UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS HUMANAS

1º Semestre de 2016
Disciplina Obrigatória
Destinada: alunos do Instituto de Psicologia
Código: FLF0477
Sem pré-requisito
Prof. Dr. Vladimir Safatle
Carga horária: 60h
Créditos: 03
Número máximo de alunos por turma: 100

TÍTULO: Uma genealogia das psicoses

1.OBJETIVO:

Trata-se de discutir o processo de mutação das categorias clínicas mobilizadas para o

diagnóstico dos fenômenos que anteriormente chamamos de “loucura” e que são
atualmente compreendidos como “transtornos psicóticos”. Tal mutação categorial
abarca desde a configuração do campo das psicoses pela psiquiatria do final do século
XIX até a supremacia atual da esquizofrenia como categoria unitária. No entanto, no
interior deste debate, não será apenas o caso de reconstruirmos o processo histórico
de modificação das psicoses, mas de procurar fazer sua genealogia, expondo as forças
e as dinâmicas disciplinares que pressionam sua transformação. Desta forma,
poderemos fornecer uma perspectiva epistemológica que não se contenta em ser
apenas uma epistemologia histórica, mas que procura, ao mesmo tempo, fornecer a
exposição da dependência das categorias clínicas em relação a um quadro mais amplo
de valores sociais, assim como evidenciar certos mecanismos de articulação entre
saber e poder social.
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II. CONTEÚDO:

 A transformação da loucura em doença mental, segundo A historia da loucura, de

Michel Foucault. A hipótese da grande internação: loucos, libertinos e
desempregados. A invenção moral do mental e a consolidação da dicotomia
alienação/autonomia. Pinel, Cabanis, Samuel Tuke e o advento da psiquiatria
moderna.
 Kraepelin e a consolidação da categoria de demência precoce. A teoria da doença
mental como degenerescência e os fundamentos normativos da maturação psíquica.
 A Escola de Zurique e a invenção da esquizofrenia. As questões em jogo na produção
de uma categoria clínica e as razões para sua rápida consolidação.
 Freud e o conceito psicanalítico de psicose. A prevalência da paranoia e sua relação
à teoria da constituição do Eu. Jacques Lacan e as relações entre narcisismo e
paranoia. O uso psicanalítico do conceito de automatismo de repetição. O problema
da forclusão e a teoria do deficit de integração no universo simbólico. Melanie Klein,
Donald Winnicott e as psicoses no interior da teoria das relações de objeto.
 A psiquiatria fenomenológica e a esquizofrenia em sua relação à apercepção do
espaço e do tempo. Karl Jasper, Ludwig Binswanger e Eugene Minkowski. O ocaso da
psiquiatria fenomenológica e o advento da era do DSM.
 Um duplo movimento clínico a partir dos anos 50: o fortalecimento da farmacologia
antipsicótica e as experiências de tratamento baseados em modalidades diversas de
análises institucionais. O estabelecimento do diagnóstico sobre esquizofrenia a partir
do DSM – III e o ocaso do movimento anti-psiquiatrico.
 A dissolução da categoria de paranoia pelo DSM-5; história de uma dissolução
categorial e de sua redução à condição de “transtornos delirantes”. O problema dos
marcadores biológicos.
 Psicoses, sociedade e neurologia.
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III. MÉTODO UTILIZADO:

Aula expositiva

IV. CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO:

Trabalho

V. BIBLIOGRAFIA:

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São Paulo : Companhia das Letras
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