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PÓS GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA E FILOSOFIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

A VIOLÊNCIA:
Uma visão sócio-filosófico da contemporaneidade

Aluno: Márcio Petisco Vieira


Matrícula: 24865

RIO DE JANEIRO – 2022


Resumo
Vivemos em um mundo onde a violência está em quase toda parte e de muitas maneiras
diferentes. Mas, mais importante, o que assola a maioria das pessoas é a violência que sofrem
na rua quando vão trabalhar, estudar ou voltar para casa, seja a pé ou de transporte público ou
privado. Nos sentimos impotentes e oprimidos diante de tantos roubos, arrombamentos e
outras atrocidades, esperando que nunca sejamos a próxima vítima. Por consequência este
artigo envolve um diálogo para explicar a atual violência com base na sociologia, filosofia e a
ética. Em sua concepção de sociologia interpretativa, o sociólogo Alfred Schutz descreve a
crença de que esse mundo de sentido não representa uma realidade objetiva, mas uma
realidade interpretada, intersubjetiva válida. Assim, não vivemos simplesmente em um
universo fixo, mas em um multiverso, cada um moldado por um estilo epistemológico
diferente. Essa fundamentação teórica como base para a pesquisa empírica no campo da
comunicação atual. Os filósofos e sociólogos são importantes para entendermos este
infortúnio social, não que sejam donos da verdade, mas por possuírem uma capacidade de
analisar um determinado assunto sempre com a visão de uma fonte/referência biográfica
somando isso a capacidade de examinar todas as possibilidades de resposta focando na
posição mais correta socialmente falando. Assim ensina a outros a também refletir e tirar suas
próprias conclusões, com base na ciência e não no senso comum ou “achismos”, pensar em
algo que não conheça e ter uma forma de resolver essa situação, pensando na melhor maneira
de resolver, ou melhor, responder abrindo uma vasta possibilidades de reflexão e soluções
com os quais se adquiri novos contatos e conhecimentos.

Abstract
We live in a world where violence is almost everywhere and in many different ways. But
more importantly, what plagues most people is the violence they experience on the street
when they go to work, study or return home, whether on foot or by public or private transport.
We feel helpless and overwhelmed in the face of so many robberies, break-ins and other
atrocities, hoping that we will never be the next victim. Consequently, this article involves a
dialogue to explain the current violence based on sociology, philosophy and ethics. In his
conception of interpretive sociology, the sociologist Alfred Schutz describes the belief that
this world of meaning does not represent an objective reality, but an interpreted, valid
intersubjective reality. Thus, we do not simply live in a fixed universe, but in a multiverse,
each shaped by a different epistemological style. This theoretical foundation as a basis for
empirical research in the field of current communication. Philosophers and sociologists are
important for us to understand this social misfortune, not because they own the truth, but
because they have the ability to analyze a given subject always with the view of a
biographical source/reference, adding to this the ability to examine all possible answers.
focusing on the most correct position socially speaking. So it teaches others to also reflect and
draw their own conclusions, based on science and not on common sense or "guess", think
about something they don't know and have a way to solve this situation, thinking about the
best way to solve it, or better, to respond by opening up a wide range of possibilities for
reflection and solutions with which to acquire new contacts and knowledge.
Palavras-chaves
Conceituação de Violência; Conflitos; Conflitos Armados; Desigualdade; Paz; Dignidade
Humana; Direitos Fundamentais; Formação Social; Formação Filosófica; Guerra; Intimidação
por Pares; Modernidade; Violência Anômala.

Keywords
Violence Conceptualization; Conflicts; Armed Conflicts; Inequality; Peace; Human dignity;
Fundamental rights; Social Training; Philosophical Formation; War; Peer Intimidation;
Modernity; Anomalous Violence.
Agradecimentos
Sou grato a minha esposa Leidiane que nunca me recusou amor, apoio e incentivo. Obrigado,
todo o amor do meu coração, por compartilhar os inúmeros momentos de ansiedade e
estresse. Sem você ao meu lado o trabalho não seria concluído.
Agradeço a todos os professores por me proporcionar o conhecimento não apenas racional,
mas a manifestação do caráter e afetividade da educação no processo de formação
profissional, por tanto que se dedicaram a mim, não somente por terem me ensinado, mas por
terem me feito aprender. А palavra mestre, nunca fará justiça aos professores dedicados aos
quais sem nominar terão os meus eternos agradecimentos.
Agradeço a meu pai Jurandir (in memorian) e minha mãe Maria das Graças por sempre
estarem presentes e me apoiarem no desenvolvimento do meu caráter, sem eles com certeza a
tarefa teria sido muito mais árdua.
A todos em geral, que direta ou indiretamente, fizeram parte de minha formação, o meu muito
obrigado.

Thanks
I am grateful to my wife Leidiane who never refused me love, support and encouragement.
Thank you, all the love in my heart, for sharing the countless moments of anxiety and stress.
Without you by my side, this work would not have been completed.
I thank all the professors for providing me with not only rational knowledge, but the
manifestation of the character and affectivity of education in the process of professional
training, for so much that they dedicated themselves to me, not only for having taught me, but
for having made me learn . The word master will never do justice to the dedicated professors
who, without naming, will have my eternal thanks.
I thank my father Jurandir (in memorian) and my mother Maria das Graças for always being
there and supporting me in the development of my character, without them the task would
certainly have been much more arduous.
To everyone in general, who directly or indirectly, were part of my training, thank you very
much.
Introdução
Para entender a violência, precisamos entendê-la, descobrir quais são as principais
causas que venham gerar tal comportamento e sentimento, caso contrário, corremos o risco de
escolher soluções ineficientes que podem acabar mais ainda o problema. Com base nos
preceitos das ciências sociais (sociologia e filosofia), pretendo provar que violência só pode
ser combatida com prevenção, com intervenção de pessoas que não à pratiquem e não a
cultivem em mentes em desenvolvimento.
Assim, com vista ao mundo, SCHÜLTZ (1973) fala de um já interpretado em que
o homem, o animal simbólico (animal symbolicum), é nascido por dentro, e somente pode
orientar-se com a ajuda de relações de apresentações (with the help of appresentational
relations). O autor (1993, p.62) descreve que dentro de nossas experiências atuais, ou nós
poderíamos viver puramente direcionados aos objetos dela, nesse caso a violência, ou nós nos
direcionaríamos às nossas experiências a partir de uma atitude reflexiva, que significa se
tornar um ser humano de fato, assim e nos perguntaríamos a respeito do seu sentido.
All our knowledge of the world, in common-sense as well as in scientific
thinking, involves constructs, i.e. a set of abstractions, generalizations,
formalizations, idealizations specific to the respective levei of thought
organization, strictly speaking, there are no such things as facts, pure and
simple. All facts are from the outset facts selected from a universal context by
the activities of our mind. They are, therefore, always interpreted facts[. . .]
(Schütz, 1973, p. 5).
(Todo o nosso conhecimento do mundo, tanto no senso comum quanto no
pensamento científico, envolve construção, ou seja, um conjunto de abstrações,
generalizações, formalizações, idealizações específicas para o respectivo nível
de organização do pensamento, estritamente falando, não existem coisas como
fatos puros e simples. Todos os fatos são desde o início fatos selecionados de
um contexto universal pelas atividades de nossa mente. São, portanto, sempre
fatos interpretados [. . .])
A violência ocorre quando uma pessoa causa, intencionalmente um dano ou abuso
a outra pessoa, a um grupo de pessoas ou, inclusive e tão perverso quanto, a ela mesma. A
violência pode tomar muitas formas, tais como violência sexual, maus-tratos, bullying, entre
outras perversidades, incluindo aqui atos de guerra e terrorismo.
Atos violentos podem ser estimulados e inibidos por muitos fatores, exemplifico
com a desigualdade de gênero onde elementos religiosos reprimem o conceito de existência
de uma pessoa que não corresponda aos princípios do culto religioso. Aqui claramente relado
a posição sexual e as pessoas transgêneras, que sofrem perseguições a ponto de serem
consideradas por muitos como “aberrações”, porém sofrem violências de pessoas que são
dignas de serem chamadas de aberrações.
Uma das coisas que devemos considerar como premissa é que não existe ser
humano que seja exemplo de violência, isso se deve pelo fato de todo o ser humano ter o
potencial para agir com violência vive em um estado de latência dentro de si, inclusive nas
pessoas que julgamos como “pacificas” que na teoria não teriam nada que pudesse agir ou
praticar à violência, pois isso vai na contramão dos sentimentos humanos, afinal, todos temos
a capacidade de agir com violência de acordo com um determinado fator ou gatilho que traga
esse sentimento à tona.
SANTOS (2002) define a violência como um meio de poder constituído por
múltiplas linhas de poder, e por meio da violência e da coerção realizam relações específicas
entre si e causam danos sociais. o poder permite a emergência da violência. BAUMAN (2001)
foi ambientado na experiência de uma modernidade fluida em que tudo é temporário e fluido,
e a maioria das pessoas enfrenta estados perpétuos de desamparo, inadequação e
vulnerabilidade, fala sobre o drama típico da sociedade moderna. Outras instituições políticas
da própria sociedade dão a devida atenção aos dramas mencionados. Sobre esse discurso da
modernidade, GIDDENS (1991) argumenta que o mundo em que vivemos hoje é tenso e
perigoso, e que isso mina a esperança de que o advento da modernidade nos leve a uma ordem
social feliz e segura. De acordo com a hipótese que consta em FILHO (2001) sobre esse
assunto, a violência ocorre no Brasil em conexão com o passado escravocrata e colonização
da sociedade brasileira e a cultura tradicional herdada baseada no tipo de colonização, assim a
violência torna-se uma linguagem organizacional que leva a uma espécie de senha de
identificação que a distingue. Em consonância com essa confirmação da existência da
linguagem da violência, podemos destacar a análise de PEREIRA (2000) onde ele diz que
existem situações que tornam as pessoas alienadas e hostis à democracia, que mostram as
fronteiras entre as expressões culturais. Assim, há uma linguagem violenta que não só aparece
em conflito que condena a existência de diferentes formas culturais, em que “encontram
modos de expressão, passíveis de exibição privilegiada pela mídia e de assimilação pelo
público, instituindo sentidos e ganhando adeptos.” (PEREIRA, 2000:15).
Por outro lado, ADORNO (2003) considera o debate do legado colonial perigoso,
mas não essencial. Nesse sentido, quando a sociedade brasileira começou a passar pelo
chamado processo de modernização, múltiplas práticas sociais de violência, especialmente a
criminal, passaram a ser vistas como fenômenos relevantes, objetos da ciência e objetos de
intervenção da violência pública, passando a violência sem lugar específico. Ela existe tanto
nos bairros mais prestigiados como nas favelas, abrange o centro e a periferia, e, acima de
tudo, atravessa várias classes sociais. Vários tipos e formas de violência são relatados e
retratados de forma espetacular. Estes incluem roubo, furto, assassinato, sequestro, guerra,
agressão, terrorismo, violência física, violência sexual, violência psicológica e tortura (muitas
vezes perpetrada por autoritários durante regimes e ditaduras), nesse caso exemplificada pela
violência policial, se tornando a mais comumente manifestação de produção da violência
contemporânea. A arquitetura moderna também mostra o medo da violência. Hoje, as casas
não têm muros altos, cercas elétricas ou vista para a rua, mas cães de guarda e sistemas de
alarme. De fato, a arquitetura de espaço aberto se abandona para surgir o espaço para defesa e
proteção, em outras palavras, o espaço passa a ser mais fechado, similar a uma prisão, mas
aqui é para evitar que o mal entre em determinado espaço. Nos bairros e favelas mais pobres,
a violência que não se esconde atrás de cercas e muros está escancarada, e assim “o sabor pela
vida exterior, interioriza-se, e o que se busca, desesperadamente, é a segurança e a defesa.”
(ODALIA, 1985: 10).
MICHAUD (1989) questiona várias causas possíveis de violência classificadas de
acordo com perspectivas antropológicas e sociológicas. A primeira perspectiva dizia respeito
ao surgimento da cultura, aperfeiçoando o instinto, mas tornando-o inútil e perigoso. Essa
abordagem prefere falar sobre agressividade, agressividade, irritabilidade e beligerância. O
comportamento de retirada e fuga se desenvolve após uma ruptura com a animalidade. Ele
enfatiza que, “a agressão acompanha a conquista, a destruição e a exploração. Neste sentido,
há violência no próprio âmago da humanidade, que anima suas invenções, suas descobertas e
sua produção de cultura.” (MICHAUD, 1989:76).
O fenômeno da violência e suas causas devem ser considerados múltiplos.
Acreditamos que esse fenômeno tem múltiplas causas, incluindo disfunção judicial,
impunidade, educação e saúde precárias, corrupção, influência da mídia, crescimento urbano,
egoísmo, ineficácia da intervenção pública, podendo destacar políticas de prevenção à
violência, tolerância tácita das partes (vítimas, outros, peritos), etc. As notícias a que temos
acesso hoje são apresentadas por atores de atos de violência, por isso é importante não
generalizar ou banalizar o assunto antes da análise, avaliação e reflexão. Então eles são atores
não exclusivos, pobreza e miséria. Precisamos pensar como a violência tem sido introduzida
em nosso cotidiano e como as políticas públicas nacionais e as ações da sociedade civil estão
abordando essa questão. Precisamos abordar não apenas as consequências dessa prática, mas
também suas causas. Em outras palavras, precisamos ir mais longe. Assim a violência é:
a) O fato de agir sobre alguém ou de fazê-lo agir contra a sua vontade
empregando a força ou a intimidação; b) o ato através do qual se exerce a
violência; c) uma imposição natural para a expressão brutal dos sentimentos; d)
força irresistível de uma coisa; e) o caráter brutal de uma ação. […] há
violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de
maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, acusando danos a uma ou várias
pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua
integridade moral, em suas posses, e/ou em suas participações simbólicas e
culturais. (Michaud,1989:7-10)
ECHENIQUE (2000) descreve que a violência necessita de gatilhos para se
manifestar, e que os gatilhos da sociedade se baseiam nas quatro faces da pirâmide
civilizatória, que são: Ciências; Religião; Política; Artes. Com base nesses quatro conceitos, a
filosofia compreende que o que está sendo relacionado como descoberta é ou não ciência, se
tudo o que está sendo apresentado ao público realmente é arte, se tudo o que tramita politica é
ou não politica e se tudo o que for relacionado a religião é uma crença ou uma heresia. Na sua
concepção, a religião é vista como uma espécie de “espiral”, que vai, desde a sua base,
subindo e comparando de forma filosófica as outras três faces. A religião vai colhendo o que
há de “melhor” em cada conceito e formula suas crenças bases e molda os alicerces de
determinado povo. Então essas quatro faces, quando nos a encaramos com o nosso caráter
bem desenvolvido, nos proporciona uma base de apoio para nos desenvolvermos como ser
humano, isso pode ser relacionar como um verdadeiro cientista que “observa o fenômeno,
depois formula a lei que o define”.
Com o que já foi descrito, podemos pegar os conceitos platônicos para
desenvolver ainda mais nosso tema. Para Platão, o ser humano é uma mistura de luz e sombra,
ou seja, temos um tanto de autocontrole, assim como, o seu oposto é o descontrole, que gerará
uma ação tão verdadeira quanto as ações do autocontrole. Filosofando mais sobre Platão,
podemos considerar que o autocontrole é o que nos diferencia dos animais que nos faz
racionais, e o descontrole é o que nos tornas idênticos aos animais nos transformando em
seres irracionais, em outras palavras, seria como se um ser humano colocasse uma máscara
feroz, uma espécie de lobo em pele de cordeiro.
De acordo com a Psicologia Analítica de Carl Jung, o arquétipo da sombra
representa o “lado escuro” ou uma “sombra” de sua personalidade, o submundo selvagem de
sua alma que guarda as partes mais primitivas de você. Egoísmo, instintos reprimidos,
traumas de infância, decepções que nos assombram, sonhos não realizados. Esta é a parte
enterrada nas camadas mais profundas do seu ser. A sombra é o arquétipo do lado escuro de
sua alma. JUNG (2008) também diz que Nenhuma árvore pode crescer ate o céu sem que suas
raízes desçam ate o inferno. Essa ideia expressa a personalidade oculta que todo ser humano
possui. Na superfície, a maioria de nós é (e acredita que sim) pessoas gentis e amigáveis. Mas
alguns de nós são oprimidos. Esses são instintos genéticos que podem esconder violência,
raiva, ódio e inveja.
A maioria das pessoas está cega por seu lado sombrio e faz coisas sem pensar em
seus motivos. Mas uma vez que você percebe esse lado, é natural tentar silenciar seu lado
mais sombrio, e isso também não é o que JUNG (2008) recomenda. Ele diz que é nosso
trabalho na vida nos aceitar plenamente e integrar nossa “sombra” em nossa personalidade.
Então podemos reconhecê-lo e trabalhá-lo cara a cara. Se a ignorarmos e a deixarmos ir
inconscientemente, ela pode roubar nosso equilíbrio e nossas chances de sermos felizes.
Esconder seus demônios internos os torna mais ferozes. Se os silenciarmos, eles acabarão por
assumir o controle de nós. Eles apresentam imagens de si mesmos que não gostamos ou com
as quais não concordamos. Quanto mais autoconsciente, você fica com medo de enfrentar
seus piores motivos.
Como ser humano temos uma mistura de bem/bom e mal/mau, e como seres
distintos uns dos outros, temos doses maiores ou menores de ambos em na mistura de cada
um. Evoluir como ser humano é, exatamente, gerir dentro de cada um de nós um espaço que
seja destinado a ser aquilo que seja contrário de tudo que a resposta seja “não”, ao contrário
que venha a nos desvirtuar do que é ser um ser humano, que somos e queremos ser
preenchidos por tudo o que significa bem/bom que, como seres humanos, conquistamos em
todos esses milhares de anos de evolução e apagar tudo o que seja “sombra”, tudo o que nos
remete a selvageria do alvorecer da humanidade.

