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Perfilagem de Poços

Perfil Raios Gama

Universidade Federal Fluminense


PROPRIEDADES RADIOATIVAS DAS ROCHAS

Basicamente um átomo consiste de:


• Nêutrons de massa igual a 1 U.M.A. e nenhuma carga elétrica;
• Prótons de massa igual a 1 U.M.A. e carga elétrica positiva;
• Elétrons com massa desprezível e carga elétrica negativa.
O número de massa (A) representa o número de prótons e nêutrons existente
no núcleo.
O número atômico (Z) indica a quantidade de prótons do núcleo ou de elétrons
da eletrosfera.
Chama-se de isótopo aos diferentes estados de um elemento qualquer onde se
observam valores diferentes de A enquanto Z permanece inalterado.
Alguns isótopos são estáveis, enquanto que outros, instáveis, trocam
naturalmente de estrutura e emitem energia em forma de radiações,
transformando-se em elementos diferentes.
PROPRIEDADES RADIOATIVAS DAS ROCHAS

A maior parte da energia liberada por estes núcleos, durante sua fase de
instabilidade temporária, consiste de:

Raios ALFA – de natureza positiva, possuem 4


vezes a massa do próton. Devido a sua grande
massa, penetram apenas algumas folhas de
papel.

Raios BETA – de natureza negativa, são


elétrons de pequena massa, sendo
portanto facilmente desviados pelos
campos magnéticos. Podem penetrar
vários milímetros em alumínio.

(Schlumberger,1982)
PROPRIEDADES RADIOATIVAS DAS ROCHAS

Raios GAMA - não são desviados pelos campos magnéticos por não possuírem
carga. São radiações eletromagnéticas similares às ondas de luz e de rádio.
Penetra espessos materiais e é absorvido apenas por várias polegadas de
chumbo.

(Schlumberger,1982)

Destas radiações, apenas a GAMA é detectada pelos equipamentos normais de


perfilagem, devido a sua alta capacidade de penetração em material denso.
O PERFIL DE RAIOS GAMA - GR

ENERGIA E CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS RADIAÇÕES

Radioatividade é a propriedade que tem certos átomos de emitir


espontaneamente radiação, por efeito da instabilidade de seus núcleos.

A unidade usada para quantificar os Raios Gama é referida como milhões de


elétron-volts, MeV.

Definição MeV.:
A unidade de energia usada para descrever a quantidade dos Raios Gama é
igual à energia adquirida por um elétron que se desloca em direção a um
ânodo, tendo um potencial elétrico de um milhão de volts mais positivo do
que o potencial na sua fonte de origem. Esta unidade é referida como
milhões de elétrons-volts (MeV).
Interação da radiação com a matéria vai depender da energia e da rocha: Efeito
Compton, Efeito fotoelétrico e Produção de Pares.

Efeito Fotoelétrico: Cedem toda sua energia aos


elétrons orbitais, especialmente se o átomo tem
grande diâmetro. O fóton desaparece e o elétron
se transforma em um fotoelétron livre. Acontece
com energias menores que 100 KeV

Efeito Compton: o fóton incidente ejeta o


elétron da sua órbita, cedendo parte de sua
energia e sofrendo desvio. Acontece com
grande variação de energias.

Produção de Pares: O fóton incidente, caso tenha


energia suficiente, interage com o núcleo dos átomos
e sua energia se converte em um par de elétrons, um
positivo e um negativo. O negativo se torna um
elétron livre e o positivo reage com outro elétron
liberando energia.
(Johnson & Pile, 2002)
Convêm lembrar que os
raios gama naturais, por
possuírem níveis energéticos
da ordem de 1,4 a 2,6 MeV,
interagem basicamente com
a matéria por meio de
colisões tipo Efeito Compton.
(Tittman, 1986)

Os Raios Gama naturais se originam primariamente de três fontes distintas:


1. dos principais elementos filhos provenientes da desintegração do Urânio235
(Bismuto214 e Chumbo214)
2. do principal elemento filho proveniente da desintegração do Tório232
(Tálio208)
3. do Potássio40
A DEPOSIÇÃO DOS RADIOELEMENTOS

Qualquer elemento radioativo natural ocorre originalmente nas rochas ígneas,


os quais, durante os processos de erosão e redistribuição dos fragmentos, são
espalhados dentro das rochas sedimentares e na água do mar.
 
