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Resumo do Livro de Carlos Eduardo Se

Contexto Histórico da Sociologia


A sociologia é uma disciplina científica que surgiu no século XIX em resposta às
necessidades da sociedade da época. Seu surgimento está ligado a três eventos
importantes:
1. Revolução Industrial: No século XIX, a Revolução Industrial
transformou drasticamente a sociedade com o surgimento de máquinas,
mudanças econômicas e novas classes sociais, como a burguesia e o
proletariado.
2. Revolução Francesa: Em 1789, a Revolução Francesa derrubou a
monarquia e introduziu ideais democráticos, como os direitos do homem e a
liberdade, igualdade e fraternidade.
3. Iluminismo: O Iluminismo, um movimento intelectual que
defendia o uso da razão para entender e organizar o mundo, influenciou
profundamente a forma de pensar das pessoas.
Transformações Culturais, Políticas e Econômicas
 Renascimento: No século XV, o Renascimento promoveu uma
mudança cultural colocando o homem no centro (antropocentrismo) em vez de
Deus (teocentrismo).
 Iluminismo: Acrescentou à ideia renascentista o potencial da
razão humana para guiar a sociedade.
 Revolução Industrial: Transformou a economia agrária em uma
economia industrial, gerando migração, urbanização e novas formas de
pobreza.
Nascimento da Sociologia como Ciência
 Até o século XIX, as questões sociais eram geralmente analisadas
apenas pela filosofia política, sem método científico.
 Com o desenvolvimento da ciência, especialmente o método
científico, no século XVII, surgiu uma nova abordagem para entender a
sociedade.
 Augusto Comte propôs a ideia de uma "Física Social" (mais tarde
chamada de sociologia) para aplicar o método científico ao estudo da
sociedade.
Questões Essenciais Abordadas pela Sociologia
 Quais são as causas das transformações sociais?
 Quais são as características da sociedade moderna?
 Como lidar com essas transformações?
Contribuição de Augusto Comte
 Em 1836, Comte cunhou o termo "sociologia" para descrever o
estudo científico da sociedade.
 Ele é considerado o fundador da sociologia e suas ideias são
fundamentais para o entendimento desta disciplina.
Vida e Influências de Augusto Comte
 Nascimento e Educação: Augusto Comte nasceu em 1791, em
Montpellier, França, em uma família católica e monarquista. Ele estudou na
École Polytechnique de Paris e trabalhou como secretário de Saint Simon.
 Contribuição e Ideias: Comte foi influenciado pela École
Polytechnique, enfatizando estudos matemáticos e científico-tecnológicos. Ele
também dedicou seus últimos anos à organização da "religião da humanidade"
e escreveu o "Catecismo Positivista".
O Positivismo
 Definição: Comte é considerado um dos representantes do
movimento iluminista, defendendo que a razão ou ciência deve guiar a
sociedade.
 Lei dos Três Estados: Comte propôs que a evolução humana
passa por três estágios: teológico, metafísico e positivo (científico).
 Teológico: Explicações baseadas em divindades.
 Metafísico: Explicações por entidades abstratas.
 Positivo: Explicações por meio da observação científica e
formulação de leis.
 Papel da Ciência: Comte via a ciência como a única explicação
legítima para a realidade, substituindo a religião e a filosofia.
Positivismo na Sociologia
 Concepção de Ciência: Comte propôs que a sociologia adotasse
o método das ciências da natureza.
 Divisão da Sociologia: Ele dividiu a sociologia em estática
(estudo das condições constantes da sociedade) e dinâmica (estudo das leis de
desenvolvimento histórico da sociedade).
Resumo do Positivismo
 Dimensão Filosófica: A ciência é a única explicação legítima para
a realidade.
 Dimensão Sociológica: A sociologia deve adotar o método
científico das ciências da natureza.
Contribuição de Comte para a Sociologia
 Pai Fundador da Sociologia: Comte estabeleceu as bases da
sociologia ao propor definições e métodos para o estudo dos fenômenos
sociais.
1. Teoria Sociológica
 O que é: É a base teórica que os sociólogos desenvolvem para
entender a sociedade.
 Contribuições dos Autores Clássicos:
 Durkheim: Contribuiu com a sociologia funcionalista, que
analisa como diferentes partes da sociedade funcionam juntas para
manter a estabilidade social.
 Weber: Introduziu a sociologia compreensiva, que busca
entender o significado que as pessoas atribuem às suas ações e como
esses significados influenciam o comportamento social.
 Marx: Desenvolveu a sociologia histórico-crítica, que
analisa como as relações sociais, especialmente as relações de classe,
moldam a sociedade ao longo do tempo.
2. Teoria da Modernidade
 O que é: Refere-se à compreensão das mudanças sociais que
ocorrem na sociedade moderna.
 Contribuições dos Autores Clássicos:
 Durkheim: Abordou a divisão social do trabalho,
destacando como a especialização e interdependência das funções
sociais aumentam na sociedade moderna.
 Weber: Falou sobre a racionalização da cultura e da
sociedade, explorando como a racionalidade influencia a organização e o
funcionamento das instituições modernas.
 Marx: Concentrou-se no modo de produção capitalista,
descrevendo como a economia capitalista molda a vida social e as
relações de poder.
3. Projeto Político
 O que é: Refere-se às ideias e propostas dos autores sobre como
a sociedade deveria ser organizada.
 Contribuições dos Autores Clássicos:
 Durkheim: Tende a uma postura conservadora, defendendo
a coesão social e a manutenção da ordem existente.
 Weber: Propôs a neutralidade axiológica, defendendo que
os sociólogos devem ser neutros em relação aos valores ao realizar suas
análises.
 Marx: Adotou uma postura revolucionária, criticando o
capitalismo e defendendo uma transformação radical da sociedade em
direção ao comunismo.
Considerações Finais
 Essas dimensões não são independentes, mas inter-relacionadas.
 Servem como ferramentas para análise comparativa entre os
autores e suas contribuições para a sociologia.
 Muitas das tarefas da sociologia contemporânea envolvem
retomar e revisitar as ideias dos clássicos para avaliar sua validade e relevância
nos tempos modernos.
Epistemologia
