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As duas Cartas: da Terra ao

Bosque

(entre patrimonialismo e
coletivismo)

Autor: André Ramos Tavares

Mestrado em Direito na Universidade Cândido Mendes


Disciplina: História, Direito Econômico e Desenvolvimento
Prof. Renan Aguiar
Mestranda: Fernanda dos Reis Marques
Apresentação: março 2023
Magna Carta de 1.215

 A Magna Carta também é conhecida como a carta das liberdades,


foi uma carta de prerrrogativas, uma espécie de acordo feudal,
estabelecido entre a Monarquia, os barões ingleses e o clero;

 O documento foi assinado pelo rei Jõao Sem Terra, sob pressão
dos barões;

 O rei prestava conta apenas para Deus, pois não existia ninguém
para puní-lo;

 O intuito era limitar os poderes do rei, impondo ao rei o


reconhecimento dos usos comunais do bosque, entre outras
prerroagtivas;
Baixa Idade Média
 A Magna Carta é conhecida como como uma suposta carta das
liberdades, contudo, ela não era exclusivamente uma carta de
liberdade, pode-se dizer que é até um anacronismo falar em
liberdade em um período feudal;

 A Magna Carta que sobreviveu aos séculos e permanece celebrada


até hoje, desempenhando papel nos direitos considerados,
atualmente fundamentais e inseparáveis do homem;

 Previsão de liberdade de circulação de mercadorias, fixação para


padrões de medidas, cláusulas assucratórias de padões para o
comércio, o uso comum dos bosques.
Modificações ao longo do período

 A expressão Carta Magna, apenas surgiu com


a ratificação da carta por Henrique III em
1.225;

 Há diversas reiterações da Magna Carta,


todas, com variações, alguns autores
contabilizaram 55 confirmações da Magna
Carta de 1.225, elterações textuais, com
acréscimeos e eliminações que foram
constantes desde a primeira ratificação em
1.216;

 Parte da Magna Carta ainda se encontra em


vigor e estabelece, ainda hoje, algumas
liberdades.

 Graças as ratificações e com o surgimento do


Estado ela passou ter mais eficácia.
Aspéctos Históricos do Estado Liberal
 O Direito de certa maneira instrumentaliza ou deve
instrumentalizar a política econômica de cada estado, deve
servir de meio para que se concretize as escolhas econômicas
em que a sociedade faz e consigna em suas constituições;

 O capitalismo só se consagra a partir das revoluções


burguesas;

 O modelo econômico demanda instrumentos jurídicos


próprios;

 Inerência do Direito ao Capitalismo.


A Carta do Bosque como Carta Magna
 Há divergência se a Carta do Bosque integrava a Carta Magna desde o início ou se foi apenas
com a sua ratificação física em 1.217, quando ambas aparecem ampliadas como uma só
declaração;

 A realidade é que em ambos os momentos havia preocupação direta com o bosque, pois três
cláusulas referente ao bosque efetivamente compuseram a versão de 1.215;

 É possivel considerar, historicamente, a Carta do Bosque como Carta Magna;

 Tanto para Edward Coke como para William Blackstone as grandes cartas formam um
instrumento jurídico unificado, as grandes cartas das liberdades inglesas, sendo inapropriado
dissociá-las para tratar de uma como “menor”;

 Considera-se a existência de duas Cartas Magnas conexas e cronologicamente


concomitantes;

 Uma pretende preservar o coletivismo e a outra o patrimonialismo;

 A Magna Carta é provavelmente a mais viva ilustração da histótia de como o texto escrito
transforma-se, em seu sentido, ainda quando mantidas suas palavras.
A Carta do Bosque
 Tratava de prerrogativas básicas, lidava com a sobrevivência humana,
protegia os comuns, a subsistência de todos que se sustentavam a partir
do bosque – lidava com a sobrevivência econômica;

 Mais propriamente denomina Magna Carta do Comum;

 Nela eram abordados os chamados: direitos comuns, direitos de


subsistência, direitos de usufruto livre e coletivo;

 Era utilizado o regime jurídico dos stovers, que dignavam os produtos


madereiros (da comunidade) destinados a subsitência humana,
considerados imprescindíveis na época;

 Regime jurídico do herbage, o direito ao pasto comum.