As argilas e/ou folhelhos são os elementos mais naturalmente radioativos entre
as rochas sedimentares, devido a habilidade em reter íons Urânio e o Tório. A
radiação emitida pelo Potássio40 geralmente é da ordem de 20% do total
registrado.

As argilas tem sua radioatividade natural oriunda basicamente do Potássio, de


uma quantidade razoável de Tório e de uma quantidade variável de Urânio.
Essa combinação registra uma amplitude normal para os folhelhos da ordem de
75 a 150 unidades API (°API).
A DEPOSIÇÃO DOS RADIOELEMENTOS

Os folhelhos são as rochas que apresentam os mais altos valores de


radioatividade após os evaporitos potássicos.

Para calcários, dolomitos e arenitos - a presença ou não de elementos


radioativos depende de sua origem deposicional.

De um modo geral, nos carbonatos, por resultarem da matéria esqueletal da


vida marinha, a radioatividade esperada é a mais baixa possível.

Já os dolomitos, por terem sido mineralizados através de águas percolantes,


com possibilidade de contaminação, apresentam uma radioatividade um pouco
maior que a dos calcários.

Os arenitos por terem mais chances de se contaminarem com argila são as que
apresentam mais alta radioatividade.
 
A DEPOSIÇÃO DOS RADIOELEMENTOS

Os minerais contendo potássio nas formações sedimentares são numerosos. A


tabela mostra um numero de evaporitos com alto conteúdo de potássio, sendo a
mais conhecida a silvita.

Rochas com excesso de grãos de feldspatos (arcósios) ou conglomerados


polimíticos são as exceções a esta regra.
PRINCÍPIO DE MEDIÇÃO DO PERFIL DE RAIOS GAMA

Pode usar um detector de radioatividade do tipo Câmara de Ionização, tubo


Geiger-Mueller, Contador Proporcional ou Cintilômetro, deslocando-se a uma
velocidade uniforme dentro de um poço. A curva assim registrada é
denominada de curva de Raios Gama ou GR.
 
Os Raios Gama não são detectados diretamente como energia eletromagnética,
mas por intermédio de interações, desses raios, com os átomos ou moléculas no
interior dos detectores (ionização).

Os detectores são cristais que emitem


luz quando atingidos por um fóton. Os
cristais são acoplados fotomultiplicador,
que amplifica a corrente elétrica em um
milhão de vezes (cintilômetros).

(Schlumberger,1982)
FERRAMENTAS DE RAIOS GAMA

Existem duas ferramentas de Raios Gama:


- aquelas que se utilizam de um só canal analisador da altura do pulso e,
- aquelas com multicanais analisadores, que conseguem identificar todo o
espectro energético, discriminando cada um dos seus componentes.

São denominadas de perfil de Raios Gama (convencional) - GR - e Perfil de


Espectrometria Natural - NGS.

A intensidade da cintilação
é diretamente proporcional
à energia do fóton.
Identifica-se os diferentes
tipos de radiação,
provenientes do K40,
Th232 ou U235 pela altura
do pulso.
(Tittman, 1986)
Natural Gama Ray de espectrometria (NGS)
• A radiação gama tem seu
origem em três isótopos:
– Decaimento do Potássio 40
até Argon 40 com emissão
de 1,46 MeV.
– Urânio 238
– Tório 232

• Urânio e tório passam por uma


seqüência de vários isótopos
intermediários até atingir a
estabilidade, portanto, um
espectro complexo de energia é (Schlumberger,1982)

obtido
Assim como o perfil GR, o
NGS mede a radioatividade
natural das formações. A
diferença é que o NGS registra
o tanto o GR total quanto o
nível de energia da
concentração dos elementos
radioativos do potássio, tório e
urânio das rochas.