 Definição: Refere-se aos fundamentos filosóficos da sociologia,
especialmente relacionados à origem, validade e possibilidade do conhecimento
científico.
 Debate Empirismo vs. Racionalismo:
 Empirismo: Defende que o conhecimento deriva da
experiência sensorial, colocando ênfase no papel do objeto na origem do
conhecimento.
 Racionalismo: Argumenta que o sujeito desempenha um
papel primordial na origem do conhecimento, organizando os dados da
experiência através de categorias mentais inatas.
 Influência na Sociologia:
 A posição filosófica adotada influencia como os
sociólogos entendem a relação entre indivíduo e sociedade, assim como
determina os métodos considerados adequados para as ciências sociais.
 Sociólogos empiristas tendem a enfatizar a influência da
sociedade sobre o indivíduo, enquanto os racionalistas destacam o papel
ativo do indivíduo na construção social.
Metodologia
 Definição: Refere-se aos procedimentos adotados pela sociologia
para explicar os fenômenos sociais.
 Objeto Material vs. Objeto Formal:
 Objeto Material: Refere-se ao que a sociologia estuda,
como a sociedade, indivíduo e natureza.
 Objeto Formal: Indica como a sociologia estuda esses
fenômenos, ou seja, os métodos, técnicas e procedimentos utilizados.
 Delimitação do Objeto de Estudo:
 A sociologia define sua área de estudo ao determinar as
fronteiras entre natureza, indivíduo e sociedade, e ao identificar o que
constitui o "social".
 Procedimentos de Análise:
 Uma vez definido o objeto de estudo, a sociologia
estabelece como irá proceder para explicar esse conjunto da realidade,
desenvolvendo métodos específicos de análise.
Considerações Finais
 A distinção entre epistemologia e metodologia é fundamental,
embora ambas estejam intimamente relacionadas.
 A teoria sociológica, seja em suas questões epistemológicas ou
metodológicas, é essencial para a interpretação da realidade social.
 Nesta seção, aborda-se a dimensão teórico-empírica da
sociologia, centrada nos resultados das pesquisas dos sociólogos e sua
compreensão do mundo moderno. Os sociólogos clássicos foram os pioneiros
na interpretação desse mundo em transformação, buscando entender suas
origens, estruturas e dinâmicas.
 Interpretação da Modernidade
 Os sociólogos clássicos se dedicaram a analisar a modernidade,
identificando suas características distintivas em relação às sociedades
tradicionais.
 A modernidade trouxe mudanças profundas na organização da
produção, distribuição do poder e compreensão da existência.
 Problemas Analisados
 Características da Sociedade Tradicional: Estudo das
estruturas e dinâmicas das sociedades pré-modernas.
 Fatores de Mudança Social: Identificação dos elementos que
impulsionaram a transição da sociedade tradicional para a moderna.
 Características da Modernidade: Análise das novas formas de
organização social, econômica e política na sociedade moderna.
 Contribuições dos Clássicos da Sociologia
 Durkheim: Explorou os conceitos de solidariedade mecânica e
orgânica, analisando a transição da sociedade tradicional para a moderna.
 Weber: Investigou a racionalização da
 sociedade e a secularização,
 destacando a transformação das sociedades teocêntricas em
sociedades seculares.
 Marx: Concentrou-se na análise do modo de produção
capitalista, descrevendo a transição das formas antigas e feudais de produção
para o capitalismo industrial.
 Reflexões sobre a Modernidade
 A análise da modernidade pelos sociólogos clássicos fornece
insights valiosos sobre as origens e características da sociedade
contemporânea.
 As interpretações dos clássicos continuam a ser debatidas e
estudadas, pois oferecem perspectivas fundamentais sobre a sociedade
moderna.
 3.3. Dimensão Teórico-Política
 Nesta seção, explora-se a dimensão teórico-política da
sociologia, destacando a relação entre teoria sociológica e projeto político
subjacente. A sociologia, desde seu surgimento, tem sido influenciada por
questões políticas e ideológicas, refletindo diferentes perspectivas em relação à
sociedade e à mudança social.
 Função Política da Sociologia
 A sociologia não é apenas uma disciplina teórica, mas também
possui uma função política, buscando compreender os mecanismos de
funcionamento da sociedade e atuar sobre ela.
 Os sociólogos clássicos se envolveram na análise das questões
políticas de sua época e propuseram diferentes projetos políticos.
 Abordagens Políticas na Sociologia
 Conservadora: Defendia a preservação da ordem social
emergente da modernidade, aliando-se aos interesses da burguesia.
 Neutra: Propunha uma postura de neutralidade, buscando
oferecer soluções objetivas para os problemas sociais, sem se alinhar a
interesses de classe.
 Crítica ou Transformadora: Buscava questionar a ordem social
vigente e lutar por sua transformação, muitas vezes apoiando o proletariado e
criticando as estruturas capitalistas.
 Importância da Reflexão Política na Sociologia
 A compreensão dos pressupostos políticos e ideológicos
subjacentes às teorias sociológicas permite uma análise crítica dessas teorias.
 A sociologia, como disciplina, não está imune às lutas sociais e
políticas, e a reflexão sobre suas implicações políticas é fundamental para os
estudiosos da área.
 Considerações Finais
 Os clássicos da sociologia oferecem perspectivas diversas sobre a
relação entre teoria sociológica e projeto político, colocando em pauta questões
fundamentais sobre a inserção do cientista social na sociedade e suas visões de
mundo.
Capitulo II: Emile Durkheim
Émile Durkheim, um dos principais expoentes da sociologia, dedicou sua obra à
busca de conferir à disciplina uma reputação verdadeiramente científica, influenciado
pelo positivismo de Augusto Comte. Sua contribuição à sociologia é marcada por
estudos pioneiros em áreas como a sociologia da religião, do conhecimento e pelo seu
trabalho empírico sobre o suicídio. Além disso, Durkheim é reconhecido como um dos
grandes analistas da sociedade moderna, principalmente por sua tese da divisão social
do trabalho, que evidencia a complexidade da sociedade contemporânea e suas
implicações nas relações sociais e na organização social.

