CIÊNCIAS NÁUTICAS

Entrevista com PEDRO MAGALHÃES FERREIRA

E CIÊNCIAS DA VIDA O “PONTO OMEGA”

O escritor romano Plutarco (106-48
AC), no livro “Vida de Pompeu”, atribuiu
a esse general romano a frase: Navegar
é preciso, viver não é preciso, em latim
Navigare necesse est, vivere non necesse.
Durante uma forte tempestade no Me-
diterrâneo, o general Pompeu (Cnaeus
Pompeius Magnus) teria dito essa frase
a seus temerosos marinheiros quando
traziam alimentos da África para Roma,
em plena guerra.
EVARISTO EDUARDO DE MIRANDA
quero torná-la grande, ainda que para
isso tenha de ser o meu corpo e a (mi-
nha alma) a lenha desse fogo.”
Com o advento e o aperfeiçoamento
do astrolábio, do sextante, da carto-
grafia e das técnicas de navegação, a
ciência náutica portuguesa ganhou
enorme precisão no século XVI. Ao
dirigirem-se às Índias, os navegantes
lusitanos ficavam cerca de noventa
dias em pleno Atlântico sem ver terra
DA EVOLUÇÃO:
“A qualidade de ração da sua vida? E com a roupa, por
que andais preocupados? Aprendei dos
CRISTO RESSUSCITADO
uma sociedade ou
lírios do campo, como crescem, e não “A visão de Teilhard tem uma linguagem que procura ser científica, mas
de uma civilização trabalham e nem fiam. E, no entanto, eu suas teses não chegam a ser de ciências naturais no seu sentido usual.
não se mede pela vos asseguro que nem Salomão, em toda
A cosmovisão de Teilhard é teológica, no sentido de que é direcionada
sua riqueza, nem a sua glória, se vestiu como um deles”
para Deus, mais ainda, cristã, no sentido de que é direcionada para Cristo.
(Mt 6,26-30). Nessa confiança reside
pela sua eficiência, Mas também não chega a ser uma teologia em termos formais”, explica
o verdadeiro heroísmo. Confiança filial
mas pelo respeito também presente na frase de Jesus: “Até
o padre jesuíta Pedro Guimarães Ferreira, professor na PUC-Rio, nesta
que ela manifesta mesmo os vossos cabelos foram todos entrevista concedida para a IHU On-Line, revista do Instituto Humanistas
contados” (Mt 10,30). Unisinos, que aqui reproduzimos. Para ele, as ideias de Teilhard de Chardin
com relação aos

Ela foi retomada como lema da Liga
Hanseática. Essa aliança de cidades
mercantis estabeleceu e manteve um
monopólio comercial sobre quase todo
norte da Europa e Báltico, entre os
séculos XIII e XVII. Bem mais tarde, a
expressão retomou ares de convoca-
ção ao heroísmo na obra de Gabriele
d’Annunzio (1863-1938), poeta e dra-
maturgo italiano, herói de guerra, de
excêntrica carreira política. Suas idéias
nacionalistas inspiraram Benito Musso-
lini, que retomou esse adágio romano
em um famoso artigo no jornal Popolo
d´Italia em 1920.
A frase “Navegar é preciso, viver não
é preciso” está associada às descobertas
marítimas dos portugueses, heróicos
exploradores de mares nunca dantes
navegados. Ela é o título de um conhe-
cido poema de Fernando Pessoa em que
ele exalta os ideais patrióticos, épicos e
gloriosos. “Viver não é necessário; o que
é necessário é criar. Não conto gozar a
minha vida; nem em gozá-la penso. Só
EDIÇÃO 128 - ANO 11 - MAIO / 2010 - Editado por Editora Alma Mater Ltda. (41) 3243.2530 / Edição e Direção de Arte: Jubal S. Dohms - jubal@dohms.com.br / Produção: Dohms Comunicação (41) 3023.2052
/ Jornalista responsável: Aroldo Murá G. Haygert - aroldo@cienciaefe.org.br / Colaboram nesta edição: Carlos Alberto Di Franco, Edmilson Fabbri, Evaristo Eduardo de Miranda, Marcio Antonio Campos, Sonia
Regina Lyra, Pedro Magalhães Guimarães Ferreira / Fotografias: Francisco Martins, Márcio Campos, Ktsimage, Akirastock / Revisão: Agostinho Baldin / Distribuição dirigida: assinantes, comunidade universitária,
profissionais liberais, religiosos e sócios do Instituto Ciência e Fé.
Capa: Berçário Estelar, em uma galaxia próxima à nossa (região R136 em NGC 2070), detalhe visível com luz ultravioleta, obtida pelo telescópio Hublle, para NASA e ESA, em outubro de 2009
alguma. Sempre sabendo, razoavel-
mente, onde estavam. Navegavam com
precisão, graças aos instrumentos e às
ciências náuticas. Navegar tornou algo
preciso. Quanto mais hoje com todos
os recursos tecnológicos, como o uso
de satélites de posicionamento global.
Faz tempo que navegar é preciso. Mas
o viver dos homens nunca foi preciso. E
nunca será.
Talvez por homonímia, esse adágio
romano também possa ser entendido no
sentido da humildade e não da prepotên-
cia diante da vida; da confiança e não do
medo, apesar de todos os infortúnios,
ameaças e fatalidades. Como no convite
de Jesus a entregarmos nossa vida, tão
imprecisa e imprevisível, tão frágil e
passageira, nas mãos de Deus. “Olhai as
aves do céu: não semeiam, nem colhem,
nem ajuntam em celeiros. E, no entan-
to, vosso Pai celeste as alimenta. Ora,
não valeis vós mais do que elas? Quem
dentre vós, com as suas preocupações,
pode acrescentar um só côvado à du-
mais pequeninos”
João Paulo II
Evaristo Eduardo de
Miranda, Doutor em
Ecologia, Pesquisador da
Embrapa, Ministro das
Exéquias, autor do livro
“Jardins Botânicos do
Brasil” (Ed. Metalivros),
entre outos, e Diretor do
Instituto Ciência e Fé.
A imprecisão das ciências da vida
ensina: os fracos são poderosos. Os
deficientes são eficientes. Os desne-
cessários são precisos. O clamor e a
confiança de seus corações são capazes
de abrir pessoas totalmente fechadas.
