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O Período Pré-Colonial : A fase do pau-brasil (1500 a 1530)

A expressão “descobrimento” do Brasil está carregada de eurocentrismo, além de desconsiderar a existência


dos índios em nosso país antes da chegada dos portugueses. Portanto, optamos pelo termo "chegada" dos
portugueses ao Brasil. Esta ocorreu em 22 de abril de 1500, data que inaugura a fase pré-colonial.

Neste período não houve a colonização do Brasil, pois os portugueses não se fixaram na terra. Após os
primeiros contatos com os indígenas, muito bem relatados na carta de Caminha, os portugueses começaram a
explorar o pau-brasil da mata Atlântica. O pau-brasil tinha um grande valor no mercado europeu, pois sua
seiva, de cor avermelhada, era muito utilizada para tingir tecidos. Para executar esta exploração, os
portugueses utilizaram o escambo, ou seja, deram espelhos, apitos, chocalhos e outras bugigangas aos
nativos em troca do trabalho (corte do pau-brasil e carregamento até as caravelas).
Nestes trinta anos, o Brasil foi atacado pelos holandeses, ingleses e franceses que tinham ficado de fora do
Tratado de Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que dividiu as terras recém descobertas em 1494).
Os corsários ou piratas também saqueavam e contrabandeavam o pau-brasil, provocando pavor no rei de
Portugal. O medo da coroa portuguesa era perder o território brasileiro para um outro país. Para tentar evitar
estes ataques, Portugal organizou e enviou ao Brasil as Expedições Guarda-Costas, porém com poucos
resultados.
Os portugueses continuaram a exploração da madeira, construindo as feitorias no litoral que nada mais eram
do que armazéns e postos de trocas com os indígenas.
No ano de 1530, o rei de Portugal organiza a primeira expedição com objetivos de colonização. Esta foi
comandada por Martin Afonso de Souza e tinha como objetivos : povoar o território brasileiro, expulsar os
invasores e iniciar o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil.

A fase do Açúcar (séculos XVI e XVII)


O açúcar era um produto de grande aceitação na Europa e alcançava um grande valor. Após as experiências
positivas de cultivo no Nordeste, já que a cana-de-açúcar se adaptou bem ao clima e ao solo nordestino,
começou o plantio em larga escala. Seria uma forma de Portugal lucrar com o comércio do açúcar, além de
começar o povoamento do Brasil.
Para melhor organizar a colônia, o rei resolveu dividir o Brasil em Capitanias Hereditárias. O território foi
dividido em faixas de terras que foram doadas aos donatários. Estes podiam explorar os recursos da terra,
porém ficavam encarregados de povoar, proteger e estabelecer o cultivo da cana-de-açúcar. No geral, o
sistema de Capitanias Hereditárias fracassou, em função da grande distância da Metrópole, da falta de
recursos e dos ataques de indígenas e piratas. As capitanias de São Vicente e Pernambuco foram as únicas
que apresentaram resultados satisfatórios, graças aos investimentos do rei e de empresários.

Administração Colonial
Após a tentativa fracassada de estabelecer as Capitanias Hereditárias, a coroa portuguesa estabeleceu no
Brasil o Governo-Geral. Era uma forma de centralizar e ter mais controle da colônia. O primeiro governador-
geral foi Tomé de Souza, que recebeu do rei a missão de combater os indígenas rebeldes, aumentar a
produção agrícola no Brasil, defender o território e procurar jazidas de ouro e prata.
Também existiam as Câmaras Municipais que eram órgãos políticos compostos pelos "homens-bons". Estes
eram os ricos proprietários que definiam os rumos políticos das vilas e cidades. O povo não podia participar
da vida pública nesta fase.
A capital do Brasil neste período foi Salvador, pois a região Nordeste era a mais desenvolvida e rica do país.

A economia colonial
A base da economia colonial era o engenho de açúcar. O senhor de engenho era um fazendeiro proprietário
da unidade de produção de açúcar. Utilizava a mão-de-obra africana escrava e tinha como objetivo principal
a venda do açúcar para o mercado europeu. Além do açúcar destacou-se também a produção de tabaco e
algodão.
As plantações ocorriam no sistema de plantation, ou seja, eram grandes fazendas produtoras de um único
produto, utilizando mão-de-obra escrava e visando o comércio exterior.
O Pacto Colonial imposto por Portugal estabelecia que o Brasil só podia fazer comércio com a metrópole.

A sociedade Colonial
A sociedade no período do açúcar era marcada pela grande diferenciação social. No topo da sociedade, com
poderes políticos e econômicos, estavam os senhores de engenho. Abaixo, aparecia uma camada média
formada por trabalhadores livres e funcionários públicos. E na base da sociedade estavam os escravos de
origem africana.
Era uma sociedade patriarcal, pois o senhor de engenho exercia um grande poder social. As mulheres tinham
poucos poderes e nenhuma participação política, deviam apenas cuidar do lar e dos filhos.
A casa-grande era a residência da família do senhor de engenho. Nela moravam, além da família, alguns
agregados. O conforto da casa-grande contrastava com a miséria e péssimas condições de higiene das
senzalas (habitações dos escravos).

Invasão holandesa no Brasil


Entre os anos de 1630 e 1654, o Nordeste brasileiro foi alvo de ataques e fixação de holandeses. Interessados
no comércio de açúcar, os holandeses implantaram um governo em nosso território. Sob o comando de
Maurício de Nassau, permaneceram lá até serem expulsos em 1654. Nassau desenvolveu diversos trabalhos
em Recife, modernizando a cidade.

Expansão territorial : bandeiras e bandeirantes


Foram os bandeirantes os responsáveis pela ampliação do território brasileiro além do Tratado de
Tordesilhas. Os bandeirantes penetram no território brasileiro, procurando índios para aprisionar e jazidas de
ouro e diamantes. Foram os bandeirantes que encontraram as primeiras minas de ouro nas regiões de Minas
Gerais, Goiás e Mato Grosso.

O século do Ouro : século XVIII


Após a descoberta das primeiras minas de ouro, o rei de Portugal tratou de organizar sua extração.
Interessado nesta nova fonte de lucros, já que o comércio de açúcar passava por uma fase de declínio, ele
começou a cobrar o quinto. O quinto nada mais era do que um imposto cobrado pela coroa portuguesa e
correspondia a 20% de todo ouro encontrado na colônia. Este imposto era cobrado nas Casas de Fundição.
A descoberta de ouro e o início da exploração da minas nas regiões auríferas (Minas Gerais, Mato Grosso e
Goiás) provocaram uma verdadeira "corrida do ouro" para estas regiões. Procurando trabalho na região,
desempregados de várias regiões do país partiram em busca do sonho de ficar rico da noite para o dia.
Cidades começaram a surgir e o desenvolvimento urbano e cultural aumentou muito nestas regiões. Vários
empregos surgiram nestas regiões, diversificando o mercado de trabalho na região aurífera.
Para acompanhar o desenvolvimento da região sudeste, a capital do país foi transferida para o Rio de Janeiro.

