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Oficina LP IV PDF
Oficina LP IV PDF
Oficina
Língua Portuguesa IV
Autora
Profª Daniela Vitor Ferreira
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oficina
LÍNGUA PORTUGUESA IV – Escrita de textos acadêmicos
Sumário
Aula 1
Academia e importância do texto acadêmico
Aula 2
Aspectos formais de textos acadêmicos
Aula 3
Leitura e desconstrução de um texto acadêmico
Aula 4
Aspectos do conteúdo teórico do texto acadêmico
Aula 5
Estratégias discursivas do texto acadêmico
Aula 6
Procedimento textual introdutório
Aula 7
Aspectos de organização discursiva
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Introdução
Caro estudante,
Seja bem-vindo!
Esta oficina, a quarta, tem como objetivo o entendimento a respeito dos textos acadêmicos e sua
elaboração. Atenção às dicas da teoria e execução desses textos, pois esse conhecimento pode
significar seu diferencial no mercado de trabalho, que é extremamente competitivo.
É importante ressaltar que, apesar da sequência sugerida, as oficinas são independentes e poderão
ser cursadas segundo o seu interesse.
Aproveite para aprender e aperfeiçoar seus conhecimentos, tanto de leitor quanto de futuro autor
de textos acadêmicos.
Bons estudos!
O entendimento a respeito da origem da Academia é essencial para o estudo dos aspecos formais e
elaboração dos textos acadêmicos, pois proporciona elementos relevantes a aprendizagem acerca
da estrutura e organização desse tipo de produção.
Origem da Academia
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Academia vem da palavra grega Academia, do grego antigo Ακαδήμεια.
É o nome dado, no Ocidente, a várias instituições direcionadas para o ensino, para a promoção de
atividades artísticas, literárias, científicas e físicas, sobretudo universitárias.
A Academia original provém de uma escola fundada por Platão, filósofo grego, em 387 a.C. Essa
escola ficava num jardim, próximo a Atenas, onde o filósofo ensinava de modo informal os jovens
sobre filosofia, matemática, música, astronomia e legislação. A escola possuía uma biblioteca e uma
residência. Esse jardim, onde Platão pretendeu reunir diversos campos do saber, teria pertencido a
Academus – um herói ateniense da guerra de Troia (século XII
a.C.) – e, por isso era chamado Academia. Essa escola pode ser entendida como a primeira
Universidade.
Nas Academias, ou seja, nas Universidades, é sempre solicitada a escrita de textos acadêmicos.
Desta forma, é imprescindível ter conhecimento a respeito de como um texto acadêmico deve ser
estruturado, além de entender todos os componentes necessários para realizar esta atividade.
Texto Acadêmico
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O universitário, estudante do ensino superior, tem o dever social de compartilhar com as demais
pessoas seus conhecimentos, não só os específicos, mas também os de cultura geral. Daí a grande
necessidade de intensa leitura dos autores clássicos, da literatura, dos teóricos e de atualidades.
Para isso, o estudante acadêmico deve opinar sobre temas de relevância social e argumentar
solidamente sobre seu posicionamento crítico. É importante lembrar que talvez um de seus textos
traga importantes e necessárias mudanças na área social ou ambiental, por isso precisa ser
consistente.
Para escrever um texto com qualidade é necessário ler muito, vários autores, inclusive com visões
até antagônicas para que seu posicionamento e argumentos sejam sólidos.
O texto acadêmico é escrito em linguagem formal, com conteúdo devidamente fundamentado para
que seus interlocutores não tenham dúvidas ao lê-lo. Para tanto, a forma estética é tão importante
quanto o conteúdo.
Não há regras absolutamente rígidas para escrever um texto acadêmico, mas a tradição acadêmica
acabou delimitando as formas típicas de expressar diversas modalidades de textos acadêmicos.
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coletâneas, sínteses, enfim, uma apresentação sistemática do conhecimento de uma
determinada área, num determinado momento. Existem, também, os livros denominados
didáticos. São organizados de outra maneira, mas são igualmente utilizados em uma
universidade, (chamados Livros-Textos).
2. Artigo: é uma forma mais ágil de comunicação para a ciência e suas pesquisas. São
encontrados em periódicos e revistas especializadas. São textos menores com o objetivo de
explorar pontos mais específicos de pesquisadores.
Os textos acadêmicos são muito solicitados na graduação. Para que sejam textos bem escritos, é
essencial que se entenda a respeito de sua estrutura e elaboração.
a) Título do trabalho, subtítulo (se necessário), nome completo do autor/ universitário e seu
registro geral de matrícula, assim como semestre e ano do trabalho.
c) Local e data.
http://www.google.com.br/search?q=pr%C3%A9-textuais%20e%20p%C3%B3s%20
textuais%20de%20TCC%20modelos%20imagens&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-
BR:official&client=firefox-a&source=hp&channel=np
Acesso em: 17 ago. 2012.
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A seleção de aspectos formais dependerá do tipo de texto solicitado. De forma geral, são considerados
os seguintes aspectos formais:
• Palavras-chave: lista de mais ou menos seis palavras que são designadas para o leitor obter
noções básicas a respeito do artigo.
a) Se a citação for pequena (algumas palavras, ou frases curtas): é recomendável que seja
feita no próprio parágrafo em que está sendo comentada, entre aspas (simples ou duplas).
Exemplo: No seu livro Metafísica, Aristóteles afirmou que “todos os homens têm, por natureza, o
desejo de conhecer”.
b) Se a citação for extensa: deve-se colocá-la em parágrafo especial, sem aspas, porém
identado, ou seja, deslocado para a direita. Costumeiramente, utiliza-se também um tipo
menor que do restante do texto. Por exemplo, utiliza-se fonte tamanho 10, se o texto estiver
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com tamanho 12 e/ou um espaçamento mais apertado.
Exemplo: Na seção IV, parte 1, de seu livro An Enquiry concerning Human Understanding, Hume
compara a filosofia natural com a filosofia moral de forma eloquente:
A mais perfeita filosofia da espécie natural apenas detém por algum tempo nossa ignorância,
assim como a mais perfeita filosofia da espécie moral ou metafísica serve talvez apenas
para revelar porções mais vastas dessa mesma ignorância. Assim, o resultado de toda
filosofia é a constatação da cegueira e debilidade humanas, com a qual nos deparamos por
toda parte apesar de nossos esforços para evitá-la ou dela nos esquivarmos.
• Uso de aspas: as aspas podem ser simples (‘ ’), duplas (“ ”) ou francesas (« »). Em um texto
acadêmico, as aspas podem realizar as seguintes funções:
a) Marcar citações: se houver citação dentro de citação, devem-se usar aspas simples para a
interna e duplas para a externa (ou vice-versa).
• Ênfase
• Palavras estrangeiras
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Exemplo: Philosophy of Science 44: 1-42, 1977. Além disso, é utilizado quase que
exclusivamente para destaque. Seu uso no meio dos parágrafos, entretanto, é condenável
por sobrecarregar a aparência do texto.
ü Maiúsculas: são utilizadas para os sobrenomes dos autores, em alguns sistemas de referências.
Em artigos e livros, podem ser utilizados para destacar o título e seções. Não devem ser
empregadas para destacar palavras no meio dos parágrafos, assim como acontece para a
utilização do negrito. Além disso, empregam-se letras maiúsculas no início de parágrafos para
identificar siglas e nomes próprios.
Demais explicações a respeito dos aspectos formais de textos acadêmicos, você pode encontrar
em:
O artigo abaixo foi desconstruído para a percepção das estratégias discursivas e argumentativas
empregadas pelo autor.
Trata-se de um texto acadêmico, teórico, a respeito de um assunto que interessa a todos os seres
humanos: a capacidade de comunicação e linguagem.
Há um texto explicativo para cada parágrafo, com o intuito de facilitar essa percepção, que pode ser
lido em paralelo ou após a leitura final do artigo.
(1) Aplicada ao mundo animal, a noção de linguagem só tem crédito por um abuso de termos.
