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ACADEMIA DE POLÍCIA “DR.

CORIOLANO
NOGUEIRA COBRA”

O ESTATUTO DO IDOSO
ASPECTOS PENAIS E
IMPLICAÇÕES NAS ATIVIDADES
DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

PROF. JORGE LUIS NEVES ESTEVES


Lei 10.741, DE 1.º DE OUTUBRO DE
2003
• Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras
providências

• Introdução

• Objetivo

• O Estatuto do Idoso e o Princípio da Igualdade


Material
stituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

o constitucional: preceitua o art. 230 da CF que “a família, a sociedade e o


dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na
defendendo sai dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. § 1.º
de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. § 2.º
de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos

slativa e política criminal

enuado da prescrição: 70 anos (art. 115 do CP)

de atenuante genérica ao criminoso (art. 65, I, do CP)

de sursis para condenações de até quatro anos (sursis etário – art. 77,§2.º CP)
Art. 2.º - O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe,
por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de
sua saúde física
e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em
condições de
liberdade e dignidade

- Carência de recursos do Estado (tal qual previsto no ECA);

- Inspirado na Declaração Universal dos Direitos Humanos;


1.à vida 2.à saúde 3.à alimentação 4.à educação

5.à cultura

Art. 3.º -
13.e à convivência É obrigação da família, da comunidade,
familiar e da sociedade e do Poder Público 6.ao esporte
comunitária assegurar
ao idoso, com absoluta prioridade, a
efetivação do direito
7.ao lazer

12.ao respeito

8.ao trabalho
11.à dignidade
10.à liberdade 9.à cidadania
Art. 3.º Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e


privados prestadores de serviços a população;
II- preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas;
III – destinação privilegiada re recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao
idoso;
IV- viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as
demais gerações;

V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do


atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção
da própria sobrevivência;

VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e


na prestação de serviços aos idosos;

VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de


caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento;

VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais;

IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda


- O papel relevante do bem-estar do idoso está
para a família, que deve prover-lhe
subsistência, lutar por sua dignidade, protegê-lo de
qualquer forma de violência e nunca
abandoná-lo, sob pena de incorrer na prática do
crime previsto no art. 98 deste Estatuto.
Art. 4.º - Nenhum idoso será objeto de nenhum tipo de
negligência, discriminação,
violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos
seus direitos, por ação ou omissão,
será punido na forma da lei.
§ 1.º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação
aos direitos do idoso;
§ 2.º As obrigações previstas nesta lei não excluem
da prevenção outras decorrentes dos
princípios por ela adotados.
Art. 5.º - A inobservância das normas de prevenção importará em
responsabilidade à
Pessoa física ou jurídica nos termos da Lei.

- Neste artigo o legislador alcança a responsabilização à pessoa


física ou jurídica que
desrespeitar as regras de prevenção aos direitos dos idosos
dispostas em qualquer
outro diploma legal além deste Estatuto. O art. 55 estabelece
penalidades às
entidades de atendimento que violarem direitos desta parcela da
população e os
arts. 56 a 58 definem as infrações administrativas com as
respectivas sanções
- Art. 6.º - Todo cidadão tem o dever de comunicar à
autoridade competente qualquer
forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de
que tenha conhecimento.

- Se houver violação a direitos da pessoa idosa e esta violação


for presenciada ou de
conhecimento de qualquer pessoa da sociedade, esta está
legalmente obrigada a ser
proativa em favor do idoso, sob pena de ser responsabilizada
nos termos do art. 5.º
supra. Não se trata só um princípio legal, mas também moral,
como uma exigência de
solidariedade humana. O idoso, teoricamente, é a aparte
vulnerável da relação social.
- Art. 8.º - O envelhecimento é um direito
personalíssimo e a sua proteção um direito
social, nos termos desta Lei e da legislação
vigente.

