A sociologia é uma disciplina científica que surgiu no século XIX em resposta às necessidades da sociedade da época. Seu surgimento está ligado a três eventos importantes: 1. Revolução Industrial: No século XIX, a Revolução Industrial transformou drasticamente a sociedade com o surgimento de máquinas, mudanças econômicas e novas classes sociais, como a burguesia e o proletariado. 2. Revolução Francesa: Em 1789, a Revolução Francesa derrubou a monarquia e introduziu ideais democráticos, como os direitos do homem e a liberdade, igualdade e fraternidade. 3. Iluminismo: O Iluminismo, um movimento intelectual que defendia o uso da razão para entender e organizar o mundo, influenciou profundamente a forma de pensar das pessoas. Transformações Culturais, Políticas e Econômicas Renascimento: No século XV, o Renascimento promoveu uma mudança cultural colocando o homem no centro (antropocentrismo) em vez de Deus (teocentrismo). Iluminismo: Acrescentou à ideia renascentista o potencial da razão humana para guiar a sociedade. Revolução Industrial: Transformou a economia agrária em uma economia industrial, gerando migração, urbanização e novas formas de pobreza. Nascimento da Sociologia como Ciência Até o século XIX, as questões sociais eram geralmente analisadas apenas pela filosofia política, sem método científico. Com o desenvolvimento da ciência, especialmente o método científico, no século XVII, surgiu uma nova abordagem para entender a sociedade. Augusto Comte propôs a ideia de uma "Física Social" (mais tarde chamada de sociologia) para aplicar o método científico ao estudo da sociedade. Questões Essenciais Abordadas pela Sociologia Quais são as causas das transformações sociais? Quais são as características da sociedade moderna? Como lidar com essas transformações? Contribuição de Augusto Comte Em 1836, Comte cunhou o termo "sociologia" para descrever o estudo científico da sociedade. Ele é considerado o fundador da sociologia e suas ideias são fundamentais para o entendimento desta disciplina. Vida e Influências de Augusto Comte Nascimento e Educação: Augusto Comte nasceu em 1791, em Montpellier, França, em uma família católica e monarquista. Ele estudou na École Polytechnique de Paris e trabalhou como secretário de Saint Simon. Contribuição e Ideias: Comte foi influenciado pela École Polytechnique, enfatizando estudos matemáticos e científico-tecnológicos. Ele também dedicou seus últimos anos à organização da "religião da humanidade" e escreveu o "Catecismo Positivista". O Positivismo Definição: Comte é considerado um dos representantes do movimento iluminista, defendendo que a razão ou ciência deve guiar a sociedade. Lei dos Três Estados: Comte propôs que a evolução humana passa por três estágios: teológico, metafísico e positivo (científico). Teológico: Explicações baseadas em divindades. Metafísico: Explicações por entidades abstratas. Positivo: Explicações por meio da observação científica e formulação de leis. Papel da Ciência: Comte via a ciência como a única explicação legítima para a realidade, substituindo a religião e a filosofia. Positivismo na Sociologia Concepção de Ciência: Comte propôs que a sociologia adotasse o método das ciências da natureza. Divisão da Sociologia: Ele dividiu a sociologia em estática (estudo das condições constantes da sociedade) e dinâmica (estudo das leis de desenvolvimento histórico da sociedade). Resumo do Positivismo Dimensão Filosófica: A ciência é a única explicação legítima para a realidade. Dimensão Sociológica: A sociologia deve adotar o método científico das ciências da natureza. Contribuição de Comte para a Sociologia Pai Fundador da Sociologia: Comte estabeleceu as bases da sociologia ao propor definições e métodos para o estudo dos fenômenos sociais. 1. Teoria Sociológica O que é: É a base teórica que os sociólogos desenvolvem para entender a sociedade. Contribuições dos Autores Clássicos: Durkheim: Contribuiu com a sociologia funcionalista, que analisa como diferentes partes da sociedade funcionam juntas para manter a estabilidade social. Weber: Introduziu a sociologia compreensiva, que busca entender o significado que as pessoas atribuem às suas ações e como esses significados influenciam o comportamento social. Marx: Desenvolveu a sociologia histórico-crítica, que analisa como as relações sociais, especialmente as relações de classe, moldam a sociedade ao longo do tempo. 