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TEORIA DA PRODUÇÃO

Estudar o comportamento do consumidor, significa analisar suas restrições, suas preferências e,


por fim, suas decisões.

As decisões de uma empresa são semelhantes, e podemos também dividir a análise inicial em
dois passos: produção e custos de produção.

A Teoria da Firma dedica-se a analisar, explicar e prever as decisões das


empresas, especialmente em relação ao produto/produção final, seu preço, grau
de utilização de fatores de produção e mudanças nessas variáveis.

De forma a organizar nosso aprendizado, dividimos a Teoria da Firma em duas partes:

1. Teoria da Produção
2. Teoria dos Custos

O foco inicial, portanto, é a produção e, para começar, vamos compreender o que são os fatores
de produção, elementos básicos dessa teoria.
Fatores de Produção
▼ INCIDÊNCIA EM PROVA: BAIXA

Durante o processo produtivo, as empresas utilizam trabalho, matérias-primas e máquinas


(capital). Esses itens utilizados para elaborar um produto são chamados de fatores de produção.

Por exemplo, o delicioso pão de queijo, sempre presente em nossos exemplos, para ser
produzido, precisou de ovos, polvilho e outros ingredientes (matérias-primas).

Também precisou de um forno (capital) e uma pessoa para misturar os ingredientes e operar o
forno (trabalho, também chamado mão-de-obra).

Algumas vezes, os fatores de produção também são chamados de insumos – é a mesma coisa.

O Capital, em especial, é bastante amplo: inclui tudo aquilo que é usado na produção sem ser
transformado no processo, como máquinas, equipamentos, prédios, ferramentas etc.

Outra característica do capital é que ele mesmo é um produto, ou seja, passou por um processo
de produção.

DESAMBIGUAÇÃO: CAPITAL FÍSICO X CAPITAL FINANCEIRO

O termo capital costuma ser empregado, na Teoria da Firma, para se referir ao


capital físico, ou seja, máquinas e/ou equipamentos. O capital financeiro –
aquele dinheiro utilizado para fazer a empresa funcionar – é apenas um tipo
específico de capital.
Assim, sempre que falarmos em capital, estaremos nos referindo ao capital físico,
que também podem ser chamados de bens de capital, e são insumos/fatores de
produção. Exceto se for especificado diferente.

Os fatores de produção são remunerados por seu uso, e cada remuneração recebe um nome
específico. No caso do trabalho, por exemplo, chamamos sua remuneração de salário. Veja a
correspondência entre os fatores de produção e suas respectivas remunerações a seguir:

Trabalho Terra Capital

Juros
Salários Aluguéis
capital financeiro

Lucros
capital de risco

Deixe-me esclarecer a remuneração do capital. Como você notou acima, ela se divide em juros
e lucros. Os juros são a remuneração do capital financeiro, e são pré-determinados, independem
do desempenho do empreendimento. Já os lucros são variáveis, pois dependem do
desempenho da empresa.

Basicamente, o capital dos sócios de uma empresa é remunerado por lucros, enquanto o capital
que eles captam, por exemplo, de bancos, é remunerado por juros.
TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO
As empresas também têm algumas restrições. Uma delas é o fato de que há apenas algumas
formas viáveis de combinar os insumos na produção. Em outras palavras, há restrições
tecnológicas.

Note que tecnologia não é apenas um supercomputador ou um dispositivo high tech.

Aquela receita de bolo da vovó, que usa os ingredientes de uma forma singular, aproveitando-
os e combinando-os eficientemente, também é uma tecnologia.

Em outras palavras, tecnologia é o estado atual do conhecimento de como combinar os insumos


para obter produtos (e nosso conhecimento do que pode ser produzido).

Veremos agora uma forma de demonstrar os maiores resultados possíveis, em termos de


produção, da combinação de fatores: as funções de produção.
Funções de Produção
▶ INCIDÊNCIA EM PROVA: MÉDIA

Uma função é uma relação entre entradas e saídas. No nosso caso, entram insumos e saem
produtos.

Portanto, a função de produção relaciona as quantidades utilizadas dos insumos (x1, x2, x3,
... xN) com a quantidade máxima de produto resultante dessa utilização (q).

Pode-se representar genericamente uma função de produção por (calma, não anote ainda!):

q = f(x1, x2, x3, ... xN)

Os grandes mestres economistas, as bancas, eu e, a partir de agora, você também, costumam


simplificar as coisas utilizando apenas dois fatores de produção: capital e trabalho.

Ao representarmos por K e L, respectivamente, podemos dizer que uma função de produção é


(e agora pode anotar):

q = f (K,L)

Lê-se: quantidade produzida (q) é função (f) do capital (K) e do trabalho (L) empregados.

