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RESPONSABILIDADE POR DANOS NA SOCIEDADE DE

INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:


DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

RESPONSABILIDADE POR DANOS NA SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO E


PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR: DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO
JURÍDICA DA INTERNET
Revista de Direito do Consumidor | vol. 70/2009 | p. 41 - 92 | Abr - Jun / 2009
Doutrinas Essenciais de Direito do Consumidor | vol. 3 | p. 1161 - 1209 | Abr / 2011
Doutrinas Essenciais de Responsabilidade Civil | vol. 8 | p. 843 - 892 | Out / 2011
DTR\2009\872

Bruno Miragem
Doutor e mestre em Direito pela UFRGS. Especialista em Direito Civil e em Direito Internacional pela
UFRGS. Professor do Uniritter, da Faculdade de Direito do Ministério Público e da Escola Superior
da Magistratura do Rio Grande do Sul. Coordenador Acadêmico do Curso de Pós-Graduação em
Direito do Consumidor da UFRGS. Advogado.

Área do Direito: Consumidor


Resumo: O presente artigo tem por objetivo o exame dos principais aspectos relacionados à
responsabilidade civil por danos na Internet em vista da necessidade de adequada proteção da
vítima assim como a proteção do consumidor no ambiente virtual. Para tanto, busca-se identificar os
aspectos relevantes da regulação jurídica da Internet, tanto no concernente à responsabilidade por
atos ilícitos cometidos por seu intermédio, quanto das relações contratuais (comércio eletrônico). Da
mesma forma, destaca-se, em face do caráter transnacional da Internet, os desafios para a
efetividade das soluções jurídicas adotadas em face de aspectos processuais e de definição da lei
aplicável em face do direito internacional privado brasileiro.

Palavras-chave: Sociedade de informação - Responsabilidade por danos - Internet - Proteção do


consumidor
Abstract: This article aims at examining the main aspects related to liability for damages on the
Internet in view of the need for adequate protection of victims and the protection of consumers in the
virtual environment. For that, try to identify relevant aspects of the legal regulation of the Internet, both
in regarding the liability for illegal acts committed by their intermediary, and the contractual eletronic
relations. Similarly, there is, given the transnational character of the Internet, the challenges to the
effectiveness of legal solutions adopted in the face of procedural aspects and the definition of law in
the face of Private International Law in Brazil.

Keywords: Information society - Liability for damages - Internet - Consumer#s protection


Sumário:

- 1. A responsabilidade civil dos provedores e a qualificação jurídica das relações estabelecidas por
intermédio da internet - 2. Natureza e extensão da responsabilidade do provedor de internet no
Direito brasileiro - 3. Considerações finais - Bibliografia

Introdução 1

O fenômeno da rede mundial de computadores - Internet - desde o seu surgimento, e em face do seu
desenvolvimento mais recente, integrando-se ao cotidiano de um número cada vez maior de
pessoas, despertou desde logo o interesse dos juristas, e de inúmeras obras jurídicas que estudam
desde seus reflexos no universo das relações sociais e jurídicas subjacentes, até novas questões
que decorrem diretamente destas inovações tecnológicas, como o comércio eletrônico, a proteção
dos direitos autorais ou a proteção de crianças quanto ao conteúdo divulgado na rede mundial de
computadores. Trata-se de uma realidade representativa da sociedade de consumo, e do
aprofundamento e complexidade das relações econômico-sociais e dos espaços de interação
humana. 2 O exame de seus aspectos técnicos e sua repercussão no modo de vida da virada do
século, e destes primeiros anos dos século XXI, apontam para uma transformação cultural de hábitos
e comportamentos de grandes proporções. 3 Sabe-se, contudo, que o desenvolvimento da Internet é
um novo capítulo de um conjunto de transformações tecnológicas radicas na experiência humana, a
revolução tecnológica ou das comunicações, que possui dentre seus traços determinantes o caráter
permanente do desenvolvimento e inovações no campo das comunicação, informática e da
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INTERNET
tecnologia da informação como um todo.

Na ciência do Direito, o exame do fenômeno da Internet concentra-se, sobretudo, pela preocupação


com a efetividade das normas jurídicas de direito positivo às relações da vida estabelecidas por
intermédio da Internet. Em tese, a primeira questão a ser enfrentada, diz respeito à suficiência das
normas jurídicas existentes para abranger as relações estabelecidas pela Internet, ou se existiria a
necessidade de novas normas para regular tais fenômenos. 4 A rigor, esta dúvida remanesce em
relação a diversas atividades realizadas por intermédio da Internet, como, por exemplo, no caso do
comércio eletrônico. Contudo, a resposta sobre a suficiência ou não das normas jurídicas para
regulação da Internet passa não apenas por um problema de qualificação 5 (afinal, um contrato é
considerado como tal, tanto no mundo físico quanto no mundo virtual, em vista da liberdade de forma
para as convenções admitida em nosso Direito). A discussão sobre os limites de aplicação das
normas jurídicas às relações estabelecidas por intermédio da Internet diz respeito, em verdade, à
eficácia e efetividade da norma na regulação de um determinado suporte fático sobre o qual deve
incidir. E isto não é um problema que se revela apenas no caso das normas submetidas à
interpretação estrita, como no caso do direito penal (os crimes pela Internet), 6 ou do direito tributário
(a identificação do fato gerador nas relações econômicas estabelecidas pelo meio virtual). A rigor,
todas as disciplinas jurídicas deparam-se, em maior ou menor grau, com este problema, sobretudo
se considerarmos algumas vezes, as duas principais questões a serem solucionadas: a da incidência
da norma (silogismo formal entre os fatos e a previsão abstrata da norma), e a de sua efetividade (o
resultado substancial da sua aplicação).

A Internet, neste sentido, é um fenômeno da sociedade de consumo. 7 Pela Internet, valores,


conceitos, bens e serviços que integram a sociedade de consumo contemporânea são difundidos ou,
muitos deles, adquirem existência frente à massa de usuários que direta ou indiretamente tomam
contato com a nova realidade virtual. Contudo, tendo sido ultrapassada, o que Thieffry qualificou de
ilusão efêmera da rede mundial Internet como um espaço de não-direito ("le ilusión éphémère de la
zone de non-droit"), 8 o desafio, atualmente, diz respeito: (a) à definição de sobre o que e como
legislar; (b) ao estabelecimento de um nível adequado de efetividade das normas aplicáveis às
relações realizadas por intermédio do meio eletrônico; e (c) à interpretação das normas já existentes
para essa mesma finalidade. A crescente complexidade dos sistemas de informática e o manejo de
grandes volumes de informação em tempo reduzido fazem com que a possibilidade de erros e falhas
nos serviços prestados coloque-se fora do alcance da supervisão das empresas. Segundo Gabriel
Stiglitz, observa-se na Internet "um permanente estado de perigo potencial de ocasionar danos, em
determinadas situações em que a capacidade de controle sobre a informação é limitada". 9

Note-se que são diversos os modos possíveis de se regular as relações estabelecidas pela Internet.
Nesse sentido, nos últimos anos, muitos entendimentos apontam as relações jurídicas celebradas
através da Internet entre aquelas que necessitam alto grau de uniformidade para serem efetivamente
eficazes. Essa necessidade, muitas vezes, induz a um certo ceticismo quanto às vantagens da
regulamentação estatal, face à conveniência de se adotarem outras iniciativas mais flexíveis, como
as leis-modelo 10 e as diretrizes gerais. 11 Além dessas, existe o recurso genérico às denominadas
lex mercatoria12 ou lex informatica, uma vez constatada a impossibilidade de efetiva regulação
dessas relações estabelecidas pelo ambiente virtual. 13

No direito privado isto ocorre, com especial relevância, no que diz respeito à relação jurídica de
responsabilidade civil por ato ilícito, quando este ato ilícito que enseja, como regra, a imputação do
dever de indenizar, é cometido por intermédio da Internet. Paira, neste particular, sobre as soluções
jurídicas até então adotadas, um alto grau de insegurança e incerteza quanto à efetividade ou não
dos instrumentos legais existentes nos domínios da responsabilidade civil. 14 Da mesma forma, no
direito do consumidor, as relações estabelecidas pela Internet ensejam situações de contratos
eletrônicos de consumo, em que por intermédio da rede de computadores se realizam contratos de
consumo de produtos ou serviços, assim como ilícitos que afetam a segurança do consumidor e,
neste sentido, dão causa á responsabilidade por acidentes de consumo. 15 No que se refere aos
contratos eletrônicos de consumo, a natureza eletrônica da contratação pode se dar tanto em razão
do produto ou serviço objeto do ajuste, do modo de formação do contrato ou do modo de
cumprimento de alguma das prestações. 16 Tais situações despertam questões práticas de
importância, concernentes às relações estabelecidas por intermédio da Internet, como é o caso da
produção da prova dos fatos e das condutas havidas no ambiente virtual, assim como sobre a
demonstração das condições de imputação do dever de indenizar próprio da responsabilidade civil.
Será o caso da demonstração do nexo de causalidade, do conteúdo da conduta praticada pelo
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ofensor, ou o correto dimensionamento do dano causado.

Discorrendo sobre a regulação jurídica do comércio eletrônico e a necessidade de maior proteção


dos vulneráveis nos sistemas de troca por intermédio da Internet, ensina Claudia Lima Marques que
o mesmo possui uma unilateralidade visível e uma bilateralidade escondida, querendo indicar o
desafio à correta compreensão do exercício da liberdade contratual nas transações estabelecidas
pela Internet e o surgimento de uma nova vulnerabilidade eletrônica. 17 Em matéria de contratos
eletrônicos, a decisão sobre a utilização do meio eletrônico para celebração e execução do ajuste
responderá sempre, em alguma medida, à decisão do consumidor em realizar a contratação, o que
exigirá, necessariamente, o reconhecimento de um certo grau de confiança no complexo de relações
estabelecidas a partir da estrutura e funcionamento da rede mundial de computadores, determinando
a proteção da confiança negocial. 18

O presente estudo tem por objetivo o exame dos aspectos distintivos dos deveres dos fornecedores
de serviços pela Internet, e a responsabilidade civil dos provedores por danos causados a
consumidores, quando a ilicitude é caracterizada por atos realizados por intermédio da Internet. Para
tanto pretende-se examinar em um primeiro momento a adequação ou não dos pressupostos gerais
reconhecidos para a identificação do ato ilícito e da imputação da responsabilidade, nas hipóteses
em que a conduta em questão se dá por intermédio da Internet. Em seguida, examinam-se aspectos
específicos dos deveres dos fornecedores na Internet e a responsabilidade civil dos provedores
pelos danos causados no âmbito das relações do ambiente virtual.

1. A responsabilidade civil dos provedores e a qualificação jurídica das relações


estabelecidas por intermédio da internet

No que se refere às relações jurídicas estabelecidas por intermédio da Internet, um primeiro desafio
enfrentado pelo Direito é o da sua qualificação jurídica. Esta qualificação importa na questão de se
uma determinada conduta ou fato, quando realizado por intermédio da Internet, merecerá a
identidade dos diversos conceitos e definições jurídicas concebidos para as realidades perceptíveis
antes do seu surgimento.

A dificuldade de qualificação, contudo, poderá apresentar maiores problemas em determinados


setores como no direito penal ou no direito tributário, por exemplo, nos quais a incidência da norma é
presidida pela estrita legalidade e a interpretação estrita de suas disposições em favor do
acusado/réu ou do contribuinte. Neste sentido, há em muitos casos a necessidade da construção de
novos tipos normativos, considerando expressamente a realidade da Internet.

No caso do direito privado, contudo, o desafio de qualificação, em regra, aparece como muito mais
simples. Neste sentido, a noção de contrato, responsabilidade ou propriedade é bem definida, sejam
as relações estabelecidas pela Internet ou não. O desafio do direito privado, com respeito às
relações por ele reguladas no âmbito da Internet, situa-se mais propriamente no tocante à aplicação
da norma. Assim, se um contrato é sabido o que significa, poderá haver variação quanto à
identificação sobre o momento da sua conclusão, ou do seu cumprimento, as hipóteses de
cumprimento imperfeito, dentre outras. Assim como a própria eficácia da norma pode ficar
sensivelmente comprometida em hipóteses como a da proteção da propriedade de bens imateriais e
direitos, como o caso conhecido dos direitos autorais, em relação aos quais a questão principal não é
qual o conteúdo do direito ou o âmbito de proteção, mas sim sobre a falta de condições técnicas para
sua efetiva tutela na Internet.

Já com relação à responsabilidade civil por atos ilícitos na Internet, da mesma forma, o problema da
qualificação jurídica do ilícito não constitui a principal questão a ser enfocada. Ainda que em alguns
casos, sobretudo considerando o âmbito supranacional da Internet, e na relação entre diversos
sujeitos, a exata definição da ilicitude e de seu caráter antijurídico possam variar de acordo com os
ordenamentos jurídicos nacionais. Assim, por exemplo, a lesão a direitos da personalidade ou
condutas lesivas ao patrimônio são comumente reconhecidas como espécies de atos ilícitos,
sobretudo no âmbito da ilicitude civil. A questão principal, nestes casos, parece ser a da correta
identificação dos pressupostos da responsabilidade civil e as possibilidades da sua correta
demonstração para efeito de se alcançar um resultado eficaz, como o reconhecimento do direito à
indenização ou mesmo, em dados casos, a tutela de prevenção ou de remoção do ilícito (neste
último caso, já havendo o ilícito, para evitar que ocorra o dano). 19

1.1 O regime jurídico da responsabilidade civil dos provedores na internet


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Um dos sujeitos principais nas relações jurídicas desenvolvidas por intermédio da Internet, são os
denominados provedores, que viabilizam o acesso à rede mundial de computadores ou oferecem
conteúdo a ser acessado pelos usuários no âmbito virtual. Quanto à espécie de serviços oferecidos,
os provedores de Internet podem ser classificados em três espécies distintas: 20 (a) os provedores de
conteúdo, caracterizados como autores, editores ou outros titulares de direito que introduzem seu
trabalho na rede, estando sujeitos à proteção, em conjunto com as empresas de software, das
normas relativas aos direitos autorais; (b) os provedores de serviços, identificados tanto com os
provedores de acesso, que contratam e oferecem o meio de acesso à Internet, quanto também os
provedores de serviços e conteúdos que oferecem no ambiente da Internet conteúdos a serem
acessados ou prestam serviços a serem fruídos por intermédio da Internet ou a partir desta,
desenvolvendo-se ou concluindo-se o serviço fora da rede de computadores, pelo oferecimento de
produto ou execução de serviço; e por fim, (c) os provedores de rede, quais sejam, aqueles que
fornecem a infra-estrutura física de acesso, ou seja, as linhas de comunicação que permitem a
conexão à Internet, tais como as companhias telefônicas ou as empresas de serviços via cabo.

