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Nome: Vinicius de Sousa RA: 11202230902

Atividade Avaliativa 2

História da Filosofia Moderna: perspectivas racionalistas


Prof. Paulo Tadeu da Silva
Quadrimestre 2024.1

Após questionar tudo o que lhe era familiar, René Descartes, em suas Meditações
Metafísicas, embarca em uma jornada filosófica em busca da verdade absoluta que lhe
parecesse claro e destinto. Através da dúvida metódica e hiperbólica, ele põe em
suspensão seus sentidos e crenças, buscando um fundamento sólido para o
conhecimento.
Já na primeira meditação, podemos averiguar as três principais argumentações
utilizadas por Descartes através da voz do meditador, em que a realidade como se
apresenta é questionada. As argumentações são: o erro dos sentidos, o argumento dos
sonhos e o argumento do Deus enganador.
O argumento do erro dos sentidos questiona confiabilidade dos sentidos, que muitas
vezes são nossa principal fonte de conhecimento sobre o mundo. O autor argumenta
que nossos sentidos às vezes nos enganam. Por exemplo, um objeto distante pode
parecer pequeno ou nebuloso. Se os sentidos podem ser enganosos em algumas
situações, Descartes sugere que eles poderiam, teoricamente, estar sempre nos
enganando. Por essa razão, ele coloca em dúvida toda a informação derivada
exclusivamente da sensação.
Avançando em sua meditação, Descartes introduz o argumento dos sonhos para
aprofundar a dúvida. Ele aponta que não há marcas definitivas que distinguem com
certeza as experiências do estado acordado das experiências vividas em sonhos. Em
sonhos, podemos perceber coisas que parecem tão reais quanto aquelas percebidas
enquanto acordados. Isso leva Descartes a questionar a realidade da própria existência
física e das experiências sensoriais, já que não pode haver certeza absoluta de que
não estamos sonhando neste momento.
Já no argumento do deus enganador, é considerado a possibilidade de que um Deus
poderoso e maligno possa ter criado a humanidade com a intenção de nos enganar.
Esse argumento radical eleva a dúvida a um novo nível, colocando em questão até
mesmo as verdades da matemática e da lógica, coisa que, até então, lhe parecia o que
tinha de mais claro e distinto, mas que poderiam ser manipuladas por tal Deus. Isso é
usado por Descartes para justificar sua suspensão de confiança em todas as coisas,
até que possa encontrar algo que esteja além da capacidade de qualquer possível
engano.
Levantadas tais dúvidas, é encerrado a primeira meditação sem o que se pode declarar
como um conhecimento certo e seguro e que, portanto, nada até então pode ser
construído epistemologicamente, uma vez que não existe alicerces para esse
conhecimento.
Nessa jornada, Descartes chega à sua primeira certeza, na segunda meditação: a
própria existência como ser pensante, expressa na famosa frase "Eu sou, eu existo".
Essa base o impulsiona nas meditações terceira, quarta e quinta, onde se debruça
sobre a natureza da verdade e da falsidade, e da existência de Deus.
Após o alcance da primeira verdade, isto é, o cógito “eu sou, eu existo”, a prova da
existência de Deus é necessária para que haja a possibilidade de desbloquear o último
argumento em suspensão, a saber, o argumento do deus enganador. Somente
alcançando a verdade que Deus não é enganador, mas sim, um Deus veraz, pode-se
avançar na recuperação das coisas em suspenção.
Para isso, Descartes apresenta provas da existência de Deus, a partir da terceira
meditação, no intuito de sair do círculo de dúvida sistemática iniciado na primeira
meditação.
A primeira prova, Descartes argumenta que possui em si uma ideia de um ser perfeito e
infinito (Deus). Para isso, é feito um exame das ideias para que se possa compreender
a natureza do produto da substância pensante, isto é, o pensamento. Essas ideias
podem ser classificadas como: Ideias inata são aquelas que nascem com o indivíduo.
São "inseridas" na mente desde o nascimento. Ideias adventícias são aquelas que
parecem ter vindo de experiências externas, através dos sentidos. E ideias fictícias,