A Inconfidência Mineira
INTRODUÇÃO

O movimento mineiro foi o primeiro a realmente manifestar com clareza a intenção da colônia de romper suas
relações com a metrópole. Outras rebeliões já haviam ocorrido na colônia que, no entanto, possuíam reivindicações
parciais, locais, que nunca propuseram a Independência em relação a Portugal.
A importância da Inconfidência Mineira reside no fato de exprimir a decadência da política colonial e ao mesmo
tempo a influência das idéias iluministas sobre a elite colonial que, na prática, foi quem organizou o movimento
AS RAZÕES DO MOVIMENTO

Vários foram os motivos que determinaram o início do movimento, reunindo proprietários rurais, intelectuais,
clérigos e militares, numa conspiração que pretendia eliminar a dominação portuguesa e criar um país livre no
Brasil, em 1789

A Crise Econômica:

O século XVIII foi caracterizado pelo brutal aumento da exploração portuguesa sobre sua colônia na América.
Apesar de o Brasil sempre ter sido uma colônia de exploração, ou seja, ter servido aos interesses econômicos de
Portugal, durante o século XVIII, a nação portuguesa conheceu uma maior decadência econômica, entendido
principalmente pelos déficits crescentes frente a Inglaterra, levando-a a aumentar a exploração sobre suas áreas
coloniais e utilizando para isso uma nova forma de organização do próprio Estado, influenciado pelo avanço das
idéias iluministas, que convencionou-se chamar "Despotismo Esclarecido"
Nesse sentido, a política pombalina para o Brasil, normalmente vista como mais racional, representou na prática
uma exploração mais racional, com a organização das Companhias de Comércio monopolistas, que atuaram em
diversas regiões do Brasil
Em Minas Gerais, especificamente, que se constituía na mais importante região aurífera e diamantífera brasileira, o
peso da espoliação lusitana se fazia sentir com maior intensidade.
A exploração de diamantes era monopolizada pela Coroa desde 1731, que demarcara a região, proibindo o ingresso
de particulares em tal atividade. Ao mesmo tempo, as jazidas da região aurífera se esgotavam com muita repidez,
em parte por ser o ouro de Aluvião, em parte pelas técnicas precárias que eram empregadas na atividade e esse
esgotamento refletia-se na redução dos tributos pagos a Coroa, fixado em "Um Quinto", portanto vinculado à
produção. Para a Coroa, no entanto, a redução no pagamento de impostos devia-se a fraude e ao contrabando e isso
explica a mudança na política tributária: Em 1750, o quinto foi substituído por um sistema de cota fixa, definido
em 100 arrobas por ano (1500 Kg). Como a produção do ouro continuava a diminuir, tornou-se comum o não
pagamento completo do tributo e a cada ano a dívida tendeu a aumentar e a Coroa resolveu, em 1763, instituir a
Derrama. Não era um novo imposto, mas a cobrança da diferença em relação à aquilo que deveria ter sido pago.
Essa cobrança era arbitrária e executada com extrema violência pelas autoridades portuguesas no Brasil, gerando
não apenas um problema financeira, mas o aumento da revolta contra a situação de dominação.
Soma-se a isso as dificuldades dos mineradores em importar produtos essenciais como ferro, aço e mesmo
escravos, produtos esses que tinham seus preços elevados constantemente. Um dos principais exemplos dessa
situação foi o "Alvará de proibição Industrial" baixado em 1785 por D. Maria I, a louca, que proibia a existência de
manufaturas no Brasil. Os efeitos do alvará foram particularmente desastrosos para a população interiorana, que
costumava abastecer-se de tecidos, calçados e outros gêneros nas pequenas oficinas locais ou mesmo domésticas e
que, a partir daí, dependeria das tropas que traziam do litoral os produtos importados, por preços muito elevados e
em quantidade nem sempre suficiente.

Influências Externas

O ideal Iluminista difundiu-se na Europa ao longo do século XVIII, principalmente a partir da obra de filósofos
franceses e teve grande repercussão na América; primeiro influenciando a Independência dos EUA e
posteriormente as colônias ibéricas.
Ao longo do século XVIII tornou-se comum à elite colonial, enviar seus filhos para estudar na Europa, onde
tomaram contato com as idéias que clamavam por direitos, liberdade e igualdade. De volta a colônia, esses jovens
traziam não só os ideais de Locke, Montesquieu e Rousseau , mas uma percepção mais acabada em relação a crise
do Antigo Regime, representada pela decadência do absolutismo e pelas mudanças que se processavam em várias
nações, mesmo que ainda controladas por monarcas despóticos.
Outra importante influência que marcou a Inconfidência Mineira foi a Independência das 13 colônias inglesas na
América do Norte, que apoiadas nas idéias iluministas não só romperam com a metrópole, mas criaram uma nação
soberana, republicana e federativa. A vitória dos colonos norte americanos frente a Inglaterra serviu de exemplo e
estímulo a outros movimentos emancipacionistas na América ibérica, incluindo o Brasil.
Percebe-se essa influência, através da atitude do estudante brasileiro José Joaquim da Maia que, em Paris, entrou
em contato com Thomas Jefferson, representante do governo dos EUA na França, para solicitar o apoio dos norte
americanos ao movimento de rebelião contra a dominação portuguesa, que estava prestes a eclodir no Brasil.
Em uma das cartas mais famosas de Maia a Thomas Jefferson, o estudante brasileiro escreveu: "Sou brasileiro e
sabeis que minha desgraçada pátria geme em um espantoso cativeiro, que se torna cada dia menos suportável,
desde a época de vossa gloriosa independência, pois que os bárbaros portugueses nada pouparam para nos tomar
desgraçados, com o temor que seguíssemos os vossos passos; ... estamos dispostos a seguir o marcante exemplo
que acabais de nos dar... quebrar nossas cadeias e fazer reviver nossa liberdade que está completamente morta e
oprimida pela força, que é o único direito que os europeus possuem sobre a América... Isto posto, senhor, é a vossa
nação que acreditamos ser a mais indicada para nos dar socorro, não só porque ela nos deu o exemplo, mas também
porque a natureza nos fez habitantes do mesmo continente e, assim, de alguma maneira, compatriotas".

A CONSPIRAÇÃO
A Inconfidência Mineira na verdade não passou de uma conspiração, onde os principais protagonistas eram
elementos da elite colonial, homens ligados à exploração aurífera, à produção agrícola ou a criação de animais,
sendo que vários deles estudaram na Europa e que organizavam o movimento exatamente em oposição as
determinações do pacto colonial, enrijecidas no século XVIII. Além destes, encontramos ainda alguns indivíduos
de uma camada intermediária, como o próprio Tiradentes, filho de um pequeno proprietário e que, após dedicar-se
a várias atividades, seguiu a carreira militar, sendo portanto, um dos poucos indivíduos sem posses que
participaram do movimento. Essa situação explica a posição dos inconfidentes em relação a escravidão, muito
destacada nos livros de história; de fato, a maior parte dos membros das conspirações se opunha a abolição da
escravidão, enquanto poucos, incluindo Tiradentes, defendiam a libertação dos escravos. As idéias liberais no
Brasil tinham seus limites bem definidos, na verdade a liberdade era vista a partir do interesse de uma minoria,
como a necessidade de ruptura dos laços com a metrópole, porém, sem que rompessem as estruturas
socioeconômicas. Mesmo do ponto de vista político, a liberdade possuía limites. A luta pela independência incluía
ainda a definição do regime político a ser adotado, embora a maioria defendesse a formação de uma República que
fosse Federativa, porém não garantia o direito de participação política a todos os homens. Na verdade os
inconfidentes não possuíam uma orientação política definida, mas um conjunto de propostas, que tratavam de
questões secundárias, como a organização da capital em São João Del Rei ou ainda a criação de uma Universidade
em Vila Rica.
O movimento conspiratório tornou-se maior após a chegada do Visconde de Barbacena, nomeado novo governador
da capitania de Minas Gerais e incumbido de executar uma nova derrama, utilizando-se de todo o rigor necessário
para garantir a chegado do ouro a Portugal. De setembro de 1788 em diante, as reuniões tornaram intensas, onde
eram alimentadas várias discussões sobre temas variados e o entusiasmo exagerado contrastava com a falta de
organização militar para a execução da independência. Tiradentes e outros membros da conspiração procuravam
garantir o apoio dos proprietários rurais, levando suas propostas de "revolução" a todos que, de alguma forma,
pudessem apoiar.
Um os mineradores contatados foi o coronel Joaquim Silvério dos Reis que, a princípio aderiu ao movimento, pois
como a maioria da elite, era um devedor de impostos, no entanto, com medo de ser envolvido diretamente, resolveu
delatar a conspiração. Em 15 de março de 1789 encontrou-se com o governador, Visconde de Barbacena e
formalizou por escrito a denúncia de conspiração. Com o apoio das autoridades portuguesas instaladas no Rio de
Janeiro, iniciou-se uma seqüência de prisões, sendo Tiradentes um dos primeiros a ser feito prisioneiro, na capital,
onde se encontrava em busca de apoio ao movimento e alguns dias depois iniciava-se a prisão dos envolvidos na
região das Gerais e uma grande devassa para apurar os delitos.
Num primeiro momento os inconfidentes negaram a existência de um movimento contrário a metrópole, porém a
partir de novembro vários participantes presos passaram a confessar a existência da conspiração, descrevendo
minuciosamente as reuniões, os planos e os nomes dos participantes, encabeçada pelo alferes Tiradentes.