Em brilhante trabalho recentemente publicado, Guilherme Magalhães Martins propõe distinguir as


espécies de provedores de Internet em vista de suas respectivas atividades e funções, indicando: (a)
os provedores de backbone; (b) os provedores de conteúdo e informação (information providers ou
content providers); (c) provedores de acesso (Internet service providers); (d) provedores de
hospedagem (hosting service providers); (e) os provedores de correio eletrônico. Serão, segundo
este autor, espécies do gênero provedor de serviço de Internet, sobre o qual propõe definição como
sendo "a pessoa natural ou jurídica que presta atividades relacionadas ao aproveitamento da rede,
de forma organizada, com caráter duradouro e finalidade lucrativa, ou seja, a título profissional". 21

A relação jurídica direta com os usuários da Internet desenvolvem-se tanto pelos provedores de
conteúdo, quanto dos provedores de serviço de acesso à rede. Neste sentido, tratam-se os
provedores de serviço de acesso verdadeiramente de fornecedores de serviços, na exata definição
do art. 3.º do CDC. 22 Com relação aos provedores de conteúdo, tanto podem ser qualificados como
fornecedores, quando realizam atividade negocial no fornecimento de conteúdo (mediante
pagamento, por exemplo), 23 quanto simples "publicações", a utilizar-se da Internet para exercício da
liberdade de expressão ou da liberdade de comunicação social. No primeiro caso, estaria
caracterizada a relação de consumo determinante para a incidência das regras de proteção do
consumidor; no segundo caso, as hipóteses de responsabilidade do provedor estariam sob a égide
das normas do Código Civil.

A distinção dos regimes de responsabilidade dos provedores de Internet, embora possam variar
quanto à norma aplicável, aproximam-se quanto ao resultado da sua aplicação. No caso dos
provedores de acesso e dos provedores de conteúdo em que exista atividade de intermediação de
produtos e serviços, caracterizando intervenção profissional e organizada no mercado de consumo,
tratam-se de situações a justificar a incidência do art. 14 do CDC, na hipótese de danos ao
consumidor, dando causa à responsabilidade objetiva do fornecedor. No caso dos provedores de
conteúdo em que não exista relação de consumo, e neste sentido, aplique-se as normas do Código
Civil, tratar-se-á, na hipótese de danos aos usuários, de responsabilidade por atos ilícitos, de
natureza subjetiva (art. 186 do CC/2002 c.c. art. 927, caput, do CC/2002). Contudo, não se perca de
vista a incidência na hipótese, quando se trate de atividade desenvolvida habitualmente na Internet -
o que indica a regularidade da disponibilidade do acesso aos conteúdos ofertados - de situação de
fato que autoriza a aplicação do art. 927, parágrafo único , do CC/2002, que refere: "Haverá
obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem".

Não parece haver dúvida que as atividades habitualmente realizadas na Internet - em caráter
profissional, no mais das vezes, pelo provedor de conteúdo - dão causa a risco de danos a terceiros.
Neste sentido, correta é a aplicação da cláusula geral de responsabilidade por risco, assinalando o
caráter objetivo desta responsabilidade para o efeito de afastar a necessidade de demonstração da
culpa do provedor de Internet. Destaque-se, naturalmente, que com isso não se afasta a
necessidade de demonstração dos demais pressupostos da obrigação de indenizar (em especial, o
dano e o nexo causal), mas aproxima sensivelmente o regime de responsabilidade do regime
imposto aos fornecedores de serviço do Código de Defesa do Consumidor. O enquadramento da
divulgação de conteúdo pela Internet que se caracterize como atividade de comunicação social ou
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imprensa, todavia, com interesse jornalístico e relevância pública, atrai para si o regime de
responsabilidade de imprensa, por intermédio do Código Civil e, de modo mitigado 24 da Lei de
Imprensa (Lei 5.250/1967 (LGL\1967\22) ).

Além dos provedores de Internet que se dedicam ao oferecimento de acesso, infra-estrutura ou


conteúdo, outros sujeitos das relações jurídicas estabelecidas na rede de computadores serão as
pessoas naturais e jurídicas que se utilizam do ambiente virtual para o estabelecimento de relações
com ou sem fins econômicos, ou seja que conpreendem a Internet como extensão do espaço real de
relacionamentos. Desde o ponto de vista da atuação organizada de agentes econômicos para o
oferecimento de acesso à Internet e de conteúdos a serem obtidos dentro do ambiente virtual, a
Internet se caracteriza como extensão da realidade concreta, não-virtual. Neste sentido as relações
de conteúdo econômico ou que tenham subjacentes interesses econômicos de pelo menos uma das
partes consideram-se, mesmo na Internet, como realizadas no mercado de consumo. 25

Os provedores de acesso ou de conteúdo, de sua vez, uma vez que realizam suas atividades
mediante remuneração, com fins econômicos, qualificam-se no conceito de fornecedor de serviços
previsto no art. 3.º, § 2.º do CDC. No que tange aos provedores de conteúdo e mesmo o de serviços
informáticos pela Internet (venda de softwares, e.g.) também qualificam-se como fornecedores de
produtos, porquanto os bens imateriais eventualmente objeto de transações pela Internet
encontram-se abrangidos pelo conceito de produto previsto no art. 3.º, § 1.º, do CDC.

Uma primeira visão da matéria vai buscar promover a equiparação das relações estabelecidas pela
Internet e outras havidas fora dela, como é o caso dos contratos eletrônicos em que a forma da
contratação não desnatura o caráter negocial semelhante aos contratos em geral, ou no caso dos
provedores de conteúdo, em relação aos quais se observa sua equiparação aos meios de
comunicação já existentes. Aliás, como ensina Jorge Galdós, procura-se equivocadamente fazer
valer para a Internet as pautas e princípios próprios dos meios de comunicação, quando em
realidade, o preceito a ser considerado é o de que todo o dano injusto deve ser ressarcido e de que,
neste cenário, as empresas estão em melhores condições de realizar um controle preventivo do
material disponível a partir de seus arquivos. 26

Em matéria de responsabilidade por ato ilícito cometido pela Internet, entendeu o STJ pela
qualificação da relação jurídica como acidente de consumo, fazendo incidir a regra do art. 14 do
CDC, admitindo na hipótese que a atividade do fornecedor, mesmo que aparentemente gratuita ao
consumidor direto, teria presente o critério de remuneração indireta. 27 O mesmo se diga em relação
aos vícios do produto ou do serviço, em que a falha na prestação do serviço de acesso à Internet, 28
ou ainda nos produtos ou serviços adquiridos por seu intermédio, determinam a incidência das
regras previstas nos arts. 18 e 20 do CDC.

Da mesma forma, identificando-se os provedores de Internet como fornecedores que atuam no


mercado de consumo, na hipótese de ocorrência de danos a usuários ou não da Internet em razão
da atividade desenvolvida por estes agentes profissionais do mercado, reclamará incidência a norma
do art. 17 do CDC, a qual equipara a consumidores todas as vítimas do evento danoso, atraindo por
conseguinte, a incidência do regime de responsabilidade da legislação consumerista.

Frise-se, naturalmente, que esta é a conclusão a que se chega quando se refira a provedores,
profissionais e especialistas em sua respectiva atividade. Não será o caso dos demais usuários da
Internet, não-profissionais e que utilizam a rede de computadores como espaço de exercício da
liberdade de expressão e pensamento, os quais submetem-se, na hipótese de causarem danos a
terceiros, à regra geral da responsabilidade do Código Civil, conforme o caso, a responsabilidade
subjetiva por ato ilícito (art. 186 do CC/2002) ou mesmo a responsabilidade objetiva, por abuso do
direito (art. 187 do CC/2002).

A questão controversa, contudo, aos critérios de determinação do regime de responsabilidade no


caso da Internet, sendo considerado seu locus como mercado de consumo, o fato da remuneração
direta ou indireta, e assim o desenvolvimento de atividade profissional por parte de sites ou portais
que visam à obtenção de vantagem econômica, parecem conduzir à caracterização dos mesmos
como fornecedores, e neste sentido, atraindo a incidência das regras do Código de Defesa do
Consumidor. Por outro lado, não se desconhece que a Internet é espaço de ampla divulgação de
conteúdos imateriais de toda ordem, e que nem toda a atividade que nela se desenvolve objetiva
vantagem econômica, mediante oferta de produtos e serviços no mercado de consumo. Neste
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sentido, a inexistência de atividade com tais características, e que, portanto, não possa ser definida
como fornecimento de produtos e serviços, conduz ao regime geral do Código Civil e, com isso, a
dois critérios: (a) da existência de ilícito, definido pelo art. 186 do CC/2002 ou art. 187 do CC/2002;
ou (b) da habitualidade na atividade desenvolvida por aquele a quem se imputa responsabilidade, e
com isso preenchimento da hipótese para incidência do art. 927, parágrafo único , do CC/2002.

Ainda é de se considerar que, como regra, tratando-se de situações em que a responsabilidade civil
do agente regula-se em situações fora do ambiente da Internet segundo determinada disciplina legal,
a mera extensão ou transposição da atividade para o ambiente virtual não serve para alterar seu
regime legal. É o caso da responsabilidade civil dos meios de comunicação, cuja disciplina vem
sendo reconhecida predominantemente pela responsabilidade subjetiva sob a regra da Lei de
Imprensa (Lei 5.250/1967 (LGL\1967\22) ) 29 ou mesmo da cláusula geral do art. 186 do CC/2002.
Sem prejuízo de que, em situações específicas, aplique-se, ainda, o disposto no art. 187 do
CC/2002, quando caracterizado o exercício abusivo de direitos. 30

1.2 Pressupostos da responsabilidade por danos e sua aplicabilidade à internet

Como mencionamos, não se altera dramaticamente a definição de ato ilícito e seus pressupostos na
comparação entre as relações jurídicas estabelecidas por intermédio da Internet e fora dela. Da
mesma forma, é possível identificar uma razoável identidade ou, ao menos, uma proximidade
conceitual no que se considere como ato ilícito nos vários sistemas jurídicos ocidentais, influenciados
em maior ou menor grau pelo direito romano. 31

No direito brasileiro, a definição típica de ato ilícito civil é estabelecida pelo art. 186 do CC/2002 que
estabelece: "Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". A regra em comento é
complementada pelo art. 927 do CC/2002 que ao inaugurar o capítulo da responsabilidade civil em
nosso sistema refere: "Aquele que por ato ílicito (arts. 186 e 187, CC/2002) causar dano a outrem,
obriga-se a reparar".

A ilicitude civil contudo, não se resume à definição do art. 186 do CC/2002. Este próprio Código
prevê, logo adiante, no art. 187 do CC/2002, uma segunda hipótese de ilicitude, que incorpora a
categoria do abuso do direito e a estabelece como hipótese de ilicitude objetiva, ao prescindir da
culpa para sua caracterização. 32

Da mesma forma, conforme seja entendida a ilicitude civil em sentido amplo, não apenas pela
incidência específica da norma do art. 186 do CC/2002, como também outras hipóteses em que se
caracterize a realização de um dano injusto, outras tantas hipóteses se apresentam, como no caso
da violação de direitos autorais, ou de propriedade industrial, por exemplo, assim como hipóteses em
que se autoriza a responsabilidade objetiva do autor do dano, como é o caso da responsabilidade do
fornecedor prevista no Código de Defesa do Consumidor, que à exceção do profissional liberal
prestador de serviços (art. 14, § 4.º, do CDC), se caracteriza independentemente da existência de
culpa, e de modo solidário entre os diversos membros da cadeia de fornecimento (arts. 12 a 20, do
CDC).

De todas as hipóteses de ilicitude civil de que decorre o dever de indenizar, contudo, verifica-se a
existência de uma série de pressupostos comuns. No direito português, por exemplo, há os que,
como Antunes Varela, identificam até cinco requisitos, quais sejam: (a) o fato (incontrolável pela
vontade do homem); (b) a ilicitude; (c) a imputação do fato ao lesante; (d) o dano; (e) o nexo de
causalidade entre o fato e o dano. 33 Por outro lado, outros autores como Fernando Pessoa Jorge,
preferem restringir tais pressupostos a apenas dois, ato ilícito e prejuízos reparáveis, incorporando
as demais exigências para imputação da responsabilidade no interior de um dos dois conceitos. 34

No Direito brasileiro, José de Aguiar Dias relaciona, no esteio da lição de Pontes de Miranda,
elementos objetivos e subjetivos como requisitos da responsabilidade civil. Neste sentido refere:
"São requisitos da primeira categoria o ato contra jus, sans droit, isto é, praticado de maneira ilícita,
contra direito; o resultado danoso; a relação causal entre o ato e o dano. São requisitos subjetivos: a
imputabilidade do agente e que tenha agido com culpa". 35 Caio Mário da Silva Pereira elege como
pressupostos da responsabilidade civil subjetiva - regra no direito comum - o dano, a culpa do
ofensor e o nexo de causalidade entre o dano e a culpa. 36 Dado o considerável aumento das
hipóteses de responsabilidade civil objetiva em nosso sistema, e para fins didáticos, distinguem-se
ora os seguintes requisitos: a conduta, o nexo de causalidade e o dano, cogitando muitos autores de
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expressão ainda, um quarto pressuposto, caracterizado como o nexo de imputação, considerada
como a regra de direito que vincula um determinado sujeito ao dever de indenizar; ou seja, imputa a
um ou mais sujeitos, de modo expresso, a responsabilidade pela indenização dos danos causados
em razão de um determinado fato.

O dano distingue-se entre os danos materiais, prejuízos patrimoniais que se verificam em relação a
interesses avaliáveis em dinheiro, e os danos morais, que se verificam em relação a interesses
insuscetíveis de avaliação pecuniária. 37 Dentre os danos materiais, são reconhecidos como
indenizáveis os prejuízos econômicos, ou seja, tudo aquilo em que foi diminuído o patrimônio da
vítima em razão do ilícito e os denominados lucros cessantes, considerados aí tudo aquilo que a
vítima razoavelmente deixou de acrescer ao seu patrimônio em virtude do ilícito.

Por fim, outro pressuposto que decorre da teoria geral da responsabilidade civil é o nexo de
causalidade, que deve ser demonstrado cabalmente no processo para que haja a imputação do
dever de indenizar. Trata-se o nexo de causalidade do pressuposto lógico que vincula a ocorrência
de um determinado dano indenizável a uma dada conduta. Esta relação é antes de tudo, uma
relação de causa e efeito, estabelecendo-se em regra, por intermédio de dilação probatória. Na
responsabilidade civil de consumo o nexo de causalidade é determinado segundo a identificação da
causa que melhor contribuiu para o evento danoso (teoria da causalidade adequada) a qual se
estabelece por intermédio do raciocínio lógico de retirada das diferentes causas que determinaram o
dano para que se verifique qual destas causas, quando ausente, interrompe a cadeia causal que dá
ensejo ao resultado danoso (interrupção do nexo causal). 38

A aplicação destes pressupostos da responsabilidade civil à Internet oferecem sensíveis desafios,


sobretudo, no que se refere à sua adequada demonstração. Ou seja, a prova de que uma conduta
deu causa a determinados danos é providência que demanda a utilização de instrumental
tecnológico da própria Internet, o que muitas vezes revela-se custoso, assim como dificultado pela
inexistência de registros precisos, ou cujo acesso é restringido em vista da proteção do sigilo de
comunicações ou da privacidade dos envolvidos.

