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INTRODUÇÃO: Sob a ótica médico-legal, é importante fazer a distinção entre embriaguez alcoólica,
alcoolismo e alcoolemia.
Embriaguez alcoólica é um conjunto de manifestações neuropsicossomáticas resultantes da
intoxicação etílica aguda de caráter episódico e passageiro.
Alcoolismo é uma síndrome psico-orgânica, caracterizada por um elenco de perturbações
resultantes do uso imoderado do álcool e de caráter crônico, independendo, no momento do exame,
de um maior ou menor consumo ou concentração de bebida alcoólica.
Alcoolemia é o resultado da dosagem do álcool etílico na circulação sanguínea e seus percentuais
traduzidos em gramas ou decigramas por litro de sangue examinado. Essa taxa de concentração
hoje é feita com maior segurança por meio do exame em cromatina gasosa, e tem como elemento
de maior credibilidade metodológica o fato de seus resultados serem de caráter específico.
Dessa forma, a embriaguez é um estágio, a alcoolemia uma taxa e o alcoolismo, um estado.
Seu consumo pode levar a: Problemas de ordem médica, psiquiátrica, psicológica, policial, médico
legal, bem como ações que podem desdobrar-se no âmbito dos tribunais, problemas esses que
crescem dia a dia pelo aumento assustador do consumo de bebidas alcoólicas e sua contribuição
criminógena.
FASES DA EMBRIAGUEZ: Alguns autores dividem a embriaguez em cinco fases (Magnan, Bogen),
outros em quatro (Pessina, Nicollini), e a maioria em três. Esta última é a divisão mais aceita: fase
de excitação, de confusão e de sono.
Fase de excitação - loquaz, vivo, olhar animado, humorado e gracejador, dando às vezes uma
falsa impressão de maior capacidade intelectual. Diz leviandades, revela segredos íntimos e é
extremamente instável.
Fase de confusão - surgem as perturbações nervosas e psíquicas. Disartria, andar cambaleante
e perturbações sensoriais. Irritabilidade e tendências às agressões. É a fase de maior interesse e,
por isso, chamada fase médico-legal.
Fase de sono ou fase comatosa - o paciente não se mantém em pé.
Caminha apoiando nos outros ou nas paredes e termina caindo sem poder erguer-se, mergulhando
em sono profundo.
Sua consciência fica embotada, não reagindo aos estímulos normais. As pupilas dilatam-se e não
reagem à luz. Os esfíncteres relaxam-se e a sudorese é profusa. É a fase de inconsciência.
TOLERÂNCIA AO ÁLCOOL: Uma mesma quantidade de álcool ministrada a várias pessoas pode
acarretar, em cada uma, efeitos diversos. Igualmente, pode produzir em um mesmo indivíduo
efeitos diferentes, dadas circunstâncias meramente ocasionais.
A tolerância depende de vários fatores: Quanto maior o peso, mais diluído ficará o álcool. Daí
ser a concentração mais elevada nos indivíduos de menor peso;
Após a ingestão, o álcool começa a ser absorvido pela via digestiva, passando diretamente para a
veia porta e para o fígado, indo à circulação sanguínea e linfática do organismo, onde vai se
distribuindo pelos tecidos em geral. No instante em que a absorção se equilibra com a difusão, a
concentração de álcool no sangue mantém-se uniforme. A isto chama-se equilíbrio de difusão.
A partir daí, o organismo humano começa o processo de desintoxicação, por fases continuadas de
oxidações, transformando-se em aldeído, ácido acético, gás carbônico e água. Nesse
processamento são desprendidas 7,2 calorias por grama de álcool.
•Valores:
Alcoolemia < 0,5g/1000ml – intoxicação inaparente Entre 0,5 e 2,0g/1000ml – presença de
distúrbios tóxicos
> 2,0/1000ml – estado de embriaguez.
•Para configurar delito: demonstrar que efetivamente o condutor do veículo apresentava
manifestações que lhe privavam da capacidade de dirigir.
PERÍCIA DA EMBRIAGUEZ
Quesitos:
- Qual o material colhido para exame?
