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09/03/2024, 09:40 UNINTER

INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE
AULA 1

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09/03/2024, 09:40 UNINTER

Prof.ª Giseli Cipriano Rodacoski

CONVERSA INICIAL

Olá! Muito bom ter seu interesse no estudo da Psicanálise, fico feliz em compartilhar com vocês

essa disciplina! Eu sou a Professora Giseli Rodacoski, psicóloga com mais de 20 anos de experiência

clínica e na docência em cursos de graduação e de pós-graduação. Essa disciplina pretende

apresentar os pressupostos básicos da teoria Psicanalítica, contar um pouco da história da psicanálise,

contextualizar o momento histórico em que se originou a partir da experiência clínica de Sigmund

Freud na década de 1880 e nos anos seguintes em que ele teorizou sobre a estrutura e o

funcionamento do aparelho psíquico.

Ao longo de 6 aulas que ficarão gravadas aqui para que sejam acessadas a qualquer momento,

serão abordados alguns termos utilizados e delimitações conceituais que são fundamentais para

favorecer o estudo e a compreensão da psicanálise. Você vai perceber que o estudo da subjetividade

não é exato. Não há uma única definição, assim como 2 = 2 = 4. Costumamos dizer que a psicanálise

nunca está pronta, nunca terminaremos de aprender sobre a subjetividade e a nossa verdade não

pode ser imposta ao outro. Por exemplo: eu não posso dizer a você o que significa o teu sonho. Por
isso o processo é uma construção. Nossas leituras precisam ser discutidas, compartilhadas,

precisaremos falar uns com os outros em atividades interativas para ampliar nosso ponto de vista
sobre o que compreendemos e, assim, cada um de vocês se manterá no percurso de formação de um

psicanalista.

Podemos começar esclarecendo "O que é Psicanálise?"

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E aqui vai uma dica de aprendizagem: antes de avançar na leitura para saber o que a literatura diz

sobre isso, reflita sobre o que você pensa que é, o que você já sabe sobre isso, o que já ouviu falar, o

que você poderia escrever em poucas linhas sobre psicanálise? Especialmente quando se trata de

ensino de adultos, é importante considerar que todos nós temos conhecimentos prévios, saberes e

experiências de vida que fazem com que cada um de nós atribua um sentido e um significado para as

coisas. Por isso é importante refletir sobre as tuas impressões iniciais e dar valor a isso. Não menos

importante para quem quer ser um psicanalista, é saber o que há na literatura a saber sobre isso.

Quem conceituou, quando, com qual finalidade, por que foi importante estudar psicanálise, como se

desenvolveu ao longo do tempo?

TEMA 1 – O QUE É PSICANÁLISE

A primeira vez que Freud empregou o termo Psicanálise (psycho-analyse) foi em 1896, em um
artigo intitulado A hereditariedade e a etiologia das neuroses, e naquela ocasião, foi usado para se

referir à análise dos processos mentais, uma Psico Análise.

Antes de começar a usar a palavra psicanálise, Freud se utilizava de expressões tais como: análise

psíquica, análise clínico-psicológica, análise hipnótica, como você pode confirmar lendo o texto As
Neuropsicoses de Defesa, de 1894, publicado nas Obras Completas de Sigmund Freud, Volume III

(Freud, 1986).

A etimologia da palavra análise deriva dos étimos gregos aná (partes) + lysis (decomposição,

dissolução) e se refere ao exame mental em comparação à análise química de elementos de

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substâncias compostas (Zimerman, 2011, p. 333).

Temos acesso a textos de Freud como por exemplo um artigo que foi escrito em 1913 para ser

lido no Congresso Médico Australasiano Intitulado On Psycho-Analysis – Sobre a Psicanálise. Esse

texto faz parte do que está compilado no volume XII das Obras Completas de Sigmund Freud, que
explicou o que é Psicanálise da seguinte maneira: "A psicanálise constitui uma combinação notável,

pois abrange não apenas um método de pesquisa das neuroses, mas também um método de
tratamento baseado na etiologia assim descoberta" (Freud, 1986, p. 265).

