Tese LF Duarte - Redes Do Suor

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R E O E S o

A SzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O SUO R

Reprodução Social dos Trabalhadores


AzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
da

Produção de Pescado em Jurujuba

Luiz Fernando Dias Duarte

Dissertação de Mestrado apresent~

da ao Programa de Pós-Graduação

em Antropologia Social da Univer

sidade Federal do Rio de Janeiro

\..

Museu Nacional

1978
--

~,'.~
•.•a ndie F'rancioni de Abreu, Eliza.beth,moore macf<enzie,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS
ffi3uricio

Cardoso~ de ffiell0 e Silva-, Paulo de GÓ8S c Cerlos Henrique de Es-


cobar_, Pelas pr;-condições intelectu2.is deste tre.balho;

- a Robertb da Matte, Ot~vio, Velho e Luiz de Castro Faria, Pelo ia

centivo amigo e a contribuiçio acad~mica;zyxwvutsrqponmlkjihgfe

!- a Regina Re~s Novaes, Dennis Linhares Barsted e leila Barsted: ,


atentos comPanheiros destes anos de trabalho;

•• •••
- a Funda.çao Fo rd , pela generosidade- e isenç~d com qUe me garantiu

oindispens:vel apoio financeiroJ

- a Gilbertb Velho~ pela dedicaç;o e efici;ncia insuper~Veis com


qUe me orientou aO longo do curso de ffiestrado;

••• a ~y.giazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Sig.aud, Pela inspiração origin~ria de SU-a Tese de zyxwvutsrqpon
M estra

dOe Pela orientaç~o segura e vigilante deste trabalho;

~
a gento de Jurujuba, ~ tantoo amigo5 que o sigilo deVe aqui res-
. , I
guardar ••• enfim - mais qUe agradecer - dedico est~ 1mponderave
retribuili~o;pelo muito qUe me deram e ensinaram-

. - -----_.-------- - ._------ ..... __ .-


••• __ ~ - ._____ - - ---_._--.' __ •• '-0 _
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
\..

HEsumozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO

o a.ut:Dr manteve conta to, intermitente par. qtlCltIO anos e resi-

di.u por seis meses no ba.í.r r o de Jurujubo (r-Jiteroi = RJ), p rccu -'

ranrlo .élaboi~ar um modelo da reprodUção social dos trabalhadores

que ai se definem peia referência ~ a td v dade


í p rndtrtd.va da Res-

-ca-
fomou-se como fundamental "a questão dessa r ep r oduçáo o' re-

coxiie das identidades sociais, no caso, articuladas em tío r no da

legitimidade do modelo da .s..'2.m.r.!.ê.nh;§., pensado como original e a-

brangen:te das relações sociais comunit~rias e das relações de


, . _. l
\.. p ro duçe o i de a Ls na s E:.9!l0as dos .2...E!.~_S?cL(J~l:'e_~
...
E2B.ld.?np.:.s~.

Procurou-se perceber a articuiaç~o atual dessas idelltida""

des com um proc:e.sso. de muclll.DJt.aexpresso pelos agentsG e aciona ..•.

do- em torno db toma da emergência dast~a~'1~.i.r.a~ e dos E.~.êli2\c:lQ.-zyxw


I'
res ...El-J;:.2,.ê.J introdutorio portanto ao universo cio a s s a La r-Larnan t.o

nas grandes unida~es de produç~o e ~ q~est30 d~ 8cumulaç~o dife-

rehciaT.

A partir dessas refer~ncias e de uma reflexão sobre o pro-

cesso' da di fêrenciaç~c:i social ai instaurada ~ luz da teoria dos

modas de produvãol procedeu-se a uma 8.n~lise em s epe r a do do.e, PrQ

CEssas de reprodução social dos pequenos p.rcdu t.or e s e dos tral:J8-

lhadores assalariados, procurando iluminar os mecanismos ideol.ó,-,


,
gicos presidentes a essas tr8jetorias ôrticuladas na unidade e na
A

divergencia.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Balisaram ds-&eRvolviJ:!lento.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
da trabalh.o él preocupêçôO com o
IV

O'

de svenríamerrto das condi çõ.es de reprodu ção social dos diferente s

grupos d~ classe trabalhadora submetid~ ~ dominaç~o do moda d~

prodüção cap.í tali st'a e o Lntre r.e s se pelo papel. de deternlÍnad'os me-
,
\ eaní.sao.s Lde.o.LnqLccs na pro.dução e reprocktção das identidades so-

cd a s em geral .•
í

* * *
SOM U L AzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJ
Pág.zyxw
IN TR O D U çA o •.. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a • 11 ••• li 111 ••••• CI • " •••••• tJ li •• li li 11 li li • li • li li • li li li • li • li 11
i

I:
CAPiTULOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Pescadores e Pesca em Jurujuba

1. A Identidade de Pescadores •.... .....•.•...•.•.••••• 1


2. A Oiferenciação Social pelo Trabalho na Pesca .••••• 28

CAP!TULO lI: A Reprodução Social do Pequeno Produtor

1. A Identidade de Produtor .••.....•.••.••••••••.•••.. 55


81

bl A
O trabalho

sorte
e a
-arte

0 ••••••••• ., ••••
1 1 1 0 .0

0 •••••••••
•••••• 56
67 --
2. Os Campos da Batalha •••..•....••.........• ~ .......• 7S
a) P 9 Sc ar ia 8 c omp a n h a •••••••••••••••••••••••••••• 75
bl Irmandade e padrinho •.•.....•..•............... 98
3. Os Lim ites da Ilusão " 0 •••• 11' •• 11 •••••••• 11 •••• 107
Umetn pé e quatro .deitado ...............•......
a)

b)
----~~------~----~--------
A corrida do ouro .1 I •••••••• C (l ••••• I:I •• " II ••••••••
107
114
4. A "Armação" do Homem • ••••••••••••• :1.11 •• 00.0 ••••••• 0 120

CAPITULO III: A Reprodução Social da Trabalhador


Assalariado
1. As Trajetórias da Reprodução ••• D ••• O .O ••••••••••••• 137
a) o c~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
leu lodo suor .•...... a 111 ••• li • li •••• li ••• , • , ••• 137
b) A corda-bamba .................................• 153
2• o Processo de Trabalho nas Traineiras .........••... 183
a) A casa de cachorro 183
b) o rne quãn i s m~.,...,"~ .,C?.,.. _mar .....
,' . ',.~
.~_._
._~
__
'~_,.!_.'
_ __'_",."",,_',...' ~,,', .•. ,,'~._~,_tl __ s. ..,~ a", .. __ ".~
It ZOO
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU _li.

3. O Salário e os Direitos............................ 207


a) A partilha e o salário......................... 207
b) O embarque e os direitos........ ....••..•..•.•• 225
4. ·A Qualificação e a Diferenciação Interna........... 232
5. Os Companheiros e a Cooperação ..• o........ 242

CONCLUSÃO ••••• 11 •••••••••••••• " ••••••• ".11.0.0 •••••••••••••• 256

REfERENCIAS BIBLIOGRAfICAS ..••••.••.•. ;................... 269


i

,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Inumeros fios conduziram o meu trabalho de pesquis8 junto aOS
,
P~~L~ç-ªdoI'e§
de Jurujuoa nesses qUatro anos em que, para alem das

m~ltiplas redes, concretas e imateriais, entre as quais vivem, pu~

de vir montando essa "redell maior, mais explicativa, das condições

gerais de SUa reproduç~o .ir=-ª.-


social, mal'Cada pelo sinal qUe comozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ

