Ricardo Reis era um poeta português do início do século XX influenciado pelas filosofias estoica e epicurista da Grécia Antiga. Seus poemas buscavam a serenidade através da aceitação do destino e aproveitamento do momento presente. Embora pagão, via os deuses como uma metáfora para entender e iludir o sofrimento da vida humana perante a brevidade da vida e a morte inevitável.
Ricardo Reis era um poeta português do início do século XX influenciado pelas filosofias estoica e epicurista da Grécia Antiga. Seus poemas buscavam a serenidade através da aceitação do destino e aproveitamento do momento presente. Embora pagão, via os deuses como uma metáfora para entender e iludir o sofrimento da vida humana perante a brevidade da vida e a morte inevitável.
Ricardo Reis era um poeta português do início do século XX influenciado pelas filosofias estoica e epicurista da Grécia Antiga. Seus poemas buscavam a serenidade através da aceitação do destino e aproveitamento do momento presente. Embora pagão, via os deuses como uma metáfora para entender e iludir o sofrimento da vida humana perante a brevidade da vida e a morte inevitável.
• Moreno, estatura um pouco abaixo da média, era forte mas seco; • Educado num colégio de jesuítas, foi um exímio estudante de latim e aprendeu grego sozinho. • É um latinista e um semi-helenista; • Formou-se em Medicina; • Expatriou-se voluntariamente no Brasil, por ser monárquico; • Escreveu, sobretudo, odes. Ricardo Reis: o poeta clássico
O heterónimo pessoano Ricardo Reis é um poeta
contemplativo que procura a serenidade, livre de afetos e de tudo o que possa perturbar o seu espírito. É, também, um estóico, apesar de, aparentemente, resignado. Há,no seu pensamento, uma tensão, uma atitude de luta contra tudo o que tira o desassossego. É uma atitude vital na busca do entendimento da felicidade e da liberdade a que tende o homem, obrigado a viver num meio social adverso. Ricardo Reis: a consciência e a encenação da mortalidade
A palidez do dia é levemente dourada.
O sol de Inverno faz luzir como orvalho as curvas Falo nestas coisas seguramente Dos troncos de ramos secos. porque nasci acreditando nos O frio leve treme. deuses, criei-me nesta crença, e, querendo eles, nessa crença Desterrando da pátria antiquíssima da minha morrerei. Sei o que é o Crença, consolando só por pensar nos deuses Aqueço-me trémulo sentimento pagão. Só me pesa A outro sol que este. não poder explicar realmente o quão absolutamente e O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole incompreensivelmente diverso ele O que alumiava os passos lentos e graves é de todos os nossos sentimentos. De Aristóteles falando. Mas Epicuro melhor Mesmo a nossa calma, e o vago estoicismo que entre nós alguns Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre têm, não são coisas que se Tendo para os deuses uma atitude também de deus, parecem com a calma antiga e Sereno e vendo a vida estoicismo grego. À distância a que está.
Ricardo Reis, Odes.
Ricardo Reis: o fingimento artístico
O Dr. Ricardo Reis nasce dentro da minha alma no dia
29 de Janeiro de 1914, pelas 11 horas da noite. Eu estivera ouvindo no dia anterior uma discussão extensa sobre excessos, especialmente da realização, da arte moderna. Segundo o meu processo de sentir as coisas sem as sentir, fui-me deixando ir na onda dessa reacção momentânea. Quando reparei em que estava pensando, vi que tinha erguido uma teoria neoclássica, e que a ia desenvolvendo.