O físico, o caráter e a essência


A violência parece um elemento extraordinário e irracional, e parece ao mesmo
tempo que é necessária, que sua prática está sempre presente no cotidiano das pessoas. Seus
agentes, vítimas, espectadores e indiferença, realidade e possibilidade, passado e presente,
podem ser convencidos, estranhos, assustados ou insanos. A violência se torna lei e ordem,
ordem e progresso. Pode ser considerada necessária, essencial, real e inevitável para assegurar
a propriedade e a liberdade, o lucro e a moralidade. Já outros julgam a violência como
anormal, ridícula, irracional e imoral, mas consideram as condições e possibilidades de
democracia, cidadania, justiça, razão e emancipação. No entanto, todos devem estar cientes de
que as mais diversas formas, técnicas e práticas de violência permeiam o cotidiano das
pessoas. Essa é uma daquelas fermentações socioculturais, objetivas e subjetivas que
permeiam o cotidiano de algumas pessoas em todo o mundo.
Isso tem sido um quebra-cabeça para filósofos, cientistas e artistas. Desde os
primórdios dos tempos modernos, ela se preocupa com a frequente existência ou explosão das
mais surpreendentes formas, técnicas e práticas de violência. Há muitas pessoas. Reconhecem
que, embora a violência seja geralmente praticada em nome do senso comum pragmático e
dos princípios humanitários, a violência se aproxima da loucura. Há pessoas que reconhecem
que estão inseridas no próprio tecido da sociedade em função da mesma fábrica. Eles se
tornarão produtos e condições anômalas em que a alienação é criada e recriada, em um nível
mais ou menos individual e coletivo. Todos são compelidos a participar e alienados do jogo de
forças sociais que se estende como uma teia de simbiose e interfere em todos. Sempre à
espreita nas relações sociais, nas mais diversas atividades.
Assim sendo, vemos que o ser humano é um compilado moldado pelos conceitos
antropológicos, moldado pela história e de suas tradições com base em três elementos
compositores que seriam a parte física, o caráter e a essência. O físico e o caráter são,
respectivamente, o temperamento e o aprendizado, basicamente o primeiro seria um cavalo
selvagem e o segundo seria um cavaleiro que doma e toma as rédeas desse cavalo. O terceiro,
a essência, é a parte divina que personaliza o físico e o caráter.
Como já mencionado, a parte física é dotada de um temperamento, que em geral, é
uma herança sociofamiliar, isso se deve por ela ser todo o componente que molda um grupo
em que ocorre o processo de endoculturação, que nada mais é que o processo constante de
aprendizagem e de assimilação do conhecimento, em que o indivíduo aprende o modo de vida
e a cultura da sociedade. Um exemplo seria uma família de italianos, que saem na rua falando
alto e gesticulando muito, com isso a herança que é passada nessa família são essas
características gestuais. Assim sendo, podemos conceituar o temperamento como biológico e
cultural, e é herdado pelo homem com terá qualidades, que se não forem trabalhadas no
contexto sociofilosófico, podem se tornar defeitos, então eles devem ser moldados com
dosagens corretas com base no caráter, pois este é capaz de dosar, educar e direcionar o
temperamento.
O caráter por sua vez se caracteriza por ser ligado ao aprendizado, que te permite
gostar do que é bom e rejeitar o que é mal, e isso, mais uma vez, é bem platônico, pois o
caráter permite gostar de tudo o que for bom para o contexto social e para todos os seres
humanos, sem se basear em mitos ou opiniões infundadas. Apesar de ser um assunto com um
auto teor de delicadeza, temos que entender que o ser humano possuí uma trajetória que o
levou da ignorância à sabedoria, assim sendo, não importa o que você seja, o ideal humano é
o ideal de valores e virtudes, em outras palavras, é a plenitude da condição humana. Esse é o
bem/bom estabelecido, por isso o caráter é um elemento educador, é um aspecto positivo e
que controla o elemento negativo.
O terceiro elemento, a essência, depende de uma percepção que ainda não é
entendida por todas as sociedades e está relacionado diretamente à religião. Isso se deve ao
fato da maior parte das tradições religiosas acreditam em uma essência humana ou alma como
algumas crenças religiosas chamam. Essa essência vem ao mundo para realizar determinada
ação, um determinado feito, e pelo fato de concretizar tal ação/feito, transveste um corpo
personalístico que é composto em conjunto do temperamento e do caráter, e essa essência, que
a maioria das crenças acreditam ser imortal, tem que se expressar através da aparência de
forma “dócil” e “maleável”, fazendo com que o caráter domine o comportamento para
“dignificar” ou “divinizar” a essência.
O caráter pé dividido em bem formado e o mal formado, onde o caráter bem
formado é caracterizado por ser perfeitamente informado pelos conceitos que devem nortear
uma sociedade equitativa, onde o caráter controla o temperamento e permite a manifestação
correta da essência, podemos dizer que é a ação clara do conceito da alteridade, conceito em
que muitos cientistas sociais e antropólogos acreditam que a noção de um eu isolado é falsa,
em vez disso, eles acreditam que todos os seres humanos estão conectados e dependentes uns
dos outros, e por isso que eles acreditam que os relacionamentos são a única maneira pela
qual uma pessoa pode realmente ser autossuficiente.
O caráter mal formado é formulado por outro caráter mal formado, ou melhor
dizendo mal informado, isto se deve por estar intrínseco em seu convívio desde o seu
nascimento, ou seja, está em um círculo vicioso que é transmitido, a grande maioria dos casos,
fraternalmente. O caráter mal informado, ao contrário do oposto, libera o primevo do
temperamento e bloqueia a manifestação da essência, em outras palavras, trás a tona o
temperamento primitivo da humanidade. Aqui temos que salientar que não devemos confundir
o caráter mal formado com o termo pejorativo “mau-caráter”, pois na verdade o “mau-
caráter” não existe.
Então quando o temperamento tem um caráter bem informado, ele condiciona
suas energias para que o caráter comande e assim ambos obedecem e moldam um ser que se
manifesta na essência performando uma combinação perfeita. Quando o caráter é mal
informado, libera o temperamento para conduzir no lugar do caráter e assim em vez de moldar
a essência, está fica bloqueada no âmbito espiritual. Assim a soma desses três elementos,
moldados e conduzidos de forma equitativa, molda o ser humano.
O caráter bem informado tira o melhor do temperamento é visto como uma
necessidade, pois na questão fundamental do que é ser um ser humano vemos que é o embate
entre o “eu humano” e o “eu animal”, exemplificando, temos que os animais não são maus,
eles apenas seguem seus instintos que induzem a sobrevivência, eles vieram para nos servir e
auxiliar, vieram para ser uma interface entre nós e a natureza, assim eles devem ser
dominados através do adestramento ou conduzirmos como lideres esses animais assim como
são os gatos e cães domésticos por exemplo. Essa exemplificação é a mesma situação que
vivemos em nossa vida, esse embate entre o “eu homem” versus o “eu animal” esse embate
que ocorre dentro de cada um de nós, é uma equação do que nos domina e determina em
nossa capacidade de lidar com a violência, ou a dominamos ou a deixamos nos dominar.
Cláudio Galeno descreve os traços de personalidade inerentes de uma pessoa,
incluindo suas tendências emocionais e comportamentais. A teoria dos humores e
temperamentos foi desenvolvida logo depois, e sugere que as pessoas são compostas de
combinações dos quatro elementos fundamentais. Isso levou à criação dos humores e
temperamentos de cada pessoa.
 Sanguíneo – em sujeitos que possuem excessivamente sangue. Suas decorrentes
características seriam: alegria, otimismo, confiança e extroversão.
 Fleumático – em sujeitos que possuem excessivamente fleuma. Suas decorrentes
características seriam: timidez, apatia, lerdeza, cansaço e coerência.
 Colérico – em sujeitos que possuem excessivamente bile amarela. Suas decorrentes
características seriam: irritabilidade, intensidade, impulsividade e rapidez.
 Melancólico – em sujeitos que possuem excessivamente bile negra. Suas decorrentes
características seriam: inclinação artística, tristeza, medo e introversão.
A imagem 1 demonstra exatamente isso, o conceito dos quatro temperamentos de
Galeno, relaciona qualidade (bem/bom) e defeitos (mal/mau) encontrados no caráter humano
que molda ou bloqueia a essência em cada um de nós, possibilitando ao caráter dominar e
moldar a essência humana, ou deixar-se dominar pelo temperamento e tornar-se-á um ser
animalesco. A percepção do gráfico é mostrar que o caráter tem a capacidade de converter as
energias negativas em positivas, e quando não o faz, o temperamento urge ao comando.
Vemos que o caráter estratifica todos as qualidades e defeitos, e assim, quando todas estão
colocadas em seus devidos lugares não são más, se tornam uma energia, mesmo as que foram
tiradas da separatividade, o ódio propriamente dito, pode se voltar para a unidade de uma
forma positiva, isso ocorre intrinsecamente em nós e nos tornar a transmitir positividade,
separar e transformar o ódio assim como foi nos transmitido, deixando extrinsecamente o que
há de mau/mal.
Em suma, podemos exemplificar o que foi mencionado em uma situação
hipotética onde uma pessoa se vê acuada, e mesmo com o fato deste indivíduo nunca ter
deixado de controlar a violência, em absoluto, neste momento caótico e perigoso, vem à tona
a violência de maneira mais abrupta e sem controle, essas pessoas vivem essas manifestações
em momentos de situações onde a violência serviria como instinto de sobrevivência,
aflorando o “eu animal”, mas uma vez esse sentimento existe em todos os humanos, mas
permanece latente esperando uma oportunidade para se manifestar, isso em pessoas que
julgamos controlar a violência, em pessoas que não controla, o ato de violência é recorrente
por alimentarem esse sentimento.
Imagem 1: Adigo Consultores
Disponível em <https://www.adigo.com.br/os-diversos-temperamentos-humanos/> Acesso em: 12/10/2022 às 14h15min.
Podemos correlacionar também, com moral, seja ela consciente ou condicionada
onde a primeira significa não fazer o mal/mau apenas pelo fato de causar malefícios a quem
pratica a ação e a quem sofre, a segunda corresponde ao fato de sermos “forçados” a não
praticar algo imoral/amoral, como se fossemos açoitados, chicoteados para reprimir tal
sentimento. Então a consciência moral é um ato de compreensão ao qual me identifico como
uma ação equitativa, se tornando um sentimento sólido como o aço. Já a moral condicionada,
por forçar o humano a não ser mal/mau, é frágil e pode se quebrar com qualquer impacto, em
outras palavras é fácil de ser corrompido, uma corrupção moral, passa-se a agir com
imoralidade ou amoralidade.

