Você está na página 1de 130

[CAPA] A FREGUESIA DE SANTO ANTÓNIO

[FOTO ]

REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA


A FREGUESIA DE SANTO ANTÓNIO

REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA


JUNTA DE FREGUESIA DE SANTO ANTÓNIO
1997
TÍTULO
A Freguesia de Santo António
AUTOR

Fernando Augusto da Silva

ORGANIZAÇÃO DA EDIÇÃO E INTRODUÇÃO

Alberto Vieira

FOTOGRAFIAS
Vicentes Photographos- Photographia Museu "Vicentes", Eduardo Braz

MAPAS

EDIÇÃO
Junta de Freguesia de Santo António

1ª edição
Novembro de 1997

Numero de exemplares

ISBN:
D.Legal:
APRESENTAÇÃO

O título da presente publicação vai ao encontro do seu conteúdo, feito a partir da compilação dos
trabalhos sobre a actual freguesia de Santo António, do Pe. Fernando Augusto da Silva:
- Santo António (freguesia), publ. In Elucidário Madeirense, funchal, 1984, fac-símile da edição
de 1946, pp. 253- 257
- Paróquia de Santo António da ilha da Madeira, Funchal,1929. Este volume condensa as partes
mais destacadas do quinzenário com o mesmo nome que o o mesmo fez publicar em 1914.

Não obstante o grosso do texto ser composto pelo livro que o autor intitulou de "Paróquia de
Santo António" consideramos por bem atribuir-lhe este que mais se coaduna com o actual conteúdo
da obra. Na verdade, antiga paróquia de Santo António resume-se hoje, ainda que com algumas
pequenas diferenças de traçado do seu perímetro, à actual freguesia do mesmo nome. Hoje o espaço
da antiga paróquia está subdividido em outras cinco.
Aos textos do autor mantivemos a sua fidelidade e apenas acrescentámos algumas fotografias
e mapas que sinalizam e tornam mais perceptíveis os tremas abordados. Da nossa autoria é
apenas esta introdução e uma breve cronologia.

O Padre Fernando Augusto da Silva

O Padre Fernando Augusto da Silva nasceu em 29 de Setembro de 1863 na Freguesia do


Socorro, sendo filho de Fernando Augusto da Silva e D. Joana Augusta de Freitas da Silva.
Cursou o seminário diocesano sendo ordenado padre em 1888. Começou pela paróquia do
Arco de S. Jorge, donde transitou, sucessivamente, para Ponta Delgada (1893) Porto Santo (1894) e
Camacha (1896). Terminou a sua actividade de sacerdote na paróquia de Santo António. Assumiu a
sua direcção em 1 de Junho de 1908 e só a abandonou em 30 de Outubro de 1930 por motivo de
saúde. Todavia, continuou a sua carreira de estudioso e divulgador das coisas da Madeira até à sua
morte em 19 de Dezembro de 1949.
Foi um homem polifacetado. Dedicado à causa comum prestou vários serviços na
Administração Pública, sendo de referir as de Presidente da Câmara Municipal do Funchal. O
Magistério na Escola Industrial do Funchal, foi outra ocupação entre 1901 a 1930.
A sua actividade literária espraia-se nos inúmeros livros, opúsculos e activa intervenção na
imprensa local. Foi redactor do Heraldo da Madeira e do Diário de Notícias e colaborador activo de
"O Jornal", Diário da Madeira e Correio da Madeira. Esta dedicação ao jornalismo levou-o a
publicar quinzenalmente entre 8 de Maio de 1914 e 22 de Janeiro de 1916, a "Paróquia de Sto
António" um jornal que segundo o mesmo afirma em editorial do primeiro número, se destinava "a
exercer acção social e religiosa" pois entendia que "por meio do apostolado da imprensa que também
se há-de dissipar a crassa ignorância religiosa".
Deste modo o quinzenário dedicava-se à divulgação religiosa, não descurando a parte
histórica, com apontamentos históricos sobre a paróquia e notícias da freguesia. Parte significativa
de informação referente à paróquia foi reunida em 1929 num volume que o mesmo intitulou
"Paróquia de Santo António da Ilha da Madeira".
Santo António é a sua paróquia de adopção e, por isso mesmo, dedica-lhe algum tempo na
pesquisa e divulgação histórica de que resultou este precioso volume.
Como aluno de Álvaro Rodrigues de Azevedo soube receber o ensinamento pela História
sendo capaz de o ultrapassar no conhecimento e divulgação do saber histórico. Serviu-se da sua
colaboração na imprensa para divulgar o conhecimento histórico da ilha. Parte da sua obra partiu
desta primeira forma.
Em 1917 recebeu da Junta Geral o encargo de elaborar o "Elucidário Madeirense", obra que
só seria publicada em 1921. O Elucidário Madeirense pode ser considerado a enciclopédia das
pessoas, coisas e factos da ilha, que não obstante algumas imperfeições, continua a ser uma
referência obrigatória no nosso panorama histórico-literário.
Da sua volumosa produção literária com carácter marcadamente enciclopédico destacam-se:

1921- Elucidário Madeirense (de colaboração com Carlos Azevedo Menezes), com reedição
aumentada em 1946
1934 - Dicionário Coreográfico do Arquipélago da Madeira.
1936 - Sé Catedral do Funchal.
1941 - A Madeira na Legislação Portuguesa.
1944 - A Antiga Escola Médico-Cirúrgica do Funchal.
1946 - Subsídios para a História da Diocese do Funchal.
1947 - Colégio e Igreja de São João Evangelista do Funchal.

A sua última obra publicada foi o Vocabulário Madeirense em 1930, já depois da sua morte.
É um exemplo mais do seu espírito enciclopédico.
O seu corpo repousa no Cemitério de Santo António, mas a sua figura será sempre recordada
através da obra literária e do busto inaugurado em 6 de Janeiro de 1955, que domina o largo em
frente da Igreja de Santo António, também com o seu nome.

A FREGUESA DE SANTO ANTÓNIO

A actual freguesia de Santo António, está dividida pelas Paróquias de Santo António, dos
Álamos, Graça, da Visitação e de Santo Amaro. É de salientar que todas estas paróquias novas foram
criadas em 1960, sendo desmembradas da de Santo António. Apenas a dos Álamos vai buscar parte
do seu espaço fÍsico à de S. Roque e a de Sto Amaro a S. Martinho.
Deste modo poderá dizer-se que na altura -1929- em que o Padre Fernando Augusto da Silva
publicou o seu estudo sobre a paróquia de Sto António esta se confundia com a actual freguesia.
Fazem parte da actual freguesia os seguintes sítios: Álamos, Alecrins, da Barreira, do
Boliqueme, da Casa Branca, Das Casas, das Casas Próximas, da Chamorra, das Courelas, do Curral
Velho, das Encruzilhadas, do Engenho Velho, da Fajã "Desabitado", das Fontes, do Jamboto, da
Ladeira, do Laranjal, da Levada do Cavalo, do Lombo dos Aguiares, do Lugar do Meio, da
Madalena, da Penteada, do Pico dos Barcelos, do Pico do Cardo, do Pilar, do Pinheiro das Voltas, do
Pomar do Miradouro, das Preces, da Quinta das Freiras, da Quinta do Leme, da Ribeira Grande, das
Romeiras, do Salão, de Santa Quitéria, de Santo Amaro, do Tanque, da Terra-Chã, do Trapiche, dos
Três Paus, do Vasco Gil, da Viana.
AS PARÓQUIAS

As novas paróquias foram criadas em 1960 pelo então Bispo D. Frei David de Sousa,
entrando ao serviço a 1 de Janeiro de 1961.

ÁLAMOS - Paróquia que se inclui nas freguesias de Santo António e S. Roque, tem como
orago S. João Baptista. A construção da nova igreja teve lugar em 24 de Junho de 1961. O salão
paroquial existe desde 8 de Dezembro de 1965, altura em que entrou em funcionamento.

GRAÇA - O orago é de Nossa Senhora Medianeira de todas as Graças. A nova igreja iniciou
a construção em 1969.

SANTO AMARO - Paróquia integrada na área das freguesias de S. Martinho e Sto António.
Tem como orago Santo Amaro e ficou instalada na Capela de Santo Amaro que pertenceu à
propriedade de Garcia Homem de Sousa.

VISITAÇÃO - O orago é de Nª Sra da Visitação.

ASPECTOS HERÁLDICOS DA FREGUESIA

A freguesia de Santo António dispõe da seguinte identificação heráldica:


1. BRASÃO: escudo de azul, com uma torre quadrangular de prata, lavrada, frestada e aberta de
negro, tendo em chefe cruz solta de prata, glandada de doze glandes de ouro com os casculhos de
verde, entre eles pães de açúcar de ouro, com duas torres. Listel branco, com a legenda a negro:
"SANTO ANTÓNIO".
2. BANDEIRA: branca. Cordão e borlas de prata e azul. Haste e lança de ouro.
3. SELO: nos termos da lei, com a legenda: "Junta de Freguesia de Santo António- Funchal".

CONCLUSÃO

Quando a ideia de elaborar um estudo sobre a freguesia de Santo António nos foi proposta
desde logo pensámos que o melhor seria a reedição dos textos quase esquecidos do Padre Fernando
Augusto da Silva, pároco de Santo António por muitos anos. Daqui resultou um duplo objectivo de
homenagem ao seu autor e de divulgação da sua obra. A nossa singela colaboração regeu-se apenas
por isso, não querendo de modo algum sobrepor-se ao mérito do trabalho dos outros. O resultado aí
está para poder ser apreciado pelos usuais apaniguados da crítica fácil.
O presente trabalho só foi possível graças à conjugação de diversas sinergias. Em primeiro
lugar Ao entusiasmo dos Drs. J. Rentróia e Helena Araújo e também à paciente atenção de …. Na
elaboração dos mapas que ilustram a parte final deste livro, e que serão de certeza um valioso
elemento de consulta.
Santo António (Freguesia de)
É uma das cinco freguesias suburbanas do Funchal, e tem por limites as paróquias de São Roque,
São Pedro, São Martinho, Câmara de Lôbos, Estreito de Câmara de Lobos e Curral das Freiras.
Os terrenos que na actualidade constituem esta paróquia pertenceram primitivamente à freguesia
da Sé, que então alargava a sua vastíssima área até as faldas dos montes que circuitam o Curral das
Freiras, que só em 1790 se desmembrou de Santo Antonio.
Quanto à sua criação, diz-nos o Dr. Alvaro de Azevedo numa das suas notas á obra de Gaspar
Frutuoso, o seguinte: «A freguesia de Santo Antonio, suburbana do Funchal, foi criada,
provavelmente, pelo mesmo tempo que a de S. Pedro, em 1566, tendo ambas sido separadas da Sé:
indubitavelmente existiu desde antes de 1574, porque, como se vê do alvará de 16 de Setembro
desse ano, foi aumentada a anterior côngrua do seu vigário». Noutro lugar e noutra obra, fixa o Dr.
Azevedo a data de 1568 como a do ano da sua criação.
Escasseiam-nos os indispensáveis elementos para determinar com absoluta precisão o ano em
que se estabeleceu esta paroquial mas parece-nos dever remontar a sua criação a época anterior
àquela, ao menos como curato autonomo, á semelhança de outros que houve nesta diocese e que
constituíam freguesias quasi inteiramente independentes e com vida civil e religiosa próprias. Os
assentos mais antigos que encontramos no respectivo arquivo paroquial são de 1557, e a partir desta
época é regular a escrituração dos termos de baptismo e casamentos, o que nos leva a supor que data
precisamente deste ano a criação dum curato autónomo, que seria elevado definitivamente a
paróquia mais tarde e em ano que hoje não se pode fixar. Neste bispado existiam curatos
independentes e até capelas com pé de altar in solidum e «capelães curados», que depois se
transformaram em outras tantas freguesias ou antes foram a verdadeira origem delas. Grandes
probabilidades, pois, para não dizer inteira certeza, militam a favor da nossa afirmativa,
determinando o ano de 1557 como o da criação dum curato, elevado definitivamente a paróquia
pelos anos de 1566.
Pelos respectivos livros do registo se sabe que foi o padre Gonçalo Jorge Rodrigues o primeiro
sacerdote que, no período decorrido de 1557 a 1559, desempenhou aqui as funções paroquiais, não
fazendo nunca indicação da categoria do cargo que exercia. O seu sucessor, Francisco Afonso, de
1559 a 1569, intitulou-se sempre cura, bem como outros que se lhe seguiram. Torna-se muito
estranhavel que, ainda depois da criação da paróquia, que é sem sombra de duvida anterior a 1574,
como se vê num documento deste ano citado em vários lugares, continuam alguns sacerdotes que
exerciam aqui o múnus pastoral a intitular-se curas, e outros, ora curas ora vigários, como sucede
com Afonso Lopes, de 1585 a 1586.
Os mais antigos párocos desta freguesia foram Gonçalo Jorge Rodrigues, Francisco Afonso,
Miguel Rodrigues, Manuel Lopes, Vicente Afonso, Afonso de Leme, Antonio Lopes, Domingos
Fernandes, Fernão Gomes, todos no século XVI.
Somente a partir de 1574 é que podemos fixar o quantum das respectivas côngruas, em vista dos
diplomas que encontramos citados no índice Geral da Antiga Provedoria da Fasenda Real neste
arquipélago a que por diferentes vezes nos temos referido.
O mais antigo desses diplomas é o alvará régio de D. Sebastião, de 16 de Setembro de 1574,
passado a favor do pároco Antonio de Lima e seus sucessores, elevando a côngrua anual, que era
então de 13$300 réis, a 25$000 réis, também anuais, visto já ter a paróquia atingido o numero de 120
fogos. Esta côngrua foi sucessivamente aumentando e decerto em conformidade com o movimento
sempre crescente da população, como se vê dos seguintes diplomas: alvará de 17 de Julho de 1588,
acrescentando 30 alqueires de trigo á côngrua anterior de 25$000 réis; alvará de 14 de Dezembro do
mesmo ano, aumentando a importância de 4$000 réis anuais pelas missas dos sábados pelas almas
dos infantes; alvará de 26 de Agosto de 1645, alterando a forma do pagamento da côngrua, que
passou a ser de 10$000 réis em dinheiro e duas e meia pipas de vinho; e finalmente o alvará de 1 de
Outubro de 1775, acrescentando dois moios de trigo á côngrua fixada no diploma anterior. Outras
modificações sofreria o quantitativo das côngruas dos párocos desta freguesia, mas delas não temos
conhecimento. A carta de lei de 26 de Março de 1845 alterou, profunda, mas não equitativamente, a
distribuição das côngruas nesta diocese, não tendo porém a tabela anexa arbitrado o vencimento do
pároco de Santo Antonio, devido certamente a lapso ou inadvertida omissão. A côngrua, suprimida
pelo decreto de 20 de Abril de 1911, era de duzentos mil réis anuais.
O desenvolvimento da população com o seu correlativo serviço paroquial levou o bispo
diocesano D. Luís Figueiredo de Lemos, a impetrar o estabelecimento dum curato nesta freguesia,
cujo deferimento se deu pelo alvará de Filipe 2.°, de 29 de Outubro de 1602, que autorizou a criação
deste lugar, sendo nele provido o padre Domingos Brás. O seu vencimento foi primitivamente de
20$000 réis anuais em dinheiro e de uma pipa de vinho. Esta côngrua foi acrescentada com um moio
de trigo pelo alvará de 14 de Agosto de 1609. A já citada carta de lei de 26 de Março de 1845 fixou
ao curato desta freguesia a côngrua de 20$000 réis em dinheiro e 1 pipa e 15 almudes de vinho, e 1
moio e 30 alqueires de trigo. O decreto de 20 de Abril de 1911 suprimiu a ultima côngrua, que era de
130$620 réis anuais.
Temos razões para acreditar que os curas foram em determinada época de apresentação regia,
pois vemos que o cura Fernão Gomes se assinava «cura proprietário por el-rei», e também «cura
confirmado», e encontramos citado o alvará régio de D. João IV, de 18 de Dezembro de 1648, em
que é apresentado cura desta freguesia o padre Francisco de Gouveia.
Foi numa capela da invocação de Santo Antonio, que decerto fazia primitivamente parte duma
fazenda povoada, que, por meados do século XVI, se estabeleceu a sede desta paróquia ou ao menos
dum curato autónomo, como já acima fica dito. É possível que anteriormente á criação da freguesia
tivesse essa ermida seu capelão privativo, como geralmente acontecia em circunstancias
semelhantes. Essa capela deu nome ao sítio e depois á paróquia, ignorando-se o ano da sua
construção.
Sofreu ela com o decorrer dos anos algumas modificações e mesmo acrescentamentos, mas
sendo já pequena para a população, que ia crescendo notavelmente, tornou-se necessário a
construção de um templo de mais amplas proporções. O lugar escolhido foi o terreno que fica entre a
actual casa paroquial e a estrada publica, e que fazia parte do passal, cedido para esse fim pelo
pároco de então, o padre Antonio Afonso de Faria, datando a sua construção do primeiro quartel do
século XVII. No período decorrido de 1665 a 1682, se acrescentou a capela-mor e se construíram as
capelas do Santissimo Sacramento e das Almas, realizando-se ainda outros melhoramentos
importantes. Não era um templo de acanhadas dimensões, pois tinha 6 altares, sendo interiormente
bem ornado em obra de talha dourada. Num provimento de 1756, se lhe chama «igreja rica»,
debaixo do ponto de vista da sua decoração, mas já nesta época estavam os seis altares velhos e
improporcionados», segundo o dizer do mesmo provimento.
Supomos que no fim do século XVII ou princípio do seguinte se fizeram na antiga igreja
importantes obras de reedificação ou acrescentamento, pois que no Indice Geral do registo da antiga
Provedoria da Real Fazenda, nesta ilha, encontramos referência ao alvará régio de 9 de Setembro de
1711, que manda continuar as obras da igreja de Santo Antonio, orçadas em 2.233$920 réis. Não
temos dados para afirmar que as obras se tivessem concluído em conformidade com aquele
orçamento, mas é certo que em diversas épocas se procederam a grandes repairos na antiga igreja
paroquial desta freguesia. Com a construção do templo actual se começou a desmanchar a velha
igreja em 1785, ficando de pé a capela do Santissimo Sacramento, que serviu de sede paroquial até
l789. Junto á residência do pároco existe ainda um pedaço de muro que a tradição afirma pertencer à
antiga igreja.
0 aumento sempre crescente da população e o estado de ruína, em que o terramoto de l748
deixou a igreja, aconselharam desde logo a construção dum novo e mais vasto templo. Diz uma
relação coeva do terremoto: «A igreja de Santo Antonio no frontispício tem varias aberturas: a
cantaria da porta principal está desconjuntada e as paredes do corpo da igreja partidas em diversos
logares, como também o estão os das officinas, e o que se sente mais é o tecto que está em grave
dano».
Apesar da igreja ficar de tal maneira danificada e dos diligentes esforços empregados pelo
respectivo pároco de então, o Dr. Antonio Pereira Borges, a construção do novo templo só começou
em 1783, isto é 35 anos depois daquele grande abalo de terra. 0 local escolhido foi uma courela
quasi contígua à antiga igreja, constando da tradição que, não se encontrando terreno
suficientemente seguro nas escavações para aí se formar o alicerce das paredes, se lançaram nos
fundamentos grandes troncos de castanheiros e sôbre eles os primeiros blocos de pedra que serviram
de base aos muros do novo templo. Pode isto constituir novidade para a Madeira, onde, a pequena
profundidade do solo, se descobre sempre terra firme e segura, mas não em outros lugares em que a
natureza dos terrenos obriga a lançar mão daqueles e outros processos semelhantes.
Levou seis anos esta construção, que foi dada por concluída em 1789, embora por alguns anos
continuassem os trabalhos da ornamentação interior da igreja e em especial dos altares. Foi fiador e
inspector das respectivas obras o alferes Antonio Francisco da Cruz Camacho, que faleceu no sítio
da Ladeira desta freguesia a 21 de Agosto de 1815. Teve sepultura debaixo do arco da capela-mor,
em cuja pedra tumular se lê este epitáfio: sepultura do alferes Antonio Francisco da Cruz Camacho e
de sua mulher e filhos e herdeiros, o que foi o fiador e inspector desta igreja, que teve seu principio
no anno de 1783 e se concluiu em 1789. Mostrou sempre a maior dedicação e desinteresse pelo
adiantamento das obras, que por vezes prosseguiram com grande lentidão, embora por motivos
estranhos á sua vontade, devendo-se grande reconhecimento á sua memória pelo inexcedível zelo
que desenvolveu em favor do completo acabamento da nova igreja.
No frontispício e sôbre a porta principal está uma lápide onde se encontra a seguinte inscrição:

Antonio Lusitanorum Protectori Templum Dedicat Aug. Reg. Maria Prima Illius Liberalitatem
Efundentibus Suis In Hac Insula Ab Aerario Ad Ministris. Anno MDCCLXXXIII.

Apesar do serviço religioso se começar a realizar no novo templo em 1789, o seu definitivo
acabamento interior levou ainda largos anos. Os trabalhos da capela de Nossa Senhora de Guadalupe
só foram dados por terminados em 1798; a capela-mor ainda em 1801 não estava de todo concluída e
o acabamento da capela do Santissimo Sacramento só se deu no princípio do século XIX.
Em 1880, sendo governador civil deste distrito o conselheiro José Silvestre Ribeiro e por seu
mandado, realizaram-se importantes obras nesta igreja, que consistiram principalmente no
soalhamento da capela-mor, repairos nas paredes e torres, retelhamento de todo o templo e outros
pequenos consertos. Também em 1852 se fizeram alguns repairos de relativa importância na casa do
lavatório e noutras dependências da igreja.
Nunca tinham sido concluídos os campanários, e foi em 1880 que o cónego Feliciano Teixeira,
deputado pela Madeira, conseguiu do governo central a verba necessária para o acrescentamento das
torres e seu definitivo acabamento. As respectivas obras só se realizaram e concluíram em 1883. Os
coruchéus das torres não foram construídos com a indispensável solidez, pois que um golpe mais rijo
de vento derrubou o do lado sul a 8 de Março de 1899, havendo necessidade de apear o do lado
norte, por não oferecer garantias de resistência.
Nesta igreja paroquial há uma capela consagrada a Nossa Senhora de Guadalupe, sendo muito
antigo o culto que nesta freguesia se presta à Virgem Santissima debaixo daquela invocação. A
construção desta capela deve-se principalmente ao cura Manuel J. Pereira de Sousa, que não
somente a ornou com belas decorações, mas ainda obteve um breve pontificio datado de 14 de Julho
de 1805, concedendo indulgência plenaria aos que visitarem este templo por ocasião da celebração
da festividade de Nossa Senhora de Guadalupe.
Tem esta paróquia as capelas de Santo Amaro, de Nossa Senhora das Preces, de Nossa Senhora
do Populo, de São João e Santana, de Nossa Senhora do Amparo e do cemitério, nas quais se celebra
ainda o sacrifício da Missa. Existe profanada a de São Filipe e encontra-se em ruínas a de Santa
Maria Madalena. Já não restam vestigios da capela de Nossa Senhora da Quietação, de Santa
Quiteria e de Nossa Senhora das Brotas. De cada uma destas capelas nos ocupámos em outros
lugares desta obra. Da capela de Nossa Senhora do Populo, no sítio do Pico do Cardo, que foi
pertença dos jesuítas, e da estada do beato Inacio de Azevedo nesta freguesia, já nos ocupámos no
volume I do Elucidário, a páginas 110, e no volume II, a página 187.
A capela de São João e Santana fica na quinta do Trapiche, que tem anexa uma excelente casa de
campo e era propriedade de D. Maria Paula Rego, herdeira do antigo morgadio Gouveia Rego, a que
esta quinta pertencia. Serviu de residência de verão aos últimos prelados desta diocese e há poucos
anos esteve nela provisoriamente instalado o seminário diocesano. Trata-se de adaptar esta
propriedade rústica e urbana ao estabelecimento dum manicomio, tendo já alguns enfermeiros de
São João de Deus dado começo aos respectivos trabalhos (1921).
Os principais sítios desta freguesia são: Casas Próximas, Romeiras, Courelas, Quinta das Freiras,
Terra Chã, Jamboto, Fontes, Ladeira, Chamorra, Encruzilhadas, Vasco Gil, Casas, Casa Branca,
Boliqueme, Barreira, Trapiche, Curral Velho, Laranjal, Lombo dos Aguiares, Pomar do Miradouro,
Ribeira Grande, Lugar do Meio, Salão, Álamos, Penteada, Quinta do Leme, Madalena, Levada do
Cavalo, Pilar, Pico dos Barcelos, Santo Amaro, Tanque, Alecrins, Preces, Pinheiro das Voltas, Santa
Quiteria, Pico do Cardo, Três Paus, Viana, Ribeiro dos Socorridos e Fajã. De muitos destes sítios se
descortinam vastos e surpreendentes horizontes, merecendo uma menção especial o Pico dos
Barcelos, que ainda há poucos anos era quási inteiramente desconhecido para a grande maioria dos
funchalenses, mas que hoje, graças a uma estrada recentemente construída (1921), que dá fácil
acesso á cumeada daquele pico, se tornou ponto obrigado de todas as excursões que se realizam
dentro do concelho do Funchal. Raramente passará um dia sem que um numero considerável de
automóveis, especialmente na ocasião da visita de turistas, suba àquela eminência, donde se desfruta
um dos mais maravilhosos trechos da incomparável paisagem madeirense.
Além dalgumas escolas moveis, tem esta paróquia nove escolas oficiais de ensino primário, que
funcionam nos sítios da Madalena, Casas Próximas, Salão, Terra Chã, Lombos dos Aguiares,
Trapiche, Encruzilhadas, Chamorra e Romeiras.
É Santo Antonio a freguesia mais populosa desta ilha; o ultimo censo publicado dá-lhe o total de
8839 habitantes (1921).
Um grande melhoramento realizado nesta freguesia, nos últimos anos, foi o alargamento da
estrada que do largo das Maravilhas conduz á igreja paroquial. Os respectivos trabalhos começaram
no fim do mês de Novembro de 1914 e ainda não estão definitivamente concluídos (1921).
Com o titulo de Parochia de Santo Antonio do Funchal, começou a publicar-se em Março de
1914 uma pequena revista quinzenal de que saíram 46 numeros, contendo uma noticia historica desta
freguesia.
Não queremos deixar de referir-nos aos importantes melhoramentos realizados na igreja
paroquial desta freguesia no periodo decorrido de 1922 a 1928, em que se despenderam mais de
trezentos contos de réis, recolhidos por subscrição pública entre os respectivos paroquianos. A êsses
melhoramentos, veio juntar-se o da colocação dum magnifico relogio em uma das tôrres do
campanario, dadivosa oferta do benemérito industrial Henrique Hinton, a qual presta um excelente
serviço a esta populosa freguesia.
Dêsses apreciaveis melhoramentos se faz uma mais larga referencia no livro Paroquia de Santo
Antonio da Ilha da Madeira, que é um volume de 230 páginas, contendo uma desenvolvida
monografia historica da mesma freguesia, devida à pena de um dos co-autores deste Elucidario.
Na imprensa local e na esfera da governação superior do distrito, surgiu, por mais duma vez, a
ideia de dividir-se a freguesia de Santo Antonio em duas paroquias autonomas, em vista do seu
continuo e progressivo desenvolvimento populacional e do alargamento da sua área territorial, que
amplamente se vai estendendo pelas elevações montanhosas que circundam a mesma freguesia.
Ficariam tendo as acertadas denominações de Santo Antonio de Cima, com sede no sitio do
«Boliqueme» ou das «Encruzilhadas», e Santo Antonio de Baixo com sede no sitio das «Casas
Proximas». A primeira teria uma populacão aproximada de 9.000 habitantes e a segunda contaria
cêrca de 6.000. A maior dificuldade na execução dessa projectada ideia, que traria incontestaveis
vantagens aos respectivos moradores, seria a da construção de uma nova igreja paroquial e de um
presbiterio ou residencia destinada ao pessoal eclesiastico.

(Fernando Augusto da Silva, Elucidario Madeirense, vol. III, pp.237-241)


Padre Fernando Augusto da Silva

Paróquia de Santo António da Ilha da Madeira


Alguns subsídios para a sua história

1929

Edição do autor

Funchal
Á inolvidável memória
DE
DOM MANUEL AGOSTINHO BARRETO

Ilustre Bispo do Funchal de 1877 a 1911

Desvaliosa mas sentida homenagem

do autor

"... Agradou-nos muito a sua iniciativa de coligir algumas notícias referentes à paróquia de... Desde
há muito temos inculcado este serviço... mas sem fruto até hoje. Oxalá que se desperte no espirito
dos seus colegas este desejo e que possa traduzir-se em factos..."

(Extracto duma carta dirigida, ha 35 anos, ao autor deste opúsculo pelo eminente prelado Dom
Manuel Barreto)
Origem e criação da paróquia

A colonização da Madeira começou pelo litoral, e a pouco e pouco a população se foi


alargando para o interior, estendendo-se pelas lombas, ocupando os vales e outeiros e até procurando
ás vezes lugares ínvios e quasi inacessíveis. O mesmo se daria certamente nesta paróquia.
Determinar, porém a época em que os primitivos povoadores, afastando-se da orla do oceano foram
prolongando o roteiro das terras e o desbravamento dos matagais até ás alturas de Santo António não
é hoje possível fazel-o ainda com relativa aproximação.
Deve supor-se com bons fundamentos que os terrenos circunvizinhos do Funchal fossem
sujeitos a uma quasi imediata exploração agrícola após a descoberta, mas nem sempre o
estabelecimento dos povoados andava a par e passo dessas explorações. No entretanto, não andará
muito distanciado da verdade quem supuser que pouco depois da chegada dos primeiros
colonizadores se principiaram a arrotear terrenos dentro dos actuais limites desta freguesia e que se
não fez esperar largo tempo para que alguns centros de população começassem a surgir num ou
noutro ponto dela.
Dos primitivos povoadores que vieram colonizar a Madeira, alguns tiveram terras de
sesmaria em Santo António, como João de Braga, de família nobre e conhecida no reino e Vasco Gil
senhor do sitio que ainda hoje conserva aqui o seu nome e que em 1472 era dos homens bons da
governança do Funchal.
Em 1460, segundo o ilustre anotador das Saudades da Terra, fundara Garcia Homem de
Sousa, genro do descobridor da Madeira, a capela de Santo Amaro, no local onde tinha grande
fazenda e casa acastelada, como em outro logar teremos ocasião de referir, o que nos leva a acreditar
que, nesse tempo, já por aquele sitio haveria algum começo de população, a par de outros pequenos
núcleos, que porventura se encontrariam dispersos em vários pontos da futura freguesia.
Os terrenos que na actualidade constituem esta paróquia pertenceram primitivamente á
freguesia da Sé, que então alargava a sua vastíssima área até ás faldas dos montes que circuitam o
Curral das Freiras, que só em 1790 se desmembrou de Santo António.
Quanto á criação desta paróquia, diz-nos o Dr. Álvaro de Azevedo, numa das suas notas á
obra de Gaspar Frutuoso, o seguinte: "A freguesia de Santo António, suburbano do Funchal foi
criada, provavelmente pelo mesmo tempo que a de S. Pedro, em 1566, tendo ambas sido separadas
da Sé: indubitavelmente existiu desde antes de 1574, porque, como se vê do alvará de 16 de
Setembro desse ano foi aumentada a anterior côngrua do seu vigário”. Noutro lugar e noutra obra
fixa o Dr. Azevedo a data de 1568 como a do ano da sua creação.
Escasseiam-nos os indispensáveis elementos para determinar com absoluta precisão o ano em
que se estabeleceu esta paróquia, mas parece-nos dever remontar a sua criação a época anterior
aquela, ao menos como curato autónomo, á semelhança de outros que houve nesta diocese e que
constituíam freguesias quasi inteiramente independentes e com vida civil e religiosa próprias. Os
assentos mais antigos que encontramos no respectivo arquivo paroquial são de 1557, e a partir desta
época é regular a escrituração dos termos de baptismos e casamentos, o que nos leva a supor que
data precisamente deste ano a criação dum curato autónomo, que mais tarde seria elevado
definitivamente a paróquia em ano que hoje não se pode fixar.
Neste bispado, e não sabemos se em outros, existiam curatos independentes e até capelas
com pé de altar in solidum e capelães curados, que depois se transformaram em outras tantas
freguesias ou antes foram a verdadeira origem delas. Grandes probabilidades, pois, para não dizer
inteira certeza, militam a favor da nossa afirmativa, determinando o ano de 1557 como o da criação
dum curato, elevado definitivamente a paroquia pelos anos de 1566.
Pelos respectivos livros do registo se sabe que foi o padre Gonçalo Jardim Rodrigues o
primeiro sacerdote que no período decorrido de 1557 a 1559 desempenhou aqui as funções
paroquiais, não fazendo nunca indicação da categoria do cargo que exercia. O seu sucessor,
Francisco Afonso, de 1559 a 1569, intitulou-se sempre cura bem como outros que se lhe seguiram.
Torna-se muito estranhavel que, ainda depois da criação da paroquia, que é sem sombra de duvida
anterior a 1574, como se vê num documento deste ano citado em vários lugares, continuem alguns
sacerdotes que exerciam aqui o munus pastoral a intitular-se curas, e outros ora curas ora vigários,
como sucede com Afonso Lopes, de 1585 a 1586.
Esta paróquia de Santo António tirou a sua denominação da capela do mesmo nome, que
existia nas proximidades da actual igreja paroquial e que provavelmente trazia parte dalguma
fazenda povoada, como outras que houve na ilha, dando o seu nome ás terras e sitio que a
circundavam e sendo a origem da futura paróquia. Quando esta definitivamente se estabeleceu ou se
criou o curato autónomo, foi aquela capela convertida em igreja paroquial e ficou sendo a sede da
nova freguesia.
É a paróquia suburbana mais antiga do Funchal e aquela que mais rapidamente se
desenvolveu, atingindo em breve uma população superior as freguesias citadinas. Ainda hoje é uma
das mais vastas e a mais populosa de todo o arquipélago.
IGREJA PAROQUIAL

ANTIGA.-Como já fica dito, foi numa capela da invocação de Santo António, que decerto fazia
primitivamente parte duma fazenda povoada, que, por meados do século XVI, se criou esta paróquia
ou ao menos um curato autónomo, a exemplo de outros que existiram mesta diocese.
Essa capela, sede da nova freguesia, sofreu com o decorrer dos anos algumas modificações e
mesmo acrescimentos, mas sendo, apesar disso, ainda insuficiente para a população, que ia
crescendo notavelmente, tornou-se necessária a construção dum templo de mais amplas proporções.
O local escolhido foi o terreno, que fica entre a actual casa paroquial e a estrada publica e que fazia
parte do passal, cedido para esse fim pelo pároco de então o padre António Afonso de Faria, datando
a sua construção do primeiro quartel do século XVII. No período decorrido de 1665 a 1682, se
acrescentou a capela-mor e se construíram as capelas do Santíssimo Sacramento e das Almas,
realizando-se ainda outros melhoramentos importantes.
Por alvará episcopal de 4 de Junho de 1694 se concedeu licença para ser colocado o
Santíssimo Sacramento na sua capela, que ha dez ou doze anos começara a ser construída. Não era
um templo de acanhadas dimensões, pois tinha seis altares, sendo interiormente bem ornado em obra
de talha dourada. Num provimento de 1756 se lhe chama igreja rica debaixo do ponto de vista da sua
decoração, mas já nesta época estavam os seus altares velhos e improporcionados segundo o dizer do
mesmo provimento.
Supomos que no fim do século XVII ou principio do seguinte se fizeram na antiga igreja
importantes obras de reedificação ou acrescentamento, pois que no Índice Geral do registo da antiga
Provedoria da Real Fazenda nesta ilha, encontramos referencia ao alvará régio de 9 de Setembro de
1711, que manda continuar as obras da igreja de Santo António orçadas em 2.233$920 reis. Não
temos dados para afirmar que as obras se tivessem concluído em conformidade com aquele
orçamento, mas é certo que em diversas épocas se procederam a grandes repairos na antiga igreja
paroquial desta freguesia. Com a construção do templo actual se começou a demolir a velha igreja
em 1785, ficando de pé a capela do Santíssimo Sacramento, que serviu de paroquial até o ano de
1789. Junto á residência do pároco existe ainda um pedaço de muro que a tradição afirma pertencer á
antiga igreja.

ACTUAL.-O aumento sempre crescente da população e o estado de ruína em que o


terramoto de 1748 deixou a igreja, aconselharam desde logo a construção dum novo e mais vasto
templo. Diz uma relação coeva do terramoto: "A igreja de Santo António no frontispício tem varias
aberturas: a cantaria da porta principal está desconjuntada e as paredes do corpo da igreja partidas
em diversos lugares, como também o estão as das oficinas, e o que se sente mais é o teto que está em
grave dano".
Apesar da igreja ficar extremamente danificada e dos diligentes esforços empregados pelo
respectivo pároco de então, o Dr. António Pereira Borges, a construção do novo templo só começou
em 1783, isto é, 35 anos depois daquele grande abalo de terra. O lugar preferido foi uma courela
quasi contígua á antiga igreja, constando da tradição que, não se encontrando terreno
suficientemente seguro nas escavações para aí se formar o alicerce das paredes, se lançaram nos
fundamentos grandes troncos de castanheiros e sobre eles os primeiros blocos de pedra que serviram
de base aos muros do novo templo. Pode isto constituir novidade para a Madeira, onde, a pequena
profundidade do solo, se descobre sempre terra firme e segura, mas não em outros lugares em que a
natureza dos terrenos obriga a lançar mão daqueles e doutros processos semelhantes.
Levou seis anos esta construção, que foi dada por concluída em 1789, embora ainda por
alguns anos continuassem os trabalhos da ornamentação interior da igreja e em especial dos altares.
Foi fiador e inspector das referidas obras o alferes António Francisco da Cruz Camacho, que faleceu
no sitio da Ladeira desta freguesia a 21 de Agosto de 1815. Teve sepultura debaixo do arco da
capela-mor, em cuja pedra tumular se lê este epitáfio: Sepultura do alferes António Francisco da
Cruz Camacho e de sua mulher e filhos e herdeiros, o qual foi o fiador e inspector desta igreja, que
teve seu principio ao amo de 1783 e se concluiu em 1789. Mostrou sempre a maior dedicação e
desinteresse pelo adiantamento das obras, que por vezes prosseguiram com grande lentidão, embora
por motivos estranhos á sua vontade, devendo-se grande reconhecimento á sua memória pelo
inexcedível zelo que desenvolveu em favor do completo acabamento desta igreja.
No frontispício e sobre a porta principal está uma lapide onde se encontra a seguinte
inscrição:

ANTÓNIO LUSITANORUM
PROTECTORI TEMPLUM DEDI-
CAT AUG. REG. MARIA PRI-
MA ILLIUS LIBERALITATEM
EFFUNDENTIBUS SUIS IN
HAC INSULA AB AERA-
RIO AD MINISTRIS. AN-
NO MDCCLXXXIII

Apesar do serviço religioso começar a realizar-se no novo templo em 1789, o seu definitivo
acabamento interior levou ainda largos anos. Os trabalhos da capela de Nossa Senhora de Guadalupe
só foram dados por terminados em 1798, a capela-mor ainda em 1801 não estava de todo acabada e a
conclusão da capela do Santíssimo Sacramento somente se deu no principio do século XIX.
Em 1850, sendo governador civil deste distrito o conselheiro José Silvestre Ribeiro e por seu
mandado, realizaram-se importantes obras nesta igreja, que consistiram principalmente no
assoalhamento da capela-mor, reparações nas paredes e torres, retalhamento de todo o templo e
outros pequenos repairos. Também em 1852 se introduziram alguns melhoramentos de relativa
importância na casa do lavatório e noutras dependências da igreja.
Nunca tinham sido concluídos os campanários e foi em 1880 que o cónego Feliciano
Teixeira, deputado por esta ilha, conseguiu do governo central a verba necessária para o
acrescentamento das torres e seu definitivo acabamento. As respectivas obras só se realizaram e
concluíram em 1883. Os coruchéus das torres não foram construídos com a indispensável solidez,
pois que um golpe mais rijo de vento derrubou o do lado sul a 8 de março de 1899, havendo
necessidade de apear-se o do lado norte, por não oferecer seguras garantias de resistência .
Em 1921 iniciaram-se nesta Igreja Paroquial importantes melhoramentos, que ainda
prosseguem, contando-se entre eles a reconstrução das torres, de que tudo daremos larga e completa
noticia em outro artigo deste livro. Depois da primitiva construção, são estas as obras de maior vulto
realizadas neste templo, em que se têm despendido avultadas somas, provenientes da exclusiva
generosidade dos habitantes desta freguesia.

