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TEORIAS DA

APRENDIZAGEM
RÚBIA DIAS
• A posição filosófica de que o conhecimento humano é uma construção do próprio
ser humano, tanto coletiva como individual, é bastante antiga. Mas, no século
passado, Piaget foi sem dúvida o pioneiro do enfoque construtivista à cognição
humana. Suas propostas configuram uma teoria construtivista do desenvolvimento
cognitivo humano.

• Alguns de seus importantes trabalhos datam da década de 1920, mas apenas


bastante tempo depois, na década de 1970, Piaget foi “redescoberto”. Começou
talvez aí a ascensão do cognitivismo em termos de influência no
ensino/aprendizagem e na pesquisa nessa área.

• Hoje, essa influência é tão acentuadamente piagetiana que se chega a confundir


construtivismo com Piaget. Quer dizer, chega-se a pensar, com certa naturalidade,
que a teoria de Piaget é, por definição, a teoria construtivista.
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO COGNITIVO
DA CRIANÇA POR JEAN PIAGET
• Jean Piaget (1896-1980) foi um psicólogo, biólogo e pensador suíço. Sua
teoria e pensamentos contribuíram para o entendimento do
desenvolvimento infantil e a aprendizagem das crianças.

• Até hoje, o chamado Método Piaget faz parte dos estudos acadêmicos nas
áreas da educação e psicologia.

• A teoria de Piaget, chamada de teoria piagetiana, foca no


desenvolvimento infantil e, por isso, é chamada de teoria do
desenvolvimento. Segundo ele: “A infância é o tempo de maior criatividade
na vida de um ser humano”.
• O homem é um ser racional, com competência cognitiva própria e única,
diferenciando-se do animal pela capacidade da linguagem.

• Apesar de os primeiros anos de vida de uma criança serem fundamentais


para o seu desenvolvimento, foi somente no século XX que iniciaram
estudos sobre a evolução e o comportamento infantil, com a intenção de
entender o aprimoramento psíquico da criança e sua concepção de
inteligência.

• Para revelar e desvendar o desenvolvimento humano cognitivo, o teórico


Jean Piaget preocupou-se em descobrir como a inteligência cognitiva da
criança se desenvolve, como os conhecimentos se formam e se explicam e
de que maneira passam de um estado de menor conhecimento para um
de maior conhecimento.
• Todas essas inquietações foram a base a partir da qual Piaget elaborou a
sua teoria da construção do conhecimento cognitivo da criança.

• Para o processo de construção do conhecimento, o teórico considera,


ainda, a importância do amadurecimento orgânico do indivíduo como
apoio ao desenvolvimento.

• Entretanto, a teoria de Piaget estuda, fundamentalmente, o


desenvolvimento cognitivo, a percepção, a linguagem e o pensamento
infantil.
• Preocupado em explicar como a inteligência nasce e se constrói, ele acreditava
que seu processo de construção se originava no nascimento, na chamada “fase
da inteligência sensório-motora”. Nessa etapa, a criança se relaciona com o meio
e com o objeto por meio dos sentidos e das percepções.

• O conhecimento, para Piaget, não é algo acabado e imutável. Entendendo que o


ser humano é um ser ativo desde bebê, ele caracteriza o desenvolvimento como o
verdadeiro responsável pela aquisição de conhecimento, e garante que a
inteligência se modifica e se transforma no decorrer da evolução, sempre
buscando um equilíbrio com a realidade que a cerca.

• Segundo Piaget, todo o processo de desenvolvimento se caracteriza por estágios,


fases ou etapas.
• Ao observar seus filhos e outras crianças, Piaget percebeu muitas variáveis e
distinções no processo de aprendizagem, e também que, em muitas questões
cruciais, as crianças não pensam como adultos por ainda não disporem de certas
habilidades.

• A maneira de pensar é diferente não somente em grau, mas também em classe. A


sua teoria do desenvolvimento cognitivo, que é uma teoria de etapas, pressupõe
que os seres humanos passam por diversas mudanças ordenadas e previsíveis e
que o ato de aprender ocorre em razão de experiências vividas, de maneira
ordenada ou não.

