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EDUCAR PARA NÃO VIOLÊNCIA: Dignidade Humana

Marcia Aparecida dos Santos Pinheiro

*Professora do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá – Cuiabá - MT,


Historiadora licenciada na Universidade de Cuiabá- UNIC no ano de 2001, Especialização em Metodologia
do Ensino em Filosofia e Sociologia na Educação Básica pelo IBEPEX e Mestre em Gestão da Formação e
Administração Educacional pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Coimbra – Portugal.

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INDICE
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................03
1 - CONCEITUANDO VIOLÊNCIA...................................................................................04
2 - VIOLÊNCIA NA ADOLESCÊNCIA E A FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL.........06
3 – PEDAGOGIA DA NÃO VIOLÊNCIA ........................................................................ 10
3.1 – Princípios e componentes da Pedagogia da Não-Violência........................................ 12
4 - ESCOLA E PEDAGOGIA DA NÃO VIOLÊNCIA...................................................... 14
4.1 - Interferência na escola com a pedagogia da não violência.......................................... 15
5 - UM MODELO DE ATIVIDADES PARA A PEDAGOGIA
DA NÃO VIOLÊNCIA NO ÂMBITO DA UNIDADE DIDÁTICA
FILOSOFIA - DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA..................................................... 18
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 30
7- BIBLIOGRAFIA............................................................................................................. 31
8- ANEXOS......................................................................................................................... 33

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EDUCAR PARA NÃO VIOLÊNCIA: Dignidade Humana

INTRODUÇÃO

Educar para a não violência é proporcionar as crianças e os jovens a vivência de


uma educação global que os levem a trabalhar em harmonia e compreensão, a desenvolver
padrões de comportamento positivo, criatividade, cooperação, responsabilidade e
preocupação com o destino das outras pessoas.
O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão sobre a importância de educar
crianças e jovens para a vivência da não violência e propor algumas atividades a serem
desenvolvidas com os adolescentes, tendo como metodologia a revisão bibliográfica.
Após esta introdução, este trabalho está estruturado da seguinte forma: numa primeira parte
discorre sobre o conceito de violência. Segunda parte apresenta uma reflexão sobre a
violência na adolescência e a formação pessoal e social dos adolescentes. Terceira parte
pensa a pedagogia da não violência e discorre sobre os seus princípios. Quinta parte
discorre sobre a vivência da não violência na escola. Sexta parte propõe algumas atividades
para a educação da não violência no âmbito da disciplina filosofia com o tema “Dignidade
Humana”.
A Cultura da não violência se forma através dos valores, atitudes e comportamentos
que refletem o respeito à vida, à pessoa humana e à sua dignidade, aos direitos humanos,
entendidos em seu conjunto, interdependentes e indissociáveis.

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1- CONCEITUANDO VIOLÊNCIA

“A paz não consiste na ausência de guerra,


mas é uma virtude que nasce do vigor da
alma.” Spinoza
A violência caminha junto com a evolução humana, e sempre se apresentou nas
mais variadas formas de expressões em todos os tempos e espaços. Ao pensar a violência
que caracteriza o homem histórico, que vive em sociedades complexas e diferenciadas,
percebe-se que de um século ao outro, ou ainda de um ano ao outro, ela não é a mesma. Ela
deixou de ser uma manifestação da necessidade de sobrevivência nas sociedades primitivas
em meio a um mundo hostil, e passou a ser encoberta por sutilezas que a mascaram.
Conceituar violência é bastante difícil, pois de forma isolada, pouquíssimos
comportamentos podem ser considerados como violentos. Atualmente quando se fala em
violência a tendência é relacioná-la apenas com a agressão física, no entanto é necessário
levar em consideração que o ser humano é uma integração entre o físico e o psíquico. Nesse
sentido Lapierre (cit. por Matias, 1978, p.14) afirma que a violência é o “emprego de meios
de acção que atacam a integridade física, psíquica ou moral da pessoa de outrem”. Nardim
(cit. por Matias, 1978, p.15) assevera que “é uma acção violadora da dignidade e autonomia
individual”, Chalmers (cit. por Matias, 1978, p.15) diz que é “uma acção que
deliberadamente ou não intencionalmente desorienta o comportamento de outrem”, Jeanson
e Del Vasto (cit. por Matias, 1978, p.14-15) afiança que violência “é ao mesmo tempo
constrangimento, constrangimento físico, tortura, mas também tortura moral, tormento,
humilhação. é uma tentativa para reduzir outrem, para o constranger, a renegar, a
resignar-se à situação que lhe é imposta, a renunciar a toda a luta, a abdicar”.
Portanto, a violência se qualifica frequentemente não só pela força física, mas
também pelo constrangimento representado pela ameaça do emprego da força. Sendo
assim, um processo que elimina o outro ou que não o considera dotado de humanidade, e
se expressa desde os condicionantes psíquicos e materiais até o ato físico. “A violência
principia quando a comunicação e o diálogo não se chegam instaurar. Ela constitui um
modo de expressão para aquele que não consegue impor-se sem ser por meio da força.

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Quando o verbo falha a sua função, desaparece a simbolização e surge a violência” (
Tyrode, Bourcet, 2002, p.68).
Tavares em seu artigo “Um projeto de esperança intempestiva e uma pedagogia de
não-violência”, aponta que a violência surge a partir do momento em que a reciprocidade e
a interação com o outro é substituída pelo poder sobre o outro, ou seja, não se reconhece o
outro como pessoa (Tavares, 2005). Sendo então a violência um processo que elimina o
outro ou que não o considera dotado de humanidade, e se expressa desde os condicionantes
psíquicos e materiais até o ato físico.