balhadores
~~~~.:_~ . os qualificag
........",.
as "redesll do seU "suor!!.

Qualificar a construç~o desse conhecimento como um estudo an-


tropo16gico da reprodução social dos trabalhadores da produção de
pescado em Jurujuba expõe nesse sentido os níveis, de diverso estg
t~to cognitivo, com qUe se pode introduzir e interesse
aO sentidozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ
deste trabalho~ um estudo "antropo16gico", sobre a "reprodução so-
cial", de n"l.Tabalhadoresfí, na Ilproduç;:ode pescado" e em 1i2uruju-

bal1•
A proposta de um estudo "antropo16gicoll remete ~ incorporação
• A • f', ' .
da eXper~enc~a ~eor~Ca e metodologlca da Antropologia Social, en-
,
tendida como uma unidade inextricavel entre meios e fins do proce~
so de construç;o do conhecimento, ou seja, n;o apenas como um lan-
ç ar mão de "Lns t.rumento s''antropológicos, mas como um agir fundado

nas premissas mais amplas dessa ci~ncia, unicamente no interior

das quais t;m sentido aqueles instrumentos (cf. Bourdieu~ 1973, p.

51 e seg- - llLa Construction de l'Objetn).


, '.
Premissas qUe giram em torno da ideia bas~ca de "recusa aO e~
nocentrismol1, enquanto respeito fundamental aO lIoutroll social, ob•..

tido mediante
, .
a postura mo t.odoLo qâ ca do relativismo cultural, no

bojo de uma relação com o observado- E fundada sobretudo, essa re-


'-
cusa, na necessidade de incorporaç;O aO prOCesso de ~onstruç;o da
ii

ci~ncia social da mediação do c onhzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ


sc Lme rrt
n Pela "cab sç a " do ppsqui
.' , . •••
sa d ar, lato e, por suas proprlBS reprpsentaçoeS enquanto agente s~
cial (1).
,
O realce a est~ ponto ~ tanto mais fundamental neste trabalhozyxwv
N ,

quanto nao Se estara lidando com o tipo de sociedades em qUe Se


constituiu aquela tradiç~o antropol~gica, mas sim com um segmento

df" "sociedade complexa" ....


mais p,xatampnte um grupo de IItrabalhado-

tesll da mesma sociedade do obServador.


, .
Pois, Se no procedimento c 1aSS1CO a recusa ao etnocentrismo
começava Pela demonstração de qup eSSeS "outroszyxwvutsrqponmlkjihg
il
tão 6bvios como
Se afiguravam os "selvagens" eram tamb:'m "mpsmosll, isto :, sprps

igualmente sociais~ no caso dos estudos com claSSe trabalhadora, 8

'. • zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS
N
sobretudo 0Perarla, lmpOe-Se a demonstraçao do inversot a de qUe
N

eSSeS IImesmosll (que Se afiguram apenas como uma vr:>rsãodiltdda do


, IV ),." ,
Unos" nas noçoss de "p ov o" e "ma saa " sao t e mb sm "out ros", na afiE.

mativa da eSPncificidade de sua viv~ncia enquanto produtoreS, faCe


; dominação qUe os esquece ou os reduz.

~ssa proposta guarda no entanto uma dificuldade b~sica, VeZ


qUe as classes trabalhadoras das sociédades "complp,xaslI viVem suas
condiçÕeS de exist;ncia sob o signo determinante dessa dominação

\ de claSSe, a qual preS5Up~e e inclui a dominaç~o ideol~gica, isto

~, O imPedimento do aCeSSO ~s condiçõ8s de sistematização dos dia-


I' • 1 ..,.
cursos proprlOS a essas c aSSeS, diferentemente da situaçao encon-

trada nas sociedadeS Irsimples".

tiT N'o"s~ntId"o"da lej,t~ra qOe f az le:vi-Strauss do Hfato social to-


tal" na 11 Intr oduc t ion aI' OeUVTp de mareeI rnauss11 (L~v i-Strauss,
\
1973, p. XXVII).
iiizyxwvutsrqp

, . f
Essa ult1ma caracter1stica Vem assim apenas reforçar a eSSen•zyxwvutsr
z, J

cialidade daquele IIcontato", daquela "relação" referida, comozyxwvutsr


eS-
• ..~ ~.~ d ~

trat;gia de percepção dessa ideologia qUe só pode fluir Pelos ca-


nais mais informais da comunicação social, não vigiados Pelos cÓdi

gos dominanteS (2).


A procura do conhecimento sobre essas psppcificas °condições
de eX ist;nc ia H e 11 ideal og ia" suger ia um estudo da "reprodução soe .•..
izyxwvutsrqponmlk

alll desses "trabalhadoTeSII, entAndendo",se como talo conjunto dp

sua pr:tiea social, encarado do ponto de vista. da condição diferen•...

eial de claSSe qUe a conformei


AVultava neSSe estudo a essencialidade da pr;tiea
..
econom~ca
desses agentes sociais, qUer Pela razão geral da determinação eS-

\..
trutural das relaç~es de produç~o no social (3), quer Pela razao
IV

< ,
eSPeC1fica de Ser a partir desse n1ve1 qUe se define e articula a

pr~pria viv;ncia do grupo estudado, em função de sua pr;tica dire-

ta de produtoreS, de IItrabalhadores" (cf. 8alibar, 19749 p. 154).


' .
Um estu do da prat1ca pconom1ca
à •
qUe I'
p tam b'em, por outro 1a do f

um estudo da ideologia qUe lhe; intr!nseca; no qUe se reitera os


, .
L,

pressupostos do trabalho antropolog1co de qUe o conhecimento da P~

trutura e funcionamento de um grupo social deVe Se dar a part ir

{2}···Pa~g os medr~ ismos tte at irmé!ção dess~ "cUltura dc:lT!inada


If!. ver
éts neçoes de IIre1nterpretaçaoH e "tnvprsaoll em Bodrd1eu, 196:.5a t
em Verret, 1972~ p. 2l e Lpite LOPes, 1974, p. XI.

(3 r "Dans ra product ion "'sociala de 1pur eX Istenco ~ tes hommes en.


trent en de~ rapports d;tprmin;s, n;ceSsa ires; indep~ndants " dij.
~~ur~blont~, rappbrt~ de prodGction qui.cbrresp~n~ent a un .dp~re
de'-detre1trPpement de leurs f or c g s product~veS materJ.p11eS. ~ 'ensem-
b~e de css rap~ot;ts de prbductio(T tonstitue ta strul;t\,!reseonomi~
qbe de 1a sbciete, Ia b~se concret& ~ur~laquetle-stele~e une'. su-
p~rstructure juridiqas ~t pOlit!que·,et a l~~uelle correspondent I
des formeS de conscience soc La Le e dpterminees" (rnarx, 1972,. p , 4).
didas não como dnsvendamento ou transpar~ncia, mas como "lingua-zyxwvutsr
. , , ~
codigo da comunicaçao social, "dito" privilogiado Pê.,
~stozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
89

ra a apresnsão do ur,eo-dito" e do ndiz~rri (4), p de qUe a necessi-

dade de incorporaç~o das repres~ntaç~eS a um estudo das formas de


organizaç~o do trabalho Se impEe por d~a condiç~o intrínseca: a de
.~ . '.
. ( .
qUe, como demonstra marx, por eXemplo, com clareza no capltulo so-
.,
.o.
. . .

bre [)'ea Lar Lo em Capital. (rnarx~ 1973. Terno 11, p , 216 e SP,9.), O
, ,. .
proprio f~ncion~manto de um determinado modo de produção passa ne~
Cessar iamente por a rt iculaç ões qUe Se d~o ao n {vel tia SUPerestrutll,
ra (5).

Para um estudo dirigido neSSe Sentido, o caso do trabalho na

ptodW~~b tle ~eseado ~~ j~rujuba Se apresentava como privilegiado •


a1
um grupo de trabalhadorp,szyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF
E'ncontrJuamoszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA bom uma id8ntidade bem
#V , ,..., ,

definida, nao so Pela participaçao p,m um mesmb setor produtivo ~ a

"Pesca" - como tamb;m Pela definição muito precisa de um pspaço de


interaçõo social abrangente - um ilbairro de pp,scadores", uma II com!:!.

nidade de Pescadoreslõ.

Sobrepunha-se, al~m do mais, a eSSg recorte um quadro de "mu-

dança I', de I1diferenc iaçã o soc ial 11, v iv ida com agudeza Pelos Rp.!:3C:p-

i. ..

c~*r'relaçõesentre os níveiS do "consciente" p dO "Ln-


(4f' S~b'r~*~.~....
cohscientel1 nas Iilingua9'ens" soc fa Ls , ver'Bbas, 1~641 e sobre., a
qUestão especifiéa da mediação Pelas reprAsentações, vpr Levi-
Strauss, 1970, p. 303-305.
(5) A noção de lifet~chismo" em fnarx ; ~lida exatamentp npsst:j.
Senti.;.
do, comb "~ffets ideologiques impliqUeS dan~ Ia structure Aconomi~
qUe dirpctementll, por Balibar em Althusser 8 Balibar, 1971, p.10l.
v

d~de comum. novas 9 diferentes categorias sociais. Um estudo dazyxwvutsr

"reprodução social" desses Htrabalhadores" permitia assim que se

erigisse em objeto da pesquisa, num recorte mais preciso. o conhe

cimento de formas diferenciais de reprodução social articuladas em

um mesmo processo social, quer do ponto de vista das determinações

da co-part1cipação em um mesmo setor produtivo, e em um mesmo esp~

ço de co-habitação e co-tradição. quer do ponto de vista das deter

minações dessa própria flmudança", imbricada e determinante na ree5

truturação desse espeço social.

Tal recorte nos permitia o desenvolvimento de uma análise fa

voralmente situada de um ponto de vista antropológico, já que o

campo de trabalho não 50 apresentava uma definição razoável de

"identidade social A
• como ensejava, em certa medida, uma diversida

de pr6pria ~ comparação pelos contr~rios recomendada por Leach a

demarche antropológica (Lsach,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


196B),

A definição de um estudo de reprodução social de trabalhado

res a partir de um processo social de "identidade" e "mudança" co

muns parecia, por outro lado, ofer,cer subsídios não so ao conheci

mento espeoífico da prática dos grupos de trabalhadores das forma

ções sociais com dominância do modo de produção capitalista, mas

também a algumas outras questões teóricas fundamentais. Pensávamos

particularmente na problemática da articulação de mais de um modo

de produção em uma mesma formação social ou da "passagem» ou "tran

sição H
ora entre modos de produção diferentes. ora entre formas

distintas de organização da produção relevando do mesmo modo em

sentido estrito (6), Ou ainda na problemática desse acompanhamento

(6) Trata-se sobretudo da questão da passagem da "submissão formal


do trabalho ao capital" para a "submissão real", através da pass~
vi

descontinuo da ideologia em relaç~o ~ base, a que nos introduzem

as formulaç6es de Marx sobre a ~legitimidadeH pelo passado na In

tradução ao 15 Brumário (Marx, 1969) ou as de Gramsci resumidas

por Piotte na expressão ~effet de p~santeur de l'idªologienzyxwvutsrqponm


(Piot

te, 1970, p. 219), e a que Godelier dedicou seu estudo a


sobrezyxwvutsrqponm

"n§o-correspond§hcia entre formas 8 cOhteado das relaç6es sociais"

(Godelier, 1973 a).

o fato de estarmos lidando com uma produção de pescado apr~

sentava também em si determinadas características que reforçavam

as qualidades acima ressaltadas. Pois, com efeito, a identidade 50

cial pela co-participação na pesca S8 ancora, como se vera, em re

presentações muito solidamente fundadas nos efeitos ideológicos de

especificidade e unicidade do trabalho no mar, em embarcações e a

procura de peixe.

o próprio fato do peixe se apresentar em princípio nao 50 co

mo objeto de trabalho mas tamb~m como virtual meio de subsist~ncia

reforça a construção da ideologia de identidade pela representação

de um espaço comum de reprodução mínim~.

00 mesmo modo que os efeitos de "continuidade" induzidos p~

Ia forma fenomenal dos meios da produç§o e do processo de trabalh~

mede-se em Jurujuba os ritmos 8 as formas da "mudançaa por um mod~

10 das relações de produção, abrangente de relações sociais pens~

das como cpmunitárias: o modelo da companha.

Esses efeitos são intrínsecos à percepção do processo da "m~

dança", que 58 faz permear ou mediatizar assim por repr8sentaç6es

gem da organização da produção mediante "cooperação simples" para


a organização pr6pria da "grande indastria" 8 da passagem da 8xtra
ção da "mais valia absoluta~ para a da ~mais v~lia relativaH (Marx,
1973 e MaI~> 1971).
viizyxwvutsrqponml

de "tradição" e lJcontinuidade", Permitindo uma obsprvação cuidado-zyxwvutsrqpo


~ ~
ea do realinha.mento sutil e gradual das identidadeS e das praticas "
dos agentes qUe Se vão opondo no bojo da diferenciação social.
Acrescia ao intereSSe de uma amf1ise assim conduz í.da entre

"t raba Ihador-sa de Pesca" o f'a+o de apresentar Jurujuba a concomi-


'" , .
tância e artic'vIação de um segmento de Ilpequena produção mercan-
til" com o de uma incipiente "produção capital ista n. Ensejav~- Se
assim um estudo antropol~gico 70bre 'iopercirios d~ produção de pes"

cado ", ao m!3smotempo em qUe Se contribuia para a relativização da

categoria de .Q.e.scad.QI(freqUentemente confundida com a do "pequeno

pt:0dutorHde peêcago). A situação limite dessa produçao


"Pequenazyxwvutsrqponm
N

I' I'
mereantil" acreScenta, por outro lado, ao ja oonsideravel aCervo
de estuQ.os S9bre "Pequenos Pescadoresn" um elemento comparativo im
portante (cf. Firth, 1946; Kottak, 1966; Amo:rim, 1970; forman ,
1970; McG
ocdurdn 1976; Pessanha, 1977).
Com isso chegamos ao nível da unidade local da Pesquisa.. a

Jurujuba •• retornando
~, . .

assim aquelezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
fio inicial em qUe Tessaltava-
. ,
mos a essencialidade do "contato", da IIrelaçâon com o obsprvado p~
~ . , .

ra a boa consecuçao do trabalho antropoIogico.


,.
As primeiras visitas o Jurujuba deram-se ha quatro anos, como
exercicios d•• Pesquisa de campo para a disciplina de Antropologia I

~rbana
fi
no curso de rJtestrade.
n"""
A observaçao eXteX10r somaram~Sn .»
J8
então os primeiros contatoszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
cam habitanteS do local a qUem me apr.e,

sêntava pOI1)O prQfesSor da Uni\lersidade e estudioso da~vida dos


I'

,
J:le§Pq.d.~. ES~8S eontatosa1eatQrio~, o mais das VeZeS f r-ue+adoe ,
. ,., ,..
germ~natam ....
porem em pelo menos uma relaçao dur adcure c orn.rumafaml.-
liêl,. qUe Veio a ge provar fundamenta! para o dosenvoJvimento dp t,Q.
do este trabalho.
i. _
O SeU chefe, i
por suas qualidadeS • ;_
criticas,
,,"
sua
curiosidade, sua PeI'manente boa vontade e psp!rito de luta foi '
ViiI·

mais do qUe um precioso informante, um apoio concreto, um pstpiozyxwvutsr

~ eQ!ocional ppTmanente nas condições Sempre t~o adversas do trabalho


·de campo
,.
antropologlCO.
A categoria de "amigo" em qUe me enquadraram explicitamente

Veio a Ser fundamental para a ampliaç;o de meUS contatos no bair-


ro, demarcando Sempre um limiar de familiaridade, de aC8itabilida-

de a qUe dificilmente acederia Sem sua interveni~ncia.


, ,., #Y "
O carater fundamental
- dessa relaçao na o Se explica porem
~
Sem

a rsfer;ncia ~ identidade dessa pr~pria familia, qUe de alguma fo~


ma orientou aquela com qUe me impus ao restante da comunidade.

Trata-se de uma familia "tj:adicional" - entpndendo-sR .comozyxw


(1 aa
t a I LIma f am aa . arrt
" a.qa de .Qps,C?
dI" ~
oro§>, oca i s , ::JeU , 1eO praric
nuc .. apa I t
,
aquele com qUe mais estiUe em~cQntato, afastawse pO~em cada YeZ
mais da Pesca, Sendo o SeU chefe uma ponte d~ raro eqUilíbrio en-
tre a experi;ncia local da Pesca, qUe viVeU como filho de pequeno
I."

produtor e como trabalhador assalariado, e uma experi;ncia mais

"co srn op oI Lt a " ou Uabrangente" - forjada no Serv iço mil itar, inclu-
siva como tJcombatente" da Segunda Grande Guorro, e nos mais diver-

so" "trabalhos" fora da Pesca e de JUIujuba.

A sua unidade dom:stica, onde conyivem sua m;a, repoait~ria ~


de boa parte da mem~ria dQ~tradiçãa "Pnscadoratl local e SGus fi-
lhos, voltados primordialmente para Q estudo g para o trabalho fo-
,
r-a da Pas'ccr,constitui assim um nuc loo privilegiado de aCeSSO para

4,
onde conv8~gsm e onde interageffiquase todçs os valores e qupSL.OpS
.J-H

qUe hoje Se encontra~ em jogo em Jurujuba.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW


o SeU afastamento das atividades produtivas na pesca favoreCe

por outro lado um tr~nsita social muito abrangente, qUe preserva f

inclusiVe em certa medida os mais variados vínculos familiares~ Pa


qUenos produtoreS, armadoreS, trabalhadores assalariados.

"
"

Uma identidade assim articUlªda, d8 qUe não ~ o menor sintoma


a prGptia disponibilidade com qUe acolheU o Pesquisador, obviou os

graves riscos qUe adviriam de minha id8ntificação com uma rpfer;l'l-


c ía mais definida, mais polar, no quadro das identidades poss!v~is

em Jurujuba.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDC
't ••• ,
A identidade de ~~~da fam~lia ~ na o era porem obv iamente
suficiente p-ara explicar meU interesS~ Pela vida da gentp de Juru-
juba. Como esclareCera, sempre procurei,explicar o mais proximameU
te possiVeI da real idade o meu' interesse de pesqu Lsa s um pr~f~ssor
uniVersit:rio, um P8squisador do museu Nacional a qUem coube estu-

dar a v ida e os problemas dos f1e§.ç,p.d.o"f.-fJJ3~1


um estud ioso qUe preparê.

va um livro sobre Jurujuba, enfim, tantas ~nfases sobre eSSe tema

para eles intrigante quantas conotaç;es eU percebesse na !)1)§e. AI"!

gard.Q"dos interlocutores. Essa identidade, qUe não implicava em na

ríhuma carga negativa, suscitando mesmo um clima generalizado de em.


•••
pat ia graças a categor ia valor Lza da dp ,RI' Qf.esso.r
1 SP. nuançava po-

r~m, em cprta medida, com a Percepção de uma liberdade de tempo

(sobrotud~ depois qUe fui ai residir) incompatível com uma vida de

O qUe lhes parecia de outra forma uma atividade


tral:Jalhador.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA louvizyxwvutsr
, -
vGl dG interessamento e possivpl divul~ação e int8rfpr~ncia na sua
dura sobreviv;ncia, Se coloria assim de um distanciamento irreduti
Vel, na rep-resentação do meu "t raba Lh o ' como um "não-trabalhoa ,
uma "coisa de r Lco" como tantas outras.zyxwvutsrqponmlkjihgfe
N
Acrescia a essa representaçao o fato de Serem tanto a Pesca
em si quanto o bairro de Jurujuba objeto frequente de uma curiosi-

dade "turistica
,
11,
.
a qUe nã o pod iam de ixar de assoc iar em algum
" J.O d eSempen h o.
grau o meU pr opr 1\1'
1/
'h a dzyxwvutsrqponmlkji
a as uma VeZ, m an eCJ.sao d e ('
a J.
,/N

residir por algum tempo reforçou essa impress~o, lido o meU ato cQ
xzyxwvuts

,
mo uma procura de vilegiatura a beira-mar.

Essa estada no bairro, onde ocuPei um p•.al'!ap"..'2,


durante seis m,e.
SeS oonsecutivos, apesar dR reforçar inicialmente a identidade de
Utur ista n, Veio a Se constituir no núcleo f'undamgrrt e I do trabalho

de campo~ frutificando na intensidade do contato cotidiano e da o~


H ~
Servaçao abrangente e cont~nua.

Durante eSSe Período pude tonviver em grande intimidade com

os ritmos locais" ora Pela habitação no coração do bairro, a meia


altura dessa encosta onde o bairro vai assumindo um aspecto de Irfê..

Vela", ora Pela fr8qu~ncia aos locais do convivio masculino no trS!,


"zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do .R,eJXp., nos bares, na I'Pelada"
balho das redes, na f7.sPera_ da
p reLa ,

Ao mesmo tempo, ensejou-se neSSe periodo o acompanhamento de

~a!das de Pesca, ora em Pp,oop.§", ora em :t.rain.eir,ª-s;


para o qUe Se

exige essa pronta vigil~ncia da eSPera a qUe um não-residente dif!


cilmente pod8 s8 prestar.
Foi fundamental neSSe período a possibilidade
igualmentezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS
dr:!
conviv~ncia muito prt5xima com um "vagabundo" da pr:!sca- de grande

importincia para a compreensão em negativo da l~gica do trabalho

local - qUe ocupava um dos aposentos dí-1minha habitação, na quali-

dade de irmão dpsvl\Üido do locador, um !U.e.stre


d8 trai.ne.ir~
••

Embora essa locação tenha sido obtida a grandn custo do pr o•..

priet;rio do casebre, qUe o mantinha fechado para uma eVentual re-

forma e Venda, o fato de t;-la obtido não deixava de evidenciar PA


ra muitos a minha I'diferençan radical, ao poder ocupar sozinho uma

habitaç;o muito cobiçada em um bairro onde a torra livre est~ pra-


,
ticamente esgotada e a pratica da neo-localidadp exige a cada mo-
mento novas bases de instalaç~o de unidades dom;sticas.
xi

Por outro lado, n~o Se deixava de patentear uma certa simpa-


• Nzyxwvutsrqp
tia por minha disposiç~o em partilhar de suas prec:rias c ond Lç oe s

de habitaç~o, ocupando uma resid;ncia qUe considpravam francamente

inconVeniente para,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
"uma Pessoa como o senhoril.
--A-oc-u f-Jaç-ã-ocl
essaXesid Iv o-d(=,-
~n-ciafo-is empte--fij-éJt gra n-efp-s-cúI~--
dados de minha parte~ pois, Se de um lado Se impunham certas como-
d~dades, como o conserto do telhado, a limpeza int~rior e a exis -
t~ncia de um mObili;rio mínimo, Sempre procurei proceder dA forma
IV (' • , • • , Id
a nao expor o m i n amo consumo s sj, a Ja cons a !l.zyxwv
aurrtua r Lo qUe a cerrt.ua

ravo 1 V10
li . 1"" . d e mln
enc~a . ha presença . . hança on d'e e ~mposs~
em uma V1Zln . (

veI qualqUer "privacidadelf continuada.

Ciente por;m de qUe n~o me podpria furtar a algum tipo dezyxwvutsrqp


cOQ

p-eração nos contatos vicinais, procurei contribuir nos eVentua is

r aaça o
" • IV
problemas comuns de babitaç~o ent~o ocorrentes (reparos de
comum a v~rias habitaçõeS, cons o Lí.daç áo: dos prec~rios caminhos e

valas da encosta), d2 forma qUe n~o pareCeSSe por outro lado impor

-me Pela munific;ncia. A participaç~o Pessoal nessas tarefas - por


. qUe l' 1m1't a dI'
malS '.
a po a lnepCla "zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
ou Traqupza fi~S1CB
, - spmpre mp para

ceu de qualqUer forma conVeniente.


Tamb:m Se mostrou delicada - e importante para a d..,finiç~ode

minha identidade local - a qUestão de minha perman~ncia a! dp'saco~


panhado de minha mulher, quando algumas famflias a conheciam ppss~

almente e me sabiam todos casado. Embora pSSp dado contribuisse p~

ra minha arnbiguidade, procurei ê\trav;s dele reforçar spmpre a id:i

a de qUe me encontrava liatrabalhoH• Creio mpsmo qUe essa ambigui-


IV>. , •

da d e na o d8~Xou de S8r ut~I para os contatos com os jovens, com 0$

('solteiras", a cuja soe iedade não me im~8d ia oSSe papel 1iminar.

É evidente, por outro lado, qUe~ afora o meU contato ant~rior


xiizyxwvutsrqponm

ja'Ntao
'. 1nt1mo com aquela fzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUT
f.
am111B •• •
dp rpferenc1B, ...,
nao pu de dpSenvo-1

Ver as relações de visitação informal exclusivas de unidades dom:~


,
ticas plenas, alem de ter fortemente limitado o mpu contato com as
#JI. '. dzyxwvutsrqponmlkjihgfe
mulheres E s1ntomat1co qUe, afora a passagem e um
em geral.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ou
' ...
outro vizinho ou conhecido e a prsspnça bastante frequente de ori-

anças, nunca tenha recebido nessa habitaç~o sequer a visita das sa


nhoras da ramilia de refer;ncia.

Outra frente fundamental de contato foram minhas ji referidas

Viagens de P.esff1"cada uma cercada de consider';vel un Lc Lda da , pe-


r • •.• . ·N l'
Ias caracter1st1casda embarcaçao, da guarn1çao e do Per1odo ou o-
casião em qUe foram realizadas.
As viagens em E.an.~ dif8riam profundamente das viagens em

tl'-ªJ.n~.~L?J
apresentando problemas diversos. Embora, em principio. ,
f·aSSe 0a1S
"'1 fac1 '
o aCeSSO as sªngas, ,
... atraves do contato direto com
.

os Pequenos pr-odutoros SeUS proprietefrios, a perman;ncia nessas em.


baroações durante
.~
o prOCeSSO de trabalho era um 8storvo quase intQ.

lerável, pela inexist~ncia de espaço rÍsico para um não- trabalha-


. I
d or cur10SO. mpunha-se neSSe caso ate' mesmo uma certa preOCupaçao fOI

em não lhes impor a formulaç~o de conviteS, qUe sabidamente inter-


f•er 1SSem na b oa conduçao
~ ,
de suas pp.,J.das.

Pude Verificar, ~l;m do mais, logo em minha primeira experi~n


eia neSSe Sentido, qUe a ObServação direta dessas viag~ns pOUco.

prove1Lto trar1a
.' a Pesqu1sa,
. . " qUe a 1n
Ja . t eraçao . 1. e a1rI' 1m1't a-
'" SOC1a I'

I. . o"' ,.. I'V


da ao m1n1mo essenc1al a conduçao do prOCeSSO de trabalho, nao ha-
. ~ IV..'
vendm espaço, ja Pela Pequena duraçao das v1agens, JB Pelas condi-

çõeS de rufdo do mot or , de exíguo espaço físico e dp constante vi ...

gilância do tempo, do mar e do peixe, d~ dGSenVDlvim~nto de qual-


, •
qUer comentar10 exao so b re a a t ív
ou rer .1:'1·'" . Ldade em curso. Essa cara.Ç.
í
"""'

xiiizyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY

ter1stica era al;m do ma is facilmente contornada Pela facil idade

de contato em terra com o~ SeUS propriet;rios e com suas ppquenas


guarniç~es, reunidas no trabalho de conserto das redes ou nos mo-
mentos
...
1med1atamente .
an~er10rRS
, .. .
-" .,
as s81das.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
---W'" , _ ••

As viagens em :tr..sinei.r5LS,
por out ro lado,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY
S8 pprmitiam com

muita facilidade a prpSença física da Pesquisador, abriam toda uma


L.

frente de dificuldades com relaç~o ~ sua "presença" em sentido am-


, . t"a •..
pIo, ja qUe Se impunha a intermediação da Permissão do propr1e

rio não-trabalhador, do ?.•.


Lm?.d,ol'
..•Permissão d ificil de obter e qUe

influenciaria fortemente o contato com os trabalhadores. Ponderei

portanto longamente
tando as inumeras
,.
sobre a condução
impressoes
- dessas experi~ncias,
qUe podia a eSse respeito colher
auscul-
en-

tre os ºJ3P.cadp.r"e*s~
Pude finalmente valer-me de duas circunstâncias
fortuitas qUe ensejaram a participação em saídas de t..
rai,n.eira§,PeE,
tencentes a dois armadoreS
\7XW' '$_ oS: ..•••• •• .•••
distintos.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

No primeiro caso, vali~me da intermediação do chefp de minha

família de refer~ncia, qUe obteVe autorização de um grande armapoI:


,. . ' .
r;
I oca I , SeU paren t p prOX1mo, Sem qUe me fOSSe neCeSsar10 um contato

pessoal qUe não me parecia conVeniente a essa altura da Pesquisa •


,.
Sei qUe mpu interesse foi explicado por eSSe intprmediario como

JorrialfStTcó, o qUe não s~ afastava os temorps de fiscalizaç-ão go•.•

VernamentaI como me aproximava do uma categoria cujo contato lhes


; bastante familiar, no quadre de uma freqUente atraç~o da imprpn~

sa Pelos aspectos "pitoreSCoS" da Pesca,

No segund o caso, valeu-me a notor iE,dade da "av-srrt ura ", como

de cprta forma Se tornara pl~blica minha primeira, longa e conturba

da viagem em i.FpJne,i,ra,e a benettol~ncia do mpstrEJ locador dp mi-


nha rpsid;ncia, senhor dp certa autonomia faCe ao armador qUe o
xiv

emprega.
Dessa forma, pude ter acosso a d ivprsas ~~!das de pescazyxwvutsrqpon
rlm

t..
r,?"l.pp,i1p.
qUezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDC
Sp provaram extrQmamont,o rolpvant.r-spara a condução
da pesquisa. Pois, cont.rariamente :s canoas, o espaço do int~raç~o

social ; aI bastante amplo, dpsenvolvendo-se por1.odos r


ao longo dezyxwvutsrqponmlkjihgfe
pro1QnQadQs e envolvendo~guarniç;P9 e ocupadas intprmi-
avultadaszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP
tentemente no processo de trabalho.
,
Foi dentre todas marcante a primeira viagem, ja pela I'novida_
de" com qUe Se imp;s ao Pesquisador, j~ Pelas condiç~es erlremas

em qUe Se desenvolVeU. Tomo-a portanto como exemplo e refpr~ncia


dos problemas de contato ai eSPecificamente suscitados.

Embora apres(?ntado rapidamente a alguns dostrabalhadoTt:ls paI.

ticipantes dessa saída e amplamente instruido sobre os d~talhps bí

sicos de meU comport.amento (o qUe Vestir, o qUe levar, com qUe ti-

po de albjamento e alimentação contar, pte.), minha recepção a bo~

do foi marcada Pelo distanciamento. Ignorar-me ost.pn~ivam8nte e o~


sorvar cuidadosamente minhas reaç~ps foi a primeira e abrangente
colocação da tripulação faCe a eSSe pstranho objeto qUe Sp vinha

introduzir no mundo tão dpfinido dr- sua vida embarcada.

I numpras
1'",
prevenÇops r«,
eSPpC1Tlcas marcavam ta I compor t amen t o. A'
, N

mais obvia parpcia Ser a da possibilidade de minha associaçao a ia

terpsses e d,,1signiospa tr one Ls , f'av orocLda Pela P8rmissão do aI.'ffia-

9.•.CJr. A sngunda, a d8 minha associação a essa curiosidade turistica


f
com qUe Se tem tao ·rpquentemente
À fY
qUe vpr e qUe Se nao N
lmp I'lcarla
• .

na hostilidade decorrente daquela primeira impressão, me colocaria

de qualqUer forma em cond1çao


. ~ (
d",sprez1vel, pelo proprlo
, . confronto
com a arena imediata do SeU trabalho.

Creio mesmo qUe a excossiva viol~ncia com qUe Se me aprpspn~


xzyxwvutsrqponmlkjih

.t. o pa d'"rao d 8 seU compor~amento


' ordo nao f·01 apenas
a bzyxwvutsrqponmlkjih
t ou dzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e lnlClO N

o efeito de minhas tensas expectativas facp a essa exppri;ncia


, ~
mas tambell1 uma "representaçaoil um pouco ma is exacnrbada das condzyxwvuts
i-

ç;es da vida embarcada e me ad-


com qUe dp cprta forma me testavamzyxwvutsrqponmlkjihg

vertiam.
, '.
Ao cabo dE alguns dias poram eSSe comportamento foi lentamen-
~
te dedendo lugar ao dialogo e ao interesse em participar de uma ra
N zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
laçao qUe lhes passava a parecer Pelo menos digna de curiosidade •

At~ ent~o eU procurara PermaneCer em atitude de disponibilidad~zyxwvutsrq ,


sem no entanto forçar qualqUer intensificação do contato~ OcuPei o

~ltimo e mais prec:rio beliche vazio, participei regularmente das

refeiç;es preparadas Pelo cozinheirg, acompanhei os ritmos pouco

habituais do sono e vigilia a b or do , e, sobretudo - precioso simb,Q.

10 - não "enjoei", demonstrando assim Pelo mpnos uma disposição

qUe lhes pareCpU - como me disspram depois - digna de SeU rrsPei-


to. Tanto mais quanto essa viagem - segundo suas pr~prias impres-

SOeS
,..
r o i. par"c"lCU 1 armen~e
- J:.'" " ~ormen t osa e d ur a ,

Foi tamb;m fundamental no estabelecimento dessa rplaç~o a

qUestão dos registros no caderno de campo. Embora eU me tiVeSSe


,
abstido de levar comigo o gravador, de preSença ja por si mesma
N _

tao agressiva e sobretudo por estar neSSe caso associado a figura


IW • .•• •

de um alcagtiete do ~}'J1l?,çloI" nao me POdlB furtar a IlGcpssldade das


anotaç~es, em um trabalho qUe Se desnnvolvou ao longo de oito in~
, '

tensos dias e noiteS. A dpmonstraç~o cuidadosa e indireta a quP

prOCedi do tipo de informaç~es coletadas (procurava nessas ocasi-


N
OeS anotar torrentes
.
de informaçops
AI •
Uobjetlvas" so ro a
b
p ra'" t .
í.ce

ppsqueira) pareCeram dissolv~r as preocupaç~eS qUe cnrcavam com t2


da propriedade essa atividade_
xvi

Ademais, o fato de e~por eSSo caderno e o meU ato de anotar azyx


,
todos os qUe o quisessem ver, contribuiu certamente para dissocia-
. ,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ
-,
10 de qualqUer pratica de delaçao e ate mesmo a provocar uma rela-

ç~o de interessamento Pelo qUe aí pra registrado. N~o seria pxage-

rado afirmar que, na medida em qUe Se consolidava minha identidade


de um "estudioso", de um "professorll intpressado nas condiçÕeS de

vida dos ppscadgFs§, So tornava legitimo e legitimador contribuir


,.
parfl2;Cadsr!2.2.1como diziam frequentpmente. Ja Se esboçava nessa
atitude, por outro lado, eSSe efeito inVerso dos contatos de pP.s-
, A

quisa qUe e o do surgimento de eXPectativas de interferencia posi-

tiva do Pesquisador e qUe Se tem de manter neSSe prec;rio e dif~

cil equilíbrio entre um convpniente efeito de empatia e uma incon-

veniente e perigosa sobrecarga da relação.

Meu inicial alheamento dos pap;is e conflitos em jogo na con-


A zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
.N ,

vive nc ia de sSBS -9 uarniçüe 5 f-acil itou-me- ta m be md e cer taf orma----o


aCeSSo indiferenciado a todos os atores, preocupados ao fim em me
expor a forma como para cada um deles se manifRstavam tais rpla-
,.,
ç OoS. o qUe me Permitia, por outro lado, aCentuar em cada convprsa

tal ou qual conotação de minha identidade, d,.., forma a + í.r er o m;xi


(
mo proveito de meU contato, acprcando-me o mais poss1vpl dos trab~

lhadores Sem provocar tais susPeitas dos homens de confiança do

armador qUe mo impedissem a r8novaç~o da pXPnri~ncia no mpsmo ou

em outro dos SeUS barcos. De alguma forma pareÇo ter enfrentado

com SUCeSSO eSSe problema, como pude comprovar na continuidade de

minha r81aç~0 com os trabalhadores e nas entrevistas qUe ao fim da


pesquisa v im a tor com 9rrnaE!E.J?B.ê...

A par do dosenvolvimento dosss obs8rvaç~0 e de contatos no


bairro do Jurujuba c nas unidades de sua produç~o ppsqu~ira procu-
xvzyxwvuts
j.zyxwvutsrqp
í

rei informar-me junto as sedes da Colônia de Pesca de Jurujuba p-

do Sindicato
nadas questoes atinentes
- dos Pescadores
~,
do Estado do Rio de 3aneiro de determ!
a problematica do trabalho pesqueiro, .L
t..eQ.

do entrevistado os Presidentes dos dois ~rg~os e O advogado qUezyxwvutsrq

presta serviços ao segundo~ Foram contatos exterioreS, Sem intermazyxw


NA"
diaçao ou referencia direta de aIguem de Jurujuba.
Ao cabo de minha estada em Jurujuba, quando me afastei para

an;lise do material e elaboração desta dissertação dispunha de ce~zyxw


• N ,

ca de 50 1nformantes regularp-s catalogados, abrangendo nao so os


L

Pequenos produtoreS e trabalhadoreS assalariados locais, sobre


,
qUem centrei a Pesquisa, mas +arnb.srn mulheres de p.p"sc.adorr.l~,
arma-

d.oIB,S,trabalhad oreS de Juru juba ora ded icados a ocupaçÕeS outras


,.
qUe não a Pesca, comerciantes locais, pp,scadores de zonas cont 1-

guas a Jurujuba e trabalhadoreS de fora ora empregados nas trai';;;'


~

n.eiTa~, grandes (7).


A realização de entrevistas formalizadas Pelo registro em gr~
,-o "

vador foi reduzid~ao mínimo essencial~ Pelas dificuldades gerais


~ ~
inerentp,s a interferencia desse instrumento e por dificuldadeszyxwvutsrqpo
dS-

pecificas como a de sua jer citada associação a prerticas lesivas

aos interesses
'.~
dos trabalhadores. 56 propus sua realização
~
a infoL
mantes qUe de algum modo Se situaSSem a meio caminho entre a des-
,.
conf iança dos pr ime Lr os contatos e uma ja grande int im idade, t.am-

.•••.•#".--.- .••• '1" .•• _'••.••. .,- , .••. p •.•• ~ , "'" ,

(7) eomo Se vera,'ha hoje a oc upaç a o de um Eerto nump-


rb de trabalhadoreS oriundos de outras regiops de p~sca nas tJai-
G~i~a~ ºr~ndes. Junto com os;trabathadores locars nso ocupados' ng
Pesca, eles constituir~m porem 2ategoriaS limiteS db corpo~ d8stp
trabalhot por fugirem a d~finiçao dp um estbdO ~a rePioduçao soti-
ar dos trabalhador~s tta Pesca. a partir da rpfArencia a comum iden-
tidade Pela tradiçao e mudança.
xvi 5.izyxw

, ,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK
bem frequentemente inibidora dessa pratica. Dispomos assim de um
,
bom numero de horas gravadas com quatro pequpnos produtores e com
cinco trabalhadoreS a saa La um mp:t.9.J:'J,sJ:.P., um f.2:'"
r La do s s umzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
mB,si-xp"

um trabalhad or de cOlw;ê ou nÊÍo-qual Lf icad o


?:.iJlh'pi~:B., 8 um "va qa-,

bunda" da Pesca.
Organizamos a disposição do trabalho em tr~s capit.ulos, dedi ..•

cand o o primeiro
~
a pxposiçao
~ -
das c ond Lç oo s gerais dos processos de
identidade e de diferenciaç~o social, com ;nfase neste segundo ca-
,. /IV- IV ,.

so sobre apropria d2finiçao e articulaçao do recortp tporico aqui


prpssuposto entre 11 Ps qupn os pr odut.oI'eSti e "trabalhad ores a e sa La riê..

dos.
O segundo e o terceiro capituL1s foram respectivamente dpdicg,
,.•.. ...,
dos a ana.lise da reproduçao social diferenciada dc qus Le a duas catfZ..

gorias sociais9 no qUe Se impUSeram certas diferenças na ordpnaç~o


, N ,

do conteudo. Diferenças qUe sao significativas da propria ordem de


A • • A •
relevancla qUe para cada categorla detem os proCeSSOS em Jogo: os

ppqUenos produtoreS partindo de uma "idpntidadell ppnsada como ori-

gin;ria para a "difprençal1 de sua condiçQo hoje ma rq Lna Lj os trab~


Lhado rss assalariados pe rt Lndo da "diferença" de sua condição faCe

ao modplo da identidade para uma rpapropriaç~o dessa mesma identi-

dade como. resist~ocia .~.

Obs9rva-se ao leitor qUe as palavras sublinhadas no texto Se-


N

rBo neCessariamente categorias oriundas do discurso dos informan-


t eS$ f bv
a-DIa o vlamente as palavras e expreSSOes em llnguB estrangp!
í ,." .( .•

ra para qUe nao dlspunhamos de notaçao graflca dlfprpncla1. As 10-


N • , ~"...

N ,
cuçoes ou relatos mais amplos encontram-se porpm entre aspas,zyxwvutsrqpo
ca-
, "N

ti-ndo lembrar qUr s;:,'lheG nCIrscf7ntomosiHd.icnçoo


, . - .!~ . ~
nXP;I;'pSsodo nQfl.!l
~, . .j ,

.
te social emissor quando lSSO '"o era c 1aramente
na .( 1.
dePIeensl'vp do
xix zyxwvutsrqpon

contexto qUe as suscitou. O uso das aspas, t30 recorrente e eSSen-

cial no trabalho
'"
.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
antropol~gico,
••
ora indica o dpstaquc a um conc8i-zyxwvuts
IV {
to ou expressao tecnica consagrada, ora a susPensao crltica de um

termo faCe a SeU contexto de origem.


~
Devido ao teor das informaçEes contidas neste trabalho nao p!
,
reCeU necessario Cercar de sigilo o nome da comunidad8 pm qUe Sp

deSenvolveu, mpsmo porque sua esppcificidadp a apontaria facilmen-

te aos olhos de qUem qUer quP pstivesse familiarizado com a pesca

neste país. Foi necess;rio por;m preServar o anonimato de todos os

informantes e Personagens citados, mpsmo daquples para cujas vOZpS

abafadas este trabalho Se afigurava como um primeiro, obscuro mas

ansiado veÍCUlO. Tenho certeza por;m de qUe ma e do qUe vpr


í SeUS

nomeS realçados preferir~o saber aqui exposto o traço profundo 8

doloroso com. qUe o suor copiosamente Vertido lhps vai urdindo as

redes da vida.
1

I. P.e.scaJ;l,oresJi--Ee.Sç:g:l.
g!!LJ.uryj9bg:l.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

1. A Identidade de Pe~cadores.

A ref~r;ncia ; Pe..•~.c2..preside ~ constituição das identidades J

sociais em Jurujuba.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
YJ.\lgI-• .iW p,ª,sca_ : o índice geral com qUe seto..zyxw
qualifica sua população e com qUe Se designa a pr~pria qualit'adÁ

do: ba irrc: um !2.a.JJ.r0


. .
..,de [2.e.swc.ª.
Irfl.balr?r._nfl . .p,esc..a, :, mais exclusi-
vamente, o índice de qualificação dos "homens", enquanto eixos e
. -.n-- ... -:teP:t'esentantes -da-s-identid-adesfam'il±aTes~ 'us-w.scpdprp;s.-.--

A força sem~ntica dessa identidade Se ancora evidentemente


na pr;tica continuada e abrangente das atividades produtoras de

Pescado, a qUe Se dedica o grosso da populaç~o "ativa" do bairro ~

Abrangente porque ocupa diretamente cerca de 500 Pessoas em uma P2


pulação estimada em n;o mais de 2.000 habitantes. Continuada por-

qUe essa ... remont a na memor~a


ocupaçao ". 'I" as proprl.as
soc~a ' .. or~gens dc

hauro e de sua gente, representada Pelos mais antigos moradoreS

como descendente de populaçÕeS indígenas locais.

A id:ia do ;trflba).har .. n<;lPss!;:§...Se nutre de representações so-

bre a eSPecificidade desse trabalho em geral, articuladas em torno


da viv;ncia do !l1~:r. como meio comum fundamental. ESSe trato comum
"'"
com ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
rTlfJ; - enquanto elemento
. ,
marginal
,
a vida humana, reprpsentada
. ,. . ~ . t f
como em.1.nentemente presa a 'J:-Jily.a e as suas c oaea e - r ane ere para

essas atividades muito do inVestimento simb6Iico qUe as culturas

litorâneas' Sempre adjudicam ~s coisas do mar. O "segredo do mer " ,

SUaS traições e Perigos, a pro(undidade de SeU desconhecimento e a


dificuldade da apropriação de SeUS recursos, ainda t;o aleatoria-

mente disponíveis, demarcam uma diferença qUe OPÕe os qUe aí trab~


2

~
lham a todos os qUe Se dedicam as atividades terrestres. Ir ao mar
zyxwvu
•••• -t'! •••- •.. f

n;o ; assim apenas dirigir-se a um lugar de trabalho, qUe j~ por


zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHG
e a ~dent~dad8
• N
E tambpm
i\ " " ..'."
S~ Se OPOe a segurança domestlca. em~re-
nhar-se no "1im inar H, enfrentar o "desconhecido", revest ir-se . da

eond iÇBO amb !gua dos qUe Si? a fa stam do soe ialmente preV is!Vel, do
socialmente quotidiano.

O mundo !do ITl.•a}' legitima assim toda uma elaboração ideoI~gica


!
f de oposição ao mundo da terra, qUe tende a unirzyxwvu
de í*diferençà"zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
nesse papel as situaç~eS dIspares do trabalho mar~imo. A represen

taç~o desse trabalho envolVe a adjudicaç~o ao SeU desempenho de


certas "qualidades" comuns prJprias do enfrentamento da !Inatureza~

conformando um espaço semântico marcado Pelas noções de fpp;a" !l!2.-


e Q.,i§pQ.s
D.h..c..cJ,..rn13=n!,q1&;..0. Assim .; "f'o rç a 11 dos element os, ~ sua "irrr-

prev isib ilidade" e ~ sua "prepot;ncia" Se OP~e uma rpsist~ncia re-


dobrada a Pj7,s.c,ê\d,o:f
do homem em ação.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
vivencia essa condição comumzyxw
IA .' 1M À

com toda a ambivalencia alocavel a uma condiçao de existencia per-


,
cebida como estafante~ como "dpsumana", mas tambem como distintivo

de capacidade, como símbolo das qualidades mais vivas qUe compoem -


sua ciosa dignidade_

•...
A essa representação de uma identidade Pelo trabalho no --,-.
mar

Vem Se acrescentar uma identidade Pelo trabalho em 'fembarcaçõeS" e


pela produçao
~
de "Pescado". Embora, como Sr.>.
. ,
v~ra demonstrar, ocor-

ram a! diferenças fundamentais para a demarcação de processos pro-

dutivos distintos, h; como qUe um limiar empIrico mínimo qUe torna


Ld t l.
.f·l.CaVeJ.Sa
, .
J.en um mesmo
-
campo semantl.co todos os qUe no a-
A •
!J)~al"
,
,
traves de em bar caç N
oo s , Pescam P...e~XB.
.'
E fUlldamentl··
a , ma i s uma Vpz ~
para a demarcação dessa identidad8 a oposição ~s coisas da lEI.rª- ,
on d 8 nao h'"a .ç••a~QP.?,..~" nem
N
P.•ª:rçp,s;nem ..
P.f-.J.)<p, ha.
nem $.ardJ.n
3zyxwvuts

;'5.

A definição desse un dv-sr s o comporta, al;'m do mais, um elemen-

to id801~gico, qUe conv;'m j; adiantar isolado do SeU significado

abrangent~ ..
..~~para
~-
a qupstão do gabalho, ,
qUe ~ o da maior flexibili.

da de desse universo para a subsist;ncia do homem, em oposiç~o ao

un Ivs r s o da }..e.r.l*a., ou do Ç,efLtl'.,Q., como formulam alguns. Aqui, do

mesmo modo, pareCe


.
1mpor-Se como suporte
,,,,
a repr~spntaçao a forma

fenomenal da relação com o mar, qUe realmentp permite a apropria .•.


~,
~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ~
çao marginal de reOursos de subsistencia inviaveis no qUe toca a
, , N

te}'ra. uSempre da um pe ix Lnho ••• " e a pX pressao com qus Se qual i fi


.. . - 'I::'

ca essa possibilidade de apropriação de um fIl.aJ,;ts,c"..o",


de um ppi~fl. 91.7
" '.~ 1..

JJ.n..h.a ou .Q.e_tf'}:Tpfg., capaz


.
de nr ove r eVentualmente a uma necessidg,
.

de critica d8 sUbsist;ncia; Lmped Lndo a instauração da f..o.m.e


.. onipr,e.
" zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
sente nas suas represp,ntaç ÕGS como 1 imite da v ida na :t'p'rf~ ••
d
A Gssa rGprpseotaçao sobre uma SEgurança m~n~ma supp'r~or o
N ( • •

uniVerso da ºiJ.~s.cf1por oposição ao do iEpbalho em t8rra. cor r-sspcnd»

por;m uma rpprespntação sobre uma tamb;'m maior :in.sp,9u,ranç"f'-, desde

quo referida não; preservação da subsist:ncia fisica 1iminar mas

a"'" reproduçao soe ia1mente ('


11"g 1t ima e digna. Essa i,.,nsegurança.1 qUe

j; viramos referida ~ id;ia do enfrentômr-nto do 8ar~ abarca, do


,
mesmo modo, os nodu10s de identidade das I'embarcações" e do Qf=!ixn.
:.
,.. " /do..
mar o pa 1co malS
l\1ao so e o •...•....•...
.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS
t
1mprovlSlVe
1
r
e Perigoso dpsemppnho da
N I N , •
natur8za, como as "embarcaçoes' sao frageis face a eSSeS PeT1g0s e
,
e ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Q~j~Ainconstante e fugidio.
;

JL\ê.§2)JF.-Ê-Drip. comum da produção qu» Se rpPete como inst!'lgurança

comum na comercializaçâo, marcada Pela instabilidade da demanda e

y;>
Pelo arbitrio dos intprmedü:rios, o qUe impede a prpvisão acirrada

dos prpços de mercado.


,_ t.,

S obre eSSeS elementos nuc Lea r s s da idpnt idadp do Y.iv~r .. çta.•p(.?~.-


4zyxwvutsrqponm

remetidos ~s representações sobr", as condições


!tA zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA "objetivas" dI"

trabalho - sobre os meios de produç~o e sobrp a rpalizaç~o do va-


.,
101' da produç;o - arma-Se por;m um outro plano da idantidade,zyxwvutsrqponmlkjih
JB

este remetendo ~s relações sociais ar vigentes. Trata-se da


. refe-
""
r;ncia ideol~gica a um modelo de organizaç;o social da produçao

pssqupira, a qUe chamamos "modelo da 2E_mponha ".

A categoria sº~~anba designa em um primeiro nivel o conjunto


dos çomQanhEdl'0...§.'
ou seja, dos trabalhadores de uma determinada u-

nidade de produçao de Pescado. Ela sugere tambem, para alem desse


IV "

(1
n~ve ma~s . d ~atzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJI
• ~me t l t o qUe Se supoe d eVer pres~. d ~r
o, o esp~r~
í . a" re I ~
N

çã o entre os ç""Q.mpaJ1.h.eiF_o.s~~
o de um Verdade ira "companhe ir Lsmo "; c,9.

mo fraternidade entre iguais engajados em um projpto comum de re.


produçao soc~al atraves do trabalho na Q?~c~.
,IV. '

rssa qualidade da P..91TIRflnbil,


eSSe SeU esp{rito abrangente de
.
comun1dade,
,.,
e considerada por~m por todos os p§scªdorg! atua~s
. co-

mo um valer qu@ Se perde, qUe Se dilui.


A "Verdadeira" ,c.}?mp§:l.1]ha
;,assim situada no passado como um ra

ferencial de legitimidade comum. Um passado em qUe a produçio pes-

qUeira Se fazia pxclusivamente em canoas movidas a remo, utilizan-


.... ""
do redes de algodao tecidas a mao e ocupando a força de trabalho
Segundo um regime permeado Pelo igualitarismo e Pela refer;ncia ;

argan izaçÊÍo f'am i1 Lar , sobre o qual Se tpc ia uma ampla rede de rec,!

procidade. Ã vig~ncia desse espírito na produção correspondiam as-


sim as noÇÕeS de uma "corporaçÊÍo" de p'pSÇ?tPP]:E!:?.,
de uma "comunida-

deU de familias de ~cad.0I~ de uma "tradiçãoll comum de "irmandâ

de".
nA ssociação de interpsses 1/, "ind ifer8nc iaçã o" p "estab il ida -

de" parecem Ser assim os pontos mínimos dR articu1aç~o do modelo 1


5

••• IV , ,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
t
a sua a s scc í.açao com apropria id(:!iade "f'arn Ll La !",
subjacenteszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA A

.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
expreS sã o re.corrente z liAnt igamente, isso tudo aqu i E'ra uma famir ia
,
», N
nao surge, asslm, no dlscurso
••
so ••• zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
d os Pesca dzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ
oreS apenas no cOQ
texto de uma inquiriç~o sobre genealogias, mas sobretudo no conte~

to da representaç~o mais ampla sobre as condiç~es de produção e ra

produç~o social, atuais (:!passadast em Jurujuba.


Embora a atualização plena do regime st"je coloca-
de 9,o.mpanhazyxwvutsrqponmlkjihgf

da no passado, ; contra os padrÕeS de legitimidade ai imbricados

qUe Se recortam as identidades atuais em Jurujuba, entrecruzadas

por um aCentuado prOCeSSO de difprpnciaç;o social. ACentuar r>SSezyxw


N

ponto não significa de modo algum considerar essa represent.açao


sobre o passado da comunidade como refleXO imediato de uma "reali-
IV ,

dade" anterior. Embora Se possa crer qUe o modelo nao e puramente

arbitr~rio, ou seja, qUe ele não deixe de Se fundar em determina-

dos traços de uma real viv~ncia passada Pelo crivo da mem~ria soci
,
aI, e mais importante Verificar qUe ele funciona
~
como um "mito" co
-
mum, e como; vivido diferencialmente Pelos agentes sociais quP h~
je Se op~em na Pescª de Jurujuba.

NeSSe Sentido, os tr~s pontos fundamentais do modelo a qUe

nos referimos antes, introduzem quase literalmente ~ exposição de

tr~s planos da prcrtica dos Prscaç!or.es de Jurujuba em qUe de alguma

forma essa identidade traduzida Pelo espírito da comoanha Se mani-

f(:!stad(:!maneira esclarecedora ~ Ou s(:!ja


~ a "aesoc Laçâ o d(:!interee-

S(:!SIl
e a id;ia de i'corporaçãoll
I '
de R8scador(!>~; a Hindifersnciação
. .
11

e a id:'ia de "comun idade ti de l2.f!,Sr;i:\dp'"r~,


e a "estab il idade li e a

id:'ia de uma "t rad ição 11 comum a os RJJ,§3,cª9P.TI'!,s


de Jurujuba.

A ident idade de Q.elLcador, ancorada nas represpntaç ões refpr i..


das antes sobre um fundo comum ~ prática dos qUe Se dedicam â pro-
6zyxwvutsrqponmlkj

dução de Pescadog fundamenta lima otrt r a , mais ampla, de EJas~ dos


l2a.~,§EDrp's.ma is uma veZ, essa identzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF
Lda d-, remete a um passado de
da clas~",
.!J.r.ião a qUe Se subst itui hoje um quadro de fLe.sunião,qUe
zyxwvutsrqp

deVeria por sua Vez voltar a dar lugar a uma grande uni~o.

Se essa id;ia de legitimidade 8 conveni~ncia dp lima união dos


,
PE!39f1dores e comum em Jurujuba, pode-Se imf">diatamente Verificar no

exame das plataformas informais apr~sentadas hoje ou qUe marcaram'


reivindicações coletivas antigas a profundidade da diferenciação f
,
dos pp.sc?dores e a impossibilidade de Se desenhar um c orrt e udo co-
mum qUe consubstancia realmente uma ação dp uni~o.
,
No passado, porem9 pareCe ter havido um momento em qUe essa
• IV • zyxwvutsrqponmlkjihgfed
N

eXpectat~va de corporaçao encontrou uma forma de man~festag20 ade-

quada na instituição'da Col;nia de Pesca local (1), momento qUe PQ


deria ter coincidido com a reativa~ão desses ~rgãos e sua inserção
no sistema de assist;ncia e previd;ncia social outorgado aos "pps-
, ,
cadoresl• no governo de Getulio Vargas. Nessa epoca, reprpspntada

Pelos PescadoreS como uma "idade de ourou, o registro na Colônia

permitia o aCeSSO aos primeiros 9l1"'pito~~ a assist~ncia m;dica 8

para-m:dica gratuita na Polic11nic~_.dê...J=lI~f.?:...


, XV~p. a inscrição no

IA.,ffD
(Instituto de Apos8ntadQria e erevid~ncia r,
doszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
m arítim os),. zyxwvutsrqponm
al;m disso, hab i1 itava ~ obtenção dp pmpr;st imos Pela _,Ç~JxaAe Ç_r1. T

•...
(1) Data de 1912 a cr±aç~o das ColEnias de Pesca, n~ctpos gpograf!
camente delimitados de ,.congregacjão dos >ipeScadOlps" d~stinados a
eong.entrar rBcuTsbs proprios e Hxtprnbs paTa a-tpndímentb cultbral;
e medico e repreoentar uma pontf de P8rmé:\nellt8illvpstim8~to idfiol,2.
gíco. Decorria d~ uma pteocupaçao legal em ltitTcorpo:carl! a sbcieda-
d= nacional os nuc1eos esparso~ da pRsca co~teita. Essa 'prpocbpa-
çatl, Veiculada sofJretudo por determinal:tos setorps da fI1arin~adR •
GUerra, fundava-s~ em j~~tificati~as de defesa nacibna~ class!ca e
uma pol it ;ca de "8ducaça-oil (c onv.snõ Lona I p civ ie8.) p d~
or ientava ...
Hcorpor~çao", atraves da qual S8 esppravà: 8li?var o grau de Iiconsc,3;.
~nciall e "pà:rticipaçãoll dess8s "ignorantesH 8 "ma rq na Ls " mpmbros í

da sociedade nacional (V. H~rlRY, 1933).


7

ç!..ij:Q;-.9~.M~e§ca

N

A forma corporativa assim aprpsentada naozyxwv


p",Io Estado vinhazyxwvuts

sG cobrir necessidades imediatas da rBProduç~o, mas tamb;m forne-

ner um ~rg~o de eXpress;o da identidade do grupo, legitimando-o c2


mo digno de mereCer as atenç~eS do ~ovsrno e o respeito dos demais

Segmentos da sociedade abrangente.

Esse aParelho de auxIlio' O!fiCial aOs trabalhadores da pesCa I

centrado na instituiG;;o das Colônias, correspondia por outro lado

plename'nte ~ repre'sentaç~o ex-herior çorrente as condições dA


sobrezyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
quele' trabalho. !:ssa representaçãol qUe se encontre ainda hoje sU,B
jacente- ~s formas de interf,S'r;ncia do EstadO) nesse setor de p rcdu-
".,
Çao" encara as populaçoes
~. ~
pesq,Uelras do pals como uma un1.Ca e mes-
, .
ma massa indiferenciadaJ
"
Pensada como unidade por referencia a i-
..
d~ia de "Pesca" ef1quanto atividade produtiva eSPecifiCa mas homogÂ
nea-
88',1 em,u.m determinado momento" g-SSe sistema corporativozyxwvutsrqponmlkj
afiei,

aI encontrou-se " condiçoes


adequado.!as '" '"
de produçao em JUl'ujuba e PS
de' expreSsar uma real homogef.'l'9'idade
interna, aS mudanças pro!fundas
aI ocorridas vieram pouco a pouco inviabilizar e'SSe PaPel congrega
dor da Colônia'.

Por outro lado. o sistema foi quebrado em sUa l6gicB original

com o fechamento de Policlínica da PraÇa XV ~ com a unificaç~o do

sistema previdenci~rio nacional, BP6s 1964~ de tal forma qUe a 1'e-

de- de' Colonias de' Pesca, ainda hoje mantida, Se esvaziou de seu

sentido, original, permanecendo: aPenas na mem~ria dos ,E.es,ç:adores c.9,


# ~

mo simbolo de-ssa identidade' residual comum - referencia da desu",


,fl.JeOI atual.

A repr9sentaç~o exterior sobrs a uassociação de interesses"',


8zyxwvutsrqponml

do.a produtDres de Pescado permaneceu por~m informando as interfe"


r;nciõs d!l,-;atomiõ"p sSCa indu strialli
governamentai s no set07-._AzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA /

IIpesca artesanalil .• onipresente- nos textos le9ais e nos planos of;i~

ciais,_ representa um reconhecimento emp!ricoJ dos flagrantes resul •••

t ad as d a d ~ f erenc~agao
. IV
í
no setor- Esquece "
porem •
- e a propr1a nomell
clatura escolhida o revele: - as verdadeiras diferenças qUe se- im •...

pÕem!,hojO' na produção de Pescado-, escondendo os conflitos e as po«zyxwvut


I'V ,,..,

lari zagoeS qUe envol Ve-m esse proceSSo. Dfll.c resul ta' uma açaO desco-
nexa (2) .• o mais das VeZeS ruinosa aO desenvolvimento do setorjmas

qUe de qualquer forma, representa um polo de refer;ncia importante

para a manuteng~clJ da identidade dos Pesça.9"ores.-Refer~ncia ne9aÜ-


~ ~
Va porque' une todos os qUe se tem de haver com essa aÇao gov8rna-

mental representada como ileg!tima, mas sempre presente Pela força


N _ ~,

de coerça~ com qUe Se lhes impoe na regulaçao da pratica produtiv~


na política de cr~ditosJ no controle dos mercados-

Referir-se a essa demarcação ideol~gica exterior representazyxwvu


I

por_ outro lado, a possibilidade de reforçar. a legitimidade da idell

tidade- de fl...e..s,cador,
como um segmento relevante-- entre outros da so•.•

ci8dade nacional- Esse distintivo qU'e aciona uma categoria legi ti-
,
ma de irabalhadpJ'J de ,PJ;'od4t0:t:1
garante assim uma dignidade pro-

pria a- quem de- outra forma não S8 enquadraria senão nas categorias
dos .E..QE.r..fi.,s., dos J..9.norQ_nte'o-~.t
dos .ª-:trasa.doq,.
A importC~ncia desse re-

(z) A ação govornamental sobre a Pesca ,tem se proclamado como uma


lutá contra a Hirr~cionalidaden dak pr~ticas produtivas neSSe Se-
tor. Ode§cinhpciment9 das condiç~es reais de produç§o e da 16gi~a
subjs1egte aqUelas pr~ticas ab lado de uma preoc~paçao em reprodu-
zir a a a fbrça em deSenvolvimento capitalista cla se co tem redun~ í

do em tIm recorrente uf='racasso", reconhecido oficialmente Pela pro-


pria raiter~çab dos t~rmbs dos suc~ssi~ok diplomas l~gais, numa
tradiçao qUe remonta a Lei· 8'7'6, qUey ja ,em 10 de setembro de 1856,
dispunha sobre o deSenvolvimento da industria PesqUeira_
9zyxwvut

cur so. ~, muito, flagrante~ e com ela tivemos qUe' lidar frequentemente

em Jurujuba.• onde ° pertencimento" ~s vezes at~ secund~rio ou fra!l

Camente-' falso" ~ categoria de ..\2J;l.scad.0.F.t


era acionado como legitimA

ção aOS olhos do pesquisador -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE


qUe deveria encontta~ Pescador~s nu
bQi:tro, de.. pp'sGa..~, na <ÇEDl.!J.ni.d..9-.da
9e....pesc2flqr!?.,.ê.de Jurujuba- La•..
,
mentava-S~ por outro lado, as veZes, qUe determinados segmentos f

das populações de baixa renda sobretudo no i..n~t..ar,i.Q..J;.


não dessem o
devidO! valor a eSSa categoria- UL~ onde eU estive morando~ PeSca-
,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
".".., .
dor 8 mendigo .• Sabe qual e o meU grau Ia? rles dl.Zem~ VOCe e Pel. ••.

t ali quase em Itabora.t. Eles tratam a gente como Vendedor


xeiro.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB

ambulante de rUa-"
A e-SSa dignidade corporativa pelo Pertencimento "a Cla:êSr:L. d..D.§.

~~ore~" vem juntar-se o segundo~ daqueles planoszyxwvutsrqponmlkjihgfedc


ci tados~ o da

identidade Pela ucomunidade de Pescadoresu" acionada em torno do


tema da t1indiferenciaçàoll pela comunhão) das condiçÕeS de cO-habita
ç;Q.em Jurujubae
'.
A precisa demarcação:, geogr~fica do bairro, al;'m de ter contr!
bu do. c{artamente
í para a formação origin~ria da identidade local ,
serVe' einda como suporte empirico para a articulação do tema ideo •...

lógico da SUa unidade. No qUe ~ reforçada pela grande eSPeci ficidA


de- de-sS9' ubairroll no quadro urbxno, da cidade de- Niterói: isolado

Pe-1os acidentes de geografia" isolado pela inserç~o em territbrio


de" jurisdiç~o) mili ter" como enelave entre- dois grandes forteS (3).
'\ '"
Habitar em ~urujuba~ a exceçaO das grandes propriedades qUe

funcionam autarcicamentel importa na conviv~ncia em uma


.60
eXPerJ.en,...

eia comum'de Peso 'inarI"ed~vel •.• a viv~ncia do b,8J,J:'A.Q. de Jurujuba.

Ci)"'rss'a'espe~i":ricidade ~ estudada dentro da uma abord~gem de geo)oo


~afia humana em trabalho de 50nia Bogado Vieira (1975).
10

Soma.se a esta a viv;ncia de-uma unicidade-d~ relaç5es sociaiszyxwvutsrqpon


d~ Parentesco~ d~compadrio, de vizinhança, d~ companheirismo Pelo
trabalho - qUe transforma as experi~ncias isoladas de moradores do
mesmo bairro: em problemas imbricados numa "comunidade": a comunidi1zyxwvu

de- de-- Jurujubat


o espaQO social de Jurujuba assim delimitado envolVe quest5es

comuns de OCUpaç~O do SOlOl de condiç~es de construç;o rpsidencia~


d~ aCeSSO aOS serviços de ~gu~1 eletricidade e BSgOtO~ de demarca-
ç~o e-Ocupaç~oJ de ~r8as de lazer, de segurança Pessoal e dbmicili-
art de utilizaç~o" do com~rcio lOCal e do transporte ur bxrio.,o de

preservaÇ~o~ das condiçÕes amhientais gerais- EnvolVe- tamb~m, por

outro lado, uma s~ri.e-de--qUestões ligadas ~s condiçÕes de re-RTodu-


ção.!umorall1 de" s ous moradoresg controle- de comportamento desvian;-zyx

re-
N 'N

~, p-reSe-rVaçaO do' liambientell adeqUado a educaÇao dos jOVei1s,

gras de--lIresPeitol' vi cinal, ete-


Essas qUest~es se articulam todas entre si umaS p outras, a
cada momento; envolvendo o conj unto da "comunidade II - ma.nif 8Stam- Se
frequentemente, no entaPto, como problema.s localizados envolví-?ndo
.'.
m1crO*areas de viz1nhança, certós unidffdes domestiCaS
,.,
ou ate mesmo

uma ou outra famllia eSPecIfica - em condiç5es de conSenso ou oon-.

flito sempre demarcat~rias, por~m, de um eSPaÇo social comum.


4 força desse vInculo. se mantem tantG mais forte qUanto ela ~
reite-radé'1mentetestada Pela precariedade qUe em todos os niveis g,Q,

A OCupaÇao do solo e preCar1a, dada


• N • ,..., " •

Verna a hab1taçao em JuruJuba~

a condiç~o.de terrenos de marinha da maior Parte do bairro", '!!os


,
serviços de luz, agua e esgotO', ap snas o primeiro· funciona, sendo
os outros cobertos por obras Particulares de poços, cisternas, fOã

saS e Va 1as' !lio comerC10


" tI' e aCan hda o e Care1ro;
. .
••zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
d1spon2ve as cond~-
11

-
ÇOes de transporte coletivo ~
Se' regem pela conveniencia das ccnc sa-
. '.
s~onar:~aS.
fi união c:ontra g-SSeS ma1efIcios ~ constantemente invocada co-

mo uma arma preciosa~ qUe deveria ser inclusive, segundo SeUS relA

tos, mais frequentemente utilizada, e de cuja intensidade esclare-


cedora nos testemunha~ os tr;s seguintes CaSOS recolhidos na trad1
ç;o local;

11 a f~brica de c6nservas mais entranhada no corpo do bairro inic!

ou h~ alguns anos uma linha de fabricaç~o de farinha de PeiXe, qUe

complemgnt~ com grandes vantagens finanCeiras a atividade enlatadQzyxw


, ry.. , .., • ....,

ra. E'uma pro duç xo qUe ~mpl~ca, porem em. cons~deravel poLu çxo.í do

ar e do ma~ fronteiro - sobretudo pela exalação de um cheiro' forte

e llaUseante-e fi Parte da POPUlação imediatamente afetada mobilizou-

se prontamente contra essa degradação de seU eSPaÇo de vida, consa


'" ,
guindo por vias formais ( PetiÇoes, aPelos as autoridades, iOl1oaa-

ção da imprensa) e informais (depredaçFies, sabotagem), qUg sustas-


s8,tal pr~tica. em uma conVersa por mim prAsenciada, dizia um habi.

t:ante-dessa ~rea a outro de ~rea oposta, de ocupaç~o rarrdei ta, oU


, A
de- uma outra fabrica continua produzindo farinha de Peixe~ "-VOCAS
tamb~m precisam se- unir por l~" Aqui, n~s conseguimos.lI;
~ ,
) a linha de onibus qUe liga Jurujuba
2, a Nitero! tem sido entregue
a SUCessiVas concession~rias de transportes urbanos, acarretandoj

uma flutuaç~o sens{vgl da qualidade do Serviço_ em determinada oc.a

uma dessas empreSas ultraPassoU t~o acintosamente' o


si~o; zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ", . zyxw
m~n~mo

de- qualidade esperado pela populaç~o qUe lias mulheres se-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUT


reuniraml
e bloquel:lram a estrada' l~ na altura da V~rzeail O P8ssoal dos ôni-

bus chamou a policia, mas elas apedreÔaram, o CarrOJ - mais aS criaD.,


Ças- A!, o prefeito',trocou os ônibus!!;
12

3lzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a rede urbana de abastecimento de ~gua, embora sUa canalizaç~o

venha at~ Jurujuba, s~ funciona qUase exatamente at~ a fronteirazyxwvu


,
inicial do. bairro _ O suprimento) drrssa necessidadg basicS' Se faz m.e.

diante a prec~ria colet~ das ~guas pluviais Cem cada unidade dom~~

ticãl, ou mediante- a utiliza.ção de ~gua de' poços. Estes úl timos ,


dividem-se- em cisternas públiCas e em poços pritlo,dos (em gr~ral

construidos com' a.ssociação de' diVersas unidades dom~s-bicas) - O ún.!.

COiPOÇO pÚblicD de f~cil aCeSSO aO núcleo do bairra (que- remon,ta

~s suas próprias origens) encontra-se localizado de tal forma qUe

recebe-'I' inevi ta,velmentsl a infi1 tração das f'o s sas sani t~rias qUe 01

rodeiam., o que, embora limite o uso de eu a s ~guas, n;o o desquali .••

fica absolutamente como um recurso essencial do, bairro. Funcion~-

rios da Saúde Pública, em recente inspeção1 decidiram: Pelo: SeU fe'"

chamento, tal ai teor de contaminaç~a;. Foram e t;m sido imppdidos I

de proCedgr a e-ssa intervenç;o, "enquant-o, n~o tiVer ~gua nos Ca-

nos",

Se' o "esp{ri to comuni t~rio 11 pode' assumir formaS tão evidentes

aO; enfrentar problemas objetivos vitais para a reprodução, imediata

dós SeUS membros ele n,;o, deiXa d(}' ser igu8lmGnt~e forte no plano) mg

nos evidente da preseI'Vaç~Oj dos PadrÕes de' conduta e "moralidade-",

seja' no qUe toca aOs membros assim definidos do' grupo',- seja no qUe

toca aO contato com elementos de fora-

Um tema qUe traduz com clareza essa qUest;o ~ o das virtudés


,
d9'- Jurujuba corro uma "bOa vizinhançau. Ideia sempre ri3ssaltada Pe-

los moradores, ~ qUe engloba tanto a representaç;o de um~ grande

segurança ffsica PeSSOal e domiciliar (110 SI'- pod8 dormir' de jane-

la aberta no verão") qUanto a' de uma relatiVa segurança moral ("a-

qui ainda n;o tem, tanto 8'8888 vic:i.os qUe tem por a!II}.
13

Embora Se re-eonheça impli.citamente qUe' Pelo menos a prim.8ira


Ga:%a.cteristica deve muito ~ posição de Jurujuba como enclave en-

tr~ dois Fortes, isso Vem aPenaS reforçar para o conjunto do bair-

r~ uma unidade moral qUe o OP~8 aOS outros bairros populares daszyxw
,
cidad~s grandes, encarados como antros de vicio e crime~zyxwvutsrqpo
(. ~
Esse n~vel da identidade local, com SUa enfase nos valores a~
,
ticulados , sera mais amp18men.te
em torno da categoria do t..-r,ab,aJbp
..
examinado ao.10ngo dos capItulas subsequel3.tes, por imbricarr-se mu~

m.de Perto com o· núcleo de nOSSa an~lis8 das idpntidadps Particu-

lares do Pequeno produtor e do trabalhador assalariado. Cabe reS'"


sal tar aPe-naS aqui como o tema da co-habi taç;o em Jurujuba, atra-
v~s da forma fenomenal de uma Participação em problemas comuns e

numa mesma unidade- moral serVe ~ expressão da ideologia da "indifa

renci aÇ;O rr subj aCente- ~ l8gi timidade- do modzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS


ela· da C::,9.mp,8.,nh.a..

Esses planos da identidade Pela "corpoE'ação" e pela ticomunidA

d~' completam-s~ na articulação com o da identidade pela "tradi.-


ç~Oil - introdut~rio do tema da Ucolltinuidade", da Uestabilidade1t,

que, como viramos, fundamenta, jurr-tocom os da ila'ssociaçãode int,a

resses" e d.a "indiferenciaçãoll, o mo d sI.o daE-~E,anh.a..


, .' .,
Como ja Se esclarecera anteriormente, ha entre os habitantes
de Jurujuba um núcleo composto por pOUCas famílias pxtpnsas qUe fa

zem.remontar SUa preSenÇa em Jurujuba


e na PeSca at~ uma populaç~o
- .
índ!gena aut~cton.e, incluindo: incorporação de sangue pscraVO das

Rlantaç~e-s de.são Fr8nclsco e de sangue e-uroPeu de contrabandistas


e~negreiros da Furna do Gato. Sl3j a como for - hi stória ou mito, •..
e'ssa ref8r~ncia j~ demonstra a preocupaç~o com a tradiç~o comum.
quS balisa a cDnstituiç~o da identidade lOCal. Essa legitimidade
pala descend;ncia de' algumas familias ancestrais nucleares n~o e"
14zyxwvutsrqpon

aPenas o.privil~gio daqueles qUe 3 elas se- filiam diretament8'. A


,
pratica de' uma certa endbgamia no bairli'Q Vem realizandQ).t. na veI"da-'
; .
de-, uma assimi1aGão progressiva dos imigrantes das úlJcimas dS1C'a-

das# de modo' qUe a leg,itimidade tradicional pode ser invocada por'

uma parc81a consider~,v81 da popu1aç~0:, variando aPenaS de grau .'

GraU determinado, por SUa Vez, Pela incorporaç;a maior O·U menor.

dos sinais da identidade Pela cO-habitaç;o e P81a participaç~o nQ

trabalh~ da Pesca.
r""
~ssa

trad1çao:nao>
'" '"
esquece
b; f...·..
tam em. a re~erenC1a
.. '"
a re11g1ao
t'
Cazyxwvuts
Q~

lica e .~ SUa longa e vari~ve1 influ~ncia sobre a "ou I turall local •


~ , ,
t. interessante; sObretudo, como a pratica a1±ua1 do s culto s catoJLi--~

co s coincide- com' a represente.r;;:ão sobre Ç. insti tuiç~o da igreja no

bairro. Uma liberdô,de dt=; Ts'-interpretação muito gr2nde-do ponto: de

vista da popu1aç~0 lOCal Pargce- ter sempre mantido viVa ali uma

Versão de "catolicismo p upu Ljrr " J do qual se orgulham at~ mesmo' al-

guns dos porta-VOZ~s da m8m~ria social. Conta-s~ a hist~ria de co-

m~ os jesuítas, aO desembarcarem para fundar a igreja de N.S. da

ConCeiÇ;O, encontraram pr~ticas religiOsas "en~malasll# fruto de

uma distante 8 abandonada conversão e de como uma longínqua ant:e'"

passada com eleS môntevu longa pOl;mica doutrin~ri81 convencendo-

os a naO interferi~ em boa Parte das pr~ticas religiosas em voga •


•.
A figur8 dn r:.es.~d..eirr:.r, associada habi tualmente; a da Rartsir§".t e ilJ.

timamente vinculada ~ igreja cat~lica local, ~ hoj e ainde um: traÇ01

vivo dessa trediç~o.

Outro trêÇO: ainda presente' e QU8 aponta Para a efic~cia abra,U

gent'e qUe a manipulaç;o da "cul-tura" cat~lica pode tor Para a pOPY..

crlS. t~
1aça'" ••
O Pssque1ra. local •• a da reTeronC1a
8
nA.
aO Ca 1en d"
ar10 aO e 8'zyxwv

..•. .•. '. . H' 1 ,:


1ncorporaçaO de SeUS marcos a prat1ca peSque1ra. a uma onga
"-
Sc-·
15zyxwvutsrqponm

ri~ de datas Perigosas para o t~ato mar{timo~ qUe portam o nome

dos santos correspondentes. O ê~rtot9.mel!. (dia de são u -


B2,rtolomezyxwvutsrqp

24/8) ~ quase um sinômimo dessa-s perigosas conjunções de luas, ma-

r~s e ventos~ a qUe t;m de- estar atentos os qUe 8nfrentamC:!ieria-


' •.
ment e o; maI'-. A P. aSCOa e o Natal,
N
ass~m como o d~a de Sao; Cosme e
N •
SaO) DamJ.ao. e ao marcos cerJ.mooJ.almente respeJ.tados.
f/IV #w •• •

. . 1 ,..., P
A pr~nc~Pa data, no ent~nto, e a de Sao adro - o sQnto Pa-

droeiro: dos Pescadores - comemorada im,effiorialmente com uma grandg

Uf.esta popularu. A festa se dQsenvolve segundo um rot:eiro complexa


"
qUe articula as mani festações propriamente de base comuni t~ria a

participaç~o das tr;s instituiç6es interessadas no seU desenrolar;

a Igreja, o Ex~rcito e o Governo municipale Assim, temos a Alvora-

da~ de S~o Pedro; tacada Pelo Forte, temos a programação li furgica


"

d e comun hNoes, • • 1 ~
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
j
trJ.duos, nOVenas e m~ssas, e temos a ~nc usacr da

festa no calend~rio t.urístico., da cidade de Niterói, mas temos iíam-

b' em, so b retu d o, a p r o ca.•..•


s s ao mar~~.tJ.ma, d . •
e qUe partJ.CJ.paffi as emb aI'C.a

ç;es locais, e a "festa de- largo", com lei15es, barraquinhas, fo~

gueiras ~ fogos d~ artif!cio.

A id~ia central da Festa" a da homenagem aO ~..aDt~~r9e.iro;


, N

dos PflSC"a.d..Rf:.8s
•• comum alias a boa parte- das populaçoes de- traba-

lhadores da Pasca no país, incorpora log~ de início e representa-

ç~o da unidade dessa categoria; uma fosta, um santo, para todos os

pSj.s.EAdo.r.e.~.Sendo por' outro lado, a Festa de JurujubaJ ela incorp2.

ra a representaç~o da unidade local - "bairro", tlcomunidade'l ••• e


lhe empresta o selo da legitimidade por uma tradição qlJe não pode

Ser qu.ehrada. ,1:\ r8alizaç~o da Festa importa na dodicaç;o' de certo

te-mpo; e trabalho da' part'e dos p '?scaçlor.~..§. na SUa preparação, 8 cond'y'zyxw

Çao-
N
alem ,
de anvo 1Ver certos 9as t os, rePart1 'd os em pr~nc~p~o
. f.
pe 1a
15zyxwvutsrqponmlk

ri~ de datas Perigosas pqra o t~ato marítimo. qUe portam o nome

dos santos correspondentese O êQ,r~.QJ.9


. .meU.(dia de são 8e.rtolomeu

24/8) ~ quase um sinônimo dessa's perigosas conjunções de luas, ma--

r;s e ventos-1 a qUe t~m de estar atentos os qUe enfrentamêisria-

mente o,mar~ A P~scoa e o Natal, assim como o dia ds são; Cosme e


s~o~ Damião. s;o marços cerimonialmente respei tados.

A principal data, no ent2nto, ~ a de S~o Pedro - o s3nto pa-

droeiro' dos Pescadores - comemorada im;emorialmen;te com uma grande-

llf-esta ,'1 festa


poPUlar",-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Se d:}senvolve segundo um roteiro complexa,
.•.
qUe articula as man! festações propriamente de base comuni t~ria a
_ ~ N

Participaçao das tres instituiçoes interessadas no SeU desenrolar;

a Igreja~ o Ex~rcito e o Governo Municipal- Assim, temos a Alvora-

da de S~o P3dro, tacada Pelo Fortel temos a programação litúrgica


"
de comunhõeSI tr!dUos, nOVenas e missas, e temos a inclus~ry dazyxwvutsr

t esta no calend~rio tur{sticQ. da cidade de Ni terói, mas temos iíam-

b~m, sobretudo, a prociss~o mar!tima, de qUe Participam aS embarCA

ÇÕes locais, e a ilfesta de largoU" com leilões, barraquinhas, fo .•.

gueiras ~ fogos d~ artif{cio-

A id~ia central da Festa" a da homenagem ao s,.antp,; ~ª.droai.r.q


. " d •..
db~ P8sc.adgBs •.. comum al~as a DOa parte- as populaçoes de' traba-

lhadores da Pesca no pa{s~ incorpora logm de in!cio e representa-

ç~o da unidade dessa categoria~ uma festa, um santo) para todos os

E.f••scª.dofe.~. Sendo por ou t.rn lado, a Festa de Jurujuba, ela incorp2.

ra' a repr8sentaç~o da unidade local •.• "bairro", "comunidadeu" e

lhê empresta o selo da legitimidade por uma tradiç~o que não pode

srrr quebradae A rGalizaç:~o da Festa importa na dedicação' de cortD

tempO! e trabalho da- part-s dos p~scador~~. na SUa preparaç~o e cond.\;!.


'" , t
gao~- alamida enVolVer certos gastos, rePartidos em princ~pio Pela
16zyxwvutsrqponmlkj

populaç;o como um todo.


' I' 80 porem
O. nuc da Partic1paÇao
o IV
comum - enquanto E.Bsc8.d.C?J~.9':zyxwvu

na f esta 'tO
e' a .QL99. ~SaD.l!}.9.r11ma
'"" qUe acomoan h a o tran sle.do da

gemiam um determinado, Percurso tradicional. Dessa procissão dever!.

am,participar todas as embarcaç~es de PeSCa locaisJ sendo uma de-

las sorteada para: c8.rregar a imagem; cabeça da procissryo .DuaSi!~

tras embarc2ç~es abrigando os mGsicos e os fogos de artif{6io.

Um outro ponto em qUe Se dev8ria msnifastaF a participaç~o cR

rnurn •• .l a aqU1 enquanto


.' o
ll1..9.Lado,res dc;.. Ju,ruj(j b,ÇI,
'
- e' o

na Cess;o das prendas necess~rias) seja no se~ ar~Bmat8. Esse pon~


~
tm seria tradicionalmente o principal résponsaVel Pela co'b~r:tur:a

das deSPesas c8ri~oniais~

A realizaç;o atual da Festa provoca por~m constant8s e profuQ

das mani festações de desagrado com o seU 8svaziament.o;~ com a SUa

modi ficaçio.t com a Perda do espiri.to abrangente qUe Se supõe tenhazyxwvu

-8 cnrncteri ZadO-iem outro s tempo s.

Perda " qUe e sentida como um d os mais evidentes sintomas dessa

lllu.d..a.n,ÇA
ger:::rl qUe rompe com a Ilestabilidade" na ruptura da: "tradi-

çãoll, quj, subvert:e a Ilassocie.ção de intereSS9Sll e a "estabilidade"

na di:ssolU(;~m dos laços da "corporaçãol1 8 da "comunidade'l.

Cuja conduc~o~
..• tr8dicional

pre·sSupunh8 a "indi ferenciaç~oP dos PnrticipantGs, t'ém qup Se rpa-

lizar hoj e em condiçÕes extremamente revelador·as da 11 di ferencia-

O PaPel de f.8ªt.a.ir.9~J tradicionalmente inVestido sobre o R."',8-

~cL0Ã qUe mais contribuiçÕeS carreaSSe para o Livro de Ouro do Seu

to, passou a con s t.Lbu í.r- pr1V1 1"


• o
9910 o. da f am~
'1 ~a
. nuc 1ear de um dos

partiCipação
17

A •zyxwvutsrqponml
a-tiva na festa- O mesmo .a.r.m.a...9F~
faz Pesar ssu PODerio eConomJ.co sg

bre-- o l.eá:lão.~ qUe passa a girar fundamentalmente em torno de aua s

contribuições e arremates espetaculares- demais a..t.rnadp:reS, gran-


OszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO

des praticamente ignoram a festa-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK


• IV'. _ • tA •
rssa s1tuaçaO 8 o oposto da representa~ao de sUa convenJ.encJ.~
.'
Ao J.nVeS d e conr f r a t ernJ.ZaÇ{ao
. en t're N .. J.mpoe-SEr
J.guaJ.s - uma c 1 ara cisã-o

a meio caminho; da abstin~ncia de" uns e da presença suntu~ria de og

tros,_ tanto mais qUanto: o mesmo pad'r~o' Se rePete entre os trabalhA

doreS, com a progrossi\1a Perda de interesse e de grau de participª,

ç~o dos tr.:\balhadores assal21riadas~ cu j as duras candições de reprR

dução. n;;o lhes Permitem contribuir para a f~sta1 nem mpsmOj como f,~

gurantes titUlareS da prociss~QJ, j~ qUe não possuem embarcaçõp,s'


,
proprJ.ase
.
,
A mt,!Qa.~~ da Festa e assim como qUe um modelo reduzido: da

grande- fT!.u*d~anQ.a.
A representaç~o sobre uma- descontinuidade no; tempo

recobrindb- a RBrcePÇ~o da descontinuidade social, da diferenciação,

instaurada- Como última trincheira da identidade comum: a

CiêI da !Jl.I:l"d.Ç)ns..a
permeia os discursos qUe agora se projetam na dive~
A.'zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFED t
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I.
gencJ.a- ~ talVez entao a maJ.S vJ.vJ.da das representaçoeS comuns: ~
1'1#. #'til

do mudou~ tbdos mudarame ~ neSS& negatiVa de identidade atual Se

reafirma aquel~ limiar de refer;ncia ante o qual Se p3de dar uma

1'D.Y.9a[lSll;g a t'tradiç~on comum, o plasma indi fprenciado da "8stnbili •.•·

dade" e da' "uni~oll Partidas-


,.,
e><prr:;SsaO

representaç~Og a construç;o da estrada ligandcr Jurujuba a Nitpr6ii

a criaç';o das W-ºP..§. (as f~bricF:1s enlatadoras de sardinha); a in-

troduç~o, das inOVaçÕes tecnol~gicas fundamentais dos motor8,s~ _ __eig


.Q.2P.Q,;, das .ta,q.e.? ~n-"J,º.o. 8'- das iJ:'.fJ.:bne;Ír.aê,; a modi ficaç~o do siste-
-,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

~8

m~ de comerc~alizaç~o dO~Pescado desde a extinç;o do mercado ffiuni-

cipa1 da PraÇa XV at~ a criaç~~ do atual sistema controlado

SUDEPE via CIBRAZElYl;o fechamento da Policlinica dos Pescadores

a modi ficaç~a: do sistema oficiAl de- previd;ncia social; a baixa- d,:;

ifertilidadé do mar- e o crescimento do mercado,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR


cornsurn í.do r- de PeSCa>'"'

dà:'; o desemPenho da Colônia e o do Sindicato' (4); o r8gime de c on-

Cess~ooficial de cr~ditos; a abrang;ncia e intimidade dos laço""


das famílias extensas.

Se-OS temas s~o ainda comuns, a SUa seleç;o e articulaç;o nos

relatos e o sentido com qUe Se avalia os rumos dessa m


.•uçl.ª~ .'
Ja Se
, ,..
apresentam. di s td rrt.oa, na propria definiçao das curvas por ela Lm-

pressas na trajet~ria de cada um.

OposiçÕeS esse-nciais' tendemo, a definir a polarizaç~o entre Pe~

qUenos produtores e- ~doreÇ>..-, entre Pequenos produtores e traba--


' ..

lhàd,ores n~o ••propriet~rios, entre trabalhadores assalari8dos e .a!:'"


mActºre~.
A primeira- oposiç;;o, definidora' do Par IIPRqu8nos pr odu t.o r s s \.

. ,
rA~; a segunda, definido"Xa dos PareS segu~ntes~ e lida como con sa-

qu;ncia do. surgimento das t.r_atn_8i...FA?,.tisto ~, n;';o como uma o po e L>

ç;o gen~rica entr~ propriet~rios e n~o-propriet~rios dos meios d~zyxwvutsr

*" ••. ..,.......,. ....•.•..••....•....•..

(4) O SindiCato dos Pesc§dorps dOs Estado§ da Rio de Janefro e E~-'


piI'i to! Santó' tem tido;, segundo SeUS di~igeHte~ atuail3, uma sxil3te,r'
cia atribulada- Sua presênte fase hijtorica rerr10Hta a 1916, qUê:lnd!;
t<=:ve.SUa f....a,.L~ con f er~d~ p ~lo m~rr~~t8ri'o do Tra~a~ho. Aptrs SUCeS5:;.
Vas ~nt~rvençOes no Per1odo p"os-CeI'~or",a 1§64, eMc~ntra-se atu~lme!,
te- em maos de uma Diretoria el'eita- Nao Se fili~ a CoHfpd8raçao G~_
ral das Pesfatiores, qUe, sob 8", tutela do miHist~rio da I1grict11tu'p
ra, :relTTete'a estrutura' das Colonías de PesCa: So mui to Tecentetrlen,
te PareCe eBta~ se coHstitoinMo ~m uma referencía concreta Para o
P.a.~_a.oo~~s.. de JUrujub'a, qae s(3 nad igljoraVam SUa 8xistencia, consj
~ravam-no, distante e alheio 8 sUa praticae
19

e a SUa dissoluç~o; hoj e tanto n as .GBn0ª-ê.


qUanto nas EaiQei:ra?, Pe-

lo. efeito' das nOVaS relaçÕes de produç~o nestªs ~ltimas.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV


O referencial comum da r~u
.•
dÇl~~ naS condições de trabalho.'~ a.§.

sim o do surgimento; das t*r.a:i.IL8JX.~~


enquanto inviabi1izadoras dozyxwvuts

Cssa OpOslÇaO
. ~, ,
porem revela um nivel de identidade, sem o qUal

n~o se poderia desenhar a PercePÇ~o de um~ ilGgitimidade~ de uma


ruptura n~s re-lações de produç~o. CSse n{Vel ~ o da continuidade

naS pVl. dA.zyxwvutsrqponmlkjihgf


r
Percebida no prOCesso de trabalho e se ancora enclaS emPl-
ricas qUe situam as çlLnpa~ e train8~a~ n~o como m~ios qUe se 0-
IV

POem substancialment~, maS como formas de u~ continuum aperfeiçoa-


do.

A PercePÇ~O de qUe n~o h~ modi ficações radicais entre c;aI19.a.9.,

e trAineiras. do ponto de vista do prOCeSSO de trabalho e qUe, Pelo


contr~rio, estas ~ltimas s~o apenaS mais favor~veis aO bom desemp.a

nho produtivo reforça a ilegitimidade do novo proceSSo de produ-

ç~o, dã forma como, Se Ver~ separadamente para o Pequeno produtor


no Capítulo 11 e para o trabalhador assalariado; no Cãpítulozyxwvutsrqponmlk
111.

CSsas lIevid~nciasii empiricas, ou sçda, eSSaS Características


fenomenais do tra,ba1ho em ~.n,o-A$",
e \:r.ai.
•.n.!?irsJ?,.
qUe pormi tpm a elabQ.

raç;O de uma representaç;O' de identidade fundsmenta1, comeÇam Pelo


j~ ci tado plano, do: contato com o' m,al:
.•e o p.eA&e.-Como vrramos, con§.

trai-se sobre a viv~ncia dos problemas decorrentes da apropriação

do Q.eix.e,
um corpo de representações
,
muito nitido, marcadb: pela Ca-
,

tegoria da i".n..s•.
:tª.tJJ1~iqAç,-J.,8~,
da imprevi sibilidade d8.s condições de
apresamentO dos cardumes- Condições qUe d':)vem-
Ser enfr8ntadêls t an-

,
O segundo plano e mais esPeci ficam9ntET o do continuidadf') ~-
20

E'" para
D.Q..aI'trs,ineir.a.- compre8nd~-lo: t'orna-se necess~rio' 8sclar2cer
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

a forma como se representa hoj e em dia as pr~prias cAI1~ enquan-


to,meios de produç~o.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

entre- estas ~ltim-as 2S qUe funcionam e as


com I..i'de .de #eJ'.ras:tt.~ qUezyxwvutsr

funcionam comzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
~L~~~. As CanOaS a remo são utilizadas SX,..
.•.
clusivamente Para a Pesca d~ arrastol por não se adequarem as con"

diç;es da Pesca com rede traineira, feita em alto mar-

I~ PeSCa de arrasto nas canoas a remo representn- um P.9rcentual

m!nimo-;da produção atual de Pescado em Jurujuba. É uma PeSCa cons!

darada antiquada1 menos rendosa, o qUe corr?spond~ a um real de-


,
crescimo:da fertilidade
,
do mer proX1mo,
. ,
das aguas Costelras
. aO

bairro". onde se desenvol've' o saa P2SGae É sobr.etudo uma produção


,
I.
.•. ;.

instavel, inCaPaZ de prover sozinha a subsist~ncia dos qUe nela


trabalham.; pois s~ se--pode efetivar hoje" com algum proveito duran-
()
te" a safra de tainharflugilids8 qUe Se estende pouco ou ma1SeI, . f'
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFED
J

til entre os meses de maio· a julhO-e n propriedade e Uso' pr-oduíií vo.

dessas CanOaS deve-se- complementar portanto PeJ.a propriedade de- ClMo

traI a motor. qUe Permite manter a produç;o no r35tant~ do anoe


As CanOas a motor s~o assim hoje consideradas como as verda-
deiras canoasl as qUe podem efetivament~ funcionar como meios
"" , 1 "", 'J:.';
uma p roriuçno mais estave , na O so por p'''lrmll:-.,1.rem.
o Uso das
.,
de
'\

traineiras em alto mar, como por se pr8sterem tambem a PeSCa a!j


,
rastoí seja substi tUtivamente as Canoas a remo nas praias locais
(J\d'ão;
e ~va), seja em praias disitantes (Chari tas, Icara!, Flamem-

gol •.
•.. ..•.
A PeSCa com rede traineira, por outro lado~ OPOe-Se a PeSCa
com rede de-arrasto como mais conveniente, tendo em, vista aS cond!
21zyxwvutsrqponm

.. t'
Ç~9S crescentemente prec~rias da Pesca praias da Ba~a
juntozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
aszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ de

GUanabara, onde a poluiç~o ~ a iluminaç;o noturna intensa afastam


,
ou afetam,o Peixe encontravel.

, A"
juba 8 fala~ em r8ferencia as canoaS a motor com rede traineira •

.'le.i~aê.." barcos ~otorizadosl assim chamados por assimilação metonf-

miea Dom as redes de qUe s~ utilizam exclusivamentee Define-se as-

sim a ponte de continuidade na Percepção dos dois meios de produ-zyxwv

da
N , , IV

ESSa continuidade' nao Se limita porem. a mera constataçaO~

equival~ncia de'ssas du as caracter{stieas produtivas' Ela se refor-

ça: naequival;neia dos proCeSSOS de trabalho im;]diatus qUe Põem em

ação aque~e'S meios. O trabalho P9squeiro' giTI Ca,noas a remo' ou na

Pesca de arrasto l apresenta diferenças evidentes em re1aç;o aotra-

balho deSenvolvido nas tre,ineiras (5) e J~ a forma do processo de

t ~a b aO
lh . . , b· .
nas CanOaS a moto~ com rede tra~ne~ra e aS~camente s~me-
"
lna-nte-
..8, do processo nas i&"1in.e;ir.,.9.§.' Numa como na outra." a .Q.8sc,a-
.,.
r,ia. propriamente di ta engloba trqs fases bem' d8finidas - a: .corrJcLa

do 'PeiXe, o e.e,r•.G.9..e o c.h.ar:rtcq;. A movimentaç~o, da embarcE:1ç~o 8 o

manuseiO-' da rede envol.ve>'ffi procodimentos e manobres id;nticas", com,

a aloca~~~ aOs trabalhadores de funç~es ou tarefas correspondentes

nos dois procg'SSOS e- chamadas Lnc Iu sd v., Pelos mesmos nomeS'

Do, mesmo modo; as semelhanças Se


. '"
~mp08m; ;qm tare f as ' .
s8cunda:C~-

(s) Uma boa ~tHografj;a daqOele prdeesSo produtivo em Ita5.:pu, tlnde


?ilida predomina, pode seIl e-ncolltrada no trabalhD de Elina Pessanha
lP8ssanha~ 1977,ppe 86 a 117}.
22

Al~m do mais, a divisão do trabalho imp1icada nesse processo


envolLve--e-mambos o.s CaSOS a oposiçãa: entre um m.e..str.e.e o' rosta dazyxwvu

G..o_mpa-n'p.a,
pur mais qUe no cn sc. das cano as e-1e seja a pra •.•.
p r opm ozyxwvutsrqponm
I' •

. .'.
pr~e-tar~-GJ d'a embar-caçaw e na; das t•.r.,a;;i!1$á.ra_~,um assa 1a-r~8.doi
. IV
coam:zyxwv
'- •...
funções gerenciais. i-
rssa continuidade-;.
se e-xpr;Wne-eob r ot udnu snquan:-'
_ 1\

tm continuidade- na P:COCe--ssode- trabalh(]J1~ onde a participêç~O; do;

m.:e,§.~Er de CanOa ff' a do. !]1gstr..e;.de traineira '"


envolVem i-denticas atri
buições de direÇão fi

"A continuidade do mestF.e. correSponde uma cantinuidados da .52!r!:"'


RlãlJh-a, enquanto' corpo' dos trabalhadbres engajados no pr-oc s s so pr-o--
düti'.vca-. A f.orma com qUe-- se m'anifesta a CooPer:ação: em ambos os ca-
sos, marcada Pela, co •..•
presença e acompanhament.D' de todas as fases

do prOCeSSO C?J' Pela divi-saoJ


- ,
tecnicçl" incipiente-' na utilizaçaGlJ
~
da lre"
-
dé:brainei·_ra, ,. tem i.mportannes rePercussões
"
sobr:e a pr:eserVaçãem a eS-
'''''''!I

~-8' D-!vol do:..esptcito da Ç.,Q..JrJ.Q.a.D}11'\,como princIpio:: de sol:iLdariedade·


,..,
'-~~-. '> ·r.- ....•. _
..' .
,
.
tA. ,

Ela )l'Ôoo:,.ppdg-
, •.
seI'" ente-ndida
• • • < " ~ ,. :,
porem sem a referencia a forma d'e
:;~ l,: .~

remuner-ação, da força de tr:Clb$,lJto


v . ~
no-s dois sistema s. Tanto' na prody;

çio
( \
canoeira
.~
qUanta! na trairleira: o 9s1'6rin Se- apresent-a sob a Tror--
ma da f}.Ç"r..1;1j.;.J.JJa"
ou seja, da alocaç~oa:o trabalhador de uma .e.art,e. dCD

Valor realizada no merc8do sobre' o' montante- dé produç;'o de cada


!ã,al.c:1lL.r1e:_..Qesc~ssa
g;. T
forma an~ffiala d'e assalariamRntOJ, cujo: seniiidàl l

apre-claremos oportunamente; importa aqui pela sust~nt.aç~o' da repra

s8fltaç~o de identidade, ora em si mesma-, j~ qUe se rePeti=! COffi'Ull

~itL),hA em A:mbosos sistemas, j~ pe-la SUa articulaç~o com o. esp!",


ri ta' da .9.9.ffi.E..a.l}ha
- cuja tôni.ca de solidaried~\'de 8St~ intimamente
ligada aO e-fe-itru de- intere-SsaffienxD: conj unrbo dos tlra-balhadoJr-8s }lOJ

bom, desempenha comum de-corre-nte- da vinculaç~o, da' nível salarial gOl

montante- da produç';o:.
.:zyxwvutsrqponml

23zyxwvutsrqpon

i.déntidade

«;.a'1..ÇJ.dtLai:JJ.p-.L~~
o do' e-rrfrentamento. comum das condiçõ~s de aleatl!1'" J

riedadg-' dos preços de- merc'ado. Pois se-; .p'ela .l2.~rJi.i..l,1-h_2.'


0.: moniíant'e,

a quantid8de- e- qualidade do produto detprminam por um lado: Q1 n!V:8l

da remun.eraçã-O:J por ou++o , el e tamb~m deP ende do preÇo' cb td dr» em;

Como o si stema de- comerciali zaç~o' Se caract'eri za em. sUa maior

carac1:1:er.1stica

pe-sa profundamente' na rePL'eSenlta'çâo' dtrs 2.E'


••.
s.•s.a.d9...r.a.~sobre a lJ..§..tft,-
},.
.•.

l:t;i...1.J•.dA-cJ.e;
geral de- condições de- produç~o;
. . "
SUaS
, . ..• acoplada ~. rePI!:ese-D.

tação sobre' a instabilidade- do o.,bjg-to de trabalho'" a m·arnrt e nç ~'Cl1zyxwvutsrq


. '

N ~

aO"Participaçao em uma eXPerÍ-encia fundamental.

As t..r.l1.tI"}Ej.}'~lrepresentam porem
, /
o sí.mbo l o ms arno. da ~l,:!.d81J..Ç.a;, J

po í,s ne-ssa continuidade com a s canoas a motor' 8las 8stabelpcem' um;

ma-rcO' inicial de diferenciação. qU·e ~ o' da "mod""rnidade". S~Q. em'ba.;g;zy


N .A
Caçoe-s qU:e-en:rrent~am' a instabilidade db m.a.I'.e a inconsta~cia do!

.Ei3).xe;l são e'mbarcaçôeS motoriZadas e" qUe fazem. UsO~de Uma :Vo,de

traineira; su 3 tripul ação trabalha corno Se trabalha num'a

fI'w . ,. , ." ,

rt:rçôo, por p;a1:j:4) .•bA~ o mercadm qUe enfrentam tambem; e-- impr8v~s~vel

em::boa Parto' ~ mas' tUdo isso ocorre- am outra escala, sans


t4ft42
;.m.IIT;'y!Jlgzyxwvuts

!l!,8.9-.Ul;",R
com a 8xP8r:i~ncia da produç~o c:r:rnoeiraa

,I1Sj:,r.ai,n,e.i,J:'õ..9.
possue-m uma estrutura flsica compleXa (no sen·ti

do, d(J' qUb acrr3Scenta-rn aO .9..8.9.,9..0" ;.$;


um, Cr9..t:1.\1.• e uma .Q.as.,fic'8ntral) e unn

maior eSPaça' interior' (cum a demarcação· de dois n!vpis de OCUPa-

çâo~ o: 12..o.+.:ÃQ.. e O,9;.º.nv~ê.). A possibilidade de utilizaç~o: di3 motD~p,S

mais potent.es, a disponibilidade de- eSPaÇOs eSPecíficos de arl11aze"


24,

"
ITamen:tü e' dEr,a'lQJjamento~ (inclusive- qUalitativamente sUPerlÍiDres, d.a,

vã de» ~" possi.bilidade' de ocuPação


, '..
de- uma maior
:.~,
tripulaç;io! e de prrr--

teçã-o desta contra as intemp~ries)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


e- a consti tuiç~o de um eSPaÇo

de' produção CaPaZ de e-nse-dar a utilizaç~cr de recursos mec';nicos a'y;

xiliaresl garantem a e'ssas embarcações UlTTa'


flexibilidade temporal

Ef esP,acial dIT' ação qUe' a s afastam substancialmente das cano as (6.).,

As ::t.rMI1.•.e.i•.fJ,;j.~podem ocuPar entre 10 e 20 trabalhadores por P.e..

rlodbs muito mais longos de embarcamento, ensejando, al~m: disso' ,


~ d a' d'.
urm apro f un d amenl..U: . ~ t' .
J..v~sI1tOecn~Ca d o t Ta b'h
8-'-' O,, com a es ~liab ~1'~z.Q,.
• í

a();§.~sP~9..estanqUe-s e continuadas
ção; emzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA das funçÕes qUe nas canca s

eram cobertas em menos tempo po rr menos trabalhadores.

Por ou t.r o. La do., as çAnp~a..§.,pe-la SUa redu,zida caPacidade prod,Y.

ti: v a, restringem: SUa ~re-a de aÇ~o ~s ~guas protegidas da Baia ou


",
as aguas
,
cost-e~ras
. ,.
PJroX:L1Tl:aS,
procurando explora-r
-,
a~ mí.cr o-, 8:6ti1::m:$S

geogr~ficos definidoB e submet-endo o ritmo e caract.-:orfstic:as de


~ '\ ,
SUá aç ac produtiva a rlisponibilidade de determinadas ('lsPecies em!

~,a)Uma .!.4'...cti..De.,:L.M
tLrª1L~ p or eXemplo, diSPõe dePorlJes com um:a ca
t:lací.dade de carga,em torno de 80 ttmelatlas, comporll:mentos de forma
a facilítar b dePO'si tO' do Pescado e o soU el'ivolvimento em gelQ; ..br!
ta-dO. Tem UlTI8capaCitlade de arma7'"'namento de ~ombtJsti'JelJ d'e agUa
8' de-' mantimentos CaPaz de manter Lima tripulaçao de' ate 20 Pe~sO:as
durant.e- 10. día~ ~o mar- Po s su uma estrotut'a
í, fisica de resis'tterTl:ia
superidr:, qUe, alem dtT 1:h~ Permitir enfrentar o~ rigorgE3 do mar:' at-
to, , viá~iliza a utilit, al{<;i0de HlstrLimentos m~Ganfcos mafs comple-
xos, tais como a sonda \lnstrumento' d~, locallzaçao' De CardumeS) ,
uni sistema de ror'êfkn;;; movido Pela proprioJ ml:itor qUe fãcilita aS
mandbrãs de fechamento) e I'ec(jlhimenta da I'etle-J o llã~d8 ,I::ar~ (si§..
tema de :re-c:olhimentti (ju Pest!~adoJ da rE:;de Para o 'ConVeS qUe' Perm-â:tB
a UtiltZat;ãt1 com!:linad2 dtJ mastro e de Um grande- .s:,.hafXX917), G'zyxwvutsrqponmlkjihgfedcba ecJ...-
9~e' (Pet1uena emtia~cal;ao c:;u>;i!i<]r nas _manobras com SI' rr~de- ~ no ac~~"
sth aO barco. qUE; e de coHs:Lderavel: calado) oU um sistema de cotnuH:!;.
cação por radith PoSsuJ.: ainda um Rs(:iaÇIJ 'socral iHterior mais dema1t
cado, em qUe Se pbde~ia di'stínguír a CaSa de comando', a bozi'nha,' a
látrina, a ~asa de hi2guinas e tres eu qtJatro conjuntos de belich8s:zyxwvu
d~stinadb8 a acomodaçao dos traba1hador0s-

\
25
tais ou qua í.s ~pocasido ano- ou condições meteoro16gicas(7).zyxwvutsrqponmlkjih
11'" IV'

As tra'ineiras tendem, Pelo contrario a psppcializaçao. Ja


-
dispoem .. d 8' Um raio ~ mais
de aÇaO amplo' 8 .l.'a qUe envolvAm custos

produç;o mai s alto s, sue estrat~'gi a nã,o pode s sr a da 11 garimpagAm:'1

mar,itima dEr qUe viVem as unidad8s de produç~o em CanOas- Passa a

se-r' pre--fedvel não iançar. a rede', a lanç~~la sobre' ca r dume s Peque-

nos, mistbs uu compds-bOs por Asp~cie-s de baixo v810r'. Essa t:8nd~n~


~ "

ela ating,e seU prrrrto maKlmo na,S grandes traineiras, g-xclusivamente

dedi.cadas ~ Pesca da .§..~,inh.a. (CluPe-idae) 8 da Ca'y.at:!:J2.h~ (Gempyli:'"

d~) 1 fi e-spec.:ttl:li.za<;~o, lÍessas esp~cies, cu jo s cardum-es p od-srm s~r

os em uma Vas t·a• ar9a mar1.'t'l.ma qUe 8e; 88 t en d e d 8 m acas '


procurazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
dzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFED aO

nortí-e ; ilha de' são Sebast~i;o ao sul, tradu Z-88 aciima de tudo

uma menQ'I' imprevisibilidade da produç~o, não s~, Pelo' aCeSSO' a

cuc.sas mais amplo:s qUanto Pelas c:aracterrfsticas do principal merc:-"a

do) con eumd.dozr dErssas esp~cies" a-s f~bricas enlata.doTaS de Pescada-;.

onde' os praÇOs são, re-gulados por acordos, Patronais p",ri~d'icos.;,

Essas di f3renÇas fundamentais de- produtividade n.~o Se aprese,n

(7) A car'ac--t"'o*rfs'oica- p'r.tnci~3,l dare-lação; q\dn se estabelec.e 8'n.tre


as unidades trrotiutivas 'mnttatl;:õ',S 'na'-'uti~i-zal;;ao de ~an~as 8 a- dispJ2;
HibiIidatie de- PeSCado. na sua ~rea ge-dgra-fica de aÇao e e, tia me,::Ls
alnpl:a ~tex~b~li~ad8-~ ~roctI~,G!-Se PescBr~,o, 9UR~ em .:ada m~m,ette~), of~
rg-Ce-o eQti1.l1.b3:'-1.o·log1.cO eHtr:-e a abundancJ:a d a adetjuaçao' ascond1.
çÕes ,de- seUs m8'-io's da- traljalho.' Utitiza-se, a s s.í.nr, amplamen't:e OiS
r~~cursos natuirô,is . da região, obed'0;~endo ±nclusiv':?t Pelo btrixo teo:r
da ~oss:tbilidathr de- ititervençgO humana, aOS cieloij 8 tehd~nc!a8 8'"
c~lo~j;cas. Or,gani z~-s~" ftGqU8trtem~Ht81 um ca18Hd2t~o ~e O?Ç~8S ?e
pr~-sca, e-m qUe SEr dx strnguam tJ:l~'Js g~and!'?s fasas, al1uaÍs ~ o pengdcr. I
de- Ver~'oJe-1n q,Oe h~"rp~ativa abundaHcia d,e' uma,s~ri8 de" 2SPeC..J:es
d~~e~x8s~e~Uen?~ ~ me~ioSt cUj~baixo preÇo' 8.cdmpensado . pela
QOaHt1dadEn o Pet1.000 .,de ma1.0 a ~ulho, CôI'act:-:r1.zatiG,a. sob r e tudc #.
pela precioso. ê.!r.a" dazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM
"s.•. ~'1il!& lffiugilidae)'8 O"'Perrodo 119 'ir.l· v'e~-
no, em q,ue--,..,t'1 f8rtílida~e domar' ttecai brOscôm,gnteJ 'mgslnO-efU função
das cbndiçoe-s me~8o:cologicas adVersas qUS3nta:o prevalGcem,- E'sses
grandes tillo-s sao, no ento.ntlJ::!, p-c,ê"iti:rhad~s por 8ub-C1:clos. e ~-
.tTa§. 'es,p"'.cJ.f.ic~~", tomo a: do l?.e.ix~-.oSs,:p~cLfJ,. ~Cr,'~t?~J:tIridae~, a' do tL2.~-
1t.a-galb (Carang1.dae-) 00 a da .!!!ii,P.Jub . Eh,grau!J.,o8e) 1 a18m d.e havsl:o-
e'spe-c.te-s como a .l1aloml;:l~i;,a (Carang~ de,t;,J, 8- ~. ~.a..t:L.. \rnugilit!'e~), qU'e
~::art-rC8m.S8 encontrar ma1.S ou menos clí spon í.v.d s aO Loriqo: de tOUQ o
ano-
26zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb

.'zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONML
, 1'''. '" '~~~,~_~J
tam.; p,Orbm! como ihcompat~veis a representaçao da identidade: ~

;i?r.a.Íf1J?i.rr..s,-~ Domonstrarri aPenas aos Q.a::;sa,d..ÇlrpsqUe a produç~o emzyxw

, . _. i
ria' do qUe' a. Pl'Ddi.Jçao, e'm ç.an"Q.J:l';"§.* t o' 0'5 Se' p orrttr 8xat;~m8nt8 qUe

mag1lÍ fiCa a fo:rts' con'otaçãode' 118gi timidade de qUe pad!?ce a formê;1


at~al da produç~o em ,ir'q.~.!J.9.ira.s.1 tran sformando""as na: Pedra de t.o •.

que- da valorização. negatiVa da DLU~c:l.anQª"


~
Pois Se Dada opõe fundamentalmen.te'sS Canoas as t.r..e.1.nn1.T.,e.§..e

Se estas. Pelo contr~rio, Ofer3c8m um limiar de produtividade t~~


/'

mais aI to t tão mai s pr~ximo dessa .3..ste.lJ~l.:ld.ç~ an s ada p ']10 s


í qUe

trabalham na Pesca~ o fato d8 qUe os quo af trabalham continUem PA


decendo: das mesmas ou maiores vicissitudes do qus as qlÍlJp caracteri:,

zaVam.oregime' da antiga produção. canoeira e ds qUe nelas se amea-

De- 8' se inviabilizg- cada v ez mai,s os valores imbricados no' modelo

dezyxwvuts

qUe' para algum porto astr·anlfio


levOU a ill1!.dar"jÇ,R, da .Q.A..êÇ,Ç",.

Os pontos em qu e se-- oferecem a Percepçao·


..
•...
do s .Q,;l.SC.a.90.r,e,S.
explj.

caçõ-es Para eSSe estado de coisa.s convc;rgem sobro a qU8St~0 da di.•..


f,erenciação social instaurada- Tr2\ta-s[' da. em~rg;nci8. da figura do

.arma"dprt como proprie,t~rio n~o •..trebalhador; trata-se da inc::ipient'e

diferenciação; interna qUe empr8sta novo sent.ido~' catogoriado'

rn.e.,êE...&l. S'" qUe força o surgimento de novas categorias dema.rcada's nas

,a9.siÇ,ÕHS com V.,antn,98n.s.•

divis~o~

Er'
.....
contrapoe-se a emorgente-
...•
qUestao dos .gJr~ ..tº~~çI,e..)...8.i..9, deco.:.t'lreJl

tas do vinculo! de assalariamento. Pelo, amb..::l.•.rgu/".••


------------ --

27

portanto em,.falar de um esp1ri to comum, de uma repr:'''l::>entaçã-o: d'e


corporaç~o' entre rodos os qUe trabalham-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A unidadG de produção~ não:

~'me.is p.ensôdô como uma unidade de comunhão social .• E"ntre os qUe


e-mbarcam nãO) está 01 propriE!'t~rio da Gmbarc8ç~Q'. O nô-o:...t.:c.abalhedor

opõe-se' assim aOS tr-abalhôdorcrsi ° b.!2I.llA~. A relação; entre os c,.ol!).-


.Q.aD.bg;iro§.e- o. ,a.r,mEl,d0l:'
tende- a de-Spir-se da f.orça pel!'so-nalizada dos

con t a t' os dO.!.,


~re-\..osl. p oa, s d'
um: a"rm-A._0-Ã . t' ar~o
e proprl..e; o 1tA
s~mutlneo)e
• d d 1... •••

Vgxsas ef1lbarcaçõe'Sl cada uma sob a dire-ç;(;o de um m.es;:t,!..ae com, SUa

guarniç~o prbpria,~ O aciDnamento" de- cada unidade p r'odu t í.va ci assim:zyxw


p,raticamgnte QutDnomo ermrolaçac as demais unidades dePendentes do'
'" N ~

mesmOi capitalista- As qu::;s'ltõe-s de adfninistraçãü conj(jnt-s dpssas di

Rectos terrestres p r i.ncr,«


dOJprOC(3SSo dt.?.. p.roduç~ o,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM
q~·!e snfgixa
o ,

8fT.
. .~~.."Xl._·
.
pJ..O f unÇoes de ilntendente,
N
de despechante, de tesoureiro e de "me'"
diador" nos contatos com o propriet~rio.
Contra o Pano de fundo da identidade dos ~scCLclorll§ d"g

çõt;:;S de produç,ão dominanteS na. PeSCa local- A Ir.'GPr.odução


,
d~SEr5 ~~cAdore~ hojzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
sr preSSUPÕe portanto o conhecimento; não· sOJ

dós: mecanismos ,
idErologicos de- sua identidade '. , mas sohraii,.y.
generJ.ca:~
do, o dos pr.oCgSSOS Er formas da di f~"!renciaçio social a!. ocorrida

e-sSenciçl para a definição do novo, qundrtr das idontidades o pr~ti:-


'fo
Das 8SPeC~'-J..Cas qUe- a~t se- rpcor t am e SE!'oPOem•
-

Pois contra ele' na Verdade, aqupla identidade g2n~rica ã~sume

nOVas dime-nsoes e- recobra os Sentidos atuais com qUe exprim-e e in •.•

corpora- os novos rumos do cSJLP"o;1O


28zyxwvutsrqpo

2. A Dif,ere-nci.açãCD So:ciôl PelO) Trabalho, na ~.

À r~'ese~t:açãOJ so-bre a r1!.4.cLan,Ç,,~


ocarrida em Jurujuba rrrr 'braba

.P..e;:~A9. e- dEr sUa in:t:erfer;ncia no. modelo de produção; ffntelfiCl.(l;'m~nte


, '-
vilgen1ie--" co~I'r~onde-- uma pr~ti.car~lmont:e- dJ,;:ferc-3nciçrda que- m.pô;e 1
,
corno: V~JJ.amosf os
.

pgqUenoB Pl'Ddut:ore-s, o:s .~q .•g;rA~ e os ibraba1hadJ?Jzyxwv


r:e-s *"" .
na-O"'propr~e'I,;3'rJ..DS
N
cru assa 1 a'r1.
• . 8 d'Os.

f: sobre- e'SS8S pr~ticas sociais hoje diferenciadas, sobre

fopm~, como Se d~ a reproduç~o; socia-l dos agentes • zyxwvu ,


aI envolvirlbszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU
qUe- S:e- centx:a este trabalha.
.; ,..,
flss~rmt pOJJe-m, corno, e1O'8 nao- PClJdemser entendidos; nem sequer

aba rd i:rda's, Seffil a r:efer:~ncia ero.s padrõ:es da 1egi timídad81 de ident,!

d-ade--socia~i ãtraV~ do-s qua.í s Se- eXpreSsam, t::lmb~m não- ~ peITlss±.vel

ab.strai'r--s'S' dó conhecimento] da prt5pr-ia forma d~essa- di ferenciaçãol,

db.~ Sentido á'brangent-e- qUIE; e-1(1 impumiu e- ainda imprime aOJ cnnj;unw

da. p:rOCtrss()JJsociai1. em: CUX:SOl em, JUIrujubae

lmpunh~-se- ncrSse- sentido a preocUPaÇa01 em entender-


•.. esse p,:~

c:e-sSCD segunw'a' uma


..J' , *"'
Q!I"J.CaqUe- o situass:e- rro. qUadra! dF! uma ana1~se
, •
da
estrutura- dEr classes, tanto mais qUanto-, a forma Percebida dazyxwvutsrqponmlkjihgfedcba
.ffi.Yt'"

JiPtlJ.:Ç,;a ap.onit~ para uma polar:Lzaç~o-i de modos de p-roduç~-01 e c-anse-qtl!en

1;ement:e- de- c1a-sse-s diferenciadas entre- ou na intArioI" de cada um;

•••••• ., 41,. ,

f:"brmaçaCt,de--ssa-s classeS maS tambem a sUa pratiCa atuaL~ Qi qUe Se

procurara , d:emonstrar na anã'1'


:USe da reproduçacr- social dos
,
aa, sit:uadOs:~

o: I'El-g,ime'de prorluç;o} PeO·sa-do; em Juruj uba hoj e como; rn de pJ!O~


- -zyxwvutsrqponmlk
-----------,zyxwvutsrqpo

29

~Uj ou mrr-1hoI!, qUe--S8' apl!OXima e pcrrta a heI'l.'rnça ideológica' das


formas "antigas",; PeITsadas nos molde-s do chamado' mode Lo da ~SCJm;Q,a-

n.h.•.
~. A ele- se OPÕ,8'o' regimer da produção nas t..J;'AiD.g:LJr::r$.,
r-epreSen~

do', como, "modg-I'no", como I'di ferenteJ'.

Al;rrr: de- representado como, "antigo."', o' regime de prodllçãCD em

c:.a!J.oM~~ t~amb.~ p;ensado hoje' como f1remal!J1eSC'ente-", como "marginalll,


,..
df3sigl1ando .•.•.
se- de-ssa forme a PercePÇao de uma crC'lSCente invia9il~d.a.

dé de sUa rgp1'oduç;a, por oposição: ao dinamismo, ~ 8XPans~0, eXPer!.

menrb:ada e' eXposta p.e-Ia produção em kej.D"p..;"i);;as~.

Ap~sar' dessa represen:tação., compartilhada: ali~s Pelos


,

p.l].l;.as:peqUenos pr-odoU'"
UI,;.OXe,s,,.
essa prodUçaD: gU8'1'd a uma l'ogJ.ca,
. pzco-

pria bem dErf;in"i~a.l) qUe--corXe'sponde não só a uma pr:~tic.tr qU'e Per:si~

t:e~ qUe' ainda se- mantem.; mas tamb~m ~ forte I'epresentação~ da c,.a~.

aanF.al."de' qUe- se- consid~ra herdeira: direta: 8' qUe preside "a SUazyxwvu
i • ..

de-nti'dader·

Tomandb-s~" por base- assim tanto a forma como hoje se d'esen,vo.i.

v e" €rssa- prOdução), quan"fID a fornracomo e-la ~ Pensada. atF.av~s da

qQ.'JI.aan...bJ:ti pm.u?-se' di SCerniI' uma estrutura b~sicêr de produção:' db:ta-

da de- l~gica' 8' dinâmica espec!fic:a-s, qUe para fins de an~lise, õ""

bOrdi:rre-mos corno uma manifqstaç~o concreta, na forma e dentro1 db s

limit:8s adiarlÍle eXpostos; do conceitC'l; de "pnqueoa pr:odtl'çio mer:c::an-

o trabalho com e-sse- cnncei ito envoJ.:vp gre:ndes di ficuIdades. E'ml

prinr~rD' lugarr, trata-se de um conceito) "r8sidLIal" qUe aponta P·ar.~

rt'!'ali:.dade-s carwfITente- tra,ta:das como: Ilsecund~riasll ou "marginaisli

na me'd.í.d.
~ a efll ".
qUe- SUa OCDrrenC~a se d"eU: a marg,ern d.a ana'1"~Se rnarx:L.S''''
.

ta do modo; do prDdução: Capitalista designar.tdb forma's sociais Q:~

ant.er±ores,. ora subordinadas, raramente' o::bj etD\ de uma


30zyxwvutsrqponmlkjihgfedcba

,,*. ' zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIH


o· i .
"-80X.J.:Ca e-spe-cllCa'
f

tm' se-gundo lugar', aO- lon.go da hisfuria sa:c2al


do pensament.o'zyxwvutsrqponmlkjihgfe

modi3rnCLf as tent.ativa:s de- conhecimentco, de-ssas formas obedecgranr a

inàunções muito diversas de- campo intelectual 8 de debate te~rico.

m~r:cadas f.r-equen,t:emen,te- pelas necRssidades mais pr8m('Jntps da in1te~

ve-n-çãOipOl!.tiea ou do planeâamento 8eon~mieo,

r:\ pOUCa pneClsaO


'" o IV
do. conC~Rlto jun t·a-Se,
o o
_a I'em do mais;

dp.- div8rsidade p-mp!ricA de formas qUe aqui 8 ali par~c8m 88 apI'lDJ~!

rrrar' da: estrutura b~sica p;ara qUe ele apontaria' Uma prim"lirà r,pSR~

nhEl' j;. englobaria sitLaçÕes sociais t~o diVersas quant.o. a der "arii,a

sanatoP, a do uc:ampe~inatD li, a da flcorporaçia de offeio \I e a da

UPeque-m:r burgue'sia" , em d e t.e rm.Lna da s condições_

Os traços b~sicos qUe' uniriam, todas ?U Pelo menos uma


..t.. d+'O , •
uÊr' cada uma Erss.as ro.rmas Serlam, os qu·e Se- resumem no. p rrop m.o n.JJne

de' "pequena p.roduç~o me-I'Cantil" ou de- "produção mercantil

ple-SU, SUPÕ~8-S!3'"~m primeiro lugar,. qUe, Se trato de "modos de prrc-


•.•ojl;
d Uça naque'le- Sentido' .
m'alS '.
generlco d.e Ufrra comb J..naçao,
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ
8SPeC.:t.l'lCa-
o 1'..,."
'"

de- relaçõ;e~ e elementos de um processo' de produção' im-odiafu.' (al_ •


;)ust·t:!pÕe-se' a isso' tratar-se de uma produção "m§I"cantilll, ism) ~ 1

de- tal forma .


articulada ..
com outros grupos dentro' .
de . uma so:c:::i8dade
~.

ffi$is abra'ng~nte- qu-, e-SSa traço int"rfira diretament" ITa pr~pria n8,.

CB-ss:irl~rde' de- sua forma de pr o ouz.Lrr e de sub aí.stã rv Por Última;, eS-

SEr prodúç;;o c'everia ser "pequena" ou ilsimp1es", epiteto" relacional

qUe- apontaria para uma oposição, com a "grande" ou ueomplexa 11 ou

"ampliadall r.roduç~o caracter!s"tiica do modo de produ<;~o, ç:gpitalis •.•.zyxw

ter.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

. •....•........... - •..
-'" "
(B-) Sobro' a aplicaç;o' d~'sse conSeito- a produç~a ucamponesa" ver
Tepich1i:; 1973, p,. 17 8' a produçaClJ ua~;;psanal" VeJr jqlvini;,1972,p.30.
31zyxwvutsrqponmlkjih

sUa
. -

ot'osição· ao modo. de prodÍÍllçãOJ c8'pi t8'lis'ha". a- qUe d;' scartaria do, pIA

de- abrang~nc1a do concsit-o as


nOJzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA formas HmeI'Cantisll qUe não, Se coll

f,~'sse-m historicarnent"8 com aqUglo modo" Dand~ as seguint-es c:o:n-


ae-qu;n,oiast trata-se- de um modo-
.
.
de produção ,
rlconvivent
.
e U com otitro.'
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ

8';. a'O-l mesmo t'e-mpo', "difer8nteff .• Uoutroll• Essas idpias S~LL It'ealm~e!li

t.e--- encontradas em toda a li teratUt'a qUe aborda aquelas formes ~ a


, "

id~ia de--sUe "di f.e-rença 11 e a id~ia de sUe. 11 convi v~ncia u,

A rldi f'eI'ença fi fie estabeleCe claramBntfT pela an~lise das rola'"


çõ-s-s de-- produção QU8 comporta';. mesmo dentro: daqUela p,strutura m-f-n,k

A prodt.u;ão capi tal i sta se caracteFi Za Pela disso-ciação' plle-na

de um Ilnâo-,..trabalhadQ:'ll:'II que--, Pela propriedade da'q~eles m.eios pode

impor as condições de' pr-odtrção-s gaT2'n1iindo' a !"xtraç~o de u~ mais-


valia. qU'e sf'l~vil"á pa.r~ um~ reprodu~;;o; do prOGeSsn '7'mqlierl::- c'T!' eSC':,g.

l'"'a funcione do mesmo, modo; com base na noção: de propriecl'ade priVada


dos maios de- produção,- man,tam a força de trabal~n ligada aO-S meios

de- produçã-OoatJ."'ê:v~, da re--1aç;o clp. e:p ro-pnas;;n ""'22' 1: ~r--c ~': ~~~ - -':7~c~;rrpo:

em' qUe--a: propriedade-- dos meios de produção 1


não) enseja o sUJ:rgimentol

de' um; unão-1:::vabalhador". E:'SS8 proÇeSSO~, em qUe o ValOlr Cl!iadbJ peln

'trabalho exc8de-n1ie- ~ apropriadb pe-1o modo' de- produç~o di::Jminan-f!e e

ntro por um: dos e-leme-n'fros do: pr~prio sist-ema, carac;t,eri Za"'Se a-l;m

propiciado pelas cons8qu~ncie,s múltiplas da ~lsociali.?açãoU da eSC-,a

la- de trabalho- .• Na ref.er;n~cia c(J Bo.lihar& uR,~,,,'..,;nr: r" __ ,-'"'''''~.+''''' •.....,.."',


..
32

ProrltJ'ctLon

mettt'arrt e-n Oeu:v-re e an s c::oo(;J~ration" Cio. AIthusseri


811 leszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 1971, p.
100) •

Sa b r8 essa com b ~naç;aeJ I'


Se ar t'~CU'IT:rr~8m t
'zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHG
b a'Sl.Ct';
N'" , auras cnn d .lç,o.'ç;s
'.' ..,

dET pro, dU:çaCL).N


ora l'~g8: d'"as as co.raC, t'Gr~s t'a c a s d'
,os '.
p nopr.ao .
s mel.O"Szyxwvutsr
, t.
p.ro:dução: envolvidO$,. ora :E..igadas a forma eSPeCJ.f~c.n qUe assume

vt:nculo) de-- "cDnviv;'ncia".

No: qu:8' -tIoca a: e-SSa HCSmVlvGnc~a "i


.... ,
ela assumiria na lit:elIa:ftura

q~.l'asEf'sef!Ipr-cr-a deDOt'aç~o de' um'a ~'sljbordin-eçãclJ"; 8mbo.:ra S'e posSa s~

po~' qUrr nas fbrmaçõ8s so cã aí.s qUe- e-!1sejaram c» surgimentn gu',. c:-api ta
1i.smo: a-s dUas formas tcrr1ham convivido, em graus diVersos d'e eqUiI~-zyxwvu

brio con:tradit:~:cio (9). E'ssa usubordinação:'1 no seio d'e

sot:!l;.u-e-c0f1:0ffil.cas
I' •. ••••
.'diOffi~nad a s por OUt ro mod o: d:8 p r-od uça-,D e Pensa d:B. eLt

tte- outras. por Tepiclti;- e V 81~0: no ql:10 toca aO' cômpp s-inatn Cr o-
picht:, 1973;. Vel~ol 1971i) e tem um sentido: an~ll.C?gDao. da an~lis'8

de Palme--ira sobrs a "p1antation" como, moda' IldePendent-c" ou 11 subsi-

dL~-r;iotl (Palme-ira, 1971 1 p. 154),.


Um. a" "subordinaÇ~CllH social nunca pode ter o' sentido dO uma mo-
ra justàposiçãa:. tIa afe-t'a assim. fundaffientcr não s6 o dominadQ: como!

o: dbminar:t ..tt~ "Or,' 18' mode de- produci;:ion pay-sa.nj t~ 1 qUe naus le co:.!!Ji
••
p.are-nons L.Cl.., s'
ne-s', t pae '" ""- d t
9rrne-ralJe-ur'urle- IIOrrrraL.:L..on
.p .1>' t'
parl.ctJ 1'...
~elre, :u
"

s;,fi'·ancrus 'J,;.L\.Er' d.arns uno' sg-rl..e-"


'. f
d r:r-ormi3.I".~ons~.
oU.' ,
s'Yt: a d.!-o- . oU- ""
ap 1".8, ~n,lJe~[J)Jr.I.s·e
, '
azyxwv
, A
e a taçon, 1e,s lo:t.s e·conomique·~ d'e chacune crt· marque 90 meme temps I

pJ.us cru: moins; chncunn- d'tc11c-s ele SOI1 errrpreintell (Tepi.cnt" 1973

p. 17) •zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

............. •...•....•.
~~.

(9.) Penscimos: parti.cUlarlTTente no' Cham,::1dop8riodo manufe.turc;irQJj tal


como estUdado, por rnaI'X no Cape XIV de .Q......C,2.P.tt.a1*e
33

essa incrustaçãQ;, além do' mais, tem de obedecer ~s condiçõeszyxwv


,
do p r-ópr Lo "dominante 11 no sentida; do que aponta Velho para as ufo~

mas particulares de dominação' pol{tical1, ao analisar. os efei toszyxwvut

difer.an-ciais da. dominação, do "capitalismo' burgu~sll e do tlcapitaliA

mo aato;r:it~riQ,u sobre o: c-ampesinatu (Velho, 1976, p _ 51 e 55). Fo~


. . A' ,."
mas particulares q:ue e xp Lã ce rã am o.ra a tendencia a transforrrraçBo

do, moda; dominado; (que levaria finalment'e ~ sua di s so Luçjin] (10) ,


ara "a sua manutençao:;
.., subordinadaquand'o,
(f unes...cna r.í.a
. va t.e
.' mesmo) co--

mo; uma "rrace.as dade ' í do domd.narrbe ) (ll}_

A pJ!OJfundidade das di ferenças deconnren t.e s dos modos ci'e a-rti.c,!;!

lação~ de s sa subordinação permite compreender' as di fic:ulda-des d:s

dst:scçãer e conhe cã.menno dessas formas- Em cada formação, a cada

conjuntura" elas se readequarl-ami, se' re-articulariarm, no bojo' ate

uma in,teraçãOJ "deformada 11 e IIdeformantell (12).


fU:ocaso' da tlsubordinaçãou ao c ap í.tra'l â amo;__as sentidos des sa

deformação~, têm s í.dtr ava l.í.adce de fornras muito diversas; seja pela

heter-ogsneidade do material utilizado para an~lise, seja p e.l a s cou


• N , ~ • IV

d1çoes programat1cas da ava11açarr.

Para fYlarx, em .D_.-ç.§.Q.i".tC3..l:."


dizer que "La p rnduccí.én capitalista

supr.ime Ia base de Ia "


p noduccd.on m'ercantil, 1a p r-cduccd .'ón d'a sper-sezyxwv

e independien,t.e y e I Ln.t.encambd,o. de Lrrs p c se e do.r-e s de mer-canca as


t
o

aI int-ercambio. de e qud.va.Larrbe e" (marx, 1971, p. 112), é UlITa con se •.•.

I o• • __ I .=-..•.•
izyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
.'mO'

(1.0) Po~:içãQ\ que fundamenta a sua assirmilação ~ "p.e querta burgue-


sia" em· Lenin, 1975j.
(11) Sobre essa caracteristica; ver particularmente Rey, 1973
Ka-uitsky, 196~.

(12)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Como' nas formulações de Ba1ibar sobre os mo du.s de prodlJção.;
"virt-uaisll W. Althusser, 1971, p- 100.
34

cruência direta do' material emp:ÍricQ1zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF


com que trabalhou - as cortdã»
N'zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJI
ÇOBS "c.Làs sf.ea s " de Lns trau r-aç atn de. capitalismo
na Inglaterra _. mas
N

.,,. "'''. d '. ,


8; tambeffii uma cnnaequancf.a 10g~C'a a pr op m.a analise estrutural

quaLe p rxrce.s so, abstraída de suas mediaçõ;es corijurrtur aí.a-

P-roc:essoJ que, de qualquer forma, esclarece as condiçõ·ss. b~si-

eras; exacexbada s ou La tten.tre s ; do, comp or-t.arnarrttr da "pequena pImdu-

ção; m,e,rcan:til" em sua subordinação. aOJ capitalismuJ1J p e rm nnd'(J) ach~


í,

gar-se a duas questnes fundamentais para os e etardtre d'es s a a f;'Orrrras;

a de sua uaxpXDpriação}' e. a de sua tldi f,erenciaç~o interna fi. Ques-

-
to:es que ~ a p rrop
aam ". m.a h'a aucru
t" a de SUa "f'o rrna li, em uma

Jldafbrmação c.:cnformant:B'J.-. Na uexp_ropriaçãol"i t:er!amns um proCESSO

ltadjjcal de dissolução' pela pressão; uma uacumu1ação~u. ext-erio-r f'Ü'n-

damenreandc» a "liberação:" dos vendedores de força de t:rabalh.(!J) e a

pi1hag~m: de seu s meios de pro:dução,. Nia Udi ferenciaçãol interna ff~ t§.
rlamo'S um praCBSSO: int-exnalizadcr: por força da pFes~o, em que uma

"acumu.Laçac» di feren.cialn en.sej a pouco' a pOUCQ;que se Ln s tíaurre a

nresma pÜ,;l.'ar~zaçaa- errtre "o


,. N (
os "livres contratantes" p rro p rietár±a

do s meias de pror:lução: e (J) propriet~riu da f'cr-ça de t.rabalha).


• • ,.
O. p rurnaa rtn p ro.ce s se e analisado', amplamen.te por marx em Q. Cap\.-

~ CMarxt 197.3, Livra' lia, Cap« XXVII). O segundo), aer-ttaffiente


' . no proce sSOJ J..ng
cun dar~o: . l~8 s , e,. apenas supo.s ~
"'0;
1·oqa
zyxwvutsrqponmlk
canrert t e,. O:Ta nozyxwv

tocan:tte ~s transtrbrmaçõ.:es safridas pelos anendat~rios rurais in-


, _, N .

g;tese e ora no: tocan.te as limi t.açne.s a acumul açao diferencial impo~

tas errs mestres de of! cio: (13).

('i~Y ';;Ü.-r-in·du·;t.;-i~ecarporativa ,du Moyen Âge cherchait ~ e,mp;cber Le


ma~tr8,. 18 che f" pe co.rp s de met~8r, de se transformar en c-apitalÍ-j!
te,. en li'!l~tant a ~.~. maximum tres restreint le ncmbr-e de s ouvnf.ar-s
qu: J..l ava~t Le dro:J..t d1empla:yer" (marx, 1973, Tomo I, p. 302).
35

Em,Lan í.n., que analisa um caso hd s ttrrd camerrt e muito diversa' d:e

de senvo l ví merrêo do cap L talisffio, a an~lise desse segundo processo


est~ presente sob r et.udo. no capItula sobre nAs Primeiras Et.apa s do)

Capitalismo! na IndústriaU (Lenin, 1975).


Além dos efei tDS espec! ficos da. relação subordinada ao modo:

de produ'ç~o capit-alista, a "p squena produção; mercantil 11 apresenta


uma otJ.tra vertent-.e de diferenciação, que corre por conta da-s própr!

os meio:s de produç:~o envolvidos, ou melhor, do peso! com, que as a:a-


racterlsticas desses meios interferem na reprodução; do sist-ama ou
nos ri tmüs da sua t.r an sf'o rmaçeo. subordinada.
N,a verdade, a "p squena produção; mercantil fi abrange ent-re aquã

Ias diversas formas antes ap ontíad a s , dois tipos de produção' cuja


,..
dístinção passa a ser vi tal tão logo se manifest-a a aubo r d'Lnaç arn

ao modo' de produção capitalista: a produção' de mercadorias que po.§.


, ~
( aI ime;n:ta-
serm servir tambem como:meias de subsistencia imediata

ç:ão) e a produçãOJ de meccadozda s que não possam: servir para tal.

O primeiro tipo' comportaria ainda uma segunda distinção enitlr.e


p,rodtata.s: de stinados ...
prJ..o;r,l.tarl-alIl-ªo.tg 'b" ~.
a sU s is+encd a da fzyxwvutsrqponmlkjihg
o.r a de ç

trabalho, envolvida (os .fPP~=$~rpWe produtos destinados .5:.>lc14,.,9.i-


vamen..:!t_B..
ao mercado (os sasb,":crqp.;?) •zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV

O segundo, tipa incluiria (


outr-o-s -º.gst),,"c=roPê.produçao: agr:rcola
•.. ,
dê mercadorias n~o, alimentares) e 05 produtos do que ;s vezes se

chama "indústria artesanal" por opo,si~ão: à idéia de Uagric:ultura"


eu de pequena "criação',u,.
A relevância dessa distinção' se funda em dois aspectos primo.!:
diais- Em primeiro' lugar, o fato: de uma unidade de pr oduçarn puder

prover a parte de sua subsistência (no aarrtd do de reprodução da

f.orga de trabalho) sem a intermedia~ão das relações de, mercado.'


36

lhé garàht'e uma marg(3IDde eu nnriomí.a e flexibilidade que permite o

tlo-r:esclmento dii uma l~g,ica e de um; rizyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK


trno. muí, to pr~prios de adequ2.zyxw

çaOJ dos e Lemerrtrrs'


••• .
da p r oduçéti. N (
14.
)

Em: segundo lugar; a peqUena produçao de mercadorias destin:a-


, N

da s à al!tnehtatl~OJ perece ter garantida em situações não- clcÍssiCB s


de desenVolVimeht,o dap:t~alista (po'ssivelmente em casos marcados p~

10 l1cal=lit~1ismo' aLltt)rit~rio't, como sugere Velho em sua obra cita-


da )' Uma erea de re 1eVancJ.Clesp8cL
".. i · ,
f J.ca, que ea de ma:n-ll>6J!'
;&!,.

consider~veis da f'o.r a de tr:abalho~ nacional


ç ocupadcs em UR'll reg;i.me

d:e. prodüçãOJ distinta- do dominante mas capaz de funcionar em-uma e;,§

p.écie. de simbiose secundb:rie e complementar, ao' sabor' dos nbuonT:s"

e crises do, sistema ecan,ômica- domí.narrêe, A flexibilidade ap orrítada

para essas tlunidades de proDução: e consumo." ensejaria até mesma o


,
seu surgimentm em a r ea s nova s, ora ocupadas anteriormente p or- ou.•.•

tras formas de prodUção) em decad~ncia~ ora desempenhandb o


da "desb r avador-a de fronteiras!' CVi)..
Na raiz dessa f'Le» Lb Lã dade encon tz-a-ese
í como se: ve". o' fato, de~

SElS unidades funcionarem em reg,ime intensiva, de trabalha, (labou-r-

(14:) Essa distinção] é manipulada por Tepicht para proceder ~ dis-


tinçãO! que considera e s aanoã a I entre o ert e sqna'trn e o campe sd.natces
"il ne nous parnit. pa~ justifié de pLa ce r- Ir'economie p ay sanrre e-l;
1,"artisan-at dan s Ia meme categp,rie de, ~'petitB production me r chan.
C ••• )' il Y a selon. nous ; das dif.ferences
de "zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA es serrtd.e Lã e s entre
Pune et l'autr,eí tant dan e Leur s s'tructur e s respectivas que sur
le pIan de leu!" vocation historique. En ce qui concerne les struc-zyxwvuts
tures remarquons seulement que Ia production paysanne ntest qu'en
parne, commerc,ialisable,. t:nndis que celle de l'ar1t:isan n1a jam-ais
dt'autre fin: qU7 ~e",marché ••• " (Tepi9ht~ op •. cito p~ re) , Ver a~n.•.
da, para é\",defJ.nJ.çao dessa caracterJ.st~c'l d~fer8nclal do campes1nã
to, as no ço s s de "autro •..consumo intermediarioJl e de 'tdesligamenf;o
do; mercado" em Garcia, 1975;, p. 15:7.
(15J) Sobre o primeiro; caso) G:arcial; op.s ci t.;~e sobre o segunda
\ Velho, op., ci t.,.
37

i.D.•t~e.n~s:hv,e)por oposição ~ produção; capitalista que se caracteriza

pela sua tend&ncia ao cre scãmen to. do, "cap dtra I. can stan.ite" em' dero-

merrto do "capzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
Ital vari~vel". Um fatol: importante no processo de

"perman~ncian desse setor da "pequena produção mercantil" parece

ser. nesse sentido; o de uma di ficuldade. pr~pria de alteração: das

condições de "p r odu t í.ví dade " do processo, de t r aba Lhoe A manut.an-

ção de um sistema fundadO! na intensidade. ou na extensão da oaupa-

çãOJ da f'o r.ça de trabalho responderia em certa medida ~ re.sistência

do meio na t.u'r e L ~ sua apropriação_ pelas forças produtivas. Apenas

l~ onde a produção. se distinguisse especialmente pelo seu' va Lozr de

mar-cado. a maciça ap Lí.caçár» de cap i tal em, meios de trabalho" pode-


, • N , zyxwvutsrqpon N

ria superar as vicissitudes p r cp.r aa s da submí.s sao. as injunçoes cli


, .cas
ma't'ã e eco l'og;l.CaS
. em gera 1.!

Mui tD, outra ~. a situação, da "pequena produção. mercantil" de

produtos não' diretamente apropri&veis p e La subsistê.ncio.. As carac: ...

ter!sticôs de sua produção;. menDS dependentes dos condicionamentos

ne tur aã sj, permitiram o ensaiar dos primeiros passos na insti tuição

da produção industriol, fabril,. dessa II grnnde indústria fi que é o

co rpo. acabado da produção capitalista., Referir-se aqui ~ menor de-

pend~ncia dos ritmos naturais ~, na verdade, referir-se ~ viabili-

zação,. em tais condições de produção, da instituição' de certo'zyxwvutsrqpo


1i-
miar de produtividade, no aen t.í do., por exemplo" do que aponta lYlar.';'

no capItulo sobre 110 rnaquini smo e a Grande I nd~stria ti a


,
proposJ.tozyxwv
.
do p ap e L do. uprevisi.bilidadezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP
no melhor desempenha produtivo:
II de

car-t.o s ramos Lndu e t r-Lad,s (rnarx, 1973, Tomo 11,. p. 154).

A "co opez-açâo ~I e o "mequ n smo 11, esse s dois


í í momentos indispen.

s~"eis na constituição do espaço' produtivo capitalista p ar e cern a••..

qui poder desenvolver-se de forma mais regular' e s61ida.


38

ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
caso da "pesco" apresentaria uma situação ambígua dentro

desse quadro analítico.

Se, por um lado, elo se aparenta com a "agriculturalt no senti

do> da apropriação- de um meio natural e no da produção de mercado •.•

rias pr~prias à subsistência imediata, incidindo assim naquele mo-

delo.' de "imprecisãon da produção por força do baixo; desenvolvimen-

to das forças produtivas, tamb~m dela se afasta, ora por não cons-
À

ti tu i r.' um i tem de subsi stencia fundamental, capaz de permi til!' aq!J~

Ia Uaut,arciallzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
de p r o duçjio. e consumo da unidade camponesa (a
•..
nao

ser quando acoplada em determinadas situações com uma produçãO! a-

gr1cola , concomitante" ) ora porque '.


o carater domlnante de

~ de sUa produção a aproximaria das condições da Uindústria ar-

tesanalll inteiramente dependente do mercado.

Uma outra caracter!stica., relevante para o conhecimento dh

SlttJaçao
í 1'0#
em J uruJu. b a; e' a d e que, .'
como Ja re f erlramos
' para a "agrJ...

cultürattl tamb~ffil na "p e sca " hoje em dia pode-se distinguir- en-tre

Uma produção de mercadorias destinadas ao, consumo Lmedd a tnr ou ap e-.

nas superficialmente trêmsformadas e uma outra, que, ' .a


i rnpzrop.ru ou

nãoj ao con suec. de subsist~ncia; serve no entanto basicamente como

matBria-prima para outro ramo produtivo Uindustrialu• Teriamos as-

sd.rma dist:inção entre dois setores, cuja produt-ividade diferencial

tenderia a afastar cada vez mais.

IEssas considerações, entre autros motivos, procuram apantar

para a extrema relatividade e imRrecisão' da noção de P.•8*?PÇl.;enqua,ll

to atividade produtiva. SUa cap.ac Ldade heurI stica seria,. na verd'a-

de,
,
analoga
..
a da noçao
•...
de "agr1cul
.
tura fi, abrangente de setore s de

tbdos os modos de produção' existent8s~ extintos ou virtuais_

Entre essas formas diferenciais assum!veis pela produção de


39zyxwvutsrqponm

pJesôado') a produção! cano eira em J uruj ub a , como pr~tica e como re11.ft

rência dOJ modelo ideal-da c.om.E,anhé1.,parece assim ni tidamen:tie apro-zyxw


, • N

priavel pelo conce~tD-' de upequena produçao mercantil" ... enquantD

"reunião' de pequenos produtores individuais propriet~rios de seus

meios de produçao' e aC~Qnando,",os sem couperaçao".


N. -

o que não' significa esgotar a ampla margem de variabilidade

que, sob tal apropriação conceitual, poderia ainda ocarrer na pro-

dução de p e s c adrr» Poder-se-ia mesmo supor que essa forma de organ:!.


,..
zaçao produtiva tenderia ora a essa homo l oqd.a com o llcampesinatu;U

para que apontam alguns estudiosos (16) (frequentemente se conju-


IV , t'W '\

gandb com uma produçacr agr1cola fundamental em relaçao a qual de-

sempenha um papel de utilização' dessas "f'o r a s marginais"


ç de que

fala Tepicht. (,17)} ora a uma organi zação do. tipo "co rpo r açan de o•.•

fiei o ", em que a substituição da força de trabalho familiar por a.§.

saleriados e xte rrio s não; garant,i.ria de imediato a sua caracteriza-

ç~o enquanto "pr oduçjir» i sta ti pelo s prbprio s limi te s redu z1-
capi talzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR

dos da acumulação: e pela nãOi-ruptura da relação de apropriação re-

al anterio.r (18), mas onde se encontrariam os elementos b~s1cos Pã


ra um desenvolvimento naquele sentido .•.

A "p aque na p r o duç e o mercantil" em Jurujuba, mais prbxima do

segundo que do primeiro polo acima descri to;, veio) assim; eTet:Lvamen

(.16) A aproximação entre o "camoe s í.ne to " e certas formas de p.r o du ..•
ção' p e sque í.çe foi pela primeira vez propo;sta e desenvolvida par
Ffrth, no c.l às aí.co. m,a1 aJLFtsIJ.e.F_ffi_e.!l
(1946). No Brasil, essa orienta •..
çao .í.nf'Luenc í.ou os trabalhos de Sh~pBrd Forman (1970) e de, Paulo
marcos Amorim (1970) sobre populaçoes pesqueiras do Nordeste.

(17») "Ce, ~era toujours Ia m~se en valeur de s forces qui ,n'ayant,


pas dfacces direct au marche· ~e main d'oeuvre, s'offrent a Ia so~
ci~t:.é acu.s forme de produi ts a "p r Lx sp~cial 11 ~ Ct e si:.: ce que L. ffia-
lassis ap p.eLl.e r a "Ia capacit~ de souffrir" de l' ~conomie p ay aarr»
na'l. (Tepicht-, 19731 p. 40)/f
(18) IILa relaci~n co rpcr e tã va medieval ( ••• )constituye una forma
(cont.)
40

te dar lugar a um setor de produção capitalista, sem desaparecer

no. entanto totalment:e, preservada que nessa Lrrt e naç ao uma a r aa


f""\ • •• ~ ,

TO~.

subordinada de efic~cia econ;mica.

Apreciemo~ portanto. o proóes60 dessa transformação que nos e~

clarece sobre a forma e o sentido, da flJ.udqC)çÇ\.


ocorrida"

A literatut:a sobre a passagem da Upequena produção mercantil"

para a "produçãO' capitalista" acentua frequentemente a incapacida-

de das prÓprias unidades pequenas procederem: ~ acumulação di feren-

cial e ultrapassarem: o limiar entre os dois modos de produção.

Aut.ores tão diversos quanto Lenin ou Bourdieu1 examinandOJ si-

tuações históricas tão distantes quanto as da década de 60 do s~cy'

10: pa s aa do. na Rússia e da d~cada de 60 deste século na Arg~lia cor!.

vergem' na afirmação! daquele traço' ao ressaltarBm o papel do' capi-

t:al comercial no processo de acumulação, e o' seu consequente deslo-

camento: para o investimento Lndus t.r LaLe Esse p r oce s ec. de transição

po.r um terceiro~ interposto implicaria assim ne ce s se r amen-be na e.x-


í

propriaç~o dos "pe querio s produtores" errquarrüo segmente: de classe

se"to:u.ialmerrte determinado). As diversas etapas desse sao -


pr-o ce s so.zyxwvutsrqponmlkjihgfed

bem; ressaltadas por Lenin (Lenin, 1975) e corroboram certamente as

trmrtn- ••.•••••••• '.••••• zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


-••• ~. -==, __ .••......•
(cont.) , ,.
limitada, inadecuada au.i de Ia r e Lací.on de L capital y de I trabajo
a sa.Laz Lado» Estamos aqui ante una relacit6n entre compr-adoa-es y veU
dedores_ Hay pago de sal~rios y el maes-txo, el oficial y e L ap~en-
diz se errf.rerrtan ~ntre si como, personas libres- La base tecnolDgi-
ca de esta re1acion e8 81 téJ.ller artesanal., en el cual el factor
decisivo de Ia producción e s 81 manejo más o',menos id~neo de I ins-
trumento de trabajo; el trabajo personalautonomn, y por tanto:zyxwvutsrqpo
sU
desarrol1o p r-cf'e s í.nna L, que exige un periodo de ap r endã zaj e mayor
o menor, determina en este caso el resultado de1 tré1bajo. Ciert:ô-
mente" e~ maestro: se halla an. posesi~n aqui da Ias cond.í cí.ons s de
produccion" de Ias herra.mientas y deI material deI itrabajcr (aunque
Ias herramientas pued~n tambi~m pertaneceI' aI oficial): e1 prod~c~
tQ: le p e r t.ane ce s En. cuan+o a e s t o, es un capitalista. Paro no' es
como; capitalista que es maestro. (1 mismo os, en primerisima~ térmi ...
41

observações do pr~prio; lYIarxno chamado "Capitula. Inédito do Capi-

o papel do capital u sur~rio e do cap Ital comercial


talllzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIH
sobrezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA no s
processos gerais da acumulaç50 capitaI~sta (lYIarx,1971,zyxwvutsrqponmlkjihgfed
p. 58).

A const~ncia dessa caracter{stica do processo" de disso1ução

dá "p.e queria produção mercantil 11 se deve a razões externas e inter-

nas a esse umodo de produção"! As primeiras ligadas ~ forma da do•.•


• IV ,.,

m1naça~ do modo de prpduçaa capitalista abrangente e as segundas


li~adas ~s formas de preservaç~rr da identidade pr~prias dos grupos

de "pequenos produtores". Um exemplo: excelente desse quadro, inc1.Y.


.
sa.ve t
d'errnzro d a a' rea de pro d uçe•..• ." ; e o que
o p e sque ar-a desenvolveu
Kottak a respeito de urna pequeno. comunidade de pescadores na Bahia

CKottak, 1966, p. 368). Nesse caso" mais uma vez, parecia compro-

var-se a tese de impo.ssibilidade da acumulação- interna,' r-omo bendo

QJ autoJr a uma causalidade estrutural ""apropria ""


prodUçan pesqueira
com apoio em outras referências bib1iog;r~ficas nessa ~rea (Kottak"

1966, p. 377).
Houve um momento, preservado; na m8m~ria social! em que a

transformação, da organização produtiva em Jurujuba pareceu na ver-

dade prestes a seguir 8sse modelo: da expropriaçõo pela capital co-

mercial.

(c:'Jnt.)
'J se propone,o,ue 89 ffiélestro
no, artesanozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Bn sU o-O.cio.Dentro deI
proC9so mismo de produccion a c-tua como ar+e sano , 31 igual que sus
o f'Lc a Le s, e inicia a su s ap rend.ice s 81l 108 secretos de I oficio.
í

n1antiene COIl sus ap ren d'i ce s exac.bament e 18. m.ísrne relsd.pn qye media
entre un pro f esor y sus aLurnrio s . En conc ecue n c.Le , :::;u re Lac.Lon cori
ap r e.nd.í ce s y o f Lc.í a Le s no 8::3 Ia de L cap tali:::tE'. í en çUDrrto talg si-
no Ia deI maest~o en 81 oficiot quien en sU condicion de t~l ocupa
en. Ia corporpcion, y por ende frente a aquello~ una pnsicion supe-
r.i.or-, que se aupon e se f'unda sobre su prop.i.ama est-ri a Gil 81 oficio.
Su capital1 pueS1 tanto en 10 que toca a su formA material como aI
volumen de 3U valor, es un capital vinculado, que en modo alguno ha
':.ta Ia forma Lí.b re del cap ít s.L» " (mar~<, 1971,p.65).
adqu.í r dozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
í H~ uma
d.iscu nsao util da é~plicabiliclc.dcdo conceito de "co:cporL1cãode cf{-
IV' , . •••.

ci o 11 a um 2) si tua ç ao e;3 p 8 C i fica de p e S C8 em P 8 S .: 2 nh (1,J 1977 1P .115.


42zyxwvutsrqponmlkjihgf

A comercializaç~o. de pescado) dada a alta perecibilidade des"

dutro e a aleatoriedade
se prozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do vo.lume e qualidade da produção'

quase nunca pode prescindir da exist;ncia d~ intBrmedi~rios exclu~


,.
sivos que controlam com constancia e zelo os canais de distribuí-

~
çaoe E m uma s~tuaçao
"-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP
de mercado tao ampla e tao complexa corno a do
N -

n~cleo- abasteced~r de uma grande metr6pole, essa necessidade se

acentuava pelas pr6prias exig;ncias Ujur{dic8.su de oontrole de pr.s.

cesso tão" vital .•' Essa figura se materializava. nos b.a.ll.9.uEl.ir19.~1 os

detent.ores da concessão dos p o.sífo a de venda no interior do I'flercad'o

I'flunicipal do, Rio, de Janeiro;. Com eles deviam transacionar os pesc.s

dores e dessa relação de mercado, sempre desfavor~vel a pequenos

p;noÔl1Jitores isolados e incapazes de assumir a come r cd a Ld.za çáo. por


'. r a a su r qa"tem. a n t"arno s va, ncu 1 os
con:t a pr-op d e d ep en d~'
errea a e D""
e a ru.ca ozyxwvutsrqpo
I-

os pescadores garantiam: exclusividade de venda ao comerciante, ca-

bendo: a est'e garantir-lhes um preço, i'razo~veln. Em um segundo mo'•.•

merrto., o 9..a"nqu.ei~ podia passar a socorrer financeirament-e o pescS.

dbr em alguma crise de vida, 0- que encaminhava uma relação de tipo

Upatron-client", consolidada com frequBncia pelo estabelecimento t

de um "compadrio" vertical- Finalmente, tornava-se comum que o

b--ª-n~9.L!.?-.i.r".º~
passasse a "financiar" de forma rotineira a produção: de

alguns desses pescado.res, investindo, sobretudo, nesses itens par

eles chamados de A?s,E.§ls.,?.sd.§L.manutenº-.ão;.• mas também, crescentemen-

te, na propriedade dos próprios meios de produção, mediante exclu-

sividade da produção~

Relaçao
~
de dependencia
~ ~
econom~ca
. que reproduz literalmente a

de scrição de I'flarx: "0t:""O>ej empLr» e s e1 de L c.-aJ?J.j~.?.l,_,",coJne.r


•.cj,aj., por

c-uando hace pedidos a una seria de productores directos, "


reune lu.§.

go' sus p roduc bos y 10s vende]. 0.1 ac tuazr de esta suerte puede tam-
43zyxwvutsrqponml

hi~11l adelantarles Ia materia prima, etc., e incluso dinero. La re-

laci~n capitalista moderna se ha desarrolladb" hasta ciert-cr punto,

a part.ir de e sa forma, que. aqui,


tI' y a La sa. que con s td
. tuyan da aun
' Ia

fase de transici6n hocia 10 relaci6n capitalista propiamente di-


,
CITa .• Tampoco: en este ca so. estamos ante unS). subsuncion f.ormal deI

trabajo; en el capital.ll (marx, 1971, 58).


pozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

O' pede r de s se "c ap tul


í, comercial" que" em certo momerrbo, par~

ceu assim representar um papel transformador, mediante uma uacumu-

lação" exterior que acabaria na expropriação de todos os produto-

res a ele subordinados, não pôde se reproduzir devido ~ int.erven-

ção; do E stado,. que fechou o velho' mercado municipal da Praça XV e

e s tebe Le ceu um novo regime con ce s s í.onàz-Lo e controlado por ,.


orgaos
'"

governamentais (19)
Os interm8di~rios que, gradativamente, vieram a se substituir

aos 9.,a.l1.Q.u,!31..t..q,g
- os p"J;'.•8g.QE~JI:O§.
atuais do, mercado controlado) pela

CIBRAZEm - j~ não puderam porém reproduzir aquela relação, pois um

outro setor econômico se instaurou nesse interm~dio: - o da produ-

ção industrial de pescado enlatado _. e impôs pela sua força uma r.§..

laçãoJ direta com o-s produtores, roubando ao: capital comercial a

fatia j~ agora mais rendosa e din~mica do mercado.


,.
Esse novo elemento: do quadro economico da pesca no Rio, de Ja-

ne rrn pareceu
í por sua vez substituir-se aos .t.:.a.I. l9..l!.~ll.o.9. no papel de

agente exterior.' da e xp rop r Laçaos A maior parte dessas f~bricas prQ

curou em olgum momento substituir sua situação de compradoras de

mat:éria ••prima pela de grupo.s integrados de produção direta e fuan~

ri9rÃ'* 'im'port"~-n-;;ia dessa transformaçQo' - a da, desaparecimentn dos


b.•é'l•.l1S.ue~J·.9.§'- para a evolução 9a pequena produção mer c an t L pesque! í

ra na area do Rio de Jar.eiro e reafirmada no trabalho ja citado de


Elina Pessanha sobre os pescadores de Itaipu (Pessanho~ 1977,p.l4~
44zyxwvutsrqponm

"Formação industrial', mediante a cor1s'bituição e utilização. dütd>


prozyxwvutsrqpon

va de frotas de traineiras.

Essa tend&ncia no. entahto n~o chegou a se consolidar, d~sfa-

zendo ••se em pouco tempo os frotas das .§.9.JJL'1§.e Esse fato poderia e.§.

tar: ligado, segundo as escassas indicações que foi poss{uel obite±-

sobre o e s surrto., a urna incompatibilidade acentuada entre o. uespir,;.

ta" gerencial de uma f~brica, de uma unidade de produção. industrl-

aI c 1ass1ca
# •
e a administraçacr '"
de uma empresa de produçao'" de pesca-

do nas condições em que ela se pode dar hoje.


,
que remete tombem ao alto r sco. do empreendimento
í p e squ e Lrrn; a e s-«

sa extrema aleatoriedade a que o reduz o baixo desenvolvimentO! de

produtividade no ramo.s Conta-se, nesse sentido" como as enlatado -

ras eram "Lmp Ledo sas '' com os l1lê.•ª..t):'El.9.de suas t):'.ai.n.~i.ras, de sp edd.n-.

dó-os ao menor sinal de insucesso na pescarias filais do que ilirrrpie-

dadeu, esse procedimento:: refletia a impossibilidade de incorpo:rar

umzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ri tmo, um regime de produção para o qual se exige uma paciente

flexibilidade que s~ a pequena empresa parece poder comportar no

pr e sente quadro 8 conômi co (20) •

O estabelecimento, dessa produção industrial de pescado enlatâ

do , se não: en se j ou portanto uma expropriação> dos pequenos produto-

res, veio por~m a se t:ornaI" m~veis fundamentais da diferen-


um doszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF
,
ciação social intBrna a comunidade, ou, pelo menos, a lhe imprimir

a direção com que se cansubstanciou finalmente.

(20) Essa Ilincompatibilidade" entre as atuais condições de produ-


ção pesqueira e as exig~ncias de reprodução do grande capital par~
ce. estar na raiz da fragilidade que tem acompanhado as ten.tativas
de concentraçã~ de capital na pesca_ U~ reflexo muito evidente deg
se estado de c;oi2as ~oi. o chamado Jlescanô,at1.~ da SUDEPEII, em que se
acus9va esse orgao pub11co de pactuar com U1nteresses escusas" a-
t'raves de uma poli tica ruinosa de investimentos (1RtlJ.ih..~fJo Br.é1.sJ.l,
eds. lº /5/77. a 8/5/77) .•
45zyxwvutsrqponml

poderoso

setor de produção industrial im'primiu ~ sua produção prim~ria um

car~ter totalmente diverso do que cerca a produç~o do pescad~ parazyxwvutsrqp


.•
con sumo; ~mechato. A" prcp raa f orma corno. se a de saqna
. h'o j 8 em. J'uruJ.Y.zyxw
ba, em opo sa çan• N
ao .R.!3,l.><,.,E?.•,
.'
e significativa dessa poLar â.ze ao.•

ç
N

..
Pois a demand~ industrial garantiu as unidades de produção
que mais se pudessem aproximar das exig~ncias de uniformidade,
const~ncia e alto volume do produto uma "Luc ra t.ã vd dade " di f'e rerrc.í»
aI marcante, criando o espaço para a constituição das frotas de
..
t..~.?;tnett9.,.ê.
de .ê.,:J;:,lTIéidorªê.
dedicados exclusivamente a produção de
(" .
h a. Sem eliminar,
s.a*J;'ç!W pelo meno s a e ese na veL, o e spaço e conorna •.•

CD próprio; da pequena produção - produtora de ,ge..ix.e;


para o mercado

- conformando assim um CélSO daquela trélnsformação diferencial de

setores da pequena produção mercantil pela acentuélção' exacer-bada

da relação produtD/mercéldo, a que nos referíramos arrteriormente.

Examinada; pOT outro lado', de um ponto de vista internol a

passagem do sistema da "pequena produçãoil para o da "produção caPi


N" ~
talista" em Jurujuba nao obedeceu aquela gradual acentuaçao da
Ilcoop,eraçãof.I, típica da produção manufatureira (21)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY
t e pr~via ao

dGsenvolvimento: e aplicação do "maquinismo" nessa escala detBrmi-


nante da "modernidade" produtiva do capitalismo. Antes se poderia
dizer que ambos os processos se deram ao mesmo tempo~ combinadoszyxw

em. parte e s~ em parte desenvolvidos.

A utd Lí zaçao. da "cooperação!! na socialização do trabalho, que


Ja existia
.'
em forma simples na Upequena produçao' mercantil",
N
mant11
ve aparentemente as mesmas caracteristicas da relação anterior en-

(21) Ver marx, 1973, Tomo 11, Cap e XIV.


t:re a força de trabalho e os meios de p r o du çao s trabalhadores con.-

junt~mente envolvidos na aplicaç~o e no recolhimento da rede e ma

carga e descarga do peixe, da rede para o barco e do barco parazyxwvutsrqponmlkjihgf


f.Q.zyxw

ra. A escala,
,
porem, em que essa cooperaçao
~ .
s1mples passa a se de-
,
senrolar em uma traineira grande, empresta~lhe um carater produti-

vo diverso (no sentido' da cooperação descrita por marx para a uma•.•

nufatura serialU), al~m de j~ apresentar uma incipiente especiali-

zaç~o no trato de partes espec! ficas desse comum meio de ttabr:llho'.


,
Alem, do mais~ a complexidade do processo de trabalho em uma
~trai-
.
Il,.e}-J-ª.
•. ~
Ja
.
r e dãrnerr.sdona as tarefas
.
de d r açao
í
,...,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
do processo produtivo

e de controle da propulsão da amba r caçao en ae j ando o: surgimento

das posições e sp e c ficas


Í de m.o.t.9*:rJ.sta.e de .ç;.•onj~.ra"J!lest~~~. Teríamos

assim" aqui" apenas rnudím parcialmente- essa decomposição do proce.§.

so de produção em operações manuais estanques, cuja maior simplicj,

dade ensejaria a evolução e aplicação gradativa do "maqui ni smo"

(pela complexificação ou maximização: de "ferramentas" espec{ficas)


,
e' que e a característica primordial da "manufaturall ( 22)
,
Esse processo so se daria n? verdade, na medida em que Uma

IImáquinall fundamental
., estivesse
JB intI"oduzida no processo (a

t ..r~a"i
.•n;eirst e seu motor como IlmáquinaH), ensejando aquele espaço:' co»

mum que no processo: de consti tuiçãa da "manuf'a tur-a 11 bastaria ser

uma con e t.ruçacj um telheiro li, um espaço "pré -fabril n.

A insistência nessa distinção me parece essencial porque mar-

f22)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONML
"L J anai"y~s"; du prDC~~ de production.
I dans ses pha se s parti-culi,
eres se confond ici 'ti:out a fait avec Ia décomposition du métier de
11 artis~n: dans se s diverses oPGrations rnanue Ll.e s , Compo ae e ou sim ••
pI'e , 1 r'execution ne cesse de dépendre de Ia force, de llhabiletél
de Ia promptitude et de Ia snreté de main de l'ouvrier dans 1e ma-
niement, de e orr outil. Le rnétier reste touj~urs La base. Cett-.e base
techniqu~ n: adme t; llanalysa de Ia besogne a f'a r e qu e dan s de szyxwvutsrli.- í

mites tres ét'roites.1I (marx" 1973" Tomo 11, p. 28).


zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
\.

47 zyxwvutsrq

f'Lc ídade a trô.nsição p ara a "grande produção 11 •


ca de grande especí,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
,. .
Um, meio de produção com as características de uma grande maqu~na

n~o tem o mesmrr peso na formação dessa nova estrutura que a mera
,.
instauração de um espaço comum para a cooperação complexa~ Ele e

essencial para esse ~ltimo processo mas determina um limiar mínimo

de produtividade muito mais alto que o de uma manufatura


, .
c 1ass~ca.

~ mais um exemplo, al~m do mais: da forma Como a articulação


da "eubor-d naçáo " desse setor pesqueiro
í ~ espec!f,'ica, respondendo

a um desenvolvimento j~ adiantado da ind~stria mec~nica da socied,ê.

de capitalista abrangente.~r o que ocorreu realmente no momento

dessa integração da pesca sardinheira de Jurujuba, emergente no p~


,
r~odo'em que um novo surto industrial ensejava em certos casos a

di.sponibilidade de meios de t rabe l ho- avançados, garantidores de

uma produtividade diferencial ampliada.

N esse c orrt .
e xtro , Ln.st.au ra= ee por t an tzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUT
o o p erao
I' d o d a d 1fr.o renca. a-
í

""
çao acelerada da comunidade pesqueira de Jurujuba# semelhante a
tantas outras qwe aqui e ali vôm repetir 2. trajetória em dirocõo ~

produção capitalista-
As condiç5es contradit~rias que presidiram: a esse processo

de transformação da Upequena produção mercantilfl marcaram e marcam

ainda tamb~~ a instit~ição do modo de produção que se lhe agrega


ou que tende a substitui-la, com fundas consequências para a sua

conformação. e para os sentidos e tendências de sua reproduç~o.

Os dois temas j~ introduzidos da "cooperação" e da incorpora-


...
trazem a

problem~tica especffica do modo de produç;;o capitalista, ds suas


características gerais, da determinag~o de seus diferentes est~gi-
48zyxwvutsrqponmlk

as ou formas hist~ricas e das contradiç~es que a agressividad~ de

sua pr~tica ava~saladora colocaram em primeiro plano na . '.


hIstorIa
contemporânea.

A
-
an~lise da adequaç~o do conceito de umodo de produç~o' capi-
, ~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tali sta ti a organi za çao da produçao em tJ;'A,idnei.r.:.a§.
passa por diver-

sas mediaç~es,. Elas têm que ver com vari~veis articuladas ao: nível

mais aparente em torno das citadas questões da "cooperação" e do


"maquinismol1 e determinantes das diferenças nas formas de apropri.s

ção da "mais-valia", eSSG m6vel e cerne articulador de todo o; pro-


cesso:.
Trata-se da determinação' das condições da extraç~o da umais -
valia absoluta" e da "mais-valia relativa" na definiç~u da "suboF-

dinação formal do trabalho ao capitalll e da "suborcJinação real do

trabalho) ao cap tal" f envol vendo' a t.~ certo ponto também a


í que stão

da "relação. de apropriação reaL" entre a força de trabo.lho e os

meios de produç~o.
Como ressal t'a marx, o processo de trabalho na pro duç ao capi t,ê,.

lista apresenta apenas duas características b~sicas~ a primeira "


I)

a de que "0 trabalhador trabalha sob o controle dO' capitalista a


,
quem p ert.ence o seu trabalho"; a segunda, a de que "o produto e
N

propriedade do capitalista e nao do produtor imediato# do trabalh.ê,


dorll, a quem o capitalista paga o valor quotidiano de sua força de
trabalho; (lYlarx,1973, TomozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFED
p. 187)..
r, zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK
'. ,
o segredo do interesse de ta 1 pratIca produtiva reside porem

na capacidade que tem o produtor de produzir quotidianamente mais

valor vivo e de incorporar mais valor morto do que representa aqu~

le Valo~ pago d~ sua pr~pria força do trabalho, isto ~, do, valor


dos meios de sua subsistência. E, mais do que isto, na possibilid&1
49

de que tem o capitalista de, fundado naquele direito de propr1ed~~-,

de sobre o trabalho e o seu produto, apropriar-se tamb~m desse var,


lar excedente (él. IIm
.•
ª-i9::,y~al.i_q,'I)
o

o Uso quotidiano da força de trabalho recobre assim duas pnr-- ,


N zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
çoes qualitativamente diferentes de temp~ de trabalhQ e d~zyxwvutsrqponmlkjihg
produzido nesse tempo. Uma primeira ~ aquela em que o trabalhador

reproduz o valor da sua própria força de trabalho •..aquele valor


,
que lhe e ou lhe deveria ser pago pelo; capi talista~ o "tempo de

trabalho necess~rio". A segunda porção é aquela em que o trabalha-


dor apenas produz valoI excedente. o "temp~ de trabalho 8xceden-
teU.
Essa relação: entre "tempo de trabalho ne ce s eár Lo 11 e "tempo de

trabalho excedente" pode variar amplamente em funçno de . '


J.numeros
,
fatores. Dois limites extremos se apresentam porem a essa varia-
,..., I ', , ~

ç ao » Um e o de que, por menor que seja o tempo de t.r ab a l.hr» ne ce ssg,

rio~ ele ser~ sempre maior que zero. O outro ~ o do, limite f!sico
dá jornada de trabalho,
-
nao
,
stn no, sentido
~
de que nao se pode trab..ê.
lhar mais de 24 hor.es por dia, como no de que a reprodução da for •...zy
,.' N , •

ça de trabalho· tambem p re ssupoe um; tempo mi.ru mo de repouso, quanto

mais não seja p ar a o sono. (marx, 197,3, Tomo Ij p- 228) .•


,.
Afora esses limites, o inter.esse do capitalista e que a jorn;ã
da contenha o m~ximo po.ss!vel de trabalho excedente, criador de
valiau•
tônto' mais "mais •.• Os processos de ampliaç;;o desse trabalhozyxwvu
e

e.xcedente podem tamb~m variar muito. O primeiro, mais simples, é o

da mera extensão da jornada de trabalho. Dado um certo valor pago


da força de trabalho, quanto mais horas produzir o trabalhador ,
mais trabalho excedente haver~" ~ a forma de obtenção da "maiS-\la~
lia ab ao.Lutía " (.marx, 197~, Tomo 11, p. 9). Pode-so por~m conseguir
50

a diminuiçio do "t'rabalho n8cess~rioil, atrav~s da baixa do valor

da força de trabalho) ou seja, da baixa do valor de seus meios de

subsistência. Para isso, no entanto, "é preciso' duplicar a força

produtiva de seu trabalho, o que n~o ocorre sem uma mudança noszyxw
,
seus Ln.st.rumen.tn s ou no seu metodo de trabalho, ou nos dois ao me,&

mo tempo}! (Idem, ibidem) .• Ao acr~scimo:' de mais-valia oriundo dessa

reduç~oJdoitempo de trabalho necess~rio chama~se "mais-valia rela-.

tlva".

A distinção; en-tre essas duas formas de extração da mais-valia·

~ de extrema import~ncia para a compr88ns~o da 8voluç~o da produ - .

ç~o c ap talistag
í, "La production de la p Lus-sva Lue ab so Lu e ntafifac:...

te que la durée du travail, Ia production de la plus-value relati-


•. , ,
va en transforme entierement les procedes techniqUes et les eombi-

naisons sociales. EIIe se développe dane avec le mode de p r-o duc»

tion eapitalist-e proprement dit.1I (marx, 1973, Tomo 11, p. 184:}.

Nesta j~ se enC.Dntra a oposição entre a "subording.


formu18ç~ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ç~o f'o rrna L do trabalho ao c ap í.'t.aL" e a "subordinação' real do trab,s

lho ao capital", esta ~ltima constituindo' aquele "modo de produção

capitalista propriamento ditoH•

Entende-se por It subo r dd.naçao formal do trabalho- ao cap í, t:al't

as situações de produç;o em que o limodo de produzir" das fOJJmas

qUe passam a se submeter 8.0 c8pital não se altera ainda fundamen~

talmente.: Apenas o trabalhador- passa a enfrentar sua s IIcdndiçÕ8s

objetivas de trabalho.' (meios de produção)" 8 suas "condições subj§.

tivas de trabalho (meios de subsist~neia) ti como Ilcapitalrt, isto.~,

mediadas por relaç5es puramente monet~rias, decorrentes do monop~-

lio do comprador da força de trabalho.

IlS obre essa ba se; no entanto, se levanta um, modo de produção


51zyxwvutsrqponm

n~o apenas tecnologicamente especIfico que metamorfoseia a nature-


za real do processo de trabalho e as suas condiç6es reaisl o modo

d~ produç;o capitalista. ~ s~ quando este entra em cena que se op~

r a a subordinação) real do trabalho' ao capital" (rnarx, 1971, p. 72).

Como se depr:eende da definição acima dazyxwvutsrqponmlkjihgfedc


IIsubordinação for-
e" caracterJ.stica desse regime que a IIrelaçao
malll, ... de apropriação

real" entre o trabalhador e os meios de p roduçat» ainda não' se cin •..


de Ln tc r amerrte , como oc orr ets com a "relação
í de propriedade".
A pequena alteraç~o das condiç~es de cooperação (d~ divisão
t~cnica do trabalho), e o baixo nível "t-ecnol~gicoU permitem ao tr.ê.

baLhado r. ainda um grau de "entrosamento 11 no proce sso de t:rabalho

que se esfuma no regime de "subordinação. real". Neste, o parcela-

mentb das tarefas e onipresença da maquinaria transforma a força

de trabalho. em uma função dos meios de trabalhog da operadores de

ferramentas passam a servos de maquJ.nas.


, .
\

A pr oduçjio de pescado no regime das ~r.q,ifle.i.:r.ª-~.9.E..?12.~ê...


as-
sim um CasO de Iltransiçãoil complexa entre essas formas conceitu-

Nela j~ encontramos certamente um grau mais elevado de coope-


ração e de produtividade do trabalho e uma subordinação nítida a
um "ca[;lital"representado por "capitalistas", afastados do proces-
50: de produç~o imediato,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
N" esta nela pore~ plenamente
Nao desfeito ,
o vJ.nculo de apropriA

ção real entre o trabalhador e os meios de produçãot nem temos a..•


A
qui a cn.Lpo t.é nc La 'Ifabril" da maquinaria.

As causas que influenciam essa estrutura c specl fica de produ-


N

çao capitalista na pesca de Jurujubat constituindo, por assim di-


zer~ o p~lo de resist~ncia ~s tend~ncias descritas por marx na
52

p.assagem dazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
11 subordinação f'orrna L" para a 11 subordinação real do tr~
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF

balho ao capital" (marx, 1971, p. 73), derivam das mosmas condi-


ções. Ilnegativas" do trabalho de pesca que ana Lí.sevarno s para a pa a-

sagem da Ilpequena produção mercantil" para a "p ro duçác. cap í.t a.lI s-

tall • .outras vêm se agregar, especificas do toodo de enfrentament.o

entre o capital e a força de trabalho em JurujubaG Sem esquecer


que elas interDgem intimamente, inclusive em termos dô ilconvivên-

c a 11 de ssa "p ro duçao


í
~.
capi tali st a " com a "p equena produçao
- rner carr.-

tilll•
Em primeiro lugar, permanece envolvendo o novo regime o clima

de instabilidade que afligia os Upequenos produtores" e que esses


acreditam estar ai superado. O que ocorre ~ que por maior que seja

o,avanço,em termos de forças produtivas garantido no regime de


.
tr*a~rleirté'13~.,
, .
ele e a Lnrla mui to fraco para vencer as profundas resi.§
t~ncias de um objeto de trabalho, com as caracteristicas do p••
e.i"x.(3~
-,
A irregularidade da captura permanece em altas taxas; o mau tempo~
as correntes imprevistasl a saturaç~o do mercado, as falhas mec~ni

cas" tudo concorre como que para transtornar e impedir a sistemati

zaç;o~ a organização planejada e projetada dos ciclos, ritmos e


'" .
tendencIas '"
da pr-oduçar» (23 ).•

A pesca de trat.n.e,:i.
•.
r.a.!?..•.encerra-se assim num circula vã cã o ac» a

baixa produtividade impede uma. acumulação em larga escala e acarr.§.

ta uma exploração desastrada da força de trabalho; esses dois efe~

tos inviabilizam: por sua vez o desenvolvimentu das forças produti ••

(23) i'"t:..e =:'-r-~Qe


fabrique (.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK
e!) r~Glame cnmme pr~mi~re condi tio'n
que le re suLte t, a obtenir se prete a un calcul r çour-eux, de t~lle í

sorte qu'on puisse compter sur Ia production dtun quantum donne de


marchand ise s dan s un temp s donné ~" (rY1arx,1973, Tomo I, p. 154) e

-.
53zyxwvutsrqponml

As duas saídas sue poderiam garantir e que garantem at~ um

certo pun trn o ritmo da azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


cunru l.a çao padecem igualmente de forteszyxwvutsrqp
11-

mitêlções. O mercado' consumidor, conquanto tenha crescido em volume

e estabilidêlda, est~ longe de apresentar êI capacidade de absorç~o

e a organização: que seriam imprescrondiveis ; estabilidade de esco~


~ ~ ~
marrbn: do pescado. A aç e o governamental de sustento a a cumu l.e ç aozyxwvuts
se
nessa setoryciracteriza •••• pela inconst~ncia, de sprepa r-o. técnico e
de sconhe cí.merrtr» de reali.dade da produção" o que só permite uma ma ••

nipulaç;cr muito relêltiva das benasses com que acena nos planos e
fundos periodicamente renov ado s.•

Essas características, aliadas ao profunda de sco nhe cim:ento

q:ue envolve as condições de fertilidade do mar ao longo da costa

" bre edLe raj contr.ibuem para a extrema


í precariedade que tem caract~

tizado a aplicaç~o de capital concentrado na produç~o pesqueira.

A produção de pescôdo em moldes capitalistas, enquadrada em

íiais condições, se sustenta pela super •..


exploração da força de tra-
balho - o ela mais fraco da corrente - pais, embora ela ofereça
uma reststência arguta e paciente, seu poder de barganha está for•.•
·

temente. reduzido, marginalizada at~ mesmo' em relação aos demais


segmentos da classe trabalhadora nacional, pela especificidade do
ordenamanta jurídico a que est~ submetida.

A' açâa! dos a,rma,ctgr",ª-ª-


concentra-se, portanto'l na vigil~ncia

dessa força de trabalho:, opondo •..


se-lhe com uma violência que se 8..ê,

praia do institucional ao r!sico..

A ação institucional vem se dando" sobretudo .• atrav~s dazyxwvutsrqponmlkjihgf


.§J:A-
,çl..i..,Ç
•.a.•
;~OJ d.o)~.A,r.m..?d(J.:t9~~,
onde se procura justificar a violação. dos d,i
reitos trabalhistas invocando-se a tese da associaç~a d~ intaTas-
,
54

maLa s de que se reveste o: sistema de, remuneração;


zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA na pesca (24~).
A viol~nci~ f!sica~ permanente e surd~ no pr6prio process~ de

t~abalho~ explode nas ocasi~es de crise em ameaças expI{citas, n~o

sendo raras as Udesistências" de reivindicação na justiça

lhi ata pela interveniência de "advertências" incSmoda s.


,
Esse ponto porem - o das formas assumidas pelo confronto de

classes no interior do processo social hoje em curso em Jurujuba •.•zyx

j~ faz parte pela sua essenciarlidade do núcleo; da análise desenvol

vida nos próximos cap{ t.u Lo s s a da reprodução' social dos trabalhadQ

ras di ferenciados em Jurujuba - pequenos produtores e trabalhado-

rc s assalariados.

ri4y'-Ep"a"~"';i'du'l<arment:e ilustrativa a I'exposição de motivostl prl1P-ª..


r a da por esse Sindicato" paro. o BNH:, o qual na sua qualidade de o r+
g~U! fiscalizador do FGTS, acolheu em seu Parecer rrº 141!6g a tese
\
expressa naquele documento segundo a qual usendo· o contrato - cole .•.
brado; entre pescadores e armadores de natureza associativa, 8SSU -
mindo::'ambos os riscos de atividade econ~mica, não se Gonfigura a
existência da relnção de emprego; razão por que não- se lhes apli-
cam as disposições r." Essa "viol~ncia"
da CLzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tem raLzes nas repre-
sentações mais gen~ricas sobre as relaçõos tapitalistns, cabel)do
r'ep r oduzd r. a seguinte nota de rnarx~ "Tou tres les formes développee,s
de prcrduction capitaliste étant, des f'o rrnes de coop~ration,zyxwvutsrqponmlkjihgfed
riem n:1
e atr. .(latUrellement pl.u s facile que de fai:te abstraction de. leur ca ..•
ractere antagoniste et' de Le s t'ransformer ainsi d'un coup de ' ba»
guette en forme d tassociation li'1re, comme 18 f'a.í. t le com!l:e A. de
li.abor de dans~s2n ouvrage intitule~ LIEs, ri.t." d'A$$Gciªti()n . dQOs
~C?.LLs
...••
les iotere,.:t's Q.e=)a ~çommUf1éJ.ut9Paris, 18l~ •.•.Le yankee ..•H. Ca»
rey,' ~xecute C8. t.oun d.e force avee .10 mame succe s Q p r op o s meme du-
sys-c:eme osclavagist.e." (marx, 1973, Tomo 11, p. 204J.

\
5Szyxwvuts

"Pera ,
Ia, eu sou um homem. Porque -
nao parece nada; mas eu su.§.

t1:enito uma nôção. Eu cont.r í buo. p r a sustentar uma nação>e Porque Um

cara que matazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


200, mil~ mil e tantos quilos de peixe. Sou um Jl,.r;Q:-

.Q.,u
•.toJ;J pequeno' mas soult.

Assim proclama um pequeno produtor de Jurujuba sua orgulhn"Sa

e amarga identidade eo c La Ls um 1).0•.rn.ªlU. que !!lã-


ê.us,.:t!3.Il.,"tf.?1 "ç,Q"nt.r~:i;}?.!:J.,i.,

~ ,peixe, enf.im, 'p.•J;;,Çl••c;LLJ.~.


E que nessa !'produção" produz-se tamb~m

a si" nesse "produzo, logo existoll que e, a 1"


og~ca mais funda do

trabalhador propriet~riQ; s apropriador de seus meios de, produção.

"OrgLJlhosa" identidade porque feita '"


da consciencia aguda de

uma "respunsabilidade pe s so a L" e Uma n r a sp on sabilidads 11 vigilante

de quem' !..ra9.êJ.ha a, q"oD"hêr,Ç,§.


e tem no ri tIna; e qualidade dessa "
prat~- .
Jt,

ca a ra zão e o fundamenta' de sua subsistencia: a batalha.


1- ,.." ••••••••••• 'C •.•••••••• '( ...

"Amarga" Lderrtd d ade porque só se efetiva no boj o de uma luta

ferrenha. fpm ,l;lllb...aJlF_s


•.,.d_e,!1t,e_p',contra os lim! te s cada ve z mai 5 ape~

t'ados de sua pr~tico "independente". Contra a "instabilidade" do

.ffi.8;-' e dó m.e.+,.sa.c!.e.,
contra as ameaças da expropriação de sua s condi •.•

ções de produção: os limites ..•..,.. ..•.....•..•.•. •


da iLusão

A dicotomia entre um Ueu" e um i'exterior!', carregados dezyxwvutsrqponmlk


Valg.

res e responsabilidades, e de cujo embate a categoria 9,.,Q.t..9Jb.?..zyxwvutsrqp


Te •.•

fIete por assim', dizer o aspecto, "vo Lurrt.ar í s+a" (a ação dó "eu" 50;....

bre o "mundo 11), e a categnria ,;h;t.JLsãpo aspecto, "mecaní cã s ta " Ca

ação do "mundov, independente do' "eu li}, ~ reprodu zí.da ao


,
$l.vel
• •.•
mais Lme dã a'tx» da pr~,tica produtiva na dicotomia entre a o•.b rJ.gacâQ,

\
56zyxwvutsrqpon

e a êP..•r.tlê. •. que constituem, por assim dizer, os instrumentos de

ação daqueles domfnios confrontantes.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDC

A. c a te qo r r
.a b',tr ••••=h9.9Qa.g.;
.9•.. ~ co r r e apon
de em p r a.'.'nca pa c. a r-e p r-e serma~......,

ção sobre r» "trabalhoUQ Não sobre o trabalho eJT1


... geral, mas sobre o

"trabalho}1 do pequeno produtor - o s.•.


€3..h!.
trabalho, envolvido da l1lre.§.

p,onsabilidadeu, do sentido moral que o justifica.


,,
o IltrabalhoiJ em particula~ 80 e con~iderado como o trabalho
,
"produtivO'fI, isto e, aquele que se consubstancia em um p no du'tr» co.f]

ereta'. Trabalrra-se na '(q.b,.:Q..•.cJ\ ou na o..fj.--º'-W


na ~€3.s...cA,na .EW.>\-ª-.d..,q.1 a.. •
.....

Não se trabalha no comc;rcicr ou no serviço público. IINão vivem: do


. ..' . / dos .
suor do trabalho 11 - d L z e m o s pequeno 8 ~ntermed~ar~Qs que se qni':!.,,,!

quecem com as sobras no mercado. são os .:r:at.9•.~1


..• os que comem' db

,
Esse nuc Leo de Utrabalho produtivo" transforma"'se na .9•.b".r_i..9ã-
eu b sd •• •
N ,.,
~ tôo logo esse trabalho passa a ter o sentido da S:lstenc~a

principal, pessoal e f'amí.Lí ar « O trabalho do jovem não~, part:an-

to, ainda .9,.lu:i.S!.PQio.,a s s írm como deixa de s8-lm opós certa idade e
/

em havendo arrimo familiar'.

Os pequenos produtores compartilham essa representação do seu


\

trabalho) com os trabalhadores não •.•propriet~rios. Também estes, cc -

