Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Disciplina: Psicologia Social da Saúde
Docente: Maelison Silva Neves
Discente: Kelourine Kévia Ramos de Queiroz

AVALIAÇÃO INDIVIDUAL – ENSAIO

As contradições da atenção psicossocial pública no Brasil em relação ao


Transtorno do Espectro Autista (TEA).

1. INTRODUÇÃO
A atenção psicossocial no Brasil, é constituída por uma grande rede (RAPS -
Rede de Atenção Psicossocial) que inclui diversos serviços em relação a saúde mental.
Dentre esses serviços está o CAPSi – Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil,
que atende os casos de transtornos mentais graves entre crianças e adolescentes, e um
desses transtornos é o TEA – Transtorno do Espectro Autista (LIMA, et al., 2014). O
TEA é definido pelo DSM-5 como um transtorno global do neurodesenvolvimento que
afeta diferentes áreas e é caracterizado por dificuldades de comunicação, interação,
reciprocidade social e emocional; na comunicação não verbal usada para a interação; na
criação, manutenção e compreensão de relacionamentos sociais e com comportamentos
repetitivos e restritos (APA, 2014). Além disso, o autismo pode ter diferentes níveis de
suporte, sendo o 1 com menor comprometimento do desenvolvimento, o nível 2 com
maiores dificuldades e o nível 3 com dificuldades em atividades diárias e
comprometimento maior das habilidades. (APA, 2014).
Considerando essas informações, o TEA tem aumentado a prevalência de casos
com o passar dos anos, e com isso, acresce a necessidade de políticas públicas
especificas para o tratamento do autismo, pois, ele afeta diversas áreas do
desenvolvimento e pode acarretar em muitos prejuízos na saúde desses indivíduos e de
seus familiares (PORTOLESE et al., 2017). A cerca disso, os determinantes sociais da
saúde, definem a renda e o acesso a informação como alguns dos fatores que
influenciam a saúde das pessoas (BUSS, FILHO, 2007). Em relação a isso, muitos pais
de baixa renda enfrentam muitas dificuldades para o tratamento de filhos autistas.
Ademais, a informação sobre esse transtorno ainda é muito recente não alcançando a
todas as camadas sociais, deixando muitas pessoas desassistidas (ARAUJO, VERAS;
VARELLA, 2019).
Em consonância a isso, a saúde pública brasileira necessita de maiores recursos
para lidar com as pessoas dentro do espectro autista, já que a integralidade no processo
de cuidado a saúde mental deve ser respeitada, expressando “formas de pensar e agir em
saúde mental, condizentes com a valorização do sujeito em adoecimento psíquico, seu
contexto de vida e suas demandas e necessidades” (JORGE, et al., 2015, p.113). Dessa
forma, o presente ensaio irá argumentar sobre as dificuldades de acessar os recursos da
assistência psicossocial e manter o tratamento para as pessoas com autismo e prestar
apoio a seus familiares, considerando os determinantes sociais da saúde e as redes de
assistência do SUS.
2. DESENVOLVIMENTO
Segundo os determinantes sociais da saúde, existem alguns fatores que
dificultam o acesso integral a saúde, sendo alguns deles a escassez de recursos
individuais e as diferenças de renda na população, ocasionando iniquidades que levam a
um déficit para a promoção de saúde a toda a população (BUSS, FILHO, 2007). Em
relação a isso, as pessoas que estão dentro do espectro autista, assim como, seus
familiares enfrentam diversas dificuldades para acessar integralmente os mecanismos da
saúde pública como os citados acima, pois, esse acesso não é amplamente divulgado e
nem chega a todos os lugares do país. Pesquisas apontam que o número de instituições
no Brasil, sejam públicas ou filantrópicas que atendem pessoas com TEA não
conseguem atender a todas as pessoas diagnosticadas com o transtorno, ou seja, uma
parte dessa população não possui nenhum recurso e nem acesso a um tratamento
adequado (PORTOLESE, et al., 2017).
Além disso, outra dificuldade encontrada é no próprio funcionamento da rede,
por exemplo, geralmente o diagnóstico do TEA ocorre nos anos iniciais de vida, e deve
ser realizado precocemente para ter um bom prognóstico (ARAUJO, VERAS;
VARELLA, 2019). Por ser um transtorno que compromete todo o desenvolvimento e
muitas vezes vir acompanhado de comorbidades, ele necessita de um acompanhamento
de diversos profissionais, como: fonoaudiólogo, psicólogo, psiquiatra, nutricionista,
terapeuta ocupacional, entre outros profissionais (PORTOLESE et al., 2017).
Entretanto, a realidade encontrada no sistema de saúde atual é um desgaste dos
mecanismos de atendimento psicossocial, e dentre esses mecanismos está o CAPSi, que
muitas vezes atua com falta de profissionais e uma estrutura precária.
Com isso, em uma pesquisa feita por Lima et al. 2014, eles elencaram cinco
eixos temáticos a respeito do tratamento de crianças e jovens autistas no CAPSi, sendo
eles: organização do CAPSi; projeto terapêutico individual; atendimento e mobilização
dos familiares; rede, território e direitos; formação dos profissionais e processos de
trabalho. Em cada eixo foi identificado tanto pelos profissionais quanto pelos familiares
requisitos que necessitam de uma atenção maior. Já que existe uma dificuldade em
relação a comunicação do CAPSi com as famílias, em explicar sobre o diagnóstico e
sobre os direitos que eles possuem, como a integração a outros setores da rede para
realizar exames e consultas de forma gratuita. No decorrer da pesquisa, muitos pais
relataram que existia esse déficit de comunicação e que na maioria das vezes os próprios
pais reuniam as informações da internet e compartilhavam entre si (LIMA, et al., 2014).
Isso só mostra outras contradições no tratamento do TEA, mesmo quando essas famílias
chegam até o atendimento.
Considerando essas dificuldades na prestação de serviços para essa população,
Jorge et al. (2011) orienta para onde as práticas em saúde pública devem caminhar:
Na prática cotidiana dos serviços de saúde deve-se priorizar a tecnologia leve
como instrumento para atingir a integralidade e a humanização do cuidado.
Essa prática pode ser fundamentada no acolhimento, no diálogo, no vínculo,
na co-responsabilidade e na escuta ativa entre profissional e usuário dos
serviços de saúde. Isto porque a integralidade está presente no encontro, na
conversa, na atitude do profissional que busca prudentemente reconhecer,
para além das demandas explícitas, as necessidades dos cidadãos no
concernente à sua saúde. A integralidade está presente também na
preocupação desse profissional com o uso das técnicas de prevenção,
tentando não expandir o consumo de bens e serviços de saúde, nem dirigir a
regulação dos corpos.
Ou seja, por mais que existam empecilhos e obstáculos no caminho, existe uma
orientação para a melhoria desses recursos também.

