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GUIA CLÍNICO

DE CLAREAMENTO DENTAL
Por Paulo Vinícius Soares

“Um guia para o cirurgião dentista sobre as estratégias


clínicas associadas ao clareamento dental”
Este guia clínico foi elaborado através do resumo das aulas do Prof Paulo Vinícius no canal do Youtube
“Aula com PV” ministradas em Dezembro de 2022, e está divido em 3 tópicos principais:
1. Sensibilidade pós clareamento dental não é normal;
2. Seu paciente precisa mudar a dieta durante o clareamento?;
3. Clareamento dental a laser - Fato ou Fake?

SENSIBILIDADE PÓS CLAREAMENTO


DENTAL NÃO É NORMAL
Sensibilidade pós clareamento não é normal, pois a
dor é sinal de proteção do tecido frente a algum tipo de Nota 1.
agressão. Este é um desafio para o cirurgião-dentista, pois
Hipersensibilidade dentinária (HD) é um tipo de doença
exige conhecimento para diagnosticar os fatores de risco não cariosa, associada a exposição de túbulos dentinários e/ou
que definem o paciente com maior risco de sensibilidade esmalte vulnerável.1,2
dental.
Sensibilidade pós operatória (SPO) é a dor dental vinculada
a procedimentos restauradores estéticos, por exemplo,
A alteração de cor do elemento dental pode ocorrer substituição de amálgama por restauração adesiva direta, pós
através de mecanismos intrínsecos (clareamento dental) e cimentação de facetas (“lentes de contato”), pós clareamento
extrínsecos (“branqueamento” dental). Estes mecanismos dental, entre outros.
são diferentes, e podem confundir o paciente. Portanto, o Uma dica importante é que HD e SPO possuem fatores de
cirurgião dentista deve estar preparado para esclarecer seu risco em comum.
paciente e orientá-lo sobre possíveis riscos.

Quadro 1. Comparação entre as técnicas de clareamento dental e “branqueamento” dental.

Clareamento Dental “Branqueamento” Dental


Mecanismo principal ocorre na dentina. Mecanismo principal ocorre no esmalte.
Depende de permeabilidade do tecido. Não depende da permeabilidade do tecido.
Não está associado com abrasivos. Associado com abrasivos externos.
Modulado pela acidez do produto: quanto mais Modulado pela acidez do produto: quanto mais
ácido maior os riscos de SPO. ácido, melhor o resultado do “branqueamento”.
Protocolo profissional: sessões clínicas com Protocolo profissional: profilaxia (terapia
peróxido de hidrogênio em altas concentrações. periodontal não cirúrgica), uso de abrasivos
profissionais.
Protocolo caseiro: uso de moldeiras pré- Protocolo caseiro: uso de cremes dentais
carregadas com peróxido de hidrogênio ou abrasivos (RDA elevado). Fator de risco para SPO.
moldeiras de silicone personalizadas carregadas
com peróxido de carbamida.
Maior longevidade do resultado clínico. Nenhuma longevidade de resultado.
Risco de SPO associado ao erro de diagnóstico. Risco de SPO devido abrasividade e/ou acidez
dos produtos.
A técnica correta para alteração de cor do substrato dental é o clareamento
dental, ou seja, produto clareador atua na dentina e o esmalte funciona como um
filtro. Portanto, quanto maior a permeabilidade do esmalte, maior a velocidade de
penetração do agente clareador, e maior o risco de sensibilidade pós operatória.
Sobre esse assunto, destaca-se que a primeira bula de um produto para
clareamento, chamado Opalescence, lançado na década de 90, dizia que: “Este
produto não deve ser aplicado sobre dentina exposta”. Isso se deve ao fato da
dentina possuir em média 35mil túbulos dentinários por milímetro quadrado e ser
um tecido extremamente permeável. Portanto, o fator permeabilidade determina
a velocidade de penetração do agente clareador, é modulado pelo tipo de esmalte,
doenças não cariosas, dietas ácidas, doenças gástricas, trincas e fraturas que Figura 1. Análise das trincas em esmalte com a lente translume (Valo Grand, Ultradent).

atuam como canais de comunicação com a dentina. Mais especificamente, tais trincas, estão intimamente relacionadas ao
estilo de vida do paciente, ansiedade, estresse, bruxismo do sono e em vigília (presente em 73% da população), doença
do refluxo gastro esofágico (49% dos pacientes que possuem DRGE, não sabem que possuem) e baixa qualidade de sono.
Logo a análise de trincas dentais é fundamental no diagnóstico pré clareamento (Figura 1). O selamento das trincas em
esmalte e dentina exposta é realizado pré clareamento com o protocolo descrito abaixo.

Controle da Hipersensibilidade Dentinária


Protocolo Associativo - Sessão Única
Etapa de dessensibilização NEURAL Etapa de dessensibilização OBLITERADORA

Mecanismo Físico
Profilaxia e inserção Mecanismo Químico
Laser de baixa Glutaraldeído Verniz Fluoretado
do fio afastador Nitrato de Potássio
potência

Etapa fundamental para o sucesso e 2 pontos em cada dente Aplicar gentilmente, com fio Aplicar gentilmente, com fio Aplicar gentilmente, sem fio
longevidade do tratamento. (1 ponto cervical e outro ponto no afastador inserido no sulco gengival, afastador inserido no sulco gengival, afastador, aguardar 2 minutos.
Consepsis Scrub, Ultrapak #000 ápice radicular), durante 5 a 10 minutos. Depois durante 30s. Depois remover Remover excessos.
1 Joule por ponto. remover excessos, lavar e secar. excessos, lavar e secar. Enamelast
Laser UltraEZ Gluma

Aplicar sobre dentina exposta hipersensível e esmalte vulnerável. Protocolo recomendado para casos clínicos de
hipersensibilidade dentinária e controle de permeabilidade de esmalte e dentina pré-clareamento dental.

