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Capítulo 1

Introdução à Física

Introdução à Física
Na preparação para o vestibular, a física é vista por muitos como complicada, principalmente
quando não se trata de uma disciplina específica nos concursos. Talvez o grande empecilho seja o
enfoque matemático usado por ela para a análise dos fenômenos. Todavia, quando os conceitos são bem
compreendidos e frequentemente praticados através dos exercícios propostos, não há mais dificuldades.
Portanto, é muito importante a presença às aulas e a execução das tarefas extras em casa. É o esforço
de cada um que determina o sucesso no vestibular. Principalmente em um contexto de competição, no
qual há dezenas de pessoas por vaga concorrendo. É muito comum a desmotivação ao longo do ano, a
desesperança e a vontade de desistir. Mas, sinceramente, vale insistir: isso é bem comum.
É um período longo e cheio de abdicações, em que nos privamos de muitos prazeres em busca de um
objetivo maior. Mas tenha certeza: vale, e muito, a pena. O ingresso na universidade abre infinitas portas
e somente 2% da população têm chance de se preparar para o concurso. Por isso, aproveite muito sua
chance.
Nos textos que seguem, abordaremos os principais tópicos da física, todos que têm possibilidade de
ocorrer em uma prova de vestibular. Procure lê-los calmamente, sem pressa de prosseguir caso haja
alguma dúvida. Releia o que for preciso sempre que sentir insegurança. E pratique com os exercícios
propostos. Muitos deles têm a intenção de fazê-lo refletir antes mesmo de que a teoria correspondente lhe
seja apresentada. Por isso, de forma alguma veja a solução imediatamente.
Boa leitura!

1. A física
A física é o estudo dos fenômenos naturais (natureza = physis, em grego). Até o fim do século XIX,
dividia-se em cinco grandes campos: a mecânica, o eletromagnetismo, a termologia, a óptica e o estudo
das ondas. Atualmente, alguns desses campos fundiram e surgiram outros novos: a Física Relativística e a
Física Quântica. Contudo, o novo foco da física só é estudado nas universidades. A relatividade trata de
corpos com velocidades muito grandes, próximas da velocidade da luz. A física quântica trata de corpos
muito pequenos, como os elétrons, e como eles se comportam.

EXTRA
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Os fenômenos naturais sempre intrigaram a humanidade. Desde coisas aparentemente simples, como
o movimento, até mesmo o sol e os relâmpagos. Contudo, em épocas mais antigas, havia outras
necessidades bastante prioritárias à sobrevivência, que impediam que déssemos atenção às nossas
curiosidades e questionamentos.
Foi no momento de estabilidade política e econômica da Grécia Antiga que, pela primeira vez na
história, o homem pôde dedicar mais tempo ao desenvolvimento da intelectualidade. Surgia a ciência.
Obviamente, não nos moldes atuais, mas era a sua essência. O ócio surgido em virtude do contexto
histórico determinou uma série de paradigmas novos, culminando na
ideologia básica de fomentação do saber e da arte, que rege nossa
cultura até hoje.
O desenvolvimento intelectual grego iniciou-se com a matemática
e com a língua, bastante sofisticada. O prosseguimento desses estudos
deu origem à filosofia, que se desenvolveu de forma considerável, visto
que a religião grega não constituía um empecilho, como normalmente
ocorre. Na verdade, a religião grega era bastante “livre”, isto é, não
existia uma entidade consistente com o objetivo de conservar a tradição
ideológica, nem de controlar as interpretações das lendas. E, justamente
por se tratarem de lendas, e não dogmas, havia um tom pessoal na
religião, isto é, não existia uma interpretação oficial para elas.
A primeira “tese” registrada é de Tales de Mileto. Ele afirmou que
todas as coisas eram feitas de água. Seu trabalho incentivou vários
pensadores a dissertarem sobre o mesmo assunto. Pitágoras defendia Tales de Mileto: primeiro
que tudo era feito de números. Anaxímenes de Mileto propunha que as passo na construção da
coisas, por condensação e rarefação, eram essencialmente compostas filosofia ocidental, com o
de ar. Anaximandro de Mileto afirmou que tudo era feito do questionamento acerca da
indeterminado, algo que tinha como principal característica a não- essência de todas as coisas.
definição. Heráclito de Éfeso tentou provar que as coisas eram feitas de
Capítulo 1
Introdução à Física

fogo pois, assim como o fogo, “tudo flui” (tudo está em constante mudança – “é impossível banhar-se
duas vezes no mesmo rio”).
Parmênides de Eléia contra-argumentou dizendo que se tudo muda, a lei das mudanças também
mudará, e passará a haver algo que não muda. Logo, é impossível que tudo mude. E, em um pensamento
diametralmente oposto, ele afirma que nada muda, pois tudo é feito do “ser”. Zenão de Eléia argumentava
em defesa de Parmênides. Daí surge o famoso paradoxo de Aquiles e a tartaruga.
Esse grupo de filósofos gregos constituiu o embrião da ideologia do mundo ocidental. Podemos
destacar três ícones: Sócrates, Platão e Aristóteles. Este último foi a peça-chave para o desenvolvimento
da física, em especial pela Teoria da Causalidade. Aristóteles postulou que todas as coisas no mundo têm
potência de mudança e, sob esse aspecto, a qualquer processo desencadeado é possível atribuir uma
causa. Em outras palavras, tudo ocorre segundo a seqüência causa – fato – conseqüência.
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2. Revisão matemática: potenciação e radiciação


Antes de iniciarmos o estudo dos conceitos físicos, precisamos fixar alguns conceitos matemáticos
acerca de potenciação, em especial o uso da base 10. Se você já domina esse tema, deve pular este tópico.
10 = 10 ∗ 10 ∗ ...10 ( x vezes )
x

10 = 1000...0 (x zeros)
x

É bastante comum encontrarmos também um expoente negativo:


−x 1
10 = x = 0, 00...01 (x zeros, incluindo o zero à esquerda da vírgula)
10

Da mesma forma que podemos “passar” o 10 para o denominador da fração trocando o expoente para
o seu equivalente positivo, podemos também fazer o inverso:
1
10 = − x
x

10

Há ainda algumas propriedades interessantes da potenciação:


10 x ∗10 y = 10 x + y
10 x
= 10 x − y
10 y
(10 )
y
x
= 10 x. y

Quando multiplicamos um número intero por 10, acrescentamos um zero à sua direita.
525*10 = 5250
Se multiplicamos um número inteiro por uma potência de 10 (10x), acrescentamos x zeros à sua
direita:
525*104 = 5250000
Se o fazemos com um número racional, devemos deslocar a vírgula x casa para a direita:
5, 25178*103 = 5251, 78
Porém, se o número de casas à direita da vírgula não forem suficientes para completarmos a
operação, devemos continuá-la complementando o número com zeros:
5, 25*105 = 525000

O procedimento para efetuarmos a divisão por 10 e suas potências é exatamente o inverso:


525 /10 = 52,5
525 /102 = 5, 25
525 /103 = 0,525
525 /104 = 0, 0525
525 /105 = 0, 00525

Propriedades gerais da potenciação


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Seja a e b um número real qualquer. Generalizando as propriedades vistas de potenciação, podemos


escrever:
1. a x ×a y = a x + y
ax
2. = a x− y
ay
(a )
y
3. x
= a x. y

Há ainda outras propriedades como:


( a.b )
x
4. = a x .b x
x
a ax
5.   = x
b b

Radiciação
Comumente calculamos a raiz quadrada de um número. Às vezes, até mesmo a raiz cúbica. A
radiciação é a operação inversa da potenciação. Podemos definir a raiz n-ésima de um número da seguinte
forma:
1
1. n
a =a n

De forma mais geral, escrevemos


1
am = ( am )
1 m. m
2. n n
=a n
=a n
.