Tiradentes sempre negou a existência de um movimento de conspiração, porém, após vários depoimentos que o
incriminava, na Quarta audiência, no início de 1790, admitiu não só a existência do movimento, como sua posição
de líder .
A devassa promoveu a acusação de 34 pessoas, que tiveram suas sentenças definidas em 19 de abril de 1792, com
onze dos acusados condenados a morte: Tiradentes, Francisco de Paula Freire de Andrade, José Álvares Maciel,
Luís Vaz de Toledo Piza, Alvarenga Peixoto, Salvador do Amaral Gurgel, Domingos Barbosa, Francisco Oliveira
Lopes, José Resende da Costa (pai), José Resende da Costa (filho) e Domingos de Abreu Vieira.
Desses, apenas Tiradentes foi executado, os demais tiveram a pena comutada para degredo perpétuo por D. Maria
I. O Alferes foi executado em 21 de abril de 1792 no Rio de Janeiro, esquartejado, sendo as partes de seu corpo
foram expostas em Minas como advertência a novas tentativas de rebelião.

Mineração no Brasil colonial


INTRODUÇÃO
Desde o final do século XVI na capitânia de São Vicente, o Brasil já tinha conhecido uma escassa exploração
mineral do chamado ouro de lavagem, que em razão da baixa rentabilidade, foi rapidamente abandonada.
Somente no século XVIII é que a mineração realmente passou a dominar o cenário brasileiro, intensificando a vida
urbana da colônia, além de ter promovido uma sociedade menos aristocrática em relação ao período anterior,
representado pelo ruralismo açucareiro.

o mapa foi tirado do livro Nova História Crítica do Brasil de Mário Schmidt da editora Nova Geração

A mineração, marcada pela extração de ouro e diamantes nas regiões de Goiás, Mato Grosso e principalmente
Minas Gerais, atingiu o apogeu entre os anos de 1750 e 1770, justamente no período em que a Inglaterra se
industrializava e se consolidava como uma potência hegemônica, exercendo uma influência econômica cada vez
maior sobre Portugal.

CONTEXTO EUROPEU: INGLATERRA/PORTUGAL


Em contrapartida ao desenvolvimento econômico da Inglaterra, Portugal enfrentava enormes dificuldades
econômicas e financeiras com a perda de seus domínios no Oriente e na África, após 60 anos de domínio espanhol
durante a União Ibérica (1580-1640).
Dos vários tratados que comprovam a crescente dependência portuguesa em relação à Inglaterra, destaca-se o
Tratado de Methuem (Panos e Vinhos) em 1703, pelo qual Portugal é obrigado a adquirir os tecidos da Inglaterra e
essa, os vinhos portugueses. Para Portugal, esse acordo liquidou com as manufaturas e agravou o acentuado déficit
na balança comercial, onde o valor das importações (tecidos ingleses) irá superar o das exportações (vinhos). É
importante notar que o Tratado de Methuem ocorreu alguns anos depois da descoberta das primeiras grandes
jazidas de ouro em Minas Gerais, e que bem antes de sua assinatura as importações inglesas já arruinavam as
manufaturas portuguesas. O tratado, deve ser considerado assim, bem mais um ponto de chegada do que de
começo, em relação ao domínio econômico inglês sobre Portugal.

A RIGIDEZ FISCAL
Nesse mesmo período, em que na América espanhola o esgotamento das minas irá provocar uma forte elevação no
preço dos produtos, o Brasil assistia a passagem da economia açucareira para mineradora, que ao contrário da
agricultura e de outras atividades, como a pecuária, foi submetida a uma rigorosa disciplina e fiscalização por parte
da metrópole.
Já por ocasião do escasso e pobre ouro de lavagem achado desde o século XVI em São Vicente, tinha-se
promulgado um longo regulamento estabelecendo-se a livre exploração, embora submetida a uma rígida
fiscalização, onde a coroa reservava-se no direito ao quinto, a quinta parte de todo ouro extraído. Com as
descobertas feitas em Minas Gerais na região de Vila Rica, a antiga lei é substituída pelo Regimento dos
Superintendentes, Guardas-mores e Oficiais Deputados para as Minas de Ouro, datada de 1702. Esse regimento se
manteria até o término do período colonial, apenas com algumas modificações.

Ouro Preto, antiga Vila Rica

O sistema estabelecido era o seguinte: para fiscalizar dirigir e cobrar o quinto nas áreas de mineração criava-se a
Intendência de Minas, sob a direção de um superintendente em cada capitania em que se descobrisse ouro,
subordinado diretamente ao poder metropolitano. O descobrimento das jazidas era obrigatoriamente comunicado
ao superintendente da capitania que requisitava os funcionários (guarda-mores) para que fosse feita a demarcação
das datas, lotes que seriam posteriormente distribuídos entre os mineradores presentes. O minerador que havia
descoberto a jazida tinha o direito de escolher as duas primeiras datas, enquanto que o guarda-mor escolhia uma
outra para a Fazenda Real, que depois a vendia em leilão. A distribuição dos lotes era proporcional ao número de
escravos que o minerador possuísse. Aqueles que tivessem mais de 12 escravos recebiam uma "data inteira", que
correspondia a cerca de 3 mil metros quadrados. Já os que tinham menos de doze escravos recebiam apenas uma
pequena parte de uma data. Os demais lotes eram sorteados entre os interessados que deviam dar início à
exploração no prazo de quarenta dias, sob pena de perder a posse da terra. A venda de uma data era somente
autorizada, na hipótese devidamente comprovada da perda de todos os escravos. Neste caso o minerador só podia
receber uma nova data quando obtivesse outros trabalhadores. A reincidência porém, resultaria na perda definitiva
do direito de receber outro terreno.
A cobrança do quinto sempre foi vista pelos mineradores como um abuso fiscal, o que resultava em freqüentes
tentativas de sonegação, fazendo com que a metrópole criasse novas formas de cobrança.
A partir de 1690 são criadas as Casas de Fundição, estabelecimentos controlados pela Fazenda Real, que recebiam
todo ouro extraído, transformando-o em barras timbradas e devidamente quintadas, para somente depois, devolve-
las ao proprietário. A tentativa de utilizar o ouro sob outra forma -- em pó, em pepitas ou em barras não marcadas
-- era rigorosamente punida, com penas que iam do confisco dos bens do infrator, até seu degredo perpétuo para as
colônias portuguesas na África. Como o ouro era facilmente escondido graças ao seu alto valor em pequenos
volumes, criou-se a finta, um pagamento anual fixo de 30 arrobas, cerca de 450 quilos de ouro que o quinto deveria
necessariamente atingir, sob pena de ser decretada a derrama, isto é, o confisco dos bens do devedor para que a
soma de 100 arrobas fosse completada. Posteriormente ainda foi criada a taxa de capitação , um imposto fixo,
cobrado por cada escravo que o minerador possuísse.
Para o historiador Caio Prado Júnior, "cada vez que se decretava uma derrama, a capitania, atingida entrava em
polvorosa. A força armada se mobilizava, a população vivia sobre o terror; casas particulares eram violadas a
qualquer hora do dia ou da noite, as prisões se multiplicavam. Isto durava não raro muitos meses, durante os quais
desaparecia toda e qualquer garantia pessoal. Todo mundo estava sujeito a perder de uma hora para outra seus
bens, sua liberdade, quando não sua vida. Aliás as derramas tomavam caráter de violência tão grande e subversão
tão grave da ordem, que somente nos dias áureos da mineração se lançou mão deles. Quando começa a decadência,
eles se tornam cada vez mais espaçados, embora nunca mais depois de 1762 o quinto atingisse as 100 arrobas
fixadas. Da última vez que se projetou uma derrama (em 1788), ela teve de ser suspensa à última hora, pois
chegaram ao conhecimento das autoridades notícias positivas de um levante geral em Minas Gerais, marcado para
o momento em que fosse iniciada a cobrança (conspiração de Tiradentes)."