2. Teoria da Modernidade O que é: Refere-se à compreensão das mudanças sociais que ocorrem na sociedade moderna. Contribuições dos Autores Clássicos: Durkheim: Abordou a divisão social do trabalho, destacando como a especialização e interdependência das funções sociais aumentam na sociedade moderna. Weber: Falou sobre a racionalização da cultura e da sociedade, explorando como a racionalidade influencia a organização e o funcionamento das instituições modernas. Marx: Concentrou-se no modo de produção capitalista, descrevendo como a economia capitalista molda a vida social e as relações de poder. 3. Projeto Político O que é: Refere-se às ideias e propostas dos autores sobre como a sociedade deveria ser organizada. Contribuições dos Autores Clássicos: Durkheim: Tende a uma postura conservadora, defendendo a coesão social e a manutenção da ordem existente. Weber: Propôs a neutralidade axiológica, defendendo que os sociólogos devem ser neutros em relação aos valores ao realizar suas análises. Marx: Adotou uma postura revolucionária, criticando o capitalismo e defendendo uma transformação radical da sociedade em direção ao comunismo. Considerações Finais Essas dimensões não são independentes, mas inter-relacionadas. Servem como ferramentas para análise comparativa entre os autores e suas contribuições para a sociologia. Muitas das tarefas da sociologia contemporânea envolvem retomar e revisitar as ideias dos clássicos para avaliar sua validade e relevância nos tempos modernos. Epistemologia Definição: Refere-se aos fundamentos filosóficos da sociologia, especialmente relacionados à origem, validade e possibilidade do conhecimento científico. Debate Empirismo vs. Racionalismo: Empirismo: Defende que o conhecimento deriva da experiência sensorial, colocando ênfase no papel do objeto na origem do conhecimento. Racionalismo: Argumenta que o sujeito desempenha um papel primordial na origem do conhecimento, organizando os dados da experiência através de categorias mentais inatas. Influência na Sociologia: A posição filosófica adotada influencia como os sociólogos entendem a relação entre indivíduo e sociedade, assim como determina os métodos considerados adequados para as ciências sociais. Sociólogos empiristas tendem a enfatizar a influência da sociedade sobre o indivíduo, enquanto os racionalistas destacam o papel ativo do indivíduo na construção social. Metodologia Definição: Refere-se aos procedimentos adotados pela sociologia para explicar os fenômenos sociais. Objeto Material vs. Objeto Formal: Objeto Material: Refere-se ao que a sociologia estuda, como a sociedade, indivíduo e natureza. Objeto Formal: Indica como a sociologia estuda esses fenômenos, ou seja, os métodos, técnicas e procedimentos utilizados. Delimitação do Objeto de Estudo: A sociologia define sua área de estudo ao determinar as fronteiras entre natureza, indivíduo e sociedade, e ao identificar o que constitui o "social". Procedimentos de Análise: Uma vez definido o objeto de estudo, a sociologia estabelece como irá proceder para explicar esse conjunto da realidade, desenvolvendo métodos específicos de análise. Considerações Finais A distinção entre epistemologia e metodologia é fundamental, embora ambas estejam intimamente relacionadas. A teoria sociológica, seja em suas questões epistemológicas ou metodológicas, é essencial para a interpretação da realidade social. Nesta seção, aborda-se a dimensão teórico-empírica da sociologia, centrada nos resultados das pesquisas dos sociólogos e sua compreensão do mundo moderno. Os sociólogos clássicos foram os pioneiros na interpretação desse mundo em transformação, buscando entender suas origens, estruturas e dinâmicas. Interpretação da Modernidade Os sociólogos clássicos se dedicaram a analisar a modernidade, identificando suas características distintivas em relação às sociedades tradicionais. A modernidade trouxe mudanças profundas na organização da produção, distribuição do poder e compreensão da existência. Problemas Analisados Características da Sociedade Tradicional: Estudo das estruturas e dinâmicas das sociedades pré-modernas. Fatores de Mudança Social: Identificação dos elementos que impulsionaram a transição da sociedade tradicional para a moderna. Características da Modernidade: Análise das novas formas