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EM FERIDAS

WORKBOOK

01
FALA,
MONSTROS!

A prioridade no primeiro contato do profissional (você)


com o seu paciente é a ANAMNESE.

Anamnese (aná = trazer de novo e mnesis = memória)


significa trazer de volta à mente todos os fatos relacio-
nados com as doenças de bases, focando principal-
mente nos 4 itens do meu método IMERSÃO4 (comor-
bidades, aspectos nutricionais, baixa perfusão e fato-
res sociais), além de analisar a história da ferida: Como
surgiu? Há quanto tempo possui a lesão? Relação pa-
ciente-ferida? Dor? Incômodo social? Apoio familiar?
Todos os detalhes que de fato são importantíssimos
para conseguir cicatrizar três vezes mais rápido qual-
quer lesão.

A anamnese é um ponto fundamental e ímpar na sua


desenvoltura como profissional conhecedor do trata-
mento de feridas e até insubstituível, pois não consigo
visualizar uma avaliação realizada por um profissional
de enfermagem sem investigar, perguntar e questio-
nar tudo que possa modificar a velocidade no trata-

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mento da lesão. Entenda que a família quer resulta-
dos, porém existe uma coisa que todos também estão
ansiosos por ter: conhecimento. Isso mesmo. A família
quer detalhes de tudo que você irá fazer, mesmo que
eles não sejam um profissional da área. Por isso, per-
gunte, questione, investigue tudo, mas também conte
todos os detalhes do seu tratamento. A família precisa
saber! E tenha certeza de uma coisa, isso te ajudará
bastante, pois a confiança no seu trabalho é funda-
mental para o andamento acelerado do processo de
cicatrização.

A anamnese, quando bem feita, é acompanhada de


decisões diagnósticas e até terapêuticas que irão mo-
dificar de forma crucial o tratamento. Porém, não é
porque estou dizendo a todo momento da importân-
cia da realização da anamnese que você irá fazer de
qualquer jeito e isso bastará, pois uma anamnese mal
realizada desencadeia uma série de consequências
negativas, as quais não conseguirão ser compensadas
nem com exames complementares, por mais sofisti-
cados que sejam. Não esqueça da frase que é clichê
desde o primeiro período do curso de enfermagem: “a
clínica é soberana”. E isso é fato. Identificar que o pa-
ciente possui uma lesão por pressão e tentar tratá-la
não é o ponto principal a se fazer, mas sim entender
como o paciente chegou naquela situação em que se
encontra. O correto ainda é analisar a doença de base
que fez ele ficar com a mobilidade e atividade prejudi-
cada; observar se a doença modificou a percepção

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sensorial do paciente e qual a percepção do paciente
sobre isso, se ele está afim de melhorar e mudar
aquela situação ou está decido, com a opinião forma-
da, que sua vida acabou e que agora é apenas sentar e
aguardar a morte sofrendo a cada dia com mais e
mais lesões. Tudo isso é muito importante para ser
avaliado.

O profissional deverá perceber até o nível da conversa


do familiar com o paciente, para entender como está o
estresse daquela família em relação ao paciente com
ferida, pois não sei se você tem experiência com ferida,
mas deixa eu te contar uma coisa que você precisa
saber: haverá dia que até você estará cansado de ter
que sair do seu conforto de casa para ir avaliar lesões.
Agora, imagina o paciente que terá que parar a sua
vida para te receber. Até isso gera um estresse, por
isso, você precisa fazer daquele momento um dos
mais esperados por ele, e principalmente sempre
pensar em algo novo, diferente para ser implementa-
do e discutido a cada visita, para que assim ele possa
entender que a sua visita é importante e que a cada
dia ele irá "aprender mais sobre o tratamento de sua
lesão”. Com esse trabalho realizado ficará bem claro a
todos os integrantes da família o porquê do preço da
sua avaliação e realização do procedimento ser dife-
rente do mercado, se comparado com qualquer outro
profissional da enfermagem. Isso sim é tratar feridas
com qualidade.

Não esqueça de avaliar os principais objetivos de uma

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anamnese em pacientes com feridas, vou listar aqui
alguns pontos importantes:

• Estabelecer uma condição adequada para que


fique leve a relação enfermeiro – família – paciente;
• Conhecer por meio da identificação os principais
determinantes epidemiológicos do paciente que
influenciaram no seu processo saúde doença;
• Fazer toda a história clínica, registrando cada de-
talhe, até cronologicamente do problema atual do
paciente;
• Registrar e desenvolver práticas de promoção à
saúde;
• Avaliar os sinais e sintomas que podem retardar
o processo de cicatrização e tentar modificá-los
ainda no primeiro contato;
• Conhecer os hábitos de vida do paciente, bem
como suas condições socioeconômicas e até cul-
turais.

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Durante a entrevista, o examinador precisa saber o
momento exato de usar o silêncio, apoio, esclareci-
mento e a facilitação para que assim você consiga
obter as informações necessárias, mas sem perder o
paciente. Vou te mostrar alguns exemplos:

O silêncio deverá acontecer quando o paciente se


emociona. É inadequado dizer ao paciente que não
chore durante alguma fala que cause uma lembrança
ou emoção. Chorar, às vezes, faz bem ao paciente. O
ato de entregar para o paciente uma caixa de lenços
de papel, naquele momento, poderá mostrar nobreza,
educação, delicadeza, apoio e até compreensão com o
que o paciente está vivendo. Você já tinha pensado
nisso? Acho que agora, depois de ler isso você irá com-
prar uns lenços para colocar na sua caixinha de atendi-
mento.