A EXPLORAÇÃO DAS JAZIDAS


Havia duas formas de extração aurífera: a lavra e a faiscação.
As lavras eram empresas que, dispondo de ferramentas especializadas, executavam a extração aurífera em grandes
jazidas, utilizando mão-de-obra de escravos africanos. O trabalho livre era insignificante e o índio não era
empregado. A lavra foi o tipo de extração mais freqüente na fase áurea da mineração, quando ainda existia recurso
e produção abundantes, o que tornou possível grandes empreendimentos e obras na região.

extração aurífera

A faiscação era a pequena extração representada pelo trabalho do próprio garimpeiro, um homem livre de poucos
recursos que excepcionalmente poderia contar com alguns ajudantes. No mundo do garimpo o faiscador é
considerado um nômade, reunindo-se às vezes em grande número, num local franqueado a todos. Poderiam ainda
ser escravos que, se encontrassem uma quantidade muito significativa de ouro, ganhariam a alforria. Também
conhecida como faisqueira, tal atividade se realizava principalmente em regiões ribeirinhas. De uma maneira ou de
outra, a faiscação sempre existiu na mineração aurífera da colônia tornando-se mais intensa com a própria das
minas, surgindo então o faiscador que aproveita as áreas empobrecidas e abandonadas. Este cenário torna-se mais
comum pelos fins do século XVIII, quando a mineração entra num processo de franca decadência.

A EXTRAÇÃO DE DIAMANTES
A extração mineral não se restringiu apenas ao ouro. O século XVIII também conheceu o diamante, no vale do rio
Jequitinhonha, sendo que durante muito tempo, os mineradores que só viam a riqueza no ouro, ignoraram o valor
desta pedra preciosa, utilizada inclusive como ficha para jogo.
Somente após três décadas que o governador das Gerais, D. Lourenço de Almeida, enviou algumas pedras para
serem analisadas em Portugal, que imediatamente aprovou a criação do primeiro Regimento para os Diamantes,
que estabeleceu como forma de cobrar o quinto, o sistema de capitação sobre mineradores que viessem a trabalhar
naquela região.
O principal centro de extração da valiosa pedra, foi o Arraial do Tijuco, hoje Diamantina em Minas Gerais, que em
razão da importância, foi elevado à categoria de Distrito Diamantino, com fronteiras delimitadas e um intendente
independente do governador da capitânia, subalterno apenas à coroa portuguesa.
A partir de 1734, visando um maior controle sobre a região diamantina, foi estabelecido um sistema de
exclusividade na exploração de diamantes para um único contratador. O primeiro deles em 1740, foi o milionário
João Fernandes de Oliveira, que se apaixonou pela escrava Chica da Silva, tornando-a uma nobre senhora do
Arraial do Tijuco.
Devido ao intenso contrabando e sonegação, como também ao elevado valor do produto, a metrópole decretou a
Extração Real em 1771, representando o monopólio estatal sobre o diamante, que vigorou até 1832.

DESDOBRAMENTOS: SOCIEDADE E CULTURA


O ciclo do ouro e do diamante foi responsável por profundas mudanças na vida colonial. Em cem anos a população
cresceu de 300 mil para, aproximadamente, 3 milhões de pessoas, incluindo aí, um deslocamento de 800 mil
portugueses para o Brasil. Paralelamente foi intensificado o comércio interno de escravos, chegando do Nordeste
cerca de 600 mil negros. Tais deslocamentos representam a transferência do eixo social e econômico do litoral para
o interior da colônia, o que acarretou na própria mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, cidade de
mais fácil acesso à região mineradora. A vida urbana mais intensa viabilizou também, melhores oportunidades no
mercado interno e uma sociedade mais flexível, principalmente se contrastada com o imobilismo da sociedade
açucareira.
Embora mantivesse a base escravista, a sociedade mineradora diferenciava-se da açucareira, por seu
comportamento urbano, menos aristocrático e intelectualmente mais evoluído. Era comum no século XVIII, ser
grande minerador e latifundiário ao mesmo tempo. Portanto, a camada socialmente dominante era mais
heterogênea, representada pelos grandes proprietários de escravos, grandes comerciantes e burocratas. A novidade
foi o surgimento de um grupo intermediário formado por pequenos comerciantes, intelectuais, artesãos e artistas
que viviam nas cidades.
O segmento abaixo era formado por homens livres pobres (brancos, mestiços e negros libertos), que eram
faiscadores, aventureiros e biscateiros, enquanto que a base social permanecia formada por escravos que em
meados do século XVIII, representavam 70% da população mineira.
Para o cotidiano de trabalho dos escravos, a mineração foi um retrocesso, pois apesar de alguns terem conseguido a
liberdade, a grande maioria passou a viver em condições bem piores do que no período anterior, escavando em
verdadeiros buracos onde até a respiração era dificultada. Trabalhavam também na água ou atolados no barro no
interior das minas. Essas condições desumanas resultam na organização de novos quilombos, como do rio das
Mortes, em Minas Gerais, e o de Carlota, no Mato Grosso. Com o crescimento do número de pequenos e médios
proprietários a mineração gerou uma menor concentração de renda, ocorrendo inicialmente um processo
inflacionário, seguido pelo desenvolvimento de uma sólida agricultura de subsistência, que juntamente com a
pecuária, consolidam-se como atividades subsidiárias e periféricas.
A acentuação da vida urbana trouxe também mudanças culturais e intelectuais, destacando-se a chamada escola
mineira, que se transformou no principal centro do Arcadismo no Brasil. São expoentes as obras esculturais e
arquitetônicas de Antônio Francisco Lisboa, o "Aleijadinho", em Minas Gerais e do Mestre Valentim, no Rio de
Janeiro.

escultura de Aleijadinho em Sabará (Igreja Nossa Senhora do Carmo)

Na música destaca-se o estilo sacro barroco do mineiro José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita, além da música
popular representada pela modinha e pela cantiga de ninar de origem lusitana e pelo lundu de origem africana.