Como é a própria definição de função, cada combinação entre os insumos só


pode levar a uma determinada quantidade produzida.

Em outras palavras, não é possível obter quantidade diferentes se estiver usando


uma quantidade de capital e de capital determinada.

Por outro lado, é possível que diferentes combinações levem ao mesmo nível de
produção.

Agora, uma curiosidade que ajuda a memorizar: o “L” vem de labour, que significa trabalho em
inglês (em português também, mas não costumamos usar muito a palavra “labor”, né?).

Prosseguindo, poderíamos, por exemplo, ter uma função de produção assim:

q = f (K,L) = K.L

Lendo: a quantidade produzida (q) é função da quantidade de capital (K) e trabalho (L), e é igual
à quantidade de capital multiplicada pela quantidade de trabalho.
Portanto, podemos escrever simplesmente assim: q=K.L. Afinal, fica evidente que a quantidade
produzida depende (é função) da quantidade de insumos.

E ela faz sentido, porque indica que quanto mais trabalho e capital nós usarmos, mais iremos
produzis, não é?

Sendo assim, seriam exemplos também as seguintes funções (e muitas outras, é claro):

▶ q=K+L
▶ q = 5K . 2L
▶ q = k2 + 2L3
▶ q = √K . 2L

É claro que cada uma das funções acima tem suas características, então isso é algo que
avaliaremos oportunamente.
CURTO PRAZO E LONGO PRAZO
Talvez você esteja imaginando que a empresa pode combinar trabalho e capital de várias formas.

Você tem razão, se estivermos analisando a produção no longo prazo. No curto prazo isso não
é verdade.

Aliás, a diferença entre curto e longo prazo é exatamente essa:

Curto prazo: período no qual pelo menos um dos fatores não pode ter sua
quantidade alterada.

Longo prazo: tempo necessário para que todos os insumos possam ter suas
quantidades alteradas.

Portanto, no curto prazo, a quantidade de um dos insumos permanece inalterada. Esse insumo
recebe o nome de insumo fixo, enquanto a quantidade do outro pode variar conforme a
vontade da empresa.

Note que os conceitos não estão relacionados com unidades usuais de contagem de tempo
(dias, meses, anos). Quero dizer que não podemos dizer se dois dias é curto prazo ou se 100
anos é longo prazo. O que conta é aquilo que coloquei no box acima.

Para a barraca de frutas da feira, uma semana pode ser suficiente para expandir as instalações
(capital) e recrutar mão-de-obra adicional, e esse seria seu longo prazo.

Uma montadora de automóveis, por outro lado, pode levar 5 anos para construir uma nova
fábrica (capital), embora possa contratar mais operários em alguns dias. Dessa forma, antes de
completar meia década, ela estaria no curto prazo.

E por que é importante diferenciar curto prazo de longo prazo? A boa e velha resposta: porque
é assim que as bancas cobram. Você deverá ser capaz de diferenciar o que acontece em cada
uma das situações.

E você será capaz.

É por aí que começamos.


Curto prazo: produção com apenas um fator variável
▶ INCIDÊNCIA EM PROVA: MÉDIA

Veremos as decisões que a empresa pode tomar quando sua opção consiste em aumentar a
quantidade de trabalho, mantendo constante a quantidade de capital empregada.

Como é na realidade da maioria das empresas, vamos considerar o capital como o insumo fixo
e o trabalho como variável.

Mas antes, precisamos conhecer três conceitos diferentes relacionados ao volume de produção:
produto total, produto médio e produto marginal.

Produto total, médio e marginal

Suponha que nossa empresa produz pão e está operando com uma quantidade fixa de máquinas
de 10 unidades (K=10).

Precisamos também do fator trabalho para produzir. Quando adicionarmos a primeira unidade
de trabalho ou o primeiro trabalhador (L=1) teremos uma quantidade de, digamos, 100 unidades
do produto.

Ao adicionarmos o segundo trabalhador, é razoável imaginar que a produção aumente em maior


proporção. Isso decorre especialização.

Na prática, isso significa que os dois trabalhadores poderão operar as máquinas com maior
eficiência. Por exemplo, com um deles operando o forno enquanto o outro prepara as formas.

Por isso, vamos supor que utilizar a segunda unidade de trabalho adicionou 200 unidades do
produto. Agora temos, digamos, um profissional dedicado ao forno, outro a preparar as formas
e outro para a massa.

Vamos montar uma pequena tabela já com os três conceitos de produto que precisamos
aprender:

Capital (K) Trabalho (L) Produto Marginal Produto Total (q) Produto Médio
10 0 - 0 -
10 1 100 100 100
10 2 200 300 150

Produto total é bem simples de compreender. Trata-se da quantidade total de produto obtida
na produção.
O produto médio do qual falamos aqui é a produto médio por unidade do fator trabalho, ou
seja, o produto total dividido pela quantidade do fator trabalho. Também costuma ser chamado
de produtividade média.

