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98 Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008

Análise

Os efeitos da
pulsação térmica na
soldagem MIG/MAG
A busca pela melhoria das propriedades metalúrgicas do depósito soldado e de suas
características geométricas aguça o desenvolvimento de pesquisas voltadas para o
desenvolvimento e o aperfeiçoamento da gama de aplicação da soldagem a arco
elétrico. Nos processos MIG/MAG e TIG, a implementação de complexas técnicas
de controle do processo de pulsação de corrente possibilita o seu uso na união de
estruturas metálicas com espessura de parede cada vez mais fina, além de permitir
a atuação sobre a agitação da poça de fusão, o tamanho e a forma dos grãos e as
frações volumétricas dos microconstituintes. Com justificativa nesses benefícios, este
trabalho revisa e discute as pesquisas realizadas no campo da pulsação, convencional
e térmica, da corrente de soldagem.

S. R. Barra

M uitas pesquisas têm sido


desenvolvidas com o intui-
to de avaliar as vantagens da apli-
corrente em alta freqüência (F 1
– 10 kHz), convencional (F 20 –
500 Hz) e térmica (Ft 1 – 10 Hz)
zando a abordagem, virão os efei-
tos da pulsação de corrente sobre
o metal depositado e regiões vizi-
cação de corrente pulsada em re- aplicadas nos processos MIG/MAG nhas ao cordão, durante e após o
lação à soldagem em corrente e TIG, e as características metalúr- processo de solidificação da ZF.
contínua convencional. Normal- gicas da região soldada. O trabalho
mente, as características mais rela- tem início com uma abordagem Apresentação da variante
cionadas, nesta distinção, são: a sobre os fundamentos do mecanis- MIG/MAG térmica
geometria do cordão, a facilidade mo de solidificação da zona fundida
no controle do processo, a redução (ZF). Num segundo momento, o Basicamente, a pulsação térmica
do nível de distorção e o controle estudo enfocará as peculiaridades consiste na modulação conjunta
sobre a estrutura do cordão depo- metalúrgicas da ZF e da zona termi- da velocidade de alimentação
sitado. Neste trabalho, portanto, camente afetada (ZTA), gerada na do arame, algumas vezes fixa,
será feita uma avaliação da relação ZF solidificada, quando da solda- e da freqüência de pulsação de
entre as características apresenta- gem multipasse ou com imposição corrente (0,5 a 10 Hz). Portanto,
das nos processos de pulsação de de modulação de corrente. Finali- o processo MIG/ MAG térmico
Sérgio Rodrigues Barra (contato por e-mail: barra@cimatec.fieb.org.br) é coordenador do curso superior de Tecnologia em Inspeção de Equipamentos e de Soldagem e dos
cursos de especialização em Soldagem e em Tecnologias Avançadas de Materiais da Faculdade de Tecnologia Senai Cimatec (Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia),
em Salvador (BA). Este artigo foi apresentado como palestra no Congresso Corte e Conformação de Metais 2007, realizado entre os dias 23 e 25 de outubro, em São Paulo, SP.
Reprodução autorizada pelos autores.
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za-se pela imposição de um nível


baixo de freqüência, culminando
com valores menores de aporte
de calor e transferência metálica.
Assim, esta modulação cíclica dará
como resposta diferentes níveis de
calor aportado e quantidade de go-
tas transferidas entre os períodos.
Ao mesmo tempo, poderá ou não
haver uma mudança sincronizada
no valor da velocidade de alimen-
tação do arame (va), isto é, valores
diferentes de taxa de alimentação
entre os períodos de pulso (Pt) e
base térmica (Bt). Vide as diferen-
ças entre as possíveis formas de
pulsação térmica esquematizadas
nas figuras 2 e 3 (pág. 102).

Fig. 1 – Forma de transferência no modo pulsado convencional (5): tb – tempo de base, Efeitos metalúrgicos da
Ib – corrente de base, tp – tempo de pulso, Ip – corrente de pulso, It – corrente de pulsação de corrente
transição, Im – corrente média e F – freqüência de pulsação

alia as vantagens da soldagem MIG/MAG pulsado com pulsação Agitação na poça de fusão
empregando MIG pulsado con- térmica ou ainda Interpulse são O entendimento dos mecanismos
vencional com as vantagens do encontrados como nomes de refe- que atuam na convecção da poça
TIG em corrente pulsada (TIG rência (38, 9, 30, 5, 26). de fusão durante a operação de
térmico). Com relação à taxa de As figuras 1 e 2 (pág. 100) soldagem é de fundamental in-
alimentação do arame, a variante apresentam as diferenças básicas teresse, já que a agitação desta
poderá apresentar-se de duas entre a pulsação convencional e a região irá influenciar a geometria
formas básicas. Uma na qual pulsação térmica. Observa-se na final do cordão, a microestrutura,
haverá modulação conjunta e figura 2 que, diferentemente do a distribuição de segregação e
sincronizada na alimentação do pulso convencional (figura 1), o a presença de porosidade na ZF.
arame e no aporte de calor, o que processo de modulação do sinal de Esta consideração é reforçada
provocará melhor estabilidade corrente na pulsação se dá em dois pelo fato de que o refinamento
e manutenção do comprimento distintos períodos ou fases. de grão, gerado pela agitação da
do arco lo. Contudo, na segunda poça, se constituirá como o único
forma, apenas o sinal de corrente Princípio de funcionamento mecanismo de refinamento possí-
é chaveado e a velocidade de da variante vel em aços não transformáveis, e
alimentação do arame é mantida No processo MIG/MAG térmico, a em muitos não-ferrosos, durante o
fixa. Esta condição provoca uma primeira fase, denominada tempo processo de soldagem (33).
variação cíclica no valor lo. de pulso térmico tpt, caracteriza-se As forças responsáveis pelo efei-
Barra (3) cita que não há consenso pela imposição conjunta de um ní- to convectivo na poça de fusão são
na literatura quanto a um único vel elevado na freqüência de pulsa- a força devido à tensão superficial
nome-padrão que represente esta ção e na velocidade de alimentação (gradiente de tensão na superfície
nova variante do processo de sol- do arame e, como conseqüência, da poça), a força eletromagnética,
dagem MIG/MAG, em corrente valores altos de aporte de calor e a força de flutuação (ou força devi-
pulsada. Especificações como transferência metálica. A segunda do à convecção com fluxo líqüido
MIG/MAG duplamente pulsado, fase, denominada tempo de base – buoyancy force), a força devido
MIG/MAG com pulsação térmica, térmica tbt, por sua vez, caracteri- à pressão do arco sobre a poça e a
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Análise