Sabemos que foi impossível até aqui estabelecer que os animais disponham, mesmo sob uma
forma rudimentar, de um modo de expressão que tenha os caracteres e as funções da linguagem
humana. Falharam todas as observações sérias praticadas sobre as comunidades animais, todas
as tentativas postas em prática mediante técnicas variadas para provocar ou controlar uma forma
qualquer de linguagem que se assemelhasse a dos homens. Não parece que os animais que
emitem gritos variados manifestem, no momento dessas emissões vocais, comportamentos dos
quais possamos inferir que se transmitem mensagens “faladas”. As condições fundamentais de uma
comunicação propriamente linguística parecem faltar no mundo dos animais, mesmo superiores.
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(2) A questão apresenta-se de forma diferente para as abelhas ou, pelo menos, devemos
encarar o fato de que possa vir a apresentar-se. Tudo leva a crer – e o fato se observa há muito
tempo – que as abelhas têm um modo de comunicar-se. A organização prodigiosa das suas colônias,
as suas atividades diferenciadas e coordenadas, a sua capacidade de reagir coletivamente diante
de situações imprevistas, fazem supor que têm aptidões para trocar verdadeiras mensagens. A
atenção dos observadores dirigiu-se particularmente para a maneira pela qual as abelhas são
avisadas quando uma dentre elas descobre uma fonte de alimento. Uma abelha operária colhedora,
encontrando, por exemplo, durante o voo uma solução açucarada por meio da qual cai numa
armadilha, imediatamente se alimenta. Enquanto se alimenta, o experimentador cuida em marcá-la.
A abelha volta depois à sua colmeia. Alguns instantes mais tarde veem-se chegar ao mesmo lugar
um grupo de abelhas entre as quais não se encontra a abelha marcada e que vem todas da mesma
colmeia. Esta deve haver prevenido as companheiras. É realmente necessário que estas hajam
sido informadas com precisão, pois chegam sem guia ao local, que se encontra, frequentemente, a
grande distância da colmeia e sempre fora da sua vista. Não há erro nem hesitação na localização:
se a primeira escolheu uma flor entre outras que poderiam igualmente atraí-la, as abelhas que vêm
após a sua volta se atirarão a essa e abandonarão as outras. Aparentemente, a abelha exploradora
indicou às companheiras o lugar de onde veio. Mas de que modo?
(3) Esse problema fascinante desafiou por muito tempo os observadores. Deve-se a Karl von
Frisch (professor de Zoologia na Universidade de Munique), pelas experiências que realiza há
uns trinta anos, o haver estabelecido os princípios de uma solução. As suas pesquisas fizeram
conhecer o processo da comunicação entre as abelhas. Observou, numa colmeia transparente,
o comportamento da abelha que volta depois de uma descoberta de alimento. É imediatamente
rodeada pelas companheiras no meio de grande efervescência, e essas estendem na sua direção
as antenas para recolher o pólen de que vem carregada, ou absorvem o néctar que vomita. Depois,
seguida das companheiras, executa danças. É este o momento essencial do processo e o próprio
ato da comunicação. A abelha entrega-se, de acordo com o caso, a uma de suas danças diferentes.
Uma consiste em traçar círculos horizontais da direita à esquerda, depois da esquerda à direita
sucessivamente. A outra, acompanhada por uma vibração continua do abdômen (wagging-dance,
“dança do ventre”), imita mais ou menos a figura de um 8: a abelha voa reto, depois descreve uma
volta completa para a esquerda, novamente voa reto, recomeça uma volta completa para a direita,
e assim por diante. Após as danças, uma ou mais abelhas deixam a colmeia e partem diretamente
para a fonte que a primeira havia visitado, e depois de saciar-se, voltam à colmeia onde, por sua vez,
se entregam às mesmas danças, o que provoca novas partidas, de modo que depois de algumas
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idas e vindas, centenas de abelhas já acorreram ao local onde a primeira descobriu o alimento.
A dança em círculos e a dança em oito evidenciam-se, pois, como verdadeiras mensagens pelas
quais a descoberta é assinalada à colmeia. Faltava encontrar a diferença entre as duas danças. K.
von Frisch pensou que versasse sobre a natureza do alimento: a dança circular anunciaria o néctar,
a dança em oito, o pólen. Esses dados, com a sua interpretação, apresentados em 1923, são hoje
noções correntes e já vulgarizadas1. 1Compreende-se que hajam suscitado vivo interesse. Mesmo
demonstradas, porém, não nos permitem falar de uma verdadeira linguagem.
(4) Esses aspectos estão agora completamente renovados pelas experiências que Karl von
Frisch realizou depois, ampliando e retificando as suas primeiras observações. Tornou-as conhecidas
em 1948 em publicações técnicas e, resumidas muito claramente, em 1950, num pequeno volume que
reproduz conferências feitas nos Estados Unidos2. Após milhares de experiências de uma paciência
e de uma engenhosidade verdadeiramente admiráveis, conseguiu determinar a significação das
danças. A novidade fundamental consiste em que se reportam não, como ele o havia inicialmente
pensado, à natureza do achado, mas a distância que separa esse achado da colmeia. A dança
em círculo anuncia que o local do alimento deve ser procurado a pequena distância, num raio de
cem metros aproximadamente ao redor da colmeia. As abelhas saem então e se espalham ao
redor da colmeia até que a tenham encontrado. A outra dança que a operária colhedora executa,
vibrando e descrevendo oitos (wagging-dance), indica que o ponto está situado a uma distância
superior, além de cem metros e até seis quilômetros. Essa mensagem comporta duas indicações
distintas – uma sobre a distância, outra sobre a direção. A distância está implícita pelo número de
figuras desenhadas num tempo determinado; varia sempre na razão inversa da sua frequência. Por
exemplo, a abelha descreve nove a dez “oitos” completos em quinze segundos quando a distância
é de cem metros, sete para duzentos metros, quatro e meio para um quilômetro, e dois somente
para seis quilômetros. Quanto maior é a distância, mais lenta é a dança. Quanto à direção em que
se deve procurar o achado, é o eixo do “oito” que assinala, em direção ao sol; segundo se incline
para a direita ou para a esquerda, esse eixo indica o ângulo que o local da descoberta forma com
o sol. As abelhas são capazes de orientar-se mesmo com o tempo encoberto, em virtude de uma
sensibilidade particular à luz polarizada. Na prática, há ligeiras variações de uma abelha a outra ou
de uma colmeia a outra, na avaliação da distância, mas não na escolha de uma ou de outra dança.
Esses resultados são o produto de aproximadamente quatro mil experiências, que outros zoólogos,
a princípio céticos, repetiram na Europa e nos Estados Unidos, e finalmente confirmaram3. Temos
agora o meio de nos assegurarmos de que é mesmo a dança, nas suas duas modalidades, que
serve às abelhas para informar às companheiras sobre os seus achados e guiá-las por meio de
Assim Maurice Mathis, Le peuple des abeilIes, p. 70: “O doutor K. von Frisch havia descoberto o comportamento da abelha fisgada
1
à sua volta à colmeia. Segundo a natureza do achado a explorar, mel ou pólen, a abelha fisgada executará sobre os bolos de cera
uma verdadeira dança de demonstração, girando em circulo para uma substância açucarada, descrevendo oitos para o pólen”.
2
Karl von Frisch, Bees, their vision, chemical senses and language, Ithaca, N.Y., Cornell University Press, 1950.
3
Ver a introdução de Donald R. Griflin ao livro de K. Von Frisch, p. VII.
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indicações sobre a direção e a distância. As abelhas, percebendo o odor da colhedora ou absorvendo
o néctar que engoliu, descobrem além do mais a natureza do achado. Empreendem por sua vez o
seu voo e atingem com certeza o local. O observador pode, a partir daí, segundo o tipo e o ritmo da
dança, prever o comportamento da colmeia e verificar as indicações transmitidas.
(5) A importância dessas descobertas para os estudos de psicologia animal não precisa ser
sublinhada. Gostaríamos de insistir aqui sobre um aspecto menos visível do problema em que K.
von Frisch, preocupado em descrever objetivamente as suas experiências, não tocou. Estamos,
pela primeira vez, em situação de especificar com alguma precisão o modo de comunicação
empregado numa colônia de insetos; e pela primeira vez podemos imaginar o funcionamento
de uma “linguagem” animal. Pode ser útil assinalar de leve aquilo em que ela é ou não é uma
linguagem, e o modo como essas observações sobre as abelhas ajudam a definir, por semelhança
ou por contraste, a linguagem humana.