Da mesma forma, considerando certa espécie de ilícitos cometidos por intermédio da Internet, como
os que dizem respeito à divulgação de informações resguardadas por sigilo, informações falsas que
importem na violação da honra, 39 abalo de crédito, ou informações que, embora verdadeiras, afetem
a intimidade, privacidade ou imagem alheias, em vista do conteúdo ou do modo como estas
informações são difundidas, quando na Internet observam enormes dificuldades de identificação do
autor do ilícito. O envio de mensagens eletrônicas sucessivas, reencaminhadas pelos seus iniciais
destinatários, e de modo repetido pelos sucessivos novos destinatários ( e-mail viral), faz com que se
torne pouco provável a identificação do responsável originário, ainda que não elimine a possibilidade
de responsabilização de todos os que atuem decisivamente para ampliar o âmbito de repercussão do
ilícito. O mesmo ocorre nos denominados "blogs", nos quais qualquer pessoa, possuindo uma conta
de e-mail pode possuir uma home page pessoal, a qual, em regra, aceitará a contribuição de outros
tantos que se dispuserem a acessar e registrar manifestações pessoais (posts), as quais
permanecem ostensivas para todos os que acessem a página dali por diante. Tais circunstâncias
apresentam problemas bem definidos no que diz respeito à determinação do nexo de causalidade
entre a conduta e o dano.

Conforme sustentam Calderón e Hiruela, o dano causado por intermédio de meios informacionais, o
que denominam alguns autores como dano informático, pode ser definido como sendo: "toda lesión o
menoscabo causado a un derecho subjetivo mediante la utilización de medios electrónicos
destinados al tratamiento automático de la información, y que concurriendo determinados
pressupuestos, genera responsabilidad". 40

Da mesma forma, permanece dentre nós uma razoável indefinição frente a um problema clássico da
Internet desde sua origem, qual seja, a responsabilidade dos provedores pelos atos ilícitos
praticados por seu intermédio, como no caso de anúncios, intermediação de bens e serviços, ou a
utilização de contas de e-mail para realização de ilícitos. Parece-nos razoável, com respeito a estas
questões, que uma resposta adequada decorra de duas linhas de entendimento complementares.

Primeiro, a comparação desta situação com relações jurídicas análogas fora da Internet. O
oferecimento de uma conta de e-mail, paga ou gratuita, não parece ensejar a responsabilidade do
provedor que a oferece, na mesma medida em que a operadora de serviços de telefonia não
responde pelos danos que alguém dá causa por intermédio da utilização da linha telefônica. Da
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INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
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INTERNET
mesma forma, o simples anúncio publicitário na Internet não enseja, a priori, a responsabilidade do
veículo de comunicação, seja um provedor de Internet ou quem simplesmente explore uma home
page.

Os problemas mais sensíveis em matéria de responsabilidade civil na Internet, contudo, surgem


quando o ato ilícito não apenas se realiza pelo meio virtual quanto por intermédio de outro meio
qualquer, senão quando é justamente a circunstância de existir o meio virtual que termina sendo
estabelecido como um diferencial favorável à realização do dano. Ou seja, o ato ilícito e o dano que
dele provém não teriam se realizado se não o fosse por intermédio da Internet. A este respeito o
correto magistério de Guilherme Martins, de que a existência de relações em um ambiente aberto,
em que os sujeitos muitas vezes são cobertos pelo anominato e de comunicação por meio de
protocolos, faz com que se deva abandonar "a visão individualista, baseada na presença de uma
vítima concreta e de um responsável passível de identificação". 41

Da mesma forma ocorre quando o site que realiza anúncios ou permite o intercâmbio e aproximação
entre pessoas interessadas em manter relacionamentos negociais ou não, participa dos resultados
econômicos deste intercâmbio, seja diretamente - por intermédio da cobrança de "taxas de inscrição"
ou de percentuais sobre os valores negociados - ou indiretamente, em vista da valorização e do
prestígio de uma marca, ou conceito economicamente avaliável, bem como pela formação de um
cadastro de destinatários potenciais de uma série de mensagens e informações de finalidade
econômica ou promocional (e.g., a formação de cadastros de consumidores).

Esta é a circunstância que coloca em um mesmo plano, tanto sites de relacionamento, nos quais se
permite, de modo gratuito, a divulgação de perfis pessoais e toda a sorte de informações afetas ao
âmbito de relacionamento virtual com as mais variadas finalidades sociais, e sites de leilão virtual, ou
de intermediação de negócios, nos quais a finalidade básica é a aproximação entre interessados na
celebração de contratos. Na circunstância da realização de danos por atos ilícitos realizados a partir
da atividade destes sites, é de ser reconhecida a responsabilidade daqueles que aproveitem da sua
exploração econômica. Seu fundamento será o risco da atividade desenvolvida, que ademais está
prevista expressamente no parágrafo único do art. 927 do CC/2002, o qual consagra a
responsabilidade pelo risco criado ao estabelecer: "Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem". Da
mesma forma caracterizando-se os serviços prestados pelos sites como serviços objeto de uma
relação de consumo, incidirá o regime da responsabilidade pelo fato do serviço (art. 14 do CDC), que
presume o risco proveito de toda a cadeia de fornecedores vinculados à prestação de serviço, ao
referir que: "O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos". E neste sentido
igualmente, não importará para a incidência do art. 14 do CDC, se a vítima do dano tenha sido parte
ou não em uma determinada relação de consumo, uma vez que o art. 17 do CDC preceitua que se
consideram consumidores equiparados todas as vítimas de um evento danoso causado por um
acidente de consumo.

Em ambas as situações tem-se a responsabilidade objetiva dos sites por danos decorrentes de ato
ilícito, com fundamento no risco decorrente do desenvolvimento de suas atividades. Neste sentido,
por exemplo, os danos causados ao indivíduo que tem inserido um falso perfil seu em um site de
relacionamentos, por uma terceira pessoa, contendo informações inverídicas e ofensivas a seu
respeito. Ou ainda aquele que tendo oferecido determinados dados para realização de operações
comerciais em um site, tem estas informações utilizadas de forma não-autorizada, ou desviada de
sua finalidade original.

A qualificação e identificação dos pressupostos da responsabilidade civil por ato ilícito em nosso
sistema, contudo, não será bastante para assegurar eventual responsabilização, sem que se
considere o caráter supranacional da Internet e a necessidade de adequar os preceitos
estabelecidos pela lei brasileira aos instrumentos e identificação da lei aplicável a uma determinada
relação jurídica, o que fazemos adiante.

A insegurança e a imaterialidade das relações estabelecidas por intermédio da Internet têm como
contraponto o reforço do dever de segurança daqueles que se dedicam a realizar negócios por
intermédio da rede. 42
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INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

No Direito europeu que emerge da Diretiva 2000/31/CE, contudo, resta afirmada a ausência de uma
obrigação geral de vigilância por parte dos provedores de serviços de Internet. Não há, segundo o
art. 15 da referida norma, uma obrigação geral de vigilância dos provedores, consistente tanto na
ausência de um dever de vigiar as informações que transmitem ou armazenem, quanto a de procurar
ativamente fatos ou circunstâncias que indiciem ilicitudes. Apenas se autoriza os Estados-membros
que, ao incorporar as normas da Diretiva, estabeleçam a obrigação de que os provedores informem
prontamente às autoridades competentes sobre as atividades empreendidas ou informações ilícitas
prestadas pelos autores aos destinatários dos serviços por ele prestados, "bem como a obrigação de
comunicar às autoridades competentes, a pedido destas, informações que permitam a identificação
dos destinatários dos serviços com quem possuam acordos de armazenagem". Neste sentido,
percebe-se a opção européia de não reconhecer hipótese de responsabilidade dos provedores de
serviços na Internet, quando sua atividade diga respeito ao simples transporte ou transmissão de
informações pela rede mundial de computadores (art. 12 da Diretiva 2000/31/CE), que faça
armazenagem temporária (caching) (art. 13 da Diretiva 2000/31/CE), ou ainda que realizem
armazenagem em servidor, mas que não tenha o provedor conhecimento efetivo da atividade ou
informação ilegal, ou na hipótese em que tenham conhecimento da ilegalidade, atuem com diligência
no sentido de retirar ou impossibilitar o acesso às informações (art. 14 da Diretiva 2000/31/CE).

Em linhas gerais, percebe-se que a disciplina de direito comunitário exclui do dever de segurança do
provedor o conteúdo das informações, exigindo-lhe atuação específica apenas quando tome
conhecimento da atividade ilegal que se realiza por seu intermédio ( atuação diligente).

Este entendimento, conforme já mencionamos, diverge de parte do entendimento adotado pela


jurisprudência brasileira. Por outro lado, há diversos acórdãos que sustentam o entendimento pelo
afastamento da responsabilidade solidária do provedor em relação a atos ilegais realizados por seu
intermédio. 43

Contudo, no Direito brasileiro, observa-se que tais atividades, quando insertas no mercado de
consumo e caracterizadas como prestações de serviço sob a égide do Código de Defesa do
Consumidor, atraem responsabilidade aos provedores, independente de culpa destes (art. 14 do
CDC), sendo fator de atribuição o risco da atividade. Reconhecem-se como hipótese de exoneração
da obrigação de indenizar nas hipóteses previstas no art. 14, § 3.º, do CDC, quais sejam, a
demonstração pelo fornecedor, de que tendo prestado o serviço, não existe o defeito (inc. I), ou a
culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 44 E da mesma forma, deverá pautar a identificação do
defeito como causa de responsabilização a ressalva legal prevista no § 2.º do art. 14 do CDC, qual
seja, a de que o serviço não será considerado defeituoso pela adoção de outras técnicas, o que
remete, naturalmente, à conclusão, no que concerne aos serviços prestados pela Internet, de que a
atualização tecnológica dos serviços não tem por conseqüência a imputação de defeito aos serviços
prestados sem o incremento decorrente de novos conhecimentos obtidos mediante pesquisa e
desenvolvimento.

1.3 A responsabilidade civil dos provedores na Internet e a aplicação da lei no espaço

O surgimento da Internet como fenômeno supranacional, que se realiza por intermédio do meio
virtual em ampla desconsideração dos limites físicos das jurisdições nacionais para efeito de
aplicação de normas para sua regulação jurídica, exige que, em matéria de responsabilidade civil por
danos causados por seu intermédio, compatibilize-se o exame da lei nacional com as soluções
preconizadas pelo direito internacional privado, na hipótese da relação jurídica que daí resulte, conter
um determinado elemento de estraneidade que determina sua aplicação para solucionar eventual
conflito de leis.

Assenta-se o direito internacional privado sob o influxo do denominado método conflitual. Nesse
sentido, não se destina a estabelecer a justiça material a priori, mas antes a dirimir um conflito de
leis, elegendo o ordenamento jurídico estadual aplicável ao caso concreto. 45 Para tanto, como
ensina Jacob Dolinger, o direito internacional, primeiro, cuida de classificar a situação ou a relação
jurídica envolvidas, através do chamado processo de qualificação. Adiante, identifica a sede jurídica
dessa situação ou relação jurídica e, por fim, determina a aplicação do Direito vigente nessa sede. 46
Trata-se, portanto, de um procedimento complexo, pelo qual se estabelece, em um primeiro
momento, a caracterização da relação jurídica, que pode versar sobre estado ou capacidade da
pessoa, situação de um bem, assim como sobre um dado ato ou fato jurídico. 47

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É certo que, nessa relação, cada um dos elementos terá identificado uma certa sede jurídica, que
poderá ou não coincidir com a dos demais componentes da relação. Entretanto, através das normas
de direito internacional privado, indica-se qual dos elementos em questão estabelece a conexão
daquela relação com um determinado ordenamento jurídico. Tratam-se das denominadas normas
indiretas ou secundárias, cuja conseqüência jurídica, antes de determinar uma determinada resposta
ou solução ao caso em debate, em verdade determina qual lhe será a lei aplicável, dentre as
diversas ordens jurídicas envolvidas. 48 A conexão, assim, vem a ser a ligação, o contato, entre uma
situação da vida e a norma que vai regê-la. 49

O procedimento de qualificação envolve a identificação, na lex fori, das definições legais que
permitam determinar o elemento de conexão. E, embora cada ordenamento jurídico determine quais
seus elementos de conexão, eles podem ser classificados, segundo a lição de Haroldo Valadão, em
regras reais, pessoais ou institucionais. Segundo o professor brasileiro, as regras de conexão reais
são aquelas que se assentam em um elemento espacial, como o lugar de celebração do ato, de
ocorrência do fato ou de situação da pessoa. As regras pessoais referem-se aos elementos de
conexão afirmados sob caracteres específicos do sujeito da relação jurídica em questão, como a
nacionalidade ou a religião. As institucionais, por sua vez, são as determinadas pelo próprio direito,
como a matrícula de aeronave ou navio, e o foro determinado a uma dada relação jurídica. 50

O procedimento de qualificação, portanto, à medida que se utiliza da lei do foro ( lex fori), tem sua
realização vinculada às normas vigentes sob aquela dada ordem jurídica. Faz uso, assim, do direito
material interno para estabelecer as definições legais pertinentes e aplicar a regra de direito
internacional privado. Daí porque a alteração nas normas de direito material interno pode implicar a
alteração das soluções de direito internacional privado, assim como o surgimento de relações de
fato, cujas características determinem certa dificuldade de sua definição legal. Ainda, tal alteração
acarreta, em conseqüência, a dificuldade de aplicação das regras de conexão previstas na mesma
ordem jurídica. E o mesmo ocorre em relação aos elementos de conexão. O direito internacional
privado brasileiro, ao se utilizar do domicílio ou do lugar da constituição da relação como elementos
de conexão das relações jurídicas privadas, remete ao Código Civil o estabelecimento de suas
definições conceituais, cuja aplicação determina, necessariamente, o resultado da aplicação do
método conflitual.

No que diz respeito à responsabilidade civil, qualifica-se em nosso direito como espécie de relação
obrigacional. Neste sentido, refere a Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro, 51 em seu art. 9.º:
"Para qualificar e reger as obrigações aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. § 1.º
Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta
observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. §
2.º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente."

As relações jurídicas estabelecidas na Internet, de modo geral, vão observar até três regras previstas
na Lei de Introdução ao Código Civil, para efeito de determinação da lei aplicável. Na maioria dos
casos, estar-se-á à frente de hipóteses que, segundo o Direito brasileiro, classificam-se sob o
domínio do direito das obrigações, sejam elas contratuais ( ex contracto) ou delituais (ex delicto).
Ambas, em face da generalidade empregada na norma do art. 9.º da LICC, observam o mesmo
elemento de conexão, qual seja, o lugar da constituição. No entanto, tratando-se de obrigação
decorrente de ilícito, a constituição pode ser apontada, pela lógica, tanto através da clássica fórmula
lex loci delicti, que identifica o lugar de realização do ilícito, quanto por meio da lex damni, que se
refere ao lugar onde os danos foram produzidos. 52

Inicialmente, observa-se que a Lei de Introdução ao Código Civil não difere, em relação à regra de
determinação da lei aplicável, as obrigações de natureza contratual ( ex contrato) das de natureza
delitual (ex delicto). Assim, o art. 9.o da LICC contempla, indistintamente, o critério do lugar de
constituição para determinação da lei aplicável, independente do fato de as obrigações serem
decorrentes de delitos ou de contratos. 53

Tal circunstância, no que tange às obrigações delituais, demonstra a consagração, no direito


brasileiro, do conhecido princípio de direito internacional da lex loci delicti comissi. Neste sentido,
segundo refere Baptista Machado, "a conexão internacionalmente relevante é fixada, em princípio,
não em função dos sujeitos ou do objeto da obrigação, mas em função do facto jurídico que lhe dá
origem". 54 As razões que suportam esse entendimento são muito discutidas no âmbito do direito
internacional privado. Justificam a adoção da lex loci delicti a característica das normas de
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responsabilidade extracontratual, que estabelecem, ao lado da função reparatória, um conteúdo
sancionatório ou repressivo, próprio de ser manifestado pela lei do lugar de ocorrência do fato
determinante, bem como o fato da absoluta falta de adequação da aplicação da lex patriae ou da lex
fori para reger tais situações. 55

Segundo afirma Claudia Lima Marques, militam em favor da lex loci delicti comissi três argumentos
principais: o de territorialidade da aplicação da norma jurídica, como expressão da sua soberania; o
de acessibilidade da regra a ser aplicada; e, terceiro, o da proteção das expectativas de paz social.
56
Contudo, a adoção genérica da lex loci delicti comissi, não elimina dificuldades para determinação
da lei aplicável, sobretudo em face dos requisitos a serem exigidos para configuração da ilicitude por
cada ordenamento jurídico. Neste sentido, por exemplo, situam-se ordenamentos jurídicos como o
do Reino Unido, no qual a configuração do delito deve estar presente tanto na lex loci, quanto na lex
fori, em sistema conhecido como regra de similitude. 57

Da mesma forma, quanto às obrigações delituais realizadas através da Internet, aspecto da maior
relevância será a determinação dos elementos do respectivo fato ilícito para identificação do local de
sua realização. Nesse sentido, identificados, como elementos da relação obrigacional típica em
matéria de delitos, a conduta, o nexo de causalidade e o dano, algumas são as hipóteses para
determinação do lugar de realização do ilícito.