São capazes de mudar vidas. Em cada
pessoa, aceitar a própria fragilidade e a
imprecisão da existência faz viver, livre
das ambições ilusórias de controle. A
imagem socialmente aceita do ser hu-
mano ideal é um mito: uma pessoa autô-
noma, eficaz e competente (se possível
rica e bela). A sociedade deve levar em
conta as diferenças e as necessidades de
todos os seus membros, sem exceção, e
reconhecer os dons de cada um. Esse é
o sentido da civilidade e da civilização
expresso nas palavras do papa João Pau-
lo II: “A qualidade de uma sociedade ou
de uma civilização não se mede pela sua
riqueza, nem pela sua eficiência, mas
pelo respeito que ela manifesta com
relação aos mais pequeninos”. Aos mais
imprecisos. •
Reprodução
Pedro Magalhães
Guimarães Ferreira
SJ, padre jesuíta,
possui graduação
e mestrado em
Engenharia Elétrica,
pela Pontifícia
Universidade
Católica do Rio de
Janeiro, doutorado
em Engenharia
de Sistemas e
Computação pela
Universidade
Federal do Rio
de Janeiro, pós-
doutorado pela
Brown University
e pela University
of California -
Berkeley, autor de
A Fé em Deus de
grandes cientistas
(Editora PUC-Rio/
Edições Loyola).
marcaram de modo definitivo a Igreja do Pós-Concílio Vaticano II. E explica
por quê: “Não no sentido de que a maioria das pessoas da Igreja concorde
com a cosmovisão de Teilhard, mas no sentido de que a evolução das es-
pécies passou a ser admitida tranquilamente dentro dos umbrais da Igreja
e, mais importante, a Igreja passa a ter uma atitude de confiança – e não
de desconfiança e muito menos de hostilidade – com relação à ciência”. E
ainda sobre a possível influência de Teilhard no Concílio Vaticano II, Pedro
Guimarães aponta: “Teilhard inspirou uma atitude de otimismo com relação
ao que é material, um otimismo com relação ao mundo em que vivemos”.
Teilhard de Chardin foi um homem de 2. A do criador de uma cosmovisão – e foi humanidade: as duas grandes guerras
qualidades bastante peculiares: como por essa atividade que ele se tornou famo- mundiais. Qual o impacto dessa expe-
cientista pertencia ao mundo da ciência so para o grande público e para o cristia- riência em sua vida e obra?
e da razão, e, também, era um homem nismo, especialmente o catolicismo. Uma PGF - Teilhard participou da Primeira
de profunda fé, sacerdote jesuíta. Sa- cosmovisão que parte da evolução no seu Guerra Mundial (1914–1918) como
bemos que seus trabalhos de pesquisa sentido mais amplo, a que começa com os soldado, havia sido ordenado padre havia
lhe renderam dissabores em relação átomos na formação das moléculas, chega apenas dois anos. E foi naquela guerra,
à Igreja. E, em relação à Academia? ao aparecimento do “homo sapiens” e se uma guerra de trincheiras, um pouco
Teria ela aceitado com tranquilidade o prolonga – e aí está a novidade da sua lenta, que Teilhard teve a sua intuição do
seu discurso, permeado de alusões a cosmovisão – na formação da noosfera “Milieu Divin” (O Meio Divino), que foi o
uma dimensão transcendente do ser (que é a sociedade dos homens na medida título do seu primeiro livro. Trata-se de
humano? em que constituem uma unidade), culmi- uma tomada de consciência forte de que
PGF - Há que distinguir duas atividades nando no Ponto Omega, que é o Cristo o mundo está “em Deus”, Deus presente
de Teilhard: ressuscitado.
não somente em todos, mas em tudo, uma
1. A de cientista, tendo-se tornado famoso E a Academia, como reagiu a estes textos? doutrina clássica, mas cuja forte tomada
em paleontologia e geologia: publicou Na sua maioria, não reagiu, pois nem de consciência por parte dele, foi o ponto
mais de 150 artigos em periódicos inter- tomou conhecimento deles. A visão de de partida da sua cosmovisão. Possivel-
nacionais. Era nessas ciências que ele era Teilhard tem uma linguagem que procura mente ele não teria tido esta intuição
julgado como cientista. Nessas duas ciên- ser científica, mas suas teses não chegam caso não estivesse na solidão da guerra
cias, ele tinha muito boa reputação, aliás, a ser de ciências naturais no seu sentido – ele e Deus.
não teria publicado tanto se seu trabalho usual. A cosmovisão de Teilhard é teoló- A Segunda Guerra Mundial (1939–1945)
não fosse de valor, seus artigos não teriam gica, no sentido de que é direcionada não teve, aparentemente, qualquer influ-
sido aceitos, sendo que, nessas ciências e para Deus, mais ainda, cristã, no sentido ência sobre Teilhard, a razão sendo que ele
nas ciências naturais, de modo geral, há de que é direcionada para Cristo. Mas passou todo o tempo da guerra na China,
muito pouco espaço para opções ideoló- também não chega a ser uma teologia em nas suas pesquisas de paleontologia e
gicas e/ou religiosas favorecerem mais ou termos formais. geologia. Efetivamente, por dificuldades
menos um cientista. Nestes artigos não com a hierarquia católica por causa da
há referência à “dimensão transcendente Chardin foi contemporâneo de dois sua cosmovisão, julgada meio panteísta,
do ser humano”, como diz a pergunta. dos mais terríveis acontecimentos da ele havia sido enviado à China para fazer

02 UNIVERSIDADE MAIO 2010 MAIO 2010 UNIVERSIDADE 03

as pesquisas mencionadas. Já bem conhe-
cido entre seus pares nas duas ciências,
antes de ir para a China, ele ficou ainda
mais conhecido entre eles, por suas várias
descobertas, de modo especial pela des-
coberta do “homo pequinenses”, ou seja,
o “homem de Beijing”, que antigamente,
fora da China, a cidade era chamada de
“Pequim”.
Suas obras mais conhecidas, O
fenômeno humano e O meio divino,
embora tenham abordagens diferentes
– o primeiro pretende apresentar uma
cosmovisão estritamente científica,
enquanto que o segundo, uma visão
espiritual – são fortemente integradas.
Seria possível reconhecer, nesses es-
critos e nessa perspectiva integradora,
a influência da prática dos Exercícios
Espirituais de Santo Inácio, que, como
jesuíta, ele certamente teria na essência
de sua própria experiência espiritual?
PGF - Em primeiro lugar, permita-me
corrigir, ou matizar, a afirmação de que
O Fenômeno Humano seja uma “cosmo-
visão estritamente científica”. Não o é no
sentido de ciências naturais. E Teilhard
nunca pretendeu que o fosse. Resumamos
a cosmovisão de Teilhard: ele observa
que, na evolução do Universo, ocorreu
a formação de estruturas cada vez mais
complexas e “centradas”. E ele afirma que
esta é uma lei de evolução do universo,
uma primeira afirmação que não é estri-
tamente científica. Ele chama esta lei de
complexificação/consciência. A afirmação
04 UNIVERSIDADE
de que este processo existiu é razoável,
mas projetá-la para o futuro e na direção
apontada por ele é que não é científico
no sentido de ciências da natureza. Sim,
porque Teilhard projeta para o futuro esta
evolução, prognosticando primeiramente
a formação de uma noosfera em que os
seres humanos estariam cada vez mais
centrados, isto é, cada vez mais unânimes
nas suas inteligências e vontades. E
extrapola isto ainda mais para o futuro,
a evolução atingindo o “Ponto Omega”,
que é Jesus Cristo ressuscitado, sendo
que o Ponto Omega terá sido o ponto de
atração de toda a evolução. É claro que
isso não tem nada de científico no sentido
das ciências naturais.