(7) A mensagem transmitida contém três dados, os únicos identificáveis até aqui: a existência
de uma fonte de alimento, a sua distância e a sua direção. Esses elementos poderiam ordenar-se
de maneira um pouco diferente. A dança em círculo indica simplesmente a presença do achado,
determinando que esteja a pequena distância. Funda-se sobre o princípio mecânico do “tudo ou
nada”. A outra dança formula verdadeiramente uma comunicação; desta vez, é a existência do
alimento que está implícita nos dois dados (distância, direção) expressamente enunciados. Veem-
se aqui muitos pontos de semelhança com a linguagem humana. Esses processos põem em ação
um simbolismo verdadeiro embora rudimentar, pelo qual dos objetivos são transpostos em gestos
formalizados, que comportam elementos variáveis e de “significação” constante. Além disso, a
situação e a função são as de uma linguagem, no sentido de que o sistema é válido no interior
de uma comunidade determinada e de que cada membro dessa comunidade tem aptidões para
empregá-lo ou compreendê-lo nos mesmos termos.
(8) As diferenças são, porém, consideráveis e ajudam a tomar consciência do que caracteriza
realmente a linguagem humana. A primeira, essencial, está em que a mensagem das abelhas
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consiste inteiramente na dança, sem intervenção de um aparelho “vocal”, enquanto não há linguagem
sem voz. Daí surge outra diferença, que é de ordem física. A comunicação nas abelhas, não sendo
vocal, mas gestual, efetua-se necessariamente em condições que permitem percepção visual, sob
a luz do dia; não pode ocorrer na obscuridade. A linguagem humana não conhece essa limitação.
(10) Se considerarmos agora o conteúdo da mensagem, será fácil observarmos que se refere
sempre e somente a um dado, o alimento, e que as únicas variantes que comporta são relativas
a dados especiais. É evidente o contraste com o ilimitado dos conteúdos da linguagem humana.
Além disso, a conduta que significa a mensagem das abelhas denota um simbolismo particular
que consiste num decalque da situação objetiva, da única situação que possibilita uma mensagem,
sem nenhuma variação ou transposição possível. Ora, na linguagem humana, o símbolo em geral
não configura os dados das experiências, no sentido de que não há relação necessária entre a
referência objetiva e a forma linguística. Haveria muitas distinções para fazer aqui sob o aspecto
do simbolismo humano, cuja natureza e cujo funcionamento foram pouco estudados. A diferença,
porém, subsiste. Um último caráter da comunicação das abelhas a opõe fortemente às línguas
humanas. A mensagem das abelhas não se deixa analisar. Não podemos ver senão um conteúdo
global, ligando-se a única diferença à posição espacial do objeto relatado. É impossível, porém,
decompor esse conteúdo nos seus elementos formadores, nos seus “morfemas”, de maneira a
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fazer corresponder cada um desses morfemas a um elemento do enunciado. A linguagem humana
caracteriza-se justamente aí. Cada enunciado se reduz a elementos que se deixam combinar
livremente segundo regras definidas, de modo que um número bastante reduzido de morfemas
permite um número considerável de combinações - de onde nasce a variedade da linguagem
humana, que é a capacidade de dizer tudo. Uma análise mais aprofundada da linguagem mostra
que esses morfemas, elementos de significação, se resolvem, por sua vez, em fonemas, elementos
articulatórios destituídos de significação, ainda menos numerosos, cuja reunião seletiva e distintiva
fornece as unidades significantes. Esses fonemas “vazios”, organizados em sistemas, formam a
base de todas as línguas. Está claro que a linguagem das abelhas não permite isolar semelhantes
constituintes; não se reduz a elementos identificáveis e distintivos.
(11) O conjunto dessas observações faz surgir a diferença essencial entre os processos de
comunicação descobertos entre as abelhas e a nossa linguagem. Essa diferença resume-se no
termo que parece-nos o mais apropriado para definir o modo de comunicação empregado pelas
abelhas; não é uma linguagem, é um código de sinais. Todos os caracteres resultam disso: a
fixidez do conteúdo, a invariabilidade da mensagem, a referência a uma única situação, a natureza
indecomponível do enunciado, a sua transmissão unilateral. É, no entanto, significativo o fato de
que esse código, única forma de “linguagem” que se pôde até hoje descobrir entre os animais,
seja próprio de insetos que vivem em sociedades. É também a sociedade que é a condição da
linguagem. Esclarecer indiretamente as condições da linguagem humana e do simbolismo que
supõe não é o menor interesse das descobertas de K. Von Frisch, além das revelações que nos
trazem sobre o mundo dos insetos. É possível que o progresso das pesquisas nos faça penetrar
mais fundo na compreensão dos impulsos e das modalidades desse tipo de comunicação, mas o
haver estabelecido que ele exista, qual é e como funciona, já significa que veremos melhor onde
começa a linguagem e como se delimita o homem4.
Segundo parágrafo: o autor imagina que algum leitor possa pensar diferentemente dele (a
linguagem se aplicaria ao reino animal não humano) e, por isso, já inicia neste parágrafo uma
possível argumentação deste contra-argumento generalizado entre muitas pessoas de que os
4
[1965] Para uma visão de conjunto das pesquisas recentes sobre a comunicação animal e sobre a linguagem das abelhas em
particular, ver um artigo de T. A. Sebeok, publicado em Science, 1965, p. 1006 ss.
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animais não racionais também teriam linguagem. A redação do texto deixa de ser linear. O produtor
do texto, aos poucos, derruba possíveis argumentos contrários a seu posicionamento inicial e real,
que é o seguinte: “Aplicada ao mundo animal, a noção de linguagem só tem crédito por um abuso de
termos”. O autor faz isso referindo-se a uma experiência realizada com abelhas, na qual verificou-
se comunicação de uma com outras a respeito das coordenadas do pólen.
Terceiro parágrafo: como o produtor do texto referiu-se a uma experiência com abelhas, neste
parágrafo, resgata a experiência científica seguida por Karl Von Frisch (professor de Zoologia
da Universidade de Munique), descrevendo-a minuciosamente. Em todo artigo acadêmico,
especialmente aqueles que serão expostos ao público, as comprovações científicas empregadas
dão consistência à argumentação do produtor do texto. É importante observar que no último período,
final do parágrafo, o autor emprega um elemento concessivo-opositivo (mesmo – porém), que lhe
permite remontar a seu posicionamento inicial, ou seja, manter a coesão e a coerência.
Veja: “Mesmo demonstradas, porém, não nos permitem falar de uma verdadeira linguagem”.
O posicionamento inicial é de que o termo linguagem não pode ser aplicado aos animais não
racionais.
Quarto parágrafo: este é o maior parágrafo por ser aquele em que são detalhadas as experiências
realizadas para demonstrar que os animais poderiam possuir linguagem. Muitas experiências
demonstraram que “temos agora o meio de nos assegurarmos de que é mesmo a dança [...] que
serve às abelhas para informar às companheiras [...] guiá-las [...] sobre a direção e a distância.”
Note-se que, aparentemente, este parágrafo é um reforço da tese contrária (os animais têm
linguagem) ao posicionamento do autor (a noção de linguagem não pode ser aplicada ao
mundo animal).
Quinto parágrafo: o produtor do texto evidencia o significado da experiência com as abelhas, isto é,
o ser humano poderia especificar, com alguma precisão, o modo de comunicação empregado numa
colônia de insetos. E, pela primeira vez, imaginar o funcionamento de uma “linguagem” animal. O
termo “linguagem” continua a ser empregado entre aspas quando se refere a animais (reforço da
tese/posicionamento inicial do autor). Indica para o próximo parágrafo a possibilidade de se referir
a diferenças/semelhanças entre a linguagem humana e a “linguagem” dos animais. É importante
notar que o autor do texto, aos poucos, disponibiliza “pistas” para que o leitor não se perca e o texto
lido não seja uma obra impenetrável, hermética aos leitores.
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que a traduz (a posição e a distância). Observa-se novamente o uso de aspas nas palavras que
contém a tese/posicionamento do autor.