O direito internacional privado, tradicionalmente, identifica, para tanto, as seguintes teses: a do lugar
da conduta, identificando a ilicitude no lugar de realização da conduta determinante para sua
causação; a do lugar do resultado, sendo este o local onde o prejuízo produziu-se; a da opção do
lesado, reconhecida pelo Direito alemão, atribuindo ao lesado a faculdade de opção pela lei mais
favorável. 58 A partir disso, defende Baptista Machado que aplicável deverá ser a lei onde realizar-se
o último fato constitutivo da obrigação de indenizar, cedendo espaço, na hipótese fundada na culpa,
para aplicação da lei do lugar da conduta. 59

No tocante aos delitos cometidos através da Internet, importa identificar em que lugares são
determinados os elementos constitutivos do fato ilícito passível de sanção. Assim, a conduta ilícita, o
resultado danoso e o lugar de situação da vítima podem estar submetidos a três diferentes normas
jurídicas aplicáveis ao mesmo caso. É a hipótese, por exemplo, da ofensa à honra ou à privacidade
60
de alguém através da divulgação de informações pela Internet. É possível, nesse caso, identificar
a conduta realizada em um determinado lugar e seus efeitos em um segundo lugar. Ainda, o dano,
quando referir-se a uma certa pessoa, pode ser determinado no lugar em que ela estiver localizada.

Nessa hipótese, parece correto considerar como mais adequado para conectar a relação em questão
uma determinada lei, o lugar do domicílio da vítima. Este serve igualmente para identificação do
lugar do dano, sobretudo quando relativo à pessoa, cuja ofensa produz prejuízos diretamente no
lugar em que ela esteja. Aproxima-se, assim, da regra da lei mais apropriada ao dano ( proper law of
the tort), concebida pelo direito norte-americano, 61 e, entre nós, apreciada com brilhantismo por
Dolinger, a partir de sua caracterização do princípio da proximidade. 62

Note-se, ademais, que os mesmos problemas decorrentes da desterritorialização das relações na


Internet apresentam-se também em relação à determinação da competência em matéria delitual. No
Direito francês, é conhecida a decisão do Tribunal de Grande Instância de Paris no chamado affaire
Yahoo, pelo qual associações civis (no caso a Ligue internationale contre le racisme et
l'antisémitisme - Licra - e a Union des étudiants juifs de France - UEJF), ingressaram com ação
judicial por ter o site da Yahoo France disponibilizado, em suas home pages associadas, a venda de
símbolos e objetos de apoio ao nazismo. A empresa Yahoo alegou, então, exceção de
incompetência, sob o argumento de que o mero fato de pessoas em território francês terem acesso a
essas home pages não determinava qualquer espécie de dano pelos quais pretendiam ser
ressarcidos a Licra e a UEJF. Em decisão de 22.05.2000, posteriormente confirmada em 20.11.2000,
o Tribunal de Paris concluiu pela competência da justiça francesa para decidir a questão. 63

Por sua vez, a Yahoo, empresa com sede nos Estados Unidos, ingressou com ação neste país (
preliminary injuction) para evitar que a decisão do caso na França fosse reconhecida pelo Poder
Judiciário norte-americano. Tal demanda foi, então, julgada procedente em decisão de 07.11.2001,
sob o argumento de que a decisão do Tribunal francês ofendia a Constituição norte-americana. 64

De modo que em matéria de competência ou foro, parece adequado - e conforme o entendimento


assentado desde algum tempo pela doutrina internacionalista - o lugar de ocorrência do dano como
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regra para sua determinação. 65 E segue-se a mesma linha de raciocínio em matéria de lei aplicável
aos delitos cometidos através da Internet. Em acordo com o direito brasileiro, parece ser este o
entendimento mais adequado, sobretudo em vista do que dispõe a Constituição da República ao
consagrar o princípio da dignidade da pessoa humana e o direito fundamental à reparação de danos,
consagrados, respectivamente nos arts. 1.o, III , e 5.o, V , da CF. 66 A eficácia destas disposições
sobre o direito privado determina sua consideração para efeito da interpretação e aplicação das
normas de responsabilidade civil em vista da ampliação da proteção da pessoa humana e de maior
abrangência das normas que regulam a responsabilidade civil por ato ilícito em nosso Direito. O
mesmo se diga, naturalmente, quando relativo a danos causados a consumidores, a norma prevista
no art. 5.º, XXXII, da CF/1988, que consagra a defesa do consumidor como direito fundamental,
integrativa da ordem pública constitucional brasileira.

Não se desconhece, contudo, os sensíveis obstáculos à efetividade de uma decisão nacional em


relação a eventuais demandados em outros países, em especial quanto a custos e entraves
processuais a serem superados. Daí porque a adequada solução em matéria de proteção
internacional dos consumidores em suas relações por intermédio da Internet demandam iniciativas
comuns dos países, por intermédio de harmonização da lei e de procedimentos judiciais e
extrajudiciais de solução de litígios. 67

2. Natureza e extensão da responsabilidade do provedor de internet no Direito brasileiro

O grande desafio do Direito com relação à Internet, como já referimos, é o de assegurar sua
efetividade. São bastante conhecidas as análises, nos mais diversos âmbitos da ciência, sobre a
significativa repercussão do advento da rede mundial de computadores Internet no cotidiano das
relações sociais, econômicas, culturais ou políticas. 68 O surgimento dessa tecnologia e, em
especial, sua relativa expansão, despertaram dúvida quanto à possibilidade de aplicação das normas
jurídicas estabelecidas para regular relações no ambiente físico da realidade da vida às novas
relações da realidade virtual. 69

Em que pese a necessidade de revisão conceitual e, como advogam muitos autores, a conveniência
da edição de legislação específica que contemple as peculiaridades do fenômeno informático, 70
resta assentada a perfeita aplicabilidade das normas e fórmulas jurídicas tradicionais às relações
jurídicas estabelecidas por meio eletrônico. 71 A distinção essencial dessas com as demais relações
ordinárias é representada, justamente, pelo meio em que se desenvolvem - o que deve ser
considerado na regulação específica sobre a matéria.

É necessário ressaltar, contudo, que isto não significa que os conceitos estabelecidos pela ciência
jurídica, tradicionalmente afetos à realidade do mundo físico, não tenham de ser, muitos deles,
interpretados e adaptados ao fenômeno informático, sobretudo com vista a uma resposta adequada
à proteção dos interesses lesados. Uma das marcas distintivas das relações estabelecidas através
da Internet é a ubiqüidade, 72 característica dos tempos atuais, e que, em última análise, revela a
dificuldade de precisar a localização territorial de uma relação jurídica estabelecida através de meio
eletrônico. 73 Por tal razão, a doutrina especializada aponta, como elemento distintivo das relações
estabelecidas por meio eletrônico, a desterritorialização. Como observa Lorenzetti, "este ciberspacio
es autónomo, en el sentido de que funciona según las reglas de un sistema autorreferente (...) es
posorgánico, ya que no está formado por átomos ni sigue las reglas de funcionamiento y localización
del mundo orgánico: se trata de bits. Tiene una naturaleza no territorial y comunicativa, un espacio
movimiento, en el cual todo cambia respecto de todo, es decir, que el espacio virtual no es siquiera
mirable al espacio real, porque no está fijo; no es localizable mediante pruebas empíricas como, por
ejemplo, el tacto". 74

No que se refere à responsabilidade civil por danos causados pela Internet, duas são as questões
principais a serem enfrentadas, no que diz respeito à efetividade das normas e sua aplicação no
sentido de assegurar o direito de indenização da vítima, quais sejam: (a) os deveres específicos dos
provedores de Internet em sua atuação na rede, assim como a correta associação entre a violação
destes deveres e a causação de danos; e uma segunda questão subjacente é a (b) da extensão da
responsabilidade do autor originário e daqueles que contribuem com o aumento dos danos
causados.

2.1 O dever de informar na internet

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Dentre os vários deveres emergentes da sociedade da informação, como forma de redução da


complexidade das relações sociais contemporâneas 75 e de reforço da confiança entre os sujeitos de
relações sociais e jurídicas 76 é, indiscutivelmente, o dever de informar. Em se tratando das relações
de consumo por intermédio da Internet, o dever de informar do fornecedor decorre de positivação
legal de um direito básico do consumidor à informação, desdobrado por uma série de disposições
específicas relativas a informações de distintos aspectos da relação de consumo. 77 Da mesma
forma, considerando a finalidade de esclarecimento e autonomia do consumidor, o conteúdo do
dever de informar não é estabelecido a priori, senão a partir de situações concretas e identificadas,
que vão determinar que informações serão consideradas relevantes, assim como o modo eficiente
de sua transmissão ao consumidor. No caso das relações estabelecidas por intermédio da Internet,
reconhece-se, desde logo, uma espécie de vulnerabilidade técnica do consumidor em relação ao
meio. A rigor, à exceção de especialistas em informática, todos os demais serão vulneráveis,
porquanto não tenham domínio sobre uma série de informações relativas (a) a aspectos
técnico-informáticos (armazenamento de informações, segurança sobre os dados pessoais
transmitidos pela rede, procedimentos de acesso a determinadas informações), (b) aspectos
decorrentes do caráter imaterial da contratação, ou ainda (c) do fato de ser celebrada à distância,
bem como aspectos relativos à defesa e efetividade de seus direitos, como é o caso de contratações
celebradas entre consumidores e fornecedores de cidades, Estados ou países distintos, e os
obstáculos a eventual demanda judicial ou extrajudicial visando assegurar o cumprimento dos termos
da obrigação.

Daí porque o dever de informar na Internet atende, em primeiro lugar, uma de suas finalidades
básicas no sistema de proteção do consumidor, que é justamente a prevenção de danos. 78 Da
mesma forma, permite a formação livre e racional do consumidor quanto às relações estabelecidas
por intermédio da Internet, permitindo a reflexão sobre suas restrições e riscos, ao assegurar a
eqüidade informacional das partes. 79

2.1.1 Dever de informar como instrumento de aproximação entre as partes nas relações
virtuais

É constantentemente afirmado pelos estudos sobre contratos o traço da despersonalização das


relações contratuais, 80 decorrentes da maior complexidade das relações sociais e econômicas e, em
última análise, também dos meios eletrônicos e telemáticos da celebração dos ajustes. 81 A rigor por
despersonalização caracteriza-se, antes de tudo, o distanciamento entre as partes das contratações
celebradas pela Internet. Neste contexto, a informação prestada ao destinatário dos serviços
oferecidos pela Internet passa a configurar o instrumento mais eficaz na aproximação dos parceiros
contratuais. Mediante a transmissão de informação entre as partes, ambas passam a observar uma
certa eqüidade informacional sobre os termos da relação jurídica estabelecida, aproximando-se,
mesmo no ambiente virtual.

Um dos aspectos essenciais desta aproximação das partes por intermédio de informações que criem
e protejam situações de confiança entre si, 82 estão as informações que estabeleçam conexões entre
os sujeitos da relação jurídica e o ambiente não-virtual, real, onde se podem localizar na
eventualidade de desacertos ou quaisquer outras dificuldades no completo êxito da relação
estabelecida pela Internet.

Assim se dá, por exemplo, no Direito europeu, em que um dos principais deveres dos prestadores de
serviço por intermédio da Internet constitui-se no dever de informar. Neste sentido o art. 4.º, da
Diretiva 2000/31/CE sobre comércio eletrônico, estabelece como dever dos prestadores de serviços
por intermédio da Internet, dentre outros, o de que facultem aos destinatários dos serviços e às
autoridades competentes, acesso fácil, direto e permanente, pelo menos, às seguintes informações:
o nome do prestador, endereço geográfico em que o prestador se encontra estabelecido, elementos
de informação relativos ao prestador de serviços, incluindo seu endereço eletrônico, que permitam
contatá-lo rapidamente e comunicar direta e efetivamente com ele; número de inscrição em registro
comercial ou público (quando for o caso), bem como, tratando-se de serviços submetidos à
autorização, os dados relativos a mesma.

No Direito brasileiro inexiste obrigação legal específica com mesmo conteúdo. Contudo, é de toda
razão considerar que tais informações podem ser consideradas como eficientes para o atendimento
ao direito à informação do consumidor previsto no art. 6.º, III, do CDC, bem como ao conceito de
adequação dos serviços prestados via Internet, segundo o significado de serviço adequado que
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emerge das normas do Código. Daí porque, embora não em sua totalidade, podem ser estabelecidas
por intermédio de regulamentação, com fundamento no art. 55 do CDC, ao menos em relação
àquelas atividades que estejam submetidas a poder regulamentar de proteção do consumidor. De
resto, são conhecidas iniciativas, de cunho parlamentar, que visando regular as relações
estabelecidas pela Internet, incorporam alguns dos deveres de informação presentes na diretiva
européia. 83

2.1.2 Dever de informar e contrato eletrônico celebrado pela internet

Dentre as características do comércio eletrônico podem ser sintetizadas a inexistência de contato


pessoal entre o consumidor e o fornecedor, assim como a dificuldade do consumidor aferir a
idoneidade e honestidade do fornecedor, a maior incerteza sobre o cumprimento da prestação
contratual pela outra parte, a dificuldade de localização geográfica das partes, assim como, muitas
vezes, de realizar prova idônea da existência e conteúdo do negócio celebrado entre as partes. 84

Como anota Cristina Pasqual, não há contrato sem manifestação de vontade que lhe dê origem.
Contudo, o exame do modo como se consubstancia, na atualidade, esta manifestação, é que se
altera, visando acompanhar a evolução social. 85 No caso da manifestação da vontade pela Internet,
a noção de proteção da confiança e de aproximação das partes originalmente distantes, mediante
comunicação por intermédio da rede de computadores, vincula-se ao cumprimento do dever de
informar, e especialmente quando se trate de relação de consumo, da satisfação do direito à
informação-esclarecimento do consumidor por ocasião da celebração do contrato.

