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TOXICOLOGIA SOCIAL

PROFª BIANCA ALVES


CONCEITOS

 Toxicologia Social: Área da Toxicologia que estuda os efeitos nocivos decorrentes do uso
não médico nem terapêutico fármacos ou drogas, causando danos não somente ao
indivíduo, mas também à sociedade.

 Uso não médico: termo genérico que engloba compostos lícitos e ilícitos, em qualquer
tipo de exposição (ocasional, freqüente, nocivo ou compulsivo).

 O termo “abuso” aplica-se especificamente a substâncias não-prescritas. Assim, o etanol e


a cocaína, que não costumam ser prescritos, são considerados drogas de abuso.
CONCEITOS

 O “uso indevido” de drogas costuma referir-se ao uso impróprio de substâncias prescritas,


ou ao uso dessas substâncias para fins não-terapêuticos.
FÁRMACOS E DROGAS DE INTERESSE
EM TOXICOLOGIA

Principais drogas de abuso

Opiáceos Heroína; morfina; codeína.

Estimulantes Cocaína; anfetamina; nicotina.

Depressores do SNC Etanol; barbitúricos; benzodiazepínicos

Inalantes n-hexano; cloreto de etila; tolueno; clorofórmio.

Canabinoides Cannabis sativa; ∆9-THC; canabinoides sintéticos.

Alucinógenos LSD; psilocibina; mescalina.


DEPENDÊNCIA QUÍMICA

 A dependência química (DQ) é uma doença crônica e recidivante cuja etiologia tem
natureza multifatorial complexa.
 A dependência é reconhecida pela incapacidade do indivíduo para controlar seu
comportamento. O indivíduo torna-se atraído à repetição compulsiva da experiência,
enfatizando o prazer imediato, apesar das conseqüências negativas em longo prazo, além
de negligenciar responsabilidades sociais importantes.
TOLERÂNCIA

 A tolerância refere-se à diminuição do efeito de uma droga com o uso contínuo, ou a


necessidade de doses maiores para produzir a mesma resposta.
ETANOL

 Substância psicoativa mais consumida pela sociedade (festas e comemorações)

 Alcoolismo: 2ª maior causa de internação em hospitais psiquiátricos;

 11,2% da população brasileira é dependente do etanol (Carlini et al., 2002);

 60% dos acidentes automobilísticos nas cidades e rodovias é causado pelo álcool (1/3 o
pedestre está embriagado)
ETANOL
Funcionamento do bafômetro:

•O álcool presente no "bafo", é convertido em ácido acético:

• Nesta reação o etanol é convertido a ácido acético e o cromo (na forma de íon
cromato)(coloração verde).

• Quanto maior a concentração de álcool mais intensa é a coloração esverdeada


obtida.
TEOR ALCOÓLICO DAS BEBIDAS

LICOR 18-54%

CACHAÇA 39-43%

CONHAQUE 38 - 39%

UÍSQUE 39-40%

VINHO 10-14%

CHOPP 5%

CERVEJA 3-6%
DOSES EQUIVALENTES

350 mL (4,0%) 120 mL (12%) 36 mL (40%)


TOXICOCINÉTICA
Absorção:

 Trato gastrointestinal (TGI): 20% estômago e 80% intestino delgado e


cólon

 Concentração plasmática máxima: 30-90 minutos

 Início da absorção: 5 minutos após a ingestão


TOXICOCINÉTICA
Fatores que influem na absorção do álcool no TGI:
 Plenitude estomacal
 Tipo de bebida (diferentes concentrações)
 Tempo gasto para ingerir a bebida

Distribuição:
• Todos os tecidos e líquidos do corpo

• Se difunde rapidamente através da barreira hematoencefálica

• Se difunde também pela placenta


Metabolização ou Biotransformação do etanol -
Oxidação do etanol

Obs.: 90-98% do etanol ingerido é biotransformado no fígado


através da oxidação
Metabolização ou Biotransformação do etanol - Oxidação do
etanol

 Variedade de isoenzimas que oxidam álcoois de diferentes tamanhos


de cadeia (classes 1 a 5);

Classe 4 presente na mucosa gástrica


  atividade 60% reduzida nas mulheres maior alcoolemia e
suscetibilidade aos efeitos do etanol
TOXICOCINÉTICA

 Aldeído desidrogenase (ALDH)

 Pesente na mitocôndria;

 Sua deficiência é considerada “fator anti-


alcoolismo” – alta incidência em orientais;

 Tratamento para alcoolistas envolve a inibição


da ALDH  dissulfiram;
TOXICOCINÉTICA

Eliminação:

 2-10% do etanol não oxidado são excretados pelos rins, pulmões,


suor e saliva.
NEUROADAPTAÇÃO
Alterações no SNC devido a presença de uma droga ou fármaco, após
exposição única ou repetida, que se manifesta por:

Síndrome de abstinência:

sinais e sintomas característicos da(s) droga(s) utilizadas quando o consumo


é interrompidoa(s) droga(s) são consumidas para redução destes sintomas de
abstinência.

