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RESPONSABILIDADE

EXTRACONTRATUAL
AÇÃO ou OMISSÃO: infração a um dever

O elemento objetivo da culpa é o dever violado.

 Para Savatier, “culpa é a inexecução de um dever que o


agente podia conhecer e observar”. A imputabilidade do
agente representa o elemento subjetivo da culpa.
 Clóvis Beviláqua, ao conceituar a culpa, põe em relevo o seu
elemento objetivo: “Culpa, em sentido lato, é toda violação
de um dever jurídico”.

 Para Rabut, “o estudo da jurisprudência não permite dúvida


alguma sobre a existência de um primeiro elemento da culpa:
ela supõe a violação de um dever anterior”.

 Segundo Marton, a responsabilidade é necessariamente uma


reação provocada pela infração a um dever preexistente. A
obrigação preexistente é a verdadeira fonte da
responsabilidade, e deriva, por sua vez, de qualquer fator
social capaz de criar normas de conduta.
Qual a natureza do dever jurídico cuja violação induz
culpa?

Em matéria de CULPA CONTRATUAL, o dever jurídico


consiste na obediência ao avençado.

E, na CULPA EXTRACONTRATUAL, consiste no cumprimento


da lei ou do regulamento.

Se a hipótese não estiver prevista na lei ou no regulamento,


haverá ainda o dever indeterminado de não lesar a ninguém,
princípio este que, de resto, acha-se implícito no art. 186 do
Código Civil, que não fala em violação de “lei”, mas usa de
uma expressão mais ampla: violar “direito”.
 Para Silvio Rodrigues, a ação ou omissão do agente, que dá
origem à indenização, geralmente decorre da infração de um
dever, que ode ser legal (disparo de arma em local proibido),
contratual (venda de mercadoria defeituosa, no prazo da
garantia) e social (com abuso de direito: denunciação
caluniosa).

O motorista que atropela alguém pode ser responsabilizado


por omissão de socorro, se esta é a causa da morte, ainda que
a culpa pelo evento caiba exclusivamente à vítima, porque tem
o dever legal de socorrê-la.

A responsabilidade civil por omissão, entretanto, ocorre com


maior frequência no campo contratual.
Para que se configure a RESPONSABILIDADE POR
OMISSÃO é necessário que exista o dever jurídico de praticar
determinado fato (de não se omitir) e que se demonstre que,
com a sua prática, o dano poderia ter sido evitado.

O dever jurídico de agir (de não se omitir) pode ser imposto


por lei (dever de prestar socorro às vítimas de acidente
imposto a todo condutor de veículo pelo art. 176, I, do Código
de Trânsito Brasileiro) ou resultar de convenção (dever de
guarda, de vigilância, de custódia) e até da criação de alguma
situação especial de perigo.
ALGUNS CASOS ESPECIAIS DE RESPONSABILIDADE
POR ATO PRÓPRIO
Ato praticado contra a honra da mulher

• A ofensa à honra da mulher reparava-se, no sistema do


Código Civil de 1916, em regra, pelo casamento.

• Se o ofensor, porém, não pudesse ou não quisesse casar-se,


era obrigado a pagar-lhe uma soma, a título de dote,
arbitrada pelo juiz, segundo a condição social e o estado civil
da ofendida.

• Podia a mulher preferir não se casar e exigir do ofensor a


reparação civil, bem como a sua punição, em alguns casos,
na esfera criminal.
O progresso e a mudança nos costumes têm provocado,
contudo, modificações legislativas.

No direito penal, alterações foram efetivadas no capítulo dos


crimes contra a honra da mulher, que não é mais aquela
desprotegida e ingênua das décadas anteriores.

Com efeito, a Lei nº. 11.106, de 28 de março de 2005, revogou


os dispositivos concernentes aos crimes de sedução e de
rapto, abolindo a expressão “mulher honesta”.

No campo do direito civil, a mudança já ocorreu, não só no


direito de família, mas também no capítulo da responsabilidade
civil.
Há, agora, a necessidade de PROVA DO PREJUÍZO e da ILICITUDE DO
ATO, com base na regra geral que disciplina a responsabilidade civil.

Se é verdade que o “tabu” da virgindade está desaparecendo, as vítimas


encontrarão dificuldade para comprovar o dano, pois o prejuízo indenizável
nesses casos é a dificuldade para conseguir futuro matrimônio!

Restam apenas alguns danos de natureza patrimonial, e eventualmente de


natureza moral, como o contágio de doença (AIDS, por exemplo, ou alguma
doença venérea), aborto, despesas médicas e hospitalares e eventual
reparação do dano moral decorrentes de violência sexual, posse mediante
fraude, corrupção de menores, estupro etc.
https://
www.coad.com.br/home/noticias-detalhe/114350/hipermercado
-e-condenado-a-reparar-funcionaria-por-danos-em-decorrencia
-de-assedio-sexual-e-moral-no-ambiente-do-trabalho

https://
www.conjur.com.br/2022-jul-28/controversias-juridicas-validade
-provas-antestesista-estuprador
Calúnia, difamação e injúria

O Código Penal tipifica a calúnia, a difamação e a injúria como


crimes contra a honra.