Nesse momento do texto, o leitor poderia estar surpreso com a tese do autor, que é a de que não
há linguagem além da humana. Isto porque até este parágrafo, o autor parece estar defendendo o
posicionamento contrário ao seu.
Oitavo parágrafo: o conectivo, porém, neste parágrafo, já é uma preparação para o leitor de que
uma argumentação forte sobre o posicionamento/tese inicial (Aplicada ao mundo animal a noção
de linguagem só tem crédito por um abuso de termos) virá, e realmente isso ocorre quando o autor
apresenta as diferenças de ordem física entre os seres humanos e as abelhas das experiências.
A mensagem das abelhas é uma dança sem a intervenção de um aparelho vocal e, além disso, é
uma mensagem limitada à luz do dia, ou seja, é uma reação ao dado físico. A linguagem humana
não conhece essa limitação.
Nono parágrafo: neste parágrafo, o autor argumenta definitiva e inequivocamente sua tese/
posicionamento do primeiro parágrafo (Aplicada ao mundo animal a noção de linguagem só tem
crédito por um abuso de termos) ao apontar as seguintes diferenças, sob o aspecto da comunicação,
com relação a mensagem das abelhas:
1. Refere-se apenas a um dado objetivo; não pode ser reproduzida por outra abelha que não
tenha visto ela mesma os fatos da experiência. A linguagem humana, ao contrário, reprocessa
informações, não opera só a partir de relação direta com o dado objetivo da experiência. Em
outras palavras, a linguagem humana tem capacidade de transmissão e de retransmissão.
2. Não conhece o diálogo, que é a condição fundamental da linguagem humana; o ser humano
refere-se a signos; a referência à experiência objetiva e a reação à manifestação linguística se
misturam livremente.
3. A abelha apresenta reação, que é uma conduta em referência a um dado objetivo.
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4. O ser humano apresenta uma resposta linguística à outra manifestação linguística, portanto,
simbólica. É a possibilidade de construção de mensagem a partir de outra mensagem.
O autor apresenta as primeiras pistas para a conclusão do conceito de linguagem, o que significa
uma retomada importantíssima para a defesa da tese/posicionamento inicial.
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Exercícios de leitura e compreensão
2. Escreva dois argumentos, utilizados por Karl Firsch, a respeito de ações das abelhas que provam
que podem se comunicar.
3. Escreva dois argumentos que justifiquem, para Émile Benveniste, a seguinte afirmação: “a noção
de linguagem não pode ser aplicada ao mundo animal”.
Neste módulo há a leitura e desvendamento de dois textos acadêmicos que enfocam o mesmo
assunto: a vida. Além disso, há também o levantamento a respeito de aspectos de conteúdo
teórico, convergente e/ou divergente; de estratégias discursivas empregadas pelos produtores para
organização de seus respectivos textos.
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Texto 1
DAVIES,P. O quinto milagre: em busca da origem da vida. Capítulo 1. São Paulo: Companhia das
Letras, 2001 (pp 34-40).
O que é vida? – capítulo I do livro O quinto milagre
O que é a vida?
Antes de atacar o problema da sua origem, é importante ter uma ideia clara do que é vida. Há
cinquenta anos, muitos cientistas estavam convencidos de que o mistério da vida estava prestes
a ser resolvido. Os biólogos reconheciam que a chave estava entre os componentes moleculares
dentro da célula. Àquela altura, os físicos tinham dado passos notáveis que elucidavam a estrutura
da matéria no nível atômico, e parecia que logo esclareceriam igualmente o problema da vida. A
agenda foi estabelecida pela publicação do livro de Erwin Schrödinger, What is life?, em 1944. Os
organismos vivos, assim pareciam na época, acabariam se revelando nada mais que máquinas
elaboradas com partes microscópicas que podiam ser estudadas usando as técnicas da física
experimental. Uma investigação cuidadosa fundamentou essa visão. A célula viva está de fato
apinhada de máquinas em miniatura. Tudo o que se fazia necessário era um manual de montagem
e o problema estaria resolvido. Hoje em dia, entretanto, a imagem da célula como apenas um
mecanismo muito complicado parece bastante ingênua. Sem dúvida, a biologia molecular obteve
sucessos deslumbrantes, mas os cientistas ainda não sabem apontar exatamente o que separa
um organismo vivo de outros tipos de objetos físicos. Tratar os organismos tem-se mostrado um
método muito frutífero, sem dúvida alguma, mas é importante não ficar hipnotizado pelo seu charme
simplista. A explicação mecanicista é uma parte importante da compreensão da vida, mas não é
toda a história.
Permita-me dar um exemplo surpreendente de onde reside o problema. Imagine jogar para
o ar um pássaro morto e um pássaro vivo. O pássaro morto vai aterrissar com uma pancada
surda, previsivelmente, a alguns metros de distância. O pássaro vivo pode acabar empoleirado,
improvavelmente, numa antena de televisão no outro lado da cidade, ou no galho de uma árvore,
em cima de um telhado, uma cerca viva ou um ninho. Seria difícil adivinhar de antemão o lugar
exato.
Como físico, estou acostumado a pensar a matéria como algo passivo, inerte e insensível como
um torrão de terra, reagindo apenas quando pressionada por forças externas – como quando o
pássaro morto cai ao chão sob a força da gravidade. Mas as criaturas vivas têm, literalmente, uma
vida própria. É como se contivessem uma faísca interior que lhes dá autonomia para que possam
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(dentro de certos limites) fazer o que desejam. Até as bactérias fazem o que querem de forma
restrita. Essa liberdade, essa espontaneidade, implica que a vida desafia as leis da física, ou os
organismos vivos apenas aproveitam essas leis para seus próprios fins? E de onde vem esses
“fins”, num mundo aparentemente governado por forças cegas e sem propósito?
Essa propriedade da autonomia, ou autodeterminação, parece tocar o aspecto mais enigmático que
distingue os seres vivos dos não vivos, mas é difícil saber qual é sua origem. Que propriedades
físicas dos organismos vivos lhes conferem autonomia? Ninguém sabe.
Autonomia é uma característica importante da vida. Mas há muitas outras, inclusive as seguintes:
Reprodução, Metabolismo, Nutrição, Complexidade, Organização, Crescimento e Desenvolvimennto,
Conteúdo de informação, Emanharamento hardware/ software, Permanência e mudança.
Posso resumir essa lista de qualidades afirmando que, de um modo geral, a vida parece envolver
dois fatores cruciais: o metabolismo e a reprodução. É o que podemos observar em nossas próprias
vidas. Os atos mais básicos de todo ser humano são: respirar, comer, beber, excretar e fazer sexo.
As primeiras quatro atividades são necessárias para o metabolismo, enquanto a última é necessária
para a reprodução. É duvidoso se considerarmos viva, no pleno sentido do termo, uma população
de entidades com metabolismo, mas sem reprodução; ou com reprodução, mas sem metabolismo.
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Texto 2
(EL-HANI, Charbel Nino; VIDEIRA Antonio Augusto Passos (org.). O que é vida? Para entender a
biologia do século XXI. Capítulo 8 (PP.187-188) Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000).
A morte é destino de todos os seres vivos. A vida é, assim, um fenômeno efêmero e, além disso,
aberto. Mesmo o mais solitário indivíduo de qualquer espécie está em permanente contato com sua
vizinhança, recebendo informações e modificando o meio. A integração de um ser vivo com o meio
é um processo dinâmico, no qual as mudanças produzidas pelo organismo alteram as propriedades
físico-químicas do sistema. Dessa forma, as noções de interior e exterior de um ser vivo perdem
parcialmente o sentido, pois um depende do outro, em um processo de interação no qual o exterior
também possui uma história e uma evolução temporal. No entanto, as escalas mudam. Todas as
espécies estão destinadas à extinção, assim como cada indivíduo está condenado a morrer. Nesse
imbricado contexto, torna-se difícil construir fronteiras entre o que é um organismo e o que constitui
o ambiente externo. O que permite à vida persistir são os mecanismos de seleção que fazem com
que variantes novas possam aparecer.
Campos externos, períodos de claro e escuro, variações periódicas de temperatura, marés e outros
fatores físicos são elementos essenciais para a compreensão de como uma espécie particular
adapta-se.