~~~.*.... ..•.•,,**.'., ~ ••
(1) Ess~ c9ncepç;QJ do trabalho aproxima-se assim daquela d~tectada
por Jose Sergio Leite Lopes (1974~ p_ 210) entre os trabalh~dbres
da usina de açúcar- Uma IIconcepçãa smithianalt, por oposição a Jlc0.!l
cepçãcr fisiDcr~ticaU dos trabalhadores do campa" descrita po:r- Ly-
gia Sigaud (.1971, p. 70) e comentada por Afrânio' Garcia (19'7'5:, p.
24S).
57

socialmente

valorizada de errf'rzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
errt.amerrtc pleno: dos encargos de subsist-ênciô. P,ê.
. ,.., ,
ra os p e queno s produtores, no entanto, essa o.•b.r.~sas.al1 e dupla, pois
•••
ela recobre a esfera da reproduçab da força de trabalha familiar ~
; , ,
a esfera do "domestico", mas recobre tambem a reprodução da unida-

de de produçBD; a reprodução, da cor'ldl.çÊÍo de pequeno produto Ir.

Além do mais,) como essa reproduçãcJ; sezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONML


vê sempre ame aç a da , ou.
pelo. menos, se considera sempre amcaç ada , a -º.br..i-s.as..ã.Q.
~ tamb~m a

ob:r,:i.,.9.,q,ç.?Q
da uma 11 superação 11 - de vencer a luta pela ultrapassagemzyxwvut
A ,
de um, certo limiar de sobrevivencia~ que esta sempre um pouco mais

adiante; seja no sentido da reprodução ampliada ou da acumulação

diferencial na pr~pria unidade de produção:, seja na GonsolidQÇf2ü


IV
de uma pOlsição valorizada para um filho ou filha., Que até o verao
.'
ja disponha de uma rede mais larga, que ate.' o p roxarno.
, ano . j
.'
a possa

t-er. trocado o motor a gasolina por um motor


,
a o Le o , que tenha
,."
ate

o' c e samerrtío da filha aberto um po.ço no seu quintal ou que o: garoto

consiga urna vaga no .c.tJ..Ls.(J"",


$d.e$art..i..9..Q.são fupicos da Q.!J,*I:,i.Q..a,Çã,o.
- eu ••

ja: penhor e" rn fruto quotidiano diJ suor.

Esse suo.r; deve ser crrp í.o so» A vigil~ncia da \{,icLa,.,sl.e


})"*º..ri.9.Ç1~o.

~ a extração.: m~xima das possibilidades de sua força de

p e s ao a I.e "Eu não: tenho hora para dormir. Durmo a hora que eu POJS-

50.• meu co rpc


M se a co s t umou a h ora que eu posso.
j.' a H'OJ8,
. eu fui
..•. t ..• ,.
dormir aquela hora que voee v~u; an as de tres horas ja estava a-
." e a vida.
cerdi3:dOJe E assJ.In Tem dia ~
que eu nao durmo nerm uma hora •

E no dia seguinte eu toco o co r po» 50 que tem que


, o meu corpo.
.'
Ja
~ #
nao aceita do rmí n mui tO'.PQ·rque esta habituado a dormir pouco" •.zyxwv

D~ferentemente do trabalhador nao-cp r-op nLe t.a r-Lo; que se. aubme-«
• ., N. '.

'tie a um regime produtiva, idênticamente exaustivo" o pequeno) prodü-


58zyxwvu

,
ter pode tentar compensar, porem, o excessivo' desgasta de suazyxwvutsrq
fOl7-

ça de trabalho pela intensificaç~o de seus meios de subsist~ncia.


"Eu me eI í.merríío.,
senão, não aguento!. rneu alimen,t(l;
~ forte. Essa se-
,.
mana eu comp r eã l~ pr a ca sa 9 quilos de uva em dois dias, e eu so

tenho, dois f í.Lho s» Haja eu comprei 6 quilas de carne e 6 quí.Lo.sde

batata'. Não so come isso; num dia s~;n~o; mas em dois dias vaizyxwvutsrqp
tu •...

do. Viu aquele meu garotn .••• Se botar a panela de Carne na freo:tezyx

dele, come ate errj o ar-s '.


nao quer saber se tem outro pra CDme;u'.
N ,

Cssa qualidade diferencial das condições de existência do pe••

queno produtolr, que pode se concretiza!; com maior ou menor identi-


,
dade, e garantida pela margem substancial de vantagem que tende a

oco r-r-e
r-no que o produtor ~i.rê."
semanalmente em confronto corm a r:e-zy
N _ ,

muneraçao dos nao ....


proprietarios.

O pequeno produtor, al~m disso; det~m o controle das condi-


ç;es de produç~o, isto ~, da duraç~o~ intensidad~ e qualidade do

processo) de trabalho, adequando-as maximi zaçÊÍ03da


em função de umazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
N , /n;o
realizaçao do: valor que e absoluta, mas sempre mais ou menos simb!
'tO ( ....,.
o ~ca com o n1vel das necessidades de reproduçaa da unidade domas"

tica e da unidade produtiv~.

A g.!J~r:i.9.a,Çãq
do pequeno produtor é assim, o oposto da ª+~Q.±.ê.YJ.-
,
que e como ele encara o trabalh~ do assalariada das grandes
unidades produt.ãve as "Eu sou patrão, de pescaria p equ erta " e Assim, o

"pequeno pr odutor " constrói a separação entre a pr~tica de rapro-dy


çã~ de sua condiç~o, de propriet;rio gerente de sua prodUção e a

pr~tica d,e reprodução da força de trabalho a ssaLarLa da ; privilegi-

ando: sua identificação com os grandes proprietáriosg "patrão de


pescaria pequena",.
A -º,'p*:rj.gp.s..f1•.•~, no entanto, enquanto categoria centTal da prát:i•.•
59zyxwvutsrqponm

ca de s se.s aqentre sj demarca o seu sentido contra uma categoria po-

lar: comum: a b.,ir.,itê... Se a obri~ ~ o papel socialmente legitimozyxwvuts


de
o.
I'
'cr
f
here de f ama '1' a a II r e spon save.i
,. 1, a
b";'
-*J,.lJ;a. e a ne qaç
•.• dIe s s e
ao- p a-«

paI co1'poriflicada na representaç~Q da bebida em excesso~ Ela se

torna o; distintivo' de um mundo: de nno-trabalho: e de nõo •..r-ospon sabj,

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA "N
çacr de sua identidadei assim como e tambe~ a contrafaçao do' modelo
N

do trabalhador não-propriet~rio. Para o.mbos, ela ~ Uma presença

mui to r ea Lj por abrigar uma virtualidade ameaçadora. Deixar-se le-

Var pelap),.,}'J •.t..ê.. é perder o çontrole do fio tÊnue de sua sobrevivên.

cià mantido firme na ab5tinência simbóllica da o.b.rig"aç,~Q.

Pois a bebida alco~lica 6 o sfmboln principal do estado de

não~trabalhOJ eventual, dessas rupturas legi timCl8 da vida de .9P•.rJ,..-


9..Q.G.~, que são os momentos da !e •.st,g., da .t,a.r.•t:§', do conv [vã o. entre

companheiros no .9•.q,~. Nesse, sentido,. como que j~ traz em si o germe

do estigma do seu excesso". através da associação com os momentos

dé relaxamentO) da tensão vital com que se representa a vida de


,A •
Q@..:r,:,:i,..clélgél.,Q,.
N

na l2.a:t~.al.h~é!
da sob r evd ven c La s

Embora a bebida pOSSô ser reôlmente vista nesse caso mais CCll-

mo, dd s t.Lrrtd vo. de uma condição do que como sua cau sa sUficient,B" a

!?.Lritq, é a categoria dom que se pensa esso condição de inviabiliZâ


•.•
çao dOJ projeto idEml. E nas t'
'1'a,1e t'orlas
. individuais o que

na verdade aí uma oscilação:, reproduzida nas histórias de vida, en»


tre a capacidade de reger o seu "destino" e os "desfal.ecimer:ldt'Os n

-4-! ..., • ,.
momennanao s que podem ou natr va r a ser uma IIfalencia 11 de fini ti va •
"O meu ve lh.'0 sempre gos t nu d e urna c8rv8,la.. A('
~ e squ e ca. e a o.br
..r.lgaJ;,.?O.;o í '"

Eu' a ssumi a re sponsabilidade e toquei p r a frente U. IIEntão' fi zemos

muita rede nova pra armar rede d~ parati, que esse ora o meu so~
60zyxwvutsrqpon

At, quando tava q~as~ na hora de armar a rede.


nho,+zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ele fi.;!;:
vo Ltíouzyxwvutsrqpo

me a. beber. de novo» Ca u tudo


í por terrazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU
n.

sua' afirmação,
r.: "
da sue just,i ficação: p Lerias Pois a desempenho da
-
0.•••
.zyxwvu
.b.•tisa"Ç"ã•.o.. atrav~s da trajJàJ.b.9.. sl ~passivei com o dom{nio. do comp1Q..zyxw

Xo acervrr de canhecimen'lioê indisp~ns~vel ~ canduç~ol do pracosso

produti vo, na pesca: a a.r:l{.~.

dú to r"; de: gerente da IIprodtlç~biJ pela' domínio.' do c~diga cul, fural


de acesso. ao ni•.~ e ao .Q..eJ:..0..Cf...
E neste caso, a sua él.r
.•.
t~ tem um: senti.
•. I '

dOJestrutura1mente idêntico ao que detem essa êategoria entre ou-

tros setbres da classe trabalhadora, como os ilartesãos do ourou e;.§.

tudadós par maria l10silehe Âi~im (197.2) dU as "a r t.Ls tra s " da usinazyxwvu
li ,. ,/I
de. açucazr e s'tudedo s por Jose Sergio Leite Lapas (1974:). Coma ,nos-

e es casos" ou ainda mesmo no do &"al:J.?J:',


faze_r dos "morad01'esu estÜdã

dos por L~rgia Sigaud (1971), a categoria nominaliza a percepção, do

trabalho. tfpica de uma relação.. de ap rop r-Laçácn r ea L, ou: seja, daqu§.

Ia em que, os meios de trabalha encontram-se ainda rra medida dos

portadores da força de trabalhQ;, dependentes desse instrumento:; sup,.

j etivo: da pradução:-. que ~ o dominia 11inte18ctual" sabre a ferramen-

ta eJ po~rtanta, sobre o processo de trabalho. Um dom!nio que arti-

cula como uma totalidade a pr~pria per:cepçãr do processo e do: pr,oJeoo

du to. dela r e su I tanta. Totalidade da participação do tro.bnlhadbr

junto aos meios de produ.ção;, totnlidade do processo. de produgão en,

quanto percepção da trabalhador. Nem o "maquinismo", nem a udivi-

são; complexa do trabalho" interv~m aqui na qualidade dessa rela-

ção •. lYlas, di ferentementa, daqueles citados "artesãos", "a r t s te s"


í

ou; "moradores", aqui t empcucc interpõe-se o não-trabalhador. O pr,g;


61zyxwvutsrqpon

duto' não ~ apenas vivenciadà· como sJ:.4. produto, i


mas elezyxwvutsrqpo
seu~~ por

ele, pelo) produtor direto;; apropriado; e convertida em seu valor de

me.rrce do,» A"ssim, nãü se c oIío ca para esse p"'e.ê.c..a


•.. :r."f.E:J,.~.9.• a dic.ot:omia
dp...

entre o 11 saber f'a ze r " e o. t'fa z e r" indi scr í.mí.nadcs, cuja s implica •..

gões para o Umorador" S80 ressaltadas por 1'I10aci1'Paln1eira (s/d) e

N~o) temos aqui o ucativeiro 11 da .Q).p.n.ta


..ü-ie0,IJJCL pequeno produtor de.•.•

têm uma liberdade, formal absoluta em relação 0.0 seu processo de

trabalho!e Não; temos tampouca a contradição entre o fazer o pro-duto

e o dispor do produto.! que está na raiz da s representações dos citã

dos "art:esãas do cur-e" (Alvim, 1972) •.

N~.60 e, a ~nna , pOcr:'anto,


t ~ .
que as r ef'e r ancã a s a esta a.r.:t:e..no, dis ••

curso dos pequenos produtores ocorram no contexto da oposiçãm: ora

a06 trabalhadores nãoilooproprietáriosl seus .s..oJ11.Pil_nh.~.:J.ro..§.


de produção,
,
- atraves do tema da aprendizagem:- ora ao trabalho, nas -ttr.a~i.n.e~r,ê""êJ,

nas unidades "capi-rralistasU de produção.' - através do tema do! des-

respei
"\,..,
trr a que Lí.f'Lca çao •• Com iisso~ o pequeno produtor esta
, .
ac:~anan

do a' categoria '4rj:;.~.para demarcar os pr~prios limit,es extremos de

sua pr:~tica. No primeiro caso •.. o da aprendizagem - desvenda •..•


se a

l~gica de sua gênese, o processo de legitimôção pe l,a aquisiç;ÊÍo~ db

corrhe cí.merrtr» indispens~vel ~ con s t ruçjio do p.•.


~s.ç~d.QJ'.:f.El;l..Sp,;. No se-

gundb caso" ilumina-se o' caminho do seu ap oca Ld p se - o assald1:ia-

mento' nas "t;:"q,i)l.~iI.'iL~,


como negaç;o da identidade fundada na conhec.i

merren. dos segredb:s da pesca.

A intensidade da legiti.mação pelo "saber" é tanto maior para


,
e.see e agentes quantozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
OJ seu status p,ri.vile,giado de propriet-a1'ids f;ê.
C.e a nãa-propJriet~rios não se ri tuali za no afastamento do; pcccc aso

imediato de produção. C.9.!Jl--º..al')hej,rE,;


entre E.<2..[l1J2,QD.DeiI'o.;3.,
o' mes.t;r;:e pen.

se SUa di ferença como o: do' deten.toL" de, um, saber privilegi,ado; de


62zyxwvutsrqponm

que decorreria, isto sim:, sua qualidade di ferencial de classe.

A questão' da ap r endd zaqern. adquire além, do mais uma re1ev~ncia

viva por uma caracter!stica atual da "pequena produção mercantil "

em: Jurujuba~ A força de trabalho, assalariada tende a se concentrarzyxwv


, • : N

nas unidades medias de p r oduç ao; ou seja as tr .•.


CLi.JLE3JJ;''EI.S .JD.?J'",..o
.•J:'.J3.S", s~
~ } '. .... .
gundo uma 10gioa que se apreciara rio Cap ; 111. Devido: a esse, movi •.•

merrtrr, as menores unidades de produção, sobretudo as .9.ª--no.ª~ vêem,..

se, obrigadas a depender quase exdlusivamel"ite da força de 'I:r.abalh.o

do. menor'.

Esse tatu, resseH.tido 9 apto!=)r.5.adb pelos p e quen o s pro'dutores,

r-efo nça o' papel do fIle~.:t:.:I7:..ê.


como, litnestre" de sua e...r,.:çg, pois pa s sa a

constituir quase que um estágio' indispensável do, trabalho, na po sca

o' submeter-se aliínda muito jovem ao "aprendi za do It em uma GJID.Q•.~,. DÚ"

bim "ap r cndd aadc" que é também trabalho e sobrei7;rabalho,

trandOJ um alto teol:' de tensãOJque explode com frequ~ncia nas rela-

ções entre J11•.'?c§..t},.E3.


e jovens c•.ompél.fJjle:i,;rCL9.'
levando ~ inevitável saí-

da do trabalhador para unidades maiores de produç~cr.

"E como tem: que ter paciência e saco pr a ouvir' c::er.tas pala-

vra s de cert:os caras que a gente


,.
ve falar
"
e as vezes pra
,..
nar» bri-

gar com todo mundo.' a gente engole cert as coisas. Tem muito camaze -

da que vem pescar que não sabe droga nenhuma. Quando toma noção do
, • , •" f
que e uma pescar1a, acha que Ja esta ganhando pouco. A1 quase sem"

Rra discute com a gente e sai pra pescar com outro".

A tens80 que leva a essa ruptura final abarca, do ponto;' de

vista db pequeno' produtor; duas representações paralelas sobre o

sentido da utilização:, de.s sa força de trabalho não-adulta. De UIIT' lã


do, ela materializa as nOVas condiç~es de precariGd~de e instabili ...•
dade da produção •.a.§J a di s s ol uç áo. do espiri
em ,c-,-,,*!W to original da
q,oJll.l2..a
..•.
nh...ê."onde deveriam harmonizar-se as funções de tr:ª,b""qlhP. e de

ftl.J.•:r.!':D.dj,f:iLClE3
•.m..'o Nesse sentido, a ut-ilizaç~o de uma força de trabalho

mais barata, porém - e por isso inesmo: - menos qualificada, força


, ...,
uma representação como ~ nve rsao
negativazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do papel de "instrutor",
..., ~
da relaçao de assalariamentng UPorque tem camarada que nao vem pe,&

cm:'. ele devia era pagar a gentezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


Ir li

Por outro, Ladoj. o papel da Uinstrutor" •.• de ill,e.E?t~:r.El


- refurça,

como J~ apont~vamos, a legi timidade da sua $-J'.tElj do seu saber pro.·

fissional. Da confluência dessas r'apreseritações contradi tór:Las e:-

merge mais uma vez essa asp~cie de orgulho amargo, com que qualifi

carno s sua Lden t dade s "Tem


í muito cr;e:fe de fam{lia que est~ p e scan»zyxw
, f zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHG
do nesses barcos, que esta pescando a~, que aprendeu a pescar com!

go, mui tos mesmo:••• Eles chegam aqui, a gente da" uma no çao - a eles

e por pouco tempo, j ~ e stão num barco. grande de·sse s ••• E tipo, ôs-

sim um animal dom~stico) que a gente domestica ô criança naquele

setor pra ele mais tarde não ficar dando zebra. Eles aprendem 8 se

amansam por natureza naquele tipo) de trabalho".

\. A questão da "ap r endd zaqem" envoLve também, ao lado do "Lns •.•.

trução'" ao jovem c.o.ffipanhei:r.o. de fora, a "instrução" dos filhos do

pequeno: produtor .• Essa se çunda instrução' tem logicamente um' senti-

do mais amplo, pois ela visa a própria reprodução a longo prazo da


'-
unidade de produçãa e da unidade dome s t í.ca- Embora as represent'a-

ções sobre a continuidade da reprodução) da família na reprodução

da "pequena produçÊÍoll encerrem ampla margem de contradições, nunca


, . ~
deixa de fazer parte da sua 1og1ca a preparaçarr dos filhos para a

f!b}'á.9+~ã~o",futura 13 O seu aprendi za do. incorpora assim um e Lemerrco de

totali zaç~('JJ conti do na op o siçãa entre ctl:1.:J;. l,IJrra~n(Jç~,ÇJ,;


.d'p,m.8.s.tiÇCL:ç; e

to rnar.- se um .e...e
.•s.•
ç.a.d.çJrc.J
•.e.ij~..oj.
• N '" , , zyxwvutsrqponmlkjih
Essa op o s a çao: nos leva a analise do pr cp r í,c conteudo dessa

,ª.:r,:,1;;,.tt, desse trabalho legitimado.


,.. b' .
A oposiçao interna a sa ca parece residir entre o ,f.9ZeJ;':.,ou m~

o s..ab.•.e,r .fa2.~ constituiria, de certo monrr, o fundo comum a


pr~tica pesqueira que envolve t.odos os .E.QJ3p,.,ad.o*r='ts"
8 que remete a.§.

sim ~quela ide.ntidade ab r anqerrbe cujo' sentido) perseguimos. Ele se

consUbstancia no domínio das pr~ticas mais imediatas ou ' .


tBcnIcas

do pr cce.s so- de trabalho,. tai s como o s.a.9.e;,r


•..•
a.ta.:t (recolher a rede

traineira), o ê...ClPe:ç
'p'UXEl}:: (recolher a rede de arrasto) etc. Nessa
, , ...
a r e a e que parece residir a abrangencia das expressões d.•.
ê?,:s,,!J.fl!ª- ..••IJ.W·
....
i.a...D.. ou 9'O..P.••~~t.i..cª.!'•• frata-se dos elementos b~sicos e mais mecanica-

mente transm:is>!veis dos processos de traball]D.

A esse ,"~ª-b*e.•.f.~..ze•t. agrega;...se,


•.r. por~nrl, no aprendizado; especIfi-

co: para se formar um pequeno pr eduüor , o domínio de toda a pr~tic.azyxwv

maa s ampla da conduçao do processo de pr-oduçarrs o c_º--flhe.CEg:..


AI
• N ""/
S8

misturariam os conhecimentos "selvagens" de nau tã ca,


'. ~ .
mecaru.ca , me•.•
\.

teorologiQ, oceanograf.ia e ictiologia, que envolvem e permitem a

produç8o! pesqueira; mas tamb~m: os conhecimentos sobre as relações

dessa produç;;;o: com o mundo econômico~ com as demais unidades prudy'

tivas, com o mercado, com os ~rgãos de fiscalização e controle da

p.es ca- Um G..Q.Q.h


.•e..c.ex., portanto, que corresponde
..aquela tDtalidade da

\. experi~ncia de vida do pequeno produtor. As condições d8.


•... ,.
,Ç.a..Q"os parametro s da ,p_a
..t~Jj1jl.
O ç.o.l1_h...§..c..§~,
abrangente sobre as condições de sobrevivência não

~ evidentemente apBn~girr dos pequanos produtures- O que distingue~

por~m# o' seu casa ~ a continuidade vivida e pensada entre a pr~ti-

ca produtiva e aquelas condições gerais de vida. O .s.•é!..b.8.J:.',",""f*-a*~


não
65zyxwvutsrqpo

se opõe ao c;onhecêX. ~ sua [Trá-condição e seu núcleo.

Essa "continuidade" se reproduz na "totalidade" da incorpora-zyxwvut

çãO! do t r aba Lhado r no processo do .~.o"llJ),ec~.:ç;z


Lnco rpor açao plena do
corpo~ incorporação plena do "espírito". t; nesse
O q,s,nh.ec;,e
..• senti. •••

do, abrange a boa adequação do "f!sico" ~ sua pr~tica e se ressal-


tElra, ê).
'"
importancia da agilidade e da força no desempenha produiti.-zyxwvu
vo « mos abrange também uma di spo sição mental. O .9.,os.itfL
pelo trClba-

Lhrn se resume em uma categoria frequente nos seus dã scur sus s a 1.11.-
.:E!.lJÊ.o...ç.ia...
Viver na i.•o.f+.uiD,Cj..,Sl.
da pe s ca , es+e r i..nJl.u....
i.d.p.J constitui.,

por assim dizer, o f'e cht», o elo definitiva ne s sa cadeia de condi-

ções que constitui a prática do pequeno produtor. ~ o elemento sul;?

jetivo' de solda - o decantado "cimento:u• Em um sentido. p~)rémlmuito


"
def'Ln.í dos o de Que coz-r e spunde ~a vi vencia daquela caracter!stica
já antes apontada do p e querro prO:;dutDr de viver uma unidade real en
tr:e o' s eu trabalho, e as eue s condir;ões de produção. Unidade na !lI".§.

lação de propriedade".t unidade na "relação de apropriação' reaPl,.

Essa totalidede do ç•.Q.•ph,.é,ec,?:ç;.


importa por~m em uma outra que s»

tãoi. Como.ela co r r.esp onda ac dom:fnio de uma prática abrangente de


vida,. ~ a própria vida que a instaura progressivamente. A s s ínr, o

bJ...t...
EJl•.s_s,1?_cL9E, Q é o resultado de um f.?.•z_El.~
paulatina, que vai arr me s--

mo te,mpo fa zt3.•0.•d'p~quem ta.,z. A JI senioridade" do ,n:!.e


.•$.t.;r:.f3.• é também uma
senioridade 'f!sica e mental. O v.e...
:lJ:lP•.•.P.,f3 SCJ_lçlO},''; (no s errtd.dr» de um vJ2.

lho "p equerro produtor") ~ o cor oemerrco. desse t:a,;?:ve..t


pelo

mais amplo.

Essa caracteristica se manifesta mais claramente ao abo r.dan--

mos o sentido da âr.:tt:. para o pequeno produtor no contexto,. -


nao
mais de sua instauração" de sua afirmação lógica, mas no de sua
negoção: o. trabalho a e e aLa r-Le do nas traineiras_

\
66zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb

Esse outro universo, cnrregado do sinnl negativo da sua pra-'"zyxwv

tica,. temido e),!lio do "pequeno prodUtor" falido" apresenta-se ccr-


\
mo; o lugar da subversão: do c~'digo da .a.r..t.~_,f'alarido das condições

de trabalho nas tr..ª,.i.JI.êJ.f..~:


"liem nego. aI,. criança, ganhando mais do que um homem_ Tem cri •.•

ança aí ganhando igual a mim que sou pescador feita • .o pescador


(')
fei to \ Ia. ta
, relaxado), tn
, sem valo)Í'n,~

"Porque em outro' setor de trabalho, se estuda a profissão pra

despois ganhar, e nessa pescar~a . JO.' entra ganhando igual a um V e•..

lho. Eu, por exemplo', tenho a minha pescaria. Se eu se Lc da minha

pescar~n
. e vou num barco desses
,
a~, eu Ja
.,
vou ganhando igual a uma

criança que sai l~ do meio do mato".

Essa oposição tem um duplo sentido. Ela aponta, do um Ladt» ,


para ~. a.a d a sua p ra'. tã ca '\a pró't'a ca restn .ta do
a re d·zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
uçao d a a b r anqenc
N

trabalhador não-proprietório" :ç. dO\l.e)..h..º" do,


onde o r9..9.IlhE3"ç.e
.•. E..?"'s,:F
•.
$••.•

também para a incipiente divisõo técnica do trabalhO' na produção

das .:tr.•.a~ll.ª.iJ.'*C3.!?1 onde passa a importar menos o. qua l L fica(t:ão, ahreri-


gen ~
uoo
d d....
. o que a a equaçat» e epe caI f"
r a ce a essa 1 t
ou aqueaarel,a; .C<
pJ..nça-

da do conjunto da próticD produtivá.

Assim" não s~ lhe parece ileg! ti ma a desquoli-ficaçÊÍo; geral em

que impli.caria o: trabalho inicial, indiferenciado" nas traineiras,

expressa no t:exto anterior, como tomb~m lhe parece ile.g!t±ma a no-


va q!Jalificnção, especificado; emergente nas relações de trabalhO'

das grandes unidad~s de produç~Q~

tlTem,proeiro ar que s~ p r-a ir na proa do barco OLhar o' peixe.

cercar, ganha 10 partes-


-
Ganhando lD partes - pera Ia"
,
ele
~
nao' faz

milagre~lll

\
a 9.0.r.•~
b)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

,
Assim como a Q..n.tSl)llélda v da í se opõe a .:i.tuq,ã_Q, no :li;r"a..bR.thp~
na

pe aca se opõe a so_r~€'t. Dposição' complementar (diz{amos antes ,que

seriam representações - uma mais 'Voluntarist:d~ outro. mais "me can.í,»,

cista" •.. da mesma pr~tica) que d~ ~onta do dif{cilzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYX


jogo do. sobrev!

vência e dos custos "emocionais" que a inflexão- da histbria de vi-'

da vai. impondo> e recompondo, na º.Q.\g,lh..Q.da iJusâ:o..

o recurso: a um modelo bi-pol,arzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDC


c'o sentido; e r-e sp on sab Ll dade í

da s pr~t.icas parece comum a intJmeros grupos sociais (2). O prbprio

par de oposição) l.J;:,aP•.al..b.o. x .§.9.l!.'tp. ~ encontr~vel em diversos con ttax»


tos de. classe t.r atia Lhaduca; embora com pesos di ferentes. Ka.t-tak,e"

por exemplo, em seu trabalho; sobre os pescadores de Arembepe

(1966), destaca o papel. que essas representações teriam na solu •...


--·

ção: do confli to ideol~gi ctr en.tre os mecani smos interno s de igualdA

de da comunidade e a e scen sáo di ferencial de alguns de seus m erm-


bras- Fo s-ber , por sua vez, no artigo: em que disoute o. visão; de mun
~
'"

do: das eoc í.e cade s camponesas "f'e chado s " (1967 a), remete aque La PQ:'

laridade:
"a .,
pxóp r í.e oposição entre a "imagem. do. bem limitado.", 1.11-

trlnseca ao grupO', e as possibilido.de s de "abertura \I de. seu sis'te-

N"Osdois casos citados coincide o. interpretação: do mecanismo

~'•.. .....-.. • • ....'.,....,1 , ••


(2) Embora estEja certamente fundada no mecanismo; geral do pensa-
mento; anal~gicO!, cuja re1ev~ncia para a conformação das estruturas
id~016gicas irão bem de~onstra ~O:d~lier{ 1973) ,. ele parece se ,ma~'er1
alJ.zar- no c a so. em uma area se.mantica marcado pelas ce r ac ber-ãs td.ca s
da noção de "individuo'" na "eu L-CUra ocidental modernazyxwvutsrqponmlk
U. A oposição
entre "responsabilidade" •..e "destino"; qIJ8 Ó quase r e dundan.ba com
esta outra entre .Q.R.:t..1,S?Ji,p-..•.Q; e ~9
.•9J:·'t~, e sta na rai z da ideol.og:±a do
individualismo que marca n.osso fundo eu I tura1 comum (cf o Web&I!" ,
1964L Durnon.t, 1965). .
68zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ

"",.",
..zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
.,
dn ~P..s? como 'UITlbreprf3:sentnçna
(.

do que e exterior, ou daqufí.l.o que


,. . r ,
uma clotorminocla ostrLiturG ideologiCtl ospdr~ mo.ntor (;";0010

orU• Essa coincidência parece responder a uma coincidência da s pr~


,
prias sociedades analisadas por esses autores_ Arembepe, na epocazyxw

onn que a estudou Ko trcak , seria facilmente assimil~vel ;quelas com!!


..•.
nidades camponeso.s "fechadas" de que fala Foster e talvez mesmo a
Jurujuba do, início deste s~cUlo;.

Hoje, no entanto;
, .
os prnpr-a o s pequenos produtores, mais n09-

,t~lgicos portadores da recordação do tempo em que tltudo aqui era


'I' a so";
uma f amaru , N t
nao part~ 'lh am ceramente de uma "orientaçacr .•. cogo!.

tivn" fechada_ Todo o longo processo da 1l1Rd.-é)JlÇ.q,


anteriormente a-

preciado); aponta para a abertura e a inserção' crescente do' bairl"O

na sociedade nacional_ A pr~pria ascens~o e diferenciaç~o de aI"

9!Jns dos pequenos pr oou co r-ee locais'" hoje ª, ..•


a):'J!!R9,9.r.r;l
•. nãO' poderia

deixar de subverter qualquer representação de um r!gido Ubem limi-

,
Aqui tombem, se encontra, no entanto, a polaridade entre
,
\

b.êl.hjJote s_o
.J• :",,;,~. O que pr op.omo.s e que esse par de categorias deixa t

de signi ficar a oposição entre o sentida do interior e o sentido

do ext'erior da comunidade par a expressar o sent'idn do: interior e o

sentido do exterior de cada pr~tica Ilindividualizada". Na medida

em que a busca da acumuí açào diferencial se sobrepõe ~ preservação.


\.

dbs valores de igualdade, a questão deixa de ser a da partil'ha db

"bem,limitadol1 comunal para ser a da conquista, a da P.ª.:t;.R,J,h.Ç\..


por

um bem que e apenas escasso, penhor da "reall,.zaçao" de cada urrr·.


, '.. IV

Assi~~ muitas das observaç5es daqueles autores sobre a l~gica


\ da .~,o""~t,ê.
podem ser e scâ ar e cador a s no caso de Jurujuba, sem que re-

metam, no entanto1, ~quelas lIorientações cognitivastl gerais.

\
69zyxwvutsrqponm

Reencontramos em Jurujuba, por xernp Lo, a expectativa de uma


ezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK

acumulaç~o diferencial pessoal atrav~s da Loteria ou a explicação

da acumulação de outrem pelo roubo, porém concomitantes com as pri

tieas de poupança que Foster opoe


~ ,
aquelas outras
(1967 a).

Do mesmo medo, 8.S representações sobre a :t.U\I.e.j%ou o


,
.9.J:'+-aJ1
.•d.e~como formas de repressão simbólica tamberm o ccr rem , em rela-

ção ~ acumulação. di f'e r anc í.a I (cf. Kottak, 1966), sem que, na entau

to, atinjam os extremos de efic~cia simb~l,ica descritos por Ko t,:,..

tak. A relatividade mesma desses mecanismos fica clara no seguinte


...,
"tiex"toJ' onde se opoe a so:r.:t.?~ao s2.bar:

"O meu mano., o: )(, disse que enquarrtrr o pessoal não' esquecer

que eu tenho aquele barquinho" aquele material, eu noo vou ter.' so~

te. Ele é assim: sistem~tico'. Ele acha que o pessoal es t'e j a com in •zyxw
E fui.
veJa~ mas nao e nada d1sso~ e porque naa ta calhando, ne. u
• ,.." ., IV ' ,

nascido. e criado em pescaria pequena e pouco pesquei 1~ fora,

tao
IV
estou engatinhando. Náo parece
IY
nada, mas Ja .'
e bastan
, t'f'8 d1 eren

ta. De uma canDinha desta pra um barquinho d~que1e. ~ pequena mas


,.
e, outra coisa".

A remiss80; da oposição entre s"pJ:'"te.e .i.r*~º-qJ..h.o.


~ 12..9+tA1hade c.§,.

da um. permi t,e compreender


, .
a Loqd ca das
~
r epr e eerrt aço e s dos pequenos

produtores sobro a efic';cia de seu t,r.ª-l:J.é\.J:.tW


•• Eles o percebem, na

verdade, como condiç80 b~sica da sobreviv~ncia e at~ mesmo da acU-

mulaç80: e mais do que isso, como legi timação, dessa pr~ti.ca - ~tra'"
,. d (' •
o e xe r caca o. da 9l?..rJ..,.9J1.Ç.çLO •• mas eles
N ,

ves percebem, tambem que a

j:;~a..1Jlª
.• e sbar r a na iJ.~u~o..;, que o t:r..-9rQ.a,)""h*C?
~ um in strumento ne ce s sa •..

rio' mas rrão suficiente para a vit~rio.

