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O GUIA COMPLETO DA

SEMIOLOGIA E
PROPEDÊUTICA
Descomplique o seu atendimento, desde
a anamnese às manobras semiológicas!
OPA, BOM TE VER POR AQUI!

A semiologia é a área que dedica sua atenção aos sinais e sintomas apresentados
pelos pacientes (tanto os verbais quanto os não verbais), sendo fundamental para
compor o diagnóstico do paciente durante um atendimento, por meio do exame
físico.

Por isso, é com grande prazer que trazemos este e-book para te ajudar em uma fase
tão importante do ciclo básico da sua formação médica - afinal, é de fundamental
importância que saibamos avaliar e examinar nossos pacientes, certo? Para isso, a
semiologia é muito importante!

Nas próximas páginas, você vai receber uma série de informações importantes sobre
a semiologia e propedêutica das mamas, ginecológica, obstétrica, neurológica,
do sistema respiratório, do sistema cardiovascular, lesões elementares de pele,
ortopédica e do abdome.

Ao final deste e-book, esperamos que você esteja craque nos principais pontos a
serem analisados e examinados no dia a dia na sua prática clínica, tanto na anamnese
quanto no exame físico.

Vamos juntos!
ÍNDICE

05 QUEM SOMOS

06 ANAMNESE

16 CLÍNICA MÉDICA

17 SEMIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

34 SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR

58 SEMIOLOGIA NEUROLÓGICA

79 PEDIATRIA

80 A ANAMNESE PEDIÁTRICA

90 GINECOLOGIA

91 SEMIOLOGIA E PROPEDÊUTICA DAS MAMAS

102 SEMIOLOGIA E PROPEDÊUTICA GINECOLÓGICA

111 SEMIOLOGIA E PROPEDÊUTICA OBSTÉTRICA


122 CIRURGIA

123 SEMIOLOGIA OTORRINOLARINGOLÓGICA

133 SEMIOLOGIA ORTOPÉDICA

140 SEMIOLOGIA DO ABDOME

148 LESÕES ELEMENTARES DE PELE

154 CONCLUSÃO

155 O QUE NOSSOS ALUNOS ESTÃO FALANDO?

156 NOSSA MISSÃO

157 CONHEÇA NOSSOS CURSOS

159 FICOU ALGUMA DÚVIDA?


QUEM SOMOS

Somos um time de médicos formados nas principais instituições de São Paulo, mas
chegar até aqui não foi nada fácil. Todos nós passamos em algum momento pelas
dificuldades que você pode estar enfrentando agora na sua carreira.

Justamente por isso, e porque gostaríamos de ter tido alguém para nos orientar lá
trás, tomamos a decisão de criar a Medway. Depois de muito estudo, trabalho duro
e dedicação total, conseguimos montar cursos que nos enchem de orgulho, porque
sabemos que fazem a diferença na preparação dos nossos alunos.

Em menos de dois anos, já são mais de 2500 alunos impactados por uma metodologia
diferente. Leve, objetiva e verdadeira. Sem dúvidas, esse último é o nosso maior
diferencial.

Não te enrolamos e nem falamos o que você quer ouvir. Não generalizamos. Te
tratamos com respeito. Da forma como gostaríamos de ser tratados. Muitos nos
vêem como professores ou mentores. Nós gostamos de nos enxergar como aquele
veterano que você admira pelo conhecimento técnico, mas também pela didática e
pelo lado humano.

Genuinamente, torcemos pelo sucesso de todos aqueles que confiaram em nós. E


se esse for o seu caso muito em breve, pode ter certeza que estaremos juntos até o
final!

Boa leitura!

5
ANAMNESE

SEMIOLOGIA E
PROPEDÊUTICA
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Anamnese

Conceitos Gerais

Como vocês já devem saber, apesar de tantas descobertas, tecnologias, a parte principal do
exercício profissional do médico é ainda o exame clínico. É com ele que conseguimos criar
uma boa relação médico-paciente, e, a partir daí, conseguir captar os elementos que vão nos
permitir realizar hipóteses diagnósticas e, consequentemente, tratamento adequado. Na
maioria das vezes o paciente vai na consulta ansioso, com dúvidas, e cabe a nós reconhecer
esse sofrimento e acolher o paciente. E claro, guardar para si seus preconceitos, posição
política, filosófica, religiosa, de forma que isso não interfira no julgamento clínico. Pessoal,
quem tem a doença é o paciente, por isso sempre temos que valorizar, ouvir atentamente,
com empatia e respeitar as queixas apresentadas.

Mas aqui nossa proposta é conversar um pouco mais sobre um dos elementos do exame
clínico: sim, aquela que com certeza foi uma das primeiras palavras que você aprendeu na
faculdade – a anamnese.

Como não podia faltar numa introdução, vamos ao que significa a palavra: “aná” = trazer de
novo, “mnesis” =memória. É então a história que o paciente traz, que é a primeira parte de
uma consulta médica.
E gente, não se iludam. Temos vários exames complementares à nossa disposição, mas ficar
solicitando um monte deles não supre falhas de uma anamnese incompleta. É uma história
clínica completa, abordando todos os seus aspectos que permitirá inclusive a solicitação de
exames adequados dependendo do quadro do paciente.

A nossa querida anamnese não é só um simples registro de uma conversa, mas sim o resultado
de um diálogo, conduzida pelo examinador (no caso, a gente), com o objetivo de criar hipóteses
diagnósticas. Trocando em miúdos, é a história clínica que o paciente vai te contar e que cabe
a você direcionar.

E tem que ser persistente! No início, como tudo, é difícil… um monte de pergunta, horas falando
com o paciente, e quando seu professor pergunta algo, bem aquilo você não abordou… mas a
gente tá aqui para tentar te ajudar a arrumar as ideias!

Mas tem mais uma coisa… temos jeitos diferentes de registrar a história. Aqui vamos falar
da anamnese tradicional, a mais amplamente conhecida, e o Registro Clínico Orientado por
Problemas (RCOP) - faz parte dela o SOAP, mas fica tranquilo que nos próximos minutos você
vai entender o que vem sendo cada vez mais utilizado na Atenção Primária. Então bora lá!

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Anamnese

Partes da Anamnese Tradicional

Gente, antes de tudo e independentemente de qualquer coisa, temos que tentar deixar a
situação o mais confortável possível, tanto para o paciente como para nós. Então preparar
o ambiente, ver um local que garanta privacidade, seja silencioso, estar usando roupas
adequadas (jaleco, avental, roupas padronizadas); e pessoal, sempre se apresentar: Boa tarde!
Sr. João! Meu nome é... sou aluno do terceiro ano da faculdade de medicina, gostaria de
entender um pouco mais sobre sua história, o que trouxe o senhor aqui...outra coisa que
vale a pena reforçar aqui: sempre chamar o paciente e o acompanhante pelo nome… ficar
chamando a mãe da criança de “mãezinha” não tá com nada!

Bom, apresentação feita, partimos para a abordagem de alguns pontos, que na anamnese
tradicional são divididos em:

1. Identificação

2. Queixa e Duração

3. História da Doença Atual

4. Interrogatório Sobre os Diversos Aparelhos

5. Antecedentes Pessoais

6. Antecedentes Familiares

7. Hábitos e Vícios

8. Condições socioeconômicas e culturais

Vamos falar um pouco mais detalhadamente de cada uma dessas partes!

1. IDENTIFICAÇÃO

Pessoal, a identificação do paciente é a primeira coisa que vamos questionar, para tentar
entender melhor quem é aquele paciente, lembrando que tem doenças mais prevalentes em
determinado sexo, idade, ocupação… por isso, essa parte é essencial. O senhor se importa se
eu fizer algumas perguntas?

• Nome – completo do paciente; se for criança, idoso… colocar o nome do acompanhante


que está dando as informações e o vínculo com o paciente

• Idade/data de nascimento

• Sexo: feminino/masculino

• Cor da pele

• Estado Civil – se é casado, solteiro, divorciado, viúvo...

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Anamnese

• Profissão – a partir de uma formação/Ocupação: com o que o paciente trabalha no


momento e questionar também no que já trabalhou no passado

• Escolaridade – aqui colocar quantos anos estudou ou o grau de escolaridade

• Religião

• Naturalidade - cidade que nasceu

• Procedência – cidade que mora

E gente, não esquecer de sempre colocar a data que foi feita a anamnese!

2. QUEIXA E DURAÇÃO (QD)

O QD consiste no motivo que trouxe o paciente, e há quanto tempo isso está acontecendo. Às
vezes, o paciente tem vários motivos, mas temos que entender qual o que mais incomoda: “Sr.
João, o que fez o senhor procurar o hospital? E há quanto tempo isso vem acontecendo?”. Ah!
Aqui pessoal, usamos as próprias palavras do paciente: “dor de cabeça há 3 dias”!

3. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL (HDA)

Aqui é onde vamos destrinchar o motivo apontado no QD! A ideia é deixar o paciente falar sobre
sua queixa e o ideal é a gente evitar interromper, de forma a não induzir respostas. Depois dele
falar, cabe a nós perguntar algumas coisas para completar a história, usando o sintoma como
fio-guia para estabelecermos conexões com outras queixas. Quando formos registrar no
prontuário, a ideia no HDA é colocarmos os acontecimentos em ordem cronológica e utilizar
termos técnicos. Ver direitinho a evolução, se já fez exames, algum tratamento… depois de ter
toda a história em mãos, tente fazer um resumo para o paciente, para ele confirmar a história
e ter a possibilidade de corrigir ou acrescentar algo.

Uma dica aqui, pessoal: evitem colocar datas – dia 10/08 iniciou cefaleia – imagina você lendo
isso no ano seguinte, tendo que fazer as contas a partir da data da anamnese; é mais legal
colocar há quantos dias as manifestações vem aparecendo – há 3 dias com cefaleia, com piora
há 1 dia.

E uma das coisas que vai mais aparecer aqui é a queixa de dor. Sempre questionar como está
o sintoma no momento da anamnese, exames que já foram feitos e até tratamentos. E temos
que detalhar ao máximo essa queixa! São 10 coisas que eu odeio em você 10 características da
dor que temos que perguntar:

1. Início – quando a dor começou e de que forma

2. Localização – onde dói? (pedir para paciente apontar)

3. Intensidade – aqui a gente pode tentar quantificar com base em escalas de dor, como a
numérica (0 dor nenhuma, 10 a pior dor da vida)

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Anamnese

4. Caráter/tipo – como é a dor? (Em peso, em facada, em queimação, em cólica, latejante/


pulsátil, em aperto, pontada...)

5. Irradiação – a dor vai para algum lugar?

6. Periodicidade – a dor é contínua? Vai e volta? De quanto em quanto tempo aparece?

7. Duração – quanto tempo dura a dor

8. Fatores de melhora – o que melhora a dor? (Remédio, posição, atividade física, alimentos...)

9. Fatores de piora – o que piora a dor?

10. Fatores que acompanham – tem algum outro sintoma quando tem essa dor?

11. Vale lembrar que esses aspectos também devem ser explorados em sintomas que
aparecerem no ISDA.

4. INTERROGATÓRIO SOBRE OS DIVERSOS APARELHOS (ISDA)

Gente, aqui a gente tem que perguntar sobre todos os outros aparelhos, e se possível,
correlacionar com a doença atual. É trabalhoso (e como é...), mas principalmente nesse início,
para o ISDA ficar completo, vale a pena um esquema mais rígido, com várias perguntas
que correspondam a todos os sintomas indicativos de alterações dos vários aparelhos do
organismo. Aí aos poucos, com a prática, os principais aspectos de cada sistema vão se
tornando automáticos para você. À medida que você for ficando mais experiente no ISDA,
você vai conseguir adaptar as perguntas de acordo com o caso do paciente, conseguindo
perceber qual pergunta te trará informações relevantes ao caso. Mas uma dica é realizar uma
pergunta aberta – Sente algo na cabeça? – E a partir daí, ir detalhando!
Divide-se, então, o ISDA de maneira geral (Depende de qual referência você utiliza!):

Sintomas Gerais – febre, calafrios, sudorese, mal-estar, astenia, alteração de peso, edema e
anasarca;

Pele e anexos: dor, manchas, palidez, ulceração, tumefação, prurido, alopecia e icterícia.

Cabeça e Pescoço

• Cabeça: cefaleia, enxaqueca, tonturas, vertigem e traumas;

• Olhos: dor, ardência, lacrimejamento, prurido, diplopia, fotofobia, nistagmo, secreção,


escotomas, acuidade visual, exoftalmia, amaurose e xeroftalmia;

• Ouvidos: dor, otorreia, otorragia, acuidade auditiva, zumbido, vertigem e prurido;

• Nariz e cavidades paranasais: dor, espirros, obstrução nasal, epistaxe, anosmia, cacosmia,
prurido e coriza;

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Anamnese

• Orofaringe: sialorreia, halitose, dor de dentes, sangramentos, aftas, ulcerações, boca seca,
uso de próteses dentárias, dor na articulação temporomandibular (ATM); odinofagia,
pigarro, roncos, rouquidão, disfonia e globus faríngeo;

• Vasos e linfonodos: pulsações, turgência jugular e adenomegalias.

Sistema Respiratório: dor torácica, tosse, expectoração, hemoptise, vômica, dispneia, chiados
e cianose.

Sistema Cardiovascular: dor precordial, palpitações, dispneia aos esforços, dispneia em


decúbito, ortopneia, dispneia paroxística noturna, edema, síncope, lipotímia, cianose
progressiva, sudorese fria, fadiga e claudicação.

Sistema Digestório: dispepsia, pirose, eructação, alterações do apetite (hiporexia, anorexia,


perversão e compulsão alimentar), alteração da deglutição - disfagia, odinofagia; náuseas,
vômitos, hematêmese, dor abdominal, distensão abdominal, flatulência, hábito intestinal –
número de evacuações/dia, consistência das fezes - tenesmo, melena, enterorragia, hipocolia,
acolia, escape fecal e constipação.

Sistema Geniturinário: diurese (volume, número de vezes no dia, alterações na urina,


hematúria, coluria, sedimento e espuma), oliguria, anuria, poliúria, nictúria, polaciúria, disúria,
enurese; no sexo feminino: corrimento, ciclo menstrual, dismenorreia, menorragia; mamas:
nódulos, retrações e dor.

Aparelho Locomotor: fraqueza muscular, mialgia, artralgia, edema articular, crepitação


articular e limitação funcional.

Sistema nervoso: tremores, convulsão, sonolência, movimentos involuntários, anestesia,


hipoestesia, paresia e parestesia.

5. ANTECEDENTES PESSOAIS (AP)

Nos antecedentes pessoais precisamos saber coisas que já aconteceram na vida do paciente:

1. Antecedentes na infância: condições de nascimento, moléstias da infância e


desenvolvimento neuropsicomotor;

2. Doenças do paciente – perguntar sobre as mais comuns da vida adulta - internações


anteriores;

3. Alergias – doenças alérgicas, alergias a medicamentos e alimentos;

4. Cirurgias – tipo de cirurgia, motivo pela qual foi indicada e data do procedimento;

5. Traumatismo – perguntar se já sofreu acidentes;

6. Transfusões sanguíneas – n° de transfusões, quando ocorreu e o motivo;

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Anamnese

7. História obstétrica – n° gestações, n° partos (descrever se foi normal ou cesárea) e n° de


abortos (G_P_A_);

8. Vacinação – investigar se tomou as vacinas recomendadas pelo Ministério da Saúde, a


depender da faixa etária;

9. Medicamentos em uso – qual é o remédio, posologia, motivo que foi prescrito e quem
prescreveu.

6. ANTECEDENTES FAMILIARES (AF)

Aqui a ideia é perguntar sobre o estado de saúde principalmente dos pais, avós e irmãos. Em
caso de falecimento, perguntar a causa do óbito e a idade em que aconteceu.

7. HÁBITOS E VÍCIOS

Temos que perguntar para o paciente sobre alimentação, atividades físicas (tipo de exercício,
frequência, duração e há quanto tempo pratica), tabagismo (tipo, quantidade, frequência,
duração do vício e abstinência se tentou parar de fumar), consumo de bebidas alcoólicas (tipo
de bebida, quantidade habitualmente ingerida, frequência), uso de anabolizantes, alguns
sedativos e consumo de drogas ilícitas.

8. CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS

Aqui questionamos sobre a situação financeira, a família, crenças do paciente, condições de


moradia e grau de escolaridade.

Com relação às condições de moradia, é importante perguntar se é feita de alvenaria ou não,


quantidade de cômodos, se tem saneamento básico ou não, coleta de lixo, se abriga animais
domésticos, quantas pessoas moram na casa...

Registro Clínico Orientado por Problemas (RCOP)

Já sabemos o quanto a história clínica é importante; agora é importante lembrar que também
é essencial o registro adequado nos prontuários; é por ele que conseguimos acompanhar
o paciente da maneira adequada. Ah, e você já deve ter ouvido falar que prontuário é um
documento… e é. Tem que ser bem feito!

Na Atenção Primária à Saúde, vem-se cada vez mais usando o Registro Clínico Orientado por
Problemas (RCOP), também conhecido como Registro de Saúde Orientado por Problemas
(ReSOAP), e seu componente chamado de “SOAP” (Subjetivo, Objetivo, Avaliação e Plano),
uma outra maneira de fazer a anamnese que não a tradicional.

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Anamnese

O RCOP tem 3 áreas principais para o registro das informações: a base de dados da pessoa, a
lista de problemas e as notas de evolução clínica (notas SOAP). Tem uma quarta área, as fichas
de acompanhamento, que apresentam os dados complementares à evolução. O intuito é ter
um método eficiente, que a gente consiga achar de forma rápida as informações do paciente,
sempre atualizado, e que garanta a longitudinalidade, e a articulação de cuidados dentro da
equipe da APS.

• Base de dados da pessoa: aqui colocaremos informações obtidas na história clínica, no


exame físico e exames complementares. Também entram os antecedentes pessoais e
familiares, o problema de saúde atual e as informações de saúde prévias da pessoa.

• Lista de problemas: como o nome já diz é uma lista de problemas, que aparecem logo
após a identificação da pessoa, como uma folha de rosto. É para ficar mais prático entender
o que se passa com aquele paciente, de forma que os problemas vão sendo colocados em
ordem de aparecimento, o que é crônico, o que é agudo, o que foi resolvido, os fatores
de risco. O problema clínico pode ser considerado como tudo aquilo que interfere na
qualidade de vida da pessoa, e deve ter o máximo de precisão possível.

• Notas de evolução “SOAP” – não, não tem nada a ver com sabonete não. É um acrônimo
para “Subjetivo”, “Objetivo”, Avaliação” e “Plano”, que vai nos guiar na hora de escrever as
notas de evolução.

Subjetivo – aqui colocamos as informações com base no relato do paciente sobre o problema
de saúde; aqui também colocamos nossas impressões sobre o paciente e as expressadas por
ele. Equivaleria à identificação, AF, AP, QD e HDA da tradicional

Objetivo – dados do exame físico que sejam relevantes e resultado de exames complementares;
equivaleria ao ISDA (além de exame físico) da tradicional.

Avaliação – aqui pontuamos os problemas evidenciados na consulta (na prática, as hipóteses


diagnósticas)

Plano - última parte do SOAP! Colocamos aqui as condutas e programações em relação ao


problema. Pode-se dividir em 4 tipos principais de planos:

• Plano Diagnóstico: exames ou procedimentos que precisam ser feitos para investigar o
problema

• Plano Terapêutico: tudo o que é pensado para o tratamento – medicamentos, mudança


de hábitos, dietas...

• Plano de Seguimento: a programação em relação à abordagem do problema

• Plano de Educação em Saúde: aqui registramos o que foi conversado e orientado ao


paciente

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O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Anamnese

Vamos ver um caso para ilustrar o SOAP e ver se você entendeu:

Josefa, 62 anos, mulher negra, acompanha na UBS por diabetes e hipertensão arterial. Há
cerca de 10 dias, Josefa procura o PS devido a um desmaio seguido de perda de força em
braço e perna esquerdos. No hospital terciário foi diagnosticada com AVE e foi encaminhada
na alta ao endócrino, ao cardiologista e ao fisioterapeuta. Durante a consulta, Josefa mostrou-
se preocupada com o custo dos remédios prescritos no hospital e com a dificuldade de ir
às consultas. Chora ao falar de suas dificuldades, ela que pagava as contas como diarista,
filha está desempregada, um dos netos envolvido com álcool e drogas. Ao exame clínico,
o médico constata hemiparesia desproporcionada à esquerda, com força muscular grau V
em membro superior e grau III em membro inferior. O restante do exame clínico é normal.
O médico conversa com Josefa e propõe tratamento de diabetes e hipertensão na UBS,
cancelando os encaminhamentos. Planeja discutir o caso com equipe multidisciplinar para
acionar fisioterapeuta e assistente social. O médico ainda combina retorno precoce de Josefa
para conversar sobre a adaptação dela e de sua família a este novo ciclo de vida.

E aí? O que colocar em cada parte?

Subjetivo: Preocupada com o custo dos medicamentos


Objetivo: Hemiparesia
Avaliação: Acidente Vascular Periférico
Plano: Discussão com equipe multidisciplinar

Acha que é só um exemplo bobo? Não damos ponto sem nó, não! Esse caso foi questão de
prova da USP de 2020 e esses itens do SOAP eram exatamente a resposta! Além de um tema
importante para a vida, vale vaguinha! #ficaadica

CONCLUSÃO

Bom pessoal, vimos aqui um pouco sobre como abordar a história do paciente, sendo a
anamnese tradicional, seus pontos e o quão importante é essa parte da consulta. Vimos
também um outro método de registro que é o RCOP/ReSOAP, que vem sendo usado cada
vez mais na atenção primária, e que garante maior facilidade de acesso às informações e
longitudinalidade ao atendimento do paciente. Independentemente do método, o importante
é adquirir uma boa história, para levantarmos as hipóteses adequadas e propormos para o
paciente o melhor seguimento.

Gostaram deste início? Pois apertem os cintos que nas páginas a seguir vamos entregar para
vocês os segredos da propedêutica dos grandes sistemas orgânicos.

Ficou um gostinho de quero mais? Aproveita e se inscreve no nosso canal do TELEGRAM de


discussão de casos clínicos, a LIGA MEDWAY DE CASOS CLÍNICOS, onde toda semana temos
casos interativos e específicos de cada grande área para vocês! Nos vemos lá?

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O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Anamnese

REFERÊNCIAS
1. DEMARZO, Marcelo MP; OLIVEIRA, Cristina A.; GONÇALVES, Daniel A. Prática clínica na
Estratégia Saúde da Família: organização e registro. Material institucional UNA-SUS, 2011.

2. Semiologia Médica - Celmo Celeno Porto - 8ª Edição. 2019. Editora Guanabara Koogan.

3. Propedêutica médica da criança ao idoso. 2ª ed – São Paulo: editora Atheneu, 2015

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CLÍNICA MÉDICA

SEMIOLOGIA E
PROPEDÊUTICA
SEMIOLOGIA
DO SISTEMA
RESPIRATÓRIO
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Respiratório

Fala, galera, tudo bem?

É com grande prazer que produzimos esse E-BOOK para auxiliar em uma fase tão importante
do ciclo básico da sua formação médica: a semiologia do sistema respiratório!

Esse tema ganhou ainda mais destaque em meio à pandemia que vivemos, não é mesmo? Tal
período ressaltou, ainda mais, a importância de uma anamnese bem colhida e de um exame
físico atento e bem feito como as bases principais para o nosso diagnóstico clínico quando,
muitas vezes, o acesso aos exames complementares estava comprometido e nos vimos em
situações que exigiram total confiança no nosso exame clínico para a tomada de conduta à
beira leito, concordam?

Então, vem com a gente para relembrar os pontos mais importantes desse assunto!

ANTES DO EXAME FÍSICO, QUE TAL UMA BOA ANAMNESE?

Pessoal, como todos já ouvimos falar desde que entramos na faculdade de Medicina, a base
dos diagnósticos está na coleta de uma anamnese minuciosa e com foco nas queixas que nos
levarão a montar nossa linha de raciocínio até a patologia final, não é mesmo?

Então, vamos imaginar que você está atendendo no ambulatório da sua faculdade, quando
seu professor pede para a dona Maria, 65 anos, entrar no seu consultório e você coletar a
história dos sintomas da paciente e elaborar a sua hipótese diagnóstica com base nos dados
que você coletou e no seu exame físico.