Tolerância farmacodinâmica, farmacocinética e cruzada

necessidade de aumento de dose para obtenção do efeito desejado ou


diminuição marcante dos efeitos quando a dose é mantida.
Síndrome de abstinência:
Geralmente ocorre nas 12-72 h e pode durar de 5-7 dias

 Quadro clínico: 03 estágios

 1ª- Náuseas e vômitos


 2ª- Distúrbios convulsivos
 3ª- “Delirius Tremens”- Alucinações

Dependência:
Física e psicológica
TOXICODINÂMICA
Etanol e monoaminas

1.1 - Ativa liberação dopaminérgica no SNC;


(Efeitos de recompensa do etanol)

Obs.: hipoatividade dopaminérgica: disforia (mecanismo de


neuroadaptação – síndrome de abstinência)

1.2 - Ativa indiretamente vias serotoninérgicas;

1.3 - Diminui a liberação da noradrenalina e aumenta a de peptídeos


opióides.
TOXICODINÂMICA
2. Etanol e aminoácido neurotransmissores

2.1 - Depressor do SNC

Potencia a atividade inibitória mediada pelos receptores GABA-A


2.2 - Inibe ação excitatória mediada pelos receptores do glutamato
(NMDA)

Obs.: Hiperatividade de receptores NMDA glutamanérgicos (Crises


convulsivas) (mecanismo de neuroadaptação – síndrome de abstinência)
2.3 - Atua também no sítio de ligação da glicina (como
antagonista)
EFEITOS TÓXICOS DO ETANOL
INTERFERÊNCIA EM OUTROS
METABOLISMOS

 Altera quase todas vias metabólicas do fígado

 Aumenta síntese de Triglicérides no fígado esteatose

 Aumenta conc. lactato acidose lática


(diminui excreção de ác. úrico GOTA)

 Inibe a gliconeogênese
Intoxicação aguda por etanol

Ingestão de quantidades excessivas de bebidas alcoólicas

Principais sintomas:
 Hipoglicemia  inibição da gliconeogênese
 Coma alcoólico  efeitos tóxicos do etanol no
SNC (parada respirátoria)

Tratamento de emergência:
Infusão intravenosa de glicose + vitamina B1(tiamina) e hemodiálise
em casos extremos
Uso crônico do álcool
 Considerado uso crônico o consumo acima de 80g de etanol diárias (1/4 de
garrafa de cachaça)

 Deficiências vitamínicas (piridoxina, tiamina, folato)

 Distúrbios neurológicos

 Agravamento da gota

DOENÇA HEPÁTICA ALCOÓLICA:

 Esteatose hepática  Hiperlipidemia  CIRROSE


Deficiências vitamínicas
 Dieta deficiente e alteração TGI compromete a absorção
 Lesão hepática prejudica o armazenamento, aumentando a excreção

Principais deficiências:

  tiamina (B1) síndrome de Wernicke-Korsakoff


 (ataxia, confusão mental)

  piridoxina (B6) acetaldeído aumenta degradação

  folato (B9) anemia megaloblástica


Fígado Cirrótico
Fígado normal

Fígado cirrótico
Tratamento

 Ambulatorial + terapia farmacológica

Terapia farmacológica:

 Dissulfiram
 Naltrexona
 Acamprosato
 Diazepam
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOODMAN, L S; GILMAN, A G; BRUNTON, L L.; LAZO, J S.; PARKER,


K L.. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 11.
ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2009 1821 p.

OGA, S. Fundamentos de Toxicologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2003. 474


p.
ASPECTOS TOXICOLÓGICOS:
ANFETAMÍNICOS E COCAÍNA
COCAÍNA

 Responsável por 30% a 40% das admissões relacionadas a drogas ilícitas, 10% entre todos
os tipos de drogas e 0,5% das admissões totais.
 Usuários predominantemente jovens, variando dos 15 aos 45 anos, com principalmente da
faixa etária dos 20 aos 30 anos.
 Extraído das folhas da Erithroxylon coca (nativa da América do Sul), conhecida como coca
ou epadu (pelos índios brasileiros)
COCAÍNA

- Padrões de uso

 Folhas de coca: mascadas junto com substância alcalinizante ou sob forma de chá (forma
tradicional nos países Andinos). Concentração: 0,5 a 1,5 %
 Cloridrato de cocaína: pó fino e branco; pode ser utilizado por via venosa ou aspirado
(via nasal). Concentração: 15 a 75 %
 Crack: em forma em pedra, volatiliza quando aquecida; fumada em cachimbos
rudimentares contendo de 50 a 150 mg da droga. Concentração: 40 a 70%
 Merla: Pasta que é considerada um subproduto da cocaína. Geralmente é fumada.
Concentração: 30 a 40%
COCAÍNA
Adulteração das drogas:

• Anestésicos locais (procaína, benzocaína etc), estimulantes (cafeína, efedrina e anfetamina) e diluentes
(glicose, lactose, sacarose, manitol, amido, talco, carbonatos, bicarbonato de sódio etc).
OBS: Cloridrato de cocaína (20-70%) de pureza.
“Crack” (35 -99%) de pureza.