CURRAL DAS FREIRAS

0 Curral das Freiras até o ano de 1790, em que foi desmembrado da freguesia de Santo
António, fazia parte integrante dela, sendo portanto comum ás duas paróquias até o ano referido,
todos os acontecimentos que possam interessar á historia de ambas.
Fica o Curral situado no interior da ilha e assenta no fundo da cratera dum extinto vulcão,
segundo vários geólogos o afirmam. Para alcançar este logar, mister é subir altas e íngremes
montanhas e descer pelas declivosas ravinas que circuitam o profundo vale, que se mostra como um
horroroso e insondável abismo, ao ser observado dos píncaros da serrania. É talvez o ponto da
Madeira em que a natureza se apresenta mais notavelmente grandiosa e de aspectos mais
surpreendentes, pela grande elevação e forma caprichosa dos montes, pelo alcandorado e aprumo das
encostas, pelos desfiladeiros e abismos que se encontram disseminados por toda a parte, pelo tom
agreste e selvagem da paisagem, o que tudo dá ao conjunto um ar de tamanha grandeza e majestade
e de tão extraordinária e encantadora beleza, que o visitante, ainda o menos apercebido e sensível,
fica surpreso e estático ao deparar com este scenario de tantas e tão incomparáveis maravilhas.
"Vimos um boqueirão, diz um distinto escritor, de muitos metros de largo e cortado quasi a pique,
voragem espantosa, cavidade imensa em volta da qual, excepto pelo sul, se erguem píncaros
titânicos, de fantasiosos perfis, e, no fundo do abismo...” a miniatura campesina de um paraíso...
Sobranceiros ao Curral das Freiras, ficam alguns dos mais elevados picos da Madeira, sobressaindo
entre todos o conhecido Pico Ruivo, que se eleva a uma altitude aproximada de dois mil metros
acima do nível do mar. Em inúmeras obras nacionais e estrangeiras se encontram largas referencias
ao Curral, tendo sido este lugar bastante visitado por muitos homens ilustres e entre eles alguns que
se notabilizaram nos domínios das sciencias e das letras.
Nos tempos primitivos da colonização teve apenas o nome de Curral, que lhe provinha do
facto de ser um centro de abundantes pastagens de gado lanígero e caprino, que pastores
entregando-se a uma vida quasi nómada, por ali pastoreavam livremente os seus rebanhos.
Foram-se-lhe reunindo alguns escravos, que, fugindo do povoado, alcançaram ali a sua carta de
alforria, e também vários criminosos escapados á acção da justiça, formando-se deste modo um
pequeno núcleo de povoação naquele longínquo e apartado ermo, que a distancia e as dificuldades
das comunicações, através de montes fechados de arvoredo e semeados de perigosos abismos,
tornavam quasi inacessível. Começou depois o arroteamento e cultura das terras e já nos princípios
do século XVI havia ali um pequeno centro de população de habitantes de moradia fixa e legalmente
constituída. Deixou então de ser um valhacouto de foragidos e criminosos. Teve pouco
desenvolvimento este primitivo núcleo de população, pois que em 1794 era apenas de cento e dez o
numero dos seus habitantes. Em 1480 eram proprietários do Curral, Rui Teixeira e sua mulher
Branca Ferreira, que tinham residência no Campanário. Foi a 11 de Setembro deste ano que
celebraram a escritura de venda desta vasta propriedade ao segundo capitão donatário do Funchal,
João Gonçalves da Câmara, propriedade cuja área se estendia "desde o Passo da Cruz e Ribeirão dos
Socorridos até onde ela nasce de arrife a arrife, de uma a outra banda".
O preço desta compra foi de "3$500 reis de cinco ceitis ao real e 50 cruzados de ouro,
valendo 380 reis cada um". Destinava o capitão donatário esta aquisição de terrenos à doação que
fez a suas filhas D. Elvira e D. Joana, quando estas professaram em Santa Clara, mosteiro que o
mesmo donatário fundara em 1492, entrando para ele as primeiras religiosas em 1497. Deve ter sido
realizada no período decorrido de 1492 a 1497 a dotação do Curral, que a partir desta época passou a
denominar-se Curral das Freiras.
Em 1566 foi a cidade do Funchal saqueada por corsários franceses luteranos, de que falam
com tanto horror as antigas crónicas madeirenses. As freiras de Santa Clara viram-se forçadas a
abandonar o seu convento para não serem vitimas daquela horda de selvagens, e, como diz Frutuoso,
"sahiram por entre os canaviaes e, se acolheram e não pararam até ao seu Curral, que dista bom
pedaço da cidade, e assim se foram sem salvar nenhum ornamento, deixando tudo no mosteiro, salvo
a custodia do Santíssimo Sacramento...". Os franceses permaneceram no Funchal, na sua faina de
destruição e de matança de 3 a 17 de Outubro, e logo depois da sua saída desta ilha deixaram as
religiosas o Curral, recolhendo-se ao seu convento, na cidade. Não sabemos se já então tinham as
freiras de Santa Clara construído no Curral a capela de Santo António, que ali existiu até meados do
século passado e que era pertença do mesmo mosteiro.
Ignoramos quando se estabeleceu no Curral um núcleo de população permanente, mas
conjecturamos que a colonização com habitantes de moradia fixa só se começou a fazer no primeiro
ou segundo quartel do século XVII. Afirma-se "que tão difícil era o ingresso no Curral, que se
tornou no tempo da colonização como que um local de guarida para onde fugiam vários escravos
escapados á fúria dos seus senhores e ali constituíram o núcleo duma mestiça população".
É hoje difícil, senão impossível, determinar ainda aproximadamente, o tempo em que
principiou a ser, regularmente povoado o Curral das Freiras. A referencia mais antiga que encontro
aos seus moradores, como povoação definitivamente constituída, é de 1635. Deveria no entretanto
ser bastante limitada a sua população, pois que em 1794, já depois da criação do curato do Curral,
contava ele apenas 110 habitantes, como acima deixamos dito.
Antes do estabelecimento da paróquia, teve o Curral seus capelães privativos com residência
mais ou menos permanente ali, sendo em 1687 passada carta de capelão ao padre Cristóvão Vieira.
O serviço religioso fazia-se na capela de Santo António, pertencente ao mosteiro de Santa Clara
como já referimos. Na visita que o visitador episcopal Dr. António Mendes de Almeida fez á igreja
de Santo António no ano de 1756, determinou que se avisasse a abadessa de Santa Clara para prover
aquela capela dos objectos necessários ao exercício do culto, como a isso se obrigara, sob pena de
procedimento ulterior.
No Índex Geral do registo da antiga Provedoria da Real Fazenda desta ilha, encontramos o
seguinte: "Alvará da senhora rainha D. Maria de 17 de Março de 1790 da criação da nova igreja de
Nossa Senhora do Livramento na ermida de Santo António do Curral das Freiras e Fajã dos Cardes,
desmembrando-se da freguesia de Santo António e ficando filial da mesma freguesia, com ordenado
anual de 80$000 reis, I moio de trigo e meia pipa de vinho ao novo pároco".
Ha visível engano no anotador das Saudades da Terra, quando afirma que a paróquia ou
curato do Curral foi criado na ermida de Santa Quiteria, como veremos no artigo que consagraremos
a esta capela. Foi na pequena ermida de Santo António que se criou a nova freguesia do Curral e ali
teve a sua sede até aos primeiros anos do século XIX, em que se construiu a actual igreja paroquial.
VIGAIRARIA E CURATO

Em tempos idos, andava tão estreitamente ligada a vida civil e social á vida religiosa que á
criação duma freguesia correspondia logo a criação de uma Vigairaria com o seu respectivo cura de
almas. Em Santo António, ao estabelecer-se à paróquia ou um curato autónomo, que quasi significa
o mesmo, implicitamente trouxe esse facto a criação da Vigairaria, em ano que não podemos fixar
com absoluta exactidão pelos motivos que já expusemos no artigo Criação da Paróquia.
Não sabemos o nome do primeiro sacerdote que aqui exerceu as funções paroquiais, mas o
mais antigo de que temos noticia foi o padre Gonçalo Jardim Rodrigues, no período decorrido de
1557 a 1559. Ignoramos também a côngrua que fora arbitrada aos primeiros curas de almas, côngrua
que era então proporcional ao numero de fogos de cada paróquia.
Somente a partir de 1574 é que podemos fixar o quantum das respectivas côngruas, em vista
dos diplomas que encontramos citados no Índex geral do registo da antiga Provedoria da Fazenda
Real neste arquipélago.
O mais antigo desses diplomas é o alvará régio de D. Sebastião, de 16 de Setembro de 1574,
passado a favor do pároco António de lima e seus sucessores elevando a côngrua anual, que era
então de 13$S300 a 25$000 reis, também anuais, visto já ter a paróquia atingido o numero de 120
fogos.
Esta côngrua foi sucessivamente aumentando e decerto em conformidade com o movimento
sempre crescente da população como se vê dos seguintes diplomas: alvará de 7 de Julho de 1888
acrescentando 30 alqueires de trigo á côngrua anterior de 25$000 reis; alvará de 14 de Dezembro do
mesmo ano aumentando a importância de 4$000 reis anuais pelas missas dos sábados pelas almas
dos infantes; alvará de 26 de Agosto de 1645, alterando a forma do pagamento da côngrua, que
passou a ser de 100$000 reis em dinheiro e duas e meia pipas de vinho; e finalmente o alvará de I de
Outubro de 1775 acrescentando dois moios de trigo á côngrua fixada no diploma anterior. Outras
modificações sofreria o quantitativo das côngruas dos párocos desta freguesia, mas delas não temos
conhecimento. A carta de lei de 26 de Maio de 1845 alterou, profunda mas não equitativamente, a
distribuição das côngruas nesta diocese, não tendo porém a tabela anexa arbitrado o vencimento do
pároco de Santo António, devido certamente a lapso ou inadvertida omissão. A côngrua suprimida
pelo decreto de 20 de Abril de 1911 era de 200$000 reis anuais.
O desenvolvimento da população com o seu correlativo serviço paroquial levou o bispo
diocesano D. Luiz Figueiredo de Lemos a impetrar o estabelecimento dum curato nesta freguesia,
cujo deferimento se deu por alvará de Filipe II de 29 de Outubro de 1602, que autorizou a criação
deste lugar, sendo nele provido o padre Domingos Brás.
O seu vencimento era primitivamente de 20$000 reis anuais em dinheiro e de uma pipa de
vinho. Esta côngrua foi acrescentada com um moio de trigo pelo alvará de 14 de Agosto de 1609. A
já citada carta de lei de 26 de Março de 184; fixou ao curato desta freguesia a côngrua de 20$000
reis em dinheiro e uma pipa e 15 almudes de vinho e um moio e 30 alqueires de trigo. 0 decreto de
20 de Abril de 1911 suprimiu a ultima côngrua, que era de 130$620 reis anuais.
Temos razões para acreditar que os curas foram, em determinada época, de apresentação
regia, pois vemos que o cura Fernão Gomes se assinava cura proprietário por el-rei, e também cura
confirmado, e encontramos citado o alvará régio de D. João IV, de 18 de Dezembro de 1648, em que
é apresentado cura desta freguesia o padre Francisco de Gouveia.
Embora não possamos afirmar, como verdade averiguada, que a antiga Capela de Santo
António, em que foi instituída a paróquia, tivesse tido seus capelães privativos, anteriormente á
criação da nova freguesia, todas as probabilidades nos levam, porém, a julgar que assim houvesse
acontecido, fundando-nos para esta suposição em muitos factos idênticos, que se deram com
fazendas povoadas e núcleos de povoação muito interiores em importância a Santo António pela sua
situação e numero de seus habitantes.
PÁROCOS

Na relação, que em seguida apresentamos, dos párocos desta freguesia, indicamos os anos em
que aqui exerceram as funções paroquiais, acrescentando as circunstancias pessoais que acerca de
cada um deles pudemos obter.

Gonçalo Jorge Rodrigues de 1557 a 1559. É o primeiro sacerdote de que temos noticia
haver desempenhado funções eclesiásticas nesta freguesia, sendo possível que antes dele, a admitir a
existência da freguesia ou dum curato autónomo anterior ao ano de 1557, outro ou outros
exercessem iguais funções, como se poderá ver no artigo Creação da Paroquia.

Francisco Afonso, 1559-1569.


Miguel Rodrigues, 1569-1573.
Manuel Lopes, 1573.
Vicente Afonso, 1574.
Afonso de Leme, 1574-1575.
Domingos Fernandes, 1575-1584.
António Lopes, 1584-1586. Foi em seguida vigário de S. Roque.
Domingos Fernandes, 1586-1596
Fernão Gomes, 1596- 1601.
Gaspar Moreira, 1601-1603
Domingos Brás, 1603-1605 Foi o primeiro cura desta freguesia em 1602.
Luís Gomes, 1605 - 1606.
António Afonso de Faria, 1606-1527.
Pedro Borges, 1627-1636.
Inácio Spranger Bazalir, 1638-1647. Passou a cónego da Sé do Funchal.
Dr. João d'Araujo, 1648.
Pedro Alvares Pereira, 1648-1649.
Bartolomeu Soares Serrão, 1649.
João Simão de Abreu, 1649-l653.
Manuel Pereira da Silva, 1653-1655.

Dr. Francisco de Castro, 1656. Foi afamado pregador do seu tempo e exerceu diversos
cargos importantes. Diz dele Barbosa Machado na Biblioteca Lusitana: "Francisco de Castro, natural
da cidade do Funchal, capital da ilha da Madeira, presbítero de vida inculpável, mestre em artes,
doutor em Teologia pela Universidade de Évora, onde foi colegial do colégio da Purificação. Foi
vigário da colegiada de S. Pedro da cidade do Funchal, donde passando a Cabo Verde a buscar
remédio para o mal da lepra passou a melhor vida em o ano de 1665. De muitos sermões que pregou,
somente se fizeram publicar Sermão da Conceição de Nossa Senhora, Rochella, 1656 e Sermão da
Visitação da Mãe de Deus, Rochella, 1655.
Inocêncio diz no seu "Dicionário Bibliográfico” que esses sermões são raríssimos, pois que
não deparou com exemplar algum deles. No arquivo desta igreja paroquial de Santo António existe
um exemplar do primeiro destes sermões, que foi pregado na igreja de S. Pedro, no dia da festa de
Nossa Senhora da Conceição do ano de 1653, por ocasião de celebrar a sua primeira missa o
presbítero Matias de Aguiar de Menezes. É um discurso em que o autor revela incontestável talento,
mas escrito no estilo gongórico da época, a que nem o génio do próprio padre António Vieira se
poude subtrair inteiramente.

Dr. Manuel da Costa da Silva, 1657. Foi apresentado nesta igreja por carta regia de 6 de
Março de 1652 e tomou posse dela a 18 de Março da 1653, mas somente exerceu o munus pastoral
no ano referido.

Manuel Pereira da Silva, 1657-1660.

Dr. João de Araújo, 1660-1677. Foi cónego da Sé do Funchal e vigário geral deste bispado.

António Fernandes Pimenta, 1678-1679.

Dr. Lourenço Franco de Azevedo, 1679-1694. Foi apresentado nesta igreja por carta regia
de 16 de Setembro de 1678 e tomou posse a 12 de Abril de 1679. Ausentou-se da paróquia em
Setembro de 1692 para Lisboa e não voltou mais á freguesia.

João de Barros Ferreira, 1694-1696.

Dr. Estevão Lomelino de Vasconcelos, 1696-1697.

João de Barros Ferreira, 1697-1708. Apresentado por carta regia de 12 de Março de 1695 e
apossado a 12 de Abril do mesmo ano.

Cristóvão Moniz de Menezes, 1709-1730.

Manuel Marques de Moura, 1730-1731.

André Escorcio Drumond, 1632-1737.

Dr. António Pereira Borges, 1738-1772. Foi o pároco que por mais largo período de tempo
esteve na direcção espiritual desta freguesia. Aqui faleceu a 7 de Outubro de 1772.

João Paulo Berenguer, como vice-vigário, de 14 de Abril de 1772 a Junho de l773.

Domingos Gomes da Cruz, 1773-177;. Por morte do vigário colado Dr. António Pereira
Borges, foi esta igreja posta a concurso, aparecendo oito opositores e sendo classificado em primeiro
lugar o padre Domingos Gomes da Cruz e logo despachado em Janeiro de 1783. Tinha sido vigário
da Madalena do Mar, cuja pobreza contemplou no seu testamento, *deixando também por lutuosa ao
Ex.mo e rev.º Sr. bispo um bocado de cordão de ouro.. Morreu nesta freguesia a 2 de Junho de 1775.

João Paulo Berenguer, 1775-1776. Foi cónego da Sé do Funchal.

Padre António Xavier, 1776-1797. Posta a igreja a concurso por morte do seu antecessor,
apareceram 12 opositores a ela, sendo em Junho de 1775 despachado o padre António Xavier.
Deixou esta igreja em 1797 por ter sido nomeado cónego da Sé do Funchal.
Leandro José Spinola de Macedo, 1798.

Pedro Marques Caldeira e Campos, 1798-1807. Faleceu nesta freguesia a 26 de Agosto de


1807.

Manuel José Pereira de Sousa, 1807-1808. Foi cura desta freguesia e como tal prestou
relevantes serviços na construção da capela de Nossa Senhora de Guadalupe, como se verá no artigo
subordinado a este título. Morreu nesta paroquia a 21 de Junho de 1811.

José Joaquim de Sousa, 1808. Tomou posse a 10 de Janeiro deste ano.

José Marques Velosa, 1808-1810. Foi vigário colado do Monte e em seguida encomendado
nesta de Santo António, onde depois foi apresentado. Faleceu nesta paroquia a 5 de Outubro de
1810.

José Joaquim de Sousa, 1810-1814. Foi em seguida apresentado na igreja paroquial do


Monte.

Francisco João da Silva, 1814-1815.

Fr. António Joaquim Correia, 1815-1817.

António Joaquim Baptista, 1817-1821.

Januário Vicente Camacho, 1821-1825. Era vigário colado na Serra d'Agua quando foi
nomeado vice-vigario de Santo António. Apresentado mais tarde pelo governo bispo de Castelo
Branco e do Funchal, não chegou a ser confirmado pela Santa Sé. Militando activamente na política,
exerceu importantes e elevados cargos como os de deputado, par do reino, deão da nossa Sé,
governador dos bispados do Funchal e Angra, etc. Representou a Madeira em cortes na legislatura de
1848 a 1851 e foi deputado substituto em algumas legislaturas anteriores, sendo elevado ao pariato
em 1851. Faleceu em Lisboa a 22 de Dezembro de 1852.

Francisco Rodrigues Camacho, 1825.

Manuel Joaquim de Oliveira, 1825-1829.

Manuel Joaquim de Freitas. 1830.

Alexandre Alvares da Silva, 1830-1834. Por carta regia de 8 de Janeiro de 1840 foi
apresentado num dos curatos da Sé Catedral e depois cónego da mesma Sé. Morreu a 21 de Maio de
1878.

Manuel Joaquim de Sousa Gouveia, 1834-1841. Era natural da freguesia da Ponta do


Pargo. Foi procurador á Junta Geral do distrito. Faleceu nesta freguesia de Santo António a 10 de
Julho da 1841.
João Pedro dos Santos, 1841-1858. Foi apresentado nesta freguesia por carta regia de 17 de
Agosto de 1841 e exercia então funções paroquiais no Caniço na qualidade de vice-vigario.

José Maria de Faria, 1858-1860. Era um musico abalizado. Desta freguesia passou para S.
Martinho por permuta que fez com o padre Cláudio João Ferreira.

Cláudio João Ferreira, 1860-l868. Foi em seguida cónego da nossa Sé.

Agostinho Teodoro Pita, 1868-1869. Nasceu na freguesia da Ponta do Sol a 28 de Agosto


de 1800. Sendo vigário da Quinta Grande foi transferido para Santo António. Faleceu a 16 de
Fevereiro de 1878.

Teodoro Urbano Ferreira Pita, 1869-l897. Nasceu na Ponta do Sol a 25 de Maio de 1831 e
ali jaz sepultado, tendo falecido nesta freguesia de Santo António a 12 de Novembro de 1897.

Teodoro João Henriques, 1897-1900. Foi, imediatamente antes, cura desta freguesia desde
1888. Nasceu no Funchal a 15 de Novembro de 1861 faleceu a 6 de Outubro de 1912. Dele nos
ocuparemos em artigo especial.

Frederico Augusto de Freitas, 1900-1905. Nasceu no Funchal a 24 de Março de 1850 e


morreu nesta freguesia a 25 de Janeiro de 1906. Era vigário colado de S. Vicente e foi apresentado
em Santo António por carta regia de 27 de Julho de 1899.

Joaquim Teixeira, 1906-1908. Era cura desta freguesia desde 1901, passando a vice-vigario
por morte do antecessor. Nasceu na freguesia do Monte no ano de 1872 e é actual pároco da
freguesia da Tabúa.

Fernando Augusto da Silva, pároco actual. Foi apresentado por carta regia de 27 de Junho
de 1907 e assumiu a direcção da paroquia a 1 de Junho de 1908.
CURAS

O desenvolvimento sempre crescente da população e portanto o correlativo aumento dos


serviços religiosos levaram o bispo D. Luís Figueiredo de Lemos a impetrar a criação dum curato
nesta freguesia, o que perfeitamente se justificava com o já importante núcleo de população existente
no Curral das Freiras, que distava algumas léguas do centro da paroquia D. Filipe II, por alvará de 29
de Outubro de 1602, criou o curato de Santo António com a côngrua anual de 20$000 reis em
dinheiro e de uma pipa de vinho, sendo nele provido o padre Domingos Brás.
Os sacerdotes que nesta freguesia teem exercido o cargo de cura são os que em seguida
apresentamos, com a indicação dos anos em que aqui desempenharam as suas funções paroquiais.

Domingos Brás, 1602-1606.


Fernão Gomes, 1606-1610
Francisco Dias, 1611.
Matias Lopes, 1612.
Pedro de Faria, 1615-l632.
Jerónimo Vieira, 1632. Era licenciado em teologia.
Manuel Fernandes, 1634-1647. Deixou o curato por ter sido nomeado pároco da freguesia
de S. Roque.
Francisco Adão, 1648.
Francisco de Gouveia, 1649-1666.
António Fernandes Pimenta, 1668-1678. Foi em seguida pároco durante alguns meses,
voltando novamente a desempenhar o lugar de cura.
Sebastião Gomes de Oliveira, l678.
António Fernandes Pimenta, 1679-1700. Era natural desta freguesia e aqui faleceu a 8 de
Julho de 1700. Foi o doador das terras do passal. Serviu esta paroquia por mais de trinta anos.
Francisco da Costa Pereira, 1700-17l2. Morreu esta freguesia a 3 de Março de 1714,
dizendo-se no respectivo assento de óbito "que não fez testamento por não ter de quê".
Manuel Rodrigues, 1726-1730. Era natural desta paroquia, onde faleceu a 17 de Junho de
1746.
Lucas Pereira de Oliveira, 1730-l780. Foi o sacerdote que por mais largo tempo
desempenhou aqui as funções paroquiais, tendo servido esta freguesia durante o longo período de
cinquenta anos. Aqui morreu em avançada idade a 6 de Fevereiro de 1787.
Manuel João Pereira de Sousa, 1782-l807. Faleceu nesta paroquia a 21 de Junho de 1811.
No artigo intitulado Nossa Senhora de Guadalupe, se fará deste sacerdote mais larga e honrosa
menção.
José António Gomes, 1807-1814. Era filho de Aires Gomes e de Antónia Gomes. Morreu
nesta freguesia a 31 de Dezembro de 1811. Deixou nas suas disposições testamentarias o legado de
200$000 reis á capela de Santo Amaro destinado á compra de paramentos.
João Nepomuceno Camacho, 1815-1828. Era natural desta paroquia. Morreu na freguesia
dos Canhas.
Valério António Camacho, 1828. Nasceu nesta freguesia a 6 de Março de 1799 e era filho
do alferes António Joaquim Rodrigues e de Ana Joaquina Rodrigues. Foi mais de vinte anos pároco
da freguesia de Câmara de Lobos, onde faleceu a 8 de Agosto de 1856.
Manuel Joaquim de Freitas, 1829. Passou a vice-vigario e voltou a servir de cura.
Manuel Joaquim de Freitas, 1831-1834.
Francisco António de Gouveia, 1834-1868. Nasceu no sitio do Salão desta freguesia a 21
de Maio de 1793 e era filho de Gregório António de Gouveia e de Maria Quiteria de Gouveia.
Morreu, sendo cura desta paroquia, a 8 de Junho de 1868.
João António de Caires, 1870. Era vigário colado dos Canhas.
Henrique Modesto Betencourt, 1871-1888. Passou a sacristão-mór da Sé Catedral e depois
a cónego da mesma Sé.
Teodoro João Henriques, 1888-1897. Passou a vice-vigario.
António Marcolino, 1898. Nasceu na ilha de São Miguel no ano de 1874 e ali faleceu em
Dezembro de 1911.
Fausto Lopes Ribeiro, 1898-l899. Era natural do continente português. Foi cónego da Sé do
Funchal e pároco na freguesia de Santa Cruz, onde morreu a 7 de Abril de 1928.
João Correia, 1900. Nasceu na freguesia de S. Martinho e ali faleceu, sendo pároco, a 6 de
Janeiro de 1921.
Joaquim Teixeira, 1901-19O6. Passou a vice-vigario.
António de Gouveia e Freitas 1906. É actual pároco da Ponta do Sol.
João Prudêncio da Costa, cura actual desta paroquia, desde o ano de 1906.
Telésforo Lourenço da Costa, actual cura-coadjutor desde 1906.

O serviço religioso da paroquia de Santo António, que vai sempre notavelmente aumentando
em virtude do grande desenvolvimento da sua população, justifica inteiramente a nomeação dum
cura-coadjutor, que esta freguesia tem tido desde o ano de 1906 até ao presente, sendo o padre
Telesforo Lourenço da Costa o primeiro sacerdote que exerceu este cargo eclesiástico.
SÍTIOS

Damos em seguida a relação completa dos sítios ou bairros desta freguesia, conservando-lhes
a mesma denominação e a mesma ordem com que se encontram inscritos nos artigos róis paroquiais.
É certo que dentro dos limites destes sítios se conservam na tradição local, outros nomes para
designar algum ou alguns tratos de extensão mais ou menos considerável de terreno, mas a
nomenclatura geralmente adoptada e que até pode dizer-se de carácter oficial é aquela que a seguir
apresentamos.

Casas Proximas.-Tira o seu nome das primitivas habitações que se constituíram em torno do
primeiro núcleo de população, formado provavelmente por uma fazenda povoada com capela,
conforme dissemos no capitulo Criação da paróquia.
Ficam neste sitio a igreja paroquial, casa de residência do respectivo pároco com seu passal
anexo, uma escola oficial do sexo feminino, uma caixa postal que permuta correspondência diária
com a estação central do Funchal e um marco fontenário que começou a fornecer agua ao publico a
18 de Maio de 1909. Encontra-se neste sitio a quinta chamada de Santo António.
É nas mais próximas imediações da igreja paroquial que estacionam os numerosos
automóveis, que fazem serviço a todas as horas na condução de passageiros entre esta paroquia e o
centro da cidade. A sua população é de 289 habitantes.

Romeiras.- Não sabemos se esta denominação lhe provém de ali terem existido em outros tempos
arvores de igual nome ou se algum primitivo colonizador de apelido Romeira, que os houve nesta
ilha, possuiria aqui terras de sesmaria, dando assim nome ao sitio, como frequentemente aconteceu
na Madeira com muitos dos antigos povoadores. Tem uma escola oficial do sexo feminino e o
numero dos seus moradores é de 137.

Courelas.-A significação deste termo explica suficientemente o nome dado ao sitio. Conta 151
vizinhos.

Quinta das Freiras.-As freiras do convento de Santa Clara possuíam neste sitio uma vasta
propriedade rústica e talvez urbana, e deste facto provém a denominação da Quinta das Freiras, que
este bairro tomou. Encontra-se neste sitio o cemitério da paroquia, de que nos ocuparemos em artigo
especial, e nele existia a antiga capela de Nossa Senhora das Brotas, na quinta do mesmo nome. Tem
291 almas.

Terra-Chã.-Tira por certo o seu nome das condições orográficas do terreno. Nele se acha instalada
uma escola oficial do sexo masculino chamada do Laranjal, mas que por falta de casa apropriada
naquele sitio se encontra neste da Terra Chã. 0 numero dos seus habitantes é de 109.

Jamboto.-Em documentos antigos e nos respectivos assentos do arquivo paroquial encontra-se


frequentemente o nome de João Boto, que foi um dos primeiros colonisadores desta freguesia e que
neste sitio teve terras de sesmaria, dando-lhe o seu próprio nome, que ainda hoje conserva, embora
corrompido em Jamboto. Neste sitio se encontra uma fonte de agua ferruginosa e tem 309
moradores.
Fontes.-É provável que algumas fontes ou nascentes dessem origem ao nome deste sitio, que conta
26 moradores.

Ladeira.-A configuração do terreno explica esta denominação. A sua população é de 159


indivíduos.

Chamorra.-Uma antiga família Chamorros, que ali possuía uma quinta ou casa de campo, deu
origem ao nome deste sitio. Tem 250 almas.

Encruzilhadas.-Os caminhos que num ponto deste sitio se cruzam são a origem provável desta
denominação. Tem duas escolas oficiais, uma para cada sexo, e uma caixa postal com recepção e
transmissão de mala diária com a estação central do Funchal. Tem este bairro 271 habitantes.

Vasco Gil.-É o nome dum dos primitivos povoadores da Madeira e que nesta freguesia possuiu
terras de sesmaria no sitio a que deu o seu próprio nome e apelido. Diz-nos o Dr. Álvaro Rodrigues
de Azevedo que este Vasco Gil era em 1472 um dos homens da governança do Funchal. Fica neste
sitio a conhecida Fonte do Senhor, assim chamada por ter pertencido á Confraria do Santíssimo
Sacramento desta paroquia, que constitue o caudal que alimenta os marcos fontenários construídos
nesta freguesia em 1908 pela Junta Geral do distrito. Os seus habitantes atingem o numero de 362.

Casas.-É dos sítios menos povoados, pois conta apenas 85 almas.

Casa Branca.-Tem 133 moradores.

Boliqueme.-Ha na província do Algarve uma freguesia de nome Boliqueme, e, sendo algarvios a


maior parte dos colonisadores que do continente veiu povoar esta ilha, não é para estranhar que
algum filho daquela freguesia, que por ventura tivesse terrenos de sesmaria neste sitio, lhe desse o
nome da terra onde nasceu. É também possível que as condições orográficas e hidrográficas da
freguesia algarvia e deste sitio do Boliqueme ou ainda quaisquer outros pontos de semelhança
dessem origem a esta denominação, como frequentemente se vê na historia das nossas descobertas.
Tem 328 moradores.

Barreira.-Ao que com inteira propriedade se deve chamar barreira dá o povo nesta ilha o nome de
bardo, que quer significar o tapume ou trincheira feita de estacas e ramos de arvores e destinada a
impedir que o gado, que pasta livremente nas serras e baldios, desça ao povoado e terras cultivadas.
Neste sitio, que é um dos mais próximos das montanhas que limitam esta freguesia, existia um destes
bardos ou barreiras tão comuns em toda a ilha e, dai lhe provém aquela denominação. É de 227 o
numero dos seus habitantes.

Trapiche.-Dão os modernos dicionaristas á palavra Trapiche o significado de armazém para


deposito de mercadorias ou ainda de hangar, mas em obras antigas encontra-se este termo para
significar engenho, lagar, azenha ou moinho. Donde provém semelhante denominação, que sabemos
não ser usada na Madeira nem tão pouco a temos encontrado em quaisquer documentos antigos
referentes á sua historia? Seria apelido ou alcunha dalgum primitivo povoador e assim desse o nome
ao sitio? É talvez hoje impossível averigua-lo. Encontra-se nele a chamada quinta e capela do
Trapiche, onde os beneméritos irmãos de S. João de Deus manteem um Manicómio para homens, a
que noutro lugar teremos que fazer mais desenvolvida referencia. Tem 342 vizinhos.

Curral Velho.-Conta 187 habitantes.

Laranjal.-O nome parece indicar que por ali existia algum pomar de laranjeiras ou que estas arvores
fossem cultivadas neste sitio em grande escala. Marcos de Braga, um dos primitivos povoadores
desta ilha e de quem as crónicas madeirenses rezam muitos actos de bravura, teve neste sitio terras
de sesmaria, que um dos seus descendentes, Domingos de Braga, converteu em vinculo e que foi
chamado o morgado do Laranjal, como veremos no artigo consagrado aos morgadios e casas
vinculadas desta freguesia. Conta 368 habitantes.

Lombo dos Aguiares.-Diogo Afonso d 'Aguiar, um dos quatro fidalgos que D. Afonso V mandou á
Madeira para casarem com as filhas do descobridor João Gonçalves Zarco, teve terras nesta
freguesia na lombada a que deu o seu nome e que ainda actualmente conserva. É o sitio mais
populoso da freguesia e conta 444 habitantes.

Pomar do Miradouro.-É o prolongamento do sitio antecedente, desfrutando-se dali um soberbo


panorama, que talvez justifique a sua denominação. Tem 233 almas.

Ribeira Grande.-Fica na margem esquerda da Ribeira de Santo António e dela tira decerto o seu
nome, Conta 99 moradores .

Lugar do Meio.-Tem 92 habitantes.

Salão.-Este nome deriva da natureza do terreno. Tem ali uma escola oficial do sexo masculino e uma
escola municipal. A população é de 204 vizinhos.

Alamos.-Talvez provenha esta denominação de algumas arvores daquele nome, que ali existissem
em outros tempos. Fica neste sitio a capela de Nossa Senhora do Amparo, sede do antigo morgadio
de Agua de Mel. Neste mesmo sitio, onde chamam o Til, havia terras vinculadas, que constituíam
um morgado administrado pela família Velosa. A sua população é de 68 moradores.

Penteada.-“Em 1481, dizem as Saudades da Terra, era da Câmara do Funchal um Fernão Penteado,
escudeiro, o qual teve sesmaria no sitio que, por isso, ficou chamado Penteada". Foi um dos
primeiros colonizadores desta freguesia e, como tantos outros, deu o seu nome ao lugar onde se
estabeleceu e fixou residência Conta este sitio 44 almas.

Quinta do Leme.-Deriva este nome da capela e grande casa de habitação, que foi sede do morgado
dos Lemes. O seu numero de habitantes é de 292.

Madalena.-Tira esta denominação da capela de Santa Maria Madalena, que ali existiu e de que hoje
restam apenas algumas ruínas. Ha ali uma escola do sexo masculino. Tem 341 almas.

Levada do Cavalo.-É o primeiro sitio da freguesia que se encontra ao sair do Funchal em direcção a
Santo António e fica em partilha com outro sitio do mesmo nome pertencente á freguesia de S.
Pedro. Nele existiu e até ha poucos anos funcionou uma fabrica de cortume de peles de certa
importância, onde chamam ainda hoje o Pelame. Conta 253 vizinhos.

Pilar.-Fica em partilha com outro bairro de igual nome da freguesia de S. Martinho, tirando ambos
os sitio a sua denominação da capela de Nossa Senhora do Pilar, fundada em 1676 por Gonçalo de
Freitas Drumund e situada na referida freguesia de S. Martinho. Neste sitio encontra-se a quinta de
que é proprietária D. Luiza Crowford Rodrigues. É de 335 o seu numero de habitantes.

Pico dos Barcelos.-Fica neste sitio o chamado Pico dos Barcelos, donde se desfruta um vasto e
surpreendente panorama, um dos mais arrebatadores do concelho do Funchal, e que é hoje ponto
obrigado de excursão para todos os turistas e pessoas que visitam o Funchal. A ele nos referiremos
mais de espaço em outro lugar deste opúsculo. Tem 220 almas.

Santo Amaro.-Tirou o nome da capela ali existente. Dela e do seu fundador Garcia Homem de
Sousa nos ocuparemos em artigo especial. Tem este sitio 360 moradores.

Tanque.-A sua população é de 145 habitantes.

Alecrins.-Neste sitio ficavam a quinta e a capela de Nossa Senhora da Quietação, fundada por
Lourenço de Matos Coutinho e de que já nem restam hoje vestígios. Tem 217 almas.

Preces.-Este nome deriva da capela e quinta de Nossa Senhora das Preces, que ali existem ainda. É
de 351 o numero de seus habitantes.

Pinheiro das Voltas.-0 numero de seus moradores é de 102.

Santa Quiteria.-A capela de Santa Quiteria, que ali houve, deu o nome ao sitio. 0 seu numero de
almas é de 157.

Pico do Cardo.-Os jesuítas tiveram uma residência neste sitio com seus terrenos anexos e uma
capela da invocação de Nossa Senhora do Populo. Conta 193 vizinhos.

Três Paus-Em tempos mais antigos fez parte do sitio do Vasco Gil. Nos Três Paus se encontra um
importante prédio rústico pertencente a Antónia Fernandes Frita, falecida nesta freguesia a 19 de
Dezembro de 1670, e que o legou á Confraria do Santíssimo Sacramento desta freguesia, para ser
administrada por ela e pelo respectivo pároco, com a obrigação de satisfazer determinados encargos
pios. Tem 157 habitantes.

Ribeira dos Socorridos-Fica na margem esquerda desta ribeira e dela recebeu o nome. Também
tem a denominação, bastante antiga, de Engenho Velho, talvez por existir ali algum engenho de
fabricação de assucar, como tantos que havia espalhados em vários pontos da ilha. A sua população
é de 83 habitantes.

Fajã.-É o sitio que se acha mais distanciado da igreja paroquial e fica, como o anterior, situado na
margem esquerda da Ribeira dos Socorridos. Tem 118 almas.

Para a indicação do numero de habitantes de cada um destes sítios, socorremo-nos do Censo


da População de Portugal, realizado no ano de 1911, visto não achar-se ainda publicado o volume do
Censo de 1920, que interessa ao assunto deste artigo.
CAPELA DE SANTO AMARO

É a capela de Santo Amaro a mais antiga desta paróquia e também uma das mais antigas de
toda a diocese. Das poucas igrejas e capelas edificadas no século XV, que ainda restam nesta ilha, é
ela uma das que se encontram em excelente estado de conservação, embora a construção primitiva
tenha sofrido profundas modificações no decorrer de quatro séculos.
O Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo, por evidente lapso, faz esta capela situada na freguesia
de S. Martinho, quando é certo que sempre pertenceu a esta paróquia de Santo António. É possível
que o engano provenha do facto do seu fundador possuir vastos terrenos em ambas estas freguesias e
porventura contiguos, dando-se talvez, em época não recente, a capela como indiferentemente
situada numa ou noutra freguesia. A circunstancia de ter sido construída num sitio que é limite das
duas paróquias e, mais ainda, dar a entrada da quinta, que circundava a capela, acesso para a estrada
que separa as mesmas freguesias, facilmente induziria em erro e levaria a supor-se que a pequena
igreja de Santo Amaro não ficaria dentro da área da paróquia de Santo António.
Os medianamente lidos nas crónicas madeirenses sabem que do continente do reino vieram
expressamente quatro fidalgos enviados a esta ilha por V. Afonso V afim de contrair casamento com
as filhas do descobridor da Madeira e primeiro capitão donatário do Funchal. A terceira delas, por
nome D. Catarina da Câmara, casou com Garcia Homem de Sousa, que foi o fundador desta capela.
Diz textualmente o anotador das Saudades da Terra: ..."Santo Amaro, que foi fundada por Garcia
Homem de Sousa, genro de Zargo, em 1460, na grande fazenda povoada onde tinha aposento
acastelado". Do mesmo Garcia de Sousa dizem também as Saudades noutro lugar: "...fez ele a capela
e casa forte ou acastelada para se defender de seus cunhados; era orgulhoso e violento" e
acrescentam finalmente que por ter diferenças com seus cunhados... fez uma torre que está junto da
Madre de Deus".
Que era a Madre de Deus? Nome primitivo da capela ou sitio de Santo Amaro? Não sabemos
dizel-o, mas segundo consta de antiga tradição e afirma o douto anotador das Saudades da Terra foi
em Santo Amaro, onde Garcia Homem de Sousa levantara a casa acastelada de que falam as velhas
crónicas deste arquipélago para defender-se de seus cunhados nas lutas sangrentas que com eles
tivera. Com efeito ainda ali se encontram umas casas em ruínas, de construção bastante antiga, que
provavelmente constituem restos da morada solarenga com aspecto de fortaleza que o orgulhoso e
turbulento Garcia de Sousa construíra para pôr-se ao abrigo das investidas dos seus inimigos. Uma
porta de cantaria, em ogiva, que ali se vê ainda e que parece ter o cunho das construções duma época
remota, devia ser cuidadosamente conservada. Também restam vestígios duma antiga cisterna e não
ha muitos anos ainda que ali se viam igualmente as paredes duma velha torre, parecendo ser tudo de
construção bastante antiga.
Havia ali uma quinta, dentro de cuja área ficavam a capela e a provável construção de Garcia
de Sousa, restando apenas hoje uma portada de certo aparato arquitectónico e que noutro tempo
serviu também de entrada principal para as referidas quinta e capela.
Santo Amaro é uma das mais importantes capelas deste bispado pela sua antiguidade e
tradições históricas, pelo seu tamanho e ainda pela concorrência de fieis na sua festa patronal.
Parece-nos que pouco lhe resta da sua primitiva construção; que, com o andar dos tempos, foi
passando por sucessivas transformações. Com o fim manifesto do isola-la da propriedade rústica e
urbana, em cujo recinto ficava, levantaram-lhe um alto muro em frente do frontispício e a três ou
quatro metros de distancia deste, que fizeram ligar ao pequeno templo por meio dum alpendre, o que
tudo notavelmente desfeiou a frontaria do edifício e ainda prejudicou bastante a beleza do conjunto.
Foi provavelmente a partir desta época, que não podemos determinar com precisão, que o serviço da
capela começou a fazer-se exclusivamente pela entrada actual, vedando-se a comunicação que dava
para o caminho do Tanque e Alecrins. Presumimos que os administradores da capela se tivessem
desligado dos seus deveres de padroeiros e a abandonassem ao cuidado e direcção da fabrica
paroquial, a cujo encargo se encontra ha largos anos, e deste modo a isolassem do resto da quinta ou
propriedade onde se achava edificada.
Decorrem dois longos séculos depois da fundação desta capela sem que, de tão largo período
de tempo, tenha chegado até nós qualquer noticia que possa interessar á sua historia. Esta deficiência
de informações deve em boa parte atribuir-se ao extravio, que se deu Ha algumas dezenas de anos,
do primeiro livro de Provimentos desta igreja paroquial, que constitui hoje uma perda irreparável.
Somente a partir do principio do século dezoito encontrámos algumas referências á capela de Santo
Amaro, de que faremos rápida menção,
Das seis ou sete capelas vinculadas que existiam nesta freguesia, foi esta a única que, no
largo período de quatro séculos e meio, isto é desde a sua fundação até o presente, se conservou na
posse dos descendentes ou sucessores do seu primitivo fundador. Escasseiam Neste momento, o que
talvez possamos fazer o capitulo instituições Vinculares, os elementos indispensáveis para
apresentar a serie sucessiva dos administradores desta pequena igreja desde Garcia Homem de
Sousa, em 1460, até Filipe de Carvalhal Esmeraldo, capitão-mor de Câmara de Lobos, que em 1700
era o administrador da propriedade vinculada de Santo Amaro e cuja posse passou em seguida a seu
filho José Joaquim de Carvalhal Esmeraldo. Foi imediato sucessor seu irmão Francisco António de
Betencourt Carvalhal Esmeraldo, que a transmitiu a sua filha D. Isabel Esmeraldo Barbosa da
Câmara, a qual por sua morte a legou a sua irmã D. Julia Esmeraldo, ultima proprietária.
A capela de Santo Amaro, como atrás dissemos, sofreu varias modificações no decorrer dos
séculos e julgamos até que seria completamente reedificada nos fins do século XVII ou princípios do
século XVIII. Examinando detidamente a construção actual, reconhecer-se-ha sem esforço que ela
não pode pertencer ao século XV e mesmo aos primeiros quartéis do século. Não podemos no
entretanto precisar a época em que teria sido feita a reconstrução e nem sequer determinar
aproximadamente os anos em que nela se realizaram grandes repairos ou profundas modificações na
edificação primitiva. As referencias que a tal respeito temos encontrado apenas nos permitem
constatar o facto, mas não nos deixam indicar datas precisas e menos ainda apontar a natureza dos
grandes concertos e reparações que ali se fizeram.
Em 1748, o visitador episcopal cónego Caetano de Caires julga a capela necessitada de
vários repairos, que certamente se não fizeram, pois que oito anos depois, em 1756, um visitador
diocesano, o Dr. Pedro Pereira da Silva, em provimento exarada no arquivo desta paróquia, lamenta
o estado de ruína em que encontrou a pequena igreja e ordena ao zelador dela que colha esmolas
entre os fieis para ocorrer aos necessários concertos, que urgentemente se impunham. É certo que
tais repairos se realizaram, mas não com a urgência e prontidão que o visitador recomendou.
No século XIX, e em diversos anos, se realizaram ali obras importantes de reparação nas
paredes e no tecto, de pintura no interior e douramento dos altares, aquisição de paramentos etc. Só
no período decorrido de 1870 a 1900 se despenderam nesta capela cerca de 600$000 reis. A pintura
que se fez em 1899 custou 120$000 reis.
Foram feitos vários legados a esta capela, mas apenas temos conhecimento dum de 200$000
reis, que em disposição testamentaria lhe deixou o cura desta freguesia padre José António de
Gouveia, que aqui faleceu 31 de Dezembro de 1814, e outro de 80$000 reis, para ser satisfeito em
anuidades de 3.9000 reis, deixado por Elói Figueira de Ornelas, falecido nesta paróquia a 31 de
Julho de 1877.
José Rodrigues de Gouveia, cuja data de falecimento não podemos dar agora, entre as sus
ultimas disposições pias deixou a da celebração perpetua duma missa cantada em cada ano na capela
de Santo Amaro. Ignoramos em que sitio ficava o prédio onerado com este encargo perpetuo, mas
sabemos que em 1837 foi esta pensão satisfeita pelo morgado João António de Gouveia Rego.
Posteriormente aquele ano não encontramos noticia de ter sido cumprida e presentemente o não é.
Possui esta capela dois pequenos prédios rústicos, um no sitio das Romeiras e outro no Vasco
Gil, ignorando-se a data da doação e os nomes dos doadores.
Nela se celebram anualmente a solenidade do orago, precedida do respectivo novenario, e a
festa de Santo Antão, que é ali também objecto de veneração especial, havendo um tradicional
arraial a que concorria uma grande afluência de pessoas de diversas freguesias.
A capela de Santo Amaro e a propriedade rústica que lhe fica anexa foram doadas pela ultima
proprietária D. Júlia Esmeraldo ao reverendíssimo monsenhor Manuel Joaquim de Paiva e
destinados os seus rendimentos aos encargos gerais do diocese do Funchal.
CAPELA DE SANTA MARIA MADALENA