Cultura e a formação do caráter


Cultura que vem do verbo latim COLORE significa cultivar, acompanhar o
crescimento das plantas ou colocar sementes, isso é semântico ao termo que originou a
palavra agricultura onde o homem trabalha a terra simplesmente com a ideia de colocar
sementes e cultivá-las para que venham a crescer, assim a cultura é entender que o homem
deve cultivar as sementes da equidade dentro de cada um de nós, pois em determinado
momento somos cultivados e em outro momento somos os que cultivam.
Como a cultura é todo o conhecimento acumulado, arte, moral, costumes, hábitos
e habilidades que os humanos adquiriram vivendo em um ambiente familiar, bem como
fazendo parte de uma sociedade maior. Então quando o cultivo cultural for invertido, ocorrer a
inversão de valores na hora do cultivo, ou seja, inverter as sementes cultivadas, cultivamos o
“eu animal” que reprime o “eu homem” criando um novo modo de cultivo, o cultivo do que é
maléfico ao contexto social, cria cidadãos com o caráter mal formado, e com isso, cria um
coletivo mal formado.
A violência parece algo intrínseco ao modo pelo qual se organiza e se desenvolve
a sociedade moderna, seja ela nacional ou mundial. Os mesmos processos, estruturas,
hierarquias e instituições com os quais ela se forma e se transforma, constituindo o
“progresso” e a “decadência”, a “riqueza” e a “pobreza”, a “alienação” e a “alucinação”,
fermentam a violência.
“O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado
um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas
suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios,
misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as
estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: Defendei-vos
de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de
todos e que a terra não pertence a ninguém!” (ROUSSEAU, 1985)
Atualmente vivemos esse contexto do cultivo da inversão de valores, o cultivo das
más sementes, estamos criando diversos coletivos malformado. Mesmo um leigo já parou
para pensar que os valores estão invertidos, temos transformando a cultura em uma anticultura
ou contracultura, uma cultura que traz revés ao trabalho da evolução humana.
A violência está presente em muitos lugares nas mais diversas esferas da vida
social, manifesta, oculta e latente, afetando indivíduos e grupos, objetividade e
subjetividade. É um fenômeno altamente histórico no sentido de que consiste
em processos de organização do trabalho e da produção, formas de
sociabilidade, modos sociais e tecnológicos do jogo de poder social. Pode
afetar indivíduos isolados ou grupos inteiros, escolhendo alguns e esquecendo
outros. Afeta não apenas pensamentos, pessoas e coisas, mas também a
natureza. Há uma longa história de violência contra a natureza ao longo da
história do mundo moderno (CROSBY, 1993; MORIN e KERN, 1991;
PONTING, 1991).
Uma situação que devemos pensar é não acreditar na síndrome de que todos os
problemas que ocorrem no mundo acontecem em um único lugar, que tudo o que ocorre de
errado é culpa de algo contrário ao seu pensamento seja social ou ideológico, alegando que é
comunismo ou socialismo, que combate a “ideologia” da esquerda. Infelizmente isso ocorre
em todo o globo, é uma síndrome globalizada, uma batalha ideológica que não existe, aqui no
Brasil, por exemplo, fomos afetados com uma severidade que tornou o cenário político
brasileiro bipolarizado, literalmente uma “guerra fria” que de fria mesmo não tem nada, afinal
o sentimento de violência está aflorado em ambos os lados. Lembrando que locais
considerados pacíficos como o Tibete e os budistas, são atingidos, pelo menos em menor
escala, por esse fenômeno, mas o seu território também ocorre o crescente aumento da
violência, que nesse caso não está latente, está bem ativa.
A crise da violência crescente, conforme já mencionado, é global. Entende-se que
em qualquer lugar do mundo vai ocorrer os aspectos positivos e os negativos, os positivos são
os que forjam o contexto civilizatório, e os negativos são os que forjam e alimentam a
alienação. Manter o controle e evitar o aumento da alienação é um grande desafio, tendo em
vista que o ser humano busca deleites para com a sua vida, ou seja, procura possuir uma
quantidade de posses para desfrutar do seu conforto, sem pensar em quão “verde está a grama
do vizinho”, essas aspirações humanas difundiram e diluíram, e acabaram se misturando com
as alienações o que veio a favorecer a disseminação da violência, isso é chamado de
VIOLENTIA ROMANA, ou violência romana, que se baseia em três aspectos que são: o rigor
da natureza; a ferocidade animal; a veemência humana. Assim descrito por LEVI (1990):
Não há dúvida de que o projeto fundamental do nacional-socialismo tinha uma
racionalidade própria: o impulso para o Leste (velho sonho alemão), o
sufocamento do movimento operário, a hegemonia sobre a Europa continental,
a aniquilação do bolchevismo e o judaísmo, que Hitler simplisticamente
identificava, a repartição do poder mundial com a Inglaterra e os Estados
Unidos, a apoteose da raça germânica com a eliminação “espartana” dos
doentes mentais e das bocas inúteis: todos esses pontos compatibilizavam-se
entre si e podiam ser deduzidos de alguns poucos postulados já expostos com
inegável clareza em Mein Kampf. Arrogância e radicalismo, kybris e
Grundlichkeit; lógica insolente, não loucura. Odiosos, mas não loucos, eram
também os meios previstos para obter os fins: desencadear agressões militares
ou guerras desapiedadas, alimentar quintas-colunas internas, transferir
populações inteiras ou subjugá-las, ou esterilizá-las, ou exterminá-las. (LEVI,
1990, p.63-64)
Já BORGES (1994):
O planeta havia sido dividido em distintos países, cada um provido de
lealdades, de estimadas memórias, de um passado, sem dúvida, heróico, de
direitos, de agressões, de uma mitologia peculiar, de próceres de bronze, de
datas memoráveis, de demagogos e de símbolos. Esta divisão, apreciada pelos
cartógrafos, auspiciava as guerras. (BORGES, 1994, p.500)
O Rigor da Natureza é a violência relacionada aos fenômenos da natureza pode
ser explicado pela ferocidade e rastro de destruição que a natureza nos impõe, nos deixando a
mercê em casos como tsunami, tornados e terremotos por exemplo. Mas exemplificado seria
uma tempestade oriunda de um furacão/tufão/ciclone, a tempestade, apesar de perder força ao
entrar no continente, continua com uma força arrebatante, tamanha violência é capaz de
arrancar árvores, virar carros, arrancar telhados e destruir casas, sem o fato de ser
potencialmente fatal para um ser humano.
A Ferocidade Animal é a violência instintiva do animal, principalmente a relação
de caçador dos animais carnívoros e a de caça dos herbívoros. Aqui podemos exemplificar
com a caça de um leão faminto em busca de alimento, ao avistar um grupo de antílopes, ele
urge em perseguição e esse grupo ao entrar este grupo na mira do leão, perceberemos que nem
todos os indivíduos do bando serão alvo, o leão não perseguirá os mais fortes, jovens e
saudáveis, ele conduzirá esse ataque aos mais frágeis como os doentes e os filhotes. Isso se
deve ao fato do leão querer gastar a menor energia possível com o ataque. Como vimos, aqui
a violência obedece uma certa simplicidade, uma lei natural seguindo os princípios do instinto
animal.
Por sua vez, a veemência humana que era chamada pelos gregos de HYBRIS era o
conceito seguido pelo ser humano para resolver seus problemas, resolver através de uma
“ferramenta” que traria a remissão dos erros cometidos em momentos de fúria. A
exemplificação perfeita seria o mito do Hércules, que para ter a remissão de seus erros teve
que realizar os seus tão conhecidos 12 trabalhos.
O descontrole humano ou desmesura humana era um tipo de violência mais
complicada de se resolver porque a hybris depende do comportamento humano para se
solucionar, não seria possível resolver seguindo os ciclos da natureza e, muito menos resolver
seguindo instintos. A desmesura humana era resolvida com ferramentas humanas sendo elas a
inteligência, a criatividade e a atenção, ou seja, devemos encontrar as ferramentas e as
respostas adequadas para resolver nossos problemas.
Em concordância com o que foi descrito em relação as ferramentas humanas para
a resolução de problemas, podemos dizer que o homem moderno e a sociedade atual não
possuem a ideia do que sejam essas ferramentas, não sabem qual seja o modelo humano
mencionado no texto, de como esse modelo humano é capaz de resolver suas desmesuras.
Assim vemos um amontoado de meios que são produzidos por cada um ser humano para a
resolução de seus problemas.
Passando cada ser individual a ter uma maneira para resolver seus dilemas,
podemos perceber que aqui também não há, necessariamente, uma maneira melhor ou pior, na
verdade essas ideias são complementares umas das outras, isso é possível por juntarmos todas
as soluções individuais para um mesmo problema, conseguiremos um resultado para o
distúrbio em questão.
Assim sendo, a sociedade deve encontrar o seu modelo de resolução de
problemas, no caso, buscar um modelo como humanidade, uma forma humana de enfrentar a
violência, a desmesura, o desequilíbrio e/ou a perda do autocontrole.

