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PENSAMENTOS DE UM SAMURAI MODERNO

Volume 1

Sensei

Jorge Kishikawa
Dedico este livro a todos os guerreiros que primam

pela perfeição e às almas daqueles que nos deixaram

em busca de seus ideais.


AGRADECIMENTOS

“Semelhantes unem-se voluntariamente com semelhantes”

Cícero

Agradeço a Profunda Compaixão de Buda que me permite traçar as

primeiras linhas deste livro.

Minha esposa Rosa Mika pela paciência e compreensão sem a qual esta

obra não estaria aqui.

Meus filhos Edward, Magnus e Bruce, fontes de minha alegria.

Meus pais Yoshiaki e Mitiko Kishikawa por me educarem e me

mostrarem o caminho a ser seguido e a quem devo tudo o que consegui até

hoje.

Meu irmão Roberto, o companheiro de muitas das minhas lutas.

Wenzel Daniel Wendelin Böhm, mentor deste projeto.

Mestres Tadatoshi Haga, Haruo Assakawa, Yoshimitsu Katsuse, Motoharu

Gosho, Kiyoshi Yoshimoti, Fumiya Kiyonaga, Tsunemori Kaminoda, Kohei

Osato, Mitsuo Shiiya, Risuke Otake, Taisaburo Nakamura, Tetsuzan

Kuroda, Mikio Kurata, Norio Ogata, Hironori Yamada, Osamu Shimamura,

Junyu Kuroda e todos no Japão por me transmitirem os segredos da cultura

samurai.

Aqui no Brasil, os mestres Yoshisuke Oura, Takuo Habu, Satoshi Yasui,

Kobe Seibukan, Tamotsu Taniguchi, Manabu Tanabe, Tomitoshi Toita, Fuki

Toita, Haruka Yamashita, Terukuni Eikawa e Coen de Souza.

Coordenadores e monitores do Instituto Niten por lutarem com bravura e

lealdade em prol de nossos ideais.

São tantas as pessoas que me apoiaram ao longo deste Caminho que um

livro não seria suficiente para me redimir desta dívida de gratidão.


Arigatô a todos pelo amor e apoio.
SUMÁRIO

Prefácio

Apresentação

Introdução

Por Que Re-escrevi Este Livro

Introdução à Terceira Edição, Volume 1

Pensamentos de Um Samurai Moderno,

Volume 1

Minha Crença, Minha Missão

Missão do Instituto Niten

Os Mandamentos do Instituto Niten

Dados Biográficos do Autor

Complemento Digital

Índice

Empresas que Cursaram os

“Momentos de Ouro” pelo KIR-Empresarial


PREFÁCIO

Seibei Iguchi era um samurai de baixo escalão que trabalhava como

supervisor do almoxarifado do castelo de um daimyo, “o senhor feudal” de

um dos 60 feudos nos quais o Japão era dividido até meados do século XIX.

A principal tarefa de Iguchi era assegurar a manutenção de um estoque

estratégico de alimentos, essenciais para manter o castelo e sua guarnição na

guerra, se o castelo fosse sitiado. Ao longo dos anos, Iguchi se empenha para

executar com perfeição a contagem e recontagem de sacas de arroz, verificar

a qualidade dos grãos ou o nível dos barris de saquê. Trata-se de um trabalho

totalmente burocrático e repetitivo, algo que a princípio, nós, homens do

globalizado século XXI, não esperaríamos ver sendo executado por um

samurai, por um membro da lendária classe de guerreiros que existiu no

Japão por mais de mil anos. Mas Seibei Iguchi é um samurai. Contar e

recontar as sacas de arroz é o que seus superiores esperam dele – mesmo que

todos saibam que o sítio do castelo possa jamais acontecer.

Na época de Seibei, início do século XIX, o Japão estava em paz há mais

de 200 anos. A última grande batalha havia sido travada na planície de

Sekigahara, a meio caminho entre Osaka e Edo, a atual Tóquio. No décimo


1
quinto dia do nono mês de 1600 , cerca de 200 mil samurais dos clãs de

Osaka e de Edo se trucidaram. Cerca de 40 mil samurais foram mortos no

curto espaço de 24 horas na maior batalha da história do Japão (na batalha de

Okinawa, travada entre americanos e japoneses em 1945, morreram 300 mil

em quase três meses de luta). De Sekigahara saiu vitorioso o daimyo de Edo,


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Tokugawa Ieyasu, que se tornaria o primeiro shogun , o protetor militar do

império do sol nascente. Seus descendentes mantiveram a paz e governaram

a nação por 250 anos. As centenas de milhares de samurais dos clãs aliados

de Edo assumiram o controle dos daimyos vassalos dos Tokugawa. As

centenas de milhares de samurais aliados a Osaka – e que sobreviveram a

Sekigahara – perceberam-se de um dia para outro sem senhor, sem emprego

e lugar para morar. Suas famílias se esfacelaram. Viraram ronins, “samurais

sem um senhor a servir”.


Os ancestrais de Seibei Iguchi lutaram ao lado dos Tokugawa. Mantiveram-

se samurais, continuaram a se adestrar e aperfeiçoar o uso da espada,

enquanto paulatinamente iam assumindo funções burocráticas. Mas a

ausência de guerras, de um inimigo por enfrentar introduziu pouco a pouco a

erva daninha da preguiça. Os samurais nunca abandonaram o estudo das

artes marciais. No entanto, para a maioria, os treinos começaram a se tornar

algo pró-forma, que devia ser cumprido, pois a habilidade do manuseio da

katana, “espada”, era o mínimo que se esperava de um membro da classe

samurai. Poucos eram os que treinavam com o coração, se preparando para

aquele momento que é o divisor de águas entre o civil e o guerreiro, o

enfrentamento da morte.

O Samurai do Entardecer (Seibei Iguchi, 2002) é um filme japonês,

indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2003. Iguchi é um samurai

humilde, de roupas puídas, que nunca acompanha os colegas, gordinhos, para

o sakê depois do dia de trabalho. Seu soldo, insuficiente, tem outras

prioridades. Iguchi é viúvo. Cuida sozinho das duas filhas pequenas e da

mãe, esclerosada. Por seu aspecto mal-ajambrado, com a barba sempre por

fazer, e por nunca acompanhar os colegas na bebedeira, estes começam a

ridicularizá-lo. Mas Iguchi não se importa. Ele sabe quais são as suas

responsabilidades e o que se espera dele. Iguchi é um verdadeiro samurai –

talvez o único do castelo. É a conclusão que chegamos na medida em que o

filme vai se aproximando do seu clímax.

O capitão da guarda do castelo era um homem reconhecidamente

habilidoso no manuseio da espada. No entanto, por alguma falta


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indesculpável, ele é obrigado pelo senhor a cometer harakiri , o suicídio
4
ritual do Bushidō , “o código de conduta dos samurais”. Mas o capitão se

recusa. O samurai que existia nele perdeu a alma. Só é técnica. Com ela, o

renegado mata três samurais encarregados de prendê-lo e se entrincheira no

interior de sua casa. Para a surpresa de todos, o clã chama Iguchi para

terminar o serviço. Ele foi treinado no uso da wakizashi, a “espada curta”,

que oferece vantagem no combate em ambientes fechados, onde o espaço é

restrito para os golpes com uma katana. Iguchi se banha, se barbeia, raspa os

cabelos, veste seu melhor quimono e se despede da família. Está pronto para

o combate, que ele sabe, será de vida ou morte.


Iguchi vence. Apesar das aparências, ele é o samurai que preservou a honra

e os ideais da nobre classe guerreira. Seu opositor em algum momento

abandonou o verdadeiro caminho do guerreiro. Iguchi tem os quatro fatores

determinantes para vencer uma guerra, Ki, “a energia para o combate”, Ken,

“a técnica”, Tai, “a condição física” e Un, “a sorte” ou “a graça do destino”,

como preferirem.

São estes ensinamentos transmitidos de geração em geração por mais de

mil anos entre as famílias samurais japonesas que o Sensei Jorge Kishikawa

reúne nesta nova edição, revista e ampliada do Shin Hagakure, O Novo


5 6
Hagakure . A obra inspira-se no Hagakure , um tratado clássico da filosofia

samurai escrito há mais de 300 anos. O “Novo Hagakure” de Kishikawa

procura atualizar aqueles pensamentos e aforismos aos tempos modernos

para acompanhar o caminho dos samurais do século XXI.

Kishikawa fundou em 1993 o Instituto Niten, onde transmite a milhares de

brasileiros a filosofia dos guerreiros através do treino da esgrima japonesa.

Brasileiro, Kishikawa viaja regularmente há mais de 40 anos ao Japão para

treinar com os grandes mestres que o certificaram como Menkyo Kaiden, a

graduação máxima nas tradições guerreiras dos samurais. Por seu trabalho

pela difusão da cultura, filosofia e antigas artes marciais nipônicas no Brasil,

Kishikawa foi reconhecido com a criação do Dia do Samurai, celebrado

todos os anos em 24 de Abril, seu aniversário.

Para mim, é uma honra renovada poder apresentar esta edição do Shin

Hagakure aos leitores.

Arigatô

Luna

(Nome de guerra do jornalista e historiador da ciência Peter Moon)

13 de Março de 2010

1 Keichō 5, 15º dia do 9º mês = pelo calendário atual corresponde a 21 de outubro de

1600.
2 Shogun = durante o período em que os samurais dominaram o Japão, os shoguns

eram os mais altos na hierarquia, tendo o poder supremo, inclusive maior que o

imperador. Era o generalíssimo com o poder absoluto.

3 Harakiri = hara “ventre, barriga”, kiri “corte”. Cortar o ventre, uma forma de

suicídio ritual dos samurais como forma de honrar o seu nome.

4 Bushidō = o modo de ser do samurai; o caminho do guerreiro; código de ética do

samurai. Virtudes como honra, lealdade, coragem, gratidão, polidez, retidão e

sinceridade eram valorizadas pelos samurais através deste código de ética.

5 Shin = novo, o mais moderno. Escrito com outros ideogramas, ele pode significar

“verdadeiro”, “coração” ou “espírito”. Cada palavra exige ideogramas diferentes.

Hagakure = ha “folha”, gakure “esconder”. “Folhas escondidas” ou “Folhas ocultas”.

6 Hagakure corresponde aos escritos de um samurai do feudo de Saga chamado

Yamamoto Tsunetomo (1659-1719). Registra acontecimentos, feitos heroicos, valores e

princípios a serem cultivados pelos samurais em uma época decadente de valores.


APRESENTAÇÃO

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Bushi Sensei Jorge Kishikawa,

Corte perfeito. Obra de mestre. Shin Hagakure.

Quanto treinamento foi necessário para se tornar assim tão afiado e tão

refinado?

No Budismo, dizemos que quando um Buda encontra outro Buda pergunta:

– Você está bem? Como está sendo sua missão de fazer com que todos

despertem para o Caminho Verdadeiro?

Sempre que me encontro com Kishikawa Sensei, trocamos um

cumprimento muito semelhante.

Compartilhamos as alegrias e as tristezas do Caminho. E juntos

descobrimos que não há perdas, apenas ganhos.

De batalha a batalha, de confronto a confronto, reconhecemos os inimigos

verdadeiros: ganância, raiva e ignorância.

Com a afiada espada da sabedoria e a companheira espada da compaixão,

cortamos o vazio.

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O Caminho do Samurai e do Bushidō não é apenas o Ethos Guerreiro

desenfreado e violento.

Pelo contrário. É o Caminho da Ética, dos valores, da transformação de si e

do mundo pela correta e adequada ação, intenção, pensamento, palavra.

Estes Pensamentos de um Samurai Moderno são, para mim, uma fonte de

inspiração. Estar presente, atenta, adequada, preparada, desperta em cada

instante da vida.

Conheci Kishikawa Sensei no Templo Bushinji em São Paulo, no bairro da

Liberdade.

Murayama Shozan Sensei e eu, ambos monges da tradição Soto Shu,

concordamos em ceder o salão do templo para as práticas do Instituto Niten.


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Com que alegria e honra ouvíamos as aulas de Kenjutsu . Havia silêncio e

som. Movimento e pausa. Respeito. Solidariedade. Companheirismo. Força

de vontade. Educando e formando seres humanos de fibra.

Hoje, o Instituto Niten cresceu e se espalhou pela América do Sul.

Kishikawa Sensei amadureceu como Mestre Samurai.

E eu me orgulho em conhecê-lo, em participar de tempos em tempos das

atividades do Niten, de ouvir os gritos de ataque, os movimentos, a prática

das espadas e o silêncio, a ordem, a hierarquia, a disciplina.

Tenho certeza que Musashi Sensei está presente inspirando a todos nós no

Caminho Verdadeiro.

Mãos em prece

Monja Coen, 2010

6 Bushi = “Guerreiro”.

7 Ethos = “Caráter”.

8 Kenjutsu = originou-se há mais de setecentos anos, na época da invasão dos

mongóis liderados por Kublai Khan. Até então, o combate de espadas era praticado a

esmo, sem metodologia ou técnica. A partir da invasão dos mongóis, os samurais se

viram obrigados a aperfeiçoarem suas técnicas de guerra para defender seus territórios

contra inimigos externos e internos. Até os dias de hoje, os estilos de escolas mais

tradicionais ensinam as técnicas secretas de pai para filho, preservando-as como herança

de seus ancestrais. A transmissão dos ensinamentos tradicionalmente se dá de forma

oral, a fim de preservar o caráter secreto.


INTRODUÇÃO

Os samurais existem desde o século XI. Eles formavam a elite guerreira

dos daimyo, os senhores das dezenas de feudos em que o Japão se dividia e

que lutavam incessantemente entre si na busca da supremacia política no

Império do Sol Nascente. A linhagem do atual ocupante do trono do

Crisântemo, o imperador Akihito, foi estabelecida há 2500 anos. Apesar de

ser a dinastia mais antiga do planeta, durante o século XVI o poder sobre a

nação japonesa pertencia de fato aos senhores de cada um dos feudos.

Durante quase cem anos de guerras ininterruptas, os daimyo lutaram entre si

para decidir quem teria o controle sobre o arquipélago.

A batalha decisiva foi travada em 21 de Outubro de 1600 na região de

Sekigahara. O país estava dividido em duas facções: o Exército do Oeste,

liderado por Ichida Mitsunari e o clã de Osaka, e o Exército do Leste, cujo

líder era Tokugawa Ieyasu, chefe do clã Edo, atual Tóquio. 175 mil samurais

se enfrentaram numa das mais sangrentas batalhas que o mundo já


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presenciou. No final do dia, 40 mil soldados haviam morrido . Tokugawa

Ieyasu saiu vencedor se autoproclamando o shogun, ou seja, o protetor

militar do Japão, em 1603. Sua cidade, Edo, tornou-se a capital.

Progressivamente, ele cortou todos os laços do Japão com o mundo exterior

numa política isolacionista extremada que duraria 250 anos.

Unificado pelo poder centralizador dos Tokugawa, o período Edo foi uma

época de paz, quando não houve guerras nem lugar para os samurais

exercerem seu treinamento militar e sua perícia no uso das armas. Isso era

especialmente complicado para uma estirpe que colocava suas espadas num

plano tão elevado quanto o de suas próprias almas. Na falta de batalhas, os

samurais que lutaram ao lado dos Tokugawa acabaram ascendendo a cargos

burocráticos e enriqueceram. Com o passar das décadas, muitos se tornaram

corruptos e acabaram se esquecendo dos valores do Bushidō, o “código de

ética do samurai”.

Para os samurais sobreviventes que lutaram ao lado da facção de Osaka, ao

contrário, a existência foi difícil. Como muitos daimyo inimigos foram

extintos por ordem do shogun, seus samurais se viram destituídos de seus


senhores, se tornando ronins, “samurais errantes”. Na década posterior a

Sekigahara, uma multidão de cerca de 300 mil ronins vagava pelo Japão à

procura de sobrevivência. A ambição dos mais hábeis no manuseio da

espada, da lança e do arco era exibir seu talento para conseguir emprego com

algum daimyo. Os mais exímios chegaram mesmo a estabelecer “escolas”


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(dojō )para ensinar “estilos” (ryu) específicos de artes marciais. Sabe-se

que, num dado momento, existiram mais de 700 estilos diferentes no Japão –

dos quais a imensa maioria se perdeu. A maioria dos ronins, no entanto, não

encontrou alternativa além do banditismo e da violência.

Entre esses ronins, havia um chamado Miyamoto Musashi. Ele lutou em

Sekigahara do lado perdedor e, nos anos seguintes, vagou sem destino,

procurando obstinadamente aperfeiçoar sua estratégia no manuseio da

espada. Ao longo desse processo, acabou desenvolvendo o mortal estilo de

luta com duas espadas, o Hyoho Niten Ichi Ryu. Considerado o maior

samurai de todos os tempos, Miyamoto Musashi teria vencido mais de 60

duelos – isso numa época em que perder significava quase sempre a morte ou

a invalidez permanente. No fim da vida, se isolou numa gruta para escrever o

Livro dos Cinco Anéis, tratado no qual transmitiu seus conhecimentos sobre

o uso da estratégia. Trezentos e cinquenta anos depois, o Livro dos Cinco

Anéis, junto com A Arte da Guerra de Sun Tzu, foram adotados na Escola de

Administração de Empresas da Universidade de Harvard, uma das mais

prestigiadas do planeta.

Musashi foi um dos últimos grandes samurais que tiveram a oportunidade

de experimentar a luta num campo de batalha. Yamamoto Tsunetomo não

teve a mesma sorte. Ele era vassalo do clã Nabeshima, que governava a atual

província de Saga, na ilha de Kyushu, sudeste japonês. Mesmo tendo nascido

60 anos após a batalha de Sekigahara, Tsunetomo sempre procurou honrar a

tradição samurai num tempo em que a memória das últimas guerras já

desaparecera da lembrança dos vivos e havia migrado para o plano dos livros

e crônicas. Tanto assim que, com a morte de seu senhor, Nabeshima

Mitsushige (1632-1700), Tsunemoto foi proibido de acompanhar na morte

seu suserano e cometer o harakiri, “o suicídio ritual em que o samurai abre a

própria barriga”. Essa tradição fora proibida pelo clã Nabeshima e pelo

governo Tokugawa.
Obrigado a permanecer vivo, Tsunetomo resolveu abandonar a classe

samurai, raspar a cabeça e se tornar monge. Durante a década seguinte,

tratou de transmitir sua visão do que era ser um samurai para um jovem

discípulo. Este reuniu seus pensamentos e aforismos numa obra intitulada

Hagakure, publicada em 1716. Yamamoto Tsunetomo morreria três anos

depois, aos 61 anos.

Ao longo de quase 13 mil passagens (a versão publicada no Ocidente reúne

apenas trezentas, consideradas a essência do Hagakure), o autor faz um

elogio à figura de Nabeshima Mitsushige e às figuras do pai e do avô deste,

considerados exemplos de senhores a quem um samurai deve dedicar sua

vida. Ao mesmo tempo, Tsunetomo faz questão de relembrar os atos de

bravura e dedicação dos antigos samurais que perderam suas vidas em defesa

da própria honra ou da segurança dos seus líderes durante o século de

guerras que antecedeu o período Edo.

Yamamoto Tsunetomo viveu e morreu como um homem fora do seu tempo,

defendendo valores elevados de coragem e disciplina que cada vez mais

perdiam o sentido numa sociedade dominada pela burocracia e pela

ganância. Eventualmente, foi essa perda de valores que levou ao declínio e à

extinção oficial da classe samurai, consumada quando o último shogun da

dinastia Tokugawa foi deposto e o poder retornou às mãos do imperador

Meiji. Todos os antigos estilos de artes marciais foram banidos. As centenas

de escolas de kenjutsu (a arte da espada) foram banidas, se criando em seu


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lugar o kendo (esporte com regras definidas e número limitado de golpes).

O golpe de misericórdia sobre os samurais foi a proibição de portarem

espadas em público – por séculos eles foram os únicos portadores

autorizados – mas não sem derramamento de sangue. Como retratado no

filme O Último Samurai (2003), estrelado por Tom Cruise, um derradeiro

exército de samurais empunhou suas espadas para ser despedaçado diante da

saraivada dos fuzis do exército imperial em 1877.

Isso aconteceu há 138 anos. Enganam-se, no entanto, aqueles que

acreditam que os samurais desapareceram. Eles ainda existem, trabalham,

estudam, namoram e criam família. Estão nas ruas do Japão e também do

Brasil. Samurai é aquele que procura fazer do Bushidō sua doutrina de vida.

É isso o que se aprende no Instituto Cultural Niten. Através do treino das


antigas artes marciais, nossos alunos fazem muito mais do que apenas aguçar

os sentidos e melhorar o condicionamento físico. Eles trabalham virtudes

como a coragem e o autocontrole, praticam a disciplina, a obediência e a

humildade, aprendem a estudar o oponente para reconhecer seus pontos

fracos e fortes. O objetivo é aplicar todos esses ensinamentos no cotidiano, a

fim de melhorar nos estudos, vencer a batalha pelo emprego, lutar pela

expansão do próprio negócio, solidificar os laços familiares, melhorar o

relacionamento com os mestres e amigos, respeitar as leis e o próximo.

Mas isso só se consegue com treinamento duro, obstinado, persistente,

através do enfrentamento das próprias fraquezas e da lapida ção das próprias

virtudes. Neste livro, o leitor vai encontrar uma coleção de passagens de

vida, opiniões e pensamentos reunidos ao longo dos meus 40 anos de treino

como samurai, atleta e professor de milhares de guerreiros e guerreiras para

quem o Bushidō, o Caminho do Samurai, é extremamente atual. Ou melhor,

nunca deixou de ser.

9 Para fazer uma comparação, 20 mil soldados morreram no primeiro dia da Invasão

Normandia pelos exércitos aliados, em 6 de Junho de 1944.

10 Dojō = do “caminho” jo “local”. Local para se aperfeiçoar os vários caminhos. A

palavra teve origem nos templos budistas, em que os monges se submetiam a

treinamentos rigorosos a fim de alcançar a iluminação espiritual.

11 Kendo = originou-se do kenjutsu, prática tradicional com a espada samurai. Havia

mais de duzentos estilos de kenjutsu até o fim do período Edo (1868). A partir da

abertura dos portos e do fim do sistema feudal, o kenjutsu passou por transformações,

com o nome de geki ken, para se adaptar à época e para se tornar acessível à população

em geral. Posteriormente evoluiu para o gekken e, mais tarde, ao Kendo, forma

esportiva dos dias de hoje.


POR QUE RE-ESCREVI ESTE LIVRO

Introdução à Segunda Edição

Já se passaram seis anos desde que escrevi o primeiro Shin Hagakure:

Pensamentos de um Samurai Moderno. Como escrevi na edição anterior,

“este livro não é um livro acabado. Minha intenção é continuar a divulgar ‘a

dieta do espírito’ em outras edições que se fizerem”. A vida está em

constante transformação e sempre nos ensina algo novo, pois passamos

constantemente por novas experiências. Por isso, surgiram novos

pensamentos ao longo dos anos.

Originalmente, escrevi o Shin Hagakure para levar a filosofia samurai, o

Bushidō, do Instituto Niten de São Paulo a todas as unidades. A ideia era

escrever um livro de referência para que os coordenadores o utilizassem nos

“Momentos de Ouro”, momento durante os treinos em que os alunos

aprendem os valores da filosofia samurai, o Bushidō, com o objetivo de

moldar e mudar o caráter para que eles possam ter uma vida melhor.

Com a publicação da primeira edição do livro, houve, portanto, um maior

diálogo entre todas as unidades do Niten. Este livro foi utilizado até hoje para

os alunos lerem e refletirem a respeito de como viver a vida e enfrentar as

suas adversidades com a mesma harmonia, coragem, confiança,

tranquilidade, disciplina e autocontrole dos samurais do passado. Além do

próprio Niten, no mundo corporativo, ele foi muito usado para introduzir e

incorporar nas empresas esses valores de conduta samurai.

Agora em 2010, ano do Tigre, recomeço a escrever essas singelas linhas

baseadas na educação e nos valores que recebi e agradeço todos os dias aos

meus pais e antepassados. Quem não demonstra gratidão, não tem honra ou

dignidade. Na cultura japonesa, a noção de gratidão é algo tão importante

que, no final do ano, os japoneses agradecem com presentes aos que os

ajudaram como forma de demonstrar gratidão. Nessa nova versão revisada e

ampliada, também utilizarei alguns pensamentos de minha coluna no site do


Niten, “Café com o Sensei”. Eles são o fruto da minha mais profunda

reflexão. Além disso, por se tratar dos Pensamentos de um Samurai

Moderno, mostrarei alguns aspectos das estratégias da arte samurai e como

podemos compreendê-las melhor ao lado do kenjutsu.