Ainda no percurso para delimitação conceitual do termo e do campo de estudo da Psicanálise,

em 1922, no texto Dois verbetes de enciclopédia, Freud deixou claro que seus pilares teóricos (os da

psicanálise) eram o inconsciente, o complexo de Édipo, a resistência, a repressão e a sexualidade, e

nos fornece uma nova definição de psicanálise (Freud, 1922/1986, p. 287), dizendo que é o nome de:

1. Um procedimento para a investigação de processos mentais que são quase inacessíveis por

qualquer outro modo,

2. Um método (baseado nessa investigação) para o tratamento de distúrbios neuróticos, e

3. Uma coleção de informações psicológicas obtidas ao longo dessas linhas, e que gradualmente se

acumula numa nova disciplina científica.

Podemos entender "procedimento para a investigação" como um estudo, um interesse de

analisar algo. Nesse caso, o objeto de interesse seriam os "processos mentais". Mas, o que são

processos mentais? Ainda no Tópico 1 (acima), Freud continua explicando que esses processos

mentais seriam praticamente inacessíveis, se não fossem investigados pelo método da Psicanálise,

pois ele estava se referindo aos processos mentais que são inconscientes.

Então, Freud explicou que Psicanálise é um procedimento de investigação que tem como objeto

de interesse o inconsciente, mas não é só isso. Também é um método de tratamento e uma área de
conhecimento científico. Atualmente, muitas outras definições foram dadas para Psicanálise, mas

apesar de não serem exatamente iguais, as diversas definições convergem no sentido de definirem
que a Psicanálise é um método de análise do inconsciente.

A Psicanálise parte do pressuposto de que existem processos mentais inconscientes e é a partir


desse ponto de vista que vai compreender o ser humano. Isso não significa dizer que a psicanálise

nega ou desconsidera as determinações genéticas, fisiológicas, orgânicas, cognitivas, sociais,

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espirituais etc., mas apenas que o objeto de interesse e de estudo da Psicanálise é o inconsciente.

Inclusive, para a Psicanálise, a relação mente – corpo é indissociável.

Psicanálise é um método terapêutico, mas não é apenas por meio da Psicanálise que o

inconsciente se manifesta. Assim como uma linguagem, o inconsciente se comunica conosco por
meio de sonhos, de fantasias, desejos, palavras que são ditas e coisas que fazemos mesmo "sem

querer" e que quando "saem sem querer" elas (as coisas que falamos ou fazemos) nos entregam, nos
denunciam. Algo que nos parece sem sentido, mas que também faz parte de nós. Nos estados de

êxtase, quando as emoções dominam a razão, nas paixões, no amor, no medo e na raiva, por

exemplo, podemos ter a dimensão da subjetividade do ser humano. Em todo momento a

subjetividade está presente, e a regulação para adequação e equilíbrio emocional é uma demanda
social de ordem, no entanto, ainda que reprima, não anula a sua existência.

O resultado desse jogo de forças forma o que conhecemos como sintomas, que são formas de

comunicação do inconsciente.

TEMA 2 – PERÍODO PRÉ-PSICANALÍTICO

O texto Uma breve descrição da Psicanálise Freud (1923/1986) conta a história do nascimento da
psicanálise e destaca fatos históricos que influenciaram a origem do estudo dos processos mentais:

“Pode-se dizer que a psicanálise nasceu com o século XX, pois a publicação em que ela emergiu

perante o mundo como algo novo – A Interpretação de Sonhos – traz a data de 1900. Porém, como

bem se pode supor, ela não caiu pronta dos céus” (Freud, S. 1923/1986, p. 239).

O que podemos concluir com esse trecho?

Percebam que Freud escreveu que a Psicanálise nasceu com e não no século XX. Isso porque o
que marcou ao mundo a origem da psicanálise foi a publicação do livro A Interpretação dos Sonhos
(1900/1986). Todos sabemos que quando se escreve um texto é porque o conteúdo foi amadurecido

antes. Por isso Freud escreveu, no trecho destacado acima, que ela (a psicanálise) emergiu perante o
mundo como algo novo em 1900, mas que não caiu dos céus! E ele continua dizendo que: "Qualquer

história a seu respeito deve, portanto, começar por uma descrição das influências que determinaram
sua origem, e não desprezar a época e as circunstâncias que precederam sua criação." (Freud,

1923/1986, p. 239).