Mais ainda, para explicar o mecanismo
deste processo, Teilhard introduziu neste
texto e o repetiu em vários outros, o
conceito de “energia radial”, expressão
por oposição ao de “energia tangencial”,
que é a energia medida na física e na quí-
mica. Ora esta “energia radial” nunca foi
detectada experimentalmente, nem colo-
cada como hipótese por cientistas, nem
antes nem depois. É claro que Teilhard
tinha consciência disto. Observe-se que
Teilhard não era darwiniano. Para Darwin,
a evolução das espécies se faz pelo pro-
cesso da “seleção natural”. Para Teilhard
era pela “energia radial”. E noto também
que a “energia radial” foi antecipada num
Reprodução
nível menos científico e mais metafísico
por ninguém menos que Santo Agostinho
(354–430), que propôs as “rationes
seminales”, ou seja, “sementes racionais”
Teilhard de Chardin, que seriam as responsáveis pelo evoluir do
universo.
na sua cosmovisão,
Já o “Milieu divin” é, como você diz, uma
pretendeu visão espiritual muito bem integrada com
precisamente o “Fenômeno Humano” e com todos os
estabelecer seus textos posteriores sobre sua cosmo-
visão.
uma ponte
Quanto à influência dos Exercícios Espiri-
entre a fé tuais de Santo Inácio na obra de Teilhard,
e a ciência. permita-me fazer uma digressão, com a
qual muitos dos meus confrades jesuítas,
bem como muitos leigos e leigas ligados
aos jesuítas não concordarão. Acho
que está havendo um abuso na suposta
descoberta de influências dos Exercícios
Espirituais. Fala-se, por exemplo, - cada
vez menos, ainda bem - de “pedagogia
MAIO 2010
inaciana”, quando Santo Inácio escreveu
pouquíssimo a respeito de pedagogia.
Se se quiser achar que o “espírito” dos
Exercícios Espirituais está presente na
“pedagogia inaciana”, eu diria que é o
espírito do Evangelho, de Jesus Cristo.
Mais ainda, a influência de Santo Inácio
na Companhia de Jesus foi sempre muito
grande, mas há vários indícios de que São “Para Pedro
Tomás de Aquino, um dominicano, terá Guimarães
tido influência maior que ele durante
varias décadas, inclusive durante os cerca Ferreira,
de 100 anos que precederam o Concilio Teilhard
Vaticano II (1962 – 1965).
permanecerá
Os inúmeros trabalhos científicos por como um
ele produzidos e publicados demons- ‘clássico’
tram um homem de profunda e profícua
atividade profissional. Já se contam
pela amplidão
mais de cinquenta anos desde sua de sua visão,
morte e, de fato, a ciência caminhou pela ambição
nesse período. Qual a relevância de
do seu escopo”
seus estudos para os dias de hoje?
Chardin ainda é um autor visitado pelos
pesquisadores contemporâneos?
PGF - As ciências experimentais são, por
sua própria natureza, ingratas com rela-
ção àqueles que as fazem. Efetivamente,
ninguém precisa ler Isaac Newton para
compreender a mecânica clássica, nem
ler Gauss para compreender matemática;
06 UNIVERSIDADE
estes dois têm sido reconhecidos como os
maiores gigantes das duas disciplinas. De
modo que, respondendo à sua pergunta:
não, ninguém precisa ler Teilhard para
aprender paleontologia ou geologia. As
suas contribuições foram importantes,
como dito na primeira pergunta, mas já
estão nos manuais das duas disciplinas,
inclusive já terão sido ultrapassadas em
muitos dos seus aspectos. Superadas não
no sentido de que estavam erradas, mas
no sentido de que terão sido incorporadas
em sínteses maiores, assim como Newton
foi superado por Einstein. Mas suas obras
são e serão ainda visitadas, sim, por histo-
riadores das ciências e por um ou outro
“scholar” interessado em alguma possível
peculiaridade de seu método de fazer
pesquisa ou para saber como foi a gênese
de uma ou outra das suas descobertas.
Da mesma forma, o pensamento ecle-
siástico muito se modificou, sobretudo
após o Concílio Vaticano II. Como as
questões apresentadas por Teilhard de
Chardin, sobretudo aquelas que tocam
à Teoria da Evolução, são consideradas
hoje pela Igreja?
PGF - O santo padre João Bosco Penido
Burnier SJ, mártir da caridade ao defender
uma mulher que estava sendo torturada,
referiu-se, numa conversa comigo, ao
Concilio Vaticano II como um “terremo-
to”. Portanto o “muito se modificou”, que
você coloca, parece-me absolutamente
certo. Não na doutrina propriamente dita,
mas nas ênfases das suas interpretações.
Acho que cabe uma referência à relação
entre Teilhard de Chardin e o Concilio
Vaticano II para responder à sua pergunta.
Teilhard faleceu em 1955, e o Concílio
começou em 1962. Até aquele ano, a
cosmovisão de Teilhard era mal vista
pela autoridade doutrinária da Igreja:
considerada suspeita de panteísmo, como
já referido antes. Mas, além disso, ainda
havia na Igreja uma suspeita quanto à
evolução das espécies. Confundia-se
muitas vezes o fato da evolução, coisa
que já não mais podia ser negada, com a
sua explicação dada por Darwin, a seleção
natural. Esta seleção natural era vista por
muitos como uma forma de materialismo,
o que na realidade não é. E assim Teilhard,
“acreditando” na evolução (na realidade
já naquela época não se tratava mais de
acreditar ou não, era algo que se impunha
por fatos indiscutíveis, como já dito), era
colocado por muitos no baú junto com
Darwin.
Mas, a partir de 1963, o Concílio, que
tinha sido dominado no seu primeiro ano
MAIO 2010
pelos “conservadores”, passou a ser lide-
rado pelos “liberais”, com forte influência
dos episcopados francês, alemão e holan-
dês. E começou então a liberalização das
obras de Teilhard, anseio dos mais jovens.
E a coisa foi rápida, em pouco tempo,
a cosmovisão de Teilhard era devorada
por seminaristas, padres jovens e leigos
pelo mundo todo. Foi a chamada “vague
teilhardiennne”, a onda teilhardiana.
Apesar de intensíssima, não durou muito:
cerca de 10 anos. Mas marcou de modo
definitivo a Igreja do Pós-Concílio. Não
no sentido de que a maioria das pessoas
da Igreja concorde com a cosmovisão de
Teilhard, mas no sentido de que a evolu-
ção das espécies passou a ser admitida
tranquilamente dentro dos umbrais da
Igreja e, mais importante, a Igreja passa
a ter uma atitude de confiança – e não de
desconfiança e muito menos de hostilida-
de – com relação à ciência.
Já foi observado também, por não
poucos, que Teilhard teve influência não
desprezível no Concilio Vaticano II. Não
no sentido de que sua cosmovisão tenha
sido citada, nem mesmo indiretamente,
nos documentos conciliares, estes sendo
fundamentalmente bíblicos e patrísticos.
