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Guião:

Bárbara
Tomás

Contextualização (Autor e indicação bibliográfica)

Adolfo Correia da Rocha, de pseudónimo Miguel Torga, tem a sua nascença


documentada a 12 de agosto de 1907 na região do Douro, no distrito de Vila Real, no
município de Sabrosa, na pequena vila de São Martinho da Anta. O escritor faleceu no
dia 17 de janeiro de 1995.
A grande afinidade deste para com a sua terra fez com que o mesmo apelidasse a sua
província (Trás-os-Montes e Alto-douro) de “Reino Maravilhoso”.

Torga foi um influente escritor que escreveu contos, poemas, relatos de memórias,
ensaios, peças de teatro e romances.

Desde sua infância que se notou a sua genialidade, após concluir o 1º ciclo, os seus pais,
que eram trabalhadores rurais, por norma, iam colocar o seu filho na horta a trabalhar,
mas o seu professor do ensino primário tentou convencê-los a deixar o seu filho
prosseguir com os estudos.
Esta tentativa foi em vão uma vez que ele foi enviado para trabalhar como empregado
doméstico na casa de uns familiares abastados dos patrões da sua mãe no Porto, a
verdade é que Adolfo Correia da Rocha não obedecia aos seus patrões, então voltou
para a sua aldeia.
Os pais decidem então enviá-lo para um seminário, este cenário acaba por ter mau
desfecho uma vez que o ambiente clerical deste espaço se difere muito do ambiente
rural no qual Adolfo vivia, o seu comportamento nesta jornada valeu-lhe muitos
castigos e repreensões por partes dos freires.
Após estas duas passagens por ambientes diferentes, os seus pais ordenaram que ele
fosse viver com um tio que nunca havia conhecido para o Brasil. Na sua nova
residência, uma fazenda de café no interior de Minas Gerais, o tio reconhece a sua
inteligência cedo, então inscreve o seu sobrinho na escola noturna, implicando que ele
trabalhasse durante o dia na roça e estudasse à noite.
Quando termina o ensino secundário com 18 anos, o seu tio dispensa-o dos trabalhos e
paga-lhe a viagem de volta a Portugal para que Miguel Torga ingresse na Universidade.
Apesar do Tio contribuir financeiramente para que este conclua o seu curso, o dinheiro
não é suficiente o que faz com que Correia da Rocha tenha que trabalhar numa morgue
a limpar cadáveres para pagar os seus estudos. Em 1929, com 22 anos, colabora na
revista “presença” ainda sob o seu nome.
Formado como médico, não abandona a escrita e assume o pseudónimo Miguel Torga,
em 1936 funda a revista Manifesto com Albano Nogueira. Esta revista só viria a ter 5
edições uma vez que a PIDE acabaria por pressionar o escritor e até mesmo prendê-lo
sob as acusações de oposição ao regime. Após o fim do Estado Novo, Torga surge nas
primeiras eleições livres pós 25 de abril como cabeça de lista do partido PRD que
apoiava as ideias de Ramalho Eanes.
Torga conheceu uma estudante de doutoramento em literatura portuguesa, uma senhora
belga, com a qual virá a casar em 1940, Andrée Crabée, que viria a se tornar professora
universitária.
Adolfo Correia da Rocha adota o pseudónimo de Miguel Torga, pela sua admiração por
Miguel de Cervantes e porque Torga se trata de uma planta existente na sua região natal.
As poesias de Torga têm uma grande presença do naturalismo e do sentimento rural, que
enaltece a terra na sua totalidade.
A sua atividade médica foi comprometida pelo proibimento de exercer a sua profissão
no setor público pelo regime, levando a que o mesmo fosse trabalhar para um
consultório privado.
Pela sua infância, ele reconhece o papel importante do homem em se esforçar para
garantir a vida da natureza, através da agricultura, que garante a paisagem duriense da
região onde cresceu.

A sua obra garantiu-lhe 2 nomeações para o prémio Nobel da literatura e também o


prémio Camões em 1989, entre muitos outras condecorações e nomeações.

Algumas das obras mais famosas de Miguel Torga são:


Diário; Manifesto; Sinal; Bichos; “Traço de união” e por último “A criação do mundo”

Leitura do poema

Tema e assunto
A temática do poema são é tradição literária, na medida que o sujeito poético capta o momento
do regresso à sua terra natal, à sua infância, explorando ao longo do poema temas e formas
presentes na literatura portuguesa e estrangeira, como a saudade, os sentimentos e a vida. Assim
o poema explora a experiência humana de regressar a um lugar familiar após um período de
ausência, neste caso à sua terra natal, onde passou a sua infância, um período maravilhoso da
sua vida, pois esta foi vivida no seio da Natureza, onde não havia “cansaço”.

Interpretação do poema

Podemos dividir este poema em duas partes, sendo a primeira os dois primeiros versos, onde
verificamos o regresso do sujeito poético à sua terra natal e a felicidade que sente.
Na segunda parte, com a expressão "Como rijos carvalhos.. e sorriso", podemos ver a reação da
natureza à sua chegada, enquanto nos últimos versos está retratada a relação que existe entre
ambos, a de intimidade e de afetividade.