Você, como bom aluno de semiologia, recepciona dona Maria na porta, a direciona até a
cadeira à sua frente e apresenta-se como estudante de medicina. Após concordar em ser
atendida, você prontamente pergunta o que a trouxe até essa consulta. A mesma prontamente
responde “Ah, doutor, é essa tosse e essa falta de ar que vem me incomodando!”. Nessa hora,
um filme passa na sua cabeça e você começa a se perguntar por onde começar essa história,
não é mesmo?

Então, calma, vamos te mostrar como investigar as queixas respiratórias mais comuns, beleza?

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/smiling-female-doctor-wearing-glasses-uniform-1926170633

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O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Respiratório

PRIMEIRO DE TUDO: VAMOS CARACTERIZAR A NOSSA PACIENTE!

Opa, e isso importa? Com certeza!

Sabemos que as patologias diferem de prevalência de acordo com a idade, o sexo, a ocupação,
os hábitos de vida e o local de moradia de cada paciente, concordam?

Por exemplo, é bem documentada a maior quantidade de homens acometidos por DPOC,
bem como a relação com tabagismo. Além disso, não podemos esquecer, principalmente na
anamnese do sistema respiratório, da importância da exposição a substâncias e animais,
como jateamento de areia, trabalho na produção de telhas e criação de aves. Vejam na tabela
abaixo algumas correlações que devemos sempre lembrar!

DADOS DA
CORRELAÇÃO CLÍNICA MAIS PREVALENTE
ANAMNESE

Crianças: bronquiolite viral aguda, fibrose cística


Jovens: malformações congênitas (cistos e atresias), pneumotórax
Idade espontâneo e bronquiectasias
Adulto: tuberculose e pneumonia
Idoso: câncer e DPOC

Agricultura: pneumoconioses
Caçador de tatus: coccidioidomicose
Contato com morcegos, grutas: histoplasmose
Ocupação/
Tabagismo: DPOC
exposição
Sílica: silicose
Amianto: asbestose
Piloto de avião/mergulhador: pneumotórax

HIV: pneumocistose e tuberculose


Tabagismo: DPOC e câncer
Comorbidades
Etilismo: pneumonias aspirativas
LES, Sjögren, artrite reumatoide: acometimento vascular pulmonar

Época da piora
Asma: sazonalidade
dos sintomas

Pronto! Agora que você já lembrou das perguntas importantes e indagou várias delas à sua
paciente, vamos às informações colhidas: Maria, 65 anos, parda, residente na cidade de São
Paulo, atualmente aposentada, trabalhava como costureira até os 60 anos de idade, com
história de tabagismo atual desde os 15 anos de idade com carga tabágica de 30 maços/ano.
Reside com o esposo, que também é tabagista e evolui há 5 dias com astenia, febre e tosse
com expectoração esverdeada.

19 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Respiratório

BELEZA, CARACTERIZAMOS ADEQUADAMENTE QUEM É NOSSA PACIENTE, EN-


TÃO AGORA PODEMOS DETALHAR A QUEIXA PRINCIPAL!

Galera, as queixas respiratórias, muitas vezes, vêm disfarçadas em meio aos sintomas de outros
sistemas, não é mesmo?

Então, é importante caracterizar o nosso sintoma guia, ou seja, aquele que nosso paciente
confere maior relevância e que mais gera incômodo naquele momento para, a partir dali,
buscarmos informações que nos ajudem a formular nossa hipótese!

Dentro das queixas respiratórias, as de maior destaque são: dispneia, dor torácica, tosse e
hemoptise. Então, vamos abordar objetivamente cada uma delas com as informações que
você precisa ter atenção ao coletar sua história, beleza?

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/breathing-
respiratory-problem-asthma-attack-pressure-1422762227

20 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Respiratório

1. DISPNEIA

A queixa mais prevalente dos nossos atendimentos, a famosa “estou com falta de ar, doutor”!
A dispneia pode ser caracterizada em relação a diversos fatores, como vemos na tabela abaixo:

TIPO DE DISPNEIA CARACTERÍSTICA PATOLOGIA SUGERIDA


Piora ao decúbito dorsal
Ortopneia Insuficiência cardíaca
e alivia em ortostase
Surge em decúbito
Treptopneia lateral - ao se deitar Derrame pleural
sobre o lado saudável
Surge ao assumir a
posição de inclinar o
Blendopneia Insuficiência cardíaca
tórax anteriormente
(“amarrar os sapatos”)
Piora em ortostase,
Platipneia Síndrome hepato-pulmonar
alivia em decúbito
Paciente desperta durante
Dispneia paroxística
a noite e precisa sentar/ Insuficiência cardíaca
noturna
colocar travesseiros
Insuficiência cardíaca, asma,
De repouso Surge mesmo em repouso
DPOC, derrame pleural
Aumento/diminuição da
Taquipneia/Bradipneia Alcalose/acidose respiratória
frequência respiratória
Aumento/diminuição da
Hiperpneia/Hipopneia Durante exercícios
amplitude da respiração
Grandes/médios/ Surge progressivamente Insuficiência cardíaca,
moderados esforços aos esforços asma e DPOC

Dentre as causas mais comuns, destacamos: alterações atmosféricas (como em elevadas


altitudes); doenças obstrutivas, como asma e DPOC; doenças parenquimatosas e restritivas,
como pneumoconioses, vasculites, pneumonia; alterações cardíacas, como valvopatias
(destaque para a estenose aórtica - mnemônico “SAD”: Síncope-Angina-Dispneia) e
insuficiência cardíaca; além de causas diafragmáticas.

2. DOR TORÁCICA

Galera, em relação à dor torácica, o mais importante é diferenciarmos uma dor torácica
tipicamente anginosa de uma não anginosa, beleza?

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Semiologia do Sistema Respiratório

Lembrando que as dores de origem extracardíaca geralmente o paciente consegue nos


apontar com o dedo a localização, bem como possui relação direta com a respiração, ou seja,
uma dor ventilatório-dependente, típica do TEP e dos derrames pleurais!

Para isso, é imprescindível caracterizar: início, duração, localização, intensidade, sintomas


associados e qualidade da dor! Por exemplo, no pneumotórax, teremos uma dor súbita
associada a dispneia intensa e geralmente sem outros sintomas associados.

3. TOSSE

A tosse pode ser característica de várias condições e deve ser avaliada quanto à sua frequência,
intensidade, fatores de melhora e piora, presença ou ausência de expectoração e período do
dia em que surge.

Dentre as causas, podemos destacar: asma, tabagismo, DRGE, gotejamento pós-nasal,


pneumonias, laringites, corpo estranho, medicamentos, valvopatias (destaque para a estenose
mitral, na qual podemos ter a síndrome de Ortner, onde o aumento do átrio esquerdo comprime
o nervo laríngeo recorrente e pode gerar tosse e rouquidão) e uso de medicamentos (Não
podemos esquecer dos IECAs, pessoal!).

4. HEMOPTISE

Essa é outra queixa que veremos com frequência em nossos atendimentos, então, fiquem
atentos!

A hemoptise pode ter 2 origens principais: brônquica e alveolar. A causas mais frequentes
em nosso meio são as bronquiectasias e a tuberculose, porém, também podendo ocorrer em
infecções fúngicas (a famosa “fungus ball”), câncer de laringe, pneumonias e edema agudo
de pulmão, por exemplo!

Então, o que temos que lembrar de mais importante nesses casos? Tentar topografar de onde
pode estar vindo esse sangramento, fechou?

AGORA QUE COLHEMOS UMA ANAMNESE PADRÃO OURO, VAMOS AO EXAME


FÍSICO?

E como sempre fazemos, vamos sistematizar uma ordem lógica de avaliação para que
possamos observar cada detalhe que possa nos ajudar a chegar no diagnóstico correto!

Então vamos imaginar que você está no consultório com a dona Maria e, após a conversa
inicial, seu professor solicita que você faça o exame físico completo dela! E agora? Por onde
vamos começar?

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Lição número 1, galera: mantenha a calma e vamos informar à paciente sobre tudo que estamos
pretendendo fazer, garantindo um ambiente seguro e reservado. Vamos acompanhar nossa
paciente até a maca, explicar sobre o exame físico, higienizar e aquecer nossas mãos para
podermos iniciar o processo, entendido?

PRIMEIRO DE TUDO: A INSPEÇÃO!

Vamos dividir a inspeção em 2 etapas: a estática e a dinâmica.

1. INSPEÇÃO ESTÁTICA

Nessa fase, podemos examinar o paciente sentado ou em decúbito, e devemos solicitar que
o mesmo deixe o tórax descoberto e devemos observar principalmente os seguintes pontos:

CARACTERÍSTICA RELEVÂNCIA SEMIOLÓGICA

Longilíneos: maior risco de pneumotórax espontâneo - ângulo de


Charpy < 90º
Biotipo
Brevilíneos: ângulo de Charpy > 90º
Normolíneos: ângulo de Charpy = 90º
Em tonel: aumento do diâmetro anteroposterior; sugere doenças
enfisematosas
Pectus excavatum: depressão do terço esternal inferior;
Forma do tórax
malformações congênitas
Pectus carinatum: “peito de pombo”; encontrado no raquitismo
Cifoescoliose
Expansibilidade
Comparar ambos os hemitórax
e simetria
Abaulamentos,
Malformações e procedimentos prévios
retrações e cicatrizes
Lesões cutâneas Tuberculose cutânea, sarcoidose, eritema nodoso e síndrome da
e telangiectasias veia cava superior

Hipocratismo digital Hipoxemia crônica

Cianose e
Hipoxemia crônica
pletora facial
Pele, mamas,
circulação colateral Avaliar sinais de desordens sistêmicas
e musculatura

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Semiologia do Sistema Respiratório

Figura. Pectus excavatum - abaulamento do terço esternal inferior


e da região epigástrica. Fonte:https://www.shutterstock.com/pt/image-
photo/pectus-excavatum-sunken-chest-mature-man-1595614459

2. INSPEÇÃO DINÂMICA

Neste momento vamos avaliar alguns pontos muito importantes

• Tipo de respiração: Aqui devemos perceber o padrão anatômico que predomina e sua
utilidade e, principalmente, reconhecer sinais de desconforto respiratório agudo que
possam levar à fadiga.
° Em indivíduos sadios, na posição sentada e em ortostase, o tipo mais comum é a
respiração torácica, ou seja, o movimento é predominantemente feito pela caixa
torácica.
° Em decúbito, a respiração tende a ser diafragmática em indivíduos saudáveis.
° Durante episódios de broncoespasmo, por exemplo, o padrão é caracteristicamente
abdominal (a famosa “prensa abdominal”)

• Ritmo respiratório: Aqui temos um dos pontos mais importantes! Devemos lembrar que,
no ciclo respiratório normal, a inspiração e a expiração possuem praticamente a mesma
duração. Porém, seja por alterações anatômicas, seja por alterações fisiológicas, esse ritmo
pode estar alterado e sinalizar grande risco para o nosso paciente!
° Cheyne-Stokes: caracterizado por incursões respiratórias cada vez mais profundas
e de elevada amplitude culminando em períodos de apneia e posterior retorno ao
ritmo anterior, ou seja, um ritmo periódico. Encontrada principalmente em pacientes
pós AVC e TCE, além de hipertensão intracraniana e intoxicações por opioides.

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° Biot: é um ritmo de respiração anárquico, ou seja, sem padrão de amplitude, sendo


marcado por períodos de apneia variável. Típico de pacientes com disfunção bulbar.
° Kussmaul: caracterizado por 4 fases - (1) Inspiração ruidosa, (2) apneia inspiratória,
(3) Expiração ruidosa, (4), apneia expiratória. É tipicamente encontrado em casos de
acidose metabólica.

• Frequência respiratória: Taquipneia (>20 irpm),bradipneia (<12irpm)

• Tiragem: caracterizada pelo uso de musculatura acessória como intercostal, supraclavicular,


batimentos de asa de nariz

• Expansibilidade: observar simetria

Figura. Padrões respiratórios mais característicos.


Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Breathing_abnormalities.svg

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AGORA, VAMOS À PALPAÇÃO!

1. EXPANSIBILIDADE

Nessa fase do exame físico, é importante avaliarmos como o tórax do nosso paciente está
expandindo, se o movimento é simétrico e se existe alguma limitação anatômica ou funcional
que esteja ocasionando limitação de expansão torácica.

Podemos posicionar as mãos no centro do tórax e os polegares na coluna vertebral e solicitar


que o paciente respire normalmente. Segmentamos o pulmão em linhas imaginárias que
o dividam em segmento superior, médio e inferior, e devemos observar o afastamento dos
polegares.

Pacientes com doenças que acometem a musculatura torácica, como miastenia gravis,
tendem a apresentar menor expansibilidade.

Figura. Avaliação de expansibilidade pulmonar. Fonte: https://www.shutterstock.com/


pt/image-photo/chest-expansion-exercise-training-improve-lung-1890192085

2. FRÊMITO TÓRACO VOCAL (FTV)

O FTV é caracterizado pela transmissão das vibrações das cordas vocais à parede torácica.

Em alguns pacientes, principalmente os de tom de voz mais grave, o frêmito é mais audível,
porém, em grande parte dos casos, precisamos de uma ferramenta que amplifique esse som
e nos ajude a entender se está aumentado ou diminuído: a pronúncia do famoso “33”, lembra?

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Semiologia do Sistema Respiratório

Para avaliar o FTV, devemos apoiar a palma da mão no tórax, poupando as estruturas ósseas
para não prejudicar a ausculta, e iniciar do sentido superior para inferior. Para avaliar a região
torácica anterior, devemos nos posicionar atrás do paciente, colocando os polegares à altura
da vértebra cervical C7 e os demais dedos na fossa supraclavicular, orientando que o paciente
pronuncie a palavra “33” e, a partir desse evento, verificamos a transmissão desse som nas
demais áreas pulmonares.

Já para avaliar a região posterior, nos posicionamos anteriormente e posicionamos os polegares


na altura do apêndice xifoide sobre a borda costal ipsilateral.

Lembrando que o FTV tende a ser mais intenso nas bases e à direita. Dica de ouro para o
exame do sistema respiratório: sempre devemos comparar um lado com o outro!

Agora que já relembramos como avaliar o FTV, vamos dar uma olhada abaixo nas condições
que vamos ter variações na sua intensidade!

ALTERAÇÃO CONDIÇÃO CLÍNICA ASSOCIADA

Aumentado Consolidações

Diminuído Derrame pleural, pneumotórax, atelectasia

DEPOIS DA PALPAÇÃO, DEVEMOS SEGUIR PARA A PERCUSSÃO TORÁCICA!

Galera, essa é a terceira etapa do nosso exame físico e nossa missão principal nesse momento
é classificar o som que estamos encontrando em: som claro pulmonar, macicez, timpânico e/
ou hipertimpânico, combinado?

Em relação à técnica de percussão, devemos iniciar no sentido crânio-caudal e realizar os


movimentos sempre comparando um lado com o outro, não esqueçam! Devemos posicionar
a mão não dominante no tórax do paciente, mantendo-a espalmada, e realizamos a percussão
sobre o dedo médio da mão apoiada no tórax, exercendo uma leve pressão sobre ele.
Lembrando que o movimento é de flexão e de extensão suaves sobre o punho, devendo-se
evitar movimentos grosseiros e de grande amplitude!

Em um indivíduo sem alterações, esperamos encontrar os seguintes tipos de sons:

• Som claro pulmonar (atimpânico): na área pulmonar.

• Som timpânico: em áreas de aprisionamento aéreo, no espaço de Traube.

• Som submaciço: aumento da densidade do parênquima pulmonar, na região infraesternal.

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• Som maciço: presença de líquido entre a parede torácica e o parênquima pulmonar; sob
a região hepática. Lembrar do sinal de Signorelli: macicez durante a percussão da coluna
dorsal nos casos de derrame pleural.

Agora que já sabemos o som característico de cada região que iremos percutir, se encontrarmos
tais sons em outros locais, devemos suspeitar de algumas patologias, concordam? Se liguem
na tabela abaixo que resumimos as principais condições associadas!

TIPO DE SOM CONDIÇÃO CLÍNICA ASSOCIADA

Macicez Condensação, atelectasia e derrame pleural

Submacicez Derrame pleural de pequeno volume e áreas de transição

Hipertimpânico Pneumotórax e hiperinsuflação (ex.: DPOC)

Figura. Técnica de percussão na região torácica posterior. Fonte: https://www.shutterstock.com/


pt/image-photo/percussion-physical-examination-thoracic-cavity-131184764

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Semiologia do Sistema Respiratório

E, POR FIM, A FAMOSA AUSCULTA PULMONAR!

Figura: pontos de ausculta pulmonar. Sempre lembrar de comparar com o lado contralateral.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-illustration-auscultation-lungs-771599374

Pessoal, para auscultar nosso paciente, o mesmo deve estar, preferencialmente, sentado no
leito. Colocamos o diafragma do estetoscópio sobre as regiões supraclaviculares (avaliação dos
ápices pulmonares) e os espaços intercostais das regiões anterior, posterior e lateral do tórax,
solicitando que o paciente inspire pelo nariz e expire pela boca. Devemos realizar o exame no
sentido crânio-caudal e sempre lembrando de comparar com o lado simétrico para avaliar
possíveis diferenças nos sons. Em relação aos sons que podemos encontrar, destacamos:

• Sons respiratórios fisiológicos:


° Som traqueal: audível na região traqueal, cervical e esternal. Tipicamente um som
rude, agudo, com expiração mais prolongada que a inspiração.
° Respiração brônquica: som traqueal capaz de ser auscultado na região de brônquios
de grande calibre. A duração da expiração é menor do que a inspiração, o que a difere
do som traqueal.
° Murmúrio vesicular: corresponde à maior parte dos ruídos torácicos que encontramos
em indivíduos saudáveis. Som grave e suave. A inspiração é mais intensa e mais
duradoura do que a expiração. É mais intenso na região anterior e superior do tórax
e na região axilar. Em casos desse som abolido, devemos levantar a hipótese de
pneumotórax, concordam?
° Som broncoalveolar: A inspiração possui a mesma duração da expiração, sendo
mais intensa do que o murmúrio vesicular. É encontrado, naturalmente, na região
superior do esterno, na interescapular e no nível da terceira vértebra torácica. Quando
auscultamos tal som em outras regiões, devemos suspeitar de consolidações
pulmonares.

29 Índice
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Semiologia do Sistema Respiratório

• Sons pulmonares anormais:


° Roncos: são sons graves, de baixa frequência, inspiratórios e expiratórios.
° Sibilos: são sons musicais, agudos e possuem alta frequência. Ocorrem em situações
de estreitamento dos brônquios (asma, bronquiectasias...) e predominam na expiração.
Lembrando que em casos de obstrução severa, podemos ter desaparecimento dos
sibilos, caracterizando o tórax silencioso!
° Estridor: som agudo, contínuo, presente na inspiração e na expiração. Causado pela
obstrução das grandes vias aéreas, como traqueia e laringe.
° Crepitações: sons suaves,agudos, de curta duração, em aspecto de “velcro”. São
também conhecidos como estertores finos.
° Estertor: som descontínuo, pode ser de 2 tipos
■ Crepitante - predomina na inspiração; decorre da abertura do alvéolo ocupado
por líquido. Mais prevalente na presença de pneumonia. Caracterizado como
som de “roçar de fio de cabelo”.
■ Subcrepitante - maior quantidade de líquido ocupando o alvéolo. Também
chamado de estertor bolhoso. Representa o acometimento de bronquíolos.
° Atrito pleural: ruído irregular, grave, mais proeminente da inspiração. Com a clássica
descrição “em roçar de couro”.

• Alterações na ausculta da voz:


° Ressonância vocal: é a transmissão normal da voz ao pronunciar “33” e auscultar
com o estetoscópio. O esperado é que seja auscultado como um “cochicho”, sem
que consigamos diferenciar claramente cada sílaba já que o parênquima pulmonar
normal absorve as ondas sonoras.
° Broncofonia: aumento da ressonância vocal, ou seja, transmite a voz com maior
nitidez. Ocorre nos casos de condensação pulmonar e pneumonias, já que o som irá
ser transmitido através de um meio de maior consistência.
° Egofonia: é um subtipo de broncofonia na qual a voz possui característica nasalada.
° Pectorilóquia fônica: ocorre quando ouvimos com nitidez a voz falada

30 Índice
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Semiologia do Sistema Respiratório

Figura. Ausculta pulmonar. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/


image-photo/doctor-auscultating-patients-lung-functions-214839379

AGORA QUE JÁ RELEMBRAMOS COMO REALIZAR A ANAMNESE E O EXAME FÍSICO


DO SISTEMA RESPIRATÓRIO, VAMOS FINALIZAR O CASO DA DONA MARIA?

Pessoal, ao exame físico, nossa paciente apresentava ausência de anormalidades à inspeção,


com expansibilidade simétrica. À percussão, apresentava FTV aumentado em base esquerda.
À ausculta, apresentou crepitações na mesma região e ausência de anormalidades vocais.
Nesse momento, seu professor retorna ao consultório e solicita que você informe sua principal
hipótese diagnóstica. E agora?

Temos aqui uma paciente com histórico de tabagismo atual, o que deve nos lembrar do risco
de DPOC, com piora dos sintomas há 5 dias associada a sintomas constitucionais e piora dos
sintomas de base com mudança da característica da expectoração. Ao exame físico, vemos
características de síndrome de consolidação brônquica, concordam? Para auxiliar no caso, seu
preceptor mostrou o seguinte raio X:

31 Índice
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Semiologia do Sistema Respiratório

Fonte: https://radiologyassistant.nl/chest/chest-x-ray/lung-disease#consolidation-differential-diagnosis

Nesse raio X vemos uma consolidação em lobo inferior esquerdo que corrobora com as áreas
que encontramos alterações no exame físico, concordam? Perceberam como só com o exame
físico e uma boa anamnese nós já alcançamos o diagnóstico final da nossa paciente? É isso
que queremos de vocês!

Aqui embaixo estamos deixando uma tabela com os achados mais comuns das síndromes
pleuropulmonares que discutimos acima, para facilitar sempre que você quiser tirar suas
dúvidas!

SÍNDROME
EXPANSIBILIDADE FTV PERCUSSÃO AUSCULTA
CLÍNICA

MV e RV
DPOC/enfisema Diminuída Diminuído Hipertimpânico
diminuídos

Estertores
Pneumonia/
Diminuída Aumentado Macicez Broncofonia e
consolidação
pectoriloquia

Diminuído/
Atelectasia Diminuída Submacicez Abolido
abolido

MV abolido
Derrame pleural Diminuída Ausente Macicez
Broncofonia

Pneumotórax Diminuída Diminuído Timpânico Abolido

Legenda: FTV - frêmito toracovocal; MV - murmúrio vesicular; RV - ressonância vocal

32 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Respiratório

Esperamos que esse material contribua para o aprendizado no seu ciclo básico e tenha sempre
em mãos para revisar os detalhes que não podemos deixar passar batido nesse exame, beleza?
Um abraço e até a próxima, pessoal!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. PORTO,Celmo Celeno;PORTO,Arnaldo Lemos. Semiologia Médica. 6ª edição.Rio de
Janeiro. Ed: Guanabara Koogan. 2011. Pag 320-360.

2. PEIXOTO,Arnaldo Aires;et al. Exame Clínico: roteiro estruturado. 1ª edição. Fortaleza,Ceará.


Ed: LCR. 2009. Pag 54-60.

3. MARTINS,Milton;et al. Semiologia Clínica. 1ª edição. São Paulo. Ed: Manole. 2021. Pag 542-
556.

33 Índice
SEMIOLOGIA
DO SISTEMA
CARDIOVASCULAR
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Cardiovascular

Fala, pessoal, tudo bem? É com enorme prazer que construímos esse E-BOOK para
acompanhar você nos estudos de um assunto tão importante e tão fascinante dentro da
semiologia médica: o exame físico do sistema cardiovascular! Mesmo antes de entrar
na faculdade de medicina, com certeza você já estava ansioso para ganhar o seu primeiro
estetoscópio e sair auscultando toda a família em casa. Não é mesmo? Esse assunto tem
enorme relevância dentro da prática médica, já que a principal causa de óbitos no mundo,
excluindo as causas externas, são os eventos cardiovasculares. Lembra?

Então, vamos caprichar no nosso estudo para reconhecer qualquer sinal de alteração nesse
sistema e dar a melhor assistência possível para os nossos pacientes. Combinado? Vamos lá!

ANTES DE TUDO: VAMOS RELEMBRAR O CICLO CARDÍACO?

Ah, não! Para que falar de fisiologia agora? Calma, pessoal! Vamos te orientar nos pontos mais
importantes para fixar o conceito e te ajudar quando formos explicar os achados de algumas
patologias, beleza? Dessa forma, você vai compreender o funcionamento cardíaco e não
apenas decorar a ausculta normal e os sopros. Bora lá!