Por fim, o produto marginal, ou produtividade marginal, é a quantidade de produto adicional


que se obtém ao acrescentar uma unidade de trabalho à produção.

q
Produto médio do trabalho (PMeL):
L

∆q
Produto marginal do trabalho (PMgL):
∆L

Obs: o símbolo ‘∆’ (delta) representa variação. Então, o produto marginal é a variação
na quantidade produzida diante de uma variação na quantidade de trabalho.

Achou fácil? Ótimo. Vamos completar nossa tabela de produção no curto prazo, para podermos
complicar um pouco as coisas. Observe que o produto marginal determina o crescimento do
produto total:

Capital (K) Trabalho (L) Produto Marginal Produto Total (q) Produto Médio
10 0 - 0 -
10 1 100 100 100
10 2 200 300 150
10 3 300 600 200
10 4 200 800 200
10 5 160 960 192
10 6 120 1080 180
10 7 40 1120 160
10 8 0 1120 140
10 9 -40 1080 120
10 10 -80 1000 100

O PMgL é um conceito muito importante desta aula, e seu comportamento deve ser
completamente compreendido por você.

Note que, em nosso exemplo, até a terceira unidade de trabalho seu produto marginal está
aumentando, por isso dizemos que ele é crescente. Após isso ele começa a decrescer.

Inicialmente, a especialização faz o produto marginal aumentar.


Mas chega uma determinada quantidade de trabalho que passa a adicionar menos produto. Em
nossa hipótese, isso pode ser causado pelo excesso de gente na produção.

Ao adicionarmos o 9º trabalhador, a produção é menor do que quando tínhamos 8 unidades de


trabalho, pois eles começam a se acotovelar na produção, atrapalhando-se mutuamente. Afinal,
há apenas um forno, certo? O capital é fixo!

Vamos demonstrar a tabela graficamente, para cada um dos produtos (marginal, total e médio).

Curvas de produção

Todas as demonstrações adiante terão a quantidade de trabalho no eixo horizontal.

Começamos colocando o produto marginal correspondente a cada unidade de trabalho,


obtendo assim a curva do produto marginal:

Sem novidades, certo? Apenas o comportamento padrão do produto marginal do trabalho:


primeiro sobe, depois desce.

As quantidades de trabalho 3 e 8 são especiais, nesse caso, pois representam, respectivamente,


o ponto em que o PMGL começa a cair e o ponto no qual ele fica negativo.

Agora é a vez da curva de produto total, que sofre diretamente os efeitos do produto marginal:
Notou algo? Se não, olhe de novo. O produto total cresce em ritmo cada vez mais acelerado até
o acréscimo da 3ª unidade de trabalho. Depois dela o ritmo de crescimento diminui, mas ainda
cresce.

A partir da 8ª unidade de trabalho, o produto total começa a diminuir! É claro que não é
coincidência, pois esses são exatamente os pontos onde o PMGL decresce e fica negativo,
respectivamente.

Vamos à curva de produto médio:

As quantidades produzidas foram definidas arbitrariamente, ou seja, eu inventei os valores. Mas


o comportamento das curvas do exemplo obedece à Lei dos rendimentos marginais
decrescentes.

Ela determina os momentos em que as curvas crescem e decrescem. Vamos entendê-la melhor
para, em seguida, relacionarmos todas as curvas de produção que vimos.

Lei dos rendimentos marginais decrescentes: Determina que, quando


aumentamos a quantidade do fator de produção variável, mantendo o outro fator
fixo, a produtividade marginal do fator variável diminui a partir de determinado
ponto.
Muito bem! Estamos prontos para estabelecer as (importantíssimas) relações gráficas entre as
curvas de produção. Em regra, sempre que for observada a lei dos rendimentos marginais
decrescentes, teremos o seguinte:

Os pontos A, B e C estão aí para destacar as relações mais importantes entre as curvas de


produto, das quais decorrem algumas outras. Além disso, esse assunto...
A – Quando a curva de produto marginal passa de seu ponto máximo o produto total passa
a crescer mais lentamente.

A.1 Portanto, a inclinação da curva de produto total diminui nesse ponto, e a produção
desacelera, mas continua crescendo.

B – Quando a curva de produto marginal cruza a curva de produto médio, esta passa a
decrescer.

B.1 Por isso, quando o PMg fica menor do que o PMe, os dois são decrescentes.

C – Quando o produto marginal se torna negativo, o produto total começa a diminuir.