- Entende-se por direito personalíssimo


aquele que é inato da pessoa humana, na
sua
individualidade, incomunicável com outras
pessoas. São as características próprias de
cada um, ao próprio segredo de sua
intimidade.
- Art. 10 - É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa
idosa a liberdade, o
respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos
civis, políticos,
individuais e sociais, garantido na Constituição e nas leis.
§ 1.º O direito à liberdade compreende, entre outros,os seguintes
aspectos:
I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
comunitários,
ressalvadas as restrições legais;
II- opinião e expressão;
III – crença e culto religioso;
IV- prática de esportes e diversões;
V- participação na vida familiar e comunitária;
VI- participação na vida política, na forma da lei;
VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2.º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e
moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores,
ideais e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais.
§ 3.º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

- Essas três benesses outorgadas ao ser humano (direito à liberdade, ao respeito e à


dignidade, são desdobramentos do direito à vida como bem maior;da liberdade como
decorrência, do respeito e dignidade como primados da Constituição Federal de 1988 e
de outros importantes documentos de lei.
A dignidade da pessoa humana faz parte dos postulados constitucionais abraçados pelas
Vigas Mestras de várias nações. Foi a dignidade inspirada pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948.

- Numa das espécies do gênero liberdade, está o direito de ir e vir, estar nos logradouros
públicos e espaços comunitários. O Estatuto se apoiou em princípios compendiados na
Lei Maior, no art. 5.º, XV;

- Na hipótese de ameaça ou violência ao direito de ir e vir, dar-se-á ensejo ao habeas


corpus, segundo reza o art. 5.º, XV, da mesma Carta Suprema.
- ART. 11 – Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil.

- o ART. 1.694 DO Código Civil permite aos parentes, aos cônjuges ou


companheiros, pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para
viver de modo compatível com a sua condição social. Em linhas
gerais,marca-se a seguinte síntese: os alimentos devem ser fixados na
proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa
obrigada;
o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos e extensivo
a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau,
uns em falta de outros;
com relação ao idoso, se o parente que deve alimentos em primeiro lugar,
não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados
a concorrer os de grau imediato, sendo várias as pessoas obrigadas a prestar
alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos e,
intentada a ação contra uma delas, as demais poderão ser chamadas a
integrar a lide.
- ART. 12- A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso
optar entre os prestadores.

- O pai idoso ou a mãe poderá receber hospedagem e sustento de


um dos filhos. Assim
ocorrendo, os demais filhos ficarão obrigados a cooperar
materialmente nos custos. Sendo
vários os obrigados na cadeia alimentar, o idoso poderá optar
entre um dos prestadores,
ficando os demais obrigados regressivamente, conforme a
segunda parte do art. 1698 CC.
-ART. 19 – Os casos de suspeita ou confirmação de violência praticada contra idosos serão
objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à
autoridade sanitária, bem como serão obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer
dos seguintes órgãos:
I- autoridade policial;
II- Ministério Público;
III- Conselho Municipal do Idoso;
IV – Conselho Estadual do Idoso;
V – Conselho Nacional do Idoso.
§ 1.º Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra o idoso qualquer ação ou
omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento
físico ou psicológico.
§ 2.º Aplica-se, no que couber, â notificação compulsória prevista no caput deste artigo,
o disposto na Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975.

- Não só os profissionais de saúde, mas qualquer pessoa poderá comunicar às autoridades,


suspeita ou confirmação de maus-tratos contra o idoso. O que este artigo trouxe de
novidade é a imposição de dever maior ao profissional de saúde, obrigando-o à prática de
comunicar. Não cumprindo sua obrigação, o profissional de saúde estará praticando uma
infração administrativa prevista no art. 57 deste Estatuto.
- ART. 43 – As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis
sempre que os direitos
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou
entidade de atendimento;
III- em razão de sua condição pessoal.