O art. 10 da Diretiva 2000/31/CE estabelece em caráter complementar a outras informações já


constantes da legislação, em especial, em vista da proteção do consumidor, que sejam prestadas
pelo fornecedor do serviço, em relação à formação e eficácia do contrato celebrado por intermédio
da Internet, "em termos exatos, compreensíveis e inequívocos", a seguinte informação: "a) as
diferentes etapas técnicas da celebração do contrato; b) se o contrato celebrado será ou não
arquivado pelo prestador do serviço e se será acessível; c) os meios técnicos que permitem
identificar e corrigir os erros de introdução anteriores à ordem de encomenda; d) as línguas em que o
contrato pode ser celebrado." Ainda constam como deveres do prestador de serviço, que os termos
contratuais e as condições gerais contratuais sejam fornecidos ao destinatário de modo que seja
possível armazená-los e distribuí-los.

Tratam-se de informações que, tranpostas à realidade brasileira, servem para preencher o


significado do direito à informação do consumidor, assim como iluminam a interpretação do art. 31 do
CDC, no que diz respeito aos deveres específicos de informação a serem atendidos pelo fornecedor
por ocasião da oferta de consumo.

2.2 As espécies de tutela de usuários e terceiros-vítimas de danos causados por intermédio


da internet

O princípio da proteção da vítima é o corolário da responsabilidade civil na moderna sociedade de


consumo. Neste sentido, os instrumentos de direito material e as técnicas processuais de tutela
destes direitos devem adequar-se ao objetivo de efetiva reparação do dano. Isto é especialmente
relevante quando se trate de danos causados por intermédio da Internet, em que a fluidez dos
vínculos antecedentes de causalidade, assim como os óbices à correta identificação dos sujeitos das
relações estabelecidas e mantidas por intermédio da rede de computadores constituem desafios à
adequada tutela das vítimas. Daí porque o exame das principais hipóteses geradoras de danos
permite traçar um adequado panorama sobre a efetividade da proteção jurídica da pessoa nas
relações estabelecidas pela Internet.

2.2.1 Ofensa à personalidade

Observa-se, dentre os danos a que se dá causa pela Internet, as situações em que ocorre ofensa a
atributos da personalidade, em especial à integridade moral do indivíduo, pela violação da honra,
imagem ou privacidade da vítima. Tais situações são favorecidas no ambiente virtual,
fundamentalmente, em razão de alguns traços característicos, como: (a) a impressão de anonimato
gerado pela atuação despersonalizada e à distância; (b) a abrangência e velocidade da difusão da
informação; (c) a multiplicação da informação mediante sucessivas transmissões (correntes de
e-mails, por exemplo); (d) a ausência instrumentos de réplica ou resposta pela vítima (inefetividade
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do direito de resposta na Internet). Tais circunstâncias fazem com que a divulgação de informações
individuais verdadeiras ou falsas, que impliquem ofensa à personalidade, tenham na Internet um
ambiente fértil.

Neste sentido, a jurisprudência brasileira vem enfrentando situações em que concede indenização de
ofensas à personalidade pela Internet, em especial no tocante à divulgação de informações
ofensivas por intermédio dos denominados sites de relacionamento, e indicando para a aptidão da
rede de computadores para perpetuar o dano à personalidade causado às pessoas. 86

2.2.2 Comércio eletrônico e defesa do consumidor nas hipóteses de descumprimento


contratual

No tocante ao comércio eletrônico de consumo, pela Internet, a situação de maior vulnerabilidade do


consumidor em relação ao fornecedor se estabelece em vista da resolução do contrato,
especialmente pelo exercício do direito de arrependimento (art. 49 do CDC) ou de descumprimento
contratual (de modo mais comum, por vício do produto ou do serviço, arts. 18 e 20 do CDC, ou por
descumprimento da oferta, art. 35 do CDC). Esta situação de vulnerabilidade agravada decorre do
fato da distância entre os contratantes e a necessidade de providências do fornecedor visando
assegurar efetividade ao direito de extinguir o contrato, como é o caso de assegurar condições para
a devolução do produto, a suspensão do débito do consumidor, correção do vício do produto ou do
serviço, ou a devolução de valores pagos. Nas situações em que a resolução do contrato implique na
devolução de produto, aliás, é correto, em vista do princípio da efetividade do direito do consumidor,
87
que a negativa do fornecedor em responder pelas providências de reenvio, quando cabível,
implique caracterizar tal conduta como descumprimento contratual.

Em relação a tais circunstâncias, a técnica para adequada proteção dos consumidores vem sendo a
de assegurar, via imposição de dever aos fornecedores, que se disponham a atuar na Internet, de
informações que permitam ao consumidor a localização do fornecedor como modo de garantir o
adimplemento destas obrigações. No Direito europeu, como já mencionado, dos deveres específicos
de informação previstos no art. 4.º da Diretiva 2000/31/CE, sobre comércio eletrônico, exige-se que
esteja disponível para o consumidor os dados relativos ao nome e à localização geográfica do
fornecedor, bem como suas informações de contato.

Da mesma forma, neste particular, note-se que pela regra de competência do juízo prevista no
Código de Defesa do Consumidor, independente da localização do fornecedor, a competência do
juízo para demandar em vista de descumprimento de deveres pelo fornecedor, será a do domicílio do
consumidor (art. 101, I, do CDC).

2.2.3 Provedores que atuam na intermediação de negócios e fraude ao consumidor

Outra situação peculiar diz respeito aos provedores de Internet que atuam como sites de
intermediação negócios relativos a produtos e serviços, realizando atividade de aproximação de
interessados na realização de negócios pela rede de computadores. Neste caso, discute-se, em
resumo, se é cabível na hipótese, a responsabilidade do provedor de intermediação que, não sendo
o titular do domínio sobre o objeto do contrato - no mais das vezes uma compra e venda de consumo
-, atuou no sentido de aproximar os interessados no negócio, sendo remunerado por percentual do
valor do negócio, taxas de utilização do serviço ou por recursos decorrentes da publicidade veiculada
no site. Ou ainda se descabe responsabilização do provedor, uma vez que nestas hipóteses, restaria
equiparado a um caderno de classificados de periódico. 88 É preciso dizer que o provedor, via de
regra, não tem o domínio sobre o objeto do contrato, mas aproxima mediante prévio cadastro, os
interessados na celebração de contratos pela Internet. Daí porque convém observar: quais os
deveres do site de intermediação nesta situação.

Sendo atividade de aproximação de interessados no negócio, pode qualificar-se como espécie de


serviço de que trata o art. 3.º, § 2.º, do CDC Da mesma forma, é remunerado, direta ou
indiretamente, por intermédio de contraprestação das partes ou da comercialização de espaços de
publicidade no site. Daí poder indicar-se como espécie de relação de consumo, e as vítimas de
eventuais fraudes por intermédio do site, fazerem jus ao regime de responsabilidade por fato do
serviço previsto no art. 14 do CDC. Há pois, de parte dos provedores que intermediam negócios, o
dever de segurança em relação ao serviço que prestam. Contudo, isto estende o dever de segurança
aos serviços que presta o próprio provedor. É demasiado sustentar que respondem de modo integral
pelo descumprimento contratual ou fraude de terceiro. O que nestas situações é exigível do site de
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intermediação, em atendimento ao seu dever de segurança, é a posse de informações sobre a
identidade de quem atua por seu intermédio, ou ainda quando se disponha a atestar o cumprimento
de determinada providência pela outra parte 89 - hipóteses em que a falta destas informações ou de
sua correção, implicam violação de dever pelo fornecedor que explora o serviço.

É correto afirmar, assim, que a responsabilidade dos provedores que atuam na intermediação de
negócios decorre, em se tratando de contratos de consumo, da violação de um dever de segurança,
ou seja, existirá responsabilidade quando deixarem de observar deveres de registro, segurança de
rede ou outros que impliquem em facilitação de fraudes a consumidores por parte de terceiros.

2.3 A questão do nexo de causalidade na internet

A identificação e precisão do nexo de causalidade é, em nosso sistema, uma das questões mais
relevantes e complexas da responsabilidade civil. 90 Neste sentido, no Direito brasileiro, destaca-se
entre uma série de teorias que buscam explicar a relação lógica de causalidade entre a conduta e o
surgimento de um dano indenizável, a teoria denominada causalidade adequada, cujo
desenvolvimento goza de grande prestígio na doutrina e jurisprudência. A questão que se coloca é
como chegar-se ao juízo de adequação da causa para o dano. Dita teoria, bastante prestigiada entre
nós, é criticada justamente por conferir ao juiz, por um lado, um excessivo grau de discricionariedade
no exame da relação causal e eleição da causa que considere mais adequada. Por outro lado,
sustenta-se o caráter superficial da constatação de que a teoria reclama um juízo de probabilidade
sobre fatos em abstrato, como se, na realidade da vida estes já não tivessem ocorrido e, logo, o
exame judicial não tenha de ser in concreto.

Em caráter complementar aos pressupostos consagrados pela teoria da causalidade adequada,


desenvolve-se entre nós uma terceira teoria, a denominada teoria do dano direto ou imediato, e
também conhecida como teoria da interrupção do nexo causal. Esta teoria logrou êxito exatamente
ao propor que as expressões "direto" e "imediato", propugnadas na legislação, fossem interpretadas
em conjunto a partir da idéia de necessariedade, o que impôs a conclusão de que o agente apenas
responderia pelas conseqüências necessariamente advindas da sua conduta. 91

No caso da responsabilidade civil por danos causados pela Internet, a causa, em regra é sempre a
conduta do autor primário, razão pela qual este sempre será considerado responsável perante a
vítima. Assim é com quem escreve um texto e o divulga pela Internet, ou que realize quaisquer
outras manifestações pela Internet que violem a personalidade da vítima. E nesta mesma linha de
entendimento, será responsável quem divulgue ou amplie a extensão dos danos causados em face
de uma conduta sucessiva a do autor originário, que amplifique o conhecimento do ato gerador do
dano. Pense-se em quem, tendo acesso a uma mensagem ou a conteúdo que caracterize um ilícito,
contribui para sua divulgação, disponibilize em sites ou simplesmente encaminhe a uma série de
outros destinatários via e-mail. Neste caso, tem-se situação de quem, ao ampliar a extensão do
dano, torna-se por isso co-responsável para efeito de imputação do dever de indenizar.

Da mesma forma quem tendo recebido dados em caráter reservado ou sigiloso, não logra êxito na
preservação da reserva destas informações em relação ao conhecimento de terceiros. Neste sentido,
parece ser correto considerar que responderá quem por conduta própria não guardar sigilo das
informações, e as divulgar ou utilizar para outro fim, sendo, portanto, o autor de um ato ilícito. E da
mesma forma, aquele que não tendo violado por ato próprio o dever de sigilo, permite que o façam
terceiros, conduta em razão da qual resulta lesado o direito do titular das informações, assim como
de todos aqueles que tinham interesses legítimos na manutenção da legislação nestas condições. Já
mencionamos o caso dos sites de relacionamento, no âmbito do qual se dá a publicação de um perfil
falso, de fotografias de pessoas que não autorizaram sua divulgação, ou ainda por se tratarem de
informações incorretas ou ofensivas. Neste caso, o nexo de causalidade pode ser determinado em
vista do raciocínio de que não teria havido a publicação se não existisse a oportunidade de ser
publicada sem maiores controles por parte de quem organiza e mantém o site de relacionamento.
Daí porque, se o próprio site de relacionamento não tivesse sido criado pela empresa que o
promove, em os controles que evitassem estes a possibilidade destes danos, tal resultado não teria
ocorrido. A mesma conclusão resulta do exame da atuação de todos os que se dispõem à divulgação
de informações pela Internet, como é o caso da imprensa. 92

Em relação aos provedores de Internet, contudo, não se pode desconsiderar argumento de relevo,
com sensível apelo no direito comparado, de que se equiparam, no que se refere às atividades de
transmissão ou divulgação de conteúdo produzido por terceiros, às companhias telefônicas em
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relação aos serviços de telefonia. 93 Neste sentido, embora responsáveis pelo serviço, não o seriam
pelos atos que terceiros realizariam fazendo uso deste serviço.

Ocorre que, considerando a hipótese excludente de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, 94


necessário será definir com precisão seu alcance conceitual, sobretudo em vista de sua
interpretação restritiva em vista do princípio de proteção do consumidor. 95 A rigor, no direito do
consumidor, não se consideram terceiros os membros da cadeia de fornecimento. De igual modo, o
mero fato do ilícito praticado, e que veio a gerar danos, ter sido causado por terceiro, não há de se
tratar como excludente a hipótese em que a oportunidade para o cometimento do ilícito gerador do
dano se dá em razão do não atendimento de condições de segurança pelo fornecedor. Assim por
exemplo, a situação gerada pela invasão de um hacker que retira indevidamente valores da conta
corrente do consumidor por intermédio da Internet. Neste caso, o ilícito é de terceiro, mas o risco do
negócio, e o não atendimento do dever de segurança que configura o defeito, implicam a imputação
de responsabilidade à instituição bancária que mantém o serviço de home banking pela Internet. 96

2.4 Responsabilidade solidária e danos causados pela internet

A consideração de que múltiplas condutas contribuam não apenas para a realização do ato ilícito,
mas sobretudo para ampliar a extensão de seus efeitos danosos à vítima, quando causados pela
Internet, ensejam o adequado exame acerca da responsabilidade solidária entre os causadores do
ilícito. Nosso sistema observa que respondem solidariamente todos os que tenham cometido o ilícito.
Esta solidariedade, de resto, está afirmada no art. 14 do CDC. Esta regra é particularmente
importante quando são múltiplas as condutas que determinam o ilícito. Contudo, em se tratando das
características da Internet, nem sempre é possível identificar a sucessão de atos e sua exata
extensão para efeito da determinação da responsabilidade cabível.

Nessas situações, em que não é possível precisar a conduta determinante do ilícito, desenvolveu-se
em nosso sistema a denominada causalidade alternativa, com a finalidade exata de resolver o
problema da dificuldade da demonstração de quem tenha sido o agente causador do dano, quando
este tenha sido causado por pessoa incerta pertencente a um determinado grupo. 97 No dizer de
Pontes de Miranda, "trata-se de causalidade alternativa quando o dano pode ter sido causado e o foi,
pelo ato de A ou B, sem se poder determinar com certeza qual dos dois o causou". 98 Estendem-se,
pois, as causas possíveis aos vários membros do grupo, que a partir disso só poderão se desonerar
da responsabilidade se afastarem expressamente o nexo causal.

No caso da responsabilidade por danos causados pela Internet, a par das situações em que se
apliquem as regras do Código de Defesa do Consumidor que expressamente consagra a teoria e a
solidariedade da cadeia de fornecimento ( caput do art. 14, CDC), a causalidade alternativa tem
utilidade quando não for possível identificar quais sejam todos os membros de um grupo, assim
também quando não for possível demonstrar tecnicamente a presença de todos na cadeia causal, 99
hipótese em que a adoção da teoria da causalidade alternativa permite a inversão do ônus da prova
para que incumba ao suposto ofensor a demonstração de que não atuou ilicitamente, não tendo,
assim, contribuído com os danos causados à vítima.

Em relação aos provedores de Internet, note-se que divergência há entre os que indicam-lhe a
condição de responsáveis (com fundamento na causalidade alternativa, no risco da atividade
desenvolvida, ou na violação de um dever de vigilância) e aqueles que os compreendem como
meros transmissores ou repassadores de informações de terceiros, cujo conteúdo não se deve
imputar responsabilidade em face da ausência de violação de um dever legal.