C. 1 Então, quando o produto marginal é zero, o produto total está em seu nível máximo.

C. 2 Além disso, enquanto o produto marginal for positivo, o produto total estará
crescendo.

A curva abaixo é uma versão mais compacta daquela que vimos anteriormente:
As relações acima são importantíssimas, e valerão para qualquer questão sobre produção no
curto prazo (um insumo variável) que não diga o contrário, como veremos adiante.

Função de produção e produtividade marginal

Agora quero te mostrar como descobrir a produtividade marginal do trabalho a partir da função
de produção.

Para isso, vamos usar uma ferramenta de Cálculo chamada Diferenciação, um processo utilizado
para descobrir funções Derivadas.

Este é um dos raros momentos no curso em que peço que você decore a fórmula, em vez de
entender a ideia por trás dela. Faço isso pois o custo de compreender derivadas seria muito alto,
supondo que você não esteja familiarizado com trigonometria e limites.

Desenvolveremos um pouco mais as derivadas ao longo do curso, mas por enquanto, o que
preciso que você saiba é:

A produtividade marginal do fator variável (trabalho) é a derivada parcial da


função de produção em relação ao trabalho.

E é claro que vou te mostrar como derivar (mesmo que você não saiba o que está fazendo, por
enquanto):

Suponha que temos a função de produção q = L3.K

Para obter o produto marginal do trabalho, fazemos o seguinte passo-a-passo:

1) Descemos uma cópia do expoente de L, que passa a multiplicar L. Deste jeito:

2) Subtraímos 1 do expoente:

Pronto, esta é a derivava da função de produção q = L3.K e, portanto, a nossa


função de produto marginal:
Maximização da produção

Essa parte pode parecer difícil. E é mesmo. Mas está prestes a ficar menos difícil para você do
que é para seus concorrentes. =)

Estou falando da maximização da produção.

Há pouco, vimos que o produto total é máximo quando o produto marginal é zero:

E também sabemos que a função de produto marginal é a derivada da função de produto


total.

Juntando essas duas informações, podemos, a partir da função de produto total, descobrir qual
é a produção máxima.

Nem toda função de produção permitirá descobrimos a produção máxima. Afinal, qual será a
produção máxima de “q = 10 + 20K”? Infinito. Porque o valor de q será maior quanto for maior
“K”. Indefinidamente...

Mas algumas funções de produção permitem isso.

Vamos fazer isso por meio de uma questão.

(SLU-DF/Economista)
1
Considerando uma função de produção do tipo Y = X2 – x3 , em que Y representa o produto e
30
X, o insumo, julgue os itens subsequente.
Ao nível do produto máximo, a produtividade marginal é igual a 20.
Comentários:
Já adianto que essa questão tem tudo para estar errada, já que o produto máximo ocorre quando
o produto marginal é zero, e não 20. Afinal, se o produto marginal é 20, significa que adicionando
mais insumo, obteremos 20 unidades a mais de produto. Não parece que chegou ao máximo,
né?
Já pode marcar “errado” como gabarito.
De toda forma, minha ideia aqui é aprendermos a encontrar o produto máximo.
E começamos derivando a função de produção:
1 3
Y = X2 – x
30

1
Y' = 2X – 3 x2
30

Multiplicando “3” por “1/30”:


3 2
Y' = 2X – x
30

O que é a mesma coisa que:


1 2
Y' = 2X – x
10

Agora, o que temos em mãos é a função de produção marginal, que basta igualarmos a zero
para saber qual é a quantidade de insumo (X) que resulta na produção máxima (Y):
1 2
2X – x =0
10
Se você quiser, pode aplicar a fórmula de Báskara, já que temos uma equação do segundo grau,
mas eu quero propor outra abordagem, que envolve o que chamamos de fatoração. Perceba o
“X” está multiplicando todos os elementos da esquerda, isso significa que podemos reescrever
a função assim:
1
X . (2 – X) = 0
10
Então, como temos uma multiplicação, há duas formas de seu resultado ser zero: se o primeiro
1
elemento (X) for zero, ou se o segundo elemento 2 – X for igual a zero.
10

Se “X” for igual a zero, a produção será zero, então essa não pode ser nossa resposta. Isso porque
além do produto marginal ser zero, é necessário que ele seja decrescente:
Portanto, vamos usar o “segundo elemento”:
1
2– X=0
10

Vou começar colocando o termo que multiplica “X” do outro lado:


1
2 = X
10

E agora, vou multiplicar os dois lados por “10”, para me livrar da fração:
10
20 = X
10
20 = 1X
20 = X
Portanto, 20 é a quantidade do insumo “X” que maximiza a produção. Era aí que a questão queria
te confundir. A produtividade marginal é zero, e não 20.
Gabarito: Errado

De quebra, matamos a próxima questão. Afinal, se há um nível máximo de produção, significa


que a partir daí a produção marginal começa a decrescer.