Mas no sentido de que Teilhard inspirou
uma atitude de otimismo com relação
MAIO 2010
Reprodução
ao que é material, um otimismo com
“Não somos
relação ao mundo em que vivemos. Este
otimismo fica mais patente num dos mais
seres humanos importantes documentos do Concílio, a
tendo Constituição “Gaudium et spes” sobre a
uma experiência Igreja no mundo moderno.
espiritual;
somos seres Que correlação se pode efetivamente
espirituais estabelecer entre Teilhard de Chardin e
Darwin para conciliar as relações entre
tendo
fé e ciência?
uma experiência
PGF - Darwin, apesar de crente, um angli-
humana”.
cano convicto, não pretendeu dar qualquer
contribuição ao problema das relações en-
Pierre Teilhard
tre fé e ciência. (Darwin perderia a fé com
de Chardin
a morte da filha, algo que nada tem a ver
com evolução das espécies). Teilhard, na
sua cosmovisão, pretendeu precisamente
estabelecer uma ponte entre a fé e a ciên-
cia. Apesar de se poder – e provavelmente
dever – discordar dele em alguns aspectos
fundamentais da sua cosmovisão, como já
mencionado, não há como negar que se
trata de uma visão grandiosa da realidade:
um universo que evolui para a formação do
ser inteligente, o ser humano, passando a
uma unidade de mentes e corações, que
ele chama de “noosfera”, e culminando no
pólo de atração de todo o processo, o Ponto
Omega, que é Jesus Cristo ressuscitado. Há
que notar que haveria uma diminuição da
força da visão de Teilhard se se achasse que
o Ponto Omega seria simplesmente Deus,
porque Jesus Cristo, sendo também um ser
humano, é parte do universo e é, portanto,
um pólo atrativo natural de todo o processo
evolutivo. Esta evolução seria regida pelo
que ele chama de “lei da complexificação/
consciência”, como já foi dito, que é uma
ampliação, para o passado e para o futuro,
da lei da evolução das espécies. De acordo
com Darwin, o mecanismo explicativo da
evolução das espécies é a seleção natural,
para Teilhard o mecanismo explicativo de
toda a evolução – não somente das espécies
de seres vivos – é a “energia radial”. Acho
que se pode dizer, sem medo de errar, que
Teilhard permanecerá como um “clássico”
pela amplidão de sua visão, pela ambição
do seu escopo. •
UNIVERSIDADE 07
 PEDOFILIA E CELIBATO: A RELAÇÃO QUE NÃO EXISTE OPINIÃO

MARCIO ANTONIO CAMPOS O MEA CULPA

No entanto, para entender se exis-
AINDA te relação entre celibato sacerdotal
SOBRE e abuso contra menores, é preciso
analisar as estatísticas envolvendo
PEDOFILIA
casos de pedofilia não apenas dentro
da Igreja, mas também (e especial-
Nesta edição, o
mente) fora dela. O historiador
jornal Universidade Philip Jenkins, autor de livros como
prossegue abordan- The new anti-Catholicism, the last
do o tema que tanta acceptable prejudice (“O novo anti-
repercussão tem catolicismo, o último preconceito
causado. aceitável” ainda não traduzido para
Marcio Campos, o português), pesquisou a incidência
o único brasileiro de casos de abuso sexual no clero e
Os lamentáveis escândalos sexuais envolvendo membros do como o gayzismo. Aliás, uma chave
DE BENTO XVI
para diminuir drasticamente o núme-
clero católico voltaram a ocupar páginas de jornais e tempo ro de escândalos no clero é impedir
É ilusório achar que a Igreja
do noticiário de rádio e televisão de forma quase tão intensa a infiltração de homossexuais nos é vítima de campanha publicitária
seminários. Mais de 90% dos padres
quanto no meio da década de 90, quando as denúncias nos Em viagem a Portugal, o Papa Bento XVI fez o que está sendo
condenados judicialmente por abuso considerado, até agora, o seu mais forte pronunciamento sobre os
Estados Unidos chamaram a atenção em todo o mundo.
(de crianças ou de adolescentes) recentes casos de pedofilia que levaram a Igreja Católica a uma situa-
Esta nova onda de escândalos inclui outros países, eram homossexuais, segundo Philip ção quase inédita de angústia e desprestígio. O Pontífice reconheceu
como Irlanda, Alemanha e Brasil. Jenkins. No entanto, a “patrulha que “a maior ameaça à Igreja vem dos pecados de dentro da própria
gay” já estava pronta para criticar
No entanto, assim como há 15 anos, muitos grupos, inclusive Igreja”. E enfatizou: “É realmente aterrorizante o que a Igreja sofre
a CNBB por reforçar a orientação
dentro da Igreja, vêm se aproveitando dos casos com os ataques que vêm do seu interior, com o pecado que existe
da Santa Sé segundo a qual se deve
dentro da própria Igreja.” Essas declarações servem de contraponto a
de abuso para promover sua própria agenda, que inclui o fim impedir a ordenação sacerdotal de
comentários infelizes feitos por outros dignitários da Igreja, e fogem
do celibato sacerdotal. Até mesmo o cardeal-arcebispo homossexuais. Como se a Igreja não

a fazer parte da fora dele. Se o celibato é um fator de
Religion Newswriters incentivo à pedofilia, a lógica seria
Association, uma encontrarmos uma proporção muito
entidade que maior de casos entre celibatários que
reúne jornalistas entre não-celibatários. No entanto,
especializados segundo os números pesquisados por
em religião que Jenkins, 0,3% dos padres eram pedó-
trabalham na mídia filos – proporção praticamente igual
secular, ou seja, à de qualquer outro grupo social,
inclusive pais de família. Já Massimo
sem vínculo com
Introvigne lembrou, em artigo recen-
religião nenhuma,
te, que, no mesmo período de tempo
aqui expõe se ponto
em que cerca de 100 padres foram
de vista.
condenados por abuso de crianças,
Em “O mea
nada menos que 6 mil professores
culpa de Bento XVI”,
de Educação Física e treinadores de
temos a opinião de
equipes infantis eram condenados
um dos maiores
pelo mesmo motivo.
jornais brasileiros.
A psicóloga Sonia
Outro aspecto importante a ser
Lyra, doutoranda em
ressaltado foi lembrado pelo bispo
ciências da Religião
emérito de Blumenau durante
e presidente do
a Assembleia Geral da CNBB,
Ichthys Instituto de
realizada recentemente: é preciso
Ciência e Religião
diferenciar pedofilia (atração sexual
aborda efebolia,
por crianças) e efebofilia (atração
termo que tem sido por adolescentes). Muitos criticaram
bastante citado na dom Angélico Bernardino por essa
mídia. distinção, como se ele estivesse
O jornalista fazendo pouco caso das situações de
Alberto Di Franco, adolescentes abusados, mas a reali-
em “A crise do dade é outra. Ambas as situações são
Jornalismo”, analisa igualmente lamentáveis, mas, no-
o comportamento vamente analisando-se os números,
da imprensa nessa fica claro que estão rotulando todos
crise do Vaticano.
os casos de abuso como “pedofilia”
quando nem sempre é assim. A Facul-
dade John Jay de Justiça Criminal,
da City University of New York, fez
um levantamento a pedido da con-
ferência episcopal norte-americana
UNIVERSIDADE 08
de Viena, Christoph Schönborn, fez a ligação
entre a obrigação do celibato e os escândalos sexuais.