Pelo fato de ser possível escrever uma raiz na forma de potenciação, seguem algumas outras
propriedades:
3. n a × n b = n a.b
n
a a
4. n
= n
b b

5. Medidas
Aqui, começamos de fato o estudo da física. Se a física é o estudo da natureza, precisamos de dados
para analisá-la. Esses dados são numéricos, são comparações com coisas já conhecidas. Medir, em termos
técnicos, significa comparar. Podemos por enquanto traduzir como “interpretar a natureza como
números”.
Sempre que desejamos realizar alguma medida, não a fazemos com perfeita exatidão. Isto é, há uma
margem de erro correspondente ao próprio instrumento e também devida à falta de precisão humana. Por
isso, quando queremos representar numericamente uma medida, devemos mostrar também a sua
incerteza.
Por exemplo, imaginemos que vamos medir o comprimento de algo:

0 0.5 1.0 1.5

Começando pelo zero, a outra extremidade do objeto ficou situada entre a medida 1,3 e 1,4. Dando
um “chute” para essa medida, podemos dizer que o objeto mede 1,36 cm.
Ou seja, sempre que citamos uma medida, colocamos o último algarismo como sendo o algarismo
duvidoso. Isto é, dizer que esse objeto mede 1,36 cm significa afirmar que sua medida está entre 1,3 e
1,4, mas que a melhor aproximação que pudemos obter é 1,36 cm.
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Assim, dizemos a medida 1,36 cm contém três algarismos significativos: 2 não duvidosos e 1
duvidoso.
À exceção de possíveis zeros à esquerda de um número, todos os seus algarismos são chamados de
algarismos significativos.
Por exemplo, a medida de tempo 0,05648 s contém 4 algarismos significativos, 3 não duvidosos e 1
duvidoso.

EXTRA
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A importância das medidas no estudo dos fenômenos físicos pode parecer óbvia, mas nem sempre foi
assim. Aristóteles foi o primeiro a estudar com mais clareza a natureza, mas herdou bastante os
paradigmas estabelecidos por Platão.
Platão filosofava a respeito do mundo das idéias, isto é, sobre um hipotético mundo de conceitos
perfeitos, ideais. Nesse mundo, por exemplo, existiria a idéia de beleza, ou seja, o conceito da beleza
perfeita, assim como a idéia de inteligência também.
Isso fez com que Aristóteles, seu seguidor, estudasse a natureza
como ela deveria ser, em um suposto mundo perfeito, e não como ela é.
Dessa forma, chegou a diversas conclusões erradas, pois afirmava que
a verdade sobre as coisas deveria ser bela, ter uma boa estética, e se
enquadrar com aquilo que considerava correto e ideal.
Tais equívocos teriam sido evitados se ele tivesse feito
experimentos práticos, isto é, se ele tivesse observado e medido os
fenômenos. Ao longo do nosso estudo, apontaremos diversas
contradições na filosofia natural aristotélica.
Sua forma de estudar a natureza foi mantida ao longo de muitos
anos. Isso ocorreu principalmente porque ela foi a base da ideologia
cristã. Durante muito tempo, a Igreja Católica foi a instituição
detentora do conhecimento. Graças a ela, hoje temos acesso a diversas
obras da era antiga. Muitos monges tinham como única função traduzir Aristóteles: estudou a
textos, havia um imenso número de bibliotecas em posse da Igreja, os natureza sem a
paradigmas gerados por sua ideologia eram todos baseados na razão, no comprovação prática. Suas
conhecimento e na erudição. conclusões foram tidas
Contudo, o monopólio do conhecimento, das traduções e das como certas ao longo de 20
interpretações fez com que essas atividades atendessem aos interesses séculos.
clericais. Isso significa dizer que as obras que de alguma forma
criticavam ou discordavam dos textos defendidos pela igreja eram escondidas e seus autores perseguidos.
Muitos pensadores e filósofos foram queimados por serem considerados hereges.
Por isso, durante muito tempo, tantas coisas erradas foram mantidas como verdades indiscutíveis. Até
mesmo porque a idéia da experiência não estava incorporada à mentalidade. Isso faz com que não
consideremos tais teses como científicas. Certamente, o pensamento grego antigo, principalmente o
aristotélico, foi a base para a mentalidade ocidental moderna, a base para a ciência, mas faltava algo
essencial: as evidências práticas.
Na verdade, a ciência não é feita de verdades absolutas, mas qualquer tese, para ser considerada
científica, deve ser defendida, com argumentos aceitos dentro de um conjunto de critérios. A estética
deixou de estar entre esses critérios. O principal argumento passou a ser a evidência prática. Mas ainda
assim, teorias são ultrapassadas, e outras, mais abrangentes as substituem. A ciência é o único processo
no mundo que se baseia na auto-crítica Na verdade, a ciência se define pela auto-crítica. No momento em
que se chegar a uma verdade incontestável, deixamos de ter ciência. É preciso o constante progresso.
O grande fundador desse pensamento foi Galileu Galilei. Sem dúvida, ele foi a peça essencial para
todo o desenvolvimento humano dos últimos séculos. Ele estudava o movimento dos corpos manuseáveis
e dos planetas. Mas, revolucionariamente, todas as suas teorias eram comprovadas com experimentos que
eram repetidos inúmeras vezes, de forma a obter a menor incerteza possível. Mais adiante, falaremos
sobre Galileu com mais detalhes.
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6. Notação científica
Na resolução de um problema em física, existe uma maneira correta de escrever um resultado: a
notação científica. A representação numérica de uma grandeza física ocorre da seguinte forma:
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um número maior ou igual a 1 e menor que 10


multiplicado por
uma potência de 10
associado a
uma unidade

A imprecisão ainda deve ser representada com o último algarismo do número principal.

Exemplo 1.4.1: A medida de tempo citada anteriormente (0,05648 s) deve ser reescrita da seguinte
forma:
5,648*10-2 s
Nesse caso, o algarismo 8 é duvidoso. É certo que a medida encontra-se entre 0,0564 e 0,0565.

Exemplo 1.4.2: A medida de velocidade da luz (300.000 km/s) deve ser escrita em notação científica
da seguinte forma:
3,0*105 km/s
Com tão poucos algarismos significativos, dois, sendo um duvidoso e outro não, essa medida é
bastante imprecisa para a velocidade da luz.

7. A forma correta de solucionar um problema


Sempre que resolvermos um problema de física, devemos apresentar um resultado que contenha o
mesmo número de algarismos significativos que o(s) dado(s) fornecido(s) com o menor número de
algarismos significativos.

Exemplo 1.5.1: Vamos supor que começamos uma seqüência de cálculos a partir do número 3,457.
Já sabemos que essa medida está certamente situada entre 3,45 e 3,46, mas a melhor aproximação para ela
é 3,457. Assim, seu último algarismo é duvidoso.
Chegamos, como resultado, no número 892.176. Deparamo-nos com dois problemas:
• Esse número não se encontra representado na notação científica;
• Ele contém mais algarismos significativos do que deveria. Isso quer dizer que mais de um
algarismo é duvidoso, o que não é correto.

Vamos portanto, primeiramente representá-lo na notação científica. Temos então 8,92176*105.


Inicialmente tínhamos apenas quatro algarismos significativos (3 não duvidosos e 1 duvidoso). Agora
temos 6 algarismos significativos, portanto 3 não duvidosos e 3 duvidosos. Como devemos ter apenas 1
algarismo duvidoso, os dois últimos algarismos (7 e 6) não serão representados. Aproximaremos,
portanto, a medida para 8,921 ou para 8,922. Como o número a que chegamos está mais próximo da
segunda opção, nós a escolheremos.
Portanto, a forma correta de representarmos esse resultado é:
8,922*105

Suponhamos agora que iremos fazer um outro cálculo usando este resultado. Deveremos multiplicá-
lo por 5,0*103. Como proceder?
Multiplicaremos as potências separadamente dos valores 8,922 e 5,0. Assim teremos como resultado:
(8,922 * 5,0) * (105 * 103) = 44,61*108

Contudo, este resultado ainda não está correto, já que na notação científica, o valor que acompanha a
potência de 10 deve ser maior ou igual a 1 e menor que 10. Teremos então:
44,61*108 = 4,461*10 * 108 = 4,461*109

Ordem de grandeza
A ordem de grandeza de uma medida é a potência de 10 mais próxima dela. Por exemplo, a ordem de
grandeza do resultado acima (4,461*109) é 109. A ordem de grandeza do resultado do problema inicial
(8,922*105) é 106.
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8. Grandezas Físicas
Definimos como grandeza física tudo que pode ser medido e representado numericamente, isto é,
que é mensurável. Para a realização dessa medida, como vimos anteriormente, podemos utilizar
determinados instrumentos, cuja precisão pode fazer com que tenhamos um maior ou menor grau de
incerteza. Quanto maior a precisão do instrumento e, portanto, menor a incerteza, maior será a quantidade
de algarismos significativos utilizada para a representação numérica da grandeza.
Posição, tempo, velocidade e massa são exemplos de grandezas físicas, pois podem ser medidos e
representados numericamente. Para essas medidas, utilizamos um padrão de comparação denominado
unidade.
Por exemplo, quando dizemos que a posição da cidade A é 10 quilômetros ao norte da cidade B,
estamos afirmando que a distância entre as duas cidades é 10 vezes maior que a distância equivalente a 1
quilômetro. Isto é, estamos comparando a distância entre as cidades com o espaço de 1 quilômetro, ou
seja, estamos utilizando a unidade quilômetro para a determinação da posição.
Poderíamos também compará-la com o espaço de 1 metro, o que nos daria uma distância equivalente
a 10.000 metros.
Adota-se, entretanto, um padrão de unidade para cada grandeza física. Esse padrão é definido pelo
Sistema Internacional. Ou seja, quando representarmos numericamente uma determinada grandeza,
podemos utilizar a unidade que melhor nos convier. Contudo, a realização de determinados cálculos é
facilitada se utilizarmos a unidade indicada pelo Sistema Internacional (SI).
O SI indica as seguintes unidades para as grandezas básicas:

Posição: metro (m)


Tempo: segundos (s)
Massa: quilogramas (kg)
Carga: coulomb (C)

Além dessas, existem outras grandezas físicas, porém todas podem ser derivadas dessas quatro. A
velocidade, por exemplo, é uma grandeza obtida com a associação entre posição e tempo. Ela pode ser
medida em km/h, pois é a variação de posição ocorrida em uma unidade de tempo, isto é, o número de
quilômetros percorridos em cada hora.
Contudo, se dissermos que um carro faz uma viagem a 90 km/h, não estaremos definindo
completamente a grandeza velocidade. A essa informação, cabem duas perguntas a mais:
• Em que estrada o carro viaja?
• Qual dos dois sentidos ele percorre?

Porém, se dissermos que o carro viaja a 90 km/h, na rodovia Rio-Santos, sentido Santos, podemos
definir por completo seu movimento. Dizemos que o valor numérico, acompanhado da unidade, é a
intensidade (ou módulo) da velocidade. A rodovia, supondo que seja uma reta, é a direção do movimento.
A idéia de o carro ter partido do Rio e estar a caminho de Santos é o sentido do movimento.
Observação: Cada direção admite apenas dois sentidos.

A velocidade, assim como outras grandezas físicas, é, portanto, definida com essas três informações:
intensidade, direção e sentido. Esse fato a caracteriza como uma grandeza vetorial. Outros exemplos de
grandezas vetoriais são: posição, força, campo elétrico, aceleração etc.
São chamadas vetoriais por serem representadas por vetores. O vetor é um ente matemático que
dispõe justamente das três características das quais precisamos: intensidade, direção e sentido.
Entretanto, existem grandezas físicas que podem ser perfeitamente caracterizadas apenas com a
intensidade, isto é, com o valor numérico acompanhado de uma unidade. Por exemplo, se dissermos que a
massa de um indivíduo é de 70 kg, não é coerente perguntar “em que direção?”. O mesmo vale para
tempo decorrido. São grandezas não vetoriais, isto é, escalares.

9. Unidades
Como vimos, a intensidade de qualquer grandeza física é uma comparação com um padrão, a
unidade. Também vimos que determinada grandeza física admite mais de uma unidade, mas existe uma
indicada pelo Sistema Internacional. De um modo geral, podemos também usar os múltiplos de uma
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unidade. Não é à toa que, assim como 1 quilograma (kg) são mil gramas (g), um quilômetro (km) são mil
metros (m). Na verdade, o prefixo quilo (k) significa uma multiplicação por mil.
Existem diversos prefixos que representam diferentes múltiplos. Eles estão tabelados a seguir:
PREFIXOS DO SISTEMA INTERNACIONAL
PREFIXO SÍMBOLO MULTIPLICA POR
exa E 1018
peta P 1015
tera T 1012
giga G 109
mega M 106
quilo k 103
hecto h 102
deca da 101
deci d 10-1
centi c 10-2
mili m 10-3
micro µ 10-6
nano n 10-9
pico p 10-12
femto f 10-15
atto a 10-18

Os seis prefixos em negrito são os mais comumente utilizados.


Os prefixos quilo, mega e giga são bastante usados quando nos referimos à unidade de
armazenamento de um computador, o byte. Os termos kbyte (quilobyte – kb), megabyte (Mb) e gigabyte
(Gb) são bastante utilizados.
Quando nos referimos a comprimentos pequenos, usamos o centímetro (cm) e o milímetro (mm).
As cargas pequenas geralmente são medidas em microcoulombs (mC). Além disso, em geral, os
microscópios nos permitem visualizar objetos na escala dos micrômetros (µm).
Atualmente, temos visto nos jornais o desenvolvimento da nanotecnologia, na área de eletrônica. São
projetos em que as distâncias são medidas em nanômetros (nm).

Exercício 1.7.1: Um milímetro é maior ou menor que um nanômetro? Quantas vezes maior/menor?

Solução:
1m
1 mm = 10-3 m = = um milésimo de metro
1.000
1m
1 nm = 10-9 m = = um bilhonésimo de metro
1.000.000.000
Portanto, um milímetro é maior que um nanômetro.
1 mm 10−3 m 109
= = = 109 −3 = 106 = um milhão
1 nm 10-9 m 103
Portanto, um milímetro é um milhão de vezes maior que um nanômetro.

10. Análise Dimensional


Vimos que as quatro grandezas básicas da física são: posição (m), tempo (s), massa (kg) e carga (C).
Todas as outras grandezas físicas podem ser obtidas apenas com diferentes relações entre essas quatro. E,
portanto, suas unidades de comparação também.
Demos o exemplo da velocidade que, por ser uma relação entre posição e tempo, tinha como unidade
uma relação entre as unidades de posição e de tempo.
Quando representarmos a unidade de uma determinada grandeza, como a massa, por exemplo,
usaremos a seguinte notação:
[ m ] = kg ,
que quer dizer que uma das unidades unidade de massa é o quilograma. É correto também escrever
[m] = g ,
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Introdução à Física

ou seja, que o grama também é uma unidade possível para a massa.

Combinação de unidades
Podemos medir a força que é aplicada a um corpo em newtons (N). Veremos mais adiante alguns
conceitos com mais detalhes que vamos, no momento, resumir:
• Pela segunda lei de Newton, exprime-se a força resultante aplicada sobre um corpo por
FR = m.a , em que m é sua massa e a é a aceleração adquirida por ele.
∆v
• A aceleração média de um corpo é dada por am = , em que ∆v é a variação
∆t
velocidade ocorrida no período de tempo ∆t.
∆s
• A velocidade média de um corpo é dada por vm = .
∆t
Nosso objetivo agora é exprimir a unidade newton em função das unidades básicas apresentadas
anteriormente. Tomando como base os conceitos citados acima, podemos escrever, através da segunda lei
de newton:
[ F ] = [ m ] .[ a ]
[v ]
[ F ] = [ m ].
[t ]
[ s]
[t ] = m . [ s ]
[ F ] = [ m ]. [ ] 2
[t ] [t ]
[ F ] = kg.m s 2 = N

Potência de unidades
O volume de um cubo é igual ao produto comprimento*largura*altura. Ou seja, a unidade de
volume é dada por
[V ] = [ comprimento] × [largura ] × [altura] .
Isto é, como comprimento, largura e altura são, na verdade, a mesma grandeza, de comprimento ou
posição, uma das possibilidades para a unidade de volume é o m3. Mas poderíamos também usar o cm3,
ou ainda, a potência cúbica de qualquer unidade de comprimento.

Exercício 1.8.1: Quantas vezes um mm3 (milímetro cúbico) é maior que um nm3 (nanômetro
cúbico)?
Solução: No exercício 1.7.1. vimos que um milímetro é um milhão (106) de vezes maior que um
nanômetro. Ou seja:
1 mm = 106 nm
Mantendo a igualdade, podemos elevar ambos os termos ao cubo. Teremos
(1 mm ) = (106 nm ) .
3 3

Aplicando as propriedades de potenciação


13 mm3 = (106 ) nm3
3

1 mm3 = 1018 nm3

11. Sistema de referência


A medição de qualquer grandeza física vetorial depende de um sistema de referência, isto é, um
sistema de eixos cartesianos com uma origem, representando o espaço. Normalmente, os problemas
físicos falam de um observador. Ele representa a origem do sistema referencial, ou seja, o ponto zero.
No exemplo do carro em viagem do Rio para Santos, estudamos o caráter vetorial da velocidade.
Vimos que essa grandeza tem uma intensidade, direção e sentido. Vimos também que ela pode ser,
portanto, representada por um vetor.
A representação uma grandeza vetorial se dá através do sistema de referência. No caso da velocidade,
teríamos:
Capítulo 1
Introdução à Física

DIREÇÃO DA
RODOVIA RIO-SANTOS
RIO DE JANEIRO

X
v
SANTOS

A reta que passa pelas duas cidades é a direção da velocidade. A origem do sistema (o ponto de
cruzamento dos eixos cartesianos) foi escolhida como sendo o próprio carro.
Observação: A escolha da origem de qualquer sistema físico é arbitrária. Ela deve ter como objetivo
facilitar a resolução do problema.
A seta, indicada por v, que parte da origem, é o vetor velocidade. Note que o vetor indica a direção e
o sentido do movimento. A intensidade é representada pelo tamanho do vetor, que, no caso, é 90 km/h.
Isto é, definidas as escalas para o eixo X e o eixo Y, o comprimento do vetor velocidade deverá ser igual
a 90. Mais adiante, veremos métodos eficientes para a análise mais profunda dessa questão.