E que e' atraves ; da s.9.J'.t..e


.•.que se pode explicar '"
a superoçâO:, e-

ventual, desses obst~culos reais que se verrr interpor no exercício

\,
70

Jo
da sub sã s cencd a- Eventual, sob r e tudc», porque nem todos os ;Limites

parecem ser- I'elativizávets ou contornáveis por essa via! Apenas um

dos tr~s domínios de limitaç~a detect~veis comporta na ,verdade azyxwv


E '"zyxwvutsrqponmlkjihgfe
e f a cac i.a e speca fica da .s..9*.r,.:~.;"Eê-..
. esse, dentre os t r e s, e exatamente
o , ., I'

o da prÇlduç~o na pe sca" ou melhor, o da relação com o ITI••?.•lt e com CJzyxwvut

p*~.x.•e ~. Os dois outros domínios, o da relação..' com o mercado e QJ da

relaç~Q: com a produção, .. (3),


de .t.:I:'.a.:iD.:.eit9o§ nôo excluem o mecanismo
, •..
q er al da &-QJ't~ porem nao lhe adjudicam esse papel a x a L, explica-
í

t.í vo; que detem no mundo da produção. Esse fato reforça nossa co1Q
...,
caçoa inicial de que o ir-ª-b.ºlRQ. e'à ::?'Q..;.,t,g. constituomi'um pznr de oP5l
siçãm signifioativo~ Os dois outros domínios já se encontram, por

si me srno s ; fora do limite de avaliação' d a efic~cia da atividade do

pequeno produtor. NBsse~ terrenos n~o se testa o seu desempenhQ)

são, limites exteriores a ele. Condd.c Lonarn-rio , n~o o. t-estam. Ali I

,
porem, onde a sua o.b'r~9.a4ª-()':""
'" se funda e onde o taze __
r. eI' o sentido e

a subsistência do vida, a percepção~ dos limites de sua "vontade" ~

xige a determinaç~o de um contrapeso simb~licoj de um nome para as

fronteiras do poss!velq

Esse mecanismo totalizante permit.e uma flexibilidade muito

grande de leituras do desempenho de cada um no cumprimento da .9..•••


,.., , .• I
.QJ:'J__Q.a,ÇJ1o
•• Leituras do p r op r a o desempenho, leituras do desempenho

de cada um- dos demais. Assim, ressaltar o papel da s.0...r


...
tE? para e x••

plicar o sucesso do competidor ascendente ou ressaltar o do' i,:f..9$b.Q.:-

J...Il(). para justificar o sucesso próprio" não é como no coso' do scr-í.tro

por Kottak (4) o único sentido desse mecanismo'. Ele ~ remetido tal!!.

bérm para o interior de cada traj etório. A aferição do. desempenho

(;)" ·Ver p+a";tei"de ste Cnp{ tulQ".


(4.) "TO' e xp La Ln and tó rotiona,Iize di fferentiôl SUCGess cf cap-
e c:ont~.):
tI zyxwvutsrqponml

da' obl'.iSa.,g.R.o
.. exige que ora um, oro. outro dos termos prevaleça no

veredictu sobre cada passo da luta.

De qualquer forma, independentemente do desempenho de cada um

a cada momento, o rT].q,J;:.e as condições de produção do p e szyxwvutsrqponmlkjihgfe


cario perma-

necem como o lugar da resistência ao t~rcé1.b_al.b


.•Q, do limi te a ser en-
,
frentêl.dQ, com boa ou ma sortE.

Uma categoria recorrente em todo discurso' sobre a pesca sint§.

tiza essa representação de um mundo exterior, de uma na tur e za do;:,ª,

dà de ritmos e características pr~prias, inconstantes e quase ile-zyxwv

g~ve~SI
i. no 1"anu a r d'as qu aa s se d e s an ha a linha c ambLarrtie vdb. traba-
..•..•...zyxwvu
....,'

.l.h..Çl~ e da ~sorte~
"" , f~ . ...., ,
N ao amare asa ca , flutuaçao periodica e previ sãve L do 1imi te
,
das aguas, determinante em boa parte do acesso aos recursos pe e-
que a. r o s •.
u ma outra mar e,,"""
, tambem f'Lu tuaçe o, N
tambem de+e rmd naçao.,
, • ~
p,g.
, . ,
rem ~nBtavel e imprevislvel&
" o proprio resultado de cada esforço

de trabalhoj. "FLzemos uma boa w.rill, "f o í, uma .rJlé1';:'.~ fracazyxwvutsrqponmlkjihgfedc


rt, Ild~

m,,$1
•.r§. todo dia 11 •• são c xempLo.s de expressões contendo essa CQtd-
\.

ria que se opõe, por exemploJ "a c a t 8 9 or i a 'TI.?:tQ..f.•, que designa ape-

nas o ato do produzir, o seu esforço concreto, a afirmaç50 da ver-

ten t'e, do trabalho. F' a ze r uma lllélJ;;,~' e, .!1Lél..:t.é1;:' tantos ou quan t.o s quilos

d e pelxe. M'
Illas e tambem ressaltar
, que esse resultado
,.. ,
nao e apenas o

rElsul "bado ~o,:~,.r?ba.lho) é aquí.Lo até onde o .:t1'"a",b""a}.b.Q


pode ir, onde

....•..•..•. ,....•..•....•....•• " .•.....•.•,.,


::.",

( c,Q~·t.) .. .
t.c.ins and ther'oby of S.Q..\JLJ~· Aroml:Jopoiros rocurront1y montion
thrce factnrs: (1) luck; (2) knolli1edge of fishing spots; (3) hard
work. In ohomoÇJcno"Ous communi ty such os Arembopo 1 iclocLlogico.l
mechani sm;s mus t. o st ch e the members of di ffer.-ent referen,
xã urh L Ll.oui

(;0 gtoups to justifydifJClrontiQl eucce e s ( ••• ) Such moy be viewed


as an id-eülogicnl device which counterQcts the emphasis amonq the
suc.ce.s sfu L on individuol economic suc ce s s , ha r d work, and the
rewords of, austerity~ IJ (KottQk, 1966, p.• 214)

\.
72

o seu ponto

.!I!.élrf, por
m~ximo esbarrou

oposição
no ponto

a uma !J1.a.rG.f:r:A.9A,nõo
máximo da natureza

significa que
.• Uma

o
- boazyxw

foi maior ou menor •.. o relação pode ter sido at~ inversa- Signifi-
~ , ,.
ca que a produçao e o resultado do trabalho
~ " .••••••.•• -.c;.;..A.
mas tambem de sorte.zyxwvutsrqpon
zyxwvutsrqponmlkjih zyxwvutsrq = t1 f'· c.
• • • ...

"mas desde que possuo, nunca consegui enche r.s Por capricho ,
desda que acabamos nunca conseguimos tirar uma reta assim favor~ -

vel- Faz uma ou duas ![9r,e.z,iI1,ba.$,.melhor e p~ra. E tem acontecido c.Ç2.

migo sempre o inversmt eu faço uma marezinha melhor e vem um con •••

tratempo, ••• Fui. guentando., passou fim de ano e agora no mas de


ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK
,
janeiro tive uma chance. Deu duas mares bOGs.1}zyxwvutsrqponmlkj
, , N

A categoria f1lo...~_ recobre toda uma a r aa de a Locaçao. de valores

ao' ~ e ao Rei,2:S.ê.,numa frequente fetichi zação sobretudo do papel

de ste úl ti ma, humanizado em, detrimento do ,:tçf~.bealJlº.,


•. Ele reflete p,9.

r~m, do mesmo modo" a percepção, da questão real da insegurança da

pequena produção pesqueira, tão fundamente limitada pola sua baixa

produtividade" pelo seu baixo grau de apropriação, das forças natu-

rais de produção. E, mais do que lss03 a baixa constant:e de produ-

tividada decorrente do fertilidade decrescente do meio marítimo •


As representaçEes destes processos, do relaç~o fetichizoda com a

natureza e da percepç;:ão do baixo de produtividade,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW


são anali.sadas
, ,
no pr oxa.mo i tem:, ao t.r at armos do .l?.•e,sç,a*~ia.. como processo de produ-

çgoe Aquij, ressaltamos apenas QS representaç5es, os


.
pr~nc~pIos ,.'
b~sicos da visão do mundo que sustenta aquele processo~ o do ~XP~-

Se a rep r e sarrtaçac. sobre


,.",
o tro.balho
,,.
e a a f'Lrrnaçé o do que
- ,.
e

"humano+, como r ep r e serrt.aç ao e p o t e nc La - como


lU ~,

da vontode .o,b
.•ri.aa-

<4ã_Q.t o ,~LQ.r.:t..e-.
introduz ~s representações sobre o que nõo ~ "huma-

no", sobre aquilo que, parQ alé:m dos limites de sua prntica hist'o-

'-,
73

ricamentezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Loc z se "humandface a elee Ela remete em Últ';'zyx
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
aLã adaj z a "

zyxwvutsrqponmlkj
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ
!2.ê.~ e sun Ilvontade" sao a
• ,.. .' i\ N IV

ma ~nstanc~a a crença religiosn. razao

abrangente do mundo. da .§.f1r.te


•• Ao- inverso da vontade do homem, das .•

tiLada no suor, se desenha a vontade de Deus ~ imprevis{vel vonta~


de cuj o s desígnios t.ransparecem sob a figura imediatizada da ,gg.,:ç',; -

~, mas quel finalmente, detem também os fios da própria: vontade

humana, do próprio trabalho- As condições da botskLhª-levada a cabo

pelo homem remetem assim todas a essa razão superio:r, que ao mesmo
tempo eleva o modelo do "homem" a dimensao
.. ""
do Universo e lhe encu-

bre o sentido final de sua pr~ticô~


•..•
np\f Deus ajudo-u que fizemos umas pescarias b oa s e Também nao
podia fazer pescaria muito grande porque o material n~o era novrn e
ao . f omos b a t a I h an d o a. N'e s s a
E n t"" 8 poca eu J.'a t·~nh a f-am~' I ~a d ep o~• s f'.l.
. zyxwvutsrqpon
. .,
t

q~B~ v~uvo DOS 28 anose Depois aos 30 me casei de novo e continuei

até hoje batalhando, então meu capricho é que enquanto o velho t:o.§.

se vivo eu haveria de batalhar juntoe Sei que constantemente vem


aquele temporal, aquela tempestade contra mim_ mas sempre Deus me
-,
d~ força e eu nunca larguei. Tenho fé em Deus que batalharei até o

Nesse trecho, a oscilação quase regular entre a b.ê.tal


.•.
h.<ie a

graça de Deus demonstra bem a proposição anterior. Ela se t.orna

ainda mais clara em casos concretos de manipulação da pr~tica r-e11


giosa com fins simp~ticos sobre a esfera de ação do trabalho. Esse
0\

poderia set" entre outros sentidos, o da conversão as seitas pro-


,
t~stantes, não muita frequente mas ocorrente na a r ea s Em pe Lrr me-
nos duas histórias de vida poderia ser aventado' que o períOdO" de

dedicação a essas práticas religiosas especificas teria; a despei-


to de uma racionalidade maior, o sentido de uma abstenção simbóU •••

\..
74zyxwvu
\

ce com fins "mágicos", semelhante nesse sentido) ao cumprimcmto de

Ccf. Foet.er, 1967: b).


r-ome.s aa "zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
uma "pzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A pr~pria noção ab r anqerrt.e da gjJ:r:i.9,él..9.ª.R,tal como a definimos

anteriormente~. se veria confirmada e fortalecido. na vis~o de mundo

liprote stante "'8 a r s sponsabilidade pe s so a L pela p..c:lj:.•a.~,.h.a:.se ma'teria-

lizando na abstenção ,b,,,i.~.t.§~1como s{mbolo da desordem, da


dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
IV

nao-
. •.•
.•9.. Essa
.Q.,Q.,r.J.sa.ç.a ~'d"o i,a S8 r e fI'"
orça p e a percepçao de que as conver-

soes
N 1ocaa.s
. ~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ
sao frequentemen.te p as saqe.í r o s , coincidindo com p e m.o.•••
I

dos partiCUlarmente graves da hist~ria de vida~ onde qualquer re-

forço' simbólico do sentido) da .9J:?t.i9..a.s.Õ


..o.. seria benvindo para O! bom

sucesso. de uma tW.:t.,al...b.ª-


em perigo.

O. sentido da. .ê....º-l;'.•ó:~~como contraponto simbólico da. ~:ç*,étb,.a.lh.~


ne.§.

se mundo marcado pelo fIl••9,n•.ô. ab r arrqerrííe da "v orrt ade de Deus" -- a o

prbprio1 reforço a c.•q,n..~,;r


•.ari9. lJ. do sentido,
seDs.•.. do trabalho •.• repetem

aquã, a pertinência do velho ditado; segundo o qual "Deu s ajuda

quem cedo madruga~ •.

-,

\
75

A hb
•a•..
..ta,J,l1_a da vida; fundada na r ep r e sen t.açao dozyxwvutsrqponml
t r-abe Lho. como

oJ:~rj..9.ªJLªl!..;se desenvolve em dois planos divididos aqui para clara-

za de e xpo aí.çjio, ainda que s8 imbriquem intimamente para os peque,-,

nos produtores. Um é o da r e Laçjio mais direta com, o processo de

produç~o, o outro o da relnç~a com o grupo e com os meios "exter •..zyxwvut

nos" de assegurar a reprodução da unidada.

A categoria b.•a_i:;,ê,.:J.
.•.
h~Q.jem sentido e stri to:, como representação

do desenvolvimento: do processo de produção pelo "pequeno produ •..


,..
ter", j~ traz em si a conotaçÊÍo que parece presidir ~ concepçao

dasse processo. A relnç~o entre a forço de trabalho 8 os meios de


~
trabalho" de um lado, e o objeto de trabalho, de outro, e reolmen •••

te, vivida pe Lo. produtor como. uma luta, como um duelo', em que, da

boa una.N
ao entre e a J?••e.scnr}.j:l.
a c,.,º.fllpanh..-'1. (
no sentido do conjunta

meios de trabalho) face ao .E,t3j.~§;depende o re su l tado


doszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA f no L
í da

pr~tica produtiva.

A primeira característica desse n~dulo de repres8ntaç~es é a

da ossimilaç~o entre o processo de trabalho 8 o conjunto dos meios

de trabalho expressa pelo termo' ~nico de p..• (S}. Essa


e"s.c.Q,I.'.i.Q. assim1

(5:) "Eu nãa~ tenho que me queixar da fLE'L9,CD,ri.?


.• nõo. Ganha-se dinhei-
ro. Agora nao pense que vai ganhar sem trabalhar, tem que deixar: o
couro.H
Itmeus tios tinham uma boa P....?scª:r:Lq,~er.tão eu ped~t\,ped2ços de' rede
usada pr a eles 8 f'a zia conchavo com um tio' que ja e morto ( ••• ) 11

\.
76zyxwvuts

,
lação derrot'a o real privilegia; concedido pelo pequeno produtor a
esse elemento do processo de produç~rn em detrimentrn da força de

trabalho dos não-propriet~rios e do obj eto de trabalho, .. coincidin-

que a sUa relação com esses meios detem


do com o peso fundamentalzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
para a própria definição de SUa situação de classe; a de proprieti

rim da aeus meios de irabaihoezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM


í '
Essa ap anâuí.c. e di stinti VOJ detem Um lugar prio:d. tário no cjizyxwvu
s-

curs~ dos pequenos produtores sobre suas condiç5es de prOdução, A


descriç~o das caracter!.sticas da eQ.,,ª-Qoª.
.• e das .tê.g€?ª. ou o r eLatr» das
vic±..ssitudes passadas no processo de sua aquisição ou reposição,i.!].

trodüzem sempre ao coment~riQ sobre os demais elementos de produ-


,..
çao.
A embarcação, aqui comumente da signada como a .c,*sw.,ola;
mas que
é norrnaLmerrte dividida
pode ser. também; um bar"fLuJvnh"Q.' em: duas par •.•

t:es b~sicasC o G..s\$9..,Q.• e o ,m..o..1çÇl.:r;:.


Essa dissecação ~ relevante não só

para designar as caracter!sticas do desempenho da embarcação) mas


, ,
tambem, e sobretudo~ por corresponder as fases de sua aquisição ,
que, raramente se faz em bLoco » O processo habitual ~ o da aquisi-
N

çao gradual, cumulativa" que pode passar por um .c.a..§.G..Çl~


velho; lent.ê,.

mente r c adap t ado ; ou pela entomenda de um c~ª,s,G.2.


novo, feito por: um
carpinteiro pago na medida do possível e,na medida desse
,
poss). ••..

ve I , expedi to. O flLotoh e, comprado:'. cone ornatante ou posteriormente. 'a

fei tLlra do .9.ª*,$=~,podendo. ou não envolver cr~di to oficial ou parti.

cul ar .• Na medida em que essa aquisição nunca ~ origin~ri8. ou "pri_


mitiva" (no sentido de que não h~ atualmente pequenos produtores'

\
que não provenham: da "p e querta produção"); esse processo lento de

consti tuição..: da sua ~9Cqr:ia.. se faz concomi tantemente com o desen-


volvimento de algum processo de produç;o que o sustente. Pode oco~

\
77zyxwvutsrqponml

r:e1' que o. comprador de uma .9.,0,n,0,.2.


n.oy.a~ esteja fazendo uso de 'J uma

que o restaurador
SUa .9..ê-D.9,.a.,v"a...J,h
.•. de uma canoa . ye:I,h a.•, esteja
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Q'; tra-

balhando 9..f@._ITLeJ.ª.
(com as sua s redes) em ,ç.a.Do.a.de ou t.r emj que o com

prador. de um .p.•a.r,..9.\J.itlh.Q.
esteja usando sua arrtí.qa G.?n.CJ.ª)enfim, dezyxwvu
I S e n do .d
alguma forma a Ln.f'Lexao. da curva
NA
de sub ed atícnc í.e'zyxwvutsrqponmlkjih
•••
marrt a graças
í,

a um redobramento de esforçosj. a uma aceleraç~cr da extraç~Q de


~;;: t.r:.~. ••lIt
lhoe)m pr
iiiiiiii_=:lIC(en ovo t'o pro'p r
í
.J"
;0·..
•••• durante um periodo tanto mais cr!tk

Cal quanto mais longo, e sempre ,


renovavel uma, duas, tres'" vezes nas

hist~rias de vida.

A r epo s Lçao do i tem embe r c a ao segue ç assim um padrão~ bastante

n!tido,. d e f'Lnã do , j~ que as alternativas são bem reduzidas e. consjl

quentemente as suas possibilidades de passagem. De uma c*ano.•~ velha

~
W .• de um ,!11.o\º.I'.a. .9.é19CJ:t"iM,para um .m.P.t.9J:."a,,'e0..1e_oj,
de uma c..~
•~0.cl
.. pa-

1':a um, 9.a.r,,9.,uiILhQ.,seria a traj 8t~ria: m~xima a scenden'te repre sentada

como' p.oS8! vele Por i s 50 mesrno, por serem reduzidas essas a1 t:ernatJ:.

vas e por representnrem passos bem definidos" cada um desses de-

grausi desses limiares da reprodução, importa em um esforça espe~

cia1, particularmente dif~cil


. I'
e quase sempre >1'ave· 1 a uma
aSS1.m~

clar.
.§.@. de vida.

"1. fases conforme eu e xp Li.qu e à •. são feito cri se s, a Lbns e

N ao e que o pescador
N , ,

baixos.... seja como, e que se d z, "Lnf'r a'to r-" ,


í

,
não é que a gente não queira, a gente não tem vontade de ••• mas e
, .
obrigado a viver assim. Eu vou ser 5incero~ ha dois anos passados~

não deixei minha fam!lia passar necessidade porque eles não comem

cap írm; mas fiquei mesmo no P~, devendo de chegar a ponto de ter cg.

lega meu me querer emprestar dinheiro e eu não querer mais porque

j: n~o tinha condiçEe5~ •• Das l~grimas me sair, de eu chorar.... e


78

jázyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
per:rsavaaté em bobagens. mas por mi s8ric~rdia, eu já era crente

g, Deus me guardou. mas grnças a D eu s essa c.ra.."ee


zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
Jo.passou e eu pa-

guei minhas dívidas todns.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


P. E j~ tinha o: barcrr nessa ~poca?zyxwvutsrqponmlkjihgfe
I. Foi quando a gente estava para começar o barco- .A gente
queria acabar o barquinho; que at~ hoje ainda n50 está acabado •
Ainda falta alguma coisa_ E não podia consertar o canoa. E a canoa

tava ruinzinha. Tava que quase não podia trabalhar. Foi nessa ~po'"
ca que andei pulo fundo~ devendo muito~ A ponto de parente meu aju
dar e eu não, po den.•e,e mas, mais uma vez venci-li
fi transição entre esses limiares tão distantes e too; criticas

se faz porém mediante a manipulaç80; do outro item, complementar .,


dos meios de produ'ção: as J.:.€?dnC?
•.
s.-Essas, por suas caracter!sticas t

físicas.. p ermi tem: uma grande i j ~ que não. CDn,g


flexibi lidade de usozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS
tl tUem unidades acabadas e indivis! veis como as embarcações _ Pelo
,
contrario, podem ser aumentadas, diminuidas, reparadas; transformâ
das, reaproveitadas e substituidas total ou gradualmente a qual-
quer. momento, inclusive medianto a aplicação de trabalho
, .
propr~o
ou: familiar: de tecelag,em eventual de partes de redes ou de morrta-,

gem. dOs panos e fixaçãrn dos componentes secund~rios (chumbos, cor~


t1Çasl cordame). Nesse sentido, a crise dos momentos de reposicão
do item 'tembarcaç~o"~ que tende a se definir temporalmente, repete
,
.•.
se em escala menor~ e por assim dizer quotidiana no tDcante as

~ .,."
Essa c on s-t.ancã a da p r-eo cup aç ap edos cuidados com, a repo ea çao
. ~

das .r.e•d...
e.~ obedece ,., so" as car ac t'era s.1-"caco e d 8 d e sgas t e mu i't '0 maa.s
nau;

rápidO deste meio" de trabalho ou a necessidades eventuais de aumen-


tal" o tomanho ou a resistência de uma determinada redej mo.s também

\.
79zyxwvutsrqponm

~tende, ou procura atender~ "as possibilidades alternativas que a


zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

escolha entre tipos de rede oferece a cada momento da pr~tióa pro--


dutiva desses agentes~

A~sim, pode o peque~o piod~tor optar dentrry de um c~lcula com


pie xo. de conveniência entre a utiiização de Lima rede .e.ai,Ç"ar&, de

uma r de i.I:'ª-:l..n+e+:t,f.~;
é de uma rede de aJ:::r-.?§~~,
ou de mais de uma deu
~
SBS ~lternativamente ao.lohgo do ano'

t~bora essa margem de opg;u esteja condicionada basicamente


'\
peias características da embarcaç~o utilizad2~ ela se ~obr8p5e as
determinaç5es desse outro meio de trabalho e se apresenta assim ao

e~c_adgL como. o; lugar mais imediato


p..•. dessa intensa flexibilidade de
manipulação dos recursos escassos que caracteriza sua pr~tica pro ..•
dutiva.
"Por ai j~ fui trabalhando com ele. E a nossa redinha j~ pas-
sou a ficar tapadinha, porque era muito esburacada. meus tios ti-

nham uma boa pescaria, ent~o eu pedia pedaços de rede usada pra
.' ,
eles e fazia conchavo com um tio meu que Ja e morto. O conchavo
era o aequ í.rrt.e s ele me dava um pouco da rede velha, ma s forte •
Não~ era tãoéusada conforme essas que os outros tinham e me da-zyxw

vam.". Na surdina ele fazia aquele bolo. de rede usada, naquele tem.
, ,
po chnmava trouxa e me dava. Pela cerca, ne. A1 o velho sempre da-

va no dia seguinte 20, 30 mil r~is. Naquele tempo era um trocadoz1


, N _
nho bom, ne._ Nao era fortuna, mas sempre, •• En táo a nossa rede pa.§

sou a ficar tapada. Eu fui batalhando, batalhando, a! j~ começamos


a fazer alguma rede nova 8 o arrastão' passou a andar quase novo ,
depois totalmente novo~ •• "
IINossa redinha passou a andar toda nova. E eu gostava de pes-
ca~ fora da barra, mas naquele tempo. era a remo. Ent~o fizemos mu!
80zyxwvutsrqpo

ta, bastante reds nova pra armar rede de parati, que esse era o
meU sonhou.

"Nesse meio tempo rrunn dos pr!


eu tinha um tio que trabalhavazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ
meiros barquinhos desta beirada e eles tinham que fazer obra boa

na rede. E ele deu um pouco de rede usada. Esse j~ era um- tio
t'
prestado que era casado com uma de minhas tias. são vivos- Elezyxwvutsr
alo

~
me deu um bocado de rede boa .• Rede boa, que r di zer, e a quan ttí.da •.•

de.- Um volume bom de rede. Rede cansada mas que ••• me quabzrou um

galhD~ Aí eu cortei mais, de cada lado) oito panos. Com- vinte que

tinha forarm vinte e oito-. Os dois lados contava 56 e o centr-o-, da

rede ••• Dali pra frente meu pai tomou gostol fizemos mais um boca-
do de rede" botamos mais 5 panos. fui batalhando" batalhando. Quan,
\. '
d o c h agou a epoca . .' .
,
do peLxe, do parat~1 que e março~ abr1I~ ate
maio, a! ele j~ tinha feita um pouco de rede. N~s botamos mais 5
penos de cade lado no corpo da rede, o que acrescentou bastante •
fi! Deus ajudou que fizemos umes pescarias boas."

Essa manipulação das redes manifesta sua extrema import;ncia


\ pelo prest!gio; atribuido ~ urna pr~tica
ao ~9*º.~*r.,é1*t.a.~;. comum a t.m·••

mesmo ao.e ne o-sp rop r-a,e t'eraos,


dos os p,e$ca,do.re$., IV . •
mas en t re os pequSl

nos produtores ela assume urna con ot.açao prup r-ae , p01S sera uma das
rv '. • ,

tarefas b~sicas de reproduç50 de sua condiç~rr. Assim, os filhos de


.;.
pequenos produtores costumam aprende-Ia antes e melhor que os de ••

mais~ tanto mais porque convivem frequentemente com os fardos de


rede guardados para reparo na propr1a
'.
residencie
A
familiar. O peso

do conhe cãmerrto. sobre essa pr~tica se manifesta igualmente no la-


merríz» dos pequenos produtores sobre e impossibilidade de. uti:tizar
a força de trabalho de seus C::.Qm'p8Dhej..:ç'0_ª
(dos jovens não-quali fiCã
dos que aí predominam) pare ns tarefas de reparQ, tal como seria

\.
Sizyxwvutsrqponm

de se esperar no quadro- ideal d8.1J,iO}nRanhª-e tal como ocorre nas


N ,
.t:t'*ai.Il~~.F.9-.s.9.J::a
.•..
l1çlE3.,.§., onde a tripulaçao trabalha tambem em' terrazyx
quando a rede
,
e baixada para
.
r e va sao.s
~

"Uma canoa dessas, voc~ pega um contra-m~o danado. N~o tem umzy
camarada que te ajude. a atar a rede. Nao tem um que te de a mao. em
~ ~ N

N ,.
nada. Entao voce luta com unha e dente, com tDda a sua força."

Ainda hoje repercute entFeos pequenos produtores a grande mu•..

dança que r epr e sentiou para aua pr~tica produtiva a introduçãa do


fio.> de; nylon e das redes desse material tecidas a m~quina. Ressal ••

ta-se a inesiüm~vel diferença de produtividade obtida em relaçno


.,
as red~s de fibras naturais, de extrema perecibilidade, que exigi-
am nao um investimento mone tàr í.o mais constante para reposiçao
"" , , tu
SOi

do material como tamb~m um investimentü mui-e-o mais intenso de tra'"

ba Lho ; ora para os reparos, ora para as tarefas de preservação e e-


pec!;.ficas, como a secagem. quotidiana e a tintura e aferventamento
. 'd lCOS.
perlO .

UPorque a rede de nylon foi um padrinho, que veio para a pesc~


\.

ria e pro trabalhador. Antigamente, a gente botava um par de rede;

Vamos supor assim com seis . ' estava


meses de uso JO podre. Agora es-

sa rede dura cinco, seis"sete anos."


Se; por um Lado.; essa ninovaç~o tecno16gicaU passou a permi-

til' uma margem de produtividade mais alta para o pescador ae__


çty.er;:l.9.'

p.or outro, ela acentuou a sua dependência do mercado' abrangente e


.
da economa.a monetarl.a
,. em geral, pai s o material tem: que ser comprfl
de. a mais altos custos e j~ eLabo r ado em boa parte a nivelL indus-

tria~. Essa ambiguidade do papel representado pela introduç~IT dàs


redes de nylon fica clara no trecho suhLí.nhadrr do t-exto' seguint:9:

"P. O que á a fazedeira?


82

a gente compra a rede


I~ ~ a~ donas que fazem a rede. HojezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
feita na ~~quina. Naquele tempo a gente pagava ~s fazedeiras, pra

fazer a reda. Por exemplo: malha mi~da era 1.200 a braça, malha de

tr~s dedb$ era 1.50a a braça, tres malh~o era oitocentos r~is.zyxwvutsrqp

P. E onde tinha essas fazedeiras?zyxwvutsrqponmlkjihgfedc

I. Tinha aqui me srnoe O pessoal do lugar mesmo. Naquele tempo

tamb~m não havia as f~bricas de conserva aqui. Entno sempre era um


.
ganho.
.
Elas faziarm bastante
.

rede. H.oíe.tem a f~cilic:)..?~çie-,


,,ª,e.,qeJlr ª
!~.9}},s_e.9...uir
() çtU~ P~_ffi..~.t.rQs
__c~.pt~3.~..LJ2B.fLE.J~~~n:pt9i,-lOQ
.. ,li

"'rem a felicidadê,j mas só "se con sequí ir o capã talfi~ Ezyxwvutsrqponmlkji


esse'
~a~j~~~ não ~ pequeno, s~ se tornandâ acess!vei ao produtor pela
caracter!stica de poder ser- razoa\Jsliner.J,'tiB
parcelada. a sua aquisi •.•
w
9ao:
BEssa minha traineira ai tem fardd de l'l.3de
qua cLÍst-ou5 mi •.•
lhões; fardo que custou Cr$. 3.600,00. ~ a mesma rede s Essa r-ede m,ib
\.

nha a{ ~ pequena. Tem 100 braças por 12 de aLtUr:H Ela tem 700 ÍTie-

tros de rede. faz as contas. Vamos botar tudo a 4 milh~es, d~ ~m

tbtal de 28 milhões.1I
F'unciona porém ainda, e intensamente, o sistema de aproveita-
men t o d é partes de redes desprezadas .' capazes
por uns~ Ja de maio-

res investimentos, e úteis para outros.; tal como no' sistema anti-
go descrito em uma das transcriç;'es anteriores_ Esse processo per-

mi te gradual!' de forma infini tesimal o peso da' .!:lS\t.a.11iê. pelas red'es;

no conjunto da estratégia de reprodução; das pequenas unidades. As


manobras bem sucedidas nesse camp~ de maio~ flexibilidade parecem
estar mesmo na raiz do: acercamento: aos llimiares da acumulação di f"ê.

rencial.
A import~ncia desses meios de trabalho para o pequenQ produ-
tDr-, que ele encara como seus IIS~cioS" na boa condução da

.t.~,investe sobre eles uma carga simbólica espec! fica, cheia de

sinais de humanizaç~o. A P.aflorélou o l;J-ªrg,LJJnh.g~sobretudo, além de

merecerem a nominalização prescrita pela tradição - sobretudo no-

mes pr~prios ~ merecem a adoção: de apelidos~. pelos quais passam a

ser. conhecidos, repetindozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


Oi processo corrente entre as pessoas do

bairro. Não~ ~ menos significativa a atribuição:: do adjetivo 'sê.!1.ª-9Q.a


.•
, , ,
a p.§3s=ca.rtq, seja a rede seja a embarcação; para signi ficar o esgo: •.•

tamentoi de sua qualidade de meio de trabalho vi~vel. ~ interessan-

te pensar como essa fetichização dos meios de trabalho incorpora t

na verdade a sUa qualidade. real de Iltrabalho é, de vã


mortoUzyxwvutsrqponmlkjihgfed
, isto

lor cristalizado:: dos processos de produção. que os originalDam e re-

vivescido~ pelo IItrabalho ví.vo " dos que os nS3a_lT!.


,Ç}:l.•. no processo de

produção. atual. E~ mais do que iSSQ~,. dos que os "reproduzem" pela

incorporaç~o contInua de trabalho nos reparos e remendos, muitas

vezes pessoalmente desempenhados.

Ao inve stimento de sse car~ter "humano 11 ao s meio s de trabalha:,

que reponta na j~ citada referência -;. rede de nylon como um .E...ª-.dr",t-

nh •.o...ou no chamar de .P".QtJ.:Z:


•.
é!.dP•. ao processo de nominalização das em-

barcações, co r r e sp ondo :1' fetichi zação op o s t.a s a do objeta de trab,ê,.

lho. Na expressão af corrente, segundo o qual ,9.~~m.(m.tencl,~, d§1zyxwvutsrqponmlkjih


p..fª-i:*
l@L ..~~recJ8, introdu z= s e a l~gica de sse mecani smo s Esse 11sócio" pri-

vilegiado, O meio de trabalho, ef'!.ieD.9.ê.._deQeil5..'ª-' participa dee au

E..0n."h..e*ç"t?~
cujo essenciolidade paro a identidode do pequeno p rocu to.r

acentu~vamos antes. Nesse mundo invertida, porém, tudo se invertre.

Também o p..~ i""x.ª'. pe e sa a incorpo.rar a carga sem~ntica do "humano." •

Na .Q..?:t.•.~.th-ª. da produção, o contendor tem que estar' "-a altura do ata-


cante- A c a t e qo r La rn.ªt?...F.., com que se designa o ato produtivo, per •..•
84zyxwvutsrqpon

de ra s eânr sua conotação negativa de atentado; contra a v í.da , contra

a ne tur s za para rovestir a dignidade de um ato aoc í a Ls uma mo r-tre zyxwvutsrqpo

em duelo.
j>

A esse mecanismo logico. a s ao c Lawae certamente o peso' de cer-

tas caracter!stit~~ fenomenais, que permitem a articulaç50dessa

analogia entre o pz-o dut.o r e o seu objeto de trabalho. o ,º}ª.i•~e;,


. di-

fHrentemente dei maior parte dos Uobjetos de trabalholl, ~ dotado de

vida animal e comporta-se. como tal. isto ~. Lo comcve-cee, alimeht:a-

se, procria, b.a.talh •.'1 pela sua sob r ev.í venc í.a« E, por isso mesma, e-

xige a incorporaç5~ ao processo de produç~o de pescado, de um'

nhecimento, e de uma vigil;ncia específicas sobre seus "h~bitos"

seu "comportamentoil, Essa característica, que confere alt~ especi M

f'Lc Lde de aOJ proce s ao: de trabalho 2 e sta '" na raizyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV


z, por e xernp Lo, da e2S,
•..
pressao a~i>te. iêm,.rab.o __e$ cabeÇ..a.•, onde se aponta para os elementos

que lhe garantem. a homologia estrutural com. o hornerns ~ cromo'.


,zyxw
"pe rna s "; "locomoção"~ como "c ab e ça " me srno ,
f.ê..~eç.<~. tlintuiçãoll I
.., ,
ucomportamen.tot',. Essa e xp r e s seo. e sempre utilizada no contexto' das
"fY ,,..,..

dificuldades inerentes a produçao pesqueira, a a t.ençao a um objeto

de trabalho que "re sp onde 11 de fensivamente ~.s pr~ tic8 s produtivas .•

Sobre essas caracter!sticas fenomenais que conduzem, po~ as'


,
•..

sim dLze r , o e rbí, tr~rio simb~li.co), acrescenta-se porém uma


,
"humani...•

zaçãoH maior~ uma "socializaçãa·l!. D f!.et>s..e.não é apenas IIvivo;l', ele

se IIcomporta" dentro de padr5es lidos homologamente aos padr5es dazyxwv


,
sociedade do homem. Nos trechos seguintes fica muito claro nãOJ so

a processo simb~lica descrito, como a necessidade pr~tica muito i .••


,
medista, de um ponto de vista da "eficaciall do processo de pesca'

"1 ••• Antigamente se podia amansar o peixe.

p~ Amansar o pe~xe?"
85zyxwvuts

o peixe passava dois, três dias naqueie lior~rio


I. ~ , zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA certo.
O dia que desse uma trovoada ele vinha multipLicado~ Ai o dono ce!,
cava com calma e fazia uma maré boa. Agora não~ d~, quando o peixe
ap~rece l~, sai dois, três ••• (outros pescadores)."zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW

"H~ uns quatro anos atr~s, essa bafa aqui" entrava traí.nha em

quan+Ldade aqui na baía. 'Nessa hora, a gente ia pra prainha cercar

que ela estava de volta, igual chefe de fam!lia~ sem· tirar nem pOD
,
Ela vem pra Cô. pra comer e de tarde ia pra Santa Cruz dormir. En-
tão! a gente cercava de manhã cedo pra não assustar_ Atualment-e ela

tt~o vem mais aqui. Ela j~ t~ dormindo I'; fora; no fundão'. O peixe

agora fica no meio da mari no meio do oceano.tIzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ


N ..

"Antigamente, no verãO, a gehte mataVa muito peixe dG dia as-

sim, e er:a um peixe limpa:. Hoje voc~ mata Umpunhado desse e tem

qUe tirar nio;Í:'isbO ria pedra do mar, tem qUe orldar muito encostadi-

nho na pedra e ti~ar o peixo ~uase da casa. ~ como a baiç~ra, ela


\ ,
vai l~ em cima da pedra o-nde est~ o peixe, tá dormdrtdo , tira a te
mar sco; Um peixe. que recebe
í uma se r ad.vada dessa na casa dele d8Sâ

par ec e.s AI um peixe que t~ na casa dele pr.a dá cria a cab ous. Vai tg
,
do pno bel eleu. u

A categoria a..m
.a• ..ng
•~. parece centralizar bem esse processo sim-
o
avaI' amos VJ.StI''0, e a e u tJ..010 a za d a no con t e x+c d a so •.•
'1" J.co;! Como Ja hzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
bo o' o

cialização' dos aprendizes da pesco, para significar a suo transfo6,

maç;~ de "gente que veio 1~ dozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


meia do matoU (da natureza) para o
conv!vio~ dos ~s*ç.C!.º--ox_e~L_fE?tt.o$.1
do' "homem" em sua plena idEm.tidadi3

(a sociedade). A mesma usociali.zaçãall parece ter lugar aqui" mais


radical, na expectativa de que o peixe S8:': compo-rte de tal forma ou
fraq1J,c.m:te tais lugares que en sajem. a sua boa interação:, com: o prád.Y,
to r, que ele tamb~m seja um "che f c dofam:rlia"~ carregado; da mesma
86zyxwvutsrqpon

responsabilidade, invertida, que baracteriza a ojJr"ig,,a.Q.ã.Q.


do Q.,e$c.cl-

W.•
qoj:••fej.•. - Ele tom sua ~a,.§.ê.,
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A pertinência de sta an~li se S8 confirma com a incorporação' de


duas outras categorias emergentes neste corrtexírc da relação, entre

o. trabalhador e o peixe: a ta.•r.t.? e a. i.nftu.êJ1.c.~.


A categoria far.tª designa normalmente as ocasiões ri tualmente
definidas de socialização' entre homens, entre trabalhadores mais

exatamente, fora do corrcextto. do: trabalho~, durante o. "lazer". As


far:,ras .• conaíií.tuem assim, um.corrt r aporrtn. simb~1ico.t recriando: a q.o..m~

~Çl.",oJJ!l. em terra. Não são qualquer Laze r ; qualquer momento de int:eJ!~

ÇãOi lúdica entre companheiros; são: a remontagem do dominio: do taia-


,
balho de s Lrrccdrn para o contexto do nãa-tro.balho. Essa categaria e

tamb~m utilizada para designar' a movimentação' evidente do peixe na


~gua, seja essa movÚrientêl(;~Qespont:~nea dos ccr dumea; cujos sinais
visiveis pormitem sUa localização, seja essa movimentaçno induzida
com que procuram escapar do ce r-co: da s r-e de se mesmo 110 p r-Lrne Lr-o, ca-

so, não se trata de qualquer movimentação' no sentido de deslo'Camen


to' fisico., mas sim, de uma aglomeração buliçosa a que se dedic.o.m os

cardumes em determinadas ocasiões e que sugere aos pescadores uma


a '[é\F:r;"ê. do s peixe s. O ap r-e samen..•
.•.
rnpr e sen.tagãoJ de "brincadeirazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU
,
U. ~

,
t.m de um cardume em ~ e representado corno o mais t1pico, o
.~
mea.e c er a c t e r.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHG
af e t'
ca co da pese~ioria das e sp e'. ca es, A ~aArrb>q,. e' gabE.,

da por ser um peixe Que vive particulo.rmente de ta..r..r.a.•-


A esse bul!ciQ' do obj e bo de trabalho co r r-e spcnde entre os tr.Q.

ba Lhedor e s a i./')f).uêo.Gi~DU seja a animação particular, o qQs:tQ: p~


Ia pescaria provocado', segundo suas representações, pelo con f r orrto
com a animação do pei.XEt.
\
A humanã z açjio do peixe na f.ar.ra passa a ter quase que um sen •..
87zyxwvutsrqp

tidO' didbtico, e ~ certamente muito~ sigoi ficativaJ pois é acenibJa-zyx

do dessa forma
,
o.' carater
.
fundamental do, Í4:t.aj;lalhQ;para a v.:i;d.a,. A

t:a•..rI.:ª- do s 'p"eJ.x.eJ~,é o momento; de suo. UmortBU,. assim como a

dos homens traz em si a ameaça da bj.r.i~t.ê.J essa condição' da morte

social.

fi i!1fl .•
tJê.nc;t.Cl~
poderia co r r e sp orrder ~ duplicação da oposiçãozyxwvutsrqp
gr
X !a:r;:~.no pr~prio
b.rj..Q..aç"ãQ, interior da obrigação., representando,

por assim dizer; a "boa farra li, a farra consentida elo lúdico' ap ro ••

priad~ a produçao.
" IV

l~ acentuaçao
" Iv
sistemat~ca , '.
dos meios de trabalho e. do obje"froj do

t~abalho na dascriçãcr que o pequeno produtor faz do seu processo

de trabalho co r r e sp onde o e scorrdd marrco. e a ambiguidade do. trato

dos trabalhadores não-proprietários.

A p.r-op o h....s..,
' ra a J.°d'-e i a d e ,gp1DJ2an corpo a• n dâJ. f e r anca a d o d os
o traba •..

lhadores de uma certa unidade produtiva, repousa sobre a não-expli

citaçãol da diferença fundamental que afasta o propriet~rio dos não


,
-proprietarios. Em nenhum momento o pequeno produtor fala d~ apor-

te de força de trabalho real dos seus "assalariadosll• Ele fala com


A _ N

f'r-equencã a de sUa desquali ficaçao, de sua pouca va Lí a e de sua de.§

lealdadel como se aqui o c~digo ideal de .G.0.mp


..a.n.h.C'J.
ainda vigesse

plenamente -corpo de parentes, mutuamente obrigados, mutuamente 0-

brigantes - mas só' como padrão de referência, sempre subvertido ,


,

sempre inatingido. Um padr~o que ~ c~digo de sUa identidade, pela


d ~ .
aen aaçao e uma p e rrnanerica e-; de uma continuidade com a tradiçao;
IV IV

)
, ,
mas que e tambem um recurso contra a ambiguidade do seu status de

A parte essa ambLqu í.dade , a representação sobre a qO.I1l.P.ª .•l1.b~a


•. se

nutre da insegurança contInua que paira sobre a capacidade de in-


88zyxwvutsrqpo

corp.oração de força de trabalho nas pequen8s unidades de produção.


Essa insegurança fica muito clara no soguinte texto, onde se resU-
me os tr~s diferentes tipos de fprça de trabalho disponível:

"quer dizer, ~ essa hist~ria, t~ vendo aqueles garotos ali? O

maior' que pode ter ali é 11 anos. Eu já estou de olho neles para
botbr na minha pescaria~ Relativamente eles j~ saem da mamadeira ,

-
j~ vai trabalhar. Os ou't ro s j~ fora~ pro barco grande •.~sse_,=da&9.uJzy
,. .p e.$Qªn.do ,c omi.9.p'
t..o jJ."gr
g,u;,e,
..
~s~tLJc1..a.J~.f1 Rêt~cJ3.d,o.I'
i:l,Q. te*myon ta d?~~ci§..ts.eI' .•

~s,*sew . m?u. n.J.hCl;,


.?~JlE..ELlle ~t (9, ~"§'§Lciaq~.~p_c:l~:s.9.~~~~~Y!9.:-'l"~~or~.ê.o
li

Vê •..
se assim que e RcHn.eAnli.b~
disponivel incorpora três situa
'"
çoes basicas
, de trabalho tal como vistas pelo Upequeno prodLltoril :

{l1 jovens n~0~qualifi6ados orientados para fora da pesca; (2) jo-


vens n~o~q~aiificado~ donsid~rados não-qualific~veis; (3) os fi"
lhos do lIpequeno produtor".
As dOas primeiras categorias englobam assim gente "marginalU

ao sistema~ ora por nãw pretender incorporar-se a esse trabalho


ora por ser considerada incapaz dessa incorporação (6). E, comozyxwv
. • " -,.,..,,,..J::! ,
"marginal", a n st.aveL, preca rae , nao-colilU.avel.

o papel do trabalho dos filhos assume assim uma dimensão cru-


cã a Ls

iiP. Pescar na canoa com os filhos " uma coisa que aconifece
8

frequentemente?zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR

I. Não ~ s6 com meus filhos. Tem um companheiro de fora- POE

que a .9-~FartQ~ é o se qud.nt.es a gente não pode obrigare Se eles vi-


sa~qu8 a pesca vai ser boa 81es n~o falham. Mas S8 sentir qUB a
T

re18ção:;~ Upequ8na pr oduçjio ", j~ que, como se v§..


"(]T"'iim8 r"'çí1-;;-iit-:m
ra no Cape III, essa força de trabalho joga com as possibilidades
abertas pela ambiguidade d8 concomit~ncia dos dois setores produti
vos de Jurujubae
89zyxwvutsrqp

IV .~ IV , IV

pesca nao vai dar nada, nao vao. Ja os filhos da gente nao, a gen~

te bota na frente e toca pra l~. Agora eles estão de f~rias. Prazyxwvu
'. ,.
m~m e um ponto muito alto porque eu posso contar com eles. Ja quan
•.
do estã.o estudando eu não posso contar. Um estuda a noite em Nite •.•
'.
rOl, . '\ , •
sai daqui as cinco horas e volta as onze, mS12-nOl• .l..
te• Agdrazyxwvu
•, ~ r
Ja Vao- ser dois, vai ser um pouco mais di fJ.cil pra mim, mas a vida
,
(3 assim."
,
Se, como se v~, o grau de utilização do trabalho familiar e
,.
fundamental para a estabilidade desse projeto de vida~ tambe~ ele
. ,. quadro
reproduz dentro de si a insegurança exterior, Ja que, no
da reproduçã.o incertai a 8ducaç~0 formal dos filhos deveria ser um

i~vestimento paralelo ao da sua socialização no trabalho. Surge Pg


,
r:em um momento de incompatibilidade entre as d uas experlenclas
• '" • que
passam a ser duas vias possíveis mas mutuamente excludentes. Aqui

se manifesta muito claramente essa homologia com os ciclos familiâ,


res das unidades camponesas d~ produçã.o, cuja extrema I'eleVancla
,. .
fbi pela primeira vez proposta por Chaianov (1966). A unidade da

pequena produção pesqueira, embora aparentemente muito menos entra


seda com a unidade dom~stica, dela e da suas características e evg

lução depende em grande parte. O que ocorre aqui ~ que pelas aber-

turas colaterais do sistema, do mercado de trabalho sobretudo, a


força de trabalho do jovem ~ mais cedo drenada do conjunto famili~zyxwv

ar. mas isso também pelas caracteristicas dessa própria unidade

que, d í.f
~ eren t emen t e d a t erra" e,. l.n
. d.ilV1Slve
. ~ 1 e n20 b r-í
"" po d e a. I'lgar se-
nao ate um ponto mais reduzido a in.crorporaçao do conjunto dessa
N " ~

força de trabalho.

li questão: da he rança ; da transmissão dos meios de trabalha ,


,

envolve sempre uma crise grave, em que, na maioria das vezes, se


90zyxwvutsrqponmlk

fragmenta violentamonte a unidade, com a venda da embarcaç~o e a

assunç~o por cada um dos herdeiros da seus projetos, que poderão

ou não consistir na retomada de uma condição de pequeno produtor. •


Outra solução, com altos custos emocionais, é o da submissão de um
'\ A ,

dos filhos a gerencia da unidade paterna, o que importa no sacrif2:.

cio da trajet~ria pessoal, j~ que com a morte do pai, dasagrega~se


a unidade em que investiu seu trabalho um filho j~ a essa altura
aVançado em termos de classe de idade~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
I N ••

Uma outra sa1da para incorporaçao de força de trabalho as pe-

quenas unidades de produção é a utilização da E:imerv:La


..dos trabalha •.•

dores- Chama-se e~enda ao trabalhrr eventual na unidade ã de um


trabalhador- em tr~nsi to de uma c,o
•m2.<J.,t1.11.a..e.
. para uma q,o,rn.Ra,.nhé;\.9.
ou

desempregado. Esse reforço~ embora passageiro, ~ altamente preza-


do; pois garante ao pequeno produtor a utilização de
de uma forçazyxwvutsrqpon

trabalho mais valiosa a um preço que, embora maior do que o de


seus .99.m"panh.~.:trº-ª.
habituais, não chega nunca a ser o que é pago p.§.
las grandes unidades de produção:

"A mesma coisa na minha canoa_ Tem companheiro que vai pescar

comigo. Vai pescar não, vai fazer uma emerida , um quebra-galho; de-
...
Ia. E, as vezes, ele ganha mais que o meu garoto, que pesca sempre
, , . f
ali comigo,•.mas e porque ele sabe atar e e ma i s orte que o meu 9,ã
roto. S~o essas coisinhas que a gente tem que dar valor ao sorviço
, ,
do amigo', porque ele ta ali p ra ajudar a gente. sf}, gente t.Bmbem tem

que cooperar com ele."

Na ati tude de respeito em relação da


a esse .s..e.rvigo. e.meneLa.
. t uram-se
m1S d uns ques t'"oes~ A pr1me1ra
. • e' a d a preseruaçaa,.., d o. co'di go

da quali ficação pr~pria da "p eque na produçãou• O trabalhador d'e

etmen..d.8.
usabe atar e ~ mais fortell• É portanto senhor da quali fica-
91

~~o' que o faz merecer uma remuneraç~o mais alta. Sem; no entantozyxwv
I

ameaçar a condição rn.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


.B)?t,:r.ê. do propriet~rio
dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA pela instabilidade do

v!nculo.
Da! a segunda caracteristica que ~ a dessa Il gratidãotl por um

"aw<{liolt externo. 11 Auxiliou que n~o ~ "auxilioU, poi s para o tra-


balhador esse serviço não passa de um quebra~galho indispensável •

Para o pequeno produtor, no enté1.nto, pensar em tormos de Ilauxilio"


, .... t b' l' •
e na o ame aç af am em o e sp a r a to da 92~[J"an.h..a...'
lYlinimiza •.•se novamente

o llassalariamentoll subjacente "a relação e se privilegia a ideolo-


gia de p er so na Lã smo. e. da comunhão de interesses carôcter!stica des-
se modelo.

Essa representação se re~b-r~a nas constantes referências "as


t;.ryai.ne:i..r.ª-..?. m não é respeitada;
como um lugar onde a )J.a.r.lJ*a._c:1.o_~h.omE3
.•

onde o c5digo da qualificaçã~ ~~ na verdade~ outro:


'\

liAs vezes um velho. um carQ entendido vai trabalhar num barco

desses, não arranja nada, vai um garoto ••• "


A lógica da "pequena produção" tem um lugar privilegiado e
crI tico de mani festaçeo. Trata-se da f??(3.J'j:;},!I..be~, ou seja" da \trepar..•
tiçãoU do valor rcaâ zado de cada expedição
í de pesca entre o pro-
prl.etarl.o e os trabalhadores
• '.
nao-proprl.etarl.os,
#9. , '"

A E.ar..,tA~, na "pequena produção 11, tem lugar logo ap~s a vol-

ta do morcado, sendo conduzida pelo ~str~, que, após retirar do

total au f'er do o valor das ~"'§28S~.G.(J.fT1.uD$'S'


ã (basicamente o combust1,
vel e as taxas; alimentação, gelo ou iscas, eventualmente), proce~
" IV , d,.. •..
de a divisao desse m,p
.•.
l1t.Et
em um determinado' numero e r r-aç oes que
..•
co rre sponde a soma ponderada das .2..cu::~e~de cada um dos Jcrnbalhado-
I

res. Embora esse numero de J?p.,r.:t.(;3


...
9. possa va rLa r consideravelmentezyxwvutsrqpo
í
ele costuma oscilar entre um total de 14 a 30.
92

No. descriç;;-o-,
de dois pequenos produtores, o primeiro, proprie-zyxwvuts

t ,àr-Lo.de ..9.,anoª"
o, segundo pr op r . ete'. r o de um b.•
í í

proce d e-se
a:r9.u.~f)b.o
.•
t

'a" zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p~~~i~h~ da seguinte maneira:
,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
nA partilha desse dinheiro e cada um tem suas partes. Eu te~

nhoduas do trabalho na proa 8 oito na pescaria, quer dizer um to-

tal de dez. O garoto que trabalha no leme ganha duas e outro que

trabalha ali ajudando: que tem mais vontade de trabalhar ganha du-
as tamb~m {outros dois ganham uma parte cada)."
"A!
..•..d ep an d e d' h Po r e xernp Iozyxwvutsrqponml
o numero d e çº-IllP~ar.L~e I eu trabalho
,
na proa, ganho quatro partes. meu garoto trabalha na maquina, ga-
nha 3 partes, o rapaz que trabalha no leme ganha duas partes e
meia. Um outro garoto que trabalha no leme ganha dUas partese Um
,
outro go.roto;meu que eu botei como auxiliar do rapElZ de, mo.quina g-ª.
nha uma e meio~ e os demais uma parte. Tira 14 partes pra posca-
ria.i!
\
Ressalta-se em primeiro lugar que, apesar da diverg~ncia apa-

renteI as duas partilhas descritas correspondem a um id~ntico regi

me, em que cerca de 50% do ualor é atribuido ao propriet~rio dos

meios de trabalho.

Essa alo caçáo das parte.!:!


do proprietário divido-se" no entan-
to, em duas categorias: as E.,ar.tes.
d..9l?,.r.9~
e as a.tl..~s.s.1.ª._g,eS}:.iª"~

As 8.ar~..
~~proa se alinham com as dos demais <9.0mp.a~nJ1eJ:r;:.09
e
mesmo em termos de seu montante n~o importam em um corte com a re-

muneraç50 dos demais qualificados. Representam na verdade a idéia

de continuidade implIci ta na .9.9_f!1ea.n..hSl


e dentro dela apenas a hie -

rarquia da quali ficação legitima. O m",es:~rJ3.


não retira qua tro par-
tes do monte, por opGsiç~o a uma ou duas, por ser ~ proprietário
mas sim por ser o .R.l;'rº-?J.l,'.CJ,;l o senhor dessa quali ficação m~xima mas
93

contInua: p'~i~.§.,",~i.nt~L,J?E.e
•. Como .E.t-2..5lim, isto é, aquele que se-
ê..zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

gue na proa da embarcag~o e perscruta o mar na localizaç~o dos ca~zyxwvut


,
dumas, o mestre e o 9.qb•e.º-.a.
. da F.Q.m'pan..,hTa..",
aquele que incorpora tam-zyxwvutsrqpon
,I' A I'
bem a ucabeçatl da canoa, a sua parte que ve, pensa e da o rumo. A
.Q.9.!!!l??.•n_h.a.. c,a. r.i.$-..
e a fl..e,_s c om o um s~ o r 9 a ni s mo.

O pequeno produtor apropria-se por~m igualmente d~ mais um og


t ro: vo I ume, es t·e sam c on sa.dereve,
' I de Rartes. do m.,OI'J,:t,E:),. S'"
ao as par'"
.•.
tBs da p.J3,.§.c;,ari.,ª-= as vezes mais definidas como as R,~_ dqso- r,El.dEl.$..

•.d El•.• c,an.oa.(.7).


e as llll..r,t,e=s
A representação dessas aartre,s
.•dp.RE.J.ê..9.a:ria
englobo mui t-o exp1.i
citamente a id~ia de IJreproduç80". Reprodução dos meios do t:raba••.

lho, no sentido estrito da "reposiçãoll do seu valor incorporado


gradualmente no produto; reproduç~Q da pr~pria unidade de produ-

ção, no sentido lato de reprodiJçãm i sto é, do. própri o


da .p,e-.ss.9.F..l,.§.,

processo produtiUo. A reproduç~o dos meios de trabalho como condi-


N ~ ,
ÇBO da reproduçao do pequeno produtor seu proprietaria encarna a

reprodução de todo o, sistema, ..se vê como osso cj,


do qual a S.O}nJ?#él.n.b~º
ada e dependentee

Essa representação da apropriaç~o do poqueno produtor em duas


categorias distintas lhe confere, portanto, uma legitimidade incon
...,~ ~
Jx.stavel, porque f un d a da soare
' a l'OgJ.C8
, '~t'
ma a s a n a ma d o e spa' ra.~co d a

,
Falar em 2,?r."te?-=c:la.,J2_EU?.G.a.r,ia,
corrobora, alem do mais, aque.La

idéia mais ampla da "humanizaçso" dos meios de trabalho" como s~ci


os independentes e co-respOnSêl.velS
1'.
pe I o sucesso d o processo ' zyxwvuts
proou-

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
+n± •. ; , t zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
•••~ ••••••• '.. t· f

(7) Isso ocorre sobretudo nos , casos pouc~ comuns~ em que SO


. ,
a s ao cd>-
am aue-ntualmente o proprietario' de uma embarc3go.o com o propr1eta-
r'Lo. de uma rede.
94

tivo._zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O pro.prl~t~rio; receberia assim suas aa..:r.t..13
•.s" (as da p.•.
e.$C9.-riÇi.
)

não em função: de sua' q!;lalidade diferencial de propriet~rio# mas na


de um "repre sentante li 1egi tirrrada para a consecução do "bem, comum,tI.

As crises anteriormente ci tedas entre o pequeno produtor e O'S

. he
c•.o.m.E..a.r:L_e.J..!'.P.$.
í
nao •..proprl.etarios
"". .'
nunca se articu Iam em torna. de rei
. d·...
van a caço e s ou cza tieas
, a respeito da P...9r..tj.lPé\Io que demonstra a

força de legi timação de que se reveste a forma fenomenal desse si.§.


tema. O est.o.pim do con.f'Lí.tío. parece se localizar', isto sim, aOJ n1""
,
veL da rede da prestaç;ea e eQntra-prestaç~es subjacentes acr regi-

me; da 'p.•.o.rnP.a,J:l.h.t:\
em sentido amplo. NozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
mai s das v e ze s envolve um pedi

do de empr~stimo .fei to por' um .c.o.fJW


.•a.n,h
.•.
e.•.\.r.8.ao JT1.e.s;~.rª~.
A negação do
padã do., seguida normalmente da ruptura violent-a d a relação:, entei-

xa uma s~rie de significados_ Constitui de certa1fbrma um ritual

dê passagem em cUja encenação se aplicam ambos os atores; demarcan.

do, os limite s atuais do e sp!ri to da cp.•m.P."tnJJ


•. A fala ª-.- do trabalha-
dor mani festa sua crença nesse esp{ri to - e assim o 1egi tima-··quan.zyxwvutsr
_ 'N
do) adianta a expectativa da p,restaçao exterior a r-e Laç ao. de traba-
< lho.

A negatiVa do pequeno produtor, explicada em termos de ques-

tZes pessoais (impo.ssibilidade moment~nea, inconvQni~nciQ do posty,

lante ete.), mantem-se no mesmo n{velf mascarando a real impossibi-


lidade de levar adiante o projet.o original da .9E.!TIE~nJJq. A sa!da do

trabalhador, envolvida no clima tenso de um conflito pessoal, cum--

pre sua funç;o estrutural de transferir a força de trabalho, j~ eu

tão em seu pleno vigor, para outros setores da produção, relegando


mai s uma vez a "pequena pro-du'ç~o" ~ incorporação de seus eternos

"aprendizes".
Ainda no tocante ~ .Q.?rtt:!,.tfl,~,cabe apreciar a questão da aloc~
95zyxwvuts

N ,. """

çao de a~~t~~ aos filhos K~mpa~h~.irA~. Ao n~vel da descr~çao do


processo - e assim realmente ocorre - essas ~~~\e~ são entregues a
cada um, de acordó com suas qualificaç~es, da mesma forma e no me~

mo momento que aos demais .2.ÇJmp.ª..tltLetF_C?s.

Essas Q§rt~~, no entanto, revertem ~ reprodução familiar ora


•• N ,.

no caso de serem entregues a mae para o provimento da subsistencia


comum, ora no caso de S8rem aproveitadas para o pagamento do col~-

gio, ou parazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a constituiç~o de uma pequena poupança com vistas ao
casamento: ou a outra etapa fundamentnl da trajetória desses novos

"chef.es de familiau•

Esse sistema permite, al~m do mais~ a manutenç~o da nacess: -

ria f.lexibilidade dessas unidades, pois em casos de necessidade as

aar.t};J~dos filhos podem ser incorporadas imediatamente; sob a invg


IV. N
caçao de salvaçao do projeto comum.
"Porque eu fiz a minha festinha. mas da seguinte maneira- go~
,
,.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
que eu t'enho oito filhos e tres ja trabalham comigo. Trabalham e

estudam. Quando eles podem ir trabalhar, d~ acordo com o estudo d~

les, enti~o eles podem me ajUdar- Foi aonde, graças a Deus, a minha
mesa foi posta. Porquo ~ tudo aqu1'1 o que nos
entao ' gan hamos eu fa-
IV .' ,I. d tzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ
I'
lei~ ou~ nao tem pra n~nguem. ~ tu o um mon e so, pra que a nossa
mesa •••..Foi assim que eu consegui a mesa de Natal.tI

A ambiguidade da ,Rar:,t'i),.h.ê.
como forma de remuneração da forg8

de trabalho na pequena produção, se acentua no quadro mais amplcr do

t'rabalho na pe sca- Pois, S8 nas g.~.i.nej..F,a.~,


~ mantido um sistema de
ele aI 1funciona
P..,..aJ;:.tj.).ha. mais como um real a ssa La r Lamerrtr», como

vinculo despersonalizadb sujeito ~s implicações da ordenação jur!-

dica vigentê na sociedade nacional.

o regime do .?.rnb.ar9J,.l_e,
como' se resume esse outro sistema de
9&zyxwvutsrqponmlkj

produç~m dO ponto de vista dos trabalhadoras,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYX


S8 caracteriza mesmo

pela expectativa de ob t.anç arr de ssa logi timação e garantia espec;[fi

,.
tavel de assalariamentoe

Ter a 9..a
..
rt~~raassinada é ter acesso aos .RJrei..
t9,,,ê.7
a algumas
garantias juridicamente sancionadas da luta pela sobreviv~ncia do

trabalhador.
,
Os pequenos produtores, ao se r efe.rIrem as unidades capi tali.§.

tas de produção, percebem na questão dos ºj.,J'•.e.:i..t.9,*,9~


o único ponto

que os desfavorece moralmente srn uma competição em que têm todos

os motivos para se considerarem mais "justos" e nhumanos"•

f.m.•b.",ªr
..
céU';',
~
porem, sua f..ompan!.:!.§.
,
e comp Le trarnerrt e Lmpo ssí.vel para
,
o pequeno produtor, como se pode depreender das condições de sua
pr~tica até aqui expostase Esse é mesmo o motivo de profundas e
cont!nuas preocupações, dada a ambiguidade com que a fiscalização
da Capitania dos Portos trata do assunto, ora tolerante, ora pers.§.
guindo as pequenas embarcaç~es por n~o terem regularizada a situa-
•..
çao trabalhi sta de seu s som,pa,n.h
•. Eg.
e.i.r
....
P ar outro lado, a garantia dos d,;LJ:'f.:l,it9.§.
pelo ,~,m
.. e,
Q.,arqu.3. uma
,
questão que interessa pessoalmente ao pequeno produtor, ele pro-
pr-í o. tão pouco distante da instabilidade, da Ln sequr ança dos tra'"
balhadores assalariados.
Se a possibilidade de inscrição como trabalhador ª!d.~ô.~..9.zyxwvutsrqp
re-

solve a SUa quest80 m3is imediata, ela não dispensa - pelo contr~-

rio; acentua - a sensação de ilegi timidade pel o não-e.m.b.arque dos

,
liA v~da e muito sacrificada, muito durae Eu fui nascido e cri
=.c

ado nessa vida, mas ~ dura, uma vida de sacrif[c!o1 de luta. N~o ~
97zyxwvutsrqponmlkjihg

fácil. Hoje, em todo caso, a gente tem direito a Instituto. Quando


eu era criança não tinha, ou se tinha não era chegado ao conheci •..

mento do pessoal antigo. Por isso ou por aquilo. Embora a gente ly

te com muita di ficuldade para c-obrir essa despesa de Institutozyxwvutsrqpo ,


., ,
mas em todos os casos Ja e um direito que a gente tem. :~gora, que
;. •.. pode.lt'.
o. gente nao
a gante pode fazer conforme as exigencias, a

pescaria ••• fases conforme eu expliquei. são feito crises, 0.1 tos e
baixos. E as exigências não quer saber, quer receber. Se nÊÍo pagar
tem os juros. Com o decorrer do tempo', tem as penas, não d~ condi-zyxwv
N N' ,
oes s Nao e que o pescador' seja, como e que se diz, infrator,zyxwvutsrq
N

ç nao
,,., ,
e que a gente nao queira, a gente tem vontade, mas e obrigado a vi,
ver assim.1I
Essa representação dos ~~r~j~o~ abrange, entre os pequenos

produtores de Ju.rujuba, apenas a quesitãn do J~rJs.:tJ.tU,..t.()í'OU


seja, o
acesso aos serviços públicos de saúde e ao direi to de apo.serrtndc
ria.

~ comum que a referência ao .!D.ill tu-t;p;


e a esses ç!Jre,i.to,1:?
se
faço. por oposiç~o ao per!adb em que funcionou a Policlínica Ge~al

dos Pescadores; a cuj os serviços tinham direito' atrav~s de sua fi-


liação ao sistema oficial de Colonio.s.
O a!ilst'emo.
antigo. é considerado como superior 0.0 atual, lasti

marrdo-s
ae sempre sua dissoluç~o após 1964;. Na verdade, o acesso a
,
esse serviço" de saude - por eles unanimente considerado como: de ex
-=
celente n{val - corresponderia plenamente ~ sUa pr~tica ambígua de

pequenos produtores~ pois n~o se fundava na relação de assalaria~


mento~ subjacente
ao sistema do Instituto. Todos os que se filias-
••
sem como p.~$.C:.~cJ.Q.:L"e..§.
as Colonias de Pesca, independentemente de sua
condição ef,etiva de classe, fruinm automaticamente daqueles benefi
98zyxwvutsr

cios corpor-at.í vo s- Agora, embora eles


.
, zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONML
,.
pr cp r a os , como ~tol]0.mP.§.zyxwvuts
I

"a disponibilidade ,
possam se referir dos serviços oficiais de seu-

de;. seus G.0m'p


.•aohe:t}'.o.~, embora 'p"ets.99c1~.r.E'L9..,
j~ não o podem faz.eJ7, d,ê..

t s d a sanç """d'
pen d errne ao .j ur a a ca d o va' ncu I o de .13.rn-.b.~.r.9.~.

~ ,. bO
A b•.ª"t.aJ.h~ª do pequeno produtor.' nao se desenrola apenas no am b
' .
to'do processo de trabalbo. Ela envolve to d a a SUa prat1ca quotidi

ana e abrangente de "ohe fe de famflia 11, p cr-ttarío r vivo da q,;b"f


...i..9..Çl.!iPa;o

Nessa ~f?.ê..t.oJh.t:l.
ele pode acionar em seu favor dois sistemas di-

ferentes de relações sociais, a que se encontra vinculada' em prin •.•


,.
C1p10: d as d a o nc sca. ment o.

O prirrLJiro ~ o do familia; nos dois sentidos da tifamilia nu ••

c Le a r " e da IIfamili.a ext.ensalt•

Nesse último sentida, a refer~ncia ; familia parte da catego~

ria de i.J~·martdad~. Como tal se; designa o conjunto dos irmãos ho»
N
men s, o grupo de .s.ibl.hn.9~l/ socializado na unido.de de produçao pa-
. N ,

terna e supostamente man td do. em uma relaçao de mu txsc respeito e a'y'


~l'
XJ. J.o.

Embora se procure sempre ressaltar o quanto esses vínculos e-

ram mais fortes no passado, isso reforça apenas a percepção de que

esse padr~o- ainda ~ em boa parte valorizad~ e persoguidó. In~mero~

test'emunhos de observação confirmam a efetividade dessa rede de sQzyxwvu


, N, ,

corro'mutuo, que envolve, nao obstante, uma consideravel carga de


conf'Lã to e competiç80.

mais do que para a dissolução de um padrão de comportamento '

-,

J
99zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU

...
intra-famiIiar espar-ado, as queixas quanto a sua fragilidade atual
aporrt.arn para a di ferenciação acelerada que se processa no interior

do bairro' e de cada f~m!lia em particular. Pois cada vez ~ mais di

rl~il éos filhos dos pequenos produtores reproduzirem a pr;tica d~


sUas unidades de origem, mantendo vivo o esp!rito da irmandadezyxwvutsrqponm
"-"'if--a ••..••.. ,-., •••

,
Po~s, v "'d"
e , a a e i a d'e .1:..r,màn,u d a_..2..,
d maa• s do que um
como sezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA vâr ncu l.o

qua I quer en t·re ~rmaos,


- -
pressupoe uma "irmandade" de interesses

uma comunidade de pr~ticast em que a homologia entre todos ~ o

substrato da efic~cia do auxIlio a cada um.

Embora um pequeno produtor possa esperat uma atitude benevo~

lente de um seu irmão, hoje afastado da pesca ou trabalhando em

.t...taJ.o..Eti..(ª.~
o auxIlio que este pode lhe trazer: di ficilmente ter~ ao
. , .• "'. ,.". AI
caracter~st~cas de permanenc~a e pert~nenc~a que tem a cooperaçao

entre dois irmãos pequenos produtores.


Em uma citação anterior falava um pequeno produtor de como o~

tivera de seus tios (a i..rmª,1ld.ad~


do pai) pedaços de rede usada com
que montaram uma prec~ria mas preciosa rede. Esse tipO' de auxIlio

entre iguais, como o de·:levar a produção, de outro ao mercado, !:;om.


por a .9.9*mpêll1]1..ã
num momento de e sca sse z ou colaborar no reparo de
uma avaria maior torna ....
se cada vez mais difIcil, não pela inobsar-

vância do espiri to da !G.mê.P.9ª-9,ª"


mas pela quebra da igualdade de
. ,..
condlçoes de vida que ela pressupunha.

Isso n~o significa que as redes familiares diferenciadas n~~


\.

constituam uma fonte perene de recursos marginais Rara a consecu •..

ça~ 't ~ d e v~dB.


•..• d o proJe . m'ulto pe I"o contrarln, "''' e
a cooperaçao f:ce-

t
quen.e;, t
presada em sa.1'"en ca• o, como convem
, .•.
a d'aqna, d ade comum. I1S
" I'§.

lações por afinidade são frequentemente tratadas em pé de igualda •.•


de com as "de sanguell, desde que locais e iliguais", cobrindCl1j por

\.
100

assim dizer, eventualmente as lacunas dessa irmalJçJadi:3


que se invi.ê.
za e
bd LízyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A 'i-elnção·de irmandade
-••• +. ,._~
não se isentava e não se isenta ev~.:élel1
~
zyx

temente dos ri-scos latentes do. conflito; e da competição. Conflito

que p ar ece ter seu momento privlilegiado na morte ou aposentadoria'

dO pai, quandb essa se d~ antes que cada um dos filhos j~ se tenha

firmado em seu projeto de vida.


A competição peloszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
meios de trabalhrn da unidade paterna pare~

ce mesmo motivar situações aparentemente anômalas, como a do pclÍ


que preferiu vender sua canoa a deix~-la sob os cuidados de um dos

filhos, p~eservando assim certamente a equanimidade esperada pelos


demais irmãos.

Hbje em dia, quando os recursos pesqueiros dispon{veis para


a "pequena produção 11 escasseiam aguçando a dureza da ,b.a
.•
t.a}ha~ ac an
~-=-
tUam-se tanto a
,
mutua necessidade
'.
quanto a mutua compet2çao
,.."
- amb~
N ,

guidade que traduzem na cxpressaos "Os parente. e os dente e eles


dóilt.
N ('

Na famIlia nuclear, por outro lado, define-s8 a s e q r e qa a o n;L~


ç

,.
tida dos pape~s sexuais que ir.fol'ma"ttodoo sistema_ A unidc:tde 8n-
t.Ie os homens, vivida a
,
ni.vsL ª
da .c_om.p_c'lD.h
.• ou da i.r.mpqçlade;eorr8S-

ponde ao grupo de interação mãe/filhas.


Estas, socializadas em conjunto nessa esfera do poder femini-
l ; ~ '. • ~~ •
no que e o nUcloo domest~co" desenvolvem .í qua l.ment e um 03.t~do ~,8n-

tido de cooperação, fundamental para o bom andamento db projeto

rnll±ar.· A m~e idosa ~ uma garantia d~ atendimento suplementar em


momenbo s crfticos como gestações, partos ou doenças qrave s s

Dentro de tal quadro de lealdades forjadas em uma p:r.~tica dG


•..
segregflçab que exige a exclusividade masculina do trabalho na pas •.•
101zyxwvutsrqponmlk

ca, é habitual que o pai viúvo venha habitar na unidade dbm~stica

de um. dos filhos enquanto que a mãe viúva


hcmena,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
deve habitar a

unidade doméstica de uma das suas filhas. A impossibilidade de cua

prlr. com esse -. lmpor t a norma 1 men t e em um conV1V10~enso


pa d rao ~. ~ e p~

no so ç sobretudo no último caso, pois o: conflito se desenrola na

pr~pria ~rea de afirmação; tio ,ifarnin:Lrio". ~ comum que em t'ais casos

a Veiha ptQó~ra aliat~ss s6d rie~a~ c6ntta o brJpa da hota e d~s

netas.

Além desse acervo, de recursos manipul~vel da rede de rBlaçõBs

familiares" pode o "pequeno: produtor" dispor de uma outra menos am.


p La porém mais flex{vel: a dos p'0,.d.ri•1J00••
. s,.

o sistema do "compadrio" em Jurujuba, a que remete a ca teqo»


ria p..s_o.rill.hjJ';;:,se enquadr-a p e r f e tamente
í, na ana'I"
zae c 1'·
a s sa ca de

UJolf e lY1iniiz sobre o sentido social dessa instituição (1967). Fir •.•

mado sobre um ritual de iniciaç;o religioso,o vínculo do "compa-

drio" permite uma ampla maní.pu Laçjirr dos papéis e desempenhos nele<

envolvidos para muit.o além de uma funcionalidade restrita ao campo

religioso~ •

. Encontram ••se, lado a lado; nas fam!lias dos "p cqueno s produt;g

re s " compadr í.o s de tipo horizontal ou vertical, isto é, inter'li-ga!l

do pessoas da mesma classe, do mesmo grupo ou pessoas diferencial-

mente situadas no mapa social (Wolf e mintz, 1967, p. 1'76). A cat~


goria ç.Q.m.Eaedre
.• não é utili zada com frequência, raramente ae rv í.ndo '

ali~s; de ape Latíí.vc. direto. Questionados sobre o sentido dessa ins-

ti tuição.) seus usu~rios .invocam normalmente a opção por tal ou

qua L Ç.QJTl,Ead.r.s.
como um cito de homenagem" ora selando uma amizade
.~
Ja
estabelecida com um parente ou companheiro. de trabalho, ora mani-

f'e s't ando. respeito e admiração por uma pessoa de PlI&s~t!gio' ou de PQ


103zyxwvutsrqponm

sem os recursos escassos da sua sobrevivência. Esses J2.ê.Q.,J.::i.né.h.9.~


po-

dem ser hoje do mercado da Praça XV (como foram


os leJ.1peix.9 ..ê.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ou•.•

locais

ou qualquer autoridade invoc~vel, como um oficial da lY1arinh'a, um

advoç ado-, um fiscal da Capi tania ou um delegado.

O sentido mui to definido desses f?ª.c:I.rj,.rJb.9)?


como uma garantia

da "produ td vã dade I' da vida de ,()*b.~:i..9.ª.Ç,,€Lo


.• fica muito claro quando. se

ouve dizer por exemplo que lia rede de nylon foi um padrinho: que
.•.
veio, para a pescaria e prp pescador", assimilando •..se assim aquela

essa outra garantia da produtiVidade ampliada do processo de prod.Y,zyxw


N
çao:.