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Freud (1923/1986, p. 239-259) descreve o contexto histórico que influenciou a origem da

psicanálise, e resumidamente, vou destacar aqui alguns pontos e sugiro a leitura do texto citado, na

íntegra:

Por volta de 1880, o tratamento de doenças seguia um modelo positivista, racional, em que os
médicos eram ensinados a investigar fatos químico-físicos e patológico-anatômicos para tratar

doenças funcionais, inclusive as "doenças nervosas".


Clara distinção entre o que era científico e o que era considerado não científico. O que não era

considerado científico, objetivo e explicado racionalmente era delegado aos místicos e filósofos.

Naquele contexto da década de 1880, o interesse que surgia especialmente nos médicos era "o

de compreender algo da natureza daquilo que era conhecido como doenças nervosas
funcionais, com vistas a superar a impotência que até então caracterizava seu tratamento

médico" (Freud, 1923/1986, p. 239).

Interessando em neurologia e psiquiatria, Freud seguiu seus estudos em Paris, com o Prof.

Charcot no hospital psiquiátrico Salpêtrière. Nesse hospital, Freud assistia aulas abertas, nas quais

Charcot apresentava as mulheres histéricas e demonstrava o método da hipnose que consistia em

tratamento para resgatar o material psíquico traumático que era verbalizado pela paciente e seria

trazido à consciência. O médico então, através da sugestão ao paciente em estado hipnoide,

neutralizava os efeitos do trauma retirando o sintoma do paciente.

A hipnose então tinha como objetivo suspender a consciência da pessoa para que, durante um

estado alterado de consciência, ela expressasse seus pensamentos, aqueles que não conseguia
lembrar em estado de alerta.

Retornando à Viena, Freud apresentou a hipnose como método de tratamento das doenças

nervosas e foi duramente criticado pelos seus colegas médicos que rejeitaram a proposta.

Nesse período, em Viena, o médico e Prof. Breuer já estava utilizando o método hipnótico em

pacientes histéricas, se aproximou de Freud. O Dr. Breuer foi para Freud um professor e um mentor.
Em 1895, publicaram juntos o texto: Estudos sobre a Histeria, que apresentava a compreensão que os

sintomas histéricos surgiam quando o afeto de um processo mental era impedido pela força de ser
conscientemente elaborado da maneira normal, e era assim desviado para um caminho errado, mas

que poderia ser liberado pela hipnose. A partir da hipnose, Breuer propunha o método catártico de
ab-reação. Por ab-reação, entende-se que é uma "descarga emocional pela qual um sujeito se liberta

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do afeto ligado à recordação de um acontecimento traumático, permitindo assim que ele não se

torne ou não continue sendo patogênico". (Laplanche-Pontalis, 2001, p. 1). A ab-reação pode ser
lágrimas, um desabafo por palavras, elaboração de planos de vingança por vezes bastante

inapropriados, pode acontecer espontaneamente ou induzida para que ocorra em contexto analítico e
era o objetivo do método catártico.

O método catártico incentivava a exposição ao fato traumático por meio da memória e a


descarga emocional por meio da fala. No método catártico, a pessoa não estava em estado hipnótico,

mas sim, em uma relação interpessoal com o médico, em estado consciente. A sensação era de

descarga emocional, em uma relação terapêutica. O que isso tem de muito importante no período

pré-psicanalítico é que marca a relevância da escuta atenta e sem julgamento.

O método catártico é considerado o precursor imediato da psicanálise. Isso não significa

dizer que hipnose ou catarse são psicanálise, apenas que foi a partir desse ponto que a psicanálise

começou a se constituir como método, principalmente por se diferenciar.

A Psicanálise se desenvolve fundamentada na capacidade de escuta. Escutar o paciente na

psicanálise é diferente de ouvir, envolve muito mais do que é dito, compreende o não dito também,

relaciona o simbólico ao real. Na época em que Freud se propôs a escutar os pacientes, o que os

outros médicos faziam era observar os pacientes. Depois estudavam, comparavam com o normal,

discutiam entre outros médicos e definiam um tratamento para o que era patológico.

Com a experiência clínica, Freud observou que os sintomas tratados através da hipnose e catarse

acabavam se deslocando para um outro tipo de expressão ou para uma manifestação em outro

órgão. Além disso, nem todos os pacientes eram sensíveis a serem hipnotizados.