Vejamos alguns exemplos decorrentes do uso do sistema referencial:

Exemplo 1.8.1: Considere um prédio de 30 metros. No terraço, uma pessoa de 2 metros de altura,
levanta um holofote 1 metro acima da sua cabeça. Pergunta-se: qual é a altura do holofote?
A resposta depende crucialmente do sistema de referencial adotado, mais especificamente, da
localização de sua origem (o observador). Se a origem estiver na cabeça da pessoa, teremos que a altura
do objeto é igual a1 metro. Se estiver nos seus pés, será igual a 3 metros. Se estiver na base do edifício,
será igual a 33 metros.

Exemplo 1.8.2: Considere um carro se movendo em uma estrada a 60 km/h e outro, ultrapassando o
primeiro, a 80 km/h. Pergunta-se: qual é a velocidade do segundo carro?
Novamente, a resposta depende do sistema de referência adotado. Mas agora, não depende mais da
posição da origem, mas somente da velocidade do referencial.
Veremos mais adiante que podemos, sem maiores problemas, adotar um referencial se movendo com
velocidade constante, ou seja, um referencial inercial. Na física clássica, não podemos adotar um
referencial não inercial, ou seja, um referencial cuja velocidade varia com o tempo.
Se o referencial estiver fixo, com a origem em um poste da estrada, por exemplo, a velocidade do
segundo carro é igual a 80 km/h. Se mantivermos o referencial fixo, porém mudarmos a posição da
origem, colocando-a sobre um pedestre parado que vê a ultrapassagem, a velocidade do segundo carro
continuará igual a 80 km/h.
Esse valor, porém, mudará se utilizarmos um sistema de referência que se move juntamente com o
carro que está sendo ultrapassado. Ou seja, o observador da ultrapassagem é um dos passageiros do
primeiro carro. Nesse caso, a velocidade do segundo carro é igual a 20 km/h. É a chamada velocidade
relativa, pois é medida em relação a um outro corpo.

Exemplo 1.8.3: Considere o pedestre do exemplo anterior. Pergunta-se: ele está em repouso ou em
movimento? A resposta, como esperado, foge do que nos é intuitivo, a depender do referencial utilizado.
A princípio, de acordo com o senso comum, diremos que ele está em repouso, isto é, sem velocidade.
Mas essa resposta só é de fato correta, se adotarmos um referencial, por exemplo, com a origem sobre o
poste ao seu lado, também parado.
Mas como o passageiro do carro que passa a 60 km/h vê o pedestre? Tomando esse passageiro como
o observador, o seu carro está em repouso, já que se move junto com ele. A velocidade relativa entre o
observador e o carro é nula.
Mas ele vê o pedestre com velocidade em sentido contrário à do carro, também a 60 km/h. Ele vê o
pedestre “passando para trás”. Nesse referencial, o pedestre está em movimento.
Portanto, até mesmo o conceito de repouso e movimento é dependente do referencial.
Capítulo 1
Introdução à Física

Mas, cabe mais uma pergunta: qual é então o referencial utilizado pelo senso comum? Isto é, quando
damos a resposta intuitiva de que o pedestre está parado, qual é o referencial que estamos utilizando?
Normalmente, utilizamos um referencial cuja origem está no solo, na Terra, e parado em relação a ela.
Isso vale mesmo para movimentos que transcendem o planeta. Por exemplo, antes de termos
instrumentos mais avançados, pensava-se que o Sol girava ao redor da Terra, e não o contrário. Tal
afirmação é verdadeira se tomarmos a Terra como origem do referencial.
Todavia, se tomarmos o Sol como referencial, obteremos o resultado exatamente inverso: a Terra gira
em torno do Sol. Mas então, qual referencial usar? E qual dos dois resultados é o verdadeiro?
Na verdade, não existe, por exemplo, a “velocidade absoluta” de um corpo, ou seja, a velocidade do
corpo, em relação a nada, independente de qualquer referencial. Para toda grandeza física que medimos,
utilizamos um determinado referencial. Para problemas de pequena escala, é razoável utilizar a Terra
como o referencial, e medir tudo em relação a ela. Porém, para questões de maiores escalas, temos que
usar um referencial “melhor”. Nesses casos, então, qual é o referencial razoável? O ideal é utilizar algo
que não interfira no sistema analisado. Por isso, normalmente, escolhe-se como origem desses
referenciais, estrelas bem distantes, que, para nós, estão praticamente em repouso.
Nesse referencial, obtemos mais alguns resultados, do que simplesmente perceber que a Terra gira
em torno do Sol, e não o contrário. Percebemos que o Sol gira em torno do centro da galáxia, que por sua
vez, também gira, em torno de algo distante o suficiente para que não o conheçamos.
É importante ressaltar que esses referenciais nas estrelas distantes são utilizados simplesmente por
questões de facilidade de cálculo, a necessidade de ter algo que pareça parado para ser tomado como
referência. Contudo, sabemos que não faz o menos sentido falarmos de velocidade independente de um
referencial. O mesmo vale para o conceito mais essencial de repouso e movimento. Como toda velocidade
é medida em relação a algo, não faz sentido falar que algum corpo no espaço esteja em repouso ou em
movimento. Não existe um repouso ou movimento “absoluto”.

12. Posição, tempo e velocidade


Vimos que posição e tempo estão entre as quatro grandezas fundamentais da física. Isto significa que
outras grandezas, como a velocidade, são obtidas a partir delas, conforme veremos a seguir.
A unidade de medição de tempo no Sistema Internacional (SI) é o segundo (s). É óbvio que existem
outras unidades, que são utilizadas a depender do propósito. Por exemplo, não vamos contar o tempo de
vida de uma pessoa em segundos ou dias, mas em anos. Da mesma forma ocorre com um período letivo,
que é calculado em meses. Na área de eletrônica, mede-se o período de oscilação de determinados pulsos
elétricos em milisegundos (ms), microsegundos (µs) ou até nanosegundos (ns).
A unidade de medição de posição e distância no SI é o metro. Também utilizamos muito comumente
outras unidades, como o quilômetro (km), o centímetro (cm), o milímetro (mm). Para distâncias
astronômicas, utilizamos o ano-luz, que é a distância percorrida pela luz no período de um ano, algo da
ordem de 1016 metros.

Exercício 1.9.1: Um carro percorre em uma estrada 120 km em 2,0 h. Em média, quantos
quilômetros ele percorreu em cada hora?

Solução:
Está óbvio que a resposta é uma média de 60 quilômetros em cada hora. Contudo, em problemas
mais complexos, essa resposta não será óbvia ou intuitiva. Precisamos de um método físico e matemático
para a resolução desse problema. Ou seja, vamos analisar o que fizemos para chegar a essa resposta.
Primeiramente, vamos imaginar a estrada, retilínea. Vamos mostrar as sucessivas posições do carro
nessa estrada.
Como vimos, a posição é uma grandeza vetorial. Isso significa que deve ser representada de forma
completa através de um vetor, com módulo, direção e sentido. No exemplo anterior, utilizamos um
sistema referencial com dois eixos. Mas poderíamos ter usado um eixo somente, aproveitando-se do fato
de tratar-se de um movimento retilíneo. Isto é, se estivéssemos estudando um movimento em curva,
necessariamente precisaríamos utilizar dois ou até três eixos. Mas no movimento retilíneo, se colocarmos
um dos eixos exatamente sobre a trajetória, o outro eixo fica dispensável. Faremos isso com o objetivo de
facilitar o raciocínio.
s (m) – eixo das posições

s0 s

0
Capítulo 1
Introdução à Física

Representamos a posição com a letra “s” (do inglês, “space”). O ponto zero é a origem do nosso
referencial. O ponto s é a posição atual do carro. O ponto s0 é a posição inicial do corpo, isto é, o ponto a
partir do qual começamos a contar as posições e o tempo.
Os 120 km, percorridos pelo carro em 2,0 h, começam no ponto s0 e vão até o ponto s. Por exemplo,
imagine que em s0 o marco na estrada era de 50 km. Portanto, em s, o marco era de 170 km.
A distância percorrida equivale justamente à variação de posição realizada pelo móvel. Essa variação
é representada por:

