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Antropologia da Família e Parentesco

Elaborado por: Hélder Luís


Introdução

O presente trabalho cientifico irá debruçar-se sobre o estudo do parentesco em antropologia e sua importância. O
trabalho foi feito baseiado conhecimentos obtidos nas aulas anteriores e a leitura minunciosa de algumas obras por
nós solicitados, e depois fez-se o cruzamento das informações. No entanto, para realização do presente trabalho, fez-
se uma confrontação bibliográfica desde autores clássicos da Antropologia até aos autores dos nossos dias. Este
trabalho reveste-se de grande relevância pelo que, em antropologia o parentesco é uma unidade de analise bastante
essencial para compreensão das sociedades. Para melhor compreensão do assunto aqui abordado, irá se fazer de
maneira hierarquizada a exposição e explanação dos vários aspectos que compõem o parentesco.
Numa primeira fase far-se-á contextualização do parentesco como forma de situar o leitor, assim como mostrar o
funcionamento do parentesco nas diferentes sociedades, tendo em conta a influência comportamental dos indivíduos,
pois, ele também contribui neste sentido. É importante antes de mais, salientar que o parentesco molda a vida dos
indivíduos, organiza os socialmente e lhes confere uma identidade.
O trabalho esta dividido em dois subtemas o primeiro correspondente a parte onde será feita a conceitualização, e
contextualização do surgimento do parentesco os tipos de parentesco e as suas principais concepções teóricas. O
segundo subtema ira focalizar-se na importância do estudo do parentesco em antropologia e sua operacionalização
nos contextos das sociedades tradicionais e industriais.
O Parentesco

Desde há muito que a questão do parentesco vem sido discutida por vários cientistas, que segundo estes chegaram a
conclusão de que os sistemas primitivos de parentesco tem sido uma forma de organização social destas sociedades,
por isso careçe de um estudo de extrema importância e desempenha um valor social dentro das mesmas sociedades (
Bernardi 1974:257). O parentesco é universal no sentido de que não existe uma sociedade desprovida de um sistema
de parentesco, uma vez que cada sociedade define quem é parente e o grau de parentesco que cada indivíduo
desempenha.
Os estudos do parentesco desenvolveram-se segundo Revière (1995: 61) em três etapas sucessivas; a primeira etapa
em 1861 com, o jurista Sir Henry Maine quando publica a obra pioneira Ancient Law que abre caminho as reflexões
dos evolucionistas, uma liga política das famílias soberanas teria invocado uma genealogia comum, para elaborar os
primeiros grupos de descendência, ilustrados, entre outros, pelas gentes romanas. A segunda etapa que começa a partir
da controvérsia entre Rivers e Kroeber (1909) a propósito de terminologias de parentesco e a distinção operada por
Rivers entre os laços de sangue (kinship) traduzido por “descendência” referido ao sistema domestico, e a pertença da
linhagem (descent) traduzido por filiação. E a terceira etapa em 1949, o aparecimento simultâneo de três obras (Fortes
[A Dinâmica da pertença ao Clã entre os Telensis], Murdock [Estrutura Social] Lévi-Strauss [As Formas Elementares
do Parentesco]) que renovam o conjunto das perspectivas sobre as estruturas do parentesco.
No contexto das sociedades o parentesco desde o princípio constitui uma construção social de forma a regrar os
indivíduos. Bernardi (1974:260) “ principio o parentesco surge no fundamento biológico radical e o significado social
que emergem dos factos da vida, ou seja, as relações sexuais, em ordem à geração e que os transformam em causas
eficientes da estrutura social”. Estes princípios vem para regrar a ordem dos comportamentos e das relações entre os
indivíduos ao passo que partem da primeiramente das condições favorecidas pela natureza no sentido da divisão dos
sexos e das suas relações. Entretanto, nas relações de parentesco as distinções feitas entre homem e mulher, para alem
de indicar tarefas dão ênfase a papéis específico de cada um (divisão de trabalho), assim como estabelecer uma linha
de descendência ou como meio de aliança dentro das relações mantidas entre eles.
O parentesco vem para definir regras de relacionamento dos indivíduos dos diferentes grupos (os parentes do primeiro
grau não têm relações sexuais entre si); estabelece valores culturais e sociais tendo em conta regras de controlo
económico, autoridade política e domestica dos grupos.
Estes papéis implicam expectativas sociais, pois determinam o modelo do nosso comportamento, tendo em conta as
proibições. A problemática do incesto constituiu um dos factores primordiais do surgimento do parentesco, pois vem
impor regras de relações onde o homem passa a saber com quem manter relações sexuais ou laços de aliança.