Platão e o homem atual: modelo animal potencializado pela razão


O homem e atual está muito mais próximo de um animal, que sobrevive por
instinto, do que um ser humano de fato, capaz de pensar e controla o seu temperamento,
deixando a mercê que esses sentimentos serão transmitidos como uma anticultura para as
próximas gerações, e com certeza, criará um ciclo vicioso praticamente indissolúvel.
Agora que dissemos sobre ela, é verdade, quanto ao seu estado atual. Nós
vimo-a seguramente num estado comparável ao de Glauco marinho. Quem o
vir, não reconhecerá facilmente a sua natureza primitiva, devido ao fato de, das
partes antigas do seu corpo, umas se terem quebrado, outras estarem gastas, e
todas deterioradas pelas ondas, ao passo que outras se sobrepuseram nelas
conchas, algas ou seixos, de tal modo que se assemelha mais a qualquer animal
do que ao seu antigo aspecto natural (PLATÃO. A República. X, 611c-d).
O homem atual se contamina por ideias que não se correlacionam com as ideias
humanas, que podemos correlacionar com uma passagem descrita na República de Platão
chamada “Glauco marinho”. A passagem diz o seguinte, imagine que um homem caia no mar,
e aqui vemos a diferença entre “ser jogado ao mar” e “jogar-se ao mar” marcava os dois
caminhos tomados por esses personagens no processo de divinização (CORSANO, 1992, p.
16-19).
Glaucus de Anthedon, que sente até desespero e raiva por não ter conquistado a
eterna juventude garantida aos deuses pela imortalidade, atira-se ao mar como um ato de livre
arbítrio. Sua transformação ocorre pela busca ativa da mudança. Claro que sabemos que tudo
o que acontece é de acordo com a vontade dos deuses, mas neste caso é dada a Glauco a
oportunidade de acreditar na ação “independente”.
Portanto, quando retoma como deus marinho (tendo mesmo adquirido uma forma
bastante semelhante às outras divindades marinhas), transforma-se em uma divindade
benfazeja, que aparece para predizer os perigos, para ajudar (EURÍPEDES. Orestes. 362).
Como parte deste novo universo, ele conhece Nereus, que muitas vezes era considerado seu
“porta-voz”. Glaucus de Anthedon era uma divindade tão amada.
Mas, lembremos que Glauco, para esses homens e para a comunidade políade
era, na sua forma humana, um pescador. Em outros tempos, todavia, eu não era
mais que um simples mortal. Mas, acostumado ao reino de Poseidon, eu me
exercitava desde muito tempo sobre suas bordas. Umas vezes, eu arrastava
sobre a areia minhas redes cheias de peixes; outras vezes, armado de uma longa
vara, e sentado sobre um rochedo, eu dirigia o anzol sobre as ondas (OVÍDIO.
Metamorfoses. XIII, 917).
Aqui devemos lembrar que as águas simbolizam uma horizontalidade que seria o
mundo material, e o fogo simboliza a verticalidade que seria o mundo espiritual. E assim
temos uma cruz que simboliza a junção entre o material (horizontal) e o espiritual (vertical), e
assim podemos dizer que o homem ao cair nas águas ele cai no mundo material e perde sua
espiritualidade, vemos que ele acaba se deformando de tal maneira que de tão violento, que é
a deformação, que não reconhecemos mais nenhum resquício de humanidade nesse homem, e
se for transmitido como cultural, ou melhor dizendo anticultura, a sociedade também perde a
sua forma humana.
Ao cair no mundo material, paramos de olhar para o espiritual, paramos
conquistar os pensamentos de uma ideia humana e passamos a sermos moldados pelo plano
material, que é uma inércia no contexto evolutivo, tornando um sentimento que vai contrário a
evolução, em outras palavras se torna um movimento involutivo. Paramos de captar energia
do plano espiritual passamos a captar o que é desmesuro, de querer o tempo todo receber,
mesmo sem merecer, todo o tipo de energia.
Podemos explicar com o arquétipo dos animais, que tem como ideia básica de sua
evolução o instinto de preservação da espécie e de sobrevivência. Isso no contexto animal é a
lei, que cada espécie de animal cumpra o seu papel na natureza que se torna o seu papel no
mundo. Já o homem, viver sujeito a instintos de sobrevivência e perpetuação da espécie deve
ser conceituado como egoísmo, agressividade, violência. É um monte de características que
vão animalizar o homem e pega um pouco do arquétipo humano com base nos valores,
virtudes e sabedoria.
Então saber encontrar a forma humana para resolver as coisas é tão próprio do
humano quando o ato de respirar, e, com o crescente debate do que é violência, acabamos,
como sociedade, caindo cada vez mais no mundo material, cada vez mais nos animalizando.
Devemos focar em que a saída para esse período de violência humana sejam os aspectos
baseados na prerrogativa da perspectiva humana, ou seja, não são as bases de um triângulo e
sim o seu ápice, sair da dualidade em relação a natureza animal.

Em um mundo em movimento, quem não avança, retrocede.


Esse título parece óbvio mas não é tão óbvio, muito pelo contrário, ele é bem
contraditório. Quando percebemos que a natureza está sempre em constante evolução,
incluindo aqui uma (provável) extinção em massa, tendo em vista que a destruição leva a
renovação e renovar também significa evoluir, com as plantas e os animais tornando cada vez
mais complexa sua forma de sobrevivência, vemos que o ser humano está no momento detido
em um período da evolução humana.
É evidente que esse ato de detenção em um mundo onde tudo avança, o ser
humano acaba retrocedendo, acaba cada vez mais se animalizando. A animalização da
condição humana é um fenômeno invisível aos olhos nos dias atuais, principalmente para
mentes que já estão animalizadas.
A maior parte do tempo quando esperamos um comportamento humano tem
alguma coisa, mas pouca coisa, de comportamento animal, este que é puramente instintivo,
puramente egoísta e se assemelha a um vácuo de sentimentos humanos, um espaço que não é
ocupado, e, assim como no espaço sideral, um espaço onde não pode haver vida.
ECHENIQUE (2000) diz que os gatilhos da violência ocorrem nas quatro fazes da
base da pirâmide da civilização conforme já mencionado. O autor também diz que a educação
é uma chave para controlarmos a violência, ao mesmo tempo, não podemos relacionar
violência e educação, isso porque a violência não pode ser dobrada a questão de ignorância.
Assim temos que comparar a educação no contexto educacional brasileiro, por exemplo, qual
educação estamos falando, a educação informativa que despeja dados aos alunos, ou a
educação formativa que traz o melhor do ser humano a tona?
Educação tem que formatar o ser humano tornando-o capaz de controlar a
violência, florescer a semente boa que é plantada em cada um de nós, aquilo que seja do mais
profundo e verdadeiro, ou seja, fazer florescer a sua essência. Fazer com que a essência
domine a aparência, em outras palavras, a educação ajuda o ser humano, a alinhar-se a aquilo
que ele tem de melhor, para que esse melhor domine a essência, dome o “eu animal”.
A educação ajuda a virar esse jogo, ajuda a fazer com que o humano seja um
adestrador do seu “eu animal” a que seja harmônico na subida da pirâmide da socialização,
que tenha harmônia entre as quatro bases, o “eu homem” e o controle do “eu animal” para
chegar ao topo da pirâmide.
Para analisar o quadro das violências assumi como referência teórica a
compreensão presente nas obras de Paulo Freire. Em Pedagogia do oprimido, Paulo Freire
afirmar que violência social é gerada pelo opressor, que carrega em sua pessoa uma
consciência necrófila. Confirmando que a escola capitalista reproduz um ambiente de
exploração, de violência e de ação de opressores, entende-se que há violência quando se
permite, ou pouco se resiste, à presença dos opressores. Para contrapor-se a lógica do
opressor, a escola pode promover uma reflexão permanente sobre os direitos humanos,
fortalecendo o movimento pela defesa da vida. Para ele, a violência é a prática da exploração,
da injustiça e da opressão. Nesse sentido, violentos são os opressores, que utilizam diversos
mecanismos implícitos e explícitos para demonstrar a sua força e seu poder. Porém, estes
opressores dificilmente revelam e assumem sua consciência necrófila, afirmando que
violentos são os oprimidos. Para Paulo Freire, a violência dos oprimidos é o resultado de um
longo processo histórico de opressão, é uma reação à violência dos opressores e, nesse
sentido, as forças reacionárias, detentoras também dos meios de comunicação de massa,
muitas vezes, divulgam a reação dos oprimidos diante das injustiças como baderna,
perturbação da ordem social instituída e legitimada. Marilena Chauí (1998) chama a atenção
para a forte tendência de produção de uma imagem unificada de violência, que mascara a
violência real, e induz a associação desta com a pobreza e com os marginalizados, como se
estes fossem os seus principais protagonistas.

A violência não é percebida ali mesmo onde se origina e ali mesmo onde se
define como violência propriamente dita, isto é, como toda prática e toda idéia
que reduza um sujeito à condição de coisa, que viole interior e exteriormente o
ser de alguém, que perpetue relações sociais de profunda desigualdade
econômica, social e cultural. Mais do que isto, a sociedade não percebe que as
próprias explicações oferecidas são violentas porque está cega ao lugar efetivo
de produção da violência, isto é, a estrutura da sociedade brasileira (CHAUÍ,
2003:52).