Da eon sider~vel gama de favores acion~vel j unto ao s pa•.dJ:'.i.nbp.Jl

o principal t,g. Como tal


~ o do q;r.Ac;l.i se entende qualquer aux~~l'
~.o

financeiro de uma c.erta monta, amortiz~vel a m~dio ou longo praZo"

Pode se constituir, em empr~stim:os pessoais ou oficiais e pode em•••

brir -despesas as mais variadas, desde a aquisição de uma embarca-


.... ,
çao: ate o pagamento. das despesas com, o casamento de uma filha_

é uma figura
o P~~~~:i.o~g essencial tanto para os .cmp r-o, s t"a mos

pessoais quarrtío para os oficiais, quando pode servir de modio.dor

ou fiador;~

IIVocê vaí tirar, uma rede a! na SUDEPE, e sabe quantas rodos

voce• tira se for um pequeno) pescador? Nenhuma. Tem que levar um: Pã

drinho, senão tu não: tira. Eu j~ comprei l~ dentro e tiroi por ca,H

sa dos meus padrinhos, senão não tirava nunca."

o cultivo dessa relação de ap ad r Lnh arnerrtrr merece uma constan •.•

te atenção do "afilhado It, preocupado; em manter a continuidade do

vIncula; mesmo que ele raramente seja acionado, como um precioso


104

se~u~o (8).
de vid~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

As prestações do pequeno produtor nessa relação de tipo:. "pa»

tron~clientll são arrt.e s simb~licas, consistindo frequentemente no

"leVar um peixe para fulana" ••. quando toda a atenção: ~ dada na es-

cozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Lha da espécie preferida do .8,a d}',l,.,rth.Q.
e ria eXbel~ncia t
da qua l Lda-«

de da oferenda. Pode também consistir em pequenos serviços e:vent:u-

oí.e , sobretudo no daso de uma relnç~o com um •d~<:?X.


local, quando
-
,ª),:'I}1.~•

se potlera
\ ' por exemplo participar do mufirao de reparo da ulITa de

SUas grandes redes_

Para os pequenos produtDres, embora sua pr~tica periclitante

exija a manutenção de um ou mais desses v!nculos, acion~-los efat;á..

vamente representa sempre um ato cercado' de tensão e ambiguidade ~

Pois o pequeno produtor se representa a si próprio como um pequen.o

flJ!.d,ril1.hQ.,na SUa relação- com a G•.o.m'pal1.h",,ª


e com seus parentes mais

-
desfavorecidos .• No confronto entre sua dignidade de l2.!'p..9.u,tP,,-J;:
e SUa
...
necessidade de R~=ql!?no_"p~ a categoria que se opoe a do .2.9.-
. h•.o e' a do Qes.c",aejo.:.c
d.+,JoJ\ me,n.çlJ.Q.o.Assim como ele pode desempenhar o

papel de p.•.
ar:tr-to..D.o,.
em relação: aos mais fracos, assumir uma dfvido

concreta com um pc:l.dI:l.nho mai s forte que ele signi fica reconhecer

sua fraqueza relativa~ o perigo de ser considerado um

fI1•.EtC1."çlJgg. Assim, é frequente quo a par' do: r-eLa trr de dividas fundamen

t.ais contra!das com tnl ou qual Rsd..ril1.bo; se rei tere a preocupação

ct • ....--.~ zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
.$".......zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
r

(8) nA V.ery important-. functional requiremont of the sy s t.cm is that


9.n.:e)(q.C?tl.JLe•.v~n bala,l')"Ç.eobE!"tlJ,l.etar:r
tw9• ..P~~~.el'"'s..""nev.e..r.b.8_,SJ:;J:1Jsk. This
•.
wou~~ J eopardã ze the whole relationship aí nce ,zyxwvutsrqponmlkjihgfed
i falI c r cdã te arid
deblts somehow could be balanced off at one time, the contract
uioud d ce aaa to exi st. At th:e very least a n eui contract woul di have
to be gotten u:nder way, and this would' involve uncortainty and
possibly di stroass i fone partn.er s e erne d reluctant tO' continue. The
dyadic, contract. is effective precisely b ec au se po.rtners are n.ever
qui t.e su re o f tneiro r e I ative po si tions a t a given moment.• As long
as trrey' k nour tha~ goods. and ser.vices are flowing both. ways in
assanitially equal amount:s as time passes, th.ey k no ur their rGlation
sHip is soliodly b a s e d.s " (Fo s êor , 1967 b )
105zyxwvutsrqponmlkji

em nao.
'"
con~alr ~ • d as como uma qU8S t ao d e- prlnClplQ~
-10<-.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
d lVl .,. N

IlJ~ uns tGmp,os dosses quis mo dar 15 milhões pra mim comprar

um bar-co» Empr-e s t adc. Eu não quis. Não sei se ele ia tirar do. de-

le. S~, sei que ele disse p r a mim ~1 Olha, vocô podo procurar um bal;;.

co bonzinho que eu tenhrr 15 a 20 milh~es, vó6~ pode comprar que

eu pago. t Eu disse, tOlha, o senhor vai me desculpar, Não, gosta de


-d'a va. d a. t Nurrc a vra
f· quaa . d even di·
o' cn.nh JlrO"8
.,' . quem
ru.n ; •. ~V·lJ1l dever agora

quando~ eu fiquei quase aleijado, aí que eu apanhei 5 milhões, Se-


,...
nao: eu nunca tin h a ap anh adr» com ru.nquam
. ,
, N une a ap an h'8l., sempre em-
,. ,.
prostei. Nessa vidinha que voce ve, com uma canQa."zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
t .,
Encurralado nessa situação amblgua de quem ao deveria empres •..

tar,. mas deve pedir emprestado, o pequeno produtor verbaliza sua

ira contra os mecanismos de cr~dito oficial, para cuja manipulação

-Item que recorrer ao mediador p..-ô..cLr,irJh.Q..,enquanto que e e+e s podem r.§.

correr. diretamen.te ~s agências f'Lnanc í ado r-e s s

"Se a SUDEPE não tivesse tanto reta dGntro daquele troço; foa
, •..•
se um orgao do Governo; que desse valor ao pescador pequeno, eu com

praria um barco. pela SúlDEPE. Eu tenho que chegar perto do meu p a»

d r í.nho- e dizer: 'O Sra· me faz um favor de me dar cr~di to?" Poxa'

Se eu tenho cr~ditrr nessas praça todinhas. Sou home~ que sempre an


,
dei com meus negocios direitinho'; vou ter que estar mendigando por'
r ,
a~, Pera la'l Eu sou um homem. Então não sou um brasileiro, sou um

estrumbicôdo\ qualquer,1I

Esse vasto jogo de patronagens, em que o pequeno produtor pet

cebe uma hierarquia dura em que elo se situa aciOTa dos .m..e
.•r:rci;i,.9.-9.ª~ e

abaixo, dos P.•~...Ç.I.:rj.[l119 •.ê.J tem., como se pode perceber na 't:ransc-ri-çãu; a-


• ,.... G A p r c sança '
c arna , O' seu co r-oamerrté. nos .9$.9..a..,os+
tdp._ oV,e,~Q..Q.' desse p a-«

-ttrão/padrinho - m~ximo de onde emanam tantas condições de reprodu-


106,

çoo: do p...•
e•.sG.§.9.9.•~ se cristaliza sobretudo evidentemente ,
na SUDEPEzyxwvutsrq

percebida como um, lugar de onde deveria emanar o aux{lio a todos I

os Q.escaçlo:res" mas que pri-vilegia de forma ileg! timn s~ os podara-


107zyxwvutsrqpo

Os limites da ••....•.......•
ilus~o ~- zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
3. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
..••

A representaç~Q ambivalente dos pequenos produtores sobre oszyxwvutsr


, IV ,

9 r9.apJ? d.~ ç,o.\!.e:r.n.o..


q
e os p.•G...sqa
•.ctCir*e.?J:':i"c.0S,.
com que se encerrava o ul-

timo item nos traz a um outro plano da sua visão de mundo. Apreci~

dos P..•é}.d.r.i",I1.rto*8"
os campos em que ele desenvolve a sua b...ata:L.h,ª., em

que a psrsistência e a continuidade do seu t.rab",a~h*G.legitimam as

con~uista~ e a manipulaçãu dos recJrsos escassos que a sociedade

põe ?t sua disposição .• Esses campos vêm. se chocar, no entanto, com

limites dificilmente transpon!veis. são os limites com que esbarna

o bom desempenho da sua oPF.i.fla"Çio. Áreas onde o confronto entre o


, IV
tr ..ª-b.a).hJ2. e a 9,º-r,.t.e.ja nao tem sentido, nem um nem o ou t ro constity

indo mecanismos eficazes contra a sua resistência implac~v"el. ~ o

lugar da negação· de sua viabilidade, o perigo da não-reprodução, o

sentido do dizer que afinal "p e scaria é ilu são 11. O primeiro de s se s
zyxwvutsrqponmlkjihgfedc
limites e o que se levanta na açao dos QJ;'.9.agsde C;ove:rQ,o.. O segun-
" #ti , N

do o que representa a competição eJ}c a9.0:!:,.e.s


com os p..• .• rJ.c.Q.ã.·
4

IV ,,..,

A açao dos º.rSé\.DJ?.,çle._.,Ç;p,Vt;r.IJQ


e de seus representantes, as a.t.J.-

esta , presente
j!J,.t.id.q..çI,ELs.l. a cada passo '.
da prat~ca d o l?.e..9.uen.9.._p,e.§3.ça.;-
.

rJ..o
..r' de Jurujuba. A si tuação- amb{gua de pequeno produtnr ex:põe- no

mesmo dOpIamente a essa ação~ pois deve por um lado enfrent~- Ia

como uma unidade aut~noma, como um "produtorU (diferentemente do

as sc Lar í.adc ; que para alguns efeitos sofre a intermediaç50 da "em•.•

\
HJ8

p.-r:esaUzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
, enquanto "unidade de produção" juridicamente identificada,

e para outros pode contar com o seu órgão: de classe) e, por outro,

enfrent~ •.•la como "p:equeno,", isto ~, como ent.idade fr~gil, de voz

inaudivel (di fercmtemente do "cap â talista 1; que a enfrenta em maior

ttequilibria de forças 11) •


A representação da ação doszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
9.r:.9:a.P.ê~,~9(3 ,º"~J!.,,eE..D2. e dos ª-y.tCJ;ri.c:l§.
•.•

9.e.•.
s. distingue-se na verdade frequentemente da reprasentação da a""
...
çao do G,,9v,el'lJ.Q..'
ou, pelo menos" de certos Governos_ Essa bipari:ti'"

ção da representação da autoridade nacional em dois níveis (9} co~

responde. ~ necessidade de dar contazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDC


da carga simbólica contraditó •.•

ria de que se reveste esse plano da sua realidade vivida.

o ,G,.9j/erl]o deveria ser o grande ,g,ac:lJ::'JDI1Pit


.o. fiel da b a Larrça s9,.

cial~ equ~nime distribuidor dos recursos da Nação, garantindo o

farta, amparando os fracos, ensejando um lldesenvolvimento" unifor-

me e regwlar da riqueza e da segurançEl do povo (10). Para tanto, ,


, , ,..
para atingir tais fins, e que se consti tuiram os .0.rQ;ªºsrt çlÇl' Goy.e;rD-ºo
r
e que se de Le qe r La o poder das a"Y.:t.pricl.a.d.e.$.
em todos os seus na».
f ~ .
veis. Essa representaçao fica muito clara nas re erencJ.as ao Govel:
N

no de G"ej;.Ú.1JqV,aIga,s- Esse teria sido na verdade o grande .momerrbo

da. 1e 9i ti mi da de da que 1e mod elo do: pod e r na c i on a 1.. qu a se que ..0 seu
·t·OJ d' e oI'J.gem.
ma • r t'l'
Lle u a or.ef z a ... I' .•.1'"
P "O'l,C J,I·'l' o cr~oU'
H}~G...~, G e-cuia . a r aca
.lI:f:'b·
1'21

de gelo. da Praça XV, Getúlio ajudou op-'eas.ca~dºLP.E39.ue.n,Q..

Entre
,.., ...'..
a açao or i.qa nar a a do ~oxe±n-º. e a açao dos seus
,." , ,..
.9J' 9,Çl,.9,ê.

(9)-Ês·;;",,;·~$pT~'~~~;ntação bLpa r td da do poder nacional ••


e encontrada
também entr.e os moradores
+-00 estudados por- Lygia Sigaud
.?'-.t;;>....2..~
(197~ e 1975),
embora com termos. di ferent'es:.

(10) O mesmo esquema ideol~gico:,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM


foi descrito, em comunicação pess.Q,
a l, , por Ruth. Ca r do.so.; no quadro de sua pesquisa em torno das "Re-
p:r8sentações sobre a Sociedade e o Poder entre Favelados de são
Pauloll•
109zyxwvutsrqponm

delegados ocorre no entanto' uma inversão; "Pra lhe encurtar a his ••

t~ria~ o Getúlio Vargas era um homem bem intencionado; mas era ce.;.zyxwvuts

cadrr. par uma turma de ladrões; safado' e sem vergonha. Quando fi ze-

ram o Entreposto' eu fui ver De discurso. Ele botou uma maquinaria

americana para produzir' do 4 em 4 horas 6 mil pedras de gelo, nãçr;

12 mil pedras de gelo. A 8rahma - porqUe o pescador era obrigadry a

comprar gelo na Brahm:a, qUe vinha i~ do Cais do Porto •.• pagDu um

dinheirão pra botarem salitre é inutilizarem as m~quinas ••• E se

f.alasse muito ainda entl'ava no couro, porque vinha a púlícia secr.§.

t'
t~ e meaa o paU ,
na gen.tAl'·
e •. po 1C1B d o 1a d o d 8 1es - d a t urma de

ladroes
•.. sem vergonha - metia o couro na gente.1l

a es~gn10s
i..
NzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
passagem dos d zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP
suporaores para a açao concreta de
N

Governo o .e.adrintlO cede lugar ao ladrão. O mecanismo qua deveit'ia

garantir a reprodução; do homem t r anaf'oz-ma-sae no mecani smo de sua

perseguição, de sua inviabilizaçãoe

Fundada porém naquela legitimidade maior essa presença da a-

ção do Governo se nuança em ~reas ou domínios em que se preserva

mais ou menos o sen td doi do que é devidoe"

Assim,. s o podaria distinguir' dua s ~roas b~sicas do acordo com

o' seu grau de 1egi timidade. A primoira, embor-a sentida como duna e

f.ruque.ntomente injusta, não, ~ corríre s+ada t:otcIlmento, pois nó para


,.
todosll, "o coisa do lei". Nessa e sfe r.a se encontram os dãvorrso e im
postos o taxas da profissão, uns mais, outros menos "1ug!iiimof1,".

"I. A despesa já sai ••• quando a gente fala que

Cr$ 1.200,00 j~ 6 sem a de sp e aa e Porquo a gente j~ vai pagando os

hornerrs ~.;, paga o do: governo; paga isso, paga aquilo, e entãO' você
.' fi
Jã .
.' ca 11vre.
'Pe t B% que você paga 18 no lYlercado-?
110

I. Nós 1~ pagamos 8%.; Tem lugar que paga 9%_ Antigamente erazyxwvut

P. Na Praça XV?

I. ~. Agora botar8m uma lei que a gente tem que dar dinheiro

pr~ FUNHURAL. E esse bendita, desse FU~JRURAL,quando eu precisei d,ê.

le, me neg aram. ~~."


,
a r e a por.em e aquela
I'
A segundazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do roubo, da apxop r a aç ao ind:e\l.;t.
. IV •

da que incide sobre o .R.e.9.,lJ,e,!1,;Q],.


poupando o: .9J'.gtDct§,. Na ver-dade a
,
açã~ dbs r.?t'oJi, j~ esfu presente por detr~s daquela primeira area

mais legit'ima, como se percebe da continuação do diálogo. acima

tr:arrsc:r-i tio.':

"P. 'Esse dili1iheiro· vai p r a ande? Pra SUDEPE?

I. Pra SUDEPE, p rn Fundo Rural,. p ra Caixa de Cr~di tal, p no GQ.

varno, p.ro IN.PS e assim vai. Agora" a maior: parte roubam. Ntío cl're-

qam. 1/3 orrde de\le chegar. Estó.u dizendo) ao Sr •. que não chega-zyxwvutsrqponml

P. mas não, h~ contabilidade?


••• , N ,

I:. Nao ha nao s So tem cada rato' Eles inventam: troço p r-a gen.
'"
ire nao p-oder
.
vende ir o peixe direto, p ra levar o de Le s s "

E Ia ext'ravasa "
porem para •
prat~cas mais (
ileg~timas-, constituin
'\o
do-se por assim dizer uma rede de r;.a.tp.s,.', alimentadoa as (t"ustns' db s
.•. , ,..
.Q.e~Q.t!.e.!J.9..,~
a sombra dos .9JSaos;. d.()
__GQ\lsrl1.9..- Eles e ep r e Lt:nm, pOli" todb.

parte, engordam e se far.tale cem.s


, ,
"Pru. senhor: ter uma ideia, Quando era more qr e.nde , um. fiscal

daqueles chegava prÓ mim, 8 dizia: a sua embarcação ~. X? ~ - sirm se-

nha]!' Olha o. Sr. Vni pagar, Vamos dizer, naquele t.empo. um milhão.

O S~. me db quinhentos corrms e eu' risco o SGU nome daqui. E assim

tem muito s."


ilÂS vezes e Le s prende um p e Lxe seu. Não pode vender, é sardi"
11-1

rrha mi~do., t:~ forazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


da t.ab e Laj. mas se der q;uinhentos, ou um milhão

pode vender,.1I

"O frigor!fico l que nós temos direito atualmente nós nem '"
poe

mais p e Lxe l~. Sabe quem ~ que bota ptixe no frigorífico? são oszyxw

ro.a; que.
• N ,

p r eqo e a nao p e s carn.• Que compr a da gente, que a gente e O'•••

brigÇldCL a vender<. Entno vende barato, ele bota no frigor! f'í cr» e

vende Q) dia que bem entend'e. E. a gente que é. p e s eado rr não tem 'di-

reit.o E sabe porque que não adianta.


•••zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Porque de lá de dentro me.§.

me: eles' roubam- Eu pesei a tninhaj_ depOlis e Le s mesmo. pesaram e. eu

encontrei- 3 caixas vaziase Então disse pno. verid e do r-a :I:Não) bota a

mão porque. as caixas de t:ainha t~ vaziai' ~ a mesma Ladad.nhe s ,IV~

qUal fbi o guarda'. E o guarda não' aparece •. t O Sr. conhece o guar-

da?' -' Sr.l'. Dapruí.s de umas trinta viagens o Sro cansa,


NãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA dei-

xa aqud Lo» Isso é comigo. e com todos os pescadores,"


N ,

OS OOQ,g nao comem apenas nos lYlercados, acobertados pelos or-zyxwv


~ ,.., tv" N

qaos cen.trais, de come r cd e l í.zaçácâ eles estao tambem nos orgaos de


, .
cl'edl. to, por exemplo;.

"O pe quenrn pescador, até jun.tar 8 milhões p r a comprar um' mo-

tlorzinho; daquele ele preciosa ter sorte na vida. Senão não compra

f.~ciL nãOJ. O Governo. não podia colaborar? Eles botaram um b ancn

pr a colaborar, comprrar mottor:. mas o' motor menor que eles botaram é
30 milhÕes. ~ o motor que está no barco de meu pai. lYlas botnu meu

pai quase morto. Eles cobraram tanta desgraça de troço, que; meu pai

endoã dou; feito que ia ficar maluco pra pagar-. T~ faltando! uns: 7
rnd.Thões mais ou menos, pail:'.-que meu pai pagava juro de mora, corre •.•
çãm mometária. Ele compr-ou por intermédio, do banco. Ainda pITI' cima

um .c;hu,pª-d();,~ da que.Le do banco pegava assim - (faz gesto,

associado: aOI roubans a rrrão, direita com o: polegar: apoiado na p e Lma


112zyxwvutsrqponm

dazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
mão e sque r-da aberiia fecha-se sobre si mesma) - errt arrd au? Então

s~, o motíorr que era 30 milhõe s ficou, com o seguro; qtra ele 1foi obr;i;

q ado: a fazer, por:' uns setenta e poucos milhões. 11

O gesto utilizada: na expressão: da atividade do ,Ç.b•.l.JPJ\d,Q]; do

banco no ,texto acima ~ sempre accnpanhado por uma expr-essãOJ reve-l~


dor-a s p.nodu-

zãrrdo a riqueza da Naç2íQj~,enquarrtío- qua t.rr», .ci§,~~tp.dºp" ,gjl,4.12}3.!)! e; ~g,a~f

o. produto do trabalho daquele.

O primeiro dos QS3Í,it:JAo..§.


~ a pr~pria autoridade eu ':baLt:er:nag o
, " ,

o guardh~ 01 agénte bancaria.


J.. Iv d' ~ ~~tn 1 l"d' uraa d'
oütros hào sao aUtoriades~ nao ~e a 1nV8S~a fun-

ção, pública. mas deitam-s8 ~ sombra delas. ffiancomunam-se com elas

te:zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

"1. O governo
~
poe manitcrs car-as p r-a fiscalizar a pesca que rrao
N

, " ,
sabem nem comer o peixe que dira fiscalizar. Olha Ia no mercadb
, ,
item~esse negocio: da caixa plostics.- Sabe o que foi aqUilo!? fomos

obrigados a jogar os cestos fbr:a e u sa r caixas.


P. F e i to .9...t.9.g,?

I. É, s~ que t.em; que era grande. Então essas caixas, f,bi o

dono da fabrica
, .~, *~
de ca1XOS Iil\.ll.a~~ma-sqtll.'8 aplicou esse golpe"
,
cou esse golpe dentro do m:ercadb,_, Deu a percentagem, Ia pro s n.om,ens

pr a j,o'çlar e.eea o:br:igait~ria. Então o cara se encheu de dinheiro,.Po6;


~ ~ ~ ~
que vocezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ve ••• e um con.sumr» um bocado grande. Quer di zar en t.ao. o

quê que acontece? Ficou esse negQcio da caixa, coisa que não tinha

necessidade. E com essa evolução! da caã xe , eles botaram uma po~ção


, ~
de lei la dentro' que nao tem cabimentü., aproveitando da cad xa que
113zyxwvutsrqponmlkjih

o czyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p e S ce d or', •• 11

OU' ainda~
~, ,
"1. A SUDEPE nao b otía Ia um motor pequeno, a o Lao. p na pobrre

comprar financiado. PorquB se eles botassem eu compraria e mandava

fazer um cascozinhrr.

P. mas pEe o que?


, .IV , ,

I. 50 poe motor grande. Ha uns tempos atras eles botaram mo-


'"
t'or:- Arquimedes de popa. mas aqueles motores Ar quí mede s nao foram
,
postos p r a vender p r a pescador- pequeno. Foi posto p r a venderr p na

b~cana."
O, mundo dos ea••. N

ratos.,.....r-t. t''C
e fundamerrt a.Lmerrte um mundo de rraoi•••. i:tlraba-

lho" IDas di.ferente do mundo do não ••trabalho do s m,e..rlQ.i,.9P


.•ê., do s vag,ê.

bundas, dos b.i.,r..i,tfdrgs..' onde a inversãm ~ legi tirrra, onde os: que

nãol-traballtam'! são mais pobres do que ele e padecem, das n.e ce s si d.ê.,
,.., IV , •

de s mais cha s , O mundo dos r.,.êtos apresenta uma inversao e spu r.a a f

contr~ria ~ l~gica ~J:':j,gª,ǧ9.'


da .9..• t um mundo. onde o não-trabalho, r~

mune rc , onde se ven'ce a .Q...a


..•
tí31hg sem O' ,!3HQ,;r,
d.L"Lr:a.b.,all1..9
..:. Es aa di S'"

tinção nl tida fica paiiente na transcrição seguinte onde um pequeno

pr:odut:olt comenta sobre os Qes_cq"I'.re.9.ª.dQJ'e~&

"É f.~cil., mas nem "todo mundo tem cara p r-a fazer aquele papel.

Porque aqu LLo ~ tipo mendigo. Só que eles não são mendigo, são ra-

'tos de igrej.a. Não vivem do suor do trabalh'O'J ganham percentagem, 1

de mU cruzeiros por cada caixa e um ti,ra-gos1:t:OJ, um: pinga, a gen.tB

trata de pinga,. um tira-·gost:o,. Então quando, o mestre da pescaria

vira as co s t.a s eles metem a gadanha. Então rre s s e roubo todo dia
N zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
N
vao. se f'e z ando» Entao varnrrs supor se ele tinha que ganhar- lOO oon--
•.. ,
tos, ele todo dia ganha 301], por causa do rouboll Nao é que ele 9a-

ntTe honestamente, entendeu o jogada? Eles traze.ffi' um barco desse


p r a c~; con sta/!1lt.emente o s de scar r-eqado r e s apanham f{ s co assim
umzyxwvutsrqponmlkjihgf
í

dá um cara forte por causa do trabalho', levnntar peso, tipo dosca,I.

r eqadorr de estiva; então ele fica com músculos, tipo fort!e. E por

de amizade entre os bar co.s que e Le a


outrazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
eles fazem um setor

.
gaffi; p.ra cama um: do ou t'rrn e f'"
a carn so no mei o sugando o sangue ••• E
..
a e sa m VaI. como eu to
•..
lhe d.í zando s Por-que a descarga, se ele for' v~:t
ver d à de s car qe ,. d"a pra e l'e v xves , mas nao d'a pra IV
e 1.eazer
f t
o f:ug

rm que eles fazem."

A participação dos aymª-dores. no conluio dos FJtto§. é apenas

uma parte da complexa representaç80 que deles fazem os pequenos

produtores.
,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O primeiro dadOJ e o·de que existe uma continuidade percebida

entre as práticas de ambos. Uma continuidade estrutural pela sua


d.
con a çao mutua de "produtores independentes, de donos de P".ê.êca-
IW ,

11

F,i,a, reforçada pelo dado concreto da di ferenciaçÊ30 Lo ca L, dê! ascen,zyxwvu


N , N

sao de. alguns pequenos produtores a condiçao de .a.r*mnd.o;r}~..§..

Essa identidade comum transparece nn forma como os pequenos

a~smç",a..cLQ};,e~s
*rJ.._ç.o.ê..

A maneira como:' se articula esse par de oposição já denota

por outro lado~ a C81!ga pejorativa ou pelo menos ambígua de que se

reveste a categoria de oposição'. En quarrtm que par a quali ficar sua


'.
propra.a po sa• çac
••• o pequeno pro du,-,ur
"'" usa o a d'Je t'J.VO' .E,e,.q,u,EJnQ;,
que e,

relacional, não valorativol o seu oposta: é o f22.s.qard,oL:riB2., nãOJ um


115zyxwvutsrqponm

t:inuidade n8 identidade, a mudança essencial de qualidade em quezyxwv


,
implicou essa passagem- Chamar-se a si mesmo' de Q~S1ç~c;tor._J?,eSLu*(9DP;
e

de fd rrí r uma dignidade s n~o ~ ser flSJ•.Q"J;'.ê.


~ ser p,e.9.u.~n~Q..Chamar' ao s

que se diferenciaram ,g.ª.-ª.ç.aJi~~,,~..,FJ,.c


.•q,s, ~ quali ficar a di stância so-

cã al , a condição nova que os assemelha :,:A•.G"'O ..••<J.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


aoszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do mundo exteri-

o~: aos poderosos.

o universo das t.J;.ai!l~J;l:'.ê3..~.


~ um pala de referência constante

do pequeno produtor para melhor definir inclusive a l6gica d~ sua


'.
p:ODRr~n p r a'.
t.Lca ,

Visto coma um todo, do ponto de vista das "unidades de produ-

ção", e sse universo se apro xima de uma condição ideal ~ é o: mundO'

da §...e,9,u,r.a
...
n Ç.a,obtida.
r
Aquele onde a instabilidade on Lp r e serrt.e da p§.

quena produção, pesquemra parece dar lugar ~ estabilidade absoluta,

onde a força do .t•.ta,.b.ô,lJ1.o..


passa a independer do arb:Ítriü da ~o:J:'.t,e.•
' d .•• ,...,
A s m.a.r.e
..§, 8 tr8~mnras sao nesse sentido: para o pequeno prodg

ton- o' oposto' de uma (ll.9••J:'•.~; desse a~eat6rio resultada do jogo do

t.:C9.ba,:!i1p:,_8; da .§p.r;t,~.:

n~ porque i SSOI a!, um barco desses d~ uma nota o Não ~ corno c~

noc s. Canoa n~o. Um barco desses faz mar~ tado dia. Entra mes ; sai

mas fazendo maré de trinta, quar errta , cinquentazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS


m ilhões. 1I

É corno. se nesse mundo ideal a produtividade do trabalho der no


""""

mem,: multiplicada pelo pudard o, dos novos meios' de trabalho:, verrcD§..

se finalmente a r(~sistência da natureza, atingisse o limiar faust.;h

ano da plena liberdade.

Esse ruesrno poderio: se mani festaria ao nível do dom:LniQ, das

condições de mer.cado e das relações com as instâncias do poder' da


116zyxwvutsrq

~ • A
pendem mais dos ,r"q:t.o,-§.
que pululam nas mediaçoes entre essas ~nstan

crias. Entram em todas as portiaStzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW


I , _ _ ,., zyxwvutsrqp
"Sa 8U ffu:rt aa d enrt r o: da SUDEPE. p r a pedir um motor'; eles rrao

me financiam:. Duvido. Agora se for "SBUIl X, !tseu" Y; eles fura:ze.m


,
atE a SUDEPE nas co s ba ss "

Acima dessa qualidade de interlocutores privilegiados do pta--

der'; os ª-l"111ªclÇlr8
•.~ S8 investem eles próprios da qualidade dos que
,.,
sao poderosos. De algum modo, eles se imbebem da autoridade daquc -

Ies corm quem tratam em Lqu ad se ~ assim: que eles, corno todas as aU-
"..
toridades oficiais, tem o poder de .i.Q?-º.:~.ºy.e}!)sabendo •.•se que essa

categoria resume todos os atos pelos quaã e se manifesta a "'lI'lIJlação

de dbminaç~aj sobre o Q2..cIue,l.a,;-O pode rr de :i"osc)::.e~\[E3r.


(tão int:imamen-

tíe associado a esse ,ê.,s


..cr..eve~ que quali-ri.ca os que sã.o: sup errí.oz-e s ,

as- que são "cu1 MS") se corpce-I fica nos d..op:u*men.~ê.;no poder- de

crista1i.zar os direitos e deveres envolvidos numa relação, sacial

qua l qu e n em um; "p ap el, p,as sadou• Assim crime. os fj,s,c,a,'t,s., os .9..u"a:rda.;~.,

ors .Q.:E.i.çj_ai.;§,os -ªAm


.•.
~.çlQ:t.~ inscrevem os .c.o.mJ2"anb.ê.:iP\J.R.
nos r6is de

equipagE3ffi;, inscrevem ai valor das partes rras suas cadernetas, legi •..

timan:dcli Di seu poder no rigor. dos itesiíemunhos permanentes e impess.Q.

A leg~timd.dade desse dlomnna


mundo po.der o.sm da s i~.r.a.tnEl.,i;!:'.a:.$.:, , •o

da plena liberdade ,_8 da plena s equr-ança , inverte-se reveland!Il; uma

perversa quando Lí.rín do PQ:nto~d'8


, • N

lng~ca vis-fra rtat» de gr.9})l,J."t.Q,F. mas

do ,Y.9.tJ.8JlL~tq~'.Pois" se naquele primeiro; registro funda-se a iden

tidáde IT!.9..9,Q.r.'
do pequerrn. produ'tiD-r com o q,r.•. no segundo cdnde.-se aqU'.ê.

Ia 8, instaura-se urna nova:; a dos; que vivem do ,g1J.Q.r" .•db j;r.a,bªJ.h:22-

O .élI,'J!l.a.gp;.;
:; na verdade aque.Ie que j~ não trabalha ;que J~ tra-

balhou, ~ verdade, 8 pow isso' não padece da mesma il-egi timidade de


117zyxwvutsrqponml

tantos outros ;:-i'pQs mas que não trabalha; que "não vai 1~ fora ,.
tem as homens que tomami conta da embarcação".
Dessa f-orma, o mundo das ,i,r..?,:Í,.n,?..i.:rtag
se bifurca. De um:lado o

ca
•+.J11~p.c:f,.9
. .•.:g, sem o trabalho, fruindo' daquela condiçã-o! i-deal antes apcrntâ

da. Do' outro! os r~omganhqirqª, os tr,abé..all1.adoJ;'e~,sem S,.G,gu.,r--ªt'1;º-ªe

Sam soçurarrça porque. incapazes de obterem! p aLo: seu '\tr.abalhozyxwvutsr


,\ ,', l-.,
as; qaz'antra a s de Uma reproduçao: estave] a largo; prazo:, essa rep:c:rrd,!4

çãOJ q,lJe se mater.ializa no seguinte discursa: nos temas da Sq"ê..él.J?.:F .•q....

..:"4.tp,.. :
p ri a e do 1~Ql,s..:t.i

(Um pequeno produtor interroga um QQrnpanh.§3irode 1:r:.aJ-tnei.:Jt1! ,


duramtrs O) diálo.gp, com o, pesquisador) t

ti I 1. Desde pequeno ele pesca:. ngora ele ' pescador


G
, mesma ,zyxwv
I
, ,
prof'issionô1e- Devido' a pesca me smos Agora pergunta a ele _. e pesCê
dor - pescador de quê?
I 2. De barcIJ'.

I 1. Tem casa propr~6


' .
• 9

I 2. Não.

I 1. T~ vendo',?l É pescador de mão, cheia. Agora tu v& essa


classe de pescador' como ta, fraca. Um cara que nasce .'
JO p o s can diO)

Val.. morrer pescando e vaa. morar. a no' mor rrr, on de o ven t'o'az.
. l' f' a
vo11m. Hi~ quan:fk:Dtempo. voc.ê pesca?

I 2. Dez anos.
iI>

I 1:. Quanto s anos vo ce paga In sti tu-tCl'?

I 1. Esses dez. anos tão em b r anco s H- E é nrot-oristn da barcQ~


Ess'a fa1t-a de segurança, em que o; "p equeno produto:!?''' v& uma
condiçãO' idêntica; ou até mesmrr pior do que a sua, soma-se n01 en-
lIazyxwvutsrqponm

1ianto ~ falta da ,l.i..b


.•e;rd}ld.e;, o que então, o s afasta diametralnren'\ie:

"Às vezes 9!=lnt:e. não acha e Les em casa. Os barcos levam,


é)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 6 a

a, dias no mar4\ Eles não, vão e voltam no mesma dia não., esires hu •.•
N " ,. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
-N

mens nac tam, eab ado. rram dominga. Sao uns e scr-avo s s U

Essa "escravidão!" tem múltiplas dimensões. Ela ~, p on um' la-


T,! . ". • •..• d os meios de tra b alhQ;,
dm, o QOrO.L..<:\110
da pr.opr.l;.a exp rop r.i.açao a

subordinação) do: "a s ea Le rd ado;" aos desígnios de um, 14?.t.:r.íi.g,:.


•.. ~ 'também

a submissão a um ritmo" a condiçõ:es gerai s de produção. por- ele p.e~

cab í.das como mais dur-as , mais inflexiveis; detorminadas pGIr uma 1,Q.
gitro de produtividade e stranha "a '"
dimen.saa do "homem".

~, finalmente, a n~egação; da ,9.:t:\E?>, daquela qualificação' eb r ars-

gen.te e orgulhosa do .9.9•.Il.hP,•.ç;,e.t' Q; trabalho na pesca, db dom-inar as

condiçõ-esde sua apropriação) dos meios de produção:


zyxwvutsrqponmlkjihgfed
I
t.r e s , quatro. aa .
A
"Trabalha num barco'. Pesca duas, noites no

meio] do. mar, ao Deus dàr~. ~ uma vida de cachorro •."


A
"Agora eu pergunto; a voce. Se eu pular dentro daquele barcOJ ,
,. t ,
issClJ que 'tia aa, trabalha ha menos do que eu na pescaria. Acaba que .
.,
aindtt vou ser' lacaio dele. lYlas da pra eu pular pra pescaria del.es?

Não d~. Eu vou ser mandado. por um um cara mais bur rn: do' que eu?

N~o d~. Eu tenho· a minha noção do que ~ pescaria. Sou patrão i de

pescaria pequena. Vou trabalhar de emp r eqadtr pr.um camarada que e.n-
t
ten.de menos de que eu. Eu prenl!CT catar xep a aa pela p r-aí.as "

da inse-
I . t •
qurança e prefenvel assim para o pequeno, produtor Itootar- xepa alo

pela praia 11 , isto· é, ser' um ,fTl••• y,;,Q.çLi.açg,


desprotegido; mas li.vre- não

um.laaai.o:.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
..;.... ii*'

H representação. srib r e as j~*-ª"itneir9.§ envolve assim toda uma

vertente de ileg-i timidade, que é invocada pelo pequena pr-cdu+ozr Pã


119zyxwvutsrqpon

ra estigmatizar os efeit.os danosos da sua competição desleal.

Competição) que, como' j~ viramos, abrange a subversão; do me:c'Cê.


der:de trabalhOJ, a atraçãü da melhor força de trabalho; r.eLeqandb a

up:-equen'aprDdução,1I a uma margem.de produtividade ainda mais' reduz.!zyxwvutsr


dai •.

CompetiçãO'; tamb~m:pelos r ecur.soa e scaaeos da sociedade: p:elo

monopóliO' do ª~G
.crJi~tp~,
. das faciLidades fi scaã.s e do: abastecimen1tu
das enlat.adoras de sardinha-
Compe1tiçam~inalment8 peLrn prnpz-ar» "obj eto de t.r aba Ihcn", Ja
IV , • • ,

GJUe, embora as t.J:'.a).Jleir;,.Q}3.


58 especializem na pesca de determinadas
, .
especJ.es, - preda t'DrJ.a,
a sua açao . o sou mais alto poder de interven

ção sobre a natureza, são acusados. de portJbarem o equil.fbrio) do

mar" de afélstarem o peixe, de inviabilizarem a pesca dos püquünos.


Isso' tíudo constitui a .f;'p}'.}!.j,ç1.ª_.•do.u=º.!;tr.g.j
a busca desenfreada do

ganho. sem, os limites da ação concertada, do equil!brio corrsensua'l.'

entre os homens, entre os J;,º,rn.p•.êl••l1b.-q.i.rp.~icomo "s~ciosn da .Q.es,qp


•.
~ ..a.

e parceiros dos p"'eJ.>ÇeJlt


que resumia o esp!ritO' da ,P,O}D,P.5U1Q.ã.
120zyxwvutsrqponmlkjihgfe

'"zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ve, uma ampla margem de ambiguidade.
De um Lado, mantem-se como referência: ideológica: o' modelo' da
,
spmJl,aJ'J.ltê.,
com, aqueles atributos que apr-eo.iavarno s ante s e que eram
e seriam ainda as condições ideais de uma reproduçãCll "igual", ouzyxwvu

seja" de uma pe.nmanência da pr~PI'ia I·pequena produção}' anquarrtc

;
De. o·utro.i lado, porem; ele emfrenta e term que dar conta da .!!1.Y-

d;an.;$9.radical que marcou o seu mundo: e que o ameaça cada vez mais.

A dã s so Iu'çao. da Q.()."IILUJliAª.çl~I
.. a di ferenciação; social acelerada, (Jj d~

sap ar ecrlrnerrtt» das bases do auxiIio" mútuo e do; respeito' a um "equi •.•

l!brio" ao mesmo tempo social e nàtural, a ond pz-e aerrça e 0.1 pcdar-í.o

dos lJ-m.iteJ1 impostos p e Lo p cdex de Estado. e pelo setor ~'cmpitalis7


tall de pesca balisam uma experiência de vida limarginal"i ínstáveI~
,.
precar~a.·

A esses aspectos mais ou menos conjunturais; soma-se a ambi-


guidadê estJ!ÚJltural da upequena produção mercantil" subordinada ao
A

modo!de produção capitalista. O pequeno. produtolr como esse "etre

hybride; .•·•• chn se interm~diaira entre. capitaliste et tr:availL.eur ,


·•• ·.:·peti1t. p a tnmnr" " de que fala lYlarx (1973, Tomo I,. p. 302) 8 que

~ nee lmenrca a mar-ca da sua pr~tica a tua L em Jurujuba (11). Ambigui,

rli)"'~-:-Il··s'e*;n--bl·e'
'bien que Le s contradictions dEi r'id~oIagi8 ne soi.,.
eni"lt:que Ia traduction ds s oon:tradictions de Ia condiiiion artisana-
Ia. En premieI' li.eu, Ia si tuation de (JeaucouQ,çle patrons d:'entrn ...
1+1:':Lses de mcyenne importance n,test que r e di ffererrtej sous b eaucuup
da raPPoT'tts ae cefle de leur~ prü{:Jres employes_ â~i da point çt:e
Vl!lle dlJ statut ~oc~al, le petJ.t pat.ol1 peut se Síill.Sl.X'cumma "Favon •.•
to.du fÇil."&. )Jut1.l 8St son pJ;opremC)1.t:re e-t. 18 mé,litre de son entre-
pr~se~ 1.1 nen 8St pas tO\JJours a1.nsl. en: ee qUl. eoncerne les reve-
nus- L.8 geti t p.~tli'on a souvent: le sentiown;fl; de travaiIler pIu s çrue
so s OUV1"..t.81"S, é:l avoir des rGsponsabilitos ~t d as enar:ges dorrt. i1-'3
son~ exemp1is, i>ans que.1es a){aÇltages,.lies:
Ia mesuna de s nconvenã.errta- I \BourdJ...8U, 1~63; ai p. 54b
ã
ª
aa p.ositiolJ)soient a
121zyxwvutsrqponm

dada que se revela sobretudo' na questão, do futuro dba filhos.zyxwvutsrqponmlkjihgfe


Lrrrp r an eadrr ervbre a expao ta tã.va da reprodução, e c. perigo' laten.

ta de expropriação! de suas con.dições de produção;, o projoto:' famili,

ar, a prDjeçãoJ sobre os herdeiros anseia pela manipulação. concomã e-


t' an .Io!•.•
e dDS doã
01$ roour,sos. da.sporu.ve
.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK
t., ns d:a soca. a 1·azyxwvutsrqponmlkjihgfe
d'· za do
zaçao.s a ap nerrca N

da pesco e o .ª-&-t.t"Ld~.
O prim:eir.o. car r eqadcc ainda mais da neoessida-

de premente de utilização' dessa força de traba1ho~ fomi~ior' no. uni •.•


dade de produção!.- o segundo carregado da forte conotação] de "única

sa!da" com que se afigura o estudo para tantos segmen.tos' da classe


trabalhadora -, s!mbolo que é da superaçãoc do s grilhões da "infeti.Q.
ridade U social percebidtú

It
'
E Deus tem me dado vitorio , tenho
que eu tambem bons filhos.

Porque graças a Deus meus filhos; embora não podendo cor-rresponde r-


'" expectativa
o que eu desejo" que eu dependo, e preoiso - numa parte
,
- porq\Je se.: de uma parte eu desejo; que eles me ajUdem, mas tombem
quero qua eles estudem para mais tarde desfrutarem uma si tuação

que eu não:. desfrutei at~ hoje e nem tenho' condições de desfrutar '.
Poz-que hoje quem não tiver' e sfnrdo cai por terrn.1I

{\ osci1:oção' entre um ,c:!.?$.E3io.,


um .@Q?Hc:l.9i, um Rr:.e.R.i...§<?~;
um Jlw.e
•..
rp;
,,..
e o registro' da os cd La çatr real do projeto: de vido •.• da
. .;.;'
traJeúur~n
.
ameaçada li mamr t enç ao. da condã çao. tende portanto ao: calcula dbs
~ N ,

extremos, aos caminhos da oscilação'. De um lado: está a expropria-

ção: de suas condições de produç;o e com ela uma opç~a: ou negar a

,vida de, .9*9,,~i.9.a.Çfu?,


abandonando; o proj eto. do t,rCl.b.al.b2'e o marnríten«
ç~Qi da fam!lia (o; "catar xepa na praia n), ou reciclar essa o_briga•••.
N

~ para a vida de tªc.-ato;, o, assalariament:o nas .:t•:r:9.J..nej..:r;:a,.,ê..


.. Um ca-«

minhm' que seria, portanto, uma negação'" um nÊio"'caminho, o necnnfre •.•


cimen.to da derro:b.a na sua batalha.- ~--'
122

Na outra vert:en,te da oscilação' est~ a acumulação. diferencial-,

~nica forma de superar aquele limiar cambiante a parti:!! do':qíraL se


instauraria a ~ê..g,lJ:t'al],Ç.<:l.'
o. previsibilidade, o porto final. Toda a

pr~tioa do P--ª..SGê.çlº-~. pELQ.4.erTQ.


se funda nessa preocupação" na de fin-

car o pé Umpouco mais' ; frente para não cair' paro. tr~s, nãOJ per •.•
der a b•.qt•.
?à.J..h.a,.

A supe r açáo. desses p equertos limiares, que sao a queLes s sos


! ~ "
pa

j~ desctitos db jt~tt:r;j mais tapadirihall, do ID.,otº.r


•. mais potente, da

a~$.ca~ mais segura, pode ser por~m:a caminhada no sentidar da di-


.,
f,erenciação'.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E esse salto; qualitativo que os atrai e espreita e

também temidOJ e desprivilegiado'z a condição de ª.:çJ]l$.PP.+:' padece como


vimo.s de forte ilegitimidade.
Por outro. Lado., os passos mais' importantes, mais significati-

vas, são, p ae so.e no escuro"; abrir demais os p~s nesse ir ~ frente

pode significar deseqlj,Jlil!brio; e queda. A representação sobre o


, .
-----,
cred~ 11:0' so bre o empres
' t'
'~mo"esta"h'c ea a d':esse temor e dessa at,ra~zyxwvutsr

çan» Nacr gostar de .9.~~yj.d.9s.,


assumi-Ias quase que com r epuçnanca,a e
IV (V, '" •. ,

um traço ccns+ant.e desses eternos devedores; refletindo' uma t:enta-'


,
tiva de calculo' dos cus tros reais da intensi ficação de capital em

um, mundo marcado pela impreVisibilidade, pelo risco quotid:iôl'l.ü'.

Im.pnssibiLitndos por~m de aspirar a essa imut:abil'idade idealzyxwv


out.rrr "p equerro. pro-
, N

de que e um bom.exemplo a expressao desse

dütor", ar.gelino, citado por Bourdieu (IIJe continuerni ~ f'aã r e oe

qwe Je f.ais en mieux e;;, en: plus grand. Je na ferôi aUcune conver •.•

sio~ parca que c~est avee eette façon de travai11er que je paurrai
f~dre· Les lllf3,iJ.),."e1lres
affai-re$p en ç~Ont,:iD,t,lnn1t~~
aiulJ1.t3.r
m.LJ.[l~jg~'v,ÇliJ;:;

Je na t:ien's pas "a ".etre un gros producteur et ".'
a f'a í.r e de Ia serie '.
:le voudrais avo r un atelier
í bí.ern monte'" avec un hall dtexpa'si tion
123zyxwvutsrqpon

( ... ) .zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Mais je continuerai ~ travailler pour les particuliers, en

commande". (Bo u r-d eu , 1963,


í p. 551), "acumular" passa a ser a úni

ca condição de nao soçobrar.

Essa necessidade de »acumular" nunca ª vivida porem como as

censão à condição de armador. A pr6pria idªia de "acumulação" fo

ge â restrição de uma acumulação econômica para significar uma acu

mulação social, ampla, a longo prazo, dilatada às vezes para a g~

ração seguinte. Assim, a escolha de compadres, a educação 8 o ca

samento dos filhos, o cultivo da relação com os padrinhos.

sição ou manutenção da casa pr6pria Sôo dimens6es tão criticas da

batalha quanto a melhoria da produtividade do processo de trabalho.

A percepção do sentido dessa "acumulaçãon como neg.3çao, re

sistência, luta contra essa dominação do modo abrangente que acena

com o 8Xp8ctro da expropriação, permite relativizar as substantiv~

çoes que cercam com tanta frequência a questão da diferenciação.

Opor um "8spIrito de subsist~ncia~ a um »espfrito de acumul~

ção», uma orientação "tradicional" a uma orientação "moderna", ma

nipu1ar enfim as dicotomias que se acumulam sobre a reificação dos

extremos. embora jô não possa significar hoje a redução ao psicol~

gico que caracterizava anteriormente essa atitude (12). esconde a

inda esse dado fundamental para a avaliação da lógica da açao so

cia1 que ~ a da »sobreviv~ncia" a qualquer custo seja no entrin

cheiram8nto em uma "resistência a mudança", seja no desempenho ace

lerado com vistas à diferenciação. Para G o p e o entre


ç urno das dluas

12) Para uma crItica aguda das teses sobre a falta de "iniciativa"
ou de "espírito empresarialn do homem do campo ver Forman,
1970, p. 137. E ainda como exemplo de contextualização sacio
lógica das ~motivaç68s~ ver a an~lise de Bourdieu sobre a
»pr~voyance" e a "prªvision" em um contexto de mudança social
(in Bourdieu, 1963 b , p , 30).
124

atitudes o cálculo dos custos sociais sera complexo e acurado, nun

ca 8sse arremedo de »má-f6" social com quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON


a ~nsia do revolucioná

rio ou a magoa do planejador fantasmatizam uma ou outra daquelas

dolorosas trajetórias.

Uma ambisQidade de idêntico teor cerca por sua vez o elo se

guinte da trajetória da acumulação diferencial - a situação dos ar

madores locais - esclarecedora por um lado das condições de ambi

guidade da reprodução dos pequenos produtores e introdutóriô, por

outro, desse palco onde já se oporá a um outro ator: o trabalhador

assalariado.

A categoria armador tem origem na nomenclatura oficial rela

tiva as atividades pesqueiras. onde designa o "empresário de pe~

cô~. por oposiç~o ao"pescador artesanal~ (pequeno propriet~rio).

Em Jurujuba, essa categoria é utilizada pelos pescadores pe

quenos como alternativa à de pescador rico 8 polos pescadores nao

-proprietários para designar os grandes proprietários de trainei

raso

Essa õ utilizada
designaçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
sempro no contexto de uma g8ner~

lização a respeito das hierarquias na pesca, Raramente serve para

designar especificamente o proprietária X ou Y.


Os próprios armadores, por sua vez, tão pouco manipul~m com

frequBnciô 8ssa auto-classificação. embora se considerem como tais,

sempre que é suscitada a categoria.

A despeito porém da relatividade da utilização dessa categ~

ria (e mais adiante voltaremos a essa questão). ela parece ser a

mais unívoca para designar a figura do proprietário no modelo do

regime de embarque. Nesse sentido ela designa sem sombra de dúvi

das para todos os agentes sociais encontráveis em Jurujuba a fig~


125

ra dos 8 proprietários que. por possulrem mais de uma traineira.

encabeçam a lista das unidades produtivas da pesca local,

Dentre esses oito proprietários, seis são gente de Jurujuba

oriunda da "pequena produç~o», habitando ainda no bairro (~ excezyxw

ç eo de um),

Esses maiores armadores locais constituem um núcleo de refe

r~ncia ideo16gica comum, sendo conhecidos por todos 8 por todos a

valiados em termos de seu comportamento atual 8 de sua história de

vida.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK
\
o traço primordial de sua identificação como armadores dozyxwvutsrqpon
lu

gar e portanto o do confronto entre a sua "identidade" e a sua "di

versidade". Ao mesmo tempo gente do lugar/pescadores e armadores!

gente rica. Suas histórias dg vida, tal como reprgsentadas pglos

pequenos produtores, constituem de certo modo um repertório mItico

sobre a vitória na batalha da pesca; contraditório e ambivalente

repertório que aponta para as contradiçõ8s e ambivalências subj~

centes a todo processo de "acumulação diferencial~,


'\

Ressalta-58 nesse sentido frequentemente entre 05 pequenos

produtores atuais a coragem dos que ousaram enfrentar a angústia

da dívida. Um destaque que demarca realmente uma disposição esp~

cífica que nao se reduz a uma variável psicológica mas que se refe

re à manipulação do recursos concretos do peso reavaliado e reins

crito a cad~ momento no projeto de vida: características da rede

familiar, fase do ciclo doméstico, eficácia da rede de padrinhos,

disponibilidade de »crédito", propriedade ou não da casa, condi


\

ções de produtividade dos meios de produção em uso ou possibilid~

des de associação com outro produtor. Caracteristicas concretas

cuja constelação só pode ser específica, dando conta assim de in


126

flexões de trajetórias. que se afiguram aos agentes como tocadas

do poder m~gico da opçao pura. da coragem ant8 o qrisco". Um cál

culo cuidadoso das possibilidades de acesso e manipulaçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedc


dos re

cursos de acumulação que é evidentemente


nãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
um cálculo exato, no

sentido de uma avaliação matemática de probabilidades, mas é tão ~

leat6rio. tão impreciso quanto qualquer um dos pequenos cálculos

com que na verdade 58 depara a cada ciclo de produção o pequeno

produtor. E com os mesmos e dolorosos riscos finais da expropri~

çao.

Daí decorre. por oposiç~o a reificação de uma "passagem" que

nao se d~ como evento nítido a porcepçao de um "continuum" descon

tínuo, compassado. ritmado nas trajetórias ascendentes ou descen

dentes. Uma percepção de gradação com pequenos saltos que Marx

descreve muito bem em um trecho significativo:

"Le minimum du capital variable est le prix moyen d'une for

ce de travail individuelle employée l'année entisre à Ia produ~

tion de plus-valueo Si 1e possess8ur de cette force était nanti

de moyens de production à 1ui, et se cantentait de vivre comme ou

vrier, il lui suffirait de travailler 1e temps nec8ssaire pau r

payer ses moyens de subsistence, mettons huit heures par jour. rI

n'aurait également besoin de moyens de production que pour huit

heures de travail; tandis que 18 capitaliste qui. outre ces huit

heures, lui fait execut8r un surtravail de quatre h8ures, par exem

pIe, a besoin d'une somme d'argent supp1émentaire pour fournir 1e

surplus des moyens de production. D'apr~s nos données. 11 devrait

déjà employer deux ouvriers. pour pouvoir vivre comme un seul ou

vrier. de Ia plus value qu'il empoche chaque jour. c'est-à-dire se

tisfaire 5es besoins de premiere necessité. Dans ce cas, le but


127

de Ia production serait tout simp18ment l'ontretien de sa vie et

non l'acquisition de rich8ss8J ar, c811e-ci est l'objet sous enten

du de Ia production capitaliste, Pour qu'il V9cut seulement deux

fois aussi bien qu'un ouvrier ordinaire, et transformat 8n capital

Ia moiti~ de Ia plus valua produite. il lui faudrait augmentar dezyxwvu

8 foie le capital avaneé, en même tamps que 18 nombre das ouvriers.

Assur~m8nt. 11 peut lui meme, comme son ouv~ier, mettre Ia patte à

l'oeuvre; mais alors il n'est plus qu'un ~tre hybride. qu'une cho

58 intermédiair8 entre capitaliste et travail18ur, un "p8titzyxwvutsrqponmlkj


p~

tron", A un certain degré de déveloPP8m5nt, 11 faut que 15 cap~

taliste puisse employer à l'appropriation et à Ia surveillance du

travail d'autrui et à Ia vente das produits de C8 travail tout le

temps pendant lequel il fonctionne comme capital personnifié. L'i~

dustri8 corporativ8 du mOY8n-âg8 ch8rchait à emp8chor 10 maltrs.

1G chef de corps de metier. de 50 transformer 8n capitaliste, en

limitant a un maximum tros restroint 10 nombre d8s ouvriers qu'il

avait de droit d'omployer. Le pOSs8ss8ur d'argent ou do marchandi

SBS no devient en rsalité eapitaliste quo lorsquB Ia somme minimum

qu'i1 avanCe pour Ia production dépasse déjà de beaucoup 18 maxi

mum du moyen-âgo. lei eomme dans les sciene85 naturelle5, se aon

firme Ia loi solon laquelle de simples changements dans Ia quant~

te, parvenus a un certain dégré, amenent dos differences dans Ia

(Marx, 1973, 1, p,301).


TomozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO

Uma análise om termos de gradações que parece mais explicat~

va da realidade dessa transição em Jurujuba do que ô da oposiçãor~

dical que propôs Bourdieu para o seu modelo de "mod8rnizaç~on na

Argélia. por oxemplo, para o qual tem-se que levar em conta a es

pecificidade do caso analisado, em que além do confronto entre mo


128

dos de produção so verifica um choque de culturas diametralmente ~

postas, ensejando a preeminência dessa "conver5ion globale d'atti

tudeazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de que fala o autor (13). Em Jurububa, poder-se-ia antes di

zer que o "esprit d'entrepreneur", o "calcuI r azyxwvutsrqponmlkjihgfed


t i o n n e 1" (1 4 ) - p~

10 menos no sentido em que os define Bourdieu - sempre existiram

ou nunca existiram. Pois, a oposiç~o ontrs a pr~tica de um peque

no pescador 8 do um armador n~o se tece de uma oposição dia/noite.

Ela vai se construindo no bojo de uma prática qU8 S8 vai afirmando

distinta - num jogo com dominância inversa à proposta por Bourdieu

no tr8cho citado.

A questão das "mudanças de ôtitudo Q


• dos ~espiritosn, parece

assim re1ativiz~vel por uma qU8st§o de »ritmos", de "trajetórias"

em que a identidade de armador-nunca é o espelho de uma situôção

concreta. uniformemonte definível, de acumulação diferencial. Aqu~

18 "hibridismo" referido por Marx reponta por exemplo na prática

ambígua desses que S8 pensam como pescadores, mas que nao poscam:

os armadores.

131 "lautas cas ambiguit~s et CGS contradictions ne sont pôS de


purs épiphénomenes; e110s temoignent que Ia conversion économi
que suppose avant toutes ChOS8S une convorsion globale de l'at
títude. En effet, si Ia dísposition de capitaux importants
constitue Ia conditior. nécessaire de Ia mutation économique,
collo-ci ne peut s'accompltr que si parvient à 58 former un vé
ritable esprit d'ontreprsneur, c'est-ã-dire une vision radica
lomont nouvelle du travail. de l'avenir, dos relations humai
nas 8t du sens de l'activit~ ~conomiqu8 dans son ensemble."
8ourdieu, 1963, p. 551.
14) "L'entrepreneur industriel engage un capital plus important et
pour un tomps plus long: il se livre à Ia conjoncture; sa pr~
priété 8st expos~e à toutes sortes de dangers. Mais l'essen
tiel est sans doute que, en raison de sa comp1exité et de se
longueur, 10 proces de production ne peut p1us être embrassé
par l'intuition, à Ia différence de C8 qui se passe dans le cy
cle commercia1. en sorte que 10 calcul rationnol des risques
et das chancos s'impose in~luctab18ment. Le passage de l'en
trepris8 arti8anale ou commercia1e qui pBUt 8tre g8r8e s810n
188 méthodos traditionnel18s à l'8ntr8prise industriel18 supp~
129

Um hibridismo que 88 manifesta ao longo de uma gama infind5

vel de níveis, de traços de comportamento, pois - sobretudo no que

toca ao seu comportamento ~social», isto ~, fora das relaç6es de

trabalho - a unifotmidade e o que menos distingue esses agentes de

sigualmente disposto~ ao longo da trajet6ria da diferenciaç~o.

Pois aqui a procu~a de "diferença" parece se institucionali-

zar como padrão da id8ntidad~. ~~ "G~tiloH empresarial sstã lig~

do a cada um dos grandeé br~~ddr8s locais 8 pressente-se que essa

ó o resultado
individuaiizaçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de uma nova lógica de identidade.

Como no mundo das classes dominantes da sociedade abrangente a pr~

cura da pequena margem diferencial, do detalhe idontificador exclu

sivo vem presidir à demarcação das auto-imagens.

Esse sistema está fortemente vinculado ao sistema do "apadr~

nhamento" antes descrito para os pequenos produtores. Como novos

e complexos padrinhos, os armadores devem compor SUas redes de "a

filhados" (arrebanhar a força de trabalho), devem representar um

pala de r8fer~ncia de. comportamento, de auxilio possivel, de 8xem

pIo de vida, de modelo de batalha, enfim devem ser cada um por si,

únicos. Um é o justo, o outro o boô-praça. um terceiro, o moderni

zador; ou os mesmos, por sua vez, são o violento, o espertalhão, o

58 dane une conversian d'attitude. On sait, depuis Max Weber.


que pour d8venir entrepreneur, il ne suff1t pas d'êtro animé
par l'appât du gain. Mais l'esprit d'entreprise n'est pas da
vantage le résultat d'une addition d'ôptitudes et do motiva
tions, il constitue un aspect d'une vision du mondo syst~matI
que. Pour en faira preuve, il suffit de comparer l'attitud~
et les opinions d8s entrepreneurszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
à col18s des artisans tradi
tionnels, La diffsrsnce qui les sépar8 tient moins, sans dou
te, à l'importancs de l'entrepris8, au nombre d'ouvriers em
ployés, à Ia qualité et à Ia valeur de l'équipement ou à Ia
quantité de capitaux investis. qu'au style global de l'entre
prise lui même inséparable du styl8 global de Ia personne de
1'8ntrepreneur.» Bourdieu, 1963, p. 377.
130

antipático. Um mora numa casa "simples M


mas financia a Festa de

são Pedra. o Qutro já nao mora em Jurujuba mas aí mantém uma casa

"pret8nciosa". Todos exibe~ individualidarlos orgulhosas que envol

vem a sua »emprosa". dão-lhe um tom geral com apelos específicos a

tais ou quois características da força de trabalho. E que repr~

sentam também armas na competição entre as frotas de traineiraszyxwvutsrqponm


p~

Ia força do trabalho que hoje escasseia.

Um traço essencial dessas é o da manipulação


identidadeszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM
da

origem local e pescadora do armador. Essa legitimação pelo pass~

do. que se firma em outras quest6es vitais (15), S8 articula pela

representaç~o de uma ncont1nuidad8~. Como 58 a companha da canoa

antiga qo pescador X apenas se ampliasse hoje nas companhas das

traineiras novas do nmesmo" pescador. hoje armador.

A representação da "continuidade". da não-ruptura. na altera

çao de sou papel nas relaç6es sociais de produção é o eixo da iden

tidade do armador local.

Uma idontidade cujas vantagens se apresentam em duas frentes

imbricadas. Em primeiro lugar no sentido da auto-imagem, pois r~

presentar-se em continuo com um passado "pequeno" realça a infle

x~o ascendente. dignifica pela oposiç~o com o "monor" uma situaç~o

de classe que ainda é percebida como inferior em relação aos estr~

tos dominantes da sociedade: a vantagem de ser um pescador rico so

bre ser um "pequeno armador".

Em segundo lugar. no sentido da imogem projetada, sendo nas

se caso manipulada para legitimação da condição nova da exploração

da força de trabalho: a vantagem de ser um "patrão"/pescador como

15) Sobre elas nos deteremos no CapozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUT


111, sobretudo no tocante ao
"sal~rioH da pesca.
131zyxwvutsrqponml

nos.

Essa identidade pela continuidade tem como foco a idéia do

trabalho, partindo do q~adro de representações antes descrito para

os pequenos produtores: "Tudo o que eu tenho, consegui com o meu

trabalho:"

o trabalho e sua dimensão cognitiva - a arte - transmudam-s8

de elementos entre outros da história d8 vida para móveis únicos e

abrangentes da ascensão. Mascara-~e, assim, não só as condiç6es e

fetivas da diferenciação mas também o caráter antagônico desse "c~

pital" que se erige contra o trabalho vivo atual. Como se crista

lizado de uma V8Z para sempre nesse capital primitivo o trabalho

passado do armador legitimasse eternamente o vampirismo de sua re

novaçao (16).

A ambiguidade do armador quanto a sua nova identidade de elas

se, referida à identidade anterior de pequeno produtor, não deixa

d8 S8 alimentar de uma ambiguidade concreta fenomenal, em que 58

envolve a comparação entre a "pequena produção" e a "produção cap!

talista" em Jurujuba.

Na verdade. a "diferença" entre os dois sistemas da canoa!

campanha 8 da traineira/embarque, tão nítida sobretudo para os tra

balhadores, isto é, para aqueles que as enfrentam enquanto

mas de trabalho", corresponde a uma s5rie de "continuidades" do

ponto de vista dos meios de produção. Pois, como já acentuáramos

16) "Abstraction faite de toute accumulation proprem8nt dite, lere


production simple suffit done pour transformar tôt ou tard
tout capital avancé en capital accumulé ou 8n plus-value cap!
talisée. Ce capital fút-il meme. à son entrée dans le proces
de production, acquis par 18 travail personnel de ltentrepr~
neur. devient, apr~s une période plus ou moins longue, valeur
acquise sans óquivalent, matérialisation du travail d'autrui
non-payé". Marx, 1973, TomozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP
111, p. 13.
132

antes. a produção capitalista instaurada na pesca de traineiras

não chega a constituir a revolução radical é própria


quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
desse no

vo modo: aquela que decorre da incorporação maciça da "cooperação"

e do ~aquinismo", subordinando realmente o trabalho ao capital.

Aqui. pelos motivos j~ expostos, a "forma de produzir", a re

lação entre trabalhador e meios de trabalho guarda semelhança dire

ta com o trabalho da "pequena produção". Altera-se a escala de

produção e o ritmo das jornadas. esboça-se uma cooperação mais com

plexa na divisão do trabalho, mas tudo é ainda mensurável, passi

vel de comparação com a escala. o ritmo, a divisão nas canoas.

Um outro elemento sustenta analogicamente essa representação

de "continuidade". Trata-se da relação entre o armador e os pesca

dores com vantagens, os "qualificados", "gerentes". "contra-mes

tres" - enfim. o grupo nem sempre muito nitido que podem compor o

mestre. o proeiro. o motorista. o mestre de rede. e mais um ou ou

tro parente ou antigo companheiro do armador. Essa gente, que 8

em principiO o núcleo da autoridade delegada, a gente de confian

~. é representada pelo armador muito frequentemente como uma con

tinuidade de sua antiga campanha. Inúmeras caracteristicas feno

menais sustentam essa idéia. além de servir a manipulação dessas

relaç6es mais "pessoais" para a consecução de uma política divisio

nista. enfraquBcedora e fiscalizadora dos trabalhadores (17).zyxwvutsrq


~ N

Essa continuidade pelo trabalho S8 desfaz porem na percepçao

do não-trabalho atual do armador local - traço que o identifica inclusi

ve com os demais representantes de sua classe. "Já não vão mais lá p~

re fora" - dissociam-se da compenhe ,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFED


opóem-ae a ela como não-trabalhadores.

Entre a legitimidade dos que trabalharam 8 sabem trabalhar 8

17) Sobre essa questão ver a Seção 4 do Capo III.


133

a ilegitimidade dos que nao trabalhamzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR


S8 urde a ambivalência da re

presentaç§o dos pescadores de Jurujuba sobre a categoria do arma

dor. Que no caso dos trabalhadores tripulantes de traineira se nu

ança das cores do seu embate imediato.

A representação sobre o armador como ser ambíguo aponta além

disso para uma qualidade que o afasta diametralmente do ser pesca

dor. ~ o que poderíamos chamar de sua "pr~tica empresarial». Pois.

diferentemente do pequeno produtor. fundamente identificado com

sua embarcação. com sua unidade de produção. o armador, já por po~

suir diversas embarcações, já por se afastar do trabalho produtivo

direto, já por se investir das novas responsabilidades gerenciais

decorrentes de sou status econômico. passa a ocupar um lugar acima

e fora de cada unidade de produção, lugar onde se vai desencarnan

do. cada vez mais pr6ximo da representação "impessoal" da empresa.

Essas ambiguidades são também vivenciadas pelos armadores,

tornando-se muito claras ao se analisar o seu projeto de reprod~

ção, pGnsado como projeto de reprodução da condição de classe da

família.

çontrariamente a situação do pequeno produtor nao se encon

tra aqui a preocupôçao dilacerada com a educação formal dos filhos

ou, para ser mais claro, ela desaparece a partir do momento em que

o armador considere adequada a relação por ele obtida entre número

de filhos e número de embarcações. Nesse cálculo fica clara a di

ficuldade desse »capitalista" pensar em termos de uma

onde na unidade jurídica da produção S8 associassem inúmeras embar

caçoes, inúmeros sócios. A dimensão do possível é ainda a da rel~

ção personalizada com unidades produtivas dispares, inassimiláveis

em um conjunto impessoal. Só graças a sua "personalidade" única 8


134

é que consegue
irreprodutívelzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
enfeixar em dado momento a propri8d~

de de mais de uma traineira sob uma só autoridade.

Não é à toa, portanto, que muitos armadores verbalizam uma

certa nostalgia dos tempos da canoa. "Diferenciados" mas não mui

to, "transformados" mas "conviventes", Eadrinhos e patr6es, duro ~

o processo de readequação de sua legitimidade própria, dura e a em

bigGidade sempre emergente de uma condição de classe a que freque~

temente não aspiravam enquanto tal ou cuja radical conversão nao

podiam avaliar. ~ extremamente denotativo desse de esp~r~


...
estadozyxwvutsrqponmlkjihgfed

to que a maioria não se afaste de Jurujuba 8 mantenha hábitos ou

caracterlsticas de sua antiga vida, ansiando por "redistribuir" en

tre os filhos os meios de produção concentrados, quase que remete~

do-os simbolicamente ao ponto de partida da embarcação única, mais

próximo desse mítico meio-termo onde a segurança e a legitimidade

se cristalizassem para toda a eternidade (18).

Por outro lado, o peso de sua prática diferenciada lhes im

poe a condução de novas relaç6es nao so com a força de trabalho as

salariada mas também com os seus pares - os demais armadores • com

o mercado e com os órgãos ds governo.

A relação entre os armadores localizados em Jurujuba oscila

entre a competição desenfreada pelos recursos escassos e a ma~ima

conjugação de esforços para a vitória em uma questão comum. Esses

extremos passam pela constituição de pequenos grupos em aliança u

18) A mesma pr~tica poderia ser entendida c:mo a procura da preser


vação na descendgncia do espírito da batalha enquanto condiçãõ
"ideal" da reprodução da condição de "produtor". Esse traço
os aoroximaria de toda uma vertente da ideologia do capitalis
mo, .possivelmente ligada ~s suas situaç6es »origin~rias". qui
ressalta o papal da nluta" como fundamento da legitimidade da
"acumulação".
135

nindo unidades de peso econômico semelhante. Dada a crescente es

cassez de força de trabalho para as grandes traineiras parece es

tar havéndo por exemplo um boicote mais sistem~tico dos grandes

proprietários ao surgimento de novos competidores (19).

As relações com o órgão de governozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM


e com as enlatadoras de

sardinha (consumidoras quase exclusivas da produção das grandos

traineiras) S8 cercam de grande tens~o, embora no primeiro caso

mascarada cuidadosamente. Aqui não se fala em ratos e nao se in

vectiva contra suas investidas constantes, ma nao e porque nao

1hes doam seus dentes afiados. Pelo contrário, quando confiantes

na discrição do interlocutor, não deixam de acusá-los de uma san

gria que os desalenta. Mas, na verdade, anseiam e agradecem esse

conluio que 1hes garante uma preciosa impunidade na exploração da

força de trabalho, Os trabalhadores riem amargamente quando veem

as autoridades fisca1izadoras das relações do trabalho marítimo ban

queteando-se em Jurujuba na conta dos armadores.

As enlatadoras, porém, incorporam rudes e flagrantes ameaças.

Em primeiro lugar. também conglomeradas em um poderoso órgão de

classe. enfrentam os grandes produtores de pescado em pé de igual

dade lutando pelo barateamento da matéria-prima que utilizam (20).

Luta que travam a cada fornecimento. a cada semana, barganhando

nos intersticios B nas ambiguidades da legislação. ~, em segundo

lugar, porque 05 ar~adores temem, n~o sem raz~o, que a consolida

19) São inúmeras as histórias que circulam no bairro sobre competi


çao desleal ou até mesmo perseguição aberta da parte dos gran
des armadores locais sobre gente vinda de fora procurando S8
estabelecer com traineiras.

20) O vigor desse confronto pode ser medido pela necessidade de in


termediação da SUOEPE através da promoção de acordos anuais 80
bre preços.
136

ção do poderio econômico dessas fábricas lhes permita voltar ao

seu projeto inicial: o de produzir sua própria matéria-prima, ali

jando os pequenos capitalistas da mais rendosa fatia do mercado

pesqueiro.

Essas representações são o apanágio daqueles armadores que

vivenciaram pessoalmente a acumulaç~o diferencial. Só agora come

ça a entrar em cena a segunda geração, a daqueles que, propriet~

rios, já começar~o a s~-lo como ngrandes» e n~o como »pequenos".H~

verá certamente mudanças substanciais de orientação cognitiva em

à prática produtiva
relaçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
das traineiras na medida em que se di

luir a referência aos modelos de origem, em que se substituir os

padr6es de legitimidade. os marcos ideológicos de uma prática eco

nômica cuja instabilidade mesma exigia a preservação do espírito

de "continuidade",zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

*
* *
137zyxwvutsrqponm

IIr. A Reprodução Social çloTrabalhador Assalariado

1. As trajetórias da reprodução.

a) o cálculo do suor.

Se para os pequenos produtores e para os armadores a referên

cia aos seus meios de trabalho ~ o eixo da articuiaç~o de sua ide~zyxwvutsr

tidade - tanto mais fácil por ser a de uns poucos contra um numero

sempre crescente de não-proprietários - a identidade destes outros

agentes vem se dar mais complexa, mais fluida. na referência ao seu

modo de inserção no mercado abrangente das oportunidades de sobre

vivéncia.

Em Jurujuba essa dimensão fundamental da prática dos traba

lhadores está marcada pela presen~a das unidades de pro~ução de

pescado. o peso desse setor de produção não se funda assim apenas

numa "tradição comumn, numa co-participação nesse universo simból!

co dominante a que sao introduzidos pela origem familiar ou pela

vizinhança. Ele tem uma concretude muito própria e direta: ali es

tão ~ espera da força de trabalho inGmeros e distintos "comprad~

res" acenando com as facilidades da proximidade e da familiaridade

que tanto pesam nos cálculos desses que não dispõem senão de sua

força de trabalho para sobreviver. Essa proximidade e familiarida

de balisam as opções dos trabalhadores de Jurujuba mas nao excluem

a referência e eventual acesso ao mercado abrangente - ao traba

ba1har fora da pesca ou ao trabalhar fora do bairro.

Seja como for - aqui ou ali - essas "opç6esn t~m que levar

permanentemente em conta que esse mercado, apesar de sua ap~

rente abrangência e diversidade, se faz notável pela sua precari~


,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
135

dade, pela fragilidade, pela inconstância, pela estreiteza e pela

insuficiência. A existência dos caminhos não ilude quanto a rude

za e à incerteza que neles espreitam os trabalhadores.

A consciência dessa condição precária de sua luta pela vida

marca muito profundamente a prática de todo esse grupo. E estázyxwvutsrq

presente desde os primeiros passos da socialização até os últimos

alentos ou desalentos dos que por ela passaram.

Falar do cálculo do suor é assim falar das condições, dos mo

mentos e dos valores que presidem à inflexão das trajetórias e que

nos permitem entender no emaranhado das experiências de vida a tra

ma dessas redes e a necessidade das avarias que as acometem,

O signo do trabalho imp~8-se ao filho de trabalhadores desde

muito cedo. Não sob a forma acabada, socialmente relevante, que

lhe custará o suor de adulto, mas pela orientação da socialização.

pela impregnação da experiência doméstica e dos atos expllcitos da

educação informal. Ao ajudar nas tarefas da casa. ao prestar p~

quenos serviços no bairro em troca do dinheiro "para balas~. junt~

-se em Jurujuba a experiência muito precoce do contato com o traba

lho da pesca ou, mais exatamente. do contato com o trabalho em ca

noas, dada a proximidade flsica com que se realizam algumas das ta

refas dessa produção.

Numa experiência que, desde a observação curiosa. até a brin

cadeira junto às redes. dentro das canoas atracadas, entre os re

mos 8 gigos. conforma uma orientação quase inevitável no sentido

de ganhar aI. nas margens dessa produção marginal. os primeiros

trocados.

Entre o brincar de mergulhar. de !smar, de puxar rede. de co

brar rede. de catar mexilhão ou de pescar da linha e o realizar ca


139

da uma dessas tarefas na incipiente cooperaçao com a subsistência

da unidade dom~stica medeia muito pouco. A inserção intensa no

mundo do trabalho se dilui assim ao longo dos anos que vão da in

à primeira adolescência. E o período


fânciazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA que coincide com o da

escolaridade primária, para a qual se dispõe em Jurujuba de uma fa

cilidade relativa (1).

A idade de onze, doze anos e sempre citada pelos assalaria

dos como a dos primeiros trabalhos e se opõe nitidamente a uma ou

tra demarcação, mais tardia, que e a do trabalho legalizado (2).

Nesse períOdO da baixa adolescência - que é comum, aliãs;aos

filhos dos pequenos produtores - inicia-se uma prática continuada

e "~emunérada", ora ainda naquelas tarefas laterais da "pequena

produção". ora j~ no pr6prio cerne do processo de trabalho em ca

noas, como aqueles "aprendizes" cujo sentido para a "pequena prod~

çâo" estudamos no Capo 11 • Parte 2.

o trabalho nas canoas nesse período e marcado obviamente por

uma grande precariedade, que corresponde de certa forma a melhor

expectativa desses jovens, qbrigados a alterná-Ia com o estudo.

Frequentemente uma certa taxa de incompatibilidade vai surgindo en

tre as duas atividades, na medida em que tanto o trabalho em canoas

quanto o curso ginasial local ou um curso primário tardio externo

são noturnos.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

1) A presença de uma grande escola pública bem junto ao bairro é


um elemento de grande peso na vida local, facilitando pelo menos
a alfabetização. Uma sociedade beneficente mantém no mesmo 10
cal um precário curso ginasial noturno, caminho necessário deto
dos os que se prop6em "continuar a estudar".

