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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências de Educação


Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Análise literária do texto «PÓS DA HISTÓRIA».


Disciplina: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
2º Ano Bloco II

Elisa Honwana: 21220631

Maputo, Maio de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED
Faculdade de Ciências de Educação
Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Análise literária do texto “PÓS DA HISTÓRIA”

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura
em Ensino de Português da UnISCED.
Tutor: Amândio Paulito Abacar

Elisa Honwana: 21220631

Maputo, Maio de 2023


Índice

1.Introdução.....................................................................................................................................4

1.2. Metodologia..........................................................................................................................4

2. História da literatura africana......................................................................................................5

2. Análise literária do texto PÓS DA HISTÓRIA de escritor Rui de Noronha...............................6

2.1.FORMA.....................................................................................................................................6

2.2.Conteúdo................................................................................................................................7

3. Conclusão....................................................................................................................................9

4. Referências bibliográficas.........................................................................................................10
1.Introdução
A Literatura Africana de Língua Portuguesa é uma construção baseada na colonização e na
descolonização, nas guerras de libertação e no desejo de uma identidade que represente os
anseios e quereres de um povo colonizado. É uma tentativa de mostrar que a África não é um
país inferior como muitos teóricos e escritos tentam desenhar ou já desenharam no imaginário de
estudantes, pesquisadores e escritores. Essa tese da inferioridade vem desde o pensamento de
Hegel citado por ZERBO (1982), quando afirmou que a África não fazia parte do mundo, da
História. Defendia-se ou construíam a ideia que o negro não podia contar sua história, não
gostava de trabalhar.

1.1.Objectivos

Objectivo geral

 Fazer analise estético-ideológica do texto “pós da história.

Objectivos específicos

 Descrever o pensamento do autor do texto “ Pôs da Historia ;

 Destacar os aspectos essenciais de cada

1.2. Metodologia
Para o presente trabalho optou-se pela leitura do Módulo da Literatura Africana em Língua
Portuguesa, uso da pesquisa do tipo bibliográfico. De acordo com Mutimucuio (2008.p 29), a
pesquisa bibliográfica “procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas
em documentos (desenvolvida a partir de material já elaborado).”

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2. História da literatura africana
O primeiro momento da formação da literatura colonial na África lusófona pode ser chamado de
período de alienação (1850-1900), segundo Manuel Ferreira (1987,p.33), nesse estágio da
produção literária, “o escritor africano encontra-se em estado quase absoluto de alienação,
incapaz de se libertar dos modelos europeus.

No segundo momento (1900-1930), ocorre o surgimento do sentimento nacional, desponta a


consciência de pertença à África, com a ideia de negritude, os textos passam a abordar as
características do ambiente da colónia, da terra natal, a alienação é substituída por uma
“percepção de um certo regionalismo e o discurso acusa já alguma influência do meio social,
geográfico e cultural em que estão inseridos e a enunciação vive já os primeiros sinais de
sentimento nacional.

No Terceiro momento (1930-1950), ocorre o rompimento com a alienação; os autores adquirem


a consciência de sua condição de colonizados e a consciência política surge nos textos, que
expressam o desejo de independência para a nação e de liberdade para os africanos. A literatura
africana “cria a sua razão de ser na expressão das raízes profundas da realidade social nacional
entendida dialecticamente.

Finalmente, no quarto momento (1950-2000), a literatura do período de independência reflecte o


processo de reconstrução da identidade das ex-colónias diante de sua nova realidade. O
nacionalismo aflora e consolida uma realidade em que “é de todo eliminada a dependência dos
escritores africanos e restituída a sua plena individualidade” (FERREIRA, 1987, p.33).

Este último, é o momento do resgate dos valores tradicionais ancestrais, combinados aos valores
adquiridos no período colonial, já que é impossível reverter os efeitos da colonização. De
indivíduo despersonalizado e coisificado, possuidor de profundo complexo de inferioridade em
relação à sua cultura, o africano passa a indivíduo que se reencontra com suas raízes, que elabora
uma nova identidade cultural, reconstrói a sociedade e a cultura africanas incorporando os
elementos de diferentes origens que agora a compõem. As tradições ancestrais são revalorizadas
e as contribuições da cultura da antiga metrópole são incorporadas a elas, reorganizando e
reorientando a diversidade para regenerar a cultura e o povo africano.

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2. Análise literária do texto PÓS DA HISTÓRIA de escritor Rui de Noronha
Sobre a sua biografia, António Rui de Noronha, nascido a 28 de Outubro de 1909, em Lourenço
Marques (hoje, Maputo), e falecido a 25 de Dezembro de 1943, na mesma cidade, desde logo
mostrou e deixou transparecer, na sua vida e na sua escrita, um temperamento recolhido, uma
personalidade introvertida e amargurada. Foi, sem dúvida, um homem infeliz.