Relaxamento
isovolumétrico
Ejeção Rápido enchimento
Contração Diástole
isovolumétrica
Sístole atrial

Abertura Fechamento
da valva da valva aórtica
Pressão (mmHg)

aórtica
Pressão na aorta

Fechamento
da valva A-V
Abertura
da valva A-V

Pressão atrial
Pressão ventricular
Volume (mL)

Volume ventricular

Eletrocardiograma

Fonocardiograma

Sístole Diástole Sístole

Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.
php?search=ciclo+cardiaco&title=Special:MediaSearch&go=Go&type=image Legenda: Ciclo cardíaco

35 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Cardiovascular

Pessoal, o ciclo cardíaco é dividido em duas partes: a fase do enchimento cardíaco, diástole,
e a fase do esvaziamento cardíaco, a sístole. Vamos ver na tabela abaixo os achados de cada
fase e seu resultado na ausculta do nosso paciente. Beleza?

FASE PERÍODO SIGNIFICADO AUSCULTA

Patológico: B4
(ocorre antes
Final da ↑Pressão atrial → abre
Contração atrial de B1, significa
diástole mitral e tricúspide
enchimento
diastólico tardio)

B1 (mitral
Contração ↑Pressão ventricular → fecha
Sístole fecha antes da
isovolumétrica mitral e tricúspide
tricúspide)

Pressão no ventrículo E
Ejeção
Sístole maior que pressão aorta → B2
ventricular rápida
abre valva aórtica

Sangue entra na aorta →


Ejeção
Sístole distende → ↑pressão → B2
ventricular lenta
saída sangue

Pressão ventricular menor


B2 (aórtica
Relaxamento que pressão aórtica e
Diástole fecha antes da
isovolumétrico pulmonar → fecha válvulas
pulmonar)
aórtica e pulmonar

Patológico:
Pressão ventricular menor B3 (dilatação
Enchimento
Diástole que pressão atrial → abre ventricular
ventricular rápido
tricúspide e mitral permitindo refluxo
sangue)

↓gradiente atrioventricular
Enchimento
Diástole → enchimento ventricular → Patológico: B3
ventricular lento
fecha mitral e tricúspide

AGORA QUE JÁ RELEMBRAMOS O BÁSICO…

O QUE DEVEMOS FOCAR NA ANAMNESE?

Pessoal, todos sabemos da importância de uma história clínica bem colhida e do quanto
nos servirá de guia para chegar ao diagnóstico correto. No caso dos pacientes com queixas

36 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Cardiovascular

cardiovasculares, os sintomas podem ser variados e, se lembrarmos das queixas mais


prevalentes e o que é mais importante caracterizar em cada uma, nossa chance de realizar
um bom atendimento é bem maior. Concordam?

Vamos imaginar que você, aluno do 3º ano de medicina, inicia o ciclo de atendimentos práticos
e hoje é seu primeiro dia no ambulatório de Cardiologia do seu hospital universitário.

Seu professor o direciona para a sala e orienta que você atenda o seu João, paciente de 68
anos, que veio do interior de São Paulo para ser atendido por você hoje. Ficou nervoso? Então,
vem com a gente que abaixo vamos detalhar as 4 queixas cardiovasculares mais comumente
encontradas nos ambulatórios tanto de clínica médica como de cardiologia!

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/highlighted-pain-against-senior-man-having-1207561864

1. DOR TORÁCICA

Pessoal, a queixa mais comum dos atendimentos! Quem nunca atendeu um paciente dizendo
“doutor, estou com dor no peito”? O mais importante aqui é diferenciarmos a dor de origem
cardíaca e a dor de origem extracardíaca, como as pleurais, esofágicas, mediastinais e, até
mesmo, da parede torácica.

Assim como a avaliação de qualquer dor, devemos caracterizar quanto aos seguintes pontos:
localização, irradiação (usando a escala analógica de dor), intensidade, início, fatores de
melhora e piora, qualidade (em pontada, queimação, lancinante..) e sintomas associados
(sudorese, náuseas, vômitos, dispneia). Se liga na tabela abaixo que listamos os principais tipos
de dor e sua origem correspondente!

37 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Cardiovascular

DOENÇA
DOR ORIGEM CARACTERÍSTICA CLÍNICA
ASSOCIADA
Retroesternal;
Mais à esquerda; Infarto agudo
Irradia para MSE, ombro, mandíbula, do miocárdio
epigástrio, interescapular; (IAM)
Em aperto;
Isquêmica
Cardíaca Sinal de Levine; Angina
- típica
Duração: estável (AE)
• Duração 2-3min e piora ao esforço (AE);
• Duração 20 min, em repouso (AI); Angina
• Dura mais de 20 min, em repouso, alivia instável (AI)
com nitrato (IAM).
Infarto agudo
do miocárdio
(IAM)
Equivalentes anginosos mais comuns em
Isquêmica
Cardíaca mulheres, obesos, portadores de diabetes; Angina
- atípica
Dor em queimação, pontada. estável (AE)

Angina
instável (AI)
Retroesternal;
Irradia para pescoço;
Em peso ou queimação;
Intensidade variável;
Pleurítica Pericárdio Pericardite
Piora com respiração, ao se
deitar, ao movimentar o tronco;
Alivia ao inclinar o tórax para
frente e posição genupeitoral.
Retroesternal;
Lancinante;
Início súbito;
Dissecção
Dissecante Aorta Irradia para pescoço, ombros e região
de aorta
interescapular;
Sem fatores de melhora;
Associada à síncope e dispneia.
Mallory- Dor torácica iniciada após vômitos
Esofágica Mallory-Weiss
Weiss intensos e com episódios de hemoptise.

38 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Cardiovascular

Espasmo Retroesternal; Espasmo


Esofágica esofagiano Em entalo; esofagiano
difuso Associada à deglutição. difuso
Paciente aponta localização exata; Costocondrite
Parede
Torácica Sinais flogísticos; (síndrome de
torácica
Piora a palpação. Tietze)

2. PALPITAÇÕES

São a segunda queixa mais comum! Podemos definir como a sensação física dos batimentos
cardíacos, gerando desconforto ao paciente. É importante caracterizarmos os seguintes
pontos:

• Idade do início: pacientes jovens tendem a ser mais acometidos por taquicardia por
reentrada nodal (TRN) enquanto, ao longo dos anos, aumenta a ocorrência de fibrilação
atrial e outras arritmias.

• Doenças pregressas: distúrbios psiquiátricos, tireoidopatias, malformações cardíacas,


arritmias.

• Padrão do sintoma: início e término, fatores de melhora e piora, manifestações associadas


(arritmias classicamente tem início e fim súbitos, enquanto as relacionadas à condições
orgânicas como anemia e hipertireoidismo tendem a ser constantes).

• Sinais sugestivos do exame físico: regularidade do pulso, sinal do frog (palpitações na


região do pescoço associadas à palpitação e pulsos periféricos regulares é típica da TRN).

3. DISPNEIA

Assim como a dor torácica, devemos utilizar ferramentas para diferenciar a dispneia com
achados característicos de origem cardíaca das de extracardíaca, sendo a pulmonar a mais
frequente.

A dispneia, definida como a sensação incômoda ao ato de respirar, é um marcador importante


e marcante de dois grupos principais: a insuficiência cardíaca, na qual inclusive temos escalas
para quantificar a intensidade e implicação funcional (Lembra da NYHA?); e as valvopatias,
com destaque para a estenose aórtica. Veja abaixo os tipos de dispneia e a sua relação clínica.

39 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Cardiovascular

TIPO DE DISPNEIA CARACTERÍSTICA PATOLOGIA SUGERIDA

Piora pouco tempo


Ortopneia após decúbito dorsal e Insuficiência cardíaca
alivia em ortostase

Surge em decúbito lateral - ao


Trepopneia Derrame pleural
se deitar sobre o lado saudável

Surge ao assumir a posição de


Bendopneia inclinar o tórax anteriormente Insuficiência cardíaca
(“amarrar os sapatos”)

Piora em ortostase, Síndrome hepatopulmonar


Platipneia
alivia em decúbito Comunicação interatrial(CIA)

Paciente desperta 2 a 4 horas,


Dispneia paroxística após se deitar, e precisa sentar Insuficiência cardíaca
noturna ou levantar, além de tosse esquerda
seca e dor torácica

Insuficiência cardíaca, asma,


De repouso Surge mesmo em repouso
DPOC, derrame pleural

Grandes/médios/ Surge progressivamente Insuficiência cardíaca


moderados esforços aos esforços esquerda, asma, anemia

4. SÍNCOPE

Pessoal, é o famoso “desmaio”! É causada por hipoperfusão cerebral reversível, sendo


caracterizada pela perda súbita e transitória da consciência, possuindo recuperação
espontânea. Dentre as causas, destacamos as estruturais do sistema nervoso central e as
cardíacas.

A síncope de alto risco é caracterizada por ausência de pródromos e associação prévia


de palpitação, dor precordial, episódio relacionado ao exercício e cardiopatia prévia,
além de alterações eletrocardiográficas como arritmias e bloqueios de ramo. A de origem
cardiogênica geralmente é associada às valvopatias, com destaque para a estenose aórtica,
e às arritmias, como bloqueios e taquiarritmias supraventriculares. Além disso, pode ocorrer
também na cardiomiopatia hipertrófica, síndrome coronariana aguda, dissecção de aorta,
TEP e outros. Beleza?

40 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Sistema Cardiovascular

APÓS COLHER A HISTÓRIA COM TODOS OS DETALHES, VAMOS AO EXAME FÍSICO?

Pessoal, depois que conversamos com seu João, ele nos informa que há 2 meses vem
apresentando episódios de síncope associadas a angina e dispneia progressiva aos moderados
esforços. Nesse momento, você informa ao paciente como será feita sua avaliação, o direciona
à mesa de exames, higieniza e aquece suas mãos e inicia o seu exame físico. Opa! Mas vamos
direto para a ausculta ou tem algo antes no exame cardiovascular? Se liga no passo a passo
abaixo para brilhar no seu exame completo!

1. INSPEÇÃO

A inspeção do tórax e das extremidades é a base dessa fase do exame, pessoal! As malformações
da caixa torácica possuem grande importância no exame físico cardiovascular devido à grande
associação com cardiopatias congênitas e adquiridas. Dentre as que mais relacionadas temos
o pectus excavatum e o pectus carinatum, vamos lembrar as diferenças e as associações?

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/male-patient-presenting-congenital-deformity-
anterior-1083531518 Legenda: Pectus excavatum - relacionado às cardiopatias congênitas,
como prolapso de valva mitral e defeitos dos septos atrioventriculares.

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Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index
php?search=pectus+carinatum&title=Special:MediaSearch&go=Go&type=image -
Legenda: Pectus carinatum - relacionado às doenças pulmonares obstrutivas e síndrome de Marfan.

Em relação às extremidades, temos dois pontos importantes para avaliar: a presença de


cianose e de edema!

A cianose é a condição clínica resultante do aumento da fração reduzida da hemoglobina


no sangue, geralmente com valores acima de 5 g/dL, gerando coloração azulada. Devemos
observar as extremidades e as mucosas com atenção! Existem basicamente 4 tipos de cianose,
veja abaixo:

• Cianose central: ocorre em situações de oxigênio rarefeito, distúrbios de ventilação e


shunts direita-esquerda (Atenção para as cardiopatias congênitas cianóticas!).

• Cianose periférica: ocorre devido perda de oxigênio por aumento da permeabilidade


capilar e vasoconstrição periférica. Ocorre principalmente nos membros inferiores.

• Cianose mista: associação dos 2 mecanismos anteriores. Ocorre na insuficiência cardíaca


e nas sobrecargas de volume pulmonar.

• Cianose por alteração de hemoglobina: por alterações estruturais na molécula de


hemoglobina, como metahemoglobinemia.

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Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/right-hand-patient-congenital-cyanotic-heart-1391837051
Legenda - Presença de cianose periférica e unhas em vidro de relógio (sugestivas de hipoxemia crônica) em
paciente portador de cardiopatia congênita cianótica.

Em relação ao edema, quando pensamos no de origem cardíaca, a fisiopatologia envolve


acúmulo de líquido intersticial por alguns mecanismos, sendo o principal por falha
no mecanismo de contratilidade das câmaras direitas, gerando aumento da pressão
hidrostática, levando à congestão sistêmica e retenção salina, principalmente nos pacientes
com insuficiência cardíaca. Daí a importância de avaliar o peso seco diariamente desses
pacientes, lembrou? O edema cardíaco é ascendente, ou seja, inicia em membros inferiores
até abdome e membros superiores, aumenta durante o dia, reduz em decúbito, pode estar
associado a dispneia. Além disso, pode estar associado a hepatomegalia, sinais de congestão
e oligúria, por exemplo.

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/clinical-sign-heart-failure-pitting-edema-1462345028
Legenda: Edema de membros inferiores com presença de sinal de cacifo

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Além disso, devemos estar atentos aos sinais de má perfusão, como: alteração do nível de
consciência, oligúria, hipotensão, extremidades frias, pulsos finos e palidez cutâneo-mucosa.
Para finalizar, vamos lembrar que, muitas vezes, o paciente apresenta múltiplas comorbidades
que estão associadas às patologias cardíacas, porém só com exame físico minucioso vamos
perceber tais detalhes!

2. PALPAÇÃO

Pessoal, o ictus cordis é o famoso impulso apical cardíaco, ou seja, o local anatômico que
você poderá sentir a “ponta do coração” batendo! E qual a importância disso? Primeiramente,
dependendo da localização do ictus, podemos suspeitar de hipertrofia ventricular esquerda
e de outras condições como valvopatias (com destaque para insuficiência aórtica e
insuficiência mitral) e estados hiperdinâmicos, além de poder ser um achado fisiológico em
pacientes longilíneos e emagrecidos!

O ictus habitualmente localiza-se entre o 4º e o 5º espaço intercostal esquerdo, na área de


cruzamento com a linha hemiclavicular. É mais bem avaliado em decúbito dorsal, geralmente mede
em torno de 3 cm, e apresenta-se precedendo o pulso carotídeo. O exame deve ser realizado da seguinte
forma: observa-se o local do ictus → posiciona-se o paciente em decúbito lateral direito e esquerdo →
procede-se à marcação do local da palpação. Se a distância for maior que 2 a 3 cm há provável
hipertrofia esquerda. Para a palpação, deve-se espalmar a mão sobre o ictus e avaliar a sua
intensidade. Lembrando que indivíduos normais podem ter deslocamento do ictus devido ao
posicionamento anatômico na caixa torácica, fiquem ligados!

Outro ponto importante e que muitas vezes nos esquecemos de avaliar: o frêmito
cardiovascular! É a sensação tátil das vibrações cardíacas e dos vasos adjacentes, sendo de
enorme importância nos casos de pericardite e tamponamento, beleza?

Galera, muita atenção agora! Uma das partes mais importantes do exame cardíaco é a
avaliação dos pulsos. Concordam? Então, fiquem ligados que abaixo vamos detalhar o que
realmente precisamos entender de cada pulso e seu significado!

1. PULSOS VENOSOS

Pessoal, com certeza você já ouviu alguém falar sobre a turgência jugular do paciente no leito,
mas vocês sabem como avaliar e o que esse achado significa? Então fiquem ligados!

Os pulsos venosos, no geral, nos dão informações importantes principalmente em relação à


volemia e, devido à sua proximidade anatômica ao átrio direito e veia cava superior, o vaso
mais comumente avaliado à beira leito é a veia jugular interna direita, caracterizando o pulso
venoso jugular. Além disso, devemos observar também a presença de sopros e frêmitos.

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Para avaliarmos a presença de turgência jugular, devemos posicionar a cabeceira a 45º,


com ângulo esternal alinhado ao ápice da pulsação venosa, e observar o ingurgitamento do
vaso, como vemos abaixo. Se a distância for superior a 3 cm, consideramos como patológico.
Esse achado é comum na síndrome de veia cava superior, na pericardite constritiva, no
tamponamento cardíaco e na insuficiência cardíaca. Interessante lembramos aqui do sinal de
Kussmaul! Esse sinal nada mais é do que o aumento paradoxal do pulso jugular à inspiração
(lembra que o normal, quando inspiramos, é a veia colabar).

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Elevated_Jugular_Venous_Pressure.jpg
Legenda: Turgência jugular patológica

Além disso, outro achado venoso interessante é o refluxo hepatojugular! Devemos avaliar
pressionando o quadrante superior direito por 10 a 20 segundos e observando o ingurgitamento
jugular, se presente e com duração superior a 15 segundos, indica hipertensão venosa e
capilar, indicando hipervolemia. Esse achado é encontrado em casos de insuficiência cardíaca,
pericardite.

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Legenda: Avaliação do refluxo hepatojugular


Fonte: Exame físico em cardiologia - curso intensivo de revisão em cardiologia clínica

Legenda: Posicionamento correto avaliação pulso jugular e curva de pulso venoso


Fonte: Livro texto da Sociedade Brasileira de Cardiologia - capítulo 1 seção 3

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Muitas vezes deixamos de lado a avaliação completa do pulso venoso, mas vejam na tabela
abaixo como é simples e pode nos ajudar a avaliar de modo mais completo nosso paciente!

ONDA FASE DO CICLO SIGNIFICADO ACHADOS

Ausente na
fibrilação atrial

Antes da sístole Contração do Em canhão: BAVT


a
ventricular átrio direito
Gigante: hipertensão
pulmonar e estenose
tricúspide

↓ pressão no átrio Ausente na


Descenso x Diástole atrial
direito → esvazia fibrilação atrial

Início da sístole Fecha tricúspide → Representa o


c
ventricular empurra átrio direito pulso carotídeo

Enchimento atrial Aumenta na


Enchimento atrial →
v direito no final da insuficiência
↑pressão atrial
sístole ventricular tricúspide

Profundo: pericardite,
↓ pressão atrial por
Descenso y Início diástole miocardiopatia
abrir tricúspide
restritiva

Beleza, entendemos o pulso venoso! Mas o que será que eles têm de diferente em relação
aos arteriais?

PULO DO GATO:

Galera, os pulsos venosos apresentam as fases que mostramos acima,


possuem alteração de acordo com a inspiração, na maioria das vezes
são apenas visíveis e não palpáveis (Lembram da turgência jugular?) e,
quando palpamos, a veia tende a colabar facilmente (exceto se trombos ou
hipervolemia, por exemplo).

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2. PULSOS ARTERIAIS

Pessoal, os pulsos arteriais são muito importantes no exame físico cardiológico porque, muitas
vezes, o nosso diagnóstico mais provável já é suspeitado nesse momento e existem tipos que
sugerem classicamente algumas patologias. Lembram disso?

O pulso arterial é resultado da ejeção ventricular e devemos avaliar características como


simetria (Tem extrema importância da coarctação e dissecção de aorta!), volume, duração,
regularidade, amplitude e relação com ausculta. Então, pessoal, atenção à palpação para
a correta localização do pulso. Lembrando sempre de palpar, de preferência, com o dedo
indicador e dedo médio, pressionando levemente o local. Beleza?

Detalhe importante, pessoal: sempre lembrar de palpar e auscultar a aorta e as carótidas


além dos pulsos periféricos como radial, braquial, pediosa, tibial e outras. Combinado?
Procurem sempre sopros e frêmitos!

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/major-arteries-pulse-points-head-arms-330572663

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Antes de continuarmos, vocês já ouviram falar da manobra de Osler? Usamos essa manobra
principalmente em idosos, quando avaliamos a rigidez arterial durante a investigação de
hipertensão arterial verdadeira ou pseudo-hipertensão devido essa rigidez encontrada
fisiologicamente no idoso! Devemos insuflar o manguito 30 mmHg acima da pressão sistólica
e manter por 10 segundos. Se a artéria continuar palpável, porém, sem pulsação, temos a
manobra positiva e sugestiva de pseudo-hipertensão. Beleza?

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/drawing-blood-pressure-cuff-on-arm-267913970

Agora que já relembramos os detalhes do exame, veja na tabela abaixo os pulsos encontrados
classicamente em certas condições.

PULSO CARACTERÍSTICA CONDIÇÃO

↓ 10 mmHg na pressão sistólica Pericardite constritiva


Paradoxal
durante inspiração Hipertensão pulmonar

Alternância da intensidade de acordo


Alternante Insuficiência cardíaca
com os batimentos cardíacos

Parvus et tardus Fraco e de ↑ duração Estenose aórtica

Martelo d’água
Ascensão e queda abruptos Insuficiência aórtica
(Corrigan)

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3. AUSCULTA

Galera, tudo certo até aqui? Percebeu como cada detalhe do nosso exame físico é importante
e nos dá alguma dica do diagnóstico? Vamos agora entender os achados da ausculta cardíaca!

EI, FIQUE ATENTO:

Para fazermos uma ausculta adequada pessoal, devemos lembrar dos


seguintes pontos: ambiente adequado silencioso, posicionamento correto do
paciente, orientar sobre o exame e sobre as manobras realizadas, auscultar no
foco correto e utilizar o receptor do estetoscópio adequadamente (diafragma
ou campânula). Dica para nunca esquecer: jamais examinamos qualquer
parte do corpo através da roupa do paciente, devemos sempre garantir a
privacidade do mesmo e pedir que a peça seja retirada. Combinado?

Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/heart-auscultation-labeled-46957651
Legenda: Focos de ausculta cardíaca

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FOCO LOCALIZAÇÃO

4º ou 5º espaço intercostal esquerdo, na altura da linha hemiclavicular.


Mitral
Pode ter localização variável pois corresponde ao ictus

Aórtico 2º espaço intercostal direito

Pulmonar 2º espaço intercostal esquerdo

Aórtico
3º ou 4º espaço intercostal esquerdo
acessório

Tricúspide 4º ou 5º espaço intercostal esquerdo, próximo ao apêndice xifoide

Agora que fixamos os locais corretos de ausculta, estamos prontos para compreender os
ruídos cardíacos fisiológicos e patológicos, vamos lá!

BULHA SIGNIFICADO ALTERAÇÃO

Hiperfonética: estenose mitral,


Fechamento das valva mitral
pacientes magros, hipertensão
B1 e tricúspide, sendo que a mitral
Hipofonética: obesidade, DPOC
(“TUM”) ocorre antes da tricúspide.
Desdobramento: comunicação
Coincide com ictus cordis.
interatrial

Hiperfonética: hipertensão,
coarctação de aorta
Fechamento das valvas aórtica e
B2 Hipofonética: estenose aórtica
pulmonar, sendo que o aórtico é mais
(“TA”) Desdobramento: fisiológico
intenso e ocorre antes da pulmonar.
durante inspiração, insuficiência
de ventrículo direito

Som protodiastólico de baixa


frequência (melhor auscultado Fisiológica: jovens
B3 com a campânula), durante o Patológica: hipervolemia,
enchimento ventricular rápido em insuficiência mitral
uma cavidade distendida, após B2

Ausente na fibrilação atrial


Presente na hipertrofia do
B4 Ocorre na contração atrial
ventrículo esquerdo (miocardiopatia
hipertrófica, estenose aórtica)

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Pessoal, agora que aprendemos os achados mais comuns da ausculta, vamos a uma das
partes mais importantes e ricas do exame físico: a avaliação dos sopros cardíacos!

Os sopros podem ser classificados de acordo com a sua intensidade pela classificação de
Levine, que varia de 1 a 6, sendo que a partir do estágio 4 já podemos perceber o frêmito e o
estágio 6 corresponde aos sopros auscultados sem estetoscópio. Beleza?

Assim como realizamos a ausculta nos pontos determinados, podemos utilizar algumas
manobras que nos auxiliam a caracterizar melhor cada achado, vejam abaixo!

MANOBRA TÉCNICA SIGNIFICADO

Paciente em decúbito dorsal, Sopro aumentou de intensidade:


diafragma do estetoscópio insuficiência tricúspide
Rivero-Carvalho
no foco tricúspide e pede-se Sopro não alterou ou diminuiu
que o paciente inspire intensidade: insuficiência mitral

Inspiração profunda por


10 a 30 segundos, fazendo
Aumenta sopro da
Valsalva esforço como colocar a mão
cardiomiopatia hipertrófica
em frente a boca e soprar,
seguida por expiração vigorosa

Observar paciente Aumenta sopro estenose


Exercício físico
durante e após esforço aórtica e mitral

Peça que o paciente aperte


Aumenta sopro insuficiência
Handgrip uma mão contra a outra
mitral e aórtica
por 20 a 30 segundos

Paciente em decúbito lateral


Decúbito de
esquerdo, com diafragma do Aumenta sopro estenose mitral
Pachon
estetoscópio no foco mitral

Ortostase: reduz a maioria


dos sopros, exceto o da
cardiomiopatia hipertrófica e o
prolapso de valva mitral
Posição em ortostase
Posição
e em cócoras
Cócoras: aumenta a maioria
dos sopros, exceto o da
cardiomiopatia hipertrófica e o
prolapso de valva mitral

Galera, agora que já vimos os locais corretos e as manobras que podemos utilizar, vamos
caracterizar os sopros encontrados nas valvopatias mais prevalentes? Se liga!