Christoph Schönborn, cardeal-
arcebispo de Viena
e pesquisou os casos de abuso entre
1950 e 2002. De todas as acusações
feitas contra padres neste período,
em 78,2% delas as supostas vítimas
já haviam superado a puberdade.
E, para completar, por que se
combate apenas o celibato católico
e não se critica o celibato em
outras tradições religiosas, como o
Budismo e o Hinduísmo? Os bispos
brasileiros, durante a assembleia da
CNBB, também deram a resposta: a
Igreja incomoda, ao propor ideais de
vida que superam o hedonismo e o
consumismo atuais e ao combater
tendências “politicamente corretas”,
Fotos: Reprodução
tivesse o direito de decidir quem
pode fazer parte do clero...
O bispo tem razão
Massimo Introvigne ,sociólogo
Dom Dadeus Grings, arcebispo
de Porto Alegre, causou polêmica
ao afirmar, durante a assembleia da
CNBB, que “a sociedade é pedófila”.
Imediatamente os anticlericais de
plantão passaram a publicar artigos
atacando o arcebispo com afirma-
ções do tipo “eu não sou pedófilo, e
você? Então, por que o bispo diz uma
barbaridade destas?”. Quando é con-
veniente, ignora-se o real sentido da
frase de dom Dadeus. Exagera-se no
significado (obviamente o arcebispo
sabe que a maioria das pessoas não é
pedófila) para encontrar um meio de
lançar pedras na Igreja.
Mas, analisando friamente, a
Dom Angélico Bernardino, bispo Dom Dadeus Grings, arcebispo de nossa sociedade não faz o possível e
emérito de Blumenau
Porto Alegre
o impossível para erotizar precoce-
mente as nossas crianças? Não foi o
carnaval carioca que virou notícia em
vários países porque uma escola de
“Analisando samba usou uma menina de 7 anos
como madrinha de bateria? Não foi
friamente,
no Recife que os próprios pais recla-
a nossa sociedade maram de livros paradidáticos que
não faz o possível ensinavam crianças de 7 a 10 anos a
se masturbar, inclusive incitando-as
e o impossível
a ignorar os pais, já que os adultos
para erotizar
“só sabem proibir”? Sem dúvida,
precocemente vivemos em uma sociedade pedófila.
Mas, curiosamente, os mesmos que
as nossas
criticam dom Dadeus também apro-
crianças?“ vam iniciativas como a do livro para-
didático, rotulando os pais perplexos
como “conservadores” e “atrasados”.
Philip Jenkins, historiador Diabólica contradição. •
MAIO 2010
Marcio Antonio Campos,
membro do ICFÉ, jornalista
da Gazeta do Povo,
mantém o blog Tubo de
Ensaio, sobre Ciência e
Religião.
(www.gazetadopovo.com.br/blog/
tubodeensaio)
do caminho fácil que é apontar a existência de uma campanha publi-
citária contra a Igreja de Roma.
Aprofundando o mea culpa, o Papa diz que a Igreja “precisa rea-
prender a penitêna cia, aceitar a purificação, aprender o perdão,
mas também a justiça. O perdão não pode substituir a justiça”. Esse
comentário dirige-se aos que sugeriram que, em diversos casos de
pedofilia praticados por religiosos, era melhor não fazer muito escân-
dalo porque Jesus Cristo manda perdoar os pecadores.
O resultado disso é que, também pela preocupação de preservar
a imagem da Igreja, situações abomináveis foram sendo empurradas
para debaixo do tapete.
É esse quadro que o Papa pretende exorcizar com suas últimas de-
clarações; e é importante que uma instituição como a Igreja Católica,
que está na medula da história e da cultura do Ocidente, se disponha
ao que ele chama de “penitência”. Ao lado dessa atitude, que faz parte
do repertório básico da consciência cristã, mudanças de outro gênero
também são necessárias, para que a Igreja não incorra no risco de se
tornar simplesmente irrelevante.
Os americanos, com o seu estilo pragmático , estão achando, pela
voz de alguns comentaristas, que parte dessa sucessão de escândalos
tem a ver com o que eles chamam de bad management — má admi-
nistração.
A Igreja, ao longo dos séculos, tornou-se uma organização vastíssi-
ma — o que alguém chamou de “a primeira multinacional”. Mas seu
estilo de administração ainda lembra, às vezes, o de uma paróquia
penitêna visão paroquial fazem com que tudo se encaminhe para
Roma, e seja julgado por critérios que já não satisfazem à consciência
moderna.
Bento XVI foi antecedido por um Papa que não gostava do dia a dia
da administração; que confiou tarefas demais à famosa Cúria romana.
Governos muito longos criam os seus próprios problemas; e o período
do “Papa polonês”, além de longuíssimo, foi ainda mais afetado pela
impiedosa doença que afetou o Papa.
Bento XVI também não é um administrador nato. Em vez de suce-
der a João Paulo II, é sabido que ele preferia ter ficado com seus livros
de teologia, terreno onde é considerado mestre. E a idade elevada
dos que governam o Vaticano pode ser outra causa da lentidão no
tratamento de questões graves. Assim se acumulam problemas, que
agora clamam por solução. •
Transcrito do Globo de 16/05/2010
UNIVERSIDADE 09
 EFEBOFILIA
UMA VENDA POR 30 MOEDAS
Conta a lenda (1) que Leonardo da
Vinci levou sete anos para completar
sua famosa obra: A última ceia. As
figuras que representam os doze
apóstolos foram tomadas de pessoas
reais. O modelo para ser Cristo foi o
primeiro a ser selecionado. Quando
se soube que Leonardo pintaria essa
obra surgiram dezenas de jovens que
se apresentaram ao grande gênio ita-
liano para ser selecionados. Da Vinci
procurava um rosto jovem e livre que
mostrasse uma personalidade inocen-
te, pacífica, luminosa, que fosse de
todos o mais belo (efebo). Um rosto
que fosse livre das cicatrizes e dos
traços duros que marcam as dores e
inquietações da alma. Encontrado o
jovem modelo, Leonardo leva mais
alguns anos pintando o Cristo e os
Apóstolos. Deixa por último Judas, o
traidor, segundo a tradição cristã, e
inicia a procura por um rosto que o
represente. O artista quer agora um
rosto marcado pela avareza, decepção,
hipocrisia e crime. Um rosto que sem
dúvida alguma apontasse alguém que
trairia o seu melhor amigo.
Encontraram finalmente esse homem
nos calabouços de Roma e condenado à
morte. Um rosto sujo, marcado pelo ódio
e pela ruína. Quando deu o último traço
à sua obra o homem soltou um grito:
Mestre! Não reconhece quem sou eu? E
10 UNIVERSIDADE
SONIA REGINA LYRA
Salve Mestre! E o beijou
(Mt 26, 49-50)
De certo modo,
todo amante da
beleza,
da inocência,
da arte
é um efebófilo
em potencial...