Principais conteúdos da Carta do
Bosque
 Reservam o bosque ao uso comum de todos;
 Direito ao pasto comum;
 Proibia que guardas florestais recebessem
produtos do bosque em lugar do imposto
feudal ;
 Permitia acesso aos pastos, forragens aos
homens livres;
 As liberdades concernentes aos bosques era
pra todo mundo;
 Qualquer pessoa livre poderia construir em
seu terreno de bosque, um moinho, um poço
de argila ou um cercado, ou um cultivo fora
da cobertura do bosque, desde que não
prejudicasse nenhum vizinho;
 Proibição do cercamento dos terrenos...
 Edward Coke foi o personagem principal da ideia da Edward Coke
Magna Carta, que foi passado para a humanidade;

 Ele se referiu a Carta Magna de 1.225, contudo, ele estava,


na realidade, utilizando a versão de 1.297;

 Edward Coke alegava ter consultado a versão de 1.225,


pois, apenas algumas pessoas tiverem acesso a esse
documento, e os demais que se referiam a Carta Magna
utilizavam a versão do Cooke, supostamente, imaginavam
estar usando uma versão que era de 1.225 o que não era
verdade, mas só foi descoberto muito tempo depois;

 Um dos grandes comentaristas ingleses, Willian


Blackstone, também usou das referências de Coke,
acreditando que estava fazendo referência a uma carta
Magna mais antiga.
Equívocos da Carta do Bosque
 As Cartas Magnas foram sendo reiteradas, ratificas com versões distintas,
preocupações novas, com outras versões, com supressões, acréscimos,
portanto, era muito importante saber qual era a Maga Carta utilizada pelo
Coke;

 Não foi a percursora do direito ambiental – A preocupação não era com o


direito ambiental em si, mas sim referente ao espaço geográfico da
subsistência;

 Passa a ideia individualista, contudo, naquela época o foco era o coletivismo;

 Muitas doutrinas relatam ser ela responsável pela expressão pela moderna
locução “devido processo legal” – mas a lei não fala em Due process, e sim,
em Law of the land – não tratando de tema processual como foi alegado;

 A Carta do Bosque começou a desaperecer no século XVII.


O cercamento dos “bosques comunais”
 Os cercamentos promoveram o fim das terras comuns na Idade
Média;
 A primeira grande fase dos cercamentos ocorre no século XVI;
 Forma de privatização do que era coletivo, impondo-lhe cercas de
expulsão do uso comum e a consequente eliminação dos usos
tradicionais;
 Contribuiu para o capitalismo – mudança do regime jurídico da
exploração da natureza em geral – criação de ovelhas destinadas a
lã...;
 A igreja assumiu a “pena” de excumunhão para aqueles que
liberdades da igreja ou as liberdades do costumes contidas na Carta
do bosque;
 A Carta do Bosque foi um modelo econômico de comunidade com
atenção ao coletivo.
Magna Carta
(Magna Charta Libertatum)
Magna Carta (Magna Charta Libertatum) João pela graça de Deus rei da Inglaterra,
senhor da Irlanda, duque da Normandia e da Aquitânia, e conde de Anjou, aos seus
arcebispos, bispos, abades, condes, barões, justiceiros, florestanos, sheriffe,
administradores, ministros, e a todos os outros oficiais e leais súditos seus, Saudação.