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2- VIOLÊNCIA NA ADOLESCÊNCIA E A FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL

''Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele ou por
sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender. E se podem  aprender a odiar, podem ser ensinadas
a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração
humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma  chama
que pode ser oculta, jamais extinta''.  (Nelson Mandela)
A adolescência se caracteriza por um longo período de transição no
desenvolvimento entre a infância e a fase adulta, que envolve grandes mudanças físicas,
cognitivas e psicossociais inter-relacionadas. Tem seu inicio entre os 11 ou 12 anos e vai até
pouco antes ou depois dos 20 anos. E é nesse período que os adolescentes constroem sua
identidade de futuro adulto. Sendo essa época de oportunidades e de riscos. Conforme
afirma Robles (cit. por Nava e Mitrany, 2009, p.1):
“En este estadio del desarrollo humano, el adolescente… se hace más
reflexivo y comienza a descubrir su mundo interior, por lo cual en
ocasiones se muestra pensativo e introvertido, en algunas otras presenta
manifestaciones de irreverencia, apatía e irresponsabilidad, se hace más
crítico, los valores aprendidos sufren modificaciones al cuestionar o
rechazar los valores adquiridos en su niñez como una forma de
autoafirmarse como individuo Independiente”.
A facilidade ou a dificuldade de encontrar uma identidade é comprometida por
forças exteriores ao individuo. A cultura pode ajudar na formação da identidade do
adolescente fornecendo valores, estruturas e costumes sociais que facilitam a transição da
infância para a fase adulta.
Para Erikson (cit. por Schoen-Ferreira, Aznar-Farias, Silvares, p.107, 2003),
construir uma identidade implica em definir quem a pessoa é, quais são seus valores e quais
as direções que deseja seguir pela vida. O autor entende que identidade é uma concepção de
si mesmo, composta de valores, crenças e metas com os quais o indivíduo está solidamente
comprometido.
Marcia (cit. por Papalia, p.479, 2006) apresenta duas dimensões essenciais na

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formação de qualquer identidade pelo adolescente: crise e comprometimento. Por crise,
entende o período de tomada de decisão, quando antigos valores e antigas escolhas são
reexaminados, podendo ser de forma tumultuada ou ocorrer gradualmente. Na segunda
dimensão, o comprometimento supõe que o indivíduo tenha realizado uma escolha
relativamente firme, servindo como base ou guia para sua ação.
O resultado desejado da crise é o comprometimento com algum papel específico,
alguma determinada ideologia. O comprometimento é medido pelo grau de investimento
pessoal que o indivíduo expressa. Os compromissos correspondem às questões que o
indivíduo mais valoriza e com as quais mais se preocupa, refletindo o sentimento de
identidade pessoal.
Constataram-se quatro estados de identidade: pré-fechamento, difusão da
identidade, moratória, realizada. As quatro diferem de acordo com a presença ou ausência
de crise e comprometimento.
● No estado de Conquista da identidade, o jovem faz suas escolhas e
persegue metas profissionais ou ideológicas. Atravessou a crise e chegou ao
comprometimento.
● No estado de Pré-fechamento, o adolescente persegue metas ideológicas e
profissionais eleitas por outros. Não experimenta uma crise de identidade.
Pode ser o estado inicial do processo de formação da identidade adulta,
partindo dos valores infantis.
● No estado de Moratória, os comprometimentos são postergados e o
adolescente debate-se com temas profissionais ou ideológicos. Está
passando por uma crise de identidade e não definiu suas escolhas.
● No estado de Difusão de identidade, o adolescente não está em meio a uma
crise, embora possa ter havido uma no passado, e não chegou a nenhum
comprometimento. Pode ter tentado lidar com estes temas ou os ignorado,
mas não tomou decisões e não está particularmente preocupado em aceitar
compromissos. Difusão de identidade pode representar um estágio inicial no
processo de aquisição da identidade, no período da adolescência inicial, ou
o fracasso em chegar a um comprometimento depois de um período de crise

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(Marcia cit. por Papalia, p. 480, 2006).
A identidade forma-se pela resolução de três questões importantes: a escolha de uma
ocupação, a adoção de valores nos quais acredita e segundo os quais quer viver e o
desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória. Quando os jovens têm dificuldades
para se fixar em uma identidade ocupacional ou suas oportunidades são limitadas, eles têm
risco de apresentar comportamento com graves conseqüências negativas, como a atividade
criminosa ou a gravidez precoce (Papalia, pag.478, 2006).
Sendo este um período de grandes riscos para o adolescente, pois alguns jovens têm
dificuldades para lidar com tantas mudanças de uma só vez e podem precisar de auxilio
para superar os perigos ao longo do caminho. Esses perigos enfrentados pelos adolescentes
incluem consumo excessivo de bebidas alcoólicas, abuso de drogas, atividade sexual,
participação em gangues, uso de motocicleta sem capacete e uso de armas de fogo.
Assim o adolescente que esta em formação de sua identidade e preparando-se para
ingressar na vida adulta, vive e experimenta uma realidade difícil num contexto marcado
pela periculosidade. Onde a violência está presente em todo o lado e tem como origem o
próprio ser humano. Pois o mundo mediático e social onde está imerso evidencia os
acontecimentos de auto defesa e a exaltação dos fortes ou mesmos violentos. Daí a
necessidade de uma educação voltada para a não-violência que promova a construção de
uma identidade mais humanizada, através de uma formação integral do individuo conforme
afirma Moraes:
“[...] para o desenvolvimento da sua inteligência, de seu pensamento, da
sua consciência e do seu espírito, capacitando-o para viver numa
sociedade pluralista em permanente processo de transformação. Isso
implica, além das dimensões cognitiva e instrumental, o trabalho, também,
da intuição, da criatividade, da responsabilidade social, juntamente com os
componentes éticos, afetivos, físicos e espirituais. Para tanto, a educação
deverá oferecer instrumentos e condições que ajudem o aluno a aprender a
aprender, a aprender a pensar, conviver e a amar. Uma educação que o
ajude a formular hipóteses, construir caminhos, tomar decisões, tanto no
plano individual quanto no plano coletivo (Moraes, 2006, p.211)”.
Os adolescentes para formar a sua identidade necessitam se afirmar e organizar suas