2) Veremos posteriormente o sentido desse segundo marco, ond.: o "10


g~11zado" 6 ôpénas uma ffl8t§fora altamente significativa do tr~
balho sancionado pela sociedade com a carteira ou a matrícula.
140

Esse impasse porem nao e senao um traço mais flagrante dos

primeiros sintomas da grande crise de vida que representa o perí~

do do fim da adolescência.

Na preparação do palco dessa crise, a medida em que se vai a

proximando o período do serviço militar. vão-se bifurcando inicial

mente as trajetórias dos filhos dos "pequenos produtores~ e dos

não-proprietários. Os primeiros. tal como víramos oportunamente.

já vinham sendo socializados de uma maneira mais abrangente na co~

dução do processo de produção, assumindo pouco a pouco as tarefas

de maior responsabilidade raramente acessíveis ao "aprendiznzyxwvutsrqponml


de f~

ra. Assim a ocupação no leme,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


a manutenção do motor ou a eventual

condução do trabalho como proeiro substituto. Ao mesmo tempo, ou

alternativamente. a margem de renda do pequeno produtor garante-

diferencialmente da do assalariado comum - a condução de um proj~

to de educação formal dos filhos mais estável e mais duradouro. Es

sa diferenciação pode. no entanto. ser relativizada nas situações

de trajetória descendente dos pequenos produtores; quando se apr~

xima da situação oposta no campo dos trabalhadores assalariados: a

de unidades domésticas onde o chefe de família esteja se benefici

ando de uma trajetória ascendente consubstanciada na obtenção de ~

ma posição com vantagens nas unidades de produção "capitalistas"

( 3) •

As condições de reprodução de cada unidade familiar nesse p~

riodo critico da socialização dos jovens a ela subordinados são as

sim a primeira das balisas da orientação de sua própria trajetória

3) Essa diferenciação interna aos trabalhadores assalariados será


abordada no próximo item desta seçao e estudada em profundidade
na Seção 4 do Capo 111.
141zyxwvutsrqponm

pessoal, interferindo desde logo na avaliação do papel do serviço

militar. De uma maneira geral poderia ser previsto que uma avalia

ção positiva dessa experiência só se daria em situações medias, ou

seja, quando não houvesse nem tanta necessidade que fizesse lasti

mar o afastamento de um dos contribuintes à subsistência familiar

nem uma situação de desafogo em que fosse ferido um projeto de qu~

lificaçãó mais dilatado. A análise tem que levar em conta, no en

tanto, que por se tratar de trajetórias - de um cálculo que incor

para a cada momento a carga de todo o "passado" e o valor de todo

o "futuro" - essa avaliaç§o emerge de uma conjuntura muito mais com

plexa. Uma variável que interfere fundamente nesse caso é a avali

aç~o pela familia da "capacidade" ou da "disposição" de cada um

dos jovens para assumir uma vida de obrigação. Esse "diagnóstico~

feito a partir dos "sintomas" acumulados em torno das identidades

pessoais e que remetem a um quadro sensível desenhado desde o nas

cimento e conformado pelo acervo de experiências familiares (4),p~

de frequentemente valorizar a experiência do quartel como uma últi

ma e radical imposição de um modelo uresponsávelu de vida.por mais

que ao nível imediato essa secessão importe em redução do potenc!

aI do sobrevivência familiar.

Essa questão é assim sintomática da gravidade desse período.

marcado pelo aceleramento, pela precipitação da identidade em fun

çao da prem~ncia da assunção de um projeto "independ8nte~ de vida.

Esse projeto alcança uma outra dimonsão crítica naquestão do

4) Essa conformaç~o das identidades "pessoais" pode envolver por e


xemplo as situações de estigma, induzido muito frequentemente
por representações da identidade "familiar": "Fulano saiu ao
tio X. que nao deu pra nada" ou "O pai j~ era m~luco. por isso
saíram assim~.
142

casamento. Embora a ef8tivação das uniões que marcam em princípio

a emerg~ncia plena do novo nindividuo" - o nchefe de familiaH de u

ma nova unidade doméstica - só S8 dê mais tarde, é previsível que

a essa altura já se delineie a orientação do jovem em relação azyxwvutsrq


8S

58 t6pico essoncial. Uma "volubilidade" muito acentuada ou o ~fi

car noivo" j~ podem ser tomados como sintomas socialmente rel8~an

t8S da direção da trajet6ria. Do mesmo modo. a "escolha" do futu

ro cônjuge, em termos de investimento em um parceiro de luta ou no

capital social de aliança é significativa


da famíliazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
para a infle

xao do projeto.
Essas questões se integram num conjunto de práticas marcado

pelo tipo de engajamento no mercado ~e trabalho.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW


E. por sua vez,

para a definição desse engajamento é fundamental o nível de escola

ridade atingido pelo adolescente a essa altura. Há uma correlação

imediata entre a permanGncia no trabalho da pesca e uma baixa esco

laridade. podendo-s8 generalizar que atingir o curso ginasial si~

nifica a abertura (enquanto "viv~ncia") para o mercado de trabalho

externo a Jurujuba e à pesca. ~ óbvio, por outro lado, que a var~

ãvel "escolaridade» j~ se vinha desenvolvendo conjuntamente com a

\
integração marginal no mercado de trabalho local e que. portanto,

nao se trata de uma "causa», mas de uma ocorr~ncia s1multãnea. O

que se procura ressaltar ~ que, nesse momento de definição da alta

ado18sc~ncia, o grau de escolaridade ~ »vivido D


como uma »causa"im

portante para a auto-explicação dos novos rumos da trajetória: au

to-explicação que se manterá ativa ao longo da vida, sobretudo nos

casos de avaliação negativa do processo, Nesse sentido assim se

expressa um pescador: "Tenho um filho de 16. 17 anos. Digo sempre

pra ele: rapaz. estuda; se eu tivesse o princIpio que vocs tem eu


143

i~ pra frente. mas como eu nao tenho nenhum. ent~o Esse neg~

cio de pescaria. isso 8 vida acabada~

Sair fora da pesca ou ficar na pesca nao sao tampouco cami


y
nhoszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
unlVOCOS. Em ambos os lados novas bifurcações S8 apresentam,

deixando. já então. perceber de forma quase explícita o sistema de

"velores" em que se embebe esse c~lculo.

Na verdade dois parâmetros parecem impor os limites de flexi

bilidade do cálculo do trabalhador: se ao primeiro corresponde mui

to exatamente a categoria da obrigação. ao segundo, mais indefini

do, poder-se-ia talvez atribuir a noçao de ~dignidade", com as me

diações que o uso de um termo tão carregado de conotações exigirá

mais adiante.

A vivencia da obrigação ~ muito semelhante ~quela encontrá

vel entre os pequenos produtores. ~ porém ao mesmo tempo mais res

trita e mais ampla do que aquela. Mais restrita porque nao se co

loca aqui a necessidade de reprodução da unidade produtiva, que na

quslõ se confundia com a da unidade doméstica. Mais ampla porque,

por nao r8strin~ir a opçao da sobrevivGncia à preservação do esta

tuto de proprietário (como no caso da "pequena produção"), o ãmbi

to de sua luta S8 torna muito mais largo, muito mais indefinido.Pa

ra o pequeno produtor, a obrigação é a de sobreviver como pequeno

produtor ou não. Para o não-proprietário a obrigação e a de sobre

viver apenas - colocando-s~ para tanto novas questões.

Para o pequeno produtor a identidade legitima, no sentido

dessa »dignidad8~ de que fal~vamos. ~ a da sua pr6pria condição:

~Eu sou um pequeno produtor ( ... ) eu sou um homem". Para o

ü sua condição negativa ó manipulada


-proprietáriozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
numa inversão

dramática. como numa deSSAS ~r8invenç68s criativas" de que nos fa


144

Ia Bourdieu (1963a). Pois ~e essa "liberdade". instaurada pelazyxwvu


i

deologia dominante como "valor" mascarador da expropriaç~o. deve

ria ser a garantia da exploraç~o no processo de trabalho. ela pa~

sa a significar também para o trabalhador o limite da legitimidade

dessa submissão, o polo de resistancia às condições leoninas do

"contrato de trabalho",

Para o pequeno produtor essa categoria da "liberdade" também

e significativa mas como substrato necessário de sua condição. Ela

só é pensada pelo avesso - na escravidão nas traineiras - o inverzyxwv

50 de sua prática. nunca um valor barganhável.

A Udignidade" proletária no entanto. ao entrincheirar-se na

defesa de sua "liberdade". está lutando contra as condições adver

sas de sua sobreviv&ncia. ciente de que essa "fraqueza" de quem s6

e perfeitamente livre para morrer, fisica ou socialmente. ~ também

a força da-sua lutazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


na obrigação da vida (5).

Essa Obrigação. por sua vez. encontra-s8 marcada por um ou

tro valor. que é a própria cristalização do impulso da subsistên

5) A esse respeito cabe lembrar o esclarecimento de Machado da Sil


va, no contexto do debate sobre o chamado "8mburguesamento~ da
classe oper~ria: "Existem alguns trabalhos que focalizam aspe~
tos do comportamento do trab~lhador ligados a um "desejo de in
dependência". Associado a uma orientação em favor das ativida
des comerciais, ela ~ interpretado como uma "sobreviv~ncia cuT
tural" típica de grupos migrantes. que impede a plena adesão ~
estrutura industrial. Tal perspectiva define a opção pela inde
pend~ncia como um »problema de assimilaç~o" ao contexto urbano~
-industrial. Em conseqüancia, torna-58 incapaz de apreender o
car~ter b~sico do dilema colocado frente aos trabalhadores. Es
te dilema é proposto pelas próprias condições organizatérias d~
mercado metropolitano de trabalho, que criam dois sub-sistemas
dotados de vantagens e desvantagens relativas, mas configurondo
um todo Gnico. Al~m do mais, concentrar a atenção sobre o dese
jo de independência impede a compreensão de que ele tem funda
mentos mais amplos e profundos, os quais dizem respeito ~ segu
rança e ~ renda do trabalho. e quo n50 58 explicam ao nível da
perman~ncia de motivaç6es culturais tradicionais.n (Machado da
Silva. 1971. p , 55).
145

cia. Trata-s8 da aestabilidade" ou da segurança. Essa categoria

é comum aos pequenos


tambémzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
produtores, porém aponta para outras

situações concretas. Novamente, para o pequeno produtor o móvel

fundamental da sua prática é a preservação da condição de propri~

tário. A "estabilidade" das funç6es "qualificadas" na produção em

traineiras nao se coloca como aspiração a esse nível, pois nôo e

gramatical com as demais características de sua identidade.

Para os trabalhadores a "estabilidade" desejada, pode estar

dentro ou fora da pesca. Em princípio, não está em jogo a área de

trabalho envolvida, mas sim, mais uma vez, a reprodução da unidade

familiar.

A procura da "estabilidade", por outro lado, imp6e uma

ca própria ao projeto de vida, em que o nível da remuneraçôo so es

tá em jogo enquanto ameaça a linha mínima da reprodução social. A

questão da segurança, da continuidade da subsistência se coloca ao

mesmo nível de valoração da luta pela remuneração imediata (6).

Tanto essa segurança quanto eSSB "liberdadG" por~m 86 têm

sentido no quadro de legitimidade do trabalho. Só a valorização

desse como distintivo da "capacidade" humana e que permite enten

der realmente o quadro de articulação dessas categorias no cálculo

de vida.

E o que significa eSS8 trabalho? Ele é antes de tudo o que

tira o suor do homem, não apenas no sentido do trabalho manual mas

6) "La sªcuritê (para os trabalhadores) 8St moins d~finiG par le


montant des revenus que par leur régularitó. De lã, on l'a vu.
l'importance du type de rémunérotion, le salaire menauel êtant
associá aux yeux des travailleurs et aussi dans Ia róalité,à une
plus grande s~cur1té. De lã oussi bien das conduites qui pB~
vent paraitre aberrôntes s1 l'on se r6fere ~ lalogique de Ia
maximisation du revenu". (8ourdiBu, 19638,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
p. 362).
146

no de exigir esforço, desgaste. E tambêm o sentido ªütl1.


do quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUT

do que produz ou ajuda a produzir. Assim há áreas onde o tràbalho

n~o deixa de estar presente 8 h~ ~r8as onde pode ou n~o hdver tra

balho. No primeiro caso temos o trabalho dos "pequenos produt~

res", o dos trabalhadores por conta pr6pria em geral, o dos opera

rios 8 o dos assalariados da pesca. No segundo, temos os comerei

antes e os funcionários públicos. Para aqueles não há indefinição:

já que se enquadram nessas categorias. trabalham. Para estes ou

tros deve-se proceder à demarcação de uma área de ambigüidade: p~

de-se ser um grande comerciante, afastado do trabalho como um rico

qualquer; pode-se ser um funcionário público que só assina o ponto

(7) . Isso tudo obviamente em termos do universo acessível a sua

vida de obrigação, demarcado por cima pelo mundo dos ricos, demar

cada por baixo pela malandragem.

As opçoes legítimas de vida restringem-se assim às que defi

ne o trabalhri. Ou na pesca ou fora da pesca. E, neste último ca

SO, como operário, como funcionário público ou como trabalhador

por conta própria.

A esse nível mais restrito é que se articula a oposição en

tre a "liberdade" 8 a "estabilidade", cada uma daquelas vias afere

cando um potencial diferente de adequação na procura da maximiza

çao de ambos os valores.

Assim o serviço público se apresenta em princípio como um ra

ro exemplo de concomit~ncia de altas taxas de »liberdade» e de nes

7) A express~o "s6 foi assinar o ponto» ~ muito freqGente para da


signar a ilegitimidade dos que subsistem sem o~. Nem é ne
cessariamente referida ao serviço público, Ao pesquisador. por
examplo, quando voltava de alguma ida a cidade durante o seu p~
riodo de campo, mais de uma vez 58 disse com um piscar de olhos:
"Foi assinar o ponto, hem~"
147

~
(8).zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tabilidade"zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
No que toca porem a "liberdade", instaura-se uma

nova frente de ambigüidade que envolve as questões da "qualific~

ç~o" e da »dignidade" pelo trabalho. Pois S8. como representação

exterior. o assalariamento ao Estado pode significar a submissão a

um"patrão" ausente, a um processo de trabalho despido das marcas

mais cruas da exploração, como pr~tica real daqueles que ac~d8m a

essa condiç~o. esse serviço público vem se nuançar das profundas

diferenças internas que o caracterizam, Assim um trabalhador com

pouca »instruç~o" dever~ na verdade enfrentar situaç5es de traba

lho cujas condições em nada ficam a dever às do assalariamento "pr~

vado" - diluindo-se assim a viv~ncia da "liberdade". Por outro Ia

do. o trabalhador que, por mais instruído ou por apadrinhado. as

cende a uma pos~~~o p~ivilegiada - associada nesse contéxto a uma

oc~péçãQ de tipo "white-coiiard - ~e v~ ~ace a uma condição "indi~


. ~
na". porque afastada da concepçao de trabalho antes descrita. Pude

mos acompanhar com atenção as reações de dois trabalhadores de Ju

rujuba oriundos de famflias de pescadores, ao seu trabalho como em

pregados de uma grande empresa de economia mista sed1ada em Nite

rói. Um é um chefe de família de seus cinquenta anos. j~ "funcio

n~rio" h~ pelo menos 15 anos, que ascendeu a essa condiç~o em fun

ç~o de seu estatuto de "ex-combatente". Pessoa extremamente viva

e capaz. ocupava uma posição intermediária de mando dentro da 85

trutura da empresa. Ele demonstrava uma constante e muito aguda

sensação de ~indignidade" em relaç~o a esse trabalho. transferida

8) Essa valorização do "serviço pablico», com as suas inúmeras 1m


plicações em termos de julgamento de nIveis de "liberdade" e de
"estabilidadeH ~ apreciada tamb~m por Machado da Silva. em sua
tese j~ citada, como um caso limite do que ele chama de "marca
do formal de empregos».
148

para a crítica da empresazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONML


8 de sua política gerencial. Ressaltava

sempre o seu esforço por produzir, por ser "eficiente", por aobre

por-se a uma situação geral de apatia, de subserviência. de "cer-r-at

rismo" que ao fim sempre privilegiava os doutores. as nulidad~

com diplomas "que 56 iam assinar o ponto". o traço mais marcante

de suas declarações parecia ser sempre o de demonstrar ao pesquis~

dor - enquanto pessoa que explicitamente se interessava pelo mundo

do trabalho - que ele, apesar de "func{ori~rl0 pGblico~. nao esqu~

cia as regras daquele mundo. permanecia investido da dignidade dos

o s Li Ó r dos eu ro sto n (g).


qzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Li 8 V ive m ";d

o outro erâ um jovem. recém afastado do trabalho adolescente

nas candaSJ noivd e estudante de um curso técnico noturno. Para e

leJ ocupado em uma funçab manual esta~ante e mal remunerada. o ser

viço pGblico. desprezado enquanto ocupação imediata. S8 tornava o

refGgio passageiro dessa estabilidade 8 dessa liberdade relativa

que lhe permitiam manter um projeto de estudo. Estabilidade 8 li

berdade traduzidas no ter tempo para estudar. Essa condição era

assim tolerada por oposição ao trabalho na pesca ou ao trabalho co

mo operário.

Esse carãter 8xcludente da vida "operária" em goral e do 8S

tudo e uma das dGmarcações mais nítidas com que 58 têm de enfren

tar os jovens nesse periodo. Ela reflete uma questão mais ampla

que é a da margem de qualificação do trabalhador não só em termos

9) A ambigaidade que cerca a transformação das condições materiais


de 8xist~ncia de um trabalhador Hmanual guindado a uma posição
H

HburocráticaH 6 muito bem estudada por Sennett & Cobb entre tra
balhadores "qualificadosH da região Nordeste dos EUA, d8staca~
do-se a mesma "sensação de indignidade" decorrente da subve~
são da relação entre trabalho como esforço. como suor. 8 a g~
rantia da subsistência. (Sennet & Cobb. 1972).
149

de sua condição atual mas também no de uma qualificação acumulável

ao longo do tempo.

A margem atual de qualificação e, por exemplo, fundamental

para a opçao por um trabalho por conta própria. Estabelecer-se co

mo mecânico. como torneira ou como marceneiro. por exemplo, prBss~

põe entre outras condições que o domínio dessas técnicas já seja

suficientemente firme, tendo sido obtido por "estágion em alguma

pequena oficina ou junto a algum outro profissional t: uma


local.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ

posição que compensa a pequena n8stabilidad8~ por um m~ximo de ~li

berdade», sendo assim estruturalmente semelhante sob esse ponto de

vista ao trabalho do pequeno produtor.

A mesma margem de qualificaç~o atual ~ relevante por outro

lado para a opçao entre o serviço p~blico e o trabalho como opera

rio. No primeiro caso, supoe-se uma maior educação formal - estar

cursando o ginasial por exemplo. No segundo, supoe-se uma qualif~

cação manual, técnica. semelhante àquela necessária para o traba

lho por conta própria.

Na medida porém em que essas duas formas de qualificação nao

sao necessariamente excludentes. a sua eventual concomitância será

conflitanta com o ~rabalho como oporário, já que as horas extras

(que nesse tipozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


de ocupação camuflam a extensão da jornada de tra

balha) sôo quase inevitáveis, impedindo a freqüênCia a cursos no

turnos.

A opçao trabalhar como operári~ é valorizada pelo grau sup~

rior de "estabilidade" que oferece - pelo menos em contraste com o

traba 1ho em trai ne ira s: cart eira as s i nada, féria s , déc imo -terceiro.

amparo sindical. salário-família •. INPS. Ela ern eo e , por outro


ç Ia

do, muito vivamente a »liberdadeu - sendo por isso freq~entem8nte


150

comparada negativamente com o trabalho na pesca - pelos trabalhado

res de traineira.

Essa ambigüidade fica muito clara na permanonte preocupaçao

dos que optaram por esse caminho em manter um certo equilíbrio en

tre a "qualificação" em geral e a "especialização" ensejadn pela

divisão complexa do trabalho nas grandes fábricas. Pois S8 a "qu~

lificação". o saber fazer. ~ a condição primordial da valorizada

»estabilidade~ dessa condiç~o; a »esp8cializaç~o» passa azyxwvutsrqponmlkji

car a subordinação. a "escravidão" a uma determinada tarefa de uma

determinada f~brica. reduzindo de muito a margem de "liberdade~ do

trabalhadorzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
(10).

Um caso limite muito significativo da complexidade do cálcu

10 do trabalho nas condições acima esboçadas ~ o da grande valori

zaçao do trabalho em uma determinada empresa pública de transpo.!:.

tes marítimos. o tipo e as condições de trabalho na oficina dessa

empresa realizam uma combinação privilegiada de fatores positivos

do serviço público 8 do trabalho como operário. Trata-se de uma o

ficina e portanto de um locus daquele trabalho logítimo que se co~

tuma procurar nas f~bricas. Trata-s8 al~m disso de um trabalho em

oficina e não, por exemplo, em uma linha de montagem. G isso gara~

10) A mesma preocupação com essa estratégia de controle de suas con


diç6es de inserção no mercado de trabalho est~ presente em ou
tros contextos do trabalho urbano, como por exemplo entre os
"biscateiros" estudados por Môchado da Silva (1971): "( ... )
por enquanto é interessante salientar que nesse nível, e para
esses tipos de qualificação. a maioria dos trabalhadores procu
ra conhecer, pelo menos rudimentarmente, diversas profissões:
Embora uma tal formação t~cnica. imperfeita e n8cl~tica». seja
imposiç~o das pr6prias condiç6es do mercado de trabalho, ela
ao mesmo tempo amplia o campo de atuação do trabalhador. pr~
porcionando maiores possibilidades de obtenç~o de ompregos pr!
vadas tanto quanto de c0nseguir serviços no MNF (mercado nao-
formalizado)." Ip , 76)
1 zyxw

151

te a preservaçao e at~ o aperfeiçoamento da ~qualificaç~o» em oP2

siç~o ~ temida »especializaç~o» (11). Não se encontram nessa em

presa, por outro lado. muitas das práticas de intensificação dazyxwvutsrqp


8X

ploração. entre elas particularmente a exigência de horas extras,

a concomitância
o que permitezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do estudo. E finalmente encontra-se

a! essa "estabilidade" do trabalho em serviço pablico cuja valori

zação ressaltávamos. o trabalho fora da pesca, nessas condições,

continua sendo em princípio uma espécie de privilégio,

A maior parte da força de trabalho de Jurujuba ainda se ori

enta para o trabalho pesqueiro, na medida em que a maior parte da

população mantém-se a um nível muito baixo de subsistência, invia

bilizando a "acumulaç~o cultural" mínima dos jovens necessária p~

ra a competiç~o em boas condições no mercado abrangente de traba

lho.

A submissão ao trabalho na pesca nao implica necessariamente

porém em uma vivencia de derrota - pelo menos ao nível dessa faixa

de idade socialmente definida como a da "afirmação" e que medeia

entre os 20 e os 40 anos aproximadamente.

Aqui, como no trabalho fora da pesca, os valores de "liberda

de" e de »estabilidade" presidem ~ espoculaç6o o ~ aç~o projetiva

no interior das trajetórias. Enquanto situação concreta, e18s se

conjugam na cobiçada condição de trabalhador embarcado com vanta

gens, ou seja, garantido pela posse d8 sua ?arta de embarqu8 (8qU~

valente marítimo da carteira de trabalho), senhor de uma

11) O trabalho em oficina, com suas implicaç6e5 em termcs de usal~


rio por peças", de relação privilegiada com os instrumentos de
trabalho e de proservação de um saber qualificador do artista,
se assemelha aqui ~ valorização demonstrada por Leite Lopas en
tre os trabalhadores da oficina na usina de açacar nord8stina~
(Leite Lopes, 1974)
152

"qualificada" que lhe permite manter e aprofundar a mesma "qualif1

caç~o"zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
8 ben8fici~rio de um ~sal~rio" menos indigno pelo recebimen

to de uma quota superior de partes.

Essas posiç6es. no entanto. sôo poucas e o acesso a elas nu~

ca se faz por um canal impessoal ou burocrático atento apenas a di

ferenças de "capacidade" ou "qualificaç~on. de modo que. ao se a

proximar o perIodo em que S8 julga os rosultados dos esforços da

batalha e se pesa as condiç6os que regerao a sobreviv~ncia no pe~f

odo ameaçador da v8Ihic~. a maior parte dos lutadores n~o terá ti

do acesso ao porto seguro, dando lugar assim a uma nova fase de re

lação com os valores 8 práticas da sobrevivência na pesca.

Afora a ilus~o desse distante porto seguro, sustenta azyxwvutsrqponmlkjihgf


"oE

ç~o" pelo trabalho na pesca o pr6prio conjunto de representaç6es~

gadas ~ "liberdade" do viver da pesca. Como se na luta pela real!

zaçao máxima dos dois valores presidentes o cálculo das dificulda

das de cada um apontasse para a conveniência dessa magna ratio do

A "liberdade" sem "estabilidadg~ da pesca om

geral valendo como pássaro na m~o face ao perigo de uma não-liber

dado sem estabilidade fora da pesca.

Essas representGções são formuladas em torno da oposição da

vida no mar x a vida no centro, ressaltando-s8 com muito vigor as

possibilidades de sobreviv~ncia marginal nessa "margem"zyxwvutsrqponmlkjih


qU8 S8 o

poe ao "centro» g8ogr~fico e social do mundo relevante: ~Aqui pelo

mar sempre tem um peixinho".

Essas representaç68s S8 fundam al~m do mais em caracteristi

cas reais desse meio de produção que se deixa entreaberto para uma

apropriação precária. nno-produtiva (no sentido do sua relevância

social). imprecisa e instável, mas que garante. por outro lado, a


153

manutenç~o a baixfssimo preço de uma parcela substancial dessa fOE

ça de trabalho. Assim o mergulhar para catar polvo. o catar maris

co. o pescar de linha sobre o costão ou o manipular uma tarrafa

(12) constituem possibilidades sempre mais ou menos abertas de com

plementação da subsistência imediata. que aguardam comzyxwvutsrqponmlkjihgfedcb


a valoriza

ção ambígua de um casaco de mendigo os vencidos da dura batalha.

b) A corda-bamba

A vida dos que permanecem engajados na produção pesqueira em

Jurujuba sem serem proprietários de S8US meios de produção é marca

da pela injunção da instabilidade. As histórias de vida dos que

viveram a batalha como assalariados da pesca retratam a aventura

cotidianamente renovada do enfrentamento de condições de trabalho

duras e insatisfatórias; da retomada aqui e ali. quase sempre em

condições mais adversas do cálculo das conveniênciasj da pertin~

cia, da argúcia, da flexibilidade vital que envolvem os múltiplos

passos dessa corda-bamba entre a pres8rvaç~o da "dignidade" e o

sustento da familia. c~m os olhos postos no limiar frágilzyxwvutsrqponmlkjihgf


da vit6

ria na segurança e na "liberdade".

Esse enfrcntamento, cujas condições podem variar grandemente

ao longo das trajetórias nunca prescinde dessa arma dos fracos que

~ a astGciô. o "jeitinho", a habilidade de equilibrista. essa mas·

ma "d~brouillardise" detectada por Bourdieu nos estratos mais des

protegidos da classe trabalhadora argelina (13). Uma habilidade

12) A tarrafa é uma pequona rede circular, habitualmente tecida no


interior da unidade domestica e facilmente manipuláv8l por uma
s6 pessoa em ~guas costeiras. Seu uso sstã associado ~s "mar
gens sociais de pesca: como "brincadeira"
U
de crianças, como
nesporte" e como uma dessas Gltimas fontes condignas da subsis
tência ameaçada.
154

que se desenvolve tanto mais aguda quanto as condições complexas

do mercado de trabalho pesqueiro em Jurujuba ensejam uma margem de

manipulação muito grande da parte do trabalhador (14).

Esse mercado é em princípiozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ


de trabalhozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
o do trabalho nas

traineiras e. como tal. guarda uma certa homogeneidade mínima. Es

sas traineiras. por~m. não s6 correspondem ô inGmerôs pequenôs "em

presas" indep8ndentes e atª certo ponto concorrentes, o que por si

já abre ao trabalhador uma certa margem de opções. como se pode

distinguir entre tamanhos de traineiras; entendendo-s8 aqui "tama

nho" como o sinal dessa diferença socialmente significativa que o

poe os barcos pequenos aos ?arcos grandes,

Essa divisão é realmente muito significativa para o entendi

mento do quadro do trabalho assalariado na pesca de Jurujuba. Já

esboçamos anteriormente as características principais das trainei

~ e do processo de trabalho em que implicam. A diferença entre

as traineiras pequenas e as grandes. a um nível meramente físico,

seria apenas de grau; um grau no entanto que ao nível de suas im

plicaç6es s6cio-Bcon~micas ~ extremamente relevante.

Os ba~ ou traineiras pequenas são em princípio a única em

barcação de seus proprietários. na medida em que os grandes ~mado

res tendem a compor ~uas frotas de traineiras grandes, substituin

13) "La cat~gorie inf~ri8ure est condamn~8 ~ l'esprit d'entreprise


du pauvre. à cette ingéniosité prodigieuse qu'inspire Ia miss
re. cette 'débrouillardis8' (chtara) qui est Ia s8ule ressour
ce de C8UX qui n'ont rien." (Bourdisu, 1963a. p. 554)

14) Essa G uma característica que distingue Jurujuba de outras tan


tas localidadss pequenas marcadas pela dominância de um deter
minado setor produtivo. A comparação com situações tais como
a descrita por Oennis & Slaughter (1969) para 0S trabalhadores
do carv50 de uma pequena cidade mineira inglesa. demonstra a
importância dessa flexibilidade relativa, mais próxima de si
tuações metropolitanas típicas. (cf. Machado da Silva. 1971).
155

do gradativamente as pequenôs ou a pequona geralmente originária,

ao mesmo tempo em que os menores armadores, próximos ainda da coh

dição de poquenos produtores, tendem a abandonar a utilizaç~o de

suas canoas originárias.

Essa condição isomórfica entre a unidade de produção 8 o pr~

prietário, que se modifica no caso dos grandes armadores, tal como

apreciamos na Seção 4 do Capítulo 11. já garante por si m8sma uma

certa "diferença" ao processo, quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUT


58 apresentaria assim a mi-che

mi~ entre a extrema identificação proprietário/unidade de produção

característica da ~pequena produção" e a dissociação comum nesse

sentido ~s unidades "capitalistas". Diferença extremamente rele

vante. nao s6 do ponto de vista da caract8rizaç~o do "modo de pr~

dução" envolvido, mas tamb~m e sobretudo para a representação e

forma de engajamento da força de trabalho nessas unidades.

Afora as características que imprime a essa produção areIa

çao mais personalizada com o proprietário, que será então freqüe~

temente o pr6prio mestre, participante ainda do processo produtivo,

encontram-se outras em diferentes níveis,

H~ em primeiro lugar uma grande dif8renç~ entre os ritmos e

a intensidade do processo produtivo. As traineiras pequenas, como

esclarecíamos no Capítulo I, dedicam-se à pescaria de diversas es

pécies. só ocasionalmente ocupando-se da sardinha. Não podem, por

outro lado, permanecer longo tempo no mar, caracterizando-se por

expedições que meoeiam entre 12 8 48 horas, Esses dois dados con

figuram uma oposição acentuada entre os dois sistemas, sobretudose

traduzirmos o primeiro para a sua correspondência em termos de ri!

mo ocupacional. ou seja, se levarmos em conta que. dada a sua maior

flexibilidade quanto ao objeto de trabalho. as traineiras pequenas


156

tendem a manter uma produtividade menos instável que a das trainei

ras grandes, dependentes da ocorrência acessível dos cardumes de

sardinha. Esse é extremamente


dadozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
importante para o trabalhador.

pois, como se relembra, ele ª remuneradozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU


npor produção". ou seja,

não recebe salários fixos independentes do ritmo produtivo. Dessa

forma, embora para o propriet~rl0 possa compensar o condicionamen

to do ritmo da ação produtiva ao volume esperado de produção. ao

trabalhador essa prática é pàrticularmente lesiva, impossibilita-

do que fica de prover nas esperas à sua subsistência imediata, por

baixa que seja. Essa diferença de ritmos que opoe as traineiras

pequenas às traineiras grandes de uma maneira geral. acentua-sepa~

ticularmente do ponto de vista sazonalo Assim. no verão. período

favorável à pesca, ambas mantêm um ritmo mais intenso de produção,

proporcionando uma considerável realização de valor refletida em

melhor remuneração aos trabalhadores. Já no inverno. porém, dada

a baixa geral da fertilidade do mar, a maior estabilidade da prod~

ção das traineira~ p8quena~ não compensa a precariedade do montan

te geral da produção. que tende a se situar abaixo das necessida


~ .
des mlnlmc3S da reprodução social dos trabalhadores (15).

Dado o sistema de remuneraç~o vigente na pesca, essas discr~


\
pâncias e nuances entre os ritmos produtivos repercutem diretamen

te sobre o nível e a regularidade dos salários, sendo o móvel mais

15) ~O barco pequeno ~ o seguinte: ~ bom no verao. que a pescaria


é aqui perto, o sujeito trabalha com peixe diferente e então
ganha-se mais dinheiro. Mas no inverno fracassa a pescaria
com barco pequeno. Então vocô já vai trabalhar longe. sempre
trabalha embaixo de tempo, embaixo de tempo de mar, justamente
onde 8sses barcos pequenos não vão. Então eu dou preferência
pra um r,rands po~que eu tô garantido
l pra inverno e pra verão.
Se der uma tacada boa na sardinha. já sabe que ganha dinheiro.
Quando o patr~o n~o rouba muito também.- (trabalhador assala
riado - de conv~s)
157

agudo da pr~tica de rotatividad~ ou ir~B~ula~idade do engajamento

da força de trabalhb que apreciaremos mais adiante.

Uma outra questão é a que se refere ao


fundamentalzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHG
sistema

d~~ ~antagens 8 ~ garantia do embarque de uma maneira geral.

As traineiras pequenas, em funç~o de sua menor produtividade

em geral e da maior precariedade de sua reprodução a longo prazo

n~o representam o lugar privilegiado daquela nestabilidade" esper~

da no embarque com vantagens. Não só o embarqu~ tende a ser aqui

um vinculo de assalariamento mais inst~vel, mas também as vantagens

tendem a representar uma diferença salarial menos nitida. Des~e mo

do, embora a pr~tica do pescador n~o-proprietário de Jurujuba pa~

se constantemente pela preferência de trabalho nas traineiras pe

quenas. as posições com vantagens das traineiras grandes é que cor

respondem ao verdadeiro e magno escopo da luta. Excetua-se desse

quadro a função de mestre/proeiro, que,por sua primordial idade ,

corresponde mesmo nas traineiras pequenas a uma situação privil~

giada. O peso dessa exceção nao se impõe porem ao conjunto. nao

so porque essas posições sao raras, dada a permanênCia de muitos

dos proprietáriOS na função, como a situação de mestre/proeiro e

particularmente diferenciada das outras posições com vantagens. tal

como teremos a ocasião de detalhar na Seção 4 do Capitulozyxwvutsrqponmlkj


III.

Em torno desse quadro das características minimas da opos!zyxw

\ çao entre os barcos grandes 8 os barcos pequenos é que se vem dese

nhar em suas grandes linhas a prática dos trabalhadores nao-pr.9.

prietários.

Essa prática. enquanto resistência e manipulação relativas

das condições de trabalho. tem como caracteristica mais flagrante

a acentuada mobilidade dos trabalhadores entre as diferentes unida


158

des de produção.

Esse traço tem múltiplos significados conforme a direção em

que ocorra e conforme o momento da trajetória de cada trabalhador

envolvido. Em princípio a mobilidadezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIH


é tanto mais acentuada qua~

to mais jovem o trabalhador. o que corrosponde à sua maior indepe~

d~ncia face a um projeto muito futuro de nestabilidade~. ~ sua me

nor~ualificação" e maior força física. ~ maior "liberdade" decor

rente de encargos familiares reduzidos e às expectativas mais ag~

das de sobrepujar pela manipulação os limites estritos da sobrevi

vência quotidiana.

Ao atingir-se a fase final da idade "adulta" (os 40 para 50

anos). as trajetórias tendem para a cristalização nos extremos da

"estabilidadenzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
pelas vantagens ou da Nliberdade~ na malandragem.

ou. quando mantida a condição da corda-bamba. a uma espécie de re

signação relativa responsável pela submissão mais prolongada a tal

ou qual condição de trabalho.

Três são as variáveis principais que. do ponto de vista das

condições de produção. conformam as opções dos trabalhadoresj a

primeira e a da oposição entre os barcos grandes e os barcos peque

nos, com as implicações antes apontadas, a segunda e a da alter

nância entre as estações. tal como a definíamos. e a terceira é a

do encerramento de cada ciclo anual.

Essa última deve sua relevância ao fato de receberem os tra

balhadores ao fim de cada ano uma quantia chamada de "caixinha~.

correspondente ao décimo-terceiro e às férias (16). e que tem um

16) Digo ~correspondente" porque na verdade ela dificilmente ~ o


valor legal desses direitos trabalhistas. embora seja paga ta~
bém aos trabalhadores não embarcados. Sobre este tópico ver a
Seção 3 do Capo 111.
159

significado extremamente importante, pois afrouxa a tens~o da sub

sistência, sobretudo pelo pagamento de pequenas dívidas acumuladas

no período e pela cobertura das despesas rituais de fim de ano,

t~o essenciais ~ preservaç~o simb6lica de sua 'dignidade».

~AI vem o fim de ano e alivia com a caixinha. n~. Depois vai

apertando, apertando. at~ vir outro fimzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONML


de ano. E assim vai:"

A passagem do fim de ano corresponde além do mais. aproxim~

à transição para o pleno verão. de modo


damente.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA que esse período é

comumente considerado como o mais adequado para a conversão de uma

unidade de produção para outra. Sobretudo, se pensarmos que o p~

gamento da caixinha só se faz integralmente a quem tenha complet~

do um ano de serviço em determinada unidade. não convindo portanto

sob esse ponto de vista uma conversão durante o ano:

"Ele agora não vai sair. não vai largar daquele barco. Sabe

quanto e que está a caixinha nesse barco? 40 e tantos ••. Aí dá um


milhão e tanto pra cada um."

Esse fato condiciona por outro lado as questões da permane~

eia em um barco grande ou em um bareo pequeno. e a do embarque ou

nao em cada unidade.

o ciclo de um ano, por conter em si uma amostra de ambos os

períodos sazonais permite ao trabalhador uma avaliação mais prec!

sa das suas condições de sobrevivência em uma dada unidade produt~

va, capacitando-o a optar em seu término pela simples saída do bar

co ou pela reivindicação do ~mbarque. Nesse último caso a repr~

sentação do trabalhador é de que o patrão teve também uma amostra

fiabilidade. devendo portanto Npremi~-lo· com a assinatura da car

ta de embarque 8 a outorga de alguma das vantagens disponfveis.


160

Essa avaliação das condições de produção de cada barcozyxwvutsrqponmlkjih


é um

dado muito significativo da lógica da mobilidade dos trabalhadores.

Ela leva em conta os inGmeros fatores que j~ apont~vamos como rel~

vantes para a opção entre 05 barcos grandes e os barcos pequenos e

que giram em torno da "regularidade" e da "produtividade" médias

de cada unidade.

O primeiro tópico, cuja essencialidade repousa na sua assimi

lação forçada ao nível salarial pelo sistema de remuneração por

produção, refere-se explicitamente à regularidade das saídas de

pesca, à não interposição de largos períodos de inatividade forç~

da pelo cálculo diverso do armador. O segundo, embora abranja de

certo modo o anterior. refere-se mais diretamente às condições dos

meios de trabalho e à sua adequação ou nao ao processo produtivo

envolvido. Assim a precariedade de um motor ou de uma rede. a 8

xistência ou não de uma sonda ou do pau de carga, determinam limi~

res de produtividade a que é extremamente sensível o trabalhador.

pois são também os limiares de sua exploração. ora diretamente p~

Ia necessidade de intensificação ou de prolongamento do uso de sua

força de trabalho, ora indiretamente pelo rebaixamento do preço p~

go por esse uso.

Esse cálculo tende no entanto a privilegiar a relevância do

primeiro tópico, pois nas condições em que se insere nesse mercado

de trabalho. mais convém ao trabalhador garantir-se uma remunera

ç;o m!nima estãvel do que expor-se ao risco do ~um mes sim. outro

mes não". Eis o que determina a generalizada preferência pelo tr~

balho nos barcos pequenos, embora as condições gerais de produtiv!

dade das traineiras frandes sejam teoricamente mais favoráveis.

~uerer embarcar ou n~o querer embarcar neste ou naquele bar


161

co sao portanto decisões complexas que em nada interferem naquela

valorização genérica desse vínculo. Embarcar em condições adver

sas e vivenciado como uma ~escravidão~ absurda. pois nada garante e

ainda exige uma mareem maior de submissão. concretizada por exem

pIo na necessidade de aviso prévio para sair. para desembarcar.

Como último dado a respeito das condições dessa manipulação

pelo trabalhador da forma de sua subsistência. cabe apreciar a in~

tituição da emenda ou do trabalho de emenda. Esse termo recobre o

trabalho realizado sem vínculo nem expectativa de continuidade em

outra unidade de produção que não aquela a que se encontra em pri~

cípio vinculado. Isso pode ocorrer tanto entre trõineiras peque

~ ou entre traineiras grandes e pequenas quanto entre traineiras

e canoas, consistindo nesse último caso, naquele auxílio cujo sen

tido para a »pequena produção" analisamos no Capitulo 11

Essa prática permite eventualmente ao trabalhador cobrir as

lacunas de vida à intermitência do processo produtivo


devidaszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAna ~

nidade a que estã filiado; literalmente ~emendarn os fragmentos de

processo de trabalho dentro da continuidade exigida pela sobrevi

vência quotidiana.

A emenda está sobTetodo associada a essas interrupções mais

longas devidas à necessidade de reparos na embarcação e. mais do

que isso. a reparos nas traineiras pequenas, já que nas traineiras

grandes essas ocorrências costumam corresponder ao desembarque fo~

çado da maior parte da guarnição. Enquanto os grandes armadores

independem da preservação da continuidade dos vínculos entre a uni

dade de produção e a força de trabalho. pois se sustentam com as

demais unidades que compõem sua frot~. os pequenos armadores, pro

prietários de uma única embarcação. procuram preservaraquela conti


162zyxwvutsrqponm

L~-
nuidade como Gnic~ forma de retomar rapidamente ~ produç~o t~o 10

go cessado o reparo.

A emenda materializa com clareza a precariedade da condição

do trabalhador assalariado. revelando em um nível agudo a realida

de de sua dependência. Pois se ela se apresenta como mais uma »oE

ç~on. como mais um sintoma da ~liberdad8» da pesca. ela revela que

essa "liberdade q
~ a do sobreviver imediato, do oscilar entre mati

zes da super-exploração: é em caráter eventual.


a emendazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
não impo~

ta em nenhuma garantia de direitos trabalhistas (nem mesmo naquele

décimo-terceiro emagrecido da caixinha) e não respeita a qualific~

ção implícita na lógica das vantagens (o trabalhador com vantagens

de um barco irá comumente trabalhar sem vantagens durante a emenda

em outro),

A vivência da corda-bamba se articula em torno daquela noçao

abrangente da Obrigação. com as conotações antes expostas que a di

ferenciam da obrigação do pequeno prod~tor.

A obrigação para o trabalhador. além de envolver a idéia de

"responsabilidade" pessoal pela reprodução do seu ser social (que

inclui a unidade doméstica sob sua autoridade) e cujo desempenho

será. nesse caso, o fiel da preservação de sua "dignidaden • suben

tende uma complexa área de representações sobre ancapacidade" pe~

soal. Uma "capacidade" que se testa e demonstra na viabilização

do projeto de vida no mundo do trabalho (17). pois se este e O mun

do da sobrevivência precária. o mundo em que se faz bamba a corda

17) A relevãncia do t6pico da "capacidade" no trabalho para a com


preensão da visão de mundo dessa classe fica bem demonstrada
na an~lise feita por Sennett & Cobb sobre oper~rios ~aflueri
tas" da Nova Inglaterra. sobretudo no que toca ao significad~
dos ~adges of ability» em relaç§o ~ ideologia dominante e ao
funcionamento do modo de produção capitalista.
163

da vida, elezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
é também o mundo da afirmação da identidade pessoal,

aquele onde se legitima o projeto social da classe.

A obrigação nesse sentido S8 concentra no tema da "capacid~

de" como um núcleo fundamental, originário. dos temas mais abran

gentes da "dignidade" e da "responsabilidade", que envolvem a sua

identidade mais ampla, não s6 de "t~abalhador» mas de »chefe de fa

mflia" e de "homem" entre os "homens".

Enquanto representação desse grupo a ncapacidade" pessoal e~

volve três áreas de afirmação distintas e concomitantes. cujo si~

tema de combinação a cada conjuntura


"t~'\-~°lc
ao mesmo\con orma e expliCd a

sua prática. Poderíamos enumerá-Ias como uma capacidade "física".

uma capacidade "mental" e uma capacidade umoral~.

As duas primeiras coincidem com a estrutura interior da mes

ma categoria entre os »pequenos produtores". sa

ber. A representação sobre a capacidade "física" ou a força reco

bre uma area de afirmação fundamental para um trabalho como o da

pesca, ainda tão dependente, na maior parte de suas tarefas, dafor

ça muscular imediata. dado o baixo nível da produtividade do pr~

cesso, a sua baixa taxa de "mecanização". Como o tipo de educação

e a prática de algum trabalho manual desde a mais tenra infância

condicionam uma estrutura física de grande resistência à maior pa~

te dessa população. esse não é um tópico pelo qual se possa medir

gradaç8es pequenas de "capacidade", tanto mais porque a aquisição

da força física independe quase sempre dos fatores subjetivos de

"vontade" ou "persistincia" que permeiam as representaç8es nessazyxwvutsrqponm


ã

rea. Desse modo tratar-se-ia antes de um pré-requisito geral do

t r a ba 1ho na p e sc a m a i s d o que deu m a c ar ac t e r:(s t iCE Per so na 1iza n t e.

e um fator que entra no entanto no quadro da avaliação geral. ~~


164

dendo ou nao "suprir" uma car~ncia eventual de outra "capacidade".

A capacidade "mental" ou o saber, jã envolve uma ~rea muito

mais complexa capaz de fornecer uma vasta gama de nuanceszyxwvutsrqponmlkjihgfedcb


aos seus

o seu peso, que e sempre grande


manipuladores.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA em qualquer grupo

social - pois articula o cerne da apropriação do mundo - cresce nes

te contexto pelas características da organização produtiva da pes

ca. Como já ressaltávamos no quadro geral dessa organização de se

nhado no CapítulozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
I a relação de apropriação real entre os port~

dores da força de trabalho e os instrumentos de produção nao sofre,

mesmo nas traineiras grandes, aquele corte radical que caracteriza

a produção capitalista acabada, a "fãbrica" onde a onipresença do

maquinismo e a exacerbada complexificação da cooperação transfor

mam o trabalhador em um apêndice irracional do processo: o "apert~

dor de parafusos" das linhas de montagem.

A inserção do trabalhador num processo de produção desse ti

po nao pode prescindir portanto de um grau mínimo de "conhecimento"

da atividade produtiva pesqueira. A essa necessidade corresponde

a oferta efetiva de uma qualificação mínima prévia normalmente di~

pensada pelo »aprendizado~ dos jovens na "pequena produç~o~ canoeizyxwvutsrqp

rô .

Esse saber da pesca nas traineiras tende à diversificação, a

diferenciação, em oposição mais uma vez ao saber da "pequena prod~

ção" que aspira pela máxima centralização e unidade no conhecer do

pequeno pescador.

Essa diferenciação S8 encaminha por duas vias: uma que se a

proximaria mais daquilo a que chamamos "especialização", outra que

se aproximaria mais de uma "qualificação".

A primeira é a que leva às funções de cozinheiro e de moto


165

rista. Trata-se de tarefas restritas, que importam no afastamento

da maior parte das demais tarefas pesqueiras, em particular aqu~

Ias pertinentes ao núcleo fundamental do processo de trabalho:zyxwvutsrqponmlkjih


a

pescaria propriamente dita.

A segunda leva à abrangência das posições qualificadas como

de mestre: o mestre de rede e o mestre-proeiro, sendo significat!

vo que esse apelativo recorde a preemin~ncia do nsaber» do pequen~

pescador - também mestre.

Em princípio, o acesso ao saber de ambas as categorias passa

pela ocupação inicial na posição indiferenciada de trabalhadoT_de

COn\l88---8 pelo trabalho posterior em pelo menos uma das tarefaszyxwvutsrqponm


qu s

importam em percepçao de vantagens sem pressupor "conhecimentos"

especifiCaS (dessas trataremos mais adiante).

A partir desse limiar, define-se imediatamente a opçao pela

primeira via, a das tarefas mais especializadas; dilatando-se ain

da pela prática de diversas outras o acesso as que aproximamos da

"qualificação". Ou seja, um trabalhador de conves, ap05 um perí~

do de trabalho como caiqueiro ou como gelador, pode dirigir-se no

sentido da primeira via, pleiteando as funções de auxiliar de moto

rist5 ou de cozinheiro, como acesso à ocupação futura dessas pos~


~
çoes. Pode por~m dispor-se a ocupar sucessivamente diversas ou

tras funç~es, ligadas à pescaria em sentido estrito, e que o qual!

ficarão, pela soma de experiências sotoriais, ao acesso à condição

de mestre. Esse 8 evidentemente o quadro correspondente -


a lógica

das expectativas dos trabalhadores e do sentido que as diferentes

composiç6es do saber t~m para a sua trajetória projetada. Essas

vias podem ser a todo momento truncadas pelas injunções mais diver

sas. sejam elas oriundas da prática abrangente do trabalhador, se


156

jam oriundas das condições do seu enfrentamento no interior das u

nidades produtivas.

Essas truncagens serao sempre determinantes para a orienta

çao do trabalhador, que as vivenciará como ilegítimas por subverte

rem o sentido do investimento no s~ber como alavanca da segurança

ansiada.

D quadro da ~capacidade" do trabalhador se completa com esse

componentezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a que chamamos de »capacidade moral» e que envolve a sua

representaç~o sobre a nd8dicaç~on ou a ndisposiç~on no trabalho.

Distingue-se desde logo dos outros fatores pelo caráter pur~

mente relacional. Se. como é claro, nem aquela força nem aquele

saber s~o dados PObjetivos», no sentido de prescindirem das condi

çoes sociais que os ensejam e lhes dão sentido, eles se afiguram

como montados em uma base "natural" mínima. capaz de aliviar pela

fetichizaç~o a representaç~o dolorosa da ~incapacidade" pessoal.

Pois está subjacentezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


à concepção do papel da ~orça e do saber uma

representaç~o de diferenças "naturais" na alocaç~o a cada indiví

duo de uma certa dose de capacidade física Q mental. Como se, de

algum modo e para alguns efeitos, se pudesse mascarar a impiedade

das truncagens impingidas nas relações de produção pela represent~

çao de "incapacidades" independentes da vontade dos homens.

J~ a "capacidade moral» ~ o reino absoluto dessa "vontade".

Falhar nessa ~rea ª assumir a indignidade de uma -incapacidade» 1

nexcusável por atributos "naturais». Esse seu caráter e determi

nante para o quadro da representação da obrigação. Reproduz. den

tro da ~rena do trabalho. o sentido mais amplo da "r8sponsabilid_~

de moral» individual.

Essa reprodução. atravªs dos temas da "dedicação» e da "dis


167

posição", embora nunca esteja totalmente ausente de qualquer prát2,

ca de trabalho assalariado, dada a conformação específica dessa re

lação de produção, assume um sentido muito específico na produção

pesqueira.

A forma de remuneraçao da força de trabalho nessa produção

vincula , como já víramos, ao valor realizado da produção o valor

do salário, de tal forma que o trabalhador vive uma situaçco de

"co-responsável" imediato pelo bom sucesso da salda de pesca (18).zyxwvutsrqp

O a~•. ~
uma consideravel margem do am bzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY
"'d a d e, ao se confrontar
~gu~
í

essa

tendência com o outro lado dessa mesma moeda - o do enfrentamento

do trabalhador com o monopólio dos meios e condições de produção

nas mãos dos armadores.

Duas expressões comumente utilizadas pelos trabalhadores p~

ra avaliar o seu desempenho no processo de produção. sob o ponto

de vista da "responsabilidade", espalham com nitidez aquela ambi

güidade, Trata-se do par de oposição: ~faz8r por onde~ x "puxar

saco", o primeiro termo traduz o investimento legítimo da obriga

çao no trabalho. Reflete a vertente da "disposiç5ou • da "coragem~

da ~esist~ncia" que sustentam a relação entre o trabalhador e as

condiç6es prec~rias e perigosas de boa parte do trabalho na pesca.

Reflete tambªm a "preocupaç~on, o "interesse" pelo bom estado dos

instrumentos de trabalho, pelo ritmo 8 intensidade acalerados de

cada processo produtivo, pelo engajamento constante da "boa vonta

de" de todos na obtenç~o da m~xima quantidade 8 da excel~ncia do

produto.

"Fazer por onde" 8 assim o penhor da aplicaç~o geral 8 cons

18) Essa característica sera analisada em profundidade na Seç~o 3


do Capo 111.
165

tante !l;:da,:,"capacidade" na obrigação, E o sinal para si da ~di~

nidade" mantida no projeto de reprodução. E o sinal para os ou

tros. para os "senhores" dos barcos. de que o trabalhador se habi

lita à obtenção do prêmio da vantagem. degrau a degrau. até o últi

mo passo da trajetória assumida.

"Puxar saco", por outro lado, ~ a ilegitimidade do que faz

mais do que a sua obrigação. do que ultrapassa a barreira além da

qual a defesa do interesse próprio passa a ser o conluio com o in

teresse do armador. a mancomunaçao,

E essa uma delicada fronteira. Pouco nítida e freqüenteme~

te amb:J:gua. Sempre acionada para acusar ou defender um companhei

ro no bojo da competição que provoca entre os trabalhadores a luta

pelo bem escasso das vantagens.

Aos que caminham sobre essa dupla corda-bamba. da sobrevivên

cia frsica e da sobreviv~ncia "moral". unida pelo sentido abrange~

te da obrigação do ser social. só resta manter a cabeça o


fria.zyxwvutsrqponmlkjihgfe

"não esquentar a cabeça" é o refrão sempre repetido ap6s o reci

tar de cada pequena derrota. como uma afirmaç~o dessa parcela de

»liberdade» ciosamente preservada que 8 a de trocar de barco. rei

niciar a cada estaç~o. a cada ano. a cada crise. o esforço da bata

lha - e. em Gltimo caso. afastar-se para a sobrevivência nas mar

"N~o esquentar a cabeça" 8 tamb~m reconhecer a ambigüidade


constante da competição entre os companheiros. Como se a perce.2.

ç~o da linha t~nue entre o que ~ "digno" e o que ª "indignoN nas

condições forçadas pela necessidade nao permitisse os arroubos via

lentos da indignação moral. Esse traço ficará mais claro quando ~

preciarmos oportunamente a relação entre os companheiros e os ho


169-zyxwvutsrqponml

mens com vantagens. tantas delas obtidas pela truncagem das traj~

tórias modelares. E acima de tudo deve-se atentar para o sentido

com que essa expressâo ilumina a renovação cotidiana do cálculo do

Suor e do equilíbrio sobre a corda-bomba. "Não esquentar a cabe

ça" como vigilância. paci~ncia, e argacia - como condiç~o ativa da

luta dos fracos.

As condiçoes de reprodução desses trabalhadores nao envolvem

apenas o mundo imediato do trabalho do homem. Elas pressupoem e

se completam com a análise do funcionamento da unidade doméstica.

como unidade de subsistência socialmente significativa.

Já apontávamos anteriormente para a relevância da decisão de

"constituir família" na determinaçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIH


da trajetória dos trabalhado

res. Na verdade, todo o quadro desenhndo sobre os valores e condi

çoes da prática desses trabalhadores não 58 compreende sem a pre~

suposição da família mais cedo ou mais tarde constituída. o homem


solteiro, isolado. nao 8 um suporte socialmente legítimo de obrig~

çao. Pode ser até mesmo a sua negaç~o G uma ameaça ~ obrigaç~odos

demais.

Uma vez iniciado o n~cleo doméstico. com o casamento e com o

estabelecimento de uma habitação separada. as suas caracterIsticas

continuam interagindo com as estratégias gerais de sobrevivência.

sob os mais diversos aspectos.

O primeiro é o da relaç~o marido X mulher. o trabalho femi

nino fora de casa é altamente ilegítimo, esperando-s8 da mulher

que se dedique exclusivamente ao trato doméstico. Só em situações

de »crise" é esse admitido. nas condições posteriormente d8finida~

A mulher partilha assim da obrigação em termos muito diversos dos

do homem, pois se concentra em uma ~r8sponsabilidade" mais próxima


170

daquela "capacidade moral" que era um dos componentes da obrigaç~o

do homem no trabalho. Assim, dela nao S8 espera força nem um sa

o saber mínimo da condução da casa


ber explícito.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA e da criação dos

filhos não é na verdade representado como um oober, mas como uma

característica "naturalnzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIH
do sexo, cuja ausªncia é aus~ncia do pr~

prio "feminino", da pr6pria possibilidadg da se completar mulher

como esposa e mae.

A sua responsabilidade se concentra assim no plano exclusivo

da dedicação. Dedicaç~o que ª "disposição", isto é, a boa vontade

na condução das coisas domésticas; mas que ª tambªm a "fidelidade~

a "honestidade" - como penhor da preservação dessa unidade a que

cimenta com a constância da sua presença física e com a marca da

continuidade "moral" na educação dos filhos.

Não é raro porém que nas condições precárias que carecteri

zam a sobrevivência desse grupo, se imponha a necessidade de alg~

ma atividade domªstica, complementar·~ renda do homem. A criação

de algum animal doméstico é o caso mais frequente. Nesse sentido

parece haver uma complementariedade entre a criação de algumas g~

linhas e a engorda anual de um porco. A criação de galinhas apr~

senta uma certa dificuldade, pois ora são criadas soltas o que di

minui os gastos com sua manutenção. mas diminui também sua lucrati

vidade. pois são facilmente roubadas ou têm roubados os seus ovos,

ora sao criadas presas, o que exige uma grande despesa de manutenzyxwvuts
N

çao. De qualquer modo, porem ~las representam uma reserva constan

te de comp18mentôç~o da subsist~ncia, acessIvel a qualquer momento

do ano. o porco, por outro lado, embora concentre as vantagens do

espaço exíguo para a ceva 8 o baixo custo do sua manutenção, e um

inv3stimento a longo prazo, feito normalmente com vistas às desp~


17l

s~szyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
8 ao consumo ritual do fim de ano. ocasi~o em que, engordado

desde maio, é habitualmente morto G transformado. o uso desse pr~

duto se insere. alóm do mais, na lógica das prestações de favores

e preservação de vínculos sociais relevantes para a preservação da

unidade doméstica.

Dado o espaço 8xtremamente reduzido das habitações em Juruj~

ba e praticamente impossível plantur alguma coisa, o que é lamenta

do por muitas donas de casa. que em latas costumam manter uma ou

outra planta medicinal ou condimento, a parzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR


das plantas ornamen

tais costumeiras.

A segunda quest~o é a da r8laç~o com os filhos e sobre ela

j~ apresentamos o essencial. no tocante a sua inserç~o no mundo do

trabalho. A relaç~o entre mãe e filhas reproduz o esquema aprese~

tado sobre essa dí~d8 quanto às famílias dos pequenos produtores.

~ extremamente relevante para a reprodução social dozyxwvutsrqponmlkji


trabalha

dor a questão da casa própri~. Em Jurujuba o padrão de habitação

oscila entre a ocupaçeo de mais um cantinho do terreno da familiô,

naquoles poucos casos em que essa detém a propriedade dos terrenos

do vale, e a construção de mais um barraco no morro. onde a terra

livre atualmente só é encontrada no topo de acesso ingreme 8 pr8c~

rio.

A corda-bamba do trabalhador da pesca exige uma prática de

manipulação exaustiva dos recursos limi~r8s legítimos da sociedade

em que 58 desenvolve. o mecanismo mais comum dessa manipulação 8

o que. à semelhança do que ocorre com os pequenos produtores. S8

tece em torno da 1nstituiç~o do "compadrio».

Também aqui. referir-se ao "compadrio" ª referir-se ~ utili

zarao de uma forma cultural tradicional investida de um s1gnific~


172

dozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
social muito especifico - 8 n8sse sentido a maior parte de nossa

análise 90bre esse mecanismo entre os pequenos ê válida


produtoreszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY

para os trabalhadores ~ssalariadds.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS

t váiidô por ex~mplo no qUe toca à distinção entre o compa

d~io cl~ssico e a extra~oiaç~o da relaç~o padrinho X afilhado no

~stabe18cimento d~ vincules informais, enquanto n~o definidos por

uma r~laç~o ritual pr~via (19).

Afasta-se porem daquele sentido no tocante à sua area de a

firmação. Para o pequeno produtor esse mecanismo está intimamente

associado ao problema do crédito e as suas relações com os pescad~

res ricos e com os órgãos do Governo. Para o trabalhador. cuja so

brevivência nao pessa pela reprodução de meios de produção. não 58

coloca a questão do crédito.

Coloca-58 sim e claro a questão de empréstimos. mas é sinto

m~tico que elas nunca tomem aquele outro nome, denotador do dom!

nio mais formalizado da reprodução dos meios de produção. o em

préstimo. nesse sentido. ~ de muito menor monta, de contra

-prestação simbólica. interior à comunidade. enquanto que a idéia

de crédito envolve necessariamente ô das instituições Tinanceiras.

ao poder exterior.

o primeiro sentido desse "apadrinham8nto~ procurado é o do

reforço de linhas de parentesco pr~-existent8s enfraquecidas pela

distância social. Ela envolve assim em princípio um pequeno prod~

tor promissor ou um armador (sendo nesse último caso fr8qüenteme~

te a continuaç~o de um antigo vinculo com um "pequeno produtorn a~

cendente), Pode envolver também outros parentes. eventualmente bem

19) Com o sentido das "relaç5es di~dicas" estudadas por Foster


CI967b).
estabelecidos fora da pesoa ou gente poderosa com que de ôlgum m~

do a família teve contato ao longo de sua trajetória (um oficial

do período de serviço militar, um 8x-professor, um médico (20).

Essas vias têm todas em comum a versatilidade da relação e a

manutenção cuidadosa a longo prazo, mediante a prestação de pequ~

nos favores ou de pequenos presentes, como na preservação de um in

vest:~ento precioso acionável nas crises de vida.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON

o "apadrinhamento" com armadores apresenta porém problemas

específicoS, já que essa relação tende a se definir como o oposto

de uma relação personalizada ou de auxílio mútuo. Fique claro 10

go de início que o "apadrinhamento" com armadores nao e correspo~

dente em princípio a uma relação de qpatronagem" entre assalariado

e empregador. já que só eventualmente se trabalha em barco dezyxwvutsrqponmlk


p~

drinho; não fugindo essa relação às regras gerais do trabalho em

traineiras antes definidas. Pode ocorrer, isto sim, que a ruptura

de um vínculo de "apadrinhamento" inviabilize o trabalho nos bar

cos do antigo padrinho; nunca se dando a obrigação de neles traba

lhar ou dever do padrinho de neles abrigar seus afilhados.

As prestações de um eventual padrinho-armador não se distin

guem aesim necessariamente das demais relaç5es de ~apadrinhamento".

Como se verá posteriormente, a própria expectativa de obtenção das

vantagens pelos trabalhadores não se mistura com as expectativas

ligadas a esse vínculo. pois a área de legitimidade que as demarca

- do ponto de vista do trabalhador - 9 aquela antes descrita da

20) O peso da antiga Policlínica Geral dos Pescadores na Praça XV


parecia estar ligado também à possibilidade de estabelecimento
desses vínculos personalizados com o pessoal médico ou para-mé
dico do seu corpo de atendimento - com óbvias vantagens parã
os trabalhadores.
174

ncap~cidad8 p8ssoal~ de cada um.

Este caso parece particularmente significativo para a demons

traçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
da relatividade do tradicional par de oposição entre "rela

ç5es personalizadas" X »relaç6es impersonalizadas", como momentos

de um contínuo "tradicional vs. moderno", a 8xist~ncia de


em quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU

um traço de expectativa de prestações abrangentes nas relações as

sõlariadas convencionais da parte dos trabalhadores fosse perceb!

do como "sobrevivªncia» de um est~gio anterior. Em Jurujubõ,o que

se verifica é uma ausência dessas expectativas que nao S8 explica

pela assunçao de alguma "consciência oper6ria~ mas pela l6g1ca es

pecífica de sua sobrevivência. Prestar-se a um vínculo a longo

prazo em traineiras, atuais de produção,


nas condiçõeszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
em troca de

favorecimento pelo ,armador, seria, como ~ percebido pelos trabalh~

dores, um cálculo errôneo de suas verdadeiras condições de barg~

nha. Seria alienar a liberdade sem atingir a estabilidade d8sej~

da. Uma 16gica que est5 fundamentalmente ligada ~ relativa escas

sez de mão-de-obra para a pesca e à possibilidade de mobilidade an

tes descrita.

A existência de expectativas, caso houvesse, seria de qua~

quer modo a expressão de uma lógica pr6pria de sobrevivência dia

tinta daquela ~ue informaria as expectativas entre mestre 8 compa

nheiros, soldadas a uma prática abrangente de solidariedade (21).

A análise das estratégias de sobrevivência dos trabalhadores

não-proprietários em Jurujuba deve-se completar pela dos seus ex

tremas, pois a corda-bamba, embora possa ser uma condição permane~

21) Como exemplo das limitações que impõe essa 6tica para entender
UparentescoH e relações de trabalho assalariadas, ver a an~li
se de McGoodwin (1976) sobre um grupo de pesca na costa mexicã
na.
175

te, nao é pensada como tal - e e frequentemente superada na 1


prátzyxwvu

ca pela realização ou pela rufna do projeto de obrigação.

~ extremamente reveladora dessas condiç5es a »ru{na» como ne

gativo de sua prática e dela nos ocuparemos aqui, deixando a "rea

lizaç~o» para as pr6ximas seç5es, onde deveremos observ~~la na

tica dos mestres, dos cozinheiros e dos motoristas.

o quadro dos papéis sociais de Jurujuba prevê uma margem on

de S8 abrigam os que foram vencidos na batalha da obrigação. Não

há uma categoria Gnica que os designe, o que pode ser uma ilustra

ção da ambivalência com que se os encara e do seu estatuto de as

pantalhos sociais: o que não deve ser como o que não deve ser dito.

Não são no entanto perseguidos; antes são mantidos com a tolerân

cia benevolente dos quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


ai percebem uma permanente virtual idade de

sua condição e um exemplo vivo dos perigos do desfaleclmento na lu

ta. ~ um limbo social onde podem vir ter tanto os trabalhadorGs

quanto os pequenos produtores.

Há um texto de Bourdieu extraido do seu Travail et Travai1

leurs en Algérie que introduz com vigor à análise dessa categoria

social:

"Oevant tant d'efforts pour rien, Ia bonne volont§ tombe, on

se décourage, on se 1ai9se aller. c'est 18 dése~poir~ c'est Ia fo

lie, pour les uns c'est l'alcool. c'est Ia résignation pour d'auzyxwvut

tres. On ne fait plus aucun éffort. d'ailleurs on ne peut plus.

C'est Ia dªcheanceJ c'est Ia femme qui travaille. les enfants qui

cir8nt, Ia mendicité. On ne réagit plus. A quoi bon? On est

vaincu." (Bourdieu, 1963a, p. 354).

Aí estão sintetizados praticamente todos os temas que cercam

a condiç~o da "décheance". Temas que se ligam no caráter comum da


176

negaçao, negação de todos os valores, negaçao de todas as práticas

que emprestam ao indivíduo a sua dignidade social.

Em Jurujuba essa condição ~ a negaç~o da obrigaç~o, o seu in

verso simétrico, que se manifesta logo de início em relação ao mun

do do trabalho. N~o em relação ao trabalho como fonte da sobrevi

vêncla imediata, mas como fonte dessa legitimidade dilatada da pr~

cura da estabilidade. como preservação da sobrevivência social. "Es

se negócio de pescaria, é vida acabada; isso é bom pra quem é


issozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

dono."

Essa "vida acabada". embora percebida em um sentido como de

corrincia dessa pescaria que s6 ~ boa "pra quem ~ dono", articula-

-se em torno de uma representação sobre a birita enquanto negaçao

da "capacidade pessoal" do trabalhador.

A questão da bebida alcoólica está sempre presente, como am~

aça próxima, ao mundo desses trabalhadores. Inicialmente vincula

da ao domínio do lazer, da festa, do não-trabalha, ela se insinua

porém como um adjutório valorizado contra o frio, a monotonia e o

cansaço físico das longas 8 intermitentes jornadas de trabalho n-::-turno.

no mar; "E u não t r ag o". diz um. Por outro lado. a irre
sa io sem umzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP

gularidade das jornadas, a espera dias a fio de uma salda adiada,

o pouso em portos longínquos e inóspitos, a impossibilidade de pr~

visão de um ritmo de trabalho marítimo confiável e complementável

por qualquer outra atividade estável, tudo remete o trabalhador

freqüência do que também é instável, do que também 8 intersticial:


o bar e o beber com os companheiros de espera (22).

O. efeito. desastroso.
~2)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
da irregularidade do ritmo de trabalho
sobre a prática social dos trabalhadores é assim apreciado por
Marx: "Pendant Ia période de quinze heures formant Ia journée
177

A maior ou menor dependência dessa prática vai funcionar p~

rem como um termômetro das condições de auto-avaliação da trajet~

ria pelo trabalhador. Ora bebendo mais. ora ffparando de beberu.es

ses marcos nunca se dissoclam das crises. ora negativas. ora posl

tivas. da trajetória.

Como corolário porém da representação da uresponsabilidade

pessoal" pelo desempenho da obrigação. a incidência ou a liberta

ção dessa prática também passam a ser considerados traços da "cap~

cidade moral": a de resistir ao vIcio, a de opor-se ~ entropia de

sua dignidade social.

O "parar de beberff• por exemplo. e uma ocorrência particulaE

mente cara ao ideário dos trabalhadores. Sempre se dispõe de meia

dúzia de casos em que isso ocorreu de forma dramática 8 imprevisi

velo como representação da retomada do projeto de obrigação. como

a sua mais alta afirmação - e como ntraço de caráter" que fez mere

cer ao seu detentor o eventual sucesso posterior no trabalho (23).

de fabrique. le capital appelait l'ouvrier maintenant pour


trente minutes. puis pour une heure. et le renvoyait ensuite
pour le rappeler de nouveau et le renvoyer encore le ballotant
deoôte et d'autre par lambeaux de temps disséminés, sans
jamais le perdre de l'oeil ni de Ia main jusqu'à ce que le tra
vail de dix heures füt accompli. Comme sur un théâtre. les
mêmes comparses avaient à paraitre tourzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
à tour dans les diffé
rentes scenes des différontes actes, Mais. de même qu'un
acteur pendant toute Ia durée du drame appartient à Ia scene
de même les ouvriers appartenaient ã Ia fabrique pendent quin
~ ze heures, sans compter 18 temps d'aller et de retour. Les heu
res de répit se transformaient a~si en heures d'oisiveté for
cée qui entralnaient 18 jeune ouvrier au cabaret et 1a jeune
ouvriere au bordeI", (1973, Tomo I. p. 285).

23) Esse impasse reponta com freqüência na análise de Marx sobre o


confronto entre o capital e o trabalho na Inglaterra, no tocan
te ao estabelecimento das leis reprsssivasà vadiagem e das
"workhouses", tendo em vista que: "Pendant Ia plus grande par
tie du XVIII9 S18c18. jusqu'à l'époque de Ia grande industrie~
le capital n'était pas parv8nu en Angleterre. en payant Ia va
1eur hebdomada1re de Ia force de travail. à s'smparer du tra
178

"Deixar-se levar» pela bebida. viver


--..~-passa
da birita, a ser

vivido assim como causa e não como sintoma da falência do trabalha

dor; inversão que não é gratuita pois mascara a ilegitimidade da

verdadeira fonte do desalento: os rigores da exploração no traba

lho; mas que é também a condição de preservação da fonte única da

auto-legitimidade: a crença na força da capacidade pessoal.

A impossibilidade de levar adiante o projeto da obrigação a

feta fundamentalmente a reprodução da unidade familiar. Ela já se

manifestaria como primeiro sintoma no trabalho feminino fora de ca

sa em complementação ~ subsistência doméstica. Essa ocorrência.

que só seria legítima no caso de morte ou incapacitação física do

chefe de família. incorpora o esboço da ilegitimidade - e portanto

da dissolução social - quando se dá em concomitância à falência do

t um estado que pode se manter indefinidamente


homem.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
com graves

onus para a dignidad8 geral do grupo doméstico. acarretando fre

quentemente situações de estigma generalizado aos filhos e ~ mu

lher.

D mais comum em tais casos é a dissolução efetiva da unidade.

passando o homem a incorporar plenamente a identidade liminar des

ses meios-vagabundos. D trajeto é freqüentemente re


da falênciazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM

presentado por esses como enraizado em uma crise familiar. Acusa-

-se a mulher de falhar com sua obrigação específica. pela infidel~

dade ou pelo desleixo. acarretando a ruína do homem refugiado na

birita.

vail de l'ouvrier pour la semaine entiere, a l'exception ce


pendant de celui du travailleur agricole. De ce qu'ils pou
vaient vivre toute une semaine avec le sa1aire de quatre jour~
18s ouvriers ne concluaient pas le moins du monde qu'ils de
vaient travailler les deux autres jours pour le capitaliste."
(Marx. 1973, Tomo r. p , 268).
179

Esse tema remete novamente


.
a íntimazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYX
conexao entre a família

e a obrigação como as duas faces da reprodução socialmente legít1

ma. Essa teoria sobre as origens da crise no ~mbito familiar es

conde por sua vez as origens dessa origem: o papel da mulher do

trabalhador da pesca no projeto de obrigação.

A obrigação do homem, como víramos, ao colocar-se como obj~

to a reprodução ideal na nliberdade~ e na nestabilidaden em tudo

coincide com a representação positiva que desse objeto faz a mu

lher. Ao propor-se a luta por esse objeto no mundo do trabalho

pesqueiro já se coloca um certo desnível entre as expectativas de

ambos. Para o homem viver da pesca, batalhar na pesca, sempre pre~

supõe de algum modo a possibilidade da sobrevivência marginal que

estudamos agora. Sobrevivência na derrota, na falência, mas sempre

sobrevivência. Para a mulher, no entanto, a falência do projeto

da reprodução da unidade é uma falência


domésticazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
absoluta. Para e

Ia. cuja legitimidade se dá na criação dos filhos. não há um lugar

liminar Cheio de liberdade e despojado da tensão pela estabilidade.

"Viver da pesca~ para a mulher do trabalhador é assim necessaria

mente um projeto perigoso. cercado da dúvida e do medo sempre ren~

vados da falência do homem. Essa questão dá conta certamente da

ilegitimidade que sempre detªm a pesca para as mulheres dos traba

lhadores não-proprietários. Em inúmeros níveis sempre pudemos d~

tectá-la. ora entre adolescentes confiando em encontrar namorados

que "trabalhem em terran, ora entre mulheres lastimando 05 perigos

enfrentados pelo marido no mar, ora entre viúvas rememorando com a

zedume a nteimosia" dos que mal as sustentaram pela pesca e pela

pesca as deixaram sem pensão e sem esperanças.

Essa representação negativa da pesca como ocupaçao do homem


180

se articula "
frequentemente em torno da questão do seu afastamento.

dos longos perfodos de expectativa de sua volta do mar. Uma repr~

sentação que aponta para esse quadro geral do perigo da pesca como

o lugar da eventual dissolução do doméstico pela individualização

e pelo distanciamento do seu chefezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV


8 fiel.

Ao acusarem suas antigas mulheres de inviabilizar o seu pr~

jato de obrigação. os "vencidos" estão assim também apontando para

a indisposição e para a tensão que nelas acarreta o menor "desfa

lecimentif do homem. o menor sintoma da perigosa inviabilização de

sua reprodução legítima.

~ interessante assinalar que a expressao freqüente com que

os "vencidós" aBsinal~m sua nava condiç~o de livres marginais e a

do "eu sou solteiro" - como negaçao da antiga família. da mulherzyxwvutsrq

distante, dos filhos distribu!dos.

Esse "ser solteiro" ~ assim a razao expressa da sobrevivên

cia do dia a dia. da liberdade da reprodução marginal.


Duas são as formas de garantia dessa reprodução possibilit~

das no universo da pesca em Jurujuba: a micharia e a xepa.

Embora possam ser estratégias concomitantes ou alternativas,

elas apontam para uma diferenciação qU8 se estabelece gradativame~

te entre os "vencidos".

A micharia é a remuneração obtida pelo trabalho eventual. O

"pouquinho que entra" 8 que mantém o "vencido" ainda física ou

mentalmente capaz, ainda nao totalmente dependente da marca da bi

rita. A xepa é a obtenção dos restos da pescaria. catados ou soli

citados na descarga das canoas 8 dos barcos. Já não é mais traba

lho. é a revelação de um estado final de mendigo. pela velhice. p~

1a loucura. pela onipotência da birita,

\
181

o trabalho pela micharia é necessariamente o trabalho avulso,

podendo corresponder a per!odas de efetiva participação nos procg~

sos produtivos das canoas ou dos barcos pequenos. cobrindo assim

as neoessidades de complementação eventual das instáveis campanhas

e &uarnições. Pode também corresponder à ocupaçao nas tarefas p~

rifér1cas do atar rede para os armadores. quando são remunerados

em dinheiro, ou do puxar rede para os pequenos produtores. quando

sao remunerados em espéCie.

