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QUÍMICA INSTRUMENTAL II

Cromatografia Gasosa
(CG)
Profº. Ricardo Reche

UniSalesiano - Araçatuba
Introdução

Gases ou substâncias voláteis podem ser separados


utilizando-se a técnica denominada “cromatografia gasosa”. A
separação baseia-se na diferente distribuição das substâncias da
amostra em uma fase estacionária (sólida ou líquida) e uma fase
móvel (gasosa).
A amostra é injetada em uma coluna contendo a fase
estacionária. O uso de temperaturas adequadas possibilita a
vaporização dessas substâncias que, de acordo com suas propriedades
e as da fase estacionária, são retidas por tempos determinados e
chegam ao detector em tempos diferentes.
VANTAGENS

• Excelente poder de resolução, tornando possível a análise de


dezenas de substâncias de uma mesma amostra.
• Baixos limites de detecção (10-12 g)
• Baixo tempo de análise.

DESVANTAGENS

• Só pode ser aplicada na análise de substâncias voláteis e estáveis


termicamente.
• Na maioria das vezes há necessidade de etapas de preparação da
amostra, antes que ela possa ser analisada, para que não haja
interferência na análise nem contaminação da coluna cromatográfica.
Isso aumenta o tempo e custo da análise.
• Não é uma técnica qualitativa muito eficiente.
CG é aplicável para separação e análise de misturas cujos
constituintes tenham PONTOS DE EBULIÇÃO de até 300oC e que
termicamente estáveis.
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5

1
4
1 - Reservatório de Gás e Controles de Vazão / Pressão.
2 - Injetor (Vaporizador) de Amostra.
3 - Coluna Cromatográfica e Forno da Coluna.
4 - Detector.
5 - Eletrônica de Tratamento (Amplificação) de Sinal.
6 - Registro de Sinal (Registrador ou Computador).
Fase móvel – Gás de arraste

A escolha da fase móvel – gás de arraste – depende do tipo de


detector que está sendo usado e do tipo de coluna, empacotada ou
capilar.
Os gases mais usados como fase móvel são: nitrogênio, hélio,
hidrogênio e argônio.
O gás de arraste não deve interagir com o recheio da coluna,
deve ser barato, disponível e compatível com o detector usado.
He e H2 são os gases preferidos quando se emprega o detector
por condutividade térmica. Enquanto, para o detector por captura de
elétrons, é preferível usar N2 ultrapuro ou Ar contendo 5% de metano.
O gás de arraste deve apresentar alta pureza (> 99,999%).
A presença de impurezas no gás de arraste afeta a estabilidade
e resposta dos detectores.
INJETOR

Parte do cromatógrafo a gás onde a


amostra é introduzida no
cromatógrafo a gás:
– Vaporiza amostra (solvente +
compostos alvo)
– Mistura vapor com fase móvel
(gás de arraste)
– Transfere vapor para dentro da
coluna
Forma mais simples:
– Câmara de aquecimento;
– Injector liner/glass insert;
– Linhas de fluxo de gás;
Qualidades desejáveis para injetor GC

• Injeção de amostra para dentro da fase móvel sem dispersão da


amostra ou tailing (efeito cauda). Injeção lenta ou de volume muito
grande de amostra causa alargamento de pico (resolução pobre).
• Vaporizar todos solutos instantaneamente sem decomposição térmica
• Evitar difusão de componentes da amostra na fase móvel
• Não tenha contaminação da amostra
• Não tenha perda da amostra

TEMPERATURA DO INJETOR
Deve ser suficientemente elevada para que a amostra vaporize-se
imediatamente, mas sem decomposição
Regra Geral: Tinj = 50oC acima da temperatura de ebulição do
componente menos volátil
VOLUME INJETADO Depende do tipo de coluna e do estado físico
da amostra

Um divisor de amostra é frequentemente necessário (em


colunas capilares) para desviar para a coluna uma pequena fração
conhecida do volume da amostra injetada, enviando o restante para o
descarte.
Esquema de injetor direto (On-column)
Toda amostra é introduzida diretamente na coluna
• Amostra pode ser introduzida a temperatura relativamente baixa
• Temperatura do injetor pode ser programada (rampa)
- por ex.: 50ºC (0.1min) →100 º C/min → 280 º C (20min)
• Não ocorre o “splitting” da amostra
• Minimiza decomposição de compostos termicamente instáveis
• Rápida contaminação da coluna por compostos não voláteis
FORNO DAS COLUNAS

Características Desejáveis de um Forno:

AMPLA FAIXA DE TEMPERATURA DE USO Pelo menos de


Tambiente até 400oC. Sistemas criogênicos (T < Tambiente) podem ser
necessários em casos especiais.