Tipos de parentesco

Dependendo do tipo de sociedade o parentesco pode adquirir-se por via de consanguinidade, por afinidade ou por
adopção.

Parentesco por consanguinidade

Este remete a uma relação biológica dos progenitores que se manifesta na descendência genealógica. Esta liga
indivíduos singulares por via natural, onde atribui representações dos laços de parentesco um poder de coação e de
normatividade (Bernardi 1974:259 e Rivière 1995:63). A consanguinidade alem da sua formação natural, tem um
dever de ser reconhecido socialmente, como forma de dar aos indivíduos uma integração e um estatuto aos indivíduos
dentro do grupo pertencente, assim como estruturar os laços existentes entre os mesmos; por exemplo a adopção de
uma criança. Entretanto, os progenitores nem sempre desempenham os papéis de pai e mãe, mas eles detêm um papel
de pais sociais, visto que estes ascendem a este individuo não tem uma ligação natural, contudo a sociedade reconhece
os seus papeis de pais adoptivos apesar de não existir uma ligação consanguínea.

Parentesco por afinidade

Esta é de ordem social que se baseia nas normas sociais conhecidas ou por lei. O parentesco por afinidade esta
relacionado com o matrimónio, mas por laços de afinidade entre duas pessoas no processo de socialização entre os
indivíduos. O processo de afinidade é durável por muito tempo até chegar a definição de parente; contudo, cada
indivíduo vai determinar quem é parente de acordo com o grau de afinidade existente.

Contribuições Teóricas Sobre Parentesco

O Evolucionismo

Nasceu na segunda metade do século XX, tendo como seu principal defensor Lewis Henry Morgan (1881-1881) que
é igualmente o fundador da antropologia social, teoria fortemente influenciada pela ideia da evolução para os
evolucionistas na selvajaria os povos eram nómadas e não tinham nenhuma organização social e não há proibição do
incesto. Afirma que o sistema de parentesco só aparece no segundo estágio de evolução a barbárie, onde o homem
evoluiu o seu pensamento e torna-se sedentário (prática a agricultura) e existe uma necessidade de cooperação entre
os indivíduos. Copans, et al afirma que “ Os evolucionistas denominavam o sistema um estádio, e era seu objectivo
ordenar os estádios relacionando-os numa serie evolutiva”.
O evolucionismo de Morgan contribuiu na antropologia do parentesco com a introdução dos conceitos termos
classificatórios que diz respeito a categorias de parentesco (primo, irmão) e termos descritivos referentes a laços de
parentesco (irmão do pai, filho do irmão da mãe). Contudo, estes dois sistemas definidos por Morgan levariam a
compreender os seus estudos de parentesco.
A classificação dos parentes por categorias reflectia segundo Morgan o estado original da família consanguínea,
ignorante da proibição do incesto. Entretanto, o erro de Morgan foi o facto de não ter entendido a natureza e a função
terminológica classificatória, ele associou demasiadamente os termos de parentesco com as relações biológicas e não
compreendeu que os termos revelavam antes de mais representações culturais. Os fenómenos de parentesco não são
senão um dos aspectos da transmissão cultural, na qual uma sociedade dispõe para moldar os indivíduos ate chegar a
tradição (Copans, et al). A atribuição do mesmo nome ao pai e ao irmão do pai não traduz um desconhecimento
biológico, mas antes um respeito para com os dois parentes. Morgan não compreendeu que os termos de parentesco
se referem antes de mais tipos de e papeis sociais desempenhados por estes indivíduos.