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habilidades, suas necessidades, seus interesses e seus desejos para que possam ser
expressos em um contexto social.
Delors em seu relatório para a UNESCO afirma que o princípio fundamental da
educação é o desenvolvimento integral do indivíduo, espírito e corpo, inteligência,
sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal e espiritualidade. Todo ser humano
deve ser preparado para formar pensamentos autônomos e críticos e para estabelecer os
seus próprios juízos de valor, assim podendo decidir, por si mesmo, como atuar nas
diferentes situações da vida (Delors, 2000).

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3- PEDAGOGIA DA NÃO-VIOLÊNCIA

“As plantas são cultiváveis, os animais adestrados


e o homem educado.” Paulo Freire
Vive-se hoje em um mundo incerto e perigoso. No qual os meios de comunicação
social noticiam a todo instante a violência e o horror, a crueldade e a carnificina, o consumo
desenfreado e a promiscuidade impudica, deformando deste modo não só as crianças e os
jovens, mas também tornando a todos nós, insensíveis ao sofrimento e a dor humana. É
uma grande desilusão para o ser humano essa realidade face à passagem para o século XXI,
que devia ser sinônimo de progresso e paz.
Neste contexto a educação em todos os níveis é um dos meios fundamentais para
construir uma cultura de não violência. Educar para a não violência significa mediar, criar
pontes que tentem evitar o aparecimento de problemas e dificuldades através da sua prévia
identificação e da rápida intervenção, ensinando capacidades e competências, no sentido de
melhorar as relações interpessoais e possibilitar a transmissão de valores que fundamentam
a convivência pacífica, democrática e solidária.
São os valores que sustentam as atitudes das pessoas, como ação preventiva,
portanto a sua transmissão deve ser feita desde a infância de forma a orientar a ação
educativa para situações de ensino e aprendizagem direcionando para a fomentação da
educação de valores e a promoção da infância e adolescência, como elementos de
prevenção da violência e promoção da não violência.
A vivência de uma educação em valores é uma das melhores estratégias para a
prevenção da violência infantil e juvenil. E para definir quais são esses valores a serem
ensinados as crianças e jovens, a ação educativa deve embasar-se nos instrumentos
jurídicos internacionais (Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948 e a
Convenção das nações Unidas sobre os Direitos da Criança – 1989) que garantem os
direitos fundamentais de todos os seres humanos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos exorta a promoção do respeito aos
Direitos Humanos e as liberdades fundamentais por todos os Estados que a partilham
através da educação. Do mesmo modo a Convenção das nações Unidas sobre os Direitos

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da Criança assinala, também, no seu Preâmbulo que as crianças devem ser educadas no
espirito dos ideais proclamados na Carta das Nações Unidas e, em particular, no espirito da
paz, dignidade, tolerancia, liberdade, igualdade e solidariedade. No artigo 29º descreve o
tipo de educação mais adequado em areas de interesse superior da criança.
Artigo 29º
1. Os Estados Partes acordam em que a educação da criança deve destinar-se a:
a) Promover o desenvolvimento da personalidade a criança, dos seus dons e aptidões
mentais e físicos na medida das suas potencialidades;
b) Inculcar na criança o respeito pelos direitos do homem e liberdades fundamentais e
pelos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas;
c) Inculcar na criança o respeito pelos pais, pela sua identidade cultural, língua e
valores, pelos valores nacionais do país em que vive, do país de origem e pelas
civilizações diferentes da sua;
d) Preparar a criança para assumir as responsabilidades da vida numa sociedade livre,
num espírito de compreensão, paz, tolerância, igualdade entre os sexos e de amizade
entre todos os povos, grupos étnicos, nacionais e religiosos e com pessoas de origem
indígena;
e) Promover o respeito da criança pelo meio ambiente.
Espinosa, Ochaíta e Ortega (Espinosa; Ochaita; Ortega, p.12, 2003), em uma análise
pormenorizada do conteúdo de ambos os textos elaborou a seguinte proposta, como sendo
um conjunto de possíveis valores que devem orientar a educação das crianças e
adolescentes, fomentando as suas possibilidades ao máximo para que cheguem a
desenvolver-se plenamente, como pessoas saudáveis e autônomas, no seio de uma
sociedade pacífica, democrática e solidária.
Possíveis valores a transmitir para
a fomentar a não-violência:
Paz Dignidade
Liberdade Igualdade
Responsabilidade Diversidade

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Participação Justiça
Respeito Solidariedade

Portanto uma vez definidos os valores que poderiam orientar a ação educativa das
crianças e dos adolescentes se torna necessário traçar linhas prioritárias de intervenção nos
contextos educativos formais e não formais, que possam ajudar a desenvolver os princípios
básicos da educação para não violência visando o desenvolvimento integral da pessoa
(cognitivo, afetivo e sócio emocional).