A psicanálise, aqui, ainda não existia, mas foi nesses cenários que ela começou a ser pensada

como um método de análise da mente (psique).

A partir de 1900, Freud se afasta da neurologia como prática científica positivista tradicional e se
dedica inteiramente à clínica psicanalítica, definindo-se como psicanalista. O livro que é considerado a
pedra fundamental da psicanálise é Interpretação dos Sonhos (1900/1986).

TEMA 3 – REGRA FUNDAMENTAL DA PSICANÁLISE

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Depois de ter experimentado e concluído pela limitação da hipnose e do método catártico, Freud

modificou o método e criou o que veio a ser a regra fundamental da psicanálise: a associação livre:

“Método que consiste em exprimir indiscriminadamente todos os pensamentos que ocorrem ao

espírito, quer a partir de um elemento dado (palavra, número, imagem de um sonho, qualquer

representação), quer de forma espontânea” (Laplanche-Pontalis, 2001, p. 38).

Freud propôs que a paciente permanecesse acordada e que ela se deitasse em um divã enquanto
o ele/psicanalista se posicionava em uma poltrona atrás do divã, evitando o contato visual da

paciente com ele. Essa técnica permitia que a paciente conscientemente expressasse através das

associações das palavras verbalizadas sem censura, restrições ou julgamentos, driblando assim as
resistências impostas pela censura da consciência. Através da associação – livre de censuras e

julgamentos – seria possível ter acesso aos caminhos para o inconsciente. No texto escrito no ano de

1912, Sobre o Início do Tratamento, Freud escreve:

O material com que se inicia o tratamento é, em geral, indiferente – a história de vida do paciente,

ou a história de sua doença, ou suas lembranças da infância. Mas, em todos os casos, deve-se deixar
que o paciente fale e ele deve ser livre para escolher em que ponto começará. Dessa maneira

dizemos-lhe: ‘Antes que eu possa lhe dizer algo, tenho que saber muita coisa sobre você; por
obséquio, conte-me o que sabe a respeito de si próprio. (Freud, 1912/1986, p. 176-177)

No texto Fragmentos da análise de um caso de histeria, ao se referir ao caso Dora, atendida por

Freud em 1900 e publicado em 1905, Freud conta ter se utilizado do método da associação livre:

Desde os Estudos, a técnica psicanalítica sofreu uma revolução oradical. Naquela época o trabalho

[de análise] partia dos sintomas e visava a esclarecê-los um após outro. Desde então, abandonei
esta técnica por achá-la totalmente inadequada para lidar com a estrutura fina da neurose... Apesar

dessa aparente desvantagem, a nova técnica é muito superior à antiga, e é incontestavelmente a


única possível (Freud, 1905/1986, p. 23)

Freud percebeu que tão importante quanto escutar os pacientes era saber o que dizer a eles e
quando fazer isso. Desta forma, foi ficando cada vez mais aprimorado o papel do paciente e o papel

do psicanalista nas sessões: “Ao paciente cabe comunicar tudo o que lhe ocorre, sem deixar de revelar
algo que lhe pareça insignificante, vergonhoso ou doloroso, enquanto ao analista cabe escutar o

paciente sem o privilégio, a priori, de qualquer elemento de seu discurso” (Macedo; Falcão, 2005, p. 4).

Na construção da teoria psicanalítica, foi fazendo cada vez mais sentido refletir sobre o papel do

analista e, assim como a associação livre é a regra fundamental para o paciente, a atenção flutuante é

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a regra fundamental para o psicanalista.

ATENÇÃO FLUTUANTE: Segundo Freud, modo como o analista deve escutar o analisando: não deve

privilegiar a priori qualquer elemento do discurso dele, o que implica que deixe funcionar o mais
livremente possível a sua própria atividade inconsciente e suspenda as motivações que dirigem

habitualmente a atenção. Essa recomendação técnica constitui o correspondente da regra da


associação livre proposta ao analisando. (Laplanche-Pontalis, 2001, p. 40)

Deste modo, só será possível o método psicanalítico se estiverem presentes:

Associação livre (paciente);

Atenção flutuante (psicanalista).