Imagens de Edgar Degas
(1834-1917) ilustram a matéria:
à esquerda, “Petite Danseuse
de Quatorze Ans” criada entre
1879 e 1881, a única escultura do
mestre exibida durante sua vida,
está avaliada em U$ 18 milhões;
à direita, Aquiles De Gass em
Uniforme de Cadete, pintura de
1857.
1 - Lenda narrada pelo Dr. Horacio Ejilevich Grimaldi, Presidente da Fundação C.G. Jung
de Buenos Aires no prefácio da obra: O Elixir Vermelho...muitos falam de amor... Lyra, S.R.;
2ª. Edição, Lyra Editorial, Curitiba PR., 2001.
Leonardo não o reconheceu; quando então ele
caiu de joelhos gritando desesperadamente:
Oh! Deus, quão baixo eu desci! Eu sou aquele
jovem cujo rosto foi escolhido para pintar a
face de Cristo há alguns anos!
A palavra ephebos (grego) também conhe-
cida como hebefilia quer dizer pessoa muito
jovem. No entanto hebe + philia indica a
condição de adultos dependentes da atração
sexual por adolescentes ou pós-pubescentes
com o intuito de obter excitação sexual. De
certo modo, todo amante da beleza, da ino-
cência, da arte é um efebófilo em potencial,
ou seja, todos somos efebófilos em potencial.
Essa é a nossa condição humana atraída pelos
deuses, por Apolo especialmente, que é um
dos representantes máximos da beleza divina e
que resplandece no rosto e nos corpos dos mo-
cinhos e das mocinhas. Já foi bastante comum
que homens especialmente, mais maduros, se
casassem com mulheres jovens de 13, 14, até
15 anos. Eram efebófilos?
Na contemporaneidade, repentinamente,
o deus da beleza desperta com toda a sua
força (efebo) tomando os espaços centrais
nas mídias, nos relacionamentos humanos,
nas religiões. É fundamental então que se
pense e não se perca a dimensão própria da
beleza do jovem e da jovem, que na plenitu-
de e frescor da sua juventude representam
o ápice do brilho mais desejado. Todos os
MAIO 2010
Sonia Regina Lyra, Psicóloga,
Analista Junguiana formada
pelo Instituto Junguiano
de São Paulo, Associação
Junguiana do Brasil (AJB) e
pela International Association
for Analytical Psychology
(IAAP). Mestre em Filosofia
(PUCPR) e Doutoranda em
Ciências da Religião (PUCSP).
É presidente do ICHTHYS
Instituto de Psicologia e
Religião.
sonia@ichthysinstituto.com.br
MAIO 2010
adultos em algum momento já foram efebos.
Já desviaram o olhar dos filhos e das filhas;
pais e mães, perturbados pela presença
viva da sexualidade e do erotismo na visão
e no contato com seus corpos. É natural e
normal do ser humano a atração pela beleza
e sedução do jovem. Também há jovens que
confessam explicitamente querer seduzir
adultos e nisto buscarem a confirmação
pessoal para uma autoconfiança emergente.
O que dá indícios e certezas da patologia
discutida nos Blogs de Boylovers e nos júris
que atacam e defendem adultos é o modo
como esses adultos mal informados ATUAM
os seus desejos, isto é, saem do mundo das
fantasias eróticas para vivê-las concretamen-
te deixando as marcas perpétuas de suas
garras na alma desses jovens. Apenas mal
informados? Não. É quando em diagnósticos
diferenciais (geralmente mal feitos) surge
uma gradação intensa dos níveis patológicos
de atuação, dos mais leves, aos crimes mais
bárbaros, como em toda condição humana.
Todos somos Judas em potencial, efebófilos
em potencial, mas, alguns abusam do poder,
tomados de obsessões e compulsões, traem
em si mesmos e no outro, o sagrado da
beleza inocente e são os responsáveis pela
sua “compra e venda”, por vivermos num ca-
labouço repleto de faces a espera do último
carrasco. •
UNIVERSIDADE 11
 A CRISE DO JORNALISMO
Existe, sim, uma grave crise no modo de fazer jornalismo.
Reproduzimos, frequentemente, o politicamente correto. Não apuramos.
Não confrontamos informações de impacto com fontes independentes
Recentemente, Juan Luis Cebrián,
fundador e primeiro diretor do El País,
foi entrevistado pela jornalista Laura
Greenhalgh, editora-executiva do jor-
nal O Estado de S.Paulo. A entrevista,
saborosa e inteligente, foi uma sincera
reflexão sobre os avanços e recuos do
nosso ofício. Cebrián viveu importante
momento da história da imprensa es-
panhola. O El País, independentemente
de certo alinhamento ideológico com o
governo socialista, é um grande diário.
A crise que fustiga a nossa atividade
é flagrada na radiografia do escritor. O
que está em jogo é o próprio modo de
fazer jornalismo. Cebrián intui a gra-
vidade do momento. “A internet é um
fenômeno de desintermediação”, diz
ele. “E que futuro aguarda os meios de
comunicação, assim como os partidos
políticos e os sindicatos, num mundo
desintermediado?”
Só nos resta uma saída: produzir
informação de alta qualidade técnica
e ética. Ou fazemos jornalismo de
verdade, fiel à verdade dos fatos, ver-
dadeiramente fiscalizador dos poderes
públicos e com excelência na prestação
de serviço, ou seremos descartados por
um leitorado cada vez mais fascinado
pelo aparente autocontrole da informa-
ção na plataforma virtual. Um olhar,
sincero e autocrítico, mostra alguns
equívocos que, aos poucos, vão minan-
do a credibilidade e comprometendo
nossa capacidade de atrair e fidelizar
leitores.
A recente enxurrada de matérias
sobre abuso sexual na Igreja são um
bom exemplo desses desvios. Setores
da mídia definiram os abusos com
uma expressão claramente equivocada:
“pedofilia epidêmica”. Poucos jornais
fizeram o que deveriam ter feito: a
análise objetiva do fatos. O exame
12 UNIVERSIDADE
CARLOS ALBERTO DI FRANCO
Não existe crise da mídia impressa.
Reprodução
sereno, tecnicamente responsável,
mostraria, acima de qualquer possi-
bilidade de dúvida, que o número de
delitos ocorridos é muitíssimo menor
entre padres católicos do que em
qualquer outra comunidade. Em artigo
recente, o conhecido sociólogo italiano
Massimo Introvigne mostrou que, num
período de várias décadas, apenas
100 sacerdotes foram denunciados e
condenados na Itália, enquanto 6 mil
professores de educação física sofriam
condenação pelo mesmo delito. Na Ale-
manha, desde 1995, existiram 210 mil
denúncias de abusos. Dessas 210 mil,
300 estavam ligadas ao clero, menos de
0,2%. Por que só nos ocupamos das 300
denúncias contra a Igreja? E as outras
209 mil denúncias? Trata-se, como já
afirmei, de um escândalo seletivo.