(SLU-DF/Economista)
1
Considerando uma função de produção do tipo Y = X2 – x3 , em que Y representa o produto e
30
X, o insumo, julgue os itens subsequente.
A produtividade marginal é uma função crescente para todos os valores de X.
Gabarito: Errado

Agora, o longo prazo.


Longo prazo: produção com mais de um fator variável
▲ INCIDÊNCIA EM PROVA: ALTA

Conforme definição vista há pouco, o longo prazo é quando todos os insumos podem ter suas
quantidades alteradas.

Como estamos lidando com dois insumos, é possível alterar tanto a quantidade de capital (K)
quanto a quantidade de trabalho (L).

Isoquantas

Há uma importante representação gráfica que aprenderemos agora. A essa altura você já deve
ter percebido que quando digo “importante”, quero dizer que cai muito em prova!

Estou falando da Isoquantas.

Isos é uma palavra grega que significa igualdade, ou algo muito próximo disso. Por isso, o prefixo
isso é utilizado para transmitir essa ideia de padronização. Isoquanta, então, pode ser traduzido
como “mesma quantidade”.

E é exatamente isso que as curvas Isoquantas nos mostrarão: quais combinações entre as
quantidades dos dois insumos resulta na mesma quantidade de produto.

Vamos ver como fica nossa empresa produtora de pão de queijo quando ela varia as quantidades
de trabalho e de capital. Para isso, vamos montar uma tabela que vai nos mostrar qual a
quantidade de produto para cada combinação.

Capital (K)
1 2 3 4 5
10 200 400 550 650 750
Trabalho (L)

20 400 600 750 850 900


30 550 750 850 1000 1050
40 650 850 1000 1100 1150
50 750 900 1050 1150 1200

Para ler a tabela, escolha uma quantidade de trabalho e uma quantidade de capital, e veja a qual
quantidade de produto essa combinação corresponde.

Por exemplo, com 40L e 5K, o produto será 1.150 unidades.

Observe que, se ficarmos fixos na primeira coluna e descermos uma linha de cada vez, a
produção aumentará por causa do aumento do trabalho.

O mesmo acontece se nos fixarmos na primeira linha e caminharmos para a direito: o produto
aumenta, mas dessa vez por causa da intensificação do capital.
Da nossa tabela, podemos derivar as Isoquantas. A seguir veremos três delas, sendo que cada
uma demonstra as várias combinações entre capital e trabalho que resultam na quantidade de
produto indicada em sua curva.

Cada curva do gráfico é uma isoquanta.

A isoquanta de 550 unidades, mais abaixo (q=550), mostra as combinações de K e L que geram
550 unidades do produto.

O ponto E1, por exemplo, mostra que com 30 L e 1 K obteremos as 550 unidades de produto, a
mesma quantidade obtida no ponto E2, com 10 L e 3 K. O fato de E1 e E2 estarem sobre a mesma
isoquanta indica que são duas combinações distintas entre trabalho e capital que geram a
mesma quantidade de produto.
As isoquantas são curvas que mostram todas as combinações entre os fatores
de produção que geram a mesma quantidade de produção.

O conjunto das curvas forma um mapa de isoquantas, e serve para analisar a decisão que a
empresa fará em relação à alocação de capital e trabalho dependendo da produção desejada.

No exemplo, evidenciamos apenas 3 isoquantas no mapa – respectivamente para 550, 750 e 900
unidades – mas seria possível traçar inúmeras outras entre essas. Dessa forma, caso a empresa
desejasse produzir 900 unidades, poderia flexibilizar sua produção usando mais de um insumo
ou de outro.

Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST)

A taxa marginal de substituição técnica (TMST) mostra quanto de um insumo podemos diminuir
quando tivermos uma unidade adicional do outro insumo, de forma que a quantidade
produzida seja mantida.

TMST = variação do insumo vertical / variação do insumo horizontal


= △L / △K (para nível constante de q)

Ou seja, é a inclinação de uma isoquanta em determinado ponto.

Por exemplo, vamos calcular a taxa marginal de substituição técnica entre os pontos A e B.
No nosso caso, teremos:

TMST = △L / △K = -10 / 1 = -10

Sob um maior rigor, para que o termo marginal seja corretamente empregado, estaremos
falando de uma variação muito pequena entre os dois insumos e, portanto, a inclinação será a
reta tangente.

As isoquantas são, normalmente, decrescentes e convexas, de forma que a inclinação diminui


conforme avançamos da esquerda para a direta, conforme podemos ver a seguir:

Quanto mais inclinada (vertical) é a curva, maior é a TMST. Por isso, no gráfico acima,
TMSTA>TMSTB>TMSTC.