3.1- Princípios e componentes da Pedagogia da Não Violência


O princípio fundamental da pedagogia da não violência é o de integridade e respeito
à condição humana. Somente estudantes com um forte senso de sua própria dignidade
podem crescer para se tornarem adultos capazes de correr riscos, lidar com pequenos
retrocessos e agir para proteger a dignidade de outras pessoas (Senge, 2005, p.81).
Na pratica cotidiana é tão simples quanto tratar as pessoas como você gostaria de ser
tratado. Educar, entender e lidar com a individualidade de cada criança e adolescente é
desenvolver a sua dignidade.
A escola deve nutrir a dignidade de cada criança e adolescente fazendo com que
todos se sintam valorizados e úteis, ajudando-os a entender por si mesmos como aprender
melhor. Educa-los para que se transformem em cidadãos capazes de viver e desenvolver-se
plenamente numa sociedade livre e que sejam capazes de resolverem os seus conflitos de
forma não violenta.
Nesse sentido os valores que uma pessoa defende são responsaveis pelos objetivos
que se propoe atingir e, também pelos parametros que utiliza para dar importancia àquilo
que quer conseguir. Assim é de suma importancia educar crianças e jovens nos valores em
que se fundamentam a convivencia pacifica, democratica e solidária. Como já citado
anteriormente os autores Espinosa, Ochaíta e Ortega, elencam a Paz, Liberdade,
Responsabilidade, Participação, Respeito, Dignidade, Igualdade, Diversidade, Justiça e
Solidariedade como possíveis valores para serem vivenciados na escola para a promoção da

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não violência.
A vivência desses valores na escola é importante para desenvolver a prática
democrática que leve as crianças e adolescentes a compreenderem, a partir de problemas
concretos, quais são os seus direitos e deveres, e como o exercício da sua liberdade é
limitado pelo exercício dos direitos e da liberdade dos outros.
O ambiente exerce uma poderosa influência sobre o ser humano, e isso ocorre
também no aprendizado da não violência. É com exemplos reais, especialmente aqueles
retirados de suas experiências de vida, que a educação para a não violência poderá, pouco a
pouco, tomar lugar na sociedade.
A escola precisa criar ambientes inclusivos e situações de convivência pacífica para
promover em seu interior os princípios da não violência. Se fizermos isso à maioria não
encontrara motivo para fazer uso da violência e esta passara a ser cada vez menos habitual,
até se tornar exceção. “Viver em uma Cultura de Paz significa repudiar todas as formas de
violência, especialmente a cotidiana, e promover os princípios da liberdade, justiça,
solidariedade e tolerância, bem como estimular a compreensão entre os povos e as pessoas
(UNESCO, 2003)”.

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4- ESCOLA E PEDAGOGIA DA NÃO-VIOLÊNCIA
O aprendizado da vida deve dar consciência
de que a “verdadeira vida”[...], não está tanto
nas necessidades utilitárias – às quais ninguém
consegue escapar –, mas na plenitude de si e
na qualidade poética da existência, porque viver
exige, de cada um, lucidez e compreensão ao mesmo
tempo, e, mais amplamente, a mobilização de
todas as aptidões humanas.
Edgar Morin
A paz aprende-se e é o grande anseio da humanidade. Em 1958 quando a UNESCO
foi criada em sua constituição evidenciou: “Que uma vez que as guerras se iniciam nas
mentes dos homens, é nas mentes dos homens que devem ser construídas as defesas da
paz;” essa frase atravessou décadas e continua atualizada. Pode-se dizer que a escola é uma
instituição privilegiada para o fomento de uma cultura de paz.
A educação desenvolve um papel fundamental para a humanidade, pois tem como
missão não só o desenvolvimento cognitivo, mas também o dever de levar as pessoas a
tomar consciência das semelhanças e interdependência entre os seres humanos.
“Compreender o humano é compreender a sua unidade na diversidade, a sua diversidade na
unidade. É necessário conceber a unidade do múltiplo, a multiplicidade do uno (Morin,
1999, p.60)”.
A escola é a experiência organizadora central na vida da maioria dos adolescentes.
Ela oferece oportunidades para adquirir informações, para dominar novas habilidades e
aguçar as já adquiridas, para participar de atividades esportivas, artísticas e de outra
natureza, para explorar opções vocacionais e para estar entre amigos. Ela amplia os
horizontes intelectuais e sociais.
É com a experiencia social vivenciada na escola que as crianças e os jovens
aprendem a si descobrir e a desenvolver relações com os outros, também adquirem bases no
campo do conhecimento e do saber fazer. Conforme afirma Manley “ é o sistema educativo
e em especial a escola que oferece as melhores oportunidades e talvez a única esperança de
iniciar o processo de apaziguamento e de integração social (Delors, 2000, p.211)”.

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Na escola as crianças e os jovens devem vivenciar uma educação global que os
levem a trabalhar em harmonia e compreensão, a desenvolver padrões de comportamento
positivo, criatividade, cooperação, responsabilidade e preocupação com o destino das
outras pessoas. Uma educação que respeite os direitos humanos, que favoreça a
compreensão mútua e pacífica dos conflitos.
Nessa perspectiva é importante ressaltar que a descoberta do outro passa pela
descoberta de si mesmo, só assim se pode colocar no lugar do outro e compreender as suas
reaçoes. Compreender os outros, faz com que cada um conheça melhor a si mesmo. Cada
pessoa define-se em relação ao outro, aos outros, e aos vários grupos a que pertence. “A
descoberta da multiplicidade destas relações, para lá dos grupos mais ou menos restritos
constituídos pela família, a comunidade local e, até, a comunidade nacional, leva a busca de
valores comuns, que funcionem como fundamento da ‘solidariedade intelectual e moral da
humanidade’ (Delors, 2000, p.43)”.
Nesse sentido o ensino destas competências deve ser realizado por todos os
professores, em todas as aulas e a todo o momento, sendo inútil e até desfavorável instituir
disciplinas específicas para o efeito. Aprender sobre cooperação, sobre como negociar,
sobre autoconfiança e autoconhecimento e sobre as próprias necessidades e limitações é
algo que leva tempo e que, provavelmente, nunca terá fim.