O protagonista escondido dessa história é o tempo. O tempo linear que evolui e se propaga e que
resiste a qualquer tentativa de conceitualização.
Aqui chegamos a um dos pontos mais importantes do estudo da vida. Resume-se em uma pergunta
que pode parecer ingênua, mas que esconde uma quantidade enorme de implicações. Ela é
simplesmente: o que é a vida? Ou seja, por mais elaborada que seja a biologia e o estudo dos seres
vivos, não sabemos definir um conjunto de propriedades que nos diga, a priori, se um determinado
sistema é vivo ou não. Utilizaremos a proposta de John Maynard Smith (1986) que, como vários
outros, está preocupado com as possibilidades de vida fora do ambiente terrestre que as viagens
espaciais permitem imaginar.
22
oficina
2- As diferentes partes dos organismos têm funções, quer dizer, as partes contribuem para
a sobrevivência e reprodução do todo. As pernas são para caminhar, o coração é para
bombear o sangue em todo o corpo, e as abecas cobertas de plumas do dente-de-leão
ajudam a dispersão da semente.”
Embora na formulação proposta por Smith possamos ficar pensando somente na vida dos animais
ou vegetais (pois ele faz uso de órgãos como pernas, coração e plumas de uma flor), sua proposição
é geral e aplica-se a todos os reinos, incluindo células procariotas. Assim, podemos perceber que
um dos aspectos mais importantes de um ser vivo, essencial para a preservação da vida, é a
troca de material em todos os níveis, mantendo, entretanto, as funções. Essa característica é rara
em outros sistemas físicos e não devemos ignorá-la para que possamos tentar entender, com
base na termodinâmica, os processos biológicos. Outro aspecto que deve ser logo enfatizado é
o caráter orgânico que, como a palavra indica, está relacionado com a vida. Não existe vida de
partes, embora possamos ter partes isoladas capazes de realizar processos bioquímicos comuns
em sistemas vivos. Nossa imediata conclusão é a de que não devemos esperar resultados sempre
positivos se dedicarmos nosso estudo a partes isoladas de sistemas vivos, pois a vida parece ser
um imperativo do todo, que só pode ser compreendida nas suas relações com o meio extracelular.
Retomando:
Após as duas leituras, há alguns dados sobre a organização do texto acadêmico que podem ser
levantados e discutidos. É preciso lembrar que um texto acadêmico, como o próprio nome diz,
circula em academias/ universidades, lugares de produção e transmissão do conhecimento e não
apenas da informação. O texto revela informações, mas essas informações precisam de reflexão
para serem transformadas em conhecimento. É nesse sentido que os textos “O que é vida?“ e
“Entropia e vida: a questão do tempo linear” serão aproximados.
A questão da vida é o assunto abordado nos textos. Por esse motivo, é encontrada a seguinte
questão: o que é vida? Esta é uma questão retórica, ou seja, uma questão que o próprio autor utiliza
para enfatizar o que considera essencial em sua produção e que depois será respondida por ele.
Uma questão retórica pode ajudar a escrever um texto acadêmico, mas não é obrigatória. O texto
acadêmico admite o uso da primeira ou da terceira pessoa, desde que seja mantida a objetividade.
O texto “O que é vida?“ é totalmente objetivo. O autor tece comentários a respeito do julgamento
realizado pelos biólogos, há algum tempo, sobre o entendimento do significado da vida. Além disso,
ressalta o fato de que este mistério permanece e não é redutível a uma explicação mecanicista.
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Para proporcionar ao leitor mais elementos que permitam o entendimento do texto, o autor ressalta
que, para ele, a matéria é algo inerte. Além disso, exemplifica que, ao contrário da matéria, a
vida não é inerte. A vida é um sistema dinâmico e, por isso, fora do alcance da compreensão da
completude de sua natureza. Desta forma, o produtor do texto revela humildade científica, mesmo
em sua posição de físico, quando busca compreender a função dos organismos vivos sob as leis
da biologia.
Em seguida, o autor retoma a questão da retórica. Este tipo de questão é essencial no desenvolvimento
do fluxo do pensamento e, desta forma, na organização do texto. Exemplo: Que propriedades físicas
dos organismos vivos lhes conferem autonomia? A resposta é surpreendente: Ninguém sabe.
A conclusão apresentada no texto “O que é a vida?” refere-se a uma qualidade simples, que é
a definição do que é vivo e não vivo. Embora o texto seja científico e acadêmico, o autor deixa
clara sua visão, inclusive utilizando julgamento de valor: é talvez bom que assim seja. Mostrar a
necessidade de questionamentos e continuidade de pesquisas é uma característica marcante nos
textos científicos.
No texto “Entropia e vida: a questão do tempo linear”, embora discuta também a respeito do que é
vida, o produtor do texto assume uma perspectiva mais filosófica e familiar, comum ao pensamento
de qualquer leitor. A morte, única certeza sobre o destino das pessoas, não é argumentável. Talvez
o autor tenha iniciado dessa forma para poder contrapor o fato de que ninguém tem certeza diante
do significado da vida. Além de tratar da morte, o autor acrescenta a ideia de que a vida é efêmera
e aberta, ou seja, o contato entre os indivíduos e o meio em que vivem é inevitável. Desse modo,
o produtor do texto cria um caminho textual para chegar à questão, também retórica: o que é vida?
Para isso, recorre também a John Maynard Smith para discutir as propriedades dos seres vivos.
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No texto “Entropia e vida: a questão do tempo linear”, o autor discute a respeito do que é vivo ou não
vivo, que é a proposta citada, e apresenta sua própria conclusão. Desta forma, pode-se dizer que o
texto tem começo (a morte), desenvolvimento (o que é vida) e conclusão (... a vida parece ser um
imperativo do todo...). É interessante observar que ideia de conclusão do autor utiliza como recurso
o procedimento metodológico de analisar a vida como um todo orgânico e não como partes. Isso
leva à conclusão de que realmente não há uma definição fechada sobre o que é vida.
Escrever é um ato de responsabilidade. Quando expressa suas ideias no papel, o autor coloca
no mundo algo novo, ou seja, contribui de algum modo para que haja os mais diversos tipos
de transformações. O texto acadêmico é ainda mais responsável com relação ao impacto das
transformações que pode proporcionar ao mundo. Como já mencionado, seu objeto é a divulgação de
uma investigação científica, teórica ou de campo, mas sempre com a intenção de produzir e divulgar
conhecimento. Por isso mesmo, deve ser resultado de pesquisa; escrito de forma ordenada, com
preparação de um roteiro anterior; e apresentação de argumentos consistentes. Não se esperam
respostas aos enigmas fornecidos pelos fenômenos do universo, mas sim a tentativa de equacioná-
los e dar continuidade às pesquisas.
1. Nos textos “O que é vida? Para entender a biologia do século XXI” e “O quinto Milagre - Em busca
da origem da vida” há uma discussão teórica sobre a definição da vida. Comparando os dois textos,
assinale o que é correto deduzir da leitura.
I. No texto “O que é vida? Para entender a biologia do século XXI”, escrito por um
biólogo, além do enfoque científico, há uma preocupação social e até íntima com o
assunto. No texto “O quinto Milagre – Em busca da origem da vida”, o autor, que é
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físico, posiciona-se de forma mais objetiva e menos filosófica.
II. Os dois autores tratam a respeito do significado da vida, porém sob perspectivas
diferentes: o que é vida social e o que é vida biológica.
III. O dois autores corroboram suas respectivas posições, por meio de citações de autores
e de suas obras.
IV. Os dois autores utilizam exemplos para ilustrar seus posicionamentos.
a) Só a I está correta.
b) Todas estão corretas.
c) Só a I, II e III estão corretas.
d) Só a II, III e IV estão corretas.
e) Só a I, III e IV estão corretas.
3. Nos textos “O que é vida? Para entender a biologia do século XXI” e “O quinto Milagre – Em
busca da origem da vida”, os autores empregam estratégias bem nítidas de escrita de textos
acadêmicos. Comparando os dois textos, assinale o que é correto deduzir da leitura.
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oficina
racionalmente por seus autores.