Algo importante sobre a TMST, e válido em todos os casos, é que ela é igual à relação entre a
produtividade marginal dos fatores de produção.

Assim:

-PMgK -∆L
TMST= = | f(L,K) = constante
PMgL ∆K
Duas isoquantas especiais

Existem duas isoquantas que são casos extremos, e possuem taxas marginais de substituição
técnicas bem particulares.

a) ISOQUANTA ESPECIAL 1: INSUMOS SUBSTITUTOS PERFEITOS

Quando capital e trabalho são substitutos perfeitos, sua TMST é constante, o que caracteriza suas
isoquantas retas. Por exemplo, os pontos A, B e C são combinações entre os insumos que
resultam na mesma produção (q3). Por isso, diz-se que os insumos são substitutos perfeitos na
produção.

Atenção! Não é preciso que a TMST seja de 1 por 1, ou seja, basta que a proporção de
substituição sempre seja a mesma. Por exemplo, se ao abrir mão de 4 unidades de trabalho e
obter 3 unidades de capital a produção for mantida na mesma quantidade, estaremos diante de
substitutos perfeitos.

b) ISOQUANTA ESPECIAL 2: FUNÇÃO DE PRODUÇÃO DE PROPORÇÕES FIXAS


O formato em L aparece quando os insumos precisam ser combinados em proporções fixas.
Isso quer dizer que não adianta aumentar só um dos insumos para aumentar a produção.

Veja o exemplo: do ponto A para o ponto D, aumentou-se somente o capital e, como resultado,
continuou-se na mesma isoquanta (q1).

Portanto, não há possibilidade de substituição entre os fatores de produção, já que eles são
perfeitamente complementares.

Além disso, uma função de produção associada a essas isoquantas em L é chamada de função
de produção com proporções fixas ou função do tipo Leontief.

A função do tipo Leontief (função “min”)

Trata-se das funções do tipo:

q=min(K,L)

O termo "min" significa "mínimo", ou seja, a quantidade produzida será igual à


quantidade do insumo menos utilizado.

Por exemplo, se a função for "q = min (K, L)", e a quantidade de capital (K) for 3 e
a quantidade de trabalho (L) for 5, teremos:

q = min (3, 5)
q=3 porque “3” é menor do que “5”

E se a quantidade de capital for 3 e a quantidade de trabalho for 5000, por


exemplo, teremos:

q = min (3, 5000)


q=3 continua sendo “3” o menor

Viu só? Isso significa que os insumos são complementares perfeitos, você
precisa sempre de terminada combinação deles (nesse caso, um de cada) para
produzir. Não adianta nada aumentar capital se não aumentar trabalho, e vice-
versa.

Em alguns casos, pode haver parâmetros multiplicando ou dividindo cada


insumo, indicando que a proporção de insumos que deve ser utilizada é diferente
de “um para um”. Veja esta função:

q=min(K,4L)

Ela indica que devem ser utilizadas 4 unidades de capital para cada unidade de
trabalho (é invertido mesmo, porque estamos multiplicando).
Se tivermos 8 unidades de cada, teremos;
q=min(8 , 4.8)
q=min(8 , 32)
q=8

Ora, poderíamos ter produzido isso utilizando 2 unidades de trabalho, em vez de


8 unidades, pois assim estaremos respeitando a proporção de 4 unidades de
capital para cada unidade de trabalho:

q=min(8 , 4.2)
q=min(8 , 8)
q=8

Faça os testes colocando valores arbitrários nessa função para entender seu
funcionamento.

Mais um detalhe importante: no segmento horizontal desse tipo de isoquanta, da forma como
posicionamos os fatores de produção, o PMgK é zero, o que reforça que aumentar o capital não
aumentará em nada a produção; enquanto no segmento vertical é o PMgL que é igual a zero e,
portanto, aumentos de trabalho também não farão efeito no produto.

Rendimentos de Escala

No longo prazo, a empresa consegue aumentar sua escala, que nada mais é do que aumentar
todos os insumos ao mesmo tempo, na mesma proporção.

Existem três classificações possíveis, as quais veremos a seguir, considerando, por exemplo, que
os insumos dobraram:

 Rendimentos crescentes de escala: A produção mais do que dobra. Esse


comportamento é compatível com a especialização, que permite à empresa, por exemplo,
implementar linhas de montagem especializadas quando aumenta sua escala.
 Rendimentos constantes de escala: A produção também dobra.
 Rendimentos decrescentes de escala: A produção menos do que dobra. Ao contrário
da especialização, empresas muito grandes têm maiores dificuldade de administrar seus
recursos, tendo de alocar cada vez mais capital e trabalho em atividades de gestão que
não acrescentam, necessariamente, mais produção.