Devemos compreender que a teórica de que a violência social estrutura-se a partir


de pilares que também sustentam o capitalismo: o globalismo, a destruição criativa, o
processo de urbanização e a disseminação de uma cultura de violência, pois a globalização
acentua duas outras violências, a da desigualdade e da exclusão e a explosão de atos que
revelam uma fragmentação cultural internacional. A primeira violência, a da exclusão,
relaciona-se à interdependência das economias nacionais, cujos vínculos entre a
mundialização da produção e o neoliberalismo acentuam a concentração de renda e a
desigualdade social, ampliando os espaços de violência. A segunda violência, também
presente em âmbito internacional, refere-se à difusão planetária de bens culturais, com
movimentos homogeneizadores em diferentes localidades. Atos defensivos e contra-
ofensivos, reveladores de identidades culturais que se mantém vivas, fazem explodir
manifestações diversas de violência (racista, interétnica ou xenofóbica) em diversas
localidades, num movimento de mundialização da violência nas suas formas fragmentárias.
No entender de Wieviorka (1997):
“a concepção contemporânea da violência é perseguida pela idéia de um
declínio-superação do Estado (…) a violência surge ou se desenvolve em meio
às carências do Estado (…) a violência contemporânea situa-se no cruzamento
do social, do político e do cultural do qual ela exprime (…) as transformações e
a eventual desestruturação”. Wieviorka (1997:20-21; 37)

Para o autor (1997:25), a sociologia da violência deve mostrar as mediações


ausentes, os sistemas de relações cuja falta ou enfraquecimento criam o espaço da violência,
mostrando também como ela se renova nas suas percepções subjetivas como nas suas
realidades históricas. Já a globalização é definido como um sistema cultural homogeneizado
que afirma o mesmo através da introdução de diferentes identidades culturais que se cruzam
com os indivíduos. Houve quem afirmasse lidar com cidadãos do mundo, mas isso contradiz
completamente a ideia de cidadania (Ribeiro, 1995). Porém “No debate sobre a globalização
não temos encontrado análises que consideram os fragmentos que ele acarreta. Ao contrário,
ressaltam-se as suas vantagens aparentes, porém sem configurá-la com maior precisão”
(Ribeiro, 1995:18).
A globalização é discutida de acordo com categorias espaço e temporais à luz das
estruturas do sistema mundial, pós-modernismo e conceitos de nação, mercado mundial e
lugar. A globalização transformada em paradigma de ação reflete o protecionismo dos
Estados-nação que contradiz teoricamente as demandas “livres e globais” proclamadas pelos
liberais de plantão. Mas olhar para os lugares onde as pessoas vivem suas vidas diárias,
especialmente quando esses lugares estão em partes pobres do mundo, identifica os aspectos
perversos e excludentes da globalização. Assim sendo, a globalização vem levando a conflitos
que muitos tentam disfarçar como competição entre nações e/ou corporações internacionais,
principalmente, no que vemos em RIBEIRO (2001) quando a globalização se fragmenta e
representa especificidades étnicas, nacionais e religiosas e povos que são excluídos dos
processos econômicos com a finalidade de acumular riquezas ou alimentar conflitos, entre
eles a xenofobia e o racismo, assim Viviane Forrester descreve que:
O racismo e a xenofobia exercidos com jovens (ou contra os adultos) de
origem estrangeira podem servir para desviar do verdadeiro problema, da
miséria e da penúria. Costuma-se limitar a condição de “excluído” a questões
de diferenças de cor, nacionalidade, religião, cultura, que não teriam nada a ver
com a lei dos mercados. Entretanto, são os pobres, como sempre, e desde
sempre, que são excluídos. Em massa. (FORRESTER, 1997, p.11-59)
BAUMAN (2006:96) usou o termo “globalização negativa” para se referir à
“globalização altamente seletiva do comércio e do capital, vigilância e informação, coerção e
armas, crime e terrorismo, todos agora desprezando a soberania territorial e não respeitando
nenhuma fronteira estatal”. Segundo ele, se a globalização traz uma promessa para a
humanidade, ela ainda não se manifestou. Ao contrário, a globalização negativa abriu
forçosamente as sociedades a esses processos altamente seletivos (a globalização dos
negócios, do crime ou do terrorismo, mas não das instituições políticas e jurídicas capazes de
controlá-los) e substituiu o risco pela vulnerabilidade generalizada aos perigos de danos não
calculáveis. Probabilidade (2006: 98–99, 135).
O conceito de globalização negativa substitui uma noção de progresso humano
pelo desencadeamento de forças incontroláveis, enquanto o mal social/moral adquire as
características próprias das catástrofes naturais, tornando-se igualmente imprevisível,
imprevisível e incompreensível, sinalizando assim o fim da separação dos naturais. dos males
morais característicos da modernidade (2006: 82-6). No entanto, a consequência dessa “guerra
universal de devastação” não é a criação das armas e dos sujeitos que acabarão por criar um
mundo melhor, mas a frustração do próprio projeto de modernidade. O conceito de
globalização negativa revela na raiz um questionamento do legado iluminista e uma crença de
que “até agora, a razão moderna serviu ao privilégio, não à universalidade” (Bauman 2006:
65).
Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001, por exemplo, foram considerados
um ponto de virada histórico que vem simbolizar a nova prevalência deste e de outros
discursos semelhantes sobre os perigos da globalização. Para ZIZEK (2005:51), o 11 de
setembro marca o fim dos 'felizes anos 90', governados pelo sonho neoliberal do 'fim da
história' após a queda do muro de Berlim e a disseminação do sistema capitalista global. Hoje,
o fim da utopia da democracia liberal capitalista global, que Zizek descreve apropriadamente
como a última grande utopia após o suposto colapso das utopias políticas, sinaliza um retorno
à história real de novos muros de conflito (2005: 122-123). Por outro lado, BAUMAN (2002)
apontou que o 11 de setembro deve ser considerado como o fim simbólico da era do espaço,
depois que a globalização transformou o poder e a segurança em questões extraterritoriais e o
espaço global assumiu o caráter de uma terra de fronteira, na qual a frente linhas e
combatentes estão sempre em movimento.
Já a concepção marxista mostra que existe uma relação entre violência e luta de
classes, motor da história. Em outras palavras, o conflito é irredutível. A violência causa
mudança social, e não o contrário, ou seja, a sociedade globalizada, com os gigantescos meios
de produção, circulação e troca que mobiliza, é como o feiticeiro que perde o controle dos
poderes do mundo inferior que convocou com seus feitiços (cf. Marx e Engels 1985: 85-86).
As interpretações têm sido criticadas com base na função social do problema da violência.
Além disso, a pesquisa microssociológica apoia a diminuição da violência, assim que a
violência cotidiana difere dos discursos ideológicos ou mitológicos que a sustentam.
A sua representatividade e o seu lugar no mundo.
A representatividade se baseia no simples fato que cada ser humano possuí seu
lugar no mundo, ele não pode ser representado por alguém quando está presente, apenas
quando julga necessário devido a um infortunoso fato que o faça não estar presente, assim ele
escolhe um representante. Um exemplo quase tão antigo quanto a humanidade são os
políticos, que são eleitos com a premissa de serem representantes da população sendo assim
eleitos pelo voto.
Uma pessoa se torna adulta quando chega, na maioria das culturas, aos 21 anos de
idade, nesse momento o seu “eu humano” tem que estar constituído o suficiente para que esse
ser humano não perca o controle. Até chegar essa idade, o jovem depende de alguém que
controle essas forças para ele, não apenas protegendo, mas também forjando um alicerce onde
esse jovem possa construir a sua personalidade. Assim ele não se compromete a sua vida por
falta de controle.
No exemplo supracitado, imagine que até chegar aos 21 anos o seu “eu humano”
ainda não apareceu, ainda não chegou o seu momento de despertar, por isso outro ser humano
deve controlar e desenvolver a personalidade do jovem como se fosse a sua própria, em outras
palavras, como um espelho refletindo uma imagem. Deve representar aquilo que ainda está
ausente, conduzindo essa personalidade para que ela seja bem informada.
Sabemos que o corpo físico depende da alimentação para se desenvolver e,
mesmo aqui, dependemos de uma certa disciplina, de se alimentar, de descanso, de exercício.
Isso porque as energias não podem ser gastas de uma maneira que a dignidade comprometa a
saúde física deste jovem, para que as emoções gerem uma desordem em sua vida, leve a
distintos desequilíbrios que sejam perigosos para o futuro.
Resumidamente, o “eu humano” representante vai moldando o “eu humano” do
jovem, e vai substituindo-o enquanto estiver ausente, enquanto ainda não for inteiramente
formado. E isso é o representante do próprio “eu humano”, mas especificamente, esse
representante é o educador, que educa a personalidade de tal maneira que entrega ao novo “eu
humano” uma personalidade preparada e, ainda assim, progressiva. Se isso não for preparado,
essa personalidade se torna desconstruída, ou melhor, desestruturada, uma personalidade
rebelde que é comprometida com elementos que não deixam com que ele assuma as rédeas.
Após essa explicação ainda cabe algumas indagações que, dependendo do ponto
de vista, pode ser fatal. Como é que uma pessoa pode representar o “eu humano” para outro
alguém, quando esse “eu humano” não está presente dentro dele? Como ele poderá
representar o “eu humano” do outro? Como alguém pode ser representante se alguma coisa
que seria dele, também está ausente? A resposta já foi descrita, é o educador.
A condição fundamental do educador é o contato da consciência com o ser, é um
livro de maturidade humano, de solidez, de domínio, de autocontrole, de presença de
elementos humanos bem consolidados, que dá a esse educador a possibilidade de representar
este outro ser em formação. Podemos exemplificar, pegando uma sociedade clássica o ideal
para o educador ter seria a virtude, e não o conhecimento meramente intelectual, isso porque
se não tem a virtude, valores, sabedoria, maturidade e/ou autocontrole não são coisas que se
adquirem rápido como o conhecimento intelectual que com amor ao conhecimento é
adquirido de forma rápida.
Assim um verdadeiro educador é um representante de elementos e é através do
educador que vão ser um referencial para os educandos. Através da educação podemos criar
seres humanos que sejam não violentos, pessoas que tenham a consciência e o controle da
violência em si. E aqui cabe mais um questionamento: Como é que está a nossa educação? Ela
está voltada para o quantitativo do que para o qualitativo. Os conceitos como virtude, valores,
sabedoria, maturidade e/ou autocontrole já são coisas bem secundárias em nosso cotidiano
educacional, está muito competitiva (exemplo: foco no quantitativo de aprovados no ENEM),
gerando uma “habilidade” mnemônica, e isso não é uma virtude.