Ao se considerar a hipótese de responsabilidade solidária dos diversos autores do dano, esta há de


atingir, igualmente, quem tenha contribuído para a maior extensão dos danos, como no caso de
quem, tendo tido acesso, via Internet, a informações cujo conteúdo ou o modo de obtenção
caracterizem uma ilicitude, tenham repassado ao conhecimento de outras pessoas, quando esta
atitude não estiver protegida por outro interesse de maior relevo (como por exemplo, quem divulga
as informações para órgãos públicos, visando a apuração do ilícito).

3. Considerações finais - Bibliografia

A responsabilidade por danos causados pela Internet assim como a adequada regulação jurídica das
relações por ela estabelecidas, acompanha as inquietudes e desafios que o fenômeno informático
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segue a dar causa para o Direito. Isto não significa, contudo, a necessidade da montagem de um
novo arcabouço de soluções normativas que visem contemplar especialmente a Internet. Ao
contrário, trata-se de um desafio mais complexo do que simplesmente a inovação legislativa, que é
justamente o de determinar a interpretação e aplicação do arcabouço normativo concebido para as
relações da vida anteriores ao advento da Internet, para as realidades por esta criadas. Neste
sentido ocorre especialmente em relação às normas de proteção do consumidor, cuja aplicação no
ambiente da Internet guarda correspondência com as relações de consumo estabelecidas no
mercado, devendo ser observada inclusive maior nível de proteção, em face da vulnerabilidade
agravada dos consumidores em relação às inovações tecnológicas da informática de um modo geral.

Isso implica em reconhecer, por um lado, como identificar na Internet, as condições para
determinação e eficácia da responsabilidade civil por danos, em especial pela proteção dos
vulneráveis. Este não é, pois, um problema de interpretação dos mais severos. A questão principal, e
de maior complexidade, é a determinação dos vínculos de causalidade e, deste modo, a extensão da
responsabilidade e determinação de quais os sujeitos responsáveis pelos danos decorrentes.

Daí se observa que, na Internet, não se revela suficiente a identificação do autor do ato ilícito
originário que dá causa a danos que ensejam a responsabilidade por indenização. Apresenta enorme
importância o exame da série de condutas determinantes para que este ato ilícito produza os danos
verificados. A facilidade e velocidade da comunicação na Internet, permite que um número
significativo de condutas ampliem, em pouco tempo, os danos decorrentes de um ato ilícito. Isto
significa a reprodução da ilicitude ou a realização de tantos atos ilícitos quantos forem as condutas
que importem na ampliação dos seus efeitos, mas sobretudo, significa a determinação da
solidariedade no que diz respeito à responsabilidade de todos os que tenham contribuído para o
maior efeito danoso do ilícito.

Destaque-se, por fim, que em matéria de responsabilidade por danos causados pela Internet, a
jurisprudência assume papel de destaque, em especial se for considerada a riqueza dos fatos que se
apresentam nesta matéria.

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ZWEIGERT, Konrad; KöTZ, Hein. INTRODUCCIÓN AL DERECHO COMPARADO. Trad. Arturo


Aparício Vazquez. México: Oxford University Press, 2002.

1. O presente artigo consolida as exposições realizadas pelo autor, nos painéis "Responsabilidade
civil dos provedores de Internet", realizado por ocasião do IX Congresso Brasileiro de Direito do
Consumidor, promovido pelo Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor - Brasilcon, em
junho de 2008, em Brasília/DF; e "Proteção do consumidor no comércio eletrônico", no I Seminário
Internacional de Direito do Consumidor, organizado pelo Instituto dos Advogados Brasileiros - IAB,
em setembro de 2008, no Rio de Janeiro/RJ.

2. A respeito das características da sociedade de consumo e seus reflexos para o direito veja-se o
meu: MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor. São Paulo: Ed. RT, 2008, p. 23.

3. CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura - a sociedade em rede.


3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000, vol. 1, p. 38-41.

4. A rigor esta é uma questão que está longe de se apresentar exclusivamente em relação à
regulação jurídica da Internet. A preocupação com a atualização da norma, por intermédio da
interpretação é central na ciência do Direito. Trata-se de uma tensão entre o caráter estático da
norma jurídica e o traço dinâmico e de permanente mudança que caracteriza as relações sociais.
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RESPONSABILIDADE POR DANOS NA SOCIEDADE DE
INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

Sobre o tema, já mencionava entre nós o Prof. Vicente Ráo, para quem "o direito assim considerado,
não permanece aprisionado na letra da lei, nem no espírito que, em dado momento social, lhe ditou
sua formulação em normas positivas. Seu significado, ao contrário, se transforma, como se
transformam as situações de fato que visa disciplinar. Esse método não despreza a norma
considerada em si mesma, nem conclui contra o seu preceito; baseia-se, ao contrário, na
observância da lei, mas da lei adaptada às necessidades práticas atuais". RÁO, Vicente. O direito e a
vida dos direitos. São Paulo: Ed. RT, 1997, vol. 1, p. 509. No mesmo sentido, ensinam:
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e interpretação do direito. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1999, p. 47 et seq; e CASTANHEIRA NEVES, Antônio. Digesta. Escritos acerca do direito, do
pensamento jurídico, da sua metodologia e outros. Coimbra: Coimbra Ed., 1995, vol. 2, p. 347 et seq.

5. Sobre o tema, veja-se o nosso: MIRAGEM, Bruno. O conceito de domicílio e sua repercussão às
relações jurídicas eletrônicas. RDPriv 19/10 (DTR\2004\900)-45. São Paulo: Ed. RT, jul.-set. 2004.

6. Veja-se: FERREIRA, Ivete Senise. Direito penal da informática. Revista da Pós-Graduação da


Faculidade de Direito da USP 4. Porto Alegre: Síntese, 2002, p. 9 et seq.

7. Para um exame profundo dos traços fundamentais da sociedade de consumo contemporânea,


remeto à coletânea de estudos de BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo. A transformação das
pessoas em mercadoria. RIO de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

8. THIEFFRY, Patrick. Commerce électronique. Droit international et européen. Paris: Éditions Litec,
2002, p. 2.

9. STIGLITZ, Gabriel. Responsabilidad civil por daños derivados de la informática. In: TRIGO
REPRESAS, Félix (org.). RESPONSABILIDAD CIVIL. DOCTRINAS ESENCIALES. Buenos Aires: La
Ley, 2006, t. VI, p. 47-57.

10. A mais conhecida dessas iniciativas é a denominada Lei Modelo da Uncitral. Elaborada por
técnicos da United Nations Comission on International Trade Law (Uncitral), conforme expresso em
seu art. 1.º, pretende regular "qualquer tipo de informação na forma digital usada no contexto de
atividades comerciais". Seguindo a característica própria das denominadas Leis-Modelo, teve por
finalidade oferecer uma espécie de norma que permita, quando de sua adoção pelo direito interno
das nações, o estabelecimento de um direito uniforme pelos países, em relação à matéria de alto
grau de internacionalização.

11. Nesse caso, destaca-se o General Usage for International Digitally Ensured Commerce,
elaborado pela Câmara Internacional de Comércio, pelo qual se procurou estabelecer a adoção de
definições gerais e aspectos distintivos das contratações por meio eletrônico, em um esforço de
aproximação entre os diversos ordenamentos jurídicos nacionais.

12. Conforme José Carlos Magalhães, o relevo contemporâneo do conceito de lex mercatoria diz
respeito a regras costumeiras adotadas nos negócios internacionais em cada área do comércio,
aprovadas e observadas com regularidade. MAGALHÃES, José Carlos. Lex mercatoria. Evolução e
posição atual. RT 709/43. São Paulo: Ed. RT, nov. 1994. Segundo aponta Thieffry, a lex mercatória
abrange princípios e regras os quais, dado seu grau de generalidade e aceitação no comércio
internacional, são aplicáveis a todos os tipos de comércio, inclusive ao comércio eletrônico.
Compõe-se de certas regras básicas, amplamente difundidas, como o princípio do pacta sunt
servanda e da boa-fé. Ao mesmo tempo, tem sua aplicação decorrente de três principais
instrumentos, quais sejam: mecanismos de arbitragem internacional, aplicação pelos tribunais e
designação convencional pelas partes. THIEFFRY, Patrick. Commerce électronique... cit., p.
153-155.

13. LORENZETTI, Ricardo Luis. COMERCIO ELECTRÓNICO. Buenos Aires: Abeledo Perrot, p. 38.

14. No mesmo sentido veja-se: JAYME, Erik. O direito internacional privado do novo milênio: a
proteção da pessoa humana face à globalização. Cadernos do Programa de Pós-Graduação em
Direito da UFRGS. Trad. Claudia Lima Marques. Porto Alegre: UFRGS, 2003, p. 135.

15. Sobre o tema da responsabilidade por acidentes de consumo na Internet, veja-se o excelente
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RESPONSABILIDADE POR DANOS NA SOCIEDADE DE
INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

estudo de: MARTINS, Guilherme Magalhães. Responsabilidade civil por acidentes de consumo na
Internet. São Paulo: Ed. RT, 2008, p. 43 et seq.

16. Neste sentido veja-se a lição de Roberto Silva da Rocha, distinguindo os contratos celebrados
pela Internet entre contratos parcialmente eletrônicos, nos quais a comercialização do produto ou
serviço a ser prestado fora de Internet é realizado por intermédio da rede de computadores, e os
contratos puramente eletrônicos, nos quais os produtos e serviços tratam-se de bens ou prestações
imateriais a serem realizadas por intermédio da Internet. ROCHA, Roberto Silva da. Natureza jurídica
dos contratos celebrados com sites de intermediação no comércio eletrônico. >RDC 61/239
(DTR\2007\68) . São Paulo: Ed. RT, jan.-mar. 2007.

17. MARQUES, Claudia Lima. Confiança no comércio eletrônico e a proteção do consumidor. Um


estudo dos negócios jurídicos de consumo no comércio eletrônico. São Paulo: Ed. RT, 2004, p. 71.

18. MARQUES, Claudia Lima. Confiança no comércio eletrônico... cit., p. 96-97.

19. Neste sentido ensina, no direito brasileiro: MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e
tutela dos direitos. São Paulo: Ed. RT, 2002, p. 145 et seq.

20. Neste sentido, veja-se: GALDÓS, Jorge Mario. RESPONSABILIDAD CIVIL DE LOS
PROVEEDORES DE SERVICIOS EN INTERNET. In: TRIGO REPRESAS, Félix A. (org.).
RESPONSABILIDAD CIVIL. DOCTRINAS ESENCIALES. Buenos Aires: La Ley, 2007, t. VI, p. 69.

21. MARTINS, Guilherme Magalhães. Responsabilidade civil por acidentes de consumo... cit., p. 281.

22. MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor... cit., p. 92 et seq.

23. Preservando-se, naturalmente, a possibilidade de reconhecer-se a partir do exame do caso


concreto, situação de remuneração indireta do fornecedor, pela exploração comercial de publicidade,
por exemplo, que pode conduzir à caracterização da relação de consumo e aplicação do Código de
Defesa do Consumidor.

24. Em relação à Lei de Imprensa, tramita no STF a ADPF 130/DF, que teve liminar concedida pelo
rel. Min. Carlos Ayres Britto, para suspender a eficácia de 20 dos 77 artigos da lei, dentre os quais os
que regulam a responsabilidade subjetiva dos profissionais jornalistas e das empresas de
comunicação social (arts. 51 e 52). Veja-se: STF, MC na ADPF 130/DF, j. 27.02.2008, rel. Min.
Carlos Ayres Britto. DJ 07.11.2008. E para extensão temporal dos efeitos da liminar concedida por
ocasião da medida cautelar: STF, QO na ADPF 130/DF, j. 04.09.2008, rel. Min. Carlos Ayres Britto,
DJ 07.11.2008.

25. Mercado de consumo, conforme já referi, entendido como "o espaço ideal e não-institucional,
onde se desenvolvem as atividades de troca de produtos e serviços avaliáveis economicamente,
mediante oferta irrestrita aos interessados e visando por um lado, a obtenção de vantagens
econômicas (por parte dos fornecedores), e por outro a satisfação de necessidades pela aquisição
ou utilização destes produtos e serviços (por parte dos consumidores). Trata-se de um espaço
não-institucional em face de seu caráter não-formal e independente de estrutura pré-determinada (o
ser). Neste sentido, cabe ao direito (o dever-ser) ordenar, regular o mercado de consumo, fixando
objetivos, limites ou proibições". MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor... cit., p. 94.

26. GALDÓS, Jorge Mario. Responsabilidad civil de los proveedores... cit., p. 69-93.

27. "Direito do consumidor e responsabilidade civil. Recurso especial. Indenização. Art. 159 do
CC/1916 e arts. 6.º, VI, e 14 do CDC. Deficiência na fundamentação. Súmula 284 do STF. Provedor
da Internet. Divulgação de matéria não autorizada. Responsabilidade da empresa prestadora de
serviço. Relação de consumo. Remuneração indireta. Danos morais. Quantum razoável. Valor
mantido. 1. Não tendo a recorrente explicitado de que forma o venerando acórdão recorrido teria
violado determinados dispositivos legais (art. 159 do CC/1916 e arts. 6.º, VI, e 14 do CDC), não se
conhece do recurso especial, neste aspecto, porquanto deficiente a sua fundamentação. Incidência
da Súmula 284 do STF. 2. Inexiste violação ao art. 3.º, § 2.º, do CDC, porquanto, para a
caracterização da relação de consumo, o serviço pode ser prestado pelo fornecedor mediante
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RESPONSABILIDADE POR DANOS NA SOCIEDADE DE
INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

remuneração obtida de forma indireta. 3. Quanto ao dissídio jurisprudencial, consideradas as


peculiaridades do caso em questão, quais sejam, psicóloga, funcionária de empresa comercial de
porte, inserida, equivocadamente e sem sua autorização, em site de encontros na Internet,
pertencente à empresa-recorrente, como 'pessoa que se propõe a participar de programas de caráter
afetivo e sexual', inclusive com indicação de seu nome completo e número de telefone do trabalho, o
valor fixado pelo Tribunal a quo a título de danos morais mostra-se razoável, limitando-se à
compensação do sofrimento advindo do evento danoso. Valor indenizatório mantido em 200
(duzentos) salários mínimos, passível de correção monetária a contar desta data. 4. Recurso não
conhecido." (STJ, REsp 566.468/RJ (JRP\2004\3484) , j. 23.11.2004, rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ
17.12.2004, p. 561)