• Piaget ainda propõe a existência de quatro estágios de desenvolvimento


cognitivo.
ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR
NASCIMENTO AOS 2 ANOS DE IDADE
• O primeiro dos quatro estágios de Piaget para o desenvolvimento cognitivo
é o estágio sensório-motor. Durante esse estágio (do nascimento até os 2
anos, aproximadamente), os bebês aprendem sobre si mesmos e sobre o
mundo mediante suas atividades sensoriais e motoras.

• Os bebês passam de seres que respondem basicamente por meio de


comportamentos aleatórios e reflexos à crianças orientadas para uma
meta.

• Os bebês aprendem por meio dos sentidos e da atividade motora.


• O estágio sensório-motor consiste em seis subestágios, que fluem de um para o outro
à medida que os esquemas do bebê, os padrões de pensamento e comportamento,
tornam-se mais elaborados.
• Durante os cinco primeiros subestágios, o bebê aprende a coordenar os dados
provenientes dos sentidos e a organizar suas atividades em relação ao ambiente.
• O sexto e último subestágio, ele evolui para o uso de símbolos e conceitos a fim de
resolver problemas simples.
• Boa parte desse crescimento cognitivo inicial surge por meio de reações circulares,
quando o bebê aprende a reproduzir eventos originalmente descobertos ao acaso.
• Inicialmente, uma atividade como sugar produz uma sensação agradável que o
bebê quer repetir.
• A repetição novamente gera prazer, o que motiva o bebê a fazê-lo mais uma vez. O
comportamento originalmente aleatório foi consolidado em um novo esquema.
• No primeiro subestágio (do nascimento a 1 mês, aproximadamente), o recém-
nascido treina seus reflexos, iniciando um comportamento mesmo quando o
estímulo inicial não está presente. Assim, por reflexo, o recém-nascido suga quando
seus lábios são tocados. Mas logo aprende a encontrar o mamilo, mesmo quando
seus lábios não são tocados, e suga em momentos em que não tem fome. Assim, os
bebês modificam e ampliam o esquema de sucção.

• No segundo subestágio (por volta de 1 a 4 meses), o bebê aprende a repetir


propositadamente uma sensação corporal agradável obtida ao acaso (sugando o
polegar). Ele também começa a se voltar para os sons, demonstrando a
capacidade de coordenar diferentes tipos de informação sensorial (visão e
audição).
• O terceiro subestágio (em torno de 4 a 8 meses) coincide com um novo interesse
em manipular objetos e aprender sobre suas propriedades. Os bebês repetem
intencionalmente uma ação não simplesmente por repetir, como no segundo
estágio, mas para obter resultados além do próprio corpo da criança. Nessa idade,
por exemplo, o bebê repetidamente agita o chocalho para ouvir o barulho.

• Na época em que os bebês chegam ao quarto subestágio (em torno de 8 a 12


meses), eles aprenderam a fazer generalizações a partir da experiência passada
para resolver novos problemas. Eles modificam e coordenam esquemas anteriores,
como os de engatinhar, empurrar e agarrar, para encontrar um que funcione. Esse
subestágio marca o desenvolvimento de comportamentos complexos orientados
para uma meta.
• No quinto subestágio (entre 12 e 18 meses), os bebês começam a experimentar
com novos comportamentos para ver o que acontece. Agora eles se envolvem em
reações circulares terciárias, variando uma ação para obter resultado semelhante,
em vez de meramente repetir o comportamento agradável que acidentalmente
descobriram.

• Por exemplo, a criança poderá apertar um pato de borracha que fez barulho
quando ela pisou nele, para ver se fará o barulho novamente. Pela primeira vez, as
crianças demonstram originalidade na resolução de problemas. Por tentativa e
erro, elas experimentam comportamentos até encontrarem a melhor maneira de
atingir uma meta.
• O sexto subestágio (entre 18 meses e 2 anos) é uma transição para o estágio pré-
operatório da primeira infância.
• A capacidade de representação – capacidade de representar mentalmente
objetos e ações na memória, principalmente por meio de símbolos como palavras,
números e imagens mentais – liberta as crianças da experiência imediata.
• Elas sabem fantasiar e sua capacidade de representação aumenta a sofisticação
do faz de conta (Bornstein, Haynes, O’Reilly, & Painter, 1996). Elas sabem pensar em
ações antes de realizá-las. Não precisam mais recorrer à laboriosa tentativa e erro
para resolver problemas – elas podem experimentar soluções mentalmente.
• Durante esses seis subestágios, os bebês desenvolvem a capacidade de pensar e
lembrar. Também desenvolvem conhecimento sobre certos aspectos do mundo
físico, tais como objetos e relações espaciais.
Os subestágios do estágio sensório-motor do desenvolvimento cognitivo de Piaget*
Subestágio Idades Descrição Comportamento