Recentemente, repercutimos, sem
qualquer análise crítica, declarações
de um representante da “Associação
de Teólogos e Teólogas João XXIII”, se-
diada na Espanha. Pedia-se, num gesto
carregado de ridículo, a demissão de
Bento XVI. Ninguém, no entanto, per-
guntou o óbvio: quem são os teólogos
que integram essa entidade? Trata-se
de uma ONG com credibilidade pública
comprovada? Um mínimo de apuração
jornalística mostraria que se trata
de um entidade de dissidentes, sem
qualquer expressão. A Igreja, com sua
história bimilenar e precedentes de
crises muito piores, é um mistério.
Mas, obviamente, não é um assunto
para ser tocado com amadorismo ou
engajamento.
A má qualidade da cobertura da
pedofilia na Igreja é, a meu ver, a ponta
do iceberg de algo mais grave. Não
existe crise da mídia impressa. Existe,
sim, uma grave crise no modo de fazer
jornalismo. Reproduzimos, frequente-
mente, o politicamente correto. Não
apuramos. Não confrontamos informa-
ções de impacto com fontes indepen-
dentes. Ficamos reféns de grupos que
pretendem controlar a agenda pública.
Mas o jornalismo de qualidade não pode
ficar refém de ninguém: nem da Igreja,
nem dos políticos, nem do movimento
gay, nem dos ambientalistas, nem dos
governos. Devemos, sim, ficar reféns da
verdade.
Alberto Di Franco, diretor Há espaço, e muito, para o bom
do Master em Jornalismo, jornalismo. Basta cuidar do conteúdo
professor de Ética e e estabelecer metodologias e processos
doutor em Comunicação
eficientes de controle de qualidade da
pela Universidade de
Navarra, é diretor da Di informação. E redescobrir uma verdade
Franco – Consultoria constantemente reiterada pelo jorna-
em Estratégia de Mídia lista Ruy Mesquita: o bom jornalismo é
difranco@iics.org.br “sempre artesanato”. •
MAIO 2010
A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA
Clovis de Barros Filho
e Arthur Meucci
Os autores abordam questões fundamen-
tais da existência humana, utilizando
diferentes enfoques por meio da formula-
ção do pensamento dos mais destacados
nomes da filosofia, de Sócrates e Platão a
Espinosa e Nietzsche, aplicados a situações
do cotidiano, para que o leitor “possa re-
sistir, cada vez melhor, contra todo tirano
que pretenda empurrar-lhe goela baixo a
vida que vale a pena”.
Rua Emiliano Perneta 332
(41) 3233.1392 - Curitiba PR
www.vozes.com.br
MÚLTIPLA ESCOLHA
Francisco de Assis para líderes e gestores
Lya Luft
Neste livro a nossa vida é um teatro. Ele
fala sobre alguns mitos da nossa cultura,
que, embora criados por nós, dificultam
essa tarefa existencial. Fala também de
audácia e fervor, e de alegria quando es-
capamos dessas armadilhas e nos constru-
ímos do jeito que dá. Utopia, romantismo
ou real possibilidade, as primeiras páginas
de cada livro entreabrem a cortina: dos
dois lados do palco, leitor e autor trocam
sinais.
MAIO 2010
EDUCAÇÃO
E A RECONEXÃO DO SER
Um caminho para a transformação
humana e planetária
Dulce Moreira Sampaio
Uma obra que ajuda a desvendar um
caminho de transformação do ser humano
através da reconexão com dimensões
esquecidas e escondidas de si. O caminho
revela-se com práticas muito simples e
profundas, desde o respirar, passando pelo
dançar e refletir com outros, até o abrir-se
para a percepção da unidade planetária e
cósmica, que nós somos.
FATORES DE RISCO
NA QUALIDADE DE VIDA
Estratégias defensivas – Enfrentamento
Maria Lúcia Lacanna
Nesta obra, você vai conhecer o significa-
do da “qualidade de vida no trabalho” e
como a Enfermagem passou pelo contex-
to histórico, da visão hospitalocêntrica
chegando ao modelo de atuação em
regime aberto, ocasionando mudanças
no fazer, no cuidado de si e na relação
equipe técnica.
Mostra como o corpo de Enfermagem
que trabalha nos Serviços de Saúde
consegue lidar com situações de estresse
e ansiedade, quais estratégias defensivas
apresentam na rotina diária e que meca-
nismos de enfrentamento são utilizados
para a sobrevivência no ambiente de
trabalho com equilíbrio.
Traz também informações importantes
sobre o jogo das relações de opressão
versus submissão existente ao longo do
VOCÊ É MAIS FORTE QUE A DOR
Encontre a felicidade onde menos espera
Mariliz Vargas
O amor é a mais fabulosa força curadora do universo.
Então por que não aprender a aplicá-la no alivio das
nossas dores? Utilizar a potência amorosa para curar
as nossas dores, traz ainda o benefício de nos colocar
mais próximos do nosso potencial interior. Esta é a
linha mestra que conduz a proposta deste livro.
A obra é uma orientação, um caminho para
você encontrar dentro de si todos os recursos
necessários para o enfrentamento dos maiores
desafios que a vida lhe apresenta. Aplicar a sua
atenção amorosa a cada uma das suas dores é,
como na historia do carvão que se transforma
em diamante, submeter ao calor da alma toda pressão
que a natureza é capaz de fazer sobre um material bruto.
Este calor transforma este material bruto na mais preciosa matéria
do nosso universo conhecido. Assim também acontecerá com você, na medida em
que aprender a se aliar com as forças da natureza que o habitam, conduzindo a sua
manifestação humana ao melhor possível.
O primeiro livro desta série Despertar da Consciência, cujo título é A Sabedoria do
não, apresenta o não como sinalizador do caminho que conduz à evolução humana. Já
neste segundo volume, um desafio ainda maior do que o não é trazido à tona, para que
possamos ter uma oportunidade de, nos tornando maior do que ele, encontrarmos a
nossa verdadeira Essência Divina.
Para fechar esta série, o terceiro volume Viver na Luz apresenta, como proposta, um
caminho de vida que permite que a ampliação da nossa manifestação amorosa, neste
mundo, nos conduza a um futuro que desejamos no fundo da alma.
Preço: 29,00; pode ser adquirido nas Livrarias Curitiba e do Chaim
ou pelo site www.roseanigra.com.br
A SOLIDARIEDADE
DOS HOMENS
Jodi Comptom
Este é o terceiro romance policial da
autora, que vive na California. Todos
tempo e as formas de enfren¬tamento
protagoniados pela detetive Sarah Pribek.
patológico, como o assédio moral e a
síndrome de Burnout.
Seu livro de estreia, “A 37ª hora”, ganhou
forte repercussão entre leitores e críticos
Vale apena conhecer alternativas de
literários. Aqui, a trama inicia seis meses
profissionais que vivenciam a ansiedade após a morte de Shorty, o assassino da
e o estresse para saber como lidar com jovem Kamareia; Sarah, a durona detetive,
os fatores de risco que interferem na ainda protege a identidade do provável
qualidade de vida. ‘justiceiro’. Agora, um rigoroso inves-
tigador da promotoria chegou à cidade
Rua Gal. Carneiro 441 determinado a fazer uma prisão. Com a
ex-parceira a meio mundo de distância e o
Curitiba PR
(41) 3264.3484 marido na cadeia, ela precisa resolver seus
www.livrariadochain.com.br problemas sozinha.
