns leigos e membros da hierarquia católica começaram a se interessar por problemas
fundamentais: família, educação, reforma agrária, desenvolvimento econômico, educação.
Era um período que antecedia as eleições no país. Essa era uma atitude nova do catolicismo
brasileiro, procurando balizar a pastoral com referências na realidade histórica.” (p. 103)
O tema dos direitos sociais e dos direitos humanos no discurso e na prática do catolicismo
brasileiro. Podemos perceber seu envolvimento, sua limitação e inquietação. O discurso e a
realização dessa prática foram sendo tecidos lentamente.
Com a eleição de João XXIII, novas contribuições e motivações marcaram o rumo da Igreja
no Brasil. Suas encíclicas Mater et magistra (1961) e Pacem in terris (1963) contribuíram
para a renovação do catolicismo. Uma nova retórica estava acontecendo no mundo religioso
católico. O primeiro documento aborda de forma bastante ampla o problema dos países
subdesenvolvidos e a questão social: "O progresso social deve acompanhar e igualar o
desenvolvimento econômico, de modo que todas as categorias sociais tenham parte nos
produtos obtidos em maior quantidade" (João XXII, 1961, p. 19)
Mudança no discurso da Igreja - não constitui um fim em si mesmo, nem pretende, apenas,
veicular mensagens e valores religiosos, mas tem um objetivo maior: interagir socialmente.
Esse fragmento de texto analisado pela autora chama a atenção para questões virais - a fome
em muitas regiões e o excesso de lucro de vários grupos, a pobreza como conseqüência da má
distribuição de renda - e a condenação daqueles grupos que se sentiam incomodados com
a ação pastoral da Igreja, denominando-a comunista.
Apontou a necessidade de uma renovação eclesial e a formação dos cristãos para a ação
social, política, econômica e cultural.
“Assim, a Igreja se diferenciava daquela dos períodos anteriores. Uma série de fatos e
situações sociais favoreceram sua evolução política e religiosa e renovaram sua ação. Esse
sombrio clima provocou diversas respostas da hierarquia eclesiástica. De certa forma,
fortaleceu a posição do grupo mais progressista e engajado. Essa mudança afetou, ao mesmo
tempo, sua visibilidade histórica e sua própria autocompreensão. Os direitos humanos e
sociais assumiram conotações e interpretações diversas na história do catolicismo brasileiro.”