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VALVOPATIA SOPRO OUTROS ACHADOS

Telediastólico
Baixa frequência
Em ruflar
Melhor auscultado em decúbito
Dispneia
Estenose lateral esquerdo e com a campânula
Palpitação
Mitral Estalido de abertura
Rouquidão (Síndrome de Ortner)

Sopro de Austin Flint: dificuldade


de abertura da valva mitral devido
regurgitação aórtica

B1 hipofonética, B3

Protomesossistólico
Insuficiência Sopro Carey Coombs: ruflar
Em barra
Mitral diastólico da estenose mitral
Com irradiação para região axilar
Ictus desviado para esquerda
Frêmito apical

Mesossistólico
Agudo
Em diamante (ejetivo)
Tríade: angina, síncope, dispneia
Estenose Mais audível em foco
Pulso parvus et tardus
Aórtica aórtico e aórtico acessório Irradia
Desdobramento de B2
para pescoço e fúrcula esternal
Aumenta com manobra
agachamento e reduz com Valsalva

Pulso em martelo d’água

Sinal do traube: som agudo causado


por sopro de alta intensidade,
auscultado no pulso femoral

Protodiastólico
Pulso de Corrigan: pulso
Aspirativo
perceptível na região carotídea
Insuficiência Em foco aórtico e aórtico acessório,
Aórtica Irradiação para fúrcula e pescoço
Sinal de Musset: movimento
Sopro aumenta ao inclinar o tórax para
da cabeça junto ao sopro
frente, posição de cócoras e handgrip

Sinal de Quincke: pulsação


na base da unha

Duroziez: aumento do sopro ao


comprimir pulso femoral

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Semiologia do Sistema Cardiovascular

Sopro sistólico B2 hiperfonética


Estenose
Em diamante, B4
Pulmonar
Irradia para fúrcula e dorso Turgência jugular

Sopro ejetivo
Insuficiência Protodiastólico Desdobramento de B2
Pulmonar Aumenta com handgrip B3 e B4
Alta frequência

Sopro mesodiastólico
Estenose
com estalido de abertura Associação com estenose mitral
Tricúspide
Aumenta com manobra de Valsalva

Sinais de insuficiência cardíaca


Insuficiência
Sopro protomesossistólico direita: ascite, edema, hepatomegalia,
Tricúspide
refluxo hepatojugular

Galera, deu para revisar os achados mais relacionados a cada sopro? Para finalizar, vamos dar
uma olhada nas representações gráficas dos sopros abaixo e fixar o que aprendemos acima!

Fonte: Apostila Extensivo Cardiologia - Valvopatias/Legenda: Representação gráfica sopro estenose mitral

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Semiologia do Sistema Cardiovascular

Fonte: Apostila Extensivo Cardiologia - Valvopatias/Legenda: Representação gráfica sopro insuficiência mitral

Fonte: Apostila Extensivo Cardiologia - Valvopatias/Legenda: Representação gráfica sopro estenose aórtica

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Semiologia do Sistema Cardiovascular

Fonte: Apostila Extensivo Cardiologia - Valvopatias/Legenda: Representação gráfica sopro insuficiência aórtica

Fonte: Apostila Extensivo Cardiologia - Valvopatias/Legenda: Representação gráfica sopro estenose pulmonar

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Semiologia do Sistema Cardiovascular

EAo EM IAo IM EP ET IP IT CMH PVM CIV

Inspiração - - - - + + + + +
Expiração + + + + - - - - -
Valsalva - - - - - - - - + +
Agachamento + + + + + + + + - -
Handgrip - + + + + - - +
Nitrito de
amila + + - - - + + -
Legenda: EAo = Estenose Aórtica; EM = Estenose Mitral; IAo = Insuficiência Aórtica; IM = Insuficiência mitral; EP =
Estenose pulmonar; ET = Estenose tricúspide; IP = insuficiência pulmonar; IT = Insuficiência tricúspide; CMH =
Cardiomiopatia hipertrófica; PVM = Prolapso da Valva Mitral; CIV = Comunicação interventricular. Fonte: Apostila
Extensivo Cardiologia - Valvopatias/Legenda: Resumo das manobras e da relação com a valvopatia/cardiopatia
congênita associada

Galera, agora estamos prontos para finalizar a consulta do seu João e brilhar na passagem de
caso para o seu preceptor do ambulatório? Vamos lá! Como já vimos, seu João nos informou
que estava há alguns meses com queixa de síncope, angina e dispneia. Ao realizarmos o
exame físico, à ausculta, percebemos um sopro sistólico, em diamante, além de um pulso de
longa duração e baixa amplitude, o famoso pulso parvus et tardus! E aí, galera? Agora ficou
fácil, não é mesmo? O diagnóstico do nosso paciente é estenose aórtica e percebemos isso
com nossa história clínica bem colhida e o nosso exame físico minucioso! Bom, esperamos
que esse material te ajude nos seus estudos e que seja útil para revisar e aprender mais sobre
essa fascinante área que é a Cardiologia!

ABRAÇO E VAMOS JUNTOS!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Semiologia Clínica - HCFMUSP - 1ªa edição

2. Cardiologia: Livro-texto da sociedade brasileira de cardiologia,2015.

3. Semiologia Médica - Celmo Celeno Porto,6ª edição.

57 Índice
SEMIOLOGIA
NEUROLÓGICA
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Neurológica

Fala galera? Tudo bem com vocês? Hoje estamos aqui para falarmos um pouquinho dessa
especialidade temida por muitos: a Neurologia. Mas, é de fundamental importância que
saibamos avaliar e examinar nossos pacientes, certo? E para isso, a semiologia neurológica é
essencial!

Ao final da leitura deste ebook, portanto, esperamos que vocês estejam craques nos principais
pontos a serem analisados e examinados no dia a dia e prática clínica, tanto na anamnese
quanto no exame físico!

A avaliação neurológica compreende, portanto, uma anamnese detalhada e um exame


neurológico atento para conseguirmos chegar ao diagnóstico topográfico e, por fim, ao
etiológico. Como todos nós sabemos, o exame neurológico é complexo e extenso. Neste
sentido, é importante seguir um roteiro para não esquecer de nenhum passo do exame.

Fique esperto: é importante que você sistematize, crie sua rotina (especialmente se
considerarmos as provas práticas). Damos nossas dicas, mas, sintam-se livres para fazer
modificações!

ROTEIRO: 5 PASSOS!
• Passo 1: nível de consciência. Impressão inicial logo no primeiro contato com o paciente!

• Passo 2: exame cognitivo. Depois, pense na anatomia do encéfalo:


° O lobo frontal, mais anterior, responsável por grande parte das funções cognitivas
superiores, vem primeiro. Logo, após o exame do nível de consciência vem o exame
cognitivo.

Fonte: https://www.google.com/search?q=precentral+and+postcentral+gyrus+brain&sxsrf=AOaemvLYO1ZibHriuO6
OBT_2D9ZgAVG-aw:1631395333461&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwiT2Nqa7ffyAhVBH7kGHaxBCnQQ_
AUoAXoECAIQAw&biw=1280&bih=698#imgrc=YLIY67HPeiKytM&imgdii=9w_WCy9HWmZVJM

59 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Neurológica

• Passo 3: exame somático


° Motricidade: logo depois, temos o giro pré-central, com os neurônios motores
superiores;
° Sensibilidade: seguimos com o giro pós-central, com a sensibilidade;
° Coordenação: e, posteriormente, lá embaixo, temos o cerebelo, e aí fica fácil lembrar
da coordenação.

• Passo 4: avaliação dos nervos cranianos. Pertinho o cerebelo, temos o tronco encefálico,
localização da maior parte dos nervos cranianos.

• Passo 5: sinais meníngeos. Finalmente, já que estamos na nuca, procuremos por sinais de
irritação meníngea!

PASSO 1: NÍVEL DE CONSCIÊNCIA

ATENÇÃO PRESERVADA? AVALIAÇÃO INESPECÍFICA:


• Paciente conta a própria história?

• Avaliação descritiva: o paciente estabelece contato visual com o examinador? Por quanto
tempo? Como se encontra no leito? Obedece aos comandos?

AVALIAÇÃO OBJETIVA RÁPIDA DA ATENÇÃO:


• Atenção básica: pedir para o paciente contar de 1 a 10 ou dizer os meses do ano em ordem
direta (ou seja, de janeiro a dezembro);

• Atenção sustentada: pedir para o paciente contar de 1 a 10 em ordem inversa (ou seja, de
10 até 1) ou dizer os meses do ano em ordem inversa (de dezembro a janeiro);

• Um teste bem consolidado que avalia a atenção é o teste de vigilância, que utiliza a frase
“CASA BLANCA”. Nesse teste, o examinador irá soletrar essa frase e a cada “A” o paciente
deve levantar a mão. Se cometer 2 erros ou mais, o teste é considerado alterado.

ESCALA DE COMA DE GLASGOW: FIQUE LIGADO!!


• Avalia três parâmetros de resposta e nos ajuda a quantificar o nível de consciência:
abertura ocular, melhor resposta verbal e melhor resposta motora.

60 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Neurológica

ESCALA DE COMA DE GLASGOW

PARÂMETRO RESPOSTA OBSERVADA ESCORE

Espontânea 4
Comando verbal 3
Abertura ocular
Estímulo doloroso 2
Ausente 1

Orientado 5
Confuso 4
Resposta verbal Resp. Inapropriadas 3
Resp. Incompreensíveis 2
Ausente 1

Obedece comandos verbais 6


Localiza dor 5
Retirada 4
Resposta motora
Decorticação 3
Descerebração 2
Ausente 1
Tabela 1 - Escala de Coma de Glasgow

O estímulo doloroso pode ser realizado no trapézio, região supra-orbitária (figura A) e leito
ungueal (figura B). É importante realizar o estímulo bilateralmente e nos quatro membros,
porque devemos sempre considerar a melhor resposta, mesmo em casos de déficits
neurológicos focais, em que a resposta considerada é a do melhor membro.

Figura 1. Na figura A temos o estímulo doloroso sendo aplicado em região supra-orbitária.


Na figura B temos o estímulo doloroso sendo aplicado no leito ungueal.

61 Índice
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Semiologia Neurológica

PASSO 2: COGNITIVO
O exame cognitivo pode demorar muito tempo para ser feito completamente. Nosso objetivo
aqui é descrever a avaliação de dois pontos mais importantes e usualmente cobrados em
provas: linguagem e atenção visuoespacial.

SE LIGA:

O comprometimento dessas funções são manifestações comuns de AVC -


afasia e síndrome de heminegligência, respectivamente.

LINGUAGEM:
• Fluência verbal: quantidade de palavras ditas por minuto pelo paciente. Sua impressão
subjetiva é o mais importante. Pacientes com fluência comprometida têm a fala
entrecortada e não conseguem dizer uma frase completa com facilidade.

• Compreensão: inicialmente avaliada com perguntas “sim ou não”, como: “o céu é azul?
Cachorro voa?”. Após, com comandos simples e complexos, como pedir para elevar um
membro, mostrar a língua, piscar ou colocar a mão direita na orelha esquerda, por exemplo.

• Nomeação: de objetos e suas partes. Toda afasia cursa com ANOMIA, isto é, incapacidade
de nomear objetos ou partes deles.

ATENÇÃO VISUOESPACIAL:
• Paciente só olha para a direita ou só explora o ambiente à direita?

• Há desvio conjugado do olhar para a direita? Desvio da cabeça ou do corpo para a direita?

• Se sim, esses sintomas podem sugerir síndrome de heminegligência à esquerda.

FIQUE ATENTO:

Ambas são importantes na suspeita de AVC, pois a síndrome da artéria


cerebral média esquerda pode cursar com afasia, e a síndrome da artéria
cerebral média direita pode cursar com síndrome de heminegligência.

62 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Neurológica

POR QUE ISSO ACONTECE?

A afasia porque a linguagem tem um hemisfério dominante e, na maioria das pessoas (>
90-95%), esse hemisfério é o esquerdo. A síndrome de heminegligência, em que há limitação
na habilidade de direcionar, responder ou orientar-se frente a estímulos apresentados no lado
oposto à lesão cerebral, ocorre porque o hemisfério dominante para a atenção visuoespacial é
o direito. Enquanto o hemisfério esquerdo percebe visuoespacialmente tudo que está à nossa
direita, o direito o faz para tudo que está à nossa direita E esquerda. Logo lesões no hemisfério
esquerdo não surtem repercussões sobre a atenção visuoespacial, pois o hemisfério direito
compensa o que foi perdido.

DICA:

Se houver suspeita de síndrome de heminegligência, sempre examine seu


paciente pela direita, pois alguns deles nem vão te olhar se chamá-los pela
esquerda, e passam a te dar atenção caso se apresente pela direita!

PASSO 3: SOMÁTICO

MOTRICIDADE:

Força

Manobras deficitárias

• Braços estendidos: manter os braços estendidos por 2 minutos e observar padrão de


queda. Se houver desvio pronador, sugere lesão piramidal (ou seja, do neurônio motor
superior, como representado na figura abaixo). Caso a queda ocorra sem o desvio pronador
(ou seja, sem a rotação medial do membro), no sentido da “gravidade”, as causas podem
ser muito variadas (fraqueza por doença do neurônio motor, da junção neuromuscular, do
músculo, ou mesmo fraqueza funcional [não-orgânica]).

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Semiologia Neurológica

Figura 2. Desvio pronador na manobra dos braços estendidos (desvio pronador à esquerda). Desvio típico de lesão
piramidal (ou seja, lesão de primeiro neurônio motor). Fonte: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMicm1213343

• Manobra de Mingazzini: com o paciente em decúbito dorsal, orientamos o paciente a


manter a coxa, os joelhos e os tornozelos flexionados em 90 graus por 2 minutos. A queda
de um dos membros sugere fraqueza muscular ipsilateral.

Figura 3. Manobra de Mingazzini, avalia força de membros inferiores, a queda de um dos membros sugere
fraqueza muscular ipsilateral. Fonte: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.slideshare.
net%2Fpauaualambert%2Fmotricidade-62040842&psig=AOvVaw3p-rioinvQ_Yi1wg2ImYxW&ust=1623852065
286000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNje8cvmmfECFQAAAAAdAAAAABAD

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Semiologia Neurológica

MANOBRAS DE OPOSIÇÃO

Permitem graduar a força dos respectivos grupamentos musculares:

GRADUAÇÃO DE FORÇA MUSCULAR ATRAVÉS DE MANOBRAS


DE OPOSIÇÃO (MEDICAL RESEARCH COUNCIL - MRC)

FORÇA GRAU CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO

0 Plegia Ausência de contração muscular

1 Paresia Contração Muscular visível ou palpável

Não vence a gravidade.


2 Paresia
Movimentação presente no plano (sem gravidade)

Vence a gravidade.
3 Paresia
Se opõe à resistência, mas não é capaz de vencê-la.

Vence a resistência (pode ser 4+ ou 4- a


4 Paresia depender do nível de comprometimento e
da comparação com o lado contralateral)

5 Normal Força normal

Tabela 2 - Graduação de força muscular através de manobras de oposição (Medical Research Council - MRC)

Estes déficits motores podem ser classificados, a depender da localização, em:

• Monoparesia: redução parcial da força em um membro apenas;

• Hemiparesia: um hemicorpo com fraqueza;

• Diparesia: fraqueza dos membros superiores (diparesia braquial) ou de ambas hemifaces


(diparesia facial);

• Paraparesia: fraqueza de ambos os membros inferiores;

• Tetraparesia: fraqueza dos quatro membros.

TÔNUS MUSCULAR

O tônus muscular pode ser examinado pela inspeção, palpação e movimentação passiva
dos grupamentos musculares e classificado em: hipo/hipertonia ou normal. As hipotonias
musculares acompanham as lesões do neurônio motor inferior, por exemplo (depois
entenderemos o porquê).

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Semiologia Neurológica

À movimentação passiva, o examinador realiza movimentos das diferentes articulações,


avaliando a resistência oferecida. O grau de resistência aos movimentos revela se há hipotonia
(facilidade em mover o membro - “membro fica mole”) ou hipertonia (dificuldade em mover
o membro, como se as partes estivessem “soldadas”). Nesse momento, também podemos
detectar a presença de sinais clássicos, como o da roda denteada e do canivete:

• Sinal da roda dentada: é observado na hipertonia plástica (também chamada de


rigidez), típica do parkinsonismo. Há resistência ao estiramento muscular intercalada com
uma facilitação rápida, gerando interrupções que lembram uma roda denteada (como
uma engrenagem defeituosa).

• Sinal do canivete: indica hipertonia elástica (também chamada de espasticidade),


característico da lesão piramidal. Há grande resistência muscular especialmente ao início
do movimento, que cessa bruscamente logo após (ou seja, com facilitação do movimento
após um início com grande resistência).

REFLEXOS

Profundos

Avaliados pelo estiramento rápido do tendão muscular causado pela percussão do mesmo,
realizada com o auxílio do martelo de exame neurológico. O paciente deve manter os músculos
bem relaxados e o examinador deve comparar as respostas entre os dois hemicorpos.

Quanto aos reflexos profundos (também chamados de reflexos osteotendíneos - ROTs)


devemos sempre considerar a simetria. Ou seja, determinadas alterações podem ser
consideradas normais quando presentes bilateralmente (variação da normalidade). Por isso,
sempre devemos avaliar:

• Amplitude;

• Velocidade;

• Latência: período de refratariedade entre a percussão do tendão e a contração muscular;

• Área reflexógena: área que consegue deflagrar o reflexo testado;

• Polirreflexia.

Os reflexos testam o neurônio sensitivo e o neurônio motor inferior.

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Semiologia Neurológica

SE LIGA:

O primeiro neurônio motor é responsável pelo estímulo de contração


muscular - dá ordem ao controle motor, mas também realiza a INIBIÇÃO
do segundo neurônio motor para que ele não fique muito ativado. Sendo
assim, se há lesão do primeiro neurônio motor, o segundo neurônio fica
livre, facilmente excitável. Logo, em lesões piramidais (do primeiro neurônio
motor) os ROTs ficam exaltados.

De acordo com as características acima, classificamos os ROTs da seguinte maneira

• Abolidos;

• Hipoativos: reduzidos em amplitude, velocidade ou área reflexógena;

• Normoativos;

• Hiperativos: aumentados em amplitude, velocidade e área reflexógena, com redução da


latência, e podendo ter polirreflexia.

PAPO RETO:

Hiperreflexia ou arreflexia = lesão de 1º neurônio motor (lesão piramidal)


Hiporreflexia = lesão de 2º neurônio motor

Superficiais

Por outro lado, temos os reflexos superficiais: cutâneo-plantar, cutâneo-abdominal,


cremastérico...

• Reflexo cutâneo-plantar (nociceptivo/ doloroso): estímulo com algum objeto de borda


romba (pode ser com uma espátula ou abaixador de língua), na borda lateral da planta
do pé por 3-5 segundos com força moderada (não se deve atingir a porção medial ou a
base do hálux). Quando há flexão dos dedos, está normal. Se há extensão (dorsiflexão do
hálux), o sinal de Babinski está presente.

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Semiologia Neurológica

Figura 4. Como elicitar o reflexo cutâneo plantar. Fonte: DeMyer’s, 7a edição, página 363.

Figura 5. O reflexo cutâneo-plantar normal é caracterizado por flexão dorsal do hálux ao estímulo ascendente
na parte lateral para medial da região plantar. É chamado de sinal de Babinski se houver a extensão do hálux.
Fonte: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2010000400037

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Semiologia Neurológica

O reflexo cutâneo-plantar extensor (sinal de Babinski) denota lesão na via piramidal, a qual é
formada pelos tratos corticoespinhais anterior e lateral: com fibras que partem do lobo frontal
(giro pré-central), agrupam-se na cápsula interna e chegam ao tronco onde dividem-se em
um feixe que cruza para o lado contralateral, na altura das pirâmides bulbares - decussação
das pirâmides (trato corticoespinhal lateral), e outro que continua homolateralmente sem
cruzamentos (trato corticoespinhal anterior).

PRA VIDA!

Os bebês mostram uma resposta extensora, que neste caso é normal. Isso
ocorre porque o trato corticoespinhal que corre do cérebro para a medula
espinhal ainda não está completamente mielinizado nesta idade, então o
reflexo não é inibido pelo córtex cerebral. A resposta extensora desaparece e
dá lugar à resposta flexora por volta dos 12-18 meses de vida.

Ou seja, o sinal de Babinski é característico da síndrome piramidal. Esse padrão de


acometimento é caracterizado por lesão em quaisquer locais da via piramidal e deve ser
investigado quanto a topografia e etiologia!

SENSIBILIDADE:

Sempre explique ao paciente o que irá examinar e como ele deve responder.

Sensibilidade superficial = dor e temperatura

• Dor: utilizar instrumentos pontiagudos, mas nunca perfurantes (não se deve usar agulha
para examinar - ora, elas foram feitas para perfurar sem sentir dor e, por isso, são
biseladas). Um bom método é com uma espátula quebrada ao meio (sempre teste em
você mesmo antes de testar no paciente!);

• Temperatura: apenas em casos duvidosos, já que, se a sensibilidade dolorosa está alterada,


a térmica também estará (dor e temperatura “caminham” sempre juntas).

Sensibilidade profunda = palestesia e artrestesia

• Palestesia: é a sensibilidade vibratória. Utilizar diapasão de 128 ou 256 Hz e comparar


a sensibilidade vibratória do paciente com a sua (enquanto segura a base do diapasão).
Estará diminuída caso o paciente diga que parou de sentir a vibração e você ainda continua
a sentindo. Diminuição é chamada de hipopalestesia e a ausência de apalestesia.

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Semiologia Neurológica

• Artrestesia: é a noção de posição segmentar. Isole as articulações distais (do hálux, do


indicador), demonstra ao paciente, pede para fechar os olhos e posiciona o dedo para
cima ou para baixo; após, pergunta ao paciente se sabe identificar a posição. A artrestesia
alterada é chamada de anartrestesia (não existe “hipoartrestesia”).

SE LIGA:

Quando há comprometimento significativo da sensibilidade profunda,


esperamos ataxia sensitiva na avaliação da coordenação do paciente.

Figura 6. Demonstração de como examinar a artrestesia. Fonte: John Patten, 2a edição, página 113.

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Semiologia Neurológica

CLASSIFICAÇÃO DOS DÉFICITS SENSITIVOS

Anestesia: perda de uma modalidade sensorial

Analgesia: perda de sensação dolorosa

Hiperestesia: aumento da intensidade produzida por um estímulo

Hiperalgesia: diminuição do limiar cutâneo para estímulos dolorosos

Parestesias: sensações espontâneas de dor, formigamento, queimação

Disestesia: sensações desagradáveis produzidas por estímulos inócuos

Alodínea: percepção de um estímulo não doloroso como doloroso

Hiperpatia: aumento da sensação dolorosa com estímulos repetitivos

Tabela 3 - Classificação dos déficits sensitivos.

COORDENAÇÃO:

Apendicular (dos membros)

• Índex-nariz e suas variantes (ex.: índex-índex do examinador);

Figura 7. Em (A) vemos um trajeto linear, normal. Em (B) vemos um trajeto não-linear que caracteriza a
decomposição do movimento, típica de ataxia cerebelar. Fonte: Hal Blumenfeld, 2a edição, página 95.

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Semiologia Neurológica

• Diadococinesia: capacidade de alternar movimentos rápidos. A alteração desse teste é


chamada de disdiadococinesia, e o teste normal é chamado de eudiadococinesia;

• Calcanhar-joelho: avalia a capacidade do paciente em colocar o calcanhar no joelho


contralateral e descer pela perna até o pé, sendo normal se acerta o joelho e desce pela
região pré-tibial linearmente.

