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António Gedeão

Lágrima de preta
António Gedeão

Lágrima de preta
António Gedeão – pseudónimo de Rómulo
Vasco da Gama de Carvalho

Nasceu em Lisboa a 24 de novembro de 1906 e faleceu


em Lisboa a 19 de fevereiro de 1997.

Foi um químico, professor de Físico-Química do ensino


secundário no Liceu Pedro Nunes, pedagogo, investigador
de História da ciência em Portugal, divulgador da ciência,
e poeta sob o pseudónimo de António Gedeão.
Pedra Filosofal e Lágrima de Preta são dois dos seus
mais célebres poemas.

O dia do seu nascimento (24 de novembro) foi, em 1997,


adotado em Portugal como Dia Nacional da Cultura
Científica.
António Gedeão

Lágrima de preta

Encontrei uma preta Mandei vir os ácidos,


que estava a chorar, as bases e os sais,
pedi-lhe uma lágrima as drogas usadas
para a analisar. em casos que tais.

Recolhi a lágrima Ensaiei a frio,


com todo o cuidado experimentei ao lume,
num tubo de ensaio de todas as vezes
bem esterilizado. deu-me o que é
costume:
Olhei-a de um lado,
nem sinais de negro,
do outro e de frente:
nem vestígios de ódio.
tinha um ar de gota
muito transparente.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão

Lágrima de preta

1. Este poema tem sido considerado


desde sempre como uma
denúncia do racismo.
1. Explica porquê.
 

Este poema tem sido, justamente, considerado como uma


denúncia do racismo porque mostra, através da análise de
uma lágrima, como todas as lágrimas são iguais, logo todos os
seres humanos são iguais.
2. Justifica o comportamento da “preta” que
“estava a chorar “, referida na primeira estrofe.

O comportamento da “preta” justifica-se, pois,


historicamente, a discriminação racial atinge
essencialmente a população de raça negra. Como se
sabe através da História, os negros sofreram a
escravatura. Por outro lado, quando este poema foi
publicado, Portugal era uma potência colonial: o
racismo exercia-se sobre os negros, em África, e não
só nas ex- colónias portuguesas.
3. Transcreve todas as palavras ou expressões que se
relacionam, pelo sentido, com uma experiência científica.
“analisar”/ “tubo de ensaio”/” esterilizado”/ “ácidos”/ “bases”/
“sais”/ “drogas”/ “ensaiei a frio”/ “experimentei ao lume”/
“água”/”cloreto de sódio.”
Trata-se, assim, de uma análise química que o sujeito poético vai fazer à
lágrima, seguindo um certo método experimental:
Começa por recolher a lágrima e coloca-a num tubo de ensaio esterilizado
“Recolhi a lágrima/ com todo o cuidado/num tubo de ensaio/bem
esterilizado.” (v.v. 5-8), para que esta não ficasse contaminada e os resultados
modificados.
Seguidamente, a lágrima é observada cuidadosamente “Olhei-a de um lado,/
do outro e de frente: (…)” (v.v. 9-10) igualando-a com uma gota transparente
“(…) tinha um ar de gota/ muito transparente.” (v.v. 11-12).
De seguida, começa a análise experimental, recorrendo a vários reagentes
“Mandei vir os ácidos,/ as bases e os sais,/ as drogas usadas/ em casos que
tais.” (v.v. 13-16) e a processos experimentais “Ensaiei a frio,/ experimentei ao
lume (…)” (v.v. 17-18)  e repetiu-os várias vezes, como se deve fazer em todas
as experiências químicas “(…) de todas as vezes” (v. 19).
4. Identifica os versos que, na última estrofe, mostram
que a humanidade é só uma.

“nem sinais de negro,


nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.”

Os dois últimos versos.


O poema divide-se em três partes:

Introdução: 1ª quadra: o sujeito poético refere que


vai fazer uma experiência(analisar uma
lágrima).
Desenvolvimento: Da 2º à 5ª quadra: apresentação da
experiência, com todos os passos
necessários.
Conclusão:
O sujeito poético conclui que a
lágrima é constituída por
cloreto de sódio, nada mais.
Conclusão

Este poema mostra-nos que somos todos iguais


independentemente da nossa cor de pele, facto
demonstrado pela inexistência de diferenças entre
a composição química entre aquela lágrima e a de
outras pessoas de outras cores (que se supõe que o
sujeito poético já tenha analisado para poder
comparar e retirar as suas conclusões).
Análise sintática

Encontrei uma preta


que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

“uma preta “ -
“lhe”-
“uma lágrima” –
Tempos e modos
verbais

Encontrei-

pedi-

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