Você está na página 1de 32

Teoria do Conhecimento

Verdade; Atitude
da Inteligência Perante a
Verdade
Emílio J. Zeca

Matola, Setembro, 2011

1
Introdução

 Todo o conhecimento postula a indissolúvel


correlação entre sujeito e objecto e a
Verdade aparece como propriedade
fundamental do conhecimento.

 A verdade não pode estar no objecto sem o


sujeito, ou no sujeito sem objecto, mas
correlativamente no sujeito e no objecto.
1. Realidade, Certeza e Verdade

 A reflexão sobre a realidade, certeza e verdade


baseia-se no que pode se referir ao sujeito e o
que se pode atribuir ao objecto e onde reside
a verdade no acto do conhecimento.

 Por exemplo: Sobre um relógio de pulso, o


que se pode dizer? Começa-se por dizer que
ele existe e que existe realmente. Depois
pode-se acrescentar que é de boa marca e que
regula com razoável precisão, etc.
O que se pode dizer dos Objectos

 Sobre os objectos, pode-se dizer que eles


existem ou não existem; que são reais ou
possíveis; que possuem tais ou tais
propriedades – mas não que são verdadeiros
ou falsos.
 Ao afirmar que o relógio existe, que está aqui
diante dos meus olhos, tenho a certeza do
que afirmo; sei que não estou a sonhar, que se
trata de uma relógio autêntico, sem engano ou
dúvida possível.
O que se pode dizer do Sujeito

 Do sujeito pode-se dizer que nele está a


certeza ou a dúvida, o saber, a opinião ou
ainda a ignorância.

 A verdade está presente na asserção ou


asserções que são feitas quanto à
existência e propriedades de uma
determinada realidade. Exemplo: as
asserções feitas sobre o relógio.
Verdade
 Toda a asserção contém, explícito ou
implícito um juízo. É no acto do juízo que
se encontra a verdade ou falsidade do se
afirma ou se nega.

 Sendo assim, no exemplo do relógio,


anteriormente dado, o juízo será
verdadeiro, se o relógio existe (afirmando
que existe) ou falso, no caso contrário.
Constatação
 Pode-se constatar que a verdade ou
falsidade não está no objecto ou no
sujeito, de forma separada, mas na
interpretação que o sujeito dá do objecto.

 A tradicional definição da verdade é o


acordo do pensamento com o real. A
verdade, segundo Aristóteles, consiste em
dizer que o que é é, e o que não é não é.
Espécie de Verdades
 Verdade Ontológica ou do Ser: é a
conformidade do objecto com a sua essência
ou ideia, pela qual foi concebido – acordo das
coisa com o pensamento .

 Verdade Lógica ou do Juízo: é a conformidade


do pensamento com os objectos ou coisas.

 Verdade Moral: é a sinceridade e consiste na


conformidade do que dizemos com o que
pensamos.
Natureza da Verdade Lógica
 Realismo: a verdade é o acordo do juízo com as
próprias coisas, senão totalmente, pelo menos
em parte.

 Criticismo: a verdade é o acordo perfeito do


juízo com a representação da realidade material.

 Pragmatismo: a verdade é o que dá bons


resultados, é eficaz, é útil, o que é vantajoso e o
que dá êxito.
Constatação
 A Verdade é o acordo do pensamento com o
objecto, mas não significa necessariamente a
correspondência rigorosa entre a
representação e o objecto representado
(verdade-cópia).

 É necessário que haja conformidade. Portanto,


a verdade ou é acordo do pensamento com um
objecto exterior (Verdade Material) ou acordo
do pensamento com ele mesmo (Verdade
Formal).
2.Atitude da Inteligência Perante a
Verdade

 O valor de qualquer conhecimento mede-


se pela verdade que contém. Assim, é
mais fácil desejar o conhecimento do que
possuí-lo.