Fig. 2 – Em (a): representação esquemática da variante MIG/MAG térmica com modulação conjunta de energia e alimentação de arame. Em (b):
oscilogramas mostrando a forma real de onda. Observe que o comprimento do arco lo tende a não oscilar(3).

força devido ao impacto das gotas e de temperatura apresenta ca- seu interior, influenciado pela
metálicas (28, 17, 35, 20, 31, 37, 21). racterísticas diferenciadas depen- força eletromagnética.
A figura 4 (pág. 104) ilustra o dendo da força atuante. O efeito A força eletromagnética provoca
efeito individual e o efeito com- combinado mostra a presença de um direcionamento do fluxo para a
binado das forças sobre o meca- fluxos em sentidos opostos, isto parte central da poça no sentido da
nismo de convecção da poça de é, um fluxo próximo da superfície superfície para a parte inferior da po-
fusão. Nota-se que o comporta- da poça, gerado pelo gradiente ça. Esta característica promove uma
mento dos campos de velocidade de tensão superficial, e outro no poça estreita e profunda (17, 8, 11).
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Fig. 3 – Representação esquemática do processo MIG/MAG térmico com modulação apenas da


energia. Observe a tendência à oscilação do comprimento do arco lo (5).

A força de flutuação tende a O efeito convectivo gerado pela


promover uma poça mais rasa de- força eletromagnética irá distribuir
vido ao mecanismo de transporte as possíveis segregações e, desta
do metal líqüido “quente” para a forma, reduzirá o nível de macros-
superfície e do metal “frio” para a segregação. Por último, vem o
parte inferior da poça (20, 8). efeito da convecção sobre o apri-
Para o caso da força devido à sionamento de porosidade na zona
tensão superficial, observam-se fundida. É importante salientar que
duas situações distintas. A primeira nem sempre o efeito convectivo irá
situação refere-se a um gradiente beneficiar a saída de porosidade.
de tensão positivo (presença de Esta liberação ou aprisionamento
oxigênio e enxofre), em que o de poros irá depender da direção
fluxo tenderá a formar uma poça do fluxo resultante das interações
profunda e estreita. Por outro lado, das forças no interior da poça de
quando o gradiente for negativo, fusão (21).
haverá a tendência da formação de Além disso, durante a solda-
uma poça mais larga e rasa (17, 20). gem no modo pulsado poderá
O efeito do impacto das gotas haver ainda uma parcela de agi-
sobre a poça de fusão induz a um tação da poça provocada pela
aumento na complexidade do me- variação da pressão e da energia
canismo de agitação desta região, do arco, devido à modulação de
em virtude da modificação gerada corrente. Esta parcela de agita-
nos campos de velocidade e de ção da poça é caracterizada pela
temperatura (37). flutuação térmica (dependente
As características apresentadas da relação I p /I b e da freqüência
pelo efeito conjunto das forças de pulsação F) e pelo aumento
poderão influenciar o nível de no nível de vibração desta região
penetração, pela força eletromag- (dependente da F). Foi observado
nética, e a largura do cordão, pelo que este aumento na convecção
gradiente de tensão superficial e da poça é mais pronunciado
pela força de flutuação (32, 21). quando da imposição do pro-
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Fig. 4 – Em (a): efeito convectivo na poça de fusão provocado por diferentes forças, de forma individual e combinada.
Em (b): representação das forças atuantes na poça de fusão. Adaptado de DeHerrera et al.(8), Kou (21) e Barra (5).

cesso TIG térmico em corrente variante MIG/MAG térmico, em haverá a tendência da poça de
alternada (28, 31) . comparação ao modo pulsado fusão se solidificar por meio de
Kim et al.(20) observaram que o convencional. Esta variação pode uma interface sólido-líqüido geral-
incremento no valor da relação tp /tb ser explicada pela modulação nos mente planar (figura 5, pág. 105).
resulta em maior penetração do valores de Im e va, entre as fases de Por outro lado, caso se esteja sol-
cordão, ou seja, quanto menor o pulso e base térmica. dando uma liga metálica, haverá
tempo de pulso, mais largo e pouco a possibilidade de diversos modos
profundo será o cordão. Solidificação da zona de solidificação (planar, celular,
Do acima exposto é esperado fundida dendrítico-colunar ou equiaxial),
que o grau de complexidade en- Se o sub-resfriamento imposto dependendo das condições de
volvido no processo de formação na operação de soldagem não solidificação impostas.
e solidificação da poça de fusão for severo e, ao mesmo tempo, Existem duas teorias para ex-
seja maior na implementação da o metal a ser soldado for puro, plicar os mecanismos atuantes

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Fig. 5 – Possíveis morfologias na


interface de crescimento em função
dos valores de G, R s e C0. Adaptado de
Palma et al. (25) , Grong (17) e Kou (21) .

na passagem da frente de soli-


dificação do modo planar para
outra forma de solidificação.
A primeira teoria baseia-se no
super-resfriamento constitu-
cional (proposta por Chalmer
em 1953), enquanto a segunda
trata da estabilidade da in-
terface (proposta por Mullins
em 1963). No primeiro caso,
considera-se apenas o aspecto
termodinâmico. Para o último
caso, incorporam-se os concei-
tos de cinética de interface e
transferência de calor (10, 32, 21) .
A teoria do super-resfriamento
constitucional, que é a redução
do gradiente de temperatura na
interface sólido/líqüido abaixo da
temperatura liquidus, pode ser
expressa pela equação 1:
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G T o calor aportado). Uma elevação