Causas da violência: Vícios, promoção dos defeitos/desvalorização da virtude e Egoísmo


Ainda com os conceitos de Echenique (2000) sobre violência, ele cita os vícios
das drogas e do álcool como reais facilitadores para que o indivíduo seja dominado pelo seu
“eu animal”, simplesmente pelo fato desses vícios reduzirem o poder da consciência e a
lucidez. Quando você diminui a consciência e a lucidez você também diminui o controle
sobre o seu “eu animal” e este acaba aflorando, podemos exemplificar com os casos de
violência doméstica sofrido por mulheres em suma nos lares em que vivem com seus
decorrentes de algozes.
A consciência humana é algo para ser desenvolvido e não minimizado. Uma das
coisas que era (e ainda é) considerada imoral no mundo clássico é a troca da consciência
humana por prazeres, conforto ou diversões sejam elas quais fossem, isso porque consciência
humana é exatamente o fato que a gente está trabalhando para desenvolver, e é muito preciosa
para você trocar por qualquer coisa. Então vícios tendem a afrouxar a capacidade do homem
de controlar os seus impulsos animalescos e a violência é um deles.
Outra causa dentro dos conceitos de Echenique (2000) são a promoção dos
defeitos e a desvalorização das virtudes, ambas ligadas diretamente ao conceito de cultura.
Digamos que hoje se uma pessoa é muito preguiçosa fica muito à vontade de comentar isso
em público, agora quando uma pessoa é muito bem-disposta, acorda cedo e faz todas as suas
tarefas, ela tem um certo temor de falar em público por poder ser intitulada como
“retrógrada”, que não sabe viver. Assim como a generosidade e a avareza, o primeiro não vai
ficar à vontade de falar sobre sua generosidade e a segunda chega a se vangloriar e a
desrespeitar aquele que pratica a generosidade.
Percebamos que este elemento social é muito forte, nós temos aqui diversas
contraculturas aceitas com normalidade pela sociedade, que ridicularizam as virtudes e
enfatizam o vício como algo espontâneo, como mais humano. É necessário uma
individualidade muito grande para termos virtudes em uma sociedade desvirtuada, e nadando
contra essa corrente, corrente em que contextualizando com nosso momento atual, não
beneficia a conquista pela virtude, muito pelo contrário, valoriza o animalesco o
“espontâneo”, a liberação do que a humanidade tem de pior.
Aqui faço a dialética entre os conceitos de Echenique (2000) e BLAVATSKY
(2014). Ambos tem a mesma ideia conceitual do que seja egoísmo, e ambos abordam o tema,
como sendo o maior mal do mundo, uma heresia para com a essência evolutiva. O egoísmo é
responsável, praticamente, por todos os problemas que vivemos a nível coletivo e como o
individual.
Então do outro como meio para obter satisfação, covardia, a falta de consideração,
a insensibilidade, a indiferença e a falta de consideração com os sentimentos alheios torna o
ser humano a pensar excessivamente e exclusivamente a si mesmo já se considera um ato de
violência. Há inúmeras formas de praticar violência, mas o egoísmo, em suma, é uma forma
brutal de violência, e é a partir dela que as outras formas de violência surgem, assim podemos
dizer que o egoísmo é o sentimento “eu animal” patriarcal.
O uso de sentimentos alheios para se divertir, o uso da vida do outro para pode
proporcionar momentos de deleites, é o que na sociedade atual chamamos de bullying, que
pode ser conceituado por ameaçar ou intimidar qualquer pessoa; humilhar por qualquer
motivo; excluir; discriminação baseada na cor da pele, raça ou gênero; Falar mal sem motivo,
etc. O abuso verbal é mais comum do que o abuso físico e ocorre com mais frequência nas
escolas.
Peguemos, para finalizar, em Blavatsky (2014) descreve que “O devoto egoísta
vive sem um propósito. O homem que não enfrenta o trabalho designado para ele na vida […]
vive em vão” e ainda diz que “evita ajudar o ser humano para não atuar em função do Eu. […]
A inação cuja base é o medo egoísta só pode produzir maus frutos”. Para finalizar essa parte
do artigo, cito Leônidas Hegenberg, onde diz que:
(…) dado esses argumentos e essa evidência, os seres humanos devem sempre
agir em seu interesse próprio (egoísmo). Ou eles poderiam dizer: Os seres
humanos devem sempre agir no interesse dos outros (altruísmo), ou os seres
humanos devem sempre agir no interesse de todos os interessados, o eu
incluído (utilitarismo). (HEGENBERG, 2010a)

Boa educação permite respostas humanas?


A resposta para essa pergunta é um sonoro SIM! Pensemos em um modelo
simples e verificável para tornar concreto essa afirmação e saber se uma pessoa é bem-
educada ou não, basta colocá-la em uma complicação e veja como ela ira resolver ou
responder a tal complicação. Todos nós temos nossas qualidades e defeitos quando falamos de
educação, nas circunstâncias da vida perceber isso, através de nossa vivência podemos nos
conhecer, saber como responderemos a cada complicação.
Devemos viver sabendo que o mundo possui diversas vertentes, caminhos onde
cada escolha nos levará para um determinado rumo, devemos sempre balancear as coisas,
pensar no que for mais correto, isso porque se fizermos algo sem algum pensamento prévio,
sem pensar como transpor todos as complicações, a culpa não será do destino, a culpa será do
indivíduo, afinal, será uma inabilidade própria, temos que ter a capacidade de analisar todos
as prováveis respostas para as complicações da melhor forma possível, sempre com foco nas
respostas humanas, ou seja, temos que saber dar respostas humanas diante das atuais
complicações atuais.
Um caminho enriquecedor na interpretação e entendimento mais profundo da
violência atual, defendido por Erly dos Anjos (2003), é a busca de elementos e circunstâncias
anteriores que determinam e/ou condicionam certos tipos de desvios: a situação, a
oportunidade, o mercado e a influência. Nesse sentido, o autor (2003:77) ressalta que “vale
aqui a escolha individual dos custos e benefícios na tomada de decisão para um ato violento
(…) Quais são as vantagens ou os riscos envolvidos? (…) Vou me dar bem?”.
Xésus Jares (2002) esclarece que a paz carrega concepções forjadas entre
diferentes civilizações e culturas. No plano das relações interpessoais, a idéia tradicional de
paz está associada a uma experiência intimista, que relaciona tranquilidade, serenidade e
ausência de conflitos. Para o autor “essa idéia negativa (…) desenvolveu uma imagem passiva
de paz, sem dinamismo próprio e criada antes como consequência de fatores externos a ela,
aos quais se atribui essa capacidade dinâmica” (JARES, 2002: 122). Assim como, “a paz
refere-se a uma estrutura e a relações sociais caracterizadas pela ausência de todo o tipo de
violência e pela presença de justiça, respeito e liberdade. (…) A paz exige a igualdade e a
reciprocidade nas relações e interações” (JARES, 2002: 131).
Não considere que somos incapazes de realizar o que foi mencionado, somos uma
humanidade que é capaz de calcular a velocidade de um cometa e se este cometa poderá ou
não se chocar com o nosso planeta. Somos capazes das mais variadas resoluções para
qualquer complicação, e somos capazes de buscar essa resolução com foco em respostas
humanas, resumidamente, em geral, temos uma capacidade intelectual de respostas fora do
comum, basta manter o foco na humanidade e não no animalesco.
O animalesco nesse caso, seria a incapacidade de achar respostas para quaisquer
complicações, e assim é que a violência é uma complicação não respondida ou muito mal
respondida e significa que não estamos buscando uma resolução humana, apenas passamos a
aceitar e não questionar comportamentos que vão contra a cultura, aquilo que nos afasta do
“eu humano”. Se nos afastamos podemos nos enquadrar no que ANJOS (2003) afirma que:
Matam por quantias irrisórias de dinheiro, ou por discórdias pessoais. Por que
alguém mexeu com a namorada de pessoas que muitas vezes se conhecem ou
são da própria família. Matam para roubar pequenos e grandes objetos. Matam
as vítimas de sequestro, mesmo após o recebimento do resgate. Matam os seus
comparsas, para acerto de contas, relativo ao tráfico de drogas em casa, nos
bares e quem, estiver presente, no momento. Não se sabe se matam para
apropriar-se de propriedade alheia e desconfia-se que matam simplesmente
para ter mais poder e prazer ou por razões que a própria razão desconhece.
(ANJOS, 2003:66)

Poder externo sem o poder interno gera violência


Echenique descreve mais um elemento importante, ele diz que o poder externo
sem o poder interno gera violência, o que ele quer dizer com isso é que é sem poder interno,
sem o autocontrole, sem equilíbrio, ficamos a mercê do “eu animal”, ou seja, se colocarmos
poder na mão de um indivíduo assim, essa pessoa vai agir com violência. Confúcio já dizia
que de fato não pode comandar que não sabe obedecer, nesse caso, obedecer os seus
princípios e os seus valores, com base no seu autocontrole um certo eixo direcional ético, ao
qual esse ser humano não renuncia.
O poder no nosso mundo ficou estigmatizado, as pessoas negam o poder e isso
acaba gerando debilidade, esse estigma foi gerado porque corremos atrás apenas do poder
externo, e não no poder interno em primeiro caso. Esse poder interno daria ao homem a
possibilidade de uma absoluta sensatez e correção no exercício do uso do poder em suas
mãos.
Há que desenvolver virtudes opostas à violência, em vez de apenas reprimí-la, ou
seja, não considere que dentro de nós é como se fosse um campo de batalha, de um lado
temos a violência. Correlacionando com os conceitos de Blavatsky, que chama de “eu
inferior”, e do outro lado temos o “eu superior” que seria a possibilidade de agir com reflexão,
generosidade, atenção, entre outras virtudes. Blavatsky (2014) descreve que “[…] nenhuma
luz que brilha do espírito pode dispersar a escuridão que vem da Alma inferior, a menos que
todo pensamento egoísta tenha fugido dali […] Porque agora tem lugar a última grande luta, a
guerra final entre o Eu superior e o Eu inferior”.
Esse “eu superior” se alimentado, fortalecido com os sentimentos que tornam um
ser humano informado, é uma série de sentimentos que se forem fortalecidos, em pouco
tempo se tornam maiores que o inimigo e permitem confrontá-lo e dominá-lo. Se deixarmos
para combater a violência quando ela já for um inimigo extremamente forte, seria um desastre
e, provavelmente, seria uma derrota.
Em vez de tentarmos colocar a violência em uma jaula, devemos desenvolver as
virtudes opostas a violência na hora que o conflito se estabelecer, seremos capazes de
subjugar essa violência. Não é um elemento que eu tenho que ficar reprimindo, afinal
repressão não funciona, afinal uma hora essa jaula quebra, uma hora esse controle baseado na
repressão se acomoda e baixa a sua atenção, e é aí a violência surge mais violenta, mais
devastadora porque ela nunca foi dominada.
Então fortalecendo as virtudes o indivíduo gera ferramentas internas, e quando
essa violência se manifestar, mesmo parecendo algo poderoso, ela poderá ser combatida e
derrotada, poderá ser controlada, afinal, nada mais poderoso para dominar a violência interna
do que desenvolver virtudes, e dominando a violência interna temos a possibilidade de nos
tornamos humanos.

Ciclo violência-vítima: sem vítimas, não há violência.


Este ciclo violência e vítima, podemos dizer que é o mais interessante e original,
porque o autor vai dizer que existe uma dualidade que se coloca em equilíbrio, sem vítimas
não à violência. A violência precisa de presas, portanto tem que haver seres com o perfil de
presas, esteriótipos que sejam relacionados há algo que seja o gatilho de violência nos que
seriam os caçadores.
Aqui temos que explicar que a pessoa que é vítima da violência não é culpada por
sofrer a violência, mas que o ator da violência percebe que o esteriótipo da vítima como um
gatilho para que ele seja violento, podemos exemplificar a homossexualidade, onde, de fato e
direito, não há nada de errado em um indivíduo amar e se relacionar com uma pessoa do
mesmo sexo, porém, haverá outros indivíduos que julgam, principalmente relacionado a
religião, que tal comportamento é uma blasfêmia, e age com discriminação e até violência
contra os homossexuais, a homofobia, é uma violência gratuita, estúpida e criminosa.
Epicteto (50 d.C.-135 d.C), filósofo grego que foi escravo em Roma, diz que a
extinção da culpa marca o início do progresso moral, não existem culpados, mas existem
pessoas que quando são colocadas em uma determinada posição em um conflito,
inconscientemente, realimenta o processo gerando uma violência, e faz com que essa
violência, essa anticultura gerada, se perpetue. Ao tomar consciência disso e a começar
trabalhar corretamente podem corrigir. Epicteto relata isso no início do primeiro capítulo do
Encheirídion:
Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São nossos
encargos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja
ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos
públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa. (Encheirídion. I, 1-2)

Não estão sob nosso controle as coisas que os homens consideram bens ou males,
estão sob nosso controle as coisas que nos permitem transformar em bens ou males as que não
estão sob nosso controle, essas coisas ele chama de “escravas” pois não têm vontade própria
nem qualquer poder sobre si mesmas já que estão submetidas ou às leis do cosmos ou à
vontade alheia, as opiniões alheias.
Sobre as opiniões alheias, Epicteto, eu diria que quem se aborrece com insultos e
zombarias, buscar elogios (comumente chamado de puxa-saco), tenta agradar a isto ou aquilo,
e luta por questões de status, paga um alto preço: sua liberdade. Porque se acredita que sua
felicidade depende da aprovação dos outros, o indivíduo passa a ser ditado e escravizado pelo
exterior.
Podemos sintetizar essa porção do texto como que o ser humano que é dominado
pelo “eu animal” faz com que o processo de violência e vítima se perpetue, porque sempre
voltará o seu instinto de violência para uma determinada vítima, sempre haverá um humano
que será, na visão desse humano dominado, digno de sua ira. Ao tomar consciência disso e
começar a trabalhar corretamente podem corrigir, tornar um humano digno, faz com que
tornemos nossa sociedade digna.

