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Max Gehringer

SUA CARREIRA

Aprenda a trabalhar sob pressão

A PALAVRA DA SEMANA: EDUCADO. O líder nasce líder


ou aprende a ser líder? Vamos consultar os antigos romanos.
Em latim, ducatus era "conduzido". Com o prefixo de negação
"e", surgiu o educatus, "aquele que não é conduzido". Isto é, o
líder, o que conduz. Os romanos acreditavam que um líder até
podia demonstrar um precoce espírito de liderança. Mas,
mesmo assim, precisava adquirir conhecimentos para poder
liderar.

Trabalho em uma organização que tem um ambiente opressivo. Parece que voltamos
à idade da pedra. Não existe a mínima preocupação com o bem-estar dos
empregados, e os chefes sentem orgulho quando dizem que o resultado deve ser
obtido a qualquer custo. Isso é normal?
JANE, SÃO PAULO, SP

Vamos começar definindo o que seja "normal". Uma empresa existe para gerar lucro.
Isso é normal. Como os concorrentes pensam a mesma coisa, acaba levando vantagem a
empresa que coloca mais pressão sobre seus funcionários. Isso também é normal. As
coisas começam a sair da normalidade quando essa pressão se transforma em
desrespeito e humilhação. Isso é assédio moral.

Portanto, se o que você chama de "bem-estar dos empregados" é algo que fere a lei
trabalhista (por exemplo, trabalhar em fins de semana, sem receber), sua empresa está
cometendo uma infração e está sujeita a uma punição. Se os chefes são exigentes e
opressivos, mas todas as exigências legais estão sendo cumpridas, aí as reclamações vão
ficar no campo do "seria bem melhor se eles fossem mais humanos". Mas, se os chefes
ofendem e destratam os funcionários, a coisa muda de figura. Vocês poderiam mover
uma ação trabalhista contra a empresa. Isso resolveria alguma coisa? Talvez sim, talvez
não. Depende do juiz que for julgar. Mas seria um processo demorado, e o ambiente
ficaria ainda pior do que já está.

É por isso que hoje, na maioria das entrevistas de emprego, existe


A pressão deixa de
a famosa questão: "Como você se sente trabalhando sob
ser normal quando
pressão?". Parece uma pergunta retórica, mas não é. A pressão é
ela se transforma
mesmo grande, e está ficando cada vez mais forte. Portanto, Jane,
em desrespeito e
o que aconteceu em seu caso foi um erro de seleção. Sua empresa
humilhação
não lhe explicou, claramente, o tipo de ambiente de trabalho que
você iria encontrar. Ou talvez tenha explicado, mas você achou
que o recrutador estava exagerando. Qualquer que tenha sido o caso, a empresa não vai
mudar. Principalmente se os resultados estão sendo alcançados. Portanto, cabe a você
decidir se fica, ou se procura uma empresa adequada a suas exigências de um ambiente
mais sadio. Ou mais normal.
Estou fazendo planos para morar dois anos no exterior. Qual será o valor dessa
experiência quando eu regressar ao Brasil?
THYAGO, MARINGÁ, PR

Vamos dizer que você vá para a Inglaterra. E lá, além de aprender inglês, você consiga
fazer alguns cursos de curta duração. E trabalhe como lavador de pratos para poder se
sustentar. A maioria dos brasileiros que vão para o exterior faz isso, porque o visto
concedido é de estudante, que não permite o trabalho formal. Você fará contato com um
mundo diferente e aprenderá muito em termos de civilização. Mas, do ponto de vista do
mercado de trabalho brasileiro, os cursos contarão pouco (a não ser que você consiga
estudar numa universidade inglesa de primeira linha).

Quanto às empresas brasileiras, elas vão avaliar sua experiência de modo pragmático:
como lavador de pratos. O importante é que, antes de decidir embarcar para o exterior,
você tenha um claro propósito em mente, Thyago. Se esse propósito for "conseguir
daqui a dois anos um emprego que não estou conseguindo hoje", eu lhe diria que as
chances são remotas. Se o propósito for "somar uma valiosa experiência à minha vida,
num momento em que disponho de tempo e condições para fazer isso", vá voando.

Atuo em RH. Pagamos a nossos colaboradores salários que estão na média do


mercado. Em nossa última pesquisa de clima interno, não foi detectada nenhuma
grande queixa coletiva. Entretanto, nossa rotatividade é altíssima. Será que eu estou
deixando de enxergar alguma coisa óbvia?
ERNESTO, MACEIÓ, AL

Você pode atacar o problema por duas frentes. A primeira é a pesquisa. Mesmo sem
conhecê-la, eu chutaria que ela segue o padrão de "(a) Satisfeito (b) Neutro (c)
Insatisfeito". De modo geral, nós, brasileiros, somos gentis quando respondemos a
pesquisas. Nós tendemos a escolher o meio-termo. Empregados só respondem que estão
insatisfeitos quando estão profundamente decepcionados. Se eles estão levemente
insatisfeitos (mas o suficiente para mudar de emprego), preferem marcar a alternativa
neutra. E a pesquisa acaba revelando que "o índice de insatisfação geral é de 8%". Isso
deixa a administração não apenas feliz, mas também confortada, porque o número
reflete o que a própria administração pensa.

A segunda frente é a entrevista de saída. Normalmente, ela começa com a afirmação de


que alguém pediu a conta por uma "melhor oportunidade" e termina com a frase "nada a
reclamar". Minha sugestão, Ernesto: contrate um especialista para fazer uma pesquisa
qualitativa. E uma psicóloga, que saiba extrair respostas sinceras, para conduzir as
entrevistas de saída.

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