O Funcionalismo

O termo funcionalismo impôs-se na Grã-Bretanha entre 1930-1950 tendo como os principais defensores, Bronislow
Malinowski (1884-1942) e Alfred R. Radcliffe-Brown (1881-1955). Esta teoria privilegia o estudo empírico dos factos
sociais no terreno e apreende-os como uma totalidade, procura segundo Ghasarian (1999: 30) procura as relações
causais, relações funcionais, e interdependência entre os fenómenos sociais e instituições de uma sociedade. Não se
pode compreender o funcionamento de uma sociedade sem antes entender as relações de parentesco. Os sistemas de
parentesco são um fenómeno social total, na medida influenciam o funcionamento de todas as esperas sociais, isto é,
que estes sistemas são pluridimensionais, multifuncionais e multidimensionais, pois tem uma função económica,
simbólica e politica, não podem ser analisados num e único sentido. Para estes os sistemas de parentesco continham
varias funções e concorriam para o funcionamento de uma sociedade.

O Estruturalismo

Segundo Martinez (2007: 108) como corrente de pensamentos estruturalismo pertence a década dos anos sessenta do
século XX, que tem como seu maior defensor Claude Lévi-Strauss (1908). Esta teoria preconizava a apreensão da
estrutura social como um sistema de comunicação no qual todos elementos estão em relação uns com os outros. Se
retirarmos um elemento, o conjunto altera-se, o que muito frequentemente provoca ruptura da força invisível que a
mantém.

O estruturalismo teve como principal contributo enunciação da primeira lei de marcava a passagem do homem do
estado biológico ao estado cultural “o tabu do incesto”, que definia para o homem os seus parceiros sexuais possíveis
e proibidos, evitando assim os casamentos endogámicos. Para Lévi-Strauss o tabu do incesto tem por função alargar
as relações sociais e impedir a explosão de conflitos no seio da família, promove um intercâmbio cultural entre durante
o processo de casamento fora da sua linhagem.

O Parentesco na Antropologia e sua importância

O estudo do parentesco na antropologia é considerado uma aprendizagem tão necessária como o estudo da lógica na
filosofia ou do nu na arte (Bernardi, 1974: 258). Para a compreensão de qualquer aspecto da vida social de uma
determinada sociedade é essencial conhecer a organização de parentesco. Contudo, as relações de parentesco
estruturam (regulam) todas as relações sociais e de produção: a vida social, económica, religiosa, politica e as
sucessões; entretanto não se pode compreender diferentes sociedades sem antes olhar-se para as formas de organização
do próprio parentesco, pois este constitui a base para se compreender os outros elementos (cultura, comportamentos,
sucessões, etc.) que compõem a sociedade. Brown e Forde (1950) afirmam que “um sistema de parentesco pode ser
considerado como um arranjo que permite as pessoas viverem juntas e cooperarem umas com as outras segundo a
ordem social”.
O parentesco na vida social tem um papel importante pois confere ao indivíduo a identidade social perante ao grupo,
de forma que este seja reconhecido pelos outros como membro pertencente ao grupo, isto é, dentro de uma sociedade
pode definir a sua posição por meio de termos de parentesco com qualquer pessoa com quem se encontre a tratar
socialmente, quer pertença á própria tribo quer pertença a outra. Para Rivière (1995:69) “o grupo de parentesco supõe
um ou diversos critérios de pertença, assim como normas comuns, e ligações sociais activas”. Contudo, o parentesco
confere os primeiros elementos do nosso estatuto como individuo, assim como confere a sua personalidade social
integrando os indivíduos que fazem parte do grupo e distinguindo os que não fazem parte, dai que o parentesco integra
e também exclui, visto que ao mesmo tempo confere uma posição social dentro desse grupo e esta posição é de maior
destaque de acordo com o papel que a pessoa desempenha, por exemplo pai, mãe, filho.
O parentesco constitui uma forma de organização da vida humana, na qual se concentram relações de laços entre dois
indivíduos partindo de uma escolha recíproca, de troca de interesses comuns que podem ser sexuais ou de trabalho e
outros. Segundo Bernardi (1974:258) “ estas formas associativas que emanam das relações para a geração e a sua
continuidade da espécie, constituem o parentesco”. Portanto, o parentesco na sua constituição é muito vasto e de difícil
definição, pois abarca um conjunto de elementos que necessitam antes de mais uma compreensão. Para Bernardi
(1974:259) “o parentesco é um vínculo que liga indivíduos entre si em vista da geração e descendência”.
Rivière (1995:63) define “ o parentesco como um conjunto de laços que unem geneticamente (filiação, descendência)
ou voluntariamente (aliança, pacto de sangue) um determinado número de indivíduos”. Contudo, de dentre as várias
definições existentes sobre o parentesco, o que pode constatar que o parentesco é vasto e vai alem da consanguinidade,
aliança, afinidade, relações biológicas e sexuais.