de organização social, econômica e política na sociedade moderna. Contribuições dos Clássicos da Sociologia Durkheim: Explorou os conceitos de solidariedade mecânica e orgânica, analisando a transição da sociedade tradicional para a moderna. Weber: Investigou a racionalização da sociedade e a secularização, destacando a transformação das sociedades teocêntricas em sociedades seculares. Marx: Concentrou-se na análise do modo de produção capitalista, descrevendo a transição das formas antigas e feudais de produção para o capitalismo industrial. Reflexões sobre a Modernidade A análise da modernidade pelos sociólogos clássicos fornece insights valiosos sobre as origens e características da sociedade contemporânea. As interpretações dos clássicos continuam a ser debatidas e estudadas, pois oferecem perspectivas fundamentais sobre a sociedade moderna. 3.3. Dimensão Teórico-Política Nesta seção, explora-se a dimensão teórico-política da sociologia, destacando a relação entre teoria sociológica e projeto político subjacente. A sociologia, desde seu surgimento, tem sido influenciada por questões políticas e ideológicas, refletindo diferentes perspectivas em relação à sociedade e à mudança social. Função Política da Sociologia A sociologia não é apenas uma disciplina teórica, mas também possui uma função política, buscando compreender os mecanismos de funcionamento da sociedade e atuar sobre ela. Os sociólogos clássicos se envolveram na análise das questões políticas de sua época e propuseram diferentes projetos políticos. Abordagens Políticas na Sociologia Conservadora: Defendia a preservação da ordem social emergente da modernidade, aliando-se aos interesses da burguesia. Neutra: Propunha uma postura de neutralidade, buscando oferecer soluções objetivas para os problemas sociais, sem se alinhar a interesses de classe. Crítica ou Transformadora: Buscava questionar a ordem social vigente e lutar por sua transformação, muitas vezes apoiando o proletariado e criticando as estruturas capitalistas. Importância da Reflexão Política na Sociologia A compreensão dos pressupostos políticos e ideológicos subjacentes às teorias sociológicas permite uma análise crítica dessas teorias. A sociologia, como disciplina, não está imune às lutas sociais e políticas, e a reflexão sobre suas implicações políticas é fundamental para os estudiosos da área. Considerações Finais Os clássicos da sociologia oferecem perspectivas diversas sobre a relação entre teoria sociológica e projeto político, colocando em pauta questões fundamentais sobre a inserção do cientista social na sociedade e suas visões de mundo. Capitulo II: Emile Durkheim Émile Durkheim, um dos principais expoentes da sociologia, dedicou sua obra à busca de conferir à disciplina uma reputação verdadeiramente científica, influenciado pelo positivismo de Augusto Comte. Sua contribuição à sociologia é marcada por estudos pioneiros em áreas como a sociologia da religião, do conhecimento e pelo seu trabalho empírico sobre o suicídio. Além disso, Durkheim é reconhecido como um dos grandes analistas da sociedade moderna, principalmente por sua tese da divisão social do trabalho, que evidencia a complexidade da sociedade contemporânea e suas implicações nas relações sociais e na organização social.
I. Vida e Obras
- **Vida de Émile Durkheim:**
- Nasceu em 15 de abril de 1858, em Épinal, Alsácia, França, filho de rabinos. - Estudou filosofia em Paris e teve interesse precoce pelas questões sociais. - Em 1887, foi nomeado professor de pedagogia e ciências sociais na Universidade de Bordeaux, onde iniciou seus estudos sociológicos. - Durante sua carreira, escreveu suas principais obras e fundou a revista "L'Anné Sociologique", que se tornou um importante veículo para o desenvolvimento da sociologia na França. - Em 1902, foi convidado para lecionar na Universidade de Sorbonne, em Paris, onde se consolidou como uma figura proeminente da sociologia. - Durkheim faleceu em 15 de novembro de 1917, em Paris, durante os tumultos da Primeira Guerra Mundial.
- **Principais Obras de Durkheim:**
- "A Divisão Social do Trabalho" (1893) - "As Regras do Método Sociológico" (1895) - "O Suicídio" (1897) - "As Formas Elementares da Vida Religiosa" (1912) - Obras póstumas incluem "Educação e Sociologia" (1922), "Sociologia e Filosofia" (1924) e "O Socialismo" (1928).