Quem sair do Funchal e seguir o caminho de Santo António depara a beira da estrada, a uns
dois quilómetros do centro da cidade, com as ruínas duma velha e desmantelada capela. Desse
montão de escombros ergue-se ainda altaneiro, como a desafiar as fúrias dos séculos, o arruinado
frontispício, com o seu pórtico em ogiva, denunciando a sua antiguidade e a característica das
construções duma época de glorias. É um dos raros vestígios do estilo gótico que ainda restam nesta
ilha.
Esta é a capela de Santa Maria Madalena, que deu o nome ao sitio, mais comumente
conhecido pela simplificação popular de Madalena. Depois de Santo Amaro, é a capela mais antiga
desta freguesia, escasseando-nos, porém, os precisos elementos para determinar-lhe a época da sua
fundação, que não nos parece ser posterior ao primeiro quartel do século XVI. No entretanto a
referencia mais remota que a ela encontramos é de 1593, ano em que lhe foi feita a doação dum foro.
Era também, depois da referida capela de Santo Amaro, a mais importante pela sua antiguidade,
pelas suas dimensões e estilo arquitectónico e ainda pela devoção que os fieis manifestavam pela sua
padroeira, chegando a possuir bens próprios, de relativa importância, para a manutenção do seu
culto, o que não nos consta que outra capela desta freguesia tivesse.
Parece, porém, que não durou largo tempo esse primitivo fervor religioso pelo culto da santa
de Magdalo, pois que em 1684 estava a capela de todo arruinada, conjecturando-se que nesse tempo
já nela se não celebravam os ofícios divinos, como se vê do seguinte documento, que apesar de
extenso, transcrevemos na integra pelo interesse que oferece ao objecto deste capitulo:
"Em nome de Deus Ámen. Saibam quantos este instrumento de obrigação e como melhor em direito
haja logar que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil seiscentos oitenta e
quatro, aos onze dias do mez de março do dito anno, n'esta cidade do Funchal da ilha da Madeira,
nas casas de morada do muito reverendo vigário geral d'este Bispado o doutor Marcos da Fonseca
Cerveira, mestre escola da santa sé desta dita cidade, onde eu tabelião fui e sendo ali José Machado
de Miranda, morador n'esta cidade, de uma uma parte e bem assim da outra o dito reverendo vigário
geral, pessoas de mim tabelião e testemunhas ao diante nomeados e assignadas, que elle pela grande
devoção que tinha a Santa Maria Magdalena e ter grande pena de ver a sua ermida que está na
freguesia de Santo António junto d'esta cidade, arruinada e incapaz de se poder dizer n'ella missa e
se fazerem suas festas, fizera petição ao reverendo cabido que hoje serve de governador do bispado
pelo Ilustríssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo d'este Bispado Dom Estevão Brioso de Figueiredo,
para que lhe concedesse licença para a reedificar de novo, visto estar arruinada quasi toda, e ornal-a
de frontaes, casulas e tudo o mais necessário para n'ella se poderem celebrar os officios divinos, com
a clausula e condição que ficaria elle dito José Machado de Miranda e seus herdeiros por padroeiro
da dita ermida e administrador d'ella com todos os privilégios e prerrogativas que o direito permite e
concede aos padroeiros de qualquer igreja que edificam, reedificam e dotam, e porque sendo vista
pelo reverendo cabido a dita petição e procedendo-se ás diligencias necessárias e informações que
tomaram do reverendo vigário de Santo António, remeteram a este dito reverendo Senhor Mestre
Escola vigário geral d'este Bispado os papeis, para que se fizesse a escriptura com elle dito José
Machado de Miranda, dos quaes dou eu tabellião minha fé de como me foram mostrados os ditos
despachos e reconhecido ser o ultimo da letra e signal do reverendo deão e doutor Simão Gonsalves
Cidrão e os signaes breves dos dois deputados e doutores António Velloso de Lyra e Luiz Telles de
Menezes e a informação da letra e signal do dito reverendo vigário da freguesia de Santo António o
doutor Lourenço Franco de Azevedo que também reconheço, que tudo ficou em poder do dito José
Machado de Miranda pelo que requeria a ele dito senhor, que na forma do dito despacho e
informação lhe fizesse a concessão do dito padroado.
E porquanto na informação do dito reverendo vigário se dizia que obrigando-se elle
contraente a fazer a dita ermida de Santa Maria Madalena de pedra e cal, armada de castanho e
branqueada só lhe podia conceder o que pedia, disse que por este publico instrumento se obrigava
por sua pessoa e bens a fazer a dita ermida de pedra e cal armada de castanho forrada de pinho e
branqueada, e assim mais ornal-a com frontal, toalhas e casulas e todo o mais que necessário for para
n'ella se dizer missa e poder fazer as festas da dita santa, o que tudo se obriga a fazer dentro d'um
ano que começará a correr da factura d'esta com a condição que logo n'este verão- d'este anno em
que estamos dará principio á dita obra e que acabada ella dentro do dito anno na forma acima
declarada d'ali em diante se obriga por si e por seus herdeiros digo por si e por seus bens e por seus
herdeiros a pagar em cada um anno quatro mil reis, que é o dote que faz para ornato do dito altar e
concerto da dita igreja, além dos dois mil reis que paga de pensão á dita ermida o morgado dos
Machados deixados pelos instituidores d'elle e que para o pagamento dos ditos quatro mil reis do
novo dote que lhe applica á dita ermida em cada um anno para enquanto o mundo durar obriga todos
os seus bens livres havidos e por haver e em especial um foro de quatro mil reis que lhe paga em
cada um anno pelo mez de janeiro fechado para sempre Gonçalo de Freitas Bettencourt imposto na
fazenda onde chamam as Maravilhas de entre os caminhos desta cidade que elle contrahente houve
de legitima de sua mãe Dona Antónia de Moura e que outrossim para maior segurança do dito foro
que dota a dita ermida da Magdalena obriga a parte que tem livre na quinta da dita Magdalena que
herdou por legitima de seu pae Bartholomeu Machado de Miranda e que dos cinquenta mil reis que o
morgado dos Machados deve á dita ermida assim por parte de seu irmão João Machado Miranda
defuncto como d'elle contrahente do foro de dois mil reis que se paga á dita ermida se obriga elle
dito contrahente mandar fazer dois castiçaes de prata para a mesma ermida em tempo de seis meses
que começarão a correr da factura desta, e que feita a dita igreja e acabada na forma acima declarada
estará a chave d'ella na mão do vizinho mais chegado e de mais confiança para que a todo o tempo
que o reverendo vigário da dita freguesia ou cura ou outro qualquer sacerdote quiserem celebrar na
dita ermida o possam fazer com toda a commodidade e sem estorvo algum com a declaração que
faltando elle contrahente a alguma das clausulas desta escriptura e não acabando de aperfeiçoar a
dita ermida no tempo acima declarado ou faltando-se com o dote que aqui lhe faz por si ou por
algum dos seus herdeiros tocante aos quatro mil reis logo perderá elle ou seus herdeiros as honras e
prerrogativas de Padroeiro, e sendo ahi, como dito é, presente o dito reverendo senhor mestre escola
vigário geral d'este bispado disse que por virtude da comissão a elle concedida do illustre e
reverendo cabido por despacho de que eu tabelião acima dou fé em nome do dito reverendo cabido
acceitou a obrigação do dito José Machado Miranda na forma acima declarada, que pelo poder a elle
concedido pelo dito despacho do dito reverendo cabido acabada que fosse a dita ermida e posto tudo
corrente na forma da obrigação acima concedida ao dito contrahente José Machado de Miranda e a
seus herdeiros os direitos do padroado n'ella com todas as prerrogativas e preeminência que o direito
permite e concede aos legítimos Padroeiros das egrejas e que por tal o conheçam e seus herdeiros os
parochos da dita freguesia que de presente são e ao diante forem até ao fim do mundo, e outrossim
declarou elle dito senhor que, para com mais brevidade se aperfeiçoe a dita obra, se poderá
aproveitar dos materiaes... que estão em ser e tem a dita ermida e que acabada ella se restituirão os
ornamentos e tudo o mais que era e havia na dita ermida, o que tudo o dito José Machado de
Miranda disse aceitava por si e seus herdeiros, e o dito reverendo vigário geral disse que acabada a
dita ermida poderá o contrahente tomar posse do dito padroado por este instrumento, e em fé e
testemunho da verdade um e outro, tudo como dito é, outorgaram e aceitaram, e eu tabelião o acceito
em nome... e mandaram fazer este instrumento como dito é, e dar os trabalhos necessários:
Testemunhas presentes Marcos de Fonseca Cerveira, sobrinho do dito reverendo vigário geral,
António Vogado Sotomaior, moradores n'esta cidade de que assignam com elles partes, Manuel
Escorcio de Mendonça, tabelião de notas o escrevi. José Machado de Miranda, Marcos da Fonseca
Cerveira, António Vogado Sotomaior”.
Foram aceitos por José Machado de Miranda os encargos pios a que se refere o documento
acima transcrito, mas não pudemos averiguar como nos primeiros anos se cumpriram as clausulas a
que ele voluntariamente se obrigou. No entretanto sabemos que em 1732, isto é, 48 anos depois da
celebração daquela escritura, já havia muito que não era pago o foro de 4$000 reis imposto na
fazenda das Maravilhas, ordenando então o bispo D. Manuel Coutinho que se procedesse
judicialmente contra a pessoa obrigada aquele pagamento e determinando também o mesmo prelado
que a capela se fechasse ao serviço do culto, se porventura o seu administrador a não provesse dos
indispensáveis paramentos e alfaias. E ainda 34 anos mais tarde, em 1766, os zeladores ou
mordomos da confraria de Santa Maria Madalena requereram um traslado daquela escritura para o
lançar nos livros da mesma confraria, levados a isso pela não observância dalgumas das condições
contidas na mesma escritura.
Parece terem sido pouco eficazes as providencias adotadas por D. Manuel Coutinho, porque
24 anos depois, em 1756, o visitador episcopal Pedro Pereira da Silva lamenta o estado de adiantada
ruína em que a capela se encontra e indica os urgentes repairos de que ela necessita e que eram na
verdade muitos importantes e da mais imediata execução.
Pelas contas da receita e despesa da capela da Madalena, lançadas no ano de 1732, se vê que
Bartolomeu Machado e sua mulher D. Francisca de Vasconcelos, respectivamente nos anos de 1593
e 1598, doaram á mesma capela dois foros de mil reis cada um anuais, destinados á sua conservação
e manutenção do respectivo culto.
Foram estes três foros pagos com maior ou menor regularidade até o ano de 1806, não tendo
noticia de que tivessem sido cobrados posteriormente a esta data. Convém acentuar que o primeiro
destes foros era imposto na quinta de Nossa Senhora das Maravilhas, á freguesia de S. Pedro no sitio
que ainda hoje conserva o nome e onde ficava a capela desta denominação, fundada em 1657 por
Diogo Berenguer Correia.
Nos anos de 1733 e 1753 procederam-se a alguns repairos na capela da Madalena, sendo
porém, bastante importantes os melhoramentos que ali se realizaram em 1773, devido sobretudo ao
zelo do respectivo pároco, Berenguer, tendo-se então feito todo o assoalhamento da pequena igreja,
no que se despenderam mais de 200$000 reis, quantia já não muito pequena para aquela época.
Em 1806 fizeram-se ali novos repairos e adquiriram-se um cálix de prata, algumas casulas o
outros ornamentos, de que muito necessitava a capela para a celebração dos ofícios divinos.
Pouco zelo e cuidado houve, por certo, na sua conservação, porque em 1820 era já adiantado
o estado de ruína da capela, tendo os moradores das suas circunvizinhanças feito nela importantes
repairos naquele ano, como se vê dum requerimento que então dirigiram ao prelado diocesano,
solicitando licença para que um capelão ali fosse celebrar nos dias santificados.
Nada mais sabemos relativamente a esta capela em anos posteriores a 1820. É certo que ha já
algumas dezenas de anos se acha reduzida a um montão informe de ruínas.
Nos anos de 1596 e 1597 celebraram-se nela casamentos, baptizados e outros actos de culto,
devido provavelmente a alguns repairos que se estivessem então a fazer na antiga igreja paroquial.
Também durante o período da construção da igreja actual e nos anos de 1786 1787 se sepultaram ali
varias pessoas, e se realizou também um baptizado em 1810, servindo de padrinho o bispo diocesano
D. Luís Rodrigues de Vilar.
CAPELA DE S. FILIPE

É uma das mais antigas capelas desta freguesia. Fazia parte da quinta e casa de moradia dos
Lemes, que ali constituíram a sede dum morgadio, como melhor se verá no capitulo Instituições
Vinculares. Fica no sitio chamado da Quinta do Leme, não sendo a actual residência e capela adjunta
as construções primitivas, como facilmente se reconhece ao primeiro lance de vista.
Foi construída no século XVI e reedificada nos séculos XVII e XVIII, como veremos pelos
documentos que abaixo inserimos. Martim de Leme, pai do instituidor da casa vincular, fundou a
capela de S. Filipe, que o anotador das Saudades da Terra afirma ser no ano de 1536, não havendo a
sua menor duvida que a sua existência data do século XVI. Não encontrámos quaisquer referencias
acerca dela, senão em 1654 e pelo seguinte alvará de licença:
“O doutor Pedro Moreira, deão da Santa Sé deste Bispado do Funchal da ilha da Madeira,
Provisor, vigário geral official pelo muito reverendo cabido sede vacante. Aos que este meu alvará
de licença e erecção de altar virem, faço saber que Ignacio da Câmara Leme me enviou a dizer por
sua petição que elle tinha feito uma ermida na sua quinta junto a Santo António, aonde queria
levantar altar para se dizer missa, e que não podia fazer sem licença minha, pedindo-me licença para
isso, e que queria dotar e obrigar-se a que a dita ermida se sustentasse e reparasse. 0 que visto por
mim e me constar por certidão do reverendo vigário de Santo António estar devidamente ornada a
dita ermida, e estando dotada de dois mil reis cada ano de foro como constava de uma escriptura
publica que se acha no cartório do reverendo cabido feito pelo tabelião Manuel Ribeiro para
sustentar a fabrica da dita ermida, lhe dou licença para que possa levantar altar e celebrar-se n'ella os
officios divinos como nas mais ermidas deste Bispado, salvo seu direito a igreja paroquial. Este se
cumprirá como n'elle se contém e se lavrará no livro do registo grande da câmara do dito Bispado
para que a todo o tempo conste da dita licença. Dado no Funchal sob meu signal e sello da Sé
vacante aos 12 de Janeiro de 1654. Francisco da Fonseca, escrivão da câmara e visitações o fez.
Doutor Deão".
É bastante para estranhar que tendo apenas passado pouco mais dum século depois da
primitiva construção, se procedesse a uma nova edificação, que somente podemos categoricamente
explicar pela necessidade da remoção da capela para outro local ou de a transformar, de oratório
privado situado no interior da habitação, se porventura o era, em ermida mais acessível ao publico.
Decorre um novo século e trata-se duma nova reconstrução, mas agora pelo conhecido e
justificado motivo do violento tremor de terra de 31 de Março de 1748 ter deixado a capela em
estado muito adiantado de ruína. Leiam-se os dois seguintes documentos, que bastante interessam ao
assunto deste capitulo:
“Dom Frei João do Nascimento, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo no
Funchal, ilha da Madeira, Porto Santo e Arguim, do conselho de Sua Majestade Fidelissima.
Fazemos saber que Francisco Aurélio da Câmara Leme, desta cidade, nos enviou a dizer por sua
petição e por Provisão nossa de cinco de Janeiro do presente anno lhe concedêramos licença para
edificar e erigir uma capela da invocação de S. Filippe Martyr na quinta chamada dos Lemes na
freguesia de Santo António, termo desta cidade, a qual se achava acabada, ornada e paramentada
com os ornamentos necessários e dotada com quatro mil reis por anno na forma de escriptura que
nos apresentou lavrada nas notas do tabelião André de Sousa aos vinte e um de Junho de mil
setecentos e cinquenta e sentença de sua approvação que se acha na nossa Câmara, pedindo-nos
conclusão da sua supplica lhe fizéssemos mercê de mandar visitar a dita ermida e fazer vistoria n'ella
e achando-se capaz e decentemente ornada e paramentada concedêssemos licença para levantar altar,
benzer e dizer missa, o que visto e constar pela vistoria que n'ella se fez que se acha perfeitamente
acabada, ornada e paramentada e estar outro sim benta pelo reverendo arcediago nosso provisor e
governador do bispado, havemos por bem de conceder licença para que na dita ermida se possa
celebrar e dizer missa sem prejuízo dos direitos parochiaes e ficando sujeita á nossa jurisdição
ordinária, pelo que mandamos passar a presente Provisão que se registará na nossa câmara e no
tombo da egreja parochial da dita freguesia. Dada no Funchal sob o sello da nossa chancelaria aos 12
de Novembro de 1752".
"Dom Frei João do Nascimento, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo do
Funchal, ilha da Madeira, Porto Santo e Arguim, do conselho de Sua Majestade Fidelissima.
Fazemos saber que Francisco Aurélio da Câmara Leme e sua mulher D. Antónia Maria de Sá e
Menezes nos enviaram a dizer que tendo elles uma ermida da invocação de S. Filippe Martyr na sua
quinta chamada do Leme sita na freguesia de Santo António, termo desta cidade, se lhe arruinara por
ocasião do grande terramoto do primeiro de Abril de mil setecentos e quarenta e oito de tal sorte que
n'ella se não podia decentemente celebrar missa, motivo por que a pretendiam edificar de novo, mas
em sitio e logar que lhes era mais conveniente na mesma quinta para poderem ouvir missa e sua
família para cujo effeito apresentaram uma escriptura feita nas notas do tabelião André de Sousa aos
vinte e um dias do mez de Junho de mil setecentos e cinquenta pela qual se obrigam a dotar a mesma
ermida com quatro mil reis de pensão em cada anno imposta na fazenda chamada a quinta nova na
forma declarada da mesma escriptura de dote e sentença de aprovação d'elle que se acha na nossa
câmara, pedindo-nos conclusão da sua supplica que na conformidade do referido lhe concedêssemos
licença para edificar a nova ermida com a mesma invocação de S. Filippe Martyr; e visto o que
allegam a escriptura de dote e informação que tivemos, havemos por bem de lhe conceder a licença
para edificar a nova ermida com porta publica para o povo poder também ouvir missa, ficando
sujeita á visitação do prelado ordinário e sem prejuízo dos direitos parochiaes, e feita a dita ermida
se dê licença por sentença para se benzer, levantar altar e dizer missa. Dado no Funchal sob sello da
nossa Câmara aos 5 de Janeiro de 1752".
Desta vez, fez-se a construção da capela contígua á casa de habitação, mas com porta e
acesso exteriores. A residência data da mesma época e tanto esta como a capela se encontram em
excelente estado de conservação.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DO AMPARO

No sitio dos Alamos desta freguesia levanta-se a capela de Nossa Senhora do Amparo, que se
acha em regular estado de conservação, celebrando-se ali, de quando em quando, o santo sacrifício
da missa. O local em que se encontra a capela fica na partilha desta freguesia e da de S. Roque, no
sitio conhecido pelo nome de Agua de Mel, que era denominação comum a um vasto terreno
pertencente a ambas as paróquias. Na parte deste sitio, compreendida nos limites de Santo António
erguiam-se a capela, grande casa de habitação e outras dependências, que constituíam a sede da
antiga instituição vincular chamada de Agua de Mel, como se poderá ver no capitulo que a ela
consagraremos.
O anotador das Saudades da Terra fixa o ano de 1698 como o da fundação desta capela, mas
inclinamo-nos a acreditar que ela é muito mais antiga e talvez mesmo coeva da instituição do
morgadio, que data do ultimo quartel do século XV.
Vejamos o seguinte documento que encontrámos na Câmara Eclesiástica desta Diocese:-“D.
José de Castello Branco, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo do Funchal, Porto
Santo e Arguim, do conselho de Sua Majestade que Deus guarde etc. Aos que este nosso alvará de
erecção de altar virem paz para sempre em Jesus Christo Nosso Senhor, que de todos é verdadeiro
remédio e salvação. Fazemos saber que Dom Bartholomeu de Sá Machado nos envia a dizer por sua
petição que elle tinha novamente edificado uma ermida na sua quinta de Agua de Mel da invocação
de Nossa Senhora do Amparo na qual queria levantar altar para nelle se dizer missa, a qual estava
decentemente ornada de todo o necessário para o culto divino e se poder celebrar, e que e lhe tinha
dotado quatro mil reis para a fabrica della como constava da escriptura que offerecia, feita na nota
do tabelião Manuel Escorcio de Mendonça, aos doze dias do mez de Outubro deste presente anno de
mil seiscentos noventa e oito, pedindo-nos que lhe fizéssemos mercê de lhe mandar passar alvará de
licença, sendo primeiro visitada, a qual petição nos foi apresentada e mandámos fazer vistoria que
com efeito se fez na dita ermida e se achou estar decente e com os paramentos necessários para dizer
missa, pelo que lhe mandámos passar o presente pelo que lhe havemos por bem de lhe conceder
licença para levantar altar na dita ermida para nella se dizer missa e celebrar os ofícios divinos,
como se celebra nas mais ermidas deste bispado, ficando sujeita ao direito parochial e guardando-se
em tudo a forma das constituições, e damos faculdade ao Padre Frei Pedro de Sá para que a possa
benzer, e este se registará na nossa Câmara para a todo o tempo constar desta licença. Dado no
Funchal sob nosso signal e sello aos oito de Outubro de mil seiscentos noventa e oito. Bartholomeu
de Brito e Abreu escrivão da Câmara o escrevi. José Bispo do Funchal”.
Por este alvará de licença se deduz claramente que se trata duma reconstrução, pois ali se diz
novamente edificada, o que é já uma grande presunção a favor da existência duma capela ou oratório
naquele local, que, como já dissemos, julgamos ser coeva ou quasi coeva da instituição vincular. É
provável que a antiga ermida, pela ausência dos seus primeiros possuidores na ilha de S. Miguel ou
por outros motivos desconhecidos, tivesse caído em ruínas, sendo D. Bartholomeu de Sá Machado
que em 1698, logo no ano imediato aquele em que herdou de seu irmão o vinculo de Agua de Mel, a
reconstruiu ou restaurou com a arquitectura e da maneira em que ainda actualmente se encontra.
Faleceu o fundador ou restaurador desta capela a 15 de Abril de 1708.
Algum ou alguns dos seus sucessores na administração vincular deste morgadio e capela
anexa mostraram-se pouco zelosos na conservação do pequeno templo, pois que o prelado diocesano
D. Manuel Coutinho, na visita pastoral que fez a esta paróquia em Setembro de 1731, deixou
exarado provimento acerca desta ermida, ordenando ao seu administrador, que era então o morgado
José de Vasconcelos Betencourt de Sá Machado, que a reparasse e dotasse com os necessários
paramentos e alfaias, sob pena de ser nela proibida a celebração de qualquer acto de culto.
Inácio Rodrigues de Gouveia, que morreu nesta freguesia, no sitio dos Alamos, a 2 de
Fevereiro de 1813, deixou em testamento que em sufrágio da sua alma se celebrassem trinta missas
nesta capela.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DA QUIETAÇÃO

No sitio dos Alecrins desta freguesia ficava a capela de Nossa Senhora da Quietação, de que
nem hoje restam vestígios. Era mais conhecida pelo nome de capela dos Alecrins e até numa
referencia a ela feita no ano de 1680 se lhe chamava igreja dos Alecrins, apesar das suas acanhadas
dimensões. A denominação pouco vulgar de Quietação provém da circunstancia de ter a capela
como orago o mistério que representa o socego e a tranquilidade que, no retiro da casa de Nazaré,
gozava a Santíssima Virgem em companhia do Menino Jesus e do patriarca S. José.
Segundo dizem as Saudades da Terra e o documento que abaixo transcrevemos, trasladado
textualmente do arquivo da Câmara Eclesiástica deste bispado, foram Lourenço de Matos Coutinho
e sua mulher D. Mariana de Ornelas de Vasconcelos, que no ano de 1670 fundaram esta capela, em
cumprimento dum voto que haviam feito á Santíssima Virgem, na quinta que possuíam no sitio dos
Alecrins e que tinham herdado do seu pai e sogro e morgado Bento de Matos Coutinho, o qual por
sua vez a houvera, por compra, de Simão Gonçalves da Câmara e Jorge da Câmara Esmeraldo.
O documento é assim concebido:-“O Dr. Pedro Moreira, deão da Santa Sé deste Bispado do
Funchal, provisor, vigário geral pelo mui reverendo cabido sede vacante e governador do Bispado,
confirmado por sua majestade, e Commissario subdelegado da Bulla da Santa Cruzada em todo o
dito Bispado. Aos que este meu alvará de licença e erecção de altar virem, faço saber que Lourenço
de Mattos Coutinho e sua mulher D. Marianna de Vasconcellos moradores nesta cidade me enviaram
a dizer por petição que elles por sua devoção e voto que fizeram, no tempo em que impetraram
dispensação a sua santidade, promessa á Virgem Maria de edificar uma ermida na sua quinta da
invocação da Quietação da mesma Senhora, representando o mistério e quietação que gozava em sua
casa na educação do Menino Jesus em companhia do Patriarcha S. José, a qual estava acabada e
preparada de todo o necessário, para nella se poder dizer missa e se celebrar os officios divinos
como nas mais ermidas do Bispado, pediram-me licença para isso, indo ou mandando visitar a dita
ermidade, o que visto por mim e me consta da matéria referida na petição dos supplicantes e pela
vista dos meus olhos que fiz no painel e imagens referidas n'ella e a julgo por mim decentes para
colocar no altar e por reconhecer estar a dita ermida decentemente ornada de todo o necessário, e
estar dotada com dois mil reis de foro em cada um anno para a fabrica della, isto em umas courellas
pertença da mesma quinta que herdaram de seu pae e sogro Bento de Mattos Coutinho, que as houve
de compra a Simão Gonsalves da Câmara e seu irmão Jorge da Câmara Esmeraldo, como consta de
uma escriptura feita por Manuel da Silva, notário nesta cidade, que fica no archivo do Reverendo
Cabido. Hei por bem de lhe dar licença para que na dita ermida se possa levantar altar, dizer missa e
celebrar os officios divinos como nas mais ermidas deste Bispado sem prejuízo do parocho,
guardando em tudo o costume e constituições do Bispado e mando em tudo se cumpra e seja lançado
este alvará no livro do registo grande da Câmara para que a todo o tempo conste desta licença. Dado
no Funchal sob o meu signal e sello da sé vagante aos dezoito de Junho de mil seiscentos e setenta
annos. Francisco de Fonseca escrivão da Câmara e visitações o fez, Doutor Deão”.
Foi nesta quinta a capela que em 1677 instituiu o seu fundador o morgado dos Alecrins,
como mais largamente se poderá ver no capitulo Instituições Vinculares.
Em 1732 já a ermida dos Alecrins se encontrava em estado adiantado de ruína, pois o bispo
D. Manuel Coutinho, na visita pastoral que fez a esta freguesia naquele ano, mandou fechar com
travessas a mesma capela, e o visitador episcopal António Mendes de Almeida ordenou em 1736,
que, com respeito ella, e já então se achava fechada para o serviço do culto, examinasse o pároco se
lhe estava imposta alguma pensão de missas ou qualquer outro encargo pio.
Num interessante e valioso mapa da Madeira, que é exemplar único e que existe na freguesia
da Camacha na casa do conselheiro Aires de Ornelas, feito pelos engenheiros Dias de Almeida e
Francisco Alincourt no ano de 1771, se vê apontada a capela dos Alecrins, sendo esta a referencia
mais recente que acerca dela pudemos encontrar.
Constança d'Aguiar, numa propriedade que possuía nas proximidades da capela de S. Paulo,
deixou-a onerada a seus herdeiros com a obrigação perpetua da celebração anual de nove missas
rezadas na capela da Quietação.
Nesta ermida se baptizaram, com as necessárias licenças, em 1694 e 1705, Mariana e José,
filhos do capitão Bartolomeu de Vasconcelos e sua mulher D. Inácia de Noronha, administradores da
mesma capela.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS BROTAS

No sitio da Quinta das Freiras e na margem direita da ribeira de Santo António erguia-se a
capela conhecida pelo nome de Nossa Senhora das Brotas. Procurando investigar a origem desta,
para nós, tão estranha denominação, apenas pudemos, apesar das nossas boas diligencias, chegar a
meras presunções e conjecturas, que talvez estejam muito longe da verdade. Supusemos
primeiramente que aquele nome provinha, não da invocação ou orago da capela mas do lugar em que
fora edificada. Havendo uma erva medicinal com tal nome, seria possível que, existindo ali essa
planta, desse o nome ao local e depois á ermida. Depois conjecturámos que tendo a província do
Alentejo uma freguesia chamada Brotas, onde existe um notável santuário com a invocação de
Nossa Senhora das Brotas, poderia porventura, por motivos hoje desconhecidos, dar-se á capela
aquela denominação. Ambas as hipóteses se verificam em vários pontos desta ilha, sendo vulgar
darem os primitivos colonisadores, vindos de Portugal, os nomes das suas terras ou sítios da sua
predilecção a muitos logares onde aqui se estabeleceram ou tiveram terras de sesmaria.
Em corroboração da primeira hipótese, temos que referir a circunstancia de, noutros tempos e
ainda presentemente, se prestar culto a Nossa Senhora das Brotas debaixo da invocação de Nossa
Senhora da Luz, o que nos leva a presumir que aquela denominação diz respeito ao lugar e não ao
orago da capela.
Segundo o documento que em seguida transcrevemos, foi Manuel Martins Brandão, que em
1678 fundou a capela das Brotas na quinta que possuía na margem direita da ribeira, um pouco
acima da ponte de Santo António.
Dom António Telles da Silva, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo do
Funchal, Porto Santo e Arguim, do conselho de Sua Alteza. Fazemos saber aos que o presente alvará
virem que Manuel Martins Brandão morador nesta cidade nos enviou a dizer por sua petição que
tinha fabricado na sua quinta da Ribeira Grande da freguesia de Santo António uma ermida da
invocação de Nossa Senhora das Brotas, á qual tinha dotado de foro em cada um anno para sempre
dois mil reis impostos da dita quinta para reparo da dita ermida na forma costumada, a qual como
constava da escriptura que offerecia feita pelo notário Francisco pelo que nos pedia que lhe
concedêssemos licença para que na dita ermida se podesse levantar altar e dizer missa como nas
mais ermidas deste nosso Bispado, mandando-se fazer vistoria e que achando-se capaz com todo o
necessário e decência devida lhe concedêssemos a dita licença, e nos constando pela visita que
mandámos fazer pelo nosso escrivão da câmara que este passou, estar a dita ermida decentemente
ornada e com todo o necessário para se dizer missa e celebrar os officios divinos e dotada com dois
mil reis de foro impostos na Quinta da Ribeira Grande, como consta pela escriptura feita na nota do
notário Francisco em 4 de Julho deste presente anno de 1678 que fica no cartório da câmara.
Havemos por levantar a dita ermida e lhe damos licença para n'ella se dizer missa e poder celebrar os
officios divinos como nas mais ermidas deste nosso bispado, salvando sempre o nosso direito e da
parochia a que pertence e que não prejudicará, guardando-se sempre em tudo o costume e
Constituições do Bispado e mandamos que em tudo se cumpra este nosso alvará como nelle se
contém, sendo lançado no livro grande dos registos da câmara para a todo o tempo contar esta
licença. Dado no Funchal sob nosso signal e sellos de nossas armas aos dias do mez de Julho de
1678. Matheus Gomes escrivão da câmara o fez”.
Não sabemos se a quinta das Brotas tirou o nome da capela ou se porventura lho deu. Resta
ainda hoje um prédio urbano, que nos parece ser uma parte considerável da antiga casa solarenga.
Da velha ermida estão ainda de pé o pórtico e quasi todo o frontispício e parte das paredes laterais.
Consta da tradição que as águas da ribeira, desviando-se do seu curso natural, em virtude da
violência do corrente, destruíram uma parte considerável do adro, deixando o edifício ameaçado de
iminente desmoronamento.
Em 1732, visitando pastoralmente esta freguesia o prelado D. Manuel Coutinho ordenou que
o administrador desta capela a provesse dos indispensáveis paramentos, pois de contrario a mandaria
fechar e em 1736 notou ainda o visitador episcopal que tinha ela falta de alguns objectos necessários
ao culto.
No primeiro quartel do século passado, e não sabemos se ainda no principio do segundo, se
celebravam os ofícios divinos nesta capela. Pouco depois de 1843, ano da construção do cemitério,
se levantou neste recinto uma pequena capela, sendo para ela levados o altar e a imagem da ermida
de Nossa Senhora das Brotas, que ao presente ali se encontram ainda.
Acerca do orago da capela e nome da imagem, encontramos o seguinte, num livro do arquivo
paroquial:-"Não se sabe ao certo qual a invocação da imagem de Nossa Senhora que está na capela
do cemitério. Sabe-se que aquela imagem era da capela de Nossa Senhora das Brotas, mas este título
refere-se ao sitio onde estava a capela e não á imagem. Representa esta a Senhora com o menino nos
braços, tendo no pedestal, do lado direito, um peregrino de joelhos e ao lado esquerdo uma vaca
brava em atitude ameaçadora. O povo venera aquela imagem sob o título de Nossa Senhora da Luz e
por isso se lhe faz a festa a 8 de Setembro".
Pelas referencias que encontramos dispersas em alguns livros do arquivo desta freguesia,
parece que a imagem de Nossa Senhora da Luz ali venerada era objecto de cultos fervorosos, pois,
além do mais, vemos que António Granito, falecido no primeiro quartel do século XVIII, deixou a
sua mulher Joaquina de Freitas a terça parte dos seus bens com o encargo da celebração duma missa
anual e perpetua nesta capela, que Manuel Fernandes, nas diversas disposições com que morreu em
1776, inclui o de serem ali celebradas setenta missas e que Maria de Freitas, falecida em 1746,
dispõe em testamento que na mesma capela se digam trinta missas.
Em 1736 era o morgado Pedro José de Faria Betencourt, que julgo ser um sucessor do
fundador Manuel Martins Brandão, o proprietário de capela e quinta das Brotas e ali tinha
residência, tendo nela falecido um seu filho menor em Março do mesmo ano e que na mesma capela
foi sepultado.
Num antigo livro de linhagens, encontrámos o seguinte trecho, que nos parece ter alguma
afinidade com o objecto deste capitulo.
"Ignacio de Bettencourt e Câmara . . . nasceu em 1643 e casou. . . com D. Antónia Brandão,
filha herdeiro de Pedro Gonçalves Brandão.. .Fizeram morgado de seus bens e o anexarão ao que
nelles tinha feito Manuel Martins Brandão ( o fundador da capela ) e em todos elles succedeu
Henrique Henriques de Noronha, filho de seu irmão Pedro Bettencourt Henriques".
Cremos que a capela e quinta das Brotas pertenceram, em outros tempos, á casa Torre Bella.
CAPELA DE SANTA QUITERIA

O alferes Simão de Nóbrega e Sousa e sua mulher Maria Tavares de Sousa, moradores na
cidade do Funchal, possuíam uma quinta e casa de campo no sitio do Pico do Cardo desta freguesia e
resolveram levantar ali uma capela da invocação de Santa Quiteria, onde se prestasse culto a esta
bem aventurada lusitana e podessem cumprir os preceitos religiosos durante o tempo em que na
mesma quinta houvessem residência.
A 3 de Julho de 1727, nas notas do tabelião Domingos de Abreu, se exarou a escritura da
dotação anual de dois mil reis, feita por Simão de Nóbrega e sua mulher a favor da capela de Santa
Quiteria que acabavam de edificar, dotação imposta na sua quinta do Pico do Cardo, afim de
assegurar a conservação e estado de asseio da mesma ermida, em conformidade com as leis então
vigentes. Por meados do mês de julho do anno referido foi passado pelo bispo diocesano D. Manuel
Coutinho alvará de licença para se poder celebrar os actos do culto na nova capela.
A pag. 547 das notas ás Saudades da Terra, diz o Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo o
seguinte acerca desta ermida: “. . . fundada por Simão de Nóbrega, no Curral das Freiras, a qual foi,
muito depois, por alvará de D. Maria I, de 17 de Março de 1790, elevada a nova freguesia”. No
capitulo que neste opúsculo consagrámos ao Curral das Freiras, tivemos já ocasião de desfazer o
equivoco do ilustre anotador da obra de Frutuoso, e agora acrescentaremos que na Câmara
Eclesiástica deste bispado examinámos cuidadosamente uma copia autentica da escritura a que
acima fazemos referencia e o original da petição dirigida ao prelado para a edificação da capela, não
podendo existir sombra de duvida acerca do local em que a mesma capela foi erigida. A freguesia do
Curral das Freiras foi na verdade criada em 1790, mas a sua sede instalou-se na capela de Santo
António, única que ali existiu e que era pertença do convento de Santa Clara, sendo a actual igreja
paroquial construída por meados do século passado.
Apenas durante três quartos de século ou pouco mais se celebraram os ofícios divinos na
capela de Santa Quiteria. Em 1814 estava inteiramente profanada e havia já alguns anos que ali não
se realizavam os actos do culto, tendo em 1813 o administrador dela, o alferes Manuel Joaquim
Rodrigues, enviado para a igreja paroquial desta freguesia um cálix de prata que á mesma capela
pertencera.
Em 1785 e 1787 sepultaram-se nesta ermida dois filhos menores do capitão Manuel Gomes
da Silva, que julgo seria então o administrador dela.
Nem hoje restam vestígios da capela de Santa Quiteria, existindo ainda algumas pessoas que
conservam lembrança das suas ruínas.
Foi, edificada no sitio do Pico do Cardo, mas os terrenos circunvizinhos tomaram o nome da
ermida e constituíram sitio novo e separado do Pico do Cardo.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DO POPULO

A invocação desta capela é de Nossa Senhora do Populo, mas ninguém a conhece por este
nome, sendo comumente chamada do Pico do Cardo ou da Quinta dos Padres. Esta denominação
provém de ficar a ermida naquele sitio e na residência que ali possuíam os padres jesuítas.
Ignoramos o ano da sua fundação, presumindo que não seja anterior ao primeiro quartel do
século XVIII. A quinta, que já o era em 1635, pertencera nesta época ao morgado Gaspar de
Betencourt e Sá, que no seu testamento, feito naquele ano, deixa a suas filhas D. Isabel de
Betencourt e D. Ana de Aguiar a terça dos seus bens, com o encargo perpetuo da celebração anual
de cinco missas, imposto na referida quinta. Desta verba testamentaria se conclue que em 1635 não
tinha sido ainda construída a capela do Pico do Cardo, pois não é provável, a avaliar por muitos
outros casos análogos conhecidos que ao ser onerada a quinta com aquele encargo pio, não lhe
estivesse ligada a obrigação de serem celebradas alguma das missas na capela que porventura ali
existisse.
Esta propriedade, como mais largamente diremos noutro lugar foi adquirida pela Companhia
de Jesus entre o período decorrido de 1635 a 1714, e foram por ela construídas a casa e capela ainda
hoje ali existentes, que não nos parece serem anteriores ao ultimo quartel do século XVII ou
primeiro do século seguinte. A capela é sem duvida anterior ao ano de 1745, como claramente se vê
da inscrição ali existente e que transcreveremos no capitulo consagrado a Santo Inácio de Azevedo.
Em 1759, por ocasião da expulsão dos jesuítas, foi esta capela com a casa de residência e
terrenos anexos, encorporada na Real Fazenda, e em 1770 comprada em hasta publica por Francisco
de Agrela Espínola, pertencendo já em 1796 ao comerciante Pedro Jorge Monteiro.
Ali se realizou em Agosto daquele ano o casamento de Pedro de Sant'Ana e Vasconcelos
com D. Jacinta de la Tuelliere.
Esta capela, que tem a forma hexagonal e fica quasi contígua á residência, está em bom
estado de conservação e nela se celebram os actos do culto católico.
Pertence actualmente bem como a casa e prédio adjuntos a António de Faria, que a houve por
herança de seu pai António de Faria, falecido em Dezembro de 1891. Pertenceu anteriormente ao
prelado desta diocese Dom Manuel Agostinho Barreto, servindo então de recreio e passatempo aos
alunos do Seminário Diocesano, que ali iam frequentemente nas quintas-feiras e outros dias feriados
do ano lectivo.
Os capítulos que dedicaremos aos jesuítas e á estada de Santo Inácio de Azevedo nesta
freguesia, completarão as informações que pudemos obter acerca desta pequena capela.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS PRECES

Fica a capela de Nossa Senhora das Preces no sitio a que ela mesma deu o nome. 0 povo, que
em virtude da lei do menor esforço, tende imperiosamente a simplificar e a resumir a linguagem,
chama-lhe apenas capela das Preces e o mesmo ao sitio onde ela se encontra.
Apesar do anotador das Saudades da Terra não fazer menção desta ermida, sabemos que ela
não é de fundação muito recente. No altar-mór lê-se uma inscrição latina alusiva á invocação da
capela e a data de 1768, que é provavelmente a da fundação, se não quisermos admitir que ela se
refere a uma reconstrução ou a repairos importantes ali realizados. A falta de mais segura
informação, vamos considerando o ano de 1768 como o da primitiva edificação desta pequena
ermida.
Ignoramos o nome do seu fundador e se seria capela vinculada ou sede de algum morgadio.
Sabemos, porém, que por 1770 era administrador dela o capitão Rodrigo da Costa e que em 1796
pertencia ao morgado Joaquim Manuel de França. Em 1856 foram a capela e casa contígua
reconstruídas pela sua então proprietária D. Joana de Albuquerque e França. Sendo posto em praça
todo o prédio rústico e urbano, foi em 1888 arrematado em hasta publica por Francisco Eleutério
Martins, que por venda o cedeu, em I898, ao proprietário desta freguesia, João Rodrigues de Aguiar,
pertencendo hoje aos seus herdeiros.
O capitão Joaquim Manuel de França obteve de Roma dois Breves, datados de 6 de
Dezembro de 1796, concedendo um deles indulgencia plenária a todas as pessoas que devidamente
preparadas visitarem esta capela em qualquer dos nove dias que precederem o dia 5 de Agosto e
outro concedendo a graça de Jubileu aos que igualmente a visitarem no dia 8 de Setembro de cada
ano.
Damos em seguida uma copia dos dois diplomas pontifícios, que fielmente trasladámos dos
respectivos originais que se encontram na Câmara Eclesiástica desta diocese.

"PIUS P. P. Vl-Ad perpetuam rei memoriam-Ad agendam fidelium religionem et animarum


salutem celestibus ecclesiae thesauris pia charitate intenti suplicationibus quoque dilecti filii
Joachim Emanuelis da França, omnibus et singulis utriusque sexus Christi fidelibus vere
penitentibus et confessis ac S. Comunione refectis qui Eclesiam seu Capelam publicam B. Mariae
vulgo das Preces nuncupata villa a Pico do Cardo sub Parochia S. Antonii Insulae Madeirae
Funchalen Diocesis; in novem diebus continuis imediate antecedentibus diem quintam mensis
augusti singulis annis devote visit. et ibi pro chistianorum Principum concordia, haeresum
extirpatione et S. Matris Ecclesiae exaltatione pias ad Deum preces efuderint Plenariam spatio
predictorum novem dierum per unumquemque Christifidelem semel tantum quolibet anno ad sui
libitum eligendo lucrifaciendam Insuper iisdem Christifidelibus et vere peniten et confessis ac. S.
Cnmunione refectis, qui predictam ecclesiam die quinta mensis augusti a primis vesperis usque ad
occasum solis diei hujusmodi ut supra visit. et ibidem oraverint, Plenariam similiter omnium
pecatorum suorum indulgentiam et remissionem misericorditer in Domino concedimus. In
contrarium facien. UOD obstan. quibuscumque, Presentitfus perpetuis futuris temporibus valituris.
Datum Romae apud S. Petrum sub annulo pis catoris die,VI Decembris MDCCXCVI. Pontif Nostri.
Anno Vigessimo secundo,.
PIUS P. P. IV-Ad perpetuam rei memoriam.-Ad augendam fidelium salutem celestibus
Ecclesiae thesauris pia charitate intenti omnibus et singulis utriusque sexus Christifidelibus vere
peniten, et confessis ac S. Comunione refectis qui Ecclesiam seu Capelam publicam sub titulo
Nostrae Dominae das Preces villa de Pico do Cardo in parochia sancti Antonii Funchalen in uno anni
die per ordinarium designanda primis vesperis usque ad occasum diei hujusmodi singulis annis
devote visitat et ibi pro christianorum principum concordia hoeresum extirpatione ac S. Matris
Ecclesiae exaltatione pias ad Deum preces efunderint Plenariam omnium peccatorum suorum
Indulgentiam et remissionem misericorditer in Domino concedimus. Ut autem iidem christifideles
coelestium munerum hujusmodi facilius valeant esse participes venerabili frati nunc et pro tempore
existenti Episcopo Funchalen aliquos presbyteros seculares vel conjusvi; ordinis Congregationis et
Instituti Regulares ad excipiendas ipsorum sacramentales confessiones, alios aprobatos deputare qui
eosdem christifideles eorum confessionibus diligentes auditis ab omnibus et quibuscumque
excessibus et criminibus ac casibus sedi apostolicae reservatis, (haeresis, simoniae, duelli violationis
clausurae monasteriorum monialium et recursus ad judices laicos contra formam sacrorum canonum
exceptis) necnon excomunicationis, aliisque ecclesiasticis sententüs, censuris, et poenis, imposita
cuilibet arbitrio suo poenitentia salutari in foro conscientiae tantum absolvere atque vota simplicia in
aliud pium opus eorum similiter arbitrio et prudentia comutare possint, facultatem pari auctoritate
tenere pontificium tribuimus et elargimur. Non obstan, apostolicis ac universalibus conciliis editis
generalibus vel specialibus, constitutionibus et ordinationibus, coeterisque contrariis quibuscumque.
Presentibus perpetuis futuris temporibus valituris.
Datum Romae apud S. Petrum sob annulo piscatoris die VI Decembris MDCCXCVI. Pontif.
Nostri Anno Vigessimo sacundo".