∆s = s − s0

A letra grega ∆ (leia-se “delta”) significa “variação”. Portanto ∆s é a variação de posição. Essa
variação de posição é a diferença entre as posições atual (s) e inicial (s0).
Igualmente, podemos descrever o período de tempo decorrido como:

∆t = t − t0

E, finalmente, o que fizemos para chegar à média de 60 quilômetros em cada hora, foi dividir os 120
quilômetros por 2,0 horas. Ou seja, dividimos a distância percorrida (variação da posição - ∆s) pelo
período de tempo em que isso ocorreu (variação do tempo - ∆t).
Dizer que o automóvel percorreu em média 60 km em cada hora do seu percurso é o mesmo que
dizer que sua velocidade média foi de 60 km/h no percurso. Assim, podemos escrever:

∆s
vm =
∆t

Exercício 1.9.2: Um automóvel faz uma viagem em duas etapas. A primeira, contendo 50 km, foi
feita em 30 min. A segunda, de 60 km, foi feita em 1h e 30 min. Determine:
a) A velocidade média na primeira etapa do percurso;
b) A velocidade média na segunda etapa do percurso;
c) A velocidade média em todo o percurso.

Solução:
∆s
Sabemos que a fórmula para o cálculo da velocidade média é vm = . Assim teremos:
∆t
Na primeira etapa:
1
∆s = 50 km e ∆t = 30 min = h = 0,5 h
2
∆s 50
vm = = = 50 × 2 = 100 km/h
∆t 1
2

Na segunda etapa:
3
∆s = 60 km e ∆t = 1h + 30 min = h = 1,5 h
2
∆s 60 2
vm = = = 60 × = 40 km/h
∆t 3 3
2

Em todo o percurso:
∆s = 50 + 60 km e ∆t = 30 min + 1h + 30 min = 2,0 h
∆s 110
vm = = = 55 km/h
∆t 2, 0
Capítulo 1
Introdução à Física

Calculada a velocidade média na primeira etapa (100 km/h) e na segunda (40 km/h), é comum pensar
que a velocidade média em todo o percurso é a média entre 100 e 40, isto é, 70 km/h. Contudo, isso só
estaria correto se os percursos tivessem o mesmo tempo de duração. É como ao longo do ano letivo em
um colégio: se um aluno tira nas quatro primeiras provas nota 5,0 e 10 na última, sua média não será 7,5,
pois houve mais notas 5,0 do que notas 10. A média, portanto, tem que estar mais próxima de 5,0 do que
de 10. Da mesma forma, o automóvel passou mais tempo com a velocidade média de 40 km/h do que de
100 km/h. Portanto, a velocidade média de todo o percurso deve ser mais próxima de 40 km/h. A maneira
de realizar o cálculo exato é a descrita acima.

Exercício 1.9.3: Um automóvel se locomove com uma velocidade de 1,0 m/s. Qual é sua velocidade
em km/h?
Solução: Esse problema se baseia na conversão das principais unidades de velocidade (m/s e km/h).
Daqui por diante, tomaremos seu resultado como método para futuras conversões.
1m
1 m/s = . Para obtermos um valor em km/h, precisamos saber quantos quilômetros equivalem a
1s
1 m e quantas horas equivalem a 1 s. Fazendo a substituição, teremos um resultado.
1 km = 103 m ∴ 1 m = 10-3 km
1
1 h = 60 min = 60 × 60 s = 3600 s ∴ 1 s = h
3600
Substituindo,
1 m 10−3 km 10−3
= = km/h = 10-3 × 3600 km/h = 3, 6 km/h
1s 1 h 1
3600 3600
Portanto, 1 m/s = 3,6 km/h.

Para outras velocidades pode-se fazer o mesmo processo, ou simplesmente realizar uma
multiplicação (no caso da passagem de m/s para km/h) ou divisão (no caso da passagem de km/h para
m/s) por 3,6.
Por exemplo, para saber o equivalente em km/h da velocidade igual a 2 m/s, basta multiplicar esse
valor por 3,6:
2,0 m/s = 2,0 × 3,6 km/h = 7,2 km/h
Por outro lado, se quisermos saber o equivalente em m/s da velocidade igual a 7,2 km/h, basta dividir
esse valor por 3,6:
7,2
7,2 km/h = m/s = 2,0 m/s
3,6

Exercício 1.9.4: Como prática, transforme as seguintes velocidades dadas em km/h para m/s ou vice-
versa. Confira seus resultados com o auxílio de uma calculadora.
a) 10,8 km/h
b) 4,0 m/s
c) 5,0 m/s
d) 36 km/h
e) 72 km/h
f) 90 km/h
g) 30 m/s

Com a equação da velocidade média, podemos também deduzir a distância percorrido ou o tempo de
duração do movimento.

Exercício 1.9.5: Um maratonista realizou uma prova com uma velocidade média de 12 km/h. Se o
tempo de duração dessa prova foi de 3,0 h, determine a distância total percorrida pelo atleta em km.

Exercício 1.9.6: Um automóvel, em movimento de velocidade média igual a 90 km/h, atravessa uma
ponte de 525 m. Em quanto tempo ele completa a travessia?
Capítulo 1
Introdução à Física

Nos casos anteriores, estamos estudando o conceito de velocidade média, que difere de velocidade
instantânea. Como os nomes sugerem, a velocidade instantânea é a rapidez momentânea de um móvel,
isto é, a velocidade em um dado instante, ao passo que a velocidade média é a média de todas as
velocidades instantâneas ao longo do período.
∆s
Se a velocidade média corresponde a um período de tempo ∆t e pode ser escrita por vm = ,
∆t
podemos dizer que a velocidade instantânea corresponde à velocidade média aplicada a um instante, isto
é, um período de tempo muitíssimo pequeno, que tende a zero. Matematicamente, expressamos a
velocidade instantânea por:
∆s
v = lim
∆t →0 ∆t
Utilizamos o conceito matemático de limite. Contudo, isso não será tão importante no nosso estudo.
Basta a compreensão do conceito essencial de velocidade instantânea. Dizemos, assim, que a velocidade
de um corpo é a taxa de variação no tempo da sua posição. Em outras palavras, a velocidade é o
quanto a posição está variando por unidade de tempo.
Quando dizemos que velocidade média de um carro é igual a 90 km/h, isso não significa dizer que
sua velocidade permaneceu a mesma, ou seja, que sua velocidade instantânea foi igual a 90 km/h em
todos os instantes. Significa dizer que a velocidade instantânea pode ter variado e, se isso ocorreu, ela
oscilou em torno de 90 km/h.

13. Aceleração
Vamos agora estudar a variação de velocidade ao longo de um período de tempo. Suponha que você
vai comprar um carro, e está em dúvida entre dois modelos. Ambos tem a mesma velocidade máxima: de
200 km/h. Contudo, um dos modelos consegue aumentar sua velocidade de 110 a 200 km/h em 10 s. O
outro faz o mesmo em 25 s. Qual dos dois modelos é o melhor?
Se você está interessado em um carro para estradas, onde certamente você manterá uma velocidade
média alta e, de tempos em tempos, realizará uma ultrapassagem, precisando de um aumento rápido de
velocidade, é claro que escolherá aquele que obtém a mesma variação de velocidade em menos tempo.
Dizemos que esse modelo tem uma aceleração maior do que o outro.
Vamos verificar, para o primeiro caso, quanto ele varia sua velocidade por segundo. Já sabemos que
ele aumenta sua velocidade de 110 a 200 km/h. Isso nos dá uma variação de 90 km/h. Obtivemos esse
resultado com a subtração: 200 – 110 = 90 km/h. Assim, definimos:
∆v = v − v0
Essa variação de 90 km/h pode ser convertida em 25 m/s. Portanto, se a variação de velocidade total
é de 25 m/s em um tempo total de 10 s, quantos m/s variam em 1 s? Intuitivamente, basta dividirmos 25
por 10, e obtemos como resposta 2,5. Isso é o que chamamos de aceleração média. Temos, então:
∆v
am =
∆t

Isso, então, quer dizer que a cada segundo, o automóvel aumenta em média sua velocidade em 2,5
metros por segundo. Ou seja, varia 2,5 metros por segundo, por segundo. Matematicamente, temos
m s m 1 m
am = 2,5 = 2,5 . = 2,5 2 = 2,5 m s 2
s s s s
Equivalentemente, para o segundo carro, temos:
∆v 25 m s
am = = = 1, 0 m s 2
∆t 25s

Exercício 1.10.1: Um automóvel, em determinado instante, tem uma velocidade de 20 m/s. Para
realizar uma ultrapassagem, ele pisa no acelerador de forma a oferecer uma aceleração ao veículo de 2,0
m/s2, ao longo de 5,0 s. Determine qual foi a velocidade final nesse processo?