 Há um desajuste entre a verdade que se


deseja e a que possuímos e dai a origem
de um problema: a relação que se pode
encontrar entre a inteligência e a verdade.
Atitudes Fundamentais
 As atitudes fundamentais da inteligência perante a
verdade são: Ignorância, Dúvida, Opinião e
Certeza.

 Por exemplo: Quantas estrelas há no céu? A


resposta será: “não sei” (Ignorância). O planeta
Marte é habitado? Pode ser que sim, pode ser que
não (Dúvida). Choverá ainda hoje? A avaliar pelo
aspecto do dia, inclino-me a crer que sim
(Opinião) quantos dias tem o mês de Setembros?
Tem trinta e um dias (Certeza).
1. Ignorância

 Ignorância é a ausência de conhecimento


em relação a determinado assuntos.

 Em regra geral, a ignorância admite


variações de forma e significado. Temos
uma ignorância culposa, não culposa,
consciente, não consciente, erro e a
mentira.
Tipos de Ignorância
 Ignorância Culposa: é responsabilizada ao
indivíduo que não sabe o que tem a obrigação
de saber. Exemplo: profissional que
desconhece as noções básicas da sua
profissão.

 Ignorância Não Culposa: não responsabilizada


ao indivíduo e é a de quem não sabe o que
não é obrigado a saber. Exemplo: a criança
que não sabe ler antes da idade escolar.
Continuação

 Ignorância Consciente de Si: é aquela


que não sabe e não afirma o que não
sabe e é, por isso, ignorância sem
consequência.

 Ignorância Não Consciente de Si: é


aquela que ignora a si mesma, o que traz
com consequência directa a confusão e
o erro.
Erro
 Chama-se Erro uma asserção inexacta que
se julga e apresenta como exacta.

 Pode-se errar por ignorância (erros


ortográficos infantis), ou por Inadvertência.

 Os erros por inadvertência são chamados


lapso, enganos e ilusões. Por exemplo:
lapsos verbais, enganos de contas, ilusões de
óptica.
Causas do Erro
 As causas do erro podem ser de natureza
psicológicas e morais.
 Causas psicológicas: destacam-se a Falta de
Penetração do Espírito que interpreta mal os
dados dos sentidos e as Paixões eu impede
raciocinar correctamente.
 Causas Morais: destacam-se a Vaidade devido a
demasiada confiança da pessoa, o Interesse
económico, social, etc. e a Preguiça Intelectual
que não nos deixar inquerir o valor dos motivos.
Remédios do Erro
 Para evitar o erro, é preciso combatê-lo nas suas
causas. O Homem bem formado procede
sempre com método e reflexão; acautela-se
contra sugestões da paixão e imaginação.
 Ele suspende o juízo e a dúvida, quando julga
necessário; nada aceita como verdadeiro sem
conhecer como tal, por via da intuição e raciocínio
 Ele desconfia de si e das peripécias da razão;
procura ser imparcial e impõem-se à negligência.
Mentira e Fraude
 Do erro distingue-se a Mentira, onde o erro
ignora-se como erro; ao passo que a
Mentira é uma asserção que, sabendo-se
errada, se destina a induzir alguém ao erro.

 Quando, ao propósito de enganar, se junta


o de prejudicar ou causar dano, a mentira
toma o nome de Fraude, ou de Calúnia,
conforme o caso.
2. Dúvida
 Dúvida é a hesitação da inteligência em
pronunciar-se quanto à verdade ou falsidade
de uma asserção, devido a dois aspectos: ou
porque não encontra razões para decidir-se,
ou porque está indecisa entre razões
opostas.

 Dúvida é um estado de equilíbrio entre a


afirmação e negação, onde os motivos de
afirmar ou negar equilibram.
Tipos de Dúvida

 Positiva: é aquela em que o espírito


humano não adere a afirmação ou
negação, porque os motivos equilibram,
necessariamente.