Estes Breves obtiveram o Beneplácito Régio a 26 de Janeiro de 1797, mas por motivos que
desconhecemos só começaram a ter execução no ano de 1803.
A 2 de Novembro de 1800 sepultou-se nesta capela D. Francisca Paula Espranger Castelo
Branco, mulher do capitão Joaquim Manuel de França, então proprietário da mesma capela.
Tem junto uma excelente casa de moradia, talvez de construção coeva da capela, e que, como
acima dissemos, foi reedificada em 1856 por D. Joana Teresa de Albuquerque e França, que ali
faleceu a 12 de Fevereiro de 1884.
CAPELA DE S. JOÃO E SANTANA1

De muito longe vem a ideia da construção duma capela no sitio do Trapiche desta freguesia.
Já em 1606, o bispo diocesano D. Luís Figueiredo de Lemos, na visita pastoral que fez a esta
paróquia, reconhecendo que era uma necessidade a construção duma ermida naquele bairro,
determinou que o pároco de então, o padre António Afonso de Faria, promovesse essa construção,
socorrendo-se para tal fim dos auxílios que de certo lhe prestariam os habitantes dos sítios a que a
mesma capela ia especialmente aproveitar. 0 mesmo prelado fez idêntica recomendação em 1608 e o
bispo D. Lourenço de Távora, na visitação episcopal de 1613, novamente ordenou que se
cumprissem as determinações do seu antecessor, mas resultaram sempre infrutíferas as diligencias
daqueles prelados. Só passados dois longos séculos é que a ideia da construção duma capela no sitio
do Trapiche chegou a ser realizada. No mês de Fevereiro de 1791 requereu o capitão-mor António
Francisco de Gouveia Rego, que possuía terras no sitio do Trapiche, licença para construir á sua
custa e como propriedade sua uma capela da invocação de S. João e Santana na fazenda que ali
possuía. Sendo mandado ouvir o respectivo pároco, Pedro António Xavier; deu este, com data de 6
de Abril de 1791, o seguinte informe, que, por nos parecer bastante interessante, textualmente
transcrevemos:
.0 sitio denominado Trapiche, onde o suplicante pretende edificar a capela, dista desta
parochia uma légua ou pouco menos e os caminhos são tão empinados que em cahindo qualquer
rocha é muito difícil subil-os e descel-os sem perigo de precipício. É por isso mesmo que em tempo
de inverno os habitantes daquelles sítios e dos que lhe ficam vizinhos, principalmente mulheres, não
poderem vir á parochia nem a algumas das ermidas que lhe ficam na mesma distancia e é com
bastante trabalho e fadiga que acodem os parochos aos sacramentos a que são chamados daquelles
mesmos sítios, o que faz ver não só utilidade mas grande necessidade que ha duma ermida naquelle
sitio. Esta mesma necessidade existia já quando no anno de 1606 sendo bispo desta diocese o Ex.mo
Sr. D. Luiz de Figueiredo na visitação desta igreja deixou provido que os fregueses daquelles sítios
se juntassem para fazerem ali uma ermida, recomendando ao vigário promovesse isto mesmo,
determinação que se repetiu na visitação do anno de 1608 e se tornou a recomendar na de 1613, em
que era bispo desta mesma diocese o Exmo Sr. D. Lourenço de Tavora, o que nunca se efectuou
talvez pela pobreza daquelles moradores e o que tudo se deixa ver dos provimentos das antigas
visitações desta igreja. E se já naquelle tempo, do qual até ao presente tem decorrido 185 annos, em
que naquelles sítios era muito limitada a povoação havia necessidade e repetidamente advertida,
quando será essa hoje havendo-se dilatado tanto aquella povoação que até já pelas serras se vae
estendendo e cada dia se dilata mais. Á vista pois do exposto julgo que não só se deve permitir ao
suplicante a implorada licença mas fomentar-lhe o zelo, em que tanto interessa la utilidade espiritual
daquelles habitantes. Isto é o que devo informar a V. Ex.a. Rev.ma, que determinará sempre o que
lhe parecer mais justo”.
A 19 de Abril de 1791 o bispo diocesano D. José da Costa Torres concedeu a licença pedida,
julgando de todo aceitáveis as considerações feitas pelo pároco no seu informe. Apesar da concessão
da licença, ainda desta vez se não realizou a ideia, já bastante antiga, da construção da capela no
sitio do Trapiche. Ignoramos os motivos que obstaram a que o capitão António Francisco de

1 Foi demolida em 1932


Gouveia Rego desistisse do seu intento, dando de mão á edificação que projectara e que parecia
prestes a realizar-se, em vista da licença que lhe fora concedida. Só passado o período relativamente
longo de 23 anos e depois do falecimento dele, é que seu filho, o sargento-mor João António de
Gouveia Rego levou a cabo a projectada construção, cumprindo deste modo os desejos manifestados
por seu pai.
Em virtude das disposições legais então vigentes, teve o capitão João António de Gouveia e
sua consorte D. Maria Paula de Gouveia Rego de dotar a capela com a importância anual de quatro
mil reis, destinada á sua conservação, e que foi imposta numa propriedade rústica, que os mesmos
proprietários possuíam no sitio dos Casais da freguesia do Arco de S. Jorge e que houveram por
compra feita a António Gomes da Silva e sua mulher, moradores na referida freguesia, celebrando-se
a respectiva escritura de dotação a 27 de Junho de 1814.
O vigário desta freguesia José Joaquim de Sousa, em cumprimento de ordens superiores,
procedeu á vistoria do estilo a 12 de Agosto de 1814, e sendo a capela encontrada nas condições
exigidas pelas leis canónicas, se concedeu a respectiva licença para nela se poderem realizar os
ofícios divinos. Foi benzida e ali se celebrou a primeira missa a 14 de Agosto de 1814.
A propriedade desta ermida passou do seu fundador, o capitão-mor João António de Gouveia
Rego, a seu filho o morgado Manuel de Gouveia Rego e deste a sua filha a Sr.a D. Maria Paula
Kniglofer Rego, que dela fez doação ao reverendo monsenhor Manuel Joaquim de Paiva, vigário da
freguesia de S. Pedro.
Fica esta capela contígua á excelente casa de moradia da quinta do Trapiche. Nesta bela casa
de campo, donde se desfruta um vasto e surpreendente panorama sobre a cidade e arredores, têm tido
permanência mais ou menos demorada algumas personagens ilustres, como sejam os prelados desta
diocese D. Patrício Xavier de Moura, D. Aires de Ornelas de Vasconcelos, D. Manuel Agostinho
Barreto, D. António Manuel Pereira Ribeiro e ainda outras pessoas notáveis.
O distinto madeirense, o arcebispo de Goa, D. Aires de Ornelas, ali passou parte do verão de
1879, e na biografia deste ilustre prelado escrita por seu irmão o conselheiro Agostinho de Ornelas
encontramos aquele facto a seguinte referencia: ainda depois de voltar da Índia, doente de doença
mortal, carecendo do mais absoluto descanso, foi confessar e ajudar a bem morrer um pobríssimo
jornaleiro vizinho da quinta onde passava o verão”.
D. Manuel Agostinho Barreto, o eminente e nunca esquecido bispo da Madeira, ali passou a
estação calmosa durante alguns anos e tinha por aqueles sítios, que percorria em frequentes passeios,
uma predilecção especial, que não procurava ocultar.
Esta quinta e casa de campo, com seus terrenos e construções anexas, constituem hoje as
diversas dependências do Manicómio, que ali manteem os beneméritos irmãos de S. João de Deus
com o nome de Casa de Saúde do Trapiche de que adiante daremos desenvolvida noticia.
CAPELA DE SANTA CRUZ E ALMAS

Projectou-se no século XVII a construção duma capela, especialmente consagrada ao culto e


sufrágio pelas almas do purgatório, que teria a invocação de Santa Cruz e Almas. Esta ideia só
parcialmente se executou, pois que a edificação da ermida não chegou nunca a concluir-se.
No mês de Junho de 1667 foi concedida a licença para aquela construção, mas ignoramos se
ela começou desde logo ou se decorreram anos para dar-se inicio aos respectivos trabalhos. É
todavia certo que as obras não chegaram a uma conclusão definitiva e nem mesmo sabemos em que
alturas ficou a iniciada construção. Também não parece haver duvida que a ermida não chegou a ser
consagrada ao serviço do culto e apenas nela se sepultou, em Outubro de 1706, um indivíduo por
nome Francisco Fernandes, do sitio do Vasco Gil.
Segundo a legislação então vigente, foi feita á capela a respectiva dotação, imposta em uns
terrenos, que, 69 anos depois da mesma dotação, isto é em 1736, já se não sabia onde ficavam
situados nem se conheciam as pessoas que indevidamente os possuíam. A isto se refere o seguinte
trecho do provimento do ano de 1736:-A ermida de Santa Cruz e Almas, para que se deu licença aos
maiordomos dela em Junho de 1667, foi dotada com os rendimentos de uns pedaços de terra e como
a dita ermida não está acabada nem a Confraria possui os taes pedaços de terra se manda com pena
de excomunhão maior a qualquer pessoa que tenha noticia de taes pedaços de terra o descubra ao
reverendo parocho".
Supomos que esta capela se levantava nas imediações da igreja paroquial ou talvez mesmo
fosse contígua a esta, tendo sido demolida quando a antiga igreja foi substituída em 1783 pelo tempo
actual.
Havia nesta freguesia a Contraria das Almas, a que esta capela pertencia, e que certamente
por falta de recursos não ultimou as obras da mesma capela, que seria a sede da referida Confraria.
No capitulo consagrado ao Cemitério desta freguesia, daremos noticia da capela que ali se
encontra e que é conhecida pelo nome de Nossa Senhora da Luz.
NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

É sabido que principalmente em Espanha se presta desde séculos culto fervoroso a Nossa
Senhora de Guadalupe, passando depois para o México, onde também a devoção para com a Virgem
Imaculada, debaixo desta invocação, é grande e muito generalizada, existindo naqueles países
santuários celebres, centros de inúmeras romagens e acendrada piedade, que teem por especial
objecto importantes manifestações de culto em honra da Santíssima Virgem.
Em Portugal também ha vários templos, em que se cultiva a devoção para com Nossa
Senhora de Guadalupe, e nesta diocese sabemos que a igreja paroquial do Porto da Cruz lhe é
consagrada e que nesta de Santo António existe uma bonita capela, que igualmente lhe e dedicada.
Lembra-nos de ter lido ha anos um sermão de Nossa Senhora de Guadalupe, em língua espanhola,
em que se dizia que da ilha da Madeira iam anualmente para Espanha avultadas esmolas destinadas
ao culto desta invocação. Não sabemos se tem fundamento serio esta afirmativa e menos ainda
conhecemos quaisquer outras particularidades que lhe digam respeito.
Ignoramos até onde remonta, nesta freguesia de Santo António o culto prestado a Nossa
Senhora de Guadalupe, mas é indubitavelmente anterior a 1652, pois já então existia a confraria
daquela denominação, sendo de presumir, e ha bons fundamentos para acredita-lo, que muito
anteriormente aquele ano já aqui estivesse generalizado es e culto. Na antiga igreja paroquial era-lhe
consagrado um altar ou capela especial, que sempre fora objecto de fervorosos cultos por parte dos
habitantes desta paróquia. Em diversas épocas e nomeadamente no ano de 1774, se fizeram
importantes repairos nesta capela, custeados pela respectiva irmandade.
Na nova e ampla igreja, que se edificou em 1783. Foi-lhe destinado o principal altar, depois
do orago e do Santíssimo Sacramento. A nova capela, embora despida de grandes primores artísticos
e apesar da sobriedade dos seus ornatos, é de uma notável elegância e dá-nos, no seu conjunto, um
certo ar de majestade e de beleza, que impressiona muito agradavelmente.
Quando se projectou a construção da nova igreja paroquial, estava naturalmente indicado que
seria a confraria de Nossa Senhora de Guadalupe que principalmente concorreria para o custeamento
da capela da sua padroeira, mas a irmandade disponha de parcos recursos e não teria talvez entre os
seus confrades quem tomasse a iniciativa duma obra relativamente importante e dispendiosa como
esta. Tudo o que se fez, deve-se quase inteiramente ao acendrado zelo e inexcedível dedicação do
então cura desta paróquia o padre Manuel João Pereira de Sousa. Se ele não fora, certamente que no
novo templo só teria sido consagrado a Nossa Senhora de Guadalupe um pequeno e modesto altar. O
Dr. António Pereira Borges, vigário desta freguesia na época da edificação da actual igreja, dizia em
Dezembro de 1797, referindo-se ao mesmo cura:-“...a cujo indizível zelo se deve a obra da
mencionada capela, que se não fora a sua diligencia e louvável zelo ella nunca se completaria, pois
que ninguém se sujeitaria ao grande trabalho e fadiga a que elle se tem sujeitado por mera devoção,
o que não deixará de lhe ser recompensado pela mesma Senhora, o que tudo não só se faz digno de
aprovação mas de louvor, e se lhe deve suplicar queira continuar no mesmo zelo e fervor”. Foi o
padre Manuel J. Pereira de Sousa, que não só tomou a iniciativa da construção da capela, como
também angariou os necessários donativos e presidiu desveladamente á direcção de todos os
trabalhos até á sua conclusão definitiva, tendo também contribuído com uma quantia avultada para
as mesmas obras.
Os trabalhos da respectiva edificação começaram em Abril de 1797, e só terminaram em
Junho de 1797, tendo havido varias interrupções por falta de recursos e também por algumas
imprevistas dificuldades que surgiram. 0 total da sua construção elevou-se a cerca de dois contos e
setecentos mil reis, tendo sido custeada esta despesa com as esmolas dos fieis arrecadadas em toda a
paróquia e com vários donativos particulares. A respectiva Confraria, dispondo de minguadas
receitas, teve uma parte diminuta no custeamento daquelas obras. As cantarias do arco, portas e
janelas atingiram a importância de 604$000 reis, tendo a mão de obra do altar custado 532$000 reis
e a sua pintura e douramento aproximadamente 500$000 reis. 0 altar foi construído em 1797 pelo
artífice Estevão Teixeira e o seu douramento e ornatos executados pelo pintor francês Boaventura
Beze. Por esta época adquiriram-se doze castiçais de madeira dourada, que custaram 76$000 reis.
Foi a 18 de Dezembro de 1808, quando os trabalhos de construção e pintura se achavam
definitivamente concluídos, que se colocou a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe na sua capela,
realizando-se por essa ocasião um imponente préstito religioso, em que se encorporou a maior parte
dos fieis desta paroquia, manifestando a mais indizível satisfação pelo total acabamento das obras,
que todos se empenharam em levar a cabo.
O próprio iniciador desta obra deixou exarado um livro do arquivo paroquial: "A mesma
Senhora permita renunerar-me na eternidade a dedicação, zelo e trabalho que tive com esta obra e a
todos os parochianos que deram suas esmolas, pois sem estas nada se fazia"
Quis ele manifestar o seu reconhecimento aos que tão dedicadamente o auxiliaram na
realização daquele empreendimento, dando-lhes e aos seus vindouros um testemunho perpetuo do
apreço em que tivera o seu zelo pelo culto da Virgem Senhora de Guadalupe. Solicitou e obteve de
Roma um Breve de indulgencia plenária, que pode ser lucrada por todas as pessoas que devidamente
dispostas, visitarem aquela capela na quarta dominga de Agosto, dia em que se realizava a festa da
sua padroeira. Transcrevemos o documento comprovativo daquela concessão:
"Pio Papa Setimo. Para perpetua memória desta graça applicados Nós com paternal caridade
a augmentar a religião dos fieis e a salvação das almas os celestiaes thesouros da Igreja-Concedemos
misericordiosamente em o Salvador, indulgencia Plenária e remissão de todos os seus pecados a
todos os fieis christãos d'um e outro sexo, que verdadeiramente contritos, confessados e
comungados, visitarem devotamente todos os annos, a parochial igreja de Santo António da ilha da
Madeira, do Bispado do Funchal, desde primeiras vesperas da quarta dominga do mez de Agosto até
o pôr do sol do mesmo dia, e ahi fizeram piedosas suplicas a Deus pela paz e concórdia entre os
príncipes christãos, extirpação das heresias e exaltação da santa madre igreja. As presentes valerão
por todos os séculos futuros. Dado em Roma junto da Santa Maria Maior, debaixo do annel do
pescador, em os trinta dias de Julho de mil oitocentos e cinco, no anno sexto do nosso Pontificado.
Pelo senhor Cardeal Broschio de Honestis, G. Bernie, substituto”.
O referido sacerdote Manuel João Pereira de Sousa sempre devotado ao culto da Virgem
Imaculada sob a invocação de Nossa Senhora de Guadalupe, alcançou também da Santa Sé um breve
datado de 14 de Julho de 1805, em virtude do qual é permitido, na quarta dominga de Agosto,
celebrar-se na igreja paroquial desta freguesia missa cantada votiva de Nossa Senhora, segundo as
clausulas e restrições que no mesmo breve vêem indicadas. Esse documento, cujo original se
conserva no respectivo arquivo paroquial, e assim concebido:

S. Smus Dnus Noster Pius VII Pont. Max. ad humilimas preces hodierni parochi ecclesiae
parochia]is titulo de S. Antonii Maderae Funchalen Diocesis me infrascre Secretario benigne indulsit
ut quotannis in dominica IV mensis augusti modo non occurrat officium ritus dupl primae vel
secundae classis, occasione peculiaris festi, quod agitur in dicta ecclesia in honorem B. M. V. quae
dicitur de Guadalupe ab omnibus sacerdotibus ad Sacrum faciendum convenientibus in eamdem
Ecclesiam celebrari possit Missa propria jam approbata de eadem B. M. V. cum commemorationibus
tamen offici diei, dominicae aliisque occurrentibus xta rubricas in omnibus missis privatis atque
etiam in missis cum cantu si presteria ecclesia celebrata non fuerit missa conventualis de die.
Occurrente vero officio ritus dupl. secundae classis dumtaxat, indulsit ut celebrari possit una tantum
missa cantu ut supra Die 14 julii 1805".

O padre M. Pereira J. de Sousa continuou até á morte, prestando á Confraria e devoção de


Guadalupe os mais desinteressados e relevantes serviços na qualidade de zelador, que foi da mesma
confraria, melhorando e dotando a capela com valiosos objectos destinados ao culto, como foram
uma lâmpada de prata que importou em quantia superior a 300$000 reis, uma coroa do mesmo metal
para a imagem de Nossa Senhora que custou 58$880 reis, além dum frontal do altar comprado em
Lisboa por 125$480 reis, não contando ainda com vários repairos e outros melhoramentos realizados
na mesma capela. Faleceu este benemérito sacerdote a 21 de Junho de 1811. Jaz sepultado, segundo
sua própria disposição, na capela de que foi o mais dedicado benfeitor e á qual se acha
indissoluvelmente ligado o seu nome.
Como dissemos no principio deste capitulo, a referencia mais antiga que encontrámos á
confraria de Guadalupe remonta ao ano de 1652, conjecturando, porem, que a sua criação é muito
anterior aquela data. Era, depois da do Santíssimo Sacramento, como ainda o é actualmente, a
irmandade mais importante desta paróquia. Possuía vários prédios, onerados com encargos de missas
perpetuas, no Vasco Gil, Jamboto, Curral Velho, Boa Vista e outros sítios. Teve escrituração regular
da sua receita e despesa até 1842. No ano de 1897 organizou seu compromisso ou estatutos, que
receberam a aprovação da autoridade competente, mas a falta de cumprimento das respectivas
prescrições legais reduziram-na a um simples agregado de pessoas, que se destina unicamente á
celebração duma festa anual em honra de Nossa Senhora de Guadalupe.
Entre os mais devotados benfeitores desta irmandade conta-se o padre Pedro Gonçalves de
Aguiar, natural desta freguesia e que nela faleceu a 20 de Setembro de 1722, jazendo sepultado na
capela de Guadalupe com lagea tumular e epitáfio próprios. Também ali se sepultou Ana de
Oliveira, benfeitora da mesma confraria, á qual legou vários bens de raiz com encargo de algumas
pensões pias.
Por ocasião da missão religiosa que houve nesta freguesia em 1878, dirigida pelos padres
Thomaz Vitale e Joaquim Machado se estabeleceu a liga do Apostolado da Oração e do Sagrado
Coração de Jesus, dando-se-lhe como sede a capela de Nossa Senhora de Guadalupe, onde se
encontra o competente diploma de agregação, que tem a data de 2 de Outubro daquele ano. Pouco
tempo depois se adquiriu a imagem do Sagrado Coração de Jesus, que até ha pouco se venerava no
mesmo altar e onde, em todas as primeiras sextas-feiras de cada mez se faziam os actos religiosos
que estão preceituados para estas ocasiões.
Em 1894, a pia associação do Sagrado Coração de Jesus mandou proceder a importantes
repairos na pintura e douramento desta capela, devido principalmente ao zelo e diligentes esforços
do padre Teodoro João Henriques, cura da paróquia, despendendo-se aproximadamente trezentos mil
reis nesse melhoramento. Numa das faces laterais de altar se encontra o seguinte:-"Esta capela foi
mandada pintar e dourar em 1894 pela Associação do Sagrado Coração de Jesus, sendo director o
cura Teodoro João Henriques”.
CEMITÉRIO

O decreto de 21 de Setembro de 1835 mandou proceder á construção de cemitérios em todas


as freguesias, proibindo, sob qualquer pretexto, os enterramentos nas igrejas. Esta importante
providencia governativa não teve por toda a parte uma pronta e imediata execução, como sucedeu
nesta freguesia, não sendo, todavia, a ultima paróquia deste concelho, que foi dotada com esse
importante e indispensável melhoramento.
Foi na Quinta das Freiras e no prédio rústico que ali existia, pertencente ao convento de
Santa Clara, o local escolhido para a construção do cemitério, tendo a Câmara Municipal tomado
esta deliberação na sua sessão de 18 de Julho de 1837. 0 engenheiro Vicente Paulo Teixeira
apresentou o projecto e orçamento dos trabalhos a executar na sessão ordinária de 25 de Agosto de
1837, mas, somente no ano imediato se deu começo ás obras de construção. O pároco, que então se
encontrava á testa desta freguesia, o padre Manuel Joaquim de Sousa Gouveia, foi encarregado pela
Câmara Municipal de dirigir e superintender nos serviços de construção, o que fez com o maior
desinteresse e com todo o zelo e competência.
Os respectivos trabalhos decorreram com bastante lentidão e só foram dados por inteiramente
concluídos no ano de 1843. No entretanto realizou ali o primeiro enterramento a 12 de Outubro de
1839, dando-se á sepultura o cadáver duma criança, por nome José Martins, filho de Francisco
Martins e de Gregoria Rosa, moradores no sitio da Ladeira. A partir desta época, cessaram
completamente os enterramentos na igreja paroquial, sendo a 6 de Outubro de 1839 o ultimo que aí
se fez.
Com o notável aumento da população, tornou-se o recinto do cemitério de acanhadas
dimensões para o serviço da paróquia, tendo a Câmara Municipal procedido ao seu alargamento no
ano de 1903. A bênção, que foi lançada pelo Prelado Diocesano e que revestiu a maior imponência,
realizou-se no dia 27 de Dezembro daquele ano, com a assistência da vereação e duma grande
multidão de pessoas. Depois do cemitério das Angustias, ficou sendo o mais vasto de todo o distrito.
O primeiro guarda deste cemitério foi João José dos Santos, nomeado a 8 de Outubro de
1839, com o vencimento anual de 60$000 reis. Têm sido guardas deste cemitério Teodoro João
Henriques, Augusto Ernesto Afonso e António Gomes dos Santos.
No concelho do Funchal, além do cemitério das Angustias, é o único que tem capela
privativa para o serviço religioso dos funerais. Foi erigida pouco depois de 1843 e quando se
achavam já concluídas as obras da construção do cemitério, sendo portanto a capela desta freguesia
de mais recente fundação. Quem examinar o seu altar, descobre sem esforço que é duma época
muito anterior á da edificação da capela. Pertenceu á ermida de Nossa Senhora das Brotas e por isso
remetemos o leitor para o capitulo que, acerca desta, inserimos já neste opúsculo. A antiga imagem,
ali existente, foi ha poucos anos substituída por outra, tendo-se ganho pouco com a substituição,
debaixo do ponto de vista artístico.
Nesta capela celebra-se de quando em quando o santo sacrifício da missa e no principio do
outono realiza-se ali a festa de Nossa Senhora da Luz, que é o orago da referida ermida.
EPIDEMIAS

Acerca das doenças de carácter epidémico, que grassaram na Madeira nos séculos XV, XVI e
XVII, não pudemos alcançar noticia dos estragos que elas por ventura teriam causado nesta
freguesia. Devemos, porém, supor que a epidemia da peste, que tão intensamente se alastrou neste
arquipélago no longo período de 1520 a 1538 e que vitimou uma parte considerável da sua
população, causasse a morte a muitos indivíduos domiciliados nos limites desta paróquia, ignorando-
se o que aqui teria acontecido com relação ás moléstias epidemias do século XVII e primeira metade
do século XVIII.

1751 e 1787.-Em 1751 desenvolveu-se nesta ilha uma terrível epidemia de sarampo, que
causou inúmeras vitimas. Fala dela com horror o distinto madeirense Dr. Julião Fernandes da Silva
no seu curioso livro Carta critica sobre o método curativo dos médicos funchalenses, publicado no
ano de 1752. Nesta freguesia grassou essa doença com carácter benigno, tendo sucumbido a ela
cerca de trinta indivíduos. No ano de 1787 foi esta paróquia assolada por uma epidemia de varíola,
sendo bastante considerável o numero de casos fatais.

1808 e 1816.-Uma moléstia de carácter epidémico que grassou nos meses de Julho, Agosto,
Setembro e Outubro de 1808, causou uma grande mortandade nas crianças, trazendo muito alarmada
a população. No ano de 1810 também se fez sentir largamente nesta paróquia, com o ataque e morte
de muitas pessoas, a doença epidémica que então lavrou em toda a ilha, sendo o alastramento do mal
atribuído em boa parte aos encerramentos nas igrejas, que passaram a fazer-se provisoriamente nos
adros e em torno dos respectivos templos.

1834 - 1835.-Nos fins do ano de 1834, começou a grassar uma moléstia epidémica, cuja
natureza desconhecemos, tendo vitimado muitos crianças e adultos. A Câmara Municipal
estabeleceu um hospital provisório na casa de habitação da quinta do Leme, para tratamento dos
atacados, nos primeiros dias de Janeiro de 1835, que funcionou durante alguns meses e que era
mantido pela mesma Câmara.

Epidemia colérica de 1856.-É hoje impossível averiguar a data precisa em que a cólera,
irradiando-se pelas freguesias circunvizinhas da cidade, tivesse aparecido em Santo António. O
primeiro caso fatal, porém, deu-se a 17 de Julho, isto é 15 dias depois das primeiras manifestações
da doença no regimento d'infantaria n.º 1, sendo vitimada por ela uma mulher de nome Maria Rosa,
casada com João Gomes e moradora no Vasco Gil. No dia imediato deu-se o segundo caso fatal
numa criança de nome Carolina, filha de José Gomes Camacho e residente no sitio das Fontes.
A epidemia tomou aqui em poucos dias um aspecto muito grave, difundindo-se com grande
rapidez, o que desde logo aconselhou a criação dum hospital provisório, especialmente destinado a
receber os coléricos menos favorecidos da fortuna. O hospital estabeleceu-se na casa da Quinta do
Leme e começou a funcionar nos primeiros dias de Agosto, encerrando-se no fim do mês de
Setembro seguinte.
Segundo a estatística oficial, faleceram ali 110 coléricos, devendo contar-se neste numero
alguns das vizinhas freguesias de S. Martinho e S. Roque. Ainda conforme a mesma estatística foi de
214 o numero total de indivíduos que nesta freguesia sucumbiram vitimas da epidemia, assim
distribuídos por idades: de 1 a 10 anos 35 indivíduos; de 10 a 20 anos 9; de 20 a 30 anos 20; de 30 a
40 anos 44; de 40 a 50 anos 39, de 50 a 60 anos 40; de 60 a 70 anos 15; de 70 a 80 anos 11; de mais
de 80 1.
Os dados fornecidos pelo respectivo livro de óbitos da igreja paroquial desta freguesia
diferem das notas oficiais, prestando nós antes credito aqueles do que a estas, pois que no referido
livro se encontra um termo para cada falecido, com a designação do nome, filiação, dia e sitio em
que morreu etc., o que exclui a ideia de engano de numero para mais, podendo, quanto muito, haver
engano para menos. Por esse livro se vê que a totalidade dos que sucumbiram á epidemia atingiu o
numero de 289, isto é, mais 75 do que o indicado pelo relatório oficial.
Como dizemos acima, o primeiro caso fatal manifestou-se no dia 17 de Julho, tendo-se dado
o ultimo a 19 de Outubro seguinte. A mortalidade atingiu a sua maior intensidade no dia 10 de
Agosto, em que sucumbiram 15 indivíduos á terrível epidemia. Foi no período decorrido de 5 a 10
do mesmo mês que o mal mais se exacerbou, tendo naqueles dias respectivamente morrido 9, 5, 14,
4 e 15 pessoas.
A moléstia espalhou-se por todos os sítios, sendo nas Encruzilhadas, Courelas, Madalena,
Fontes, Boliqueme, Pomar do Miradouro, Pico dos Barcelos e Lombo dos Aguiares aqueles em que
foi maior a percentagem da mortalidade.

1872,1/890 e 1891.-Nestes anos grassou a epidemia da varíola nesta paróquia, tendo causado
bastantes vitimas, especialmente em indivíduos de tenra idade.

Pneumonias pestosas de 1907. No mês de Julho do ano de 1907 apareceu no sitio da


Madalena desta freguesia uma moléstia de carácter suspeito, que, atacando sucessivamente treze
indivíduos, sucumbiram todos á violência do mal que os acometera. A insólita doença alarmou os
médicos, alarmou profundamente a população e criou uma situação muito melindrosa ás autoridades
civis e sanitárias, que tiveram de intervir no estranho caso. Um grande pânico se ia apoderando dos
espíritos, pois já não era segredo para ninguém que quasi todos os atacados, depois duma curta
doença de dois ou três dias, eram vitimas da inexorável epidemia. Um indivíduo que fora assistir á
missa no domingo, sem pressentir qualquer incomodo de saúde, morria na terça-feira imediata e
nesse mesmo dia era o cadáver dado á sepultura.
Felizmente que as providencias adoptadas para combater o alastramento da terrível doença
foram enérgicas e imediatas. Ao governador civil de então, o capitão-tenente Boaventura Mendes de
Almeida, se deve principalmente a atitude que tomaram a Junta de Saúde, as entidades oficiais, as
autoridades sanitárias e os medi-madeirenses, depois dos acontecimentos trágicos do Lazareto, que
ainda estavam bem frescos na memória de todos. Desse notável documento transcrevemos os
seguintes trechos:

"A Junta Distrital de Higiene, reunida no dia 8 de Agosto, para ser ouvida sobre os meios a
empregar afim de impedir a propagação da moléstia, foi de parecer, visto o Lazareto não se achar em
condições de serem lá internados os doentes, por ter ainda em tratamento alguns variolosos, que
fossem os pneumónicos de Santo António rigorosamente isolados nas suas casas, empregando-se
n'este serviço de policia sanitária os soldados do regimento de infantaria 27, aquartelado n'esta
cidade; e se preparasse, quanto antes, no Lazareto, a casa do hospital, principalmente, por ser a mais
afastada, para n'ella serem isolados os casos que apparecessem fora dos domicílios dos que já
estavam atacados. N'esse mesmo dia fui ao Lazareto, e, de accordo com Miss Wilson, ficou
resolvido que os variolosos que se achavam no hospital d'aquelle edifício fossem n'esse dia
removidos para o 2º andar do armazém das bagagens, que tinha servido de enfermaria dos variolosos
do sexo feminino, e que estava devoluto, e se procedesse, desde logo, á desinfecção e arejamento
d'aquelle hospital. Como a casa desinfectada deve arejar-se durante nove dias, e, entretanto,
poderiam manifestar-se alguns casos de pneumonia fora das famílias que estavam isoladas, de
accordo também com Miss Wilson, resolvi que, n'esta eventualidade, fossem os doentes recolhidos
no 2.E andar da casa grande do Lazareto, sendo cada uma das metades d'aquelle vasto edifício
destinada a cada sexo.
"Estava, pois, tudo preparado para se proceder ao internamento imediato dos doentes se a
moléstia irradiasse além do cordão sanitário formado pelos soldados: mas, felizmente, ficou limitada
aos focos primitivos, não havendo um único caso fora das famílias que se contaminaram nas casas
de António Teixeira de Almada (1.º caso) e de Maria Augusta de Jesus (4º caso), mercê do rigor com
que foi mantido o isolamento.
"As casas foram desinfectadas imediatamente aos óbitos, com formol e lavagens de solução
de sublimado, as roupas que estavam em bom estado foram desinfectadas na estufa do posto, e as
mais usadas e de menor valor completamente destruídas pelo fogo.
"A revisão medica durante nove dias, de todas as pessoas que se averiguou terem visitado os
doentes antes de isolados, e o isolamento das próprias famílias pelos mesmos dias, com revisão
medica também diária, vieram completar a serie de medidas postas em pratica para evitar a
propagação da moléstia, que se pode considerar completamente extinta, não se tendo manifestado
nenhum caso mais depois do dia 10 d'agosto.
"Tratando-se do combate da epidemia, julgo do meu dever fazer aqui uma menção honrosa
ao meu illustrado colega, o subdelegado de saúde do concelho do Funchal, pelos intelligentes
esforços e inexcedível actividade com que dirigiu os serviço de desinfecção, não se limitando
somente a distribuil-os pelos empregados, technicos do Posto, mas aparecendo em toda a parte que
julgava a sua presença necessária para fiscalizar a plena execução d'aquelles serviços. Ao rigor com
que foi mantido o isolamento dos atacados e á cuidadosa inspecção medica das pessoas que os
haviam visitado, e á superior direcção dos serviços de desinfecção se deve, de certo o ter-se tão
rapidamente extinguido a epidemia”.
0 Dr. Nuno Silvestre Teixeira, no seu importante relatório, faz uma descrição, com todos os
dados scientificos, de cada caso clinico, impedindo-nos a sua transcrição neste lugar a demasiada
latitude dessa descrição. Para completo esclarecimento dos leitores deste opúsculo, vamos
transcrever o que acerca deste ponto publicou um jornal do tempo, que, embora em quadro mais
resumido, não difere essencialmente do relatório oficial.
São os seguintes os casos clínicos a que nos referimos:
"1-António Teixeira de Almada, por alcunha o Levadeiro, morador ao sitio da Magdalena, da
freguesia de Santo António, com 38 annos de edade, casado, trabalhador, servente do
estabelecimento dos Figueiras dos Varadores, natural de Santo António da Serra, filho de António
Teixeira de Almada e Jesuina da Conceição, adoeceu em 16 de Julho e morreu em 21. Enterrou-se
em 21. 0 registo da Câmara diz que faleceu em 20 pelas 7 h. da t., mas não é exacto. Parece que é
costume antecipar-se a hora do falecimento por causa de a lei obrigar a fazer-se o enterro só
passadas 24 horas depois do falecimento. Nota-se esta mesma discordância em outros casos que
citarei.-Pneumonia-Teve um delírio tão forte que chegou a sair para a rua. Medico: Dr. Luiz Vicente
da Silva, residente em Santo António.

"2-Maria Augusta Pereira, moradora ao sitio da Magdalena, em Santo António, com loja de
venda, de 64 annos, casada com António Pereira Camacho, filha de Luiz Gomes d'Aguiar e de Maria
Augusta Gomes, adoeceu nos fins de Julho, 29 ou 30, com muita febre e delírio e faleceu em I de
Agosto ás 6 e meia h. da m. Enterrou-se no dia 2 ás 6 h, da t. 0 registo da Câmara chama-lhe Maria
Pereira de Jesus, mas parece que era conhecida pela Maria Pereira. Dá o óbito em 1 de Agosto, ás 8
h. da m.-Pneumonia. Esta doente velou o cadáver do nº.1 durante toda a noite. Medico: Dr. Luiz,
acima citado. 0 cadáver de Maria Pereira foi velado por varias pessoas e consta que deitou algumas
águas que foram limpas no chão com um pano e aparadas em uma bacia durante a noite.

"3-Maria Gomes Jardim, 16 annos, solteira. filha de José Gomes Jardim, por alcunha o
Ferrobilha e de Carolina Gomes Jardim, moradora no sitio da Magdalena. Adoeceu no dia 3 com
febre e delírio e morreu no dia 5 a noite. Enterrou-se no dia 6 de tarde.-Pneumonia. Velou o cadáver
da nº. 2. Medico: Dr. Abel. 0 registo da Câmara diz que faleceu no dia 6 ás 3 h. da tarde., mas não é
exacto.

"4-Maria Luiza Pinto Correia, moradora no sitio da Magdalena, na mesma casa em que
morava a viuva de José Gomes Serrão, Claudina Ferreira, de que adeante se fala. Tinha 35 annos e
era viuva de José Pinto Correia, natural de Santo António, filha de António de França e de Maria
Luiza. Adoeceu no dia 3 e morreu no dia 6 no Hospital da Misericórdia. Parece que se enterrou no
mesmo dia.-Pneumonia.
"0 Dr. Abel viu esta doente em Santo António
"Também velou o cadáver da nº. 2.

"5-Adelaide Bella Ferreira, 20 annos, solteira, filha de António Ferreira Bacalhau p'ra Baixo
e de Julia Ferreira, moradora no sitio da Magdalena. Adoeceu no dia 4 de manhã (domingo); ainda
foi á missa e morreu na terça-feira 6, ás 11 horas da noite. Enterrou-se na quarta feira 7 ás 6 horas da
tarde.-Pneumonia
Médicos: Drs. Abel e Vicente Machado.
"Também velou o cadáver da nº. 2.

"6-Maria Christina, moradora no sitio das Casas Próximas, em Santo António, acima da
egreja, de 48 annos, casada com Ezequiel de Oliveira Rodrigues, filha de Francisco Pereira de Sousa
e de Maria Cândida. Adoeceu na segunda-feira, 5, de manhã e morreu na quarta-feira, 7, de
madrugada. Enterrou-se no mesmo dia de tarde.-Pneumonia.
"Medico: Dr. Luiz Vicente.
"O registo da Câmara diz que faleceu em 7, ás 9 horas da manhã, mas não é verdade.

7-Claudina Ferreira, moradora no sitio da Magdalena, na mesma casa com a Nº. 4, viuva de
José Gomes Serrão, com 45 annos, filha de António Ferreira e de Maria de Jesus, tia da Nº. 5 e irmã
do Bacalhau p'ra Baixo. Tratou de todos os doentes anteriores menos os Nº. 4 e 6. Adoeceu na terça-
feira de manhã (6) e morreu na quinta-feira, (8), ás 7 horas da noite. Enterrou-se na mesma
noite.-Pneumonia.-Medico: um dos Tolentinos.
"Esta mulher morreu abandonada. Tinha duas filhas de 17 a 19 annos e ambas fugiram de
casa apavoradas.
"Foram encontral-a morta atraz da porta.

"8-Leonardo Gomes Jardim, 19 annos, solteiro, irmão do n.º 3, filho de José Gomes Jardim e
de Carolina de Abreu, sitio da Magdalena. Adoeceu no domingo 4, e morreu na quinta-feira (8), ás 8
horas da noite. Enterrou-se na noite de 8.
"O registo da Câmara diz que morreu no dia 8, ás 8 h. da manhã. mas não é exacto.
"Era vizinho muito próximo do n.º 7.-Pneumonia. Medico: ignoro-o, mas ha quem diga que
fora o Abel.

"9-Maria Eulália Pereira Camacho.-Sitio da Magdalena, 19 annos, solteira, filha de António


Pereira Camacho e de Maria Augusta Pereira, a n.º 2. Adoeceu no domingo (4) e morreu em 11
(domingo), ás 10 horas da manhã.
"Diz o registo da Câmara que morreu em 11, ás 7 h. mas não é exacto.
"Pneumonia.-Medicos: foi vista pelo Abel e estava sendo atendida por um dos Tolentinos.

10-Dr. Luiz Vicente da Silva. Medico que tratou as doentes que acima vão indicadas.
Adoeceu em 6 (terça-feira) e morreu em 11, ás 8 h. n.-.Medico: Carlos Leite e creio que muitos
outros foram vel-o, Carvalho, Barreto, Nuno, etc.
"Tinha 52 annos, casado, filho de Luiz Vicente da Silva e de Guilhermina Augusta da Silva.
Sitio das Casas Próximas.-Pneumonia.

11-Ezequiel de Oliveira Rodrigues.-Casado com a n.º 6. Adoeceu no sábado de tarde (l0) e


morreu na noite de 11 para 12. Morador no sitio das Casas Próximas em Santo António, com 58
annos, viuvo, filho de Januário Joaquim de Oliveira Rodrigues. Pneumonia. Medico: ignoro. Foi
visto pelo C. Z. e Carvalho.

12-Maria Eulália de Oliveira Rodrigues, 27 annos, solteira, filha de Ezequiel de Oliveira


Rodrigues e de Maria Christina. n º 11 e 6, adoeceu no sabbado de tarde (10) e morreu na manhã do
dia 12 (segunda) ás 8 e meia horas da manhã.-Casas Próximas.-Pneumonia. Medico: ignoro. Foi
vista pelo C. Z. e Carvalho.

"13-Georgina da Conceição Oliveira Rodrigues, 24 annos, solteira. filha dos n.1s 11 e 6 e


irmã da N.o 12. Adoeceu no sábado de tarde (10) e morreu no dia 13 de manhã
(terça).-Pneumonia.-Casas Próximas,.

Epidemia colérica de 1910-1911.-A doença de cólera, que no mês de Outubro se manifestou


no sitio do Paiol da freguesia de S. Pedro, teve o seu reconhecido aparecimento, nesta paróquia de
Santo António, a 20 de Novembro, num indivíduo de nome António Rodrigues Figueira, morador no
sitio de Santo Amaro, que não sucumbiu ao ataque da moléstia. Suspeitou-se, mas não houve disso
inteira certeza, que poucos dias antes apareceram alguns casos benignos de doença suspeita no sitio
do Vasco Gil.
O primeiro indivíduo vitimado por esta epidemia colérica foi uma criança, por nome Maria,
de idade de dois anos, filha de António Gomes Gina, que faleceu a 30 de Novembro no sitio do Pilar.
Tornou-se este bairro o foco mais intenso da epidemia, sendo dali removidas para o hospital de
isolamento de Gonçalo Aires cerca de 15 pessoas das quais morreram 7. No dia I de Dezembro,
faleceu, no sitio do Boliqueme, José Gomes da Silva, proprietário, o primeiro adulto vitimado pela
epidemia.
Alastrando-se a doença nesta e na freguesia de S. Martinho, impunha-se a necessidade da
criação dum hospital, que se destinasse a estas parochias e também á de S. Roque. Ouçamos o Dr.
Carlos França, director dos serviços sanitários da Madeira durante a epidemia, no seu brilhante
relatório dirigido ao governo central:
"Como a área de expansão da epidemia, neste concelho, fosse muito grande e houvesse certo
perigo, além de muito incomodo para os doentes, em os transportar a grandes distancias, houve
necessidade de crear um hospital, para servir as freguesias ruraes de S. Martinho e Santo António,
reservando o antigo Lazareto para a hospitalização dos doentes da cidade e dos outros concelhos,
antes de nelles haver hospitaes.
" O hospital de Santo António installado na quinta do Leme, na casa da Escola, não podia
pela sua reduzida capacidade receber mais do que os doentes, tendo os contactos de ser removidos
para outro hospital. Tendo-se reconhecido que os seus serviços estavam longe de corresponder ao
dispêndio a que dava logar, em breve ordenei o seu encerramento. Tinha umas boas enfermarias para
doentes e convalescentes e nelle se fizeram as obras para crear uma zona limpa, bem separada da
zona suja. Ali, como em todas os hospitaes de isolamento que se estabeleceu na Madeira, havia duas
fornalhas: uma na zona suja, em que se procedia á fervura das fezes, as quais não eram lançadas na
canalização ou enterradas sem previa fervura, e outra na zona limpa para fervura das águas de bebida
do pessoal e doentes.
"Foi efémero a duração deste hospital, mas a sua acção moral foi boa, visto que a população
das freguesias ruraes, a qual a principio odiava o Lazareto, foi-se familiarizando com a
hospitalização e acabou por aceitar bem o Hospital de Gonçalo Aires.
"Neste hospital que, dirigido pelo Dr. Alfredo Rodrigues, o foi em seguida pelo Dr.
Rodrigues da Silva, foram tratadas 31 pessoas, das quaes faleceram 15. A grande percentagem da
mortalidade neste hospital deve atribuir-se á excessiva relutância, que, no principio, os habitantes
das freguesias ruraes tinham pelas hospitalizações, sendo a custo e forçadamente que ali entravam,
em regra em estado avançado de doença.
"Além disso, o tratamento ali posto em pratica foi em geral muito simples e os clínicos que
ali prestaram serviço, com quanto recorressem ao soro phisiologico empregaram-n'o em injecção
hypodermias e não intravenosas".
Um jornal do Funchal, ao acusar a recepção do interessante relatório, diz o seguinte:
"Na parte referente ao hospital de Santo António, o illustre bacteriologista foi mal informado,
pois a mortalidade ali foi pouco mais ou menos a mesma que a do Lazareto; e senão vejamos os
próprios números dados pelo Sr. Dr. França:
Quinta do Leme entraram 31 pessoas
" " morreram 15 "
Lazareto entram 327 "
" morreram 126 "
Quanto á therapeutica ali seguida foram empregadas as injecções intravenosas de soro da
Hayem que não deram os resultados que seria de esperar, pois que muitos doentes, entraram no
hospital quasi cadáveres".
O hospital da Quinta do Leme começou a funcionar a 16 de Dezembro, sendo o boletim,
referente a este dia e fornecido á imprensa, concebido nos seguintes termos: "Ás dez horas da manhã
entrou Juliana de Jesus, de 65 annos de edade, casada, moradora ao sitio do Arieiro, freguesia de S.
Martinho, a qual apresentou sinptomas manifestos de cholera morbus. 0 pessoal bem. 0 Director
Alfredo C. Rodrigues".
Este hospital foi dirigido pelo Dr. Alfredo da Conceição Rodrigues até o dia 26 de
Dezembro, sendo então substituído pelo Dr. João Miguel Rodrigues da Silva, tendo também
prestado ali serviço clinico o Dr. António Alfredo da Silva Barreto, facultativo do partido medico de
Santo António e S. Martinho, encerrando-se definitivamente a 18 de Janeiro de 1911. Foi visitado,
durante a epidemia, por vários médicos e entre eles pelo Dr. Carlos França, director dos serviços
sanitários da Madeira. 0 padre João Prudêncio da Costa, cura desta paróquia, prestou ali os socorros
espirituais aos doentes.
No hospital da Quinta do Leme deram entrada 31 indivíduos e destes ali morreram 15, sendo
4 desta freguesia, 5 de S. Roque e 6 de S. Martinho.
Foi neste mesmo edifício da Quinta do Leme, que em 1856 esteve estabelecido o hospital de
coléricos a que atrás nos referimos.
Correu o boato infundado de que o povo desta freguesia tentava assaltar o hospital, tendo um
jornal, de 18 de Dezembro, publicado a tal respeito a seguinte local:
"Relativamente á noticia que circulou n'esta cidade acerca da exaltação do povo d'aquela
freguesia não consta nada de fundamento, como hontem tivemos ocasião de saber por pessoa que
nos merece toda a confiança.
"0 pessoal enfermeiro d'aquelle hospital, tendo á frente o zeloso director Sr. Dr. Alfredo
Rodrigues, continua a trabalhar com muita dedicação e coragem, sendo de justiça salientar os seus
valiosos serviços prestados em favor das vitimas da epidemia.
"Dizia-se que parte do pessoal enfermeiro havia abandonado o hospital por suspeitas
infundadas e que o povo mantinha-se na altitude de o assaltar: a versão authentica é que apenas os
enfermeiros serventes, por correr, destituída de verdade, a noticia de que alguns moradores da
freguesia, mais supersticiosos, se mostravam injusta e levemente exaltados, dirigiram-se ao medico
director pedindo-lhe que requisitasse uma força, que pouco depois ficou guardando o hospital, para
conter o povo que porventura promovesse quaesquer manifestações hostis".
0 Dr. José Maria Ferreira, que exercia clinica nesta freguesia, foi nomeado subdelegado de
saúde na zona formada por esta paróquia, afim de superintender nos diversos serviços clínicos
durante a epidemia.
Numa dependência da igreja paroquial ficou instalado o pessoal destinado ao serviço de
desinfecção e do respectivo material, que funcionava sob a direcção do referido clinico.
0 Dr. Luís Pedro Gomes, medico nesta localidade, e o Dr. António Alfredo da Silva Barreto,
facultativo municipal e residente em S. Martinho, foram, no dia 15 de Dezembro, presos nos seus
domicílios e conduzidos em carro á cadeia do Funchal, acusados de sonegarem á respectiva
autoridade sanitária alguns casos de cólera aparecidos na sua clinica. Verificando-se que não tinha
fundamento a acusação, foram no dia seguinte postos em liberdade e restituídos ao exercício da sua
clinica, de que tinham sido suspensos por alguns dias.
Além de 8 ou 9 indivíduos desta freguesia, que faleceram no hospital do Lazareto de Gonçalo
Aires e dos 4 no hospital da Quinta do Leme, morreram nos seus domicílios mais 13 pessoas
vitimadas pela epidemia, o que perfaz a totalidade de 25 ou 26, sendo a percentagem de 3 por mil
habitantes.
VISITAS PASTORAIS

Ha muitos anos que desapareceram os livros mais antigos dos Provimentos, sendo impossível
darmos uma noticia completa acerca das primeiras visitas que os prelados diocesanos fizeram a esta
paróquia. Temos de socorrer-nos de notas avulsas lançadas em outros livros, que geralmente
constam apenas da simples indicação do nome do visitante e data da visita, com exclusão de
quaisquer outros esclarecimentos.

