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Trabalho - Nise da Silveira

Alunos: Mychell Reis e Talles Elizei


6º Período

Primeiramente, cumpre ressaltar que o filme Nise - O Coração da Loucura tem


como principal patologia abordada a esquizofrenia. Essa condição se caracteriza
por ser um transtorno mental que possui como sintomas a perda de contato com a
realidade (psicose), alucinações (é comum ouvir vozes), falsas convicções (delírios),
pensamento e comportamento anômalo, redução das demonstrações de emoções,
diminuição da motivação, uma piora da função mental (cognição) e problemas no
desempenho diário, incluindo no âmbito profissional, social, relacionamentos e
autocuidado.
Jung entendia a esquizofrenia como casos de psicose e paranóia,
constituindo o que o público leigo considera como “loucos”. Para ele, a
esquizofrenia possui causa e fins psíquicos, tal qual ocorre na vida de uma pessoa
dita como “normal”. Contudo, a principal diferença é que, para a pessoa normal, o eu
é o próprio sujeito da experiência. No ser esquizofrênico, o eu sofre uma
fragmentação e passa a coexistir em uma variedade de sujeitos, com
funcionamentos autônomos.
Ele também ressalta que, quando há neurose, há uma preservação da unidade
potencial da personalidade e que, na esquizofrenia, a ligação entre o eu e demais
complexo se encontra rompida, de forma absoluta, em alguns casos à mais e outros
à menos.
Neste norte, Jung deixou claro sua inclinação em apostar num forte
complexo afetivo na origem da esquizofrenia. Apesar disso, ele não descartava a
origem orgânica da condição, ponderando que a doença não teria satisfação em sua
explicação com apenas um aspecto, sendo um conjunto de aspecto físico e
psíquico causadores da esquizofrenia.
É de extrema relevância estudar e possuir conhecimento sobre o tema, tanto
para ser de auxílio no reconhecimento da condição nas outras pessoas quanto para
poder tratá-las da melhor forma possível, mais adequada à sua situação e com mais
dignidade.
Nise, ao ganhar um livro de seu marido, interessou-se pela teoria de Jung.
Para ela, a relação que este fazia com as representações do inconsciente pessoal
por meio de mandalas e a arte a encantou.
Neste sentido, Nise utilizava técnicas de TO - terapia ocupacional - em seus
pacientes. A terapia ocupacional permitia aos pacientes graves formas para se
expressar, principalmente a expressão de vivências não verbalizáveis, que, no
psicótico, estão fora do alcance das elaborações da razão e da palavra.
Nise encontrou, durante a aplicação das atividades de terapia ocupacional,
inúmeros indícios que o mundo interno do psicótico “encerra insuspeitadas riquezas
e as conserva, mesmo depois de longos anos de doença”.
Para Nise, haviam atividades que permitiam um acesso menos dificultado
aos fenômenos internos, como desenhos, pinturas e modelagens, sendo feitos
livremente pelo paciente. Essas atividades são ligadas à arteterapia e possibilitam a
expressão do inconsciente em formas mais abstratas, mas muito significativas.
Por meio da Psicologia Profunda de Jung, Nise encontrou base para explicar
a produção artística dos psicóticos, bem como a possível linguagem para entender
o processo de psicose de cada paciente.
Neste sentido, a arte se torna uma grande parceira de Nise na proposta de
expressão simbólica do paciente, pois essa atividade permitia que os pacientes
esquizofrênicos, que possuem dificuldade com comunicação clara e objetiva,
expressassem seus pensamentos e seu interior com uma gama de sensibilidade e
uma riqueza de detalhes não alcançáveis para estes pela palavra.
No filme, é perceptível como Nise observa de longe seus pacientes
desenvolverem suas atividades artísticas, retratando-as e fazendo alguns
apontamentos somente. Contudo, só pelo fato dessas imagens serem
compartilhadas e virem à consciência já possibilitavam uma enorme melhora para o
paciente, que mudava suas atitudes e comportamentos com outros internos e a
equipe do hospital e seus monitores.
Por exemplo, a paciente Adelina encontrou uma possibilidade de viver um
pouco mais próxima da realidade e mais: ela namorou outro interno e sua relação
com o masculino ficou mais saudável, tendo uma diminuição substancial em sua
agressividade excessiva.
Exemplos como o trabalho de Nise da Silveira demonstram como o trabalho
da psicoterapia junguiana pode promover a saúde mental dentro dos CAPS - Centro
de Atenção Psicossocial.
Conforme o próprio pensamento de Jung, a esquizofrenia parte de duas
frentes: uma psíquica e uma física. Por mais que o psicólogo não possa tratar da
parte física da condição da forma como a medicina e ciência ocidental determinam,
com remédios e exames clínicos, o trabalho desenvolvido pela psicoterapia lida com
a frente psíquica da doença, de igual importância à sua contraparte.
O trabalho desenvolvido com o inconsciente, por meio da arteterapia,
demonstrou resultados muito satisfatórios no tratamento dos pacientes,
possibilitando trazê-los de volta para um convívio em sociedade. Ademais, as
técnicas utilizadas estimulavam o paciente a lidar com seus medos, traumas e
contar a sua história, sendo livres para ser quem eles eram e se expressar como
bem entendessem, levando em consideração o respeito e a individualidade do
paciente.
É possível se inspirar e até replicar o trabalho desenvolvido por Nise nos
CAPS, como forma de aplicação da teoria junguiana na promoção da saúde mental,
em casos de psicose e em outros onde o paciente tem dificuldades em se
expressar.
Sobretudo, deve-se ressaltar o quão humanizador foi o trabalho de Nise e
como isso engrandece o trabalho do psicólogo. Ainda que no pensamento da época
os demais médicos, que aplicavam técnicas de eletrochoque e lobotomia, podiam
não perceber que não estavam tratando dos pacientes com melhora na qualidade de
vida destes, que não alcançavam sua autonomia e retorno à sociedade, mas sim os
anulavam e silenciavam seus sintomas e, por consequência, sua individualidade, a
sensibilidade de Nise a fez perceber que algo estava errado e que o bem estar da
pessoa mais interessada no tratamento não estava sendo levado em consideração.
Não bastava ali a “cura” do paciente quando este ficava ainda mais
deslocado da realidade após os procedimentos utilizados pelos seus colegas
médicos. Era necessário trazer de volta a capacidade do indivíduo de se expressar
para que este pudesse se localizar na sociedade e em seus pensamentos, seus
sentimentos. Neste sentido, o trabalho de Nise foi excepcional e deve pautar o
trabalho do psicólogo como um todo, sendo um exemplo de como exercer sua
função ao respeitar e humanizar o outro, que confiou sua saúde à ele.

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