Interpretação

Potássio: micas, feldespatos,


argilas micaceas (ilita),
evaporitos radioativos
tório: folhelhos, minerais
pesados
urânio: fosfatos, materia
organica.
(Schlumberger,1982)
FATORES QUE AFETAM AS LEITURAS DOS PERFIS RAIOS GAMA

-Detectores de Radiação
Contador Geiger-Mueller - Câmara de Ionização - Cintilômetro
- Raio de Investigação
- Variações Estatísticas
- Efeitos do Poço

Detectores de Radiação:

O Contador Geiger-Mueller consiste de uma câmara gás a baixa pressão e


um fio central sob alta voltagem. A penetração de Raios Gama provoca a
ionização das moléculas do gás.

A Câmara de Ionização é semelhante a um Geiger-Müeller, porém o gás


ionizável está a alta pressão e a voltagem do fio central é baixa.

O Cintilômetro baseia no fato de que os Raios Gama produzem finas


centelhas de luz e que ao atingir certos tipos de cristais, são convertidas em
pulsos elétricos, cuja altura depende da quantidade de energia absorvida.
Esse tipo de detector é muito mais eficiente que os detectores a gás
Raio de Investigação

O valor registrado provém de uma zona localizada dentro de um raio das 6 (seis)
primeiras polegadas a partir da parede do poço. O efeito da interposição de
material adicional, entre a formação e o detector, reduz sensivelmente e
quantidade total dos Raios Gama úteis mas não descarta totalmente o valor
registrado pelo perfil.

Variações Estatísticas

As emissões radioativas têm natureza estatística. Meia-vida é o tempo


necessário para que a metade dos átomos de um elemento qualquer se
decomponha. Ela varia desde frações de segundos até milhões de anos.
 
O conceito de Constante de Tempo, é o tempo, em segundos, no qual o detector
realiza uma média aritmética dos fótons registrados.

A seleção entre a constante de tempo e a velocidade de perfilagem é realizada


de modo a corresponder ao critério de aceitação da qualidade da leitura
estatística. Os perfis elétricos ou os acústicos são geralmente corridos com
velocidades maiores.
Efeitos do Poço

A presença de elementos pesados na lama do poço (baritina), revestimento


e cimento, provoca uma redução na amplitude da leitura realizada pelo
perfil. Existem correções para tais distorções.

Raio de Investigação

Estudos mostram que 90% do valor


registrado pela curva dos Raios
Gama provém de uma zona
localizada dentro de um raio das 6
(seis) primeiras polegadas a partir da
parede do poço.

(Serra, 2008)
USOS PRINCIPAIS DO PERFIL DE RAIOS
GAMA

O perfil de Raios Gama permite distinguir os


folhelhos e/ou argilas dos demais tipos
litológicos.

A principal vantagem é sua aplicação por


dentro de tubulações e perdem somente a
metade de sua intensidade após haver
penetrado cerca de 1/2 polegada em aço.

Reflete a proporção de folhelho ou argila de


uma formação, pode-se utilizá-lo como um
indicador do teor de folhelho ou argilosidade
das rochas.

O GR é também usado para detecção e


avaliação de minerais radioativos, tais como
Urânio, Tório, etc.
(Schlumberger,1982)
UNIDADES DO PERFIL DE RAIOS GAMA

Surgiu a Unidade Padrão API (°API), que é a medida da radioatividade de uma


rocha (radioativa artificialmente) que serve de normalização.

A unidade API é definida como sendo 1/200 da diferença entre as deflexões de


duas zonas de diferentes intensidades de Raios Gama num poço teste da
Universidade de Houston, USA. A diferença na radioatividade entre o maior e o
menor valor é, por definição, igual a 200 unidades API (°AI).

Antes de essa calibração as unidades


do GR tinham a escala de microgramas
de equivalente em rádio por tonelada de
formação.