Solução: Utilizaremos a relação mostrada acima para aceleração média:


Capítulo 1
Introdução à Física

∆v
am = ⇒ ∆v = am ∆t = 2, 0 × 5, 0 = 10 m s
∆t
∆v = v − v0 ⇒ 10 = v − 20 ⇒ v = 30 m s

Analogamente aos conceitos de velocidades instantânea e média, também diferimos as acelerações


instantânea da média.
A aceleração instantânea refere-se a quanto a velocidade está variando em um determinado instante.
Ela está relacionada, conforme veremos mais adiante, com a força de propulsão do movimento. Isto é,
quanto maior a força que impulsiona o veículo para frente em um determinado momento, maior é a sua
aceleração. Sentimos essa diferença quando, por exemplo, em uma situação de aceleração muito grande,
somos “puxados” pra trás.
Há também o caso contrário, em que ocorre uma desaceleração forte, uma freada, em que somos
jogados pra frente. A força que nos impulsiona para frente está diretamente relacionada com a aceleração
instantânea.
A aceleração média, como esperado, é a média de todas as acelerações instantâneas, e é dada pela
∆v
relação am = . Por isso, quando nos referimos à aceleração instantânea, referimo-nos a essa relação
∆t
aplicada não a um período de tempo, mas a um instante, que equivale a um período de tempo muitíssimo
pequeno. Assim, escrevemos:
∆v
a = lim
∆t → 0 ∆t

Dizemos, assim, que a aceleração de um corpo é a taxa de variação no tempo da sua velocidade.
Em outras palavras, a aceleração é o quanto a velocidade está variando por unidade de tempo.

14. Movimento progressivo x retrógrado


Antes de prosseguirmos, devemos fazer algumas definições e classificações importantes. Caracterizar
um movimento como progressivo ou retrógrado significa nada mais do que, dada uma direção de um
movimento, indicar o sentido da velocidade.
Vamos considerar um movimento retilíneo, ou seja, unidimensional. Assim como fizemos
anteriormente, vamos usar, portanto, um só eixo para a representação das posições. Esse eixo é ordenado
e tem uma origem.

s (m)

A bola cinza representa o móvel que se desloca sobre essa reta. As posições crescem para a direita.
Caso o móvel se desloque para a direita, sua posição crescerá gradativamente. Isso quer dizer que, para
um período de tempo, sua posição final será maior que a inicial. Ou seja:
s > s0 ⇒ s − s0 > 0 ⇒ ∆s > 0
∆s
Isto é, quando as posições aumentam, a variação de posição ∆s é positiva. Como vm = , nesse
∆t
caso, a velocidade também é positiva. Todo esse conjunto de características define o movimento
progressivo, no qual a velocidade tem o mesmo sentido que a orientação do eixo das posições.

Caso o móvel se desloque para a esquerda, sua posição diminuirá gradativamente. Isso quer dizer
que, para um período de tempo, sua posição final será menor que a inicial. Ou seja:
s < s0 ⇒ s − s0 < 0 ⇒ ∆s < 0
∆s
Isto é, quando as posições diminuem, a variação de posição ∆s é negativa. Como vm = , nesse
∆t
caso, a velocidade também é negativa. Todo esse conjunto de características define o movimento
retrógrado, no qual a velocidade tem sentido contrário à orientação do eixo das posições.
Capítulo 1
Introdução à Física

15. Movimento acelerado x retardado


Imagine o exemplo anterior, no qual o eixo das posições representa uma estrada e o móvel um carro.
Suponha também que o movimento seja progressivo, isto é, o carro locomove-se para a direita.
O motorista, por um motivo qualquer, pisa no acelerador, fazendo com que sua velocidade comece a
aumentar. Teremos, assim, após um período de tempo, uma velocidade final maior que a inicial. Ou seja:
v > v0 ⇒ v − v0 > 0 ⇒ ∆v > 0
∆v
Isto é, quando a velocidade aumenta, a variação de velocidade ∆v é positiva. Como am = , nesse
∆t
caso, a aceleração também é positiva.
Esse movimento é definido como acelerado. Mas note que não é o fato de a aceleração ser positiva
que nos faz classificar o movimento dessa forma. O movimento é acelerado porque o móvel está cada vez
mais rápido, ou seja, o motorista pisou no acelerador. Isso não parece fazer muito sentido, pois a princípio
uma coisa leva à outra, mas veremos que isso não é verdade. É importante fixar que o movimento é
acelerado por estar cada vez mais rápido.

Analogamente, temos o caso em que o motorista pisa no freio, fazendo com que sua velocidade
comece a diminuir. Teremos, assim, após um período de tempo, uma velocidade final menor que a inicial.
Ou seja:
v < v0 ⇒ v − v0 < 0 ⇒ ∆v < 0
∆v
Isto é, quando a velocidade aumenta, a variação de velocidade ∆v é negativa. Como am = , nesse
∆t
caso, a aceleração também é negativa.
Esse movimento é definido como retardado, pois o móvel está cada vez mais lento, o motorista pisou
no freio. Novamente, nesse caso, essa situação leva a uma aceleração negativa, mas isso nem sempre
ocorre. É o fato de o móvel estar cada vez mais lento que classificamos o movimento como retardado.

Classificaremos agora um movimento retrógrado como acelerado ou retardado. A característica do


movimento retrógrado, como vimos, é o sentido do movimento ser contrário à orientação do eixo das
posições, isto é, a velocidade ser negativa.
Vamos supor, como exemplo, que a velocidade do automóvel seja v0 = –10 m/s. Considerando o eixo
das posições orientado para a direita, sabemos que o movimento do móvel ocorre para a esquerda. Assim
sendo, a cada segundo, o móvel percorre 10 metros para a esquerda.
Se o motorista pisa no acelerador, fica mais rápido. Suponhamos que agora ele ande 15 metros a cada
segundo. Sua velocidade então é v = –15 m/s. Repare que, apesar de ter ficado mais rápido, sua
velocidade ficou mais negativa. Ou seja, o valor escalar da sua velocidade diminuiu. Não podemos,
portanto, associar rapidez a esse valor, pois é uma comparação falha. Devemos associar rapidez ao
módulo da velocidade. Antes tínhamos |v0| = 10 m/s. Agora temos |v| = 15 m/s.
Se o módulo da velocidade aumentou, isto é, o movimento está mais rápido, nós o classificamos
como acelerado. Contudo, o novo valor escalar da velocidade é menor do que o primeiro. Assim,
podemos escrever:
v < v0 ⇒ v − v0 < 0 ⇒ ∆v < 0
∆v
Isto é, a variação de velocidade ∆v é negativa. Como am = , nesse caso, a aceleração também será
∆t
negativa.
Temos então uma aparente contradição: aceleração negativa, mas movimento acelerado. Isso é
esclarecido quando consideramos que a aceleração relaciona-se com o valor escalar da velocidade e a
classificação entre acelerado ou retardado relaciona-se com o módulo da velocidade.

Ainda no movimento retrógrado, vamos considerar agora o exemplo contrário, em que o motorista
pisa no freio. De início, vamos considerar a velocidade inicial v0 = –10m/s. Isso significa que a cada
segundo, o motorista percorre 10 metros para a esquerda. Pisando no freio, o movimento fica mais lento.
Suponhamos que agora, ele percorra apenas 5 metros a cada segundo. Sua velocidade então passou a ser v
= –5 m/s.
Repare que, apesar de o movimento ter ficado mais lento, sua velocidade ficou menos negativa. Ou
seja, o valor escalar da sua velocidade aumentou. Novamente, concluímos que não podemos associar
rapidez a esse valor, e sim ao módulo da velocidade. Antes tínhamos |v0| = 10 m/s. Agora temos |v| = 5
m/s.
Capítulo 1
Introdução à Física

Seguindo o mesmo raciocínio, classificamos esse movimento como retardado, apesar de a nova
velocidade ser maior do que a inicial:
v > v0 ⇒ v − v0 > 0 ⇒ ∆v > 0
∆v
Isto é, a variação de velocidade ∆v é positiva. Como am = , nesse caso, a aceleração também será
∆t
positiva, apesar de se tratar de um movimento retardado.