3. CONCLUSÃO
Portanto, as práticas em saúde pública para a população com TEA e o
atendimento a seus familiares tem um longo caminho para trilhar em busca da melhoria,
já que essa população enfrenta uma série de dificuldades na busca de atendimento
adequado, e até mesmo no acesso a esses espaços. As políticas públicas de proteção a
essas pessoas devem investir nos recursos humanos e nas tecnologias leves, para lidar
com esses casos, pois, o vínculo e o acolhimento são essenciais para a continuação do
tratamento. O apoio da equipe em relação ao atendido e a seus familiares faz a
diferença, e muitos pais gostariam de saber mais sobre como ajudar seus filhos em casa,
a integração social deve ser realizada em todos os espaços que a criança frequenta,
sendo a sua casa um dos principais.
4. BIBLIOGRAFIA
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.
ARAUJO, Jeane AMR; VERAS, André B.; VARELLA, André AB. Breves
considerações sobre a atenção à pessoa com transtorno do espectro autista na rede
pública de saúde. Revista Psicologia e Saúde, v. 11, n. 1, p. 89-98, 2019.
BUSS, Paulo Marchiori; PELLEGRINI FILHO, Alberto. A saúde e seus
determinantes sociais. Physis: revista de saúde coletiva, v. 17, p. 77-93, 2007.
JORGE, Maria Salete Bessa et al. Apoio matricial, projeto terapêutico singular e
produção do cuidado em saúde mental. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 24, p. 112-
120, 2015.
JORGE, Maria Salete Bessa et al. Promoção da Saúde Mental-Tecnologias do
Cuidado: vínculo, acolhimento, co-responsabilização e autonomia. Ciência & Saúde
Coletiva, v. 16, p. 3051-3060, 2011.
LIMA, Rossano Cabral et al. Indicadores sobre o cuidado a crianças e
adolescentes com autismo na rede de CAPSi da região metropolitana do Rio de
Janeiro. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 24, p. 715-739, 2014.
PORTOLESE, Joana et al. Mapeamento dos serviços que prestam atendimento a
pessoas com transtorno do espectro autista no Brasil. Cad. Pós-Grad. Distúrb.
Desenvolv., São Paulo, v. 17, n. 2, p. 79-91, dez. 2017. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
03072017000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 04 dez. 2022.
http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v17n2p79-91

Você também pode gostar