(Serra, 2008)
APRESENTAÇÃO DO
PERFIL DE RAIOS
GAMA

O Raios Gama é
registrado sempre na
primeira faixa (track),
em escala crescente da
esquerda para a direita,
em geral, de 0 a 200
°API.
INTERPRETAÇÃO DOS PERFIS DE RAIOS GAMA
2 Para rochas
antigas:
consolidadas e Vsh  0,33 [2 ( 2IGR )  1,0]
Para rochas consolidadas e do
3 terciário:
Vsh  0,083 [2 ( 3, 7I GR )  1,0]

1 Vsh  I GR

Linear (1) :
densidades semelhantes
entre arenitos e folhelhos

Exponencial (2) e (3):


densidade aumenta com o
aumento da argilosidade.

(Schlumberger,1982)
Influencia da Argilosidade
• A presença de minerais argilosos nos reservatórios afeta a
identificação de hidrocarbonetos e provoca um calculo menor
no volume de petróleo.
• A argilosidade altera o espaço poroso das rochas, diminuindo
a sua permeabilidade absoluta.
• Classificação geral em função do teor de argila.
– Arenito limpo 0-5% de Vsh
– Arenito pouco argiloso 5 -10% de Vsh
– Arenito argiloso 10 – 35% de Vsh
– Arenito muito argiloso 35 – 65% de Vsh
– Folheho > 65% de Vsh
• Laminar – pequenas camadas de argila entre as camadas de areia.
Afeta a K vertical dos arenitos.
• Estrutural- na forma de grãos ou nódulos na matriz da rocha, aceita-se
que tenham as mesmas propriedades que o folhelho adjacente.
• Dispersa – material disperso preenchendo o espaço poroso,
especialmente as gargantas dos poros ou ocorrem em forma de coatings
(filmes envolvendo os grãos). Reduz drasticamente a permeabilidade.

(Tittman, 1986)
USOS DO PERFIL DE RAIOS GAMA

• Identificação da litologia
• Correlação entre poços vizinhos
• Identificação de minerais radioativos, ambiente deposicional, historia
diagenetica.  NGS
• Volume de Folhelho (VSHGR)
• Pode ser corrido em poços já revestidos
• Usos especiais:
- Identificação de intervalos canhoneados
- Determinação exata de profundidades
- Detecção de fluxo fluido atrás dos revestimentos

PROBLEMA
 Atenção para a possibilidade de arenitos radioativos.
Interpretação Sedimentologica

Sino: Camada inferior


tem sua base
granulometria mais
grosseira, o que
poderia ser resultante
de uma deposição tipo
leque (turbidito).

Funil: Camada superior


mais grosseira poderia
representar uma
barreira ou alta
atividade maritima.
(Schlumberger,1982)
Problema. Identificar as características de sino,
funil e cilindro no perfil mostrado. Avaliar a
argilosidade na profundidade de 6000’-7000’

Sino: 2000’ – 3400’ granulação grosseira na base

Cilindro: 3400’ – 5000’; 6200’-7000’; 7000’ –


8000’ granulação grosseira constante.

Funil: 8000’ – 9000’ granulação grosseira no topo.

Índice de argilosidade: 6200’ – 8000’

GRlog  GRmin 75  30
I sh    0,5
GRmax  GRmin 120  30

Camadas de folhelho 1200’-2000’; 5000’-6000’;


9000’-10000’
Referencias Bibliográficas

Ellis, D. V. & Singer, J. M. Well logging for Earth Scientists.


Springer-Verlag., 2007.
-Rider, M. H., The Geological Interpretation of Well logs. Gulf
Publishing, 1996.
- Schlumberger, Anne. The Schlumberger Adventure. 1982
- Schlumberger. Log Interpretation. Principles/Applications.
1989
- Serra, O., Well logging Handbook., TECHNIP, 2008.
- Tittmam, J. Geophysical Well logging. Academic Press Inc.,
1986.

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