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Amanda, Bruna e Carol

TRANSCRIÇÃO – MEDICINA LEGAL


EMBRIAGUEZ

Para o exame da embriaguez que o delegado vai solicitar, nós médicos vamos
descrever as características do exame físico – se o paciente está embriagado ou não. Nós, os
médicos do IML do Estado do Pará, e os médicos dos centros de perícia científica do Pará todo,
fazemos apenas o exame físico. O exame laboratorial é feito pelo laboratório do complexo
(IML).

O álcool é a substância neurodepressora mais usada no mundo. E é de grande


importância pro meio legal, pois sabemos que é muito grande o número de acidentes e de
vítimas causados pelo abuso dessa substância.

A gente sabe que o álcool leva à intoxicação aguda ou crônica, e produz depressão
progressiva do sistema nervoso central. Cada indivíduo tem uma tolerância e vai reagir de uma
forma à ingesta alcoólica. Por exemplo, exame físico de uma pessoa que bebeu dois copos vai
diferir do exame físico de outra pessoa que bebeu dois copos, porque tem gente que bebe dois
copos e não sente nada.

Embriaguez alcoólica aguda: Conjunto de manifestações psíquico-neuro-somáticas


resultantes da intoxicação etílica imediata, de caráter episódico e passageiro.
Alcoolismo: Conjunto de perturbações consequentes do uso imoderado e contínuo do
álcool, independendo do momento do exame e do maior ou menor consumo de bebida.

Daí ela fala que existem consequências sociais, familiares, e que o mais preocupante
são os acidentes. Fala que a coordenação motora fica reduzida, e que tem gente que fica mais
confiante depois de beber, que aumenta o desejo sexual de alguns, que é a causa também de
alguns casos de violência sexual.

O exame físico da embriaguez vai avaliar:

 Manifestações físicas
 Manifestações Neurológicas
 Manifestações psíquicas

I) Manifestações físicas: Congestão dos vasos da conjuntiva e da face (olhos e face


avermelhados), Taquicardia, Taquipnéia, Sudorese, Palidez, Hálito etílico. Nem
todos vão apresentar todas essas manifestações, alguns apresentam umas e
outros apresentam outras.

II) Manifestações neurológicas: Equilíbrio estático e dinâmico. “E como é que a gente


avalia o equilíbrio estático e o dinâmico¿” Através do teste de Romberg, e do
exame da marcha.
Amanda, Bruna e Carol

- Romberg: Primeiro a gente pede para o


paciente ficar de olho aberto, ficar com as pernas
próximas, e já vamos observando pois alguns só
nessa situação já ficam cambaleantes. Depois,
pedimos ao paciente para fechar os olhos, e
avisamos que vamos observá-lo por cerca de 1
minuto.

- Exame da marcha: Pedir ao paciente andar em linha reta. “Veja se o senhor


consegue andar mais ou menos aqui nessa linha” foi o que ela disse. O paciente
embriagado não consegue.

- Articulação das palavras: quando você está conversando com o paciente e você
já está vendo se ele tá falando bem, se está com uma boa dicção. Se ele puxar bem a voz, c
começar a repetir muito.

- Diminuição da sensibilidade tátil e dolorosa: coloquei essa parte porque está no


livro de medicina legal, mas na prática a gente acaba não realizando.

Há casos onde o paciente chega em um estado mais grave de embriaguez, soluçando,


vomitando na porta do consultório.

III) Manifestações psíquicas: alterações do humor, do senso ético, da atenção, da


sensopercepção, do curso de pensamento, da associação de ideias; manifesta
impulsos sexuais, falas inconvenientes. Mas tem uns que ficam quietos. Outros
falam muito, fazem cantadas.

Fases da embriaguez: no livro do Genivaldo, ele coloca três fases. Tem gente que coloca cinco.

 Excitação: o indivíduo ainda se mostra loquaz, vivo, olhar animado, bem-humorado e


gracejador. Às vezes, ele tem uma falsa impressão de maior capacidade intelectual.
Isso logo no começo da bebida.

 Confusão: o indivíduo começar a cometer infrações, provocar acidentes com perda de


atenção, memória, juízo; pode ainda ter atentados sexuais e agressões.

 Do sono ou comatosa: o paciente não se mantém mais em pé. Ele caminha se


apoiando nos outros e termina sem poder erguer-se, mergulhando em sono profundo.

Grau de embriaguez:

 Incompleta: quando o bêbado perde o senso crítico, começa a falar tudo, os segredos,
outros ficam tristes, melancólicos; ficam com o raciocínio mais lento e atenção mais
prejudicada.
Amanda, Bruna e Carol

 Completa: o indivíduo fica confuso, irritado e pode ficar violento.

