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COMO COMUNICAR

MÁS NOTÍCIAS NO CTI


Um guia rápido para médicos intensivistas

1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 2

O QUE VOCÊ PRECISA SABER ANTES DE COMUNICAR MÁS NOTÍCIAS 3

COMO CONDUZIR O DIÁLOGO 4


Protocolo SPIKES 6

CONCLUSÃO 8

A ARTMED 9
INTRODUÇÃO
Além de trabalhar aspectos técnicos, a residência e as es- Na prática, muitos profissionais iniciam a carreira em
pecializações em medicina intensiva desenvolvem habi- emergências sem o preparo adequado para realizar a
lidades para comunicar más notícias. Trata-se daquelas comunicação de situações graves. Como resultado, o
informações ligadas às condições que geram compro- profissional pode falhar em uma de suas tarefas básicas:
metimento grave na saúde do paciente e na rotina de auxiliar pacientes e familiares no enfrentamento de si-
sua família. tuações adversas na saúde, como acidentes que resul-

tam em sequelas definitivas, hemorragia e isquemias ou


As principais orientações vêm do código de ética médica. mesmo óbito.
O Artigo 34, por exemplo, recomenda ao profissional “in-

formar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos Neste material, você vai encontrar orientações de como
e os objetivos do tratamento”. A exceção fica por conta lidar com esse tipo de situação no dia a dia e oferecer o
de situações em que a comunicação direta possa causar suporte necessário aos pacientes.
dano ao paciente – em casos assim, a comunicação deve

ser feita ao representante legal. Boa leitura!

2
O QUE VOCÊ PRECISA SABER ANTES
DE COMUNICAR MÁS NOTÍCIAS
Ainda que os ambientes de emergências e de unidades de terapia in-

tensiva sejam exaustivos, compete ao médico informar os pacientes e

familiares com responsabilidade e humanidade.

De acordo com Cristiano Franke, médico intensivista na Unidade de

Tratamento Intensivo do Hospital de Pronto Socorro e no Hospital de

Clínicas de Porto Alegre e membro da Associação de Medicina Inten-

siva Brasileira (AMIB), existem poucas iniciativas que promovem ca-

pacitações de comunicação de más notícias no Brasil. Ele acredita, no

entanto, que é imprescindível que os profissionais de saúde recebam

orientações, seja na graduação, seja nos cursos de atualização ou pós-

-graduação.

As experiências com simulações práticas, por exemplo, conferem ex-

pertise à atividade médica. “Mas a gente sabe que não tem. No dia a

dia, simplesmente colocam a mão no seu ombro e dizem ‘chegou a

sua vez’”, lamenta o médico.

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COMO CONDUZIR O DIÁLOGO
A empatia, segundo Franke, é fator determinante para os diálogos com

pacientes e familiares. No entanto, trata-se de uma virtude pouco utili-

zada. “A falta de empatia é significativa e acontece em todas as institui-

ções, e em diversos níveis, até mesmo entre profissionais de excelência”.

Para comunicar com clareza, o diálogo deve ser realizado sem pressa

e com dedicação exclusiva. “Tudo aquilo que muda a perspectiva de

vida de uma pessoa é capaz de gerar um impacto maior até que o do

óbito”, explica o médico. Informar um familiar que o paciente terá se-

quelas graves para o resto da vida, em determinadas situações, trans-

forma a vida de todos à sua volta.

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Na situação ideal, utiliza-se uma sala privativa e silenciosa.

Na maioria das vezes, entretanto, as conversas entre médicos

e familiares acontece em condições insalubres, como nos pró-

prios corredores do hospital. Além do incômodo causado pela

circulação de pessoas, os estímulos sonoros e visuais desses

ambientes prejudicam a comunicação e a assimilação das in-

formações.

Além do ambiente, a abordagem correta prevê tom de voz

brando e gestos comedidos. Atitudes assim fazem parte da

metalinguagem e ajudam a expressar a mensagem que será

transmitida. Chamar o receptor pelo nome também é impor-

tante, pois demonstra respeito pela situação.

“É importante manter essa postura e saber quando é aceitá-

vel uma aproximação ou se o toque pode ser pertinente, por

exemplo. É preciso sensibilidade”, afirma Franke. Quando um

familiar recebe a notícia de maneira grosseira, a tendência é

de acreditar que o paciente recebeu tratamento semelhante.