- A sociedade ou Estado, na sua omissão de reconhecer ou


aplicar direitos gerais ou
específicos do idoso, fez surgir medidas das mais variadas
formas, tanto administrativas
quanto judiciais.
- ART. 45 – Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério
Público ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar,
dentre outras, as seguintes medidas:
I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de
responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III- requisição para tratamento de saúde, em regime ambulatorial, hospitalar
ou
domiciliar;
IV- inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso
ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação;
V – abrigo em entidade;
VI- abrigo temporário.

- Verificada uma das hipóteses previstas no art. 43, deverá entrar em cena a
figura
protetora do Ministério Público, como legítimo defensor do idoso. Já o Poder
Judiciário agirá por provocação do MP, deferindo ou não seus requerimentos.
Em caso positivo, ordenará medidas cujo rol específico se alinha nos incisos I até
VI.
- ART. 70 - O Poder Público poderá criar varas
especializadas e exclusivas do idoso.

- Na esfera da investigação criminal já há


delegacias especializadas para atendimento ao
idoso. Como os Estados organizarão sua Justiça,
observados os princípios estabelecidos
na Carta Magna (art. 125), poderão tais Unidades
da Federação criar as varas
especializadas no setor, de acordo com as próprias
normas que adotarem, mas a lei de
organização judiciária será de iniciativa do Tribunal
de Justiça respectivo de cada Estado.
- ART. 71- É assegurada prioridade na tramitação dos processos e
procedimentos e na execução dos aos e diligências judiciais em que figure
como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60
anos, em qualquer instância.

- Os processos com pedido de prioridade, para fins de cumprimento à


tramitação, estão sendo identificados por uma etiqueta verde-oliva
afixada na capa em que consta a indicação de maior de 60 anos.

- Pra obter a prioridade, o interessado deverá requerer o benefício ao


Presidente do Tribunal ou ao Ministro relator, conforme o caso, fazendo
juntar à petição prova de sua idade. A prioridade se dará na tramitação,
no processamento, nos julgamentos e nos demais procedimentos dos
processos judiciais e administrativos, frente à Administração Pública,
direta e indireta, bem como nas empresas prestadoras de serviços
públicos, incluindo-se as instituições financeiras. Em tais processos e
procedimentos dever-se-á identificar os autos e papéis nos mesmos
moldes referidos na tramitação judicial.
- ART. 90- Os agentes públicos em geral, os juízes e
tribunais, no exercício de duas funções,
quando tiverem conhecimento de fatos que possam
configurar crime de ação pública
contra idoso ou ensejar a propositura de ação para sua
defesa, devem encaminhar as
peças pertinentes ao Ministério Público, par as
providências cabíveis.
- Na prática o que observa-se que o Ministério Público,
diante de tais peças de informação,
acaba requisitando a instauração de inquérito policial.
- ART. 91 – Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às
autoridades competentes as certidões e informações que julgar
necessárias, que serão fornecidas no prazo de 10 (dez) dias.

- A CF consagrou a todos, independentemente do pagamento de taxas, o


direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder (art. 5º, XXXIV). A Lei nº 9.051/1995
marcou o prazo de cumprimento ao pedido em 15 dias. O Estatuto do
Idoso, em defesa da classe, fixou o prazo de 10 dias para o
recebimento de certidões e/ou informações. Como a lei especial
sobrepõe-se à lei geral, passa a valer o prazo de 10 dias para a oferta dos
documentos requeridos.
- ART. 92 – O Ministério Público poderá instaurar
sob sua presidência, inquérito civil, ou
requisitar, de qualquer pessoa, organismo público
ou particular, certidões, informações,
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual
não poderá ser inferior a 10 dias.