Essa última remuneração 8 o peixe obtido na xepa sofrem uma

limitação no seu uso pelo "vencido" que e denotativa do papel e

das condições em que o grupo tolera a sua presença e o seu d8s8mp~

nho. Esse pe~ assim obtido não pode ser comercializado. Fruto

que e da benevolência do grupo e não do trabalho investido legit!

mamente, ele só pode ser oonsumido na subsistência imediata. nunca

realizado como valor oriundo do suor do próprio rosto.

A liberdade desses "vagabundos" da posca ª ironicamente es

clarecedora de um paradoxo que inverte os fundamentos ideológicos

da pr~tica capitalista: Nlivres H


como sao de todas as amarras 80

ciai8. seriam o sujeito ideal do assalariamento. aquele »indiví

duo" que a ideologia legitimadora dos primórdios do capitalismo aI

çou ~ dimens§o de um sujeito »natural". "Livres" por~m como saozyxwvut

da necessidade da reprodução social furtam-se à venda indiscrimina

da do seu ~ltimo bem. da sua "força de trabalho", reproduzindo as

sim o impasse tantas vezes historicamente constatado entre a "li

berdade" do expropriado e a necessidade de sua "escravid§o" como

assalariado.(24) • Como se. pelo barateamento radical do valor de

24) A 16gica dessa nvida acabada" em JurujUba pode ser proveitos~


182

sua própria força. ele resgatassezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON


ô liberdade de nao vendê-Ia ou

de só vendê-Ia segundo um ritmo próprio e pessoal. recusando na re

produç~o da pr6pria vida a reproduç~o da "vida acabada" da pg8Ca

ria: daquilo quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDC


"
50- e bom pra quem 8 dono".
11 ~

mente comparada com a dos "mendigos" da area urbana nitsroensa


estudados por Delma Neves (1977).
183 zyxwvutsrqponmlkj

2. O processo de trabalho nas traineiras.

a) A casa de cachorro

O trabalho em traineiras, sejam elas grandes ou pequenas, ~

presenta uma razoável complexidade, cujo conhecimento é essencial

para entender a prática dos trabalhadores e suas condições de luta

pela sobrevivência.

Em primeiro lugar, cabe ressaltar a especificidade do proce~

so de trabalho em traineiras, enquanto significativo de uma prod~

ç~o capitalista. face aos tipos clássicos de ~jornada", de "inten

sidade" e de "produtividade" desses processos. Especificidade que

de algum modo já S8 desenhou a partir das informações contidas nos

Capítulos anteriores 8 cujas implicações teóricas abordamos no Ca

pítulozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I.

A primeira e mais mercante caracteristica é a da irregular!

dade e instabilidade do processo, de tal forma que, embora se po~

sa calcular tecnicamente a "jornada de trabalho" média anual de

qualquer trabalhador, essa relação entre tempo de trabalho necess~

rio e tempo de trabalho excedente nunca se apresenta como uma uni

dade que se imponha às representações, importando em um quadro ide

ológico distinto, quanto ao tempo de trabalho. dos operários de se

tores produtivos clássicos.

Isso n~o quer dizer evidentemente que esses trabalhadores nao

vivam as condiç6es de H8xtens~o" do uso de sua força de trabalho,

como quaisquer outros trabalhadores. Muito pelo contrário, como

se viu. as condiç6es dessa "ext8ns~0" Sôo determinantes de seu cál

culo de sobreviv~ncia. estando na raiz da "mobilidade" intensa que

caracteriza a sua relação de assalariamento.


1B4

o que ocorre ~ que, singularmente, o lapso mínimo de 8xpe~!

ência dessas condições é também o de um ano onde S8 eliminam esta

tística e empiricamente as diferenças sazonais. de safra, enfim

de ritmo geral do processo de trabalho tal como enfrentado pelo

trabalhador.

A segunda caracterIstica fundamental desse processo ~ a da

remuneração "por produção", que, atrav~s do mecanismo ideoló~ico

da "co-responsabilidade" pelo valor do produto, subjaz a toda azyxwvuts

sua prática.

Enumerar essas características nesta é prevenir para


momentozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU

a sua interveniência necessária a cada passo das análises que se

seguem. embora uma e outra venham a deter pesos específicos confo~

me estejamos examinando os diversos tópicos em que dividimos a que~

tão do "processo de trabalho" nas unidades ~capitalistas" da prod~

çao pesqueira.

A unidade mínima do processo de trabalho é a da saída de p8S

ca. Ela corresponde, grosso modo. ao período de viagem da embar

caçao aos pontos de pesca, a pescaria propriamente dita. e ao re

torno ao portozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de origem. As atividades preparatórias à viagem em

si e as tarefas ligadas a entrega do produto à comercialização co~

plementam-na no entanto como um conjunto significativo da prática

produtiva.

O processo de trabalho pode ser dividido assim em dois focos

ou ciclos: um mais abrangente, que é o da saída de pesca, o outro.

mais específico, que é o da pescaria, composta de um ou mais lan

xos de pesca.

Para facilitar a descrição desses processos, que poderiam

ser recortados analiticamente de diversas maneiras. procederemos


185

em ordem crono16gica, como se acomoanh~ssemos passo a passo uma ex

pedição típica de pesca em traineiras.

A saída de pesca pressupõe que, algum tempo antes da partida

do porto de embarque da guarnição, tenha ele sido abastecido do

combustível, do gelo e dos mantimentos necessários ao período de

estada no mar. Esse abastecimento, dirigido pelo mestre-proeiroou

pelo contra-m~stre (25), ocupa o gelador ou geladores (26) e um par

de trabalhadores a quem cabe o revezamento nas


iniciarzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDC
tarefas co

muns abrangidas pela instituição do quarto (descrito mais adiante).

Essa fase preparatória envolve ainda a presença e a atividade do

motorista, que é, como víramos. o encarregado de manutenção e con

trole dos motores abrigados na célula central do porao.

Tem então lugar a partida do barco, após o embarque da gua~

nição,obedecendo à ordem e direção do mestre-proeiro. Nesse mo

mento junta-se a força de toda a guarnição para o levantamento do

caíque (o enforcamento), que e guindado por cordas e amarrado à p~

pô da embarcação, e para o levantamento da âncora (os ferros).

Durante a viagem até o local da pescaria trabalha no pordo o

motorista, velando junto ~s m~quinas. enquanto que dois outros tra

balhadores postam-se ao leme e à proa, conduzindo a embarcação no

rumo previsto. Esses dois trabalhadores são substitu{dos, a cada

25) O contra-mestre é o auxiliar direto e substituto eventual do


mestre-prosiro. com quem pode dividir algumas das tarefas de
direçao e gerencia do processo produtivo.

26) O gelador é o encarregado de manipular o gelo no interior do


porâo, seja condicionando-o. seja acomodando-o junto ao pesca
do recém produzido, seja soltando-o no momento da descarga dõ
produto. t uma tarefa remunerada habitualmente com uma venta
~ pequena (uma ou uma e meia partes adicionais) e não corre~
ponde a uma função exclusiva - o gelador participa de outras
tarefas produtivas sempre que não coincidem com aquelas.
186

duas horas. por outros dois. segundo uma ordem ditada pelo mestre.

e que abrange todos os membros da guarniç~o. excetuados os "qual!

ficados"zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
(o mestre, o contra-mestre. o motorista e o cozinheiro) e

os muito pouco qualificados (iniciantesl. Esse revezamento j~ se

iniciara na ajuda ao trabalho de carregamento do barcozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY


e termina

nos trabalhos de limpeza e ordenamento da embarcação ao término da

viagem. ~ o quarto.

Dependendo da distância percorrida inicia-se ou nao nesse p~

ríodo o trabalho do cozinheiro, que prepara as refeições previstas

e ordenadas pelo mestre.

Uma vez atingida a area presumivelmente pisco se. iDicia~se

o processo restrito da pGscaria. D contra-mestre assume o leme e

o mestre-proeiro posta-se de pé à frente da embarcação, os olhos

\ postos no mar à procura dos sinais dos cardumes. Caso haja sonda

no barco, um outro trabalhador, na posição de sondeiro, passa a ~

companhar os sinais emitidos pelo aparelho, complementando atare

fa do proeiro. A procura do peixe - o correr o peixe - pode S8 de

senrolar horas a fio, uma noite inteira. acima e abaixo dessa sea

ra inconstante. Muitos trabalhadores permanecem na proa ou aí se

revezam informalmente. ocupados também nessa crucial indagação.

Tão logo é localizado um cardume e avaliada a convenigncia

de seu apresamento pelo proeiro, este passa a comandar o cerco. A

celera-se a velocidade da embarcação, corta-se em curva o rumo do

cardume numa manobra rápida e desprende-se ritmadamente a rede que,

como uma cortina envolve em círculo a área visada. Esse processo

envolve, além do proeiro. do contra-mestre e do motorista, os cai

queiras e o chumbeleiro. Os primeiros ocupando a pequena embarca

ção que, solta, age como bóia terminal da rede que se estende. O
187

segundo largando os chumbos que formarão a extremidade inferior da

cortina, segundo um ritmo e com tal eficácia que não se embaralhe

a rede ao cair n'água.

Um outro trabalhador, que mais tarde veremos na posição de

corticeiro, ocupa-se da largada do caíque, isto e, do desatamento

da corda que o retinhazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


à popa, tão logo ocupado pelos caiqueiros.

Terminado o cerco, inicia-se o carregamento da rede. Isto

significa em primeiro lugar fechar o fundo da rede, que se trans

forma em um saco, mediante o retesamento de uma grossa corda (a

carregadeiral que corre pelo meio dos chumbos. Esse movimento tem

o auxílio mecânico de duas grandes roldanas que eiram com a energia

do motor, permitindo que apenas dois homens se ocupem do que seria

uma tarefa extremamente esgotônte. A essa altura já é possível jul

gar do bom resultado do cerco pela qualidade 8 quantidade do cardu

me apresado. Em caso de resultado positivo prossegue-se com o car

regamento, que passa a exigir a ocupação de toda a guarniç3o, exc~

tuados o motorista e o cozinheiro. A tarefa do recolhimento da re

de que e feita ao longo de um dos bordos da embarcação exige um mo

vimento compassado, cuidadoso e exaustivo, já que a rede deve ir

sendo acondicionada segundo uma ordem específica. de modo que este

ja pronta para uma nova largada após o término desse lanço. O pr~

cesso envolve um certo número de pessoas ocupadas com o acondicio

namento das bóias da parte superior da rede no espaço junto ~ popa

(os corticeirosl, o pessoal da panagem. ou seja, do corpo centr~l

da rede e o chumbeleiro, que re-acondiciona os chumbos na devida

ordem no eixo de ferro de onde sairão rapidamente no próximo cerco.

O caiqueiro , de dentro do barquinho. e o mestre 8 contra-mestreôu

xiliam na condução geral do processo e em determinados detalhes se


18S

cundários.

Essa é suspensa tão logo o cardume esteja condensado


tarefazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

a borda do barco no pequeno saco a que se vê então reduzida a rede.

o carregamento da rede se completará posteriormente. após o encer

ramento dozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
novo ciclo do processo - o charrico. ou sgja. o trans

porte do pescado da rede para os poroes,

Essa operação toma o nome de um instrumento de trabalho fun

damental: uma espécie de gigantesco coador de rede dotado de um

longo cabo de madeira e preso por uma corda ao pau de carga (um

grande eixo movediço preso ao mastro de proa que funciona como ba

se de um gUindaste rudimentar movido a força de braço).

A operação do charrico é uma das mais complexas de todo o


,,- .
processo, exigindo a cooperação de toda a guarnição. nazyxwvutsrqponmlkjihgfedcba
sequenc~a

muitas vezes repetida dos atos que fazem baixar o charrico até a

rede. enchê-Ia de peixe, içá-Ia e movimentá-Ia sobre o convés. der

ramar o produto. fazê-Io entrar pelos pequenos acessos ao porao e

resfriá-Ia com o gelo acondicionado na bodega (compartimento cen

traI do porão). Essencial em todo o procedimento é o papel do ca

fifeiro. encarregado de movimentar o cordame que aciona o pau de

carga.

UmazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
vez recolhido todo o pescado 8 completado o carregamento

da rede. cabe aos trabalhadores menos qualificados o recolhimento

e devido re-acondicionamento dos instrumentos usados no processo.

sobretudo o variado cordame, que deve ser disposto em diversos po~

tos do convés, segundo uma ordem impecável que permita o seu uso ~

fiei ente a cnda novo lanço (27) ,

27) Nessas tarefas complamentares e que o pesquisador procurava


sempre ajudar, como testemunho de boa vontade.já que nas de
mais,sua interferência só podia representar estorvo.
189

Ao fim de um lanço, passado o cafª preparado pelo cozinheiro

e novom8nte enforcado o caiquB. reavalia o mestre todo o encaminha

mento da-operação. de uma forma que não deixe de levar em conta os

sentimentos comuns' expressos nos comentários constantes da guarnl

çao. a partir daí, r ep ezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS


PoderãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
t r+ s e outros
í lanças. nessa longa

travessia das noites de trabalho.

Esgotadas as possibilidades da safda, seja pela lotação dos

por5es, seja pelo desgaste dos meios do produç~o estocados no bar


\
co, retorna-se ao porto, onde baixam o mestre e mais algum outro

dos trabalhadores "qualificados", onde dão conta ao armador ou ao

seu encarregado dos result2Jos da pescaria 8 recebem as instruç6es


\
relativas à comercialização.

Dirige-s8 então a embarcação ao porto de desembarque das sal

~ ou ao ~1ercado da Praça XV, onde o mestre e/ou o c8ntra:-mestre

se encarregam das funções diretivas e de contato com os adquir8~


tas do produto.
o processo de descarga do poscado tem como figura central um

trabalhadQr de fora da pesca. assemelhável a um estivador pela ta

refa de que se desempenha. Trata-se do descarregador, que se DCU

pa da tarefa exaustiva do levantamento dos cestos carregados de

peixe do por~o para o conv~s 8 que 6 remunerado por caixa (as uni

dades da comercia11zação) à conta das despesas gerais da armação.

A guarnição participa porem ainda da descarga - como apêndl

ce do processo de produção. Trabalham os geladores, desentocando

o pescado semi-congelado dos porões 8 trabalham os demais trabalha

dOr e s de c o n v és (o s não - " q U a 1 i f i c a dos") no t r ans por t 8 dos g i g oscar

regados de peixe) jogados de môo em mao do conves até as caixas co

mo numa "esteira rolante" de vivas engrenagens.


190

A saida de pesca, tal como agora descrita, nao esgota porem

o conjunto das atividades do trabalho em traineiras. Junta-se azyxwvutsrqpon


e

Ia o trabalho desenvolvido em terra na manutenção e reparos even

tuais da rede da embarcação. Essas tarefas. que consistem basica

mente no atar, isto g, remendar com fio de nylon as avarias da tra

ma, são organizadas e dirigidas por um membro da guarnição, que re

c_ebe vantagons como mestre de redes. Esse trabalho é no entanto

pouco intenso, dadas as condições de crescente resistência e dura

bilidade daquele meio de trabalho.

A sarda de pesca representa assim o núcleo do processo de

trabalho pois, embora abranja momentos e ciclos internos diversos,

corresponde a um períOdO de subordinação direta do trabalhador,

virtual quanto ao afetivo uso de sua força. De certo modo, porem.zyxwvu

\ as condições desse engajamento na saida de pesca repetem as que

presidem à vida total do trabalhador.

Como no barco os momentos de "folga» sao o aguardo tenso da

imprevisivel pescaria, na vida os momentos de folga são o aguardo

também tenso das também imprevislveis saídas.

A subordinação se nuança assim de dois níveis de intensidade,

mas nunca se inverte nisso que a representação de tantos trabalha

dores qualifica como a sua via. o repouso no lar, os periodos de

suspens~o das jornadas de trabalho e de nliberdade" da pressao do

seu regime (28).

A mesma tensão que impede a utilizaç~o produtiva ou compens~

28) A grave relevância que tem essa suspensão legalmente legitima


da das jornadas de trabalho para o operário fica clara, por e
xemplo, na observação de José Sérgio Leite Lopes, da represe~
tação do desrespeito ao "temno livre», ~ esfera do »dom~stico",
como um sintdma do cativeiro"Gntro os 6p.r~rios do DçGcar (L~i
te Lopes, 1974, p p . 70 e 93).
181

dora do ntempo livre" durante a saída de pesca se repete no quot!

diano do trabalhador de traineira, sempre vigilantezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR


à convocaçao

do mestre,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Diferentemente porem - do trabalhador ocupado em um processo

de produç~o regular e contínuo em que se definam b6m as "jornadas"

e o"descanso" n~o h~ entre os trabalhadores da pesca uma represe~

tação de ilegitimidade quanto à sua convocação. A ilegitimidade

cerca isto sim o retardo na convocação para a saída de pesca ou.

nesta. o retardo na obtenção de um bom lanço.

Pois. na verdade. se a super-exploraçáo do operária clássico

pode Se dar pelo aumento das jornadas de trabalho. diretamente ou

atravªs da quebra do seu "tempo livre", para o trabalhador da pe~

ca o principal sintoma da super-exploração e o desperdiçamento de

sua força na irregularidade do processo de produção. que subverte

a já precária relação entre o valor de sua força de trabalho e o

"sal~rio" m~dio percebido. de tal modo que sendo este preço no ca

50 absolutamente elástico e aquele valor praticamente estável. o

que se dá é uma flutuação permanente entre graus da "super-explor~

A permanência desse caráter da produção pesqueira em traine1

ras se dá portanto como função de um círculo vicioso. em que a su

per-exploração permite que as empresas funcionem com o seu baixís

simo grau de produtividade atual e esse baixíssimo grau reforça a

cada momento a necessidade da "super-exploração". Dessa forma.

não se coloca aqui uma luta pelos limites da jornada de trabalho,

característica das formas fundamentais da relação capitalista de

produção, nem tão pouco o embate em que o crescimento da "intensi

dade~ e da "produtividade" jogam como armas contra os trabalhado


192

res. Nenhum desses três mecanismos básicos caberia no quadro da

produção atual em traineiras. garantida é a extração de uma aI


quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON

ta taxa de "mais-valia" pela constante e marcante "super-e)(plor~

ção".

A esse quadro responde o trabalhador com as armas equívocaszyxwvu


seç.a.o
N

da "mobilidade" de que falávamos nâ.'riiii,,~ anterior. invertendo

assim de certo modo as armas contra ele usadas: a "irregularidade"

responde com a "irregularidade", ~ "instabilidade" com a "instabi

lidade".

A "mobilidade" como resposta à super-exploraçáo abrange tam

bém a recusa cada vez mais freqQente em submeter-se ao regime das

grandes traineiras. preferindo o trabalho nas !raineiras pequenas.

Como víramos. inúmeras razões justificam a preferência pela maior


\ zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
"estabilidade" do regime produtivo desse Gltimo setor. onde se mi

nimizam os efeitos desastrosos da "super-exploração" pela instabi

lidade do ritmo de produção. Aqui. como em outros setores de pr~

duç~o. o gosto pelo "passar sábado e domingo em casa" ~ uma metáf~

ra significativa da recusa ~ inviabilizaç~o da reprodução lato sen

su representada inclusive pela subversão das regras básicas da pr~

tica social dos trabalhadores. da sua comunnão com o ritmo legfti

mo da "semana de trabalho" 8 do "sábado e domingo em casa" (29).

29) Sem esquecer que esse ritmo é uma condição essencial e direta
da reprodução da unidade domestica. como garantia da realiza
ç~o de trabalhos complementares ~ subsist~ncia: "O conte~do d~
oposição entre ~trabalho~ 8"lazer" tem características parti
culares para os trabalhadores aqui estudados, quando compara
dos a outros grupos. Para ambos, mant~m-se o sentido de "foI
gan, de »aus~neia de compromissos", ete., em que se baseia a
noç~o de "lazer": basta lembrar a import~ncia atribuída pelos
trabalhadores ao domingo. como "dia especialu • Mas. se para
os demais grupos o car~ter n~o-eeon6mieo das aç6es e essen
cia1 para definir esta "aus~ncia de compromissos». o mes~o n~~
ocorre com a maior parte dos trabalhadores. Estes. via de re
193

A efic~cia dos mecanismos de defesa da ~mobilidad8~ e da re

cusa as longas safdas e longas esperas das traineiras grandes pre~

supoe a fragmentação e relativa fraqueza das unidades produtivas

e uma situação de escassez de força de trabalho. Os grandes arma

dores v~m, no entanto, contornando essa situaç~o mediante a utili

zaçao de trabalhadores oriundos de ~reas de pesca economicamente de

primidas, os quais são mantidos a baixíssimo custo, vegetando a

sombra das embarcaç6es, freqQentemente ~endividados» e impossibil!

tados de retornar a seUs portos E: gente de Itaipu (RJ),


de origem.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

de Maric~ (RJ), de são João da Barra (RJ), da Ilha Grande (RJ). de

são Sebastião (SP)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE


8 até desse LongInquo porto de Itaja! (SC). são

geralmente jovens 8 solteiros - o quo explica em parte sua dispon!

bilidade em vender a força de trabalho a tão baixo preço - agrega~

do a isso a precariedade do mercado de trabalho em suas regiões de

origem. Nos intervalos entre as saídas de pesca permanecem alguns

deles alojados nas traineiras, alimentando-se por conta das despe

~ comuns que serão depois abatidas do montante do valor realiza

do da produção. Nesse caso estão sobretudo os que vêm de Santa Ca

tarina - os catarinos - e que parecem catalisar a raiva dos comp~

nheiros trabalhadores de Jurujuba. que neles localizam, de certa

forma. a percepç~o do sentido estrutur,l ds sua "necessidade». da

forma como são utilizados contra os interesses dos trabalhadoreslo

cais. Essa quest~o ser~ desenvolvida oportunamente ao tratarmos

gra. não dispõem de recursos (e quando os possuem preferem a


plic~-los de outra formA) que permitam o acesso aos meios de
diversão de massa. pelo ~8nos na intensidade de participação
'de outros estratos sociais. Assim, boa parte do tempo "livre»,
não comprometido profissionalmente. é gasta em atividades mui
to semelhantes ~s desempenhadas durante os períodos "de trabi
lho". mas a situaç~o. o contexto em que elas se realizam. e vi
vida como "folga". (Machado da Silva, 1971, pp. 58-59).
194

da cooperaçao na produção em traineiras.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIH

o outro lado da realidade de vida dos trabalhadores da pesca

é o de suas condições de trabalho no interior das traineiras - a

quilo a que chamam a vida de cachorro na casa de cachorro. Condi

ções de trabalho que abrangem desde qU8st5es mais amplas. intrins~

cas ao trabalho marítimo, at~ as mais espe~ificas. atribuíveis as

características do processo de trabalho das traineiras.

HTrabalhar no mar" pressupõe o enfrentamento de condições de

adversidade particularmente graves. Já o afastamento físico a que

nos referíamos quanto ~~equena produção" demarca uma area de li

m1nar1edade carregada de simbolismo. Afastar-se da terra "firme"

e navegar sobre o mundo invertido daquilo que nao 8 "firme" por e~

celência: o mar como repositário de todas as características de u

ma "natureza" onipotente e exterior ao que ~ "humano". perigosa.

imprevisível. indomável; reino das correntes. das marés. dos ven

tos, das tempestades e dos nevoeiros, onde o calendário relevantes

o das datas perigosas. marcadas pela conjunção das estações 8 luas

adversas.

Essa liminariedade se articula portanto como a inversão do

social. do reino do "previsível". da "terra firme" como sede da vi

da socialmente relevante. o afastamento da família. o rigor da se

gregação sexual. o ritmo instável do produzir no mar, tudo investe

a sa!da de pesca.de um peso de oposição ainda mais forte do que o

do enfrentamento da fábrica: culminando todo o processo com essa

inversão nao menos fundamental que é a do dia pela noite nessas

jornadas no escuro (30) desejadas e temidas. Acresce-S8 a isso a

30) o escuro são as noites ou as partes de noite sem lua, partiou


larmente favoráveis à detecção dos cardumes de certas espécies
195

fragilidade dos recursos com que sao enfrentados os rigores do mar,

As traineiras, sobretudo as menores, são embarcações de estabilid~

de não muito alta, particularmente frágeis. quando carregadas re

tornando o abrigo em seu interior é sempre


ao porto.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA precário, in

cômodo, incompleto. sobretudo durante o trabalho nos lanços,quando

a exposição ao tempo é longa e total. E há. acima de tudo. a sub

missão a esse reequil!brio do corpo humano exigido pelo balanço da

embarcação cujos efeitos estão sempre presentes nos comentários dos

pescadores. Reequilíbrio que se manifesta no enjôo das primeiras

viagens. repetido após cada longo períOdO de espera em terra 8 a

gravante das más condições de trabalho. de alojamento e de alimen

tação a bordo. E que afeta também o retorno. quando o corpo volta

a habituar-se à estabilidade da terra. provocando sensações de ton

teira e marcando particularmente o sono. transtornado pelas brus

cas revivências do desequilíbrio no barco (31).

Os periEos físicos são ademais constantes 8 as histórias so

bre momentos de desespero e impotência face à violência das tempe~

tades abundam nas conversas sobre a prática comum. Os naufrágios

por abalroamento ou por outro tipo de avaria s~o alªm do mais faci

litados pela precariedade do sistema de rádio-comunicação. freq~e~

temente quebrado ou em mau estado de conserveçao.

Esse quadro geral das condições precárias do trabalho maríti

mo vaí-s8 complexificando a medida em que o enfocamos do ponto de

que se tornam 8nt~o visíveis graças a bioluminescência (a ar


dential.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

31) Essa ~ uma d3s raz6es fundamentais apresentadas como im~edime~


to da concomitância de algum outro trabalho ou de algum estudo
nos intervalos das saídas, marcados por essa persistência dos
efeitos desequilibradores da permanência no mar tanto maio
res quanto mais intermitentes as saídas.
196

vista do processo de trabalho nas traineiras e, mais ainda, do po~

to de vista das diversas funções e tarefas desempenhadas pelos di

ferentes trabalhadores.

Há em primeiro lugar a questão geral da acomodação dos traba

lhadores dentro das traineiras. Mesmo as maiores delas (que uti

lizam por outro lado maior nGmero de trabalhadores) apresentam um


~
quadra de impressionante inadequação. Os beliches são emzyxwvutsrqponmlkjihg
numero

insuficiente, apertados e quase sempre imundos. acometidos ademais

por baratas e por goteiras, o que lhes empresta uma impressão g~

ral de alojamento de campanha, de barraqueamento improvisado em


\.
trincheiras de guerra. Os menos abrigados - os de proa - têmzyxwvutsrqponm
a

vantagem de serem mais arejados. fazendo-se o seu acesso porém por

um convés varrido pelas ondas em noites de tempestade e estando p~


\

rigosamente situados na parte mais imediatamente afetada por um a

balroamento qualquer. Os ~opa, mais abrigados, sofrem porém de

sui'o.camento provocado pelos vapores das máqUinas do porão. cuja bo

ca abre-se ~ seu lado. Em tais condições não é de admirar que se

ja prQfBr!vel, sempre que possível. d~rmir ao relento no conves,


-,
sobre o fardo da rede ou sobre a t~bua dura. O período de inv8rn~

quando o frio noturno 8 muito mais intenso que em terra. e part~

cularmente penoso, pois a permanência nos beliches se impõe como

um mal menor faCe à inclemência do tempo. Excusado é dizer que o

não-atendimento às necessidades de higiene socialmente demarcadas

como mínimas e que a total ausência de privacidade. por mais momen

tânea que seja. acentuam o quadro geral do que não é mesmo neste

caso senao uma casa de cachorro. isto é, indigna de sua identidade

social.

A alimBntação a bordo nao deixa de ser farta. Quanto mais


197

nao fosss. essezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


é um valor pago pelos próprios trabalhadores no

desconto das despesas comuns. Ele é porém sempre motivo de insa-

tisfação e conflito. já por não atender nas viagens longas ao m!n.!

mo de variedade ou amplitude que exigem os seus padrões legItimas

de dieta. já por feriras expectativas de uma qualidade mInima nes

sa única satisfação das longas jornadas divididas entre a estafa e

a monotonia comuns. Esse potencial de conflito. a que não é estra

nha a percepção pelos trabalhadores de um barateamento forçado do

valor de sua força de trabalho. enquanto valor de sua reprodução.

manifesta-se sintomaticamente na recusa à utilização do peixe como

fonte de alimento a bordo. ou melhor, na recusa à utilização para tal

fim do pescado que será comercializado. A sardinha sofre nesse

sentido uma interdição quase absoluta. vencida apenas 8 a contra

gosto no caso de esgotamento de quaisquer outros recursos. ~ inte

ressante que o mesmo tabu não se estenda ao peixe eventualmonte

capturado em caráter pessoal. com linha, nos momentos livres.o que

revela além do mais a internalização do interesse comum na preseE

vação do valor do produto comercializável, do qual depende o valor

da pr6pria remuneraç§o dos trabalhadores. Inverte-se neste caso

a relação entre o trabalhador e o seu produto verificável por exem

pIo na usina de açúcar estudada por Leite Lopes (1974) onde a in

terdição ao molhar o pão no caldo de fabricação é sofrida pelos

trabalhadores como impedimento à complementação de SU3 parca dieta.

Uma das condições aparentemente menos graves mas extremamen

te demõnstrativa da inconveniência da estada nos barcos e a de im

possibilidade do aproveitamento dos momentos de "lazer". Como já

disséramos antes. a vida embarcada oscila entre a estafa e a mono

tonia. Estar parado no barco. que já significa em si uma privaçã~


198

pois corresponde a um não-trabalho, a uma não-produção, acrescen

ta-se de ilegitimidade pela impossibilidade concomitante de um ver

dadeiro repouso, seja pela precariedade do alojamento. seja pelo

estado de vigilância de que se reveste boa parte desses momentos

livres. Conversa~ ou jocar nessas cir~tâncias não deixa de ser

um exercício de tensão, em reforço da irritação comum. da comum

sensação de aprisionamento e impotência. NãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP


é estranha a esse es

tado suspensivo a intensa expectativa em torno de um derivativo es

tuporante (32), sendo rigorosa a proibição pelos armadores do uso

de bebidas alc061icas nos bar~os. Qualquer ida a terra, nos lug~

rejas distantes onde se aparta às vezes no transcurso de uma saíd~

é motivo assim de grande regosijo - sendo a ingestão de uma cacha

cinha considerada essencial. Essas paradas ou pousas complementam

tambim duas outras necessidades: a dos banhos. impossíveis no bar

co, e a do futebol. como exercício de distensão dos músculos condi

cionados pelos extremos do uso ou desuso e como prática e apropri~

çao do espaço aberto da terr~ firme.

o processo de trabalho. por sua vez, importa, como se pode

deduzir da descrição antes feita, nas mais flagrantes eVidenciasde

um desgaste excessivo e rude da força de trabalho. só raramente as

saciada à força mecânica. ~ comum por exemplo a quase todas as tô

refas o enfrentamento continuo das intempéries - o frio, o vento,

a chuva - associado à necessidade do molhar-se nas rodes pejadas

de salmoura e residuos, ao manuseio escorchante de cordas e fiosmo

lhados.

32) A bebida, a ingestão de bebidas alco6licas. parece estar sendo


substituída nesse papel pela utilização da maconha, em outras
regiões de pesca; segundo o pessoal de Jurujuba, que valoriza
pejorativamente essa prática.
199

Cada uma das categorias internas ao processo enfrenta por

sua vez condições especificas de desgaste. O próprio mestre-proei

~. poupadozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de alguns dos trabalhos manuais, enfrenta uma das mais

rudes tarefas da produção: a da permanência no posto no correr o

'pBi~. plantadozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ã proa, recebendo de frente o vento e a cbuva. os

olhos bem abertos durante horas a fio perscrutando um horizonte de

mares.

O motorista. por usa vez, abriga-se no porao. mas respira in

terminavelmente um ar quente impregnado ds vapor e resíduos ds o

180. sujeito além do mais à brusoa e intensa inversão de tGmperat~

rô de cada subida ao conves.

Os geladores trabalham. no carregamento do gelo. no resfria

monto do pescado de cada charrico e na descarga do peixe, enfiados

em um porão. metidos até o joelho em gelo britado. suando e se ex

pondo a uma ameaça grave e constante ã saGde. Os caiqueiros. por

sua vez, enfrentam a cada lanço o perigo do fazer-se ao mar no p~


, f" N ~

queno ca1que. indefesamente expostos a um desastre que nao e comum

mas que não deixa d8 estar presente às rEp~esentações da falsidade

do mar.
Complementa esse quadro o fato de que os possíveis. meios de

proteção ou de limitação dos efeitos danosos do trabalho nao sao

fornecidos pelos armador8~. devendo ser adquiridos pelos pr6prios

t~abQlhador8s. Trata-se das botas. das panagens (esp~ci8 de aven

tal de plãsticol 8 dos agasalhos em geral (toucas. boinas. japona~.

meiôs de lã. ete.), cujo alto preço impede uma utilização regular

~I! comum. sobretudo pelos mais jovens ou menos qualificados. que

88 oxpoem assim duplamente aos rigores do trabalho no mar.


200

b) O Maquinismo e o mar

Essenciais ~ campreensao do engajamento dos trabalhadores no

processo de trabalho são as suas relações com os meios de produção

envolvidos na pesca em traineiras, pois são o locus e os instru


N

mentos de afirmação de sua prática, ainda quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcba


nao 05 vivenciem e

que realmente nao sejam »propriedade» sua.

Pois, como se viu. apesar de seccionada a relação de propri~

dade. permanece de pe nessa forma de organização do processo de

trabalho a relação de apropriação real entre o trabalhador e os

meios em oposição à forma propriamente


de produção,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA capitalista des

se processo~ caracterizada pela submissão real do trabalho ao cap!

tal. S8 via, da mesma forma. 8sse vínculo de afirmação


ComozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA da

"capacidade" pessoal do trabalhador face às "mãquinas» da pesca se

articula com a questão da baixa produtividade do trabalho na prod~

ção de pescado nas traineiras de Jurujuba. em termos da baixa apli

caç~o da "inovação tecnol6gica», do quase nulo desenvolvimento de

"pesquisa" sobre recursos pesqueiros e condições de capturae do co.!},

s8q~ente desenvolvimento precáriO da cooperação complexa e da divi

sao do trabalho. Pudemos ver ainda como esse quadro é conformado

por uma situação de super-exploração da força de trabalho que se

mantém em círculo vicioso com o baixo desenvolvimento das forças


\
produtivas. Super-exploração que se mascara sobretudo pelo siste

mazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de remuneração por produção. que duplica o interesse pessoal do

trabalhador na condução do processo de trabalho. já concentrado p~

lôs condições de apropriação real face aos meios de produção.

Nessas condições, a prática de atuação e representação sobre

os meios de trabalho (o barco, a rede e os demais instrumentos de

trabalho) expressa uma grande ambivalência. que se recorta junt~


201

mente com aquela outra, já antes estudada, que cerca a questão da

"responsabilidade moral" do trabalhador face ao conjunto do proce~

90 de trabalho.

Assim, às auto-avaliações do comportamento simbolizadas pelas

expressões conflitantes do puxar saco e do fazer por onde corres

pondem atitudes de respeito e até mesmo de manutenção cuidadosa

dos meios de produç§o ou atitudes de revolta quanto ao ~cuidar do

material do homem". Trata-se na verdade da mesma relação, pois e

nesse trato que se define o papel do pescad~r capaz: no trato dos

meios de trabalho.

Fazer por onde constitui dessa forma também uma expressao des

Sê preocupação e controle da parte do trabalhador para com o esta

do dos meios de trabalho, de cuja eficiência e qualidade depende

em boa parte o volume e a excelência do produto obtido. Não ezyxwvutsrqponm


a

toa que um jovem trabalhador em traineira exclamou certa vez no ca

larzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de um charrico particularmente abundante: "A maior invenção que

já teve foi os barcos", no reconhecimento da inestimável contribui

çao de produtividade trazida em principio ~ pesca pela utilizaç~o

das traineiras.

Essa preocupaç~o no entanto esbarra no limite da percepçao des

s~ material como propriedade e gozo do armador, como "material do

homem". Percepção que é reforçada no embate constante pontra essa

estratigia de reforço da super-exploraç~o que consiste na "economi

a" daé meios de produç~o pelo armador. A utilizaç~o de material

velho e desgastado. a recusa em incorporar alguma inovação técnica

relevante. a manutenção precária do sistema mecânico de propulsão

e carregamento. o descalabro e sujeira da casa de cachorro. tudo

se articula nesse claro intuito de, diminuindo o investimento no


202

capital constante, manter o rendimento geral da produção, sem alte

rar o capital variável (33).

Demarca-se dessa forma ao nível da representação um limite que

nao reencontra sua nitidez o ponto da curva moral


no real.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
entre

a defesa dos próprios interesses e a subserviência ~ exploração os

eila na prática ao sabor da maior ou menor legitimidade de que se

revista o trabalho e~ uma determinada unidade de produção. Assim,

o que hoje para um trabalhador de convés a pique de abandonar o bar

co é um sinal de ~puxa-saquismo~ indevido. para o trabalhador pre~

tes a embarcar ou a receber uma vantagem pode ser a contrapartida

legítima no jogo da sobrevivência.

Afora essa característica. algumas pertas do barco. por exem

pIo, opoem-se como mais do armador a outras mais do trabalhador.

Assim, os cuidados dispensados ~ limpeza do conves, palco do pr~

cesso de trabalho. não 8e repetem em cuidados na limpeza dos beli

ches, justamente considerados como da alçada do proprietária por

não serem elementos diretos da produção e não interferirem porta~

33) O interessante nesse processo é que. dadas as condições de pr~


dução já explicitadas. obtém-se um crescimento da extração de
mais valia pelo estancamento do desenvolvimento das forças pro
dutivas, ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
qU 8 8 o oposto do processo clássico, embora tenha
as mesmas brutais conseq~ências sobre a classe trabalhadora:
"On a vu que l'industrie mécanique d~veloppe et organise pour
lô promiere fois d'une man1ere systémôtique l'economie des
moyens de production, mais dans 18 régime capitaliste cette G
conomio revGt un caractere double et antagonique. Pour attei~
dre un effet utile avec 18 minimum de d~pense;on a recours au
machinisme et aux combinaisons sociales de travail qu'il fait
Gelare. 00 l'autre c5t~. des l'origine dos fabriques, l'Gcono
mio des frais so fait simultanément par Ia dilapidation Ia
plus effrénéG de Ia force de travail, et Ia lésinerie Ia plus
~hont~8 sur Ias conditions normales de son fOlctionnement.
Aujourd'hui. moins est dªvaloppªe Ia base technique de Ia gra~
de industrie dans une sphere d'exploitation capitaliste, plus
est développé ce côté négatif et homicide de l'économie des
freis" (Marx. 1973, Tomo lI, p. 142).
203

to no valor do produto. Do mesmo modo, um reparo na rede e legIt1

mo, enquanto que uma pintura da casa de m~quinas nao o e.

A par da ilegitimidade latente que cerca as condiç5es de uti

lização desses meios de trabalho, desenha-se porém uma area de i

dentificação, sobretudo no tocante aos barcos. que graças a extre

ma "individualidade" (nenhuma ª
perfeitamente igual
embarcaçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA a

outra. apresentam performances e características físioas determina

das e têm. além do mais. cada uma um nome especifico). sofrem um

processo de "personalização" freq~ente da parte dos trabalhadoreszyxwvutsrqp

( 34) •

Não é estranha a essa representação a idéia de uma certa ali

ança entre traineira e trabalhador. ambos abandonados e mal-trata

dos pelo armador, ambos solidários na faina produtiva. Dessa forma

acentua-se o processo de fetichização do papel produtivo desses

meios de trabalho. percebidos literalmente como "meios". como "me

diador8s~ entre o "trabalho" e a "natureza", m~s dotados de umavon

tada que os pode colocar do lado do trabalhador ou contra o traba

lhador. A expressão "quem sabe de peixe ~ rede" ~ denotativa das

sa representação dos meios de produção como agentes a serem alicia

dos na luta produtiva contra o ~.

Paralelamente a essa "humanizaç~oH dos instrumentos de traba

lho. ocorre tamb~m como que uma »reificaç~o" do corpo humano. atra

vis da dicotomização entre o "ser físico" - a força - e o "ser mo

\ ral" - a vontade, em que aquele nem sempre obedece ou se comporta

34) t interessante nesse sentido perceber a oposição entre os no


mes oficiais dos barcos, que invocam personagens da "grande
tradição". nomes de família ou de santos. e os apelidos com
que os trabalhadores carinhosamente 05 apodam. repetindo o p~
drio de "personalizaç~o" por apelidos vigente entre os mam
bros da comunidade.
204

à altura deste. Como se de algum modo - sobretudo através da doen

~ - também esse pudesse se furtar à cooperação na luta pela sobre

vivência.

Mediante tais mecanismos de fetichização organiza-se como que

um continuum entre os dois p610s "vivos" da interaç;o na produç~o:

o trabalhadorzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e o peixe. passando do homem como vontade, ao homem

como força corporal, desse último à força dos instrumentos e dessa

~ matiria do peixe, fechando-se o ciclo na "vontade" deste; repr~

dução do oposto num recurso propiciat6rio do bom resultado finaldo

embate.

Isso nos remete à representação sobre o peixe e sobre o mar e

o tempo, como nichos naturais desse contendor "natural".

Todos os três elementos são vivenciados como pertencentes a

um mesmo reino - reino da instabilidade. da irregularidade, da im

previsibilidade, (oposto ao bem supremo da "estabilidade" social

mente adquirida) e também reino da carência e da necessidade (como

oposto ao bem da "liberdade").

Aqui se repete o tema modelar da~, sobre cujo sentido en

tre os pequenos pescadores já nos detivéramos. Resumo em si a re

presentação sobre um limite ~natural" à ~apacidade pessoal". uma

barreira externa às relações sociais, reproduç~o invertida do

prio social. carregada dos valores negativos que neste são forj~

dos pelas relaç5es de produção e mascarados pela "forma fenomenal"

da relação de apropriação real e da remuneração por produção.

A idéia de maré como resultado aleatório do processo de traba

lho pressupõe diversos módulos de representação sobre a onipotê~

cia das condições "naturais" da produção. sobretudo 05 que se refe

rem à alternância do inverno x verão e do claro x escuro. que se


205 zyxwvutsrqponml

impõem à vivência comum do pescador. Do mesmo modo. as represent~

ções sobre o tempo, enquanto conjunto de condições meteorológicas

favoráveis ou desfavoráveis, acentuam a impressão de uma força in~

tingível e imperscrutável, permitindo uma exclamação como essa,pr~

ferida por um trabalhador abrigado no barco contra um prolongado

temporal: "Como ~ tempo?! Eu não estou aqui pra comer e dormir~:.

Repete-se assim no trabalho em traineiras essa "naturaliza

ção" das condições de exploração cujo sentido para a usina açuc~

reira nordestina foi estudado por Jos~ S~rgio Leite Lopes (1974).

Tambim aqui a "sazonal idade" por exemplo aparece como uma lei imu

tável desestabilizadora das relações de produção e instabilizadora

da reprodução dos trabalhadores.

Da mesma forma a redução da fertilidade do mar, processo que

se tem afirmado gradativa e implacavelmente nas últimas décadas.

se apresenta como um fenômeno "natural" do escassez, sem que se perceba

o papel cataclísmico que a presente organização da produção capitalista de pe~

cado desempenha junto à ecologia marítima, devastando imprevident~

mente recursos pouco conhecidos e dificilmente repon1veis ou recon~

tituIve1s. E. escondendo. acima de tudo. o papel que essa redução

da produtividade do trabalho desempenha na exacerbação das condi

ções de exploração do próprio trabalhador.

Toda essa vasta área abrangida pela relação entre os trabalha

dores e os meios de trabalho não poderia ser entendida sem uma re

ferência a uma espécie de interação lúdica, de vertente do prazer

subjacente ~ sua presença e atuação conjunta nasaida de pesca. são

denotativas desse campo semântico a influência da pescaria (com

sentido idêntico ao da categoria do mesmo nome entre os pequenos

produtores) e a apropriação lúdica do "ar livre", dos "horizontes


206

amplos", da "liberdade" do ~ e do conhecimento das coisas "dis

tantes" e "cHriosas". Esses dados n~o resultam porem dessa rela

çãoJ embora eles as envolvam na medida mesmo em que se representam

os meios de produção como "parceiros" desse jogo/luta. Eles resul

tam da área da interação entre os verdadeiros "parceiros", entre

os companheiros da guarnição. nessa criação de um espaço social n~

vo e comum. Essa questão s6 será desenvolvida por~m. para maior

clareza. na última Seção deste CapítUlO.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb

\
207zyxwvutsrqponmlkj

3. O Salário 8 os Direitos.

a) A partilha e o salário

Mais de uma vez referimo-nos aos efeitos ideológicos da forma

de remuneração da força de trabalho na pesca: dessa remuneraçao

por produção a que chamam localmente a partilha, a distribuição das

partes. Passaremos agora a examiná-Ia em si mesma como tema priv!

legiado do conhecimento dessa organização produtiva. como fio reve

lador das relações de produção nas traineiras.

Começaremos por uma descrição do procedimento e das condições

da partilha e das formas de remuneração complementares.

Ao valor realizado em mercado após cada saída de pesca chamam

em Jurujuba o monte. Dele se espera que seja repartido pelo arma

dor ou seus prepostos. entre si e a guarnição. após o desconto das

despesas comuns.

Supóe-se que essas despesas cubram os gastos com o combustí

vel. com o gelo. com os mantimentos, com as taxas e impostos ofic1

ais. com eventuais multas. com os encargos soeiais do armador e da

tripulação, com as atividades de desembarque e de comercialização

do pescado. A elas tende a se acrescentar hoje em dia o desconto

de mais uma taxa geral de 5%. dita "p~ra despesas de administraç~o~.

O valor resultante dessa subtração constitui o bolo a ser en

tão "partilhado". O cálculo da partilha é feito com base na soma

de todas as partes devidas aos trabalhadores. acrescidas do seu du

p Lo , parte 1eonina do armador. Assim, de um h í.p ozyxwvutsrqponmlkjihg


t t f co bolo
â de

Cr$ 45.000,00 podem caber Cr$ 22.500,00 ao armador, Cr$ 3.150,00

ao mestre. Cr$ 1.350,00 ao cozinheiro e Cr$ 450.00 ao trabalhador

de conves. A este último cabendo assim a unidade mínima - a parte


208

simples, sem vantagens, e aos demais respectivamente 3, 7 e 50 par

teso Embora nunca seja explícito que das partes da armaçao tantas

sejam do barco ou tantas da rede, essa representaçãoms foi fre

q~entemente sugerida como um pressuposto pouco nítido, o de que.c~

mo na "pequena produç~o mercantil", o propriet~rio recebe algumas

de suas partes na qualidade de "representante" dos meios de traba

lho. Ponto importante a que voltaremos mais adiante.

Esse e no entanto apenas o cerne mínimo da partilha. Entre as

condições específicas que cercam a sua realização, há inicialmente

um conjunto referido às defasagens temporais entre o todo ou parte

dos processos envolvidos.

Pois, na verdade. o armador manipula seu quase absoluto poder

de decisão sobre esses cálculos dentro de uma lógica própria. a ló

gica da sua reprodução "capitalista". Assim, por exemplo. caso u

ma saída de pesca não tenha sido bem é possível que


sucedida,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP
ele

não inclua todas as despesas comuns no desconto sobre o monte. de

modo que a tripulação possa receber o mínimo de que necessita para

não se desligar imediatamente da traineira. Esses atrasados vao

se acumulando uma. duas. três vezes. até que uma boa pescaria peE

mita cobri-Ias. Afora esse mecanismo. o armador lança mão de um

sistema de ~les. cuja emissão garante um limiar mínimo de sobrevi

vência. e portanto de permanência. da força de trabalho alugada du

rante as esperas. Por outro lado. a acumulação dos atrasados e

dos vales vai onerando mais ainda o já sobrecarregado desconto. for


\

çando sempre para baixo a remuneração dos trabalhadores.

Uma outra prática é a do desconto de 5% feito pelo armador so

bre o valor das partes sempre que ocorre venda do produto às fábri

cas enlatadoras. Segundo ele, o pagamento das partes logo apos o


209

desembarque do pescado nesses casos seria um "adiantamento» j~ que

a fábrica só lhe paga nos prazos comerciais é, raramente


- istozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY
me

nos de um mes depois da entrega dó produto. Na prática, esse ágio

nunca deixa de ser cobrado, pois, como ressaltam os pescadores, e

les n~o t~m acesso a essas o~eraç6es, que podem ser facilmente for

jadas pelos armadores.

Uma outra série de condições da partilha diz respeito a essas

práticas ilegítimas do armador ao manipular os seus cálculos. Isso

pode se dar ora pelo crescimento indevido dos descontos, ora por ~

ma avaliação errônea do número de partes ou da suazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY


d s t r-Lb u
í e o.vAn í ç

daram tirando os nove fora" é a expressão com que S8 murmura as

suspeitas desse "roubo" quotidiano e inatac~vel, pois o domínio p~

10 armador sobre as contas do barco é absoluto e certos cálculos

se acobertam atraués de uma linguagem contábil que se afigura em

si mesma aos trabalhadores como a cabal demonstração da sua ilisu

ra.

Ao lado das partes, como núcleo desse inconstante "salário"

da pesca, complementa-se a remuneração da força de trabalho pelo

pagamento da caixinha 8 do sal~rio-família e pelo desconto do INPS.

Esses tr~s t6pic05 correspondem aproximadamente ~ area dos direi

tos de leis que se agrogam ao "direito" das partes. A caixinha cor

responde ao conjunto do valor do 13 9 salário e das férias, que d!

veriam ser pagos aos trabalhadores a cada fim de ano. E: um direi

to que na verdade pré-existe à vigência das leis trabalhistas, fun

dado em uma pr~tica consuetudin~ria j~ antes descrita neste traba

lho. Dessa forma ela é esperada por todos os trabalhadores e nao

apenas pelos embarcados, isto ~, pelos que disp6em da "carteira as

sinada" dos trabalhadores do mar.


" .

210zyxwvutsrqponmlk

J~ os outros dois direitos. o do sal~rio-familia e D do des

conto para o INPS são exclusivos dos embarcados. o que, se os tor

na mais restritos, retira-os da área do arbítrio pessoal, que for

ça, no caso da caixinha, a aceitação pelos trabalhadores de "acor

dos" curiosos. Da qualquar forma. todos assas dirgitos sofrgm a

trasos constantes. por assim dizer. "regulares" no seu pagamento.

o que. no caso dos descontos para o INPS. assume as vezes a propoE

ção de uma dívida irrecuperável - motivo, segundo os trabalhadores.

de falência e leilão judicial dos barcos.

Toda essa área da remuneração 8 dos direitos "sociais» dos tra

balhadores da pesca está envolvida por espessa bruma legal, que e~

pana a visão dos trabalhadores e de seu Sindicato na luta contra a

prepotência do lado mais forte.

Inúmeros diplomas legais se acotovelam nessa área, sendo so

bretudo danosa a superposição do "Regulamento do Tráfego Marítimo

(RTM) e da "Consolidação das Leis do Trabalho" que S8 desau


(CLT)zyxwvutsrqponmlkjihgfedc
J

torizam mutuamente em diversos sentidos, impedindo a incorporação

unívoca dos direitos previstos por um ou por outro texto. Acresce

-se a essa situação marginal o fato da pesca estar subordinada j~

ridicamente à Capitania dos Portos, na sua qualidade de Delegacia

Regional Marítima. expondo-se assim a uma complexificação da apl~

cação da justiça trabalhista que só e prejudicial ao trabalhador,

isolado e indefeso ante os poderosos interesses da classe propri~

tária.

Chamamos a atenção sobre esse ponto para que nos introduza à


\

percepção da ambigüidade que cerca a definição do valor de referên

eia para os c~lculos dos direitos trabalhistas. Pois se o traba

lho na pesca não se beneficia de nenhum mínimo garantido 8 se o va


211

lar das partes tem contestado pelos armadores o seu pr6prio cara

ter de "sal~rio", sobre qJe base calcular f~rias, décimo-terceiro

ou até mesmo o recolhimento do INPS?

Dois sistemas parecem ter prevalecido alternativamente nos úl


~
timos tempos ao sabor de injunções desconhecidas: um e o da equip~
\.

raçao do pescador ao mar!timo. quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR


S8 beneficia de um salário de
~
referência mais alto que o dos trabalhadores de terra; o outrozyxwvutsrqpon
e o

de um c~lculo complicado em torno do salário de terra e da 8tapa(~

ma categoria do Direito Marítimo desconhecida dos pescadores).

De qualquer forma essa é uma área sobre a qual nao se concen

tra o foco de atenção do trabalhador da pesca. cuja luta é antes

por receber alguma coisa do que por definir o montante legítimode~

se recebimento. Eles se dão conta porém da ambigüidade da legisl~

çao que os "protege" 8 da ampla margem de manobras que assim se a

bre à ação dos armadores.

Essa é portanto aproximadamente a forma como se manifesta a

remuneração da força de trabalho na produção em traineiras. Ela

não é típica. como se -


ve desde logo. do assalariamento capitalista

ao mesmo tempo em que se afasta da forma da remuneração por parti

lha vigente na "pequena produção". Essas condiç6es de "anomalia"

~acg ao modGlo do "Gal~rio" s~o na verdade comun~ ; moio~ pô~te da

produç~o pesqueira dita "industrial" em todo o globo (35). E nes

35) liA survey conducted by I.L.O .• based on data available in


1947-49 but in certain cases referring to earlier dates re
veals that systems under which earnings depend entirely on
the value of th~ catch were the general rule in Australia. Bel
gium. Canada, Chile, Denmark. France, Greecs. Iceland. India:
N or t he r n I r e 1a nd , N o.rw a y. 5 c o t Ia nd . 5 w 8 de n , T ur ke y a nd t he
United States. Other systems include: in Australia, , a daily
wage plus "basket money". in steam-trawling; in Belgium. a
combination of fixed monthly wages and a percentage in the
catch on board company-owned boats; in Canadá, a similar
212

sas condições tem motivado um longo dsbôte específico. nascido dos

confrontos trabalhistas. das especulações jurídicas, e extravasan

do para o campo da pesquisa 90cial como um objeto de evidente inte

ressa para o entendimento dos mecanismos de funcionamento da forma

salário.

Nessa linha se situa o artigo de Jacques Bidet, publicado no

La Pensée em 1974, que se propõe utilizar a análise da remunerazyxw

ção por partes na pesca francesa para o aprofundamento das que~


\
tões levantadas por Marx a relação entre a prática social
sobr.8zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
8

as representações que a sustentam e encobrem.

Também em nosso caso convém voltar ao texto lapidar dos CaPi

tulos sobre o salário em O Capital. onde sua essencial idade para a

prática capitalista e dissecada em termos de necessidade estrutu

reI (36).

system in part of Atlantic salt fish trawling; in Chile,


\ monthly or daily wages plus a bonus depending on the valu8 and
type of the cateh for fishermen working for larger enterprises;
in the Faroe Islands. a weekly wage plus a share in the value
of the catch with a guarante8d monthly minimum on board
trawlers landing fresh fish; in Finland, wages with ar without
a share in tho catch in certain types of fishing; in France,
fixed monthly wages plus a share in the value of the catch on
board trawlers operating more than 50 miles from the coast; in
Greece, monthly wagesfor a declining minority of trawlersl in
Iceland fixed wag8s plU5 a bonus on the proceeds of the catch
for trawler crews; in Ireland, wages for two weeKs trip plus
poundage on .the proc88ds (skippers' and mates' commission ba
sed on procesds of catch onlyJ; in the Netherlands. a share
in the value of the catch with a guarantesd weekly minimum in
herring drifting and fixed monthly wages (not for sKippers)
plus a share in the value of the catch in trawling; in Norway
\ fixed waç8S for certain technical crews (stewards. stokers and
so on) o~ the largest vessels. and crew's option of fixed
wages or wages plus share in the value af the cate h in Artie
\ fishing; in Poland, weekly wage plus a share in the value af
the cateh in d88p-seô trôwling; in South Africa. w8ekly or
monthly wage plus commission on size of the catch in trawling,
pisce ratos in shark and line fishing; in England and Wales,
in deep-sea trawling skippers and mates share in the net
proc8eds of the catch with a guaranteed daily minimum. and
\

213

\
A análise de Marx gira em torno da maneira como a forma feno

menal do "salário" - a sua apresentaç~o como pagamento direto e

napr~s-coup" do trabalho - encobre a diferença, a oposiç~o, entre

o trabalho necessário e o trabalho excedente. Expõe ainda como e~zyxw

sa forma se apropria da legitimidade abrangente da noção de "conzyxw


\
trato", inserida na grande corrente ideol6gica de afirmaç~o dos

"indivíduos", no caso ressaltados sob o seu aspecto de "livres-con

tratantes",
\

Bidet, no artigo citado, demonstra como a forma partilha e

mais uma variante da forma "salário", de que Marx examinara apenas

as variantes "fundamentais" (o salário por tempo e o salário porpe

ças). reencont~ando ai o mesmo efeito de mascaramento da dupla qu~

lidade do uso da força de trabalho e a conseqüente legitimação da

apropriação pelo armador da mais-valia produzida. Bidet considera

também a forma partilha como um caso particularmente elucidativo

other crew receive a fixed monthly wage plus poundage gross


earnings: on board drifters. share in the net earnings with
guaranteed weekly ~inimum, in Scotland. week1y wage for
certain technical crew m8mbers in hérring fishing, daily wages
plus a share in the value of the catch (skippers and mates
receiving only a share but with daily minima) on board steam
traw1ers; in the United States, in certain cases a combination
of weekly and monthly earnings with a share in the catch for
captains, mates and specialized personnel (engineer, radio ops
rator. cookl. piscs rates in A1aska cod fishing." (Zoeteweij:
1956, p. 18-19).

36) "On comprend maintenant l'immense importance que poss~de dans


Ia pratique ce changement de forme qui fait apparaitre Ia re
\ tribution de Ia force de travai1 comme salaire du travai1. 18
prix de Ia force comme prix de sa fonction. Cette forme. qui
n'exprime que 185 fausses apparenc8s du travail salarié. rend
'\ invisible de rapport rée1 entre capital et travail et en mon
tre précisément 1e contrairei c'e5t d'el1e que dérivent toutes
l8s notions juridiques du salarié et du capitaliste. toutes
les mystifications de Ia production capitaliste, toutes le5
illusions libérales et tous les faux-fuyants apologétiques de
l'économie vu1gaire." (Marx. 1973, Tomo Lf , p , 211).
214

da ideologia do »contratoU, que na verdade se torna muito exp1i

cita na colocação dos armadores franceses (aliás, a mesma dos bra

sileirosl, da relação de produção nas traineiras não como um assa

lariamento mas sim como uma usociedade». Desse ponto de vista. ai

det disseca a representação tripartida dos "lucros" (as despesas co

~, as partes da armaçao, as partes da guarnição), opondo a re

presentação de uma "sociedade" nos "lucros" B nos uriscos" ao con

teúdo real da relação de assalariamento, da relação capitalista de

produçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
(371. Demonstra também a necessidade dessa forma parti

lha, vinculando-a às características de extrema instabilidade e a

leatoriedade da produçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e da comercialização do pescado,nas condi

çoes de baixa produtividade em que geralmente se desenvolve.

o primeiro e o terceiro dos pontos da argumentação de Bidet

encaixam-se perfeitamente na análise que viemos desenvolvendo so

bre a produção pesqueira em Jurujuba. Efetivamente, a partilha nas

traineiras disfarça um assalariamento. Efetivamente. esse »disfar

ce" garante a melhor exploração da força de trabalho numa área pr~

dutiva marcada pela imprevisibilidade.

37) "Cette notion id~ologique de "frais commums", implique un my


the sous-jacent. Les marins et l'armateur. répresent8 par son
bateau seraient partis ensemble ~ Ia p~che, s'engageant ~ par
\ tager ~quitab18ment le produit. Mais cette petite promenade ~
occasionné quelques frais. dont 18 montant exact. dépendant
des divers aléas n'est pas prévisible au départ. et que 185
deux partenaires ontdécidé d'avan88 de mettre 8n commum.
Ainsi se trouve subverti l'ordre qui préside à Ia ventilation
des valeurs produites dans le mode de production capitalista.
La tripartition r~811B (reproduction du capital constant/sala!
re/profitl s'éfface au profit d'une tripartition idéolcgique:
- "frais communs" correspondant en fait ~ une partie de Ia re
production du capital constant. das salaires et du prafit;
- "part de l'armement", qui recouvre 8n fait toute l'autre
partie de Ia reproduction du capital constant et du profit;
- "part de l'équipage", qui correspond ~ une partie des salai
\
res et qui prend Ia trompeuse apparence de participation aux
profits." (Bidet. 1974, p. 57).
215

Essa relação porem - e aqui nos afastamos do seu segundo po~

to - 56 est~ parcialmente apoiada em uma ideologia de "associaç~o".zyxw

\ ou melhor, essa ideologia de »associaç~op. de "participação" nao e

a mesma entre os armadores e entre os trabalhadores (38).

Tínhamos adiantado, no Capitulo I , que a ideologia da "socie

dade" entre armador é, por assim dizer, a ideologia ~


e guarniçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIH

ficial da classe proprietária. na medida em que é a filtrada pelos

seus órgãos de classe.

Aqui cabe entender a representação que os trabalhadores se fa

zem desse processo e a maneira como a forma partilha se legitima a

seus olhos.

Como vimos a respeito da sua relação com os meios de trabalho

e confirmaremos na última seçao deste capítulo no tocante a forma

de sociabilidade reinante entre si. os trabalhadores se represe~

tam o processo de trabalho nas traineiras como uma "sociedade" sim,

mas como uma "sociedade no trabalho», nao uma »sociedade de cap~

tais", em que o armador "adiantass~ o valor dos meios de trabalho.

Esse "adiantamento" assim não ~ em nenhum momento vivido como

tal. mas sim como um "pressuposto", o pressuposto de uma "cooper~

ção", de outro nivel, simb6lica. entre a força viva do trabalho e

o trabalho morto dos meios - o barco. a rede, os instrumentos, co

mo um ~s6cio" inarr8d~v8l 8 inqu8stion~vel.

ê interessante. por exemplo. que a qualquer insinuação do en


\
carregado ou do armador sobre um possível endividamento do traba

38) Na verdade, Bidet, que trabalha com dados s8cund~rios que n~o
conhecemos, parecia ter em mãos uma situação idêntica, como S8
pode deduzir de suas refer~ncias ~ ideologia de "sociedade» dos
armadores e ~ ideologia ~de Ia marine~, ~de Ia profession" dos
\ trabalhadores. Em sua anãlis8, no entanto, ele privilegia a
primeira forma de articulação.
216

lhador junto à empresa. apos uma viagem cujo produto seja insufi

ciente para a cober~ura das despesas, a resposta nunca deixa de

ser uma larga risada. como se tal id~ia fosse absolutamente contra

ria a lógica do seu engajamento nesse processo. Pude presenciar

casos desse tipo. em que se fazia referência especificamente à ali

mentação a bordo. isto é, àquele tópico que justamente corresponde

a uma fração do qealãriozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM


n
real pago.

Outra manifestação desse traço ideológico e a da perene ileg~

timidade que cerca o afastamento do proprietário do processo de

trabalho. Esse corte. é um dos cortes significativos


quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
para a

própria identificação do armador. por oposição ao pequeno produto~

é a fonte. aos olhos dos trabalhadores. da acentuação da explor~


N

çao. Questão que é freqüentemente racionalizada como se esse "a

fastamenton significasse o »esquecimento» pelo armador das condi

ções do trabalho. mas que é também a expressao da incompatibilid~

de do modelo da partilha, fundado no »companhe1rismo~ do trabalhor

com a apropriação de um não-trabalhador acabado.

E assim chega-se ao ponto que diferencia essa concepçao do

processo de trabalho da que prevalece entre os pequenos produt~

res, Pois os trabalhadores de traineiras. embora se representem o

processo de trabalho de forma análoga à da companha - isto é. sob

a ótica privilegiada da cooperaçao no trabalho - incorporam essa

representação a uma outra. inexistente na »pequena produç~o". e a

que poderíamos talvez chamar de uma representação sobre o »proce~

60 de produção".

Ou seja. a legitimidade que cerca a co-participação no proce~

90 produtivo - de que são sempre e a todo momento as r8spons~v ..is,

f{sica e moralmente - esbarra 8 se completa com a ilegitimidade o


217

riunda da percepçao qUGtidiana da exploraç~o. Como se essas 8Xp~

riências de vida fossem separáveis de sua condição de uma relação

de produção específica. comozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONML


S8 a forma fenomenal da sua particip~

ção no processo de trabalho. a condição de »produtores" ditetos.

revelasse cruamente a »desnecessidade". a ilegitimidade da apropr!

ação capitalista.

~ssa representação bi-facetada da produção pesqueira e à que

melhor nos explica os pontos de concentração. de articulação, da i

legitimidade do conjunto, e portanto. também en creux. aqueles on

de se podem articular suas reivindicaç60s e cristalizar-so um mode

10 de mudança.

Essa ilegitimidade se ma~ifesta assim em todos aqueles pontos

onde se evidencia a absurda condição de um trabalhador às bordaszyxwv

da não-reprodução, opondo-se a um não-trabalhador repousado na o

pulênciai ou então. naqueles pontos em que essa condição nao é com


\
pensada pelo contrapeso da prestação dos direitos.

Veja-se assim que as reclamações sobre a partilha apontam p~

ra dois problemas: um 8 o do excesso, da pletara de partes a dis

tribuir; o outro, o do roubo nos c~lculos: o tirar os noves-for~zyxwvutsrqponmlk


--------------------------
Ambos denunciam não uma ilegitimidade do sistema da partilha; nem

tão pouco uma ilegitimidade da apropriação pelo armador das partes

da armação. mas sim a ilegitimidade da sua exacerbação. a ultrapa~

sagam daqueles limites de igualdade de condiç6es a partir dos quais

se instaura a representação do roubo, das pr~ticas "ind~bitas~ de

redução do valor das partes dos trabalhadores. Por outro lado,


\

nao é admissIvel que nessas condições. o armador atrase ou prop~

nha acordos de redução sobre o pagamento da caixinha 8 do salário-

~fem!lia, dois direitos que respondem intimamente aos prezadoszyxwvutsrqpon


Ia
218

lores da uliberdade" e da ~stabilidade". Atrasar ou reduzir a cai

é impedir aquela recuperação cfclica. reproduzida


xinhazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA a cada fim

de ano. dos "atrasos" da vida. recompondo pela cobertura das divi

das e prestaç5es pessoais a "liberdade» do homem (inclusive a li

berdade da "mobilidade». do trocar de barco). Atrasar ou reduzir

o pagamento do salário-família. quase sempre tão exíguo. é violar

o limiar mínimo de "estabilidade". ~ impedir qualquer expectativa

de regularidade de remuneraçao. que esse direito bem ou mal encar

na para os trabalhadores embarcados (39).

Desse modo. o mecanismo da remuneração se afigura ao trabalh~

dor como o cumprimento de duas regras superpostas e razoavelmente

estranhas uma à lógica da outra. A primeira é a que confere

timidade à recepçao das ~rtes e S8 funda sobre a prática da parti


\
cipação em processo de trabalho conjunto e indiferenciado. A se

gunda e a que confere legitimidade à expectativa dos direitos e se

funda sobre a viv~ncia da condição de "explorado". da condição de

vítima fácil da não-reprodução.

Esse mecanismo se funde evidentemente em uma interação lenta

e contínua. da qual enfrentamos uma conjuntura tão passageira qua~zyxwv

39) "I. - E que fora disso eu não trabalho desembarcado de manei


ra nenhuma. Eu tenho sete filhos. vou trabalhar desembarcado.zyxwvutsrqpo
ai tá arriscado a acontecer qualquer coisa e eu perder meus
direitos. E depois eu preciso do dinheirc do salário-família.
que eu só recebo agora de quatro filhos. Dá Cr$ 153,00. t um
dinheiro que faz falta pra dentro de casa.
P. - E eles pagam normalmente?
\ I. - Pagam, só que o moço aí é que junta cinco ou seis meses,
que isso é um dinheiro que S8 você pagou Instituto, o dinheiro
tem que sair todo mes. Aqui não. junta cinco, seis meses.Quan
do paga. dois ou três meses, fica um tanto lá. t por isso que
eu me batia aí. O meu maior aborrecimento era isso. As ve
zes eu chegava aí. duas. três viagens vazias, a gente com di
nheiro na casa e o vale não saía. Muito mal Cr$ 50,00, que 8
o dinheiro que ele gostava de dar ai de vale. Cinquenta ou
cem cruzeiros que n~o dá pra nada. ( ••. )>> (cozinheiro)
219

to a de ontem ou a de amanh~. dada a alta velocidade da mudança g~

ralo Ele não se tece porem em um vácuo de formas ideOlógicas e a

importânCia dessas não pode ser menosprezada na compreensão de seu

funcionamento e da necessidade de sua própria forma complexa.zyxwvutsrqp


t e

vidente assim que a forma campanha. tal como originalmente vivenc!

ada na "pequena produção" 8 veiculada como tradição ao conjunto da

comunidade, não está ausente da construção de parte do mecanismo

de representação sobre o trabalho entre os trabalhadores das trai

neiras. Levantar esse vínculo não e, no entanto. falar de "sobre

v1vências" culturais, mas ressaltar como circunstâncias estrutural

mente semelhantes per~item a "recuperação" de traços culturais pa~

sados. que importam. ihdlusive é importante - para a monta


- o quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK

gem da vis~o "hisfór1ca" do grupo social envolvido, da visão de

sue Ucontinuidede" ou de sua ~mudançe"·- ~nfim, de sua identidade.

Fenômeno semelhante ocorre com a apropriação analógica feita

pelo trabalhador da pesca do seu conhecimento sobre as condições

do trabalho operário em geral, onde a convivêncià com a exploração

se lhe impõe como um parâmetro necessârio de leitura das suas pr~

prias relações de trabalho.

Não parece inviável acreditar que a leitura dessas formas dis

poniveis no acervo da "cultura" local serve ~ montagem do novo »mo

dela" das suas condições de produção, na medida em que de algum mo

do traduz analogicamente certos aspectos dessa prática.

O que não quer dizer. por outro lado. que o desenho desse no

vo modelo seja uniforme e unívoco entre todos os trabalhadores da

pesca. Parece certo afirmar que determinadas categorias tenderiam

a reforçar o lado campanha do modelo, enquanto que outras tende

riam a privilegiar o lado "assalariamento", com base nas diferen


220

ças da prática de trabalho já expostas anteriormente. Embora se

va aprofundar posteriormente a questão dessa diferenciação interna

ao tratarmos das posições e das vantagens, cabe adiantar aqui qUG

os motoristas e os cozinheiros, por exemplo, dão um peso muito

maior ao cumprimento dos direitos do que ao cálculo da partilha. o

que não é característico


sózyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
da sua condição geral de trabalhado

res embarcados. com vantagens, menos premidos portanto pelo fanta!

ma da sobrevivência imediata, mas também reflete o seu afastamento

da produção imediata do pescado, ou seja, daquela incorporação do

esp!rito da responsabilidade pessoal pelo volume da. remuneração na

partilha. As condições de articulação de sua representação sobre

o "sal~rio" se aproximariam assim mais daquelas descritas por Marx

para o "salário por tempo" do que das descritas para o "salário por

peças" (Marx, 1973, Tomo lI, Sexta Seção), mais pr6xlmo por sua

vez das condições de trabalhador de convés. Não é atoa nesse caso

que essas categorias sejam as mais representadas nas reclamações

trabalhistas de que tivemos conhecimento através do Sindicato, Deu

pando-se freqüentemente de direitos que nem são do conhecimento

dos demais trabalhadores, como o do recolhimento do PIS, por exem

pIo.

por putro lado, compreens!vel que a ótica da parti

lha seja privilegiada entre os trabalhadores de convés, não 80 po~

que é sobre a sua efetiva colaboração no processo produtivo que se

arma esse módulo ideológico, como porque a sua prática é fr8qüe~

temente a do trabalhador não-embarcado. sujeito a compensaçao pr~

cária da valorização da mobilidade.

A qUBstão central da forma como se


partirzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
dessa articu

Ia o complexo ideológico da remuneração da força de trabalho na


221

pesca. há um certo numero de implicações relevantes a estudar. u

mas relativas ao processo de produç~o em si, outras ~G1ativas ~ v~

vência geral do trabalhador.

A forma partilha parece realmente cobrir com grande efi

c~cia as necessidades de articulação ideológica do modo de prod~

ção capitalista nesse setor pesqueiro, acometido pela imprevisib1.

1idade a que tantas vezes já nos referimos. Uma prova dessa ade

quaçao e a universalidade de sua prática. em maior ou menor escala.

na pesca "industrial", desaparecendo apenas. ao que parece, nessas

unidades que, pelas características do pescado produzido, ou do

seu mercado consumidor ou at~ mesmo ainda de um investimento tecno

lógico especialmente concentrado, fujam ao quadro da 1rregularid~

de e da aleatoriedade que caracterizam o setor (Cf. Zoeteweij,

1956) •

A forma partilha detém nesse sentido uma familiaridade

relativa com a forma salário por p8Ç3S, também de certo modo asso

ciada a situações de manutenção da apropriação real do trabalhador

sobre os meios de trabalho. A primeira característica comum é cer

tamente a da transposição para o trabalhador do interesse pelo mai

ar "preço de venda" (Marx, 1973, Tomo I. p , 228), o que garante,

sobretudo no casada pesca. uma "intensidade" 6tima (uma vezzyxwvutsrqponm


que a

possibilidade de aumento da "produtividade" ou da "extensão" da jo!:,

nada é quase nula).

Acresce a esse fato que o "interessamento" do trabalha

dor torna prescindível boa parte das tarefas de supervisão e con

trole. dessas tarefas de "surveillance" de qUG fala Marxzyxwvutsrqponmlkjihg


(1973,

TomozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
l, p. 224). Embora. por outro lado. não 58 encontre aqui o

"sub-1etting of labour", essa 8sp~cie de ~8mpreitada" em qU8 o tra


222

balhador se torna o agente da exploração do próprio trabalhador,

podemos considerar que esse mecanismo se reproduz ao nível de cada

trabalhador nas suas relações com os demais. já que. como o prod~

to ~ aqui uma Gnica e conjunta "peça", a cada um interessa que to


~
dos os demais se empenhem ao máximo na sua consecução. Essezyxwvutsrqponmlk
e um

fenômeno que marca profundamente a sociabilidade no interior da

guarnição. tal como veremos na Seção 5.

A partir dai. por~m sua ~funcionalidade" se afasta da

do "salário por peças". Pois. embora neste já ocorra um certo grau

de incorporação pelo trabalhador da ideologia do valor criado na c~

mercialização pela "troca desigual". essa representação se acentua

incomensuravelmente na forma partilha. onde o trabalhador nao so

tem condições de comparar o preço de venda do produto com o montan

te do seu salário. daí tirando certas ilações sobre o grau de sua

exploração - o que ocorre no "sal~rio por peças" - como ele tem

vinculados os dois valores. associados em uma flutuação vivida fe

tichizadamente como "natural", Uma "naturalidade" que poderiazyxwvutsrqponmlk


a

proximá-Io assim da ideologia burguesa do valor criado na circula

çao: mas só até certo ponto, porque esse mesmo mecanismo é que lhe

permite. por outro lado. "ver" com tanta 8vid~ncia o "lucro do p~

tr~o" e confrontã-lo com a micharia da sua parte.

De qualquer forma o regime da partilha obscurece um fa

to fundamental: o de que as unidades de produção têm sua forma ca


\.
pitalista garantida pela "hipoteca" dos sal~rios da guarniç~o como

garantia contra os riscos do empreendimento ao nível da produção e

ao nível da comercialização (40).

40) »Barco grande aqui ~ tudo meio a meio. T§o garantidos. porque
se você trabalhar e sair 40 partes nossa. sai 40 pra eles. Se
223zyxwvutsrqponmlkjihgfe

,
o que ela rovela porem,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY
nesse escondimento, e. a trans

posição radical e impiedosa desses riscos para a reprodução dos

trabalhadores. forçando o barateamento da força de trabalho na pre~

sôo para baixo que exerce sobre a subsistência. Mecanismo muito

bem descrito por Marx, ao abordar a manipulação pelo capitalista

da int8rmit~ncia do processo de trabalho: "De m~me qu'on a déjà

constatá les suites funestes de l'excas de travail, de même, on dê

couvre ici Ia source des maux qui résultent pour l'ouvrier d'une

occupationinsuffisante. Le salaire à l'heure est il ainsi rég1é

que Ia capitalista na s'engage à payer que les heures de Ia journée

ou il donnera de Ia besogn8, i1 peut das lors occuper ses gens

moins que le temps qui originairement sert de base au salaire a

l'heure, l'unité de mesure pour le prix du travail. Comme cette

mesure est déterminée par Ia proportion:

valeur journaliere de Ia force de travail

journée de travail d'un nombre d'heures donné

elle perd naturellement tout sens des que Ia journée de travail

cesse de compter un nombre d'heures determiná. II n'y a plus de

rapport entre le temps de travail payé et calui qui ne l'est pas.

