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FICHAMENTO

“Ninguém é capaz de escrever bem, se não sabe bem o que vai escrever”
(CÂMARA JÚNIOR, 1978, p. 58)

Prof. Ma Maria do Socorro Nóbrega Lopes


• Um dos primeiros passos, depois de estabelecido o objeto da
pesquisa e o problema que se propõe resolver, é fazer um
levantamento de referências de livros e artigos científicos que
possam ser utilizados como embasamento da pesquisa.
• Frequentemente, há obstáculos a vencer no início da utilização das
fichas como método de estudo e de redação. Uma dessas
dificuldades é relativa ao dispêndio inicial de tempo, à metodologia
de transcrição de texto, às anotações bibliográficas. Para quem não
pratica costumeiramente a atividade de fichamento, essa prática
parece demorada, desgastante, aborrecível, entediante.
Trata-se de uma listagem de obras, que podem ser registradas em fichas individuais ou
em um arquivo eletrônico, como se fossem as referências bibliográficas que são postas
ao final de um trabalho acadêmico-científico.

Vai-se a uma biblioteca (em alguns casos, até mesmo de casa se pode fazer esse
levantamento) e registram-se o nome do autor, o título da obra, a edição, o local e o
nome da editora, o ano da publicação.

Quando se trata de um capítulo de um livro, anotam-se: título do capítulo e as demais


informações bibliográficas (autor, título da obra, edição, local, editora, ano e número
das páginas inicial e final do texto a ser lido). Artigos científicos impressos ou
eletrônicos também devem constar desse levantamento. Nesse caso, consultam-se os
arquivos da biblioteca e as mais variadas bases de dados que possam ser localizadas.
Também é possível localizar artigos científicos na Internet, acionando o nome de um
autor da área da pesquisa ou uma palavra-chave (um tópico) do tema do trabalho.
TIPOS DE FICHAMENTO
• Outros arquivos igualmente relevantes durante a fase de coleta de
informações são: o arquivo de comentário de leituras e de citações
diretas e indiretas.
• O arquivo de leitura consiste no registro de resumos, comentários,
citações direta e indiretas, enfim tudo o que possa servir como
embasamento para o desenvolvimento de um trabalho acadêmico,
que não é um ensaio, mas um texto que se apoia necessariamente
em um referencial teórico.
• As referências devem ser realizadas com critério e segundo as
normas da ABNT, NBR 6023:2018.
• Rigor na transcrição das informações bibliográficas é o que se pede: nome do autor
como aparece na capa ou no frontispício do livro, título preciso da obra, local, editora,
ano, páginas de onde se tirou a informação.
• Eco (1989, p. 48) faz analogia entre o estudioso que desrespeita as normas funcionais
de um trabalho e um jogador inexperiente que emprega mal as expressões-chave do
jogo. Tanto um quanto outro serão olhados com suspeita, “como uma espécie de
intruso”.