Uso de reflexos Nascimento até 1 Os bebês exercitam seus reflexos inatos e O bebê começa a sugar
mês desenvolvem algum controle sobre eles. Não quando o peito da mãe está
coordenam as informações dos sentidos. em sua boca.

Reações 1 a 4 meses Os bebês repetem comportamentos Quando lhe dão a


circulares agradáveis que primeiro ocorrem ao acaso mamadeira, o bebê, que
primárias (como sugar o dedo). As atividades são geralmente mama no peito,
focadas em seu corpo e não nos efeitos do consegue ajustar a sucção
comportamento sobre o ambiente. ao bico de borracha.
Desenvolvem as primeiras adaptações
adquiridas. Começam a coordenar a
informação sensorial e agarrar objetos.

Reações 4 a 8 meses Os bebês ficam mais interessados pelo Bebê empurra pedacinhos
circulares ambiente; repetem ações que produzem de cereal até a borda de
secundárias resultados interessantes e prolongam tais sua cadeirinha e observa
experiências. As ações são intencionais, mas cada pedaço caindo no
inicialmente não orientadas para uma meta. chão.
Os subestágios do estágio sensório-motor do desenvolvimento cognitivo de Piaget*
Subestágio Idades Descrição Comportamento

Coordenação 8 a 12 meses O comportamento é mais deliberado e proposital Ana aperta o botão de seu
de esquemas à medida que os bebês coordenam esquemas livrinho de músicas infantis e
secundários previamente aprendidos e usam comportamentos ouve uma canção. Em vez
previamente aprendidos para atingir suas metas. de apertar os botões das
Podem antecipar eventos. outras músicas, ela prefere
apertar esse botão repetidas
vezes.
Reações 12 a 18 meses As crianças demonstram curiosidade e Os primeiros esforços de
circulares experimentação; variam propositadamente suas Bruno para trazer seu livro
terciárias ações para ver os resultados. Exploram favorito para dentro do
ativamente seu mundo para determinar o que é berço não dão certo, pois o
novidade sobre um objeto, evento ou situação. livro é muito largo. Logo,
Experimentam novas atividades e fazem uso da porém, Bruno vira o livro de
tentativa e erro para resolver problemas. lado e o abraça, encantado
com o sucesso.

Combinações 18 a 24 meses Como as crianças são capazes de representar Júlia brinca com sua caixa-
mentais eventos mentalmente, podem pensar sobre encaixa procurando
eventos e antecipar suas consequências sem cuidadosamente o encaixe
precisar recorrer sempre à ação. Começam a certo para cada forma antes
demonstrar insights. Sabem usar símbolos como de tentar – e conseguir.
gestos e palavras, e sabem fantasiar.
AQUISIÇÕES-CHAVE DO ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR

IMITAÇÃO

• Com 1 ano de idade, Clara vê a irmã mais velha escovar o cabelo. Quando a irmã
solta a escova, Clara pega-a e tenta escovar o próprio cabelo.

• A imitação se torna cada vez mais valiosa no final do primeiro ano de vida, quando
os bebês experimentam novas habilidades.

• Piaget indicou esse comportamento nas suas próprias observações e defendeu


que a imitação visível (que usa partes do corpo como mãos e pés, que os bebês
enxergam) se desenvolve primeiro, sendo seguida pela imitação invisível (que
envolve partes do corpo que os bebês não enxergam) aos 9 meses.
• Piaget sustentava que crianças com menos de 18 meses não podiam fazer
imitação diferida, uma habilidade mais complexa e que exige memória de longo
prazo.

• A imitação diferida é a reprodução de um comportamento observado após algum


tempo. Como o comportamento não está mais acontecendo, a imitação diferida
exigiria uma representação armazenada da ação a ser lembrada.