A DECADÊNCIA DO PERÍODO
Na segunda metade do século XVIII, a mineração entra em decadência com a paralisação das descobertas. Por
serem de aluvião o ouro e diamantes descobertos eram facilmente extraídos, o que levou a uma exploração
constante, fazendo com que as jazidas se esgotassem rapidamente. Esse esgotamento deve-se fundamentalmente ao
desconhecimento técnico dos mineradores, já que enquanto a extração foi feita apenas nos veios (leitos dos rios),
nos tabuleiros (margens) e nas grupiaras (encostas mais profundas) a técnica, apesar de rudimentar, foi suficiente
para o sucesso do empreendimento. Numa quarta etapa porém, quando a extração atinge as rochas matrizes,
formadas por um minério extremamente duro (quartzo itabirito), as escavações não conseguem prosseguir,
iniciando o declínio da economia mineradora. Como as outras atividades eram subsidiárias ao ouro e ao diamante,
toda economia colonial entrou em declínio. Sendo assim, a primeira metade do século XIX será representada pelo
Renascimento Agrícola, fase economicamente transitória, marcada pela diversificação rural (algodão, açúcar,
tabaco, cacau e café), que se estenderá até a consolidação da monocultura cafeeira, iniciada por volta de 1870 no
Vale do Paraíba.
moedas portuguesas do século XVIII cunhadas com ouro do Brasil

A suposta riqueza gerada pela mineração não permaneceu no Brasil e nem foi para Portugal. A dependência lusa
em relação ao capitalismo inglês era antiga, e nesse sentido, grande parte das dívidas portuguesas, acabaram sendo
pagas com ouro brasileiro, o que viabilizou ainda mais, uma grande acumulação de capital na Inglaterra,
indispensável para o seu pioneirismo na Revolução Industrial.

Conjuração Baiana
INTRODUÇÃO

Em agosto de 1798 começam a aparecer nas portas de igrejas e casas da Bahia, panfletos que pregavam um levante
geral e a instalação de um governo democrático, livre e independente do poder metropolitano. Os mesmos ideais de
república, liberdade e igualdade que estiveram presentes na Inconfidência Mineira, agitavam agora a Bahia.
As inflamadas discussões na "Academia dos Renascidos" resultarão na Conjuração Baiana em 1789. Esse
movimento, também chamado de Revolta dos Alfaiates foi uma conspiração de caráter emancipacionista,
articulada por pequenos comerciantes e artesãos, destacando-se os alfaiates, além de soldados, religiosos,
intelectuais, e setores populares.
Se a singularidade da Inconfidência de Tiradentes está em seu sentido pioneiro, já que apesar de todos seus limites,
foi o primeiro movimento social de caráter republicano em nossa história, a Conjuração Baiana, mais ampla em sua
composição social, apresenta o componente popular que irá direciona-la para uma proposta também mais ampla,
incluindo a abolição da escravatura. Eis aí a singularidade da Conjuração Baiana, que também é pioneira, por
apresentar pela primeira vez em nossa história elementos das camadas populares articulados para conquista de uma
república abolicionista.

ANTECEDENTES

A segunda metade do século XVIII é marcada por profundas transformações na história, que assinalam a crise do
Antigo Regime europeu e de seu desdobramento na América, o Antigo Sistema Colonial.
No Brasil, os princípios iluministas e a independência dos Estados Unidos, já tinham influenciado a Inconfidência
Mineira em 1789. Os ideais de liberdade e igualdade se contrastavam com a precária condição de vida do povo,
sendo que, a elevada carga tributária e a escassez de alimentos, tornavam ainda mais grave o quadro sócio-
econômico do Brasil. Este contexto será responsável por uma série de motins e ações extremadas dos setores mais
pobres da população baiana, que em 1797 promoveu vários saques em estabelecimentos comerciais portugueses de
Salvador.
Nessa conjuntura de crise, foi fundada em Salvador a "Academia dos Renascidos", uma associação literária que
discutia os ideais do iluminismo e os problemas sociais que afetavam a população. Essa associação tinha sido
criada pela loja maçônica "Cavaleiros da Luz", da qual participavam nomes ilustres da região, como o doutor
Cipriano Barata e o professor Francisco Muniz Barreto, entre outros.
A conspiração para o movimento, surgiu com as discussões promovidas pela Academia dos Renascidos e contou
com a participação de pequenos comerciantes, soldados, artesãos, alfaiates, negros libertos e mulatos,
caracterizando-se assim, como um dos primeiros movimentos populares da História do Brasil.
A participação popular e o objetivo de emancipar a colônia e abolir a escravidão, marcam uma diferença qualitativa
desse movimento em relação à Inconfidência Mineira, que marcada por uma composição social mais elitista, não se
posicionou formalmente em relação ao escravismo.

A CONJURAÇÃO

Entre as lideranças do movimento, destacaram-se os alfaiates João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos
Santos Lira (este com apenas 18 anos de idade), além dos soldados Lucas Dantas e Luiz Gonzaga das Virgens,
todos mulatos. Um outro destaque desse movimento foi a participação de mulheres negras, como as forras Ana
Romana e Domingas Maria do Nascimento.
As ruas de Salvador foram tomadas pelos revolucionários Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas que iniciaram
a panfletagem como forma de obter mais apoio popular e incitar à rebelião. Os panfletos difundiam pequenos
textos e palavras de ordem, com base naquilo que as autoridades coloniais chamavam de "abomináveis princípios
franceses".
A Revolta dos Alfaiates foi fortemente influenciada pela fase popular da Revolução Francesa, quando os jacobinos
liderados por Robespierre conseguiram, apesar da ditadura política, importantes avanços sociais em benefício das
camadas populares, como o sufrágio universal, ensino gratuito e abolição da escravidão nas colônias francesas.
Essas conquistas, principalmente essa última influenciaram outros movimentos de independência na América
Latina, destacando-se a luta por uma República abolicionista no Haiti e em São Domingos, acompanhada de
liberdade no comércio, do fim dos privilégios políticos e sociais, da punição aos membros do clero contrários à
liberdade e do aumento do soldo dos militares.
A violenta repressão metropolitana conseguiu deter o movimento, que apenas iniciava-se, detendo e torturando os
primeiros suspeitos. Governava a Bahia nessa época (1788-1801) D. Fernando José de Portugal e Castro, que
encarregou o coronel Alexandre Teotônio de Souza de surpreender os revoltosos. Com as delações, os principais
líderes foram presos e o movimento, que não chegou a se concretizar, foi totalmente desarticulado.
Após o processo de julgamento, os mais pobres como Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do
Nascimento e os mulatos Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas foram condenados à morte por enforcamento,
sendo executados no Largo da Piedade a 8 de novembro de 1799. Outros, como Cipriano Barata, o tenente
Hernógenes dâ?TAguilar e o professor Francisco Moniz foram absolvidos. Os pobres Inácio da Silva Pimentel,
Romão Pinheiro, José Félix, Inácio Pires, Manuel José e Luiz de França Pires, foram acusados de envolvimento
"grave", recebendo pena de prisão perpétua ou degredo na África. Já os elementos pertencentes à loja maçônica
"Cavaleiros da Luz" foram absolvidos deixando clara que a pena pela condenação, correspondia à condição sócio-
econômica e à origem racial dos condenados. A extrema dureza na condenação aos mais pobres, que eram negros e
mulatos, é atribuída ao temor de que se repetissem no Brasil as rebeliões de negros e mulatos que, na mesma
época, atingiam as Antilhas.

A Corte Portuguesa no Brasil


A vinda da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro (1808-1821)

Por Anibal de Almeida Fernandes, Março, 2002.