Contexto Social e Intelectual
- Durkheim viveu durante a "belle époque", um período de progresso e otimismo
marcado por grandes inovações tecnológicas. No entanto, também surgiram problemas sociais característicos da modernidade, conhecidos como a "questão social". - O pensamento de Durkheim foi influenciado pelo positivismo de Comte, pelo evolucionismo de Spencer e pelo conservadorismo de filósofos como Burke, Maistre e Bonald. - Durkheim compartilhava do objetivo de consolidar as conquistas da sociedade moderna, buscando eliminar os problemas sociais transitórios e promover a estabilidade social.
Durkheim não apenas contribuiu significativamente para o desenvolvimento da
sociologia como disciplina acadêmica, mas também influenciou profundamente a compreensão da sociedade moderna e suas dinâmicas sociais. Sua abordagem científica e sua preocupação com a estabilidade social deixaram um legado duradouro no campo da sociologia.
II. Teoria Sociológica Funcionalista
Na obra "As Regras do Método Sociológico", Durkheim enfatizou a necessidade de um método específico para a sociologia, inaugurando assim uma das principais teorias sociológicas modernas: o funcionalismo. Antes de desenvolver seu método, Durkheim enfrentou questões epistemológicas fundamentais sobre a relação entre indivíduo e sociedade e o papel do método científico na explicação dos fenômenos sociais, influenciado pelo positivismo de Comte. 2.1 Epistemologia Superioridade da Sociedade sobre o Indivíduo: Durkheim sustentava que a sociedade precede o indivíduo, com a explicação da vida social fundamentada na sociedade, não no indivíduo. As estruturas sociais, uma vez estabelecidas, operam independentemente dos indivíduos, moldando seu comportamento. Método Científico: Inspirado pelo positivismo, Durkheim buscava dotar a sociologia de características semelhantes às ciências da natureza. Defendia que os fenômenos sociais devem ser tratados como "coisas", exigindo uma abordagem objetiva e imparcial. 2.2 Metodologia Funcionalista Objeto de Estudo: Fato Social: Durkheim definiu o objeto da sociologia como o "fato social", uma maneira de agir que exerce coerção sobre o indivíduo e tem uma existência independente. Objeto Formal: Método Funcionalista: O método funcionalista de Durkheim, inspirado na biologia, visa explicar os fenômenos sociais demonstrando sua função na sociedade. Os fatos sociais existem porque cumprem uma função específica para o bom funcionamento da sociedade. A sociedade é comparada a um corpo vivo, com diferentes partes (instituições sociais) cumprindo funções específicas. Esta abordagem funcionalista, embora inicialmente aplicada por Durkheim, influenciou significativamente o desenvolvimento posterior da sociologia, sendo refinada e aprimorada por outros pensadores como Talcott Parsons e Robert Merton, culminando no que ficou conhecido como estrutural-funcionalismo. A ideia central de que os fenômenos sociais desempenham funções específicas para a estabilidade e funcionamento da sociedade continua a ser um dos pilares da teoria sociológica. III. Modernidade e Divisão Social do Trabalho Na sua extensa obra, Durkheim não se limitou apenas à elaboração de um método para a sociologia. Ele também se dedicou a compreender as sociedades concretas, tanto as do passado quanto as do seu próprio tempo. Durante esse processo, ele delineou sua interpretação sobre a origem e as características do mundo social moderno. 3.1 A Divisão Social do Trabalho (1893) Em sua primeira grande obra, Durkheim investiga a função da divisão do trabalho nas sociedades modernas. Ele adota a tese de que a sociedade passa por um processo de evolução, caracterizado pela diferenciação social, dividindo esse processo em duas etapas: a sociedade de solidariedade mecânica e a sociedade de solidariedade orgânica. Solidariedade Mecânica vs. Solidariedade Orgânica: Nas sociedades de solidariedade mecânica, os indivíduos compartilham uma consciência coletiva comum, sendo fortemente coesos e similares entre si. A consciência coletiva é o conjunto de crenças e sentimentos comuns à sociedade. Nas sociedades de solidariedade orgânica, a integração social é baseada na interdependência das diferentes funções sociais, resultando em uma maior especialização e diferenciação. Direito Repressivo vs. Direito Restitutivo: Na solidariedade mecânica, predomina o direito repressivo, onde as violações das normas sociais são punidas como forma de reforçar a coesão social. Na solidariedade orgânica, é predominante o direito restitutivo, que busca restabelecer a ordem das coisas sem necessariamente focar na punição. Estrutura Social: Nas sociedades tradicionais, a estrutura é caracterizada por segmentos homogêneos e isolados, sem muita interação entre si. Com o tempo, o aumento populacional e a intensificação das interações sociais levam à diferenciação social e à divisão do trabalho. 