≥ (1)
Rs DL na taxa de solidificação provocará
uma redução do espaçamento
onde: entre os ramos, modificando, com
T intervalo de solidificação da isso, a quantidade de microssegre-
liga, representado pela diferença gação da liga. O que se almeja é
entre a temperatura de equilíbrio uma estrutura final da zona fundi-
liquidus (TL) e a temperatura de da refinada e com boa distribuição
equilíbrio solidus (Ts); de segregados.
DL é o coeficiente de difusão do
soluto no líqüido. Macroestrutura da
zona fundida
A figura 5 apresenta um es- O desenvolvimento da estrutura na
quema dos principais modos de zona fundida, na região colunar,
solidificação, levando em consi- dá-se basicamente por meio dos
deração o efeito da velocidade modos de crescimento epitaxial e
da frente de solidificação R s (taxa competitivo.
de crescimento) e do gradiente O primeiro modo caracteriza-
de temperatura G. Observa-se se pelo crescimento dos grãos
que um sucessivo incremento no na ZF, em direção ao centro da
super-resfriamento (redução no poça, a partir dos grãos do metal
valor de G/R s) irá provocar uma de base na linha de fusão (subs-
mudança na morfologia da frente trato), quando em soldagem
de solidificação (controle do modo autógena. Outra característica
de solidificação). Em soldagem, desse modo é a manutenção da
prevalecem as formas de solidifi- orientação cristalográfica e do
cação celular e dendrítica, devido tamanho de grão apresentado
ao valor de G/R s ser muito alto. A pelo metal de base. Neste caso,
relação G/R s, por sua vez, pode um aumento do tamanho de
ser controlada pela seleção mais grão do metal soldado e/ou da
adequada dos parâmetros e do temperatura máxima na zona
processo de soldagem (25, 21) . de ligação provocará uma ZF
Outra observação possível é grosseira.
o efeito do produto R s .G, que O segundo modo é carac-
governa a escala da estrutura so- terizado pela existência de um
lidificada. Assim, o espaçamento diferente mecanismo atuando no
celular poderá variar através da crescimento dos grãos, denomi-
zona fundida devido à variação de nado crescimento competitivo.
ciclo térmico em diferentes partes Neste caso, os grãos tendem a
desta zona. Neste caso, a taxa de crescer na direção perpendicular
resfriamento (alto Rs.G) experimen- à frente de solidificação, maior
tada pela região central é maior do valor de G. Contudo, os grãos
que a presente na linha de fusão. em formação também apresen-
Conseqüentemente, os sub-grãos tam direções preferenciais ao
serão mais refinados na região crescimento (nas direções <100>
central da solda (36, 18, 21, 5). para CFC e CCC e <1010> para
O espaçamento entre os ramos HC). Assim, grãos com direções
dendríticos será determinado pela de fácil crescimento paralelas a
taxa de solidificação (relação com G crescerão mais facilmente que
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Análise

Fig. 6 – Em (a): representação do crescimento competitivo dos grãos durante a solidificação da ZF. Em (b): mudança na direção de
crescimento induzida pela pulsação térmica. Adapatado de Easterling (10), Kou (21) e Barra (5).

aqueles apresentando outras presença de condições que favore- o centro da poça provocado pelo
direções (figura 6). cem a nucleação e o crescimento crescimento colunar(7, 17).
No centro da zona fundida há dendrítico no interior da poça (21). A passagem do crescimento co-
a tendência do crescimento de Nesta região o metal líqüido será lunar para o crescimento equiaxial
grãos equiaxiais. Esta forma de levemente sub-resfriado em virtu- é governada pela relação G/R s.
crescimento se caracteriza pela de da extensiva segregação para Considerando a existência de nu-
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cleação heterogênea e como núcleos para no-


que a relação G/Rs de- vos grãos;
cresce da linha de fusão ฀฀Destacamentos de
para o centro da poça, grãos parcialmente fun-
durante o processo de didos, na linha de fusão,
solidificação haverá um por efeito convectivo.
valor crítico na relação Estes grãos são arras-
a partir do qual o cres- tados em direção ao
cimento passará a ser centro da poça, onde
equiaxial. Este valor crí- poderão, também, servir
tico, por sua vez, estará como sítios de nuclea-
atrelado ao calor apor- ção de novos grãos;
tado e à velocidade de ฀฀Nucleação heterogê-
soldagem (7, 17)
. nea por meio da adição
De maneira geral, Fig. 7 – (a) e (b): efeito da velocidade de soldagem sobre a forma da poça de partículas (inocula-
e modo de solidificação; (c): variação estrutural na solidificação da ZF.
as condições térmicas Adaptado de Easterling (10), Grong (17) e Kou (21). ção) estranhas ao metal
impostas na soldagem soldado (por exemplo,
favorecem o crescimento equiaxial ฀ Fragmentação das dendritas na Ti ou Zr adicionados ao Al), que
no centro do cordão. A nucleação zona pastosa, por efeito con- facilitem o arranjo dos átomos
destes grãos equiaxiais, na poça de vectivo. As pontas destacadas na forma cristalina. Estas partí-
fusão, pode ser originada por dife- são arrastadas para o centro culas auxiliam na superação da
rentes mecanismos como (17, 21, 33)
: da poça, onde poderão atuar barreira crítica de energia ( G*)
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necessária à manutenção de um distância fundida, na direção de