4.1- Interferências na escola da pedagogia da não violência


Os diversos tipos e manifestações de violência física que podem ser dirigidos tanto
contra a pessoa ou contra o patrimônio, simbólica e institucional que tomam a escola ou são
produzidas nela trazem consequências graves tanto para o desempenho dos alunos quanto
para o exercício da atividade docente. Estas mesmas situações repercutem tanto na
qualidade do ensino quanto na aprendizagem dos alunos. Além dos danos físicos, traumas,
violência que enfrentam nas escolas e percam a vontade de ir às aulas. Não é preciso muito
esforço para perceber que estas situações são facilmente traduzidas em absenteísmo,
reprovação, repetência e abandono escolar, os quais configuram o que se conhece por
fracasso escolar.
É neste ponto, sentimentos de medo e insegurança que prejudicam o

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desenvolvimento pessoal dos alunos, a violência escolar impõe graves consequência para o
desempenho escolar dos estudantes.
As situações de violência no ambiente escolar fazem com que os alunos não
consigam se concentrar nos estudos, fiquem nervosos e revoltados com as situações de que
se compreende a importância da criação e da consolidação de uma cultura em que o
“aprender a viver juntos” seja capaz de suplantar a violência. Pois se, entre outras coisas, o
fracasso escolar está associado a um clima de tensão e insegurança, a adoção de estratégias
de “desconstrução” da violência, que protejam as escolas, traz efeitos positivos no combate
ao fracasso escolar. Saber conviver é também saber “tolerar” situações imprevistas nas
normas e códigos de conduta da escola.
Para muitas crianças e jovens, a escola é a oportunidade de conviver com pessoas
diferentes. Uns são brancos, outros negros, outros mestiços, há meninos e meninas, pessoas
de renda familiar desigual, vindo de famílias de diversas religiões e opiniões políticas.
Todos os alunos estão na sala de aula usufruindo do mesmo direito à educação. Portanto a
convivência neste espaço se constitui uma excelente oportunidade para que aprendam que
todos merecem ser tratado com dignidade, cada um na sua singularidade.
O ensino e a aprendizagem da não violência devem ter como base fundamental a
realidade escolar. A vivência de um relacionamento respeitoso na escola, sem
discriminações, é uma riquíssima aprendizagem e darão as crianças e jovens a consciência
e a força para se indignarem quando acontecer de serem desrespeitadas na vida cotidiana. A
educação para a não violência e para o respeito do outro, é condição necessária para o
exercício da cidadania.
Os valores não podem ser objeto de ensino, no sentido estrito dos termos. A escola
podecriar condições para a pratica quotidiana desses valores, ajudando os alunos a terem
em consideração os pontos de vista dos outros e estimulando, por exemplo, a discussão de
dilemas morais ou casos que impliquem opções éticas.
Nesse sentido, devem selecionar métodos e atividades nos quais os alunos possam
opinar, assumir responsabilidades, colocarem-se no lugar do outro, resolver problemas,
conflitos e refletir sobre as consequências de seus atos. Promover ocasiões que envolvam
atividades como seminários, exposição de trabalhos, organização de campanhas, monitoria

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de grupos de estudos, eleição e desenvolvimento de projetos articulados que ensine a viver
juntos, que se encontra a possibilidade de reverter o quadro de violência escolar, reduzir os
casos de insucesso escolar e, principalmente, construir uma cultura de paz que transborde
os muros, grades e cercas das escolas. A dignidade do ser humano não é mera opinião, mas
princípio fundamental da ética e do convívio democrático. A não violência é um caminho
que exige um exercício contínuo e incansável de diálogo, uma luta determinada e
persistente contra as injustiças, uma prática constante de ações criativas em prol da
humanidade.

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5- UMA AMOSTRA DE ATIVIDADES PARA A PEDAGOGIA DA NÃO
VIOLÊNCIA NO ÂMBITO DA UNIDADE DIDÁTICA FILOSOFIA

TEMA - DIGNIDADE DA HUMANA

Dignidade humana é o reconhecimento de um valor. É um principio moral baseado


na finalidade do ser humano e não na sua utilização como um meio. Implica em respeito
aos direitos humanos, repúdio à discriminação de qualquer tipo, acesso a condições de vida
digna, respeito mútuo nas relações interpessoais, públicas e privadas.

Unida
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veri
fica
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sua
ade
qua
ção
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Lição Tema Objetivo
● Adotar atitudes de respeito pelas diferenças entre as pessoas,
respeito esse necessário ao convívio numa sociedade
democrática e pluralista;
● Construir uma imagem positiva de si, o respeito próprio
traduzido pela confiança em sua capacidade de escolher e
1 Respeito
realizar seu projeto de vida e pela legitimação das normas
morais que garantam, a todos, essa realização;
● Exigir respeito para si e para o outro, denunciando qualquer
atitude de discriminação que sofra, ou qualquer violação dos
direitos da criança e do adolescente;
● Utilizar o diálogo como forma de resolver conflitos
2 Diálogo ● Expressar os pensamentos e sentimentos através do uso de
frases que permitam uma boa comunicação.
3 Amizade ● Promover a integração e a troca de experiências.
Responsa ● Participar de atividades em grupo com responsabilidade e
4
bilidade colaboração
● Discutir os conflitos no grupo familiar;
5 Família ● Vivenciar diferentes papéis na família;
● Exercitar a resolução de conflitos.
● Compreender a vida escolar como participação no espaço
público, utilizando e aplicando os conhecimentos adquiridos
6 Escola na construção de uma sociedade democrática e solidária;
● Conhecer os limites colocados pela escola e participar da
construção coletiva de regras que organizam a vida do grupo

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● Valorizar o convívio pacífico e criativo dos diferentes
componentes da comunidade;
Comunid
7 ● Atuar de forma colaborativa nas relações pessoais, bem como
ade
sensibilizar-se por questões sociais que demandam
solidariedade.