São produtos da imaginação, criadas ativamente pela mente.
Para além do exame e classificação das ideias, é necessário a análise de onde essas
ideias provém. Descartes, então, estabelece um princípio fundamental de causalidade
ao analisar as ideias: a causa de uma ideia deve ter pelo menos tanta realidade quanto
a própria ideia. Este princípio de causalidade, possui dois modos de realidade:
realidade formal e realidade objetiva. A primeira delas, refere-se sobre a realidade que
as coisas têm por existirem efetivamente. Por exemplo, a pedra que você segura tem
realidade formal. O segundo, refere-se à realidade que as ideias têm em virtude de
representarem coisas. Por exemplo, a ideia de uma pedra em sua mente possui
realidade objetiva.
Portanto, ao retomar ao exame das ideias, e constatando a presença da ideia de um
ser perfeito e infinito, ele raciocina que essa ideia não poderia ter origem em si mesmo,
pois é um ser finito e imperfeito. A ideia de um ser infinito deve ter uma causa que seja,
ela mesma, infinita. Assim, Descartes conclui que a ideia de um ser perfeito e infinito
deve ter sido colocada em sua mente por um ser que realmente seja perfeito e infinito,
ou seja, Deus. Este argumento reflete o argumento da causalidade.
Ao alcançar a primeira prova de Deus, o argumento do Deus enganador, agora, cai por
terra, uma vez que se acessa a noção de que Deus existe e é veraz. Assim, analisando
o argumento da primeira meditação, a análise das verdades matemáticas pode ser
retomada.
As verdades matemáticas ocupam um lugar especial na filosofia cartesiana. Ele as
considera exemplos claros de ideias inatas porque sua verdade não depende da
experiência sensorial, mas pode ser acessada através da razão pura. Na segunda
meditação, ele usa o exemplo da cera para mostrar como as propriedades matemáticas
de um objeto (como extensão, forma e quantidade) são mais compreensíveis e
discerníveis ao intelecto do que suas propriedades sensoriais, que podem mudar.
Descartes também aborda a relação entre as ideias matemáticas e a existência de
objetos materiais,argumentando que, embora as formas geométricas como triângulos e
quadrados possam não existir fisicamente no mundo, a essência dessas formas é real
e imutável. Essa essência, definida por propriedades como o número de lados e a
soma dos ângulos internos, é clara e distinta, garantindo sua verdade
independentemente de sua manifestação material.
O autor aborda a matemática como algo intrínseco, assumindo que ela delineia a
essência da matéria. Ele parece demonstra, já na Segunda Meditação, que o que o
entendimento humano percebe como fundamental na natureza da matéria são as
essências descritas pela matemática. Com o conceito de um Deus verdadeiro
estabelecido, Descartes argumenta que nada mais impede o reconhecimento de que a
essência dos corpos físicos se reduz a suas propriedades quantificáveis. Ainda assim,
um argumento em defesa dessa perspectiva também aparece, de forma concisa, na
Quinta Meditação. Ele menciona: "Eu imagino claramente a quantidade que os filósofos
chamam comumente de quantidade contínua; além disso, posso distinguir inúmeras
partes diferentes dentro dela."
A imaginação, então, é especificamente atribuída ao conhecimento do material. Existe
na Segunda Meditação, um trecho que já sinaliza a natureza da imaginação na
concepção de Descartes: "Imaginar é apenas contemplar a figura ou a imagem de uma
coisa corpórea." A imaginação sempre trabalha com imagens, possuindo uma
capacidade dupla podendo recriar e manipular imagens recebidas através dos
sentidos, cujo conteúdo depende da sensibilidade e podendo também transformar em
imagens físicas ideias puramente intelectuais, como as da geometria, alinhando-se
totalmente às características das ideias inatas. Ou seja, podemos decidir imaginar, mas
não controlamos o que é imaginado.
Tomando o exemplo do triângulo, Descartes ilustra que se pode escolher imaginar essa
figura, mas ao fazê-lo, não se pode mudar o fato de que ela tem três lados. Isso
demonstra por que ele estende à imaginação a clareza e distinção normalmente