Espero novamente, caro leitor, que elas possam “despertar o tigre

adormecido em seus corações”. Corações que começam a vida ou mesmo os

que já a conquistaram e não querem se perder. Este livro, assim como a

edição anterior, carrega a energia do combate samurai. Ela será a bússola que

ajudará a orientá-lo para enfrentar e vencer os problemas da vida, tanto os

profissionais, quanto os pessoais. Há relatos de leitores da primeira edição

que conseguiram emprego ao aplicarem os conceitos presentes neste livro em

sua vida pessoal. Inclusive, muitos deles o adotaram como seu livro de

cabeceira; outros o levam consigo constantemente como se ele fosse uma

espécie de amuleto que traz autoconfiança para analisar os problemas com

outra perspectiva e boa sorte.

Proponho que você, caro leitor, faça o seguinte exercício: enquanto lê este

livro, reflita, pense e procure encontrar um sentido em sua leitura. Pergunte a

si mesmo qual é a contribuição dele para torná-lo uma pessoa melhor.

Depois de efetuar essa primeira leitura, guarde-o e releia-o novamente após

seis meses ou um ano. Eu acredito que após a segunda leitura, você notará

que muitas “fichas” que não caíram na primeira cairão na segunda e nas que

se sucederem após esta. A cada leitura, portanto, há uma ampliação e

renovação do conhecimento e uma mudança de percepção e de visão de

mundo. Porém, essa renovação do pensamento e do espírito será plenamente

compreendida e surtirá um maior efeito com o treinamento da espada e o

convívio comigo.

Muitos de meus pensamentos apresentam fotos, imagens, citações de

minha própria autoria, além de citações de autores consagrados. Nesta nova

edição, não utilizarei apenas grandes autores japoneses, mas também

chineses, brasileiros, portugueses, norte-americanos, alemães, ingleses,

franceses, enfim, os que compartilham do mesmo pensamento samurai

baseado na honra, lealdade, dignidade, coragem, gratidão, polidez,

sinceridade e retidão.
Toda essa cultura samurai foi adaptada à vida moderna por meio do

Método KIR. Empregado no Instituto Niten, o Método KIR é a ferramenta

fundamental que canaliza toda a sabedoria e conhecimentos dessa cultura

emblemática às gerações futuras e faz do Niten o “templo dos samurais”.

Os pilares do Método KIR são:

Meu contato e convívio por décadas com vários dos últimos mestres

samurais no Japão, os filhos e netos descendentes diretos dos samurais

que viveram antes de 1868;

Minha educação familiar (desde criança) regrada aos valores da ética,

moral e o respeito aos pais e aos antepassados;

A minha prática com a espada durante quatro décadas;

Minha vivência como médico do esporte que me permite adaptar a prática

de meditação e treinamento com espadas de forma segura aos dias de

hoje;

Minha vivência como militar por ter sido oficial médico por quase uma

década;

E o fato de eu ser brasileiro, o que, do contrário, tornaria a transmissão da

filosofia samurai ao Ocidente quase que impossível.

Através do Método KIR aprimora-se também o KI, conceito oriental muito

amplo que significa “energia”, “energia interna”, “energia vital”, “energia

cósmica”, pois a atitude e postura dos samurais do passado, se pautavam no

KI.

Apesar de minha formação como médico alopata, não pude deixar de me

envolver com o Toyo Igaku (medicina oriental) e a acupuntura. Assim, o

Método KIR tem como um dos seus pilares o conceito de KI,

proporcionando aos alunos do Niten benefícios em suas saúdes, através da

influência nos seus canais de energia, por meio de pequenas ações e palavras

durante seu aprendizado. Desde um kata do Bushidō, às ações do nosso dia a

dia, tudo pode ser influenciado positiva ou negativamente, pelo KI.


Portanto, esse é o jeito Niten de ensinar a filosofia, os diferentes estilos

(ryu) e posições de combate (kamae) da arte da espada samurai

simultaneamente.

No Japão medieval cada feudo tinha o seu próprio estilo de combate.

Técnicas de desembainhar, cortar e aparar eram diferentes em cada um deles

e eram guardadas a sete chaves. Sua eficiência iria definir a sobrevivência ou

a tragédia do feudo. Há referências de que existiram mais de setecentos

estilos durante os mil anos que os samurais dominaram o Japão.

Acredito que a minha formação, experiência e prática, servirão para

transmitir aos brasileiros e a outras nações da América do Sul essa cultura

milenar cujos valores éticos e morais formaram o Japão. Isso faz com que eu

sinta a grande responsabilidade de ser o elo de ligação entre o Japão e o

Ocidente, entre o passado de uma cultura milenar e o presente, pois, como já

dito anteriormente, me encontrei e convivi nas últimas décadas com os

últimos samurais.

Em minha adolescência, enquanto o Japão e o mundo se distanciavam

desta filosofia, cada vez mais em busca do “americanismo”, eu, por outro

lado, remava sozinho contra a corrente, pois buscava o antigo, a tradição.

Hoje, vejo que meu esforço não foi em vão, pois é difícil transmitir os valores

éticos e morais da cultura samurai apenas por meio de livros mesmo estes

sendo uma importante fonte de conhecimento.

Atualmente, o mundo procura por esses valores. O Shin Hagakure os

apresenta por meio de uma linguagem moderna e adaptada ao século XXI.

Muitas pessoas me perguntam se é difícil transmitir os valores do Bushidō.

Eu sempre respondo que a dificuldade não está na transmissão, mas sim na

recepção dos alunos, pois a sua aplicação depende de cada um. Talvez a

única dificuldade esteja em ensinar o que é honra e lealdade. Sem elas não é

人間
possível viver em sociedade de forma digna. Em japonês, a palavra “Ser


Humano” ( ) é composta por dois kanjis, lidos como ningen. O primeiro


ideograma, , parece uma pessoa andando para frente, ou seja, temos a

imagem de um ser humano; já o segundo, , lembra muito a figura de um

portal em que o ser humano está inserido. Portanto, para os japoneses, “ser
humano” significa “viver, conviver e saber viver entre humanos” e,

consequentemente, quem não tem valores de conduta ética e moral não

conseguirá manter um relacionamento duradouro com outras pessoas.

Além dos novos pensamentos, acrescentei um novo mandamento para os

alunos do Niten e para todos aqueles que trilham os caminhos e o enumerei

como o “Primeiro”. Durante o nosso percurso, estamos expostos a inúmeras

tentações que podem nos desviar do caminho, mas enquanto mantivermos

alguns princípios com o caminho e com o mestre, não iremos nos desvirtuar

da direção correta. Adicionei também as seções “Minha Crença” em que

coloco um pensamento que me ajuda muito a trilhar o caminho; “Vídeos do

Instituto Niten”, “Sensei Jorge Kishikawa e Instituto Niten Na Mídia” e

“Links dos ‘Momentos de Ouro’”, três itens interessantes, pois como

vivemos em um mundo digital, coloquei alguns links com vídeos para você,

caro leitor, desfrutar enquanto lê o livro. No primeiro, mostro algumas

modalidades e técnicas, além de histórias e depoimentos do nosso universo

de espírito de luta; no segundo, reportagens a nível nacional a respeito do

Niten e do Método KIR; e, no terceiro, temos vídeos sobre alguns dos

assuntos tratados nos treinos sobre a sabedoria samurai. Por fim, a seção

“Empresas que Cursaram Os ‘Momentos de Ouro’ Do Sensei Jorge

Kishikawa Pelo KIR Empresarial” com o nome de empresas onde fui

convidado a apresentar os temas tratados nos “Momentos de Ouro”.

Enfim, sou grato por nascer no tempo e lugar certo. Por isso escrevo essas

linhas. Nessa vida, se nascemos no tempo e no lugar errado, muitas vezes

não somos e não alcançamos a felicidade. Se eu tivesse, por exemplo, a

minha idade atual durante ou logo após a Segunda Guerra Mundial, seria,

por praticar a arte da espada, preso por incentivar o espírito nacionalista

japonês. Como nasci no Brasil, um país de portas abertas que abraça e aceita

todas as culturas e agora no século XXI, quando muitos anseiam e procuram

por valores de conduta, posso transmiti-los com com liberdade e sem

censuras. Por isso, posso escrever o Shin Hagakure, transmitir a arte da

espada e os valores da milenar e emblemática cultura samurai por meio do

Instituto Niten, via Método KIR.


A aceitação de tudo isso pelos brasileiros e pelas outras nações da América

do Sul me motiva ainda mais a continuar a minha missão: transmitir a arte da

espada que dá a vida. Em abundância.

Jorge Kishikawa, 2010.


INTRODUÇÃO À TERCEIRA EDIÇÃO, VOLUME 1

Caro leitor, estimado aluno, em 2015 o Instituto Cultural Niten completou

22 anos, e o Shin Hagakure também está ganhando uma nova edição.

O tempo passou, o Niten não está mais restrito à antiga “igreja chinesa”

onde inciamos em 1993. Ele cresceu e amadureceu.

Apesar de inicialmente não ter sido este o meu propósito, o Niten

ultrapassou fronteiras que eu jamais esperaria. Não me refiro apenas no

plano geográfico, mas à magnitude e profundidade que chegamos,

conhecendo, compreendendo e auxiliando a todos os que buscam a filosofia

samurai em suas vidas.

Já não falamos mais em “levar o melhor da filosofia samurai e cultura

japonesa aos brasileiros”, como nos primeiros dias. Hoje temos alunos

brasileiros, argentinos, chilenos, sulamericanos, mexicanos, portugueses e

até japoneses, além dos descendentes que encontram no Niten um elo

perdido.

E é por isto que este livro mereceu uma revisão.

A revisão, acompanhada pela clareza das palavras de Mika sensei, minha

esposa, possibilitou uma melhor compreensão do texto, pois nas primeiras

edições alguns trechos ficaram obscuros, e poderiam levar a mal entendidos

ou equívocos.

Além disso, esta edição foi dividida em dois volumes. O primeiro tratará de

assuntos gerais, trabalhando principalmente assuntos filosóficos e culturais.

O segundo será bastante útil ao praticante, tanto do Instituto Niten quanto

de qualquer outra modalidade marcial, pois foi trabalhado visando o treino

técnico.

Foram inseridos verbetes e fotos inéditas.

A leitura do Shin Hagakure, à primeira vista pode parecer um manual de

ajuda para negócios e carreira, mas ele vai muito além, graças à Cultura

Japonesa, que com o seu Shintoismo, Budismo e Confucionismo deu origem


à enorme gama das Artes tradicionais nipônicas, e ao espírito do Bushidō,

uma forma de viver a Vida e cada um de seus momentos, de forma única.

Desejo do fundo de minha alma, que com a leitura desta nova edição, o

leitor consiga ver o que não pode ser visto, através daquela que permeou

também a minha vida, a Espada Samurai.

Boa leitura, e bom treinamento.


Ser samurai.

Um estilo de vida.

Ver-se em combate a todo o momento.

Vencer cada batalha com honra e dignidade.

Sem medo.

Sem arrependimento.

Com coragem.

Na vida, precisamos de

espírito de combate.

Quem entra sem espírito de guerra

vê pouco na luta.
Sensei Jorge Kishikawa
PENSAMENTOS DE

UM SAMURAI MODERNO
Volume 1
A VIDA É GUERRA

A vida não é um mar de rosas. Existe um pensamento japonês que diz: Yo

watari wa muzukashii. Yo = “mundo”, watari = “travessia”, muzukashii =

“difícil”, ou seja, “A travessia da vida é difícil”. Devemos sempre encarar

cada época como se fosse uma guerra e cada momento como uma batalha.

Numa guerra, falhas ou imperfeições são inconcebíveis.

Encarado como o último momento, tudo o que se fizer nesta vida, será feito

de modo especial e com perfeição.

É por isso que o samurai deve encarar cada momento da vida como se fosse

o último.
SUBIR A MONTANHA

Havia um rapaz na antiga China, por quem ninguém dava nada. Sem brilho

nos olhos, vazio e pobre em todos os sentidos.

Um belo dia, este rapaz resolveu subir a Montanha. Um lugar inóspito,

onde vivia o Mestre.

Após algumas primaveras, o rapaz desceu a Montanha.

Ele estava diferente. Com um olhar aguçado e postura de guerreiro, a

mudança era notória.

– Oh! O que aconteceu com ele? Está muito diferente! - na aldeia todos

comentaram.

Perguntaram-lhe que espécie de treinamento o Mestre havia lhe

transmitido.

Mas o que havia transformado o rapaz sem brilho num sábio guerreiro não

foi nenhum treinamento, nem segredo especial. Havia sido tão somente o

simples convívio com o Mestre.

Em minha adolescência, enquanto lá no Japão os jovens corriam atrás de

uma bola de beisebol, e aqui no Brasil os jovens descendentes não queriam

aprender nem sequer sua língua ancestral, eu estava lá, “subindo a

Montanha”. E lá, na Montanha, convivi com os grandes mestres e os últimos

samurais. Mestres que me receberam de muito bom grado, pois para eles, eu

era o neto que eles gostariam que estivesse ao seu lado.

Este convívio de dezenas de estações com os Mestres moldaram meu

caráter. O resultado das primaveras na “Montanha”, hoje se revela na

educação dos meus filhos, no jeito de ser dos meus alunos e na admiração

que recebo de todos que conhecem o Niten.


Subir a Montanha: o convívio com o mestre como parte

do treinamento do Samurai moderno

Não por acaso é que divulgo aos quatro ventos, desde o início, que o Niten

é a Montanha onde se aprende o melhor da filosofia samurai e da cultura

japonesa. E, para os que ingressam, a já conhecida frase: “Se você não sentir

uma mudança interior a partir do segundo dia, pode ir embora.”

Não importa o nível de instrução, classe social, religião ou

condicionamento físico.

Aqui, a transformação ocorre.

Kyogyojikki - vir sem nada e sair completo.


SAMURAI MODERNO

“Um guerreiro que não compreende o Caminho do Guerreiro ou o

samurai que não segue seus princípios não passa de um idiota ou um ser

infinitamente baixo”.

Tokugawa Ieyasu

Quase sempre que dou entrevistas, vem a seguinte pergunta:

– Se a classe samurai já foi extinta em 1868, o que é, de fato, ser um

samurai moderno?

Acho também oportuna a pergunta de um de meus alunos para tentarmos

responder:

“Hoje após me deparar com alguns pequenos ‘problemas’ na minha vida

pessoal… me veio a seguinte pergunta na cabeça… O que é ser um

Samurai? Eu sei como um samurai é de Imagem, sei como ele age. Mas,

como é… ser um samurai? Acredito que é essa minha dúvida…”

Assim como ele, todos têm os seus “problemas”. Sejam eles grandes ou

pequenos.

Ser um samurai moderno é agir de maneira rápida e certeira para “cortar”

os problemas, sem manchar a honra e a lealdade.

É por não agir assim que a maioria morre “cortado” pelos problemas ou

quando o fazem, não se importam em fazer de maneira desonrosa, sem um

pingo de vergonha, solo de toda Virtude, das boas maneiras e da moral.


PERGUNTAS IMPORTANTES

Início.

Se você se iniciará na senda do samurai moderno, não se esqueça do

primeiro dia.

Por que estou aqui? O que quero buscar aqui?

Perguntas óbvias, mas que não devem ser esquecidas. Digo isso porque a

maior parte se esquece disso ao se deparar com qualquer “vento” que bate

contra os seus sentimentos, senão contra o seu ego.

O Caminho reserva-lhe armadilhas ao longo do tempo.

E se você não estiver atento poderá cair numa delas no decorrer da

travessia.

– Então, como devo me orientar?

– Lembra do primeiro dia? Por que estava aqui? O que veio buscar? -

perguntarei.

Se lembrar, que bom! Dê-se por salvo.

Se não, meu caro, estará perdido.

E para sempre.
KI

“O ferro se bate enquanto está quente”.

O KI é a energia que todos nós temos.

Na época dos samurais, e no próprio Niten, tudo gira em torno do KI. Para

se ter uma idéia da importância dele, toda a medicina praticada naquele

tempo no mundo Oriental tinha relação direta com os chamados canais de

energia do corpo, como a acupuntura.

O objetivo de estar no Niten, portanto, é preservar esta energia interna,

vital e universal. Ela deve ser desenvolvida, sobretudo, na juventude da

mesma forma que o aço da espada é forjado enquanto o ferro está quente.

Ao desenvolver bem o nosso KI, poderemos viver 100 anos. O ser humano

foi feito para viver 100 anos, mas muitas pessoas não conseguem atingir esta

idade por pelo menos dois motivos: elas não bateram o ferro enquanto estava

quente, ou seja, não desenvolveram o KI na juventude e, por isso, forjaram

uma espada não muito boa, ou, no meio do percurso, a espada, mesmo que

bem forjada, se enferrujou ou trincou. É claro que não posso garantir a sua

longevidade ou que você viverá 100 anos, mas sempre pensamos em

conseguir atingir tal objetivo.

Apesar de algumas vezes, os leigos não compreenderem algumas atitudes

ou práticas que se fazem no Niten, estas têm como foco principal trabalhar

pela saúde do KI.


03 NÃO SÃO 30

Aprender.

É o que todos querem quando entram no Niten.

Para aprender, cada um procura um jeito:

Praticando (alguns até sem mestre. São autodidatas).

Lendo (aprender pensando, sem suar).

Vendo (querem ver vídeos, fotos e aprender imitando o que veem).

Se você se enquadra em um deles: pare.

Procure um mestre, de verdade.

Mesmo que ele não corresponda às suas expectativas.

Pois, “mestre é mestre”.

Há muita diferença entre 03 e 30 anos.


ABRIR UMA NOVA TRILHA

“Em geral, entre os professores, muitos se limitam a ensinar o“kamae


1
‘chudan’ de itto “. No entanto, este tipo de comportamento é muito

simplista: por exemplo, para atravessar uma montanha, você pode

passar por um caminho já aberto ou então abrir uma nova trilha através

da floresta. Mas quem passa pelo caminho pavimentado não pode

criticar quem escolheu a forma selvagem e vice-versa. Existem várias

maneiras de subir, e tudo depende da visão de quem escala“.

Não se equivoque com estas palavras.

Antes de abrirmos uma trilha através da floresta, passamos por décadas de

provações espirituais e físicas durante o treinamento que vai além da sua

imaginação.

Não adianta querer abrir uma trilha sem ter as noções e instrumentos

necessários.

Para se abrir uma trilha de verdade, tem que se chegar ao estado de

aquisição completa do conhecimento do Caminho que se percorre, o que, se

bem orientado, demora no mínimo uns 30 anos.

Anos de descobertas, frustrações, dores, decepções, abdicações e lesões.

Para se abrir uma trilha, tem que ser ousado.

Ousado o suficiente para suportar as provações das mais diferentes

espécies.

“Nada é impossível para uma mente disposta“.

Livros da Dinastia Han


1 Kamae ‘chudan’ de itto = “posição ‘do meio (com a lâmina voltada para o rosto do

oponente)’ com uma espada“.


JISSO ENMAN NO HEIHO – ESTRATÉGIA DA

REALIDADE CÓSMICA

Recebi das mãos do 12º sucessor Yoshimoti soke, o bokuto de Musashi

Sensei, pertencente ao mestre Gosho Motoharu. Foi esculpida a pedido de

Gosho sensei para ser uma réplica perfeita da original. Gosho sensei a

mantinha como reserva, caso a original se extraviasse.

Estão inscritas em sua lâmina, os seguintes ideogramas: Jisso Enman no

Heiho.

Consta no Go Rin no Sho (O Livro dos Cinco Anéis) que Musashi Sensei

duelou mais de 60 vezes dos 13 aos 29 anos. E mesmo depois, continuou

aprimorando o seu Caminho da Espada, viajando por terras de todo o Japão,

atingindo o completo discernimento no Caminho, aos 50 anos.

Manteve mente e corpo à disposição do Caminho, sem relaxar em nenhum

momento durante toda a sua jornada.

Em um dos trechos dessa jornada, encontrou-se com Yagyu Hyogonosuke,

habilidoso mestre do Kenjutsu, nos arredores do castelo de Nagoya. Dizem

que ao se cruzarem em meio à multidão, sem ao menos se apresentarem,

reconheceram-se de imediato. Sem que houvesse um embate, trocaram

algumas palavras e Hyogonosuke se despediu dizendo:

- Reconheço seu grande talento. A minha espada não persegue combates

precipitadamente. É a espada que dá a vida.

Em seus últimos anos, Musashi chegou a Higo Kumamoto, onde conheceu

o monge Shunzan pelo qual foi conduzido ao estudo profundo do budismo.

Aquele encontro, aliado aos estudos do budismo, levaram Musashi a

escrever as palavras Jisso Enman em sua espada de madeira.

Jisso Enman no Heiho, Estratégia da Realidade Cósmica.


O autor e o mestre Kiyonaga Fumiya contemplam o bokuto original esculpido por

Miyamoto Musashi Sensei com as inscrições dos ideogramas Jisso Enman (à esq.) e

Kanryu Taigetsu
Este é o legado de Musashi e que me leva a transmitir sabedoria nos

Momentos de Ouro do Instituto Niten.

Mais do que ensinar técnicas antigas ou ganhar medalhas, Musashi sensei

chegou à conclusão de que o mais nobre Caminho é “não perder tempo em

batalhas fúteis, e auxiliar os seres, promovendo a compaixão”.

Guardo a sete chaves a espada de madeira de Musashi, pois é a única

réplica no mundo.

Além de Jisso Enman, do outro lado da lâmina, é possível visualizar uma

frase esculpida por Musashi Sensei:

“Kanryu Tsuki wo Abite Someru Koto Kagami no Gotoshi.”

(Tal qual a corrente fria que se tinge com o reflexo da lua.)

Esta frase de profundo significado, origina-se de um manuscrito de um

poeta de nome Hakurakuten da China antiga. É a mesma que também

compõe parte do famoso quadro de Musashi, Senki (Espírito da Guerra), que

costumo autografar no Shin Hagakure.

Toda a energia emanada nos dois ideogramas SEN-KI se revela nesta única

frase: “Tingir-se como a corrente fria…”

É o Espírito da Guerra refletido no estado puro de uma corrente fria, que

banhada pela lua, reflete intensamente o seu brilho, em toda a sua superfície.

Trata-se de um estado espiritual dos mais profundos e expressa a atitude

mental que devemos ter antes de entrar na Grande Guerra, seja ela em

combate, em campo de batalha, ou em nossas lutas diárias.


COMO PREVER O FUTURO

Você sabe prever o futuro?

Divido os meus alunos em duas categorias:

Aqueles que treinam e aqueles que não treinam.

Aqueles que leram e aqueles que não leram o Hagakure.

Assim, fica fácil prever o que acontecerá.


Coragem não tem idade!
CORAGEM

“Eu sempre soube - Que, no fim, tomaria - Esta estrada,

Embora, ontem, eu - Não soubesse que - Seria hoje“.

Narihira

Em matéria publicada no dia 26 de janeiro de 2008, a repórter pergunta ao

meu filho sobre o samurai:

“(…) Quem é o samurai? O menino explica que é alguém muito corajoso.

Tão corajoso quanto seu pai, o sensei (professor) Jorge Kishikawa. Foi ele

quem trouxe o kenjutsu (arte dos samurais) para o Brasil”.

Possivelmente a repórter, quando escreveu essas linhas, não tenha

imaginado o peso destas palavras. Nunca pensei e me proclamei corajoso.

Mas para ser sincero (e todos aqueles que iniciaram uma nova empreitada ou

revolucionaram o mundo devem saber do que estou falando), foi-me

necessário uma boa dose de coragem para implantar o kendo, o kenjutsu e o

Kobudō no Brasil.

É preciso coragem.
RENOVE!

“É inútil pensar em ir acabando com o mal aos

poucos até eliminá-lo completamente. Deve-se fazer tudo de uma só vez

para deter o mal, tal como

se tapa o buraco de um rato ou uma goteira”.

Myoudi Tokubunshou Nissen Shonin

Passado o período de festas (“farra”, para alguns), estamos aqui.

Graças a Deus!

E então, nos lançamos à pergunta que todos nós fazemos:

– O que é que eu vou fazer neste ano…

Vou dar-lhe um exemplo:

Numa era em que todos correm por emprego e trabalho desesperadamente,

fazer outras atividades que não ligadas diretamente às suas áreas se torna

supérfluo, ou melhor, secundário ou menos importante.

De fato, a maioria pensa que se dispuser de duas horas para preencher com

alguma atividade é melhor fazer um curso de inglês, computação e por aí vai

um grande número de necessidades.

Talvez uma academia para malhar, pois manter o corpo belo e saudável

também é vantajoso, já diziam os gurus há vinte anos no mundo corporativo.

Ou algo para relaxar, porque tirar o estresse também é importante.

Mas “virar um samurai no meio dessa correria, jamais”, pensa a maioria.