A Europa está devastada pelo furacão Napoleão que mexeu em todos os tronos europeus e, no fim de 1807, está
chegando em Portugal.
É a madrugada de 27/11/1807 e a corte, desesperada, se atropela com pressa e desordem no cais de Belém para
embarcar, filhas sem pais, mulheres sem marido, pessoas da alta nobreza se acham a bordo sem roupa e com pouco
ou nenhum dinheiro. Dom João, e Dom Pedro Carlos, infante de Espanha, tomam a galeota Príncipe Real, Dona
Carlota, as infantas e o infante Dom Miguel, embarcam na fragata Rainha de Portugal; Dom Pedro, príncipe do
Brasil, espera a avó, a rainha, Dona Maria 1a, a Louca, que aos urros entremeados de lamúrias e exclamações de Ai
Jesus !, Ai Jesus !, se recusa a embarcar pois quer ficar com o povo e resistir e, ambos, embarcam. Trazem metade
do tesouro português, algo em torno de 80 milhões de cruzados, a outra metade já fora quase toda gasta para
comprar a neutralidade com a França de Napoleão, sequiosa dos tronos europeus, e o que resta em Lisboa, cerca de
10 milhões de cruzados, não dava para mover o reino e pagar as dívidas.
A esquadra composta de 8 naus, 3 fragatas, 2 brigues, 1 escuna de guerra, 1 charrua de mantimentos e mais 20
navios mercantes da marinha portuguesa foi pequena para acomodar as 15.000 pessoas que fogem.
A frota chegou a ser avistada por Junot quando chegou a Lisboa e, daí, vem o dito ficou a ver navios. Muitos
nobres que não quiseram fugir, ainda abalados com o Massacre dos Távoras na época do Marquês de Pombal,
aderem ao inimigo e se apressam a lhe fazer rapapés convidando-o para recepções.

Portugal, já vinha desde a época pós descobrimentos, a perder sua importância econômica e política no contexto
mundial, que fora imensa, pois a tenacidade, competência técnica, empresarial e logística que demonstrara, fizera o
comércio tornar-se mundial e os lucros e a riqueza foram formidáveis para o país. Dois fatos causam um enorme
prejuízo às finanças do reino: a Restauração dos Braganças, após o domínio espanhol de 1580 a 1640, custou muito
caro, pois o auxilio inglês significou o casamento da filha de D. João 4o com o rei Carlos 2o da Inglaterra em 1661
e, para isso, houve o dote de 2 milhões de cruzados e a entrega da região de Tanger e Bombaim. A alegada
expulsão dos holandeses de Pernambuco, em 1654, que fora o ponto mais rico do mundo colonial português com
sua exportação de açúcar atingindo 700 mil arrobas, fez com que, entre 1661 (Tratado de paz de Haia) e 1730,
Portugal tivesse que pagar à Holanda, 4 milhões de cruzados de indenização, além de entregar o Ceilão e as ilhas
Molucas para a Holanda.
Por conta dessa desastrada política de entrega de patrimônio e perda de renda, em 1800 Portugal já está sem força
pois acabara o dinheiro que vinha do Brasil, cujo apogeu foi entre 1750 e 1760, quando se estima que veio uma
fortuna, de 2,5 milhões de toneladas de ouro e 1,5 milhões de quilates de diamantes, que ajudou a reconstruir
Lisboa destruída pelo terremoto ao tempo de D. José 1o e do Marquês de Pombal cuja energia, dinamismo e
autoridade tiraram Portugal da letargia em que estava desde a época pós descobrimento. Portugal era um país em
processo de alienação como metrópole autônoma pois começou dando ao inglês condições de igualdade com o
português, avançou a ponto de sacrificar nossa indústria em prol da britânica e acabou por concordar em eliminar a
lavoura brasileira para favorecer a agricultura das colônias inglesas das Antilhas.
A corte desembarca a 7/3/1808, todos imundos, fedidos, com pulgas e piolhos, no Rio de Janeiro cuja população
total era de 60.000 almas, das quais 40.000 escravos negros. A chegada à baía é assim descrita por um viajante da
época:
Não existe viajante algum que, tendo visto o Rio, não fale com admiração do magnífico espetáculo proporcionado
pela baía da cidade. Esta baía é ainda mais vasta que a baía de Constantinopla, pois tem 5 léguas de extensão por
¾ de milha de largura, é defendida por rochas graníticas de efeito grandioso e poderia acolher todas as frotas do
mundo sem amontoamento.
Quando se entra na baía, após o sofrimento da longa travessia, fica-se comovido com o esplendor do panorama:
Porém, que decepção se sente, oh meu Deus, quando se sai do ancoradouro ? ! Os perfumes que vem da baía são
infecto!! A explicação é simples, a água das casas era transportada pelos escravos de várias fontes em barris
semelhantes aos que, no fim da tarde, carregavam os detritos pois as casas não tem fossa séptica já que o lençol
freático, por causa do solo pantanoso, está muito próximo da superfície e todos os detritos domésticos são postos
em barris que os escravos põem sobre a cabeça e vem, em procissão, para o mar onde os jogam, dá para imaginar
o mau cheiro com o terrível calor do lugar, esses negros são como o símbolo da cidade. E o ponto onde jogam é
próximo ao palácio e quem estiver na janela, não pode deixar de ver os horrorosos barris que vão e vem na água
da baía ao cair da tarde e cujo odor se faz sentir até o fundo dos quartos. O Hotel Pharoux, que hospeda os
estrangeiros, fica inabitável conforme a direção do vento. Mais tarde, uma viajante francesa diz que as margens
da baía não passam de um vaso sanitário infecto e as praias que pareciam tão belas do navio, eram o receptáculo
das imundícies de toda a cidade !!!!
A cidade andava extasiada com as notícias de que estava próximo o dia do rei, em pessoa, estar na exuberante
capital tropical, e o vice-rei e capitão geral do Brasil, Dom Marcos de Noronha e Brito, apoiado pelos grandes da
terra, preparava a recepção e a instalação da corte, dando exemplo ao despejar-se, a si próprio, do palacete em que
vivia para cedê-lo aos ilustres migrantes sem teto. Só do reino são 15.000 pessoas, da Inglaterra e França fortes
comerciantes, da Itália vários artistas, da Áustria sábios naturalistas e da costa da África pretos de várias
compleições. Na realidade, não resta opção para os moradores, pois uma das primeiras leis baixadas pelo regente,
Dom João, foi impedir que os fluminenses tivessem mais que uma propriedade, ordem extensiva às lojas e
armazém, determinando que a segunda propriedade fosse entregue aos migrantes necessitados vindos da mãe
pátria. Esta lei esteve em vigor até 1818.
Para se entender essa arbitrariedade há que se conhecer o poder do rei em uma Monarquia Absolutista onde o
Estado era apenas um aspecto da glória do rei e não havia separação nítida entre suas ações, desejos e vontades,
tanto no Estado como em sua vida particular, pois o rei é o senhor de tudo e reinava no país como dono da casa e
em casa como dono do país. A corte do antigo regime é entendida como uma imensa casa do rei e essa posse chega
a tudo, tanto é que a separação dos fundos econômicos da Casa de Bragança e os fundos do Estado só serão
separados com a criação de um Erário Público no 1o Reinado, com D. Pedro 1o Imperador (1822-1831).

A corte endividada e atônita com a novidade dos trópicos encontrou na colônia um tecido social que é assim
qualificado:
Já existia na colônia uma aristocracia de poder econômico e privilégio social composta de senhores de engenho,
criadores de gado e fazendeiros produtores de víveres e mercadorias, os quais agrupados em clãs impenetráveis
controlavam as áreas situadas em torno das principais cidades litorâneas sendo que a aristocracia nordestina era
simpática a Portugal e a do sul era resistente ao poder real, (Alan Manchester).