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1 – RESPEITO
O respeito é um valor de suma importância para o exercício da cidadania, pois
respeito pressupõe íntima relação entre respeitar e ser respeitado. O respeito pelos lugares
públicos, como ruas e praças, também deriva do respeito mútuo. Esses espaços pertencem a
todos, preservá-los, não sujá-los ou depredá-los é dever de cada um, porque também é
direito de cada um desfrutá-los. Respeitamos os outros quando respeitamos a nós mesmos.
Objetivos:
● Adotar atitudes de respeito pelas diferenças entre as pessoas, respeito esse necessário ao
convívio numa sociedade democrática e pluralista;
● Construir uma imagem positiva de si, o respeito próprio traduzido pela confiança em
sua capacidade de escolher e realizar seu projeto de vida e pela legitimação das normas
morais que garantam, a todos, essa realização;
● Exigir respeito para si e para o outro, denunciando qualquer atitude de discriminação
que sofra, ou qualquer violação dos direitos da criança e do adolescente;
Dinâmica de grupo:
Auto retrato
Material:
Papel ofício, lápis. Borracha e lápis de cor ou de cera.
Desenvolvimento:
1. Grupo em círculo, sentado.
2. Solicitar que desenhe na folha de papel uma figura humana de frente, da cabeça aos pés.
Ao terminar colocar o desenho no chão a sua frente. Olhar para a figura, entrar em
contato com ela, dar lhe uma identidade, uma vida e um nome.
3. Pedir que juntos cada um no seu desenho respondam por escrito as solicitações que lhes
serão feitas, descritas a seguir:
● saindo da cabeça do personagem, fazer um balão com três ideias que ninguém irá
modificar;
● saindo da boca, fazer um balão com uma frase que foi dita e da qual se arrependeu e
outra frase que precisa ser dita e ainda não o foi,
● do coração, sair uma seta, indicando três paixões que não vão se extinguir. Chamar

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a atenção do grupo para que o objeto da paixão não precisa necessariamente ser
alguém, podendo tratar-se de uma ideia, uma atividade, etc.;
● na mão direita do personagem escrever um sentimento que este tem disponível para
oferecer;
● na mão esquerda escrever algo que ele tem necessidade de receber;
● no pé esquerdo escrever uma meta que deseja alcançar;
● no pé direito, os passos que precisa dar em relação a essa meta.
4. Quando todos terminarem o que foi solicitado, pedir que mantenham contato com o
personagem desenhado, procurando os pontos semelhantes e diferentes entre ambos.
Escrever no verso da folha as semelhanças e as diferenças encontradas.
5. Plenário
● apresentar para o grupo o seu personagem na terceira pessoa;
● falar das semelhanças e das diferenças que o ligam a ele;
● o facilitador pontua os aspectos importantes nas falas de cada participante.
Ao fazer o retrato solicitado e lhe dar vida, cada adolescente estará refletindo sobre
si mesmo. É uma atividade rica, prazerosa, leve e descontraída. Contudo, algumas vezes
conteúdos pessoais mais profundos podem emergir, favorecendo a expressão de emoções
intensas. Nesses momentos, o trabalho assume outra dimensão e o facilitador precisa estar
preparado para não temer as emoções, para ser continente das mesmas, escutá-las,
acreditando ser um canal que possibilita ao adolescente o encontro consigo mesmo.
Conteúdos biográficos que estejam muito ligados a esfera da vida privada não
devem ser estimulados. Caso o grupo faça perguntas mais intimas, o adolescente precisa ser
informado de que tem o direito à privacidade, podendo silenciar sem que isto signifique
desconfiança ou afastamento.

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1. – DIÁLOGO
Objetivos:
● Utilizar o diálogo como forma de resolver conflitos
● Expressar os pensamentos e sentimentos através do uso de frases que permitam uma
boa comunicação.
Dinâmica de grupo:
Escolha cuidadosamente suas palavras.
Material:
Papel ofício e lápis preto.
Desenvolvimento:
1. Grupo em círculo, de pé.
2. Formar duplas e sentar espalhadas pela sala.
3. Dar a cada dupla uma folha de papel e um lápis. Pedir que listem todas as frases que
ouvem frequentemente no seu dia a dia e que consideram agressivas, ofensivas ou que
causam desconforto. Dê 10 minutos para a execução.
4. Pedir a cada dupla que, das frases escritas, escolham a mais forte para apresentar ao
grupo.
5. Quando todas as duplas tiverem escolhido sua frase, pedir que encontrem uma forma
clara e gentil de dizer a mesma coisa.
6. Cada dupla lê para o grupo a frase original e a frase transformada.
7. Plenario- o grupo comenta o que descobriu ao fazer as comparações entre as maneniras
diferenea de dizer a mesma coisa, refletindo sobre as diferenças entre as frases
originais e as transformadas e os sentimentos após elas.
Através deste trabalho, os adolescentes podem perceber formas diversas de dizer o que
sentem sem ofender os outros. É possivel aprender a referir-se ao sentimento alheio sem
julgar, avaliar ou criticar os atos ou o jeito do outro. O professor deve chamar a atenção do
grupo para o fato de que qualquer pensamentos ou sentimento pode ser expresso, desde que
de forma respeitosa. É importante que os adolescentes percebam que frases agressivas ou
em tom de acusação impedem o outro de ouvi-las, gerando uma atitude defensiva ou de
ataque. A maneira mais eficiente de nos fazermos ouvir é expressar nossos sentimentos

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evitando julgamentos ou interpretações.