– Em meio a esta correria, você entrar num “templo” para virar um

samurai é uma grande idiotice ou, no mínimo, insano. Você deve estar

“pirando“. Vai estudar - dirá o seu amigo, a sua namorada ou algum parente

querido.
Pensando bem, pode ser.

Leia o relato de um aluno que entrou no nosso “templo” e colocou o Niten

em seu currículo:

“Nessas últimas semanas, ouvimos do Sensei sobre algumas pessoas em

nossas vidas que tentam nos afastar do caminho, mesmo que sem intenção.

Pais, irmãos, amigos, sempre dizem: ‘pra que isso?! O Niten não vai te levar

a lugar algum…’”.

Pois bem, nessa semana, consegui uma entrevista de emprego.

Contudo, ao chegar no local, percebi que não era o único procurando pela

vaga. Admito, fiquei um pouco decepcionado ao saber que alguns dos

concorrentes possuíam duas ou mais línguas no currículo, sendo que eu

possuo apenas o inglês básico. Outros tinham diplomas de computação e eu

apenas procurava o primeiro emprego. Estava entre 10 concorrentes e me

via sozinho. Entretanto, não perdi as esperanças.

Pouco a pouco fomos sendo chamados e cada um que saía da pequena sala

tinha um sorriso no rosto. Fui o quinto. Por mais de meia hora, conversamos

e o resultado parecia negativo, porém, me perguntaram se eu praticava

algum esporte.

Citei o nome do Instituto Niten e comentei também sobre o Bushidō. A

entrevista começou a ficar cada vez mais interessante quando mostrei o Shin

Hagakure que eu levo sempre comigo. Comecei a explicar mais sobre a

disciplina que o nosso Sensei nos ensina. Pois bem, conversamos por mais

de uma hora sobre o assunto e, por fim, fui contratado sem nem mesmo dar

chance aos outros concorrentes. Essa foi minha primeira “Guerra” vencida.

Em uma semana, meu chefe disse que foi uma boa escolha. E pretendo que

cada vez mais ele tenha consciência disso, pois levo o nome Niten comigo.

Todos deveriam pensar da mesma forma. Pois isso é o Bushidō.

Para aqueles que ainda pensam que ser um Samurai não nos leva a nada,

reavaliem seus conceitos…”.

Pensando bem, é melhor nem pensar.


Porque ao pensar o que pode parecer insano pode ser, na realidade, a

cura…

Renove!!!
2
DAS EISMEER

3
Um dia, de volta para casa, levei um men ippon .

Estava dirigindo, conversando e pensando em vários assuntos. Foi lá na

Cubatão em uma das travessas perto do Paraíso.

Já passava das 22 horas e o farol estava vermelho. Apesar de que em São

Paulo estava ‘liberado’ passar no vermelho à noite, fiquei.

Uma moto estava na minha frente. De repente, a moto se foi e aí fui atrás.

Quando me dei conta, estava no meio do cruzamento, no vermelho ainda,

pensando que o farol já tinha aberto.

– Minha nossa! O que estou fazendo??!!! – dei-me conta.

Fui “arrastado” e induzido a cometer uma infração. No meio de uma

distração.

Esta distração pode ocorrer a qualquer momento e dar abertura para levar

um bom golpe no combate de kenjutsu.

Esta distração pode ocorrer a todo o momento e dar abertura para amargar

um grande revés no mar da vida.


Caspar David Friedrich (1774-1840):

“Das Eismeer, naufrágio no mar de gelo

2 Das Eismeer = “O Mar de Gelo”.

3 Men ippon = um golpe que valeu um ponto. Men quer dizer “crânio”. Ippon quer

dizer “um ponto”. Um ponto com golpe no crânio.


KI, KEN, TAI, UN

São quatro os fatores determinantes para se vencer uma guerra.

Ki, o primeiro, é a energia envolvida no combate. O quanto se está

determinado para entrar no combate e vencer a todo e a qualquer custo. Para

se envolver por completo, tem que se alcançar um estado de transe, no limite

entre a vida e a morte. No Hagakure de Yamamoto Tsunetomo está escrito:

“O Caminho do samurai se encontra na morte. Entre ela ou qualquer outra

coisa, não há dúvida: a escolha deve ser a morte”.

Ken, o segundo fator, refere-se à técnica. A técnica no manuseio da espada

faz diferença. Diplomas, cursos, experiência. Tudo é técnica.

O terceiro fator, Tai, é a posição, o corpo, a condição física em que se

encontra o samurai. O condicionamento adequado que suportará as

intempéries do combate.

E por último, Un, a Sorte. Os ventos soprando a favor. Em 1274, o Japão

foi atacado por uma enorme esquadra de mongóis, lideradas por Kublai

Khan, neto de Gengis Khan. Os samurais lutaram com bravura, mas os

adversários eram bem mais numerosos e armados. Com a ajuda dos ventos

divinos, denominados kamikaze, a frota mongol naufragou e foi derrotada.

Não satisfeito com isto, Kublai Khan enviou nada mais que 150 mil homens

em uma esquadra em número quatro vezes maior. Novamente, foi arrasado

pelo vento divino.

Se não fosse assim, talvez eu falaria chinês e você nem estaria lendo este

livro…
SOBRE O ESPÍRITO DETERIORADO

“Se o seu Espírito estiver podre, você não irá progredir.

E, se estiver limpo, você irá progredir”.

Infelizmente, muitos jovens hoje em dia já têm o Espírito podre. Espertos,

mas preguiçosos; inteligentes, porém morosos; fortes, no entanto,

acomodados. Só pensam em sites pornográficos, chats com garotinhas e

gastam dinheiro com futilidades.

Os que não são filhinhos de papai, o destino amargo do desemprego e do

subemprego acompanhará suas vidas. Já os filhinhos de papai que têm as

mensalidades da faculdade garantidas para conseguir o diploma, poderão até

ter um empreguinho ou seguir os negócios da família. Entretanto, não serão

bons o suficiente e capazes como poderiam ser. Eles deveriam ter vergonha e

se perguntar se não estariam mendigando, se não fosse a sorte do destino.

Não vou dizer que é fácil, mas vejo a Espada como a única forma de

endireitá-los.
A primeira equipe a gente nunca esquece:

Equipe Campeã Mirim no Torneio Brasileiro de 1970

em São Paulo (o autor é o segundo à esquerda)


KI EM PRIMEIRO LUGAR

“O diploma é secundário, o primeiro é o KI”.

O Ocidental e, mais recentemente o Oriental, influenciado, sobretudo, pela

corrida pela informação e pela colocação no mercado de trabalho,

hipervalorizam o diploma. No Japão, os pais dão a vida para que seus filhos

ingressem na faculdade.

É claro que este sentimento dos pais em querer que os filhos estudem para

ter as melhores oportunidades deve ser respeitado, mas antes de incutir na

cabeça dos filhos que o estudo é a coisa mais importante da vida, deve-se

forjar a espada do espírito, ou em outras palavras, deve-se forjar o KI, a

“energia vital”, enquanto ainda se é jovem.

A questão é como isso será feito. A resposta é simples: através do

treinamento com a espada fazendo os exercícios que os antigos faziam, pois

eles têm tudo a ver com o KI.

Com isso, cada um formará a sua “bateria” que durará por determinado

número de anos. Por essa razão, muitas vezes falamos que uma certa pessoa

tem mais ou menos energia do que a outra. Essa energia que faz a diferença é

o KI acumulado na juventude.
VESTIBULAR

Uma das primeiras grandes batalhas que travamos em nossas vidas, à qual

apenas uma minoria mais forte sobrevive, é o vestibular.

Lembro-me dos dias em que me debruçava sobre os livros, apostilas e

testes.

Vim de um primário e ginásio (ensino fundamental) públicos e ao ingressar

num colégio (ensino médio) particular, apanhei bastante.

Descobri que não era um gênio. Ao contrário, estava sempre entre os

últimos da turma. Dessa forma, as chances de ingressar numa grande

universidade eram mínimas. Fiquei até de recuperação no 3ºano!

Contudo, foi nestas condições que “virei o jogo” nessa guerra.

Como?

Eu tinha um método, a Espada. O treinamento constante manteve minha

mente aguçada e o físico preparado para enfrentar, uma após outra, a

avalanche de testes, perguntas e desafios.

POLI, FGV, FEA e UNIFESP. Com o meu método e estratégia, sobrevivi e

fui vitorioso em cada uma destas batalhas. Precisaria de um dia inteiro para

falar de cada uma delas.

Dessas batalhas, tirei minhas experiências e conclusões, e descobri que

estudar, todo mundo estuda. Mas o diferencial está no Método. Ter um

mestre, uma bússola. Isto é ser diferente.

O grande erro da maioria é pensar que para ser aprovado é preciso parar de

treinar, e apenas estudar, estudar e estudar.

Fiz diferente: estudei - mas treinei, treinei e treinei!

O vestibular, como toda guerra, é uma surpresa. Até aqueles com as

menores chances, podem virar a mesa, serem aprovados, e vencer. Basta

possuir o Método.
Batalhas em que fui vitorioso:

- Administração - FGV

- Administração - FEA USP

- Engenharia - USP

- Medicina - UNIFESP
SENKI

“Na vida precisamos de espírito de combate”.

Senki é a mensagem que escrevi quando autografava a primeira edição

deste livro: “Senki. Seja nos dias de guerra, seja nos minutos de paz…”

Alguns pensam: “Quando já alcançamos nossos objetivos, não precisamos

mais do espírito de combate”. Entretanto, apesar de já possuirmos o que

queríamos, também é fundamental manter o que foi conquistado. É quando

sobrevém a preguiça, a tentação e a fraqueza. Você aí: pensa que a paz será

para sempre?
SEN KI, 189 x 35 cm,

quadro de Miyamoto Musashi Sensei, séc. XVII


O ESTUDO É MAIS IMPORTANTE… LEDO ENGANO

Já vi, e você provavelmente também, tantos e quantos com diploma

meterem uma bala no peito, se alcoolizarem ou se drogarem. E agora, se já

não se foram para o outro mundo, perambulam como vermes e mortos vivos

com um pé na cova.

E o que é mais importante então? A disciplina interna, a honra, a

dignidade, a sinceridade, a gratidão, a coragem. SenKi.


SEN KI – ESPÍRITO GUERREIRO

A guerra continua. Você precisa ser forte, resistente e combativo. Existe

uma guerra invisível e de consequências que serão sentidas em longo prazo.

Mas lá na frente, teremos que avaliar os resultados. E, ao final da guerra, se

tivermos fracassado, nos arrependeremos por não termos combatido com

mais energia enquanto éramos jovens. Musashi Sensei escreveu em tinta

nanquim, em caligrafia japonesa, as palavras Sen Ki. Sen quer dizer “guerra,

combate”. Ki é “energia, disposição”, ou seja, “a disposição para o combate;

a energia da guerra”.

“O espírito sempre em guerra”.


Treinamento de Kenjutsu: manejo da

espada e fortalecimento do espírito guerreiro


KI É VIDA

“Diga-me com quem andas, que te direi quem és.

A água que está no lago, também está dentro do peixe”.

A água de um lago onde se encontra o peixe influencia de forma positiva

ou negativa a vida do peixe.

Dessa mesma forma, o ambiente em que vivemos, o ar que respiramos, a

forma como nos portamos, nossas ações, nossas companhias, enfim, tudo

influencia de forma positiva ou negativa a nossa vida, ou seja, influencia o

nosso KI, “energia”.

Isso é determinante para vivermos mais ou menos.


KI É ENERGIA

“KI é a energia da vida”.

Existem pessoas que, na juventude, têm uma “saúde de ferro”, mas, de

repente, ao ficarem mais velhas, ficam doentes. Isso ocorre porque, enquanto

jovens, abusaram do álcool, do cigarro, do sexo.

Ao longo dos anos, ficam cada vez mais cansadas, debilitadas, com aquela

cara de peixe morto devido à perda de energia do corpo, ou, em outras

palavras, acabam aos poucos com o seu KI.

Iaijutsu, a arte de desembainhar

a espada: energia em movimento


Por exemplo, em empresas, há sempre aquele funcionário que passa o dia

do lado de fora fumando, ou aquele que sempre depois do expediente vai

beber, ou ainda aquele que faz essas duas coisas. Ele com certeza tem uma

fisionomia cansada. Com o passar do tempo, a falta de KI é tamanha que o

trabalho já consome toda a energia e ele passa a ter uma vida limitada apenas

em bater o cartão. Com isso, não quero dizer que a pessoa não tenha força

muscular, o que ela não tem é energia, o KI.

Por isso, se você quiser continuar a fumar e a beber, continue, desde que

você compareça às 6 horas da manhã no meu treinamento. Porém, você não

conseguirá fumar e beber por muito tempo, pois, nos treinos, é necessário ter

a energia interna, o KI, e não apenas a parte técnica e intelectual. Se você

não tem energia, você levará um golpe de qualquer adversário, mesmo

daquele que for inferior a você tecnicamente.

Isso ocorre porque o excesso de cigarro e bebida influencia de forma

negativa a performance. Chegará o ponto que você decidirá por si mesmo

parar ou diminuir o cigarro e a bebida.

Portanto, deixe de lado o cigarro e o copo, pegue a espada e venha.


NUNCA CEDER

Ainda não encontrei um samurai brasileiro que não tivesse relaxado em

algum momento depois de uma grande batalha, apesar dos dias de guerra

continuarem. É difícil encontrar um samurai original.

A maioria sente que se pode dar ao luxo de afrouxar e desatar os cordões

do elmo após a batalha. Eles não estão preparados para um segundo ataque.

Senki: seja nos dias de guerra, seja nos minutos de paz.


MEN IPPON

“Um otimista vê uma oportunidade em cada calamidade; um

pessimista vê uma calamidade em cada oportunidade”.

Uma guerra consiste em uma sucessão de batalhas.

Para nós, foi uma bomba. Algumas vezes, os deuses são rigorosos com o

destino. Planejamos, estudamos e contamos com os recursos do Estado.

Executamos a longa e duradoura primeira fase. Muitos sucumbiram, mas

vencemos. A segunda fase demandaria esforços e recursos amplos para a

continuação do grande projeto. Porta aviões em alto mar, caças chegando em

direção ao alvo. Samurais em seus cavalos, já entrando no campo de batalha.

Eis que recebemos a notícia bomba: suspensão dos recursos para continuar a

guerra. Patrocínio vetado.

Bateu a insegurança. Em um dilema entre continuar avançando ou

interromper a guerra, o tempo passa. Uma das guerras mais difíceis que já

encontrei. O desconhecido manifestara-se. Dúvidas e incertezas nos

impedem de tomar qualquer decisão. Dependemos dos recursos. Eis que

surge um dos generais. Sabia da grave situação e da realidade em que nos

encontrávamos e também estava abalado. Contudo, em nenhum momento

esmorece. Enquanto todos os outros se encontravam em estado de pânico e

medo, o samurai Ookami diz a resposta mais óbvia para vencermos a guerra:

– Vamos nos mobilizar para conseguirmos novos patrocínios!

Quando se está bem, todos podem ser otimistas. Quando se está mal,

somente um Samurai consegue ser. Escreverei em letras garrafais:

CONSEGUE SER OTIMISTA


Nesse dia, levei um men de Ookami.
SE VOCÊ TEM TEMPO PARA LER E ESCREVER EM

BLOGS OU FÓRUNS, VÁ TREINAR, POIS ESTÁ

FALTANDO TREINO

Com o advento da internet, muitas informações inúteis têm tomado o

tempo daqueles que procuram a Verdade. Mais que inúteis, muitas são

informações falsas, escritas por personagens que se camuflam covardemente

atrás de um nome virtual.

Os mestres tradicionais abominam o uso da internet para colher

informações e mesmo a Wikipedia se mostra falha, apesar de que, salvo

algumas raras exceções, podemos encontrar algum conteúdo confiável.

O samurai que busca a Verdade em sua técnica não deve perder tempo com

isso e deve treinar exaustivamente. Caso contrário, não chegará a lugar

nenhum, muito menos descobrirá a essência das coisas.


COMO GASTAR O KI

“Às vezes, a pessoa não consegue inibir

fatores de desatenção porque o

Twitter atrai mais (que o trabalho).

Mas o Twitter não paga o salário dela”

Artigo da Folha de S.Paulo

Neste fim de semana, li um artigo que alertava sobre a falta de

concentração em indivíduos que tem afinidades com algumas ferramentas de

internet e as utilizam no seu expediente.

Enquanto eu lia, pensava:

– É, parece que as pessoas nunca aprendem. Há nove anos, quando

profeciei no Shin Hagakure (exatamente na época em que começaram a

aparecer os Orkut, blogs e fóruns) que seria uma grande bobagem e perda de

tempo cair em tais armadilhas, muitas pessoas não levaram a sério.

Agora, o mundo presencia o que escrevi no Shin Hagakure.

Destinado a aqueles que querem sair do anonimato, estas ferramentas,

como o Facebook ou Twitter (além de outras que apenas tiram o tempo e a

atenção), são largamente utilizados como meio barato de se conseguir a

“fama”. O grande problema é que, conforme o artigo, tira a concentração e a

consequente produção daqueles que caem na armadilha.

Sugiro que, se este for o seu caso, que seja honesto e faça jus ao seu salário:

trabalhe.

Indo além: no mundo de hoje, os jovens acham que tudo podem: beber,

fumar, varar a noite estudando, assistir a filmes à noite inteira, ir sempre à

festas e baladas, ficar até altas horas (alguns em plena hora de expediente) na

internet em blogs, Orkut, twitter, facebook, salas de bate-papo, MSN.


O homem não foi feito para viver assim. Se você vive assim, está gastando

a sua bateria interna de forma inadequada, ou seja, aos poucos, está

acabando com o seu KI, a “energia”.

Se há algum motivo profissional em fazê-lo, não tem jeito. Caso contrário,

gastar o tempo para saber da vida alheia é também perder o seu KI para

massagear o ego alheio.

Use a sua energia. Para você.


A FILOSOFIA ORIENTAL RESOLVE TUDO. MEU

IRMÃO, NÃO CAIA NESSA

“Quando um ocidental começa a propagar alguma filosofia oriental, é

como se uma orquestra sinfônica alemã começasse a tocar samba”.

Essas palavras são de um sociólogo francês. Achei-as oportunas para

ilustrar muitos dos pseudomestres de academias e pseudogurus de

treinamento empresarial que tentam “tirar uma casquinha” da onda samurai

que tem se propagado nesses últimos anos. Falam e escrevem sobre samurais

sem ter a mínima noção do que é ter um adversário com uma espada à sua

frente.
Cerimônia de purificação no Templo de Kashima com demonstração de Jojutsu, a arte

do bastão (5° à esquerda)


AUTODIDATA

Já dizia Mário Quintana: “Autodidata - ignorante por conta própria”.

Observamos nesta terra tupiniquim, no entanto, muitos que enviam e-mails

se proclamando mestres autodidatas. Principalmente de terras mais

longínquas.

Eles justificam que, por estarem longe de tudo e de todos, aprendem as

técnicas por si. Alguns, mais insensatos, dizem que não precisam de mestres.

Outros, de nem tão longe assim, dizem ter estudado várias artes e fundam o

seu próprio estilo. Todos autodidatas.

O mesmo ocorre durante o combate.

Todos treinam. Todos lutam.

O problema é saber “como” lutar.

E é neste ponto que o acompanhamento de um verdadeiro mestre tem a sua

importância.

Eis a peça que faz a diferença.

Ser um autodidata ou não, eis a questão.


Cerimônia de purificação no Templo de Kashima

com demonstração de Iaijutsu


REPENSAR?

“No Brasil está comprovada a existência de uma escola socialmente

respeitada onde a camada mais culta da sociedade faz fila para

ingressar. E no Japão? Existem no Japão vários seminários, mas até que

ponto os Hanshi e 8º.Dan do Kendo, que são as pessoas de mais alto

aprimoramento do Kendo que prega a “formação de pessoas” são

chamadas para ministrar palestras? É necessário repensar seriamente

sobre a situação”.

Revista Kendo Nippon Nº2009-08, Pg 130“

Com o perdão da palavra:

– Repensar não será o bastante.

Primeiro: palestras não mudam o homem.

Segundo: o mundo carece de mestres.


SOBRE COMO BEBER CERVEJA

Nós samurais modernos sabemos que beber saquê ou cerveja no meio das

pessoas é ser observado a céu aberto. Puritanos não entendem que um mestre

não é um santo. Mestres e monges gostam de cerveja, de comida e de

mulheres. Quando você tem a confiança e a honra de beber ao lado do seu

mestre, não deve haver atitude observadora ou crítica. Deve beber de

coração. Não raro, eu levo um mestre à sua residência após várias horas de

saquê e conversas profundas. Um grande mestre é para sempre um grande

mestre.
SE NÃO BEBE, FIQUE LONGE

“Mais vale beber um copo de sake do que se preocupar com o que não

traz proveito”.

Tabibito

Bebe-se saquê para “tirar a máscara”, acabar com a formalidade existente

no dojō, no trabalho ou no mundo corporativo. Um momento para não

falarmos de coisas sérias. Falemos sobre coisas mundanas. Família, hobbies,

viagens e todo tipo de bobagem. Enfim, um momento para ser gente.

Portanto, se for convidado a beber, beba. Não é justo o mestre “tirar a

máscara” e você não baixar a guarda.

Entenda como uma honra ser convidado para participar de uma roda ou de

um momento privativo com o mestre.


MEU MESTRE EMBRIAGADO

4
Levei o meu mestre à sua casa. Depois da janta, fomos ao izakaya .

Ele estava embriagado. Caso eu não o acompanhasse, seria perigoso para

ele chegar ao seu destino.

Embriagado ou não, ele é o meu mestre. Devo muito de minha sabedoria e

técnica a ele. E também os momentos regados a saquê, que nem seus alunos

mais próximos no Japão têm a honra de compartilhar.

5
Giri , para sempre!

4 Izakaya = lugar onde se bebe saquê. São lugares aconchegantes e pequenos, onde se

pode ter uma conversa mais reservada enquanto se bebe.

5 Giri = uma das virtudes do Bushidō. É a gratidão que devemos nutrir por aquelas

pessoas que, mesmo não sendo consanguíneas, nos fizeram algum benefício para a

nossa evolução e sobrevivência. É uma das virtudes a serem cultivadas pelo samurai e

existe até os dias de hoje. No Japão, se levam presentes de agradecimento no final de

ano às pessoas de quem obtivemos benefícios ao longo do ano e da vida.


A partir da esquerda: Mestre Shigematsu, 12º Soke

Yoshimoti e o autor no Japão em frente ao dojo

do estilo de Musashi, Hyoho Niten Ichi Ryu


VOCÊ NÃO CONSEGUIU NADA SOZINHO

Não se iluda pensando que tudo o que você conseguiu ou o que possui em

sua vida se deve somente ao seu esforço ou à sua capacidade.

Três fatores são importantes para o samurai vencer:

a sua capacidade

as suas origens

os colegas de treinamento.

A capacidade é o único fator que pode ser atribuído a você. Lembre-se,

porém, que a sua origem é importante: dependendo de que feudo veio, já

nasceu derrotado ou vencedor. Há muitos que nascem sem terem condições

de empunhar uma espada.

Musashi Sensei, o maior samurai de todos os tempos, não teria conseguido

nada em sua vida se não tivesse encontrado pessoas brilhantes, como o

monge Takuan ou o senhor feudal Hossokawa Tadaoki, que, em seus últimos

anos, o acolheu como hóspede em seu castelo. Caso contrário, talvez tivesse

levado a vida de um mendigo, depois que a força física e a saúde para

combater o tivessem abandonado.

Se nem um samurai imbatível em mais de 60 duelos conseguiu tudo

sozinho, não é você que conseguirá.


MUNDO ANIMAL

Estar em contato com os animais é observar, entre tantos outros hábitos, os

vícios dos seres humanos.

Quando estamos com um punhadinho de grãos de milho na mão e uma

centena de galinhas, patos e gansos estão ao redor, ocorre um grande

alvoroço ao arremessarmos ao longe, pois vão todos em uma só disparada.

Gritando, xingando, batendo, pisando. Enfim, uma baixaria.

Sem dó.

Sem piedade.

Sem escrúpulos.

É o mundo animal.
PRIMAZIA

É claro que obstinação demais pode cegar e levar o indivíduo a cometer

atos inconsequentes de loucuras, muitas vezes irreparáveis, mas a expressão

que melhor se encaixaria seria “ambição desenfreada”.

Inegável dizer que é uma praga que existe em qualquer lugar, em todos os

povos e em todos os tempos.

Infelizmente, até nos caminhos, os chamados “DO”s.

Praticantes que se tornam campeões e ficam de nariz empinado. Outros que

se graduam e esquecem os seus mestres (alguns não apenas se esquecem,

mas também até “pisam” neles).