D. João 6o, (13/5/1767-10/3/1827), 27o Rei de Portugal, Duque de Bragança, Barcelos e Guimarães, Marquês de
Viçosa, Conde de Arraiolos, é baixo, gordo, bonachão, comilão, sossegado, carola e só foi rei porque os dois
irmãos mais velhos morreram e a mãe ficou louca !!! porém, apesar de uma aparente fraqueza, representa a visão
do futuro e da adaptabilidade à nova ordem, pós revolução francesa, é ele a querer vir para o novo mundo, é ele a
querer ficar, e a fazer o Brasil, Colônia e Vice Reino de 1500 a 1808, virar Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarves (1808-1822), é ele em Janeiro de 1808 a abrir os portos brasileiros num ato que é considerado o início da
nossa emancipação econômica, é ele em Abril de 1808 a dar o Alvará de Liberdade Industrial que permite a
abertura da tecelagem, da manufatura de metais e alimentos porém a alegria dura pouco e os ingleses forçam-no a
taxar a mercadoria brasileira em 16%, enquanto que a inglesa tem apenas taxa de 15%, o que faz fracassar a
indústria brasileira, é ele que em 1808 funda o Banco do Brasil para regular a moeda, porém o desmando é de tal
ordem, se emite tanto dinheiro que o lastro de ouro é superado, o dinheiro perde o valor e a respeitabilidade e o
Banco fecha as portas em 1828 insolvente, é ele a quem o Brasil deve o grande esplendor econômico do café no
Império pois entrega com as próprias mãos aos vassalos, mais chegados à corte, as mudas de café que manda trazer
da Africa. É ele, finalmente, a ter a perspicácia de fazer o filho ficar, cá no Brasil, quando urge voltar a Portugal
para acalmar os ânimos dos reinóis indignados com a ausência do rei, é ele, injustiçado pela história oficial que não
lhe dá a unanimidade ao julgar como sua, a decisão de vir para o Brasil como estrategista competente que era é ele,
sem dúvida, a grande figura da Casa de Bragança e a quem o Brasil deve sua existência como Nação.
Carlota Joaquina, (25/4/1777-7/1/1830), filha de Carlos 4o de Espanha e de Maria Luisa, a fogosa rainha que
brigou com a Duquesa de Alba por ciúmes de Goia o grande pintor dos reis de Espanha, era bisneta de Luís XV,
tetraneta de Luís XIV, ambos reis de França, era baixa, feia, disforme, com barba e bigode, e sonhava com a
grandeza da Espanha e detestava o Brasil não vendo a hora de voltar para a Europa, não houve na corte no exílio,
quem mais se deu a intrigas, e das mais ambiciosas, inclusive para submeter o reino aos domínios espanhóis.
D. João e Carlota Joaquina, tiveram 9 filhos, entre eles: 1 Imperador, 1 Rei e 2 Rainhas:
Maria Teresa, princesa da Beira; Antonio, morto jovem; Maria Isabel, mulher de Fernando 7o (1784-1833) rei de
Espanha; Pedro, 1o Imperador do Brasil, e rei de Portugal como Pedro IV; Maria Francisca, mulher de Carlos 5o
(1788-1855) rei de Espanha; Isabel Maria, regente de Portugal (1826-1828); Miguel, que pelo casamento com a
filha de D. Pedro 1o, sua sobrinha, torna-se rei de Portugal; Maria, morta solteira e Ana, duquesa de Loulé.
A apologia do poder enfatizava as propriedades inatas do soberano com seu caráter paternal para com seu povo e
sua procedência divina e sua capacidade divina de conceder graças. Porém a nobreza migrada, composta da mais
alta nobreza de sangue e espada como os Caparicas, Lavradios, Pombais, Belas, Redondos e a nobreza de toga,
mais recente e influente nos cargos da administração do reino, como os Anadia, Vagos, Angeja, Belmonte ou
Cadaval, empenhou-se como pode para alargar as distâncias que as separavam das elites nativas criando uma
tensão sócio cultural que marca a estada da corte no Brasil.
Os anos de 1817 e 1818 foram os mais faustosos da permanência da corte no Brasil. Em particular o período entre
a chegada da princesa Leopoldina, filha do imperador da Austria-Hungria, a 5/11/1817, para o casamento com D.
Pedro, Duque de Bragança e Príncipe do Brasil e o aniversário e coroação e aclamação de D. João, a 13/5/1818,
como monarca de uma tradicional Casa Real européia, foram inúmeras festas com desfiles e arcos triunfais pelas
ruas da cidade que deslumbraram, pelo luxo, fausto e riqueza, a população da cidade.
Os sentimentos de vassalagem dos fluminenses se exprimem pelos muitos e gordos donativos feitos para sustentar
o dia a dia da corte que era de manutenção caríssima e contínua pois, só em aves para a alimentação gastava-se 75
contos de réis por mês, e, praticamente, o rei não tinha nenhuma outra renda além da concessão das mercês,
franqueadas aos vassalos, como já era praxe em Portugal desde D. João 5o, 24o rei de Portugal, (1706-1750), e que
era o principal capital econômico de que dispunha a monarquia. Em 1800 conseguia-se em Portugal, o Foro de
Fidalgo por 25.000 cruzados e o Hábito de Cristo por 5.000 cruzados. Portugal foi diferente das demais nobrezas
territoriais européias por não fundar o seu estado, e o seu poder, exclusiva ou maioritariamente, nos senhorios da
terra, lá havia uma categoria de nobre genuinamente lusitano, o fidalgo mercador. A partir do Marquês de Pombal,
no século XVIII, se consolida em Portugal a importância da burguesia na sociedade portuguesa que participa da
máquina administrativa e luta pelo ideal da nobilitação ficando cada vez mais rica, enquanto que a nobreza decaía e
se endividava cada vez mais.