1575-Foi D. Jerónimo Barreto o primeiro prelado diocesano que visitou pastoralmente esta
freguesia. Realizou a visita a 24 de Outubro, tendo por essa ocasião administrado o sacramento da
Confirmação a 52 pessoas.

1578-O mesmo prelado fez segunda visita pastoral a esta igreja no dia 20 de Julho de
1578,tendo então crismado 59 indivíduos.

159...-No dia 29 de Abril de 159..., o bispo D. Luís Figueiredo de Lemos visitou esta igreja e
nela crismou 31 pessoas.

1606-Nova visita do mesmo prelado e nela determinou que se promovesse a fundação duma
capela no sitio do Trapiche.

1608-Ainda o mesmo prelado, pouco antes da sua morte, fez neste ano a sua visita pastoral a
esta igreja, e voltou a recomendar insistentemente a construção duma ermida no referido sitio do
Trapiche.

1611-0 prelado diocesano D. Lourenço de Távora fez neste ano sua visita pastoral e
ministrou a Confirmação a 27 pessoas.

1613-Nova visita do mesmo prelado.

1621-Neste ano foi esta igreja visitada pastoralmente pelo bispo da diocese D. Jerónimo
Fernando apresentando-se 16 indivíduos para receber o sacramento do crisma.

1632-A 11 de Dezembro de 1632, o mesmo prelado visitou novamente esta igreja, crismando
por essa ocasião 71 pessoas.

1635-Ainda o mesmo, de novo fez visita pastoral a esta freguesia, a 22 de Abril deste ano.

1637-Pela quarta vez visitou D. Jerónimo Fernando esta igreja, a 2 de Março de 1637, e nela
crismou 52 pessoas.

1643-D. Jerónimo Fernando veio pela quinta vez em visita pastoral a esta freguesia no ano de
1643.
1673-0 bispo D. Gabriel d'Almeida esteve nesta freguesia, visitou-a pastoralmente e nela
crismou em 1673.

1677-A 5 de Setembro deste ano, recebeu esta igreja a visita pastoral de D. António da Silva
Teles.

1691-0 prelado D. José de Santa Maria veio a esta igreja em visita pastoral a 14 de
Novembro de 1691.

1695-0 mesmo prelado diocesano visitou esta igreja em 1695, crismando nela 24 pessoas.

1702-Foi esta igreja pastoralmente visitada a 29 de Janeiro de 1702 pelo bispo D. José
Castelo Branco, que nela administrou o sacramento da Confirmação a 137 indivíduos.

1713-D. José de Sousa Castelo Branco veio segunda vez, em visita pastoral a esta freguesia
em Outubro de 1713, tendo então crismado o avultado numero de 527 pessoas.

1726-A 19 de Maio deste ano visitou esta freguesia o bispo diocesano D. Manuel Coutinho,
que crismou 6 indivíduos.

1732-A 13 de Setembro deste ano, o prelado D. Manuel Coutinho fez sua visita pastoral a
esta paróquia, administrando o sacramento da Confirmação a 131 indivíduos e deixando os
provimentos do estilo. Neles se ocupa especialmente da falta de instrução religiosa, impondo aos
párocos e mais sacerdotes, desta freguesia e ainda aos capelães das ermidas a estreitíssima obrigação
do ensino da doutrina cristã nos domingos e dias de preceito, cominando penas graves aqueles que
não cumprissem este dever do seu ministério.
Tomou certas medidas acerca da arrecadação dos rendimentos das Confrarias e da rigorosa
observância dos seus compromissos e satisfação dos legados pios, aplicando severas penas canónicas
aos transgressores do que a tal respeito se acha determinado. Adoptou ainda outras providencias para
o bom regímen espiritual da paróquia.

1738-O mesmo prelado visitou novamente esta paróquia, no ano de 1738, tendo aqui
crismado 68 pessoas.

1743-Visitou pastoralmente esta igreja a 2 de fevereiro de 1743 o dispo diocesano D. Frei


João do Nascimento, que, nos provimentos que deixou exarados, determinou se fizessem as
procissões dos Domingos Terceiros e as dos defuntos, e em especial recomendou a todos os clérigos
o ensino da doutrina christã. Auctorisou o pároco a mandar fechar as capelas, cujos edifícios não
estivessem em bom estado de conservação ou se encontrassem desprovidas das alfaias precisas para
a decente celebração dos ofícios divinos.

1759-O bispo D. Gaspar Afonso da Costa Brandão, a 4 de Novembro de 1759, visitou


pastoralmente esta igreja e nela administrou o sacramento da confirmação.

1775-O mesmo prelado fez visita pastoral a esta freguesia a 5 de Dezembro de 1775.

1779-A 23 de Novembro deste ano visitou pela terceira vez esta igreja o bispo diocesano D.
Gaspar Afonso da Costa Brandão.

1791-A 6 de Novembro de 1791 visitou esta igreja o bispo diocesano D. José da Costa
Torres, deixando provimento, em que primeiramente exorta os paroquianos desta freguesia a que
acompanhem os defuntos á sepultura, e recomenda aos irmãos da Confraria do Santíssimo
Sacramento que tomem parte na procissão dos Domingos Terceiros e noutros actos religiosos.
Ordena aos sacerdotes, que nos domingos celebram nas capelas, façam sob pena de suspensão, suas
homilias aos fieis, porquanto estes, não assistindo á missa paroquial ficariam privados da necessária
instrução religiosa. Faz algumas advertências ao pároco do Curral das Freiras, freguesia ha pouco
criada, e manda que os administradores da capela ali existente façam nela os indispensáveis repairos.

1801-O prelado D. Luís Rodrigues de Villares fez sua visita pastoral a esta igreja a 22 de
Abril de 1801 e, entre outras cousas, deixou exarado o seguinte, no livro respectivo: Que o pároco
faça coibir, empregando para isso os meios necessários, "a escandalosa indecência" com que os
fregueses assistem aos ofícios divinos e no caso de reincidência os faça ir, bem como os pecadores
públicos, a presença do prelado para que este aplique o devido remédio, segundo as circunstancias;
que os irmãos da Confraria do SS. S. assistam aos actos religiosos a que são obrigados e que os fieis
tomem parte nos funerais de seus irmãos, como foi determinado na visitação próxima passada, que
se proíbam as armações e ornatos que tantos prejuízos causam ao templo. Crismou 612 pessoas.

1814-D. Frei Joaquim de Menezes e Ataíde visitou pastoralmente esta paróquia a 12 de


Agosto de 1814, fazendo provimento, em que estabelece algumas providencias acerca das festas e
ornamentações da igreja, registo paroquial, cobrança da cera e azeite na alfândega, sepultura nas
igrejas, etc. Deixou também provimento especial para a igreja do Curral das Freiras, curato filial de
Santo António. Crismaram-se 1.030 pessoas.

1819-0 mesmo prelado visitou esta freguesia a 20 de Setembro de 1819. No provimento


apenas se refere á falta de paramentos, e aconselha o estabelecimento dum cemitério no adro.

1835-O vigário capitular e governador do bispado António Alfredo de Santa Catarina Braga,
visitou pastoralmente esta igreja a 20 de Setembro de 1835, observando tudo o que dispõe
Cerimonial dos Bispos para a visita dos prelados e tendo nessa ocasião proferido um discurso
adequado ao acto. A esta cerimonia assistiram o governador da Madeira Luís da Silva Mousinho de
Albuquerque e D. Domingos de Saldanha, governador geral de Angola, que então se achava de
passagem nesta ilha.

1845-A 22 de Junho de 1845 fez visita pastoral a esta igreja o bispo D. José Xavier Cerveira
e Sousa, tendo crismado 2.016 indivíduos, numero muito crescido, mas que tem sua fácil explicação
no facto de não ter sido administrado o sacramento da Confirmação nesta paróquia havia 31 anos.

1854-0 prelado diocesano D. Manuel Martins Manso, que neste ano visitou esta igreja a 23
de Setembro, crismou 187 pessoas.

186l-D. Patrício Xavier de Moura visitou esta igreja e nela crismou cerca de 700 indivíduos a
9 de Junho de 1861.
1884-0 prelado desta diocese D. Manuel Agostinho Barreto fez visita pastoral a esta igreja no
dia 10 de Fevereiro de 1884, enviando depois seu provimento, em que são dirigidos aos párocos e
fregueses vários conselhos e advertências, e adoptadas algumas medidas para o bom regímen da
paróquia.

1909-A 12 de Setembro de 1908 o mesmo prelado diocesano visitou esta igreja paroquial,
administrou nela o sacramento da confirmação a 752 pessoas.

1916-0 actual prelado o Ex.mo e Rev.mo Sr. D. António Manuel Pereira Ribeiro visitou
pastoralmente esta freguesia, pela primeira vez, a 30 de Julho de 1916, fazendo novas visitas
pastorais a esta paróquia nos anos de 19l9, 1922 e 1927.

Os visitadores episcopais, enviados em frequentes visitas a todas as freguesias deste bispado


pelos prelados diocesanos, inquiriam do estado moral e religioso das paróquias e fiscalizavam
minuciosamente a maneira como eram dirigidos os serviços em que os párocos superintendiam,
adoptando em nome dos ordinários, as providencias que exigia a boa regularização dos mesmos
serviços.
Nos séculos XVII, XVIII e XIX, mais de 30 visitadores episcopais vieram a esta paróquia na
sua especial missão de fiscalização e pesquisa, deixando alguns deles exarados os seus provimentos,
em que a maior parte das vezes tomaram acertadas e proveitosas medidas para o bom regímen
espiritual e religioso da paróquia. Levar-nos-ia longe se quiséssemos fazer delas menção especial e
por isso as omitimos para não dar a este capitulo uma demasiada latitude.
RIBEIRAS, LEVADAS E FONTENÁRIOS

Ribeiras-Esta paróquia é banhada numa grande extensão pelo abundante caudal conhecido
pelo nome de Ribeira dos Socorridos, que lhe serve de limite e a separa das freguesias de Câmara de
Lobos e do Estreito de Câmara de Lobos. Os sítios da Fajã e da Ribeira dos Socorridos da freguesia
de Santo António ficam na margem esquerda daquela ribeira. É neste importante curso de agua que
encabeçam a levada dos Piornais e a do Curral e Castelejo.
As ribeiras do Vasco Gil e da Lapa, que nascem dentro do limite desta paróquia, são
afluentes da Ribeira dos Socorridos e nela se vão lançar no referido sitio da Fajã.
A ribeira de S. João, que atravessa a cidade do Funchal, tem sua origem nesta freguesia,
sendo aqui conhecida pelo nome de ribeira de Santo António e também de Ribeira Grande. Na sua
margem esquerda existe um sitio com esta ultima denominação e nela ficam igualmente os sitio do
Logar do Meio, Salão, Alamos e Penteada. Na sua margem direita encontram-se os sítios do Lombo
dos Aguiares, Quinta das Freiras, Quinta do Leme, Madalena e Levada do Cavalo, fazendo uns e
outros parte desta paróquia.

Levadas-A levada dos Piornais, que, depois da de Santa Luzia, é a mais importante do
concelho do Funchal, tem sua origem como acima fica dito, na margem esquerda da ribeira dos
Socorridos e dentro da área desta freguesia, nas proximidades do sitio da Fajã. Destina-se á
irrigação das paróquias de S. Pedro e S. Martinho, sendo o sitio da Ribeira dos Socorridos o único da
freguesia de Santo António a que a mesma leva aproveita.
A levada nova do Curral e Castelejo, que, como a dos Piornais, data do século XVI, é um
importante aqueduto, que fertiliza os sitio de Santo Amaro, Tanque, Alecrins, Santa Quiteria,
Pinheiro das Voltas e Viana desta freguesia e ainda extensos tratos de terreno na paróquia de S.
Martinho. Também nasce na margem esquerda da Ribeira dos Socorridos.
Um mais importante e mais volumoso caudal é o da levada da Madalena, assim chamada por
fazer a irrigação do central e conhecido sitio deste nome. A sua primitiva tiragem data do ultimo
quartel do século XVI constituindo então um aqueduto de minguada importância, tanto pela sua
extensão como pelo volume de agua que conduzia. Foi pelos anos de 1870 que o proprietário e
comerciante João de Sales Caldeira, ao tempo administrador da levada, lhe deu a importância que
actualmente tem com a aquisição e exploração de novas fontes subsidiarias e grandes
melhoramentos realizados no aqueduto, fazendo-se recuar o encabeçamento dela ao Pico Escalvado,
que é hoje o logar da sua origem. O manancial mais abundante que a alimenta é constituído pelas
fontes chamadas Aguagens, situadas no sopé do Lombo das Achadas. Fertiliza extensos tratos de
terreno desta freguesia e também das paroquias de S. Roque e S. Pedro.
É também uma levada de relativa importância a que é conhecida pelo nome de Pico do
Cardo, que irriga este e outros sitio desta freguesia.
Embora com caudais menos abundantes e aproveitando a áreas menos extensas, também
prestam bons serviços á agricultura as levadas do Lombo e Paredão, da Negra, da Serra, e ainda
outras que ficam dentro dos limites desta paróquia.
No livro do conde de Canavial, intitulado "Apontamentos para o estudo da crise do distrito
do Funchal e publicado em 1879, encontramos alguns dados acerca da medida do caudal de cada
levada, referentes ao seu fluxo continuo, em litros e por segundo, e que são os seguintes:

Levada dos Piornais 165,18


" do Curral e Castelejo 75,7
" da Madalena 14,7
" do Pico do Cardo 13
" da Negra 5,3
" da Serra 4,5

Fontenarios-No sitio do Jamboto, existe uma nascente chamada de Agua Férrea, que se
afirma ter qualidades terapêuticas para determinadas doenças e que, por esse motivo, adquiriu uma
certa nomeada, chegando a Câmara Municipal a fazer construir ali um pequeno fontenário e a
mandar proceder á analise química e bacteriológica dessa agua pela distinto analista Charles
Lapierre. Cremos que actualmente pouco ou nenhum uso se faz dela. No entretanto vamos deixar
arquivado nestas paginas o resultada dessa analise, que, num pequeno opúsculo, foi publicado pela
Câmara deste concelho no ano de 1900.
"Tendo sido encarregado pelo Exmo Sr. Presidente da Câmara Municipal do Funchal de
proceder ao exame chimico e bacteriológico d'uma agua férrea da Ilha da Madeira, apresentarei
n'este relatório o resultado das minhas investigações.
Foi dividido em 3 partes o presente relatório:

11-Analise chimica.
21-Analise bacteriológica.
31-Conclusões.

I - ANALISE CHIMICA

A-Ensaios qualitativos-Demonstraram-me estes ensaios que a agua continha:

bastantes chloretos
poucos sulfatos
poucos carbonados
pouca cal
pouca magnésia
bastante ferro
bastante sódio
pouco potássio
vestígios de lithio
vestígios de nitratos.

B-Analyse quantitativa
(por litro)

11-Resultados directos da analyse:

Acido carbónico total (CO2) 0,0690 gr.


Chloro 0,0389 "
Acido sulfúrico (SO3) 0,0059 "
Sílica 0,0150 "
Nitrato de potássio 0,0030 "
Potássio 0,0060 "
Sódio 0,0238 "
Ferro 0,0126 "
Magnesia 0,0123 "
Cal 0,0105 "
Amoníaco 0,00001"
Materias orgânicas nullas

21-Agrupamento dos elementos (por litro)

Composição hypothetica da agua:


Cloreto de sódio 0,0605 gr.
Cloreto de potássio 0,0046 "
Nitrato de potássio 0,0030 "
Sulfato de potássio 0,0080 "
Sulfato de magnésio 0,0033 "
Bi-carbonato de magnésio 0,0358 "
Bi-carbonato de ferro 0,0360 "
Bi-carbonato de cálcio 0,0269 "
Sílica 0,0150 "
0,1931 gr.

Acido carbónico livre 0,0082 gr.


Amoníaco 0,0001 "
Materias orgânicas nullas
Lithio Vestígios nítidos

Soma dos elementos solvidos: 0,20131 gr.

II-ANALYSE BACTERIOLOCICA

Logo que chegou a agua, a Coimbra, tratei de fazer as competentes sementeiras nos diversos
meios nutritivos com o fim de determinar:

11-A quantidade de bactérias, susceptíveis de se desenvolverem a 201 e existindo num


centímetro cubico d'agua.
21-A existência de bacillos pathogeneos, taes como o bacillo typhico, o coli-bacillo, os
fluorescentes etc.

11-Quantidade de germens

A agua convenientemente diluída com agua esterilizada foi distribuída por placas de gelatina
nutritiva, em crystalisadores de Petri, e collocada á temperatura de 201 n'uma estufa.

Passados 10 dias contou-se o numero de germes que se desenvolveram e obtive os seguintes


resultados:
Numero de germens microbianos existindo num centímetro cubico d'agua: 110.
Comparando este algarismo com os da classificação de Miquel, vê-se que a agua férrea
examinada deve ser considerada como sendo muito pura.

21-Pesquiza dos bacilos pathogeneos

As colónias microbianas que se desenvolveram nas precedentes placas eram constituídas por
saprophytas vulgares, não existindo nenhuma espécie fluorescente.
Para reconhecer se existia o bacillo tiphico ou o coli-bacillo recorri ao excellente methodo de
Péré, que já descrevi em precedente relatórios entregues á Ex.ma Câmara do Funchal:

25 cc de caldo de carne
250 cc 12 cc de peptona a 10%
5 cc de phenol a 5%
208 cc d'agua para analysar

Distribuindo o liquido por 3 frascos e collocando-os numa estufa a 37%, não observei
turvação alguma passados 5 dias. Pode-se d'ahi concluir que a agua não contém as espécies nocivas
indicadas.
A conclusão que se deve tirar do exame micróbiologico da agua remetida é que,
bacteriologicamente fallando, é muito pura.
Não contém germes pathogeneos alguns.

CONCLUSÕES GERAES

Sob o ponto de vista chimico, a agua examinada pertence ao grupo das aguas hyposalinas,
chloretadas e férreas. A somma dos elementos solvidos é de 201 milligrammas.
A sua mineralização mais importante é o cloreto de sódio seguindo-se-lhe o bicarbonato de
ferro que se encontra nesta agua em quantidade relativamente grande (36 milligramas
correspondentes, como consta do 11 quadro, a 12,6 milligr. de ferro).
Os demais componentes são bircabonatos de magnesia e de cal, com pequenas quantidades
de sulfatos e nitratos.
A ausência de amoníaco e de matérias orgânicas indica que a agua parece ser captada em
boas condições.
Sob o ponto de vista bacteriológico tem todos os caracteres d'uma agua muito pura.
Esta agua, bastante rica em saes de ferro facilmente assimiláveis, tem applicação
naturalmente indicada nos casos em que se recommenda a medicação férrea fraca, competindo aos
médicos estabelecer as condições do seu uso como agente therapeutico".
A Junta Geral deste distrito, reconhecendo a grande secasses de agua potável que se notava
nesta freguesia, tomou a deliberação de fazer construir alguns fontenarios na estrada central que a
atravessa, aproveitando as excelentes nascentes conhecidas pelo nome da Fonte do Senhor,
pertencentes á Câmara Municipal deste concelho e que as cedeu aquela corporação administrativa
para o fim indicado. Principiou em 1908 a construção desses fontenários, tendo o das imediações da
igreja paroquial começado a fornecer agua ao publico no dia 18 de Maio de 1909.
A Câmara Municipal do Funchal tem mandado construir vários fontenários nesta paróquia,
tendo o dos Alamos sido inaugurado no dia 16 de Dezembro de 1913, o da Azinhaga no dia 28 do
mesmo mês e ano, o do Jamboto a 29 de Novembro de 1914 e o da Quinta do Leme em Abril de
1915.
Aos habitantes dos sitio do Laranjal e Lombo dos Aguiares, prestou á Câmara Municipal um
assinalado serviço, mandando construir sete fontenários, que no ano de 1926, começaram a fornecer
ao publico excelente agua potável.
BEATO INÁCIO DE AZEVEDO

No dia 13 de Junho de 1570 ancorou o porto do Funchal, vinda de Lisboa e com destino ao
Brasil, uma armada do comando de Luís de Vasconcelos, que, além das tripulações e vários
passageiros, conduzia quarenta religiosos da Companhia de Jesus. Traziam estes como superior o
padre Inácio de Azevedo e destinavam-se ás missões brasileiras dirigidas pelos Jesuítas. A armada
saiu da Madeira no dia 30 de Junho e a 15 de Julho seguinte, na altura das Canárias e á vista da Ilha
da Palma, foi assaltada por corsários huguenotes, que saquearam os navios portugueses e trucidaram
os quarenta religiosos, lançando os seus corpos ao mar. Foram estes inscritos na Martirológio da
igreja católica, sendo-lhes concedida a honra dos altares.
Os jesuítas tinham-se estabelecido ha poucos meses na Madeira, chegando aqui a 9 de Março
daquele ano, e albergaram-se provisoriamente no hospício contíguo á igreja de S. Bartolomeu e que
se destinava a receber os clérigos pobres. Não podendo os jesuítas, pelo acanhado da sua moradia,
receber os seus irmãos em religião, ficaram estes a bordo dos navios, passando apenas em S.
Bartolomeu quatro ou cinco em cada dia, que alternadamente se revezavam.
Ignacio de Azevedo e alguns dos seus companheiros exerceram aqui as funções do seu
ministério, principalmente na igreja de S. Tiago, e estiveram também nesta freguesia de Santo
António, permanecendo algum tempo no Pico do Cardo, como se vê da inscrição, que em seguida
reproduzimos e que é a copia exacta da que se encontrava na capela de Nossa Senhora do Populo, a
que já noutro logar fizemos referencia.

EM. MEMORIA. DOS. GLORIOSOS. MARTIR-


ES. DA. COMP.A DE. JESU. O. P . IGNACIO. DE. A-
ZEVEDO. E SEUS. 39 C0MPANHEIROS. QUE.
NAVEGANDO, P.A O BRASIL. NO. ANNO. DE. 1570. A-
OS. 15. DE. JULHO. A. VISTA, DA. ILHA. DA. PALMA.
MERECERAO. A. DO. MARTIRIO. PELLA. FÉ. DE.
CHRISIO. LANÇADOS AO. MAR. PELLOS. HE-
REJES. E. TENDO, ESTADO. NESTA. QUINTA. DE.
PICO. DE, CARDO. VINHAO, A. ESTE. LUGAR.
COM. A. SUA. CRUS. E. NELLE. FAZIÃO. AS. SUAS
DEVOÇÕES. SE. ERIGIO. ESTA. P.A . MAIOR. GLO-
RIA, DE. DEOS, AN. DE. 1745

Esta lapide, que deveria ter sido religiosamente conservada no logar em que os jesuítas a
tinham colocado, foi transferida para o Seminário Diocesano, quando o prelado D. Manuel
Agostinho Barreto vendeu a quinta e capela do Pico do Cardo, e alguns anos depois a levaram para o
colégio de Campolide, em Lisboa, onde talvez ainda se encontre.
Será hoje impossível saber os motivos que levaram aqueles religiosos ao sitio do Pico do
Cardo e a permanecerem ali algum tempo, mas lendo a sua biografia, escrita pelo padre António
Franco, poderá conjecturar-se, por outros casos semelhantes, que o desejo de se entregarem mais
livremente aos seus exercícios piedosos, como preparação para a grande missão a que iam
inteiramente dedicar-se no Brasil, os arrastaria para a solidão daquele logar.
O facto teria fácil explicação, se porventura a propriedade que ali possuíam os jesuítas já lhes
pertencesse ao tempo, mas conjecturamos que a posse dela pela companhia só data de meado do
século XVII, e nem é crível que pouco mais de três meses depois de chegarem á Madeira já tivessem
adquirido aquela importante propriedade, que em 1770 foi vendida em hasta publica por sete contos
de reis.
Presumimos até que o facto de ali terem estado o Beato Inácio de Azevedo e os seus 39
companheiros mártires, assinalando aquele logar com a sua embora curta permanência nele, levasse
os jesuítas á compra da propriedade rústica, construindo depois a capela e casa de residência.
OS JESUÍTAS EM SANTO ANTÓNIO

Por alvará régio de 7 de Janeiro de 1570, estabeleceu D. Sebastião o colégio dos Jesuítas
nesta ilha, que a ela chegaram em Março daquele ano e se albergaram num hospício destinado a
clérigos pobres adjunto á capela de S. Bartolomeu e ali permaneceram até á construção do colégio de
S. João Evangelista. Além desta casa e magnifico templo, tinham os padres da Companhia de Jesus
as residências do Caniço, Pico dos Frias e a do Pico do Cardo nesta freguesia de Santo António,
vulgarmente conhecida pelo nome da Quinta dos Padres.
Não sabemos quando fizeram os jesuítas aquisição desta propriedade, conjecturando-se que a
compra dela fosse em boa parte determinada pela circunstancia do Beato Inácio de Azevedo ter
assinalado este logar com a sua breve passagem por ali, em 1570, como dizemos no capitulo que
consagramos a este santo mártir. Não se deve supor que já naquela época, pouco mais de dois meses
depois dos jesuítas se terem estabelecido na Madeira, fossem eles os proprietários da Quinta do Pico
do Cardo, suposição esta que adquire quasi foros de certeza com a leitura do alvará régio de 1589,
em que é regulada a maneira do pagamento da dotação do colégio de S. João Evangelista.
Toda a duvida, porém, desaparece com a leitura da verba do testamento de Gaspar de
Betencourt e Sá, do ano de 1635, em que se faz referencia á quinta do Pico do Cardo, que ao mesmo
Betencourt e Sá pertenceu e em que ele lega a terça dos seus bens a suas duas filhas D. Isabel de
Betencourt e D. Ana de Aguiar com o encargo perpetuo da celebração de cinco missas anuais,
imposto na referida propriedade. Ora esta quinta era e é ainda a Quinta do Pico do Cardo, que depois
se chamou dos Padres, quando começou a ser pertença da Companhia de Jesus, e nas disposições
testamenteiras com que a 3 de Março de 1714 faleceu Maria dos Reis se diz que ela tinha
benfeitorias na fazenda dos reverendos padres jesuítas".
Deve, pois, ter sido no período decorrido de 1635 a 1714. que a quinta passou a ser
propriedade dos padres da Companhia. Não pode restar duvida que a casa de residência e a capela
que lhe fica contígua foram por eles construídas, não nos parecendo que estas edificações sejam
anteriores ao ultimo quartel do século XVII.
Esta residência, capela e terrenos adjacentes foram, como todos os bens pertencentes aos
jesuítas, confiscados em 1759, por ocasião da sua expulsão de Portugal, tendo eles saído desta ilha a
16 de Julho de 1760. Neste ano e nos anos seguintes se fez a arrematação anual do rendimento de
todas as propriedades que a Companhia de Jesus possuía na Madeira e depois se procedeu
sucessivamente á venda de todas elas. A quinta do Pico do Cardo com os seus anexos foi comprada
em hasta publica, em Abril de 1770, por Francisco de Agrela Spinola pela importância de sete
contos de reis. Em 1796 já pertencia ela ao conhecido proprietário e negociante Pedro Jorge
Monteiro.
Sobre a porta da entrada da quinta lê-se a data de 1779, que parece apenas referir-se ao ano
da construção da mesma portada ou a quaisquer importantes repairos feitos na casa e capela, pois
que a construção duma e outra devem ser anteriores aquela data.
Há aproximadamente 40 anos que o falecido bispo desta diocese D. Manuel Agostinho
Barreto comprou esta propriedade, compreendendo então apenas a casa de habitação, a capela e um
pequeno terreno adjacente, vendendo-a depois a António de Faria, hoje falecido, pertencendo
actualmente a um filho deste. 0 saudoso prelado destinou esta casa para recreio dos alunos do
Seminário, que ali passavam geralmente as quintas-feiras e outros dias feriados.
Segundo afirma o Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo, numa das suas notas ás Saudades da
Terra, o rendimento da quinta do Pico do Cardo, por ocasião da expulsão dos jesuítas, ascendia a
260$000 reis anuais.
Os jesuítas também possuíam um prédio rústico no sitio da Madalena desta freguesia.
CONFRARIAS E ASSOCIAÇÕES PIEDOSAS

Na Igreja Paroquial desta freguesia têm actualmente sua sede as confrarias do Santíssimo
Sacramento, Santo António, Nossa Senhora de Guadalupe e Senhor dos Passos. Em épocas mais
remotas, além das que ficam mencionadas, existiram outras irmandades, que há muito se
desmembraram. De todas daremos resumida noticia, aproveitando os escassos elementos que
pudemos colher no respectivo arquivo paroquial. Também nos ocuparemos das associações
piedosas, que aqui existem e que servem para mais intensamente conservar e fomentar o espirito
religioso nesta paróquia.

Confraria do Santíssimo Sacramento.-É uma das mais antigas irmandades, cuja existência
podemos já assinalar nos fins do século XVI. No ano de 1615 reformou o seu Compromisso, tendo
ainda no decorrer dos tempos remodelado algumas vezes a sua lei orgânica, sendo a ultima no ano de
1912, em que, por alvará de 28 de Junho, aprovou o governador civil os seus estatutos, ordenados
em conformidade das leis então vigentes.
Era e é ainda a mais importante confraria desta freguesia, tanto pelo numero e categoria dos
seus membros como pelos recursos de que dispõe, e também pelos bons serviços que presta na
realização de muitos actos do culto. Possuía vários prédios rústicos nesta freguesia e um em S.
Martinho, dos quais alguns foram vendidos em obediência ás leis da desamortização, e outros que
passaram a estranhos possuidores e de que já hoje não há conhecimento. Os seus bens estavam
onerados com diversos encargos pios, parecendo-nos que alguns deles deixaram há muito de
cumprir-se, sendo certo que ainda actualmente se celebram trinta missas anuais em satisfação de
muitos desses encargos. Pertencem-lhe algumas alfaias de valor, como píxides, um ostensório, varas
de palio, cruzes, ceroferários e castiçais de prata, que são de uso quasi quotidiano no serviço cultual
desta Igreja.
Esta Confraria, além da sua festa patronal, faz celebrar todos os anos as festas do Natal, da
Semana Santa e da Ascensão do Senhor.

Confrarias de Santo Antonio.-É também muito antiga esta irmandade, e talvez mesmo se
possa remontar a sua existência a uma época anterior á do Santíssimo Sacramento, mas, apesar disso,
poucas referencias temos encontrado que possam interessar á sua historia. Os seus estatutos foram
reformados em 1871 e aprovados pelo governador civil do distrito, por alvará de 5 de Abril do
mesmo ano.
Possuía algumas terras, contando-se entre elas um prédio que lhe fora legado por António
Jorge, no ano de 1707, com o encargo perpetuo duma missa anual. Na freguesia do Arco da Calheta
tinha esta confraria uma propriedade rústica, convertida depois na pensão foreira anual de cinco mil
reis. Tudo isso se perdeu infelizmente, não havendo, desde muitas dezenas de anos, noticia do
cumprimento destes encargos pios.
A esta irmandade, que precisa de ser remodelada em novas bases, corre a estrita obrigação de
fazer celebrar anualmente a festa do seu patrono, que é também o orago da igreja Paroquial e uma
das mais lídimas glorias da nossa pátria.

Confraria de Nossa Senhora de Guadalupe.-A referencia mais remota que temos


encontrado a esta confraria data do ano de 1652, mas julgamos que ela ainda é de época muito
anterior a esta. Para evitar desnecessárias repetições, remetemos o leitor para o capitulo Nossa
Senhora de Guadalupe, onde nos ocupamos deste assunto com algum desenvolvimento. A actual
confraria faz celebrar a festa anual da sua padroeira, precedida do respectivo novenario, segundo a
letra expressa dos seus estatutos.

Confraria dos Passos do Salvador.-Esta irmandade destina-se especialmente a promover o


saimento da procissão dos Passos do Salvador. Reuniu-se pela primeira vez em Fevereiro de 1924,
aprovando-se então o seu Compromisso. É a confraria desta freguesia de mais recente fundação.

Confraria das Almas.-Já existia no ano de 1694, mas conjecturamos que é de época
bastante anterior a esta. Tinha por fim especial sufragar as almas dos defuntos e mais
particularmente ainda as dos seus confrades. Além da festa realizada no dia da Comemoração dos
Fieis Defuntos, fazia celebrar em todas as segundas feiras do ano uma missa seguida de procissão e
outros sufrágios pelas almas do Purgatório. No ultimo quartel do século XVIII deixou esta Confraria
de celebrar a sua festa patronal e de prestar aos seus membros os sufrágios prescritos no
Compromisso, tendo-se organizado de novo e com estatutos próprios no ano de 1805, mas a partir de
1824 não alcançamos mais noticia dela. Ha muito que deixou de existir. Veja-se o capitulo Capela
de Santa Cruz e Almas.

Confraria da Santíssima Trindade.-Foi das mais antigas e florescentes irmandades,


constituindo ela um factor muito apreciável no movimento religioso desta paróquia. Já no ano de
1630 estava organizada com seu compromisso especial e avultado numero de confrades, tendo altar
privativo na antiga igreja e passando a te-lo na igreja actual. Possuía alguns prédios rústicos, que
durante muitos anos foram administrados pela Fabrica Paroquial, quando a Confraria deixou de ter
vida própria e autónoma. Em 1838 e por alvará do governador civil, de 10 de Julho deste ano,
reorganizou-se a antiga irmandade, de que não há mais noticia depois do ano de 1852. No sitio do
Curral Velho existe um pequeno prédio, que era pertença desta extinta irmandade e que é hoje
administrado pela Fabrica desta Igreja Paroquial.

Confraria do Senhor Bom Jesus.-Tanto a antiga como a actual Igreja Paroquial tinham um
altar especialmente consagrado á imagem do Senhor Bom Jesus, que nesta freguesia foi objecto de
grande veneração e dum generalizado e fervoroso culto. 0 numero avultado de missas e de sufrágios
que muitas pessoas legaram, em disposições testamenteiras, para ser celebradas neste altar mostram
a intensa e geral devoção que nesta freguesia havia para com aquela veneranda imagem. Eram
também muito numerosos os irmãos alistados na respectiva confraria, que já estava organizada no
ano de 1752 e cuja existência não foi além do primeiro quartel do século XIX. Tinha alguns bens de
raiz, de que hoje não há memória, sabendo-se apenas que lhe pertencia, passando a ser administrado
pela respectiva Fabrica Paroquial, um foro de cinco mil reis, imposto num prédio, situado no
Boliqueme, de cerca de vinte alqueires de terra e que se acha registado na Conservatória do Registo
Predial desta comarca.

Confraria de Nossa Senhora da Conceição.-É de 1727 a noticia mais antiga que


encontramos referente a esta irmandade e nada mais sabemos acerca dela posteriormente ao ano de
1855. Teve altar privativo na antiga igreja e possuía algumas pequenas propriedades.

Confraria de Santa Maria Madalena.Por meados do século XVIII existia uma Confraria
deste nome com sede na sua respectiva capela. O pouco que a tal respeito pudemos saber encontra-se
no capitulo Capela de Santa Maria Madalena.

Confraria de Nossa Senhora da Soledade.-Com o fim de prestar culto especial á imagem


de Nossa Senhora da Soledade, foi estabelecida nesta Igreja uma Confraria com aquela
denominação, que teve seus estatutos aprovados por alvará do governador civil de 20 de Abril de
1891, recebendo a respectiva aprovação camarária, por provisão episcopal de 11 de Maio do mesmo
ano. Somente podiam fazer parte dela os irmãos da confraria do Santíssimo Sacramento. Há muito
que se acha extinta.

Ordem Terceira de São Francisco.-No mês de Janeiro de 1916 foi estabelecida nesta
paróquia a Ordem Terceira de São Francisco, que actualmente conta mais de cem membros e que
realiza as suas reuniões ordinárias no ultimo domingo de cada mês.

Apostolado da Oração.-Esta associação pia, mais vulgarmente conhecida pelo nome de


Devoção do Sagrado Coração de Jesus, estabeleceu-se nesta freguesia no ano de 1878, por ocasião
da grande missão evangélica que aqui deram os padres Tomás Vital e Joaquim Machado, tendo a
data de 2 de Outubro daquele ano o respectivo diploma de agregação. Foi e continua sendo ainda o
principal factor do desenvolvimento religioso, que desde aquela época se tem operado nesta
paróquia, devendo lembrar-se neste lugar os nomes dos falecidos cónego Henrique Modesto
Betencourt e padre Teodoro João Henriques, pelo acendrado zelo com que dedicadamente
trabalharam pelas prosperidades daquela agremiação, esforçando-se por que nela se mantivesse
sempre o primitivo espirito de devoção e piedade, que deve ser a principal característica destas
associações pias. Muitos dos seus membros frequentam diariamente os sacramentos, um numero
ainda maior pratica a observância dos actos preceituados para as primeiras sextas-feiras de cada mês,
fazendo-se além disso a festa patronal com notável solenidade e celebrando-se todo o novenario do
mês dedicado ao Coração de Jesus. O seu numero de associados é aproximadamente de dois mil.

Confraria do Santíssimo e Imaculado Coração de Maria-Outro factor muito apreciável


para a difusão do sentimento religioso foi o estabelecimento desta confraria, cabendo a esta paróquia
a honra de ter sido a primeira desta diocese em que ela se fundou. A sua inauguração solene
realizou-se no dia 2 de Fevereiro de 1916, sendo os seus estatutos aprovados por decreto episcopal
de 18 de Janeiro do mesmo ano. Esses documentos, acompanhados duma noticia histórica desta
Confraria e das graças e privilégios que lhe estão anexos, foram publicados no n.º 2 da revista
Paróquia de Santo António do Funchal, de 22 de Janeiro de 1916, que por brevidade não
reproduzimos neste lugar. Esta Confraria conta mil e seiscentos membros.

Outras agremiações pias-É já bastante antiga a chamada Devoção do Rosário Vivo, cujo
numero de associados se eleva a dois mil e seiscentos.
A Agregação do Santíssimo Sacramento, que tem oitocentos membros, propõe-se
especialmente a adoração do Santíssimo Sacramento, fazendo-se a exposição solene no primeiro
domingo de cada mês, durante todo o dia, e o respectivo encerramento, ao cair da tarde, com sermão
e outros actos do culto.
Existem ainda nesta paróquia a Confraria da Guarda de Honra do Sagrado Coração de Jesus,
com mais de mil membros, e a associação dos Pagens de Honra do Santíssimo Sacramento, em que
se acham alistadas mais de duzentas creanças.
Conferencia de São Vicente de Paulo-As associações pias chamadas Conferencias de São
Vicente de Paulo, que especialmente se destinam a socorrer a pobreza envergonhada, têm sua
representação nesta freguesia com a modesta Conferencia de Santo António, fundada no dia 13 de
Outubro de 1913 e agregada ao Conselho Central de Paris, por diploma datado de 23 de Fevereiro de
1914. Tem 20 membros activos, e socorre, nos seus domicílios, cerca de 50 pobres. A sua receita no
ano próximo passado foi aproximadamente de quatro mil escudos.
INSTITUIÇÕES VINCULARES

Apenas sabemos da existência de três morgadios, que tivessem sua sede nesta freguesia com
as suas respectivas casas desabitação e capelas atletas. São eles, pela ordem da sua instituição, os
morgados de Agua de Mel, no sitio dos Alamos, o dos Lemes, no sitio da Quinta do Leme, e o de
Nossa Senhora da Quietação, no sitio dos Alecrins. Apesar da abolição dos morgados e dos bens que
constituíam aquelas casas vinculares terem passado a possuidores estranhos aos descendentes dos
administradores dos mesmos vínculos, ocupamo-nos deles com alguma largueza, porque em geral
estas noticias fornecem elementos valiosos para a historia e contribuem poderosamente para a
reconstituição e perfeito conhecimento das instituições, costumes e tradições do passado, que hoje
são por toda a parte objecto de sérios e aprofundados estudos.
Temos conhecimento de que em terrenos existentes nesta freguesia se instituíram também os
morgadios chamados do Laranjal, no sitio do mesmo nome, o do Til, no sitio da Ribeira Grande, e o
do Boliqueme no sitio de igual nome. Destes morgados não tinham os seus administradores, que nos
conste, casas de residência ou capelas nesta paróquia e os dois primeiros eram pequenos vínculos
que estavam unidos a outros morgadios maiores. Apenas do primeiro, o mais importante dos três,
pudemos obter alguns esclarecimentos e do qual daremos breve noticia.