• Dá-se a calúnia, segundo o art. 138 do estatuto penal,


quando se imputa falsamente a alguém fato definido como
crime.
• Segundo o art. 139, a difamação consiste na imputação a
alguém de fato ofensivo à sua reputação.
• Ocorre a injúria quando se ofende a dignidade e o decoro
de alguém.
Dispõe o art. 953 do Código Civil:

“A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na


reparação do dano que delas resulte ao ofendido.

Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo


material, caberá ao juiz fixar, equitativamente, o valor da
indenização, de conformidade das circunstâncias do caso.”.
Começa o dispositivo dizendo que, no caso de injúria,
difamação ou calúnia, há obrigação de reparar o dano.

É do dano patrimonial que aí se cogita.

Pode consistir, POR EXEMPLO, em perda de emprego em


virtude de falsa imputação da prática de crimes infamantes,
como furto, apropriação indébita, criando dificuldades para a
obtenção de outra colocação laborativa.
“Em se tratando de matéria veiculada pela imprensa, a
responsabilidade civil por danos morais exsurge quando fica
evidenciada a intenção de injuriar, difamar ou caluniar terceiro.
(...) Não configura regular exercício de direito de imprensa, para
os fins do art. 188, I, do CC/2002, reportagem televisiva que
contém comentários ofensivos e desnecessários ao dever de
informar, apresenta julgamento de conduta de cunho
sensacionalista, além de explorar abusivamente dado inverídico
relativo à embriaguez na condução de veículo automotor, em
manifesta violação da honra e da imagem pessoal das
recorridas. Na hipótese de danos decorrentes de publicação
pela imprensa, são civilmente responsáveis tanto o autor da
matéria jornalística quanto o proprietário do veículo de
divulgação (Súmula 221, STJ)”.
https://
www.conjur.com.br/2022-jun-01/johnny-depp-amber-heard-ind
enizar-outro-difamacao

https
://www.tjsc.jus.br/web/imprensa/-/por-xingamentos-em-grupo-d
e-amigos-do-whatsapp-empresario-e-condenado-por-dano-mo
ral?redirect=%
2F
Responsabilidade civil por dano ecológico ou ambiental

O direito ambiental

A ação destruidora da natureza agravou-se neste século em razão do


incontido crescimento da população e do progresso científico e tecnológico,
que permitiu ao homem a completa dominação da terra, das águas e do
espaço aéreo.

Com suas conquistas, o homem está destruindo os bens da natureza, que


existem para o seu bem-estar, alegria e saúde; contaminando rios, lagos,
com despejos industriais, contendo resíduos da destilação do álcool, de
plástico, de arsênico, de chumbo ou de outras substâncias venenosas;
devastando florestas; destruindo reservas biológicas; represando rios,
usando energia atômica ou nuclear.
Há, hoje, no mundo todo uma grande preocupação com a
defesa do meio ambiente, pelos constantes atentados que
este vem sofrendo.

O dano ecológico ou ambiental tem causado graves e sérias


lesões às pessoas e às coisas. Como qualquer outro dano,
deve ser reparado por aqueles que o causaram, seja pessoa
física ou jurídica, inclusive a Administração Pública.
A responsabilidade civil por dano ecológico

A responsabilidade jurídica por dano ecológico pode ser penal e civil.

O Código Penal brasileiro mostrava-se desatualizado para reprimir os


abusos contra o meio ambiente, visto que ao tempo de sua elaboração não
havia, ainda, preocupação com o problema ecológico.

Urgia, portanto, que se reformulasse a legislação pertinente (Código Penal,


Código de Águas, Código Florestal, Código de Caça, Código de Pesca,
Código de Mineração) para que medidas de caráter preventivo e repressivo
fossem estabelecidas no âmbito penal, capazes de proteger a sanidade do
ambiente não só contra os atos nocivos de pessoas individuais como
também de pessoas responsabilizadas pelos delitos ecológicos.

A Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que trata dos crimes


ambientais, veio atender a esse reclamo.
No campo da responsabilidade civil, o diploma básico em
nosso país é a “Lei de Política Nacional do Meio Ambiente”
(Lei n. 6.938, de 31-8-1981), cujas principais virtudes estão no
fato de ter consagrado a responsabilidade objetiva do
causador do dano e a proteção não só aos interesses
individuais como também aos supraindividuais (interesses
difusos, em razão de agressão ao meio ambiente em prejuízo
de toda a comunidade), conferindo legitimidade ao Ministério
Público para propor ação de responsabilidade civil e criminal
por danos causados ao meio ambiente.
Dispõe, com efeito, o § 1º do art. 14 do mencionado diploma:

“Sem obstar à aplicação das penalidades previstas neste


artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência
de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério
Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor
ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados
ao meio ambiente.”.
A responsabilidade civil independe, pois, da existência de culpa
e se funda na ideia de que a pessoa que cria o risco deve
reparar os danos advindos de seu empreendimento.