Afirmações de apoio como por exemplo, “eu compre-


endo”; “entendo perfeitamente a situação” no mo-
mento em que o paciente demonstra uma inseguran-
ça ou até dúvida sobre alguma situação, poderá enco-
rajá-lo a prosseguir no relato ou até a fornecer mais
detalhes sobre a história diagnóstica e da lesão.

Esclarecimento é um recurso que devemos utilizar


bastante, imagina só o paciente com uma lesão no
membro inferior referir dor próximo a lesão. Essa dor
pode ter sido desencadeada após o trauma, após o uso
de uma cobertura inadequada ou até mesmo ser fisio-
lógica e referir-se a uma arteriosclerose ou mesmo a

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uma obstrução da artéria que está causando uma is-
quemia local e consequentemente dor. Essa dor
deverá ser revista e analisada em detalhes, então que
tal perguntar mais sobre isso, vou te mostrar alguns
exemplos: “E essa dor acontece especificamente em
qual região do corpo? Me mostra onde dói mais? Doí
ao esforço? Quando você anda dói? Quando você
eleva o membro dói?”

Entendeu?

Muito importante você solicitar esclarecimento do


que poderá modificar suas condutas e prescrições.
Chamamos isso de anamnese guiada. Temos, ainda, a
facilitação, que refere-se a uma técnica de comunica-
ção verbal e não verbal que encoraja o paciente a con-
tinuar falando, mas sem direcioná-lo para um tema es-
pecífico.

Vou ter dar um exemplo: Imagine o paciente te con-


tando como foi o acidente, porém você quer entender
mais detalhes sobre a biomecânica do trauma, para
assim identificar o porquê daquele queimadura ex-
tensa que você irá avaliar, com a simples estratégia da
facilitação falando ao paciente: “fale mais sobre isso”;
“continue”; isso irá causar nele uma vontade de espe-
cificar mais sobre o tema, pois você demonstrará inte-
resse sobre ele e sobre a história. Além de poder usar a
comunicação não verbal demonstrando que está
curioso sobre a história, podendo balançar a cabeça
mostrando que está concentrado e entendendo tudo.

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Isso ajuda bastante. Percebeu o quanto anamnese
não pode ser realizada de qualquer jeito. Muitos pro-
fissionais da Enfermagem pensam que por terem boa
desenvoltura em falar, acham que irão fazer uma
anamnese perfeita, porém é interessante que fique
claro que a anamnese não é para você falar, mas sim
para ouvir e consecutivamente conseguir aproveitar o
momento para tirar o máximo de informações possí-
veis sobre o paciente e a lesão.

Por isso, não esqueça que, além da anamnese, temos


o Exame Físico. E para isso usamos os métodos prope-
dêuticos: inspeção, palpação, percussão e ausculta. É
claro que para feridas não utilizamos todos esses mé-
todos, mas penso que também já ficou claro que esta-
mos avaliando não apenas uma lesão, mas sim o pa-
ciente como um todo, de forma holística. Por isso, ao
chegar diante do paciente, realize o exame físico com-
pleto. Analise seus sinais vitais, níveis de glicemia, para
que, assim, o profissional, diante da Hemodinâmica,

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possa tomar as melhores condutas e prescrever o
melhor tratamento para a lesão. Na inspeção, é possí-
vel avaliar muitos detalhes, desde as condições sociais
do paciente e de toda sua família; como também a re-
ceptividade do profissional ao chegar na residência ou
quando o paciente chega ao consultório do enfermei-
ro. Sua receptividade irá demonstrar rapidamente se
ele irá aceitar ou não o tratamento que será indicado.
Outro detalhe é a posição do paciente no leito, isso
poderá demonstrar dor: cuidado, autoconfiança, inse-
gurança, descuido e muito mais, sinais clássicos de co-
municação não verbal e que irá ajudar bastante em
qual conduta tomar no até de prescrever medicamen-
tos e cuidados. Ainda tem mais, o estado psicológico
do paciente e sua comunicação não verbal também
ajudarão se quisermos cicatrizar 3x mais rápido a
lesão.

É possível identificar e até avaliar, apenas por meio da


inspeção do curativo, se a exsudação já está presente
na cobertura secundária e se será necessário realizar
ou não a troca naquele momento, se está sangrando,
se o curativo ainda está no lugar adequado sobre o
leito da lesão, pois algumas vezes o cisalhamento e a
fricção acabam por modificar a posição do curativo.
Edemas, cor da pele, manchas, cianose, flictenas, insu-
ficiência respiratória agudizada, palidez, hiperemia, al-
binismo, bronzeamento, petéquias, equimose, tudo
isso é possível ser avaliado apenas pela inspeção. No
entanto, continuando o exame físico é observado na

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palpação, por exemplo, se tratasse ou não de uma
lesão por pressão estágio 1, devido à digitopressão que
é necessário ser realizado. É possível ainda com o tato
avaliar temperatura, edema (sinal de cacifo ou sinal de
godet), bolhas, umidade, textura, espessura, turgor,
sensibilidade e até elasticidade. Por fim, a percussão e
ausculta, métodos propedêuticos não tão utilizados
durante a avaliação da lesão, porém bastante impor-
tantes para avaliar a clínica. Lembre-se que é impor-
tante que as comorbidades estejam estáveis para eu
ter sucesso na cicatrização.

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