I-Morgado de Agua de Mel

Uma das mais antigas instituições vinculares da Madeira era certamente o morgadio de Agua
de Mel, cuja existência remonta ao ultimo quartel do século XV. Tinha a sua sede numa grande
fazenda povoada donde tirou o nome, no sitio que hoje chamam os Alamos, e comprehendia vastos
terrenos, parte dos quais pertencem actualmente á vizinha freguesia de S. Roque. Das antigas
edificações, que constituíam a casa solarenga e suas dependências, só resta a capela de Nossa
Senhora do Amparo e talvez uma construção que ali fica próxima, tudo dentro dos limites desta
freguesia.
João de Betencourt, que foi rei e senhor das ilhas Canárias, pertencia a uma antiga e nobre
família de França, onde lhe eram guardados e reconhecidos os foros e privilégios da mais alta
nobreza. Um seu sobrinho, por nome Meciote de Betencourt e sucessor de seu tio, veio a esta ilha
nos primeiros tempos da colonizaão, havendo feito troca com o infante D. Henrique da ilha de
Lançarote por uns avultados rendimentos na Madeira.
Uma filha de Meciote de Betencourt, que acompanhou seu pai das Canárias, D. Maria de
Betencourt, foi a instituidora do morgado de Agua de Mel a favor de seu sobrinho Gaspar de
Betencourt, filho do seu irmão Henrique de Betencourt. Como instituidora que foi desta casa
vincular, vamos integralmente transcrever o que a seu respeito encontramos na História Insulana, de
António Cordeiro, a pg. 222 do volume 11, ed. de 1866.
"0 terceiro capitão, e já só da ilha de São Miguel, foi o dito Rui Gonsalves da Câmara, que
logo então veio para São Miguel; veia porém já casado com D. Maria de Betencor, filha de Nossen
João Betencor, que tinha sido segundo rei das Canárias, e sucedido nellas ao primeiro rei seu tio,
mas desta senhora franceza não teve filho algum Rui Gonsalves, e por isso com ele fez partilhas em
vida de ambos, e ella ficou com cento e cinquenta mil reis de foro cada anno, e trinta também de foro
em Ribeira Grande e outras fazendas de tal renda, que tudo junto em cada anno rendia dois mil
cruzados; e então ella mandou vir da Madeira um seu sobrinho legitimo, por nome Gaspar Bettencor
e instituiu morgado nelle; e nem em vida do marido consentiu que lhe chamassem Capitoa, nem ella
se intitulava senão D. Maria; deixou em testamento ao conselho de Vila Franca dois moios de terra
já limpa e frutivera, com a condição que os gados que viessem de caminho, pudessem dormir uma
noite e mais não mandou fazer no Funchal da Madeira, na Igreja de São Francisco, a mão direita do
Cruzeiro uma capela e que a ella levassem seus ossos: foi enterrada na capella-mor da matriz do
Archanjo São Miguel em Villa Franca, muito antes de se subverter, porque então lá residia o
governo da ilhas".
Morreu D. Maria de Betencourt em 1491 na ilha de São Miguel. Ignoramos se os seus
despojos mortais seriam trasladados para a capela dos Mártires, que fez construir na igreja do antigo
convento de São Francisco do Funchal para seu jazigo e onde se via o brazão de armas dos
Betencourt. Um terramoto destruiu Vila Franca do Campo em 1522 e reduzir a um montão de ruínas
a igreja matiz em que foi sepultada D. Maria de Betencourt, isto é 31 anos depois da sua morte, não
se sabendo se a trasladação teria sido ou não feita dentro deste período de tempo.
Gaspar de Betencourt, primeiro administrador do morgado de Agua de Mel, a quem o rei fez
mercê das saboarias da Madeira, acompanhou sua tia á ilha de São Miguel e ali casou com D.
Guiomar de Sá, falecendo em 1522 e sua mulher em 1541.
Deste consorcio nasceram vários filhos, de que houve larga descendência em São Miguel,
tendo o mais velho Henrique de Betencourt herdado a mercê das saboarias e o morgadio de Agua de
Mel, que passaram depois a seu sobrinho João de Betencourt e em seguida ao filho deste Francisco
de Betencourt, o qual deixou a ilha de São Miguel e veiu fixar residência na Madeira, onde faleceu a
26 de Março de 1557 e foi sepultado na igreja do convento de São Francisco na capela dos Mártires,
erigida por D. Maria de Betencourt.
Este Francisco de Betencourt e Sá casou em São Miguel com D. Maria da Costa de
Medeiros, de família muito distinta daquela ilha, nascendo deste casamento, além doutros filhos que
morreram em tenra edade, André de Betencourt e Sá, herdeiro da casa vinculada de seu pai. Dele
disse Henrique Henriques de Noronha: "casou clandestinamente a 13 de Maio de 1563 na igreja e
freguesia de S. António sendo testemunhas Jeremias de Ornellas, Francisco de Goes, fidalgos, e
Sebastião d'Aguiar, com D. Isabel d'Ornellas d'Aguiar, filha de Ruy Dias d'Aguiar e de Francisca
d'Abreu, a qual morreu a 2 de Março de 1598". Este casamento não foi clandestino, considerado
debaixo do ponto de vista canónico, porque houve algumas pessoas a testemunhal-o; sel-o-hia por ir
de encontro aos desejos da família dum ou ambos os contrahentes e talvez realizado a não sabidas
dos respectivos parentes ou ainda por quaisquer outros motivos para nós hoje inteiramente
desconhecidos. Vimos num antigo nobiliário que Rui Dias, pai de D. Isabel de Ornelas e Aguiar,
teve que ausentar-se desta ilha para Arzila, por haver cometido um crime, escapando-se assim a
acção da justiça.
Foi herdeiro e sucessor de Francisco de Betencourt e Sá o seu terceiro filho Gaspar de
Betencourt e Sá, que nasceu em 1572 e morreu a 3 de Outubro de 1635.
Sucedeu-lhe na administração do vinculo seu filho primogénito Francisco de Betencourt e
Sá, que serviu muitos anos com bravura nas guerras de Pernambuco, levantando nesta ilha um terço
de cem homens, do qual foi mestre de campo, para combater em Flandres, onde bastante se
distinguiu.
Foi seu imediato sucessor o filho Gaspar de Betencourt e Sá, que nasceu em 1649 e morreu
em 1678, havendo casado com D. Madalena de Miranda, por cujo motivo entrou nesta casa vincular
o morgado dos Machados, por ser filho de Bartholomeu Machado de Miranda.
O filho primogénito havido deste consorcio, por nome José de Betencourt e Sá, herdou o
morgadio, mas tendo-se envolvido na sedição que se deu no Funchal a 18 de Setembro de 1668,
como adiante referiremos e em que foi deposto o governador e capitão general da Madeira D.
Francisco de Mascarenhas, viu-se forçado a abandonar esta ilha e depois ordenou-se de presbítero,
morrendo a 1 de Maio de 1697, sem haver deixado descendência, pelo que a administração vincular
da sua casa passou a seu irmão D. Bartholomeu de Betencourt.
Foi este que em 1698 edificou ou melhor reconstruiu a capela de Nossa Senhora do Amparo,
pois nos inclinamos a crer que ela é coeva ou quasi coeva da instituição deste morgado, como se
pode ver no capitulo que consagrámos á referida capela. Casou com D. Lourença de Mondragão e
morreu de doença repentina a 12 de Abril de 1710.
Não deixando geração, teve a sucessão desta casa que passou a sua irmã D. Guiomar de Sá,
que nasceu em Janeiro de 1654 e morreu em 1682, tendo casado em 1680 com Francisco de
Vasconcelos Betencourt, irmão de sua cunhada D. Lourença de Mondragão. Deste matrimonio
nasceu Francisco Luiz de Vasconcelos Betencourt, que sucedeu no morgadio de Agua de Mel, o qual
por sua vez se transmitiu ao seu segundo filho e herdeiro João José de Vasconcelos Betencourt Sá
Machado, falecendo em 1766, sem deixar descendência.
Por tal motivo entrou na administração deste morgadio sua irmã D. Guiomar Madalena de
Vilhena Betencourt de Sá Machado, que sendo possuidora doutros vínculos importantes, era embora
da mais rica casa vinculada da Madeira e dum dos mais opulentos de todo o país. Ficou assim o
morgado de Agua de Mel encorporado entre os morgadios da grande casa, que poucos anos depois
se chamou a casa Carvalhal.
Tendo D. Guiomar Betencourt de Sá Machado, morrido em 1789, solteira e sem geração,
entrou logo como administrador da mais importante instituição vincular madeirense seu sobrinho
João de Carvalhal Esmeraldo Bettencourt de Sá Machado, que casou em 1763 com D. Isabel Maria
de Sá Aciaiol e faleceu em 1790.
Deste consorcio nasceu Luís Vicente de Carvalhal Vasconcelos Betencourt Sá Machado,
filho primogénito e herdeiro na administração "de mais de doze morgadios grandes e sucessor
putativo de seu tio Francisco António da Câmara Leme, o que constitui o vassalo mais rico em bens
patrimoniais de Portugal, segundo lemos num antigo livro de linhagens. Casou em 1789 com D. Ana
Inácia Correia Henriques, irmã do 11 visconde de Torre Bela Luís Vicente do Carvalhal Esmeraldo
Vasconcelos Betencourt de Sá Machado não teve descendência, passando a administração vincular
desta grande casa a seu irmão João José de Carvalhal Esmeraldo Vasconcelos Betencourt de Sá
Machado, que foi o primeiro conde de Carvalhal.
Acerca deste titular, escrevemos ha anos e publicámos em outro lugar as linhas seguintes:
"João de Carvalhal nasceu nesta cidade no segundo quartel do século XVIII. Foi não só o mais
abastado proprietário da Madeira, mas a sua casa uma das primeiras de Portugal, em que se reuniram
diversos vínculos ou morgadios, sendo o representante de antigas e nobres famílias desta ilha.
Vivendo sem fausto nem ostentação, era no entretanto um homem de animo generoso e liberal, tendo
sido varias vezes, sobretudo por ocasião de algumas crises por que passou a Madeira, uma
verdadeira providencia para esta terra, debelando ou contribuindo poderosamente para debelar essas
crises com a força do seu prestigio, da sua influência e da sua grande riqueza. Afecto ás ideias
liberais, teve que emigrar para Inglaterra em 1828, e ali foi não só o desvelado protector dos
madeirenses, mas socorreu ainda generosamente os compatriotas que a ele recorriam. Estabelecido o
governo constitucional, foi em 1835 nomeado governador deste arquipélago e neste mesmo ano
agraciado com o título de conde de Carvalhal da Lombada. Morreu nesta cidade a 11 de Novembro
de 1837 e foi sepultado na capela da sua quinta do Palheiro Ferreiro. Alguns anos depois, o seu
sobrinho e herdeiro de sua casa, o 21 conde de Carvalhal, fez trasladar os seus restos mortais para o
mausoléu de família no cemitério das Angustias, onde jazem sepultados".
Tendo falecido no estado de solteiro e sem descendência, sucedeu-lhe na posse da
administração desta grande casa seu sobrinho João da Câmara Leme Carvalhal Esmeraldo, filho de
sua irmã D. Ana de Carvalhal Esmeraldo. Foi este eleito senador pela Madeira para a sessão
legislativa de 1838 a 1840. Casou com D. Teresa Botelho, filha de Sebastião Xavier Botelho, capitão
general e governador da Madeira de 1819 a 1821.
Em 1831 nasceu deste casamento António da Câmara Leme de Carvalhal Esmeraldo
Betencourt de Sá Machado, 21 conde de Carvalhal, que faleceu no Funchal a 4 de Fevereiro de
1888. Foi o ultimo possuidor da capela de Nosso Senhora do Amparo e propriedades rústicas e
urbanas do sitio dos Alamos, que constituíam a sede do morgadio de Agua de Mel. Veja-se o
Elucidário Madeirense a pag. 228 do vol. 11.

2-Morgado dos Lemes

Na tomada de Arzila e Tanger distinguiram-se pelos seus actos de heroísmo os dois fidalgos
flamengos Martim de Leme e António de Leme, naturais da cidade de Bruges, na antiga Flandres,
que por seu pai Martim de Lemos haviam sido mandados a combater ás ordens do rei de Portugal,
fazendo-se acompanhar dum certo numero de homens de guerra armados e equipados á sua custa. Na
carta e brazão de armas, de 2 de Novembro de 1471, passados por D. Afonso V a favor de António
de Leme, que era então cavaleiro da casa do príncipe D. João, se faz menção honrosa daquele facto e
se lhe confere e ratifica o título de nobreza que já tinha no seu país natal, dando-se-lhe por armas
"em campo de ouro cinco melros de preto em aspas sem pés nem bicos e por timbre um dos melros
entre uma aspa de ouro".
António de Leme teve, entre outros filhos, Martim de Leme, que parece ter nascido, como
seu pai, em Flandres e que depois de servir em Portugal e exercer elevados cargos palatinos na sua
pátria, passou á Madeira pelos anos de 1483, trazendo para a Câmara do Funchal cartas de
recomendação do infante D. Fernando, mestre da ordem de Cristo, a que esta ilha então pertencia.
Foram-lhe dadas terras de sesmaria nesta paróquia de Santo António, que legou a seus herdeiros, e
morreu no Funchal, sendo sepultado no convento de S. Francisco. Martim de Leme casou com D.
Maria Adão Ferreira, filha de Adão Gonçalves Ferreira, sendo este filho de Gonçalo Aires Ferreira,
companheiro de Zarco no descobrimento da Madeira.
Foi ele, ou um seu filho do mesmo nome, que construiu a casa de habitação ainda hoje
chamada Quinta do Leme e também a capela anexa, a cuja construção o Dr. Álvaro Rodrigues de
Azevedo fixa a ano de 1536. Consorciou-se António de Leme com D. Catarina de Barros, a qual
constituiu um morgado da terça dos seus bens, em terras que possuía na freguesia da Ponta do Sol.
Viveram e faleceram na residência da Quinta do Leme e foram sepultados, segundo vemos num
antigo livro de linhagens, "na capela-mor de Santo António do Campos" que é indubitavelmente a
antiga igreja paroquial desta freguesia.
Destes nasceu Pedro de Leme, que foi o instituidor do morgado dos Lemes, na quinta do
mesmo nome, com a expressa obrigação de perpetuar-se o apelido de Leme no sucessor e
administrador deste vinculo.
Por motivos que inteiramente desconhecemos e que hoje será talvez impossível descobrir-se,
foram Pedro de Leme e seu filho primogénito Cristóvão de Leme presos e conduzidos a Lisboa,
onde ambos faleceram no cárcere, no mesmo ano e a curto intervalo, sendo o ultimo em Setembro de
1556. Estamos em frente dum misterioso drama e talvez duma sangrenta tragédia, em que pai e filho,
arrojados ao fundo duma prisão por algum nefando crime, a( fossem mortos por mão vingadora, com
receio de que a comutação da pena ou o perdão, como facilmente acontecia aos nobres, os restituísse
ainda á liberdade.
D. Maria de Leme, filha de Pedro de Leme e que casou com Pedro Gomes Galado, entrou
imediatamente na administração da casa que herdou de seus pais, tendo morrido sem deixar
descendência. Seguiu-se um largo pleito judicial, passando o morgadio da Quinta do Leme a
Francisco de Morais e sua mulher D. Maria da Câmara, filha e genro de D. Loendro de Leme, irmã
de D. Maria de Leme, ultima administradora do vinculo. Foi imediata sucessora na posse do
morgadio a filha daqueles, D. Filia da Câmara, que casou com António da Silva Barreto, o qual
morreu em 1633, tendo deste consorcio nascido Manuel da Silva Câmara, que entrou logo na
sucessão do morgadio, falecendo pouco depois do ano de 1634.
Foi herdeiro e imediato sucessor na administração desta casa vinculada Inácio da Câmara
Leme, tenente general da Madeira, cavaleiro da ordem de Cristo e moço fidalgo da Casa Real, que
gozou de bastante prestigio e influência nesta ilha. Foi ele que por meados do século XVII reedificou
a casa e capela da Quinta do Leme, como se vê do documento que transcrevemos no capitulo
respeitante á mesma capela. Matrimoniou-se em 1647 com D. Isabel de Castelo Branco Betencourt,
nascendo deste casamento, em 1649, o herdeiro da casa Francisco da Câmara Leme, também como
seu pai cavaleiro de Cristo e moço fidalgo da Casa Real.
Contraiu matrimonio com D. Francisca de Sá e Menezes e dele nasceu o primogénito e
sucessor Pedro Júlio da Câmara Leme a 25 de Julho de 1695, moço fidalgo e cavaleiro da Casa Real,
como seu pai e avô, que se consorciou com D. Mariana de Menezes, filha de Pedro de Betencourt
Henriques e de D. Mariana de Menezes.
Foi seu filho e sucessor no morgadio, Francisco Aurélio da Câmara Leme, que casou em
1731 com D. Antónia Maria Acciaioli de Vasconcelos Betencourt.
Teve os privilégios de cavaleiro de Cristo e moço fidalgo que herdara de seus maiores. Foi
ele que, pouco depois de 1748, procedeu á total reconstrução da capela de S. Filipe da Quinta do
Leme, que o terramoto de aquele ano deixara em ruínas, como se pode ver no capitulo já citado.
Entrou na posse imediata e administração do vinculo o filho destes, Francisco António da
Câmara Leme, que casou respectivamente com D. Ana Correia Aciaioli, D. Maria Luisa Correia
Aciaioli, irmã de sua primeira mulher, e D. Júlia da Cunha, que era filha bastarda do conde da Cunha
e que morreu de cólera em Lisboa em 1832. Francisco António da Câmara Leme faleceu sem
geração, passando por sua morte a administração deste vinculo a seu sobrinho João Carvalhal
Esmeraldo de Betencourt de Sá Machado, 11 conde de Carvalhal, ficando assim encorporado na
grande casa Carvalhal.

3-Morgado dos Alecrins

0 morgado de Nossa Senhora da Quietação tinha sua sede na quinta e capela do mesmo
nome, que ficavam situadas no bairro dos Alecrins desta freguesia. A sua instituição remonta ao ano
de 1677 e deve-se ao Dr. Lourenço de Matos Coutinho, que era filho de Bento de Matos Coutinho,
o primeiro desta família que passou do continente do reino á ilha da Madeira e que os linhagistas
afirmam ser descendente por linha varonil de Ramiro 21, quarto rei de Leão.
Bento Coutinho tomou em Coimbra o grau de licenciado em direito e foi neste arquipélago
auditor do presidio castelhano, cargo que exerceu sem remuneração alguma, em atenção ás grandes
despesas que então se faziam com as guerras, pelo que lhe foi dada uma sentença regia, que se acha
registada no tombo da Câmara do Funchal, em que se diz ser ele um dos fidalgos mais ricos e mais
ilustres desta ilha. Casou em 1625 com D. Filia de Vasconcelos e jaz sepultado na capela de S.
Francisco Xavier da Igreja de S. João Evangelista (Colégio) desta cidade.
Deste consorcio nasceu Lourenço Matos Coutinho, que foi o instituidor do morgado dos
Alecrins, como acima fica dito. Tomou como seu pai o grau de licenciado em direito na
Universidade de Coimbra e contraiu matrimonio com D. Mariana de Ornelas de Vasconcelos em
Julho de 1666. Foram estes que em 1670 fundaram a capela de Nossa Senhora da Quietação, como
mais largamente se pode ver no capitulo que a ela consagrámos. Na administração vincular sucedeu-
lhe seu filho Bartolomeu de Vasconcelos Coutinho, casado com D. Inácia de Noronha e Câmara,
filha herdeira do capitão João Gonçalves da Câmara, que em 1680 tirou carta de brazão de armas dos
Noronhas, Macieis, Câmaras e Monizes.
Foi imediato sucessor seu filho Lourenço Manuel da Câmara de Ornelas e Vasconcelos e
depois o filho deste Luís António da Câmara Matos Coutinho de Vasconcelos. Exerceu este
importantes cargos civis e militares no Funchal e foi um bom administrador da sua casa, ao contrario
do que fizera seu pai, que desbaratou uma parte considerável dos seus haveres.
Seguiu-se-lhe na herança de sua casa e morgadio seu filho Tristão Joaquim de Betencourt da
Câmara Vasconcelos, que, como seu pai, também desempenhou entre nós importantes cargos e
varias comissões de serviço publico, gozando de grande prestigio nesta ilha pelas suas distintas
qualidades de carácter. Sucedeu-lhe na administração deste morgado seu neto Tristão Vasco
Perestrelo da Câmara, o ultimo possuidor dos vínculos desta importante casa, que toda dissipou em
viagens e prodigalidade. Morreu sem descendência e nele terminou a posse do morgado da
Quietação no sitio dos Alecrins desta freguesia.
Desta antiga e nobre casa é hoje representante o Dr. Rui Betencourt da Câmara, que é bisneto
de Tristão Joaquim de Betencourt da Câmara e Vasconcelos.

4-Morgado do Laranjal

Pelos anos de 1640 se passou do continente do reino para esta ilha da Madeira, João de
Braga, homem rico e nobre, a quem foram dadas terras de semearia nesta paroquia no sitio chamado
do Laranjal. Foi pai do celebre Marcos de Braga, de quem falam com muito louvor as antigas
crónicas madeirenses pelo actos de bravura e coragem que praticou. Casou João de Braga com uma
filha de Nuno Gonçalves, nascendo deste consorcio Domingos de Braga, que instituiu o morgado do
Laranjal nas terras que seu avô obtivera de sesmaria.
Este morgadio passou a um bisneto de sua irmã D. Maria Gonçalves de Braga, por nome
Manuel Ferreira Drumond de Vasconcelos, e deste a seu filho João Drumond de Vasconcelos e
sucessivamente por herança de pais a filhos a Manuel Ferreira Drumond, Rafael Drumond de
Vasconcelos, Francisco Monis Drumond, João Ferreira Drumund Henriques, D. Maria Ferreira
Drumund, António Sebastião Spinola Ferreira de Carvalho, D. Matilde Augusta Spinola, António
Sebastião Spinola Ferreira de Carvalho, que foi o ultimo administrador deste morgado, em virtude
da lei que aboliu os vínculos, e de quem é representante o seu filho varão o Dr. Remígio António Gil
de Spinola Barreto.
Vemos num Nobiliário que no ultimo quartel do século XVIII era administrador do morgado
do Til Caetano de Velosa de Castelo Branco.
A SEDIÇÃO DE 1668
Os medianamente lidos na historia madeirense sabem que a 18 de Setembro de 1668 se deu
no Funchal uma sedição popular com o fim de depor o então governador e capitão general deste
arquipélago D. Francisco de Mascarenhas, que depois de ter sido preso e sofrido os maiores
vexames, foi violentamente conduzido a bordo dum navio e transportado para o continente
português. O Dr. Azevedo nas notas ás Saudades da Terra faz referência ao facto e dele se ocupa
com alguma largueza o falecido e distinto botânico Carlos Azevedo de Menezes no interessante
artigo que publicou no O Diário do Comercio de 14 de Março de 1909.
Nesse artigo lê-se o seguinte:
Foi na tarde do referido dia 18 de Setembro de 1668 que se deu o facto que pretendemos
narrar. Dirigia-se o governador para a quinta dos padres da Companhia, a pé, acompanhado do juiz
de fora e de outras pessoas, quando junto da casa de D. Francisco de Sá, lhe saíram ao encontro
todos os conspiradores, armados de bacamartes e outras armas, os quais lançando-se a ele, o
derrubaram, dando-lhe algumas pancadas, ao mesmo tempo que feriram com uma cutilada o mesmo
juiz, que pretendeu tomar a defesa do seu companheiro".
Este assalto á mão armada e a prisão de D. Francisco de Mascarenhas deram-se no sítio de
Água de Mel desta freguesia, nas proximidades da casa solarenga que ali possuía D. Gaspar de
Betencourt, quando o governador se dirigia para a propriedade ainda hoje conhecida pelo nome de
Quinta dos Padres, situada no Pico do Cardo, que então pertencia aos jesuítas e que deles tomou o
nome.
Veio á Madeira o desembargador João de Moura Coutinho proceder a uma larga devassa,
tendo o tribunal respectivo proferido a sentença a 19 de Julho de 1673 e por ela foram condenados,
entre outros, D. Gaspar de Sá a degredo perpetuo para Angola e ao pagamento de 3000 cruzados ao
autor, D. José de Betencourt e Sá, seu filho, ao mesmo degredo e 1OO00 cruzados de renda ao autor
e 200$000 reis para despesas do processo, e D. Francisco de Sá, próximo parente de D. Gaspar de
Sá, á mesma pena de degredo para África e também ao pagamento de 200$000 reis.
Este D. Gaspar de Betencourt de Sá e seu filho D. José de Bettencourt e Sá são os mesmos de
que fazemos menção no capítulo Instituições Vinculares, na parte que diz respeito ao morgadio de
Água de Mel. Diz-nos um antigo livro de linhagens que D. José de Betencourt e Sá, depois de sair da
Madeira, por motivo do degredo a que fora condenado, se ordenou de presbítero, tendo falecido a 1
de Maio de 1697.
Vejam-se os capítulos Capela de Nossa Senhora do Amparo e Instituições Vinculares, que
teem relações de próxima afinidade com o assunto do presente capítulo.
ESCOLAS PRIMARIAS

O desenvolvimento da instrução primaria nesta freguesia deveria ter seguido a evolução da


das outras paróquias deste concelho. Certamente que desde remota época existiram aqui escolas
particulares das chamadas primeiras letras, mas o serviço oficial de ensino primário apenas se
iniciou em 1837, com a criação duma escola do sexo masculino, em que foi provido provisoriamente
o professor Manuel Joaquim Afonso, a 23 de Agosto daquele ano. Comunicou este á Câmara
Municipal, em princípios de Outubro, de que dera começo regência do respectivo curso com a
frequência de 70 alunos. Esta escola destinava-se também a receber alunos das freguesias
confinantes de São Roque e São Martinho, que somente em 1845 foram contempladas com o
benéfico da criação de escolas. A 1 de Fevereiro de 1839 foi Francisco Chagas nomeado professor
efectivo desta escola de Santo António, por meio de concurso realizado perante o Conselho Escolar
do liceu do Funchal. Dela foram sucessivamente professores Augusto César de Freitas, Teodoro
João Henriques, Daniel Correia de Macedo e Edmundo Alberto Ubaldino da Silva.
Na sessão camarária de 12 de Maio de 1845 foi criada a primeira escola do sexo feminino,
sendo-nos desconhecidos o nome da professora nomeada e a data em que começou o funcionamento
da mesma escola. Deve esta corresponder á que actualmente se acha instalada no sítio das Casas
Próximas e de que ha muitos anos é professora D. Maria Gomes Jardim.
0 governador civil do distrito ponderou á Câmara Municipal, em 1898, a conveniência da
criação duma escola no sítio do Trapiche, tendo aquela corporação deliberado que o estabelecimento
dessa escola se fizesse no sítio das Preces. Em ambos os sítios se instalaram posteriormente duas
escolas, como as necessidades locais aconselhavam, sendo a do sítio das Preces, do sexo feminino,
criada no ano de 1901 e de que foram professoras D. Cândida Augusta Ferraz e D. Maria Helena de
Oliveira Lopes Camacho. Esta escola tem sempre funcionado no sítio das Romeiras.
Em 1906 estabeleceram-se duas escolas oficiais, uma para cada sexo, no sítio das
Encruzilhadas, tendo sido professores, da masculina, Francisco José de Brito Figueiroa, António
José de Brito Figueiroa e João Evangelista Ferro Júnior, e da feminina, D. Maria Adelaide de Brito
Figueiroa e D. Maria Henriqueta Vicente Franco. Esta ultima escola foi transferida, em Janeiro de
1914, para o sítio da Chamorra.
A escola do sexo masculino do sítio do Salão foi criada no ano de 1906 e dela teem sido
professores D. Carolina Escorcio de Vasconcelos Gomes e António José de Brito Figueiroa.
A Câmara Municipal, na sua sessão de 18 de Agosto de 1908, tomou a deliberação de
instalar uma escola do sexo masculino no sítio do Laranjal, mas a criação dela somente se deu
posteriormente, por decreto de 29 de Abril de 1911. Não havendo neste sítio casa apropriada para o
funcionamento da escola, foi esta estabelecida no sítio da Terra Chã, onde se encontra ainda. Teem
tido a regência desta escola as professoras D. Isidora Alice de Sousa Alves, D. Graziela Olga de
Menezes, D. Maria Isabel da Costa Dias, D. Maria Natalia de Freitas Viveiros e D. Alda do
Nascimento Alves.
A escola mista do sítio do Trapiche começou a funcionar em 1916, tendo sido criada por
decreto de 24 de Novembro de 1915. Esta escola, de que tem sido professora D. Maria do
Livramento Rodrigues, foi transferida para o sítio da Madalena, continuando sob a regência da
mesma professora.
No sítio do Lombo dos Aguiares, criou-se uma escola mista, por decreto de 24 de Novembro
de 1915, que se acha instalada no sítio da Quinta das Freiras e de que é professora D. Maria Amalia
Veiga Pestana Ferro.
No ano de 1926 resolveu a Câmara criar uma escola municipal no sítio do Laranjal, que tem
funcionado sob a regência da professora D. Maria Gabriela Celeste da Silva Martins.
Durante alguns anos funcionaram três escolas moveis, que ha muito foram extintas.
Teem actualmente (fins de 1928) sua sede nesta paróquia as seguintes escolas oficiais:

Casas Próximas, do sexo feminino.


Madalena, do sexo masculino.
Madalena, do sexo feminino.
Salão, do sexo masculino.
Terra Chã, do sexo masculino.
Quinta das Freiras, mista.
Romeiras, do sexo feminino.
Chamorra, do sexo feminino.
Encruzilhadas, de sexo feminino.

Destas não funcionam presentemente, mas em breve serão providas, as escolas femininas dos
sítios das Romeiras e Madalena.
Existem mais nesta freguesia as escolas municipais dos sítios do Salão e Laranjal, e ainda
três cursos nocturnos, também municipais, que funcionam nos sítios das Casas Próximas, Salão e
Terra Chã.
Torna-se necessária a criação duma escola, que especialmente aproveite aos sítios do
Tanque, Alecrins e bairros mais circunvizinhos, tendo sido presente á Câmara Municipal uma
representação, na sessão de 29 de Maio de 1914, concebida nos seguintes termos:
Os abaixo assinados, moradores nos sítios, do Pico dos Barcelos, Santo Amaro, Tanque,
Alecrins, Santa Quiteria e Pinheiro das Voltas, da freguesia de Santo António deste concelho, vêem
respeitosamente ponderar perante V. Ex.a. a conveniência e necessidade da criação duma escola
primaria do sexo masculino dentro da área dos referidos sítios, afim de que possa ser ministrada a
seus filhos e parentes a indispensável instrução primaria elementar, tendo em vista o seguinte:

11-Que nos mencionados sítios residem mais de cem indivíduos do sexo masculino em idade
escolar.
21-Que só mui dificilmente poderão os mesmos indivíduos frequentar as escolas das
Encruzilhadas e Laranjal, pelas distancias a que estas ficam dos sítios onde eles teem as suas
residências;
31-Que as ditas escolas, abrangendo áreas muito vastas e de densa população escolar, não
poderão admitir á matrícula indivíduos estranhos ás mesmas áreas;
41_Que dentro do perímetro formado pelos supramencionados sítios, não é difícil
encontrar-se um edifício em que comodamente se possam instalar a escola e residência do respectivo
professor.
Em vista do exposto, os signatários pedem a V. Ex.a se digne promover a criação daquela
escola, no que prestará um assinalado serviço á instrução e em especial aos habitantes desta
freguesia".

Esta representação não teve até o presente deferimento favorável.


Entre os professores falecidos, que exerceram o magistério primário oficial nesta paróquia,
destacam-se os nomes de Teodoro João Henriques, de quem mais adiante nos ocuparemos, e
Teodoro Pedro de Freitas Vieira, que morreu nesta freguesia no dia 13 de Novembro de 1927. 0 que
a seu respeito aqui poderíamos dizer, vem tão eloquentemente exposto, e com tanta verdade e
justiça, na representação dirigida ao Ministro da Instrução e nas palavras que a precedem, incertas
no Diário de Noticias, de 15 de Maio de 1925, que nos limitamos á respectiva transcrição, deixando
essas palavras arquivadas neste opúsculo como merecida homenagem prestada á memória do
benquisto e benemérito professor.
"Os habitantes do sítio das Encruzilhadas, freguesia de Santo António, dirigiram ao Sr.
Ministro da Instrução uma representação pedindo que o professor Teodoro Pedro de Freitas Vieira,
da escola masculina daquele sítio, continue a reger o mesma escola, não obstante ter atingido o
limite de idade-65 anos, tanto mais que foi declarado apto para o serviço pela junta medica a que
acaba de ser submetido.
O Sr Teodoro Vieira, professor zeloso, sabedor e cumpridor dos seus deveres, ha mais de 40
anos que exerce o seu mister com rara dedicação e o maior carinho pela petizada, podendo com
justiça ser considerado um verdadeiro benemérito da instrução.
A representação dos habitantes das Encruzilhadas tem, pois, o significado duma singela mas
valiosa homenagem ao distinto professor:
"Os signatários, habitantes do sítio das Encruzilhadas, freguesia de Santo António, vêem
respeitosamente representar a V. Ex.a. nos termos que passam a expor:
O professor da Escola oficial do sexo masculino do sítio e freguesia acima referidas, Teodoro
Pedro de Freitas Vieira, completou o limite de idade para o exercício normal do magistério, ou sejam
65 anos.
Difícil será encontrar-se, em todo o quadro do professorado, quem o exceda em proficiência,
em dedicação pelo ensino, em rigor pelo cumprimento do seu dever profissional. Toda a sua vida a
tem consagrado com uma isenção e uma abnegação raras ao magistério, deixando em todas as
Escolas por que tem passado uma tradição honrosissima, que pode ser legitimamente apresentada
como modelo a todos quantos queiram seguir a carreira do professorado.
Reunindo aos dotes morais de um perfeito caracter uma conduta irrepreensível, a
competência, o saber e o amor ao trabalho Teodoro Pedro de Freitas Vieira é um exemplo vivo de
dedicação profissional, sem um deslize na sua vida, sem uma mancha, sem uma falta que possa de
qualquer modo diminuir o valor da sua longa, honrada e brilhante folha de serviços causa da
Instrução.
Na regência da escola do sítio das Encruzilhadas, freguesia de Santo António (Funchal), em
que presentemente se acha colocado e a cuja povoação pertencem os signatários, estão aos olhos de
todos as aptidões e o interesse pelo serviço que tem revelado, sendo palpável os progressos que a
população escolar tem manifestado depois que o ensino se acha confiado em suas mãos e geral a
admiração que a freguesia nutre por tão modesto quão inteligente e competente professor.
Nestas circunstancias, os peticionários, interpretando o sentir de toda a população do sítio de
que se trata, solicitam de V. Ex.a. a conservação do referido professor na regência da Escola oficial
já mencionada, apesar de ter atingido o limite da idade legal, porquanto se encontra em condições de
saúde e robustez física para continuar no exercício do seu lugar, e está prestando ao ensino os
melhores e mais valiosos serviços, como aliás pelos seus superiores hierárquicos e, por todos, em
geral, é constatado.
Respeitosamente aguardam deferimento a este pedido, que as mais evidentes e provadas
razões de justiça fundamentam".
O TERRAMOTO DE 1748

Entre os abalos de terra que se têm sentido na Madeira, foi sem duvida o mais violento e o
único que cansou prejuízos materiais consideráveis, o que se deu na noite de 31 de Março para 1 de
Abril de 1748. Numa das notas ás Saudades da Terra, se encontra uma descrição sumaria, fielmente
extraída duma relação coeva daquele acontecimento, donde trasladamos as seguintes linhas:
"Pela uma para as duas horas depois da meia noite, em 31 de Março de 1748, se abalou a ilha
a impulsos de um terramoto de pouca duração. Com este tremor acordaram todos os moradores, uns
admirados, outros suspensos e outros duvidosos do que era. Sentiram segundo e terceiro, e tão forte,
que além de fazer demolir igrejas, vilas, lugares, campos e casas particulares da cidade, e não
padecer senão um homem decrépito, um menino e duas mulheres, não ficou edifício por mais forte
que estivesse que não esteja ofendido.
A igreja de Santo António no frontispício tem várias aberturas: a cantaria da porta principal
está desconjuntada, e as paredes do corpo da igreja partidas em diversos logares, como também o
estão as das oficinas; e o que se sente mais é o tecto que está em grave damno".
Por esta narrativa se vê o estado de notável ruína em que ficou a antiga igreja, levando o
respectivo pároco, o Dr. António Pereira Borges, a solicitar a construção dum novo templo, o que
então também já era aconselhado pelo movimento sempre crescente da população. Apesar das
ponderosas razões apresentadas e dos diligentes esforços empregados pelo Dr. Pereira Borges,
somente passados 35 anos é que obteve favorável deferimento aquela petição, a que se tinham
também associado as pessoas mais qualificadas da freguesia, pois que a construção da nova igreja
paroquial veio a começar por meados do ano de 1783.
A capela de S. Filipe, na Quinta do Leme, que era então uma construção separada da casa de
habitação, ficou de tal modo arruinada, pelo efeito do terramoto, que nela se não podiam celebrar os
ofícios divinos, tendo os respectivos proprietários, os morgados Francisco Aurélio da Câmara Leme
e sua mulher D. Ana Maria de Sá e Menezes, mandado reconstruir a mesma ermida em 1752 e
solicitado, neste ano, da autoridade eclesiástica a necessária licença para nela celebrarem os actos do
culto, como mais largamente se poder ver no capítulo que consagramos á referida capela. Ficou esta
incorporada na casa solarenga, que também foi reedificada, em virtude do estado de ruína em que o
abalo de terra a deixara.
Podemos afirmar, atendendo á violência do terramoto e aos grandes prejuízos que causou por
toda a ilha, que outros graves danos materiais se tivessem dado nesta paróquia, mas a escassez de
noticias não nos permite descer a mais pormenorizados detalhes.
Quanto á perda de vidas, sabe-se, pelo curioso assento de óbito, que em seguida
transcrevemos, que aqui faleceu vitimado pelo terramoto um indivíduo, por nome Afonso Pereira
Borges, pai do pároco de então, ignorando-se, porém, as circunstancias que determinaram esta
morte. Diz o termo:- "Em o primeiro de abril do dito ano (1748), dia fatal e de eterna memória,
faleceu nesta igreja Afonso Pereira Borges, meu pai, sem sacramentos pelos estragos do terramoto, e
enterrou-se nesta igreja, de que fiz este termo que assino. Era tu supra. O Vigário António Pereira
Borges".
É este o velho, vitima do terramoto, a que se refere a nota das Saudades da Terra? É provável
que seja, mas não temos elementos para categoricamente o afirmar.
Apesar do silêncio guardado pelo arquivo paroquial, presumimos fundadamente que outros
estragos se dariam em vários edifícios e em especial nas capelas, pois que, ao tempo, já algumas
delas se encontravam bastante arruinadas.
MOVIMENTO DA POPULAÇÃO

Foi esta a paróquia da antiga capitania do Funchal, que mais rapidamente se desenvolveu,
atingindo em breve uma população superior ás próprias freguesias citadinas e mantendo-se sempre,
através dos tempos, como a mais populosa de todo o arquipélago. Para isso concorreriam a sua
extensa área, condições climatéricas, feracidade do solo e ainda quaisquer outras circunstancias, que
são hoje para nós inteiramente desconhecidas.
Pretendemos apresentar uma nota aproximada da população desta freguesia nos séculos XVI,
XVII e XVIII, aproveitando como base, para esse calculo conjectural, o numero de nascimentos e
óbitos havidos em cada ano.
Damos em seguida a indicação da média anual do numero de habitantes, referente a cada
quartel dos séculos XVI, XVII e XVIII:

31 Quartel do século XVI (1557-1575)- 400


41 " " " " (1576-1600)- 500
11 " " " XVII (1601-1625)- 650
21 " " " " (1626-165O)- 850
31 " " " " (1651-1675)-1050
41 " " " " (1676-1700)-1300
11 " " " XVIII (1701-1725)-1600
21 Quartel do século " (1726-1750)-1950
31 " " " " (1751-1775)-2350
41 " " " " (1776-1800)-2850

Com respeito ao século XIX, apresentamos uma nota, também de media anual, do numero de
habitantes, mas relativo a cada decénio.

1801-1810 3250
1811-1820 3400
1821-1830 3500
1831-1840 4000
1841-1850 4200
1851-1860 4300
1861-1870 4500
1871-1880 5000
1881-1890 5800
1891-1901 6500

A natalidade e a mortalidade foram, aproximadamente e na generalidade, de 40 e 25 casos,


para cada mil habitantes. Pelos números que apresentamos, vê-se que, no desenvolvimento da
população, não se manteve sempre uma proporção uniforme, devido a causas desconhecidas, não
sendo também para estranhar que haja deficiências nos dados de que nos servimos, para organizar
esta pequena estatística.
Pelo censo oficial da população, a que se procedeu em todo o país no ano de 1910, contava
esta freguesia 8839 habitantes. Pelo Censo de 1920 este numero elevou-se a 9915.
As freguesias mais populosas do distrito do Funchal são, segundo os elementos fornecidos
pelo ultimo Censo (1920): São Pedro com 8212 habitantes, Machico com 8619, Câmara de Lobos
com 8749 e Santo António com 9915.
Teem aqui cabimento as indicações fornecidas pelo capítulo, que inserimos na antiga revista
Paróquia de Santo António do Funchal, acerca das mortes desastrosas, que frequentemente se dão
nesta freguesia, e por isso extraíamos desse artigo os seguintes períodos:
"Não sabemos de outra freguesia da Madeira, em que seja tão avultado o numero de mortes
ocorridas por desastres, como nesta de Santo António. Escasseiam-nos os indispensáveis
esclarecimentos para afirmar com segurança que esta percentagem de mortalidade seja maior aqui do
que noutras paróquias desta diocese, mas é sem duvida muito considerável, como vamos ter ocasião
de verificar. São, na sua grande maioria, provenientes de quedas de indivíduos, que se despenham
pelas rochas abruptas e perigosos desfiladeiros, que se encontram frequentemente desde o sítio da
Fajã até o Curral das Freiras, nas margens escarpadas da Ribeira dos Socorridos. A levada Nova do
Curral e Castelejo, que num longo percurso se estende dum a outro daqueles pontos, oferece entre
eles uma comunicação relativamente curta comparada com a estrada central, mas cheia dos maiores
perigos, em que são numeráveis os abismos e despenhadeiros com centenares de metros de
profundidade. Apesar dos desastres mortais que por ali ocorrem com tamanha e espantosa
frequência, não deixa de ser o mainel da levada a estrada preferida por uma grande parte dos
habitantes do Curral das Freiras que demandam o Funchal e de muitos dos moradores de Santo
António que se dirigem aquela freguesia. Aquelas ravinas arrumadas e encostas semeadas de
precipícios são além disso muito exploradas para a apanha de ervas e matagais, destinados para a
engorda dos gados, adubos de curral, combustível, etc., sem se lembrarem os imprudentes que,
percorrendo aqueles sítios, arriscadamente expõem a sua vida por tão minguados e por vezes
problemáticos lucros.
Apesar da grande deficiência, que indubitavelmente se deu no registo daqueles desastres e da
pesquisa pouco minuciosa a que procedemos, sendo por isso muito incompletos os elementos de que
podemos dispor, é ainda assim proporcionalmente enorme o numero de casos de mortes desastrosas
que se tem dado nesta paróquia.
Nos séculos XVIII, XIX e XX, pelo pouco que conseguimos averiguar, deram-se por
desastre, nesta paróquia, respectivamente 71, 63 e 10 casos de morte. A percentagem é maior para o
século XVIII, sobretudo se atendermos a que era então relativamente pequena a população desta
paróquia".
ENCARGOS PIOS

Era um antigo e piedoso costume, que no nosso país se tornou muito frequente, onerarem as
pessoas ricas e medianamente abastadas, com diversos encargos de caracter religioso ou caritativo,
as suas ultimas disposições testamentarias. Esta ilha não podia subtrair-se á regra geral. Nos
arquivos paroquiais das freguesias mais antigas, encontram-se os chamados livros de Capelas, que
era o nome que aqueles encargos tomavam, quando se destinavam a fins puramente religiosos.
Nesta paróquia era considerável o numero de Capelas, que principalmente consistiam na
celebração de missas, em sufrágio dos doadores. Encontramos o registo ou a sua descrição sumaria
em muitos assentos de óbitos, de alguns centenares desses encargos, de caracter perpetuo, para
serem cumpridos enquanto o mundo for mundo, como frequentemente se repete nas respectivas
verbas testamentarias. Como se sabe, ficavam essas pensões impostas em propriedades rústicas, que
os seus proprietários livremente oneravam, transmitindo o encargo aos seus herdeiros e sucessores.
Relativamente ao numero tão considerável dessas pensões, poucas são aquelas, que
actualmente se cumprem tanto nesta como nas outras Igrejas da nossa diocese. O pouco escrupuloso
cuidado dos herdeiros no cumprimento dos legados, a falta de severa fiscalização por parte dos
párocos e da respectiva autoridade privativa desses serviços, conhecida pelo nome de Juiz dos
Resíduos e Capelas, a transmissão, ás vezes frequente, por herança, venda ou doação, das
propriedades oneradas e ainda outros motivos, contribuíram imensamente para que esses encargos
deixassem a pouco e pouco de ser cumpridos e quasi viessem a cair de todo no esquecimento. As
nossas lutas civis, no período decorrido de 1828 a 1834, também contribuíram bastante para esse
esquecimento. Ocorre-nos lembrar que as inúmeras casas vinculadas existentes neste arquipélago
tinham muitas pensões desta natureza, não nos constando que nenhum desses cargos se cumpra
presentemente.
São centenares os encargos pios, impostos em terras desta paróquia, mas vamos apenas dar
breve noticia dos poucos que escrupulosamente teem sido sempre cumpridos e ainda o são na
actualidade. No sítio dos Três Paus, faleceu a 19 de Dezembro de 1670, Antonia Ferreira, viúva de
António Fernandes Frita, que no seu testamento, feito a 9 de Outubro daquele ano, legou a esta
Igreja Paroquial, para ser administrada pela Confraria do Santíssimo Sacramento e pelo respectivo
pároco, a fazenda que possuía no sítio referido, com as obrigações e encargos constantes dos trechos
que vamos textualmente transcrever do mesmo testamento:-"... haverão como administradores a
terça parte para a dita Confraria e das duas partes que ficarem liquidas lhes mandarão repartir todos
os anos, enquanto o mundo durar, em missas rezadas e obras pias da dita Confraria, as quais missas
se repartirão de sorte que se digam vinte em São Francisco da Cidade e outras vinte no altar
privilegiado do Senhor Bom Jesus da Sé desta cidade, as mais em Santo António... e lhe mandarão
dizer algumas delas no oitavario dos defuntos, tirando-se em primeiro logar das ditas duas partes do
rendimento liquido duas tochas grandes que pesem dez arráteis de cera ambas para alumiar no santo
sepulcro das Endoenças..."
O padre António Fernandes Pimenta, que era natural desta freguesia e nela exerceu por
largos anos o cargo de coadjutor, fez doação, aos vigários desta Igreja, do Passal anexo á casa de
residência paroquial ou ao menos duma parte considerável dele, com a obrigação perpetua duma
missa celebrada nos primeiros dias de cada mês e o pagamento dum foro anual de quinhentos reis á
Confraria do Santíssimo Sacramento da paróquia de Santa Maria Maior da cidade do Funchal. Estes
encargos tem sido integralmente cumpridos nos últimos vinte anos.
A Confraria do Santíssimo Sacramento desta freguesia cumpre-lhe também, em virtude de
várias doações antigas, mandar celebrar anualmente as nove missas do Parto por alma de Isabel de
Vares, as três missas do Natal por Luzia de Aguiar, quatro missas por João Gonçalves Sequeira, duas
por João Gonçalves, doze por Filipe Gomes, padre Simão de Abreu, padre João de Araújo, António
Rodrigues, António Fernandes Camacho, Salvador Gonçalves, Isabel dos Santos, Maria de
Afonseca, padre Pedro Gonçalves de Aguiar, Angela de Oliveira, Inácio Fernandes e Maria
Fernandes Bazenga, além de doze missas anuais por todos os membros da mesma Confraria.
ALGUNS MELHORAMENTOS PÚBLICOS

Escasseiam-nos os elementos indispensáveis para fazer uma resenha dos principais


melhoramentos públicos realizados nesta paróquia, e por isso nos limitaremos a apresentar as breves
notas avulsas, que pudemos colher acerca deste assunto, embora esteja ele a exigir uma mais larga
noticia.
Varias Estradas - A ponte de Água de Mel no sítio da Penteada, com a sua respectiva estrada,
foram construídas no ano de 1841, despendendo-se nessas obras a importância de 700$000 reis.
No biénio de 1844 a 1845 se construiu e em parte se alargou o caminho do Jamboto, em que
foram gastos cerca de 1.300$000 reis. No mesmo período de tempo se alargou e prolongou o
caminho do Lombo dos Aguiares, orçando esses trabalhos por 470$000 reis.
Nos anos de 1876 e 1877 se realizou o importante melhoramento da construção e
alargamento da estrada que conduz do sítio da Quinta de Leme ao caminho do Pilar, tendo esta obra
custado aproximadamente 1.700$000 reis. Pela mesma época se construíram ou melhoraram o
caminho que vai de Santo Amaro ao sítio da Viana e o da Ribeira Grande e Álamos.