reservadas às ideias de origem puramente intelectual: "Eu imagino claramente a
quantidade que os filósofos chamam comumente de quantidade contínua." Portanto,
pela habilidade de transformar em imagens mentais as ideias claras e distintas do
entendimento, também à imaginação é atribuída a característica de "distinção".
A imaginação assume um papel crucial, podendo ser vista como protagonista de um
experimento decisivo: aquilo que não pode ser imaginado, como a alma e Deus,
certamente não é material; enquanto aquilo que é imaginável está diretamente
relacionado aos corpos físicos. Deste modo, as figuras geométricas, que podem ser
imaginadas, servem como prova suficiente de que elas constituem a essência dos
corpos.
Enquanto o entendimento confirma que a matemática se destina às verdadeiras
essências, a imaginação demonstra que tais essências descrevem adequadamente a
natureza da matéria. Contudo, entendimento e imaginação, unidos, podem apenas
assegurar que a matéria pode existir, mas não que de fato existe.
Na sexta meditação, Descartes destaca os sentidos como componente constituinte na
averiguação das coisas materiais. Os sentidos contribuem com elementos externos
para a imaginação, essenciais na criação de conceitos sobre objetos físicos. É
necessário um exame detalhado para entender como ocorre a interação entre os
sentidos do corpo e a mente. Inicialmente, a conexão entre o corpo e a mente resulta
em sensações de prazer e dor, que variam de acordo com a adequação dos desejos
em relação aos outros corpos.
A partir dessa nova compreensão, ele argumenta que a informação provinda da
sensação deve ter origem apenas em Deus ou nos corpos externos. Para resolver essa
questão, ele retoma um ponto discutido na terceira meditação, que não parecia
suficiente anteriormente para afirmar a existência de corpos externos: a forte inclinação
a acreditar em sua existência como a causa das ideias adventícias. Agora, essa
tendência é considerada suficiente para rejeitar a noção de que tais ideias sejam
criações divinas. Se fosse verdade que Deus implantou essa crença enganosa, isso
faria de Deus um ser falho e culpado por enganar.
Embora algumas dúvidas persistam, não podemos simplesmente recuperar todas as
certezas que o senso comum detém sobre os corpos externos. Não há garantias de
que esses corpos sejam similares às sensações que representam. Essa crença em
uma semelhança é mais um preconceito histórico do que uma tendência natural.
Esse preconceito surge porque a mente é dotada do entendimento puro. Essa
capacidade especial permite que a mente, com suas ideias claras e distintas, desafie e
corrija as percepções mais turvas advindas dos sentidos.
Quando é explorado além do conhecimento superficial das essências, a garantia divina
ajuda a destacar verdades no meio das confusas propensões naturais. Essa garantia é
invocada sempre que a tendência a acreditar em algo é tão forte quanto acontece com
ideias claras e distintas.
Deus seria enganador se nos desse uma forte inclinação para acreditar na verdade de
algo que, afinal, se provasse falso. Descartes, portanto, diz que "tudo o que a natureza
me ensina contém alguma verdade.". Assim sendo, há uma extensão do entendimento
para além das ideias claras e distintas apenas.
Essa confiança leva Descartes a concluir que corpos externos existem. Além disso, ele
identifica uma conexão especial entre a mente e um corpo específico, considerado
como "meu". A presença de sensações agradáveis e dolorosas neste corpo específico
é suficiente para ele reconhecê-lo como seu.
Essa nova perspectiva estabelece uma clara distinção entre as dúvidas que já não são
mais pertinentes, como a possibilidade de uma faculdade oculta que causaria as
sensações, e as dúvidas que ainda são válidas. Ao eliminar as preocupações
obsoletas, Descartes chega a uma conclusão significativa: existem, de fato, corpos
além da mente. Esta conclusão marca um ponto crucial em sua jornada filosófica,
reafirmando a existência do mundo material.

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