UNIVERSIDADE 13
 CÉREBRO
E MENTE DR EDMILSON FABBRI
As pessoas confundem o cérebro com célula para a outra. Quando a função
a mente. A mente é o “ software “ , o dos neurotransmissores é interrompida,
produto místico ou misterioso de tudo ou quando o suprimento de combustível
Luiz Geraldo Mazza
que somos. O cérebro é o “ Hardware “ (glicose) cai, você encontra dificuldade
Lylian Vargas Wilson Martins
, um órgão físico que requer nutrição e para se concentrar ou lembrar alguma
descanso. coisa. Com o passar dos anos com a de-
Milhões de pessoas despendem generação física seu cérebro perde a ca-
VOZES 3 quantidades enormes de energia em pacidade de orquestrar adequadamente
SERÁ programas de atividade física para esti- as glândulas secretoras de hormônios,
João Elísio Ferraz mular coração e músculos , ignorando que são o principal elo entre corpo e
LANÇADO de Campos totalmente o órgão mais importante do mente . Levando a uma baixa na ener-
ar?

Dario Bortolini
Onde encontr
17 DE AGOSTO
Orlando Pessuti
Livraria do Chain O livro Vozes do Paraná 3 será lançado em 17 de agosto, das
Livrarias Curitiba 18h30 às 22 horas no salão de eventos do Shopping Crystal Plaza
de Curitiba, piso L4. O livro dá sequência à série de autoria do
jornalista Aroldo Mura G.Haygert, Editora Esplendor, contendo
Pelo telefone: perfis de personalidades da vida paranaense contemporânea.
O lançamento da noite terá parte da renda, como aconteceu
( 3243.2530 no anterior, destinada ao Centro de Educação João Paulo II, de
Laranjeiras, Piraquara, obra educacional referencial, totalmente
gratuita, criada por Belmiro e Elizabeth Castor e voltada para a
Por e-mail: população periférica.
O Vozes do Paraná Volume 3, em 280 páginas, apresentará per-
* contato@conviviumeditora.com fis biográficos de paranaenses de grande contribuição na vida do
EM Fotos:
Lina Faria,
Luciano Ducci Lineu Filho,
João Borges
Paraná de hoje, com amplo material biográfico da história de vida
de cada enfocado. Dentre eles, Tulio Vargas e Lylian Vargas; o go-
vernador Orlando Pessuti; prefeito Luciano Ducci; ex-governador
João Elísio Ferraz de Campos; o crítico literário Wilson Martins;
presidente da mantenedora da PUC e da ABEC, irmão marista
Dario Bortolini; padre Patrick McGillicudy, da obra Social Projeto
N. S. do Perpétuo Socorro; pastor rev. Jean Selletti, diretor do
Curso de Teologia da Faculdade Evangélica do Paraná; professor e
oncologista Cícero Urban, cirurgião Edmilson Fabbri; historiadora
Oksana Boruszenko; professor, especialista em judaísmo, Antonio
Carlos da Costa Coelho; jornalista Luiz Geraldo Mazza; professor
de jornalismo e escritor, Hélio de Freitas Puglieli.
Reprodução
corpo : o cérebro. Resultado dessa ne- gia, no estado de humor, impulso sexual
gligência: morte lenta do cérebro. 20% e função imunológica.
de todas as células cerebrais morrem A academia , os exercícios físicos, ca-
durante o curso de uma existência. O minhadas , enfim, os esportes em geral Dr. Edmilson Mário Fabbri
tamanho do cérebro diminui significa- são importantíssimos para um corpo é clínico médico, cirurgião
tivamente e há uma perda da potência saudável. do estômago, diretor
cerebral, além disso o excesso de cor- da Stressclin, clínica de
Mas, para uma longevidade cerebral,
prevenção e tratamento
tisol provoca um declínio das funções devemos ler muito, fazer palavras cruza-
diárias do cérebro. Retirando sua única das, sodoku, enfim, movimentar nosso
do stress e membro do
Instituto ciência e Fé
fonte de estímulo: a glicose. Destrói, cérebro para estar sempre criando edmilsonfabbri@gmail.com
também, os mensageiros químicos do novas conexões e estimulando nossos
cérebro – neurotransmissores – que neurônios, tão ou mais importantes que
conduzem seus pensamentos de uma os nossos bíceps. •
No dia em que iria comemorar com amigos os Vozes do Paraná 2, que o leitor poderá acessar
seus 80 anos, com jantar num restaurante de Santa na página eletrônica www.cienciaefe.org.br do
MORRE Felicidade, o médico Ary de Christan morreu. Morte Instituto Ciência e Fé.
de madrugada, parada cardíaca. Há meses vinha Ele foi provedor, por anos, da Santa Casa
ARY DE enfrentando quimioterapia e nos últimos contatos de Misericórdia de Curitiba, dirigiu o Instituto
com amigos, por telefone, mostrava voz débil. Mas Paranaense de Cegos, foi presidente da extinta
CHRISTAN insistia, queria certos amigos em seu jantar. Fundação de Saúde Caetano Munhoz da Rocha,
Foi enterrado dia 28 de maio, sexta-feira, no tendo dirigido também, anos 80s, a área de Saúde
Cemitério Parque Iguaçu, de Curitiba. da PUCPR. Foi presidente da Confederação das
A vida e a obra de Ary de Christan estão no livro Congregações Marianas do Brasil.

DEMOCRACIA,
MISSÃO DE ANUNCIAR IGREJA E CIDADANIA
De catequista para catequista Desafios atuais
Alberto Meneguzzi Ivo Lesbaupin NOVENA MILAGROSA
O livro relata situações vividas por A obra reúne palestras do seminário “De- À NOSSA SENHORA
catequistas em diversas comunidades do mocracia, Igreja e Mídia”, que o Centro DO PERPÉTUO SOCORRO
Brasil, com quem o autor mantém contato Nacional de Fé e Política Dom Helder Série popular de novenas milagrosas aos
via internet, formando um grupo de troca Câmara (CEFEP) organizou de 28 a 30 de santos mais queridos e venerados pelo
de experiências, técnicas, conteúdos e novembro de 2008. Aprofunda a temática povo, em que cada livrete contém a vida
informações chamado “Catequistas Anjos da democracia, tendo em vista a perda do santo, temas e orações para os nove
do Brasil”. O autor busca fazer com que de sentido que foi ocorrendo a partir da dias, a data em que se comemora a festa
o leitor reflita sobre a melhor maneira de hegemonia neoliberal e da vigência do do santo e as graças mais realizadas por
evangelizar numa sociedade que aprecia “pensamento único” e a crescente reação cada um.
tanto o descartável. se desenvolveu, especialmente na América
Latina, na primeira década do século XXI.
Praça Osório 389
Rua Voluntários da Pátria 225 - Curitiba PR Curitiba PR
(41) 3224.8550 - Fax 3223.1450 (41) 3223.8916
www.paulinas.com.br www.avemaria.com.br

14 UNIVERSIDADE MAIO 2010 MAIO 2010 UNIVERSIDADE 15