Axial (do eixo central do corpo)

• Equilíbrio estático: paciente em pé, com a base que se encontra. Há comparação com
quando ele junta os pés, olhando para frente, com os olhos abertos e com os olhos
fechados. Se ao fechar os olhos há queda, temos o famoso sinal de Romberg positivo;

• Marcha: avalia a base, a distância entre os passos, se há tendência à queda para algum
lado (ou seja, lateropulsão), simetria entre os hemicorpos, distância entre os pés e o chão,
entre outras características da marcha;

• Fala: avaliar se há dificuldade para articular as palavras, a fluência verbal, voz “anasalada”
(escape nasal de ar), entre outras alterações;

• Motricidade ocular extrínseca: será descrita na avaliação dos nervos cranianos.

PASSO 4: NERVOS CRANIANOS

I (N. OLFATÓRIO):

Não é feito rotineiramente, apenas em casos específicos. Habitualmente testamos a


capacidade de sentir odores simples, como o do café.

II (N. ÓPTICO):

Acuidade visual: pode ser avaliada com cartão de Snellen ou cartão de Rosenbaum.

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Semiologia Neurológica

Figura 8. Cartão de Rosenbaum para avaliação da acuidade visual. Fonte: Clin Ophthalmol. 2021;15:859–869.

• Campimetria visual por confrontação: posicione-se em frente ao paciente, na mesma


altura. Oriente ao paciente que ele cubra um dos olhos e cubra também o seu olho oposto.
Faça movimentos com o dedo em diversas posições do campo (cima, baixo, direita,
esquerda). Nosso objetivo é buscar por déficits do campo visual, como hemianopsias e
escotomas.

Figura 9. Representação de como avaliar a campimetria visual por confrontação.


Fonte: DeMyer’s, 7a edição, página 158.

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Semiologia Neurológica

• Reflexo fotomotor direto e consensual: aplique um estímulo luminoso forte sobre a


pupila de um olho e observe a contração da pupila do olho em que a luz está incidindo
(reflexo fotomotor direto) e também a contração da pupila contralateral (reflexo fotomotor
consensual). Faça isso bilateralmente.

• Fundo de olho: especialmente se a queixa for cefaleia ou haja hipótese de neurite óptica,
em busca de edema de papila.

Figura 10: exemplo de edema de papila à fundoscopia. Fonte: DeMyer’s, 7a edição, página 165.

III (N. OCULOMOTOR), IV (N. TROCLEAR) E VI (N. ABDUCENTE):

Avaliam a musculatura ocular extrínseca.

• Oculomotor: movimentação de diversos músculos extrínsecos do bulbo ocular;


° Músculos reto superior, medial e inferior; e
° Músculo oblíquo inferior;
° Inervação do músculo levantador da pálpebra superior e músculo esfíncter da pupila
e músculo ciliar (inervação parassimpática, que realiza a miose).

• Troclear: movimentação do músculo oblíquo superior;

• Abducente: responsável pela movimentação do músculo reto lateral.

74 Índice
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Semiologia Neurológica

Figura 10. Representação de como avaliar a motricidade ocular


extrínseca - avaliando se o paciente assume as 9 posições do olhar.

V (N. TRIGÊMIO):

Sensibilidade dolorosa da face e musculatura da mastigação.

VII (N. FACIAL):

Musculatura da mímica facial: Nos casos de paralisia facial, sempre avaliar tanto o andar
inferior (rima labial) quanto o andar superior (fronte) da face, para diferenciar paralisia facial
entre central e periférica.

• Periférica: acometimento de toda a hemiface (incluindo andar superior);

• Central: paralisia apenas de andar inferior (sem acometimento da fronte).

A porção superior do nervo facial é coordenada pelos dois hemisférios cerebrais. Logo, mesmo
com o comprometimento de um dos hemisférios, o outro mantém a capacidade de contrair
a fronte do paciente. Enquanto isso, na paralisia facial periférica o estímulo não consegue
atingir os músculos da face (todas as fibras que tinham que cruzar, já cruzaram).

75 Índice
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Semiologia Neurológica

Figura 11. Características diferenciadoras da paralisia de Bell (paralisia periférica - figura à esquerda)
e paralisia facial central (paralisia facial secundária a lesão de sistema nervoso central).

VIII (N. VESTIBULOCOCLEAR):


• Há nistagmo?

Movimentos oculares oscilatórios, rítmicos e repetitivos dos olhos, compostos por uma fase
lenta e uma fase rápida. A fase rápida é a que determina para qual lado o nistagmo “bate”. Eles
podem ser horizontais, verticais, rotacionais ou mistos.

Além disso, podem ser unidirecionais (“bate” só para um lado, independente da posição do
olhar) ou multidirecionais (“bate” para múltiplas direções - por exemplo: ao olhar para a direita,
a fase rápida é para a direita, e ao olhar para a esquerda, a fase rápida muda para a esquerda).
Os unidirecionais tendem a ser periféricos, e os multidirecionais, centrais.

• Avaliação da audição: pode ser feita esfregando a ponta dos dedos próximo ao ouvido, fios
de cabelo, ou o barulho do diapasão e comparar bilateralmente a percepção do paciente
com a sua.

IX (N. GLOSSOFARÍNGEO) E X (N. VAGO):


• Avaliar a fala (há voz anasalada?);

• Elevação do palato: pedir para o paciente abrir a boca e dizer um “AAA”. Avalie se há
elevação adequada do palata e sua simetria.

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O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Neurológica

XI (N. ACESSÓRIO):

Força do trapézio e esternocleidomastóideo.

XII (N. HIPOGLOSSO):

Avaliar protrusão e retração da língua.

PASSO 5: SINAIS MENÍNGEOS


Como o próprio nome sugere, os sinais meníngeos são importantes para avaliarmos a presença
de irritação meníngea. É clássico de condições como meningite, meningoencefalite e
hemorragia subaracnóidea. Mas é importante saber que essa apresentação é tardia e, apesar
de frequentemente ser explorada pelas bancas, sua ausência não tem bom valor preditivo
para descartar essas condições.

• Rigidez de nuca

• Sinal de Brudzinski: a flexão cervical leva à flexão do quadril e dos joelhos.

Figura 12. Sinal de Brudzinski. Fonte: https://medlineplus.gov/ency/imagepages/19069.htm

77 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Neurológica

• Sinal de Kernig: com o paciente deitado com a coxa fletida sobre o abdome, não é possível
estender o joelho completamente pois há dor.

Figura 13. Sinal de Kernig. Fonte: https://medlineplus.gov/ency/imagepages/19077.htm

REFERÊNCIAS
1. Campbell, W; Barohn, R. DeJong’s - The neurological examination. 8ed. Wolters Kluwer

2. Biller, J; Gruener, G; Brazis, P. DeMyer’s - The neurologic examination. 7ed. McGraw-Hill


Education

3. Patten, J. Neurological Differential Diagnosis. 2ed. Springer

78 Índice
PEDIATRIA

SEMIOLOGIA E
PROPEDÊUTICA
A ANAMNESE
PEDIÁTRICA
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

A Anamnese Pediátrica

A história clínica em Pediatria faz parte do processo de coleta de dados que também envolve o
exame físico e que, dentro da perspectiva da entrevista pediátrica, objetiva construir o raciocínio
clínico que levará a elaboração das hipóteses diagnósticas e do plano de cuidados, sempre
considerando o indivíduo sob o seu aspecto biopsicossocial. Nesse sentido, a anamnese em
Pediatria se estrutura de maneira específica, a fim de possibilitar a construção deste conjunto
de dados, e necessita de uma visão ampliada e detalhista, por parte do examinador, para
evitar lacunas que comprometam a produção deste raciocínio clínico.

De maneira geral, a estrutura da anamnese pediátrica também se modela de acordo


com a prerrogativa clássica de anamnese clínica, em que o indivíduo é, primeiramente,
apresentado, tanto em sua pessoalidade quanto em seu problema específico, e este, por sua
vez, é investigado de forma ampla. Após, realiza-se, classicamente, um interrogatório sobre
os diversos aparelhos, a fim de fomentar a investigação do problema com dados relevantes
muitas vezes não valorizados pelo acompanhante ou relator. Em seguida, explora-se de
maneira complementar seus antecedentes clínicos e familiares, visando construir o perfil
clínico, mórbido e epidemiológico de forma completa e pormenorizada. Nesse contexto, o
histórico de suas condições de gestação, de seu nascimento, de seu período neonatal imediato,
de sua primeira infância, de seu recordatório alimentar e de suas condições de crescimento
pôndero-estatural e de desenvolvimento neuropsicomotor faz-se necessário e deve ser obtido
através de relatos e documentos portados pelas famílias. É neste momento, também, que se
insere a verificação de sua caderneta vacinal e de seu status de imunizações.

Em sua última parte, a anamnese pediátrica se presta a reconhecer o ambiente psíquico e social
habitado pela criança, na tentativa de reconhecer as relações de afeto por ela estabelecidas,
seu espaço sanitário, sua dinâmica e rotina para incluir no plano de cuidados as orientações
necessárias sobre prevenção de acidentes e promoção de saúde.

A seguir, um roteiro clássico de anamnese pediátrica é apresentado. Nele, são abordados


os principais pontos comentados anteriormente. A estrutura fornece amparo para que o
examinador construa a coleta de dados valorizando os dados acima postulados, mas, a
depender da ocasião e do estilo do profissional executante, pode sofrer adaptações desde
que mantenha sua visão humanista ampliada e integral.

MODELO PROPOSTO PARA ANAMNESE PEDIÁTRICA:


• Identificação: nome completo, data do nascimento, idade atual, sexo, origem étnica,
naturalidade, procedência, nome do informante, relação de parentesco com a criança,
fidedignidade presumida do informante, data da entrevista.

• Queixa principal e duração (QD): a(s) queixa(s) que motivaram a consulta ou os objetivos
da mesma devem ser registrados utilizando as palavras do informante e associados a
expressão “sic” aquelas afirmativas que não tenham sido comprovadas objetivamente.

• História da moléstia atual (HMA): os sinais e sintomas descritos pelo paciente ou responsável
devem ser registrados de acordo com a adequada terminologia médica (por exemplo:

81 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

A Anamnese Pediátrica

não registrar como “diarreia” o aumento do número de evacuações). Atenção especial


deve ser dada à cronologia dos eventos, buscando retratar em ordem e com precisão o
surgimento de cada sintoma, sem se referir com datas vagas (i.e.: registrar “teve uma crise
convulsiva há seis dias” em vez de “teve uma crise convulsiva na quarta-feira passada”). As
principais características de um sinal ou sintoma que devem ser exploradas são: duração
(em cada episódio), intensidade, frequência (periodicidade), fatores de intensificação e
alívio (medicação, alimentos, posição, relação com a respiração, esforço e eliminações).

• Interrogatório sobre os diversos aparelhos (ISDA):


° GERAIS: astenia, fraqueza, tonturas, alteração no humor, peso, temperatura e sono.
° PELE: alterações nos fâneros, ardência, cianose, coloração anormal, equimoses, lesões,
palidez, petéquias, prurido, rubicundez e secura.
° SUBCUTÂNEO: edema e nódulos.
° MÚSCULO-ESQUELÉTICO: dor, calor, rubor em articulações ou músculos, parestesias
ou paralisias de grupos musculares especiais.
° CABEÇA: cefaleia, alteração da acuidade visual, dor nos olhos, lacrimejamento, uso
de lente corretiva, vermelhidão nos olhos, visão dupla, audição, otalgia, otorreia,
zumbidos, condições dos dentes e gengivas.
° RESPIRATÓRIO: dor torácica ventilatório-dependente, dispneia, epistaxe, espirros,
hemoptise, obstrução nasal, prurido nasal, rinorreia, rouquidão, sibilância e tosse.
° CARDIOVASCULAR: alteração do ritmo cardíaco, cianose, dispneia, palpitações e
sopros.
° DIGESTIVO: vômitos, regurgitação, disfagia, halitose, pirose, dor abdominal,
constipação, diarreia, eliminação de vermes, encoprese, sangramento digestivo e
tenesmo. Neste ítem pode-se explorar o hábito intestinal diário.
° GENITOURINÁRIO: alteração da cor da urina, alteração do jato urinário, alterações
menstruais, corrimento vaginal ou uretral, dor ou massas testiculares, disúria, enurese,
incontinência, polaciúria, hematúria, hérnias, nictúria e poliúria. Neste ítem pode-se
explorar o hábito urinário diário.
° NEUROLÓGICO: alteração da marcha ou do equilíbrio, cefaleia, convulsões, desmaios,
dislalias, paralisias, paresias, parestesias, perda de memória e vertigens.
° ENDÓCRINO: bócio, fome ou sede excessivas, instabilidade ao calor ou frio e
sudorese excessiva. Surgimento dos marcos de puberdade (em pacientes com idade
apropriada).
° PSIQUIÁTRICO: agitação, alteração do humor, ansiedade, depressão, nervosismo e
tensão.
° PERSONALIDADE: desobediência, hiperatividade, irritabilidade, medo, preguiça,
temperamento difícil ou destrutivo, timidez e tristeza.
° COMPORTAMENTO: chupar dedo, dificuldade de relacionamento, enurese, encoprese,
fobia escolar, gagueira, masturbação, perversão do apetite e problemas de sono.

82 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

A Anamnese Pediátrica

• Antecedentes pessoais (AP): abordar de forma lógica e cronológica a fim de evitar lacunas.
Considerar que a criança nasce, alimenta-se, cresce, desenvolve-se, imuniza-se e pode
adoecer, abordando, então, os seus antecedentes:
° Perinatais: planejamento e aceitação da gravidez, duração, pré-natal (quantas
consultas), intercorrências (sangramento, infecção urinária, hipertensão, diabete,
convulsões, obesidade, cirurgia, rubéola, outras doenças, radiografia nos primeiros
3 meses), ferro, vitaminas, medicamentos, drogas ilícitas, fumo e álcool. Tipo de
parto (se cesariana, motivo), local, sofrimento fetal, condições de nascimento. Apgar
(primeiro e quinto minutos), manobras de reanimação. Peso, comprimento, perímetro
cefálico, perímetro torácico ao nascimento. Problemas respiratórios, cianose, icterícia,
problemas alimentares, infecção, convulsão, necessidade de tratamento especial
(incubadora, oxigênio e medicação, fototerapia, cateterismo de vasos umbilicais e
ventilação mecânica), tempo de hospitalização, condições de alta e peso na alta;
° De alimentação: desde seu histórico alimentar, como a presença ou ausência de
aleitamento materno, a época de introdução da alimentação complementar e um
recordatório alimentar de suas últimas 24 horas, de forma precisa e detalhada, com
horários, quantidades e, sobretudo, a qualidade dos alimentos ingeridos;
° De crescimento pôndero-estatural: visão dos pais e seguimento de rotina prévio
sobre o crescimento em peso e estatura da criança - observar gráficos e evolução;
° De desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM): deve-se registrar o período em meses
em que foram obtidos os principais marcos do DNPM a saber: firmar a cabeça, sorriso
espontâneo, segurar objetos, sentar sem apoio, engatinhar, andar sem apoio, controlar
esfíncteres, primeiras frases, correr sem dificuldade, subir escadas, linguagem de
adulto, beber em copo, usar colher, vestir-se. Além disso, busca-se ter noção de como
é o rendimento escolar em pacientes que frequentam a escola;
° De imunizações: checar a caderneta vacinal e status de imunizações até o presente
momento;
° De comorbidades e internações/cirurgias: doenças relevantes, hospitalizações,
cirurgias. Patologias crônicas e uso de medicamentos por longo prazo. Alergias a
alimentos, medicamentos, picada de insetos.

• Antecedentes familiares (AF): Registrar idade e estado de saúde de pais, irmãos e avós.
Registrar, ainda, o histórico das principais doenças familiares a saber: alergia, asma,
diabetes, cardiopatias, convulsões com ou sem febre, hemofilia, hipertensão arterial,
pneumopatias crônicas, retardo de desenvolvimento e tuberculose.

• História pessoal e social (HPS): tipo e condições da habitação, condições de saneamento


(destino dos dejetos, água tratada e conservação dos alimentos), instalação de água, luz,
esgoto, localização da residência (cidade e campo), número de cômodos, eletrodomésticos
(geladeira e televisor), número de pessoas no domicílio, estado de saúde dos ocupantes,
local onde dorme o paciente e condições de segurança da habitação. Principais cuidadores
e grau de afeto pela criança. Pais e irmãos (grau de instrução, tipo de emprego, rendimento

83 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

A Anamnese Pediátrica

familiar médio e uso de drogas) e situação conjugal dos pais (estado civil, separação e
relacionamento). Escola (pública ou privada, tamanho, distância e transporte). Atividades
para escolares (esporte, música e artes), tempo de tela e atividade física. Contato com
animais, dentro e fora da habitação, com tabagistas e com substâncias tóxicas. Atividade
e interesse sexual, conhecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis e métodos
contraceptivos (em pacientes com idade apropriada).

UM ALGO A MAIS: PUERICULTURA.

Para finalizar, vamos deixar algumas dicas sobre as consultas de rotina de puericultura.

Primeiro: com que frequência a criança deve passar em consultas?

As consultas pediátricas de rotina, conhecidas como consultas de puericultura, são


consultas em que o pediatra pode acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de seu
paciente. Além disso, durante essas consultas, podemos identificar possíveis problemas que
precisam de intervenção e orientar os pais e/ou cuidadores sobre as condições de saúde do
paciente.

Já sabemos que é de fundamental importância o acompanhamento do crescimento e do


desenvolvimento de crianças e adolescentes. Mas com que frequência essas consultas
devem ocorrer? Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a quantidade de visitas
ao pediatra depende da idade da criança e das necessidades específicas para cada caso
(tabela 1).

FREQUÊNCIA MÍNIMA DE CONSULTAS PEDIÁTRICAS PELA SBP

FAIXA ETÁRIA FREQUÊNCIA

5 - 30 dias de vida 3 consultas mensais

2 - 6 meses 1 vez ao mês

7 meses - 2 anos 1 vez a cada 2 meses

> 2 anos - 5 anos 1 vez a cada 3 meses

6 anos 1 consulta por semestre

> 7 anos 1 consulta ao ano

84 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

A Anamnese Pediátrica

Como de praxe, há divergência na recomendação de frequência das consultas entre o MS e a


SBP!

A orientação do MS são consultas menos frequentes que o recomendado pela SBP, seguindo
o seguinte esquema, até 24 meses: 1a semana, 1 mês, 2 meses, 4 meses, 6 meses, 9 meses, 12
meses, 18 meses e 24 meses.

A respeito das medidas antropométricas, que são fundamentais para a avaliação do


crescimento e desenvolvimento das crianças durante a puericultura.

O peso e a estatura (ou comprimento, a depender da idade) devem ser aferidos em todas as
consultas, independente da faixa etária.

Todas as medidas devem ser avaliadas de acordo com gráficos de crescimento específicos por
faixa etária e sexo, e idealmente a interpretação deve levar em consideração a evolução, e não
pontos isolados.

A técnica correta varia de acordo com a idade da criança, e está demonstrada nas imagens a
seguir:

Legenda: técnica de pesagem para lactentes ou crianças <15kg: balança pediátrica, com a
criança sentada ou deitada, sem roupas, acessórios ou fraldas. Fonte: Manual de Avaliação
Antropométrica do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) - Rio de Janeiro, 2019

85 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

A Anamnese Pediátrica

Legenda: técnica de pesagem para crianças >2 anos ou >15kg, em balança comum,
sem roupas ou acessórios. Fonte: Manual de Avaliação Antropométrica do Estudo
Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) - Rio de Janeiro, 2019

Legenda: técnica de aferição do comprimento para crianças <2 anos ou <100cm através do uso
de infantômetro: a criança deve estar deitada, com a cabeça reta e apoiada na face superior do dispositivo,
com as pernas esticadas e pés apoiados sobre a face inferior do dispositivo. Fonte: Manual de Avaliação
Antropométrica do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) - Rio de Janeiro, 2019

86 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

A Anamnese Pediátrica

Nuca
Plano de
Frankfurt
Costas

Nádegas

Calcanhar

Legenda: técnica de aferição da estatura para crianças >2 anos ou >100cm. Fonte: Manual de Avaliação
Antropométrica do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) - Rio de Janeiro, 2019

Já o perímetro cefálico deve ser aferido em todas as consultas de puericultura idealmente


durante os primeiros 2 anos de vida. A técnica correta envolve o uso de uma fita métrica que
deve ser posicionada sobre a proeminência occipital e a glabela, conforme a imagem abaixo:

Legenda: técnica correta de aferição do perímetro cefálico. Fonte: INSTRUTIVO PARA


MEDIDA DO PERÍMETRO CEFÁLICO ANEXO: NOTA TÉCNICA 001/2016 - GSUSAM

87 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

A Anamnese Pediátrica

Outro ponto fundamental da avaliação pediátrica de rotina é a avaliação genital. Toda criança
deve ser avaliada sem roupas durante as consultas de rotina, visando identificar alterações do
trato genitourinário como criptorquidia, fimose, hipospádia, virilização e sinais de puberdade.

Por último, mas não menos importante: quando devemos aferir a Pressão Arterial de uma
criança?

A resposta é: depende.

Para crianças saudáveis, a aferição deve ser feita pelo menos 1x/ano, a partir dos 3 anos de vida.

Já para as crianças com fatores de risco para hipertensão, como cardiopatia congênita, doença
renal crônica, prematuros e obesos, a aferição deve ser feita em todas as consultas!

A técnica de aferição varia conforme o tamanho da criança, e é fundamental o uso de


esfigmomanômetros adequados no membro superior direito , conforme a imagem abaixo:

Legenda: técnica correta da aferição da pressão arterial na criança. O comprimento da bexiga do esfigmo
deve corresponder a cerca de 80% da distância entre o acrômio e o olécrano, e a largura, 40%.

A interpretação dos valores é feita de acordo com dados padronizados de acordo com a idade,
sexo e estatura da criança!

88 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

A Anamnese Pediátrica

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. Blank D, Eckert G. Pediatria Ambulatorial: Elementos Básicos e Promoção da Saúde, 2ed.
Porto Alegre: Editora da Universidade - UFRGS, 1995

2. Nerdes F, Pastura G. Anamnese Pediátrica: revisão de um tópico consagrado. Revista


Residência Pediátrica - residpediatr-2021.v11n1-113

3. Kac G, Anjos LA, Boccolini C, Lacerda EMA, Castro IRR, Vasconcellos MTL et al. Manual de
Avaliação Antropométrica do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI)
- Rio de Janeiro, 2019

4. Bresolin NL, Sylvestre LC, Kaufman A, Uhlmann A, Garcia CD, Andrade OVB et al: Manual
de Orientação do Departamento Científico de Nefrologia: Hipertensão Arterial na Infância.
SBP, 2019.

89 Índice
GINECOLOGIA

SEMIOLOGIA E
PROPEDÊUTICA
SEMIOLOGIA E
PROPEDÊUTICA
DAS MAMAS
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica das Mamas

INTRODUÇÃO

Fala, galera! Vamos falar sobre um tema muito importante, a semiologia das mamas. É
fundamental que todos os médicos tenham conhecimento básico sobre ela, pois queixas
mamárias são frequentes entre as mulheres, especialmente nas consultas de rotina. Iremos
revisar brevemente a anatomia mamária e depois focar na anamnese e exame físico das
mamas. Vamos que vamos!

ANATOMIA

As mamas são glândulas normalmente presentes em um número de dois, em topografia pré-


peitoral, dispostas entre o segundo e sexto espaço intercostal. São constituídas externamente
pelos mamilos, aréolas e a pele. Os mamilos são projeções que englobam os ductos das
glândulas secretoras e podem ser classificados como planos, protusos ou invertidos. As aréolas
são regiões pigmentadas que envolvem circularmente os mamilos, podendo variar em cor e
tamanho. É comum a denominação da aréola e do mamilo como complexo aréolo-papilar
(CAP). O CAP possui glândulas sudoríparas, folículos pilosos e glândulas sebáceas (também
chamadas glândulas de Montgomery), sendo que a abertura dessas glândulas junto a pele
são chamadas tubérculos de Montgomery.

Cada uma das mamas pode ser dividida em unidades anatômicas chamadas de lobos. A
quantidade média de lobos por mama é de 15 a 20. Por sua vez, cada lobo é subdividido em 20
a 40 lóbulos - que são as chamadas unidades funcionais das mamas. Isso porque cada lóbulo
possui uma média de 10 a 100 alvéolos, que são responsáveis pela produção de secreção láctea
quando há estímulo. Os alvéolos desembocam nos ductos mamários, atingindo as ampolas já
próximas ao CAP. As ampolas funcionam como reservatórios de produto lácteo.