TEMPERATURA INDEPENDENTE DOS DEMAIS MÓDULOS


Não deve ser afetado pela temperatura do injetor e detector.

TEMPERATURA UNIFORME EM SEU INTERIOR Sistemas de


ventilação interna muito eficientes para manter a temperatura
homogênea em todo forno.
Características Desejáveis de um Forno:

FÁCIL ACESSO À COLUNA A operação de troca de coluna pode


ser freqüente.

AQUECIMENTO E ESFRIAMENTO RÁPIDO Importante tanto


em análises de rotina e durante o desenvolvimento de metodologias
analíticas novas.

TEMPERATURA ESTÁVEL E REPRODUTÍVEL A temperatura


deve ser mantida com exatidão e precisão de ± 0,1°C.

Em cromatógrafos modernos (depois de 1980), o controle de


temperatura do forno é totalmente operado por microprocessadores.
Misturas complexas (constituintes com volatilidades muito diferentes)
separadas ISOTERMICAMENTE:

TCOL BAIXA:

- Componentes mais voláteis são separados.


- Componentes menos voláteis demoram a
eluir, saindo como picos mal definidos.

TCOL ALTA: - Componentes mais voláteis não são


separados
- Componentes menos voláteis eluem mais
rapidamente
Analises com Programação de Temperatura

• Determinação das condições de analise.


• Tempo de analise reduzido
• Limite de detecção e precisão da medida do pico são melhorados
• Velocidade de injeção não precisa ser tão rápida
•Transformações químicas dos componentes instáveis são
minimizadas
Detectores
Parâmetros Básicos de Desempenho do Detector

QUANTIDADE MÍNIMA DETECTÁVEL: Massa de um analito


que gera um pico com altura igual a três vezes o nível de ruído

RUÍDO (N)

RUÍDO: Qualquer componente do sinal gerado pelo detector que


não se origina da amostra

Fontes • Contaminantes nos gases


de • Impurezas acumuladas no detector
Ruído • Aterramento elétrico deficiente
Detectores

DETECTOR POR CONDUTIVIDADE TÉRMICA (DCT OU TCD)


Variação da condutividade térmica do gás de arraste.

DETECTOR POR IONIZAÇÃO EM CHAMA (FID OU FID) Íons


gerados durante a queima dos eluatos em uma chama de H2 + ar.

DETECTOR POR CAPTURA DE ELÉTRONS (DCE OU ECD)


Supressão de corrente causada pela absorção de elétrons por eluatos
altamente eletrofílicos.
DETECTOR POR IONIZAÇÃO EM CHAMA (FID)
PRINCÍPIO: Formação de íons quando um analito é queimado em
uma chama de hidrogênio e oxigênio

O efluente da coluna é misturado Quando um composto


com H2 e O2 e queimado. orgânico elui, ele também é
Como numa chama de H2 + O2 queimado. Como na sua
queima são formados íons, a
não existem íons, ela não conduz
chama passa a conduzir
corrente elétrica.
corrente elétrica
Características Operacionais do FID
SELETIVIDADE: Seletivo para substâncias que contém ligações C-H
em sua estrutura. (como virtualmente todas as substâncias analizáveis
por GC são orgânicas, na prática o FID é UNIVERSAL)

SENSIBILIDADE / LINEARIDADE típicas = 10 pg a 100 pg com


linearidade entre 107 e 108 (pg a mg)
DETECTOR CONDUTIVIDADE TÉRMICA (DCT)

A taxa de transferência de calor entre um corpo quente e


um corpo frio depende da condutividade térmica do gás no
espaço que os separa

Se a condutividade térmica do gás diminui, a quantidade de


calor transferido também diminui - o corpo quente se aquece.
Cela de Detecção do DCT:
1 - Bloco metálico (aço).
2 - Entrada de gás de arraste.
5 3 3 - Saída de gás de arraste.
4 - Filamento metálico (liga W-Re)
4 aquecido.
5 - Alimentação de corrente elétrica
2 1 para aquecimento do filamento.
Configuração tradicional do DCT: bloco metálico com quatro celas
interligadas em par

por duas passa o efluente da


coluna e por duas, gás de
arraste puro

Quando da eluição de um composto com condutividade térmica menor


que a do gás de arraste puro:

Filamentos nas celas Resistência elétrica dos Diferença de


de amostra se filamentos nas celas de resistência
aquecem amostra aumentam elétrica entre
os filamentos
Filamentos nas celas Resistência elétrica dos de amostra e
de referência não se filamentos nas celas de
aquecem referência fica constante
referência
Características Operacionais do DCT

SELETIVIDADE Observa-se sinal para qualquer substância eluida


diferente do gás de arraste = UNIVERSAL

VAZÃO DE GÁS DE ARRASTE O sinal é proporcional à


concentração do analito no gás de arraste que passa pela cela de
amostra.