- A instauração de inquérito civil, por parte do


Ministério Público, é obra da Lei 7347/85,
que, segundo aqui se escreveu, veio disciplinar a
ação civil pública.
- TÍTULO VI - DOS CRIMES

- Anteriormente à promulgação deste Estatuto, era possível encontrar, em alguns


tipos penais, normas que pretendiam, ainda que timidamente, proteger os
idosos. Assim, no art. 61, II, “h” do CP, era circunstância que sempre agravava a
pena ter o agente cometido o crime “contra criança, velho, enfermo e mulher
grávida”. Da mesma forma, o art. 244 ressalvava: “Deixar, sem justa causa, de
prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 anos ou inapto para o
trabalho ou de descendente inválido ou valetudinário, não lhes proporcionando
os recursos necessários”. Valetudinário é o incapaz de exercer alguma atividade
em razão de idade avançada ou constituição física enferma ou doentia. Tais
expressões tinham conotação pejorativa e preconceituosa, o que foi corrigido
neste Estatuto.

- ART. 93 – Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei


7347/85.

- A Lei 7347/85, referida nesta obra, abriu, além de importantes pontos


disciplinadores da ação civil pública por danos causados ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artísticos, estético, turístico e
- ART. 94 – Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de
liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento
previsto na Lei 9.099/95 e, subsidiariamente, no que couber, as
disposições do Código Penal e do Código de processo Penal.

- Há duas interpretações possíveis para este dispositivo: a) aplica-se


integralmente a Lei 9.099/95, ou seja, cabe transação e suspensão
condicional do processo, bem como, na impossibilidade destes benefícios,
apenas o procedimento célere lá previsto; b) aplica-se o procedimento
célere da Lei 9.099/95, mas não a transação ou a suspensão condicional do
processo. Esses benefícios seriam válidos somente se as infrações não
ultrapassassem os limites legais (dois anos de pena máxima para a
transação e um ano de pena mínima para a suspensão condicional do
processo). Adotar a primeira interpretação seria exterminar a principal
meta deste Estatuto, que é a consagração da maior proteção ao idoso. O
STF, apreciando a questão, decidiu pela segunda corrente, ou seja, dando
interpretação conforme a Constituição a este dispositivo, no sentido de se
aplicar apenas o procedimento célere previsto na Lei 9.099/95 e não os
outros benefícios ali previstos.
- ART. 95- Os crimes definidos nesta Lei são de ação
penal pública incondicionada, não se
lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.
- Importância do dispositivo: concentra-se na exclusão
da imunidade, tanto a absoluta
(art. 181, CP), quanto a relativa (art. 182, CP). Significa,
portanto, qualquer delito praticado
contra idoso, seja de caráter patrimonial ou não, com ou
sem violência ou grave ameaça, a
ação é pública incondicionada.
- ART. 96 – Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu
acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de
contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao
exercício da cidadania, por motivo de idade.
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1.º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar
ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.
§ 2.º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se
encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente.

- Discriminar significa tratar desigualmente, estabelecer algum critério


injusto a idoso em razão da idade. Este dispositivo exige o dolo
específico, sendo necessário provar que a discriminação ocorreu por
motivo de idade, e não por restrições físicas e materiais, como,
por exemplo, excessivo número de passageiros em um coletivo, ou
restrições não abusivas dirigidas a qualquer pessoa. A CF já havia
previsto o crime de discriminação e o pôs como atentatório aos direitos
e liberdades fundamentais (art. 5º, XLI).
- ART. 97 – Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua
assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de
autoridade pública.
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão
corporal de natureza grave, triplicada,se resulta a morte.

- Este dispositivo assemelha-se, em alguns pontos, com o crime do art. 135 do CP.

- Recusa da vítima: Embora a pessoa tenha atingido a idade de 60 anos, não se torna
incapaz automaticamente, de modo que qualquer um possa decidir o que ela deve ou
não fazer. Por isso, é fundamental respeitar o desejo de qualquer pessoa, inclusive o
idoso, quando mentalmente capaz, para deixar-se socorrer. Somente em situação de
estado de necessidade, estando em jogo valor superior à liberdade individual (como a
vida, por exemplo), interfere-se, contra a vontade do sujeito passivo, promovendo o
auxílio a qualquer custo.