A mama é recoberta pela fáscia superficial nas suas duas porções (superficial e profunda). Junto
à pele, a fáscia anterior da mama se espessa até a pele, formando os chamados ligamentos de
Cooper. Esses ligamentos são responsáveis pela sustentação da mama, e são primariamente
acometidos em caso de neoplasias, o que explica a retração da pele quando da presença de
algum carcinoma mamário.

Quanto ao suprimento sanguíneo, 66% da irrigação da mama é proveniente da artéria torácica


interna (ramo da torácica interna), e os 34% restantes vêm da artéria torácica lateral (ramo
da artéria axilar). A drenagem venosa segue as mesmas veias, mas no sentido inverso. Vale
lembrar que a maior parte da drenagem linfática mamária tem destino para os linfonodos
axilares, e apenas uma pequena parte para os linfonodos da artéria torácica interna. Isso explica
porque na enorme maioria das vezes o linfonodo sentinela (etapa obrigatória da cirurgia por
neoplasia maligna da mama) encontra-se em localização axilar.

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Semiologia e Propedêutica das Mamas

Figura 1: Anatomia da mama. Fonte: imagem retirada do site http://www.kenhub.com

Na anatomia aplicada à propedêutica, dividimos as mamas em quatro quadrantes: quadrante


súpero lateral (QSL), quadrante súpero medial (QSM), quadrante ínfero medial (QIM) e
quadrante ínfero lateral (QIL). Isso facilita a descrição e localização de alterações tanto no
exame físico quanto nos exames de imagem

Figura 8: Quadrantes e regiões da mama. Fonte: imagem retirada e modificada do site:


https://pt.iliveok.com/health/quadrantes-do-peito_109718i16015.html

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Semiologia e Propedêutica das Mamas

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA GRAVIDEZ

Na gravidez, o tecido mamário se altera consideravelmente para a lactação. A partir da 8a


semana de gestação, o organismo materno já começa a produzir prolactina, hormônio
responsável pela produção láctea, mas cuja ação fica bloqueada durante toda a gravidez
devido aos elevados níveis de estrogênio e progesterona maternos. Por isso: uma gestante
com boa evolução na gravidez só produz leite após o parto. As mamas aumentam de volume,
se tornam mais consistentes, podem alterar a sua forma e podem se tornar mais sensíveis e
dolorosas. As aréolas podem aumentar de diâmetro e tornar mais escurecidas, formando um
sinal de duplo contorno (sinal de Hunter). Os tubérculos de Montgomery ficam proeminentes
visto a necessidade de aumentar a lubrificação das aréolas. Os vasos sanguíneos venosos
superficiais dilatam e formam a rede de Haller. Com o avançar da gestação podemos verificar
a presença de colostro, uma secreção serosa amarelada, multi-ductal, espontânea ou presente
após a expressão.

Figura 2: Tubérculos de Montgomery. Fonte: https://commons.wikimedia.


org/wiki/Category:Areola#/media/File:Glandulae_areolares.jpg

Figura 3: Colostro. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/


Category:Human_colostrum#/media/File:Colostrum.jpg

94 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica das Mamas

AVALIAÇÃO CLÍNICA

A Semiologia das mamas visa avaliar, a partir de sinais e sintomas obtidos pela anamnese
e exame físico, o que é normal e o que é patológico. Mesmo considerando o grande avanço
dos exames complementares, uma boa história e o exame físico são fundamentais para a
elaboração dos diagnósticos.

Anamnese

Identificação:

Identificamos o paciente pelo nome completo, idade, sexo, naturalidade, procedência,


profissão, estado conjugal, religião e demais informações pertinentes ao caso. Lembrando
que sexo feminino e idade avançada são fatores de risco para o câncer de mama.

Queixa principal e duração:

Devemos questionar o motivo da consulta e descrever a queixa e duração do paciente. As


principais queixas nas consultas de mastologia são as chamadas alterações fibrocísticas das
mamas: nódulos palpáveis, dor mamária e fluxo papilar. Mas vale atentar para a possibilidade
de neoplasia de mama, cujas características de suspeição podem ser mais bem avaliadas no
questionário da história pregressa da moléstia atual.

História Pregressa da Moléstia Atual:

A queixa principal do paciente será explorada e esmiuçada, avaliando o tempo de instalação,


sintomas associados e características específicas. A título de ilustração, as histórias a seguir
falam mais a favor de quadro benigno:

• Nódulo doloroso em uma das mamas, com hiperemia e febre (por exemplo, quadro de
mastite);

• Fluxo papilar esverdeado, não espontâneo (por exemplo, quadro de ectasia ductal);

• Nódulos pequenos e múltiplos em ambas as mamas;

• Nódulo que surge e depois desaparece com o período menstrual (por exemplo, cisto
mamário).

Por outro lado: nódulo sólido, com crescimento rápido, endurecido, sem sintomas sistêmicos
e com retração da pele deve chamar mais a atenção para a possibilidade de neoplasia,
especialmente em pacientes na pós menopausa.

95 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica das Mamas

A depender da queixa clínica, podemos questionar mais ativamente alguns sintomas


específicos para ajudar no raciocínio clínico:

1. Perante o relato de dor mamária, devemos indagar a intensidade, as características da


dor, os fenômenos de melhora e piora, se há interferência nas atividades do cotidiano, se
o início foi súbito ou insidioso, se há irradiação, se é contínua ou intermitente, se possui
relação com o ciclo menstrual.

2. Diante de uma queixa de nódulo mamário, questionamos sobre a lateralidade da lesão,


localização do nódulo, tamanho, se houve crescimento, se existe alteração no ciclo
menstrual, se apresenta alteração cutânea associada, se existem linfonodos palpáveis ou
descarga papilar.

3. O fluxo papilar também deve ser esmiuçado, portanto avaliamos a lateralidade, se é bilateral,
se é espontâneo ou se requer estímulo, o volume da secreção e suas características, como
coloração e consistência.

Início dos sintomas, relação com o ciclo menstrual, localização (difusa


ou focal), lateralidade (unilateral ou bilateral), irradiação, recorrência,
Mastalgia relação com a prática de exercícios físicos, início após trauma, sintomas
associados, presença de hiperemia ou sintomas constitucionais,
tabagismo

Início dos sintomas, uso de medicamentos, manipulação excessiva das


Fluxo Papilar mamas, lateralidade (unilateral ou bilateral), cor da secreção, ocorrência
espontânea ou à expressão

Momento da palpação, crescimento, localização, mobilidade, relação


Nódulo com ciclo menstrual, sintomas associados, presença ou não de febre,
biópsias prévias

Tabela 1. Anamnese das principais afecções mamárias benignas

Antecedentes pessoais:

É essencial questionar sobre morbidades, uso de medicações (especialmente, porque


medicações como antipsicóticos podem se relacionar a fluxo papilar e galactorreia). Vale ainda
questionar a realização prévia de exames, atentando-se para a cronologia, os diagnósticos
prévios e os tratamentos feitos. Dentre os exames complementares, os mais comuns e
relevantes na mastologia são a mamografia e o ultrassom. O tabagismo e uso de drogas
também deve ser questionado, especialmente em pacientes com episódios de mastite -
uma entidade específica chamada mastite crônica periareolar recidivante está diretamente
relacionada ao consumo de tabaco e a cessação é etapa essencial no tratamento.

96 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica das Mamas

Também devemos indagar sobre intervenções cirúrgicas nas mamas e destacar o tipo e
localização de cicatrizes. É fundamental questionar sobre o uso de terapias hormonais, os
tipos de hormônios utilizados e a duração do tratamento.

Devemos avaliar todo histórico ginecológico e obstétrico da paciente, incluindo a história


menstrual, padrão do ciclo, menarca, menopausa, número de gestações, número de partos
normais, cesáreas e ocorrência de abortos. É muito importante perguntar sobre amamentação,
indagando o número de vezes que a paciente amamentou, por quanto tempo e há quanto
tempo, além de avaliar possíveis complicações, como mastites puerperais. Vale lembrar que a
amamentação considerada protetora para neoplasia de mama é aquela que acontece antes
dos 20 anos de idade, segundo a literatura. Já a ausência de amamentação após os 35 anos
funciona como fator de risco para neoplasia maligna da mama.

Antecedentes familiares:

Sempre devemos questionar sobre patologias das mamas e mesmo neoplasia de mama em
parentes. História de câncer de mama ou ovário nos familiares de primeiro grau (mãe e irmãs)
ou de segundo grau (linhagem materna), aumentam de forma mais significativa o risco de
neoplasia de mama da paciente. Pacientes com história de mutação BRCA 1 ou 2 ou ainda do
gene TP53 (Síndrome de Li Fraumeni) em parentes de primeiro grau também tem indicação
de rastreamento de alto risco para neoplasia de mama, com mamografia anual intercalada
com ressonância magnética de mamas.

Exame físico

O exame físico das mamas é obrigatório nas consultas ginecológicas. Ele é realizado após
consentimento da paciente e esclarecimento dos passos, preferencialmente em ambiente
privado e confortável para a paciente. É interessante memorizar os tempos do exame para
não esquecer de nenhum passo. Todas as impressões serão cuidadosamente anotadas nos
prontuários das pacientes. O exame é realizado na seguinte ordem: inspeção estática, inspeção
dinâmica, palpação das cadeias linfáticas, palpação das mamas e expressão dos mamilos.

Então vamos lá!

Inspeção estática:

Devemos orientar a paciente para ficar em posição sentada e com os braços relaxados ao
longo do corpo. Devemos analisar o número de mamas, o volume das mamas, o formato
mamário, simetria entre as mamas e a localização. É importante atentar para a presença de
abaulamentos e retrações. Ao observar a pele, devemos analisar a coloração, vascularização,
cicatrizes, presença de lesões e se há edema cutâneo, o famoso “peau d’orange” - pele de
laranja em francês. Na inspeção do complexo aréolo-papilar, analisamos as dimensões, a
simetria, a forma e se há retrações. Devemos também analisar se existem alterações torácicas
ou escapulares, visto algumas malformações congênitas das mamas serem acompanhadas
de malformações de musculatura peitoral ou ainda de arcos costais.

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Semiologia e Propedêutica das Mamas

Figura 4: Inspeção estática. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d4/


Breast_exam_%28series_of_16%29.jpg/640px-Breast_exam_%28series_of_16%29.jpg

Inspeção dinâmica:

A paciente deve permanecer na mesma posição e serão realizadas três manobras com intuito
de mobilizar as glândulas mamárias. Inicialmente orientamos a paciente a elevar os braços
estendidos lentamente para avaliarmos os ligamentos de Cooper. Em seguida solicitamos
que a paciente posicione as mãos na cintura e realize uma contração da musculatura peitoral,
para evidenciar possíveis nódulos aderidos ou retrações assimétricas. Na última manobra, a
paciente eleva os braços e flexiona o tronco para frente, para que as mamas fiquem pendulares.

Figura 5: Inspeção dinâmica. Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.


php?search=breast+discharge&title=Special:MediaSearch&go=Go&type=image

98 Índice
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Semiologia e Propedêutica das Mamas

Palpação:

Ainda com a paciente sentada, realizamos a palpação das cadeias ganglionares bilateralmente.
Avaliamos as cadeias supraclaviculares, infraclaviculares e por fim, as regiões axilares. Para
avaliar a região axilar, usamos a técnica de Bailey: para a cadeia axilar direita, a paciente deve
deixar o braço direito solto ou apoiado no braço direito do examinador, que irá examinar com
a mão esquerda. Para a região axilar esquerda, faremos o oposto: a mão direita do examinador
é responsável pela avaliação da cadeia ganglionar esquerda.

Durante a palpação das cadeias linfonodais devemos analisar se há linfonodos palpáveis, a


localização, volume, consistência, aderência a planos profundos, mobilidade, lesões associadas,
sinais flogísticos, dor à palpação e fistulizações.

Figura 6: Palpação de cadeias linfonodais. Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.


php?search=breast+discharge&title=Special:MediaSearch&go=Go&type=image

Na palpação das mamas, solicitamos que a paciente se posicione em decúbito dorsal e eleve
os braços com as mãos na nuca. É preconizado iniciar o exame pela mama sem queixas e
sempre comparar os achados bilateralmente.

A palpação é sistematizada e abrange toda a região mamária. Devemos usar as polpas


digitais dos dedos (manobra de Velpeaux), exceto o polegar. Os movimentos devem ser de
dedilhamento ou deslizamento, realizados em todos os quadrantes de forma circular ou
paralela, a fim de avaliar toda extensão da mama, incluindo a região retroareolar.

99 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica das Mamas

Figura 7: Palpação mamária. Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.


php?search=breast+discharge&title=Special:MediaSearch&go=Go&type=image

Os achados possíveis na palpação incluem: nódulos e espessamentos, que devem ser avaliados
detalhadamente, evidenciando a lateralidade e o quadrante da mama em que se encontra a
alteração, sendo comum ainda o registro ainda da posição do relógio (em horas) e a distância
da alteração até o CAP.

Expressão:

Finalizamos a avaliação das mamas com a expressão papilar bilateral, realizando delicada
ordenha radialmente da base da mama até o complexo aréolo-papilar. Se houver descarga,
temos que observar sua coloração (transparente, branca, sanguinolenta ou variada), sua
consistência (fluída ou pastosa), a simetria, bilateralidade, quantidade secretada, quais são os
ductos excretores e se há ponto gatilho (ponto único que quando estimulado, leva a produção
de secreção, o que aumenta a suspeita de patologia intracanalicular, por exemplo, um
papiloma). Já secreções multiductais levantam a hipótese de afecção sistêmica, especialmente
nos casos de galactorreia.

Figura 9: Exemplo de fluxo multiductal multicolorido.


Fonte: https://app.figure1.com/case-detail/75940efb-d937-4457-872f-30b8aec26563

100 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica das Mamas

Figura 10: Exemplo de galactorreia. Fonte: https://commons.wikimedia.org


/wiki/Category:Human_colostrum#/media/File:Lactation.jpg

Finalizamos o exame físico das mamas orientando a paciente a se vestir e sobre os achados
presentes na avaliação. Sempre é válido acalmar a paciente e esclarecer todas as dúvidas,
pois é um exame delicado e que gera expectativas. Se necessário, devemos prosseguir a
investigação com exames complementares.

BIBLIOGRAFIA:
1. FRASSON, Antônio et al . Doenças da Mama. Guia Prático Baseado em Evidências. 2 ed.
Atheneu, 2017.
2. HARRIS, Jay R. – Diseases of the Breast – fifth edition Lippincott Williams & Wilkins/Wolters
Kluwer Health, 2014 e alterações.
3. Carrara HAA, Philbert PMP. SEMIOLOGIA MAMÁRIA. Disponível em: https://edisciplinas.
usp.br/pluginf ile.php/4166225/mod_page/content/3/SEMIOLOGIA%20MAM%C3%81RIA.
pdf. Acesso em 18 de setembro de 2021 às 16:34
4. Medeiros, Francisco. (2015). MANUAL DO EXAME DAS MAMAS. 10.13140/RG.2.1.2238.8563.
Disponível em https://www.researchgate.net/publication/286921354. Acesso em 18 de
setembro de 2021 às 16:34

101 Índice
SEMIOLOGIA E
PROPEDÊUTICA
GINECOLÓGICA
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Ginecológica

Pessoal, o assunto de hoje é semiologia e propedêutica ginecológica! Em um algum momento


da sua prática médica você com certeza precisará (ou já precisou) atender uma paciente do
sexo feminino. Assim, saber conduzir uma consulta ginecológica é de extrema importância.

O primeiro passo é entender que esse pode ser um momento de tensão para a paciente:
muitas ficam envergonhadas e até mesmo constrangidas durante a anamnese ou exame
ginecológico. Nosso papel, como profissionais da saúde, é garantir boa relação com a paciente,
manter postura ética e transmitir segurança durante todo atendimento.

Vamos estruturar nosso estudo em dois tópicos centrais: anamnese e exame físico, ok?
Estamos juntos?

ANAMNESE

Vamos dividir a anamnese em alguns tópicos:

• Identificação;

• Queixa e duração;

• História da moléstia atual;

• Antecedentes pessoais;

• Antecedentes ginecológicos e obstétricos;

• Hábitos de vida;

• Antecedentes familiares.

Identificação e avaliação de dados sociodemográficos

Informações referentes a nome, idade, raça, estado civil, profissão, religião, nacionalidade,
naturalidade e procedência são obtidas nesta etapa. Sabemos que esses dados são importantes
para categorizar as pacientes e definir condutas necessárias. Por exemplo, o atendimento
de uma adolescente é diferente daquele oferecido a uma paciente na pós-menopausa.
Concordam?

Queixa e duração

A paciente deve ser questionada sobre a presença dos sintomas que a fizeram buscar
atendimento e duração dos mesmos. Exemplo: corrimento vaginal há 3 dias.

103 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Ginecológica

História da moléstia atual

Trata-se da descrição detalhada da queixa referida pela paciente, incluindo duração, sintomas
associados e fatores de melhora ou piora. Vale ressaltar, que muitas pacientes procuram
atendimento ginecológico mesmo assintomática, para avaliação de rotina. Nesses casos,
todos os possíveis sinais e sintomas ginecológicos devem ser ativamente questionados. Na
tabela abaixo estão descritos os principais sinais e sintomas que devem ser investigados.

ANAMNESE - SINAIS E SINTOMAS

Dor abdominal/pélvica

Sangramento vaginal irregular

Leucorreia (corrimento vaginal)

Dismenorreia (cólica menstrual)

Sinusorragia (sangramento durante coito)

Dispareunia (dor durante a relação sexual)

Alterações urinárias (disúria, hematúria e incontinência)

Alterações mamárias (dor, nódulo palpável, assimetria e fluxo papilar)

Alterações gastrointestinais (náuseas, vômitos e inapetência)

Alteração no hábito intestinal (constipação e sangramento nas fezes)

Queixas sexuais

Sangramento vaginal pós menopausa (pacientes pós-menopausa)

Fogachos (pacientes transição menopausal)

Ressecamento vaginal (pacientes pós-menopausa)

Alterações de pele (acne, pilificação aumentada e alopécia)

Tabela 1. Principais sinais e sintomas a serem abordados na anamnese

104 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Ginecológica

Do ponto de vista prático, por exemplo, pacientes com diagnóstico de endometriose podem
apresentar dor pélvica crônica e dispareunia; enquanto pacientes na transição menopausal
podem queixa-se de fogachos e ressecamento vaginal.

Notam a importância da anamnese detalhada? Aos poucos vamos completando o quebra-


cabeça de sinais e sintomas e assim somos capazes de garantir o diagnóstico adequado de
determinadas patologias.

Antecedentes pessoais

Nesta etapa devemos questionar as pacientes sobre a presença de comorbidades clínicas,


uso de medicamentos, cirurgias prévias e alergias. Na prática clínica, por exemplo, reconhecer
condições patológicas que contraindicam uso de contraceptivos hormonais é de extrema
importância, concordam?

Antecedentes ginecológicos e obstétricos

São relevantes informações como a data da primeira e da última menstruação; características


do ciclo menstrual; uso de método contraceptivo; histórico de infecções sexualmente
transmissíveis e histórico obstétrico. Esses dados refletem a história da vida reprodutiva da
paciente e não devem ser menosprezados.

Hábitos de vida

Devemos questionar as pacientes sobre o padrão de sono, alimentação, vícios (etilismo,


tabagismo e uso de outras drogas) e prática de atividade física. Pensem no conceito de saúde
da forma mais ampla possível! Nosso papel é garantir qualidade de vida para as pacientes e,
para isso, bons hábitos são indispensáveis.

Antecedentes familiares

Devemos questionar sobre a presença de comorbidades familiares que possam apresentar


caráter genético. São possíveis exemplos: neoplasias (ovário, mama, intestino), malformações
congênitas e condições crônicas (hipertensão, diabetes e dislipidemia).

Tudo bem até aqui? Acho que vocês puderam perceber a importância da anamnese completa,
não é mesmo? Vamos seguir...

EXAME FÍSICO

Podemos estruturar o exame físico da seguinte forma:

• Exame físico geral;

• Exame das mamas;

105 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Ginecológica

• Exame abdominal;

• Exame genital externo;

• Exame genital interno.

Exame físico geral

Devemos considerar as seguintes avaliações:

• Estado geral;

• Estado de hidratação;

• Coloração da pele e mucosa;

• Temperatura;

• Pressão arterial;

• Peso;

• Estatura;

• Cálculo do índice de massa corpórea;

• Ausculta cardíaca e respiratória;

• Avaliação das extremidades (edema, varizes, sinais de trombose venosa).

Exame das mamas

O exame físico das mamas é indispensável na consulta ginecológica. Temos um Ebook


específico de anamnese e propedêutica mamária: conselho fortemente que você dê uma
olhadinha nas informações divulgadas lá!

Exame abdominal

Trata-se de um tempo fundamental na propedêutica ginecológica, que deve ser realizado com
a paciente em decúbito dorsal horizontal. A sequência de avaliação deve respeitar a ordem:
inspeção estática, inspeção dinâmica, ausculta, percussão e palpação (superficial e profunda).

O objetivo central é identificar possíveis patologias que cursam com dor pélvica/abdominal
ou massas palpáveis.

Exame do genital externo

Recomenda-se a avaliação de todas as partes anatômicas dos genitais externos femininos,


como grandes e pequenos lábios, clitóris e uretra.

106 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Ginecológica

A paciente deve assumir posição ginecológica, em decúbito dorsal, com as coxas e joelhos
fletidos, apoiando os pés nas perneiras. É importante que a paciente esteja despida e, de
preferência, coberta com um avental ou lençol.

A inspeção deve ser realizada no repouso, com objetivo de identificar possíveis lesões locais.
Também é válida a avaliação durante manobra de esforço-tipo Valsalva como forma de
diagnosticar os prolapsos genitais. Recomenda-se ainda a palpação do monte de vênus e da
cadeia ganglionar inguinal bilateral para determinar se há existência de linfonodomegalias.

Exame genital interno

O objetivo do exame genital interno é avaliar a vagina, o colo uterino, o útero e os anexos. Para
isso, lançamos mão do exame especular e do toque vaginal.

# Especular: É o exame realizado com um instrumento denominado espéculo, com a paciente


em posição ginecológica. O espéculo é introduzido fechado no interior da vagina e aberto
posteriormente, de forma delicada. Tal exame permite a exposição do canal vaginal, avaliação
macroscópica do colo uterino e coleta de material cervical. Em pacientes virgens, caso o
exame seja necessário, podemos utilizar um equipamento de calibre menor. A figura 1 abaixo
evidencia os diferentes tamanhos de espéculo, enquanto a figura 2 representa a forma de
introdução do equipamento.

Figura 1. Espéculo vaginal. Fonte: Ginecologia de Williams 2ª edição

107 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Ginecológica

Figura 2. Espéculo vaginal. Fonte: Rotinas em Ginecologia 6ª edição

# Toque vaginal: Também realizado com a paciente em posição ginecológica. Permite avaliar
as características das paredes vaginais, do colo e do corpo uterino. Pode ser realizado de forma
unidigital (quando somente o dedo indicador é introduzido na vagina) ou bidigital (utilizando
dedos indicador e médio). O exame bimanual, por sua vez, realizado com a outra mão apoiada
sobre o hipogástrio, auxilia na avaliação do posicionamento e tamanho do útero, além dos
anexos.

A B

Figura 3. Avaliação pélvica e posicionamento uterino. Fonte: Ginecologia de Williams 2ª edição.

108 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Ginecológica

Figura 4. Toque vaginal bimanual. Fonte: Ginecologia de Williams 2ª edição.

Toque retal

Não é essencial no exame físico obstétrico, mas pode ser necessário em condições específicas.
Um exemplo clássico é a avaliação do acometimento de paramétrio na neoplasia de colo uterino.
Também pode ser realizado o toque retal e vaginal combinados, conforme caracterizado na
figura abaixo.

Devemos ter cautela e não usar a mesma luva para realizar vaginal após a avaliação retal, ok?

Figura 5. Toque retal e vaginal combinados. Fonte: Ginecologia de Williams 2ª edição.

109 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Ginecológica

Para finalizar, é aconselhável, sempre que possível, realizar o exame ginecológico acompanhado
de outro profissional da saúde.

Além disso, não se esqueçam de que, na maioria das vezes, o ginecologista é o único médico
que a paciente procura periodicamente. Assim, é fundamental que a consulta ginecológica
seja o mais completa possível!

Até a próxima!