Este poema aborda o regresso do sujeito poético à sua terra com o intuito de fugir ao cansaço
sentido enquanto esteve ausente, o ambiente presente tanto na terra em questão como no estado
de espírito do “eu” de enunciação no momento do seu retorno é de alegria e satisfação.
As diversas referências aos elementos da natureza e figuras do naturalismo evidenciam a clara
relação simbiótica entre a terra mais em específico, como representante da natureza, e o sujeito
lírico como representante da humanidade.
Esta relação é tão real que até características de uma pessoa são atribuídas à natureza, de modo
a associar esta relação humano-natureza às habituais e relações entre humanos.
Certas marcas deste poema como o uso do deítico “minha” em relação à serra têm o intuito de
demonstrar o envolvimento afetivo para com a serra da sua terra-mãe que não lhe pertence
efetivamente a ele em termos materiais, mas sim em termos emocionais por estar apegado
emocionalmente a ela. Também o “acenar dos rijos carvalhos” e o “colo dos penedos” são
expressões que remetem para esta postura materna que o sujeito poético encontra na terra.
Contrastando com este conceito acolhedor de terra-mãe, surge a palavra desterro como
referência a uma hipérbole em relação à saída do “eu” lírico da sua terra, que lhe trouxe
cansaço, tempo perdido e essencialmente saudades das suas origens, com o objetivo de ter uma
vida melhor em termos financeiros.
No poema está presente uma importante característica da poesia de Miguel Torga, o telurismo,
ou seja, a influência que uma determinada região tem sobre os costumes e carácter dos seus
habitantes. Este é visível através da força telúrica que puxa o sujeito poético e o atraí para a sua
terra natal, a terra transmontana.

Assim sendo, o regresso à sua terra equivale à recuperação de forças e ao alcance da felicidade.
Tal como Anteu, que, de acordo com um mito grego, era um gigante, filho de Gaia, a deusa da
terra, e de Posídon, que vivia na região de Marrocos e que conseguia recuperar sempre as suas
forças ao tocar na sua mãe-terra, tornando-se invencível.
Por isso podemos comparar ambos estas histórias sendo que tanto, o sujeito poético como Anteu
necessitam de voltar as suas origens para restabelecerem as suas forças anímicas.

Ao longo do poema surgem uma quantidade e variedade de vocábulos e expressões que


descrevem a terra tornando-a o campo lexical mais importante do texto, quase saturando o
discurso poético. Assim:
• As referências são "fragas", "minha serra", "terra morta", «colo dos penedos"; "minha
dura infância”, «meu velho paraíso";

O sujeito poético atribui um simbolismo metafórico a alguns elementos como : O carvalho,


instrumento simbólico de comunicação entre a terra (os homens) e o céu (Deus); A fonte,
símbolo de maternidade, que nas culturas tradicionais é simboliza origem da vida, do
renascimento, do poder e da felicidade.

Por fim, no poema podemos ver também uma relação entre o passado e o presente através de
verbos conjugados no presente do indicativo " regresso" em oposição ao pretérito perfeito "
surgiu", "voltou " e pretérito imperfeito " cantava”.

Figuras de estilo / Recursos expressivos

"Ah! Minha serra, minha dura infância!" (verso 2) - Exclamação


- Esta exclamação demonstra a satisfação do sujeito poético em retornar à terra a que
havia sido roubado como indica no 1o verso

"Como os rijos carvalhos me acenaram." (verso 3) - personificação


- O uso desta personificação transmite uma intensa relação simbiótica entre o "eu"
poético e a sua terra e todos os seus elementos naturais, uma vez que as árvores, neste
caso os carvalhos, "acenaram" ao sujeito de enunciação quando o "avistaram"
cansado à distância.

"Cantava cada fonte à sua porta:" (verso 5) - Personificação


- Novamente é utilizada uma personificação para fazer menção à saudade e proximidade
entre o "eu" de enunciação e a sua terra, neste caso, é descrito que as fontes, que são um
objeto inanimado cantaram o regresso do dele (O poeta voltou!) .

"Dos versos que o desterro esfarelou" (verso 8) - Metáfora


- O desterro do sujeito poético (estado de estar ausente da sua terra) é um estado de vida
que não tem maneira de desfarelar algo como os versos, desse modo o desfarelo em
questão é o desgaste causado ao poeta por estar longe das suas raízes.

"Depois o céu abriu-se num sorriso," (verso 9) - Personificação


- De novo existe uma referência ao naturalismo e às propriedades humanas que o "eu"
lírico lhe atribui. Desta vez a personificação tem o intuito de destacar como o retorno do
sujeito lírico traz felicidade àquela terra, já que o seu regresso fez com que "o céu" se
abrisse "num sorriso".

v "E eu deitei-me no colo dos penedos” (verso 10) - Personificação


- A personificação é novamente usada para acentuar a intimidade entre o sujeito poético
e a sua terra, na qual se sente protegido e alegre.

Análise formal do poema:


O poema é constituído por 3 quadras, sendo os versos decassílabos, exceto o 2º verso da 2ª
estrofe que é uma redondilha menor.
Nas duas primeiras estrofes, o esquema rimático é ABAB (rima cruzada) e na terceira estrofe é
ABBA (rima interpolada)

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