núcleo sólido com raio maior vs, em relação à fonte de calor e,
que o tamanho crítico (r*). Be- com isso, provoca uma elevação
cker(7) e Kou (21) argumentam que de R s e um decréscimo em G
este mecanismo é influenciado (figura 7c), em comparação ao
pelos parâmetros de soldagem restante da linha de fusão (7, 10, 21,
(elevação nos valores da vs e 17)
. Embora sob valores elevados
do calor aportado) e, portanto, R s e vs (baixo calor aportado) se
aumenta o super-resfriamento produzam cordões menores e
constitucional na interface sóli- com melhores propriedades me-
do-líqüido (elevação da relação Fig. 8 – Influência de fatores metalúrgicos sobre cânicas, deve-se tomar cuidado
G/Rs); a resistência mecânica e a tenacidade (32) quanto ao tamanho do cordão,
฀ Nucleação superficial por uma pois para cordões com dimen-
corrente fria de gás sobre a Como na poça com formato sões reduzidas há a tendência ao
superfície da poça ou por ins- de gota (velocidade de soldagem aparecimento de trincas durante
tantâneas reduções do calor maior que a de solidificação) a fren- a soldagem devido às tensões
aportado. Neste caso, a super- te de solidificação apresenta um geradas por restrição (1) .
fície da poça será termicamente perfil reto (figura 7a, pág. 109), os A estrutura colunar, normal-
sub-resfriada, facilitando o grãos também tenderão a crescer mente exibida na ZF, é associada
surgimento de núcleos sólidos retos perpendicularmente à linha com defeitos tais como trinca de
nesta superfície. de fusão. De outro modo, nas po- solidificação e pobres propriedades
ças de formato elíptico (velocidade mecânicas. Assim, num refina-
Uma importante consideração de soldagem igual à velocidade de mento estrutural é esperado um
feita por Easterling (10) refere-se ao solidificação), os grãos tenderão melhoramento nas propriedades
fato de que as estruturas equiaxiais a crescer curvados perpendicu- mecânicas do cordão (33, 31, 23).
dendríticas, oriundas da operação larmente à linha de fusão (figura Com base nas colocações ante-
de soldagem, são relativamente fi- 7b). Assim, sob alta velocidade riores sobre a relação entre as con-
nas se comparadas às de fundição. de soldagem, os grãos tenderão dições de soldagem e a resposta
Esta diferença é muito importante a crescer retos em direção ao final do metal aportado, é possível
em termos de tenacidade desde centro do cordão e, para reduzida prever a relação biunívoca descrita
que, diferentemente de um fun- velocidade de soldagem, os grãos no esquema abaixo:
dido, a solda, muitas vezes, na crescerão curvados na direção do
condição “como soldada”, torna-se maior valor de G. Parâmetros de soldagem
parte de uma estrutura fortemente Na mesma figura observa-se
solicitada. a presença de grãos equiaxiais, Processo de soldagem Estrutura do depósito
originados numa faixa central
Variações na macroestrutura ao longo do cordão, em soldas Propriedades mecânicas

da zona fundida de alumínio e de aço inoxidável


A solidificação da zona fundida austenítico, por exemplo. Por
pode variar em função da forma sua vez, a formação desta região Esta correlação entre as con-
apresentada pela poça de fusão no centro do cordão impede o dições operacionais e a resposta
durante a operação de soldagem, crescimento dos grãos colunares estrutural obtida no cordão de
ou seja, a velocidade de soldagem até o centro da zona fundida. Em solda reforça a importância do
influenciará a forma da poça (elíp- poças de formato elíptico, a região conhecimento e do desenvolvi-
tica ou de gota) e, por sua vez, contendo grãos equiaxiais é mais mento de equipamentos e novas
a forma da poça atuará sobre a espessa em comparação com a variantes que possibilitem a ob-
forma de crescimento dos grãos mesma região em poças de for- tenção de depósitos sob condições
(estrutura colunar ou colunar- mato de gota. A forma alongada otimizadas. Por este enfoque, o
equiaxial). da poça provoca um aumento da estudo da pulsação térmica vem
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sendo desenvolvido com o intuito rá servir de sede para modificações e grosseiros, o tamanho médio
de obter condições geométricas e de estrutura ou de constituição, no dos grãos nesta região ainda será
metalúrgicas do depósito. estado sólido, tais como crescimen- muito menor do que o dos grãos
to de grão, precipitação, dissolução colunares da ZF que não sofreram
Efeitos da soldagem ou coalescência de precipitados, alteração. Daí a importância do
multipasse sobre a zona transformação alotrópica ( ฀ ฀ efeito da ZTA gerada pelo passe
fundida ou ฀ ฀ ), etc.(16, 21, 32). subseqüente ou modulação de
As características finais da zona O efeito de algumas dessas energia (pulsação térmica), em
fundida podem, ainda, ser influen- alterações sobre a tenacidade e ligas que sofrem transformação
ciadas pela operação de soldagem a resistência de um determinado no estado sólido. Neste caso, parte
envolvendo multipasse (imposição material é representado na figura dos grãos colunares da ZF (passe
de sucessivos aportes de calor 8 (pág. 110) (32) . Nela se destaca anterior) será refinada na ZTA ge-
gerando novos ciclos térmicos e o refino de grão como o “único” rada pelo cordão depositado sobre
partições térmicas). Neste caso, a mecanismo que provoca um au- esta (figura 9, pág. 113). Este rea-
deposição de um novo cordão so- mento conjunto da tenacidade e quecimento também poderá afetar
bre a ZF, já solidificada, provocará da resistência mecânica. termicamente as ZTA’s vizinhas ao
um reaquecimento e uma refusão O tamanho da zona alterada ter- depósito (10, 25, 13, 32, 21, 5).
de parte desta zona. micamente dependerá da partição Como pode ser visto na figura
A nova interface entre sólido térmica apresentada (temperatura 9, apenas uma parte da região
e líqüido, na região refundida da x distância); e as modificações da reaquecida por múltiplos ciclos irá
ZF, servirá de substrato para um estrutura, em um determinado ser submetida a uma elevada tem-
novo mecanismo de solidificação. ponto da zona, serão função do peratura de pico (ultrapassando
Portanto, o tamanho dos grãos ciclo térmico (T x tempo). Por a temperatura de transformação
apresentado na ZF contribuirá para sua vez, o tamanho da região da liga).
formar a estrutura final da nova refundida será função do nível de O refino microestrutural de
região solidificada. diluição imposto pela operação de parte da ZF (região termicamente
A região da ZF submetida a um soldagem. regenerada), obtido na soldagem
aquecimento excessivo (termica- Embora a região reaquecida multipasse ou na pulsação térmi-
mente afetada), por sua vez, pode- (regenerada) apresente grãos finos ca, irá atuar sobre a elevação da
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฀ O total da energia (livre de


Gibbs) por cordão é reduzido à
medida que o crescimento de
grão é minimizado.