• Os traficantes têm preferência em comercializar o “crack” → lucros maiores em curto prazo.

Overdose:

• Mais de 50% dos casos envolve combinação de cocaína com outro fármaco.

Ex: Cocaína + etanol = cocaetileno → propriedade semelhante a da cocaína.


“Crack” + maconha → potencialização da euforia.
“Crack” + cigarro de tabaco → fumar publicamente.
COCAÍNA
TOXICOCINÉTICA

Vias de auto-administração:
• Intranasal (+ usada), oral, intravenosa e respiratória (ato de fumar).

• Intranasal:
Início do efeito em aproximadamente 10 minutos.
Propriedades vasoconstritores → baixa velocidade de absorção → produz teores plasmáticos menores por
um tempo mais prolongado devido à lenta absorção

• I.v e respiratória (fumada):


Início do efeito da I.v: imediato. Início do efeito da fumada: 10 segundos, porém a fumada promove um
efeito relativamente + duradouro.

• Oral:
Questionada como efetiva, pois a sua absorção se compromete com a ionização no estômago.
COCAÍNA
Distribuição:

Alta afinidade pela α1-glicoproteína ácida e baixa pela albumina.


Caráter altamente lipofílico → atravessa a BHE e Placenta.
Aparecem no leite materno, sêmem e cabelo.
Acumula-se no fígado e SNC.
Eliminação:
Biotransformação: Preferencialmente Renal;
Éster metilecgonidina (32-45%). Usuário ocasional e crônico: 2-5 dias.
Benzoilecgonina (29-45%).
Cocaína inalterada (2-14%).
Norcocaína (2-6%) → Hepatotóxica para o fígado.

O cocaetileno formado após uma associação com etanol segue os mesmos padrões cinéticos da cocaína.
COCAÍNA
TOXICODINÂMICA

Doses recreativas:
Aumento de NE, Dopamina (euforia) e Serotonina, com subseqüente redução a valores abaixo
do normal (depressão).

Provável mecanismo de ação:


Bloqueio de recaptação de NE, Dopamina e Serotonina.

Uso crônico:
Diminuição de NE, Dopamina e Serotonina no cérebro podendo levar a problemas
psiquiátricos → acredita-se que com o uso crônico ocorra uma diminuição da síntese desses
neurotransmissores.
COCAÍNA

DEPENDÊNCIA, TOLERÂNCIA E SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

• As vias dopaminérgicas → mecanismos da euforia e do comportamento compulsivo de


busca da cocaína → caracteriza o fenômeno de dependência desenvolvida pelo fármaco.

• Dependência física

• Gerar tolerância modesta, quando comparada com os anfetamínicos.

• Retirada da cocaína após o uso crônico → pode resultar em depressão, impotência, fadiga,
tremores irritabilidade e distúrbios do sono → síndrome de abstinência.
COCAÍNA
EFEITOS TÓXICOS DECORRENTES DO USO ABUSIVO

Distúrbios psiquiátricos

• Profunda alteração do humor, acompanhadas de idéias de paranóia, irritabilidade e


depressão.

• Distorção de personalidade, com comportamento suicida ou homicida.

• Comprometimento da memória imediata, psicose com alucinações tácteis (sensação de


insetos rastejando sobre a pele).

• Comprometimento da percepção visual: risco no ato de dirigir sob a influência dessa


substância.
COCAÍNA
Distúrbios respiratórios

Hiperemia reativa → aparecimento de rinite.

Pulmão de “crack” → Edema e fibrose pulmonar (geralmente causado pelos adulterantes).

Distúrbios cardiovasculares

Infarto agudo do miocárdio.

Cocaína + etanol = Cocaetileno → Aumento da freqüência cardíaca, pressão sanguínea e


resistência vascular periférica.

Distúrbios hepáticos
Norcocaína (produto de biotransformação da cocaína) → sofre uma biotransformação ativa
→ necrose hepática.
COCAÍNA
 Tratamento:

 Benzodiazepínicos;
 Antipsicóticos e antidepressivos;
 Pouco esclarecimento sobre outros fármacos.

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