O Parentesco e sua operacionalização em sociedades tradicionais e


industriais

O parentesco existe em todas as sociedades e serve de um instrumento de conduta dos indivíduos pertencentes a esta
mesma sociedade. Contudo, o parentesco não desempenha mesmas funções em todas as sociedades, isto é, nas
sociedades tradicionais traduz˗se na passagem e integração dos indivíduos, efectivamente ele esta relacionado com a
família, questão de direitos de sucessão e de herança.
Nestas sociedades o parentesco tem uma função essencial porque alem das questões de passagem de poderes para
lembrar antepassados mortos, confere também ao individuo uma identidade, assim como bens, terra; por exemplo
dentro de uma família onde pratica-se a invocação de antepassados quando morre o individuo que esta encarregue de
falar com os espíritos deve˗se procurar um sucessor para continuar a invocar.
Em sociedades industriais como diz Ghasarian o parentesco esta patente em questões relacionadas com a afinidade,
ou passagem de herança. Em outros na busca social de herdeiros ou mesmo proximidade, defenindo os
sentimentalmente os seus parentes, e construção da árvore.

Conclusão

Findo o trabalho e diante dos factos pelo grupo apresentados, pode se concluir que o parentesco é dotado de grande
poder regulador da vida social, pelo que rege todo o tipo de relações sociais existentes numa determinada sociedade
seja tradicional ou industrial.
O parentesco embora possa ser transmitido por consaguinidade e como Ghasarian afirma que nas sociedades
tradicionais tem um carácter sagrado e exclusivo na medida em que as pessoas que partilham da mesma parentela à
eles transmititida pela via consaguinea se vêm obrigadas a manter certos sentimentos uns em relação aos outros, tem
uma dimensão social que ultrapassa a biológica, pelo que transmite certos estatutos sociais, permite a integração em
grupos de actividades, em termos de hierarquização o parentesco tem forte influência.
Em sociedades industrias embora a sua operacionalização não seja do mesmo modo operacionalizado que em
sociedades tradicionais tambem serve para unir e cria algumas esferas de influência. É um ponto de analise de extrema
relevância devendo ser levado em consideração durante as pesquisas em determinadas sociedades no que toca a sua
organização e disposições dessas mesmas sociedades.

Bibliografia

Bernardi, Bernardo. Introdução aos Estudos Etno-Antropologicos. Edições 70: Lisboa, 1974
Brown, Radclifee; Forde, Daryll. Sistemas Políticos Africanos de Parentesco e Casamento. Fundacao Calouste
Gulbenkian: Londres, 1950
Copans, J. et al. Antropologia Ciência das Sociedades Primitivas?. Lisboa: Edições 70: Lisboa, 1971
Ghasarian, Christian. Introdução ao Estudo do Parentesco. Terramar, 1999
Martinez, Francisco L. Antropologia Cultural: Guia para o Estudo. 5ª ed, Paulinas Editorial: Maputo, 2007
Revière, Claude. Introdução a Antropologia . Edições 70 :Lisboa , 1995.

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