Tolerância ao álcool: no exame físico o paciente pode não ser classificado como embriagado,
mas no exame laboratorial isso pode dar alterado. Isso porque depende da tolerância de cada
um. Indivíduos com peso e altura maiores tem maior tolerância por diluírem mais, pois tem
mais líquido no organismo.

A absorção do álcool é rápida, pois ele é muito solúvel em água. A absorção começa na
mucosa oral, mas é no estomago que se intensifica, para se tornar máxima no intestino
delgado. Para algumas pessoas, em 30 a 60 minutos, cerca de 80-90 por cento já foi absorvido.
Outros afirmam que são absorvidos 60% em uma hora, outros 60% em uma hora e meia.

A velocidade de absorção varia na dependência de vários fatores:

 Quantidade de álcool ingerido


 Massa corporal
 Concentração de álcool na bebida (quanto mais concentrado tende a ser menor a
tolerância).
 Presença ou não de alimentos no estômago
 Capacidade de absorção do indivíduo
 Pacientes cansados, estafados (ex. depois de um plantão de 36 horas) se for “beber
todas” vai logo demonstrar sinais de embriaguez.

Ex. Deu o exemplo de que em um instante de distração, duas pessoas beberam


uma garrafa inteira de vinho do porto e estavam super bem e se for levar em consideração a
concentração desse vinho, a quantidade que foi ingerida teria sido suficiente para causar
várias alterações em pessoas com baixa tolerância.

A pesquisa atual verifica a concentração de álcool na saliva, no ouvido, na urina e no


sangue. Lá no IML só faz no sangue.

A Lei seca que está cada vez mais rigorosa para tentar inibir mais a direção após a
ingestão de bebidas alcoólicas. Atualmente o motorista que for flagrado dirigindo com uma
concentração de álcool ≥ 0,3 mg de álcool por Litro de ar alveolar expirado (antes era 0,6) no
bafômetro recebe uma multa no valor de R$ 2.934,70 (antes do ajuste era de R$ 1.915,00) +
retenção do veículo + suspensão na CNH por 12 meses.

Se o motorista se recusa a fazer o bafômetro, a jurisprudência do Direito diz que o


indivíduo está concordando que ele bebeu, mas ai o delegado também conduz ao IML pra
poder fazer o exame clínico e dosar o álcool no sangue (ele também pode ser recusar a
fornecer o sangue). Ele pode recusar fazer o bafômetro e/ou a dosagem no sangue, pois
ninguém pode ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, mas aí entra a questão da
jurisprudência e como eu falei na aula passada também podem ser usadas provas
testemunhais ou até um vídeo que alguém possa ter feito na hora mostrando que o motorista
estava alterado e o próprio guarda de trânsito também pode falar se o paciente estava com
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características de embriaguez. Mas geralmente esses casos são encaminhados para o IML para
exame clínico.

Lembrem que “ninguém está obrigado a depor contra si próprio ou oferecer provas que
lhe condenem ou a confessar-se culpado.” Isso é constitucional, está no Artigo 5°. Logo, se ele
se recusar, ele está agindo dentro da lei, mas lembrem da jurisprudência, por isso esses
pacientes são encaminhados pro IML.

Na prática é exame clínico e laboratorial, mas no IML nós médicos legistas fazemos só
o exame clínico. Aí o perito criminal faz o exame laboratorial e o resultado dessa dosagem
alcoólica vai ser encaminhado para a autoridade.

Esse tópico de Tipos de Embriaguez não é cobrado pra vocês porque é mais uma
questão usada no Direito. Seria o voluntário que é aquele indivíduo que bebe no intuito de
cometer um crime (ex. paciente que bebeu todas pra criar coragem para cometer a prática
criminal); a dolosa é aquela em que eu não bebi pra cometer o crime, mas eu bebi demais, sai
dirigindo e cometi um acidente de trânsito, então o indivíduo sabe que bebendo muito todos
os reflexos estarão diminuídos, ele assume a responsabilidade que tinha bebido; por força
maior é aquela que outra pessoa obriga a beber (ex. põe um revólver na cabeça da pessoa); a
fortuita ou ocasional é para aquelas situações raras em que houve uma festa de formatura,
um casamento aí a pessoa bebe, mas também não isenta de responsabilidade; a acidental que
pode ter a isenção da responsabilidade (ex. o indivíduo está em um lugar e a pessoa pensa que
aquele copo tem água, mas alguém colocou uma substância alcoólica ou outras substâncias),
mas nesses casos a pessoa tem que provar que ela bebeu sem saber o que era; a habitual é
aquele etilista crônico que bebe todo dia.

Sobre o alcoolismo eu nem vou comentar pra vocês.

Então o exame de embriaguez é físico, neurológico e a parte psíquica.

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