I. Vida e Obras

- **Vida de Émile Durkheim:**


- Nasceu em 15 de abril de 1858, em Épinal, Alsácia, França, filho de rabinos.
- Estudou filosofia em Paris e teve interesse precoce pelas questões sociais.
- Em 1887, foi nomeado professor de pedagogia e ciências sociais na
Universidade de Bordeaux, onde iniciou seus estudos sociológicos.
- Durante sua carreira, escreveu suas principais obras e fundou a revista "L'Anné
Sociologique", que se tornou um importante veículo para o desenvolvimento da
sociologia na França.
- Em 1902, foi convidado para lecionar na Universidade de Sorbonne, em Paris,
onde se consolidou como uma figura proeminente da sociologia.
- Durkheim faleceu em 15 de novembro de 1917, em Paris, durante os tumultos
da Primeira Guerra Mundial.

- **Principais Obras de Durkheim:**


- "A Divisão Social do Trabalho" (1893)
- "As Regras do Método Sociológico" (1895)
- "O Suicídio" (1897)
- "As Formas Elementares da Vida Religiosa" (1912)
- Obras póstumas incluem "Educação e Sociologia" (1922), "Sociologia e
Filosofia" (1924) e "O Socialismo" (1928).

Contexto Social e Intelectual

- Durkheim viveu durante a "belle époque", um período de progresso e otimismo


marcado por grandes inovações tecnológicas. No entanto, também surgiram
problemas sociais característicos da modernidade, conhecidos como a "questão
social".
- O pensamento de Durkheim foi influenciado pelo positivismo de Comte, pelo
evolucionismo de Spencer e pelo conservadorismo de filósofos como Burke, Maistre e
Bonald.
- Durkheim compartilhava do objetivo de consolidar as conquistas da
sociedade moderna, buscando eliminar os problemas sociais transitórios e promover
a estabilidade social.

Durkheim não apenas contribuiu significativamente para o desenvolvimento da


sociologia como disciplina acadêmica, mas também influenciou profundamente a
compreensão da sociedade moderna e suas dinâmicas sociais. Sua abordagem
científica e sua preocupação com a estabilidade social deixaram um legado duradouro
no campo da sociologia.