Ponte de Santo António - A rápida e frequente circulação de automóveis, que pôs esta
freguesia em fácil comunicação com a cidade, obrigou o alargamento da estrada da Madalenas que
constituía a mais imperiosa necessidade a satisfazer nesta localidade. Anteriormente a isso,
impunha-se como melhoramento mais urgente a construção da ponte de Santo António, que
estabelece a comunicação da Quinta do Leme, Casas Próximas e outros sítios da margem direita da
ribeira com os sítios da Ribeira Grande, Álamos, Salão e Penteada, que ficam na sua margem
esquerda. Era frequente, na quadra invernosa, interceptarem-se as comunicações entre os sítios das
duas margens com grave incomodo e prejuízo dos respectivos habitantes. Não raras vezes acontecia
que, aumentando inesperadamente o volume da corrente, tivessem de voltar á cidade aqueles que,
encontrando-se numa das margens, quisessem alcançar a margem oposta.
Facilmente se calcula quanto seria desejada a realização deste importante melhoramento.
Não admira, pois, que em épocas eleitorais, os influentes partidários agitassem a ambicionada
construção da ponte como arma política e dela se servissem como engodo para a pesca disputada do
voto. O assunto era então versado largamente na imprensa do Funchal, não exagerando quem afirmar
que os artigos e noticias, publicados a tal respeito nas gazetas, chegavam á farta para preencher um
opúsculo de muitas dezenas de paginas. Duraram anos essas reclamações da imprensa e não menos
tempo levaram os políticos a fazer as suas mirabolantes promessas.
Até que, enfim, no ano de 1889, uma portaria do governo central ordenou á Direcção da
Obras Publicas deste distrito a organização dos projectos e orçamentos desta obra e autorizou o
começo dos respectivos trabalhos. Esses projectos foram elaborados pelo engenheiro José Bernardo
Lopes de Andrade e teem a data de 3 de Outubro daquele ano. Por eles se vê que a ponte, incluindo
as avenidas, teria 81 metros de comprimento e 6 de largura. Deveria compor-se de dois arcos
abatidos, com 19,80 de vão, 2m65 de flecha e 1 de espessura. A obra foi orçada em onze contos de
reis. Não sabemos se a construção se realizou em inteira conformidade com estes dados ou se teria
porventura sofrido quaisquer alterações no seu primitivo projecto.
Os trabalhos iniciaram-se, e nele se despenderam aproximadamente dois contos de reis, no
exercício de 1889 a 1890. Foram nesta altura interrompidos e somente recomeçaram sete ou oito
anos mais tarde, tendo a obra seu seguimento no ano de 1898 e continuando, embora lentamente, até
á sua final conclusão. Estava finalmente realizado um dos mais importantes e urgentes
melhoramentos que esta freguesia ha muito reclamava.

Estrada da Madalena - O mais importante melhoramento de que esta freguesia necessitava


era o alargamento da estrada chamada da Madalena. É certo que não faltaram pessoas que
alvitrassem a peregrina ideia da abertura duma nova via publica, que, partindo da capela de São João
e marginando a ribeira do mesmo nome, viesse entestar com a ponte de Santo António. E outras
houve ainda que conceberam o projecto da construção dum caminho, que teria como ponto de
partida o largo da Cruz do Carvalho e que se prolongaria até ás alturas da igreja de Santo António.
Felizmente que prevaleceram a boa razão e o bom senso. Estando esta freguesia em comunicação
directa com a cidade por meio de três estradas, todas em regular estado de conservação, não
constituía um melhoramento urgente e inadiável a abertura duma nova estrada, mas convinha
realizar na mais central e importante dessas vias de comunicação, os reparos indispensáveis a torna-
la urgentemente adaptável ao transito de todos os géneros de veículos. De mais acresciam os
ponderosos motivos de que a estrada da Madalena, de todas as construídas e porventura a construir,
era a mais central e a mais movimentada e aquela que mais facilmente se prestava á construção de
prédios urbanos, como o futuro veio a demonstrar, podendo ainda acrescentar-se que a sua adaptação
á circulação de todos os carros seria a mais rápida e consideravelmente menos dispendiosa.
Foi o que aconteceu para honra de todos os que intervieram nessa resolução. O alargamento
começou a fazer-se nos sítios da Levada do Cavalo e Madalena realizando-se esta obra desde os fins
de 1914 até meados de 1915. Neste ultimo ano se iniciaram, no largo das Maravilhas, os trabalhos
do mesmo alargamento, que prosseguiram no ano imediato no sítio da Quinta do Leme até alcançar
o pequeno largo da Igreja Paroquial. Foi também no fim do ano de 1914 e primeiros meses do ano
seguinte que se realizaram os importantes melhoramentos na estrada, que da Igreja Paroquial conduz
ao Ribeirinho, dando-se-lhe então a largura que presentemente tem.

Ponte dos Três Paus- Era uma necessidade por todos reconhecida, a construção duma ponte,
que pusesse o bairro dos Três Paus em comunicação com o Pico do Cardo e outros sítios mais
próximos. Em apertando a invernia, ficava aquele sítio completamente isolado. Quando o actual
pároco presidiu á Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Funchal, mandou proceder a
essa construção, satisfazendo-se assim a uma antiga aspiração dos habitantes daqueles sítios. É uma
bela ponte, em cimento armado, que espera o alargamento da estrada de que faz parte. Foi construída
no ano de 1923.

Nos capítulos Cemitério, Levadas e Fontenarios, Grandes Reparações na Igreja Paroquial e


Campanários e Relógio fazemos menção de outros melhoramentos realizados nesta freguesia, que
pela sua importância mereceram artigos especiais.
GRANDES REPARAÇÕES NA IGREJA PAROQUIAL

Como anteriormente dissemos, os melhoramentos iniciados nesta Igreja paroquial, no ano de


1921, e que ainda não estão de todo concluídos, são os mais consideráveis e de mais avultado
dispêndio que nela se teem realizado. Além da primitiva construção terminada em 1789, nunca se
empreenderam obras de tanto vulto como agora, tornando-se este templo um dos primeiros da
diocese, não só pela elegância e beleza da sua frontaria, mas ainda pelas ornamentações interiores,
sem mesmo contar com a sua vastidão e com as muitas dependências de que dispõe, destinadas a
diversos serviços paroquiais.
O tecto da Igreja era interiormente revestido duma espessa camada de estuque, que ameaçava
desabar pondo assim em grave risco a vida das pessoas que assistiam aos actos do culto. Esta
circunstancia é que principalmente determinou o começo dessas obras inadiáveis, que depois se
foram multiplicando á medida que se ia reconhecendo a necessidade da realização de outros
importantes e indispensáveis melhoramentos.
Tornando-se manifesto o erro havido de revestir-se interiormente o tecto com estuque, foi
este substituído por madeira. Também foi totalmente renovada a cobertura, em que devia assentar o
telhado, por se encontrar bastante danificada. Fez-se a substituição de toda a telha de tipo antigo, por
outra do moderno modelo chamado maselhês. Era este o melhoramento que o templo mais
urgentemente reclamava.
A capela-mor desta Igreja, apesar da sua notável elegância e bem equilibradas proporções;
apresentava um espectáculo desolador. As suas paredes laterais tinham sido inteiramente cobertas,
ha cerca de oitenta anos, por um madeiramento, com colunas e ornamentações em obra de talha,
trazido da antiga igreja de São Francisco, que é um trabalho singelo mas de aprimorado bom gosto.
Nele se destacavam, em saliente relevo, as superfícies planas, que deveriam ser ocupadas por seis
quadros ou telas, representando alguns dos principais episódios da vida do glorioso patrono deste
templo. Todo esse revestimento das paredes tinha sido coberto com uma ligeira e imperfeita pintura,
a que o tempo se encarregou de dar uma feição de velhice e de abandono, que impressionava muito
desagradavelmente o visitante. O altar-mór, que talvez depois da sua construção, não tivera sido
ainda renovado, na sua pintura e douramento, não apresentava um aspecto menos triste e
desconsolador.
Estavam, pois, a capela-mor e seu altar a exigir imediatas e importantes reparações. Depois
da reconstrução do tecto, foi este o primeiro trabalho a realizar. A obra de talha teve que ser
largamente reparada, pois era já bem adiantado o seu estado de ruína. Procedeu-se em seguida á
pintura e douramento das paredes, do tecto, do altar e do camarim ou trono. Os quadros a óleo que
ornam esta capela são devidos ao pincel do distinto artista Luís António Bernes. Simultaneamente se
retocaram a imagem grande de Santo António e as belas esculturas representando S. Luís de
Gonzaga e S. João Francisco de Regis, que ocupam os nichos superiores do altar-mór. Também se
fez o completo assoalhamento da capela. Tudo isso foi um trabalho demorado e dispendioso, mas
que transformou inteiramente esta capela, tornando-a objecto de admiração e apreço das pessoas que
a visitam.
As obras de pintura e decoração a realizar no tecto do corpo principal da Igreja foram muito
importantes e de execução bastante difícil, não só pela extraordinária altura das paredes e custosa
armação dos respectivos andaimes, mas ainda pelo incomodo e risco, que aos artífices pintores
oferecia a realização desse trabalho. No centro dessas ornamentações se colocou uma grande tela
representando o Imaculado Coração de Maria.
As chamadas "bocas de arco" da capela mor e das do Santíssimo Sacramento e de Nossa
Senhora de Guadalupe receberam a indispensável pintura com uma excelente e original
ornamentação. Os antigos quadros a óleo da Via Sacra, que ornavam as paredes da Igreja, foram na
sua maioria substituídos e alguns restaurados, sendo também convenientemente reparadas as
molduras em talha dourada que os circundavam. Estas telas, bem como a do tecto, são igualmente da
autoria do pintor Luís Bernes.
Para maior comodidade dos fieis e indispensável colocação de bancadas na Igreja, tornou-se
imperiosa a necessidade de se colocarem a uma mais elevada altura as tribunas conhecidas pelo
nome de Mesas dos Irmãos, contribuindo também este melhoramento para dar um aspecto mais
agradável e atraente ao interior do templo. Essas tribunas, que se encontravam em grande ruína,
foram artisticamente restauradas. O levantamento das Mesas obrigou, para manter-se a harmonia do
conjunto, a levantar-se também o púlpito um metro acima do lugar em que se achava.
O belo guarda-vento da porta principal desta Igreja, em madeira de nogueira, foi desenhado e
executada pelo hábil operário desta freguesia, João Rodrigues Pimenta, tendo sido todas as despesas,
com os materiais empregados e respectiva mão de obra, castradas pelo proprietário João Gomes de
Gouveia, do sítio da Chamorra, que é o paroquiano que mais larga e generosamente tem contribuído
para os grandes melhoramentos realizados no templo desta paróquia, sendo-nos muito grato deixar
aqui consignado o seu nome e o protesto do nosso reconhecimento. Ha muito que se impunha a
necessidade da adaptação duma das dependências da Igreja para a instalação do respectivo arquivo
paroquial, que contava alguns centenares de volumes, que se achavam dispersos e mal
acondicionados. Numa sala da antiga residência dos curas, devidamente acomodada a esse fim e
comunicando interiormente com a sacristia, se fez a arrecadação, em condições de segurança e de
boa conservação, de todos os livros, documentos e papeis existentes nesta Igreja, servindo também
esta instalação para o funcionamento dos diversos serviços do cartório paroquial.
Tornava-se urgente a instalação da luz eléctrica, não só para iluminar convenientemente o
templo e dar maior brilhantismo aos actos do culto, mas ainda para evitar que as instalações
provisórias daquela luz, feitas por ocasião das principais solenidades, fossem danificar os belos e
custosos trabalhos de decoração, realizados em todo o interior da igreja, como frequentemente
acontecia. Além dos focos eléctricos distribuídos pelas paredes, altares, boca do camarim, Mesas dos
Irmãos etc., tornou-se indispensável a colocação de três lustres na capela-mor e oito no corpo
principal da Igreja, além do grande candelabro central, de 30 lumes, o que perfaz uma totalidade de
lâmpadas superior a duzentas. O candelabro e mais lustres, com excepção dos três da capela-mor,
foram construídos em bela madeira de talha e executados pelo já referido artífice João Rodrigues
Pimenta. Destinam-se a ser dourados.
Aí ficam sumariamente enumerados os principais trabalhos de reparação e decoração
executados nesta igreja Paroquial, não se fazendo menção pormenorizada de outras obras, também
de relativa importância, para não dar a este capítulo uma demasiada extensão. No respectivo arquivo
paroquial encontram-se minuciosamente descritos todos os trabalhos até agora realizados.
Antes de terminar este capítulo, queremos deixar aqui assinalados os bons serviços, que o
pintor de arte Luís António Bernes prestou a esta Igreja Paroquial com a factura dos quadros que
revestem a capela-mor e das telas que guarnecem o tecto e as paredes do templo, produzindo
trabalhos que teem sido sobremaneira apreciados por pessoas competentes e que atestarão aos
vindouros os notáveis recursos de que dispõe o distinto artista. O seu nome ficará a par do pintor
Nicolau Ferreira, que pelos fins do século XVII deixou vários óleos a adornar algumas igrejas desta
diocese.
E para concluir este pequeno capitulo, é-nos extremamente grato fazer uma especial e bem
merecida referencia aos devotados esforços e acendrado zelo do actual cura desta paróquia, rev.
padre João Prudencio da Costa, empregados para a execução de todos os trabalhos realizados no
templo, não só na propaganda feita nas praticas e homilias, por meio da sua palavra prestigiosa, mas
também na maneira de adquirir os indispensáveis donativos, ficando o seu nome indissoluvelmente
ligado á realização de tão importantes e dispendiosas obras.
Não nos referimos neste logar á reconstrução das torres e colocação do relógio, porque delas
os ocuparemos em capitulo especial.
CAMPANÁRIOS E RELÓGIO DA IGREJA PAROQUIAL

Como fica dito em outro lugar, a construção da actual Igreja Paroquial foi dada por
terminada em 1789, embora ainda por alguns anos continuassem os trabalhos da ornamentação
interior, e restassem também por concluir os campanários e outras dependências do mesmo templo.
Decorridos vinte e quatro anos, em 1813, "se formaram os telheiros das torres em cada uma das
quais se acrescentaram sete palmos", segundo se lê num antigo livro da Fabrica Paroquial. São
passados setenta anos depois de realizadas estas ultimas obras e só então se procedeu á definitiva
conclusão dos campanários com a construção de dois elegantes coruchéus, que deram ao conjunto da
frontaria do edifício um aspecto cheio de grandeza e harmonia. Devesse este importante
melhoramento ao deputado pela Madeira cónego Feliciano João Teixeira, que a pedido do seu
próximo parente e amigo padre Teodoro Urbano Ferreira Pita, então pároco desta freguesia,
conseguiu do governo da metrópole a verba necessária para custear aquela construção. A respectiva
dotação orçamental é de 1880, mas somente se realizou o acabamento das torres, com o
levantamento das duas pirâmides, no ano de 1883. Os trabalhos de edificação, que correram sob a
gerência e fiscalização da repartição de obras publicas distritais, não revestiram os indispensáveis
requisitos de competência e de esmerado cuidado em obras desta natureza, e desde logo se
conjecturou que aquela construção não poderia ter uma existência muito duradoura. A derrocada
deu-se dezasseis anos depois, no dia 8 de Março de 1899, tendo um golpe de vento de maior
violência lançado á terra o coruchéu do lado sul. Houve necessidade de apear-se o do lado norte, por
não oferecer seguras garantias de resistência.
O actual pároco desta freguesia, ao iniciar as grandes reparações e melhoramentos realizados
na Igreja Paroquial, concebera também o projecto da reconstrução dos campanários, mas reservava
essa obra para o final acabamento dos trabalhos, considerando-a como o termo e remate de todo o
seu largo empreendimento.
Um facto inesperado veio, porém, apressar a realização do projectado plano: a espontânea e
generosa oferta dum magnífico relógio feita ao respectivo pároco para ser colocado na Igreja
Paroquial. O Diário da Madeira, de 27 de Maio de 1928, publicou acerca deste assunto um excelente
artigo, que, aparte as elogiosas referências dirigidas ao autor deste opúsculo, consubstancia, com
inteira exactidão, o pensamento e intenções do oferente e põe em saliente e merecido relevo o acto
de benemerência e generosidade, que ele tão espontânea e desinteressadamente praticou. Estas
modestas paginas ficam sobremaneira honradas com a inserção integral desse artigo, que vinha
acompanhado dos retratos de Mr. Henrique Hinton e do padre Fernando da Silva, e de mais três
gravuras representando o frontispício da Igreja e de dois diversos aspectos do magnífico relógio.
"O Rev. padre Fernando Augusto da Silva, sacerdote tão digno quanto ilustrado e cujos
méritos morais e de espírito são sobejamente conhecidos, é, como também se sabe, um pároco
modelar. Na qualidade de vigário da freguesia de Santo António, uma das mais vastas e importantes
desta ilha, tem o padre Fernando da Silva demonstrado um acendrado e persistente zelo, não só pelo
que toca ao domínio puramente espiritual, como ainda no que respeita á conservação e
melhoramentos materiais do templo confiado á sua guarda, tarefa em que tem sido dedicadamente
ajudado por vários dos seus paroquianos.
"Entre os melhoramentos ainda não realizados impunha-se-lhe, com a reconstrução das torres
da Igreja paroquial, a colocação, ali, dum relógio de mostrador bem visível ao longe e com carrilhão
que batesse as horas, levando a indispensável informação do tempo até aos confins da povoação.
"0 considerado e generoso industrial madeirense Mr. Harry Hinton, amigo e admirador do
caracter, talento e zelo religioso do padre Fernando da Silva, conhecendo-lhe as dificuldades e
desejos referentes a esta necessidade da paróquia, encomendou, em Londres, o fabrico dum grande
relógio do mais moderno sistema e de sonoroso carrilhão dotado com as mesmas notas e timbres dos
famosos sinos da Catedral de Westminster, relógio, ha semanas entre nós, como foi noticiado, e já
oferecido aquele ilustre sacerdote com destino á sua Igreja.
A este facto se referem as estampas que ornam a presente pagina.
Os quatro mostradores, com ponteiros de horas e minutos, teem dois metros de diâmetro e
são de grosso vidro translúcido com as letras romanas a negro, permitindo que, por iluminação
interior, as horas sejam lidas, a uma grandíssima distancia.
"As duas torres vão ser reconstruídas em superiores condições de segurança e estética, sendo
instalado o relógio na que fica situada ao lado norte.
"Comemorando o facto, será colocada na igreja uma placa metálica com os seguintes dizeres
em latim:

HOC HOROLOGIVM
ECCLESIAE SANCTI ANTONII APVD
FVNCHALENSES, AMICITIAE ET PIETATIS
DOCVMENTVM ERGA R. P. FERDINANDVM
AVGVSTVM DA SILVA, PER MVLTOS
ANNOS IBIDEM PAROCHVM,
D. D. HENRICVS HINTON, A. S. N.
MDCCCXXVIII

"Ao povo de Santo António, na pessoa do seu mui ilustre e virtuoso pároco, enviamos por tão
útil e valiosa oferta, os nossos mais íntimos e calorosos parabéns".
Aquela inesperada oferta criou a necessidade da imediata reconstrução das torres, tendo-se
nomeado uma comissão, composta do respectivo vigário e dos paroquianos Frederico da Silva, João
Fernandes da Silva, José Pedro Marques e Manuel da Corte, destinada a promover a realização dessa
obra, adquirindo os indispensáveis donativos e superintendendo nos diversos trabalhos de
construção.
Do respectivo projecto se encarregou o hábil desenhador Fernando Augusto Câmara,
produzindo um trabalho completo no seu género, que foi devidamente apreciado e elogiado por
pessoas da maior competência no assunto. Em atenção ás velhas e afectuosas relações de amizade
com o pároco desta freguesia, de quem foi antigo e distinto aluno, não quis Fernando Câmara
receber qualquer remuneração por esse importante trabalho, sendo-nos grato deixar aqui consignado
esse facto com a apresentação dos nossos melhores agradecimentos.
A força imperiosa das circunstancias obrigou a introduzir-se algumas modificações no
primitivo projecto, tendo neste particular, como em outros diversos detalhes de construção, prestado
bons e desinteressados serviços o membro da comissão José Pedro Marques, que é um hábil e
inteligente mestre de obras.
Fez-se um concurso, por meio de propostas em documentos cerrados, para os trabalhos da
edificação das pirâmides e definitivo acabamento dos campanários, sendo adjudicatário o conhecido
empreiteiro José da Corte, do sítio dos Álamos e iniciando-se as respectivas obras no dia 9 do mês
de Maio de 1928. Na altura em que traçamos estas linhas, fins de Fevereiro de 1929, vão aqueles
trabalhos em via de conclusão, após a qual se proceder imediatamente á montagem do magnífico
relógio e seus acessórios. Deve-se atribuir a demora havida a motivos estranhos á vontade do
empreiteiro e dos membros da comissão.
CENTENÁRIO DE SANTO ANTÓNIO

Lançado o pensamento da celebração do sétimo centenário do nascimento do glorioso Santo


António e definitivamente resolvida a sua realização em diversas terras do pais, não podia esta
freguesia, que tinha o nome do grande taumaturgo, ficar indiferente á corrente de vivo entusiasmo
que aquela ideia despertara em muitos espíritos.
E soube esta paróquia corresponder condignamente ao apelo feito aos católicos portugueses,
tendo os festejos comemorativos do centenário atingido aqui um brilhantismo fora do vulgar e que
dificilmente poderá ser excedido e mesmo igualado. A alma dessa comemoração festiva foi o padre
Teodoro João Henriques, cura desta freguesia, que pôs incondicionalmente a favor dela toda a sua
dedicação e todo o seu entusiasmo, ainda á custa da sua saúde, do seu bem estar e dos seus parcos
haveres, não contando os grandes dissabores e contratempos com que teve de lutar a sua enérgica
vontade e de que tudo soube vencer triunfantemente..
A comissão organizada para levar a efeito a celebração do centenário ficou assim constituída:
presidente o pároco Teodoro Urbano Ferreira Pita, vice-presidente barão Charles Van Benedea,
secretario o professor Edmundo Alberto Ubaldino da Silva, tesoureiro o cura Teodoro João
Henriques e vogais Maurício Carlos de Castelo Branco, medico-cirurgião António Alfredo da Silva
Barreto, Teodoro João Henriques, Augusto Ernesto Afonso, João Maria Henriques, Francisco
Fernandes Camacho, João Rodrigues de Aguiar e João Joaquim de Oliveira Rodrigues.
Nomeada a comissão, iniciou desde logo os seus trabalhos, organizando primeiramente o
programa dos diversos festejos, que teve o mais cabal cumprimento em todos os seus números. É
certo que surgiram grandes dificuldades e que escassearam os recursos pecuniários para se realizar
integralmente um vasto e aparatoso programa em meio tão limitado, mas a boa vontade de todos os
membros da comissão e de modo especial a dedicação sem limites do padre Teodoro João Henriques
souberam conjurar eficazmente todos os obstáculos e o programa cumpriu-se ainda nos seus mais
minuciosos detalhes. Damol-o em seguida:
"Programma dos festejos do 71 centenário do Glorioso Taumaturgo português: Santo
António de Lisboa, na freguesia de Santo António do Funchal.
"No dia 11 de Agosto-11 dia- "Pelas 3 horas da tarde o Ex.mo e revd.mo Sr. cónego deão da
Sé Catedral e governador do Bispado, doutor João Joaquim Pinto, lançará a benção solemne á
imagem do glorioso Santo António, tendo logar essa cerimónia na igreja de São João Evangelista,
vulgo Collegio, sendo cantado em seguida por um coro de creanças o hymno dedicado ao centenário,
composição do distinto poeta revd.mo padre Manuel Nunes. Depois saíra a procissão conduzindo a
veneranda imagem para a igreja de Santo António a fim de ser colocada no frontispício, como
inauguração das festas antonianas nesta ilha.
"0 itinerário da procissão: rua da Carreira, Ponte de São João, Cabouqueira, Maravilhas,
Pico de São João e Caminho de Santo António.
"Para acompanhar o préstito religioso estão convidadas todas as confrarias e irmandades
deste concelho, taes como: confrarias do Santíssimo Sacramento da Sé, São Pedro, Santa Maria
Maior, São Gonçalo, Nossa Senhora do Monte, Santa Luzia, São Roque e São Martinho; as da
ordem de São Francisco, de Nossa Senhora do Monte do Carmo, Nossa Senhora do Monte, Nossa
Senhora da Soledade das igrejas das Mercês e de Santa Clara, São Pedro Gonçalves Telmo (Corpo
Santo), São Gonçalo, Santa Luzia, São Roque e São Martinho.
"Os caminhos e ruas por onde vae passar a procissão vão ser enfeitados com flores e
bandeiras.
"Chegado que seja o préstito á igreja de Santo António será colocada a imagem no seu
respectivo nicho e nessa ocasião subirão aos ares muitas girândolas de foguetes ao som dos repiques
dos sinos e do hino nacional e em seguida haverá um sermão adequado ás festas deste dia.
"Apoz as festas do templo, será aberto no adro um esplêndido bazar de mimosas prendas
oferecidas pelas damas da cidade e dos campos, cujo produto revertera a beneficio das despesas a
fazer com os festejos.
"Haverá musica no adro, iluminações e fogos de artifício.
"A igreja e os arredores estarão lindamente decorados com arcos de buxo, flores, balões,
bandeiras e legendas alusivas aos festejos.
"Neste mesmo dia, de tarde, vários cavalheiros irão ao adro da igreja oferecer o Objectos de
vestuário a vinte e quatro pobres d'ambos os sexos, que já se acham designados, em honra do grande
Santo António.
"Dia 12-21 dia.- Continuam os bazares de prendas, havendo musica pelas 3 horas da tarde.
"Ás 5 horas haverá vésperas cantadas, com o Santíssimo exposto solenemente e em seguida
sermão. Á noite iluminações e musica.
"Dia 13-31 dia.- Tudo como no dia antecedente, tendo logar além disso a instituição da Obra
Pia denominada Pão de Santo António, com o fim de socorrer os pobres.
"Dia 14-41 dia.- Vespera da grande festa.- Do meio dia em deante tocarão 3 musicas no adro
e nas imediações, com bazares e grande quantidade de foguetes e salvas.
"Pelas 5 horas haverá, como nos dias anteriores, vésperas solenes com o Santíssimo exposto
e sermão. Á noite vistosas iluminações em todo o caminho por onde tem de passar a procissão do dia
15 e grande quantidade de fogos de artifício, feitos pelos melhores pyrothechnicos do concelho, que
durarão até altas horas da noite.
"Dia 15-Além das musicas, bazares e todo o mais dos dias anteriores, haverá missa
solemnissima a grande instrumental com 30 instrumentos e outras tantas vozes.
"O sermão ao Evangelho é do distinto orador sagrado padre João Baptista. Á festa haverá
exposição do Santíssimo em um magnífico trono. De tarde pelas 5 horas haverá sermão antes da
procissão, para a qual estão convidadas as autoridades eclesiásticas, civis a militares, várias
corporações, as redacções dos jornais, "Diário de Noticias", "Diário do Comercio e "Verdade".
Nesta procissão será conduzida a imagem grande de Santo António.
A procissão será o remate da festa religiosa, continuando porém as musicas, bazares e
foguetes até á noite".
Em conformidade com o programa organizado pela comissão promotora da celebração do
centenário, deram-se inicio, no dia 11 de Agosto de 1895, aos brilhantes festejos destinados a
comemorar aquele acontecimento e que revestiram um esplendor e uma imponência verdadeiramente
extraordinários.
No frontispício da igreja paroquial existia um nicho, que era da construção primitiva e que
havia sido destinado á colocação duma estátua do padroeiro. Só passado um século é que esse nicho
ia ser ocupado por uma imagem do patrono desta freguesia, e foi a ideia da celebração do centenário
do seu nascimento, que fez preencher aquela grande lacuna.
Adquirida uma imagem de Santo António, que se acomodasse ás dimensões e forma do
nicho, Procedeu-se á sua benção, que foi lançada na igreja do Colégio pelo deão e governador do
bispado Dr. João Joaquim Pinto, no domingo 11 de Agosto, pelas 4 horas da tarde, com uma
numerosa concorrência de fieis das diversas freguesias do concelho. Por esta ocasião, um coro de
crianças cantou o hino do centenário, composto expressamente pelo distinto poeta o Rev. padre
Manuel Nunes e que despertou um vivo entusiasmo em todos os assistentes. Aqui deixamos
arquivada a letra desse hino:

Glória a Deus que dos Céos manifesta


Nos seus Santos poder sem igual!...
E lá d'essa mansão sempre em festa
Nos inflama em amor divinal.

ESTRIBILHO

Salve, Salve, meu bom Santo António!


Taumaturgo de fama imortal,
Luz do mundo, nobreza de Padua,
Honra e gloria do meu Portugal!...

Dos antigos leaes portugueses


Amostremos as crenças de fé;
Pois, cantando de António as virtudes,
Celebramos as glórias da fé

Grande Santo! de língua bemdita


Vão-lhe os peixes o verbo escutar
E na tumba um cadáver se agita
Quando o pae vem da morte salvar

Entre o povo creado e nascido,


Pelo povo a lidar no Senhor,
É do povo exaltado e querido
Com extremos de affecto e de amor,

Eia pois, portuguezes, avante !..


Seja a festa uma excelsa canção
Pelo Santo que é glória da Pátria,
Por António que é nosso irmão.

Organizou-se em seguida o préstito religioso, que devia conduzir processionalmente a


imagem e que percorreu o itinerário indicado no programa.
Nele se encorporaram, além das irmandades da paróquia, varias confrarias de outras
freguesias e muitos eclesiásticos, fechando a procissão a filarmónica "Recreio Artistico-
Funchalense". No longo percurso, desde o Largo do Colégio até o adro da Igreja de Santo António,
era enorme a afluência de pessoas de todas as camadas sociais, que acorriam pressurosamente de
toda a parte a ver desfilar o extenso e imponente cortejo.
O caminho de Santo António, em quasi toda a sua extensão, achava-se vistosamente
engalanado com bandeiras e arcos de verduras e flores, sobressaindo a ornamentação do pequeno
largo que defronta a quinta dos Cedros, residência do barão de Van Beneden. A partir, porém, da
Quinta do Leme é que a decoração da estrada revestia maior brilho pela profusão das bandeiras e
arcos ornamentados a buxo, flores e trofeus, o que igualmente se via em todos os caminhos, que
deviam ser percorridos pela procissão do dia 15 e que constituía o encerramento dos festejos.
Ao chegar o prestito-religioso á igreja paroquial e ali recebida solenemente a imagem de
Santo António foi esta colocada no seu respectivo nicho, no alto da fachada do majestoso templo,
sendo o seu aparecimento saudado com cânticos entusiásticos, executados por um coro de crianças e
também pelo hino nacional tocado por uma filarmónica.
A igreja, que se achava rica e artisticamente decorada, foi visitada por uma enorme multidão
de pessoas, que para ali convergiam, particularmente atraídas pelo desejo de admirar a bela e
majestosa imagem de Santo António, que se venera no altar-mór. Esta imagem, de proporções muito
superiores estatura normal dum homem e que vista de perto apresenta formas agigantadas, foi
apeada do lugar que habitualmente ocupa em posição sobranceira ao altar e colocada na capela-mor
junto da escadaria do mesmo altar, para mais facilmente ser admirada e venerada pelos inúmeros
fieis que dela ininterruptamente se acercavam. É sem duvida uma bem esculturada imagem e que se
afirma ter vindo duma cidade de Espanha pelos anos de 1705 e que mede dois metros e meio de
altura.
Os brilhantes festejos da celebração do centenário, como atrás fica dito, iniciaram-se no
domingo 11 de Agosto de 1895 e terminaram na quinta-feira seguinte, dia em que perfazia
setecentos anos que o grande taumaturgo nascera na cidade de Lisboa.
Na segunda, terça e quarta-feira houve em todos os dias missa solene a grande instrumental e
sermão ao Evangelho, tendo pregado os reverendos padres João José Correia, no primeiro e terceiro
dias, e o padre João Maurício Henriques, no segundo dia. Em todos os dias cantaram-se de tarde
Vésperas solenes, em que foram oradores os reverendos padres Jacinto da Conceição Nunes,
António Fernandes Mendes e João Joaquim de Carvalho. Todos estes actos religiosos foram
imensamente concorridos e revestiram uma particular imponência.
Fora do templo, os festejos, que constaram de musicas, iluminações e fogos de artifício,
foram também brilhantíssimos e atraíram notável concorrência não só da paróquia como de todas as
freguesias do distrito.
A iluminação, em toda a estrada que devia ser percorrida pela procissão do dia 15, merece
referência especial pela profusão de lumes e belíssimo efeito que produzia. Chamava
particularmente a atenção de todos o bazar de prendas, instalado no adro, pelo valor e variedade dos
objectos que nele figuravam e que tinham sido oferecidos pelas damas funchalenses.
Todos estes festejos e em especial as iluminações e fogos de artifício atingiram na véspera da
grande solenidade o brilhantismo e a maior imponência compatíveis com as circunstancias e os
recursos de que se podia dispor em um meio tão acanhado. A concorrência, como dissemos já foi
enorme e cresceu de dia para dia, sendo nos dias 14 e 15, verdadeiramente extraordinária, acudindo
muita gente de todas as freguesias da ilha. A novidade dos festejos da celebração dum centenário, a
sua duração desde o dia 11 a 15, o brilhantismo fora do vulgar que revestiram, a imponência da
procissão conduzindo a gigantesca e majestosa imagem do padroeiro, foram outros tantos motivos
que consideravelmente concorreram para a desusada afluência de povo, que em todos os dias se
notou, e para o vivo entusiasmo que despertou em todos os espíritos.
No dia 15 de Agosto, que era o aniversário do nascimento do ilustre taumaturgo, celebrou-se
na igreja paroquial a grande festividade religiosa, que juntamente com a procissão que se realizou
na tarde desse dia, constituíram o encerramento de todos os festejos. Á solenidade da manhã
imprimiu um desusado brilho a grande profusão de lumes, a aparatosa ornamentação do templo, a
grande orquestra e o numero considerável de vozes que formavam o coro, servindo a tudo de fecho e
remate o notável discurso que ao evangelho proferiu o padre João Baptista e que produziu no
auditório as mais gratas e belas impressões.
De todos os números do programa foi indubitavelmente a procissão o que mais entusiástico
alvoroço despertou em todos os que se tinham associado aos festejos do centenário. A grande
imagem do santo padroeiro era o maior atractivo desse imponente préstito religioso. Julgou-se que o
seu peso e extraordinário tamanho não permitiriam a sua fácil condução num andar, que
propositadamente se construíra para tal fim. Não falharam, porém, as previsões dos que se
abalançaram a conduzir processionalmente a estátua do patrono desta freguesia num tão longo e
difícil percurso. Dezasseis sacerdotes revestidos de sobrepelizes conduziam nas mãos, num enorme
andar ricamente ornamentado, a imagem colossal do glorioso Santo António de Lisboa. Foi
indescritível o entusiasmo que se apossou das grandes massas de povo que se estendiam ao longo da
estrada. No meio do mais profundo respeito e do mais religioso acatamento não se podiam conter as
vozes de admiração e as exclamações de surpresa, á vista de tão belo e imprevisto espectáculo.
Ao sair a procissão, pregou eloquentemente o padre Manuel Nunes. O cortejo abria por um
numeroso grupo de crianças conduzindo pendões e outros emblemas religiosos, seguindo-se-lhe uma
filarmónica. Iam após muitas irmandades da paróquia e das freguesias vizinhas e no centro duma
delas ostentava-se majestosa a imagem de Santo António. Em seguida ao pálio caminhava uma
filarmónica, fechando o préstito uma força de caçadores 12 comandada por um alferes.
O pequeno largo, junto do adro da Igreja Paroquial, comunicava directamente com a ponte de
Santo António por meio duma estreita e tortuosa vereda, sendo esta convenientemente alargada e
melhorada poucos dias antes da celebração das festas, servindo para a circulação da enorme
afluência de pessoas e também para a passagem do imponente préstito religioso. Era um
melhoramento ha muito reclamado, tendo sido dado nova estrada o nome de Luís Betencourt
Miranda, então secretario da Câmara Municipal do Funchal, porque aos seus diligentes esforços se
ficou devendo a realização desse importante melhoramento.
Por ocasião das festas centenárias, criou-se na Igreja Paroquial desta freguesia a obra
chamada do Pão de Santo António, bastante conhecida em vários países estrangeiros, que se destina
a recolher donativos para os pobres e que ainda aqui perdura, distribuindo em dias determinados do
ano esmolas a algumas dezenas de indigentes.
Em belas estampas, de dois diferentes formatos, se reproduziu fielmente a grande imagem do
insigne taumaturgo que se venera na Igreja Paroquial desta freguesia. Esses trabalhos, que foram
muito apreciados e tiveram uma larga difusão, são duas gravuras abertas em madeira, devidas ao
buril do distinto artista madeirense Luís António Bernes. No verso da estampa de maior formato, se
encontra, em quadras ligeiras e de feição acentuadamente popular, uma resumida vida do santo,
escrita pelo conhecido poeta Maurício Castelo Branco, que então residia nesta paróquia.
Os jornais dão-nos a noticia de que, na Itália, já se fazem preparativos para a celebração do
centenário da morte de Santo António, que ocorre no próximo ano de 1931. Na cidade de Padua,
onde morreu e jaz sepultado na suntuosa basílica do seu nome, prometem ser extra ordinariamente
brilhantes essas comemorações centenárias. É de presumir que esta freguesia de Santo António não
fique indiferente a esse movimento, que se vai despertando em diversas cidades italianas.
CASA DE SAÚDE DO TRAPICHE

Pertencentes ao morgadio da família Gouveia Rego, existiam uns vastos terrenos no sítio do
Trapiche desta freguesia, onde fizeram levantar uma casa solarenga de campo, cuja construção deve
remontar á primeira metade do século XVIII. Em 1791 era administrador do vinculo o capitão-mor
António Francisco de Gouveia Rego, que naquele ano pretendeu edificar a capela ali existente, mas
que somente foi construída pelo seu filho e sucessor o sargento-mór João António de Gouveia Rego
no ano de 1814, como mais largamente se pode ver no capítulo intitulado Capela de São João e
Santana. Aquela casa, com os jardins, passeios e arvoredos que a circundavam, transformou-se então
numa aprazível e confortável vivenda, onde os seus proprietários passavam a época estival, dando ali
concorridas e aparatosas festas.
A sua posse transmitiu-se ao morgado Manuel de Gouveia Rego e deste a sua filha D. Maria
Paula Kniglofer Rego, senhora de aprimorada cultura e de peregrinas virtudes, ultima representante
desta instituição vincular, que faleceu no Funchal no dia 1 de Junho de 1922. A quinta do Trapiche
foi doada pela sua ilustre proprietária ao reverendo monsenhor Manuel Joaquim de Paiva e destinada
a acudir aos encargos gerais da Diocese do Funchal. Ali esteve provisoriamente instalado o
Seminário Diocesano no ano lectivo de 1917 a 1918.
E hoje acham-se nela funcionando as diversas dependências da Casa de Saúde do Trapiche,
dirigida pelos beneméritos e incansáveis irmãos de São João de Deus.
No "Elucidário Madeirense" inserimos uma noticia acerca do Manicómio Câmara Pestana,
fazendo sentir que as suas instalações se iam tornando insuficientes para o numero sempre crescente
de alienados, a que era indispensável dar conveniente hospitalização. Impunha-se imperiosamente o
seu desdobramento, criando-se um manicómio destinado somente a homens e aplicando-se a casa da
Quinta Rochedo ao tratamento exclusivo de mulheres. Assim veio acontecer alguns anos mais tarde.
A ideia do estabelecimento dum hospital para alienados, nas casas do Trapiche, é anterior á
fundação do Manicómio Câmara Pestana. Essa concepção partiu do bispo diocesano D. Manuel
Agostinho Barreto, que empregou os mais diligentes e aturados esforços para a sua realização,
conseguindo que a proprietária fizesse a cedência da quinta destinada aquele fim e insistindo junto
dos irmãos de São João de Deus para que estes tomassem a direcção do Manicómio a fundar. As
suas diligências não foram então coroadas de bom êxito, tendo surgido graves dificuldades que não
poderam ser vencidas. Convém ficar bem acentuado que desejou ardentemente, e nesse sentido
trabalhou com a maior dedicação e entusiasmo, dotar este arquipélago com um hospital modelar de
alienados, sendo este mais um título de glória a enobrecer as suas eminentes qualidades de
benemérito e apostólico prelado.
Criou-se o Manicómio Câmara Pestana no ano de 1906 e D. Manuel Barreto continuou a
julgar necessária a fundação do Trapiche, prevendo que num futuro próximo se tornaria
absolutamente indispensável mais essa instituição hospitalar. Por essa época e talvez ainda anterior a
ela, alguns irmãos de São João de Deus, que por mais duma vez tinham vindo á Madeira fazer
peditórios para as obras de hospitalização que mantinham no continente, reconheceram quanto seria
útil e frutuosa a sua acção nesta ilha, atendendo ao numero considerável de doentes, que precisavam
de ser internados nas condições exigidas pela ciência e de harmonia com os preceitos da verdadeira
caridade cristã.
Por 1920 pensou-se na entrega da direcção do Manicómio Câmara Pestana aos irmãos de São
João de Deus, levantando-se então uma grande celeuma na imprensa e nas sessões da Junta Geral.
No entanto vai tomando corpo a antiga ideia da fundação do hospital no Trapiche. Presta-lhe o seu
mais incondicional apoio o prelado diocesano Sr. D. António Manuel Pereira Ribeiro, e a dedicação
e o desinteresse do Dr. João Francisco de Almada, conjugados com os bem orientados esforços
dalguns irmãos de São João de Deus, fazem o resto. A obra seria em breve uma palpável realidade.
Em princípios do mês de Junho de 1922 os irmãos de São João de Deus ocupam as casas da
quinta do Trapiche. É uma instalação mais que rudimentar, em que as dificuldades surgem de todos
os lados, pondo em grande prova o espírito de abnegação e sacrifício dos pobres irmãos. A coragem
não lhes falta e logo recebem alguns poucos doentes, não alienados, desta freguesia. Estava iniciada
a sua cruzada de bem fazer.
Os primeiros doentes privados da razão só foram ali internados em Outubro de 1923. O
período decorrido entre aquelas duas datas foi especialmente consagrado a realizar alguns peditórios
por vários pontos da ilha e aquisição dos meios indispensáveis para a adaptação do edifício ao fim a
que agora se destinava. Uma parte considerável da casa solarenga encontrava-se em estado
adiantado de ruína, sendo além disso difícil a sua acomodação para nela se instalarem, em
condições de segurança, indivíduos atacados de perturbações mentais. Tiveram por isso os irmãos
que lutar com grandes trabalhos e sacrifícios, para preparar convenientemente o edifício e torna-lo
apto para a recepção dos primeiros doentes. O seu numero foi aumentando e desde logo se
reconheceu os assinalados e nunca excedidos serviços que a nova instituição vinha prestar.
Em Maio de 1924 agitou-se na Junta Geral a questão da transferência dos alienados do
Manicómio Câmara Pestana para a Casa de Saúde do Trapiche, pondo-se em saliente relevo, no seio
daquela corporação, não somente a insuficiência da enfermagem, o acanhado das instalações e o
tratamento brutal e desumano prestado aos doentes, mas ainda os escândalos de toda a ordem, que se
davam no interior daquela Bastilha, como então foi chamado á casa de alienados da Quinta do
Rochedo. Impunha-se absolutamente a transferência dos doentes para o hospital do Trapiche. O
principal paladino desta ideia foi o Dr. Domingos Reis Costa, que apoiado pelo presidente da Junta
Geral Dr. Vasco Gonçalves Marques e por outros vogais, advogou com o maior entusiasmo, tanto
nas sessões deste corpo administrativo como na imprensa local, o imediato internamento dos doentes
do Manicómio na Casa de Saúde dos Irmãos de São João de Deus. Esta transferência deu-se no dia
21 de Maio de 1924, tendo sido transferidos 38 alienados do sexo masculino da Quinta do Rochedo
para a quinta do Trapiche. Estava realizada uma grande obra de humanidade.
A inauguração solene deste manicómio realizou no mês de Agosto de 1924 com a assistência
do ilustre prelado diocesano, provincial da ordem de São João de Deus e de outras pessoas de
representação social.
Para a manutenção legal da Casa de Saúde do Trapiche constituiu-se uma agremiação, com
os seus estatutos aprovados pela autoridade competente, denominada "Associação dos Irmãos de São
João de Deus". Dela foi director, desde o inicio da fundação hospitalar até o ano de 1928, o membro
da Corporação Manuel Maria Gonçalves, que, apesar da simplicidade do seu trato, desafectada
modéstia e precária saúde, conseguiu orientar e levar a cabo aquela obra, que é uma instituição
modelar da mais acendrada caridade para com os doentes e ao mesmo tempo um calvário das mais
heróicas virtudes por parte dos seus beneméritos e inexcedíveis enfermeiros.
Despertou-se por toda a parte um vivo entusiasmo pelos relevantes serviços prestados pela
nova casa de alienados. Vão aparecendo esmolas e donativos, que ali acorrem levados pelas
chamadas romagens. Grupos muito numerosos de indivíduos de todas as idades, sexos e condições,
formam grandes romarias, que vão depor os seus óbolos de dinheiro, de géneros alimentícios e de
objectos de uso domestico de toda a ordem nas mãos dos dirigentes. Essas romarias tiveram seu
inicio nesta paróquia e aqui prosseguiram por largo tempo, sendo especialmente dignas de menção
as dos sítios das Casas Próximas, Madalena, Preces, Três Paus e Boliqueme, que constituíam
extensos cortejos dum atraente pitoresco, em que o espírito de bem fazer se casava admiravelmente
com a mais interessante e típica originalidade. Outras freguesias tomaram também a iniciativa de
idênticas romarias, com proporções ainda mais aparatosas, entre as quais sobressaíram as do Monte,
São Roque, Câmara de Lobos e Estreito.
Dos muitos e importantes melhoramentos, realizados pelos irmãos de São João de Deus, é
forçoso salientar a construção da estrada para automóveis, que pôs a casa do Trapiche em rápida e
directa comunicação com o sítio do Boliqueme e portanto com a cidade, a ligação da mesma casa
com a rede geral dos telefones, a canalização de aguas e as obras preparatórias para a edificação de
novos pavilhões, sem contar a adaptação dos antigos edifícios para a instalação do hospital, como já
deixámos acima referido.
O movimento de doentes neste estabelecimento hospitalar, desde a sua fundação, tem sido o
seguinte, referido a 31 de Dezembro de cada ano:

1923 em 31 de Dezembro existiam 2


1924 " " " 59
1925 " " " 79
1926 " " " 87
1927 " " " 88
1928 " " " 104

Tem esta Casa de Saúde, como todas as suas similares, um serviço especial do culto, de que é
director o capelão privativo do estabelecimento. Apesar da sua acção religiosa se destinar
particularmente ao uso dos doentes e da comunidade que ali trabalha, teem os sacerdotes irmãos de
São João de Deus tomado parte nos diversos actos do culto realizados nesta freguesia, sendo os mais
excelentes e desinteressados auxiliares dos respectivos párocos. Na sua capela administram
prontamente os sacramentos aos fieis que os procuram, atendem os enfermos nos seus domicílios
com os socorros espirituais, acompanham os mortos á sua ultima jazida e prestam na Igreja
Paroquial todos os serviços que lhes são o solicitados. 0 primeiro capelão foi o padre José Maria
Antunes, que ali serviu desde Fevereiro de 1923 a Julho de 1925. No mês de Agosto do mesmo ano
foi substituído pelo padre Lázaro Ribeiro, que é o actual capelão em serviço.
A historia desta modelar Casa de Saúde, desde a sua instalação até a actualidade, além do
numero sempre crescente dos seus internados e dos melhoramentos materiais que ali se vão
progressivamente introduzindo, consiste apenas nesta cousa simplicíssima, mas admiravelmente bela
e também admiravelmente santa: sempre o mesmo espírito de coragem, de abnegação e de sacrifício
por parte dos incansáveis enfermeiros, sempre o tratamento mais assíduo e mais carinhoso para com
os doentes, sempre o mais desvelado cuidado pelo seu bem estar material, e isto, também sempre,
sem uma fraqueza, sem um desfalecimento, sem um desanimo, apesar das dificuldades, dos
contratempos e das lutas que é preciso sustentar de quando em quando.
PESSOAS MAIS NOTÁVEIS

Na devotada peregrinação, em que durante alguns anos andamos empenhados, recolhendo e


pesquisando os elementos, que pudessem aproveitar ás biografias dos mais distintos madeirenses,
como o atestam as paginas do Elucidário e outros escritos nossos, bem poucos indivíduos naturais
desta freguesia, já falecidos, descobrimos que verdadeiramente se tivessem notabilizado em qualquer
ramo da chamada actividade humana. Constitui uma excepção o general João Alfredo de Faria. E
sem o menor intuito de ofensa ou falta de consideração para com alguém o dizemos. Vamos, no
entanto, fazer menção das pessoas, que, sendo diplomadas com cursos superiores ou ocupando uma
posição social em desta que, teem o direito de ficarem inscritos nestas paginas.
Muitas omissões porventura se darão, devidas á falta dum mais amplo conhecimento do
assunto e nunca a um fim intencional e propositado. Adoptámos, quanto nos foi possível, a ordem
cronológica do nascimento, mencionando primeiramente os mortos e em seguida os vivos. São
naturais desta paróquia:

Padre António Fernandes Pimenta. Desempenhou as funções de cura desta freguesia, no


longo período de 1679 a 1700, e nela faleceu a 8 de Julho deste ultimo ano. Foi o doador das terras
do Passal anexo á casa de residência do respectivo pároco (Vid. o cap. "Encargos Pios").