16. Equações horárias


Em um breve resumo do que vimos até agora, podemos dizer que a velocidade é a taxa de variação
da posição no tempo e que a aceleração é a taxa de variação da velocidade no tempo.

EXTRA
_____________________________________________________________________________________
Quem estudou todas as conseqüências dessas relações foi Newton. Para aprimorar seu estudo de
grandezas que exprimem a taxa de variação de outras, ele criou o método matemático chamado derivada,
e o operador oposto, a integral. Tais conceitos foram fundamentais no desenvolvimento da matemática e
da física moderna, a partir do século XVI. Essas ferramentas são muito poderosas, podem abreviar muitas
linhas de cálculo complexo. Além disso, propiciam uma visão cartesiana geométrica dos fenômenos
físicos estudados.
_____________________________________________________________________________________

Portanto, dada uma posição inicial, se transcorrido um intervalo de tempo ∆t, a nova posição
dependerá das velocidades adquiridas pelo corpo ao longo desse período. Essas velocidades, por sua vez,
dependerão das acelerações características de cada instante.
Esses fatores gerarão, em cada caso, equações horárias características do movimento. As três
equações horárias que serão usadas por nós serão as de posição, velocidade e aceleração, no domínio do
tempo.
Por exemplo, digamos que em um caso específico, um corpo tenha um movimento retilíneo gerido
pela seguinte equação horária de posição: s (t ) = 3 − 5t + 2t 2 (SI). Essa equação relaciona a posição do
móvel a cada instante a partir do início do movimento, em unidades do Sistema Internacional. Ou seja,
através dela, poderíamos construir a seguinte tabela:

Tempo (s) Posição (m)


t=0 s(0) = 3 – 5.0 + 2.02 = 3 m
t=1s s(1) = 3 – 5.1 + 2.12 = 0
t=2s s(2) = 3 – 5.2 + 2.22 = 1 m
t=3s s(3) = 3 – 5.3 + 2.32 = 6 m
t=4s s(4) = 3 – 5.4 + 2.42 = 15 m
t=5s s(5) = 3 – 5.5 + 2.52 = 28 m

Se desejarmos saber a posição do objeto em um dado instante, basta substituir o valor de t na equação
e calcular o valor de s. Por outro lado, se quisermos saber em qual ou quais instantes o móvel tem uma
dada posição, basta substituir o valor de s na equação e calcular o valor de t.
Vamos calcular em qual instante o móvel alcança a posição 153 m. Substituiremos esse valor em s na
equação:
153 = 3 − 5t + 2t 2
2t 2 − 5t − 150 = 0

Observação: Essa equação é classificada como de segundo grau. Sua forma genérica é:
ax 2 + bx + c = 0

A fórmula para solucioná-la é a chamada fórmula de Bháskara, na verdade descoberta pelo


matemático hindu Sridhara, um século antes da publicação de Bháskara:
−b ± b 2 − 4ac
x=
2a
Capítulo 1
Introdução à Física

Observe o símbolo ± na equação. Ele ocorre porque essa equação tem, na verdade, duas soluções:

−b + b 2 − 4ac −b − b 2 − 4ac
x1 = e x2 = .
2a 2a
Ou seja, existem dois números (x1 e x2) que satisfazem a relação ax 2 + bx + c = 0 .

Voltando à equação em que nos encontrávamos, usando os coeficientes da forma genérica de


equação do segundo grau, temos nesse caso a = 2, b = –5, c = –150. Aplicando-os à equação de Bhaskara:
−(−5) ± (−5) 2 − 4.2.(−150) 5 ± 25 + 1200 5 ± 35
t= = =
2.2 4 4
5 + 35
t1 = = 10 s
4
5 − 35
t2 = = −7,5 s
4
Como os instantes são contados a partir de zero, não utilizamos valores negativos para o tempo.
Portanto, a segunda solução (t2) está descartada. A resposta é t = 10 s, ou seja, no instante t = 10 s, o
móvel ocupa a posição 153 m.

Como no exemplo acima, as equações horárias definem uma relação entre uma determinada grandeza
física (no caso, a posição) com o tempo, isto é, mostram o comportamento dessa grandeza ao longo de um
período. Poderíamos definir para o móvel, a equação horária da sua velocidade, ou ainda da sua
aceleração. Os procedimentos seriam os mesmos que os exemplificados acima.

Exercício 1.13.1: Considere um móvel com a seguinte equação horária de velocidade:


v (t ) = t 4 − 13t 2 + 36 (km, h). Determine:
a) sua velocidade no instante 5 s.
b) o(s) instante(s) em que sua velocidade é nula.

Solução: Repare, primeiramente, que não estamos mais trabalhando com o Sistema Internacional de
unidades. Agora, a posição é medida em quilômetros e o tempo em horas. É importante ressaltar que
mesmo que se trate de uma equação horária de velocidade, as unidades destacadas entre parênteses
referem-se às grandezas fundamentais posição e tempo. Logo, nesse caso, a velocidade será medida em
km/h.
a) Para determinarmos a velocidade no instante t = 5 h, devemos “jogar” esse valor na fórmula:
v (5) = 54 − 13.52 + 36 = 625 − 325 + 36 = 336 km/h

b) Agora, queremos saber o(s) instante(s) em que a velocidade é nula, isto é, v = 0. Novamente,
“jogamos” esse valor na fórmula:
t 4 − 13t 2 + 36 = 0 .

Essa é uma equação de quarto grau, cujos métodos de resolução são complexos. Mas veja que as
ocorrências das potências de t são t4 e t2. Não aparecem na equação t e t3. Quando isso ocorre, dizemos
que essa é uma equação de quarto grau redutível a segundo grau, ou uma equação biquadrada. Ou seja,
vamos de alguma forma, transformá-la em uma equação de segundo grau.
Faremos isso introduzindo uma nova variável, a fim de representar t2. Vamos chamar t2 de u. Assim,
teremos:
t2 = u
t 4 = (t 2 ) = u2
2

Substituindo na equação:
u 2 − 13u + 36 = 0
Podemos, portanto, aplicar Bhaskara para resolver a equação. Os coeficientes são a = 1, b = –13 e c =
36. Teremos:
−b ± b 2 − 4ac −(−13) ± (−13) − 4.1.36 13 ± 5
2
u= = =
2a 2.1 2
Agora, temos duas soluções, u1 e u2:
Capítulo 1
Introdução à Física

u1 = 9
u2 = 4
Como tínhamos u = t2, obteremos os instantes procurados:
t12 = 9 ⇒ t1 = 3 h
t22 = 4 ⇒ t2 = 2 h

Portanto, para o movimento cujas velocidades são definidas pela equação horária dada, há dois
instantes nos quais a velocidade é nula: t1 = 2 h e t2 = 3 h.

Transformação das equações horárias


Esses procedimentos com as equações horárias são relativamente simples. O grande “pulo do gato”
de Newton foi perceber que poderia através da equação horária de uma grandeza, obter a equação horária
de outra grandeza, mais especificamente, daquela que exprime a taxa de variação da primeira.
É importante relembrar que a velocidade exprime a taxa de variação da posição no domínio do tempo
e a aceleração, a taxa de variação da velocidade no domínio do tempo.
No exemplo acima, conhecíamos a equação horária de velocidade do móvel:
v (t ) = t 4 − 13t 2 + 36 (km, h). Se quisermos obter a equação horária da aceleração, teremos que aplicar o
método desenvolvido por Newton, a derivada. Isso quer dizer que iremos “derivar” a função de
velocidade.

Quando derivamos uma função f(t), obtemos a função que exprime sua taxa de variação. Chamamos
a função derivada de f’(t) e usamos a seguinte notação:
df
f '(t ) = (t )
dt
Podemos escrever portanto:
ds
v (t ) = (t )
dt
dv
a (t ) = ( t )
dt

Para calcular a derivada de v (t ) = t 4 − 13t 2 + 36 , usaremos duas propriedades:


df dg dh
(I) - f (t ) = g (t ) + h(t ) ⇒ (t ) = (t ) + ( t )
dt dt dt
df
(II) - f (t ) = a.t n ⇒(t ) = a.n.t n −1
dt
A propriedade (I) diz que derivar a função v(t) significa derivar cada um de seus termos
separadamente. A propriedade (II) mostra a forma de derivar um termo de funções polinomiais:
• a constante a presente no termo não é alterada;
• o termo passa a ser multiplicado pelo expoente n de t;
• o expoente de t é decrescido em 1 e passa a ser n – 1.