III. Os textos lidos possuem uma introdução, apresentando um posicionamento, um
desenvolvimento argumentado, explanando com consistência o posicionamento
inicial e uma conclusão não necessariamente definitiva.
IV. Ambos os textos possuem linguagem formal e os autores utilizam-se da norma
culta para expressarem suas opiniões.
4. Assinale a(s) alternativa(s) que contenha(m) texto(s) coerente(s) com a dificuldade em definir
a respeito do mistério do significado da vida. Tome como base a leitura dos dois textos de
estímulo e apoio.
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b) Só a I e a II estão corretas.
c) Só a II e III estão corretas.
d) Só a I, III e IV estão corretas.
e) Só a I e IV estão corretas.
Esta aula trata da análise do procedimento textual introdutório de um determinado assunto, por
meio da introdução ao assunto “Direitos Humanos”.
Texto 1
Disponível em: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais/
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/
arquivos/pdf/cartilha_direitos_sexuais_2006.pdf.
Acesso em: 24 ago. 2012.
Os Direitos Humanos são direitos fundamentais da pessoa humana. Esses direitos são considerados
fundamentais porque, sem eles, a pessoa não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente
da vida.
O direito à vida, à alimentação, à saúde, à moradia, à educação, o direito ao afeto e à livre expressão
da sexualidade estão entre os Direitos Humanos fundamentais.
Não existe um direito mais importante que o outro. Para o pleno exercício da cidadania, é preciso
a garantia do conjunto dos Direitos Humanos. Cada cidadão deve ter garantidos todos os Direitos
Humanos, nenhum deve ser esquecido.
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oficina
A igualdade racial entre homens e mulheres é fundamental para o
desenvolvimento da humanidade e para tornar reais os Direitos Humanos.
Saiba mais!
Direitos Humanos
A entrevista abaixo, com Vincent Défourny, representante da Unesco em nosso país, aborda
as contradições da teoria e prática dos Direitos Humanos no Brasil. Vale lembrar que a
Declaração Universal dos Direitos Humanos comemora em 2008 o seu sexagésimo aniversário.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é, nesse sentido, a síntese do que de melhor
foi elaborado pela consciência ética da humanidade até aquela data. O resumo de tudo que foi
mastigado e digerido pelos filósofos e todos os demais gêneros de pensadores ao longo das eras.
Seus termos aí estão, hoje, à disposição de todos os interessados. Basta procurá-los no site da
ONU, em português: http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-os-direitos-humanos/
Acesso em: 27 ago. 2012.
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oficina
Apaixonado pelo tema – que é uma das principais bandeiras de atuação da Unesco no Brasil e
no mundo –, Défourny disseca, nesta entrevista, a questão dos direitos humanos na atualidade
brasileira. Para ele, existe uma séria defasagem entre os ideais apresentados na declaração e a
realidade social do País.
Vincent Defourny – A Declaração Universal dos Direitos Humanos é, sem dúvida, uma das matrizes
do trabalho das Nações Unidas e da Unesco. É muito interessante lembrar o contexto em que ela
foi elaborada, há 60 anos, logo após os horrores que caracterizaram a Segunda Guerra Mundial. O
mundo vivia um momento difícil, no qual se buscava uma redefinição dos eixos e das bases éticas
que deviam ser declaradas invioláveis. Era necessário recriar uma noção dos direitos fundamentais
de todos os seres humanos, baseados nos conceitos gerais da igualdade.
Mas, 60 anos depois de proclamada, a declaração ainda precisa ser trabalhada e implementada.
Ela implica um plano de trabalho e uma agenda para todos aqueles que se preocupam com uma
justiça social maior e com a igualdade entre as diferentes pessoas. No caso do Brasil, a declaração
adquire uma relevância muito grande porque muitos dos seus artigos não têm sido aplicados a
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oficina
todos os brasileiros. O que podemos verificar aqui é uma defasagem entre os ideais apresentados
na declaração e a realidade social do país. De um lado, temos no Brasil um país que assinou
a declaração e que, teoricamente, a assume, mas que, de outro lado, ainda carece da sua real
implementação.
P – O que a Unesco tem feito concretamente para eliminar ou pelo menos reduzir essa
dicotomia entre a teoria e a prática dos direitos humanos no Brasil?
R – Estamos desenvolvendo vários projetos e ações nesse sentido, muitos dos quais embutidos no
âmbito de ações internacionais similares da Unesco. Alguns desses projetos começarão neste ano e
terão continuidade no futuro. Eles culminarão ao redor de 10 de dezembro, data oficial do aniversário
da declaração. O Dia Mundial da Filosofia, 10 de novembro, também dará particular relevância à
filosofia sobre os direitos humanos. Desde agora, já estamos trabalhando com parceiros, entre
eles as redes das faculdades brasileiras de filosofia e as escolas que se preocupam em promover
seminários, conferências e outras atividades.
Um bom jeito de celebrar a filosofia é convidar as pessoas a pensar na lógica da filosofia. Isso não
está reservado só aos que se graduaram nessa disciplina, mas sim a todos os que se interessam
pela arte do pensamento e da reflexão, inclusive as crianças.
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oficina
Também estamos negociando com a Imprensa Oficial de São Paulo a impressão de cartazes, que
serão colocados em todas as salas das mais de seis mil escolas de São Paulo sobre o tema da
Declaração Universal dos Direitos Humanos. O objetivo é deixar nas paredes das escolas as ideias
da declaração.
P – Ou seja, plantar na mente das crianças o germe da ideia de direitos humanos, e deixar
que essa semente germine com o tempo.
R – Exato. Com a vantagem de que é relativamente barato confeccionar esses cartazes. Eles
permanecerão meses e meses nas paredes das escolas. As crianças poderão lê-los a toda hora, e
inclusive aprender a refletir sobre seus direitos no dia a dia da escola.
P – Na sociedade brasileira ainda é muito pequena a consciência dos direitos e dos deveres.
A grande massa da nossa população nem sequer sabe que existe uma Carta Universal dos
Direitos Humanos, nem que existe no país uma Constituição Nacional que estipula com
clareza os direitos e os deveres do cidadão. É muito importante, portanto, esse trabalho de
formiga, como o que você acaba de descrever, no qual se planta desde cedo uma semente
na cabeça da criança para que ela a desenvolva ao longo do tempo e, um dia, produza frutos.
R – O Brasil é um Estado de Direito. O que falta em grande medida é a real implementação dos
direitos, e essa tarefa não deve ser deixada apenas para os políticos de Brasília. É responsabilidade
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oficina
de todos nós. É preciso desenvolver a consciência de que, se meu comportamento no cotidiano for
justo e correto, já estou colaborando para que os direitos humanos sejam realmente implantados. É
preciso que em todos os momentos de nossas vidas, nas salas de aula, nos locais de trabalho e em
casa, esses direitos se tornem realidade prática. Sabemos que a violência e a violação dos direitos
humanos começam em casa, entre os jovens, os adultos, dentro da escola, no trabalho.
Você não pode tocar ou fazer um carinho numa criança sem correr o risco de ser acusado de abuso
sexual.
E tudo se resolve com advogados e em tribunais. É muito importante tentar equilibrar esse discurso.
Posso e devo lutar pelos meus direitos, mas é meu dever me responsabilizar pela implementação
desses direitos.
No que diz respeito ao Brasil, concordo que para a maioria dos cidadãos a consciência dos direitos
é muito fraca e tem de ser desenvolvida. Mas há sinais animadores, como a implementação da
Lei Maria da Penha, sobre os direitos das mulheres, por exemplo. Essa lei assinala uma mudança
interessante, pois o poder constituído diz às mulheres: “Vocês têm direitos.”
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R – Sem dúvida, mas, por enquanto, são leis muito pouco implementadas. Existe por exemplo a Lei
nº 10.639, de 2003, que obriga o ensino da cultura e da história africanas nas escolas, mas temos
uma extrema escassez de material didático específico. Onde estão os livros e o material didático
sobre história e cultura da África? Onde estão os professores realmente preparados para tratar do
tema?