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Protocolo SPIKES
Uma das estratégias de referência para a comunica-

ção de más notícias é o protocolo SPIKES. Criado em

2000 por médicos norte-americanos, o sistema ainda

é pouco conhecido dos profissionais de saúde.

O protocolo organiza-se em quatro objetivos princi-

pais. Quando utilizados, eles conferem maior segu-

rança ao médico:
colher informações dos pacientes;

transmitir informações médicas;

proporcionar suporte;

induzir a colaboração do paciente na estratégia

terapêutica para o futuro, ainda que paliativa.

O nome SPIKES é, na verdade, uma sigla para cada

uma das etapas do protocolo.

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S Planejando a entrevista (Setting up interview): K Dando conhecimento e informação ao paciente

Antes da comunicação das más notícias, é necessário (Knowledge): É hora de transmitir as notícias. Começar

pensar no ambiente em que isso será feito, além de se por “infelizmente, tenho más notícias” ou uma frase seme-

preparar psicologicamente para conduzir a conversa. lhante pode ser um bom começo para não causar choque.

P Avaliando a percepção do paciente (Perception): Em seguida, explique a situação dentro dos limites do que

A sugestão é que, antes de mais nada, você tenha uma foi acordado, sempre levando em consideração o nível de

noção de como o paciente e os familiares receberão a no- compreensão e vocabulário do paciente.

tícia. Para isso, é importante compreender o quanto eles E Abordando as emoções do paciente (Emotions):

efetivamente sabem sobre a situação médica. Isso pode Oferecer apoio ao paciente é essencial nesse momento.

ser feito por meio de perguntas como “o que já lhe foi dito Entender quais emoções surgem após a comunicação das

sobre seu quadro clínico até agora?” ou “qual a sua com- notícias – tristeza, raiva, medo, etc. – parte, primeiramen-

preensão sobre as razões por que fizemos esse exame?”. te, da observação. Depois, é interessante verbalizar essa

I Obtendo o convite do paciente (Invitation): Uma vez percepção e ajudá-lo a compreender de onde essas emo-

respondidas as perguntas feitas na etapa anterior, é hora ções vêm (na maioria das vezes, será por conta da própria

de entender qual a melhor abordagem. O que funciona notícia). Por fim, dê tempo ao paciente e dê o suporte

para uma pessoa pode não funcionar para outra. Por emocional necessário.

isso, você dará a escolha novamente ao paciente e com S Estratégia e resumo (Strategy and Summary): Caso o

perguntas como “como você gostaria que eu lhe infor- paciente esteja preparado e essa seja uma possibilidade,

masse sobre os resultados dos exames?”. Caso a opção é hora de discutir o plano de tratamento. O primeiro passo

seja por não saber os detalhes, você pode se oferecer para é confirmar se ele está confortável em abordar o assunto

esclarecer quaisquer dúvidas ou falar com algum familiar naquele momento. Com o consentimento, parte-se para a

ou amigo. apresentação das opções e a evolução do tratamento.

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CONCLUSÃO
Este guia rápido tem como objetivo ajudar você, profissional da Me-

dicina, a enfrentar um dos momentos mais difíceis no dia a dia da

carreira.

As dicas e protocolos trazidos aqui servem para proporcionar a me-

lhor experiência ao paciente dentro das limitações de cada caso,

além de guiarem você na tomada de decisão frente às situações

adversas e respostas emocionais conturbadas.

Esperamos que este e-book seja útil na sua rotina!

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A ARTMED
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REFERÊNCIAS

BAILE WF, BUCKMAN R, LENZI R. SPIKES – Um Protocolo em Seis Etapas para Transmitir Más Notícias: Aplicação ao Paciente com Câncer. pags 1-14. Disponí-

vel em https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3639828/mod_folder/content/0/SPIKES%20%E2%80%93%20Um%20Protocolo%20em%20Seis%20Etapas%20para%20

Transmitir%20M%C3%A1s%20Not%C3%ADcias%20Aplica%C3%A7%C3%A3o%20ao%20Paciente%20com%20C%C3%A2ncer.pdf?forcedownload=1

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