• Como se faz uma tese distingue variados tipos de ficha: de leitura, temáticas, por
autores, de citações, de trabalho. Esta última compreende problematizações,
sugestões, ligação entre ideias e seções do plano de ideias. As fichas constituem
valioso recurso de estudo de que se valem os pesquisadores para a realização de uma
obra acadêmica, didática, científica e outras.
• As anotações que ocupam mais de uma ficha de papel têm o cabeçalho da
primeira ficha repetido. Anotadas, porém, em arquivos eletrônicos, o
pesquisador, além do procedimento a que está acostumado, pode se valer de:
abrir uma pasta com o título da pesquisa a ser empreendida e nela registrar
sucessivos arquivos, sempre não se esquecendo das informações sobre as
referências bibliográficas completas. Também pode simplesmente registrar em
um arquivo sucessivos tópicos (em letras maiúsculas, ou, se já tiver um plano
estabelecido [um sumário preliminar do que vai desenvolver na pesquisa], o
nome da seção correspondente desse sumário preliminar). Nesses casos, cada
tópico constitui um parágrafo. Ao término de cada registro, faz-se a classificação
alfabética. Quando o pesquisador se puser a escrever o primeiro rascunho de seu
trabalho acadêmico-científico, localizará com facilidade as informações que
registrou.
• As fichas, sejam elas escritas em papel ou registradas
eletronicamente, compreendem cabeçalho, referências
bibliográficas, corpo da ficha e local onde se encontra a obra (esta
última informação é importante sobretudo quando se frequentam
diversas bibliotecas; no caso de informações eletrônica, não
esquecer de registrar o endereço eletrônico com rigor).
• O cabeçalho engloba título genérico ou específico e letra indicativa
da sequência das fichas, se for utilizada mais de uma (nos registros
eletrônicos, não há essa preocupação, visto que seu espaço é
ilimitado).
ELEMENTOS ESTRUTURAIS DE UMA
FICHA
• Todo o trabalho de fichamento é precedido por uma leitura atenta do
texto. Leitura que se faz com a análise do texto, separando suas partes
e examinando como se inter-relacionam. Verificamos ainda como o
texto dialoga com outros, que sentidos produz, que tese defende.
• O primeiro nível de leitura é denotativo, parafrástico. Cuida do
vocabulário, das informações sobre o autor, do contexto histórico,
socioeconômico e objetivo do texto. Atenta também para a teoria
desenvolvida ou conceitos apresentados. Examina os sentidos
centrais, procurando identificar de que trata o texto. Busca-se também
observar como se desenvolve o raciocínio do autor, quais suas teses e
provas, enfim, verifica-se o encadeamento dos sentidos produzidos
• No segundo nível (o que se pode fazer com base na análise crítica do
discurso), o leitor interpreta os significados não transparentes: a
leitura aqui é polissêmica. A pergunta a responder é: “O que o autor
quis demonstrar?” Verifica-se a relação do texto com a realidade de
seu tempo.
• O nível seguinte é o da crítica, que não será subjetiva, impressionista,
do tipo gosto/não gosto. O autor atingiu os objetivos estabelecidos? É
claro, coerente? O autor ocupou-se de manter os sentidos produzidos
socialmente ou os criticou? Há originalidade nos sentidos produzidos?
O texto apresenta alguma contribuição para a comunidade científica?
• O passo final é o da problematização, em que se indaga sobre as
possibilidades de aplicação do texto a outras situações, sobre sua
contribuição para nova leitura do mundo.
FICHAS DE LEITURA
• Enquanto a ficha bibliográfica contém apenas as informações
necessárias para localizar um livro (nome do autor, título da obra,
edição, local, editora, ano da publicação), as fichas de leitura, além
dessas informações bibliográficas, registram anotações sobre
tópicos da obra, citações diretas, citações indiretas, comentários,
críticas, juízos valorativos a respeito da obra, resumo do texto. De
modo geral, fichas de leitura de papel, encontradas nas papelarias,
são do seguinte tamanho: Tipo pequeno: 7,5 × 12,5 cm. Tipo médio:
10,5 × 15,5 cm. Tipo grande: 12,5 × 20,5 cm.
• Eco (1989, p. 96) diz ser muitas as formas de fichar um livro. Entre
elas, cita: Indicações bibliográficas precisas. Informações sobre o
autor. Resumo (ou transcrições indiretas, paráfrases). Citações
diretas (transcrições literais). Comentários apreciativos ou de análise