Todos com ego inflado e se achando os melhores. Animais devorando uns

aos outros em busca de poder, fama e reconhecimento. O Caminho dos

Animais.

Aqui no Niten, o mérito não se dá por conquista, mas por antiguidade.

Independente de graduação ou título, o mais velho sempre terá o seu

devido lugar: o da primazia.

E que, para mim, é o Caminho.

O do Homem.
O presente se faz com o passado. Primórdios do

Instituto Niten no dojo do Itaim, São Paulo


CARNEIRINHOS MONSTROS

“Aos incapazes de gratidão nunca

faltam pretextos para não a ter”.

Petit Senn

No início parecem-se com carneirinhos.

Indefesos, inofensivos. Dóceis e humildes à procura do Caminho.

– Onegai shimassu!, “Por favor!”, – suplicam ao mestre.

A porta é aberta…

Durante o trajeto no Caminho, a sinceridade e a lealdade são colocadas à

prova.

O ego fala mais alto. As máscaras começam a cair.

Tempo perdido.

Por fim, aparecem os ossos, e aí vemos os “monstros” que na realidade são.

Já dizia o samurai Yamamoto Tsunetomo: “Quando consegue ver dentro do

coração do outro, você pode se decepcionar“.


TSUI, KYO WO YABURU!

“– Existe alguma mentira ou mal

cometido que possa passar despercebido?

– Sim, se fizer bem feito as

coisas que não são descobertas.

Quem responde dessa forma é tão estúpido

como quem fez a pergunta. Por pensarem

dessa forma, mentiras e roubos no mundo

não param de acontecer. Se um mal deixar de vir

à tona, o céu e a terra virarão de ponta cabeça“.

Nissen Shonin

Bozu é o nome que se dá aos aprendizes de monges.

Tem a rotina deles como a de qualquer outro. Como você, trabalham,

estudam, fazem seus afazeres. E, o mais importante: oram lendo os sutras,

“ensinamentos”.

No início, entram empolgados e acham tudo maravilhoso.

O tempo vai passando e alguns começam a demonstrar o seu verdadeiro

“Eu”. Falo, neste caso, daqueles que não compreenderam o verdadeiro

significado dos sutras.

Então começam a inventar desculpas por chegar atrasado e não fazer as

coisas bem feitas.

É o começo.

Depois passam a fazer coisas piores.

O mestre, percebendo a erva daninha que começa a se instalar no monge

aprendiz pergunta:

– Pequeno gafanhoto, por que não leu os sutras?


O já pseudomonge, a esta altura do campeonato, tem uma resposta na ponta

da língua:

- Do ga yugande kyo ga yomenu.

Traduzindo literalmente: “Não li os sutras porque o chão está torto.” No

Japão, os templos eram feitos de madeira, e, com o passar dos anos, o chão

cedia e ficava um pouco torto.

Somos obrigados a ouvir desculpas esfarrapadas como esta, daqueles que

nunca fazem as coisas direito e mentem, roubam, caluniam e falsificam

documentos.

É o meio.

Quem já não teve a empregada que sempre tem uma desculpa para não

fazer a limpeza do jeito que pedimos? E aquele funcionário com “cara de

peixe morto” que faz “corpo mole” durante o expediente? Ou aquele que vem

todas as segundas-feiras sempre com alguma desculpa porque chegou

atrasado?

Bom, mas a história não para aí.

Chega-se a um ponto que não há como esconder. O pseudomonge já não

tem mais conserto. Tem que sair.

Sai. Ou é convidado a sair.

Ao sair, tenta provar que nada fez de errado. Culpa o mestre, o templo, o

sutra e, se não tiver o que culpar, até o chão pode ser o culpado.

E, num acesso de loucura e raiva, blasfema:

– Tsui, kyo wo yaburu!, ou seja, “Então, rasgo o sutra!”.

E rasga o sutra.

Moral da história: faça as coisas direito para não se rebaixar ao desprezível.

Não cuspa no prato em que comeu.


DECEPÇÃO

Mestre Yamamoto Tsunetomo, me permita colocar uma observação sobre

um dos seus grandes pensamentos.

Compreendo quando o mestre escreve que podemos nos decepcionar

quando conhecemos o coração do outro e a partir daí chegamos à conclusão

de quanto tempo foi perdido e outras coisas que só os mestres entendem.

Mas, mestre, me permita expor que a decepção não é esta. Pois, da mesma

forma que neste mundo existem homens leais, com honra e com coragem,

existem os opostos. Existiram, existem e existirão, infelizmente, mas

deixemos isto de lado.

O que eu quero, mestre, é lhe falar que DECEPÇÃO é descobrir mais tarde

que estes “carneirinhos monstros” apagaram por todo o tempo os alunos que

realmente tinham valores: alunos bons, sérios, honestos e leais.

Fazendo-se de carneirinhos, estes monstros ficavam à frente dos outros, nos

impedindo de enxergar os possíveis verdadeiros samurais. Ou seja, tomando

tempo e espaço.

Da próxima vez, sugiro tosquiar para vermos melhor os monstros que se

escondem, pois consertar Lealdade, Coragem e Honra não tem como, pois já

vêm com o indivíduo.

Para não nos DECEPCIONARMOS.

A decepção maior é ver que os outros que poderiam aprender não

aprenderam.

Dá para colocar no Hagakure, mestre?


URAGUIRI

O significado já diz tudo: ura é “costas” e guiri é “cortar”. Quer dizer,

cortar pelas costas – traição.

Para o samurai, a lealdade ao seu senhor e ao seu feudo estava acima de

tudo, enquanto a traição encabeçava a lista dos atos mais desprezíveis. Trair é

como morrer desonrado.

Poucos são os que abdicam aos seus próprios interesses. A maioria pensa

somente em seu próprio proveito e só se move para executar ordens. Outros,

apenas para conseguir a atenção dos superiores.

Hoje em dia, é difícil encontrar homens que abdiquem aos seus interesses,

mesmo que por um momento.

Uraguiri.

“A ingratidão é uma forma de fraqueza.

Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato”.

Goethe
KOKORO KARA

“A compreensão espiritual se manifesta

a partir da naturalidade do coração“.

Shissai Chozan

Kokoro Kara quer dizer “de coração”. Que vem “do coração”.

Não fazer simplesmente por fazer, ou por obrigação, ou porque foi

mandado.

Alguns enviam um orei (agradecimento), outros “oreizinho”, outros

“oreizão”. Outros nem enviam.

Alguns enviam cartão, outros email, alguns com palavra do coração. E

outros. nada.

Alguns aparam o jardim por obrigação, outros mediocremente, outros com

perfeição. E outros nem chegam a aparar.

Faltou vontade.

Um dia, fiquei contente, pois não é sempre que recebo mensagens Kokoro
6
Kara, assim como Shugyōshas que aparam sem falhas.

Sobrou-lhes Energia.

6 Shugyōshas = aquele que faz o Shugyō, ou seja, retiro espiritual para

aprimoramento.
SOBRE A INTERFERÊNCIA DO EGO

“O Ego não deve entrar na luta”.

MUGA = ausência do Eu.

Não basta cruzar espadas somente com o intuito de acertar e vencer o

oponente. Quando se fala em não colocar o ego, quer dizer que as nossas

mesquinharias não devem fazer parte do confronto. Quem está me vendo

lutar? Será que estou encenando bem? E se eu perder? E se eu ganhar? Essas

são perguntas que não cabem no espaço entre duas espadas. Enquanto

executamos todas as nossas ações em proveito próprio, elas não serão

sinceras. Logo entrará o ego, e isso culminará em escolher o caminho mais

cômodo, mais fácil. A luta se tornará parcial, e as chances de vencer o

combate e ganhar a vida ficarão limitadas.

Não sinta!

Não pense!
SOBRE A CORAGEM SER MAIS IMPORTANTE QUE

A ESTRATÉGIA

“Os iniciantes devem atacar ostensivamente e se

concentrar apenas no ataque. Somente a partir da

primeira graduação pode-se pensar em estratégia”.

É muito provável que iremos involuir se não pensarmos com afinco sobre

essas questões importantes. Em meu método de ensino, iniciantes devem

esquecer os escritos da Arte da Guerra.

A Estratégia deve vir depois da Coragem.

O preocupante é que, segundo os antigos, a coragem nasce com o

indivíduo. O que torna o papel do mestre muito mais complexo.


Não importa a distância a ser percorrida quando

se fala de Bushidō, mesmo sendo 500km


QUERO APRENDER BUSHIDŌ

“Aqueles que somente dizem que

querem aprender o Bushidō não valem nada.”

Depois do filme O Último Samurai, o Instituto Niten recebeu muitos

emails do tipo: “Aprecio a cultura japonesa e quero aprender o Bushidō. O

que devo fazer para começar?” A resposta é: “tenha pelo menos, dentro de si,

o espírito guerreiro inflamado”.

O Bushidō é o código de ética dos samurais. Mas sem o espírito guerreiro

não conseguirá nem mesmo chegar ao dojo, estará longe de empunhar uma

espada e, ao contrário, estará perto de se tornar um mero colecionador de

livretos de historinhas zen.

O Bushidō não é para qualquer um.


DEPENDE

O Bushidō será cinza ou colorido dependendo da janela de quem o vê.

O modo de lutar deixa de ser um “monte de regras” e passa a ser lógico

com o treinamento constante e a orientação de um bom mestre.

Ou seja, o Bushidō e o modo de lutar poderão ser absurdamente medíocres

ou, ao contrário, extremamente profundos na sua magnificência.


NO NITEN SE RESPIRA O BUSHIDŌ

“De fato, para os alunos do Niten, literatura como Bushidō de Nitobe

Inazo e Gorin No Sho são leituras imprescindíveis, e eles treinam dia

após dia com o intuito de se aproximar do espírito samurai.”

Revista Kendo Nippon Nº2009-08, Pg 130

O Go Rin no Sho, ou O Livro dos Cinco Anéis, de Musashi sensei, trata de


7
técnicas e estratégias do estilo Hyoho Niten Ichi Ryu . É mais do que óbvio

que aprendemos as técnicas do mesmo para a compreensão do que está

escrito.

O mesmo se dá com o Bushidō. É necessário vivenciá-lo para compreendê-

lo. E isto quer dizer: conviver com os antigos que adotaram este como sendo

o seu estilo de vida.

7 Niten Ichi Ryu = niten “dois céus”, ichi “um”, ryu “estilo”. Estilo criado por um dos

mais célebres samurais de todos os tempos, Miyamoto Musashi. A denominação formal

é Hyoho Niten Ichi Ryu Kenjutsu, cujo representante oficial na América Latina é o autor.
Lições de vida com o mestre Yoshimitsu Katsuse do Suio Ryu
CONTRA A MARÉ

“Nos Momentos de Ouro, ouvimos a história da imigração japonesa,

um pouco da cultura nipônica e da nossa responsabilidade com relação

a tudo isso, nosso dever de mostrar e repassar este legado.”

Quando os nossos primeiros imigrantes chegaram aqui, fizeram a fama do

japonês:

– Garantido, no?!

Garantido, honesto e trabalhador. Qualidades que têm raízes no Bushidō, o

código de ética dos samurais.

Infelizmente, as novas gerações conseguiram destruir estas qualidades,

sendo que não há mais diferenças com os brasileiros hoje em dia.

Sinal dos tempos…

Também no Japão, entre os jovens, já se vê o desaparecimento dos valores

imbuídos do Bushidō.

No Niten, remamos contra a maré.


BUSHIDŌ COMO REMÉDIO

“O Bushidō é para o espírito o que a dieta é para o corpo”.

Queira ou não, quem não tem o Bushidō no espírito vai acabar como um

porco e com muitas ervas daninhas no espírito. Bushidō: ótimo remédio para

nos livrar das fraquezas humanas!


CALE A BOCA E OUÇA

Quando ensino, não costumo dar voltas. Acho perda de tempo. Se você está

aí, na minha frente, é para aprender. Existem alunos que, ao serem corrigidos

ou alertados quanto à determinada técnica, começam a falar. Respondem,

explicam, concordam (alguns até discordam), comentam, enfim, falam, falam

e falam. O que me irrita muito.

O aprendizado no Bushidō é simples: OUVIR, REFLETIR, HAI!

Não me faça perder tempo, vamos à execução!


ATO HEROICO?

8 9
Em inúmeras situações, os gaijins , por desconhecerem os katas do

Bushidō, cometem erros gravíssimos no Japão. Não são capazes de distinguir

um elogio de uma crítica, ou conselho.

Outro exemplo extraído do Bushidō, quanto ao kata:

“Quando um samurai se considera extraordinário por

ter prestado algum tipo de serviço especial ao seu senhor,

mesmo que outras pessoas pensem de igual maneira, deve

ponderar que seu próprio senhor pode não pensar do

mesmo modo“.

Desculpe-me a franqueza, mas pensar que prestou um ato heroico e

deslumbrante, pode se tornar repugnante e decepcionante.

8“gaijin” = Forasteiro. Termo que também foi utilizado pejorativamente pelos

imigrantes japoneses ao se referirem aos brasileiros, ou outros imigrantes no país.

9“kata” = Forma, formalidade. Nas artes marciais também designa movimentos e

simulações de luta treinados pelos praticantes.


10
BUSHI NO ITIGON

Lembro-me do filme Jerry Maguirre em que Tom Cruise vive o papel de

um olheiro de atletas potenciais. Há uma cena em que o pai de um atleta diz

ao personagem de Cruise que a palavra dele é dura como um tronco de

carvalho branco. Para quem não sabe, segundo os mestres japoneses, o

carvalho branco significa a pureza e é o material mais duro depois da pedra.

Após essas palavras, ambos se olham, há um aperto firme de mãos e se

despedem. Mais adiante, o personagem de Cruise fica arrasado porque o

texano quebra a palavra, dando uma desculpa esfarrapada.

Exemplos como estes ocorrem no Ocidente porque a maioria não tem

palavra.

Os presidentes de empresas japonesas são conhecidos por fecharem

acordos e contratos sem caneta. O que importa é a palavra. A palavra é e

deve ser a honra do samurai moderno.

10“Bushi no itigon” = “uma palavra do samurai”. Significa que a palavra do samurai

tem tanto peso que não precisa provar mais nada. Ou seja, a palavra do samurai é

carregada pela honra e tudo o que ele disser será verdadeiramente os sentimentos

emanados de seu coração. Isso está presente ainda no mundo corporativo, quando se

fecha alguma transação. A palavra do samurai moderno é até mais importante que o

papel do contrato.
11
BUSHI NI NIGON NASHI

Existem quatro coisas que não voltam atrás:

a pedra depois de solta;

a oportunidade depois de perdida;

o tempo depois de passado;

a palavra depois de proferida.

Bushi ni nigon nashi. O Bushi, “guerreiro”, não tem duas palavras.

Se prometer, deverá cumprir o que disse a todo custo.

No começo, empolgação e muita fala. No meio, fica-se cansado ou a

situação se complica. No fim, volta-se atrás e pede-se desculpas. Os mais

inconsequentes nem pedem desculpas. Acusam os outros e acham que está

tudo resolvido.

11“Bushi ni nigon nashi” = “não existem duas palavras para o samurai”. Quer dizer

que o samurai não volta atrás com o que falou. Ele executa até o fim, independente das

adversidades.
LEALDADE I

Lealdade, em japonês, é chugi (leia-se tyugui).

Lealdade pode se pronunciar também tyujitsu ou tyusestsu.

O ideograma tyu vem de “sincero”, “sentimento verdadeiro”.

E gi vem de “bom”, “correto”.

Ou seja, o caminho a ser seguido por todo indivíduo de virtude correta em

relação ao seu senhor, sem dualismos no seu sentimento.

É a Lealdade.
LEALDADE II

“Os reis sempre querem a traição,

mas detestam o traidor”

Quevedo

Todos os mestres, independente do Caminho, da modalidade ou da técnica

adquirida, quando têm décadas de ensino, já ensinaram muitos alunos.

Anos ensinando, forjando e orientando alunos que, não raro, de um dia

para o outro, vão se embora de maneira, digamos, não digna, assim penso eu.

Independente dos motivos, quando a situação não lhes interessa ou não se

lhes apresenta favorável, certos alunos viram as costas e somem. Mesmo

assim, estes mestres vão tocando o barco. E, por essa razão, os respeito

muito. Sejam eles de karatê, de ikebana (arte do arranjo de flores), ou de

koto (harpa antiga).

Hoje em dia, é difícil encontrar homens que abdiquem aos seus interesses,

mesmo que por um momento, por um mestre. A maioria pensa somente nos

seus próprios interesses, e só se move para executar ordens. Outros, apenas

para conseguir a atenção de superiores.

Pouco a pouco, vou entendendo que a Lealdade, bela palavra, independente

de qualquer época ou civilização, tem a ver com a FÉ e não é apenas uma

VIRTUDE.

A Lealdade não se adquire com o treinamento. A Lealdade existe dentro do

indivíduo.

Ou ele acredita, ou não acredita.


Ou ele tem Fé no mestre, ou não a tem.
LEALDADE AO MESTRE

“Os caminhos da lealdade são sempre retos”

Lulio

O Presidente da República, não é o presidente. Ele está presidente,

enquanto representar sua nação.

12
Os senpais não são coordenadores, nem monitores.

Eles estão coordenadores, ou professores, como queira dizer. Enquanto

representarem bem o seu sensei e ao grupo ao qual pertencem, estes não

terão com o que se preocupar, pois caminham na retidão.

A Lealdade não é em relação ao seu senpai ou ao seu grupo.

Mantenha o foco e não deixe que conceitos administrativos e mundanos

ocultem o Caminho.

Lembre-se que, no Caminho, A Lealdade é com o mestre.

12 Senpai = Colega de treinamento ou trabalho mais antigo na Instituição


Com Gosho Motoharu Sensei, Mestre sucessor do estilo

Hyoho Niten Ichi Ryu de Miyamoto Musashi Sensei


PROCURA-SE LEALDADE

“Se não começamos com uma atitude certa,

pouca esperança existe de dar certo no fim.“

Tao

Lealdade. Uma virtude que está em falta.

Para quê ela existe?

Porque a guerra existe. Precisamos confiar nos nossos soldados, nos nossos

companheiros e nos nossos comandantes.

Num mundo onde a competição é acirrada e desleal, o maior erro é contar

com mercenários. Depois vem o prejuízo.

Lealdade à organização, ao chefe, ao subalterno. Esta é uma arma poderosa

para se vencer na guerra.

Mercenários e desertores não deveriam ser contratados.


SAMURAI: APERFEIÇOAR, AVANÇAR, SERVIR

Samurai é aquele que se atém ao aperfeiçoamento do espírito, que avança

sem medo e que serve de coração.

Aperfeiçoamento constante: o guerreiro que nunca se dá por satisfeito

sempre busca a perfeição.

Avançar com coragem: sem medo de falhar, executa o corte sem

arrependimento.

Servir sem segundas intenções: Sinceridade.


MAJIMÊ

“É o coração que faz o caráter“

Eça de Queirós

Em um dos intervalos entre os treinos de kenjutsu no Japão, conversávamos

eu, duas colegas de treino e o mestre. As colegas, senhoras de meia idade e

que tinham tempo vago durante o horário comercial (era de manhã por volta

das 10 horas), comentavam a evolução de um dos colegas que treinou alguns

dias comigo. Bombeiro, vinte e poucos anos de idade e que, nos dias de folga

(no Japão os turnos são de 36 horas), estava sempre a me acompanhar nos

treinos durante o horário comercial, horário em que todos têm os seus

trabalhos e suas responsabilidades e ficam impossibilitados de pensar em

treinar.

Comentavam que ele tinha um bom porte físico e aprendia muito mais

rápido em relação aos colegas que iniciaram com ele. Bonitão, forte e todo

tipo de qualidade que as mulheres gostam de comentar (é claro, tudo na

esportiva).

Como é de praxe no Caminho, veio à pergunta:

– Mestre, ele é Majimê, não?

– Ah sim, ele é um rapaz Majimê - foi a resposta imediata do mestre.

Majimê.

Palavra que interessa no Caminho e que é o divisor de águas daquele que o

mestre vai ou não ensinar:

Sincero, Puro, Correto.


DISPOSIÇÃO E TRANSPARÊNCIA, COMO ROUPA

LAVADA E PASSADA

“Mantenha a fidelidade e sinceridade

como os primeiros princípios”.

Confúcio

Imagine uma camisa branca. Elas são como pessoas. Os samurais são

instruídos a serem como camisas brancas, lavadas e passadas. Sentimos bem-

estar ao vermos uma roupa lavada e passada. Sentimo-nos bem e damos

crédito às pessoas transparentes, alinhadas e disciplinadas.

Transparência, coragem, sinceridade e retidão: virtudes do samurai

moderno.
Com o mestre Kohei Osato, ao centro,

do Shindo Muso Ryu Jojutsu


ASSUMIR É FÁCIL. HONRAR É DIFÍCIL

Honra. Bela palavra de difícil execução.

“Ver o que está certo e não fazê-lo é falta de coragem“.

Confúcio
O CELULAR E O EMAIL ACABARÃO COM A SUA

DIGNIDADE

“Há sentimentos grandes, ternos, inefáveis, pelos quais tudo se pode

sacrificar, porém nunca é licito sacrificar a dignidade“

Bottach

Apesar do celular e do email estarem cada vez mais disponíveis hoje em

dia e ser possível contatar qualquer pessoa a qualquer momento no país e até

no mundo, as pessoas covardes ainda se esquivam. Não retornam uma

ligação importante. Não avisam que terão de adiar o compromisso

anteriormente firmado. Não avisam que farão diferente do combinado.

Demoram a responder (ou não respondem) às perguntas importantes.

Isso tem uma causa: agem em razão de seus próprios interesses, mesmo

que a sua credibilidade e a sua honra sejam manchadas.

Não adianta fugir. As pessoas não são bobas. Hoje em dia, não há

desculpa. Dizer que o sinal não pegou, que o celular quebrou, que não

pensava que precisava ligar, ou que perdeu o email, ou que o computador

quebrou. Tantas desculpas esfarrapadas.

É o que digo sempre: Do ga yugande kyo ga yomenu.

Aconselho-te a ser transparente, pois mais tarde poderá se arrepender.


As palavras que mudam o homem
SER SÉRIO

Não precisamos aparentar ser sérios, duros.

O brasileiro tem a fama de não ser sério.

Ah, mas você se acha sério…

Você paga as contas em dia? Não passa cheques sem fundos? Quando tem

alguma dívida, procura por si resolvê-la? Quando comete algum erro não

culpa os outros? Assume a culpa e arca com o prejuízo?

Se tiver uma ficha “suja” em um destes itens, não dá nem para começarmos

a conversar.

Pare. Não engane os outros aparentando ser sério.

E não espere também que os outros te levem a sério.

O mundo não é uma brincadeira em que cada um faz o que quer.

Tem que ser sério! Aparentar, não. Ser, sim!

“A disciplina é mais poderosa do que o número; e a disciplina, isto é, a

perfeita cooperação, é um atributo da civilização.”

Stuart Mill
HAMON

“Quando a escuridão

procura se igualar à luz,

há decerto um conflito.

“Se o elemento escuro

busca chegar a uma posição

para a qual não esta intitulado,

e tenta comandar em lugar de servir,


13
Ele atrai para si a fúria do dragão ”

Hamon – excomungar, expulsar.

Palavra utilizada por grupos tradicionais (monges, escolas tradicionais de

chá, kenjutsu, ikebana, e todos os Caminhos do Japão tradicional).

No Japão, devido à influência do Bushidō, não costuma haver problemas

com indivíduos que sofreram o Hamon, pois estes em geral sentem vergonha

de sua condição.

Mas desde que o mundo é mundo, e como já citei inúmeras vezes, existem

os inconsequentes, os insensatos, os irresponsáveis.

O que fazer quando eles te abordam? Um email, um telefonema, ou até,

casualmente te encontram na rua e dizem:

– E aí, como vai?

Nestas circunstâncias, cito as mesmas palavras do nosso atual diretor

técnico da CBKO (Confederação Brasileira de Kobudō). Empresário japonês,

de família tradicional e que pratica os katas do Bushidō há mais de 45 anos.

E que, como eu, fica metade do tempo no Japão, metade no Brasil, e conhece

as várias nuances que entremeia as duas culturas.

Ele diz, após um breve silêncio:


– Estou bem… Com licença.

Depois de dizer isto, afaste-se.

O seu Caminho agradece…

13 O Dragão é o símbolo do Céu.


HAMON NO MUNDO CORPORATIVO

“O combinado deve ser mantido. Isto

porque ao deixar de fazer o combinado,

viver em sociedade se tornará impossível.“

Kikuchi Kan

Um ex-diretor da Embraer, ao saber a respeito do hamon, me deixou as

seguintes palavras, fruto de seus 35 anos de experiência no mundo

corporativo:

“No Brasil, nos altos escalões também não é diferente. A diferença com o

Japão é que assuntos como estes (lealdade, fidelidade e honestidade) só não

são explícitos, e não estão escritos. A cultura do brasileiro é de dar um

‘tapinha’ nas costas, um sorriso, um abraço. Mas, lá em cima eles exigem

sim, que você tenha lealdade, fidelidade e honestidade. Esperam de você uma

conduta decente.