Fernando Pessoa Estoicismo
O estoicismo é uma corrente filosófica que considera
ser possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo, permanecendo indiferente aos males e às paixões, que são perturbações da razão. O ideal estóico é a apatia, que se define como ausência de paixão e permite a liberdade, mesmo sendo escravo. Epicurismo
O epicurismo consiste na filosofia moral de Epicuro
(341-270 a.C.), que defendia o prazer como caminho da felicidade. Mas, para que a satisfação dos desejos seja estável, é necessário um estado de ataraxia, ou seja, de tranquilidade e sem qualquer perturbação. O poeta romano Horácio seguiu de perto este pensamento da defesa do prazer do momento, ao considerar o carpe diem como necessário à felicidade. Ricardo Reis: reflexão existencial
Ricardo Reis propõe uma filosofia moral de acordo com os
princípios do epicurismo e de uma filosofia estoica:
o Carpe diem (aproveita o dia), ou seja, aproveitar a vida em cada dia,
como caminho da felicidade; o Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia); o Não ceder ao impulso dos instintos (estoicismo); o Procurar a calma ou, pelo menos, a sua ilusão; o Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e da liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado). Neopaganismo
• crença nos deuses
• crença na civilização da Grécia • sente-se um “estrangeiro” fora da sua pátria, a Grécia
No Prefácio a Odes, diz: “nasci acreditando nos
deuses, criei-me nessa crença, e, querendo eles, nessa crença morrerei. Sei o que é sentimento pagão. Só me pesa não poder explicar realmente o quão absolutamente e incompreensivelmente diverso ele é de todos os nossos sentimentos. Mesmo a nossa calma, e o vago estoicismo que entre nós alguns têm, não são coisas que parecem com a calma antiga e o estoicismo grego.” Ricardo Reis: reflexão existencial
Só esta liberdade nos concedem Aceita o destino com naturalidade,
Os deuses: submetermo-nos considerando que os deuses estão acima do Ao seu domínio por vontade nossa. homem por uma questão de grau, mas que Mais vale assim fazermos acima dos deuses, no sistema pagão, se Porque só na ilusão da liberdade encontra o Fado, que tudo submete. Ricardo Reis procura alcançar a A liberdade existe. quietude e a perfeição dos deuses, desenhando Nem outro jeito os deuses, sobre quem um novo mundo à sua medida, que se encontra O eterno fado pesa, por detrás das aparências. Os deuses são uma Usam para seu calmo e possuído metáfora do mundo. Indiferentes, mas omnipresentes, confundem-se connosco Convencimento antigo sempre que os imitamos. Não são mais do que De que é divina e livre a sua vida. homens mais perfeitos ou aperfeiçoados. “Só esta liberdade nos concedem/ Os deuses: Nós, imitando os deuses, submetermo-nos/ Ao seu domínio por vontade Tão pouco livres como eles no Olimpo, nossa”. Como quem pela areia Pagão por caráter, que resulta da Ergue castelos para encher os olhos, acumulação de experiências e da sua formação Ergamos nossa vida helénica e latina, há, nos seus poemas, uma E os deuses saberão agradecer-nos postura ética e um constante diálogo entre o O sermos tão como eles. passado e o presente, escrevendo odes inspiradas nas doutrinas epicuristas de Horácio. Caraterísticas Temáticas
• Epicurismo: busca de uma felicidade • O elogio da vida rústica (a aurea medocritas
relativa, sem desprazer ou dor, através de de Horácio): a felicidade só é possível no um estado de ataraxia, isto é, uma certa sossego do campo (comparável a Caeiro). tranquilidade ou indiferença capaz de • O gozo do momento que passa, o carpe diem evitar a perturbação. horaciano. • Estoicismo: crença de que a felicidade só é • A tentativa de iludir o sofrimento resultante possível se atingirmos a apatia, isto é, a da consciência aguda da precariedade da vida, aceitação das leis do Destino e a indiferença do fluir contínuo do tempo e da fatalidade da face às paixões e aos males. morte, através do sorriso, do vinho e das flores. • Paganismo: crença nos deuses. • A intelectualização das emoções. • A passagem inelutável do tempo. • A intemporalidade das suas preocupações: a • A precariedade da vida e a fatalidade da angústia do homem perante a brevidade da Morte. vida e a inevitabilidade da Morte que leva a uma interminável busca de estratégias de • A moderação dos desejos e dos prazeres . limitação do sofrimento que caracteriza a vida • O culto do Belo, como forma de superar a humana. transitoriedade da vida e dos bens terrenos. • O autodomínio e a contenção dos • As ameaças do Fatum (entidade sentimentos. implacável que oprime deuses e homens), • A quase ausência de erotismo, de amor da Velhice e da Morte. autêntico (em contraste com Horácio) Características Estilísticas
• Submissão da expressão ao conteúdo, às • A preferência pela ode (influência de
ideias. Horácio), com estrofes regulares em verso • A complexidade da sintaxe alatinada decassilábico, alternando ou não com (influência de Horácio): hexassílabo. - a anteposição do complemento direto ao • Uso frequente do gerúndio. verbo (“As rosas amo…”). - a inesperada ordem das palavras que nos • Seleção cuidada de fonemas ou vocábulos obriga a uma leitura silabada. sugestivos das ideias que pretende exprimir (a • O uso de latinismos: atro, ledo, infero, elevação, a nobreza, o classicismo da inscientes, volucres, vila, etc. linguagem poética) • A frequência da inversão (anástrofe e • Verso branco ou solto, recorrendo, com hipérbato) e da elipse. frequência à assonância, à aliteração e à rima • As perífrases que remetem para um interior. contexto religioso e mitológico grego ou latino. (Ex. “Antes que Apolo deixe / O seu • Uso frequente do imperativo e do presente curso visível”) do conjuntivo com sentido de imperativo (de acordo com a feição moralista das odes). • Estilo denso e rigorosamente elaborado. RICARDO REIS Características temáticas e formais