28. "Ação declaratória de rescisão contratual. Devolução de quantias e indenização por danos
morais. Provedor de Internet. Cancelamento dos serviços por indisponibilidade da Internet.
Cobranças indevidas comprovadas. Inúmeras tentativas de solucionar o problema. Transtornos que
excedem a condição de mero dissabor. Danos morais indenizáveis. Valor da indenização
corretamente arbitrado. 1. Tendo restado evidenciado, com a exibição dos extratos de conta corrente
do autor determinada pelo juízo (fls.), que persistiram as cobranças indevidas de maio a agosto de
2006, não há como acolher a alegação da recorrente, com base em dados unilaterais de seu sistema
de que teria suspendido e depois cancelado a cobrança dos débitos. 2. A cobrança indevida, feita
mediante débito em conta corrente, autoriza o pedido de repetição do indébito em dobro, em
conformidade ao disposto no art. 42, parágrafo único, do CDC (Lei 8.078/1990), não merecendo
reparo nesse ponto a sentença. 3. Tampouco há como afastar a condenação ao pagamento da
indenização por danos morais, eis que as inúmeras tentativas de cancelamento dos serviços, aliada
à cobrança indevida por serviços não prestados, constituindo-se, assim, em transtornos que
excedem a condição de mero dissabor do cotidiano, ensejando a indenização por danos morais, por
violar a dignidade do consumidor. 4. O valor da indenização, fixado em R$ 2.050,00, por guardar
compatibilidade com os postulados da proporcionalidade e da razoabilidade, não merece qualquer
redução. Sentença confirmada por seus próprios fundamentos. Recurso improvido." (TJRS, Recurso
Cível 71001598432 (JRP\2008\5699) , 1.ª T. Recursal Cível, rel. Des. Ricardo Torres Hermann, j.
15.05.2008, DJ 15.05.2008); "Consumidor. Internet banda larga ADSL e provedor BR Turbo. Oferta
de reembolso do valor referente à taxa de instalação do serviço de provedor 'BR Turbo'. Alegação de
cobrança indevida. Ausência de substrato probatório capaz de amparar a pretensão do autor. Dano
moral não configurado. I. Consumidor que alega ter contratado o serviço do provedor 'Br Turbo' sob a
promessa de reembolso do valor referente à taxa de instalação (R$ 64,90), em decorrência da
contratação (provavelmente concomitante) de outro provedor para o mesmo serviço ('Terra'). Autor
que não se desincumbiu a contento do ônus de provar os fatos constitutivos do seu direito. Ausência
de qualquer indício (salvo indicações de protocolos de atendimento telefônico) capaz de amparar a
versão do autor, e que não guarda carga de verossimilhança por si só, o que leva, inevitavelmente, à
improcedência do pedido. II. Não caracterizado ilícito na conduta da ré, inexiste direito à reparação
de suposto dano moral por tratamento inadequado ao consumidor. Sentença mantida pelos próprios
fundamentos. Recurso desprovido. Maioria." (TJRS, Recurso Cível 71001592260, 1.ª T. Recursal
Cível, rel. Des. João Pedro Cavalli Junior, j. 15.05.2008, DJ 21.05.2008)

29. Ação de indenização. Dano moral. Internet. Anúncio de serviços sexuais. Legitimidade ativa.
Legitimidade passiva. Responsabilidade solidária. Lei de Imprensa. Aplicação. Caracteriza-se como
dano moral o anúncio de cunho sexual divulgado em página da Internet, respondendo,
solidariamente, todas as partes envolvidas, tanto o titular do portal quanto do endereço eletrônico.
Havendo menção do nome do autor com o número de seu telefone comercial, sem possibilidade de
identificação de homônimo, caracteriza-se a legitimidade ativa. Por analogia, aplicam-se as
disposições da Lei de Imprensa à falta de legislação específica a regular a matéria, ainda mais em
face da natureza das atividades desenvolvidas. Agravo retido não provido, preliminares rejeitadas e
apelações não providas (TJMG, ApCiv 1.0145.03.062723-9/001, j. 22.05.2007, rel. Des. Alberto
Aluízio Pacheco de Andrade, DJ 12.06.2007)

30. Sobre o tema, veja-se o meu: MIRAGEM, Bruno. Responsabilidade civil da imprensa por dano a
honra. O novo Código Civil e a Lei de Imprensa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 128.

31. Neste sentido veja-se: ZWEIGERT, Konrad; KöTZ, Hein. INTRODUCCIÓN AL DERECHO
COMPARADO. Trad. Arturo Aparício Vazquez. México: Oxford University Press, 2002, p. 689 et seq.

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RESPONSABILIDADE POR DANOS NA SOCIEDADE DE
INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

32. Sobre o tema, veja-se: MIRAGEM, Bruno. Abuso do direito. Proteção da confiança e limite ao
exercício das prerrogativas jurídicas no direito privado brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p.
99 et seq.

33. ANTUNES VARELA, João de Matos. Das obrigações em geral. 10. ed. Coimbra: Almedina, 2000,
vol. 1, p. 526.

34. JORGE, Fernando Pessoa. Ensaio sobre os pressupostos da responsabilidade civil. Coimbra:
Almedina, 1999, p. 55-56.

35. AGUIAR DIAS, José de. Da responsabilidade civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979, vol. 1, p.
139.

36. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 35.

37. JORGE, Fernando Pessoa. Ensaio sobre os pressupostos da responsabilidade civil... cit., p. 373.

38. MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor... cit., p. 273-274.

39. "Reparação de danos morais. Criação de perfil falso em site de relacionamentos na Internet.
'Orkut'. Conteúdo ofensivo à honra e à imagem. Provedor que, interpelado pelo usuário sobre a
fraude, nada promove para excluir a conta falsa nem fazer cessar a veiculação do perfil. Negligência
configurada. Dever de reparar os danos morais a que deu causa, por permitir a perpetuação da
ofensa e o agravamento da lesão à personalidade do autor. Não se olvida que o requerido é um
provedor de serviços da Internet, funcionando como mero hospedeiro das informações postadas
pelos usuários. Assim, dele não é razoavelmente exigível que promova uma censura preventiva do
conteúdo das páginas de Internet criadas pelos próprios internautas, notadamente porque seria difícil
definir os critérios para determinar quando uma determinada publicação possui cunho
potencialmente ofensivo. O monitoramento prévio de informações, portanto, é inexigível. Em que
pese isso, o provedor tem o dever de fazer cessar a ofensa, tão-logo seja provocado a tanto, em
razão de abusos concretamente demonstrados. No caso dos autos, mesmo tendo sido interpelado
da ocorrência da fraude, o réu quedou-se inerte, nada tendo promovido por cerca de um mês.
Permitiu fossem perpetradas, a cada dia, novas ofensas à honra e a imagem do autor, agravando
ainda mais a lesão à sua personalidade. Foi negligente. Agindo com culpa, praticou ato ilícito,
devendo responder perante o autor pela reparação dos danos causados. Dano moral configurado,
ante a violação do direito fundamental à honra e à imagem (art. 5.º, X, da CF), possibilitada a
perpetuação dessa ofensa e o agravamento da lesão, por ato omissivo da ré. Recurso parcialmente
provido."(TJRS, Recurso Cível 71001373646, 3.ª T. Recursal Cível, j. 16.10.2007, rel. Des. Eugênio
Facchini Neto, DJ 22.10.2007). No mesmo sentido: TJRS, Recurso Cível 71001408160, 3.ª T.
Recursal Cível, j. 26.02.2008, rel. Des. Carlos Eduardo Richinitti, DJ 04.03.2008).

40. CALDERÓN, Maximiliano Rafael; HIRUELA, María del Pilar. Daño informático y derechos
personalíssimos. In: GHERSI, Carlos Alberto (coord.). Derecho de daños. Buenos Aires: Abeledo
Perrot, 1999, p. 367.

41. MARTINS, Guilherme Magalhães. Responsabilidade civil por acidentes de consumo... cit., p.
56-57.

42. "Indenização. Dano moral. Transações feitas pela Internet. Obrigação da instituição Financeira
em oferecer segurança. A obrigação de ofertar segurança às operações realizadas através da
Internet não é do correntista, e sim da instituição financeira; A instituição bancária é responsável,
objetivamente, pelos danos causados aos seus correntistas pelos serviços por ela prestados;
Verificado o evento danoso, surge a necessidade da reparação, não havendo que se cogitar da
prova do prejuízo, quando presentes os pressupostos legais para que haja a responsabilidade civil."
(TJMG, ApCiv 1.0024.06.215178-2/001, j. 29.11.2007, rel. Des. Mota Silva, DJ 18.12.2007)

43. Neste sentido, vejam-se os casos invocados por: LEONARDI, Marcel. Responsabilidade dos
provedores de serviços de Internet por atos de terceiros. In: SILVA, Regina Beatriz Tavares da;
SANTOS, Manoel Jorge Pereira (orgs.). Responsabilidade civil na Internet e nos demais meios de
comunicação. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 172.
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RESPONSABILIDADE POR DANOS NA SOCIEDADE DE
INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

44. MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor... cit., p. 283.

45. MACHADO, João Baptista. Lições de direito intetrnacional privado. 4. ed. Coimbra: Almedina,
1990, p. 57.

46. DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado. Parte geral. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar,
1997, p. 261.

47. Idem, ibidem.

48. CASTRO, Amílcar de. Direito internacional privado. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p.
185-196.

49. DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado... cit., p. 262.

50. VALADÃO, Haroldo. Direito internacional privado. 5.º ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1980,
vol. 1.

51. Sobre o tema, veja-se: RODAS, João Grandino. Direito internacional privado brasileiro. São
Paulo: Ed. RT, 1993, p. 29-53.

52. DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado... cit., p. 298. Em que pese, a lei não ter
consagrado expressamente a regra da lex loci delicti comissi, esta é reconhecida doutrinariamente,
através da interpretação do elemento lugar de constituição da obrigação, consignado no art. 9.º da
LICC. Neste sentido: RECHSTEINER, Beat Walter. Direito internacional privado. Teoria e prática.
São Paulo: Saraiva, 2003, p. 133.

53. Sobre os fundamentos básicos da distinção entre as espécies de obrigação, veja-se: TUNC,
André . La responsabilité civile. 2. ed. Paris: Economica, 1989, 32-46.

54. MACHADO, João Baptista. Lições de direito internacional privado... cit., p. 367.

55. Idem, ibidem.

56. MARQUES, Claudia Lima. Novos rumos do direito internacional privado quanto às obrigações
resultantes de atos ilícitos. >RT 629/74-75 (DTR\1988\53). São Paulo: Ed. RT, mar. 1988.

57. Essa regra também será defendida por parte da doutrina para outros elementos da
responsabilidade, como a hipótese de a indenização a ser concedida no Brasil, por intermédio da
aplicação da lei estrangeira, não poder ser inferior à reconhecida pela aplicação da lei brasileira.
STRENGER. Direito internacional privado, p. 701-703.

58. MACHADO, João Baptista. Lições de direito internacional privado, p. 369.

59. Idem, p. 370.

60. Sobre o tema, vejam-se, em matéria de violação da privacidade por intermédio da informática, as
reflexões pioneiras de: KAYSER, Pierre. LA PROTECTION DE LA VIE PRIVÉE PAR LE DROIT.
PROTECTION DU SECRET DE LA VIE PRIVÉE. 3. ed. Paris: Economica, 1995, p. 423 et seq.

61. Veja-se: THIEFFRY, Patrick. Commerce électronique... cit., p. 244.

62. DOLINGER, Jacob. Evolution of principles for resolving conflicts in the field of contracts and torts.
Recueil des Cours 283/170. Hague: Martinus Nijhoff Publishers, 2000.

63. VERBIEST, Thibault. LA PROTECTION JURIDIQUE DU CYBER-CONSOMMATEUR. Paris:


Litec, 2002, p. 108.

64. Idem , p. 109.


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RESPONSABILIDADE POR DANOS NA SOCIEDADE DE
INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

65. Em matéria penal, decidiu o STJ pela competência do lugar de consumação do fato ilícito com
foro competente para a ação penal: "Conflito negativo de competência. Processual penal. publicação
de pornografia envolvendo criança ou adolescente através da rede mundial de computadores. Art.
241 do ECA. Competência territorial. Consumação do ilícito. Local de onde emanaram as imagens
pedófilo-pornográficas. 1. A consumação do ilícito previsto no art. 241 do ECA ocorre no ato de
publicação das imagens pedófilo-pornográficas, sendo indiferente a localização do provedor de
acesso à rede mundial de computadores onde tais imagens encontram-se armazenadas, ou a sua
efetiva visualização pelos usuários. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da Vara
Federal Criminal da Seção Judiciária de Santa Catarina." (STJ, CComp 29886/SP (JRP\2008\615) , j.
12.12.2007, rel. Min. Maria Theresa Rocha de Assis Moura, DJ 01.02.2008, p. 1)

66. A respeito, veja-se: TEPEDINO, Gustavo. A tutela da personalidade no ordenamento


civil-constitucional brasileiro. In: _______. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p.
44-45.

67. Sobre o tema, veja-se: MARQUES, Claudia Lima. Confiança no comércio... cit., p. 436 et seq.

68. LECLERC, Gérard. A sociedade de comunicação. Uma abordagem sociológica e crítica. Trad.
Sylvie Canape. Lisboa: Instituto Piaget, 2000, p. 65-85. CASTELLS, Manuel. A era da informação...
cit., p. 38 et seq; FÉRAL-SCHUHL, Christiane. Cyber droit. Le droit à l'épreuve de l'Internet. 2. ed.
Paris: Dalloz, 2000, p. 1-6; LORENZETTI, Ricardo L. Comercio electrónico... cit., p. 9 et seq.

69. BITELLI, Marcos Alberto Sant'anna. O direito da comunicação e da comunicação social. São
Paulo: Ed. RT, 2004, p. 330.

70. Assim propõe: WALD, Arnoldo. Um novo direito para a nova economia. Os contratos eletrônicos
e o Código Civil. In: GRECO, Marco Aurélio; MARTINS, Ives Gandra da Silva. Direito e Internet.
Relações jurídicas na sociedade informatizada. São Paulo: Ed. RT, 2001, p. 9-30.

71. Conforme pontifica Rafael Ortiz, para quem "la electrónica no es sino un nuevo soporte y medio
de transmisión de voluntades negociales pero no un nuevo derecho regulador de las mismas y su
significación jurídica; la reglamentación, por tanto, de las relaciones obligatorias entre los ciudadanos
perfeccionadas, ejecutadas y consumadas por vía electrónica no tiene que acarrear necesariamente
un cambio en el derecho preexistente, referente a la perfección ejecucción y consumación de los
contratos privados". ORTIZ, Rafael Illescas. Derecho de la contratación electrónica. Madrid: Civitas,
2001, p. 46-47.

72. Segundo Leclerc, pela primeira vez na história existe uma espécie de contemporaneidade de
todos os homens da terra, em um mundo síncrono, uma sociedade da ubiqüidade. LECLERC,
Gérard. A sociedade de informação... cit., p. 58.

73. JAYME, Erik. O direito internacional privado do novo milênio... cit., p. 85-97. No mesmo sentido:
MARQUES, Claudia Lima. Proteção do consumidor no âmbito do comércio eletrônico. Revista da
Faculdade de Direito da UFRGS 23/47-93. Porto Alegre: UFRGS, 2003.

74. LORENZETTI, Ricardo L. Comercio electrónico... cit., p. 13-14. No mesmo sentido, já referia:
NEGROPONTE, Nicholas. Being digital. New York: Alfred A. Knopf, 1995, p. 165; SARRA, Andrea
Viviana. COMERCIO ELECTRÓNICO Y DERECHO. ASPECTOS JURIDICOS DE LOS NEGOCIOS
EN INTERNET. Buenos Aires: Astrea, 2001, p. 81.

75. MARQUES, Claudia Lima. Confiança no comércio eletrônico... cit., p. 31-32. LÔBO, Paulo Luiz
Netto. A informação como direito fundamental do consumidor. >RDC 37/62 (DTR\2001\748) . São
Paulo: Ed. RT, jan.-mar. 2001.