Antes de finalmente derivarmos a função v(t), ainda é preciso observar mais um aspecto importante:
o último termo da função, + 36, não é multiplicado por t. Todavia, sabemos que t0 = 1. Então vamos
reescrever a função v(t):
v (t ) = 1.t 4 − 13t 2 + 36.t 0
Agora, vamos aplicar a derivada:
dv
(t ) = 1.4.t 4 −1 − 13.2.t 2 −1 + 36.0.t 0 −1
dt
E, assim, podemos obter a equação horária da aceleração do móvel:
a (t ) = 4.t 3 − 26.t (km, h)

Observação 1: As unidades km e h são mantidas após a aplicação da derivada, ou seja, o tempo deve
estar baseado em horas e a aceleração, em km/h2.
Observação 2: Repare que quando derivamos o último termo da equação, + 36, obtivemos um
resultado nulo. Isso quer dizer que ele não produz nenhum efeito na função derivada, a aceleração. Ou
Capítulo 1
Introdução à Física

seja, se no lugar de + 36, tivéssemos + 50, a função derivada em nada seria alterada, já que esse termo,
chamado “termo independente” (de t), seria de qualquer forma multiplicado pelo expoente de t, que é
zero, anulando o resultado. Por que isso ocorre?
Essencialmente porque é o único termo de v(t) que não varia com o tempo. Tanto o termo -13t2
quanto t4 variam com o decorrer do tempo. Já o termo + 36 permanece constante. A função derivada
exprime a taxa de variação da grandeza, ou, de acordo com a propriedade I, a soma das taxas de variação
de cada um de seus termos. A taxa de variação de t4, como vimos, é 4t3. A taxa de variação de -13t2 é -
26t. Se + 36 é constante, sua taxa de variação deve ser nula.
Isso fica mais claro se calcularmos a velocidade no instante zero:
v (0) = 04 − 13.02 + 36
v (0) = 36 km/h
Quando calculamos a velocidade no instante t = 0, todos os termos se anulam, a não ser o termo
independente de t. Isso quer dizer que a velocidade inicial do movimento é 36 km/h.
Em qualquer equação horária, o termo independente de t representa o valor da grandeza no instante t
= 0, pois é o único que não se anula nessa circunstância.
Ou seja, podemos reescrever a equação de v(t) da seguinte forma:
v (t ) = v (0) + (t 4 − 13t 2 )
Nesse caso, é como se disséssemos que a velocidade atual do móvel é a sua velocidade inicial
somada ao quanto essa velocidade variou ao longo do período de tempo, de 0 a t. Essa variação de
velocidade é ∆v = t4 – 13t2. Se substituirmos ∆v na equação, temos a relação já conhecida: v = v0 + ∆v.
Portanto, é claro que a taxa de variação do movimento refere-se somente à componente ∆v.

Exercício 1.13.2: A posição de um móvel varia com o tempo segundo a seguinte regra:
s (t ) = −5 − 3t + 5t 2 (m, s). Determine:
a) sua posição no instante 1 s;
b) sua velocidade inicial;
c) sua aceleração;

Solução:
a) Para a determinação da posição no instante 1 s, basta substituirmos esse valor na equação dada:
s (1) = −5 − 3.1 + 5.12 = −3 m

b) Dispomos apenas da equação horária da posição. Se quisermos obter a velocidade em algum


instante, deveremos primeiramente derivar a função de posição.
s (t ) = −5.t 0 − 3t1 + 5t 2
ds
(t ) = −5.0.t 0 −1 − 3.1.t1−1 + 5.2.t 2 −1
dt
v(t ) = −3 + 10t
Queremos determinar a velocidade inicial do movimento, ou seja, a velocidade para t = 0. Vamos
substituir esse valor na equação:
v(0) = −3 + 10.0
v0 = −3 m/s

c) Para obtermos a equação horária da aceleração, vamos derivar a função de velocidade:


v (t ) = −3.t 0 + 10t1
dv
(t ) = −3.0.t 0 −1 + 10.1.t1−1
dt
a (t ) = 10
a = 10 m/s 2
Nesse caso, podemos concluir que a aceleração é constante, isto é, não varia com o tempo. Mais
tarde, estudaremos movimentos com essa característica, o chamado Movimento Uniformemente Variado.
Capítulo 1
Introdução à Física

Exercício 1.13.3: Vamos voltar ao exemplo inicial, em que tínhamos v (t ) = t 4 − 13t 2 + 36 (km ,h).
Determine a equação horária das posições.

Solução: De acordo com o que vimos até agora, se a velocidade é a taxa de variação da posição,
devemos ter uma função s(t) que, quando derivada, obteríamos v(t). Vamos fazer isso termo a termo.

Devemos ter um termo a.tn que, quando derivado, obtém-se 1.t4. A derivada do termo a.tn é a.n.tn-1.
Vamos fazer, portanto, duas relações:
n −1 = 4∴ n = 5
a.n = 1∴ a.5 = 1∴ a = 1 5
5
Logo o termo que, quando derivado é igual a t4, é (1 5).t 5 = t .
5
Utilizando o mesmo raciocínio, podemos obter também outros termos da equação: −13t
3
e 36t .
3
Contudo, se v(t) exprime a taxa de variação de s(t), esses termos referem-se à ∆s, pois o termo s(0)
não tem nenhuma contribuição em v(t). Assim, dizemos que:
1  13 
∆s =   t 5 −   t 3 + 36t
5 3
 1  5  13  3
s (t ) = s0 +   t −   t + 36t
5 3
É impossível determinar s0 a partir da equação de v(t).

EXTRA
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Nos exemplos vistos, as equações horárias eram polinomiais, isto é, um somatório do tipo a.xn.
Vimos a regra de derivação polinomial:
df
f ( x) = a.x n ⇒ f '( x) = = a.n.x n −1 .
dx
Vamos estudá-la. A definição de derivada é taxa de variação. Isso significa que
df ∆f f ( x + ∆x) − f ( x)
= lim = lim
dx ∆ x → 0 ∆x ∆ x → 0 ∆x

Suponha que f(x) represente a posição escalar de um corpo e x, o tempo.


s (t ) = a.t n
Nesse caso, sua derivada é a velocidade.
ds
v=
dt
Pela definição, temos
∆s
v = lim ,
∆t → 0 ∆t

que é exatamente a definição de velocidade já vista anteriormente.


Desmembrando esse limite, virá
s (t + ∆t ) − s (t )
v = lim ,
∆t → 0 ∆t
onde s (t + ∆t ) = sF e s (t ) = s0 . Daí, ∆s = s (t + ∆t ) − s (t ) = sF − s0 .

Para simplificar, vamos tomar n = 2. Nesse caso, s (t ) = a.t 2 . Substituindo na equação da velocidade,
Capítulo 1
Introdução à Física

a.(t + ∆t )2 − a.t 2
v = lim
∆t → 0 ∆t
a.(t 2 + 2.t.∆t + ∆t 2 ) − a.t 2
v = lim
∆t → 0 ∆t
a.t + 2.a.t.∆t + a.∆t 2 − a.t 2
2
v = lim
∆t → 0 ∆t
2.a.t.∆t + a.∆t 2
v = lim ,
∆t → 0 ∆t
 2.a.t.∆t a.∆t 2 
v = lim  + 
∆t → 0
 ∆t ∆t 
v = lim ( 2.a.t + a.∆t )
∆t → 0

v = 2.a.t
como era esperado.
Podemos fazer a mesma demonstração para um valor genérico de n, mas isso requer um
conhecimento de matemática mais avançado. Na verdade, podemos fazer a demonstração para qualquer
tipo de função, e não somente as polinomiais.
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17. Conclusão
Com esses conceitos bem fixados, será bastante fácil o aprendizado de todo o resto da física. Vimos
as notações e os procedimentos padrões para a análise e resolução de um problema de física, usamos de
forma simples os sistemas de referência, introduzimos as grandezas fundamentais da física, e estudamos
suas relações.
É importante ressaltar que os exemplos vistos para o estudo das equações horárias tratavam apenas
do movimento em uma única direção. Por isso, as grandezas vetoriais posição, velocidade e aceleração já
tinham sua direção definida, e a distinção entre os dois sentidos possíveis foi feita com o uso dos sinais
positivo ou negativo. Isso quer dizer que demos um tratamento escalar a essas grandezas. No quarto
capítulo, veremos como trabalhá-las em um âmbito vetorial. Por enquanto, ainda vamos nos ater nessa
restrição, porém utilizando o gráfico cartesiano como artifício alternativo às equações horárias.
Sendo assim, no capítulo II revisaremos alguns conceitos matemáticos essenciais para a expansão da
teoria do movimento e, no capítulo III, daremos prosseguimento à cinemática escalar com o auxílio de
gráficos cartesianos.

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