Qual É A Versão Correta de Romanoss 8

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QUAL É A VERSÃO CORRETA DE ROMANOS 8:1?

Prezados irmãos, Foi suscitado o questionamento, aqui no grupo, sobre o real conteúdo de
Romanos 8:1.

É que, na Almeida Revista e Corrigida, esse verso consta assim:

Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam
segundo a carne, mas segundo o espírito.

O trecho final também aparece na King James Version:

There is therefore now no condemnation to them which are in Christ Jesus, who walk not after
the flesh, but after the Spirit.

Entretanto, a Almeida Revista e Atualizada omite as palavras finais, consignando o verso assim:

Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.

O que se questiona é que versão está mais próxima do autógrafo, isto é, aquilo que saiu das
mãos de Paulo.

Bem, antes de me manifestar sobre esse ponto específico, permitam-me prestar breve
esclarecimento sobre Crítica Textual (não confundir com Alta Crítica – uma coisa não tem nada
a ver com a outra).

A Bíblia não foi transmitida através dos séculos de maneira impressa e encadernada, haja vista
que a imprensa só foi inventada em 1455, por Johannes Gutemberg. Antes disso, a Bíblia era
copiada à mão, em papiros ou em pergaminhos, em rolos ou em códices (algo como
“pergaminhos encadernados”). Nem sempre se copiava a Bíblia toda. Por vezes, podiam-se
copiar apenas alguns livros. O problema da cópia à mão é que ela propiciava maior ocasião
para erros. Nós mesmos, ao copiarmos à mão algum texto, já passamos pela experiência de
errarmos uma palavra ou frase. Isso também acontecia com os antigos copistas.

Por vezes, o copista podia errar a linha, saltando de um ponto a outro e suprimindo um trecho
inteiro. Algo assim se verifica nos manuscritos do Mar Morto, por exemplo (os quais só contém
textos do Antigo Testamento). Além disso, alguns copistas cediam à tentação de “melhorar” o
texto copiado. Encontrando um trecho que eles consideravam confuso ou estranho, optavam
por modificar a redação na cópia, trocando algumas palavras por outras ou mesmo inserindo
explicações pessoais.

Esses fatores fizeram surgir as variantes textuais, que nada mais são que palavras ou trechos
em que um manuscrito difere do outro. Ao conjunto de técnicas para se apurar a versão mais
próxima daquilo que o autor inspirado realmente escreveu, dá-se o nome de Crítica Textual
(também denominada de Baixa Crítica).
ATENÇÃO: Ellen G. White não adverte quanto à Crítica Textual, uma nobre área do
conhecimento, mas, sim, quanto à Alta Crítica, que busca condicionar a narrativa bíblica ao
contexto sociocultural da época, sugerindo que os episódios narrados na Bíblia não devam ser
entendidos literalmente.

CRITÉRIOS DA CRÍTICA TEXTUAL

Durante os últimos séculos, critérios foram estabelecidos para determinar qual variante
possivelmente está mais próxima do texto original das Escrituras.

Um dos critérios mais básicos nessa busca indica como correta a versão que contar com maior
número de manuscritos a seu favor. Entretanto, essa regra não é absoluta.

Por vezes, percebe-se que vários manuscritos foram copiados de um mesmo manuscrito
comum, de forma que seu peso em prol de uma variante é menor. É que, se um manuscrito
contém um pequeno erro introduzido por um copista e muitas cópias posteriores foram feitas
desse mesmo manuscrito, a chance de haver muitas cópias com o mesmo texto errado
aumentará.

Por isso, mais importante do que verificar qual variante aparece no maior número de
manuscritos é apurar a variante que ocorre nos manuscritos mais antigos.

Outro critério importante leva em consideração as testemunhas da Antiguidade. Se um texto


da Bíblia foi citado por vários autores cristãos primitivos numa versão, é provável que ela
esteja mais condizente com o texto original (aquele que saiu das mãos do autor inspirado).

Há outro critério ainda, que pode parecer estranho à primeira vista, mas que faz todo sentido.
É mais provável que uma versão esquisita esteja mais próxima do texto original que uma
versão facilmente compreensível.

A razão para isso é que é mais difícil explicar por que um copista alteraria o fácil para o difícil
do que o difícil para o fácil. Por vezes, encontrando um texto que lhe parecia estranho, o
copista tendia a alterar um detalhe na redação, para torná-lo mais compreensível. Daí que a
versão estranha possivelmente esteja mais próxima do autógrafo que a versão inteligível.

E O QUE DIZER DE ROMANOS 8:1?

Bem, eu não vou emitir nenhuma opinião definida. Vou me limitar a transmitir aos irmãos as
principais informações sobre o assunto. A variante “que não andam segundo a carne, mas
segundo o espírito” se divide em duas partes: “que não andam segunda a carne” e que “mas
segundo o espírito”. Como há manuscritos que trazem apenas a primeira parte, mas não a
segunda, vou apresentar os dados de maneira separada.
“QUE NÃO ANDAM SEGUNDO A CARNE”

Esse trecho aparece no Codex Alexandrinus, que data do quinto século d.C. (por volta de 400 a
440 d.C.).

Quem tiver disposição, poderá ver o trecho nesta cópia do Codex:

http://www.bl.uk/manuscripts/Viewer.aspx?ref=royal_ms_1_d_viii_fs001r

Sugiro que o façam, pois, mesmo que não consigam entender o que veem, ao menos terão
contato com um importante manuscrito das Escrituras.

O trecho que interessa é este:

μὴ κατὰ σάρκα περιπατοῦσιν ἀλλὰ κατὰ πνεῦμα

(não segundo a carne andam mas segundo o espírito)

Acessando o sítio eletrônico pelo link, os irmãos encontrarão esse trecho lá no final da página,
na coluna da esquerda, a partir da segunda linha após o número 8.