76. MIRAGEM, Bruno. Abuso do direito. Proteção da confiança... cit., p. 157 et seq.

77. Para exame pormenorizado, veja-se: MIRAGEM. Direito do consumidor... cit., p. 121-123.

78. Sobre a finalidade de prevenção de danos do dever de informar, veja-se o excelente trabalho de:
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INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

BARBOSA, Fernanda Nunes. Informação: direito e dever nas relações de consumo. São Paulo: Ed.
RT, 2009, p. 119 et seq.

79. MIRAGEM. Direito do consumidor, p. 123.

80. Neste sentido, veja-se, dentre outros os seguintes estudos publicados na coletânea A nova crise
do contrato, organizada por Claudia Lima Marques, em 2007: MARQUES, Claudia Lima. A chamada
nova crise do contrato e o modelo de direito privado brasileiro: crise e confiança ou de crescimento
do contrato, p. 17-86; e MIRAGEM, Bruno. Função social do contrato, boa-fé e bons costumes: nova
crise dos contratos e reconstrução da autonomia negocial pela concretização das cláusulas gerais, p.
176-225; ambos. In: MARQUES, Claudia Lima. A nova crise do contrato. São Paulo: Ed. RT, 2007.

81. Vale a referência aos célebres estudos, na doutrina italiana, dando conta de viva controvérsia em
relação ao papel da vontade como elemento nuclear dos contratos celebrados pela Internet, de: IRTI,
Natalino. SCAMBI SENZA ACCORDO. RIVISTA TRIMESTRALE DE DIRITTO CIVILE 2/347-364,
Milano, 1998; e OPPO, Giorgio. DISUMANIZZAZIONE DEL CONTRATO. RIVISTA DE DIRITTO
CIVILE 5/525-533, Padova, 1998. E por fim, a réplica de Natalino Irti ao artigo de Oppo: IRTI,
Natalino. É vero, ma... - Replica a Giorgio Oppo. Rivista di diritto civile 2/273-278. Padova, 1999.

82. Sobre a necessidade de proteção da confiança como condição pressuposto do êxito das práticas
estabelecidas pelo comércio eletrônico: GARCÍA, Gema Alejandra Botana. Noción de comércio
electrónico. In: _______ (coord.). Comercio electrónico y protección de los consumidores. Madrid: La
Ley, 2001, p. 20.

83. A mais recente destas iniciativas, de 2001, é o Substitutivo ao Projeto de lei da Câmara
4.906/2001 (Projeto de Lei do Senado 672/1999), junto ao qual tramitam apensados os Projetos de
lei 1.483/1999 e 1.589/1999.

84. PEREIRA, Joel Timóteo Ramos. Direito da internet e comércio electrónico. Lisboa: Quid Juris,
2001, p. 169.

85. PASQUAL, Cristina Stringari. Oferta automatizada. RDC 67/100 (DTR\2008\400)-124. São Paulo:
Ed. RT, jul.-set. 2008.

86. "Reparação de danos morais. Acusações, ameaças e ofensas perpetradas pela ré contra a
autora, através de página de relacionamento na Internet (Orkut). Prova suficiente a evidenciar a
autoria das agressões. Danos morais configurados, diante da violação à honra e imagem da autora,
possibilitada a perpetuação da ofensa diante do meio utilizado. Sentença confirmada pelos próprios
fundamentos. Recurso desprovido" (TJRS, Recurso Cível 71001772623, 3.ª T. Recursal Cível, j.
11.11.2008, rel. Des. Eugênio Facchini Neto, DJ 17.11.2008).

87. Sobre o princípio da efetividade do direito do consumidor, veja-se o nosso: MIRAGEM, Bruno.
Direito do consumidor... cit., p. 77.

88. "Ação de rescisão de contrato, cumulada com indenização. Compra e venda celebrada pela
Internet- Consumidor que teve acesso ao fornecedor por meio de um pop up contendo anúncio de
um monitor LCD de 17 polegadas. Clicando nesse boxe, ele teve acesso ao Shopping UOL, que se
apresenta como um serviço de busca de produtos e serviços, com regras gerais a serem observadas
pelo usuário e também o 'Guia De Compra Segura', contendo cautelas a serem tomadas para evitar
dissabores. Serviço que eqüivale aos classificados de um jornal ou revista. Consumidor que deixa de
tomar esses cuidados. Recurso provido para julgar improcedente o pedido em relação à Recorrente"
(TJSP, Recurso 2914, 3.ª T. Cível, j. 12.06.2008, rel. Des. Theodureto de Almeida Camargo Neto).

89. "Comércio eletrônico. Ação de indenização por danos materiais proposta por consumidor, vítima
de fraude praticada por terceiro, em face de empresa de intermediação de negócios via Internet
denominada 'Mercado Livre'. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor por se tratar de
prestação de serviços. Excludente de responsabilidade decorrente de culpa exclusiva do
consumidor, que não observou os procedimentos de segurança antes de liberar a mercadoria. E-mail
fraudulento enviado pelo suposto comprador, sem a participação da empresa intermediadora,
noticiando a efetivação do pagamento e solicitando liberação da mercadoria. Informações claras e
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RESPONSABILIDADE POR DANOS NA SOCIEDADE DE
INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

precisas constantes do site da recorrente alertando para a necessidade de verificação do pagamento


na própria página do 'Mercado Livre' antes da liberação da mercadoria e da autenticidade do
endereço da página recebida por e-mail para que o usuário não corra o risco de ser vitima de e-mail
falso em nome do site inexigibilidade, porém, da comissão de intermediação. Sentença parcialmente
reformada. Recurso provido em parte" (TJSP, 1.ª T. Cível, j. 19.12.2007, rel. Des. Jorge Tosta,).

90. Para o tema, veja-se o nosso: MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor... cit., p. 271.

91. CRUZ, Gisela Sampaio. O problema do nexo causal na responsabilidade civil. Rio de Janeiro:
Renovar, 2006, p. 100-101.

92. A responsabilidade da imprensa pelos atos ilícitos cometidos por seu intermédio, mesmo sem
uma atuação comissiva própria do veículo de comunicação já foi reconhecida pela jurisprudência em
diversas situações, como exemplifica a decisão do STJ: "Civil e processual. Ação de indenização.
Dano moral. Publicação em jornal de entrevista considerada ofensiva a membros de Comissão de
Licitação. Demanda movida contra o entrevistado. Legitimidade passiva ad causam. Denunciação à
lide da empresa titular do veículo de comunicação e do repórter responsável pela notícia. Art. 70,
CPC. Art. 49, § 2.º , da Lei 5.250/67. Súmula 221 do STJ. I. Se a ofensa à moral dos autores
decorreu de notícia divulgada em jornal a respeito de fraude em licitação pública internacional,
originada de declarações dadas à reportagem por representante de empresa vencida na
concorrência, tem-se configurada a responsabilidade prevista no art. 49, § 2.º, da Lei 5.250/1967,
cabendo a denunciação à lide da repórter que produziu a matéria e a pessoa jurídica titular do diário
que a publicou. II. Manutenção, todavia, no pólo passivo, do entrevistado, que forneceu as
declarações ofensivas que embasaram a matéria lesiva. III. Recurso especial conhecido e provido
em parte." (STJ, REsp 261.802/MG (JRP\2001\1393) , j. 19.10.2000, rel. Min. Aldir Passarinho
Júnior, DJ 11.12.2000, p. 211). No mesmo sentido: "Responsabilidade civil. Danos morais. Ofensa
irrogada em entrevista publicada em jornal. Ação proposta contra quem figurou, na matéria, como
entrevistado. Ilegitimidade de parte passiva ad causam. Art. 49, § 2.º, da Lei 5.250, de 09.01.1967. É
parte legítima passiva ad causam nessas hipóteses a pessoa natural ou jurídica que explora o meio
de informação ou divulgação, a quem é facultada por lei a ação regressiva contra o entrevistado para
haver a quantia que foi compelida a desembolsar. Recurso especial conhecido e provido para julgar
extinto o processo sem conhecimento do mérito (art. 267, VI, do CPC)." (STJ, REsp 74.153/RJ, j.
14.10.1997, rel. Min. Barros Monteiro, DJ 02.02.1998, p. 110). Em sentido contrário, na doutrina
argentina, veja-se: PIZARRO, Daniel. RESPONSABILIDAD CIVIL DE LOS MEDIOS MASIVOS DE
COMUNICACIÓN: DAñOS POR NOTICIAS INEXACTAS O AGRAVIANTES. Buenos Aires:
Hammurabi, 1991, p. 292-293.

93. Assim a conclusão de Guilherme Magalhães Martins, em sua tese de doutoramento já citada:
Responsabilidade civil por acidente de consumo na Internet, p. 360.

94. Neste sentido: "Apelação. Ação de indenização por dano moral. Inversão do ônus da prova. Não
é escusa da prova mínima do direito invocado. Relação de consumo. Responsabilidade objetiva. Ato
ilícito. Ausente. Conta obtida pela Internet. Negligência do titular. Recurso improvido. A inversão do
ônus da prova prevista no art. 6.º, VIII, do CDC não exime o autor de trazer aos autos provas
mínimas dos fatos constitutivos de seu direito. Tratando-se de relação de consumo, a
responsabilidade civil é objetiva, sendo necessária a prova do ato ilícito, dano e nexo de causalidade.
Ausente qualquer um destes elementos, inexiste o dever de indenizar. Não se pode imputar
responsabilidade a operadora se terceiros tiveram acesso à conta de telefone da autora por meio da
Internet, que exige o uso de senha pessoal do titular. Neste caso, a negligência é da própria
consumidora que permite que terceiros tenham conhecimento desta senha." (TJMG, ApCiv
1.0713.07.070482-8/001, j. 21.05.2008, rel. Des. Marcelo Rodrigues, DJU 24.06.2008)

95. "Ação de indenização por danos morais e materiais. Rito sumário. Transações bancárias via
Internet. Decadência. Serviços bankline. Incerteza quanto à autoria. Responsabilidade do banco.
Dano moral. Não-configurado. Honorários advocatícios. Majoração. Provimento parcial do recurso
interposto pelo autor. Não trata a hipótese de vício de serviço, mas sim de prática de ato ilícito que,
apesar de não ter sido praticado pela instituição bancária, se implementou por meio da utilização do
acesso à conta bancária via Internet, motivo pelo qual aplica-se ao caso o prazo decadencial de 5
anos, previsto no art. 27 do CDC. A narrativa dos autos permite inferir que a movimentação feita na
conta do autor deveu-se à captura de senhas por programas de computador com fins nocivos
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INFORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR:
DESAFIOS ATUAIS DA REGULAÇÃO JURÍDICA DA
INTERNET

(worms ou cavalos-de-tróia). Em vista disso, entendo que a ausência de elementos capazes de


comprovar a culpa exclusiva do autor ou de terceiro, transfere ao banco a responsabilidade pelos
danos causados, porquanto este é que aufere lucros com o sistema que - ao que tudo indica - é
relativamente seguro, mas assaz eficaz na redução do custo operacional antes despendido com
estrutura e quadro de pessoal. Não restou configurado dano à imagem, à intimidade, à vida privada
ou à honra e à dignidade do autor, mas mero dissabor oriundo dos riscos inerentes à facilitação
trazida pelas inovações tecnológicas do mundo contemporâneo." (sic) (TJMG; ApCiv.
1.0439.06.060559-9/001, j. 28.08.2007, rel. Des. Fábio Maia Viani, DJU 21.09.2007)

96. "Responsabilidade civil do banco. Transferência de depósito bancário para conta de terceiro.
Internet. Fraude. Dano moral. Dano material. Indenização. Responsabilidade pelo pagamento. Ação
de reparação de danos. Banco. Transferência de valor via Internet. Fraude eletrônica. Inversão do
ônus da prova. Responsabilidade objetiva." (TJRJ, ApCiv 2002.001.07799 (JRP\2002\3567) , j.
08.10.2002, rel. Des. Francisco de Assis Peçanha). E no mesmo sentido: "Apelação Cautelar e
reparatória por danos morais. Débitos indevidamente lançados na conta-corrente dos autores via
internet. 1. Admitindo o banco réu a possibilidade de que os débitos discutidos pelos autores foram
lançados via internet por hackers não se têm por incontroversos os valores exigidos pela instituição
financeira. 2. Ausência de inconformidade específica quanto ao estorno de valores deferidos em
liminar e mantido na sentença. Incidentes na relação contratual debatidas as disposições do Código
de Defesa do Consumidor e o princípio da inversão do ônus da prova, incumbia ao réu a
comprovação da regularidade dos débitos efetuados por transações via internet. 3. Danos morais
ocorrentes. Aponte de título, envio dos nomes dos demandantes a cadastros de inadimplentes e
cancelamento do cheque especial após o ajuizamento da demanda cautelar. Reconhecido o maior
abalo moral do co-autor que teve o nome negativado após a cncesão da medida obstativa de
cadastramento. Manutenção, quanto a ele, da verba reparatória de 50 salários mínimos. Redução,
quanto ao outro autor, para 30 salários mínimos. Apelo parcialmente provido." (TJRS, ApCiv
70009506122 (JRP 2004\28827) , j. 18.11.2004, rel. Des. Orlando Heeman Júnior, DJ 29.11.2004)

97. DELLA GIUSTINA, Vasco. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS GRUPOS. INCLUSIVE NO


CÓDIGO DO CONSUMIDOR. Rio de Janeiro: Aide, 1991, p. 61 et seq; SANSEVERINO, Paulo de
Tarso. Responsabilidade civil no código do consumidor e defesa do fornecedor. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 250.

98. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro: Borsói,
1971, t. XXII, p. 192.

99. "Responsabilidade civil. Danos morais. Site de buscas (Google) no qual ao ser pesquisado o
nome da autora na rede mundial de computadores relaciona como resultado home page mantida por
terceiro, onde o nome da demandante encontra-se acompanhado de palavras obscenas.
Ilegitimidade passiva da empresa responsável pelo registro do domínio brasileiro do site da Google.
Extinção do feito com fulcro no art. 267, VI, do CPC. Conforme se depreende dos autos, a apelante
presta serviços de agente da propriedade intelectual, registrando domínios de sites brasileiros
(extensão 'br') para empresas estrangeiras que desejam ver sua marca protegida na rede mundial de
computadores e, mais especificamente, no mercado nacional, evitando, destarte, que terceiros
apropriem-se do referido domínio e passem a explorar indevidamente o nome da empresa
estrangeira. Posto isso, denota-se ser evidente que o agente da propriedade intelectual responsável
apenas pelo registro do site www.google.com.br junto ao 'Registro.br', órgão encarregado pelo
registro de domínios com a extensão referente ao Brasil (.br) não possui legitimidade para integrar o
pólo passivo em demanda na qual é discutida a ocorrência de danos morais engendrados pela
suposta falha do serviço prestado pela empresa norte-americana Google Inc., responsável pela
criação e manutenção do aludido mecanismo de pesquisa na world wide web (www), uma vez que a
demandada não possui qualquer ingerência sobre a operacionalidade do serviço prestado pela
empresa norte-americana, bem como também não integra o conglomerado econômico por ela
mantido e capitaneado. Apelo provido. Ação extinta, sem julgamento do mérito." (TJRS, ApCiv
70009506122, 9.ª Câm. Cível, j. 28.11.2007, rel. Des. Marilene Bonzanini Bernardi)

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