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♦️Aula 1 - Diversidade social e cultural ♦️

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♦️Cultura: um conceito antropológico plural ♦️

A educação está diretamente relacionada à cultura e às diversas possibilidades com


que se realiza nas diferentes sociedades. Assim, nessa perspectiva, devemos
reconhecer as diferenças culturais como fundamento da diversidade com que a vida
social se realiza.

podemos afirmar que todos os seres humanos produzem cultura, seja vivenciando o
cotidiano da vida, seja representando a realidade em que se inserem. Na
antropologia, sabemos que existem muitas definições e correntes teórico-
metodológicas em torno do conceito de cultura

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♦️
Cultura ♦️

A capacidade da humanidade como um todo e a cada um dos povos, nações, sociedades


e grupos, de se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a
realidade e expressá-la (Santos, 1994).

A cultura, vista sob esse ângulo, caracteriza-se como a possibilidade do indivíduo,


inserido em seu agrupamento social, de viver o seu dia a dia, compreender a
realidade e atribuir significados a ela, planejar, calcular e transformar a
natureza, além de refletir sobre todas as coisas que estão ao nosso redor

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♦️Antropologia ♦️

é uma ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser humano e suas relações, é
um termo de origem grega, formado por anthropos (homem, ser humano) e logos
(conhecimento). Sendo uma das ciências sociais, a antropologia nasceu e se
desenvolveu ao longo do século XIX, tendo o objetivo de estudar e conhecer a
cultura e a diversidade das manifestações culturais dos diferentes povos no tempo e
no espaço.

A Antropologia é a ciência que busca entender como o ser humano pode levar
vidas tão diferentes [...]. Essa diversidade estonteante da experiência humana é o
objeto principal da Antropologia. Podemos dizer que a Antropologia se dedica ao
estudo da diferença, usando como exemplos as várias formas que as sociedades
escolheram para viver e organizar sua coletividade [...]
(Machado, 2016, p. 14).

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“devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas
outras, mas não a única” (Oliveira; Costa, 2016, p. 58). Esse é, portanto, o
“espírito” que se deve adotar nos estudos sobre educação e diversidade, tendo em
vista as múltiplas possibilidades e pontos de vista com que as culturas podem (e
devem) ser analisadas e compreendidas.

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♦️Multiculturalismo, Etnocentrismo e Relativismo cultural ♦️


Ao longo da história e desenvolvimento da antropologia, há diferentes abordagens em
relação ao entendimento do conceito de cultura, que varia de acordo com a
perspectiva metodológica adotada. Evolucionismo social, relativismo cultural,
funcionalismo, estruturalismo, entre outras, são exemplos de algumas das correntes
da antropologia

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♦️Multiculturalismo ♦️

O multiculturalismo parte da premissa da existência de sociedades multiculturais,


ou seja, de que diferentes culturas coexistem no interior de um mesmo espaço
social, e suas relações podem se dar por aceitação, podendo ser até híbridos quanto
à inclusão do outro na condução política e econômica de uma determinada sociedade;
de tolerância, como o próprio termo define, ou seja, quando as culturas se toleram
em uma mesma sociedade, mesmo que os interesses da cultura dominante prevaleça, mas
sem que ocorra a aceitação; ou de conflitos, quando se percebem manifestações de
diversas formas de violência, por meio de ações preconceituosas e/ou
discriminatórias praticadas por indivíduos e grupos.

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Na América Latina e, particularmente, no Brasil a questão multicultural


apresenta uma configuração própria. Nosso continente é um continente construído com
uma base multicultural muito forte, onde as relações interétnicas têm sido uma
constante através de toda sua história, uma história dolorosa e trágica
principalmente no que diz respeito aos grupos indígenas e afrodescendentes
(Moreira; Candau, 2013, p. 18).

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♦️Etnocentrismo ♦️

O etnocentrismo parte da ideia, do ponto de vista de quem observa, em considerar a


sua própria etnia no centro de tudo, ou seja, é a base (conjunto de princípios e
valores) pela qual o observador deve olhar as demais culturas existentes no mundo.
Nesse sentido, a própria etnia (povo) e todos os atributos culturais que lhes são
peculiares devem estar no centro de referência do sujeito observador, especialmente
quando se relaciona a culturas diferentes. Trata-se de um instrumento comparativo
de diferentes culturas.

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Na antropologia, o etnocentrismo está presente nas narrativas da evolução,


denominadas evolucionismo social. O inglês Edward Tylor, o norte-americano Lewis
Morgan e o escocês James Frazer são autores que apoiam suas teorias nas narrativas
de evolução.

A “postura” etnocêntrica foi a base para o colonialismo, contribuindo com o


desenvolvimento do mercantilismo e da economia de mercado, além do avanço do
imperialismo e do fenômeno do neocolonialismo, pelo qual diversos países da África,
Ásia e Oceania foram dominados pelas potências imperialistas que se desenvolviam no
contexto da Segunda Revolução Industrial, tendo suas riquezas exploradas e
expropriadas.

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♦️Relativismo ♦️
toma como referência a ideia de que cada cultura deve ser analisada a partir dos
seus próprios termos. Os olhares, as observações e todas as possibilidades de
percepções de uma cultura diferente devem ser relativas. Esse exame depende
fundamentalmente da forma com que o indivíduo e seu grupo compreendem e enxergam as
diferentes culturas do mundo ao seu redor.

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O antropólogo alemão Franz Boas foi quem inaugurou a perspectiva do relativismo


cultural e, ao criticar a postura etnocêntrica do evolucionismo cultural,
compreendia o conceito de cultura semelhante a um todo integrado e ordenado em
determinado agrupamento social, movido a partir de princípios vivenciados e
compartilhados pelos indivíduos de uma sociedade específica.

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♦️Expressões, práticas, crenças, valores, tradições e costumes ♦️

O sociólogo francês Émile Durkheim aponta a educação (e a escola) como uma das
instituições sociais responsáveis por “moldar” os indivíduos para a vida em
sociedade, de acordo com os pressupostos estabelecidos pela consciência coletiva de
determinada sociedade.

Segundo a perspectiva de Durkheim, a educação, assim como outras instituições


sociais, promove a coesão social. Para o sociólogo, a sociedade prevalece e se
impõe sobre os indivíduos, a fim de integrá-los à sociedade.

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O conceito de cultura que eu defendo é essencialmente semiótico. Acreditado,


como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele
mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise, portanto, não
como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência
interpretativa, à procura de significado
(Geertz, 1989, p. 15).

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Para pensarmos a cultura, temos que interpretar os significados atribuídos aos


diversos elementos da sociedade, percebendo o que é do outro e o que é nosso. Pelo
fato de o homem estar sempre construindo novas relações com o mundo e interpretando
a realidade, isto é, tecendo as teias de significados, a cultura é viva e dinâmica.
A cultura é essa construção na qual nada se perde, isto é, em que as coisas novas
vão se misturando com as antigas. Assim, é a partir da lente da cultura que nos
vemos e vemos os outros. Cada cultura tem especificidades, características próprias
que as tornam diferentes entre si, mas nunca superiores/inferiores se comparadas.
(Previtelli; Vieira, 2017, p. 18)

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Compreender a diversidade é entender que cada um de nós pertence a uma cultura. O


estranhamento àquilo a que não estamos acostumados não significa que o outro esteja
errado ou que seja ruim (Previtelli; Vieira, 2017), mas nos permite afirmar que ele
(o outro) é apenas diferente. Em suma, essa deve ser a postura a ser adotada nos
estudos de educação e diversidade, de modo a reconhecer as diferenças culturais
existentes e valorizá-las.

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