3.1.1 Solidariedade Mecânica Nas sociedades de solidariedade mecânica, os indivíduos são fortemente integrados pela consciência coletiva e pela homogeneidade cultural. A vida em comum é guiada por uma cultura compartilhada, e a coerção social é mantida principalmente pelo direito repressivo. A estrutura social é segmentada, com grupos isolados e pouca comunicação entre eles. 3.1.2 Evolução Social Com o aumento populacional e a intensificação das interações sociais (volume, densidade material e densidade moral), ocorre uma diferenciação social. Esse processo leva à especialização das funções e à divisão do trabalho, marcando o surgimento da solidariedade orgânica nas sociedades modernas. Durkheim destaca que a solidariedade orgânica, baseada na interdependência das diferentes funções sociais, é fundamental para a coesão social nas sociedades modernas. Assim, a evolução social é caracterizada pelo desenvolvimento da divisão social do trabalho e pela transição da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica. III.1.3 Solidariedade Orgânica Na sociedade de solidariedade orgânica, a integração dos indivíduos ocorre devido à interdependência das funções sociais, resultante da divisão do trabalho. As sociedades modernas são altamente diferenciadas, onde cada indivíduo desempenha funções específicas vitais para o funcionamento do sistema social. Por exemplo, um padeiro depende do fornecimento de trigo, que por sua vez requer transporte e assim por diante. Durkheim enfatiza que a divisão social do trabalho não se limita à especialização econômica, mas abrange diversas esferas sociais, como política, cultura, educação e arte. A especialização dessas funções e pessoas gera interdependência entre os setores da vida social, promovendo a solidariedade social. Ele argumenta que a divisão do trabalho tem uma função moral primordial na integração dos indivíduos na sociedade. Para Durkheim, a solidariedade social gerada pela divisão do trabalho é mais significativa do que sua contribuição econômica. A especialização das funções e das pessoas cria um sentimento de solidariedade entre elas. No entanto, Durkheim observa que, com a crescente diversificação das funções, a consciência coletiva perde sua influência na integração social, levando a duas importantes consequências: 1. Maior autonomia dos indivíduos: Na sociedade moderna, os indivíduos não dependem mais de uma consciência coletiva comum para sua integração social. Eles têm maior liberdade e consciência de sua própria individualidade. 2. Risco de anomia: A diminuição da consciência coletiva e o aumento da liberdade individual podem levar a um excesso de egoísmo e à falta de integração social. Isso pode resultar em uma divisão anômica do trabalho, onde as normas sociais são enfraquecidas ou ausentes, levando ao aumento da taxa de suicídios e outras formas de desregramento social. 3.2 O Suicídio (1897) Durkheim explora os problemas de integração do indivíduo na sociedade moderna em sua obra "O Suicídio". Ele argumenta que o comportamento suicida também possui causas sociais, destacando três tipos de suicídio: Egoísta: Resultante da falta de integração do indivíduo nas instituições sociais. Altruísta: Praticado em nome da coletividade. Anômico: Causado por um estado de desregramento social, onde as normas perderam o sentido. Durkheim enfatiza a relação entre o indivíduo e a sociedade em cada tipo de suicídio, destacando a importância da integração social para prevenir comportamentos suicidas e outros desregramentos sociais. Ele vê a anomia como um problema central das sociedades modernas, representando disfunções profundas na integração social e na preservação da sociedade. 