Os rendimentos de escala podem variar dependendo do nível de produção. Explico:


normalmente, em níveis de produção mais baixos, a empresa pode ter rendimentos crescentes
de escala, enquanto em níveis mais altos, ela pode se deparar com rendimentos decrescentes
de escala.

É possível saber, através de análise gráfica das isoquantas, qual o tipo de rendimento de escala
que aquela empresa está apresentando.
Aqui, temos rendimentos constantes de Esse gráfico, por outro lado, apresenta
escala. Quando dobramos capital e rendimentos crescentes de escala.
trabalho, dobramos também o produto. Quando dobramos capital e trabalho, o
produto triplica. As isoquantas vão ficando
O espaço entre as isoquantas é igual. cada vez mais próximas.

Outra forma de identificar com qual tipo de escala a empresa se depara: a função de produção.
Sua análise nos mostrará se a empresa opera com rendimentos crescentes, constantes ou
decrescentes, e as questões cobrarão que você o faça em funções do tipo Cobb-Douglas.

Grau das Funções de Produção


▲ INCIDÊNCIA EM PROVA: ALTA

As questões de prova irão fornecer uma função e você vai precisar descobrir o grau dela, talvez
a questão ainda pergunte o que o grau encontrado significa.

Para descobrir o grau de funções do tipo Cobb Douglas, que são as que aparecem com maior
frequência, basta somar os expoentes das variáveis, que geralmente serão K (capital) e L
(trabalho).

Por exemplo, vamos encontrar o grau da função de produção abaixo:


Ou seja, o grau será 2 (expoente de K) mais 1 (expoente de L), que é igual a 3.

Outro termo que pode aparecer é “função homogênea”.

Uma função é homogênea se quando seus fatores sofrem uma transformação, o resultado sofre
uma transformação proporcional.

Tome por exemplo a função a seguir:

Q=K.L

Colocamos dois valores quaisquer para K e L:

Q=10.15=150

Agora, vamos transformar os fatores, multiplicando-os por 4 (também um valor qualquer):

Q=4K.4L

Q=4.10.4.15=2400

Perceba que ao multiplicar os fatores por 4, obtivemos um valor 16 vezes maior. 16 é


proporcional a 4. Por final, é equivalente a 42. É isso que quer dizer quando dizemos que a função
“Q=K.L” é homogênea de grau 2: uma transformação levará a um resultado equivalente ao valor
utilizado ao quadrado.

E a soma dos expoentes? É 2, claro, já que Q=K.L=K1.K1. Lembre-se que elevar um número
qualquer a 1 tem como resultado o próprio número.

Funções do tipo q=min(K,L) são sempre homogêneas de grau 1. E o que esse grau das funções
significa? Veja na tabela:

Grau Descrição
Menor do que 1 Rendimentos decrescentes de escala
Igual a 1 Rendimentos constantes de escala
Maior do que 1 Rendimentos crescentes de escala

Note que isso faz sentido, pois sempre que:


▶ a soma dos expoentes em uma função do tipo Cobb-Douglas for inferior a 1, dobrar os
fatores levará a uma produção menos de duas vezes maior.
▶ a soma dos expoentes em uma função do tipo Cobb-Douglas for igual a 1, dobrar os
fatores levará ao dobro da produção.
▶ a soma dos expoentes em uma função do tipo Cobb-Douglas for superior a 1, dobrar os
fatores levará a uma produção mais de duas vezes maior.

Exemplos:

Função Com K=9 e L=8 Com K=18 e L=16


q=K1/2.L1/3 (grau 0,83) q = 91/2.81/3 = 6 q =181/2.161/3 = 10,69
q=K1/2.L1/2 (grau 1,00) q = 91/2.81/2 = 8,49 q =181/2.161/2 = 16,98
q=K2.L (grau 3,00) q = 92.8 = 648 q =182.16 = 5184

Teorema de Euler
▼ INCIDÊNCIA EM PROVA: BAIXA

Esse assunto aparece raramente em provas, por isso teremos uma abordagem bastante direta.

O teorema nos diz que se uma função de produção Q=f(K,L) é homogênea de grau “H”, então:

K.PmgK + L.PmgL = H.Q

Ou seja, para uma função homogênea de grau H, o somatório dos valores da multiplicação dos
fatores de produção por suas respectivas produtividades marginais (K.PmgK + L.PmgL) é igual
ao valor da produção (Q) multiplicada pelo seu grau de homogeneidade “H” (H.Q).