Ao longo dos estudos sobre os casos clínicos de Freud, há um fato curioso que foi a situação em

que a Sr.ª Emmy estava sendo atendida por Freud e ele ficava fazendo perguntas frequentes até que

ela disse que ele deveria ficar quieto! Até este momento, Freud costumava interromper os pacientes

pedindo mais explicações ou perguntando coisas que as faziam parar de lembrar do que estavam

dizendo para atender às demandas de Freud. Esse caso levou Freud a perceber a importância da fala

sem interrupções como processo de tratamento bem como a importância da atenção flutuante. A Sr.ª

Emmy ensinou Freud a escutar (Anderson, 2000). Esse conceito não foi dado naquela época, mas a

prática já começou a se caracterizar por meio dessas experiências clínicas.

TEMA 4 – METÁFORAS

A Psicanálise é com muita frequência metafórica, ou seja, ela se explica por meio de metáfora,

que é uma figura de linguagem muito utilizada para fazer comparações por semelhança. No
Dicionário Eletrônico da Língua Portuguesa, o significado de metáfora é:

Figura de linguagem em que uma palavra que denota um tipo de objeto ou ação é usada em lugar

de outra, de modo a sugerir uma semelhança ou analogia entre elas; translação (por metáfora se diz

que uma pessoa bela e delicada é uma flor, que uma cor capaz de gerar impressões fortes é quente,
ou que algo capaz de abrir caminhos é a chave do problema); símbolo. (Michaelis, 2015).

Para quem inicia seus estudos em psicanálise, alguns textos parecem ser escritos em outro
idioma, dada a quantidade de metáforas usadas em um mesmo parágrafo. Vamos trazer aqui algumas
delas como introdução.

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Freud se utiliza das artes para explicar a diferença entre a psicanálise e os demais métodos

terapêuticos para tratamento clínico dos processos mentais.

Freud comparou as terapias tradicionais (medicamentosas, hipnose, sugestão, aconselhamento,

orientação) com as pinturas em tela, em que se colocavam tintas em uma tela em branco. Essa técnica
é conhecida no mundo das artes como Per via di porre – “pela via de pôr, colocar” (terapias).

Já a Psicanálise foi comparada a uma escultura, em que se retira material até que seja
evidenciada a essência, como um bloco de mármore que é esculpido ou lapidado, retirando material.

Essa técnica é conhecida no mundo das artes como Per via de levare – “pela via de retirar, levar”

(Psicanálise)

Terapias = pinturas (cobre de cores a tela vazia) Per via di porre – pela via de pôr, colocar;

Psicanálise = esculturas (retira o que está demais para que surja a estátua no mármore) Per via

de levare – pela via de retirar, levar.

Desse modo, a terapia é um método de tratamento que pode ser de várias maneiras: terapia

medicamentosa, nutricional, terapia espiritual, em que há prescrição, orientação, recomendação feita

ao paciente.

Créditos: Syda Productions /Shutterstock.

Já a Psicanálise é um método clínico que trabalha com o inconsciente. A referência ao ato de


“retirar”, como nas esculturas que são esculpidas, tem relação com o método de retirar mecanismos

de defesa, interpretar resistências para chegar ao núcleo do conflito.

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Créditos: RossHelen/Shutterstock.

Perceba que na técnica da pintura o artista coloca material, e na escultura retira material.

Outro exemplo é o uso da expressão Aparelho Psíquico. A palavra aparelho sugere um arranjo,

um conjunto, definida no Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise como:

O termo aparelho foi utilizado por FREUD porque na época pioneira da psicanálise ele estava

impregnado pela visão mecanicista da medicina. A primeira menção de Freud ao aparelho psíquico
aparece em 1900, no consagrado A Interpretação dos Sonhos, onde ele compara o aparelho

psíquico com aparelhos ópticos. (Zimerman, 2001, p. 37)

As teorias sobre o Aparelho Psíquico precisam ser devidamente estudadas. O que queremos

neste momento é apresentar algumas imagens que foram adotadas para representar o aparelho

psíquico por terem alguma semelhança e representarem características comuns.