Vazão de gás de arraste Variação da vazão de gás


constante durante a eluição de arraste durante a eluição

Com DCT, a área dos picos cromatográficos é MUITO dependente


da vazão do gás de arraste !!!
Detector por Captura de Elétrons (DCE)
PRINCÍPIO: Supressão de um fluxo de elétrons lentos (termais)
causada pela sua absorção por espécies eletrofílicas

Um fluxo contínuo de eletrons lentos é


estabelecido entre um anôdo (fonte
radioativa β - emissora) e um catodo.

Na passagem de uma substância


eletrofílica alguns elétrons são
absorvidos, resultando uma
supressão de corrente elétrica.
O decréscimo na corrente elétrica fluindo pela cela de detecção é
proporcional à concentração a da espécie absorvente no gás de arraste
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Ni : preferido em equipamentos modernos
- Maior durabilidade
- Maior estabilidade térmica
- Menor risco de uso (radioatividade)

TEMPERATURA DO DETECTOR Dependência do sinal com


temperatura de operação bastante significativa
Variação de ± 3oC na temperatura

Erro de ~ 10% na área dos picos

Temperatura do DCE deve ser rigidamente controlada


Parâmetros Cromatográficos

Uma série de parâmetros cromatográficos são importantes para serem


utilizados na identificação dos compostos separados, avaliar o
desempenho cromatográfico e auxiliar na otimização do processo de
separação.
Os parâmetros cromatográficos a serem discutidos são:

• Tempo de retenção
• Fator de retenção
• Fator de separação
• Número de pratos
• Resolução
TEMPO DE RETENÇÃO

Por definição chamamos de TEMPO DE RETENÇÃO, tr, de uma


substância ao tempo decorrido desde o instante em que a amostra foi
introduzida até o instante do máximo do pico (onde to é o tempo de
retenção de um composto não retido na fase estacionária)

Na análise cromatográfica, mantido constantes a vazão da fase móvel


e a temperatura da coluna, o tempo de retenção de cada componente é
constante, desde que a FE não sofra modificação.
FATOR DE SEPARAÇÃO (α)
Para a cromatografia em coluna, o fator de separação é
calculado pela razão entre os tempos de retenção ajustados:
α = t’r2 / t’r1

O fator de separação sempre trata com dois picos adjacentes


RESOLUÇÃO

Fornece uma medida quantitativa da habilidade da coluna em separar


duas substâncias.
Rs = 2 ( tr2 - tr1 )/(Wb1 + Wb2)

Quando Rs =1, os dois picos são razoavelmente separados,


com somente 2% de superposição. Maiores valores de resolução
indicam melhor separação: Rs = 1,25 é suficiente para fins
quantitativos e Rs > 1,5 indica separação completa
Exercícios
1. A partir do cromatograma correspondente à separação de uma
mistura de três solutos A, B e C por cromatografía líquida obtiveram-
se os resultados que se apresentam na tabela:

a) O número de pratos teóricos a partir dos picos A, B e C. O seu


valor médio e desvio padrão.
b) A altura equivalente a um prato teórico.
c) O factor de retenção relativo a A,B e C.
d) Em relação aos solutos B e C calcule a resolução.
2. Qual a vantagem da programação de temperatura na CG?
A programação da temperatura na CG melhora a separação e diminui o tempo de análise. Pois começar uma

análise com a coluna em uma temperatura baixa permitirá a separação dos compostos menos voláteis, e assim os

solutos irão eluir com os picos separados.

3. Quais são as desvantagens e vantagens relativas das colunas


empacotadas e das colunas capilares na CG?

Utilizando colunas empacotadas ou recheadas podemos injetar uma maior quantidade de amostra, podendo ser utilizada

em análises preparativas. Porém neste tipo de coluna temos um maior tempo de retenção e uma menor resolução.

Nas colunas capilares há um aumento significativo no número de pratos teóricos, pois a pressão é menor que em colunas

recheadas, assim o comprimento da coluna pode ser muito maior. Neste tipo de coluna também temos a eliminação do

alargamento das bandas devido a irregularidades no enchimento da coluna, e uma análise mais rápida com temperaturas

baixas. Mas com um aumento brusco na temperatura poderá ocorrer a volatilização da fase estacionária.
3. Quando vc usaria, na CG, a injeção com divisão de fluxo, a
injeção sem divisão de fluxo ou a injeção direta na coluna?
A injeção com divisão de fluxo é utilizada para análises com colunas capilares, já que o

excesso de amostra prejudicaria a análise.