As considerações apresentadas
sobre os efeitos da soldagem multi-
passe, os mecanismos de solidifica-
ção e a agitação da poça servirão de
referência para o entendimento dos
Fig. 9 – Comparação esquemática das alterações estruturas obtidas em simples deposição (a), por possíveis efeitos da modulação de
multipasse (b) e pulsação térmica (c). Adaptado de Easterling (10) e Santos (27).
corrente (pulsação térmica) sobre a
estrutura do cordão de solda.
tenacidade e a redução do nível ฀ O pré-aquecimento causado
de tensão residual (16, 23, 21) . Estas pelos passes anteriores irá pro- Efeitos metalúrgicos da
considerações estão ancoradas nos longar o tempo de passagem no pulsação da corrente de
seguintes pontos (10): intervalo crítico de temperatura soldagem
฀ Cada ciclo térmico gerado pelo ( t8-5 para o caso do aço ferrítico Embora se deseje controlar o modo
passe subseqüente efetivamen- temperável, por exemplo); de solidificação da ZF e, ao mesmo
te refinará os grãos da ZF do ฀ O passe subseqüente tende a re- tempo, o tamanho e as caracterís-
passe anterior ou normalizará cozer parte da ZF, aliviando, com ticas mecânicas da zona afetada
parte desta região; isso, parte da tensão residual; termicamente, esta tarefa não é
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tão simples de ser atingida. Este Tab. 1 – Técnicas de refino aplicáveis no processo de solidificação. Adaptado de Feest (12) ,
controle é dificultado em face dos Threadgill (33) , Malinowski-Brodnicka et al. (24) , Sundaresan et al. (31) , Madhusudhan (23) e Kou (21) .
elevados níveis de temperatura e Técnica de refino Mecanismo atuante (*)
Métodos térmicos
do gradiente térmico impostos pela
• Controle das taxas de aquecimento e resfriamento (calor aportado,
operação de soldagem, em relação interpasse e pré-aquecimento)
a b c
a um fundido e ao natural processo • Nucleação superficial estimulada (jato de gás frio) a b
de crescimento epitaxial (31). Apesar Métodos mecânicos
destas limitações, oriundas da • Vibração (mecânica e ultra-sônica) c
operação de soldagem, diversos • Agitação eletromagnética, gasosa ou mecânica (campo magnético, oscilação
a c
da tocha, borbulhamento, pulsação do arco e impacto das gotas)
métodos de refino de grão foram
Métodos químicos
desenvolvidos visando controlar o • Adição de elementos de liga a b
nível de refino na ZF. Um resumo • Adição de inoculantes no metal líqüido a c
com as técnicas e os mecanismos (*) a: introdução de pontos nucleantes na poça (nucleação heterogênea); b: evitar refusão dos núcleos
de refino atuantes na poça de fu- existentes; c: multiplicação de grãos
são, como também em fundidos, é
apresentado na tabela 1. pulsação de corrente atua tanto na fusão, é previsto que uma variação
Embora todos os métodos pro- redução do calor aportado quanto do nível de corrente (oscilação en-
postos acima apresentem resultados no grau de agitação da poça de tre o pulso e a base) irá influenciar
satisfatórios sobre a granulometria fusão (variação da força eletromag- a força eletromagnética (campo de
da ZF, é de suma importância que se nética). No primeiro, haverá uma velocidade no interior da poça), a
tenha a preocupação de selecionar influência sobre os valores de G e pressão do arco sobre a superfície
uma técnica que permita o refino Rs, isto é, pelo fato da pulsação de da poça e a freqüência de colisão
desta região sem afetar negativa- corrente reduzir o calor aportado das gotas com a poça. Estas três
mente a sua sub-estrutura, ou seja, e elevar a taxa de resfriamento, características provocam um au-
é desejável a aplicação de um proce- haverá um acréscimo na relação mento do grau de agitação da poça
dimento de soldagem que propicie Rs.G e, com isso, tende-se a um re- e, como possíveis conseqüências,
o refino estrutural por meio do finamento dos espaçamentos entre uma redução dos níveis de pene-
controle da taxa de resfriamento da os ramos dendríticos (refinamento tração, porosidade e macrossegre-
poça (relação do produto Rs.G com da subestrutura) e a uma redução gação. Somando-se a isso, há o
o calor aportado). Por este enfoque, na forma de crescimento colunar efeito da agitação da poça sobre
a escolha pela pulsação de corrente em face do favorecimento ao cres- a fragmentação de dendritas e
(pulsação do arco) vem se caracte- cimento equiaxial dendrítico. destacamento de grãos da zona
rizando como uma técnica muito Para o caso do efeito da pulsa- parcialmente fundida. O que se
promissora nesta direção (30, 31). ção sobre a agitação da poça de almeja é uma estrutura refinada
A técnica de pulsação de cor-
rente aplicada nos processos de
soldagem TIG, MIG/MAG e com
arame tubular (AT) é reportada
como uma excelente controlado-
ra do refinamento de grão na ZF
e na transição do modo de cresci-
mento de colunar para equiaxial,
na soldagem do alumínio, do
aço-carbono, do aço inoxidável
e do titânio (34, 30, 31, 21, 5) .
No âmbito do processo de soli-
dificação, referenciando-se a trans-
Fig. 10 – Representação da onda com modulação para controle da solidificação (a) e
ferência metálica goticular, sob as forma de crescimento obtido na ZF sem e com a aplicação rampa de modulação em 10
mesmas condições de operação, a Hz (b), no aço inoxidável AISI 316. Extraído de Lucas (22) e Street (30).
116 Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008