A primeira delas é a imagem de um iceberg para representar que a parte visível, exposta para
fora da água, é a parte consciente do aparelho psíquico e a parte que está submersa representa

conteúdos que não são facilmente acessíveis:

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Créditos: Arcady/Shutterstock.

Na imagem anterior, Cs, Pcs e Ics, juntos, constituem o aparelho psíquico (psiquê).

Outra representação que guarda semelhança com o aparelho psíquico é uma hidroelétrica. Como

pode ser visto na imagem a seguir, há uma regulação da quantidade de água que pode passar e sair

da represa. Essa regulação é uma das funções do aparelho psíquico, especificamente é uma função do

ego, como pode ser mais bem compreendida no estudo aprofundado da 2ª tópica de Freud. Na
metáfora da hidroelétrica, em que um grande volume de água represado seria o Inconsciente, a

barragem seria a regulação da sensação de prazer-desprazer feita pelos mecanismos de defesa a

serviço do ego, e a água que jorra são os conteúdos que tiveram passagem liberada à consciência.

Créditos: yu_photo/Shutterstock.

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A depender do conteúdo, pode ser liberado ou reprimido, tal como a água tem sua força de

vazão regulada pelos mecanismos de controle da represa, também chamada de barragem.

Lacan entende que é por meio de metáforas que o inconsciente se manifesta, assim como em

Freud o conteúdo inconsciente, que foi barrado pela repressão, se condensa e se desloca para que
seu acesso "transformado, fantasiado" seja possível na consciência.

No livro Escritos, Lacan faz uma interpretação do conto A Carta Roubada (Lacan, 1998, p. 13) em
que explica que na base das metáforas está um movimento de encadeamentos de significantes que,

por fim, determinam o sujeito. Essa psicodinâmica é analisada na clínica pela linguística, pela

associação (livre) de palavras.

TEMA 5 – REVOLUÇÃO PSICANALÍTICA

A psicanálise é caracterizada como uma revolução epistemológica ou revolução simbólica que

produziu uma grande mudança no paradigma científico da época. Todo o raciocínio médico científico

era centrado na consciência. Além disso, é provocada mais uma ruptura na concepção de homem

como um ser superior no universo.

Marcondes (2010) considera que três teorias a partir do Renascimento até os dias atuais

alteraram a concepção de homem, são elas:

1. Teoria Heliocêntrica – de Copérnico: confirma que a Terra não é o centro do universo, e sim o
Sol. Segundo o autor (2010, p. 258), “[…] esse novo modelo de cosmo abala profundamente as

crenças tradicionais do homem da época, não só quanto à ordem do universo, mas também
quanto ao seu lugar central nessa ordem”.

2. Teoria da Seleção Natural – de Darwin: ocorrida a partir da publicação de sua obra A origem das
espécies que apresenta o homem como o resultado de um processo de evolução natural, e não
um ser superior.

O homem é apenas mais uma espécie natural dentre outras e que a espécie humana resulta

de um processo de evolução natural, tendo ancestrais como o macaco, Darwin abala


profundamente a crença na superioridade humana, no homem como o “rei da criação”, como

tendo uma natureza não só superior como radicalmente distinta dos demais seres.

(Marcondes, 2010, p. 258)

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3. Teoria Psicanalítica – de Freud: revela que o comportamento do homem é influenciado pelo

inconsciente e que não temos pleno controle sobre isso.

O homem não se define pela racionalidade, e que sua mente não se caracteriza apenas da
consciência, mas, ao contrário, nosso comportamento é fortemente determinado por desejos

e impulsos de que não temos consciência e que reprimidos, não realizados, permanecem,

entretanto, em nosso inconsciente e manifestam-se em nossos sonhos e em nosso modo de


agir. Ao formular uma nova explicação de aparelho psíquico humano, sobretudo com sua

hipótese do inconsciente, Freud mostra que não temos controle pleno de nossas ações e que
há causas determinantes da nossa ação que nos são desconhecidas. (Marcondes, 2010, p.

259, grifo do original)

Esses aspectos caracterizam alguns elementos do contexto em que se originou a psicanálise. Foi

esse o lugar que ela ocupou, um lugar de constrangimento, de afronta, desconfortável, para outros

libertador.