E quem não se enquadrar é sutilmente afastado, ou, como no Japão,

sumariamente ‘cortado’“.

Entendi…

Nenhum presidente ou empresa gostaria de ter um vice presidente ou

diretor com uma lealdade duvidosa. São milhões, bilhões ou trilhões em

jogo.

Faz sentido.
O SAMURAI E DINHEIRO

Devemos ser sérios com os compromissos e com as contas.

Apenas a título de curiosidade vou ilustrar como o samurai é diferente, e

ainda hoje, a maioria dos japoneses também o são.

Quando fui ao Torneio Mundial em Tokyo em 1977, um dos nossos atletas

esqueceu sua bolsa no metrô com uma quantia de nada menos que cinco mil

dólares. Acredita que encontraram o dinheiro, e tudo estava direitinho lá

dentro da bolsa? Acredite se quiser, mas isto ainda contece lá.

Pois é, uma das virtudes cultivadas pelos samurais era a Honra.

E, para eles, a questão dinheiro é levada a sério, se não, evitada.

Evitam falar em dinheiro. Evitam tocar no que não lhes pertence.

Ainda hoje, os japoneses são muito responsáveis com o dinheiro alheio.

Não gostam de ficar com ele por muito tempo. Quando têm de devolver o

troco, fazem o impossível para devolver até mesmo um único centavo. E

devolvem imediatamente! Não se sentem bem em ficar com o dinheiro dos

outros… E prestam contas com os mínimos detalhes; característica não vista

em outros povos.

Sujar-se por dinheiro, jamais.


“DEPOIS QUE ASSUMI A CONDIÇÃO DE VASSALO,

JAMAIS ME SENTEI DE MANEIRA DESLEIXADA,

ESTANDO EM CASA OU EM QUALQUER OUTRO

LUGAR. EVITEI FALAR. SE EXISTIA ALGO QUE

NÃO PODERIA SER BEM FEITO SEM PALAVRAS,

ME ESFORÇAVA EM FAZÊ-LO FALANDO O

MÍNIMO POSSÍVEL”

HAGAKURE - YAMAMOTO TSUNETOMO

Nunca baixar a guarda, principalmente quando estamos cansados,

estressados ou tristes. Lembre-se dos mais fiéis samurais dos clássicos

Depois da Chuva, O Último Samurai e Os Sete Samurais. Mire-se nos

exemplos deles, são modelos do verdadeiro Samurai.

Ao errar, assuma com honra a sua responsabilidade, sem se justificar com

palavras.

Fale menos e faça mais, samurai do Niten.


ENCRENCA NA LOJA

Japão. Temperatura: 35 graus.

Estava eu fazendo compras em uma loja de conveniência, cansado,

esgotado e suado.

Um desses momentos em que as pernas não aguentam mais.

Peguei uma marmita e me virei para o caixa.

Eis que quando estou tirando as moedas de minha carteira, tomo uma

palmada no braço.

Quando me viro, ouço um sujeito de uns 30 anos esbravejando comigo

encolerizado:

– Eu estava aqui na frente, cara!

Não percebi realmente, pois, quando me virei, ele estava pegando um

cigarro do lado. Daria 40% de certeza que era um yakuza.

Tinha duas opções: falar que a culpa não era minha, mas dele, pois quando

me virei ele não estava lá ou pedir desculpas.

Fitei-o calmamente e após uma inspiração, optei pela última. Fiz um gesto

com a mão para que ele se dirigisse à frente. Para minha surpresa, ele não

aceitou e permitiu que eu passasse à sua frente.

Quando estamos correndo atrás de grandes objetivos, não podemos perder

tempo com cães que ladram.

No fim, olha só, ele me pediu até desculpas.

“Há um remédio para toda a culpa: reconhecê-la“.


Grillparzer

O autor com seu pai, no marco do Hagakure em Saga


SINCERIDADE

Uma das qualidades que mais importam ao mestre no Caminho é a

sinceridade de espírito no discípulo. “Sincero” vem do latim sine cera, que

costuma ser associado a “sem cera”. Os antigos costumavam dizer que as

colunas de mármore que ficavam desgastadas com o tempo eram

completadas com cera em seus buracos. Eram colunas “com cera”. Os

pilares que não escondiam falhas eram sine cera.

Existem pessoas que têm cera no coração e procuram tomar vantagem para

si próprias a qualquer custo, mentindo, enganando e causando males aos

outros. O samurai deve se esforçar no Caminho da Retidão, que, em japonês,

se escreve com os ideogramas Sei e Jitsu.

Sei significa “correto” e jitsu significa “verdade”. Para o samurai, ter o

espírito voltado para a retidão é ter o espírito correto no sentido de preservar

a sinceridade e buscar a verdade.

Os mestres dos caminhos da iluminação ou das várias manifestações

artísticas da cultura japonesa sabem que o Caminho é difícil e ele não é para

qualquer um. Há que se persistir e insistir para se chegar à perfeição. Sendo

sine cera, conseguirá seguir fielmente os passos do Caminho, sem ser tentado

a pegar um atalho ou outro rumo.


SINCERIDADE: PASSAPORTE PARA A PERFEIÇÃO

Quem não tem sinceridade no coração tem mais facilidade de mentir para

si próprio. No decorrer do Caminho, somos submetidos a provas de

sinceridade.

Os samurais diziam que isto nasce com o indivíduo, e aquele que a perde

jamais alcançará a perfeição.


RETIDÃO – “SEI JITSU”

Existe um ideograma que compõe a palavra “retidão”: Sei.

Este ideograma contém dois sub-ideogramas: um deles é “dizer” e o outro

é “cumprir”.

Os seus atos devem condizer com as suas palavras, custe o que custar.

“O homem nasce para a retidão.

Se um homem perder sua retidão e continuar

vivo, o fato de ter escapado da morte foi apenas

uma questão de sorte“

Confúcio
O autor com o troféu conquistado pela equipe

brasileira no ginásio Budokan emTóquio – 1977


SOBRE A CONFIANÇA

“Devemos praticar e treinar a confiança”

À medida que deixamos de exercitar a energia interna do “Eu” guerreiro, o

poder de decisão se enfraquece e nos sentimos menos dispostos a tomar

iniciativas. Ao adotarmos uma atitude de passividade, chegará um dia em que

não conseguiremos nem mesmo nos levantar da cadeira em busca de uma

oportunidade. A indisposição e o afastamento das atividades são frutos do

medo do combate.

O medo deve ser combatido com Coragem. E a Coragem deve ser treinada

com Confiança.
COMPAIXÃO I

O que significa para você?

Cada povo a entende à sua maneira.

O que significa para os japoneses?

Ter sentimento de carinho por algo ou alguém;

Sofrer, tomar a dor de outrem;

Ter pena de alguém em situação de desgraça;

Aproximar-se, estreitar os laços com alguém.


COMPAIXÃO II

Quando ouviu o pensamento “Não há limite, nem para cima, nem para

baixo”, um monge me disse que eu seria verdadeiramente feliz quando

tivesse compaixão por todos os seres à minha volta.

Embora já me sinta feliz, imagino quão boa deva ser a Verdadeira

Felicidade!
COMPAIXÃO III

Você acredita em sinais? Dizem que os sinais são oportunidades que

aparecem em nossa vida de forma sutil, “invisível”. Até então, eu era cético a

sinais, mas a partir do dia em que transmiti a lição “Compaixão I” para meus

alunos, comecei a mudar de opinião.

O fato é que, depois que saí da aula falando dos vários significados da

compaixão, entrei no carro e liguei o rádio. Qual não foi minha surpresa ao

ouvir a voz dos meus alunos dizendo:

“Permitam que os seus filhos

aprendam a ter compaixão.

Ensinem os seus filhos.

Ensinem a ter compaixão (…)”

A música chama-se “Compaixão”! João e Stein, integrantes do grupo

Nenhum de Nós, são alunos da Unidade Porto Alegre e, no momento, estão

treinando firme para se tornarem samurais.

Um fato é inconteste. A música, que faz sucesso entre pessoas de todas as

idades, exalta a Compaixão, uma das virtudes do samurai, de uma forma

bem original. Valores que foram perdidos e esquecidos, mas que podem ser

resgatados com o Bushidō.

São os sinais me indicando que devo prosseguir com a minha missão.


SOBRE TER COMPAIXÃO

“O Samurai deve ter compaixão pelos mais fracos”.

Uma das virtudes do samurai, o Jin ou Nin é o sentimento de compartilhar

a dor com o perdedor e o mais fraco. Sentir a dor do outro. Atitudes como

fazer o “V da vitória” e pular no tatame não condizem com o ensinamento

do Bushidō e do Budō.

Lembro-me de um incidente ocorrido em São Paulo no Torneio Mundial

de Kendo, em que um dos atletas brasileiros, ao soar o apito, ficou pulando

juntamente com a torcida com as duas mãos para o alto em frente ao

adversário que, sozinho, amargava a derrota.

Naquele momento, um misto de alegria (eu também fazia parte da seleção)

e tristeza (por ver um derrotado humilhado) se apossou de meu coração. Sei

que é difícil exigir compaixão no esporte, mas dar pulos de alegria na cara do

perdedor é uma falta de respeito e sentimento.


“OYA WO SHITASHIMU WA JIN NARI”

Não é raro aparecerem nos consultórios, às vésperas de feriados, cidadãos

acompanhando seus pais ou avós, de alguma forma debilitados. Mesmo não

havendo necessidade, insistem em interná-los.

Jin é compaixão. Uma das virtudes que o samurai deve possuir. Esta é uma

das virtudes que, segundo a antiga tradição, todo samurai possui antes

mesmo de nascer.

“Aquele que é afeito a seus pais, revela verdadeira Compaixão”.

O verdadeiro samurai jamais abandona seus pais.


Dr. Jorge Kishikawa em plantão hospitalar
OS SETE SAMURAIS

“Porque tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber,

era estrangeiro e me hospedaste”

Jesus

Certa vez, fiquei sensibilizado ao ver uma reportagem sobre crianças

desnutridas do sertão do Ceará. No dia seguinte, mobilizamos todo o Niten

para levar uma doação a crianças que não têm condições de empunhar a

espada. É muito gratificante ver samurais que, empunhando a espada, se

unem para ajudar os que não podem. Lembrou-me o filme Os Sete Samurais

de Akira Kurosawa.

Os Sete Samurais é um clássico que conta uma história onde sete samurais

se unem para ajudar agricultores contra a miséria e os salteadores.

Levei dois jovens samurais a uma ONG para ver de perto o sofrimento de

quem não pode empunhar a espada.

E foi assim que naquele dia, os samurais do Niten doaram 35 mil litros de

leite a crianças carentes no Nordeste.


A ESPADA QUE DÁ A VIDA

O Instituto Niten transmite a espada que traz a vida indo além do dojō e

contribuindo para tornar o mundo um lugar mais justo. Ao longo dos anos,

contribuímos com diversos programas sociais e ajudamos diversas

associações e entidades. Dentre as quais, se destacam: Programa Fome Zero,

Programa de combate à desnutrição em Fortaleza (IPRED), Doações à Cruz

Vermelha internacional, Projeto Pequeno Cidadão, Casa de tratamento de

Hanseníase de Betim, Associação Crianças de Belém e Abrigo do Idoso.

A razão de o Niten estar à frente de projetos sociais é simples: Método

KIR.

Você melhorará o seu potencial humano se for feliz.

Para ser feliz, precisa se doar.

Exercitar a compaixão.

É dever do samurai ajudar os mais fracos.

Sei que não podemos salvar o mundo, mas por onde passarmos, a nossa

Espada dará a Vida.


Torii no Kamae Kenjutsu: posição do portal, pronto para receber o que vier do mundo

celestial. Espada Masamune de 1500 d.c.


SOBRE O SHINGAN, “OLHO DO ESPÍRITO”

“Depois de algum tempo de prática, você passa a ver os problemas de

maneira diferente”.

A prática da espada proporciona não só desenvolvimento físico, mas

também uma mudança nas atitudes e na maneira de encarar um problema e

resolvê-lo. Coisas que parecem distantes se tornam próximas, o escuro se

torna claro. É a evolução do Shingan.


Treinamento aos 5 anos: Yoisho! (Força!)
TREINAR O BUSHIDŌ, NUTRIR-SE DA ESPADA

DESDE CRIANÇA, COMO COMER E BEBER ÁGUA

Levantar, correr cinco voltas em torno do quarteirão, esfregar uma bucha

em todo o corpo para aquecimento, ler escritos filosóficos, executar

movimentos com a espada. Fazia isso todas as manhãs antes de ir à escola. A

espada dia e noite. Como almoçar e jantar. Parte do cotidiano em minha

vida. Deixar de treinar era como deixar de comer.

Quando deixo de me exercitar, sinto hipoglicemia na alma…


COMO ESFREGAR A BUCHA

Você tem que pegar uma bucha das grossas. A pele por onde se esfrega tem

que ficar toda vermelha. Vermelha mesmo. Comece com o rosto. No começo

dói, mas com o tempo você se acostuma. O pescoço é fácil. Esfregue os

membros superiores. Não se esqueça de esfregar a palma da mão também.

No peito, tem de esfregar o mamilo também.

Depois vem a parte mais difícil: o abdome. Essa parte, você esfrega,

esfrega e é a que mais demora a avermelhar. E dói bastante quando você não

está acostumado. Depois vêm as coxas, as pernas e o dorso do pé. As costas

você pede para alguém raspar, e fecha a boca para não morder a língua. Tudo

isso tem que ser feito numa questão de dois a três minutos. Pronto!

O samurai está com a carcaça pronta para o combate. Aos sete anos, me

sentia tão seguro até para levar uma bofetada.


BUSHIDŌ NO NITEN

Um dos mestres no kendo mais renomados do Japão teceu elogios ao Niten

na revista Kendo Nippon 2009. Segundo ele, o “Instituto Niten é referência

em Bushidō”. E, além disso, eu, em minha humildade, nunca tinha aceitado

nem percebido a veracidade em relação a esta afirmativa. Em nenhum

momento, me convenci plenamente disso. Sempre pensando comigo mesmo:

– Esses ocidentais não entendem nada do Bushidō. Ainda precisamos

melhorar muito.

Entretanto, hoje, mudei um pouco de ideia e é com sinceridade que vou

escrever o que sinto em relação a isto.

Houve um problema no Japão, em que ocidentais se “emburreceram” com

a atitude (ou palavras) do mestre.

Não cabe aqui contar os pormenores, mas o fato é que em todos os

momentos, desde o incidente até o final do desenrolar dos fatos, lhes faltou o

Bushidō básico.

É nos momentos de crise e de insatisfação do ego do praticante que vem à

tona a verdadeira intenção do praticante em seu Caminho. A maioria “chuta

o balde” e perde a compostura.

Foi neste momento que me caiu a ficha:

– De que adianta ser campeão disso ou daquilo, ou treinar há vinte ou trinta

anos, ou ser graduado ou multigraduado, se não sabe nem o modo de se

portar no Caminho? Como faz falta alguém orientar estes pobres ignorantes!

No fim, a pedido de meu mestre, tive que orientá-los.

Acredito que você esteja curioso para saber, mas este tipo de conversa é

inconveniente aqui e deixarei para quando sentarmos com mais calma. Quem

sabe em algum dos “Momentos de Ouro”.

Por final, sinto que meu mestre tinha razão: nossos alunos podem não ser

referência no Bushidō, mas estão muito à frente da grande maioria.


Os ocidentais deram um verdadeiro ippon, “um golpe certeiro”.
HIKYO NA FURUMAI

À medida que o tempo passa, as pessoas mudam.

Algumas para o bem, outras para o mal. Cada um movido pelo próprio

interesse (ou desinteresse).

As que vão para o mal acreditam que nada estão fazendo de errado, pois

movidos pelo ego que cega as suas ações, sempre têm uma explicação

“lógica” para justificar a ação.

Todos estes têm uma característica. Começam sorrateiramente com o hikyo

na furumai que, em poucas palavras, significa “movimentação covarde”, e

que os samurais odiavam.

Você deve ter percebido que eu falei que eles têm explicação “lógica”, e

que agem com hikyo na furumai.

É porque, no fundo, sabem e sentem que estão errados.

Em nossa frente, aparentam fazer tudo certo; em nossas costas, estão

prestes a nos apunhalar.

Cuidado: o rosto de uma pessoa se vê ao Sol, seu caráter, no Escuro.


MENTIRA

“No traidor, nada jamais será sincero.”

Tito Lívio

Em um café da manhã com meus filhos, conversávamos sobre mentira,

enquanto eu lia uma citação.

Que o menino feio mente, o bonito não. Falamos dos amiguinhos que

mentem, do menino e do lobo, e deixando fluir a conversa até que eles

mesmos concluíram que mentir era coisa de menino feio.

Ganhei o dia.

A mentira destrói a relação de confiança. É prova de falta de inteligência.

Quando se mente, é o raciocínio perverso que está atuando, obstruindo o

emanar da sabedoria búdica.

Infelizmente, no mundo atual, pelas circunstâncias, se permite a

predominância da mentira. Devemos tomar o máximo de cuidado, pois a

mentira é uma lâmina afiada que corta o coração e destrói a relação das

pessoas. É irmã do hikyo na furumai.

Como já dizia um monge antigo, Kaikaiyoudan-shu Nissen:

“O estúpido mente, o sábio não. Porque sabe que a mentira tem pernas

curtas. Não saber esta lógica é característica do estúpido“.

É incrível como tem tanta gente ainda que não aprendeu a fábula…
TÉCNICA E SORRISO

“A humildade é o sólido

fundamento de todas as virtudes.”

Confúcio

Só porque tem feições orientais, aproveitar-se disso e ludibriar ocidentais.

Só por ter cabelos brancos e falar mal o português, aproveitar-se e dizer-se

mestre. Isto ocorre em qualquer arte.

Sorria e possua uma boa técnica. Ao contrário de se mostrar carrancudo

sem nem possuir uma boa técnica.

Por outro lado, não sorria quando não há necessidade, pois poderá ser

inconveniente.

É verdade que o sorriso prolonga as nossas vidas em cinco ou seis anos,

mais isso não é motivo para ser falso ou impertinente.

14
É verdade que quem não sorri gasta menos ATP e energia, mas isso não

é motivo para ser chato.

Enfim, se você é um bom guerreiro, o importante é ter uma boa técnica.

E se puder sorrir, melhor.

14 ATP = trifosfato de adenosina. Molécula usada pelas células para armazenar a

energia necessária para manterem-se vivas e executar suas funções.


MELHORAR NO QUE FAZ DÁ MAIS LUCRO QUE

RETALIAR CONCORRENTES

Pratico diariamente em busca da perfeição. Para se chegar ao golpe

perfeito, posso dizer que é preciso no mínimo 30 anos. Se for verdade que

atualmente a perfeição é uma das ferramentas essenciais para se alcançar o

sucesso em todos os segmentos, será perda de tempo fazer críticas ou

demandar esforços a fim de enfraquecer seu concorrente.

Você dirá que o concorrente vive tentando lhe passar a perna e criticando

seu trabalho. Enquanto ele critica, gaste seu tempo se aperfeiçoando. Deixe-o

perder tempo e busque você a perfeição. Quando chegar em um estágio

elevado de perfeição, poderá aniquilá-lo com o golpe perfeito. Talvez, ele já

nem seja páreo para se chamar de concorrente.

Almejando perfeição e melhoria no que faz, estará elevando sua

espiritualidade e sua técnica, em vez de se misturar com a energia negativa

da inveja, da insegurança e do ódio do seu concorrente.

No mundo corporativo, significa melhorar o seu produto, atendimento ou

serviço.

Tenho cada vez mais certeza de que os deuses da prosperidade dão mais

lucro aos que buscam melhorar a sua loja do que aos que vivem de apedrejar

a loja dos concorrentes.


“Leveza e graciosidade”
“Serenidade e foco”
AS MULHERES SÃO MELHORES QUE OS HOMENS

Quando leciono às mulheres o Caminho da Espada, procuro fazer com que

a parte física não implique em desvantagem no combate. Isso não é tão

difícil. As mulheres não utilizam a força bruta para vencer. De longe, elas

possuem a melhor postura e a melhor pegada na espada, itens importantes

para se começar corretamente. Ao longo do tempo, adquirem menos vícios

que os homens, o que me poupa tempo e saliva durante a aula.

Homens precisam aprender com as mulheres a ser mais “femininos” e

menos brutamontes.

“As mulheres são melhores que os homens”, dizem os mestres japoneses.

As mulheres gostam de ouvir e os homens de ver.


DAR VIDA AO PASSADO

A aplicação dos estilos antigos no combate de kenjutsu faz com que nós

fiquemos mais próximos de entender o Go Rin no Sho, O Livro dos Cinco

Anéis, de Miyamoto Musahi, A Arte da Guerra de Sun Tsu e outros tratados

antigos.

Viver essas técnicas é levá-las dos katas à realidade do combate.

É você sentir o que está por trás da posição do Fogo, do Céu ou da Terra.

É você compreender que contra a Lua deve haver o Sol. Ou que a Árvore é

tão forte quanto o Metal.

Enfim, lutar kenjutsu é mergulhar nas escrituras do passado e dar vida a

tudo isto.
Miyamoto Musashi Sensei, empunhando duas espadas.

Gravura de Utagawa Kuniyoshi (1852)


KARMA ANCESTRAL

“…e esse Estilo KIR de práticas que realmente eu acho que resgata

(…) esse Karma Ancestral dos nossos Samurais que se (…) houve algum

Karma negativo, com certeza ele está se tornando um Karma muito

positivo: para cada um de vocês; para sua ‘ancestralidade’; e para sua

descendência.

Que nós possamos juntos fazer um mundo de Paz.“”

Monja Coen, palestra O Zen e a Espada Caminham Juntos

Alguns não entendem o porquê de eu me interessar tanto por estilos e

ensinamentos antigos.

Para quê dedicar tanto tempo ao Kobudō, a tradição guerreira dos

samurais?

Ainda hoje, professores de kendô do Japão insistem para que eu deixe de

lado isto e que eu treine para prestar o 8ºdan, pois, segundo eles, teria

condições de ser aprovado.

Mais do que ser ou não aprovado escolhi dedicar-me aos estudos da

Estratégia na Espada. E assim, encontrei-me no Kobudō, que tem suas

origens há 700 anos.

A humanidade, desde os primórdios, tem procurado eternizar os momentos

efêmeros da vida.

Ao entrarmos em contato com os ensinamentos antigos, nos sentimos em

contato com os Karmas Ancestrais.

O presente se conecta com o passado e dá ao futuro uma vida com mais

sentido.

Uma vida eterna.


Os semelhantes buscam os semelhantes e que cada pessoa viva em Paz.

Monja Coen: destinos que se encontram


“BUN BU NI DO”

“Seguir os dois Caminhos – eis o Caminho do Guerreiro”.

Em geral, o que acontece é as pessoas somente buscarem o Bun, “Pena”,

sem exercitarem o Bu, “a prática guerreira”. São os letrados e tecnocratas.

Ou exercitam o Bu sem o devido estudo e busca do autoconhecimento. São

os bárbaros e animais.

O samurai deve praticar o Ni Do, “os dois Caminhos”.

Não adianta somente buscar leituras e não executar o outro lado, a prática

guerreira. Também não adianta somente lutar e não estudar absolutamente

nada.

Nem letrado, nem bárbaro.


OLHAR DE PEIXE MORTO

Hoje, no Japão, tenho encontrado jovens com “olhar de peixe morto” com

mais frequência do que há vinte ou trinta anos. Talvez a época de paz esteja

tirando o brilho dos olhos dos guerreiros.


PEIXE MORTO QUE VIRA CÃO FAMINTO

Durante todo o tempo em que esteve em nossa casa, não sabia atender nem

um telefonema, muito menos redigir algo. Sua voz baixa e aparência

derrotista não lhe davam nenhum valor. Em sua área, sempre cometia falhas

elementares e impróprias para um pós-graduado. Era o que aparentava…

Ao sair, nos enviou, através de e-mail, todos os detalhes dos trabalhos, das

horas-extras que havia cumprido, reivindicando centavo por centavo do que

dizia ter direito. Ao telefone, nos surpreendeu com uma voz enérgica e

determinada, similar a soldados que vão para a guerra.

Interessante ver que o “olhar de peixe morto” pode se transformar no

“olhar de cão faminto” quando a fome aperta.


SOBRE A FORÇA

“Você deve fazer nascer a Força quando estiver envolvido pelo

cansaço. Aquele que consegue rir quando está prestes a cair no combate

ressurgirá das cinzas. É um adversário imbatível.