II. Teoria Sociológica Funcionalista


Na obra "As Regras do Método Sociológico", Durkheim enfatizou a necessidade
de um método específico para a sociologia, inaugurando assim uma das principais
teorias sociológicas modernas: o funcionalismo. Antes de desenvolver seu método,
Durkheim enfrentou questões epistemológicas fundamentais sobre a relação entre
indivíduo e sociedade e o papel do método científico na explicação dos fenômenos
sociais, influenciado pelo positivismo de Comte.
2.1 Epistemologia
 Superioridade da Sociedade sobre o Indivíduo:
 Durkheim sustentava que a sociedade precede o indivíduo,
com a explicação da vida social fundamentada na sociedade, não no
indivíduo.
 As estruturas sociais, uma vez estabelecidas, operam
independentemente dos indivíduos, moldando seu comportamento.
 Método Científico:
 Inspirado pelo positivismo, Durkheim buscava dotar a
sociologia de características semelhantes às ciências da natureza.
 Defendia que os fenômenos sociais devem ser tratados
como "coisas", exigindo uma abordagem objetiva e imparcial.
2.2 Metodologia Funcionalista
 Objeto de Estudo: Fato Social:
 Durkheim definiu o objeto da sociologia como o "fato
social", uma maneira de agir que exerce coerção sobre o indivíduo e tem
uma existência independente.
 Objeto Formal: Método Funcionalista:
 O método funcionalista de Durkheim, inspirado na biologia,
visa explicar os fenômenos sociais demonstrando sua função na
sociedade.
 Os fatos sociais existem porque cumprem uma função
específica para o bom funcionamento da sociedade.
 A sociedade é comparada a um corpo vivo, com diferentes
partes (instituições sociais) cumprindo funções específicas.
Esta abordagem funcionalista, embora inicialmente aplicada por Durkheim,
influenciou significativamente o desenvolvimento posterior da sociologia, sendo
refinada e aprimorada por outros pensadores como Talcott Parsons e Robert Merton,
culminando no que ficou conhecido como estrutural-funcionalismo. A ideia central de
que os fenômenos sociais desempenham funções específicas para a estabilidade e
funcionamento da sociedade continua a ser um dos pilares da teoria sociológica.
III. Modernidade e Divisão Social do Trabalho
Na sua extensa obra, Durkheim não se limitou apenas à elaboração de um
método para a sociologia. Ele também se dedicou a compreender as sociedades
concretas, tanto as do passado quanto as do seu próprio tempo. Durante esse
processo, ele delineou sua interpretação sobre a origem e as características do mundo
social moderno.
3.1 A Divisão Social do Trabalho (1893)
Em sua primeira grande obra, Durkheim investiga a função da divisão do
trabalho nas sociedades modernas. Ele adota a tese de que a sociedade passa por um
processo de evolução, caracterizado pela diferenciação social, dividindo esse processo
em duas etapas: a sociedade de solidariedade mecânica e a sociedade de solidariedade
orgânica.
 Solidariedade Mecânica vs. Solidariedade Orgânica:
 Nas sociedades de solidariedade mecânica, os indivíduos
compartilham uma consciência coletiva comum, sendo fortemente
coesos e similares entre si. A consciência coletiva é o conjunto de crenças
e sentimentos comuns à sociedade.
 Nas sociedades de solidariedade orgânica, a integração
social é baseada na interdependência das diferentes funções sociais,
resultando em uma maior especialização e diferenciação.
 Direito Repressivo vs. Direito Restitutivo:
 Na solidariedade mecânica, predomina o direito repressivo,
onde as violações das normas sociais são punidas como forma de
reforçar a coesão social.
 Na solidariedade orgânica, é predominante o direito
restitutivo, que busca restabelecer a ordem das coisas sem
necessariamente focar na punição.
 Estrutura Social:
 Nas sociedades tradicionais, a estrutura é caracterizada
por segmentos homogêneos e isolados, sem muita interação entre si.
 Com o tempo, o aumento populacional e a intensificação
das interações sociais levam à diferenciação social e à divisão do
trabalho.
3.1.1 Solidariedade Mecânica
Nas sociedades de solidariedade mecânica, os indivíduos são fortemente
integrados pela consciência coletiva e pela homogeneidade cultural. A vida em comum
é guiada por uma cultura compartilhada, e a coerção social é mantida principalmente
pelo direito repressivo. A estrutura social é segmentada, com grupos isolados e pouca
comunicação entre eles.
3.1.2 Evolução Social
Com o aumento populacional e a intensificação das interações sociais (volume,
densidade material e densidade moral), ocorre uma diferenciação social. Esse processo
leva à especialização das funções e à divisão do trabalho, marcando o surgimento da
solidariedade orgânica nas sociedades modernas.
Durkheim destaca que a solidariedade orgânica, baseada na interdependência
das diferentes funções sociais, é fundamental para a coesão social nas sociedades
modernas. Assim, a evolução social é caracterizada pelo desenvolvimento da divisão
social do trabalho e pela transição da solidariedade mecânica para a solidariedade
orgânica.
III.1.3 Solidariedade Orgânica