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3 – AMIZADE
A amizade é um sentimento de grande afeição, de simpatia por alguém. Afeto que
liga as pessoas uma às outras. O verdadeiro amigo é aquele que é capaz de demonstrar
afeto, admiração, companheirismo, tolerância, amizade pelo amigo em quaisquer
circunstancias, seja de dor, seja de alegria. O amigo é capaz de doar-se, de ser generoso em
suas ações com o outro, de compreender as falhas, de reconhecer as qualidades.
Objetivos:
● Promover a integração;
● Perceber as qualidades individuais.
Dinâmica de grupo:
Aprendendo a qualidade do outro
Desenvolvimento
1. Grupo em círculo sentado.
2. O facilitador pede que olhem, reconhecendo-se e reconhecendo as qualidades positivas
mais marcantes de cada um.
3. Escolher um participante para que inicie o trabalho, apresentando o colega do lado para
o grupo. Na apresentação, dizer o nome e uma qualidade da pessoa.
4. Quando todos tiverem sido apresentados, abrir plenário para que cada um avalie as
qualidades que lhe foram atribuídas.
É sempre positivo enunciar o que as pessoas têm de bom, reforçando suas qualidades e
tornando-as conhecidas por todos.
Como só se trabalha o positivo, esta atividade é leve e pode ser enriquecida,
solicitando-se que uma pessoa seja apresentada por mais de um componente do grupo, ou
que ela própria se apresente após ouvir sua descrição feita pelo companheiro.

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4 – RESPONSABILIDADE
A responsabilidade implica em responder pelos próprios atos, palavras e ações, ou
seja, a assumir o que se fala e se faz; implica arcar com as consequências do próprio
comportamento e cumprir com os compromissos assumidos.
Adotar uma atitude responsável é assumir a própria vida, é decidir por si mesmo, é
também respeitar a si mesmo, cumprir com os deveres e fazer cumprir os próprios direitos,
respeitando sempre os direitos dos outros, é reconhecer os próprios erros e aprender com
eles, é ser sensato.
Objetivos:
● Participar de atividades em grupo com responsabilidade e colaboração,
● Refletir sobre a importância da responsabilidade individual e coletiva para a construção
de uma sociedade mais justa.
Desenvolvimento:
1. Leitura do texto:
Responsabilidade (Fernando Pessoa)
Ai que prazer
Em cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E o fazer!
Ter um trabalho a cumprir
E o fazer!
Ter um amigo para ouvir e o fazer!
Grande é o futuro e o saber
Que o querer fazer nos traz.
Quanto maior o prazer no dever,
Mais conquistamos a paz.

2. Discutir em grupo: o que é responsabilidade?


3. Criar uma dramatização evidenciando um comportamento responsável.
4. Faça uma dissertação a partir do seguinte tema: “Tudo quanto aumenta a liberdade,

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aumenta a responsabilidade.” (Victor Hugo)

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1. – FAMILIA
Objetivo:
● Discutir os conflitos no grupo familiar;
● Vivenciar diferentes papéis na família;
● Exercitar a resolução de conflitos.
Dinâmica de grupo:
Conflitos familiares
Material:
Papel ofício e lápis.
Desenvolvimento:
1. Formar grupos de aproximadamente seis pessoas.
2. Pedir que cada grupo construa uma situação que expresse um conflito familiar. A
situação criada deve ter relação com conflitos vivenciados pelos participantes do grupo
em suas famílias. Deixar papel e lápis a disposição dos grupos. Tempo trinta minutos.
3. Cada grupo apresenta sua situação, dramatizando-a.
4. Após cada dramatização, o professor pede voluntários para reapresentarem os
personagens, repetindo a cena com um novo enfoque, com uma forma diferente de
viver e solucionar o conflito em questão.
5. Quando todas as dramatizações tiverem sido apresentadas pelos novos atores, abrir o
plenário.
6. Plenário – discutir as questões:
● Quais os pontos comuns entre as situações?
● O que chamou a atenção nos personagens?
● No seu modo de ver, havia maneiras diferentes e melhores para resolver os conflitos
apresentados?
7. Leitura do texto: Como se educa sem violência
● Reflexão sobre o texto.
Nesta dinâmica, o professor tem a oportunidade de chamar atenção do grupo para os
vários papéis dentro da mostrando que o modo de ver a mesma situação se modifica em
função desses diferentes papéis. Colocar-se no lugar do outro é um importante exercício

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para compreender a dinâmica dos relacionamentos e resolver conflitos.
Esta atividade permite ainda retomar com o grupo a reflexão a respeito do conflito.
Conviver com diferentes necessidades, valores, objetivos, ideias, personalidades, ritmos faz
com que estejamos sujeitos a situações de conflito, cuja resolução dependerá, em grande
parte, da atitude das pessoas envolvidas.

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6 – ESCOLA
Objetivo:
● Compreender a vida escolar como participação no espaço público, utilizando e
aplicando os conhecimentos adquiridos na construção de uma sociedade democrática e
solidária;
● Conhecer os limites colocados pela escola e participar da construção coletiva de regras
que organizam a vida do grupo
Dinâmica de grupo:
A escola que tenho/ A escola que gostaria de ter
Material:
Papel metro, caneta, lápis de cor, revistas, tesouras, cola e fita crepe.
Desenvolvimento:
1. Formar dois grupos, que deverão sentar em pontos diferentes da sala.
2. Distribuir entre os grupos o material.
3. Solicitar que construam um painel que represente a escola que se tem e a escola que
gostaria de ter. Tempo:30 minutos
4. Cada grupo apresenta seu painel.
5. O professor prende os papeis na parede, pedindo aos grupos que sentem em
semicírculo, de frente para os cartazes.
6. Solicitar que todos os participantes comentem os trabalhos apresentados em relação aos
seguintes pontos:
● Quais as semelhanças e as diferenças mais significativas entre os painéis?
● O que falta ser dito ou colocado?
● O que acha que não corresponde à sua opinião?
● Como a escola que se tem pode se transformar na escola que gostaria de ter?
● Como cada um pode participar dessa transformação?
A escola é um espaço privilegiado de participação social e exercício da cidadania
para os adolescentes. Portanto os adolescentes precisam perceber que é corresponsável por
tudo aquilo que vive, dando-se conta da importância da sua ação, desde a manutenção da
limpeza, conservação dos materiais, cumprimento de tarefas escolares, atenção as aulas,

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convivência solidária e respeitosa com os professores e colegas até a participação criativa e
critica em atividades estudantis.