- Qual a concentração de álcool no material colhido ou seu equivalente em decigramas de álcool
por litro de sangue?
- Acha-se o examinado sob influência do estado de embriaguez alcoólica?
- Apresenta o examinado sinais ou sintomas de estar sob influência de psicofármaco? Qual o
psicofármaco?
FORMAS DE EMBRIAGUEZ
Embriaguez culposa: imprudência ou negligência de beber exageradamente. Não é isenta de
responsabilidade.
Embriaguez preterdolosa: o agente não quer o resultado, mas sabe que, em estado de
embriaguez, poderá vir a cometê-lo, assumindo, mesmo assim, o risco de produzi-lo. Não é isenta
de responsabilidade.
Embriaguez fortuita: embriaguez ocasional, rara; não é uma ação predeterminada ou imprudente,
por isso, pode isentar o agente de pena.
Embriaguez acidental: indivíduo tomou uma bebida que continha álcool mas não sabia de tal fato;
ou ingeriu remédio que potencializou os efeitos de pequenas doses de bebida considerada inócua.
O agente pode ser isento da responsabilidade.
Embriaguez por força maior: humano é incapaz de prever ou resistir; realizar tal ato por influência
de determinado grupo no carnaval (exemplo); possível reduzir a pena.
Embriaguez pré-ordenada: o agente se embriaga com o propósito de adiquirir condições
psíquicas que favoreçam a prática criminosa; é uma circunstância agravante da pena. No entanto,
se o agente já estava embriagado antes dos fatos e tão somente se aproveita de suas condições
para a prática do crime, afasta-se agravente
Embriaguez habitual: indivíduo vive sob a dependência do álcool; estado de “normalidade” sob o
efeito da bebida.
Embriaguez patológica: indivíduo apresenta desproporção entre a quantidade ingerida e a
intensidade dos efeitos. Quando bem caracterizada pode chegar a inimputabilidade.
-Agressiva e violenta: tendência ao crime e ao sangue.
-Excito-motora: acesso de raiva e de destruição.
-Convulsiva: impulsos destruidores e sanguinários.
-Delirante: delírios com tendência à autoacusação.
ALCOOLISMO
Ingestão continuada e imoderada de bebida alcoólica, produzindo perturbações a longo prazo.
Causa um perfil anormal não psicótico chamado personalidade alcoolista.
É de fundamental importância porque: (1) apresenta transtornos de conduta e perigo a si mesmo e
para os outros; (2) tendência a outros transtornos mentais; (3) apresentam modificações do juízo
crítico e da capacidade de administrar seus interesses;
Diagnóstico clínico: manifestações somáticas; neurológicas e psíquicas;
MANIFESTAÇÕES SOMÁTICAS
Pior do que nos casos agudos. Podendo apresentar: hepatomegalia, edemas palpebrais, tremores
das mãos, ventre aumentado, pescoço fino, insegurança na marcha, congestão das conjuntivas,
dispepsia, vermelhidão da face com rede venosa nasal etc.
PERTURBAÇÕES NEUROLÓGICAS
O álcool acarreta acometimentos metabólicos, causando degeneração, afetando os nervos
periféricos e dando sinais de polineurite;
Nos nervos cranianos isso gera a (encefalite superior hemorrágica) síndrome de Wernicke e
se comprometer o córtex cerebral, gera a síndrome de Korsakow; são duas síndromes muito
importantes do etilista crônico, levando sequelas importantes motoras, como facial e
marcha e amnésias;
Polineurite: Comprometimento dos neurônios periféricos, degenerativo; É uma síndrome sensitivo-
motora representada por parestesias das extremidades, hiperestesias cutâneas, hipoestesia
superficial, mialgias, impotência motora dos músculos braquiais e crurais, alterações dos reflexos,
atrofias musculares, alterações vegetativas e perturbações de coordenação motora.