Na sociedade de solidariedade orgânica, a integração dos indivíduos ocorre
devido à interdependência das funções sociais, resultante da divisão do trabalho. As
sociedades modernas são altamente diferenciadas, onde cada indivíduo desempenha
funções específicas vitais para o funcionamento do sistema social. Por exemplo, um
padeiro depende do fornecimento de trigo, que por sua vez requer transporte e assim
por diante.
Durkheim enfatiza que a divisão social do trabalho não se limita à
especialização econômica, mas abrange diversas esferas sociais, como política,
cultura, educação e arte. A especialização dessas funções e pessoas gera
interdependência entre os setores da vida social, promovendo a solidariedade social.
Ele argumenta que a divisão do trabalho tem uma função moral primordial na
integração dos indivíduos na sociedade. Para Durkheim, a solidariedade social gerada
pela divisão do trabalho é mais significativa do que sua contribuição econômica. A
especialização das funções e das pessoas cria um sentimento de solidariedade entre
elas.
No entanto, Durkheim observa que, com a crescente diversificação das funções,
a consciência coletiva perde sua influência na integração social, levando a duas
importantes consequências:
1. Maior autonomia dos indivíduos: Na sociedade moderna, os
indivíduos não dependem mais de uma consciência coletiva comum para sua
integração social. Eles têm maior liberdade e consciência de sua própria
individualidade.
2. Risco de anomia: A diminuição da consciência coletiva e o
aumento da liberdade individual podem levar a um excesso de egoísmo e à falta
de integração social. Isso pode resultar em uma divisão anômica do trabalho,
onde as normas sociais são enfraquecidas ou ausentes, levando ao aumento
da taxa de suicídios e outras formas de desregramento social.
3.2 O Suicídio (1897)
Durkheim explora os problemas de integração do indivíduo na sociedade
moderna em sua obra "O Suicídio". Ele argumenta que o comportamento suicida
também possui causas sociais, destacando três tipos de suicídio:
 Egoísta: Resultante da falta de integração do indivíduo nas
instituições sociais.
 Altruísta: Praticado em nome da coletividade.
 Anômico: Causado por um estado de desregramento social, onde
as normas perderam o sentido.
Durkheim enfatiza a relação entre o indivíduo e a sociedade em cada tipo de
suicídio, destacando a importância da integração social para prevenir
comportamentos suicidas e outros desregramentos sociais. Ele vê a anomia como um
problema central das sociedades modernas, representando disfunções profundas na
integração social e na preservação da sociedade.
3.3 As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912)
Em sua obra "As Formas Elementares da Vida Religiosa", Durkheim desenvolve
uma teoria sociológica da religião, utilizando o totemismo australiano como ponto de
partida. Ele argumenta que todas as religiões envolvem a divisão da sociedade em
duas esferas: o sagrado e o profano, onde o sagrado representa a sociedade
transfigurada.
Para Durkheim, a religião é uma expressão da força do social sobre o indivíduo.
Ele destaca a importância da distinção entre o sagrado e o profano na essência de
qualquer religião. A esfera sagrada inclui crenças e ritos compartilhados pelo grupo,
enquanto a esfera profana abrange atividades cotidianas.
No totemismo australiano, Durkheim observa que diferentes clãs possuem
símbolos identitários chamados de totem, que são considerados sagrados. Estes
símbolos representam não apenas um ser específico, mas também todos os artefatos
que os imitam. Os indivíduos são obrigados a adotar comportamentos religiosos
diante desses símbolos sagrados.
Durkheim distingue ritos negativos (proibições), ritos positivos (deveres
religiosos) e ritos de expiação (cerimônias de perdão) como parte das práticas
religiosas estudadas.
Uma característica interessante do totemismo é a concepção de divindade
como uma força impessoal presente em todos os seres, ao invés de um ser pessoal
distinto dos homens. Isso contrasta com teorias que atribuem a origem da religião ao
animismo ou ao naturismo. Para Durkheim, a sociedade tem tudo o que é necessário
para despertar nos indivíduos a sensação do divino, refletindo a percepção difusa da
força social sobre eles.
Além de analisar a religião, Durkheim propõe uma teoria sociológica do
conhecimento. Ele argumenta que a ciência e outras formas de pensamento têm sua
origem na religião, que fornece ao homem um critério para classificar e ordenar o
mundo. As categorias do pensamento humano, como tempo, espaço, causa e
substância, têm suas raízes na religião e refletem as relações sociais e crenças da
sociedade.
Para Durkheim, a sociedade é responsável pela origem das formas de
conhecimento humano, integrando e superando a dicotomia entre empirismo e
racionalismo na teoria do conhecimento. Ele mostra que a sociedade é o fundamento
lógico que explica o comportamento humano e as formas de conhecimento,
destacando mais uma vez a influência social sobre o indivíduo.