 Negativa: é aquela em que a afirmação


ou negação não se equilibram, mas não
são suficientes para excluir o medo de
errar; equivale à ignorância.
Constatação
 Espontânea: é a recusa de adesão da
inteligência a um enunciado, sem exame de
razões. É a atitude de reserva natural da pessoa
que, instruída pela experiência de como estamos
sujeitos a enganos, evita o juízo precipitado.

 Reflexiva: é a hesitação na adesão da


inteligência, quando colocada em presença de
razões contrárias e igualmente plausíveis.
Exemplo: hesitação do médico perante incerteza
do diagnóstico.
Continuação

 Sistemática ou Céptica: é a rejeição


definitiva de toda e qualquer asserção, com
pretexto de que não existe critério infalível
para distinguir o verdadeiro do falso.

 Metódica ou Crítica: é a suspensão


provisória ou temporária do juízo, com a
finalidade de examinar e melhor verificar o
valor de uma asserção.
3. Opinião
 Opinião é a adesão da inteligência ao conteúdo
de uma asserção que se lhe afigura verdadeira,
sem contudo excluir a possibilidade de o não
ser.
 Opinião é a adesão receosa do espírito à
afirmação ou negação de um enunciado.
 Quando considerada em relação ao futuro, a
opinião toma a forma de Expectativa e degenera
em probabilidade matemática ou objectiva ou
Moral ou Subjectiva.
Estado de Opinião
 É o estado intermédio entre a dúvida e a
certeza, caracterizada por uma adesão
cautelosa do espírito a uma das partes, sem
excluir a possibilidade de enganar-se.
Exemplo: Vai chover hoje? Pela temperatura,
inclino-me a crer que sim.

 Neste caso, a inteligência inclina-se para


uma das partes, por motivos que lhe parecem
mais plausíveis e prováveis.
4. Certeza
 Certeza é a adesão da inteligência ao
conteúdo de um juízo que ela tem por
verdadeiro.
 Certeza é a adesão firme e inabalável do
espírito a uma verdade conhecida, sem receio
de errar.
 A certeza supõe a manifestação completa da
verdade, ou seja, a conformidade do
enunciado em a realidade, medeia a evidência.
Tipos de Certeza

 Imediata ou Intuitiva: resulta de


percepção ou relação dos objectos.
Exemplo: caderno; sua cor; seu tamanho.

 Mediata ou Discursiva: deriva de outras


certezas, por meio de demonstrações.
Exemplo: ângulos internos do triângulo
são iguais a dois ângulos rectos.
Continuação
 Espontânea ou Empírica: resulta da ausência
de razões para duvidar; engloba a certeza
prática que orienta a vida quotidiana.
Exemplo: Todos nós sabemos onde se localiza
Sto Agostinho.
 Crítica ou Intelectual: resulta da
impossibilidade de duvidar , depois de
esgotadas todas as possibilidades de dúvida;
é a certeza científica ou filosófica. Exemplo:
H2O
Constatação

 A certeza tem a ver com a convicção da


manifestação plena e completa da
verdade e isto nos remete ao método
normativo – “o que deve ser”.

 Tendo em conta este aspecto, pode-se


encontrar vários tipos de certeza, tendo
em conta o fundamento e a origem dos
motivos conhecidos.
1. Fundamento
 Certeza Metafísica: baseia-se na essência
da coisa. Exemplo: Triângulo não é círculo.

 Certeza Física: tem como fundamento as


leis naturais. Exemplo: Calor flácida e dilata
os corpos.

 Certeza Moral: tem como base aspectos ou


leis psicológicas, morais ou éticas.
Exemplo: Os filhos amam os seus pais.
2. Origem dos Motivos

 Certeza espontânea: a adesão tem lugar


devido a ausência de motivações para
duvidar. Exemplo: Tenho um celular na
mão.

 Certeza Científica: a adesão obedece a


motivações que tornam impossível a
dúvida. Exemplo: O pai é mais velho que
o filho.
FIM

Bom Proveito!

32

Você também pode gostar