do texto. Para facilitar a realização do trabalho de redação e
consulta ao arquivo, pode-se escrever no alto da ficha a
especificação dela: ficha de comentário, ficha de resumo, ficha de
citação direta
FICHA DE INDICAÇÃO
BIBLIOGRÁFICA
• A indicação das referências bibliográficas é feita segundo a NBR
6023:2018, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O
pesquisador pode transcrever essas informações da ficha
catalográfica, que consta das primeiras páginas dos livros (algumas
editoras trazem a ficha catalográfica nas últimas páginas). Periódicos
apresentam indicações dos elementos identificadores na capa, ou
nas primeira páginas, ou no rodapé dos textos. Exemplo:
• A indicação das referências bibliográficas é feita segundo a NBR
6023:2018, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O
pesquisador pode transcrever essas informações da ficha
catalográfica, que consta das primeiras páginas dos livros (algumas
editoras trazem a ficha catalográfica nas últimas páginas). Periódicos
apresentam indicações dos elementos identificadores na capa, ou
nas primeira páginas, ou no rodapé dos textos.
Exemplos
• MOREIRA, Andréia Godinho; SILVEIRA, Hermínia Maria Martins Lima.
Teorias da subjetividade: convergências e contradições. Revista
ContraPonto. Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 58-69, jul. 2011.
• FERNANDES, Sofia; CAMPOS, João Pedroso. O privilégio é a lei. Veja.
São Paulo: Abril, ed. 2569, ano 51, n. 7, 14 fev. 2018, p. 34-37.
• Se se tratar de artigo de jornal: MELO, Marcus André. Armadilha da
democracia? Folha de S. Paulo. São Paulo, 22 jan. 2018, p. A2.
FICHA DE ASSUNTO
• GÊNEROS DO DISCURSO SEGUNDO A PERSPECTIVA DIALÓGICA DA
LINGUAGEM RODRIGUES
• Rosângela Hammes. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica
da linguagem: a abordagem de Bakhtin. In: MEURER, J. L.; BONINI,
Adair; MOTTA-ROTH, Désirée (org.). Gêneros: teorias, métodos,
debates. São Paulo: Parábola, 2010. p. 153-183.
FICHA DE TÍTULO DE OBRA
• A CONQUISTA DA ABUNDÂNCIA
• FEYERABEND, Paul. A conquista da abundância. Tradução de Cecilia
Prada e Marcelo Rouanet. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2006. 374
p
TIPOS DE FICHAMENTO
• Fichamento pode ser de variados tipos: de transcrição direta, de
paráfrase (citação indireta), de resumo, de comentários avaliativos
etc.
FICHAMENTO DE TRANSCRIÇÃO
(CITAÇÃO DIRETA)
• Nos trabalhos acadêmico-científicos, as citações com até três linhas
são incluídas no parágrafo em que se faz a referência a seu autor e
são contidas por aspas.
• Já as transcrições com mais de três linhas são destacadas, ocupando
parágrafo próprio e observando-se recuo de 4 cm da margem
esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem uso de
aspas. Nesse caso, o entrelinhamento é reduzido (1,5 para o texto; 1
para a citação direta), fonte menor que a utilizada no texto (fonte 11
para o texto do próprio autor; 10 para a citação direta).
EXEMPLO
• “O homem aprende como ver o mundo pelos discursos que assimila
e, na maior parte das vezes, reproduz esses discursos em sua fala”.
(FIORIN, 1988, p. 35).
• Pontua Fiorin (1988, p. 35 que “O homem aprende como ver o mundo
pelos discursos que assimila e, na maior parte das vezes, reproduz
esses discursos em sua fala”.
FICHA DE TRANSCRIÇÃO SEM
CORTES
• PORTO, Maria do Rosário Silveira. Função social da escola. In: FISCHMANN, Roseli
(coord.). Escola brasileira. São Paulo: Atlas, 1987. p. 39-42.
• “Conforme dissemos no item anterior, a pedagogia liberal que marca o
desenvolvimento das escolas do século passado e que ainda influencia a prática
escolar no Brasil é consequência de uma doutrina liberal, que defendia a liberdade e
os interesses individuais numa sociedade cuja organização se direcionava para a
posse da propriedade privada e dos meios de produção; portanto, como justificação
do sistema capitalista.
• Para a pedagogia liberal, a escola tem a função de preparar o indivíduo para
desempenhar papéis sociais, tendo em vista sua aptidão individual, seu talento inato
e seus interesses. Na verdade, o que ela tenta fazer é adaptar o indivíduo às normas
e valores vigentes numa sociedade de classes, por meio do seu desenvolvimento
cultural.”
FICHAMENTO DE TRANSCRIÇÃO COM SUPRESSÃO
INTERMEDIÁRIA DE ALGUMAS PALAVRAS
LEGADO DE AUGUSTO
• ENGEL, Jean-Marie; PALANQUE, Jean-Rémy. O império romano. São Paulo:
Atlas, 1978. p. 9-10.