PERTURBAÇÕES PSÍQUICAS
Perturbações de atenção, afetividade, tomada de decisão, memória, senso ético,
sensopercepção, ideação, consciência e capacidade de julgamento; A ação tóxica crônica do álcool
pode causar:
Delirium tremens: estado de confusão, agitação e angústia, tremores e alucinações de ordem
visual e amnésia; visualizam animais, monstros, deliram com pessoas. Mortalidade de 15% e
duração da crise pode chegar a 10 dias;
Alucinose dos bebedores: É uma psicose aguda manifestada por alucinações auditivas,
desencadeada por excessos alcoólicos, conservando-se a lucidez com alterações da vida afetiva.
As alucinações se manifestam, algumas vezes, pela hipersensibilidade aos ruídos, dando lugar em
seguida às sensações de sibilos e sons musicais. Depois,
progridem para vozes humanas que dizem obscenidades e ofensas morais, principalmente
acusações de homossexualismo
Delírio de ciúmes dos bebedores: psicose de ideias de ciúme e infidelidade conjugal. Sentimento
de culpa posterior à rotina fria com o parceiro; evento recidivo e prognóstico ruim quanto à violência;
Epilepsia alcoólica: O uso imoderado do álcool pode apresentar crises convulsivas semelhantes
às da epilepsia que, na maioria das vezes, desaparecem quando cessam as causas. Às vezes,
iniciam-se por pequenas convulsões localizadas, tipo jacksoniana, para generalizar-se depois. Mais
observada em consumidores de aguardente.
Dipsomanias: É a crise impulsiva e irreprimível de ingerir grandes quantidades de bebidas
alcoólicas. Tais impulsos persistem, em alguns casos, durante vários dias, podendo interromper-
se bruscamente para retornarem sempre com as características irrefreáveis e paroxísticas.
No entanto, se a embriaguez é absoluta e por força maior, acidental, patológica ou em caso fortuito,
a responsabilidade não existe. E, na embriaguez relativa, a pena é atenuada de um a dois terços
(Código Penal, artigo 26 e seu parágrafo único). Muitos consideram que a embriaguez habitual
(alcoolismo) não exclui nem diminui a imputabilidade. Todavia, é necessário saber que o alcoólatra
não é somente um bebedor incontrolado, mas, acima de tudo, um doente, um desequilibrado, e,
por isso, merece tratamento penal diferenciado.
O tratamento do bebedor crônico nestes casos é por internamento compulsório do agente em
estabelecimentos de custódia e tratamento;
Atualizando para 2018: tolerância zero; multa de 10x (2.934,70) como fator multiplicador
(antes 5x); infração: gravíssima, suspensão de 12 meses para dirigir, retenção do veículo.
Se for reincidente em 12 meses: dobra-se a multa. Imagem, observação de sinais de
alterações da capacidade psicomotora (infração artigo 165). A recusa do teste do bafômetro
gera as mesma punições, podendo somente melhor recorrer da situação.
RECUSA DO TESTE DE BAFÔMETRO: Isso quer dizer que, caso você tenha sido notificado,
precisará entregar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ao órgão de trânsito apenas depois
que seu último recurso for julgado, caso você opte por recorrer, é claro. Quanto às situações em
que o motorista, ao dirigir alcoolizado, cause morte ou lesione pessoas, a Lei 13.546, recentemente
aprovada, provocou alterações no CTB, aumentando as penalidades em caso de crimes de
trânsito.Portanto, a partir de então, quando o motorista, ao dirigir alcoolizado ou sob efeito de
qualquer substância psicoativa, cometer homicídio culposo, deverá ser prevista a reclusão de cinco
a oito anos. Casos em que a vítima não vem a óbito, mas fica gravemente ferida, o motorista que
causou o acidente, enquadrado na Lei Seca, deverá ser penalizado com reclusão de dois a cinco
anos.
Sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora, comprovados através de vídeos,
exame clínico, perícia, teste de alcoolemia ou prova testemunhal, de acordo com o CTB, poderão
também ser utilizados nestes casos.
ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CIVIS DA UNIÃO: agora antes da demissão por
justa causa, o funcionário deverá ser submetido ao tratamento especializado.