REFERÊNCIAS
1. Tratado de Ginecologia da Febrasgo 2019

2. Ginecologia de Williams 2ª edição

3. Rotinas em Ginecologia 6ª edição

110 Índice
SEMIOLOGIA E
PROPEDÊUTICA
OBSTÉTRICA
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Obstétrica

O tema de hoje é semiologia e propedêutica obstétrica! É fundamental que todos os médicos


tenham conhecimento básico sobre esse assunto, a fim de garantir bom atendimento das
gestantes no pré-natal ou no setor de urgência e emergência!

Nos próximos parágrafos falaremos sobre as modificações fisiológicas do organismo materno


e também sobre a consulta obstétrica, com ênfase na anamnese e exame físico da paciente
gestante. Para facilitar a compreensão, iremos dar maior ênfase no atendimento obstétrico
ambulatorial, tudo bem? Vamos juntos?

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DO ORGANISMO MATERNO

Durante a gestação, com objetivo de adaptar-se ao desenvolvimento fetal, o organismo


feminino passa por uma série de mudanças anatômicas e bioquímicas. Conhecer essas
modificações fisiológicas é de extrema importância para que futuramente possamos
diferenciar os quadros fisiológicos dos patológicos e instituir o tratamento mais adequado.

Durante anamnese e exame físico obstétrico você será capaz de notar na prática essas
alterações, então nada mais justo do que uma breve revisão sobre esse tópico, não é mesmo?

Vamos então revisar as seguintes modificações:

• Cutâneas

• Hematológicas

• Cardiovasculares

• Osteoarticulares

• Renais

• Respiratórias

• Gastrointestinais

• Referentes ao sistema reprodutor

Modificações cutâneas

Dentre as principais alterações cutâneas, podemos citar:

• Desenvolvimento de estrias em razão do estiramento na pele;

• Alterações vasculares como eritema e telangiectasias, secundárias principalmente ao


aumento do estrogênio;

• Alterações pigmentares com desenvolvimento da linha nigra e de cloasma, que podem


aumentar de acordo com a exposição solar.

112 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Obstétrica

Figura 1. Modificações cutâneas no organismo materno. Fonte: Zugaib Obstetrícia 3ª edição.

Modificações hematológicas

Podemos citar como principais modificações hematológicas:

• Aumento no volume plasmático em até 50%, resultando em hipervolemia e diminuição


da viscosidade sanguínea. A hipervolemia tem o objetivo de suprir as demandas fetais e
garantir reserva para perdas importantes no momento do parto;

• Aumento em 20-30% do número de hemácias;

• Em razão da hemodiluição (aumento mais significativo do volume plasmático em


comparação com o número de hemácias), a gestante poderá apresentar a anemia
fisiológica da gestação. Valores de hemoglobina são considerados normais quando acima
de 11 g/dl;

• Aumento no número de leucócitos, sendo aceitável valores de até 15.000/mm³ durante a


gravidez, sem aumento de formas jovens;

• Redução leve na contagem de plaquetas;

• Aumento no níveis de fibrinogênio e d-dímero;

• Aumento na atividade dos fatores de coagulação VII, VIII, X e do fator de Von Willebrand;

• Diminuição dos fatores de coagulação XI e XIII;

• Aumento da resistência dos anticoagulantes endógenos e diminuição da proteína S e do


cofator da proteína C;

• As alterações no sistema de coagulação produzem um estado de hipercoagulabilidade,


aumentando o risco de eventos tromboembólicos.

113 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Obstétrica

Modificações cardiovasculares

No sistema cardiovascular, notamos as seguintes alterações:

• Elevação do diafragma e deslocamento do coração para cima e para a esquerda;

• Aumento frequência cardíaca a partir da 4ª semana de gestação;

• Aumento do débito cardíaco em até 45-50%;

• Redução da resistência vascular periférica, especialmente nas primeiras 20 semanas;

• Redução da pressão arterial, especialmente a diastólica;

• A presença de sopros sistólicos é frequente, decorrente da síndrome hipercinética e da


redução da viscosidade sanguínea.

Modificações osteoarticulares

Dentre as principais modificações osteoarticulares, podemos citar:

• Alteração centro gravidade da gestante para a frente, devido ao peso adicional do útero,
feto, anexos e mamas. Para compensar tal alteração, a gestante assume a postura de
lordose lombar e amplia sua base de sustentação, com aparecimento da marcha típica
“marcha anserina”

• Frouxidão ligamentar em todas as articulações do organismo materno, mais expressiva


nas articulações sacroilíacas, sacrococcígeas e na pube.

Figura 2. Mudança no centro de gravidade da gestante. Fonte: Zugaib Obstetrícia 3ª edição.

114 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Obstétrica

Modificações renais

Dentre as principais alterações no sistema renal, podemos citar:

• Aumento na taxa de filtração glomerular em até 50%;

• Glicosúria, em função da menor da capacidade de reabsorção tubular de glicose e do


aumento na filtração glomerular;

• Estase urinária devido ação da progesterona na musculatura lisa, determinando


relaxamento e redução da peristalse do ureter;

• Compressão mecânica do ureter pelo útero gravídico, especialmente à direita


(dextrorrotação do útero gravídico), podendo determinar dilatação das vias urinárias
(hidronefrose).

Modificações respiratórias

Dentre as principais alterações respiratórias, merecem destaque as seguintes:

• Redução do volume residual pulmonar;

• Aumento do volume corrente e da ventilação-minuto;

• Redução da capacidade residual funcional;

• A frequência ventilatória e a capacidade vital não se alteram;

• Nas vias aéreas superiores ocorre vasodilatação, edema da mucosa, congestão nasal e
aumento das secreções.

Modificações gastrointestinais

Com relação às modificações no trato gastrointestinal, podemos afirmar que:

• O útero gravídico desloca estômago e intestino;

• Por ação da progesterona, o peristaltismo fica lentificado.

Modificações no sistema reprodutor

Por fim, em relação às modificações locais no sistema reprodutor, destacamos:

• Crescimento uterino: Antes da gestação o útero é um órgão pélvico. Com o estímulo


hormonal, ocorre hiperplasia e hipertrofia das células uterinas. O crescimento geralmente
é direcionado para a direita, caracterizando a dextrorrotação uterina. Seu crescimento
usualmente pode ser avaliado da seguinte forma:
° Com 12 semanas de gestação ele é palpável na altura da sínfise púbica;

115 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Obstétrica

° Com 20 semanas ele atinge a cicatriz umbilical;


° Com 40 semanas ele se aproxima do apêndice xifoide;

• Coloração violácea da vulva: secundária à hipervascularização e pigmentação, recebendo


o nome de sinal de Jacquemier- Chadwick;

• Coloração violácea da vagina: secundária à hipervascularização da mucosa local. Recebe


o epônimo de sinal de Kluge.

Algumas dessas alterações fisiológicas do organismo materno, especialmente as cutâneas e


as do sistema reprodutor podem ser identificadas ao exame físico. A tabela abaixo caracteriza
alguns sinais conhecidos na literatura e cobrados em provas que são sugestivos de gestação.

As alterações mamárias não foram enfatizadas neste texto, pois temos um Ebook exclusivo
para propedêutica das mamas, OK?

SINAL DESCRIÇÃO

Consistência elástica e amolecida do útero, especialmente


Sinal de Hegar na região ístmica, permitindo a flexão do corpo sobre o colo
uterino quando é realizado o toque vaginal bimanual

Sinal de Piskacek Crescimento assimétrico do útero no local de implantação ovular

Sinal de Osiander Percepção do pulso da artéria vaginal ao toque vaginal

Preenchimento do fundo de saco vaginal pelo


Sinal de Nobile-Budin
útero gravídico, que assume o formato globoso

Tonalidade violácea da mucosa vaginal


Sinal de Kluge
em razão da hipervascularização local

Sinal de Jacquemier- Tonalidade violácea da região vulvar em razão


Chadwick da hipervascularização e pigmentação local

Tabela 1. Epônimos associados ao diagnóstico clínico de gestação

ANAMNESE OBSTÉTRICA

O objetivo da anamnese é obter informações detalhadas sobre o histórico clínico da paciente,


sinais ou sintomas apresentados, bem como antecedentes familiares. Podemos estruturar
nossa avaliação dos seguintes tópicos:

• Identificação e informações sociodemográficas

• Antecedentes clínicos pessoais

116 Índice
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Semiologia e Propedêutica Obstétrica

• Antecedentes clínicos ginecológicos ou obstétricos

• Antecedentes clínicos familiares

• História da gestação atual

Identificação e informações sociodemográficas

Informações referentes a nome, idade, raça, estado civil, profissão, religião, nacionalidade,
naturalidade e procedência são obtidas nesta etapa. Sabemos que esses dados são importantes
para a avaliação do risco gestacional.

Antecedentes clínicos pessoais

Nesta etapa devemos questionar as pacientes sobre a presença de comorbidades clínicas,


uso de medicamentos, alergias, vícios e hábitos de vida (sono, nutrição, atividade física). Vale
lembrar novamente que todos esses fatores são decisivos na avaliação do risco gestacional.
Uma gestante hipertensa, por exemplo, merece seguimento em pré-natal especializado.
Também devemos avaliar o histórico vacinal da paciente.

Antecedentes clínicos ginecológicos ou obstétricos

São relevantes informações como a data da última menstruação; características do ciclo


menstrual; uso prévio de método contraceptivo e histórico de gestações anteriores. Devemos
nos atentar para a nomenclatura obstétrica! Gesta: o sufixo “gesta” faz referência ao número
de gestações sem importar a duração ou o número de fetos de cada uma delas. Por exemplo,
consideramos como nuligesta a paciente que nunca engravidou e primigesta a paciente
que engravidou uma vez ou que está grávida (pela primeira vez) durante a consulta. A partir
da segunda gestação, a paciente pode ser considerada multigesta. Tudo bem, até aqui? O
sufixo “para”, por sua vez, diz respeito ao número de gestações na qual a paciente atingiu a
viabilidade fetal ou ultrapassou 20-22 semanas. A paridade não depende do número de fetos
ou da ocorrência de feto vivo ou porto.

Antecedentes clínicos familiares

Devemos questionar sobre a presença de comorbidades familiares que possam apresentar


caráter genético. São possíveis exemplos: neoplasias e malformações congênitas.

117 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Obstétrica

História da gestação atual

Até aqui já identificamos nossa paciente, reconhecemos possíveis riscos associados à gestação
e sabemos a sua paridade. Devemos então, neste momento, calcular a idade gestacional,
estimar a data provável do parto e identificar possíveis queixas / intercorrências presentes na
gestação atual.

O cálculo da idade gestacional pode ser realizado através da estimativa pela data da última
menstruação (DUM) ou pelo registro do primeiro ultrassom. Na prática essa conta é facilmente
realizada por aplicativos… mas na prova as coisas não são tão simples! Você vai precisar lembrar
dos conceitos básicos da matemática para não errar nenhuma questão...

A data estimada do parto pode ser inferida a partir da regra de Naegele:

• Para os dias: adiciona-se 7 dias ao primeiro dia da última menstruação

• Para os meses: subtraem-se 3 meses do mês da DUM nos casos posteriores a março OU
soma-se 9 nos meses anteriores a março

Por exemplo 1: DUM 05/11/2020

• Dias: 5 + 7 = 12

• Meses: 11 - 3 = 8

• Data provável do parto: 12/08/2021

Exemplo 2: DUM 27/01/2021

• Dias: 27 + 7 = 34 -> 31 dias (1 mês) + 3 dias

• Meses: 1 + 9 = 10

• Data provável do parto: 03/11/2021 (acrescentar 1 mês referente aos 31 dias)

• Note que a conta referente aos dias só poderá atingir 30-31 (a depender do mês). Da mesma
forma, a conta relativa ao mês só poderá alcançar 12. Quando ultrapassarmos esse limite,
deveremos acrescentar um 1 mês e/ou 1 ano.

As principais queixas apresentadas na gestação estão descritas na tabela abaixo. Devemos


sempre questionar as pacientes sobre queixas álgicas, alterações urinárias ou gastrointestinais,
perdas vaginais e percepção da movimentação fetal. Ok?

118 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Obstétrica

QUEIXAS

Náuseas e vômitos

Lombalgia

Pirose

Fadiga e sonolência

Constipação intestinal

Cefaleia

Leucorreia

Tabela 2. Principais queixas na gestação

EXAME FÍSICO

Podemos dividir o exame físico em avaliação geral e avaliação obstétrica.

Avaliação geral

É fundamental a avaliação dos seguintes parâmetros:

• Estado geral;

• Estado de hidratação;

• Coloração da pele e mucosa - corada x descorada, por exemplo;

• Presença de alterações fisiológicas cutâneas da gestação;

• Temperatura;

• Pressão arterial;

• Peso;

• Estatura;

• Cálculo do índice de massa corpórea;

• Ausculta cardíaca e respiratória;

• Exame das mamas;

• Exame abdominal;

• Avaliação das extremidades (edema, varizes, sinais de trombose venosa).

119 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Obstétrica

Avaliação obstétrica

Na propedêutica obstétrica, devemos considerar:

• Avaliação da altura uterina;

• Ausculta dos batimentos cardíacos fetais;

• Avaliação dos órgãos genitais externos;

• Avaliação dos órgãos genitais internos

# Avaliação da altura uterina: A medida da altura uterina permite a avaliação clínica do


crescimento fetal. Para ser realizada, a paciente deve assumir a posição em decúbito dorsal
horizontal. A medida é realizada com uma fita métrica colocada entre a sínfise púbica e fundo
uterino, conforme evidenciado na imagem abaixo. Existem gráficos próprios para acompanhar
a evolução da altura uterina durante a gestação.

Figura 3. Medida da altura uterina. Fonte: Zugaib Obstetrícia 3ª edição.

# Ausculta dos batimentos cardíacos fetais: A ausculta do batimento cardíaco fetal costuma
ser realizada com sonar Doppler a partir da 12ª semana de gestação. O valor de normalidade
varia entre 110-160 bpm.

# Avaliação dos órgãos genitais externos: O exame da vulva inclui a inspeção local, na tentativa
de identificar possíveis lesões ou secreções patológicas.

# Avaliação dos órgãos genitais internos: Inclui a avaliação da vagina, do colo uterino, do útero
e dos anexos.

120 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia e Propedêutica Obstétrica

• Especular: É o exame realizado com um instrumento denominado espéculo, com a


paciente em posição ginecológica, permitindo a avaliação das paredes vaginais e do colo
uterino. Devemos nos atentar para a presença de secreções patológicas ou lesões nessas
estruturas;

• Toque vaginal: Também realizado com a paciente em posição ginecológica. Permite avaliar
as características das paredes vaginais, do colo e do corpo uterino. Pode ser realizado de
forma unidigital (quando somente o dedo indicador é introduzido na vagina) ou bidigital
(utilizando dedos indicador e médio). Na gestação, nota-se que o colo uterino torna-se
amolecido. Com o avançar da idade gestacional, podemos avaliar também a presença de
dilatação cervical, apresentação fetal e integridade das membranas ovulares. O exame
bimanual, por sua vez, realizado com a outra mão apoiada sobre o hipogástrio, auxilia na
avaliação do posicionamento e tamanho do útero.

AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR

A título de curiosidade, em relação à propedêutica complementar, alguns exames são


solicitados de rotina na avaliação de pré-natal. Dentre eles, vale citar alguns principais:

• Tipagem sanguínea e fator Rh

• Hemograma

• Glicemia de jejum

• Teste oral de tolerância à glicose com 75g entre 24 e 28 semanas

• Urinocultura e urina tipo I

• Sorologia para hepatite B

• Sorologia para toxoplasmose IgM e IgG

• Sorologia de sífilis

• Sorologia de HIV

• Ultrassonografia obstétrica

Para finalizar, depois da anamnese, exame físico e solicitação de exames complementares


pertinentes, é fundamental registrar os dados do atendimento médico no cartão de pré-natal.
Trata-se de um documento da gestante, o qual deve ser apresentado em todas as consultas!

REFERÊNCIAS
1. Tratado de Obstetrícia da Febrasgo 2019

2. Zugaib Obstetrícia 3ª edição

121 Índice
CIRURGIA

SEMIOLOGIA E
PROPEDÊUTICA
SEMIOLOGIA
OTORRINOLA-
RINGOLÓGICA
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Otorrinolaringológica

Assim como todas as áreas clínico-cirúrgicas, a semiologia em otorrinolaringologia é o principal


pilar para qualquer diagnóstico. A anamnese pode ser uma tarefa difícil pois muitas vezes as
queixas são pouco objetivas e os pacientes confundem sintomas com diagnósticos. É comum
o Otorrinolaringologista ouvir bordões culturais, como se toda tontura fosse labirintite; dor
de cabeça, sinusite; e dor de garganta, amigdalite. O contrário também ocorre, muitas vezes
alguma alteração de exame físico aparece sem que o paciente tenha queixa em relação àquele
achado. Por isso o correto diagnóstico passa invariavelmente pela interpretação conjunta da
anamnese e do exame físico.

A anamnese do otorrino não difere das outras áreas. É fundamental a correta interpretação da
queixa principal e sua história pregressa, bem como a investigação de outros sistemas, pois a
queixa pode ser uma manifestação de algo mais complexo. O questionamento sobre hábitos,
fatores de exposição e história laboral também são cruciais em Otorrinolaringologia.

SEMIOLOGIA NASAL

A semiologia em rinologia é especialmente complexa. Apesar da gama de sintomas não ser


vasta, a dificuldade está em tentar compreender até que ponto aquele sintoma de fato se
origina da cavidade nasal e se de fato interfere na qualidade de vida do paciente, tendo em
vista a falta de mecanismos objetivos de mensuração dos sintomas apresentados.

Os dois sintomas cardinais em rinologia são a rinorreia e a obstrução nasal. Eles podem
aparecer agudamente, como num quadro de rinossinusite aguda ou mesmo serem crônicos,
em casos de rinite alérgica, por exemplo. A obstrução nasal é muitas vezes referida pelo
paciente como falta de ar ou sensação de sufocamento. O desafio aqui é compreender o que
o paciente quer de fato dizer com aquela queixa e se de fato a origem dos sintomas é nasal.
A obstrução nasal também é uma queixa de difícil quantificação. Pacientes com hipertrofia
de cornetos nasais ou desvios septais obstrutivos, que não apresentam queixa, ou pacientes
que se queixam de obstrução nasal intensa com exame físico quase normal, são rotina na
vida do Otorrinolaringologista. Desta forma, tenta-se reduzir a probabilidade de interpretação
errônea esmiuçando ao máximo a queixa. Tempo de duração, horário do dia, intermitência,
lateralidade, hábitos que pioram ou melhoram, concomitância com outros sintomas e
progressão são a chave para entender este sintoma.

Por exemplo: em um paciente que se queixa de obstrução nasal fixa à esquerda sem progressão
pensa-se em um desvio de septo nasal. Um paciente que se queixa de obstrução nasal que
ora obstrui um lado, ora o outro pode estar simplesmente queixando do chamado ciclo nasal,
fisiológico, e sentido por apenas uma pequena parte dos pacientes, exacerbado em algumas
condições inflamatórias. Em crianças, quando a queixa não é clara, principalmente advinda de
um acompanhante, o sintoma será descrito como um hábito, como respiração oral, e pode dar
uma pista sobre a obstrução nasal.

A Rinorreia, também chamada de coriza, muitas vezes vem associada à queixa de obstrução
nasal. A definição de coloração, espessura, sazonalidade e lateralidade pode ajudar no

124 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Otorrinolaringológica

diagnóstico. Um paciente com rinorreia hialina após exposição a alérgenos provavelmente é


portador de rinite. Se esta rinorreia é unilateral, posicional e aliada a um histórico de trauma,
podemos estar diante de uma rinoliquorreia, originada de uma fístula liquórica nasal.

Espirros e prurido nasal geralmente são sintomas de cunho irritativo e inflamatório, que podem
ser alérgicos ou não. Nesses casos, as informações ambientais e laborais são importantes para
tentar estabelecer uma relação.

A dificuldade de sentir cheiro (hiposmia) ou sensação de cheiro ruim (cacosmia) geralmente


estão associadas às patologias inflamatórias intranasais, porém, ganhou-se agora muita
ênfase nos últimos meses pela infecção pelo COVID-19, quando muitos pacientes se queixam
de hiposmia súbita sem apresentar grandes outros comemorativos nasais inflamatórios.

A cefaleia é um sintoma que muitos pacientes erroneamente associam ao quadro de


rinossinusite. Na maioria das vezes ela não é um sintoma de origem nasal. É comum a
confusão da dor ou pressão facial que aparece em quadros mais exacerbados de rinossinusite
com a cefaleia em si. Dificilmente o paciente com rinossinusite aguda apresentará cefaleia,
principalmente como sintoma único ou associado a frustros sintomas nasossinusais.

O exame físico nasal começa pela inspeção. A avaliação global da face pode trazer dicas sobre
obstrução nasal crônica, principalmente em crianças. Respiradores orais podem apresentar
hipoplasia maxilomandibular, face alongada, alterações de mordida, palato ogival. É comum
nos alérgicos a presença da Prega de Dennie-Morgan nas pálpebras inferiores e a presença de
uma linha no dorso nasal, conhecida como saudação alérgica. Na inspeção dinâmica, com o
paciente praticando uma inspiração forçada, pode-se notar colabamento da fossa nasal, dando
pista para uma insuficiência de válvula. Em casos de trauma, a inspeção da pirâmide nasal na
procura por afundamentos ou lateralidades é importante, principalmente comparando com
alguma imagem prévia. A palpação nasal também é especialmente válida nestes casos, com
possíveis crepitações e desnivelamentos.

Legenda: alterações dentárias típicas do respirador oral. Fonte: Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Capítulo 81.

125 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Otorrinolaringológica

Apesar de muito praticada, a percussão dos seios da face tem pouco valor preditivo, é
inespecífica e auxilia em quase nada para o diagnóstico. A rinoscopia anterior é a principal chave
do exame físico nasal. É com ela que se avalia de fato a presença de desvios septais, turgidez
da mucosa, presença de secreção, coloração e tamanho dos cornetos inferiores, presença ou
não de lesões obstrutivas, entre outras anormalidades. Evidente que ela tem seu valor limitado
à região anterior do nariz. Com uma boa luz até é possível avaliar o trajeto até a rinofaringe,
porém, para uma avaliação mais completa lança-se mão de exames complementares, como
a endoscopia nasossinusal.

A

Legenda: rinoscopia anterior evidenciando hipertrofia de corneto inferior.
Fonte: Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Capítulo 54.

SEMIOLOGIA OTOLÓGICA E VESTIBULAR

A anamnese otológica se resume basicamente a cinco queixas principais: hipoacusia,


otalgia, otorreia, tontura e zumbido. A otalgia é uma queixa clássica dos eventos agudos.
Ela também pode ser confundida com outros sintomas, como dor na articulação têmporo-
mandibular e cefaleias. Na maioria dos casos, as otalgias estão relacionadas a quadros agudos
e inflamatórios. Nos quadros crônicos, nos quais a maioria dos pacientes têm a membrana
timpânica perfurada, a otalgia não é um sintoma comum. Nesses casos, o principal sintoma
será a otorreia, popularmente descrita pelo paciente como “ouvido vazando”. A otorreia pode
aparecer em quadros supurativos agudos ou, mais comumente, em casos crônicos, de forma
intermitente.

A queixa de hipoacusia muitas vezes vem associada à de zumbido, visto que a primeira é a sua
principal causa. A hipoacusia pode ser súbita, como nos casos de trauma acústico ou surdez
súbita, ou crônica, com progressão lenta, como nas presbiacusias. No zumbido, geralmente o
jargão utilizado é um “barulho dentro da cabeça, zoeira ou chiado”. Normalmente ele é mais

126 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Otorrinolaringológica

comum no período noturno, pela falta de ruído competidor no ambiente. O zumbido pode
ser classificado como rítmico ou não rítmico, objetivo ou subjetivo. Os zumbidos rítmicos
são aqueles que têm uma frequência contínua, que pode ter associação com a frequência
cardíaca ou não. Os não rítmicos, mais comuns, são aqueles contínuos, geralmente causados
por alterações auditivas.

No exame físico, já na inspeção, é possível avaliar possíveis alterações em pavilhão auditivo


que possam sugerir a o diagnóstico, ou mesmo sinais indiretos, como a paralisia facial
periférica. Na otoscopia, no conduto pode-se notar alterações como acúmulo de cerume,
edema, hiperemia, descamação ou mesmo otorreia. A avaliação da membrana timpânica é
fundamental, portanto, em caso de obstruções simples como cerume, o ideal é sua remoção
para que se possa ver a membrana totalmente, em busca de alterações. A membrana timpânica
normalmente tem uma coloração perlácea, reflexiva à luz, mas com alguma transparência, o
que permite a visualização de estruturas do ouvido médio ou alterações, como secreções ou
algumas alterações ossiculares. A integridade da membrana pode estar comprometida nos
casos de trauma ou mais comumente em casos de otite média crônica. Ela também pode
estar espessada, retraída ou abaulada, hiperemiada ou até arroxeada. Nos casos de otite média
aguda, por exemplo, a membrana estará geralmente abaulada, hiperemiada, com presença
de líquido retrotimpânico.