Análise

com melhor característica mecâni-


ca e com reduzida possibilidade de
surgimento de defeitos (trinca de
solidificação, por exemplo).
Com relação à ZTA, o efeito da
pulsação de corrente (redução no
valor do calor aportado) é visualiza-
do pela redução da espessura desta
Fig. 11 – Variação de penetração provocada pelo uso da pulsação térmica na
região e pelo tempo de retenção da soldagem MIG/MAG. (a): aço inoxidável 309 depositado sobre aço de baixo
temperatura de efetiva recristaliza- carbono e (b): alumínio AWS ER4043 depositado sobre AA 5052. Extraído de
ção, devida à variação na partição Barra (4) e Silva et al. (2001).

e no ciclo térmico (30, 21) . Assim,


haverá um menor decréscimo na apresenta boa influência sobre a melhoria obtida na resistência à
resistência da zona termicamente resistência à fadiga, a resistência corrosão intergranular e reduções
afetada em relação às propriedades mecânica, o nível de porosidade e na segregação no contorno de
originais do metal de base. o refinamento estrutural do metal grão da matriz, no nível de diluição
Hussain et al.(19), estudando os aportado. e no perfil de dureza na interface
efeitos da freqüência de pulsação e Ghosh et al. (14) , avaliando o revestimento-metal de base.
do tempo de pulso, utilizando MIG efeito do MIG pulsado na solda- Nos dois casos acima, a seleção
pulsado na soldagem multipasse da gem de revestimento inoxidável, correta do pacote operacional
liga Al-Zn-Mg, verificaram que a chegaram a conclusões semelhan- “ótimo” considerou não só a esta-
pulsação convencional de corrente tes, ressaltando para este caso a bilidade na transferência metálica,
Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008 117

temente da espessura do metal de


base. Contudo, para o processo
TIG em corrente contínua, o valor
da corrente de soldagem apresenta
relação com a espessura.
Lucas (22) e Street(30) propuseram a
utilização de uma forma complexa
de onda de pulsação (figura 10a,
pag. 114), quando da soldagem de
passe de raiz em juntas espessas.
A onda proposta se caracteriza por
três distintas regiões. A primeira
apresenta uma intencional sobre-
corrente, cuja função é formar a
poça e melhorar a rigidez do arco,
Fig. 12 – Alteração na estrutura da ZF gerada pela variação de G.R s em função da contribuindo para uma rápida
imposição de pulsação térmica (detalhe superior mostrando o final do período de penetração. A segunda região da
base térmica e detalhe inferior do período de base térmica). Extraído de Barra (5).
onda de pulsação tem a finalidade
mas também a sua conseqüente valor do ótimo pulso de corrente de controlar a penetração obtida
resposta estrutural. é dependente das propriedades na primeira. Porém, a intensidade
Street (30 ) , estudando o pro- do material, principalmente da da corrente utilizada será função
cesso TIG pulsado, relata que o difusividade térmica, independen- do metal de base (óxido superficial)
118 Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008

Análise

e da profundidade de penetração térmica no processo MIG/MAG chapas finas empregando a pulsa-


desejada. Por fim, quando o nível talvez se deva à complexidade ção térmica estar relacionada com
de penetração é alcançado, há envolvida com a introdução de a alteração da tensão superficial
uma redução na corrente para o transferência de massa e seleção e da viscosidade da poça, entre
valor de base (com modulação de do pacote operacional “ótimo”. os períodos de pulso e de base
1 a 10 Hz), com inclinação depen- Com base nas informações sobre térmica – isto é, na fase de pulso
dente da sensibilidade do material os efeitos da pulsação térmica no térmico haverá uma fusão mais
ao surgimento de trinca ou porosi- processo TIG, é esperado que a re- efetiva (maior penetração), en-
dade. Esta modulação, próxima da ferida variante, quando implemen- quanto na base térmica ocorrerá
freqüência de ressonância da poça, tada no processo MIG/MAG, atue um “resfriamento” da poça (menor
promove a agitação do metal líqüi- sobre o grau de agitação da poça penetração), característica do pro-
do, gerando um choque na frente de fusão, por meio da acentuação cesso TIG (aquecimento e fusão do
de crescimento e propiciando o dos mecanismos citados anterior- metal de base) (30, 9, 38). Novamente,
crescimento de grãos equiaxiais, mente (força eletromagnética, os autores não documentam esta
reduzindo a formação de grãos força de flutuação, força devida à afirmação e, principalmente, não
colunares e controlando o nível de tensão superficial, pressão do arco levam em conta a presença ou não
segregação (figura 10b). e impacto da gota metálica). de elementos de liga (Al e S, por
Outra forma de exemplo) que alteram
controle do refino da a tensão superficial da
poça, utilizando TIG poça, quando ocorre
pulsado, é obtida pela um incremento na tem-
implementação da peratura.
pulsação de corrente Esta característica de
em alta freqüência (1 variação de penetração,
a 10 kHz). Nesta fre- proposta anteriormen-
qüência de áudio, a te, foi observada por
propagação de distúr- Threadgill (33 ) , Barra (4 )
bios sônicos no interior e Silva et al. (2001) na
da poça de fusão afeta avaliação da pulsação
mecanicamente o pro- térmica sobre o perfil
cesso de solidificação, de diluição. A figura 11
havendo um aumento (pág. 106) apresenta
no processo de frag- macrografias mostrando
mentação dos ramos Fig. 13 – (a): macrografia mostrando a escamação na estrutura do depósito o perfil variado de dilui-
dendríticos (22, 30). (regiões A, B e C), oriunda do efeito conjunto da pulsação térmica e da ção longitudinalmente
Street (30) , Dutra et soldagem
(4)
Barra .
multipasse; (b): granulometria nas referidas regiões. Extraído de
ao cordão. Threadgill (33),
al. , Sundaresan et
(9)
na soldagem do aço de
al.(31) e Madhusudhan baixo carbono, relata a
et al.(23) sugerem que a pulsação Street (30) chama a atenção para ocorrência de refinamento locali-
de corrente com imposição de a importância da forma de chavea- zado na região da raiz do cordão,
modulação (pulsação térmica), nos mento entre os períodos de pulso no ponto referente ao início do
processos TIG, MIG/MAG e arame e base térmica, na soldagem TIG. período de base térmica. Esta pe-
tubular (AT), é mais efetiva no O autor comenta que, em materiais quena região de refino deve-se ao
processo de refinamento estrutural. com susceptibilidade ao apareci- fato de que os núcleos para a so-
Estas considerações, no entanto, mento de trincas ou porosidade, lidificação equiaxial serão estáveis
estão bem documentadas apenas a modulação de corrente entre os apenas no início deste período. O
na soldagem TIG. Esta lacuna períodos deverá ser gradual. autor não menciona se houve re-
quanto aos possíveis efeitos meta- Alguns autores fazem menção fino decorrente do reaquecimento
lúrgicos da aplicação da pulsação à possibilidade da soldagem de cíclico, acima da temperatura de
120 Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008