3.3 As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912) Em sua obra "As Formas Elementares da Vida Religiosa", Durkheim desenvolve uma teoria sociológica da religião, utilizando o totemismo australiano como ponto de partida. Ele argumenta que todas as religiões envolvem a divisão da sociedade em duas esferas: o sagrado e o profano, onde o sagrado representa a sociedade transfigurada. Para Durkheim, a religião é uma expressão da força do social sobre o indivíduo. Ele destaca a importância da distinção entre o sagrado e o profano na essência de qualquer religião. A esfera sagrada inclui crenças e ritos compartilhados pelo grupo, enquanto a esfera profana abrange atividades cotidianas. No totemismo australiano, Durkheim observa que diferentes clãs possuem símbolos identitários chamados de totem, que são considerados sagrados. Estes símbolos representam não apenas um ser específico, mas também todos os artefatos que os imitam. Os indivíduos são obrigados a adotar comportamentos religiosos diante desses símbolos sagrados. Durkheim distingue ritos negativos (proibições), ritos positivos (deveres religiosos) e ritos de expiação (cerimônias de perdão) como parte das práticas religiosas estudadas. Uma característica interessante do totemismo é a concepção de divindade como uma força impessoal presente em todos os seres, ao invés de um ser pessoal distinto dos homens. Isso contrasta com teorias que atribuem a origem da religião ao animismo ou ao naturismo. Para Durkheim, a sociedade tem tudo o que é necessário para despertar nos indivíduos a sensação do divino, refletindo a percepção difusa da força social sobre eles. Além de analisar a religião, Durkheim propõe uma teoria sociológica do conhecimento. Ele argumenta que a ciência e outras formas de pensamento têm sua origem na religião, que fornece ao homem um critério para classificar e ordenar o mundo. As categorias do pensamento humano, como tempo, espaço, causa e substância, têm suas raízes na religião e refletem as relações sociais e crenças da sociedade. Para Durkheim, a sociedade é responsável pela origem das formas de conhecimento humano, integrando e superando a dicotomia entre empirismo e racionalismo na teoria do conhecimento. Ele mostra que a sociedade é o fundamento lógico que explica o comportamento humano e as formas de conhecimento, destacando mais uma vez a influência social sobre o indivíduo.
3.4 A Modernidade em Durkheim
Durkheim oferece uma perspectiva sociológica única sobre a modernidade, destacando dois aspectos principais: a complexidade da sociedade e a emergência do individualismo. Esses elementos são fundamentais para compreender a transição das sociedades tradicionais para as sociedades modernas. Na visão de Durkheim, as sociedades modernas são caracterizadas pela divisão social do trabalho e pela crescente importância do indivíduo em relação ao grupo. Enquanto nas sociedades tradicionais prevalecia a solidariedade mecânica, baseada na semelhança entre os membros do grupo, nas sociedades modernas, surge a solidariedade orgânica, baseada na interdependência das diferentes funções sociais. A complexidade da sociedade moderna é evidenciada pela grande divisão do trabalho e pela multiplicidade de instituições e relações sociais. Isso contrasta com as sociedades tradicionais, que eram mais simples e homogêneas em sua estrutura social. O surgimento do individualismo na modernidade representa uma mudança fundamental na percepção do papel do indivíduo na sociedade. Enquanto nas sociedades tradicionais o grupo predominava sobre o indivíduo, nas sociedades modernas, o indivíduo ganha maior autonomia e importância. No entanto, Durkheim também aponta para os desafios e dilemas da modernidade, especialmente em relação ao excesso de egoísmo e à falta de integração social. O aumento do individualismo pode levar à anomia, uma condição em que as normas e valores sociais enfraquecem, resultando em conflitos e desintegração social. Para Durkheim, a solução para esses problemas não está na volta às formas tradicionais de solidariedade, mas sim na construção de novas formas de integração social. Ele propõe que a sociologia desempenhe um papel importante nesse processo, identificando e abordando os problemas sociais e promovendo a coesão social. No entanto, é importante notar que a abordagem de Durkheim também tem uma dimensão política conservadora. Ele defende a preservação da ordem social existente e vê na sociologia uma ferramenta para identificar e corrigir disfunções sociais, em vez de promover mudanças radicais na estrutura social. Em suma, Durkheim oferece uma análise abrangente da modernidade, destacando tanto seus aspectos positivos, como a complexidade e o desenvolvimento do individualismo, quanto seus desafios, como o aumento do egoísmo e a anomia social. Ele enfatiza a importância da sociologia na compreensão e na promoção da coesão social na era moderna.