Padre Pedro Gonçalves de Aguiar. Teve residência habitual nesta paróquia e nela veio a
morrer a 20 de Setembro de 1722. Foi sepultado na Capela de Nossa Senhora de Guadalupe e nela se
vê ainda a pedra tumular com o respectivo epitáfio.

Padre Roque Pereira de Oliveira. Era filho de João Pereira de Oliveira e de Maria dos
Reis. Serviu algumas vezes de cura desta freguesia e aqui faleceu a 20 de Julho de 1731.

Padre Manuel Pereira de Oliveira. Morreu na cidade do Funchal a 24 de Novembro de


1748, mas tinha moradia nesta paróquia no sítio do Pico do Cardo.

Padre José Gomes Camacho. Era natural desta freguesia e nela residia pelos anos de 1771,
mas ignora-se o ano do seu nascimento e da sua morte.

Padre Manuel João de Gouveia. Sucumbiu, nesta paróquia, a 18 de Agosto de 1781,


vitimado pela elefantíase, dispondo que fosse sepultado na capela de São Lázaro.

Padre Simão António de Sousa Pereira. Faleceu nesta paróquia a 15 de Abril de 1795 e foi
sepultado na igreja do convento das Mercês.

Padre António de Freitas. Morreu nesta freguesia a 31 de Maio de 1810.

Padre António Joaquim de Oliveira Camacho. Faleceu em Santo António a 7 de Fevereiro


de 1858 e aqui residiu largos anos.

Padre João Nepumeceno Camacho. Exerceu funções eclesiásticas em diversas paróquias


desta Diocese, e sendo vice-vigario da freguesia dos Canhas, foi ali apresentado pároco colado no
ano de 1840 e na mesma paróquia faleceu a 15 de Setembro de 1858.

Padre Francisco António de Gouveia. Nasceu no sítio do Salão a 21 de Maio de 1793,


sendo filho de Gregorio António de Gouveia e de Maria Quiteria de Gouveia. Foi cura desta
freguesia desde 1834 até o ano da sua morte, que ocorreu a 8 de Junho de 1868.

Padre Felix Gomes da Silva. Era filho do capitão Julião Gomes da Silva e de D. Antonia
Pereira e nasceu no sítio de Santa Quiteria a 20 de Novembro de 1796, ignorando-se o ano da sua
morte.

Padre Valerio António Camacho. Nasceu no sítio da Levada do Cavalo a 6 de Março de


1799, sendo filho de António Joaquim Rodrigues e de Ana Joaquina Rodrigues. Paroquiou nalgumas
freguesias desta ilha. Morreu na paróquia de Câmara de Lobos, onde era vigário colado desde o ano
de 1835, a 8 de Agosto de 1856.

Cónego Joaquim Gomes da Silva Lume. Era filho de Joaquim Gomes Lume e de Antonia
Maria, tendo nascido no sítio da Quinta das Freiras a 15 de Janeiro de 1787. Desempenhou cargos
eclesiásticos em varias freguesias e foi capelão do convento de Santa Clara. De vigário da freguesia
de São Pedro passou a capitular da Sé Catedral, tendo sido mestre escola e provisor do bispado.
Morreu na cidade do Funchal a 11 de Junho de 1868.

Medico-cirurgião António Fernandes Teles da Silva. Nasceu no sítio do Salão a 17 de


Junho de 1818 e era filho de Francisco Fernandes Neves e de Antonia Rosa de Jesus. Concluiu o
curso da Escola Medico-Cirurgica do Funchal no ano de 1844. Faleceu na freguesia de São Vicente,
onde exercia clinica, a 9 de Abril de 1883.

Padre João Fernandes de Freitas. Era filho de João Fernandes de Freitas e de Maria de
Freitas, tendo nascido no sítio da Madalena a 2 de Janeiro de 1822. Exerceu funções paroquiais em
diversas freguesias, e faleceu na de São Roque, a 17 de Dezembro de 1893.

Padre José Augusto de Freitas. Nasceu no sítio do Salão a 2 de Setembro de 1822, sendo
filho de António de Freitas e de Joaquina Rosa Morreu na freguesia do Porto da Cruz, como pároco
colado, a 22 de Abril de 1893.

Padre Luís Soares de Ornelas. Era filho de Luís Soares de Ornelas e de Antonia Joaquina e
nasceu no sitio de Santa Quiteria a 24 de Março de 1823, tendo falecido na freguesia da Boaventura
a 25 de Dezembro de 1875, sendo ali vigário colado.

João Francisco de Sousa. Era filho de Francisco Alexandre de Sousa e de Ludovina de


Sousa e nasceu no sítio do Tanque a 13 de Junho de 1824. Foi um distinto funcionário aduaneiro e
poeta de merecimento, tendo escrito varias poesias que ficaram dispersas pelos jornais. No livro de
versos "Álbum Madeirense" encontram-se algumas composições suas. Faleceu no Funchal.

Medico-cirurgião Henrique Crawford Rodrigues. Sendo filho de Manuel José Rodrigues


e de Maria Crawford, nasceu no sítio da Quinta do Leme a 29 de Junho de 1836. Terminou o curso
da Escola Medica do Funchal em 1857 e foi enfermeiro geral do Hospital de Santa Isabel. Por
ocasião da epidemia da cólera-morbos de 1856 prestou relevantes serviços clínicos, apesar de não ter
ainda concluído o seu curso medico. Faleceu em São Martinho do Porto, onde era medico municipal.

Medico-cirurgião João Crawford Rodrigues. Era filho de Manuel João Rodrigues e de


Maria Crawford e nasceu no sítio da Quinta do Leme a 22 de Junho de 1838. Concluiu a sua
formatura na Escola Medico-Cirurgica do Funchal no ano de 1859. Sendo facultativo do partido
medico municipal de Ponte de Sor, ali faleceu no ano de 1886.

Medico-cirurgião Martinho Augusto Camacho. A 11 de Novembro de 1839 nasceu no


sítio do Jamboto, sendo filho de Manuel Pereira Camacho e de Rosalina Matilde. No ano de 1865
terminou a sua formatura na Escola Medico-Cirurgica do Funchal. Foi medico municipal nos
concelhos de Santana e Machico e morreu na cidade do Funchal a 29 de Janeiro de 1915.

Padre Manuel Augusto de Freitas. Era filho de Agostinho de Freitas e de Maria de Jesus,
tendo nascido no sítio da Quinta do Leme a 25 de Novembro de 1839, e faleceu na freguesia da
Madalena do Mar, onde era pároco, a 19 de Maio de 1891 .

Medico-cirurgião Nicolau Tolentino Camacho. Nasceu no sítio do Jamboto a 16 de Marco


de 1842, sendo filho de Manuel Pereira Camacho e de Rosalina Matilde. Formou-se na Escola
Medico-Cirurgica do Funchal em 1868. Foi facultativo do partido municipal dos concelhos do Porto
Santo e Santa Cruz e faleceu na vila deste nome a 25 de Janeiro de 1912.

Medico-cirurgião António Alfredo Alvares da Silva Barreto. Era filho do cônsul geral de
Portugal nas cidades hanseaticas João Crisóstomo da Silva Barreto e de Matilde Augusta de Aragão
Barreto e nasceu no sítio de Santo Amaro a 9 de Julho de 1845. Concluiu o seu curso na Escola
Medico-Cirurgica do Funchal no ano de 1869. Foi guarda-mór de saúde e medico municipal das
freguesia de Santo António e São Martinho, falecendo nesta ultima no ano de 1914.

Padre António da Silva Correia Valente. No sítio da Madalena, nasceu a 14 de Junho de


1857, sendo filho de Manuel da Silva Correia e de Maria Antonia Valente. Tendo paroquiado em
diversas freguesias, colou-se como vigário no Porto Moniz e depois em São Vicente e ali faleceu a
10 de Outubro de 1911.

Padre António Fernandes Mendes. Nasceu no sítio da Quinta do Leme a 10 de Janeiro de


1860, e era filha de Clemente Fernandes Mendes e de Carolina Cândida de Jesus. Depois de exercer
funções paroquiais nalgumas freguesias, colocou-se na paróquia da Boaventura. Faleceu em Santo
António a 15 de Julho de 1919.

Padre João Rodrigues da Silva. Era filho de Julião da Silva e de Maria Joaquina de Jesus e
nasceu no sítio da Quinta do Leme a 30 de Janeiro de 1860, tendo falecido nesta paroquia a 26 de
Agosto de 1903. Desempenhou funções eclesiásticas em varias freguesias e á data da sua morte era
altareiro-mór da Sé Catedral.

General João Alfredo de Faria. Sendo o mais distinto filho desta freguesia, foi também um
ilustre madeirense, que sobremaneira honrou a sua terra natal. Nasceu no sítio do Vasco Gil a 19 de
Janeiro de 1861 e era filho de José de Faria e de Claudia Matilde de Faria. Frequentou o liceu do
Funchal e tinha o curso de infantaria da antiga Escola do Exército. A sua carreira das armas, em que
verdadeiramente se notabilizou como um dos mais distintos oficiais do exercito nas fileiras e
serviços internos principalmente nos tribunais e repartições superiores para onde fora chamado pelos
brilhantes dotes de inteligência, comprovada competência em cargos que anteriormente exercera e
uma notável e reconhecida inteireza de caracter. Foi promotor de justiça nos tribunais militares e
deputado em diversas legislaturas. No desempenho destes cargos, revelou-se um orador fluente de
acurada correcção de forma e profundo conhecedor das matérias que versava. A sua palavra fácil,
correcta e incisiva despertava particular interesse nos auditórios e era sempre escutada com o mais
devotado apreço. Nalgumas causas celebres, em que teve de intervir como promotor de justiça,
proferiu discursos, que foram julgados como verdadeiros modelos de eloquência forense. Não sendo
um especializado em assuntos financeiros, causou surpresa a sua nomeação para Inspector Geral dos
Impostos, mas com tal proficiência se houve, no exercício dessa importante comissão de serviço que
conseguiu provocar espontâneos e fervorosos louvores ainda de indivíduo desafectos á situação
então dominante. O extenso relatório que acerca desses serviços publicou em dois volumes, foi
objecto de controvertidos juízos na imprensa, mas ninguém pôde negar ao autor de tão valioso
trabalho um estudo consciencioso e aprofundado do assunto, o mais acendrado desejo de bem servir
o seu país e as fulgurações dum alto espírito, que nesse mesmo documento profundamente se
revelou. Tinha ascendido ao posto de general pouco antes do seu falecimento, que ocorreu a 24 de
Janeiro de 1821.

Engenheiro civil João Gomes de Gouveia. Nasceu no sitio do Salão a 19 de Abril de 1861
Francisco Gomes de Gouveia e de António de Jesus de Gouveia. Depois de frequentar o liceu do
Funchal e os preparatórios da Escola Politécnica, completou o curso de engenharia civil na antiga
Escola do Exercito. Tendo ingressado como engenheiro na Companhia dos Caminhos de Ferro após
a conclusão do seu curso, ali permaneceu até à sua morte, que ocorreu ha poucos anos. Era muito
considerado no seio daquela Companhia, tanto pela sua competência profissional como pelas suas
qualidades de caracter.

Francisco Gomes de Gouveia Júnior. Era filho de Francisco Gomes de Gouveia e de


Antonia de Jesus Gouveia, tendo nascido no sítio do Salão a 12 de Abril de 1804. Depois de haver
cursado o liceu do Funchal, diz-nos o Elucidário Madeirense, frequentou a antiga Escola dos
Correios de Lisboa, cujo curso completou. Era oficial aposentado dos correios e exerceu varias
comissões de serviço publico, entre as quais as de vice-presidente da Câmara Municipal do Funchal
e de presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdia. Foi um hábil jornalista,
tendo uma larga colaboração em muitos jornais do Funchal e havendo sido o redactor principal do
antigo periódico a Madeira. Morreu no Funchal a 11 de Agosto de 1926.

João Maria Henrique. Nasceu no sitio das Casas Próximas a 20 de Março de 1866, sendo
filho de Teodoro João Henriques e de Eulalia dos Passos Henriques. Tinha o curso de preparatórios
do Seminário desta diocese e possuía a habilitação para o magistério primário, que exerceu durante
alguns anos. Desempenhou algumas comissões de serviço publico e foi redactor do antigo jornal
Heraldo da Madeira. Faleceu no Funchal a de Janeiro de 1918.

António Maria dos Passos Henriques. Era filho de Teodoro João Henriques e de Eulalia
dos Passos Henriques, tendo nascido no sítio das Casas Próximas a 10 de Maio de 1880. Frequentou
o liceu do Funchal e era diplomado pelo antigo Curso Superior de Letras. Promovia a sua entrada no
magistério secundário dos liceus, quando a morte veio surpreende-lo a 1 de Dezembro de 1902.
Medico veterinário Carlos Alberto de Faria. Nasceu no sítio do Vasco Gil a 1 de Dezembro
de 1863, sendo filho de José de Faria e de Claudia Matilde de Faria. É medico veterinário
aposentado da Câmara Municipal de Setúbal e funcionário da Direcção Geral dos serviços pecuários
do Ministério da Agricultura.

Medico-cirurgião José Maria dos Passos Henriques. Era filho de Teodoro João Henriques
e de Eulalia dos Passos Henriques, tendo nascido no sítio das Casas Próximas a 28 de Dezembro de
1871. Cursou o liceu do Funchal e concluiu a sua formatura na Escola Medico-Cirúrgica desta ilha
no ano de 1907. Fixou residência em Londres ha muitos anos.

Padre José Maria Gomes da Silva. Nasceu no sítio do Lombo dos Aguiares a 22 de Junho
de 1876 e filho de António Gomes da Silva e de Maria Julia da Silva. Ordenou-se de presbítero na
Congregação das Missões, chamada dos Lazaristas. Ha muito que reside no Brasil.

Padre Augusto Prazeres dos Santos. Nasceu no sítio do Salão a 17 de Abril de 1884 e é
filho de António Gomes dos Santos e de Crispina Augusta dos Santos. É actual pároco da Quinta
Grande.

Tenente de infantaria. José Pinto Correia. É filho de Francisco Pinto Correia e de Maria
Cândida Gomes Correia, e nasceu no sítio do Lombo dos Aguiares a 5 de Junho de 1891.

Daniel Vasco da Costa. Nasceu no sítio da Madalena a 28 de Janeiro de 1892, sendo filho
de Joaquim Augusto da Costa e de Maria Augusta da Costa. Tem o Curso do liceu do Funchal.
Evidenciou-se como poeta satírico em diversos jornais madeirenses. É co-autor do opúsculo, em
prosa e verso, "Cá está o visconde" pertencendo-lhe toda a colaboração poética.

Capitão de artilharia Manuel da Costa. Nasceu no sítio da Terra Chã a 29 de Janeiro de


1892, sendo filho de António da Costa e de Julia Augusta da Costa.

Licenciado em direito Álvaro Figueira. É filho de Francisco Gomes Figueira e de Julia


Augusta Correia Gomes Figueira e nasceu no sítio da Madalena a 9 de Novembro de 1894.

Licenciado em direito Gastão de Deus Figueira. Nasceu no sítio da Madalena a 9 de


Novembro de 1896 e é filho de Francisco Gomes Figueira e de Julia Augusta Correia Gomes
Figueira.

Tenente de engenharia Luís Vitoria de França e Sousa. A 4 de Maio de 1900 nasceu no


sítio da Levada do Cavalo, sendo filho de João Maria de França e Sousa e de Isabel da Glória de
França e Sousa.

Licenciado em medicina Jacob Pinto Correia. É filho de Francisco Pinto Correia e de


Maria Cândida Gomes Correia, tendo nascido no sítio do Lombo dos Aguiares a 6 de Janeiro de
1901.
PADRE TEODORO JOÃO HENRIQUES

Já deixámos dito que nos ocuparíamos em capítulo especial deste digno e zeloso sacerdote.
Cumprimos a promessa feita, aproveitando as linhas que consagrámos a sua memória, incertas numa
revista de Lisboa, pouco depois da sua morte. E bem merecida é esta singela homenagem. Entre os
eclesiásticos que exerceram funções paroquiais nesta freguesia, foi um dos que mais notavelmente se
distinguiram pelo seu assíduo e perseverante trabalho na evangélica doutrinação dos fieis, nas obras
de zelo que fomentou, nas associações pias que estabeleceu, estendendo-se a sua fecunda acção
como pároco e como cura a todas as particularidades do ministério pastoral. É de justiça recordar
agora que o padre Teodoro Henriques promoveu e fez realizar nesta paróquia as grandiosas festas
centenárias, a que mais de espaço nos referimos no capítulo intitulado Centenário de Santo António.
Tinha por esta freguesia, onde viveu desde os mais tenros anos, a mais afectuosa predilecção,
interessando-se vivamente pelo seu engrandecimento e prosperidades.
"Não ha vislumbre de exagero afirmando que entre eles adquirira um logar de destaque o
padre Teodoro João Henriques. E esse logar conquistara-o pelas suas virtudes, pela conduta
irrepreensível do seu proceder e mais ainda pela maneira, poucas vezes excedida, como
desempenhara as funções do seu ministério. Uma virtude sã, benevolente, toda cheia de bondade,
uma conduta em que só seguira a linha recta do dever, sem passos oblíquos nem tergiversações
indecorosas, e uma vida inteiramente consagrada á santificação dos que foram confiados á guarda do
seu zelo, com o desprendido sacrifício da sua saúde e até dos seus minguados recursos.
O padre Teodoro João Henriques, que nasceu no Funchal em Novembro de 1861 e se
ordenou de presbítero em 1884, foi um estudante muito inteligente e aplicado, e sempre um exemplo
modelar no exatíssimo cumprimento dos seus deveres de aspirante á carreira eclesiástica, tendo por
isso captado as mais fundas simpatias dos seus superiores e especialmente do inolvidável padre
Ernesto Schmitz, que nutria por ele a mais arreigada e afectuosa estima.
Possuía uma grande cultura theologica, e quando o falecido bispo da Madeira reunia
semanalmente na Sé Catedral o clero da cidade e subúrbios para as chamadas Conferencias
Teológicas, o padre Teodoro Henriques deu provas de uma grande aplicação ao estudo e dos seus
aprofundados conhecimentos nos diversos ramos da ciência que ali se professava, sendo um dos
eclesiásticos que mais se distinguiram no seio daquelas reuniões, que infelizmente não tiveram larga
duração. Era também um musico muito distinto.
Foi, porém, como cura de almas, que as suas aptidões, o seu zelo incansável e a sua
dedicação pelo bem espiritual e temporal dos seus paroquianos, notavelmente se evidenciaram,
tornando-se o verdadeiro pastor que está pronto a dar a vida pelas suas ovelhas, segundo a frase e o
sentir do Evangelho. Como coadjutor da freguesia de Santo António, foi o continuador do
ressurgimento religioso ali iniciado pelo padre Henrique Modesto de Betencourt e depois, como
pároco da mesma freguesia e da de S. Martinho, todo se consagrou ao seu apostolado, sem
esmorecimentos nem tibiezas, sempre com o mais acendrado fervor, sempre com o mais caloroso
entusiasmo na constante pregação da palavra de Deus, no ensino assíduo da catequese, na
administração a mais acrisolada dos sacramentos, na visita carinhosa dos enfermos, na criação e
propagação de diversas obras de zelo, na prudente e eficaz reforma dos costumes, no vigoroso
combate do proselitismo protestante etc., que o tornaram um dos mais respeitáveis, dos mais
queridos e dos mais prestigiosos párocos da diocese funchalense.
Em junho de 1911 seguiu o padre Teodoro Henriques para Lisboa e dali tencionava partir
para Mondariz, afim de fazer uma estação de águas que a sua abalada saúde exigia, quando foi preso
no norte do pais e sujeito a vários incómodos e vexames, de que poude dentro de poucos dias
libertar-se, tomando então a direcção de Espanha. Feita a cura das termas, regressou sem demora á
sua terra natal, tomando a embarcação que o devia conduzir de Vigo ao Funchal. Por desgraça sua
teve o vapor que entrar no Tejo e, apesar da resolução de não desembarcar, afim de não se expor ás
torturas por que passou na sua ida para Mondariz, foi preso a bordo e conduzido ao Limoeiro como
um perigoso malfeitor.
No Limoeiro e depois na Trafaria passou longos meses sofrendo as torturas que neste país
teem sofrido a maior parte dos presos políticos, mas arrastando-as com uma tamanha serenidade,
com uma tão conformada resignação, que á primeira vista parecera que uma grande atonia moral lhe
atrofiara o espírito e lhe anulara todas as energias. Era simplesmente uma alma cheia daquela
incomparável coragem, que só a religião inspira e sustenta e que muitas vezes conduz
intemeratamente ás heroicidades do martírio.
Depois de longo cativeiro, eil-o restituído á liberdade. Comprovada a sua inocência, que a
dedicação sem limites dum irmão fizera brilhar com intensa luz, voltou ao seio da família
estremecida, dos velhos pais que o adoravam, mas com as forças abatidas e a saúde abalada. Em
breve se manifestou a tuberculose pulmonar, que certamente contraíra nas celas da Trafaria.
A 6 de Outubro de 1912 morre serenamente, confortado com os sacramentos dos
moribundos, descansando enfim da vida afadigosa e cheia de merecimentos que levara neste mundo.
Mas uma tragédia se desenrola, poucas horas depois, junto do seu cadáver ainda quente, talvez
palpitante ainda dos últimos sopros de vida: cai fulminado pela morte o pai que o adorava.
No dia seguinte, entre milhares de pessoas, repassadas de dor e de lágrimas, atravessavam as
ruas do Funchal dois ataúdes a caminho do cemitério. Pai e filho, cobre-os a mesma lagea tumular".
O POETA ANTÓNIO NOBRE

Em procura de lenitivos aos seus graves padecimentos, passou este ilustre poeta uns meses na
Madeira, nos anos de 1898 e 1899. Residiu algumas semanas, no sítio do Boliqueme desta freguesia,
numa pequena casa que ainda ali existe e que não sofreu apreciável modificação desde o tempo em
que nela habitou o celebrado autor do Só. Como documentação da sua estada nesta paróquia, vamos
deixar aqui transcritas duas cartas, que particularmente interessam a este assunto. A primeira,
publicada em Março de 1915, no antigo Diário do Comercio, é da autoria do falecido proprietário
Manuel Pinto Correia e concebida nos seguintes termos: "Tendo lido no seu conceituado jornal, do
dia onze do corrente, um artigo subordinado á epígrafe - Festas de homenagem ao poeta António
Nobre em que se faz referência á sua estada na Madeira, em busca de alívios para a terrível doença
que o matou, lembrou-me comunicar a v. que possuo no Trapiche, á freguesia de Santo António,
sítio onde o poeta viveu durante o tempo em que se demorou nesta ilha, uma nespereira, que
conservo como valiosa recordação, na qual o melancólico cantor do Só gravou entre outras, as
seguintes palavras, já meio apagadas pela acção do tempo e engrossamento natural da árvore:
_"Sede de imensa luz como a dos pára-raios".
É certo que António Nobre esculpiu aquela frase no caule da árvore existente no prédio do
sítio do Trapiche, que ao tempo pertencia a Manuel Pinto Correia, mas nunca residiu nessa casa. Era
esta então temporariamente habitada por uma família, ilustre pelo sangue e pelas virtudes, das
relações do poeta e que ele amiudadamente visitava. Também é certo que não residiu nesta freguesia
durante todo o tempo em que esteve na Madeira, como parece deduzir-se da leitura da carta
transcrita, pois com certeza se sabe que viveu na cidade do Funchal com mais longa permanência do
que em Santo António. Manuel Pinto Correia, que aliás era um caracter austero, equivocou-se
evidentemente. Tendo um jornal do Funchal, fundamentando-se talvez naquela carta, afirmado que
António Nobre residira na casa do Trapiche, veio á imprensa o distinto naturalista Adolfo César de
Noronha restabelecer a verdade dos factos, dando as mais categóricas e terminantes indicações
acerca deste assunto. Reproduzimos integralmente esse escrito:
"Não senhor! A gravura que o "Jornal" publicou em 18 do corrente não representa a casa
habitada pelo poeta António Nobre. Isto é já sabido e mais que sabido. A que ali se figura fica no
Trapiche e foi habitada pela Condessa de Cascais. Hoje lá esta uma escola oficial.
Foi ha 4 ou 5 anos que, depois de muito procurar, consegui identificar, sem sombra de
duvida, a casa de habitação do Poeta em Santo António. É uma casa térrea, muito humilde, rodeada
de vinha e outros plantios e situada ao oeste do Trapiche, quasi no Boliqueme.
Fotografou-a o Sr. Fernando de Figueiredo que, para esse fim amavelmente se prestou a subir
aquele sítio, fotografando também um dos homens da rede em que o Poeta se fazia transportar,- e
que ainda vive - e tentando também fotografar a cama de madeira que, segundo dizem, é a mesma
em que António Nobre se deitava.
Já anteriormente o Sr. Manuel Perestrelo, com não menos amabilidade, subira ao Boliqueme
com idêntico fim, mas por certas razões de ordem técnica não poude aquele exímio artista executar
nessa ocasião o desejado trabalho. Seria bom que o "Diário de Noticias" fizesse uma rectificação.
A casa do Trapiche não foi habitada pelo Poeta, nem tal facto corre na tradição. Isto é fácil
de verificar entre varias pessoas da localidade". O distinto homem de ciência e professor da
universidade do Porto, Dr. Augusto Nobre, irmão do ilustre poeta, acompanhado por Adolfo de
Noronha e por quem traça estas desataviadas linhas, visitou comovidamente a casa do sítio do
Boliqueme no mês de Outubro de 1927. A modesta habitação é cercada por videiras já anosas e
coevas da estada do poeta ali, que certamente á sombra delas teria sofrido as tristezas do seu forçado
exílio e dum bem amargurado isolamento. Dessas videiras colheu o Dr. Augusto Nobre alguns
bacelos, destinados a serem plantados numa propriedade da família Nobre, onde o grande e
desditoso vate passou uma parte considerável da sua existência.
BREVES NOTICIAS E INFORMAÇÕES

Freguesia de Santo António.- Para as pessoas que porventura não conheçam a Madeira ou
apenas tenham dela uma noticia muito incompleta, não será talvez descabida redundância informar
que a freguesia de Santo António, de que se ocupa este opúsculo, é uma das cinco paróquias
suburbanas do Funchal, capital da mesma ilha. Tem esta paróquia, como freguesias confinantes, a
paróquia citadina de São Pedro, as suburbanas de São Martinho e São Roque e as rurais de Câmara
de Lobos e Curral das Freiras, sendo uma das nove freguesias que constituem o concelho do
Funchal.

"Paróquia de Santo António do Funchal.- Com este título e sob a direcção do actual
pároco, publicou-se nesta freguesia uma pequena revista quinzenal, que teve quasi dois anos de
existência, saindo o primeiro numero a 8 de Março de 1914 e o ultimo a 22 de Janeiro de 1916. 0 seu
fim fica claramente expresso, nas seguintes palavras, extraídas do respectivo artigo de apresentação:
"Destina-se esta modesta publicação a exercer a acção social e religiosa que outras revistas
congeneras estão exercendo... em muitas paróquias da Bélgica, da França e da Alemanha... Embora
tenha esta pequena revista uma feição essencialmente religiosa, não descurará os assuntos que
interessam ao bem estar material desta paróquia, ocupando-se sempre com zelo e dedicação de todos
os melhoramentos e de todas as necessidades reclamadas pela opinião publica, e advogada com
verdadeiro entusiasmo tudo quanto possa concorrer para o progresso e engrandecimento desta
importante localidade".
Inseriu quarenta e seis pequenos artigos acerca da historia desta freguesia, que, na sua quasi
totalidade e com ligeiras modificações, vão reproduzidos neste opúsculo.

Dados demograficos.- Como aditamento ao capitulo Movimento da População, damos uma


nota extraída dos respectivos registos paroquiais, relativa ao numero de baptizados, casamentos e
óbitos ocorridos nesta freguesia nos últimos anos:

Ano Baptizados Casamentos Óbitos


1920 321 79 218
1921 319 63 217
1922 359 90 242
1923 356 79 219
1924 390 67 264
1925 332 59 192
1926 370 72 224
1927 400 76 227
1928 416 62 228

Teodoro João Henriques.- Prestou a esta freguesia relevantes serviços, como zeloso e
distinto professor, no longo período de trinta anos, e como prestigioso influente político,
conseguindo alguns apreciáveis melhoramentos para esta localidade. Era a ele que geralmente
recorriam os habitantes desta paróquia, quando tinham que tratar qualquer assunto nas repartições
publicas ou estações oficiais, o que sempre fazia com grande solicitude e desinteresse. Tinha o curso
do Liceu e a habilitação para o magistério primário. Foi comissionado pela Câmara Municipal do
Funchal para ir Lisboa aperfeiçoar-se no método de ensino chamado João de Deus, tendo feito este
aprendizado com o próprio autor do método e estabelecido com o grande poeta relações da mais
afectuosa estima. Faleceu no Funchal a 6 de Outubro de 1912. Era pai do padre Teodoro João
Henriques, João Maria Henriques, Dr. José Maria dos Passos Henriques e António Maria dos Passos
Henriques, aos quais já nos referimos neste livro.

Proselitismo Protestante.- A acção da propaganda calvinista do Dr. Roberto Kalley,


iniciada na Madeira em 1838 e que notavelmente se intensificou nos anos de 1845 e 1846, fez-se
sentir bastante nesta freguesia, lançando nela profundas raízes, de que ainda ao presente se
encontram alguns vestígios. No período decorrido de 1846 a 1849, chegou a atingir o numero de
sessenta os que aqui abertamente seguiam as doutrinas protestantes, sem contar com aqueles que de
qualquer modo mostravam a sua predilecção por essas mesmas doutrinas. Essa propaganda causou,
nesta paroquia como em todas as que ela se exerceu grandes perturbações no seio das famílias e por
vezes graves e sangrentos conflitos nas estradas e praças publicas. Foi uma época calamitosa para
esta ilha, tendo as pessoas mais qualificadas e ainda os membros mais preponderantes da colónia
inglesa condenado severamente a atitude dos audaciosos aventureiros, que promoviam essa tenaz e
prejudicialissima propaganda. A fuga precipitada do Dr. Kalley, a saída para o estrangeiro de muitos
dos seus mais activos auxiliares, a acção das autoridades locais e uma mais intensa apostolização de
clero católico atenuaram bastante aquela grande propaganda e fizeram diminuir consideravelmente o
numero de prosélitos, mas não extinguiram de todo o fermento calvinista que o celebre médico
inglês e fanático propagandista lançara nesta ilha. Entre os mais acérrimos seguidores dessas
doutrinas encontrava-se uma família de apelido Fernandes da Gama, do sítio do Trapiche, á qual
pertencia João Fernandes da Gama, que ausentando-se para o Brasil, ali continuou a propagar
intensamente os erros do protestantismo. Na cidade de São João do Rio Claro, Estado de São Paulo,
publicou, em 1896, um livro intitulado "Perseguição dos Calvinistas da Madeira" de 230 paginas,
que, apesar da manifesta parcialidade e até requintada má fé com que está escrito, encerra elementos
valiosos para a historia do proselitismo protestante neste arquipélago.
A influencia das doutrinas calvinistas não alargou a sua área nesta paróquia e foi
sensivelmente decrescendo até ficar reduzida a proporções bastantes limitadas. Tomou alguns
alentos, em 1899, com as novas tentativas de propaganda dos súbditos ingleses J. A. Jefferd e sua
mulher Bela Newton, que, primeiramente no sítio da Levada do Cavalo e depois no Trapiche, onde
estabeleceram residência, realizaram algumas reuniões com a assistência dos antigos afeiçoados
àquelas doutrinas e de outros simples curiosos. Essas reuniões foram mais frequentes no sitio do
Curral Velho, tendo-se dado ali um grave conflito no dia 25 de Março daquele ano, de que resultou
ficarem feridos alguns indivíduos, havendo a necessidade da intervenção da força armada. 0 caso
teve retumbância no estrangeiro, sendo até levado ao seio do parlamento inglês. 0 resultado dessa
propaganda foi pouco eficaz, não havendo aumentado o numero de adeptos.
Por 1927, novas tentativas se fizeram no sítio das Preces, que também surtiram infrutíferas.

Pico dos Barcelos.- No extremo oeste desta freguesia e confinando com a paróquia de São
Martinho, encontra-se o sítio que tem a denominação de Pico dos Barcelos. Nele se levanta um
morro conhecido pelo mesmo nome e que hoje é ponto obrigado de atracção para todos os turistas
que visitam esta ilha. Os terrenos que longamente se estendem desde a ponta do Garajau até ao
Cabo Girão formam um vasto meio circulo em cujo diâmetro e no centro dele se ergue o chamado
Pico dos Barcelos. Esta situação invejável e a posição sobranceira aos terrenos circunvizinhos
permitem que do alto dele se contemple um dos mais atraentes e formosos panoramas, que seja
talvez dado oferecer-se á vista dos visitantes, ainda dos mais apercebidos para espectáculos desta
natureza.
Ainda ha poucos anos que esta aprazível estancia era apenas conhecida pelos habitantes desta
freguesia que, em dia do Natal, costumam afluir ali em numero considerável dando ao local um
aspecto muito interessante e pitoresco. Algumas noticias e correspondências enviadas desta
freguesia para os jornais do Funchal tornaram aquele logar bastante conhecido e visitado, criando-se
então a necessidade da construção duma estrada, que pusesse o Pico dos Barcelos em cómoda e
rápida comunicação com a cidade. Foi particularmente devido ás diligências do abastado
proprietário Francisco Alexandrino Rebelo, natural desta paróquia e residente na de São Martinho,
que a Junta Geral mandou construir em 1917 essa estrada, que subindo em voltas curtas, uma das
vertentes daquele monte nos conduz com facilidade á pequena esplanada, que constitui o seu cume.
Mais recentemente, construiu-se uma nova estrada, que liga o Pico dos Barcelos com o largo das
Romeiras desta freguesia.
Raramente passará um dia em que ali não vão automóveis conduzindo turistas ou visitantes,
mas em muitos dias é considerável o numero de carros que sobem aquele local. É hoje ponto
obrigado de todas as excursões que se fazem nesta ilha.
Corregedor Francisco Rodrigues. Devido á autoria do Dr. J. M. de Oliveira Rodrigues,
publicou recentemente o Jornal uma série de artigos acerca dos magistrados que na Madeira
exerceram o cargo de corregedor, ocupando-se particularmente do Dr. Francisco Rodrigues, que foi
um distinto madeirense, tendo no exercício da sua profissão prestado a esta ilha relevantissimos
serviços, como mais desenvolvidamente se poderá ver nos referidos artigos. Neles se afirma que o
corregedor Dr. Francisco Rodrigues faleceu nesta freguesia, no ultimo quartel do século XVI, no
sítio da Chamorra, na quinta que a família deste apelido ali possuía.

Serviços medicos.- Ha um partido médico municipal, que abrange a área desta freguesia e
das de São Roque e São Martinho, tendo a sua sede nesta ultima paróquia. Ignoramos o ano da sua
criação. Foi durante muitos anos facultativo deste partido médico o Dr. Alfredo da Silva Barreto,
que residia na freguesia de São Martinho e ali faleceu no ano de 1914, sendo interinamente
substituído pelo Dr. Alfredo Justino Rodrigues, que tem residência na mesma freguesia. Obteve este
provimento definitivo, na sessão camarária de 31 de Dezembro daquele ano.
Exercem actualmente clinica nesta freguesia os Drs. José Maria Ferreira, Luís Pedro Gomes
e Pedro Gomes Pestana.
A 30 de Janeiro de 1736 morreu nesta freguesia o cirurgião Francisco da Silva, que aqui
exercia clinica.
Como já fica referido no capítulo Epidemias, faleceu no ano de 1907, vitima do seu dever
profissional, o Dr. Luís Vicente da Silva, por ocasião da peste pneumonica que grassou nesta
freguesia.
Pelos anos de 1865 e 1898 residiam nesta freguesia e nela exerciam clinica os médicos
Roberto de Freitas e Joaquim Ricardo da Trindade e Vasconcelos. Durante alguns anos teve
residência nesta freguesia o Dr. João Pedro Teixeira de Aguiar, que dela se ausentou no ano de
1928.

Religiosas.- O mosteiro de freiras de Nossa Senhora das Mercês do Funchal, conhecido pelo
nome de Convento das Capuchinas, foi desde a sua fundação, em meados do século XVII, até o ano
de 1910, em que as suas portas se fecharam para sempre, um cenáculo das mais excelsas virtudes e
correlativamente um calvário das mais austeras penitencias. Muitas dessas religiosas deixaram na
tradição local e no arquivo do convento a fama das suas virtudes e do eminente grau de perfeição
moral a que tinham chegado. Conta-se entre elas a madre Mariana Rosa do Sacramento, que se
afirma ter deixado a vida presente em cheiro de santidade depois duma existência decorrida na
pratica de todos os heroísmos da virtude. Nasceu nesta freguesia no mês de Agosto de 1677, sendo
filha do alferes António Rodrigues e de Luisa de Aguiar. Tinha trinta anos quando fez a sua
profissão religiosa e morreu no convento das Mercês a 17 de Dezembro de 1740.
Bem recentemente, a 18 do mês de Janeiro do ano que vai decorrendo, finou-se, no Lombo
dos Aguiares desta freguesia, outra religiosa do mesmo mosteiro, que ali exercia o cargo de
abadessa, quando aquela casa se encerrou no mês de Outubro de 1910, com a expulsão violenta das
religiosas que nele se encontravam. Chamava-se Virgínia Brites da Paixão e nasceu nesta freguesia a
2 de Outubro de 1860, sendo filha de Manuel Gomes da Silva e de Maria de Jesus. Entrara no
convento das Mercês no ano de 1877 e ali seguira a carreira monástica na observância mais austera e
mais perfeita das regras do seu instituto. Apesar da vida simples, obscura e ignorada que sempre
procurara ter no seio da sua modesta família, fez-se em torno do seu ataúde uma verdadeira
apoteose, que traduzia a crença da multidão nas eminentes virtudes e no privilegiado espírito de
eleição da humilde religiosa.

Viana. No capítulo Sítios não se fez menção do bairro da Viana, que na ordem da antiga
nomenclatura dos diversos sítios desta freguesia fica colocado entre os bairros dos Três Paus e
Ribeira dos Socorridos. Tem 72 habitantes.
ANEXO: MAPAS
INDICE

Apresentação

Santo António (Freguesia de).

Paróquia de Santo António da Ilha da Madeira. Alguns subsídios para a sua história
Origem e criação da Paróquia
Igreja Paróquial
Curral das Freiras
Vigairaria e Curato
Párocos
Curas
Sítios
Capela de Santo Amaro
Capela de Santa Maria Madalena
Capela de São Filipe
Capela de Nossa Senhora do Amparo
Cape]a de Nossa Senhora da Quietação
Capela de Nossa Senhora das Brotas
Cape]a de Santa Quiteria
Capela de Nossa Senhora do Populo
Capela de Nossa Senhora das Preces
Capela de São João e Santana
Capela de Santa Cruz e Almas
Nossa Senhora de Guadalupe
Cemitério
Epidemias
Visitas Pastorais
Ribeiras, Levadas e Fontenarios
Beato Inácio de Azevedo.
Os Jesuítas em Santo António
Confrarias e Associações Piedosas
Instituições Vinculares
A Sedição de 1668
Escolas Primarias
O Terramoto de 1748
Movimento da População
Encargos Pios
Alguns Melhoramentos Públicos
Grandes Reparações na Igreja Paroquial
Campanários e Relógio da Igreja Paroquial
Centenário de Santo António
Casa de Saúde do Trapiche
Pessoas mais Notáveis
Padre Teodoro J. Henriques
O poeta António Nobre
Breves Noticias e Informações

ANEXO: MAPAS

Você também pode gostar