Le capitaliste peut maintenant extorquer à l'ouvrier un certain

quantum de sur-travail, sens lui accorder 18 temps de travail ne


\
cessaire a son entretien. II peut anéantir toute régularité d'oc%

cupation et feire alterner arbitrairement, suivent se commodité et

ses interêts du moment, le plus énorme exces de travail avec un

\
sair 50. sai 50 pra eles. Eles nunca t~m prejuízo. O rombo é
encima de nós. Pro dono sempre tá bom. Eles não botam um bar
co no estaleiro de mes em mes. De modo que não têm prejuízõ
de jeito nenhum. Eles gastam. não resta dúvida. Mas não é as
sim como eles querem dizer." (motorista)
224

chômage partiel ou complet ... l " zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF


(M arx .• 1973, T om o II, p. 216).

Embora no caso da remuneraçao por produção nao se colo

que esse cálculo originário da relação salário/hora, característi

ca da forma »salário por tempo», os efeitos de lnviabilizaç~o da

reprodução são os mesmos, já que se mantêm a não-correlação entre

valor da força de trabalho e preço pago pelo capitalista.

Essa situação de instabilidade se apresenta com uma for

ça tanto maior porque, além de representar a miséria quotidiana do

aqui e agora, ela ameaça constantemente o projeto da reprodução,

forçando como se viu o trabalhador a manobras efetivas e a cálcu


,
Ias que esconjurem o perigo da corda-bamba.

ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
trabalhador fica além do mais, como
comportamentozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do

vimos, marcado por um ritmo socialmente ilegítimo que acopla as es

calas mínimas do viver nau jour le jour" ~ escala excessiva da anu

alidade, resgatada pelo pagamento da caixinha. Em uma sociedade

ritmada pelo mês, a sobrevivência se torna um exercício ininterruE

to 8 inglório de acompanhamento defasado do mundo. Uma corrida no

vacuo (41).

41) "Le mode de payement. particuli~rement dans le cas des journa


liera, intermittents ou réguliers, tend à faire obstacle à Ia
rationalisatioh de Ia conduite économique. "lI vaut mieux
~tre payª au mois qu'~ Ia journ5e - observe un docker occa
sionnel d'Alger. A Ia journªe, on n'a jamais rien d'avance~
On rentre du traveil, on ach~te Ia nourriture et tout s'en va,
C'sst comme si on n'avait rien gagné. Quand on est payé au
mais, on peut mettre de coté, acheter des chases, on est tran
quille". S'agirait-il d'une illusion psychologique, cette
attitude mérite d'êtr8 analysée et cela d'autant plus que l'in
securité créée par 18 payem8nt à Ia journée ne peut que redou
bler loraque le travail est intermitt8nt. En morcelant les
revenus en petites somm8S immédiatement échangeables contre
des biens destinés à etre consommées le jour même, le payement
à Ia journée tend à exclure les dépenses d'équipement qui ne
peuvent être pensée Cet amorties) que sur une longue période
et à enferme. 18 travailleur dane Ia vie an jour le jour qui
est synonyme de l'absence de calcul." (Bourdieu, 19S3a,p.3581.
225

b) O embarque e os direitos

Entre a partilha como núcleo do salário real e os direitos co

mo comp1ementação legalmente sancionada da remuneração da força de

trabalho. como condição da sua reprodução social, erige-se a cate

goria do embarque.

Chamam embarque em Jurujuba à formalização do vínculo de assa

lariamento previsto pela legislação do trabalho maritimo (42) e

controlado pela Capitania dos Portos na sua qualidadezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY


de Delegacia

Regional do Trabalho Marítimo. Opõe-se-lhe enquanto mecanismo 18

ga1. o deSembarque. ou seja. o rompimento formeI do vínculo.

A c~derneta de embarque corresponde assim a carteira de traba

lho dos trabalhadpres de terra e simboliza como esta a preciosa c0..!:l

quista da legitimidade social. a habilitação ao status de "cidazyxwvutsr

dão" (43) •

Estar embarcado significa. além do mais. fruir desse limiar mí

nimo de estabilidade assegurado p~los direitos. não se dissociando

na prática a representação entre os dois institutos, como se pode

vor no trecho seguinte: "t que fora disso eu não trabalho desem

barcado de maneira nenhuma. Eu tenho sete filhos. Vou trabalhar

ai. tá arriscado a 6cuntecer qualquer


desembarcadozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA coisa e eu peE

der meus direitos. E depois eu preciso do dinheiro do salário-fa

mília. que eu só recebo agora de quatro filhos. Dã Cr$ 153,00. ~

um dinheiro que faz falta pra dentro de casa".


\
Esses direitos são os que já apreciávamos na seçao anterior:

42) Ver CapítUlOS XLIV, XLV 8 XLIX do Decreto n9 5.798, de 11 de


junho de 1940 (Regulamento para o Tráfego Marítimo - RTM).

43) Ver a análise de Machado da Silva sobre a importância desse do


cumento para os trabalhadores urbanos em geral (1971, p. 171.
226

o décimo-terceiro. as férias, o salário-família e o INPS. Apenas

nao ressaltamos então o pleno sentido deste último direito. que

nao se resume a possibilidade de atendimento médico/dentário. mas

se refere sobretudo as garantias da aposentadoria e da pensao. Ga

rantia pessoal para a inatividade forçada da invalidez ou da velhi

ce, garantia familiar para a morte do chefe.

Para os trabalhadores o valor do emborque nas


de tràineiraszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON

estratégias de vida se associa ao das vantagens, já que estas nao

são em princípio concedidas a trabalhadores não-embarcados. Dessa

forma se acentua o investimento sobre o embarque como mecanismo da

"estabilidade" desejada. forçando-se do mesmo modo o peso que no

cálculo de sua aceitação detém a percepção da perda concomitante

da "liberdade".

Pois, como víramos, a valorização dessa" estabilidade" pelo ~

barque não é absoluta mas sim uma função da avaliação das condi

ções de reprodução do trabálhador a cada momento de sua trajetória.

Avaliação que leva em conta. como S8 viu. as características da u

nidade de produção em que se a nc o nzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYX


t r-e engajado e as perspectivas

de transformar o vInculo deembarque em uma futura e efetiva "esta

bilidade~ nas posiç6Bs com vantagens maiores. ~ assim freq~ente

ouvir-se um trabalhador jovem dizer que "neste n§o vale a pena em

barcar"; no que est~ emitindo o resultado moment~n8o de um c~lculo

continuado de conveniência.

Atingido porem um determinado limiar nas trajetórias - e reme

to aqui novamente à Seção 1 deste Capítulo - essa avaliação pode

S8 inverter completamente, ouvindo-se de um cozinheiro de meia ida

de a afirmação peremptória de que só trabalha embarcado.

N~o é de admirar portanto que a ambig~idade que cerca a vaIo


227

rização desse instituto gere um discurso incompreensível à prime1

ra vista sobre as dificuldades e exi8êncio5 para a concretização

do embarque. numa reificação evidente de dificuldades e exigências

que se chocam em suas proprias cabeças:

"I. N~o. eu vou no fim do anoapanhar meu dinheiro; ai que eu

vou tirar meus documentos e vou sair. ~u nao tenho leitura nenhu

ma. entendeu? E eles dizem que pra tirar matricula tem que saber

ler e uma porção de coisas e eu não tenho né.

P. Ah. eles dizem que tem que ter léitura:

I. ~. prá tirar matrícula, esse troço todo. matrícula.tem que

ter leitura. entSndeu? Pra tirar matrícula tem que saber ler e es

crever e uma porção de coisas. Foi por isso que eu não fui. enten

deu?zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( •••••• 0 ••••• '0 0 •• 00 •••••• 0 :1 1 1 1 •••••.••• 1 1 ,1 .1 1 0 .0 -.(1 •••••••••••• 0 .)

I. Tem que ir primeiro na SUOEPE tirar os papel; primeiro eu

tenho que ir na POlícia. tirar folha corrida na Polícia. ai umazyxwvutsr

porção de coisa. tudo que é documento. pra depois tirar matricula.

P. Ai. depois da matricula ••• ?

I. E. ai é que eu embarco," (trabalhador assalariado - de con

vés)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJ

\ As exigências dos documentos se substituem assim como uma bar

reira simbólica à apropriação de um bem que é valorizado em si.mas

que se tem de relativizar na prática dos que avançam na corda-bam

ba graças ao trunfo da "mobilidadew e das manobras de intermit~ncis


_ N _

"P. Uma vez voc~ comentou comigo, que voce nao e em


no barco.zyxwvutsrqponmlk

barcado e preferia não ser embarcado. porquê?

I. N~o. pelo seguinte: porque as vezes ª bom·ser embarcado en

tendeu? Q~e a gente tem de tudo. tem direito a uma porção de coi
228

sa, entendeu?

-
P. EntãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
nao e bom estar desembarcado~
I. Mas e bom no seguinte: a gente sai no dia que quer. v e í
no

dia que quer, entendeu. Isso 50 e bom por isso. " (motorista
traineira pequena)

Por outro lado, está claro que dificuldades e eXigências exis

tem, porém não do ponto de vista da obtenção dos documentos mas

sim da oposição dos armadores. Para estes, embarcar a tripulação

é um6nus inadmissível, uma imposição legal que inviabilizaria a

sua reprodução enquanto proprietários/empresários. E efetivamente

nao embarcam senão uma fração dos seus assalariados. em um total

muito variável. marcado no seu ponto máximo pela relação com as au

toridades fiscais e no seu ponto mínimo pelo quadro das posições

com vantagens de cada embarcação.

A relação com a fiscalização varia de acordo com o tipo de

pescaria realizado. já que determinadas rotas são mais

mente patrulhadas do que outras. e com o poderiO econômico do ~

~: já que é voz corrente nessa area quoos grandes armadores só

rar.amente são molestados com multas. De qualquer forma e a prese~

ça desse mecanismo de verificação do cumpr.imento da lei (além de

haver certamente um bom número de fiscais incorruptíveis) que g~

rante o seu respeito relativo e permite que não seja .totalmente

letra-morta nos barcos de pesca.

~ interessante constatar, por outro lado, que a alegação do

armador de defender a viabilidade da unidade pelo descumprimeeto da


\
eXigênCia de embarque de toda a tripulação é reproduzida ao nível

da representação dos trabalhadores sob a forma de inviabilização

sua própria reprodução, Para isso concorre


de zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA o fato de que as
228
\

despesas com os encargos sociais da tripulação sao incluídas no

desconto das despesas comuns, recaindo portanto sobre os próprios

trabalhadores qualquer aumento desses encargos.

Mecanismo idêntico ocorre com a representação sobre a fiscali

zação. eivada da ambigüidade de quem a vê como condição da prese~

vação dos seus direitos, mas também como ameaça à sua forma de ar

ticular esses direitos com a prática da reprodução~ Assim nao so

e ilegítima a negação dos direitos pelo embarque. como e ilngítima

a imposição do embarque fora das condições em que ele realmente se

enquadra de forma positiva nas trajetórias. Além do mais. o traba

lhador não deixa de viver a contradição entre a virtualidade do di

reito de leis e a sua aplicação pelos agentes de governo, assim co

mo entre os "pequenos produtores" se distinguia as intenções do Go

verno da ação dos órgãos do governo. Assim a valorização do embar

que nao é realmente incompatível com a desvalorização da fiscaliz~

çao. A representação dessa inconveniência não deixa de ser, porzyxwv

outro lado, corroborada pelo fato de que o valor das multas eventu

almente inflingidas é também descontado nas despesas comuns.

Pode-se compreender assim que a ambigüidade que cerca este te

ma não é senão aparente. A cada momento. a lógica da reprodução

dos trabalhadores articula os dados desse quadro complexo, altera~

do os sinais de cada elemento com a rapidez exigida de quem luta

pela sobreviv8nciac

Não é estranha ainda aos trabalhadores a experiência de ver

subvertidos os seus direitos mesmo sob a capa legal do embarque.

O pagamento da caixinha, que sob a legislação atual corresponde

ao do décimo-torceiro e ao das férias (44) é freqüentemente burla

44) As férias não são jamais gozadas efetivamente por essa categ~
- - ------=-"".-~--- zyxwvutsrqp

230

do com atrasos ou propostas de acordo. o salário-família. cuja im

portância ressaltamos anteriormente também é atrasado meses a fio.

o que provoca sempre grande tensão.

Onde a pres6ão dos armadores se faz mais viva é porem na que~

tão do desembarque. isto é. da demissão do trabalhador procurando-

-se sempre obter deste acordos lesivos aos seus direitos de indeni

zação. Nos raros casos em que algum trabalhador reagiu a essas

práticas. não deixou de haver aplicação de ameaças de coerção fisi

ca e sançoes efetivas de bloqueio patronal.

Pode-se perceber porem uma crescente percepção pelos trabalha

dores de uma margem mais sólida de reivindicação dos seus direitos

por via judicial, inclusive graças a modificações emergentes em

seu Sindicato. Embora as reclamações trabalhistas da classe sejam

ainda raras e pouco precisas. é certo que pelo menos determinadas

categorias. como a dos "qualificados" embarcados. já consideram o

Sindicato e seus advogados como um elemento relevante no seu hori

zonte de vida.

"Nunca fui porque o presidente do Sindicato que tinha lá era

um sem-vergonha. Agora esse tá agindo. Mas o que tinha lá. voce

ia dar uma qu~ixa. então ele desconversava: 'não adianta voce fa

zer isso porque amanhã voce não arranja outro barco pra trabalhar'.

Porque antigamente tinha essa mania. Você dava parte do patrão.

então ele falava com os outros donos de barco. E os outros faziam

uma frente contra Eu digo: 'não, não tem nada disso nao.
o cara.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
- ,

Fui dar uma queixa lá dele por causa de Cr$ 250.00. Ele disse:
'\

'Deixa isso prá lá'. Eu disse: 'Não senhor, bata a carta aí, a in

ria de trabalhadores. devendo portanto serem pagas pelo empr~


gador ao fim de cada períOdO aquisitivo.
231

timação aí, porque se voces nao resolverem aqui, euzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW


vou pra Capit~

nia.' Ele pagou Cr$ 250.00. Isso foi num outro barco. Agora eu

estou com esse problema por causa do PISo Vamos ver comozyxwvutsrqponmlkjihg
vai fizyxwvu

car."

Essa incorporação de uma representação do Sindicato como or

gao de defesa dos direitos da classe esbarra porém evidentemente

nos limites já antes expostos da vigência efetiva desses direitos

pelo embarque. A maior parte dos trabalhadores não-proprietários

encontra-se na verdade presa àquelas condições mais adversas em

que a submissão ao embarque tem que ser cuidadosamente pesada. Não

e atoa nesse sentido que a citação acima seja de um trabalhadorzyxwv

com vantagens. de um cozinheiro.

A reivindicação lógica para aquela categoria - que seria a

da legitimação pelo embarque - não é viável no quadro da produção

em traineiras. já que não garantiria em momento algum. pelos moti


\
vos citados. a "estabilidade" através dele perseguida.

A expectativa da fruição dos direitos não se confunde porém

com a representação mais abrangente sobre a existência dos direi

tos e a possibilidade de se vir a contar com eles em determinadas

circunstâncias. E sobretudo importante o fato de formarem um cam

po de legitimidade especIfico e exterior ao do trabalho nas trai

neiras, como se constituíssem uma proteção vinda de fora e do alto

contra os desígnios da super-exploraç~o: "( ... ) agora não foram os

homens que deram isso n~oJ foram as leis."

\
232zyxwvutsrqponm

4. A qualificação e a diferenciação interna

o conjunto de representações de que nos acercamos até o momen

to pela análise da partilha, do embarque e dos direitos se compl~

menta com o tema das vantagens, ou seja, das posiç5es remuneradas

com partes suplementares dentro das traineiras.

A categoria posição já expressa em si mesma o sentido desses

nGcleos de funções e tarefas que variam desde "posições" eventuais

e rapidamente executáveis, até as Hposiç5es" abrangentes dos que

ordenam e gerenciam todo o processo de trabalho. Além de express~

rem a regra e a prática da divisão do trabalho e da cooperaçao no

processo produtivo, elas se revestem de uma essencial idade radical

graças a possibilidade de com elas obter-se o acesso a uma remune

raçao ampliada na vantagem das partes suplementares. "A Pzyxwvutsrqponmlkjihgfe


e s s o a que

ganha uma parte já não dá".

Essas posições e essas vantagens nao sao todas porem do mesmo

tipo nem do mesmo nível, podendo-se grosso modo agrupá-Ias em três

grupos, de acordo com um certo número de variáveis mais adiante ex

plicitadas. o conjunto geral se dividiria da seguinte maneira:

19 grupo: a) geladores

caiqueiros

b) cafifeiro

corticeiro

chumbeleiro

sondeiro

mestre de rede

29 grupo: a) ajudante de cozinheiro

ajudante de motorista
233

b) cozinheiro

motorista

39 grupo: a) contra-mestre

b) mestre/proe1ro

O primeiro grupo seria o de mais baixa qualificação e porta~

to aqu~lezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a que o trabalhador tem acesso em primeiro lugar. Corres

ponde evidentemente a poucas partes suplementares. oscilando entre

meia e duas partes.

As duas primeiras categorias caracterizam-se como tarefas que

nao exigem aprendizado especial. sendo portanto típicas do traba

lho de c~nv~s. Correspondem porem a posições específicas por im

portarem em um ônus maior do que o das demais tarefas. Tanto o

trabalho no gelo quanto no caíque exigem um desgaste acentuado da

força de trabalho ou implicam em risco sério à saúde e integridade

física do trabalhador. são posições desvalorizadas em comparaçao

as demais e ocupadas portanto apenas pelos mais jovens ou menos

qualificados. que nunca esperam. por sua vez. nelas demorar-se.

As duas categorias parecem no entanto determinar uma distin

çao que podérá ter um certo peso na direção da trajetória do traba

lhador: a posição de gelador pressupoe uma boa dose de força físi

ca; a posição de caiqueiro pressupõe agilidade e esperteza.

O segundo sub-grupo engloba cinco posições escalonadas em ter

mos de prestígio crescente. Elas constituem em princIpio uma das

vias possíveis de ascensão daqueles trabalhadores que contavam o

tempo como gelador8s ª


habitual porªm que a
ou caiqueiros.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHG
N50

mesma pessoa se ocupe de mais de duas dessas posições ao mesmo tem

po ou sucessivamente. Pois. 58 S8 supoe que elas j~ impliquem nu

ma certa "especializaç§o» ~u "qualificaç~o" especIfica. elas sao


234 zyxwvutsrqponm

desempenhadas em concomitância com a participação no grosso do pr~

cesso de trabalho, naquele núcleo indefinido de cooperação do car

regamento e do charrico. De um certo modo, a passagem por essas

posiç6es se pensa realmente como "passagem", at~ um certo momento

do ciclo de vida. "Passagem" para aquele terceiro grupo onde as

figuras do contra-mestrezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK
8 do mestre-proeiro se afiguram como a sú

mula dessa experiência abrangente do processo de trabalho pesque~

ro que parece ser a linha de interesS8 dessa via. o mais freq~e~

te, porªm, ~ que a meia-idade surpreenda o trabalhador ainda dis

tante daquele porto seguro. Nesses casos será determinante para

sua aceitação ou não do enrijecimento de sua experi8ncia e do con

gelamento de suas aspirações originárias o fato de dispor ou nao

de um conjunto de vantagens considerado legítimo. Assim, pode-se

supor que seja digno receber como chumbeleiro 8 como mestre de re

de ou como corticeiro 8 sondeiro; mas que nao seja receber apenas

como corticeiro ou como corticeiro e cafifeiro. Deve-se atentar

sobretudo para o fato de que essas posições devem ser a essa altu

ra avaliadas pelo trabalhador em função das exigências especificas

de desempenho e do seu próprio e inexorável envelhecimento.

A outra via que se apresenta ao trabalhador é a do 29 grupo -

marcado pela idéia de uma certa »especializaç~o", pelo menos en

quanto oposiç~o ~"qualificaç~on do 39 grupo.

Nesse sentido, o acesso ao sub-grupo dos "ajudantes" represe~

ta uma alternativa já a partir das posições de gelador e caiquei

ro, substituindo-se portanto a série que, em principiO, pode levar

ao 39 grupo. Como se vê, em termos de trajetórias, reorganizam-se

da seguinte forma esses grupos e sub-grupos:


235 zyxwvutsrqponml

19 Estágio (comum): caiqueiro

ou

gelador

29 Estágio (duas vias): via - cafifeiro


azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
-
corticeiro

chumbeleiro

mestre de rede
sondeirci
via b - ajudante de cozinheiro

ajudante de motorista

39 Est6r,io (duas vias): via a - contra-mestre

mestre/proeiro

via b - motorista
cozinheiro

Ressalta-se que a via a do 29 Estágio pode representar um fim

de linha, como já se havia dito. e que o acesso das vias a e b do

29 Estágio é exclusivo para as vias a e b do 39 Estágio, nunca aI

ternativo.

o 29 Grupo engloba duas categorias que se assemelham por sua

posição estrutural. mas que se demarcam por fortes diferenças.

Se assemelham por representarem posições terminais e bem definidas.

por implicarem em uma certa especialização e por S8 apresentarem c~

mo "marginais" ao núcleo do processo de trabalho na pesca - a pes

caria propriamente dita,

No caso do cozinheiro, essas caracteristicas podem ser facil

mente visualizadas, pois sua ocupação não se confunde em nenhum m~

mento com o conjunto do processo de trabalho. sendo antes uma


236

"prestaç~o de serviços" que interfere no valor da reprodução dos

demais trabalhadores do que uma categoria "produtiva" em sizyxwvutsrqponmlkjihgfed


( 45) •

Esse fato repercute nas\ representações correntes sobre essa categQ

r1a que. embora considerada como participante do mundo da pesca.

frui de uma certa liminariedade. Por outro lado. essas caracterfs

ticas do seu trabalho face ao modelo geral das representaçõeszyxwvutsrqponmlk


50

bre o desempenho e a remuneração nas traineiras parecem produzir

um efeito de estranhamento muito próprio. indutor de uma combati

vidade especial da categoria.

o ~rista. por sua vez. integra-se ao processo de trabalho.

embora em uma tarefa que se impõe pela especificidade. Uma especi

ficidade reconhecida além do mais ao nível da própria legislação.

que regula SUa pr~tica sob o termo de ~motorista de pesca". exigi~

do uma qualificação formalizada na "carta de motorista~ expedida

pela Capitania dos Portos e concedendo-lhe o privilégio de receber

o equivalente a dois salários de referência (46).

Embora essa »qualificaç~o"possa originar-se de algum curso o

ficial. em Jurujuba a aquisição do título não tem consistido senão

na legitimação de um aprendizado informal como ajudante (47) . Uma

45) Sobre a questão do "trabalho produtivo U


e do "trabalho improdu
tivo" no modo de produç~o capitalista. ver Marx, 1971. pp. 77~
89.

46) Isso significa que para fins de c~lculo do décimo-terceiro.


das férias e dos descontos para o INPS. a base de cálculo é
no caso de dois salários. enquanto que a dos demais trabalha
dores é de apenas um. No mais, a remuneração do motorista se
rege pelo sistema de partes.

47) H~ uma forte reação dos pescadores de Jurujuba à aceitação dos


motoristas de curso; considerando-se sua formaç~o inadequada,
incompleta. e acentuando-se sobretudo sua falta de ~viv~ncia"
geral da vida embarcada. A história do motorista de curso que
"enjoou a viagem toda" se repete com sintomática frequencia.
Parece haver no entanto interesse do Sindicato em promover a
237

vez obtida porem a carta, essa se constitui em uma importante fon

te de status, manipulada pelo seu detentor não apenas na luta do

trabalho, mas 0m qualquer momento de legitimação necessária.

Essa formalizaç~o da categoria de motorista tem uma outra 1m

plicação mais grave: o seu detentor não pode ser embarcado senao

nessa categoria, ou seja, não pode ser nem temporariamente rebaixa

do mesmo ao mudar de embarcação.

A proteção e garantia de estabilidade que da! decorre corres

pondem porem freq~entes manobras dos armadores, mantendo por tanto

tempo quanto possível,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


à revelia da legislação, ajudantes de moto

riste na posição de motoristas. Uma situação a que se submetem fa

ciImente os ajudantes, que nao só passam a receber informalmente

mais uma parte, como se sentem mais aproximados de seu objetivo

profissional.

A qualificação de motorista tem freqüentemente ressaltado um

outro valor virtual de "liberdade": o de habilitar seu detentor ao

trabalho em categoria idêntica na Marinha Mercante. Não se verifi

cou no entanto em Jurujuba nenhum caso efetivo de utilização desse

potencial.

o mesmo reconhecimento legalzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF


de especificidade demarca a cate

goria nuclear do 39 Grupo: a de mestre/proeiro. Assim como para a

categoria motorista. exigE-se desta a formalização através de uma

carta; no caso de patrão de pesca. E assim como àquela se a10cava

o direito de um salário duplo de referência, a esta S9 aloeã um Sã

lário triplo.

Também para esta categoria tem havido cursos destinados a for

aceitaç~o 8 a vulgarização dessa forma qe ·qualificaç~o"; int~


resse cujo sentido extrapola porém o da pesca em Jurujuba.
235

malização do aprendizado para obtenção do título, porem sua gener~

é muito menor e a legitimidade da qualificação


lidadezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA informal, a

longo prazo. nem é discutida.

A posição de contra-mestre nesse sentido é uma posição limi

nar, de acesso esperado à categoria central. Ela aponta porém. ao

mesmo tempo, para uma característica daquela outra que S8 sugere

pela sua apresentação dupla: mestre/proeiro. Na verdade. ~oder-

·se-ia falar de duas posições distintas. Como elas não sao porem

alocáve1s a indivíduos diferentes mas sim eventualmente ocupáveis,

uma ou outra, pelo contra-mestre. muitas vezes aparecem também co

mo duas facetas de uma mesma posição.

Essa duplicidade introduz na verdade a uma outra 8 mais pr~

funda duplicidade ou ambig~idade que cerca a categoria. Trata-se

de uma oposição entre o mestre como posição legitima do grau máxi

mo do saber da pesca, como qualificação culminante e abrangente e

o mestre como representante do patrão, como mediador entre os seus

desígnios e a prática dos trabalhadores.

Na primeira vertente, a qualificação de proeiro se junta por

sua essencial idade à qualiTicação do ofício de mestre - mestre da

~ - e, por isso, enaltece sua legitimidad8. a de um "primus in

ter pares", quase a de um "modelo" social do trabalhador da pesca,

nesse equilíbrio superior de "estabilidade" e "liberdade" que sezyxwvutsr

su p õ e a p a n á g io da ca teg o ria (4 8 ).

NazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
segunda vertente. ressalta-se aquilo que a categoria OTiC!

aI tão bem denota - "patr~o de pesca". Pensar a proximidade do

48) "Modelo" aqui no sentido em que Josª Sªrgio Leite Lopes chama
"modelar" a posiç~o dos artistas para o conjunto dos trabalha
dores da usina de açúcar nordestina. (Leite Lapes, 1974, pp~
47,581.
233

mestre do mundo do patrão - do armador, do eilcarregado nao 8- na


-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP

verdade abordá-Ia apenas c~mo fontezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHG


de impureza simbólica, mas res

saltar uma real assimilação de todo um lado da prática do mestre a

lógica dos interesses patronais. Pois como seu representante e

preposto na condução do processo de trabalho, o mestre duplica a

quele interesse pessoal cuja necessidade comum vIramos associada a

forma de remuneração. Ele não s6 se interessa como pescador remu

nerado por partes. mas como fiel das boas mares frente ao armador.

A essencialidade de seu papel produtivo. como mestre 8 como proei

~, lhe adjudica uma responsanilidade fundamental. maior que a de

seus pares. representativa da nresponsabilidade" comum repartida.

Essa ambig~idade é ressentida pelo próprio armador, preocup~

do em fazer prevalecer a segunda vertente ou em reduzir os efeitos

- a seus olhos. maléficos - da primeira vertente. Essa preocup~

çao suscita tr~s mecanismos de açao fundamentais. concomitantes ou

alternativos. o primeiro se exerce através de uma pressão coopt~

dora pela transformação do conjunto de p~rtes normalmente atribuí

vel ao mestre em uma sociedade nos lucros, ou seja, em uma partic~

pação avantajada na partilha.


o segundo mecanismo é o de passar a perna na lógica da ascen

sao interna à posição de mestre e colocar um filho ou genro na p~

sição de contra-mestre, como aprendiz e sucessor ungido do mestre

e tambim. i claro. como seu nDoppelg~nger~, vigia insepar~vel da

permenente lealdade e dedicação.

o terceiro mecanismo se assemelhe ao segundo. porem interfere

mais fundamente na prática da guarniç~o. Neste caso, nao havendo

ou não interessando ao armador colocar seus herdeiros na condução

do processa de trabalho, ele procura se apropriar do potencial di


240

divisivo da competição entre os próprios trabalhadores com vanta

gens. Assim, ele pode conceder uma certa confiança particular ao

motorista, ao contra-mestre ou a outro trabalhador. fazendo eon

à autoridade e à liberdade
tra-pesozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do mestre.

Essa confiança pode ser expressa simplesmente por uma ~fa

miliaridade", por uma "amizade pessoal" com o trabalhador. mas PE.

de também se substituir por uma relação de corrupção direta. pur~

mente econômica, quando 58 poderá até mesmo conceder vantagens sem

posição. Este mecanismo termina freqü~ntemente por opor esses o

lheiros a toda a guarnição. reforçando a sua identificação com o

méstre ou pelo menos aliv1ándo o seu potencial originário de con

flito ou tensão.

Situado nessa posição dilacerada, o mestre reage de forma mui

to diversificada. dificilmente podendo-se falar de uma prática uni

forme da categoria. Já pelas diferenças da trajetória de acesso,

já pelo momento e condições de sua ocupação da posição. já pelas

características do armador a que se encontra subordinado e de sua

prática gerencial, tudo aponta para uma sin8ularizeçéo da sua exp~

riência.acentuada pelo grande isolamento de que se reveste a prátl

ca de uma função pouco numerosa e extremamente autárc1ca, no senti

do de que interage muito pouco com seus semelhantes.

Fica dessa forma grandemente obstada a transposição da exper.!

~nc1a desses "modelos" do oper~rio da pesca. desses "senhores do !


f!cio" de que fala Marx. para uma percepçao privilegiada do proce~

50 global. Por diversos motivos. dos quais não será o menor a bar

re1ra de identidade que se levanta entre eles e a guarnição. os

mestres se isolam e emudecem ante seus companheiros 8 ante eventu

ais pesquisadores, procurando sempre ater-se às questões técnicas


241

da pescaria. a esse conhecimento que marca a face legítima de sua

prática.

A brecha de percepção que poderá eventualmente suscitar entre

eles uma liderança orgânica parece situar-se antes entre os cozi

nheiros e motoristas. cuja "margina1idade" se dá mais em função da

especificidade do processo de trabalha do que do processo de pr~

duç~ol como parece ser o caso da "maiginalidade" do mestre.


242

5. Os Companheiros e a Cooperação

Ao tratarmos do processo de trabalho nas traineiras. deixára

mos explicitamente de lado as questões atinentes a todo um lado

dessa prática: o da Dcooperação" entre os trabalhadores.

Pareceu-nos mais conveniente desenvolvê-Ia como última seçao,

da forma mais abrangente que exigia a unidade desse aspecto por a~

sim dizer "técnico" com a questão mais ampla do espaço social cri~

do pela guarnição embarcada. Unidade de vivência da partezyxwvutsrqponmlkjihgfe


das tr~

balhadores. unidade de vivência da parte do pesquisadorJ pela imp~

sição continuazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
à observação da especificidade desse palco em que

se representam num pequeno drama sempre renovado os 1eit-motiva de

sua prática de vida.

Ao pesquisador acompanhando uma saída de pesca chocava logo

de inicio a "ausência" de sua presença no que parecia uma arena de

violência desencadeada, de inter-agressão contínua, desmedida e in

diferenciada. Não deixava de repontar à sua imgginação a idéia da

"violência" de um "internato", de uma "prisãoD ou de um "quartel".

E realmente alguma coisa de uma "instituição total" (Cf. Goffman,

1974) ali se materializava: o isolamento a longo prazo, a imposs!

bilidade de subtrair-se ao convívio comum, a unisexualidade.

Aos poucos porem, à idiiade "viol~ncia" foi-se substituin-

do a de "jogo", de "representação", pois. como se verificava. ela

nunca ultrapassava a limite da "ameaça", da agressão verbal. 8 abe

decia ademais a padrões e a códigos claramente definlveis.

Podia-se assim demarcar o "map~" dessa lnteração exacerbada ,

destacando sucessivamente as condições e a necessidade de sua emer

gência. os padrões de sua ocorrência e 05 códigos e rituais de sua


243

expressao.

A traineira no mar já demarca por si os limites de uma práti

ca específica, cujo caráter liminar pudemos ressaltar em mais de u

ma ocasi~o: o afastamento duplo do "social", j~ pelo deslooamento

e segregação física prolongados. j~ pela intrusão no mundo inestá

vel e invertido do mar.

Acresce-se a isso a especificidade da atividade aí desenvolvi

da. nao só pelas características mais abrangentes da unissexualid~

de e da precariedade das condições de vida. como pelas que derivam

da forma de cooperação no processo de trabalho. das característi

cas deste em termos de ritmo e intensidade e das relações de prod~

çao e de apropriação real.

Víramos oportunamente, por exemplo. os efeitos profundos que

decorrem da intermitênc1a. da irregularidade, do processo de trab~

lho, não 50 em termos do ritmo das saídas mas também do ritmo in

terno às ~ídas: a imprevisibilidade dos lanços de pesoa, a

lância longa e vazia de noites entrecortadas de sono e trabalho.

Víramos. por outro lado, ~omo as condições de vida no barco

inviabilizam qualquer rep~uso adequado, recolhimento ou privacid~

de, remetendo todos a todo momentozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB


à interação no conves (quando

nao chove) ou na cobertura de popa/boreste.

As próprias características do procBsso de trabalho, concen

trado no tempo e no espaço em pequenos. repetidos e imbricados nu

cleos de açao, favorecem. como se viu. à exceção parcial do moto

rista e do cozinheiro, uma co-participação muito íntima entre os

trabalhadores, de tal modo que mesmo o desempenho das tarefas co

bertas pelas posições é presenciado. apreendido e mesmo julgado.

por todos com extrema facilidade.


244

Embora o padrão de cooperaçao aí vigente nao seja mais o de

cooperação simples em seu sentido clássico, ele não chega a confor

ffiar-se ao modelo de cooperação complexa, cujo pleno desenvolvimen

to caracteriza a produção capitalista. Nem todos participam de to

das e tarefas da produção de forma isolada, mas


as faseszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA tão pouco

se encerram em tarefas estanques, isoladas. da visão do conjunto e

da vivência participatória na criação do produto.

Essa forma específica de cooperaçao leva por si mesma a uma

certa ambigüidade na definição das áreas exclusivas de responsab1

lidade, ao permitir que cada trabalhador possa abarcar o desenvol

vimento de quase todo o processo, socializando-se a longo prazo em

um conhecimento comum que lhe permite julgar da eficiência de cada

um de seus companheiros.

Esse traço não repercutiria porem tão fundamente em sua práti

ca não fosse a caracterfstica do "interessamento pessoal" pelo pr~

ço de venda do produto que acarreta entre os trabalhadores da pe~

ca a forma de remuneração por partes. Pois, nesse sentido, cada

trabalhador passa a ser o "fiscal" de todos os outros, nessa inter

nalização das funç5es de "surveillance" já antes estudada. Umazyxwvutsrqpo


8X

pressão colhida de um tripulante a respeito da necessidade de se

manterem subsidiariamente na proa ao lado do proeiro durante o

correr o peixe ~ bem 8sclarecedora: »oito olhos 5 melhor de que

dois" •

Ressaltar assim a presença dos »olhos" de todos nas tarefas

de cada um revela por outro lado que esse padrão de "inter-fiscali

zaç~o" ~ tamb~m um padr~o de "inter-cooperaç~on, numa interaç~oc~

plexa entre competição e mútuo auxílio que nos introduz à compr~

ensao do modelo de sociabilidade vigente entre a guarnição.


245

A faceta da cooperaçao já fora antes aproximada ao tratarmos

da relação dos trabalhadores com os meios de trabalho. Ressaltamos

então como o conjunto do processo é de certo modo


de trabalhozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
vi

venciado como o resultado de uma ação conjugada. de um esforço co

mum entre a força de trabalho e meios de trõbolho, num processo de

assimilação ao "trabalho morto" de um princípio oriundo das rela

ç5es do trabalho vivo. A idiia desse conjunto "moral" do interes

se pelo produto engloba aqui. como antes viramos para a "pequena

produção". as categorias da influincia e da farra. Elas balisam

uma prática de emulação geral, de desencadeamento desses "animal

spirits" de que fala Marx a propósito dos efeitos da cooperaçao

(Mar~. 1973, Tomo 11. p. 18-19), e que sob o nome de influência re

petem essa prática da sociabilidade local a que chamam a farra. Es

ta porim se dá como ritual de "lazer". de "não-trabalho". embora

repita estruturalmente a situação de trabalho, ao se realizar fora

do espaço doméstico 8 exclusivamente entre homens. Repetição in

vertida num ritual de consumo - ela se centra em uma grande refei

çao comum - da prática de produção.

Nele também, por outro lado. reconstitui-se o padrão da agre~

sividade comum, ai reforçado ou "justificado" pelo consumo de bebi

das alcoólicas. Como para ressaltar porem a diferença dessa "enc~

nação". a agressão aí pode fugir aos limites do verbal, transfor

mar a latência do conflito em conflito instaurado. Pois não há a

compensá-Io a faceta da cooperação necessária que compoe como meta

de significativa a agressão ritual no interior do barco.

Encontramo-nos aí certamente face a um caso dessas "joking

relationships» definidas na literatura antropo16gica como recurso

social. código de expressão das ambigüidades da relação social, ar


246 zyxwvutsrqponmlkji

t1culada pelos mecanismos concomitantes da aliança e do conflito

(49). Como alternativa às relações de evitação. impossfveis pelas

características do espaço e da ação social desenvolvida. constroi-

-se um sistema de agressao cana11sada, limitada. em que o vigor

mesmo da hostilidade manifesta é o penhor da indissociável cooper~

çao. Ou como diz Radcliffe-Brown: "L'hostiliti apparente. le man

que perpetueI de respect expriment continuel1ement cette disjon~

tion sociale. élement essentie1 de Ia situation structurale tota1e.

mais à 1aquelle. sans l'abo1ir, même l'aténuer. s'ôjoutent 185 éle

ments de conjonction socia1e, l'~mitié et l'aide mutue1le". (1968,

p. 163).

Esse principio de oposição nao circula livremente porem. Di

versos fatores impõem padrões e recortes que se atualizam sucessi

va ou concom1tantemente.

O primeiro desses domínios de conflito é o que opoe os traba

lhadores de conv~s aos trabalhadores "qualificados", entendendo-se

como tais os detentores das vantagens estáveis ou daquelas conju~

çoes de vantagens menores que em determinadas circunstâncias equ~

valem à posição de preeminência dos primeiros. E demarca também a

latente oposição entre alguns dos trabalhadores de convés pela o~

tenção ou acesso às vantagens na trajetória eventualmente assumida

em direção às posições estãveis de mestre. motorista ou cozinheiro.

o referencial do conflito ª aqui a v~ntagem, mas com dois sen

49) Veja-se, por exemplo, o que diz Radcliffe-Brown a esse respei


to: "La parenté à plaisanteries est une combinaison slngulii
re de bienveillance e~ d'antagonisme. Dans tout autre contei
te social ce comportement exprimerait et éveillerait l'hostili
t~; en r~alitõ, il ne signifie rien de sérieux et ne doit pa~
être pris comme tel. Cette hostilité apparente est Ia contra
partie d'une amitia réelle. Autrement dit. la relation impli
que Ia permission de manquer de respect." (1968, p. 159). -
r : zyxwvutsrq
.1

247zyxwvutsrqponmlkj

tidos diferentes. oriundos cada um de uma das facetas da ambivalên

cia que cerca esse instituto. Pois como o próprio termo sugere,

essa alacação de uma remuneração mais substancial pode ser lida co

mo legitima ou ilegítima. Como na expressão "tirar vantagem de al

guém", a detenção da vantagem no barco traz latente para o traba

lhador de convés a ilegitimidade de uma apropriação diferencial

contrária ao espirito da cooperação entre iguais, sobretudo nascir

cunstâncias em que é alocada. como bem escasso. sugerindo sempre

ao preterido ou postulante ne6fita a id~ia de "associação" com o

interesse patronal. o "puxa-saquismo", a corrupção. Pode porem.

ao m~~mo tempo, como na expressão "é mais vantagem fazer isso do

que aquilo". designar a legitimidade da posição conquistada com o

esforço próprio, o pressuposto da própria aceitação da condição de

pescador como postulante à estabilidade da posição com vantagens.

prêmio 8 distintivo do "fazer por onde". do "conhecer" seu ofIcio.

A presença desse referencial determina, além desses dois p~

drões. um de competição. outro de conflito, um sistema de hierar

quia incipiente que pode ser lido com clareza na lógica dos p~

dr5es de agressão como uma relativa "pecking-order~. Embora a ca

da momento possam interferir as outras variáveis a seguir apreci~

das, é certo que a hierarquia que vai do trabalhador de conves ao

mestre/proeiro. passando nessa ordem pelos caiqueiros e geladores.

pelo cafifeiro. pelo sondeiro. pelo mestre de rede. pelo cozinhei

~, pelo motorista e pelo contra-mestre. dá a armação básica do

sentido do fluxo dessa agressão. sobretudo pela definição de que o

papel de desencadeador do processo cabe ao superior nessa escala

hierárquica. O mestre atinge nesse sentido quase que uma posição

intocável. por personificar certamente a idéia da autoridade cen


248

traI legitima. é, por outro lado, como compensaçao simbólica,zyxwvutsrqp


ElezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
~
a v~tima mais "
frequente do "gossip", que o cerca em uma teia muda

de controle social. O seu isolamento do sistema de agressao ritu

aI reforça assim a "responsabilidade" de que se reveste sua fun

çao. transformando-o, por exemplo, com freq~ência em "bode expiat~

rio" do malogro eventual da atividade produtiva.

O segundo domínio de conflito é o que opõe entre si os traba

lhadores com as vantagens estáveis ou aqueles outros que de algum

modo a eles se equiparam (ver a Seção anterior deste Cap:{tulo). O

m6vel do conflito é aqui a "autoridade~. que cada um deles det~m

em certa parcela e que, embora subordinadas em princípio a autori

dade meior do mestre, gravitam com uma certa ambigüidade no espaço

de manipulação criado pela eventual interferência pessoal do arma

dor. Como viramos l este pode interferir na hierarquia da guarn.!.

ç~o com o intuito evidente de controlar a autonomia virtual do mes

tre. Opondo à sua autoridade "oficial" a autoridade "oficiosa" do

favo~ pessoal a alg~M outro "qualificado" ou do destaque da condi

çao de "aparentado". Esse domínio de conflito conduz com fr8qüê~

cia à formação de alianças precárias que reduzem o atrito do con

flito. absorvendo-o em práticas de "gossip" entre sub-grupos.

Essa diluição do núoleo da autoridade no interior do barco

perm1te, por outro lado. um abrandamento do vigor da hierarquia

que abre uma brecha ao poder dos "fracos". ao poder dos trabalhado

res. pois. frente às cisões e às frações de poder no comando da u

nidade. eles podem eventualmentd provocar, pelo peso de sua alian

ça, alguma modiTicação favorável ao grupo ou a algum indivíduo 85

pecifioo na condução geral das relações de trabalho. ~ esse traço

que explica certamente a curiosa tolerância demonstrada para com


249zyxwvutsrqponmlkj

os ~lheiros" do homem, pois eles se articulam naquele jogo interno

de poder. afetando mais os "qualificados" do que os trabalhadores

de conves contra os quais ali são explioitamente colocados.

Uma outra divisão. a que já aludIramos aliás, é a que opoe o

conjunto dos trabalhadores participantes do trabalho das pescarias

e o motorista e o cozinheiro. Neste caso os demais "qualificados"

unem-se ao conves na oposição simbólica àquelas posições, enquanto

marginais ao núcleo da cooperação evidente nas tarefas de manipul~

ção direta do peixe. Embora não se possa falar aqui diretamente

de "estigma", j~ que não há ilegitimidade em relação ao código do

minante mas uma liminariedade simples, essas situações contêm uma

alta virtualidade de "estigma", que pode se atualizar sempre queao

caráter do motorista ou cozinheiro se acoplar alguma das identida

des ilegitimas articuladas pelos referenciais de que trataremos ~

diante. Nesses casos nos encontraríamos ora face a essa fórmula

leve do joker. do "bobo" - modelo "malgré luinzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY


do comportamento

alternativo - em quem se pode concentrar. como pala oposto ao do

mestre, todo o potencial comum de agressão; ora face à situação do

"bode-expiatório", quando a agressão S8 faz muda ou como desafio.

já que neste caso o contendor assume o papel ativo de resistsncia

ao "estigma".

Não é a toa. por outro lado, que as acusaçoes a esses atores

se articulem tão facilmente em torno das identidades 8 papéis 58

xuais. o que se pode verificar é que esse padrão já por si tão re

corrente se vê acentuado pela situação estrutural das posições de

cozinheiro e motorista. Se a primeira categoria j~ demonstra em

si a virtualidade da associação ao universo feminino - a cozinha -

ambôs dgnotam a participação num universo interior - seja a cozi


250

~. seja o porao - redup11cação de um espaço "doméstico". I1femin.!

no~ no espaço amplo do trabalho. do mundo "masculino" dos que en

frentam o peixe no convés.

Segue-se um recorte fundado na oposição 1110ca15"


entrezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
8 "es

tranhos", ou melhor. entre gente de Jurujuba e gente de fora - re

corte vivo sobretudo nas· çrandes traineiras onde o contingente de

a11enígenas cresce aceleradamente. Essa oposição. que já seria de

esperar tendo em vista a forte identidade comum dos habitantes do

local. é um código que serve de articulação de sentidos muito di

versos. ~ freqüente, por exemplo. que o núcleo local nas trainei

ras grandes se reduza ao corpo dos "qualificados", o que torna 8S

sa oposição inseparável daquela anterior entre convés e "qualific~

dos", reforçando-lhe porém o tom. no sentido de que estes últimos

utilizam a retórica da mudança para acusar aqueles. "Antigamente.

não era assim, éramos todos daqui. havia muito mais respeito, ne.

Agora vem essa gente ... "

A oposição aos "estranhos" contém além disso um elemento im

portante que é o do embaralhamento do código das relações inter-

-pessoais. Pois, ao se ter de absorver gente oriunda de outros

grupos. de outras situações de pesca, é necessário dar-se conta de

que. pelo próprio fato de migrarem, devem obsdscer a quadros de ex

pectativas sociais e encontrarem-se definidos em trajetórias dife

rentes daquelas que regem o complexo jogo de sobrevivência antes a

bordado a respeito de categorias como a Obrigação. a corda-bamba

etc. Aqui portanto o conflito se entretece com a prevonç~o, a su~

peita em relação às motivações s práticas dos que não se socializa

ram no mesmo meio. A "diferença" local. geogrãfica. importa pOE

tanto como "diferença~ cultural. como perigo latente de indefini


251

çao num quadro que pelo menos já definiu os perigos comuns da bata

lha da vida. ~ interessante nesso sentido que o estigma à


aumentezyxwvutsrqponm

proporçao em que aumenta a distância cultural presumida. O grupo

dos caipiras e o grupo dos catarinos sintetizam essa dist~ncia. o

ra manipulandozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a oposiç~o "cidade" x "int~rior" (50), ora manip~

lando a oposiçao "conhecido" x "descohhecido", nessa exacerbação

dos que vêm de terras inatingíveis pelo seu contato habitua i depe~

ca (Santa Catar1na). Essa diferença fica muito clara em torno do

n6dulo "dormir no barco". A permanência dos trabalhadores de fora.

ou de parte dasses trabalhadores de fora no interior da embarcação

aportadaconstitui um sintoma evidente de uma lógica anômala. de um

comporta~;8nto não incorporável às estrat~gias do seu mundo (51).

A mesma préocupação com a unidade 8 preservaçao dos padrões

culturais vigentes, graças aos quais a navegação da vida se afig~

ra viável, parece determinar a última dessas grandes oposições no

seio da guarnição. 00 ponto de vista das classificações locais e

Ia poderia ser introduzida pela oposição pro~ x popa, que no en

tanto acentua apenas um de seus aspectos, "cerne» x "periferia" ex

50) "Interior" no sentido de não urbano, pois se refere a gente o


riunda de localidades costeiras do próprio Estado do Rio de Jã
neiro.

51) Cabe ressaltar aqui que essa mesma ~insegurança" dos trabalha
dores locais face ao desconhecimento das motivações da práticã
dos de fora, é sentida pelo pesquisador. Embora acreditemos
que boa parte de nossa análise lhes seja aplicável. não só por
que vivem condições de trabalho idênticas, como porque são õ
riundos de grupos de pesca, devemos levar em conta possibilidã
des de uma certa divergência de leitura dessa prática comum em
função de suas trajetórias anteriores e de características das
conjunturas sociais de que são egressos. Tratava-se porém de
um ponto que não poderíamos ter aprofundado,já pelo fato de re
meterem a situações de origem muito diversificadas.já pela óti
ca por nós privilegiada de um trabalho a partir da referênc1~
ao universo da "comunidade" ou do »grupo" local de Jurujuba.
252

primindo talvez melhor essa clivagem entre um grupo que se repr~

senta como fundamental ou Htradicional" ou "qualificado" ou "da ca

sa". e um grupo que se reconhece como o dos neóf1tos. dos translen

tes, dos "marginais". etc.

~ uma oposição que afeta assim sobretudo os jovens ou aqu~

1es adultos que ainda manipulam a "mobilidade" como estrat~gia dezyxwvutsrq

r-ep ro du çê o, De um modo geral são os que ocupam os beliches de~

considerados menos c6modos. Mais do que uma diferença de "comodi

dade", que seria de qualquer modo muito pequena. essa demarcação

do espaço social parece significativa da lógica total deséa opos!

ção, na medida em que os Chamados beliches de 'popa estão localiza

dos no "centro" da embarcação. nesse nQcleo onde 58 agre~am a ca

bine de comando. a entrada do porão das máqUinas e a cozinha, en

quanto que os de proa são "periféricos", separados do "núcleo" P.!i

10 espaço simbolicamente denso do convés. A mesma raiz simbólica

qUe viamos antes fazer associar cozinha e porao ao espaço dom~sti

co. parecer ter aqui. incorporando-as à cabine de comando. o efei

to oposto. o de ler esse "interior" como "cerne", como "n~cleo" da

embarcação. lugar dos portadores do código. dos guardiães da Arca

da "Aliança".

Essa idi1a fica muito clara ao apreciarmos um caso que nos

foi relatado a respeito de um determinado trabalhador de convés.con

siderado um bom "companheiro" por todos os demais. Explicava-se na

verdade a origem de seu apelido. O narrador, velho pescador. son

deiro e mestre de rede da embarcação. dizia que ao vê-Ia trabalhan

do. algum tempo depois de incorporado à guarnição. chamou-o Cerra

peta. por alguma associação de seu físico tacanho com aquele obj~

to. O apelidado respondeU-lhe com um sonoro nome feio, revidando


253

e desafiando em tal nível que foi considerado por todos e sobretu

do pelo próprio narrador como significativo de sua pertinência e ~

dequaç~o ao grupo: "Opa. esse i um dos nossos".


agorazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY
Esse "bat1s

mo". essa iniciaç~o ritual sob a forma de um teste, de um ~enigma"

vivo. esclarece assim sobre as condições de conformação desse esp~

ço simbólico onde se dá a interação legítima entre os companheiros.

o citado Carrapeta incorporava-se assim ao grupo, passava de "peri

firico" a "nuclear~. de incógnito a nom1nado, conhecido. determina

do, portador de uma identidade própria pela prática das relações


I

jocosaszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
à prática das relações de coopera~ão e luta no trabalho.

d que nos introduz também ao último aspecto dessa questão. ao

c6digo, ia f6rmulas pelas quais se falam essas relaç6es jocosa~.

Duas relações pareciam aí se superpor: a relaçãó de Hnomina

çãb" do superior sobre o inferior e a reao~o, a resposta deste. Am

bas marcadas pela "agressão". Agressão de um apelido deprecicitivo,

agressão de uma resposta malcriada. Ambas porem acompanhadas da

descontração de um feliz desenlace, da segurança da definição de

uma linguagem comum. A partir daI o iniciado passa a constituir

mais um elo da ~pecking-order". mais um agressor 8 vitima nessast~

nues e variáveis cadeias de hierarquia. competição e amizade.

Embora todos os temas sejam virtualmente propicias ~ condução

desses duelos verbais, dois são os domínios preferenciais. por co~

terem certamente em suas formas sociais respectivas. a mesma estr~

tura fundamental de aliança e conflito. para cuja atualização no

barco servem de linguagem. Trata-se do futebol e do sexo. O pr1

meiro tema de forma mais implícita. já que manipula conhecimentos

e dados "objetivos". retirados do universo comum das relaç8es en

tre os clubes de futebol cariocas. da condução e resultado das pa~


254 zyxwvutsrqponmlkj

tidas, da atuação dos jogadores. juizes e dirigentes. 8 sobretudo

da imagem social da torcida de cada clube" No segundo tema. p~

rem, em que o material de manipulação ~ o típico Dgossip", o jogo

de agressão inter-pessoal se torna muito expl!cito, mais evident~

mente simb61ico, por assim dizer. Por outro lado. os valores arti

cuIados são mais definidos. já que se reduzem à oposição entre os

papiis de "homem" e "mulher" e as poucas inconsist~ncias e ambig~!

dades socialmente determinadas para esse universo. As acusaçoes

se reduzem assim às de veado e de corno; o homem que recusa a mu

lher e o homem que não retém a mulher. Duas articulações que ser

vem inclusive à manipulação de uma linguagem de poder muito fla

grante. própria à exacerbação do conflito verbal: o "eu te como"

ou o "eu como a tua mulher".

~ de ressaltar inclusive que esse domínio S8 torna mais críti

co pela ambigüidade da situação real em que S8 8ncontra a guarnizyxwvutsrqpo

ção, segregada em um espaço unissexual íntimo e prolongado, onde o

peso emocional das relações entre "companheiros" no trabalho nao

pode ser contrabalançado pelas relações heterosociais do mundo do

méstico J~ viramos mesmo como a


ou inter-doméstico.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
intensidade

desse traço se reflete nas relações em terra. pela instituição da

farra como reencenaçao da vida embarcada na comensal idade entre ho

mens fora de casa.


Esse código serve além do mais para veicular considerações a

respeito da própria identidade de trabalhador, indissDciável em

boa parte da identidade de homem. Os mesmos valores de capacidade

pessoal que analisamos oportunamente entram aqui em jogo. balisan

do a alocação e definição de cada identidade pessoal. Essa arti

culação se patenteia sobretudo no proceSso de socialização dos j~


255zyxwvutsrqponmlkj

vens, em que as exigências sociais de definição dos dois papéis se

sobrepõem e interferem mutuamente. Nesse sentido as agressoes veE

bais funcionam como uma espécie de teste contInuo da capacidade de

cada um reagir "como homem», invocando as id10ssincrasias do de

sempenho pessoal de trabalho e de vida. num desafio grupal orienta

do para a definição e incorporação das identidades.


256zyxwvutsrqponmlkj

Como se indicou na Introdução 8 se procurou desenvolver ao

longo do trabalho, erigiu-se em fio condutor da análise da reprod~

ção social dos trabalhadores da pesca de Jurujuba a referência a

esse conjunto, a esse universo originário da identidade do grupo

(pescadores e gente da pesca de Jurujuba), que se impunha como nf

vel mais abrangente, fundamental para a definição das identidades

espec{fioas em que pudemos analisar diferencialmente a prática dos

trabalhadores pequenos produtores e a dos trabalhadores assa1aria

dos em Jurujuba. Privilégio que se justificava tanto mais pela

promissora possibilidade de estudo controlado de um processo de re

produção social articulado na uni"dade e na divergência.

Estimuláva-nos sobretudo a inspiração da análise desenvolvida

por Godelier sobre o efeito de permanência das formas na reestrutu

ração de uma ordem social. na elaboração da legitimidade da mudan

ça (1) ensejando a compreensão de que nenhuma identidade ou legit1

midade. por mais que determinada por especificas condições materi

ais de existência. se pode instaurar num vácuo de formas "cultu

rais", e que essas formas. pre ou co-existentes. se impõem em cer

ta medida aos novos conteúdos por força dos "efeitos do pensamento

anaI6gico sobre o conteúdo de suas representações" (2).

1) "Ou fait que les anciens rapports de production, ~ Ia fois peE


sistaient et donnaient forme aux nouveaus rapports de produc
tion, les formes idéologiques anciennes à Ia foispouvaient ser
vir de matériau et de scheme de répresentation des nouveaus rap
ports sociaux et ne pouvaient 18 faire que selon leur conten~
propre qui ripresentait 185 obligations des membres des commu
nautés vis-~-vis de leur communaut~ d'origine. comme des oblig~
tions vis-à-vis d'une réalité supérieure done contraignante
mais bienfaisante". (Godelier, 1973, p. 350).
257

A articulação porem desse efeito como elemento de um sistemazyxwvuts


-
que joga integrado com o "efeito do conteúdo das relações históri

cas dos homens entre si e com a natureza" não deixava dúvidas por

outro lado à sua concomitância com essa 17constitut10n


quantozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA de

p01nts de d~part nouveaux» CGode1ier. 1973. p. 355) que retoma a

"leveza" da história face ao "effet de p~santeur de l'id~ologie» -

como chama Piotte àquele outro mecanismo. resumindo o pensamento

de Gramsc1 a esse respeito CPlotte, 1970).

Mais inclusivamente às implicações desse tema para a compree~

- dos mecanismos
sao genªrlcos da ideologia. nos interessou a sua in

corporaçao ao estudo das classes trabalhadoras das sociedades na

c10na15, onde a questão da mudança, da instauração de novos limia

res de legitimidade ou de ilegitimidade, ora se esvazia na perspe~

tiva da co-participação na "cultura" abrangente atravªs do teme da

"moderniz~ç~o". ora se dissolve na reificação das "consci~ncias de

classe".

Donde a proposta de levar em conta, num único processo, a ve~

tente da afirmação dos mecanismos genéricos da expressão ideológi

ca pela analogia com formas pré ou co-existentes e a da afirmação

da nova lógica com que essas formas são pouco a pouco investi

2) Não é outro certamente o sentido da análise com que Marx intro


duz ao 18 Brumário: "Les hommes font leur propre histolre, maii
11s ne Ia font pas arbitrairement, dane les conditions choisies
par eux, mais dans des conditions directement donn~es et héri
tées du passé. La traditian de toutes les générations mortei
pese d'un poids tres lourd eur le cerQeau des vivants. Et même
quand l1s semblent occup~s à se transformer, eux et les choses,
à créer quelque chase de tout à fait nouveau, c'est précis8
ment à ces époques de crise révalutionnaire qu'iIs évaquent
craintivement Ies esprits du passé, qu'11s leur empruntent
leurs noms, leurs mots d'ordre. leurs costumes, pour apparaitre
sur Ia nouvelle scene de l'histoire sous ce déguissment respec
tab1e et avec ce langage emprunt~." (Marx. 1969, p. 15).
258

das (3).

A referência ao modelo da campanha, enquanto vivência contra

dit6r1a de uma "continuidade" e de uma "mudança", constituiu-se as

sim no fio comum artlculador daquele "conjunto" a que nos referfa

mos como primeiro plano das identidades sociais em Jurujuba. Con

tra ele vinham se desenhar a prática do pequeno produtor, dividido

entre a referência emergente do armador. do modelo da acumulação

diferencial, e a percepçao de uma inviabilização de sua reprodução

enquanto pequeno produtor; e a prática do trabalhador assalariado,

imerso em condições de trabalho que se afirmavam na diversidade e

marcado pela referência a um emergente modelo de relações assaIa

riadas. através das representações envolvendo o contrato de embar

~ e os direitos de lei.

Esse modelo da campanha constituído. ~ feição do "mito", das

versões que se entrecruzam na vivência do~ pescadores de Jurujuba.

aciona os três planos da associação de interesses. da indlferencia

ção e da estabilidade. na proposta de uma "idade de ouro» onde as

fronteiras da corpo ração da pesca e da comunidade de pescadores se

selavam na tradição comumente partilhada de um mundo marcado pela

pequena ênfase no desempenho pessoal e pela onipresença dos vincu

Ias de reciprocidade e aliança.

Ao inverso desse modelo, e dele inextricável. o processo da

3) Um marcante testemunho do poder explicativo desse procedimento


se encontra na obra de E.P. Thompson - The Making of the English
Working Class, onde a análise recupera. a cada momento. o papel
que as formas pré-ex1stentes (a tradição artesanal, a comunida
de rural) ou co-existentes (a ideologia »radical", os movimen
tos religiosos de caráter messiânico) detêm para a expressão dã
classe operá~ia 8m afirmação 8 o novo sentido com que essas for
mas explodem na prática diferencial de seus portadores. (Thomp
sonozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1976). -
259zyxwvuts

mudança se impunha como uma "desarticulaç~o". como um isolamento

de"individuosH fragilmente justapostos em um quadro de relaç5es de

conflito. pela emergência da produção das traineiras.

Como víramos porem os caminhos dessa mudança se faziam por

pontes de "continuidade" muito nítidas, respons~veis por efeitos


\
específicos da referência a legitimidade da companha. Uma referên

eia já não homogênea; mas sim amoldada aos novos conteúdos impo~

tos pela vivência da diferenciaç~o. ensejando a constituição de um

quadro de variação que pode ser lido concomitantemente do ponto de

vista da referência à identidade comum e do ponto de vista das no

vas identidades instauradas e dos novos modelos que se apresentam

à ordenaçeo de sua legitimidade. Mais do que reprodutivel porem

num gráfiCO linear, esse quadro de variações se apresenta delinea

do em múltiplos planos com o sentido das passagens rebatido no

prisma das novas identidades de classe.

O pequeno produtor se considera nesse sentido um herdeiro di

reto da tradição da campanha. Sua identidade de produtor/trabalha

dor se lhe apresenta como idêntica à dos pequenos produtores mode

lares. A mudança é por ele assim percebida como uma pressao, uma

ameaça exterior que inviabiliza a perfeita realização de sua práti

ca, impondo-lhe uma marginal idade nao só em relação ao setor dinâ

mico da produção traineira mas também em relação ao modelo tradi

c10nal da produção canaeira.

O ideal de associação de interesses. por exemplo. fundamenta

ainda a sua leitura das relações de produção na canoa. ora enqua~

to relaç~ome9tre/aprendizes. ora no tocante àquela ocupaç;o prec~

ria do trabalho de emenda. Tanto num caso quantono outro. a insta

b111dade é filha da competição da~ traineiras, ladra5 da força de


260

trabalho que antes lhe garantiriam uma reprodução ideal.

Essa associação presidezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA


à prática da partilha. realizada se

gundo a regra da companha. D1ssociada porém da rede de prestações

abrangentes que lhe emprestava um sentido diverso do de um "assala

riamento", a lógica da partilha entre companheiros e pescaria ass~

me feição de inviabilidade. no reconhecimento pelo próprio pequeno

produtor da impossibilidade de prover ao sustento dos companheiros

não-proprietários.

Pensar porém essa prática em continuidade à partilha tradici~

na1. no quadro de uma associação ampla entre companha. pescaria e

peixe. garante ao pequeno produtor uma legitimidade que lhe contra

balança o efeito de marginalidade ressentido.

Esse mesmo processo está na raiz da continuidade das represe~

tações sobre a arte e trabalho que compõem a idéia da "responsab~

lidada pessoal" na categoria da obrigação. Ser um pescador feito.

senhor do conhecimento abrangente da pesca. qualifica-o como mmes

tre, isto é. como companheiro privilegiado por oposição aos indí

cios de sua diferença como proprietário. e também como opositorpl~

no do regime das traineiras. onde o conhecimento é visto como di

luído e vilipendiado pela divisão do trabalho.

A Obrigação, enquanto sentido moral da batalha de reprodução.

se ve oposta assim ao universo da ilusão, dos limites de viabilid~

de do projeto do pequeno produtor. Um universo que se rege pela

sorte, em contraponto à ação do trabalho. A maré, esse ritmo na

tural do movimento das águas marinhas. vem designar e "naturali

ze r" o ritmo inconstante da produção, ao sabor de uma conjunção en

tre trabalho e sorte que retira da precariedade do processo de pr~

dução a responsabilidade pelo fracasso reiterado da pescaria. Ao


mesmo tempo em que alivia do sentido abrangente da obrigação o p~zyxw

50 individualizado de que hoje se recobre. ao reverso do modelo

tradicional onde os laços comunitários da reciprocidade deveriam

compensar a fragilidade comum das unidades de produção.

o tema do "padrinho"
\zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ª ilustrativo desse processo. A relação

do mestre com o restante da campanha e com suas unidades domésti

cas deveria corresponder a uma relação de "apadrinhamentou • isto é,

de solicitude e amparo físico e moral mais ou menos constantes ou

iminentes. Essa relação já não é mais possível, seja pela própria

dissolução da companha enquanto conjunto de trabalhadores chefes

de família associadas ao proprietária de uma canoa. seja pela pr~

cariedade da reprodução do próprio pequeno produtor. Não poder

pensar-se como padrinho faz avultar a sua representação negativa

como pescador-mendigo, isto é, incapaz de portar a identidade de

sua categoria. ao ter de barganhar o crédito junto aos orgaos de

Governo frequentemente através da intercessão de um armador. Acima

porém das vicissitudes impostas pelo enfrentamento dos senhores do

crédito paira sobre o conjunto a idéia de um Governo superior de

onde promana a contínua possibilidade de igualdade, de reinstaura

ção de uma "indiferenciação" e "estabilidade" perdidas na idade de


\
ouro.

Nessa mesma questão do crédito articula-se, por outro lado,

a ambig~idade do pequeno produtor face ao único projeto com que po

de pretender escapar à proletarização: a acumulação diferencial.

\. Pois, se ele se pensa como »patrão de pescaria pequena", por

oposição à ilegitimidade de lacaio ou de mendigo, a figura do arma

~, esse "patrão de pescaria grande", materializa o próprio mundo

das traineiras, vivenciado como foco de disrupção da vida pescad~


, ~.. ,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

262zyxwvutsrqpon

ra segundo o modelo da campanha.

Para se pensar. porém ~~, em reprodução igual de suas co~

d1ções de pequeno produtor. as ameaças da instabilidade da prod~

ção. da fome dos ratos e da competição das traineiras exigem a

procura dos limiarGs da ssgurança representados pele supereçeo das

condições da produção canosira.

Viu-se nesse sentido como a educação dos filhos procura até

um certo ponto manter um equilíbrio entre o ficar e o sair da pe~

ca pela concom1tânc1a do aprendizado e do estudo: na espera dos r~

sultados dessa imprevisivel batalh~. Pois contra a expropriação,

contra a sujeição à condição de pescador assalariado, sempre reluz

a possibilidade de obter pelo estudo um lugar de dignidade fora da

pesca; um lugar onde um outro conheter e um outro produz;r possam

reinstaurar a legitimidade da vida de obt1gação.

São denotativas da ambivalência do pequeno produtor face à a

cumulação as características da identidade do armador de origem 10

cal - e nessa medida procuramos incorporá-Ias em parte - pois aeio

nam do mesmo modo as "continuidades" com a pequena produção e com

o modelo da companha.

A ilegitimidade do não-trabalhar e das demais práticas que

lhe vao pouco a pouco consolidando uma condição de classe radical

mente diferente é contrabalançada pela legitimidade da ascenção de

pequeno a grande pescador e pela referência e à arte


ao trabalhozyxwvutsrqponmlkjihgfedcb

passadas como razão da acumulação diferencial. E a própria idéia

da campanha preside à leitura das novas relações de produção. ao

privilegiar o armador como sua campanha o núcleo variável dos tra

balhadores com vantagens de sua confiança. explicando o "desprezo"

aos demais, aos trabalhadores de convés. pela sua indisposição em


263

se comportarem como companheiros, isto e, como colaboradores lnte

ressados e dedicados de corpo e alma. Do mesmo modo, a partilha

na traineira se lhe apresenta em continuidade com aquela caracte

r!stica da campanha, de tal modo que os direitos trabalhistas e a

sua imposição pela fiscalização governamental e pelo inc1pienteco~

trole dos trabalh~dores 98 afiguram como 1ntromissSes indevidas e

desrespeitos a uma "tradiç~o" legItima. Desse modo. embora sepo~

sa dizer que essas representaç6es de continuidade "servem" ao mas

caramento da prática de extração de sobre-trabalho consubstanclada

nas novas relações de produção nas traineiras. elas expressam mui

to mais do que isso: a delicadeza e a complexidade dos fios que e~

tretecem a prátic~ da diferenciação. a construç~o e r8-construç~0

continua das "identidades" dentro dos códigos acessiveis de "legi

timidade".

O trabalhador não-proprietário local parte de uma condiç~o o

posta. A sua "liberdade" de vendedor de força de trabalho lhe a

bre em principio as portas de um mundo mais amplo, o das oportun!

dades de trabalho fora da pesca ou fora de Jurujuba. Uma "opç~o",

no entanto. plenamente condicionada pela socialização no universo

pescador da comunidade. inclusive e sobretudo pelo trabalho adoles

cente nas unidades da pequena produção mercantil.

A obrigação deste outro trabalhador vem recobrir apenas a re

produção social da família e de seus membros, dissociado que e o

seu projeto da reprodução de uma propriedade que no caso do pequ~

no produtor se confundia com a reprodução familiar.

Doi~ valores fundamentais balisam essa obrigaç~o: a liberdade

e a estabilidade. Valores individualizados numa oposição que rev~

la ao mesmo tempo a referência ao modelo da companha e a diferença


264zyxwvutsrqponm

das novas condições de existência. Individualizados porque naqu~

le modelo eles se encontram apenas implícitos; opostos porque lá

são indissoc1áveis. E ainda individualizados e opostos porque e

reprodução se dá agora em um mundo marcado pela quebra da comuni

dade. pelo enfrentamento de um mercado de trabalho regido pela lõ

gica da responsabilidade individual imediata das unidades domésti

cas e de seus sustentáculos. e pelo enfrentamento de condiçõeszyxwvutsrqponm


de

reprodução que. diversamente daquelas subjacentes ao modelo da com

panha. dissoc1am e opõem em 51 mesmas aqueles valores.

E portanto de acordo bom tal orientação que são lidas as di

versas "opções" de trabalhb. seja o continuar na pesca, seja o

sair da pesca e nortear-se para os três caminhos previsíveis do

trabalho operário. do serviço pGblico e do trabalho por conta pro

pr1a.

A definição das trajetórias obedece por outro lado a uma c~o

nologia complexa. sempre articulada com as condições especfficas

de reprodução de cada unidade doméstica original.

Ao trabalhador local que permanece na pesca impõe-se o traba

lho nas grandes unidades de produção referidas ao emprego das trai

neiras.

Essa permanência. porém é nao apenas continuidade mas tamb~m

diferença, corte com o modelo da campanha, cuja legitimidade se re


força pelos laços de continuidade percebidos.

Pois ao n!vel do processo de trabalho são mercantes as identi

dadas entre a forma mais valorizada da produção canoeira (a de re

de traineira) e a da produção em traineira. acentuando-se nessa i

dent1dade inclusive ume expectativa de crescente rentabilidade.

Expectativa que reforça a ilegitimidade do corte percebido


265

nas relaç5es de trabalho. ora pela dissociaçSo da figura do mestre

em um nio-trabalhador (o armador) e um ngerenten da produçio (o

mestre de traineira), ora pela emergência de uma divisSo do traba

lho que vem opor inúmeros recortes decorrentes da nqualificaç~o"

remunerada com vantagens.

Além do mais. fere as regras do modelo da campanha a forma

como a partilha se vê desvirtuada e aviltada num cálculo apenasfo~

malmente semelhante ao da partilha original. privilegiando de for

ma acentuada o ganho do armador e inviabilizando a reprodução legi

tima do trabalhador. A acusação de um roubo mais ou menos perm~

nente neSSa nOVa partilha expressa a representação decorrente desse

impasse percebido, da mesma forma que o comportamento do não-trab~

é denunciado nesse desinterBsse pelo bom estado


lhadorzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA dos meios

de trabalho que contrasta com a nítida associação entre companha e

pescaria que articulava a lógica da campanha. De tal forma que a

acentuação da própria escassez do peixe e das dificuldades gerais

atribuídas à instabilidade do mar e do tempo é até certo ponto li

da como resultado do desrespeito ao equilíbrio abrangente dos tem

pas originais.

Enfrentando-se com uma condição de trabalho que se apresenta

sob inúmeros aspectos insustentável. o trabalhador assalariado va

Ia-se de certas características da produção traineira para furar o

cerco da expl~ração máxima.

Inverte sobretudo a instabilidade inerente as condições de r~

muneração ai vigentes pela instabilidade de seu próprio engajam8~

to nas diversas unidades de produção. valendo-se das diferenças de

ritmo produtivo entre as traineiras pequenas e as traineiras gran

das e do grande número de unidades empresariais existentes.


266

Essa mObilidade transcorre porem como busca constante da es

tabilidade final consubstanciada nas posições com vantagens. sem

pre escassas e fugidias ao seu acesso.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A legitimidade dessas posições já remete por outro à qU8~


ladozyxwvutsrqponmlkjih

tão dos direitos decorrentes do vínculo de embarque, garantido por

lei a todo trabalhador da pesca. porem mantpulado pelo armador cE

mo privilégio de poucos. Esses direitos (aposentadoria pelo INPS,

pagamento de férias. décimo-terceiro slário e salário-famflia) e

mergem como uma concessão do Governo a viabilizar a reprodução do

trabalhador assalariado e sua legitimidade avulta na medida mesmo

em que se acentuam as conseqüências da exploração nas traineiras.

Já que sua plena fruição é não só obstada pelo armador ao conjunto

dos trabalhadores. como a lógica do embarque S8 choca com a prát~

ca da mobilidade mantida como estratégia de sobrevivência e luta

contra as condições adversas de trabalho. a luta efetiva pelos di

reitos se esboça apenas ali onde um limiar minimo de qualificação

se impôs sob a forma de uma posição com vantagens. O que nao re

duz a força com que sua legitimidade vai conformando um novo mode

10 de relações de trabalho na pesca - em simbiose complexa e dife

renciada com o modelo da campanha. Acresce ao sentido desse novo

modelo a incorporação crescente à sua experiênoia de vida de uma

leitura do papel desses direitos na vida operária em terra. a cujo

conhecimento acedem nas redes de relações sociais abrangentes.

A contrario sensu da afirmação do projeto de estabilidade com

liberdade que culmina na representação sobre a posição de mestre

assalariado. a figura dos "vagabundos" da pesca revela ao mesmo tem

pO O Quadro dos valores inerentes àquele projeto e as dificuldades

reais que se lhe deparam no desequillbrio permanente da corda-bam


257

ba. Transformando a derrota num desafio mais que simbólico. esses

"vencidos da vida" ingressam numa condiç;o de plena liberdade em

que a estabilidade se desvanece na dissolução ou não-constituição

da família e na sobrevivência intersticial do "eu só trabalho qua~

do preciso", negando na recusa da reprodução da força de trabalho

a negação da vida legItima imposta pelo trabalho em traineira.

A mesma força de recriação sobre os limites que se antepõem

a reprodução social legítima dos assalariados da pesca brota porém

na prática dos que aí permanecem plenamente engajados.

A idéia da campanha não deixa de preservar,nas condições de

conflito interno instauradas pela forma de remuneração por parti

lha em traineira e pelos móveis da diferenciação interna (o embar

~ e as vantagens). um espaço corporativo muito denso que se re

força mesma com novos recortes na comunidade da privação. A parti

lha. cuja preservação como forma do sistema de remuneração esconde

em um primeiro momento a realidade do seu assalariamento. reinscre

ve-se num novo padrão de legitimidade em que interage com os direi

~ do embarque. instaurando um novo limiar de representação sobre

o trabalho assalariado na pesca que só virá a se consolidar no bo

jo de uma consolidação da própria indústria pesqueira.

à opinião de Bidet. para quem a especificidade


ContrariamentezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

das relações produtivas na pesca "industrial" tenderia a minimizar

o seu potencial de luta e a associá-Ia até mesmo a um pretenso pr~

jato pequeno-burguês (4). pode-se perceber que essa especificidade,

4) "La fonction de ces formations idéologiques présente au regard


de l'analyse marxiste une grande évidence. Elles rSforcent l'
adhésion à un systeme d'exploitation qui fait supporter ao m~
rin non seulement la condition du salarié. qu'elle masque. mais
encore l'ensemble des a1éas de Ia profession. EIIBS 1e dissua
dent par là-même de reclamer les droits des autres salariés enzyxw

\
268

sempre inegavelmente mantida por força das condições de produtiv!

dade no setor. apenas encaminha formas próprias de expressão das

reivindicações e das lutas que lhe conformam a condição de classe.

~ de todo interessante verificar nessa sentido. segundo informa

cões citadas por Zoeteweij (1856). que em outras formações sociais


assa mesma forma do assalariamento por partilha pode assumir a di

mensão de uma reivindicação. da um valor a ser preservado na lutazyxwvut

econômica, por oposição já então a um assa1ariamento clássico por

tempo, que procura ser imposto pelo capital em novas condições de

produtividade.

* * *

matiere d'horaires, de cadences. de congés. de sécurité socia


1e, de sécurité d'emploi. ete. El1es retardent ainsi 1a jone
\ tion du travai11eur dans cett8 branche aV8C 18S organisations
ouvrieres et le rejettent corrélativement vers Ia petite-bouL
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269

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