Observe que, se uma função tiver grau de homogeneidade igual a 1, então, o teorema pode ser
reescrito da seguinte maneira: o somatório dos valores da multiplicação dos fatores de produção
por suas respectivas produtividades marginais (K.PmgK + L.PmgL) é igual ao valor da produção
(Q).

Assim, supondo a função de produção Q=Ka.L1-a, qual será o valor da produção (Q), tomando por
base o teorema de Euler?

Bem... sabemos que a função apresentada, com certeza, possui grau de homogeneidade igual a
1 (a soma dos expoentes é igual a 1). Então, o valor de Q será:

Q = K.PmgK + L.PmgL

Elasticidade de Substituição

Conforme sabemos, elasticidade tem a ver com sensibilidade.


A elasticidade de substituição mede a sensibilidade com que com que a taxa marginal de
substituição técnica de capital por trabalho varia quando nos movemos ao longo de uma
isoquanta.

É uma medida numérica que pode nos ajudar a descrever a oportunidade de substituição entre
os fatores de produção da firma.

O movimento ao longo da isoquanta é dado pelas mudanças na relação capital-trabalho (K/L).

Por exemplo, no ponto A do gráfico a seguir, a relação capital-trabalho é alta – tem muito capital
e pouco trabalho. No ponto B, por outro lado, essa relação é menor. No ponto C, por fim, K/L é
ainda menor.

Algebricamente, a elasticidade de substituição, em geral representada por σ (letra grega


“sigma”), mede a variação percentual na relação capital-trabalho para cada variação de um ponto
percentual na TMST, conforme nos movemos ao longo de uma isoquanta. Matematicamente,

variação percentual na relação capital/trabalho


σ=
variação percentual na TMST

K
%Δ ( )
L
σ=
%Δ TMST

A elasticidade de substituição pode variar de “zero” a “infinito”. Nós podemos inferir algumas
conclusões a partir do valor de σ.

▶ Se σ = 0, por exemplo, nós sabemos que não há qualquer oportunidade de substituição


entre os fatores de produção da empresa, e isto ocorre quando eles são complementares
perfeitos e a função de produção de Leontief (a isoquanta é um “L”).
▶ Se σ = ∞, saberemos que as oportunidades de substituição entre os fatores de produção
são infinitas, ou seja, a possibilidade de substituição é total. Neste caso, os fatores são
substitutos perfeitos e a função de produção é linear (a isoquanta é uma reta).
Em relação à elasticidade de substituição, há ainda um caso especial que merece
ser comentado. É o caso das funções de produção do tipo Cobb-Douglas
(Q=A.Ka.Lb). Esse tipo de tecnologia de produção apresenta elasticidade de
substituição constante e igual a uma unidade (σ=1).

Resumindo, então, sobre a elasticidade de substituição:

Elasticidade de
Tecnologia de produção
substituição
Proporções fixas σ=0
Substitutos perfeitos σ=∞
Cobb-Douglas σ=1

Por fim, ressalto que, em qualquer dos casos acima, a elasticidade de substituição será constante.
Ou seja, não mudará qualquer que seja a combinação de insumos utilizada.
RESUMO
 Fatores de produção são os insumos utilizados no processo produtivo para obter o
produto, e os principais são trabalho (L) e capital (K).
 A função de produção fornece a quantidade máxima que pode ser obtida pela
combinação de fatores de produção.
 Quando utilizamos apenas o trabalho, podemos medir seu produto médio ao dividir a
função de produção pelo trabalho, e seu produto marginal pela derivada da função total.
 A lei dos rendimentos marginais decrescentes informa que o produto marginal do insumo
variável diminui a partir de determinado ponto, quando um outro insumo é mantido fixo.
 No curto prazo, pelo menos um insumo é fixo.
 No longo prazo, todos os insumos são variáveis.
 A isoquanta é uma curva que mostra as diferentes combinações de fatores de produção
que levam à mesma quantidade produzida.
 A TMST fornece a inclinação da isoquanta, que é a taxa pela qual um insumo pode ser
substituído pelo outro, mantendo a produção constante.
 Substitutos perfeitos têm isoquantas lineares, enquanto complementares perfeitos têm
isoquantas em “L”.
 Ao aumentar a quantidade de todos os fatores, dizemos que a empresa está aumentando
sua escala.
 Se o aumento na escala aumentar a produção em maior proporção, estaremos diante de
rendimentos crescentes de escala.
 Se o aumento na escala aumentar a produção em menor proporção, estaremos diante de
rendimentos decrescentes de escala.
 Se o aumento na escala aumentar a produção em mesma proporção, estaremos diante
de rendimentos constantes de escala.
 A soma dos expoentes em funções do tipo Cobb-Douglas fornece o grau da função, e
seu rendimento de escala.

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