Manipulação: crer no aleatório, (des)entender e (des)montar a lógica.


Em relação a manipulação, Echenique descreve que a violência é um ato de
absoluta aleatoriedade, que não existe uma lógica no processo e, como essa lógica é
inexistente, não temos nada o que fazer para conter a violência, simplesmente nos
recolheríamos e esperaríamos que alguém faça alguma coisa por nós, como uma posição
extremamente passiva, ou vamos para o outro lado e reagiríamos de uma forma extremamente
agressiva.
Essa situação de aleatoriedade não é verdade, isso porque não existe nada no
universo que seja aleatório, e isso entra de fato no contexto do conceito da filosofia clássica
cada vez mais. A eficiência do conceito é que vamos descobrir ou encontrar uma explicação
para coisas que pareciam absolutamente caótica e desordenadas um ou dois séculos atrás, ou
no contexto social atual, ontem. Então vamos percebendo que o universo é permeado de
lógica, de inteligência, de concentração de causas e efeitos.
A violência não é uma exceção, a violência é gerada pelo caos e desordem, e isso
é forjado de causas que causam determinados efeitos. Dentro de um silogismo podemos
interferir para quebrar as causas e evitar muitos dos efeitos de uma maneira bem simples,
sendo humano, e podemos explicar isso de uma forma bem simples, pois não há culpados há
sim, pessoas despreparadas. Quando estamos preparados poderemos entender a máquina da
violência e começar a trabalhar para desmontá-la.
Aqui temos que contextualizar o período atual da sociedade onde temos uma
descrença violenta com a ciência, ou melhor dizendo, com as ciências no plural. Atos de
violência contra os mais variados setores da ciência explicam o alto número de mortes
ocorridas na pandemia do coronavírus (COVID-19) que é uma doença infecciosa causada
pelo vírus SARS-CoV-2. Lembrando que essas mortes, pelo menos uma grande parte, foi
causada pelo movimento antivacina, um movimento que usa de desinformação e violência
para que pessoas não se vacinem com especulações falsas de que a vacina pode trazer outros
malefícios.
Doenças erradicadas há algum tempo estão voltando no Brasil e no mundo. Essa é
uma das principais consequências do movimento antivacinação – que ganha cada vez mais
espaço na mídia e poder online por causa dos perigos que representa para a sociedade.
O movimento antivacinação afirma que essa forma de imunização é prejudicial à
saúde. As redes sociais são um dos principais meios de divulgação dessas ideias, que muitas
vezes são veiculadas em sites e blogs com pouca credibilidade – mas que atingem muitas
pessoas. A origem do movimento está em um artigo publicado em 1998 em uma das mais
renomadas revistas científicas do mundo, a Lancet. Nele, o médico inglês Andrew Wakefield
sugeriu uma relação entre a vacina MMR (sarampo, caxumba e rubéola) e o autismo.
“Psicologia da vítima”: tema de escolas de polícia e de bandidos.
Este assunto é bastante conhecido, não é nenhuma novidade que é um assunto
muito abordado dendro das escolas de polícia e militares, e lamentavelmente, também é muito
abordado dentro das de bandidos, isso porque ambos conhecem muito bem essa ideia, sabem
como praticar a violência e intimidar uma vítima.
Imagine um bandido, indo ao contrário do que diz o conceito de bandido no
contexto social, numa situação de violência, o maior risco é dele, isso se deve ao simples fato
de que é ele quem está cometendo um ato contra a lei, qualquer “erro” em sua ação, pode
gerar sua prisão, sua morte ou a morte de sua vítima. Um dano físico severo devido a situação
que ele mesmo se impôs, uma situação que ele tem que ser rápido e eficiente se não estará
tudo perdido, inclusive vidas.
A situação de fragilidade nesse caso hipotético é dele, ele pode sair de uma ação
de “ladrão” para assassino ou assassinado. Então o bandido não vai arriscar em situações onde
ele não se sinta mais forte ou superior a sua vítima, ele tem, e vai usar, de uma possibilidade
antecipada de julgar que determinada ação vai dar certo, que tudo vai sair “bem” para ele e
para a vítima, digo, que ele não vai ser preso, morto ou matar a vítima.
Imagine em uma pessoa que coloque ou venha a pensar a colocar uma tranca no
carro. Existem excelentes trancas no mercado a venda para serem escolhidas por essa pessoa,
mas honestamente pensemos, não existe nenhuma tranca, sem exceção, nenhuma tranca até
hoje que realmente impeça um bandido de roubar um carro se ele quiser.
Agora pensemos, um bandido com um tempo de ação “x”, então ele precisa de
rapidez, precisão e praticidade para resolver que determinada ação seja mais “correta”
possível, porque ele pode ser pego a qualquer momento na prática da ação, pode ser pego no
primeiro segundo ao último segundo de sua ação, isso pode redundar em um prejuízo grande.
Então obviamente que ele em dezenas de opções de roubo, ele não vai querer
pegar aquele carro que tenha a trava mais complexa, seria um obstáculo que ele, se tiver que
escolher, não será esse. Nessa situação hipotética seria de se pensar que todos os carros
fossem protegidos pela tranca que dificulte a ação do bandido, torne mais longo o tempo de
ação que ele teria para furtar aquele carro.
E se contextualizar essa história com os seres humanos, e se todos os seres
humanos tivessem uma trava que fosse um obstáculo para a ação da violência se manifestar?
Se um encarnasse com essa “trava” se tornaria um referencial de como isso poderia ser feito.
Então o que seria essa tranca humana que faria com que pudéssemos ser, digamos, um
candidato não muito recomendado que a violência não nos escolhesse? A violência vai
perceber em poucos segundos/minutos se aquela trava vai gerar alguma dificuldade ou não
para se manifestar em um humano.
Então passividade ou violência são o eixo da consciência animal, são um padrão
do instintivo, ou seja, ou agimos com brutalidade como um animal selvagem, ou passivos
como uma pedra. Essa dualidade da consciência animal dá um padrão de incentivo de reação
ou paralisa/fugir. Se tornar agressivo é muito previsível, quando o ser humano não desenvolve
o seu “eu humano” as suas respostas ficam nessa qualidade, ficam limitadas.
Metaforicamente, quando esse indivíduo entra em pânico das duas opções uma:
ou você o imobiliza rápido com argumentos ou ele vai ficar catatônico ou paralisado, e você
poderá manipulá-lo e ordenar que ele faça o que você bem entender, inclusive a violência.
Fora disso o que temos é a insegurança, às vezes pelo comportamento, pela maneira de lidar
com uma pessoa, pelo olhar como este indivíduo se intimida por pouco, isso são uma série de
elementos em que a pessoa pode deduzir isso, se tem ou não uma psicologia ou
comportamento de vítima, e sendo uma vítima, saber de é uma vítima fácil/passiva.
O indivíduo que caminha (caminhar no sentido de conduzir suas escolhas) com
atenção, observando cada passo, cada ruído que ele escuta, ele deve observar tudo, ou seja,
deve observar o mundo ao seu redor. Assim, esse indivíduo poderá, de fato, olhar nos olhos
das outras pessoas e dizer que está presente, que é um ser inteligente, com imaginação, em
outras palavras, um ser lúcido. Ao contrário disso, não saberemos qual poderá ser o resultado,
afinal é imprevisível, o risco é muito grande. Esse indivíduo vai fugir dos padrões previsíveis
dos instintos que é sempre a passividade ou a violência.
Assim como ocorre com um indivíduo, sabemos que é a mesma coisa dentro de
uma sociedade, quando há a violência, as ofertas para resolver essa pendência, em geral,
devem oferecer alternativas de passividade ou de mais violência, o dito popular “olho por
olho, dente por dente”.
Ficar passivo ou agressivo pode ser a solução disponível para uma determinada
complicação em um determinado momento, mas não para todas as complicações e, muito
menos, a qualquer momento, ou seja, o que for solução agora, não poderá ser solução para
sempre. Não devemos acreditar que a passividade e a violência possam ser uma resposta
adequada para determinada situação, afinal, ficando passivo podemos ser mortos, e com a
violência a humanidade vai ficar se matando até que o último apague a luz da vida. Os dois
são uma solução humana, um padrão instintivo.

Padrão humano e sua imprevisibilidade.


O padrão humano não é previsível, uma pessoa com lucidez, inteligência, atenção,
iniciativa e autocontrole já sabe o que o caminho a seguir em uma determinada complicação.
Desenvolver esse padrão humano é possível, porque o ser humano não é uma coisa acabada,
estamos em permanente construção, devemos aperfeiçoar as nossas ferramentas humanas, ou
seja, devemos aperfeiçoar a nossa humanidade, e tornar essas armas muito poderosas, isso
porque não existe na natureza um ser que tenha capacidade de subverter situações adversas
quanto o ser humano, isso se dá pela sua inteligência e não pela força física nem pela
facilidade.
A previsibilidade é quando um agente se comporta de determinada maneira e
sabemos que tal comportamento pode ter consequências previsíveis. Exemplificando: um pai
deixa uma arma na mesa da cozinha onde estão várias crianças, espera-se que as crianças
possam ter um acidente com arma se alcançarem a arma por curiosidade. Nesse a caso a
curiosidade é um dos conceitos básicos do construtivismo que moldam um ser humano, e nas
crianças, obviamente, terá curiosidade de mexer na arma, de aprender como se usa, de saber o
que ela pode fazer.
Diversamente ao supracitado, temos a imprevisibilidade, que nada mais é do fato
que o ser humano ter a capacidade de ser imprevisível. Os esportes, por exemplo, possuem a
imprevisibilidade como característica, mais especificamente do futebol, onde uma equipe
considerada mais forte pode perder para uma equipe mais fraca.
Arendt é muito clara sobre essa relação, onde diz que:
É da natureza do início que se comece algo novo, algo que não pode ser
previsto a partir de coisa alguma que tenha ocorrido antes. Este cunho de
surpreendente imprevisibilidade é inerente a todo início e a toda origem. [...] O
novo sempre acontece à revelia da esmagadora força das leis estatísticas e de
sua probabilidade que, para fins práticos e cotidianos, equivale à certeza;
assim, o novo sempre surge sob o disfarce do milagre. O fato de que o homem
é capaz de agir significa que se pode esperar dele o inesperado, que ele é capaz
de realizar o infinitamente improvável. E isto, por sua vez, só é possível porque
cada homem é singular, de sorte que, a cada nascimento, vem ao mundo algo
singularmente novo. (ARENDT, 2007, p. 190-191).
Ao contrário de outras formas de victa activa, a determinação da
imprevisibilidade humana não é delegada apenas ao meio ambiente e ao entorno, nem a
desastres naturais imprevisíveis. Nesse caso, a tragédia se concentra na ação. Em outras
palavras, enfatiza-se a capacidade de escolha, porém, esta deve sempre levar em conta a
dimensão contingente da vida: a possibilidade de escapar de qualquer controle.
Não se trata apenas da mera impossibilidade de se prever todas as
consequências lógicas de determinado ato, pois se assim fosse um computador
eletrônico poderia prever o futuro; a imprevisibilidade decorre diretamente da
história que, como resultado da ação, se inicia e se estabelece assim que passa
o instante fugaz do ato. (ARENDT, 2007, p. 204).
Embora saibamos que à violência vem como expressão de ação, o que nos
interessa, segundo Arendt mostra, é considerarmos a importância da maneira como você age,
como percorre todo o campo de ação, um verdadeiro e poderoso sarcasmo de
imprevisibilidade. Então Arendt formula que:
(…) visto que o fim da ação humana, distintamente dos produtos finais da
fabricação, nunca pode ser previsto de maneira confiável, os meios utilizados
para alcançar os objetivos políticos são muito frequentemente de maior
relevância para o mundo futuro do que os objetos pretendidos, (…) os
resultados das ações dos homens estão para além do controle dos atores”.
(ARENDT, 1994, p. 14).