• Piaget defendia que crianças pequenas não podiam fazer imitação diferida
porque não tinham a capacidade de reter representações mentais.
CONCEITO DE OBJETO
• Em suas observações detalhadas de crianças, Piaget notou que bebês com menos
de aproximadamente 8 meses agem como se um objeto não existisse mais após
desaparecer de seu campo de visão, o que o levou a teorizar sobre o conceito de
objeto – o entendimento de que objetos possuem existência, características e
localização espacial independentes.
• Um dos aspectos do conceito de objeto é a noção de permanência do objeto, a
percepção de que algo continua existindo quando está fora do campo de visão.
• A princípio, o bebê parece não ter essa noção. Se você esconde um brinquedo
interessante, os bebês não dão nenhum sinal óbvio de que entendem que ele
ainda existe. Contudo, entre 18 e 24 meses, quase todos os bebês parecem
entender que os objetos possuem existências independentes e procuram objetos
escondidos de maneira confiável.
• De acordo com Piaget, a permanência do objeto se desenvolve gradualmente
durante o estágio sensório-motor, à medida que as crianças desenvolvem a
capacidade de representar simbolicamente objetos.
• Essa habilidade continua a se desenvolver nos meses seguintes. Por exemplo, os
bebês continuam a procurar um objeto no lugar onde o encontraram pela primeira
vez após vê-lo escondido, mesmo se depois lhes mostram o objeto sendo removido
para outro lugar.
• Em algum momento entre 5 e 8 meses, eles começam a procurar no local correto
onde o objeto foi levado, mas não tentam alcançá-lo.
• Com cerca de 9 a 10 meses, os bebês começam a procurar e tentar alcançar o
objeto no local correto.
• Entre 12 e 18 meses, a maioria sempre busca o objeto no último local em que o
viram escondido. Entretanto, não procurarão em um lugar onde não o viram
escondido.
• Entre 18 e 24 meses, a permanência do objeto é plenamente conquistada;
crianças pequenas procuram um objeto mesmo se não o virem escondido.
DESENVOLVIMENTO SIMBÓLICO, COMPETÊNCIA IMAGÉTICA E COMPREENSÃO
DE ESCALA

• Boa parte do conhecimento que as pessoas adquirem sobre seu mundo é obtida
por meio de símbolos, que são representações intencionais da realidade.

• Aprender a interpretar símbolos é uma tarefa essencial na infância. Um dos


aspectos do desenvolvimento simbólico é o desenvolvimento da competência
imagética, a capacidade de entender a natureza das imagens. Por exemplo,
pense em como o sol é representado nos livros infantis. Em geral, o desenho é de
um círculo amarelo com raios curvos.

• Uma criança que entende que esse desenho indica a bola de luz no céu já obteve
algum nível de competência imagética.
• Até os 15 meses, os bebês utilizam as mãos para explorar imagens como se fossem
objetos – esfregando-as, afagando-as ou tentando tirar da página um objeto
retratado.

• Por volta dos 19 meses, as crianças são capazes de apontar para a figura de um
objeto enquanto o nomeiam, demonstrando uma compreensão de que a imagem
ou figura é símbolo de uma outra coisa.

• Por volta dos 2 anos de idade, as crianças entendem que uma imagem é tanto um
objeto quanto um símbolo.
AVALIANDO O ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR DE PIAGET

• Segundo Piaget, a jornada de desenvolvimento desde o comportamento reflexo


até chegar ao começo do pensamento é longa e lenta.
• Durante aproximadamente um ano e meio, o bebê aprende apenas a partir de
seus sentidos e movimentos; não antes da última metade do segundo ano, ele
avança para o pensamento conceitual.
• Contudo, as pesquisas que fazem uso de tarefas simplificadas e instrumentos
modernos sugerem que certas limitações vistas por Piaget nas primeiras habilidades
cognitivas da criança, como a permanência do objeto, talvez reflitam habilidades
linguísticas e motoras ainda imaturas.
• As respostas obtidas por Piaget foram tanto uma função do modo como ele
formulou as perguntas quanto um reflexo das reais capacidades de uma criança
pequena.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• CORRÊA, Mônica de Souza. Criança, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2015. ISBN
9788522122578.
• MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de aprendizagem. Rio de Janeiro: LTC, 2021. ISBN 9788521637707.
• PAPALIA, Diane E.; Feldman, Ruth Duskin. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: ArtMed, 2013.

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