Segundo, é essencial investir em segurança cidadã e empregos para reduzir a violência. Mas
existem grandes lacunas estruturais na nossa capacidade coletiva para apoiar essas áreas. Há
lugares onde os Estados frágeis podem buscar ajuda para construir um exército, mas ainda não
dispomos de recursos semelhantes para criar forças policiais ou sistemas de correção. Precisamos
dar mais ênfase aos projetos preliminares de criação de empregos, especialmente por intermédio
do setor privado.
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O Relatório apresenta percepções sobre a importância da participação das mulheres nas coalizões
políticas, reforma da segurança e da justiça e empoderamento econômico.
Terceiro, o confronto efetivo desses desafios significa que as instituições precisam mudar. Os
órgãos internacionais e parceiros de outros países devem adaptar seus procedimentos para
poderem responder com agilidade e rapidez, a uma perspectiva de longo prazo e maior poder de
permanência. A assistência precisa ser integrada e coordenada; os fundos fiduciários de múltiplos
doadores demonstraram ser úteis no alcance desses objetivos ao mesmo tempo em que diminuem
o ônus dos novos governos com pouca capacidade. Precisamos de uma melhor conexão entre
os órgãos humanitários e os órgãos de desenvolvimento. E precisamos aceitar um nível maior de
risco: se as legislaturas e os inspetores esperarem somente os bons momentos e se limitarem a
punir os fracassos, as instituições se afastarão dos problemas mais difíceis e se sufocarão em
procedimentos e comitês para evitar a responsabilidade. Este Relatório sugere algumas ações
específicas e maneiras de medir os resultados.
Quarto, precisamos adotar uma abordagem em camadas. Alguns problemas podem ser tratados
no nível nacional, mas outros precisam ser abordados no âmbito regional, tais como os mercados
em desenvolvimento que integram áreas de insegurança e o compartilhamento de recursos para
formular a capacidade. São necessárias algumas ações de âmbito global, tais como a geração
de novas capacidades para apoiar a reforma da justiça e a geração de empregos; a criação de
parcerias entre os países produtores e países consumidores para conter o tráfico ilegal de drogas;
e a ação para reduzir as tensões causadas pela volatilidade dos preços dos alimentos.
Quinto, ao adotar essas abordagens, precisamos ter consciência de que o panorama global
está mudando. As instituições regionais e os países de renda média estão desempenhando um
papel maior. Isso significa que devemos prestar
mais atenção às trocas sul-sul e sul-norte e às
recentes experiências de transição dos países
de renda média.
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oficina
fortes. Espero que este Relatório ajude outras pessoas e nós mesmos a desenhar esse roteiro.
Robert B. Zoellick
Presidente
Grupo Banco Mundial
Assinale (V) para as afirmações verdadeiras e (F) para as afirmações falsas sobre a
organização geral do texto.
a) ( ) Pode-se afirmar que a introdução deste texto inicia-se em “O Relatório sobre o Desenvolvimento
Mundial 2011 examina disciplinas... “e termina em “...para as instituições regionais e globais”.
b) ( ) O autor não optou por organizar seus argumentos em forma de enumeração, o que facilitaria
a leitura.
c) ( ) A disposição dos argumentos parte de ações concretas – segurança, trabalho, justiça,
emprego, parceria entre os países, observância dos níveis de regionalização, nacionalização e
internacionalização - para a noção abstrata de consciência da mudança de valoração das relações
entre os países.
d) ( ) Pode-se afirmar que o desenvolvimento/argumentação deste texto se inicia em “Em primeiro
lugar, a legitimidade das instituições é a chave para a estabilidade...” e termina em “...Isso significa
que devemos prestar mais atenção às trocas sul-sul e sul-norte e às recentes experiências de
transição dos países de renda média”.
e) ( ) Um dos argumentos, utilizados pelo autor, diz respeito à melhoria das relações de parcerias e
países produtores e países consumidores. No caso das drogas, por exemplo, esta atitude mitigaria
a violência.
f) ( ) Na introdução, o autor apresenta o assunto sobre o qual tem algum posicionamento; no
desenvolvimento, o autor utiliza argumentos que substanciem este posicionamento; na conclusão,
o autor propõe alternativas para que se tentem soluções para o problema discutido no texto.
Nesta aula serão explicados os mecanismos enunciativos, ou seja, estratégias que o autor
utiliza para organizar o texto e provocar determinados efeitos de sentido. São eles: modalização
e intertextualidade; metacomentário; utilização de pronomes e de sua relação com a esfera de
locução do produtor do texto; leitura e compreensão de texto.
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oficina
Modalização: quando um autor escreve um texto e argumenta sobre um posicionamento em
relação a um determinado assunto, pode organizar seu texto de modo mais ou menos assertivo, ou
seja, mostrar o grau de certeza que quer ou não expressar (efeito de sentido), com palavras mais
ou menos taxativas. Dessa forma, pode-se dizer que:
Metacomentário: quando um autor escreve um texto, muitas vezes precisa explicar suas próprias
palavras; ou seja, explicar novamente e de outra forma algo que já havia mencionado no texto. Esta
explicação aqui realizada, por exemplo, é um metacomentário. Normalmente, o metacomentário é
precedido das expressões isto é, ou seja, em outras palavras, conforme pretendia dizer, e assim
por diante.
Esfera de locução e uso de pronomes: quando um autor escreve um texto, o uso de pronomes
não é aleatório. O pronome na terceira pessoa, normalmente, estabelece uma relação impessoal
do autor com o texto. Deve, por exemplo, ao invés de “eu acho que a sustentabilidade é essencial”,
escrever “deve haver sustentabilidade”.
O pronome na primeira pessoa do plural pode produzir diversos efeitos de sentido, como, por
exemplo:
a) NÓS pode ter efeito de EU.
Exemplo: Nós, como autores do texto, consideramos que o teste foi concluído.
b) NÓS pode ter efeito de VOCÊS.
Exemplo: Agora, diz o professor, nós vamos fazer uma prova.
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oficina
c) NÓS pode ter efeito de inclusão do interlocutor e de outras pessoas na mesma esfera de
locução do autor do texto. É um modo de expressar que a questão/ problema é relevante
para todos.
A sustentabilidade é o tema dos textos a seguir, que devem ser lidos atentamente para a resolução
dos exercícios propostos.
Atenção: os textos estão numerados em parágrafos para facilitar a leitura e resolução dos exercícios.
A fim de auxiliar o entendimento a respeito do tema tratado, segue também sugestão de vídeo:
Desenvolvimento Sustentável - Vídeo Educacional. Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=qMKvDbnqZBw>. Acesso em: 27 ago. 2012.
Texto 1
Desenvolvimento Sustentável
Por Tereza Mendes
(1) O termo desenvolvimento sustentável foi utilizado pela primeira vez em 1983, por ocasião
da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU. Presidida
pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brudtland, essa comissão propôs
que o desenvolvimento econômico fosse integrado à questão ambiental, estabelecendo-se,
assim, o conceito de “desenvolvimento sustentável”.
(2) Os trabalhos foram concluídos em 1987, com a apresentação de um diagnóstico dos
problemas globais ambientais, conhecido como “Relatório Brundtland”. Na Eco-92 (Rio-
92), essa nova forma de desenvolvimento foi amplamente difundida e aceita, e o termo
ganhou força. Nessa reunião, foram assinados a Agenda 21 e um conjunto amplo de
documentos e tratados cobrindo biodiversidade, clima, florestas, desertificação e o acesso
e uso dos recursos naturais do planeta.
O que significa
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oficina
comprometer a capacidade das futuras gerações em prover suas próprias demandas.”
(4) Isso quer dizer, usar os recursos naturais com respeito ao próximo e ao meio ambiente;
preservar os bens naturais e a dignidade humana. É o desenvolvimento que não esgota os
recursos, conciliando crescimento econômico e preservação da natureza.
(5) Dados divulgados pela ONU revelam que se todos os habitantes da Terra passassem a
consumir como os americanos, precisaríamos de mais 2,5 planetas como o nosso. Estamos
utilizando muito mais os recursos naturais do que a natureza consegue repor. Em muito
pouco tempo, se continuarmos nesse ritmo, não teremos água nem energia suficiente para
atender às nossas necessidades. Cientistas prevêem que os conflitos serão, no futuro,
decorrentes da escassez dos bens naturais.