Legenda: otoscopia evidenciando abaulamento, hiperemia e nível retrotimpânico, otite média aguda.
Fonte: Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Capítulo 14.

127 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Otorrinolaringológica

Legenda: otoscopia evidenciando perfuração central da membrana timpânica.


Fonte: em Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Capítulo 15.

Para avaliação objetiva da hipoacusia, antes mesmo da realização de exames complementares,


é possível utilizar um diapasão para ter uma pista diagnóstica. Os testes de Rinne e Weber
são geralmente complementares e auxiliam na definição do tipo de perda auditiva e o lado
acometido.

Legenda: teste de Weber. Fonte: Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Capítulo 4.

128 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Otorrinolaringológica

A tontura poderia facilmente se tornar um livro inteiro de semiologia. A investigação de um


quadro de tontura demanda tempo e paciência. A investigação precisa ser minuciosa, assim
como o exame físico direcionado. Habitualmente os pacientes são enquadrados como tendo
“labirintite” sem ao menos saber o que isso significa. A labirintite verdadeira é algo raro, intenso
e grave. As pessoas que dizem ter labirintite não a tem, podem até em algum momento ter
tido, e muitas delas têm tampouco sintoma de origem vestibular.

Inicialmente é necessário compreender o que o paciente entende por tontura. Muitas vezes
a queixa de desequilíbrio é confundida com a vertigem, ou mesmo sintomas de pré-síncope
ou hipoglicemia. É crucial uma anamnese detalhada sobre como ocorre, qual a sensação do
paciente, o tempo real de duração, o que é fator desencadeante, o que é fator de piora, o que
melhora, posição em que ocorre, presença ou não de sintomas associados, associação ou não
com hábitos, presença ou não de zumbido ou hipoacusia nas crises, entre outros. A gama de
diagnósticos é ampla nos casos de tontura e as queixas podem vagas, como “sensação de
cabeça leve” podem dificultar a anamnese.

O exame físico otoneurológico também é vasto. Para a queixa de tontura, é crucial inicialmente
diferenciar a origem central da periférica, principalmente nos casos agudos. Para isso, utiliza-
se um protocolo bem estabelecido chamado HINTS, que é a associação do Head Impuse Test,
avaliação de Nistagmo (espontâneo e semi-espontâneo) e pesquisa do desvio Skew. Além
deles, é importante a avaliação do equilíbrio pelos testes de Romberg e Unterberger, avaliação
dos outros pares cranianos e avaliação com testes posicionais como o Dix-Hallpike e o Head
Roll Maneuver.

A B

Legenda: manobra de Dix-Hallpike. Fonte: Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Capítulo 4.

129 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Otorrinolaringológica

SEMIOLOGIA FARINGOLARÍNGEA

Na anamnese faringolaríngea deve ser realizada de uma maneira bastante minuciosa,


principalmente pois o paciente reconhece os sintomas como sendo originários da “garganta”.
De fato são órgãos próximos e com fisiologias correlacionadas, porém, os diagnósticos podem
ser completamente distintos.

A queixa de odinofagia é muito comum. E ela pode ter várias etiologias, desde faringoamigdalites
até a respiração oral noturna causando ressecamento da mucosa oral. Uma anamnese bem
feita, entendendo o tempo de duração, momento do dia, associação com outras queixas
inflamatórias ou hábitos como tabagismo, pode auxiliar no diagnóstico. No exame físico é
comum a avaliação somente das tonsilas palatinas, porém, o exame físico de toda a cavidade
oral é essencial, com avaliação de estados de dentição, presença de trismo, alterações de
mucosa jugal, alterações de língua e parede posterior da faringe.

A avaliação das tonsilas passa pela avaliação do tamanho, segundo a classificação de Brodsky
e avaliação de possíveis alterações como assimetrias, hiperemias e possíveis lesões. É comum
a confusão de exsudato purulento de uma amigdalite aguda com caseum nas criptas
amigdalianas.

Legenda: Classificação de Brodsky. Fonte: Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Capítulo 78.

130 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Otorrinolaringológica

Legenda: faringotonsilite crônica caseosa. Fonte: Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Capítulo 80.

Algumas outras queixas também são comuns, como pigarro, tosse e sensação de globus
faríngeo. São queixas geralmente crônicas, muitas vezes associadas ao refluxo faringolaríngeo,
porém, descritas pelo paciente como se houvesse um “corpo estranho na garganta”. Essa
queixa pode ou não estar associada à disfonia. Assim como a tontura, a disfonia poderia ser
um livro a parte apenas dedicado a ela.

A investigação das alterações vocais passam por uma anamnese detalhadíssima que aborda
desde a percepção subjetiva do paciente sobre a própria voz até a avaliação perceptiva
da voz realizada pelo médico, na tentativa de classificar o tipo e intensidade da disfonia.
Tradicionalmente, utilizam-se parâmetros como percepção global da voz (rouquidão), grau de
soprosidade, instabilidade, aspereza, astenia e tensão. São fundamentais informações como
tempo de início, duração, correlações clínicas, fatores de alívio ou agravo, hábitos, esforço vocal
(laboral ou lazer), presença de dispneia ou estridor associados e questionamentos acerca de
deglutição, como engasgos ou tosse.

O exame físico faringolaríngeo passa invariavelmente pela palpação cervical. Ela deve ser
realizada em busca de alterações como nódulos, lesões, adenomegalias, abaulamentos. A
pesquisa por achados suspeitos de malignidade nos casos de adenomegalia, por exemplo,
é fundamental na suspeita de tumores de cabeça e pescoço. Linfonodos palpáveis, grandes,
rígidos, fixos a planos profundos são classicamente suspeitos. A avaliação laríngea até pode
ser realizada pela laringoscopia indireta com uso do Espelho de Garcia, porém, atualmente,
o uso de endoscópios rígidos ou flexíveis tem tomado o espaço, para garantir uma avaliação
mais precisa.

131 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Otorrinolaringológica

Legenda: níveis das cadeias linfonodais cervicais. Fonte: Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Capítulo 138.

Tendo em vista todo o rol de sintomas em otorrinolaringologia e suas nuances, este breve
resumo mostrou apenas os tópicos mais importantes da prática clínica. O aprofundamento
em cada um deles é importante não só para o especialista como também para o médico
generalista.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
1. PIGNATARI, SSN.; ANSELMO-LIMA, WT. (Coord.). Tratado de Otorrinolaringologia. 3. Ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2018.

132 Índice
SEMIOLOGIA
ORTOPÉDICA
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Ortopédica

Galera, todo mundo lembra que o exame físico ortopédico é sistematizado em 5 etapas?
Vamos recordar?

1. INSPEÇÃO

O ato de inspecionar trata-se de observar o membro do paciente a fim de detectar alterações


visíveis. Ex.: tumorações, abaulamentos, deformidades, alterações vasculares, etc. Vejam essa
imagem da inspeção frontal da coluna cervical:

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

2. PALPAÇÃO

A palpação é uma das etapas mais importantes no exame físico ortopédico, onde vamos,
através do tato, detectar anormalidades nas estruturas anatômicas ortopédicas: ossos,
músculos, tendões, ligamentos, vasos sanguíneos etc. Vejam a imagem da palpação da coluna
cervical:

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

134 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Ortopédica

3. AMPLITUDE DE MOVIMENTO

A avaliação da amplitude de movimento de um segmento ortopédico é uma fase da


propedêutica exclusiva do aparelho locomotor. Trata-se da avaliação da mobilidade articular,
que é mensurado em graus. Veja a avaliação da amplitude de movimento cervical:

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

4. EXAME NEUROLÓGICO

Faz parte do exame físico ortopédico avaliar a função neurológica do membro através da
mensuração da força motora, sensibilidade e reflexos. Veja o exemplo da avaliação neurológica
da coluna cervical examinando a raiz nervosa de C5 (sensibilidade lateral do braço, força
motora do deltoide e bíceps braquial e reflexo bicipital)

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

135 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Ortopédica

5. TESTES ESPECIAIS

E os testes especiais, galera? Estão lembrados que várias doenças ortopédicas são
diagnosticadas de maneira clínica através de testes especiais? Vamos recordar alguns muito
cobrados?

MÃO

Teste de TYNEL

Trata-se da percussão na região volar do punho na topografia do nervo mediano. Se houver


neuropatia compressiva (síndrome do túnel do carpo) haverá hiperestesia (choque) na região
inervada por esse nervo.

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

COTOVELO

Teste de COZEN

Teste para diagnóstico da epicondilite lateral do cotovelo. Como é realizado? com o cotovelo
em 90 graus de flexão e o antebraço em pronação, pede-se ao paciente que faça extensão
ativa do punho contra a resistência que será imposta pelo examinador. O teste será positivo
quando o paciente referir dor no epicôndilo lateral.

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

136 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Ortopédica

OMBRO

Teste de JOBE

Lembram da síndrome do manguito rotador? Processo inflamatório-degenerativo dos tendões


do supraespinhoso, infraespinhoso, redondo menor e subescapular no ombro? O teste de
jobe detecta o acometimento do tendão do supraespinhoso. Como é mesmo? Membro
superior em rotação interna, solicita-se ao paciente para elevar o braço contra a resistência do
examinador. Se houver dor/fraqueza é sugestivo da tendinopatia do supraespinhoso.

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

COLUNA LOMBAR

Teste de LASÉGUE

Esse não dá para esquecer, né, pessoal? Teste que reproduz o pinçamento das raízes do
nervo ciático em sua descendência a partir da coluna lombar. Paciente em decúbito dorsal,
o examinador eleva o membro inferior a ser testado observando se há acentuação da dor
irradiada no trajeto do ciático. Se sim, teste +.

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

137 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Ortopédica

QUADRIL

Teste de PATRICK ou FABERE

Outro clássico, né pessoal? Paciente em decúbito dorsal, o examinador posiciona o membro


inferior a ser testado na posição de 4 dobrado sobre o joelho contra-lateral, e força o joelho do
lado examinado para baixo. Atenção no local da dor referida pelo paciente. Se for ANTERIOR,
sugere alguma patologia da articulação coxo-femora. Se for POSTERIOR, sugere patologia da
sacro-ilíaca.

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

JOELHO

Teste de LACHMAN

O clássico teste para avaliar as rupturas do ligamento cruzado anterior do joelho. Paciente
em decúbito dorsal, joelho flexionado em 30 graus. O examinador, com uma mão, estabiliza o
fêmur, com a outra mão, traciona a tíbia em sentido anterior. Se houver uma lassidão da tíbia,
transladando anterior, isso sugere ruptura do LCA.

Fonte: Exame físico em ortopedia, 3 edição.

138 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia Ortopédica

REFERÊNCIAS
1. VOLPON, José Batista. Semiologia ortopédica. Medicina (Ribeirão Preto), v. 29, n. 1, p. 67-79,
1996.

139 Índice
SEMIOLOGIA
DO ABDOME
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Abdome

Galera, dor abdominal é uma das queixas que mais vemos pacientes chegando no pronto
socorro. É dor na parte da cima do estômago, no pé da barriga, nela toda. É dor que não acaba
mais. E para a gente saber cuidar bem desses pacientes, precisamos entender exatamente o
que estamos procurando quando formos examinar. Então, a propedêutica abdominal entra
em cena!

Para começarmos temos que entender que o abdome é dividido em nove quadrantes,
conforme a imagem abaixo.

1. Hipocôndrio direito : fígado, vesícula biliar, rim direito;

2. Epigástrio: lobo esquerdo do fígado, piloro, duodeno, cólon transverso e cabeça e corpo do
pâncreas;

3. Hipocôndrio esquerdo: baço, estômago, rim esquerdo, cauda do pâncreas;

4. Flanco direito : cólon ascendente, rim direito e jejuno;

5. Mesogástrio): duodeno, jejuno, íleo, aorta abdominal, mesentério, linfonodos;

6. Flanco esquerdo: cólon descendente, jejuno, íleo;

7. Fossa ilíaca direita: ceco, apêndice, ovário e tuba uterina direita;

8. Hipogástrio: bexiga, útero, ureter;

9. Fossa ilíaca esquerda: cólon sigmoide, ovário e tuba esquerda.

A partir daí vamos ter um guia para nosso exame. Lógico que vamos nos guiar pela história
clínica e antecedentes do paciente, mas examinar corretamente, vai nos dizer em qual
órgão pensar e até direcionar qual exame pedir.

141 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Abdome

INSPEÇÃO

Como todo exame físico iniciamos pela inspeção, ela vai ser feita de forma estática e dinâmica.
Na inspeção estática vamos verificar forma, volume e alterações cutâneas do abdome. Na
inspeção dinâmica, pedimos para o paciente realizar uma manobra de valsalva, buscando
surgimento de abaulamentos, sugerindo hérnias, por exemplo.

• Forma: Na forma vamos avaliar como o abdome se apresenta. Plano, globoso (as custas
de adiposidade ou ascite), escavado (síndromes consuptivas), Batráquio (pós-bariátrica)
ou gravídico.

• Abaulamentos: Vamos procurar massas abdominais, como neoplasias ou hérnia da


parede abdominal, volumosas, que não precisam de manobras de esforço para aparecer.

• Circulação colateral: veias visíveis na parede abdominal, que pode ser do tipo cabeça de
medusa( circulação portal) ou veia cava (circulação mais central).

• Lesões cutâneas: Hematomas, sinais de sangramentos intra-abdominal ou doenças


complicadas, como o sinal de Cullen e o sinal de Turner

Abdome globoso por adiposidade

Abdome escavado

142 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Abdome

Abdome em Batráquio

Abdome Gravídico

Circulação colateral em cabeça de medusa

143 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Abdome

SInal de Cullen

Sinal de Grey Turner

AUSCULTA

Aqui o exame fica um pouco diferente do habitual pessoal. Normalmente escutamos a


máxima - Inspeção, Palpação, Percussão e Ausculta - examinando um tórax por exemplo,
mas no abdome não podemos palpar e percutir antes de auscultar pois poderíamos estar
falseando algum sinal!

Podemos seguir a sistematização de ausculta pelos quadrantes que definimos acima,


ou compilados em quatro maiores, para facilitar e agilizar. Devemos gastar um tempinho
escutando cada um para termos certeza de que escutamos certinho ou então que não
escutamos nada!

Na ausculta vamos procurar:

• Presença de Ruídos Hidro Aéreos, sinal de que peristalse está funcionante e propulsiva na
medida correta,;

• Peristaltismo de luta: ruídos aumentados, sugerindo obstrução;

144 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Abdome

• Íleo paralítico: ausência total de ruídos;

• Soprosna linha média: sugerindo aneurismas, por exemplo

PALPAÇÃO

A palpação abdominal é a arte do cirurgião experiente. São anos palpando barrigas e barrigas
para saber exatamente o que sentir em cada quadrante. Aí vamos dividir em palpação
superficial, na qual vamos avaliar a integridade da parede abdominal, podendo encontrar
lesões superficiais ou hérnias, e palpação profunda, avaliando nossos pontos de interesse
com os famosos pontos dolorosos.

• Epigástro: A dor a palpação epigástrica sugere doenças dispépticas e úlcera gástrica, ela
é bem comum e se associada a um abdome endurecido (em tábua) podemos estar diante
de uma abdome agudo perfurativo.

• Hipocôndrio Direito: Aqui temos o famoso ponto cístico, e se na palpação profunda dele
o paciente realizar uma pausa inspiratória, teremos o glorioso sinal de Murphy, sugestivo
de colecistite.

Legenda: Palpação do ponto cístico.

• Fossa Ilíaca Direita: Entre o terço médio e o terço distal de uma linha imaginária entre
a cicatriz umbilical e a espinha ilíaca ântero superior, temos o ponto de Mcburney, se
o paciente tiver dor à descompressão brusca nesse local, temos o sinal de Bloomberg,
sugestivo de Apendicite Aguda.

145 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Abdome

Legenda: Esquema do Ponto de Mcburney.

• Fossa Ilíaca Esquerda: Nessa região temos onde se pronunciam as dores típicas de
doença diverticular, e em alguns casos de diverticulite aguda, podemos até palpar
abscessos locais.

Podemos palpar também visceromegalias, então se sentirmos alguma coisa maciça saindo
por baixo da costela direita, teremos uma hepatomegalia. E se for algo vindo do flanco
esquerdo para cicatriz umbilical, se trata de um baço aumentado.

PERCUSSÃO

Na percussão, o que vamos procurar é um hipertimpanismo ou uma macicez. Fazemos isso


por meio da técnica dígito digital, ou seja, vamos percutir com um dedo apoiado no abdome
e outro exercendo movimentos de batuque com o dedo indicador.

• Baço e Fígado são maciços na percussão.

• Vísceras ocas são timpânicas a percussão.

• Macicez em outras regiões pode indicar massas intra-abdominais e ascite (macicez móvel
com o decúbito)

• O sinal do piparote é realizado com o paciente apoiando a região lateral de sua mão na linha
média do abdome, e o examinador realizando uma batida no flanco, a qual é transmitida
para o flanco contralateral pela presença de líquido livre abdominal.

• Hipertimpanismo pode indicar obstrução

146 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Semiologia do Abdome

REFERÊNCIAS:
1. https://www.thelancet.com/doi/story/10.1016/pic.2018.10.16.107370

2. https://doi.org/10.1053/j.gastro.2017.05.032

3. https://doi.org/10.12968/pnur.2013.24.3.141

4. UFJF: ROTEIRO AULA PRÁTICA- EXAME FÍSICO DO SISTEMA DIGESTÓRIO http://www.


famaz.edu.br/portal/wp-content/uploads/2017/08/05-Abdome.pdf

147 Índice
LESÕES
ELEMENTARES
DE PELE
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Lesões Elementares de Pele

Pode parecer muito básico, mas esse é o fundamento de toda a dermatologia! Se você for
capaz de olhar para uma lesão e fazer a descrição correta, muitas vezes conseguirá fazer o
diagnóstico clínico só com base nessa informação!

Um exemplo? Se nós falarmos que um paciente tem vesículas agrupadas sobre uma base
eritematosa no lábio, qual o diagnóstico? Herpes simples!

Mas percebam no exemplo anterior que descrevemos vesículas (lesão elementar) + eritema
(lesão elementar) + agrupadas (padrão de distribuição) + lábio (localização anatômica). Outra
informação importante em alguns casos é o que chamamos de “forma, contorno e dimensões”,
como abordaremos no final deste tema.

E é esse conjunto de informações que nos permite o diagnóstico correto em dermatologia!

Mas vocês sabem o que são vesículas? E qual a definição de eritema? Esse é o foco deste
material, esclarecer o que são as lesões elementares e dar exemplos da vida prática!

Vamos apresentar em tabelas AS PRINCIPAIS LESÕES ELEMENTARES e citar alguns exemplos.


E para ficar mais divertido, fizemos alguns esquemas para colorir, para que você possa usar
este material para relaxar enquanto estuda estes conceitos!

CLASSIFICAÇÃO DEFINIÇÃO IMAGEM

Alteração de coloração da pele, sem


alteração do relevo.

MANCHA OU A) Vásculo-sanguíneas
MÁCULA Ex: eritema (mancha vermelha na pele
causada por vasodilatação).
B) Pigmentares
Ex: nevos melanocíticos (“pintas”)

Lesão sólida, circunscrita, elevada, < 1 cm


em tamanho.
PÁPULA

Ex.: rosácea pápulo-pustulosa.

149 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Lesões Elementares de Pele

Lesão sólida, circunscrita, elevada, > 1 cm


em tamanho.
PLACA

Ex.: psoríase.

Lesão sólida, circunscrita, saliente ou


não, de 1 a 3 cm em tamanho (muitas
vezes mais palpável do que visível).

Ex.: lipoma.

Variantes:
NODOSIDADE OU TUMOR: Formação
sólida, circunscrita, saliente ou não,
NÓDULO
maior que 3 cm.

Ex.: câncer de pele não melanoma


(como os carcinomas basocelulares).

GOMA: Nódulo que se liquefaz na


porção central e pode ulcerar, eliminan-
do material necrótico.

Ex.: (clássico para a prova): Esporotricose.

Lesão sólida, pedunculada ou com as-


pecto de couve-flor, branco-avermelha-
da, que sangra facilmente.
VEGETAÇÃO

Ex.: condilomas (causados pelo HPV na


região genital)

Lesão sólida, elevada, de superfície dura,


VERRUCO- inelástica e amarelada.
SIDADE
Ex.: verrugas virais

150 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Lesões Elementares de Pele

Elevação < 1 cm de tamanho, contendo


líquido claro.
VESÍCULA

Ex.: Herpes simples labial.

Elevação circunscrita contendo líquido


BOLHA OU claro, > 1 cm.
FLICTENA
Ex.: pênfigos.

Elevação circunscrita < 1 cm de tamanho,


contendo pus.
PÚSTULA

Ex.: Acne vulgar.

Elevação efêmera, irregular na forma e


extensão, de cor variável (do branco ao
rosa), muito pruriginosa.

Ex.: Urticária (nestes casos, a lesão é


EDEMA
chamada de “urtica”).

Quando é mais PROFUNDO (e geral-


mente acomete pálpebras e lábios) =
ANGIOEDEMA

Formação circunscrita, de tamanho


variável, que pode ser proeminente, por
líquido purulento na pele ou nos tecidos
ABSCESSO subjacentes. Há calor, dor e flutuação e,
eventualmente, rubor.

Ex.: abscesso infeccioso.

151 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Lesões Elementares de Pele

Formação circunscrita, de tamanho va-


riável, por derrame de sangue na pele
HEMATOMA ou nos tecidos subjacentes.

Ex.: hematomas pós trauma.

Diminuição da espessura da pele


que se torna adelgaçada e pregueá-
vel. Ocorre em virtude da redução do
ATROFIA número e do volume dos constituintes
teciduais.

Ex.: esclerodermia cutânea.

Perda circunscrita de epiderme e der-


me, podendo atingir a hipoderme e os
tecidos subjacentes.
ULCERAÇÃO

Ex.: pioderma gangrenoso e úlcera ve-


nosa.

Perda superficial, somente da epider-


me.
EROSÃO OU
EXULCERAÇÃO
Ex.: Escoriação (geralmente por trauma
durante o ato de coçar).

Acúmulo de material de cor amarelo-


clara, esverdeada ou vermelho-escura,
que se forma em área de perda tecidual.
CROSTA Resulta da mistura de serosidade, pus ou
sangue com restos epiteliais.

Ex.: impetigo.

152 Índice
O Guia Completo da Semiologia e Propedêutica

Lesões Elementares de Pele

Essas são as principais lesões elementares em dermatologia!

Agora vamos falar um pouco daquelas outras características que comentamos lá na introdução:

Formas, contornos e dimensões

As formas, contornos e dimensões das lesões associadas podem ser designadas como:

1. Anular (em anel)

2. Arcada (em arco)

3. Circinada (em círculo)

4. Corimbosa (em corimbo, ou seja, uma lesão central e outras satélites ao redor)

5. Discoide (em forma de disco).

6. Numular (em forma de moeda)

Distribuição e número

Pela distribuição e número, as lesões associadas designam-se como:

• Localizada- erupção em uma ou algumas regiões.

• Disseminada - erupção com lesões individuais em várias regiões cutâneas.

• Generalizada- erupção difusa e uniforme, atingindo várias regiões cutâneas.

Fez sentido? Esperamos que sim! Esse material é um resumo dos principais pontos chave,
mas a descrição de todas as lesões elementares e imagens de casos clínicos de cada uma
delas estão na nossa apostila 1 de dermatologia do curso extensivo!

Bons estudos!

REFERÊNCIAS:
1. SAMPAIO, Sebastião AP; RIVITTI, Evandro A. Dermatologia. In: Dermatologia. 2007.

153 Índice
CONCLUSÃO

E aí, curtiu este e-book? Esperamos que este conteúdo seja útil para a sua formação
médica e que agora você esteja craque em avaliar e examinar os pacientes no dia a
dia, tanto na anamnese quanto no exame físico.

Acho que você deve ter notado que é importante seguir um roteiro para não se
esquecer de nenhum passo do exame físico durante a sua prática clínica, então
fique atento! Nessas horas, ter organização, saber sistematizar e criar uma rotina é
fundamental!

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Índice 154
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