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4 As políticas económicas submetidas aos imperativos ideológicos políticos


(1928-1940)

4.4.1 A prioridade à estabilidade financeira

No âmbito da “ditadura financeira”, Salazar recorreu a uma férrea disciplina orçamental que
garantiu o controlo do défice e a estabilização da moeda (escudo), beneficiando do aumento das
exportações e da emigração.
Obtido o equilíbrio orçamental em 1929, iniciou uma reforma tributária e o controle da
inflação.

Estas opções econômicas e financeiras dependeram do dirigismo do Estado e da austeridade de


um governo forte.
Assim, para além do controlo das despesas públicas, recorreu a novos impostos, abaixo
identificados:

- Imposto de salvação sobre os rendimentos dos funcionários públicos;


- Imposto complementar sobre o rendimento;
- Imposto sobre o rendimento dos profissionais liberais;
- Imposto de salvação nacional sobre o açúcar, a gasolina e os óleos minerais leves;
- Aumento das taxas sobre os produtos importados;
- Revisão da contribuição predial e industrial.

A disponibilidade de capitais e as escassas oportunidades de investimentos favoreceram a subida


dos depósitos bancários, o que permitiu ao Banco de Portugal aumentar a reserva-ouro, o que
deu fama a Salazar.

4.4.2 A defesa da ruralidade: o setor agrário do quadro da política económica


corporativista

Portugal continuou a ser um país marcadamente rural. Revelava-se o atraso estrutural da


economia nacional e a falta de inovação técnica.
A Política agrícola procurou garantir a autarcia

Quais as medidas adotadas para dinamizar o setor agrícola?



Em 1929 foi lançada a Campanha do Trigo, tendo os seguintes objetivos:

- Promover a autossuficiência do país, em linha com o princípio da autarcia.


- Reduzir o desemprego rural;
- Implementar medidas de proteção à agricultura, especialmente no Centro e Sul do país;
- Incentivar o aumento da produção por substituição das importações;
- Desenvolver os setores industriais ligados à produção agrícola.

Outras iniciativas foram levadas a cabo no domínio agrícola como:


- Converter os terrenos baldios em terras produtivas e rentáveis.
- Construção de barragens, represas e canais para melhor irrigação dos solos.
- Criação da Junta Colonização Interna (JCI), em 1936, para fixar as populações no interior e nas
regiões agrícolas, através da criação de colónias agrícolas cuja base era o casa agrícola, que
garantia a autossuficiência da família.
- Aumentar a produtividade agrícola e promover a paz social através da transformação dos
trabalhadores agrícolas em proprietários rurais.

4.4.3 As obras públicas

Quais os objetivos da política de obras públicas?



- Modernizar o país através da construção de infraestruturas.
- Impulsionar o desenvolvimento económico.
- Reduzir o desemprego.

Como se concretizou a política de obras públicas? Que medidas foram adotadas?



INFRAESTRUTURAS
• Construção de estradas e autoestradas para facilitar as ligações ao interior do país.
• Alargamento e melhoramento dos portos e docas (Lisboa, Leixões e Funchal).
• Construção de barragens (Castelo de Bode, Cabril e Paradela) e de centrais hidroelétricas.
• Construção do aeroporto de Lisboa.
• Construção da gare marítima de Alcântara.

MEIOS DE COMUNICAÇÃO
• Expansão da rede de telégrafo.
• Expansão da rede telefónica.
• Melhoria das locomotivas e das carruagens e eletrificação da rede.

EQUIPAMENTOS PÚBLICOS E MONUMENTOS


• Construção de hospitais (Santa Maria, em Lisboa, e S. João, no Porto), escolas, tribunais,
prisões, estádios (como o Jamor), quartéis, pousadas e bairros para os trabalhadores (Alvito,
Encarnação e Madre de Deus).
• Restauro de monumentos nacionais, como o Palácio de Queluz, o Teatro de S. Carlos e o Museu
Nacional de Arte Antiga.

4.4.4 A política de condicionamento industrial

No setor industrial, o Estado Novo adotou, em 1931, a Lei do Condicionamento Industrial, uma
política anticrise que se consolidou com a lei de 1937, o que significou que a indústria não foi
entendida como motor da economia.

Quais os objetivos do condicionamento industrial?


- Evitar a superprodução;
- Controlar a economia.
O Estado estabeleceu condicionalismos para proteger as indústrias mais vulneráveis à crise dos
anos 30 e atribuiu-se a si próprio vastos poderes, como:

INTERVENÇÃO DO ESTADO: PODERES E COMPETÊNCIAS

• decidir a continuação ou o desaparecimento de empresas ou agentes económicos;


• definir as pautas aduaneiras por critérios de nacionalismo económico;
• condicionar à autorização estatal a montagem de maquinismos, a transferência de licença de
exploração ou a venda de estabelecimentos a investidores estrangeiros;
• permitir às empresas instaladas no mercado a possibilidade de contestarem a criação de novas
empresas;
• determinar os preços do produtor ao consumidor;
• regular a produção de um determinado produto ou a introdução de um processo de fabrico;
• impor quotas de produção e de consumo de matérias-primas;
• autorizar importações e fixar preços de exportação;
• estabelecer o entendimento entre os industriais do mesmo ramo e limitar a livre concorrência.

O condicionalismo industrial teve consequências significativas para a economia portuguesa, pois:


- Limitou a modernização;
- Favoreceu a concentração industrial;
- Protegeu empresas monopolistas;
- Impediu a concorrência;
- Favoreceu o aumento da burocratização.

4.4.5 A corporativização dos sindicatos

A adoção do corporativismo teve implicações na organização socioeconómica. O Estado


promoveu a conciliação entre os interesses divergentes dos patrões e trabalhadores, para
alcançar a harmonia social e evitar a luta de classes.
O Estado corporativo controlou os sindicatos e submeteu-os à ordem política vigente, isto é, ao
caráter unitário e corporativo da nação, sendo ao Estado que caia a regulação da vida económica
e social.

OBJETIVOS CONCRETIZAÇÃO DE MEDIDAS / CONSEQUÊNCIAS

Abolir o sindicalismo livre • os sindicatos nacionais foram subalternizados e ficaram na


dependência do poder político;
• os trabalhadores foram obrigados a inscrever-se nos sindicatos
nacionais;
• os sindicatos livres foram abolidos.

Combater as manifestações da • as greves e reivindicações salariais foram proibidas;


luta de classes • os despedimentos coletivos e o lock-out foram proibidos.

Garantir o controlo do Estado • os efeitos do capitalismo foram limitados;


sobre a economia • a desregulação da economia foi eliminada;
• o Estado definiu contratos de trabalho e fixou salários, em articulação
com os grémios e os sindicatos nacionais.

Assegurar a complementaridade • promoveu a harmonia e controlou a conflitualidade entre os


e cooperação entre as classes proprietários, detentores de capital, e os trabalhadores, através da
mediação do Estado;
• criou organismos de tipo corporativo, controlados pelo Estado,
organizados hierarquicamente e submetidos ao poder central.

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