• “Augusto morreu satisfeito. Meses antes da morte havia redigido um


resumo de seus feitos, as Res gestae, destinado a ser gravado em bronze e
exposto publicamente. Lisonjeava-se de ter instituído ‘o regime mais
venturoso’, de ter dado ao Império limites definitivos e de “morrer com a
esperança de que os fundamentos do Estado permaneceriam inabaláveis”.
[...] Augusto deixou um legado que bastaria simplesmente preservar.
FICHAMENTO DE TRANSCRIÇÃO
COM CORTE DE PARÁGRAFO
INTERMEDIÁRIO
PALEOLÍTICO (de 500.000 a 10.000 anos)
• MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. 3.
ed. São Paulo: Atlas, 1992. p. 92.
• “Há milhões de anos, o Homo habilis (segundo Leakey) predava a natureza para sobreviver, o
que perdurou do Pré-paleolítico ou Eolítico até o final do Paleolítico. Só no ocaso do
Pleistoceno, no Mesolítico, é que ocorreram mudanças mais acentuadas. O homem predador
passa a produtor de alimentos, gerando a primeira grande revolução da história da
humanidade, no setor da economia. É o começo da produção, quando ele cria os seus próprios
recursos. [...].
• Apesar da evidência contida nestes dados, isso não quer dizer que a vida humana se
desenvolveu de forma idêntica em todos os lugares habitados. Os vestígios culturais mais
antigos da presença do Homo parecem ser os encontrados no Oriente e no Sul da África, junto
a fontes naturais, lagos, planícies etc., em terrenos antigos, sempre associados a restos fósseis,
animais e humanos.
FICHA DE TRANSCRIÇÃO DIRETA:
AJUSTES FORMAIS
CULTURA: IMIGRAÇÃO COMO MOVIMENTO DE SENTIDO
• ORLANDI, Eni Puccinelli. Eu, tu, ele: discursos e real da história. 2. ed. Campinas:
Pontes, 2017. p. 71- 72. Eni Puccinelli (2017, p. 71-72), em “Um corpo imigrante”,
texto em que analisa discursos da imigração, trata da questão da cultura, bem como
da relação com os sentidos do corpo imigrante. Afirma:
• “toda cultura apela para uma atividade, um modo de apropriação, uma tomada em
conta e uma transformação pessoais, uma troca instaurada em um grupo social. É
este tipo de cultura que dá a uma época sua figura própria. No prefácio deste mesmo
livro [Culturas no plural], de Certeau nos afirma que ‘Com efeito, a cultura pode ser
comparada a esta arte – e ele se refere à arte social – condicionada pelos lugares,
regras e dados; ela é proliferação de invenções em espaços coercitivos’”.
FICHA DE CITAÇÃO DIRETA SEM
CORTES
IMPRESSIONISMO
• SERULLAZ, Maurice. O impressionismo.Tradução de Álvaro Cabral. São
Paulo: Difel, 1965. p. 8.
• “Representando aquilo que é, por definição, passageiro, os pintores
vão ser levados ulteriormente a executar ‘séries’ onde
acompanhamos as transformações de um local às várias horas do dia.
Mas essas séries, onde o artista quer demonstrar essas
transformações impostas pela luz, não tardarão a tornar-se um
sistema de que a espontaneidade – uma das qualidades fundamentais
do Impressionismo nascente – está logo ausente.”
Fichamento de resumo
• Para a finalidade de fichamento, o resumo constitui-se de uma paráfrase de um
texto original; ele ocupa-se de reduzi-lo, mediante a supressão de informações
consideradas secundárias e ausência de comentários e avaliações.
• FICHA DE RESUMO
IMPRESSIONISMO
• SERULLAZ, Maurice. O impressionismo. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo:
Difel, 1965. p. 8.
• Define o Impressionismo como estética ocupada com o fugaz. O artista capta as
transformações impostas pela luz. Esta característica espontânea inicialmente
torna-se regra, fazendo o movimento posterior diferente do inaugural.
Fichamento de comentário e fichamento
informatizado
• Fichamento de comentário é feito com observação e análise de um
texto.
• Fichamento informatizado: com a difusão dos microcomputadores e
dos processadores de texto, hoje substitui-se o armazenamento de
informações escrito a mão pela digitação e registro em arquivos
eletrônicos, com a vantagem de que não há limite de linhas, como no
fichamento em papel.
• Referências:
• MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos,
resumos e resenhas. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2019

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