Análise

Fig. 14 – Variações obtidas na granulometria da ZF em função da forma de onda de corrente aplicada. (a): corrente contínua, (b):
pulsação térmica (CC) e (c): pulsação térmica alternada (CA). Extraído de Sundaresan et al.(31).

austenitização, de parte da região a redução no período de base sivos ciclos térmicos (aquecimento
solidificada (transformação no térmica. e resfriamento de uma estreita
estado sólido). Becker et al.(7) e Barra (5) avaliaram região) passando pela temperatura
Santos (27) relata que na solda- as vantagens metalúrgicas do em- de austenitização da liga. Também
gem TIG com pulsação térmica é prego da pulsação térmica (efeito do foi observado que os valores de G
possível atingir mais rapidamente espaçamento entre os pulsos térmi- e Rs variam em função da pulsação
o regime permanente em função cos, velocidade de soldagem, tempo térmica, sendo o máximo valor
das condições térmicas impostas e intensidade da corrente de pico na atingido no início da base térmica
e, ainda, sugere que a variação de fase térmica), na soldagem TIG do (uma ordem de grandeza acima do
penetração deixará de ser visível aço de baixo carbono e MIG/MAG valor referente ao pulso térmico) e
em baixos valores de v s. Silva et térmico do Al-Mg, sobre o controle o mínimo, no final desta fase. En-
al. (2001), utilizando mapas de do processo de solidificação da ZF. tretanto, como a relação G/Rs não
grau de qualidade, observaram Os resultados demonstram que o se altera muito, haverá apenas o
que o perfil variado de diluição, refinamento obtido deve-se cla- efeito do produto G.Rs que governa
na soldagem MIG/MAG térmi- ramente à transformação de fase o tamanho do espaçamento celular
ca, tende a desaparecer com originada pela imposição de suces- (figura 12, pág. 117).
Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008 121

depósitos foram confeccionados


com a utilização da variante MIG/
MAG térmica com arame tubular
inoxidável austenítico ligado ao
cobalto como metal de adição.
O autor relata que esta variação
de resistência ao fenômeno de
cavitação, sobre as condições dos
ensaios utilizados, não apresenta
Fig. 15 – Exemplo do efeito da pulsação térmica, rastreado a partir dos valores de Dpt, sobre relação com o tamanho de grão
tamanho e o modo de crescimento dos grãos da zona fundida (Al-Mg)
(figura 13b). O autor enumera
como prováveis agentes dessa
O pulso térmico atuará também dos adjacentes à poça de fusão diferenciação a variação da densi-
na ZF como se fosse um novo cor- (figura 9c). dade de defeitos cristalinos (falha
dão a ser depositado sobre uma Barra (4), em seu trabalho sobre de empilhamento, por exemplo), o
região já solidificada (referente ao revestimentos resistentes à cavi- nível de segregação, mudança no
período de base térmica), o que tação, relata que, em decorrência volume de fases (matriz austenítica
resultará, provavelmente, num da pulsação térmica, foi detectada em martensita ` e ), a variação
efeito equivalente ao da soldagem a presença de três regiões em no aporte térmico, a variação no
multipasse, tanto sobre a região forma de “escamas” na ZF (figura nível de diluição e o aumento na
já solidificada do mesmo cordão, 13a, pág. 118), apresentando di- agitação da poça, decorrentes da
quanto nos cordões já deposita- ferentes níveis de taxa erosiva. Os pulsação térmica.
122 Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008

Análise

É esperado que, para as ligas


que apresentam transformação de
fase no estado sólido, o processo
de pulsação térmica ofereça ainda
um mecanismo adicional de refino
da microestrutura. Na soldagem do
aço-carbono e do aço inoxidável,
este refinamento é atribuído aos
múltiplos ciclos de temperatura
através da faixa de transformação
( ou ). Fig. 16 – Efeito da freqüência térmica sobre o aspecto superficial e o perfil de penetração.
Sundaresan et al.(31), contudo, Linha superior: aspecto do Al-Mg; linha intermediária: aspecto do aço-carbono; linha
inferior: perfil de penetração do aço-carbono.
observaram que, em algumas
ligas de titânio - a ductilidade
não apresenta melhora sobre as fase na estrutura da ZF. Um efeito soldagem da liga Ti-6Al-2Sn-4Zr-
condições usuais de soldagem TIG melhorado de refino nesta liga 2Mo (figura 14, pág. 120).
térmica (períodos em CC), devido foi obtido com a implementação Balasubramaniam et al. (2) ava-
ao fato de haver, no período de alta de pulsação térmica em corrente liaram o efeito dos processos TIG
energia, um aumento no tamanho alternada (períodos em CA). Os pulsado e MIG pulsado sobre a
dos grãos da fase e, em baixa autores conseguiram os melhores resistência à propagação de trinca
energia, um resfriamento e um resultados de refino, empregando por fadiga na soldagem da liga
aumento rápidos na relação desta a pulsação térmica de corrente, na AA7075. Os autores observaram
Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008 123