Extenuar-se é uma expressão que o samurai desconhece. Uma atitude frente

ao cansaço seria trabalhar o psicofísico. Isso só pode ser conquistado através

de um treino específico. Ler livros ou se exercitar apenas com a espada não é

suficiente para “ressurgir das cinzas”.


O autor com dois de seus grandes mestres: Ogata (esquerda)

com quem aprendeu sobre o Caminho da Iluminação e

Yamada (direita), com quem aprendeu a estocada


NÃO QUEREMOS PERDEDORES

Na revista Kendo Nippon, edição de julho de 2009, há uma coluna

intitulada “Não Queremos Perdedores”, que trata da situação do Kendo atual.

Na atual conjuntura mundial do Kendo, os torneios e a busca de

graduações se dão de forma opressiva. Torneios frequentes e a corrida

obstinada pela graduação tendem a desvirtuar os praticantes que, no fim de

seus caminhos, na hora de prestarem as suas contas, não terão descoberto o

Satori da Espada.

15
– Mas o que é então o Satori da Espada? - me perguntarão alguns.

16
É descobrir, por meio do Samadi , os segredos da espada e do espírito.

Enfim, é o que você já deve ter desconfiado: o de ver, escolher e conviver

com um bom mestre.

De novo. Não me refiro ao mestre “enésimo” dan.

Falo daquele que vai ensinar o que ninguém ensina.

Não queremos perdedores.

15 Satori = Iluminação espiritual; momento em que se enxerga a verdade como ela

realmente é.

16 Samadi = Conviver com o mestre lado a lado.


NÃO CARREGUE UM FARDO

“Impontualidade no atender a um compromisso

é puro ato de desonestidade.

É como pedir emprestado dinheiro,

quando se toma emprestado o tempo de alguém“.

Mann

Chegar ao local na hora da batalha é um dos passos para sair derrotado. Se

o expediente é às 9 horas, deve-se chegar às 8h45. É assim que deve agir o

samurai moderno. Aquele que chega às 9 horas vai começar a luta às 9h15. E

se sair às 17 horas, já deu ordem de debandar às 16h45.

Este não está com a atenção voltada para vencer a guerra. Não é um

samurai. Está carregando um fardo. Lembro-me de um indivíduo que serviu

a casa. Teria que entrar às 9 horas, mas chegar às 9h05 já era difícil. Pessoas

assim são as primeiras a serem mandadas para o olho da rua. Os samurais do

Niten devem chegar sempre uma hora antes da batalha. Este é o segredo da

vitória.
PERDER O EMPREGO ESTÁ NAS PEQUENAS

COISAS

Responder e-mail. Uma coisa que, bem ou mal, todos sabem fazer.

No sistema de responder e-mails no Niten, há regras básicas a se executar.

Existem ainda normas internas a serem obedecidas ou executadas.

Várias são as causas de se escrever um e-mail esdrúxulo. Indisciplina, falta

de determinação, falta de atenção, subestimar as regras básicas da

comunicação, não verificar o que escreveu, preguiça e muitas outras falhas

que não devem existir em um samurai.

Tenho observado alguns e-mails que recebo e entendo o porquê de alguns

estarem sempre desempregados…

“Na guerra, acontecimentos importantes

são o resultado de causas triviais”.

Julio César
17
SOBRE KOSHI

“Vocês estão aqui para fortalecer o quadril, o koshi”.

O fantasma do desemprego ronda a todos nós. Aquele que tiver o quadril

fragilizado terá grande possibilidade de “perder” o seu quadril, ou seja,

tornar-se um enforcado. Não subestime os dias de treinamento!

17 Koshi = conjunto que engloba cintura, coxa e quadris. Na cultura samurai, aquele

que tem esta região bem trabalhada é um bom guerreiro. O samurai devia ter um koshi

forte para ser respeitado. As técnicas são eficientes ou não de acordo com a utilização

do koshi .
Caligrafia do 8ºSoke do Niten Ichi Ryu Aoki Kikuo (acervo do autor)
SOBRE A CALIGRAFIA

18
“No Shodo “, deve-se escrever com base, com o quadril.

Sem respiração correta, não há traço perfeito. Escrever é o mesmo que

lutar.

KOSHI !

18 Shodo = arte da caligrafia japonesa. Os samurais e grandes mestres apreciam a

caligrafiia japonesa por fazer do pincel uma extensão de seu corpo, assim como a

espada.
HORRORIZADO POR TER QUE FAZER A LIMPEZA

Era manhã do dia 02 de junho. O samurai que atende o telefone já está

acostumado ao treinamento rigoroso. Nesse dia, uma estudante que

procurava o seu primeiro emprego procurou o Instituto.

Telefonei para lá, o samurai atende e dialogamos:

– Samurai, está aí uma moça para trabalhar, não?

– HAI, Sensei!

– Oriente-a a responder HAI! e, em seguida, mande-a limpar a cozinha, os

banheiros e depois o jardim. Feito isso, começará a atender o telefone.

– HAI!… Mas, Sensei…?!

– Não fique horrorizado e comece já.

Pelo telefone senti que ficou pasmo e boquiaberto. O diálogo acima

demonstra que por esta nem o samurai que treinava pesado esperava. Tudo

pode ser exigido de um jovem, mas quando se trata de uma jovem, tudo

muda.

Homem ou mulher, a primeira coisa que devem fazer quando entram em

uma empresa é limpar. A limpeza faz com que os letrados se lembrem que,

numa guerra, o que importa é a execução perfeita de uma ação, determinada

e sincera.

Como é duro ensinar que deve-se limpar inclusive os cantos, esfregar forte

e ser ágil.
LAVA CARROS

Certo domingo, me chamou muito a atenção este email de um aluno que

estava sob treinamento intensivo:

“Sensei, nesta semana, cumpri a missão de lavar os três carros: Parati,

Peugeot e Fiesta. Agora também estou com a missão de tirar os buracos da

Parati”.

Hoje em dia, não se veem mais jovens lavando carros e muito menos

tapando buracos de um carro enferrujado.

Na minha infância, lavava carros também.

Pegava água, pano e sabão. Fizesse frio, fizesse calor.

Ainda o encerava. Essa parte era pesada. Além disso, tinha de passar um

líquido na parte cromada, cujo nome não me lembro. Pneu pretinho.

Perfumava e aspirava o carro. Fazia de tudo. Massa para retocar a ferrugem.

Tudo isto aos 13 anos.

E não podia fazer de qualquer jeito, não!

Se fizesse mal feito, na hora de revendê-lo, era prejuízo.

Garanto que com este treinamento tiro o seu fôlego.

“Todas as almas fortes, nobres, devotadas, as almas capazes de

grandes coisas e dignas “dos primeiros postos, compreendem, aceitam, e

suportam sem esforço a disciplina.”

Boudet
Certificado da primeira medalha brasileira em disputas individuais mundiais de Kendo

- Tóquio, 1977
O autor recebe os cumprimentos do presidente da Federação Japonesa de Kendo,

Ozawa Takeshi, no Torneio Mundial

de Kendo - no ginásio Budokan em Tóquio, 1977


LIMPAR O JARDIM

Já escrevi que a primeira tarefa que o aluno deve fazer é a limpeza. Com

isso, aprenderá que os afazeres de pouca importância devem ser levados a

sério para que as ervas daninhas não invadam o jardim do espírito.

É nesse momento, quando existe uma brecha aberta ao inimigo, que o

castelo cai em ruína.

“Ver o que não pode ser visto”, dizia Miyamoto Musashi Sensei.
A LIMPEZA DO DOJÔ E OS SAMURAIS

EXEMPLARES

Nos primeiros anos do Niten, esteve em nossa casa um samurai. Como

designer gráfico, era especialista em desenvolver letras apropriadas para

logomarcas de bancos. Chegava no dojō de moto, no final do dia, duas horas

antes da aula. Sozinho, limpava todo o salão com vassoura e pano úmido. No

final da aula, era o último a sair. Estava sempre pronto para servir e auxiliar

o mestre. Seu exemplo deve ser seguido por todos os alunos.


LIMPE E TE DIREI QUEM ÉS

Existem em nossa casa samurais que vêm de todas as regiões do Brasil, da

Argentina e do Chile a fim de realizar o Shugyō. O Shugyō, treinamento

intensivo que visa a iluminação na técnica e no espírito, consiste em estar dia

e noite ao lado do mestre para aprender as profundezas do Caminho. É nele

que vamos crescer interiormente e nos tornar fortes para vencer as fraquezas

existentes dentro de cada um de nós.

Em outras palavras, recuperar o nosso potencial humano.

A limpeza é a primeira tarefa que executam. Cozinha, banheiro, quintal etc.

Independente de ser estudante ou doutor, pobre ou rico, presidente ou

porteiro, todos fazem a limpeza.

Com ela, se pode conhecer o caráter daquele que chega à nossa casa. A

limpeza manifesta nossa vontade, nossa atenção e nossa paciência.


LIMPAR REDONDO O QUE É QUADRADO

Alguns varrem o tatame de maneira circular. Outros varrem de forma

quadrada.

Qual dos dois tipos você contrataria?


SOBRE O KIAI

“Não adianta golpear e não soltar KIAI”.

Kiai é a energia interna que se exterioriza em forma de grito, ou seja, é o

“Grito de Guerra”. Reflita sobre o que você faz. Dança? Esporte? Ou a Arte

da Guerra? Esta é a razão pela qual eu digo que o que fazemos não é esporte

nem expressão corporal. Quem não grita durante o combate deixa de treinar

uma das maiores ferramentas para vencer. Os samurais praticavam várias

formas de gritar para vencer os seus oponentes.

KIAI!
PEQUENOS LUCROS, GRANDES PERDAS.

PEQUENOS GASTOS, GRANDES LUCROS

Em tudo há investimento. É como executar um golpe perfeito. Precisa-se de

tempo, de um bom mestre, de uma boa espada e, se possível, de um pouco de

comida. No mundo de hoje, nada disso se consegue a preço de banana. O

investimento não será um gasto, desde que você esteja treinando. Sim, desde

que você tenha confiança na sua destreza e técnica, valerá a pena adquirir

uma boa espada. Essa espada lhe dará mais que sete vidas e o livrará de

muitos desperdícios.

Quem não entende isto, deve procurar outra arte, não a arte da guerra.
SOBRE O ATO DE FALAR

“Há por aí muitos charlatões espalhados”.

Se você ouve besteiras, irá inevitavelmente falar besteiras. Cuidado com

aquilo que você ouve.

Se todos falassem do que realmente sabem, em breve o mundo estaria em

silêncio.
SOBRE A LEITURA

“Não perder tempo nem dinheiro lendo besteiras”.

Besteiras estão soltas por toda parte. Olhemos as livrarias: pessoas não se

conformam em sair de mãos vazias e compram qualquer coisa.

Colecionadores de historietas zens ou não, estão loucos e sedentos atrás de

besteiras. Haja tempo. E dinheiro!

Após os treinos físicos no Instituto Niten, os “Momentos de Ouro com o mestre.

Oportunidade de assimilar estratégias para o dia-a-dia e lapidar o espírito


DISCERNIR O QUE É IMPORTANTE DO QUE NÃO É

“Ocidentais têm a mania de perguntar muitas coisas inúteis e treinar

pouco”, dizem os mestres japoneses.

Já disse aos meus alunos que não respondo a perguntas tolas e que não

tenham utilidade nos dias de hoje. Não merecem resposta os alunos que me

perguntam como cometer harakiri ou como decapitar.

Há muitas coisas tão importantes quanto estudar, como não perder o seu

emprego ou como lapidar o seu caráter.


CANIBAIS NO BRASIL

Este episódio ocorreu durante a visita de um mestre japonês ao Brasil.

Na volta de uma excursão a Parati, um dos instrutores brasileiros me pediu

para perguntar sobre a existência de ninjas no Japão. Como era um pedido,

perguntei:

– Perdão, sensei, mas o meu aluno pergunta se no Japão existem ninjas.

Um dos alunos japoneses que integravam a comitiva não acreditou no que

ouviu e, não se contendo, caiu na gargalhada.

O mestre:

– Pergunte a ele se no Brasil se come gente.

E mudou de conversa.
SOBRE VENCER SEM DERRAMAR SANGUE

Alguém já disse que na arte da guerra o melhor shogun é aquele que vence

o inimigo sem perder nenhum de seus soldados. Isso só valerá se for

conseguido enquanto a espada estiver embainhada. Na diplomacia, sem

dúvida é a melhor forma.

Contudo, uma vez que as espadas forem desembainhadas num combate em

larga escala, alguns terão de derramar seu sangue.


"Grito Samurai", celebração durante o ano do centenário da imigração japonesa, em

2008, no parque Vila Lobos. 200 Samurais do Instituto Niten me grito de guerra
SOBRE O CONVÍVIO

“O ser humano deve saber viver entre os seus.

Quem não sabe conviver com outras pessoas é um problemático que irá

tropeçar em algum ponto da jornada. Hora de treinar, treinar. Hora de beber,

beber. Não seja “chato”.


HAI!

É a primeira palavra que os alunos aprendem no Instituto Niten e o

primeiro ensinamento que se deve assimilar. Antes de aprender qualquer

lição, deve-se aprender a dizer em voz alta e corretamente: “HAI!”

A começar pela posição. Deve-se estar ereto, com a base firme, pronto para

o combate. O olhar deve estar sempre pronto para dar um passo adiante.

Voz baixa, desvio do olhar e desleixo na posição são sinais óbvios de

indisciplina e fraqueza.

Nos campos de batalha, independente de posição hierárquica, as ações

devem ser movidas com atenção e energia, e a manifestação do seu HAI! é a

exteriorização do seu estado de espírito.

O HAI! não deve ter a intenção de se mostrar simpático, mas sim de

mostrar que se ouve com atenção, pronto para agir. Por isso, não responda

sorrindo: não há a menor graça.


HAI! É GRITO DE GUERRA, NÃO RESPOSTA

De nada adianta responder apenas em voz alta.

Responder com o espírito oco e nenhuma disposição para a luta é como ser

um disco quebrado.

Deve-se ter o sentimento de combate. Aquele que responde em voz alta é

superior àquele que responde em voz baixa. Aquele que responde para o

combate é superior àquele que responde em voz alta.

Não seja um disco quebrado e vá à luta.


A CERTEZA DE SER CAMPEÃO

Fui convidado a assistir um torneio regional de iaido que ocorreria em um

domingo. Aguardava-se a presença de mestres de renome e de grandes feras.

Aceitei o convite visto que, de certa maneira, estava impossibilitado de dar

curso a outros afazeres.

No entanto, dois dias antes, ou seja, na sexta, meu mestre alterou o

programado e me perguntou se eu gostaria de treinar no mesmo domingo do

torneio.

Apesar de já ter me programado para ir ao torneio (tinha comprado até

passagens de trem) e que não há dúvidas de que seria um grande espetáculo,

não titubeei:

– HAI! - respondi num raio de um segundo.

Neste dia, aprendi muito. Isso não teria sido possível se eu tivesse optado

por ir ao torneio.

Espetáculos não nos fazem campeões.

Neste dia, EU fui o campeão.

“Um homem superior não insiste em ter boas comidas e boa

habitação. Está atento a seus deveres e é cuidadoso com suas palavras.

Encontra um grande homem e o toma como guia. Pode chamar-se um

amante do conhecimento”.

Confúcio
MOTORISTA DE TÁXI – HAI!

Um certo senhor descendente de japoneses costuma nos servir

esporadicamente. É motorista de táxi. Sempre engravatado, de barba feita e

cabelo cortado, nos aguarda em pé, fora do táxi, sempre pronto e atento a

qualquer movimento.

Quando nos avista, vem em passos rápidos em nossa direção e abre as

portas nos dizendo:

– Dozo! Traduzindo: “Tenha a gentileza (de entrar)”.

O mais agradável de tudo é ouvir, após indicarmos o destino, um alto e

forte – HAI! WAKARIMASHITA! - “Sim senhor, entendido!”

Alguém poderá achar que não há nada de mais em esperar o cliente dentro

do táxi. Ou que barba e cabelo não influem ao volante. Outros, que não

precisam se mostrar cientes do destino. Na minha opinião, os que acham isso

devem repensar o que é servir. Samurai é aquele que serve. E serve bem.

Estes vencerão a concorrência!


“TATSU YORI HENJI”

Os samurais, ao serem interpelados, devem responder “HAI!” antes de

executar qualquer ação. Tatsu = “levantar”, yori = “antes”, henji =

“responder”, ou seja, “Antes de se levantar para agir, responda”. Quem não

responde pode fugir da responsabilidade e, posteriormente, dizer que não

ouviu.

O HAI! é uma forma de comunicação eficaz a ser adotada em corporações

de samurais.

Quando se ingressa no Caminho, a primeira palavra que se deve aprender é

o HAI!, em voz alta e firme. Não importa se o samurai sabe ou não falar

japonês. Pelo HAI! já se reconhece todo o estado de espírito em que se

encontra o samurai para executar sua ação.

Por isso digo: “tatsu yori henji”. “Antes de se levantar para agir, responda”.

E, principalmente, em voz alta e clara.

Samurai Ookami considera o HAI! a forma mais eficiente de manter a

comunicação entre os seus assistentes, sobretudo, os da área da informática.

Não tolera que, no segundo dia de trabalho, seus assistentes não saibam

responder um HAI! forte e bem dito. Está absolutamente correto, pois quem

não se esforça para se comunicar com energia e vontade não suportará a

guerra.
JIGA BOKE

JISA BOKE. É pelo que passo sempre que viajo para outros países. JISA,

ou seja, “diferença de fuso horário entre as várias regiões do mundo”. BOKE

significa “levemente afetado, ligeiramente distante”.

Demora alguns dias para se normalizar, no caso de uma viagem do Japão

para o Brasil. É uma sensação de estar, mas não estar, ver, mas não ver, ouvir

e não ouvir, sentir, e não sentir.

Mas, nem sempre é preciso estar com o JISA BOKE para estar distante.

O JIGA BOKE, palavra de minha autoria, é mais frequente.

Estão, mas não estão presentes. Vêem, mas não enxergam. Ouvem, mas

não compreendem. Sentem, mas não captam.

JIGA: “ego”, o “eu”.

JIGA BOKE: “aquele que nunca sintoniza a conversa com os outros”. Você

fala uma coisa, ele responde outra. E só fala nele.


GUERREIRO OU FLOR

Coitadinhos ou coitadinhas não devem ir ao campo de batalha. Só

atrapalham. Alguém gostaria de ter um samurai chorando no meio da

batalha? Tendo crise de nervos? Com depressão? Ou precisando de um

cafuné? Sendo tão inofensivo que não suporte um comando enérgico ou uma

advertência verbal? Este não é um guerreiro. É uma flor. Deve permanecer

num vaso e servir de ornamento para ninguém tocar. Não resiste a mais leve

brisa da manhã.
NÃO HÁ TEMPO PARA PANOS QUENTES

Em grandes batalhas sobra tiro para todos os lados. Algumas vezes com

razão. Tiros podem acertar de maneira justa ou injusta. Colocar panos

quentes para consertar o que já foi, só retardará o processo de ocupação.

Deve-se ir em frente. Não há tempo para panos quentes. Afinal, estamos no

meio da guerra!

O Budismo e a Espada caminham juntos.

À esquerda o Arcebispo Kyouhaku Correia


CORTESIA E GENTILEZA: IMPRESCINDÍVEIS NOS

MOMENTOS DE PAZ

A cortesia e a gentileza são importantes em época de paz. Elas mantêm a

formalidade e a distância que devem existir entre as pessoas. Se forem

deixadas de lado em época de paz, o feudo entrará no caos e o desrespeito e

a humilhação se instalarão. Isso acontece com mais frequência dentro de

casa, porque todos nós pensamos que cortesia e gentileza só se devem ter

com os outros. Por isso, infelizmente, são atos frequentes o marido bater na

“vaca” e a mulher xingar o “porco”.


COLECIONADOR DE HISTORIETAS ZEN

Há trinta anos, encontrar textos sobre zen era difícil. Poucos alunos

conseguiam encontrar escritos zen traduzidos para o português, fossem ou

não praticantes do zen budismo.

Em nossos dias, o quadro já é diferente. Todo mundo já leu ou já teve

contato com várias historietas zen. Pequenas e com uma pontinha de

mistério, essas histórias seduzem aqueles que gostam de leitura superficial,

sem aprofundamento. É o zen se tornando material de consumo para os que

não agem, só compram. Eu recebo com frequência e-mails com historietas

zen tentando transmitir alguma mensagem.

Estranha mania esta dos colecionadores de historietas zen. Não fazem

nada. A não ser colecionar.


ZEN E VOCÊ

“Feito uma árvore fóssil

Da qual não apanhamos flores

Triste tem sido minha vida

Destinada a não produzir frutos“.

Minamoto Yorimasa

Imagine você num templo zen fazendo a sua meditação.

Compenetrado em posição de lótus e atento à sua respiração.

De repente você abre os olhos e percebe que o seu colega não está mais ao

seu lado.

Duas reações podem ocorrer:

a
1 você entrar em desespero e sair perguntando porque o seu colega se foi.

a
2 você manter o seu foco e continuar a sua meditação.

A primeira: preguiça, cansaço, falta de comida no templo, briga com os

companheiros, ou com o cachorro do monge, desentendimento com o monge

responsável, “paixonite aguda”, desequilíbrio mental, dificuldade para sentar

em lótus, espionagem e muitas possibilidades inimagináveis (e até absurdas)

que fazem os colegas saírem. Alguns somem para sempre, outros,

impertinentes, continuam a cutucar por trás de suas costas atrapalhando a sua

concentração.

Antigamente, estes “meninos de cabeça raspada” jogavam pedrinhas para

atrapalhar os outros em meditação.

Não caia na armadilha. Mantenha o seu foco. Respiração.

Da mesma forma que na meditação zen o que importa é se VOCÊ está

presente, assim também é no Caminho.


Como diria a minha grande amiga, monja Coen:

– E de que importa os outros? O importante é VOCÊ estar.

Chega de falar.

MOKUSSOO …

Reflita em silêncio.
HONRA NÃO É PARA FRACOS

Existem guerras inesquecíveis. A passagem do grande furacão O Último

Samurai, filme estrelado por Tom Cruise, foi uma delas. Foram dias de

guerra que os samurais do Niten jamais haviam vivido. Tiroteio para lá,

espadadas para cá, foi uma loucura.

Os mais fracos, no decorrer da guerra, mostram aos poucos as suas

fraquezas e ratificam aquilo que os mais experientes já desconfiavam.

Desertam ou sucumbem à guerra.

O tiroteio é fatal. Há perdas e danos. Isto é guerra. Inevitável – falhas

podem acontecer. E quando elas acontecem, o samurai deve se

responsabilizar pelos seus atos.

Acontece que, na hora de arcar com as responsabilidades, esquecem a

honra e a dignidade e escolhem o caminho da mentira, da imaturidade.

“Honra”, bonita palavra que está na alma apenas dos mais fortes.
“Isso é Bushidō”
SOBRE O FILME O ÚLTIMO SAMURAI

“Os Samurais estão vivos em todos nós”.

Tive a oportunidade de assistir a duas pré-estreias deste filme no ano de seu

lançamento em 2003. Uma com o público brasileiro e outra com o público

japonês. Interessante observar os vários pontos de vista dessas duas culturas.

Em algumas cenas, os brasileiros riram e deram gargalhadas e não havia a

menor graça. Em outras, os japoneses derramaram lágrimas e o público

brasileiro não percebeu nada. Entretanto, confesso que, algumas vezes,

derramei lágrimas sozinho.


NÃO É PIQUENIQUE NEM EXCURSÃO

O Shugyô não se faz na companhia de amigos. É o árduo treinamento para

se tornar imbatível. O espírito é propriedade individual.


O SAMURAI QUANDO RETORNA PARA A TERRA,

NÃO DEVE FICAR FROUXO

No Niten, existe o que chamamos Shugyô. Significa “treinamento

intensivo”. Teve origem com os monges budistas que ficavam meditando

ininterruptamente no templo a fim de alcançar a iluminação espiritual.

Samurais também vêm de todas as localidades a fim de fazer o treinamento

intensivo e melhorar a parte técnica, espiritual, e retornarem superiores às

suas terras. A maioria, quando chega pela primeira vez no campo de batalha,

movida mais pela empolgação do que pela determinação, aguenta os

primeiros dias de guerra como crianças num parque de diversões. À medida

que o tempo passa, ou por não suportar o ritmo do combate ou por sofrer

com a saudade, diminuem seu rendimento ao longo de sua estada e pedem

“um tempo para resolverem assuntos pessoais”.