- Figuras preterdolosas: Somente pode haver dolo de perigo na primeira parte (deixar de
algum modo, de prestar socorro, com o fito de permitir que o idoso corra riscos), mas a
segunda parte (lesão grave) ou (morte) há de ser por culpa. Do contrário, haveria lesão
dolosa consumada ou homicídio doloso consumado, conforme a situação concreta.
- ART. 98- Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de
longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades
básicas, quando obrigado por lei ou mandado.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.

- A segunda parte deste artigo pode ser encaixada no “abandono material”,


previsto no art. 244 do CP. O abandono em hospitais ou instituições
congêneres não deixa de ser, à primeira vista, um abandono material e, à
segunda vista, um abandono moral.
Não se pode falar em abandono ou provimento de afeto ou amor, pois seria
uma invasão legal, porém, a partir do instante em que a lei passar a exigir a
doação espontânea de amor a alguém, ingressaremos no mundo metafísico,
deslegitimador do Direito Penal da intervenção mínima.
Em suma, o abandono, passível de comprovação, é o material, objeto deste
tipo penal.

- Norma penal em branco: É preciso checar a legislação extrapenal para


conhecer quem está obrigado a zelar pelo idoso (Código Civil, art. 1694 e
seguintes).
- ART. 99 – Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso,
submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de
alimentos e
cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a
trabalho excessivo ou inadequado.
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1.º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 2.º Se resulta a morte:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze ) anos.

- Novamente o Código Penal, de dois modos, tem reflexos neste Estatuto. O


expor a vida ou a saúde de outrem a perigo é um tipo integrante de seu
repertório, conforme mostra o seu art. 132. Em segundo lugar, o submeter
uma pessoa a condições desumanas e degradantes, privando-a de alimentos e
cuidados indispensáveis, encontra estreita similaridade no art. 136 do CP.

- Figuras preterdolosas (§§ 1.º e 2.º).


- ART. 100 – Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:

I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;

II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;

III- recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde,


sem justa causa, a pessoa idosa;

IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem


judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;

V- recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil


objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.

- Se na essência do trabalho se exige uma condição própria para seu desempenho, é claro
que o candidato ao cargo deverá cumprir determinados requisitos. Não é atitude
racional exigir que uma empresa contrate determinada pessoa, bastante idosa, para
servir como segurança. Em contrapartida, não é possível, à mesma empresa, recusar os
préstimos profissionais de um contador só porque é ele um idoso. Tudo tem sua
medida.
- ART. 101 – Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo
motivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações em
que for parte ou interveniente o idoso:
Pena- detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

- Elemento subjetivo: É o dolo. Cremos deve estar presente o


elemento subjetivo específico implícito consistente na
vontade de desobedecer. Nem sempre a recusa, o retardo e a
omissão, em si mesmas, representam o intuito de frustrar
direito do idoso ou implicam em menosprezar exigência legal.
Não se pune a forma culposa.
- ART. 102 – Apropriar-se de ou desviar bens, proventos,
pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-
lhes aplicação diversa da de sua finalidade.
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.

- Apropriar-se é justamente tomar do idoso qualquer coisa


sua, para destino diverso da finalidade original. O mesmo
se diga da conduta de desviar bens. Este tipo constitui, na
realidade, a apropriação indébita do idoso.

- Confronto com o art. 168 do CP: Havendo apropriação de


coisa alheia móvel de pessoa maior de 60 anos segue-se o
disposto neste Estatuto e não mais o preceituado no art.
168 do CP.
- ART. 103 – Negar o acolhimento ou a permanência do idoso,
como abrigado, por recusa deste em outorgar procuração à
entidade de atendimento:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

- Este dispositivo objetiva proteger a liberdade do idoso de


outorgar procuração a quem e quando desejar. Busca, ainda, a
proteção dos idosos quando necessitam de abrigos em
entidades, algumas das quais valem-se dessa prática, obrigando o
idoso a lhes outorgar procuração e, dessa forma, praticar atos
diversos sem o conhecimento do outorgante, tais como saques de
dinheiro em estabelecimentos bancários, recebimento de valores
pertencentes ao abrigado, entre outros, quase sempre de cunho
patrimonial. Crime próprio.

