Sonho-me às vezes rei, nalguma ilha, Sonho do eu poético: Muito longe, nos mares do Oriente, ser rei numa ilha Onde a noite é balsâmica e fulgente Oriente E a lua cheia sobre as águas brilha... «muito longe» O aroma da magnólia e da baunilha Descrição da ilha Paira no ar diáfano e dormente... Lambe a orla dos bosques, vagamente, O mar com finas ondas de escumilha...
E enquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto num cismar sem fim, Tu, meu amor, divagas ao luar,
Do profundo jardim pelas clareiras, O tu
no sonho Ou descansas debaixo das palmeiras, Tendo aos pés um leão familiar. Frederick Arthur Bridgman, Afternoon in dreams, c. 1900
Frederick Arthur Bridgman, Tarde em sonhos (c. 1900).
Versos 1-8 Plano onírico / idealização Rei: poder absoluto Sonho-me às vezes rei, nalguma ilha, (na imaginação, no sonho) Muito longe, nos mares do Oriente, Onde a noite é balsâmica e fulgente balsâmica E a lua cheia sobre as águas brilha... Sensações fulgente visuais, magnólia olfativas, O aroma da magnólia e da baunilha baunilha auditivas Paira no ar diáfano e dormente... diáfano e gustativas Lambe a orla dos bosques, vagamente, mar: O mar com finas ondas de escumilha... campo lexical de Oriente muito longe:
distante o diferente / o distante
da banalidade do quotidiano • Evasão • Idealização Assonância em m: movimento das ondas Versos 9-14
E enquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto num cismar sem fim, Eu + Tu («meu amor») Tu, meu amor, divagas ao luar,
Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descansas debaixo das palmeiras, Felicidade Cismar Tendo aos pés um leão familiar. partilhada: Divagar Amor Descansar Existência Num lugar serena Leão domesticado: «muito longe» idealização Distante Existência da vivência comum, harmoniosa quotidiana Plano ideal John Frederick Lewis, A refeição do meio-dia, Cairo (1875).