Saudades da terra, dos pais, da namorada e outras coisas fazem com que o

samurai deixe de treinar o centro e amoleça os seus quadris. Alguns, após

voltarem para suas terras, retornam ao campo de batalha completamente

frouxos. Ao invés de voltarem revigorados, ficam com a energia baixa e

muito piores do que quando eram lentos e fracos.

Aquele que não consegue controlar suas emoções e tentações a ponto de

esquecer o fervor da guerra será presa fácil até para um samurai adolescente.
O SAMURAI DEVE IR DE BARRIGA VAZIA PARA O

COMBATE

Antes de combater, não se deve encher a barriga. Deve–se estar o mais leve

possível. Não confundir com o banquete do dia anterior que generais

costumavam dar aos soldados para que ficassem motivados no dia seguinte.

Durante os dias de treinamento intensivo, costumamos fazer jejum.

Alimentamo-nos somente de ervas, verduras e chá. O beneficio de combater

com fome é muito maior do que em qualquer outra situação. Tornamo-nos

mais ágeis e não sentimos praticamente nenhum cansaço. Você poderá

combater por pelo menos doze horas sem intervalos.


NÃO LEVE SUA NAMORADA OU NAMORADO PARA

BEBER DEPOIS DO TREINO

Beber depois do treino é um momento especial para se ouvir as palavras do

mestre. É quando ele está mais relaxado e susceptível para ouvi-lo, dar

opiniões sobre a sua técnica e conversar sobre os assuntos mais diversos. Por

isso, por que sacrificar o seu parceiro, se ele não tem a mínima ideia do que

se trata e nem tem o mínimo interesse nesses assuntos?

O samurai deve reservar esse momento para estar livre e atento e não

desperdiçar uma palavra sequer que poderá mudar o seu destino ou fazer

enxergar a seta que será o progresso no seu Caminho.

Não se preocupe, haverá tempo de sobra para saciar a sede e a fome. O

samurai deve entender que há jantares para comer e confraternizar e há

jantares para refletir sobre as nuances da guerra.


DISCÍPULO

Está escrito no Hagakure:

“Ser vassalo nada mais significa do que ser o defensor do seu senhor,

deixando os assuntos do Bem e do Mal para ele, renunciando ao interesse

próprio. Se existirem dois ou três homens desse tipo, o feudo estará seguro”.

Há 40 anos, tenho me dedicado ao treinamento na senda da espada. Tive e

tenho muitos alunos. Podem ter chegado a dez mil. Entretanto, discípulos,

tenho poucos. Posso contar nos dedos. Se tiver meia dúzia, direi que é muito.

São raríssimos os que renunciam ao interesse próprio.


DISCÍPULO DE VERDADE

“Quando andar, apenas ande,

Quando sentar, apenas sente,

Acima de tudo, não vacile“.

Umon

Uma vez encontrado o mestre, seja um discípulo de verdade. Não conteste.

Não existe concorda ou não, acha ou não acha, pode ou não pode. Tem que

ser implacável em combater o seu ego.

É justamente esta erva daninha que você tem aí no coração que faz você

perder tempo e até sua vida.

– Então, como ser um discípulo de verdade? - você, dentro de sua

concepção, indignado, me perguntaria.

Talvez estas palavras escritas por um monge há séculos clareie o seu

pensamento:

“Waga soshi no mikokoro wo shiri tsukauru wo makoto no odeshi danna to

zo iu“.

Ou seja, “Diz-se que é discípulo de verdade aquele que serve ao seu mestre,

conhecendo o seu sentimento”. Se não conhecer os sentimentos do mestre,

desista.
Recebendo o Menkyo (título de professor) de Shihan Ōtake Risuke do estilo Tenshin

Shoden Katori Shinto Ryu de 700 anos


BENEFÍCIOS DO BUSHIDŌ PARA MULHERES

Uma reportagem na TV mostrou que as mulheres tinham uma prevalência

da emoção sobre a razão. Ou seja, que as mulheres agem mais com a voz do

coração do que com a da razão. No Caminho da Espada, elas treinam o

controle da razão sobre a emoção. Dependendo das circunstâncias, como

numa guerra, deve-se agir com a razão.

“Desprende-te de todas as impressões dos sentidos e da imaginação, e

não confies a não ser na razão“.

Descartes
ANTÍLOPES E LEÕES FAMINTOS

Adolescentes “filhinhos de papais” são diariamente devorados por

traficantes e oportunistas de todo o tipo. Inocentes e indefesos, se não

treinarem a alma no combate, nunca se erguerão sozinhos.

Aos treze anos, os samurais já conheciam a maldade e os horrores da

guerra. Nos tempos modernos, em que com um clique podemos ter tudo ao

nosso alcance, a cada geração que passa nos tornamos mais frágeis e fracos

física e espiritualmente. Os jovens são educados a acreditar que, lendo,

estudando e conseguindo um bom diploma, terão sucesso em suas vidas.

Treinem seus filhos, letrados ou não: antílopes sempre serão devorados por

leões famintos.
O treinamento traz ensinamentos e

experiências que não estão nos livros


SHOSHIN WASURUBEKARAZU

Principalmente nos momentos de cansaço ou na hora de levar bronca, as

pessoas se esquecem do primeiro dia de combate. O foco e os objetivos são

lançados ralo abaixo e o guerreiro desiste.

Quando são repreendidos, frequentemente largam a bandeira da luta,

abandonam derrotados seu posto e seu grupo, se dizendo injustiçados,

quando, na realidade, os sentimentos de egoísmo, desejo de ser reconhecido,

ódio ou medo são os verdadeiros motivos.

Justa ou injustamente repreendidos, aí é que entra o autocontrole para

enxergar com sabedoria as consequências de desertar na guerra. Lembre-se

dos motivos que o levaram ao combate. Intempéries e adversidades de todos

os tipos surgem no decorrer de uma longa batalha. Nesse momento, o

samurai deve ter a convicção do porquê de estar ali.

Shoshin wasurubekarazu: “não esquecer o espírito do iniciante”.


SOBRE A FALSIDADE

“O mais difícil não é cumprir o dever; é conhecê-lo“.

Louis Bonald

Desculpas para não fazer o que escolheu fazer:

- Falta de tempo;

- Falta de dinheiro;

- Amanhã faço;

- Hoje tenho muito trabalho, não poderei ir;

- Vestibular e provas;

- Meus pais não me dão dinheiro;

- Não estou bem hoje. Quando melhorar faço;

- Estou sem material;

- Não vai ninguém mesmo;

- Estará fechado.

Poderia fazer um livro inteiro com o título Desculpas.

Ao inventar desculpas para nós mesmos, estamos sendo falsos conosco, e à

medida que isso se torna frequente, a mentira tomará conta de nós até que

nos vença.
OPORTUNIDADE

Muitas vezes desviamos os olhos das oportunidades por buscarmos:

– O mais fácil, por sermos preguiçosos;

– O mais barato, por sermos avarentos;

– O mais cômodo, por sermos covardes.

Com isso, nunca obteremos conhecimento, nem tampouco crescimento no

decorrer de nossas vidas.

“O que observa muito os ventos não semeará, e o que

contempla as nuvens nunca recolherá a sua colheita“.

Eclesiastes
NÃO DESCANSE NA GUERRA

“Os preguiçosos são mortos que não podemos enterrar“.

Temple

As pessoas sempre adiam seus projetos por falta de tempo. Sempre dizem:

– Quando entrar em férias, farei isto, farei aquilo.

Chegam as férias, mas nada acontece.

Na verdade, conseguimos realizar mais feitos quando estamos em guerra.

Digo aos meus alunos:

– Hora de lutar, lutar, hora de descansar, descansar.

Se você personifica a imagem do samurai moderno, não descanse em

Guerra.
Lições sobre o Infinito e o Inacabável com o Mestre Shimamura Osamu (sentado à

esquerda) do Nitoshinkageryu Kusarigama Jutsu


SAMURAIS INDECISOS – PERIGO PARA TODOS

Tenho sempre dito ao longo dos anos que o ocidental é mais

intelectualizado que o oriental. E este pode ser o lado negativo da moeda.

Por estudar muito, devorar livros e pensar muito, acho que ficam tão

confusos que não conseguem mais ser simples. Os mestres japoneses dizem

que os ocidentais fazem perguntas difíceis e fora de contexto, de maneira que

não sabem como explicar na mesma linha de raciocínio.

O samurai, um homem de ação, não pode ficar confuso ou indeciso no

meio da batalha.

“A vacilação e a meticulosidade exagerada são os meios

mais eficazes de solapar a confiança de um exército”.

Sun Tzu
MADRUGADA NA FARMÁCIA

Certo dia, tive que sair para comprar medicamentos durante a madrugada.

Tentei estacionar em uma loja, mas não consegui, havia dois carros para

três vagas, pois um deles havia estacionado inadequadamente, ocupando

duas vagas.

Tive de deixar meu carro em outro lugar, numa rua sem iluminação nem

segurança.

Sugeri à farmacêutica responsável que pedissem ao dono do carro para

estacionar adequadamente, quando recebi a seguinte resposta:

- Não posso fazer nada senhor, são clientes. Se eu falar, eles reclamarão. Já

é de noite e não temos gente para tomar conta do estacionamento. O senhor

ligue durante o dia para o nosso gerente.

A verdade é que não se encontram mais samurais. Guerreiros que assumem

e tomam para si a responsabilidade de resolver as coisas.

Um aluno já havia me dito outro dia:

- Sensei, a verdade é que ninguém quer assumir nada.


AO LEVANTAR, CONCENTRE-SE EM DECIDIR A

ESTRATÉGIA A SE ADOTAR

Durante o restante do dia, concentre-se em executar.


EIHEIJI

Eiheiji é conhecido por ser o templo zen mais tradicional e rigoroso do

Japão. Isolado de tudo, no alto de uma região montanhosa e de ventos frios,

tem um dos invernos mais rigorosos do Japão. Para ingressar no treinamento,

o Shugyō, deve-se ficar de pé em frente ao portão principal, no meio da neve,

por mais de duas horas, esperando para ser recebido. Até que algum senpai

aparece e lhe pergunte:

– Você tem certeza que quer ficar?

Você deve gritar em voz alta e firme: “Sim senhor, eu quero ficar aqui!”.

Se ele achar que a sua voz não está tão determinada, você não entra e só

poderá retornar depois de um ano.

Santo Agostinho já dizia que quando quer, não pode, quando pôde, não

quis. E assim, por um mal querer, perdeu um bom poder.


LIÇÃO NÚMERO 1 DA ARTE DA GUERRA

Afastar os indecisos, inseguros ou confusos antes de iniciar os planos.

Não perder tempo elaborando planos mirabolantes ao lado de possíveis

desertores, traidores ou loucos que poderão desviar os planos.


O QUE IMPORTA É QUE VOCÊ FALHOU – NÃO O

QUANTO VOCÊ SE EMPENHOU

Em uma batalha, todos se esforçam em busca da vitória.

Ao cometer falhas, esperar que o superior compreenda e tenha sentimentos

é incoerente para o samurai. No meio da zona de combate, aquele que clama

por atenção ou reconhecimento se torna empecilho ao bom andamento do

grupo. Esses indivíduos, em geral, choram ou abandonam seus postos,

atrasando todo o andamento da guerra.

Deve-se assumir prontamente o erro e se responsabilizar pelas perdas e

danos, independentemente do tamanho do seu esforço.


O ferro se bate enquanto está quente
ATENÇÃO, DISCIPLINA E DISCRIÇÃO

Ao estar ao lado do seu senhor samurai, veja se a ele não falta nada.

Mantenha-se a um metro de distância e esteja pronto para agir na iminência

de perigo.

Ao executar ordens, execute com todo o empenho e disciplina, sem falhar.

E seja discreto para não tirar a concentração do seu senhor. (Esse último

item é importante para os ocidentais.).


“O CHEFE NÃO MOVE UM DEDO PARA

ESCANEAR”

A frase acima foi dita por uma das alunas quando ela discutia a posição de

seus antigos chefes.

Há bons líderes e maus líderes.

Com certeza, existem várias formas de conduzir um grupo ou uma

organização. Em um sistema em que prevalece o Bushidō, as funções de

cada um são bem claras. Quando não são, o sentimento de servir ao seu

senhor e Daimyô, “senhor feudal”, deve prevalecer para contornar qualquer

problema.

Desde que haja um samurai na empresa, sempre haverá alguém que estará

24 horas lutando por ela.

Quanto ao samurai líder, apesar de sempre buscar o melhor aos seus

colaboradores, não deve permanecer entretido com detalhes e ações

específicas. O samurai líder deve se dedicar integralmente à criação,

elaboração, planejamento e acompanhamento da estratégia. Já a execução

deve ser feita por seus colaboradores.

O chefe de verdade move ideias para mantê-lo no emprego.

Cabe aqui refletir sobre o caso de um ex-aluno que se aproveitava deste

pensamento para oprimir seus subordinados. Após um tempo, foi “mandado

embora” pelos seus “colaboradores”.


BURRO QUE VALE OURO

Quem já não teve um subalterno que esquece tudo que você fala e a todo o

momento? Como se diz no ditado popular:

– Ele só tem um neurônio.

É incrível. Esquecem. Esquecem mesmo. E não é força de vontade, não.

No entanto, pelo menos uma coisa eles não podem esquecer: o seu chefe.

Tem que pensar no seu chefe. Em primeiro lugar.

É óbvio que só pensar e lembrar dele não adianta. É necessário pensar no

bem-estar dele. Só isto.

BEM-ESTAR do CHEFE. Isto não é “puxar o saco” dele. É pensar, de

coração, a todo o momento. Estar pronto para servir. Se necessário, não

dormir nem comer. Tudo pelo CHEFE.

É a única salvação para os burros, mas competentes.

Um burro desses vale mais que ouro.


PARA O AEROPORTO, DE TÁXI

O Samurai que acompanha o mestre para o aeroporto deve, desde o

momento da saída, verificar a quantidade das bagagens.

O mestre senta-se atrás na poltrona do lado direito e o samurai que tem

assuntos a tratar senta-se a seu lado. O samurai que se sentar ao lado do

motorista deve conhecer todo o trajeto e se responsabilizar pelas orientações

ao condutor. Ao desembarcar, deve efetuar o pagamento ao motorista e reunir

todas as malas para o check-in. Em momento algum, deve deixar o mestre

preocupado com bagagens e detalhes.

Efetuado o check-in, deve entregar a passagem ao mestre e informar dados

como portão de embarque, horários e intercorrências, como voo atrasado ou

a confirmar.

Caso o samurai não viaje junto e houver tempo disponível, tomar um café

antes de entrar na sala de embarque.

Deve existir atenção até o último momento. O “boa viagem” deve ser dito

na intenção de desejar uma boa batalha a ser travada no destino.

Se a bagagem chegar danificada ao destino, o samurai deve ter consciência

de que terá de assumir parte da culpa.

Objetos que devem ir à cabine do piloto são uma das prioridades para um

samurai durante o check-in. Alguns funcionários de empresas aéreas

demonstram uma certa falta de vontade em executar o que deve ser feito. A

preguiça deve ser cortada com o fio da espada.


FACIES PC

Em medicina, temos o que chamamos de facies. Facies é a feição

característica de uma determinada síndrome ou doença que permite ao

médico diagnosticar, ou pelo menos sugerir, a provável doença do paciente.

Ultimamente, encontramos muitos indivíduos que trabalham o dia inteiro

em frente ao micro. Falam baixo e normalmente têm olhos com aquelas

espirais como nos mangás. Geralmente não sobrevivem ao tiroteio.

Facies hipnotizados pelo PC.


“KOROBU ISHI NI WA KOKE HAENU”

“Pedra que rola não cria limo.

Treinar diariamente é a prece do samurai. Treinar significa colocar as

vestes, empunhar a espada e partir para o treinamento. Mesmo no dia mais

frio do inverno. Mesmo depois dos 50 anos.

Alguns, mal chegando aos 40 anos, já estão a jogar dominó na praça sob o

sol ameno da primavera.

Não fique parado deixando as ervas daninhas tomarem conta do seu

espírito!
Depois dos 40, jogar dominó ou…
TIRAR O BONÉ

A moda de usar boné pegou. Não vejo com maus olhos, exceto pelo fato de

que faltou ensinar às novas gerações que, em lugares sagrados, tira-se o boné.
NÃO DEIXAR OBJETOS DE VALOR NAS MÃOS DE

QUEM NÃO É BUSHIDŌ

No Niten, deixo os meus pertences com um samurai.


SOMENTE OS CONFIÁVEIS SEGURAM OBJETOS

DO SENSEI

Confiáveis: samurais que dão o sangue para proteger o seu senhor durante a

sua missão.
CAXIAS

Tendo passado parte de minha vida no exército brasileiro, não poderia

deixar de mencionar que dia 1º de Junho comemora-se o dia de Luís Alves

de Lima e Silva.

Para quem não se lembra, falo do Patrono do Exército Brasileiro – Duque

de Caxias. Documentos comprovam que ele, de fato, participou de muitas

guerras e as venceu com bravura e estratégia.

O que mais me admira entre os seus inúmeros feitos ou passagens é esta: a

atitude em relação a como deveria ser conduzido seu caixão:”

“Sem pompa, dispensa de honras militares; conduzido por seis soldados

da guarnição da Corte, dos mais antigos e de bom comportamento.”

“Ser conduzido por seis soldados rasos, antigos e de bom comportamento”.

Antes de Patrono, antes que Duque, eu comemoro o Guerreiro Caxias.


Tenente Kishikawa na época da caserna
SERVIR COM AS DUAS MÃOS, RECEBER COM AS

DUAS

Do mais alto na posição hierárquica, deve-se receber objetos com as duas

mãos. Ao mais alto, entrega-se com as duas mãos. Sempre com uma leve

reverência.

Ao mais baixo na hierarquia, entregar com a mão direita.


O Budô independe de religião. Em Brasília

com o Mestre Tsunemori Kaminoda, Shihan

do estilo Shindo Muso Ryu Jojutsu


SE QUISER PASSAR NO VESTIBULAR, PARE DE

NAMORAR

Um aluno me perguntou como aplicar o Bushidō e o Método KIR,

utilizado no Instituto Niten, para ser aprovado no vestibular.

O vestibular é uma das primeiras grandes batalhas do jovem samurai

moderno. É a Sekigahara da adolescência. Muitos morrem e somente os

aprovados sobrevivem.

Não conheci até hoje nenhum soldado que tenha levado sua namorada ao

front.

Pegue sua mochila, suas armas e diga a ela que retornará depois de um ano.

Com firmeza.
NÃO COMER ATÉ O SENSEI CHEGAR

Confirmar se podem beliscar ou se já podem começar a comer quando o

Sensei vai demorar muito.

Brasileiros cometem gafe nesse quesito quando vão para o Japão.


INICIAR E FINALIZAR AO COMANDO

Todos os eventos, festivos ou não. que envolvem samurais, devem começar

e terminar com um comando. Assim, podemos mandar os participantes

embora e estes também podem ir rapidamente e sem constrangimentos.


NÃO DEIXE SEUS OBJETOS EM TRASEIRAS DE

CARRO, EMBAIXO DE OBJETOS PESADOS, MESMO

QUE NA POLTRONA

“Estúpido é o incorrigível”.

Nissen Shonin

É lamentável constatar que, a cada nova geração, o cuidado com os

pertences vem sendo esquecido. Zelo. É o que falta em muitos jovens.

Tive a oportunidade de observar, em um colégio de classe média, jovens

deixando suas mochilas na calçada enquanto comiam na lanchonete. Outros

se sentavam sobre as mesmas na calçada.

Um samurai nunca passaria por cima de sua espada. Ferramenta viva,

instrumento de sobrevivência.
TREINAR INDISPOSTO

Fazer relaxamento numa sala tranquila é fácil.

O difícil é relaxar no meio do estresse e da agitação.

Treinar quando se está disposto é fazer a coisa mais óbvia.

Difícil é treinar quando não se está disposto.

Suportar o insuportável é realmente suportar.


FAMINTOS QUE VOLTAM FAMINTOS

Pessoas que só enxergam o lado material e lucrativo das coisas sentem-se

vazias e perdidas e não encontram um sentido na vida.

A maioria é letrada, entende e vê o mundo através de palavras, letras e

números. Muitos são devoradores de livros e DVD’s, em busca de assuntos

sérios ou diversões baratas.

São os estressados das grandes cidades que procuram refúgio no campo em

busca de paz espiritual nos feriados e finais de semana. Reservam spas, vão a

cidades do interior e hotéis-fazenda. Acreditam que assim encontrarão a paz

espiritual. Ficam lá, sozinhos ou com suas famílias, mas sempre com alguma

ruga que revela preocupação. Poucos são os que vivem aquele momento.

O ar puro, o silêncio, as montanhas, a brisa. Os mais tolos continuam a

acessar a internet nos locais de descanso em busca de problemas na caixa

postal em vez de esquecê-los. Outros não mudam a sua rotina e trabalham no

celular ao lado das esposas, fartas.

Inseguros, têm medo de se desligar do mundo material. Medrosos, têm

medo de perder sua fortuna contadinha. Famintos por paz espiritual -

permanecem eternamente famintos.


Suportar o insuportável
SOLIDÃO, REMÉDIO PARA O ESPÍRITO

Se não tem o que fazer, desligue tudo que estiver à sua volta.

TV, rádio, luz, geladeira. Tudo.

Só o silêncio, a escuridão. Solidão.

Se estiver longe de tudo isto, melhor ainda. Você tem sorte. Provavelmente,

está longe de tudo e de todos. No alto da montanha, numa praia deserta ou

numa praça de uma cidadezinha do interior.

Continue a não fazer nada, desde que o tempo lhe permita. Mas aproveite

estes poucos minutos para não fazer nada mesmo. Escrever e-mails pelo

celular? Nem pense nisso. Já bastam os e-mails que você provavelmente tem

de escrever pelo PC.

De repente, um tênue raio de luz ilumina a sua frente e você consegue

enxergar com os olhos da verdade. Assuntos não esclarecidos ou mal

resolvidos ganham uma solução.

– Eureka! Já sei!

É isto que vai lhe acontecer.

A iluminação da mente.

Experimente. Mal não fará.

“O isolamento é aquela ilha de ideias ou de beleza que, no meio do

oceano de cinzas vulgares, o nosso espírito descobriu para si, e aonde

não chega o barulho vão das águas vastas - a multidão“.

Antero Figueiredo
DESCANSEI

“Pássaro aquático

deslizando na superfície,

poderei eu olhar-te sem preocupação

quando também eu vivo

num mundo de águas deslizantes?“.

Murasaki Shikibu

Não, não foi Shugyō, gashuku ou kangeiko, “treinamento de inverno”.

Foi, literalmente, descansar, dar uma parada no meio do caminho em meio

a montanhas no melhor ar puro que se possa imaginar. Peguei e me encostei

a uma árvore e sentei.

Foi muito bom. Fazia tempo que eu não fazia isto.

Yassumi, “Descanso”.

Formado pela junção dos dois ideogramas PESSOA e ÁRVORE.


SER UM PEQUENO MACACO ALEGRE

A imagem de um mestre em um filme costuma ser aquele cara sério que

fala pouco e que tem uma cara de bravo. Ou então, aquele velhinho de barba

e cabelos brancos que passa a imagem de alguém que já viveu bastante para

prever o futuro.

Ambos aparentam seriedade, falam pouco e, no filme, costumam ser os

coadjuvantes na luta contra os bandidos.

Na realidade, também não é tão diferente.

Mestres que falam pouco, sérios e carrancudos estão em qualquer lugar.

Ou então, têm na aparência só um sorriso que aparenta humildade, mas

internamente, têm o ego inflado a ponto de explodir.

Talvez tenham que ser assim para serem reconhecidos e respeitados. Fazer

uma imagem.

Será?

É certo que no mundo tem mais gente que não enxerga um grande mestre

num simples homúnculo e preferem acreditar que o grande mestre é aquele

parecido com o que viu no filme.

– Ah, este não é um grande mestre. Ele sorri demais. Fala demais. Não me

parece forte. Ele errou a técnica – pensam dentro de suas cabeças

preconceituosas.

Não, não é por aí, meu caro.

Para que aparentar ser duro como uma pedra? Pois saiba que existem

muitos “mestres” sérios e de cabelos brancos que se aproveitam da aparência

para enganar você.

E mais: não falam mais porque não sabem!

Um grande monge budista disse certa vez que o maior orgulho dele era o

de ser um pequeno macaco alegre capaz de ajudar os outros.

É
É certo que, pelo mestre aparentar ser um pequeno macaco alegre, os

menos avisados ou leigos no Caminho acabam por cometer gafes como dar

uma palmadinha nas costas dele ou falar demais, esquecendo as normas da

etiqueta ou os Katas do Bushidō.

Lá no Japão, já vi muito ocidental ultrapassar os limites com o mestre por

achar que ele estava mais “aberto“. Um simples sorriso do mestre e aí

começam a soltar as asinhas, falando mais do que devem e ultrapassando os

limites.