Nota 2.
Outro fator importante para a sensibilidade pós-operatória vinculada ao clareamento dental, é a redução do pH do gel clareador, pois um
gel bastante ácido aumenta os fatores de permeabilidade e risco de sensibilidade. Deve-se preferir géis clareadores com pH neutro, como o
Opalescence Boost, que apresenta o maior pH do mercado. 3

SEU PACIENTE PRECISA MUDAR A


DIETA DURANTE O CLAREAMENTO?
O clareamento dental é a técnica de reabilitação estética mais simples quanto a execução, contudo em relação a
previsibilidade de resultado, é a mais imprevisível, pois depende da experiência do operador durante o diagnóstico, da
qualidade do material clareador e do tipo de esmalte do paciente. Sobre clareamento versus dieta, havia a teoria há 20
anos realizada por meio de estudo in-vitro, de que “dark diet” e uso de produtos geradores de pigmentação extrínseca,
como bebidas e cigarro, deveriam ser evitados, contudo, com os novos estudos clínicos, a evidência científica comprovou
o contrário. O paciente não necessita alterar a dieta rica em corantes (vinho, café, molhos diversos, entre outros) com
relação ao resultado do clareamento.4-6

No entanto, existe um outro fator com relação a dieta: ingerir bebidas ácidas e corrosivas durante o clareamento.
Estudos clínicos atuais demonstraram que o hábito de consumo de bebidas ácidas não influenciam no resultado estético
final do procedimento, mas aumenta significativamente o risco de sensibilidade pós operatória. Pelo fato de aumentar
a permeabilidade e rugosidade da superfície do esmalte, sendo essa rugosidade que favorece a impregnação extrínseca
da substância que possui corante. Logo, não deve-se preocupar com o corante, mas, sim, com a acidez dos alimentos.
Recomenda-se o controle deste hábito pré clareamento e durante a etapa clareadora.4-6
CLAREAMENTO DENTAL A LASER -
FATO OU FAKE?
Inicialmente, deve-se compreender que existem diferentes tipos de fontes de luz, com espectros diferentes, o LED, luz
violeta e o LASER; contudo não há evidência científica de melhoras nos resultados estéticos utilizando estas fontes de luz
durante o clareamento.4-6 A associação do laser de baixa potência pode reduzir a sensibilidade pós clareamento dental.7

Quadro 2. 5 características ideais do gel clareador.

1 Tixotropia para escoamento ideal na cobertura da superfície dental, evitando escorrer para áreas
não desejáveis, por exemplo, extravasamento da moldeira.
2 Coloração bem definida para o clareamento supervisionado pelo profissional, colaborando na
análise de escoamento do produto.
3 PH neutro. Evite utilizar géis clareadores com PH ácido.
4 Facilidade de aplicação e controle de permeabilidade.
5 Versatilidade de composição e concentrações permitindo individualização de protocolos.

Protocolo Recomendado
Recomenda-se o uso da técnica associada: Clareamento supervisionado pelo profissional (“clareamento profissional”)
e o Clareamento supervisionado pelo paciente (“clareamento caseiro”). O protocolo clínico para clareamento dental
recomendado está descrito abaixo.

Protocolo Associativo de Clareamento Dental

Primeira Sessão Segunda Sessão


15 a 21 dias 7 a 15 dias
Clínica Clínica

Aplicar de acordo com as orientações Utilizar o clareador de acordo com o Aplicar de acordo com as orientações Varia de acordo com a necessidade
do fabricante. perfil do paciente. do fabricante *Facultativa de cada caso.
Opalescence Boost Opalescence PF ou Opalescence GO Opalescence Boost Opalescence PF ou Opalescence GO

O número de sessões clínicas e semanas no clareamento supervisionado varia de acordo com a demanda do paciente e
nível de escurecimento dental. O protocolo de clareamento deve ser individualizado. Este citado acima é uma sugestão,
podendo sofrer alterações de acordo com cada caso.

Tempos de uso Opalescence™:


• Opalescence PF: 10% - 6h, 15% - 4h, 16% - 4h, 22% - 2h, 35% - 30min (Quanto maior a concentração,
menor o tempo de uso.)
• Opalescence GO: 10% - 1h, 15% - 15 a 30min (Quanto maior a concentração, menor o tempo de uso.)

Acesse as aulas do “Aula com PV”: Acesse o Instagram da Ultradent:

Referências:
1. Soares PV, Grippo JO. Lesões cervicais não cariosas e hipersensibilidade dentinária cervical: etiologia, diagnóstico e tratamento. 1. ed. São Paulo: Quintessence; 2017.
2. Soares PV, Machado AC and cols., Hipersensibilidade Dentinária: Guia Clínico. Ed Santos Pub, IK Publishing, São Paulo, 2019.
3. Soares PV, Reis BR. Efeito da acidez do gel clareador. Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, v. 15, n. 1, p. 18-20, jan./mar. 2019
4. Palo RM et al. Quantification of Peroxide Ion Passage in Dentin, Enamel, and Cementum After Internal Bleaching With Hydrogen Peroxide. Oper Dent, 2012, 37.
5. Geus JL et al. At-home vs In-office Bleaching: A Systematic Review and Meta-analysis. Oper Dent. 2016,41.
6. Matis BA et al. White Diet: Is It Necessary During Tooth Whitening? Oper Dent. 2015,43.
7. Aranha AC. Lasers na prática clínica diária – Guia Clínico. Ed Santos, 2021.

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