D. João com a Rainha, Dona Maria 1a, se instalam na Quinta da Boa Vista que recebe em doação de Elias Antonio
Lopes, a quem confidenciou maravilhado Eis aqui huma varanda Real, Eu não tinha em Portugal cousa assim.
Porém, a casa não convence como residência real a John Luccock que a considera: acanhada e pretensiosa, mal
construída e pessimamente mobiliada. Carlota Joaquina fica na antiga sede do vice-reino, no centro da cidade, que
era absolutamente desprezível como habitação real, com 63,98 m. por 23,76 m. de área porém é: um casarão sem
nenhum mérito arquitetônico.
A Quinta avaliada em 400 cruzados rendeu a Elias a Comenda da Ordem de Cristo e o titulo de Cavaleiro da Casa
Real, Elias ao morrer, em 1815, deixou uma fortuna de 235.908$701 e, ainda mais, 110 escravos avaliados em 9
contos de réis.
Manuel José da Costa Filgueiras Gayo informa no Nobiliário de famílias de Portugal, que o foro de Cavaleiro ou
Escudeiro era sinal de nobreza de sangue, principalmente, quando esse título já era usado antes da reforma de D.
Sebastião em 1572 reforma, esta, que simplificou, e facilitou, as exigências para qualificar os novos titulares já
inseridos na nova dinâmica social que começa a imperar entre a nobreza de Portugal a partir do século XVII.
Temos outros ricos fluminenses, que tinham preponderância sobre os outros setores econômicos existentes na
colônia, como os comerciantes reinóis e a aristocracia agrária nativa, e foram esses comerciantes de grosso trato
fluminenses, que ajudaram a manter o passadio da corte e foram agraciados com Comendas e Títulos: Manoel
Caetano Pinto cuja fortuna, em 1839, era de 280 contos de réis. José Inácio Vaz Vieira, Antonio Gomes Barroso,
Antonio José Ferreira, genro de Manoel Caetano Pinto, com fortuna de 300 contos de réis, e vários outros, entre
eles o mais influente, Brás Carneiro Leão, o maior dos negociantes de grosso trato do Rio de Janeiro que, já em
1802, fora agraciado com a Ordem de Cristo e era Cavaleiro da Casa Real e tinha carta de brasão para si e seus 6
filhos. Louis de Freycinet, comentando a vida social do Rio informa que ficou atônito com as mulheres da família
de Carneiro Leão as quais usam jóias de tal magnificência que apenas os diamantes são avaliados em 6 milhões de
francos.
Os ricos fluminenses levantavam-se às 9 horas, desjejum às 10, trabalhavam até às 3, fazem em seguida uma longa
sesta e, às 20, tomavam um chá com a família. Quando eram convidados para a casa de amigos iam às 19 e
voltavam às 23. Quando tinha baile voltavam às 2 ou 3 horas da madrugada.
O almoço/jantar começava com uma sopa de carne com legumes, seguida de frango com arroz e molho picante,
entre cada prato uma colherada de farinha de mandioca como se fosse o pão e, para refrescar o paladar, usavam
laranjas e saladas. Como sobremesa tinham o arroz doce, queijo de minas, holandês ou inglês, frutas variadas e,
para beber, porto ou madeira e o café. Somente os homens usam a faca, mulheres e crianças se servem com os
dedos e as escravas comem ao mesmo tempo, em pontos diversos da sala sendo que, por vezes, suas senhoras lhes
dão um bocado com as próprias mãos. Os estrangeiros sentiam repugnância pelo prato de carne seca de Minas com
feijão preto e farinha de mandioca, tudo isso cozido e amassado com os dedos que são lambidos no final.
A mulher vivia confinada, privada de liberdade, num contínuo isolamento, sempre fechada em casa e mesmo entre
a nobreza vigorava a norma da província, de que a mulher só três vezes saía de casa, para ser batizada, para casar,
para ser enterrada. As mulheres costumavam sentar-se em esteiras, de pernas cruzadas à maneira oriental, junto às
janelas rodeadas de escravas para servi-las. O ócio e a falta de exercícios rapidamente deformavam o corpo das
adolescentes que, aos 13 anos assumiam o papel de matronas e, aos 18 já atingiam a plena maturidade física. A
beleza feminina da época ia da moça do tipo quebradiço, quase doentio, à mulher gorda, mole, caseira, maternal, de
coxas e nádegas largas, com pezinhos deformados por sapatos apertados demais, de seda nas cores branca, azul,
celeste, rosa, que duram 2 dias pois as calçadas são péssimas, só em 1818 chega a moda dos sapatos envernizados
de couro que são caríssimos. A cintura de vespa era apertada pelo espartilho. Os cabelos eram longos e com todos
os formatos arquitetônicos possíveis e com nomes pitorescos: tapa missa e trepa moleque. Usavam chales de seda,
lã, pelo de camelo, renda, tricô, musselina bordada de ouro ou prata.
Os homens, sempre de barba e/ou bigode, se vestiam como ingleses e tinham como característica o fardamento das
diversas ordens, com guarda roupa composto de calças, calções, camisas, casacos, sobrecasacas, chambre de seda,
lenços e gravatas, meias de seda, chapéus, jaquetas e xales de lã, tudo sempre muito colorido.
A vida social é muito chata e as distrações pouco freqüentes pois quase não há reuniões sociais. Os jantares, bailes
ou reuniões em casa particular, são coisas quase inexistentes. O 1o teatro foi construído pelo governo e inaugurado
a 12/10/1813, com o nome de Teatro São João, continha 1.020 poltronas e 112 camarotes.

CONCLUSÃO

A configuração social da corte joanina no Brasil, é composta por muitos naturais do país que foram
honrados com as Insígnias das Ordens estabelecidas e receberam Títulos e Brasões de Armas, dados como
prêmio de relevantes serviços prestados ao rei. A Nação colheu o fruto, de tão benéfica providência real,
exterminando as ilusões democráticas e dirigindo, e submetendo, todas as classes sociais na dourada cadeia
da subordinação ao rei, sempre tendo em vista a pirâmide monárquica e, mantendo sob controle os
indivíduos em seus ofícios e no devido respeito à autoridade Real e, esta semente, irá frutificar com
tremenda intensidade no Império que se instala após a volta de D. João a Portugal, quando ocorre um furor
de nobilitação que espanta, até hoje, pela quantidade de títulos concedidos e cujos titulares darão o suporte
político financeiro ao regime Imperial até o fim.

A viúva de Carneiro Leão, Francisca Maciel da Costa, é feita Baronesa de São Salvador dos Campos de
Goitacazes, em 1823, e é a 1a brasileira/o a receber mercê de título nobiliárquico do Imperador. Seu filho,
Fernando Carneiro Leão, será Barão de Vila Nova de São José, em 1825, e uma de suas filhas, casa-se com o filho
do 1o Conde de Linhares, Rodrigo de Souza Coutinho, que é o exemplo típico da nova nobreza portuguesa pois
representa a nobilitação de mercadores de grosso trato sem nenhuma ascendência de linhagem de sangue.
A Baronesa de São Salvador dos Campos de Goitacazes dá inicio à nobreza brasileira que nos 67 anos de Império
se constituiu de 1.211 títulos assim discriminados:
Duques: 3, Marqueses: 47, Condes: 51, Viscondes: 235, Barões: 875
Estes títulos foram dados, prioritariamente, aos fazendeiros e, depois, aos ocupantes de cargos públicos, aos
comerciantes, aos negociantes e, por fim, aos intelectuais e aos capitalistas.
Os homens da colônia não tinham uma sociedade de corte por estarem longe do rei e, quando ficam frente a frente
com o rei e sua corte, ficam arrebatados, pois tudo se ofuscava ante o inédito da situação, ainda mais aos olhos
dos potentados fluminenses, atraídos pelo brilho da corte que se insere em seu cotidiano, e eles se submetem às
adversidades da vida palaciana pois os ricos do Rio de Janeiro querem tornar-se nobres, ter um título,
freqüentar o trono, por ser este o primeiro, e mais forte, valor da sociedade pré capitalista, e colocam as suas
bolsas à disposição do rei que as usa com sofreguidão.

A estada de D. João 6o no Rio, permitiu a reorganização política-jurídica do país e se estabeleceram os contatos,


mais ou menos amistosos, mais ou menos conflitantes, entre as 2 facções, a nobreza migrada e as elites da terra
constituída por negociantes de grosso trato, sendo que, os reinóis primavam por alargar e enfatizar as distâncias
honoríficas insuperáveis, pois era o que restara para essa gente saqueada, perseguida, exilada, humilhada, na
indigência financeira que, ao desembarcar, não tinha nada além da honra e da etiqueta como os únicos elementos
que lhes conferiam identidade como grupo e podiam qualificá-los no teatro da corte, e aos da terra nada mais
restava que ostentar o poderio econômico que, pensavam, poderia lhes comprar a distinção junto ao rei. Nesse
encontro, nada tranqüilo, nessa fusão conflituosa de interesses, orquestrada, sabiamente pelo rei, se definiram os
contornos da nascente classe dirigente brasileira, que promoveu a construção do Estado Imperial durante o século
XIX e, em algumas particularidades, permanecem como elementos construtivos da relação política social no
Estado Brasileiro, até hoje.

Bibliografia: A Corte no Exílio, Jurandir Malerba, 2000, pgs: várias páginas tem trechos citados; As Barbas do
Imperador, Lillian Schwarcz, 1996; O Brasil no Tempo de D. Pedro II, Frederic Mauro, 1991; Titulares do
Império, Carlos Rheingantz, 1960; 500 Anos de Brasil, Heródoto Barbeiro e Bruna Cantelle, 1999; História do
Brazil, Rocha Pombo, Benjamin de Aguila, Edição Ilustrada.

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