Preste atenção, pois o que vou lhe dizer vale para todos os mestres.

Um mestre de verdade pode estar treinando na calada da noite, diante do


19
portal do Inferno, sob os olhos atentos de Enma . E durante o dia, pode

estar repousando no coração de um pequeno macaco alegre.

Portanto, não se iluda.

19 Enma= entidade budista, guardador do portal do mundo dos mortos


Comemoração dos 20 anos do Niten: Banzai!
HORA DE LUTAR, LUTAR. HORA DE BRINCAR,

BRINCAR

20
Samurais fumando um kisseru , monges tomando saquê ou mestres

saindo com gueixas. Cenas comuns no Japão, entretanto, deixam os

ocidentais escandalizados. Escandalizados, pois associam a imagem do

mestre, do monge e do samurai a santos (na concepção cristã ocidental)

livres de todos os pecados.

Isso é tolice. Os japoneses conhecem o livre-arbítrio e a relação entre causa

e efeito. Isso vale para mestres, monges e samurais. No entanto, também

sabem que a via da iluminação e da salvação não está em uma imagem.

Manter-se na disciplina e agir com o intuito do esforço constante é mais

importante do que o que você faz ou deixa de fazer diante dos outros. O

treinamento é a sua prece diária.

Ao samurai, os momentos de prazer devem ser sentidos com toda a

intensidade. Não deve haver peso na consciência, desde que no dia seguinte

as cinco da manhã não falte ao treinamento.

Digo sempre aos meus alunos:

– A vida é sua. Faça o que quiser. Desde que nunca falte ao treinamento.

20 Kisseru= espécie de cachimbo


“ZEN MO ISSHOU, AKU MO ISSHOU”

“O Bem vale uma vida e o Mal também vale uma vida”.

Você escolhe o que faz da sua vida.

Pode fazer tanto o Bem quanto o Mal para si mesmo.

Pense bem, não faça Mal para si mesmo, afinal você só tem uma vida!
DIA DO SAMURAI

Estava em Congonhas tomando o meu capuccino.

Em pouco tempo pegaria o avião para Ribeirão Preto, cidade que foi

reconhecida pelo Consulado como o Berço da Imigração Japonesa no Brasil.

As comemorações também do Dia do Samurai na Câmara Municipal de

Ribeirão Preto eram esperadas por volta das 20 horas.

Enquanto tomo o meu segundo gole, lembranças vêm à mente.

O início: quando mal conseguia segurar a espada, as primeiras

demonstrações aos seis anos, hematomas e torneios, a época em que formei

campeões…

O agora: os primeiros dias do Niten (algumas vezes sem nenhum aluno), o

encontro com pessoas fantásticas, guerras que travamos e as batalhas que

vencemos.

E por aí vai…

De modo que, se tivesse palavras para exprimir toda a minha trajetória, eu

diria:

– Como passou rápido!

O sentimento de tudo isso?

Dê-me um tempo. Deixe-me dar uma última sorvida…

– A certeza de que estou vivendo a vida. E plenamente!

Bom, está na hora. Deixo você aqui.

O meu muito obrigado a todo o povo brasileiro por fazer do dia 24 de

Abril, o meu aniversário, uma data tão especial.


Arigato.

Dia do Samurai no Pavilhão Japonês, parque do Ibirapuera em São Paulo, 2007


A IMPORTÂNCIA DA ETIQUETA JAPONESA

Aquele que não conhece a etiqueta japonesa estará perdendo oportunidades

em determinados círculos. A tendência hoje no mercado de negócios

mundial é conhecê-la e aperfeiçoá-la.

Você pode não perceber, mas existem colegas no Dojō que sabem de

detalhes que você desconhece.


CONQUISTA-SE!

“Nunca aceitei um não como resposta.

Sempre desconfiei de um sim fácil“.

J.J. Sanchez

Buscamos a felicidade verdadeira em primeiro lugar.

A felicidade de ser livre.

E você, pensa que a liberdade cai do céu?

Não seja tolo. Acorde!

Seja pobre ou rico, a liberdade não se ganha.

Conquista-se!

E com muita luta.

Preste atenção no que vou lhe dizer:

– Aquele que cai de verdade, se levanta agarrando uma oportunidade.


Não para!
APRESSAR OS PASSOS ENQUANTO HÁ

CLARIDADE

“A adubação no verão revela seu fruto na colheita de outono.

Essa é a lei, acredite.

Não duvide pelo simples tardar da colheita“.

Nissen Shonin

Levante cedo e apresse seus passos durante o dia. Enquanto há claridade e

o sol não se pôs, não há um minuto a perder no Caminho da Vida. Depois de

o sol se pôr, estará tudo escuro e você estará na escuridão. Não conseguirá

andar e seus pensamentos se tornarão mais lentos, o que fará você se perder

em meio às trevas da noite.

Assim é no Caminho, assim é na Vida.

Ashimoto no akarui utini…

Enquanto houver luz a lhe iluminar os pés…


“UE WO MITEMO KIRI GA NAI, SHITA WO MITEMO

KIRI GA NAI”

Minha bisavó nos deixou alguns pensamentos, e entre outros, o que mais

me ajudou a ser feliz é o seguinte: “Ue wo mitemo kiri ga nai; shita wo

mitemo kiri ga nai”. Quer dizer: “Não existem limites, quando se olha para

cima ou para baixo”. Trocando em miúdos, esse ensinamento quer dizer que,

na vida, não adianta ambicionar ser o mais rico ou o melhor. Sempre haverá

pessoas mais ricas e mais poderosas que você. Não ambicione demais, o céu

não tem limites. Por outro lado, não fique lamentando que sua vida é a pior

entre todos os seres. Sempre existirão pessoas mais pobres e infelizes que

você. Por isso, não se dê o direito de chorar achando que é um coitado.

Apenas lute incessantemente. De corpo e alma.


Caspar David Friedrich (1774-1840):

“Os estágios da vida”, 1835


ESPÍRITO

“Ishin – waga miti tsuranuku”.

(“Atravessar meu caminho – com um único Espírito”.)

Provérbio Antigo

Infortúnios poderão ocorrer durante nossa jornada. O que quero dizer com

“Espírito” é a disposição do coração, do sentimento, do “fazer” em relação à

nossa jornada. Muitas coisas podem acontecer, mas nenhuma delas poderá

abalar seu ishin, seu único espírito.


MINHA CRENÇA

Pedra que rola não cria limo.


MINHA MISSÃO

Oferecer a espada que dá a vida.

Em abundância.

“Momentos de Ouro”: A espada que dá a vida


MISSÃO DO INSTITUTO NITEN

Levar o melhor da filosofia samurai e da cultura japonesa a todos os povos.

Traço por traço eu chego lá


OS MANDAMENTOS DO INSTITUTO NITEN

1. “Coloque a Lealdade e a Confiança acima de qualquer coisa; não te alies

aos moralmente inferiores; não receies corrigir teus erros”.

Confúcio

2. Responder HAI em voz alta.

3. Treinamento em primeiro lugar.

4. Zelo em segundo lugar, o resto depende.

5. Coragem e Sinceridade são suficientes.

O diploma não é.

6. Bushidō não é democracia.

7. Perdoar os mais fracos.

8. Existirá sempre uma força maior

e devemos respeitá-la.
DADOS BIOGRÁFICOS

DO AUTOR

Sensei Jorge Kishikawa


ORIGENS

Nasceu em São Paulo, no dia 24 de abril de 1963.

Descendente de japoneses da província de Saga, ilha meridional do Japão.

Aos 6 anos ingressou no kendo, conquistando em sua trajetória o título de

pentacampeão brasileiro consecutivo por duas vezes e vice-campeão mundial.

Aos 18 anos, iniciou o treinamento nas artes antigas dos samurais, o

Kobudō e Kenjutsu.

Fundou o Instituto Cultural Niten com a proposta de difundir a cultura e

filosofia samurai a todos os povos.


FORMAÇÃO

Formou-se em Medicina pela UNIFESP em 1991 com especialização em

Medicina Esportiva.

Membro da Associação Paulista de Medicina.

Atuou como oficial médico no Hospital Geral do Exército de São Paulo por

uma década.
TÍTULOS

- Menkyo Kaiden (graduação máxima/grão-mestre) do Hyoho Niten Ichi

Ryu Kenjutsu, fundado por Miyamoto Musashi (1584-1645); recebido das

mãos de Shihan Gosho Motoharu

- Menkyo (mestre) do Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu, escola

reconhecida no Japão como Mugei Bunkasai (tesouro nacional), fundada por

Iizasa Chosai Ienao (1387-1488 ); recebido das mãos de Shihan Otake Risuke

- Menkyo (mestre) do Shindo Muso Ryu Jodo, fundado por Muso

Gonnosuke em 1650; recebido das mãos de Shihan Kaminoda Tsunemori

- Menkyo (mestre) do Suio Ryu Iai Kenpo, fundado por Mima Yoitizaemon

Kagenobu (1577-1655); recebido das mãos de Soke Yoshimitsu Katsuse

- Menkyo (mestre) do Nakamura Ryu Battodo fundado por Nakamura

Taisaburo (1912-2003); recebido das mãos do fundador

- Menkyo (mestre) do Ishin Ryu Kusarigama jutsu, fundado por Nen Ami

Gion em 1351; recebido das mãos de Shihan Kaminoda Tsunemori

- Menkyo (mestre) do Ikkaku Ryu Jitte jutsu, fundado por Matsuzaki

Kinuemon em 1670; recebido das mãos de Shihan Kaminoda Tsunemori

- 7º Dan de Kendo, Kyoshi pela International Kendo Federation (primeiro

7º Dan nas Américas aprovado por banca examinadora composta de mestres

japoneses)

- 7º Dan de Iaido Toyama Ryu, pela All Japan Toyama Ryu Iaido Federation
INSTITUTO CULTURAL NITEN

Em 1993, fundou o Instituto Niten.

Ao longo de 20 anos de transmissão de valores nipônicos como Respeito,

Lealdade, Compaixão, Humildade, Honra, Coragem e Gratidão, mais de

15.000 alunos se beneficiaram dos ensinamentos transmitidos no Instituto

Niten.

O aumento de alunos e interessados levou o

Instituto Niten a expandir-se às principais

capitais do Brasil e da América Latina, contando atualmente com mais de 60

Unidades. Além do Brasil, o Instituto Niten está presente na Argentina, Chile,

México e Portugal.
PUBLICAÇÕES

Em 2004, escreveu a primeira edição do livro “Shin Hagakure:

Pensamentos de um Samurai Moderno”, reeditado em 2010, em edição

revista e ampliada, e em 2016 a versão ampliada para dois volumes. A obra

tem por propósito orientar as decisões cotidianas do mundo moderno através

dos ensinamentos samurais.


RECONHECIMENTO SOCIAL

1977 - “Medalha da Legião Joana d’Arc da Soberana Ordem dos Cavaleiros

de São Paulo Apóstolo”, por seus resultados no Torneio Mundial de Kendo

em Tokyo: a primeira medalha do Brasil nas disputas individuais e por

equipes de kendo, além de ser agraciado com a medalha do Honra ao Mérito

pelo seu espirito de combate.

2005 - Foi instituído o ‘Dia do Samurai’, no dia 24 de abril, data de seu

aniversário, pela Câmara Municipal de São Paulo, como reconhecimento ao

seu trabalho de décadas na divulgação da cultura japonesa e tradições

samurais. Posteriormente, o mesmo ocorreu nas cidades de Piracicaba,

Ribeirão Preto, Campinas, Guarulhos, além dos estados do Paraná,

Amazonas e Santa Catarina.

2006 - Homenagem pela Câmara Municipal de São Paulo pelo

reconhecimento aos relevantes trabalhos realizados, visando promover e

difundir o Kobudō, e na contribuição ao esporte e à cidade de São Paulo.

2007 - Homenagem “Personalidade do Ano nas Artes Marciais” pela

Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

2007 - Homenagem Especial na “50ª Edição do Prêmio Paulista de

Esportes”.

2008 - “Medalha do Centenário da Imigração Japonesa” na presença de sua

Alteza Príncipe Herdeiro Naruhito Kotaishidenka no Palácio do Planalto em

Brasília.

2008 - “Medalha de Honra ao Mérito Legislativo do Centenário da

Imigração Japonesa no Brasil” pela Assembleia Legislativa do Mato Grosso

do Sul.

2008 - “Diploma Kasato Maru” pela Câmara Legislativa do Mato Grosso

do Sul, pelos relevantes serviços prestados à colonia nipo-brasileira.


2008 - “Homenagem por Votos de Louvor” pela Academia Brasileira de

Arte, Cultura e História do Brasil, por transmitir a arte, cultura e história do

Japão no Brasil.

2008 - “Diploma do Mérito Profissional em Medicina do Esporte” pela

Academia Brasileira de Arte, Cultura e História do Brasil, em

reconhecimento por sua fé e coragem em cultivar os mais elevados ideais de

nacionalidade e fraternidade humana no Brasil.

2008 - “Guardião da Soberana Ordem da Fraterna Integração Nipo-

Brasileira” pelo Centro de Integração Cultural e Empresarial de São Paulo.

2013 - Homenagem pela Assembleia Legislativa de São Paulo em

reconhecimento aos relevantes serviços prestados ao Kobudō e à

comunidade, conferido por ocasião do Ato Solene em Comemoração aos 20

anos do Instituto Cultural Niten.


COMPLEMENTO DIGITAL

Acesse www.niten.org.br/shinhagakure
VÍDEOS INSTITUTO NITEN

Kenjutsu

Iaijutsu

Jojutsu

Sensei Jorge Kishikawa

Mensagens dos Mestres do Japão

Saúde e queima calórica

Kir Jovem

Treinamento e depoimentos
VÍDEOS KIR EMPRESARIAL

O Mito Samurai

O Método KIR

Para Vencer a Guerra


VÍDEOS IMPRENSA / TELEVISÃO

Jô Soares 2001, 2004 e 2006

Alternativa Saúde GNT

Globo Repórter

Domingo Espetacular

Tv Japonesa

Especial Imigração Japonesa

Jornal da Globo

Globo News - Conta Corrente

SP TV - Grito Samurai

Bom Dia São Paulo - O Dia do Samurai

A Liga - Thaide faz Shugyo no Niten


ONDE TREINAR

Relação dos Dojos do Instituto Niten

Locais de Treino em todo o Brasil, Argentina e Chile.

O Instituto Niten tem mais de 40 Dojos no Brasil, Argentina, Chile, Portugal

e México.

Como iniciar o treinamento

Para começar a treinar, a melhor maneira é participar de uma aula

experimental, onde você irá conhecer os princípios básicos do treinamento

com a espada e conhecer os treinos e o grupo.


MAIS COMPLEMENTOS

Fotos

Fotos Internas em alta resolução e em cores.

Índices alfabético e remissivo

Mural
ÍNDICE

A Vida é Guerra

Subir a montanha

Samurai Moderno

Perguntas Importantes

Ki

03 não são 30

Abrir uma nova trilha

Jisso Enman no Heiho – Estratégia da Realidade Cósmica

Como prever o futuro

Coragem

Renove!

Das Eismeer

Ki, Ken, Tai, Un,

Sobre o Espírito deteriorado

Ki em primeiro lugar

Vestibular

Senki

O estudo é mais importante... ledo engano

Sen Ki – Espírito Guerreiro

Ki é vida

Ki é energia

Nunca ceder
Men Ippon

Se você tem tempo para ler e escrever em Blogs ou Fóruns, vá treinar, pois

está faltando treino

Como gastar o Ki

A Filosofia oriental resolve tudo. Meu irmão, não caia nessa

Autodidata

Repensar?

Sobre como beber cerveja

Se não bebe, fique longe

Meu mestre embriagado

Você não conseguiu nada sozinho

Mundo Animal

Primazia

Carneirinhos monstros

Tsui, Kyo wo Yaburu!

Decepção

Uraguiri

Kokoro Kara

Sobre a interferência do ego

Sobre a coragem ser mais importante que a estratégia

Quero aprender Bushidō

Depende

no Niten se respira o Bushidō

Contra a Maré

Bushidō como Remédio


Cale a boca e ouça

Ato Heroico?

Bushi no Itigon

Bushi Ni Nigon Nashi

Lealdade I

Lealdade II

Lealdade ao Mestre

Procura-se lealdade

Samurai: aperfeiçoar, avançar, servir

Majimê

Disposição e transparência, como roupa lavada e passada

Assumir é fácil. Honrar é difícil

O celular e o email acabarão com a sua dignidade

Ser Sério

Hamon

Hamon no Mundo Corporativo

O Samurai e dinheiro

“Depois que assumi a condição de vassalo, jamais me sentei de maneira

desleixada, estando em casa ou em qualquer outro lugar. Evitei falar. Se

existia algo que não poderia ser bem feito sem palavras, me esforçava em

fazê-lo falando o mínimo possível”

Hagakure - Yamamoto Tsunetomo

Encrenca na loja

Sinceridade

Sinceridade: passaporte para a perfeição

Retidão – “Sei Jitsu”


Sobre a Confiança

Compaixão I

Compaixão II

Compaixão III

Sobre ter Compaixão

“Oya wo Shitashimu wa Jin Nari”

Os Sete Samurais

A Espada que dá a Vida

Sobre o Shingan, “Olho do Espírito”

Treinar o Bushidō, nutrir-se da espada desde criança, como comer e beber

água

Como esfregar a bucha

Bushidō no Niten

Hikyo na Furumai

Mentira

Técnica e sorriso

Melhorar no que faz dá mais lucro que retaliar concorrentes

As Mulheres são melhores que os Homens

Dar vida ao passado

Karma Ancestral

“Bun Bu Ni Do”

Olhar de peixe morto

Peixe morto que vira cão faminto

Sobre a Força

Não queremos perdedores


Não carregue um fardo

Perder o emprego está nas pequenas coisas

Sobre Koshi

Sobre a caligrafia

Horrorizado por ter que fazer a limpeza

Lava carros

limpar o jardim

A limpeza do Dojō e os samurais exemplares

limpe e te direi quem és

limpar redondo o que é quadrado

Sobre o Kiai

Pequenos lucros, grandes perdas.

Pequenos gastos, grandes lucros

Sobre o ato de falar

Sobre a leitura

Discernir o que é importante do que não é

Canibais no Brasil

Sobre vencer sem derramar sangue

Sobre o convívio

Hai!

Hai! É grito de guerra, não resposta

A certeza de ser campeão

Motorista de táxi – Hai!

“Tatsu Yori Henji”

Jiga Boke
Guerreiro ou Flor

Não há tempo para panos quentes

Cortesia e gentileza: imprescindíveis nos momentos de paz

Colecionador de historietas zen

Zen e você

Honra não é para fracos

Sobre o filme O Último Samurai

Não é piquenique nem excursão

O Samurai quando retorna para a terra, não deve ficar frouxo

O Samurai deve ir de barriga vazia para o combate

Não leve sua namorada ou namorado para beber depois do treino

Discípulo

Discípulo de verdade

Benefícios do Bushidō para mulheres

Antílopes e leões famintos

Shoshin Wasurubekarazu

Sobre a falsidade

Oportunidade

Não descanse na guerra

Samurais indecisos – perigo para todos

Madrugada na farmácia

Ao levantar, concentre-se em decidir a estratégia a se adotar

Eiheiji

Lição número 1 da Arte da Guerra


O que importa é que você falhou – não o quanto você se empenhou

Atenção, Disciplina e Discrição

“O chefe não move um dedo para escanear”

Burro que vale ouro

Para o aeroporto, de táxi

Facies PC

“Korobu Ishi Ni wa Koke Haenu”

Tirar o boné

Não deixar objetos de valor nas mãos de quem não é Bushidō

Somente os confiáveis seguram objetos do Sensei

Caxias

Servir com as duas mãos, receber com as duas

Se quiser passar no vestibular, pare de namorar

Não comer até o Sensei chegar

Iniciar e finalizar ao comando

Não deixe seus objetos em traseiras de carro, embaixo de objetos pesados,

mesmo que na poltrona

Treinar indisposto

Famintos que voltam famintos

Solidão, remédio para o espírito

Descansei

Ser um pequeno macaco alegre

Hora de lutar, lutar. Hora de brincar, brincar

“Zen mo Isshou, Aku mo Isshou”

Dia do Samurai
A importância da etiqueta japonesa

Conquista-se!

Apressar os passos enquanto há claridade

“Ue wo Mitemo Kiri ga Nai, Shita wo Mitemo Kiri ga Nai”

Espírito

Origens

Formação

Títulos

Instituto Cultural Niten

Publicações

Reconhecimento Social

Vídeos Instituto Niten

Vídeos Kir Empresarial

Vídeos Imprensa / Televisão

Onde Treinar

Mais Complementos
EMPRESAS QUE CURSARAM OS “MOMENTOS DE

OURO” DO SENSEI JORGE KISHIKAWA PELO KIR-

EMPRESARIAL

. . . . . .Farmacêutica
Roche . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Agosto
. . . . . ./. 2001
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Abril
Engesul . . . . ./. 2002
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . .Paulista
Clínica . . . . . . .de
. .Medicina
. . . . . . . .Fetal
. . . . . . . . . . . . . . Maio
. . . . ./. 2003
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . Motor
Honda . . . . . .do
. . Brasil
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Março
. . . . . ./. 2004
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . Santander
Banco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Maio
. . . . ./. 2004
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . .Walita
Philips . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Junho
. . . . ./. 2004
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Julho
Ambev . . . . ./. 2004
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . .&
Merck-Sharp . . Dohme
. . . . . . .Farmacêutica
. . . . . . . . . . . . . . . . .Agosto
. . . . . ./. 2004
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Agosto
Microsoft . . . . . ./. 2004
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . .do
3M . . Brasil
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Maio
. . . . ./. 2005
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . International
Isma-BR . . . . . . . . . . .Stress
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Management Association Junho / 2005

. . . . . . . Norte
Telemar . . . . . .Leste
. . . . S.A
. . . . . . . . . . . . . . . . . .Setembro
. . . . . . . ./. 2005
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . ./ .SP
Senac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Outubro
. . . . . . ./. 2005
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Novembro
Fabpromo . . . . . . . . ./. 2005
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . Colombo
Lojas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Novembro
. . . . . . . . ./. 2005
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . .–. Junior
JCI . . . . . .Chamber
. . . . . . . .International
. . . . . . . . . . . . . . . Dezembro
. . . . . . . . ./. 2005
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . .Linhas
Gol . . . . . .Aéreas
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fevereiro
. . . . . . . ./. 2006
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Julho
ACDelco . . . . ./. 2006
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . /. Hospital
Unifesp . . . . . . . São
. . . .Paulo
. . . . . . . . . . . . . . . .Setembro
. . . . . . . ./. 2006
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . .do
Genzyme . . Brasil
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Janeiro
. . . . . ./. 2007
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . .Hans
Frigor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Março
. . . . . ./. 2007
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . .Hans
Frigor . . . . -
. .Dojo
. . . . Empresarial
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2006
. . . . até
. . . 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . da
Presidência . . .República
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Departamento / Segurança Maio / 2007

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Novembro
Microlins . . . . . . . . ./. 2007
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . .Samurai
Agência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Dezembro
. . . . . . . . ./. 2007
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . .–. Presidente
Sesc . . . . . . . . .Prudente
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Janeiro
. . . . . ./. 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Maio
Unifebe . . . . ./. 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . .–. São
Sesc . . . .José
. . . .do
. . Rio
. . . Preto
. . . . . . . . . . . . . . . .Setembro
. . . . . . . ./. 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . .–. Companhia
CSN . . . . . . . . . . Siderúrgica
. . . . . . . . . .Nacional
. . . . . . . . Dezembro
. . . . . . . . ./. 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . .–. Dojo
CSN . . . . .Empresarial
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2008
. . . . até
. . . 2014
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . Vantress
Cobb . . . . . . . .Brasil
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Dezembro
. . . . . . . . ./. 2009
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . Oesp
Grupo . . . . ./ .Grupo
. . . . . Estado
. . . . . . . . . . . . . . . . . . Fevereiro
. . . . . . . ./. 2010
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Abril
Panasonic . . . . ./. 2011
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . /. Hospital
Unifesp . . . . . . . São
. . . .Paulo
. . . . . . . . . . . . . . . . .Outubro
. . . . . . ./. 2012
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Julho
Phillips . . . . ./. 2013
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Março
Taskpower . . . . . ./. 2014
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Maio
Lufthansa . . . . ./. 2014
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Junho
Inbetta . . . . ./. 2014
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . Osório
Cnec . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Outubro
. . . . . . ./. 2014
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Janeiro
Boehringer-Ingelheim . . . . . ./. 2015
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Novembro
Inbetta . . . . . . . . ./. 2015
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Kir Empresarial: a bússola do Samurai Moderno

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