O sentido trágico evocado pela noção arendiana da imprevisibilidade da ação


aponta para uma redenção que só pode ser reconhecida na própria capacidade da ação. Assim,
os fazedores são sempre principiantes com outros principiantes que, com diferentes
iniciativas, acabam por formar o que Arendt chama de “redes de relacionamentos”. No
entanto, como entendemos a fragilidade que permeia os assuntos humanos? Arendt diz que:
Pelo fato de que se movimenta sempre entre e em relação a outros seres
atuantes, o autor nunca é simples “agente”, mas também, e ao mesmo tempo,
paciente. […] Estas consequências são ilimitadas porque a ação, embora possa
provir do nada, por assim dizer, atua sobre um meio no qual toda reação se
converte em reação em cadeia, e todo processo é causa de novos processos.
Como a ação atua sobre seres que também são capazes de agir, a reação, além
de ser uma resposta, é sempre uma nova ação com poder próprio de atingir e
afetar os outros. Assim, a ação e a reação jamais se restringem, entre os
homens, a um círculo fechado, e jamais podemos, com segurança, limitá-la a
dois parceiros (ARENDT, 2007, p. 203).

A ação aqui é realmente extrínseca, um movimento imparável. Esse movimento


parte do indivíduo, do sujeito para outro sujeito, e se intensifica em direção ao grupo de
sujeitos, encarnando a fusão entre ação e sofrimento: “agir e padecer são como as faces
opostas da mesma moeda, e a história iniciada por uma ação compõe-se de seus feitos e dos
sofrimentos deles decorrentes” (ARENDT, 2007, p. 203).
O que o termo evoca é uma ambivalência no sentido literal, que pode ser
explicada da seguinte forma. A primeira pode ser feito sem as dimensões trágicas que
compõem a própria trama (uma trama irreversível e imprevisível). Em contrapartida, o
tratamento do ato e, portanto, os aspectos éticos e políticos das relações humanas, não só o
consideram em seus aspectos trágicos ou acidentais, mas também consideram (o ato em si)
como causa desencadeante da tragédia, afinal agir é caminhar para a tragédia, ou seja, A ação
é trágica.

O ser humano e suas ferramentas para resolução de problemas.


O ser humano, conforme visto, é uma caixa de surpresas devido ao seu potencial e
devido a gama de ferramentas que este pode utilizar para resolver os seus problemas, as suas
complicações. Isso mostra claramente o quanto a natureza humana é cheia de ferramentas,
essas são as conhecidas, e podem haver outras muito mais eficazes.
Percebemos que é muito importante ressaltar que não existe um outro ser no
planeta que nasce tão desprotegido como o ser humano, qualquer animal já nasce com uma
certa condição de andar, correr, de pular em galhos, usar garras, usar dentes ou de picar. Já
nasce com o seu instinto aguçado para a autodefesa.
Já o ser humano nasce justamente desprotegido, frágil, com a pele exposta e sem
condições de andar, nasce sem nenhuma defesa. Esse elemento que praticamente é
considerado uma, desvantagem significa que a natureza não nos fez para nos defendermos na
força, porém, muito menos para sermos passivos. Fomos criados para se defender com base
na inteligência, que é muito mais poderosa.
Então esse ser frágil e desprotegido quando cresce e desenvolve seu potencial
humano é capaz de drenar pântanos, de regar desertos, de fazer um acelerador atômico que
calcula uma partícula do início da manifestação do universo, percebemos que o poder que os
atributos humanos dão ao homem é enorme. Resumindo, o ser humano nasce inferior
fisicamente, mas domina a fauna e a flora com o seu conhecimento usado da maneira correta,
usando o seu “eu humano”. Assim como dominamos a natureza animal, a natureza física e a
natureza vegetal, podemos dominar com as mesmas ferramentas a natureza humana.
Se não dedicarmos a utilização dessas ferramentas pra dominar a natureza
humana, usar nossa inteligência e imaginação para dominar a violência, não apenas nos
defendermos de um furacão, vulcão ou tornado. Dentro de cada um de nós encontrar o
gatilho, o que fazer ou como reagir de maneira mais eficaz quando você se encontrar em uma
complicação. Podemos pensar na tecnologia, afinal, atualmente com a tecnologia que temos,
quando estamos em uma complicação, podemo reagir, usar como saída as tecnologias, são
elas uma das melhores respostas em situações de complicação, devido, principalmente, por
sua rapidez.
Muitas coisas poderiam ser almejadas se isso fosse o foco da humanidade, o foco
da sociedade. Não temos como responder que não é possível, que o ser humano não possuí
virtudes suficientes para desenvolver uma resposta humana o suficiente para acabar com uma
complicação, ou melhor, uma violência. Violência que embora esteja dentro de cada um de
nós, não é humana, ela é animal, um sentimento baseado no instinto e não na virtude. Se nós
podemos subverter qualquer espécie animal na natureza, podemos subverter o nosso “eu
animal” que está intrínseco no nosso ser. Apesar de não ser desenvolvido o caminho que
seguimos prova que podemos subverter tal sentimento animalesco.
Assim que se vivermos no comodismo, a escolha entre viver na passividade ou
combater a violência é mais difícil, afinal, no comodismo nenhuma das duas resolve, seria
como popularmente é citado de “ficar em cima do muro”. Muitos possam a vir a pensar que
existe uma demora ou que o processo é muito trabalhoso, e a resposta é que esse processo é
demorado e trabalhoso, porém, uma vez que a conquistemos não perdemos mais, ou seja, é
uma solução sólida que não perdemos mais.
Assim como nunca mais precisamos acender velas com o advento da eletricidade,
pelo menos queles que têm acesso a esses recursos, que infelizmente não são todos. Afinal a
tecnologia é um advento do mundo globalizado e é uma conquista humana genial, e, mais
uma vezes, como somos capazes de criar tantos elementos que facilitam a nossa vida e tão
pouco conseguimos ter poucos elementos para domar o “eu animal”? Porque tanta violência
ainda exista no mundo em razões, principalmente, étnicos, religiosos e políticos?
Impressionante como seres humanos, capazes de criar diversos prodígios, não consegue achar
soluções rápidas e adequadas para a violência, e essa resposta apesar de correta, é bem vaga,
isso porque podemos mudá-la, basta agir como humanos.
Qualquer pessoa que se concentre em uma estratégia eficaz, se concentra para
conseguir encontrar a melhor postura para conseguir combater a violência, sempre será
realizado com base na criatividade, tendo em vista que quanto mais se concentre, mais
criativo será o combate a violência, dificultando a violência a encontrar gatilhos para se
manifestar, parafraseando com o exemplo do roubo de carros e as trancas de segurança, o
ladrão teria muito mais trabalho e perderia muito mais tempo para conseguir, se conseguir,
desabilitar a tranca e roubar o carro. Isso são saídas humanas, mais trabalhosas e demoradas,
porém definitivas.
Quando inviabilizamos a vítima, inviabilizamos o agressor, pois o agressor terá
que encontrar outra saída, encontrar outro gatilho para se manifestar até a um ponto que não
tenha mais por onde sair e tem que lidar com ela, ou seja, se quebra a polaridade de vítima e
agressor, e a violência não encontra mais vulnerabilidade, e o ciclo não se repete, o ciclo é
interrompido. O ser humano é grandioso para obter as respostas humanas, isso quando
realmente é o seu desejo.
BYROM, Thomas. Dhammapada: The Sayings of the Buddha (1993)
Imagem disponível em: <https://www.pensador.com/frase/ODc5Mzcw/> Acesso em: 17/10/2022 às 16h30min.

Maior do que quem vence mil batalhas é quem vence a si mesmo é conhecida de
todos, pois é mencionado por muitas pessoas como uma frase motivacional, e realmente é.
Mas a frase da doutrina budista é contextualizada onde apenas conseguindo derrotar seu maior
inimigo você conseguirá ser um humano, esse inimigo está dentro de cada um de nós, esse
inimigo é a violência, aquele sentimento latente mas presente que dominamos ou deixamos
nos dominar, ou seja, subordinamos o nosso “eu animal” através da lucidez, da generosidade,
da inteligência e da criatividade.
Assim quando florescer o potencial humano, nada que se opõe a ele pode ser
vitorioso, isso porque a natureza humana usada em todo o seu potencial tem poder
extraordinário, então devemos acreditar e desenvolvê-la, trabalhar as suas possibilidades para
que possamos encontrar as respostas, e isso é melhor para aqueles que amamos e para nós
mesmos. Isso é crescer como seres humanos de modo que com essas ações beneficiamos toda
a humanidade e ajudamos para que todos os problemas sejam resolvidos.
Vencer essa violência interna significa dominar o “eu animal”, esse sentimento
que nos escraviza e limita o “eu humano”, afinal o nosso “eu animal” é violento com o nosso
“eu humano”, você quebra essa primeira violência as outras todas violências se tornam mais
fáceis de quebrar. Sempre o externo é uma consequência do interno, em suma, o homem doma
animais na natureza e tem o poder de domar o seu instinto interno.
Devemos entender a inteligência, afinal a inteligência significa escolher dentre
inúmeras vozes que tem dentro de você quem é você, seu ato de inteligência é sua identidade,
escolher quem você é, principalmente no meio de tudo aquilo que sugerem a você.
Lembrando que você não vive de instintos, não é um ser passivo, muito menos é uma fera
violenta, você deve ser um ser humano que domina os fatores brutais através da inteligência,
da criatividade e da atenção. A cultura, a educação e a civilização deveriam se somar para
fazer aflorar esse elemento para que o humano assumisse as rédeas da resolução dos seus
problemas.

Conclusão
Basicamente esse é o que pretendo trazer para o leitor desse artigo, gostaria de
trazer uma reflexão, que todos reflitam um pouco a respeito dessa intensa batalha que estamos
cotidianamente combatendo entre nosso feroz mas domável “eu animal” contra o pacifista
mas destemido “eu humano”. Percebam que as soluções apontadas são sempre soluções que
não trabalham com a ideia de fazer o ser humano crescer como ser humano, mas sim como
um animal que deve confrontar tudo com violência. É como se fossem dois touros batendo
chifres um com o outro, ou então se tornar a presa indefesa ou se tornar a fera violenta,
lembre que nem um dos dois resolve, afinal, em ambos os casos, vai gerar a destruição.
Quando você opta pelo humano você vai terminar em construção, isso porque
todas as coisas se harmonizam, todas as coisas são colocadas em seu devido lugar. O animal é
dominado, mas não é eliminado, ele está lá agindo com ferocidade a todo o momento e você
sempre tendo que domá-lo. Suas melhores energias são canalizadas e percebemos que o
“cavaleiro” conduz o “cavalo” e chegamos todos juntos no ápice da pirâmide. Uma sentença
da filosofia que ofereço para terminar é sempre usar as “saídas humanas”, não deixando cair
naquele sofismo de ter sido excluído, ou isso ou aquilo. Existe sempre uma terceira opção, em
geral mais elevada, que é a ponta do triângulo, nem passivo e nem feroz, apenas seja humano,
e com isso encontramos soluções consistentes, brilhantes e duradoras.
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