A injeção sem divisão de fluxo ou direta é utilizada na análise com coluna empacotada já que

o excesso de amostra é permitido.


4. Qual o propósito da derivatização na CG?

Quando o composto a ser analisado não é volátil o suficiente para a cromatografia gasosa,

este composto será derivatizado para adquirir as características necessárias para a CG, como

no caso um menor ponto de ebulição.

5. Por que as colunas capilares proporcionam uma resolução maior


do que as colunas recheadas na cromatografia gasosa?
 
Este poder é a consequência do grande número de pratos teóricos que pode ser atingido em

colunas longas deste tipo, com uma queda de pressão relativamente pequena.
6. Por que o H2 e o He permitem vazões mais rápidas na
cromatografia gasosa do que o N2, sem perda da eficiência na coluna?

Isto ocorre porque os solutos se difundem mais rapidamente pelo H e pelo He do que
2
pelo N .
2

7. Na cromatografia gasosa, o tempo de retenção é determinado


por alguns parâmetros. Para substâncias com peso molecular
próximo, portanto, tem maior tempo de retenção aquela que:

( X) mais interage com a fase estacionária


( ) tem maior pressão de vapor
( ) menos interage com a fase móvel
( ) for mais polar
8) Dentre as alternativas abaixo, a única análise qualitativa que é
impossível se fazer por cromatografia a gás é o teor de:
A- ( ) metanol em bebidas alcoólicas.
B- ( ) n-octano em gasolina.
C- ( X ) açucar no mel.
D- ( ) óxido nitroso em ar atmosférico poluído.
E- ( ) metano em gases proveniente de biodegradação.
9) O esquema abaixo mostra um cromatógrafo improvisado. A
detecção é feita pelo contraste da cor da chama das substâncias
orgânicas (normalmente amarela e luminosa) contra a chama incolor
do hidrogênio.

Como poderia ser feita neste cromatógrafo:


A) A análise qualitativa de uma mistura de pentano e benzeno?
B) A diferenciação de duas soluções de benzeno com concentrações
distintas?
10) Assinale o parâmetro cromatográfico que quando é alterado não
afeta o tempo de retenção de uma determinada substância.
A- ( ) temperatura do forno das colunas.
B- ( ) vazão do gás de arraste.
C- ( X) temperatura do forno do detector.
D- ( ) polaridade da fase estacionária.
E- ( ) % de fase estacionária no suporte sólido.

11) Após a injeção de 2,0 mL de uma certa solução amostra, em


atenuação 100x, achou-se para uma certo componente, uma área de
12.000. Usando-se um volume injetado de 1,0 mL e atenuação 500x,
considerando as demais condições iguais, a nova área do pico esse
componente será:
A- ( X ) 1.200
B- ( ) 6.000
C- ( ) 12.000
D- ( ) 24.000
E- ( ) 60.000
12) O resíduo de evaporação de hexano comercial forneceu o seguinte
cromatograma:

O que aconteceria se:


A) Utilizassemos uma coluna com o dobro de comprimento da usada?
B) Desejássemos saber se existe tolueno e benzeno no resíduo?
C) Aumentássemos a vazão do gás de arraste?
D) Injetássemos o hexano e não o seu resíduo de evaporação ?
E) Diminuíssemos a atenuação ?
13) Para fazer uma análise cromatográfica, um analista injetou 1,0 L
de uma substância pura X (grau PA) e após um determinado tempo
observou a formação do cromatograma 1 com dois picos.
Surpreso com o resultado obtido, reinjetou novamente a referida
substância pura nas mesmas condições cromatográficas, obtendo o
cromatograma 2.

Explique o aparecimento do sinal com menor tempo de retenção no


cromatograma 1.
12) Os seguintes dados foram obtidos para a cromatografia gás-líquido
em uma coluna recheada de 40 cm:

Calcular
(a) o número médio de pratos a partir dos dados.
(b) a altura média de prato da coluna.
(c) calcular a resolução para metilciclo-hexeno e metilciclohexano.
(d) calcular a resolução para metilciclo-hexeno e tolueno.
(e) calcular a resolução para metilciclo-hexano e tolueno.
13) O cromatograma abaixo mostra a separação de cafeína e sacarina em cromatografia
líquida de alta eficiência (fase reversa). Foi utilizada uma coluna 25 cm de comprimento
preenchida com fase estacionária C18 apolar. O modo de eluição foi o isocrático,
utilizando como fase móvel uma mistura de tampão fosfato (pH 3,5) e acetonitrila, na
proporção
80:20. Um detector por absorção na região do UV (230 nm) foi utilizado.

Calcule: a) o fator de retenção k´


b) a eficiência N
c) resolução entre os picos.

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