3.4 A Modernidade em Durkheim


Durkheim oferece uma perspectiva sociológica única sobre a modernidade,
destacando dois aspectos principais: a complexidade da sociedade e a emergência do
individualismo. Esses elementos são fundamentais para compreender a transição das
sociedades tradicionais para as sociedades modernas.
Na visão de Durkheim, as sociedades modernas são caracterizadas pela divisão
social do trabalho e pela crescente importância do indivíduo em relação ao grupo.
Enquanto nas sociedades tradicionais prevalecia a solidariedade mecânica, baseada
na semelhança entre os membros do grupo, nas sociedades modernas, surge a
solidariedade orgânica, baseada na interdependência das diferentes funções sociais.
A complexidade da sociedade moderna é evidenciada pela grande divisão do
trabalho e pela multiplicidade de instituições e relações sociais. Isso contrasta com as
sociedades tradicionais, que eram mais simples e homogêneas em sua estrutura social.
O surgimento do individualismo na modernidade representa uma mudança
fundamental na percepção do papel do indivíduo na sociedade. Enquanto nas
sociedades tradicionais o grupo predominava sobre o indivíduo, nas sociedades
modernas, o indivíduo ganha maior autonomia e importância.
No entanto, Durkheim também aponta para os desafios e dilemas da
modernidade, especialmente em relação ao excesso de egoísmo e à falta de integração
social. O aumento do individualismo pode levar à anomia, uma condição em que as
normas e valores sociais enfraquecem, resultando em conflitos e desintegração social.
Para Durkheim, a solução para esses problemas não está na volta às formas
tradicionais de solidariedade, mas sim na construção de novas formas de integração
social. Ele propõe que a sociologia desempenhe um papel importante nesse processo,
identificando e abordando os problemas sociais e promovendo a coesão social.
No entanto, é importante notar que a abordagem de Durkheim também tem
uma dimensão política conservadora. Ele defende a preservação da ordem social
existente e vê na sociologia uma ferramenta para identificar e corrigir disfunções
sociais, em vez de promover mudanças radicais na estrutura social.
Em suma, Durkheim oferece uma análise abrangente da modernidade,
destacando tanto seus aspectos positivos, como a complexidade e o desenvolvimento
do individualismo, quanto seus desafios, como o aumento do egoísmo e a anomia
social. Ele enfatiza a importância da sociologia na compreensão e na promoção da
coesão social na era moderna.

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