É meio difícil de identificar o trecho porque, nos manuscritos gregos antigos, as palavras não
eram separadas uma das outras. Eram todas escritas sem espaços, como que coladas umas às
outras.

Afora o Codex Alexandrinus, esse trecho aparece também em alguns poucos manuscritos
latinos, na Vulgata (a tradução tradicional da Igreja Católica) e na Peshita Siríaca revisada pelo
bispo de Edessa.

Para o texto da Vulgata:

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.02.0060%3Abook%
3DRomans%3Achapter%3D8%3Averse%3D1

http://speedbible.com/vulgate/B45C008.htm

Para uma versão da Peshita:

http://dukhrana.com/khabouris/files/Khabouris%20Romans.pdf

O problema é que esse trecho NÃO aparece no Codex Sinaiticus, no Codex Vaticanus e no
Codex Ephraemi Rescriptus.

No Codex Sinaiticus, que data do século quarto d.C. (por volta de 330 a 330 d.C.), o trecho não
aparece, como podem comprovar por vocês mesmos por este link:

http://www.codexsinaiticus.org/en/manuscript.aspx?book=37&chapter=8&lid=en&side=r&zo
omSlider=0#37-8-1-1

Essa página tem um mecanismo muito interessante de localização do texto. Basta clicar em
algum ponto sobre a cópia do manuscrito que vocês verão o trecho correspondente em Inglês
ao lado.
O Codex Sinaiticus é valorizado pela Crítica Textual por ser um manuscrito muito antigo. Ele foi
encontrado no Mosteiro de Santa Catarina, ao pé do Monte Sinai, no Egito.

Sei que alguns desvalorizam alguns desses códices e exaltam a Peshita. Não vejo muita razão
técnica para isso, mas não vou entrar aqui nesse debate. Como afirmei, meu objetivo consiste
apenas em trazer dados.

“MAS SEGUNDO O ESPÍRITO”

Esse trecho aparece em vários manuscritos do Tipo Bizantino, o que inclui o Codex
Alexandrinus.

Ele também aparece em manuscritos da família egípcia de texto.

Alguns apontam também o próprio Codex Sinaiticus como evidência em seu favor, pois o
copista fez uma marca ao final do verso, indicando que ele modificou o trecho, com base no
que ele entendia ser a versão correta.

O problema é que as palavras “mas segundo o Espírito” não aparecem no Codex Vaticanus,
nem no Codex Ephraemi Rescriptus, que são dois dos códices mais antigos que se conhecem
do Novo Testamento.

Eu tive a esperança de que a Coleção Chester Beatty pudesse resolver o problema. É que os
papiros da Coleção Chester Beatty são os manuscritos mais antigos que se conhecem do Novo
Testamento. São mais antigos que os códices a que me referi. Eles datam do segundo e
terceiro séculos d.C. Ou seja, trata-se de cópias feitas poucas décadas após a morte do
apóstolo João.

Mas, lamentavelmente, a folha em que estaria o verso de Romanos 8:1 está faltando na
coleção. É que, por serem manuscritos muito antigos, estão deteriorados. ��♂

Aqui estão eles:

http://www.bible-researcher.com/links19.html

http://www.csntm.org/manuscript/View/GA_P46?filter=2

QUAL É A MINHA OPINIÃO SOBRE O ASSUNTO?

Sinceramente, não tenho opinião definida.

É claro que o trecho “que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” ajudaria a
esclarecer que só não estão debaixo de condenação os que são guiados pelo Espírito Santo, O
Qual é o agente divino para inscrever a Lei na mente e no coração.

Mas nós não podemos determinar o texto pela doutrina e, sim, a doutrina pelo texto. Não
podemos inverter essa ordem lógica e procedimental.
Quando examino Romanos 8:1 e 2, confesso que acho mais natural a leitura sem essas
palavras, pois o verso 2 é que explica que “a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da
lei do pecado e da morte”, razão pela qual é que não estão debaixo de condenação os que
estão em Cristo Jesus.

Além disso, seguindo uma das regras da Crítica Textual, é mais fácil explicar por que o copista
introduziria essas palavras do que explicar por que ele as excluiria.

A inserção dessas palavras teria justamente o propósito de evitar que algum leitor descuidado
entendesse que basta se declarar cristão para não estar debaixo de condenação. Isso levaria à
conclusão de que, não querendo dar margem a essa interpretação errada, o copista teria
repetido, ao final do verso 1, as palavras que já ocorrem no final do verso 4.

Por outro lado, o fluxo do raciocínio de Paulo é tão rico e exuberante que não posso afirmar,
com segurança, que ele mesmo já não tenha inserido essas palavras ao final do verso 1. Paulo
tinha um raciocínio muito bem definido, mas seu modo de escrever não é tão organizado. Em
sua argumentação, ele faz idas e vindas, revelando um pensamento bastante efusivo.

Em suma, não tenho posição formada sobre o assunto. Sei que alguns irmãos aqui valorizarão
o fato de que o trecho em questão ocorre na Peshita Siríaca e no Textus Receptus (que não é
um manuscrito, mas um texto formado com base em vários manuscritos). Sobre isso, por ora,
eu não me manifesto.

Para quem quiser consultar o Textus Receptus, basta clicar neste link:

https://archive.org/stream/hkaindiathknovu03estigoog#page/n569/mode/2up

Seja como for, a ideia expressa no trecho em questão é bíblica, pois aparece no verso 4. Ou
seja, mesmo que Paulo não as tenha escrito originalmente no verso 1, certamente as
consignou no verso 4 e isso é o que importa.

É a contribuição que eu tinha para dar.

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