- Este tipo penal representa, na realidade, uma garantia forçada


de adimplemento do custeio da estada.
- ART.104 – Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a
benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem como qualquer
outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou
ressarcimento de dívida:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.

- Neste dispositivo, o legislador objetiva a punição de quem, tendo


dívida contra o idoso, em vez de recorrer aos meios legais de
cobrança, realiza a figura típica.
- A retenção de qualquer documento de identificação pessoal tem
proibição expressa em Lei, diante de duas sérias razões.
Primeiramente, há lei especial proibitiva dessa conduta
(Lei 5553/68) e, em segundo lugar, é possível incidir-se no “exercício
arbitrário das próprias razões” (art. 345 do CP).
- ART. 105 – Exibir ou veicular, por qualquer meio de
comunicação, informações ou imagens depreciativas ou
injuriosas à pessoa do idoso:
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.

- Exibir, segundo o dispositivo, é tornar algo visível ou


perceptível a outrem, de maneira intencional. Veicular é
divulgar, propagar, transmitir e difundir algo. Exige-se o dolo
específico, ou seja, o especial fim de agir do autor do ilícito,
visando à depreciação e a ofensa à pessoa do idoso. Este
artigo busca, assim, a proteção da honra, da imagem e da
intimidade do idoso. O animus jocandi (vontade de fazer
piada ou brincadeira) afasta o crime. Aliás, não fosse assim e
vários humoristas seriam processados com base nesta lei.
Não há a forma culposa.
- ART.106 – Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus
atos a outorgar procuração para fins de administração de
bens ou deles dispor livremente.
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

- Este dispositivo significa, praticamente, iludir um semi-


imputável ou inimputável, atingindo seu patrimônio.

- A nota diferencial entre as descrições dos tipos (deste


Estatuto e do Código Penal – art. 171) é a maior facilidade
de enquadramento penal do agente, por seu ato, diante do
Estatuto.
- ART.107 – Coagir, de qualquer
modo, o idoso a doar, contratar,
testar ou outorgar
procuração:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5
(cinco) anos.

- Este dispositivo é uma variante


do crime de constrangimento
ilegal (art. 146 do CP), que
também visa, como no artigo
anterior, a restrição da apropriação
de bens, valores e
benefícios pertencentes aos idosos.
- ART. 108 – Lavrar ato notarial que envolva pessoa
idosa sem discernimento de seus
atos, sem a devida representação legal:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

- A pessoa sem discernimento de seus atos é


considerada incapaz para a prática de atos
da vida civil. Por tal razão será necessariamente
representada ou assistida, conforme se
trate de absoluta ou relativamente incapaz. O novo
Código Civil nomeia, nos seus arts.
3º e 4º, as pessoas incapazes, delimitando-as na sua
capacidade absoluta e relativa.
APLICAÇÃO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI MARIA DA PENHA EM
BENEFÍCIO DA PESSOA IDOSA

Ao tratar do conceito de justiça distributiva, ensina Aristóteles: “se as pessoas


não são iguais, não receberão coisas iguais”. Essa premissa tem influenciado
significativamente a formação do pensamento jurídico sobre o princípio da
igualdade, cuja concretização se dá não quando há tratamento semelhante
para todas as pessoas ou situações, mas, sim, quando conferem direitos e
prerrogativas proporcionalmente aos indivíduos, de modo a minimizar as
desigualdades fáticas existentes.
No escopo de efetivar essa proteção constitucional ao idoso, o operador do
direito precisa sempre buscar, dentre os meios previstos no ordenamento
jurídico, aquele que garanta mais eficácia aos seus direitos. Com base nesse
raciocínio, algumas vozes do meio jurídico tem levantado a possibilidade de se
aplicarem institutos protetivos contemplados pela Lei 11.340/2006 à violência
praticada no âmbito das relações familiares contra vítimas idosas, ainda que
do sexo masculino.

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