Fig. 17 – Efeito da pulsação térmica sobre a fração volumétrica de microconstituintes


da zona fundida. (a): representação gráfica da variação volumétrica, (b):
microestrutura na região colunar para Dpt = 1,5 mm e (c): microestrutura na região
colunar para Dpt = 10 mm.

que a aplicação de pulsação de térmica influencia a largura e o


corrente, em função do refino de comprimento dos grãos primários
grão propiciado, é benéfica para o e o volume e aspecto dos micro-
incremento da resistência à propa- constituintes (figura 17).
gação de trinca por fadiga na liga
estudada. Conclusões
Barra (5, 6) , estudando o efeito
dos parâmetros associados à pulsa- Com base nos dados apresentados,
ção térmica (distância entre pulsos é importante salientar, mais uma
térmicos Dpt, freqüência térmica vez, que, para o processo MIG/MAG
Ft, ciclo ativo térmico Ct, corrente térmico, a exata relação entre um
média total Imt e desnível térmico possível melhoramento estrutural
Dt), observou que a variante MIG/ (conhecimento metalúrgico) e a
MAG térmica, na soldagem de modulação nos sinais de Im e va
ligas tratáveis (aço-carbono) e não- (conhecimento de processo) ainda
tratáveis termicamente (Al-Mg), não é bem conhecida. Além disso,
influencia o modo de crescimento os estudos relacionados à pulsação
e o tamanho médio dos grãos na térmica normalmente apresentam
zona fundida (ZF), altera o perfil es- como foco principal os processos
perado da ZTA (zona termicamente em que não há a ocorrência de
afetada) e varia, ciclicamente, o transferência de massa (transferên-
nível de diluição e o perfil do refor- cia metálica) durante a operação
ço – vide exemplos nas figuras 15 de soldagem. Esta preferência pelo
(pág. 121) e 16 (pág. 122). processo TIG, por exemplo, recai na
Barra (5, 6) também avaliou o menor complexidade envolvida na
efeito da pulsação térmica sobre modelagem ou na explicação de um
a largura média do grão primário determinado fenômeno.
e a fração volumétrica das fases De maneira geral, as seguintes
apresentadas no cordão de sol- conclusões devem ser avaliadas para
da – ferrita acicular (FA), ferrita de definição ou não dessa variante
contorno de grão (FP(G)), ferrita como o processo de união/revesti-
de placa lateral (FS(SP)) e ferrita mento:
alinhada (FS(A)). Os dados indicam ฀ De maneira geral, foi observado
que o incremento da pulsação que, dependendo da forma de
124 Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008

Análise

onda implementada, a utilização da poça entre as fases de pul- 3) BARRA , S. R. et al. Characteristics of
da pulsação térmica no processo so e base térmica. Na fase de the metal transfer during GMAW with
thermal pulsation. In: IV Congresso
MIG/MAG apresenta-se como pulso térmico, o metal líqüido Nacional de Engenharia Mecânica.
mais uma opção (ferramenta) na apresenta-se mais agitado, em Recife, 2006.
4) BARRA , S. R. Influência dos
melhoria da qualidade final do decorrência do maior valor de Im procedimentos de soldagem sobre a
metal aportado. Esta variante, e da freqüência de destacamento resistência à cavitação de depósitos
obtidos com a utilização de arames
por apresentar diferentes com- das gotas metálicas; tubulares de aços inoxidáveis ligados
portamentos do arco entre as ฀ É necessário o conhecimento e ao cobalto. Dissertação de Mestrado
– Programa de Pós-Graduação
fases de pulso e base térmica, a padronização dos parâmetros em Engenharia Mecânica, UFSC.
afeta a dinâmica na região do intrínsecos à variante, tais como: Florianópolis, 1998, p. 1-132.
5) BARRA , S. R. Influência do processo
arco (variação na freqüência de distância entre pulsos (Dpt), des- MIG/MAG térmico sobre a
destacamento e possíveis perdas nível térmico (Dt), ciclo ativo tér- microestrutura e a geometria da
zona fundida. Tese de Doutorado
em UGPP e na manutenção de mico (Ct), freqüência térmica (Ft) – Programa de Pós-Graduação
l0) e, conseqüentemente, altera e a corrente média total (Imt). em Engenharia Mecânica, UFSC.
Florianópolis, 2003, p. 1-209.
ciclicamente a taxa de deposição, 6) BARRA , S. R. et al. MIG/MAG térmico:
a geometria do cordão (reforço, Referências efeito da distância entre pulsos, da
largura e penetração), o grau corrente média total e do desnível
1) A LCAN. Manual de Soldagem. Livro, 1ª térmico. In: III Congresso Nacional de
de diluição, a microestrutura ed. São Paulo: Alcan, 1993. Engenharia Mecânica. Belém, 2004.
da zona fundida e a largura da 2) BALASUBRAMANIAN, V et al. Influences 7) BECKER, D. W.; ADAMS, C. M. The role
of pulsed current welding and post of pulse GTA welding variables in
ZTA. weld aging treatment on fatigue solidification and grain refinement.
฀ A pulsação térmica provoca uma crack growth behavior of AA7075 Welding Journal, mai. 1979, p. 143s-152s.
aluminium alloy joints. International 8) D EH ERRERA , Noemi. Computer
diferença no grau de agitação Journal of Fatigue, 2007. calculations of fusion zone geometry
Corte & Conformação de Metais – Outubro 2008 125

considering fluid flow and heat Materials Science, v. 36, 2001, p. 29) SILVA , Celina. Avaliação da técnica
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backscatter diffraction. Journal of Journal, jul. 1979, p. 212s-224s. 1998, p. 11-19.

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