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7 – COMUNIDADE
Objetivos:
● Valorizar o convívio pacífico e criativo dos diferentes componentes da comunidade;
● Atuar de forma colaborativa nas relações pessoais, bem como sensibilizar-se por
questões sociais que demandam solidariedade.
Dinâmica de grupo:
Comunidade e solidariedade
Material:
Revistas, papel ofício, cola, fita crepe, giz de cera, papel metro, caneta
Desenvolvimento:
1. Formar grupos e distribuir o material entre eles.
2. Cada grupo deve montar um painel no qual apresente situações de solidariedade, em
oposição a situações individualistas, dando um título sugestivo para o trabalho. Tempo
30 minutos.
3. Apresentação dos painéis, seguida de discussão sobre s pontos que mais chamaram
atenção do grupo.
4. Plenário – Discutir as seguintes questões:
● Qual a importância da solidariedade para a vivência em comunidade?
● Que valores e atitudes são estimulados e referendados na comunidade?
● De que iniciativa solidária você já participou?
● Que pessoas são exemplos de solidariedade na comunidade?
Nas comunidades, as normas de convivência e de conduta de seus membros estão
interligadas à tradição, religião, consenso e respeito mútuo. Este trabalho possibilita uma
reflexão sobre a comunidade, facilitando aos adolescentes a percepção de situações e
comportamentos que refletem atitudes e valores que contribuem ou não para a construção
da cidadania.

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6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os valores se desenvolvem desde a infância, e é no percurso da interação com os
outros e sob a influencia da cultura, que se da a formação pessoal e social das crianças e
jovens portanto é necessario promover a educação nos valores que fundamentam a
convivencia pacifica, democrática e solidária.
Nesta perspectiva é preciso criar uma escola mais humanizadora, onde os espaços,
os conteúdos, os metodos e as relacões sejam mais plurais. Priorizando o aprender a
aprender, o emprego de métodos grupais e cooperativos que geram a colaboração, a
solidariedade, a dignidade humana e a participação democrática na sociedade.
Deste modo, viver a educação baseada em valores e não violência constitui um
exercício contínuo de vivência dos valores que edificam a existência humana.

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7- BIBLIOGRAFIA
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Tyrode, yves ; Bourcet, Stéphane . (2002). Os adolescentes violentos. Lisboa: CLIMEPSI -
Crescendo.

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8- ANEXOS
Como se educa sem violência
(Dr. Arun Gandhi)
Eu tinha 16 anos e vivia com meus pais, na instituição que meu avô havia fundado,
e que ficava a 18 milhas da cidade de Durban, na África do Sul. Vivíamos no interior, em
meio aos canaviais, e não tínhamos vizinhos, por isso minhas irmãs e eu sempre ficávamos
entusiasmados com a possibilidade de ir até a cidade para visitar os amigos ou ir ao cinema.
Certo dia meu pai pediu-me que o levasse até a cidade, onde participaria de uma
conferência durante o dia todo. Eu fiquei radiante com esta oportunidade. Como íamos até a
cidade, minha mãe me deu uma lista de coisas que precisava do
supermercado e, como passaríamos o dia todo, meu pai me pediu que tratasse de alguns
assuntos pendentes, como levar o carro à oficina.
Quando me despedi de meu pai ele me disse: "Nos vemos aqui, às 17 horas, e
voltaremos para casa juntos". Depois de cumprir todas as tarefas, fui até o cinema mais
próximo. Distraí-me tanto com o filme (um filme duplo de John Wayne) que esquecida
hora. Quando me dei conta eram 17h30. Corri até a oficina, peguei o carro e apressei-me a
buscar meu pai. Eram quase 6 horas.
Ele me perguntou ansioso: "Porque chegou tão tarde?"
Eu me sentia mal pelo ocorrido, e não tive coragem de dizer que estava vendo um
filme de John Wayne. Então, lhe disse que o carro não ficara pronto, e que tivera que
esperar. O que eu não sabia era que ele já havia telefonado para a oficina. Ao perceber que
eu estava mentindo, disse-me: "Algo não está certo no modo como o tenho criado, porque
você não teve a coragem de me dizer a verdade. Vou refletir sobre o que fiz de errado a
você. Caminharei as 18 milhas até nossa casa para pensar sobre isso".
Assim, vestido em suas melhores roupas e calçando sapatos elegantes, começou a
caminhar para casa pela estrada de terra sem iluminação. Não pude deixá-lo sozinho.guiei
por 5 horas e meia atrás dele...vendo meu pai sofrer por causa de uma mentira estúpida que
eu havia dito.
Decidi ali mesmo que nunca mais mentiria.
Muitas vezes me lembro deste episódio e penso: "Se ele tivesse me castigado da

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maneira como nós castigamos nossos filhos, será que teria aprendido a lição?" Não, não
creio. Teria sofrido o castigo e continuaria fazendo o mesmo. Mas esta ação não-violenta
foi tão forte que ficou impressa na memória como se fosse ontem.

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