Rui de Noronha manifesta a sua clara intenção e consciencialização da necessidade de


moçambicanizar os modelos estéticos tradicionais portugueses: incorpora, em muitos poemas,
discursividades (palavras e expressões) próprias de Moçambique. Em muitos dos seus textos
encontramos uma espécie de simbiose entre a oratura (forma oral de transmissão de
conhecimentos) e a escrita, numa tentativa de exigir a reabilitação nacional. Neste sentido,
poderá claramente dizer-se que a acção dos seus poemas é sempre orientada para os caminhos do
futuro: os caminhos que levarão à moçambicanidade.

Nota-se neste autor, uma inovação, pelo facto de, pela primeira vez, um autor expressar-se “sem
papas na língua” sobre os problemas do africano (moçambicano) para o africano. Tenhamos
como exemplo o poema “Surge et ambula” e “Carregadores”. Entretanto, Rui de Noronha,
também se plasmou em formas mais libertas de constrangimentos e versou temas relacionados
com tradições nativas de Moçambique, como no caso do celebrado poema «Quenguelequêzê».
Nota-se também a inversão de certa mitologia propagandística da história colonial que Rui de
Noronha operou poeticamente, desfazendo a versão de um Mouzinho de Albuquerque como
herói destemido e de um Ngungunhane, imperador, derrotado, dominado e humilhado

2.1.FORMA
A forma do prosado é o de um soneto clássico. Isso quer dizer que o poema divide-se em quatro
estrofes os primeiros dois sendo quartetos, os últimos dois tercetos. O esquema de rima é o do
soneto inglês, no qual o primeiro verso rima com o terceiro e o segundo com o quarto dentro de
cada quarteto. A escolha de usar a rima inglesa em vez da rima tradicional portuguesa, ajuda na
demonstração, que De Noronha não necessariamente acha a cultura portuguesa única em poder
fazer arte, insinuando que a moçambicana pode fazer o seu estilo único também desde que caiba
no modo geral. Os tercetos terminais do poema escreveram-se usando rima na forma de “a,a,b —

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c,c,b”. Rimando primeiro “corvos” com “sorvos”, logo “terreno” com “Nazareno” e na posição
“b” “sonâmbula” com “ambula”.

2.2.Conteúdo

Nas primeiras estrofes, de Noronha contrasta a Europa e a África, dizendo que todo “progresso
caminha” em um, enquanto o outro encontra-se num “sono…infinido”. A linguagem usada pelo
autor em descrever a África faz imagem mental igual ao de Europa na época, palavras como
“mistério… fera…terra e escuridão” com a frase “A selva faz de ti sinistro eremitério”,
demonstram como foram vistos os africanos, e como a sua inabilidade de abandonar as suas raízes
“selvagens” causaria heranças contínuas e sinistras.
Em Gaza, principalmente entre os anos de 1885 e 1896,constituiu – se o maior e mais atuante
foco de resistência ao domínio lusitano na África Austral ; Gungunhane foi a figura escolhida e
talhada pelo poeta para exaltação da resistência, conforme ilustram as estrofes do poema que se
segue, intitulado “PÓS da História “.

PÓS DA HISTÓRIA

Caiu serenamente o bravo Quêto


Os lábios a sorrir, direito o busto
Manhude que o seguiu mostrou ser preto
Morrendo como Quêto a rir sem custo,

Fez-se silêncio lúgubre, completo,


no craal do vátua célebre vetusto.
E o Gungunhana, em pé, sereno o aspecto,
Fitava os dois, o olhar heróico, augusto.

Então Impincazamo, a mãe do vátua,


Triunfando da altivez humana e fátua,

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Aos pés do vencedor caiu chorando.

Oh dor de mãe sublime que se humilha!


Que o crime se não esquece à luz que brilha
Ó mães, nas vossas lágrimas gritando?
(O Brado Africano, 3/11/1934)

No texto acima, Rui de Noronha remete aos comportamentos de Quêto, Manhude (Mahume),
Gungunhane (Ngungunhane ) e Impincazamo (Impibekassano) é até mesmo à própria queda do
império de Gaza a partir da chave metonímica com vistas a que se passa inferir que, sob o olhar
do autor, a heroicidade manifesta nas mortes dos conselheiros de Ngungunhane, a altivez
observada na fria postura do imperador dos vátuas, o lamento emocionado da mãe adotiva do
régulo e a inevitável queda de Gaza aludem, respectiva e consecutivamente, à valentia da gente
nativa da África Austral, à altivez dos negros, ao compadecer – se da mãe África em virtude da
perda de um filho ilustre e à derrota dos povos nativos africanos ante a cobiça e a perversidade
dos invasores europeus.

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3. Conclusão
A literatura africana consolida-se como um importante instrumento de acesso ao universo
histórico do continente. A narrativa aqui analisada permite o reconhecimento de certos padrões
da acção colonial, no que se refere às estratégias de aproximação, domínio e efeitos subjectivos
sobre a história cultural do continente, uma vez que a colonização também cultural do povo
africano se tornou um mecanismo estratégico de manutenção de poder político.

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4. Referências bibliográficas
 CRAVEIRINHA, José. Antologia poética. Organização de Ana Mafalda Leite. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2010.
 LARANJEIRA, José Pires. Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa. Lisboa:
Universidade Aberta, 1995.
 MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. 2 ed. São Paulo: Ática, 1988.

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