NA PRÁTICA

O conteúdo da aula de hoje se aplica na nossa vida cotidiana, entre outros exemplos que vocês

podem ter, mas um deles é a subjetividade ser considerada uma anomalia. Ainda hoje, a maioria dos

métodos terapêuticos é medicamentoso, para dopar a dor emocional do outro. Podemos supor que

não é quem sofre que precisa de medicamento, mas é quem convive com quem sofre que precisa

neutralizar o sofrimento do outro, pois ele não aguenta ouvir, presenciar, entre outras hipóteses,
porque o remete à sua própria dor.

Uma outra hipótese é a busca de uma ilusão, negando a parte em que a vida é triste, sim, porque
sofrimento e tristeza fazem parte da vida de todos os seres humanos, mas há quem considere que
isso é uma anomalia e precise ser medicada, para que a vida seja só boa, sem conflitos.

Estamos vivendo um tempo em que se faz necessário preparar um número maior de ouvintes.

Assim, esperamos desenvolver em cada um de vocês, entre outras competências, a capacidade de


escuta.

Saiba mais

Sugestão de link sobre Felicidade: <https://www.youtube.com/watch?v=e9dZQelULDk>.

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FINALIZANDO

Na definição de psicanálise feita por Freud no texto Dois verbetes de Enciclopédia (1923/1986, p.

287), ele diz que psicanálise é o nome de:

1. Um procedimento para a investigação de processos mentais que de outra forma são


praticamente inacessíveis.

2. Um método baseado nessa investigação para o tratamento de transtornos neuróticos.

3. Uma série de concepções psicológicas adquiridas por esse meio e que se somam umas às outras

para formar progressivamente uma nova disciplina científica.

Os métodos terapêuticos anteriores à psicanálise foram a hipnose e a catarse, e Freud, com esses

métodos e a partir de sua prática clínica, passou a empregar o método da associação livre, criado e

desenvolvido por ele, que veio a ser a regra fundamental do método psicanalítico.

Para diferenciar psicanálise dos outros métodos terapêuticos, Freud se utilizou de metáforas com

o mundo das artes:

Terapias = pinturas (cobre de cores a tela vazia): Per via di porre – pela via de pôr, colocar;

Psicanálise = esculturas (retira o que está demais para que surja a estátua no mármore): Per via

de levare – pela via de retirar, levar.

Outra metáfora clássica na psicanálise é o Iceberg, que representa o aparelho psíquico com uma

grande parte do conteúdo submerso, que representa o inconsciente.

A teoria psicanalítica de Freud foi considerada revolucionária ao revelar que o comportamento

humano é determinado pelo inconsciente e que não se tem pleno controle sobre os processos
mentais. Com isso, provoca uma ruptura com o paradigma científico em que o raciocínio diagnóstico

e terapêutico era centrado na consciência.

REFERÊNCIAS

ANDERSON, O. Freud precursor de Freud: estudos sobre a pré-história da psicanálise. Tradução


de L. C. U. Junqueira Filho. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

FREUD, S. 1856-1939. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de


Sigmund Freud; com comentários e notas de James Strachey em colaboração com Anna Freud;
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assistido por Alix Strachey e Alan Tyson; traduzido do alemão e do inglês sob a direção geral de

Jayme Salomão. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986.

_____. As Neuropsicoses de Defesa (1894). In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas

Completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986. v. 3.

_____. A Hereditariedade e a Etiologia das Neuroses (1896). In: Edição Standard Brasileira das

Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986. v. 3.

_____. A Interpretação dos Sonhos (1900). In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas

Completas de Sigmund Freud, Volumes V e VI, 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986.

_____. Fragmentos da análise de um caso de histeria (1905). In: Edição Standard Brasileira das

Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Volume VII, 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986. p.

5-128.

_____. Sobre o Início do Tratamento (1912). In: Edição Standard Brasileira das Obras

Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Volume XVII, 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986. p. 164-

187.

_____. Sobre a Psicanálise (1913). In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas

Completas de Sigmund Freud, Volume XII, 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986.

_____. Dois verbetes de enciclopédia (1922). In: Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Volume XVIII, 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1986.

LAPLANCHE; PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise. Tradução de Pedro Tamen. 4. ed. São Paulo:
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METÁFORA. In: Michaelis, Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em:


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09/03/2024, 09:40 UNINTER

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