Basta, portanto, a prova da ação ou omissão do réu, do dano e


da relação de causalidade.
https://
www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2022/agosto/goo
gle-deve-excluir-do-youtube-videos-que-fazem-apologia-a-caca
-de-animais-silvestres
Violação do direito à própria imagem

O direito à própria imagem integra o rol dos direitos da


personalidade.

No sentido comum, imagem é a representação pela pintura,


escultura, fotografia, filme etc. de qualquer objeto e, inclusive,
da pessoa humana, destacando-se, nesta, o interesse
primordial que apresenta o rosto.
https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/dano-moral-coleti
vo-dano-social
/

https://
www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-anti
gas/2018/2018-11-06_09-01_Mulher-e-condenada-em-danos-
morais-por-criar-comunidade-na-internet-sobre-rapaz-com-defi
ciencia.aspx
Sobre o direito à própria imagem, não pode ser aceita,
segundo Antônio Chaves, a definição segundo a qual seria o
direito de impedir que terceiros venham a conhecer a imagem
de uma pessoa, pois não se pode impedir que outrem conheça
a nossa imagem, e sim que a use contra a nossa vontade,
nos casos não expressamente autorizados em lei,
agravando-se evidentemente a lesão ao direito quando
tenha havido exploração dolosa, culposa, aproveitamento
pecuniário, e, pior que tudo, desdouro para o titular da
imagem.
• CF/88 declara invioláveis “a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.” (art. 5º, inciso X).

• E o inciso V do mesmo dispositivo assegura “o direito de


resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem.”.

• O texto constitucional erigiu, assim, expressamente, o direito


à própria imagem à condição de direito individual, conexo ao
da vida, integrando o conjunto dos “direitos à privacidade”,
juntamente com o direito à intimidade, à vida privada e à
honra.
• O mesmo tratamento é dispensado à exposição ou à utilização da
imagem de uma pessoa, que o art. 5º, inciso X, da CF/88 considera um
direito inviolável.

• A reprodução da imagem é emanação da própria pessoa e somente esta


pode autorizá-la.

• A Carta Magna foi explícita em assegurar, ao lesado, direito a


indenização por dano material ou moral decorrente da violação da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas.

• Nos termos do art. 20 do Código Civil, a reprodução de imagem para fins


comerciais, sem autorização do lesado, enseja o direito a indenização,
ainda que não lhe tenha atingido a honra ou a respeitabilidade.
• Confira-se, a propósito, a Súmula 403 do Superior Tribunal
de Justiça: “Independe de prova do prejuízo a indenização
pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com
fins econômicos ou comerciais.”.

• Decidiu o STJ que “o uso de imagem para fins publicitários,


sem autorização, pode caracterizar dano moral se a
exposição é feita de forma vexatória, ridícula ou ofensiva ao
decoro da pessoa retratada. A publicação das fotografias
depois do prazo contratado e a vinculação em encartes
publicitários e em revistas estrangeiras sem autorização não
enseja danos morais, mas danos materiais.”.
Responsabilidade civil na Internet

O Marco Civil da Internet

O comércio eletrônico

Crescem, a cada dia, os negócios celebrados por meio da


Internet.

Entretanto, o direito brasileiro não contém nenhuma norma


específica sobre o comércio eletrônico, nem mesmo no Código
de Defesa do Consumidor.
https://www.youtube.com/watch?v=PiNXJhJ_5ws

https://www.youtube.com/watch?v=pKPvZFy3msQ
Destaque-se a Lei n. 12.965/2014, denominada “O Marco Civil
da Internet”, atualizada pela Lei n. 13.709, de 14 de agosto de
2018, considerada uma espécie de Constituição da Internet por
estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres para uso
da Internet no Brasil, tanto para os usuários quanto para os
provedores de conexão e de aplicativos da Internet.
A responsabilidade civil nos meios eletrônicos

A responsabilidade extracontratual pode derivar de inúmeros


atos ilícitos, sendo de destacar os que dizem respeito à
concorrência desleal, à violação da propriedade intelectual, ao
indevido desrespeito à intimidade, ao envio de mensagens não
desejadas e ofensivas da honra, à divulgação de boatos
infamantes, à invasão de caixa postal, ao envio de vírus etc.
Identificado o autor, responde ele civilmente pelos prejuízos
causados a terceiros.

Especialmente no caso da transmissão ou retransmissão de


vírus, demonstrada a culpa ou dolo do agente e identificado o
computador, presume-se que o proprietário do equipamento,
até prova em contrário, é o responsável pela reparação dos
prejuízos materiais e morais, nos termos do art. 5º, X, da
CF/88.
Havendo ofensa à intimidade, à vida privada, à honra e à
imagem das pessoas, podem ser responsabilizados não
somente os autores da ofensa como também os que
contribuíram para a sua divulgação.

A propósito, preleciona Antonio Jeová Santos que é objetiva a


responsabilidade do provedor, quando se trata da hipótese de
information providers, em que incorpora a página ou o site,
pois, “uma vez que aloja a informação transmitida pelo site ou
página, assume o risco de eventual ataque a direito
personalíssimo de terceiro.”.
Responsabilidade Civil - Carlos Roberto Goncalves –
2021.

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