Saibam que sob a inspiração de Deus, para o bem de nossa alma e daquela de todos
os nossos ancestrais e de nossos herdeiros, para a honra de Deus e a exaltação da
Santa Igreja, e para a melhor ordenação de nosso reino, com o conselho de nossos
reverendos padres Stephen, arcebispo de Canterbury, primado de toda a Inglaterra, e
cardeal da Santa Igreja Romana, Henry arcebispo de Dublin, William bispo de
Londres, Peter bispo de Winchester, Jocelin bispo de Bath e Glastonbury, Hugh
bispo de Lincoln, Walter bispo de Coventry, Benedict bispo de Rochester, mestre
Pandulph sub-diácono e membro da corte papal, irmão Aymerio mestre dos
Cavaleiros Templários na Inglaterra, William Marschal conde de Pembroke, William
conde de Salisbury, William conde de Arundel, Aland de Galloway condestável da
Escócia, Warin Fitz Gerald, Peter Fitz Herbert, Hubert de Brugh senescal de Poitou,
Hugh de Neville, Matthew Fitz Herbert, Thomas Basset, Alan Basset, Philip
Daubeny, Robert de Roppeley, John Marschal, John Fitz Hugh, e outros súditos leais:
Liberdade ou direitos da igreja?
 1 – Em primeiro lugar, nós garantimos a Deus e por esta presente carta
confirmamos, para nós e para nossos herdeiros, perpetuamente, que a
Igreja inglesa será livre e desfrutará de todos os seus direitos e de suas
liberdades sem que se possa diminuí-los, permanecendo intactos e
invioláveis. Que nós desejamos que isso seja observado, ressalta do fato
de que, de nossa própria e livre vontade, antes de se ter desencadeado a
presente disputa entre nós e nossos barões, nós havíamos garantido e
confirmado, por carta, a liberdade de eleições da Igreja – um direito
reconhecido como o de maior necessidade e importância para ela –
submetendo-a à confirmação do Papa Inocêncio III. Observaremos
esta liberdade, e desejamos que ela seja observada de boa fé por nossos
herdeiros, perpetuamente. Garantimos igualmente a todos os homens
livres de nosso reino por nós e por nossos herdeiros, para sempre,
todas as liberdades abaixo enunciadas, para que as tenham e
conservem para si e para seus herdeiros, de nós e de nossos herdeiros:
Direito de Família
 5 – Enquanto tiver sob sua guarda a terra, o curador conservará as casas,
parques, lugares para animais, viveiros de peixes, moinhos e outras
instalações pertencentes à terra, lançando mão das rendas da mesma terra; e
entregará ao herdeiro arados e ferramentas de lavoura, conforme o exigir o
gênero de lavoura e a renda da terra puder suportar razoavelmente.

 6 – Os herdeiros poderão casar, mas nunca com alguém de condição social


mais baixa. Antes do casamento ter lugar, deverá ser conhecido pelo parente
mais próximo, pelo sangue, do herdeiro.

 7 – Falecido o esposo, a viúva terá, imediatamente e sem dificuldade, a sua


porção do matrimônio e a sua herança. E não pagará nada para receber o
dote inicial de seu casamento ou a sua porção de matrimônio, ou para
suceder na propriedade que ela e seu marido possuíam no dia da morte
daquele. E poderá permanecer na casa do marido durante quarenta dias após
o falecimento, devendo ser-lhe entregue o dote dentro desse período.
Vedação ao confisco
 20 – Um homem livre não poderá ser multado por um pequeno delito a não
ser em proporção ao grau do mesmo; e por um delito grave será multado de
acordo com a gravidade do mesmo, mas jamais tão pesadamente que possa
privá-lo de seus meios de vida. Do mesmo modo, tratando-se de um
mercador, deverá ter este resguardada a sua mercadoria; e de um agricultor,
deverá ter este resguardado o equipamento de sua granja – se estes se
encontrarem sob a mercê de uma corte real. Nenhuma das multas referidas
será imposta a não ser mediante o juízo de homens reputados da vizinhança.

 28 – Nenhum delegado ou meirinho tomará trigo ou outros bens móveis de


qualquer homem sem imediato pagamento, a menos que o vendedor
voluntariamente lhe ofereça crédito;

 30– Nenhum sheriff, meirinho ou outra pessoa tomará cavalos ou carroças de


qualquer homem livre sem o seu consentimento.

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