CONSUMO SUSTENTÁVEL
(8) É um modo de consumir capaz de garantir não só a satisfação das necessidades das
gerações atuais, como também das futuras gerações. Isso significa optar pelo consumo de
bens produzidos com tecnologia e materiais menos ofensivos ao meio ambiente, utilização
racional dos bens de consumo, evitando-se o desperdício e o excesso e ainda, após o
consumo, cuidar para que os eventuais resíduos não provoquem degradação ao meio
ambiente. Principalmente ações no sentido de rever padrões insustentáveis de consumo e
minorar as desigualdades sociais.
(9) Adotar a prática dos três ‘erres’: o primeiro R, de REDUÇÃO, que se recomenda evitar
adquirir produtos desnecessários; o segundo R, de REUTILIZAÇÃO, que sugere que se
reaproveite embalagens, plásticos e vidros, por exemplo; por fim, o terceiro e último R, de
RECICLAGEM, que orienta separar o que pode ser transformado em outro produto ou,
então, em produto semelhante.
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oficina
Texto 2
40
oficina
dos países. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade biológica,
como o próprio crescimento econômico.
(9) O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a
redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.
(10) O desenvolvimento econômico é vital para os países mais pobres, mas o caminho a seguir
não pode ser o mesmo adotado pelos países industrializados. Mesmo porque não seria
possível.
(11) Caso as sociedades do Hemisfério Sul copiassem os padrões das sociedades do Norte,
a quantidade de combustíveis fósseis consumida atualmente aumentaria 10 vezes e a de
recursos minerais, 200 vezes.
(12) Ao invés de aumentar os níveis de consumo dos países em desenvolvimento, é preciso
reduzir os níveis observados nos países industrializados.
(13) Os crescimentos econômico e populacional das últimas décadas têm sido marcados por
disparidades.
(14) Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta,
eles detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75%
dos metais e 85% da produção de madeira mundial.
Saiba mais!
41
oficina
a) O autor do texto pode, ou não, colocar o interlocutor de seu texto na mesma esfera de
locução em que ele, com o intuito de conseguir o efeito de sentido de integrar o interlocutor ao
seu posicionamento. Dessa forma, o uso do pronome nós pode produzir o efeito de “somos
eu (o produtor do texto), mais você (interlocutor) e mais ele, todos responsáveis por esse
posicionamento”. É o que se observa em: Nós, os brasileiros, somos um povo pacífico, alegre,
dado a futebol e a samba, em que o NÓS envolve todos. Identifique e transcreva exemplos
similares encontrados no texto 1, parágrafo 5.
b) Tanto no texto 1, como no texto 2, os autores fazem uso de um recurso comum nos textos
acadêmicos: a oscilação entre a asserção e a modalização, isto é, a expressão com mais
certeza e a expressão que mostra que o autor tenta negociar como o leitor, deixando suas
ideias num campo menos radical. Por exemplo, no parágrafo 4 do texto 1, há a expressão: “É o
desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.” e no texto 2 “ É insustentável e está
fadado ao insucesso.” Estas duas expressões assertivas mostram um grau de certeza absoluta
por parte do autor.
Por outro lado, na expressão “...se continuarmos nesse ritmo...” a organização da hipótese
expressa uma diminuição do grau de certeza e uma tentativa de negociação por parte do autor.
O mesmo acontece com a expressão “O desenvolvimento sustentável sugere...”, em que o termo
sugere uma escolha lexical empregada com o mesmo objetivo, ouse já, negociar.
Identifique nos dois textos expressões que revelem. Lembre-se de indicar a que texto e parágrafo
se refere.
b.1) Certeza:
(DEIXAR ESPAÇO E LINHAS PARA O ALUNO PREENCHER)
b.2) Modalização:
(DEIXAR ESPAÇO E LINHAS PARA O ALUNO PREENCHER)
4. Para a resolução dos próximos exercícios, leia e analise os textos a seguir, que tem a
responsabilidade social como tema.
42
oficina
Este material está disponível em:
Simulado ENEM 12 ANGLO / ESTADÃO
http://www.estadao.com.br/especiais/2010/10/sim_enem_estadao_2010.pdf.
Acesso em: 14 set. 2012.
Texto I
O menor abandonado
De acordo com dados colhidos pela CPI do Menor Abandonado, existiam no Brasil pelo menos 2
milhões de crianças e jovens abandonados, perambulando pelas ruas, no final da década de 1980.
A Comissão concluiu que a única forma de combater o problema seria a criação de um programa
que garantisse a profissionalização desses jovens e sua integração ao mercado de trabalho. Desde
então, pouco foi feito nesse sentido e sabe-se que o problema cresceu em números absolutos,
contribuindo para que vejamos nas ruas quantidade crescente de menores infratores, jovens
prostitutas, traficantes de drogas e muitos outros tipos de delinquentes juvenis.
Texto II
A mendicância
Rara é a cidade brasileira na qual o cidadão não encontra pedintes. Há de tudo: pessoas em
cadeiras de rodas, idosos, bêbados, mulheres com bebês, crianças. Em algumas cidades, surgem
pedintes “artistas”, em geral malabaristas. Para muitos a questão é simples: o ato de dar esmola é
que agrava o problema social. Algumas prefeituras acreditam que só existirão mendigos enquanto
houver cidadãos dispostos a dar esmolas e, baseadas nessa premissa, fazem campanhas contra
o ato. Em Joinville promove-se a campanha “Programa Porto Seguro”; em Jacareí, a campanha
“Pare, pense. Esmola é a solução?”; e em Americana, a campanha “Educadoras de Rua”.
b) Somente o texto I apresenta uma solução para o problema apresentado, pois indica que a
escolarização pode retirar o menor abandonado das ruas, o que vem reduzindo a dimensão
dessa questão social.
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c) Somente o texto II apresenta uma solução para o problema apresentado, pois indica exemplos
concretos de campanhas de conscientização popular que acabaram com a mendicância
eliminando as esmolas.
d) Ambos tratam de problemas correlatos, já que muitos dos menores abandonados, excluídos
sociais, acabam recorrendo à mendicância como forma de sobrevivência.
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oficina
GABARITO
Aula 3
QUESTÃO 1
Resposta: alternativa “C”.
QUESTÃO 2
Resposta: - Conseguem comunicar distância e localização do pólen por meio da dança.
- Demonstram uma capacidade, embora restrita, de simbolismo.
QUESTÃO 3
Resposta: - A linguagem humana faz parte de um sistema combinatório e pode ser combinada infinitas vezes.
- A linguagem humana possui diálogo.
Aula 5
QUESTÃO 1
Resposta: alternativa “E”.
QUESTÃO 2
Resposta: alternativa “B”.
QUESTÃO 3
Resposta: alternativa “A”.
QUESTÃO 4
Resposta: alternativa “D”.
Aula 6
QUESTÃO 1
Resposta: V, F, V, V, V, V.
QUESTÃO 1
Resposta: Relatório Brundtland e Agenda 21 e outros documentos.
QUESTÃO 2
Resposta: Exemplos de metacomentários:
a) Parágrafo 4 – “Isso quer dizer”.
b) Parágrafo 9 – “Isso significa optar”.
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oficina
QUESTÃO 3
Resposta: a) Exemplos:
• “... precisaríamos de mais 2,5 planetas...”
• “... se continuarmos, nesse ritmo...”
• “... não teremos água...“
• “... nossas necessidades!”
b.1) Certeza:
Exemplos:
• “... os recursos naturais são finitos. “ – parágrafo 5, texto 2.
• “... é involução.” – parágrafo 7, texto 1.
• “O desenvolvimento sustentável é vital para...” – parágrafo 9, texto 2.
• “É preciso reduzir os níveis...” – parágrafo 12, texto 2.
b.2) Modalização:
Exemplos:
• “... que se recomenda evitar adquirir...” – parágrafo 9, texto 1.
• “... que orienta separa o que pode ser transformado...” – parágrafo 9, texto 1.
• “Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável...” – parágrafo 7, texto 2.
• “... não pode ser o mesmo...” – parágrafo 10, texto 2.
• “Mesmo porque, não seria possível.” – parágrafo 10, texto 2.
QUESTÃO 4
Resposta: alternativa “D”.
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